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Formação Pedagógica Inicial de Formadores

Módulo 1 - Formador: Sistema, contextos e perfil


Formação Pedagógica Inicial de Formador

Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades


para a sua própria produção ou a sua construção.
- Paulo Freire

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Formação Pedagógica Inicial de Formador

Índice

Objetivos Gerais ................................................................................................................................. 5


Submódulo 1.1. Formador: Contextos de Intervenção ................................................................. 5
Submódulo 1.2. Aprendizagem, Criatividade e Empreendedorismo ............................................ 6
Siglas e Abreviaturas .......................................................................................................................... 7
Introdução .......................................................................................................................................... 8
Políticas Europeias e Nacionais de Educação/Formação ................................................................. 10
O sistema e o catálogo nacional de qualificações ............................................................................ 12
Principais ofertas formativas disponíveis......................................................................................... 15
Conceitos e fundamentos da formação profissional ....................................................................... 19
Legislação de enquadramento da formação profissional ................................................................ 21
Legislação de enquadramento da atividade de formador ............................................................... 22
Perfil de Formador ........................................................................................................................... 24
Competências e capacidades ....................................................................................................... 24
Atividades .................................................................................................................................... 25
Código Deontológico: direitos e deveres ......................................................................................... 26
Tipos de Formação Profissional: inicial e contínua .......................................................................... 27
Formação inicial ........................................................................................................................... 27
Formação contínua ...................................................................................................................... 27
Modalidades de Formação Profissional ........................................................................................... 28
Educação e Formação de Jovens ................................................................................................. 29
Educação e Formação de Adultos ................................................................................................ 30
Formação para Públicos Diferenciados (ex. com incapacidade ou deficiência) .......................... 30
Formação em Contexto de Trabalho ........................................................................................... 30
Modalidades de intervenção formativa ........................................................................................... 31
Presencial ..................................................................................................................................... 31
E-learning ..................................................................................................................................... 31
B-learning ..................................................................................................................................... 31
Processos de RVCC ........................................................................................................................... 31
Princípios da Teoria de Aprendizagem ............................................................................................. 34
Teorias comportamentalistas ...................................................................................................... 34
Teorias cognitivistas..................................................................................................................... 35
Teorias humanistas ...................................................................................................................... 35
Pedagogia, Andragogia, didática e Psicologia da aprendizagem ..................................................... 36
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Processos, etapas e fatores da aprendizagem ................................................................................. 38

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Fatores intervenientes no processo de aprendizagem................................................................ 40


Agentes facilitadores da aprendizagem....................................................................................... 41
Conceitos, características e percursos da aprendizagem ................................................................ 41
Fatores cognitivos de aprendizagem (memória e atenção)............................................................. 42
A aprendizagem disruptiva como metodologia de facilitação ......................................................... 43
Espírito empreendedor na formação ............................................................................................... 45
Pedagogia diferenciada e diferenciação pedagógica ....................................................................... 46
Diferenciar porquê? ..................................................................................................................... 47
A aprendizagem através da programação neurolinguística (PNL) ................................................... 48
Princípios da criatividade pedagógica .............................................................................................. 50
Conclusão ......................................................................................................................................... 51
Bibliografia ....................................................................................................................................... 52
Webgrafia..................................................................................................................................... 53
Legislação ..................................................................................................................................... 53

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Objetivos Gerais
• Caracterizar os sistemas de qualificação com base nas finalidades, no público-alvo, nas
tecnologias utilizadas, no tipo e modalidade de formação pretendida;
• Identificar a legislação, nacional e comunitária, que regulamenta a Formação Profissional;
• Enunciar as competências e capacidades necessárias à atividade de formador;
• Discriminar as competências exigíveis ao formador no sistema de formação;
• Identificar os conceitos, as principais teorias e os modelos explicativos do processo de
aprendizagem;
• Identificar os principais fatores e as condições facilitadoras da aprendizagem;
• Desenvolver um espírito crítico, criativo e empreendedor.

Submódulo 1.1. Formador: Contextos de Intervenção


• Políticas europeias e nacionais de educação/formação
• Sistema e o Catálogo Nacional de Qualificações
• Principais ofertas formativas disponíveis
• Conceitos e fundamentos da formação profissional
• Legislação de enquadramento da formação profissional
• Legislação de enquadramento da atividade de formador
• Perfil de formador (atividades, competências e capacidades) – formador profissional
multitarefas
• Código deontológico: direitos e deveres
• Tipos de formação profissional
o Formação inicial
o Formação contínua
• Modalidades de formação profissional
o Educação e Formação de Jovens
o Educação e Formação de Adultos
o Formação para Públicos Diferenciados
o Formação em Contexto de Trabalho
• Modalidades de intervenção formativa
o Presencial
o E-learning
o B-learning
• Processos de RVCC
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Submódulo 1.2. Aprendizagem, Criatividade e Empreendedorismo


• Princípios da teoria de aprendizagem
• Pedagogia, andragogia, didática e psicologia da aprendizagem
• Processos, etapas e fatores psicológicos da aprendizagem
• Conceitos, características e percursos da aprendizagem
• Fatores cognitivos de aprendizagem (memória e atenção)
• A aprendizagem disruptiva como metodologia de facilitação
• Espírito empreendedor na formação
• Pedagogia diferenciada e diferenciação pedagógica: conceitos, tipos e formas de
diferenciação
• Diferenciar porquê?
• A aprendizagem através da programação neurolinguística (PNL)
• Princípios da criatividade pedagógica (abordagem criativa e promoção de competências)

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Siglas e Abreviaturas
• ALV - Aprendizagem ao longo da vida
• ANQ - Agência Nacional para a Qualificação
• CCP - Certificado de Competências Pedagógicas
• CEF - Educação e Formação de Jovens
• CEFA - Centro de Estudos e Formação Autárquica
• CIC - Caderneta Individual de Competências
• CNAEF - Classificação Nacional de Áreas de Educação e Formação
• CNQ - Catálogo Nacional de Qualificações
• CQEP - Centros para a Qualificação e Ensino Profissional
• CV - Curriculum Vitae
• ECTS - European Credit Transfer and Accumulation System
• ECVET - European Credit System for Vocational Education and Training
• EF - Programa Educação e Formação
• EFA - Educação e Formação de Adultos
• EQAVET - European Quality Assurance Reference Framework for Vocational
Education and Training
• EQF - Europass Qualifications Framework
• FPIF - Formação Pedagógica Inicial de Formadores
• IEFP - Instituto de Emprego e Formação Profissional
• INA - Instituto Nacional de Administração
• LBSE - Lei de Bases do Sistema Educativo
• MEC - Ministério da Educação e Ciência
• MEE - Ministério da Economia e do Emprego
• PNL - Programação Neurolinguística
• POPH - Programa Operacional Potencial Humano
• QEQ - Quadro Europeu de Qualificações
• QNQ - Quadro Nacional de Qualificações
• QREN - Quadro de Referência Estratégico Nacional
• RVCC - Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências
• SNQ - Sistema Nacional de Qualificações
• EU - União Europeia
• UFCD - Unidade de Formação de Curta Duração
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Introdução
A formação profissional tem vindo a sofrer alterações estruturais e conteudísticas nos últimos anos,
lançando os formadores em redes formativas cada vez mais complexas e desafiantes. Neste
sentido, o enquadramento da atividade surge como uma exigência para os futuros formadores,
nomeadamente no que diz respeito a aspetos como os contextos de intervenção, os novos desafios
da profissão, a estruturação dos programas de formação e o desenvolvimento da formação por
competências.
O presente manual insere-se no contexto da Formação Pedagógica Inicial de Formadores (FPIF) e
consiste na compilação de um conjunto de indicações teóricas e práticas que tem como finalidade
fornecer um itinerário pedagógico que se traduza numa formação estruturada e na consolidação
de aprendizagens através de um método ativo.
Considerando que o aproveitamento na FPIF certifica o indivíduo para o exercício profissional das
funções de formador, este primeiro módulo tem como objetivo familiarizar o formando com os
contextos onde poderá vir a desenvolver a sua formação, o enquadramento legal e princípios
deontológicos da profissão, as suas principais competências e responsabilidades e alguns conceitos
relacionados com a formação.
Numa primeira parte, referente ao submódulo 1.1. Formador: Contextos de Intervenção, objetiva-
se dotar os formandos dos conhecimentos legislativos subjacentes à formação, de modo a que
tenham consciência dos contextos e desafios da profissão. A segunda parte, que incide sobre o
módulo 1.2. Aprendizagem, Criatividade e Empreendedorismo, tem como propósito principal
transmitir aos formandos os conceitos de criatividade, empreendedorismo e aprendizagem
diferenciada.

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SUBMÓDULO 1.1.
Formador: Contextos de intervenção

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Políticas Europeias e Nacionais de Educação/Formação


Num mundo cada vez mais globalizante, o capital intelectual tornou-se o foco de atenção das
empresas, assumindo-se como uma condição essencial para a consecução da competitividade
organizacional na economia contemporânea. Como consequência, hoje em dia a formação
profissional é uma prática organizacional proeminente, de modo a assegurar que as competências
dos colaboradores vão de encontro às necessidades da organização.
Neste cenário, o formador é um agente de mudança fundamental no desafio constante à
aprendizagem e atualização de conhecimentos, o que lhe exige uma atualização constante face às
atuais práticas formativas e aos contextos de intervenção.
Nos últimos anos, a educação/formação tem vindo a assumir um papel de relevo no âmbito das
políticas europeias, sobretudo desde o lançamento da Estratégia de Lisboa (2000) e do Programa
“Educação e Formação 2010” (EF 2010). A implementação da nova Estratégia Europa 2020 (que visa
o crescimento e o emprego) veio comprovar esse papel e solidificar os esforços empreendidos nesta
área, resultando na elaboração de objetivos e iniciativas comuns que integram todos os tipos de
ensino e formação e todas as etapas da aprendizagem ao longo da vida (ALV).
Com o objetivo de aumentar a eficácia da cooperação europeia encetada com o EF 2010, o Conselho
Europeu de 12 maio de 2009 definiu um quadro estratégico para o desenvolvimento dos sistemas
de educação e formação dos países da União Europeia (UE) até 2020 (EF 2020), estando previstos
objetivos e métodos comuns de trabalho para os Estados-Membros. A ALV constitui o princípio
orientador deste quadro estratégico, abrangendo a aprendizagem nos seus variados contextos
(formal, não-formal e informal) e níveis (não só os níveis que abrangem a educação pré-escolar e o
ensino superior, mas também a educação e formação profissionais e a educação de adultos).
Numa breve síntese, os quatro objetivos estratégicos definidos para o período de 2010-2020 são os
seguintes (http://www.dges.mctes.pt):
• Tornar a ALV e a mobilidade uma realidade;
• Melhorar a qualidade e a eficácia da educação e da formação;
• Promover a igualdade, a coesão social e a cidadania ativa;
• Incentivar a criatividade e a inovação, incluindo o espírito empreendedor, a todos os
níveis da educação e da formação.
A concretização destes objetivos será acompanhada por benchmarks1 europeus que preveem as
seguintes áreas:
• Educação pré-escolar: frequência de pelo menos 95% das crianças entre os 4 anos e a
idade de início do ensino primário obrigatório;
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1 Indicadores e critérios de referência para o desempenho médio europeu.

