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FONOAUDIOLOGIA, EDUCAÇÃO INFANTIL E FAMÍLIA: NOVOS CAMINHOS PARA A

PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM ORAL DE CRIANÇAS1

Luciana Tavares SEBASTIÃO2


Gabriela dos Santos BUCCINI3

INTRODUÇÃO

Berberian (1995) e Giroto (1998) demonstraram em seus estudos que as bases


das práticas fonoaudiológicas podem ser observadas nos trabalhos desenvolvidos
principalmente nas décadas de vinte a quarenta, em ações visando a normatização da língua
falada por imigrantes estrangeiros e nacionais que vieram para as regiões de maior potencial e
desenvolvimento industrial do país.

Segundo Berberian (1995, p.130)

... a Fonoaudiologia originou-se, enquanto forma de intervenção social, com o objetivo


de superar diferenças de determinados grupos sociais, em nome da unidade e do
progresso nacional.

De acordo com esta autora, neste contexto histórico, a fase escolar foi então
considerada o melhor momento para a realização de triagens e de tratamento dos “desvios da
língua”. Profissionais da Educação, neste contexto, “alteraram paulatinamente seu papel de
educadores para especialistas dos erros das palavras” (p.112).

Entretanto, o discurso fonoaudiológico hegemônico aponta o início da história da


Fonoaudiologia na década de 60, quando foram criados os primeiros cursos, instituindo assim
a formação do novo profissional encarregado da detecção e do tratamento de crianças e
adultos com alterações na comunicação oral e escrita, voz e audição.

Neste contexto de surgimento da profissão, as primeiras propostas de atuação


fonoaudiológica desenvolvidas em escolas, nas décadas de 60 a 80, estavam geralmente
voltadas para a detecção e tratamento de alterações fonoaudiológicas e pouca ênfase era dada
à prevenção de tais alterações e, principalmente, à promoção da saúde do escolar. Algumas
propostas de atuação fonoaudiológica em escolas foram apresentadas no pioneiro livro da área
da Fonoaudiologia Escolar, intitulado “O fonoaudiólogo e a escola” (FERREIRA, 1991).

O trabalho desenvolvido pelo fonoaudiólogo com o professor geralmente


restringia-se à realização de “orientações” sobre distúrbios da linguagem oral e escrita, bem
como ações visando a prevenção destas alterações em atividades grupais. Algumas propostas
de atuação incluíam a realização de atendimentos em “grupos de reforço”.

1
Artigo apresentado como relatório final ao Núcleo de Ensino.
2
Coordenadora do projeto. Fonoaudióloga. Docente do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Filosofia e Ciências –
UNESP – Campus de Marília.
3
Bolsista do Núcleo de Ensino de Marília – PROGRAD – UNESP. Discente do Curso de Fonoaudiologia da FFC – UNESP –
Campus de Marília.

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Alguns trabalhos relatavam atividades de prevenção de distúrbios vocais nos
próprios professores, mas nenhum destaque era dado ao trabalho visando à promoção da
saúde e do desenvolvimento infantil. Ao professor era atribuído, no contexto destas propostas,
o papel de colaborador na detecção de problemas de comunicação, o que contribuiu
fortemente para a patologização dos alunos e para a visão da atuação fonoaudiológica na
escola com ênfase predominantemente curativa.

No final da década de 80, a Declaração de Alma-Ata contribuiu para a adoção de


uma nova visão da saúde como direito do cidadão e dever do Estado, visão assumida na
Constituição de 1988. Ocorreram, então, mudanças nas políticas públicas de saúde,
culminando com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), modelo de atenção à saúde que
dá grande ênfase ao desenvolvimento de ações coletivas voltadas para a promoção da saúde
e para a prevenção dos agravos à saúde.

A implementação do Sistema Único de Saúde, em 1990, contribuiu para um


redirecionamento das práticas de saúde, com destaque para as ações de prevenção e
promoção da saúde. Os ideais e as propostas de Promoção da Saúde foram disseminados
pelo Brasil por meio de cartas e declarações elaboradas em reuniões e conferências (BRASIL,
2002).

Neste novo contexto histórico de saúde, surgiram várias propostas de promoção


da Saúde em nível local, dentre elas as Escolas Saudáveis ou Escolas Promotoras da Saúde,
iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), difundida nos países latino-americanos
durante a década de 90. Sob uma visão ampla e integral de saúde e educação que considera
peculiaridades culturais, a família e a história de cada um, tal proposta enfoca fatores que
influenciam a auto-estima, habilidades comunicativas e a qualidade de vida e saúde dos
estudantes, professores, funcionários, familiares e comunidade (Penteado, 2002).

Nessa perspectiva, a escola passa a ser um espaço onde se é possível vivenciar


diariamente as relações de ensino-aprendizagem, de convivência e desenvolvimento; espaço
privilegiado para a Promoção da Saúde, pois representa um ambiente em que as pessoas
passam parte do tempo de sua vida e onde se formam valores fundamentais (PENTEADO,
2002; AERTS et al., 2004).

Se considerarmos a escola como um grande espaço de reflexões e relações


interpessoais mediadas pela linguagem, o ambiente social, a interação, a linguagem e a
comunicação passam a representar elementos essenciais para o desenvolvimento da proposta
de Escolas Promotoras de Saúde. Nesta perspectiva, a escola constitui-se como um local
privilegiado para o trabalho, pesquisa e reflexão do fonoaudiólogo (PENTEADO, 2002;
SERVILHA et al., 1999).

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Vários aspectos da área da Fonoaudiologia podem ser trabalhados em
propostas de atuação em escolas nos diferentes níveis de ensino, como voz, audição e
linguagem oral e escrita, dentre outros. O projeto ora apresentado enfocará a investigação e o
desenvolvimento de ações educativas na área da linguagem oral e envolverá a Educação
Infantil.

