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plopell decom, Dcspeas CONSELHO EDITORIAL, ‘Ana Paula Torres Megiani Eunice Ostrensky Haroldo Ceravolo Sereza Joana Monteleone Maria Luiza Ferreira de Oliveira Ruy Braga RESISTENCIA Meméria da ocupacao nazista na Franga e na Italia Denise Rollemberg Pci Digitalizada com CamScanner CAPITULO | Resistencia: o desafio da conceituacio Sob a bandeira nacional socialista, 1942, enfim, realizar a antiga ambigio prussia Jemanha parecia, em novembro de ina de expansio das fronteiras. A der ‘ote na Grande Guerra, em 1918, do Impétio ciado em 1871, amargada nos anos Se6uintes a0 fim do primeir confit de dimensSes mundial, parecia supers dlante do dominio obtido de grande pare da Europa continental edo Nose de Arca Gunho de 1940) ede parte do trsitciosovdico (jnho de 1p) Na Europa, a expansio alemij se iniiara com as anexacbes da Austria ¢ dos Sudeos, na Tehecostovdquia, em margoe outubro de 1938, respectivamente, "no contexto da politics de apaaiguamento da Gra-Bretanha 4 concessies & Alemanha nazista dante da da Franca dispostas Perspectiva de guerra.’ A invasio da Polonia (setembro de 1939), campanha que suscitou 0 Aexpansio em curso, fendmeno que s6 comecou a mudar a em El Alamein (Egit reiro do ano seguinte.? a guerra, dew sequéncia Partir da derrota alema, «em noverbro de 1542, © em Stalingrado (URSS), em feve. 1 OsSudetse paler a regio de populagoslems que pastou nega a Tbecotordqu w sequéncia do fim da Grande Guees ocorrida em 29 de setembro de 1938, reunindo Cham 1a cidade bivara acondow a recuperagio britnico frances fente ds ambigies exp + do nacional socialism, no poder desde 4= 993, quando Hie tornou-se 1 rods Aleman, 2 Nose cenirio a dertota das topascomandadas pel EL Alamein, em novembro de 1942, n0F Digitalizada com CamScanner Dewise Ro.issnene ‘da Wehrmacht ocorreram sem que as forgas armadas dos paises ‘curopeus agredidos conseguissem conter a chamada guerra relimpago (blitekrieg). AA tatica militar, baseada em ataques surpresas,répidos e brutas, somou-se a pro- funda crise dos valores da democracia representativa liberal e de identidade na- ional na qual os pafses europeus se encontram, resutando em derrot avassaladoras. Assim, entre os meses da invasio da Polénia (setembro de 1939) € 4a derrota da Franca (junho de 1940), todos os paises europeus © jugo nazista ou mantinham regimes proximos a Berlim, exceto a Gra-Bretanha. Apés 0 fracasso da pi do primeiro m i do regime nazis- no parlamento “A Gri-Bretanha jamais se ‘enderél’ ecoou na Europa ¢ no mundo a posigso do novo primeiro ministo, Sob intensos bombardeios aéreos, em 1940, na chamada batalha da I pulagao brit ica acompanhou sua determinacio, Quatro anos mais tarde, a Grd- Bretanha voltou 2 ser alvo dos ataques aéreos de uma Alemanha jé derrotada mi- inicio do desembarque e ocupacto da estagia repo pelos pales Alinco, Em outta ‘enirio de guerra, no Extremo Orient, out anes imp _puera fol a derots do JapSo para os EUA, na ba ‘vo no inicio da reverso do quadeo que pareciaindicara vita alma tradi é Forgade Dfesa, um termo muits vere usadoparase nf), etce 1935 6°94; no contest da Alemania No pis Seyunda Guerra, coma Alemanha i rearmada 28 frgasarmadaspassaram a ser denominadas Bundeswehr. 