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Indice Apresentacdo. ... 2 Caminhos e descaminhos da Nova Repablica. . 3 0 Estado no Brasil De Jodo Goulart a Joao Figueiredo. . 9 Notas para a histéria de uma geracao, 23 Emir Sacer Galeria de Arte Banerj leva arte carioca ao interior ea outros estados.......... 27 Psicandlise da violéncia . . 6 3 De como se “orodu2” a pxicologia 30 brasileiro O cinema brasileiro: de onde vem, para onde vai . 45 0 Futuro — destino ou criago humana s7 ‘A crise econdmica mundial e as perspectivas politicas em meados da década de 1980 . 67 ‘André Gonder Frank A crise internacional do capitalismo: balanco e perspectivas . . Theotnio dos Santos Colaboradores.. TERRA FIRME eset" ‘Comitt Editoral: Darcy Ribeiro, Elaleth Satfot, Diregfo: Neivs Moreira (responsive!) Frederico Morons, Hilo Palegrine, Mosc Werneck Ruy Mouro Marin, Vania Bambirra 9 Cervo, Otear Niameyar, Sivi0 Tener, Theoténio dor Santor Editora: Maluza Stein Uma publics da Editora Tere ‘Arte: Sergio H. dos Reis Rua da Gloria, 122 ~ Salas 10471 Fo de Janeiro Rd Nustrapses: Wilma Martine {Ano in? 1 cutubro-dezembro 1985 Mundo Ltd. = CEP 20284 — Apresentacéo a Esta é uma revista independente e pretende continuar assim. Seu obje- tivo € 0 de propiciar uma reflexéo ampla sobre a nossa realidade, com © que ela situa na terra firme do presente, do imediato e até mesmo do contingente. Mas é, também, o de ir mais além do que ¢ apenas apa réncia, para indagar as determinacdes mais profundas, estruturais ¢ his toricas, dos acontecimentos e processos que estamos vivendo. Refletir sobre a nossa realidade — isto quer dizer pensar o Brasil. Nun. ca, como hoje, isso foi t80 necessério. Passamos vinte anos submeti dos a uma intensa pressio ideol6gica, que procurou vincular-nos um pro- jeto supostamente nacional e que se valeu para isso de todos os meios Que © poder da. Falsificagdo historica, manipulagdo de fatos e de nt: meros, censura, exilio, corrupedo, tortura — de nada fomos poupados. Esse projeto — produto de um punhado de grupos politicos, econdmi cos e militares — acabou desacreditado pela propria vida, mais precisa mente pelos seus resultados. Pretendendo converter o pals em poténcia internacional, submeteu-o a tal ponto aos ditados do Exterior que, hoje, fazendo tabua rasa de nossa soberania, organismos internacionais inter ferem abertamente na formulaco da nossa politica interna; anunciando prosperidade e fartura, aviltou os salarios, desatendeu a produce dos bens indispensaveis & nossa dieta basica, desviou a indastria para a fabri- cago de artigos de luxo, consumidos por uns quantos privilegiados, ou destinados & exportacao. No curso de sua implementacao, as liberdades publicas foram negadas, aumentaram os camponeses privados de terra, © Crescimento das cidades implicou mais subemprego e desemprego, @ renda nacional concentrou-se ainda mais, os analfabetos tornaram-se mais umerosos, a mortalidade infantil cobrou mais vitimas. Nao era esse 0 Brasil que 0 povo queria, quando, nos idos dos 60, mo- bilizou-se de norte a sul em favor de reformas de base, capazes de fazer mais racionais e mais justas as nossas estruturas econdmicas @ so- ciais, Mas 6 a partir dele que teremos, agora, de construir 0 nosso futuro. E pois, imperativo encarar seriamente — sem mistificacdo, diria 0 poe tas 0 presente brasileiro, fazerihe as perguntas certas, procurar as respostas mais adequadas. Terra Firme propde-se a trabalhar nessa dire- ‘cao, entendendo que, para alcangar seus fins, nada pode ser-the indiferen fe ou alheio. Em suas paginas, terdo lugar a filosofia e a economia, os ‘grandes temas da politica os fatos mitidos da vida cotidiana, as ques tes reivindicativas e sindicais e os problemas mais gerais da ciéncia eda | cultura, Do mesmo modo como 0 exame do que ocorre no resto do mun: do, ja que é la que se encontram muitas vezes as explicagées que bus- camos. Isto 6, caro leitor, 0 que pretendemos e para o que pedimos a sua aten: 0. Assim como a sua participacdo. Ougamos de novo 0 poeta: no nos afastemos, vamos de maos dadas. A DIRECAO O Estado no Brasil: De Jodo Goulart a Joao Figueiredo Vania Bambirra Estado brasileiro, desde a Independéncia até os nos: 808 dias, passou por etapas de evolucso plenamente diferencidveis. Até a revolugdo “democrético burguesa”, de 1930, 0 Estado brasileiro conservou um nitido carder aligérquico, conseqiéncia da dominacao ostensivaexercida sobre 0 can junto da sociedade pelas oligarquias vinculadas ao setor pi mério-exportadar. A burguesia industrial emergente, que se expandiu juntamente com o primeiro ciclo da industralize 0, ocorrido em fins do século XIX, apesar da sua crescen te importéncia na vida econdmics do pais, ndo lagrava par: ticipar ainda do poder estata, A situarao especifica de mar sinalizagdo do Poder desse estrato burgués, que constitu uum dos tragos tipicos observados desde os’ primbrdios do desenvolvimento de eapitalismo dependente — 0s) ‘no Brasil, mas em toda a América Latina — deveu-se 20 fato de que, como produto ds expansio do capitalisma eurapeu, desenvolvesse originariamente relardes de praducdo capita lstes no setor primério-exportador, garantindo dessa mane: £9, 8 oligarquias, 0 monopdlio da dominara politica eal jando desse Poder setores ecandmicos “secundsrios” E somente através da revolugio de 1930 que a jovem burguesia industrial ascende a0 poder do Estado e conquis a Sua_hegemonia-comprometida com os interesses ol Gérquicos("). A partir de entao, a caréter do Estado bras leiro sofre uma transformacdo substantiva na medida em Que se altera, em sua esséncia, um dos elementos consttuti vos fundamentais, ou seja, sua composigao de classe, cuja Setinicao rigorosa passa a ser, entdo, a de Estado burgués: ligérquico A nova classe dominante implementa — a partir dessa ‘ova situagdo hist6rica — toda uma linha de atuapo volt da, fundamentalmente, no plano econdmico, para a mader- nizagdo, o industrialismo e o protecionismo(2), @ — no pla- ‘0 politico e social ~ para um atendimento progressivo das (Artigo elaborado para 0 seminério “O Estado na América Latina”, organizado por Pablo Gonzélez Casanova para o Instituto de Investigaciones Socia- les, UNAM, México, e para a Universidade das Na- 6es Unidas, Téquio, em 1984). ‘Tradugo: Ana Pessoa reivindicagdes basicas das classes médias e do proletariado urbano. Os objetivos de promaver a ascensio social desses classes se expressaram, sobretudo, na legsla¢go do trabalho promulgada no primeiro Governo de Getdlio Vargas, que pode ser considerada coma uma das mais avancadas do mundo capitalists da Epoca. Com a adogso de medidas tas como a regulamentagdo do trabalho da mulher e do menor, 0 amparo 2 maternidade (promulgado em 1934, no Gras ese direto trabalhista s6 comepou e ser discutido 10 anos depois, nos EVA), a estabilidade no emprego, o sistema da previdéncia social e outras, o Brasil se colocou ne vanguarda dos direitos trabalhistas do mundo