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• Competências básicas: percentagem de alunos de 15 anos com fraco aproveitamento em


leitura, matemática e ciências inferior a 15%;
• Abandono precoce da educação e formação: percentagem de abandono inferior a 10%;
• Conclusão do ensino superior: percentagem de adultos de 30-34 anos com nível de ensino
superior de pelo menos 40%;
• Participação de adultos na ALV: pelo menos 15% de adultos entre os 25 e os 64 anos.
O desenvolvimento de uma Europa competitiva e global exige uma educação/formação de
qualidade, mediante o estabelecimento de objetivos comuns e a troca de boas práticas entre os
países da UE (apesar da liberdade de decisão de cada país sobre a sua própria política de
educação/formação). Neste contexto, o financiamento da UE promove programas (colocados sob
o chapéu da Yes Europe desde 2013) que permitem aos cidadãos estudar, realizar ações de
formação ou fazer voluntariado noutros países, nomeadamente os seguintes:
• Leonardo Da Vinci (ações de formação profissional, estágios e projetos de cooperação
entre estabelecimentos de formação profissional e empresas);
• Erasmus (mobilidade de estudantes universitários);
• Grundtvig (apoio à educação para adultos, através de parcerias, redes e ações de
mobilidade transnacionais);
• Comenius (cooperação entre escolas e professores escolas através da Internet);
• Marie Curie (apoio à formação profissional e mobilidade de investigadores);
• Jean Monet (educação e formação à escala europeia).
Neste contexto, também importa referir os documentos Europass, que permitem apresentar as
competências e as qualificações num formato estandardizado, facilitando a procura de emprego
fora do país e o entendimento das qualificações obtidas pelos empregadores. Alguns exemplos
destes documentos incluem o modelo europeu do curriculum vitae (Europass CV), o passaporte de
línguas (Europass Language Passport), o registo de competências adquiridas noutros países
(Europass Mobility), o suplemento ao certificado de formação profissional (Europass Certificate
Supllement) e o suplemento ao diploma universitário (Europass Diploma Certificate).
Com o propósito de harmonizar e fazer convergir os sistemas de qualificações, existe um Quadro
Europeu de Qualificações para a ALV (Europass Qualifications Framework – EQF). O Quadro
Europeu de Qualificações (QEQ) define oito níveis de qualificação e cada nível é definido por um
conjunto de indicadores que especificam os resultados da aprendizagem, caracterizados em termos
de conhecimentos, aptidões e competências.
No âmbito das políticas europeias existem mais três documentos de relevo:
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• O Quadro Europeu de Competências-Chave, que identifica oito competências que todas


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as pessoas devem ter para alcançar o emprego, a realização pessoal, a inclusão social e
a cidadania ativa: comunicação na língua materna, comunicação em línguas

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estrangeiras, competências matemáticas e competências básicas em ciência e


tecnologia, competências digitais, aprender a aprender, competências sociais e cívicas,
sentido de iniciativa, empreendedorismo, consciência e expressão cultural;
• Quadro de Garantia de Qualidade na Formação, através do European Quality Assurance
Reference Framework for Vocational Education and Training (EQAVET), que é um
instrumento destinado a promover e monitorizar o aperfeiçoamento contínuo dos
sistemas de ensino e formação profissional com base em referências comuns. O Cedefop
(European Centre for the Development of Vocational Training) é o organismo europeu
dedicado à garantia de qualidade na formação profissional;
• O Sistema Europeu de Créditos, mediante o European Credit System for Vocational
Education and Training (ECVET), que permite que se transfira créditos de um sistema de
qualificação para outro. No ensino superior, a transferência de aprendizagens entre
diferentes instituições tem como base o European Credit Transfer and Accumulation
System (ECTS), que é o instrumento central do Processo de Bolonha.
No que se refere às políticas nacionais, os seus objetivos consistem em aproximar o padrão de
desenvolvimento português à média da UE, elevar o nível de qualificação da população e promover
a inserção no mercado de trabalho, destacando-se:
• O Sistema Educativo Português2;
• O Sistema Nacional de Qualificações (SNQ);
• O Quadro Estratégico Comum (QEC) 2014-2020);
• Os programas de apoio à investigação e as bolsas de mestrado, doutoramento e pós-
doutoramento;
• O plano tecnológico da educação.

O sistema e o catálogo nacional de qualificações


As exigências da economia do conhecimento e o défice de qualificações apresentado pelo mercado
laboral português levaram à criação do Sistema Nacional de Qualificações (SNQ), através do
Decreto-Lei 396/2007 de 31 de dezembro, que assume o objetivo de aumentar o nível de
qualificação da população portuguesa sob um novo enquadramento institucional. Este sistema veio
promover a reorganização da formação inserida no sistema educativo e no mercado de trabalho,
integrando-a num único sistema com objetivos e instrumentos comuns.
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Página

2Para conhecer o Sistema Educativo Português, sugere-se a leitura do último relatório do Centro Europeu para o
Desenvolvimento da Formação Contínua (CEDEQP) sobre o Sistema de Educação e Formação e o último relatório sobre a
Educação e Formação em Portugal, criado pelo Ministério da Educação e Ciência (MEC).

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A estratégia de desenvolvimento do SNQ passa por assegurar o cumprimento de alguns objetivos,


entre eles:
• A generalização do ensino secundário como patamar mínimo de qualificação;
• A progressão escolar e profissional da população ativa;
• A aposta na dupla certificação e na diversificação de oportunidades de qualificação para
jovens e adultos;
• A flexibilização das ofertas de formação para os adultos e a valorização, reconhecimento
e certificação das competências adquiridas;
• A estruturação de uma oferta de formação (inicial e contínua) adequada às necessidades
das empresas e do mercado de trabalho;
• A promoção da coerência, transparência e comparabilidade das qualificações a nível
nacional e internacional.
No âmbito do SNQ foram criados o Quadro Nacional de Qualificações (QNQ), o Catálogo Nacional
de Qualificações (CNQ) e a Caderneta Individual de Competências (CIC).
O QNQ (Portaria 782/2009, de 23 de Julho) consiste num quadro de referência único que classifica
todas as qualificações do sistema educativo e formativo nacional com referência aos princípios do
QEQ. O QNQ adota os oito níveis de qualificação do QEQ, assim como os mesmos descritores e
resultados de aprendizagem, valorizando as aprendizagens adquiridas por vias formais, não-formais
e informais e a dupla certificação de nível secundário. O QNQ inclui o ensino básico, secundário e
superior, a formação profissional e os processos de reconhecimento, validação e certificação de
competências (RVCC) (obtidas por via não-formal e informal). Quanto à estrutura, que pode ser
consultada em www.catalogo.anqep.gov.pt/Home/QNQ, esta é a seguinte (Tabela 2):

NÍVEIS DE
QUALIFICAÇÕES
QUALIFICAÇÃO
Nível 1 2.º Ciclo do ensino básico
3.º Ciclo do ensino básico obtido no ensino básico ou por
Nível 2
percursos de dupla certificação
Ensino secundário vocacionado para prosseguimento de
Nível 3
estudos de nível superior
Ensino secundário obtido por percursos de dupla
certificação ou ensino secundário vocacionado para
Nível 4
prosseguimento de estudos de nível superior acrescido de
estágio profissional – mínimo de 6 meses
Qualificação de nível pós-secundário não superior com
Nível 5
créditos para prosseguimento de estudos de nível superior
Nível 6 Licenciatura
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Nível 7 Mestrado
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Nível 8 Doutoramento
Tabela 2. Estrutura do QNQ.

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No que diz respeito ao CNQ, que se encontra disponível em www.catalogo.anqep.gov.pt, este


constitui-se como um instrumento de gestão estratégica que integra as qualificações de nível não
superior (Portaria 781/2009 de 23 de julho), regulando as modalidades de educação e formação de
dupla certificação e promovendo a eficácia do financiamento público (regula o acesso aos fundos
sociais europeus para a educação e formação).
Os objetivos principais do CNQ são os seguintes:
• Promover a produção de qualificações e de competências críticas para a
competitividade e modernização da economia e para o desenvolvimento pessoal/social
do indivíduo;
• Contribuir para o desenvolvimento de um quadro de qualificações legível e flexível que
favoreça a comparabilidade das qualificações de nível nacional e internacional;
• Promover a flexibilidade na obtenção da qualificação e na construção do percurso
individual de ALV;
• Facilitar o reconhecimento de qualificações;
• Melhorar a eficácia do financiamento público à formação.
A organização do CNQ está em conformidade com a Classificação Nacional de Áreas de Educação e
Formação (CNAEF), com mais de 250 qualificações que incluem todos os setores de atividade e se
encontram distribuídas por 40 áreas de educação e formação que vão do nível 2 ao nível 5. A cada
qualificação corresponde um perfil profissional, um referencial de formação (plano de formação
estandardizado que discrimina as componentes de formação de base e tecnológica e está
organizado em unidades de formação de curta duração – UFCD de 25 e 50 horas capitalizáveis e
certificáveis de forma autónoma) e um referencial de competências profissionais (conjunto de
instrumentos de avaliação que devem ser usados nos processos de RVCC).
A conclusão de uma qualificação prevista no CNQ é comprovada por um diploma de qualificação
que reflete uma qualificação definida no QNQ. A conclusão das UFCD desenvolvidas com base nos
referenciais do CNQ que não permitam de imediato uma qualificação dão direito a um certificado
de qualificações.
O CNQ apresenta um mecanismo de consulta aberto, permanente e alargado a todas as entidades
do SNQ, permitindo a submissão de propostas de atualização que podem contemplar a integração
de novas qualificações, a revisão das qualificações existentes, a alteração ao perfil profissional, a
alteração ao referencial de formação e a extinção de qualificações.
Por fim, a CIC é um documento eletrónico pessoal e intransmissível onde se regista as competências
adquiridas/desenvolvidas pelo cidadão ao longo da vida e que se encontrem referenciadas no CNQ
(Portaria 475/2010 de 8 de julho). Este documento também contempla as ações de formação
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profissional que, apesar de não se encontrarem integradas no CNQ, pressupõem a sua conclusão
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com aproveitamento. Este documento promove uma apresentação mais eficaz das formações e

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competências adquiridas ao longo da vida e permite aos empregadores apreender mais facilmente
a adequação das competências dos candidatos aos postos de trabalho.
As redes de entidades formadoras do SNQ são as seguintes (http://portal.iefp.pt):
• Centros para a Qualificação e o Ensino Profissional (CQEP);
• Estabelecimentos de ensino básico e secundário do Ministério da Educação e Ciência
(MEC);
• Centros de formação profissional e de reabilitação profissional de gestão direta e
participada do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP);
• Escolas profissionais;
• Estabelecimentos de ensino particular e cooperativo com paralelismo pedagógico;
• Entidades formadoras de outros ministérios;
• Entidades com estruturas formativas certificadas do sector privado.
A obtenção de qualificações pode ocorrer através da formação inserida no CNQ, do
reconhecimento, dos processos de RVCC e do reconhecimento de títulos adquiridos noutros países
por parte da Agência Nacional para a Qualificação (ANQ).

Principais ofertas formativas disponíveis


As ofertas de formação profissional podem estar inseridas no sistema educativo ou no mercado de
trabalho, estando sob a tutela de ministérios diferentes, o MEC e o Ministério da Economia e do
Emprego (MEE), respetivamente.
O SISTEMA EDUCATIVO é regulamentado pela Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE) (Lei 46/86
de 14 de outubro), organizando-se em três subsistemas: a educação pré-escolar (complementar à
ação educativa da família), a educação escolar (ensino básico, secundário e superior) e a educação
extraescolar (iniciativas de natureza formal e não-formal que incluem atividades de alfabetização e
de educação de base, atividades de aperfeiçoamento/atualização cultural e científica e atividades
de reconversão/aperfeiçoamento profissional). A LBSE contempla ainda um conjunto de
modalidades especiais de ensino, onde se destaca o ensino recorrente, a formação profissional
realizada nas escolas profissionais, a educação especial, o ensino a distância e o ensino de
português no estrangeiro.
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Figura 1. Organização do Sistema Educativo Português (Fonte: http://euroguidance.gov.pt).

Educação pré-escolar. A educação pré-escolar marca a entrada da criança no sistema educativo,


destinando-se a crianças entre os 3 e os 6 anos de idade (a partir desta idade entram no ensino
obrigatório). A educação pré-escolar é de frequência facultativa.

Ensino básico: escolaridade obrigatória. O ensino básico é constituído por três níveis de
escolaridade (Tabela 1):
• 1.º Ciclo. Aquisição de competências básicas (monodocência).
• 2.º Ciclo. Organização em várias áreas do saber (pluridocência).
• 3.º Ciclo. Preparação para prosseguimento de estudos ou entrada na vida ativa
(pluridocência).

Níveis Anos de Idade


escolaridade
1.º Ciclo 1.º ao 4.º 6 aos 10 anos
2.º Ciclo 5.º ao 6.º 10 aos 12 anos
3.º Ciclo 7.º ao 9.º 12 aos 15 anos

Tabela 1. Níveis de escolaridade do ensino básico.


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Ensino secundário. O ensino secundário dispõe de diferentes modalidades dependendo do


objetivo:
• Cursos cientifico-humanísticos para prosseguir estudos no ensino superior (realização de
exames nacionais);
• Cursos tecnológicos para entrada no mercado de trabalho;
• Cursos artísticos especializados para entrada no mercado de trabalho;
• Cursos profissionais para entrada no mercado de trabalho, organizados por módulos de
diferentes áreas.

Ensino pós-secundário (não-superior). Neste contexto, encontramos os Cursos de Especialização


Tecnológica (CET), que permitem a entrada no mundo do trabalho ou a continuação para o ensino
superior (atribuição de créditos no ensino superior). A conclusão com aproveitamento confere um
diploma de especialização tecnológica (DET).

