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Laboratório de Físico-Química - IQD0192

Prof. Edgardo Garcia – Instituto de Química – UnB


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POLARIMETRIA - CINÉTICA DA INVERSÃO DA SACAROSE

1. INTRODUÇÃO

Este experimento objetiva a determinação da rotação específica da sacarose e da


constante de velocidade de sua hidrólise.
A inversão da sacarose é uma reação que se desenvolve muito lentamente em água
pura. A sacarose, na presença de H+, sofre hidrólise formando glicose e frutose. Ou seja,

H+ + C12H22O11 (aq)  C6H12O6 (aq) + C6H12O6(aq) (1)


sacarose glicose frutose

A rotação específica é, como outras propriedades físicas, uma grandeza importante para
a identificação de uma substância. Neste caso particular, os valores de []1, para a sacarose,
glicose e frutose são, respectivamente, + 66,47; + 52,5 e - 93,0 .
Ainda com relação à equação 1 observa-se que a sacarose é dextrógira e o produto
como um todo (mistura de glicose e frutose), levógiro; ou seja, o plano de luz polarizado que
no início da reação está desviado para a direita, passa gradualmente a deslocar-se para a
esquerda, à medida que a reação se processa. Então, para se estudar cineticamente esta reação,
pode ser usado um polarímetro. Este é um instrumento que mede a atividade óptica de uma
substância, ou seja, o ângulo de rotação da luz polarizada que atravessa uma solução desta
substância. A extensão deste desvio (o ângulo) pode ser utilizada para se determinar a
concentração da substância e, conseqüentemente, acompanhar o curso de uma reação (a
variação da concentração com o tempo).
A rigor o ângulo de rotação óptica de um soluto (por exemplo, a sacarose) em solução
aquosa a 20C pode ser representado da seguinte maneira:

 (589,3 nm; 20 C; sacarose; 10,0 g / L; 10,0 cm) = + 66,47 .

Este valor foi publicado em 1988 pela Comissão sobre símbolos, terminologia e
unidades para grandezas físico-químicas da IUPAC.
Suponha uma reação genérica de primeira ordem, cuja cinética é mostrada a seguir:

[B] [Produtos]
t=0 a 0
t=t A–x x

onde, [B] = concentração da substância genérica B (opticamente ativa), a = concentração


inicial de B e x = quantidade de B que sofre hidrólise. Neste caso, a variação de x com o
tempo é dada por:

dx / dt = k [B] ou dx / dt = k (a - x),

sendo k a constante de velocidade da hidrólise. Separando as variáveis:

dx / (a - x) = k dt.
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Integrando, sem preocupação com os limites de integração:

[1 / (a - x)] dx = k dt (2)

Resolvendo a integral do 1o membro e fazendo (a - x) = u, temos que,

du = -dx (a = concentração inicial de B = constante). Assim,

[1 / (a - x)] dx = (1 / u) (-du) = - ln (u) + c = ln (a - x) + c1 (3)

Já a integral do segundo membro da equação 2 torna-se:

k dt = kt + c2 (4)

sendo c1 e c2 as constantes de integração (tendo em vista que os limites inferiores e superiores


das integrais não foram definidos). Então substituindo (3) e (4) na equação 2, temos:

- ln(a - x) + c1 = k t + c2 (5)

Fazendo c2 – c1 = c e aplicando a condição de contorno para t = 0  x = 0, temos:

- ln(a - x) = k t + c
- ln(a - 0) = k 0 + c e c = - ln(a). (6)

Então, - ln(a - x) = k t – ln(a)

k = (1 / t) ln[a / (a - x)] (7)

A equação 7 é usada para calcular a constante de velocidade da hidrólise da sacarose.

