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2 Suas Notas

3 Perfil: José Miguel Wisnik


4 Efeito Sonoro
5 Aqui na Weril: Bocato
8 Intercâmbio
9 Workshop: Exercícios de respiração
10 Monte sua discoteca básica de jazz

Maio/Junho - Ano 21 - nº 123


12 Nivaldo Ornelas: reciclando emoções
Distribuição Gratuita - www.weril.com.br

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O Sopro no Pagode
11
SUAS NOTAS

Leitores aprovam a nova Revista Dicas & Técnicas


Weril
“Parabéns à Revista Weril e ao Ivan Meyer pelo texto
“A Revista Weril ficou linda demais no novo formato” ‘Superagudos no Sax I’ (edição nº 121), que ficou exce-
Célio Martinato - Jundiaí (SP) lente, didático e muito claro. Há tempos sentia falta de
artigos assim em português. Ivan aborda o tema de for-
“Estou muito orgulhoso por receber a nova Revista Weril. ma objetiva, deixando o músico à vontade para iniciar o
Ela já era da melhor qualidade, mas agora a impressão treinamento. Parabéns também ao Angelino Bozzini pela
e suas matérias surpreenderam. Parabéns à equipe que matéria sobre os regentes”
trabalha nesse projeto” Fábio José P. Lima, por e-mail
Carlos Antonio da Silva, por e-mail
“A Revista Weril tem abordado com muita maestria a
“Parabéns pelo artigo “Música para Leigos” (edição nº técnica musical, com textos bem elaborados e ilustrações
122). Concordo com a professora Graziela Bortz quando esclarecedoras. A matéria sobre os superagudos no sax
diz que devemos possibilitar o acesso da música a todos. estava ótima”
Em tempo: a Revista ficou uma maravilha” Adão G. C. dos Santos, São João da Barra (RJ)
Daniel Carlos Moreira - Itu (SP)
“Gostei muito das Dicas & Técnicas de Ivan Meyer so-
Da clarineta ao sax bre as posições dos harmônicos. Já estou aplicando seus
Registramos ainda as cartas e e-mails gentilmente
ensinamentos no sax alto”
enviados por:
Alexandre Votter Bruning, Entre Rios do Oeste (PR);Associação “Tenho 12 anos e comecei a Carlos A. José Sobrinho, Taquaritinga (SP)
Lira Musical Abadiense, Abadia dos Dourados (MG); Banda Mar-
estudar clarineta na Filarmônica
cial Nossa Senhora do Carmo, Pombos (PE); Cérlison Ohnesorge, R: O objetivo do saxofonista Ivan Meyer era esse mes-
Engº Coelho (SP); Charley Soares Feitosa, Monteiro (PB); Cláudio de minha cidade. Foi minha mãe
que me inscreveu nas aulas, saben- mo: abordar um assunto importante como os superagudos
César dos Santos, Sorocaba (SP); Desimar Mauro de Souza, São
Domingos do Prata (MG); Eules Santos, Fortaleza (CE); Ewerton do que meu grande sonho sempre de forma clara e objetiva, para incentivar seu estudo. É
Costa Gonzaga, Osasco (SP); Fabrício Costa Idalino, Laguna (SC);
foi tocar saxofone. Por enquanto, sempre uma experiência enriquecedora conferir os arti-
Fausto Ferreira da Silva, Itaúna (MG); Filarmônica Visconde do gos de nossos colaboradores.
Rio Branco, Visconde do Rio Branco (MG); Gledson Silva da Con- estou aprendendo a tocar a
ceição, Camaçari (BA); Grupo Musical 2 de Janeiro, Canavieiras clarineta Weril. Gostei bastante do
(BA); Henrique Perbeche, Pe., Ponta Grossa (PR); Irisnaldo Silva instrumento, parabéns pela quali- “Achei espetaculares as Dicas & Técnicas sobre regên-
Santos, Pilar (AL);Jaques Nirenberg (por e-mail); Jonathan J. Lima
dade. Meu professor disse que logo cia (edições nº 120 e 121). As entrevistas com estrelas do
dos Santos, Várzea Grande (MT); José Antônio Pereira Bueno, Novo jazz também são o máximo”
Horizonte (SP); José Carlos de Lima Jr., Sorocaba (SP); José Sandro poderei tocar saxofone e realizar
meu sonho. Só depende da minha Daniel Estevão, Campos do Jordão (SP)
Ventura Alencar, Piancó (PB); Josué Mendes da Silva, Paulista (PE);
Juliana Soares da Costa (por e-mail); Junior O. Cruz, Campinas dedicação”
(SP); Leandro Cremasco, São Paulo (SP); Lídia Correa, São Paulo
Douglas Barros de Oliveira,
(SP); Luciano Luiz Torres, São Paulo (SP); Márcio Leandro de Oli-
veira, Brasília (DF); Nelson Moreira Campos, Taubaté (SP); Neri Miguel Calmon (BA) Sinfônica x Filarmônica
Rodrigues Contim, Juiz de Fora (MG); Olavo Belintani Filho (por
e-mail); Orlando Russo Filho (por e-mail); Ozenildo Severino da R: Estudar com muita vontade “Qual a diferença entre orquestra sinfônica e orques-
Silva, Recife (PE); Paulo Antonio Cassiano, Juiz de Fora (MG);
é realmente o caminho mais curto tra filarmônica?”
Ricardo G. de Figueiredo, Hortolândia (SP);Roberto Marques da
Silva Filho, Itaúna (MG); Rosimeire Francisco, São José dos Cam- para um músico se destacar, seja Moisés E. O. Tomaz, Nerópolis (GO)
pos (SP); Sérgio Francisco Vieira, Leme (SP); Sidnei F. Coelho, ele iniciante ou profissional. Con-
Barra Mansa (RJ); Sidney Barros, Natal (RN); Wagner Gregório, tinue se esforçando, nos estudos e R: Filarmônicas são orquestras patrocinadas por enti-
Andirá (PR); Welliton C. Nogueira, Magé/RJ; Wilson de Almeida
na vida, que logo novos sonhos se dades privadas. As orquestras sinfônicas, por sua vez, são
Pinto, Sorocaba (SP); Zonir Pereira Menezes, Porto Alegre (RS).
tornarão realidade. mantidas por órgãos públicos.

