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BARBARIE E MODERNIDADE: AS TRANSFORMACOES NO CAMPO E O AGRONEGOCIO NO BRASIL" Barbarie y Modernidad: Las transformaciones en el campo y el agronegocio en Brasil Barbarity and Modernity: ‘The transformations in the agriculture and the agribusiness in the Brazil Ariovaldo Umbelino de OLIVEIRA Professor do Programa de Pés-Graduagao em Geografia Humana do Departamento de Geografia — FFLCH — USP Corteio eletronico: arioliv@usp.br RESUMO; Este texto aborda as contradigbes clo desenvolvimento do capitalismo na agricultura brasileira De um lado esti a marca da barbxirie que deriva da agao dos latifundidrios contra os Sem Terra. A luta intensa por dircitos dos movimentos sociais na tiltima década do Século XX, esté sendo marcada pela violencia dos conflitos e dos assassinatos no campo. De outro, esti a participagio cada vez mais expressiva do agronegécio na economia em geral €, particularmente, na pauta de exportagdes do pais. Procura-se desvendar 0 mundo do agronegécio, através de uma demonsiragio cxaustiva de dados que revelam ser a pequena e a média unidade de producao, as responsiveis pela maior parte da produgao agropecustia. © texto aborda também o lugar do agronegécio no conjunto do capitalismo mundializado. Trata igualmente, das caracteristicas basicas do processo de mundializagto e da atuagio do capital na agricultura. A Reforma Agriria € analisada como altemativa importante para o desenvolvimento econémico, social ¢ politico para os camponeses Sem Terra clo Brasil PALAVRAS-CHAVE: Agricultura brasileira, agricultura camponesa, movimentos sociais, conflitos no campo, agronegécio © mundializacao, RESUMEN: Este texto, “Barbie y Modernidad: Las transformaciones en el campo y el agronegocio en Brasil” aborda las crontradicciones del desarrollo del capitalismo en la agricultura brasilea. Por um lado ‘std [a marca de la barbarie que ¢s fruto de la accion de los terratenientes contra los Sin Tierra. La intensa lucha por derechos de los movimientos sociales en la ultima década del siglo XX, esta siendo marcada por la violencia de los conllitos y de los asesinatos en el campo, Por otro, esti la participacion cada vex mis expresiva del agronegocio en la economia en general y, particularmente, en la pauta de exportaciones del pai Se intenta desvendar el mundo del agronegocio, por medio de una exaust que revelan ser la pequefta y la media unidad de produccién, la respons producci6n agropecuaria El texto también aborda el lugar del agronegocio en el conjunto del eapitalismo mundializado, La Reforma Agraria es analisada como ulternativa importante para el desarrollo econdmico, social y politico para los campesinos Sem Tierra del Brasil. PALABRAS-CLAVE: Agricultura brasileaa, movimientos sociales, conflictos en el campo, agronegocio, mundializacion, demonstracién de datos le por It mayor pare de la Temtwe [_Soraio [ania aan] —p.ii3as6 | julaes ams A primeira versio deste texto foi apresentada para discussio em reuniaio da CPT Nacional ~ Goiinia-GO 22/10/2003. A segunda versio ampliada, foi apresentada no XII Encontro Nacional do MST - Sio Miguel do Iguacu — PR, 19 a 24 de Janeiro de 2.004 413 ABSTRACT: his study “Barbarity and Modernity: the transformations in the agriculture and the agribusiness in the Brazil” is about the development of capitalism on brasilian agriculture, There is the barbarity of the farmers against the Sem Terra. This intense figth is for social rights development at the lost decade of the 20 Century, it has being marked to the violent conflicts and murders on the field. On the other side, the are the grouver participation of agribusiness on the economy, at the exportation in particulary. Discoveing the agribusiness'world through statistics the have shown that is small and medium rural property were the responsible for the higgest production. The paper is about the capitalism and agribusiness in the globalization, 100, ‘The Land Retorm is analyzed as an important alternative to the econom for Sem Tesra peasants. KEY WORDS: Brazilian agriculture, social movement, Geld conflicts, ageibuseness € globalization, social and politic development INTRODUCAO, Em pleno inicio do século XI, 08 movimentos sociais continuam sua luta pela conquista da Reforma Agriria no Brasil. As elites concentradoras de terra respondem com a barbarie. Assim, © pais vai prosseguindo no registro das estatisticas crescente sobre os conflitos e a violéncia no campo, A luta sem trégua ¢ sem fronteiras que tavam os camponeses € trabalhadores do campo por um pedago de chao e contra as miltiplas formas de exploragao de seu trabalho amplia-se por todo canto ¢ lugar, multiplica-se como uma guerrilha civil sem reconhecimento, Essit realidade cruel é a face da barbirie que a modernidade gera no Brasil, Aqui a modernidade produz as metropoles, que industrializa € mundializa 2 economia nacional, internacionalizando a burguesia nacional, soldando seu lugar na economia mundial, mas prossegue também, produzindo a exclusio dos pobres na cidade € no campo. Esta exclusao leva a miséria parte ‘expressiva dos camponeses e trabalhadores brasileiros. No Brasil, o desenvolvimento contraditério ¢ desigual do capitalismo gestou também, contraditoriamente, latifundidrios capitalistas e capitalistas latifundiarios. Os integrantes do mundo do agronegécio continuam a pedir o fim dos subsidios agricolas nos paises desenvolvidos, para que a produgio mundializada da agricultura brasileira chegue ao mercado mundial, Insistem também, na recusa em aceitar a Reforma Agriria como caminho, igualmente moderno, para dar facesso a terra aos camponeses que querem produzir ¢ viver ne campo. Como tenho escrito em meus textos, nao se trata, pois de um retorno ao passido, mas, de um encontro com © futuro. A incansivel luta pelo acesso a tera no Brasil, tem esta dimensaio da modernidade incompreendida pela elite latifundiiria ¢ por parte da intelectualidade brasileira. No Brasil, ha intelectuais que preferem acreditar que o campo acabou e que a agricultura € atividade de “tempo parcial” (part-time farmer). As pluriatividades estariam agora na agenda do dia, assim, a produgao agricola estaria irremediavelmente em segundo plano. Estes intelectuais afirmam ‘com apoio de parte da midia brasileira que o campo urbanizou-se © no h4 mais sentido falar- se em rural. A onda agora € o “novo rural brasileiro”, 0 “rururbano”. O campo do Brasil real foi substituido pelo Brasil da ficedo virtual que emerge das andlises estatisticas da PNAD - Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar que 0 IBGE levanta, Alias, esses intelectuais continuam a fazer com que a “estatistica seja a arte de torturar os niimeros até que eles confessem”, como contou-nos um dia © genial economista José Juliano de Carvalho Filho da FEA-USP, nas reunioes de elaboracao do II Plano Nacional da Reforma Agriria do Governo LULA. H4 também, entre estes intelectuais, aqueles que travam uma “briga falsa” com as estatisticas do IBGE. Como este Instituto toma como base para seus levantamentos estatisticos © perimetro urhano definido por lei em cada municipio do pafs, este critério dos tempos getulistas, “esconderia” um Brasil ‘majoritariamente rural, pois a maioria das cidades brasileiras vive das atividades rurais. Para eles, Portanto, a maior parte da populagao levantada como urbana pelo IBGE € também nesta “Fic virtual da também vietual teoria” uma populagao rural. Assim, 0 Brasil rural virou urbano ou entio, © Brasil urbano virou rural, Certamente, nem mesmo os mais clialéticos dos filésofos imaginaria tamanha “dialética do viral”. Para estes intelectuais, que no campus universitirio procuram entender o campo, as estatisticas vem a priori para justificar e fundamentar concepgdes contraditérias. E muito provivel que hem um e nem outto tenha raz40. E preciso ponderar que a amostragem das estatisticas da n4 PNAD esti contaminada pela presenga de grinde ntimero de amostras que caitam no urbano Jandestino computado como rural. Nao sto somente as estatisticas que registram um Brasil majoritariamente urbano, mas, ha de fato, em todas as partes deste pais continente, o modo de vida urbano dominando simultinea e contriditoriamente a cidade ¢ 0 campo. E possivel, que tenha faltado a necessaria compreensio de que nao sao os dados que determinam a realidade, mas, 40 contrario, € realidade que determina os dados. Alids, tem faltado realidade © Geografia do Brasil nos estudos destes intelectuais. A BARBARUIE Outros intelectuzis, movidos pela busea da compreensio do Brasil real, vao 20 campo estudar as lutas travadas pelos movimentos sociais, procuram interpretar a barhirie que os dados sobre conflitos no campo levantados pela CPT registram. Assim, © campo contém as duas faces da mesma moeda, De um lado, esti o agronegécio e sua roupagem da modernidade. De outro, est o campo em conflito. A mesma série estatistica que registra os conflitos, retransmite © recado vindo do campo: nem a violéncia dos jaguncos, nem a repressio social democrats do governo FHC e de muitos governos estaduais como © do PSDB em Sao Paulo, ou mesmo 0 textos dos intelectuais ¢ a opiniio da midia representante das clites que nao véem esta realidade, sio suficientes para impedir aj longa e paciente luta de uma parte dos trabalhadores do campo e de parte dos excluidos da cidade, para “entrarem na terra”, para se transformarem em camponeses, Estamos diante da rebeldia dos camponeses no campo ¢ na cidade. Na cidade © no campo eles esto construindo um verdadeiro levante civil para buscar os direitos que thes Slo insistentemente negados. S30 pacientes, ndo tm pressa, nunca tiveram nada, portanto, apreenderam que s6 a luta garantira no futuro, a utopia curtida no passado. Por isso avancam, ‘ocupam, acampam, plantam, recuam, rearticulam-se, vao para as beiras das estradas, acampam novamente, reaglutinam forgas, avangam novamente, ocupam mais uma vez, recuam outra vez se necessirio for, no param, esto em movimento, io movimentos sociais em luta por direitos. ‘Tem a certeza de que o futuro thes pertence e que seri conquistado. Mas, as elites ao contririo, como tém que garantir o passado, véem na violéncia € na barbirie a Gnica forma de manter seu patrimdnio, expresso na propriedade privado capitalista da terra. ‘Assim, a lei vai sendo invocada por ambos: uns para manté-la, outros para questionar o seu cumprimento. O direito vai sendo subvertido e a justica ficando de um lado s6, 0 lado do direito reivindicado pelas elites. Muitos magistrados sto capazes de dar reintegragio de posse a um reptesentante da elite que nao possui o titulo de dominio de uma terta que € sabidamente piiblica, Como tal, sendo publica ela no é passivel do reconhecimento da posse. Entretanto, a justiga cega nao vé porque nao quer. Mas, muitos magistrados apenas véem quando os ‘camponeses em luta abrem para a Sociedade civil a contradigio da posse capitalista ilegal da terra pela Constituicao. Neste momento, o direito é abandonado e a justiga vai se tornando injustica, Aqueles que assassinam ou mandam assassinar estlo em liberdade. Aqueles que lutam por um direito que a Constituicao Ihes garante, estio sendo condenados, estio presos. Repetindo, é a subversdo total do direito € da justiga, A luta ea prépria Reforma Agraria vao para o banco dos réus. Os camponeses processados condenados. Instaura-se em nome do rigor do cumprimento da lei, a velha alternativa de tornar os presos politicos em réus comuns. Alias, de h4 muito neste pais, historia e farsa, farsa € hist6ria se confundem aos olhos dos mortais. Por isso, “por defender a implantaglo da Reforma Agraria no Brasil, 17 trabalhadores rurais ligados ao MST foram detidos em todo pais. uma manobra para intimidar o Movimento, instncias judiciais emitem mandados de prisio e abusam do seu poder. A detengio de cada um desses trabalhadores representa a pristo de todos os sem terra do Brasil, tratados como fora-cla-lei por lutarem contra o latifiindio e pela terra” Em Sao Paulo, foram ués os militantes rurais detidos no Estado: José Rainha Junior & Felinto Procépio, o Mineirinho, foram presos em 11 de julho, em Teodoro Sampaio, Pontal do Paranapanema, acusados de formagio de bando e qua yosa de Rainha, Deolinda Alves de Souza, foi detida em 10 de setembro. Suas prisoes fazem parte de uma estratégia para criminalizat 0 MST que foi desencadeada pelo juiz Atis de Araujo que, em pouco mais de um 15 ano, decretou a prisio preventiva de 30 integrantes do Movimento, na regiio do Pontal, No Estado, a Justica Continua perseguindo os trabalhadores: a expedigao de mandados de detencao inclui outros oito integrantes do MST: Cledson Mendes, Marcio Barreto, Messias Duda, Eduardo de Morais, Zelitro Luz, Valmir Rodrigues Chaves, Sérgio Panteleao e Roberto Rainha. No Estado da Paratha, oito integrantes do MST... foram presos em junho de 2.002 .. Antdnio Francisco da Silva, José Inacio da Silva, José Luiz dos Santos, José Martins de Faria Marcelo Francisco da Silva, Severino José da Cruz, Severino Ramos dos Santos € Ivanildo Francisco da ‘a. No Estado de Goiis, desde 4 de julho ... quatro trabalhadores também foram presos: Josnei Dias, Claudinei Lucio Soares dos Santos, Valdinei Vicente Silva e Milton Felipe de Moraes .. na cidade de Fazenda Nova. No Mato Grosso do Sul, Carlos Aparecido Ferrari e Antonino Alves Lima, 0 Toninho Borborema, foram presos em 26 de agosto, na cidade de Douracos, em um presidio de seguranca maxima. Os mandados de pristo estavam decretados desde dezembro de 2,000, quando 0 entio juiz Eduardo Magrinelli Junior decretou também a pristo de outros 19 trabalhadores rurais.” * Sio os novos presos politicos do Brasil da modernidade. Assim, a injustica da Justiga vai decifrando ¢ interpretando as avessas a continuidade do proceso de formacao do campesinato brasileiro moderno em pleno século XI. Um campesinato curtido na rebeldia de quem € capaz de revolucionar a hist6ria, mas, contraditoriamente, nao ser compreendido pelas elites, em grande parte pela midia, e 0 que tem sido mais cruel, nao sto reconhecidos por muitos ingelectuais, cujo tinico trabalho tem sido ser pago com dinheiro dos préprios trabalhadores para pensar estratagemas contra os mesmos. Dessa forma, parece que duas faces de um mesmo processo revelam que, em uma face esti a realidade violenta e assassina das lutas no campo. Nela os latifundidrios € seus jagungos continuam a assassinar os camponeses a bala, Na outra face, esta uma parte dos intelectuais a “assassinar” em. seus estudos os camponeses que lutam, mortem, mas continuam a lutar pelo direito de possuir no futuro, um pedago de chao deste pais continente apropriado privadamente por tio poucos. (Os ntimeros das estatisticas da CPT sto implaciveis ¢ revelam que os conflitos no campo seguem sua marcha ascendente. Em 2.000, aconteceram 660 conflitos; em 2.001, foram 880; cm 2.002, registrou-se 925; € em 2.003 até o més de novembro, ja sao 1.197 os conflitos, Entre os conflitos trabalhistas destacam-se aqueles relativos a superexplorucao € a0 respeito aos direitos € particularmente, a presenga do registro de 45 casos relativos 4 peonagem, também denominada de “trabalho escravo” em 2.001 e 147 em 2.002. Aliés, eles que diminuiram entre 1993 € 1998, quando foram registrados 14 casos, voltaram a crescer atingindo o maior ntimero de casos desde 1990. A situac&o em 2003, segundo documento da CPT de17/12/2003, recrudesceu: *O wabalho escravo, apesar de toda a aglo do governo, também apresenta consideriivel crescimento, Foram recebidas deniincias de 223 situagdes onde estaria havendo ocorréncia de trabalho escravo, envolvendo um ntimero de 7.560 pessoas. 