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Avaliação da penetração de íons cloreto e profundidade de

carbonatação em elementos de concreto com diferentes teores de ar


incorporados
Evaluation of the penetration depth of chloride ions and carbonation of concrete elements
in different terrestrial air incorporated

Frederico José Barros Santos (1); João Ribeiro de Carvalho (2); Angelo Just da Costa e Silva (3).

(1) Graduando em Eng. Civil, Universidade de Pernambuco – email: fred_barsan@hotmail.com


(2) Graduando em Eng. Civil, Universidade de Pernambuco – email: eng.jribeiro@gmail.com
(3) Prof.º Doutor, Dep. de Eng. Civil, Universidade de Pernambuco – email: Ângelo@tecomat.com.br

Resumo
Objetiva-se nesta pesquisa avaliar a influência da incorporação de ar ao concreto na penetração externa de
agentes agressivos. Para isso, foram confeccionadas três séries de amostras, sendo a primeira do concreto
convencional (Série 1) e as demais (Séries 2 e 3) do concreto celular. As amostras da Série 1 apresentaram
densidade de 2.342 Kg/m³ e resistência à compressão aos 63 dias de 31,2 MPa, as da Série 2 apresentava
densidade de 1.885 Kg/m³ e resistência à compressão aos 63 dias de 5,9 MPa e por fim, a Série 3, que
apresentava densidade ainda menor, 1.390 Kg/m³ e resistência à compressão aos 63 dias de 0,7 MPa. Para
avaliar a penetração de íons cloreto, as amostras foram submetidas à semiciclos de imersão parcial em
água do mar durante cinco dias e, em seguida, semiciclos de secagem ao ar livre durante dois dias. Foram
realizados quatro ciclos compostos e utilizou-se o ensaio clorimétrico de aspersão de solução de nitrato de
prata para avaliar a profundidade de penetração dos cloretos. No tocante a carbonatação, as amostras
foram submetidas durante vinte e dois dias à câmara de carbonatação, com 70 % de umidade e
temperatura de 26 °C. Ao término da exposição, foi realizado o ensaio de profundidade de carbonatação.
Observou-se que quanto maior o teor de ar incorporado ao concreto, maior a profundidade de penetração
de cloretos, esta foi 5 vezes maior nas amostras da Série 3 quando comparadas com as da Série 1. O
mesmo comportamento foi observado na penetração de CO2. Também foram realizados ensaios para
caracterização das propriedades dos concretos no estado fresco e endurecido. A análise experimental
apontou a real influencia da porosidade do concreto nas características mecânicas e de durabilidade.
Palavra-Chave: cloretos, carbonatação, concreto celular, durabilidade.

Abstract
The objective of this research is to evaluate the influence of air-entrained concrete in the external penetration
of aggressive agents. For this, were made three sets of samples, the first being the conventional concrete
(Series 1) and others (Series 2 and 3) the cellular concrete. The samples from series 1 had the density of
2342 kg/m³ and the compressive strength at 63 days of 31.2 MPa, Series 2 had a density of 1885 kg/m³ and
compressive strength at 63 days of 5.9 MPa and finally the third series samples, which had even lower
density, 1,390 kg/m³ and the compressive strength at 63 days of 0.7 MPa. To evaluate the penetration of
chloride ions, the samples were subjected to semi-cycles of partial immersion in sea water for five days and
then semi-cycles of air drying for two days. Four compound cycles were completed and was used the
colorimetric assay of silver nitrateto assess the depth of penetration of chlorine. Regarding the carbonation,
the samples were submitted for twenty-two days in the carbonation chamber, with 70% humidity and a
temperature of 26 ° C. At the end of exposure, the carbonation depth test was performed. It was observed
that the greater the amount of air incorporated into the concrete, the greater the depth of penetration of
chlorides, which it was five times higher in the samples of series 3 when compared to series 1. The same
behavior was observed in the penetration of CO2. Also tests were performed to characterize the properties
of fresh concrete and hardened. The experimental analysis showed the actual influence of concrete porosity
on mechanical characteristics and durability.
Keywords: chlorides, carbonation, cellular concrete, durability.
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1 INTRODUÇÃO
De acordo com Rossignolo (2009), os concretos leves são caracterizados pela
redução da massa específica em relação aos concretos convencionais. Essa redução é
dada pela substituição de parte dos materiais sólidos por ar. Os concretos leves podem
ser classificados em concreto com agregados leves, concreto celular e concreto sem
finos, conforme a Figura 1.

