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PEÇAS FLECTIDAS (EDIÇÂO)

As vigas estão sujeitas a tensões normais σ de tracção e compressão longitudinais e portanto na direcção paralela
às fibras; nas regiões de aplicação de carga, como por exemplo nos apoios, estão submetidas a tensões σcn de
compressão normal às fibras. Além disso actuam tensões cisalhantes na direcção normal às fibras (tensões
verticais na secção) e na direcção paralela às fibras (tensões horizontais), conforme ilustrado na Fig. 6.a.

Fig. 1 Flexão simples: viga em flexão no plano vertical com tensões normais σ longitudinais e
transversais e tensões cisalhantes τ

As vigas altas e esbeltas podem sofrer flambagem lateral, um tipo de instabilidade na qual a viga perde o
equilíbrio nu plano principal de flexão (em geral vertical) e passa a apresentar deslocamentos laterais e rotação de
torção. A ocorrência deste fenómeno reduz a capacidade resistência à flexão. A flambagem lateral pode ser
evitada provendo-se à viga pontos intermediário de contenção lateral.

Fig. 2 Flexão simples: flambagem lateral de vigas.

Para garantia de segurança em relação aos estados limites últimos de vigas no contexto do método dos estados
limites, as tensões solicitantes de projecto devem ser menores que as tensões resistentes.

Em relação ao estado limite de deformação excessiva, os deslocamentos δ (Fig. 1) finais (instantâneos mais os de
fluência) devem ser inferiores a valores limites de modo a evitar a ocorrência de danos em elementos acessórios à
estrutura e desconforto dos usuários.

Neste capítulo são abordados os critérios de projecto e disposições construtivas de vigas com secções de diversos
tipos, em flexão simples recta (em tomo de eixo principal de inércia), oblíqua e flexão composta sem flambagem.
As peças em flexo-compressão com flambagem são abordadas no ponto.
A verificação da segurança de peças flectidas consiste nas verificações dos estados limites últimos e dos estados
limites de utilização. Nos estados limites últimos, são verificadas as tensões normais de tração e compressão, as
tensões cisalhantes e a estabilidade lateral para vigas esbeltas. Nos estados limites de utilização, são verificadas
as deformações e vibrações limites.

1. MODELOS CONSTRUTIVOS
As vigas de madeira são feitas em diversos tipos, conforme esquematizados na Fig. 3:

a) vigas de madeira roliça b) vigas de madeira lavrada c) vigas de madeira serrada

d) vigas de madeira laminada ou microlaminada e e) vigas compostas de peças maciças por f) vigas compostas de peças maciças, com
colada entarugamento interfaces contínuas

g) vigas compostas com alma descontínua pregada h) vigas compostas com placas de madeira compensada

Fig. 3 Tipos construtivos de vigas de madeira: fs) madeira roliça; (ò) madeira lavrada; (c) madeira seriada; (d) madeira laminada colada;
(θ) viga composta de peças maciças entarugadas, (í) vigas compostas de peças maciças com interfaces continuas (ligação com pregos,
conectores de anel ou cola); (g) viga composta com alma descontinua, pregada; th) viga composta com alma formada por placas de
madeira compensada ou de madeira recomposta com lascas orientadas OSB (ligação com cola ou pregos).

As três primeiras categorias são formadas por peças maciças simples. As madeiras roliças são, por vezes, usadas
como vigas em obras provisórias, como por exemplo andaimes ou escoramentos. As madeiras lavradas são
utilizadas na construção de pontes de serviço. As seções transversais apresentam em geral dimensões superiores
às das madeiras serradas;

podem ser usadas, por exemplo, peças lavradas de 20 cm x 20 cm, 20 cm x 30 cm, 30 cm x 30 cm etc. As vigas
de madeira serrada obedecem em geral a dimensões transversais padronizadas.

