As vigas estão sujeitas a tensões normais σ de tracção e compressão longitudinais e portanto na direcção paralela
às fibras; nas regiões de aplicação de carga, como por exemplo nos apoios, estão submetidas a tensões σcn de
compressão normal às fibras. Além disso actuam tensões cisalhantes na direcção normal às fibras (tensões
verticais na secção) e na direcção paralela às fibras (tensões horizontais), conforme ilustrado na Fig. 6.a.
Fig. 1 Flexão simples: viga em flexão no plano vertical com tensões normais σ longitudinais e
transversais e tensões cisalhantes τ
As vigas altas e esbeltas podem sofrer flambagem lateral, um tipo de instabilidade na qual a viga perde o
equilíbrio nu plano principal de flexão (em geral vertical) e passa a apresentar deslocamentos laterais e rotação de
torção. A ocorrência deste fenómeno reduz a capacidade resistência à flexão. A flambagem lateral pode ser
evitada provendo-se à viga pontos intermediário de contenção lateral.
Para garantia de segurança em relação aos estados limites últimos de vigas no contexto do método dos estados
limites, as tensões solicitantes de projecto devem ser menores que as tensões resistentes.
Em relação ao estado limite de deformação excessiva, os deslocamentos δ (Fig. 1) finais (instantâneos mais os de
fluência) devem ser inferiores a valores limites de modo a evitar a ocorrência de danos em elementos acessórios à
estrutura e desconforto dos usuários.
Neste capítulo são abordados os critérios de projecto e disposições construtivas de vigas com secções de diversos
tipos, em flexão simples recta (em tomo de eixo principal de inércia), oblíqua e flexão composta sem flambagem.
As peças em flexo-compressão com flambagem são abordadas no ponto.
A verificação da segurança de peças flectidas consiste nas verificações dos estados limites últimos e dos estados
limites de utilização. Nos estados limites últimos, são verificadas as tensões normais de tração e compressão, as
tensões cisalhantes e a estabilidade lateral para vigas esbeltas. Nos estados limites de utilização, são verificadas
as deformações e vibrações limites.
1. MODELOS CONSTRUTIVOS
As vigas de madeira são feitas em diversos tipos, conforme esquematizados na Fig. 3:
d) vigas de madeira laminada ou microlaminada e e) vigas compostas de peças maciças por f) vigas compostas de peças maciças, com
colada entarugamento interfaces contínuas
g) vigas compostas com alma descontínua pregada h) vigas compostas com placas de madeira compensada
Fig. 3 Tipos construtivos de vigas de madeira: fs) madeira roliça; (ò) madeira lavrada; (c) madeira seriada; (d) madeira laminada colada;
(θ) viga composta de peças maciças entarugadas, (í) vigas compostas de peças maciças com interfaces continuas (ligação com pregos,
conectores de anel ou cola); (g) viga composta com alma descontinua, pregada; th) viga composta com alma formada por placas de
madeira compensada ou de madeira recomposta com lascas orientadas OSB (ligação com cola ou pregos).
As três primeiras categorias são formadas por peças maciças simples. As madeiras roliças são, por vezes, usadas
como vigas em obras provisórias, como por exemplo andaimes ou escoramentos. As madeiras lavradas são
utilizadas na construção de pontes de serviço. As seções transversais apresentam em geral dimensões superiores
às das madeiras serradas;
podem ser usadas, por exemplo, peças lavradas de 20 cm x 20 cm, 20 cm x 30 cm, 30 cm x 30 cm etc. As vigas
de madeira serrada obedecem em geral a dimensões transversais padronizadas.
As vigas de madeira laminada e colada são produtos industriais da maior importância, pois permitem construir
secções de comportamento equivalente ao da madeira maciça, porém com condições muito maiores, como por
exemplo vigas rectangulares de secção de 30 cm x 200 cm.
As vigas compostas de duas ou mais peças maciças necessitam de ligações nas interfaces, a fim de evitar
deslocamentos relativos entre as peças. As ligações podem ser feilas com tarugos, como é indicado na Fig. 3e. Na
Fig. 3f, é possível ver o esquema de viga composta de peças maciças, com interfaces contínuas; a união das
interfaces pode ser feita com cola, pregos ou conectores de anel.
As vigas compostas das Figs. 3e e f têm as alturas limitadas pelos tamanhos das peças maciças. Conseguem-se
vigas de maiores alturas com o esquema da 3g, no qual a alma é formada por tábuas ou pranchas pregadas nos
flanges; essas vigas de almas descontínuas são na verdade treliças de diagonais múltiplas.
