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RESUMO

Nesta pesquisa procuramos estabelecer a importância do sistema verbal do Grego bíblico como
um indicador de proeminência discursiva, procurando destacar a natureza aspectual dos verbos
em contraste com a tradicional visão de tempo e/ou Aktionsart, e como eles podem ser usados
dentro da análise do discurso. Analisamos a perspectiva de Stanley E. Porter e Jeffrey Reed,
demonstrando que ao contrário de uma única base subjetiva no estabelecimento de
proeminência discursiva, seus modelos linguísticos demonstram alta consistência estrutural e
providenciam uma profunda análise nas relações entre as formas semânticas e o discurso, em
como a proeminência nas clausulas colabora para outros níveis além da sentença, como
clausulas complexas, parágrafos, ou o discurso como um todo. Concluímos, através de análises
de textos bíblicos, que as mudanças de formas verbais em um determinado discurso assinalam
a perspectiva do autor de uma ação e os níveis de importância que ele atribui aos elementos do
texto.
Palavras chaves: Aspecto verbal. Proeminência. Relevos discursivos. Marcação linguística.
ABSTRACT

In this research we seek to establish the importance of the biblical Greek verbal system as an
indicator of discursive prominence, seeking to highlight the aspectual nature of the verbs in
contrast to the traditional view of timing and/or Aktionsart, and how they can be used within
the discourse analysis. We have analyzed the perspective of Stanley E. Porter and Jeffrey Reed,
demonstrating that instead of stablishing a single base on subjective discursive prominence,
their language models show high structural concreteness and provide a deep analysis on the
relationship between the semantic forms and discourse and how prominence in clauses
contributes to other levels beyond the sentence, as complex clauses, paragraphs, or discourse
as a whole. We conclude, through biblical texts analysis, the changes of verb forms in a given
discourse indicate the author's perspective of an action and the level of importance that the
author attributes to text elements.
Key words: Verbal aspect. Prominence. Grounding. Markedness.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10

1. O PRESENTE ESTADO DE PROEMINÊNCIA NO NT .......................................... 11

2. ASPECTO VERBAL...................................................................................................... 13
2.1 TERMINOLOGIAS, NUMECLATURAS E DENIFIÇÃO: .............................. 16
2.1.1 DEFINIÇÃO ......................................................................................................... 21
2.1.2 A LINGUÍSTICA SISTÊMICA FUNCIONAL: VISÃO GERAL ...................... 22
2.1.3 OUTROS MODELOS DE ASPECTO VERBAL NO NOVO TESTAMENTO . 34

3. ASPECTO VERBAL E PROEMINÊNCIA: ............................................................... 42


3.1 PROEMINÊNCIA E RELEVOS DISCURSIVOS .............................................. 45

4. JEFFREY T. REED, PROEMINÊNCIA E ASPECTO VERBAL ............................ 49

5. ANÁLISES BÍBLICAS: ................................................................................................. 51


5.1 LUCAS 17.11-19 ..................................................................................................... 51
5.2 MARCOS 4.35-41 ................................................................................................... 51
5.3 ROMANOS 5.1-11 .................................................................................................. 52
5.4 GÁLATAS 1.11-17.................................................................................................. 53
5.5 APOCALIPSE 5 ..................................................................................................... 54

6. CONCLUSÃO................................................................................................................. 57

7. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................ 60
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Modelo de estratificação da linguagem ................................................................... 25


Figura 2 - Relações contexto/linguagem, sistema/instância ..................................................... 26
Figura 3 - Instanciação dentro do contexto da linguagem ........................................................ 27
Figura 4 - Rede sistêmica verbal .............................................................................................. 28
Figura 5 - Relação forma/função .............................................................................................. 30
Figura 6 - Rede de aspectualidade do Grego ............................................................................ 31
Figura 7 - Relação de marcação na referencia de Pessoa ......................................................... 32
Figura 8 - Hierarquia de marcação na referência de Pessoa ..................................................... 32
10

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos aconteceram muitos desenvolvimentos dentro dos estudos do Grego do
Novo Testamento (doravante NT).1 A aplicação da linguística moderna trouxe para os campos
exegéticos muitos avanços, dentre outros, destacamos o sistema de casos2, conjunções3,
preposições4, particípios5 e o sistema verbal, que pode ser considerado como um dos principais
impactos nos estudos da língua grega do NT devido a teoria do aspecto verbal, que será
analisada adiante.
Entretanto, todos esses avanços gramaticais não podem ser vistos como isolados, mas
como um todo unificado para alcançar os objetivos exegéticos do texto. Contrária à tradição de
explication de texte (que procura apenas fazer algum comentário do texto),6 a análise do
discurso ou linguística textual procura unificar o todo das complexidades da comunicação, ou

