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Resumo
Introdução
De acordo com Almeida (2001), nos estudos realizados por Henri Wallon e suas
contribuições na educação, considera-se que a dimensão afetiva é destacada de forma
significativa na construção da pessoa e do conhecimento. Para a autora, a afetividade e a
inteligência, apesar de terem funções definidas e diferenciadas, são inseparáveis na evolução
psíquica do sujeito.
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No que diz respeito à afetividade, esta é sempre referida às vivências individuais dos
seres humanos, são formas de expressão mais complexas e essencialmente humanas.
A afetividade diz respeito a um conceito amplo, uma situação mais permanente, que
engloba em seu interior os sentimentos, as emoções e as paixões e manifesta estados
de sensibilidade, que vão de disposições orgânicas às sociais/existenciais ligadas à
percepção que o indivíduo tem de si mesmo. (WALLON apud RODRIGUES, 2008,
p.18).
Segundo Lopes (2009, p 2-3) “ainda que, para área da psicologia os conceitos de
afetividade, emoção e sentimentos sejam diferentes, entre os profissionais de educação, tal
percepção não está presente”. De forma geral, as definições de emoção e sentimento se
confundem, de maneira errônea o caráter duradouro é apontado como uma qualidade da
emoção.
Para Almeida (2001, p. 52), enquanto o sentimento se caracteriza por reações mais
pensadas, logo, menos instintivas, as reações emocionais são de tipo ocasionais, instantâneas
e diretas. Assim, enquanto a emoção é orgânica, o sentimento é psicológico. Ainda de acordo
com a autora, “as emoções, uma das formas de afetividade, são verdadeiras síndromes: de
cólera, medo, tristeza, alegria, timidez” (ALMEIDA, 2001, p. 53)
Pela grande dificuldade de interpretar as emoções, os professores se tornam mais
suscetíveis ao contágio, e consequentemente passam a fazer parte do circuito perverso.
ela. A emoção precisa de platéia, e ignorar sua manifestação é uma maneira de fazê-la ceder à
razão, as crises emocionais acabam por perder a sua força.
Desta maneira, é possível controlar as emoções, desde que o professor, tenha
conhecimento sobre o que é emoção, como funciona, para tentar administrá-la tanto em si
como no outro.
Ter conhecimento de como enfrentar as situações emocionais em contexto de sala de
aula, pode proporcionar mais segurança ao professor no desenvolver de suas atividades
escolares.
Dantas considera que “A educação da emoção deve ser incluída entre os propósitos da
ação pedagógica, o que supõe o conhecimento íntimo de seu modo de funcionamento” (1992,
p.89). Desta forma, se a escola é um espaço onde os sentimentos estão presentes, o professor
acaba por ter um papel essencial no desenvolvimento de uma prática que valorize a interação
cognitivo-afetiva, visto que, “a partir da convicção de que educar é desenvolver a inteligência
conjuntamente com a emoção, a escola não pode ignorar a vida afetiva de seus alunos”
(RODRIGUES e GARMS, 2007, p.35).
Segundo Lopes, (2009, p.2)
Wallon (1979), em sua teoria, afirma que o desenvolvimento intelectual envolve muito
mais do que o cérebro, e as relações afetivas têm papel fundamental no desenvolvimento do
sujeito. É por meio delas que a criança exterioriza seus desejos e suas vontades. Embora essas
manifestações expressem um universo importante e perceptível, são pouco estimuladas em
algumas situações do cotidiano escolar.
A interação entre professores e crianças ultrapassa os limites da prática docente, do
ambiente escolar, do semestre e do ano letivo. É, na verdade, uma relação que deixa marcas, e
que deve sempre buscar a afetividade como forma de construção das interações e do
conhecimento. Assim, considera-se o papel do professor como elo fundamental na busca de
relações interpessoais que valorizem o universo afetivo.
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O professor pode fazer toda a diferença, cabe a ele investigar com maior cautela as
especificidades de cada criança, o que implica em uma pré-disposição para estabelecer
vínculos afetivos. Afinal, o ato de educar e aprender são uma constante troca, onde é
imprescindível que o professor enfrente os desafios e possa encarar os problemas presentes
em sua formação, e assim, compreender que o conhecimento se processa através de valores
que embasam e justificam a aprendizagem e as relações vivenciadas no cotidiano escolar.
“Quando não são satisfeitas as necessidades afetivas, estas resultam em barreiras para o
processo ensino-aprendizagem e, portanto, para o desenvolvimento, tanto do aluno como do
professor” (MAHONEY e ALMEIDA, 2005, p.26).
Pode-se dizer que a escola exerce um papel fundamental no desenvolvimento sócio-
afetivo da criança, já que ela, segundo Almeida (2001, p. 99):
Sendo assim, evidencia-se que a criança, a partir de uma relação vincular com o meio,
adquire novas formas de pensar e agir, apropriando-se assim de novos conhecimentos, porém
o processo de construção do conhecimento acontece no decorrer do desenvolvimento da
criança.
Para Wallon (1979), é nos anos iniciais, objeto de nossa investigação, que a criança, a
partir da relação com o outro, através do vínculo afetivo, começa a ter acesso ao mundo
simbólico e conquistar avanços no âmbito cognitivo. Assim, os vínculos afetivos vão
ampliando-se e o professor representa figura fundamental no processo educativo. Afirma,
ainda, que existe uma base afetiva permeando as relações no espaço escolar; toda
aprendizagem está impregnada de afetividade, não acontece somente no cognitivo.
Então, a perspectiva walloniana considera que a afetividade que se manifesta na
relação adulto-criança constitui-se elemento inseparável do processo de construção do
conhecimento.
brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa e busca significados importantes para o seu
desenvolvimento e aprendizagem; de forma que possam contribuir na efetivação de uma
educação mais íntegra, pautada no respeito às especificidades da infância.
