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Carta aos Gálatas com Emmanuel

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Texto para análise

1Ora, eu digo: enquanto o herdeiro é menor, embora dono de tudo, em nada difere de um
escravo. 2Ele fica debaixo de tutores e curadores até a data estabelecida pelo pai. 3Assim
também nós, quando éramos menores, estávamos reduzidos à condição de escravos, debaixo
dos elementos do mundo. 4Quando, porém, chegou a plenitude do tempo, enviou Deus o seu
Filho, nascido de uma mulher, nascido sob a Lei, 5para remir os que estavam sob a Lei, a fim
de que recebêssemos a adoção filial. 6E porque sois filhos, enviou Deus aos nossos corações
o Espírito do seu Filho, que clama: Abba, Pai! 7De modo que já não és escravo, mas filho. E
se és filho, és também herdeiro, graças a Deus. 8Outrora, é verdade, não conhecendo a Deus,
servistes a deuses, que na realidade não o são. 9Mas agora, conhecendo a Deus, ou melhor,
sendo conhecidos por Deus, como é possível voltardes novamente a estes fracos e miseráveis
elementos aos quais vos quereis escravizar outra vez? 10Observais cuidadosamente dias,
meses, estações, anos! 11Receio ter-me afadigado em vão por vós.Cap. 4:1-10

Paulo, desde os textos anteriores, vai estabelecendo uma gradação para falar do
relacionamento nosso com Deus. No texto anterior fez uma comparação entre ser escravo e
ser filho e afirmou que, em Cristo, tornamo-nos filhos de Deus, herdeiros e co-partícipes da
criação.
O homem, então, deixa de ser alguém que obedece e segue regras, para tornar-se um ser
pensante, que aprende, que compreende o seu propósito no mundo e sente-se responsável por
ele, percebendo que tudo lhe é oferecido por Deus na condição de filho amado.

Agora, porém, Paulo irá nos levar a uma reflexão em relação à filiação, do momento em que
se deixa a infância para adentrar na vida adulta, não apenas para ter direitos, mas para
compreender e responsabilizar-se por si mesmo diante da sociedade e diante de Deus.

Wiliam Barclay nos oferece o contexto história de como se dava esta transição nas culturas
judaica, grego e romana. Vejamos:

“(1) No mundo judeu, quando um menino fazia doze anos, no seguinte sábado o pai o
levava à sinagoga, onde se convertia em filho da Lei. Nessa ocasião o pai pronunciava sobre
o filho uma bênção: "Bendito sejas, ó Deus, que me tiraste a responsabilidade sobre este
filho." O menino recitava uma oração em que dizia: "Meu deus e Deus de meus pais!, neste
dia solene e sagrado que assinala meu passo da infância à vida adulta, levanto
humildemente meus olhos em torno de ti e declaro com sinceridade e fidelidade que de agora
em diante observarei teus mandamentos e assumirei a responsabilidade de minhas ações
perante ti." Na vida do jovem existia uma clara linha divisória. Quase da noite para o dia o
menino se transformava em homem.
(2) Na Grécia o menino estava sob o cuidado paterno dos sete até os dezoito anos. Era
então quando se fazia um efebos que pode traduzir-se cadete, e por dois anos ficava sob a
direção do Estado. Os atenienses estavam divididos em dez fratriai ou clãs. Antes de que o
moço se fizesse efebos era recebido no clã num festival chamado Apatouria. Numa cerimônia
lhe cortavam os longos cabelos para oferecer-lhe aos deuses. Também neste caso, o
crescimento era um processo bem definido.
(3) Sob a lei romana não estava estabelecida definitivamente a idade em que um menino se
fazia maior, mas sempre tênia lugar entre os 14 e os 17 anos. Num festival sagrado da
família chamado Liberalia se tirava a toga praetexta, que era uma toga com uma estreita
banda púrpura no arena inferior, e se revestia da toga virillis que era a toga lisa própria dos
adultos. Então era conduzido por seus amigos e familiares ao fórum para ser introduzido
formalmente na vida pública. Tratava-se essencialmente de uma cerimônia religiosa. E mais
uma vez havia um dia bem definido em que o moço se fazia maior. Existia entre os romanos o
costume de que esse dia o menino ou a menina ofereciam sua bola ou sua boneca,
respectivamente, a Apolo para mostrar que tinham deixado de lado as coisas de menino.
Quando um menino era infante podia ser realmente proprietário de uma vasta fazenda mas
não podia tomar decisões legais; não tinha o domínio de sua própria vida; tudo era feito e
dirigido por ele, portanto na prática não possuía maior liberdade que um escravo. Mas
quando se tornava adulto começava a dispor plenamente de sua herdade e a desfrutar da
liberdade dos adultos.” (Comentário à Carta aos Gálatas – Wiliam Barclay)

Em momento anterior, Paulo compara a lei mosaica a um “oikónomoi”, o professor que os


conduzia na primeira infância, em geral um escravo que por seus conhecimentos era
destinado a cuidar e zelar pela educação das crianças.