1
Veja: PITTS, A.; PORTER, S. E. New Testament Greek Language and Linguistics in Recent Research. Currents
in Biblical Research 6, p.2 214-55. 2008. PITTS, A. The Language of the New Testament: An Introductory
Essay. In: PITTS, A.; PORTER, S. E (Coord.). The Language of the New Testament: Context, History, and
Development. Early Christianity and its Hellenistic World 2. Linguistic Biblical Studies. Leiden: Brill, 2013, p.1-
6. PORTER, S. E. Linguistic Analysis of the Greek New Testament: Studies in Tools, Methods, and Practice,
Grand Rapids: Baker, 2015, p.91-96.
2
PITTS, A.; PORTER, S. E. Greek Case in the Hellenistic and Byzantine Grammarians. In: PITTS, A.; PORTER,
S. E (Coord.), The Language of the New Testament: Context, History and Development Linguistic Biblical
Studies 4, Leiden: Brill, 2013, p.261-82. LOUW, J. P. Linguistic Theory and the Greek Case System, Acta
Classica v.9, p.73—88, 1966. DANOVE, Paul. A Grammatical and Exegetical Study of New Testament Verbs
of Transference: A Case Frame Guide to Interpretation and Translation. Library of New Testament Studies. T &
T Clark International, August 18, 2009. WONG, S.S. What Case is this Case? An Application of Semantic Case
in Biblical Exegesis. Jian Dao, A Journal of Bible & Theology, v.1:4973, 1994. Para uma reposta a Wong, veja:
PORTER, S. E. The Case for Case Revisited, Jian Dao v.6, 1996, p.13-28.
3
Dignos de serem mencionados aqui são: LEVINSOHN, S,H. Discourse Features of New Testament Greek: A
Coursebook on the Information Structure of New Testament Greek. Dallas: Summer Institute of Linguistics, 1992.
LEVINSOHN, S.H. Some Constraints on Discourse Development in the Pastoral Epistles. In: PORTER;
REED, J.T, (Coord). Discourse Analysis and the New Testament: Approaches and Results. Library of New
Testament Studies. Journal for the Study of the New Testament Supplement Series, 170. Sheffield, England:
Sheffield Academic Press, 1999, p. 316-333. RUNGE, Steven. Discourse Grammar of the Greek New
Testament: A Practical Introduction to Discourse Features for Teaching and Exegesis. Bellingham, WA: Logos
Research Systems. 2010. HECKERT, Jakob K. Discourse Functions of Conjoiners in the Pastoral Epistles.
Dallas: Summer Institute of Translated. 2d ed. Madison. 1996, p.111. THRALL, Margaret E. Greek Particles in
the New Testament: Linguistic and Exegetical Studies New Testament Toolsand Studies, Volume 3. Grand
Rapids, Mich: Wm. B. Eerdmans, 1962. PORTER, Stanley E.; O’Donnell, M.B. Conjunctions and Levels of
Discourse: Paper presented at the Symposium of the Linguistics Institute of Ancient and Biblical Greek.
Hamilton, ON, Canada, agosto 24-26, 2006. Disponível em:
<http://www.liabg.org/liabg/symposium2006/Proceedings.pdf>
4
LURAGHI, Silva. On the Meaning of Prepositions and Cases: The expression of semantic roles in Ancient
Greek. Studies in Language Companion Series. Amsterdan/Philadelphia, Benjamins, 2003.
5
ALBUQUERQUE, Roque N. Presupposition and [e] motion: The Upgraded Participle in The New testament.
2013. 342 f. Tese (Doutorado) - Curso de Filosofia, Central Baptist Theological Seminary, Minneapolis,
Minnesota, 2010.
6
MATTHIESSEN, C.M.I.M; SLADE. D in: WODAK, R, J; B, KERSWILL P, (Coord), The Sage handbook of
sociolinguistics. London: Sage. 2010, p.832.
11

seja, analisar um ato comunicativo através de descrições de cada camada linguística ou mesmo
categorias morfológicas, sintáticas, semânticas e lexicográficas, estudando assim, o discurso
como um todo (para usar um conceito do estruturalismo), Tout se tient.7
Nosso objetivo geral não é analisar como cada categoria ou sistema gramatical do Grego
é visto dentro da análise do discurso, mas analisar o seu principal sistema, os verbos (PORTER,
1989, p.8) e sua relação com uma área de extrema importância dentro da análise do discurso,
proeminência.
Diante disso, a relevância desse estudo se dá pela importância de determinar qual a ênfase
ou proeminência o autor está querendo fazer, sendo esse um assunto de muita importância
dentro de uma análise exegética. É a proeminência simplesmente um assunto de subjetiva
interpretação, ou podemos encontrar pistas ou marcações formais que nos indicam tais
propriedades de proeminência? Nossa principal afirmação é que o aspecto verbal, como
entendido por Stanley E. Porter e Jeffrey Reed, é um indicador de proeminência discursiva
dentro do Grego do NT.
Nosso objetivo específico é responder três principais questões e uma questão secundária:
O que é Aspecto Verbal? O que queremos dizer por proeminência? E, por último, como isso
funciona como indicador de proeminência discursiva? Em seguida, demonstraremos em que
diferem os modelos de proeminência de Stanley Porter e Jeffrey Reed. Antes de responder a
essas questões, descreveremos o desenvolvimento e como normalmente o assunto de
proeminência é tratado dentro dos estudos exegéticos do NT.

1. O PRESENTE ESTADO DE PROEMINÊNCIA NO NT

Indicadores de proeminência é um termo bem conhecido na área exegética e muito usado


em comentários bíblicos. Veja dois exemplos a seguir: Comentando Mateus 12.2, Hagner
afirma que em Ἐν ἐκείνῳ τῷ καιρῷ ἐπορεύθη ὁ Ἰησοῦς τοῖς σάββασιν, “A ordem das palavras
do v.2 estão alteradas a fim de colocar τοῖς σάββασιν numa posição final enfática”. (1993, p.
327). O segundo exemplo é do comentário de James Dunn de Romanos 8.35, onde ele afirma
que em τίς ἡμᾶς χωρίσει ἀπὸ τῆς ἀγάπης τοῦ Χριστοῦ, “As ordens das palavras dão alguma
ênfase em ἡμᾶς” (1988, p.504).

