Texto base (artigo): "Da guarda real de polícia à Guarda Nacional Republicana:
feições jurídico-políticas das instituições policiais portuguesas"
Ano publicação:2013
2) INTRODUÇÃO
3) BREVE HISTÓRICO
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Guarda Nacional Republicana (1911) - renomeada para , força policial militar de âmbito
nacional, cujo nome permanece até hoje.
A concepção de Polícia que se tinha era como o que entendemos por Administração
Pública. Ou seja, tinha a ver com a ampla atividade estatal administrativa e discricionária.
Qualquer ato do monarca dirigido a promover o bem-estar e comodidade dos seus vassalos
era agir como polícia (era como um ato administrativo).
Só no início do Século XIX (pós Revolução Francesa - final Sec. XVIII), num contexto
jurídico-político de afirmação do Estado liberal de Direito, é que Polícia começa a surgir
como instituição estatal, profissional e, em muitos países, militarizada, cuja missão era a
manutenção da ordem pública.
A Origem e significação da palavra Polícia tem origem na palavra grega Polis, que significa
cidade, enquanto comunidade política. Mas mais especificamente, está ligada a palavra
politeia que é um termo amplo relativo à segurança e ao bem estar dos habitantes da polis.
Platão e Aristóteles, de maneira abstrata, diziam que politeia era a arte de governar.
2) remete aos guardiões da lei, encarregados de fazer respeitar essas regras.
Essa dupla significação vai se propagar ao longo da história, ora dando à política traços de
administração geral interna de associações políticas, ora dando ideia estrita de instituição
responsável por aplicar a lei e manter a ordem.
IMPÉRIO ROMANO
Os Romanos adotaram a palavra politeia (e latinizaram), que virou politia - quando essa
palavra começa a fundamentar a autoridade do império e, passa a ser objeto de teorias
dos juristas para justificar a soberania absoluta do Estado Imperial sobre seus súditos.
Na fase do Império, Roma volta ao conceito grego de polícia como função governamental e
definição das fronteiras entre o público e o privado.
Surge uma administração pública com a figura do prefeito da cidade (praefectus urbi), que
reunia o poder de editar regulamentações e tinha autoridade sobre os corpos policiais.
Foi o começo da profissionalização da polícia, pois daí para frente os responsáveis pela
ordem pública eram pagos pela autoridade política central.
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Só que com a queda do Império Romano do Ocidente, houve uma descentralização
política, aí os serviços e a noção de polícia e de Estado Centralizado desaparecem da
Europa por vários séculos.
No Século XVII (França, 1666) cria-se a figura do "Tenente-Geral de Polícia de Paris" para
realizar tarefas ligadas a administração geral da cidade (clara referência a figura do
Praefectus urbi romano).
A Declração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em seu art. 12, dizia que "a garantia
dos direitos do homem e do cidadão necessita de uma força pública; esta força é, pois,
instituída para fruição por todos, e não para utilidade particular daqueles a quem é
confiada".
O surgimento do Código dos Delitos e das Penas delineou ainda mais a função policial de
manter a ordem pública, a liberdade, a propriedade, a segurança individual.
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Surge também a bipartição da atividade policial, que será modelo para o futuro da função
policial assim como é nos dias atuais. Trata-se da diferenciação funcional entre polícia
administrativa e polícia judiciária. Tendo esta a função de investigar os delitos que a polícia
administrativa não impediu que acontecessem . Essa dupla faceta passa a revelar uma
nova concepção strito sensu de polícia, revelada como sendo um modo de atuar da
atividade administrativa.
O Estados passam a instituir forças públicas autorizadas a usar a força (incluindo a força
física) para manutenção da ordem interna.
É com Napoleão Bonaparte que a Gendarmerie ganhará status de força policial de elite,
usando-a como instrumento de sua soberania, não só na França, mas nos países
conquistados.