As vigas de madeira laminada e colada são produtos industriais da maior importância, pois permitem construir
secções de comportamento equivalente ao da madeira maciça, porém com condições muito maiores, como por
exemplo vigas rectangulares de secção de 30 cm x 200 cm.

As vigas compostas de duas ou mais peças maciças necessitam de ligações nas interfaces, a fim de evitar
deslocamentos relativos entre as peças. As ligações podem ser feilas com tarugos, como é indicado na Fig. 3e. Na
Fig. 3f, é possível ver o esquema de viga composta de peças maciças, com interfaces contínuas; a união das
interfaces pode ser feita com cola, pregos ou conectores de anel.
As vigas compostas das Figs. 3e e f têm as alturas limitadas pelos tamanhos das peças maciças. Conseguem-se
vigas de maiores alturas com o esquema da 3g, no qual a alma é formada por tábuas ou pranchas pregadas nos
flanges; essas vigas de almas descontínuas são na verdade treliças de diagonais múltiplas.

A combinação de peças de madeira laminada com placas de madeira compensada ou painéis de madeira
recomposta com lascas orientadas (OSB) (Fig. 3h) permite fazer vigas compostas de grandes alturas, com formas
eficientes.

2. DIMENSÕES MÍNIMAS DA SECÇÃO TRANSVERSAL DE PEÇAS DE MADEIRA SERRADA


USADAS EM ESTRUTURAS
As secções transversais de peças utilizadas em estruturas devem ter certas dimensões mínimas, para evitar
fendilhamentos ou flexibilidade exagerada.

As dimensões mínimas encontram-se na Tabela 2.1.


Tabela 2.1
Norma brasileira NBR 7190 Eurocódigo 5

Nas peças compostas, ligadas por pregos ou conectores de anel, devem ser respeitadas as dimensões mínimas
especificadas para esses elementos de ligação.

Os pranchões de pisos de pontes rodoviárias ou de pedestres devem ser previstos com uma espessura de, pelo
menos, 2 cm superior ao exigido pelo cálculo, a fim de atender ao desgaste mecânico provocado pelos usuários.

2.1 Contra-flechas
Sempre que possível, em construções, as vigas de madeira devem ser feitas com uma contraflecha, de modo a
evitar os efeitos pouco estéticos de configurações deformadas visíveis a olho nu.

As vigas laminadas coladas podem ser constituídas com contraflecha, bastando colar as lâminas com a curvatura
especificada. As treliças e vigas armadas podem também ser dotadas de contraflechas.
Nas vigas de madeira maciça, serradas ou lavradas, em geral, não é possível preparar as peças com contraflechas.

Usualmente são especificados nos projectos valores de contraflechas de modo a compensar os deslocamentos
totais (instantâneos mais os de fluência) devidos às cargas permanentes. Na verificação quanto ao estado limite de
deformação excessiva a contraflecha dada pode ser deduzida do deslocamento total:
Estado Limite de Deformação Excessiva
O cálculo dos deslocamentos, devidos a uma certa combinação de acções, para a verificação do estado
limite de deformação excessiva, inclui a determinação dos deslocamentos elásticos (instantâneos) e dos
deslocamentos devidos à deformação lenta da madeira (fluência), conforme a Eq. da deformação total:

(𝛿𝑡𝑜𝑡 = 𝛿𝑒𝑙 + 𝛿𝑐 ≅ 𝛿𝑒𝑙 (1 + 𝜑)). (1)

Onde: φ- é o coeficiente de fluência; 𝛿𝑐 – deformação de fluência; 𝛿𝑒𝑙 – deformação elástica

Os valores indicados pela NBR 7190 e pelo EUROCODE 5 para o coeficiente de fluência φ em função das
condições de humidade e do tempo de duração da carga encontram-se na Tabela seguinte:

Observa-se que os valores da norma brasileira são conservadores em relação aos da norma européia.
Alternativamente à Eq. da deformação total, os deslocamentos podem ser estimados com as equações da
teoria elástica utilizando-se o módulo de elasticidade efectivo dado pela Eq:
1
𝐸𝑐 𝑒𝑓 = 1+𝜑 𝐸 (2)

De acordo com a NBR 7190, o módulo efectivo deve ser estimado com a Eq..