7
HEWSON, J. Ün systéme oú tout se tient. In: Niederehe, H.J; Koerner, K (Coord). History and historiography
of linguistics: papers from the Fourth International Conference on the History of the Language Sciences (ICHoLS
IV), 1987, p.787.
12

Os dois comentários citados acima demonstram como os conceitos de ênfase, saliência, ou


proeminência geralmente são tratados em muitas análises de passagens do grego NT. Andrew
Pitts (2013, p.345) tem notado, numa criteriosa análise linguística, que no exemplo de Mt 12.2
não há porque σάββασιν ser enfático baseado em ordem das palavras já que adjuntos ou qualquer
constituinte que tende a ficar no final da clausula dentro das narrativas são menos proeminentes.
Da mesma forma, contra análise de Dunn, Andrew Pitts (2013, p.345) argumenta que a tendência
é o sujeito ser mais proeminente e não o complemento dentro das epístolas paulinas. No final
desse tópico demonstraremos duas conclusões sobre esses exemplos, mas antes, descreveremos
algumas influências históricas percebidas em Hagner e Dunn, e em seguida mostraremos alguns
avanços na análise de proeminência dentro do Grego do NT.

A conhecida Bíblia produzida pelo Britânico John R Kohlenberger, a Bíblia Enfatizada (The
Emphasised Bible, 1902), baseava-se em três leis para determinar quando as palavras enfatizam
algo: (1) prioridade/posição (2) repetição (3) expressão formal. Sobre a primeira lei,
prioridade/posição, certas sentenças sofrem mudanças de suas ordens normais, então são
consideradas enfáticas, como: (1) Nominativos antes dos verbos; (2) genitivos, dativos, e
acusativos antes dos verbos; (3) verbos antes dos nominativos; (4) Adjetivos antes de classes
nominais; (5) palavras colocadas em justaposição, evidenciando interna concordância; (6)
palavras posicionadas no fim de uma sentença. Rotherham classifica em graus de ênfase (1) e o
(2) como “sempre”, o (3) e o (4) como “levemente”.

Robert Smith em Recognizing Prominence Features in The Greek New Testament (1985),
reconhece algumas camadas que compõem o discurso: os itens básicos chamados de backbone;
aqueles que agrupam esses itens numa hierarquia chamados de trees; aqueles que adicionam mais
referências aos participantes e adicionam pontos e ideias chamados de files; e o conteúdo focal,
itens linguísticos que direcionam a atenção à mensagem e providenciam uma correta interpretação
da mensagem de acordo como o desejo e a intenção do comunicador.

Podemos mencionar ainda R.E Smith (1985) que descreve alguns itens lexicais que
indicam proeminência, dentre deles são: Ordens8 que intrinsicamente indicam proeminência,
repetição, redundância, orientação e contraste.

8
Para uma análise sobre questões de ordem das palavras veja: PORTER, S.E. Greek Word Order: Still an
Unexplored Area in New Testament Studies? In PORTER, S. E. Linguistic Analysis of the Greek New
Testament: Studies in Tools, Methods, and Practice, Grand Rapids: Baker, 2015. E o artigo anterior a esse: Porter,
S. E. (1993). Word Order and Clause Structure in New Testament Greek: An Unexplored Area of Greek
Linguistics Using Philippians as a Test Case. Filología Neotestamentaria, VI-12, Novembro, 177, 1993.
13

Outra importante contribuição sobre proeminência é o trabalho de Kathleen Callow (1998,


p.156,164-65,180-185) e John Callow (1994, p.5-37). Eles dividem proeminência em duas
categorias, natural e especial. Proeminência natural é descrita como o material mais
intrinsecamente dominante, diferenciado do menos dominante. A ideia pode ser descrita da
seguinte forma: é natural existir uma maior “importância” inerente no efeito do que na causa, no
apelo do que na sua base, na resposta do que o estímulo, no resultado do que na sua razão, no
propósito do que do seu meio. Por outro lado, a proeminência especial acontece através de itens
formais.

Mais recentemente, os modelos de Levinsonh (2000) e Runge (2010) tem ganhado


bastante força no meio exegético. Runge trabalha com a ideia da teoria de markedness (que
veremos adiante) onde o autor escolhe itens linguísticos mais marcados, e essa escolha implicará
em significado, e o autor pode se utilizar de vários itens para assinalar proeminência. Isso
acontece quando o autor contrasta algum item mais proeminente através de várias relações lógicas
da construção do discurso, como mudança na ordem VSO9.

Começamos esse tópico mostrando dois exemplos em comentários bíblicos de como


proeminência tem sido tratada, em seguida descrevemos algumas evoluções no tratamento de
proeminência, ênfase ou saliência no Grego NT. Dois pontos importantes surgem da análise
acima: primeiro, alguns comentaristas reservam proeminência simplesmente com relação a ordem
das palavras, e ainda não deixam claro quais os critérios metodológicos de suas conclusões.
Segundo, ênfase, ou proeminência, é um termo que faz parte do vocabulário exegético. Não
queremos com isso dizer que os critérios geralmente usados, como ordem das palavras e repetição
de palavras, não possuam seu valor, entretanto, com o uso da linguística moderna temos algumas
ferramentas a mais para determinar com maior precisão, através de uma robusta metodologia
linguística, proeminência no Grego do NT.