Ensino superior. O ensino superior estrutura-se de acordo com os princípios de Bolonha, estando o
acesso sujeito a numerus clausus. O acesso ocorre mediante um exame nacional ou específico para
maiores de 23 anos. Organiza-se em universidades e politécnicos, sendo atribuídos os graus de
licenciado, mestre e doutor.
Entende-se por FORMAÇÃO PROFISSIONAL INSERIDA NO MERCADO DE TRABALHO a que é
destinada especificamente a ativos, por conta própria ou de outrem, podendo também ser
destinada a candidatos ao primeiro emprego. O objetivo principal é o exercício qualificado de uma
atividade profissional. Esta formação é promovida por empresas, associações empresariais, centros
de formação e outras entidades empregadoras ou formadoras.
No âmbito da formação profissional inserida no mercado de trabalho, podemos destacar as escolas
tecnológicas, as escolas de hotelaria e turismo e as escolas de saúde. As escolas tecnológicas têm o
objetivo de promover a formação inicial e a valorização dos quadros médios empresariais de
setores caracterizados pela tecnologia existente e proporcionar a requalificação dos técnicos já
ativos e contribuir, por essa via, para a inovação tecnológica. Estas escolas são privadas e contam
com a participação de associações empresariais e entidades com representação industrial. Existem
oito escolas tecnológicas em Portugal.
As catorze escolas de hotelaria e turismo existentes em Portugal procuram responder a dois
desafios: a qualificação de novos profissionais para a entrada no mercado de emprego e o
aperfeiçoamento de ativos.
No que diz respeito às escolas de saúde, a formação inicial na área da saúde é executada pelas
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escolas superiores de enfermagem e de tecnologia da saúde, pelos hospitais e pelas escolas


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profissionais tecnológicas. Existem igualmente escolas privadas que oferecem cursos de formação

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inicial conferindo graus de licenciatura. A formação inicial dos profissionais de saúde está integrada
ou no sistema de ensino ou no mercado de trabalho. Nas escolas integradas no sistema de ensino,
algumas têm dupla tutela (Educação e Saúde) e incluem as escolas públicas que ministram os cursos
de enfermagem e de tecnologias da saúde. Ao nível da formação profissional ligada à aprendizagem
(alternância), existem cursos para ingresso na vida ativa como ajudantes de fisioterapia, assistentes
de geriatria, assistente familiar e técnico-adjunto de saúde.
Também podemos destacar a formação promovida pelo IEFP, que é o serviço público de emprego
nacional e tem como missão promover a criação e a qualidade do emprego e combater o
desemprego, através da execução das políticas ativas de emprego e formação profissional. As
principais ofertas formativas disponíveis podem ser consultadas na página oficial do IEFP
(www.iefp.pt), de acordo com a sua rede de centros.
A oferta poderá ainda ser consultada na página do POCH (Programa Operacional Temático Capital
Humano - https://www.poch.portugal2020.pt), segundo os seus cinco eixos de intervenção
prioritários:
• Promoção do sucesso educativo, do combate ao abandono escolar e reforço da qualificação
dos jovens para a empregabilidade;
• Reforço do ensino superior e da formação avançada;
• Aprendizagem, qualificação ao longo da vida e reforço da empregabilidade;
• Qualidade e inovação do sistema de educação e formação;
• Assistência técnica.
A formação contínua da administração pública é levada a cabo pelo Instituto Nacional de
Administração (INA) e pelo Centro de Estudos e Formação Autárquica (CEFA).
Para além das intervenções formativas promovidas pelas instituições públicas, há que destacar a
emergência de inúmeras iniciativas e de entidades privadas com atuações relevantes na formação
inicial e contínua. Podemos identificar como entidades igualmente formadoras as associações
sindicais, patronais e instituições de solidariedade social. Com os apoios dos quadros comunitários
e do atual POCH, um número crescente de empresas tem vindo a organizar ações de formação
dirigidas aos seus ativos, através de estruturas de formação próprias ou recorrendo a terceiros.
Refira-se também a existência de um conjunto diversificado de cursos de formação inicial
homologados por diferentes instituições. A homologação de cursos promove o reconhecimento da
capacidade técnico-pedagógica das entidades formadoras por instituições públicas, garantindo a
qualidade dos cursos que desenvolve e a sua adequação ao exercício de diferentes profissões. Os
cursos de Formação Pedagógica Inicial de Formadores (homologado pelo IEFP), de Técnico Superior
de Segurança e Higiene do Trabalho (homologado pela ACT – Autoridade para as Condições do
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Trabalho) ou de Formação Inicial de Maquinistas (homologados pelo IMTT) constituem alguns


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exemplos de cursos homologados e que permitem o acesso a diversas profissões.

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Formação Pedagógica Inicial de Formador

Ainda a este respeito, atente-se na publicação do Decreto-Lei nº 92/2011 de 27 de Julho, que veio
simplificar o acesso a várias profissões, mediante a eliminação da necessidade de obtenção de uma
carteira profissional para o desenvolvimento de atividades como cabeleireiro, massagista de
estética, manicuro, cozinheiro, pasteleiro, operador agrícola, técnico de eletrónica, entre outras.
Pode, assim, optar-se pela frequência de formação profissional em entidades certificadas.

Conceitos e fundamentos da formação profissional


Na atualidade, a formação profissional assume um papel central perante desafios como a
globalização, o envelhecimento populacional, a utilização progressiva das novas tecnologias e a
consequente premência de aquisição e atualização de competências. O conceito de formação
profissional refere-se ao “conjunto de atividades que visam proporcionar a aquisição de
conhecimentos, capacidades práticas, atitudes e formas de comportamento exigidas ao bom
desempenho de uma determinada profissão ou grupo de profissões num determinado contexto de
organização produtiva económica e social” (www.dgert.mtss.gov.pt/).
A aposta na formação profissional decorre da necessidade de investimento no capital humano e
conduz à estruturação e competitividade do mercado de trabalho e da economia. Ao permitir que
os indivíduos adquiram/adotem competências, atitudes e comportamentos adequados ao bom
desempenho profissional, a formação assume um papel decisivo na transição para uma sociedade
e economia baseadas no conhecimento. A formação profissional exige, deste modo, que as
competências a adquirir ou desenvolver através de uma intervenção formativa correspondam às
funções que o indivíduo desempenha ou pode vir a desempenhar.
A formação profissional pode, assim, assumir diversas formas e visar diversas finalidades, entre
elas:
• A integração e realização socioprofissional dos formandos;
• A adequação do trabalhador ao posto de trabalho;
• A promoção da igualdade de oportunidades no acesso à profissão;
• A modernização e desenvolvimento integrado das organizações, da sociedade e da
economia;
• O fomento da criatividade, da inovação e do espírito de iniciativa e capacidade de
relacionamento.

A formação tem uma terminologia própria, pelo que é importante reter alguns conceitos
19

(http://certifica.dgert.msess.pt/):
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Formação Pedagógica Inicial de Formador

• ACÇÃO DE FORMAÇÃO. Atividade concreta de formação que visa atingir objetivos de


formação previamente definidos;
• APRENDIZAGEM. Processo mediante o qual se adquirem conhecimentos, aptidões e
atitudes, no âmbito do sistema educativo, de formação e da vida profissional e pessoal;
• ÁREA DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO. Conjunto de programas de educação e formação
agrupados em função da semelhança dos seus conteúdos principais (CNAEF, de acordo com
a Portaria 256/2005 de 16 de Março);
• COMPETÊNCIA. Capacidade reconhecida para mobilizar os conhecimentos, as aptidões e as
atitudes em contextos de trabalho, de desenvolvimento profissional, de educação e de
desenvolvimento pessoal;
• DUPLA CERTIFICAÇÃO. Reconhecimento de competências para exercer uma ou mais
atividades profissionais e de uma habilitação escolar, através de diploma;
• ENTIDADE FORMADORA CERTIFICADA. Entidade com personalidade jurídica, dotada de
recursos e capacidade técnica e organizativa para desenvolver processos associados à
formação, objeto de avaliação e reconhecimento oficiais de acordo com o referencial de
qualidade estabelecido para o efeito;
• FORMAÇÃO INICIAL. Atividade de educação e formação certificada que visa a aquisição de
saberes, competências e capacidades indispensáveis para poder iniciar o exercício
qualificado de uma ou mais atividades profissionais;
• FORMAÇÃO CERTIFICADA. Formação desenvolvida por entidade formadora certificada
para o efeito ou por estabelecimento de ensino reconhecido pelos ministérios
competentes;
• FORMAÇÃO CONTÍNUA. Atividade de educação e formação empreendida após a saída do
sistema de ensino ou após o ingresso no mercado de trabalho que permita ao indivíduo
aprofundar competências profissionais e relacionais, tendo em vista o exercício de uma ou
mais atividades profissionais, uma melhor adaptação às mutações tecnológicas e
organizacionais e o reforço da sua empregabilidade;
• FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DA FORMAÇÃO. Modos de operacionalização da formação,
determinados pela utilização integrada de itinerários de aprendizagem, metodologias e
tecnologias pedagógicas adequados à natureza dos objetivos a atingir; consideram-se neste
descritor as formações presenciais, em alternância, a distância, em contexto de trabalho/
“on job training”, a formação assistida por computador e a formação-ação;
• MODALIDADE DE FORMAÇÃO. Organização da formação definida em função em função de
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características específicas, nomeadamente objetivos, destinatários, estrutura curricular,


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metodologia e duração;

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Formação Pedagógica Inicial de Formador

• PLANEAMENTO DA FORMAÇÃO. Atividade que consiste em ordenar e estruturar as tarefas


a desenvolver, de modo a que se alcancem os objetivos previamente fixados para a
formação, sendo um processo de organização baseado na resposta a questões como: o quê,
quem, como, onde, porquê, para quê, quando;
• RECURSOS TÉCNICO-PEDAGÓGICOS. Todo e qualquer conteúdo de informação e
conhecimento, disponível em suporte físico, em formato digital ou configurando um objeto
tecnológico, subordinável a objetivos de formação, podendo ser explorado em contexto
específico de aprendizagem e com valor para o reforço ou desenvolvimento de
competências específicas de determinada população-alvo;
• RECONHECIMENTO, VALIDAÇÃO E CERTIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIAS. Processo que
permite ao indivíduo com, pelo menos, 18 anos de idade o reconhecimento, a validação e
a certificação de competências adquiridas e desenvolvidas ao longo da vida;
• REFERENCIAL DE FORMAÇÃO. Conjunto da informação que orienta a organização e
desenvolvimento da formação, em função do perfil profissional ou do referencial de
competências associado, referenciada no CNQ.

Legislação de enquadramento da formação profissional


Ao nível da legislação nacional referente à formação profissional, os principais documentos a ter
em consideração são os seguintes:
• PORTARIA 851/2010 DE 6 DE SETEMBRO, que estabelece o novo regime de certificação de
entidades formadoras e substitui o sistema de acreditação;
• PORTARIA 475/2010 DE 8 DE JULHO, que aprova o modelo da CIC e regula o respetivo
conteúdo e o processo de registo previsto no regime jurídico do SNQ, aprovado pelo
Decreto-Lei 396/2007 de 31 de dezembro;
• PORTARIA 474/2010 DE 8 DE JULHO, que diferencia certificados de frequência de
certificados de formação profissional e indica os elementos que os certificados devem
conter;
• PORTARIA 782/2009 DE 23 DE JULHO, que regula o QNQ e define os descritores para a
caracterização dos níveis de qualificação nacionais;
• PORTARIA 781/2009 DE 23 DE JULHO, que estabelece a estrutura e organização do CNQ e
o modelo de evolução para qualificações baseadas em competências;
• LEI 7/2009 DE 12 DE FEVEREIRO, que aprova o novo Código de Trabalho e reforça a
21

obrigatoriedade da formação contínua;


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Formação Pedagógica Inicial de Formador

• PORTARIA 230/2008 DE 7 DE MARÇO, que define regime jurídico dos cursos de educação
e formação de adultos (cursos EFA) e formações modulares previstos no Decreto-Lei
396/2007 de 31 de dezembro e revoga a Portaria 817/2007 de 27 de julho;
• DECRETO-LEI 396/2007 DE 31 DE DEZEMBRO, que estabelece o regime jurídico do SNQ e
define as estruturas que asseguram o seu funcionamento (QNQ, CNQ e CIC);
• PORTARIA 256/2005 DE 16 DE MARÇO, que aprova a nova CNAEF.

