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INTEGRADO,
eixo estruturante e
interdisciplinaridade: uma
proposta para a formação
inicial de pedagogos
Francisco Thiago Silva
CURRÍCULO
INTEGRADO,
eixo estruturante e
interdisciplinaridade: uma
proposta para a formação
inicial de pedagogos
CURRÍCULO INTEGRADO, EIXO ESTRUTURANTE E
INTERDISCIPLINARIDADE: UMA PROPOSTA PARA
A FORMAÇÃO INICIAL DE PEDAGOGOS
© Todos os direitos reservados
Autor
Francisco Thiago Silva
Revisão
Do autor
Diagramação
Paulo de Tarso Silva
Denny Guimarães
Capa
Paulo de Tarso Silva
Impressão e Acabamento
Editora Kiron
S586
104p. : 21 cm
ISBN 978-65-86153-05-7
37
Para todos e todas, profissionais da educação,que
sonham com um país e um mundo melhor
acreditando na emancipação humana.
PREFÁCIO
D epois de trilharmos um bom caminho na docência,
aprendendo e ensinando, no acúmulo construído no
processo histórico, ainda somos movidos pelo desejo ines-
gotável de encontrar alguma resposta para as nossas inquie-
tações laborais. Da pauta pedagógica muitas vezes solitária,
mas também coletiva, almejamos encontrar nos estudos cur-
riculares pistas e saídas que revolvem a inércia. Nesse mo-
vimento a ideia de compreender o que significa o currículo
integrado assume um lugar de destaque e de positividade.
Mesmo quando ignorado por parte dos professores que
insistem em negar a existência e a importância do currículo
ele se faz presente. Sua presença é real e concreta, interfere
direta ou indiretamente no trabalho de todos os atores que
compõem o cenário educativo na escola e em diversas insti-
tuições educativas. Esse existir incomodativo, por que tam-
bém norteia e regula, faz dos estudos curriculares uma neces-
sidade constante e inconteste.
O currículo integrado então se apresenta como uma
entre tantas possibilidades curriculares, trazendo em seu
constructo teórico e metodológico indicações de percursos
que nos guiam. Nesta perspectiva, Thiago desenvolve uma
discussão corajosa, ousada e atual, como ação própria entre
os intelectuais inquietos e sedentos de desafios que levam
ao encontro de soluções para os problemas curriculares que
precisam ser enfrentados, sem arrodeios.
Referências
BERNSTEIN, Basil. Clases, códigos y control: hacia una
teoría de las transmisiones educativas. Madri: Akal, 1977.
SANTOMÉ, Jurjo Torres. Globalização e interdisciplina-
ridade: o currículo integrado. Porto Alegre: Artes Médicas,
1998.
11
INTRODUÇÃO:
OS MOTIVOS DA
PESQUISA
A formação pedagógica não pode prescindir dos estu-
dos curriculares, por isso Young (2014) problematiza a
questão, afirmando que os pedagogos devem ser “especialistas
duplos” e mais:
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está abrigada na concepção crítica de currículo, concebido
como mecanismo propagador ou “contestador de ideologias”
Apple (2006) ou ainda na conceituação de Sacristán (2000),
14
Um dos pilares sob os quais pensamos as nossas refle-
xão é a articulação permanente entre o currículo que forma o
docente e o currículo no qual ele irá atuar
É relevante destacar que no final do ano de 2019, por
meio da Resolução CNE/CP Nº 2, DE 20 DE DEZEM-
BRO DE 2019 que definiu as Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para a Formação Inicial de Professores para a Educação
Básica e institui a Base Nacional Comum para a Formação
Inicial de Professores da Educação Básica (BNC-Formação),
foi possível enxergar de forma tácita, mais uma vez, a neces-
sidade de promover o alinhamento entre os currículos que
formam os futuros docentes com os que eles irão atuar.
Na atual conjuntura, sendo a BNCC o principal do-
cumento prescritivo que orienta a elaboração dos programas
curriculares dos estados e dos municípios, torna-se essencial
promover e garantir espaços na formação inicial de professo-
res e professoras momentos em que a referida prescrição seja
pensada, discutida e decantada com o intuito de que cada
etapa de atuação dos futuros professores consiga elaborar es-
tratégias mais eficientes e eficazes a fim de consolidar um
projeto maior de educação emancipatória.