expediente
REVISTA WERIL é uma publicação bimestral da Weril Instrumentos Musicais Ltda.
Conselho Editorial: Angelino Bozzini, Demétrio Lima, Eduardo Estela, Gilberto Gagliardi, Ivan Meyer, Jessé
Martinez, Magno D’Alcântara, Marcelo de J. Silva, Milton Lelis.
Editora: Aurea Andrade Figueira (MTb 12.333) - Redatores: Nelson Lourenço e Maria Helena Diniz - Fotos da
capa: Beatriz Weingrill/Arquivo Pessoal - Redação e correspondência: Em Foco Assessoria de Comunicação - Rua
Dr. Renato Paes de Barros, 926, São Paulo/SP 04530-001 e-mail: iweril@uol.com.br
Projeto gráfico, diagramação e editoração eletrônica: Matiz Design - Tiragem: 15 mil exemplares
Atendimento ao Consumidor Weril 0800 175900

2 Revista Weril - nº 123 - Maio/Junho -1999


PERFIL

Música em todas
as suas formas

Beatriz Weingrill
Um dos maiores estudiosos de música, professor de
literatura na Universidade de São Paulo, compositor e
ensaísta renomado, José Miguel Wisnik é unanimidade
naquilo que se propôs: tornar-se uma pessoa que pensa e
faz música. Sua habilidade em transpor para o mundo
dos sons todo o conhecimento adquirido nos livros tor-
nou-o fonte para o aprimoramento de estudantes, músi-
cos e profissionais da área musical.
Por mais difícil que possa parecer, conciliar os encar-
gos de músico, escritor e professor - com a realização das
múltiplas tarefas que essas atividades impõem - comple-
ta profissionalmente Wisnik. “Desse modo, me sinto in-
teiro; é impossível desmembrar uma coisa da outra”. Hoje,
ele considera-se uma pessoa que lida com música e pala-
vras, duas frentes que se encontram. Entre seus projetos
para 99 estão a preparação de um livro sobre Guimarães
Rosa e o lançamento de um CD com composições exclu-
sivamente de sua autoria.
O talento de Wisnik pode ser apreciado em composi-
ções - sempre interpretadas por grandes nomes da MPB-, e compositores realizam, hoje, um trabalho ainda mais “Devemos estar
espetáculos de dança, peças teatrais, cinema e ensaios, intenso do que o feito há 30 anos. A diferença é que a sempre expandindo
com destaque para o livro “O Som e o Sentido”, obra que mídia está preocupada em investir nos produtos que te- o conhecimento
se tornou uma referência para o segmento musical e que nham retorno imediato. Por isso, os profissionais talen- musical, do sertanejo
foi relançada há pouco, acompanhada de um CD. Em “O tosos acabam trafegando perifericamente. Compositores ao clássico. É
Som e o Sentido”, Wisnik explica as relações entre os já consagrados, por sua vez, continuam recebendo o mes- importante não
sons, criando uma analogia entre batimentos cardíacos e mo destaque e produzindo música da melhor qualidade. empobrecer nossa
respiração com ritmos correlatos na música. “Um acorde Para ele, também a música clássica evoluiu muito nos capacidade de ouvir”
é, na verdade, um jogo de ritmos”, ensina. últimos anos. “Na época em que estudava piano, o reper-
tório era formado apenas por composições do século pas-
A poesia e a MPB sado, diferente dessa vanguarda da música instrumental,
que domina vários instrumentos, toca música de câmara,
Desde criança, Wisnik teve sua vida ligada à música e contemporânea, barroca, entre outras. A faculdade de
à literatura. Das aulas de piano aos livros de Monteiro música contribuiu para esse fenômeno, formando músi-
Lobato, ele encontrou na canção popular uma das formas cos que transitam de um estilo para outro com a maior
mais privilegiadas de poesia. Como crítico e ensaísta, facilidade”, explica.
defende com veemência que a música brasileira passa atu- Diante desse quadro, Wisnik é da opinião que o músi-
almente por um dos seus momentos mais criativos. Sobre co precisa ampliar os horizontes, fugindo dos preconcei-
a Tropicália, diz que o movimento surgiu numa época de tos para experimentar novos rumos musicais, sem medo
“grandes esperanças e grandes ilusões, para as quais a de ouvir. “Devemos estar sempre expandindo o conheci-
MPB era o grande fermento”. Ele não sente aquele “sau- mento musical, do sertanejo ao clássico. É importante não
dosismo doentio, que evita aceitar as boas novidades e empobrecer nossa capacidade de ouvir”, sentencia ele.
segue insistindo no jargão de que nada de qualidade foi “Só podemos aprender abrindo mão do preconceito de
feito depois dos anos 60”. classe, travestido de posição crítica. Todo tipo de música
Segundo Wisnik, grandes instrumentistas, arranjadores vale a pena”, completa.