2. ASPECTO VERBAL

Aspecto verbal10 no Grego do NT é uma área que tem crescido bastante nos últimos

9
(V) verbo; (S) sujeito; (O) Objeto
10
FANNING, Buist M. Verbal Aspect in New Testament Greek, Oxford Theological Monographs; Oxford:
Oxford University Press, 1990. MCKAY, Kenneth L. A New Syntax of the Verb in New Testament Greek: An
Aspectual Approach SBG 5, New York: Peter Lang, 1994. OLSEN, M.B. A Semantic and Pragmatic Model of
Lexical and Grammatical Aspect, Outstanding Dissertations in Linguistics; New York: Garland, 1997.
DECKER, Rodney J. Temporal Deixis of the Greek Verb in the Gospel of Mark with Reference to Verbal
14

trinta anos. Os trabalhos de Juan Mateos (1997) e K.L McKay (1992;1974a; 1974b;
1981;1985;1992;1994) são considerados os primeiros a aplicarem Aspecto Verbal ao Grego do
Novo Testamento, seguidos de Stanley E. Porter (1989) e Buist Fanning (1990), considerados
os dois maiores trabalhos sobre o assunto dentro do Novo Testamento. Mais recentemente,
temos o trabalho de Mari Olsen (1997) e Constantine Campbell (2007, 2008). Muitos outros
estudos vem sendo feitos no campo do Aspecto Verbal procurando aplicar ao texto bíblico
algumas dessas perspectivas mencionadas acima11.
No final do século 19 d.C., George Curtius (SERBAT, 2001, p.172) fez uma distinção
entre "Zeitart" - qualidade de tempo (passado, presente e futuro) e "Zeitstufe" - graus do
tempo12, que possui três qualidades: durativo, expressada pelo presente; incipiente, expressada
pelo Aoristo; e a ação completa, expressada pelo Perfeito. O termo Aktionsart, ligado a
Brugmann13, foi usado para descrever o tipo de ação objetivamente indicado pelo verbo:
pontilhar: expressada pelo Aoristo; durativas ou lineares: expressadas pelo Presente e
imperfeito; resultativas: expressada pelo Perfeito e Mais-que-perfeito; há a opção de ser
durativa ou pontilhar no Futuro (WACKERNAGEL, 2009, p.196).
A insatisfação com essas categorias para descrever a estrutura verbal do Grego é
explicada devida ao fato de que tanto a abordagem temporal como a que descreve o tipo de
ação provaram ser ineficazes para providenciar o componente semântico nuclear das formas
verbais do Grego. O ponto é que no Grego vemos a mesma forma verbal aparecendo em vários
contextos (temporais e processuais, ou seja, que descrevem o tipo da ação) e diferentes formas

Aspect, SBG 10, New York: Peter Lang, 2001. EVANS, T.V. Verbal Syntax in the Greek Pentateuch: Natural
Greek Usage and Hebrew Interference, Oxford: Oxford University Press, 2001. Constantine R. Campbell, Verbal
Aspect, the Indicative Mood, and Narrative: Soundings in the Greek of the New Testament (SBG 13; New York:
Peter Lang, 2007); CAMPBELL, C.R. Verbal Aspect and Non-Indicative Verbs: Further Soundings in the
Greek of the New Testament, SBG 15; New York: Peter Lang, 2008. FOLEY, Toshikazu S. Biblical Translation
in Chinese and Greek: Verbal Aspect in Theory and Practice, LBS 1; Leiden: Brill, 2009. MATHEWSON, David
L. Verbal Aspect in the Book of Revelation: The Function of Greek Verb Tenses in John’s Apocalypse, LBS 4,
Leiden: Brill, 2010. CIRAFESI, Wally V. Verbal Aspect in Synoptic Parallels: On the Methd and Meaning of
Divergent Tense-form Usage in the Synoptic Passion Narratives, LBS 7, Leiden: Brill, 2013.
11
D.A. Carson, The Gospel According to John, PNTC, Grand Rapids: Eerdmans,1991. Robert Horton Gundry,
Mark: A Commentary on His Apology for the Cross (Grand Rapids: Eerdmans, 2000); Douglas J. Moo, The
Epistle to the Romans (NICNT; Grand Rapids: Eerdmans, 1996); D.E. Aune, Revelation, WBC 52A–C,
Nashville: Nelson, 1997–1998.O Comentário das epistólas joaninas de D.A. Carson (NIGTC) que promete ser o
primeiro comentário a incorporar completamente a teoria do aspecto verbal.
12
Veja WINDISCH, E, Georg Curtius (1820-1885), In: Portrait of Linguists, ed. Thomas A. Sebeok. Greenwood
Pub Group, 1976. CAMPBELL, C, Basics of Verbal Aspect in Biblical Greek. Grand Rapids: Zondervan, 2008,
p.27. WACKERNAGEL, Jacob, Lectures on Syntax with Special Reference to Greek, Latin, and Germanic,
Langslow, D (Coord), Oxford University Press, 1ed, 2009, p. 196-7. “Georg Curtius; eine Characteristik”.
Windisch, Ernst, (1844-1918), Berlin, S. Calvary, 1887, p. 39.
13
Para críticas: PORTER, S.E, Idioms of the Greek New Testament. Biblical Languages: Greek 2. Sheffield:
Sheffield Academic Press, 1992 2nd ed. 1994, p.34. CAMPBELL, C. Advances in the Study of Greek: New
Insights for Reading the New Testament. Zondervan, 2015, p.29.
15

verbais aparecendo em contextos idênticos. Isso foi demonstrado (PORTER, 1989, p.77) por
Stanley E. Porter,14 pelo princípio de substituição contrastiva.

“Substituição contrastiva é um método linguístico que nota a ocorrência de formas


idênticas (nesse caso, formas verbais) em contextos diferentes, ou diferentes formas
no mesmo contexto. Se a mesma forma verbal pode ser usada em diferentes contextos
temporais, e se diferentes formas verbais podem ser substituídas no mesmo contexto
de tempo, e isso sem mudar a referência temporal da afirmação, então existe uma forte
evidência que referência temporal não é uma explanação adequada dos significados
dessas formas” (DECKER, 2000, p.34)

Veja os exemplos abaixo (PORTER 1989, p.75,83, 262):

• A forma do Presente sendo usado em diferentes contextos temporais:

Mt 8:25: κύριε . . . ἀπο ύμεθα (“Senhor . . . nós estamos perecendo,” presente)



Mc 11:27: Καὶ ἔρχονται πάλιν εἰς Ἱεροσόλυμα (“e eles voltaram para Jerusalém,”
passado)