Legislação de enquadramento da atividade de formador


No contexto atual, é importante situar o papel do formador no sistema onde desenvolve a sua
atividade e definir o perfil de competências desejável. De acordo com o IEFP, o formador é o técnico
que atua em diversos contextos, modalidades, níveis e situações de aprendizagem, com recurso a
diferentes estratégias, métodos, técnicas e instrumentos de formação e avaliação, estabelecendo
uma relação pedagógica diferenciada, dinâmica e eficaz com múltiplos grupos ou indivíduos, de
forma a favorecer a aquisição de conhecimentos e competências, bem como o desenvolvimento de
atitudes e comportamentos adequados ao desempenho profissional, tendo em atenção as
exigências atuais e prospetivas do mercado de emprego.
Fonte: https://www.iefp.pt/formacao/formadores/paginas/formadores.aspx
No enquadramento jurídico atual, a certificação de formadores contempla três vertentes
intrinsecamente relacionadas e determinantes para a qualidade do processo formativo:
• Preparação psicossocial do indivíduo;
• Formação científica e técnica;
• Certificação de Competências Pedagógicas (CCP).
De acordo com a Portaria 214/2011 de 30 de maio, o acesso à atividade de formador pressupõe a
necessidade de ser titular de um CCP. Este documento pode ser obtido através de uma entidade
formadora certificada (nos termos da Portaria 851/2010 de 6 de setembro), através de diferentes
vias:
• Frequência com aproveitamento do curso de Formação Pedagógica Inicial de Formadores
(formação presencial ou b-learning);
• Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências de formador, adquiridas por
via da experiência (certificação total de competências ou certificação parcial de
competências, que exige formação modular);
• Reconhecimento de diplomas ou certificados de habilitações de nível superior que confiram
competências pedagógicas correspondentes às definidas no perfil de referência, mediante
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decisão devidamente fundamentada por parte do IEFP.


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Formação Pedagógica Inicial de Formador

Em qualquer das vias, de acordo com a Portaria 994/2010 de 29 de setembro, o CCP está isento de
renovação e não apresenta prazo de validade, o que não dispensa os titulares da necessidade de
manterem atualizadas as respetivas competências.
O CCP é emitido pelo IEFP (entidade certificadora responsável pela certificação de formadores).
Desde janeiro de 2012, a candidatura ao CCP de formador deve ser formalizada através do NetForce
(portal para a formação e cerificação de formadores e outros profissionais), que se encontra
disponível em http://netforce.iefp.pt/. Nos casos em que o candidato tenha frequentado com
aproveitamento a FPIF, este processo é automático.
Para além da posse do CCP, o formador deve ter uma qualificação de nível superior. Em
componentes, unidades ou módulos de formação orientados para competências de natureza mais
operativa, o formador pode ter uma qualificação de nível igual ao nível de saída dos formandos,
desde que tenha uma experiência profissional comprovada de, no mínimo, cinco anos.
A título excecional, o IEFP também pode autorizar a intervenção na formação dos profissionais que,
não sendo certificados, possuam especial qualificação académica e/ou profissional não disponível
ou pouco frequente no mercado de trabalho. Pode também autorizar a intervenção de profissionais
que, detendo uma qualificação inferior àquela em que se enquadra a ação de formação a realizar,
apresentem uma qualificação profissional não disponível ou pouco frequente no mercado de
trabalho. O pedido de autorização é formulado pela entidade formadora ao IEFP com uma
antecedência mínima de 20 dias úteis face ao início da ação, através do preenchimento do
formulário Regime Excecional.
Encontram-se isentos de CCP os seguintes profissionais:
• Detentores de habilitação profissional para a docência;
• Docentes do ensino superior universitário e politécnico;
• Responsáveis da administração educacional e das atividades de formação avançada para o
sistema científico e tecnológico.
Os formadores que obtiverem o CCP podem, se explicitamente o solicitarem, vir a integrar uma
Bolsa Nacional de Formadores, organizada por regiões e por setores de atividade/áreas de
formação, a qual se encontra disponível para as entidades gestoras, formadores e beneficiários de
formação.
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Formação Pedagógica Inicial de Formador

Perfil de Formador
Na atualidade, é reconhecida à formação profissional uma importância estratégica, enquanto
espaço privilegiado para a aquisição de conhecimentos, saber-fazer e comportamentos, exigidos
para o exercício das funções próprias de uma profissão, capaz de assegurar a mobilidade e a
capacidade de adaptação a novas profissões. Neste processo a qualidade dos formadores é
unanimemente considerada um pilar fundamental no desenvolvimento das formações.
Competências e capacidades
Apesar da dificuldade inerente à definição das competências do formador, podemos caracterizar
três tipos de competências principais: psicossociais, pedagógicas e técnico-profissionais.

Competências psicossociais
• Saber-estar em situação profissional (no posto de trabalho, na empresa/organização e no
mercado de trabalho), tendo em consideração aspetos como a assiduidade e pontualidade,
a postura pessoal e profissional, a aplicação ao trabalho, a corresponsabilidade e
autonomia, as boas relações de trabalho, a capacidade de negociação, o espírito de equipa
e o autodesenvolvimento pessoal e profissional;
• Ter capacidade de relacionamento com os outros e consigo próprio, contemplando aspetos
como a comunicação interpessoal, a liderança, a estabilidade emocional, a tolerância, a
resistência à frustração, a autoconfiança, a autocrítica e o sentido ético e profissional;
• Ter capacidade de relacionamento com o objeto de trabalho, através de características
como a capacidade de análise e de síntese, a capacidade de planificação e organização, a
capacidade de resolução de problemas, a capacidade de tomada de decisão, a criatividade,
a flexibilidade, o espírito de iniciativa e a abertura à mudança.

Competências pedagógicas
• Ter a capacidade de compreender e integrar-se no contexto técnico em que exerce a sua
atividade: a população ativa, o mundo do trabalho e os sistemas de formação, o domínio
técnico-científico e/ou tecnológico, objeto de formação, a família profissional da formação,
o papel e o perfil do formador, os processos de aprendizagem e a relação pedagógica e a
conceção e organização de cursos ou ações de formação;
• Ter a capacidade de adaptar-se a diferentes contextos organizacionais e a diferentes grupos
de formandos;
• Ter a capacidade de planificar e preparar as sessões de formação: analisar o contexto
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específico das sessões (objetivos, programa, perfis de entrada e saída e condições de


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realização da ação), ciar planos das sessões, definir objetivos pedagógicos, analisar e
estruturar os conteúdos de formação, selecionar os métodos e as técnicas pedagógicas,

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Formação Pedagógica Inicial de Formador

conceber e elaborar os suportes pedagógicos de apoio e conceber e elaborar os


instrumentos de avaliação;
• Ter a capacidade de conduzir/mediar o processo de formação/aprendizagem em grupo de
formação, desenvolvendo os conteúdos de formação e a comunicação no grupo,
motivando os formandos, gerindo o relacionamento interpessoal e de dinâmica do grupo e
os tempos e meios materiais necessários à formação e utilizando os métodos, técnicas,
instrumentos e auxiliares didáticos;
• Ter a capacidade de gerir a progressão na aprendizagem dos formandos, realizando a
avaliação formativa (informal e formal) e sumativa;
• Ter a capacidade de avaliar a eficiência e eficácia da formação, através da avaliação do
processo formativo e da participação na avaliação do impacto da formação nos
desempenhos profissionais.

Competências técnico-profissionais
• Dominar a área de atividade, quer no domínio técnico, quer tecnológico;
• Manter-se atualizado.

Atividades
O exercício da função de formador contempla três atividades ou funções basilares,
independentemente de fatores como a natureza da formação, os objetivos ou o público-alvo. Estas
funções encontram-se sistematizadas no quadro 3:

FUNÇÕES DESCRIÇÃO

Elaborar planos de sessão;


Conhecer o público-alvo (nomeadamente o nível etário, as habilitações
literárias e a experiência profissional);
Definir objetivos pedagógicos a atingir no final da ação;
Planear Selecionar conteúdos;
Selecionar recursos técnico-pedagógicos, materiais e tecnológicos;
Escolher métodos e técnicas;
Criar instrumentos de avaliação;
Prever recursos e tempo da formação.

Relacionar os conteúdos com as experiências e com a realidade


socioprofissional dos formandos;
Animar Aproveitar os conhecimentos para a prática futura;
Associar o contexto à formação;
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Comunicar os objetivos;
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Formação Pedagógica Inicial de Formador

Ter em conta os diferentes tipos e ritmos de aprendizagem, criando uma


formação educativa e com processos de desenvolvimento pessoal;
Criar situações-problema;
Diversificar métodos e atividades;
Favorecer a participação/interação dos formandos;
Promover a coesão e interação do grupo;
Reforçar a instituição e as pessoas.

Avaliar e comunicar os resultados obtidos;


Utilizar os diferentes tipos de avaliação (diagnóstica, formativa e
Avaliar sumativa);
Avaliar a ação de formação;
Realizar uma autoavaliação.

Quadro 3. Principais funções do formador.

Ainda neste contexto, há diferentes tipos de formadores que podem diferenciar-se quanto ao
regime de ocupação e quanto ao vínculo para com a entidade onde desenvolvem a formação:
• Quanto ao regime de ocupação, podem ser permanentes ou eventuais consoante
desempenhem as funções de formador como atividade principal ou secundária;
• Quanto ao vínculo, podem ser internos ou externos conforme tenham ou não vínculo com
a entidade formadora ou beneficiária.

Código Deontológico: direitos e deveres


Segundo o Decreto Regulamentar 267/94 série I-B de 18 de novembro, que visa regulamentar o
exercício da atividade de formador no âmbito da formação profissional inserida no mercado de
emprego, são direitos do formador:
• Apresentar propostas com vista à melhoria das atividades formativas, nomeadamente,
através da participação no processo de desenvolvimento e nos critérios de avaliação da
ação de formação;
• Obter comprovação documental, pela entidade promotora da ação, relativa à atividade
desenvolvida como formador, do qual conste o domínio, a duração e a qualidade da sua
intervenção;
• Ser integrado em bolsas de formadores.
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De acordo com o mesmo Decreto Regulamentar, são deveres do formador:


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• Fixar os objetivos da ação e a metodologia pedagógica a utilizar;

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Formação Pedagógica Inicial de Formador

• Cooperar com a entidade formadora, bem como com outros intervenientes do processo
formativo, no sentido de assegurar a eficácia da ação de formação;
• Preparar, de forma adequada e prévia, cada ação de formação;
• Participar na conceção técnica e pedagógica da ação;
• Zelar pelos meios materiais e técnicos;
• Ser assíduo e pontual;
• Cumprir a legislação e os regulamentos aplicáveis à formação;
• Avaliar cada ação de formação e cada processo formativo em função dos objetivos fixados
e do nível de adequação conseguido;
• Possuir certificação da aptidão de formador obrigatória a partir de 1 de janeiro de 1998.

Tipos de Formação Profissional: inicial e contínua


A formação profissional divide-se em duas grandes categorias: a formação inicial e a formação
contínua.

Formação inicial
De acordo com o artigo 3.º do Decreto-Lei 396/2007 de 31 de dezembro, a formação inicial tem
como objetivo a aquisição de saberes, competências e capacidades necessárias para iniciar o
exercício de uma profissão.
Na formação inicial ainda se pode distinguir dois formatos: a formação inicial simples e a formação
inicial de dupla certificação.
A formação profissional inicial simples garante uma única certificação. Este formato qualifica para
uma profissão, ao passo que a formação de dupla certificação, para além de qualificar para uma
profissão, também garante uma habilitação escolar.
A formação inicial de dupla certificação é toda a formação inicial integrada no CNQ e desenvolvida
por uma entidade formadora certificada para o efeito ou por estabelecimento de ensino
reconhecido pelos ministérios competentes. A dupla certificação não é mais do que o
reconhecimento de competências para exercer uma ou mais atividades profissionais e de uma
habilitação escolar.

Formação contínua
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Ainda de acordo com artigo 3.º do mesmo Decreto-Lei, a formação contínua é uma atividade de
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educação e formação empreendida após a saída do sistema de ensino ou após o ingresso no

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Formação Pedagógica Inicial de Formador

mercado de trabalho que permita ao indivíduo aprofundar competências profissionais e relacionais,


tendo em vista o exercício de uma ou mais atividades profissionais, uma melhor adaptação às
mutações tecnológicas e organizacionais e o reforço da sua empregabilidade.
Desta forma, não se destina apenas a jovens em início da vida ativa, que procuram uma formação
base que lhes permita iniciar uma carreira, mas também a adultos em plena atividade profissional
que precisam de se atualizar, aperfeiçoar ou reconhecer as suas competências para exercerem a
sua profissão ou outra.
A formação contínua assume um papel fundamental na acessibilidade a novos conceitos de
organização e gestão e contribui para acelerar as mudanças nas organizações, para intervir
diretamente sob os profissionais que nelas trabalham.
A duração da formação contínua geralmente é mais curta do que a formação inicial e também é
promovida por mais entidades. Entre as iniciativas de formação contínua existentes podemos
destacar:
• A formação contínua desenvolvida pelas entidades patronais, pelas empresas formadoras
e pelos sindicatos;
• A formação contínua de dupla certificação inserida no SNQ (ao abrigo do Decreto-Lei
396/2007 de 31 de dezembro), que não é mais do que formação contínua desenvolvida
através de quaisquer módulos integrados no CNQ e desenvolvida por uma entidade
formadora certificada para o efeito ou por estabelecimento de ensino reconhecido pelos
ministérios competentes;
• A formação contínua desenvolvida pelo IEFP, dirigida principalmente a desempregados.

