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PRÉ-UNIVERSITÁRIO OFICINA DO SABER Aluno(a):

DISCIPLINA: Literatura PROFESSORA: Suéllen da Mata


Data: 31 / 08 / 2020

Composição estrutural do texto narrativo Lista 5


QUESTÃO 1 fino. Senta-se ele diante de sua máquina, olha através
da janela e busca fundo em sua imaginação um fato
Aquele bêbado qualquer, de preferência colhido no noticiário
matutino, ou da véspera, em que, com as suas
– Juro nunca mais beber – e fez o sinal da cruz com artimanhas peculiares, possa injetar um sangue novo.
os indicadores. Se nada houver, resta-lhe o recurso de olhar em torno
Acrescentou: – Álcool. e esperar que, através de um processo associativo,
O mais ele achou que podia beber. Bebia surja-lhe de repente a crônica, provinda dos fatos e
paisagens, músicas de Tom Jobim, versos de Mário feitos de sua vida emocionalmente despertados pela
Quintana. Tomou um pileque de Segall. Nos fins de concentração. Ou então, em última instância,
semana, embebedava-se de Índia Reclinada, de Celso recorrer ao assunto da falta de assunto, já bastante
Antônio. gasto, mas do qual, no ato de escrever, pode surgir o
– Curou-se 100% do vício – comentavam os inesperado.
amigos.
Só ele sabia que andava mais bêbado que um MORAES, V. Para viver um grande amor: crônicas e
gambá. Morreu de etilismo abstrato, no meio de uma poemas. São Paulo: Cia. das Letras, 1991.
carraspana de pôr do sol no Leblon, e seu féretro
ostentava inúmeras coroas de ex-alcoólatras Predomina nesse texto a função da linguagem que
anônimos. se constitui

ANDRADE, C. D. Contos plausíveis. Rio de Janeiro: a) nas diferenças entre o cronista e o ficcionista.
Record, 1991. b) nos elementos que servem de inspiração ao
cronista.
c) nos assuntos que podem ser tratados em uma
A causa mortis da personagem, expressa no último crônica.
parágrafo, adquire um efeito irônico no texto porque, d) no papel da vida do cronista no processo de escrita
ao longo da narrativa, ocorre uma da crônica.
e) nas dificuldades de se escrever uma crônica por
meio de uma crônica.
a) metaforização do sentido literal do verbo "beber".
b) aproximação exagerada da estética abstracionista. QUESTÃO 3
c) apresentação gradativa da coloquialidade da
linguagem. Certa vez minha mãe surrou-me com uma corda
d) exploração hiperbólica da expressão "inúmeras nodosa que me pintou as costas de manchas
coroas". sangrentas. Moído, virando a cabeça com dificuldade,
e) citação aleatória de nomes de diferentes artistas. eu distinguia nas costelas grandes lanhos vermelhos.
Deitaram-me, enrolaram-me em panos molhados com
QUESTÃO 2 água de sal – e houve uma discussão na família.
O exercício da crônica Minha avó, que nos visitava, condenou o
procedimento da filha e esta afligiu-se. Irritada, ferira-
Escrever prosa é uma arte ingrata. Eu digo prosa me à toa, sem querer. Não guardei ódio a minha mãe:
fiada, como faz um cronista; não a prosa de um o culpado era o nó.
ficcionista, na qual este é levado meio a tapas pelas
personagens e situações que, azar dele, criou porque RAMOS, G. Infância. Rio de Janeiro: Record,
quis. Com um prosador do cotidiano, a coisa fia mais 1998.
Num texto narrativo, a sequência dos fatos contribui e) verbos no tempo pretérito para enfatizar uma
para a progressão temática. No fragmento, esse aproximação com os fatos abordados ao longo do
processo é indicado pela texto.

a) alternância das pessoas do discurso que determinam QUESTÃO 5


o foco narrativo. Galinha cega
b) utilização de formas verbais que marcam tempos
narrativos variados. O dono correu atrás de sua branquinha, agarrou-a, lhe
c) indeterminação dos sujeitos de ações que examinou os olhos. Estavam direitinhos, graças a
caracterizam os eventos narrados. Deus, e muito pretos. Soltou-a no terreiro e lhe atirou
d) justaposição de frases que relacionam mais milho. A galinha continuou a bicar o chão
semanticamente os acontecimentos narrados. desorientada. Atirou ainda mais, com paciência, até
e) recorrência de expressões adverbiais que organizam que ela se fartasse. Mas não conseguiu com o gasto de
temporalmente a narrativa. milho, de que as outras se aproveitaram, atinar com a
origem daquela desorientação. Que é que seria aquilo,
QUESTÃO 4 meu Deus do céu? Se fosse efeito de uma pedrada na
cabeça e se soubesse quem havia mandado a pedra,
Aconteceu mais de uma vez: ele me abandonou. algum moleque da vizinhança, aí... Nem por sombra
Como todos os outros. O quinto. A gente já estava imaginou que era a cegueira irremediável que
junto há mais de um ano. Parecia que dessa vez seria principiava.
para sempre. Mas não: ele desapareceu de repente, Também a galinha, coitada, não compreendia nada,
sem deixar rastro. Quando me dei conta, fiquei horas absolutamente nada daquilo. Por que não vinham mais
ligando sem parar – mas só chamava, chamava, e os dias luminosos em que procurava a sombra das
ninguém atendia. E então fiz o que precisava ser feito: pitangueiras? Sentia ainda o calor do sol, mas tudo
bloqueei a linha. quase sempre tão escuro. Quase que já não sabia onde
A verdade é que nenhum telefone celular me é que estava a luz, onde é que estava a sombra.
suporta. Já tentei de todas as marcas e operadoras,
apenas para descobrir que eles são todos iguais: na GUIMARAENS, J. A. Contos e novelas. Rio de
primeira oportunidade, dão no pé. Esse último Janeiro: Imago, 1976.
aproveitou que eu estava distraído e não desceu do
táxi junto comigo. Ou será que ele já tinha pulado do Ao apresentar uma cena em que um menino atira
meu bolso no momento em que eu embarcava no táxi? milho às galinhas e observa com atenção uma delas, o
Tomara que sim. Depois de fazer o que me fez, quero narrador explora um recurso que conduz a uma
mais é que ele tenha ido parar na sarjeta. [...] Se ainda expressividade fundamentada na
fossem embora do jeito que chegaram, tudo bem. [...]
Mas já sei o que vou fazer. a) captura de elementos da vida rural, de feições
No caminho da loja de celulares, vou passar peculiares.
numa papelaria. Pensando bem, nenhuma das minhas b) caracterização de um quintal de sítio, espaço de
agendinhas de papel jamais me abandonou. descobertas.
c) confusão intencional da marcação do tempo,
FREIRE, R. Começar de novo. O Estado de centrado na infância.
S.Paulo, 24 nov. 2006. d) apropriação de diferentes pontos de vista,
incorporados afetivamente.
Nesse fragmento, a fim de atrair a atenção do leitor e e) fragmentação do conflito gerador, distendido como
de estabelecer um fio condutor de sentido, o autor apoio à emotividade.
utiliza-se de

a) primeira pessoa do singular para imprimir


subjetividade ao relato de mais uma desilusão
amorosa.
b) ironia para tratar da relação com os celulares na era
de produtos altamente descartáveis.
c) frases feitas na apresentação de situações amorosas
estereotipadas para construir a ambientação do texto.
d) quebra de expectativa como estratégia
argumentativa para ocultar informações.

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