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A RELEVÂNCIA DA OBRA MISSIONÁRIA

Por Rev. Samuel Vieira

Introdução

O livro de Jonas é eminentemente missionário. Fala como poucos livros do Antigo


Testamento sobre o projeto de Deus em alcançar outros povos e da necessidade do povo
de Deus olhar com amor os pagãos. Isto parece estranho porque à primeira vista, pode-se
ter a impressão de que não existe conceito missiológico no Antigo Testamento[1]. No
entanto, o Deus das Escrituras, apresenta-se sempre como um Deus missionário. Estas
verdades são primeiramente anunciadas em Abraão quando este é escolhido e enviado
com a missão declarada: “em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.3)
e “Pai de numerosas nações” (Gn 17.4,5). Deus estava preparando um povo para exercer
um sacerdócio universal, para abençoar todas as nações. “Já em 1936, K. Hartenstein
assinalava (embora noutra conexão) que os primeiros capítulos de Gênesis são de
significado especial para a teologia da missão”[2]

Carriker afirma: “todas as nações são o alvo da preocupação e propósito divinos.


As nações fazem parte integral do drama e atividade de Deus. Não são meros enfeites
incidentais no cenário da criação. Os atos de Deus são dirigidos por toda humanidade no
relato do início da história como também o relato comovente de seu fim, o livro de
Apocalipse”[3] p. 16

Queiroz segue a mesma linha de pensamento, segundo ele, Deus chama Abraão
“para, através dele, formar a sua nação especial, com o fim de usá-la para abençoar os
outros povos da terra. Deus organizou a nação de Israel com propósitos missionários[4].
Ele queria abençoar todas as nações e tomou o povo de Israel para ser “sua testemunha”,
mas infelizmente esta nação foi rebelde e se distanciou de Deus, e se olharmos para as
páginas da Bíblia que relatam a história desta nação verificaremos claramente a sua falha
em não cumprir os propósitos de Deus”[5].

Blaw,[6] faz uma distinção entre o que ele chama de mensagem missionária do
Antigo Testamento e mensagem universal. Para ele, o povo de Israel não estava olhando
de forma expansionista e missionária. Entretanto, ao olharmos toda a história de
Israel veremos a mesma mensagem sendo repetida de tempos em tempos, demonstrando
o contínuo propósito de Deus em tornar conhecido seu nome entre todas as nações, como
percebemos no Salmo 67. A base da eleição de Israel como povo peculiar de Iavé era
uma compreensão de que sua eleição fora dada para o serviço. O povo deveria entender
isto como comissão. Deus pensava numa nação sacerdotal. O que os sacerdotes são para
o povo, Israel deveria ser para o mundo.

Ao fazer esta distinção, Blauw afirma que “embora o ponto de partida do Antigo
Testamento seja universalista, a ideia de missão ocorre apenas esporadicamente ou está
totalmente ausente.”[7]

Não é fácil concordar com Blauw neste aspecto. Apesar de vermos este
universalismo explícito no Antigo Testamento, por outro lado, vemos uma disposição na
mensagem dos profetas de que a mensagem dada a Israel pudesse se tornar conhecida de
todas as nações.

Esta compreensão se torna clara no ministério de Jesus, que queria resgatar o


propósito original de Deus para as nações, e à missão que havia sido dada a Israel. Quando
expulsa os mercadores do templo, Marcos afirma: “também os ensinava e dizia: Não está
escrito: A minha casa será chamada casa de oração para todas as nações?” (Mc 11.17).

O livro de Isaías, de forma muito particular, tenta por diversas vezes demonstrar
a universalidade da mensagem através do seu profeta. Fala de um povo que não conhecia
a Deus, mas que seria chamado povo de Deus; afirma que a casa de oração (Templo de
Jerusalém), deveria ser casa de oração “para todos os povos”. As profecias missionárias
de Isaías são ainda mais específicas nas duas Canções do Servo de Iavé, em Is 42.1-7 e
49.1-7, quando explicitamente o Servo tem a missão de revelar a justiça de Deus às nações
(42.1) e para ser “luz das nações” (42.6 e 49.6).

O Salmo 67 também possui um conteúdo claramente missiológico.

