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UFC/FEAAC/DTE Microeconomia I Prof.

Henrique Félix Aula 05

ESCOLHA DO CONSUMIDOR

Introdução
O quarto pilar da teoria do consumidor refere-se a uma suposição de comportamento,
segundo a qual, “o consumidor escolhe a cesta de consumo que lhe é mais preferível,
à luz de seus gostos pessoais e dada a sua restrição orçamentária”.

Dados os preços dos bens e a renda do consumidor e conhecida sua função utilidade
representando suas preferências, o problema do consumidor individual é escolher as
quantidades dos bens que compõem a cesta de consumo mais preferida de
forma a maximizar a sua utilidade tendo o seu conjunto orçamentário como
restrição.

Problema de Maximização de Utilidade (PMU)


A especificação mais simples e usual deste problema de otimização condicionada, é
dada por:
( )

sujeito a ∑ .

Onde,
( ) é uma função utilidade (função objetivo)
( ) é uma cesta de consumo, , onde,
{ ∑ } é o conjunto orçamentário e,
∑ (função de restrição), onde,
( ) , são os preços praticados e qualquer p>0
M é a disponibilidade de renda (ou riqueza) para consumo, M>0

A solução do PMU são as quantidades ótimas de cada bem na cesta ou demandas


Marshallianas1

( )

1
Denominadas por Mas-Collel (1995) de demandas Walrasianas.
Existência de Solução

O Teorema de Weierstrass diz que “toda função contínua definida em um conjunto


compacto alcança um máximo ou um mínimo.
A existência de solução do PMU é, então, assegurada, pois, ( ) é uma função
contínua e o conjunto orçamentário é não-vazio, fechado e limitado e, portanto,
compacto ( ).

Solução do PMU para o caso de 2 bens


( )

sujeito a

A solução do PMU são as quantidades ou demandas ótimas,


 ( ), Demanda Marshalliana (ou ordinária) pelo bem 1
 ( ), Demanda Marshalliana (ou ordinária) pelo bem 2

Graficamente, no espaço bidimensional de bens, a cesta com as quantidades ótimas


( ( ) ( )) se situa no ponto de tangência entre a reta orçamentária e
a curva de indiferença mais alta possível. Ou seja, onde a inclinação da reta
orçamentária (razão entre os preços) se iguala à inclinação da curva de indiferença
(TMS ou razão de troca entre os bens).
Solução Única e Solução Múiltipla
A unicidade da solução é assegurada no caso de preferências estritamente convexas
(a inclinação em cada ponto da curva de indiferença é única).

(a) Curva de indiferença estritamente convexa (solução única)


(b) Curva de indiferença convexa (múltiplas soluções)

Solução Algébrica do PMU

A solução algébrica do PMU pelo método de Lagrange:


Função Lagrangeana:

( ) ( ) ( ∑ )

Condições de Primeira Ordem (CPO)


() () () ()

Demandas Marshallianas (ou Ordinárias)


A solução do PMU são as demandas Marshallianas (ou ordinárias):
( );
( );
...
( )

Condições de Segunda Ordem(CSO) para restrições de igualdade


Algebricamente, as CSO são obtidas da matriz Hessiana Orlada da função Lagrange,
() () ()
| |
() () ()
| ̂| | |

| () () ( )|

Esta matriz é simétrica.

Em problemas de maximização condicionada, | ̂ | pode ser positivo ou negativo


dependendo da ordem do menor principal desta matriz. Se for de ordem par, então
| ̂| , se for de ordem ímpar, | ̂ | (os sinais se alternam).

No caso de uma cesta com dois bens, conhecendo-se a função utilidade (objetivo) e a
restrição orçamentária (função de restrição) e sendo esta última linear, então, vale a
seguinte matriz hessiana orlada,
() () ()

| () () () |
| ̂| | |
| |
() () ()

Propriedades da Função Demanda Marshalliana:

(i) Homogeneidade de Grau Zero em p e M:


Homogeneidade de grau zero implica que se todos os preços e a renda forem
alterados na mesma proporção, então a escolha (demanda) ótima do
consumidor não mudará
( ) ( )
(ii) Lei de Walras:
A lei de Walras diz que o consumidor esgota toda a sua renda (ou riqueza) com
a aquisição da cesta mais preferida.