Ec,ef = kmod,1 x kmod,2 x kmod,3 x Ec,m. (3)

Os valores de deslocamentos verticais limites prescritos pela NBR 7190 estão indicados na Tabela:

. Para estruturas correntes deseja-se garantir as condições de utilização normal da construção e seu
aspecto estético. Para isto, admite-se uma combinação de acções de longa duração. Os limites para
deslocamentos verticais levam em conta ainda a existência de materiais frágeis ligados à estrutura, tais
como forros, pisos e divisórias, aos quais se pretende evitar danos através do controle de deslocamentos da
estrutura. Nos casos em que a fissuração destes materiais frágeis não puder ser evitada por meio de
disposições construtivas, adoptam-se os valores de deslocamentos limites correspondentes ao título
"construções com materiais frágeis não-estruturais" na Tabela acima. Nestes casos, os deslocamentos são
calculados com combinações de média ou curta duração, conforme o rigor desejado no controle destes
deslocamentos.

Quando for dada uma contraflecha uo para compensação da flecha devida à carga permanente uG, o saldo
de deslocamento vertical permanente uG — u0), limitado ao mínimo de uG/3, pode ser utilizado nas
verificações adicionando-o à flecha devida às cargas variáveis.

3. PROCEDIMENTOS DE CÁLCULO
No dimensionamento das vigas de madeira são utilizados dois critérios básicos:
a) limitação de deformações.
As limitações de deformações têm, em obras de madeira, importância relativamente maior que em outros
materiais, como aço e betão armado. Isto porque se trata de um material com alta relação resistência/rigidez.
As limitações de flechas das vigas visam a atender a requisitos estéticos, evitar danos a componentes
acessórios e ainda visam ao conforto dos usuários (evitar flexibilidade exagerada no caso de assoalhos de
edificações ou pontes).
Os inconvenientes estéticos das deformações podem ser prevenidos, quando possível, com a adopção de
contraflechas, como indicado no ponto 2.1. As contraflechas podem ser colocadas nas vigas laminadas coladas,
nos sistemas treliçados, vigas armadas etc.
Os valores limites para as flechas de vigas encontram-se na tabela 3.18 e levam em conta a existência ou
não de materiais frágeis ligados à estrutura, tais como forros, pisos e divisórias, aos quais se pretende evitar danos
através de controle de deslocamentos das vigas.

Fig. 3 – Deformação de uma viga biapoiada


A Fig. 3 ilustra a configuração deformada de uma viga bi-apoiada em várias etapas. A configuração 0
corresponde à contraflecha δ0, a qual evolui para a configuração 1 no início da utilização da estrutura quando
ocorre o deslocamento instantâneo δGi referente à carga permanente. Passado um certo tempo t este deslocamento
é acrescido de δGt devido à fluência e do deslocamento δQ devido às cargas variáveis.
As flechas totais a serem calculadas correspondem aos deslocamentos instantâneos acrescidos dos
deslocamentos ao longo do tempo devidos à fluência da madeira, conforme a Eq. (𝛿𝑡𝑜𝑡 = 𝛿𝑒𝑙 + 𝛿𝑐 ≅ 𝛿𝑒𝑙 (1 +
𝜑)), onde o coeficiente de fluência é dado em função das condições de duração do carregamento e de
humidade. Alternativamente o cálculo das flechas pode ser feito com o módulo de elasticidade efectivo
definido na Eq. (2), onde o coeficiente kmod reduz o valor médio de Ec, obtido cm ensaios rápidos de
compressão paralela às fibras, para incluir o efeito de fluência em função das condições específicas de
duração da carga, de humidade e de classificação estrutural da madeira. As acções e as condições de duração
das cargas a serem consideradas encontram-se na tabela 3.18.