O Som e o Sentido, de José Miguel Wisnik, 2ª edição, 284 páginas, acompanha


um CD. Editora Companhia das Letras, R$ 36,00

Revista Weril - nº 123 - Maio/Junho -1999


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EFEITO SONORO

R X AIO
O som suave e angelical da nova
Clarineta em Dó Weril
Se fosse só pela sonoridade, a nova Clarineta Weril “O instrumento é perfeito para iniciantes, pequenos con-
em Dó já seria um arraso. Mas o design revolucionário, o juntos, sinfônicas ou bandas evangélicas. Não existe uma
corpo em ABS com furação feita no Centro de Usinagem banda que não possua clarineta, é um instrumento de lar-
Weril e suas 13 chaves prateadas, produzidas por proces- ga utilização”, explica.
so de microfusão, acrescentam ao instrumento maior du- Segundo Hipólito, o transporte de Sib para Dó em um
rabilidade e beleza. A inovação fica por conta do novo instrumento é complicado e exige muita prática do músi-
registro, com borda saliente, para facilitar a manipulação co. Se pensarmos que existem milhares de músicos espa-
e evitar erros. É perfeita para iniciantes e no acompanha- lhados pelo Brasil, principalmente em igrejas evangéli-
mento de hinários evangélicos, que exigem instrumentos cas, tocando música sacra, concluiremos que a Clarineta
afinados em Dó. em Dó facilitará o trabalho desses músicos, além de fazer
Para testar o lançamento, a Revista Weril convidou o com que mais pessoas sintam vontade de tocá-la.
regente e clarinetista Waltercides Hipólito da Silva. Mem- Estudantes e iniciantes também são beneficiados, já
bro do corpo de regência da Congregação Cristã do Bra- que o aprendizado desse instrumento é muito mais fácil,
sil, ex-regente da Banda da Polícia Mi- se comparado a outros instrumentos de sopro. No início
litar de São Paulo, há 38 anos ele ado- das aulas, o aluno já consegue executar, com facilidade, a
tou a clarineta como instrumento e pro- escala de notas. A estrutura da Clarineta permite que o
fissão. Sobre a Clarineta em Dó Weril,
Beatriz Weingrill

acionamento de cada chave emita uma nota musical. “Se


Hipólito - como é conhecido - fez ques- o aluno tiver vontade e aptidão, não encontrará dificulda-
tão de ressaltar a sonoridade e afinação. de”, finaliza.

Detalhe da nova Clarineta em Dó Weril

Hipólito: “A música sacra


D ICA DO MESTRE
O hinário padrão executado em igrejas evangélicas não
deve expressar sentimentos usa agudos, preferindo tons médios e graves. Daí a utili-
espirituais, com sonoridade zação desse modelo de clarineta em todos os conjuntos
suave e angelical, próprios da evangélicos, harmonizando com o tom do piano, do ór-
Clarineta em Dó” gão ou do teclado. “Vale ressaltar que o modelo não obri-
ga o músico a realizar o transporte de Sib para Dó no
instrumento”, acrescenta Hipólito.

Tuba Compacta 4 Pistos em Dó da Weril


Atendendo a pedidos, a Weril preparou a versão em Dó da nova Tuba 4 Pistos. Com a mesma versatilidade do modelo
em Sib, o instrumento possui estrutura especialmente reforçada e oferece mobilidade e qualidade sonora.

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AQUI NA WERIL

Programa de workshops da
Weril completa

4 anos de Bocato

Novo CD

Beatriz Weingrill
A Weril desenvolve há quatro anos o “Como Montar
uma Fanfarra”, um programa de workshops dirigido às
escolas públicas e privadas de São Paulo, que já passou
por 150 instituições de ensino em todo o estado. Coorde-
nado pelo maestro Milton Pereira Lellis (Chocolate), o
workshop mostra a alunos, professores e diretores o quan-
to o aprendizado musical pode ser fácil e divertido, prin-
cipalmente quando se utilizam os recursos da fanfarra.
As atividades práticas e teóricas de Chocolate e seu
auxiliar José Donizeti prendem a atenção das crianças e
as estimulam a participar da fanfarra, com o incentivo
dos professores. O resultado é que muitos grupos surgi-
ram, outros foram reativados e já existem as fanfarras que
se transformaram em bandas.
Esse é o caso do Colégio Nossa Senhora das Dores,
na capital, um dos primeiros a receberem o workshop. À
época, o próprio Chocolate foi convidado para dirigir a
fanfarra recém-criada. Hoje, quatro anos depois, o maes-
tro está preparando os músicos para a mudança de uma
formação simples, apenas com cornetas e percussão, para
a formação de banda, com naipe de sopros completo. “O Chega ao Brasil “Samba de Zamba”, do internacional trombonista Em “Samba de
esforço dos alunos agora será muito maior, mas estão to- Bocato. Lançado oficialmente em 17 de maio, durante show no Sesc Zamba”,
dos muito animados”, comenta Chocolate. Paulista, o CD contou com o apoio da Weril na produção. Durante Bocato celebra
Segundo ele, o período de transição irá durar três me- visita à fábrica, em Franco da Rocha, Bocato conferiu as novidades sua
ses. Esse é o tempo suficiente para os músicos adquiri- em instrumentos e entregou pessoalmente o CD ao diretor superin- maturidade
rem uma embocadura em instrumentos como o trombone tendente da empresa, Nelson Eduardo Weingrill. musical
de vara, por exemplo. “Para quem passa da corneta para Em “Samba de Zamba”, Bocato celebra a sua maturidade musi-
o trompete é mais fácil. Mas a adaptação para outros ins- cal, que, associada a excelentes condições técnicas, produziu um
trumentos é mais demorada”, explica Chocolate. trabalho capaz de transitar livremente no mercado da música, sem
Com a mudança, o repertório também amplia-se consi- rótulos. “Samba de Zamba” conta com a participação especial do
deravelmente. “Poderemos executar peças populares, o conjunto formado pelos músicos Felipe Lamoglia (sax tenor), Tiago
que irá aumentar a procura dos alunos pela banda”, afir- Costa, Gilberto Pinto, Marcelo Munari e Marco Costa.
ma Chocolate. Para ele, o período de quatro anos entre a Em uma combinação de vários estilos musicais brasileiros, Bocato
formação da fanfarra e a passagem para banda está den- obtém uma mescla sutil e agradável do samba e do jazz, em sua
tro da média. No começo, foram 10 meses de ensaios até busca por uma síntese harmônica do espírito nacional. “Este CD
a Nossa Senhora das Dores poder se apresentar com se- marca minha retomada como compositor, sendo resultado de um
gurança. trabalho feito com liberdade e que expressa um estilo de música
Chocolate acredita que pelo menos 50% das escolas feita para os pés e para a cabeça também”, completa o trombonista.
visitadas ativaram ou reativaram sua fanfarra.

