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Nr. 2

Fuga através de Terrânia

Por:

Dennis Mathiak

Tradução:

Paulo Lucas

Revisão:

Alberto Hubert Müller

Pabel-Moewig Verlag KG, Rastatt

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1.500 anos após partir para o espaço, a Humanidade se espalhou pela
Via Láctea. Numerosos mundos foram colonizados, novos impérios estelares
surgiram. Todavia, muitos mundos coloniais não se sentem mais conectados
à Terra — eles formam a Coalizão Antiterrana.
Perry Rhodan quer impedir uma guerra fratricida. Ele inicia o Caso
Laurin. O Sistema Solar é movido para cinco minutos no futuro com a ajuda
do Campo de Alternância Antitemporal — todos os atacantes se deparam
com o vazio.
No último instante, uma nave espiã pôde penetrar no Sistema Solar —
e é capturada pelo sopé do campo temporal. Embora, os terranos tenham
capturado Juki Leann e Darren Zitarra, os agentes agora têm uma habilidade
estranha: eles podem saltar através do tempo.
Agora, os agentes querem voltar para sua terra natal — eles começam
sua FUGA ATRAVÉS DE TERRÂNIA...

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Os principais personagens deste episódio:

Perry Rhodan – O Administrador-Geral ordena uma caçada.


Juki Leann – A agente dabrifana ouve notícias chocantes.
Darren Zitarra – O saltador temporal é um seguidor leal do ditador Dabrifa.
Alaska Saedelaere – O homem com a máscara está na pista de uma conspiração.

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1.

Terra, Terrânia

1 de novembro de 3.430, no início da manhã

A iluminação do compartimento do prisioneiro se apagou, o som do ar-


condicionado ficou em silêncio. Nenhuma luz do sol penetrava através dos discos
viseiras trancados do planador. Juki Leann só ouvia a respiração firme de Darren
Zitarra.
— Você sentiu isso? — perguntou o parceiro dela. Sua voz soou através da cela
trancada do planador.
Involuntariamente, Leann esperava que Zitarra simplesmente sussurrasse,
como de cada pessoa nessa situação. Sua firme autoconfiança os irritava e desde o
começo de sua missão comum que os levara ao cativeiro terrano.
Leann ouviu, auscultando todos os seus sentidos, notando a leve sensação em
seu estômago como se estivesse caindo.
— Os neutralizadores de pressão estão inativos — ela respondeu. — Vamos cair?
— Seu coração palpitou violentamente, o sangue chiou em seus ouvidos. Ela inalou
profundamente pelo nariz e pela boca, regulando o pulso.
— Talvez. Eu acho que seja mais como se fôssemos ter uma aterrissagem
forçada. O antigravitacional pode ter falhado.
Leann ouviu um farfalhar. Através dos finos mocassins de seu traje de prisão, ela
sentiu um corpo na ponta dos pés.
Zitarra havia se deitado no chão diante dos pés dela.
— Eu ouço um uivo — sua voz soou de lá. Ele escutava. — Eu acho que as
turbinas de emergência retardam a queda para uma descida.
Para Leann foi como se algo perturbasse o silêncio imperfeito. Ela deslizou sobre
as bordas do assento envolvente para a frente do compartimento e encostou o ouvido
na parede. Na verdade, ela ouviu um gemido fraco, mas penetrante, soando como um
som de aviso no caso de falhas críticas do sistema.
Leann teria dado algo para ver o que acontecia fora do planador ou na carlinga.
Ela sentiu no estômago que eles ainda estavam descendo.
— Algo está terrivelmente errado — ela disse.
— Eu não teria notado sem o seu aviso.
No escuro, Leann absorveu o forte odor corporal do agente mais do que antes.
Um toque de madeiras exóticas... e suor hormonal. Adrenalina entre outros. Ela
conhecia o cheiro de suas missões. Os instrutores da Guarda Negra, o serviço secreto
estrangeiro de Dabrifa, haviam treinado seus sentidos em tais sutilezas.
— Eles nos eliminarão dessa maneira? — Zitarra presumiu.
— Eu não acho Rhodan faria isso! — A reação de Leann foi mais intensa do que
ela pretendia.
— Eu esqueci. Você tem um ponto fraco pelo ditador imortal dos terranos — a
voz de Zitarra soou zombeteira? Ou espreitando?

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— Talvez — continuou Leann mais objetivamente —, a defesa solar avalia que o
perigo de nossos saltos temporais loucos, seja maior do que o aumento de
conhecimento que se poderia ganhar com eles. Os serviços secretos costumam ser um
estado dentro do...
Um solavanco lançou-a para fora de seu assento. O esmagar de plástico e o
guincho de metal sobre metal encheu a fuselagem do planador.
Com o cóccix, Leann saltou na beira do assento envolvente. Ela gemeu, fechando
os olhos e apertando os dentes. Instintivamente, ela usou as técnicas respiratórias para
afastar a dor que aprendera durante o treinamento.
Leann sentiu as vibrações sumindo. Novamente o silêncio desceu sobre eles.
— Nós descemos — a agente afirmou. — Eu espero que sim — ela se levantou e
caminhou ao longo do teto em direção a escotilha.
Algo sussurrou em frente a ela. Momentos depois, ela ouviu mãos tateando e
puxando o revestimento interno do planador. Houve um estalo e um clique.
— Consegui! — Zitarra triunfou.
Através de uma lacuna, luz artificial brilhante penetrou no interior. Ofuscada,
Leann estreitou os olhos e lentamente os abriu novamente. A brecha se alargou e, um
momento depois, Leann viu a silhueta de Zitarra na abertura.
Ele empurrou todo o seu peso contra a escotilha até que estivesse aberta o
suficiente para passar.
— Venha depressa! — ele sussurrou. — Nós temos que fugir! — Zitarra saltou,
desapareceu nas profundezas e reapareceu pouco depois.
Os olhos de Leann se ajustaram ao brilho. Ela olhou para Zitarra. Desceu apenas
meio metro. Zitarra já estava em posição de combate e se orientava.
Leann hesitou por alguns segundos em segui-lo. Ela queria trabalhar seriamente
com Perry Rhodan para perseguir o mistério de sua nova habilidade como saltadora
temporal.
Isso protegeria sua terra natal, o Império Dabrifa, de um perigo que
provavelmente romperia a Via Láctea nos próximos anos.
Ela suspirou. Rhodan seria capaz de lidar com isso mais tarde, depois de
descobrir quem foi o responsável pelo acidente controlado do transportador de
prisioneiros.
Para reagir rapidamente, ela entrou de cabeça. Para sobreviver em sua profissão,
não lhe era permitido perder tempo dedicando-se a considerações detalhadas em tal
situação.
Seus instintos e ações treinados na Guarda Negra assumiram o controle,
cegando-a para tudo o que fosse desnecessário.
— Nós pousamos em uma plataforma na borda da rota de planadores — Zitarra
exclamou. — Eu vou verificar o que aconteceu com os nossos motoristas! — Ele
desapareceu na direção da carlinga.
Leann pulou para fora do planador, rolou dois metros e levantou-se
rapidamente. Ela girou em círculo. Uma passarela com cinco metros de largura e vinte
metros de comprimento, ligava a plataforma com um edifício.
Havia um cheiro de plástico derretido. Metal crepitava com o calor da fricção da
aterrissagem descontrolada.

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O vento agitou o cabelo de Leann, então os campos de repulsão haviam se
extinguido. A plataforma inteira parecia estar morta energeticamente. O céu acima dela
ainda brilhava com um vermelho sombrio, as estrelas do céu noturno permaneciam
invisíveis. Por quê?
Leann sacudiu a cabeça. Ela poderia descobrir mais tarde. Mas, ela achava que
essa questão era importante para os eventos dos últimos dias.
Cerca de duzentos metros acima deles, os planadores corriam através das
trajetórias aéreas acima e abaixo. Obliquamente sob a plataforma, os veículos com
campo de repulsão percorriam por diversas pistas. Por baixo, as vias tubulares se
juntavam em passarelas móveis para pedestres.
Do lado direito da via com centenas de metros de largura, prédios com fachadas
brilhantes e quase transparentes, se elevavam como espigões de imensas montanhas
de vidro e aço, elevando-se ara o sombrio céu vermelho e brilhante. Do lado, esquerdo,
os edifícios eram mais baixos. Leann pensou ter reconhecido ao longe a cúpula do Solar
Hall, que ficava no bairro governamental.
Dois planadores se destacaram no céu. Eles desceram em uma trajetória
prioritária de voo que atravessava o tráfego. Suas escoltas, que se surpreenderam com
o acidente de sua máquina?
Um estrondo surdo atraiu a atenção de Leann para a carlinga de pilotagem, uma
cunha de glassit que fluía no corpo do transportador. Zitarra estava de pé na transição
para a cela dos prisioneiros. Alguém tentava abrir a escotilha para o exterior. Zitarra se
jogou contra ele. O som abafado ressoou novamente. Uma figura em equipamento de
combate caiu da escotilha e atingiu o chão.
Leann pulou a distância de dois metros com um salto, agarrou a arma manual de
uma segunda pessoa e a golpeou contra a estrutura da entrada. Uma voz feminina
gritou, a mão se abriu e soltou a arma do raio.
Zitarra agarrou a mulher, derrubou-a e bateu-lhe na têmpora. Inconsciente, ela
caiu no chão. Ele puxou novamente...
Leann sentiu o que ele pretendia. Antes que Zitarra pudesse matar o guarda com
um golpe na laringe, correu até ele, agarrou Zitarra no braço e empurrou-o para longe.
— Deixe disso! — Leann sacudiu a cabeça. Ela aceitava que matar era parte do
ofício deles. Mas, somente se permanecesse inevitável. Neste caso, não foi apenas
desnecessário, mas tolo. — Tudo o que fazemos — ela esclareceu —, deve servir para
alertar o Império Dabrifa do perigo que ele enfrentará no futuro! Não devemos obstruir
caminhos, mas preservar alternativas e criar perspectivas.
Zitarra grunhiu palavras incompreensíveis, mas assentiu. Ele se desvencilhou de
Leann, foi até o segundo guarda e examinou o homem de cabelos escuros.
Pouco depois, ele amaldiçoou e atirou a arma manual que ele havia tirado do
guarda. — Proteção de acesso personalizada! Eu temia isso.
Leann estudou seu parceiro. Sua atitude agressiva não era apenas irritante,
assim como sua arrogância, também a preocupava. Ela poderia confiar nele?
Ela olhou para cima, onde os dois planadores circulavam e desciam lentamente.
— Por que eles não atacam? — ela gritou para Zitarra através do vento. — Nós estamos
expostos!
Algo não está indo de acordo com o plano, pensou ela. Mas de acordo com qual
plano? O de Rhodan? Da CESPSOL? Uma terceira parte intervém?

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— Não importa! — Zitarra ligou de volta. — Vamos!
— E se eles esperam exatamente isso de nós? Eles montaram uma armadilha
para nós? — Leann rapidamente passou por suas opções. Zitarra poderia se virar
sozinho enquanto ficava para trás para colaborar com Rhodan. A nova confiança que o
terrano depositou nela, seria útil não apenas para alcançar seus objetivos primários.
— Nós temos que correr o risco! — Foi como desde o início da missão. Zitarra
estava assumindo riscos ao ponto de imprudência — a questão central era contra
Rhodan e o Império Solar.
Os planadores inimigos ainda flutuavam cerca de vinte metros acima
deles. Leann ouviu o uivo das turbinas de emergência retardando a aproximação
deles. Então, eles foram tão afetados quanto o transporte de prisioneiros caído?
— Nós deveríamos nos separar e... — Um som sibilante afogou a voz de Leann. O
canal de disparo de um radiador térmico zumbiu no ar. Deslizando, o tiro acertou um
dos dois planadores. — A terceira parte! — ela apontou para outro planador que cortou
o tráfego e se dirigiu para eles.
— Esta é a nossa chance! — Zitarra olhou para ela interrogativamente. — O que
você está esperando?
O zumbido e o bipe de ativação dos sistemas positrônicos chamaram a atenção
de Leann para a carlinga de pilotagem do transportador de prisioneiros. Ela saltou para
a entrada, olhou para as costas da poltrona pneumática no para-brisa multifuncional.
O ícone de rádio se acendeu; automaticamente a chamada foi aceita. O rosto
magro e pálido de um homem com cabelo preto curto apareceu. Sardas salpicavam o
nariz torto. Leann nunca o tinha visto antes.
— Fiquem no planador! — exclamou o estranho. — Eu aterrisso, pego vocês dois
e os coloco em segurança! As explicações seguem depois! Eu sou amigo. De Nosmo.
Zitarra deu um passo atrás dela. Ele balançou a cabeça. — Eu não o conheço! —
ele sussurrou. — E eu suspeito do cara. Se nos entregarmos a ele, a gente de molha na
biqueira do beiral!
— Você está louco? — respondeu Leann. — Sem ajuda nós estamos perdidos!
— Espere! Eu me debati em mais de uma cidade e me livrei de perseguidores. O
cara não é confiável. Ele afirma vir de Nosmo, todo mundo vem. Eu confio no meu
instinto. Ele já se comprovou. Onde exatamente em Terrânia nós estamos?
Leann suspirou novamente. Ela ainda estava esperando por seu plano. Agora ela
entendia que Zitarra não tinha chance sem sua ajuda. Obviamente, ele subestimou
Terrânia. Ele não ficaria nem por meio dia na selva urbana.
Além disso, se ela fosse deixada sozinha, ela estaria desarmada para o estranho,
seu suposto Salvador. Ele a manteria longe de Rhodan.
Leann seguiu Zitarra para fora da carlinga e se agachou ao lado dele na cobertura
da escotilha.
— Eu conheço a área — ela disse. — Nós estamos no cruzamento do Anel
Antares e da estrada Khooloi. A nossa direita estão edifícios residenciais e comerciais,
cada um uma cidade em si. À esquerda de nós, atrás dos prédios mais baixos, fica o
distrito governamental com o Solar Hall.
— Algo parece interferir lá em cima a mesma coisa que o nosso transporte de
prisioneiros — Zitarra apontou para os planadores que se aproximavam. Um soldado
se debruçou para fora de um dos veículos e atirou no atacante. Os drones flutuavam na

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distância, mas estavam fora da zona de combate. — Vamos usar a confusão antes do
reforço chegue.
— A embaixada do Império Dabrifa poderia nos proteger — sugeriu Leann. —
Ele está localizada na cidade de Aldebarã, um bairro próximo ao espaçoporto. A estrada
Khooloi leva diretamente para lá. Não está longe, talvez quarenta quilômetros. Lá, nós
podemos entrar em contato com oficiais de ligação da Guarda Negra, talvez desparecer
no meio deles, mas em qualquer caso, encontrar apoio para transmitir nossas
informações.
Zitarra abriu a boca para responder. Uma explosão não lhe permitiu. Seu
suposto salvador agora flutuava ao lado do planador mais alto e disparava raios
térmicos para dentro de sua carlinga aberta. Fumaça preta subia.
Abruptamente, o veículo caiu, abalroou a passarela de ligação entre a plataforma
e o prédio, virou e mergulhou nas profundezas.
O grito de aço destroçado acompanhou sua trajetória. Permaneceu uma escolta
que manteve seu "salvador" à distância. Segundos depois, ressoou o estrondo de uma
explosão.
— Pensei longe demais! — Zitarra agora entrou na ideia de Leann. — Primeiro,
a questão é: para onde ir primeiro?
O planador restante da CESPSOL afundou quase silenciosamente afundou quase
silenciosamente na passarela de conexão que mostrava o único caminho da plataforma
de emergência para a cidade de Khooloi. O planador pareceu funcionar novamente. Um
soldado atirou no atacante da carlinga.
Leann apontou para o poço antigravitacional na interseção da plataforma com a
passarela. — A tela de informações está escura, o poço parece estar fora de
operação. Resta apenas a passarela de conexão. Assim que o nosso “amigo” atacar
novamente, nós podemos... O que é aquilo?
As luzes de sinalização do planador de prisioneiros piscaram
descontroladamente de repente. Fogos de santelmo se contraiu dos projetores do
campo defensivo, nos sistemas de armas, do propulsor antigravitacional e dos campos
repulsores.
— Agora! — Zitarra acenou para ela resolutamente, afastou-se como um
velocista de seu bloco de partida e correu para a passarela. Da carlinga, a voz do suposto
salvador chamou Zitarra, mas ele o ignorou.
Leann também saltou, seguindo Zitarra. Ela manteve os olhos em ambos os
perseguidores, esperando o disparo paralisante ou final nas costas a cada segundo. Mas,
ela chegou a passarela, correndo sob o planador da CESPSOL.
O uivo de suas turbinas mais uma vez abafou as chamadas do rádio. O ar
turbilhonante quase arrancou Leann de seus pés. O que mais o estranho queria contar
a ela? Soou como um aviso!
Raios térmicos assobiavam na aeronave acima de suas cabeças, queimando o
metalplástico e enviando uma onda de calor através de Leann. Ela fechou os olhos,
exalando vigorosamente para não respirar o ar escaldante.
Leann saltou para a frente, bateu no chão e deslizou. De canto do olho, ela viu
quando o planador abalroou a passarela atrás dela, onde ela havia corrido apenas há
alguns segundos.

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As vibrações penetraram vagamente em sua audição atordoada pelas
turbinas. Atordoada, ela ficou lá, apoiando os braços trêmulos contra o chão,
desmoronando.
— Venha! — Zitarra voltou, sacrificando sua dianteira para ajudá-la. Lógico. Ele
precisava de seu conhecimento local.
Ela sentiu suas mãos fortes sob as axilas. Ele levantou-a, arrastando-a alguns
metros, até que ela encontrou força suficiente para ir sozinha.
Leann olhou para trás. O planador do atacante retornava em um loop da via de
tráfego. A escotilha da carlinga estava aberto. O homem pálido de cabelos escuros
acenou para eles, apontando para uma segunda plataforma nas proximidades. No final
da passarela, esteiras transportadoras conduziam ao longo de uma colunata.
Os drones da polícia, sinalizando o deslocamento com luzes azuis piscantes,
ainda circundavam a cena em um amplo arco. Eles avançaram um pouco, mas
imediatamente retornaram ao cordão, como se recebessem ordens contraditórias.
Contudo, alguns colidiram uns com os outros, mas evitaram a queda.
O veículo destruído da CESPSOL havia parado no chão da passarela. Faíscas
voaram, fios negros de fumaça subiam no ar. Da escotilha aberta, estendia-se um braço
encharcado de sangue.
O chão sob os pés de Leann tremeu.
— Zitarra, o planador ex...
O estrondo soou em seus ouvidos. A onda de pressão arrancou-a novamente dos
pés. Leann bateu com o ombro no chão, instintivamente rolando para longe. Uma
segunda explosão a jogou contra a barreira de glassit, tirando o ar de seus pulmões.
Meio cega pelas lágrimas, ela se colocou de pé. Alguns passos à frente dela estava
Zitarra.
Ele também se esforçou para ficar de pé, e cambaleou.
Apoiando-se, eles chegaram à colunata e as esteiras rolante. Leann olhou para a
esquerda. Nessa direção, ficava a plataforma para a qual seu suposto salvador havia
apontado.
— Certo! — exclamou Zitarra, ofegante. Havia arranhões sangrentos em sua
testa. O suor escorria do cabelo loiro escuro desgrenhado.
Leann tossiu. — Nós temos que alternar constantemente entre as esteiras, poços
antigravitacionais e calçadas antes que possamos fazer uma pausa. Por enquanto,
vamos desaparecer na cidade de Khooloi. Os edifícios são densamente povoados, ruas
e praças são povoadas o tempo todo.
— E então?
Leann tossiu de novo, saltando da esteira, puxando Zitarra consigo e saltando
para o poço antigravitacional mais próximo. Foram descendo. — Talvez possamos
encontrar ajuda lá.
— Por Dabrifa! — Zitarra rosnou.
— Sim — Leann limpou o suor da testa, aproveitando a ausência de peso por
enquanto. Gentilmente, ela abriu e fechou as mãos doloridas. — Por Dabrifa.
Por minha família, ela acrescentou em pensamento.

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2.

Terrânia, Império-Alfa

1 de novembro, 3.430, pela manhã

— A população está insegura, Administrador-Geral, senhor! — o rosto do


ministro do interior brilhava. Manchas vermelhas cobriam a barba do robusto Rufus
Decker, sentado ao lado de Perry Rhodan, na mesa de conferência preta oval e
reluzente.
— Eu sei — assegurou Rhodan deliberadamente. Era necessário manter a calma
e apaziguar os membros do governo. Alguns deles estavam zangados com ele por suas
ações arbitrárias. Mas, o Caso Laurin havia sido planejado há muito tempo...
Se Rhodan informasse qualquer um que já tenha exercido o cargo de governante,
os serviços de inteligência da galáxia já teriam conseguido, pelo menos, algumas dicas
sobre ele.
— O Caso Laurin surpreendeu muitos — continuou Rhodan depois de um breve
intervalo. — Mas, foi inevitável. Se nós tivéssemos preparado os cidadãos para isso, não
teríamos conseguido fingir a destruição do Sistema Solar para os agressores da Coalizão
Antiterrana. O segredo mais estrito teria sido impossível.
Rhodan entendia a agitação do gabinete. Quase todos os contatos externos com
o resto da galáxia haviam sido interrompidos, uma vez que o Sistema Solar havia sido
transferido cinco minutos pelo Campo de Alternância Antitemporal, abreviadamente
AAT.
Como parte dos preparativos para o Caso Laurin, um Sugador Hipertron fora
erguido no polo norte do planeta Mercúrio, atraindo enormes quantidades de energia
diretamente do sol. Isso alimentava o principal conversor de alternância no mesmo
local, o que permitiu a construção de um campo AAT. Em 30 de outubro de 3.430,
esse campo AAT começou o trabalho com sucesso. Desde então, o Sistema Solar
também foi chamado internamente como Sistema Ghost.
— A frota solar teria repelido os agressores — disse o ministro da
defesa. Giacomo Smith, o loiro magro usuário de óculos, franziu os lábios.
Continuou sendo um mistério para Rhodan o porquê da moda corrente da ajuda
para ver era recorrente, apesar de todos os avanços na medicina.
Ele apontou: — E as consequências? Uma sangrenta guerra fratricida, centenas
de milhares de mortos ou mais em ambos os lados! Os mundos do Império Dabrifa, a
Liga Carsuálica e a União Central Galáctica são antigas colônias. Nossos oponentes
teriam sido terranos.
— Eles mesmos escolheram! — Smith repuxou os lábios em uma expressão
desdenhosa.
— Desde que eu seja um Administrador-Geral, não haverá guerra de terranos
contra terranos — insistiu Rhodan. — Não, enquanto tivermos os meios
disponíveis para nós com o AAT. Para isso eu fui reeleito — e nenhum dos homens e
mulheres procuraram um confronto.