(a) (b) (c)

Figura 1 – (a) Concreto com agregados leves; (b) Concreto celular e (c) Concreto sem finos (ROSSIGNOLO
(2009)).

Segundo a NBR 12645 (ABNT, 1992b), o Concreto Celular Espumoso (CCE) é um


concreto leve obtido através da introdução de bolhas de ar, com dimensões milimétricas,
homogêneas, distribuídas uniformemente na argamassa, estáveis, incomunicáveis e
indeformadas ao final do processo. O CCE deve apresentar densidade de massa
aparente no estado fresco compreendida entre 1300 Kg/m³ e 1900 Kg/m³.
Ainda segundo a norma supracitada, as bolhas de ar incorporadas à argamassa
podem ser obtidas na forma de uma espuma pré-formada ou geradas dentro de um
misturador a partir da ação mecânica produzida pelo mesmo, devido a um agente
espumante.
A NBR 12646 (ABNT, 1992c) caracteriza o agente espumante empregado no CCE
como sendo um produto ou composição química capaz de produzir bolhas de ar estáveis
no interior de pastas de cimento e argamassa capazes de resistir ao processo de mistura
e lançamento ou bombeamento do concreto, permanecendo estáveis até o inicio da pega
do cimento.
Por se tratar de um material de rápida produção e aplicação, ser auto-adensável e
possuir excelentes características térmicas e acústicas, o concreto celular apresenta-se
como uma excelente opção à execução de paredes estruturais e de vedação (ABCP,
2002).
De acordo com Guglielmi et al. (2010), um fator muito importante a ser analisado
na produção deste tipo de concreto é a porosidade. Um material muito poroso apresenta
excelentes propriedades de isolamento térmico e acústico, devido ao elevado teor de ar
retido na argamassa. Entretanto, essas propriedades são obtidas em detrimento da
resistência mecânica do concreto.

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Segundo o autor supracitado, reduzindo a resistência mecânica do concreto, a
incorporação de ar facilita, consequentemente, a penetração de agentes agressivos que
implicam diretamente na diminuição da durabilidade e vida útil da estrutura de concreto.
Para a NBR 6118 (ABNT, 2003, p.11), durabilidade pode ser definida da seguinte
forma: “Consiste na capacidade de a estrutura resistir às influências ambientais previstas
e definidas em conjunto pelo autor do projeto estrutural e o contratante, no início dos
trabalhos de elaboração do projeto”.
Segundo Souza (2001), a concepção de uma estrutura durável depende da adoção
de um conjunto de decisões e procedimentos que garantam à estrutura e aos materiais
que a constitui um desempenho satisfatório ao decorrer da sua vida útil.
Segundo o mesmo autor, o estudo da vida útil das estruturas está diretamente
ligado ao maior conhecimento e aprofundamento da durabilidade dos materiais, dos
componentes e dos sistemas estruturais, assim como pelo aperfeiçoamento dos
processos construtivos e das técnicas de manutenção, sendo a associação entre
durabilidade e vida útil inevitável.
Mota (2011) enfatiza que independente da concepção dada à durabilidade e à vida
útil das estruturas de concreto armado deve-se levar em consideração os fenômenos de
degradação dos materiais utilizados na construção, ampliando as especificações de
desempenho baseados em experiências e estudos da previsão da degradação em função
do tempo, bem como, a qualidade de execução da edificação.
Objetiva-se neste estudo realizar uma análise experimental comparativa da
durabilidade de concretos com diferentes teores de ar incorporados quanto à penetração
de íons cloreto e CO2, além de determinar características mecânicas do concreto celular
no estado fresco e endurecido.