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POR ESTAS BANDAS

O show das
Ritmo, graça, desenvoltura, alegria, beleza. Acompa- “As balizas, assim como os músicos, fazem uma série de
nhar os movimentos da baliza é um atrativo a mais na sacrifícios apenas pela satisfação de desfilar”, diz ela.
grande festa proporcionada por uma banda de música. À Foi essa paixão que levou a baliza Márcia Helena
frente de suas corporações, juntamente com as porta-es- Duque a ingressar no meio das fanfarras. Em 1983, ela já
tandartes, guardas de honra e outros destaques, elas anun- participava de desfiles. Tornou-se bailarina e coreógrafa,
ciam a passagem dos músicos com delicadeza e simpatia. fez cursos de especialização em Nova York, mas não dei-
É um momento de realização. Pouco importa se o sacrifí- xou o universo das bandas. Depois de ser a baliza da
cio para se apresentar é grande. O aplauso do público memorável banda do Colégio Paralelo (dirigida pelo ma-
compensa as horas de treinamento, as viagens e, muitas estro Domingos Sacco), aceitou o convite para se inte-
vezes, a decepção com os rigorosos jurados dos desfiles. grar à banda do Colégio Progresso, em Guarulhos, onde
As balizas começam a realizar suas evoluções muito está atualmente. “Adoro participar de festivais. As via-
cedo. A campeoníssima Priscila Yokoi é um exemplo. Ela gens de fim de semana são desgastantes, mas vale a pena.
começou a se apresentar com a Banda Marcial do Colé- O mais gratificante é entrar na avenida e ganhar o aplau-
gio João XXIII, de São Paulo, aos oito anos de idade. so do público”, explica ela.
Hoje, aos 15 e se recuperando de uma fratura no pé, deci- Além do eventual cansaço que as viagens podem pro-
diu “se aposentar” e se dedicar apenas ao curso de balé. vocar, as balizas reclamam do rigor de alguns jurados ao

Inspiração divina
A maior orquestra evangélica do país surpreende pela tos hinos de louvor, que são a maioria entre as faixas do
grandiosidade e pela maneira como consegue unir a tra- primeiro CD gravado pela orquestra.
dição da música erudita de inspiração religiosa - realiza- Lançado recentemente, o CD mostra ao público em
geral um pouco do trabalho da filarmônica, reconhecida
como um centro formador de músicos de primeira linha,
Divulgação

muitos deles já se apresentando profissionalmente nas me-


lhores orquestras de São Paulo. O trompista Eraldo Alves,
por exemplo, pertence à Sinfônica do Estado. Outro ta-
lento da trompa, Francisco da Silva, segue carreira
meteórica, atuando na Orquestra Jovem Estadual. “A
maioria dos músicos que conseguem projeção continua
colaborando conosco”, explica o maestro da corporação,
Jeremias de Oliveira Rufino.
Para o ano 2000, o objetivo da AD Nipo é ampliar o
centro de música que possui e oferecer aulas gratuitas
para toda a comunidade. Os professores serão os própri-
os músicos da Filarmônica. “A música instrumental ele-
va o espírito, e a igreja é um local onde as pessoas des-
pertam para a beleza proporcionada pelo som de um sax,
de um trompete. Por isso, as orquestras evangélicas tor-
Filarmônica AD naram-se um celeiro de músicos”, conclui o maestro
Nipo: a maior da por Bach, Haendel, Mendelsson e até mesmo Jeremias.
corporação Beethoven - à execução de temas da cultura “pop”, como Além da Filarmônica, a AD Nipo mantém a Celestial
musical as trilhas dos filmes Guerra nas Estrelas e ET. São 137 Jazz Band, que agrupa os metais da orquestra. Quem qui-
evangélica do músicos, incluindo 11 trompetistas, 8 saxofonistas, 9 ser conferir as apresentações da Celestial pode compare-
país trompistas e 7 trombonistas, que se revezam nos concer- cer na sede da igreja em São Paulo, às quartas e sábados,
tos. Com esse naipe de sopros invejável, toda apresenta- das 19h30 às 21h30. A Filarmônica toca nos cultos do-
ção da Filarmônica AD Nipo acaba se transformando em minicais, sempre às 19 horas. Informações pelo telefone
uma celebração. O repertório contém, naturalmente, mui- (011) 278-6844.