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Rhodan pegou um copo e despejou água de um servo robô esférico do tamanho
de um punho. Lentamente ele bebeu um, dois, três goles para tirar o ímpeto da
discussão que ameaçava ficar acalorada.
— O que nos leva a uma das questões mais prementes — disse Jasmine
Opeyemi. A ministra do abastecimento, uma mulher da Eritreia, permaneceu
surpreendentemente calma. E isso, apesar de ela ser a mais nova de todos ao redor. A
iluminação da sala se refletia de forma iridescente em suas joias de conchas exóticas e
a pele negra como a noite. O ministro consciente de moda era a filha favorita da
imprensa. — Como funciona o sistema de distribuição temporal padrão do projeto para
garantir nosso abastecimento?
Rhodan assentiu com gratidão. O distribuidor de tempo padrão era um enorme
transmissor estacionado nas imediações da eclusa de interseção, o que permitia que as
naves terranas retornassem ao tempo normal da Via Láctea.
— O transmissor foi instalado na plataforma de um tender da frota com dois mil
metros de diâmetro de classe DINOSSAURO — Rhodan pousou as mãos no tampo da
mesa. Ele se concentrou nos fatos para reduzir as conversações a um nível factual. — A
energia necessária é obtida através de um raio de sucção solar. A unidade de controle
positrônico do distribuidor de tempo padrão encaminha os contêineres de entrada para
os sistemas de transmissão nos mundos do sistema solar.
— E como... — começou a ministra do abastecimento.
Um agradável som de sino a interrompeu. Ele foi deliberadamente composto
para evitar que alguém suspeitasse que havia uma mensagem de prioridade alarmante
por trás dele.
Takayo Sukurai, que se mantinha em segundo plano, levantou-se do assento
entre duas palmeiras na altura dos ombros e aproximou-se de Rhodan. — Senhor, é
Galbraith Deighton em um hiperlink à prova de escuta — ela sussurrou para ele. — Ele
pede uma conversa pessoal e não registrada.
Link de rádio à prova de escuta?, perguntou-se Rhodan. Conversa pessoal e não
registrada? Eles definiram esse tipo de contato para um caso especial, e foi descrito
como perda de memória.
O coração de Rhodan involuntariamente bateu alguns compassos mais
rapidamente.
— Por favor, desculpe-me por um momento — ele se levantou. — Uma chamada
organizacional urgente. Vocês entendem que no momento todas as decisões são
consideradas com mais cuidado do que o normal. Isso não pode ser delegado. Minha
ajudante responderá suas perguntas até eu voltar.
Sukurai olhou para ele, indicando que ela não ficou muito entusiasmada com
isso. Oficialmente, ocupava o cargo de chefe da oficina de falsificação do Império e fora
designada para Rhodan como ajudante pessoal desde o início da crise. Ela o seguia onde
quer que ele fosse.
Por um lado, esse foi um efeito colateral agradável, apesar de as más línguas
alegarem que ela trabalhada 24 horas por dia "debaixo do chefe". Por que Deighton
realmente colocou Sukurai ao lado dele, porém, era fácil de entender, dados os recentes
ataques contra ele.

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Rhodan atravessou o tapete azul escuro e entrou na sala segura. Com o
fechamento da porta de madeira de cerejeira, ele deixou a confusão das conversas atrás
de si.
Ele estava quase feliz por ter escapado daquela conversa. Outras se seguiriam:
relacionados à segurança; informativo em relação às comissões parlamentares de
controle; orientação estratégica da frota solar. E mais desse tipo.
— Ative a ligação de rádio! — ele ordenou. Demorou alguns segundos durante
os quais numerosos escâneres identificaram a identidade de Rhodan.
Então, a imagem de Galbraith Deighton apareceu na tela em 3-D pendurada em
frente a uma poltrona preta na parede branca sem adorno.
— Marechal Solar Deighton — Rhodan sentou-se para a conversa com o líder da
Defesa Solar, a CESPSOL. Talvez tivesse sido uma boa ideia.
— Administrador-Geral — Deighton acenou com a cabeça e acariciou um fio
escuro de cabelo da testa. — Eu trago más notícias.
Rhodan reprimiu um suspiro, esfregando apenas o pescoço tenso. Até agora ele
estava satisfeito com o curso do Caso Laurin...
— Juki Leann e Darren Zitarra? — ele perguntou. A natureza do contato de
Deighton levou-o imediatamente a acreditar que os agentes do Império Dabrifa
estavam envolvidos. — Eles não se mostram cooperativos?
Leann e Zitarra eram um dos muitos fatores de incerteza dos quais Rhodan se
ocupava. O halutense Icho Tolot os havia capturado em sua espaçonave meio devastada,
com a qual os dois haviam avançado como a vanguarda da força atacante da Coalizão
Antiterrana no Sistema Solar.
— Eles fugiram, senhor!
Rhodan levantou uma sobrancelha. — Fugiram? Ou saltaram no tempo?
Após a sua entrada no sistema solar, Leann e Zitarra tinham caído à beira do
campo de maré antitemporal emergente. Seu oficial de liderança fora dissolvido no
nada. Desde então, os jovens dabrifanos irradiavam impulsos sextadim. Gucky batizou
o fenômeno de "partículas temporais". Repetidamente, Leann e Zitarra saltaram para
outras épocas. Ela foi ao futuro e voltou, ele ao passado.
— Definitivamente eles fugiram — os molares de Deighton estavam rangendo e
a pele por cima se contorcendo. Uma emoção raramente vista no homem objetivo. —
Houve distúrbios de grande alcance tanto no transporte de prisioneiros e nas escoltas
quanto nos drones da polícia nas imediações.
— Um ataque da guarda negra para libertar seus agentes? — Rhodan esfregou a
cicatriz na narina. — Ou a quinta coluna no Império-Alfa cuja existência suspeitamos?
O relatório de Zitarra sobre sua permanência nos últimos doze anos deu origem
a esse medo. Pelo menos em parte, a CESPSOL pôde verificar pelo menos em parte a
veracidade de suas descrições. Naquela época, os eventos realmente ocorreram no
centro nervoso do império solar, que até agora não puderam ser explicado. Um homem
desconhecido atacou o adjunto de Deighton, Tezen Sadinoha. Um estranho que parece
ter desaparecido no ar — ou se transformado em outro ser.
— Nós devemos considerar ambos, senhor!
— Encontre os agentes, Deighton! — Rhodan cerrou o punho e bateu na palma
da mão livre. — Ninguém pode saber que nós apenas fingimos a destruição do Sistema

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Solar. Quase todo contato com o mundo exterior ainda é impossível. Mas, atualmente
os testes do distribuidor de tempo normal estão em andamento perto de Mercúrio.
— Você está preocupado com o fato de que Leann e Zitarra possam entrar na
estrada de contêineres para a Olimpo e tentarem escapar?
— Exatamente. De agora em diante, nenhum outro contêiner será enviado para
fins de teste. A operação está completamente parada! Eu também imponho um
bloqueio de mensagem sobre esse assunto. Mas, em algum momento nós temos que sair
dele. Somente, para evitar agitação entre a população. Os ministros já estão pegando no
meu pé de qualquer maneira.
— Pelo menos essa rota de fuga parece perfeitamente segura para mim, senhor.
Nós levamos isso em conta em nossa análise e avaliação de riscos – especialmente
porque estamos convencidos de que não capturamos nem todos os agentes inimigos em
nosso expurgo. Isso foi impossível. Correspondentemente, as precauções de segurança
são rígidas.
— Os outros agentes também são saltadores temporais?
Deighton sacudiu a cabeça. — Não, senhor, mas é claro que incluímos esse
desconhecido adicional em um reexame. Você está certo, o risco aumentou.
— Até agora podemos ter certeza — pensou Rhodan — de que Leann e Zitarra
sempre retornarão ao ponto inicial de sua transferência em um salto temporal. Eles não
controlam nada, eles são forçados a saltar. Eles não controlam nada, eles são forçados a
pular. Contudo, à medida que os saltadores temporais aprenderem a controlar melhor
suas habilidades recém-adquiridas, eles podem usá-las para penetrar em locais seguros
que estiveram ou não protegidos no passado e no futuro. Ou até descobrir como podem
determinar o local de seu retorno – então, nem sequer os veríamos novamente!
— Como eu disse, nós pensamos sobre isso. Eu colocarei meus melhores
profissionais na busca e trabalhar de perto com a polícia de Terrânia!
— No mais alto sigilo, Deighton! — ordenou Rhodan. — Eu sei que há muitos
quebra-cabeças que chamam a nossa atenção em um tempo muito curto. Mas, nós
devemos manter estritamente o protocolo "perda de memória" e o círculo de
confidentes pequeno. Mesmo que isso aumente drasticamente a carga de trabalho para
alguns.
Deighton colocou dois dedos na testa em saudação. Teria parecido casual em
qualquer outra pessoa, mas o marechal solar causou a impressão certa. — Todo o
necessário já foi iniciado, senhor. Eu sugiro que nos encontremos em tempo hábil para
discutir os primeiros resultados.
Rhodan assentiu e a imagem de Deighton se desvaneceu. Por um instante,
Rhodan olhou para o próprio rosto pálido na superfície refletora da tela. Ele colocou as
mãos na frente da boca.
— Oitenta mil espaçonaves inimigas — ele murmurou. — Laurin não pode
falhar.
A ameaça a Terra permanecia enorme apesar do campo AAT. Ainda havia a
ameaça de uma guerra fratricida de proporções sem precedentes. Talvez até a queda
do Sistema Solar. Embora o poder de fogo das espaçonaves Império Solar fosse superior
ao da Coalizão Antiterrana.
— Darren Zitarra e Juki Leann, o que vocês estão fazendo? — Rhodan rangeu os
dentes. Ele tinha uma maldição nos lábios. — Nós temos que agarrá-los!

14
3.

Terrânia, cidade de Khooloi

1 de novembro de 3.430, de manhã

— Olhe mamãe! Tem alguém ali! — o menino apontou na direção dela.


Antes que a mãe pudesse avistá-la, Juki Leann deslizou os galhos do arbusto
ferronense Dwirl cautelosamente de volta. Não cause nenhum movimento suspeito
agora! Leann avançou de joelhos, fez uma curva e encostou-se ao vaso que servia de
cobertura.
— Eles viram você? — sussurrou Darren Zitarra. Ele franziu a testa, olhando
para ela bruscamente.
Leann sacudiu a cabeça. — Não. Eu fui cuidadosa. Apenas um menino, não a mãe.
Seu parceiro lambeu os lábios e assentiu. Zitarra sentou-se em frente a ela,
encostado na parede da sacada coberta da qual queriam ter uma visão geral.
Quando ele desviou o olhar, Leann enxugou as palmas suadas das calças e
respirou fundo. Através de becos desertos, corredores de serviços públicos e escadas
de emergência, eles haviam entrado no shopping center Red Palace de Ferrol. Seu
primeiro fôlego.
— Para onde nós vamos agora? — perguntou Zitarra. Ele passou por ela,
espiando pela densa folhagem até a passagem abaixo. A projeção de um céu azul
ligeiramente nublado cobria o andar superior do edifício. O caminho era formado por
mosaicos de cor pastel, arbustos floridos e árvores paradas aqui e acolá, como por
acaso. — Lugar idílico — ele comentou.
— Eu gostaria que este local "idílico" fosse melhor se eu não precisasse suspeitar
de um investigador secreto da CESPSOL ou da polícia por trás de cada pessoa.
Zitarra assentiu. — Também há um mau humor aqui. Certamente, nossa frota
unida está causando problemas para os terranos. Mas, infelizmente ela não parece ter
sido bem sucedida até agora. Que cheiro é esse? As plantas?
Leann franziu o nariz. O aroma adocicado das plantas era muito mais agradável
do que o das roupas alaranjadas da prisão. Ela fedia a plástico queimado e suor velho.
Ela cheirou os dedos, nos quais o aroma intenso do arbusto Dwirl havia se
agarrado, e suspirou. Os cheiros deste andar do Palácio Vermelho de Ferrol eram
harmoniosamente compostos. Ela quase gostou e se soltou por um momento. Ela sentia
como se todos os músculos do seu corpo estivessem doendo.
Ela limpou a garganta. Sua garganta estava seca. Logo, eles teriam que encontrar
acesso a água potável, mas não em seu estado atual. — Nós temos que passar
despercebidos por enquanto e encontrar uma oportunidade para nos livrarmos de
nossas roupas.
Zitarra olhou desconfiado para os terranos, terranos coloniais, membros de
outros povos associados ou aliados do Império Solar. — Qual é a sua sugestão? — ele
perguntou. Os músculos do corpo vigoroso tremiam sob o macacão laranja. Ele
estava tenso, tremendo de raiva e vontade de usar a violência reprimida.

15
Leann voltou-se para se concentrar nos arredores, não tirando Zitarra de sua
vista. Esse homem de aparência perigosa, mas às vezes encantador, era um risco. Ela
ficaria de olho nele e, se necessário, o colocaria em xeque se o caráter dele colocasse
sua missão em risco. Ela estava bem familiarizada com homens como ele, que tinham o
desejo de lutar bem diante de seus narizes.
— Esta é a cidade de Khooloi — explicou Leann. — Não é um distrito oficial, mas
um conglomerado de instalações residenciais, empresariais e de lazer ao longo da
estrada Khooloi, povoadas por aproximadamente cinco milhões de pessoas. Cerca de
um milhão deles são locais. O resto é composto por turistas, viajantes de negócios e
caçadores da fortuna. Faz parte do tráfego de toda Terrânia. Sua proximidade com
a cidade de Aldebarã, que abriga a embaixada dabrifana, faz com que seja uma das
partes mais multiculturais da capital.
— Bem explicado. Nós não devemos ser notados — Zitarra deixou os galhos
balançarem devagar.
Leann se levantou e foi até a porta da escada. — Nós estamos imersos na maior
área de Terrânia. Com cem milhões de habitantes e bem mais de cento e vinte
quilômetros de diâmetro, não é exatamente claro. Graças às pistas e elevadores, nós
também estamos acerca de quatorze quilômetros e centenas de metros de altura da
cena do acidente. Por enquanto, ninguém deveria nos encontrar. Eu sou a filha do ex-
embaixador da Dabrifa e cresci nesta cidade. Meu conhecimento local e conexões com
diferentes grupos sociais devem ser úteis para nós.
Zitarra aquiesceu e se levantou também. — Qual é o próximo passo concreto que
é necessário neste terreno? Você conhece aqui.
Leann assentiu satisfeita. Zitarra aparentemente recuou e reconheceu sua
vantagem de conhecimento. Isso era um começo, afinal de contas. — Como eu disse, nós
precisamos nos livrar das roupas da prisão, nos disfarçar e nos esconder. Então, nós
devemos avançar por etapas de curto prazo que nos ajudarão a alcançar nosso objetivo
final: alertar Dabrifa sobre o perigo que ameaça a Via Láctea e, portanto, o Império nos
próximos anos.
— Então, onde?
— Khooloi oferece a melhor proteção disponível. — Leann apontou um polegar
por cima do ombro. — Em torno de nós: as pessoas. Nós estamos em um shopping e
um centro empresarial que atende a dezenas de milhares de terranos. Em todos os
lugares em Khooloi parece a mesma coisa. Essa aglomeração de pessoas é a nossa
chance. Aparentemente, ainda não fomos oficialmente anunciados em uma busca.
— Mas?
— Eu mal posso imaginar por que a CESPSOL não tenha feito nenhum arranjo
para evitar qualquer tentativa de fuga. Prenderam rastreadores em nós
despercebidamente?
Esperançosamente, pelo menos destruíram os sensores entremeados no tecido
de suas roupas de prisioneiro. Em uma das escadas de fuga eles usaram um
desfibrilador de emergência.
— Combinado — Zitarra compartilhava suas preocupações. — Além disso, nós
seremos caçados de cima abaixo. Haverá câmeras, sondas e drones em todos os lugares,
procurando por nós.

16
— Não, ainda não. Terrânia não é um local de monitoramento público
extensivo. Esta é uma sociedade de indivíduos livres.
Zitarra se surpreendeu. — Isso é irresponsável para uma comunidade. Não
haveria tal coisa em casa.
Leann suspirou interiormente. Zitarra identificava-se fortemente com o Império
Dabrifa. Ele acreditava em sua propaganda? Onde... como seria para ela, se não tivesse
crescido em Ácon e na Terra, mas em Nosmo ou outro planeta de Dabrifa?
Ela encolheu os ombros. — O Império Solar é fortificado e sabe proteger seus
cidadãos. Isso me preocupa. Eles procurarão intensivamente por nós e fortalecerão
temporariamente a vigilância pública. No entanto, incialmente direcionada para nós, e
naqueles que foram previamente identificados como meus antigos contatos
sociais. Somente se não nos encontrarem dessa forma, a observação será
prolongada. Até então, devemos submergir com sucesso, entrar em contato com aliados
e planejar nosso curso de ação.
Ela também se preocupava com o pai, que havia sido preso recentemente em
Olimpo como espião da Guarda Negra. Ela ainda não acreditava que ele dentre todas as
pessoas fosse um agente da inteligência estrangeira. Ele tinha cometido atos como ela
tinha que fazer...?
O que Grun Phovidan estava enfrentando? Os terranos o executariam? Isso não
era oficialmente sua política. De acordo com a experiência de Leann, a CESPSOL ainda
podia ser confiável. Ele seria apenas mais um agente inimigo a ser eliminado.
Leann reprimiu os medos crescentes. Eles apenas distraiam.
— Nós devemos continuar tentando chegar à embaixada dabrifana — decidiu
Zitarra. — Só lá recebemos proteção e podemos alcançar nosso objetivo. Nosso oficial
principal, Wloto Gribsen, contou-nos sobre seu velho amigo na embaixada, Raif
Brestekin, que sempre foi responsável por "folhas de fretes transparentes". Ele deveria
poder nos ajudar. Submergir permanentemente não é uma opção de qualquer
maneira. Quem sabe quanto tempo ainda existiremos dessa forma?
— Você acredita em Rhodan e seu pessoal em termos do perigo que ameaça
nossa mudança?
— Nós vimos Wloto Gribsen se dissolver. E é difícil negar que estamos saltando
"incontrolavelmente" ao longo do tempo. Ou você pode influenciá-lo?
Leann sacudiu a cabeça. — Aqui está o que vamos concordar: Nós devemos
escolher o caminho que menos nos ameaça. Porque com nossas capacidades, seria uma
grande ajuda para a Dabrifa analisar o perigo que ameaça no futuro com mais precisão.
Zitarra assentiu devagar. — Não é o lema da minha vida. Mas, onde você está
certa...

17
4.

Terrânia, Império-Alfa

1 de novembro de 3.430, meio-dia

Perry Rhodan estreitou os olhos e observou atentamente a cena na tela que as


câmeras da escolta havia registrado horas atrás na estrada Khooloi. Os outros
participantes da reunião permaneceram em silêncio concentrado.
O céu matutino sobre Terrânia reluzia e rodopiava em um vermelho sombrio,
nenhuma estrela era visível. Somente ao nascer do sol o fenômeno seria escondido pela
luz do dia.
A princípio, a coloração do céu noturno e o desaparecimento das estrelas haviam
inquietado os cidadãos, como dissera o ministro do interior, Rufus Decker. Enquanto
isso, as reações acabaram sendo mais ambivalentes — de sentimentos de segurança a
pura rejeição do fato de que alguém se “escondeu”.
— Lá, então — Rhodan apontou para uma plataforma na qual o planador de
transporte, com o qual Juki Leann e Darren Zitarra deveriam ter sido levados ao
espaçoporto de Aldebarã, acabara de pousar.
Galbraith Deighton assentiu. — Estas são as últimas imagens registradas da
fuga. Depois disso, os sistemas de câmeras do controle de tráfego, bem como os drones
policiais que se aproximaram, são inúteis. Eles foram manipulados por alguma coisa.
— O que exatamente não podemos dizer, senhor — acrescentou Alasca
Saedelaere em sua maneira turbulenta de falar.
O lógico da CESPSOL sentava-se ao lado de seu chefe, Deighton, e quase afundou
na poltrona larga, apesar de ter dois metros de altura. Sua voz soava abafada sob a
máscara de prata.
Saedelaere teve que usá-la desde um acidente com o transmissor. Algo
acontecera durante o transporte do planeta Bontong para Peruwall. Em vez de ser
transmitido em tempo zero, quatro horas se passaram antes que Saedelaere chegasse a
Peruwall.
Qualquer um que tivesse visto seu rosto diretamente desde então enlouqueceria.
— Descubra — disse Rhodan. — E o mais rápido possível. Eu confio o assunto à
você. Você já se provou durante o interrogatório dos dois agentes.
Saedelaere assentiu.
Rhodan não podia imaginar o quanto a vida do jovem fora dura desde o
acidente. Todavia, Saedelaere não demonstrava, embora Rhodan soubesse que muito
tempo se passara antes que ele pudesse exibir aquela serenidade exterior.
— Já sabemos onde o Leann e o Zitarra desapareceram? — perguntou Takayo
Sukurai.
Ela se sentava à direita de Rhodan na mesa redonda acima da qual pendia uma
tela panorâmica. As imagens do que estava acontecendo cintilavam em vez de serem
bem definidas. Um subproduto dos sistemas de vigilância manipulados.
— A cidade de Khooloi foi o último lugar onde pudemos localizá-los
— Saedelaere colocou uma vista aérea do distrito na tela panorâmica que não era

18
oficialmente, mas metade pertencia ao centro de Terrânia e metade da cidade de
Aldebarã.
Em frente a Rhodan, o professor Renier Bievre soprou seu café fumegante e
tomou um gole. O cheiro picante alcançou o nariz de Rhodan. — Muitas pessoas lá —
resmungou o hiperfísico. — Será difícil fazer mais localizações.
O homem de barba bateu com força, largou a xícara e pegou um maço de
cigarros. Com prazer, ele acendeu um e amassou o maço vazio.
Um servo robô se aproximou flutuando e o jogou no lixo.
— Eu quero paz de espírito! — Gucky deu uma risada indignada. Ele se sentava
à esquerda de Rhodan, entre ele e Bievre. — Nós quebramos nossas cabeças para onde
os dois pau mandados de Dabrifa foram, e o gordo Sr. Stoppelbart (Restolho de Barba)
é um conhecedor!
— Bievre — resmungou o cientista, um dos melhores homens de Geoffry Abel
Waringer. O genro de Rhodan havia convocado o professor em busca de apoio sobre a
questão dos saltadores temporais, porque ele próprio era indispensável para o Projeto
Laurin. — O nome é Renier Bievre, seu rato.
— Rato? — Gucky cantou. O rato-castor arregalou os olhos. — Isso é
ultrajante! Eu vou ...
De repente, Bievre flutuou alguns metros no ar. Assustado, o cigarro caiu de sua
boca. Cinzas escorreram pelo tapete azul noturno, e imediatamente o servo robô se
apressou e removeu a sujeira antes que as brasas pudessem queimar um buraco no
chão.
— Eu devo perguntar-lhe, tenente especial! — Rhodan levantou uma
sobrancelha.
Sem aviso, Gucky deixou Bievre voltar à poltrona.
Com o rosto pálido, o professor levantou-se, gemendo e murmurando maldições
desprezíveis para si mesmo. Ele caminhou até a máquina de cigarros, que ficava no final
da sala retangular entre duas seringueiras venusianas.
— O teatro já foi o suficiente por hoje — disse Rhodan em tom tão sério que até
mesmo Gucky fez com que único dente roedor desaparecesse em sua boca e coçou seu
pescoço peludo com vergonha.
— Então, a cidade Khooloi — Rhodan esfregou o queixo com barba por fazer.
Nos últimos dias ele teve pouco tempo para se barbear. Um ritual que ele
continuou mantendo até que o incomodou e ele recorreu a métodos modernos de
remoção de pêlos por um tempo. Ele também compartilhava com o Marechal Reginald
Bull, um de seus melhores e mais antigos amigos. — Se eu interpretei as imagens
corretamente, perto da encruzilhada da Estrada Khooloi e o Anel Antares. Leann e
Zitarra poderiam submergir nas multidões ali. Seria difícil detectá-los, como o
professor Bievre já havia dito.
— Correto, senhor — Deighton assentiu. Ele fez da investigação uma prioridade
e trabalhou de perto com as autoridades policiais terranas. — Uma localização mais
precisa não é possível.
— As nanopartículas em seus corpos não ajudam na busca? — Rhodan quis
saber. Ele próprio ordenara que os minúsculos robôs fossem acrescentados à comida
dos agentes inimigos.

