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meio natural e para ordenar esses dados usou como modelo (Quadro 1) a da obra
enciclopédica de Plínio2, e lançou mão de autores clássicos como Columela, Tofrasto,
Virgílio, Crescentino (ou Gabriel Alonso de Herrera). Mas a natureza das Índias era tão
afastada e diferente em relação ao mundo conhecido dos antigos que apesar de sua
predileção por Plínio foram feitas as primeiras reformulações explícitas da crítica e
superação do saber clássico. Reunindo o modelo de Plínio e o conhecimento direto das
terras americanas, podemos dizer que o historiador Fernández de Oviedo também se
converteu no geógrafo moderno.
História Geral das Índias (1552) de Francisco López de Gómara. No outro lado estão
os historiadores que tiveram um contato direto com a realidade americana. Entre eles o
essencial é a transmissão do que é diretamente percebido, a emoção que se nota no
descobrimento pessoal e nos esforços para comunicar ao leitor europeu uma imagem
viva e verdadeira da imponente natureza “indiana” e dos estranhos povos que nela
habitam. A descrição geográfica envolve agora toda a obra não apenas como
apresentação geral dos territórios, mas como permanece a vontade de mostrar o marco
dos fatos, o teatro da história. Ainda que em alguns, mais eruditos ou preparados, possa
vir acompanhado de debates sobre as idéias clássicas ou de notícias cosmográficas sobre
a latitude e a posição dos lugares descritos. Entre eles se inscreve Cieza de Leon, autor
da Cronica del Peru (1553), um verdadeiro tratado descritivo da geografia regional,
física e humana, de uma modernidade verdadeiramente assombrosa e de uma influência
– como a de Oviedo – deve se supor grande diante da sua ampla difusão européia. De
maneira semelhante e quase simultânea, embora de forma independente, o funcionário
da Fazenda Real Agustín de Zárate redigiu sua obra Historia del Descubrimiento y
Conquista de la Provincia del Perú (1555) iniciando a narração com o primeiro livro
dedicado em boa parte à apresentação do meio geográfico. Ou ainda, o padre Las Casas
ao combinar o conhecimento do meio americano com a teoria ambientalista que lhe
permitiu defender a nobreza e a dignidade dos indígenas na obra Apologética (Historia
Sumaria Cuanto a las Qualidades ...). O franciscano Frei Toribio de Benavente
Motolinia, autor de Historia de los índios de la Nueva España, apesar de seu objetivo
principal ser o trabalho missionário e o projeto evangelizador, também incorporou o
meio geográfico somado à transmissão de sua emoção ao leitor diante da visão direta da
natureza americana. Montes, rios gelados, florestas e descrições das comarcas se
sucedem, se repetem as exaltações da beleza e fertilidade do solo e não faltam as
comparações com a geografia européia.
O mesmo acontece na Crónica de la Nueva España do humanista catedrático
e posteriormente reitor da Universidade do México Francisco Cervantes de Salazar;
com a Historia de Chile (1575) do capitão Alonso de Góngora Marmolejo; com a
Crónica del reino de Chile de Pedro Mariño de Lobera, para citar algumas outras obras.
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Referências
BENAVENTE (Motolinia), Fray Toribio de. Historia de los Índios de la Nueva España
(1541). Madrid: Alianza Editorial, 1988.
CAPEL, Horacio. Ambientalismo e Historia. El Padre Las Casas como Geógrafo,
Homenaje al Profesor Luis Miguel Albentosa, Universidad de Barcelona (en
publicación).
CERVANTES DE SALAZAR, Francisco. Crónica de la Nueva España, Biblioteca de
Autores Españoles, tomos CCXLIV e CCXLV. Madrid: Atlas, 1971. 2 vol.
FERNÁNDEZ DE OVIEDO, Gonzalo. De la Natural Historia de las Índias, Madrid :
Editorial Summa, 1942.
_______. Historia General y Natural de las Índias.Madrid: Stlas, 1959.
GÓNGORA, Marmolejo, Alonso de. Historia de Chile Desde su Descobrimiento Hasta
el Año de 1575. Madrid: Atlas, 1960.
LAS CASAS, Martolomé de, Historia de las Índias. Mexico. Fondo de Cultura
Económica, 1951.
_______. Apologética Historia Sumaria Cuanto a las Cualidades, Disposición,
Discripción, Cielo y Suelo de Estas Tierras, y Condiciones Naturales, Policias,
Repúblicas,Maneras de Vivir e Costumbres de las Gentes de Estas Índias Occidentales
y Meridionales, Cuyo Imperio Soberano Pertence a los Reyes de Castilla, en Obras
Escogidas de Fray Bartolomé de las Casas III (Biblioteca de Autores Españoles, Tomo
CV, Estudio Crítico e edición por J. Pérez de Tudela, Madrid: Atlas, 1958.
LÓPEZ DE GÓMARA, Francisco. Hispania Victrix. Primera e Segunda parte de la
Historia General de las Índias, Historiadores Primitivos de ÍndiasI, 1, Biblioteca de
Autores Españoles, Tomo XII. Madrid: Atlas, 1946.
MARIÑO DE LOBERA, Pedro. Cronica delReino de Chile, escrita por el Capitan
dirigida al Excelentisimo Sr. D. García Hurtado de Mendoza, marqués de Cañete ... .
Biblioteca de Autores Españoles, Tomo CXXXI, Madrid: Atlas, 1960.
PLINIO, Historia Natural de Cayo Plinio Segundo. Traducida por el Licenciado
Gerónimo de Herta Medico y familiar del Santo Oficio de la Inquisición y ampliada por
el mismo con Escolios e Anotaciones. Impressor del rey N. S. Año 1624. 2 Vols.
ZARATE, Agustín de, Historia del Descubrimiento y Conquista de la Provincia del
Perú y de las Guerras y Cosas en ella Acaecidas Hasta el Vencimiento de Gonzalo
Pizarro y de sus Secuaces, que en Ella se rebelaron Contra su Majestad, Por... Contador
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1
Outros exemplos podem ser citados como São Isidoro (Isidoro de Sevilha) que escreveu De Natura
Rerum que podia ser lida como uma introdução às suas duas grandes obras históricas – Chronicon e
Historia Regibus Gothorum, Wandalorum et Suevorm
2
Trata-se de Plínio o Velho (23-79 d.C.), e a obra em questão é História Natural.
3
Ver também Solino Polyhistor – Collectanea Rerum Mirabilium, muito usada na época medieval e e
repetidamente impressa a partir de 1493, e Etimologias de Isidoro de Sevilha; por exemplo.