De acordo com a NBR7190, quando for dada uma contraflecha δ0, o cálculo da flecha líquida δn deve incluir
no mínimo 1/3 da flecha total devido à carga permanente δG (ver Fig. 4).
Fig. 4 – Deformação de uma viga biapoiada

b) limitação das tensões;


O problema de verificação de tensões, em obras de madeira, é formulado com a teoria clássica de resistência dos
materiais, muito embora o material não siga a lei linear de tensões (Lei de Hooke) até a ruptura.
Em peças compostas, leva-se em conta a ineficiência das ligações através de valores reduzidos dos momentos de
inércia ou dos momentos resistentes.

4. ESTADOS LIMITES ÚLTIMOS PARA MOMENTO FLECTOR


As vigas de madeira maciça são as que têm maior utilização na prática. Em geral, o produto é disponível em
forma de madeira serrada, em dimensões padronizadas e comprimentos limitados a cerca de 5 m. As vigas de
madeira serrada são empregues na construção de telhados, assoalhos, casas, galpões, treliças etc.
As vigas de madeira lavrada podem ser obtidas, nas regiões madeireiras, com secções transversais e
comprimentos especiais, em geral superiores às dimensões usuais das madeiras serradas.
As vigas principais de soalhos ou pontes podem ser simples ou contínuas. No cálculo de vigas contínuas, devem
ser previstas 08 ancoragens (com parafusos ou vigas de amarração), para absorver eventuais reacções negativas
de cargas móveis.
As vigas secundárias e as pranchas de soalhos são em geral calculadas como vigas simplesmente apoiadas sobre
dois apoios, não se considerando a influência favorável da continuidade.
Para cálculos das barras flectidas, adopta-se para o vão teórico l de vigas simplesmente apoiadas sobre dois
apoios (Fig. 5) que é dado pelo menor valor entre:

− 𝑑𝑖𝑠𝑡â𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑒𝑛𝑡𝑟𝑒 𝑒𝑖𝑥𝑜𝑠 𝑎𝑝𝑜𝑖𝑎𝑑𝑜𝑠


𝑙≤{ − 𝑣ã𝑜 − 𝑙𝑖𝑣𝑟𝑒 𝑎𝑐𝑟𝑒𝑠𝑐𝑖𝑑𝑜 𝑑𝑎 𝑎𝑙𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑑𝑎 𝑠𝑒𝑐çã𝑜 𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠𝑣𝑒𝑟𝑠𝑎𝑙 𝑑𝑎 𝑝𝑒ç𝑎 𝑛𝑜 𝑚𝑒𝑖𝑜 𝑑𝑜 𝑣ã𝑜
𝑁𝑜𝑡𝑎𝑟 𝑞𝑢𝑒 𝑛ã𝑜 𝑠𝑒 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑖𝑑𝑒𝑟𝑎𝑚 𝑎𝑐𝑟é𝑠𝑐𝑖𝑚𝑜 𝑚𝑎𝑖𝑜𝑟 𝑞𝑢𝑒 10 𝑐𝑚
Ou seja: l= l0
l= l´+h ≤ l´+10 cm
onde l0 é a distância entre centros dos apoios, l' é o vão livre e h é a altura da viga.

l' = vão livre entre apoios;


l0 = distância entre centros dos apoios;
l = vão teórico.