Modalidades de Formação Profissional


De acordo com o artigo 9.º do Decreto-lei 396/2007 de 31 de dezembro, que estabeleceu o SNQ,
existem seis modalidades de formação de dupla certificação:
• Cursos profissionais (cursos de nível secundário de educação, vocacionados para a
formação inicial de jovens, privilegiando a sua inserção na vida ativa e permitindo o
prosseguimento de estudos);
• Cursos de aprendizagem ou alternância (cursos de formação profissional inicial de jovens,
em alternância, privilegiando a sua inserção na vida ativa e permitindo o prosseguimento
de estudos);
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Formação Pedagógica Inicial de Formador

• Cursos de educação e formação para jovens (formação inicial para jovens que
abandonaram ou estão em risco de abandonar o sistema regular de ensino, privilegiando a
sua inserção na vida ativa e permitindo o prosseguimento de estudos);
• Cursos de educação e formação para adultos (cursos para indivíduos com mais de 18 anos,
não qualificados ou sem qualificação adequada, para efeitos de inserção/reinserção e
progressão no mercado de trabalho e que não tenham concluído o ensino básico ou
secundário);
• Cursos de especialização tecnológica (cursos de nível pós-secundário não superior que
visam conferir uma qualificação com base em formação técnica especializada);
• Outras formações modulares inseridas no CNQ, no quadro da formação contínua.

O Decreto-Lei 396/2007 de 31 de dezembro refere outras modalidades que têm em comum o facto
de não serem de dupla certificação, na medida em que não dão equivalência a níveis de qualificação
escolar, mas podem ter dupla certificação se forem inseridas em processos de RVCC:
• Formação-ação (dirigida a micro, pequenas e médias empresas e assente na prestação de
serviços integrados de formação e consultoria);
• Outras ações de formação contínua (que incluem todas as outras formações que não são
de dupla certificação e que não são realizadas dentro das pequenas e médias empresas,
mas que servem para reciclagem, aperfeiçoamento ou aumento de competências – inclui-
se aqui a formação para públicos diferenciados, como pessoas com deficiência, e a
formação em contexto de trabalho em empresas de qualquer dimensão e todo o tipo de
organizações).

Educação e Formação de Jovens


Objetivos. Face ao elevado número de jovens em situação de abandono escolar e em transição
para a vida ativa, os cursos de Educação e Formação de Jovens (CEF) visam a recuperação dos
défices de qualificação, escolar e profissional, destes públicos, através da aquisição de
competências escolares, técnicas, sociais e relacionais, que lhes permitam ingressar num mercado
de trabalho cada vez mais exigente e competitivo.
Destinatários. Estes cursos destinam-se a jovens, candidatos ao primeiro emprego, ou a novo
emprego, com idade igual ou superior a 15 anos e inferior a 23 anos, à data de início do curso, em
risco de abandono escolar, ou que já abandonaram a via regular de ensino e detentores de
habilitações escolares que variam entre o 6.º ano de escolaridade, ou inferior e o ensino
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secundário.
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Formação Pedagógica Inicial de Formador

Componentes de Formação. Os cursos de educação e formação para jovens apresentam uma


estrutura curricular, de carater profissionalizante, que integra quatro componentes de formação,
nomeadamente sociocultural, científica, tecnológica e prática em contexto de trabalho.
Certificação Escolar e Profissional. A frequência destes cursos, com aproveitamento, garante a
obtenção de uma qualificação de nível 1, 2 ou 4, com equivalência ao 6.º, 9.º ou 12.º anos de
escolaridade.

Educação e Formação de Adultos


Objetivos. Os cursos de educação e formação de adultos (EFA) visam elevar os níveis de habilitação
escolar e profissional da população portuguesa adulta, através de uma oferta integrada de
educação e formação profissionalizante e que certifique as competências adquiridas ao longo da
vida.
Destinatários. Estes cursos destinam-se a candidatos com idade igual ou superior a 18 anos à data
de início da formação, sem a qualificação adequada para efeitos de inserção ou progressão no
mercado de trabalho ou sem a conclusão do ensino básico ou do ensino secundário.
Componentes de Formação. Os cursos EFA dividem-se em ensino básico (formação base, formação
tecnológica e módulo de “aprender com autonomia”) e ensino secundário (funciona da mesma
forma, com formação base mais exigente e construção de um Portefólio Reflexivo de
Aprendizagens, PRA).
Certificação Escolar e Profissional. A frequência, com aproveitamento, de um curso EFA, de dupla
certificação, confere um certificado do 3.º ciclo do ensino básico e o nível 2 de qualificação ou um
certificado do ensino secundário e o nível 4 de qualificação.

Formação para Públicos Diferenciados (ex. com incapacidade ou deficiência)


A formação para públicos diferenciados (como é o caso das pessoas com incapacidade ou
deficiência) tem como objetivo a sua reabilitação profissional e a preparação para uma profissão
ajustada às suas aptidões e capacidades físicas.

Formação em Contexto de Trabalho


A formação inserida no mercado de emprego tem como base de referência a empresa e tem como
destinatários a população ativa empregada ou desempregada, incluindo os candidatos ao primeiro
emprego (Decreto-Lei 396/2007 de 31 de dezembro).
Ao contrário da formação inserida no Sistema Educativo, esta baseia-se na relação pedagógica
formador/formando, as competências a desenvolver são mais abrangentes e vocacionadas para o
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exercício de uma profissão e a formação é “transportada” para os locais de emprego, o posto de


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trabalho ou empresas especializadas em formação.

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Formação Pedagógica Inicial de Formador

Modalidades de intervenção formativa


Presencial
Esta modalidade de intervenção formativa caracteriza-se por todos os conteúdos serem
ministrados em contexto de sala, mediante o contacto direto entre os formandos e o formador.

E-learning
É uma modalidade de ensino a distância que permite a autoaprendizagem, com a mediação de
recursos didáticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes
tecnológicos de informação, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculado através da
Internet.

B-learning
O blended learning ou b-learning refere-se a um sistema de formação onde a maior parte dos
conteúdos é transmitido em curso a distância, normalmente pela Internet, mas inclui situações
presenciais, daí a origem da designação blended (misto). O b-learning pode estruturar-se em
atividades síncronas ou assíncronas (tal como o e-learning), o que pressupõe o trabalho conjunto
entre formandos e formador num horário predefinido ou flexível. Geralmente, o b-learning não é
totalmente síncrono, porque exigiria uma disponibilidade individualizada para encontros
presenciais, o que dificulta o entendimento e o agendamento.

Processos de RVCC
O processo de RVCC permite a indivíduos com mais de 18 anos de idade o reconhecimento, a
validação e a certificação de competências adquiridas e desenvolvidas ao longo da vida (artigo 3.º
do Decreto-Lei 396/2007 de 31 de dezembro). A qualificação pode ainda resultar do
reconhecimento de títulos adquiridos noutros países.
O RVCC escolar certifica competências escolares associadas a habilitações de nível básico e nível
secundário de ensino (Portaria 370/2008 de 21 de maio) e o RVCC profissional certifica
competências profissionais associadas a qualificações de nível 2 e nível 4 (Portaria 211/2011 de 26
de maio).
Ainda neste âmbito, é importante fazer referência aos Centros Qualifica, regulados pela Portaria
232/2016 de 29 de agosto. O Programa Qualifica é um programa vocacionado para a qualificação
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de adultos que tem por objetivo melhorar os níveis de educação e formação dos adultos,
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contribuindo para a melhoria dos níveis de qualificação da população e a melhoria da


empregabilidade dos indivíduos.

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Formação Pedagógica Inicial de Formador

Estes centros passam a funcionar de acordo com o Sistema Nacional de Créditos do Ensino e
Formação Profissionais, que permite a atribuição de pontos de crédito às qualificações integradas
no Catálogo Nacional de Qualificações (CNQ) e ainda a outras formações certificadas, desde que as
mesmas se encontram registadas no Sistema de Informação e Gestão da Oferta Educativa e
Formativa (SIGO) e cumpram os critérios de garantia da qualidade em vigor. Este sistema incorpora
os princípios do Sistema Europeu de Créditos para o Ensino e Formação Profissionais (ECVET),
favorecendo a mobilidade no espaço europeu.
Refira-se, ainda, o Passaporte Qualifica, um instrumento tecnológico de registo das qualificações e
competências adquiridas ou desenvolvidas ao longo da vida do adulto e de orientação para
percursos de aprendizagem. A partir da capitalização dos resultados de aprendizagem já alcançados
e das competências adquiridas pelo adulto, o Passaporte Qualifica simula diversos percursos de
qualificação possíveis para a obtenção de novas qualificações e/ou progressão escolar e
profissional.
Sendo uma prioridade do Sistema Nacional de Qualificações o aumento do nível de qualificação dos
adultos, o Passaporte Qualifica prioriza propostas de conclusão e/ou aumento da qualificação dos
adultos, bem como para a qualificação de dupla certificação. Os percursos de qualificação são
sugeridos em função da maior capitalização possível de unidades de formação já certificadas e de
créditos já obtidos pelo adulto em formações anteriores (ver o Despacho 1971/2017 de 8 de
março).

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SUBMÓDULO 1.2.
Aprendizagem, criatividade e empreendedorismo

O presente submódulo pretende analisar os aspetos que podem influenciar o quotidiano do


formador, designadamente a heterogeneidade dos formandos e os diferentes ritmos de
aprendizagem. A adequação das estratégias de aprendizagem, a motivação dos formandos e o
sucesso da formação apenas são possíveis mediante o conhecimento destes fatores.
O formador contemporâneo necessita de conhecer e motivar os formandos, criando contextos
formativos de crescimento pessoal caracterizados pela partilha e confronto de ideias. Para além de
competências ao nível do domínio e transmissão de conhecimentos, o formador tem, assim, a
função de descodificar comportamentos e motivar os formandos. Caso contrário, pode não atingir
os objetivos formativos a que se propõe.
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Formação Pedagógica Inicial de Formador

Princípios da Teoria de Aprendizagem


A aprendizagem constitui um processo integrado que pressupõe o desenvolvimento da capacidade
de resposta aos estímulos ambientais e de adaptação a novas situações, mediante o uso das
estruturas sensoriomotoras, cognitivas e afetivas. Alarcão e Tavares (2005) descrevem a
aprendizagem como uma construção pessoal resultante de um processo experiencial interior à
pessoa que se traduz numa modificação de comportamento relativamente estável. Este processo
pode ser analisado sob diversas perspetivas, pelo que existem diferentes teorias da aprendizagem,
que têm como objetivo explicar a dinâmica envolvida da aprendizagem e a relação entre o
conhecimento pré-existente e o novo conhecimento. As diferentes teorias podem agrupar-se em
três grupos principais: comportamentalistas, cognitivistas e humanistas.