51,7% maior que o total do ano 2002, com 147 situacdes, e 35% maior no niimero de pessoas, 5.559. 144 destas situagdes foram fiscalizadas e 4.725 trabalhadores libertados. O Para continua sendo o estado com 0 maior ntimero de ocorréncias, 169. dentincias envolvendo 4.464 pessoas. 80 destas dentincias foram fiscalizadas (47,3% do total das dentincias) € 1.765 trabalhadores libertados” ‘Como s¢ nao bastasse a execrada existéncia ¢ pritica do “trabalho escravo", o limite da barbérie nao tem fim. No dia 28 de janeiro de 2.004, quatro funcionarios do Trabalho foram fuzilados quando realizavam vistorias em propriedades onde havia denincia de “trabalho escravo": “Fiscais de trabalho escravo sio assassinados em Minas.” ‘Trés auditores fiscais e um motorista do Ministério do Trabalho foram mortos com tiros ra cabeca, ontem, quando realizavam vistorias de rotina a 50 quilémetros de Unai, no noroeste de Minas. Na regido sao comuns as dentnncias de trabalho escravo. Eles fiscalizavam a colheita de feijio e costumavam receber ameacas de fazendeiros € de ‘gatos’ — pessoas que intermedia a contratagio da mao-de-obra.” > 2 Jornal dos Trabalhador »© Estado de Sio Paulo = Rurais SEM TERRA, ano XXII, ntimero 233 — setembro de 2.003, p. 10. 29/01/2004, primeira pagina, Al 116 F, a ja quase permanente barbirie qe a modemidade capitalista produz no Brasil ‘ontinua e histérica acumulagao prithitiva do capital. O Grafico 1 ilustra este processo recente, " Grafico 01 BRASIL - CONFLITOS NO CAMPO - 1.990 a 2.003* oro: OVER AU (200% at nove) fm Contito de Terra Gh \jabalho Escravo et Confito Trabalhista [Outros jam especificagao #4 campo a Comiss’io Pastoral da Terra em 17/12/2003, nota & sociedade ‘A CPT registrou de janeiro a noy embro deste ano, 1.197 conflitos no campo, numero 36% maior que o registraclo em igual petido de 2002 (879), Destes, 181 foram no Para, 160 em Pernambuco e 113 no Paranda’ Os conflitos relativos a terra indica¥, portanto, que aps 0 crescimento continuo entre 1993 e 1999, quando se saltou de 361 conflitos para 870, a pequena queda registrada no ano 2.000 (556 conflitos), nao sinalizava um navo periodo de queda dos mesmos como havia ocorrido entre 1987 € 1992. Ao contririo, 0s 681 casos relativos 40 ano 2.001 e os 743 de 2.002, 2003, eles Sobre o crescimento dos conflitos manifestou-se da seguinte forma em sus voltaram a indicar © crescimento dos conilitos j{ em pleno século XX1. Inclusive, ¢ atingiram 1,099 casos. (Grafico 02) Grafico 02 BRASIL - CONFLITOS DE TERRA - 1985 a 2003" 09 cuveRA AU (Ae en detain ts nes) g oe 8 SRRSS Continuando, o documento da CPT sobre os dados atualizados referentes aos conflitos de terra em 17/12/2003, trouxe a esséncia que marcou a diferenca na estratégia de acho 117 dos movimientos sociais face a0 novo quadro conjuntural gerado pela vitéria de LULA: era necessario disputar politicamente o governo LULA. E passiram a fazé-lo, pois, esta tem sido sua jf s somente nasceram das lutas. A continuidade da lua Jonga hist6ria € suas conquist foi o caminho: “Os conflitos de terra foram 1.099 até novembro de 2.003, contra 742 em 2.002. As ‘ocupacées e 05 acampamentos tiveram aumento considerivel, foram 328 ocupagdes, em 2003, contra 176, em 2002. Um crescimento de 86.36%. J4 0 ntimero de acampamentos foi 209% maior neste ano, 198, contra 64 no ano passado, Pernambuco tem o maior ntimero de ocup: seguido do Parana, onde ocorreram 31 ocupacdes; Minas Gerais com 35, S40 Paulo com 23, Mato Grosso, 17, Goids, 15, ¢ Pari 14. Pernambuco também lidera © namero de acampamentos com 40, seguido por Goids e Pari com 24 cada, Tocantins com 21, Sio Paulo com 19 ¢ Bahia com 15. O numero de familias que participaram de ocupagdes este ano foi de 54.368, contra 26.958 durante todo © ano de 2002, 101,6% a mais. J4 0 mimero de familias que acamparam chegou a 44.087, contra 10.750, durante todo © ano passado, 310% a mais do que todo © ano de 2002." Quanto a distribu verifica-se que, embora a maior pare violenta deles ocorram na Amaz6nia, as regides brasileiras de ocupacio historicamente ntigas continuam também registrando quantidade expressiva dos mesmos. Assim, a luta pela terra no Brasil nao é um fendmeno exclusivo da fronteira e nem mesmo ela esti fechada como creveram alguns intelectuais. A luta pela terra € um fendmeno presente em todo 0 campo brasileiro, de norte a sul, leste a oeste Outro indicative da barbarie produzida pela modernidade é sem diivida alguma os assassinatos no campo. Eles que com pequenas oscilacdes vinham caindo entre 1.998 e 2.000 (de 38 para 20) também voltaram a aumentar em 2.001 chegando a 29 assassinatos, em 2002 subiu para 43; ¢ até novembro de 2.003, foram 71. O estado do Pari continua sendo o estado aonde a violencia chegou & cerca de um terco das ocorréncias, vindo em seguida, os Estados de Mato Grosso, Pernambuco ¢ Maranhio. O Grafico 03 mostra esta crucl realidade Des, 83 9 territorial dos conflitos por ten Grafico 03 BRASIL - ASSASSINATOS NO CAMPO - 1986 a 2003* 1926" 1987 1988 19891990 1901 1992 1903 1098 1995 1908 1997 1998 1909 2000 2001 2002 2003 HiNorte (S Nordeste & Sudeste £3 Sul [1 Centro-Oeste (1“Sem especificagao” ACPT, retratando este cenario da barbiirie, mostrou os primeiros nimeros desta violéncia em 2.003 “De janeiro a novembro a CPT contabilizou 71 assassinatos em conilitos no campo, © maior ntimero nos tltimos 13 anos. 77,5 a mais que no mesmo periodo do ano passado, 40 118 (43 durante todo o ano de 2002), O Pari € 0 estado onde a violencia contra os trabalhadores continua a ser a maior, 35 assassinatos, dos 71. Pernambuco e Ronddnia o seguem com 8 assassinatos cada um, Mato Grosso com 6, ¢ Parand com 5. Também cresceram outras formas de violencia. Até novembro de 2.003, ocorreram 67 tentativas de assassinato, contra 38 em igual periodo de 2002, 76.3% a mais, O numero de feridos em 2003 foi de 30, em 2,002 por sua vez, foram 25, um crescimento exato de 100%. O ntimero de trabalhadores presos foi 265, contra 229 no mesmo periodo do ano de 2002, ou sefa, um aumento de 15%. Os despejos tiveram um crescimento de 227% Apesat de estarem surgindo membros do judicidrio que incorportram uma visdo social da sua fungao, no seu conjunto 0 Judicidrio tem aparecido como o grande aliado do latifiindio, A propriedade ainda € vista como um valor absoluto. Os dados sobre os despejos judiciais falam por si 56. A prisio de um grande numero de trabalhadores, acusados de formacao de quadrilha, quando ja ha jurisprudéncia consagrads que nega que a luta pelos direitos possa ser considerada como tal, dé o tom da “isencio” de boa parte do Judiciario. © miimero de familias despejadas ultrapassou qualquer limite. Foram 30.852 familias em 138 ordens de despejo. O maior ntimero de familias despejadas em um ano desde que a CPT iniciou este registro em 1985. No mesmo periodo do ano passado, os despejos atingiram 9.243 familias, em 63 ordens judiciais, Um crescimento de 227% no nimero de familias ¢ 119% em mandados judiciais. O Estado com o maior ntimero de familias despejadas foi o de Mato Grosso com 5.155 familias, seguido de $30 Paulo com 4.080, depois Gois com 3.344, Pernambuco com 3.197, Para com 2.167 € Parana com 2,080. © niimero de familias expulsa da terra, até novembro de 2003, foi de 2.346, contra 1.249 ‘no ano passado, Crescimento de 87,8%, O Para foi o estado com o maior numero de familias expulsa, um total de 684, em seguida ficou Pernambuco com 570, Paraiba com 363, ¢ o Parana com 310." essa forma, pelo caminho da violéncia, as elites vao procurando impor seu desmando e desrespeito & Constituigao Federal, que manda desapropriar as terras improdutivas. Este quadro com a eleicao de LULA passou a conhecer contradigdes interessantes do ponto de vista polit Os movimentes sociais compreenderam 6 momento histérico novo ¢ novas estratégias de luta foram desencadeadas. A CPT sistematizou as informagdes sobre © que se desenrolava no campo, e concluiu corretamente: “VIOLAGOES: até novembro de 2003 registra-se o maior ntimero de assassinatos dos uiltimos 13 anos’ De 1° de janeiro a 30 de novembro deste ano, a Comissio Pastoral da Terra (CPT) registrou 71 assassinatos de trabalhadores rurais em conilitos no campo. O ntimero € 77,5% a mais do que o registrado no mesmo periodo do ano passado € o mais elevado desde 1991 quando ocorreram 54 mortes. Em 1990, 79 camponeses foram assassinados. Este ano houve ainda um crescimento nas tentativas de assassinato, foram 76,3% a mais que em 2002, ¢ no niimero de familias despejadas por mandados judiciai da terra 87/8% de familias a mais do que em 2.002 Assistiu-se, por outro lado, a um considerével aumento das agdes de ocupagio de terras ¢ de acampamentos, reivindicando a Reforma Agraria. O nuimero de ocupagdes cresceu 86,3% € 0 de acampamentos, 209%. A pressio dos movimentos populares do campo. A eleigio de Lula para a Presidéncia da Republica criou dois processos diferentes no campo. Por um lado, ‘os movimentos dos trabalhadores do campo sentiram que 0 momento hist6rico que viviam era o que possibilitaria a realizagio da Reforma Agriria. Para mostrar a confianga € para pressionar © governo a, realmente, concretizar a distribuigio de terra prometida, aumentaram consideravelmente os acampamentos, as ocupagdes € as mobilizagdes, entre as quais se destaca a Marcha para Brasilia, organizada pelo Forum Nacional de Reforma Agriria e Justiga no Campo. Pelo lado dos fazendeitos a resposta ao aumento destas acdes foi o recrudescimento da violéncia que voltou a niveis nunca vistos nos uiltimos anos.” Um bom exemplo desta violencia, foi o epis6dio ocorrido em Sao Gabriel no Rio Grande do Sul, Os trabalhadores do MST marcharam para acamparem frente de um latifiindio que 0 INCRA esté desapropriando para fins de Reforma Agriria. Entao, os latifundiarios do municipio reuniram-se € montaram um bloqueio para impedir o avango da marcha, em uma ag2o que 119 infringia o direito de ir e vir garantido pela Constituigo Federal. Somente com a aga Militar, 0 bloqueio foi desmontado. A marcha prosseguiu até uma pequena propriedade vizinha do latifiindio, cedida para o acampamento. Os latifundidrios reunidos entraram com uma acto na justiga, para invalidar a venda da pequena propriedade a quem cedeu. Conclusao: a justica agiu para anular a venda, e se no bastasse, o Supremo alegando irregularidade nao permitiu ‘© INCRA entrar na posse do imével improdutivo. A arrogincia e uma espécie de certeza da impunidade, esti expressa até na noticia do fato ocorrido: “Produtores rurais avaliam conflito”. Assembiéia em Sao Gabriel ... discutiu altemativa para a saida dos sem-terra do municipio. Produtores rurais de virios pontos do Estado participaram, na tarde de ontem, de assembléia no Parque de Exposigdes Assis Brasil, em Silo Gabriel. O ato, presidido pelo presidente da FARSUL, Carlos Speroito, reuniu ainda prefeitos ¢ politicos da Fronteira ese, além dos presidentes da Assembléia Legislativa, Vilson Govatti (PP), e das comissdes de Agricultura © do Mercosul do Legislativo gaticho, deputados Jerénimo Goergen (PP) e Berfran Rosaclo (PPS), respectivamente. ‘Oencontro, além de avaliar os conflitos ocomidos na quanta-feira com a Brigac Militar, possibilitou adiscussio de alternativas para a saida dos integrantes do MST do municipio. Eles pemianecenracampados em drea de 2.7 hectares, localidade de Vacacai, cedicla por um agricultor ¢ cuja compra, formalizacka em 27 de novembro, foi consideraca ilegitima pela Justia, tendo em vista se tratar de parte de um total de 21 hectares pertencente a 12 herdeiras e ainda no partilhade em inventirio.. blgia, que reuniu cerca de cs dle 30 Si ‘Manutengio da ofensiva contra o MST. Eles querem que o governador Germano Rigotto congele a area ‘ocupada pelos sem-fema para evitar 0 inchago do acampamento, tendo em vista 0 pedido de reintegracio de posse que seri encaminhado ... Ruralistas acenam ainelt com a intengio de realizar ato pablico em frente a0 Palicio Piratini. os sem-tema, ..”* E a luta de classes se manifestando no cotidiano do pais. Ela vai gradativamente eclodindo em diferentes pontos. Nem o direito garantido constitucionalmente, serve com fator limitador da agao. Dessa forma, 0 capitalismo no Brasil, produz e reproduz a barbitie, transformando os conflitos e 05 assassinatos quase sempre violentos, em “solucao radical fora da lei das elites” para manter 2s injustigas presentes no campo. Mas, mesmo em meio 2 modernidade e & barbarie, ‘08 camponeses no Brasil, seguem sua caminhada com paciéncia porque como esti escrito no poema “a vida ndo para, a vida é tao rara”.> A MODERNIDADE: O LUGAR DO BRASIL NO CAPITALISMO MUNDIALIZADO ‘A inserglo cada vez maior do Brasil no agronegécio deriva de seu papel no interior da légica contraditéria do desenvolvimento do capitalismo mundializado. E respondendo a esta légica que se exporta para importar importa-se para exportar. 