Mt 26:18: πρὸς σὲ ποιῶ τὸ πάσχα μετὰ τῶν μαθητῶν μου (“com você, eu farei a
páscoa com meus discípulos,” futuro)

2 Cor 9:7: ἱλαρὸν γὰρ δότην ἀγαπᾷ ὁ θεός (“Pois Deus ama um alegre doador,”
temporariamente aberto)

• Diferentes formas de tense usadas no mesmo contexto temporal:


Lc 21:10: Τότε ἔλεγεν αὐτοῖς (“Então ele disse a eles,” imperfeito)


Luke 20:41: Εἶπεν δὲ πρὸς αὐτούς (“e ele disse a eles,” aoristo)
At 20:38: τῷ λόγῳ ᾧ εἰρήκει, (“foi a palavra que ele falou,” perfeito)
Mark 5:19: ἀ ὰ λέγει αὐτῷ (“mas ele disse a eles,” presente)

• Formas do Perfeito e Aoristo sendo usados para expressar a ressureição de Jesus:


1 Cor 15:4: ὅτι ἐτάφη καὶ ὅτι ἐγήγερται τῇ ἡμέρᾳ τῇ τρίτῃ (“que Ele foi ressuscitado
no terceiro dia")
1 Cor 15:15: ὅτι ἐμαρτυρήσαμεν κατὰ τοῦ θεοῦ ὅτι ἤγειρεν τὸν Χριστόν (“pois contra
Deus testemunhamos que ressuscitou a Cristo dentre os mortos”)

14
ver: Biblical Greek Language and Linguistics: Open Questions in Current Research, p.32
16

• Aoristo e Imperfeito sendo usados para expressar a secunda negação de Pedro e seu
choro:

Mt 26:72: καὶ πάλιν ἠρνήσατο μετὰ ὅρκου ὅτι οὐκ οἶδα τὸν ἄνθρωπον
(“e de novo
ele negou com um juramento, ‘eu não conheço o homem’”)
Mc 14:70: ὁ δὲ πάλιν ἠρνεῖτο (“e novamente ele negou”)
Mt 26:75 (cf. Luke 22:62): καὶ ἐξελθὼν ἔξω ἔκλαυσεν πικρῶς (“e indo para fora, ele
chorou amargamente”)
Mc 14:72: καὶ ἐπιβαλὼν ἔκλαιεν (“e refletindo acerca disso, ele chorou”).

• Outros exemplos mais:

Mt 17:11 Ἠλίας μὲν ἔρχεται καὶ ἀποκαταστήσει πάντα˸ (presente sendo usado para
uma ação no futura)
Mc 1:8 ἐγὼ ἐβάπτισα ὑμᾶς ὕδατι, αὐτὸς δὲ βαπτίσει ὑμᾶς ἐν πνεύματι ἁγίῳ. (Aoristo
usados para ação no presente)
Luke 16:4 ἔγνων τί ποιήσω (Aoristo usado para ação no presente)

Uma breve análise das passagens citadas acima demonstra claramente que as categorias
utilizadas para determinar o núcleo semântico dos verbos gregos15 falharam, tanto a temporal
absoluta, como a que descreve objetivamente a ação descritas pelos verbos, i.e. Aktionsarten.
A teoria do Aspecto Verbal, portanto, procura desenvolver uma teoria semântica
unificada (PORTER, 1998 p.75), afirmando que as formas de tense dos verbos gregos não
gramaticalizam tempo, mas aspecto.

2.1 TERMINOLOGIAS, NUMECLATURAS E DENIFIÇÃO:

Em qualquer área depara-se com suas respectivas terminologias. Referentes a aspecto


verbal é dito que “...obstáculos, armadilhas e labirintos tem prendido a maioria daqueles que se
aventuraram neste território muito explorado, mas mal mapeado” (BINNICK, 1991, p.135). O
alerta de Binnick deve nos prevenir de não misturarmos categorias e/ou entendermos
equivocadamente certas nomenclaturas no processo de definição, tendo em vista a vasta
quantidade de termos dentro do estudo de Aspecto e sua relação com temporalidade e

15
Essa é a principal preocupação em todo o modelo de Stanley Porter, definir o componente semântico essencial
das formas verbais ou o significado inerente a forma (mais adiante trataremos disso). Seu foco é nas formas verbais
a nível de código ou rede, permitindo “várias manifestações pragmáticas a nível de texto” (PORTER, 1989, p.80)
17

Aktionsart. A seguir, demonstraremos alguns motivos de haver essa grande quantidade de


nomenclaturas, em seguida, alguns termos que temos que ter em mente para mantê-los distintos,
e, no fim dessa seção, avançaremos para uma definição de aspecto verbal.
O artigo de Hans-Jürgen Sasse, Recent Activity in Theory of Aspect (2002), procura
descrever um pouco da história e desenvolvimento da teoria do aspecto verbal, providenciando
um bom ponto de partida para explanar as confusões terminológicas.
Sasse analisa o campo aspectual em termos de visão dimensional e identifica duas
categorias semânticas: Unidimensional e a Bidimensional, que podemos ver através dessa
longa, mas necessária citação a seguir (SASSE, 2002, p.6):

Existe uma proposta unidimensional que procede da pressuposição de que existe um único
conjunto de relevante aspecto de primitivos semânticos (aspect-relevant semantic primitives),
uma única dimensão conceitual em termos de que o fenômeno aspectual em todos os níveis
representativos podem ser analisados e descritos. Em sua forma mais forte, eles empregam o
mesmo conjunto de categorias com os mesmos rótulos em todos os níveis ou, numa versão
diferente, assumem apenas um nível (sentença) onde as distinções aspectuais se manifestam.
Por contraste, a proposta bidimensional insiste na distinção dessas dimensões, mas difere
largamente em suas pressuposições acerca das independências conceituais dessas duas
dimensões. Para alguns, eles são valores semânticos separados e podem ser, por isso, aplicados
cumulativamente; para outros eles são categorias situadas em diferentes níveis, mas com uma
intima correspondência num relacionamento entre eles, que é algumas vezes levados em
consideração por usar os mesmos rótulos e/ou similares formatos representativos em cada nível.