19
— Os sinais de rádio normais dessas micro leituras são sobrepostos pelas
radiações em uma área metropolitana — respondeu Saedelaere. — Também seria fácil
de se proteger deles. Os dois são profissionais da Guarda Negra e sabem que não vamos
apenas deixá-los escapar. E para hiper-rádio, seria preciso muita energia; essas
pequenas máquinas não podem fazer isso.
Rhodan acenou.
— Perdão, senhor, você já está ciente disso, é claro.
— Continue, meu jovem! Essa é uma das suas especialidades. Eu não quero ser
muito impaciente.
— Com certeza, senhor. A radiação só pode ser localizada de perto. Então, os
fugitivos teriam que passar por um rastreador que esteja calibrado para tais
impulsos. Existem muitos dispositivos em Terrânia, mas nem todos são adequados para
nossos propósitos. Ou não temos acesso legal a eles.
— Eu peço ao parlamento que amplie o estado de emergência interno, para que
você obtenha mais poderes — prometeu Rhodan.
— Obrigado, senhor. Em qualquer caso, é muito mais fácil determinar
onde estiveram os refugiados do que onde estão. Ou seja, através da excreção de
nanopartículas através do suor, respiração, fezes... nós podemos inferir quais lugares
eles visitaram e, em seguida, determiná-los. Com a intuição de nossos investigadores e
a telepatia do tenente especial Gucky, muito poderia ser alcançado.
Gucky pipilou de acordo — É claro!
— Os fugitivos estão praticamente permanentemente em perigo — Deighton
pegou o fio da meada. — Eles não podem se esconder em qualquer lugar, senhor. Isso
inevitavelmente forçará os dois a erros. Contudo, a densidade populacional impede o
acesso fácil se quisermos evitar causar agitação e não colocar civis em risco. Nós ainda
não temos nenhuma informação confiável sobre se os dois poderiam obter armas
durante a confusão.
— As forças e unidades regulares da CESPSOL devem cercar e penetrar no
distrito! — ordenou Rhodan. Ele franziu a testa. — A cidade Khooloi está localizada
perto da cidade de Aldebarã, o distrito das embaixadas. Juki Leann e Darren Zitarra
poderiam tentar procurar abrigo, abrigo e ajuda na embaixada do Império Dabrifa.
— Isso é óbvio — concordou Deighton. — Eles pode saber que identificaremos
a mensagem como um de seus alvos em potencial. Mas, eles estão sob pressão. Por
causa da nossa busca, mas também por causa do perigo que os ameaça devido à sua
nova habilidade de saltar no tempo. Eu acho que eles tentarão entrar em contato com
os intermediários da Guarda Negra, e eles estão esperando entrar na embaixada.
— Isso certamente é garantido — disse Saedelaere. — Ninguém entra ou sai por
aí. Lá poderíamos pegar os dois, se esse é o objetivo deles.
Rhodan havia posicionado um campo SAE em torno da embaixada por
segurança, mas agora ordenou desativá-lo. O campo assustaria os dois fugitivos.
Bievre limpou a garganta. — Eu me pergunto quem ajudou os dois
agentes. Sozinho, eles não poderiam criar esse caos tecnológico para sua fuga.
— É claro que levo isso em conta nas minhas investigações — disse Saedelaere.
— Se os refugiados fossem capazes de entrar em contato com seus ajudantes
— dirigiu Bievre Implacável —, talvez já poderiam estar fora de Terrânia.

20
Ele tirou os óculos sem aro, tirou um pano do bolso do paletó bordado e limpou
os óculos. Ele deu a Saedelaere um olhar rabugento de que ele não deveria interrompê-
lo novamente.
Então, o professor apresentou uma ideia como Rhodan esperava: — Talvez, se
possa refinar a busca medindo a radiação sextadim intermitente emanada dos agentes.
— Então, as partículas temporais? — espiou Gucky, gesticulando para Bievre
com seu único dente roedor.
Ele respondeu apenas com um olhar fulminante, que para ele correspondia a
uma linguagem não científica.
— Se olhares pudessem matar — Gucky sussurrou para Rhodan.
Ele não conseguiu reprimir um sorriso apesar da seriedade da situação. — E
você acha que isso é possível?
Rhodan teve o cuidado de não colocar muita esperança nisso. O estudo dos
fenômenos sextadim ainda estava em sua infância. Contudo, Bievre era um dos
principais pesquisadores no campo. Se alguém conseguisse fazer progresso rápido
nisso, então seria ele.
— Muitas coisas são possíveis — o professor coçou a barba. — Mas, acho que é
viável. E em um tempo razoável, para que nós realmente ganhemos uma vantagem na
busca pelos dois saltadores temporais. Eu vou cuidar disso imediatamente — ele saiu
da sala de conferências com um último olhar feroz para Gucky.
— Nós deveríamos definitivamente usar a oportunidade — disse Deighton —
que Gucky vá em busca de Leann e Zitarra. Embora, ele possa ler seus pensamentos
apenas indistintamente, mas pelo menos poderia percebê-los. Os investigadores o
informarão assim que precisarem de sua ajuda em um potencial antigo paradeiro.
— Eu estou trabalhando nisso! — O som do ar enchendo o vácuo repentino na
poltrona de Gucky revelou que ele havia se teleportado instantaneamente.

21
5.

Terrânia, cidade de Khooloi

1 de novembro de 3430, à tarde

— O que você está procurando? — Darren Zitarra espreitou Juki Leann atrás de
um arbusto ferronense Jamal.
Leann escolhera deliberadamente o terminal, que ficava ao lado da fábrica de
flores, para sua pesquisa. As flores amarelas brilhantes e as folhas verdes reluzentes do
arbusto de grandes dimensões pendiam baixo e proporcionavam uma cobertura
natural.
— Por uma loja onde compramos roupas — ela sussurrou, tomando cuidado
para que apenas Zitarra pudesse ouvi-las.
Eles haviam razoavelmente se disfarçado: Leann, graças a seu conhecimento de
hardware e software terranos, havia rompido um contêiner de pessoal de manutenção
técnica do qual haviam usado calças e camisas verdes. Tudo era melhor que a roupa
laranja da prisão.
Ela amarrou a parte de cima de modo que seus braços e estômago
permanecessem livres. Seu cabelo tinha sido trançado em várias tranças e suas
pálpebras "feitas" com argila dos vasos de plantas.
Mas isso não seria suficiente camuflagem a longo prazo para se esconder por
mais tempo na cidade. O assalto seria registrado.
E camuflar as roupas resistentes com os corantes fornecidos pelas plantas e seu
húmus era impossível. O tecido rejeitava qualquer contaminação.
— Como devemos pagar? — perguntou Zitarra.
Leann deixou escapar um suspiro quando finalmente encontrou o que estava
procurando. Rapidamente, ela se escondeu atrás da fábrica, verificando se alguém
estava prestando atenção, e empurrou Zitarra escada acima.
De volta à varanda, ela lhe disse: — Eu encontrei um negócio de troca. São
apenas dois andares abaixo e cerca de cem passos nessa direção — ela estendeu o dedo.
Zitarra assentiu. — Aha. Um negócio de troca. Quem está vestindo roupas de
outras pessoas nos dias de hoje?
Leann sorriu desafiadoramente, embora ela não sentisse vontade de rir. —
Tanto quanto eu sei: terranos!

— Agora! — Juki Leann pegou Darren Zitarra pela mão. Ela se forçou a
descansar, fingindo que estava passeando pela galeria comercial dois andares abaixo
da planície idílica e rica em plantas.
A vegetação ornamental lembrava as inóspitas serpentes montanhosas do
grande deserto do sul de Rofus, o nono planeta do sistema Vega. Lá, Perry Rhodan
liderou a primeira viagem para fora do sistema solar, Leann sabia como uma aficionada
por história. Um pequeno monumento fora erguido no Palácio Vermelho de Ferrol para
marcar a ligação dos terranos com os habitantes ferronenses.

22
Leann não podia imaginar que tais símbolos de amizade tivessem a chance de
serem construídos no Império de Dabrifa.
— E lá! — Leann respirou. Só então ela percebeu que seu coração estava
palpitando violentamente. Era estranho, fugir como um inimigo através de Terrânia, a
cidade que outrora havia sido seu lar, tinha estado mais perto dela do que seu planeta
natal Nosmo.
— Parece simples — Zitarra olhou ao redor, franzindo o nariz. — Como uma
caverna.
Na verdade, as paredes da loja, cobertas de pedras, se arqueavam para o teto. As
lâmpadas estavam presas em suportes de tochas de aço e lançavam luzes bruxuleantes
sobre uma rocha vermelho-acinzentada. Leann se sentiu sobre isso; parecia áspero, frio
e sólido como rocha natural.
Zitarra foi até uma mesa e pegou uma calça azul. Ele esfregou o tecido com o
polegar e o indicador e balançou a cabeça. — Isso está totalmente arranhado!
— Se chama jeans — Leann se aproximou dele e sussurrou: — Eu não vejo
nenhuma câmera.
— Nós ainda deveríamos estar bancando os turistas inexperientes. Eu não acho
tão fácil identificar câmeras e microfones. Eles são pouco visíveis a olho nu — Zitarra
olhou para ela como se achasse que ela fosse idiota.
— Na Terra é um pouco diferente — Leann sorriu tranquilizadoramente,
embora ainda se sentisse enjoada. Mas ela nunca descobria ninguém se olhasse em
volta discretamente. — Câmeras de vigilância e microfones devem estar visivelmente
ligadas e devem ser observados.
— Que absurdo! — Zitarra sacudiu a cabeça vagamente. Ele ainda segurava o
jeans nas mãos. — Como podemos garantir que o espaço público seja adequadamente
monitorado dessa maneira se todos forem alertados sobre isso?
— É óbvio que você cresceu no Império Dabrifa. Existem diferentes abordagens
na Via Láctea, todas com suas vantagens e desvantagens.
— Não deixe Dabrifa ouvir isso.
— Liberdade de expressão também é uma das coisas que se valoriza em outros
lugares — Leann parou Zitarra.
Duas jovens entraram no negócio de troca. Claramente, elas lançaram olhares
para o agente bonitão e riram. Um traço muito alto, muito artificial, como se fossem
obsessivamente atraentes para distrair de pensamentos sombrios.
Leann esperava pelo menos um sorriso estranho de Zitarra na direção das
garotas. Para sua surpresa, ele as ignorou. Em vez disso, ele levou sua calça jeans para
um vestiário à direita da entrada e pegou uma camisa branca e uma jaqueta de blusa
preta no caminho até lá.
Até agora, ele se conteve e a deixou no comando por causa de seu conhecimento
local. As coisas foram muito melhores do que ela temia.
Ela circulou quatro das oito mesas do negócio de troca irregularmente circular,
mas ainda não encontrou nenhum sistema de vigilância. Em vez disso, em frente à
entrada, descobriu uma passagem para pelo menos outra sala, coberta por uma cortina
de madeiras semelhantes a bambus.

23
Leann escolheu algumas camisetas, blusas, calças curtas e compridas, assim
como um bolero e um casaco bege. Então ela foi para o vestiário, que ficava bem ao lado
de Zitarra. Quando ela tirou a roupa do técnico, alguém bateu na porta de vaivém.
— Tesouro? — Era Zitarra. — Eu posso entrar?
— Por mim tudo bem.
— As garotas desapareceram. Fizeram um olhar desapontado quando eu a
chamei.
Leann o examinou. O jeans se ajustou como uma luva. Ele fechou a camisa branca
até o botão de cima e enrolou um lenço de seda cinza escuro em volta do colarinho. A
jaqueta dava-lhe uma aparência muito séria.
— Coloque algumas roupas — Zitarra folheou as roupas que Leann havia
pendurado no gancho. — Por que tantas?
— Isso é o que as mulheres fazem. Nós não queremos atrair atenção.
— Há uma sala ao lado — Zitarra apontou na direção em que Leann descobrira
a passagem. — Eu estou procurando um par de sapatos e acessórios úteis. Como essa
troca funciona?
— O negócio é totalmente robotizado. É por isso que eu escolhi — Leann rasgou
as camisetas, desamarrou a perna esquerda para que ela mancasse levemente. Ela
também envolveu o peito, apertando seus seios contra o corpo. Depois vestiu uma blusa
azul-clara e o bolero feito com a lã preta do urso cronotischense.
— À esquerda da entrada, há recortes na parede — ela continuou. — Eu
suponho, quando você pisa na frente deles, se ativa um terminal e eles explicam o
procedimento. É costume colocarmos as mercadorias trocadas e transportá-las para a
limpeza. Nós podemos usá-lo para cobrir nossos rastros.
Ela vestiu calças azuis escuras e olhou no espelho. — Serviu — ela desamarrou
as tranças e começou a enrolar o longo cabelo preto numa espécie de turbante. — Vá
em frente
— Não temos que trocar de forma equivalente?
— Não. De acordo com a descrição do negócio, isso não é necessário. Você dá o
que quiser dar. E você pega o que quer levar.
— Soa estupidamente ingênuo.
— Nós não estamos em Nosmo ou em qualquer outro lugar no Império Dabrifa.
— Eu esqueci... você é uma terrana culta. Eu me pergunto como você conseguiu
entrar na Guarda Negra. Há outras pessoas que sabem o que têm com Dabrifa.
— Eu nasci em Nosmo, embora não tenha sido criada lá. Eu conheço o lado
escuro e o lado da luz de ambos. E acredite em mim, eu sei o que tenho com Dabrifa. — O
que quer que seja..., ela acrescentou em sua mente.
Zitarra acenou impertinentemente. — Nós não temos tempo para isso agora. Eu
te vejo em um minuto.
Leann terminou o cabelo. Ela procuraria flexispray no quarto dos fundos, com o
qual ela poderia reorganizar o cabelo para qualquer penteado a qualquer momento. Ela
também precisava de sapatos. E deviam levar tudo o que achassem útil — o que, em tal
loja, dependia do que era trocado.
Roubar um bastão de créditos para comprar em outro lugar só chamaria a
atenção para eles. Uma vez que o roubo fosse notado, alguém poderia rastrear seus
pagamentos feitos até agora. Isto faria com que eles fossem colocados imediatamente

24
diante dos olhos dos investigadores da CESPSOL na aparente baixa taxa de
criminalidade de Terrânia.
— Tesouro? — ela assumiu o papel de Zitarra quando entrou na sala ao lado.
Seu coração quase parou quando ela descobriu. Zitarra estava espreitando por
detrás de uma das mesas, espalhadas como no meio do vestíbulo.
Um homem idoso de pele azul-clara e cabelos negros e finos examinava uma
exibição de relógios anacrônicos e outros acessórios. Ele olhava para Zitarra.
Leann se aproximou de seu parceiro rapidamente. — Tesouro! Aí está você! Ela
o abraçou e sussurrou: — O que está acontecendo aqui?
— O cara continua me encarando. Eu temo que ele esteja nos procurando. Talvez
tenhamos sido anunciados publicamente. Ou ele é um policial disfarçado. Ele poderia
ser um bom ator. Ele parece inofensivo.
Leann se aconchegou no peito de Zitarra. Ela ouviu o batimento cardíaco rápido,
sentiu o jogo de músculos tensos. Sua respiração era superficial. Ele estava se
preparando para uma luta.
Cautelosamente, Leann olhou na direção do terrano colonial. Ela não podia
atribuí-lo a nenhum dos mundos habitados por humanos, mas sorriu aliviada quando
viu sua expressão desapontada.
— O que é? — Zitarra relaxou. — Qual é a do cara da pele azulada? Por que você
está sorrindo?
— Parece que não só as mulheres dão em cima de você aqui.
Calmamente, ela procurou reunir as últimas coisas. Ela encontrou um flexispray,
robôs microscópicos que se estendiam em seus cabelos e seguiam cada um dos
movimentos da mão, enquanto os ativava para remodelar o penteado.
Além disso, ela pintou o rosto com uma espécie de padrão de hena, para que se
passasse como um membro de uma das muitas associações religiosas reconhecidas na
esfera de influência terrana. A cor mudava seu tom de hora em hora.
Zitarra tingiu os dentes e as unhas de prata e injetou um corante verde nas
íris. Finalmente, ele iluminou seu cabelo loiro escuro.
— Isso pode ser útil contra os investigadores humanos — ele julgou. — Mas, não
protege do software de reconhecimento facial e de forma. Sua mancada e os seis
achatados estão bons.
Ele acrescentou pesos de chumbo em seus sapatos marrons de cordão. Pessoas
adaptadas ao ambiente, que estavam acostumados a um pouco mais de gravidade,
usavam aquilo. Microgravitadores custavam significativamente mais na compra e
manutenção. As palmilhas deram uma passo arrastado a Zitarra.
— Nós devemos mascarar nossas características faciais com biomolplast —
concordou Leann. — Mais cedo ou mais tarde, nós teremos que roubar um bastão de
créditos. No entanto, isso colocará os investigadores em nosso rastro. O tempo é o
nosso maior inimigo.
— E da boca de uma saltadora temporal... é melhor encontrarmos alguns velhos
amigos seus. Em quem você confia tanto que não nos trairia?
Leann repuxou os lábios em um sorriso desdenhoso. — Eu posso imaginar o que
você faria com essas pessoas. Você não confia em nenhum terrano. Mas, eu conheço
alguém que é resiliente o suficiente para que eu não tenha que me preocupar. E que
rejeita Rhodan.

25
Zitarra assentiu. — Parece tentador.

— Onde encontramos essa pessoa? — Darren Zitarra se arrastou ao lado de Juki


Leann, segurando a mão dela, continuando a desempenhar seu papel. Ele estava
olhando para um willy-esteira, que estava conversando com um robô doméstico
Whistler.
— Até mesmo um posbi compraria os camaradas aqui — alegou a criatura
gelatinosa.
Ele mente tanto, que até as vigas estão se curvando, Leann pensou,
involuntariamente usando uma antiga expressão terrana que ela aprendeu em sua
juventude em Terrânia. Posbis, robôs biológicos positrônicos, eram máquinas tão
perfeitas que certamente não precisavam da ajuda de uma marca terrana.
— Onde encontramos essa pessoa...? — Leann olhou para os transeuntes que se
aproximavam e notou que Zitarra imitava habilmente seu comportamento, embora não
conseguisse esconder sua natureza feroz. — Bem. Essa é uma boa pergunta.
— Não é eficaz... — ele advertiu.
— Só um momento, eu acho... Sim!
Um unitro se arrastou passando por eles e caiu em um banco que parecia fora
do lugar nas terras da galeria comercial “Snake Mountains” .
A criatura atarracada e de pele grossa pousou um instrumento no colo, que
suspeitosamente parecia como uma gaita de foles, e soprou fortemente no bocal. Soou
um gemido ensurdecedor.
Alguns transeuntes cobriram os ouvidos, outros riram ou dançaram. Leann
ainda achava estranho o comportamento das pessoas. Devia estar relacionado com a
iminente guerra entre a Terra e as antigas colônias.
— Eu enviei uma mensagem de um terminal antes da transação de troca — ela
explicou na proteção da música. — Um anúncio de contato: ‘Procura-se Wullewull para
noites solitárias’. Ela saberá quem está procurando por ela.
— Então, uma mulher. E o que é um Wullewull?
O unitro seguiu em frente, mas a música metálica era mais alta mesmo à
distância, mais do que era agradável para uma audição humana — como um dueto de
dois ertrusianos.
— Wullewull é um espécime animal de Ácon. Eu passei os primeiros anos da
minha vida lá. Nossa pessoa de contato havia visitado muitos mundos de Ácon com seu
pai em viagens comerciais. No começo, a palavra Wullewull é pensada como um casaco
fofo, não é? — ela sorriu. — Contudo, após uma breve pesquisa, descobre-se que um
Wullewull é um anfíbio pouco apetitoso e viscoso.
Zitarra olhou para ela inexpressivamente.
— Naquela época, nos divertimos muito imaginando alguém lendo o anúncio
com entusiasmo, ansioso por uma garota atraente, como uma fotografia promete. E
como as características faciais mudam daquele que descobre o que é um Wullewull.
— Muito engraçado — disse Zitarra laconicamente.
Leann encolheu os ombros. — Em retrospecto, parece bobo. Deve ter estado lá.

26
*

Eles saíram do shopping. Um redemoinho antigravitacional os transportou por


caminhos tortuosos através de um tubo de vidro. Ele interligava o prédio, com sua
fachada de pedra, ao Palácio Vermelho de Ferrol, com a Praça Thort em frente a ele.
Numerosos malabaristas ferronenses celebravam as festividades de alguns
feriados deste povo. Mas não havia a atmosfera.
A noite já estava emergindo, mas em vez das primeiras estrelas no céu, apareceu
aquele vermelho sombrio que indicava o céu noturno. Mais uma vez, Leann se
perguntou o que aquilo significava. Ela apontou isso para Zitarra.
— Nós vamos descobrir — ele colocou um braço ao redor de seus quadris,
apontou para uma placa de rua que pendia diagonalmente acima deles, e sussurrou em
seu ouvido. — Vamos para a direita e andar pela Boulevard Kerlon. Lá, as festividades
parecem se fundir em um mercado. Muitas pessoas que não nos notam.
Leann assentiu e deixou Zitarra guiá-la. Depois das horas em que ele dependia
dela, ela lhe deu a sensação de assumir o controle de suas ações.
Os terranos e extraterrestres que os encontraram no caminho, todos tinham
uma coisa em comum.
— Eles parecem tristes — afirmou Zitarra. — Muitos arriam seus ombros,
muitos andam por aí com a testa enrugada. E de qualquer maneira... eu não sei sobre a
Terra, mas se eu estivesse em território familiar, eu diria que as pessoas estão
deprimidas ou infelizes.
Leann assentiu. — Deve ter acontecido alguma coisa. Nossa primeira impressão
provavelmente estava certa. Isso estará relacionado com a guerra iminente.
— Talvez o campo paratron tenha sido estendido sobre o sistema solar? —
aconselhou Zitarra. — Nossa missão falhou, então há uma certa probabilidade. O céu
vermelho e sem estrelas poderia ser um efeito colateral. Certamente, os terranos
temem que a coalizão antiterrana atravesse — ela contorceu os cantos da boca.
— Nós precisamos de mais informações — Leann avistou uma tela
multissensorial sobre a qual imagens de notícias pareciam estar em execução. Não, era
uma floresta inteira de telas se elevando da rua em postes.
Dezenas de vozes sussurradas, acompanhadas de imagens tridimensionais,
como o vento sussurrante em galhos finos. Uma mistura selvagem de odores induzidos
e toque envolveu Leann em um casulo de estímulos de mídia.
Se ela se concentrasse em uma das telas, se inclinando para ela, o volume, os
cheiros e os toques se intensificaram, saindo da incerteza da mistura para sensações
claras.
— A Terra está ameaçada por um racionamento? — uma mulher bem vestida
perguntou a um homem idoso com têmporas cinzentas. Eles estavam diante do prédio
do parlamento em Terrânia, o Solar Hall, uma cúpula circular no bairro governamental
ao sul da Estrada Khooloi.
O entrevistado pesou a cabeça. Uma voz externa sussurrou: — Este é o porta-
voz do parlamento solar. Clifton Dylong. O cheiro do perfume dele picou o nariz de
Leann. Canela e coentro.
— A administração assegura que o fornecimento está garantido apesar
do campo AAT — respondeu Dylong.

27
— Mas, por quanto tempo? — continuou a repórter.
As árvores se moviam ao fundo da imagem, folhas amarelas de outono, marrons
e vermelhas rodopiavam no ar. Leann sentiu o vento em sua pele, sentindo o cheiro da
chuva que se aproximava ressoando nele.
— Permanentemente. Existem planos de abastecimento. O Caso Laurin foi
preparado há muito tempo. Em breve, Perry Rhodan comentará.
— Hmm — fez Zitarra. Sua voz arrancou Leann do relato, que a enfeitiçou apesar
da informação sóbria. A tela multissensorial recuou. Racionamento? Garantir o
abastecimento? Parece que os terranos realmente se retiraram atrás de um campo
paratron.
— Mas o que é protegido? Todo o sistema solar, exatamente o que devemos
evitar? Ou apenas a Terra? E o que a abreviatura AAT significa? — Leann lambeu os
lábios. — Nós precisamos de mais informações sobre esse campo AAT e o Caso Laurin.