4 do lucro maximo. O mercado é€ 0 mundo. O Brasil que é um pais que sempre dependeu da importac&o do trigo, na safta de 2.003, acreditem, exportou pela primeira vez trigo. Assim, as elites capitalistas no Brasil buscam seus ganhos maximos onde existir quem queira comprar. ‘A logica € mundial, € 0 nacional fica submetido a esta légica mundial, O agronegécio € suas commodities sto expressdes objetivas desta inserglo capitalista das elites brasileiras a0 capital mundial. A pagina na Internet do Ministério da Agricultura, Pecudria e Abastecimento trouxe no iltimo dia 07/01/2004, informagdes e dados sobre a Balanga Comercial do Agronegécio no Brasil em 2003: “AGRONEGOCIO VENDEU US$ 30,7 BILHOES AO EXTERIOR E GARANTIU SUPERAVIT DA BALANCA COMERCIAL EM 2003” © agronegécio brasileiro bateu mais um recorde hist6rico em 2003. As exportagdes do setor somaram US$ 30,639 bilhdes no ano passado, segundo dados consolidados pela Secretaria de Produgio e Comercializacio do Ministério da Agricultura, Pecudria ¢ Abastecimento. © total * Luclamem Winck CORREIO DO POVO - 05/12/2003 - p.7, * Lenine © Dudu Faleao, “Paciéncia” 120 supera em USS 5,8 bilhdes (ou 23,3%) as vendas externas de US$ 24,839 bilhOes do setor em 2002. Com isso, a participagio das exportagées do agronegécio no total dos embarques brasileiros aumentou de 41,1% para 41,9% em 2003. As importacdes cresceram 6,6%, para US$ 4,791 bilhoes. O saldo da balanga comercial do agronegécio também bateu outro recorde, aleangando um superivit de US$ 25,848 bilhdes — 27% acima do saldo de US$ 20,347 bilhoes registraclo em 2002, O resultado coloca o agronegécio como responsive pela touilidade do superavit global de US$ 24,824 bilhdes da balanga comercial do pais, jé que os cdlemais setores apresentaram um déficit de US$ 1 bilhao no periodo. “Em 2004, mantidas as atuais condig6es internas ¢ externas, devemos ter um superavit entre US$ 27 bilhdes e US$ 28 bilhdes", diz Oo ministro Roberto Rodrigues. Soja lidera - © desempenho positive das exportagdes em 2003, deveu-se ao crescimento das vendas de todos os grupos de produtos, 1 methora dos pregos internacionais das principais commodities ¢ abertura de novos mercados. Cabe destacar a lideranga do complexo soja. AS exportagdes do complexo soja cresceram 35,2%, de USS 6,008 bilhdes para US$ 8,125 bilho resultado do aumento das vendas de soja em graos (41,5%), farelo (18,3%) € Gleo em bruto (54,3%), Além do aumento do volume exportado em razio da safra recorde de 52 milhdes de toneladas, a elevacio dos precos internacionais também contribuiu para ao crescimento das receitas de exportagdes do setor. Em alguns casos, cresceram mais as receitas com os produtos do que o volume embareado, © complexo came e os produtos florestais foram destaques. No setor de carnes, cujas vendas eresceram de US$ 3,1 bilhdes para US$ 4,1 bilhdes (+3196), dispararam as vendas de bovinos in natura, de US$ 76 milhOes para US$ 1,154 bilhao (+4996). Em volume, o aumento foi de 44%, Em carne de frango in natura, 0 pais saiu de vendas de USS 1,3 bilhao para US$ 1,7 bilhao (28%), exportando 20% acima do volume de 2002. As exportagdes de café cresceram 7%, para US$ 1,423 bilhio. Em volume, o aumento foi de apenas 1%. As vendas de algodo ¢ fibras téxteis vegetais se recuperaram em 2003, crescendo de US$ 800 milhOes para US$ 1,1 bilhao (+359). Em trigo, o Brasil passou a exportar. Foram 50 mil toneladas em 2003. Antes, nada er vendido ao exterior. As vendas cle 3,5 milhes de toneladas de milho somaram US$ 375 milhdes, um resultado 40% superior a 2002. Nos produtos florestais, as exportagdes de papel e celulose cresceram 38%, de US$ 2 bilhdes para US$ 2,8 bilhdes. As vendas de madeira cresceram 18.4%, para US$ 2,6 bilhdes. Houve ainda a performance positiva de sucos de frutas (17,5%); frutas © horulicas (32,9%); couros, peles € calgados (5,39); cacau (65,46); fumo e tabaco (8,1%); € pescados (23,294). Novos mercados — As vendas externas foram ainda mais diversificadas em 2003 e howe um expressivo aumento da participacio de novos mercados, como Asia, Oriente Médio & Europa Oriental. Em todos os principais blocos econdmicos houve crescimento: Mercosul, 40%; Nafta 17%; Unido Européia, 22.4%; Europa Oriental, 26,8%; Asia, 33,3%; Oriente Médio, 34,3%; € Africa, 9,7%. Mudou a participagio desses blocos como destinos das exportagdes; a UE continuou na lideranea, absorvendo 36,4% das exportacdes totais do agronegécio. A Asia aumentou de 16,7% para 18,1% sua fatia, alcangando o Nafta, cuja participagio apresentou uma redugio de 19% para 18,1% em 2003. O Oriente Médio aumentou sua participagio de 6,2% para 6,8%; a Europa Oriental, de 6,1% para 6,3%; € 0 Mercosul, de 2,7% para 3,1%. Os paises que mais compraram produtos do agronegécio brasileiro foram China (66,2%); Turquia (67%); Roménia (114%); Ucrania (35,9%); Hong Kong (35,9%); Taiwan (67,3%); Ir (71,7%); Israel (122,9%) e Africa do Sul (56,8%).” * © Brasil do campo modemo, dessa forma, vai transformando a agricultura em um negocio rentivel regulado pelo lucro € pelo mercado mundial, Agronegécio € sindnimo de producio para o mundo. Part o mercado mundial © pais exportou: produtos florestais (papel, celulose, madeiras e seus derivados), carnes (ovina, suina € de aves); 0 complexo soja (soja em grio, farelo e dleo); café; agticar e dlcool; madeira e suas obras; sucos de frutas; algodio e fibras téxteis vegetais; milho; trigo; couro, peles € calgados; fumo ¢ tabaco; frutas, hortalicas € preparaces; cereais, farinhas e preparagdes; pescados e, cacau e suas preparagdes. Mas, quis a ironia que em 2.003, o Brasil tivesse que importar arroz, algodao e milho, além evidentemente, . cul w.br ~ acessado 08/01/2004 121 do trigo, Assim, 0 mesmo Brasil moderno do agronegécio que exporta, tem que importar arroz, feijao, milho, trigo e leite (alimentos basicos dos trabalhadores brasileiros) e teve que importar também soja em grios, farelo e Gleo de soja, algockio em pluma, matérias-primas industrials de larga possibilidade de produgio no préprio pais. Mas o mercado ¢ implacavel. Ele cada vez mais nao se regula pelo nacional, Mundializado ele mundializa o nacional. Destroi suas bases e lanca o pais nas teias da rede capitalista mundial Assim, ele se torna moderno, logo destituido da logica que faz dos brasileiros um povo diferente no mundo. Nao se trata de exaltar fora de hora o nacionalismo, mas, se trata de na légica do mercado, olhar a balanga comercial ¢ seus efeitos para a nagio. A medida que o pais exporta determinados produtos obriga-se, a importar outros. E 0 caso espetacular do algodao. Enquanto © agronegécio exporta esta fibra, as indtistrias nacionais tém que importi-las. Ou, o que € pior, do ponto de vista do conforto corporal, importa-se fibras sintéticas para produzir no Brasil roupas inadequadas ambientalmente. A légica e deciframento estio, pois, no mercado, alias, cada vez mais no mercado mundial Quando se observa a pauta das exportacdes ¢ importacdes do Brasil ¢ das regides ou estaclos, Verifica-se esta légica perversa do mercado. O pais produz ¢ exporta a comida que falta ‘nos pratos da maioria dos trabalhadores brasileiros. Em 2,003, entre os 100 principais produtos, 10 complexo soja (soja em grao, farelo € dleo) respondeu pelo item de maior valor em dolar na balanga comercial com o exterior. Esteve e est a frente das exportagdes de avides, minério de ferro, automéveis, terminais portiteis de telefonia celular, aluminio etc. Em sua esteira vem os tradicionais café ¢ agucar. Depois deles, aparece a pasta de celulose, os calgados € 0 couro, a came de frango, 0 suco concentrado de laranja, 0 fumo, a carne bovina, a carne suina, 0 milho, as madeiras € a castanha de caju. ? Quanto as importagdes, entre os 100 primeiros, 0 trigo esteve no ano de 2.003, em segundo lugar; a soja importada (€ isso mesmo, importa-se para exportar) em décimo nono; arroz em vigésimo quinto; o leite integral em p6 (€ isso mesmo também) e ainda a pasta de celulose, papel jornal, cacau, borracha natural, etc., etc., ete. * Assim, 0 agronegécio modemiza o pais, j4 nto dependemos mais apenas da importagio do trigo, mas, agora também do leite. Estamos, pois, diante de uma terrivel contradiga0. Quem produz, produz para quem paga mais, ndo importa onde ele esteja na face do planeta. Logo, a voltipia dos que seguem 0 agronegécio vai deixando o pais vulnerivel no que se refere soberania alimentar. Como as commodities (mercadorias de origem agropecusiria vendidas nas bolsas de mercadorias e de futuro) garantem saldo na balanga comercial, Estado financia mais as ditas cujas. Entio, mais agricultores capitalistas vao tentar produzi-las. Dessa forma, produz- se 0 saldo da balanga comercial que vai pagar os juros da divida externa. E 0 cachorro correndo atris do préprio rabo. Ou como preferem os companheiros, ¢ 0 neoliberalismo em sua plena voltipia. A pagina na Internet do Ministério do Desenvolvimento, Industria e Comércio, (www. mdic.gov.br) tem disponivel as tabelas com os ntimeros do comércio exterior que ilustram estas paginas Quando se investiga a distribuigto territorial do agronegécio, vamos encontra-lo Praticamente, em todo territério nacional, A regio Sul é seu grande paraiso. Na pauta das exportagdes cle 2.003, elas la estavam ocupando entre os vinte primeiros lugares, dezesseis deles (pela ordem: soja, cae de frango, fumo, couro e calgados, came suina, madeiras, milho, agticar, e etc.). Nas importagdes, pasmem, a Regio Sul importou: soja, trigo, milho, arroz, couro € derivados, pasta de celulose, cebola, leite integral, etc. * ‘A regitio Sudeste por sua vez, exportou respectivamente, pasta de celulose, café, agticar € dleool, suco concentrado de laranja, carne bovina, soja, papel, couro e calgados, etc. Quanto 2 importagao, a regito importou: trigo, borracha natural, pasta de celulose, papel jornal, arroz, en ” wowwuandic gov.be ~ 08/01/2004 * Idem. * Idem. Idem. " sew fv.org br 122 ‘A regido Centro-Oeste, que cada vez mais se torna uma expansiio do Sul ¢ Sudeste, exportou entre os cem principais produtos, setenta ¢ oito do agronegécio. A lista comecou com @ soja, a carne bovina, © algodao, a carne de frango, a came suina, madeira, couro, milho, agdcar e, terminou com as sementes forrageiras, sorgo, queijo, leite integral, derivados do tomate, milho verde, girassol, café, ervilha, etc. Quanto 2s importagdes, importou: carne ovina, trigo, batata-inglesa, azeite de oliva, ervilha, algodao, soja, ete. A regio Nordeste também tem em sua pauta de exportagdes o agronegécio. De la saiu para o exterior: 6 tradicional agticar € 0 Alcool, pasta de celulose, castanha de caju, soja, pescado, cacau, couro natural e calgados, frutas (goiabs, manga, melo, uva, etc.), papel, algodao, ceras vegetais, sisal, suco de laranja, banana, mel, sucos de frutas, fumo, etc. Enquanto isso, ela importou: trigo, cacau, algodio, 6leo de soja, alcool, pasmem novamente, arroz, dleo de dendé, etc Arey pimenta seca, pescado, café, castanha-do-Par: 2002: trigo, papel, ete. Este é, pois, 0 quadro territorial do agronegécio no pais. O mercado mundial vai sendo sua meta ¢ limite, Assim, cria-se internamente no Brasil uma nova burguesia internacionalizada £0 capitalismo mundial produzindo no Brasil uma burguesia nacional mundial. Por isso, esta burguesia internacionalizada do agronegécio quer a ALCA — Area de Livre Comércio das Américas. Quanto mais insergao internacional maior as possibilidades de seus luctos. lids, muitos deles possuem uma segunda (ou primeira) residéncia em New York ou, como sao pouco cultos (para nao dizer ignorantes por exceléncias) estio em Miami, a "cidade dos contra”. io Norte por sua vez, exportou do agronegécio: madeira, pasta de celulose, soja, sucos de frutas, carne bovina, etc. Importou em Mas... Qual € 0 lugar do agronegécio brasileiro no capitalismo mundializado? © Brasil exportava em 1964, ano do golpe militar, um total de 1,430 bilhao de délares. Nese total, os produtos basicos (onde esto a maioria dos produtos agricolas) representavam 85,4%, os semimanufaturados 8,0% ¢ o manufaturados apenas 6,2%. Em 1984, ultimo ano do governo militar © pais exportava 27,005 bilhdes de délares, ou seja, os produtos basicos participaram com apenas 32,2, os semimanufaturados com 10,6% e os manufaturados passaram a 56%. Com os governos militares pds 64, teve inicio, portanto, do processo de insercao maior do Brasil no capitalismo internacional e com ele, 0 proceso de crescimento da divida externa. Era necessirio aumentar as exportacdes para pagar os juros da divida, Aliés, em 1964, ela era de 2,5 bilhdes de délares e em 1,984, era de 102 bilhoes de dolares. Cabe salientar que, entre 1981 ¢ 1984, foi pago pelo governo militar 30,7 bilhoes de délares de juros da divida externa, ou seja, pouco mais de 30% de seu montante, No governo Sarney, as exportagdes continuaram crescendo e © pais chegou ao final de 1.989, com um total de 34,3 bilhdes exportados (27.8% de basicos, 26,9% de semimanufaturados € 54,2% cle manufaturados). Entretanto, nem mesmo com a fragata da curta declaragio da moratéria da divida externa, ela chegou aos 115,5 bilhoes de d6lares. O que € mais incrivel, é que 0 governo Sarney pagou 67,2 bilhoes de délares de juros da divida externa, ou seja, 58,2% do montante total devido, Assim, a ciranda da divida fazia com que © Brasil entrasse, via reuniao do “Consensus de Washington”, no neoliberalismo, A partir de entdo, no final do governo Collor/Itamar as exportagdes atingiram 43,5 bilhoes de délares (25,4% de basicos, 15,8% de semimanufuturado © 57,3% de manufaturados), Mas, como conseqiiéncia, a divida externa chegou também naquele ano, a 148,2 bilhoes de délares, com um pagamento absurdo de juros no periodo do governo Collor/Itamar de 80,2 bilhdes de dlares, ou seja, mais de 54% do total da divida. No governo FHC o cenario nio foi diferente. O absurdo erescimento da divida e dos pagamentos dos juros continuou ocorrendo junto 4 ampliagio das exportacées. Estas atingiram em 2,002, um total de 60,3 bilhdes de dolares (28,19 de bisicos, 14,9% de semimanufaturados 54,7% de manufaturados). A divida externa por sua vez cresceu até 1.998, quando atingiu 241,6 bilhdes de délares em plena crise da moeda real. A partir de entio, com a transferéncia de parte da divida pdblica para a iniciativa privada via processo de privatizagio das estatais, a divida externa passou a declinar chegando em 2.002, a 27,6 bilhdes de d6lares. Entretanto, durante os ito anos do governo FHC, pagou-se de juros da divida externa o incrivel total de 102,4 bilhdes de délares, ‘ou seja, 45% do total da divida, E importante registrar também, que FHC, montou sua politica de 123 endividamento fazendo crescer a divida péblica interna que passou de R$31,6 bilhdes em janeiro de 1,995, para RS$557,2 bilhdes em 2.002. Em reais, a divida externa federal era também, no final de 2002, de R$269,7. O total da divida publica federal (interna mais externa), era, pois, de R$826,9. Dessa forma, do govemo Samey até o governo FHC, 0 povo brasileiro pagou de juros, um total incrivel de 250 bilhGes de délares da divida externa. Se a esse montante dos juros somar-se as amortizagdes da divida realizadas de 1.985 a 2.002 (385,7 bilhdes de délares), chega-se a um total maluco de 635,7 bilhdes de délares pagos. Ou seja, em 18 anos de neoliberalismo (1.985 a 2.002) © Brasil pagou varias vezes 0 total da divida E nessa teia que entram as exportagdes. Tomando-se o saldo comercial obtido entre 1.985 € 2,002, as exportagdes geraram um superivit comercial de 143,4 bilhdes de délares. Ja entre 1.995 € 2,000, gerou um deficit de 24,3 bilhdes de délares. O saldo liquido no periodo foi de 119,2 bilhoes de dlares. Assim, o chamado pelos neoliberais de “espetacular saldo do agronegécio € das exportagdes brasileiras” mio chegou no periodo a metade do montante pago de juros da dlivida externa, por isso a divida cresceu, mesmo sendo paga varias vezes. Repetindo, € 0 cachorro correndo atris do proprio rabo, ou seja, quanto mais se exportou, mais a divida cresceu e mais se pagou de juros. ‘A quem interessa esse processo pergunta necesséria neste momento? Ao setor financeiro internacional que se beneficia dlos juros pagos ¢ aos capitalistas nacionais € internacionais que aumentam seus lucros com o crescimento das exportagdes. Por isso, entre os “funciondrios” do governo FHC estava um Ministro da Fazenda que era ex-funcionirio do Banco Mundial e um presidente do Banco Central que era ex-funciondrio de um dos maiores capitalistas mundiais, E no primeiro ano do governo LULA, quais foram os resultados? Durante 0 primeiro ano do governo LULA, a balanga comercial brasileira fechou 2,003, com 73,0 bilhdes de délares em exportagdes. As importagdes aleangaram 48,2 bilhdes de délares permitindo assim, um superivit comercial de 24,8 bilhdes de délares. As exportagdes cresceram 21,19 em relacio 4 2,002, com aumento absoluto de 12,7 bilhdes de détares. Entre 0 total exportado, os produtos hiisicos ficaram 33,2%, os semimanufaturados com 15,6% e os manufaturados com 54,3%6. Cabe salientar que por grupos de produtos, o setor de material de transporte foi o que gerou a maior receita de exportagao, com vendas totais de 10,6 bilhdes de délares, correspondendo a 14,6% do total das exportagdes. Neste setor destacaram-se as exportagdes de veiculos de carga, automéveis, autopecas, pneumiticos ¢ motores para veiculos. Em segundo lugar, com 11,1% do total ficou o grupo do complexo soja, com exportagdes de 8,1 bilhdes de délares, © em terceito lugar com 10%, veio setor metaliirgico com 7,3 bilhdes de délares. Assim, as exportagdes do agronegécio € os produtos do parque industrial instalado no pais, vao permitindo o crescimento das exportagdes, pois, os compromissos com a divida externa continuam, LULA recebeu o pais com uma divicla externa de 227,68 bilhdes de délares e tinha que amortizar no ano de 2,003, um total de 34,31 bilhdes de délares e pagar um total de 13 bilhdes de d6lares de juros. O dado de 2.003, divulgado pelo Banco Central (presidido agora por um também ex-funcionirio de um banco norte-americano) sobre a divida externa, ¢ presente no banco de dados da FGV "', indicava que ela chegou a 219,9 bilhdes de délares. A divida pUblica federal total que inclui o endividamento externo passou de RS826,9 bilhdes em dezembro de 2.002, para R$929,3 bilhdes no final de 2.003, um crescimento no Gltimo ano, de 12%. A quantia de juros paga também cresceu e chegou a R$145,2 bilhdes. Segundo o Ministério da Fazenda, o total de pagamentos feitos foi de RS332,3 bilhoes (interna R$293,2 bilhdes e externa R$39,1 bilhdes, ou, mais ou menos 13 bilhdes de délares). Assim, como o total da divida, no final do ano de 2.003 aumentou, foi necessario aumentar mais a divida para pagar 0 que venceu. Resumindo, o pais devia em dezembro de 2.002, R$826,9 bilhdes, pagou da divida R$332,3 bilhdes” (RS102,4 bilhoes divida nova ¢ R$229,9 bilhoes de pagamento de fato, incluindo-se af os RS145,2 bilhoes de juros) e terminou 0 primeiro ano de governo com R$929,3 bilhdes de divida total. Logo, 0 governo LULA pagou cerca de 28% da divida € mesmo assim, em janeiro de 2,004, ela ji era 12% maior do que no inicio do governo. (Grafico 04) swww.fazenda.gov.br, © Em janeiro de 1.995, a divida publica intema era de RS31,6 bilhdes. 