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APRECIACAO pO Ill SINODO ; _ Os dois temas centrais do III Sinodo dos Bispos, reunido no 2.° semestre de 1971, em Roma, foram “O Sacerdécio Ministerial” e “A Justiga do Mundo”. Com relagéo ao primeiro tema, foi luminosamente lembrado que, como Cristo, o Sacerdote existe para redimir os homens do pecado. Assim, néo é missto da Igreja, nem, pois, do sacerdote, o ordenamento social, econdmico ou politico dos homens... E mais: vida de oragdo, mortificagéo e consagragaéo total ao sew ministério realmente sobrenatural sdo exigéncias da vida e atividade sacerdotal. Quanto ao segundo tema, também se concluiu que a Igreja trabalha pela implantagio da Justiga no mundo. Mas — embora advogando a instauragdo de uma ordem justa, propondo principios, — nao cabe & Igreja tracar sistemas ou elaborar técnicas que melhor sirvam a esse fim, sem prejuizo da liberdade, da fraternidade e do amor. No artigo que segue, Mons. Dr. Octavio N. Derisi, designado com dois outros Arcebispos pela Assembléia Episcopal Argentina como representante da mesma no Sinodo, nos da um apanhado sucinto mas autorizado, do que significou o excelso Colegiado dos Bispos, ao objetivar, unido ao Papa, na Igreja, PRESERVAR A VERDADE NO CAMPO DOUTRINARIO E AS- SEGURAR A ORDEM NO CAM- PO DISCIPLINAR. inos 6 nome de D, OCTAVIO NICOLAS maiores expressdes da filosofia eristi em “e do pensamento moderno, Tem estudado os grandes problemas da inteligéncia contemporén caracterizando-se sua obra a0 mesmo tempo pela fidelidade & doutrina de Santo ‘Tomas de Aquino e por um sentido de atualidade e Assim publicou, entre outros livros, “Los fun- damentos metafisicos del orden moral”, “Filosofia moderna y filosofia tomista”, “Concepto de Filosofia Cristiana”, “La formacion de Ja personalidad”, “Lo eterno y lo temporal en el arte” ¢ “Tratado de Existenc mo y Tomismo”, A sua orientacfio muito deve a Pontificia Universidade Catélica Argentina de Santa Maria de los Buenos Aires, da qual é Reito ‘Tedlogo ¢ formador de sacerdotes, é também pro- fessor do Seminério Arquidiocesano de La Plata, tendo a primeira obra que publi bre “La constitucién es ial del Santo Sacrifici ] . Sagrado Bispo a 19 dezembro tllimo, foi escolhido como um dos representan- tes do Episcopado argentino no Sinodo a ser realizado em Roma. Impertérrito defensor da ortodoxia eatélica, subs- creveu 0 manifesto do Clero argentino de julho de 1970, contra 6 empenho em mudar a’ imagem da Igreja eas Preocupagées secularizantes de certos sacerdotes, especial- mente os do “Movimento do Terceiro Mundo”, documento este publicado no n° 8 de HORA PRESENTE, Em julho passado, presidiu no Rio de Janciro 9 VI Congresso ¢ @ VIII Assembléia fio das Universidades Catdlicas da América Latina, entidade esta para cuja presidéncia foi reelelto pela terceira vez. Em HORA PRESENTE ja publi- fou “Necessidade do retorno & vida interior” (n.? 10) ¢ Cristianismo ¢ Marxismo” (n? 11). De ha muitos UIST @ uma do 0 ULTIMO SINODO DOS BISPOS Mons. Dr. Ocravio N. Dertst i 0 SIGNIFICADO DO SINODO o Sinodo dos Bispos, 0 terceiro apés o Concilio Vaticano q, como um _testemunho vivo da colegialidade episcopal sob a autoridade do Vigario de Cristo. Duzentos e dez Cardeais, Arcebispos e Bispos, que represen- tavam as Conferéncias Episcopais de todo o mundo, mais outros escolhidos diretamente pelo Santo Padre — Cardeais e Bispos das Congregagdes Romanas e Instituicdes da Igreja e um niicleo de Superiores Gerais de Religiosos — com um grupo de sacerdotes e leigos como ouvintes, reuniram-se pela manhi e tarde na nova Aula Sinodal, construida sobre o vestibulo da moderna e ampla Sala de Audiéncia de S. Santidade. Convém esclarecer que o Sinodo nao é um pequeno Concilio, como por vezes se tem dito. A diferenca consiste, em que os