Teorias comportamentalistas
As teorias comportamentalistas ou behavioristas supõem que o comportamento inclui respostas
que podem ser observadas e relacionadas com eventos que as precedem (estímulos) e as sucedem
(consequências). Estas teorias limitam-se ao estudo dos comportamentos observáveis e
mensuráveis controlados pelas suas consequências, ignorando o processo mental e privilegiando a
associação estímulo-resposta. O indivíduo tem um papel passivo neste processo, limitando-se a
responder aos estímulos do ambiente externo. Watson, Pavlov, Skinner e Thorndike são os autores
que mais se destacaram nesta linha de pensamento.
Princípios psicopedagógicos:
• Definir de modo preciso os objetivos finais da aprendizagem;
• Analisar a estrutura das tarefas, de modo a determinar os objetivos do percurso;
• Apresentar a matéria em unidades pequenas, de modo a condicionar o comportamento do
indivíduo e conduzi-lo através de experiências positivas de aprendizagem;
• Apresentar estímulos que originem respostas adequadas;
• Reforçar as respostas desejadas;
• Proporcionar o conhecimento dos resultados como forma de retroalimentação do
processo;
• Usar reforços, retirar reforços ou punir, em função dos comportamentos e das
aprendizagens pretendidas;
• Exercitar os comportamentos aprendidos.
Implicações para a prática pedagógica: reforço, repetição, imitação, ensino programado,
demonstrações e memorização.
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Teorias cognitivistas
As teorias cognitivistas consideram que a aprendizagem ocorre pela descoberta e procura, sendo
progressiva e baseada na experiência. A aprendizagem consiste num processo de reorganização da
perceção que se traduz numa modificação estrutura cognitiva do sujeito, permitindo-lhe
reconstruir a informação que recebe. Deste modo, a aprendizagem é vista como um processo de
armazenamento de informações, procurando definir e descrever como os sujeitos percebem,
direcionam e coordenam as suas interações com o ambiente. Piaget, Ausubel, Bruner, Lewin,
Wertheimer e Kohler são alguns dos autores mais representativos desta linha de pensamento.
Princípios psicopedagógicos:
• Motivar o indivíduo para aprendizagem, relacionando as suas necessidades pessoais com
os objetivos da aprendizagem;
• Valorizar a experiência anterior, reconhecendo que a estrutura cognitiva do indivíduo
depende da sua visão do mundo e das suas experiências anteriores;
• Adaptar as estratégias de ensino ao nível de desenvolvimento dos indivíduos;
• Relacionar os conhecimentos novos com os conhecimentos adquiridos anteriormente;
• Valorizar a compreensão em detrimento da memorização;
• Fornecer pistas que facilitem a compreensão, organização e retenção dos conhecimentos;
• Valorizar a prática e a experimentação de novos conhecimentos, facilitando a transferência
de habilidades e conhecimentos para novas situações;
• Sistematizar a informação, iniciando cada unidade temática apresentando conjuntos
significativos e descendo gradualmente ao pormenor.
Implicações para a prática pedagógica: ensino pela descoberta, introduções, sumários,
questionários orientados para a compreensão, esquemas, debates, discussões e estudos de caso.

Teorias humanistas
As teorias humanistas consideram que a aprendizagem é um processo cognitivo, mas a ênfase é
colocada na experiência do indivíduo, na medida em que este tenta descobrir o seu próprio
caminho tentando alcançar a autorrealização e o crescimento pessoal. O indivíduo é um ser
responsável pelos seus atos e livre para fazer escolhas. Maslow e Rogers são os autores mais
representativos destas teorias.
Princípios psicopedagógicos:
• Não nos devemos preocupar tanto com o ensino, devendo colocar a ênfase na
aprendizagem enquanto potenciadora do desenvolvimento da pessoa;
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• Centrar a aprendizagem no indivíduo e nas suas necessidades, vontades e sentimentos;



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Desenvolver no indivíduo a responsabilidade pela autoaprendizagem e incutir-lhe o espírito


de autoavaliação;

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• Centrar a aprendizagem em atividades e experiências significativas para o indivíduo;


• Desenvolver relações interpessoais empáticas no interior do grupo;
• Ensinar não apenas a pensar, mas também a sentir;
• Criar uma atmosfera emocional positiva que ajude o indivíduo a integrar novas experiências
e ideias;
• Promover a aprendizagem ativa e orientada para a descoberta, autonomia e reflexão.
Implicações para a prática pedagógica: ensino individualizado, discussões, debates, painéis,
simulações, jogos de papéis e resolução de problemas.

Pedagogia, Andragogia, didática e Psicologia da aprendizagem


O termo pedagogia significa literalmente a arte e ciência de educar as crianças e é frequentemente
usado como sinónimo de ensinar. O modelo pedagógico prioriza um tipo de educação centrado no
professor, na medida em que este assume a responsabilidade pelas decisões acerca daquilo que
deve ser aprendido, como vai ser aprendido e quando vai ser aprendido. Neste contexto, é
importante distinguir a pedagogia e a didática: a primeira é a ciência que estuda a educação e a
segunda é a disciplina ou conjunto de técnicas que facilitam a aprendizagem. A didática é, desta
forma, uma disciplina dentro da pedagogia.
A andragogia, inicialmente definida como a arte e ciência de ajudar os adultos a aprender (Knowles,
1970), define-se atualmente como uma alternativa à pedagogia e refere-se à educação em qualquer
idade e centrada no aprendiz (Conner, 1997). Deste modo, a abordagem andragógica é dirigida e
focada no aprender fazendo, ao passo que a pedagogia é centrada no professor e é diretiva.
No que diz respeito à aprendizagem dos adultos, Malcom Knowles (1970) refere que estes passam
da dependência ao autodirecionamento, tiram partido do seu reportório de experiências para
aprender, estão prontos para aprender quando assumem novos papéis, querem resolver
problemas e aplicar novos conhecimentos de forma imediata. Em conformidade com estas
assunções, a andragogia afirma que a aprendizagem dos adultos é mais efetiva quando:
• Sentem a necessidade e motivação para aprender;
• Têm algum input acerca do quê, porquê e como aprender;
• Os conteúdos e processos da aprendizagem têm uma relação significativa com a sua
experiência;
• A experiência é usada como uma fonte de aprendizagem;
• Aquilo que se aprende se relaciona com a vida e as funções atuais do indivíduo;
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• Há uma maior autonomia;


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• O clima de aprendizagem minimiza a ansiedade e encoraja a liberdade para experimentar;

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• Os estilos de aprendizagem são tidos em consideração;


• Há um clima cooperativo de aprendizagem;
• As atividades são sequenciais, de modo a alcançar os objetivos.
As principais diferenças entre a pedagogia / andragogia encontram-se sistematizadas no quadro 4:
CARACTERÍSTICAS DA
PEDAGOGIA ANDRAGOGIA
APRENDIZAGEM
O professor é o centro das A aprendizagem adquire uma
ações, decide o que ensinar, característica mais centrada no
Relação professor/aluno
como ensinar e avalia a aluno, na independência e na
aprendizagem. autogestão da aprendizagem.
Crianças (ou adultos) devem As pessoas aprendem o que
aprender o que a sociedade realmente precisam de saber
Razões da aprendizagem
espera (currículo padronizado). (aprendizagem para a aplicação
prática na vida diária.
O ensino é didático, A experiência é uma fonte rica de
padronizado e a experiência do aprendizagem, através da
Experiência do aluno
aluno tem pouco valor. discussão e solução de problemas
em grupo.
Aprendizagem por assunto ou Aprendizagem baseada em
Orientação da matéria. problemas, exigindo ampla gama
aprendizagem de conhecimentos para se chegar
à solução.

Quadro 4. Pedagogia e andragogia.


Fonte: http://andragogiaonline.blogspot.pt/2008/04/diferena-fundamental-andragogia-e.html

No modelo andragógico, a aprendizagem deve focar-se mais no processo do que no conteúdo,


constituindo técnicas de sucesso o role-playing, os estudos de caso, as simulações pedagógicas e a
autoavaliação. Por isso, o formador deverá exercer um papel de animador, mais do que mero
expositor da matéria.
A psicologia da aprendizagem, entendida como um ramo particular da psicologia que tenta
compreender como as pessoas aprendem, tem um papel importante neste contexto. Esta ciência
tenta explicar questões como: Como é que as crianças adquirem competências? Quando é que a
aprendizagem é mais efetiva? Quais são os fatores que explicam o processo de aprendizagem?
Como medimos a aprendizagem?
A psicologia ajuda o professor a obter respostas a estas questões e mostra que a aprendizagem é
mais efetiva quando se tem em consideração fatores como a motivação e o interesse. O
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conhecimento da psicologia da aprendizagem ajuda o professor a modificar a sua abordagem em


Página

relação ao processo de aprendizagem.

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Processos, etapas e fatores da aprendizagem


Enquanto facilitador da aprendizagem, o formador tem como objetivo principal levar os formandos
a aprender, mediante a criação de situações que favoreçam a aprendizagem. A aprendizagem é a
capacidade que nos permite responder adequadamente às solicitações e desafios colocados pela
interação com o meio. Mas será que existe um único tipo de aprendizagem? Por exemplo, quando
se solicita aos formandos que definam conceitos, resolvam problemas ou façam demonstrações
práticas, estaremos perante o mesmo tipo de aprendizagem e os mesmos processos cognitivos?
Com efeito, a realização de tarefas distintas pressupõe diferentes tipos de aprendizagem e
diferentes processos cognitivos. Por esse motivo, o formador só poderá cumprir efetivamente o
seu papel de facilitador da aprendizagem e rentabilizar os processos internos intervenientes na
aprendizagem se compreender que diferentes tipos de aprendizagem implicam diferentes
processos cognitivos, pressupõem diferentes capacidades e exigem níveis de resposta
diferenciados. As diferentes formas como aprendemos implicam processos de aprendizagem
diferentes, como se pode ver no quadro 5:

FORMA COMO
PROCESSOS DE APRENDIZAGEM TEORIAS
APRENDEMOS
Fazendo/Experimentando
Condicionamento ou aquisição de
Com o erro
automatismos Comportamentalistas
Repetindo
Memorizando
Modelagem ou reprodução de Aprendizagem social
Imitando
modelos
Reproduzindo modelos
Com o grupo
Com a situação
Com o problema
Descobrindo Intuição ou descoberta
Transferindo
Cognitivistas
Associando/dissociando Estruturação ou elaboração da
Estruturando informação
Analisando
Contextualizando
Aprendendo a aprender

Quadro 5. Alguns processos de aprendizagem.

Fonte: Adaptado de http://formacao.fikaki.com


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As Cinco Etapas de Aprendizagem


Estas são as etapas pelas quais passamos durante o processo de aprendizagem: Quando alguém
“Não sabe que não sabe”. Por exemplo, quando saímos de uma comunidade e entramos noutra,
geralmente não conhecemos a forma como as pessoas se comportam nessa comunidade. Agimos
em função dos nossos anteriores costumes sem que nos demos conta de que há coisas que
deveriam fazer-se de maneira diferente.

Incompetência Inconsciente
Para os que já integravam a nova comunidade que conhecem as regras do meio, os recém-chegados
apresentam-se como incompetentes, porém, estes não são sequer conscientes de que há algumas
ações que, segundo os códigos da nova comunidade não se estão a realizar, e outras que se realizam
de forma equivoca.

Você não sabe que não sabe.

Incompetência Consciente
Quando “reconhecemos que não sabemos”. Aqui, o juízo de que não sabemos, fazemo-los nós
próprios, e isto situa-nos no umbral da aprendizagem. Esta é uma etapa difícil, pois descobrimos as
limitações produzidas pelos nossos antigos hábitos (físicos, intelectuais e emocionais). Requer
muita prática, atenção e perseverança para que não se abandone a aprendizagem.

Você sabe que não sabe.

Competência Consciente
Quando “começamos a ser minimamente competentes” no que estamos a aprender. Movemo-nos
com grande atenção em cada uma das ações que realizamos. Aprendeu-se algo e compreenderam-
se as suas regras, mas estas ainda não são inteiramente dominadas.

Você sabe que sabe, mas precisa de se lembrar disto.

Competência Inconsciente
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É esta a finalidade da aprendizagem, quando todos os padrões, que aprendemos de forma tão
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conscienciosa, se harmonizam numa tranquila unidade de conduta. Age-se com um baixo grau de

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reflexão, num fluxo de ações. Apenas as situações inesperadas obrigam a interromper esse fluxo. A
parte consciente determina o objetivo e deixa que o inconsciente o execute, libertando a sua
atenção para outras coisas.

Você sabe que sabe, mas nem precisa de se lembrar disto.

Mestria
A mestria é mais do que a competência inconsciente. Ocorre quando algo que exige grande
habilidade é executado de forma que pareça fácil de ser feito. Quem viu o Cristiano Ronaldo a jogar
futebol tem a exata noção disto. É na mestria que se alcança o estado de fluir (flow).

Você flui.