ocidental. O diveito da mulher 20 voto, por exempla, que foi concedido, em 1933, pelo Governo de Vergas, 36 viria a ser conquistado, em 1971, na Sutga, Paralelamente, fi elaborads ume legislacgo ue vinculava e subordinava a estrutura sindical 20 apareiho do Estado, com nitida inspiragdo no corporativismo de cor te fascista. Porém, nada mais equivocado que confundir — ‘como usualmente 0 fazem os mais dsperas criticos do var guismo — essa estrutura sindical com a progressista legisla- 80 trabalhista, pois aquela constitui apenas um aspecto parcial da mesma. Foi a legislapao trabalhiste enquanto tal ‘que, pelo seu conteddo modernizante, elevou Getdlio Var 425 80 mais alto patamar da lideranca politica historicamen- te conhecida no pais, ante todo 0 perfodo, que se estende de 1930 0 sucedem-se, no Brasil ~ como, ads, em quase toda a América Latina — governos tipicamente populistas(3), Por razdes que no vém 0 caso analiser aqui, 0 Gnico Gaverno brasileiro que foge a esse caracterizacéo foi o do General Eurico Gaspar Dutra, que diluiu as cores fortes do populis mo até levéslas a um cinza meio indetinido. TERRAFIRME- 9 ee ee Contudo, apesar da validez desse generalizagao, res ta imprescindivel especificar um aspecto crucial somente nos Governos de Vargas (particularmente no seu segundo pertodo presidencial) e no de Jodo Goulart, encontramos a Finplementagao de uma linha nacionalista associade & forma de gosto politica populiste. Tal especificidade sb demons tou, na progressista politica econdmica e social do primel fo longo perfado governamental de Vargas, que durou 18 anos, ¢ deveu-se 20 fato de corresponder plenamente 20s in teresees de classe da burguesia industrial nacional que, na {quele entdo,tinha um projeto de desenvolvimento pr6prio 9 propor a0 conjunto da Nagao (exceto ao campesinato). Os fompromissos. mantidos com a oligarquia n80_permitiam Squela classe pretender sequer @ possibilidade de raspar 3 crosta da estrutura monopélica da propriedade da terra, Mas a partir do pds-querra, tal projeto comerou a se frustrar devido 20 novo carater que tendencialmente assumiam 2s relagdes de dopendéncia do Brasil com o sistema capitalista mundial, particularmente os EUA, que provocariam profun: das transformagées no carSter do Estado brasileiro. ‘Sem pretender repetir anlises j8 elaboradas por ou tros socidlogos,historiadores e economistes, por nés mes mos, em opartunidades anteriores, dirfamos que — em sin tese ~ 2 partir de 1945, 0 penetracso intensiva do capital strangeiro, mediante investimentos diretos particularmente mhosetor manufatureito, conduz & desnacionalizapao progres va da propriedade privada dos meins de producdo. O capt tal estrangeiro comeca 2 controlar os novos e mais dindmi- tos setores da economia brasileira. Asfrabes mais Nicidas dda burguesia industrial parecia nfo restar outra alternativa Sendo 2 de assocar-se, na condigéo de sbciosmenores — Saueles capitas, Essa associagao delimita, a partir de ent, os pardmotros das margens de atua¢ao autonoma desss fre G40 burguesa nacional que, por uma questdo de sobrevivén. Sp, aelta um mediocre e inexordvel destino de classe dom nante-dominada E 6 assim que, na composigao do Estado brasileiro — apesar da manutencao das mesmos componentes do sistema de dominardo gerados a partir de 1930 ~ ocorre a meta tmorfose de s2Us antigos elementos, que se transmutam em agentes de novos interesses de dominacao ligads aos mono: polios internacionais. 0 Estado continua sendo burgués-oli (orquico, sb que permeado pela nova relatao que o transfor ima em Estado-associado a0 capital estrangeiro, 10 — TERRA FIRME 0 Governo Dutra — que aceita docilmente a politica da “defesa hemisférica contra a ameaca comunista”, diteda fpelos EVA durante a primeira querra-fris ~ ¢ representative Bo comeco do processo de associagao mencionado e pre fnuncia bem o que viria a ser a estreita vinculagdo do apare tho de Estado aos interesses fordneos e 0 alinhamento auto: tmatico, ou seja, 8s conveniincias de Washington, ‘Ao voltar & Presidéncia, em 1950, Vargas tratou de reagir contra essa abertura do Estado & politica da grande empresa monapdlica internacional e, apoiando-se na classe ‘peraria como base de sustenta¢ao politica, promoveu subs tantivmente 0 nacionalismo com a criagdo da Petrabras @ a proposta de implantacao da Eletrobrés. Contra ele se a fou, entio, toda uma conspirapao que culminou com 0 seu suicidio. A'Carta-Testamento, deixade por Vargas, é — de fato — um oto politico de denincia contra 2 exploraggo do capital estrangeiro em nosso pats, e uma frustragdo para os golpistas, cuja articulardo visava nao so & derrubada do um Governo incdmodo como a consolidarao definitiva do novo esquema de dominagao, frustragéo que se repetiria em 1955 (para impedir a posse de Juscelino Kubitschek) e em 1961 {pera impedir a posse de Joao Goulart). Seus designios se riam exitosos em 1964 ‘Juscelino Kubitschek — apesar de manter certo enval torio populista — adotou, de fato, medidas plenamente fa vordveis & intensificaggo da penetragdo estrangeira em nossa economia, desviando-se, portanto, da orientardo nacionalis- ta do segundo Governo de Vargas Muito significativa resultou, nos chamados Anos JK, a criagda do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), dirigido por Hélio Jaguaribe, com o objetivo de estimular @ tlaboracao de um pensemento nacional comprometido com fs postulados desenvolvimentistas que, no Continente, adquiriam vigéncia desde a fundarao da Cepal (1949), Esse pensamento — em palevras de Jaguaribe ~ deveria ser nacio: halista mas “Ado sectério”, ou seja, deveria abrir-se realist tcamente {!) 3 penetracao do capital estrengeiro. No entan- to, apos um curto perfodo, 0 Iseb passou 2 ser conduzido or uma intelectualidade nacionelista de esquerda que ir primiu aos trabalhos do Instituto um conteida. antiimpe- Fialste, apesar da manutencao de certos postulados desen- volvimentistas. 