124 Grafico 04 BRASIL - DIVIDA PUBLICA TOTAL E JUROS PAGOS. (em bilhdes de R$) 1995 1996 1997 1998 1999 2000-2001 2002-2003 Qual foi entio a diferenga entre o governo FHC e o primeiro ano do governo LULA? A divida publica federal era em dezembro de 1.998, um total de R$320,3 bilhdes e, em dezembro de 2,002, era de RS826,9 bilhdes.? © governo FHC em 1.999, efetuou pagamentos de R$288,8 bilhoes referentes a divida publica federal. Pagou RS248,3 bilhdes em 2,000, outros RS248,9 bilhdes em 2,001 © RS256,4 em 2,002, Assim, no segundo mandato FHC pagou um total de 1 trilho € 42,4 bilhdes de reais (sendo R$506,6 bilhdes de dividas novas € R$535,8 de pagamento de fato, incluindo-se af RS365,8 bilhdes de juros). Logo, © pagamento do governo FHC referente 3 divida no segundo mandato, foi de mais de quatro vezes a divida, mas mesmo assim, terminou devendo perto de 160% a mais do que em dezembro de 1.998 (56% em 1.999, 14% em 2.000, 18% em 2.001 € 22% em 2.002). * No primeiro ano do governo LULA, o total pagamento efetuado foi 30% maior do que em 2.002, e o percentual do crescimento da divida, 5% maior, uma vez que em 2.002, cresceu 3%. A quantia de juros pagos foi 27% maior do que 2.002, Alias, o relat6rio de Banco Central divulgado em 14/01/2004", sobre a divida publica apenas enfatizou a mudanga do seu perfil, deixando de lado © que era fundamental, a continuidade de seu crescimento. Ou 0 governo LULA re sua estratégia frente a divida publica federal (interna ¢ externa) ou a ciranda financeira vai continuar: mais pagamento, para no final do ano de 2.004, ver a divida maior ainda Cabe ressiltar que, mais de 30% da divida vencera em 2,004, ¢ para continuar pagando-a sera necessirio outra vez, mais de R$300 bilhGes. Dessa forma, é inacreditavel ver j4 no inicio do ano, que se nada diferente for feito, 2.004 podera ser pior do que 2.003. Esta € a ciranda financeira da mundializagio do capitalismo. Quanto mais se paga, mais se deve. As elites brasileiras ¢ estrangeiras do capitalismo mundializado vendo scus ganhos aumentarem no pais, idolatra através da midia, os resultados econdmicos obtides no primeiro ano do governo LULA, tais como a queda do délar, do risco Brasil © da inflagio, as taxas do superivit primdrio, Mas, a ciranda financeira continua. © Brasil tem agora um novo lugar no mundo do capital: tornou-se plataforma privilegiaca de exportagdes do setor de transportes, além de continuar sendo um dos principais fornecedores mundiais de produtos basicos que vio do minério de ferro A soja e aos avides. © Brasil tornou-se parte do capitalismo mundializado € a burguesia brasileira est, portanto, igualmente internacionalizada, Uma outra pergunta deve ser feita: qual 0 papel das exportagdes brasileiras no comércio mundial e em seu interior, qual o papel do agronegdcio? Ministério da Fazenda em 17/01/2004 ~ www fazenda gov br "Idem, 125 Os dados referentes a 1.980 € 1.985 indicavam respectivamente, que as exporagdes brasileiras (20,1 € 25,6 bilhOes de dolares) representavam 1,21% © 1,37 das exportagdes mundiais (1.924,2 © 1.872,0 bilhdes de dolares), e as exportagdes do agronegécio (9,4 ¢ 8,8 bilhdes de dolares) representaram 0,48% ¢ 0.47% das ex bes mundiais, J4 os ntimeros dos anos de 1990 & 1995 mostraram respectivamente, que as exportacdes brasileiras 1,4 € 46,5 bilhdes de délares) representavam 0,93% € 0,92% das exportages mundiais (3,395,3 e 5.042,0 bilhdes de délares), ¢ as exportagdes do agronegdcio (8,6 € 13,3 bilhdes de dékares) representaram 0,25% © 0,26% das exportagdes mundiais. Assim, caiu a participacao relativa do Brasil no comércio internacional em mais de 40%. Em 2,002 ¢ 2.003, os indicadores apontavam respectivamente, que as exportagdes brasileiras (60,4 e 73.0 bilhoes de délares) representavam 0,96% € 1,02% das exportacdes mundiais (6.262,0 ¢ 7.119,0 bilhdes de délares), ¢ as exportagdes do agronegécio (24,8 € 30,7 bilhdes de délares) representaram 0,39% € 0,43% das exportagdes mundiais. Portanto, cr participagao relativa do Brasil no comércio mundial, Porém, pode-se afirmar que mesmo em 2,003, as exportagdes do agronegécio nao atingiram ainda o patamar de 1.980, nas exportagdes mundiais. © que isso quer dizer & que se amplia a produgio para continuar com patticipacao inferior em termos percentuais do que antes. © Brasil de 2,003, teve participagao inferior nas exportagdes mundiais em termos percentuais em relagio a 1.980: 1,2% contra 1,02%. Ha, portanto, muito mito no papel do agronegécio no Brasil € na economia capitalista mundial. Mesmo assim, € preciso deixar claro que © Brasil foi em 2. 002, 0 1° produtor mundial de café, agticar, dlcool e suco concentrado de Laranja; 0 2° produtor mundial de soja (41,9 milhoes de toneladas contra o primeiro lugar dos USA que produziram 74,2 milhdes de toneladas); o 3° produtor mundial de milho (35,5 milhoes de toneladas contra o primeiro lugar dos USA que produziram 228,8 milhdes de toneladas); e © 10° produtor mundial de arroz (20,5 milhdes de toneladas contra o primeiro lugar da China que produziu 176,6 milhdes de toneladas). ‘também cabe esclarecer que © Brasil foi em 2002, © 8° pais exportador de produtos agricolas, atris respectivamente, dos USA, Franga, Holanda, Alemanha, Canada, Bélgica e China, Ficou a frente respectivamente, da Austrilia, Itilia, Espanha, Reino Unido, Anentina, Dinamarca e México. cou a AS CONTRADICOES NO CAMPO BRASILEIRO: MITOS E VERDADES Ha também, entre 0s estudiosos da agricultura brasileira, controvérsias com relagio a quem de fato, tem a participacio mais expressiva na produgio agropecuiria do pais. Ha autores (ea midia em geral os repete) que inclusive, chegam a afirmar que no hi sentido no interior da légica capitalista, distribuir terra através de uma politica de Reforma Agraria. O capitalismo no campo ja teria realizado todos os processos técnicos e passado a comandar a producto em larga escala. As posicOes expressivas na pauta de exportagdes de produtos de origem agropecusrias S80 apresentadas como indicativo desta assertiva. Assim, uma politica de Reforma Agritia massiva poderia desestabilizar este setor competitive do campo e deixar o pais vulnerivel em sua ‘politica vitoriosa de exportagdes de commodities do agronegocio” Nesse mesmo diapasiio atuam os grandes proprietarios de terra a embalar seus latifiindios nas explicagdes inclusive, de intelectuais progressistas, de que nao hi mais “latifiindio no Brasil” e sim, o que ha agora, so modernas empresas rurais, Alguns mesmos, acreditam que a modernizagao conservadora transformou os grandes proprietdrios de terra, que agora produzem de forma moderna e eficiente, tomando seus latifindios propriedades produtivas. Nao haveria assim, mais terra improdutiva no campo brasileiro. Estes sto alguns dos muitos mitos que se tem produzido no Brasil, para continuar garantindo 132 milhdes de hectares de terras concentradas em maos de pouco mais de 32 mil latifundirios. Aestrutura fundiaria concentrada © Brasil possui uma drea territorial de 850,2 milhdes de hectares. Desta drea total, as unidades de conservagio ambiental ocupavam no final do ano de 2.003, aproximadamente 102,1 milhdes de hectares, as terras indigenas 128,5 milhdes de hectares, ¢ rea total dos imoveis cadastrados no INCRA aproximadamente 420.4 milhdes de hectares. Postanto, a soma total 126 destas Areas tinda no Brasil da um total de 651,0 mithoes de hectares, 0 que quer dizer que aproximadamente 199,2 milhdes de hectares de terras devolutas. Ou seja, terras que podem ser consideradas a }uz. do direito, como terras publicas pertencentes aos Estados e a Unido. Mesmo se retirarmos 29,2 milhOes dessa dre ocupada pelas aguas tertitoriais internas, areas urbanas ocupadas por rodovias, e posses que de fato deveriam ser regularizadas, ainda restam 170,0 milhdes de hectares. Essas terras devolutas, portanto, ptiblicas, estao em todos os Estados do; pais. Entretanto, andando pelo pais, verificaremos que praticamente (exceto em algumas Areas da Amaz6nia) nao ha terra sem que alguém tenha colocado uma cerca € dito que é sua. Assim, os que se dizem “proprietirios’ estio ocupando ilegalmente estas terras, Ou seja, suas propriedades tém provavelmente, uma drea maior do que os titulos legais indica, Mesmo assim, vamos analisar os dados referentes ao Cadastro do INCRA. No final do ano de 2.003, havia 4.238.421 iméveis ocupando uma area de 420,345.382 hectares. © Brasil caracteriza-se porser um pafs que apresenta clevadissimos indices de concentracao da terra, No Brasil esto os maiores latifundios que a historia da humanidade ji registrou. A soma das 27 maiores propriedades existentes no pais, atinge uma superficie igual a aquela ocupada pelo Estado de Sao Paulo, ¢ a soma das 300 maiores atinge uma area igual a de Sao Paulo ¢ do Parana. Por exemplo, uma das maiores propriedades, aquela da Jari S/A que fica parte no Pard e parte no Amapa, tem drea superior ao Estado de Sergipe Quais sao os ntimeros dessa brutal concentracao fundidria? Segundo o Cadastro do INCRA, a distribuigiio da terra esta expressa na Tabela 01: ‘Tabela 01. — Estrutura Fundiaria Brasileira, 2.003. direa total (ha) | %de area | _arca média (ha) cil Ta 5 421 | 100.0% | 420.345.382 | 1 Fonte: INCRA — sitio em agosto de 2003 in IPNRA, Brasilia, 2003. Como se pode ver, enquanto mais de 2,4 milhdes de iméveis (57,696) ocupavam 6,% da rea (26,7 milhdes de hectares), menos de 70 mil iméveis (1,7%) ocupavam uma drea igual a pouco menos que a metade da Grea cadastrada no INCRA, mais de 183 milhdes de hectares (43,8%). O que isso quer dizer: muitos (ém pouca term ¢ poucos tém muita terra. A Lei n° 8.629 de 25/02/1993 que regulamentou os dispositives constitucionais relativos a Reforma Agraria prevista na Constituigao de 1988 conceituou em seu artigo 4°, a pequena propriedade como sendo aquela que possui drea compreendida entre 1 (um) e 4 (quatro) médulos fiscais; a média propriedade como aquela que possui area superior a quatro (4) € até 15 (quinze) médulos fiscais; € a grande propriedade como aquela que compreende mais de 15 modulos fiscais. A drea dos médulos fiscais varia de regido por regio, estado para estado, © mesmo de municipio para municipio. Atualmente, 0 menor médulo fiscal tem 5 (cinco) hectares e o maior possui 110 hectares. Isto quer dizer que a pequena propriedade pode variar, por exemplo, de menos de 20 hectares no Distrito Federal, a até menos de 440 hectares em municipios do Pantanal. O mesmo acontece com a média propriedade que pode variar entre 20 hectares e menos de 280 hectares no Distrito Federal € entre 440 hectares e menos de 1.540 hectares em municipios do Pantanal. A grande propriedade por sua vex. pode ter 280 hectares ou mais no Distrito Federal, ¢ 1.540 hectares ou mais em municipios do Pantanal, Assim, € razodyel tomarse como teferéncia os dados estatisticos do INCRA para se classificar neste estudo, em termos médios, a pequena propriedade como aquela que vai até menos de 200 hectares; a média propriedade como aquekt que vai de 200 a menos de 2.000 127 hectares; e a grande propriedade como aquela que tem 2,000 hectares ou mais. Aplicada esta proposta & estrutura fundidria do Brasil, 0 resultado est4 expresso na Tabela 02. ‘Tabela 02 —Sintese da Estrutura Fundiaria — 2.003 Grupos de area total Te % | KreaemHa | % | AreaMédia Pequena_| Menos de 200 ha PS hex] 91D | _aswea2] a] ar] Média [20a menos de 2000ha | __ 310.158] 7.3] 16%.705.509| 39.2 3312 Grande [2000 hae mais 32261| 08] 132031509] 31.0 FIs PTOTAL E23B.A21 | 100,0| _20.345.382 | 00,0 99,2 Tonite: INCRA. ‘Org: OLIVEIRA, A.U- Como se pode verificar, praticamente 92% das propriedades podem set classificadas como pequenas e ocupam 29,2% da area total. Estas pequenas propriedades desde que seu proprictario possua uma s6, nao poderto ser desapropriadas para a Reforma Ageéria, mesmo sendo improdutivas (Parigrafo Unico do artigo 4° da Lei n° 8.629 de 1.993). O mesmo acontece com a média propriedade que ocupa mais ou menos 7,3% dos iméveis e 39,2% da area, ela também nao pode ser desapropriada para Reforma Agriria mesmo sendo improditiva, se seu proprietirio ndo possuir outra propriedade. Entretanto, as grandes propriedades que representam menos de 1% do total dos iméveis, mas que ocupam uma drea de cerca de 31,6%, caso sejam classificadas como improdutivas, poclerio ser desapropriadas para fins de Reforma Agriria (Artigos 184, 185 ¢ 186 da Constituicao Federal de 1.988), © Cadastro 0 INCRA apresenta também os dados sobre o uso da terra sua fungio social (art. 184 da Constituiclo Federal), Os dados sobre a fungao social da propriedade em agosto de 2.003, indicavam que, apenas 30% das dreas das grandes propriedades foram classificadas como produtivas enquanto que, 70% foram classificadas como mio _produtivas. Portanto, 0 préprio cadastro do INCRA, que € declarado pelos préprios proprietirios, indicava a presenga da maioria das terras das grandes propriedades sem uso produtivo. Os dados (Tabela 03) sobre a grande propriedade, definida segundo a Lei n° 8,629 de 25/02/1993, eram os seguintes em agosto de 2.003: ‘Tabela 03 - Grandes Propriedades (15 médulos fiscais ¢ mais) - INCRA — 2003 (agosto) TOTAL IMPRODUTIVO N® Iméveis Area em Hectares N° de Iméveis ‘Area em Hectares 111.495 209.245.470 54.781 120.436.202 Fonte: INCRA ‘Orgs OLIVEIRA, ALU. Deve se esclarecer que, a drea das grancles propriedades, segundo o citério dos médulos fiscais, € maior do que aquela referente as propriedades com 2,000 hectares ou mais. Mesmo assim, a rigor, o INCRA se cumprisse a Constituicio del.988 e a Lei n° 8.629, deveria imediatamente declarar disponivel para a Reforma Agraria esses 120,436,202 hectares das grandes propriedaces improdutivas existentes no pais. Mas nao ¢ isto que tem acontecido. Enira governo e sai governo €, a Constituigo e as leis referentes a Reforma Agraria, ndo sao cumpridas, E 0 posto do que corre com as propriedades ocupadas pelos movimentos sociais, pois imeciatamente, sempre ha um juiz para dar reintegracao de posse ao proprietério da terra improdutiva, E preciso que a interpretacao da Lei ja invertida, nao é o INCRA que tem que provar que uma propriedade é improdutiva, mas sim, seu proprictario é que tem que provar que ela 6 produtiva, Como é ele que faz a declaracio no cadastro sob pena da lei, ¢ se 0 seu imével € classificado como improdutivo, ele tornou-se réu confesso. Certamente, um bom caminho para o exercicio da cidadania seria entrar com uma avalanche de ages civis pablicas para que © INCRA cumprisse os preceitos legais, publicasse anualmente a relaglo dos iméveis clasificados como improdutivos e executasse a sua desapropriagio. Mas nao cessa ai 0 no cumprimento da lei pelos governos. O Imposto Territorial Rural ITR € folel6rico. Segundo os dkimos dacos divulgados pela Receita Federal, cerca de mais de 50% dos proprictérios com area superior a 1.000 hectares, sonegavam este tributo. Mas, nunca ninguém ficou sabendo se algum deles teve seu imével levado a leilo para ressarcimento dos cofres publicos. 