A combinação de peças de madeira laminada com placas de madeira compensada ou painéis de madeira
recomposta com lascas orientadas (OSB) (Fig. 3h) permite fazer vigas compostas de grandes alturas, com formas
eficientes.
Nas peças compostas, ligadas por pregos ou conectores de anel, devem ser respeitadas as dimensões mínimas
especificadas para esses elementos de ligação.
Os pranchões de pisos de pontes rodoviárias ou de pedestres devem ser previstos com uma espessura de, pelo
menos, 2 cm superior ao exigido pelo cálculo, a fim de atender ao desgaste mecânico provocado pelos usuários.
2.1 Contra-flechas
Sempre que possível, em construções, as vigas de madeira devem ser feitas com uma contraflecha, de modo a
evitar os efeitos pouco estéticos de configurações deformadas visíveis a olho nu.
As vigas laminadas coladas podem ser constituídas com contraflecha, bastando colar as lâminas com a curvatura
especificada. As treliças e vigas armadas podem também ser dotadas de contraflechas.
Nas vigas de madeira maciça, serradas ou lavradas, em geral, não é possível preparar as peças com contraflechas.
Usualmente são especificados nos projectos valores de contraflechas de modo a compensar os deslocamentos
totais (instantâneos mais os de fluência) devidos às cargas permanentes. Na verificação quanto ao estado limite de
deformação excessiva a contraflecha dada pode ser deduzida do deslocamento total:
Estado Limite de Deformação Excessiva
O cálculo dos deslocamentos, devidos a uma certa combinação de acções, para a verificação do estado
limite de deformação excessiva, inclui a determinação dos deslocamentos elásticos (instantâneos) e dos
deslocamentos devidos à deformação lenta da madeira (fluência), conforme a Eq. da deformação total:
Os valores indicados pela NBR 7190 e pelo EUROCODE 5 para o coeficiente de fluência φ em função das
condições de humidade e do tempo de duração da carga encontram-se na Tabela seguinte:
Observa-se que os valores da norma brasileira são conservadores em relação aos da norma européia.
Alternativamente à Eq. da deformação total, os deslocamentos podem ser estimados com as equações da
teoria elástica utilizando-se o módulo de elasticidade efectivo dado pela Eq:
1
𝐸𝑐 𝑒𝑓 = 1+𝜑 𝐸 (2)
De acordo com a NBR 7190, o módulo efectivo deve ser estimado com a Eq..
Os valores de deslocamentos verticais limites prescritos pela NBR 7190 estão indicados na Tabela:
. Para estruturas correntes deseja-se garantir as condições de utilização normal da construção e seu
aspecto estético. Para isto, admite-se uma combinação de acções de longa duração. Os limites para
deslocamentos verticais levam em conta ainda a existência de materiais frágeis ligados à estrutura, tais
como forros, pisos e divisórias, aos quais se pretende evitar danos através do controle de deslocamentos da
estrutura. Nos casos em que a fissuração destes materiais frágeis não puder ser evitada por meio de
disposições construtivas, adoptam-se os valores de deslocamentos limites correspondentes ao título
"construções com materiais frágeis não-estruturais" na Tabela acima. Nestes casos, os deslocamentos são
calculados com combinações de média ou curta duração, conforme o rigor desejado no controle destes
deslocamentos.
Quando for dada uma contraflecha uo para compensação da flecha devida à carga permanente uG, o saldo
de deslocamento vertical permanente uG — u0), limitado ao mínimo de uG/3, pode ser utilizado nas
verificações adicionando-o à flecha devida às cargas variáveis.
3. PROCEDIMENTOS DE CÁLCULO
No dimensionamento das vigas de madeira são utilizados dois critérios básicos:
a) limitação de deformações.
As limitações de deformações têm, em obras de madeira, importância relativamente maior que em outros
materiais, como aço e betão armado. Isto porque se trata de um material com alta relação resistência/rigidez.
As limitações de flechas das vigas visam a atender a requisitos estéticos, evitar danos a componentes
acessórios e ainda visam ao conforto dos usuários (evitar flexibilidade exagerada no caso de assoalhos de
edificações ou pontes).
Os inconvenientes estéticos das deformações podem ser prevenidos, quando possível, com a adopção de
contraflechas, como indicado no ponto 2.1. As contraflechas podem ser colocadas nas vigas laminadas coladas,
nos sistemas treliçados, vigas armadas etc.
Os valores limites para as flechas de vigas encontram-se na tabela 3.18 e levam em conta a existência ou
não de materiais frágeis ligados à estrutura, tais como forros, pisos e divisórias, aos quais se pretende evitar danos
através de controle de deslocamentos das vigas.