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POR ESTAS BANDAS

balizas

Arquivo
aplicar o regulamento dos campeonatos Nacional e Esta-
dual, que cobram delas movimentos acrobáticos de gi-
nástica olímpica em pleno asfalto. “Os concursos exigem
muito nesse aspecto, mas acho que a ginástica olímpica
não é mais importante que a ginástica rítmica, por exem-
plo. A baliza deve se preocupar com o conjunto da apre-
sentação e utilizar técnicas e movimentos variados”, de-
fende Márcia. A baliza Denise Kindermann, da Fanfarra
Marcial Independente Águias Negras, de São Paulo, con-
corda com ela. “O que é importa é a dança, a beleza. Es-
sas exigências estão afastando as meninas. Nós não so- Márcia Duque, baliza
mos ginastas, e o asfalto não é um lugar apropriado para há 15 anos: paixão
fazer ginástica”, afirma Denise. pelos desfiles
O coréografo Gilson Kindermann, tio de Denise, acom-
panha o cenário das balizas e reforça: fazer evoluções de
corda, bandeira ou bastão - objeto que, aliás, é muito li-
ginástica olímpica é muito complicado na avenida. “O
gado à imagem da baliza.
espaço, as condições do terreno e, muitas vezes, as rou-
Além das coreografias, a modernização atingiu tam-
pas, não são adequados para isso”, completa ele.
bém o vestuário. As roupas tradicionais das balizas cos-
tumam ser repletas de bordados e lantejoulas. São pesa-
Coreografias
das e dificultam os movimentos. Mas já existem vestidos
mais leves e confortáveis. O uniforme geralmente inclui
Assim como Márcia, Priscila e Denise, a maioria das
um quepe ou chapéu no estilo da banda e as botas, que
balizas possui conhecimentos de balé clássico, ginástica
alguns coreógrafos abominam. “O couro acima dos tor-
olímpica ou ginástica rítmica desportiva (GRD). Pode-
nozelos atrapalha a baliza. É melhor substituir a bota por
mos considerar que há milhares delas no Brasil, já que
uma polaina com sapatilha, que dá mais aderência e equi-
praticamente toda banda ou fanfarra possui uma baliza
líbrio”, explica Abel.
entre seus componentes. Mas esse número poderá se mul-
Todos esses detalhes tornam os concursos de balizas
tiplicar, pois algumas corporações já estão desfilando com
cada vez mais disputados. Não é raro dar empate na con-
grupos de balizas. É o caso da Fanfarra com Pisto do
tagem final e o título ter que ser dividido entre duas ou
Colégio Pinheiro, em São Paulo (SP), onde o coreógrafo
mais concorrentes. De qualquer maneira, vencendo ou
Abel de Morais introduziu uma apresentação com cinco
não, o apoio das corporações às suas balizas é fundamen-
garotas. Após muito ensaio, elas atingiram o grau de
tal. “Nenhuma baliza é remunerada, então o mínimo que
harmonização necessário para conseguir efeitos como a
as bandas devem fazer é reconhecer o nosso esforço. Meu
troca simultânea de objetos no ar, arremessados pelas cin-
primeiro uniforme foi pago do meu próprio bolso e isso
co balizas ao mesmo tempo.
só foi possível porque a costureira e o figurinista não co-
A presença de coreógrafos como Abel e Gilson está
braram pelo trabalho. Só mesmo quem ama as bandas é
se tornando corriqueira entre as bandas. Eles se encarre-
que pode entender todo esse nosso sacrifício”, lembra
gam não apenas do trabalho com as balizas, mas também
Denise.
da performance de todo o pelotão de frente das corpora-
ções. Abel orienta as balizas do Colégio Pinheiro com
dicas importantes. Para ele, uma baliza não deve ser nem Apoio às fanfarras e bandas do MS
uma ginasta pura, nem uma bailarina, mas sim uma mis-
tura das duas especialidades. “Sempre digo para as meni- O governo do Mato Grosso do Sul lançou o Programa Estadual de Apoio às
nas para não correrem risco tentando ser uma ginasta no Fanfarras e Bandas. O objetivo é cadastrar as agremiações existentes no Estado,
oferecer instrumentos musicais dentro do Projeto Bandas, da Funarte, orientá-las
asfalto, pois sempre existe a possibilidade de surgir um
sobre leis de incentivo, cursos e workshops e incentivar a realização de concursos
problema físico mais grave. Elas podem machucar o pé musicais.
ou até mesmo a coluna”, comenta. Informações: Fundação de Cultura - Secretaria de Estado de Cultura - Governo do
Apesar de todas as novidades, entre as coreografias Estado de Mato Grosso do Sul - Av. Afonso Pena, 2986 - Campo Grande (MS) -
mais aplaudidas ainda estão as evoluções com fita, bola, 79002-075 - Telefones (067) 725-7181 e 742-1987, após as 13 horas.

Revista Weril - nº 123 - Maio/Junho -1999


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FIQUE DE OLHO

Quinteto de Sopros de Curitiba lança CD


Foram dois anos de espera, mas valeu a pena. Já está
disponível para quem quiser conferir o primeiro CD do
Quinteto de Sopros de Curitiba, grupo formado para di-
vulgar a música erudita brasileira, que conta com o ven-
Quinteto de Sopros de Curitiba: cedor do 1º Prêmio Weril para Solistas de Instrumentos
Ovanir (segundo da esq. para de Sopro, o clarinetista Ovanir Buosi, em sua formação.
dir.) venceu o 1º Prêmio Weril Gravado em 97 e remasterizado no ano passado, o dis-
co só saiu com o apoio da Lei Municipal de Incentivo à
Cultura, de Curitiba. Inclui composições de Villa-Lobos,
Ernesto Nazaré, Radamés Gnatalli e Júlio Medaglia, en-
tre outros. Os interessados em adquiri-lo podem ligar para
a Sociedade Cultural Elysium, telefone (041) 262-8498.

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Intercâmbio
Intercâmbio
Intercâmbio
edição da Revista Weril as dicas de lojas em todo o país l Alessandro Alves da Silva deseja se corresponder com
Opus Foundation, dedicada onde é possível adquirir esses materiais. trompetistas de todo o Brasil, para troca de partituras,
ao músico e professor norte- Neste número, as lojas indicadas são de São Paulo. Os métodos e experiências. Seu endereço é: Rua General
americano, cuja vida foi pedidos podem ser feitos pelo telefone. As partituras são Osório, 50, Jd. João Paulo II, Sumaré/SP, CEP 13172-
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Richard Dreyfuss no papel- Free Note - Rua Teodoro Sampaio, 785, Pinheiros, tele- dência com coordenadores de bandas marciais e
título. É destinada a fone (011) 853-4690. As compras também podem ser fei- fanfarras, para aprimorar seu trabalho à frente de sua
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Pontas de Pedras, Goiana/PE, CEP 55908-000, ou pelo
A promoção é da Academia Nacional de Música. Informações pelos telefones
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(021) 240-1491 (ramal 53), 543-9442, 547-3813 ou 552-2984. Ou ainda pelo fax
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(021) 551-7672/543-9442.
das que precisem de balizas. Cartas para: Rua 9 de
Julho, 143, Centro, Peruíbe/SP, CEP 11750-000.

