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* GENIOZINHOS *

Profe sora, acho que tenho


bIcho -çarpinteï rol

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/ Ilustrações de
Barbara Esham Mike e Cari Gordon
— David Santos, estás a distrair o teu colega, outra vez!
— diz a professora, num tom sério. Para de fazer—

barulho com o lápis!

Tento explicar que s6 queria ver quantas vezes


conseguia fazer rolar o lápis até à beira da mesa
sem ele cair, mas a professora interrompe-me.
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— Não preciso de uma explicação,
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David, preciso é que prestes
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Mais uma vez, a turma inteira fica a olhar para mim. Acho que O problema é que, quando não estou a prestar atenção,
a professora não gosta lá muito de mim. Dá para ver por causa não estou a pensar em prestar atenção. Se eu me lembrasse
da maneira como a voz dela muda quando fala comigo. de prestar atenção quando não estou a prestar atenção, então
Ela usa a “voz de falar com o David”. prestava logo atenção, não é? Eu quero prestar atenção, mas é
tão difícil quando tenho uma ideia genial! Q~ando me surgem
Eu sei que a enervo; ideias destas, nada mais me parece importante!
s6 não sei como parar. ~Ç

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Não há dia em que não faça alguma coisa que arrelie a professora.
Estava a fazer tudo o que a professora tinha mandado,
Nunca faço de prop6sito, mas mesmo assim acontece, como da
s6 que com um pé no ar... até que caí.
primeira vez que fizemos um exercício chamado “simulação de
incêndio”. Bem, nesse dia ela ficou mesmo zangada... Se calhar ela ficou zangada porque a nossa turma foi a 6nica
que não ficou de pé, durante o exercício.
A professora mandou-nos fazer uma fila,
no parque de estacionamento. Eu tentei
prestar bastante atenção e fazer o que a
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—. professora mandava, mas de repente
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é que aguentava ficar
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com um pé no ar... ~~~1.

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Nem vi a professora atrás de mim, e não sabia que um ~inico pudim
S6 que isso nem foi nada, comparado com o que podia fazer tanta porcaria.
aconteceu ontem no refeit6rio. Tudo começou com — Mas o que é que te passou pela cabeça para fazeres uma coisa
um pudim de chocolate — e uma ideia... destas, David? ralhou a professora, zangada, com a “voz de

falar com o David


Eu não queria sujar tudo. S6 queria ver com quanta força
Eu tentei explicar que não sabia que o pudim
é que podia apertar a embalagem antes de...
se ia espalhar por todo o lado, mas a
bom, já estão a ver, não é?
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( professora interrompeu—me.
( —1~ — David, vou mandar um
recado aos teus pais.
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NÃO SEI PORQUE f~ QUE FAÇO ESTAS COISAS! Q.~em me dera conseguir controlar-’me.
Quem me dera conseguir pensar um bocado antes de
Percebo sempre as tolices que faço mas s6 depois de as fazer.

testar as minhas ideias.
que antes de serem tolices, parecem ser ideias mesmo boas.
Quem me dera não arreliar toda a gente.

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Tenho até segunda-feira para pensar num plano,
De noite, tentei ouvir o que os
meus pais estavam a dizer sobre
o recado da professora.
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e )~ sei o que vou fazer: encontrar uma cura
para o bicho—carpinteiro.

—e’.’ Sei que não sou o único miúdo que tem bicho-carpinteiro.
— O David s6 tem bicho—carpinteiro.
Q~ando era miúdo eu também tinha
Pode ser a minha maior descoberta de sempre!
bicho_carpinteiro. Tinha tantas
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ideias a fervilhar na cabeça que
não conseguia estar quieto —

contou o meu pai à minha mãe.


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— Bem, seja como for, a professora
do David quer falar connosco
na segunda—feira à tarde —

avisou a mãe.

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Passo a tarde de s~bado quase toda a ter ideias. Sou muito Tenho de ter a certeza de que nenhuma das curas para o
bom nisso. Ter ideias é uma das coisas que faço melhor. bicho—carpinteiro vai distrair os meus colegas ou a professora.

Quero dizer, tenho de pensar nas consequências.


Espero que os meus pais e a professora fiquem orgulhosos
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e de mim, para variar.
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Na segunda—feira, depois das aulas, vou ao meu cacifo Os meus pais e a professora estão na sala de aula.
buscar aquilo de que preciso para a reunião: o meu caderninho
Com a voz mais séria que consigo, digo:
e a minha...
— Pai, mãe, professora, no s~bado descobri exatamente qual
caixa de curas. é o meu problema. Aprendi coisas importantes que me ajudaram
a encontrar uma solução para este problema, que é muito grave,
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mas também muito comum.
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Olho para o meu pai e depois digo:
Os meus pais e a professora ouvem—me com atenção.
— O problema que tenho chama-se BICHO~CARP1NTEIRO!
uma coisa que se pode herdar dos pais, ou apenas ter—se;
eu herdei do pai. A diferença é que eu descobri
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uma cura. Passei o sábado inteiro
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— Inventei umas coisas que me vão ajudar a prestar 4 — Mas tenho mais curas para o
atenção afirmo, enquanto espalho uns cartões pela mesa.