Assim que Leann e Zitarra chegaram ao centro da floresta de telas, os emissores


multissensoriais os envolveram criando uma esfera. Almofadas de ar saíam do chão,
aninhando-se ao redor de seus corpos, vibrando suavemente até que eles relaxassem.
— Você gostaria de um show exclusivo das notícias reunidas? — sussurrou uma
voz assexuada. — Minha análise ambiental mostrou que no momento você é a única
interessada.
— Por quê? — Leann sacudiu a cabeça. Seu coração bateu mais rápido. Ela
finalmente queria saber o que tinha acontecido, mas eles tiveram que jogar pelo
seguro. — Eu não consigo entender isso.
— Atualmente não há notícias relevantes — disse a voz. Devia pertencer à
positrônica da floresta de telas. — As pessoas não estão interessadas em receber os
eventos tristes repetidas vezes. Se houvesse algo importante para relatar, elas seriam
alertadas.
— Aha — Zitarra franziu a testa desdenhosamente. — É melhor armar-se para
o que está acontecendo.
Leann deu-lhe um olhar penetrante.
Ele apenas assentiu.
— Você gostaria de uma apresentação exclusiva?
— Quanto custa? — Zitarra quis saber. Ele era atipicamente cauteloso. Isso
tinha que estar relacionado à sua desconfiança. Ele ainda não acreditava nas palavras
de Leann sobre a vigilância pública da Terra.
— A apresentação é grátis. Nossas notícias são gratuitas na Terra e nos planetas
habitados. Com a minha oferta, gostaria de mostrar-lhe os benefícios da transmissão
multissensorial, uma nova oferta de info-entretenimento a um preço de entrada
atraente.
— O que quer que seja — Leann sussurrou para ele. — Nós devemos aceitar isso.
Nós precisamos da informação e aqui pelo menos estamos protegidos de olhares
indiscretos.
— E quanto a nossa privacidade? — A pergunta confirmou a suposição de Leann
sobre por que Zitarra era tão cauteloso e desconfiado.

28
— A proteção de dados é uma prioridade máxima na transmissão
multissensorial. O que é dito ou feito na minha esfera de mídia não sai deste lugar. A
menos que você mate um ao outro. Eu teria que relatar isso. Haha.
Por um momento Zitarra ficou sem palavras, depois bateu na testa. — Então, tal
coisa só pode ser programada por terranos.
— Chega de conversa? — sussurrou Leann.
Zitarra assentiu. — Sim.
— Nós aceitamos a oferta!
— O que você deseja experimentar?
— As últimas notícias do sistema solar — decidiu Leann. — Nós nos afastamos
em particular por algum tempo sem comunicação externa. Agora, nós queremos saber
o que aconteceu nos últimos dias — ela hesitou, depois acrescentou: Desde 30 de
outubro.
— Eu entendo. Abaixo está um resumo das novidades mais importantes. O
programa disponível está apenas parcialmente coberto por impressões olfativas e
táteis. Por favor, desculpe-me, mas o conteúdo de algumas seções não é adequado. É
claro que isso reduz a experiência. Você não deseja...
— Não. Sem problema — Leann engoliu em seco. Ela limpou as mãos suadas em
suas calças.
Que tipo de surpresa ela esperava? O que aconteceu, que o céu noturno estava
vermelho e rodopiando, que as estrelas haviam desaparecido e que as pessoas estavam
se comportando de maneira tão estranha? O que são o campo AAT e o Caso Laurin?
— Em 30 de outubro de 3.430, Perry Rhodan evocou o Caso Laurin para o
sistema solar, por causa do ataque da coalizão antiterrana.
As espaçonaves correram em direção a Leann como se ela estivesse de fato
flutuando no espaço livre. Ela sentiu a falta de peso. A frieza do vácuo perfurou sua pele
como milhares de agulhas.
A tela mudou, ampliando uma frota de espaçonaves. Leann foi capaz de atribuí-
las claramente ao Império Dabrifa, a Liga Carsuálica e a União Central Galáctica. Uma
montagem de imagens de arquivo, ela adivinhou. As distâncias em uma batalha espacial
eram tão grandes que só funcionavam com imagens de localização extrapoladas.
— Rhodan ativou o campo de alternância antitemporal – AAT para abreviar – e
colocou o sistema solar cinco minutos no futuro para escapar do ataque da coalizão
antiterrana. Desde então, nos círculos do governo, ele passou a ser chamado de Sistema
Ghost. Os mundos solares estão seguros. Os atacantes foram enganados por explosões
que o sistema solar foi destruído.
Leann ofegou. Ela não esperava isso. Ao lado dela, Zitarra inspirou e
expirou. Com o canto do olho, ela viu os músculos da bochecha se contorcerem, as mãos
cerradas em punhos.
— Eles derrotaram a coalizão — ele sussurrou rosnando.
Encantada, Leann observou os efeitos luminosos que as câmeras registraram
dentro do Sistema Solar. O brilho vermelho escuro e ondulações penetraram nas
gravações. A cor mudou, mudou para vermelho vivo, amarelo, verde claro e branco. Eles
eram tão intensos que Leann quase não conseguia suportar, acreditando que estava
ficando louca.

29
É como na WOOGAN-237. A pequena nave que eles trouxeram para o Sistema
Solar e costumava espionar e bombardear o suposto projeto do campo paratron na lua
de Saturno, Calypso. O emergente campo de alternância antitemporal. Nós voamos
através dele. Isso matou Wloto Gribsen! É por isso que nos tornamos saltadores
temporais!
Atordoada, Leann ouviu a informação. Não havia nada relevante a seguir. Ela
mal se importava que o céu noturno fosse vermelho escuro por causa do efeito
do campo AAT. Certamente, isso era devido a algum fenômeno hiperfísico. O que os
terranos conseguiram... todos tinham que admitir — foi brilhante!
— Eu vou cair fora! — Zitarra saltou da poltrona e correu para a parede da
esfera. As telas se espalharam.
Leann o seguiu, ignorando as palavras publicitárias da positrônico, suas
perguntas sobre o por que não gostaram. — É a qualidade da transmissão
multissensorial? Ou o choque de ficar preso no sistema solar ? Por favor volte em
breve!
Zitarra parou em um beco entre duas pousadas anacrônicas de dois andares que
pareciam conchas de caracóis em frente a uma montanha de vidro contra o pano de
fundo de arranha-céus. Respirando ritmicamente, como havia aprendido no
treinamento. Suas bochechas estavam ardendo.
Eles se entreolharam. E Leann percebeu que pelo menos um deles tinha que
deixar o sistema solar o mais rápido possível para informar o Império Dabrifa desse
monstruoso engano!
Ela não poderia simplesmente se bandear para Rhodan e implementar seu plano
anterior. Ela tinha que ajudar Zitarra a sair daqui. E se ele não conseguisse, ela iria
sozinha.
— Não importa o risco para nós — gritou Zitarra. — Nós temos que nos tornar
ativos o mais rápido possível. Dabrifa precisa ser informado! Todos os agentes da
Guarda Negra, funcionários da embaixada, cidadãos dabrifanos... Rhodan os impedirá
de partir. Mas nós... Ainda estamos livres!
Leann assentiu. — Isso significaria que a embaixada como meta seria
obsoleta. Rhodan a protegerá de perto, para que ninguém tente fugir do sistema solar.
— Portanto, também os expurgos... — Zitarra esfregou o queixo. — Eu ouvi
rumores de que o conflito está aumentando e a CESPSOL limpa rigorosamente o sistema
solar de agentes inimigos. Eles farão tudo que puderem para nos pegar.
Ele estava tremendo de adrenalina. — Nós não somos apenas saltadores
temporais, um objeto de estudo interessante, como pensamos até agora, mas
conhecedores perigosos.
Leann cerrou as mãos em punhos. A percepção de que eles eram de repente
figuras-chave em um jogo altamente explosivo irrompeu como um maremoto sobre
eles.

30
6.

Terra

1 de novembro de 3430, à noite

— Sadinoha — disse o porta-voz do outro lado do link. — Tezen Sadinoha. Você


ainda se chama assim?
O representante de Galbraith Deighton assentiu. — Até agora, esse nome e as
possibilidades associadas são úteis para mim. Em breve vou abandoná-lo. Terei que
tirar o casaco.
— O que aconteceu? — O interlocutor de Sadinoha estava invisível. Apenas sua
voz vinha do alto-falante do telefone de vídeo, a tela permaneceu escura.
— Juki Leann e Darren Zitarra fugiram.
— Os saltadores temporais... como eles conseguiram?
Sadinoha sorriu sem humor. — Eu ajudei os dois. Eu quis levá-los diretamente
depois, mas eles eram muito desconfiados e foram para o subterrâneo — ele explicou
alguns detalhes.
— Isso é ruim. Encontre-os. Se os dois conseguirem informações em seus saltos
temporais que possam prejudicar nossos planos, você é responsável! — a voz soou sem
emoção, mas enfática. — Qual é o objetivo deles?
— Uma mensagem para o Império Dabrifa ou Mercúrio — foi a resposta
de Sadinoha.
— Nós também temos pessoas na embaixada. Eles tomarão as precauções
necessárias. Infelizmente, com Mercúrio parece diferente.
— Como Leann e Zitarra devem chegar lá? — perguntou Sadinoha. — Nós nos
concentramos na mensagem e os levamos para lá. Enquanto isso, apoio os dois a
escolher o destino certo — ele sorriu sombriamente.

31
7.

Terrânia, cidade de Khooloi

1 a 2 de novembro de 3.430, à noite

— Ela respondeu? — Darren Zitarra olhou por cima do ombro de Juki Leann
para ter um vislumbre do terminal.
Leann virou a cabeça e sorriu zombeteiramente. — Você mal pode esperar para
conhecer minha velha conhecida.
Lana Fuentes era uma ex-namorada de Leann, a quem tentara alcançar com um
anúncio de contato anônimo.
Uma diversão boba de tempos passados da juventude. Mas, funcionou. Fuentes
tinha respondido.
Leann apontou para o texto de comunicação com ela. Ela ignorou os outros pedidos
de contato.
— Você está aqui? As ervas daninhas não desaparecem, você, Limiri? —
Limiri. Aquele tinha sido o apelido estúpido de Fuentes para Leann, que ela ainda não
sabia como Fuentes entendera ou o que ele queria dizer.
— Nos escondemos de tais novatos! Isso não pode ser verdade! — Novamente
Leann pegou fragmentos de conversas dos transeuntes. As opiniões sobre a fuga para a
proteção com o campo AAT parecia em desacordo.
— E você está agindo como se tudo estivesse bem! — o interlocutor, um homem
de cabelos loiros e de aparência jovem, estava atrás dela, olhando para ela
desafiadoramente.
— Não se destaque agora — sussurrou Leann Zitarra. Ela sentiu nas costas como
ele enrijeceu seus músculos e seu batimento cardíaco acelerou.
— Não se preocupe — ele respondeu rispidamente. — Eu sou um profissional.
— O que você está sussurrando, hein? — A loira levou uma garrafa marrom à
boca e tomou um forte gole. Então, ela limpou os lábios na manga. — Não ria assim!
Alguém a agarrou pela parte de trás de seus ombros e a puxou para longe,
provavelmente um amigo dela, porque ela não resistiu. — Com licença — a
desconhecida murmurou. — Ele ficou tão frustrado que ficou bêbado.
Leann assentiu com compreensão e voltou a se concentrar no conteúdo das
mensagens de texto de Fuentes. — Eles estão esperando por nós na Unggulus — ela leu.
— Eu espero que não seja o antigo clube de vocês duas, onde os investigadores
nos esperam em qualquer caso!
— Não. Eu não conheço nenhum bar com esse nome — Leann bateu os dedos
sem luvas no nome de Unggulus e pediu instruções.
— O Unggulus não está longe. Lana terá descoberto onde nós nos contatamos
pela última vez, e escolheu um restaurante próximo.
— Me acalma um pouco — Zitarra franziu a testa. — Se ela pôde nos localizar,
a CESPSOL também pode.
— Eu não entrei em contato com ela.

32
Zitarra bufou. Então ele a seguiu de volta para o fluxo de pessoas que estava
andando preguiçosamente ao longo da estrada.

— Droga! — Darren Zitarra levantou a mão e segurou Juki Leann de volta. Eles
rapidamente se esconderam atrás da esquina de uma janela de sacada e ele olhou
novamente para a rua. — De novo!
— Tem certeza? Leann se aventurou para frente e olhou por cima do ombro dele.
Era noite, mas a White Star Lane estava bem iluminada. Lanternas chinesas
flutuavam entre as fachadas do teatro, que não tinha mais de cem metros de
altura. Padrões florais de pedra, metal e vidro adornavam as fachadas das casas acima
das quais se erguiam os arranha-céus que ladeavam a Estrada Khooloi. Atrás dele,
contra o fundo do céu vermelho-escuro, um fluxo constante de planadores corria
trajetória de voo ainda mais altos.
Leann observou os homens e mulheres se aproximando uns dos outros do outro
lado da rua. Músicos de rua pairavam em plataformas antigravitacionais na altura do
quadril ou do peito dos transeuntes para ser visto por todos. Eles tocavam em
instrumentos tradicionais terranos e exóticos, que vinham de mundos da Via Láctea ou
até de Andrômeda.
Alguns dos pedestres chamaram a atenção de Leann. Eles pareciam inofensivos,
mas Zitarra podia estar certa, eles eram investigadores disfarçados ou eles também não
a teriam notado.
— Você quer dizer aquele? — Leann apontou para um homem de cerca de
quarenta anos que passeava pela rua de calça pastel e camisa branca.
Repetidamente, ele parava e observava os humanos e os alienígenas com um
sorriso, mudava o lado da rua, parava e batia o pé.
— Isso, e a mulher trás — disse Zitarra afirmativamente.
A loira, talvez com cinquenta anos, era bem treinada e usava painéis apertados
de tecidos em todas as cores do arco-íris. Ela dançou provocativamente ao lado da rua.
O que a ligava ao homem, o que os tornava suspeitos, eram pequenas coisas. Por
um lado, seus movimentos. O modo estressado de andar discretamente, relaxar os
músculos tensos e ainda assim estar pronto para atacar a qualquer momento. Por outro
lado, era a multiplicidade de acessórios que eles carregavam consigo. Eles estavam
camuflados como bolsas, jóias ou dispositivos de comunicação de roupas.
Leann acreditava que poderia detectar armas e projetores para campos
defensivos leves individuais, mas acima de tudo, dispositivos de localização.
— Eles devem ter colocado algo em nós ou misturado em nossa comida, que eles
esperam poder localizar — Zitarra amaldiçoou baixinho.
— Seja o que for — disse Leann — nós já não as carregamos mais ou é tão
pequeno que não notamos.
— Ou o sarnento Smersch implantou ou injetou em nós.
Leann levantou uma sobrancelha. Smersch. Isso era uma praga nosmosense.
Qualquer coisa, menos um bom nome para seus perseguidores. Até agora, trabalhar
com a Zitarra foi mais agradável do que temido. Ela esperava que ele não perdesse a
paciência sob pressão.

33
— Seja como for — Leann puxou Zitarra pela esquina da janela da sacada em
frente ao térreo do arranha-céu, um hotel da cadeia Terkosh. Uma empresa familiar
arcônida, honrada pelos arredores no antigo Tai Ark'Tussan. — Os terranos apertam a
rede. Pelo menos, eles praticamente sabem onde estamos.
— Ou eles estão aumentando sua presença em todos os lugares, para aumentar
a pressão, não importando onde nos encontramos — Zitarra suspeitou.
— Eles superestimam o número de seus agentes — respondeu Leann. — Eles
confiam mais na tecnologia. Polícia e inteligência não estão tão presentes no Império
Solar como no Império Dabrifa. A Terra se concentra na espionagem externa. Eu tenho
certeza de que eles suspeitam que nós submergimos aqui e ficamos por enquanto. Eles
estão em nossos calcanhares.
Leann e Zitarra estavam agora indo em direção à cidade de Aldebarã, o bairro
das embaixadas. Eles já tiveram que evitar patrulhas várias vezes, em que eles achavam
que haviam reconhecido policiais ou homens do serviço secreto em trajes civis.
Eles não ousaram deixar a cidade Khooloi, a cidade dentro da cidade. Leann
queria que eles conseguissem equipamentos melhores primeiro.
— De qualquer forma, o lugar onde deveríamos nos encontrar com Fuentes está
muito perto.
— Você confia nela? — perguntou Zitarra. — Uma mulher terrana?
Leann lhe dera algumas informações sobre Lana Fuentes para satisfazê-lo.
— Primeiro, sim, confio nela mais ou menos. Por outro lado, eu posso entender
sua desconfiança. Mas, você vai entender que temos que correr algum risco em nossa
situação.
— Eu pensei que você preferisse o caminho do menor perigo? — zombou
Zitarra.
— Eu posso avaliar razoavelmente o risco desse perigo. O quão rápido nós
estamos desperdiçando nossas estranhas habilidades de salto de tempo, mas não, mas
não — Leann se perguntou sobre a contenção de Darren; apesar de seus outros riscos,
ele ficou cauteloso desde que submergiu na cidade Khooloi. Estavam no terreno que ele
não poderia se preparar? — Então? — ela perguntou desafiadoramente.
Zitarra sorriu e acenou com a cabeça. — Pessoalmente, o risco me irrita. Eu só
queria saber o quanto você está certa.
Isso foi uma mentira, Leann estava convencida. Ele estava apenas tentando
manter sua reputação como um temerário.
— Depois de você — Zitarra a seguiu de volta ao beco que levava ao Unggulus.

O Unggulus estava localizado no quinto e sexto porão de um cassino com um


hotel adjacente. Era típico de Terrânia que os edifícios não fossem apenas altos, mas
também profundos.
— Os sub-andares nem sempre gozam da melhor reputação — avisou Juki
Leann seu parceiro.
Darren Zitarra deu de ombros. — Provavelmente, essa é uma lei universal. Altos
iluminados e profundezas escuras — Seu olhar se transfigurou um pouco, como se ele
se lembrasse de tempos passados.

34
Leann notou que seu andar de autoconfiança estava ganhando, que a negligência
que estava sendo fingida se tornava movimentos predatórios e flexíveis habituais. O
ator Zitarra abandonava seu papel.
Leann acariciou os painéis de parede polida feitos de madeiras exóticas de
granulação escura. Brilhava na penumbra do corredor, exalando um aroma de florestas
alienígenas sob estrelas distantes.
A parede parecia lisa como mármore polido. Leann ainda usava luvas finas para
evitar impressões digitais. Ela temia deixar um rastro com cada floco de pele, cada suor
ou gota de saliva.
A CESPSOL os teria marcado de alguma forma tecnologicamente engenhosa,
tudo o resto teria desapontado Leann.
O baixo pesado de música pesada fazia o chão vibrar sob seus pés e a parede sob
sua mão. Leann sentiu em seu estômago e peito. Eles passaram por uma porta e as notas
altas entorpeceram seus ouvidos. Luzes verdes e azuis cintilavam pela sala.
Depois que os olhos de Leann se acostumaram com as novas condições, ela
percebeu que bolhas luminosas se moviam convulsivamente flutuando abaixo do teto
com painéis.
Zitarra sorriu. Ele esticou o corpo, respirou fundo e suspirou. Havia um cheiro
de suor e álcool, fumaça, cheiro de tabaco e estimulantes. Uma mistura de diferentes
odores corporais e perfumes pesava no ar sufocante.
— Primitivo — disse Zitarra. — Gloriosamente — Ele sorriu maliciosamente.
Leann percebeu que se sentia superior a ela e a todos no lugar. Sua arrogância
se rompeu novamente.
— Por favor, siga-me, Limiri — Um anjo rechonchudo de repente flutuou ao lado
dela, sussurrando as palavras com sua doce voz.
Suas asas eram as de um insetoide, o rosto de uma criança humana
rechonchuda. Seus olhos se projetaram anormalmente para a frente, e incontáveis
pequenos tentáculos escamosos se projetavam em seu couro cabeludo. Com um braço
de macaco ele acenava, com o outro ele acariciava a barriga redonda, lisa e de pele
escura. As garras de suas pernas de penas coloridas se abriram e fecharam.
Leann não quis pensar se ele era um robô ou uma criatura geneticamente
modificada.
O anjo conduziu-os por ruas estreitas entre humanos e alienígenas, que
dançavam nos vários terraços altos da sala de forma assimétrica.
Sempre que tocavam a bolha cintilante de uma dessas áreas, Leann ouvia um
tipo diferente de música, registrando uma diferente refração da luz.
No centro da área de aproximadamente dois mil metros quadrados, eles
alcançaram um bar circular. De entre ela crescia uma coluna de garrafas até o teto e
enviavam dezenas de servos robôs alados para servir os visitantes.
Atrás do bar, havia apenas unitros, fazendo malabarismos com copos de
coquetel e frutas com seus troncos e misturando vários sucos e destilados nas esferas,
cones e copos com outras formas.
Leann sentou-se em uma banqueta flutuante.
Zitarra acomodou-se ao lado dela, pegou os caracóis salgados venusianos secos,
que estavam em uma tigela no balcão, e mordeu um entre os dentes.

35
— O que você quer beber? — perguntou o unitro na frente deles. Havia
tatuagens azul-escuras e emaranhados na pele enrugada e firme. Eles retratavam asas e
criaturas míticas da mitologia unitro.
— Um Mars on the Rocks — disse Leann. Essa tinha sido a bebida preferida de
Fuentes.
O unitro jogou bolas de gelo em uma tigela e encheu-as com três líquidos de cor
vermelha. Amargo, doce e azedo, como Leann sabia. Ele colocou o copo na frente dela e
perguntou: Tal bebida Wullewull para uma mulher tão bonita?
— Ideal para noites solitárias.
O unitro apontou o tronco para Zitarra, que pedira um uísque on the rocks com
soda e bebeu. — Solitários?
— Nós dois estamos sozinhos. Sem a mulher certa.
O unitro acenou para o anjo, que voou no ar atrás deles.
O anjo exultou e gritou: — Sigam-me!
Eles circularam no bar e desceram uma escada no outro extremo do círculo que
levava ao sexto andar. Cachoeiras coloridas e brilhantes dividiam a sala igualmente
grande em dezenas de compartimentos em que mesas e cadeiras flutuavam.
Em um desses compartimentos, Lana Fuentes estava esperando por eles,
chupando a mangueira de um narguilé aconense e soprando vapor verde fluorescente.
— Aí está você, Limiri — ela se inclinou para trás, cruzou as pernas nuas e
franziu os lábios vermelhos. Sua saia de couro apertada descia muito pouco abaixo da
cintura. — Seu novo amigo?
Zitarra sentou uma das cinco poltronas de couro preto. Sino sonoros esféricos
sublinhavam o cenário.
Fuentes estava sozinha, mas certamente não desprotegida. No cinto, ela usava
um radiador manual, claramente visível.
— Este não é seu amigo.
— O que é então?
— Um parceiro.
— Sofisma — Fuentes sorriu para Zitarra. Ela enfiou a mão no cabelo preto até
os ombros e acariciou-o de volta. Brincos de diamante reluzentes vieram à tona.
Zitarra apenas balançou a cabeça, tomando sua bebida, deixando Leann falar, o
que ela achava certo.
— Que bom que você respondeu ao meu anúncio de contato, Lana. Nós estamos
aqui de férias e ficamos surpresos com a ativação do campo AAT.
— Não fale bobagem, Juki — Fuentes sacudiu a cabeça. — Eu posso ficar louca
sozinha. Vocês são agentes da Guarda Negra e fugiram da CESPSOL.
Os olhos de Zitarra se arregalaram, e ele inclinou-se para frente.
A frequência cardíaca de Leann acelerou. Ela agarrou o braço de Zitarra. Ele
tinha que se conter.
— Como você sabe disso? — Alarmada, Leann olhou em volta.
— O compartimento é à prova de escuta — prometeu Fuentes. Ela chupou o
narguilé e soprou vapor. Ele cheirava a hortelã-d’água e a frutas-da-grama aconense. —
É assim que eu sei sobre você. Não vamos nos perder muito tempo. Tempo é essencial.
Rhodan e sua trupe imortal nos trancaram todos no sistema solar. E eu não gosto de ser
trancada.