2 MATERIAIS UTILIZADOS
2.2 Caracterização dos materiais empregados
2.1.1 Areia
Nesta pesquisa foi empregada uma areia de natureza quartzosa para produção do
concreto, por ser amplamente encontrada na Região Metropolitana do Recife.
Para a caracterização do agregado miúdo foram realizados os ensaios de
determinação da composição granulométrica de acordo com a NBR NM 248 (ABNT,
2003b), de absorção de água de acordo com a NBR NM 30 (ABNT, 2001), de massa
específica de acordo com a NBR NM 52 (ABNT, 2009), massa unitária de acordo com a
NBR NM 45 (ABNT, 2006), de material pulverulento de acordo com a NBR NM 46 (ABNT,
2003a) e teor de argila em torrões de acordo com a NBR 7218 (ABNT, 2010).
A Tabela 1 ilustra os resultados obtidos com a realização dos ensaios supracitados.

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Tabela 1 – Ensaios de caracterização de agregado miúdo para concreto.
ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO DE AGREGADO MIÚDO PARA CONCRETO
COMPOSIÇÃO GRANULOMÉTRICA
Abertura Peneiramento Percentual ENSAIOS REALIZADOS
Percentual
Peneira Peso retido (g) Acumulado
Retido (%)
(mm) 1º 2º Média (%)
75 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Descrição do ensaio Unidades Valor
Massa específica
63 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 g/cm³ 2,58
agregado seco
Massa espec. agreg.
50 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 g/cm³ 2,61
cond. SSS
Massa específica
37,5 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 g/cm³ 2,66
aparente
31,5 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Massa unitária
Kg/m³ 1547
25 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 agregado solto
19 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Massa unitária
Kg/m³ 1368
12,5 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 agregado úmido
9,5 10,00 9,00 9,50 1,00 1,00
Material pulverulento % 1,3
6,3 13,00 14,00 13,50 1,00 2,00
4,75 22,00 20,00 21,00 2,00 4,00
Módulo de finura - 2,82
2,36 87,00 89,00 88,00 9,00 13,00
1,18 114,00 116,00 115,00 12,00 25,00
Diâmetro máximo mm 4,75
0,6 330,00 328,00 329,00 33,00 58,00
0,3 271,00 268,00 269,50 27,00 85,00
Absorção de água % 1,1
0,15 124,00 126,00 125,00 12,00 97,00
FUNDO 29,00 30,00 29,50 3,00 100,00
Argila em torrões % 0,0
Total 1000 1000 1000 100 385

2.1.2 Brita
Foi utilizado nesta pesquisa um agregado graúdo de natureza mineralógica
granítica, no seu estado seco e sem lavagem.
Para a caracterização do agregado graúdo foram realizados os ensaios de
determinação da composição granulométrica de acordo com a NBR NM 248 (ABNT,
2003b), de absorção de água de acordo com a NBR NM 53 (ABNT, 2009), de massa
específica de acordo com a NBR NM 53 (ABNT, 2009), massa unitária de acordo com a
NBR NM 45 (ABNT, 2006), de material pulverulento de acordo com a NBR NM 46 (ABNT,
2003a), de índice de forma de acordo com a NBR 7809 (ABNT, 2008a) e teor de argila em
torrões de acordo com a NBR 7218 (ABNT, 2010).
A Tabela 2 ilustra os resultados obtidos com a realização dos ensaios supracitados.

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Tabela 2 – Ensaios de caracterização de agregado graúdo para concreto.

ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO DE AGREGADO GRAÚDO PARA CONCRETO


COMPOSIÇÃO GRANULOMÉTRICA ENSAIOS REALIZADOS
Peneiramento
Abertura Perc. Descrição do ensaio Unidades Valor
Peso retido (g) Perce.
Peneira Retido
Acum. (%) Massa específica
(mm) 1º 2º Média (%) g/cm³ 2,77
agregado seco
Massa espec. agreg.
75 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 g/cm³ 2,75
cond. SSS
Massa específica
63 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 g/cm³ 2,73
aparente
50 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Índice de forma pelo
% -
37,5 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 método do paquímetro
31,5 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Massa unitária
Kg/m³ 1389
25 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 agregado solto
19 469,00 469,00 469,00 8,00 9 Massa unitária
Kg/m³ 1524
12,5 3775,00 3780,00 3777,50 69,00 77 agregado úmido
9,5 1043,00 1044,00 1043,50 19,00 96
Material pulverulento % 0,9
6,3 160,00 157,00 158,50 3,00 99
4,75 2,00 2,00 2,00 0,00 99
Módulo de finura - 7,00
2,36 2,00 2,00 2,00 0,00 99
1,18 1,00 1,00 1,00 0,00 99
Diâmetro máximo mm 25,00
0,6 1,00 2,00 1,50 0,00 99
0,3 1,00 2,00 1,50 0,00 99
Absorção de água % 0,4
0,15 5,00 5,00 5,00 1,00 99
FUNDO 41,00 36,00 38,50 0,00 100
Argila em torrões % -
Total 5500 5500 5500 100 975

