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Contribuições da Psicanálise ao processo de aprendizagem

A Psicanálise freudiana está voltada para as investigações clínicas a partir do estudo dos fenômenos psíquicos
inconscientes. Quando sistematizou a Psicanálise, Freud não tinha por proposta formular concepções e hipóteses específicas
acerca da aprendizagem. Entretanto, seus estudos permitiram conhecer os determinantes psíquicos que atuam para que o
sujeito tenha desejo de saber sobre si e sobre o mundo.
Uma das grandes contribuições de Freud para a compreensão dos processos de aprendizagem diz respeito ao fato de
que os processos inconscientes atuam na formação de todos os fenômenos humanos, sejam comportamentos ou qualquer
outro fenômeno em que o sujeito se envolve ou realiza.
Para a Psicanálise ensinar e aprender devem ser compreendidos também como processos marcados pelas
características individuais e inconscientes de cada sujeito, entendendo que todos os fenômenos humanos são subjetivos e
constituídos por ambiguidades e paradoxos, o que não se ajusta com uma proposta de previsibilidade quanto ao
comportamento ou a personalidade de uma pessoa antes de ela chegar à vida adulta, ainda que se possa vislumbrar a
organização do seu psiquismo, a partir da sua estruturação psíquica neurótica, psicótica ou perversa.
Por isso, se entende que a realidade psíquica de cada sujeito é singular e marcadamente diferente dos seus pares.
Para a Psicanálise, em um processo educativo não cabe atribuir sentidos prévios aos fenômenos simplesmente por
estarem fora dos padrões pré-estabelecidos. Assim, embora seja necessário estabelecer médias padronizadas de desempenho
esperado para um grupo de alunos em cada etapa da escolarização, é preciso manter um olhar diferenciado para o fato de que
cada processo de aprendizagem é único, havendo inúmeras variáveis envolvidas de sujeito a sujeito. Este entendimento pode
colaborar para que o professor realize seu trabalho com os grupos, sem deixar de vislumbrar as especificidades e a subjetividade
de cada aluno.
Por isso, evitar ideias cristalizadas sobre os alunos e professores, bem como sobre o processo de aprendizagem, pode
favorecer a compreensão de que não há uma verdade absoluta, e manter uma postura em oposição a esta premissa significaria
dificultar ou impedir que as singularidades e diferenças constitutivas do humano se expressem no processo de aprendizagem.
Assim, o desafio de ensinar implica certa imprevisibilidade em função de as diferenças e singularidades serem
reconhecidas como questões inerentes aos grupos em sala de aula. A partir desta realidade é possível pensar numa educação
dinâmica que permita a convivência simultânea de muitas formas de perceber e de pensar o mundo.
Além disso, para a Psicanálise, o professor deve estar atento à ideia de que o aluno é um sujeito capaz de aprender e de
construir o próprio conhecimento. Neste sentido, seu processo de aprendizagem não será linear e eventuais dificuldades ou
fracassos podem ter muito mais significados do que se possa imaginar em um olhar inicial.
No que diz respeito à discussão sobre o sucesso e o fracasso escolar, se pensarmos no entendimento freudiano acerca
do sintoma podemos refletir um pouco sobre estas questões e sobre as dificuldades que perpassam o processo de
aprendizagem, quando pudermos entender que o fracasso escolar pode, em muitos momentos, se colocar como uma questão
com características também inconscientes que se explicitaram nas questões escolares.
Então, devemos entender o conceito psicanalítico de sintoma. Para Freud, o sintoma é uma expressão de uma
consequência do processo de recalcamento, ou seja, o inconsciente, não podendo dar vazão aos conteúdos recalcados, encontra
uma “válvula” de escape e se mostra a partir do fracasso escolar.
Neste sentido, o sintoma é um caminho que aponta para o inconsciente e carrega necessariamente uma conotação que
é também positiva. O sintoma é a expressão do esforço do ego para se defender de impulsos vindos do inconsciente. E através
do sintoma é possível fazer o caminho de volta para elaboração dos conteúdos oriundos do ID e que forçam a passagem para a
consciência.
Por isso, o sintoma é, ao mesmo tempo, tanto a expressão do conflito inconsciente quanto aquilo que torna possível a
resolução do conflito em questão. Neste sentido, seja expresso pelo sujeito em forma de dificuldades de aprendizagem, um
distúrbio alimentar ou em outra forma sintomática, os sintomas trazem informação sobre aspectos do sujeito que precisam ser
escutados. Na escola, embora se deseje o sucesso no desempenho escolar, não se pode deixar de atentar para estas questões
que o inconsciente deflagra, entendendo que há mais de um significado para um mesmo sintoma, o que somente pode ser
definido pelo sujeito que apresenta o sintoma.
Neste sentido, a relação de aprendizagem passa também pelo posicionamento do professor diante do aluno, da sua
flexibilidade para acreditar na possibilidade do aluno elaborar um saber sobre sua forma de apreender o mundo.

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