6 -Restsrvcia: MEMORtA DA OCUPAGHO NALISTA NA FRANGA 2 A ITALIA litarmente, por meio dos missels Vi e Va, inovagbes di ‘armas da vinganca, assim denominados por Goebbels, ministro da propagand: Na sequéncia das conga rs, os alemies deram inicio aos proces 08 de ocupagao dos paises derrotedos, transformando-os em dominios da. da ideologia nazista ¢ em fontes de recursos mit ais e humans. (O triunfo sobre a Franga, em junho de 1940, tornou-se simbolo do éxito da ‘expansio nazista, Ao contririo do que ocorrera na Grande Guerra, quando as «25 armadas e a populagio francesas defenderam-se da invesio da parte Norte do territdrio porlongos e penosos anos, em tres semanas, 0 chefes militares aceitavam. ‘a rendigio. A rapider com que a derrota consumava-se expressou a decadéncia ea A populasio, nas poucas semanas em que as forgas armadas nieas juntas francesas eb otow a igrejas reeando pelo mila- {gre que nao aconteceu. Homens, mulheres, idosose :riangs partiram en. fuga em Franga, expressio das mpediam o reerguimento do pals, mpactando diretamente na peni- ia da populagio nos anos 1920. ‘A debilidade da dofesa por Mate Bloch. Com o sugest ‘0 desinimo da populacio foram registrados lo de A estranha derrota, o histortado,inte= srante da geracio que viveu, em curto espago de tempo, as duas guerras mundial, testemunhou as profundas transformagdes pelas quais os tres, suas seus espiritos, passaram face 4 antiga francés, nacionalista, herbi, passou, tente, reso cexecutado pelos naaistas, ‘Com a ocupagio alema nos paises vencl ido com o fim da guerra. As populagées, assim como s experimentaram comportamentos que variaram de pais para pais, 20 longo 4 tempo, num amplo campo de possiblidades desde a colaboragio mais aguerrida egunda Guerra, a judeu perseguido, resis- de suas 44 Olantigo bunker onde eram produits os foguetes (mises) V1 Va, perto de Saint Omer ‘em Pas de Calas, fo ransformado em museu da Segunda Guerra Mundial, La Coupee Sobre o museu, vero capitulo» Digitalizada com CamScanner Devise Rouuninexs ResisrBcta: MENORIA DA OCUPAGAO MAZISTA NA FRANGA B NA ITALIA percepsio da pluraidade dos comportamentos socials existentes soba ocupagio ea io, 0 Estado nacional fol refundado, oficial colaboracio. Inpirando-seem Primo Levi, Pierre Laborie chamou de zona cinzen- ‘mente denominado Estado Francs, segundo 0 documented armisicio que pbs 120 amplo campo de possbilidades entre resistencia ¢ colaboragdo, expressando, fim ao conflto entre os dois pases. A frente do governo Instalado na eldade te ficou o marechal Phi assim, mals ricamente os comportamentos socials em tals circunstincias, que s© alernavam ¢ coexistism noe individuos. As ambivaléncias da zona einzenta niio Na Franga de Vichy, viabilizava-se, ‘mplementagio das transformagdes da chamada Revolugio Nacio a0s valores e in sider, necesaiamente,o carter do regime a0 qual se lemio,na Alemanha, po exemplo,ndo€o mesmo que re antes e aos colaboradores na Fran, sja na zona ocupada seja ma zona livre, 1550 no impedes comparacio ds vias experi a Europa no contesto da guerra e mesmo de outasexperéncias 4 lua armada contra os alemdes, hoe chamada de revista, ocoreew emt aquece a compreensio de cada stuago espcia, ‘oda a Europa ocupada, embora nem todos os seus agentes se autodenominascom nes, Foo caso da Pola tnarcas profandas com as q 3s francesestiveram q 8 Libertagdo e ao fim da guerra’ portanto, suas conceituacbes. A flexbilidade do conceito de resisténcia parece diretamente proporcional 20 grat. is onde o movimento da resisténcia fol, em desucesso do Estado em sua ambicio totaitiria, Assim, quanto mats bem sucedido ‘vida, o mais precoce, mas geral e mais desenvolvido que em qualquer outro pals, nna ambigdo total cia ‘palevra jamais fol usada entre 1939 1945"*No polo oposto, na propria Alemanha, cle. As possbilidades de articulagdo da sociedade eram mais difices e perigosas: as pals ocupante, o terme cesstnia apareceu em alguns nichos opositores do regime, agbes armadas possives apenas no interior das foreas armadas; os riscos de cair nas om nos panfletos do Rosa Branca, grupo de jovens estudantes da Universidade de Munique. En 5 eram malores e mais graves. Por outro to, 0 exemple