8 Revista Weril - nº 123 - Maio/Junho -1999


WORKSHOP

RESPIRAÇÃO
RESPIRAÇÃO
Matias Capovilla*

É redundante dizer que o aspecto mais importante para para fora e o peito para frente e para cima, sempre man-
a formação e manutenção de um instrumentista de sopro tendo uma postura ereta e deixando os ombros relaxados,
é a respiração. De um modo geral, todas as atividades do como se os músculos que trabalham para este processo
corpo e da mente, e esta é uma delas, rendem muito mais estivessem independentes do quadril e da coluna verte-
quando se possui uma postura e uma respiração adequa- bral, sem interferir com os outros.
das. O próprio ditado diz: “Respire fundo e resolva tal Para soprar o movimento é contrário, exceto pelo fato
situação”. de que o abdome continuará tenso dessa vez, empurran-
Como tocar um instrumento de sopro exige uma capa- do o diafragma como um êmulo para cima. Nunca pressi-
cidade extra de ar, deve-se dar uma atenção especial a one o bocal contra os lábios. Quando se ensaia uma apre-
esta função.As dificuldades com a sonoridade sempre são sentação com um repertório pré-estabelecido e todo ele
atribuídas a uma embocadura inadequada, como se isso escrito, pode-se aos poucos prever e controlar os momen-
fosse o mais importante. Se fosse realmente, os saxofo- tos em que se usa mais ou menos ar, como um maratonista
nistas que possuem a palheta pronta para vibrar pratica- que já conhece o percurso e é consciente de sua capaci-
riam menos que os instrumentistas de bocal, mas isso não dade. Já numa performance onde se abre para improvisa-
acontece. ções é imprevisível a duração, as direções e a intensidade
Através de exercícios de respiração e notas longas, que se irá precisar. É como um jogador de futebol que
principalmente para o aquecimento antes dos estudos ou precisa estar sempre pronto para um imprevisto, o que
de uma apresentação, consegui superar as dificuldades e torna sempre bom estar preparado além do necessário. O
obter progressos rapidamente. Exercícios de flexibilida- aquecimento a seguir é muito simples, porém muito útil
de com respiração contínua (fazer os intervalos sem se- para o primeiro contato do dia com o instrumento:

parar com a língua) também são importantes e eficazes, A dinâmica, a duração e a alternância da descendência e
tais quais os que integram o método de trombone para da ascendência são elementos positivos para um bom
iniciantes do prof. Gilberto Gagliardi. Não uso uma mo- aquecimento.
vimentação específica do tórax e abdome para a inspira-
ção e sustentação da coluna de ar, e sim procuro preen- * Matias Capovilla é trombonista, arranjador e
cher o pulmão puxando o diafragma para baixo, as costas compositor (e-mail: anapar@zaz.com.br)

Revista Weril - nº 123 - Maio/Junho -1999


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MÚSICA VIVA

Apure os ouvidos com os mestres


O mercado fonográfico brasilei- reproduzir capa, prensar e cuidar de

Beatriz Weingrill
ro ainda é carente de ofertas em outros detalhes.
muitos gêneros musicais. O jazz cer- A lista de Calado tem indicações
tamente é um deles. Por isso, quem para oito instrumentos. O crítico
está interessado em montar uma dis- procurou ser o “mais equilibrado
coteca básica e ter sempre à mão as possível”, e o resultado é uma rela-
melhores gravações com as feras do ção que inclui alguns clássicos do
sopro precisa estar preparado - essa jazz, obras que devem fazer parte
As sugestões do não é uma tarefa fácil. não só da discoteca de um músico
Atendendo à solicitação da Re- dedicado ao sopro, mas de qualquer
crítico Carlos Calado vista Weril, o crítico de música apreciador do gênero. Calado só la-
para começar a Carlos Calado, da Folha de S. Pau- menta não poder indicar um título
lo, preparou uma relação de CDs para performance com flauta. “Atu-
montar sua discoteca que merecem um lugar na estante almente, não há boas gravações dis-
dos músicos de instrumentos de so- poníveis nas lojas brasileiras”, afir-
básica de jazz pro. Mas ele avisa que sua lista é ma ele.
muito circunstancial. “Com a alta do Praticamente todos os discos já
dólar, os importados subiram de pre- foram editados no Brasil, com ex-
ço e o varejo não reabasteceu seus ceção de “Kind of Blue”, do mestre
estoques. As lojas estão depenadas”, Miles Davis. Segundo a gravadora
explica ele. Calado e os CDs escolhidos: uma Sony, todos os trabalhos do músico
Até o ano passado, com o câm- lista equilibrada, com clássicos são importados para o mercado bra-
bio próximo do 1 para 1, era vanta- do jazz sileiro. “Kind of Blue” foi gravado
joso importar discos. Em duas ou há 40 anos (1959) e nunca saiu de
três semanas era possível receber o CD encomendado por catálogo. É um sucesso de crítica e público, que, segundo
um preço igual ou pouco superior ao do nacional. O acesso Calado, merece um lugar entre os três melhores discos de
a catálogos estrangeiros era facilitado e a oferta era gran- jazz de todos os tempos. No ano passado, uma edição
de. Hoje, um CD importado custa em média 35 reais na especial do disco foi lançada nos Estados Unidos, com
loja. “Só mesmo quem deseja muito ter um determinado uma faixa a mais.
título importado em sua discoteca é que paga esse pre- Outros nomes da lista, como Wayne Shorter e o tubista
ço”, diz o crítico da Folha. Howard Johnson, estiveram recentemente no Brasil, e suas
A evolução da situação vai depender da economia - gravadoras aproveitaram para abastecer as lojas com CDs
muito provavelmente as gravadoras vão voltar a produzir dos artistas. No mais, encontrar os títulos da lista pode
aqui os discos, o que é mais demorado: elas precisarão significar um bom trabalho de garimpo nas lojas
especializadas. “Na verdade, se o músico não encontrar o