“Seja Deus gracioso para conosco e nos abençoe, e faca resplandecer sobre nós o rosto;
para que se conheça na terra o teu caminho e, em todas as nações, a tua salvação” (Sl
67.1-2). Quando o Salmista ora para que Deus os abençoe como nação, estava pensando
no chamado e na vocação de tornar conhecido, entre todas as nações, a salvação que vinha
de Sião.
Apesar de inúmeros textos, o povo judeu não se tornou um povo missionário, antes
perdeu o senso do chamado de Deus para suas vidas. Voltaram para si mesmos, tornaram-
se cada vez mais introvertidos. “O maior escândalo do Antigo Testamento é que Israel
tentou ser abençoado sem tentar se esforçar para ser uma benção”[8]

Esta visão judaizante é tão forte que mesmo entre os discípulos de Cristo, que
foram chamados para “pregar o Evangelho a toda criatura” e serem “testemunhas até
os confins da terra”, eles encontraram grande dificuldade para iniciar o projeto
missionário planejado por Jesus. E quando, afinal saíram para pregar, tiveram que se
explicar no Concílio de Jerusalém. A Igreja teve uma reunião histórica para “definir”
aquilo que Jesus já lhes havia ordenado. A narrativa se encontra em Atos 15.

No livro de Jonas percebemos alguns princípios extremamente importantes sobre


missão:

1. Missão é obra que sai do coração de Deus - Missão não é um projeto do povo de
Deus, mas é um projeto de Deus para o seu povo. Aliás, o povo de Deus muitas vezes
teve dificuldades para realizar o projeto missionário.

A Igreja de Atos só começa a fazer missões depois de uma violenta perseguição.


Mesmo vivendo dias de avivamento, a igreja não estava realizando seu projeto
missionário, e Deus, para que seu alvo se concretizasse, moveu contra ela uma oposição
política, utilizando para isto o seu primeiro agente missionário que foi Herodes (At 8.1).

O cerne da grande estratégia de Deus para o mundo é o chamado missionário. A


igreja só realiza seu alvo quando se torna missionária na sua prática. A missão da igreja
é fazer missão. Ela não existe para si mesma e é o único grupo de fraternidade que não
tem objetivo apenas de auto-sustentação e cuidado com seus membros. Ela existe para
exercer seu sacerdócio, sendo chamada para sair de si mesma e ir ao encontro daqueles
que não têm nenhuma relação com ela e eventualmente são até seus perseguidores.

O conceito de um Deus missionário permeia as Escrituras, e porque missões é algo


que sai do seu coração, Ele envia seu Filho amado, para ser missionário entre nós; “A
Bíblia na verdade começa com missões, e missões é um tema central por toda a Bíblia, e
conclui em Apocalipse com espontâneo júbilo de alegria, porque o mandato missionário
foi concluído”.[9]

A obra missionária não sai do coração da igreja, mas sai do coração de Deus.

É assim em Atos 8, quando sob perseguição a igreja sai anunciando a palavra aos
gentios, pela primeira vez. É Deus quem inicia o processo. O mesmo se dá em At 13.1ss.
quando a igreja está passando por um avivamento, com muitas pessoas se convertendo a
Jesus, e durante um período de consagração e entrega o Espírito Santo diz: “Separai-me,
agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado” (At 13.2). Os discípulos
estão fazendo suas atividades naquela igreja local, e Deus os incomoda para fazerem
missões em outros lugares, separando seus melhores líderes para o projeto que Ele mesmo
tinha em seu coração. A obra vem do coração de Deus.

Por esta razão missiólogos falam hoje sobre a “semente do verbo”, ou “bússola
cultural” (Don Richardson), afirmando que antes dos missionários chegarem ao campo,
Deus já visitou aquele povo deixando sinais de sua presença e criando símbolos e
conceitos que facilitam a proclamação do Evangelho. Pensando neste conceito, Don
Richardson começou a estudar diferentes povos para encontrar estes sinais da presença
de Deus.

Um dos exemplos citados vem do Hinduísmo que tem como livro sagrado o
sâncristo (Vedas), do tempo de Abraão. Neste livro existem várias profecias. Uma delas
fala de uma árvore de cabeça para baixa. O que faz a árvore ficar assim? Um tornado ou
um trator? Não! Suas raízes vêm do céu, e seus galhos foram espalhados na terra para a
humanidade. Esta profecia afirma que o tronco desta árvore seria cortado, e que sairia de
dentro dela, cura para a humanidade. Esta é uma referência clara sobre a obra de Jesus,
que está presente num livro pagão.