Bispos com o Papa, sua Cabeca, tomam decisées doutrindrias e discipli- nares, enquanto o Sinodo constitui um corpo consultivo, que, em nome de todos os Bispos do mundo, da o seu parecer as questdes Propostas pelo Sumo Pontifice. Os temas fundamentais do Sinodo foram os propostos pelo Papa: }) 0 Sacerdécio Ministerial e 2) A Justica no Mundo. (is a Missa e Homilia do Papa inaugurou-se na Capela Sixtina rr °SACERDOCIO MINISTERIAL tome ante das numerosas dificuldades e dtividas suscitadas em doutring, Sacerdécio Ministerial da Igreja, tanto em seus aspectos 8 ri als como em seus efeitos praticos, o Sinodo redigiu amplo e paste Scumento sobre este tema, em seu duplo aspecto teolégico 69 Uma vex mals o mencionade Documento declara que Gacerdiclo da Nova Lol é 0 de Cristo, Verbo de Deut ey? anico encarnado conulitulrene cm Redentor @ Mediador entre s rma © seu Pal, 8 ce sto & Douwlor, que nos Wansmile a Doutrina Divina do sey Evangelho, @ Pastor que conduz suas ovelhas ao redil da salvacio de sua Lyreja ¢ é Santificador, que com seu proprio io Be paz entre Deus ¢ 08 homens mediante o perd&o dos pecadog Dela infusio da vida divina, a qual os incorpora a Ele em seu Corpo Mistico que @ a Tyveja. Pastor, Doutor c por isto, 0 Gnico Saeerdole da Nova Lai. Entretanto, a fim de que este serdécio oblivesse uma. real ‘ivel pre em sua Tereja, Cri ‘az participantes do mesmo us Apéstolos sob 0 Primado de Pedro. Ei 0 0 fundamento Por mandato do proprio Cristo, este Sacerdécio Minis- Santificador, Cristo 6, e vis us da Igveja terial dos Apéstolos se transmile plenamente através das geracées aos Bispos em dependéncia hieraérquica com o Papa, pelo Sagrado Sacramento da Ordem, e aos Pr como participagio do mesmo do Bispo. O Sacerdécio dos Bispos e dos Presbi- ter intima e hierarquicamente unidos, configura e da real pre- senca no mundo A agio santificadora de Cristo Sacerdote. Sendo verdade que todo 0 povo de Deus participa do Sacerdécio de Cristo e de sua obra redentora, acrescenta o Sinodo, o Sacer- décio Ministerial contudo dele participa de uma maneira essencial- mente distinta ¢ superior 4 daquele. De fato, pelo Sacerdécio Minis- terial de Cristo-Cabeca, os Bispos e¢ os Presbiteros presidem com autoridade e regem a comunidade crist&, conduzem-na pelos cami- nhos da salvacgio com a Doutrina do Evangelho e Ihe conferem os meios de santificacaéo. KZ ainda que os fiéis possam administrar alguns Sacramentos, 0 da Peniténcia e o da Eucaristia, centro de foda a vida cristé estio reservados exclusivamente ao Sacerdécio Ministerial, e a ordem sacra somente aos Bispos. Sobre este fundamento, o Documento Sinodal esclarece 0 sen- tido e j ‘a a vida do Sacerdote entre os homens. Este nao necessita exercer nenhuma profissio ou oficio profano, pois sua 40, a mais fecunda e excelsa entre os homens, tem sentido ¢ validade por si prépria. Mais ainda, e por isto mesmo, acrescenta 0 Documento, qualquer atividade nfo estritamente sacerdotal s6 s¢ justificaria no sacerdote quando exercida em vista do fim divino de sua propria vida. . ,Colocado, como Cristo, entre Deus e os homens, o Sacerdote Ministerial deve viver inteiramente consagrado ao bem de seus irmiios. Seu fim nao é temporal, como néo é temporal a redenc4o de Cristo, que por sua acio ele transmite. Como Cristo, 0 Sacet dote existe para redimir os homens do pecado, das paixdes € beg ook = suas conseqiiéncias e por, assim, ordem e paz entre eles sob a dependé 70 Partindo unicamente desta persper ral, 0 dote, Como a propria. Tyre ‘1 soa com todon on : s salva @ pe Ms Of f direitos © ajuda a ordem na cidade terrena. “Do mesmo mode qt abelecer a dote nao tem como finalidade de mi mico, politico ou social dos homens, m interior sob a acio redento; sobrenatu- a ar todo homem, : ; ; : #10; @, #0 instaurar ordem no almas dos