As sugestões de discos de jazz título específico da lista, ele pode se basear no artista.
Qualquer outro disco gravado por um Miles Davis, um
John Coltrane, um Gerry Mulligan, será bom”, comenta
Trompete Miles Davis - “Kind of Blue” (Columbia/Sony). Com Cannonball Adderley (sax
alto) e John Coltrane (sax tenor)
o crítico da Folha.
Trombone J.J. Johnson - “Proof Positive” (Impulse/GRP) Com relação às gravações de músicos brasileiros, Ca-
Tuba Howard Johnson - “Gravity !!!” (Verve/PolyGram) lado indica o comentado CD “Aldeia”, da Banda Manti-
Clarinete Benny Goodman - “Stompin’ at the Savoy” (Movieplay) queira. “Apesar de ser ligado muito mais à MPB do que
Sax soprano Wayne Shorter & Herbie Hancock - “1 + 1” (Verve/PolyGram) ao jazz, o trabalho da Mantiqueira pode ser considerado
Sax alto Charlie Parker - “Compact Jazz” (Verve/PolyGram). Com Dizzy Gillespie e Miles uma referência entre a produção nacional. Nesse disco, o
Davis (trompetes) ouvinte vai encontrar feras em praticamente todos os ins-
Sax tenor John Coltrane - “Giant Steps” (Atlantic/Warner) trumentos de sopro”, explica. “Na verdade, o jazz hoje
Sax barítono Gerry Mulligan - “Re-birth of the Cool” (GRP/BMG). Com Phil Woods
engloba muitos idiomas e fusões. Por, isso o músico deve
(sax alto), Wallace Rooney (trompete), John Clark (trompa), Bill Barber (tuba) e Dave Bargeron
(trombone)
estar com ouvidos abertos para a maior variedade possí-
vel de sons”, completa.

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TODOS OS TONS

Samba, pagode,
sopro
e companhia
Os grupos de pagode costumam ter vários componen- meia deve estar recorrendo e recordando. Entre estes, Lino
tes. Alguns, como o Negritude Jr., possuem um naipe de cita o método de Eric Marienthal (exercícios de timbre e
sopros que enriquece os arranjos e está presente tanto nas execução de agudíssimos, “fabricação” de notas, embo-
levadas mais animadas quanto nos momentos românti- caduras, diafragmas e afinação para ter fluidez e suavida-
cos. “O sopro nos oferece uma gama incrível de possibi- de) e Ernie Watts (exercícios de velocidade com ênfase
lidades sonoras. Nosso ouvinte fica extasiado ao ouvir a
Divulgação

metaleira misturada com samba e pop”, comenta o saxo-


fonista Lino Izaguirre, integrante da formação oficial do
Negritude desde os primeiros anos da banda.
Além do sax alto de Lino, o naipe de sopros do
Negritude inclui sax tenor, trompete e trombone de vara.
Alguns arranjos utilizam flautas. Nos shows, os sopros
estão presentes durante 70% do tempo. Momentos
marcantes são o tempero especial à romântica canção
“Timidez” e o solo de trompete com toques caribenhos
em “Tanajura”.
Outra banda de pagode consagrada, o grupo
Katinguelê, estava à procura de um saxofonista que pu-
desse suavizar os arranjos e explorar o lado romântico de
seu repertório. O escolhido foi o músico Elias Maria, que
acompanha a banda nos shows e participa das gravações
do Katinguelê desde o disco “No Compasso do Criador”.
Elias já passou pelo clássico, trabalhou em bailes, excur-
sionou com o cantor Roberto Leal e participou de apre-
sentações da Orquestra Paulista de Soul. Hoje, é um dos
dois saxofonistas atuantes no Katinguelê. “Boa parte dos
arranjos do grupo utiliza sopro”, explica ele.
O sax não é novidade no samba, mas sempre funcio- nos graves; execução de notas longas e rápidas no sax Negritude Jr.: sopro
nou como coadjuvante do estilo percussivo desse ritmo tenor, expandindo os recursos inclusive para se exercitar enriquece os arranjos
tipicamente brasileiro. O que grupos de pagode como o no sax alto).
Negritude Jr. e o Katinguelê fizeram foi elevar os metais, O saxofonista inclui ainda os mestres Jimmy Dorsey,
teclados e outros instrumentos à condição de integrantes Paquito D’Rivera e John Louvano como suas referênci-
do som que fazem. Eles acoplaram à raiz fortemente as. Mas guarda elogios também para os brasileiros. “O
percussiva do samba elementos utilizados pelo pop e a timbre do Leo Gandelman, do Paulo Freire, são incon-
MPB. “O samba é pop hoje”, arremata Lino. fundíveis. Infelizmente, gente como eles e mais Ivan
Meyer, Bolão, esses caras não produziram nenhum méto-
O saxofonista pagodeiro do escrito”, acrescenta.
Diferente de Lino, Elias é músico de apoio e precisa
Como os saxofonistas dos grupos de pagode se prepa- estar preparado para acompanhar outros ritmos, além do
ram para executar seus solos? samba e do pagode. Foi essa a tônica de suas aulas parti-
Lino estuda pela menos duas horas diárias e faz mui- culares com o professor Eduardo Pecci, o Lambari. “Ele
tos exercícios, inclusive de solfejo. Ele possui seus méto- me ensinou que o músico deve desenvolver uma técnica
dos “de cabeceira”, aqueles aos quais o músico volta e que lhe permita tocar de tudo”, completa.