A aquisição da linguagem é, sem dúvida, o ato mais significativo da primeira


infância e, talvez, de toda a vida. (Albuquerque, 2000).

Segundo Guedes (1997), a aquisição da linguagem se dá por meio da interação


da criança com o mundo físico, social (ou com o outro que o representa) e com objetos
lingüísticos (enunciados efetivamente produzidos). Entre os 3 e 5 anos de idade, a criança
começa a revelar a capacidade de sistematizar, organizar e normalizar conhecimentos
tentando classificá-los para facilitar sua apreensão. É nessa fase que os processos internos
vivenciados pela criança (suas sensações e percepções), armazenados na memória, são
trazidos para a linguagem por meio de símbolos lingüísticos.

De acordo com Roncato e Lacerda (2005), a linguagem oral se desenvolve a


partir das interações da criança e o ambiente que pode ser mais ou menos favorável ao seu
contato com a linguagem, podendo assim propiciar oportunidades para o educando falar e
compreender. No tocante à atuação do fonoaudiólogo em escolas, estas autoras afirmaram
que este profissional poderá contribuir para que o professor perceba a importância das
situações dialógicas para o desenvolvimento da linguagem oral e, dessa forma, crie situações
de uso mais efetivo da linguagem.

Perroni (1992), realizou importantes observações sobre o desenvolvimento da


narrativa em crianças. Na análise de situações dialógicas estabelecidas com crianças mostrou
que por volta dos 2 anos ocorrem as primeiras tentativas de narrar, resultantes de uma
atividade de construção conjunta criança-adulto. Aos 3 anos, é possível identificar recursos de
construção da narrativa, constituindo o que a autora denominou de narrativa primitiva e, por
volta dos 4 anos, pode-se observar a constituição da criança como narrador, sujeito da
enunciação e uma conseqüente mudança no papel do adulto nas situações de construção da
narrativa.

Segundo Lemos (In: Perroni, 1992),

a aquisição da narrativa é um indício importante de uma nova relação da criança com


a linguagem. É o momento em que ela não depende mais da interpretação/
enunciado imediato do outro/ interlocutor, e que a progressão de seu discurso já
repousa sobre sua possibilidade de interpretando o já dito, lançar o que está por dizer
(p.XV)

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Para Penteado et al. (1996), os primeiros interlocutores da criança são os
membros de sua família, não somente o núcleo formado por pai, mãe e filhos, mas
compreendida enquanto dinâmica das relações existentes entre a criança e o adulto, que
acompanha a trajetória da vida da criança. Para estes autores, a redução e/ou inexistência da
prática do brincar e conversar durante os primeiros anos de vida da criança podem acarretar
um déficit no desenvolvimento infantil e, conseqüentemente, levar a um quadro de atraso no
desenvolvimento da linguagem, requerendo freqüentemente a intervenção de fonoaudiólogos
que irão fazer, provavelmente, o que a família poderia e deveria ter feito.

O desenvolvimento da linguagem oral da criança, após sua entrada na escola,


conta com a participação do professor, funcionários e dos demais alunos com quem ela tiver
contato. Quanto mais a criança estiver inserida em práticas de linguagem favoráveis, melhor
será o desenvolvimento de sua linguagem.

Segundo Roncato e Lacerda (2005, p. 222)

Considerando que essas crianças passam a maior parte de seu tempo ativo na
escola e que os modelos adultos principais de que dispõem são fundamentalmente os
professores, é urgente pensar na força e na responsabilidade desses agentes como
propulsores do desenvolvimento de linguagem dessas crianças. Sua capacidade de
argumentar, de discordar, de narrar poderá ser ampliada ou não na medida em que
espaços sociais se constituam para isso.

Muitas vezes, o desenvolvimento lingüístico da criança não atinge os níveis que


poderia atingir em decorrência da pouca valorização por parte de seus pais e professores em
relação à importância da participação do adulto no processo de aquisição da linguagem infantil,
resultando em raros momentos de interação e de diálogo entre eles em seu dia-a-dia. Para que
a participação dos pais e professores seja efetiva neste processo, é necessário que eles
tenham conhecimentos sobre o desenvolvimento normal da linguagem, incluindo atitudes e
atividades que contribuam com este processo, bem como que estejam sensibilizados para a
importância das situações dialógicas estabelecidas com o adulto.

Sendo a linguagem objeto de estudo do fonoaudiólogo, este profissional possui


um papel importante na viabilização de propostas junto a escolas que visem contribuir para o
desenvolvimento lingüístico dos alunos. Professor e fonoaudiólogo devem atuar como
parceiros em ações que visem otimizar o desenvolvimento do educando.

Além da importância deste trabalho em parceria voltado para o desenvolvimento


infantil, ações desta natureza contribuirão para modificar a visão hegemônica da atuação
fonoaudiológica em escolas de que este profissional atua primordialmente na detecção e
tratamento de problemas.

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Giroto et al (1999), realizaram uma pesquisa com 36 professores de Educação
Infantil com o objetivo de analisar a visão destes profissionais em relação à atuação
fonoaudiológica em escolas. Dentre os 29 professores que referiram ter tido algum contato com
o trabalho desenvolvido por estagiários de Fonoaudiologia nas escolas em que atuavam, 20
(69%) deles indicaram a realização de triagens e 12 (41,40%), de encaminhamentos. Com
base nos resultados do estudo, os autores concluíram que, em sua atuação em instituições
educacionais, o fonoaudiólogo deve dispensar mais atenção às atividades de prevenção e
promoção visando desenvolver plenamente seu papel e contribuir para modificar a percepção
do professor de que realiza, prioritariamente, triagens e encaminhamentos.

