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Depressão infantil...

“Criança deprimida? Que nada, só esta


chateada, criança não tem essas coisas!”

O ser humano em geral passa por momentos de tristeza no decorrer de sua vida,

inclusive as crianças. Mas não vamos abordar nesse material a tristeza como

sentimento momentâneo de uma criança, mas sim daquele comportamento que

persiste por certo período de tempo podendo ser caracterizado como: transtorno

depressivo.

Tendemos sempre em ver a infância apenas como época feliz e cheia de alegria,

de forma romântica. Por outro lado e não muito raro existe uma parcela de

crianças que vivem quadros um pouco diferentes. Ao contrário do que muitos

pensam, criança também sofre de depressão.

A depressão infantil é uma realidade. Sempre pareceu um mal exclusivo dos

adultos, mas se faz presente na realidade de uma porcentagem significativa de

crianças. Diferente do que muitos ainda acham a depressão infantil não é

frescura, não é chantagem e não é falta de chinelada, a depressão é uma

doença que pode causar inúmeros prejuízos na vida futura.

Como a criança ainda está formando seu repertório de reconhecimento de suas

emoções e de comunicação para falar de seus sentimentos, ela ainda não

consegue compreender e expressar de forma clara e objetiva o que está

sentindo e nem consegue manifestar de forma adequada os seus sentimentos.

Sendo assim, os pequenos aceitam a depressão como um fato natural, e acham

que é normal sentir medo e angústia, até porque não sabem que o seu

sofrimento é resultante de uma doença que pode ter intervenções significativas.

O diagnóstico, porém, não é simples como o dos adultos. A manifestação dos

sintomas da depressão infantil vai depender da idade e do nível de maturidade

da criança. É importante entender que: tem uma grande diferença entre o

comportamento normal e o que caracteriza a doença, então o diagnóstico irá

depender do contexto em que os sintomas aparecem, e quais foram os prejuízos

causados por eles. Vamos entender com o exemplo: (A manha é um dos sintomas

de depressão infantil. Mas o fato da criança ser manhosa, por si só, não indica

um quadro depressivo. Então é preciso que a manha esteja associada a outros

fatores, para que a suspeita possa se justificar).


É preciso estar atento aos sintomas, na criança os mais freqüentes

além da tristeza, é a irritabilidade, mau humor e a anedonia,

que é a falta de prazer com as atividades habituais, como brincar,

sair com os amigos, jogar videogame, ver TV e etc. Fora estas, também existem

outras manifestações que precisam de uma atenção especial como: problemas

no sono, insegurança, retraimento, medos, diminuição da atenção e da

concentração, ideias de culpa e inutilidade, tendência ao pessimismo, queixa

de sintomas físicos, choro constante, etc.

Segundo o manual DSM-V, os sintomas comuns de depressão são:

Humor deprimido na maior parte do dia;

- Falta de interesse nas atividades diárias;

- Alteração de sono e apetite;

- Falta de energia;

- Alteração na atividade motora;

- Sentimento de inutilidade;

- Dificuldade para se concentrar;

- Pensamentos ou tentativas de suicídio.

Diante do manual DSM-V, para o diagnóstico de depressão, é necessário que o

indivíduo apresente pelo menos cinco dos sintomas citados, sendo que um dos

sintomas deve ser o humor deprimido em grande parte do dia ou falta de

interesse pela maioria das atividades e deve ainda ocorrer em um período de

pelo menos duas semanas.

No entanto, o manual faz pequenas ressalvas considerando os níveis de

desenvolvimento, a fim de facilitar o diagnóstico de depressão na criança.

Dessa forma, uma criança deprimida pode apresentar humor irritável ao invés

de tristeza; ou ainda manifestar uma queda no rendimento escolar em função

do prejuízo na capacidade para pensar e concentrar.


O diagnóstico precoce é muito importante para que o tratamento seja

iniciado e torne mais fácil a modificação dos comportamentos depressivos,

tendo em vista que, ao longo do tempo, eles podem se tornar mais resistentes

à mudança.

É importante entender que a depressão infantil é um distúrbio de humor que

vai além da tristeza normal e temporária, ela é uma perturbação orgânica, que

envolve variáveis sociais, psicológicas e biológicas.

