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Capı́tulo 11

Enlaces de Rádio

11.1 Introdução
Uma das aplicações de ondas eletromagnéticas na área de telecomunicações diz re-
speito a enlaces de rádio. Sejam estes terrestres ou via satélites, o engenheiro de
telecomunicações tem que ser capaz de determinar os sistemas irradiantes, a potência
e a freqüência de funcionamento dos transceptores para tornar um rádio-enlace op-
eracional. Neste capı́tulo são apresentados os conhecimentos básicos necessários aos
projetos destes enlaces.

11.2 Fórmulas de Friis


Um sistema de transmissão que radia uma potência Prad , através de uma antena de
ganho máximo Gtx e eficiência etx , forma, juntamente com um sistema de recepção
a uma distância d, um enlace de rádio que opera numa freqüência f . Tal enlace é
mostrado na Figura 11.1, sendo que a antena receptora tem ganho máximo Grx e
eficiência erx . Os sistemas irradiantes não oferecem perdas e estão respectivamente
casados com o receptor e transmissor. As antenas estão alinhadas na direção de
máximo ganho.
A potência nos terminais do receptor pode ser calculada partindo-se da densidade
de potência que chega na antena receptora, isto é,

Umax Prad Gtx


Wmax = 2
= (11.1)
d 4π d2 etx
ou

213
CAPı́TULO 11. Enlaces de Rádio 214

Antena
TX

d
Antena
RX

Torre

Estação Estação
Transmissora Receptora

Figura 11.1: Enlace de rádio.

Ptx
Wmax = Gtx (11.2)
4π d2
onde Ptx é a potência de saı́da do transmissor que, neste exemplo, é igual a potência
de entrada da antena, uma vez que o sistema está casado e os cabos não oferecem
perdas. A antena recolhe uma potência da onda incidente igual a

Ptx λ2
Prx = Wmax Ae = G tx Grx (11.3)
4π d2 4π
ou
 2
λ
Prx = Ptx Gtx Grx (11.4)
4π d
Como no exemplo o sistema de recepção também está casado e os cabos não oferecem
perdas, então, Prx é a potência que chega nos terminais do receptor. A equação
(11.4) é conhecida como Fórmula de Friis e pode ser reescrita de forma a expressar
as potências em dBm ou dBµ, ou seja,

Prx = Ptx + Gtx + Grx − Ael (11.5)


215 11.3. Fórmula de Radar

onde
 
4π d
Ael = 20 log (11.6)
λ
sendo Gtx e Grx fornecidos em dBi, e Ael , conhecida como atenuação no espaço-livre,
em dB.
Nos casos práticos, todos tipos de perdas são levados em consideração, sejam
estas oriundas de cabos, conectores, polarização, espaço-livre, obstáculos, etc. Sendo
assim, considerando-se todas as perdas possı́veis no enlace, tem-se

Prx = Ptx + Gtx + Grx − Ael − Acb − Acc − Apol − Aobs (11.7)
onde Acb , Acc , Apol e Aobs são respectivamente a atenuação nos cabos, conectores,
polarização e obstáculos.

11.3 Fórmula de Radar


Considere agora um sistema transceptor que emite pulsos eletromagnéticos. Esses
pulsos são refletidos quando incide em objetos em volta da estação transmissora. A
potência dos pulsos recebidos depende, dentre outras variáveis, da seção transversal
desses objetos. Esta seção transversal está associada a uma área de eco e o sistema
descrito é conhecido como radar. Se a potência do transmissor é Ptx e o ganho da
antena transmissora é Gtx , então, a densidade de potência máxima que atinge o alvo

Ptx
Wtx = Gtx (11.8)
4π d21
sendo d1 a distância entre a antena transmissora e o alvo.
A potência espalhada por este alvo é

Pc = Wtx Aeco (11.9)


onde Aeco é a área de eco. A densidade de potência que chega à antena receptora é
dada por

Pc
Wrx = (11.10)
4π d22
e a potência recebida
CAPı́TULO 11. Enlaces de Rádio 216

Pc Ae
Prx = Wrx Ae = (11.11)
4π d22
sendo d2 a distância entre o alvo e a antena receptora. Como a área efetiva da antena
receptora é

λ2
Ae = Grx (11.12)

então,
 2
Ptx Aeco λ
Prx = Grx Gtx (11.13)
4π 4πd1 d2
Geralmente esses sistemas empregam duplexadores que permitem a utilização de
uma única antena para transmitir e receber sinais de RF. Neste caso, tem-se
 2
Ptx Aeco λG
Prx = (11.14)
4π 4πd2
sendo G o ganho da antena e d a distância até o alvo.