Agora, Paulo nos diz que esta fase acabou, a vida adulta é anunciada e estamos aptos para um
novo relacionamento com Deus. Não mais conduzidos por um oikónomoi (lei), mas prontos
para um novo tipo de relacionamento com Deus por meio da vida do Cristo Jesus, que através
do seu exemplo de luz nos dá a direção a tomar.

Esta transição é importante e, ainda hoje, merece a nossa reflexão e questionamento interior,
por que decorridos quase 2000 anos, há quem se relacione com Deus de forma infantil,
vendo-o como provedor que lhe atende os caprichos e necessidades.

No livro A Caminho da Luz, Emmanuel nos oferece a trajetória humana desde os primeiros
tempos da Terra até os dias atuais, no último capítulo nos oferece uma releitura do que Paulo
está dizendo aos Gálatas:

“Nos primórdios da Humanidade, o homem terrestre foi naturalmente conduzido às


atividades exteriores, desbravando o caminho da natureza para a solução do problema vital,
mas houve um tempo em que a sua maioridade espiritual foi proclamada pela sabedoria da
Grécia e pelas organizações romanas.
Nessa época, a vinda do Cristo ao planeta assinalaria o maior acontecimento para o
mundo, de vez que o Evangelho seria a eterna mensagem do Céu, ligando a Terra ao reino
luminoso de Jesus, na hipótese da assimilação do homem espiritual, com respeito aos
ensinamentos divinos. Mas a pureza do Cristianismo não conseguiu manter-se intacta, tão
logo regressaram ao plano invisível os auxiliares do Senhor, reencarnados no globo
terrestre para a glorificação dos tempos apostólicos.
O assédio das trevas avassalou o coração das criaturas.”

Paulo compreendia que o Cristo assinalava novos tempos para a humanidade, que deixava a
sua infância para adentrar em nova era, nova fase, a da “assimilação do homem espiritual”.
Assim, como outrora, somos convidados a avançar novamente para um mundo regenerado.
Aquelas sementes deixadas há 2000 anos, lutam agora para florescer e frutificar.

Não obstante todo o conhecimento que temos do mundo que nos cerca, o nosso
relacionamento com o Criador ainda é algo precário, ora cremos, ora duvidamos, ora
portamo-nos como filhos, ora nos esquecemos de nossa essência e comportamo-nos em
desalinho com as leis divinas.

Também com os Gálatas aconteceu algo semelhante. Foi-lhes apresentada a boa nova e eles
aderiram aos ensinos de amor e perdão deixados pelo Cristo, inaugurando um novo viver,
profundamente belo e consolador, sabendo que estavam irmanados e que suas vidas não
cessavam com a morte material. Apesar disto, Paulo lhes adverte: “Outrora, é verdade, não
conhecendo a Deus, servistes a deuses, que na realidade não o são. Mas agora, conhecendo
a Deus, ou melhor, sendo conhecidos por Deus, como é possível voltardes novamente a
estes fracos e miseráveis elementos aos quais vos quereis escravizar outra vez?”

A pergunta de Paulo atravessa os séculos e nos alcança: como podemos nos deixar escravizar
outra vez¿

Tudo aquilo que diminui ou restringe a nossa liberdade nos encaminha para a escravidão, e
ela não acontece apenas quando um homem é algoz de outro homem, mas quando o próprio
homem se deixa dominar pelas paixões, pela satisfação dos sentidos, pela vida material em
detrimento da vida espiritual.

Recordemos da questão 908 do Livro dos Espíritos:

908. Como se poderá determinar o limite onde as paixões deixam de ser boas para se
tornarem más?

“As paixões são como um corcel, que só tem utilidade quando governado, e que se torna
perigoso quando passa a governar. Uma paixão se torna perigosa a partir do momento em
que deixais de poder governá-la, e que dá em resultado um prejuízo qualquer para vós
mesmos ou para outrem.”

As paixões são alavancas que decuplicam as forças do homem e o auxiliam na execução dos
desígnios da Providência. Mas se, em vez de as dirigir, deixa que elas o dirijam, cai o
homem nos excessos e a própria força que, manejada pelas suas mãos, poderia produzir o
bem, contra ele se volta e o esmaga.

Todas as paixões têm seu princípio num sentimento ou necessidade natural. O princípio das
paixões não é, assim, um mal, pois que assenta numa das condições providenciais da nossa
existência. A paixão propriamente dita é a exageração de uma necessidade ou de um
sentimento. Está no excesso e não na causa, e este excesso se torna um mal quando tem como
consequência um mal qualquer.”

Não se trata de escolhermos viver tal qual monges em constante contemplação e oração. A
vida requer de nós ações, trabalho, e estarmos encarnados é uma rica escola de aprendizado.

A questão é que já não vivemos apenas para o hoje, mas sabemos que somos criaturas
imortais, com diversas experiências em outras vidas. Isto tem um reflexo em nosso modo de
viver e de ver tudo o que nos cerca.

Se outrora justificava-se a busca incessante pelos bens e alegrias materiais em razão do


homem desconhecer o seu futuro após a morte, permitindo-se, assim, atribuir às alegrias
passageiras da Terra todo o seu querer, hoje, não mais podemos retornar a estes “fracos e
miseráveis elementos”, por foi nos dado conhecer algo maior, mais sublime, que é a vida
espiritual.