Panya Baba, diretor da Evangelical Missionary Society da Nigéria está


convencido de que os primeiros missionários teriam sido mais eficazes se tivessem
tomado conhecimento dos costumes locais, fazendo uso deles como uma ponte para
comunicação eficiente do Evangelho.[10]

Deus não apenas preparou mensageiros, mas prepara também o coração das
pessoas para aceitarem a mensagem. Deus antecede o missionário quando ele chega ao
local para o qual se sente chamado. O Deus da Bíblia é um Deus missionário. Missões
saem do seu coração. Quando a igreja faz missões ela está se identificando com o
propósito essencial de toda missão bíblica, que fala deste Deus, que amou tanto o mundo
que fez do seu único Filho um missionário.

2. Missão é um chamado de Deus para participarmos da construção de seu reino


– Este é outro princípio que podemos encontrar no livro de Jonas.

Deus poderia realizar aquele projeto sozinho ou poderia ter enviado outro profeta,
mas na verdade quis fazer a obra através de seu servo.

Muitos perguntam por que Deus insistiu em chamar um homem tão complicado
como Jonas? A resposta para mim é clara: Jonas é o nosso paradigma! Ele é o nosso
espelho! Ele demonstra as fragilidades dos homens de Deus em todas as épocas e revela
de forma clara que Deus quer fazer sua missão, não por causa de nossa operosidade e
competência, mas que fará sua obra em nós, através de nós, e muitas vezes a despeito de
nós.

Jonas é um livro permeado da graça de Deus.

O critério da escolha aqui não é o da competência, nem das qualidades pessoais


do obreiro, mas da competência do Deus que se encontra por detrás do cenário. O texto
mostra que Deus conta conosco, porque este é o seu projeto para que seus decretos sejam
executados. Deus, na sua onipotência, quis que fosse assim. Ele deseja usar vasos de
barro, gente quebrada, complicada, para que a excelência do poder seja dEle, e não nossa.

Paulo parece entender esta questão de forma muito clara.

Em 2 Co 2.16 ao falar do ministério cristão pergunta: “Quem, porém, é suficiente


para estas coisas?”. Esta é uma pergunta retórica, que nos obriga a dizer “ninguém”!
Adiante, porém, ele explica: “Não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar
alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus,
o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do
espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica” (2 Co 3.5-6).

O fato de Deus contar conosco na sua obra missionária é porque este é o seu
projeto para o mundo. Deus quer usar o seu povo, a sua Igreja e para isto nos colocou
num corpo dando-nos dons e talentos. Ele deseja fazer sua obra no mundo através dos
seus filhos. Para isto Ele usa o corpo de Cristo.

A missão só acontece quando a igreja atravessa fronteiras e abandona o


ensimesmamento. Missão é a igreja em movimento procurando viver de forma sacerdotal,
entendendo ter o chamado de Deus para o mundo. “Missão descreve tudo o que a igreja
é enviada ao mundo para fazer. Missão abrange a vocação dupla de serviço da igreja para
ser o sal da terra e a luz do mundo” [11].

Quando Jesus envia seus discípulos para o campo missionário Ele faz uma
afirmação assustadora. “Ide! Eis que eu vos envio como cordeiros para o meio de
lobos” (Lc 10.3).

Esta frase me inquieta visto que Deus nos coloca numa posição altamente
desconfortável. Cordeiros são filhotes de ovelhas, tenros, frágeis, que, na linguagem de
Jesus, seriam enviados para o meio dos lobos. Esta declaração chega a ser um desatino, a
figura é grotesca! O que pode fazer uma frágil ovelha em meio a uma alcateia de lobos?
Será dilacerada em poucos segundos porque a luta é muito desigual. Pessoalmente
gostaria que Deus tivesse feito aqui uma inversão. “Eis que vos envio como lobos para o
meio de ovelhas”. Esta posição me deixaria muito mais confortável.

No entanto, o que Jesus queria frisar aqui não era a competência da ovelha que é
enviada, mas a confiança que ela deve ter no pastor que a envia. A força não está na
ovelha, mas no pastor. “Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a
excelência do poder seja de Deus, e não de nós” (1 Co 4.7).