Fig. 5 - Vão teórico de viga simples e contínua


Nos tramos intermediários de vigas contínuas, o vão teórico é tomado igual à distância l0 entre os centros dos
apoios; nos tramos extremos, o vão teórico é tomado igual ao vão livre acrescido da meia-altura (h/2) da viga e da
meia-largura do apoio intermediário.
As vigas de secção circular têm módulo resistente à flexão W aproximadamente igual ao de vigas quadradas de
área equivalente, podendo ser dimensionadas como tal. Na Tabela XX, o momento de inércia e o momento
resistente das secções circulares são calculados para o quadrado de mesma área. Para vigas roliças de diâmetro
variável, adopta-se no cálculo um diâmetro nominal constante, igual ao diâmetro no terço da peça no lado mais
fino, limitado a uma vez e meia o diâmetro na extremidade mais fina.
Tabela XX

As vigas de secção quadrada, por sua vez, têm a mesma resistência, quer trabalhem no plano paralelo à face ou
no plano da diagonal.

4.1. Flexão simples recta


Nas peças submetidas à flexão simples, o plano de incidência do carregamento coincide com um dos eixos
principais de inércia e não sofrem efeito do esforço normal. Para peças com pelo menos um eixo de simetria, um
eixo principal de inércia coincide com o eixo de simetria.
A verificação dos estados limites últimos de esmagamento da borda comprimida e ruptura da borda traccionada
ficam garantidos respectivamente pelas condições:
𝑀𝑠𝑑
𝜎𝑐𝑑 = 𝑊𝑐
≤ 𝑓𝑐𝑑 - as tensões actuantes de cálculo nas bordas comprimida da secção transversal considerada
conforme a fig.
Onde: Msd – momento flector solicitante de projecto;
𝑀𝑠𝑑
𝜎𝑡𝑑 = 𝑊𝑡
≤ 𝑓𝑡𝑑 - as tensões actuantes de cálculo nas bordas traccionada da secção transversal considerada
conforme a fig XX.
ftd e ftd – tensões resistentes de projecto à tracção e à compressão paralelas ás fibras, respectivamente;

𝐼 𝐼
𝑜𝑛𝑑𝑒: 𝑊𝑐 = 𝑦𝑐
e 𝑊𝑡 = 𝑦𝑡
⟹ respectivos módulos de resistência à compressão e à flexão da secção transversal
da peça;

Fig. XX: Tensões actuantes em peça de secção rectangular e T

Para secção rectangular de base b e altura h, as tensões de flexão actuantes podem ser obtidas pelas equações:
6𝑀𝑠𝑑 6𝑀𝑠𝑑
𝜎𝑐𝑑 = ≤ 𝑓𝑐𝑑 e 𝜎𝑡𝑑 = < 𝑓𝑡𝑑
𝑏ℎ 2 𝑏ℎ 2

Entretanto, para a maioria das madeiras, a equação das tensões actuantes de cálculo nas bordas comprimidas da
secção transversal será determinante, já que, em geral e de acordo com a NBR7190 (ver Tabela 4.1),
Tab. 4.1

tem-se: 𝑓𝑡𝑘 ≥ 1.3𝑓𝑐𝑑


𝑓t0k 1,3 𝑓c0k 𝑓ck
ftd = k mod ≥ k mod ≅ k mod = fcd
1,8 1,8 1,4

Em vigas muito esbeltas, a resistência à flexão é limitada pela flambagem lateral.


A norma EUROCODE 5 e a recomendação norte-americana NDS utilizam a tensão resistente fMd na verificação
de tensões de flexão.
A tensão fMd é obtida a partir de ensaios de flexão em corpos de prova e deve ser multiplicada por um factor de
escala para levar em consideração a influência da altura da viga sobre esta resistência (item 3.2.1).

ii) Tensão de compressão normal à fibra, no ponto de actuação da reacção de apoio ou de cargas concentradas:

𝑅𝑑
σcnd = ≤ fcnd = 0,25 fcd 𝛼𝑛
𝑏𝑐

em que b e c são as dimensões da superfície de apoio, onde se introduz a reacção R. Os acréscimos de tensões da
Tabela 4.2 (valores de αn) não se aplicam a áreas de apoio situadas nas extremidades da viga (distância entre a
face do apoio e a extremidade da viga inferior a 7,5 cm) nem para larguras de apoio menores que 15 cm (ver Fig.
xxx).
Tab. 4.2
Coeficiente αn de acréscimo da tensão resistente de compressão
normal às fibras
Extensão da carga na direcção das fibras
Coeficiente αn
(cm)
1 2,00
2 1,70
3 1,55
4 1,40
5 1,30
7,5 1,15
Fig. xxx - Tensão de compressão normal às fibras 10 1,10
(σcn) em peças estruturais de madeira.
15 1,00
No cálculo da área de apoio, nas extremidades da viga, admite-se tensão de apoio uniforme, embora a rotação da
viga produza uma certa concentração de tensões no bordo interno do apoio.

iii) Tensão de cisalhamento paralelo às fibras:


A condição de segurança em relação às tensões cisalhantes em peças submetidas à flexão com força
cortante é expressa por:

τd ≤ fvd

onde: τd - é a máxima tensão cisalhante de projecto actuando no ponto mais solicitado da peça;
fvd é a tensão resistente de cisalhamento paralelo às fibras.

As tensões τd actuam tanto na direcção das fibras quanto na direcção normal às fibras, mas a resistência
ao cisalhamento na direcção das fibras é muito inferior à resistência ao cisalhamento normal às fibras, razão pela
qual é determinante no dimensionamento. As tensões de cisalhamento τ, em peças de altura constante solicitadas
pelo esforço cortante V, são dadas pela conhecida fórmula de Resistência dos Materiais (Gere, Timoshenko;
1990):
𝑉𝑆
τ=
𝑏𝐼
onde: I é o momento de inércia da secção referido ao seu centro de gravidade;
b é a largura de secção no ponto de cálculo de τ;
S é o momento estático referido ao centro de gravidade da secção, da parte da área da secção entre a
borda e o ponto de cálculo de τ.
3𝑉
Assim sendo, para secção rectangular: τ = 2𝑏ℎ

As cargas situadas sobre a viga, próximo aos apoios, são transferidas para estes por cisalhamento e por
compressão inclinada. Para levar em conta este facto, as normas admitem uma redução do esforço cortante, para
cargas situadas nas proximidades dos apoios, considerando que uma parte da carga se transmite directamente ao
apoio por compressão inclinada.
Em vigas de altura h, que recebem cargas concentradas e por sua vez geram tensões de compressão nos
planos longitudinais, o calculo de τ utiliza um valor reduzido do esforço cortante V junto aos apoios devido a
cargas concentradas posicionadas a uma distância menor que 2h expresso por:
𝑎
V𝑟𝑒𝑑 = V
2ℎ
onde a é a distância do ponto de aplicação da carga ao eixo do apoio limitada por a ≤ 2h .
A fig. xxxx apresenta o posicionamento das cargas para o cálculo do esforço cortante no apoio de uma
viga simplesmente apoiada.

Fig. xxxx Posicionamento das cargas numa viga simplesmente apoiada

Em vigas cuja secção transversal sofre bruscas variações decorrentes de entalhes (Figura iv), τ é
3𝑉 ℎ
dado por τ = 2𝑏ℎ ℎ
1

onde:
h1=h´ é a altura da secção mais fraca, ou seja, que sofreu redução por entalhe;

h/h1 é um factor de amplificação para τ, cujo valor se restringe h/h1 ≤ 4/3

As cargas concentradas Qj situadas até uma distância 2h do eixo de apoio se transmitem ao mesmo por
cisalhamento e compressão inclinada, sendo consideradas reduzidas no cálculo do esforço cortante (V).
Na figura iv é representado esquematicamente o aumento nas tensões de cisalhamento utilizadas no
cálculo, no caso de entalhes no bordo traccionado de uma viga. Independentemente da sua localização, os
entalhes provocam tracção normal as fibras, tendendo a fendilhar a peça:
Fig. iv – Tensão de cisalhamento devido a entalhes
(a) entalhe no apoio, destinado a rebaixar a viga; (b) entalhe fora do apoio; (c) secção transversal no entalhe com o
diagrama de tensões de cisalhamento

