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Abota
1
De referir que há etnias que por terem pouca expressão estão praticamente a diluir-se noutras. Os fulas,
mandingas e beafadas são islamizados e já os balantas, manjacos, pepéis, bijagós e mancanhas são
animistas (costuma-se dizer no dia-a-dia, que são cristãos ou numa linguagem mais pejorativa “bibiduris
ou tchamiduris).
A etnia balanta também está parcialmente islamizada, e esta parte normalmente é designada de balanta
mané (o apelido mané…).
1
Abota
seu campo2 pedia a outras pessoas que lhe auxiliassem ficando obrigado a que se estas
também viessem a necessitar de participar no cultivo3.
Embora por regra se fazia na mesma comunidade, tudo indica que comunidades
diferentes também se auxiliavam entre si.
Neste caso em particular, não podemos falar de contrato entre pessoas individuais, mas
entre coletividade4.
Segundo Samora Sampa, com a chegada dos portugueses [ao menos a partir da sua
maior incrementação territorial] a situação social foi se alterando, nomeadamente,
mudando o paradigma económico em que assentava a sociedade, passando de uma
economia de troca direta5 para de troca indireta, através da utilização de moeda como
meio de troca.
2
Utilizamos o substantivo seu no sentido de algo pertencente à família, à morança, porquanto a
propriedade individual do solo parece ser realidade recente (não se esquecer que o solo pertence
necessariamente ao Estado, art. 12.º CRGB).
A propósito, cfr. Artur Augusto da Silva in Usos e costumes jurídicos dos Mandingas, Boletim Cultural
da Guiné-Portuguesa, vol. XXIV, N.º 93, janeiro 1969,.pág. 26 que diz:
a) Propriedade familiar;
b) Propriedade colectiva;
Embora o Autor já admitisse, na altura, que “surgiu uma outra forma de propriedades: a individual.”
No entanto, o campo não podia ser objeto de propriedade individual, mas da família.
Por outro lado, na etnia manjaca se dividia a propriedade em: individual (apenas de bens móveis),
familiar («lavouras de família», constituída por terras de semeadura…), coletiva da tribo e especial de
«reinanças e chefias», cfr. António Carreira, Vida social dos Manjacos, in Centro de Estudos da Guiné-
Portuguesa, N.º 1, 1947, pág. 43-44.
3
Cfr. Samora Ilídio Sampa, Em tema de abota (inédito), relatório de Mestrado apresentado em Ciências
Jurídicas no ano letivo 2008/2009, quem sustenta que a expressão adequada para este contrato na altura
seria “compromisso do campo”, pág. 7.
4
Não podemos garantir que o sentido coincide necessariamente com o que no Direito positivo se ensina
como coletividade.
Alcides Gomes
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Então o recurso ao que se designa de abota (contribuir com dinheiro) proveio desta
necessidade de fazer face às necessidades financeiras das pessoas e passou também a ser
feita não pela coletividade, mas por pessoas singulares.
O seu objetivo final seria necessariamente o financiamento dos abotantes para as suas
necessidades6.
Mas a evolução não parou aqui, hoje constata-se que este objetivo de financiamento em
dinheiro é perspetivado noutras vertentes, sendo nomeadamente feito para permitir a
aquisição de materiais para o lar e até de construção7, como forma de poder “contornar”
a falta de crédito bancário e de outras instituições financeiras.
A evolução ditou que se tornasse ainda num contrato em que já não participa
necessariamente um número de pessoas sempre igual ou superior a três, estamos a
assistir situações em que apenas duas pessoas são partes do contrato, quer inicialmente
quer por se terem reduzido a tal.
5
A sociedade tradicional não só assentava na troca direta, como ainda na autossuficiência de cada família,
ou seja, cada família produzia tudo quanto necessitasse para sua subsistência.
6
Samora Sampa, cit., pág. 9 e ss.
7
O caso de construção é raro, mas tem havido aqui e acolá, entre uma e outra pessoa, contrato de abota
em que se entrega materiais de construção.