128 As pequenas unidades sao as que mais empregos geram no campo. 4 realizar a comparagao entre os diferentes tamanhos das unidades produtivas no campo, serd tomado como referencia também os daclos do Censo Agropecuario de 1995/6 do IBGE.!* Desa maneira, tomar-se-4 também, os estabelecimentos agropecuitios como menos de 200 hectares, como sendo denominados de pequenas unidides de producao (que é onde estio as unidades que io oriundas da Reforma Agraria); aqueles de 200 4 menos de 2.000 hectares serdo considerados médias unidades de producio aqueles com 2.000 hectares ¢ mais serio chamados de grandes unidades de produgio, ou os latifindios. Esta classificaglo visa mostrar 0 papel das pequenas uniddades de produgio face as grandes no que se refere ao volume da produgio. Esta classificagio também pode ser fundamentada no fato de que mais de 50% dos estabelecimentos com menos de 200 hectares nao possufam nenhum trabalhador contratado, ou seja, predominava entre eles 0 trabalho familiar segundo 0 Censo Agropecuirio do IBGE. Quanto ao niimero € area ocupada pelos estabelecimentos agropecuirios do IBGE, havia a seguinte distribuig2o: os pequenos estabelecimentos representavam 93,8% (4.565.175) € ocupavam uma ‘rea de 29,2% (103.494.969 hectares); os médios estabelecimentos eram 5,3% (252,154) em ntimero & ‘sua drea ocupada era de 36,6% (129.617.964 hectares); ¢ os grandes estabelecimentos representavam 1 0,5% (20.854) ¢ ocupavam uma area de 120.498.313 hectares (34,2%). A andlise do némero de pessoas ocupadas no campo indica que as pequenas unidades de produclo geraram mais de 14,4 milhoes de emprego ou 86,6% do total, Enquanto isso, as grandes unidades foram responsiveis por apenas 2,5% dos empregos ou pouco mais de 420 mil postos de trahalho. A Tabela 04 mostra de forms inequivoca este quadro das relages de trabalho no campo brasileiro. ‘Tabela 04 = BRASIL ~ Pessoal Ocupado -1995/6 Pessoal Ocupado ‘PEQUENA MEDI ‘GRANDE, w % N % nN % TOTAL 14.444.779 86,6 1.821.026 10,9| 421.388 25 Familiar 12.956.214 95,5| 565.761 42) 45.208) 0.3 Assalariado Total 994.508. 40,3 1.124.356 45,5| 351.942 14,2 Assalariado Permanente 861.508. 468 729.009 39,7. 248.591 13,5, Assalariado Temporario 133.001 728 395.347 21,6 103.351, 6 Parceiros 238.643 B24 45.137| __15.6| _5.877|___2,0 Outra Condigio 255.414 71,0 85.772 23,9| 18.361 5.1 Fonte: Censo Agropecuirio do IBGE 1995/ Org: OLIVEIRA, AU. Muitos intelectuais costumam dizer que a relagio de trabalho mais praticada nas grandes propriedacles € o servigo de empreitada, por isso © pequeno mtimero de emprego gerado na grande propriedade. Entretanto, os dados sobre este tipo de contratagio de trabalhadores no campo mostram também que, 85,9% delas foram feitas pelas pequenas unidades producto e nao pelas grandes que ficaram com apenas 1,5% das contratagdes dos servigos de empreitada, A tecnologia também chegou as pequenas unidades, Outro mito que os defensores do agronegécio apresentam para justificar © baixo nimero de emprego na grande propriedade é « sua integral mecanizagio e conseqiientemente, a nao necessidade de muitos postos de trabalho. Assim, a grande propriedade seria a grande consumidora de tratores € outas méquinas ¢ implementos agricolas. Vamos entio analisar a distribuiglo destes meios de producio pelas diferentes unidades de producao. Em primeiro lugar € preciso verificar o quadro apresentado pelo tio propalado consumo produtivo de tratores, O Censo Agropecuario de IBGE indicava que no total, 63,5% deles estavam nas pequenas unidades de producio e apenas 8,2% nas grandes unidades, Em todas os grupos de poténcia (CV) as pequenas unidades tinham mais tratores © © IBGE utiliza como unidade estatistica censitiria o estabelecimento que, por Sua ver deriva do uso ‘econdmico que se fiz de uma firea determinaca autonomamente. Ji 0 INCRA, utiliza o imével que € uma ‘unidade juridica (com ou sem titulo de propriedade), 129 do que as grandes propriedades. Até entre aqueles de alta poréncia (mais de 100 GV), as pequenas unidades possuiam mais tratores do que as grandes, Os ntimeros da Tabela 05 sio meridianos ao demonstrarem que © consumo produtivo de tratores é maior nas pequenas unidades no Brasil Tabela 05 - Brasil - Distribuigao da Tecnologia ~ TRATORES ~1995/6 %N* | %N™ ° | %N E %N* | NT Grupos de area total | NTO | rratores | Tratores | Tores | Travores (Hectares) mee? | moet || ioer. | tees | AeCY 2ocy | -socy | ‘Menos de 10 5.639 a2) 352 2 107 ¢ [1a=20 36.486 108 168 20.1 13.2 Z [20-50 167.378| 208] 20,2 249| 262 B [500-100 100.617 12,5 99. 105| 127, z Menos de 100 | _420.150| 52,3] 72,1 76,6] 62,8 100 a - 200 90.245, zai 108 Menos de 200 | 510.395 33.8 73,6 ig [2m e= 500. 113.906 735] 123 500 ¢— 1.000. 66.10. 38. 62 g 1,000 € — 2.000 47.759, 24 38 200 e- 2.000 | 227.768 337| 223 [2.000 a= 5.000 37.656 Fl 27 5.000 a— 10,000] 14.287 05 Os # fiosooemas |e oa 07 2.000 € mais 65.445 26 4,2 % = 100,0/ 100,0| 100.0 100.0 TOTAL Ne _| 803.742 (*) 69.906 | 122.740] 447.866 | 125.337 ~ActiTereneH entre SOME Fonte: Censo Agropecuirio do IG) sSTabetecnMentOs SEM TectaeIca Org.: OLIVEIRA, A.U. Quanto as maquinas para plantio e colheita, 0 quadro nao é diferente daquele dos tratores, pois, 71,7% delas também, estavam nas pequenas unidades, enquanto que nas grandes ficavam apenas 5,3%. Com os arados a realidade € a mesma, pois 68,4% dos arados de tracho mecinica estavam nas pequenas unidades, sendo que nas grandes ficavam com apenas 5,8% dele. As pequenas unidades tém também a maior parte dos dlemais veiculos de trag20 mecanica pois, 39% deles, estavam nelas, enquanto que nas grandes, estavam apenas menos de 12% deles, quer fossem caminhdes, utilitirios ou reboques. A Tabela 06 apresenta a participaclo percentual da distribuicio destes bens produtivos. ‘Tabela 06 - Brasil - Distribuicao da Tecnologia SET Are a N° Vei 3 aN Geupos de freatotal [para | Para | Tragio | Trasio = ; Tiago | Embarea (Wectares) plano | cota [vaca | anal | Camas | Uris | Rebus | arn | apes Menos de10 94] 371 79 a] 123) 73] 253] 389 < [104-20 125] 7.2) 119 ga] wal 22) 237) 165 & [22-20 18.4| 23.325. 169] 21,0 246| 186 50 a =100 144] 138] 80] 129] 14.4 102] 106 g Menos de 100 _| 61,2| 43.7] 569 913] 47,7] 59,8 83,8| 84,6 100 a = 200 ns] 42118] 12.2 74 7.0 Menos de 200 68,4] 95,5| 59,5] 72.0 m2) 91,6 J [200 — 500 Rail 168] 135] 30| 140] 128 50 39. = 500 e = 1.000, 65] 95] 73[ 09 83 63| 74] 19) 15 7,000e=2.000 | 45/70} so] o4{ eal 40] sal 1.0 10 200 e-2.000 | 23.1] 33.3) 25.8| 4.3| 287] 23.1] 25,9] 7.9] 64 8 [2000a—5.000 [33 37| 02 6o| 29/391 06 10 Es 5.000.a— 10.00] 1.0] 1,9] 11] oof 2, 10] _14[ 04 0.4 & [10.000 © mais 10] 22] 10] oof 30] 10| 14[_02 06 z000emais|5.3| 9.4| 5.8] 0.2| 118/49] _67| 09] 20 ‘TOTAL 100,0| 100,0| 100,0| 100,0| 100.0] _100,0| _100,0] 100.0 100,0 Fonte: Genso Agropecuitio do IBGE - 1995/6. ‘Orgs OLIVEIRA, a. 130 Eevidente que embora as pequenas unidades detenham o maior percentual da tecnologia em tratores, maquinas e veiculos, a sua presenca esta longe de aparecer bem distribuida entre 0s diferentes estabelecimentos. A Tabela 07 procura mostrar esta desigualdade. A mais significativa delas é que apenas 11% do total dos estabelecimentos possuiam tratores. Entre as pequenas unidades com menos de 10 hectares somente 2% delas tinham este bem. Quanto 2 distribuigio dos tratores pelos estabelecimentos, encontra-se um trator para cada 37 estabelecimentos com are inferior a 10 hectares, Entre as pequenas unidades, a média é um trator para cada nove. Nas médias unidades de produgao a relagao € de um trator para cada estabelecimento. Nas grandes, unidades, a relaclio média € de 3 tratores por estabelecimento, chegando naqueles com mais dé’ 10.000 hectares, a 6 tratores por estabelecimento. Estes dados mostram a desigual distribuicao também deste bem. Mas, esta relacio € média, pois entre os grandes estabelecimentos somente 72,4% declararam possuir tratores. Isto quer dizer que mesmo entre as maiores unidades nem todas possuiam trator. Ja com relagao ao uso dos fertilizantes 0 quadro € critico, pois, apenas 38,1% dos estabelecimentos estio utilizando-os em suas unidades produtivas. Os demais esto retirindo do solo apenas a fertilidade natural dos mesmos. Este cendtio pode comprometer em longo prazo a produtividade destes solos. Outro dado curioso € que também entre os pequenos estabelecimentos estio 0s menores percentuais de uso dos fertilizantes, ¢ simultaneamente, os maiotes. Estes so inclusive superiores aos grandes estabelecimentos. © quadro mais terrivel do uso da tecnologia na agropecuaria brasileira refere-se a0 consumo de agrot6xicos quer para os vegetais quer para os animais. Absurdamente mais da metade dos estabelecimentos informaram que consumiam estes produtos em 95/6, Excetuando- se os estabelecimentos com Area inferior a 10 hectares, nas pequenas unidades 0 uso chega a mais de 80% e entre as médias e grandes unidades, este consumo esti acima dos 90% dos estabelecimentos. Este uso generalizado dos agrot6xicos, mostra que ele foi o mais “espetacular resultado da modernizacao” da agricultura: seu envenenamento gradativo. Em sua maior parte, uma espécie de “indiistria das doencas ¢ da morte” a médio € longo prazo. E € Sbvio que, a maior parte da “indiistria médico farmacéutica agradece pelos seus clientes” O uso da irrigagao na agricultura ainda é reduzido. Seus indices nao chegam a 10%. Este uso € maior nas médias e grandes unidades do que nas pequenas. ‘Tabela 07 - BRASIL - Indicadores de uso de tecnologia ~ 1995/6 Esiratos de area total % trator % Uso de % Iso * (Hectares) Usode | emrelagio N’total | Fertilizante ‘Tratores_| _establecimentos | __total__| ‘Menos de 10 24 1x37 30,8 ¢ [202-20 107 Tx i 525 Z [20-50 16.0) Ix 5 46.6 50a —100 q77. ix 4 9.1 Menos de 100 27 1x10 38.1 63,4 100 a — 200. 225; 1x 3 38.6 86.5 Menos de 200 8.5 1x 9 38.1 64,6 63 200 e — 500) 365 2x 3 43.6 92.9 83. 500 e — 1.000 50.8 ax 3 446 "5.0 92 1,000 ¢ = 2.000 62.5 3x 2 475 96.2 93 200 €~ 2.000 42.8 txt 43.9 93,7 86 [2.000 a — 5.000 70,1 Oret. 21 95.6 87, 5.000 a — 10.000_| 76,5 4x1 7.8 94.9 79. 10,000 € mais, 80.5 6x 1 36,0 93.2 93 & [2.000 e mais 4 3x1 40,7 95.2 87 TOTAL 10,5 1x 6 38.3 55,1 5.9 Fonte: Genso Agropecuinio do IBGE — 1995/ ‘Org: OLIVEIRA, ALU 0s financiamentos obtidos por poucos € a distribuicao profundamente desigual Osntimeros do crédito obtido na agricultura sao outro indicativo da profunda desigualdade 131 existente no setor. Os poucos créditos obtidos foram massivamente para 6 agronegdcio das grandes unidades. Aquelas unidades com mais ce 10,000 hectares, obtiveram parcelas médias de mais de um milhdo de reais para cada uma, As unidades menores entre as pequenas que receberam financiamentos, tiveram que dividir entre si, apenas entre R$2.900,00 € R$20.000,00. Desa forma, 0 crédito também vai engrossar as rendas do agronegécio, reproduzindo de forma aprofundada a desigual disteibuicio da riqueza na agricultura brasileira, Em termos gers inclusive a maior parcelas dos financiamentos foi part as pequenas unidades e nao chegaram 10% dos agricultores dos grupos de area total que obtiveram estes recursos financeiros (Tabela 08). Para se ter uma idéia do quao pequeno foi o total alocado, se fosse distribuido apenas entre 05 pequenos estabelecimentos, cada um teria recebido R$800,00. Também entre as pequenas parcelas de produgao, hé uma desigual distribuigio dos recursos oriundos dos financiamentos. Os grupos de area total entre 50 € 100 hectares € entre 100 e 200 hectares ficaram com mais da metade dos recursos destinados as pequenas unidades como pode ser observado na Tabela 08. Este processo deriva e gert simultaneamente um processo de diferenciacao interna no campesinato, fazendo com que se origine os camponeses pobres, os camponeses médios ou remediados como se diz popularmente, e os camponeses ricos,!” Esta diferenga vai aparecer também nos demais dados referentes & produgio agropecustia ‘Tabela 08 - Brasil ~ Financiamentos obtidos “do n® de produtores que - z ‘citaoede Keegeael | sbbsaeas on olga? tomb ee eens ae | oe ees Bani eoeaee lecimentos sobre o | RS Obtidas por rae — valor total estahelecimento Menos de 10 19 35 2500,00 10-20 85 53. 3.300,00 204-50 9.1 12 5.600,00 50a ~100 8.1 10.0 11:500,00 Menos de 100 32) 30,0 4.70000 100 a - 200 82 1. 20-300,00 Menos de 200 4 ar 6.600,00 200 € = 500) 93 15.7 38.000,00 5 [500 « =1.000 99. ns 73.500,00 © [00 e= 2.000 105 98 122,600.00 200 = 2.000 9.6 37.0 37.000,00 | 2.000 a— 5.000 99 14 284.200,00 5.000 a = 10.000 85 a8 563.200,00 10.000 € mais 9.0 35. 1.044.653,00 2.000 e mais 9.6 24,7 402.800,00 ‘TOTAL 5.3 100.0 14.400,00 Fonte: Censo Agropecuirio do THGE — 199576 ‘Org: OLIVEIRA, ALU. Com © PRONAF - Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar, 0 quadro da desigualdade continua presente, Os camponeses que utilizam o Pronaf “D” ¢ “E* tém ficado com as maiores parcelas dos recursos financeiros alocados. Os dados expressos pela Tabela 09 testemunham esta evidéncia © Lenin, Wladimir I. “O desenvolvimento do Capitalismo na Rassia” , 2* ediglo, Sao Paulo, Nova Cultural (Os Feonomistas), 1985, 132 Tabela 09 Desempenho do Crédito Rural para Agricultura Familiar - Quadro Comparativo 2001 2002 2003, ree euposdo mone | sodas | yoy [Maine Tog [Ye Trae | sane sae as | as | | contaos | 8S Conus | 8 | commas | (RE, | coma | ce itty hey "Aci para ans : ‘i i he ie ae Lovett 42655] 38] ssoi0} is] ais] 5682] ee | ayn B.