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30/10/13 C aminho de Or ação: R elatos inéditos do Per egr ino R usso ( Anôni mo)

Relatos inéditos do Peregrino Russo


(Anônimo )

Anônimo

O
 PEREGRINO RUSSO
TRÊS RELATOS INÉDITOS
Tradução

Tito Kehl

MMVI I I

 A to
todd os os mes tr
tres
es , p a ra re
retr
trib
ibuu ir e p a ra tr
traa n s mit
mitir
ir..

INTRODUÇÃO

 Poucos texto
textoss da espirit
espiritualidad
ualidadee ortodoxa
ortodoxa são tão populares no Ocidente como como os
Relatos de um peregrino russo , tantas vezes traduzido em línguaslínguas europeias. O
manuscrit d estes quatro Relatos a
manuscritoo destes  anônim
nônimos
os foi assinalad
a ssinaladoo pela prim
p rimeir
eiraa vez por 
p or 
volta de 1860, nas mãos de uma monja, filha espiritual do estaroste Ambroise de
Optina. Ora, entre osos docume
d ocumentos
ntos do estaroste, achavam-se outros Relatos que
ach avam-se três outros
 foram publicados
publicados na Rússia em 1911,
1911, reeditados
reeditados na Tchecoslováquia em 193 1933,
3, e
incorporados
incorpor ados aos quatro primeir
primeiros
os na prim eiraa edição de conjunto do Peregrino ,
primeir
 feita em Paris pela
pela YMCA Press em 194 1948.
8. São
São estes que apresentaremos
apresentaremos aqui.

três Relatos possuem um caráter mais abertamente didático dos que os


 Estes três
primeiros, É provável que tenham sido retocados e completados em Optina, este
celeiro
celeiro espiritual
espiritual da Rússia do século XIX para onde afluíam
af luíam escrito
escritores,
res, filósofos,
“buscadores de Deus”, aonde a tradição espiri
espiritual
tual do Orie
O riente
nte cristão
cristão tomava
tomava uma
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nova consciência de si mesm


mesmaa para
pa ra responder às buscas e inquietações
inquietações que o
pensamento ocidental
ocidental introduzia U ma parte dos três Relatos é 
introduzia então na Rússia. Uma
constituída
constituída por respostas às obj
objeções
eções de um intelect
intelectual,
ual, e instruções sistemáticas,
sistemáticas,
verdadeiros pequenos tratados, inteintercalam-se
rcalam-se entre
entre narrações e diálogos;
d iálogos; se
perdemos
perdem os algo
a lgo do pitoresco, ganhamos
ganh amos em elucidaçã
elucidação.o.

Trata-se com efeito


efeito de uma apresentação
a presentação bastante refletida
refletida da prece como
como
invocação do Nome de Jesus. O desenvolvimento, de tipo patrístico mais do que
cartesiano, é feito em “espiral” em torno de um eixo que podemos definir assim: a
salvaçãoo pelo amor,
salvaçã amor, realizada na prece.
p rece. “Não
“Não há
h á limit
limitee para a misericórdia
misericórdia de
 Deus”, e todo
todo o problem
problemaa para
pa ra o homem
homem consiste
consiste em saber acolher esta
esta misericó
misericórdia
rdia
que transformará
transformará seu coração
coraçã o e fará germ
germinar
inar aí os “frutos do Espíri
Espírito”
to”..

O Quinto Relato é primeiramente dedicado ao arrependimento, este grande retorno


da inte
inteligê
ligência
ncia e do
d o coração. O home
homem m é fascinado
fascinad o pelo abismo,
abismo, e a históri
históriaa do
do
cocheiro que
que se atira na água gelada, com comoo a do
d o homem
homem queque salta dentro
d entro de um
 fosso, evocam um Dosto
Dostoiev
ievski
ski rústico e antecipam a exploração
exploração dos “subterrâneos”.
“subterrâneos”.
 Apenas a relação consciente com Deus, nem que que seja através da mais humilde
humilde
oração, nos libera
libera da
d a negação,
n egação, perm
permite
ite ao Pai intervir
intervir e nos proteger do caos
(história do estaroste tentado). O pensamento se explicita num verdadeiro tratado
consagradoo à penit
consagrad p enitência
ência e que mostra
mostra o que é realmente
realmente o pecado: decepção,
decepçã o,
separação,
separaç ão, esquecim
esquecimento.
ento.

Segue-se uma dupla inici


iniciação
ação à “Oração de Jesus”
Jesus ” A primeir
primeira,
a, de caráter 
ca ráter 
propriamente espiritual, é dada por um monge grego vindo do Monte Athos [ [1]  1] . As
diversas palavras
pa lavras da prece – “Senhor
“Senhor Jesus Cristo,
Cristo, Fil
F ilho
ho de Deus, tem piedade de de
mim
mim pecador” – são
sã o apresentadas
apresentada s com suas respecti
respectivas
vas acentuações,
a centuações, e descobri
d escobrimo
moss
que a com
compreensão
preensão espiritual de cada
ca da uma constitui um dom do espírito:
espírito: a Prece de
 Jesus é o lugar dos carismas como,
como, em São
São Paulo, a reunião eucarística; sabemos
sabemos
que a invocação não tem outro objetivo senão o de interiorizar a eucaristia.

 A prece transf
transform ormaa a angústia
a ngústia em confiança
confiança tranquil
tranquila.
a. Aquele que reza
reza não precisa
mais de um bode expiatório, ele intercede por toda a humanidade que o Cristo
reunificou [ [2] 
2] . E o episódio do desertor mostra que a oração reconcilia com os pais e
com a terra.

Vem então
então um
u ma segunda inici
iniciaçã
ação,
o, pelo
p elo estudo
estudo dos fund
fundament
amentos
os neo-testamentári
neo-testamentários
os
da invo
invocaçã
cação,
o, onde vem
vemos,
os, entre outras coisas, com
comoo João e os Atos dos
d os Apóstolos
sublinham, dentro de uma perspectiva pneumatológica, o mistério e o poder do Nome
no qual Deus, em Jesus, revela-se “aquele que liberta”.

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O Sexto Relato desenvolve sobre


sobre a força do
d o Evangelho que faz desaparecer
desa parecer as
aparências
apa rências dem
d emoníacas
oníacas (histó
(história
ria do francês). Depois, retomando
retomando a probl
problem
emática
ática
paulina da salvação, ele procura o lugar do homem na oração: é a frequência desta,
a humi
h umilde
lde quantidade de oferece a fé ( O segredo da salvação
d e um apelo no qual se oferece
revelado pela prece perpétua ).

 A invocação é possível a todos, podem


pod emos
os orar “em
“em todos
todos os momento
momentos,s, em toda
todass as
circunstâncias e em todos
todos os lugares”,
luga res”, a prece pode acom
a companh
panhar
ar o trabalho
intelect
intelectual
ual mais absorvente,
absorvente, desde
d esde que o façamos p resença do Rei.
fa çamos na presença

Como o jejum, a invocação implica uma antropologia unitária. O jejum deve levantar 
em nós a fome de Deus. A evocação desperta o coração,
coraçã o, pois “o coração do homem –
dizia Nicolas Cabasil
Cabas ilasas – foi criado como um cofre capaz de d e conter o próprio
próprio Deus”.
 Aquilo que, definitivame
definitivamente,nte, impele
impele o homem
homem a rezar, é a exigência de ser, e o ser 
revela-se
revela-se comunhão. O home homem m encontra
encontra na prece, vale dizer
d izer na relação consciente
com Deus,
Deus, a alegri
a legriaa de
d e ser, esta “ple
“plerofori
roforia”
a” tão cara
ca ra à espiri
espiritualidade
tualidade oriental. O
homem é oração e um dos interlocutores do Peregrino, um monge veterano, podia

dizer,
prece ).parafraseand “Reze e faça o que quiser” ( O poder da
paraf raseandoo santo Agostinho: “Reze

O Sétimo Relato é um elogio da vida contemplativa, mais especificamente sob sua


 formaa eremíti
 form eremítica,
ca, onde
ond e reencontram
reencontramos,os, em plena
plena Europa moderna, a exigência
carismática do primeiro monaquismo. Uma polêmica vigorosa justifica, contra todo
moralism
mo ralismoo utilitári
utilitário,
o, a gratuidade dad a adoração.
a doração. O espiri
espiritual
tual conduz uma exploraçã
exploraçãoo
pelos espaços interiores que ele nos deixa como um mapa. Seu exemplo e sua
irradiaç
irradiaçãoão designam,
designa m, para além dos maiores
maiores sucessos polí
político-sociais, o Reino que
tico-sociais,
ultrapassa a histór
h istória,
ia, a rel
relativi
ativiza
za e vivifica.

últimoo Relato , o mais breve,


 Este últim breve, é como
como os demais abundante em indicações
práticas: como conduzir-se na falt
fa ltaa de
d e um mestre
mestre espirit
espiritual;
ual; o que significa a oração
oraçã o
sem imagens; e o livro termina com o texto de uma sóbria e profunda prece em
intenção
intenção do
d o próximo
próximo:: em toda
toda esta tradição, com
comoo sabemos,
sabemos, a féf é veiculada
veiculada na oração
oraçã o
deve frutificar em uma compaixão sem limites.

Olivier Clément 

QUINTO RELATO

O estaroste: Um
estaroste:  Um ano se passou desde a última vez que vi o peregrino, quando
uma discreta batida à porta e uma voz suplicante anunciaram-me
an unciaram-me a chegada

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deste irmão cheio de ferv


fervor.
or. Entre, meu caro, agradeçamos
agradeçamos juntos
j untos a Deus por ter
abençoado seus caminhos e por tê-lo trazido de volta.

O peregri
peregrino:
no: Glória
 Glória e agradecimentos ao Pai Altíssimo por sua bondade em
todas as coisas, que ele ordena como lhe apraz, e sempre para o nosso bem, nós
que somos peregrinos e estrangeiros numa
n uma terra estranha. Eis-me aqui, pecador,
que o deixei no último ano e que novamente, pela graça de Deus, pensei valer a
pena vê-lo e ouvir sua alegre acolhida. E certamente, você espera de mim uma
descrição
descrição completa da Cidade de Deus, Jerusalém, pela qual minh
mi nhaa alma padecia
e para onde eu tinha a firme intenção de me dirigir. Mas nossos desejos nem
sempre se cumprem e foi o que
q ue aconteceu no meu caso. Não é de espantar;
como, pecador que sou, poderia me considerar digno de pisar o solo sagrado no
qual os pés divinos de Nosso Senhor Jesus Cristo deixaram suas pegadas?

Você se lembra, meu pai, que eu deixei este lugar no último ano acompanhado
de um velho homem surdo e que eu possuía uma carta de um negociante
negociante de
Irkutsk para seu filho em Odessa, pedindo-lhe que me enviasse a Jerusalém. Pois

bem, chegamos
companheiro a Odessa
logo sem
adquiriu problemas
uma passagem e em
num muito
naviopouco tempo. Meu
para Constantinopla e
partiu. Quanto a mim, saí a buscar o filho do comerciante
comerciante conforme o endereç
en dereçoo
que constava na car
carta.
ta. Num curto espaço
espaço de tempo
t empo encontrei a casa, mas lá l á fui
surpreendido e entristeci-me por saber que meu benfeitor
b enfeitor já não
n ão era vivo. Ele
havia falecido há três semanas, após uma curta doença. Isto em muito me
desencorajou, mas ainda mantive a confiança no poder de Deus.

Toda a casa estava de luto, e a viúva que permanecia


permanecia com seus três filhos
pequenos achava-se em grande miséria, chorando todo o tempo e desfalecendo
de tristeza várias vezes ao dia. Sua angústia
an gústia era tão grande
grande que dizia-se
diz ia-se que ela
também não viveria por muito mais tempo. No entanto, em meio a tudo isto, ela
me recebeu amavelmente, mas no estado em que se encontravam seus negócios
ela não pode me enviar a Jerusalém. Ela pediu-me que permanecesse com com ela por
cercaa de uma quinzena
cerc quinz ena até que seu sogro viesse a Odessa, como ele havia
prometido, para colocar em ordem os negócios da infeliz família. Assim, fiquei.
Uma semana se passou, um mês, depois outro, mas, ao invés de vir, o
negociante escreveu
escreveu para dizer que seus próprios negócios não lhe
lh e permitiam
deslocar-se e aconselhava sua nora a desfazer-se dos seus sócios e funcionários
e viajar imediatamente
im ediatamente a Irkutsk.
Irkutsk. Começou
Começou a agitação da mudança e, como vi que
já não podia ser útil, agradeci sua hospitalidade e tomei meu caminho. Mais uma
 vez eu me vi errante
errante através da Rússia.

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Eu pensei e pensei. Para onde iria agora? No fim, decidi que antes de qualquer
coisa eu poderia bem ir a Kiev, que há anos não visitava. Assim eu me pus a
caminho. Naturalmente, eu me atormentava por não ter podido manter meu
 voto de ir a Jerusalém,
Jerusalém, mas pensava,
pen sava, refletindo, que mesmo isto
i sto não poderia ter
acontecido sem a intervenção
in tervenção providencial
providencial de Deus e assim me tranquilizava,
tranquili zava,
esperando que Deus que ama os homens aceitaria minha intenção pelo ato e
não deixaria
dei xaria minha viagem ser interrompida sem uma edificação espiritual. E
assim foi, pois eu encontrei pessoas que me mostraram muitas coisas que eu não
sabia e que, para minha salvação, iluminaram minha alma obscurecida. Se a
necessidade não houvesse me obrigado a esta viagem, eu não teria encontrado
estes benfeitores espirituais.

Eu seguia
seguia durante o dia
di a com a oração, e ao entardecer, quando me detinh
deti nhaa
esperando a noite, eu lia a minha Filocalia para reafirmar e estimular minha
alma na luta contra os invisíveis inimigos da salvação.

A meio caminho,
caminh o, cerca de sessenta e quatro verstas [ [3] 
3]  de
 de Odessa, fui

testemunh
testemunha
carregadas adedemercadorias;
uma coisa surpreendente.
seriam no mínimo Haviatrinta.
um longo
lon go comboio
Passei por elas.deOcarroças
carroças
primeiro
condutor, chefe da fila, caminhava ao lado do seu cavalo e os demais seguiam
em grupo a certa distância. A estrada acompanhava uma represa alimentadaalimen tada por
um córrego,
córrego, e o gelo que derretia sob
so b a primavera ficava
ficava à deriva e acu
acumulava-se
mulava-se
nas margens com um barulho terrível. De súbito, o condutor chefe, um homem
jovem, deteve seu cavalo
cavalo e logo toda a fila parou também. Os outros condutores
correram
correram para ele, viram que
q ue ele começava
começava a se despir e lhe lh e perguntaram o
porquê. Ele lhes respondeu que tinha grande desejo de banhar-se na represa.
Alguns, espantados,
espant ados, começaram a rir-se dele, outros começaram
começaram a repreendê-lo
tratando-o como louco e o mais velho, seu próprio irmão, tentou impedi-lo
empurrando-o para fazê-lo partir; o outro se defendia e se rec
recusava
usava a fazer o que
lhe era dito. Alguns dos jovens condutores, tomando água da represa nos baldes
que usavam para dessedentar os cavalos, jogaram-na para satisfazer o homem
ho mem
que desejava banhar-se, tanto sobre a cabeça como sobre as costas, dizendo: “Aí
está, somos nós que vamos banhá-lo.” Assim que a água tocou seu corpo, ele
gritou: “Ah, isto é bom!” Ele sentou-se no chão e eles continuaram a lhe jogar
água. Depois, rapidamente, ele se deitou e morreu. Todos foram tomados de
pavor, sem compreender porque aquilo havia acontecido.

Eu permaneci com eles cerca


cerca de uma hora,
h ora, depois retomei meu caminho.
caminh o. Mais
Mais
ou menos a cinco verstas adiante, vi uma aldeia junto à estrada, e entrando nela
encontrei um velho sacerdote que seguia pela rua. Pensei em contar-lhe o que

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acabara de ver para per


perguntar-lhe
guntar-lhe o que pensar disto.
dist o. O sacerdote conduziu-me
à sua casa, e eu contei-lhe a história, pedindo-o que me explicasse a causa de tal
evento.

- Nada posso dizer-lhe, caro irmão, exc exceto


eto talvez isto: que existem na
natureza muitas coisas espantosas que não podemos conhecer. Isto, penso eu,
foi disposto por Deus que mostra com com mais clareza aos homens seu poder e sua
intervenção providenciais na natureza, produzindo às vezes nas próprias leis
destas alterações anormais e súbitas.
súbi tas. Uma vez fui testemunha ded e um caso
desses. Perto de nossa aldeia existe uma ravina profunda e abrupta, não muito
larga, mas com setenta pés ou o u mais de profundidade. Dá medo olhar
olh ar seu fundo
escuro. Sobre ela foi construída uma passarela. Um homem de minha paróquia,
pai de família muito respeitado, foi subitamente tomado, sem nenhuma razão,
do irresistível desejo de atirar-se do alto desta pequena ponte para as
profundezas da ravina. Ele lutou contra esta ideia e resistiu ao impulso
i mpulso durante
uma semana. No fim, já não lhe foi mais possível conter-se. Ele levantou-se de
manhã, saiu precipitadamente e atirou-se no vazio. Logo ouvimos seus gemidos

eQuando
com grandes esforços o tiramos
lhe perguntamos do sua
a razão de abismo; eleele
queda, tinha as pernas
respondeu quequebradas.
apesar do
grande sofrimento que experimentava agora, tinha o espírito em paz por haver
cumprido o irresistível desejo que o havia obcecado durante uma semana, e pelo
qual arriscara sua vida.

Ele passou um ano inteiro no hospital até curar-se. Eu ia vê-lo e muitas vezes
encontrava os médicos
médi cos ao seu redor. Como você, eu queria saber deles a causa do
ocorrido. Os médicos respondiam unanimemente que se tratava de um
“frenesi”. Quando eu lhes pedia uma explicação científica do que era isto, nada
mais conseguia arrancar deles, senão que se tratava de um desses segredos da
natureza inacessíveis à ciência. Quanto a mim, pensava que se, em presença de
um destes mistérios
mis térios da natureza, a pessoa se pusesse a orar a Deus e a pedir
conselho a homens espirituais, este irresistível “frenesi”, como diziam os
médicos, não poderia de modo algum triunfar.

Em realidade, encontramos na vida humana muitas coisas das quais não


conseguimos ter uma compreensão clara.

Enquanto conversávamos, escureceu


escureceu e acabei passando a noite
n oite ali. No dia
seguinte pela manhã,
manh ã, o prefeito enviou seu secretário para pedir ao sacerdote
sacerdote
que enterrasse o morto no cemitério e para dizer que os médicos, depois da
autópsia, não encontraram nenhum sinal de loucura e declararam que a morte

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fora devida a um ataque súbito.

- Como você vê, disse-me o sacer


sacerdote,
dote, a ciência médica não pode fornecer
nenhuma
nenh uma razão precisa
precisa para este incontrolável
in controlável impulso para a água.

E assim despedi-me do sacerdote e retomei meu caminho. Após haver viajado


por muitos dias, e sentindo-me muito fatigado, cheguei a uma cidade comercial
bastante importante chamada Bielaia Tserkov. Como já se aproximava o
crepúscu
crep úsculo,
lo, pus-me a procurar um alojamento
alojament o para passar a noite. No mercado,
encontrei um homem
h omem que parecia ser também um viajante.
viajan te. Ele perguntava
perguntava nas
lojas pelo endereço de uma pessoa que vivia nos arredores. Quando me viu, veio
até mim e disse:

- Você parec
parecee ser também um pereg
peregrino.
rino. Tentemos juntos encontrar um
homem chamado Evreinov que mora nesta cidade. É um bom cristão, ele
mantém um esplêndido albergue e acolhe muito bem os peregrinos. Veja, eu
tenho aqui algo escrito a seu respeito.

Aceitei com alegria, e logo encontramos a casa. Embora o proprietário não


estivesse, sua esposa, uma boa senhora, nos recebeu amavelmente e nos
ofereceu,
ofereceu, sobre o celeiro, uma mansarda
mans arda separada para repousarmos.
repousarmos.

Meu companheiro disse-me


dis se-me que era comerciante
comerciante em Moghilev, e que havia
passado dois anos na Bessarábia como noviço num mosteiro, mas apenas com
passaporte temporário. Ele
Ele agora estava retornando o caminho
caminh o para obter da
corporação
corporação dos comerciantes
comerciantes o consentimen
consentimento to para sua entrada definitiva na
na
 vida monástica.
monásti ca.

- Aqueles mosteiros, sua constituição, sua ordem e a vida estrita dos


numerosos e piedosos startsi [4] 
 [ 4]  que
 que aí vivem me agrada sobremaneira.

Ele assegurou-me que os mosteiros da Bessarábia, ao lado daqueles da Rússia,


eram como o Paraíso comparado com a terra, e incentivou-me
in centivou-me a acompanhá-lo.

Enquanto falamos sobre estas coisas, chegou um terceiro hóspede em nosso


quarto. Era
Era um sub-oficial que voltava para casa de licença.
l icença. Vimos que ele estava
esgotado pela viagem. Dissemos juntos nossas orações e nos deitamos para
dormir. No dia seguinte de manhãzinha já estávamos todos de pé e nos
preparando para retomar o caminh
caminho;
o; já íamos
íamo s agradecer
agradecer aos nossos anfitriões,
quando ouvimos soarem os sinos das matinais. O comerciante e eu nos

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perguntamos o que fazer: como partir, tendo ouvindo os sinos, sem antes irmos
à igreja? Era preferível aguardar
aguardar e dizermos nossas
n ossas preces na igreja, após o que
poderíamos partir alegremente.

Tendo tomado esta decisão, fomos chamar o sub-oficial. Mas ele nos disse:

- O que significa ir à igreja quando se viaja? Que importa a Deus se vamos


ou não? Partamos, e depois diremos nossas orações. Vão vocês, se quiserem,
não eu. No tempo que vocês vão passar nas matinais, eu estarei a cinco verstas
daqui ou quase, e quero
q uero chegar
chegar em casa o quanto antes.
an tes.

Diante disto, o comerciante respondeu:

- Irmão, não corr


corraa tanto com seus projetos sem antes saber quais são as
intenções de Deus!

E assim fomos à igreja, enquanto ele tomava seu caminho.

Ficamos durante as matinais


mati nais e durante a Liturgia [eucarística].
[eucarística]. Depois
Depois
regressamos
regressamos à nossa
n ossa mansarda
mans arda para preparar
preparar nossos apetrechos e partir; mas,
que vimos então? Nossa anfitriã, carregando um samovar.

- Aonde vão vocês?, disse ela, prec


precisamos
isamos tomar uma taça de chá. E também
farão o desjejum conosco. Não podemos deixá-los partir famintos.

Ficamos, portanto. E não fazia meia hora que estávamos sentados ao redor do
samovar, quando chegou nosso
no sso sub-oficial correndo e ofegante:

- Chego a vocês com dor e alegria ao mesmo tempo!, disse ele.

- O que aconteceu
aconteceu?,
?, pergu
perguntamos
ntamos nós.

- Depois que eu os deixei e parti, veio-me a ideia de ir ao caf


caféé para obter
algumas moedas trocadas e ao mesmo tempo comer algumaalguma coisa para melhor
enfrentar o caminho. Para lá me dirigi; troquei meu dinheiro, comi alguma coisa
e parti como um passarinho. Quando já havia caminhado cerca de três verstas,
resolvi contar as moedas que o homem o café me dera. Sentei-me à beira do
caminho, saquei minha carteira e tranquilamente examinei seu conteúdo.
Subitamente descobri que meu passaporte não estava ali: havia apenas o
dinheiro e alguns papéis. Fui tomado de pânico, como se houvesse perdido a

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cabeça!
cabeç a! Num relance, vi tudo o que havia se passado: naturalmente,
n aturalmente, eu o deixara
dei xara
cair enquanto pagava o café. Era preciso voltar correndo: e eu corri e corri! Outra
ideia temível me ocorreu: e se ele não estivesse lá! Seria um enorme problema!
Precipitei-me para o homem do balcão e indaguei-o, mas ele nada vira.

Fiquei desesperado! Então, comec


comeceiei a refazer todo o meu caminho
caminh o e a procurar
por toda parte, por onde
on de andara, por onde
on de estivera e – acreditem! – tive a sorte
de encontrar meu passaporte. Lá estava ele, ainda dobrado, no chão entre a
palha e a poeira, pisado no meio
mei o da sujeira. Graças a Deus!
Deus! Eu estava
estava tão feliz, é
como se uma montanha tivesse sido tirada de minhas costas. É claro, o
passaporte estava sujo e coberto de terra, vai valer-me um safanão, mas isso não
importa. Em todo caso, já posso voltar para casa e relembrar meu berço
berço querido.
Mas eu quis vir aqui para contar-lhes. E o que é melhor
melh or é que, à custa de correr
em meu desespero, tenho os pés em carne viva e mal consigo andar. Assim, vim
também pedir
pedi r alguma pomada para fazer um curativo.
curativo.

- Eis aí, meu irmão, disse o comerc


comerciante,
iante, o que aconteceu porque você não

quis
sobrenos
nnós
os escutar e vir conosco
e, ao contrário, ei-loàaqui
igreja.
de Você
volta,queria
e aindatomar uma estropiado.
por cima grande dianteira
diantBem
eira
que eu lhe disse
d isse para não correr tão afoito atrás dos seus planos.
planos . Veja agora
aonde você está. Não custava nada ter ido conosco à igreja, mas você disse: “Que
diferença faz
faz a Deus que rezemos?”
rezemos? ” Foi
F oi aí, car
caroo irmão, que você errou.
errou.

Naturalmente, Deus não tem necessidade de nossas preces de pecadores, mas


apesar de tudo, ele gosta que rezemos. O que lhe
lh e agrada, é não só a oração que o
próprio Espírito Santo eleva em nós e nos ajuda a oferecer, mas cada impulso,
cada pensamento oferecido em sua glória. Em troca,
troca, a misericórdia
mi sericórdia infinita de
Deus oferece recompensas generosas. O amor de Deus prodigaliza a graça mil
 vezes mais do que o merecem as açõesações humanas.
human as. Se você lhe der o menor
trocado, ele retornará a você em ouro. Se você
você simplesmente
simplesmen te se propuser a ir ao
encontro do Pai, ele virá ao seu encontro. Diga apenas uma palavra breve, ainda
que sem convicção:
convicção: “Receba-me, tem piedade de d e mim”,
mim” , e ele corr
correrá
erá a abraçá-lo.
abraçá-lo.
Eis como o Pai celeste nos ama, por indignos que sejamos. E simplesmente
devido a este amor, ele se alegra com cada passo que damos, ainda que pequeno,
na direç
di reção
ão da salvaç
sal vação.
ão. Mas
Mas você pensou: “Que glória poderá
po derá haver aí para Deus?
Que vantagem há para nós, se apenas rezamos um pouco e logo deixamos
nossos pensamentos errarem por aí novamente, ou se ao contrário nos
empenhamos no bem, como dizer uma prece com cinco ou seis inclinações, ou
soltar um suspiro sincero
sin cero ao invocar o nome de Jesus, ou ainda
ain da prestar atenção a
um bom pensamento, dedicar um tempo a uma leitura espiritual, abstermo-nos

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30/10/13 C aminho de Or ação: R elatos inéditos do Per egr ino R usso ( Anôni mo)

de comida, suportar em silêncio uma afronta?” Tudo isso não lhe parece bastar
para a sua salvação, e parece inútil a você praticá-lo. Não! Nenhum destes atos
humildes é feito em vão. Deus, que tudo vê, levará isto em conta e o
recompensará nesta vida. São João Crisóstomo afirma: “Nenhum bem, de
nenhum tipo, por insignificante que seja, será desdenhado no Juízo equânime.
Se os pecados devem ser buscados
buscados com tal minúcia
mi núcia que prestaremos conta
conta de
cada palavra, desejo ou pensamento, quanto mais os bons atos, por mínimos
que sejam, serão tomados em consideração e contarão diante de nosso Juiz
cheio de amor!”

Eu vou contar-lhes um caso que testemunhei no ano passado. No mosteiro da


Bessarábia em que eu vivia, havia um estaroste, monge de vida santa. Um dia ele
foi assaltado por uma tentação: sentiu um grande apetite por peixe seco. Mas,
Mas,
como era impossível que houvesse no mosteiro nesta época, ele concebeu a
ideia de ir
i r buscar no mercado. Ele
Ele lutou contra esta ideia durante muito tempo,
e controlava-se pensando que um monge deve satisfazer-se com o que é
preparado para todos os irmãos e que ele deve, por todos os meios, evitar as

tentações.
um monge Por
umaoutro
fontelado, percorrer
percorrer além
de tentações, o mercado
merc
deado no meio da multidão
inconveniente.mMas
ultidão seriaas
no final, para
mentiras do inimigo prevaleceram sobre suas objeções e ele, cedendo ao seu
desejo, decidiu-se a partir para procurar
procurar o peixe.