2.1.3 Cimento
O cimento Portland composto tem diversas possibilidades de aplicação e por isso é
um dos cimentos mais utilizados no Brasil. Suas propriedades atendem desde estruturas
em concreto armado até argamassas de assentamento e revestimento, concreto massa e
concreto para pavimentos. O CP II F-32 utilizado nesta pesquisa, tem adição
de fíler calcário, em teor entre 6 e 10%. Fíler calcário é a matéria-prima obtida através
da moagem fina de calcário, basalto, materiais carbonáticos, etc. Devido a
sua granulometria, esse material inorgânico aumenta a trabalhabilidade, diminui
a capilaridade e a permeabilidade de argamassas e concretos (AMORIM, 2010).
A Tabela 3 apresenta algumas características do cimento utilizado nesta pesquisa
(informado pelo fabricante).

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Tabela 3 – Características Físicas, Mecânicas e Químicas do cimento empregado na pesquisa.
ESPECIFICAÇÃO
ENSAIO RESULTADOS NORMA NBR
11578/91
Área específica Blaine (cm²/g) 3780 ≥ 2600
Massa específica (g/cm³) 3,10 não aplicável
Caracterização Física e

Densidade aparente (g/cm³) *NI não aplicável


Resíduo na peneira #200 (%) 2,6 ≤ 12,0
Mecânica

Finura
Resíduo na peneira #325 (%) 11,3 não aplicável
Início (min) 255 ≥1h
Tempo de Pega
Fim (min) 320 ≤ 10 h
3 dias (MPa) 26,4 ≥ 10,00
Resistência à
Compressão
7 dias (MPa) 31,9 ≥ 20,00
28 dias (MPa) 38 ≥ 32,00
Perda de fogo (PF) 4,06 ≤ 2,5
Caracterização
Química (%)

Resíduo insolúvel (RI) 1,53 ≤ 6,5


Óxido de cálcio (CaO) 60,95 não aplicável
Óxido de magnésio (MgO) 3,26 ≤ 6,5
Trióxido de enxofre (SO3) 3,34 ≤ 4,0
Óxido de cálcio livre (CaO livre) 0,89 não aplicável

2.1.4 Aditivo incorporador de ar


O fabricante do aditivo incorporador de ar não disponibiliza a composição química
do produto e o comercializa em tambores de 200 litros, como pode ser visto na Figura 2.
Segundo recomendações do mesmo, o aditivo deve ser utilizado na proporção de 1 L/m³
de concreto.

Figura 2 – Aditivo incorporador de ar.