mortais itis idem no cora alm is, is do que ninguém para reconquistar os valores Justiga e de todo o iumbite moral humano mesmo no terreno econdmico, politico e social Na segunt Au a r rte do Documento Sinodal, trata-se dos pro- blemas pratic da atividade sacy srdotal, Comeca por estabelecer a intima relagfio e unidade que existe entre a Evangelizacio ea vida Sacerdotal, entre a Doutrina e og meios de antificacao, Este Ministério Sacerdotal, realmente sacerdotal e divino, faz com que aquele que o possua, embora como cidadio e cristio deva cumprir suas obrigacées politicas, nfo deva. entretanto, tomar parte em militancias partidarias, pois ele esti acima de todas as opcdes temporais, a que seus filhos leigos tém direito dentro das exigéncias dos principios cristéos. Pela mesma raz4o, 0 sacerdote deve viver, o mais possivel, alheio 4s preocupacées temporais, préprias dos leigos, os quais, como cristaos, devem enfrenta-las como um dever e sob a inspiracéo dos principios Evangélicos. Semelhante vida e atividade sacerdotal — presenca viva de Cristo Sacerdote no mundo — exigem uma vida de oracao, de mor- tificacéo e de consagracéo total ao seu ministério realmente sobre- natural. Neste contexto o Documento reafirma com toda forca a lei do celibato, Verdade é que nao existe uma conexio necessaria entre Sacerdécio e celibato, como o poe de manifesto a disciplina das Igrejas Orientais. Mas é certo também que o celibato “pelo Reino de Deus”, é a melhor maneira de realizé-lo. E por isto que a Igreja latina sé escolhe e chama ao sacerdécio aqueles que livremente tenham optado Por abracé-lo. O celibato encarna 0 mesmo modo de vida de Cristo, & pureza e o afastamento de tudo aquilo que mesmo sendo bom, Doderia, senao macular, pelo menos diminuir seu esplendor e a Presen¢a viva de Cristo no povo de Deus, ao mesmo tempo que. The confere a disponibilidade total do coracéo e da vida para consagra-los 8 Deus e aos irmfios. Com a firme vontade de que esta vida inteira- mente consagrada se mantenha em toda sua integridade, o Sinodo &stabelece também que, nem mesmo em casos excepcionais, sejam enities ao Sacerdécio homens casados, provectos em virtudes e _ Este magnifico Documento sobre o Sacerdécio, reafirma as re- [igées Paternais e fraternais que devem reinar entre Bispos é Pe Tos, unidos por um mesmo Ministério e Sacramento, 71 eles © os Religiosos ¢ os Leigos, em busca de uma comunidade erist hierarquica @ amorosamente unida na Caridade de Cristo e da con- tint » de sua obra de redengio; ¢ termina com uma palavra de confi e de alento para os inumeriveis sacerdotes, que, com seu Ministério e sua vida_consagrada, silenciosa e generosamente tra. balham pela ‘ acio do Corpo de Cristo” que é a Tgreja. A JUSTIGA NO MUNDO Redigido na ultima parte do Sinodo, este Documento comeca por assinalar as multiplas injustig¢as que angustiam o mundo na hora atual, e, ao mesmo tempo, a consciéncia e a ansia de justica que anima os homens, e os numerosos e nobres esforcos que se realizam em busca de um mundo mais justo. O Sinodo salienta os antagonismos que hoje os homens enfren- tam e que provém da diferenga crescente entre nagdes e homens ricos e nagdes ¢ homens pobres. E um fato que o desenvolvimento extraordi de um pequeno grupo de nagées e 0 subdesenvolvimento da maior parte delas con- tribuem para aprofundar a injustica e a divisio no mundo. Nesta hora, em que precisamente o desenvolvimento cientifico, técnico e econdmico permite a possibilidade — pela primeira vez na historia — de dar a todos os homens e povos o necessario para uma vida realmente humana, a Igreja reivindica 0 direito dos homens e das nagGes para que esta possibilidade se realize mediante a integracao da ordem econémica, politica e social dentro de uma ordem justa e humana, a fim de que pessoas e