Talvez por entender que Deus era o agente missionário as missões moravianas,
fundada no Século XVIII pelo Conde de Zinzedorf, recomendava que:

(a) Os missionários deveriam sustentar a si mesmos;

(b) Não deveriam aplicar a “medida de Herrnhut” (o padrão dos morávios


alemães) e,

(c) Deveriam ser considerados como auxiliadores do Espírito Santo[12].

Deus chama muitos “Jonas” na história: Gente claudicante, fisicamente frágil,


emocionalmente instável, cabeçuda, hipersensível, legalista e preconceituosa e vai
trabalhando o coração destes inquietos missionários que muitas vezes estão debaixo de
enorme crise com a vida e com o Deus que os envia.

Este livro mostra que Deus queria abençoar não apenas a obra, mas também o
obreiro, por isto vem conversar com Jonas. Não é Jonas quem procura Deus no meio de
sua crise ministerial antes, o próprio Deus é quem se aproxima. Deus procura os ouvidos
de Jonas, tenta capacitá-lo ao diálogo já que este se encontra tão mau humorado e de mal
com a vida. Deus indaga seus motivos. “É razoável esta tua ira?” (Jn 4.4,8), Explica,
apresenta razões, justifica-se.

O Deus Todo-poderoso que não tem necessidade de se explicar com ninguém,


vem dar seu parecer para Jonas. Sua preocupação com o coração daquele missionário é
um ato de sua tremenda graça. Por muito menos eu dispensaria gente do meu quadro de
obreiros com atitude semelhante. Apesar disto, Deus arrazoa com Jonas, cuida dele,
explica-lhe a importância da sua obra.

Não sabemos se Jonas entendeu os motivos de Deus...Mas que Deus tentou


explicar, isto Ele fez...

3. Missão é meio de bênção para outras vidas - Este é o terceiro princípio sobre
missões que podemos encontrar no livro de Jonas. Deus quer fazer missões porque ele
deseja que sejamos instrumentos de alegria para muitas outras vidas.

Um dos textos mais marcantes na Bíblia sobre missão é a chegada dos discípulos
na cidade de Samaria. A presença da Igreja se deu com a manifestação de sinais
miraculosos, curas e expulsão de demônios e diante de sua presença graciosa a cidade foi
impactada e “Assim, houve grande alegria naquela cidade” (At 8.8).

Por que Deus deseja enviar sua Igreja?

Porque Ele conhece a necessidade dos campos missionários. Deus conhecia


pormenorizadamente a cidade de Nínive. Sabia de sua violência e maldade (Jn 1.2);
conhecia suas lutas políticas e seus interesses gananciosos. Sabia do seu relativismo moral
expresso na afirmação de que não eram capazes de discernir entre a mão direita e a mão
esquerda (Jn 4.11). Sabia da base de sua economia pois fala de seus animais (Jn 4.11).
Deus olha para aquela cidade tão destruída moralmente e envia seus servos para abençoá-
la.

O filme “terra selvagem” narra a experiência dramática de 4 missionários que


foram mortos no Equador pelos índios waudanes, uma tribo violenta, que acreditava que
para se tornarem fortes precisavam matar outras pessoas. Por esta razão, morriam muito
cedo, envolvidos em múltiplos conflitos. Um destes índios matou Nate, e tempos depois,
o filho de Nate, Steve, volta para a selva para continuar o projeto missionário de seu pai.

Nas filmagens de bastidores que fizeram, eles usam personagens reais que
passaram por esta tragédia. Em algumas cenas mostram o índio que matara o pai de Steve
e que havia se convertido. Antes de entregar sua vida a Jesus ele não podia entender
porque Steve não quis matá-lo para vingar seu pai. O próprio Steve faz uma afirmação
linda sobre isto: “Meu pai morreu cedo e não pôde ver seus netos, para que os waudanes
agora pudessem viver mais e apreciar sua posteridade. Meu pai não foi assassinado, mas
deu sua vida por eles”.

Deus nos envia para abençoar outros povos. Milhares de pessoas têm sido libertas
das mãos do diabo, da opressão maligna e do engano espiritual através da mensagem de
salvação. A presença da Igreja de Cristo tem abençoado centenas de aldeias, cidades,
nações através de seus obreiros. O que seria espiritualmente, das cidades modernas sem
as orações do povo de Deus?

Quando entendemos isto, o sacrifício pela obra missionária torna-se válido.


Estamos cumprindo a grande comissão dada por Cristo de alcançar todas as nações e fazer
discípulos, e assim a benção de Deus vai iluminando o coração das pessoas, trazendo
alegria para suas vidas.