11.4 Enlace Terrestre


Os enlaces de rádio terrestres estão sujeitos a perdas devido ao relevo e à própria cur-
vatura da Terra. Portanto, se faz necessário uma análise e modelagem do problema
para que as perdas por obstrução sejam calculadas de forma mais exata possı́vel. O
modelo mais simples é o chamado obstáculo gume de faca. Neste modelo, o obstáculo
é tratado como uma superfı́cie plana que obstrui a primeira zona do elipsóide de
Fresnel. Outras técnicas mais exatas são utilizadas na modelagem de obstáculos,
como por exemplo a aproximação de um morro, montanha ou edifı́cio num obstáculo
arredondado.

11.4.1 Obstáculos do Tipo Gume de Faca


A Figura 11.2 mostra um enlace onde o obstáculo é considerado como do tipo gume
de faca. O obstáculo é plano de espessura desprezı́vel.
Se a antena transmissora de diretividade Do radia uma potência Prad , então, a
intensidade de campo a uma distância R1 , num dado ponto do semiplano acima do
obstáculo, é fornecida por
217 11.4. Enlace Terrestre

R1 R2
TX RX
0
h
Linha de
Visada

Obstáculo

d1 d2

Figura 11.2: Enlace de rádio com a presença de um obstáculo do tipo gume de faca.

dVo −jβR1 Eo −jβR1


dEobs = e = e dy (11.15)
R1 R1
onde

Vo = 60 Prad Do (11.16)
e β = 2π/λ. Pelo Princı́pio de Huygens, cada ponto deste semiplano contribui para
a composição do campo elétrico na antena receptora. Portanto, a intensidade de
campo nesta antena, devido a um único ponto do semiplano acima do obstáculo, é
obtida a partir de

R1 Eo
dE = e−jβR2 dEobs = e−jβ(R1 +R2 ) dy (11.17)
R1 + R2 R1 + R2
O campo total na antena receptora é então
∞
Eo
E= e−jβ(R1 +R2 ) dy (11.18)
R1 + R2
−h
CAPı́TULO 11. Enlaces de Rádio 218

Considerando-se apenas a contribuição dos pontos, no plano do obstáculo, próximo


à linha de visada, têm-se

y2
R1  d1 + (11.19)
2d1
e

y2
R2  d2 + (11.20)
2d2
no que se diz respeito à fase. Enquanto, para análise de amplitude,

R1  d1 (11.21)
e

R2  d2 (11.22)
Substituindo os valores das expressões que fornecem R1 e R2 na equação (11.18),
tem-se

∞
Eo −jβ d −jβ y 2 ( 2d1 + 2d1 )
E= e e 1 2 dy (11.23)
d
−h

ou

Eo −jβ d
E= e Fobs (11.24)
d
sendo d = d1 + d2 ,

∞    √   √ 
rf −j πu
2 rf 1 h π h π
Fobs =√ e 2 du = √ (1 − j) − C − jS (11.25)
2 2 2 rf rf
−uo

√ √
2 2
u= rf
y, uo = rf
h e rf o raio da primeira zona de Fresnel [30][31] dado por

λ d1 d2
rf = (11.26)
d
As funções C(x) e S(x) são fornecidas pelas equações (10.48) e (10.49).
219 11.4. Enlace Terrestre

Exemplo 11.1 Um enlace de rádio é obstruı́do por um obstáculo do tipo gume de


faca. Determine a percentagem de obstrução do elipsóide de Fresnel, sabendo-se que
a atenuação devido ao obstáculo é igual a 10dB.