Depois de ter deixado o mosteiro e enquanto caminhava pela rua, ele percebeu
que não tinha seu terço à mão, e se pôs a pensar: “Irei eu como um soldado sem
sua espada?” Ele se prepara
preparavava para voltar a buscá-lo
buscá-lo quando,
quand o, procurando em sua
bolsa, achou-o. Ele o tirou, fez o sinal da cruz e, de terço à mão, foi-se
calmamente. Quando se aproximava do mercado, viu um cavalo parado diante
de uma loja,
lo ja, atrelado a uma carroça
carroça carregada
carregada de enormes barris. De repente este
cavalo,
cavalo, assustando-se com sabe-se lá o que, arranc
arrancou
ou bruscamente e atropelou o
monge, atingindo-o nas costas e atirando-o ao chão mas sem fazer-lhe grande
mal. Em seguida, a dois passos dele, a carga
carga inclinou-se
inclin ou-se e a carroça
carroça se fez em
pedaços. Ele
Ele ergueu-se
ergueu-se prontamente
prontament e e, ao passar o susto,
s usto, maravilhou-se
maravilh ou-se pelo
modo como Deus poupara sua vida, pois se a car carga
ga houvesse tombado meio
segundo antes, ele teria sido esmagado como a carroça. Sem pensar mais, ele
adquiriu seu peixe, voltou ao mosteiro, comeu-o, disse suas orações e deitou-se
para dormir.

Mal havia adormecido, e em sonhos um estaroste de aspecto indulgente, que ele


não conhecia, apareceu-lhe e disse:

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“Eu sou o protetor desta casa e desejo iinstruí-lo


nstruí-lo para que você compreenda
compreenda e se
lembre da lição
li ção que lhe foi dada. Veja: sua falta de esforço contra
contra o pensamento
pen samento
do prazer, e sua preguiça
preguiça em discerni-lo e dominá-lo
domin á-lo deram ao Inimigo
Inim igo a chance
para atacá-lo. Ele havia prepar
preparado
ado o desastre para você. Mas
Mas seu anjo
an jo guar
guardião
dião
pressentiu-o e lhe sugeriu oferecer
oferecer uma prece
prece e lembrar-se do terço. Como
Como você
escutou esta sugestão
sugestão e a pôs em prática, isto salvou-o da morte.
mo rte. Veja portanto o
amor de Deus pelos homens, e sua generosa recompensa ao menor olhar que lhe
 voltamos.”

Dizendo estas palavras, o estaroste da visão desapareceu rapidamente


rapidamente da cela. O
monge ajoelhou-se e, ao fazê-lo, acordou, encontrando-se não sobre seu leito,
mais de joelhos, prosternado no umbral da porta. Ele contou a história de sua
 visão em benefício espiritual de muitos, inclusive meu próprio.

O amor de Deus verdadeiramente não tem limites para conosco, os pecadores.


Não é maravilhoso que um ato tão pequeno – não mais do que tirar o terço da
bolsa, tomá-lo nas mãos e invocar uma vez o nome de Deus – tenha podido

salvar a vida
invocação dede umpossa
Jesus homem, e que nanumerosas
compensar balança dohoras
hJuízo, umpreguiça?
oras de só curto
preguiç momento
a? Na
N de
a verdade,
eis o pagamento em ouro em troca de uma mísera moeda. Veja, irmão, o poder
da oração e do nome de Jesus, quando o invocamos. João de Carpathos, na
 Filocaliaa, diz que quando, na prece de Jesus, invocamos o santo Nome e
 Filocali
dizemos: “Tem piedade de mim pecador”, a cada apelo a voz de Deus responde
em segredo: “Meu
“Meu filho, seus pecados estão perdoados.” E ele acrescenta
acrescenta que, no
momento em que dizemos a oração, nada nos distingue dos santos, dos
confessores e dos mártires. Pois, diz são João Crisóstomo, “por mais cobertos de
pecados que sejamos, quando pronunciamos a oração, ela nos purifica de
imediato. A misericórdia
mi sericórdia de Deus
Deus para conosco é grande, embora nós,
nó s, os
pecadores, sejamos descuidados, embora sequer lhe dediquemos uma hora em
agradecimento
agradec imento e troquemos pelos negóc
n egócios
ios e o dia-a-dia a oração que tem mais
importância do que todo o resto, esquecendo-nos de Deus e de nosso dever. É
por isso que muitas vezes rejeitamos as dores e as calamidades que o Amor
infinito da Providência divina utiliza também para nossa edificação e para elevar
nossos corações para Deus.

Quando o mercador terminou de falar ao suboficial, eu lhe disse:

- Que alívio você trouxe também à minh


minhaa alma pecador
pecadora!
a! Eu me
prosternaria de bom grado aos seus pés!

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Ouvindo estas palavras, ele voltou-se para mim e disse:

- Você parec
parecee gostar bastante de histó
histórias
rias religiosas. Espere, eu vou ler-lhe
outra semelhante a esta que contei. Eu tenho aqui um livro com o qual eu viajo,
intitulado Agapia , ou A Salvação dos pecadores
peca dores. Há aí uma grande quantidade de
coisas interessantes.

Ele tirou o volume de sua bolsa


bo lsa e começou a ler uma magnífica história a
respeito de Agatônico, a quem desde a infância os piedosos pais ensinaram a
dizer diariamente,
diariament e, diante
dian te do ícone da Mãe de Deus, a prece que inicia com
“Alegra-te, Virgem que esperas Deus.”
Deus.” Assim
Assi m ele o fez todos
todo s os dias.
di as. Mais
Mais tarde,
tendo crescido, ele se deixou
dei xou absorver pelos negócios e pela agitação
agitação da vida, e
começou
começ ou a dizer a oração cada vez mais raramente, terminando
terminan do por abandoná-
abando ná-
la.

Um dia, ele abrigou para que passasse a noite um peregrino que lhe disse ser um
eremita de Tebaida
Teb aida e que tivera
t ivera uma visão na qual recebera ordem de procurar
procurar

um
Deus.certo Agatônico
Agatônico
Agatônico
Agatônico e repreendê-lo
desculpou-se por que
dizendo h aver
haver
eleabandonado a oração
havia repetido à Mãe
a prece Mãe anos
por de a
fio sem obter nenhum resultado. O eremita então lhe disse:

“Lembre-se, ceg
cegoo e ingrato,
in grato, quantas vezes esta oração o ajudou e o salvou
sal vou do
desastre. Lembra-se como, na sua juventude, você foi milagrosamente salvo de
um afogamento? E quando uma epidemia levou tantos amigos seus, enquanto
 você conservou
conservou a saúde? Lembra-se da vez em que, levando um amigo,ami go, a carroça
carroça
 virou? Ele quebrou a perna,
perna, mas você saiu ileso. Não sabe você que um
conhecido seu, jovem e forte, está estendido, doente e fraco, enquanto você
goza de boa saúde?”

Ele recordou
recordou a Agatônico muitas outras coisas. Para terminar, disse-lh
di sse-lhe:
e:

“Sai ba então que todas estas penas


“Saiba pen as foram afastadas de você
você pela proteção da
santíssima
santíssi ma Mãe de Deus, graças
graças a esta cur
curta
ta prece que, a cada dia, unia o seu
coração
coraç ão a Deus. Tome cuidado
cuidado daqui para frente, retome-a e não
n ão abandone
abando ne mais
o louvor à Rainha
Rainh a dos céus, para que ela não o esqueç
esqueça.”
a.”

Quando ele terminou de ler, fomos chamados para o almoço, após o qual, com
as forças renovadas, agradecemos nossos anfitriões e tomamos nosso caminho.
Depois nos separamos, e cada qual foi para o seu lado, como melhor lhe
parecesse.

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Caminhei durante quase cinco dias, reconfortado pelas histórias que ouvira do
bom mercador de Bielaia Tserkov,
T serkov, e já me aproximava de Kiev. Porém de
repente, sem nenhuma razão, comecei a sentir-me triste e pesado, e meus
pensamentos se encheram de opacidade e desencorajamento. A oração vinha-
me penosamente e uma espécie de indolência tomava conta de mim. Vendo
adiante um bosque guarnecido de espessos arbustos à beira do caminho, nele
entrei para repousar um pouco, buscando um lugar apartado apartado aonde
aon de eu pudesse
me sentar e ler a Filocali
 Filocaliaa, a fim de
d e elevar meu espírito enfraquecido
enfraquecido e combater
minhaa preguiça.
minh preguiça. Encontrei
Encontrei um locallo cal tranquilo e comecei a ler Cassiano o
Romano [ [5] 
Romano 5] , na quarta parte da Filocali
 Filocaliaa, sobre os Oito Pensamentos de Evagro. Já
estava lendo com prazer há cerca de meia hora quando perc percebi
ebi inesperadamente
in esperadamente
a silhueta de um homem a uns cem metros de mim, mais para o interior da
floresta. Ele
Ele estava imóvel, ajoelh
ajoelhado.
ado. Eu fiquei
fiquei feliz em vê-lo, pois concluí que
ele rezava, e voltei à minha leitura. Continuei a ler por uma hora ou mais, e
olhei outra vez para ele. O homem continuava lá, sempre ajoelhado e sem o
menor movimento. Fiquei muito emocionado e pensei: “Como existem fiéis
servidores de Deus!”

Enquanto eu refletia sobre isto, subitamente o homem caiu por terra e ficou
estendido calmamente. Fiquei surpreendido e como não havia visto seu rosto,
pois ele estava de costas para mim quando ajoelhado, senti-me curioso para
avançar e ver quem era. Tratava-se
Tratava-se de um jovem
j ovem camponês, com cerca de vinte e
cinco anos. Ele tinha o rosto simpático, bom aspecto, mas muito pálido. Estava
 vestido com um caftan
caftan comum, com uma corda de fibra
fibra de tília
tíli a à guisa de cinto.
cinto.
Nada mais havia de especial nele. Ele não possuía embornal, nem sequer bastão.
O ruído de minh
mi nhaa aproximação
aproximação acordou-o e ele se levantou. Eu lhe perguntei
quem era; ele me disse que era originário da província de Smolensk e que vinha
de Kiev.

- E para onde vai agora?, pergu


perguntei-lh
ntei-lhe.
e.

- Nem mesmo eu o sei; para onde me conduza Deus, respondeu.

- Faz tempo que você deixou sua casa?

- Sim, perto de quatro anos.

- Aonde você viveu por todo este tempo?

- Eu andei de santuário em santuário, pelos mosteiros e as igrejas. Minh


inhaa

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casa já não fazia sentido para mim. Sou órfão e não tenho parentes. Além disso,
tenho um pé torto. Assim, sigo errando pelo mundo.

- Alguém que temia a Deus, ao que parec


parece,
e, ensin
ensinou-o
ou-o a não vagar por não
importa onde, mas a visitar os lugares santos, disse-lhe eu.

- Pois bem, veja você


você,, respondeu ele; não tendo pai nem mãe, desde criança
cresci no meio dos pastores, e fui feliz até a idade de dez anos. Depois, um dia,
eu conduzi o rebanho de volta para casa, sem perceber que a melhor ovelha
estava faltando. Nosso patrão era um homem duro e desumano. Quando ele
chegou ao entardecer e viu que sua ovelha tinha-se perdido, ele atirou-se sobre
mim com injúrias e ameaças. Ele jurou que, se eu não a encontrasse, ele me
bateria até a morte e ainda quebraria meus braços e pernas. Sabendo o quanto
ele era cruel, eu parti em busca da ovelha, voltando aos lugares aonde ela havia
pastado durante o dia.
di a. Eu procur
procurei
ei e procurei
procurei por mais de metade da noite,
n oite, mas
m as
não encontrei
en contrei nem traço seu em parte alguma. Era Era uma noite muito
m uito escura,
escura,
também, pois aproximava-se o outono. Quando eu estava mais profundamente

enfiado
ergueu-se
ergu dentro
eu-se da floresta
subitamen
subitamente te uma– e, em nossa província
tempestade. Era comoas
se florestas
árvoressão
as árvore imensas –Ao
s vacilassem.
longe os lobos puseram-se a uivar. Fui presa de enorme terror, a ponto de meus
cabelos eriçarem-se sobre minha cabeça Tudo se tornava mais e mais
apavorante, a tal ponto
pon to que pensei em desfalecer de pânico e horror. Então
Então caí
de joelhos e fiz o sinal da cruz; e, com todo meu coração, disse: “Senhor Jesus
Cristo, tem piedade de mim!”

Mal acabara de dizer estas palavras e senti-me inteiramente em paz, como se


não tivesse tido o menor contratempo. Todo o meu medo desapareceu e eu senti
o coração
coração alegre, como se eu tivesse sido transportado aos céu céus.
s. Eu estava cheio
de felicidade, mas veja, não parava um instante de dizer a oração. Ainda hoje
não sei quanto tempo durou a tempestade, nem como passei o resto da noite. Vi
chegar o dia e ali estava eu, ajoelhado no mesmo lugar. Levantei-me
calmamente, compreendi que jamais encontraria a ovelha, e comecei a retornar
à sede. Mas tudo ia bem em meu coração e eu repetia a prece para
contentamentoo do coração.
contentament coração. Assim que eu cheguei à aldeia, o patrão viu que não
trouxeraa a ovelha e me bateu até que eu fiquei meio morto;
trouxer m orto; ele quebrou-me este
pé, como você pode ver. Depois
Depois deste castigo, eu fiquei deitado, quase sem poder
me mover, durante seis semanas. Tudo o que eu sabiasabi a era que eu recitava
recitava a
oração e que ela me reconfortava.
reconfortava. Quando me senti um pouco melhor, passei a
 vagar pelo mundo, e como não me interessava
int eressava o acotovelamento
acotovelamento das multidões,
m ultidões,
que além disso propiciam ocasião para muitos pecados, tomei a decisão de ir de

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um lugar santo a outro, e ssempre


empre pelo interior das florestas. Eis
Eis como se
passaram já quase cinco anos.

Quando ouvi
o uvi este relato, meu coração
coração encheu-se de alegria porque Deus
Deus julgou-
me digno de encontrar um homem tão bom, e perguntei-lhe:

- E você ainda utiliza a oração até hoj


hoje?
e?

- Eu não poderia viver sem ela, respondeu ele. Veja, cada vez que eu
rememoro como caí de joelhos pela primeira vez dentro daquela floresta, é como
se alguém me empurrasse de novo de joelhos
j oelhos,, e eu começo a rezar. Eu não sei se
a minha humilde oração agrada ou não a Deus. Pois, ao rezar, às vezes sinto
uma grande felicidade, como que uma leveza da alma, uma espécie de alegre
plenitude; mas em outras ocasiões, sinto um peso triste e um enfraquecimento
espiritual. Apesar de tudo, meu desejo é de continuar orando, até a morte.

- Não fique aflito, meu querido irmão. Tudo agrada a Deus e serve à nossa

salvação
dizem os –santos
tudo, Padres.
sem exc
exceção,
eção,a das
Seja coisas
leveza ou aque so brevêm
sobrevêm
pesandez do durante
coração,atudo
prece. É ocerto.
está que
Nenhuma prece, boa ou ruim, é insuficiente aos olhos de Deus. Leveza, calor e
alegria mostram-nos que Deus nos rec recompensa
ompensa e nos
n os consola do
d o esforço,
esforço,
enquanto que o peso, a obscuridade e a secura significam que Deus purificapurifica e
fortificaa a alma, e com esta prova salutar a salva, preparando-a na humildade
fortific h umildade
para as alegrias do porvir. Como testemunho disto, vou ler-lhe algo que foi
escrito por são João Clímaco.

Encontrei a passagem e a li. Ele escutou-a com atenção e alegrou-se. Depois


Depois
agradeceu-me muito, e nos despedimos.
agradeceu-me despedi mos. Ele partiu diretamente para as
profundezas da floresta e eu retomei meu caminho. Continuei em minha rota,
agradecendo
agradecendo a Deus por haver-me considerado, pecador que sou, digno de
receber tal ensinamento.

No dia
di a seguinte, com a ajuda de
d e Deus, cheguei a Kiev. A primeira e principal
coisa que eu desejava fazer era jejuar um pouco, confessar e comungar nesta
santa cidade.

Fiquei hospedado perto dos Santos [


Santos [6] 
6] , porque era mais cômodo para ir à igreja.
Um bom ancião cossaco acolheu-me e, como vivia só em sua cabana, ali
encontrei tranquilidade.
tranquili dade. Durante
Durante a semana na qual me prepara
preparava
va para fazer a
confissão veio-me a ideia de fazê-la o mais detalhada possível. Pus-me então a

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rememorar e examinar todos os meus pecados desde a minha juventude, com


toda precisão, e, para não omitir nada, escrevi tudo o que pude lembrar nos
menores detalhes. Assim enchi toda uma folha de papel.

Fiquei sabendo que em Kitaevaya Poustina, a cerca de sete verstas de Kiev, havia
um sacerdote de vida ascética e grande discernimento.
discernimento . Quem se confessava com
ele encontrava uma atmosfera de terna compaixão e levava um ensinamento
ensinamen to
para a salvação
salvação e a paz da alma. Fiquei contente
content e por saber disso e parti
imediatamente para ir até ele. Solicitei sua assistência e conversamos por alguns
momentos, e depois estendi-lhe a minha folha de papel. Ele a leu inteiramente
e me disse:

- Meu car
caro,
o, uma grande parte do que você escr
escreveu
eveu aqui é totalment
totalmentee fútil.
Escute.
Escute. Em primeiro lugar, não confesse pecados
pecados dos quais você já se arrependeu
e que lhe
lh e foram perdoados. Não volte a eles, pois isto equivaleria a colocar
colocar em
dúvida o sacramento da penitência.
peni tência. Depois, não traga para a sua lembrança as
outras pessoas que estiveram associadas aos seus pecados: julgue apenas a você

mesmo. Em terceiro
circunstâncias lugar, ose santos
dos pecados, Padresconfessá-los
nos mandam nos proíbemem
de termos
mencionar todas
gerais, de as
modo a afastar a tentação tanto de nós mesmos como do confessor. Em Em quarto
lugar, você veio
veio para se arrepender, mas não se arrepende por não saber
arrepender-se – vale dizer, sua penitência é tíbia e negligente. Em quinto lugar,
 você se estendeu sobre todos esses detalhes, mas não se deu conta do mais
importante: você não expôs o pecado mais grave de todos! Você não confessou
nem escr
escreveu
eveu que você não ama a Deus, que você odeia seu próximo, que q ue você
não crê no Verbo de
d e Deus e que você
você não passa de puro orgulho
orgulho e ambição. O
mal está enraizado nestes quatro pecados, nos quais reside toda nossa
depravação espiritual. Eles são as raízes mestras de onde nascem
depravação n ascem os brotos de
todos os pecados diante dos quais sucumbimos.

Fiquei muito surpreso de ouvir isto, e disse:

- Perdoe-me, Pai, mas como é possível não amar a Deus, nosso Criador e
nosso Salvador? No que iremos crer, senão no Verbo de Deus, onde está toda a
 verdade e toda a santidade? Eu desejo o bem
b em de todos os meus
m eus semelhantes,
semelhan tes,
porque os odiaria? Eu não tenho nada de que me orgulhar; de fato, cheio de
inumeráveis pecados, nada tenho que mereça ser louvado e ninguém pode
invejar minha pobreza e minha saúde débil. Ora bem, se eu fosse um homem
instruído e rico, então sim eu seria culpado das coisas das quais me fala.

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- É uma pena, meu car


caro,
o, que você tenh
tenhaa compree
compreendido
ndido tão pouco daquilo
que lhe disse. Mas,
Mas, vejamos! Você aprenderá mais depressa se eu lhe lh e der estas
anotações. Eu me sirvo dela para minhas
minh as próprias confissões. Leia-as do começo
ao fim, e você verá com
com clareza a prova exata do que eu lhe
l he disse
di sse agora.

Ele me deu as anotações e eu as li.


l i. Ei-las a seguir.

***

UMA CONFISS
CONFISSÃO
ÃO QUE CONDUZ

O HOMEM
H OMEM INTERIOR À HUMILDADE

Voltando atentamente meu olhar sobre mim mesmo e examinando as disposições da


minha
minha consciência, verifiquei
verifiquei por experiência
experiência própria que eu não
nã o amo a Deus, que eu
não am
a mo meus
meus sem
semelhantes,
elhantes, que eu não
n ão tenho fé e que eu sou um poço de
d e orgulho e
cupidez. Tudo isto, eu encontrei realmente em mim mesmo, depois de um exame

detalhado dos meus senti


s entime
mentos
ntos e de mi
minha
nha consciência. Assim é que:
 Eu n ã o a mo a De Deuu s , pois se eu amasse a Deus eu pensaria continuamente
continuamente nele
nele
com uma
uma alegr
a legria
ia profunda.
profund a. Cada pensamento de Deus Deus me encheria
encheria ded e prazer e
delícias.
delícias. Ao
A o contrário,
contrário, com muito
muito mais
mais frequência e ardor,
a rdor, eu penso
p enso nas coisas do
do
mundo, e pensar
pensa r em Deus
Deus é para
pa ra mim um árduo e árido
á rido trabalho. SeSe eu amasse a
 Deus, falar
fa lar com ele na oração
oraçã o seria
seria meu alimento
alimento e mi
minha
nha feli
f elicidad
cidadee e me
me arrastaria
numa comunhão ininterrupta
ininterrupta com ele. Mas ao a o contrário,
contrário, não sós ó eu não
n ão encontro
nenhum gosto na prece, como ainda orar exige de mim um esforço. Eu luto
relutantemente, eu estou enfraquecido pela preguiça, e estou pronto a me envolver 
com não importa qual bagatela sem importância, encurtando minhas orações e me
desviando dod o caminho. Meu
Meu tempo
tempo voa com as ocupações
ocupa ções fúteis, mas quando
quand o estou
ocupado com Deus, quando me ponho em sua presença, cada hora me parece um
ano. Alguém que ama pensa no amado o dia d ia inteiro
inteiro sem parar, forma imagens
imagens dele
para si, preocupa-se
preocupa- se com ele
ele e em nenhuma circunstância o ser amado deix d eixaa os seus
s eus
pensamentos.
pensamento s. Quanto
Qua nto a mim,
mim, de
d e minha
minha parte, se de
d e todo um dia eu reservo uma hora
para mergulhar na lem lembrança
brança de
d e Deus, para
pa ra inflamar por ele meu
meu coração, vint
vintee e
trêss horas eu me apresso a abandonar
trê aban donar em ferventes
ferventes oferendas
oferendas aos ídolos de minhas
minhas
paixões.

 Eu não quero outra


outra coisa do que falar
fa lar sobre
sobre assuntos
assun tos frívolo
frívoloss e sobre coisas
coisas que
degradam
degrada m a alma;
alma; isto me dá prazer. Mas quando
qua ndo se trata de
d e meditar
meditar sobre Deus,
Deus, é 
a aridez, o aborrecimento e a preguiça. Mesmo quando sou involuntariamente

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30/10/13 C aminho de Or ação: R elatos inéditos do Per egr ino R usso ( Anôni mo)

temas
conduzido por outro a tem as espiri
esp irituais,
tuais, esforço-me para mudar de d e assunto
assu nto até que
a conversa convenha aos meus interesses.
interesses. Sou um curioso
curioso insaciável das novidades e
dos eventos políticos; procuro ardentemente satisfazer meu amor pelos
conhecimentos da ciência e das artes. Mas o estudo das Leis de Deus, o
conhecimento de Deus e da fé pouco me atraem e não respondem por nenhuma
necessidade de minha alma. Não apenas considero-os como ocupação não essencial
para um cristão,
cristão, mas ainda,
a inda, conform
conformee a ocasião,
ocas ião, como uma
uma espécie
esp écie de supérfluo
com o qual me ocupo eventualmente em meu lazer, nas horas vagas. Definitivamente,
se reconheço o amor a Deus como baseado na observ observação
ação dos mandame
manda mentos
ntos – “Se
vocês me amam, observem meus mandamentos”, disse Nosso Senhor Jesus Cristo –
não apenas
a penas eu não os observo, como
como pouco me esforço
esforço por fazê-lo, e de tudo isso, na
verdade, resulta que eu não
nã o amo a Deus. É o que diz Basílio o Grande: “A prova prova que
um homem não ama a Deus e a Cristo reside no fato de que ele não cumpre os
mandamentos.” 

 Eu ta mbé
mbémm n ã o a mo a o meu p ró
róxi
ximo
mo , pois não somente não sou capaz
ca paz de
de
sacrificar minha vida por ele – como pede o Evangelho – como sequer estou disposto

aeusacrificar
o amassemeu conforto,
como meu bem-estar
a mim mesmo, e minha
como ordena paz pelo bem
o Evangelho, doaflições
suas meu próximo.
me Se
afligiram e suas alegri
alegrias
as me alegrariam. Mas aoa o contrário,
contrário, eu ouço histó
h istórias
rias
estranhas e infelizes sobre meu próximo e não sou atingido; eu não me perturbo
absolutamente ou, o que é pior, chego até a sentir um certo prazer. A má conduta de
um irmão,
irmão, ao invés de deixá-la passa
pa ssarr com amor,
amor, eu a proclam
proclamoo e censuro. Seu bem
estar, suas
sua s honrarias e suas
s uas alegrias não me alegram
alegram como
como se fossem comigo,
comigo, e não
sinto nenhum prazer nelas, como se fossem inteiramente estranhas a mim. Ainda por 
cima, elas suscitam em mim a inveja ou o desdém.

 Eu n ã o tetenn h o n en h u ma f é re
reliligg io
ioss a , nem na imortal
imortalidade,
idade, nem no Evangelho. Se
eu estivesse
estivesse firmeme
firmementente persuadido sem s em nenhuma
nenhuma dúvida
d úvida ded e que para além do
túmulo
túm ulo se encontra
encontra a vida eterna e a recompensa
recompensa dos atos a tos desta vida, eu pensaria
pensa ria
nela continuamente. A própria ideia de imortalidade me encheria de temor e eu
levaria
levaria esta vida comc omoo um estranho
estranho que se prepara prepa ra para
pa ra retornar
retornar um dia ao seu
s eu país
natal. Ao contrário,
contrário, eu nunca
nun ca penso
pens o na eternidad
eternidadee e considero o fim
fim desta vida sobre
a terra como o limite da minha existência. Este pensamento secreto nasce em mim:
“Quem sabe o que acontece no momento da morte?” Se eu digo que acredito na
imortalidade, é uma simples afirmação mental e meu coração está longe de ter a
mesma
me sma firma
firma convicção. Minha conduta e meus meus constantes
cons tantes cuidados
cuidad os em satisfazer a
vida de meus sentidos o provam bem.

Se meu
meu coração tiv
tivesse
esse fé nos santos Evangelhos como Palavra
Palavra de
d e Deus, eu me

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ocuparia ddele
eless e os estudaria continuamente,
continuamente, neles encontraria
encontraria minhas delí d elícias
cias e
neles colocaria
colocaria toda minha atenção com profundo fervor. fervor. A sabedori
sa bedoria,
a, a graça
gra ça e o
amor acham-se ocultos aí. Dia Dia e noit
noitee eu faria
fa ria de minha felicida
felicidade
de o estudo das
d as Leis
de Deus. Ali estaria o meu alimento, meu pão cotidiano, e meu coração guardaria
espontaneamentee a suas lei
espontaneament leis.
s. Nada
Na da na ter
terra
ra poderia me fazer desviar. PorémPorém ao
contrário,
contrário, se de
d e tempos
tempos em tempos
tempos eu ouço a Palavra de Deus, ou é por necessidade
necessida de
ou pelo amor em si de conhecer; de resto, eu não presto muita atenção a ela e a
considero morna e sem interesse. Geralmente eu chego ao final de minha leitura sem
nenhum proveito,
proveito, sempre pronto
pronto a mudar para uma leituraleitura mundana na qual qua l
encontroo mais prazer e mais assuntos
encontr a ssuntos novos
n ovos e interessantes.
interessantes.

 Eu s ou u m p oç
oçoo d e or
orgg u lh
lhoo e eg
egoí
oíss mo d os s en ti
tidd os . Todas as minhas ações o
confirmam. Quando vejo algo de bom em mim, logo quero colocá-lo bem à vista ou
vangloriar-me disto perante os outros ou perante mim mesmo para admirar-me deste
bem. Embora eu transpareça uma humildade exterior, eu a imputo inteiramente aos
meus próprios méritos e considero-me um pouco superior aos outros, ou no mínimo
menos mau do que eles. Se pego uma falta em mim, apresso-me a desculpá-la e

encobri-la,
 furioso contdizendo:
ra os que“Eu
contra me sou assim”
tratam comou “Nãorespeito
pouco tenhoodo
respeit que
e os julme
julgo envergonhar”.
go incapazes Eu fico
d e apreciar 
de
o valor das pessoas.
p essoas. Eu me vanglorio
vanglorio dos meus dons; os fraca
fracassos
ssos de
d e minhas
minhas
empreit
em preitada
adas,
s, eu os tom
tomoo como insultos
insultos pessoais. Eu encontr
encontroo prazer na infeli
infelicidade
cidade
dos meus inimigos.
inimigos. Se por acaso me esforço para algo de bom,bom, é para ext
extrair
rair daí 
alguma glória, uma satisfação espiritual ou uma consolação terrestre. Em uma
palavra, eu faço continuamente de mim mesmo meu próprio ídolo e o sirvo sem
parar, buscand
buscandoo em cada coisa um alimento
alimento para minhas paixões
p aixões e ambições.
ambições.