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3 METODOLOGIA
Para avaliação da penetração externa de agentes agressivos em concretos com
diferentes densidades obtidas a partir da incorporação de ar, utilizou-se o método
clorimétrico de aspersão da solução de nitrato de prata para avaliação da penetração de
cloretos e a pulverização de fenolftaleína para avaliação do ingresso de CO2. A indução
de íons cloreto ao concreto ocorreu por semiciclos de imersão parcial e secagem das
amostras. Foram definidas três series de corpos-de-prova. A primeira, Série 1, seria do
concreto convencional, apresentando densidade entre 2300 Kg/m³ e 2350 Kg/m³. A
segunda, Série 2, seria do concreto celular com densidade intermediária, entre 1800
Kg/m³ e 1900 Kg/m³. Por fim, a Série 3, que também seria do concreto celular e
apresentaria densidade ainda menor, entre 1300 Kg/m³ e 1400 Kg/m³.
O traço do concreto utilizado apresenta a proporção, em peso, de 1:1,27:2,7,
respectivamente para cimento, areia, e brita. A relação água/cimento adotada foi de 0,65,
para um concreto com fck = 30 MPa. Os insumos foram adicionados à betoneira na
seguinte ordem: brita, água, cimento e areia e foram misturados durante cinco minutos,
tempo necessário para o concreto apresentar-se coeso, sem vazios na superfície, sem
desprendimento dos agregados, com queda de modo homogêneo e compactado. Foi
realizado então, o ensaio de abatimento, pelo qual se determina a consistência de
concretos em relação à altura do tronco de cone, conforme procedimento prescrito pela
NBR NM 67 (ABNT, 1998) e o ensaio de determinação da massa específica, realizado de
acordo com a NBR 9833 (ABNT, 2008), para caracterização das propriedades do
concreto convencional de referência (Série 1) no estado fresco.
Ao concreto de referência (Série 1), foram adicionados 28 ml de aditivo
incorporador de ar e misturado na betoneira por mais cinco minutos. Após a mistura,
foram realizados os ensaios de caracterização do concreto celular (Série 2) no estado
fresco, assim como os realizados no concreto de referência (Série 1). No tocante ao
ensaio de determinação de massa específica, utilizou-se desta vez o método prescrito
pela NBR 12644 (ABNT, 1992), específico para determinação da densidade de massa
aparente do concreto celular espumoso no estado fresco.
Para obtenção dos concretos com densidade menor que a de referência, fixou-se a
quantidade de aditivo incorporador de ar utilizado e o tempo de interação entre o concreto
e o aditivo na betoneira foi aumentado. Para obtenção do concreto celular da Série 3, a
massa foi misturada por mais quinze minutos para obtenção de uma densidade menor do
que a da Série 2. Os ensaios de caracterização das propriedades do concreto celular
(Série 3) no estado fresco foram realizados assim como no concreto celular da Série 2.
Após a produção do concreto, o material foi acondicionado em moldes metálicos,
para cada Série analisada, de acordo com especificações da NBR 5738 (ABNT, 2003).
Foi adotado o adensamento mecânico em duas camadas para o concreto convencional.
Quanto ao concreto celular, os moldes foram preenchidos em uma única camada e o
adensamento se deu por batidas laterais na face externa dos moldes com a colher de
pedreiro, conforme prevê a norma supracitada para concretos que apresentem
abatimento superior a 180 mm.
A cura dos corpos-de-prova, nas primeiras 24 horas, foi realizada ao ar e após este
período, foram desmoldados e curados em câmara úmida. Após permanecerem em
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câmara úmida por 28 dias, iniciou-se procedimento de ingresso externo de cloretos com o
semiciclo de imersão parcial dos corpos-de-prova em água do mar durante cinco dias. Em
seguida, os corpos-de-prova eram expostos ao semiciclo de secagem ao ar livre por dois
dias. Foram realizados quatro ciclos compostos e utilizou-se o ensaio clorimétrico de
aspersão de solução de nitrato de prata para avaliar a profundidade de penetração dos
cloretos.
No tocante a penetração de CO2, as amostras foram submetidas durante vinte e
dois dias à câmara de carbonatação, com 70 % de umidade e temperatura de 26 °C. Ao
término da exposição, foi realizado o ensaio de profundidade de carbonatação.
O ensaio para determinação da resistência à compressão de corpos-de-prova
cilíndricos de concreto seguiu a prescrição da NBR 5739 (ABNT, 2007) e foi realizado em
uma prensa universal aos 63 dias.
Também foi realizado o ensaio de absorção de água por capilaridade, de acordo
com a NBR 9779 (ABNT, 1995). Os corpos-de-prova necessitaram ser rompidos por
compressão diametral aos 43 dias, conforme prevê a NBR 7222 (ABNT, 2012), de modo a
permitir a verificação da altura da ascensão capilar máxima interna.