povos nao somente “tenham mais”, como “sejam mais”. E ao mesmo tempo reafirma o dircito que as nagdes tém de dispor dos meios para se desenvol- verem material e espiritualmente de acordo com sua propria cultura e tradicéo historica. A Igreja adota esta posicaéo A luz e segundo as exigéncias do Evangelho, de onde chega aos homens e¢ Instituicdes a palavra e forca capaz de transforma-los para a realizacio da justica. O Sinodo determina com cuidado a misséo prépria da Igreja a este respeito. A ela compete pregar o Evangelho e fazé-lo viver em toda sua integridade e em toda sua forca de amor e de justica. Partindo desta acéo salvadora, a Igreja trabalha pela implantacao de uma ordem justa no mundo. Faz isto, principalmente transfor- mando o homem pela virtude da justica, que desde seu intimo de um modo permanente o inclina a dar a cada um o que é seu. Inte- grada a Justica 4 Caridade, para o cristo seu cumprimento é sobre- tudo uma exigéncia de amor. No entanto, 0 Sinodo, esclarece que a Igreja hierarquica, Por seus Bispos e Sacerdotes, por sua missio sobrenatural propria preg? € conduz os homens ao cumprimento da Justica e denuncia 0S at i entc . que a violam; mas aos leigos cristéos compete, como membros 4 72 jdade terrena, trabalhar por alcancar j mi oe téenico, politico e sociale ne um desenvolvimento cienti- ida qual de acordo . i fais com yocacional recebido e, como cristdos, esforcar-se por integrar He este desenvolvimento temporal no bem da comunidade e de cada ym dos homens, 0 que equivale a integraé-lo na justica com a con- seqiiente paz. A Igreja, segundo o Sinodo, deve constituir-s de Justiga na organizagao de sua propria vida e Tnstituigees © grande recurso, porém, 6 a grande forca de que dispée a Igreia, para eairee a Justica no mundo, por vocacao de Cristo, ssinala 0 Documento e acrescentariamos no, ico histo. eS ee 60 da educacéo. los nos, por tradic¢éo histd- Por meio da Liturgia, da Pregacio e dos Colégios, Universida- des € Institutos educacionais e dos meios de comunicacio, com a contribuic¢ao decisiva das Congregacées consagradas ao ensino, a Igreja deve constituir-se na grande educadora do povo para a Justica. Além do mais, acrescentam os Padres Sinodais, a educacio por si mesma é 0 fator mais decisivo para o desenvolvimento integral dos povos e por fim, para a obtencao da Justica. O Sinodo recorda que os principios da Justica no mundo ja foram expostos e desenvolvidos pela Igreja, sobretudo pelos Ponti- fices deste século. O que agora interessa é trabalhar para inseri- -los no mundo a fim de lograr sua realizagao, trazendo a paz entre 0s povos. Até o final o Documento se ocupa da colaboracaio da Igreja com outras Instituigdes para conseguir este objetivo; e em con- tinuacao assinala uma série de metas pelas quais é preciso trabalhar Para superar injusticas que ainda existem e conseguir implantar e garantir um conjunto de direitos nao reconhecidos ou nao plena- mente aceitos. Cabe assinalar, entre estas, a de formar uma Co- missio Especial de Bispos e Sacerdotes, além de Religiosos e Leigos de ambos os sexos para estudar a maneira de tornar efetiva a igualdade juridica da mulher com o homem. O Documento termina com uma palavra de esperanga para a radical transformacio do mundo até a plenitude pascal de Cristo, em busca da Justica nfo pela violéncia e pelo ddio, mas, sim, pela liberdade, pela fraternidade e pelo amor. CONCLUSAO Iv A verdadeira fisionomia da Igreja Este terceiro Sinodo, celebrado depois Considerado em Roma como o mais im) depois do Concilio Vaticano U, portante e o mais rico 73 foi préticos. ciplina da. Tg © por wens doutrinar rade ¢ da J “e- ole para os prineipion di Ve o alento vivifieante, do Concilio Vaticano TL, a Tgreja por Volta Sob 7 ino I smpreende a tarefn de suit renovagio espir wl e¢ da