 Examinand
 Examinandoo tudo isto,
isto, eu vi que sou orgulhoso, corrupto,
corrupto, descrente, sem amor a
 Deus e que odeio
odeio ao meu
meu próximo.
próximo. Que estad
estadoo poderia ser mais
mais culpado?
culpad o? A condição
dos espíritos das trevas é melhor do que a minha, pois eles, embora não amem a
 Deus, odeiem os homens
homens e vivam do orgulho, ao menosmenos creem e teme
temem.
m. Mas, e eu? 
 Pode haver destino
destino mais
mais terríve
terrívell do que o que se apresenta
apresenta a mim?
mim? Qual sentença
será mais severa do que a que julgará a vida irresponsável e tola
tola que reconheço em
mim? 

***

Ao ler de ponta a ponta este modelo de confissão que o sacerdote me havia


dado, eu estava horrorizado
h orrorizado e pensei: “Justos céus! Que pecados
pecados espantosos
espantoso s
escondem-se em mim, e como até agora não os havia visto!” O desejo de ser
purificado
purificado fez-me perguntar a este verdadeiro
verdadeiro pai espiritual se
s e me ensinaria
ensi naria as

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causas de todos esses males e seus remédios. Assim, ele começou a instruir-me:

- Veja, caro irmão, não amar a Deus provém da insuficiência da fé, e a caucausa
sa
desta insufic
in suficiência
iência é a rec
recusa
usa em estudar a ciência verdadeira e sagrada, a
indiferenç
indi ferençaa para com as luzes da alma. Em uma palavra, se você não tem fé, você
não pode amar; se vocêvocê não estiver
esti ver convencido,
convencido, você não pode amar, e para
chegar à convicção
convicção é preciso um completo e exato conhecimento do problema.
Pela meditação,
medi tação, pelo estudo da Palavra
P alavra de Deus
Deus e pela observaç
ob servação
ão de suas
próprias experiências,
experiências, você despertará
despertará em sua alma
al ma uma sede e uma
impaciência, ou, como alguns o chamam, uma “perplexidade” que leva ao
insaciável desejo de ver as coisas mais de perto e mais completamente, a fim de
penetrar mais profundamente em sua s ua natureza.

Um autor espiritual fala disto nos seguintes termos: “O amor, diz ele, cresce
geralmente com o conhecimento, e quanto mais profundo e extenso for o
conhecimento, mais amor haverá nele, mais facilmente o coração se submeterá
e se abrirá ao amor de Deus, contemplando atentamente sua plenitude, a beleza

do mundo de Deus e o amor infinito de Deus pelos homens.”


Você pode ver que a causa desses pecados é a recusa preguiçosa em pensar nas
coisas espirituais, recusa que anestesia a própria sensação de necessidade destes
pensamentos.
pensamento s. Se você quer saber como superar este mal, esforc
esforce-se
e-se pela
iluminação do espírito por todos os meios e com todas as suas forças, chegue lá
pelo estudo diligente da Palavra de Deus e dos santos Padres, pela via da
meditação e dos conselhos
conselh os espirituais e pela conversaç
conversação
ão com aqueles que são
sábios em Cristo. Ah!, caro irmão, quanta infelicidade a nossa, apenas por causa
da preguiça
preguiça em buscar a luz da alma nan a Palavra da verdade. Nós não estudamos
dia e noite a Lei de Deus, e não oramos a ele sem parar e diligentemente. É por
isto que nosso homem interior tem fome e frio, ele está frustrado a ponto de
não ser mais capaz de dar sequer umum passo corajoso na
n a direção da virtude e da
salvação! Assim, bem amado, tomemos a resolução de utilizarmos esses
métodos, e ocupemos tanto quanto possível o nosso espírito com o pensamento
das coisas celestes; e o amor jorrará do alto em nossos coraç
corações
ões e inflamar-se-á
in flamar-se-á
em nós. Assim o faremos e rezaremos tanto quanto pudermos, pois a prece é o
meio principal e o mais forte para nossa renovação e nosso bem estar. Nós
oramos nos termos que a Santa Igreja nos ensinou: “Ó Deus, tornai-me capaz de
 vos amar hoje tanto
tan to quanto no
n o passado amei os meus pecados.”

Eu escutei tudo isso com atenção. Profundamente emocionado, pedi a este santo
sacerdote que ouvisse
ouvisse minha
minh a confissão e me desse a comunh
comunhão.
ão. De modo que

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na manhã seguinte, tendo tido a graça de receber a comunhão, demonstrei a


intenção
inten ção de retornar a Kiev com
com este santo
san to viático. Mas
Mas o bom padre, que estaria
no Alojamento por dois dias, cedeu-me durante este tempo a hospitalidade de
sua cela, para que eu pudesse me dedicar livremente à oração.
oração. Passei estes dois
dias como se estivesse no paraíso. Com as orações do meu estaroste, por indigno
que eu seja, desfrutei de uma perfeita paz. A prece afluía ao meu coração com
tanta facilidade e alegria que durante este tempo, cre
creio
io eu, esqueci-me de tudo e
até de mim mesmo; não havia mais nada em meu pensamento senão Jesus
Cristo, e ele somente.

Ao final, o sacerdote regressou, e eu lhe pedi opinião e conselho:

- Aonde irei agora em minh


minhaa rota de peregr
peregrino?
ino?

Ele deu-me sua benção, dizendo:

- Vá então a Pochaev venerar a marca milagrosa do pé da puríssima Mãe de

Deus e ela guiará seus passos no caminho da paz.


Fiando-me em seu conselho, em três dias parti para Pochaev. Ao longo de umas
duzentas verstas o caminho era ladeado por albergues e aldeias judias, e
raramente pude encontrar uma habitação cristã. Numa colônia, percebi a
existência de um albergue cristão.
cristão. Entrei nele para passar a noite
n oite e pedir um
pouco de pão para minha marcha, pois minhas reservas se esgotavam. Ao ver
meu anfitrião, um velho de bom talho, percebi que ele era originário da mesma
província que eu, Orlov. Entrei diretamente no
n o salão, e sua primeira pergunta
pergunta
foi:

- De que religiã
religiãoo é você?

Eu respondi que era cristão, e ortodoxo.

- Ortodoxo, verdadeiramente, disse ele rindo. Vocês são ortodoxos nas


palavras, mas nos
no s atos não
n ão passam de pagãos. Eu conh
conheço
eço tudo da sua religião,
meu irmão. Um culto sacerdote convenceu-me uma vez, e eu a experimentei:
entrei na sua Igreja e nela permaneci por seis meses. Depois disto, voltei aos
costumes da minha
minh a comunidade. Entrar para a sua igreja
igreja não
n ão passa de um erro.
Os leitores
leito res murmuram
murmuram o ofício não importa como, com partes que faltam e
outras que não se compreende mais. O canto não é melhor do que o que se ouve
nos cafés. E as pessoas ficam todas juntas, homens e mulheres reunidos; todos

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falam durante o ofício, viram-se, olham ao redor, andam de um lado para outro
e não nos deixam tranquilidade nem paz para rezarmos. Que espécie de
adoração é esta? Um pecado, e isto é tudo! Enquanto que entre nós, como o
ofício é piedoso, podemos ouvir tudo o que é dito, nada é omitido, o canto é dos
mais tocantes e o povo se mantém tranquilamente, homens de um lado,
mulheres do outro, e cada qual sabe as inclinações
i nclinações e genuflexões que devem ser
feitas em cada momento, segundo os ensinamentos da santa Igreja. Realmente,
e com toda a sinceridade: quando entramos em uma de nossas igrejas, sentimos
que ali se adora a Deus; mas nas suas, não conseguimos distinguir se estamos
numa igreja ou num mercado.

Por tudo isto compreendi que o ancião era um desses velhos crentes radicais.
Mas seu discurso era tão plausível que eu não podia discutir com ele e menos
ainda convertê-lo. Pensei comigo apenas que seria impossível converter os
 velhos crentes à verdadeira Igreja
Igreja enquanto não pusermos em ordem nossos
n ossos
próprios ofícios, com o clero dando o exemplo em primeiro lugar. Estes
Estes velhos
velho s
crentes não conhecem nada da vida interior, eles se apoiam sobre as coisas

exteriores, e são estas que nós negligenciamos.


Assim é que me decidi a partir, e já estava à saída quando vi, para minha
surpresa, pela porta de um quarto particular,
particular, um homem
h omem que não parec
parecia
ia ser
russo; ele lia, estendido sobre o leito. Ele fez-me um sinal e perguntou quem eu
era. Eu
Eu lhe respondi,
respon di, e então ele começou a falar:

- Escute,
Escute, amigo. Você não aceitaria ocupa
ocupar-se
r-se de um doente, digamos por
uma semana, até que, com a ajuda de Deus, eu esteja melhor?
melh or? Eu sou grego,
grego,
monge do monte Athos. Estou na Rússia para recolher as esmolas para meu
mosteiro e, no caminho de volta, caí adoecido; tenho as pernas por demais
doloridas para conseguir andar. Por isso alugu
al uguei
ei este quarto. Não diga não,
servidor de Deus! Eu lhe
lh e pagarei.

- Não é prec
preciso
iso pagar
pagar-me.
-me. Eu vou ajudá-lo o melh
melhor
or que puder, com a ajuda
de Deus.

Assim é que
q ue fiquei com ele. Aprendi
Aprendi muitas
m uitas coisas referentes
referentes à salvaç
sal vação
ão de
nossas almas. Ele me falou de Athos, a montanha sagrada, dos grandes ascetas,
dos numerosos eremitas e anacoretas. Ele tinha consigo um exemplar da
 Filocaliaa em grego e um livro de Isaac o Sírio. Lemos juntos
 Filocali junt os e comparamos a
tradução
traduç ão eslava de Paissy Velitchkovsky com o original greg grego.
o. Ele declarou que
seria impossível traduzir a Filocali
 Filocaliaa com mais exatidão e fidelidade
fideli dade do que o fez

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Paissy para o eslavo.

Eu observei que ele estava sempre em oraçã


oraçãoo e que era muito
m uito versado na prec
precee
interior do coraç
coração,
ão, e como ele falasse o russo à perfeição,
perfeição, eu o questionei
question ei sobre
este assunto. Ele me disse muitas coisas a respeito, e eu escutei atentamente;
muitas anotei por escrito. Assim, por exemplo, foi nestes termos que ele me
instruiu sobre
sob re a excelência
excelência e a grandeza da prece de Jesus:

- A própria forma da prec


precee de Jesus mostra quão grande é esta oraçã
oração.
o. Ela
consiste de duas partes. Na primeira, Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus  [1
[1]], ela

dirige nossos pensamentos para o mistério de Jesus Cristo e, como dizem os


Padres, é assim um resumo do Evangelho. Na segunda parte, tem piedade de mim,
pecador , ela nos coloca diante do fato de nossa natureza decaída. É notável
como o desejo e a demanda de uma alma pobre e humilde não poderiam ser
expressos em termos mais sábios, mais claros e mais exatos do que estes: tem
piedade de mim. Nenhuma
Nenh uma outra fórmula
fórmula poderia ser tão satisfatória
satis fatória e completa.

Se disséssemos, por exemplo: “Perdoe-me, desculpe minhas faltas, purifique-


me de minhas transgressões, esqueça minhas ofensas”, tudo isto não exprimiria
senão uma demanda: a de ser liberado da punição, o medo de uma alma fraca e
sem energia. Mas dizer: tem piedade de mim não expressa apenas o desejo do
perdão por medo, mas o chamado sincero do amor filial, que coloca sua
esperança no amor de Deus e confessa humildemente
humildem ente ser demasiado fracfracoo para
dobrar sua própria vontade e vigiar atentamente a si mesmo. É um apelo de
misericórdia – e portanto
portant o de graça – que se manifestará
man ifestará pela força
força com que Deus
nos tornará
t ornará capazes de resistir à tentação e de vencer nossa inclinação
in clinação para o
pecado. É como um devedor insolvente
insolvent e que pede ao seu financiador – que é seu
amigo – não apenas de perdoar-lhe uma dívida, mas ainda de apiedar-se de sua
extrema pobreza e dar-lhe uma esmola.
esmol a. É isto que exprimem estas palavras
profundas: tem piedade de mim. É como se disséssemos: “Senhor misericordioso,
perdoe meus pecados e me ajude a corrigir-me; desperte
desperte em minha
min ha alma
alm a um
desejo vivo de seguir seus mandamentos. Distribua sua graça graça perdoando meus
pecados presentes e voltando meus pensamentos, minha vontade e meu
coração,
coraç ão, apenas
apen as na
n a sua direçã
di reção.”
o.”

Maravilhado com a sabedoria de seu discurso, pedi-lhe que instruísse minha


alma pecadora, e ele continuou a ensinar-me coisas maravilhosas.

- Se você quiser, disse ele (e perc


percebi
ebi que era um erudito, pois estudara na
Academia de Atenas), eu lhe
lh e falarei sobre o tom em que se deve dizer a oração
 precede
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de Jesus. JJáá ouvi inúmeros cristãos tementes


tement es a Deus dizerem oralmente esta
prece,
prec e, como manda
m anda o Verbo de Deus e conforme a tradição da santa s anta Igreja. Eles
Eles a
utilizam não apenas em suas orações privadas, mas também na igreja. Se você
escutar atentamente a agradável recitação desta prece, você observará para seu
proveito espiritual que o tom da voz que reza varia conforme a pessoa. Assim,
alguns colocam a ênfase sobre a primeira palavra, e dizem  Senhor  Jesus  Jesus Cristo,
para depois prosseguir num tom uniforme. Outros começam começam com um tom
uniforme e acentuam apenas a palavra Je
palavra Jess u s  como uma exclamação,
exclamação, para depois depoi s
 voltar ao tom neutro do começo. Outros
Outros ainda começam e seguemseguem a prece sem
acento, até as palavras finais tem piedade de mim, mim, quando então elevam a voz
em êxtase. Finalmente, outros dizem toda a oração – Senhor Jesus Cristo, Cristo, Filho de
 Deus, tem piedade de mim – com toda a ênfase na fórmula F
d e mim fórmula  Fililhh o d e De
Deuu s .

Agora, escute. Existe


Existe sempre apenas uma e mesma
m esma prece. Os cristãos ortodoxos
possuem uma única e mesma fé, e todos sabem que esta oração sublime entre
todas contém duas coisas: o Senh
S enhor
or Jesus e o apelo a ele. Isto é reconhecido por
todos. Porque então isto não é expresso sempre da mesma maneira, no mesmo

tom?
exprimePorque
com aênfases
alma sepeculiares,
exprime deacentuando,
modo assimnão
tãooparticular,
mesmo pontoporque
paraela se
todos,
mas pontos
ponto s diferentes para cada um? Muitos
Muitos dizem que pode ser o resultado do
hábito ou da imitação, ou que isto depende de diferentes interpretações dos
termos segundo pontos de vista individuais, ou ainda que é apenas o modo mais
fácil
fácil e espontâneo que ocorre a cada um. Não é o que eu penso. Eu quero
encontrar uma razão mais elevada, algo desconhecido tanto do auditor quando
da própria pessoa que reza. Não haveria aí um impulso oculto do Espírito Santo,
“que intercede por nós com suspiros inefáveis”, e que não poderia ser inventado
por quem não sabe nem porque nem como rezar? E, se é por intercessão do
Espírito Santo, segundo a palavra do Apóstolo, que cada qual invoca o nome de
Jesus Cristo, o Espírito, que age em segredo e dá a oraçã
oraçãoo àquele que ora,
o ra,
empresta um tom particu
particular
lar a cada um, apesar de sua falta de força.

Assim ele pode dar a um o temor reverencial de Deus, a outro o amor, a um


terceiro
terceiro a certeza da fé, a um outro a humildade
humi ldade irradiante da graç
graça,
a, e assim por
diante.

Se é assim, aquele que recebeu a graça


graça de reverenciar a força
força do Todo-Poderoso
To do-Poderoso
insistirá particularmente na palavra Senhor , na qual ele encontrará a grandeza e
o poder do Criador do mundo.
mun do. Um outro, a quem foi dada a efusão secreta
secreta do
amor no coração, está fora de si e cheio de alegria quando exclama Je
exclama Jess u s Cr
Cris
isto
to,,
tal como estes estarostes que não podem ouvir o nome de Jesus, mesmo nas

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30/10/13 C aminho de Or ação: R elatos inéditos do Per egr ino R usso ( Anôni mo)

conversas banais, sem sentir


senti r um influxo particular de amor e alegria.
alegria. Aquele que
crê inabalavelmente na divindade de Jesus Cristo, consubstancial ao Pai, é
gratificado com uma fé ainda mais fervente dizendo as palavras F
palavras Fililhh o d e De
Deuu s .
Aquele que recebeu
recebeu o dom da humildade
humi ldade e tem uma profunda consciência de sua
própria fraqueza humilha-se repetindo as palavras Tem piedade de mim, mim, e
derrama seu coração nestas últimas palavras da prece de Jesus. Ele encarece a
esperança que põe na bondade
bon dade do amor de Deus e ab-roga sua própria queda no
pecado. É aí, na
n a minha
minh a visão, que devemos procurar as causas
causas das diferentes
entonações
enton ações com que se pronuncia a oraç
o ração
ão do Nome
N ome de Jesus. E você
você poderá
reconhecer, escutando,
escutando, para glória de Deus e sua própria edificação,
edificação, qual emoção
atinge mais especialmente este ou aquele, qual dom espiritual ele possui. Muitas
pessoas me indagaram a respeito:

“Porque todos estes sinais dos dons espirituais escondidos não aparecem juntos
e reunidos? Não algumas, mas todas as palavras da oração seriam então
impregnadas com um único e mesmo tom de arrebatamento.”

Eu
comlhes respondi
sabedoria destequal
a cada modo: uma vez
segundo suaque a graça
força, comode Deus nas
Deus
vemos reparte seus
santas dons
Escrituras,
Escrituras,
quem pode pretender, com as limitações de seu espírito, penetrar em todos os
estados de graça? Não está a argila inteiramente à mercê do ceramista, e não
pode ele fazer com ela tal ou tal coisa, conforme entender?

Eu passei cinco dias com este estaroste, e ele começ


começou
ou a sentir-se cada vez
melhor. Estes tempos me foram tão proveitosos que não me dei conta da rapidez
com que passaram. Pois neste pequeno quarto, em silenciosa reclusão, não
tínhamos outra preocupação do que invocar silenciosamente o nome de Jesus,
ou conversar sobre o mesmo assunto, a prece
prece interior.

Um dia, veio nos ver um peregrino.


peregrino. Ele se queixava amargamente
amargamente dos judeus e os
insultava. Ele havia passado por suas aldeias e sofrera com sua hostilidade e suas
artimanhas.
artimanh as. Sua amargura
amargura era tão grande contra eles que ele os maldizia
m aldizia e
declaravaa que eles eram indignos
declarav in dignos de viver por causa de sua obstinação
obstin ação e de sua
incredulidade. Ele exclamou finalmente que sentia por eles tamanha aversão
que já não podia controlar-se.

- Você não tem o direito, meu amigo, disse o estaroste, de insultar e


maldizer desta maneira
m aneira os judeus.
j udeus. Deus
Deus os criou assim como a nós.
nó s. Você deveria
deveria
ter respeito por eles e rezar por eles, não maldizê-los. Creia-me, o desgosto que
 você tem por eles vem
vem do fato de que você não está enraizado no amor de Deus e

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30/10/13 C aminho de Or ação: R elatos inéditos do Per egr ino R usso ( Anôni mo)

não possui a prece interior. Vou ler-lhe uma passagem dos santos Padres a
respeito. Escute
Escute o que diz Marcos
Marcos o Asceta: “A alma que está inteirament
inteiramentee unida
a Deus torna-se, de tanta felicidade, como uma criança simples e boa, que não
condena ninguém,
n inguém, grego, pagão, judeu ou pecador, mas a todos considera com o
mesmo olhar purificado, que encontra alegria no mundo inteiro, e deseja que
todos louvem
l ouvem a Deus – gregos, judeus e pagãos.” E Macário
Macário o Grande do Egito diz
que o contemplativo queima com tão grande amor que, se fosse possível, ele
faria de si a morada de todos, sem distinção entre bons e ruins.

Eis, querido irmão, o que pensam os Padres. Eu lhe recomendo então deixar de
lado a violência e considerar todas as coisas sob o signo da onisciente
providência de Deus, e quando
q uando você passar por situações vexatórias, antes acuse
a si mesmo de impaciência e falta de humildade.

Enfim, passada mais de uma semana, meu estaroste estava curado, e eu lhe
agradeci do fundo do coração todos os ensinamentos benditos que ele
ministrara a mim; depois disto, trocamos nossos endereços. Ele se pôs a

caminho de casa, e eu retomei o itinerário que havia projetado; e assim me


aproximei de Pochaev. Não havia
h avia percorrido
percorrido cem verstas quando um soldado
juntou-se a mim. Ele retornava, disse-me, ao seu país natal em Kamenets
Podolsk.
Podol sk. Cerca
Cerca de dez verstas se passaram sem que trocássemos sequer uma
palavra; eu notei que ele suspirava profundament
profundamente,e, como se alguma coisa o
importunasse, e sua expressão era sombria. Perguntei-lhe o que o entristecia a
tal ponto.

- Meu amigo, você notou minh


minhaa angústia; se você jurar por tudo o que há de
mais sagrado não revelá-lo a ninguém, eu lhe contarei minha história, pois
estou perto de morrer e não tenho ninguém com quem falar.

Eu lhe assegurei que, como cristão, eu não tinha nenhuma necessidade de


contar a ninguém, e que ficaria feliz em lhe dar os conselhos que pudesse.

- Pois bem, vamos lá, começ


começou
ou ele. Eu fui recr
recrutado
utado como soldado entre os
civis do estado. Depois de quase cinco anos, o serviço se me tornou
insuportável; de fato, eu me fiz chicotear várias vezes por negligência e
bebedeira. Diversas vezes pensei em fug
fugir
ir até que consegui, e vivi como desertor
nestes últimos quinze anos. Por seis anos eu me escondi aonde pude. Praticava
furtos nas empresas, nos depósitos, nos entrepostos. Roubava cavalos. Roubava
nas lojas, e prossegui nesta vida sempre por minha própria conta. Eu me
desembaraçava dos bens roubados de diversas maneiras. Eu bebia o dinheiro,

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levava uma vida depravada e cometia todos os pecados possíveis. Apenas minha
alma não perec
pereceu.
eu. Eu
Eu me virava bem, mas no final jogaram-me na prisão por ser
 vagabundo e não ter passaporte.

Mesmo assim, encontrei ocasião de me evadir. Depois, por mero acaso,


encontrei um soldado
sol dado em licença
li cença de serviço,
serviço, que voltava para casa em uma
província distante. Como ele estava doente e mal conseguia caminhar, pediu-me
que o conduzisse à cidade mais próxima, aonde ele el e pudesse se hospedar.
ho spedar. Eu
Eu o
conduzi, portanto. A polícia nos autorizou a passar a noite numa granja, sobre o
feno, e lá nos estendemos. Ao me levantar no dia seguinte, lancei um olhar
sobre o soldado, e lá estava ele, completamente morto. Então, com pressa,
procurei
procu rei seu passaporte – ou melhor,
melho r, seu certificado
certificado de licença
li cença – e, tendo-o
encontrado junto com uma bela soma em dinheiro, enquanto todos ainda
dormiam eu deixei a granja o mais depressa que pude, meti-me floresta adentro
e fugi. Lendo o passaporte, vi que o soldado tinha mais ou menos a mesma idade
que eu e sinais semelhantes. Felicitei-me, e fui resolutamente para os confins da
província de Astrakan; lá, comecei a me relacionar e logo obtive
obti ve trabalho.

Trabalhava com um velho


velh o homem
ho mem que possuía uma casa e comerciava
comerciava com gado.
Ele vivia só com sua filha viúva. Depois de um ano com ele, desposei sua filha.
Depois o velho morreu, e não pudemos prosseguir com o negócio. Eu voltei a
beber, e comigo minha esposa, e em um ano dilapidamos tudo o que o velho
deixara. Depois
Depois minha
min ha esposa caiu doente
doen te e morreu. Então
Então eu vendi tudo o que
restava e mais a casa, e em pouco tempo cheguei ao fim dos meus recursos.
recursos. Eu
não tinha mais do que viver, nada para comer, e assim voltei à minha velha
atividade de tráfico de objetos roubados, com maior audácia agora que tinha um
passaporte. Assim foi que retomei minha
min ha antiga
an tiga existência por cerca
cerca de um ano.
Logo veio um grande período em que eu não n ão conseguia quase nada. Roubei um
 velho cavalo a um cidadão sem terra e o vendi
vendi ao esquartejador por um pedaço
de pão. Com o dinheiro fui ao café e me pus a beber. Tinha a intenção de
permanecer na cidade, aonde havia um armazém, com a esperança de, quando
todos tivessem dormido, roubar tudo o que pudesse.

Como o sol ainda não se havia posto, fui à floresta para esperar a noite; deitei-
me e dormi um sono profundo. Tive então um sonho no qual me via deitado em
uma grande e bela pradaria. Subitamente
Subitament e uma nuvem terrível ergueu-se
ergueu-se no céu e
sobreveio um trovão tão aterrador que o solo tremia debaixo de mim, e senti
como se alguém me enterrasse de um só golpe até as espáduas na terra que me
pressionava de todos os lados. Apenas minha cabeça e minhas mãos emergiam.
Então vi que a nuvem temível pousava no chão e dela saiu meu avô que havia
morrido há vinte anos. Era um homem muito direito, e durante trinta anos foi o

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30/10/13 C aminho de Or ação: R elatos inéditos do Per egr ino R usso ( Anôni mo)

curador
curador de nossa aldeia. Ele dirigiu-se a mim com um ar de cólera tão ameaçador
que me fez tremer. Ao meu redor, eu via em diversos montes os objetos
obj etos que
roubara em diferentes épocas. Meu terror redobrou. Meu avô chegou até mim e,
apontando com o dedo o primeiro monte, disse:

“O que é isto? Vamos!”

Então a terra ao meu


m eu redor começou
começou a apertar-me com tanta forç
forçaa que eu não
n ão
podia suportar a dor, mas também não
n ão desfalecia. Eu
Eu gemia e gritava: “Ten
“Tenhaha
piedade de mim!”, mas o tormento continuava. Então meu avô apontou outro
monte e disse outra vez:

“E o que é isto?
is to? Aperte com mais força!”

Senti uma dor e uma angústia tão violentas que nenhuma angústia deste mundo
pode comparar. Por fim, meu avô conduziu até mim o cavalo que eu roubara à
tarde e gritou:

“E isto, o que é? Vamos, apertem tão forte quanto puderem!”

Tamanh a foi a dor por todo o meu corpo que não sou capaz de descrevê-la:
Tamanha descrevê-la: foi
cruel,
cruel, aterradora e esgotante! Parec
P arecia-me
ia-me que todos
tod os os músculos eram
amassados e a dor
do r tremenda me sufocava.
sufocava. Senti que esta tortura duraria
duraria um
longo tempo
tem po e perdi a consciência. Mas
Mas o cavalo me deu um coice e rasgou-me o
rosto. Quando senti o golpe, acordei; eu estava no limite do horror e todo o meu
corpo tremia. Vi que já era dia e que o sol se levantava. Levando a mão ao rosto,
percebi que o sangue escorria; as partes do meu corpo que se achavam
enterradas no sonh
so nho,
o, estavam com câimbras e cheias de formigamentos. Meu Meu
terror era tão grande
grande que eu custei a me levantar e dar por mim.
mi m. O corte no meu
rosto doeu por muito tempo.
tempo . Veja, você pode ver a cicatriz;
cicatriz; ela não estava
est ava aí
antes.

Daí para frente, o medo e o horror tomam conta de mim à simples lembrança
daquilo que sofri neste sonho, e com tanta força que não sei o que fazer de mim.
E o que é pior, isto foi se tornando cada vez mais frequente e, no final, eu
comecei a ter medo das pessoas e a me sentir envergonhado, como se todos
conhecessem meu passado desonesto. Perdi o gosto em comer, beber ou dormir,
por causa deste tormento. Virei um farrapo.
farrapo. Pensei em retornar ao meu
regimento e aliviar
al iviar meu coração
coração de tudo: talvez
t alvez Deus perdoasse meus pecados se
eu aceitasse meu castigo.
castigo. Mas
Mas eu tinha
tinh a medo, e a ideia de
d e que me bateriam me

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desencorajava. Perdendo a paciência, cheguei a pensar


pen sar em me
m e enforcar. Mas
Mas
ocorreu-me
ocorreu-me que, de qualquer modo, eu não viveria por muito maismai s tempo; eu
morreria logo, pois sentia que já não tinha mais forças para nada. Por isso
resolvi voltar à minha terra natal e fazer minhas despedidas antes de morrer. Eu
tenho um sobrinho lá. Faz seis meses que estou a caminho, e durante todo este
tempo o sofrimento e a dor acabam comigo miseravelmente. Que pensa você,
meu amigo? O que devo fazer? Verdadeiramente, estou no limite.

Ouvindo tudo isso, fiquei espantado e louvei a sabedoria e a bondade de Deus,


pelos meios de que se utiliza para atingir um pecador. Eu lhe disse:

- Caro irmão, durante estas crises de medo e de angústia, é prec


preciso
iso rogar a
Deus. É o grande remédio para todos os males.

