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O modelo do autor parece-me bastante útil para aplicar aos meus alunos mais
novos de piano de iniciação. Além de poder ver o estágio de desenvolvimento musical
em que estes se encontram, é possível também atribuir algumas das ideias práticas
propostas pelo autor. Pela minha experiência como docente e da observação de outros
docentes, denota-se que a improvisação é um pouco deixada de parte para alunos mais
novos. Apesar de muitos destes professores tenham tido formação em jazz (visto que a
performance é maioritariamente baseada na improvisação), os métodos primordiais para
a improvisação que envolvem a transcrição e exercícios de vocabulário (diferentes
exercícios consistindo na variação e desconstrução de segmentos melódicos ou “licks”),
parecem ser apenas aplicáveis para alunos que tenham já alguma facilidade técnica ou
experiência no instrumento. Provavelmente, e seguindo o modelo de Kratus, a
implementação desses métodos não corresponde ao nível de desenvolvimento em que os
alunos mais novos se encontram. Aliás, a transcrição e os exercícios para obter
vocabulário são já preocupações estilísticas, correspondendo ao nível 6 do modelo de
Kratus. No entanto, isto não significa abandonar por completo a introdução de marcas
musicais estilísticas às crianças, uma vez que é possível complementar diferentes níveis:
“The kownledge and skills that students develop at a certain level, however, need not be
taught only at that level. (…) while a student is working at level 3 (product-oriented
improvisation), the teacher could introduce some characteristics of specific
improvisational styles” (p. 53). Possivelmente, a dificuldade de os músicos/professores
de jazz introduzirem a improvisação à criança advém da experiência ou do background
de ensino que tiveram. Isto é, a maior parte destes só aprenderam improvisação no
ensino profissional e na escola superior.1 Por conseguinte, estes músicos durante o seu
período de infância frequentaram conservatórios e academias de música 2, onde a técnica
do instrumento e a leitura musical é largamente desenvolvida, no entanto, nesses
1
No entanto, a confirmação científica desta constatação teria de ser realizada através de um estudo sobre
os processos de aprendizagem “informais” e formais (referente de igual forma ao passado, quando foram
introduzidos à improvisação). dos músicos de jazz.
2
Que frequentemente reproduzem os mesmos modelos de ensino.
contextos de ensino não é explicado ao aluno como improvisar. No meu caso, ao ensinar
numa escola não-oficial tenho possibilidade de trabalhar com alunos de conservatório
que procuram alternativas de ensino. Num dos primeiros exercícios de improvisação,
baseado somente em tocar ideias na escala de dó maior sob um pedal, reparei que o
aluno tendia a repetir um parâmetro musical, sendo, neste caso em particular, o ritmo.
Sucediam-se mudança de notas, conjuntamente com a exploração de registos graves e
registos agudos. Por outro lado, no meu entender o desenvolvimento das capacidades de
improvisação do aluno será um complemento à formação musical tida no conservatório,
ao invés de ser uma “alternativa” a este. Na tese de Kevin Woosley (2012) está patente
uma das preocupações centrais na forma que vejo o ensino institucionalizado. O autor
assinala a relevância de métodos aurais e da improvisação no ensino de pianistas
“clássicos”. Alguns benefícios são salientados pelo autor tais como uma maior
compreensão dos conceitos teóricos e análise da música, o que, por sua vez, contribui
para menos erros durante a performance, visto que “instead of relying on muscle
memory, they can remember specific chords, key areas, sequences, etc.”
Inevitavelmente, dada o reforço da memoria através de métodos aurais e da
compreensão teórica daquilo que se está a executar, contribui para a diminuição da
ansiedade na performance. Daí que será importante o reparo que Gabriel Solis (2016)
faz relativamente à falta de oportunidades, no nível terciário, dos alunos desenvolverem
a improvisação concernente ao estilo musical que lhes é próximo. Penso que este
“problema de género” (Solis, 2016), em que a improvisação é rapidamente legitimada
pela sua associação ao jazz, pode ser algo transversal no ensino. Por isso, é necessário
relembrar as palavras de Kratus ao sublinhar o papel crucial da improvisação durante
toda a educação musical: “Improvisation is not simply an intuitive musical behavior,
nor is it only an actively reserved for the most proficient musicians. It is both, and
improvisation can and should be a meaningful part of every student’s education, from
preschool through adulthood” (p. 55).
Referências bibliográficas:
Solis, Gabriel (2016), “From Jazz Pedagogy to Improvisation Pedagogy: Solving the
Problem of Genre in Beginning Improvisation Training” in Improvisation and Music
Education: Beyond the Classroom, Ed. por Ajay Heble & Mark Laver, Routledge: Nova
Iorque