francés da luta cor radores (franceses) ficou como referéncia de Re Sutzos contextos, como nos processos de 8.0 ocupante (alemio)e colabo tencia no pés-guerra, Assim, em Iagdo nacional em paises africans ¢ ‘no ps-guerra, bem como nas ltas contra ditaduras ina, nas décadas de 1960-80, 0 caso francés manteve-se como nul para certa ba izagdo ou natu Contudo, o paradigma da Resisténcia francesa ancora-se menos na , Resisrfvcia: MEMORIA DA OCLEAGRO NAZISTA NA FRANGA E HA IRdLtA iu mesmo a produgio de ido por Frangols Marcot édarida, em Lustre dela rsis- de 19864 la publicou, com revisio do tema como agenda presente e futura.” Em 1994, Beda Jean-Pierre azéma outco texto sobre 0 assunto, permitindo-o olhar em perspectiva as proprias posigdes defendidas oto a ‘Ao apresentar primeiro art massa de trabalhos" je tando com as “mi do conhecimer Europa, seja 0 japonés no Ext dade do homem, contra 0 rmeira luta prevalece sabre a segunda, antinazistas ¢ antifascistas em seus res Bédarid hhomem seria o cerne da questdo —, 0 qu inverte os dois componentes — a isténcla alemes de oposigio como agéestipieas de ‘Apés analisaras definigdes que obedecem a critérios diferenciados, Bédarida conelui que nizando para tar contra a dominacio (eo mais frequentemen- 1994. P.98 27 Cha ntrodugdo do editor a artigo ae Digitalizada com CamScanner Desist Rousset ‘ea ocupasio) de seus pases por um regime nazista ou fascita (ou satéite liad ‘Tal definigio, por sua amplitude, poderia compreendes ropeus easiticos, motivados pe! movimentos eu- aco nacional” e pela “libertagdo das for- fundamentals da (diferentemente das formas iada ow no, contra a ow que apela para uma 2) todos 05 resistentes enfrentam o mesmo inimi- £80: 3) todos recorrem a métodos heterodoxos, estranhos todos 0s movimentos de resi ras € is normas da idos de baixo para cit ‘com lideres improvisados. Vale acrescentar que, segundo Bédarida (1986) sempre de wm combate necessariamente ileal Em 1994, © aur retomou o tema, em parceria com Jean-Pierre Azéma, em artigo publicado no dossié Resisténcia da Esprit. Assim como démica, outros periédicos académicos propuseram o tema, da me: adores o fizeram em congeessos, cujos trabalhos e debates deram origem a coletineas. ‘Azéma e Bédarida apontaram, uma ver mais, o not bre o assunto, mas sublinharam a permanéncia de uma a cempenhada em realgar o "gesto romantico dos combat 6 Rastsrticia: Memnia DA OCUPAGRO NAZISTA HA FRANCA EA Trktta modest € anterior, Bédarida” j dissera que 0 éssencial ao historiador da resistencia, antes de tudo, era “substituir a exalazéo pela 3, vontade de edificagio pelo exame atento¢ pel e itante pelo respeito& verdade qualquer que seja ela seja e qualquer que Sea o prea sugeriram que arelagio da sociedade francesa coma resistencia, ids como meméria no pés-guerra, explicava-se pelo que essa elaboracdo XEncia em detrimento das temiticas acerca da colaborayio e de Vichy” ‘Auéma e Bédarida recuperam, na década de 1990, a definigio de resisténcia. de 1986: 1 agio clandestina leveds, em nome da liberdade da nagio ede ignidade da pessoa humans, por voluntirios organizando para lutar contra 2 dominaczo (e mais feequentemente a ocu: agdo) de seu pais por um regime navsta ou fascsta ou stdite oualiada.” Ji nesta altura, Bédarida tinka apresentado o que considerava como “os trés componentes fundamentais da aco de resist vidade clandestina e legal; © voluntarismo, base do engajamento. multiforme, armada ou no" ‘isto jésugeriu. uma “mutagdo conceitual cia: se até enti ela era con- siderada exclusivamente na dimensio politica elou mi resistencia civil, politica, ideoldgica eatéa hum: perseguicio nazista, Bédarida incorporou a ‘como a ajuda as vitimas da Aina eFrangos Bédard, “Historisation de a Résistance. Expr, Pris,n. 198 jan, 934 p.30, 32 FrangoisBédarid, op. cit, 1986,p. 8. 