Não é a nossa intenção elaborar reflexões nessa obra
acerca dos desdobramentos e consequências que a referida
diretriz trará para os cursos de formação inicial de professo-
res, todavia, lembramos que é fundamental nos apropriarmos
de um cabedal teórico da seara do campo curricular, para, em
momentos como este, podermos apresentar boas alternativas
de modelagem curricular.
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CAPÍTULO 1
O CURRÍCULO DA
FORMAÇÃO INICIAL
DO PEDAGOGO
“Nenhum professor quer soluções da teoria do currículo
– no sentido de “ser instruído sobre o que ensinar”. Isso
é tecnicismo e enfraquece os professores. Contudo, como
em qualquer profissão, sem a orientação e os princípios
derivados da teoria do currículo, os professores ficariam
isolados e perderiam toda a autoridade. Em outras
palavras, os professores precisam da teoria do currículo
para afirmar sua autoridade profissional”.
(YOUNG, 2014b, p. 195).
CURRÍCULO
INTEGRADO E
INTERDISCIPLINARIDADE
O currículo é o componente pedagógico responsável por
direcionar a didática (planejamento) e a avaliação, por-
tanto, norteia todas as decisões dos sistemas educacionais em
seus diferentes níveis, e nisso residem às decisões de quem e
quais as escolhas serão feitas para compor o documento pres-
crito, sabendo que ele se modificará até chegar ao nível do
currículo em ação (SACRISTÁN, 2000). No meio dessa ca-
minhada existe a modelagem curricular, em que reside grande
potencialidade para que o docente se torne protagonista do
processo, dominando os principais conceitos epistemológicos
da proposta. Esta seção tenciona municiar a pesquisa com
os elementos da tipificação curricular integrada/globalizada
e da interdisciplinaridade (BERNSTEIN, 1977; TORRES
SANTOMÉ, 1998).
No intuito de garantir uma educação de qualidade
baseada em uma prática pedagógica reflexiva de ensino in-
tegrado comprometida com o desenvolvimento integral do
estudante, reconhecendo a diversidade humana, concebe-se
uma proposta pedagógica sustentada pelo currículo integra-
do (Santomé, 1998), entendendo que o mesmo questiona a
EIXOS:
ESTRUTURANTE/
INTEGRADOR E
TRANSVERSAL2
N o Brasil, as políticas educacionais oficiais a partir da dé-
cada de 1990 trouxeram como novidade, temas trans-
versais, integração por interdisciplinaridade e trabalho por
projetos, modalidades que configuram o currículo integra-
do e que foram a roupagem, por exemplo, dos Parâmetros
Curriculares Nacionais em 1997. Lopes (2008, p. 48) lembra
que: “Tratar tais modalidades de currículo integrado como
novidades é ignorar muito do que os professores já realizam
em suas práticas e muitos dos saberes que construíram ao
longo de suas trajetórias profissionais”, o que se percebe é
uma contradição entre as proposições político-teórico e o que
realmente ocorre no processo de modelagem curricular.
Macedo (1999) exemplifica e faz uma importante
provocação, com base em políticas curriculares de referên-
O QUE DIZEM OS
DADOS SOBRE
CURRÍCULO,
INTEGRAÇÃO E
INTERDISCIPLINARIDADE
T orna-se relevante compreender a relação ou não que os
cursos pesquisados mantêm entre suas concepções de
educação, pedagogia e currículo (ao menos no nível “prescri-
to”, SACRISTÁN, 2000), além das possíveis adesões ao cur-
rículo do tipo integrado e de propostas que intentam chegar
à interdisciplinaridade. Abaixo se encontram estas sínteses. A
começar pelos conceitos de currículo, assumidos nos projetos
pedagógicos de curso.
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Instituição Nome da C.H Semestre Ementa Objetivos Referências Bibliográficas
disciplina
Estácio Currículo: 72 7º Estudo do currículo como Compreender a contextualização Não forneceu.
teoria e prática espaço de relações e dinâ- e a inter-relação com as políti-
micas no qual interagem cas para a Educação Básica e seu
conhecimentos e valores compromisso com a gestão demo-
inspirados em concepções crática.
filosóficas, sócio-históricas,
políticas e culturais.
UDF Currículo e Não forneceu. Não Não forneceu. Não forneceu. Não forneceu.
(não forneceu Sociedade forneceu.
PPC)
FAB Teorias e 60 7º Não forneceu. Não forneceu. Não forneceu.
práticas do
currículo
Michelangelo Não possui disciplina que trate do campo teórico do currículo.