4 RESULTADOS
Percebeu-se que quanto maior o teor de ar incorporado ao concreto menor é a
densidade e maior o abatimento do tronco de cone. A Tabela 4 relaciona esses dois
parâmetros, densidade e abatimento.
Tabela 4 – Densidade e abatimento das Séries de concreto analisadas.

FAMÍLIA DENSIDADE ABATIMENTO


1 2.342 Kg/m³ 9,0 cm
2 1.873 Kg/m³ 18,5 cm
3 1.390 Kg/m³ 19,0 cm

Observou-se também que quanto maior o teor de ar incorporado, melhor o aspecto


visual do concreto, apresentando menor quantidade de vazios e maior compacidade, fato
evidenciado já pela comparação entre o concreto convencional de referência (Série 1) e o
concreto celular da Série 2, ilustrados pelas Figuras 3 e 4.

Figura 3 – Aspecto visual do concreto Figura 4 – Aspecto visual do concreto celular


convencional de referência (Série 1). (Série 2).
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Com relação à resistência mecânica, verificou-se que com o aumento do teor de ar
incorporado a resistência à compressão diminuiu, fato explicado pelo aumento do volume
de vazios incorporados a argamassa do concreto. O mesmo comportamento foi
observado no ensaio de resistência à tração.
Os resultados do ensaio de resistência à compressão das amostras são
apresentados na Tabela 5, bem como a análise estatística dos mesmos.
Tabela 5 – Resultados do ensaio de resistência à compressão.

RESISTÊNCIA À
DESVIO Coeficiente de
SÉRIE IDADE (DIAS) COMPRESSÃO
PADRÃO (MPa) Variação (%)
(MPa)
1 63 31,2 2,05 0,07
2 63 5,9 0,49 0,09
3 63 0,7 0,07 0,11

A Tabela 6 apresenta os resultados obtidos nos ensaios de resistência à tração


realizados nas amostras em estudo e a análise estatística dos dados.

Tabela 6 – Resultados do ensaio de resistência à tração.

RESISTÊNCIA À DESVIO Coeficiente de


SÉRIE IDADE (DIAS)
TRAÇÃO (MPa) PADRÃO (MPa) Variação (%)
1 43 2,62 0,20 0,08
2 43 0,68 0,00 0,00
3 43 0,05 0,01 0,16

De acordo com os valores obtidos durante a realização do ensaio de absorção de


água por capilaridade (Tabela 7), pôde-se observar que a absorção de água é menor na
Série 2 em relação à Série 1, similar, entretanto, àquela obtida na Série 3.
Uma das possíveis causas para este comportamento seria a existência de uma
maior quantidade de poros isolados nas amostras da Série 2. Na Série 3, porém, há um
grande número de bolhas de ar incorporadas ao concreto e, por consequência, diminuição
da distância entre elas. Com isso, pode ocorre conexão entre as bolhas de ar, o que
ocasionaria uma maior permeabilidade, e os mesmos níveis de absorção entre as Séries
2 e 3, mesmo com diferentes densidades, também comprovado pela ascensão capilar
similar obtida entre as Séries 1 e 3.

Tabela 7 – Resultados do ensaio de absorção de água por capilaridade.

ABSORÇÃO DE ÁGUA (g/cm²) ALTURA


FAMÍLIA
3h 6h 24 h 48 h 72 h (cm)
0,3183 0,4456 0,8276 1,0822 1,2095 9,7
A
0,2546 0,3183 0,7002 1,0186 1,1459 8,0
0,0636 0,0636 0,2546 0,4456 0,5093 2,1
B
0,1909 0,1909 0,3819 0,5729 0,6366 4,0
0,2546 0,2546 0,4456 0,5729 0,5729 5,0
C
0,3183 0,3183 0,5093 0,6366 0,7002 8,0
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Com o auxílio do software AutoCAD pôde-se delimitar as áreas esbranquiçadas ou
prateadas (indicativas da presença de cloretos livres) das marrons, a partir dos registros
fotográficos analisados em escala realizados após quinze minutos da aspersão da
solução de nitrato de prata, para então, determinar a área de penetração dos cloretos. As
Figuras 5, 6 e 7, ilustram uma das análises realizadas nas amostras de cada Série.