0 Iseb sob essa nova orientacd0, exerceu profunda intluéncia no pensamento cientifico e critico do pais, mas deixou aberta uma grande lacuna a0 nao lograr perceber a faléncia do projeto de um desenvolvimento na: Cional auténomo que nao percebia @ associago em marcha 4a burguesia nacional com 0 capital internacional No breve perioda governamental de Jénio Quadros {marco 2 agosto de 1962) néo se perfila nenhuma politica racional coerente na medida mesmo em que seu apoio os {ensivo provinha dos setores mais comprometidos com a as. Sociagdo mencionade, 0 Governo Jodo Goulart: as Reformas de Base @ as aspiracées democraticas 0 filho politico de Getulio Vargos, levado ao Pode’ pela resisténcia 20s golpiste, liderade por Leonel Brizola, procurou retomar os fios da politica nacionalista daquele apoiando-se no proletariado urbano, na oficialidade média das Forgas Armadas e — fendmeno inédito no pais — no campesinato que, em comecos de década dos 60, emergiria como elemento substantive no plana nacional pelas suas lu tase reivindicapdes em torna da posse de tera, A trajetoria do Governo Goulart se caracterizou por 'uma conjuntura de ascensda da movimento popular que, no Brasil como na América Latina, tinha como ponto de refe- réncia as facanhas espetaculares da Revolucao Cubana. Um sopro de esperanga percorria 0 Cantinente. Cuba — através das reformas Agraria, Urbana, Bancéris, Educacional, das nacionalizacdes das grandes empresas e do sistema financei 0 ~ lograva romper o velh sistema de dominacéo, enfren tando e derrotando o imperialismo, na mesma medida em {ue avancava no caminho ao sacialismo, Para os demais po: vos da América Latina, um exemplo pratico tornava possi vel = de repente — que velhas sonhos de mudancas sociais profundas fossem vistos coma vidveis e possiveis, No Brasil, esas mudangas ficaram conhecidas pelo nome de Reformas de Base. importantes setores das clas ses sociais despossuidas ¢ das classes médias se alistaram nas filas da luta por aquelas reivindicacdes. Operérios, campone- ses, estudantes, srgontes, marinhires, inolectuas, profi ais liberi, parlamentares aaconaists, todos evant 3 bandeias das reforms. Depois de meses de imobilismo (derivado do sistema pparlamentarista impasto pelos seus opositores), 0 Governo Goulart obteve uma verdadeira consagra¢ao popular ao ser }0 0 Plebiscito {janeiro de 1963) que Ihe devolvie os oderes constitucionais inerentes ao presidencialismo. $6 a partir de entéo, comecou-se a executar 0 Plano Trienal de Desenvolvimento que, elaborado pelo economists Celso Furtado, preconizava uma politica econdmica inspirada nos Dostulados estruturalistas da Cepal e, de forma eclétice, pre- TERRA FIRME~ 11 tendia também promover a0 mesmo tempo a chamada “es tabilizagdo monetéria”. Naquele entdo, » economia brasil ra atravessava um periodo de crise ciclica, agravada pela herenga deixada por Juscelino Kubitschek que, com sus po litica de “cinco anos em um” ou “desenvolvimento a tods custo”, baseara-se na captagdo de empréstimos estrangeiros fe na amplia¢do do déficit orgamentério para financiar os gastos do Governo. Para Jango e sua equipe, 0 dilema era claro: adotar medidas recessivas para conter 2 inflacio e estabilizar 2 ‘moeda, criando as condigdes de acordo com os moldes da acumulagao previemente estabelecidos, para um novo ciclo de expanséo econdmica, ov implementar as Reformes de Base que, promovendo uma ampla redstribuigao de rendas (de formas direta e indireta, imediata e mediate, favorece fia prioritariamente a economia popular e ancaria bases se- ‘quras para uma retomade firme do desenvolvimento nacio: nal. A primeira alternativa privilegiaria os interesses das clas ses dominantes e do capital estrangeiro, que aspiravam segu ranga @ estabilidade econdmica @ social; a segunda benef ciaria os setores populares. De qualquer forma, a opcao fosse qual fosse — pressupunha a existéncia de Um Governo forte, capaz de reprimir as descontentamentos e as pertur bares, viessem de onde viessem. Com bases de apoio herdadas do varguismo, era natu: ral que Goulart s6 visse como op¢ao 0 caminho das refor- mas, E foi com as vistas pastas nessa alternativa que ele con: ‘templou, em mais de uma oportunidade, a conveniéncia de “endurecer” seu Governo, cujo fato mais ilustrativo se en: contra no pedido que fez so Congresso de implantacéo do estado de sitio (Fins de 1963). Mas para conduzir, com éxito, uma politice reformis: ta, em enfrentamento aberto com a grande burguesia local e internacional, Goulart necessitaria muito mais que simples instrumentos coercitivos préprios das fungdes do aparelho estatal, Precisave de um instrumento orginico de mobiliza G0, ou seja, um partido (ou movimento tipo partidério) ar ticulado nacionalmente e capar nao sb de nuclear 0 eixo do politica de Reformas de Base, mas de sustentélo de mane ra continua e durdvel, preservando-o contra os interesses da direita (que estava muito bem organizada). Tal instrumento ‘do existia. 0 PTB, articulado nacionalmente, s6 existia pe ra fins eleitorais, A busca desesperada de um instrumento desse tipo foi que inspirou Leonel Brizola na organizagao 12 — TERRA FIRME ‘dos chamados “Grupos dos Onze", que comeraram a brotar espontaneamente por todas as partes camo iniciativas auda- 22s, porém desarticuladas e ineficazes(4). Por autro lado, naquela etapa histOrice, faziase impe rativa também uma ‘earticulagao institucional do aparelho de Estado, com vistas 9 democratizé-o e capacité-lo para implementacda das Reformas de Base. Era imprescindivel superar a desorganizacao, ambiguidades e polaizapées que, devido & ascensio do movimento popular, passaram a carac terizar 0 funcionsmento das intituigdes brasileres. Assim, por exemplo, via-se como nevessério deslindar responsabil dades com respeito as funcbes do Poder Executivo, supe ‘anda impasses na relagdo com o Poder Legislativa, era pre iso redefinir 0 alcance das prdprias hierarquias militares, questionadas por movimentos no interior das Forgas Arma as, dos quais o levante dos sargentos e marinheiros foi ape ‘as'9 mas visivelimprescindivel ere também atender i vindicagdes de auto-orgenizario de sotores assalariados femergentes, como os trabalhadores rurais ¢ camponeses, superar os entraves provenientes da velha estrutura sindical e atender 8s novas demandas do movimento operério em as censio;viase como urgente vibilizer,finelmente, uma 3 fie de aspirapdes das classes médias, em geral, e do movi- mento estudantil, em particular, no plano de uma politica ‘educacional e cultural mais dindiica, democrética e partic paiva As reformas institucionais necessérias a0 Estado bra: sileira, nos niveis representativo, militar, sindical e cultural, Constituiam, portanto, o pré-requisito bésico para a imple- mentagao de feformas estruturais posteriores que tornariam possivel o transito do pats para uma etapa superior em seu desenvolvimento, fortalecendo-o na luta por sua afirmacio ‘como Nagao soberana, independente e justa Mas 0 Governo Goulart falhou justamente nesse pon: to crucial, Nao foi capaz de tentar realizar essa redefinicgo institucional da Estado e no soube, portanto, organizar @ ‘ampla base social de apoio que dispunha, potencialmente, ‘pata executar uma politica de retormas profundas. Nessa becha se aplainava 0 caminho para o triunfo da conspira- 40 civikmilitar que, j8 no Poder, promoveria profundas transformagies no Estado brasileiro — no para democrati- zéslo, mas para fortalecé-lo como instrumento supereficaz de coergdo e represséo as necessidades e aspiragdes das clas- ss populares. O golpe de Estado de 1964 teve, pois, como objetivo central a liquidagdo terminante de uma linha politica nacio: nalista-eformiste, ¢ a consolidagdo de um nova modelo de domina¢do para assequrar os mesmos interesses associados a0 capital estrangeiro. Pretendia-se criar condigées dtimas para a nova etapa de desenvolvimento do capitalismo da- pendente, Como bem colocou Leonel Brizola, o Governo Gou- lart ~ apesar de suas