insercio de eeewividade salvador cm um mundo sujeito & modificagio talver or para. esclar Ja a Wh mais radical da historda, - ura enclarect-la a 1 verdade Evangélicn — da qual 6 fel depositaria e para. reanirnd com a vida = sempre nova — que The yern de Cristo, Cabeca, Sem diivida que Gunanho esforgo tern tido um amplo e profundo éxito, e nunca a Tyreja fol tio respeilada, estimada amada, ne} t {iltimos tempos, como hoje, Sua voz é sempre escutada com respeito © ame Es acordo com as exigénci vida. Sob pretexto der ismétice 1, par © Impulso renovador todavia, nem sempre foi conduzido de i de sua doutrina e de seus principios de novagio, irromperam “novas Teologias” e que transbordaram dog leitos da verdade desembocar num verdadeiro caos teorético e subversiio prati melhantes transbordamentos provém do desconhecimento do dogma fundamental da Igreja, principio de sua idade na Verdade e ordem que ¢ 0 Magistério e a Autoridade do Papa e do Colégio Mpiscopal. ste Sinodo, esclarecido com a inteligéncia de notaveis repre- m grande serenidade e amor, inspirado pelo Espirito Divino, significa uma reafirmacio da reta Doutrina, sem renunciar novas projecées histéricas da mesma, e da disciplina da Ire sem renunciar a renovacio de sua vida em suas milli manifestagdes @ conexées com o mundo atual. Se os excessos, introduzidos por um modernismo redivivo depois do Concilio Vaticano II, puderam gerar confusio e erro na Doutrina e distorcer a vida e visio da Igreja em alguns de seus membros, a agao moderadora deste Sinodo volta a colocar a Igreja, enriquecida com todos os “aportes” da renovacio conciliar, no quicio de sua verdade no campo doutrinario, eno da moderacao e ordem no campo disciplinary; ¢ apresenta-a iluminada em sua auténtica face, renovada na unidade de sua doutrina, de sua unidade e de sua ‘disciplina. O Sinodo mostra de um modo vivo que nao existem duas Igrejas, uma tradicional e outra progressista, uma hierarquica e outra caris- miaitica mas uma s6, que 6, ao mesmo tempo, imutavel na verdade de seus principios ¢ atualizada por sua inserciio nas Novas circuns- tancias da histéria, juridica em sua constituicio divina e eclesidstica | sem deixar de ser evangélica e profética em sua pregacao; uma | Tgreja, que nio é uma Institui¢éo puramente humana, e sim fundada pelo mesmo Cristo com um fim e uma missio salvadora sobrena- | tural, que nao pode ser julgada com a medida das sociedades ter- | Fenas, por muitas analogias que com elas tenha. A Igreja aparece | como o Corpo vivo de Cristo, animada por seu Espirito, instaurada | 74 e do direito dat Ire sentantes da Tgreja e levado a termo no tempo, mas com uma finalidade que transcende, uma em sua Doutrina ¢ em sua organizacdio hierdrquica, que The vem do seu Pivino Fundador, preocupada em levar sua mensagem de Verdade e de amor a todos os homens € nagdes, para salva-los do pecado e de suas conseqtiencias, mediante a infusio da vida divina — que lhe yem por sua inser¢ao em Cristo-Cabeca — e restaurar “por acréscimo, no coracho purificado e nas almas pacificadas a ordem temporal em todas as suas manifestagdes e com ela, a da Justiga e da paz. A MISSAO DA IGREJA “A segunda questio de grande interesse, que foi encomendada ao estudo deste Sinodo, refere-se A instauracio da Justica no Mundo. To- davia, de discusses durante este Sinodo aparece claro quio extenso € o campo dessa atividade e quio. numerosas e grandes dificuldades leva consigo. Efetivamente, 0 Concilio Vaticano Segundo tratou ampla- mente essa questio e nés mesmos temos dirigido muitas vezes nosso pensamento para o tema, especialmente na enciclica Populorum Pro- gressio. E se haveis enfrentado esse mesmo argumento, nao foi em abso- Tuto vosso propésito resolver plenamente essas dificeis questées num breve espaco de tempo, mas haveis dado