Esta pesquisa evidencia a visão do trabalho fonoaudiológico em instituições


educacionais voltada para a identificação e tratamento da doença fonoaudiológica e não para a
promoção da saúde, para a atuação na direção do desenvolvimento infantil e da qualidade de
vida dos educandos.

Neste sentido, concordamos com Roncato e Lacerda (2005) em que

... o papel do fonoaudiólogo pode ser muito mais amplo e importante do que tem sido
comumente assumido, se for considerada a parceria que esse profissional pode fazer
com professores responsáveis pela educação infantil para um amplo aproveitamento
das situações discursivas presentes neste espaço, fundamentais para um
desenvolvimento pleno da linguagem. (p.223)

É com base nos pressupostos acima expostos que o projeto “Fonoaudiologia,


Educação Infantil e Família: novos caminhos para a promoção do desenvolvimento da
linguagem oral de crianças”, foi proposto ao Núcleo de Ensino da Unesp que, por meio da Pró-
Reitoria de Graduação (PROGRAD) concede auxílio financeiro a projetos que visem à pesquisa
em escolas do ensino de educação infantil, fundamental e médio do sistema de ensino público,
bem como promover intervenções na realidade das escolas.

Dessa forma, o referido projeto visou investigar as concepções de pais sobre o


desenvolvimento de linguagem oral de crianças, bem como desenvolver atividades educativas
com estes visando à construção de conhecimentos sobre estratégias que contribuam para o
desenvolvimento da linguagem oral, bem como contribuir para sensibilizá-los a respeito da
importância de tais interlocutores no processo de desenvolvimento infantil. Visou, também,
planejar, desenvolver e avaliar, em parceria com professores, atividades lúdicas didático-
pedagógicas com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento da linguagem oral dos
alunos.

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2. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO

Inicialmente, foi solicitada autorização da Secretaria Municipal de Educação de


Marília para realização do projeto. Concedida esta autorização, foi feita a seleção da Escola
Municipal de Educação Infantil em que o trabalho seria desenvolvido. Feita a escolha,
realizamos uma reunião com a direção da escola visando à apresentação dos objetivos e
procedimentos do trabalho.

Tendo havido interesse por parte da direção da escola selecionada em participar


do projeto, foram selecionadas duas salas de maternal, sendo uma do período integral e outra
do período parcial. A escolha dessas classes ocorreu devido à tenra idade das crianças, que
variou entre 3 a 4 anos, período em que ocorrem as principais aquisições relativas à linguagem
oral.

Participaram dos diferentes procedimentos envolvidos no projeto as duas


professoras das salas selecionadas, ambas com formação em Pedagogia; os alunos, crianças
com três anos de idade ou que iriam completar esta idade no decorrer do ano letivo, bem como
seus pais ou responsáveis.

Apresentaremos a seguir, separadamente, os procedimentos do trabalho


realizado com os professores e alunos das classes selecionadas, bem como com os pais ou
outros familiares.

2.1. Procedimentos desenvol vidos em parceria com os pr ofessor es

Inicialmente, o projeto foi apresentado às professoras visando explicitar os


objetivos do trabalho e os diferentes procedimentos que seriam realizados. Neste momento
também foram discutidos os objetivos comuns ao trabalho do fonoaudiólogo e do professor, ou
seja, o desenvolvimento infantil, com ênfase na linguagem oral, bem como ressaltado que as
atividades lúdicas voltadas para a promoção do desenvolvimento lingüístico a serem
empreendidas com os alunos deveriam se constituir uma ação em parceria entre as duas
profissões, sendo extremamente importante a participação dos envolvidos (professores e
bolsista) na elaboração, desenvolvimento e avaliação de tais atividades.

Durante o desenvolvimento do projeto, foram entregues às professoras textos


sobre o desenvolvimento da linguagem oral, bem como outros materiais bibliográficos contendo
algumas atividades lúdicas que poderiam contribuir com tal aspecto do desenvolvimento infantil
(Roncada & Márquez, 1998; Misquiatti, 2000; Antunes, 2003).

A discussão de tais materiais, bem como das atividades didático-pedagógicas


ocorria semanal e individualmente com as duas professoras e suas respectivas salas. Nesses
momentos, professora e bolsista discutiam quais seriam as contribuições pedagógicas e

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fonoaudiológicas que cada atividade selecionada poderia trazer no tocante ao desenvolvimento
da linguagem oral.

Após a realização das atividades, a díade bolsista-professora fazia a avaliação


da ação desenvolvida e traçava modificações na mesma atividade ou elaborava novas
estratégias para alcançar o objetivo principal do trabalho, ou seja, contribuir para o
desenvolvimento lingüístico dos alunos.

Algumas idéias de atividades foram trazidas pela bolsista, entretanto, vale


ressaltar o grande empenho das professoras que, além de trazer novas idéias, buscavam
sempre enriquecer as atividades inicialmente sugeridas pela bolsista. Ressaltamos também o
interesse e a disponibilidade das professoras em dar seguimento ao trabalho voltado para o
desenvolvimento lingüístico dos alunos mesmo nos dias em que a bolsista não estava presente
na escola. Os objetivos e resultados das atividades relacionadas ao projeto e desenvolvidas
pelas professoras na ausência da bolsista eram relatados pelas educadoras nos momentos
destinados à discussão do andamento do projeto.

É importante ressaltar que todos os alunos das duas classes selecionadas


participaram das atividades didático-pedagógicas elaboradas e desenvolvidas em parceria com
as professoras, independentemente da participação de seus familiares nos demais
procedimentos do estudo. Cada classe era composta de 25 alunos, totalizando 50 crianças
participantes de tais atividades.