Para facilitar a compreensão dos ângulos de rotação óptica que serão determinados
experimentalmente (marcados com *) e calculados, a seguir está uma descrição de cada um
deles:
 (solv)* = ângulo de desvio do plano da luz polarizada pelo solvente;
 (sol, t = 0)* = ângulo de desvio do plano da luz polarizada pela solução da sacarose para o
tempo t = 0;
 (mix, t)* = ângulo de desvio do plano da luz polarizada pela mistura (solução de sacarose +
solução de ácido) para um tempo t, qualquer, sendo t < t  = tempo infinito (na realidade t  
dois dias);
 (mix, t)* = ângulo de desvio do plano da luz polarizada pela mistura no tempo t;
 (corr, t = 0) =  (sol, t = 0) -  (solv), sendo corr = corrigido;
 (corr, t) =  (mix, t) -  (solv);
 (corr, t) =  (mix, t) -  (solv).

A partir deste conjunto de ângulos de desvio do plano da luz polarizada pode-se


reescrever a equação 7 em termos dos três últimos ângulos que são calculados. Na equação 7, o
termo a/(a - x) pode ser substituído por valores proporcionais a a e x sem que isto altere o
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valor de k. A vantagem desta substituição é que os cálculos envolvidos na determinação de k


são bastante simplificados. Para tal, as substituições de a e x por valores proporcionais são as
seguintes:
1) a  [ (corr, t = 0) -  (corr, t)] = desvio do plano da luz polarizada quando uma
quantidade a de sacarose sofre hidrólise; (8)
2) x  [ (corr, t = 0) -  (corr, t)] = desvio provocado quando uma quantidade x de sacarose
sofre hidrólise. (9)
Então, das equações 8 e 9, obtém-se:
(a - x)  {[ (corr, t = 0) -  (corr, t)] - [ (corr, t = 0) -  (corr, t)]}
(a - x)  [ (corr, t =0) -  (corr, t) -  (corr, t = 0) +  (corr, t)]
(a - x)  [ (corr, t) -  (corr, t)].
(10)

Portanto, substituindo as relações (8) e (10) na equação 7, tem-se:

k = (1 / t) In {[ (corr, t = 0) -  (corr, t)] / [ (corr, t) -  (corr, t)]} (11)

Na realidade esta equação pode ser reescrita como uma equação do tipo y = a + bx,
sendo a e b os coeficientes linear e angular, respectivamente. Ou seja,

ln [ (corr, t) -  (corr, t)] = ln [ (corr, t = 0) -  (corr, t)] – k.t (12)


y = a + b.x

MÉTODO DOS MÍNIMOS QUADRADOS

Para encontrar a equação da reta que mais se aproxima dos pontos, usamos o método
dos mínimos quadrados, ou seja:

a= b=

onde, N = o número de pares (x,y) determinados no experimento.

Sugestão: construa a seguinte tabela neste experimento.

Número da leitura x (mix, t) (corr, t) Y x2 xy

sendo x = t/min e y = ln [(corr, t) - (corr, t)].

O coeficiente angular da reta obtida no gráfico y em função do tempo t, é igual a -k.


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2. PARTE EXPERIMENTAL

(1) Ligue o polarímetro e aguarde aproximadamente 30 minutos antes de iniciar as


medidas.

(2) Prepare as seguintes soluções aquosas, em balões volumétricos de 50 mL :


A- dissolva 10,0 g de sacarose (C12H22011) em água destilada e dilua para 50 mL.
B- solução de ácido clorídrico 2,0 mol·L-1
C- solução de ácido clorídrico 4,0 mol·L-1