Numa dimensão, o termo aspecto é usado para se referir a aspecto propriamente dito,
geralmente, mas nem sempre, relacionada à distinção binária de perfectivo e imperfectivo, que
podemos associar com a definição de aspecto de Comrie (1976, p.3): “diferentes maneiras de
ver a constituição interna de uma situação”. Na outra dimensão fala-se da “clássica noção de
“Aktionsart” e abrange qualquer tipo de característica temporal intrínseca da situação, tais como
dinamicidade, estatividade, duratividade, pontualidade, telicidade, etc.” (SASSE, 2002, p.6).
Sasse (2002, p.6) nota que para muitos, essas duas dimensões devem ser cuidadosamente
distinguidas, enquanto que para outros, essa distinção faz pouco sentido.
Essas duas dimensões aparecem geralmente como se referindo, respectivamente, a
aspecto gramatical e aspecto lexical, podendo também aparecer com vários outros rótulos.
Sobre a relação dessas duas dimensões com as marcas gramaticais, Sasse afirma:

No sec. 19 e início do sec.20 a teoria aspectual estava principalmente interessada num


18

único nível, i.e., morfológico. Era mais ou menos exclusivamente preocupada com os
diferentes tipos de manifestações/marca gramaticais. Existia uma linha paralela de
pesquisa identificando os diferentes tipos de características temporais intrínsecas das
situações formalmente classificadas como “Aktionsart” … em particular
duratividade/pontualidade e atelicidade/telicidade que eram manifestos na presença
ou ausência de pré-verbais dos complexos lexemas verbais nas línguas Indo-
Europeias. (2002, p.7)

Sasse (2002, p.7) ainda nota que enquanto uma dimensão era manifestada
morfologicamente (flexões) na gramática, a outra era manifesta morfologicamente (formação
das palavras) nos léxicos.
Comrie (1976, p.6-7) providencia duas maneiras de distinguir as duas categorias
(Aspecto e Aktionsart): Gramatical (aspecto) e morfologia flexional, enquanto outro se refere a
Lexical (Aktionsart) e morfologia derivacional. Comrie (1976, p.8) usa o termo aspecto para
descrever um entendimento mais amplo das distinções aspectuais e coloca Aktionsart e aspecto
gramatical sob uma categoria de tempo (PORTER, 1989, p.45). Na escola linguística de
Leningrado (PANG, 2016, p.10) o termo aspecto é usado para falar tanto de aspecto gramatical
como Aktionsart, essa é a visão unificada, ou categoria unidimensional de Sasse.
Por outro lado, a proposta bidimensional procura separar ou distinguir aspecto
gramatical de Aktionsart, ainda que exista uma grande disputa sobre a dependência entre essas
categorias.
Sasse (2002, p.16) atribui a confusão terminológica à posição diametricamente oposta
entre os aspectualistas Ingleses e Continentais: Francis Pang (2016, p.12) coloca da seguinte
forma:

Para os linguistas do mundo inglês, o termo aspecto era usado mais largamente… do
que a noção Eslava de aspecto (vid) e era feito para incluir os traços temporais
inerentes dos predicados, com respeito a duração, boundedness, etc. (i.e Aktionsart).
Os linguistas continentais ao mesmo tempo usaram o termo aspecto de forma mais
específica para primariamente se referir a noção Eslava de oposição binária expressa
gramaticalmente.

Nesse ponto, é interessante notar os motivos que Sasse dá para explicar essa tradição
inglesa, onde os principais são seu interesse primário por sintaxe e a falta de marcação formal
na língua inglesa.
Quando nos voltamos para a história, para os antigos filósofos Gregos (BINNICK, 1991,
19

p.135; ROBINS, 1991, p. 33-34, PORTER, 1989, p.17-70, PANG, 2016, p.13), traços dos
conceitos modernos de Aspecto e Aktionsart podem ser encontrados. Em Aristóteles
observamos como ele distinguia dois tipos de descrição para um estado de coisas, movimentos
- κίνησις e atualizações /atividade - ἐνεργείᾳ, onde κίνησις pode ser ἀτελεῖς, que é o processo
que não inclui um fim, ao passo que ἐνεργείᾳ, incluía um fim, τελεῖς. Essa distinção foi adotada
pelos filósofos ocidentais como fundamento para muitas taxonomias das classes verbais
(TAYLOR, 1977). Da mesma forma, podemos ver nos gramáticos estoicos (PORTER, 1989,
p.18-22; FRIEDRICH, 1974, p. 44) algumas primeiras impressões da natureza aspectual,
quando eles dividiram as ações descritas pelos verbos como completa ou incompleta apesar de
reconhecerem uma dimensão temporal (ROBBINS, 1991, p.73-74): Presente (ἐνεστώς
παρατατικός); Imperfeito (παρῳχημένος παρατατικός); Perfeito (ἐνεστὼς συντελικός); Mais-
que-perfeito (τέλειος παρῳχημένος)/(παρῳχημένος συντελικός); Aoristo (ἀόριστος);Futuro
(μέllων).
Mesmo que existam muitas disputas entre os estudiosos do grego clássicos sobre essas
categorias dos estoicos, ainda assim é interessante como o presente e o imperfeito foram
colocados numa categoria de παρατατικός e o perfeito e o mais-que-perfeito numa categoria
συντελικός.
Os conceitos modernos de aspecto foram largamente desenvolvidos nos grupos de línguas
eslavas (CHATTERJEE, 1998, p.98; BINNICK, 2011, p.572; BORIK, 2006, p.21). O termo
aspecto (вид, vid) foi importado para a tradição dos gramáticos da Europa ocidental. Num
primeiro momento, esse termo era usado para se referir tanto a aspecto como a Aktionsart, mas
depois ele veio a se referir ao conceito especifico de aspecto eslavo, como oposto ao conceito
de Aktionsart (PANG, 2016, p.19). Por volta de 1930, aspectologia passou a ser usada para se
referir ao estudo do aspecto verbal e outros fenômenos relacionados em outras línguas de
aspecto. Por exemplo, o conceito de oposição aspectual de imperfectivo e perfectivo como
entendido nos grupos de línguas eslavas, como no Russo16, que possui uma alta marcação
morfológica de aspectos através de afixações e raízes (FILIP, 1999, p.221). Essas oposições
aspectuais também podem ser encontradas em outras línguas como estudos tipológicos tem
demonstrado (COMRIE, 1974), e geralmente são denominadas de aspecto gramatical.
Duas principais propostas podem ser encontradas dentro do entendimento dos Aspectos
Eslavos. A primeira é a The Totality, onde a ideia central dos aspectos é a totalidade do evento.