Reconhecemos nossas fraquezas e sabemos que estamos aqui para crescermos, evoluirmos e
este deve ser sempre o nosso foco: construir um mundo melhor dentro de nós a fim de que
este novo mundo reflita no que se apresenta em nosso entorno. A mudança é sempre de
dentro para fora e é trabalho de cada um.

Emmanuel nos auxilia a refletir sobre a questão num texto que trata do aprimoramento a fim
de que a pergunta de Paulo ressoe em nossas vidas e corações: “...como é possível voltardes
novamente a estes fracos e miseráveis elementos aos quais vos quereis escravizar outra
vez?”

Rumo certo — Emmanuel

Autoaprimoramento
Tanto quanto sustentamos confidências menos felizes com os outros, alimentamos aquelas
do mesmo gênero de nós para nós mesmos.

Como vencer os nossos conflitos interiores? 3 De que modo eliminar as tendências menos
construtivas que ainda nos caracterizam a individualidade? — indagamo-nos.

De que modo esparzir a luz se muitas vezes ainda nos afinamos com a sombra?

E perdemos tempo longo na introspecção sem proveito, da qual nos afastamos insatisfeitos
ou tristes.

Ponderemos, entretanto, que se os doentes estivessem proibidos de trabalhar, segundo as


possibilidades que lhes são próprias, e se os benefícios da escola fossem vedados aos
ignorantes, não restaria à civilização outra alternativa que não a de se extinguir, deixando-
se invadir pelos atributos da selva.

Felicitemo-nos pelo fato de já conhecer as nossas fraquezas e defini-las. Isso constitui um


passo muito importante no progresso espiritual, porque, com isso, já não mais ignoramos
onde e como atuar em auxílio da própria cura e burilamento.

Que somos Espíritos endividados perante as Leis Divinas, em nos reportando a nós outros,
os companheiros em evolução na Terra, não padece dúvida.

Urge, porém, saber como facear construtivamente as necessidades e problemas do mundo


íntimo.

Reconhecemo-nos falhos, em nos referindo aos valores da alma, ante a Vida Superior, mas
abstenhamo-nos de chorar inutilmente no beco da autopiedade.

Ao invés disso, trabalhemos na edificação do bem de todos.

Cultura é a soma de lições infinitamente repetidas no tempo.

Virtude é o resultado de experiências incomensuravelmente recapituladas na vida.

Jesus, o Mestre dos mestres, apresenta uma chave simples para que se lhe identifiquem os
legítimos seguidores: “conhecê-los-eis pelos frutos”.

Observemos o que estamos realizando com o tesouro das horas e de que espécie são as
nossas ações, a benefício dos semelhantes. E, procurando aceitar-nos como somos, sem
subterfúgios ou escapatórias, evitemos estragar-nos com queixas e autocondenação,
diligenciando buscar, isto sim, agir, servir e melhorar-nos sempre.

Em tudo o que sentirmos, pensarmos, falarmos ou fizermos, doemos aos outros o melhor de
nós, reconhecendo que, se as árvores são valorizadas pelos próprios frutos, cada árvore
recebe e receberá invariavelmente atenção e auxílio do pomicultor, conforme os frutos que
venha a produzir.
Que possamos caminhar a cada dia rumo ao nosso crescimento espiritual e não mais como
crianças ou escravos, mas pessoas conscientes e responsáveis por si mesmas, que tomam para
si a grande tarefa de melhorar a cada dia.

Os versículos finais do trecho escolhido para estudo hoje nos fala do tempo: “10Observais
cuidadosamente dias, meses, estações, anos! 11Receio ter-me afadigado em vão por vós.”

Contamos os dias na Terra, muitas vezes celebramos datas sem, no entanto, dar a devida
importância ao que se está comemorando. Hoje, por exemplo, comemora-se o dia dos pais,
em que muitos irão ofertar presentes, festas, encontros, esquecendo-se, no entanto, que todos
os dias o mandamento “honrai pai e mãe” nos conclama a ofertarmos algo além de benesses
materiais. Outras vezes celebramos a data comemorativa de nascimento ou morte de alguém
que admiramos, renovando as homenagens muitas vezes, porém, esquecidos de seus
ensinamentos e exemplos de vida que deviam nos inspirar.

Observamos cuidadosamente dias, meses, estações e anos! É chegado o tempo de observamos


cuidadosamente pessoas e obras, idéias e pensamentos que nos inspirem e nos auxiliem em
nossa jornada.

Deixemos os autógrafos de lado para adentrar no livro e aprender com seus ensinamentos.
Esvaziemos as filas que celebram pessoas para encher as filas que auxiliam os necessitados,
observemos cuidadosamente o nosso tempo na Terra a fim de que não o desperdicemos
novamente, só assim, as palavras de Paulo nos terão alcançado e nada terá sido em vão.

Um fraterno abraço e até o próximo estudo.

Campo Grande – MS, 11.8.2019


Candice Günther

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