L,oç bicho—carpinteiro, como este cron6metro


Estes são os meus cartões da atenção, marca registada.

silencioso. Descobri que, se souber exatamente


Se puser um destes cartões
na minha mesa, vai lembrar— Q ~ durante quanto tempo preciso de prestar
atenção não me distraio a ensar durante
-me de que tenho de me
concentrar e não ligar às quanto tempo mais tenho de prestar atenção.
ideias que me distraem.

Mal posso acreditar: a professora esta a sorrir

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para mim! Ela já não me sorria há muito,
mas mesmo muito, tempo. c~’otc~ )
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Acho que ela gosta das minhas curas. /

Assim, a professora escusa 4 —


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de gastar a voz e eu escuso de t ____________ 11


passar vergonha. É que, quando a. 7,—-
a professora me chama à atenção,
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toda a turma se distrai comigo.
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Depois, com a minha voz séria de fazer declarações, acrescento:
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— Naqueles dias em que o bicho-carpinteiro está muito ativo,
tenho de ter alguma coisa para fazer, nem que seja s6 mexer 0 ‘~•‘ ••Ç\
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em qualquer coisa, como esta bola de borracha.
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Reparei que, quando brinco com a bola em casa, isso me (.
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ajuda a prestar atenção. Não sei como, mas funciona. 1~~- ir—e - ~- 1 J
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— Outra maneira de curar o bicho-carpinteiro é mexer-me um
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bocadinho. Às vezes parece que as minhas pernas vão desatar
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a correr sem mim. Se eu pudesse ir apagar o quadro, ou passar


Espero que a professora papéis aos colegas ou, melhor ainda, levar os seus recados
ainda me esteja a ouvir. à secretaria, se calhar tinha as pernas mais sossegadas
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quando estão debaixo da mesa.

Gostava tanto que a professora compreendesse!


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— Bom, era s6 isso que eu vos queria dizer hoje. Estou — As tuas curas também podiam funcionar bem em
disponível para responder a qualquer questão que tenham — casa lembra a mãe.

digo, recolhendo os meus objetos.


David, tens sempre umas ideias tão originais!

— Bem, estou impressionada, David! exclama a professora,



Fazes-me lembrar um mii~ido que eu conheci diz

com uma voz nada zangada. Acho que as tuas ideias



o pai, a sorrir e a piscar o olho.
são ôtimas. Vamos começar a usá—las já amanhã.
Como disseste, vamos ter de ter cuidado para que
as tuas curas não distraiam os colegas, mas acho
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—Sabe, professora, estava a pensar... começo, sentindo—me
— — Acho que o teu plano me vai ajudar a curar a turma toda
confiante. Acho que a minha caixa de curas também podia
— do bicho—carpinteiro — afirma a professora, com um sorriso. —

ajudar o João. Ele não é tão irrequieto como eu, mas acho que Lembro-me bem de quando eu tinha bicho-carpinteiro. Estava
às vezes fica cansado de estar sentado, especialmente nas aulas sempre a levantar—me durante as aulas de Ciências da Natureza
de Estudo do Meio. Também tenho reparado que a Carina se para ir ver os projetos ou olhar pelo microsc6pio. A minha
distrai muito com o Tomás quando ele começa a fazer disparates; professora estava constantemente a dizer—me para estar quieta,
o Tomás é caladinho, mas, quando faz o n6mero do nariz de senão não me deixava ir fazer experiências científicas.
palhaço, toda a gente se ri! Se calhar, com um bocado de ajuda,
o resto da turma também se pode curar do bicho—carpinteiro. ~4)

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— David, há muitas pessoas com mentes brilhantes que
- O QUÊ? A PROFESSORA TAMBÉM TINHA t~m bicho—carpinteiro responde ela, com um sorriso.

BICHO-CARPINTEIRO? Reparo que á não usou a “voz de falar com o David”.

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O tema deste livro a ATENÇÃO é bastante complexo.
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Recursos para Estudado por diversos profissionais, torna-se importante que os


PAIS e PROFESSORES educadores acompanhem esta investigação. Hoje em dia, muitos
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especialistas definem a “atenção” não como uma função cognitiva
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Esta coleção destina—se a ajudar os. seus. ~ ç_/ ~‘Jç ~inica, mas como o resultado de diversas funções que precisam
filhos, alunos ou educandos a descobr~i.r:em de funcionar em conjunto.
que são geniozinhos! Através de hist6rias
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divertidas e cativantes, os livros desta . ~.

coleção são uma maneira f~ci1 e ac~ssíve1 .

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de discutir os problemas de a~piiend~irz~agem.~.
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e os obstaculos que podem. surgir ao •. -. .
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potencial do seu “geniozinho” na~.. ..


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sala de aula.

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Em www.mainstreamconnections.org encontrará uma enorme variedade


de recursos que o ajudarão a saber um pouco mais sobre o processo de Saiba mais sobre este tema em www.mainstreamconnections.org
aprendizagem e sobre o que significa realmente ser “inteligente”
— (site em inglês) e sobre os livros desta coleção publicados em
e “bom aluno” (que nem sempre são a mesma coisa). Portugal em www.arteplural.pt.

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