- Mioetito Imveimentn voir] 583] vaso] aa] torn ama] us| Sm C-Col prays [Cs wisi] ai7| ssi] asa] rae] wis] |e Familarsetrasgio | inwetienin zis] vos] sszas] aad] snare] een] asa] 2 D-Cablio pura getions | Cte 1azs|voi| essan| 9139] arto] ainz| mel ase Famiiascosotidaias [esti oi] 6rd] soane| er] secre] ss] Gea] omw E-CxtioparAgiciions [Osteo q mal 303 Fails capitalizes | imsimein ea ie comps gicituca — | rECisto/ Fale -CONABABSA | Comensalaco i eer ae Custcio 718839 663.390] 1392,1| signi] 22703 | 23%] 63% Imestimeno | 191.627 299.857| 1012.7] 294714] 14503 2% 43%, Sub Total Pronal 910.466 955247] 24048] 1.113.798) 3.7206] 17%] 55% “otal Geral ga.i66] 2.1534] 95327] 2404] tavran| 38022] 20x] 58% Fonte: Agentes Finances (DBACEN, BB, BNB, BASA, BANSICREDI « BANCOOD) - Faboragio: SAF/MDA Fonte: CONAB Também cabe salientar © crescimento do acesso ao financiamento do grupo do Pronaf “A” € do aumento geral dos recursos financeiros disponiveis. A diferenga entre 0 governo FHC © 0 governo LULA ja aparece de forma nitida na politica implementada nos financiamentos. Quanto a0 financiamento geral da safra agricola 2003/2004, 0 governo alocou R$32,5 bilhdes. Deste total foi reservado RS5,4 bilhdes para © PRONAF, ‘Comparando-se os recursos financeiros disponiveis para financiamento na agricultura brasileira com a agricultura norte-americana, verifica-se que os subsidios agricolas acessados naquele pais ‘chegam a cinco vezes mais. Os dados da Tabela 10 indicam a situagio entre 2.000 e 2.002 ‘Tabela 10 - Subsidios recebidos pelos agricultores norte-americanos (em milhées de délares) Fonte: ICONE - Instituto de Estudos de Comércio © Negociagdes Tatemacionais. Org.: OLIVEIRA, AU. Alias, € este sistema de subsidios que garante aos USA soberania € seguranga alimentar, além de ser 0 maior exportador mundial de excedentes agricolas. Assim, 0 programa de subsidios na agricultura norte-americana funciona através de uma formula complexa: “O repasse € feito em duas fases: o primeiro, com base no produto e na drea plantada, chega até dezembro, ou na data indicida pelo produtor. A segunda parcela € liberacla em abril e determinacla pelo prego do produto. Isso significa dinheiro direto na conta do produtor. Se © prego de mercado cair, 0 agricultor recebe a diferenga do governo, uma espécie de garantia de prego, Para ter dircito a um pacote de recursos, os candidatos precisam estar em sintonia com os programas governamentais de cuidados ambientais. O no cumprimento dos compromissos pode levar a sangdes 133 Debaixo de um grande guarda-chuva'de apoios, o seguro de safra € outro braco, assim: como © incentive para a preservacio ambiental, O diretor executivo estadual da Agencia de Servicos do Departamento de Agricultura dos EUA, William Graff, responsdvel pelo atendimento a 179 mil fazendas do Estado, explica que parte dos subsidios € encaminhada para pagamento dos programas de conservagio - tipo de incentive que a comunidade internacional nao considera distorcivo ao mercado. O departamento ainda mantém programas de garantia de . precos minimos de commodities, observa Graff - Quanto maior 0 preco de mercado, menor a quantidade de délares que mandamos aos agricultores.” Dessa forma, os financiamentos agricokis vao entrando na ordem do dia do debate intemacional ¢ certamente, na OMC — Organizagio Mundial do Comércio sera tema de interesse mundial, Mas, deve-se registrar que a agricultura nos USA, na Europa e no Japio, é fortemente subsidiada. Portanto, € necessirio desmistificar a mixima divulgada pelo agronegécio de que aqui no ha subsidio, Embora pouco, ele existe, e mais, hd também a super explorac2o dos baixos salérios pagos aos trabalhadores brasileiros ou da renda recebida pela grande maioria dos agricultores camponeses que produzem os produtos de exportagio Enfim, a terra nas pequenas unidades de produgio ¢ apropriada com fins produtivos, por isso intensamente ocupada. Logo, elas sio também, grandes consumidoras de produtos de origem industrial. Ao contririo, a maioria das grandes propriedades nto é ocupada com fins produtivos, elas constituem-se em reserva patrimonial e de valor dos latifundidrios. Este: latifundidrios ndo sio pessoas estranhas ao capitalismo, a0 contririo, a maioria das grandes propriedades no Brasil, estd em maos de grandes empresas indusiriais, financeiras e de servigos, © muitas vezes, em nomes de seus familiares. Portanto, quem de fato gera emprego no campo slo as pequenas unidades, acompanhadas de perto pelas médias. Entio, no discurso, os grandes ietdrios usam © agronegécio para encobrir suas terras improdutivas, Como se veri pelos 105 11 produgio agropecuaria no Brasil, slo as pequenas e as médias unidades as que responsiveis pelo seu crescimento e destaque, e nao as grandes. As pequenas unidades produzem mais em volume da produgao Os dados do IBGE referentes ao titimo Censo Agropecudrio (1995/6), mostram que sio as pequenas unidacles quem produzem a grande maioria dos produtos do campo. Esta realidade precisa ser esclarecida, pois hd o mito de que quem produz no campo sio as grandes propriedades. Com relacio 2 utilizacio da terra, as lavouras (temporirias © permanentes) ocupavam 50,1 milhdes de hectares ou 14,1% da area total dos estabelecimentos € nelas, as pequenas unidades ficavam com 53%, as médias com 34,5% ¢ as grandes com 12,5%. AS pastagens por sua vez, ocupavam 17,7 milhdes dle hectares ou 49,8% da Ares total dos estabelecimentos ¢ nelas as pequenas unidades ficavam com 349%, as médias com 40,5% € as grandes com 24,6%. JA as 4reas ocupadas pelas matas € florestas perfaziam 26,5% do total (94,2 milhoes de hectares) e as éreas ocupadas com terns produtivas nao utilizadas representavam 4,6% (16,3 milhées de hectares) E necessirio neste momento, verificar quanto cada uma dessas unidades produzem. Em primeiro lugar, seri apresentado o total dos rebanhos ¢ plantéis da pecuaria no pais (Tabela 11) ‘Tabela 11 ~ Brasil — Distribuicdo dos Plantéis Rebanho: PEQUENA% | MEDIA% | GRANDE % Bovinos 40,5 218 | Bubalinos (bufalos) 24.6 445 30.9 [Eqiiinos 59.2 313 95 | Asininos B71 eur 16 Muares 63.0 2 U7 | Caprinos 81 192 25. Coethos 93,1 6A 05: ‘Suinos 87.1 0 1Z ‘Ovinos 55.5 52. 88. “Aves ‘87.7 5 08 Fonte: Censo Agropecuano do IBGE — 199576, Org: OLIVEIRA, AU. ¥ Jomal Zero Hora ~ Suplemento Campo & Lavoura, 05/12/2.003, Porto Alegre-RS, p.2 134 Como se pode ver, apenas o rebanho de bufilos era maior nas grandes unidades, Mesmo quanto ao rebanho bovino, as pequenas unidades tinham um percentual quase o dobro daqueles dos latifiindios. £ preciso repetir que embora a rea ocupada seja maior nos latifiindios a terra nao € posta para produzir. Ela fica com a fungio de patrim6nio, ou seja, a terra é retida apenas como reserva de valor. Ainda discutindo a pecuiria de bovinos, verifica-se que quanto as matrizes vendidas, as pequenas unidades contribuiram com 38,5% enquanto que os latifiindios com apenas 19,3% (as ‘médias tiveram 42,196), Também em relagio ao gado abatido, as pequenas unidades participaram com 62,3% enquanto que os latiftindios com apenas 11,2% (as médias ficaram com 26,4%). Quanto & produgio de leite a posigio das pequenas unidades foi majoritaria 71,5%, sendo que 5 latifincios produziram apenas 1,9% (as médias ficaram com 26,6%). No que se refere & produgio de la, as pequenas participaram com 27,7% enquanto que os latifiindios produziram apenas 17,7% (as médias produziram 54,69). Ja em relacdo 3 produgio de ovos 79,3% vieram das pequenas unidades, ficando as médias com 18,5% e as grandes com apenas 2,2%. Assim, pode-se verificar que em relacio & produgio de origem animal o volume de produgio das pequenas unidades é superior as grandes unidades, portanto, aos latifiindios. A seguir, sera verificada na Tabela 12, a participacio na produgio das lavouras temporitias: Tabela 12 Brasil — Distribuicao do Volume de Produgao ~ Lavouras Temporarias ix Fonte: Censo Agropecuario do IBGE ~ 1995/ ‘Org: OLIVEIRA, AL Em termos do volume da produgio entre as lavouras temporirias, apenas na cultura da cana- de-agiicar 05 latifindios produziram mais que as pequenas unidades, pois mesmo entre as famosas commodities — soja ¢ milho - as pequenas unidades produzem um volume maior do que as grandes. Quanto as lavouras permanentes, (Tabela13) também o cenario nao é diferente. As pequenas uunidades de producto produziram mais que 0s latifiindios em termos de volume da produgio: Tabela 13 -Brasil — Distribuicao do Volume de Produgio ~ Lavouras Permancntes i MEDIA GRANDE. ita-do-reino 23.1 iva mesa) 9 Uv: vinho) Fonte: Censo Agropecuario do IBGE 1995/6 ig: OLIVEIRA, ALU. Como se pode verificar, também entre as commodities (laranja, café e cacau) as pequenas unidades (menos de 200 hectares) tiveram, 0 maior volume da produgio, Neste setor, ha que se destacar 0 café com uma participagio das pequenas unidades acima de 70%. 135 Entre os produtos agricolas oriundos da horticultura a maioria do volume da produgio recaiu massivamente entre as pequenas unicades cle produgio, pois tradicionalmente sto elas as maiores produtoras deste género alimenticio, O mesmo processo ocorre na floricultura. Esta mesma participaglo expressiva das pequenas unidades, também ocorreu entre os produtos oriundos do extrativismo vegetal, Neste setor da produgao vegetal praticamente mais de 50% do volume vera das unidades com menos de 200 hectares, como pode ser observado pela Tabela 14, Tabela 14 Brasil — Distribuicio do Volume de Produgio ~ Extragao Vegetal PEQUENA A (GRANDE | Borracha (co: 2S, ot ai 13.0 i 3 Erva-mate 25 5 Te 5 25 Madeiras em toras 265, z Fonte: Censo Agropecuirio do IBGE ~ 199576 Org: OLIVEIRA, AU O Gnico setor da produgio vegetal que os latifiindios tiveram participagio hegeméni foi na silvicultura (Tabela 15). A razio desta hegemonia decorre da histéria de sua origem, atrelada as politicas de incentivos fiscais, durante os governos militares. ‘Tabela 15 —Brasil — Distribui¢ao do Volume de Produgao — Silvicultura Produtos PEQUENA ‘MEDIA GRANDE Carvao vegetal T2 TI oS Madeiras em tora 10,0 348 55,1 Madeiras para papel EE] 186 Tal Fonte: Censo Agropecuario do IBGE, 1995/6 ‘Oig: OLIVEIRA, AU, As pequenas unidades de produgio também geram mais renda no campo Outro mito comum entre aqueles que analisam a agricultura brasileira, refere- participacao das diferentes unidades de produgao na geracao da renda neste setor. Costums atribuir 4 grande exploragao 0 papel de destaque. A andlise dos dados do valor da produgio animal e vegetal do Censo Agropecudrio, mostram exatamente 0 oposto, pois quem detém a maior participagio na geragio de renda no campo brasileiro também, sto as pequenas unidades de produgao com menos de 200 hectares que ficam com 56,8% do total geral. Os dados percentuais desta participagao na Tabela 16, sio provas inequivocas desse Tabela 16 —Brasil — Distribuigio do VALOR da PRODUCAO a Toray | PARTIC T seo | tom | GtaNDE TOTAL GERAL 100,0 Tone 56.8 25 13.6 [TOTAL da PRODUCAO ANIMAL. 394 100,0 0,4 28.6 11,2 ‘Animal de ‘porte 3 100.0 46.4 37, 16.4 ‘medio porte 35 700.0 35,5 19 16 animais € aves 10.4 | 100.0 848 3.6 15 FTOFAE da PRODUCKO VEGETAT 00.6 100,0 53,6 312 15. Tavouras Temporarias Bl 100.0 2 338 16,7 Tavouras Permanentes 12,6__|- 100.0 70,5 243 z [Horticultura e floricultura 20) 100.0 94,7 a1 12 Extragio Vegetal 1.6 700.0 67.6 T Ts [sivicehars 25) 100.0 168 23.4 39.8 Fonte: Censo Agropecuanio do IBGE — 1995/6 ‘Ong; OLIVEIRA, AU, Quanto As receitas torais geradas pelos estabelecimentos agropecuarios, cabe destacar que as pequenas unidades também ficaram com o maior percentual, ou seja, 53,5% do total, As médias ficaram com 31,1% e os latiftindios com apenas 15,4% do total geral (Tabela 17). Dessa forma, em praticamente todas as variaveis, as pequenas unidades de produgio na agricultura, s 136 is produtivas do que os latifiindios, Este cendrio indica que a terra na grande propriedade no esté sendo posta para produzir, mas sim como jf destaquei, destinada as reservas patrimot e¢ de valor. Tabela 17 —Brasil — Distribuicao da RENDA LIQUIDA TOTAL (R$ 1.000,00) Mens: ‘TOTAL Me % | PEQUENA | % MEDIA % | GRANDE | % RECEITAS TOTALS 43.622.749 | 100,0| 100,0| 23.359.659| 53,5] 13.520.289 | 31,0] 6.701.117] 15,5 DESPESAS TOTAIS 26.880.701| 61,6| 100,0| 13.481.409] 50,2] 8.523.594 4.861.743 | 18,1 RENDA LIQUIDA TOTAL | 16 +4 94g, 38,4 | 100,0| 9.878.250] 59,0| 4.996.695 | 29,8 | 1.839.374] 11,2 ‘onie: Censo Agropecuatio do IBGE — 199576. ‘Org OLIVEIRA, AU. A distribuigto da renda liquida total revela ¢ reforca a tese central de que a pequena unidade de producao € responsavel pela maior receita, despesa e volume financeiro dela. O ‘ndio, por sua vez, ficou com a menor parcela. Entretanto, aprofundando mais esta investigagio, verifica-se que como o ntimero das pequenas unidades € clevado (88,85% do total), a parcela média obtida por unidade € também pequena. Por exemplo, na Tabela 18, a quantia média do valor da producao por estabelecimento entre aqueles que tem drea inferior a 10 hectares, variou entre R§1.130,00 e R$4.240,00. Entre aqueles que possuem area entre 10 € 200 hectares, a parcela média variou entre R$6.500,00 R$20,500,00. Enquanto isso nas grandes unidades esta parcela média variou entre R$231.000,00 © R8827.000,00. A situagao nao foi diferente no item das receitas. Enquanto que nas pequenas 0 valor médio por estabelecimento, variou de R$1,040,00 a RS18.800,00, entre as grandes ela variou de R$236,800,00 e R$881,000,00. No item despesas o quadro da desigualdade foi semelhante, 0 que também ocorreu com a renda liquida total média. Como o ntimero dos grandes estabelecimentos € reduzido (0,5%) 0 resultado por unidade torna-se elevado, Cabe esclarecer que esta concentragio é resultado também da hist6riea concentragio da terra no pais e particularmente, pelo faro de que o Brasil continua senco um pais onde parte significativa das exportagdes € de produtos basicos ou apenas semimanufaturados. Assim, a elite tem se reproduzido, reproduzindo a concentragdo da terra e da renda, Vender para o mercado mundial mais produtos da agricultura, o que o Brasil fez em toda sua hist6ria, agora virou participar do agronegdcio. Até a cidade de Ribeirio Preto que foi “a capital do café" agora adotou um novo slogan: a “capital do agronegécio”. Muda-se para niio mudar nada, Com todo respeito aos incansaveis trabalhadores desta cidade, mas Ribeirao Preto continua sendo “um fazendao iluminado”, como afirmou um agente do setor imobilisrio de ld.” Esta regito tornou- se uma espécie de icone do agronegécio. Aliss, hd algum tempo, «t Rede Globo fez um programa especial do Globo Repéreer, para chamar aquela regiao de “California brasileira’, Existe pelos menos duas grandes diferengas entre ambas: a distribuigio da terra e da renda, Na California, a sociedade norte-americana desde século XIX, tratou de fazer cumprir leis que limitaram 0 tamanho da propriedade da terra no centro ¢ oeste do pais: “Esse processo de abertura do acesso @ terra teve inicio com uma lei de 1820 que permitia a venda de terras do Estado em pequenas parcelas de 80 acres (32,3736 hectares) ao preco de U S$ 1,25 por acre (4.047 M!) . Em 1832, © Estado autorizou a venda de propriedades de até 40 acres (16,1868 ha). Por fim, em 1862, {foi assinada The Homestead Act, ou a lei da colonizagdo americana, que permitia a concessdo gratuita de terra para propriedades de 160 acres (64,7472 ba ® BELTRAO SPOSITO, M. E."0 Chao Arranba 0 Céu: A Légica da (Re) Produgao monopolista da cidade” — tese de doutorado defendida no Programa de P6s-Graduagio em Geogtafia Humana ~ FFLCH-USP, Si0, Paulo, 1.991 * OLIVEIRA, A..U. “Modo Capitalista de Produgao e Agricultura” , 3° edigao, Ed. Atica, S40 Paulo, 1.990. 