Figura 5 – Parte da superfície Figura 6 – Parte da superfície Figura 7 – Superfície


esbranquiçada em uma das esbranquiçada em uma das completamente
amostras do concreto amostras do concreto celular esbranquiçada em uma das
convencional de referência (Série 2). amostras do concreto celular
(Série 1). (Série 3).

A Figura 8 apresenta os resultados médios das amostras de concreto analisadas


de cada Série, mostrando um percentual aproximado de 21% da área das superfícies das
amostras do concreto convencional (Série 1) com precipitações brancas, enquanto que
nos corpos-de-prova de concreto celular da Série 2, esse percentual foi de
aproximadamente 50%. A Série 3 apresentou toda a área das secções contaminadas por
cloretos.

Figura 8 – Gráfico do percentual médio de áreas brancas nas secções das amostras
analisadas.

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Quanto à carbonatação, verificou-se um comportamento semelhante à penetração
de cloretos. Esta investigação foi dada através da aplicação da solução de fenolftaleína
no concreto. Sabe-se que a condição de concreto carbonatado pode ser verificada
quando após a pulverização da solução de fenolftaleína observam-se áreas com
coloração diferenciada, ou seja, áreas onde a cor encontrada é vermelho carmim,
representando concreto não carbonatado e áreas onde o concreto permanece incolor,
representando concreto carbonatado. As Figuras 9, 10 e 11 ilustram os resultados obtidos
após a pulverização da solução de fenolftaleína em uma das amostras analisadas das
Séries em questão.

Figura 9 – Resultado obtido Figura 10 – Resultado obtido Figura 11 – Resultado obtido


após a pulverização de após a pulverização de após a pulverização de
fenolftaleína em uma das fenolftaleína em uma das fenolftaleína uma das
amostras do concreto amostras do concreto celular amostras do concreto celular
convencional de referência (Série 2). (Série 3).
(Série 1).

Devido ao fato de não haver uma uniformidade de penetração, realiza-se diversas


medidas de profundidade para uma melhor análise. Foram realizadas diversas medições
da profundidade de carbonatação das amostras das Séries 1 e 2 (ver Figuras 12 e 13)
com o auxílio do paquímetro. Uma vez que, conforme observado na Figura 11, as
amostras da Série 3 ficaram completamente carbonatadas, não se fez necessário realizar
este procedimento nas amostras desta Série.

Figura 12 – Medição da profundidade de Figura 13 – Medição da profundidade de


carbonatação em uma das amostras do carbonatação em uma das amostras do
concreto convencional de referência (Série 1). concreto celular (Série 2) analisadas.

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A Tabela 8 apresenta a média de profundidade de carbonatação observada nas
amostras analisadas.

Tabela 8 – Média da profundidade de carbonatação nas amostras analisadas.

SÉRIE PROFUNDIDADE MÉDIA DE CARBONATAÇÃO (mm)


1 5,00
2 18,00
3 100,00

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos estudos desenvolvidos, observou-se que a incorporação de ar à


argamassa de concreto diminui a sua densidade e melhora a trabalhabilidade da massa.
Atrelada a este processo encontra-se a resistência à compressão das Séries analisadas,
esta diminuiu com o aumento do teor de ar incorporado e consequente aumento do
número de vazios no concreto. O mesmo comportamento foi observando para o ensaio de
resistência à tração.
O fato acima citado contribui de forma direta para a penetração de agentes
agressivos nos elementos de concreto. Através do ensaio clorimétrico de aspersão de
nitrato de prata observou-se que enquanto a penetração no concreto convencional de
referência (Série 1) se deu em apenas 20 % da área da face interna analisada, no
concreto celular da Série 3 a contaminação se deu em 100% da área da amostra em
questão.
No tocante a penetração de CO2, com a realização do ensaio de profundidade de
carbonatação, verificou-se que a profundidade de penetração da frente de carbonatação é
vinte vezes maior no concreto celular (Série 3) quando comparado ao concreto
convencional de referência (Série 1).
Quanto à absorção de água, foi também verificada influência do teor de ar
incorporado, notadamente a sua diminuição quando da utilização de um concreto
convencional em comparação com os concretos leves.

6 REFERÊNCIAS
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