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INTRODUÇÃO
De acordo com esta autora, neste contexto histórico, a fase escolar foi então
considerada o melhor momento para a realização de triagens e de tratamento dos “desvios da
língua”. Profissionais da Educação, neste contexto, “alteraram paulatinamente seu papel de
educadores para especialistas dos erros das palavras” (p.112).
1
Artigo apresentado como relatório final ao Núcleo de Ensino.
2
Coordenadora do projeto. Fonoaudióloga. Docente do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Filosofia e Ciências –
UNESP – Campus de Marília.
3
Bolsista do Núcleo de Ensino de Marília – PROGRAD – UNESP. Discente do Curso de Fonoaudiologia da FFC – UNESP –
Campus de Marília.
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Alguns trabalhos relatavam atividades de prevenção de distúrbios vocais nos
próprios professores, mas nenhum destaque era dado ao trabalho visando à promoção da
saúde e do desenvolvimento infantil. Ao professor era atribuído, no contexto destas propostas,
o papel de colaborador na detecção de problemas de comunicação, o que contribuiu
fortemente para a patologização dos alunos e para a visão da atuação fonoaudiológica na
escola com ênfase predominantemente curativa.
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Vários aspectos da área da Fonoaudiologia podem ser trabalhados em
propostas de atuação em escolas nos diferentes níveis de ensino, como voz, audição e
linguagem oral e escrita, dentre outros. O projeto ora apresentado enfocará a investigação e o
desenvolvimento de ações educativas na área da linguagem oral e envolverá a Educação
Infantil.
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Para Penteado et al. (1996), os primeiros interlocutores da criança são os
membros de sua família, não somente o núcleo formado por pai, mãe e filhos, mas
compreendida enquanto dinâmica das relações existentes entre a criança e o adulto, que
acompanha a trajetória da vida da criança. Para estes autores, a redução e/ou inexistência da
prática do brincar e conversar durante os primeiros anos de vida da criança podem acarretar
um déficit no desenvolvimento infantil e, conseqüentemente, levar a um quadro de atraso no
desenvolvimento da linguagem, requerendo freqüentemente a intervenção de fonoaudiólogos
que irão fazer, provavelmente, o que a família poderia e deveria ter feito.
Considerando que essas crianças passam a maior parte de seu tempo ativo na
escola e que os modelos adultos principais de que dispõem são fundamentalmente os
professores, é urgente pensar na força e na responsabilidade desses agentes como
propulsores do desenvolvimento de linguagem dessas crianças. Sua capacidade de
argumentar, de discordar, de narrar poderá ser ampliada ou não na medida em que
espaços sociais se constituam para isso.
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Giroto et al (1999), realizaram uma pesquisa com 36 professores de Educação
Infantil com o objetivo de analisar a visão destes profissionais em relação à atuação
fonoaudiológica em escolas. Dentre os 29 professores que referiram ter tido algum contato com
o trabalho desenvolvido por estagiários de Fonoaudiologia nas escolas em que atuavam, 20
(69%) deles indicaram a realização de triagens e 12 (41,40%), de encaminhamentos. Com
base nos resultados do estudo, os autores concluíram que, em sua atuação em instituições
educacionais, o fonoaudiólogo deve dispensar mais atenção às atividades de prevenção e
promoção visando desenvolver plenamente seu papel e contribuir para modificar a percepção
do professor de que realiza, prioritariamente, triagens e encaminhamentos.
... o papel do fonoaudiólogo pode ser muito mais amplo e importante do que tem sido
comumente assumido, se for considerada a parceria que esse profissional pode fazer
com professores responsáveis pela educação infantil para um amplo aproveitamento
das situações discursivas presentes neste espaço, fundamentais para um
desenvolvimento pleno da linguagem. (p.223)
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2. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO
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fonoaudiológicas que cada atividade selecionada poderia trazer no tocante ao desenvolvimento
da linguagem oral.
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A tabela apresentada a seguir ilustra as atividades realizadas, bem como
quantas vezes cada uma delas foi utilizada durante o desenvolvimento do projeto:
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2.2. Procedimentos desenvol vidos com a família dos alunos
Um mês após a realização do primeiro encontro, foi enviada uma nova carta-
convite aos pais e responsáveis, informando a data do segundo encontro. Neste segundo e
último encontro, foram discutidas algumas atividades que poderiam ser realizadas pelos
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familiares, bem como atitudes que poderiam ser adotadas na interação com a criança com o
intuito de contribuir com seu desenvolvimento lingüístico.