137 Assim, parece que sempre teimosamente, quando a historia se repete, ela 0 faz como farsa, Este conjunto de resultados apresentados referentes aos dados da agricultura brasileira, € mais um indicativo de que a necessiria ¢ fundamental melhor distribuigdo da rend na agricultura passa necessariamente pela redistribuigao da terra. Maior acesso a terra significa possibilidade de obtengao de melhor fatia da renda geral Tabela 18 - Brasil — Valor da produgao, receitas, despesas ¢ renda liquida média por estabelecimento. sem ge stow? | lorda. | aloe mio | tuor Meso a mentos | (renios | POtestabelecl- | estabelect- | estabelec- | &Y ee mento mento ‘mento merc Menos de 1 512.032| 105 1.130,00| 1,040.00 525,00 515,00 a2 471.298] 10,0 1.390,00] 1.29000] 620,00 570,00 2a-5 796.724] 16/4 2,610,00| _2.320,00| 1.20000 1.120,00 34-10 622.320 4240,00| 3.65000] 1.91000 1.740,00 g |Menos de 10 | 2.402.374 = = Z| 10.a- 20 yoraie] 44 6:500,00] 5.48000] 2.99000] _2.490,00 E 204-50 814.695] 16.8 9.000,00| 7.76000] 4:50.00 3.260,00 $00.375, 82 12.6000] 11.1600] 6.46000] 4.700,00 4.318.861] 88,8 = = ca ar 246.314 51| 2050000] 18.800,00| 11.5300] _7.270,00 4.565.175| 93,9 = _ = 165.243, 34] 39.000,00] 37.4000] 23.140,00] _14.260,00 s 38407 12] 77.0000] 7490000] 43.600,.00] _31.300,00 3 22501] 0.5] 13000000] 129,100.00] 770000] __49.400.00 252.154| 5,2 = aE = ee 14.982 0,3] 231,000.00] _ 236.800,00| 151.500,00| _85.300,00 6 3.688] 01] 410.000,00] _451.100,00[ 325.100,00| _126.000,00 é 10.000 mais 2.184 0.1 | 827,000.00] _ 881.000,00| 678.000.00] —_203,000,00 2.000¢ mais | 20.854] 0,5 = E int pice 2 ae pacers (eae bene 600,00 A diferenca entre a soma e 0 total refere-se aos estabelecimentos sem declaragao Fonte: Censo Agropecuiitio do IBGE ~ 1995/6 Org.: OLIVEIRA, A.U. Aestrutura produtiva das principais culturas ¢ o caminho seguido pela agricultura Também € necessirio analisar a diferenga estrutural entre a produgio agricola voltada mais para 0 mercado interno ¢ aquela do agronegécio voltada especialmente para 0 mercado mundial, Os dados a seguir so sugestivos para se pensar a situago atual € © futuro. Como se pode verificar, o agronegécio esta implantado com maior énfase, na pequena e na média propriedade. Torna-se, portanto, fundamental entender a estrutura produtiva do agronegscio € aquela voltada especialmente para o mercado interno. tal, sera analisaca a realidade oferecida por produtos agricolas que se constituem em commodities do agronegécio e produtos voltados para alimentagio basica dos brasileiros 138 Mas, antes € preciso eliminar outro mito referente ao ‘espeticulo do agronegdcio”. A pergunta que deve ser feita é qual é rea ocupada pelas atividades agricolas no Brasil? Analisando 0s dados do IBGE, a area total dos estabelecimentos agropecuarios recenseados m1995/6, ocupaya 353,6 milhoes de hectares, as lavouras (temporarias e permanentes) 50,1 milhdes de hectares stagens (naturais € plantadas) 17,7 milhdes de hectares, florestas naturais 88,8 milhdes de hectares, a silvicultura 5,4 milhoes de hectares, e restava um. total de 60,2 milhdes de hectares, cestamente de terras improdutivas As terras ocupadas pelts lavouras estavam 53,0% nas pequenas unidades de produgao, 34.5% nas médias e apenas 12,5% nas grandes unidaces. Ja as terras ocupadas pelas pastagen: 34,9% estavam nas pequenas, 40,5% nas médias e apenas 24,6% nas grandes. As terras das matas e florestas naturais, 20,7% ficayam nas pequenas, 29,69 nas médias € 49,7% nas grandes As terras da silvicultura ficavam 16,79% nas pequenas, 24,1% nas médias e 59, grandes. Dessa forma, a maior area destinada & producio agropecudria esté na pequena ¢ na média e nao grande como se tenta justificar. Apenas as 4reas com silvicultura € com matas € florestas naturais: improdutivas estio dominantemente nas grandes unidades. Vamos entio analisar agora, 0 quadro apresentado por vérios produtos da agricultura para chegarmos 2 sua realidade estrutural. Asoja A soja € atualmente a verdadeira vedete do agronegécio, inclusive muitos intelectuais progressistas, atribuem apenas a ela o grande furor das transformagdes na agricultura brasileira em todo canto € lugar do pais. Vamos analisar seus dados e verificar qual sua dimensio € destaque. A Tabela 19 indica que 0 total dos estabelecimentos produtores de soja no Brasil representava apenas 5,0% (242,999) do total (4.859.865) dos agricultores brasileiros. Entre as pequenas unidades de produgio que também. produziram soja, encontrava-se apenas 4,4% (225,530) do total (4.565.175) dos estabelecimentos pequenos. Nas médias unidades o percentual foi de 6,3% e entre as grandes 7,8%. Cabe salientar, que embora reduzido o ntimero de pequenas unidades produzindo soja, elas representayam em relagio ao ntimero total dos produtores desta leguminosa 92,8%, Plantaram também, 36,2% da area colhida, colheram 34,4% do volume da produgio em toneladas e ficaram com 36,2% valor da produgio. Tabela 19 - Brasil —Soja em grao ‘Grupos de érea ]%a" de produtores | Nimero ] Area | Parlicipagio | Parc | Partie | Partie total ‘em relagio n° total | de Colhida | %mimero | pagio | pagio% | pacio % (Hectares) dos estabeleci- Produ- (Ha) de estabele- | % drea | volume da} valor da mentos dos geupos | _tores cimentos | colhida | produgio | produgio de rea total (Ha). “Mens de 10 24 57.203 195.068, 23,5, 21 16 18. < [10a-20 10,1 70.972| 498.026 22] 52 46 48 24-30 8.0 65.561] 1.021.683 27,0 10.8 10,3 10.8, 50.4100 5.1 20.615] 809.211 as] 85 85] 89 ‘Menos de 100 5.0 214.351 | 2.523.988 8,2] 266| 250/263 100 a- 200 45. 11.179, 907.803, 4,6. 96 94 99 “Menos de 200 49 225.530 | 3.431.791 92,8| 36,2 344 36,2 < 2e~ 500 5. 9.456 | 1.530.068. 3.9 16,1 163 16,6 [ede =boo 70 4.078] 1.321.949 17] 14.0 142143, © [Lowe 2000 81 2.300] 1.213.183 og] 128[ 132] 127 200 ¢- 2.000, 63 15.834 | 4.065.200. 6,5| 42,9 43,7 43,6 [2000 a— 5.000, 80. 1.192] 1.102.685 o5{_u6f 123] 14 5.000 a — 10.000 76 282 493.949 OL 5.2 54 49 10,000 e mais 7.0 153, 386.171 Ot Ad Az 39. S [2.000 ¢ mais. 78 1,627 | 1.982.805, 0,7. 20,9 21,9 20,2 TOTAL 5,0 242.999 | 9.479.893 100,0| 100,0 100,0 100,0 * A diferenca entre a soma ¢ 0 total refere-se aos estabelecimentos sem declaracio Fonte: Censo Agropecuiirio do IBGE ~ 1995/6. (Org.: OLIVEIRA, AL 139 Assim, mesmo na producio desta commodity, as grandes unidades que participaram com 0.7% do ntimero dos estabelecimentos produtores e plantaram 20,9% da area. Ficaram também, com 21,9% das toneladas colhidas & com 20,2% do valor da produgao, quantidades inferiores, portanto, aquelas obtidas pelas pequenas unidades. As médias unidades responderam pelo maior percentual na rea plantada (42,9), volume colhido (43,79) e valor da produglo (43,69). Aliés, mesmo as pequenas unidades com drea inferior a 100 hectares, tiveram maior participagao percentual na area plantada, no volume colhido ¢ na renda obtida, Uma conclusio Gbvia destes dados é que ha mais de 225 mil camponeses integrados na produgio desta mercadoria do agronegécio no Brasil. E mais, eles tém insergao diferenciada neste setor. Vivem contradigdes € a imensa teia das relagdes de sujeigio a que estio submetidos. Desvendar estas teias pode indicar caminhos de autonomia para estes produtores camponeses. Quanto ao destino da producto, 50% dos produtores entregaram as cooperativas, 3796 das toneladas de soja produzida. Outros 35% entregaram aos intermedirios 30% da soja total produzida Para a indiistria 10% dos produtores enviaram 31% da produgio. A diferengs restante teve outros destinos, Desa forma, aqui estio trés mecanismos diferentes cle sujeicao dos produtores de soja a0 capitalismo mundial, Nao custa lembrar que, desde o inicio da expansio da soja nas décadas de 60 de 70, as cooperativas foram instrumentos privilegiados da reprodugao da subordinagao da renda da terra dos camponeses ao capital neste setor. ‘Também a distribuigio da parcela média do valor da produgio foi desigual. Os 225.500 pequenos ficaram parcelas médias de RS1.320,00, R$2.870,00, R$7.000,00, RS18.400,00 e RS 37.400,00 Tespectivamente, para os grupos de Area total de menos de 10 ha, 10 a ~20 ha, 20 a -50 ha, 50 a -100 ha € 100 a -200 ha. Enquanto isso, 153 dos maiores grandes proprietirios (10.000 ha e mais) que produziram soja, obtiveram parcelas médias de R$1.091.000,00. Cabe ainda ressaltar, que drea total cultivada com soja no Brasil na saffa de 95/6, foi de 9,5 milhdes de hectares, ou 1,1% da drea total do pais. Entretanto, esta leguminasa vem ampliando sua rea cultivada, alcangando na safra 2000/01, um total de 13,9 milhdes de hectares, Assim, ela ampliou seu percentual de participacio entre as lavouras (temporirias © permanentes) que em 95/6 jf era de 18,9%. Na safta 2002/03, a Grea plantada continuou aumentando, chegando a 18,4 milhdes de hectares. Na safra 2003/04, a area deve chegar 2 20,9 milhdes de hectares. A expansio da cultura se faz principalmente no Centro-Sul do pais, com destaque para os estados de Mato Grosso (5,2 milhdes de hectares), Mato Grosso do Sul (1,7 milhdes de hectares), Goids (2,4 milhdes de hectares), Rio Grande do ‘Sul 3,9 milhdes de hectares) e o Parana G,9 milhdes de hectares). Estes estados respondem, portanto, por mais de 80% da ‘rea cultivada nesta safra, Esta expansio em drea é também, acompanhada por um crescimento no volume de produglo que passou de 20,7 milhdes de toneladas na safra de 95/6, para 52,0 milhdes na safra 2002/3, podendo chegar a mais 58 milhoes na safra 2003/04. Acanade-agticar A cultura da cana-de-agdcar cultivada no Brasil desde os tempos coloniais, tomou-se miiltipla depois do advento do Pré-ilcool. Destinada & produgio de agticar, hoje ela disputa 0 mercado dos combustiveis do setor automobilistico, pois o alcool anidro participa da mistura na gasolina, Dessa forma, os grandes usineiros foram reformulando suas estratégias de produgio ¢ de apenas capitalistas industriais tornaram-se capitalistas na produgio agricola da matéria-prima, agora também proprietarios da maior parte das terras onde a plantam. Criaram assim, as bases de uma verdadeira agroindstria, ‘onde ao lucro de origem industrial somam o lucro agricola e a renda da terra. Afinal, esta cultura ocupa ‘05 melhores solos existentes no pais, constituindo-se em verdadeiros monopélios territorializados. Por tudo isso, a cultura da cana-de-agdcar uma atividade onde as grandes unidades tém Participagao superior as pequenas. Elas participaram com 31,6% das terras plantadas, 33,1% do volume da produgio € 31,1% do valor da produgao gerado. Entretanto, mesmo nesta cultura a participagao mais expressiva é da média unidade, que ficou com mais de 40% de tudo, Mesmo com a participagao de mais de 89% do ntimero de estabelecimentos produtores de cana-cde-acticar, as pequenas unidades participam com pouco mais de 10% e inclusive, esta participagao esté mais localizacla no Nordeste no Rio de Jancito. A Tabela 20 ilustra com dados detalhados esta cultura. Cabe tumbém esclarecer que eles referem-se apenas a cana industrial, pois 3 cana forrageira esté muito mais disseminada nas propriedades nurais Tabela 20 - Brasil — Cana-de-acicar % wide s produtores Pendle | PEE | perder emrelacio | Namerode| Area | pasio | pacio | paslo® | oacso x Grupos de drea total |S" TS, | produtoree| Coltida | %n'de | %airea | volume | Py) (Hectares) eae (Hectares) | estabele- | cothida da i betes cimentos | (Hectares) | produgio | Prt"s#° Menos de 10 49 ni6so1| 84588] 31.0 20 10 iy, ¢ [104-20 14.0) 98.240 111.268] 26.0 26 16 24 204-50 10.9) 39.028] 240.824] 23.6 57 43. 48 50-4 —100 82 32.708] 246.605 87 59 3 34 Menos de 100 78 336.786 | 683.280| 89.3, 62| 12,0[ 14,0 100 a = 200 78. 19.230 | 364.274 31 86, 78 78. ‘Menos de 200 7.8 356.016 | 1.047.554 | 94.4 24,8[19,8| 21,8 [200.2 = 500 83 13719| 682.594 36 162| _155[ 14.0 & [500 «= 1.000 79 4.636 618.271 12 147[ 149] 35. ' [2.000 €= 2.000. 63 1806] 535.012 05 127| 167] 19.6 200 €~ 2.000 8.0 20.161 | 1.835.877 53 43,6| 471] 47.1 #2 [2.000 a — 5.000 50 743| 571.195 0.2 36] 148] 138 5.000 a — 10.000 43. 160 | 327.832. 01 7 85 88 10.000 € mais 49 107 | 433.963, 00 10,3 98 85 © | 2.000 ¢ mais 48 1,010 | 1.332.990 0.3 31.6 331] 31,1 ‘TOTAL 7.8 | *377.207|4.215.427| 100.0] _100,0[ _ 100,0[ 100.0 A diferenca entre a soma e 0 total refere-se aos estabelecimentos sem declarago Fonte: Censo Agropecuitrio do IBGE — 1995/6. Org: OLIVEIRA, ALU. © total dos produtores de cana-de-agticar representava também, apenas 7,8% dos agricultores brasileiros, € os pequenos que a produzem também, apenas 6,9% do total. A area total cultivada com cana-de-acticar no Brasil era de 5 milhdes de hectares, ou 0,6% da drea do pais na safra 95/96. Na safra 2002/3, a area cultivada chegou a 5,2 milhdes de hectares ¢ a. um volume de produgio de 364,4 milhdes de tonelada; As pequenas unidades (94,49) participaram com apenas 24,8% da drea colhida, 19.5% do volume ¢ 21,8% do valor da produgao. As grandes nessa cultura, tém participagao maior do que as pequenas unidades. Na safra 95/6, mais de 94% do volume da produgio de cana foi para a indtistria (usinas destilarias). Os maiores produtores (10.000 ha € mais), cerca de 100, ficaram com parcelas médias do valor da produgio de R$4.217:800,00. Enquanto isso, as pequenas unidades por sua vez, ficaram com parcelas médias de apenas R$3,000,00. Esta é uma cultura onde a diferenga na distribuico da renda é mais desigual. A laranja A produgao da laranja para a produgao de suco concentrado € fendmeno relativamente recente na agricultura brasileira, A década de 80 foi o periodo em que ocorreu a decolagem desta produgao. Hoje o Brasil é 0 primeiro produtor mundial de suco concentrado de laranja. Concentrada territorialmente no Estado de Sio Paulo, a area plantada na safra 95/6 foi de pouco menos de um milhto de hectares, Na safra de 2002/03, 0 volume de produgaio foi de 18,5 milhdes de toneladas e rea plantada manteve-se praticamente a mesma © total dos produtores de laranja no Brasil representava 17,0% clos agricultores brasileiros, ¢ os pequenos que a produzem também, representavam 17,2% do total. Como a area total cultivada com laranja no Brasil, é de um milhao de hectares, ela representa apenas 0,1% da drea total do pais. As pequenas unidades de produgio representavam 94,9% dos produtores que por sua vez tém 58,6% da area plantada, 51,1% do volume da produgao e 58,4% do valor da produgao geraco, Enquanto isso, as grandes unidades participaram com apenas 7,1% da area plantada, 10,8% do volume da producdo e apenas 8,9% do valor da produgio. A Tabela 21 mostra esta realidade 141 Tabela 21 - Brasil —Laranja % don" a é Produtores | “Némero | Area Es pace s| | Parti Girapos de Sten otal’) em relate | 4 sods | cothida | ‘wurde | “Kdrea | Ptt0% (Hectares) | n° total dos rea | volume da | valor da Tropase’ | (968 | (ectares)| estabete- | cothida | Yume te | al ee cimentos_| (Hectares) Menos de 10 iz | 298600] 68651 36 ie a0 {10420 26.6 | 196.275] 71.152 25 59 Zl zea 23,0 | 186.995 | 156.969 22.6 166 Tz 165 30-1=100 179 71775 129.177 87 137. 