- Jamais em minh
minhaa vida!, respondeu ele. Parece-me que, se eu me puser a
rezar, Deus me destruirá instantaneamente!

- Isto é um contrassenso, irmão; é o diabo que põe tais ideias na sua cabeç
cabeça.
a.
Não existem limites
li mites para a misericórdia de Deus, ele é compassivo para com os
pecadoress e seu perdão está pronto para aqueles que se arrependem. Você não
pecadore
conhece a oração: Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim, pecador ? Eu a repito
sem cessar.

- Certamente, conheço esta oração. Eu a rec


recitava
itava às vezes para ganhar
coragem
coragem quando me preparava para cometer um roubo.

- Neste caso, escute. Deus não o destruiu quando você estava a caminho de
uma má ação e dizia
di zia a prece. Ele o fará se você se puser a rezar em plena via do
arrependimento? Veja bem como seus pensamentos vêm do diabo. Creia-me,
caro irmão, se você disser a oração sem jamais preoc
preocupar-se
upar-se com os
pensamentos que lhe vêm à mente, quaisquer que sejam, logo você estará
curado. Todo o medo e toda inquietação irão embora e, no final, você estará
totalmente em paz. Você se tornará um homem piedoso e todas as paixões
pecaminosas o deixarão, eu lhe asseguro, porque já vi muitos exemplos disto em
minha vida.

Eu lhe contei a seguir muitos casos em que se revelou o maravilhoso poder da


precee de Jesus sobre os pecadores. No fim, persuadi-o a me acompanhar
prec acompanh ar até a
Mãe de Deus de Pochaev,
P ochaev, refúgio
refúgio dos pecadore
pecadores,
s, para aí fazer sua confissão e sua
comunhão antes de voltar para casa.

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Meu soldado escutou tudo isso atentamente, com alegria, pelo que pude notar, e
aceitou tudo. Dirigimo-nos juntos a Pochaev, com a condição de que nenhum
dos dois falaria com o outro, e que diríamos a oração todo o tempo. Em silêncio,
caminhamos por toda uma jornada. No dia seguinte, ele me disse que se sentia
muito mais leve, e estava claro que seu espírito estava mais calmo do que antes.
Atingimos Pochaev no terceiro dia, e eu o exortei a não interromper a prece nem
de dia nem à noite enquanto ainda estivesse acordado, assegurando-lhe que o
santíssimo nome de Jesus, insuportável para os inimigos espirituais, teria o
poder de salvá-lo. Li para ele o trec
trecho
ho da Filocali
 Filocaliaa que afirma que, embora
devamos recitar a prece
prece em todos os momentos,
momen tos, é especialmente necessário
dizê-la com o maior cuidado quando nos preparamos para a comunhão.

Foi o que ele fez, e depois ele confessou-se e comungou. Embora de tempos em
tempos seus velhos pensamentos voltassem a atormentá-lo, ele não tinha
dificuldade em dissipá-los pela oração de Jesus. No domingo, para mais
facilmente acordar para as matinais, ele deitou-se mais cedo continuando a
oração. Eu permaneci
permaneci sentado em meu canto, lendolen do a Filocali
 Filocaliaa à luz de uma

lamparina. Uma hora se passou; ele dormia e eu iniciei minhas orações. De


repente, cerca de vinte minutos depois, ele sobressaltou-se e despertou, pulou
rapidamente de seu leito
lei to e acorreu em lágrimas
lágrimas para mim, transportado de
felicidade e dizendo:

- Ah, irmão, se você soubesse o que acabei de ver! Que paz, que alegria! Eu
creio que Deus
Deus é misericordioso para com os pecadores e não os atormenta.
Glória a vós, Senhor, glória a vós!

Surpreso e feliz, pedi-lhe que me contasse exatamente o que se passara.

- Pois bem, disse ele. Logo que dormi, achei-me de novo naquela pradaria
em que fui torturado. Primeiro fiquei terrific
terrificado,
ado, mas vi que em lugar da nuvem
o sol resplandecente levantava-se, e uma luz esplêndida brilhava sobre toda a
pradaria. Vi lindas flores e ervas do campo. Subitamente
Subitamen te meu avô chegou até
mim, mais bonito do que nunca, e saudou-me amavelmente. Ele me disse: “Vá a
Jitomir, à igreja
i greja de São Jorge. A Igreja
Igreja o tomará sob sua proteção. Passe lá o resto
de sua vida e reze sem cessar. Deus
Deus será para você cheio
cheio de favor.”
favor.” Dizendo
Dizen do isto,
is to,
ele fez sobre mim
m im o sinal da cruz e desapareceu.
desapareceu. Não posso descrever a felicidade
que senti: é como se um fardo me fosse tirado das costas e eu pudesse voar até
os céus. Foi quando despertei, apaziguado em meu espírito e em meu coração,
tão cheio de alegria que já não sabia
sab ia o que fazer. Que devo fazer
fazer agora? Quero
partir imediatamente para Jitomir, como me disse meu avô. Com a oração, oração, será

precede
precedejesu
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os inedito
ineditos
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fácil.

- Um momento, car caroo irmão. Como partir no meio da noite? Espere a


manhã,
manh ã, diga suas orações e depois parta com Deus.

Depois deste diálogo não dormimos mais. Depois fomos à igreja; ele permaneceu
ali durante todas as matinas, rezando sinceramente com muitas lágrimas, e me
disse que se sentia
sen tia em paz, e que continuaria a recitar a oração
oração de Jesus para
sempre e com alegria. Na Liturgia,
Liturgia, ele rec
recebeu
ebeu a comunhão e depois de ter
tomado algum alimento, eu o acompanhei até a estrada para Jitomir, aonde nos
separamos com lágrimas de alegria.

Então voltei a pensar nos meus próprios negócios. Aonde ir agora? Finalmente
decidi voltar a Kiev. Os sábios ensinamentos de meu sacerdote me atraíam para
lá e, ademais, se eu permanecesse com ele, talvez ele conhecesse algum amigo
de Cristo e dos homens que pudesse me colocar a caminho de Jerusalém, ou no
mínimo do monte Athos. Fiquei mais uma semana em Pochaev, passando meu

tempo a relembrar todos os ensinamentos recebidos nessa viagem e a tomar


nota de algumas coisas úteis. Depois me preparei para a viagem, tomei minha
sacola e fui à igreja para rogar à Mãe
Mãe de Deus. Após a Liturgia,
Li turgia, fiz minhas
min has orações
e preparei-me para a partida. EuEu estava em pé no fundo dad a igreja quando entrou
en trou
um homem, não ricamente vestido mas evidentemente alguém da nobreza, e
perguntou-me aonde se vendiam velas. Eu mostrei-lhe. Depois fiz ainda
algumas orações diante do altar da Concepção. Ao terminar as preces, tomei
meu caminho. A alguma distância de lá, ao longo da via, notei em uma casa uma
janela aberta pela qual se podia ver um homem que lia um livro. Meu caminho
passou diretamente em frente a esta janela e vi que o homem era o mesmo que
me perguntara das velas na
n a igreja. Ergui
Ergui meu chapéu à passagem e, quando ele
el e
me viu, fez sinal para que me aproximasse e disse:

- Suponhoo que você seja um pereg


Suponh peregrino?
rino?

- Sim, resp
respondi-lhe.
ondi-lhe.

Ele pediu-me para entrar, e quis saber


sab er quem eu era e aonde ia. Eu lhe respondi
respond i
tudo, sem nada ocultar. Ele me ofereceu
ofereceu chá e se pôs
pô s a falar.

- Escute,
Escute, meu pequeno peregr
peregrino.
ino. Eu o aconselharei a ir ao mosteiro
Solovetsky, em uma das ilhas Solovets, no mar Branco. Existe lá um local
aprazível e muito retirado, chamado Anzersky. É uma espécie
espécie de segundo Athos,
Ath os,
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e todos ali são bem-vindos. O noviciado ali consiste apenas no seguinte: ler
rapidamente o saltério
sal tério na igreja
i greja por quatro horas a cada vinte e quatro. Eu
mesmo vou para lá. E fiz voto de ir a pé. Poderíamos ir juntos.
juntos . Seria mais seguro
ir com você; parece que o caminho é muito solitário. Por outro lado, eu tenho
dinheiro
dinh eiro e poderei assegurar a sua subsistência durante a viagem. Eu Eu lhe
proponho estas condições: marcharemos a uns vinte passos um do outro; assim
não nos incomodaremos, e poderemos ler ou meditar ao longo do caminho.
Reflita, meu irmão, e aceite, peço-lhe; vai valer a pena.

Tomei este convite inesperado como um sinal sin al enviado pela Mãe
Mãe de Deus a quem
pedira que me mostrasse o caminho da beatitude. E, sem mais reflexões, aceitei.
Partimos no dia seguinte. Por três dias seguimos caminho como combinado, um
seguindo a certa distância do outro. Ele lia um livro todo o tempo, e não o
abandonava nem de dia nem de noite; e por momentos ele meditava. Enfim,
chegamos a um lugar
l ugar onde paramos para almoçar. Ele comeu
comeu com o livro
l ivro aberto
diante de si e sem tirar os olhos dele. Vi que se tratava de um exemplar dos
Evangelhos, e lhe disse:

- Posso pergu
perguntar-lh
ntar-lhe,
e, senh
senhor,
or, porque guar
guarda
da sempre consigo à mão os
Evangelhos, porque os carrega e mantém sempre ao seu lado?

- Porque, respondeu ele, deles e deles somente eu aprendo sem cessar.

- E o que você aprende?, continuei.

- A vida cristã, que se resume na oraç


oração.
ão. Eu considero que a oração é o meio
de salvação mais importante e mais necessário, e o primeiro dever de todo
cristão. A prece
prece é o primeiro passo para a vida espiritual, é o seu coroamento, e é
por isso que o Evangelho nos rec
recomenda
omenda a prec
precee perpétua. Para os demais atos
da piedade, requer
requer-se
-se um tempo próprio, mas para a prece não existe tempo que
não seja oportuno. Sem a oração, é impossível fazer qualquer bem que seja, e
sem os Evangelhos não temos como aprender convenientemente a rezar. Desde
o começo, todos os que atingiram a salvação pelo caminho da vida interior,
tanto os santos predicadores do Verbo de Deus, como também os eremitas e os
reclusos,
reclusos, e verdadeiramente todos os crcristãos
istãos tementes
temen tes a Deus receberam
receberam seu
ensinamento de sua constante e incansável ocupação nas profundezas da
palavra de Deus e da leitura do Evangelho. Muitos dentre eles tinham todo o
tempo o Evangelho à mão, e em seu ensinamento sobre a salvação davam este
conselho: “Sente-se no silêncio de sua cela, leia o Evangelho e realize-o.” Eis a
razão pela qual eu leio o Evangelho exclusivamente.
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impressionou-me,
Seu raciocínio impression ou-me, assim como seu ardor para comcom a oração.
Perguntei-lhee a seguir em qual Evangelho específico
Perguntei-lh específico ele encontrara
en contrara os
ensinamentos sobre a prece.

- Nos quatro indi


indifere
ferentemen
ntemente,te, respondeu ele, no Novo Testamento
inteiro, lendo-o pela ordem. Eu o leio há muito tempo buscando penetrar seu
sentido,, e isto
sentido is to me mostrou
most rou que existe uma gradação
gradação e uma cadeia
cadeia regular de
ensinamentos sobre a prece nos santos Evangelhos, a partir do primeiro e
seguindo regularmente até o fim, segundo um método. Por exemplo: logo no
começoo encontra-se
começ en contra-se a preparação
preparação ou introdução ao estudo da prec
prece,
e, a seguir sua
forma ou sua expressão exterior
exterior em palavras. Mais
Mais adiante,
adian te, encontramos
en contramos as
condições necessárias para oferecer
oferecer a oração e os meios
meio s de aprendê-la,
aprendê-l a, com
exemplos; e finalmente o ensinamento da oração interior e espiritual constante
do nome de Jesus, que é representado como mais elevado e mais salutar do que a
precee exterior. Depois
prec Depois vem sua necessidade, seu fruto
fruto bendito,
ben dito, e assim por
diante. Em uma palavra, encontra-se nos Evangelhos um conhecimento
completo e detalhado
detalh ado sobre a prática da oração em uma ordem ou sequência
metódica do começo ao fim.
Esta resposta estimulou-me a pedir-lhe que me mostrasse isto em detalhe. Eu
lhe disse então:

- Como eu aprec
aprecio
io acima de qualquer coisa ouvir falar sobre a oraçã
oração,
o, ficar
ficarei
ei
 verdadeiramente feliz de conhecer esta corrente
corrente secreta
secreta de ensinamentos
ensin amentos sobre
sob re
a prece com todos os detalhes. Pelo amor de Deus, mostre-me tudo isto no
Evangelho.

Ele aceitou de bom grado e disse:

- Abra seu Evangelho; observe-o e note o que eu lhe digo.

Ele deu-me um lápis.

- É bom para sublin


sublinhar
har as notas que tomei. Agora, disse, veja antes de mais
nada o Evangelho de São Mateus, no sexto capítulo, e leia do quinto ao oitavo
 versículo.
 versícu lo. Você verá
verá que temos aqui a preparação
preparação ou introdução,
introdução, ensinan
ens inando
do que
não é com vaidade e espalhafato, mas em um lugar solitário e em toda a calma
que se deve recitar a oração; que é preciso
preciso rezar apenas pelo perdão dos pecados
e pela comunhão com Deus, sem acrescentar
acrescentar qualquer demanda inútil a respeito
de coisas temporais, como o fazem os pagãos [ [7] 
7] . Depois siga a leitura do mesmo
 precede
 precedejesu
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capítulo, do n nono
ono ao décimo-quarto versículo: versículo: encontraremos aí a forma da
oração – ou seja, em que termos ela deve ser expressa expressa [ [8] 
8] . Você vê
vê aí, reunidos
reunid os
com enorme sabedoria, todos os elementos necessários e desejáveis para nossa
 vida. Depois
Depois disto,
dist o, os versículos décimo-quarto e décimo-quin décimo-quinto to do mesmo
capítulo, e verá aí as condições necessárias para a eficácia eficácia da prec
prece.
e. Pois se não
perdoarmos aqueles que nos fizeram mal, Deus não perdoará os nossos
pecados [ [9] 
pecados 9] . Passe então para o sétimo capítulo, e você encontrará no sétimo e
no nono versículos como obter o fruto da prece, esperando audaciosamente –
“peça”,
“peç a”, “busque
“busque”, ”, “bata” [ [10
10] ] . Estas expressões fortes descrevem a frequência da
oração e a urgência
urgência em praticá-la, de tal modo que a oração não apenas
acompanha as ações, mas as precede. precede. Está aí a qualidade
qualidade essencial da oração.
Você verá uma ilustração
ilustração disto no décimo-quarto
d écimo-quarto capítulo
capítulo de São Marcos,
Marcos, do
do
trigésimo-segundo ao trigésimo-nono versículo, onde o próprio Cristo repete
frequentement
freque ntementee as mesmas fórmulas de prece [ [11 11] ] . Em São Lucas, capítulo onze,
 versículos
 versícu los cinco a quatorze, temos um exemplo semelhante semelh ante da prece repetida
repetida na
parábola do amigo da meia-noite [ [12 12] ] , e em outro ponto a história do pedido
repetido da viúva insistente [ [13 13] ] , ilustrando o mandamento de Jesus Cristo de
que devemos orar sempre, em todo o tempo e lugar, e não nos abandonarmos ao
desencorajamento, ou seja à preguiça.

Depois deste ensinamento detalhado, é no Evangelho de São João que nos é


oferecido
oferecido o ensinamen
en sinamentoto essencial sobreso bre a prece secreta
secreta e interior do coração.
Em primeiro lugar, ele nos é trazido no relato profundo do encontro de Jesus
com a Samaritana, em que nos é revelada a adoração interior em espírito e em
 verdade, que Deus
Deus quer e que é a verdadeira
verdadeira prece
prece perpétua, como
como uma água viva
que jorra na vida eterna [ [14
14] ] . Mais adiante, no décimo-quinto capítulo, versículo
de quatro a oito, nos são descritos com mais precisão o poder, as possibilidades
e a necessidade da oração interior – vale dizer, da atenção do espírito em Cristo,
à lembrança incessante
in cessante de Deus [ [15
15] ] . Por fim, leia os versículos de vinte e três a
 vinte e quatro no décimo-sexto capítulo do mesmo Evangelho [Evangelho [16
16] ] . Veja que
mistério nos
n os é revelado aí. Você sabe que a oração do nome de Jesus Cristo,
conhecida com o nome
no me de prece de Jesus
Jesus – ou seja Senhor Jesus Cristo, tem
piedade de mim – frequentemente repetida, tem um poder imenso e abre com
facilidade
facilidade as portas do coração,
coração, santificando-o.
san tificando-o. Podemos ver claramente no caso
dos Apóstolos que foram discípulos de Jesus por um ano inteiro, e já haviam
recebido dele a oração dominical – ou seja, o Pai Nosso; e é através deles que a
conhecemos. Porém, foi no final de sua vida terrestre, que Jesus Cristo lhes
revelou o mistério que ainda
ain da permanecia sobre a sua oração. Para que esta
pudesse dar um passo decisivo adiante, ele lhes disse: “Até hoje vocês nada
pediram em meu nome.
no me. Em verdade vos digo, tudo o que vocês pedirem ao Pai,
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nome,
em meu nom e, ele lhes
l hes dará.” E é o que aconteceu com eles. E quando os
Apóstolos aprenderam a rezar em nome de Jesus, quantas maravilhas eles não
cumpriram,
cumpr iram, e quão abundante
ab undante foi a luz que lhes
lh es foi prodigalizada! Agora, vê você
o encadeamento, a plenitude do ensinamento sobre a oração disposta com tanta
sabedoria nos santos Evangelhos? E se você prosseguir pela leitura das
Epístolas, nelas encontrará o mesmo ensinamento progressivo.

Para complementar as notas que eu já lhe dei, vou indicar ainda muitas
passagens que ilustram as qualidades
qualid ades da oração. Assim, a prática é descrita descrita nos
no s
Atos – ou seja, o diligente e constante exercício da oração pelos primeiros
cristãos, que foram iluminados por sua fé em Jesus Cristo Cristo [ [17
17] ] . Aí nos são
indicados
indi cados os frutos da prece
prece e os resultados da oraç oração
ão constante, ou seja a efusão
do Espírito Santo
S anto e de seus dons sobre aqueles que oram. Você verá verá alguma coisa
de semelhante no capítulo sexto, versículos vinte e cinco e vinte e seis. Depois,
siga a ordem das
d as Epístolas e você verá:verá: em primeiro lugar l ugar,, como a oraçã
oraçãoo é
necessária em todas as circunstân
circunstâncias
cias [ [18
18] ] ; em segundo, como o Espírito Santo
nos ajuda a rezar [
rezar [19
19] ] ; em terceiro,
terceiro, como devemos todos t odos rezar em espírito [
espírito [20
20] ] ;
em quarto, como a calma e a paz interior
i nterior são necessár
n ecessárias
ias para a oração [ [21
21] ] ; em
quinto, como é preciso orar sem cessar [ [22
22] ] ; e enfim, vemos que não devemos
rezar apenas por nós mesmos, mas também por todos os homens [ homens [23
23] ] .

Assim, consagrando grande tempo, com muito cuidado, em descobrir seu


significado, podemos encontrar muitas outras revelações da ciência secreta
escondida na Palavra de Deus, e que nos escapam se só a lemos de quando em
quando e distraidamente.

Veja de acordo com o que lhe mostrei, com quanta sabedoria e método o Novo
Testamento revela o ensinamento de Nosso Senhor Jesus Cristo sobre as
questões que examinamos. Percebe em que maravilhosa sequência ele nos é
exposto pelos quatro evangelistas? Assim é: em São Mateus, vemos a
preparação,
preparaç ão, a introdução
in trodução à prece,
prece, a verdadeira força
força da oraçã
oração,
o, suas condições, e
assim por diante.
di ante. Depois, em São
S ão Marcos
Marcos encontramos exemplos, em São S ão Lucas
as parábolas, e por fim em São João a prática secreta
secreta da oração interior, embora
esta também se encontre nos demais evangelistas com mais ou menos detalhe.
Os Atos nos
n os descrevem a prática
prática da oração e seus resultados. Nas Epístolas
apostólicas e no próprio Apocalipse, encontramos diversos aspectos do ato de
rezar. Eis
Eis a razão pela qual só tenh
tenhoo os Evangelhos como único mestre para
todos os caminhos da salvação.

Enquanto ele me mostrava todas essas coisas e me ensinava, eu ia anotando nos


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Evangelhos, em minha Bíblia, os pontos que ele indicava. Isto me pareceu muito
digno de nota e instrutivo, e eu o agradeci muito. Depois continuamos nossa
rota em silêncio
si lêncio por mais
mai s cinco dias. Meu companh
companheiro
eiro começou a sofrer
 violentamente
 violentamen te dos pés, sem dúvida porque não estava acostumado a caminhar
constantemente.
constantemen te. Assim, ele alugou uma carroça
carroça e um par de cav
cavalos
alos e convidou-
me a ir com ele. Foi desta forma que chegamos até estas vizinhanças onde
estivemos por três dias, para podermos, uma vez recuperados,
recuperados, partirmos para
Anzersky para onde ele deseja ardentemente ir.

O estaroste: Seu
estaroste:  Seu amigo é esplêndido. A julgar por sua piedade, deve ser muito
instruído. Eu gostaria de vê-lo.

O peregri
peregrino
no : Estamos juntos.
jun tos. Eu o trarei amanhã. Agora já se faz tarde. Adeus.

SEXTO RELATO

O peregri
peregrino:
no: Como
 Como lhe prometi ontem, pedi ao meu venerável companheiro de
 viagem, que me concedeu o favor de seus
seus conhecimentos espirituais,
espi rituais, e a quem
 você desejava ver,
ver, que me acompanhasse até aqui.

O estaroste: Será
estaroste:  Será muito agradável para mim, e também, espero, para meus
 veneráveis visitantes, estarmos juntos
j untos de vocês para ouvirmos
ouvirmos o relato de suas
experiências. E aonde estiverem dois ou três reunidos em nome
n ome de Jesus Cristo,
ele próprio estará também. Ora, aqui estamos os cinco em seu nome, e assim ele
não deixará de nos abençoar com mais abundância ainda. A história que o seu
companheiro de viagem contou-me ontem, caro irmão, a respeito de sua
ardente adesão ao santo Evangelho, é deveras digna de nota e muito instrutiva.
Seria interessante sabermos de que maneira este segredo bendito lhe foi
revelado.

O professor: Deus cheio de amor, que deseja que todos os homens sejam salvos
e cheguem ao conhecimento da verdade, revelou-me, em sua bondade, de modo
maravilhoso e sem nenhuma intervenção humana. Durante cinco anos eu fora
professor e levava uma
uma vida melancólica
melan cólica e dispersa, cativado pela vã filosofia do
mundo, e não seguia a Cristo. Talvez eu tivesse perecido, se eu não fosse
parcialmente sustentado pelo fato de viver com minha piedosa mãe e minha
irmã, uma jovem de espírito maduro. Um dia em que flanava pelo passeio
público, conheci
conh eci um ótimo rapaz que me disse
di sse ser francês e estudante, chegado
a pouco de Paris, e que estava à procura de uma colocação como preceptor. Sua
alta cultura me encantou e, como ele era estrangeiro neste país,
país , eu o convidei e
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 vir morar ccomigo


omigo e nos tornamos
torn amos amigos. Durante
Durante dois meses
m eses vimo-nos com
frequência passeávamos juntos, divertíamo-nos e íamos juntos a companhias
cuja moralidade não
n ão preciso destacar.

Um dia, meu amigo chegou com um convite deste tipo; e, para persuadir-me
mais depressa, pôs-se
pôs- se a louvar a alegria e o frescor
frescor da companhia
companhi a para a qual me
convidava. Depois
Depois de ter falado um pouco, pediu-me para que saíssemos de seu
gabinete de trabalho em nos achávamos e fôssemos nos sentar no salão. Isto me
pareceu estranho; disse-lhe que nunca antes notara de sua parte nenhuma
reticência em permanecer em meu escritório, e perguntei-lhe o porquê disto
agora. Acre
Acrescentei
scentei que o salão era pegado
pegado aos aposentos
aposen tos ocupados por minha
minh a
mãe e minha irmã, e que seria inconveniente que tivéssemos lá esse tipo de
conversação.
conversaç ão. Ele insistiu sob
s ob diversos pretextos, e enfim
en fim confessou abertamente
o seguinte: “Dentre os livros de sua prateleira, ali, existe um exemplar dos
Evangelhos; eu tenho tamanho respeito por este livro que tenho vergonha de
falar de nossos negóc
n egócios
ios escusos em sua presença. Tire-o daqui, para que
possamos conversar livremente.” Frivolamente,
Frivolamen te, sorri com suas palavras. Tirando
o Evangelho da prateleira disse: “Você devia ter-me falado disto há mais
tempo.” Eu o estendi a ele, dizendo: “Pois bem, coloque você mesmo em
qualquer lugar na outra sala.” Mal toquei-o com o Evangelho, e ele começou a
tremer e, num instante, desapareceu.

Isto me deixou a tal ponto estupefato que, aterrorizado, tombei inconsciente.


Ouvindo o ruído, a governanta acorreu e, por mais de meia hora, tentou sem
sucesso reanimar-me. Quando finalmente voltei a mim, estava apavorado e
tremendo, e sentia-me completamente aturdido, com as mãos e os pés
insensíveis a ponto de não poder movê-los. O médico diagnosticou uma
paralisia consequência de choque ou terror violento. Fiquei imobilizado por
todo um ano depois deste incidente, e, apesar dos cuidados mais diligentes de
muitos médicos, não obtinha nenhum progresso, de tal modo que, à força de
minha doença, fui obrigado a renunciar à minha ocupação. Minha mãe, já
 velhinha,
 velhin ha, morreu por esta
esta época e minha irmã
i rmã preparava-se
preparava-se para tomar o
hábito, e tudo isto agravou muito minha situação. Eu não tinha outro consolo
durante este período do que ler os Evangelhos, que minhas mãos não deixavam
desde o começo de minha
minh a doença. Era
Era uma espécie de prova do evento fantástico
que me acontecera. Um dia, um anacoreta que eu não conhecia veio me ver. Ele Ele
fazia uma coleta para seu mosteiro. Falou-me de modo muito
m uito persuasivo,
dizendo-me que eu não deveria contar apenas com os remédios, que estes não
trariam alívio sem a intervenção de Deus, que eu deveria orar a Deus
Deus e pedir
diligentemente por minha causa específica, pois a oração era o modo mais
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poderoso de cura de todos os males, tanto corporais como espirituais.

“Como você espera que eu reze nesta situação, quando não


n ão tenho
tenh o força sequer
sequer
para o menor
meno r gesto de veneração, nem mesma para erguer a mão para persignar-
me?” - respondi-lhe perplexo.

Ele me respondeu:

“Reze, custe o que custar;


custar; reze de um modo
mo do ou de outro.”

Mas ele não foi mais longe do que isto, nem me explicou realmente como rezar.
Quando meu visitante deixou-me, comecei quase que involuntariamente a
pensar na oração, no seu poder e nos seus efeitos, lembrando em meu espírito a
instrução religiosa que recebera há muito tempo, quando ainda era estudante.
Isto ocupou-me
ocupou-me com doçura,
doçura, renovou meus conhecimentos
conh ecimentos sobre
sob re assuntos
religiosos e aquec
aqueceu
eu meu coração.
coração. Ao mesmo tempo, comecei a sentir
sen tir uma certa
melhora no meu estado. Como o livro dos Evangelhos estava sempre comigo,
tamanha era minha fé nele depois o milagre, e como lembrava-me que todas as
exposições que já ouvira sobre a prece
prece nos cur
cursos
sos eram fundamentadas nosn os
textos dos Evangelhos, pensei que a melhor coisa a fazer seria um estudo da
oração e da espiritualidade cristã apenas a partir dos ensinamentos do
Evangelho. Trabalhando para resgatar este sentido, mergulhei numa fonte
abundante e nela encontrei um método completo da vida espiritual e da
 verdadeira oração
oração interior. Marquei
Marquei com
com fervor as
as passagens relativas a este
respeito e, desde este dia, procurei zelosamente aprender este ensinamento
divino e, com toda minha força mas não sem sofrimento, colocá-lo em prática.