debilidades e ambiglidades — néo foi derrotado pelos seus defeitos, mas pelas suas virtudes: por hhaver permitido a criagdo da CGT; por ter proposto ¢ lei de controle das remessas de lucros parao Exterior; por haver elaborado uma lei de Reforma Agréria; par manter relagdes com Cuba socialista, enfim, por no se caracterizar como um regime repressivo das massas populares, da cultura, da imprensa e nem daqueles que, abertamente, conspiravam buscando sua derrocada, 0 Golpe de Estado eo Projeto do Capital Monopélico Nacional e Internacional 0 goipe militar de 1964 ndo foi fruto de uma impo visagéo. Ao contrério, representou a culminagéo de um pro jeto alternetivo sotisticado e elaboredo previamente, em seus minimos detalhes, pela grande burguesia nacional asso ciada_ a0 capital estrangeiro, particularmente 20 Gaverno ddos Estados Unidos, que participou, de forma ativae direta, no desenho do projeto do golpe desde e sue gestarao até sua culminagg0, como bem 0 demonstra a pesquisa de René A. Dreytusst®) Para instrumentalizar, com éxito, 0 assalto definitive a fortaleza do Estado, pade-se dispor de imensos recursos financeiros, obtidos no pais e no Exterior. Por tratarse de lum golpe de classe — um ato politico-militar — em que a grande burguesia, em plena afirmagao de sua consciéncia de ‘Classe, para impor seus mais puros interesses de dominagdo 20 conjunto da sociedade, pode captar um apoio quase und- ‘nime de todos os setores das classes dominantes. A vangua- da golpista ~ agrupada em torno do Instituto de Pesquisas & Estudos Sociais (Ipes) — cinseguiu, de fato, reunir & sua volta todos os matizes ideoldgicos dos setores burgueses, desde 0s liberais passando pelos conservadores até 0s seg ‘mentos fascitizantes. A matriz ideologice principal — "segu Fanca e desenvolvimento” — se sobrepds as veleidades de- mocratizantes, sendo que o conceito de seguranga jé ndo respondia exatamente 3 visio ultrapassada da seguranca he- mistérica contra ume eventual ameara de invasdo por parte do campo socialista, mas a um imperativo de preservagao do sistema capitalista dependente em relacdo 2 seus inimigos imternos, ou seja, trabalhadores, operdrios, camponeses, classes médias empobrecidas, intelectualidade progressista, equena e média burguesias arruinadas pela crise, etc. A se uranga passou a ser concebids em oposico ao povo e em func&o dos interesses dos grupos daminantes de poder. Sem pretender tecer maiores comentarios sobre os elementos que convergiram para @ facanha galpista (o clima de caos e necessidade de “salvaco nacional” diante da “ameaga comunista™ criado pelos meios de comunicagao de ‘masses, as “marchas da familia, com Deus e pela proprieds: de”, nas quais se instrumentalizou a inseguranca das classes ‘médias © 0s movimentos femininas de direita criados em rovetas @ as fragdes ultraconservadoras da Igreja, etc.), é importante destacar elementos cruciais para a compreensio, da caracteristica essencial do levante de 64, que lve impr ‘miram uma especificidade que, por outro lado, se transfor- ‘mou em paradigma de processos similares corridos, a pos teriori, na América Latina, Tratese do papel das Forgas Ar ‘madas e do insofismavel caréter de classe burgués que assu me 0 Estado nos sucessivos Governas civico-militares Pela primeira vez, no Continente, as Forgas Armadas assumiram, enquanto tais, a gestdo do Estado, No entanto, a elite militar, que passa a deter o comando do Poder Exe cutivo, proveniente da Escole Superior de Guerra (ESG) © chamedo Grupo da Sorbonne, desde 0 fim da Ii Guerra Mundial consolidara fortes vinculos ideolégicos com os EUA que se erigira como modelo de democracia acidental fepresentava, go. propriamente os interesses carporativos das insttuigdes militares, mas sim ~ através de um comple x0 processo de simbiose militar empresarial — encarnava os interesses politico-econdmicas do grande capital nacional associado as transnacionais(6). Mas, como destacamos em anétise enterior(/), os grandes empresétios vinculados a0 TERRA FIRME— 13 T em |pes no delegaram a sous representantes uniformizados a implementagao de seus projetos, Sendo que assumiram pes- soalmente a responsabilidade direta pela execurdo dos mes mos. assim que podemas encontrar ~ durante 21 anos — fam todos 0s postos ministeriaischaves, a presenca fisica de tum representante da classe dominante associada a0 capital estrangeiro, Obviamente os militares se destacaram também fem altos cargos executivas, mas o fizeram como expresso da simbiose mencionada 0U, 0 que é @ mesma coisa, como tempresirios uniformizados, diretores de grandes empresas e conglomerados transnacionais, ‘Ao contrério da interpretarao feita pela maibria dos teoricos e analistas brasileiros — socidlogos, economistas, historiadores e jomnalistas — 0 Poder(8) nao passou a ser exercida por agentes-objetos da grande burguesia civil e mi: Titar — tecnocratas @ buracratas, ou tecnoburacrecia, como se convencionou chamé-las ~ 2 no ser em seus escales in ‘ermedidrios e secundérios. Durante os Governos dos Generais Arthur da Costa e Silva e Garrastazu Médici, 0 grupo da Sorbonne e demais membros civis do Ipes perderam a hegemonia do processo para retomé-la durante 0 Governo do General Ernesto Gei Sel, mas novamente se véer alijados dela a partir da metade do mandato de Jodo Figueiredo. Nao obstante essas mar thas e contra:marchas da “elite org&nica, para usar a termi rnologia gramsciana empregada por René Dreyfuss, e apesar de quo se tenha dado, de fato, uma alternancia de empress fios nos principsis cargos da administragSo publica e de co ‘mando do sistema, e ainda que a chamada linha dura pseu ‘donacionalista. tena assumido 0 controle do aparelho cen: tral do Estado em perfodos alternados, a verdade ¢ que 0 fio condutor de toda 2 politica econémica executada no Brasil depois de 1964 foi sompre coerente com os intereses do grande capital monopélico associado as transnacionais.