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Departamento de Matemática
Prof. Celius A. Magalhães
Cálculo II
Notas da Aula 05 ∗
A superfície que descreve o relevo, isto é, a “casquinha” que separa a terra do ar, é dita o gráfico da
função. Matematicamente, o gráfico é o conjunto
y
G( f ) = {(x, y, z) ∈ R3 ; (x, y) ∈ D e z = f (t, y)}
Em Cartografia, em que os mapas são planos, é comum indicar o re-
levo por meio das curvas de nível. Essas curvas correspondem a projetar,
x
sobre o plano Oxy, as linha pretas que aparecem na figura acima.
Essas linhas pretas indicam os pontos sobre o gráfico que estão a
uma mesma altura. Logo, as curvas de nível correspondem aos pontos do
domínio nos quais a função altura é constante. A figura ao lado ilustra as
curvas de nível da função f .
O interessante é que, olhando apenas para as curvas de nível, percebe-se que existe um “morro” no
terceiro e quarto quadrantes. Matematicamente, a curva de nível no nível k é o conjunto
Ck ( f ) = {(x, y) ∈ D; f (x, y) = k}
Em geral, uma função f , definida em D ⊂ R2 e com valores em R, é uma regra que a cada ponto
(x, y) ∈ D associa um único número z = f (x, y) ∈ R. Usa-se o símbolo f : D → R para indicar a função
juntamente com o seu domínio D e o seu contra-domínio R.
Exemplo 1 Esboce as curvas de nível e o gráfico da função f (x, y) = 12 (4 − x − 3y) com (x, y) ∈ R2 .
∗ Texto digitado e diagramado por Neil Martins a partir de anotações de sala de Olaia Diniz
y
2
4/3
C−2 4/3
4 y
4
C0 x
x
C2
Exemplo 2 Repita o exemplo anterior para o caso da função f (x, y) = x2 + y2 , com (x, y) ∈ R2 .
x y
Esses exemplos ilustram a possibilidade de se descrever retas e círculos por meio de curvas de nível.
De fato, muitas outras curvas podem ser descritas dessa maneira, e isso é especialmente interessante no
estudo das equações separáveis. Isso porque, de acordo com a aula passada, e para constantes apropriadas
b, m e v, a velocidade y(t) de queda de um paraquedista é dada implicitamente por
1
b y(t) − v
t + ln =k
m 2v y(t) + v
Com a linguagem das curvas de nível, a velocidade y(t) nada mais é que a curva de nível, no nível
b 1
k, da função f (t, y) = t + ln y−v y+v , onde a variável x foi substituida pela variável t apenas para
m 2v
fazer referência ao tempo de queda do paraquedista. Assim, a velocidade é dada implicitamente por
f (t, y(t)) = k. A figura da esquerda ilustra uma curva de nível, e a da direita o gráfico desta função.
y z
Este exemplo ilustra uma relação importante entre equações diferenciais e curvas de nivel. Mas essa
relação é ainda mais profunda, o que pode ser percebido pela forma com que, em geral, calcula-se a
derivada da composta f (t, y(t)). Esse é o objetivo das próximas seções.
caso esses limites existam. O número fx (x, y) é dito a derivada parcial com respeito à variável x no ponto
(x, y), e analogamente para a derivada parcial fy (x, y).
De outra forma, a derivada parcial fx (x, y) é calculada como a derivada ordinária da função
g(x) = f (x, y), em que a variável y é mantida constante. Analogamente, a derivada parcial fy (x, y) é
a derivada ordinária de h(y) = f (x, y), em que x é mantido constante.
Exemplo 3 Calcule as derivadas parciais de f (x, y) = yx = ex ln(y) em um ponto (x, y) com y > 0.
Solução. Para fx (x, y) basta calcular a deriva ordinária da função g(x) = f (x, y), em que y é mantido
constante. Como a derivada da exponencial é ela própria, usando a regra da cadeia obtém-se que
d
fx (x, y) = g′ (x) = ex ln(y) (x ln(y)) = ex ln(y) ln(y) = yx ln(y)
dx
Analogamente, fy (x, y) é a derivada ordinária de h(y) = f (x, y), em que x é mantido constante. Logo,
d x x
fy (x, y) = h′ (y) = ex ln(y) (x ln(y)) = ex ln(y) = yx = yx−1 x
dy y y
Se f : D → R possui derivada parcial com respeito a y em todos os pontos de D, então fica definida
a função fy : D → R. Nesse caso pode-se perguntar pelas derivadas parciais de fy , ditas as derivadas
parciais segundas. Essas derivadas são indicadas com a notação ( fy )x = fyx e ( fy )y = fyy . Analogamente
para a derivada parcial fx . A figura abaixo ilustra a relação entre essas derivadas.
fx fy
Exemplo 4 Calcule as derivadas parciais segundas da função f (x, y) = yx = ex ln(y) com y > 0.