Enquanto estava ocupado desta maneira, minha saúde melhorou pouco a pouco
e acabei por me restabelecer
restabel ecer completamente,
completamente, como vocês podem constatar.
Ainda vivia só e decidi agradecer
agradecer a Deus por sua paternal
paternal bondade,
b ondade, à qual devia o
restabelecimento de minha saúde e a iluminação de meu espírito, seguindo o
exemplo de minha
min ha irmã
i rmã e o desejo de meu coração
coração de me consagrar à vida
solitária, para poder, sem restrições, receber e tornar minhas essas palavras da
 vida eterna que recebia
recebia pelo Verbo de Deus. Eis-me
Eis-me aqui, portanto,
portan to, a caminho
caminh o
de Anzersky, perto do mosteiro de Solovetsky no mar Branco. Ouvi de fonte
fidedigna que se trata de um local
lo cal muito indicado
indi cado para a vida contemplati
contemplativa.
va.
Devo dizer-lhes ainda o seguinte: o santo Evangelho tem me trazido numerosas
consolações durante esta viagem, espalhando uma luz abundante em meu
espírito ignorante
igno rante e aquecendo meu coração enregelado. Mas Mas o fato é que, apesar
de tudo, eu reconheço francamente minha fraqueza e admito de bom grado que
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as condições requeridas para o trabalho espiritual e para atingir a salvação, a


necessidade de renúncia total de si mesmo, o despojamento e a humildade que
o Evangelho exige, assustam-me pela sua grandeza e por causa da fraqueza de
meu coração,
coração, de tal maneira que me encontro
en contro hoje
hoj e entre a esperança e a
desesperança. Não sei o que será
será de mim no porvir.

O monge: Com
monge:  Com uma prova tão evidente da misericórdia
m isericórdia de Deus, e em razão de
sua educação,
educação, seria imperdoável,
im perdoável, não apenas
apen as tornar-se presa do
desencorajamento, mas mesmo admitir em sua alma a menor sombra de dúvida
quanto à proteção e a ajuda de Deus. Sabe o que Crisóstomo, iluminado por
Deus, disse a respeito? “Ninguém deve desencorajar-se, ele ensina, e dar a falsa
impressão de que os preceitos do Evangelho são impossíveis e impraticáveis.
Deus, que predestinou o homem para a salvação, evidentemente não dispôs
mandamentos
mandamen tos que o homem
h omem fosse forçado a transgredir
transgredir devido ao seu caráter
impraticável – não, mas sim para que, por sua santidade e sua necessidade para
uma vida verdadeira, eles pudessem ser uma bênção para nós, tanto nesta vida
como na eternidade.” Bem entendido, o cumprimento regular e inflexível dos
mandamentos de Deus é coisa extraordinariamente difícil para nossa natureza
decaída, e é por isso que não é fácil alcançar a salvação,
salvação, mas este
est e mesmo Verbo
de Deus que impõe os mandamentos oferece também os meios, não apenas de
cumpri-los com facilidade, mas ainda de encontrar nisto a satisfação. Se isto
está oculto à primeira vista atrás de um véu de mistério,
mist ério, é naturalmente
n aturalmente para
que tenhamos mais humildade e para sermos mais facilmente conduzidos à
união com Deus, indicando-nos o recurso direto a ele na prece e o apelo ao seu
auxílio paternal. É aí que se acha o segredo da salvação, e não
n ão no rec
recurso
urso aos
nossos próprios esforços.
esforços.

O peregri
peregrino:
no: Como
 Como eu gostaria, fraco
fraco e incapa
in capazz como sou, de obter o segredo
que me permitisse, nem que fosse só numa certa medida, consertar minha vida
indolente, para glória de Deus e minha própria salvação!

O monge: Você conhece o segredo, caro irmão, por meio deste livro, a Filocalia.
Ele está nesta prece incessante, que
q ue você
você estudou de forma tão resoluta e na
qual pôs tanto zelo e encontrou tanta satisfação.

O peregri
peregrino:
no: Eu
 Eu me ponho aos seus pés, meu Pai. Pelo amor de Deus, faça-me
ouvir de seus lábios algo para meu bem, sobre este mistério salvador da santa
precee que eu busco ouvir acima
prec acima de tudo, e sobre o qual aprecio tanto ler os
comentários, para dar alguma força
força e consolo à minh
minhaa alma pecadora.
 precede
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O monge: Não
monge:  Não posso satisfazer ao seu desejo com minhas próprias reflexões
sobre este assunto tão grave, pois eu mesmo tenho
ten ho disto pouca experiência.
experiência. Mas
Mas
eu possuo algumas notas redigidas com clareza por um autor espiritual e que
dizem respeito precisamente a esta questão. Se seus amigos o consentirem, vou
procurá-lo
procurá-lo e, com sua permissão, lerei para que todos ouçam.

Todos: Tenha esta bondade, Pai; não nos esconda uma ciência tão salutar.

***

O SEGRE
S EGREDO
DO DA SALVAÇÃO

REVELADO PELA PRECE PERPÉTUA

Como ser salvo


Como sa lvo?? Esta piedosa pergunta coloca-se naturalme
naturalmente
nte diante do espíri
espírito
to de
todo cristão que se dá conta ao mesmo tempo das feridas e da decadência de sua
natureza humana, e daquilo que ainda lhe resta de sua tendência original para a
verdade e a vir
virtude.
tude. Qualquer um que tenha a me menor
nor fé na im
imortal
ortalidade
idade e nos
acontecimentos
acontecim entos da vida futura
f utura é invo
involuntariam
luntariamente
ente chamado a pensar: “Como
“Como posso
ser salvo?” Quando ele procura uma resposta a esta questão, ele se dirige aos sábios
e aos erudito
eruditos.s. Depois, sob sua direção, ele lê as obras escritas a respeit
respeitoo por autores
espirituais
espirituais e se põe
p õe a seguir inflexive
inflexivelm
lmente
ente as regras que aprendeu.
ap rendeu. Em todas
todas estas
instruções,
instruçõe s, ele encontra
encontra constantem
constan temente,
ente, como
como condições necessárias
necessá rias para
pa ra a
salvação,
salvaçã o, a vida na fé e as lutas heróicas contra si mesmo
mesmo que devem culminar
culminar com
uma virada decisiva. Tudo isso deve conduzi-lo a empenhar-se nas obras da fé,
cumprindo
cumpri ndo com constância os mandam
manda mentos de Cristo, e assim
as sim dando teste
testemunho
munho de
uma fé firme e inquebr
inquebrantável.
antável. Ademais,
Ademais, ele aprende que todas essas condições de
salvaçã o devem necessariament
salvação necessariamentee ser cumpridas com a mais profunda
profund a humi
h umildade
ldade e
devem tamb
também
ém estar
estar associadas
ass ociadas umas às outras. PoisPois todas as virtudes dependem
depend em
umas das outras e devem assim fortificar-se mutuamente, devem completar-se, uma
encorajando a outra, do mesmo modo
modo como os raios do sol não revelam sua força e
não acendem uma vela se não os reunirmos num mesmo ponto com o auxílio de uma
lupa. De outro modo,
modo, aquele
a quele que for infiel
infiel nas pequenas
p equenas coisas tamb
também
ém o será nas
 grandes.

 Por outro
outro lado,
lado, para implantar em si a maior
maior exigência
exigência desta virtude
virtude complexa
complexa e
unificada,, ele escuta os maio
unificada maiores
res elogios
elogios sobre a beleza
beleza da
d a virtude, e ouve denunciar
d enunciar a
desagregação
desag regação e as
a s misérias
misérias do
d o vício.
vício. Tudo isto fica gravado
g ravado em seu espírito pelas
pelas
promessas
prom essas vero
verossím
ssímeis
eis de recompensas
recompensas grandiosas ou de punições atrozes na vida
 futura. Este é o caráter
caráter da predicação
p redicação nos tempos
tempos modernos.
modernos.
 precede
 precedejesu
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30/10/13 C aminho de Or ação: R elatos inéditos do Per egr ino R usso ( Anôni mo)

Guiado desta
d esta maneira,
maneira, o homem
homem que que deseja ardentem
a rdentemente
ente a salvação apressa-
a pressa-se
se
com alegria em executar aquilo que ele aprendeu e a experimentar as coisas que leu e
ouviu. Mas, o que se vê? Desde o primeiro passo, ele percebe que será impossível
cumprir com suas intenções. Ele vê desde logo, e constata no primeiro ensaio, que
sua natureza doentia e enfraquecida supera as convicções de seu espírito, que sua
liberdade se torna escravidão, sua propensões são pervertidas e sua força espiritual
se revela
revela pura fraqueza. Vem-lhe então um pensamento natural: não existirá existirá um
um
meio que lhe permita cumprir aquilo que a lei de Deus requer de si, como pede a
caridadee cristã,
caridad cristã, e do qual se uti
u tiliz
lizaram
aram todos aqueles que alcançaram a salvação
s alvação e a
santidade?
santidad e? Então, e para concil
conciliar
iar em si as exigências de sua
su a consciência com a
 falta de força parap ara cumpri-las, ele chama outra
outra vez os pregadores da salvação e lhes
pergunta: “Como“Como fazer minha salvação?
s alvação? Com
Comoo justificar minha
minha incapacida
inca pacidade
de em
preencher suas condições? AquelesAqueles que me ordenaram
ordenaram tudo aquilo que aprendi, são sã o
eless forte
ele f ortess para
p ara colocar tudo em prática?” 

-  Pergunte
 Pergunte a Deus. Ore a Deus. Reze para obt
obter
er seu auxílio.
auxílio.

“Neste caso não seria mais proveitoso, conclui nosso homem, tanto desde o início
comoo todo o tempo,
com tempo, estudar a oração, a única que provê toda a força que pode exigir 
uma vida espiritual?”
espiritual?” Ele então
então se dedica a estudar
estud ar a oração;
oraçã o; ele lê,
lê, medita,
medita, e estuda
os ensinamentos
ensinamentos daqueles
d aqueles que escreveram a respeito.
respeito. Na verdade, ele encontra
encontra ali
a li
muitos
mui tos pensamentos
pensamentos luminosos, profundos
profund os conhecimentos
conhecimentos e palavras
pa lavras cheias
ch eias de
poder. Um trata magnificamente
magnificamente da necessidad
necessidadee da prece, outro escreve sobre sobre seu
poder, seu
s eu efeito benéfico,
benéfico, outro ainda sobre a prece enquanto
enquan to dever, outro sobre
sobre o
 zelo que ela exige,
exige, ou ainda sobre
s obre a atenção,
a tenção, o calor no coração,
coração, a pureza de
espírito,
espírito, a reconci
reconcililiaçã
açãoo com os inimigos,
inimigos, a humil
humildad
dade,e, a contri
contrição
ção e outras
condições necessárias. Mas Ma s o que é a prece
p rece em si? Como
Como se faz
fa z para
pa ra realmente
realmente orar? 

 É muito
muito raro
raro encontrar
encontrar para estas questões primo primordiais
rdiais e urgentíssimas
urgentíssimas uma
resposta precisa que qualquer
qua lquer um possa entender, de tal maneira
maneira que quem se
questiona
questiona ardentem
ardentemente
ente sobre
sobre a oração ainda
aind a é deix
d eixado
ado diante
d iante de um véu de
mistério. Tudo o que ele leu, em geral, só lhe permite conhecer um lado da oração
que, embora piedoso, permanece exterior, e ele acaba por concluir que a prece
consiste em ir
ir à igre
igreja,
ja, persignar-se, inclinar-se, proster
prosternar-se,
nar-se, ler os salmos,
salmos, os
cânones e os hinos acatistas [ [24
24] ] . Esta é a ideia que fazem da oração todos os que
não conhecem os textos
textos dos santos Padres
Pad res sobre a oração interior
interior e a ação
a ção
contemplativa.

 Ao cabo de tudo isso, nosso pesquisador


pesquisad or um dia encontra um livr
livroo que se chama
Filocalia , no qual vinte e cinco Padres
Padres expõem,
expõem, numa forma acessível,
acessível, o
 precede
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30/10/13 C aminho de Or ação: R elatos inéditos do Per egr ino R usso ( Anôni mo)

conhecimento
conhecimento científi
científico
co da verdade e a essência da d a prece
p rece do coração. Então começa
a erguer-se o véu que encobria
encobria o segredo da d a salvação
sa lvação e da prece. Ele Ele vê que na
realidad
realidadee orar significa dirigir
dirigir sem trégua
trégua seu pensam
pensa mento e sua atenção à
lembrança
lem brança de Deus, caminhar em sua presença, despertar d espertar em si seu amor pensando
nele, associando o nome de Deus à sua respiração e às batidas de seu coração. Ele é 
 guiado em tudo
tudo isso pela invocação com os os lábios do santíssimo
santíssimo nome
nome de Jesus
Cristo,
Crist o, ou pela recitaçã
recitaçãoo da prece de Jesus todo o tempo tempo e em todo
todo o lugar,
luga r, durante
d urante
todas as suas ocupações e sem nunca parar. Estas verdades luminosas, aclarando o
espíritoo do nosso pesquisador
espírit pesquisa dor e abri
a brindo-lhe
ndo-lhe o cami
c aminho
nho dod o estudo e do cumpri
cu mprime
mento
nto
da oração,
oraçã o, ajudam
ajuda m-no a começar
começar a praticar em seguida estes sábios ensinamentos.
ensinamentos.
 Entretanto,
 Entre tanto, em suas prim
primeir
eiras
as tentativas,
tentativas, ele ainda fica às vol voltas
tas com muitas
muitas
dificuldades até que um mestre experiente lhe mostre (neste mesmo livro) toda a
verdade -ou seja, que som s omente
ente a prece ininterrupta
ininterrupta é eficaz, tanto para pa ra perfazer a
oração interior
interior como
como para a salvação
sa lvação da alma. É a frequência da oração oraçã o que
 fundament
 fund amentaa todo o méto
métododo da ativi
atividad
dadee salvadora. ComoComo diz Sime
Simeão
ão o Novo
Teólogo: “Aquele que ora sem cessar faz a síntese de todo o bem numa única coisa.” 
 E para expor esta verdade em toda toda a sua pleni
p lenitude,
tude, o mestre
mestre a desenvolveu
desenvolveu do
seguinte modo:
 Para a salvação
s alvação da alm
alma,a, a verdadeira fé é antes de tudo necessária. A sagrada
sagra da
 Escritura
 Escritura diz: “Sem impossível agradar a Deus.”  [ [25
“Sem a fé, é impossível 25] ]  Quem
 Quem não tem fé será
 julgado. Mas, nas mesmas
mesmas Escrituras, vemos
vemos também
também que o homem homem não pode sozinho
 fazer nascer
nasc er a fé em si, mesmo
mesmo pequena,
pequena, ainda menor do que um grão de mostarda
mostarda;;
que a fé não
nã o vem de nós, mas que ela é um dom de Deus; e que a fé é um dom
espiritual. Ela é dada pelo Espírito Santo. Se é assim, o que é preciso fazer? Como
conciliar
conciliar a necessidade de fé f é do hom
homem
em com a impossibilidade
impossibilidade de d e provocá-la
humanamente?? O mo
humanamente modo
do de
d e fazê-lo é revelado
revelado ainda nas memesmassmas Escrituras: “Pedi,
“Pedi, e
se vos dará.” Os Apóstolos não podiam por si sós suscitar neles a perfeição da fé,
mas eles rezaram a Jesus Cristo, dizendo: “Senhor, aumente a nossa fé”. Eis como se
obtém a fé; este exemplo mostra como se alcança a fé pela oração.

 Para a salvação
s alvação da almalma,a, ao
a o lado da verdadeir
verdad eiraa fé, também são necessárias
necessá rias as boas
obras, pois “a fé sem as obras obras é morta”.
morta”. O home
homem m será
será julgado por suas
sua s obras e não
apenass por sua fé. “Se
apena “Se você quiser
quiser entrar
entrar na vida, observe os mand
mandament
amentos;
os; não
mate; não cometa adultério; não roube; não preste falso testemunho; honre pai e
mãe; ame seu próximo como a si mesmo”. E observe todos os mandamentos, pois
“aquele que observar
observar a Lei
L ei mas
mas transgredir um só manda
mandam mento é culpado de de
todos.”  [ [26
26] ]  É
 É o que ensina o apóstolo Tiago. E o apóstolo Paulo,
Paulo, descreve
d escrevendo
ndo a
 fraqueza humana,
hu mana, diz:
d iz: “Nenhuma
“Nenhuma carne será justificada pelas L ei.”” [ [27
p elas obras da Lei. 27] ] 
“Pois sabemos que a Lei é espiritual; mas eu sou carnal, sujeito ao pecado... Pois a
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vontade está em mim, mas eu não encontro como fazer o que é bom... E o mal que eu
não queria fazer, eu faço... Pelo pensamento, eu me submeto à Lei de Deus; mas,
pela carne, à lei do pecado.” [ [28
28] ] 

Como cumprir as obras prescritas pela Lei de Deus, quando


Como qua ndo não
nã o se tem forças
forças nem
nenhum poder de d e observar
observar os mand
andament
amentos?
os? É impossível
impossível fazê-lo, até
a té que se peça,
p eça,
até que se reze para obtê-los. “Vocês não têm porque não pedem”  [ [29 29] ]   ; esta
esta é a
razão que nos apresenta o Apóstolo. E o próprio Cristo diz: “Sem mim vocês não
podem nada.”
nada .” E, quanto a agir com ele,
ele, eis o que ele nos diz a respeit
respeito:
o:
“Permaneçam comigo como eu permaneço com vocês; aquele que permanecer em mim
e eu nele, este obterá os frutos da abundância.” Mas permanecer com ele implica
sentir continuamente
continuamente sua presença, invocar continuamente
continuamente seu nome. “Tudo aquilo a quilo
que pedirem em meu nome eu lhes darei.” Assim a própria possibilidade de fazer o
bem é dada pela oração. Encontramos um exemplo disto no Apóstolo Paulo: três
vezes ele
ele orou para vencer a tentação, dobr
d obrand
andoo o joelho
joelho diante de Deus Pai para
que fortalecesse nele o homem interior, e foi-lhe ordenado acima de tudo orar, e orar 
de modo contínuo,
contínuo, a propósit
propósitoo de tudo.
tud o.

 Do que dissemos,


dissemos, segue-se
segue-s e que toda
toda a salvação dod o homem
homem depende da d a prece, e é por 
isso que ela é primordial
primordial e necessária, pois é através dela
d ela que a féf é é vivificada
vivificada e que
as boas obras aparecem. Numa palavra, com a oração tudo caminha com sucesso;
sem a oração, não
nã o se pode fazer
fa zer nenhum ato de caridade cristã. Assim a exigênciaexigência
de que nossa vida seja sem cessar, sem s empre
pre e em toda parte
pa rte,, oferecida, prové
p rovémm
exclusivament
exclusivamentee da oração. Para as a s dem
d emais
ais virtudes,
virtudes, cada qual tem seu próprio
próprio
tempo;
tem po; mas no caso
cas o da prece, nos é pedida uma açãoaçã o ininterrupta:
ininterrupta: “Orai sem
cessar”. É justo e oportuno rezar sempre, e em qualquer lugar.

 A verdadeira oração tem suas condições. Ela Ela deve ser oferecida
oferecida com um espíri
espírito
to e um
coração puros, com um zelo ardente, uma atenção estrita, com temor e respeito, e
com a mais profunda humil humildad
dade.e. Mas quem
quem,, em consciência, nãonã o adm
ad miti
itirá
rá que está
longe de preencher estas condições, e que oferece suas orações mais por 
necessidade,
necessidad e, mais por obrigaçã
obrigaçãoo para consigo mesmo
mesmo,, dod o que por inclinação, dele
d eleit
itee
e amor à oração? A este respeito,respeito, a sagrad
sagradaa Escritura diz que não está no poderp oder do
homem manter seu espírito inquebrantável e purificar-se dos maus pensamentos,
pois “os pensamentos do homem são maus desde a juventude”, e porque só Deus
pode nos dar
d ar outro coração e um espírito espírito novo, pois “o poder de fazê-lo está apenas
apena s
em Deus.” O apóstolo Paulo diz: “Meu espírito (ou seja, minha voz) está em oração,
mas minha inteligência permanece estéril.” [ [30 30] ]  “Nós
 “Nós não
nã o sabemos
sabemos o que pedir
p edir em
nossas orações.”  [ [31
31] ]  , afirm
af irmaa ainda.
ainda . Resulta
Resulta daí
da í que somos
somos incapazes, por nós
mesmo
me smos,
s, de oferecer a verdadeira prece: em nossas orações, não nã o conseguimos
conseguimos
 precede
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manifestar as propriedades essenciais da verdadeira prece.

Se tamanha
tamanha é a impotência
impotência do ser
s er humano, que possibi
p ossibililidad
dades
es restam ainda à
vontade e à força do homem para a salvação
s alvação da
d a alm
a lma?
a? O home
homem m não pode adquiri
ad quirir 

a fé sem
s em a oração;
oraçã o; isto també
tambémm se aplica às boas obr
obras.
as. MasMa s a verdadeira oração em
si não está ao
a o seu alcance.
alcanc e. Que lhe resta
resta fazer?
fa zer? Quanto lhe sobra
sobra ainda
a inda ao
a o exercício
exercício
da liberdade e da força, para que ele possa não perecer, mas ser salvo? 

Cada ação possui sua qualidade, e esta qualidade só quem é livre para atribuir é 
 Deus. Para que a dependência do d o homem
homem diante de Deus, da vontade de Deus, se
manifeste mais claramente, e para poder mergulhá-lo mais profundamente na
humildad
humil dade,
e, Deus só atri
a tribuiu
buiu à vontade e à força do hom em a quantidade da oração.
h omem
 Ele ordenou
ordenou orar sem cessar, sems empre,
pre, em todos os mom
momentos
entos e em
em todos
todos os lugares. É 
aí que se acha
a cha reve
revelado
lado o método
método secreto da verdadeir
verdad eiraa oração,
oraçã o, ao me
mesmo
smo tem
tempo
po da
 fé e do cumprime
cumprimento
nto dos mand
mandament
amentos
os de Deus. É portanto
portanto a quantidade
quantidad e das
orações que está assinalada
ass inalada ao homem;
homem; a frequênci
frequênciaa da
d a prece lhe pertence e se acha
sob o domínio
domínio da sua vontade. Este é o ensinamento
ensinamento dos Padres da d a Igreja. São
 Macá rio o Grande diz que em verdade orar é o dom da graça.
 Macário gra ça. Santo Eznik
Eznik diz que a
prece frequente
frequente torna-s
torna-see um hábito,
hábito, depois uma segunda
segun da natureza, e que, sem
invocar frequentemente o nome de Jesus Cristo é impossível purificar o coração.
Calixto
Calixto e Inácio aconselham a invocação frequente, contínua, do d o nome de Jesus,
acima de todas as asceses e obras, pois a frequência conduz a prece imperfeita à
perfeição. O bem-aventurado Diádoco afirma que se um homem invoca o nome de
 Deus tantas vezes quanto possível,
possível, ele não cairá no pecado.
peca do.

Quanta experi
experiência
ência e sabedori
sa bedoriaa existem aí, e como essas instruçõe
instruçõess dos
d os Padres estão
próximas do coração! Com sua experiência e simplicidade, eles lançam uma luz sobre
os meios de conduzir a alma à perfeição. E que contraste com as instruções morais
da razão teórica! Assim fala a razão: faça tais e tais boas ações, arme-se de
coragem,, empregue sua força de vontade, convença a si próprio pensando nos felizes
coragem
 frutos da virtude – por exempl
exemplo,
o, purifique seu espírito
espírito e seu coração das
d as ilusões do
mundo, substi
su bstitua-a
tua-ass por meditações
meditações instrutivas,
instrutivas, faça o bem,
bem, assim
a ssim vocês
vocês serão
respeitados e encontrarão a paz; vivam segundo a razão e a consciência. Mas,
vejam!
vejam! Apesar ded e toda a sua força, este raciocínio
raciocínio não alcançará
alcanç ará seu
s eu objeti
objetivo
vo sem a
oração frequente, sem invocar
invocar a ajuda
a juda de
d e Deus.

Vamos agora a outro


outross ensinamentos dos Padres,
Pad res, e veremos
veremos o que ele
eless dizem
d izem,, por 
exemplo,
exem plo, sobre a purificação da
d a alm
a lma.
a. São João da Escad
Escadaa escreve: “Quand
“Quandoo o
espírito está ensombrecido por pensamentos impuros, afugente o inimigo repetindo
inúmeras
inúm eras e ininterruptas
ininterruptas vezes o nome de Jesus. Você nãonã o encontrará nos céus nem
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na terra arma mais poderosa e eficaz do que esta.” São Gregório o Sinaíta nos
ensina: “Saibam
“Saibam que ninguém pode por si só dominar seu espírito,
espírito, e assim,
a ssim, quando
surgirem os maus pensamentos, invoquem o nome de Jesus muitas e ininterruptas
vezes, e os pensamentos se apaziguarão.” Que método simples e fácil! E no entanto
ele é verificável pela experiência. Que contraste com os conselhos da razão teórica
que se esforça com presunção em atingir
atingir a pureza
pu reza por seus próprio
próprioss esforços!

Uma vez anotadas


chegamos essas instruções
a uma conclusão fundamentadas
sólida: que o principal, osobre
únicoaeexperiência
o mais simples dos método
Padres,
para atingir a salvação e a perfeição espiritual
espiritual é a frequência e o caráter 
ininterrupto
ininterrupto da oração,
oraçã o, por fraca
fra ca que seja. Alma
Alma cristã, se você não encontra em si
mesma
me sma o poder de adorar a Deus em espírit
espíritoo e em verdad
verdade,e, se seu
s eu coração não sente
o calor e a doce sati
sa tisfa
sfação
ção da oração interior
interior,, então apli
ap lique-se
que-se ao sacrifí
sa crifício
cio da prece
p rece
o quanto você puder, porque isto só depende da sua vontade, e está dentro dos
limites do seu poder. Familiarize, antes de mais nada, o humilde instrumento dos
seus lábios com a invocação frequente e persistente da oração. Que eles invoquem o
nomee de Jesus sem
nom s empre
pre e sem interrupção;
interrupção; não é um grande trabalho e está dentro dos
limites do poder de cada um. E é também o que vai ao encontro do preceito do santo
 Apóstolo: “Por
 Apóstolo: “Por ele,
ele, ofereçamos
ofereçamos sem cessar
cessar um sacrifício de louvor
louvor a Deus,
Deus, ou seja o
 fruto dos meus
meus lábios que celebr
celebram nome.”  [ [32
am seu nome.”  32] ] 

 É certo
certo que a frequência da prece forma
forma um hábito e se torna
torna uma segunda
segund a natureza.
na tureza.
 Ela traz, de tempos
tempos em tem
tempos,
pos, o espírito e o coração a um estado apaziguado.
apa ziguado.
Suponhamos que um homem cumpra sem parar e continuamente o único
mandamento de Deus sobre a prece perpétua. Por isso mesmo, ele terá cumprido com
todos os outros mandamentos; de fato, se, sem interrupção, em todo o tempo e em
todas as
a s circunstâncias,
circunstâncias , ele oferecer a oração, invo
invocand
candoo em segredo
segredo o santíssim
sa ntíssimoo
nome de Jesus (mesmo que de início ele o faça sem ardor espiritual, nem zelo, e
mesmo
me smo forçadamente),
forçadamente), ele não terá
terá tempo para pensament
p ensamentos os vãos, para julgar a seu
s eu
próximo
próximo,, para
p ara desperdiçar
d esperdiçar seu tempo nos prazeres do sentis entidos.
dos. Todo mau
pensamento encontrará nele um obstáculo ao seu desenvolvimento. Todo o ato
culpável que o possa tentar não se realizará, como se ele houvesse
houvesse abandonad
aban donadoo o
espírito.
espírito. O excesso de palavras e as palavras
p alavras inúteis serão rejeit
rejeitada
adass e todas as
 faltas imediatament
imediatamentee varridas
varridas da alm
a lmaa pelo poder miseri
misericordioso
cordioso de uma
uma invocação
tão continuada do nome divino.
divino. A prática frequent
f requentee da oração o impedirá
impedirá de
de
praticar qualquer ação culpável
culpá vel e o lem
lembrará
brará de sua
su a vocação
vocaçã o original:
original: a união com
 Deus.

Veem agora a importância e a necessidade da quantidade da oração? A frequência


da oração é o único método
método para se chegar à prece pura e verdadeira. É a melhor
melhor e
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mais eficaz preparação para a prece, e o meio mais seguro de atingir o objetivo da
oração e a própria salvação.

 Para convencê-los
convencê-los definitivame
definitivamente
nte da necessidade
necessidad e e da fecundidade
fecund idade da
d a oração
 frequente,, notem que todo o desejo
 frequente desejo e todo
todo o pensamento de oração é obra do Espírito
Espírito
Santo, e a voz do anjo
a njo guardião; e que o nome de Jesus
Jesus invocado na oração
oraçã o contém
em si mesmo um poder salvador que existe e age por si mesmo. Assim, não fiquem

perturb
perturbados
ados
paciência com da
o fruto
f ruto a imperfeição
im perfeição frequente
invocação ou a securadonas
nomsua
nomesuass preces,
e divino. Nãoe escutem
esperem ascom
insinuações daquele
da queless que são
sã o inexperie
inexperientes
ntes ou insensatos, segundo
segun do os quais
qua is a
invocação morna
morna é uma repetição
repetição inútil,
inútil, para
p ara não
n ão dizer
d izer enjoati
enjoativa.
va. Não:
Nã o: o poder do
nome divino e sua invocação frequente trarão o fruto a seu tempo.