∑ ( ) ( )

Observação: Esta lei deve ser entendida de maneira geral, ou seja, o


consumidor pode poupar hoje para consumir mais amanhã, mas os excedentes
devem sempre se anular a qualquer tempo.
Exemplos de Soluções Gráficas Interiores e de Fronteira (Canto)

(1) Preferências de Bens Substitutos Perfeitos:

( )
{

(2) Preferências de Bens Complementares Perfeitos:

(3) Preferências Quase lineares:


(4) Preferências Côncavas:

Mais de uma solução

Exemplos de Solução Interior sem ponto de tangência


Função Utilidade Indireta

É a função utilidade que se obtém quando se insere as demandas Marshallianas na


função utilidade do consumidor. Representa a utilidade máxima obtida pelo
consumidor ao consumir as quantidades ótimas.

Algebricamente,
( ) ( ( )) ( ) ( )
Para o caso de dois bens:

( ) ( ) ( )

Propriedades da Função Utilidade Indireta:

(i) ( ) é Homogêna de Grau Zero

( ) ( )

(ii) ( ) é estritamente crescente na renda:

( )
Se ( ) ( )

(iii) ( ) é não crescente nos preços:

( )
Se ( ) ( )

(iv) Identidade de Roy:

A demanda Marshalliana pelo bem i é igual à razão negativa entre as derivadas


parciais da função utilidade indireta em relação ao preço do bem i e em relação
à renda M.

( )
( )
( )

Solução do PMU para a função utilidade Cobb-Douglas


Max. U x, y   x a  y b
s.a. px x  p y y  M

Solução:

(1) Função Lagrange


L( x, y,  )  x a y b   M  p x x  p y y 

(2) Condições de Primeira Ordem (CPO)

a  x a 1  y b
Lx  0  a  x a 1  y b  p x  0    i 
px
b  y b 1  x a
L y  0  b  y b 1  x a   p y  0    ii 
py
L  0  M  p x x  p y y  0  M  p x x  p y y iii 
Isolando-se  em (i) e (ii) tem-se:

a  x a 1  y b b  y b1  x a a  x 1 b  y 1 a py
     x  y iv 
px py px py b px

Substituindo-se (iv) em (iii), temos:

 a py  a  ab
p x     y   p y  y  M  p y  y    1  M  p y  y   M
 b px  b   b 
 b  M
 y*    Demanda Marshalliana pelo bem y v 
 a  b  py

Substituindo-se (v) em (iv) tem-se:

a py a py b M
x   y*  x   
b px b px a  b p y
a M
 x*   Demanda Marshalliana pelo bem x
a  b px

Cálculo da função utilidade indireta, v(p,m)


U x*, y *   x *   y *  v  p, M 
a b

b
  b M 
a
 a aa Ma bb Mb
v  p, M     v  p, m  
M
       
  a  b a p xa a  b b p by
 a  b px   a  b py 
b
 a   b 
a b a
 M 
 v  p, M           .
ab  
 px   p y 

As Condições de Segunda Ordem (CSO) para o caso de uma função utilidade Cobb-
Douglas ( ) , a,b>0 e a+b=1,

| ̂| | |
Note que:

( )

( )

Assim,
| ̂| [ ]+[ ]–[
| ̂| + –
A matriz hessiana orlada é simétrica e , então,
| ̂| –

Exercício:
Para o exemplo acima da função utilidade Cobb-Douglas
(a) Prove as propriedades da demanda Marshalliana pelo bem 1;
(b) Prove as propriedades da função utilidade indireta encontrada.

Literatura:
VARIAN, Hal R. (2006) Cap. 5
VASCONCELLOS (2000) Cap. 5
RESENDE, José G. de L. (Notas de Aula 4, 5)
JEHLE & RENY (2001)

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