Solução: A intensidade do campo elétrico normalizado, que chega à antena re-


ceptora, é obtido a partir de (11.24) e (11.25). Em primeiro lugar, determina-se a
expressão da intensidade de campo no receptor, isto é,
  √ 2   √ 2
Eo rf 1 h π 1 h π
|E| = | Fobs | = √ −C + −S
d 2 2 rf 2 rf

Dividindo-se a equação acima pelo seu valor máximo, tem-se


  √ 2   √ 2
|E| 1 h π 1 h π
En (h/rf ) =  0, 6 −C + −S
|Emax | 2 rf 2 rf

A atenuação, em decibéis, é então fornecida por

Aobs = −20 log En (h/rf )

Traçando-se uma curva de Aobs em função de h/rf , como mostrado na Figura 11.3,
nota-se que a atenuação de 10dB ocorre para h/rf = 0, 213. Portanto, 61% da seção
transversal do elipsóide de Fresnel se encontra obstruı́do.

11.4.2 Obstáculos Arredondados


O cálculo das perdas por obstrução, utilizando-se a abordagem do tipo gume de
faca, pode levar a valores não muito precisos na maioria dos problemas práticos
envolvendo relevo. A aproximação de morros e montanhas por um modelo que
considera os obstáculos arredondados produz valores mais precisos. O primeiro passo
para o cálculo das perdas por obstrução, utilizando-se obstáculos arrendondados, é
a aproximação do morro por um parabolóide onde o cume do obstáculo equivale ao
vértice deste sólido. Em seguida, determina-se o raio de curvatura médio Rc através
das cotas yi , medidas a partir do topo do morro e os diâmetros xi , medidos em cada
plano yi . Sendo assim, pode-se obter

1  x2i
N
Rc = (11.27)
N i=1 8yi
Os valores da atenuação em decibéis podem ser obtidos diretamente das curvas
apresentadas na Figura 11.4. Para determinar a curva que se adequa ao tipo de
CAPı́TULO 11. Enlaces de Rádio 220

35

30

25
Atenuação em dB

20

15

10

0
−1 0 1 2 3 4 5

h/rf

Figura 11.3: Atenuação devido a um obstáculo gume de faca.

obstáculo, utiliza-se um parâmetro α que é diretamente proporcional ao raio de


curvatura do obstáculo e inversamente proporcional ao raio da primeira zona de
Fresnel, ou seja,

3
λ 2 Rc
α= (11.28)
rf

Exemplo 11.2 Determine o ganho das antenas para um rádio-enlace operar em


300MHz com um nı́vel de recepção igual a −40 dBm. Caracterı́sticas do enlace:
comprimento 10km, terreno plano, torres de 50m, 120m de cabos RG58, sistemas
casados e potência do transmissor 10W. Despreze as perdas de polarização, perdas
nos conectores e considere que as antenas estão localizadas no topo das torres. Um
morro, de 80m de altura e Rc = 216m, se encontra a 1km da estação receptora.
Solução: Começando-se com o cálculo do raio da primeira zona de Fresnel, tem-se

9 × 103 × 103
rf = = 30 m
104
221 11.4. Enlace Terrestre

60
α = 0.5
α = 0.4
α = 1.5
50 α = 0.3

α = 0.2
Atenuação em dB

40

α = 0.1

30

20
α = 0 (gume de faca)

10

0
−0.6 0 1 2 3 4 5
h/rf

Figura 11.4: Curvas associadas ao parâmetro α. No eixo das ordenadas, as perdas


em dB. No eixo das abcissas, a relação entre obstrução (ou folga) e o raio de Fresnel,
h/rf .