(3) Adicione água destilada (da mesma água que foi utilizada para preparar as soluções
indicadas acima) no interior da célula do polarímetro, até que esta fique completamente
cheia (evite formação de bolhas de ar no interior da célula).
(4) Faça a leitura e anote. Esta leitura corresponde ao ângulo de rotação óptica devido ao
solvente ("o branco"). Chame-o de α(solv).
(5) Coloque a solução de sacarose original A (concentrada) no interior da célula do
polarímetro e faça a leitura α(sacarose) para calcular depois a rotação específica da
sacarose []L .
(6) Faça uma diluição da solução de sacarose original A para metade da concentração e
faça a leitura do ângulo de rotação para o tempo t = 0, α(sol, t = 0).
(7) Prepare uma mistura com 10,0 mL da solução de sacarose e 10,0 mL de ácido
clorídrico 2,0 mol/L e imediatamente acione o cronômetro (para acompanhar a cinética
da reação).
(8) Lave a célula com água destilada e com um pouco da mistura preparada na etapa
anterior (aproximadamente 1 mL). Encha a célula com a mistura (mais uma vez, evite
bolhas de ar no interior do tubo).
(9) Coloque a célula no polarímetro e faça várias leituras do ângulo de rotação em
intervalos de 5 em 5 minutos, durante 1 hora, aproximadamente. Para cada intervalo,
anote a temperatura Ti, o valor lido α(mix,ti) e o tempo correspondente ti.
(10) Solicite ao técnico um frasco para o acondicionamento da solução para a leitura
no tempo infinito (após dois dias), α(mix, t∞).
(11) Repita as quatro últimas etapas para a solução 4,0 mol·L-1 de ácido clorídrico,
realizando as leituras de 5 em 5 minutos por meia hora.

- TODAS AS MEDIDAS DEVEM SER ANOTADAS SOMENTE QUANDO O VALOR NO


POLARIMETRO ESTIVER ESTABILIZADO.
- NÃO DESCARTE A SOLUÇÃO DE SACAROSE E ÁCIDO.
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3. PRÉ-RELATÓRIO

1. Em que consiste a polarimetria, descreva o prisma de Nicol e desenhe um esquema para


ilustrar um polarímetro.
2. O que você entende por rotação óptica? Descreva as variáveis que afetam a rotação óptica e
a influência destas variáveis no ângulo de rotação óptica.
3. Escreva a equação química resultante da hidrólise da sacarose e diga se ela é possível sem o
meio ácido e por que esta reação é chamada de inversão.
4. Calcule o volume de solução de ácido clorídrico concentrado (suponha 37% em massa,  =
1,185 g·mL-1) necessário para se preparar 1,0 litro de solução aquosa 4,0 mol·L-1 de HCI.
5. Supondo uma reação de primeira ordem A  Produtos, demonstre que a constante de
velocidade (k) é dada por:
k = (1/t) ln [a/(a – x)]
onde, a = concentração inicial de A
x = quantidade de A que reage no tempo t.
6. Explique como a constante de hidrólise pode ser obtida graficamente.
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Tabela 1. Riscos e diagrama de Hommel dos reagentes utilizados no experimento.


HOMMEL
REAGENTE RISCOS
(NFPA704)*

SACAROSE

ÁCIDO
CLORÍDRICO

ÁGUA

Riscos à saúde Inflamabilidade


4-Produto letal (ponto de fulgor)
3-Produto severamente 4-Abaixo de 22,7ºC
perigoso 3-Abaixo de 37,7ºC
2-Produto moderadamente 2-Abaixo de 93,3ºC
perigoso 1-Acima de 93,3ºC
1-Produto levemente 0-Não inflamável
perigoso

Riscos específicos Instabilidade


OXY-Oxidante (Reatividade)
ACID-Ácido 4-Pode explodir
ALK-Alcalino 3-Pode explodir com
COR-Corrosivo aquecimento ou choque
-Evite uso de água 2-Reação química violenta
1-Instavel se aquecido
-Radioativo

*Figura 1. Ilustração explicativa do diagrama de hommel (NFPA 704)


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5. BIBLIOGRAFIA

(1) Shoemaker, D. P.; Garland, C. W. & Nibler, J. W., Experiments in Physical Chemistry,
5ª Ed., New York, Mc Graw-Hill Publishing Company, 1989.
(2) Daniels, F. et al, Experimental Physical Chemistry, 7ª Ed., New York, McGraw-Hill,
1972.
(3) Bettelheim, F. A., Experimental Physical Chemistry, Philadelphia, W. B. Saunders,1971.
(4) Salzberg, H. W. et al., Physical Chemistry: A Modern Laboratory Course, New York,
Academic Press, 1969.
(5) Ewing, G. W., Instrumental Methods of Chemical Analysis, 4ª Ed., Tokio, McGraw Hill,
1975.
(6) Atkins, P. W., Físico-Química, Vol. 1, Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos,
1999.

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