A partir das leituras e reflexões dos materiais bibliográficos utilizados no decorrer


do projeto, era realizada a discussão individualmente, com cada professora, sendo sempre
solicitado que elas pensassem na esfera pedagógica da atividade, ou seja, nos objetivos que
iríamos trabalhar, além do objetivo central do projeto que era a promoção do desenvolvimento
da linguagem infantil. Embora as atividades elaboradas e desenvolvidas visassem contribuir
para desenvolvimento da linguagem oral dos alunos, outros objetivos eram identificados pelas
professoras, como: diversão, memória, gosto por estórias, criatividade, coordenação motora,
noção temporal, linguagem gestual, raciocínio, imaginação, sendo estes alguns dos objetivos
do trabalho da Educação Infantil.

A troca de informações que ocorria entre as participantes do projeto nesses


momentos de reflexão sobre as atividades realizadas com os alunos trouxe grande contribuição
à formação profissional dos envolvidos, tanto para a formação inicial da bolsista (graduação)
quanto para a formação das professoras em contexto de trabalho.

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A tabela apresentada a seguir ilustra as atividades realizadas, bem como
quantas vezes cada uma delas foi utilizada durante o desenvolvimento do projeto:

Atividades / Sala Maternal Integral Maternal Parcial


Contagem de estórias clássicas (CD, leitura de livros ♠♠♠♠ ♣♣♣♣
infantis, fitas de videocassete)
Contagem de estórias “novas” ♠♠♠ ♣♣
Desenho sobre estórias/ tema ♠
Recitar poesia ♠♠♠ ♣
Cantar músicas ♠ ♣♣♣♣
Brincando com os animais (nomeação, imitação e ♠♠♠♠♠ ♣♣♣♣♣
músicas)
Desenho a partir de um tema discutido em sala. ♠
Narrativas de estórias com apoio de dedoches ou ♠♠ ♣♣♣
fantoches
Roda da conversa ♠♠♠ ♣♣♣
Contagem de história em quadrinhos ♠ ♣
Adivinhação de desenhos ♣
Nomeação dos alunos e das letras de seus nomes ♣
Dançar e cantar músicas infantis ♠ ♣

Ao final do projeto foi solicitado que as professoras realizassem uma avaliação


escrita em relação ao trabalho desenvolvido em parceria com a bolsista, bem como sobre suas
respectivas percepções acerca do desenvolvimento da linguagem dos alunos no decorrer do
projeto. Foi solicitado também que as professoras dessem sugestões para uma possível
continuidade do trabalho, bem como para atividades que poderiam ser desenvolvidas com as
mães dos alunos.

Nesta avaliação, as duas professoras expressaram suas opiniões em relação à


importância do trabalho do educador em parceria com o fonoaudiólogo. Para as participantes, o
projeto representou uma oportunidade de aprender e pensar em novas estratégias que
pudessem motivar os alunos, razão pela qual as duas professoras buscavam dar continuidade
às atividades propostas mesmo na ausência da bolsista.

Quanto à percepção das professoras em relação ao desenvolvimento da


linguagem oral dos alunos, no decorrer do projeto, as duas educadoras relataram ter percebido
mudanças significativas e que estas mudanças haviam sido também percebidas pelos pais, o
que pode ser verificado por meio de alguns comentários que eles faziam.

Segundo as professoras, o trabalho com os pais é muito importante para que


eles entendam que precisam ajudar seus filhos na aprendizagem. Na percepção das
profissionais que participaram do projeto, quando os pais percebem as mudanças nas crianças
eles se prontificam a participar e contribuir com o desenvolvimento das atividades.

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2.2. Procedimentos desenvol vidos com a família dos alunos

No trabalho com os pais ou outros familiares dos alunos das classes


selecionadas foi, inicialmente, realizada uma reunião visando à apresentação dos objetivos e
procedimentos envolvidos no projeto. Nesta primeira reunião compareceram 24 responsáveis,
sendo que 22 assinaram e devolveram o termo de consentimento livre e esclarecido
manifestando assim sua concordância em participar do projeto, bem como a concordância em
relação à participação de seus filhos.

O trabalho com os pais envolveu dois procedimentos: uma investigação sobre a


concepção de pais sobre a linguagem e a realização de dois encontros para discussão de
temas relacionados à promoção do desenvolvimento da linguagem oral em crianças.

A investigação sobre as concepções de pais a respeito do desenvolvimento de


linguagem oral de crianças foi feita por meio de questionários com questões abertas e enviados
pelos alunos para ser respondido em casa e, depois de preenchido, ser devolvido ao professor.
Este instrumento de coleta de dados visou analisar os conhecimentos prévios desses familiares
sobre o desenvolvimento da linguagem oral, bem como obter informações sobre atitudes
adotadas e atividades realizadas em casa com as crianças voltadas para a promoção deste
aspecto do desenvolvimento.

Foram enviados 22 questionários aos familiares que haviam comparecido na


reunião e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Desse total, 14 foram
devolvidos respondidos.

O segundo procedimento envolveu a realização de atividades educativas com os


pais ou responsáveis pelos alunos, atividades que visaram à construção de conhecimentos
relacionados a diferentes aspectos relacionados ao desenvolvimento da linguagem oral de
crianças. Os pais foram convidados a participar de dois encontros com tal finalidade, sendo
que no primeiro encontro participaram treze familiares e, no segundo encontro, oito pais.

No primeiro encontro abordamos a temática relacionada ao desenvolvimento da


linguagem oral. Foram discutidas as etapas freqüentemente observadas neste processo do
desenvolvimento infantil e esclarecidas dúvidas que puderam ser percebidas a partir das
respostas dadas pelos pais no preenchimento do questionário. Durante a discussão deste
tema, foram utilizados cartazes ilustrativos das etapas do desenvolvimento lingüístico da
criança, bem como dados exemplos de situações comumente observadas no dia-a-dia trazidas
pelos próprios pais em seus comentários realizados durante o encontro.