Para se obter a atenuação devido ao morro, deve-se determinar α e h. Portanto,



3
216
α= = 0, 2
30
e h = hm − hT = 80 − 50 = 30m, onde hm e hT são as alturas do morro e tor-
res, respectivamente. A atenuação devido ao morro é obtida a partir das curvas
apresentadas na Figura 11.4. Para h/rf = 1, tem-se Aobs  20 dB (α = 0, 2).
O ganho das antenas pode ser obtido reescrevendo-se a equação (11.7) como

2G = Gtx + Grx = Ael + Acb + Aobs + Prx − Ptx

sendo
 
Ael = 20 log 4π × 104 = 102 dB
CAPı́TULO 11. Enlaces de Rádio 222

Acb = αdB l  0, 3 × 120 = 3, 6 dB e Ptx = 10 log(104 ) = 40 dBm (dB em relação a


1mW). Logo,

G  (102 + 3, 6 + 20 − 40 − 40)/2 = 22, 8 dB

11.5 Enlace via Satélite


A relação sinal-ruı́do em decibéis, nos terminais de um receptor num enlace entre
satélites e estações rastreadoras, pode ser obtida de [3]
S G
= ERP − Ael + − PN (11.29)
N Ts
sendo:
• ERP a potência efetiva radiada;
• Ael perdas no espaço-livre;
• G/Ts figura de mérito do sistema;
• PN potência de ruı́do.

11.5.1 Perdas no Espaço-Livre


Como foi visto anteriormente, estas perdas podem ser calculadas a partir da equação
(11.6). No caso de enlace envolvendo satélite, a equação (11.6) é modificada para
que se possa entrar diretamente com as coordenadas e altura do satélite, isto é,
 
4π d
Ael = 20 log (11.30)
λ
onde

d = R2 + (R + h)2 − 2R(R + h) cos ϕ cos ∆ (11.31)
sendo R o raio da Terra (6.378km), h a altura do satélite na linha do Equador
(35.823km se geostacionário), ϕ a latitude da estação rastreadora e ∆ a diferença
entre as longitudes do satélite e a estação terrestre. A Figura 11.5 mostra a geometria
que deu origem à equação (11.31).
Além das perdas por dispersão da onda no espaço-livre, existem também perdas
na camada atmosférica. Estas perdas dependem da freqüência, espessura da camada,
concentração de nuvens, etc. Na prática, estas perdas podem ser assumidas, para
os dias com tempo bom, como algo em torno de 0,5dB.
223 11.5. Enlace via Satélite

h
d'

ϕ R

R
N S

Figura 11.5: Satélite a uma altura h sobre a linha do equador. A estação rastreadora
está localizada a uma latitude ϕ ao norte do Equador.

11.5.2 Figura de Mérito do Sistema

É definida como sendo a razão entre o ganho da antena de recepção e a temperatura


de ruı́do do sistema. Esta figura de mérito é expressa em dB/K através da equação

G
= Ga − 10 log Ts (11.32)
Ts

onde Ga é o ganho da antena e

TLN B Trc
Ts = Ta + + (11.33)
Gf GLN B + Gf

sendo Ta , TLN B e Trc , respectivamente, a temperatura equivalente de ruı́do da antena


(refletor + alimentador), alimentador e conjunto cabo-receptor. GLN B é o ganho do
bloco de baixo ruı́do (LNA e demodulador) e Gf o ganho do alimentador.
CAPı́TULO 11. Enlaces de Rádio 224

11.6 Reflexões Ionosféricas


Enlaces muito longos, onde a curvatura da Terra oferece altı́ssimas perdas por ob-
strução, só são realizáveis através do uso de estações repetidoras terrestres ou via
satélites. Em algumas faixas de freqüências é possı́vel se projetar enlaces de longa
distância utilizando-se reflexões na camada ionosférica.
As camadas mais altas da atmosfera são constituı́das de moléculas ionizadas. A
formação de ı́ons se deve à radiação proveniente do espaço, particularmente aquelas
oriundas do Sol. Estas camadas têm a propriedade de refletir ondas eletromagnéticas
abaixo de certas freqüências. As mais importantes são identificadas pelas letras D,
E, F1 e F2 , como mostra a Figura 11.6.

F2

θι
F1
h'

E
D

TX d RX
Terra

Figura 11.6: Camadas ionosféricas e rádio-enlace via reflexão ionosférica.