4. Missão tem alcance imprevisível - Este é o quarto principio que podemos extrair
deste livro.

A Palavra de Deus através de Jonas alcançou 120 mil em 40 dias. Talvez não
exista registro de um missionário mais bem sucedido, do ponto de vista dos resultados na
história da Igreja. Jonas jamais poderia prever a dimensão de seu ministério, o alcance do
projeto que Deus tinha para ele. Mesmo porque ele não abrigava nenhuma expectativa no
trabalho que exercia.

Qual é o alcance do projeto em que hoje você está envolvido?

Felizmente você não tem noção da grandeza do mesmo. Hoje recebemos bênçãos
de muitos missionários que deram suas vidas para a obra do Senhor, e muitos deles não
viram a concretização de seus sonhos.

Em 1859, chegou ao rio de Janeiro um jovem missionário vindo de Pittisburgh,


PA, depois de ter concluído com brilhantismo seu curso no Princeton Theological
Seminary. Ashbel Green Simonton foi enviado pela Missão Presbiteriana dos Estados
Unidos. Ele só viveu 8 anos aqui. Sua esposa morreu ainda muito jovem de febre amarela.
Ele também morreria poucos anos depois, sua biografia aparentemente não é a de um
homem vitorioso.

No entanto, hoje são milhares de presbiterianos no Brasil, contando as diferentes


denominações calvinistas. A maior universidade particular da América Latina, o
Mackenzie, foi fundada pelos missionários que vieram em seguida para apoiar seu
ministério. E este é apenas um relato missionário. Outras denominações possuem casos
similares. Provavelmente estes homens jamais tiveram esta noção antecipada da grandeza
e expansão do reino através de suas frágeis vidas.

Apesar de falarmos de resultados, uma coisa precisa ficar clara em nossas vidas.
Nós somos chamados para sermos fiéis, não para provocar resultados. Deus é quem sabe
o que Ele deseja fazer através de nossas vidas, e não deveríamos nos preocupar com isto.
Existem muitos obreiros hoje que estão tentando gerar resultados pela necessidade que as
pessoas e até mesmo a própria denominação impõe sobre eles. Deus não nos chamou para
sermos um sucesso, mas para sermos fieis. “Ora, o que se espera de cada despenseiro é
que seja encontrado fiel” (1 Co 4.1). Nossa pressão não deveria ser por performance, mas
fidelidade.

Ouvi um comentário sobre o ministério que me chamou muito a atenção: “A nós


cumpre dar profundidade, a Deus, largueza”. Não deveríamos preocupar com o alcance
da obra que Deus vai fazer através de nossas fraquezas, mas deveríamos nos preocupar
em aprofundar nosso coração em direção ao Pai, e deixar os resultados com ele.
Quando os discípulos voltam do campo missionário para dar relatório de suas
atividades a Jesus, eles estão empolgados com os resultados. “Senhor, até os demônios se
nos submetem em teu nome” (Lc 10.17), mas Jesus lhes diz: “Alegrai-vos, não porque os
demônios se submetem, mas porque vossos nomes estão arrolados no livro da vida” (Lc
10.18). De certa forma, o que Jesus faz é esfriar um pouco a empolgação dos discípulos,
porque ela estava no lugar errado. Eles queriam valorizar sua posição de guerreiros do
Senhor e os resultados desta batalha, mas Jesus coloca o olhar deles na necessidade de se
reconhecerem amados do Pai, e de saberem que foram chamados para um relacionamento
eterno de amor através de sua vida.

Missionários adoecem quando o foco torna-se o resultado e não Deus. Toda


instituição cuja preocupação seja a efetividade de seus números e não a glória de Deus,
deixa de ser relevante para o coração de Deus. Jonas é um homem bem sucedido
ministerialmente, todo missionário gostaria de ver sua pregação sendo tão efetiva quanto
a de Jonas, mas apesar de seu estrondoso sucesso, Jonas é um fracasso interior, porque
ele não se aproximou do coração de seu Pai. Ele vivia em crise com o Deus das missões,
que o chamara, capacitara, vocacionara e enviara em seu nome.

Conclusão:

Qual é a relevância da missão?

Observamos que missão é obra que sai do coração de Deus. Isto por si só deveria
ser suficiente para que nossos olhos, recursos e projetos estivessem voltados para esta
realidade.