* a (+) Terra Firme est promovendo uma perquisa sobre a vinculacfo Soe ministros dos governor militares com © grande capital interna ‘ional, (NE) 14 — TERRA FIRME —— A Institucionalizagao Liberal-Conservadora do Estado: Marchas e Contra-Marchas ee A instalagéo de uma nova institucionalidade — de conteddo conservadar e autoritério, mas de forma liberal — rho aparelho de Estado nda se deu de modo linear e conti hnuo. Preconizado pelo primeiro Governo militar, do Gene: fal Castello Branco, 0 projeto foi adiado pelo embate das Circunstincias durante as décadas dos 60 e 70, para so co: rmegar a ser promovido, a meias, na gestéo Figueiredo. Hus trativo desse adiamento encontra-se na suspensdo pratica da Constituigdo de 1967 — que retletia as aspiracdes liberais: conservadoras do Ipes — pelo Ato Institucional a? 5. A protelacao respondia ao fato de que, apesar da disposi¢ao Ue todos os GeneraisPresidentes de conciuiremseus manda tos em um processo de democratizacao, 0 temor de perder controle do Estado, devido as resistencias ostensivas de parcelas majoritérias da sociedade civil, fez com que adias sem seus objetivos iniciais e provocassem sucessivas marches ® contra-marchas na implementago de uma nove institucio nalidade. ‘A cada uma das manifestardes de desaprovacao, des contentamento e ainde de desafio a0 regime instituido em 1964, este — numa reaco natural de autodefesa — recuava ‘em seus propésitos liberalizantes e retomava linhas de atua G0 mais autoritérias. Assim ocorreu, por exemplo, em fins fa decade de 60, diante da ameara provocada pela ascenséo {do movimento estudantil que, somado 8 greves operérias & 3 apdo opasicionista de certos setores da Igreja Catblica, de- Sembocou nas tentativas de guerritha urbana e rural; logo, inos anos 70, as vitorias eleitarais do MDB ~ nica oposigao Consentida ~ € um novo ressurgimento do movimento ope: rério em fins da mesma década; e, por éltimo, 0 apareci- mento de novos partidos de oposicgo e a vitoria inesperada de Leonel Brizola, em comeros da década de 80. ‘Assim, as manifestagdes estudants eas a¢Bes da quer rilha, 0 Estado respondeu com uma desproporcionada re- pressio que, 20 institucionalizar 3 tortura @ 0 assassinato {dos opositores, fez recrudescer 0 cardter autoritério do regi me. Quando se concedeu a Anistia (agosto de 1979), no meio do processo de “abertura", muitos dos participantes, das ages querrilheiras relataram suas experiéncias em obras que deixavam patente a desiqualdade de forcas: de um lado, jovens combatentes com ume preparacdo militar minima, provides, no fundamental, apenas de imaginagao, audécia ¢ idealismo; e, do outro lado, um aparelho altamente protis sional que, tendo 8 sue disposigao a mais sotisticade tecno: logis e preparacao técnica, era respaldado nao s6 pelo Esta 0 como por uma assessoria narte-americana superespecia- lizada, ‘Ags resultados eleitorais de 1974, 1976 e 1978 — que confirmaram sucessivas vitoris de Onosipdo ~ respondou-se ‘com navas legslagdes casuisticast9), que tratavam de impe- dit 0 acesso a0 controle parlamentar das forcas majoritérias oposicionista. As reves operdrias realizades por setores de pon: ta do moderno proletariado industrial de Sd0 Paulo, fogo de uma primeira etapa de vitorias do “novo sindicalismo", ge Faram uma reacéo articulada e profunds do sistema, que tra tou de desarticulé-lo e imobilizé-o mediante repressio dire 1a, intervenea0 nos sindicatos, dispenss dos grevistas e afas tamento de seus dirigentes, Finalmente, 0 Governo insistiu na manutencio da eleigao indirets para a presidéncia da Repiblics, que fora instituida pelo Ato Institucional n9 2 contra a vontade da ‘maioria absolute do povo que, nas ruas, manifestou — de forma até entao inédita no pais — sua vontade e decisio de participar na escolha do cargo politico mais importante da Nacao. Manifestagdes multitudindrias sucederam-se, uma apés outra, em todas as capitais rasileiras. O comicio da Candeléria, no Rio de Janeiro, que reuni 1 milhao de pes soas, e o da Praga da Sé, em Sao Paulo, com 2 milhées, fo: Tam marcos inesqueciveis pare a meméria democratica br sileira. A palavra de ordem “diretasjé" tendeu a se trans formar — conforme palavras do entdo presidente do PDS, José Sarney — em caudaloso movimento que representava “um estuério de insatistarGes de distinta natureza A iinsistencia do regime na manuten¢3o da f6rmula in: direta obedeceu, claro esta, 3 sua inseguranga em relacdo 0s resultados negativos que certamente obteria numa vota e20 popular. Por isso, tratov-se de coagir a sociedade civil ‘numa ago ebrengente que se estendeu a0 proprio partido oficial, Pressionado pela direita mais recalcitrante, 0 proprio Presidente Figueiredo teve de recuar em meis de uma oce sio: aproveitando viagem ao Exterior (Africa e Europa), ele se manifestara favoravelmente & votagéo direta para a esco- tha de seu sucessor, posigdo da qual teve que renegar em se guide pois jd havia sido obrigado — inclusive ~ a pranun Ciar-se antetiormente por meio de uma cadeia de radio e te levisio, contra a eleigao diteta, argumentando que esta seria. inoportuna e intolerdvel. Como seus antecessores, o Presidente Figueiredo assu mira 0 Poder prometenda restaurar a democracia, A dite. renga entre ele e os que 0 antacederam residiu no fato de que 0 processo de aberture liberalizante logrou ~ durante seu mandato — avangos substantivos, expressados na con: cessio da Anista (projeta impulsionado mais por movimen: tos da sociedade civil que pelos parlamentares do Opos: 80... .), na realizacdo de eleigGes diretas para governadares, deputados e prefetos (excoto nas capita e municipios con: siderados éreas de seguranga nacional), na implementacio do uma série de reformas modernizadaras como as do Cédi. 0 Civil (que incorporou, por exempla, concesséo de direi- tos civis mais amplos as mulheres) e da Lei de Seguranca Nacional apesar de que se tenham mantidas as salvaguardas constitucionais que facultam ao Presidente a decretacio do estado de sitio sem prévia consulta ao Parlamento). Tais avancos expressavam ~ sem divida — 2 vontade (e nacess dade) do regime de promover o projeto de insttucionalize {0 do Estado liberal-conservador, preconizado desde a épo ca do primeiro Govern militar. Nessa vantade do Governo de impulsionar 2 “aberturs” nao se pode esquecer do papel central favorével a esta abertura jogado pela grave crise eco niomica, Esta, se por um lado, acentuava o desespero das po- Duaptee de taixa rende levando-as a protests esponts neost10) e, em geral, andrquicos, pelo outeo, reticava, mo mentaneamente, como consequincia d crise, dos segmentos socials hstoricamente mais combativos e organizados na sua capacidade de mobilizardo para a lute, Os perfados de crise sio, portanto, mais que adequadas ~ do ponto de vista das classes dominantes — pata remanejamentos insttucionais que, ‘eformando spectos néoessenciais da dominacao Criam congigdes objetivas para uma sobrevida do sistema ¢ para 2 realizagéo das reforms liberal-conservadoras No cas0 brasileiro, se o Estada incorporou uma série de conotacies institucionais de perfil neofascista, ndo foi TERRA FIRME— 15 ee porque representasse propriamente o modelo ideal de domi- ‘nagao proposto pela alianga burguesaimperialista, mas sim porque expressava um processo de radicalizacdo desespera- da 8 qual foi conduzido pela ameaca do acirramento das tensbes sociais, Os mentores @ executores mais licidos do golpe de 1964 nao aspiravam a esse modelo, embora tenha si: do esse o resultado concreto do proceso. Em uma andlise anterior, feita a meados das anos 70, dizfamos que “a gran de burguesia, seus quadros politicos e militares mais léci- dos, regorrem ao fascismo de mé-vontade e com o nariz ta ppado" (11), A Fascistizagio do Estado 0 processo de fascistizagdo do Estado brasileiro, so no rearesentou 0 projeto das classes dominantes, foi, 80 obstante, instrumentalizado por elas, especialmente durente 0 Governo Médici, no qual os satores dreitistas, a chamada “"intia