Para esta pesquisa adotou-se como técnica de investigação a entrevista semi-
estruturada, por possibilitar ouvir seus sujeitos e conhecer seus conceitos e opiniões.
O roteiro da entrevista foi elaborado com questões abertas, no intuito de indagar as
professoras com relação às suas concepções sobre afetividade e a importância da mesma na
educação infantil, os conceitos de emoção, as diferenças entre emoção e sentimento, e, a
presença do afeto e da emoção na sala de aula e sua influência na aprendizagem.
Sobre a entrevista,
O afeto é um sentimento bom que a gente procura ter para com as outras pessoas,
em relação às crianças; a gente acaba se apegando”; “o afeto é algo que nunca passa,
é um sentimento duradouro, diferente da emoção e do sentimento que passam”;
“afeto é tudo que é feito com amor, dedicação, respeito ao próximo”; “afeto é gostar,
é querer bem, zelar por alguém”; “é uma forma de carinho, de demonstrar nosso
amor por alguém.
A emoção tem [...]. acho que [...]. dois jeitos. A emoção quando você está bem, você
está alegre, está brincalhona, sem nenhum problema, você está bem. Agora, quando
você estiver meio pra baixo, que eu falo, aquela emoção... com algum problema ou
alguma coisa, ai você vai estar mais triste. Ah, então a emoção tem dois jeitos. A
gente sempre tem que estar procurando trabalhar a emoção boa. Não deixar a peteca
cair, tentar sempre estar por cima; Eu descrevo a emoção como assim uma surpresa,
uma coisa boa, eu me sinto emocionada a cada descoberta que eles fazem [...].
Acho que emoção e sentimento é a mesma coisa. Você se sentir emocionada com
alguma coisa, porque se você não tiver sentimento então não tem emoção, se você
não tiver emoção você não tem sentimento, pra você ter emoção você precisa ter
sentimento, e pra você ter o sentimento você tem que ter a emoção. Um é interligado
ao outro.
No que tange a essa questão, é possível confirmar o fato de muitos profissionais ainda
permanecerem confusos em seus conceitos, afirmando que emoção é um sentimento, não
conseguindo diferenciar tais aspectos, o que podem torná-los mais suscetíveis ao contágio das
emoções, passando a fazerem parte do ‘circuito perverso’.
Como apontado por Almeida (1994, p. 240),
É importante ressaltar que essa não separação e definição dos conceitos implicam,
[...] diretamente nas intervenções que caberia ao professor em sala de aula, mas que
pelo desconhecimento das reações emocionais típicas deste período do
desenvolvimento da criança, podem atrapalhar ou mesmo impedir o processo de
construção dos aspectos cognitivo/afetivo. (LOPES, 2009, p.4)
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Com certeza estão presentes, se você não tiver emoção, afeto, você não consegue
desenvolver, você não pode ser uma máquina, não tem como você trabalhar aqui
com as crianças, você sendo uma máquina, nada te emocionar, que você sinta aquele
prazer no que as crianças tão fazendo, aquela alegria, aquele entusiasmo, tem que
ter, acho que a gente como ser humano, o ser humano que não tem sentimentos, eu
acredito sendo como anormal.
Sim, porque se não tiver nada disso, não vira. Apesar de que se não tem afeto com a
criança lá, como trabalha? Tem que ser... vai ser cruel... chega a professora carrasca.
Não tem sentimento, não tem nada”; “Essas coisas. Como é a criança? A criança
percebe. E ela não vai... se ela estiver também com o dela, o sentimento dela, a flor
da pele, também balançado, como vai aprender? Regride. Acho que é que nem
aqueles casos daquelas crianças que tem auto-estima baixa, se o professor também
não tiver jogo de cintura, não estiver com a sua estima alta, ela vai por a criança
mais para baixo.
Nas transcrições anteriormente citadas, denota-se que apesar de ainda haver uma
indefinição nos conceitos sobre afeto, emoção e sentimento, as professoras acreditam que e
essas relações se evidenciam, pois,
Outro fator interessante é que para uma professora as manifestações de afeto na sala de
aula ainda estão muito relacionadas ao contato físico, à proximidade corporal, como
demonstrar carinho, segurar a mão e abraçar: “... a partir do momento que você começa, que
você trata a criança ali com atenção, com amor, com carinho, você consegue transmitir, além
da criança ta aprendendo, ela sente que tem em você ali, um afeto, alguém que ela pode
segurar a mão, que ela pode abraçar...”
Na perspectiva walloniana:
Um novo campo começa a se abrir à atenção da criança e faz com que os sinais de
um provável êxito muito depressa se localizem na pessoa de quem ela espera o
atendimento, os seus gestos, a sua atitude, a sua fisionomia e a sua voz também
entram no domínio expressivo, que, dessa forma, vai apresentar uma ação de
reciprocidade: ao mesmo tempo em que traduz os desejos da criança, traduz a
disposição que esses desejos provocam nos outros ( DÉR, 2004, p.65)
Para a teoria de Wallon, o espaço de sala de aula é observado como uma grande
oficina de convivência, em que o professor é o mediador das relações. Aceitar que essas
relações afetivas ocorram é função do professor em sua prática de sala de aula, portanto, é
função pedagógica.
Considerações Finais
REFERÊNCIAS
DÉR, Leila Christina Simões. A Constituição da pessoa: dimensão afetiva. In: MAHONEY,
A. A. ALMEIDA L. R. A constituição da pessoa na proposta de Henri Wallon. São Paulo:
Loyola, 2004.