A camada D se encontra a uma altura de 50-100km, enquanto que a E está a


aproximadamente 100km. Já as camadas do tipo F ficam em torno de 300km. As
espessuras das camadas variam ao longo de um dia, sendo que estas são mais espessas
durante o dia e mais finas à noite, quando aumenta o número de recombinação de
ı́ons.
As ondas eletromagnéticas podem retornar à Terra dependendo da freqüência de
operação e do ângulo de incidência na camada ionosférica. Graças a este fenômeno,
conhecido como reflexão total, é possı́vel se projetar enlaces a grandes distâncias
sem a necessidade de linha de visada.
Pode-se estabelecer uma relação entre a freqüência da onda eletromagnética e o
número de ı́ons na camada ionosférica que permite o surgimento do fenômeno de
225 11.6. Reflexões Ionosféricas

reflexão total. Essa freqüência crı́tica é dada por



fc  9 N (11.34)
onde N é o número de elétrons livres e/ou ı́ons por metro cúbico de camada
ionosférica.
Considerando-se que uma onda eletromagnética de freqüência angular ω produz
uma variação de campo elétrico, numa camada ionosférica, dada por

E = Eo sen ωt (11.35)
tem-se como força exercida em cada eletron

F = −eE = −eEo sen ωt (11.36)


donde se chega a

d2 x
me = −eEo senωt (11.37)
dt2
ou

dx eEo
me = cosωt (11.38)
dt ω
sendo me a massa dos elétrons, e a carga elétrica e x o deslocamento dos mesmos.
A densidade de corrente de condução na camada pode ser escrita como

dx
Jc = ρ vd = −N e (11.39)
dt
onde ρ é a densidade volumétrica de cargas elétricas e vd a velocidade de arrasto
destas. Já a densidade de corrente de deslocamento é obtida de

dE
Jd = o (11.40)
dt
ou

Jd = ωo Eo cosωt (11.41)


Portanto, a densidade total de corrente fica
 
N e2
J = Jc + Jd = ωEo cosωt o − (11.42)
me ω 2
que pode ser simplificada como
CAPı́TULO 11. Enlaces de Rádio 226

J = ωef Eo cosωt (11.43)


sendo a permissividade efetiva

N e2
ef = o − (11.44)
me ω 2
Foi visto no Capı́tulo 1 que o ı́ndice de refração de um meio é o inverso da
velocidade relativa da onda neste meio, o que leva à expressão

n= µ r r (11.45)
e para meios não-magnéticos

√ 
n= r = (11.46)
o
Sendo assim, o ı́ndice de refração da camada ionosférica pode ser obtido substi-
tuindo (11.44) em (11.46), ou seja,

N e2
n= 1− (11.47)
m e o ω 2
ou

81N
n 1− 2 (11.48)
f
uma vez que e = 1, 6 × 10−19 C, me = 9, 1 × 10−31 kg e o = 8, 85 × 10−12 F/m.
Substituindo (11.34) em (11.48), tem-se
  2
fc
n 1− (11.49)
f
Para uma onda eletromagnética incidindo com um ângulo θi em relação à normal
da camada ionosférica, tem-se pela lei de Snell,

senθi = n senθt (11.50)


sendo que, na reflexão total, o ângulo θt relacionado com a onda refratada é igual a
90◦ . Portanto,

n = senθi (11.51)
227 11.6. Reflexões Ionosféricas

ou
 2
fc
1− = 1 − cos2 θi (11.52)
f
o que leva a

fc = f cos θi (11.53)
A partir da equação (11.53) ou de

f = fc sec θi (11.54)
determina-se a freqüência da onda que pode ser refletida na ionosfera. Esta freqüência
também pode ser obtida em função da altura virtual hv da camada, do raio R da
Terra e da distância d entre as estações transmissora e receptora, ou seja,
  
2R (R + hv ) 1 − cos 2R
d
+ h2v
f = fc   (11.55)
hv + R 1 − cos 2Rd

ou, para distâncias menores ou iguais a 200km,


  2
fc d
f= h2v + (11.56)
hv 2

Exemplo 11.3 Suponha que a freqüência crı́tica da camada E, para um determi-


nado dia de um certo ano, é igual a 50MHz. Qual deve ser a freqüência de operação
e o ângulo em relação ao solo para as antenas direcionais de um dado enlace de
rádio? Considere que o rádio-enlace tem 200km de comprimento.