Um mês após a realização do primeiro encontro, foi enviada uma nova carta-
convite aos pais e responsáveis, informando a data do segundo encontro. Neste segundo e
último encontro, foram discutidas algumas atividades que poderiam ser realizadas pelos

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familiares, bem como atitudes que poderiam ser adotadas na interação com a criança com o
intuito de contribuir com seu desenvolvimento lingüístico.

Além desses temas, foram abordados outros assuntos da área da


Fonoaudiologia como, por exemplo, a disfluência infantil, uma vez que tal discussão havia sido
solicitada pelos participantes no primeiro encontro. Também foram discutidas dúvidas
relacionadas a outros aspectos fonoaudiológicos que foram expostas pelos pais ou
responsáveis durante este segundo e último encontro.

A seguir apresentaremos os dados obtidos nos questionários realizados com os


pais. As categorias de análise foram elaboradas a partir da literatura relacionada ao estudo,
bem como dos dados obtidos no questionário e considerados relevantes para discussão do
tema em pauta. A unidade de registro adotada foi o enunciado ou parte do enunciado que tem
sentido próprio em relação aos temas da investigação (Moreira, 2001).

Considerando que os enunciados são, freqüentemente, muito extensos, para


melhor compreensão dos dados obtidos foram retiradas “partes que não deixavam de constituir
unidades autônomas de sentido” (Moreira, 2001, p.114).

Inicialmente serão apresentadas as informações referentes aos conhecimentos


dos pais em relação ao processo de desenvolvimento da linguagem oral. A questão referente a
este tópico continha em seu enunciado a seguinte pergunta: “O que você sabe sobre o
desenvolvimento da fala de uma criança?”

O quadro abaixo ilustra as respostas obtidas frente a este questionamento e que


caracterizam os conhecimentos prévios dos pais e/ou outros familiares levantados a partir do
preenchimento do questionário.

Quadro 1 – Categorias de análise e indicadores – conhecimentos sobre o


desenvolvimento da linguagem oral

Categorias Indicadores Exemplos de Enunciados


F4 – quase nada...a criança ouve as pessoas e aos poucos
Não sei / Não sei quase vai associando os nomes, as palavras...
nada F17 – Eu não sei nada, eu só sei que é importante na vida de
Conhecimentos todos, tanto crianças como adultos...
sobre o
desenvolvimento F13 – ... tempo a tempo se desenvolve...
da fala de uma Desenvolvimento como F19 - ...algumas crianças falam mais rápido outras falam
criança um processo mais demorada...mas alguns tipos de exercícios facilitam...
F2 – Bom!...pela idade dele...
Desenvolvimento normal F3 – Não vejo nada de errado acho que ele fala normal...
F21- compreensível, de fácil compreensão...
F5 - ...quando a criança fala de forma incorreta ela precisa de
Problemas no acompanhamento...
desenvolvimento F12 - ...desenvolvimento da fala está um pouco lento...
Ajuda/ Participação dos F6 -...observo e ajudo a falar corretamente...
pais F9 – ... falar palavras corretas...
Importância da entrada na F18 - ...quando começou a vir no parque, desenvolveu bem a
escola fala...

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Os dados apresentados acima sugerem que os familiares têm poucos
conhecimentos a respeito do processo evolutivo da linguagem oral. Entretanto, algumas
respostas demonstram que eles percebem a relevância da escola no desenvolvimento infantil,
bem como parecem estar cientes do importante papel que os pais desempenham neste
processo, muito embora as respostas referentes a este aspecto evidenciem a preocupação
com o “falar corretamente”, ou seja, com o aspecto fonológico da linguagem oral.

Os pais também foram questionados sobre os comportamentos que observavam


em seus filhos referentes ao desenvolvimento da linguagem oral. O quadro 2 apresentará os
dados obtidos no tocante a este tópico.

Quadro 2 – Categorias de análise e indicadores – comportamentos observados


referentes ao desenvolvimento da linguagem oral

Categorias Indicadores Exemplos de Enunciados


F3 - ...conversa bastante, conta o que aconteceu na
Sem dificuldades / escolinha.
desenvolvimento normal F4 - ... me parece normal.
F5 – Nada de errado por enquanto...
Observações em F13 – Normal...mas se desenvolve bem.
relação ao F12 - Ele nem comenta nada...
desenvolvimento Dificuldades observadas F19 -...quando ele quer falar as palavras se atropelam, como
da fala do(a) em relação ao se o pensamento fosse mais rápido do que a fala... pergunto
filho(a) desenvolvimento da o que ele fez na escolinha e ele finge que nem esta ouvindo.
linguagem oral
F1 - ...cada dia que passa ela vai melhorando...vai
Desenvolvimento como aprendendo a falar as palavras direito.
um processo F6 – cada dia melhor.
F9 - ...ele está falando mais
Dados relacionados à F12 -...ele não consegue falar as palavras certas
aquisição fonológica F20 - ...fala tudo certo, sem erros.
F4 - ...ela aponta o que vê e pergunta o que é.
Uso / apoio de linguagem F6 – Aponta o que ele quer.
gestual F19 - ...nas histórias ele usa as mãos.
F20 - ...com as mãos.

Os dados apresentados acima demonstram que, embora os familiares não


tenham feito menção a aspectos teóricos relacionados ao processo evolutivo da linguagem oral
e observados em seus filhos, as respostas dadas aos questionamentos sobre tal processo
(quadros 1 e 2) mostram que eles estão atentos em relação ao desenvolvimento de seus
filhos. É bem possível que se eles tivessem mais informações sobre este tema, poderiam
melhor acompanhar o desenvolvimento de seus filhos munidos de mais informações advindas
do conhecimento científico estruturado e, assim, contribuir com este processo.