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ENTREVISTA

Reciclando

Reciclando as
RW: Qual seria a influência de movimentos pós-64 - como o
Clube da Esquina, do qual o sr. participou - na formação do
atual perfil do público brasileiro de música?
NO: O Clube da Esquina, a Tropicália e outros movimentos

as emoções tinham a ver com o Brasil de antes. Era o resultado de uma


política de educação que tinha acontecido antes. Nós hoje
estamos vivendo as conseqüências, os reflexos do golpe de 64.
Durante vários anos, a educação não foi prioridade nesse país
e não é prioridade até hoje. Acredito até que o governo agora
esteja olhando para a educação com mais interesse, mas leva
tempo para se implantar um sistema de educação. Acontece
Lançado em abril, o novo CD do saxofonista, arranjador e compositor Nivaldo Ornelas que faltam movimentos coletivos no Brasil e sobram ações in-
é uma produção independente, gravada ao vivo, sob o título “Reciclagem”. O momento dividuais. Nós perdemos a capacidade de se encontrar, de de-

emoções
para ele é propício para resgatar as lembranças e os encontros com músicos famosos que bater. Na música, por exemplo, não vejo movimentos, enten-
atuaram ao seu lado, como Hermeto Pascoal, Nelson Ayres, Milton Nascimento, Egberto dendo como movimento algo espontâneo, que reúna pessoas
Gismonti, Wagner Tiso, Paulo Moura, entre outros. que tenham a mesma idéia.
Sem revelar a idade - “estou chegando aos 50” -, Ornelas já percorreu um longo cami-
RW: Como o sr. se prepara para um show?
nho na música, desde os sete anos, quando tirava as primeiras notas de uma flauta de lata,
NO: Músico é como jogador de futebol, precisa ter trabalho
em Belo Horizonte. No dia de seu aniversário, ele conversou com a Revista Weril no flat diário. O atleta treina a semana inteira para estar sempre em
onde hospedou-se durante temporada de shows em São Paulo. Confiram a entrevista: forma, senão não pode jogar, mesmo tendo muito talento. Com
o músico é a mesma coisa. A gente precisa se exercitar todo
Maristela Martins dia, principalmente instrumentista de sopro, que trabalha com
Revista Weril: Como foi sua formação musical? esforço físico. O lance musical é muito físico, você precisa
Nivaldo Ornelas: Eu venho de uma família de músicos. Meus estar preparado fisicamente. Nem precisa estudar durante mui-
pais têm até hoje um grupo de serestas em Belo Horizonte. tas horas, a não ser que seja realmente época de show ou algu-
Eles não estudaram música, mas fizeram questão que eu estu- ma coisa assim, mas precisa ser um esforço diário. Um show
dasse. Aos 10 anos já estava na Escola de Formação Musical não é só uma maratona física, mas também emocional e espiri-
da Polícia Militar. Lá tinha uma banda de música formada por tual.
garotos, um tipo de corporação que é muito importante para a
formação do músico. Na banda ele treina, aprende a ler parti- RW: O sr. acredita que o músico de sopro que não ensaia aca-
tura. Foi uma formação muito sólida, super-disciplinada, mas ba perdendo a embocadura?
o objetivo nem era ser militar. Tive toda a base teórica através NO: Não é questão de acreditar, ele perde mesmo a emboca-
desse incentivo. Depois passei pela Orquestra Sinfônica Jo- dura. Conheço gente que não estuda e tem o dom de sair tocan-
vem, onde tive uma formação mais clássica, que também foi do, mas são raros. E tem gente talentosa e super-estudiosa, como
muito boa. o Hermeto Pascoal, que considero um dos maiores músicos
desse século. O Milton também, conheço ele desde os tempos
Nivaldo Ornelas: RW: Como o sr. começou a se envolver com a MPB? de baile. Infelizmente, nós não cultuamos nossos artistas, nos-
lembranças do Clube da NO: Só entrei mesmo no universo da música popular depois sos ídolos.
Esquina dos 20 anos. Antes, vivia num ambiente de música erudita.
Tocava clarinete, queria ser clarinetista clássico. Comecei a RW: Quais são seus planos para o futuro?
tocar saxofone aos 23 anos, quando já era músico há muito NO: Sou de uma geração pioneira na música popular e instru-
tempo. Foi quando conheci a turma do Clube da Esquina, aquele mental brasileira, e acho que vou continuar nessa, acreditando.
pessoal todo lá de Minas. Não havia só interesse pela MPB, Com público, sem público, com espaço, sem espaço, não que-
mas também pelo jazz. A gente ouvia muita bossa nova naque- ro saber. A música não depende disso, depende da convicção
la época. Aí surgiu uma nova proposta musical e conheci gen- do artista.
te muito talentosa, como o Toninho Horta, Milton, Wagner Tiso,
esse povo tudo. Nós criamos o Berimbau Clube, que era uma RW: O sr. teria um recado para quem está começando a carrei-
espécie de clube de jazz, de música instrumental. ra?
NO: Uma coisa boa nessa nova geração é que ela é muito
RW: Por que o sr. parou de tocar clarinete? talentosa e tem muita informação, como livros e palestras. Hoje
NO: Porque ele é, na minha opinião, o mais nobre dos instru- em dia, se você é talentoso e interessado, você progride muito
mentos de sopro, e precisa ter dedicação exclusiva. O clarinete rápido. O que falta para o jovem é abandonar o isolamento,
já é um universo a parte, não dá para dividir seu tempo com deixar de ficar posando de gênio no quarto. Ele precisa se rela-
outros instrumentos. Como já toco dois tipos de saxofone (N.R.: cionar com os outros e participar de movimentos, associações,
tenor e soprano), então deixei o clarinete para depois. Ocasio- grupos onde possa debater, conversar. Sozinho é mais difícil.
nalmente também toco flauta. Juntos, adquirimos mais força em nosso conceito artístico.

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