Um autor espiritual falou magnificamente sobre isto: “Eu sei, disse ele, que para
muitos
muitos pretensos
pretensos espiri
espirituais
tuais e sábios
s ábios filósofos, que procuram em toda parte
pa rte a falsa
fa lsa
 grandeza e as
a s práticas sedutor
sedu toras
as através
a través da razão e do orgulho, o simples
simples exercíci
exercícioo
vocal mas
mas frequent
frequentee de uma oração parece
p arece ter pouco significado, parece
p arece não passar 
pa ssar 
de uma ocupação
ocupa ção inferior,
inferior, quase
quas e uma criancice. Mas estes infelizes
infelizes enganam-se e
esquecem o ensinamento de Jesus Cristo: “Se vocês não se converterem e não se
tornarem
tornarem como
como criancinhas, vocês não entrarão no n o Reino dos Céus.”  [ [33
33] ]  Eles
 Eles
elaboram
elaboram por si mesmos
mesmos uma ciência
ciência da
d a oração
oraçã o sobre as funda
fu ndações
ções instáveis
instáveis da da
razão natural.
na tural. Será
Será que preci
p recisamos
samos de tanta erudição, ciência e reflexão para
dizermos com um coração fervente: Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem
piedade de mim? Não foi nosso divino Mestre em pessoa quem mais louvou esta
oração frequente? Não foram recebidas
recebidas respostas magníficas e cumpri
cu mpridas
das
magníficas
magnífi cas obr
obras
as apenas por meio
meio desta curta mas frequent
f requentee oração? Alma cristã,
afirme sua coragem
coragem,, e não
nã o abandone a incessante invocaçã
invocaçãoo de sua prece, mesmo mesmo
que seu grito venha de um coração ainda em guerra guerra consigo
cons igo mesm
mesmoo e ainda me
meio
io
preenchido pelo mundo. Pouco importa! Persevere, não se deixe reduzir ao silêncio e
não se
s e perturbe.
perturbe. Sua prece irá purifi
pu rificar-se
car-se sozinha
s ozinha pela sim
s imples
ples repetição.
repetição. Que sua
su a
memória não esqueça o seguinte: “Aquele que está em vós é maior do que aquele que
está no mundo.”  [ [34
34] ]  “Deus
 “Deus é maior
maior que o nosso coração, e conhece todas as coisas”,
coisas ”,
diz o Apóstolo.

 Depois dessas
 Depois dessa s afirmações convincentes
convincentes de que a oração, tão poderosa parap ara a
 fraqueza humana,
hu mana, é certamente
certamente acessível
acessível ao homem
homem e depende de sua própria
vontade, decida-se,
d ecida-se, experi
experime
mente,
nte, nem que seja por um
u m único dia, de início. Vigie-se
Vigie-se e
torne a frequência da prece tal que mais
mais tempo
tempo você passe,
pas se, das
d as vint
vintee e quatro horas
do dia, ocupado com a invocação do nome de Jesus do que com todas as demais
ocupações. E este triunfo da prece sobre as ocupações mundanas mostrará, a seu
 precede
 precedejesu
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tempo, que a jornada não foi perdida, mas ganha para a salvação; que a oração
 frequente,, na balança do
 frequente d o julgamento
julgamento divino,
divino, fará contrapeso à sua
su a fraqueza e às
suas más ações, e apagará os pecados desta jornada do memorial de sua
consciência. Que ela
ela coloque seu pé sobre o degrau da vir
virtude
tude e lhe dê a esperança
esp erança
da santi
santificação.
ficação.

***

O peregri
peregrino:
no:  Eu o agradeço
agradeço de todo
to do coração,
coração, santo
san to Padre.
P adre. Ao ler este texto, você
levou alegria à minha alma de pecador. Peço-lhe, pelo amor de Deus, que me
deixe copiar o que você
você nos leu;
l eu; posso fazê-lo em duas horas.
h oras. Tudo o que você
leu foi tão bom e reconfortante,
reconfortante, parec
pareceu-me
eu-me tão compreensível, tão claro ao
meu espírito estúpido, como a própria Filocalia, onde os Padres tratam do
mesmo assunto.
assunt o. Veja, por exemplo, o que escreve
escreve João de Cárpatos,
Cárpatos, na
n a quarta
parte da Filocalia: “Se você não tem a força necessária para o domínio de si e as
obras da ascese, saiba que Deus deseja salvá-lo pela oração.” Mas Mas como tudo isto
está magnífica e claramente exposto no seu texto! Eu o agradeço,
agradeço, diante de
Deus, por nos tê-lo trazido e nos dado a conhecer.
O professor: Eu escutei
escutei com toda atenção e com muito prazer a sua leitura, meu
Pai. Todos os argumentos que repousam sobre uma estrita lógica são uma delícia
para mim. Mas,
Mas, ao mesmo
mesm o tempo, parec
parece-me
e-me que eles colocam a possibilidade
possibi lidade
da prece perpétua
perpétua na dependência
dependên cia de condições que lhe sejam
sej am favoráveis
favoráveis e de
uma solidão aprazível. Eu
Eu admito que a oração frequente
frequente e incessante
i ncessante seja um
meio poderoso e único para obter o socorro da graça
graça divina em todos oso s atos de
santificação, e que ela está dentro dos limites das possibilidades humanas. Mas
trata-se de um método que só é praticável por quem pode dispor de solidão e
calma. Afastando-se dos negócios, das necessidades e das distrações, é possível
orar frequentemente
frequentemente e mesmo
m esmo continuamente.
contin uamente. Só é preciso dar conta da própria
indolência
indol ência ou do obstácu
obst áculo
lo formado por seus próprios pensamentos.
pensamen tos. Mas,
Mas,
quando se está ligado aos deveres e constantes afazeres, quando se está em
companhia barulhenta, não se pode realizar o desejo de orar incessantemente
devido às inevitáveis distrações. Por conseguinte, este método da oração
frequente,
freque nte, por depender de circunstân
circunstâncias
cias favoráveis,
favoráveis, não pode ser utilizado por
todos, nem adaptar-se a todo mundo.

O monge:  Não é prec


preciso
iso chegar a semelhante
semelh ante conclusão. O coração
coração que foi
instruído pela oração interior pode sempre invocar o nome de Deus sem ser
impedido por nenhuma ocupação corporal ou mental, a apesar de não importa
quanto barulho; aqueles que sabem disto o sabem por inexperiência, e os que
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não sabem devem aprender por um treinamento progressivo. Podemos dizer


simplesmente e com toda confiança que nenhuma solicitação exterior pode
interromper a prece do homem que quer orar, pois o pensamento secreto do
homem não depende das condições exteriores e permanece inteiramente livre
em si mesmo. Podemos a qualquer momento despertá-lo e dirigi-lo para a
oração. A própria língua pode secretamente, e sem emitir nenhum som, efetuar
a prece na presença de inúmeras
in úmeras pessoas e durante todo o tipo de ocupa
ocupação.
ção. De
De

resto, nosso negócios


interessantes que sejanão são tão encontrar
impossível importantesume meio,
nossaspor
conversas tãode invocar
instantes,
o nome de Jesus, mesmo se o espírito ainda não estiver treinado para a prece
perpétua. Embora
Embora a solidão
so lidão e a fuga para
para longe
lon ge de um vida dispersiva constituam
condições favoráveis
favoráveis para a oração atenta e perpétua, deveríamos ter vergonha
da raridade de nossas
noss as orações, porque a quantidade e a frequência estão à
disposição de todo mundo, por fraco
fraco e ocupado que seja. Encontramos exemplos
cabais da prece entre homens
ho mens que,
q ue, carregados
carregados de obrigações, de deveres
urgentes, de responsabilidades e de trabalho, não apenas invocaram
constantemente o nome de Jesus Cristo, mas inclusive conseguiram por este
meio alcança
al cançarr a prece interior e incessante
in cessante do coração. Assim foi com o patriarca
Photius que, promovido do cargo de senador à dignidade patriarcal, ao mesmo
tempo em que governou o vasto patriarcado de Constantinopla,
Constantin opla, perseverava
continuamente na invocação do nome de Deus, e obteve assim a prece
ininterrupta
ini nterrupta do coração.
coração. Ou Calixto que, no monte
mo nte Athos,
Ath os, praticou a prece
perpétua ao mesmo tempo em que mantinha suas atividades como cozinheiro.
Ou Lázaro, de coração simples, que, encarregado pela congregação de exercer um
trabalho contínuo, repetia sem interrupção, em meio às suas ruidosas
ocupações,
ocupaç ões, a oraçã
oraçãoo de Jesus e permanecia em paz. E muitos outros que q ue também
praticaram
praticar am a invocaç
in vocação
ão contínua do nome de Deus.

Se fosse realmente impossível orar no meio de tarefas absorventes ou no


convívio com os outros homens, não teríamos, evidentemente, recebido este
mandamento. São João Crisóstomo, em seus ensinamentos sobre a oração, fala
assim: ninguém deve responder que é impossível ao homem ocupado com as
responsabilidades do mundo e que não pode ir sempre à igreja, rezar. Em toda
parte, aonde você estiver, sempre você poderá erguer
erguer um altar a Deus em seu
pensamento. Assim, é oportuno orar durante os afazeres, em viagens, sentado à
escrivanin
escrivaninha
ha ou numa
n uma tarefa manual. É possível rezar em toda parte e em todos
os lugares, e se um homem coloca diligentemente sua atenção sobre si mesmo,
ele encontrará sempre circunstâncias
circunstâncias favoráveis
favoráveis à oração, se no
n o mínimo
mín imo ele
estiver convencido de que a oraç
oração
ão deva constituir sua
s ua ocupação
ocupação essencial e vir
antes de qualquer outro dever. E neste caso, bem entendido, ele organizará seus
 precede
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negócios com mais decisão; nas conversas com os outros, eleel e manterá a
brevidade, uma tendência ao silêncio e uma falta de gosto pelas palavras inúteis.
Ele não se inquietará tolamente com as coisas tolas. E, por todos os seus meios,
ele encontrará o caminho
caminh o da oração e da paz. Em uma vida organizada desta
forma, todas as suas ações, pelo poder da invocação do nome de Deus, serão
logo marcadas pelo sucesso, e ele chegará finalmente à invocaç
i nvocação
ão ininterrupta
ini nterrupta
do nome
n ome de Jesus. Ele
Ele saberá por experiência que a frequência da oração, este

meio único
orar em de os
todos salvação, está àem
momentos, disposição da vontade do ehomem,
todas as circunstâncias queosélugares,
em todos possívele
ele conseguirá então fac
facilment
ilmentee elevar-se da prec
precee vocal frequente à prece
mental e daí à prece do coração
coração que abre em nós nó s o Reino de Deus.

O professor: Eu
professor:  Eu admito que durante as ocupações mecânicas
mecânicas é possível, e
mesmo fácil, orar com frequência, e até continuamente; pois o trabalho
maquinal do corpo não exige uma aplicação
aplicação mental profu
profunda
nda nem
n em muita
reflexão, e é por isso que, enquanto o cumpre, o espírito pode mergulhar na
oração e os lábios
lábi os o seguem. Mas
Mas se eu devo ocup
o cupar-me
ar-me de alguma coisa
puramente intelectual, numa leitura atenta por exemplo, ou na consideração de
um grave problema,
problema, ou numa composição literária, como poderei rezar com o
espírito e os lábios? E, uma vez que a prece é antes de tudo uma ação mental,
como é possível, num mesmo instante, atribuir ao mesmo espírito duas tarefas
diferentes?

O monge:  A solução do seu problema não n ão é difícil se considerarmos


consi derarmos que as
pessoas que oram constantemente podem ser divididas em três categorias:
primeiro os iniciantes;
in iciantes; depois, aqueles que já fizeram algum progresso;
progresso; e em
terceiro
terce iro lugar, os que estão bem
b em exercitados.
exercitados. Os iniciantes
in iciantes muitas vezes são
capazes de experimentar, de tempos em tempos, um impulso do pensamento e
do coração
coração para Deus, e de repetir orações
orações curtas com os lábios,
lábio s, mesmo
m esmo durante
um trabalho mental. Aqueles que fizeram progressos e atingiram uma certa
estabilidade
estabili dade mental podem exercitar-se
exercitar-se em meditar ou escrever na presença
ininterrupta
ini nterrupta de Deus. Eis
Eis uma imagem
i magem para esclarecer
esclarecer:: suponha
suponh a que um monarca
mo narca
severo e exigente
exigente ordene
orden e a você que componh
componhaa um tratado sobre algum assunto
complicado, mas ao pé do trono e na n a sua real presença. Embora você possa estar
totalmente ocupado com seu trabalho, a presença do rei que tem poder sobre
 você e que
que tem sua vida em suas mãos não poderia ser esquecida um instante
sequer, mesmo estando você pensando, refletindo e escrevendo não na solidão,
mas num lugar que lhe exige uma atenção e um respeito especiais. Esta Esta
consciência da proximidade do rei exprime com muita clareza a possibilidadepossibili dade de
se dedicar à prece
prece perpétua interior mesmo durante um trabalho t rabalho intelectual.
i ntelectual.
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Quanto aos que possuem um longo lon go hábito ou que a graça


graça de Deus fez progredir
progredir
da prece mental à do coração, eles não abandon
ab andonam
am a sua prece perpétua
perpétua durante
os exercícios intelectuais mais exigentes, e nem mesmo durante o sono. Como
nos disse
d isse o sábio:
sáb io: “Eu durmo, mas meu
m eu coração
coração vela” (Ct.,
(Ct., 5,2).
5, 2). Aqueles que
obtiveram esta espontaneidade do coração obtêm uma tal aptidão em invocar o
nome divino que a oração vigia por si mesma e todo o espírito é transportado
em uma corrente de prece
prece incessante, qualquer que seja a condição e por mais

abstratas e intelectuais
in telectuais que sejam as ocupações
mesmo momento. ocupações do sujeito
suj eito que ora naquele

O sacerdote: Permita-me, Pai, dizer o que eu penso. Dê-me a palavra para que


eu possa dizer uma ou duas coisas. Ficou admiravelmente colocado, no texto que
 você nos leu, que o único meio de se alcançar a salvação
salvação e a perfeição
perfeição é a
frequência
frequê ncia da prece, qualquer que seja. Mas eu não compreendo isto
i sto muito bem,
e eis o que
q ue me parece:
parece: que utilidade pode ter para mim invocar o nome de d e Deus
continuamente apenas com a língua, mas sem atenção e sem compreender o que
eu digo? Isto não passaria de uma vã repetição. O único resultado é que a língua
lí ngua
prosseguirá tagarelando e a atividade do espírito, sofrendo com isto em sua
reflexão,
reflexão, ficará desequilibrado. Deus não pede palavras, mas um espírito atento
e um coração
coração puro. Não seria melhor
m elhor oferec
o ferecer
er uma oração, que seja curta, ou
mesmo rara, ou somente em momentos reservados, mas feita com atenção, com
zelo e calor, e com a devida compreensão? De outro modo, mesmo que digamos
a oração dia e noite, sem pureza mental isto não será um ato de piedade e não
estaremos fazendo nada por nossa salvação. Não estamos apoiados em nada
senão numa
n uma tagarelice
tagarelice exterior, da qual extraímos fadiga e cansaço,
cansaço, de tal
maneira que non o final das contas a confiança na oração esfria e acabamos
acabamos por
rejeitar este procedimento estéril. De resto, a inutilidade da prece com os lábios
apenas resulta daquilo que q ue nos foi revelado pelas santas
san tas Escrituras,
Escrituras, como por
exemplo: “Estas pessoas aproximam-se de mim com a boca e me honram com
seus lábios, mas seu coração está longe de mim.” [
mim.” [35
35] ]  “Todos
 “Todos aqueles que me
dizem: Senhor, Senhor, não entrarão no Reino dos Céus.” [Céus.” [36
36] ]  “Eu
 “Eu prefiro dizer
cinco palavras com a minha inteligência do que dizer mil palavras numa língua
desconhecida.” [ [37
37] ]  Tudo
 Tudo isto mostra a esterilidade da oração exterior
exterior e
desatenta da boca.

O monge: Haveria uma certa


certa verdade no seu ponto
pon to de vista se eu não
n ão tivesse
acrescentado
acrescentado à recomendação de orar coma boca a necessidade
n ecessidade de fazê-lo
continuamente, e se a invocação do nome de Jesus Cristo não tivesse um poder
próprio e não obtivesse, por si só, o zelo e a atenção como frutos de sua prática
constante. Mas como a questão em pauta agora é a frequência, a duraçd uração
ão e o
 precede
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caráter ininterrupto
caráter ini nterrupto da oração (embora no início
in ício ela possa ser cumprida
cumprida com
desatenção ou secura),
secura), as conclusões que você tirou indevidamente caem por si
sós. Examinemos a questão mais de perto. Um autor espiritual, após haver
demonstrado o grande valor e o proveito que resulta da oração frequente
frequente
expressa em uma forma
forma invariável,
in variável, diz finalmente:
finalm ente: “Muitas pessoas
supostamente esclarecidas consideram esta oferenda frequentefrequente de uma só e
mesma oração como inútil ou o u mesmo fútil, como uma ocupação mecânica
mecânica e

insen
insensata
práticasata de ignorantes.maquinal,
aparentemente Mas eles eles
ignoram o segredo
não sabem queque é revelado frequente
o movimento por esta
dos lábios torna-se imperceptivelmente um apelo sincero do coração, que ele se
infiltra na vida interior, torna-se uma felicidade, torna-se, por assim dizer,
natural à alma, levando-lhe e luz e o alimento e conduzindo-a à união com
Deus. Esses
Esses censores me fazem pensar em crianças a quem estamos ensinan
en sinando do o
alfabeto e a leitura. Quando elas fica
ficam
m cansadas elas reclamam: “Não seria
s eria cem
 vezes melhor irmos às colheitas,
colh eitas, como papai, do que passar todo o dia a repetir
incessantemente be-a-bá, ou rabiscar todo o tempo com a caneta numa folha de
papel?”. A utilidade de saber ler e as luzes que daí resultam e que só podem ser
fruto deste penoso aprendizado das letras pelo coração, são para elas um
segredo velado. Da
Da mesma forma, a invocaç
in vocação
ão simples e frequente
frequente do nome
divino é um segredo velado para essas pessoas que não estão persuadidas dos
seus resultados e de seu enorme
eno rme valor. Avaliando
Avaliando o ato de fé a partir da
capacidade
capac idade de sua própria razão míope e inexperiente,
i nexperiente, eles esquece
esquecemm que o
homem é feito de um corpo e uma alma.”

Por exemplo, porque, quando deseja purificar sua alma, você começa por se
ocupar do corpo, fazendo-o jejuar, privando-o de alimento e de comidas
estimulantes. É, certamente, para que ele não
n ão possa ser um obstácu
obs táculo
lo ou, para
dizer melhor,
melh or, para que ele possa tornar-se o meio de favorecer
favorecer a pureza da alma
e o discernimento do espírito, para que a sensação constante da fome corporal o
lembre de sua resolução de buscar a perfeição
perfeição interior e as coisas que agradam a
Deus, e de que
q ue nos esquece
esquecemos
mos tão fac
facilment
ilmente.e. E aprendemos por experiência
que por meio do ato exterior do jejum corporal realizamos o refinamento
interior do espírito, a paz do coração, e encontramos um instrumento para
domar as paixões e um aguilhão do esforço espiritual. Assim, por meio das d as
coisas exteriores e materiais, recebemos ajuda e proveito interior
in terior e espiritual.

Você deve entender que o mesmo acontece com com a prece frequente
frequente dos lábios,
l ábios,
que com o tempo atrai a oração interior do coraç
coração
ão e favorece
favorece a união
uni ão do espírito
com Deus. É vão
vão imaginar
imagin ar que a língua,
lín gua, cansada desta repetição e desta árida
falta de compreensão, será levada a abandonar inteiramente, como coisa inútil,
 precede
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exterior da oração. Não, a exper


este esforço exterior experiência
iência nos
n os prova exatamente o
contrário. Aqueles que praticaram a prece perpétua nos asseguram que o que
acontece é o seguinte: a pessoa que está resolvida a invocar sem cessar o nome
de Jesus, ou, o que vem a dar no mesmo,
mesm o, a dizer
di zer a oração
oração de Jesus,
continuamente, experimenta no início uma série de dificuldades e tem que lutar
contra a preguiça;
preguiça; mas quanto mais ela
el a trabalha com firmeza ao longo
lo ngo do
tempo, mais ela se familiariza com esta tarefa, imperceptivelmente, de modo

que no final
mesmo fin
semal nenhum
os lábios
láb iosesforço
e a língua
l íngua adquirem
de sua parte, uma tal capacidade
eles movem-se de murmurar
murmurar que,
irresistivelmente e
dizem a prece sem ruído. Ao mesmo tempo, o mecanismo dos músculos da
garganta
garganta fica tão treinado que ao orar ele começa
começa a sentir
senti r que o enunciado da
oração é uma de suas propriedades perpétuas
perpétuas e essenciais, e chega mesmo a
sentir como se algo lhe estivesse faltando cada vez vez que interrompe a prece.
prece.
Resulta assim que por sua vez o espírito começcomeçaa a ceder, a dar ouvidos a esta
ação involuntária dos lábios e, por meio dela, desperta para a atenção, que
conduz a uma fonte de delícias para o coraç coração,
ão, e daí à prec
precee verdadeira.

Vocês veem assim o verdadeiro o benfazejo efeito da prece vocal


vocal frequente ou
contínua, exatamente o oposto do que imaginam as pessoas que nunca a
praticaram
praticaram nem
n em compreenderam. Quanto às passagens da Escritura que você
invocou como apoio à sua objeção, elas ficarão explicadas
explicadas se fizermos um exame
mais verdadeiro.

Jesus Cristo
Cristo denunciou
den unciou a adoração hipócrita de Deus com com a boca, a ostentação
o stentação ou
ausência de sinceridade daqueles que clamam “Senhor, Senhor”, pois a fé dos
orgulhosos Fariseus não n ão era senão da boca b oca para fora,
fora, e sua consciência não a
justificava em nenhuma
nenh uma medida, nem eles a confessavam m seus corações. corações. É a
eles que foram ditas estas coisas, e isto não se aplica ao fato de dizermos uma
oração a respeito da qual Cristo deu instruç inst ruções
ões diretas, explícitas e precisas. “Os
homenss devem orar constantemente
homen constantement e e nunca fraquejar.”
fraquejar.” Da mesma forma,
quando o apóstolo PauloP aulo diz que
q ue ele prefere
prefere cinco palavras
palavras ditas com a
inteligência do que uma multidão de palavras sem pensamentos ou em uma
língua desconhecida, ele fala do ensinamento em geral, e não da prece em
particular, a respeito da qual ele diz com toda firmeza: “Assim eu desejo que os
homens rezem por toda parte” [
parte” [38
38] ] , e o preceito fundamental vem dele: “Orai
sem cessar.” [
cessar.” [39
39] ]  Veem
 Veem agora como a prece frequente é fecunda apesar de toda
sua simplicidade,
simpli cidade, e como a exata compreensão
compreensão da Esc Escritura
ritura exige uma refletida
refletida
consideração?

O peregri
peregrino:
no:  Quão verdadeiro é isto, meu Pai! Eu vi muitas pessoas que, de
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forma simples, sem as luzes de qualquer educação que seja, e sem mesmo saber
o que é a atenção, oferecem a prece de Jesus com a boca e sem detenção. Eu os vi
atingir o ponto em que seus lábios e sua língua não podiam mais parar de dizer a
oração. Elas lhes trazia alegria e iluminação, e pessoas
pesso as negligentes e fracas
assemelhavam-se a ascetas formados e modelos de virtude.

O monge:  A oração conduz o homem a um novo nascimento, por assim dizer.

Seu poderquiserem,
Se vocês é tão grande que eu
irmãos, nada,
lereinenhum grau de sofrimento
como despedida uma nota lhe pode
breve resistir.
porém
interessante que eu trago aqui comigo.
comigo.

Todos:  Nós o escu


escutaremos
taremos com o maior prazer.

O PODER DA ORAÇÃO

 A oração tem tanto poder e força


força que poderíamos
poderíamos dizer: “Ore,
“Ore, e faça o que quiser”,
quiser”,
pois a prece
p rece o guiará para o ato direito
direito e justo.
justo. Para agradar
agrad ar a Deus, não
nã o é preciso
mais do que amor. “Ame,
“Ame, e faça
fa ça o que quiser, diz santo
sa nto Agostinho, pois aquele que
ama verdadeiramente não pode desejar nem fazer nada que não agrade ao amado.” 
Comoo a prece é a efusão e a ativi
Com atividad
dadee do amor, dela podemos dizer por analogia:
“Ore, e faça
faç a o que quiser”
quiser”,, e você alcançará
a lcançará o objeti
objetivo
vo da oração. Ela o iluminará.
iluminará.

 Para melhor
melhor explicar
explicar em detalhe esta questão, tomarem
tomaremos
os alguns exemplos:
exemplos:

Ore, e pense o que quiser:  seus pensamento


pensamentoss serão purifi
pu rificad
cados
os pela prece. Ela
Ela lhe
dará o discernimento;
discernimento; ela
ela suprim
s uprimirá
irá e afastará
afa stará todos os maus pensame
pensa mentos.
ntos. É isto
que afirma são Gregório o Sinaíta. Se você deseja exterminar os pensamentos e
purificar o espírito,
espírito, este é seu conselho: “Expulse-os
“Expulse-os pela oração.” Pois nada é capaz 
capa z 
de dom
d ominar
inar os pensame
pensa mentos
ntos como
como a oração.
oraçã o. São João da Escada diz também
também a
respeito: “Vença com o nome de Jesus os inimigos que se apoderaram do seu espírito.
Você não encontrará arma melhor do que esta.” 

Ore, e faça o que quiser. quiser.  Seus atos agradarão a Deus e serão úteis e salutares. A
oração frequente, não importa a respeito do quê, jamais permanece sem fruto, pois
ela carrega em si o poder da graça, e porque “quem quer que invoque o nome do
s alvo.”  [ [40
Senhor será salvo.”  40] ]  Por
 Por exemplo: um homem que havia rezado sem sucesso e sem
 fervor obt
obtém
ém com esta prece o discernimdiscernimento
ento e um desejo de arrepender-se. Uma
mulher
mul her que amava o prazer orava quando quan do estava a sós e esta oração
oraçã o lhe mostro
mostrouu o
caminho da vida virvirginal
ginal e da obe
obediência
diência aos ensiname
ensinamentos
ntos de Cristo.
 precede
 precedejesu
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Ore, e não tente vencer vencer suas p aixões com sua s próprias forças.  A oração as
destruirá em você, pois “aquele que está em vós é maior do que aquele que está no
mundo”  [ [41
41] ]  , diz
d iz a santa Escritura. E são João de Cárpatos ensina que se você não
tem o dom do domínio sobre si, você não deve afligir-se mas saber que Deus lhe pede
apenass ser diligente
apena diligente na oração,
oraçã o, e ela o salvará. Um
U m caso que o demonstra
demonstra é o do
estaroste de quem é dito na Vida dos Padres que, quando caía no pecado, não se
deixava desencorajar mas recorria à oração, oraçã o, e por meio dela
dela reencontrava seu

equilíbrio.
Ore, e não tema nada.  Nã  Nãoo tenha receio dos infortúnios,
infortúnios, nem dos desastres.
desa stres. A
oração os afastará
a fastará e o protegerá.
protegerá. Lembre
Lembre-se
-se de são
s ão Pedro, que tinha pouca fé e
afundou [ [42
42] ]  ; de são Paulo,
Pau lo, que orava
orava na prisão; do monge
monge a quem a prece livr
livrou
ou
dos assaltos da tentação; da jovem que foi salva dos maus desejos de um soldado
pela oração; e de outros casoscas os semelhantes
semelhantes que mostram a força, o poder e a
universalidad
universali dadee da prece em nome nome de Jesus.

Ore de um modo ou de outro, mas ore sempre e não se deixe distrair por 
nada.  A oração
oraçã o arrumará tudo e o instruirá.
instruirá. Lembre-se
Lembre-se das palavras dos santos
sa ntos
 João Crisóstom
Crisóstomoo e Marcos o Asceta sobre o poder da oração.
oraçã o. O primeir
primeiroo declara que
a prece,
p rece, mesmo
mesmo oferecida
oferecida por nós que somos
somos cheio
ch eioss de
d e pecados,
pecad os, nos purifica
imediatamente. O segundo diz: “Rezar de qualquer maneira está em nosso poder,
mas rezar com pureza é um dom da graça.”
g raça.” Ofereça portanto
p ortanto a Deus aquilo que
estiver ao seu alcance oferecer. Dedique-lhe primeiro a simples quantidade, que está
dentro das suas possibilidades, e Deus derramará a força divina em sua fraqueza. A
oração, ainda que seca e distraída, desde que contínua, criará um hábito, tornar-
se-á uma segunda natureza e se transformará na prece pura e luminosa, na
admirável oração
oração de
d e fogo.

 Para concluir, note que, se o tempo


tempo de sua vigi
vigilância
lância e de sua oração se prolonga,
simplesmente não lhe restará mais tempo para realizar más ações, nem sequer para
pensar nelas.

Veem vocês agora, quão


quã o profundos pensament
p ensamentos
os estão concentrados nesta sábia
sá bia
afirmação: “Ame,
“Ame, e faça
fa ça o que quiser”?
quiser”? Quanto
Qua nto conforto
conforto e consolo para o pecador 
pecad or 
esgotado por suas fraquezas e que geme sob o fardo de suas paixões desgovernadas.