3
Abota
Uma vez que partimos do referido estudo de Samora Sampa para estas lições sobre o
contrato de abota, e por ser não só o primeiro como o único que já abordou de forma
mais aturada o tema, cremos ser de avançar com a noção defendida por ele neste
trabalho onde dizia que a abota:
“É a convenção pela qual, três ou mais pessoas, cada uma delas, se obriga a contribuir
com determinado valor pecuniário e o respetivo produto é entregue a uma das partes,
na data acordada, assim sucessivamente, até completar o número de partes”.
Desta noção, pode-se retirar várias ilações das quais destacamos, em primeiro lugar, o
facto de a abota ser um contrato em que o número das partes não pode ser inferior a três
e, em segundo lugar, por o seu objeto só poder ser dinheiro.
A primeira razão prende-se com o facto de, segundo é nosso entendimento, a abota, não
obstante, ser celebrado na maior parte dos casos, por um número de partes sempre
superior a duas pessoas, igualmente pode ter apenas duas pessoas.
Já referimos atrás que muitas vezes o número de partes pode ser três ou mais, mas
podem “sair” do contrato até ficar duas sem que se deva dizer que o contrato se
extingue, e podem mesmo à partida ser duas pessoas a contratarem-se.
Hoje, é habitual ver contrato de abota em que as partes se obrigam a entregar bens
materiais, nomeadamente, abota de cadeiras, de caçarolas e outros utensílios de uso
doméstico, de panos, etc. (e como já referimos, até de materiais de construção).
Alcides Gomes
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Aceitando que a realidade is changing, a melhor noção não pode ser a apresentada por
Samora, por se circunscrever a um certo momento histórico (e verdadeiro) do tipo
contratual em estudo, e que continua maioritariamente a ser aplicado, mas que não
explica outras situações correntes, atuais, e que se enquadram perfeitamente dentro do
tipo8.
“Contrato celebrado entre duas ou mais pessoas, em que cada uma delas se obriga a
contribuir com determinado valor pecuniário ou outra coisa móvel fungível, cujo
produto se reverte sucessivamente, dentro do período estipulado, para cada uma das
partes até se completar o ciclo”.
Quanto ao número de partes já fizemos referência, pelo que chamamos apenas atenção
para uma certa particularidade no contrato de abota.
Quando se pensa em partes no contrato, a regra é uma pessoa corresponder a uma parte,
embora, nalgumas situações, duas ou mais pessoas podem constituir apenas uma parte,
bastando para tal que sejam consideradas como mesmos sujeitos no que tem a ver com
os direitos e obrigações a assumir.
Não se conhece no direito civil situações em que uma única pessoa possa ter a
qualidade de duas partes de um mesmo contrato. No entanto, no contrato de abota, tal é
possível, ainda que, digamos assim, apenas nominalmente9.
8
Aliás, o próprio Samora reconhece que abota vem do que chama de compromisso de campo que era um
contrato cujo objeto era prestação de serviços, pelo que não se pode defender como sendo essência deste
contrato o pagamento em dinheiro.
9
A realidade não é simples de perceber para aquele que está habituado a um determinado dogma no
contrato, mas vamos tentar exemplificar para podermos construir o que for necessário neste sentido.
Imaginemos que Antónia, Maimuna, Npili, Ponu, Ndjaba e Cadi, amigas de longa data, decidem celebrar
entre si um contrato em que cada uma iria pagar semanalmente 10 000 XOF que seria entregue,
sucessivamente, a cada uma delas (supomos que pela ordem em que estão nomeadas aqui) até à última
delas (Cadi, portanto).
Este contrato é o que denominamos de abota e tem seis partes, coincidindo com o número de pessoas que
contrataram.
5
Abota
Assim, para todos os efeitos, e conforme o exemplo dado na nota, uma pessoa pode ter a
qualidade de duas ou mais partes de um contrato de abota.
Outro aspeto importante do conceito tem a ver com o seu objeto que, tal como no
mútuo, incide sobre coisas móveis fungíveis, do que se destaca o dinheiro.