Fatores intervenientes no processo de aprendizagem


Quando o formador faz a planificação da formação, deve criar situações que favoreçam a
aprendizagem tendo em conta três variáveis:
• O que vai ensinar (objetivos/domínios da aprendizagem);
• Como ensinar (estratégias);
• A quem ensinar (público-alvo).
Normalmente, o público-alvo da formação é constituído por adultos, o que pressupõe uma
abordagem diferenciada daquela que é utilizada com as crianças. Os adultos têm um maior
repertório de experiências, crenças e valores acerca do mundo e dos outros, mas também possuem
uma menor resistência ao fracasso em situações de ensino-aprendizagem. Outro fator prende-se
com o facto de esquecerem facilmente aquilo que ouvem ou leem (à semelhança das crianças),
mais ainda depois dos 30, pois há um decréscimo nas capacidades de memorização. Por isso, não
se deve recorrer a estratégias que pressuponham a memorização.
Assim, os principais fatores psicológicos que podem interferir psicologicamente no processo de
aprendizagem são os seguintes:
• Perceção;
• Atenção e concentração;
• Atividade mnésica: memória, inteligência, pensamento e motivação;
• Diferenças individuais: idade, estado emocional, características da personalidade, estilos
de aprendizagem e maturidade;
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• Local de aprendizagem.
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Agentes facilitadores da aprendizagem


• Motivação. A motivação e vontade de aprender facilitam a interiorização da informação e
o processo de aprendizagem, pelo que o formador deve motivar o grupo;
• Conhecimento dos objetivos. Os objetivos devem ser comunicados aos formandos, com o
propósito de saberem aquilo que deles é esperado no final da formação;
• Reforço positivo. O uso de reforços positivos é determinante para o incentivo, participação,
desempenho e sucesso dos formandos;
• Estrutura. A formação deve ter uma introdução, desenvolvimento e conclusão, de acordo
com uma lógica que seja de fácil compreensão para os formandos e uma apresentação
gradual dos conteúdos, dos mais simples para os mais complexos;
• Participação ativa. Quanto mais ativo e implicado na formação o formando estiver, mais
interessado e entusiasmado se sentirá face à aquisição dos conhecimentos;
• Experiência. O objetivo da formação é que o formando recorra menos à memória e mais ao
seu reportório experiencial, comparando-o com os conteúdos da formação e
estabelecendo pontes que resultem no sucesso da aprendizagem, de acordo com uma
aprendizagem em espiral3.
• Conhecimento dos resultados. O desempenho do formando permite que este se situe
dentro da formação e funciona como um reforço;
• Progressividade. O avanço sequencial dos conteúdos facilita a aprendizagem porque
permite uma abordagem por etapas;
• Redundância. A redundância ou repetição facilita a retenção e consolidação de
conhecimentos;
• Imagem e demonstração. O recurso a métodos de estimulação multissensorial ativa várias
áreas cerebrais que permitem ao formando assimilar, reter e acomodar melhor os
conhecimentos, sendo que a utilização de imagens e demonstrações permite ativar essas
áreas.

Conceitos, características e percursos da aprendizagem


O processo de aprendizagem caracteriza-se por ser:
• Global. A aprendizagem é um processo que exige a participação global do indivíduo,
mediante a interação de diferentes conhecimentos, capacidades e valores, o que leva a que
41
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3A aprendizagem em espiral refere-se ao facto de se iniciar a aprendizagem a partir do conhecimento e experiências dos
formandos. O objetivo é que os formandos relatem as suas experiências e que o formador recorra a analogias e exemplos
práticos que facilitem a aprendizagem.

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todos os aspetos constitutivos da sua personalidade entrem em atividade no ato de


aprender;
• Dinâmico. A aprendizagem não é um processo de absorção passiva, sendo importante
estimular a atividade e envolvimento dos formandos neste processo. O sujeito apenas
aprende se participar ativamente no processo, seja a nível operatório seja a nível interno
(mental, afetivo e social);
• Gradativo: A aprendizagem tem um sentido crescente ao nível da complexidade de saberes,
habilidades e comportamentos, partindo de operações simples para operações cada vez
mais complexas;
• Cumulativo. A aprendizagem resulta da atividade anterior, o que significa que a nossa
capacidade de aprender coisas novas aumenta se já possuirmos alguns conhecimentos
sobre o assunto;
• Contínuo. A aprendizagem é um processo que decorre ao longo de toda a vida, sendo uma
condição necessária à sobrevivência e à satisfação das necessidades humanas;
• Pessoal. O processo formativo deve centrar-se na individualidade de cada formando,
porque a aprendizagem é um processo pessoal que varia de pessoa para pessoa. Isto
significa que a aprendizagem depende da pessoa que aprende e que a mesma forma de
ensinar pode não resultar com dois sujeitos diferentes.

Fatores cognitivos de aprendizagem (memória e atenção)


A memória é aquilo que permite a aprendizagem, pois é através dela que podemos aprender coisas
novas e consolidar os conhecimentos. Podemos definir a memória como o processo cognitivo
através do qual codificamos, armazenamos e recuperamos a informação (Papalaia, Olds, &
Feldman, 2001). O processo de memorização dá-se em três fases:
• Codificação. É a primeira fase da memória que prepara as informações sensoriais para
serem posteriormente armazenadas no cérebro;
• Armazenamento. Consiste no registo de informação sobre algo, o que implica modificações
nas redes neuronais;
• Recuperação. É a fase em que nos lembramos, evocamos ou recordamos da informação
que armazenámos no passado.
Ao nível da memória, podemos falar de três tipos de sistemas principais:
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• Memória sensorial ou operativa, que está relacionada com as informações obtidas pelos
sentidos e que podem ser rapidamente esquecidas. Se a informação armazenada for
processada, passa para a memória a curto prazo;
• Memória a curto prazo, que retém informação durante um período limitado de tempo,
podendo ser esquecida ou passar para a memória a longo prazo;
• Memória a longo prazo, que se encontra associada à preservação da informação por
períodos longos, para posterior recuperação.
Em suma, a memória a curto prazo tem uma capacidade de armazenar informação limitada, e a
memória a longo prazo tem uma capacidade ilimitada. Estes dois tipos de memória variam em
função do período de tempo durante o qual a informação é retida.
A atenção, por outro lado, consiste num processo cognitivo de concentração seletiva num
determinado estímulo em detrimento de outro. Este fator é indispensável para o processo de
aprendizagem, porque nos permite captar/receber a informação que dará origem à aprendizagem
(é como o interruptor que nos permite ligar a luz). Considerando que o ser humano é incapaz de
absorver todos os estímulos do meio e que apenas presta atenção a alguns deles, em contexto
formativo o formador deve ter a capacidade de direcionar a atenção dos formandos para os
estímulos de maior relevância. O número de estímulos, a familiaridade, a similaridade, a
novidade/imprevisto e a complexidade encontram-se entre os fatores que podem (ou não) atrair a
atenção.

A aprendizagem disruptiva como metodologia de facilitação


A evolução tecnológica e a utilização em massa da Internet têm conduzido a alterações
significativas na educação. Face a este cenário, a aprendizagem disruptiva, que consiste na
incorporação da aprendizagem online no sistema educativo, é um desafio e uma oportunidade para
os professores/formadores, permitindo que estes saiam da sua zona de conforto para explorar
novas formas de ensinar e motivar os alunos/formandos.
O e-learning (aprendizagem a distância através da Internet) e o b-learning (aprendizagem através
de sessões presenciais e a distância) constituem exemplos de aprendizagem disruptiva.
A aprendizagem disruptiva apresenta diversas vantagens, nomeadamente:
• É personalizada e centrada no aluno/formando, permito-lhe que trabalhe ao seu próprio
ritmo;
• Pode atender às necessidades de vários alunos/formandos;

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Produz os mesmos resultados que a estrutura da sala de aula do ensino tradicional a preços
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mais baixos;
• Permite que os alunos/formandos adquiram novas qualificações.

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Contudo, este tipo de aprendizagem também impõe algumas desvantagens:


• Alguns programas tentam ocupar o lugar dos professores/formadores, mas apenas podem
responder às questões com respostas pré-programadas;
• Algumas pessoas referem a incapacidade deste tipo de aprendizagem para potenciar o
pensamento crítico;
• Potencialmente, a aprendizagem disruptiva pode esconder as competências sociais e as
experiências colaborativas, devido à falta de interação humana.

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Espírito empreendedor na formação


A formação é um processo contínuo que pretende formar pessoas autónomas, críticas e
empreendedoras. Um empreendedor é um indivíduo que imagina, desenvolve e realiza ações,
procurando sempre novas ideias e trabalhando com perseverança até alcançar os seus objetivos.
Apesar de comumente se associar o termo a pessoas que têm um negócio próprio, o conceito de
empreendedorismo é um estilo de vida e um comportamento, mais do que uma profissão.
Segundo Leite (2000), as qualidades principais de um empreendedor são as seguintes:
• Iniciativa;
• Visão;
• Coragem;
• Firmeza,
• Decisão;
• Atitude de respeito humano;
• Capacidade de organização e direção.
A estas características podemos acrescentar a determinação, o foco nos objetivos, a aceitação de
riscos calculados, o otimismo, o realismo, a responsabilidade e o uso do erro como uma ferramenta
de aprendizagem.
Na área da formação, procura-se formadores capazes de liderar, mobilizar, promover a reflexão e
desenvolver o espírito crítico dos formandos, diferenciando-se dos demais. Neste sentido, de modo
a promover o empreendedorismo dos formandos, a formação deve privilegiar os quatro grandes
pilares da aprendizagem: aprender a aprender (explorar os conceitos), o aprender a fazer (o saber
o que fazer), o aprender a conviver (respeito pelo trabalho em equipa) e o aprender a ser (valores
e ética).
Deste modo, e de acordo com Jones e Pfeiffer (1979), o formador deve assegurar que a
aprendizagem é direcionada para cada um, focada nas atividades, prática, orientada para o trabalho
individual, de pares e grupos, baseada na comunicação com os formandos, orientada para a
obtenção de resultados e destinada a toda a comunidade.
Por esse motivo, o formador deve orientar os formandos no sentido de contribuir para que estes
sejam corresponsáveis pelo processo de aprendizagem, definam metas realistas, aprendam
partindo da experiência e dos erros e entendam que o esforço é um pilar fundamental para um
bom desempenho.
Contudo, é importante ter a noção de que o empreendedorismo pode esbarrar em alguns
obstáculos, nomeadamente a atual conjuntura de recessão, a cultura, a educação escolar (que não
45

reconhece o papel do empreendedor), a possibilidade de fracassar, o acesso a informação e meios


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adequados e a pressão social sobre os empreendedores (devido ao estigma do falhanço).

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Pedagogia diferenciada e diferenciação pedagógica


Na atualidade, reconhece-se a importância de diferenciar, porque todas as pessoas apresentam
características próprias. Um dos aspetos variáveis tem a ver com a inteligência, perspetivada como
a capacidade do indivíduo para resolver problemas ou produzir produtos valorizados pela
sociedade. De acordo com a teoria das inteligências múltiplas (Gardner, 1993), o professor deve
considerar as sete inteligências dos seus alunos: linguística, lógico-matemática (as mais valorizadas
na nossa sociedade), visual-espacial, cinestésica, musical, interpessoal e intrapessoal. Além disso,
cada um revela estilos de aprendizagem variados, que se referem à forma como os alunos recebem
e processam as informações. Estes estilos podem ser visuais (aprende-se melhor ao visualizar),
auditivos (aprende-se melhor ouvindo) ou cinestésicos (aprende-se melhor quando se interage com
os objetos, se escreve o que se escuta ou se executa algo prático) (Barros, 2008).
Neste contexto, a pedagogia diferenciada é uma perspetiva de educar que propõe uma ação
pedagógica centrada no aluno ou em grupos específicos (por exemplo, alunos com necessidades
educativas especiais), ocorrendo num ambiente de aprendizagem aberto que potencia a
construção pessoal dos itinerários de apropriação dos saberes e do fazer pelos alunos. Por outro
lado, a diferenciação pedagógica é a adequação do estilo de ensino aos diversos estilos de
aprendizagem, tomando como ponto de partida a valorização das competências dos alunos e o
recurso a estratégias, materiais e recursos de natureza e formato diverso (Prezesmycki, 1991).
A diferenciação pedagógica constitui-se, assim, como uma resposta orientada pelo princípio do
direito de todos à aprendizagem, essencial para dar resposta à heterogeneidade de alunos que
frequentam a escola atual. Alguns dos seus princípios são os seguintes:
• O professor coloca em evidência aquilo que é importante;
• O professor deve reconhecer as diferenças entre os alunos;
• A avaliação deve ser contínua, porque a instrução e a avaliação são dois processos
indissociáveis;
• Todos os alunos têm de participar na sua própria instrução;
• Os desafios de aprendizagem devem ser moderados, de modo a garantir a sua
exequibilidade;
• A informação deve revestir-se de significado para o aluno;
• O processo de aprendizagem deve ser colaborativo, mediante a atuação conjunta entre
professor e alunos ao nível da planificação, definição de objetivos, reflexão sobre o
progresso e análise de sucessos e fracassos;
• O professor garante o equilíbrio entre as normas individuais e de grupo;
46

• O professor muda o conteúdo, o processo e o produto de acordo com a disponibilidade, o


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interesse e o perfil de aprendizagem dos alunos.