38 Pierre Andina e Prangos Beards. op. cit, 19p4,p. 22-29. S4_PlerseAuéma e Francois Bédard, dem iid ca Digitalizada com CamScanner Denise Rovismnene A possibilidade de acesso is fontes, for meio da lei dos arquivos de 1979, 4 consideragio das mulheres e dos judeus como objetos de pesquies, a revsio his- torlogrifca acerca do PCF como‘ alfa eo Omega da resisténcia interior 0 uso da histéria oral, aruptura no cinema da meméria gollista, tudo isso levou a0 alarga- assim como ao interesse pelas a rendigio, rompendo com a fdelidade ao rei. Em Sal cidade esses, que se afirmavam como os puras que contra os aiados que avangav ‘ocupandlo, por sua ver, a nedida que venclam as defesas alemaes, Assim, Italia dividia-sefsicamente, assim como ¢ Sul da peninsula, Entre 1920-22 € lentes tendéncias io foi considerado pelos atores ps ‘05 ¢a época nem pelos historiadores corno Resisténcis, mas oposigio. Somente a da rendigio italiana e da ocupagao alema, passou-se a falar em Resisténcia. entdo, eta contra o invasor estrangeic. 8 € Ideolbgicas |comba x © termo Resistencia, exclusvo, portnto, para 0 periodo 1943-2945, dsig- ‘now um campo muito amplo, ventennio,” estava 0 lerad por Ferruccio Par Englobor,jguslmente os antigos pa ‘glo, conts mesma forma, no campo resist iando antigos cor . combatendo ao lado dos encontravam-se oficial e suboficials das forgas armadas, ex-comba- tentes da Guerra da Etidpia (1936) e das campanhas da Segunda Guerra, com di- iados e dos antigos fascist 277 Vemennio, como so chamados 0 vine snot do regime fac 78 Benedeto Croce (1866-1952), ibsofo esrtr historidor Partido Libera liberal senador plo 7” [Restsrincra: ManSnta D4 OCUBAGKO NAZISTA NA FRANGA EA ITALIA ferent nivels de identidade com 0 fascismo e de adesio a suas causas* Nesse amplo lado da guerra, ainda se encontravam antigos fasclstas civis ejovens (civ ¢ soldados)formados nas organizagdes do Estado toalitri. Por fim, somaram-se Prisioneros de guera de diversas nacionalidades,libertados ou fugidos quando 4o armisticio. Os resistentes que se integraram & luta de guerrilha, nas montanhas ‘8 nos povoados ¢ cidades, foram denominados partgian, correspondendo 20s maguisardsfranceses ‘Ao longo de vinte anos, a oposigao a Politica, negando o enfrentamento armado, sista havia se concentrado na luta far, mesmo em tes, i excecio dos anarquistas * Reconhecia os fascstas como adversirios ou interlocutores politicos, rocurando, dessa forma Via-se a si mesma, porta 30 romper de todo os vinculos com a realidade social. io como resistentes, Neste pe- todo, os antifascistas mantiveram, no pil € no ext acerca do fascismo, Na nova configuracio da. uma ativa erica reflexio de 1943-1945, na qual o regime contra o qual ‘© opuseram nao existia mais, a reflerio empobreceu-se, reduzida ao combate a0 invasor estrangeiro, A Alemanha nazista tornou-se 0 ser da Resistencia, da qual ‘cutores ov adversirios, 05 fa ‘excluidos da discussio a do fascismo'* Perdiam, pois, 0 Feconhzcimento de sua identidade nacional, engajados numa guerra que somente A ‘Alemanha interessava. Nao & toa surgiu na época termo nazifascismo para deno- minar 0 igo contra o qual a Resisténcia lutou,caracterizando, exclusivamente, + ques segue baslase em Bernard Dros, idem ibider, 2005 Gianni Peron, dem bite 2006. 82 CE.Giann Pron idem idem, 2006. Digitalizada com CamScanner Dewise Roviswaene © enfrentamento militar em tertt6rio italiano entre 1943 € 1945. Nessa situagio especifca, fascismo (republicano) ¢ nazismo tornavam-se i ‘Tal simplificagio apenas parcialmente dava conta da realidade. Encobria

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