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Os dados apresentados acima sugerem que os familiares têm poucos
conhecimentos a respeito do processo evolutivo da linguagem oral. Entretanto, algumas
respostas demonstram que eles percebem a relevância da escola no desenvolvimento infantil,
bem como parecem estar cientes do importante papel que os pais desempenham neste
processo, muito embora as respostas referentes a este aspecto evidenciem a preocupação
com o “falar corretamente”, ou seja, com o aspecto fonológico da linguagem oral.
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Quadro 3 – Categorias de análise e indicadores – observações feitas pelos pais em
relação às narrativas
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Quadro 4 – Categorias de análise e indicadores – concepções dos pais ou responsáveis
sobre o papel da família no desenvolvimento da linguagem oral da criança
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Quadro 5 – Categorias de análise e indicadores – concepções dos pais ou responsáveis
sobre o papel dos professores no desenvolvimento da linguagem oral de seus alunos.
Você acha que os Sim F4- ...mostrando como falar corretamente as palavras,
professores podem associando desenhos aos nomes...
auxiliar no F5- ...cantando, brincando, contando estórias e corrigindo.
desenvolvimento da F12 – podem sim...mas não sei como
fala da criança? F19 - ...contando bastante estórias, pedindo para eles
Como contarem...
F21 - ...do jeito que elas acharem melhor, cantando, contando
estórias, assistindo filmes
F5 – ...contar estórias...
Que tipo de atividade Contar estórias F18 – histórias, filmes...
é feita na escola que, F19 – leitura de estórinhas...
na sua opinião, F4 – Ensinando musicas infantis...
contribui para o Cantar músicas F19 – ...as musicas, a dança...
desenvolvimento da Conversar F3 – procurando conversar...com eles e explicar as duvidas.
fala do seu filho? Ensinar a F1 - ....as letras do nome.
reconhecer letras F2 - ...ler...tudo é imporante.
F4 – ...mostrando figuras e pedindo para a criança falar o
Atividades em sala nome...
F17 – todas atividades que as professoras passam contribuem...
Brincadeiras e F2 – tudo é bom...desde de brincar...
conversas com os F9 - ...na hora do recereio que brincam e conversam com seus
demais alunos coleguinhas.
F19 - ...e as brincadeiras pedagógicas.
Nenhuma F12 - ...porque ele só brinca na escola.
atividade
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A seguir apresentaremos os dados referentes aos procedimentos de
investigação desenvolvidos com os alunos.
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(pergunta-resposta) somente com a bolsista. Acreditamos que a atividade em duplas, neste
momento, contribuiu para que os alunos se sentissem mais à vontade e aceitassem o convite
para se dirigir com a bolsista até a sala em que as filmagens eram realizadas.
A análise comparativa das duas situações dialógicas registradas por meio das
filmagens realizadas ao início e ao final do projeto mostra que ocorreram avanços no
desenvolvimento da linguagem oral dos alunos, especialmente no que se refere ao aumento de
vocabulário e ao encadeamento narrativo. Acreditamos que o trabalho desenvolvido em
parceria entre a bolsista e a professora tenha contribuído para este desenvolvimento, assim
como as demais situações dialógicas estabelecidas entre as crianças e seus familiares e
amigos em seu cotidiano.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Em relação aos encontros realizados com os familiares e/ou adulto significante
(responsável pelo cuidado à criança), encontramos dificuldade no comparecimento destes na
escola, fato bastante comum quando realizamos atividades educativas com pais no contexto
dos estágios curriculares do Curso de Fonoaudiologia. Entretanto, vale ressaltar o grande
interesse e a participação ativa dos familiares que compareceram aos encontros realizados no
decorrer do projeto. Vale ressaltar também que estes familiares que compareceram e
participaram do trabalho educativo realizado serão agentes multiplicadores das informações
discutidas.
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Este contexto de trabalho em tripla parceria nos remete à reflexão sobre a
proposta das Escolas Promotoras da Saúde, em especial em relação aos diversos papéis dos
membros da comunidade escolar, família, professor e profissionais da saúde. O fonoaudiólogo
inserido no contexto escolar deve refletir e acompanhar as mudanças dos paradigmas e
concepções de saúde para poder aproveitar ao máximo este ambiente onde diversas parcerias
podem ser feitas no sentido de contribuir para a promoção da saúde e para o desenvolvimento
das habilidades lingüísticas, cognitivas, entre outras habilidades dos educandos.
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