dura” controlou a diregao do Poder mediante golpes de mao sucessivos, fortalecendo, a0 méximo, as funrdes @ podkeras do Chae do Executv, na tentative de ei um fiiheer criou Na nossa descrigéo do periodo: "(_) tratouse de implementar uma forte mistica da Uunidade nacional, da ‘patrie-grande’ “Brasil grande-potén cia, do “milagre” que se apoiava basicamente na recupera- {G20 econdmica que parecia inaugurar uma era de progresso para o pais". Paralelamente, desencadeou-se uma intensa Campanha de “educacdo civica’ tratando de resgatar‘valores” racionais @ inculcar, sobretudo entre a juventude, ideats de ‘um patriotismo chauvinista que, a falta de melhor bandeira, aglutinow se grotescamente em tomo dos éxitos da selerao de futebol. Concomitantemente,tratou:se de liquidar @ mais au tBntica cultura popular mediante censura 20 teatro, 8 mis: a, 20 cinema. Tentave-se transformar cada cidadéo em um policial, um delator ov um covarde, temeroso de suas pro- prias ids, “A ofensiva fascistizante teve seu ponto culminante entre 1969 & 1973. No plano internacional, a tentativa de 16 — TERRA FIRME transformar 0 pats em grande poténcia levou & interven¢ao semi-encoberta na Bolivia (no golpe que derrubou o Gover. ‘no popular do General Juan José Torres, em 1971), no Uru: ‘quai (planos de intervengao aberta caso’a Frente Ampla ga- iMhasse as eleigies de novembro de 1971) e no Chile (para derrubar 0 Governo socialista de Salvador Allende, em 1973). A idéia de exporter 0 ‘modelo brasileiro’ de ‘segu- ranga com desenvolvimento’ encontrou logo muitos adeptos ‘em varios paises latino-americanos...”(12), 0 Ato Institucional n9 5 imprimiu ao Estado um in- sofismvel caréter totalitério, Ao Presidente da Reptblica — situado por cima de qualquer instituicgo — facultavase o di Feito de decretar recesso parlamentat, promover censura 20s meios de comunicacao em eral e 8 correspondéncia privada dos cidadaos, suspender as garantias individuals, como 0 re Curso de habeas corpus, intervir em associacoes civis, mas- saorar opositores, calar @ Nagao. Ao superdimensionamento do Poder Executive ~ que, por si, j8 nautralizava totalmente qualquer ago do Par lamento e' do Judicigrio — agregou-se a determinacao de pasar @ um Supromo Tribunal Militar todas aquelas ques {es consideradas de seguranca nacional que, obviamente,, adquiriu um sentido muito lato, Assim, suspendiam-se as go Tantias da magistratura, cassou-se 0 direito ao voto para ee ter governos estaduaise preteitas das capitas,além de 103, Municipios considerados areas deseguranca nacional, cujos cargos passaram a depender de nomeacbes do Presidente da Repiblica que — entre outras — tinha ainds as prerrogativas de anular os direitos politicos de qualquer cidadso, cassar tmandatos, remover ov aposentar funcionérios pablicose, fi nalmente, decretar 0 confisco de bens @ o estado de sitio, A ‘nova Lei de Seguranga Nacional, promulgada em 1969, co Toave 0 poder absolutoe autoritério do Executivo. Como bem consideraram estudiosos do periods, @ " andlise juridico-institucional n@o consegue captar a realida de do autocratismo em toda a sua brutalidade”, pois “para completa 0 quad, seria necessério examinar, com riqueza de detalhes, tudo 0 que se passou no terreno efetivo das préticas repressvas", j4 que "6 onde se pode observar até {que ponto os orgs de seguranga se constituiram como ver dodeite ‘Yorca autdnoma’, situada por cima da propria or dem autoritérie e poderosa o suficiente para persegui, se- uestrar, torturer © assassinar” a quem quer que fosse "sem ter de prestar contas @ ninguém de seus atos” (13), Contudo, o centralismo ditatoral se expressou sinda pela mediagdo de outros setores governamentais, que tam: bbém comecaram a atuar como ‘forcas auténomas’ em certos nivels da vida econémica, na vida. sindicale outros. Assim, no plano econdmico, se implementou uma verdadeira dite dura da Secretaria do Planejemento (Seplan), que passou a diter a politica econdmica que mais canvinhe ao grande ca pital, independenternente do concurso ou das sugesties de vaSt0s significativos setores, inclusive do empresariado, pa ‘@ no mencioner a opinio piblice, Da mesma meneira, 0 Poder central se outorgou a direito de captar os recursos tr butérios de Estados © Municipios, deixando-os sem instru ‘mentos minimos pata satistazer necessidades elementares de suas administragbes. Em relacdo 8 organizagdo sindical, sem levar em con- sideraed0 qualquer critério de representatividade, o Estado acentuou 3 represséo entre a nova lideranca que des pontara durante 35 greves de 1968, designando interven tores e decidindo estrangular certos sindicatos,utilizando a legislacda do trabalho p6s64 que anulou conquistas funda imentais da classe operéria como a estabilidade no emprego, obtida no Governo de Vargas O sistema eleitoral brasileiro foi também subvertido ‘par uma série de medidas cujo objetivo era fazer da minoria ‘eal uma maioria ficticia de apoio incondicional 20 Govern central Finalmente, a tendéncia contralizadora absoluta fez-so presente também no interior das Forgas Armadas que pas Sou a auto-alimentar-se mediante um sistema (informal, no rém real) de auto-recrutamento através dos filhos dos of Ciais. [90, que jé existia como tendéncia antes de 1964, pas s0U a ser quase uma regra, constituindo um fato de grande significagdo na medida em que as insttuigdes militares pas sovam 3 cumprir um papel de prado e reproduc deal tes ‘A nfo-correspondéncia desse autoritarismo com um ‘modelo mais sofisticado de Estado burgués respondia, em primeiro lugar, & inseguranca da propria burguesia (ou de a: uns de seus elementos) diante de um esquema autocrético de Poder que nao imuniza ninguém (0 arbitrio é ou preten de ser onipotente), e, em segundo lugar, devido a0 fato de ‘que — na situagao do mundo atual e da América Latina, em particular — resulta mais ‘segura’ para as clases dominantes, autarem as regras de conduta institucional pelos cénones da democracia liberal-conservadora. Por tltimo, mas no menos relevente, em fungao do temor que inspira aos seto ‘es mais conscientes das classes dominantes a ameaca de um Poder militar com tendéncias autonomistas e nacionalstas, sia de direita ou, sobretudo, de esquerda, Tal temor so acentuou, nos anos 60, com a experiéncia do Governo mil tar peruano do General Juan Velasco Alvarado, que inspi rou a adocao de uma significativa linha politica restritiva ao rilitarismo governamental por parte da Comisséo Trilateral, cujo conteddo ideolégico foi claramente sistematizado por SP. Huntington, em significative artigo escrito na época, baseado na experiéncia peruana ‘As seqiielas do arbitrio — como 0 desrespeito sister: tico 0s direitos humanos, 0 terror, a corrupedo e o clima de inseguranga que vulnera a vida cotidiana do cidadao, pre dispondo-0 a agdes oposicionistas e, ainda mais, as veleide des nacional-autonomistas (em geral, oportunistas,irrespon: siveis e megalomaniacas que cultivam certas castas milita