36
Leann assentiu. Fuentes sempre se enfurecera contra o nepotismo de Rhodan e
a estagnação que, na opinião dela, ele estendia como uma mortalha sobre a
humanidade.
Mas, ela era realmente confiável? Leann só queria apenas um favor. Algum
equipamento técnico para melhor defender-se contra os seus perseguidores.
— E o que você espera de nós? — perguntou Zitarra.
Ele colocou o copo de uísque no tampo da mesa de vidro. Seu dedo indicador se
contraiu. Zitarra estava obviamente se preparando para uma possível luta.
— Absolutamente nada — Fuentes colocou a mão no radiador. — Nós três
temos pouco em comum, exceto a rejeição de Rhodan. E mesmo assim, estou
convencida de apenas dois de nós — ela olhou criticamente para Leann.
— Por que então o encontro? — Leann agora tensionou seus músculos. Fuentes
estava armada, mas eles eram dois.
— Um amigo quer te ver.
Naquele momento, a cachoeira se separou atrás de Fuentes, e um homem magro
com cabelos castanhos se aproximou. Ele vestia uma calça azul-escura, uma camiseta
turquesa com o estampado brilhante e sinuoso de um grupo de música e uma jaqueta
colorida.
Ele também usava um radiador no cinto. Inquestionavelmente, ele sentou-se
com eles e, sem palavras, empurrou um cristal de dados retangular com um leitor para
Zitarra e ela.
Zitarra olhou rapidamente para ele e depois pegou os objetos. Quando ele viu os
olhos de Leann, ele levantou os ombros. — Não há qualquer veneno de contato ou
dispositivo explosivo focalizado em jogo. Pode ser mais fácil para eles. — ele ativou o
dispositivo e a tela se acendeu.
Leann leu junto. Eram códigos: números e palavras, imagens. Ela abriu a boca,
fechou de novo, começou a falar de novo. — Estes são os identificadores mais recentes
que eu conheço.
— Então você é um agente da Guarda Negra — Zitarra levantou
uma sobrancelha. — Você não deveria ter coisas melhores para fazer do que nos
encontrar? Como você sabia que nos escondemos em Terrânia? Que estamos mesmo no
planeta?
— Eu não sou apenas um agente da Guarda Negra, mas também da CESPSOL —
disse o homem.
Leann nem perguntou pelo nome dele; ele não diria e, se o fizesse, não seria seu
nome verdadeiro.
— Eu tenho me infiltrado no serviço de inteligência terrano por muitos anos. É
por isso que descobri você.
— Então, por que este encontro? — insistiu Zitarra.
— Vocês deveriam levar as informações sobre o engano de Rhodan para fora do
sistema solar.
— É mesmo possível? — perguntou Leann. — Existe uma chance de
sair do sistema solar?
— Sim — Fuentes interveio. — Ela existe. Uma chamada eclusa de interseção
leva para fora do sistema solar. E um distribuidor de tempo normal fornece um sistema

37
de transmissão para garantir o fornecimento do sistema solar via Olimpo — ela olhou
brevemente para o agente da Guarda Negra. — Pelo menos é o que seu colega afirma.
Ele assentiu. — Eu tento ir por esse caminho. Existem contêineres de transporte
autônomos, nos quais vou me infiltrar graças aos meus contatos. Assim que eu sair
do sistema solar, eu verifico a situação e decido se posso enviar uma hipermensagem
direcionada para Dabrifa ou tenho que ir mais longe.
— Nós poderíamos tentar isso também — Zitarra interveio. — Nós temos mais
informações para Dabrifa.
— Eu sei — O agente olhou para Fuentes. — Mas, o caminho é muito
perigoso; vocês não têm minhas opções, são procurados. Eles vão ajuda-los na
embaixada, eles já estão fazendo mais planos. No entanto, eles são um pouco mais
demorados e temos que diversificar nossas ações para ter sucesso. Vá até lá, mas
tenham cuidado. Todas as mensagens da coalizão antiterrana são particularmente
seguras. Eu te trouxe algumas ferramentas e vou criar uma distração em um
determinado período de tempo.
— E ela? — Zitarra acenou para Fuentes.
— Isso não é mais problema.
A ex-namorada de Leann abriu os olhos, olhando para o agente com a boca
aberta de surpresa. Um gemido oco escapou dela, então ela caiu para a frente na mesa,
derrubou o cano de água aconense e permaneceu imóvel.
Leann engoliu em seco, os lábios apertados. Ela não queria fazer isso com
Fuentes. Seus olhos se encheram de lágrimas, que ela rapidamente piscou.
— Fumar é prejudicial à saúde — comentou o agente laconicamente. — Sigam-
me.

38
8.

Terrânia, Império-Alfa

2 de novembro de 3430, de manhã

— Alasca Saedelaere anuncia os primeiros resultados das investigações em


andamento da CESPSOL, senhor — uma voz abafada soou da porta.
O portador da máscara estava na porta do escritório de Perry Rhodan, ao lado
dele, Galbraith Deighton. O portador do ativador celular tinha as mãos nos
bolsos. Contudo, as mãos de Saedelaere estavam militarmente corretas nas costuras
laterais das calças do uniforme, que pareciam um pouco desajeitadas em sua figura
magra.
— Entrem, senhores — Rhodan acenou para eles na direção das cadeiras em
frente à sua mesa de trabalho.
Ao lado dele, Takayo Sukurai lançou um breve olhar examinador para os dois
homens, depois se colocou de volta nos documentos.
A porta se fechou atrás dos visitantes. A sala era grande demais para eles quatro,
decorada com plantas exóticas e esculturas artisticamente valiosas. Embora Rhodan
apreciasse tanto as plantas quanto a arte, mas não havia tempo para apreciá-las, por
isso ficava aborrecido com o desperdício. Contudo, ele nunca foi capaz de expressar sua
modéstia ao longo dos séculos. Ele sempre foi designado para as suítes, salas de estudo
ou conferências mais espaçosas. De vez em quando ele tinha conseguido que os
funcionários seguissem seus desejos de frugalidade. Mas, com cada mudança de
pessoal, a luta recomeçava.
— Relatório, Saedelaere — Rhodan deixou o servo robô despejar bebidas.
O jovem oficial recusou com gratidão, Deighton escolheu uma limonada de
toranja, Rhodan um suco de laranja. Takayo Sukurai bebeu Cola, ao lado de
Vurguzz o sucesso de exportação da Terra.
— Todos os três planadores, que forneciam o transporte e a escolta, foram
manipulados — disse Saedelaere.
Suas mãos estavam quietas em suas coxas. Ele falou em um tom áspero, como se
tivesse que escolher cada palavra com especial cuidado. Talvez fosse esse o caso.
Poderia ser devido a sua profissão como lógico que ele dava a cada palavra um
significado especial, porque obscurecer a expressão poderia diluir ou mesmo falsificar
informações.
— Como você chega a essa suspeita, Saedelaere?
— Nos momentos cruciais, sua positrônica acabou por ser coordenada.
— Sabotagem no Império-Alfa? — Rhodan respirou fundo, franzindo os lábios
em um sorriso sombrio.
— Senhor, eu não queria...
— Não! — Rhodan ergueu as mãos defensivamente. — Você não disse nada de
errado. Essas informações me incentivam a continuar mantendo o mais alto nível de
sigilo. Temos que nos perguntar: Será que os líderes da administração terrana, o
governo, talvez o parlamento, foram infiltrados por um poder inimigo há algum tempo?

39
— Existem pelo menos indicações — confirmou o Alaska restringindo.
— Evidência tangível — Deighton olhou primeiro para Saedelaere e depois para
Rhodan. — Nós devemos levar o perigo muito a sério. Nossa caçada deve ser ampliada.
— Isso é mesmo um perigo enorme, Deighton — O rosto de Rhodan se
petrificou. O peso da responsabilidade pesava em seus ombros. Naquele momento,
quando o apoio no meio do centro nervoso do império solar parecia estar abalado, ele
pesava mais. — Saedelaere, você investigará quem poderia ter feito ou ordenado essas
manipulações! — ordenou Rhodan. — Fique de fora, remexe e surpreenda os
responsáveis por cometer erros. Este é um assunto sério – especialmente considerando
a situação atual.
Saedelaere assentiu e imediatamente saiu do escritório de Rhodan.
Sukurai deu-lhe um olhar pensativo. O ajudante poderia estar preocupado com
sua inexperiência, mas Rhodan confiava muito no homem. Ele era um daqueles
especialistas da CESPSOL que possuíam futuro, alguém especial, não apenas por causa
do acidente do transmissor, sentiu Rhodan. E ele tinha sido capaz de confiar em seu
instinto até agora.
— Há mais alguma coisa, Deighton? — Rhodan perguntou ao chefe da CESPSOL,
que, ao contrário de seu colega, permaneceu sentado.
— NATHAN veio com uma surpresa, senhor — Deighton coçou o
pescoço. — Nós sabemos que a agente dabrifana, Juki Leann, passou anos vivendo na
Terra em sua juventude. Mas, só agora o cérebro lunar descobriu que seu pai foi
recentemente exposto como espião dabrifano e preso. A CESPSOL manteve este fato em
segredo.
Rhodan franziu a testa. — A CESPSOL manteve isso em segredo? A organização
sob sua responsabilidade? Como pode ser isso? Por que você manteve esse segredo?
— Eu não fiz isso. Eu só descobri sobre isso agora. Entre outras coisas, eu tenho
Alasca Saedelaere pronto para descobrir quem executou essa ordem sem o meu
conhecimento.
Rhodan assentiu. — O pai de Leann... — Seus pensamentos começaram a
funcionar.

40
9.

Terrânia, cidade de Khooloi

2 de novembro de 3.430, de manhã

— Nenhum contato é possível — Juki Leann interrompeu a tentativa e a tela do


terminal público se apagou. O símbolo da embaixada dabrifana deu lugar ao menu de
comunicação.
— Você ainda quer tentar? — perguntou o terminal.
— Não, obrigado — Leann desativou o aparelho de distorção de voz e colocou
os punhos nas laterais. — Portanto, não vamos mais adiante.
— Droga! — Darren Zitarra enfiou a mão na estela terminal, um retângulo fino
de dois metros de altura que se projetava do chão na pitoresca rua.
— Nós deveríamos ter esperado — disse Leann. — Se a mensagem for
especialmente protegida para manter o segredo do blefe em torno do campo AAT da
coalizão antiterrana, a comunicação é um objetivo primário.
Ainda chateado, Zitarra deu alguns passos, vagando pelos paralelepípedos até as
azáleas de pedra ertrusianas que separavam a estreita faixa a três metros da rua. Então
ele voltou, com as mãos enterradas nos bolsos, os olhos voltados para o chão. — Alguma
dica de que eles descobriram você enquanto tentava?
Leann sacudiu a cabeça. — Ainda não. Mais cedo ou mais tarde, a CESPSOL
rastreará os redirecionamentos até aqui. Até lá, estamos sobre todas as montanhas.
Ela removeu os cabos das portas de manutenção do terminal, envolveu-os em
torno da mini positrônica e guardou em sua bolsa de ombro. Centenas de vidcom
públicos e particulares os interpuseram como retransmissores para obter uma conexão
razoavelmente segura com a embaixada dabrifana.
— Talvez não seja uma boa ideia procurar abrigo na embaixada, afinal — Zitarra
franziu a testa e esfregou o queixo. — Ela está fechada. Como deveríamos sair
novamente, uma vez que estivermos dentro dela?
— Existem maneiras e meios. Pense também no amigo de Wloto Gribsen, Raif
Brestekin. Ele pode ter mantido contatos adicionais com a Guarda Negra, que ele pode
nos transmitir. Leann encolheu os ombros. — Mas, se você tiver uma ideia melhor,
ficaremos felizes em fazê-la.
Ela mordeu uma das barras de concentrado que recebeu além do equipamento
técnico como um pacote a granel de seu contato. Leann se perguntou se o agente duplo
da Guarda Negra estava agora se infiltrando em um contêiner de carga para
deixar o Sistema Solar. Apenas algumas horas atrás, ela esteve convencida de que
apenas os dois, Zitarra e ela, restavam para transmitir as informações secretas sobre o
Campo de Alternância Antitemporal para o Império Dabrifa.
— Nós deveríamos ter insistido em acompanhar o cara do Unggulus — disse
Zitarra.
— Mais pessoas que querem fugir em tal contêiner aumentam o risco de serem
descobertas. As chances de sucesso teriam diminuído. Eu entendo ele.

41
— Eu entendo isso também. Mas, o que sabemos sobre ele? Talvez ele tivesse
tido a oportunidade de nos levar junto? Talvez ele só queira ser o espião glorioso
sozinho, expondo o blefe terrano?
Leann não pôde evitar, ela riu. — Tão pouca confiança nos agentes da Guarda
Negra?
Zitarra acenou. — Se ele for um.
— Ele foi capaz de provar-se a si mesmo — Leann lembrou a ele. — Certo, não
sabemos nada sobre ele. Por outro lado, o que nós dois sabemos um sobre o outro?
— Os nossos nomes, afinal.
— Se forem os verdadeiros — ela sorriu.
Zitarra olhou para ela, pensativamente. Ela atingiu um ponto dolorido?
— Então, não há uma ideia melhor do que chegar à embaixada? — Leann
persistiu.
— Não. Ainda há o perigo de que a capacidade de saltar nos prejudique
permanece. Nós devemos pelo menos repassar nosso conhecimento anterior e esperar
que ele possa ser transmitido para Dabrifa. O médico da embaixada também pode nos
examinar. De qualquer forma, eu prefiro confiar nele do que todos os curandeiros da
CESPSOL.
— Então, vamos! — Leann seguiu em frente, carregando a sacola com seu novo
equipamento.
O agente duplo lhes dera cartões de identificação falsos e mutáveis, bem como
distorcedores de voz, biomolplast para mascarar suas características faciais e, em
menor medida, sua forma. Além disso, alguns outros utensílios, como a mini
positrônica, um gerador interativo de impulsos para desbloquear instalações técnicas
públicas, incluindo conectores associados e algumas armas que eles poderiam carregar
discretamente com eles.
Tudo isso não os ajudava, a longo prazo, a sobreviver na Terra. Mas, era melhor
do que qualquer coisa que eles já tiveram.
Eles alcançaram a estrada Nike com as azáleas de pedra ertrusianas. Era uma
faixa de quarenta metros de largura de passarelas de pedestres, pistas, escadas
e elevadores antigravitacionais em vários níveis.
A ilusão do beco arcaico no de casas com treliças de madeira ficou um passo
atrás deles. Em vez da estreita faixa de céu azul, eles viram dúzias de pontes, tubos de
vidro, drones de publicidade coloridos e flutuantes entre os arranha-céus.
Um olhar para trás ainda mostrava a ilusão do beco, que era apenas um elo com
a rua paralela Quinto.
As vozes de inúmeras pessoas, os sons dos drones publicitários, os instrumentos
dos músicos de rua positrônicos e biológicos e os aromas de inúmeros restaurantes e
lanchonetes, rodopiaram sobre eles.
Era um enxame impenetrável. Imediatamente, um sentimento se espalhou em
Leann que ela sempre acompanhava quando tinha que temer ser descoberta em
terrenos estranhos. Ela não conseguia descrevê-lo. Era uma mistura de estômago
roncando e pulso acelerado. Ela acreditava constantemente, que no canto inconsciente
de seus olhos, ela percebia alguém espreitando-a.

42
— E se o nosso suposto salvador da estrada Khooloi também estiver procurando
por nós? — Leann olhou ao redor, concentrada em evitar atrair atenção, robôs esféricos
girando e elogiando as lojas de roupas. Como se ela estivesse fazendo compras.
As pessoas ao redor pareciam um pouco mais relaxadas do que no dia anterior. Zitarra
e ela passaram a noite em um hotel na White Star Lane, às custas do agente duplo.
— Ele mexeu com você, hein?
— É a primeira vez que pergunto sobre ele desde que escapamos.
— Foi uma piada, Leann, uma piada. Apenas relaxe.
— Claramente, não temos o mesmo senso de humor.
— Certo, seu Wullewull — ele balançou a cabeça, sorrindo. Instantaneamente
ele ficou sério novamente. — Mas, você está certa. A CESPSOL e a polícia de Terrânia
são o único perigo. Este tipo é um risco adicional como uma variável desconhecida.
Eles subiram em uma esteira rolante e continuaram seguindo em direção
à cidade Aldebarã.
— Nós devemos pegar o metrô para ir ao bairro das embaixadas — disse Leann.
— Como isso funciona? Nós precisamos de bilhetes? Você usa um cartão de
crédito para pagar? Ou o passeio é grátis?
Leann encolheu os ombros. — No meu tempo em Terrânia, o transporte de passageiros
não custava nada. Mas. Houve prefeitos da cidade que exigiam honorários pelo menos de
estrangeiros por meios de transporte selecionados.
— Nós vamos perguntar a alguém — sugeriu Zitarra. — Muito inofensivo. Nós
estamos presos aqui por causa do Caso Laurin, como provavelmente estão centenas de
milhares ou milhões de outros turistas e viajantes comerciais também.
Leann assentiu. Eles saíram da esteira rolante e passaram por uma exposição de
vigas metálicas soldadas com corpos de gesso coloridos. Um tópsida de pele marrom
passeava entre as esculturas de um metro de altura, as mãos com garras atrás das costas
cruzadas logo acima da cauda. Ele explicava aos interessados a importância de
conglomerados de figuras geométricas simples.
Leann perguntou a ele sobre a via tubular.
O tópsida revirou os olhos vermelhos e ergueu o boné plano. — Ignorantes —
ele resmungou. — Todos ignorantes. Fale sobre o campo temporal. Sobre Dabrifa,
Ertrus e Rudyn. E agora você ainda me pergunta sobre o metrô?
— E depois sobre a pista tubular — corrigiu Zitarra.
— Caia fora daqui! — O tópsida puxou uma navalha da borda do seu boné plano.
Zitarra entrou em postura defensiva.
Leann pegou o emissor de agulhas no bolso da calça.
Mas, a que parecia um lagarto frustrado apenas cortou a superfície áspera da
pirâmide de degraus em forma de cone ao lado deles. Em uma inspeção mais próxima,
Leann percebeu que ele estava fazendo constelações no gesso.
— Há ainda mais tagarela no monumento banal como você. Eu lhes peço que me
deixe fazer o meu trabalho!
Eles seguiram a mão estendida com garras e chegaram a um círculo de bancos
estofados que rodeavam o monumento mencionado. Ele representava o globo em que
dois halutenses estavam lutando entre si, gigantes de quatro braços com cabeças
hemisféricas e três olhos. Ao redor deles pairava uma bola uniformemente formada,
bem como uma segunda, coberta com dobras e entalhes.

43
Uma espaçonave halutense e um dolan dos condicionados em segundo
grau, percebeu Leann. Este era um memorial para o dolan caído em batalha quase mil
anos atrás.
— O que é esse monumento? — Zitarra perguntou a uma jovem para iniciar uma
conversa. — Eu sou um turista e fui surpreendido pelo Caso Laurin.
A loira de cabelos curtos encolheu os ombros. — Isso é antigo. Está aqui desde
que eu posso pensar. Comemora todas as vítimas de qualquer batalha há mil anos. Eu
provavelmente aprendi em videoaulas, mas esqueci de novo. Existem tantos
monumentos em Terrânia... — ela apontou para um terminal. — Lá você pode se
informar, se necessário.
— Hm. Ok — ele sorriu encantadoramente, sentando-se ao lado da loira, que
olhou para ele com curiosidade e puxou seu vestido curto e constantemente mudando
de cor. — Francamente eu não estou muito interessado nisso também.
Ela deu a Leann um olhar desconfiado. — E sua namorada?
Zitarra sacudiu a cabeça. — Uma conhecida casual. Encalhada aqui também.
Leann entendeu e caminhou, aparentemente absorta na visão do memorial, a
poucos passos de distância.
— Ah... — A loira se concentrou em Zitarra novamente, parecia completamente
absorta em seus olhos azuis.
Leann reprimiu um suspiro.
— E você precisa de algum lugar para ficar? — A terrana puxou o lóbulo da
orelha. — Quer dizer, o governo oferece acomodações a pessoas como você. Mas, um
apartamento tão desconfortável e impessoal no estrangeiro...
Sua mão se moveu hesitante pelo banco em direção a Zitarra. Ele passou um
dedo pelas costas da mão dela, e então ela sorriu vitoriosamente.
— É claro, porque não? — ele enfiou a mão no bolso da calça e puxou uma folha,
ativou-a, limpou as últimas anotações e começou com a ponta do dedo. — Onde você
mora? Eu ainda tenho que cuidar de algumas formalidades. Mas, depois disso...
Ela ditou um endereço para ele e ele continuou: — Como eu chego lá? Os meios
de transporte são todos gratuitos? Então, também para turistas? Ou eu preciso de um
bilhete, eu devo me identificar...?
A loira riu. — De onde você veio? Então, desde que me lembro, todo passeio aqui
é gratuito.
Ela não parece ser capaz de pensar por tanto tempo, Leann respondeu em
pensamento que tinha sido ouvido de outros tempos. Afinal, eu não sou tão velha
também.
Zitarra se despediu depois de mais algumas perguntas da mulher, deu-lhe um
beijo na bochecha. Ela respondeu e acenou para ele quando ele saiu.
Leann fingiu verificar o monumento no terminal, depois o seguiu a certa
distância.
— Nenhum monitoramento de cartões de identificação, bilhetes ou cartões de
crédito — ele disse. — Bom demais para ser verdade. Apenas contagens estatísticas.
— Venha para nós.
Eles entraram novamente em um transportador tubular e seguiram as
instruções até a estação de metrô mais próxima que Zitarra havia registrado.
— Que tipo de monumento era aquele? — ele perguntou.

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Leann explicou para ele.
— Ah... — ele franziu a testa. — Dolans? Condicionados em segundo grau? Eu
nunca ouvi falar disso.

— Aqui especialmente há muitos — sibilou Zitarra.


Leann assentiu. Ela também notou os agentes disfarçados. Além disso, drones do
tamanho de punhos e forças de segurança da polícia de Terrânia.
Seu coração batia com tanta força que Leann temia ser notada e controlada
apenas por esse motivo.
Zitarra pegou a mão dela, puxando-a para junto de si.
Instintivamente, Leann se aconchegou a ele, bancando a sua parceira
novamente. Ela fingiu se impressionar com a multidão que corria pelo corredor em
forma de tubo da estação de metrô a cada segundo.
Na verdade, Leann usou a proteção para obter uma visão geral. Para onde
poderiam escapar em caso de emergência, de que servia isso como uma distração?
Fragmentos de conversa fluíram sobre ela de todos os lados. Medo de
racionamento. Alívio que uma guerra foi impedida. Raiva por Rhodan tê-los forçado a
se esconder.
Tão diferente quanto as pessoas pareciam, cheiravam e falavam, suas opiniões
divergiam tanto nos eventos atuais.
Leann achava isso interessante, mas ignorou.
Um robô veio até ela e a encarou. Com suas características faciais asiáticas, o
roupão marrom brilhante e o gorro de pele, obviamente ele fora modelado como um
nômade, Uma vez, antes da construção de Terrânia, eles haviam vagado nessas latitudes
através do deserto de Gobi.
— Eu posso me oferecer como guia? — ele perguntou. Seu sorriso era rígido e
sua voz monótona. Obviamente, um modelo barato.
Certamente, ele iria queria levá-los para as lojas que os seus donos
administravam, para que Zitarra e eles pudessem comprar lá, comer, e o que fosse. A
este respeito, os bairros ao redor da cidade Aldebarã sempre estiveram contaminados
com seus viajantes comerciais e turistas.
Zitarra quis mandá-lo embora, mas Leann disse: — Sim, claro — ela apontou
para uma confusão de malas que flutuava atrás de uma grande família epsalense. — Por
favor, leve nossa bagagem conosco.
— Com muito prazer — O robô foi até a bagagem e acabou pegando a primeira
mala, logo que os largos adaptados ao ambiente perceberam que ele estava pegando
seus pertences. Começaram a gritar, empurrar e a reclamar, e em um volume
ensurdecedor.
Drones e forças de segurança correram para o tumulto, que imediatamente
chamou a atenção dos espectadores.
Leann sorriu, pegou Zitarra pela mão e puxou-o para longe.
A porta do tubo se retraiu abrindo-se, eles subiram e deixaram a cidade
de Khooloi.

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10.