Considerando que o projeto enfocou, em relação ao desenvolvimento da


linguagem oral, o desenvolvimento das narrativas, os pais foram questionados sobre como
seus filhos contavam histórias, fatos e relatavam casos. O quadro 2 apresenta os dados
obtidos frente a tais questionamentos.

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Quadro 3 – Categorias de análise e indicadores – observações feitas pelos pais em
relação às narrativas

Categorias Indicadores Exemplos de Enunciados


Sim F3 – Conta as estórias...ele comenta sobre o que aconteceu no filme.
Seu filho conta F19 - ...conta do jeito dele, mas quase não dá pra se entender.
estórias? Como? Não F9 – Não...mas gosta de cantar...canta quase todas as frases certas...
F12 – Não me conta nenhum tipo de estórias...
Sim F1 – Sim...conta como foi na escola...o que ela comeu de lanche.
Seu filho conta Ás vezes F4 – Muito pouco, quando ela lembra...
fatos que já F12 – Às vezes sim, as vezes não. Conta como se fosse uma historinha...
aconteceram? Não F17 – Não percebi.
Como?
Sim F17 – Sim...conta tudo que fez no parque... o que comeu...do que brincou.
Seu filho conta as F18 - ...que brinca nos brinquedos...com os colegas.
atividades que fez Às vezes F3 – Às vezes...quando eu pergunto.
na escola? F4 – Às vezes...quando ela lembra ou quando a gente pergunta...
Como?

As respostas dadas pelos respondentes permitiram observar que ao serem


questionados sobre “como” seus filhos realizavam as narrativas referentes a histórias e aos
relatos de casos ou fatos, os pais tiveram dificuldades em caracterizar as narrativas.

Outro aspecto investigado por meio do questionário diz respeito às concepções


dos pais ou responsáveis acerca de seu papel no desenvolvimento da criança. Os
questionamentos relacionados a este tema envolveram perguntas sobre sua percepção em
relação à participação ou não da família neste processo, bem como sobre quais atividades
contribuiriam e com que freqüência elas eram realizadas. Os dados referentes à investigação
deste tema poderão ser vistos no quadro abaixo:

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Quadro 4 – Categorias de análise e indicadores – concepções dos pais ou responsáveis
sobre o papel da família no desenvolvimento da linguagem oral da criança

Categorias Indicadores Exemplos de Enunciados

Você acha que Sim F1 - ...ensinando... falar certo.


os pais podem F5 - ...falando corretamente e corrigindo-as quando falarem
auxiliar no errado.
desenvolvimento
da fala da
criança? Como?
Cantando, dançando F6 – Cantar musica infantil.
F13 – Dançamos e cantamos. Quando a música...fazemos
certo.
F21 - ...danço e canto músicas...
Conversando F4 – em casa, todo mundo conversa bastante, brinca...
F9 – Conversando com ela devagar...
F5 – Converso com ele...
Repetindo palavras F9 - ...soletrando as palavras e repetindo quando erram até
Que tipo de que diga certo
atividade você faz F4 – incentiva a falar corretamente as palavras...
com seu filho que Várias atividades lúdicas F2 – Alfabeto, número, cores...
possa ajudar o envolvendo noções de F18 – brinco com eles...passeio de bicicleta....
desenvolvimento números, cores, nome de F21 – ...brinco de carrinhos, de bonecas...
da fala dele? bichos, frutas, etc.
Contando estórias F1 – eu leio historinhas de livros e peço para ele repetir o
que eu falo...
F4 - ....conta estórias
F17 – Conto bastante estórias e depois peço para ele
contar outras para mim...
F19 – Eu leio histórias e conto com ele....
F21 – Leio estórias....
Nenhuma F12 – nenhuma.
F20 – nenhuma ele fala de tudo.
Todos os dias F4 – Praticamente todos os dias de forma natural.
F5 – todos os dias.
Com que F21 – Sempre...todos os dias.
freqüência você Algumas vezes na semana F2 – algumas vezes na semana (4X)
realiza estas F6 - ..algumas vezes na semana.
atividades? F19 – Algumas vezes na semana para que ele não se
canse e desista...
Algumas vezes por mês F13 – final de semana...
Não realiza F12 - ...Não realiza.

Os dados acima apresentados demonstram que os respondentes realizam


atividades com seus filhos que podem resultar em importantes situações dialógicas com suas
crianças no dia-a-dia da vida em família e, dessa forma, trazer grandes contribuições ao
desenvolvimento lingüístico. É curioso observar que, ao serem questionados quanto à
freqüência com que realizavam as atividades que teriam potencial para contribuir com o
desenvolvimento infantil, alguns respondentes indicaram as respostas (dadas no enunciado
como exemplo) “algumas vezes por semana” e “algumas vezes por mês”.

Além do questionamento sobre a importância da participação da família no


processo de desenvolvimento da linguagem oral, os pais foram questionados sobre o papel do
professor no desenvolvimento da linguagem oral de seus alunos, bem como sobre quais
atividades desenvolvidas no contexto escolar poderiam contribuir para este processo. Os
dados obtidos podem ser observados no quadro 5.

996
Quadro 5 – Categorias de análise e indicadores – concepções dos pais ou responsáveis
sobre o papel dos professores no desenvolvimento da linguagem oral de seus alunos.