Para cumprir seu papel de manutenção da ordem pública entre os cidadãos, inicialmente, a
Guarda Real de Polícia possuía em sua estrutura unidades de Infantaria e Cavalaria. O uso
desses métodos e equipamentos de natureza militar fez com que aquela força policial
sofresse duras críticas em virtude da forma de tratamento direcionado à população civil.
Apesar de tais críticas, a Guarda Real de Polícia obteve bons resultados na segurança da
capital, aumentando consideravelmente seu efetivo. Tanto que em 1824, é criada a Guarda
Real de Polícia do Porto, que possuía atribuições e estruturas semelhantes.
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Mas a influência francesa não parou por aí. Devido às invasões francesas, e a
consequente vinda de D. João VI para o Brasil, Portugal sofreu uma grande
instabilidade político-governamental, fazendo com que a Guarda Real de Polícia
sofresse sucessivas transformações em sua denominação e estrutura.
(PARTE VELASCO)
1º Momento: Guerra Civil de 1832 a 1834
Esta fase representa para Portugal a quebra com o Antigo Regime e a assunção de
um modelo de sociedade e Estado que passaram a dominar a Europa Ocidental
após a Revolução Francesa, a Monarquia Constitucional, com base em um modelo
de Estado de Direito.
De cada lado dessa guerra civil estavam D. Pedro e D. Miguel (filhos de D. João VI).
Este utilizou-se das Guardas Reais de Polícia de Lisboa e do Porto em defesa da
Monarquia absoluta em Portugal, trazendo assim, um retrocesso às forças policiais
ao se apresentarem como instrumentos de afirmação politico-governamental,
alterando os fins de suas atividades de segurança pública e garantia dos direitos do
cidadão.
Por esse motivo, em 1834 ao fim da guerra civil, Guardas Reais de Policia de Lisboa
e Porto, foram dissolvidas, dando lugar a Guarda Municipal de Lisboa, criada em
01 de julho daquele corrente ano, com uma preocupação em desvincular a imagem
da força militar que apoiara a causa legitimista ora criada, e também pelo fato do
próprio D. Pedro não se sentir seguro diante o descontentamento popular e dos
oposicionistas.
Um ano depois, foi igualmente criada a Guarda Municipal do Porto. Mais tarde após
a unificação dessas duas forças, em 1869, passam ser as forças policias da
Monarquia Constitucional e de manutenção da ordem pública até a instituição da
Primeira Republica, em 1910.
Nesse sentido, confirma-se que o conceito estrito sensu de polícia, onde atividade
de polícia passa a ser estatal administrativa, de caráter preventivo, destinado à
tranquilidade e manutenção da ordem pública, vinculada as regras do direito.
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Para que isso ocorresse houve profundas alterações político-jurídico-administrativas
em Portugal, afetando a estrutura e organização das forças policiais, de acordo com
o Decreto nº 23 de 16 de Maio de 1832, que inclusive dividia território em província,
comarca e conselhos (figura 2).
2) Momento: a reestruturação fruto da fusão entre as Guardas Municipais de
Lisboa e do Porto:
(PARTE ANSELMO)
6) A ORDEM PÚBLICA “REPUBLICANA” E SUA MANUTENÇÃO PELA
GUARDA NACIONAL REPUBLICANA
Apesar de ter servido sob um regime ditatorial durante o século XX, assim como foi
com a Guarda Real de Polícia, lá no início do século XIX, A GNR se mantem como
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instituição e função administrativa essenciais de um Estado Democrático de Direito
até os dias atuais.
7) CONCLUSÃO
A gendarmerie portuguesa, desde a sua criação (Guarda Real de Polícia – 1801) era
redesignada e reestruturada para atender os interesses dos diversos grupos político-
partidários que se revezavam no poder, inclusive para reprimir os ideais políticos
opositores, se distanciando assim dos verdadeiros objetivos, que eram a segurança
da população e garantia dos direitos dos cidadãos. Como se pode observar, a
gendarmerie portuguesa não escapou daquele perigo alertado no artigo 12, pois ela
servia aos interesses particulares daqueles que estavam no poder.