Terrânia, Império-Alfa

2 de novembro de 3430, tarde

— Qual é o estado da investigação, senhores? — Perry Rhodan colocou a folha


que acabara de ler no aparador ao lado da porta do escritório, quando eles entraram.
A escultura de um artista tópsida estava entronizada nele. Consistia de tijolos
geométricos de gesso pintados em tons de azul, cinza e avermelhados ligados com
terconite reciclado de destroços de espaçonaves. Com um objeto pontiagudo, o artista
havia esculpido padrões no gesso que representavam as constelações.
Rhodan se decidira sobre ele e suas obras. Frak-Terhok trabalhava nas escultura
das impressões que ele havia obtido durante suas excursões no espaço linear, o que
possibilitava que espaçonaves viajassem rapidamente ultraluz.
Takayo Sukurai entrou no escritório atrás do Administrador-Geral e a porta
bateu silenciosamente no batente. Uma pequena luz vermelha sinalizava o estado de
bloqueio. Os ícones na tela acima da porta indicavam que a proteção contra escuta
estava ativa.
Galbraith Deighton, já sentado em uma das cadeiras em frente à mesa de Rhodan,
limpou a garganta. — Eu encarreguei meu melhor ajudante para ajudar a coordenar a
busca de nanopartículas e para me manter informado. Infelizmente, não tivemos
sucesso.
Rhodan sentou-se na cadeira atrás da mesa do escritório, derramou um gole de
Nettoruna arcônida em um copo e ofereceu-o a seus visitantes também.
— Obrigado, sem vinho, senhor — disse o Alasca Saedelaere.
— Nós não temos nenhum ativador celular que nos livre das consequências da
embriaguez — rejeitou Renier Bievre. Ele apagou um cigarro no cinzeiro de argila que
a falecida filha de Rhodan, Suzan Betty Rhodan, fizera como presente de aniversário há
mais de mil anos. Imediatamente, o hiperfísico tirou um novo e o acendeu.
— Como se eu fosse lhe oferecer álcool para esta ocasião... — Rhodan
sorriu. — Isto é o suco de uva da famosa região do vinho Laktranor. Bem, sim. O que
Gucky relata, marechal solar?
— O rato-castor está constantemente se movendo entre os entre os locais onde
a sua intuição o impulsiona e aqueles que são chamados pelos investigadores como
antigos locais de paradeiro — Deighton encolheu os ombros. — Até agora sem sucesso.
— Icho Tolot me ajuda com isso — rosnou Bievre —, para implementar minha
pesquisa sobre a radiação sextadim que emana dos agentes inimigos em realizações
tecnológicas. Ele pede desculpas e aponta que posso apresentar melhor meus
pensamentos por conta própria. Não precisa de nós dois.
O cientista tomou um gole de café fumegante, coçando a nuca com a mão livre
sob a trança.
— Eu não quero ficar muito tempo — ele continuou. — Meu breve relato: as
"partículas temporais", se alguém na sala preferir essa terminologia banal do rato
espacial, é um fenômeno novo e ainda desconhecido. Para que se possa localizá-las,

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primeiro devem os instrumentos ser desenvolvidos ou pelo menos recalibrados. Eu
esperava poder construí-los com a minha pesquisa anterior. Mas, o contato com os
corpos biológicos altera a radiação. Não corresponde aos valores que conhecemos de
experiências com equipamento técnico.
Bievre resmungou alguma coisa em seu vocabulário muitas vezes
incompreensível, mesmo para seus colegas cientistas. Ele o desenvolvia
constantemente, e talvez em anos ou décadas se tornaria propriedade comum de pelo
menos os especialistas em hiperfísica. Rhodan poderia imaginar que as colunas
semanais de suas teorias e descobertas inspirassem os especialistas.
Rhodan acenou para ele. — Então, vá embora. Mime-se com um gorro de dormir
e continue sua pesquisa.
O professor levantou-se com um gemido, pegou a xícara e se despediu com um
leve sorriso: — Por algumas horas, o café ainda substitui o deus Hipno — e, ele saiu da
sala em seus tênis bem usados.
Quando o status de bloqueio e a proteção contra espionagem foram reativados,
Deighton disse: — As nanopartículas que injetaram nos dabrifanos não funcionam
satisfatoriamente. Elas são indubitavelmente úteis; com a ajuda delas, é possível
determinar a região aproximada em que os fugitivos estão hospedados – mas isso não
é suficiente. Nós estamos sempre em um ou mais passos atrasados demais, o que é
devido à natureza do local. Nós apenas medimos as nano-equipamentos excretadas.
O diretor da CESPSOL enfiou a mão no bolso e ergueu um modelo tridimensional
do modelo nanométrico, do tamanho de uma unha, para ilustrar. A pequena máquina
lembrava um microrganismo em forma de bastonete.
— Além disso, Juki Leann e Darren Zitarra são agentes
experientes. Provavelmente, eles ficam no meio das multidões onde não podem ser
rastreáveis. Até mesmo para Gucky, cujas habilidades no caso dos dois fugitivos são
prejudicadas pela radiação sextadim.
O rosto de Rhodan tornou-se sombrio com cada palavra de Deighton. Ele tomou
um gole de suco de uva, depois bateu o copo e se inclinou para frente.
— Eu suponho que precisamos repensar nossa estratégia. Enquanto isso, Leann
e Zitarra terão descoberto a verdade: o sistema solar não foi destruído, mas foi
adiantado em cinco minutos. A notícia está cheia de manchetes sobre a situação da
oferta. Embora, os dois ainda não podem saber que temos uma conexão com o universo
einsteiniano por meio da eclusa de interseção e operar com o distribuidor de tempo
normal com uma linha transmissora para a Olimpo. Isso ainda está sujeito a sigilo por
causa dela. Mas, mais cedo ou mais tarde temos que informar o público. Até então, os
dois vão tentar ir por esse caminho. Os rumores já estão em circulação por causa da
primeira série de experimentos. E vamos lembrar da traição interna que os levou a
escapar!
O jovem agente da CESPSOL, Saedelaere, levantou uma objeção: — Os dois
dabrifanos terão dificuldade em descobrir os detalhes do projeto e depois alcançar a
linha em Mercúrio. É muito provável que eles se atenham ao plano original de chegar à
embaixada. Pelo menos é o que concluo de seus psicogramas e dos padrões de
movimento revelados por nossa busca pelas nanopartículas precipitadas. Seria apenas
lógico se...

47
— Eu sei que você é um lógico, Saedelaere — interrompeu Deighton. — Mas, as
pessoas nem sempre agem logicamente. E nem sempre de acordo com seus
psicogramas. Lembre-se, ambos sabem que os analisamos. Portanto, eles poderiam
fazer exatamente o oposto do que eles acham que esperamos.
Rhodan assentiu devagar, apontou para Saedelaere. — Eles coordenam o
controle da embaixada e monitoram todas as opções de viagem para Mercúrio,
rapaz. Eu levo sua objeção a sério, mas quanto mais tempo nada acontecer nessa
direção, mais cedo teremos que dividir nossas forças.
Então Rhodan virou-se para Deighton. — Você foi capaz de falar com Anson
Argyris sobre o pai de Leann, Grun Phovidan? Sim? Será que o imperador dos livre-
mercadores ficou de relatar...
— Uma mensagem, senhor! — Sukurai respondeu do fundo. — A assessora do
marechal solar, a tenente Borimirova, pede urgentemente que lhe informe sobre um
incidente.
— Pode passar! — ordenou Rhodan. O tampo de sua mesa se iluminou,
mostrando o símbolo da Defesa Solar e, segundos depois, o rosto vermelho da
assessora, corada pela agitação.
— Há um incidente no espaçoporto Aldebarã — com os contêineres de carga
destinados ao distribuidor de tempo normal — ela relatou. — Houve falhas na
positrônica, fazendo com que as forças de segurança que chamaram a atenção da
segurança. Em um teste, robôs de combate TARA fora de controle atacaram mulheres e
os homens.
Deighton bateu na mesa com o punho. — Como na fuga de Zitarra e
Leann! Acesso com todas as forças dispensáveis, tenente! Nós estamos indo — ele
olhou para Rhodan. — Senhor?
Rhodan assentiu. — Eu o acompanho.
Deighton e ele se puseram a caminho, Sukurai os seguiu.
Quando Rhodan olhou para trás, percebeu que Saedelaere estava sentado e se
levantando. Concentrado, ele estudava um relatório na tela de sua pulseira
multifuncional.

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11.

Terrânia, cidade de Aldebarã

2 de novembro de 3430, tarde

— Deve ser a hora — Juki Leann olhou para a exibição de tempo de sua pulseira
multifuncional. A janela de oportunidade começou, na qual o agente duplo lhes
prometera distração para que pudessem penetrar na embaixada dabrifana.
— A menos que o cara seja confiável e ele não nos atraia para uma armadilha —
Darren Zitarra se ajoelhou ao lado dela por trás da sebe lilás nosmosense de outono, a
cerca de duzentos metros do prédio da embaixada.
Um vento frio os apunhalou na pele. As bochechas e orelhas de Leann
queimavam onde nenhum biomolplast alterava as características faciais.
A embaixada era um complexo de várias casas com átrio. Interligada por
corredores de vidro espelhado, eles cercavam um grande jardim como um retângulo. O
sol poente lançava sua última luz nos telhados cobertos de telhas pretas reluzentes; as
janelas e corredores refletiam os fracos raios de outono.
— Vamos nos surpreender — Na última palavra, seu estômago torceu
dolorosamente. — O caminho está limpo?
Zitarra assentiu, murmurando maldições, que giravam em torno da palavra
"surpresa".
Leann recordou a estrutura da mensagem e perguntou ao agente duplo sobre
isso. O homem havia confirmado para ela que as entradas secretas para os jardins
circundantes ainda existiam. Leann e Zitarra queriam alcançar uma delas da parte de
trás do complexo de edifícios. Isso ficava na Avenida Gedeon, separada da embaixada
vizinha de Thebeèr por um parque arborizado.
— Sim, o caminho está limpo. Assim que a distração estiver funcionando,
corremos em ziguezague. Sempre buscando a cobertura das plantas, buscando
proteção contra disparos, até o grande rododendro. Até lá, eu manterei os terranos
ocupados, até que você use o código super secreto da Guarda.
Leann assentiu e checou os projetores de campo defensivo individual fraco. Ele
a salvaria do atordoamento de paralisadores. Porém, uma vez que os terranos
comutassem para o modo térmico ou desintegrador, aumentava o risco que um desses
disparos de alta energia rompesse o campo defensivo os ferisse gravemente.
Leann olhou para a exibição da hora novamente. — Restam vinte e cinco
minutos. Eu espero que nada tenha dado errado.
Leann sentiu uma calma antinatural quando pensou no desafio que corria pelo
parque. Como sempre, sempre que pensava em um plano completamente e estava
prestes a colocá-lo em ação. Mas, contando com o apoio de um meio estranho que ela
não confiava cem por cento fazia seu coração palpitar na garganta.
— Em que consiste a distração? — murmurou Zitarra. Ele também colocou o
segundo joelho no chão de grama, dobrou a outra perna e colocou o pé no gramado. O
chão úmido bateu sob a sola da bota.

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— Deve ser um ataque. Físico ou virtual — Leann olhava de um soldado para outro,
patrulhando a embaixada, estudando o comportamento dos drones flutuantes e
terrestres. Uma mudança em sua rotina indicaria o começo da distração.
— O cara lá fala alguma coisa em seu microfone.
Leann seguiu a dica de Zitarra. Um dos soldados movia os lábios. Por causa do
ruído do vento e as ondas sonoras direcionadas do dispositivo de comunicação
integrado no capacete ou colarinho Leann não entendeu nenhuma palavra. Mas, ela
aprendera o básico da leitura de lábios.
— Algo como alarme e espaçoporto — ela leu. —, estrada de contêineres — ela
balançou a cabeça. — Ele se vira. Eu não consigo ler mais nada.
— Já chega — Zitarra sussurrou rosnando. — Ou o nosso 'amigo' notou ou ele
queima uma exibição de fogos de artifício como uma distração. Não nos ajuda
aqui. Droga!
— Talvez ... — Leann ouviu um silvo, olhou para cima, viu um fogo de santelmo
disparar sobre um dos drones. — Agora! Vai! — ela empurrou Zitarra para o lado,
pulou e correu para a embaixada.
Um dos três soldados em seu campo de visão gritou alguma coisa, ergueu o
radiador e apontou para ela. Mas, Zitarra deu a ela a proteção contra disparo. Raios
térmicos ultra quentes zumbiram e sibilaram pelo ar em direção ao terrano, lançando
faíscas em seu campo defensivo individual.
Os outros dois guardas também dispararam em Leann. Ela começou seu curso
em ziguezague, atirando em um deles. Os vestígios de raios paralisantes
invisíveis passaram por ela.
Zitarra gritou: — Relâmpago! — no dialeto nosmosense.
Leann fechou os olhos, saltou, rolou na grama molhada e levantou-se
novamente. Ela abriu os olhos, atirou novamente no primeiro soldado que viu.
Os homens e mulheres à sua frente estavam amaldiçoando. Um apontou para
cima, bateu na seção do capacete que escondia os fones de ouvido e balançou a
cabeça. Agora eles também entendiam que os drones haviam falhado, que o fogo de
santelmo cintilava sobre os projetores e os girou sem rumo. Várias granadas de fumaça
bateram entre os terranos, bloqueando sua visão.
Atrás de um tronco de árvore, Leann respirou por dois, três batimentos
cardíacos, investigando a situação. Os soldados os perdeu de vista sob a impressão da
mistura e a névoa causada pelas granadas. Agora, Leann e Zitarra tinham que arrumar
proteção contra os disparos. Seu suprimento de projéteis havia sido esgotado.
Ela olhou para o céu. Os drones restantes puxavam nuvens negras de fumaça
atrás deles. A maioria havia caído e estavam presos no chão lamacento.
Ao virar na esquina do complexo do edifício, mais soldados se viraram. Leann
imediatamente mirou neles e disparou.
Zitarra saltou do esconderijo, correu agachado sob os raios paralisantes. Um ou
dois roçaram seu campo defensivo, fazendo-o reluzir. Segundos depois, Zitarra se
escondeu atrás de outra árvore e abriu fogo.
Leann gritou: — Relâmpago! — jogou uma granada de atordoamento, começou
de novo, mas não chegou longe. Ela teve que voltar para a cobertura de uma árvore
novamente. Disparos sibilaram em seus ouvidos, entraram na copa. Os terranos haviam

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mudado para o modo térmico. Chamas lambiam a madeira úmida, a fumaça fétida
tomou o fôlego de Leann. Um ramo caiu ao lado dela e se incendiou.
— Apenas oitenta metros para o rododendro — ela sussurrou para si mesma e
teve que tossir. —Você pode fazer isso, garota, você pode fazer isso! — Seu coração
batia descontroladamente, o sangue correndo para as orelhas. Ela não sentia mais seus
membros.
Ela correu novamente.
Zitarra atirou.
Ela bateu em um gancho, entrou em uma poça, a água espirrou. Outro salto,
outra rolada. Cinquenta metros, talvez quarenta!
Ela escorregou, caiu e ficou de pé. Um tiro, outro atirou uma granada de névoa,
uma granada de atordoamento.
Zitarra amaldiçoou.
Leann gritou de raiva. Os terranos os rodeavam. Um raio térmico cozinhou o ar
frio anteriormente úmido.
Um uivar chegou ao ouvido de Leann. Sirenes de alarme. Novos disparos
sibilaram. Ruídos e uivos ensurdeceram seus sentidos. Uma sombra obscurecia os
últimos raios de sol através da neblina e da fumaça. Os terranos gritavam. Raios
térmicos e desintegradores silvavam e desviavam.
Então, uma sacudida do solo. Um pesado pedaço de aço mergulhou no subsolo
encharcado — um planador!
Torrões de grama e húmus espirraram para cima. Soou o ribombar de uma
explosão. A escotilha da cabine se afastou e alguém pulou do veículo.
— Corram! — gritou uma voz. Ela parecia familiar para Leann. — Corram!
Zitarra apareceu na frente dela. Ele cambaleou, agarrou a mão dela.
Ela o seguiu cegamente. O homem do planador deu-lhes proteção contra os
disparos.
Leann alcançou o rododendro com sua última força. Seus joelhos cederam.
Ao lado dela, Zitarra desmoronou. Ele gemeu e engasgou, tossindo e cuspindo
lodo negro.
Leann rastejou até o tronco do mato. Com os dedos trêmulos, ela arranhou o
chão, encontrou o painel de controle e digitou as letras, os símbolos e os números do
código.
Através de lágrimas, Leann mal reconheceu os campos. Mas ela conseguiu entrar
na sequência correta. Um alçapão se abriu.
— Vá! — ela chamou.
Zitarra se arrastou para frente e caiu pela abertura.
— Eu te ajudo!— Um rosto apareceu no campo de visão de Leann. Era estreito e
pálido, sardas salpicavam o nariz torto. Por cima dele, cabelos negros — era seu suposto
salvador da Estrada Khooloi.
Ele a puxou para o túnel e seguiu. O alçapão se fechou, o estranho sentou-se no
topo e, de quatro, eles seguiram o homem.
Depois de trezentos metros — Leann não os contou, mas sabia da distância das
aventuras de sua juventude e dos planos — chegaram à saída para a embaixada.
Mãos as alcançaram, apoiando-as sob os braços e arrastando-as para uma sala
próxima. Eles foram colocados em almofadas macias.

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— Você também sente isso? — Zitarra respirava ao lado dela.
Leann não sentiu nada além de cansaço, mas ela ouviu a si mesma e...
Estava frio. Arrepios a levaram pelas costas. Leann se levantou, seus joelhos
tremendo, cada força a deixando. Ela piscou, focalizou a tela na parede oposta, mas ele
se afastou.
Tudo mudou.
Ela não sentiu mais o impacto no chão.

52
12.

Cidade de Aldebarã, Embaixada Dabrifa em algum momento no futuro

Juki Leann abriu os olhos. Imediatamente ela estava ciente do que havia
acontecido. O frio gelado, a fraqueza e a tontura que sentira deixaram apenas uma
conclusão.
Ela saltou através do tempo novamente!
Já o seu primeiro salto se anunciara com essas sensações. Naquela época, ela
ficou surpresa. Dessa vez ela conseguiu verificar o que estava acontecendo.
Leann se encontrou no futuro quando seu salto a tomou da mesma maneira que
da última vez.
Ela piscou, esfregando a sujeira dos olhos e virando para um lado. Estava escuro,
então ela ativou a lâmpada de sua pulseira multifuncional. Ela tremulou, obviamente
havia sido danificada no ataque à embaixada. Ela viu pernas de mesa e poltronas. Então,
a luz da pulseira se apagou completamente.
O parquete sob ela era duro e frio. Em geral, ela congelava horrivelmente, e isso
não se devia mais ao sentimento de frieza com que o salto temporal se anunciara. A sala
para o qual foram levados em sua moradia agora não estava aquecida.
Leann lutou para se levantar. Seus membros ainda doíam da fuga para a
embaixada dabrifana, uma caçada que fora breve, mas intensa.
Cautelosamente, ela saiu da sala de reuniões onde havia acordado, subiu as
escadas e conferiu as salas do prédio da embaixada. Todas pareciam abandonadas e
arrasadas. Armários e prateleiras estavam virados, lascas de vidro jogadas ao chão,
aparelhos eletrônicos estavam energeticamente mortos ou destroçados.
Então, Leann não pôde saber a que horas ela estava. A sorte de encontrar
relógios ou calendários anacrônicos foi negada a ela.
Leann correu para deixar o complexo do edifício. Sua última estadia no futuro
não durou muito. Suas entranhas pareciam bolas se contorcendo. Seu pescoço
queimava com o esforço, o nevoeiro das granadas e a fumaça das árvores e arbustos em
chamas. Ela cheirava como se estivesse deitada em uma fogueira por horas.
Passo a passo, ela agonizou pelas ruas desertas de Terrânia, que estavam sob um
céu de chumbo. O vento frio girou em seus cabelos, apunhalando-a na pele, como
aconteceu a caminho da embaixada.
Uma indicação de que pelo menos a estação climática era a mesma. Quando
Leann comparou a força dos raios do sol, que de vez em quando venceram a luta contra
a densa cobertura de nuvens, também indicou isso. As plantas usavam suas coberturas
de outono. Havia até algumas adicionadas. Alguém parecia ter perfurado buracos no
concreto para plantá-las. Tudo indicava que ela estava mais uma vez visitando o futuro.
Leann ouviu alguma coisa. Ela parou, escutou e pulou na proteção de uma parede
maltratada que uma vez rodeara o edifício de filigrana de vidro e aço da embaixada.
Novamente Leann ouviu as vozes.
Ela não estava errada. Alguns segundos depois, dois homens vestindo camisas e
calças gastas passaram por ela. Os casacos largos agitavam-se em torno de seus corpos

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magricelas. Aqueles Homo Superior, como as estranhas figuras haviam se chamado em
sua primeira visita ao futuro?
Suavemente, ela seguiu os homens até a ex-embaixada Markuhl. Era um prédio
de tijolos tipo estufa com telhado de dente serrilhado de vidro, em cuja atmosfera
úmida e quente Leann passara algumas noites suadas.
Ela mal reconheceu o interior. As plantas tropicais pendiam mortas e
apodrecidas. A mobília também estava devastada neste lugar, estava espalhada em
cacos e lascas no chão. Pingos de chuva caíram através de rachaduras e vidros
quebrados no telhado.
Um grupo de pessoas enclausurava-se em torno do caos de uma tela de trivídeo,
o único objeto intacto. Todos eles pareciam as figuras negligenciadas que Leann havia
seguido. Agora ela percebeu que os dois não pertenciam ao homo superior, mas
obviamente pertenciam aos imbecilizados. A expressão de seus rostos, seu
comportamento primitivo e o conteúdo das palavras trocadas não deixaram dúvidas.
Especialmente, não o contraste com dois homens vestidos normalmente e uma
mulher de calça azul-cintilante e apertada com jaqueta. Eles não pareciam ter
sucumbido à imbecilização.
Leann parou entre os troncos de duas seringueiras mortas, com
aproximadamente três metros de altura, e observou a agitação. Todos olharam
extasiados para a tela de trivídeo e, finalmente, algo aconteceu.
O zumbido do dispositivo anteriormente sem sinal deu lugar à imagem
tridimensional de um grupo de homens. Um deles deu um passo à frente e foi
apresentado como membro dos Cinquenta Primeiros Oradores. Ele falou de sucessos
que o Homo Superior alcançou.
— Nós conseguimos, meus amigos — ele sorriu maliciosamente. Ninguém na
sala parecia se importar com isso, mas estavam impressionados. Os imbecilizados
ficaram fascinados com seus lábios carnudos. — As instalações técnicas e militares
estão quase completamente desmanteladas. Nós estamos nos tornando cada vez mais
bem-sucedidos em libertar os seres humanos normais – vocês, meus amigos — da
ciência agressiva de levá-los de volta ao solo.
Isso poderia ser? Leann franziu a testa. Se assim fosse, devia ter se passado
vários meses, ou seja, anos, desde o encontro que ela havia observado em seu primeiro
salto temporal. Porque naquela época ela tinha visto instalações que funcionavam. Pelo
menos no Império-Alfa, onde ela acordou na época.
O primeiro porta-voz dos Cinquenta confessou mais travessuras como essa,
acompanhado pela tempestade de entusiasmo dos imbecilizados. Falou-se das
humanidades buscadas pelos Homo Superior. E da graça que foi concedida aos
"normais", a quem era permitido se divertir na agricultura e na pecuária. Trabalho
simples e honesto.
Leann sacudiu a cabeça. Sua boca estava aberta. Sem pensar, ela lambeu os lábios
frágeis.
Então, finalmente, o orador chegou ao ponto: — E agora as boas novas que
prometemos — Ele levantou os braços, estendendo-os como um padre cantando: “O
Senhor esteja convosco!”
Sua congregação ofegou. Leann se pegou fazendo o mesmo.
— Um imortal está morto! — ele gritou.