testemunho de que a Igreja, em meio as dificilimas circunstincias de nosso tempo, e consciente de que se deve entregar com renovado esforco para que se instaure mais perfeitamente a justica entre os homens, seja dando exemplo por si mesma, seja concedendo preferéncias aos’ pobres e aos oprimidos, seja formando a consciéncia dos homens para trabalhar pela justica social, seja finalmente recolhendo e fomentando todo género de iniciativas para auxiliar os miseraveis, tudo o que sera certamente um admiravel teste- munho de sua caridade no mundo e estimularé outros a percorrer este mesmo caminho. Naturalmente, nio sera supérfluo recordar que a missio propria confiada por Cristo a sua Igreja nao é certamente de ordem politica, econémica ¢ social, tendo-se prefixado um fim de ordem religiosa; toda- via ela pode e deve contribuir para a instauragio da justica, inclusive temporal. Tudo isso nao constitui certamente a finalidade plena e absoluta da propria Igreja, mas deve servir para consolidar o reino de Deus na terra, segundo aquela frase de Cristo: “Buscai primeiro o reino de Deus”. Se a acio da Igreja fosse despojada desse necessirio e primitive espirito, afastar-se-ia efetivamente dos preceitos do Evangelho e perderia pouco a pouco seu influxo e sua virtude para procurar o bem da vida terrena. Pois, como muito bem adverte 0 Concilio Ecuménico: “Desta missio religiosa derivam fungées, luzes € energias que podem servir Para estabelecer e consolidar a comunidade humana segundo a lei divina”. (Da alocugao de Paulo VI, no encerramento do Il Sinoda dos Bispos). eee 75 O SR. MCLUHAN A MEAGA VISITAR O BRASIL Dizem os jornais que 0 st. Marshall McLuhan, conhecidg publicititio norte-americano, devera vir ao Brasil proximamente 4 fim de ilustrar as inteligéncias patricias com suas maravilhosas descobertas. O homem é tio famoso que muitos ja se sentem antecipadamente deslumbrados com o que ele vai dizer. De nossa parte, o que achamos admirivel é o fato de set o st. McLuhan convidado pelo excelentissimo professor Candido Mendes, do. cente da PUC, do Rio de Janeizo, eminéncia parda e assessor da Veneranda Comissio Central da nao menos Veneranda CNBB. Entre Mendes e McLuhan hi uma grande afinidade: ambos sio do tipo que os devotos da “cultura de massas” classificam de “geniais”. Isso mesmo, mas ha uma pequena diferenca: Mendes que escreve e diz coisas absolutamente incompreensiveis, é de uma genialidade que ainda esta por ser descoberta, ao passo que McLuhan escreve e diz coisas demasiado dbvias para serem novas ou demasiado novas para serem verdadeiras. Assim & que o st. McLuhan fez 4 humanidade a seguinte revelacio: “o mundo de hoje é uma aldeia global”. Estupendo, sem divida. Desde entio, todos os gaudéncios do pais, que se locupletam com a psicanalise dos tolos agenciados através de TVs deseducativas passarani a gemer diante dos auditérios peque- no-burgueses essa maxima do mestre, a fim de exaltar 0 poder dos meios de comunicacio e proclamar “A Salvacao Pela Tecno- logia”. Realmente, realmente: no mundo de hoje sabemos tudo sobre a Rissia, a China de Mao, a cuba-libre e 0 apartamento do vizinho ao lado. Outra verdade indiscutivel: “a comunicagio é a mensagem”. Aqui, o st. McLuhan descobriu uma grande verdade sem perceber. No mundo atual, em que todos os meios de comunicagio foram colonizados pela Revolucio mundial, sé se veicula uma mensa- gem monolitica e passional. Qualquer que seja a comunicagio € 0 seu meio, a mensagem se dilui num contexto diversionista € tende a suscitar ressentimento e subversio contra tudo e contra todos. A comunicagao varia, mas a mensagem é sempre a mesma. Mas para dizer isso o st. McLuhan nfo precisaria vic aqui fazer conferéncias: bastaria enviar um telegrama. .. ee 76

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