12 13.0 &[Menos de 100 17,2 743.685 | 425.949 90.0 45.0 37.6 44.6 5 [00 a - 260. 165 40.659] 128.711 4 13,6 135. 138 Menos de 200 | _17,2__| 784.344| 554.660| __94,.9| 58,6] 51,1| 584 [20 e = 500 16.1 26,629] 168,762 a2 178 187 172 B [500 = 1.000 158 9.207] 95.734 1 10.1 1d 36 [1.00 e— 2000 | 136 9a8| 60 578 05 63 83 69 200 e 2.000 [15,8 | 39.784 | 325.074 4g] 3431 seal s27 [2.000 a= 5.00 | 125 11856] 49.365 02 3 79 . 5.000. — 10.000 | 10.3 381] 6.975, O1 oF. 05 OA 10.000 mai 9, 21110804 00 Li 4 26 2.000 e mais 17 Baas] 67.143 03 71] 10.8 a9 ‘TOTAL 17,0 | 826.875| 946.896| 10,0 _100,.0| 100.0] 100.0 * A diferenga ene @ sonia € o total relere-se ads eslabelecimentos sem declaragao Fonte: Censo Agropecuirio do IBGE - 1995/6. Org: OLIVEIRA, A.U. Na cultura da laranja para suco concentrado, predominou e ainda predomina a separagao entre os produtores das frutas e as indkistrias. Por isso, a participagdo expressiva e histrica da pequena unidade de produgao no setor. Entretanto, em funcao de disputas na definigio do preco da fruta, as industrias iniciaram o plantio da fruta em terra propria. Assim se explica a expansio da laranja no Triingulo Mineiro, Outro processo que ocorre neste setor é a associagl0 de grandes produtores capitalistas com as industrias, deste modo vio construindo um processo proprio ¢ especifico de territorializagiio destes monopélios do suco concentrado. Quanto ao destino da produgio, 75% da producao foi entregue as indtistrias de suco concentrado, € 20% aos intermediirios. A desigualdade na distribuicao das parcelas médias do valor de produgio também esta presente nesta cultura. Elas foram de R$3.000,00 nas pequenas € de R$111,000,00 nas maiores entre as grandes unidades. O café Outra cultura do agronegécio, o café vem sendo produzido no Brasil desde o século XIX. Primeiro produto de exportagio durante longas décadas, ele fez este pais tomar-se o primero produtor mundial. Como parte da historia, o café percorreu uma verdadeira marcha pelo tertit6rio nacional fazendo de Sao Paulo seu primeiro grande produtor, depois o Parand & agora, Minas Gerais e o Espirito Santo. © total dos produtores de café no Brasil, representava apenas 7,6% dos agricultores brasileiros, ¢ 05 pequenos que o produzem também, representam apenas 7,7% do total. A area total cultivada com café no Brasil, era de 1,8 milhdes de hectares, ou 0,2% da drea total do pais na safra 95/96, Na safra 2002/03, a rea plantada chegou a 2,4 milhdes de hectares € © volume da producio a 2,6 milhdes de toneladas, metade em Minas Gerais Nesta cultura € espetacular a hegemonia da pequena unidade de produgio, pois ela aleanca 95,9% dos produtores, 76,5% da area colhida, 70,5% do volume da produ do valor da produgto. Enquanto isso, as grandes unidades tiveram a inexpressi de 1,4% da area, 1,7% das toneladas produzidas e 2,2% do valor gerado. A Tabela 22 a seguir detalha estes dados. 142 Tabela 22 - Brasil — Café em coco Grupos de rea tol | —% a"de | Nimero | Area | Partic | Parliei- ] Partici- | Partici (Hectares) produtores | deProdu-| Colhida | paglo | pagio | pacio% | pacio % em relacio | tores | (Hectares) | %n"de | % rea | volume da| valor da n° total dos estabele- | colhida | produgio | produciio ‘grupos de cimentos | (Hectares) Menos de 10 aeeg pl arose — aia} 358 Ta ae <| War BS 6.176[ 2.0 | —_17,7 Th ae é a= 50 105 $3.727| 393.837 | __22,7 27 183 ia 100 TT, T0774] 299.162] __12,7 165 155. | Menos de 100 76 327.331| 1.123.290] 88,7 20 SLE 100.2 - 200 107 26450| 263.299 TE cs} Tat Menos de 200 77. 353.787 | 1.386.589 | 95,9 76,5 98) 700 ¢ — 500 69) Ti4a0|___257.240 3a 42 78 §[500e— 100 wa 2355] _ 351 OF, 335 Tz, [Tom e— 2000 28 TAT |__42.508 02 2A 30. 200 €= 2.000 39 TE782|—399.497| 4,0. 221 20 [2000 a — 5.000 is 266 TBAT Or TZ iT 5,000 a — 10.000 15 36 Zt 0; Or 0: 70.000 © mais 20) B 1937 a0) Or 03, [2.000 mais Le 365) 26.128) 0,1 14 Bz TOTAT, 76 368.961 | 1.812.250 [10,0 10,0]; 100,0 10,0 A diferenga enire a Soma € o toral refere-se aos eslabelecimentos sem dedlaracio Fanie: Censo Agropecuirio do IBGE ~ 1995/6, ‘Org: OLIVEIRA, AU Como o café é cultivado particularmente nas pequenas unidades, elas entregaram aos intermediarios 65% da produgao, 15% para a indtistria e outros 15% para as cooperativas. Quanto a distribuigio das parcelas médias do valor da produgio, os extremos vao de R$1.600,00 nas menores € R$203.000,00 nas maiores. Entretanto, trata-se de esclarecer que 70% do valor da produgio sao distribuidos com menor desigualdade, entre os pequenos. Eles recebem de R$1.600,00 entre os com Area inferior a 10 ha, ¢ R$7.900,00 entre aqueles de 100 e menos de 200 ha. Este quadro decorre do fato de que o ntimero de produtores pequenos é muito elevado Grnais de 350,000). Assim, mesmo fortemente subordinada aos intermediérios, a pequena unidade tem conseguido ficar com parte da renda da terra obtida com esta cultura, Certamente, parte desta possibilidade acontece porque © café muitas vezes, fica estocado, aguardando melhores Precos. A pecudria de bovinos ‘A pecufria de corte € outra atividade no campo de histéria longa. Pareeira da cultura da cana desde © periodo colonial, ganhou fama como “desbravadora de fronteiras” . Por isso, € parte Constitutiva da estrutura produtiva das elites. Foi também, a atividade econdmica, que serviu de instrumento para demarcago de grandes posses ¢ até hoje é a atividade que detém na média, as maiores extens6es territoriais do pais. Caracteriza-se por ser uma atividade fortemente disseminada no campo. Para os pequenos € uma espécie de “poupanea’, para os grandes instrumento para se apoderar de muita terra. Cerca de 2,7 milhdes de estabelecimentos (55,5%) exercem esta atividade. Entre os pequenos o percentual exceto 0s estabelecimentos com menos de 10 hua, estto presentes em mais de 70% das unidades, e entre os grandes em pero de 90% deles. (Tabela 23) £ portanto uma atividade hegemOnica da grande propriedade. M e s mo assim, a participacao das pequenas unidades no mimero de cabegas do rebanho é de 37,6% 67,6 milhdes de cabecas), portanto maior do que as grandes unidades que detém apenas 21,8% (33,3 milhdes de cabecas), ‘Tabela 23 - Brasil — Bovinos ~ Plantel Total Grupos de area total REBANHO TOTAL (Hectares) % n° de Criadores em | Participagio % a® ‘Nimero de farlapagio® relagion® total dos | de estabelecimentos | Cabesasdo | eeu Menos de 10 33.9 30,2 6.039.646, 3,9. s 71,0 18,5 6.639.267 43 & 75,3 228. 14.364.690 9A s 797 118, 14.123.384 92 z 52.0 83,3 41.166.987 26,8 $3.8 77 16,504.085_ 10,8 53.7 91,0 7.671.072 37.6 200 € — 500 889 34 25,000.847 164 1,000 €— 2.000 12 10 17.631.807 15: ey |-200 e - 2.000 89,5, 8A 62.019.526 40.5, 2,000 2 — 5.000 90,1 05. 17.156,969_ 11,2 5 5.000 a — 10.000 88.1 OL 2.499.578. 49 § |_10.000 ¢ mais 86.4 OA 8.660.453 57 ae 8 —} 52 | i AoE: 2.698.197 153.058.275 * A diferenca entre a soma € 0 total refere-se aos estabelecimentos sem declaragao- Fonte: Censo Agropecuatio do IBGE - 1995/6. (Org.: OLIVEIRA, A.U. Aanalise dos dados sobre o nimero de bovinos comprados, vendidos e abatidos (Tabela 24), igualmente reforca a tese de que também, na pecudria de bovinos as pequenas unidades tem maior participagio. Em ndmero de cabegas, as pequenas unidades foram responsiveis por 32,8% das cabecas compradas, 31,6% das vendidas, ¢ 62,5% das abatidas. Enquanto que as grandes movimentaram apenas, 24,0% das compradas, 24,19 das vendidas e 10,7% das abatidas. A desigualdade na disteibuicao das parcelas médias do valor da producao repete-se também na pecuaria de bovinos onde oscilou no item cabegas vendicas, entre R$1,000,00 para as menores © R$265.000,00 para as maiores. O leilao tem sido instrumento de comercializag’o mais comum na pecudria de bovinos. Esta modalidade de comercializagio, abriu possibilidades de fortes sociabilidades entre os diferentes produtores deste setor. Esta articulagao estabelecida entre as diferentes unidades de produgio abriu lugar para que as articulagdes politicas muitas vezes, levassem os pequenos para as posicdes dos grandes proprietirios. A base politica da UDR — Unido Ruralista tem apresentado est caracteristica, A presenca significativa da pequena unidade de produc3o na pecufria de bovinos, é conseqiiéncia também, da crise que tem se abatido sobre a agricultura durante o Plano Real, em fungao de sua “Ancora verde” ". As pequenas unidades em geral cuidam da etapa da cria na pecudria, onde 0 objetivo principal € 0 bezerro, ¢ o leite vem com renda adicional, embora também com pregos baixos. Também em geral, 05 médios ¢ grandes proprietirios acabam comprando estas crias da pequena unidade realizando as duas outras etapas, a recria © & engorda. * Parte do Plano que visou manter estivel o preco da cesta bisica. Com desigual compontamento dos pregos (lta nos precos dos produtas adquiridos pelos agricultores, « redugio dit renda na agricultura foi inevicivel. ‘Tabela 24 - Brasil — Nimero de Bovinos ~ Comprados, Vendidos ¢ Abatidos ‘Compradas Vendidas Abatidas Grupos dedrea | panic | PARE] Pariel | Partie | Part total (Hectares) | pacao% ne | Pathe ts | pase | pasto% | pacao qn) Pacao 2 passe mN, | valorda | %N'de | valor da |B valor da producio |_Cabegas_| Caberas | producao_| Menos de 10 19 10a 10,4 [104-20 4,6 12 10.8 20-50 0} 180 16. 5 83 13 105. 26,7 521 10.4 625 3 [200 e— 500 16 2 [500 = 1.000, 82 1,000 e — 2.000 66 [2002.00 26.4 2.000 a — 5.000 5.6 He - 8 [10.000 ¢ mais 4.4 . 3 2.000 € mais 28 2a 26.4 10,7 129 orgs 15) Soin eae! | ional TO les oten Tk diferenga entre a soma € 0 total referee a05 exlabelecimentos sem declaracao Fonte: Censo Agropecuirio do IBGE - 1995/6. (Org.: OLIVEIRA, AU © rebanho hovino esta concentrado principalmente nos estados do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Mit Gerais e Goi Depois vem, Rio Grande do Sul, Sao Paulo, Para, Parat Bahia e Rond6nia. A produgio de leite A pecuftria leiteira no Brasil tem também na pequena unidade de produgto sua maior producio. Presente em 37,2% dos estabelecimentos agropecuirios, a produgao do leite atinge nos estabelecimentos entre 10 ha € mais hectares, mais de 50% dos mesmos. As pequenas unidades ficam com 90,4% do ntimero destes estabelecimentos produtores, e 70,8% das vacas ordenhadas. Respondem também por 71,5% do volume do leite produzido € 71,6% do valor da produgao. (Tabela 25) ‘As grandes unidades, por sua vez, tém participagio inexpressiva deste produto. Trata-se portanto, de mais uma atividade tipica da pequena unidade de produgao. Inclusive este dado coincide com a pecusitia de corte de bovinos, onde a pequena unidade € tipicamente de cria, portant, produtora de leite, As parcelas médias do valor da produ pequenas unidades entre R$2,000,00 € R$7,600,00. Isto prova uma certa distribuiglo da renda no setor. 145 Tabela 25 - Brasil — Leite peat de Volume da Grupos de area total estabele- % do volume | % do valor eer) Sey (ail ttros) | 2 Prodsséo | da producto Produtores Menos de 10 103.697 78 39 ¢[10a—20 1.930372 108 10,6 & 20a - 50 3.627.925 x 19.8 | 50 a -100_ 2.974.821 16,6 16,4 2 [Menos de 100 9.936.765 35.4 35.7 100 a - 200 83 2.883.288 16,1 15,9 Menos de 200 90,4 12.820.053, 71,5, 71,6 200 © — 500 59 2.966.753, 16,5, 164 # [500 c= 1.000 AT 2.1 1.197.427 62. 65 [000 e— 2.00 | 64.4 10 601.254 34 35 200 €~ 2.000 64.7 9.0 4.765.434 266 264 tw | 2.000 a — 5.000 61,3 05 269.209 15 15 5.000 a= 10,000 | 58,7 OL 48.360 03 03 10,000 ¢ mais. 559. 0,0 02 24,769 Ol 02 | 2.000 © mais: 60,3, 0,6 2,5 542.338. 19 2.0 TOTAL 37,2 C) 100,0) CY 100,0 Ps 100,0 100,0 1.810.041 | 13.722.613 | 7A difereniga enire a soma e 0 tolal refere-se aos estabelecimentos sem declaracao Fonte: Censo Agropecudrio do IBGE — 1995/6. ‘Org.: OLIVEIRA, A.U. Entre os principais estados produtores, estio Minas Gerais com quase um tergo do total, seguido por Golis, Rio Grande do Sul, Parana, Sio Paulo e Santa Catarina, Asuinocultura A criagao de suinos também é uma atividade disseminada no campo brasileiro, pois, 41,3% dos estabelecimentos desenvolvem-na. As pequenas unidades de producto sio detentoras 87,3% do plantel. A participagio da grande unidade é pouco expressiva 1,7%. Trata-se pontanto, de uma atividade tipica das pequenas unidades (Tabela 26) ‘A modalidade da integracao tem sido a forma de subordinagio, através da qual as indiistrias de processamento da carne € de raga submetem as pequenas unidades de producto 05 seus objetivos produtivos. Assim, a suinocultura vai cada vez especializando-se. O processo cciat6rio completo que se fazia em todas as propriedades vai sendo substitufdo pelos especialistas em produzir leitoes (cria) e aqueles que fazem a recria e engorda. Esta subordlinagao tem levado os suinocultores integrados a terem que ampliar sua érea de plantio de mitho, de modo a ampliar as relagdes de sujei¢io, garantindo assim, 0 produto basico na composi¢io da ragao. 146 ‘Tabela 26 - Brasil — Suinos ~ Plante! Total f [3 we Crtadores | —Parteipagie | Namera” de] —Paricpagio Grupos de sirea total caeuae ere cee < (Hectares) n° total dos grupos | — estabelecimentos Plantel Plantel de Area total -criadores —_ Total Total ‘Menos de 10 367 a0 7.760142 93 17.3 4.493.621 a75 19.4 6.386.376 448, 89 3.236.627 41,6 89,6 | _21.875.766 21 52 2.338.975 a6 94,8 24.214.741 200 ¢ = 500) 393 32 1816.98 % [500 - 1.000 31,2 Md 735.819 200 €— 2.000 48 3.068.929 [2000.4 5.000 365 03 307.691 5.000 a — 10.000 348 On 71.483 i # [ino ema 32 ou 72895 2.000 € mais ae ar 57208 00,0 g TOTAL 7A diferenga entre a soma © © Total refere-se wos estabelecimentos sem declan Fonte: Censo Agropecuirio do IBGE — 1995/6, ‘Org.: OLIVEIRA, A.U, A Tabela 27 mostra igualmente, a expressiva participaglo das pequenas unidades de produgao no ntimero de cabegas compracis (95,196), vendidas (88,5%) © abatidas (86,9%). Conseqiientemente, esta participaclo repete-se no valor da producao: cabecas compradas 93,696, vendidas 87,5% e abaticas 85,4%. (Tabela 22) . ‘Tabela 27 - Brasil — Numero de Suinos — Comprados, Vendidos e Abatidos . Compradas Vendidas Abatidas ie Participagio | Participacio | Participacio eax Partici- a pe) snrde | %valorda | xuvde | PROM | pacio x ne | Pao bets producto Cabegas: g_| 8 Cabesas io Menos de 10 259 a 205 182 29.0 354 10a — 20 229) 216 199 19,1 189 194 204-50 297, 200 20.8 29.8 247 227 . 50a —100 uz 13.2 17, 127) 107 106 ‘Menos de 100 90,2 88,2 815 79.8 80,3 781 100 a - 200 49 34 7.0 TL. 68 73 Menos de 200 95.1 93,6 88,5 87,5 86,9. 85,4 [2me= 500 26 32 68 7.0. 59 65 500 €— 1,000 1 14 22 25 24 26 2 1.000 «= 2.000 06 09) 15 19 33 40 200 ¢ — 2.000 43 3.5 70, 4 iL. 13. ® [2.000 a — 5.000 05, 07, 07 08. 09 10 . 3.000 a — 10,000 00 00) On 01 Ou 03. 10.000 € mais OL 02 02 0.2 01 0.2 & [2.000 e mais 0.6 0, 1,0, 11 11 1,5] 00,0 00,0 00,0) 00,0] 100.0} 100.0 ORAL 7.873.589, 26.625.315, 4.611.252 Fonte: Censo Agropecuitrio do IBGE — 1995/6 Orgs OLIVEIRA, A.C A parcela média do valor da produgio na suinocultura ficou entre R$1,000,00 e R$3.600,00 nas pequenas unidades, que representam a grande maioria dos criadores, Mais da metade do plantel de suinos esti na regio Sul: Santa Catarina, Parana € Rio Grande do Sul. 147

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