Solução. Já se tem as derivadas primeiras fx (t, y) = yx ln(y) e fy (x, y) = yx−1 x, e deve-se calcular as
derivadas parciais dessas funções. Para as derivadas parciais de fx obtém-se
d x d x
fxx (t, y) = (y ln(y)) = yx ln2 (y) e fxy (x, y) = (y ln(y)) = yx−1 (x ln(y) + 1)
dx dy
e para as derivadas parciais de fy obtém-se
d x−1 d x−1
fyx (t, y) = y x = yx−1 (x ln(y) + 1) e fyy (x, y) = y x = yx−2 (x − 1)x
dx dy
Um fato curioso chama a atenção neste exemplo. Apesar da assimetria entre as variáveis, a derivada
de fx com respeito a y é igual à derivada de fy com respeito a x. Abreviadamente, vale a igualdade
fxy = fyx , e diz-se que as derivadas parciais mistas comutam. De acordo com o próximo teorema, cuja
demonstração pode ser encontrada nos bons livro de Cálculo, isso não é uma coincidência, mas uma
consequência da continuidade das derivadas.
Teorema 1 Para um retângulo D = (a, b) × (c, d) e uma função f : D → R, suponha que existem as
derivadas fx (x, y), fy (x, y) e fxy (x, y) em todo (x, y) ∈ D e, além disso, sejam funções contínuas. Então
existe fyx (t, y) e fyx (x, y) = fxy (t, y) para todo (x, y) ∈ D.
|η (x − x0 |
onde o erro η (x − x0 ) tem a propriedade de que lim = 0.
x→x0 |x − x0 |
Essa propriedade do erro é a chave para se entender a regra da cadeia. Com efeito, considere as
funções deriváveis h : I → R e g : J → R onde I e J são intervalos abertos da reta. Indique por t uma
variável em I, por x uma variável em J e suponha que h(t) ∈ J para todo t ∈ I. Nesse caso, fica definida
a composta g ◦ h : I → R, onde (g ◦ h)(t) = g(h(t)).
I J
t h g g(x)
x
t0 x0 g(x0 )
g◦h
Sendo h e g deriváveis, é natural perguntar pela derivada da composta g◦h. Nesse sentido, dados t e
t0 em I, indique por x = h(t) e x0 = h(t0 ) os correspondentes valores em J. De (3) segue-se que
Passando g(h(t0 )) para o lado esquerdo dessa igualdade e dividinto por t − t0 obtém-se que
(g ◦ h)(t) − (g ◦ h)(t0 ) ′ h(t) − h(t0 ) η (h(t) − h(t0 ))
= g (h(t0 )) + (4)
t − t0 t − t0 t − t0
A derivada (g ◦ h)′ (t0 ) é o limite dessa expressão com t → t0 . Para o cálculo desse limite, já se
0)
tem que lim h(t)−h(t
t−t0 = h′ (t0 ). Para o outro termo, como h(t) é derivável, é também contínua, e assim
t→t0
|η (x − x0 |
onde foi usada a propriedade lim = 0. Assim, passando o limite com t → t0 em (4), obtém-se
x→x0 |x − x0 |
Passando f (P(t0 )) para o lado esquerdo dessa igualdade e dividindo por t − t0 obtém-se que
f (P(t)) − f (P(t0 )) x(t) − x(t0 ) y(t) − y(t0 ) η (P(t) − P(t0 ))
= fx (P0 ) + fy (P0 ) + (6)
t − t0 t − t0 t − t0 t − t0
A derivada ( f ◦ P)′ (t0 ) é o limite dessa expressão com t → t0 . Para o cálculo desse limite, já se tem
0) 0)
que lim x(t)−x(t
t−t0 = x′ (t0 ) e lim y(t)−y(t
t−t0 = y′ (t0 ). Para o outro termo, como x(t) e y(t) são deriváveis,
t→t0 t→t0
η (P(t) − P(t0 )) |η (P(t) − P(t0 ))| kP(t) − P(t0 )k
lim lim
= t→t
t→t0 t − t0 0 kP(t) − P(t0 )k |t − t0 |
|η (P(t) − P(t0 ))| kP(t) − P(t0 )k
= lim lim = 0 × kP′ (t0 )k = 0
t→t0 kP(t) − P(t0 )k t→t0 |t − t0 |
η (P − P0 )
onde foi usado a propriedade de que limP→P0 = 0. Finalmente, passando o limite com t → t0
kP − P0 k
em (6), obtém-se que f ◦ P é derivável em t0 e ( f ◦ P)′ (t0 ) = fx (P(t0 ))x′ (t0 ) + fy (P(t0 ))y′ (t0 ). Mesmo
sem a hipótese de que P(t) 6= P(t0 ) para todo t ≈ t0 , pode-se demonstrar o
Vale enfatizar as analogias entre os casos de uma e de duas variáveis. Com efeito, as igualdades em
(5) e (6), que são o núcleo do argumento em duas variáveis, são inteiramente análogas às igualdades em
(3) e (4) do caso de uma variável.
Equações Exatas
O próximo exemplo ilustra como as equações separáveis podem ser generalizadas usando-se a regra da
cadeia em duas variáveis. Mais adiante será visto também como essa regra está ligada com a conservação
da energia mecânica.
Exemplo 5 Para uma constante a ∈ R, calcule a solução geral da equação
Solução. Com a notação M(t, y) = tan(y) + t 2 e N(t, y) = a + t sec2 (y), a equação é da forma