(a) apoio de viga com entalhe em face inferior;


(b) rótula intermediária de uma viga; esforços de tração
colocação de parafuso para absorver o esforço de
normais às fibras absorvidos por parafusos;
tracção normal as fibras;

(c) rótula intermediária de uma viga. com inversão


dos dentes; reacção absorvida por parafuso,
provocando compressão normal as fibras, com o que
se elimina a tendência ao fendilhamento da viga:
(d) mísulas de comprimento não menor que 3 vezes a
altura do entalhe.
1 — parafuso para limitar o fendilhamento da viga; 2 — parafuso de fixação da rótula;
3 — parafuso funcionando como tirante de apoio;
Fig. v Pormenores construtivos destinados a limitar o fendilhamento de vigas, na legião de entalhes

Para alturas h' de secção entalhada menores que 0,75h, mas sempre maiores que 0,5h, a norma recomenda
dimensionar os parafusos verticais para "suspender" uma carga igual ao esforço cortante da secção ou adoptar
mísulas de grande comprimento1. Ou seja, nos casos em que h/h1 ≤ 4/3, recomenda-se utilizar parafusos verticais
dimensionados à tração axial obtida pela totalidade do esforço cisalhante actuante ou adoptar variações de secção
através do emprego de mísulas cujo comprimento seja maior ou igual a três vezes a altura do entalhe, contudo,
deve-se respeitar o limite absoluto h/h1 ≤ 2.

NB: O dimensionamento de vigas de madeira é muito facilitado pelo uso de tabelas.


Nas tabelas A.7.1 a A.7.4 (vide ficheiro Tabelas) são apresentadas as cargas distribuídas máximas, em
função do vão, de vigas serradas de diversas secções transversais para madeiras de algumas Classes de
Resistência nas seguintes condições: combinação normal de acções, Classe 2 de humidade, madeira de 2ª
categoria.

1Mísula – peça resistente, com corma de base triangular saliente de parede vertical, com a função de servir de
apoio a uma cornija ou arco.
4.2 Flexão simples oblíqua
Verifica-se a condição de segurança nas peças submetidos à flexão simples oblíqua observando-se a mais
rigorosa das condições expressas a seguir:
𝜎𝑀𝑥𝑑 𝜎𝑀𝑦𝑑 𝜎𝑀𝑥𝑑 𝜎𝑀𝑦𝑑
+ 𝑘𝑚 ≤1 e 𝑘𝑚 + ≤1
𝑓𝑤𝑑 𝑓𝑤𝑑 𝑓𝑤𝑑 𝑓𝑤𝑑

𝜎𝑀𝑥𝑑 e 𝜎𝑀𝑥𝑑 são as tensões máximas devidas às componentes de flexão actuantes segundo às direcções principais
de secção transversal da peça;
fwd é a resistência de cálculo que, conforme a borda verificada, corresponde à tracção ou à compressão;
kM-é um coeficiente de correcção correspondente à forma geométrica da secção transversal considerada, ou seja
tem em conta a redistribuição dos esforços e os possíveis defeitos da secção :

NBR-7190 Eurocódigo 5
Secção Rectangular: kM = 0,5 kM = 0,7
Outras Secções: kM = 1,0 kM = 1,0