Diante do aspecto biológico, a depressão é vista como uma provável


disfunção dos neurotransmissores devido à herança genética e também ao

fato de áreas cerebrais específicas terem anomalias e/ou falhas.

Na perspectiva psicológica, a depressão está associada ao


comprometimento da personalidade, baixa autoestima, insegurança e

autoconfiança.

No que se refere ao âmbito social, pode-se considerar como uma falta de


adaptação ou um grito de socorro, como também pode ser uma consequência

da violação de mecanismos culturais, familiares e escolares. Esses sintomas

costumam manifestarem-se a partir de uma situação traumática, tais como:

separação dos pais, mudança de colégio, morte de uma pessoa querida ou

animal de estimação.

Cabe ressaltar que a família pode contribuir para o desenvolvimento do

transtorno, nos aspectos referentes aos padrões de relacionamentos

disfuncionais, opressão, humilhação e maus tratos. Problemas de

relacionamento com professores e colegas, rejeição por parte dos amigos,

assim como o afastamento de um dos pais do convívio da criança também

podem contribuir para um quadro depressivo.


Há ainda de se considerar as significativas formas de apresentação dos

sintomas depressivos em termos da etapa do desenvolvimento em que se

encontram, para que não passe despercebido ou que seja confundido com

apenas uma fase.

Nesse momento os pais precisam se munir de uma dose extra de amor e

paciência para entender e vivenciar juntamente com a criança esse momento

delicado em que ela está passando e assim oferecer apoio para entender e

solucionar o problema, nesse momento as crianças precisam – além do

acompanhamento profissional adequado – da presença dos pais.

É importante que os adultos que vivem próximos a esta criança mostrem que ela

não está sozinha, respeitando seu tempo, seus limites e compreendendo seus

sentimentos, incentivando-a, sem pressão, a desenvolver atividades das quais

gosta e dar atenção e carinho, quando solicitado.

O ambiente familiar saudável age diretamente no desenvolvimento emocional

equilibrado, pois é necessário que possa suprir adequadamente as necessidades

básicas da criança, assim como as de proteção e acolhimento. Dessa forma, é

importante que os pais construam um ambiente seguro para o desenvolvimento

dos filhos e supram suas necessidades básicas.

É indispensável que os pais forneçam aos filhos todo o amor e carinho,

compreensão e amparo, construindo uma relação de confiança com eles.

Sem contar que o conhecimento do transtorno depressivo infantil por parte das

pessoas que estão envolvidas com a criança, como pais e professores, a fim de

contribuírem para a identificação precoce dos sintomas, são essenciais para

ajudar a criança a passar por esse processo.

Para prevenir que mais problemas se desenvolvam na adolescência e na idade

adulta, visto que esse transtorno é capaz de comprometer o desenvolvimento

das crianças e seu processo de amadurecimento psicológico e social, é

necessário que seja realizado um tratamento adequado na infância.


Fique atento:

- A depressão é uma condição clínica grave que pode ocasionar graves


repercussões na vida da criança e do adolescente.

- Família e a escola devem estar em alerta, pois os sintomas de


depressão na infância podem passar despercebidos.

- A depressão em idade precoce pode ter continuidade na idade


adulta.

- Há vários sintomas que devem persistir por um período de duas ou


mais semanas e que compõe o diagnóstico de depressão, que é
baseado no Manual de Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos
Mentais (DSM-V).

Caso perceba algum desses sintomas nos seus filhos ou em crianças


ao seu redor, não deixe de procurar ajuda especializada.
Referências Bibliográficas:

- CRUVINEL, Miriam; BORUCHOVITCH, Evely. Depressão infantil: uma

contribuição para a prática educacional. Psicol. Esc. Educ. (Impr.) , Campinas,

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- RIBEIRO, Maiara Viana; MACUGLIA, Greici Conceição Rössler; DUTRA,

Morgani Moreira. Terapia cognitivo-comportamental na depressão infantil: uma

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- Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5 / [American

Psychiatric Association; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento... et al.];

revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli ... [et al.]. – 5. ed. – Dados

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