De acordo com a NBR7190, quando for dada uma contraflecha δ0, o cálculo da flecha líquida δn deve incluir
no mínimo 1/3 da flecha total devido à carga permanente δG (ver Fig. 4).
Fig. 4 – Deformação de uma viga biapoiada
As vigas de secção quadrada, por sua vez, têm a mesma resistência, quer trabalhem no plano paralelo à face ou
no plano da diagonal.
𝐼 𝐼
𝑜𝑛𝑑𝑒: 𝑊𝑐 = 𝑦𝑐
e 𝑊𝑡 = 𝑦𝑡
⟹ respectivos módulos de resistência à compressão e à flexão da secção transversal
da peça;
Para secção rectangular de base b e altura h, as tensões de flexão actuantes podem ser obtidas pelas equações:
6𝑀𝑠𝑑 6𝑀𝑠𝑑
𝜎𝑐𝑑 = ≤ 𝑓𝑐𝑑 e 𝜎𝑡𝑑 = < 𝑓𝑡𝑑
𝑏ℎ 2 𝑏ℎ 2
Entretanto, para a maioria das madeiras, a equação das tensões actuantes de cálculo nas bordas comprimidas da
secção transversal será determinante, já que, em geral e de acordo com a NBR7190 (ver Tabela 4.1),
Tab. 4.1
ii) Tensão de compressão normal à fibra, no ponto de actuação da reacção de apoio ou de cargas concentradas:
𝑅𝑑
σcnd = ≤ fcnd = 0,25 fcd 𝛼𝑛
𝑏𝑐
em que b e c são as dimensões da superfície de apoio, onde se introduz a reacção R. Os acréscimos de tensões da
Tabela 4.2 (valores de αn) não se aplicam a áreas de apoio situadas nas extremidades da viga (distância entre a
face do apoio e a extremidade da viga inferior a 7,5 cm) nem para larguras de apoio menores que 15 cm (ver Fig.
xxx).
Tab. 4.2
Coeficiente αn de acréscimo da tensão resistente de compressão
normal às fibras
Extensão da carga na direcção das fibras
Coeficiente αn
(cm)
1 2,00
2 1,70
3 1,55
4 1,40
5 1,30
7,5 1,15
Fig. xxx - Tensão de compressão normal às fibras 10 1,10
(σcn) em peças estruturais de madeira.
15 1,00
No cálculo da área de apoio, nas extremidades da viga, admite-se tensão de apoio uniforme, embora a rotação da
viga produza uma certa concentração de tensões no bordo interno do apoio.
τd ≤ fvd
onde: τd - é a máxima tensão cisalhante de projecto actuando no ponto mais solicitado da peça;
fvd é a tensão resistente de cisalhamento paralelo às fibras.
As tensões τd actuam tanto na direcção das fibras quanto na direcção normal às fibras, mas a resistência
ao cisalhamento na direcção das fibras é muito inferior à resistência ao cisalhamento normal às fibras, razão pela
qual é determinante no dimensionamento. As tensões de cisalhamento τ, em peças de altura constante solicitadas
pelo esforço cortante V, são dadas pela conhecida fórmula de Resistência dos Materiais (Gere, Timoshenko;
1990):
𝑉𝑆
τ=
𝑏𝐼
onde: I é o momento de inércia da secção referido ao seu centro de gravidade;
b é a largura de secção no ponto de cálculo de τ;
S é o momento estático referido ao centro de gravidade da secção, da parte da área da secção entre a
borda e o ponto de cálculo de τ.
3𝑉
Assim sendo, para secção rectangular: τ = 2𝑏ℎ
As cargas situadas sobre a viga, próximo aos apoios, são transferidas para estes por cisalhamento e por
compressão inclinada. Para levar em conta este facto, as normas admitem uma redução do esforço cortante, para
cargas situadas nas proximidades dos apoios, considerando que uma parte da carga se transmite directamente ao
apoio por compressão inclinada.
Em vigas de altura h, que recebem cargas concentradas e por sua vez geram tensões de compressão nos
planos longitudinais, o calculo de τ utiliza um valor reduzido do esforço cortante V junto aos apoios devido a
cargas concentradas posicionadas a uma distância menor que 2h expresso por:
𝑎
V𝑟𝑒𝑑 = V
2ℎ
onde a é a distância do ponto de aplicação da carga ao eixo do apoio limitada por a ≤ 2h .
A fig. xxxx apresenta o posicionamento das cargas para o cálculo do esforço cortante no apoio de uma
viga simplesmente apoiada.