 A oração. Eis o que nos foi da


dado
do como
como meio
meio de salvação
salvaçã o universal,
universal, para
pa ra fazer a alm
a lmaa
crescer em perfeição. Isto
Isto é tudo. Mas quando
qua ndo falamo
fa lamoss de oração,
oraçã o, deve ficar 
estabelecida uma condição. Ore sem cessar  , é o mandamento
estabelecida mandamento do Verbo de Deus.
 Por conseguinte,
conseguinte, a oração revelará
revelará sua
su a maior eficácia e todos os seus frutos na
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medida em que for oferecida muitíssimas vezes, continuamente; pois a frequência da


prece depende indubit
indu bitavelm
avelmente
ente de nossa vont
vontade,
ade, enquanto que a pureza, o zelo e a
perfeição
perfeição da oração são dons da graça.

 Assim, orem
oremos tanto quanto possível.
possível. Consagremo
Consagremoss toda a nossa
n ossa vida à oração,
mesmo se de início ela esteja sujeita a distrações. A prática frequente nos ensinará a
atenção. A quantidade
qua ntidade conduzirá
condu zirá certament
certamentee à qualidade. “Se você quiser
quiser aprender 

avelho
fazermestre
direitoespiritual.
seja lá o que for, é preciso repeti-lo tanto quanto possível”, diz um

O professor: A
professor:  A oração é realmente uma grande demanda, e sua repetição
apaixonada é a chave que abre o tesouro da
d a graça.
graça. Mas
Mas quantas vezes eu estive
em conflito comigo mesmo, entre o ardor e a preguiça!
preguiça! Como eu ficaria feliz em
encontrar o caminho da vitória, de poder determinar-me e despertar para a
prática contínua da prec
prece!
e!

O monge: Mu
monge:  Muitos
itos autores espirituais oferecem diversos meios baseados num
n um
sólido raciocínio para estimular a diligência na oração. Por exemplo:

- eles o aconselharão a impregnar seu espírito com as ideias da necessidade,


da excelência e da eficácia da oração para a salvação da alma;

- adquira a firme convicç


convicção
ão de que Deus exige a oraçã
oraçãoo de nós, de forma
absoluta, e ordena que a realizamos em toda parte;

- lembre-se sempre que, se você é pregu


preguiçoso
içoso e negligente para a oração,
 você não poderá realizar
realizar nenhum
nen hum progresso nos atos de caridade nem na
obtenção da paz e da salvação, e que por conseguinte você sofrerá
inevitavelmente tanto os tormentos da terra quanto os da vida por vir;

- encoraje sua resoluçã


resoluçãoo pelo exemplo dos santos que alcançar
alcançaram,
am, todos
eles, a santidade
s antidade e a salvação pelo caminho da
d a prece
prece perpétua.

Embora todos estes métodos tenham seu valor e resultem de um juízo são, a
alma que ama o prazer e que se abandona à irresponsabilidade, mesmo quando
os admite ou utiliza, raramente compreende seu alcance, pela seguinte razão:
estes remédios são amargos para seu paladar
paladar mimado e demasiado fracos para
sua natureza profundamen
profundamente te alterada. Pois poderá haver
h aver um cristão
cristão que ignore
que ele deve orar constante e diligentemente, que este é um dever estabelecido
por Deus, que nós somos
som os prejudicados por nossa preg
preguiça
uiça na oração, que todos
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santo s rezaram com ardor e perseverança?


os santos perseverança? Entretanto, é bem
b em raro que saber
disto traga frutos. Todo homem que
q ue se observa vê bem que ele raramente dá
ouvidos a estes conselhos, e que, fora algumas raras reminiscências, ele leva
todo o tempo
t empo uma vida má e preguiçosa. Assim, em sua experiência e divina
sabedoria, os santos Padres, conhecendo a fraqueza da vontade e o excessivo
amor pelo prazer do coraç
coração
ão humano,
human o, adotaram
ado taram algumas disposições específicas,
específicas,
e com isto suavizaram a prova e adoçaram a borda do cálice. Eles mostraram que

orespeito
modo mais eficaz
da prece e mais
reside nafácil de se desfazer
descoberta, da preguiça
pregu
com a ajuda de iça e dadaindiferenç
Deus, indi ferença
do çura
doçur aa
a e da
imensidão do amor divino, ao qual a oração permitirá responder.

Eles aconselham a você meditar sempre que possível sobre o estado de sua alma,
e ler atentamente
atentamen te os escritos dos Padres
P adres a respeito. Eles fornecem
fornecem a garantia
encorajadora de que estes deliciosos sentimentos interiores podem ser pronta e
facilmente
facilmente atingidos pela prece,
prece, e dizem
di zem como eles são desejáveis.
d esejáveis. A alegria do
coração,
coraç ão, o entusiasmo
en tusiasmo inefáve
in efável,l, a leveza do coração,
coração, a paz profu
profunda
nda e a própria
essência da beatitude
b eatitude resultam todos da prece do coração.
coração. Mergu
Mergulhan
lhando
do em
reflexões como esta, a alma fria e frac
reflexões fracaa inflama-se
in flama-se e fortifica-se, o ardor pela
oração a encoraja
encoraja e ela é assim, de certa forma,
forma, tentada
tent ada a por em prática a
oração. Como diz são Isaac o Sírio:
Sí rio: “A felicidade é uma atração para a alma, esta
felicidade que nasce do florescimento da esperança no coração, e a meditação medi tação
sobre esta esperança é o bem estar do coraç coração.”
ão.” O mesmo autor diz também:
“esta atividade, desde sua origem até o fim, pressupõe de certa certa forma um
método e a esperança em seu cumprimento, e isto solicita sol icita à alma edificar uma
fundação para a tarefa
tarefa a cumprir, ao mesmo
mesm o tempo em que ela retira seu consolo
da visão do objetivo que ela se esforça em atingir.” Do mesmo modo, santo
Eznik, após haver descrito como a preguiça
preguiça é um obstáculo
o bstáculo à oração e recusado
recusado
certos erros
erros sobre
sob re a maneira
manei ra de fazer renascer o ardor pela prece,prece, conclui
claramente: “Se não estamos prontos a desejar o silêncio do coração por
nenhuma outra razão, que seja no mínimo pela delícia que a alma experimenta
e pela felicidade que ela traz.”

Vemos assim que este sábio apresenta o sentimento de felicidade como um


encorajamento à oração assídua; e Macário o Grande, do mesmo modo, ensina
que nossos
nosso s esforços espirituais (na oração) devem
devem ser cumpridos com o desígnio
d esígnio
de obter seus frutos – ou seja, a felicidade do coração.
coração. Podemos encontrar
en contrar
exemplos claros deste método em numerosas passagens da Filocali
 Filocaliaa que
descrevem
descrev em em detalhe
detal he as delícias da oraç
o ração.
ão. Quem está às voltas
vol tas com a preguiça
ou a secura devem lê-las tantas vezes quanto possível, ao mesmo tempo em que
se considera indigno desta alegria e se repreende por ser tão negligente na
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prece.

O sacerdote: Será
sacerdote:  Será que tal meditação não levará uma pessoa inexperiente à
 volúpia espiritual, como os teólogos denominam
den ominam esta tendência da alma ávida
por consolações excessivas
excessivas e agrados, e a não
n ão aceitar cumprir
cumprir seus trabalhos
trabalh os
como uma obrigação despojada, sem sonhar com recompensas?

O
ouprofessor: Parece-me
professor:
a avidez da Parece-me que os teólogos,
fruição espiritual, neste caso,
mas não rejeitam de alertam contra
mo do algum
modo o excesso
a alegria ea
consolação da virtude. Pois se o desejo
d esejo de recompensa não n ão é a perfeição,
perfeição,
tampouco Deus proíbe ao homem de pensar na felicidade e na consolação, e ele
próprio utiliza a ideia de recompensa para incitar os homens a cumprir os
mandamentos
mandamen tos e alcançar a perfeição.
perfeição. Honre a seu pai
pa i e à sua mãe – este é o
mandamento,
mandamen to, e você verá que a recompensa
recompensa chega, como o chicote da
obediência: e você estará bem. Se você quiser ser perfeito, vá, venda tudo o que você
possui, venha e siga-me. É isto que a perfe
perfeição
ição exige, e logo após virá a
recompensa, como motivação para alcançar a perfeição: e você terá um tesouro
nos céus.
céus . Bem-aventurado você será quando
qua ndo os home
homens
ns o odiarem
odiarem,, o perseguirem,
perseguirem,
ultrajarem e rejeitarem seu nome como infame por causa do Filho do homem . [43 [ 43] ] ”
Isto é o que exige o cumprimento
cumprimento do trabalho
trabalh o espiritual: ele pressupõe uma força
força
de alma pouco comum e uma paciência inquebrantável. E é por isso que a
recompensa e a consolação são grandes, próprias para suscitar e manter esta
força da alma; pois sua recompensa será grande nos céus . Creio assim que um
certo desejo de plenitude
pleni tude na prece do coração
coração é necessário e constitui
provavelmente o meio de d e alcançar tanto a diligência quanto o resultado. De
sorte que isto confirma indubitavelmente os ensinamentos práticos que
ouvimos a respeito.

O monge: Um
monge:  Um verdadeiro teólogo – estou falando de são Macário
Macário do Egito –
escrevee da maneira
escrev manei ra mais clara sobre esta questão. Ele diz: “Quando você planta
uma vinha, você consagra a ela seus pensamentos e suas penas com o objetivo
de colher a produção, ou, caso não o faça, todo o seu trabalho terá sido inútil. O
mesmo acontece com a oração: se você não buscar o fruto intelectual – ou o u seja, o
amor, a paz, a felicidade e o resto
resto - suas penas terão sido inúteis. É por isso que
devemos sempre cumprir com nossosno ssos deveres espirituais (a oração)
oração) com o
objetivo
objeti vo e a esperança de colhermos seus frutos, que são o reconforto e a alegria
do coração.” Vejam como o santo Padre responde claramente à nossa questão
sobre a necessidade da alegria
al egria na oração! E,
E, de fato, vem-me ao espírito um
ponto de vista que li em um autor espiritual, não faz muito tempo. Ele dizia algo
assim: “O fato de que a prece
prece é natural ao homem
h omem é a primeira causa de sua
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inclin ação para


inclinação para ela.” O exame desta característica
característica natural, no meu
entendimento, pode servir como um poderoso meio de estimular o esforço na
oração, meio que o professor busca tão ardentemente.

Permita-me resumir brevemente os pontos que ressaltei em minha leitura. Por


exemplo, o autor diz que a razão e a natureza conduzem o homem ao
conhecimento de Deus. A primeira verifica
verifica o axioma segundo o qual não
n ão pode

haver
à maisação sem chega
elevada, causa,àe,Causa
subindo pela escada
primeira, Deus.das coisas sensíveis
A segunda daamais
man ifesta
manifesta cada baixa
passo
as maravilhas de uma sabedoria, de uma harmonia, de uma ordem, e torna-se
assim o ponto de apoio da escada que conduz das coisas finitas ao infinito. De
sorte que o homem natural chega naturalmente ao conhecimento de Deus. É por
isso que não existe nem jamais existiu povo ou tribo bárbara que fosse
totalmente desprovido do conhecimento de Deus. Através deste conhecimento,
o homem mais selvagem, sem nenhum impulso exterior, volta por assim dizer
sua atenção involuntariamente para o céu, cai de joelhos, solta um grande
suspiro que ele não compreende, e tem o sentimento evidente de que existe algo
que o atrai para o alto, algo que o empurra para o desconhecido. Este é o
fundamento de todas as religiões naturais.

É característic
característico,o, a propósito,
propósit o, que universalmente
uni versalmente a essência ou a alma
alm a de todas
as religiões consista
consi sta na prec
precee secreta, que se manifesta
man ifesta por uma certa forma de
atividade do espírito e como uma evidente oblação, ainda que mais ou menos
deformada pelo obscurantismo em que se encontra a inteligência dos povos
pagãos. Quanto mais este fato é surpreendente aos olhos da razão, mais é
importante para nós nó s descobrirmos a causa oculta
oculta desta coisa maravilhosa
maravilh osa que se
expressa por uma tendência natural
n atural à oração. A resposta psicológica
psicológica para isto
não é difícil
d ifícil de encontrar. A raiz e a força
força de todas as paixões
pai xões e ações humanas
são o amor inato do ser. O instinto de conservação profundamente enraizado e
universal confirma-o. Todo desejo humano, toda empresa humana, toda ação
tem como objetivo a satisfação do amor de ser, a busca do homem por sua
plenitude. A satisfação desta necessidade acompanha o homem natural por toda
a sua vida. Mas o espírito humano não se contenta apenas com o que satisfaz
seus sentidos, e o amor inato de ser não se detém jamais. E o desejo se
desenvolve sempre primeiro, o esforço para atingir a plenitude aumenta, enche
a imaginação e empurra o sentimento para um outro fim. O impulso deste
sentimento e deste desejo interior, na medida em que se desenvolve, é o
estimulante natural da oração. É a própria
própria exigência do amor de ser quando se
amplifica até o infinito. Quanto menos o homem natural consegue alcançar a
felicidade, mais a persegue, mais aumenta seu desejo, e mais ele encontra na
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prece a saída para este desejo. Ele recorre a ela para pedir aquilo que ele deseja
prece desej a à
Causa desconhecida de tudo o que existe. Assim, este amor inato de ser,
elemento principal da vida, é, mesmo no homem natural, o estimulante da
oração. O infinitamente sábio Criador de todas as coisas dotou a natureza do
homem de uma aptidão para o amor de ser, precisamente como uma
“solicitaç
“soli citação”,
ão”, para usarmos uma expressão
expressão dos Padres,
P adres, que elevará o ser
humano decaído até o contato com as coisas celestes. Ah! Se o homem não

tivesse degradado
excelência,
exc elência, segundo esta
suaaptidão,
vocaçãosecom
vocação ele sua
ao menos a tivesse
n atureza
natureza guardado
espiritual! em suadispor
Ele poderia
de um meio efic
eficaz
az para conduzi-lo sobre
sob re o caminho da perfeição
perfeição espiritual. Mas,
Mas,
enfim!, muitas vezes ele transforma esta nobre aptidão em paixão egoísta
quando a torna apenas o instrumento de sua natureza animal.

O estaroste: Eu
estaroste:  Eu os agradeço do fundo do meu coração,
coração, caros visitantes.
visitan tes. Sua
conversa salutar foi para mim um grande consolo e ensinou-me, em minha
inexperiência, muitas coisas proveitosas. Que Deus lhes traga a graça
graça em
pagamento pelo seu amor.

SÉTIMO
SÉTI MO RELAT O

O peregri
peregrino:
no: Meu
 Meu piedoso
piedoso amigo
ami go professor
professor e eu não podemos
pod emos resistir ao desejo
desej o
de começarmos nossa viagem e, antes de mais nada, viermos fazer-lhe uma
curta visita para nos despedirmos e pedir-lhe que ore por nós.

O professor: Sim,
professor:  Sim, nosso encontro foi um grande bem para todos nós, assim
como os entretenimentos espirituais dos quais nos beneficiamos em companhia
de todos os
o s amigos. Guardaremos
Guardaremos em nossos
n ossos corações a lembrança de tudo isto
como uma garantia de amizade e amor cristão, no distante país para onde
 vamos.

O estaroste: Eu
estaroste:  Eu os agradeço
agradeço por terem pensado em mim. E, justamente,
justamen te, vocês
chegaram em boa hora. Estou aqui com dois viajantes, um monge moldavo e um
eremita que viveu no silêncio
sil êncio da floresta por vinte e cinco anos.
an os. Eles querem vê-
los. Vou chamá-los.

O peregri
peregrino:
no: Ah!
 Ah! Como é uma bênção a vida solitária!
soli tária! E como
como ela convém para
levar a alma à união constante com Deus! A floresta silenciosa é como um
jardim do
d o Éden aonde
aon de a árvore da vida cresce no coração
coração do rec
recluso.
luso. Se eu
pudesse, nada, cre
creio
io eu, me
m e impediria de praticar a vida eremítica.
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professor:  Vistas de longe, todas as coisas nos parecem desejáveis. Mas nós
O professor: Vistas
aprendemos pela experiência que toda situação, malgrado suas vantagens,
possui também seus inconvenientes. Certamente, para quem é melancólico por
temperamento e inclinado ao silêncio, a vida solitária é um alívio. Mas quantos
perigos existem nesta via! A história
h istória da vida ascétic
ascéticaa fornece muitos exemplos
que mostram que numerosos reclusos e eremitas, que se separaram
completamente da sociedade humana, foram vítimas de ilusões e de graves

seduções.
O eremita: Estou
eremita:  Estou surpreso de ouvir dizer com tanta frequência,
frequência, tanto
tan to na Rússia
como nos mosteiros e mesmo entre leigos tementes de Deus, que muitos
daqueles que desejaram a vida eremítica ou a prática da oração
oração interior
in terior foram
desviados desta inclinação por causa do temor das seduções. Insistindo nisto,
renunciamos um pouco apressadamente à vida interior
in terior e afastamos os outros.
No meu entendimento, isto provém de duas causas: seja pela falta de
compreensão da tarefa a cumprir
cumprir e de uma certa
certa luz espiritual, seja por nossa
n ossa
própria indiferença quanto ao cumprimento contemplativo e o temor ciumento
de que outros, que julgamos em um nível inferior, nos ultrapassem neste
conhecimento superior. É lamentável que aqueles que têm esta convicção
convicção não
estudem o ensinamento dos santos Padres nesta matéria. Os Padres, com efeito,
ensinam com ênfase que nada devemos temer nem duvidar quando invocamos a
Deus. Se alguns foram realmente
realmente vítimas de ilusão,
i lusão, a causa foi o orgulho ou o
fato de não terem um pai espiritual ou ainda
ain da por tomarem as aparências e a
imaginação como realidade. Os Padres sublinham que, quando surge um período
de provas como estas, ele deve conduzir a uma experiência mais consciente e à
coroa da glória, pois Deus vem prontamente em auxílio quando ele permite tais
coisas. Seja corajoso. Eu estou com vocês, nada temam, diz Jesus Cristo.
nad a temam

É por isso que é inútil


in útil temer e alarmar-se pela prece interior sob o pretexto de
correr
correr o risco da ilusão. Pois uma humilde
humild e consciência dos pecados, a
sinceridade da alma para com o pai espiritual e a ausência de imagens durante a
oração constituem
constituem uma forte e segura defesa
defesa contra estas ilusões,
il usões, das quais
alguns têm tamanho pavor que não ousam se aventurar na atividade espiritual.
De resto, estas pessoas encontram-se elas mesmas expostas à tentação, como
no-lo dizem as sábias palavras de Filoteu o Sinaíta: “Existem muitos monges,
diz ele, que não compreendem sua própria ilusão mental e afirmam que estão
nas mãos dos demônios – vale dizer, que eles só se consagram a um tipo de
atividade: as boas obras exteriores. Quanto à atividade espiritual, ou seja a
contemplação interior, eles quase não se preocupam com isto, por serem
ignorantes e não esclarecidos sobre este ponto.” “Se por um acaso eles ouvem
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outros dizerem que a graça os transformou interiormente, por inveja eles só


conseguem ver aí a ilusão”, diz também Gregório o Sinaíta.

O professor: Permitam-m
professor:  Permitam-mee colocar uma
uma questão. Certamente,
Certamente, a consciência do
pecado advém a qualquer um que esteja atento a si mesmo.
mesmo . Mas
Mas como proceder
quando não dispomos de um pai espiritual capaz de nos guiar a partir de sua
própria experiência sobre o caminho da vida interior e, quando lhe abrimos o

coraç
coração,
ão, nos
n osNeste
espiritual? comunicar um dúvida
caso, sem conhecimento exatonão
seria melhor e digno de fé sobre
se engajar na a vida
contemplação, ao invés de tentar a experiência por seus próprios meios, sem um
guia? Ademais, de minha parte, é difícil compreender como é possível, se
estamos em presença de Deus, observar uma completa ausência de imagens. Não
é natural, pois nossa alma ou nosso mental não conseguem se representar algo
sem forma, um vazio absoluto. E porque verdadeiramente, quando a alma está
imersa em Deus, não deveríamos nós nos representarmos Jesus Cristo ou a
Santíssima Trindade, e assim por diante?

O eremita: Os
eremita:  Os conselhos de um pai espiritual ou de um estaroste experiente nas
coisas espirituais, a quem
q uem podemos abrir o coração diariamente sem reservas,
com confiança e proveito, e dizermos nossos pensamentos e tudo o que
encontramos no n o terreno da educação
educação interior,
int erior, são ao condição
condi ção primeira para
praticar a prece
prece do coração
coração quando estamos engajados na via do silêncio.
Entretanto, nos casos em que não é possível encontrar um guia, os santos que o
prescrevem abrem uma exceção. Nicéforo o Monge dá a respeito indicações
precisas:
prec isas: assim, “durante a prática da atividade interior
in terior do coração,
coração, é preciso um
pai espiritual autêntico e experiente. Se você não conhece
conh ece um, é preciso
preciso
procurá-lo diligentemente. Mas se ainda assim você não o encontrar, então,
implorando com contrição a assistência de Deus, busque instruções e conselhos
nos ensinamentos dos santos Padres e verifique-os pela Palavra de Deus exposta
nas Escrituras.”
Escrituras.” É preciso lembrar
lemb rar também que aquele que proc procura
ura com boa
 vontade e cheio de zelo pode obter lições úteis da parte de pessoas comuns. Pois
os santos
santo s Padres nos
n os asseguram que, se perguntarmos até a um Sarraceno, com
fé e intenção reta, ele pode nos dizer palavras aproveitáveis.
aproveitáveis. Se ao contrário
pedimos conselho a um Profeta, mas sem fé e sem intenção reta, nem mesmo
ele poderá nos satisfazer. Vemos um exemplo disto na hist história
ória de Macário
Macário o
Grande do Egito, a quem um dia um simples
si mples camponês deu uma explicação
explicação que
pôs fim à sua angústia.

No que concerne a ausência de formas – ou seja, o fato de não utilizarmos a


imaginação e não aceitarmos visões durante a contemplação, seja de uma luz,
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um anjo, do Cristo ou de não importa qual santo, e de nos desviarmos destas


fantasmagorias – isto, bem entendido, é prescrito por Padres experientes, pela
seguinte razão: o poder da imaginação pode facilmente encarnar as
representações mentais, ou por assim dizer dar-lhes vida, de modo que pessoas
inexperientes poderiam ser facilmente atraídas por estas ficç
ficções,
ões, tomá-las
tomá-l as como
 visões da graça,
graça, e assim cair na ilusão,
il usão, apesar das advertências
advertências da Escritura
Escritura santa
que diz que o próprio Satã pode tomar a forma de um anjo de luz.

Que o espírito possa


poss a com naturalidade e facilmente chegar a um estado de
ausência de imagens e nele
n ele manter-se, enquanto rec
recorda
orda a presença de Deus,
 vemo-lo bem porque o poder da imaginação pode apresentar uma coisa coisa de modo
perceptível
perc eptível neste vazio e dar consistência a esta representação. Assim, por
exemplo, a representação da alma, do ar, do calor ou do frio. Quando você sente
frio, você pode compor mentalmente uma ideiai deia viva do calor, embora o calor
não tenha contornos, não possa ser objeto de visão e não possa ser medido pela
sensação física daquele que está exposto ao frio. Também da mesma forma a
presença espiritual e incompreensível de Deus pode ser conhecida
conh ecida pelo espírito
e identifica
identi ficada
da no coraç
coração
ão em um absoluto
abso luto vazio de formas.

O peregri
peregrino:
no: Nas
 Nas minhas viagens, eu encontrei muitas pessoas piedosas que
buscavam a salvação,
salvação, e que me disseram temer a vida interior,
in terior, que elas
denunciavam como pura ilusão. Para muitos deles eu li, l i, com algum proveito, os
ensinamentos de são Gregório o Sinaíta na Filocali
 Filocaliaa. Ele diz que a “ação do
coração
coraç ão não pode ser uma ilusão (contrariamente à do espírito), pois se o
inimigo
ini migo quisesse transformar
tran sformar o calor do coração
coração em seu próprio fogo
descontrolado, ou o u substituir a felicidade do coração
coração pelos mornos
mo rnos prazeres dos
sentidos, o tempo, a experiência e o próprio sentimento desmascarariam o
truque e a mentira, mesmo para aqueles ainda não muito instruídos.” Ocorreu-
me encontrar outros que, para grande infelicidade, após haver conhecido a via
do silêncio
sil êncio e da prec
precee do coração, foram atropelados por qualquer obstáculo ou
pela preguiça
preguiça pecaminosa, ceder
cederam
am ao desencorajamento
d esencorajamento e renunciaram à
atividade interior do coração que haviam conhecido.

O professor: Sim,
professor:  Sim, e é muito natural. Eu mesmo experimentei isto em certas
ocasiões, quando perdi meu equilíbrio interior ou cometi alguma falta. Pois, a
partir do momento
momen to em que a prece interior é algo sagrado, uma união com Deus,Deus,
não seria
s eria sacrílego, e uma audácia a evitar, levar uma coisa santa
san ta a um coraç
coração
ão
envilecido pelo pecado, sem tê-lo antes purificado com uma penitência e uma
contrição silenciosas, sem uma preparação
preparação convenien
conveniente
te para retornar a Deus?
Deus? É
melhor
melh or estar mudo diante de Deus do que oferecer-lhe
oferecer-lhe palavras negligentes de
de
 precede
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um coração
coração que está mergu
m ergulhado
lhado nas trevas e na
n a confusão.

O monge: É
monge:  É um grande erro pensar assim. Trata-se do desencorajamento, ou
seja do pior de todos os pecados e a principal arma do mundo das trevas contra
nós. O ensinamento dos Padres experientes é, a respeito, totalmente diferente.
Nicetas Stétatos diz que, mesmo se tiver sucumbido e enterrado nas
profundezas diabólicas do mal, ainda assim você não deve desesperar, mas

 voltar-se
ão e depressa
coração
coraç para Deus
lh e dará mais
lhe D eusa edoele
força
forç lheantes.
q ue
que deteráDepois
prontamen
prontamentete queda
de cada a queda de cada
e de seu ferida
do coração
coração pelo pecado, é preciso colocar imediatamente o coraç coração
ão na presença
de Deus para que ele o cur
curee e purifique, exatamente como as coisas que foram
infectadas perdem sua virulência quando expostas por algum tempo ao poder
dos raios solares.

Muitos autores espirituais exprimem-se de modo formal sobre este conflito


interior com os inimigos da salvação, nossas paixões. Você será mil vezes
abençoado se de modo algum abandonar a atividade que dá a vida e que é a
invocação de Jesus
Jesus Cristo presente no coraç
coração.
ão. Nossos pecados, não
n ão só não
n ão
deveriam nos desviar de caminhar
caminh ar na presença de Deus e de
d e cumprir a prece
prece
interior, pois do contrário só nos restaria a inquietude, o desencorajamento e a
tristeza, como deveriam ao contrário nos
n os voltar ainda
ain da mais para Deus. A criança
criança
que começa a caminh
caminhar
ar guiada por sua mãe volta-se para ela e se agarra
fortemente a ela quando dá um passo em falso.

O eremita: De
eremita:  De minha parte, considero que o estado de desencorajamento, os
pensamentos que inquietam, as dúvidas, são todos despertados facilmente pela
distração mental e pela incapacidade de preservar o silêncio de nosso ser
interior. Em sua divina sabedoria, os Padres de antanho reportaram a vitória
sobre o desencorajamento e rec
receberam
eberam a iluminação
il uminação e a força pela esperança
inquebrantável em Deus, pelo silêncio e a solidão, e nos deram este sábio e
precioso conselho: “Sente-se em silêncio em sua cela e ela lhe ensinará tudo.”

O professor: Eu
professor:  Eu tenho
tenh o tanta confiança em vocês que ficarei
ficarei feliz em escutar sua
sua
crítica sobre meus pensamentos a respeito do silêncio,
silên cio, que vocês louvam com
eloquência, e sobre as benesses da vida solitária que os eremitas tanto apreciam.
Eis o que eu penso. Uma vez que todos os homens, pela lei da natureza dada
pelo Criador, estão colocados em necessária dependência uns dos outros e
devem desde cedo cooperar pela vida afora, trabalhar unsun s para os outros e
darem-se serviços mutuamente, esta sociabilidade contribui ao bem estar da
raça humana e manifesta
mani festa o amor pelo próximo. Mas
Mas o eremita silencioso
sil encioso que se
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retirou da sociedade humana, de que maneira pode ele, em sua inatividade,


servir ao próximo, e que contribuição pode ele trazer para o bem estar da
sociedade humana? Ele destrói por completo em si mesmo esta lei do Criador
que exige a união da humanidade no amor e a ação benfeitora tendo em vista
uma fraternidade universal.