Samora Sampa fala em abotantes para designar as partes no contrato, em abotado para
se referir aquele dos abotantes que já recebeu produto e cabeçário para indicar o
abotante que se encarrega de receber as respetivas contribuições e pagar ao abotante que
está na ordem para pagamento10.
§ 3. Efeitos essenciais
a) Efeitos reais
Também já referimos que uma das finalidades principais da abota é o financiamento das
partes, logo, depois de recebido o produto (dinheiro ou outra coisa móvel) este torna-se
propriedade do abotado, passando a dispor dele como entender (em alguns casos para
financiamento da atividade pré-definida11), porquanto, se assim não fosse, não haveria
como dar sentido útil ao contrato.
Ora, pode acontecer que Npili, vendedeira de peixe, com três “bancas” em três mercados de Bissau,
sentia-se confiante e pretendia pagar não 10 000 XOF por semana, mas 30 000 XOF, facto possível no
contrato de abota. Face a esta circunstância ela é considerada como se tivesse entrado com “três mãos” e é
tomada para cada mão “como se fosse uma pessoa diferente”, «uma parte à parte, em cada mão», se a
poesia for permitida.
Vamos supor que ela devia pagar na vez de Maimuna receber, mas apenas dispunha de 20 000 XOF,
jamais pode ser recusado o pagamento desta parte por não ser integral o cumprimento, apenas vai se
considerar que não cumpriu com “uma das mãos” com que entrou na abota, o que pode ter reflexo no
cumprimento futuro como se vai explicar mais adiante.
10
Ob. cit., pág. 10.
11
Sem com isso se querer significar que há uma obrigatoriedade em proceder de uma forma…
Alcides Gomes
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Se, pelo contrário, não se estipular qualquer data, sempre que todos realizarem a
prestação, o cabeçário deve comunicar ao abotante que tem a vez para receber o seu
pagamento ou ir entregar-lhe no lugar previamente acordado12.
Uma questão pertinente a colocar, se tivermos em atenção que, por regra, existe um
período para cumprimento e uma pessoa a quem se deve entregar e que depois procede
ao pagamento daquele que estiver “na fila do recebimento”, é se ao faltar o pagamento
de um dos abotantes, se a propriedade se transmite.
A prática não tem dado hipóteses para ver situações anómalas como as que são
colocadas aqui, em parte devido ao facto de o contrato de abota ter um nível de
cumprimento muito elevado13.
12
Duas notas: 1. Se não for escolhido ninguém como cabeçário, ficando aquele que tem a vez de receber
com o encargo de cobrar aos restantes membros, não se coloca o problema de transmissão de propriedade
nos termos que estamos a analisar, pois cada pagamento leva à transmissão de propriedade para o que tem
a vez.
2. Por regra, o cumprimento da prestação assim como o pagamento ao que tem a vez de receber efetuam-
se, existindo cabeçário, na casa deste.
13
Este facto deve-se à sanção especial do contrato – perda do “prestígio social” quer para o abotante
incumpridor como para a sua família, razão pela qual, muitas vezes, a própria família paga para “tapar a
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Abota
O que a pouca realidade da vida contratual nos diz neste tipo de contrato é que o
abotante que tem a vez, mesmo que não esteja completa a prestação efetuada, chegada a
hora, pode comunicar ao cabeçário que aceita a prestação incompleta, ficando o faltoso
com o dever de cumprir mais tarde.
Ou pode dizer que aguarda até se completar a prestação para receber. Esta hipótese é
motivada, regra geral, pelo facto de o montante pago servir para realizar uma atividade
programada e se se receber apenas parcialmente a prestação, corre-se o risco “di mama
taco” e ficar sem realizar “a obra ou tarefa” pretendida.
Cremos que nenhum abotante é obrigado a receber uma prestação parcial, sobretudo se
tivermos em conta o fim último que é o financiamento. Isto é, se reúnem algumas
pessoas e acordam um certo montante para uma certa periodicidade, é porque têm em
vista, cada uma delas isoladamente, um certo fim, então se faltar o valor, pode ficar
frustrada a mesma finalidade.