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A multidão explodiu em aplausos.
— E não apenas um, mas quase todo o grupo de imortais. Este flagelo será
eliminado de uma vez por todas. Logo se seguirá o último remanescente miserável
daqueles que nos trouxeram séculos de batalha e guerra!
O orador ficou furioso. O público se enfileirou de braços abertos, erguendo os
punhos. Homens agarraram as virilhas uns dos outros. As mulheres levantaram suas
camisas. Com gestos obscenos, eles celebraram o suposto triunfo.
— Nos Vigeland está morto! — O orador levantou o dedo indicador. — Terser
Frascati está morto! — O dedo do meio seguiu. — Runeme Shilter está morto! — O
polegar juntou-se a seus irmãos. — A Liga Carsuálica e seu triunvirato caíram! — gritos
de êxtase. — E...
A multidão parou para respirar, puxando o ar para o grito final.
— Shalmon. Kirte. Dabrifa — murmúrio tenso. — O Império Dabrifa. Ele. Está.
Morto!
A última palavra quase desapareceu no júbilo dos homens e mulheres. Os joelhos
de Leann ficaram moles. Ela nunca teria acreditado que ouviria aquelas notícias. Nunca
pensaria que poderia ser tão afetada por elas.
Leann ofegou. Segurou seu estômago. Ela se sentia mal. Ela ofegou.
— Nosmo está destruída! — o orador continuou. — O plano dos rebeldes foi
bem-sucedido. Os séculos de preparação valeram a pena. As frotas da Via Láctea estão
em nossas mãos e prontas para o ataque. O futuro... o nosso futuro começa!
Através de um véu de lágrimas, Leann viu as imagens na tela de trivídeo. Os
corpos dos homens imortais. Os destroços dos planetas destruídos.
Será que ela errou, ou na verdade era Normon, o sol amarelo pálido em torno do
qual seu mundo natal Nosmo circulava como o oitavo corpo celestial? Ou neste caso:
esteve circulando. Ela só reconheceu fragmentos.
Leann caiu de joelhos. — Isso pode não ser verdade — ela sussurrou,
ainda segurando seu estômago. Ela poderia ter cuspido em estado de choque.
Apenas marginalmente ela ouviu o primeiro porta-voz dos Cinquenta Oradores
falando sobre o fim da União Galáctica Central até que ele finalmente lançou o grand
finale de seu discurso.
Como que abafado através de algodão, Leann ouviu os nomes dos imortais
desbotados que o locutor chamou como a última revelação. Com cada nome, o rugido
triunfante dos imbecilizados aumentou para êxtase.
O estômago de Leann virou quando a lista terminou com o clímax. Eles
nunca teria esperado...
Ela respirou fundo, levantou-se e virou-se para o portão, através do qual ela
entrou no salão. Então, ela sentiu o surgimento.
Ela se virou, embora soubesse que não deveria. Todas as figuras, os discípulos
do Homo superior, eram estranhas para ela. Mas, aquele que olhou para ela parecia
familiar.
Ele era completamente inexpressivo, um terrano comum. Talvez estivesse em
seu auge, com sessenta anos de idade. Ele não fez nada além de olhar para ela, inclinou
a cabeça e sorriu maravilhado.
Leann se sentiu nua, despida até as profundezas de sua alma. E ela sentiu medo!
O estranho moveu os lábios, mas as palavras não alcançaram o ouvido de Leann.

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Ela sentiu arrepios. Ela estremeceu, cambaleou e caiu.

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13

Cidade Aldebarã, Embaixada Dabrifa

em algum momento no passado

— O que você está fazendo aqui?


Darren Zitarra piscou, enxugou os olhos e limpou a garganta. Suas vias aéreas
estavam viscosas, tudo tinha sabor e cheirava a fumaça.
Mas, ele soube imediatamente o que tinha acontecido. Essa frieza, fraqueza e
tontura — esses eram os sintomas que ele já havia sentido no primeiro salto para o
passado.
Zitarra saiu da poltrona, olhou em volta e se colocou em postura. Então, ele olhou
para o homem que lhe perguntou sobre o seu direito de estar nesta sala. Era uma
simples guarda.
— Eu lhe fiz uma pergunta — disse ele ameaçadoramente. Um jovem mal sápido
das fraldas, com as bochechas vermelhas de excitação.
— Isso não é da sua conta, garoto — Zitarra respondeu, sua voz ainda
áspera. — Caia fora!
— Como você ousa! — O guarda alcançou seu radiador no coldre do cinto. — Eu
vou...
— Não vai nada — Zitarra parou, forçando-se a descansar, embora estivesse em
uma situação desconhecida. — A menos que você queira voltar para casa tão cedo que
seu pai deseje nunca tê-lo concebido.
— Mas... — O queixo do guarda tremeu.
— Cara, dê o fora daqui! — Zitarra colocou toda a sua autoridade nas palavras. — Eu
estou aqui para relatar. Olhe para mim. O que eu pareço? Como se eu tivesse tempo e
desejo de lidar com os barrigas verdes como você enquanto espero meus superiores?
Como você acha que eu conheço essa passagem subterrânea?
— Eu vou verificar isso!
— De qualquer maneira — Zitarra rosnou. Ele pensou em quanto tempo ele
tinha até o alarme soar. Ele acenou para o garoto. — Venha cá!
O guarda obedeceu. Zitarra sabia que já havia vencido. Ele agarrou o braço do
soldado e o puxou para perto. Ele empurrou a testa contra o nariz dele e de uma só vez
ajudou a enviar o garoto à inconsciência.
— Eu sinto muito, garoto — Sem outra palavra, Zitarra tirou as roupas, depois
puxou-o para fora, trancou-o em um dos armários e enfiou as roupas sujas. Então ele se
apertou no uniforme de guarda ligeiramente apertado e saiu da sala de conferências.
Para onde iria Zitarra? Onde era mais provável que ele conseguisse informações
valiosas para se reportar à Dabrifa? Ele subiu as escadas dos porões e se orientou. O
corredor do qual ele havia deixado as escadas levava a uma encruzilhada à
esquerda; não havia nada que indicasse quais salas que estivessem nessa parte do
complexo da embaixada.

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Os andares eram feitos de mármore nosmosense, as paredes eram revestidas
com madeiras claras e preciosas. Em intervalos regulares, retratos tridimensionais de
dignitários dabrifanos ou pinturas de artistas de mundos imperiais estavam
pendurados. Nenhuma sinalização mostrava o caminho. Zitarra teria que perguntar à
positrônica, o que causaria agitação.
Como por magia, ele virou à direita, virou à esquerda num corredor e virou à
direita novamente. Ele sentiu que suas pernas tinham vida própria, o que não lhe
convinha muito. Zitarra queria assumir uma decisão autodeterminada. Ele apenas
seguia ordens de superintendentes que serviam ao Império Dabrifa, e não de quaisquer
intuições que ele não sabia de onde vinham.
— Que diabos... — A mensagem era enorme. Através de um túnel de vidro,
Zitarra entrou no prédio ao lado, que tinha mármore mais brilhante e paredes
finamente rebocadas, em vez de lambris, mas que se assemelhavam a outra.
Zitarra não podia fazer nada para impedi-lo de ir a um lugar onde algo parecia
estar esperando por ele, onde seu corpo se sentia atraído. Quando resistia, ele ficava
frio como se ameaçado de ser lançado de volta ao seu tempo nativo. Não era permitido
que isso acontecesse. Ele não tinha nada para mostrar ainda.
Zitarra entrou no pátio do prédio do átrio por um portal de vidro aberto. Uma
fonte esguichava a luz suave de um sol de outono. Os pássaros estavam cantando.
Atrás de um arbusto resinoso, ele finalmente conseguiu parar. Através dos
densos ramos de frutas resinosas castanho-claras e cheirando fortemente, ele viu dois
homens encostados na fonte.
Zitarra respirou fundo, tentando não tocar nos galhos. Ele deveria estar
escondido, ele sabia disso, assim como a abordagem alienígena para os dois homens o
havia repelido. Eles eram perigosos.
Zitarra acreditava reconhecer um deles. Ele o havia visto uma vez, durante sua
primeira estada no passado, naquela época no Império-Alfa . O homem lutava uma luta
de vida ou morte com um estranho. O rosto do outro não dizia nada a Zitarra.
— A infiltração do Império Dabrifa segue de acordo com o plano — disse o
homem que Zitarra conhecia.
O outro olhou em volta, não ansioso, mas atento, e perguntou: — Este lugar é
realmente à prova de escuta?
— Tão seguro quanto nenhum outro. Eu cuidei disso pessoalmente.
Por que eu pude passar despercebido aqui?, pensou Zitarra. Talvez porque ele
veio do futuro, representava uma constante desconhecida no passado, e apareceu
praticamente do nada nesta área da embaixada. Zitarra se livrou do pensamento; ele
não o ajudava no momento, mas valia a pena prosseguir nele depois.
— Nós estamos no caminho certo — O estranho curvou a cabeça com
benevolência. — Nós poderemos completar nossos planos em breve. Perry Rhodan e
Shalmon Kirte Dabrifa vão morrer.
Zitarra prendeu a respiração. Ele tinha acabado de saber o que ele tinha ouvido?

Ele não dava a mínima para Rhodan. Mas, Dabrifa? Havia forças que
perseguissem planos que ameaçavam a vida dos dois homens mais poderosos da Via
Láctea, tanto dentro do Império Solar quanto no Império Dabrifa?

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Zitarra tinha que pensar no agente duplo que Leann e ele havia encontrado no
Unggulus e que os havia equipado. Eles estavam nas garras do conspiradores e faziam
parte de suas intenções de matar Dabrifa?
Por que mais Zitarra cruzou o caminho daquele que ele conheceu no Império-
Alfa? O estranho o atraiu? Isso explicaria o controle externo que havia conduzido
Zitarra a este lugar...
Ele mordeu o lábio. Isso não fazia sentido. Caso ele se tornasse parte do enredo,
ele não seria capaz de ouvir a conversa, a menos que ele tivesse a intenção de estimulá-
lo com informações falsas. Ele ainda sabia muito pouco. Estava faltando peças do
quebra-cabeça, ele tinha que descobrir mais e...
— O que foi isso? — o desconhecido ouviu.
O outro olhou para o bracelete multifuncional. Alarme. Um guarda foi
encontrado trancado em um armário depois de chamar a atenção para si mesmo. Ele...
— O homem fez uma pausa, olhou exatamente a direção de Zitarra. — Há alguém!
Como...
Zitarra parou de escutar. Ele fugiu sem perseguir um objetivo, apenas para longe
dos conspiradores. Ele ouviu, esperando que o frio voltasse enquanto se afastava deles.
Mas, nada aconteceu.
— Alguém ali! — Um soldado com o mesmo uniforme que Zitarra a havia tirado
do jovem guarda apontava para ele.
Zitarra pensou por um momento. Mais uma vez seu truque não funcionou. Além
disso, ele não tinha tempo para uma conversa confusa. Ele sentiu que os conspiradores
estavam seguindo ele.
Ele puxou o radiador manual e disparou.
O raio da arma queimou um buraco no ombro direito do soldado. O homem abriu
os olhos, gritou e caiu de costas no chão.
Zitarra correu, chutando o queixo do soldado quando ele passou e invadiu a sala
ao lado. De dentro, ele trancou a porta com uma cadeira.
Atrás das janelas de treliça, ficava o parque arborizado pelo qual Leann e ele
havia avançado para a embaixada. Ele ergueu a arma novamente, modulou o feixe para
o seu foco mais próximo, e queimou um buraco no vidro. Então, ele chutou tão
violentamente que quebrou e as lascas caíram no chão.
Alguém chutou a porta. — Ele está lá dentro! — Novamente a vibração do baque
contra a folha dupla.
Logo depois, Zitarra ouviu o silvo de um desintegrador. Fumaça subiu do batente
da porta. Eles abriram a porta de uma maneira violenta.
Zitarra começou a pular pela janela, mas uma voz o deteve. — Um movimento e
você está morto! — Mais uma vez um homem ficou em seu caminho. Ele deu a volta em
um canto do prédio e abriu na frente da janela. Ele parecia muito mais experiente do
que adversários anteriores de Zitarra.
Zitarra engoliu em seco. — Você não está falando sério — ele passou por suas
opções. Em algum momento sua estadia no passado teve que terminar. Como ele poderia
conseguir o tempo necessário? Ele levantou as mãos lentamente, estudando o homem,
esperando por uma desatenção do inimigo que ele poderia explorar. — Você vai querer saber
quem eu sou e por quê...
— Acredite no que você quer, eu... Ei!

59
O soldado desapareceu diante dos olhos de Zitarra. Zitarra ficou com frio e
tonto, ele cambaleou, caiu e...

60
14.

Cidade Aldebarã , Embaixada Dabrifa

2 de novembro de 3430, à noite

Juki Leann cheirava roupa de cama fresca, macia e aveludada que acariciava a
sua pele nua. Leann examinou seu corpo. Ela sentiu a ligeira resistência dos curativos
pulverizados em lugares onde ela provavelmente sofrera perfurações de fragmentos
durante sua fuga e o ataque à embaixada, bem como algumas queimaduras. Robôs
terapêuticos em miniatura formigavam nas canelas, ombro esquerdo e joelhos que ela
havia machucado no caminho.
Ela relaxou, aproveitando a fase pacífica entre o sono e o despertar final por
alguns momentos. Então, ela abriu os olhos.
Acima de sua cama, estendia-se um teto achatado branco como giz, do centro do
qual pendia uma lâmpada ornamental de cobre. O papel de parede listrado aveludado,
branco e bege nas paredes era adornado com imagens tridimensionais de paisagens
nosmosense — prados e florestas, lagos e montanhas.
Na mesa de cabeceira havia um vaso de lilás intrometido, flores cortadas com
folhas carnudas e lanceoladas e flores em roxo e branco. Seu perfume sutil só foi
laboriosamente afirmado contra o cheiro de travesseiros e cobertor.
Gemendo, Leann se levantou da cama, balançando as pernas machucadas do
colchão e pisou em chinelos de seda.
Arrastando-se para a porta do banheiro, ela vestiu uma túnica e olhou para o
mostrador de tempo sobre a porta de madeira Byrsch de grânulos escuros.
Era o meio da noite, mas Leann sentia-se descansada, como depois de um longo
sono. Apenas algumas horas haviam se passado desde que sua habilidade estranha mais
uma vez a levara para o futuro.
Ela deixou-se ser mimada pelo banho, massageada, secada com ar quente e frio
e esfregada com loção. Um robô médico borrifou ataduras frescas nos ferimentos.
— Muito luxo — murmurou Leann. Ela vestiu uma calça de pano azul, uma blusa
branca com babados, sapatos brilhantes e um blazer de renda preta.
— Você está se sentindo bem, senhorita Leann? — O servo robô, inspirado em
um servo da alta classe dabrifana, serviu uma bandeja cheia de biscoitos e frutas do
Império Dabrifa. Barracctee saía dos terraços do mar do sul, numa tigela de porcelana
pintado de flores douradas e cintilantes. — Eu me permiti dar-lhe um impulso, o que
espero que você esteja pronta para relatar.
Uma boa descrição para: bastante descansada. Você foi mimada, agora de volta
ao trabalho. Eles lhe deram uma injeção, caso contrário, teria dormido pelo menos duas
vezes mais. Trabalhe de acordo com nossas regras ou seja eliminada!
Leann suspirou. Ela percebeu mais uma vez o que os cidadãos do Império
Dabrifa eram: meros agentes vicários das visões de um governante que protestava
contra a panelinha imortal dos terranos e ele mesmo usava um ativador celular...
Seu estômago estava roncando, não era apenas fome. Este império estelar valia
tudo o que Leann assumiu? Ela não fazia isso há muito tempo, porque senão ela teria

61
colocado em risco sua família? Especialmente, desde que sua mãe dificilmente o
permitia por medo de represálias? Enquanto Leann devia temer por sua parte a assinar
a sentença de morte de sua irmãzinha em caso de não cumprimento?
Esse Império Dabrifa não merecia que os eventos que ela havia visto durante sua
visita no futuro se tornassem realidade?
Ela mastigou um biscoito em forma de disco, neutralizou a doçura pegajosa com
frutas azedas e se enxaguou com o chá amargo e quente.
Então ela se posicionou e recordou seu dever. Não fique presa, garota! Ela
colocou um sorriso estreito e responsável. Você escolheu este papel, mais ou menos
voluntariamente, agora também pode colher a sopa! Pelo bem dos habitantes de Nosmo!
E talvez Rhodan e o Império Solar valiam a pena salvar. Embora, ela nunca iria
perdoar o que eles tinham feito a ela...

— Vocês foram após o seu... hum, sim... ‘retorno’, paralisados e lavados por
precaução — O doutor Johannes Hakim passou os dedos pelas têmporas salpicadas de
cinza e limpou a garganta.
— Nós dois? — perguntou Juki Leann.
O doutor Hakim assentiu com a cabeça, o nariz curvado e afilado, golpeando
como o bico de uma águia e apontando para baixo. — Darren Zitarra e você.
Então, seu parceiro foi transladado no tempo e retornou vivo. Leann não sabia
por quê, mas sentiu alívio por isso. Talvez ela tivesse se acostumado com aquele caipira
arrogante...
— Como você está, Juki? — o médico quis saber.
Leann o conhecia desde a época em que sua mãe ocupara o cargo de
embaixadora dabrifana na Terra. Mesmo naquela época, ele tinha sido um cavalheiro
idoso e agora coroado de cabelos acinzentados. Mas, ele ainda a chamava formalmente
ainda pelo primeiro nome dela. Como se Leann continuasse a ser a jovem filha da
embaixador Ahna Leann e não uma agente endurecida da Guarda Negra.
— Bem de acordo com as circunstâncias — ela respondeu evasivamente. — Qual
a sua impressão?
— Você está melhor do que é, Juki — O Doutor Hakim deu um tapinha na coxa
dela.
Então ele se levantou e, com as mãos atrás das costas, atravessou a porta da
frente de seu escritório retangular, cerca de quinze metros quadrados, e de volta. Ele
parou ao lado dela e olhou pela janela para o jardim interno do complexo de edifícios,
que estava ao luar.
Abruptamente, Hakim se virou e disse: Eu sei que não deveria te perguntar isso,
Juki, mas pelas barbas do imperador, o que aconteceu com você? Onde você esteve
depois que desapareceu sem deixar vestígios? Nós verificamos isso. Você não se
camuflou com um campo defletor, mas realmente desapareceu!
Leann olhou para o médico em silêncio, começou a falar, apertou os lábios
novamente e finalmente respondeu devagar: — Você não deveria perguntar, doutor,
tudo bem. E você nunca perguntou. O que aconteceu comigo e Darren Zitarra e ainda
está para acontecer está sujeito ao mais alto nível de sigilo.

62
Ele franziu os lábios, olhando silenciosamente para Leann por alguns instantes,
depois assentiu. — Obrigado, Juki, eu sei, você quer o meu bem.
Ela fez um gesto confirmando. — E você o meu.
— Estou preocupado com você — ele continuou francamente. — Também com
Darren Zitarra. Seus valores corporais não estão bem.
— De que maneira?
— Se eu soubesse que... eles não concordam com os pontos de ajuste em vários
parâmetros, em tantos que não é um sintoma de uma doença que eu conheço. Qualquer
desvio por si só é inofensivo. Mas, no geral, receio que isso tenha um impacto negativo
na sua saúde. Até que ponto, não posso dizer ainda.
Quando Leann continuou a não tentar responder seu segredo, ele terminou a
conversa. — Tenha isso em mente, Juki.
Ele sentou-se atrás de sua escrivaninha de madeira Maxma, polida e pesada,
ativou a positrônica médica e focalizou a tela.
Leann se levantou e foi até a porta.
— Alguém quer falar com você — disse o doutor Hakim. — Alguém com poderes
elevados.
Leann assentiu. Certamente era um representante de alto escalão da Guarda
Negra na Terra. Ela alcançara seu objetivo, mas não parecia um sucesso.
— Juki ...
— Sim, doutor Hakim?
— Tome cuidado ...

— Falar em particular? — Darren Zitarra olhou para ela como se apenas a


abrisse para fazer campanha eleitoral contra o imperador Shalmon Kirte Dabrifa. — Em
uma mensagem do Império Dabrifa?
Juki Leann encostou-se à porta de madeira da pequena sala de reuniões e
sorriu. — Eu cresci nesses edifícios e tenho meus meios e maneiras, uma habilidade
técnica. Você já deveria ter notado que quando eu usei o equipamento de comunicação
público e particular da grande Terrânia como um retransmissor para disfarçar a
tentativa de contato com a embaixada.
— Ah... — fez Zitarra. Ele olhou em volta, desconfiado, na sala oval, cujas paredes
eram finamente rebocadas e cobertas com tapetes com estampas florais. Uma mesa de
vidro e quatro poltronas de couro preto eram, de outro modo, o único móvel. Uma
lâmpada com uma larga sombra dourada fornecia uma luz quente.
—Eu estive no futuro, Zitarra.
— Oh, o que — ele sorriu obliquamente. — Eu quase pensei assim.
— Dabrifa está morto lá.
Ele abriu os olhos.
— E o império destruído — ela pegou Zitarra pelas mãos. — Nosmo é apenas um
anel de detritos girando em torno de Normon...
Leann engoliu em seco. Ela não conseguia encontrar palavras para
isso. Assustou-a ao pensar nisso, mas não por causa do Império Dabrifa porquê... ao
contrário, por muitas pessoas, isso devia ter-lhes custado a vida. Ou melhor, custaria.

63
Ela ocultou de Zitarra a época em que esteve. Ela não sabia até onde podia
confiar nele. Não faria mal manter algo em suas mãos, que ele não conhecia.
— Como isso deve funcionar? — perguntou Zitarra. — Dabrifa é imortal ...
— Relativamente. Então, apenas biologicamente.
— Quero dizer: o império! Não pode cair!
Leann sacudiu a cabeça. — Pare todo patriotismo, Zitarra, todo império caiu. O
que você viu?
Ele parecia ausente. A notícia da morte do Império Dabrifa na verdade o
chocou. — Uma conspiração — ele murmurou. — Eu conheci o homem que foi atacado
pelo estranho sem rosto na minha primeira visita ao passado. Algo me atraiu
irresistivelmente para ele.
— Talvez devêssemos trabalhar com Rhodan para evitar esse futuro — disse
Leann. Ela sabia o quanto a declaração era arriscada para Zitarra. Mas, ele apenas olhou
para ela bruscamente, pelo menos não contradisse. — Lembre-se, este conspirador já
esteve no Império-Alfa e na embaixada dabrifana no passado. O Império Dabrifa está
destruído neste futuro.
— Vamos esperar e ver o que surge da nossa pesquisa. Eu não acredito em
trabalhar com os terranos — ele olhou para ela. — Especialmente não com o terrano.

Um rosto magro e pálido. Sardas salpicavam o nariz torto. Cabelo curto e preto
por cima.
Juki Leann reconheceu imediatamente o homem que os aguardava na fria e
branca sala de conferências. Ele tentou libertar Darren Zitarra e ela do transporte de
prisioneiros da CESPSOL. E ele ajudou-os a entrar na embaixada.
— Juki Leann — ele acenou para ela e apontou com a mão para uma cadeira
preta brilhante, cuja simplicidade harmonizava perfeitamente com a sala espartana
preto-cinza-branco. Caso contrário, havia apenas a mesa de trabalho entre eles e a
cadeira giratória na qual o estranho estava sentado.
Leann sentou-se. — Você sabe quem eu sou. Como eu posso chamá-lo? — ela não
esperava ouvir um nome que também estivesse na certidão de nascimento do homem,
muito menos viver sua vida real com ele.
— Meu nome não é relevante — ela recebeu a resposta.
— Então, essa é toda a confiança que eu valho para você? — ela sorriu sem
humor. — Para que então o esforço?
— Eu faço as perguntas aqui — Sua voz soava suave, claramente acentuada, mas
sem peculiaridades características, nem baixa nem alta, apenas... média. O que, no
entanto, ressoou era que ele estava falando sério.
Leann engoliu a saliva acumulada em sua boca e se sentiu incrivelmente fraca.
Ela prometeu não demonstrar mais emoção. De repente, ela entendeu que a antipatia
instintiva de Darren Zitarra para com este homem não tinha sido infundada.
— O que há com suas habilidades? — ele não a deixou fora de sua vista, mal
piscou uma vez, exibiu um rosto relaxado no qual nem um músculo se contorcia
incontrolavelmente.