O eremita: Você
eremita:  Você possui uma falsa concepção
concepção do silêncio,
sil êncio, e as conclusões a que

 você
homem chega
chega
quenão
vivesão
nojustas.
j silêncio
ustas. Vejamos isto em
e na solidão nãodetalhe.
detalh e. Emnão
somente primeiro
primeiro
vive nalugar:
inaçãoo e no
ócio, mas ele é ativo no mais alto grau, mais ainda do que quem toma parte na
 vida em sociedade. Ele
Ele age incansavelmente conforme os mais altos graus de sua
inteligência; ele vela, ele medita; ele concentra sua atenção sobre o estado do
progresso
progre sso de sua alma. Este é o verdadeiro objetivo
obj etivo do seu silêncio.
sil êncio. E na medida
em que esta atitude favorece
favorece seu próprio aperfeiçoamento,
aperfeiçoamento, ela é proveitosa
também para aqueles que não podem praticar a concentração
concentração interior
in terior para
desenvolver a vida de sua alma. Pois
P ois aquele que vela em silêncio
si lêncio e que comunica
suas experiências interiores, seja em palavras, seja consignando-as por escrito,
ajuda ao bem espiritual e à salvação dos seus irmãos. Ele faz mais, e sobre um
plano mais elevado, do que o simples benfeitor, pois a simples caridade
sentimental, no mundo, é sempre limitada pelo pequeno número de
benfeitorias feitas, enquanto que quem traz as benfeitorias por ter
experimentado interiormente meios convincentes de cumprimento espiritual
torna-se o benfeitor de nações inteiras. Sua experiência e seu ensinamento se
transmitem de geração em geração, como podemos ver, e nos dias de hoje ainda
tiramos proveito dos tempos antigos. E isto em nada difere
difere do amor cristão e
inclusive o ultrapassa nas suas consequências.

Em segundo lugar: a preciosa


preciosa e benéfica influência sobre seu próximo exercida
exercida
pelo homem que observa o silêncio não se manifesta apenas pela comunicação
de suas observações sobre a vida interior, mas também pelo exemplo e pela
irradiação de sua vida que pode despertar o profano
profano para o conhecimento
conh ecimento de si
mesmo e provocar nele um sentimento de veneração. O homem que vive no
mundo e que
q ue ouve falar
falar de um recluso piedoso, ou que
q ue passa diante da porta de
seu eremitério, sente um apelo à vida espiritual, lembra-se daquilo que o
homem pode vir a ser sobre a Terra, e que lhe é possível retornar a este estado
contemplativo original do qual ele saiu pelas mãos do Criador. O silencioso
ensinaa com seu silêncio, e por sua própria vida ele faz o bem, edifica e convence
ensin convence
a buscar a Deus.

Santo Isaac o Sírio exalta assim a importância do silêncio: “Se colocarmos de um


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lado as ações desta vida e de outro o silêncio, veremos que este último
desequilibra a balança para o seu lado; não tome como iguais aqueles que
desempenham prodígios e milagres no mundo e aqueles que guardam o silêncio
com todo o saber. Amem o silêncio mais do que saciar as pessoas ávidas por este
mundo. Mais vale vocês
vocês se livrarem dos laços do pecado do que libertar
l ibertar os
escravos
escrav os de sua servidão.” Mesmo
Mesmo os sábios estrangeiros reconheceram o valor
do silêncio.
sil êncio. A escola filosófica dos neoplatônicos,
neoplatôni cos, que agregou
agregou diversos

aderentes sob a direção


desenvolvimento da vidadocontemplativa,
filósofo Plotino, colocouespecialmente
acessível em alto grau opelo silêncio.
Um autor espiritual disse que ainda que um Estado atingisse o mais alto grau de
aperfeiçoamento
aperfe içoamento dos costumes e da educação,
educação, ainda
ain da assim seria preciso
encontrar homens para a contemplação, independentemente das atividades
habituais
habi tuais dos cidadãos, para que seja preservado
preservado o Espírito de
d e verdade e para
que este, recebido dos séculos anteriores, possa ser transmitido às gerações do
futuro.
futur o. Estes homens,
homen s, na
n a Igreja,
Igreja, são os
o s eremitas, os rec
reclusos
lusos e os anacor
an acoretas.
etas.

O peregri
peregrino:
no: Creio
 Creio que ninguém
nin guém celebrou
celebrou a virtude do silêncio
silên cio com mais justiça
do que são João da Escada: “O silêncio, diz ele, é mãe da prece, o retorno do
cativeiro do pecado, o avanço invisível para a virtude, uma ascensão contínua
contí nua
para o céu.”
céu.” Sim,
S im, e o próprio Jesus, para nos mostrar
mo strar a vantagem e a necessidade
da reclusão e do silêncio,
si lêncio, deixava frequentemente
frequentemente a pregação
pregação pública e se dirigia
a locais solitários
solit ários para aí orar e repousar. Aqueles que contemplam
silenciosamente
silenciosamen te são como os pilares
pil ares que sustentam a Igreja com sua prece
prece
secreta e contínua. Desde o mais longínquo passado, vemos que muitos leigos
fervorosos, e mesmo reis e cortesãos, visitaram os eremitas e os homens que
observavam o silêncio
silên cio para lhes pedir suas orações a fim de serem fortificados e
salvos. Assim, o recluso silencioso pode servir a seu próximo e agir para o bem e
a felicidade da sociedade orando à parte.

O professor: Eis
professor:  Eis de novo uma ideia que eu tenho dificuldade em compreender.
É um costume disseminado entre todos os cristãos pedir orações uns aos outros,
querer que outro reze por mim, e ter uma confiança particular em um
determinado membro
m embro da Igreja. Isto
Isto não é um pedido feito por amor a si
mesmo? Não será simplesmente que adquirimos o hábito de repetir o que
ouvimos os outros dizerem, uma espécie de fantasia sem nenhum fundamento
sério? Será
S erá que Deus
Deus precisa da intercessão de homens,
homen s, ele que
q ue prevê tudo
tudo e que
age segundo sua santíssima providência e não segundo nosso desejo,
conhecendo e decidindo tudo antes que peçamos, como diz o santo Evangelho?
Será possível que a oração de muitos seja
s eja mais poderosa para trazer-nos
trazer-nos suas
decisões do que a de uma só pessoa? Neste caso, Deus faria
faria acepção
acepção de pessoas.
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Será possível que as oraç


o rações
ões de outro possam mem e salvar, quando cada um de nós
n ós
deve ser louvado ou culpado a partir de seus próprios atos? Eis porque pedir
orações a outra pessoa consiste simplesmente, no meu entendimento, numa
piedosa manifestaçã
man ifestaçãoo de cortesia espiritual que traz as marcas da humildade
humil dade e o
desejo de agra
agradar
dar por uma solicitação mútua, mas isto é tudo.

O monge: Se só levarmos em conta as considerações exteriores, com uma

filosofia rudimentar,
santificado l uz dapodemos
pela luz podem os vere aprofundado
revelação as coisas
aprofu assim.
ndado Masexperiências
pelas o julgamentodaespiritual,
vida
interior, vai muito além, discerne do modo mais profundo e revela
misteriosamente algo de muito distinto daquilo que você expôs. Para que
possamos compreender isto mais depressa e mais claramente, tomemos um
exemplo, e verificaremos a seguir sua exatidão conforme a Palavra de Deus.

Digamos que um aluno venha


venh a a um professor para se instruir. Suas poucas
poucas
capacidades,
capac idades, e mais ainda sua preguiça
preguiça e sua falta de concentração o impediram
de ter sucesso nos estudos, e ele foi colocado na categoria dos preguiçosos,
preguiçosos,
daqueles que não obtêm nenhum resultado. Afetado pelos fracassos, ele não
sabe o que fazer, nem como lutar contra seus defeitos. Ele Ele encontra então um
outro aluno, colega de classe, mais dotado, diligente e bem sucedido, e lhe
expõe suas preocupações.
preocupações. O outro se interessa
int eressa por ele e propõe trabalharem
trabalh arem
juntos. “Trabalhemos juntos, diz ele, e seremos mais zelosos, mais felizes e
obteremos mais sucesso.” E eles se põem a estudar juntos, cada qual ensinando
ao outro aquilo que melhor compreendia. Eles tinham o mesmo trabalho. O que
acontecerá depois de algum tempo? O indiferente torna-se diligente; ele começa
a gostar do seu trabalho, sua negligência transmuda-se em ardor, sua
inteligência se abre, o que exerce a melhor influência possível sobre sua vontade
e sua conduta. Quanto àquele que era o mais inteligente, ele se torna ainda mais
capaz e mais aplicado. Por esta influência
in fluência recíproca,
recíproca, eles obtiveram vantagens
mútuas. E é natural, porque o homem nasce em sociedade; é por intermédio dos
outros que ele desenvolve sua inteligência,
in teligência, melhora
melh ora sua conduta, sua educação,
educação,
sua vontade; em uma palavra, ele recebe tudo da comunhão com seus
semelhantes.

Assim, como a vida dos homens consiste em relações estreitas e em fortes


influências de uns sobre outros, quem vive com uma certa classe de pessoas
participa de seus hábitos, sua conduta e seus costumes. Os homens frios
tornam-se entusiastas, os estúpidos refinam-se, os preguiçosos são arrastados à
atividade pelo vivo interesse
i nteresse que eles recebem do grupo. O espírito pode se
aplicar ao espírito, agir favoravelmente
favoravelmente sobre um outro, atrair para a prece e a
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atenção. Ele pode confortar


confortar no desencorajamento,
desen corajamento, afastar do vício, despertar a
santidade. É assim que, ajudando-se mutuamente, os homens se tornam mais
fervorosos, mais ativos espiritualmente e mais humildes. Eis o segredo da oração
pelos outros, que
q ue explica o piedoso costume de rezar pelo próximo e de pedir
orações aos irmãos.

Isto permite ver, não que elas agradem a Deus como as demandas e intercessões

numerosas agradam aos grandes deste mundo, mas que a prece, por sua própria
essência e seu poder, purifica e eleva a alma daquele por quem ela é oferecida, e
a prepara à união com Deus. Se a oraçã
oraçãoo mútua daqueles que vivem sobre a terra
é tão benéfica
ben éfica,, podemos deduzir do mesmo modo que a prece para os
desaparecidos
desaparec idos é também
tamb ém mutuamente benéfic
ben éficaa em virtude dos laços estreitos
que unem o mundo
m undo celeste e o nosso.
n osso. É assim que as almas
alm as da Igreja
Igreja terrestre
podem unir-se às da Igreja celeste ou, o que é o mesmo, os vivos unirem-se aos
mortos na unidade da Igreja.

Tudo o que eu disse é uma argumentação


argumentação psicológica, mas basta abrir a santa
s anta
Escritura para verificar sua exatidão.

Assim, Jesus Cristo diz ao apóstolo Pedro: Eu rezei por você, para que sua fé não
sse. Vejam que a oração do Cristo, por seu poder, fortificou o espírito de são
 falhasse
 falha
Pedro e o encorajou quando sua fé foi posta à prova. Do mesmo modo, quando o
apóstolo Pedro
P edro estava na prisão, “a Igreja
Igreja orava a Deus sem cessar por ele.” ele.” Isto
nos revela o auxílio que a prec
precee fraterna traz em circunstân
circunstânciascias difíceis da vida.
Mas o preceito mais claro sobre a prece pelos outros é dado pelo apóstolo apóst olo Tiago:
Confessem seus pecados uns aosa os outros, e rezem uns pelo
p eloss outros. A oração
 fervorosa
 fervorosa e eficaz de um homem
homem vir
virtuoso
tuoso é uma
uma grande benesse [ [44
grand e benesse 44] ] .

Eis a clara confirmação


confirmação dos argu
argumentos
mentos psicológicos já expostos. E que dizer do
exemplo do apóstolo Paulo? Um autor observa que seu exemplo deveria nos
ensinar o quanto a prece mútua é necessária, pois até um asceta tão santo e
forte reconh
reconhecia
ecia ter necessidade desta ajuda espiritual.

Eis como ele formula seu pedido na Epístola aos Hebreus:


Heb reus: Orai por nós. Estamos
persuadidos
persuad idos de ter a consciência em paz, pois estamos decididos a procurar o bem
em tudo [ [45
45] ] . Quando consideramos, parec
parecee pouco razoável permanecermos

apenas compela
favorecido
favorecido nossas
graçpróprias
graça, orações,
a, pede, em enquanto
dade, um
sua humildade,
humil quehomem
as oraç tãodo
o rações
ões santo, tão – no
próximo no
caso, os Hebreus – se juntem às suas. É por isso que, pela humildade e a
comunhão do amor, não devemos rejeitar ou desdenhar o socorro das orações,
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mesmo do mais débil dos fiéis, quando o espírito iluminado do apóstolo Paulo
não manifestou a respeito nenhuma hesitação. Ele pede as orações de todos em
geral, sabendo que o poder de Deus se torna perfeito tanto na fraqueza quanto
no amor. Ele pode às vezes chegar à perfeição
perfeição nos
n os que parecem capazes de orar
apenas fracamente.
fracamente. Penetrados
Pen etrados pela força
força deste exemplo, lembraremos
l embraremos ainda
que a oração mútua fortalece
fortalece esta unidade
uni dade do amor cristão ordenado por Deus,
que ela testemunha a favor da humildade espiritual daquele que faz a demanda,

e que ela move, por assim dizer, o espírito do que ora. É isto que encoraja a
intercessão mútua.

O professor: Sua
professor:  Sua análise e suas provas são admiráveis e justas, mas seria
interessante que você nos desse a conhecer
conh ecer o método e a forma real da oração
pelos outros. Se a fecundidade desta prece resulta de um interesse vivo pelo
próximo e da influência constante daquele que ora sobre o espírito do que
solicitou a oração, este estado de alma não arrisc
arriscaa distrair da presença
ininterrupta de Deus e do derramamento da alma diante dele? Se pensamos em
nosso próximo uma ou duas vezes durante o dia, com compaixão e pedindo a
ajuda de Deus por ele, isto
is to não basta para influenciar e fortificar
fortificar sua alma? Eu
gostaria de saber exatamente como orar pelos demais.

O monge: A
monge:  A oração oferecida
oferecida a Deus por quem quer que seja não
n ão deve nem pode
nos afastar da presença de Deus, pois, se ela é oferecida a Deus,
Deus, e isto
i sto deve
evidentemente acontecer em em sua presença. Quanto ao método, é preciso
preciso
observar que o poder deste tipo de oração reside na verdadeira compaixão cristã
cristã
pelo próximo, e que ela age sobre sua alma na mesma medida desta compaixão.
Da mesma forma, quando nos acontece de nos lembrarmos do próximo, ou num
momento fixado para faze-lo, é bom introduzir sua presença na presença de
Deus, e oferecer
oferecer a oração nos seguintes
s eguintes termos: “Deus misericordioso, seja feita
sua vontade que quer que todos os homens sejam salvos e alcancem o
conhecimento da verdade: salve e socorra a alma do seu servidor N... Aceite
Aceite este
desejo que eu exprimo como um grito de amor, como foi ordenado.”

Normalmen te, você repetirá esta frase cada vez que sua alma experimente o
Normalmente,
desejo, ou você pode dize-la antes do terço. A experiência ensinou-me como ela
é proveitosa para aqueles por quem ela é oferecida.

O professor:s Suas
professor: Suas
pensamentos
pensamento concepções
concepç
que ela õessão
provoca e seus
taisargu
argumentos,
que mentos,
eu queroaguardar
conversa
guar edificante
dar tudo e os
na memória
como uma preciosidade, e expre
expressar
ssar toda a veneraç
veneração
ão e a gratidão de meu
coração agradecido.
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O peregri
peregrino:
no: Chegou
 Chegou a hora de partirmos. Do fundo do cora
coração
ção pedimos suas
orações pela nossa viagem e pela nossa amizade.

O estaroste: Então
estaroste:  Então que o Deus da paz, que no sangue da eterna aliança
ressuscitou
ressuscitou dos mortos o grande Pastor das ovelhas, Nosso
Nos so Senhor
Senh or Jesus,
Jesus, queira
dispô-los ao bem e lhes conceder que cumpram a sua vontade, realizando ele
próprio em vocês o que é agradável
agradável aos seus olhos,
olh os, por Jesus Cristo, a quem seja
s eja

dada a glória por toda a eternidade [ [46


46] ] . Amém.

[1] É notório que os Relato


 Relatoss ultrapassam todos os nacionalismos
religiosos para reencontrar os caminhos da espiritualidade ortodoxa do século
XIX, ou seja o contato com Athos através das terras romenas.

[2] Daí o exorc


exorcismo
ismo do anti-semi
anti-semitismo
tismo que contaminou a cristandade
russa no século XIX.

[3] Antiga medida de distância russa, corr


corresponden
espondente
te a 10
1067
67 metros.

[4] Startsi [plural de estaroste]: ancião, mestre espiritual que adquiriu o


discernimento dos espíritos e o dom da paternidade espiritual.

[5] São João Cássio

[6] O Alojamen
Alojamento
to das Grutas, aonde os santos monges eram enterrados.

[7] “Quando orardes, não faç


façais
ais como os hipócritas, que gostam de orar

de
Empé nas sinagogas
verdade e nasjáesquinas
eu vos digo: dassua
receberam
receberam ruas, para seremQuando
recompensa. vistos pelos
orares,homens.
en tra no
entra
teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num
lugar oculto, recompensar-te-á. Nas vossas orações, não multipliqueis as
palavras, como fazem os pagãos que julgam
j ulgam que serão ouvidos à forç
forçaa de
palavras. Não os imiteis, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que
 vós lho peçais.
peçais.”” (Mateus,
(Mateus, VI, 5-8).

[8] “Eis como deveis rezar: PAI NOSS


NOSSO,
O, que estais no céu
céu,, santificado
seja o vosso nome; venha a nós o vosso Reino; seja feita a vossa vontade, assim
na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje; perdoai-nos as
nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam; e não nos
deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal.” (M
(Mateus,
ateus, VI, 9-13).
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30/10/13 C aminho de Or ação: R elatos inéditos do Per egr ino R usso ( Anôni mo)

[9] “Porque,
“Po rque, se perdoardes aos homen
homenss as suas ofensas, vosso Pai celeste
também vos perdoará. Mas se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai
 vos perdoará.”
perdoará.” (Mateus,
(Mateus, VI, 14-15).
14-1 5).

[10 ]
[10] “Pedi,, e se vos dará; buscai, e achareis; batei, e vos será aberto.
“Pedi
Porque todo aquele que
q ue pede, recebe; quem
quem busca, acha; e a quem bate, abrir-
se-á.” (Mateus,
(Mateus, VII, 7-8)
7-8 )

[11 ]
[11] “Foram em seguida para o lugar chamado Getsêmani, e Jesus disse a
seus discípulos: Sentai-vos aqui, enquanto vou orar. Levou consigo Pedro, Tiago
e João; e começou
começou a ter pavor e a angustiar-se. Disse-lh
Disse-lhes:
es: A minha
minh a alma está
numa tristeza mortal; ficai aqui e vigiai. Adiantando-se alguns passos, prostrou-
se com a face por terra
terra e orava que, se fosse possível, passasse
passass e dele aquela hora.
h ora.
Aba! (Pai!), suplicava ele. Tudo te é possível;
possí vel; afasta de mim este cálice! Contudo,
não se faça o que eu quero, senão o que tu queres. Em Em seguida, foi ter com seus
discípulos e achou-os dormindo. Disse a Pedro: Simão, dormes? Não pudeste
 vigiar uma hora! Vigiai e orai, para que não entreis em tentação. Pois o espírito
está pronto, mas a carne é fraca.
fraca. Afastou-se
Afastou-se outra vez e orou, dizendo
dizen do as
mesmas palavras. Voltando, achou-os de novo dormindo, porque seus olhos
estavam pesados; e não sabiam o que lhe responder.” (Marcos, XIV, 32-39).

[12 ]
[12] “Em seguida, ele continuou: Se alguém de vós tiver um amigo e for
procurá-lo à meia-noite, e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, pois um
amigo meu acaba de chegar à minha casa, de uma viagem, e não tenho nada
para lhe oferecer;
oferecer; e se ele responder lá de
d e dentro: Não me
m e incomodes; a porta já
está fechada, meus filhos e eu estamos deitados; não posso levantar-me para te
dar os pães; eu vos digo: no caso de não
n ão se levantar para lhe
lh e dar os pães por ser
seu amigo, certamente por causa da sua importunação se levantará e lhe dará
quantos pães necessitar.
n ecessitar. E eu vos digo: pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis;
batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo
to do aquele que pede, recebe; aquele que procura,
procura,
acha; e ao que bater, se lhe abrirá. Se um filho pedir um pão, qual o pai entre vós
que lhe dará uma pedra? Se ele pedir um peixe, acaso lhe dará uma serpente? Ou
se lhe pedir um ovo, dar-lhe-á porventura um escorpião? Se vós, pois, sendo
maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celestial
dará o Espírito Santo aos que lho pedirem. (Lucas, XI, 5-13).

[13
[13]] sem“Propôs-l
sempre “Propôs-lhes
hes Jesus
jamais deixar uma parábola
de fazê-lo. para
Havia em cermostrar
ta cidadeque
certa umé juiz
necessário
n ãoorar
que não
temia a Deus, nem
n em respeitava pessoa alguma. Na mesma cidade vivia também
uma viúva que vinha com frequência à sua presença para
para dizer-lhe:
dizer-lh e: Faze-me
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justiça contra o meu adversário. Ele, porém, por muito tempo não o quis. Por
fim, refletiu consigo: Eu não temo a Deus nem respeito os homens; todavia,
porque esta viúva me importuna, far-lhe-ei justiça, senão ela não cessará de me
molestar. Prosseguiu o Senhor: Ouvis o que diz este juiz injusto? Por acaso não
fará Deus justiça aos seus escolhidos, que estão clamando por ele dia e noite?
Porventura tardará em socorr
s ocorrê-los?”
ê-los?” (Luc
(Lucas,
as, XVII
XVIII,
I, 1-7).
1-7 ).

[14 ]
[14] “Chegou, pois, a uma localidade da Samaria, chamada Sicar, junto
das terras que Jacó dera a seu filho José. Ali havia
h avia o poço de Jacó. E Jesus,
Jesus,
fatigado da viagem, sentou-se à beira
b eira do poço. Era
Era por volta do meio-dia.
m eio-dia. Veio
uma mulher da Samaria tirar água. Pediu-lhe Jesus: Dá-me de beber. (Pois os
discípulos tinham ido à cidade comprar mantimentos.) Aquela samaritana lhe
disse: Sendo tu judeu, como pedes de beber a mim, que sou samaritana!... (Pois
os judeus não
n ão se comunicavam com os samaritanos.) Respondeu-lhe Jesus: Se
conhecesses o dom de Deus, e quem é que te diz: Dá-me de beber, certamente
lhe pedirias tu mesma e ele
el e te daria uma água viva. A mulher lhe replicou:
Senhor, não tens com que tirá-la, e o poço é fundo... donde tens, pois, essa água
 viva? És, porventura, maior do que o nosso pai Jacó,
Jacó, que nos deu este poço, do
qual ele mesmo bebeu e também os seus filhos e os seus rebanhos? Respondeu-
lhe Jesus: Todo aquele que beber desta água tornará a ter sede, mas o que beber
da água que eu lhe der jamais
jamai s terá sede. Mas
Mas a água que eu lhe der virá a ser nele
fonte de água, que jorrará até a vida eterna. A mulher suplicou: Senhor, dá-me
desta água, para eu já não ter sede nem
n em vir aqui tirá-la! Disse-lhe
Disse-lh e Jesus: Vai,
chama teu marido e volta cá. A mulher respondeu: Não tenho marido. Disse
Jesus: Tens razão em dizer que não tens marido. Tiveste cinco maridos, e o que
agora tens não é teu. Nisto disseste a verdade. Senhor, disse-lhe a mulher, vejo
que és profeta!...
profeta!... Nossos pais adoraram neste monte,
m onte, mas vós dizeis
dizei s que é em
Jerusalém
Jerusalém que se deve adorar. Jesus
Jesus respondeu: Mulher,
Mulher, acre
acredita-me,
dita-me, vem a hora
h ora
em que não adorareis o Pai, nem neste monte nem em Jerusalém. Vós adorais o
que não conheceis, nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos
judeus. Mas
Mas vem a hora,
h ora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores hão de de
adorar o Pai em espírito e verdade, e são esses adoradores que o Pai deseja. Deus
é espírito, e os seus adoradores devem adorá-lo em espírito e verdade.” (João,(João,
IV, 5-25).

[15]]
[15 “Permanecei
“Perman ecei em mim e eu permanecer
permanecerei
ei em vós. O ramo não pode

dar fruto
podeis por si mesmo,
tampouco se não
dar fruto, permanecer
se não na videira.
permanecerdes AssimEutambém
em mim. vós: não
sou a videira; vós,
os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele,nel e, esse dá muito
m uito fruto; porque
porque sem
mim nada
n ada podeis fazer. Se alguém não permanecer em mim será lançado
lan çado fora,
fora,
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como o ramo. Ele secará


secará e hão de ajuntá-lo e lançá-lo ao fogo, e queimar-se-á.
q ueimar-se-á.
Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós,
pedireis tudo o que
q ue quiserdes e vos será feito. Nisto é glorificado meu Pai, para
que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos.” (João, XV, 4-8)

[16 ]
[16] “Naquele dia não me perg
perguntareis
untareis mais coisa alguma. Em verdade,
em verdade vos digo: o que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo dará. Até

agora não pedistes nada em meu nome. Pedi e recebereis, para que a vossa
alegria seja perfeita.”
perfeita.” (João, XVI, 23-24).
23 -24).

[17 ]
[17] “Mal acabav
acabavam
am de rezar, tremeu o lugar onde estavam reunidos. E
todos ficaram cheios do Espírito Santo e anunciaram com intrepidez a palavra
de Deus.” (Atos, IV, 31)

[18 ]
[18] “Alguém entre vós está triste? Reze! Está alegre? Cante. Está alguém
enfermo? Chame os sacerdotes da Igreja, e estes façam oração sobre ele,
ungindo-o com óleo em nome
nom e do Senhor.
Senh or. A oração
oração da fé salvará o enfermo
enfermo e o
Senh or o restabelecerá. Se ele cometeu pecados, ser-lhe-ão perdoados.
Senhor
Confessai os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros para serdes
curados.
curados. A oração
oração do justo tem grande
grande eficácia.”
eficácia.” (Tiago, V, 13-16.)
13-1 6.)

[19 ]
[19] “Mas vós, car
caríssimos,
íssimos, edificai-vos mutuamente sobre o fundamento
da vossa santíssima fé. Orai no Espírito Santo. Conservai-vos no amor de Deus,
aguardando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo, para a vida eterna.”
(Judas, 20-21); e “Outrossim, o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza; porque
não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito
mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis.” (Romanos, VIII, 26)

[20 ]
[20] “Intensifica
“Intensi ficaii as vossas invocações e súplicas. Orai em toda
circunstância, pelo Espírito, no qual perseverai em intensa vigília de súplica por
todos os cristãos.” (Efésios, VI, 18)

[21 ]
[21] “Não vos inquieteis com nada! Em todas as circ
circunstâncias
unstâncias apresentai
a Deus as vossas preocupações,
preocupações, mediante
m ediante a oraçã
oração,
o, as súplicas e a ação de
graças.
graç as. E a paz de Deus,
Deus, que excede
excede toda a inteligência,
intel igência, haverá de guardar
guardar
 vossos corações
corações e vossos pensamentos,
pensamen tos, em Cristo Jesus.” (Filipenses, IV, 6-7)
6 -7)

[22]]
[22 “Orai sem cessar
cessar.”
.” (I Tessaloni
Tessalonicenses,
censes, V, 17)

[23]]
[23 “Acima de tudo, recomendo que se faç
façam
am prec
preces,
es, oraç
orações,
ões, súplicas,
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ações de graças por todos os homens, pelos reis e por todos os que estão
constituídos em autoridade, para que possamos viver uma vida calma e
tranquila, com toda a piedade e honestidade. Isto é bom e agradável diante de
Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens se salvem e cheguem
ao conhecimento da verdade. Porque há um só Deus e há um só mediador entre
Deus e os homens:
hom ens: Jesus Cristo, homem
hom em que se entregou como resgate por todos.
Tal é o fato, atestado em seu tempo.” (I Timóteo, II, 1-5)

[24]]
[24 Cânticos da Ig
Igreja
reja Ortodoxa em louvor a Maria.

[25] Hebreus,
Hebreus, XI, 6.

[26] Tiago, II
II,, 10.

[27]]
[27 Romanos, II
III,
I, 20.

[28]]
[28 Romanos, VII
VII..

[29] Tiago,, IV
Tiago IV,, 20.

[30] I Cor
Coríntios,
íntios, XIV, 14.

[31]]
[31 Romanos, VII
VIII,
I, 26.

[32]]
[32 Hebreus, XIII
XIII,, 15
15..

[33]]
[33 Mateus, XVII
XVIII,
I, 3.

[34] João,, IV
João IV,, 4.

[35]]
[35 Mateus, XV, 8.

[36]]
[36 Mateus, VII
VII,, 21.

[37] I Cor
Coríntios,
íntios, XIV, 19.

[38]]
[38 I Timóteo, II
II,, 8.
[39] I Tessalonic
Tessalonicenses,
enses, V, 17.
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[40] Atos, II
II,, 21.

[41]]
[41 I João, IV, 4.

[42] Mateu
ateus,
s, XIV
XIV,, 14-31
14-31..

[43] Lucas,
Lucas, VI
VI,, 22.

[44] Tiago, V, 16.

[45]]
[45 Hebreus, XIII
XIII,, 18.

[46] Hebreus,
Hebreus, XII
XIII,
I, 20-21.

1. http://www.blogger.com/null

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