4.3. Estado limite último de instabilidade lateral


A estabilidade lateral de peças flectidas deve ser verificada por teoria cuja validade tenha sido comprovada
experimentalmente.
Nas vigas de secção rectangular garante-se esta verificação quando:
- os apoios de extremidade da viga impedirem a rotação de suas secções externas em torno do eixo longitudinal
da peça;
- existir um conjunto de elementos de travamento ao longo do comprimento l da viga, afastados de uma distância
menor ou igual a L1, que também impeçam a rotação dessas secções transversais em torno do eixo longitudinal da
peça;
𝐿𝑏 𝐸𝑐𝑜,𝑒𝑓
- atender a condição: 𝜆𝑏 = ≤ 𝜆0 =
𝑏 𝛽𝑀 𝑥 𝑓𝑐𝑑
Onde:
Lb é a distância entre os elementos de travamento; b é a largura da secção transversal da viga;
M é um coeficiente de correcção dado pela expressão:
3⁄
ℎ 2
1 𝛽𝐸 ( )
𝛽𝑀 = 𝑥 𝑥 𝑏
0,26𝜋 𝛾𝑤𝑐 ℎ 1⁄
2
( − 0,63)
𝑏
onde:
- h é a altura da seção transversal da viga;
- E é um coeficiente de correcção;
- γwc é um coeficiente de ponderação de resistência à compressão;
Para γwc = 1,4 e E = 4 , a norma explicita os valores de M dados na Tabela seguinte:
h/b 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
M 6,0 8,8 12,3 15,9 19,5 23,1 26,7 30,3 34,0 37,6 41,2 44,8 48,5 52,1 55,8 59,4 63,0 66,7 70,3 74,0

𝐿𝑏 𝐸𝑐𝑜,𝑒𝑓
Se: 𝜆𝑏 = > 𝜆0 = , devem ser satisfeitas as verificações de segurança para flexão simples
𝑏 𝛽𝑀 𝑥 𝑓𝑐𝑑
recta com valor de σcd, atendendo a:
𝐸𝑐𝑜,𝑒𝑓
𝜎𝑐𝑑 =
𝜆𝑏 𝑥 𝛽𝑀
5. ESTADOS LIMITES DE SERVIÇO

5.1 Estados limites de deformações


5.1.1 Deformações limites para construções correntes
Deformações limites para construções correntes É verificado o estado limite de deformações excessivas que
possam afectar a utilização normal da construção ou seu aspecto estético.
Para as acções permanentes, as flechas podem ser compensadas por contraflechas dadas na construção. A flecha
efectiva obtida com a combinação de acções deve atender às seguintes limitações.

1
𝑑𝑜 𝑣ã𝑜
200
𝑓𝑑 ≤
1
{100 𝑑𝑜 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑏𝑎𝑙𝑎𝑛ç𝑜
No caso de flexão oblíqua, permite-se atender os limites anteriores para cada plano de flexão isoladamente.

5.1.2 Deformações limites para construção com materiais frágeis não estruturais
É verificado o estado limite de deformações que possam causar danos aos materiais frágeis não
estruturais ligados à estrutura.
As flechas totais, obtidas com a combinação de média ou curta duração, incluindo efeito da fluência,
têm seus valores limitados por:
1
𝑑𝑜 𝑣ã𝑜
350
𝑓 ≤
1
{175 𝑑𝑜 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑏𝑎𝑙𝑎𝑛ç𝑜

As flechas que correspondem somente às acções variáveis têm seus limites fixados em:
1
𝑑𝑜 𝑣ã𝑜
300
𝑓 ≤
1
𝑑𝑜 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑏𝑎𝑙𝑎𝑛ç𝑜
{150

5.1.3 Deformações limites para construções especiais.


As deformações têm seus limites estabelecidos pelo proprietário da construção ou por normas especiais
referentes às mesmas.

6. ESTADOS LIMITES DE VIBRAÇÕES


Devem ser evitadas as vibrações excessivas nas estruturas através das disposições construtivas
adequadas, de modo que se garanta o conforto e a segurança dos usuários na utilização das mesmas;
Em estruturas regularmente utilizadas, tais como pisos de residências e de escritórios, deve ser
obedecido o limite de frequência natural de vibração igual a 8 Hz. Em construções correntes, tal
condição é satisfeita se a aplicação do carregamento correspondente à combinação de curta duração
resultar uma flecha imediata que não exceda o valor de 1,5 cm.

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