Vimos também que missão é um chamado de Deus para participarmos da


construção de seu reino. Ele poderia fazer sozinho, mas na sua economia divina, quis nos
enviar em seu nome.

Fazer missão é responder positivamente ao chamado e tarefa que Deus nos dá.
Fazer missão também é uma tarefa maravilhosa, porque na medida em que vamos, não
vamos no vácuo histórico, mas somos designados para abençoar outros, expressar a graça
de Deus em outras vidas, e isto é maravilhoso por si só. Onde vamos chegar com tudo
isto? Só o Senhor da missão sabe, porque missão tem alcance imprevisível. “Os dons e a
vocação de Deus são irrevogáveis”.

Carriker afirma que a sobrevivência e o dinamismo do povo de Deus dependem


fundamentalmente da compreensão e do compromisso com a sua vocação missionária, e
que nossa identidade está diretamente ligada à compreensão e compromisso com o papel
missionário no mundo.”[13]

Quando Adoniram Judson se encontrava acorrentado numa prisão na Birmânia


por estar pregando o Evangelho, outro preso ironicamente desdenhou a obra missionária
e a remota possibilidade da conversão dos pagãos. Diante disto Judson respondeu: “As
perspectivas são tão brilhantes quanto as promessas de Deus”.[14]

Pontos para reflexão:

1. Se missões produzem efeitos tão universais e positivos, porque ainda somos tão
pouco efetivos neste ministério?

2. Por que Deus é tão apaixonado em missões? Quais seriam as razões teológicas deste
Deus santo se envolver tão apaixonadamente neste projeto a ponto de entregar seu próprio
filho para ser um missionário?

3. Por que a igreja missionária sempre revela saúde espiritual? Como espiritualidade
e visão missionária se interligam?

4. Considerando todas estas verdades, como você acha que precisa responder ao Deus
missionário?

[1] Blauw é um dos que afirmam que o Antigo Testamento não tem preocupação
missionária. “emobra o ponto de partida do Antigo Testamento seja universalista, a ideia
de missão ocorre apenas esporadicamente ou está totalmente ausente”. Blauw,
Johannes., A natureza Missionária d Igreja, São Paulo, Aste, 1966, pg 30

[2] . Op. Cit., pr 17

[3] Carriker, Timoteo, pg 16


[4] Queiroz, Edson – A Igreja local e missões, São Paulo, Ed. Vida Nova, 1987, pg 44.

[5] Senior, Donald, C.P & Stuhlmueller, Carrol, C.P., discutem a teologia da eleição e os
sinais do universalismo no AT. “como, perguntamos nós, se pode descobrir política de
missão dentro das linhas de veemente exclusivismo e mesmo violento repúdio ao
estrangeiro?” (pg. 18). “Deus pode fazer surgir novo povo escolhido de outro povo,
candidato menos provável nos dias de João Batista... ‘destas pedras (aparentemente sem
vida)’ (Lc 3.8)”. (Pg 20). Esta idéia é ainda mais discutida adiante: “tudo através do
Antigo Testamento fora indicador que apontava às nações para além de Israel. Essas
percepções religiosas nunca chegaram a atingir síntese teológica, nem foram integradas a
outras posições religiosas importantes em Israel. Somente mais tarde, haveria de realizar
este trabalho o apóstolo Paulo, a grande custo para si mesmo e para a Igreja Primitiva”
(Pg 148).

[6] Blaw, 1966, pg 17

[7] Blaw, 1966, pg 31

[8] Winter, Ralph & Hawthorne Steven C., Missões transculturais, São Paulo, Ed.
Mundo cristão, 1981, pg 201

[9] . Richardson, Don - Eternity in their hearts, Ventura, CA - Regal Books, 1981. Pg.
122

[10] Baba, Panya – Preparando aquele que vai. São Paulo, Ed. Mundo cristão, 1995, pg
109

[11] Stott, J. R. W., Christian Mission in the Modern world, Downers Grove, IVP, 1975,
p. 30.

[12] Beaver, R. Pierce – A história da estratégia missionária in Winter, Ralph &


Hawthorne Steven C., Missões Transculturais, 1981 p. 238.

[13] Carriker, Timoteo – Missão integral. Uma teologia Bíblica. São Paulo, Ed. Sepal,
1992

[14] Zwemer, Samuel, A glória do impossível, em Missões Transculturais, 1981:312

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