Em vigas cuja secção transversal sofre bruscas variações decorrentes de entalhes (Figura iv), τ é
3𝑉 ℎ
dado por τ = 2𝑏ℎ ℎ
1
onde:
h1=h´ é a altura da secção mais fraca, ou seja, que sofreu redução por entalhe;
As cargas concentradas Qj situadas até uma distância 2h do eixo de apoio se transmitem ao mesmo por
cisalhamento e compressão inclinada, sendo consideradas reduzidas no cálculo do esforço cortante (V).
Na figura iv é representado esquematicamente o aumento nas tensões de cisalhamento utilizadas no
cálculo, no caso de entalhes no bordo traccionado de uma viga. Independentemente da sua localização, os
entalhes provocam tracção normal as fibras, tendendo a fendilhar a peça:
Fig. iv – Tensão de cisalhamento devido a entalhes
(a) entalhe no apoio, destinado a rebaixar a viga; (b) entalhe fora do apoio; (c) secção transversal no entalhe com o
diagrama de tensões de cisalhamento
Para alturas h' de secção entalhada menores que 0,75h, mas sempre maiores que 0,5h, a norma recomenda
dimensionar os parafusos verticais para "suspender" uma carga igual ao esforço cortante da secção ou adoptar
mísulas de grande comprimento1. Ou seja, nos casos em que h/h1 ≤ 4/3, recomenda-se utilizar parafusos verticais
dimensionados à tração axial obtida pela totalidade do esforço cisalhante actuante ou adoptar variações de secção
através do emprego de mísulas cujo comprimento seja maior ou igual a três vezes a altura do entalhe, contudo,
deve-se respeitar o limite absoluto h/h1 ≤ 2.
1Mísula – peça resistente, com corma de base triangular saliente de parede vertical, com a função de servir de
apoio a uma cornija ou arco.
4.2 Flexão simples oblíqua
Verifica-se a condição de segurança nas peças submetidos à flexão simples oblíqua observando-se a mais
rigorosa das condições expressas a seguir:
𝜎𝑀𝑥𝑑 𝜎𝑀𝑦𝑑 𝜎𝑀𝑥𝑑 𝜎𝑀𝑦𝑑
+ 𝑘𝑚 ≤1 e 𝑘𝑚 + ≤1
𝑓𝑤𝑑 𝑓𝑤𝑑 𝑓𝑤𝑑 𝑓𝑤𝑑
𝜎𝑀𝑥𝑑 e 𝜎𝑀𝑥𝑑 são as tensões máximas devidas às componentes de flexão actuantes segundo às direcções principais
de secção transversal da peça;
fwd é a resistência de cálculo que, conforme a borda verificada, corresponde à tracção ou à compressão;
kM-é um coeficiente de correcção correspondente à forma geométrica da secção transversal considerada, ou seja
tem em conta a redistribuição dos esforços e os possíveis defeitos da secção :
NBR-7190 Eurocódigo 5
Secção Rectangular: kM = 0,5 kM = 0,7
Outras Secções: kM = 1,0 kM = 1,0
𝐿𝑏 𝐸𝑐𝑜,𝑒𝑓
Se: 𝜆𝑏 = > 𝜆0 = , devem ser satisfeitas as verificações de segurança para flexão simples
𝑏 𝛽𝑀 𝑥 𝑓𝑐𝑑
recta com valor de σcd, atendendo a:
𝐸𝑐𝑜,𝑒𝑓
𝜎𝑐𝑑 =
𝜆𝑏 𝑥 𝛽𝑀
5. ESTADOS LIMITES DE SERVIÇO
1
𝑑𝑜 𝑣ã𝑜
200
𝑓𝑑 ≤
1
{100 𝑑𝑜 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑏𝑎𝑙𝑎𝑛ç𝑜
No caso de flexão oblíqua, permite-se atender os limites anteriores para cada plano de flexão isoladamente.
5.1.2 Deformações limites para construção com materiais frágeis não estruturais
É verificado o estado limite de deformações que possam causar danos aos materiais frágeis não
estruturais ligados à estrutura.
As flechas totais, obtidas com a combinação de média ou curta duração, incluindo efeito da fluência,
têm seus valores limitados por:
1
𝑑𝑜 𝑣ã𝑜
350
𝑓 ≤
1
{175 𝑑𝑜 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑏𝑎𝑙𝑎𝑛ç𝑜
As flechas que correspondem somente às acções variáveis têm seus limites fixados em:
1
𝑑𝑜 𝑣ã𝑜
300
𝑓 ≤
1
𝑑𝑜 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑏𝑎𝑙𝑎𝑛ç𝑜
{150