Solução: Como a distância do enlace é igual a 200km, então,


  2
50 2
200
f= 100 + = 70, 7 MHz
100 2

enquanto o ângulo é obtido a partir de


 
2hv
ϕ = arctg = 45◦
d
CAPı́TULO 11. Enlaces de Rádio 228

11.7 Reflexões no Solo


A determinação das alturas das antenas em um enlace de rádio não é somente rele-
vante no cálculo das perdas por obstrução. Alturas escolhidas aleatoriamente podem
levar à atenuação do sinal que chega à antena receptora. Isto ocorre devido a inter-
ferências destrutivas entre as ondas que chegam diretamente da antena transmissora
e aquelas que são refletidas pela superfı́cie da Terra. Um exemplo simples deste tipo
de problema é apresentado a seguir.
A Figura 11.7 mostra um enlace de rádio de comprimento d onde as antenas são
posicionadas nas alturas h1 e h2 . A distância é relativamente curta, de tal forma
que a curvatura da Terra é desprezada. Entretanto, esta distância é considerada,
neste exemplo, muito maior que as alturas das torres. O coeficiente de reflexão no
solo é supostamente próximos de -1, o que é verdadeiro para incidências em ângulos
rasos na faixa de 30-3000MHz e polarização horizontal (vide ρ⊥ na Fig. 9.6 ). O
caminho direto entre as antenas é dado por

TX

r RX
h1 r1
r2 h2

Figura 11.7: Reflexões na superfı́cie da Terra.

 (h1 − h2 )2
r = d + (h1 − h2 )  d +
2 2 (11.57)
2d
enquanto que o caminho através da reflexão é

 (h1 + h2 )2
r1 + r 2 = + (h1 + h2  d +
d2 )2 (11.58)
2d
A diferença entre os caminhos é obtida subtraindo (11.58) de (11.57), isto é,
229 11.7. Reflexões no Solo

2h1 h2
r1 + r2 − r  (11.59)
d
O atraso da onda refletida em relação à direta, devido a diferença de caminhos
e a reflexão na Terra, introduz uma defasagem nos campos que chegam à antena
receptora. Esta defasagem é dada por
4πh1 h2
∆φ = ∆φ + π = +π (11.60)
λd
Considerando-se que as amplitudes das ondas refletida e direta são praticamente
iguais a Eo , pode-se então escrever a magnitude do campo total na antena receptora
como
  
   ∆φ 
|Erx | = Eo + Eo e  = 2Eo sen
j∆φ  (11.61)
2 
ou
  
 2πh h 
|Erx | = 2Eo sen 
1 2
 (11.62)
λd
onde se pode notar que a depender da freqüência, da distância e das alturas das
antenas, o campo pode assumir valores entre 0 e 2Eo .

Exemplo 11.4 Pede-se para posicionar as antenas de um enlace de rádio, que opera
em 300MHz e tem 100m de comprimento, o mais alto possı́vel nas respectivas torres
de 20m de altura. O rádio-enlace se encontra num terreno plano sem obstáculos.

Solução: Posicionando-se a antena transmissora no topo da torre, obtém-se

|Erx |
En (h) = = |sen (1, 26 h)|
2Eo
A Figura 11.8 mostra a variação da intensidade do campo normalizado com a altura
da antena na torre receptora. Nota-se que a melhor posição para atender ao projeto
é h = 18, 7 m, pois esta é a altura máxima com máxima intensidade de campo.
CAPı́TULO 11. Enlaces de Rádio 230

1
Intensidade do campo normalizado En(h)

0.8

0.6

0.4

0.2

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20

Altura h em m

Figura 11.8: Variação da intensidade de campo normalizado com a altura.

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