16
Por exemplo, na frase de Dostoiévski em “O Idiota” (1951, p.435): “Fique o mundo sabendo que Colombo foi
feliz não quando descobriu (открыл - otkril, perfectivo) a América, mas sim quando a estava por descobrir
(открывал - otkryval, imperfectivo).
20

Como lembra Pang (2016, p.21), Forsyth vê a totalidade de uma ação como a semântica
intrínseca às formas verbais Russas. A segunda é a The Internal Semantics, que tenta definir
aspecto com respeito às relações temporais (tempo do enunciado, tempo da situação, etc.).
Dentro de cada uma dessas propostas, temos ainda algumas variações, onde tudo isso contribui
para o mar de confusão de termos com relação ao estudo de aspecto.
Antes de passarmos para definição da teoria do aspecto verbal, uma distinção deve ser
feita para amenizar as confusões terminológicas: Aspecto gramatical, classes verbais,
Aktionsart e aspecto lexical.
As distinções de estado de coisas em Aristóteles deram origem a duas categorias:
Aktionsart e as classes verbais. Classes ou predicados verbais é uma área que interage tanto
com o campo filosófico como com o literário, e descreve os verbos ou predicados verbais dentro
de determinadas classificações de estado de coisas. Aktionsart, por outro lado, era uma
categoria que descrevia tipos de ações através da formação de palavras, ou seja, um assunto de
morfologia, e era contrastado com aspecto gramatical, assim, como afirma PANG (2016, p.19),
Aktionsart era tanto um assunto semântico, como linguístico. As confusões terminológicas
começam quando Aktionsart começou a ser integrado gradualmente dentro das classes verbais,
começando a perder sua dependência de marcações morfológicas, e sendo colocado no campo
de aspecto lexical.
O atual estado da disputa é sobre a existência de uma dependência entre os sistemas de
aspecto gramatical e lexical, ou, ainda, se eles devem ser analisados no mesmo nível de
descrição ou são independentes (BORIK, 2001, p.74-76). Por exemplo, é o conceito de
telicidade um sistema dependente de perfectividade? Francis Pang (2016) tem recentemente
feito uma sofisticada análise demostrando que essas duas categorias devem ser vistas como
independentes e em separadas níveis de descrição linguística no Grego17. Tendo em vista o
caráter ontológico do conceito telicidade, ele deve ser visto como um conjunto de fatores
composicionais e não como um assunto de um único componente, como no caso do aspecto
gramatical. No caso de telicidade, Pang fala em Envolvimento Linguístico Télico e
Envolvimento Linguístico Atélico (PANG, 2016, p.65, 177).

17
Apesar de Francis Pang não citar esse exemplo, observe os verbos do polonês, poczyta e przeczyta, ambos
télicos, mas apenas o segundo é perfectivo.
21

O que devemos manter, então, na perspectiva de Stanley Porter são, de forma geral, as
distinções entre aspecto x Aktionsart (subjetivo x objetivo, semântico x pragmática, gramatical
x lexical) mantendo assim a simples distinção: morfologia (aspecto gramatical) x co-
textual/contextual (Aktionsart).

2.1.1 DEFINIÇÃO

Definir aspecto verbal não tem sido uma tarefa tão fácil, mas alguns conceitos chaves de
concordância podem ser vistos. Porter define como (1998, p.83):

"Uma categoria semântica sintética (realizada nas formas verbais) utilizada em


significativas oposições numa rede de sistemas de tense para gramaticalizar uma
fundamentada escolha subjetiva da concepção de um processo do autor"

A definição de Mckay segue a mesma linha de Porter:

"Aspecto no Grego antigo é uma categoria do sistema verbal por meio do qual um
autor (falante) apresenta como ele vê cada evento ou atividade que ele menciona em
relação ao contexto” (1994, p.27)

Fanning (1990, p.84):

"Aspecto verbal no grego do NT é aquela categoria na gramática dos verbos que


reflete o foco ou o ponto de vista do falante em relação a ação ou condição que os
verbos descrevem”