Fátima Organização 84 2º Compreensão dos fun- Compreender a relação teoria e - COOL, César. Psicologia e
Curricular e damentos teóricos para prática no trabalho do professor, Currículo: uma aproximação
Práticas Peda- 91 7º análise das visões em suas análise reflexão e distinção das psicopedagógica à elaboração
gógicas diferentes concepções diferentes teorias da educação e do currículo escolar. 5. ed. São
curriculares para o cum- suas implicações no processo en- Paulo: Ática, 2003.
Currículo e Di- primento das exigências sino-aprendizagem. - D’AMBRÓSIO, Ubiratan.
versidade feitas para a construção Transdisciplinaridade. 2. ed.
curricular. A disciplina pretende possibilitar São Paulo: Palas Athenas,
espaços de reflexão acerca dos de- 1997.
A organização do traba- safios da escola contemporânea, - DEMO, Pedro. Comple-
lho educativo no Brasil, procurando repensar práticas cur- xidade e Aprendizagem: a
tendências e perspectivas riculares excludentes suas impli- dinâmica não linear do co-
emergentes na história do cações na formação das singulari- nhecimento. São Paulo: Atlas,
currículo, tendo em vista a dades que constitui o aluno. 2002.
construção de uma matriz - SACRISTAN, J. Gimeno.
curricular para a Educação O Currículo: uma reflexão
brasileira. Conceituação sobre à prática Tradução de
de currículo em diferentes Ernani F. Da F. Rosa. 3. ed.
contextos e as influencias Porto Alegre: Artmed, 2000.
histórica, de gênero, étni-
ca e de classe. Currículo - AQUINO, JulioGroppa
e conhecimento, elabora- (org)- Diferenças e Precon-
ção do currículo escolar e ceitos na Escola. Alternativas
planejamentos. Currículo teóricas e práticas. São Paulo.
e diversidade cultural e a Summus. 1998.
contextualização do currí- - DEMO, Pedro. Política
75
cultura global: as exigências
da cidadania. Porto Alegre:
Artmed, 2002.
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Promove/ Não possui disciplina que trate do campo teórico do currículo.
ICESP
Estácio (17 vezes) - A organização dos currículos obedece aos princípios de flexibilização, interdis-
ciplinaridade e contextualização.
- O graduando em Pedagogia trabalha com um repertório de informações e
habilidades composto por pluralidade de conhecimentos teóricos e práticos,
cuja consolidação será proporcionada pelo exercício da profissão, fundamentan-
do-se em interdisciplinaridade, contextualização, democratização, pertinência e
relevância social, ética e sensibilidade afetiva e estética. Este repertório deve se
constituir por meio de múltiplos olhares, próprios das ciências, das culturas, das
artes, da vida cotidiana, que proporcionam leitura das relações sociais e étnico-
-raciais, também dos processos educativos por estas desencadeados.
- A interdisciplinaridade propicia o diálogo entre os vários campos do conhe-
cimento e a integração do conhecimento. Visa a superar uma organização cur-
ricular tradicional, que coloca as disciplinas como realidades estanques, frag-
mentadas, isoladas e dificulta a apropriação do conhecimento pelo aluno. A
interdisciplinaridade, ao contrário, busca favorecer uma visão contextualizada
e uma percepção sistêmica da realidade, permitindo uma compreensão mais
abrangente do saber.
- A interdisciplinaridade tem sua origem na necessidade de corrigir os desvios
causados pela fragmentação disciplinar, resultante da compartimentação que
marca a produção científica de caráter positivista. A integração entre as disci-
plinas do currículo criam condições para a pesquisa e para a criação de modelos
explicativos que efetivamente consigam captar a complexidade da realidade.
Propicia a reorganização e a recomposição dos diferentes âmbitos do saber por
meio do estabelecimento de intercâmbios cognitivos.
- A interdisciplinaridade não significa uma justaposição de saberes, nem implica
uma comunicação reduzida entre as disciplinas. Envolve a elaboração de um
contexto mais geral, no qual as disciplinas em contato são modificadas, pas-
sando a depender claramente uma das outras. Promove, portanto, intercâmbios
mútuos e recíprocas integrações entre as disciplinas.
- As propostas de ensino baseadas na interdisciplinaridade têm um grande po-
der estruturador, pois as definições, os contextos e os procedimentos estudados
pelos alunos passam a ser organizados em torno de unidades mais globais, que
agregam estruturas de conceitos e metodologias compartilhadas por várias dis-
ciplinas, capacitando os alunos para enfrentar problemas que transcendem os
limites de uma disciplina concreta e para detectar, analisar e solucionar novas
questões.