Mas deve-se ter em conta que os outros já pagaram e o cabeçário incumbe-se apenas de
guardar a coisa até a sua entrega, pelo que, em consonância com a possibilidade de
receber ou não a prestação efetuada, é nosso entendimento que a propriedade se
transmite com o vencimento do prazo ou com a comunicação do abotante de que está
disponível o produto da abota, independentemente de o produto ser total ou parcial.
vergonha”.
Há uma censura social muito forte para quem não respeita o contrato de abota e, dada a caraterística da
sociedade, pequena, em que todo o mundo se conhece e fala um com outro, ou tem laços familiares, o
incumpridor é rapidamente conhecido e “afastado” como que “incapacitado” para contrato, pois perde-se
a confiança nele, enquanto pessoa séria ou solvente.
Alcides Gomes
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1 – Baseado também no facto de ter como fim principal a solidariedade entre as partes,
elas podem concordar, desde que o facto fortuito seja também muito danoso para o
cabeçário, assumir cada uma o cumprimento da prestação perdida.
2 – Podem responsabilizar o cabeçário pelos danos, ainda que não tenha culpa (por
exemplo, ele guarda a coisa e é a sua casa que queimou, portanto é ele a arcar com todos
os danos e responsabilidades).
Portanto, quanto à transferência do risco, existe uma particularidade no que tem a ver
com a propriedade do produto da abota.
b) Efeitos obrigacionais
Estes constituem efeitos essenciais, a par dos efeitos reais. As obrigações dos abotantes
são as de entrega da quantia pecuniária ou da coisa móvel acordada.
Ela deixa de cumprir e pode faze-lo posteriormente ou ficar sem pagar, caso em que,
quando chega a sua vez, Npili fica desobrigada de pagar porque não tinha recebido nada
da Cadi.
9
Abota
É uma situação anómala que à partida não pode acontecer, mas ao suceder o regime não
é o afastamento do incumpridor, mas a exoneração de responsabilidade daquele em cuja
vez não cumpriu quando chegar também a vez do faltoso.
Não há um critério uniforme para determinação da sequência, sendo esta aliás, feita
tendo em conta a finalidade da abota.
Isto é, sempre que se tem em vista realização de objetivos concretos dos abotantes com
o dinheiro, a fixação da cronologia faz-se pensando no período em que cada parte terá
necessidade de ter disponível o montante da abota ou a coisa abotada.
Pelo contrário, quando a abota é feita assim no geral, sem nada em concreto em vista,
por regra, a determinação faz-se em atenção “à fama de cumpridor ou incumpridor” por
parte de cada abotante, porquanto ninguém quer pagar em primeiro lugar àquele que não
cumpre a tempo, que é preciso “chatear” para cumprir.
Quem determina a sequência são os próprios abotantes, sobretudo nos casos das
situações de abota feita com vista a ajudar a realizar objetivos concretos dos abotantes.
Porém, esta faculdade pode ser deixada ao cabeçário, nos casos em que não há esta
cronologia imposta pelas suas necessidades.
A cronologia, refere-se, não é uma questão de ordem pública, podendo ser alterada por
acordo das partes posterior, sobretudo quando motivado por situações inadiáveis que um
dos abotantes deve fazer face de urgência.
Alcides Gomes
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Por regra, é sempre preciso acordo de todos, mas faltando esse acordo, se o abotante que
tinha a vez quiser, pode trocar “o seu lugar” com aquele que está em aflição14.
O cabeçário é aquele a quem se incumbe de receber a prestação das mãos dos abotantes
e depois entregar o respetivo produto ao abotante que tem a vez de receber.
Com isso, podemos concluir que são duas as obrigações do cabeçário: 1) recolher a
prestação dos abotantes; 2) entregar o produto recolhido aquele que tem a vez de
receber.
Nomeado o cabeçário, apenas ele pode interpelar cada um dos abotantes a exigir a
realização da prestação e só dele se pode exigir também a entrega do produto respetivo.
Então, deve ser diligente e respeitado para que os seus apelos sejam lestos e levados a
sério15.