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Por fim, importa referir que a diferenciação pedagógica pode ser feita a três níveis: conteúdos (dar
aos alunos várias opções de acederem à informação), processos (recorrer a várias opções de
apresentação e exploração, de acordo com os conhecimentos prévios, os estilos de aprendizagem
e os interesses dos alunos) e produtos (meios e formas utilizados pelos alunos para mostrarem a
compreensão dos conteúdos ensinados). Por esse motivo, em contexto de sala de aula é importante
que o professor seja flexível, analise os estilos de aprendizagem dos alunos, valorize o trabalho
autónomo, negoceie com os alunos, diversifique as estratégias, atividades e materiais e recorra a
novas formas de avaliação e ao trabalho em equipa.

Diferenciar porquê?
Conforme referenciado por um provérbio chinês, “Diz-me e eu esquecerei, ensina-me e eu lembrar-
me-ei, envolve-me e eu aprenderei”. O grande desafio que se nos coloca atualmente é o de
deixarmos de estar tão preocupados em ensinar e de criarmos, pelo contrário, condições efetivas
para que os alunos aprendam, havendo uma deslocação do enfoque no ensino para a
aprendizagem, o que implica a aplicação de estratégias de diferenciação. De acordo com Perrenoud
(1997, citado por Santana, 2000, p. 30), “diferenciar é romper com a pedagogia magistral – a mesma
lição e os mesmos exercícios para todos ao mesmo tempo – mas é sobretudo uma maneira de pôr
em funcionamento uma organização de trabalho que integre dispositivos didáticos, de forma a
colocar cada aluno perante a situação mais favorável ao seu processo de aprendizagem”.
As salas de aula são lugares cada vez mais heterogéneos. A tarefa dos sistemas educativos atuais
consiste em reconhecer não só as diferenças culturais entre os alunos, mas também os diferentes
ritmos e estilos de aprendizagem e a pluralidade de interesses e capacidades, encontrando
estratégias de adaptação e desenvolvimento que a todos respeite e a todos inclua. Neste sentido,
é importante diferenciar para formar indivíduos responsáveis, críticos, atuantes e solidários,
conscientes dos seus direitos e deveres.
Os atuais sistemas de ensino devem diferenciar para construir escolas que respondam às
necessidades das sociedades contemporâneas e para aniquilar uma visão hegemónica e vertical
que se instituiu nas esferas governamentais e nos conselhos educativos das instituições educativas.
Só mediante a aplicação de uma pedagogia diferenciada será possível responder a questões
relativas à qualidade educativa, à pertinência dos currículos, à democratização dos espaços
escolares, à integração social e à formação ética dos alunos.
A pedagogia diferenciada relaciona-se, assim, com aspetos como a autonomia, a cooperação, a
inclusão e a aprendizagem significativa (relacionada com as informações previamente adquiridas
pelo aluno). Por isso, deve-se conceder uma importância cada vez maior à comunicação
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intercultural e reforçar os princípios da modernidade, tendo em conta as particularidades dos


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alunos nas diversas dimensões, mas sem perder a perspetiva de universalidade que a escola tem

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pelos conhecimentos científicos e pela necessidade de democracia. Não se trata de parcelar ou


fragmentar a escola ou a sala de aula, mas antes de reconhecer a individualidade de sujeitos
universais, o que pressupõe aceitação, reconhecimento, solidariedade e foco nas relações
humanas.

A aprendizagem através da programação neurolinguística (PNL)


A PNL, desenvolvida por Richard Bandler e John Grinder nos anos 70, é uma abordagem com
enfoque na eficácia da comunicação, na facilitação da aprendizagem e no desenvolvimento pessoal.
De acordo com esta perspetiva, existe uma associação entre os processos neurológicos (neuro), a
linguagem (linguística) e os padrões comportamentais aprendidos através da experiência
(programação), sendo possível modificá-los para alcançar objetivos específicos (Dilts, Grinder,
Bandler, & DeLozier, 1980).
A PNL é descrita como:
1. uma atitude caracterizada pelo sentido de curiosidade e desejo de aprender competências
para descobrir que tipo de comunicação influencia alguém e o tipo de coisas que vale a
pena saber (olhar para a vida como uma oportunidade para aprender e crescer);
2. uma metodologia baseada na pressuposição de que todo o comportamento tem uma
estrutura que pode ser modelada, aprendida, ensinada e alterada ou reprogramada;
3. uma tecnologia inovadora que permite ao praticante organizar a informação e as perceções
de formas que lhes permitam alcançar resultados que antes pensou estarem além das
competências.
A PNL supõe que a aprendizagem ocorre através de programas neurolinguísticos: o indivíduo
constrói mapas cognitivos dentro do seu sistema nervoso, relacionando-os com observações do
ambiente e respostas comportamentais. Com efeito, cada um de nós possui um mapa ou modelo
do mundo e um conjunto de pressuposições pessoais através das quais comunicamos pelo nosso
comportamento na sala de aula, nomeadamente o tom de voz, os gestos, as frases que usamos, a
expressão facial, o contacto visual. Nesse sentido, quem comunica é, de algum modo, a própria
mensagem.
Quando falamos da aprendizagem, podemos caracterizar a PNL de acordo com algumas
pressuposições (http://www.leeds.ac.uk/educol/documents/00003319.htm):
• A relação professor-aluno é um processo dinâmico em que o significado é construído
através de feedback recíproco (não é uma transmissão de informações independente e
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individual);
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• As pessoas agem de acordo com o modo como entendem e representam o mundo, e não
de acordo com a maneira como o mundo é (o que significa que o mapa não é o território);
• A estrutura da representação interna do mundo apresenta regularidades e é única para
cada indivíduo;
• Essa estruturação, a linguagem e comportamento do indivíduo regem-se por relações
sistemáticas. As representações internas sujeitas e o processamento refletem-se na sua
linguagem e no seu comportamento externo (por exemplo, o comportamento não-verbal),
sendo importante saber observar e utilizar esses aspetos;
• As competências, crenças e comportamentos são aprendidos (por exemplo, as
competências têm sequências correspondentes de representação interna). A
aprendizagem é um processo através do qual tais representações e as sequências são
adquiridos e modificados;
• A capacidade de um indivíduo para aprender é influenciada pelo seu estado
neurofisiológico (por exemplo, um estado de curiosidade em vez de um estado de tédio) e
pelas suas crenças sobre a aprendizagem e sobre si mesmo. Tais estados e crenças também
são aprendidos e suscetíveis à mudança.
• Essa mudança acontece por meio da comunicação entre professor e aluno, que ocorre
através de canais verbais e não-verbais, consciente e inconscientemente;
• Toda a comunicação influencia potencialmente a aprendizagem (por exemplo, a linguagem
e comportamento dos professores influencia os alunos ao nível da compreensão do tema
e as suas crenças sobre o mundo);
• A consciência do professor sobre a escolha dos próprios padrões de linguagem e
comportamento e a curiosidade sobre a sua influência e interação com as representações
internas do aluno são essenciais para a eficácia do ensino e da aprendizagem.
Em suma, o ensino é o processo que visa criar estados conducentes à aprendizagem e facilitar a
exploração das representações internas, orientando os indivíduos para o objetivo desejado. De
seguida, identifica-se algumas técnicas da PNL a que se pode recorrer em contexto de sala de aula:
• Criar harmonia, mediante a negociação contínua entre o professor e alunos, trabalho em
equipa e estratégias de comunicação entre o grupo;
• Espelhar o comportamento daqueles que queremos influenciar (por exemplo, ao nível da
postura, gestos e expressões faciais). Para que a comunicação seja natural, os aspetos
verbais e não-verbais precisam de ser combinados em atividades comunicativas. Os alunos
podem ser convidados a refletir o comportamento de personagens na televisão antes
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espelharem o comportamento uns dos outros e do professor;


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• Criar estados positivos e ancoragem através de uma imagem mental formada pelo processo
de alcançar algo mentalmente ou fisicamente, e este estado é ancorado por um gesto,
expressão ou movimento do corpo que é repetido para manter ou recuperar o estado;
• Manter o fluxo, mantendo o equilíbrio entre as competências existentes e novos desafios,
de modo a que os alunos mantenham a sensação de controlo daquilo que se passa em sala
de aula. Pode-se, por exemplo, recorrer a jogos colaborativos e competitivos, anedotas e
canções;
• Modelagem de boas práticas recorrendo às estratégias utilizadas pelos outros.

Princípios da criatividade pedagógica


A educação tem sido criticada pela ênfase excessiva que coloca na aprendizagem mecânica e na
memorização, não estimulando uma forma autónoma de pensar e agir. Por esse motivo, hoje
reconhece-se que o sistema educativo deve oferecer experiências que ativem a curiosidade e
desenvolvam a criatividade em todas as áreas de expressão, valorizando-se os profissionais críticos
e criativos.
A criatividade não é um dom ou talento, sendo antes algo que pode ser estimulado ou inibido
através das relações que o indivíduo estabelece ao longo da vida. O processo criativo é dinâmico e
resulta em potencial para a mudança. As pessoas criativas são empreendedoras, curiosas,
autossuficientes, autónomas, informadas, autodisciplinadas, automotivadoras e motivantes.
O recurso à criatividade e a sua estimulação nos alunos devem processar-se através do interesse
nos próprios alunos e nas suas motivações internas, o que lhe permite ter um efeito mais
duradouro. Para que tal suceda, deve estimular-se a produção do pensamento divergente,
procurando a solução de problemas mediante diversas alternativas e estimulando a criatividade,
que se relaciona com a espontaneidade, o entusiasmo e a motivação.
De seguida, ficam algumas sugestões para criar uma aprendizagem mais atrativa:
• Criar interesse: utilizar uma história ou uma imagem visual interessante para iniciar uma
sessão, de modo a captar a atenção dos formandos; utilizar um problema para dar início à
sessão, mediante o qual a sessão será estruturada; colocar uma pergunta prévia, de modo
a que os formandos fiquem com motivação para assistir à sessão para obter a resposta;
• Maximizar a compreensão e a retenção: reduzir os pontos principais da sessão a palavras-
chave; dar exemplos práticos e relacionados com a realidade dos formandos, criando uma
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ponte entre o conteúdo da sessão e a experiência dos formandos; dar ênfase ao apoio
visual mediante o uso de flipcharts, handouts resumidos e demonstrações que possibilitem
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aos formandos verem e ouvirem;

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• Envolver os participantes durante a sessão: recorrer a desafios momentâneos (interromper


a sessão periodicamente e desafiar os formandos a dar exemplos de conceitos
apresentados ou a responder a perguntas específicas); recorrer a atividades ilustrativas
(através da apresentação, entremear atividades breves que ilustrem pontos que estão a ser
abordados);
• Reforçar a sessão: recorrer a aplicações (apresentando um problema ou uma pergunta para
os formandos resolverem com base nas informações apresentadas na sessão); revisão do
conteúdo, pedindo aos formandos para reverem o conteúdo da sessão um com o outro ou
através de uma ficha de trabalho.

Conclusão
Os desafios contemporâneos que envolvem a atuação do formador exigem um conhecimento
profundo do sistema, contextos e perfil inerentes ao espaço da formação. Este espaço deve ser
perspetivado como um lugar de partilha de conhecimento, onde formador e formandos são
coprodutores dos objetivos a alcançar com a formação. Com efeito, um dos aspetos fundamentais
da formação contemporânea prende-se com a corresponsabilização de todos os intervenientes
pelos resultados formativos, valorizando-se a proatividade e a escuta ativa.
Através deste manual, procurou-se apresentar os principais fatores a considerar quando se
pretende exercer a atividade de formador. De entre os aspetos apresentados, destaca-se a
importância da flexibilidade e do conjunto de competências necessárias para fazer face aos desafios
da formação atual, onde a diferenciação e o sucesso das intervenções formativas são o principal
objetivo a alcançar
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Bibliografia
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Webgrafia
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• www.iefp.pt
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Legislação
• Decreto-Lei n.º 396/2007 de 31 de dezembro
• Decreto Regulamentar 267/94 série I-B de 18 de Novembro
• Lei 46/86 de 14 de outubro
• Lei 7/2009 de 12 de fevereiro
• Portaria 256/2005 de 16 de Março
• Portaria 230/2008 de 7 de março
• Portaria 370/2008 de 21 de maio
• Portaria 781/2009 de 23 de julho
• Portaria 782/2009, de 23 de julho
• Portaria 474/2010 de 8 de julho
• Portaria 475/2010 de 8 de julho
• Portaria 851/2010 de 6 de setembro
• Portaria 994/2010 de 29 de setembro
• Portaria 211/2011 de 26 de maio
• Portaria 214/2011 de 30 de maio
• Portaria 135-A/2013 de 28 de março
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