Categorias Indicadores Exemplos de Enunciados

Você acha que os Sim F4- ...mostrando como falar corretamente as palavras,
professores podem associando desenhos aos nomes...
auxiliar no F5- ...cantando, brincando, contando estórias e corrigindo.
desenvolvimento da F12 – podem sim...mas não sei como
fala da criança? F19 - ...contando bastante estórias, pedindo para eles
Como contarem...
F21 - ...do jeito que elas acharem melhor, cantando, contando
estórias, assistindo filmes
F5 – ...contar estórias...
Que tipo de atividade Contar estórias F18 – histórias, filmes...
é feita na escola que, F19 – leitura de estórinhas...
na sua opinião, F4 – Ensinando musicas infantis...
contribui para o Cantar músicas F19 – ...as musicas, a dança...
desenvolvimento da Conversar F3 – procurando conversar...com eles e explicar as duvidas.
fala do seu filho? Ensinar a F1 - ....as letras do nome.
reconhecer letras F2 - ...ler...tudo é imporante.
F4 – ...mostrando figuras e pedindo para a criança falar o
Atividades em sala nome...
F17 – todas atividades que as professoras passam contribuem...
Brincadeiras e F2 – tudo é bom...desde de brincar...
conversas com os F9 - ...na hora do recereio que brincam e conversam com seus
demais alunos coleguinhas.
F19 - ...e as brincadeiras pedagógicas.
Nenhuma F12 - ...porque ele só brinca na escola.
atividade

As respostas obtidas nestas duas perguntas que compuseram o questionário


demonstram que os familiares estão conscientes e sensibilizados para importância da
participação do professor neste processo, assim como relatam atividades realizadas na escola
que podem realmente resultar em importantes situações dialógicas entre suas crianças e os
educadores, assim como com os próprios colegas de classe, no contexto das atividades
escolares.

Na análise dos dados obtidos em diferentes questões do instrumento de coleta


de dados utilizado pudemos perceber uma constante (e excessiva, considerando a faixa etária
dos alunos envolvidos!) preocupação dos responsáveis com o modo correto de falar (sem
trocas de sons), ou seja, com o nível fonológico da linguagem. Em diferentes momentos os pais
referiram-se a esta questão apontando inclusive suas atitudes visando o enfrentamento deste
“problema”, como, por exemplo, “corrigir”, “repetir” e “soletrar as palavras” no momento em que
a criança falava uma palavra de forma “incorreta”. Vale ressaltar que os alunos das salas
selecionadas encontravam-se na faixa etária entre três a quatro anos, ou seja, estavam ainda
em fase de aquisição fonológica.

Este dado evidencia a importância de ações educativas visando à construção


de conhecimentos sobre os diferentes aspectos relacionados ao processo de desenvolvimento
da linguagem oral, dentre eles a aquisição fonológica.

997
A seguir apresentaremos os dados referentes aos procedimentos de
investigação desenvolvidos com os alunos.

2.3. Procedimentos desenvol vidos com os alunos

Os procedimentos desenvolvidos com os alunos envolveram ações de


investigação e educativas. As atividades educativas foram apresentadas no item referente ao
trabalho desenvolvido em parceria com o professor e visaram favorecer o estabelecimento de
situações dialógicas entre alunos, professor e bolsista e, dessa forma, contribuir para o
desenvolvimento lingüístico dos educandos.

Em relação às ações de investigação, foram realizadas duas filmagens de


situações que envolviam a realização de narrativas, sendo uma ao início do desenvolvimento
do projeto e outra ao seu final. Somente participaram das filmagens os alunos cujos pais ou
responsáveis tivessem concordado com o procedimento e assinado o termo de consentimento
livre e esclarecido. A filmagem de tais situações permitiu registrar, além da linguagem oral,
outras formas de comunicação como, por exemplo, gestos e expressão facial.

Inicialmente, pretendíamos que a filmagem fosse realizada com cada aluno


separadamente. Contudo, por sugestão das professoras, optamos por filmá-los em duplas.
Dessa forma, a filmagem foi feita em duplas de alunos. Em uma das salas foi formado um trio
devido ao número ímpar de alunos a serem filmados.

Alguns dias antes da primeira filmagem, a bolsista esteve presente em várias


atividades desenvolvidas pelas professoras com suas respectivas salas com o objetivo de que
os alunos pudessem se familiarizar com sua presença, contribuindo assim para propiciar uma
situação mais favorável para o estabelecimento da atividade dialógica que seria registrada.

Participaram da primeira filmagem 18 alunos das duas classes envolvidas no


estudo, embora 22 pais tivessem assinado o termo de consentimento. Quatro alunos não
participaram desta filmagem devido à ocorrência de faltas nos dias em que o registro da
atividade dialógica foi realizado.

Foi previamente acordado com as professoras que a bolsista chamaria os alunos


em duplas, selecionadas aleatoriamente. Na situação de interação entre os alunos e a bolsista
foram feitas as seguintes perguntas: “O que você fez na escola hoje?” ou, “O que você estava
fazendo? ou ainda, “O que você estava assistindo?”

Durante a realização desta primeira filmagem, em muitos momentos foi


necessária a intervenção da bolsista no diálogo uma vez que os alunos apenas respondiam às
questões feitas, sem ainda narrar espontaneamente, ou seja, sem a ajuda de um adulto. Por
esta mesma razão é que, mesmo estando em duplas, muitos alunos mantiveram um diálogo

998
(pergunta-resposta) somente com a bolsista. Acreditamos que a atividade em duplas, neste
momento, contribuiu para que os alunos se sentissem mais à vontade e aceitassem o convite
para se dirigir com a bolsista até a sala em que as filmagens eram realizadas.

Quanto à filmagem final, esta foi realizada em período próximo ao encerramento


das atividades do projeto na escola e após o desenvolvimento das atividades com os pais e
professores. Participaram desta segunda filmagem 12 alunos, uma vez que quatro dentre as 18
crianças que haviam participado da primeira filmagem faltaram nos dias do registro da atividade
dialógica e outras duas mudaram de escola.