64
Como se ele fosse uma máquina, pensou Leann. Exatamente essas pessoas são
aquelas que me repelem em serviços secretos de todo tipo. Não pela primeira vez, ela se
perguntou por que havia entrado a serviço da Guarda Negra. É claro que ela sabia disso,
mas não entendia um pouco o seu eu anterior.
Leann relatou em termos concisos, sem devassidão, em modo de relatório treinado. Este
e aquele detalhe foi omitido. Zitarra deveria contar, se ele quisesse. Mas, ela duvidou disso.
Leann não era uma pessoa instintiva, Zitarra era. Sua desconfiança do
desconhecido não iria embora. Leann estava convencida disso agora. Especialmente
desde que ele soube de uma conspiração na embaixada durante o salto no tempo.
— Eu posso fazer uma pergunta? — Leann se atreveu a agir contra o
desconhecido.
Ele não disse nada, mas não proibiu a pergunta dela.
— Raif Brestekin trabalha em nossa embaixada?
Silêncio.
— Meu oficial superior me contou sobre ele. Eu gostaria de conversar com o
homem.
Mais uma vez apenas o silêncio. Então: — Vamos continuar.
O desconhecido fez mais perguntas. Muitas perguntas. E em algum momento Leann
perguntou: Como, no enérgico queixo de Dabrifa, ele conhece detalhes que só deveriam ser
conhecidos por Zitarra, eu e a Defesa Solar junto com Perry Rhodan?

Eles receberam uma espaçosa suíte de luxo que parecia o quarto em que Juki
Leann havia despertado.
Darren Zitarra e ela tinham quartos e banheiros separados, mas uma sala de
estar comum. Uma ideia maluca que certamente não era atribuível ao agente
desconhecido. Ele mal era estúpido o suficiente para esperar que Zitarra e ela
divulgassem segredos em conjunto.
No momento, Zitarra estava sendo interrogado, então Leann usava o tempo para
exercícios de ginástica e meditação. Depois de uma hora, a porta da sala abriu e seu
parceiro entrou. Leann se encostou no batente do quarto e esperou.
Zitarra inspecionou os quartos, finalmente parou na sala de estar, olhou em volta
e deu a Leann um olhar significativo, depois revirou os olhos.
Leann sorriu. — Vamos nos sentar e dar uma mordida?
Zitarra assentiu e eles pediram o almoço, embora fosse tão cedo que quase o
chamaram de noite.
Eles ficaram em silêncio sobre a sopa fumegante de wahjah, ocasionalmente
olhando um para o outro. O prato principal consistia em bolinhos de massa Machahali
recheados com ervas do mesmo planeta agrícola no coração do Império Dabrifa. Para a
sobremesa, eles lamberam o favo de mel brindarichemense em um pedaço de waffle.
— Cenoura e chicote, hein? — Sorrindo, Zitarra recostou-se na poltrona de
veludo listrada, abriu as pernas e juntou as mãos atrás da cabeça. — O cara pálida é
linha dura. Um alto agente da Guarda Negra, eu aposto.
Leann fez um gesto de concordância. — Nós não temos escassez. Se passou um
longo tempo desde que eu tenho me alimentado muito.

65
Zitarra abafou um arroto. — Perdão. Eu não consigo lembrar de ter sido tão
mimada. E na companhia de uma senhora tão adorável.
Leann acenou. — Vamos descansar por um tempo. As drogas que nos foram
dadas perdem o efeito. Eu gostaria de dormir antes que a dor retorne.
— Você está certa. Amanhã de manhã poderemos falar com o embaixador.
Devemos tentar sair do sistema solar o mais rápido possível ou pelo menos gravar e
transmitir nossas informações para Dabrifa. Tem de haver um caminho para isso – o
mais tardar, logo que a estrada de contêineres para Olimpo comece a funcionar. O
embaixador e sua equipe encontrarão uma solução.
Leann ficou em silêncio por um momento. Ela não teve a impressão de que o
embaixador se importasse com ela. Ele certamente fazia apenas o que o agente
desconhecido lhe disse para fazer. E realmente era necessário informar Dabrifa sobre
o AAT? Cada vez mais Leann duvidava disso, e não apenas por causa de sua atitude
crítica em relação ao imperador; a CESPSOL não era a sua preferência.
Mas, em face da ameaça de destruição de ambos os impérios estelares... quem realmente
tinha melhores maneiras de impedi-lo? E o que mais desempenhava o papel que o Sistema
Solar não fosse destruído, mas estivesse escondido atrás de um campo chamado AAT?
— O mais rapidamente possível é um bom ditado — Leann finalmente disse. Ela
bebeu brandy de banana brindarichemense. — Por um lado, eu temo que Rhodan em
breve pressione o parlamento para invadir a embaixada, apesar de seu status
extraterritorial. Mais cedo ou mais tarde, a CESPSOL descobrirá que estamos aqui. Se
eles não sabem disso há muito tempo.
— E por outro?
Leann contou-lhe sobre o exame médico que o doutor Hakim lhe dissera. — Isso
apoia a tese de que as habilidades recém-adquiridas nos prejudicam.
— Sim — Zitarra sorriu. — Não me deixe dizer adeus assim. Eu imagino morrer
em batalha.
Leann deu de ombros e se despediu da cama.
Zitarra apenas assentiu e ligou o trivídeo com um comando de voz. Foi relatado
um ataque fracassado em um contêiner de carga no espaçoporto Aldebarã. Zitarra
perdeu algumas observações depreciativas sobre o agente duplo que as ajudara, porque
apenas sua falha poderia ativar as reportagens.
Leann sentiu tristeza cavando profundamente em seu estômago e remexendo
nele. Lana Fuentes morreu. Por causa deles. E para quê? Com uma lágrima no canto do
olho, ela se virou e foi para o quarto.
— Malditos terranos — ouviu Leann Zitarra dizer no limiar do quarto.
Ela se virou para ver o que mais estava sendo relatado e... seu coração quase
parou.
—... o espião dabrifano Grun Phovidan deve ser executado de acordo com a lei
marcial em Olimpo — O orador terminou a frase. A câmera capturou uma imagem
mostrando o espião sendo escoltado pelas forças de segurança do lado de fora de um
prédio em Trade City.
Zitarra percebeu que ainda estava em pé na porta aberta olhando para o trivídeo.
— O que há com você? — Zitarra se levantou, agarrou-a pelos ombros. —
Leann? O que você tem? Você conhece esse homem?

66
Ela assentiu. — O... — Sua voz falhou. Ela engoliu em seco, limpando a
garganta. — Este é meu pai.

67
15.

Terrânia, Império-Alfa

3 de novembro de 3430, pouco depois da meia-noite

— Alasca Saedelaere! — Perry Rhodan levantou os olhos do antiquado jornal de


papel que havia espalhado na mesa de madeira redonda à sua frente. Uma experiência
sensual que ele se entregava regularmente. Ele colocou o café preto fumegante na mesa,
colocou o último pedaço de pão com geleia de morango na boca e fez sinal para o servo
robô lhe trazer roupa apropriada.
— O que me traz a esta hora adiantada, Saedelaere? — Rhodan perguntou ao
jovem agente, depois de engolir a mordida. Ele ofereceu-lhe uma cadeira na mesa do
café da manhã. — Eu queria falar com você de qualquer maneira. Eu estou contente por
ter notícias de você.
Eu tenho certeza que gostaria de salientar que alguém entrou na embaixada do
Império Dabrifa. Mas, se o momento não for conveniente...
Rhodan acenou. O servo robô construiu um campo de distorção ao redor
dele. Rhodan tirou o pijama e vestiu um traje claro.
— Um portador de ativador celular precisa de pouco sono — ele conversou
enquanto isso. — Mas você... Um 'bom dia' da sua boca à uma da manhã!
— Eu tinha trabalho a fazer.
— É claro.
Não demorou muito para que Takayo Sukurai saísse do quarto. Ela já vestira um
uniforme parecido e lavara o sono do corpo no banheiro.
Saedelaere assentiu para ela.
— A embaixada, então — disse Rhodan. — 'Alguém' chegou lá. Com a ajuda ativa
de uma pessoa fortemente armada e o fracasso renovado da positrônica terrana e
outros equipamentos. Foi Leann e Zitarra, não foi?
— Os invasores não puderam ser identificados. Mas, após a autópsia do homem
que tentou fugir do sistema solar pelo contêiner no espaçoporto de Aldebarã, a
probabilidade está na faixa dos noventa por cento.
— Já pedi ao parlamento a suspensão temporária da imunidade diplomática e a
permissão para ocupar a embaixada — Rhodan esfregou a cicatriz no nariz antes de
continuar. — O homem no espaçoporto de Aldebarã tinha um hipnobloco que o levou à
ação. Um agente anteriormente confiável da CESPSOL. Ele deveria ser um agente duplo
infiltrando da Guarda Negra na Terra. O suporte secreto dos dabrifanos deve ser
responsável.
— Tudo aponta para isso, senhor.
— Então, Saedelaere, o que você tem que denunciar? Você progrediu?
— Rhodan não tinha motivos para culpar o jovem agente por permitir que alguém
entrasse na embaixada, sem ser identificado.
De acordo com os protocolos e relatos, o usuário da máscara não cometeu
nenhum erro. Em vez disso, Deighton e ele, Rhodan, haviam se distraído do alvo real
pelo agente manipulado. Até mesmo Gucky interveio na luta no espaçoporto. E o rato-

68
castor poderia ter sido o fator decisivo para evitar que Leann e Zitarra escapassem com
sucesso para a embaixada.
— Há vários suspeitos, senhor, que podem manipular os planadores. Um deles é
Tezen Sadinoha. Há evidências para sugerir que ele seja o autor.
— O quê? Rhodan reagiu horrorizado. — o representante de Galbraith Deighton?
— Ele desapareceu sem deixar vestígios. Ninguém sabe como Sadinoha fez
isso. Mas, algo mais aponta para ele. O longo segredo dos dados sobre Juki Leann e sua
conexão com Terra mostrou as assinaturas de Sadinoha — no entanto, ele conseguiu. A
boa notícia é que o círculo da CESPSOL ao redor da embaixada do Império Dabrifa é
agora impermeável.
— Você garante isso?
— Noventa e nove por cento não vai dar errado lá, senhor.
— O número de fatores que afetam a situação é menor do que parece — Rhodan
apontou. — Mas, nós temos que correr algum risco. Então vá! Vamos ver isso
diretamente no local!

69
16.

Cidade Aldebarã, Embaixada Dabrifana

3 de novembro de 3.430, no início da manhã

Juki Leann manteve os olhos fechados, inspirando e expirando regularmente,


como se estivesse descansando no sono dos justos. Ninguém duvidaria disso depois das
torturas dos últimos dias e do coquetel de drogas, que a havia reestimulado
brevemente. Os sistemas de monitoramento na sala agora tinham tempo para
documentar o período de descanso por uma hora.
Se ela fosse honesta consigo mesma, Leann tinha que admitir que teria
adormecido com exaustão pela iminente execução de seu pai. Todavia, ela tinha
recebido mais analépticos com o doutor Hakim, confiando na afeição paterna do médico
por não traí-la.
Às três horas da manhã, seu novo bracelete multifuncional vibrou. Leann abriu
os olhos, pegou o cobertor e olhou para a tela brilhante do bracelete. — Loop está sendo
executado — ela leu.
Satisfeito, ela se levantou e levantou as pernas para fora da cama. Com pressa,
vestiu roupas flexíveis que lhe permitiram total liberdade de movimentos e deixou seu
quarto. Uma vez na sala, ela examinou a porta dos quartos de Zitarra.
Leann hesitou. Ela Leann hesitou. Ela deveria acordar seu companheiro
predestinado e pedir-lhe para acompanhá-la? Se ele se recusasse, ela ainda poderia
eliminá-lo. Ele era forte, habilidoso e inescrupuloso, mas ela estava drogada e bem
acordada, diferentemente dele.
Leann pulou quando alguém colocou a mão em seu ombro. Seu coração bateu
em staccato. Com um movimento fluido, ela se soltou, girou cento e oitenta graus e
começou a atacar.
— Não! — sussurrou uma voz familiar.
Leann continuou atacando e percebeu que Zitarra estava na frente dela. Ele
também estava vestido em um traje flexível e leve e parecia pronto para sair. Ele devia
ter notado que ela havia preparado uma ilusão de sistemas de vigilância por seu
conhecimento da embaixada e sua sofisticação técnica.
— Você quer fazer alguma coisa pelo seu pai, certo?
Leann assentiu. — E você está me acompanhando? Rhodan é o homem que
promete ajuda. Também para Dabrifa. Que alternativa temos para sair daqui? Você
quer ficar parado e ver como o Império Dabrifa é destruído?
Zitarra sorriu. Seus dentes brilhavam no luar que entrava. — Oh, garota.
— Não me chame assim!
Ele ficou sério. — Você realmente acha que nós dois poderíamos influenciar o
futuro?
— Porque não? — ela balançou a cabeça espantada. — O passado é claro, o
futuro não é. Ou você é determinista?

70
Agora dependia dele sacudir a cabeça. — E se permitirmos essa terrível versão
do futuro através de nossas ações? Se a nossa cooperação com Rhodan é o germe da
destruição?
Leann encolheu os ombros. — Nós podemos saber? De qualquer forma... Ambos
os modos de agir oferecem risco.
— Nossa pessoa de contato do Unggulus falhou — Zitarra apontou. — Alguém
tem que relatar as informações sobre a conspiração e o terrível futuro.
— Você tem a impressão de que alguém na embaixada reconhece nosso valor?
— Leann olhou profundamente em seus olhos azuis.
— Não. Mas, talvez seja apenas o agente que nos entrevistou, que mantém o
embaixador afastado. Eu não confiei nele desde o começo, desde a estrada
Khooloi. Talvez este Raif Brestekin nos ajude em vez disso.
— Eu duvido... e você acha que podemos impedir nosso agente de interrogatório
de fazer o que ele quer com os recursos que estão obviamente disponíveis para ele? —
ela agarrou seus braços. — Nós tínhamos concordado no caminho do menor perigo
para nós protegermos a informação. Você se sente seguro na embaixada?
Zitarra suspirou. — Você está certa, mas se você pode enganar os sistemas de
vigilância, então o cara também!
Ela riu brevemente. — Faz dezoito anos desde que deixei a Terra e a
embaixada. Eu ainda posso gerenciar os truques anteriores, mas contra um calibre
como este homem, não tenho chance.
— Vamos concordar com o seguinte — Zitarra finalmente disse. — Você está
fazendo o resgate do seu pai uma condição de cooperação. Rhodan espera que, de
qualquer maneira, talvez seja por isso que os terranos estão ameaçando sua execução.
— O que você espera disso?
— Ir a Olimpo, para de lá ter outra chance para escapar. O seu pai não será o
único do nosso pessoal no planeta comercial. Eles serão capazes de me ajudar lá. Em
vez de aqui. Basicamente, tudo que você diz está certo. Minha visão de traição dentro
de minhas próprias fileiras e o interrogatório do cara sem nome mudaram de ideia.
Leann o examinou. Ela não tinha certeza se Zitarra realmente estava tão
confiante quanto ele alegava. Caso contrário, essa conversa teria sido mais curta.
Ela ficaria de olho nele.

— Quem é esse? — Juki Leann recuou para conter Darren Zitarra.


Ela olhou ao redor do canto do corredor e estudou a figura mascarada correndo
silenciosamente sobre os ladrilhos. Ela devia usar campos de amortecimento ou solas
de feltro. Em vez disso, o último, porque eles não causam quaisquer ruído.
— Ele vem até nós — ela sussurrou.
Ela não reconheceu a estatura ou o sexo do homem encapuzado. Estava muito
escuro. Leann havia desativado os sensores de movimento da iluminação nessa área
para encobrir sua fuga.
Ela se virou e caminhou rapidamente na direção oposta do corredor, que levava
mais fundo ao interior do prédio. Zitarra seguiu-a. Na curva seguinte, eles esperaram,
para ver qual era o destino do homem encapuzado.

71
— Nossos quartos — sussurrou Zitarra. — Ele para em frente aos nossos
quartos.
Leann observou o homem encapuzado adulterar a fechadura da suíte,
finalmente a superou e abriu a porta. Um objeto pendurado no cinto da pessoa, que ele
então pegou e escondeu em seu punho. Apenas um tubo fino se projetava dele.
— Uma arma — afirmou Zitarra. — Sem dúvida.
— Precisa de mais provas do que nos oferecem aqui?
Zitarra sacudiu a cabeça. — Pelo menos um não duvida da nossa importância
aqui — ele sorriu para ela brevemente, em seguida, pegou a mão dela e levou-a para a
porta de sua suíte.
— Fugir? — Leann perguntou a ele. — Ou procurar o confronto aberto?
— Você ainda está perguntando? — Demonstrativo, ele bateu com o punho na
palma da mão.
Leann encolheu os ombros. — Qualquer outra resposta teria realmente me
surpreendido.
Eles se posicionaram à esquerda e à direita da porta e esperaram. Os batimentos
cardíacos de Leann pulsaram com tanta força que ela temia que traísse sua localização
para o intruso. Um pensamento irracional, certamente, mas no escuro, o silêncio e a
tensão são um sentimento familiar. Quantas vezes ela simulou essa situação no treino e
sempre se sentiu da mesma forma...
Agora o Casus Belli (caso de guerra em latim) entrou pela primeira vez. Outra
ação muitas vezes praticada que ela foi capaz de excluir de sua lista de acidentes graves.
Um movimento a tirou da tensão para a luta.
Zitarra notou pela primeira vez o homem encapuzado e atacou. Seu punho
atingiu a cabeça do invasor. Um gemido de surpresa soou sob a máscara de tecido. Mas
o golpe não foi proposital o suficiente. A figura caiu no chão, mas manteve a arma na
mão, rolou de volta para o quarto e pulou de novo.
Leann correu em direção ao inimigo antes que ele pudesse apontasse a arma
para Zitarra e ela. Com um salto, Leann bateu no peito do homem encapuzado, tirando
a respiração dos pulmões, sob a máscara. O som de ossos quebrados acompanhou a
queda do intruso, um som que Leann não suportaria até a morte. Pelo menos atingiu o
seu adversário, não ela.
Ela caiu de pé, esperando que Zitarra a seguisse. O homem encapuzado afastou-
se dele. Leann entrou em sua vez. A figura agarrou o pé, torceu-o para que Leann tivesse
que se virar para evitar ferimentos e caiu.
Respirando pesadamente, segurando o peito, a figura se levantou, apontou o
punho para Leann e disparou.
Zitarra foi mais rápido, chutando o homem encapuzado no braço e desviando o
tiro. O projétil agulha entrou em uma das poltronas.
Não houve explosão. Então, era apenas um projétil cinético ou um dardo
envenenado. Inaudível e discreto. O intruso agia assim sem o conhecimento dos
membros da embaixada, pelo menos a maioria.
Leann saltou, correu até o atacante, esperou que Zitarra se esquivasse e chutou
com força total. O homem encapuzado bloqueou o chute, caiu, rolou para trás e disparou
novamente.
Leann pulou para o lado e rolou para longe.

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Zitarra atacou novamente.
Relutantemente admirando, Leann notou que o oponente era superior a
eles. Apesar dos ferimentos que sofreu, ele se esquivou de ataque após ataque e acertou
golpes dolorosos.
A luz ofuscou Leann. Ela fechou os olhos, abaixando-se atrás de uma das
cadeiras, temendo que fosse uma distração do assassino. Ela piscou, ajustando os olhos
para o brilho súbito. Ela estendeu a mão em torno da cadeira para uma garrafa na mesa
que Zitarra e ela tinham comido algumas horas antes.
Com o vasilhame na mão, Leann apontou para o assassino, notou que também
estava irritado e atirou a garrafa contra a cabeça mascarada.
— Não foi o homem encapuzado que acendeu a luz — Leann sussurrou para
Zitarra, que havia se protegido da mesma maneira. — Nós temos que sair rápido!
Sem mais delongas, Zitarra correu. Leann ouviu o gemido da figura vestida de
preto no chão, depois seguiu seu parceiro. Ela o alcançou, e ele deu a liderança a ela, a
ex-ocupante da embaixada.
Eles não falaram, poupando cada respiração para o salto até a saída. O pulso de
Leann estava acelerado, o sangue correndo para as orelhas. Os músculos tensos das
pernas, pouco regenerados, ardiam sob a tensão. Os estimulantes e a adrenalina na
corrente sanguínea de Leann estimularam-na a atingir o máximo desempenho.
Vozes gritaram. Uma sirene de alarme uivou.
Apenas quatro curvas e talvez trezentos metros! Leann lembrou. Eles só tinham
que atravessar o portal de entrada.
Um tiro assobiou pelo ar. Um projétil agulha entrou na parede. As fotos,
esculturas, bustos e vasos de plantas passaram por Leann.
Dois guardas esperavam por ela, com as pernas afastadas, braços erguidos em
frente ao portal.
Leann esperava isso desde que o alarme soou. Com pensamentos violentos, ela
pensara em como deveriam passar pelo posto.
Ela não se lembrava de nada.
Ela agiu instintivamente, alcançando o próximo melhor objeto, sentindo a rocha
lisa sob seus dedos quase dormentes, levantando a coisa. Cada fibra do tríceps, bíceps
e todos os músculos tensos protestaram, mas ela jogou.
Os tiros dos guardas quebraram a obra de arte em inúmeras peças.
Leann e Zitarra se jogaram no chão, rolando sob a nuvem, saltando para o alto,
alcançando os braços dos guardas de segurança. Eles a puxaram para perto. Leann
bateu com a cabeça no nariz do homem com força total. De repente, sentiu a dor, ouviu
o rompimento de seu nariz, empurrou-o para longe e seguiu-o com pontapés.
Ao lado dela, Zitarra inclinou-se, pegou a arma de seu oponente, virou-se e
disparou cegamente para perseguir perseguidores. Um grito soou.
Leann agarrou o radiador do homem na frente dela no chão, sacudiu a porta
trancada do portal de entrada. Ela escolheu um pente de agulhas com as projéteis
explosivos e destruiu a fechadura.
Quase surda, ela empurrou a porta. Apenas na metade do caminho ela percebeu
que Zitarra a seguia.
Uma luz brilhante os recebeu. Do céu, algo pousou em Zitarra e ela. Um campo
defensivo foi criado em suas costas, interceptando os tiros dos seguranças dabrifanos.

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— Nós conseguimos — sussurrou Leann. Seus joelhos estavam tremendo. Então
ela desmaiou.
Sua última percepção foi a de um gigante de quatro braços que se dirigia para
ela e um homem mascarado ao seu lado.
O gigante, um halutense, riu alto.
Ele se parece com o halutense do memorial que luta contra o condicionado em
segundo grau, pensou Leann.
— Meus pequeninos! — exclamou Icho Tolot, reverberante. — Aí estão vocês de
novo!
Juki Leann se sentiu levantada e inesperadamente gentilmente colocada em um
ombro sólido.

Fim

Os agentes secretos Juki Leann e Darren Zitarra há muito tempo conseguiram


escapar de seus perseguidores e, por algum tempo, escaparam para a segurança da
embaixada dabrifana. Mais uma vez eles experimentaram um salto no tempo — e
receberam informações chocantes. Eles revelam um grande perigo não só para a Terra,
mas também para a sua própria pátria, o Império Dabrifa.
Eles decidem colaborar com Perry Rhodan e os terranos e retornam à Defesa
Solar. Podem os aliados relutantes rastrear a conspiração que ameaça o futuro de toda a
humanidade?
As aventuras de Perry Rhodan e dos Saltadores Temporais são descritas no Volume
3 da série TERMINUS. Que foi escrito por Roman Schleifer e tem por título:

CONFRONTAÇÃO SOBRE MIMAS

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