res) — néo podem deixar de inquietar a elite empresaria que recorre 8 militarizagao do Estado s6 como recurso de sesperado de sobrevivéncia, nos periodos de aguda instabili dade e crise social. Dessa maneira, a Trilateral evidentemen: te no simpstizeva com a reforma agréria e outras medidas tomadas pelo Governo de Velasco Alvarado, no Peru, como ‘no podia simpatizar com as expressbes de autonomia rela- tive dos projetos proposios e implementados pelos mili res brasileiros, como, por exemplo, a interiorizagao em dire 0 2 regido amazdnica (em oposigéo ao projeto do Insttu to Hudson, de Nova torque, de construgao de sete lagos na regido, para taz%-la mais permedvel & penetracéo das trans nnacionais), @ construgao das usinas nucleares e, muito me fos, com aventuras perigosas tipo Guerra das Malvinas, Sé0 esses as razbes de fundo que impulsionaram o provesso de "descompressdo controlada”, no Brasil, inicia do pelo General Geisel, e 0 da liberalizagdo e “abertura res ttingida’” do perfoda Figueiredo. Essas ‘so também as <2 76es que impulsionarem as aberturas democrdticas na Ar gentina e no Uruguai e, por certo, o fardo no Chile) TERRA FIRME— 17 ee 0 Projeto Liberal-Conservador —— A partir, portanto, de 1973, comerou-se @ processar, no interior das prOprias classes dominantes, uma sistemstica resisténcia & institucionalizarao fascsta, e uma busca da re tomads do projeto liberal-conservador, que obtém seu pri imeico grande éxito com a escolha do General Geiset — um hhomem do Ioes — para a Presidéncia da Replica A pattir de seu Governo e, logo, no do General Fi- queiredo, 0 projeto literal-conservador foi tomando consis TBncia, através de medidas que paulatinamente fam sendo adotadas: 1 — a “descompresséo controlada"” implicava, nos fe tos, num “abandono gradativo dos instrumentas de coer 30" por “processos de mobilizacdo de lealdade (a0 regime) via persuaso”(16); foi @ etapa preparatoria do ambiente politico e social para a suspenséo do arbitrio, 2—a “abertura politica” significou, mais que nada, a dorrogaco do Ato institucional n® 5 e a conoessao da Anis. tia, e buscava atingir dois propbsitos: a retomada do Poder Executivo pelos civis ea volta das Forgas Armades 8 caser 13; 3 — a manutengdo des salvaguardas institucionais ara vis de vigéncia da Lei de Seguranca Nacional, ainda que re- Yormada e suavizada em alguns aspectos; das eleicSes indire tas para Presidente de Repdblica (que significava resguardar tum importante espaco politico exclusivo pare o mesmo gru- 0 dominante) e 0 ragime eleitoral restrtivo (proibigdo de coligagdes, designacdo de Prefeitos das capitals, etc); 4 — 0 condicionamento das estrutures partidérias por uma série de limitaedes provenientes das dificuldades inter ppostas pela Lei Organica dos Partidos Politicos que, em seus moitiplos e intrincados requisitos burocréticos, transtorme ‘vam a orgenizagao das bases de qualquer partido popular em uma verdadeira peripécia com escassas chances de éxito, 5 — finalmente, 0 condicionamento da opinido publi ‘a pelos meios de comunicaao que, liberados pela censura, continuam controlados pelo poder econimico concentrado que 0s transforma em auténticos porta-vozes dos interesses dominantes e veiculos (de) formarao de opinido em Fungo das conveniéncias das_transnacioneis| 18 — TERRA FIRME (0 projeto liberal-conservador pode, assim, ser defini do como conformador de um regime constitucional, no {qual o papel reservado as Forcas Armadas ¢ 0 de querdias e eladoras da unidade nacional, sem participagéo direte na ditegdo do Estado, assumnindo somente a funcéo de forca de reserva do sistema, podendo ser utilizadas para intervir em ‘qualquer eventualidade queameacea“ordem. Esse regime Cconsagfa. uma vida politica liberal, porém restritva de cer tos diteitos politicos basicos como, por exemplo, a legalize Gao de partidos considerados subversivos.E liberal no sent: Go de aceitar um marco institucional legalmente definido, que respeita a divisdo dos poderes, a representatividade elei- toral e outros prinefpios da ordem deseniada pela doutrina Tiberalista. Mas é também conservador na medida mesma em (que — para atender a interesses de uma minoria dominan te— deve ser restritiva @ autoritaro, Por isso, 0 projeto empreendido por Geisel Figueie do e sua equipe, situavase bem lange das aspiracbes de ou to-organizaclo e participagéo dos mais ignificativos e majo- fitrios segmentos da sociedade brasileira, que néo encon- traram nenhum espaco pare manifesta e afirmar suas pro postas e metas no seio da ordem social reformada desde tima.petspectiva sinda nitidamente autoritria, 0 autorite rismo, subjacente @ qualquer Lei de Segurang Nacional, © encrustado na reforma partidéria, cria uma sucessdo de pe quenos e grandes obstéculos burdcréticos, econdmicas e de utros tipes 8 formagao de partidos populares, Esse autor tarismo esteve presente em cada uma das timidas reformas empreendidas pelo sistema, a partir de 1964 Por outra parte, é necessirio insstir em que tal proj: to deve ser compreendido dentro das limitagdes substant vas dadas pela situago de aguda crise econbmica que, 20 mesmo tempo que o passibilita ~ como destacamos antes — também imprime nele 0 seu selo ao ressaltar mais os aspec- tos conservadores que os liberais. A politica econémice ado- tada pelo Presidente Figueiredo, por exemolo, para enfren- tar a crise foi 2 ortodoxia ultraconservadora ditade pelo FMI que, em seus componentes principais, néo é nove nem na América Latina, em geral, nem no nosso pais, em parti cular. Suas linhas fundamentais s80 as mesmas que, impos- {as a muitos Governos, no Continente, a partir dos anos 60, definicam as normas de atuacao do Paeg (Plano de Emer ‘ncia do Governo}, elaborado por Roberto Campos, oen- ‘G0 Ministro do Planejamento do Presidente Castello Branco. 2 3 O cumprimento dessas metas criou os pré-requisitos para o chamado milagre econdmico brasileira através da famosa politica da triple contencao: dos salrias, das eréditos as pe- quenas ¢ médias empresas e do gasto piiblica, e como can sequéncias ‘naturais’: 0 empobrecimento dos assalariados, a quebra maciga de pequenas @ médias empresas e a acelera {80 e aprofundamenta do processo de cancentragao e cen: ‘ralizagao da economia Essa politica econdmics, que levou 0 Brasil a ser 0 primeiro pais do mundo em termos de concentragao da ren- da, se baseou na superexploracao de farca de trabalho! 