Assim como na filmagem anterior, foi previamente acordado com as professoras


que a bolsista chamaria os alunos em duplas. Entretanto, procuramos manter a mesma dupla
da filmagem inicial, o que nem sempre foi possível devido às faltas dos alunos nos dias de
gravação. Foi feita a seguinte pergunta aos alunos: “Você sabe alguma historinha? Conta para
mim?” ou então, “Me conta historinha?” Quando o aluno dizia não saber nenhuma história, foi
retomada a pergunta feita na primeira filmagem: “O que você estava fazendo?”

A solicitação para que os alunos, nesta segunda filmagem, contassem uma


história justifica-se pelo fato da contagem e recontagem de histórias ter sido uma atividade
bastante freqüente no decorrer do trabalho em parceria com as professoras e pelo fato dos
dados de literatura apontarem que crianças na faixa etária entre 3 e 4 anos já são capazes de
realizar narrativas. Além disso, tal gênero do discurso possibilita um bom material de análise do
discurso narrativo.

A análise comparativa das duas situações dialógicas registradas por meio das
filmagens realizadas ao início e ao final do projeto mostra que ocorreram avanços no
desenvolvimento da linguagem oral dos alunos, especialmente no que se refere ao aumento de
vocabulário e ao encadeamento narrativo. Acreditamos que o trabalho desenvolvido em
parceria entre a bolsista e a professora tenha contribuído para este desenvolvimento, assim
como as demais situações dialógicas estabelecidas entre as crianças e seus familiares e
amigos em seu cotidiano.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Acreditamos que o trabalho desenvolvido trouxe muitas contribuições a todos


que dele participaram: familiares, alunos, professoras e bolsista.

O trabalho com os familiares certamente contribuiu para sensibilizá-los quanto à


importância de sua participação no desenvolvimento da linguagem oral da criança. Além disso,
acreditamos que as discussões ocorridas nos dois encontros com os familiares contribuíram
para a construção de conhecimentos sobre o processo evolutivo da linguagem oral e sobre
atividades e atitudes que podem colaborar com este processo.

999
Em relação aos encontros realizados com os familiares e/ou adulto significante
(responsável pelo cuidado à criança), encontramos dificuldade no comparecimento destes na
escola, fato bastante comum quando realizamos atividades educativas com pais no contexto
dos estágios curriculares do Curso de Fonoaudiologia. Entretanto, vale ressaltar o grande
interesse e a participação ativa dos familiares que compareceram aos encontros realizados no
decorrer do projeto. Vale ressaltar também que estes familiares que compareceram e
participaram do trabalho educativo realizado serão agentes multiplicadores das informações
discutidas.

A realização das atividades lúdico-pedagógicas visando contribuir com o


desenvolvimento lingüístico dos alunos, trabalho feito em parceria entre bolsista e professoras,
foi muito gratificante pois além de termos observado e acompanhado as mudanças positivas
em relação ao desenvolvimento lingüístico das crianças, tais ações fortaleceram a visão da
importância do trabalho multidisciplinar no contexto escolar e tornou possível a troca de
conhecimentos e experiências entre profissionais das áreas da Educação e da Fonoaudiologia.

As mudanças referentes aos aspectos lingüísticos verificadas na fala dos alunos


investigados foram também observadas pelos familiares, segundo relatos feitos nas reuniões
realizadas com a bolsista. Sabemos que tais mudanças não se devem somente ao
desenvolvimento do projeto, entretanto, acreditamos na contribuição das atividades
desenvolvidas. Um aspecto que nos leva a acreditar na contribuição das atividades lúdico-
pedagógicas realizadas para o desenvolvimento lingüístico dos alunos diz respeito a
comentários feitos por alguns pais e por uma das professoras, que evidenciaram a adoção de
um olhar mais atento à linguagem oral da criança e ao reconhecimento de sua interação com a
criança mais focada e consciente no sentido de contribuir com este processo.

A partir dos resultados obtidos no decorrer do projeto com os diferentes


segmentos participantes, concluímos que a parceria professor-fonoaudiólogo é uma estratégia
fundamental e imprescindível à atuação fonoaudiológica em escolas. Ao conhecimento
pedagógico do professor uniu-se o conhecimento sobre aquisição de linguagem do
fonoaudiólogo e ambos puderam contribuir para a promoção do desenvolvimento lingüístico
dos alunos e para a construção de conhecimentos sobre o tema trabalhado pelos familiares
que participaram do trabalho educativo.

Além disso, estamos certas de que o trabalho desenvolvido permitiu a


construção de conhecimentos importantes para a formação profissional (acadêmica) da bolsista
e para a formação das professoras em contexto de trabalho, sendo esta mais uma das
contribuições advindas do desenvolvimento do projeto.

Os resultados positivos alcançados a partir do desenvolvimento deste projeto


são, na verdade, efeitos da tripla parceria entre professor, fonoaudiólogo e família que
caminhando lado a lado podem contribuir para otimizar o desenvolvimento infantil.

1000
Este contexto de trabalho em tripla parceria nos remete à reflexão sobre a
proposta das Escolas Promotoras da Saúde, em especial em relação aos diversos papéis dos
membros da comunidade escolar, família, professor e profissionais da saúde. O fonoaudiólogo
inserido no contexto escolar deve refletir e acompanhar as mudanças dos paradigmas e
concepções de saúde para poder aproveitar ao máximo este ambiente onde diversas parcerias
podem ser feitas no sentido de contribuir para a promoção da saúde e para o desenvolvimento
das habilidades lingüísticas, cognitivas, entre outras habilidades dos educandos.

Esperamos que o projeto desenvolvido colabore com a ampliação da visão de


profissionais das áreas da saúde e da educação no que diz respeito às possibilidades de
trabalho do fonoaudiólogo em instituições educacionais.

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