14
Retomando, com modificação, o exemplo da Antónia, Maimuna, Npili, Ponu, Ndjaba e Cadi, agora sem
“várias mãos de nenhuma delas”, vamos supor que a ordem de pagamento é a que estão indicadas. Se
Npili receber no mês de fevereiro e chegamos ao mês de março em que Ponu deva receber, mas Cadi
pretende tomar a vez porque, entretanto, adoeceu gravemente o pai e este precisa de tratamento urgente.
Nesta hipótese pode ser concedido “lugar” à Cadi, para depois receber Ponu (mês de abril) e finalmente
Ndjaba (maio).
Não havendo consenso da Ndjaba, por hipótese, Ponu pode “trocar” com Cadi e esta recebe em março,
Ndjaba recebe em abril, que é o tempo determinado previamente para ela, e Ponu recebe em maio.
15
Normalmente a tarefa de cabeçário é confiada ao mais velho, tendo em conta o respeito que se deposita
no nosso país às pessoas mais velhas. Igualmente, pode-se confiar a um jovem responsáveis e respeitosos
das regras sociais, como forma de teste e prémio (cfr. no mesmo sentido, Samora Sampa, cit., pág. 9).
11
Abota
Ainda tem a obrigação de guarda, se bem que não nos termos de um depositante, mas
simplesmente daquele que tem na sua posse algo pertencente a outrem, ainda que com
intuito de imediatamente o entregar.
§ 4. Classificação do contrato
Pelo conceito do contrato, abstraindo dos problemas em seu torno, e seguindo aquilo
que parece ser ainda a tendência maioritária, retira-se dois requisitos:
a) Acordo de vontades;
Lançando mão ao conhecimento adquirido na Teoria Geral, não abordamos estes dois
requisitos e apenas se afirma aqui que a abota consiste igualmente num acordo de
vontades em que se regula interesses particulares.
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Cfr. Pedro Pais de Vasconcelos, Teoria Geral do Direito Civil, Coimbra, Almedina, 2012.
Alcides Gomes
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§ 5. Formação do contrato
O processo formativo não releva qualquer particularidade em relação aos demais tipos
contratuais, caraterizando-se por uma informalidade marcante dos contratos com forte
origem social.
Quanto à capacidade, é preciso realçar que a prática tem afastado qualquer exigência
neste sentido, ou seja, por regra, só maiores é que celebram o contrato, porém, dentro do
círculo familiar17, é corrente que uma mãe ou um pai, que queira participar em várias
mãos numa abota o faça em seu nome apenas ou em nome de um filho.
O sentimento das partes continua a ser da mãe como abotante, embora em nome do filho
menor, e consideram o filho como seu colega do contrato.
Os pais podem representar os filhos nos negócios, dentro dos limites impostos pela lei,
substituindo-os na declaração negocial e agindo no seu interesse e por sua conta. Mas a
representação pressupõe que o bem pertença ao filho incapaz e que o negócio produza
efeitos na esfera do mesmo filho.
Ora, na abota não é isso que sucede (ou nem sempre é isso). Os pais utilizam o seu
dinheiro para participar da abota em nome dos filhos e sem qualquer intenção de
doação, até porque o produto depois reverte para os pais e não para o filho.
Portanto, o contrato pode ser celebrado com pessoas que só aparentemente são partes,
na medida em que aos olhos dos participantes não são tomadas como tal e se houver
incumprimento a responsabilidade é assacada à verdadeira parte (pais, tios, etc.) que
utilizam interposta pessoa.
17
Entende-se aqui por círculo familiar o meio envolvendo uma relação de familiaridade em sentido estrito
do termo, de vizinhança e de amizade.
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Abota
Mútuo
Vista a definição do contrato de mútuo, art. 1142.º e comparada com o conceito que
avançamos para o contrato de abota, constata-se que têm em comum a transmissão de
propriedade sobre o objeto do contrato.
No mútuo há uma obrigação de restituir objeto do género igual que não existe na abota,
pois a prestação da abota não se consubstancia em restituição.
Depósito
O objeto é diferente – depósito recai sobre coisa móvel ou imóvel e a abota sobre coisas
fungíveis.