18), fa ‘epressio a0 movimento operdrio © popular, na entrege paulatina e continua dos recursos naturais aa capital estran. geiro, no favorecimento da montagem de uma monstruase méquine de corrup¢ao apoiada no Estado (o que ficau pa: fe quando veio a pitlico uma série de grandes escdnde los financeiros, negociatas, que prosneraram com a cumpli cidade de Ministros como os casos da Capemi, Delfin, Co- 2:Brastel, 25 polonetes e outras)( 9) e, finalmente, no crescimento de uma divida externa, que também outorgou 0 pais um outro titulo de campedo mundial: o de maior devedor do Terceiro Mundo, com débitos que ascendem @ mais de US$ 100 bilhdes, ‘A consolidaeao desse tipo de prética politica supée, naturalmente, 0 fortalecimento do capitalismo de Estado Diga-se, de passagem, que a intervencao do Estado na eco ‘nomia brasileira foi muito além das fungBes meramente re gulamentares ov das tarefas de empreendimento da promo Gao do desenvolvimento infraestrutural necessério para a expansio das empresas privadas. Além dessas funcies ‘natu fais, 0 Estado passou a implementar uma fungao “especifi camente nova” consistente na "expansio do investimento produtivo direto, pelo Estado, em setores capitalisticamen te tentéveis", como destacou Femando Henrique Cardo- so(20], se, na sua origem, os investimentos estatais em ov: tros seiores foram decorrentes de recursos obtidos através, do recolhimento de taxas e impostos, nos momentos seguin- tes se teproduzem e se ampliam através de lucros gerados ‘por empresas estatais” nas reas, por exemplo, da petroqui- ‘mica, mineragdo e bens de consumo duréveis. Isto fez com que 0 setor publica chegasse a participar, na décade de 70, ‘com mais de 50% na formacéo anual do capital fixo, segun do destaca 0 mesmo autor, e, hoje — podemos acrescentar — essa participagdo ascende @ 75%, além de ser o Estado proprietério de 56 das 100 maiores empresas que operam ro pais, em termos de patriménio e valor da produgéo, A participardo do Estado na economia, além de cor responder as necessidades do pracesso de acumutardo, que 1130 podem ser supridas, em um primeiro mamento, pelos investimentos privados, foi estimulada, no Brasil, pelo aven: tureirisma dos setores militares “nacionalistas” que, em sua Imanitesta megalomania, orientaram @ elaboragao de proie- tos tais como a construggo da usina hidrelétrica de Itaipu, as usinas nucleares e outras obras faradnicas que, apesar de em um primeira momento — terem aparentado equidis tancia de orientaco das empresas monopélicas, particular mente norte-americanas, terminaram por consolidar ainda mis @ dependéncia do Estado brasileiro com respeito 3s transnacionais e 20 sistema financeira internacional, medi ante 0 fomento a um desmesutado ¢ irrespansével endivide- mento externa, Apesar da significative campanha “antiestatizante”, desencadeada em fins dos anos 70, pelas grandes empresas ‘monopOlicas, que se sentiam marginalizadas dos lucros abti dos pelo setor produtivo estatal, 0 fato 6 que este assumiu, ‘no perfodo, um "cardter eminentemente estabilizador e an: ticiclico” da economia em sua primeira etapa de crise, 30 sustentar taxas de crescimento no setor de bens interme: didrios, onde se concentra majoritariamente a produgao es tatel(21).€ bem verdade que, no momento atual, essa fun- 0 foi superada pela politica de cortes e restrigdes nos in Vestimentos ¢ gastos estatais, adotada pela equipe econdmi- ca do Gaverno Figueiredo, com 0 objetivo de adapter nossa economia & politica recessiva imposta pelo FMI No entanto, 0 aprofundamento de crise capitalista a nivel internacional ~ com agravantes sérios, no cendrio na cional ~ fez com que, a0 iniciar a década de 80, 0 Governo Figueiredo se depatasse com a mesma teimosa alternativa que, nos anos 60, tivera que enfrentar 0 Governo Goulart adotar @ortodoxia restritiva do FMI ou empreender protun: das reformas de base, E, assim como @ Goulart nao Ihe res tou outra opeao que a politica retormiste favordvel ens inte- resses populates, 3 Figueireda néo restou senao a opcao do monetarismo, promotor dos interesses monopolicas, da po- Iitice concentradora de rendas, marginalizadora e excluente dos interesses da maioria nacional e, por tudo isso, intrinse camente antipopulsr TERRA FIRME— 19 ae See eee ee ee Dificuldades e Contradi¢oes do Processo de Abertura: um Estado Liberal-Conservador ou uma Democracia Popular? 0 regime atravesa, pois, ume etapa permeada de agu dds contradigbes, Por um lado, necessita prossequir a imple tas ragao dos reforms institwcionas pate que Ihe sea Dos sre eongolidar seu modelo politico de um Estado ‘moder se ja de corte liberal-conservador; pelo outro, encontia sina antemente encuttalado plas presses das clases do cots, ultimamente, também por alguns segmentos das crear dominantes mais convictamente liberas ¢ social de craesras, pata que processe uma mais ampta redefiniga0 do to areesate, Tais pressbes tendem 2 recotocat, om cada Foo rato. a possbiidade da retomada do autoritarsmo il retinal, 2 a¢do justiceira ~ ainda que limitada ~ age, polo Governo de Rail Alfonsin, na Argentina, cor adorate Prtaes envolvidos. no chamada “quera Su" < ra sacar muitas das inquietagbes ftentes naqueles bre wa sad responsdveis pela repressa0 dos anos 60 e 70 © por Grimes financeiros contra a economia popUt=t Contudo, ndo nos parece possivel, @ curto prazo, um reyorno ao autoritarismo, pois ado existe, no momento, ne {eta ameaca significative de “subversio da order 0 se arte Gposiedo de esquerda, Tiderada por Leonel Brizola, passou por um processo de amadurecimento e se propoe,2 pvsacdo cautelosa 0 orginica com vists & acumulado de forges. a médio prazo, que permita, no futuro, aglutinay me Tho segmentos oposicionistas dispersos em varios partidos Dina duputar dento da legalidade demacréticoburaues 2 ae ireede um camino pare o Poder @ partir do qual sea revel encontr 9 atalho mais dieto que conduza 20 So cialsmo. ‘A oposiggo concentrada no maior partido nacional que 6 0 PMB, est sob 0 controle dos Iibera-conseragn Tae ules liderangas de maior peso dispéem da plena Con franca do sistema e, ocupando a alternancie do Poder, trate 15 de levar até o fim o processo em curso de reformas ins {irucionais, sem alterer, em nenhum aspecto substantivo, © ‘tual esquems de dominacéo. 20 — TERRA FIRME 1A oposigdo mais sactéria, aglutinada no PT. pela oy sdncio de elareza ideologica, pelo sau radicaismo multas ve ne antureiro @ por suas matiples dives internas, ndO ‘ossul peso politico sigiticativo no cenério nacional e, pot core tapacidade de intervengso relevante no mesmo, pelo ‘menos 2 curto prazo. ‘A. insisténcia na eleigd0 diteta para Presidente da Re- pblica por parte dos etores dominantes contra a onin i & Fossjos de 90% da popularso brasileira, deve ser explicad, Galo temor de que, em eligdes dicts, repita — 2 nie) Petional ~ 0 surpreandente fenémeno que ocorreu no Ao Je Janeiro: a vitoria de Leonel Brizola. Este — 6 bom aso qeovecer— pelas suas definigdes claramente antimperialis TG considerado pelos militares da linha dura e peta bu Quesia nacional asociada & transnacionais como o “in ‘migo principal”. Diante desse quadro. pensamos que ~ como perspec tivas imediatas a serem vislumbradas para o Estado e p2ve > (Mdkedade brasileira — 0 regime tem o proppsito de cont Mar implementando seu projeto de abertura libersl-conset- adore, que permita sve auto-reproducao "egitimada una vary, pels eleiczoinireta, se esolhou um Presidente

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