Campbell (2010, p.8) oferece uma definição mais simples: "Uma maneira mais simples
de definir aspecto verbal é como um ponto de vista”.
As noções chaves das definições acima são: Concepção, ponto de vista, ou representação
de uma ação. Todos esses conceitos resumem bem a ideia de aspecto, entretanto, ao analisar os
autores citados acima podemos identificar em que tradição dentro da história do
desenvolvimento da teoria do aspecto eles se encontram.
Duas questões importantes na perspectiva de Stanley Porter são: O conceito de categoria
semântica sintética e a escolha subjetiva.
Categoria Semântica Sintética significa que o valor aspectual é realizado pelos caracteres
22

formais dos verbos. Isso deixa claro que Porter procura distinguir a semântica do verbo e o seu
uso contextual particular, ou seja o significado cancelável x não cancelável18.
A outra questão é sobre a escolha subjetiva do autor. Porter (1993, p. 37) afirma que: “A
categoria semântica do aspecto verbal pode ser imposta num processo por um locutor, não
importando quando ou como isso pode ter ocorrido” Fanning e Evans tem levantado duras
críticas contra esse conceito de Porter (EVANS, 2001, p.24; FANNING, 1990, p.50).
Fanning afirma (1990, p.50-54) que a inter-relação entre aspecto e os processos
característicos de uma ação possui uma forte relação com aspecto e geralmente limita ou
restringe seu uso. Por outro lado, Evans afirma (2001, p.24) que a escolha é controlada por uma
significante extensão feita pelas semânticas lexicais dos verbos e demanda contexto linguístico.
A resposta de Stanley Porter é demonstrar que essas escolhas subjetivas não significam que
são aleatórias, mas que a ênfase está no escritor ou falante, isso através de vários tipos de uso,
como tipos de discurso (PORTER, 1993, p.27), onde essas escolhas são feitas partindo de
opções semânticas de dentro do sistema de uma língua. Podemos colocar da seguinte forma:
Existe um elemento de subjetividade envolvendo a escolha do aspecto verbal. Enquanto a
escolha não é nem arbitrária ou sem lógica, quando existe um campo de escolhas aspectuais
disponíveis para o usuário da língua, ele ou ela é capaz de selecionar o aspecto que melhor
comunica o seu ou sua concepção da ação, e essa escolha pode diferir de autor para autor
independente de seu contexto temporal ou Aktionsart.
Antes de partir para as descrições dos aspectos, é importante estabelecermos a metodologia
teórica de Stanley Porter, que é adotada nesse trabalho, a Linguística Sistêmica Funcional, e
assim entender melhor esse conceito de escolha.

2.1.2 A LINGUÍSTICA SISTÊMICA FUNCIONAL: VISÃO GERAL

A linguística sistêmica funcional (doravante SFL) é uma teoria que arquiteta a

18
A divisão entre semântica e pragmática é usada por força de simplicidade, mas reconhece-se que existem
dificuldades e muitos desafios dentro desse campo de estudos. Apesar de Porter ter introduzido essa discussão, ele
não possui uma visão de extrema separação entre ambos (PORTER, 1989, p.82-83; 97, 107), tendo em vista seu
modelo linguístico que veremos adiante. Porter afirma (1989, p.82-83) que os antigos usuários do Grego Koiné
utilizavam indicadores dêiticos para a gramaticalização do tempo verbal, somado a outros fatores lexicais, usando
pragmática mais no sentido dêitico. Da mesma forma, Fanning procura não relacionar Aktionsart ou aspecto lexical
diretamente com pragmática, mas com diferentes níveis de entendimento (1990, p.49-50; 2011, p.158). Por força
de claridade, a distinção cancelável ou não cancelável, pragmático e semântico, pode ser vista como didática, onde
Aktionsart é um assunto não somente contextual ou pragmático, mas filosófico, onde a interação das classes
verbais, com fatores semânticos lexicais e sintáticos, devem ser feitos para uma análise acurada. Em suma, a
semântica deve ser vista como o significado inerente a forma, e pragmática como um conjunto de valores que
formam o significado do enunciado (léxis, e fatores co-textuais e contextual).
23

linguagem em contexto, organizando-a globalmente dentro de metafunções simultâneas e uma


série ordenada de estratos ou níveis, onde dentro de cada estrato, uma série de ranks ou ordens
são pontos de origem de uma rede de sistemas. Essa perspectiva da linguagem pode ser definida
também como afirma Nigel Goterri:

O termo "linguística sistêmica" pode ser usado para qualquer variante de uma teoria do sistema-
estrutura, em que a linguagem é interpretada como sendo essencialmente uma vasta rede de
conjuntos inter-relacionados de opções. A estrutura de uma língua (fraseados ou outras
realizações sintagmáticas) é considerado como manifestando escolhas feitas a partir de opções
paradigmáticas interdependentes, que entre eles constituem o potencial da linguagem para
transmitir significado19 .

O conceito de semiótica nos remonta ao nome do linguista suíço Ferdinand De Saussure,


que tinha uma perspectiva da linguagem como o estudo dos signos. A SFL tem redefinido o
conceito de semiótica, a fim de evitar uma ideia atomística do signo, como algo que “antes de
tudo existe em e em si mesmo”, para simplesmente o estudo do significado, num sentido geral.
Podemos diferenciar o entendimento semiótico da SFL em duas frentes. Primeiro, a visão
de que “nós não podemos operar com o conceito de signo como uma entidade”, mas como um
sistema de significado. Segundo, o signo não é um conjunto de coisas individuais, mas uma
rede de relações.
Nessa perspectiva, a semiótica da SFL é uma rede de sistemas de significado inter-
relacionadas com outras redes de sistemas (por exemplo, pintura, música) que constituem ou
formam a cultura. As relações sociais de uso da linguagem acontecem pelo acesso dessa rede
de sistemas. Deste modo, o falante usa isso, no lugar daquilo, deixou de usar tal coisa, para usar
outra, e assim por diante. Nessa relação entre potencial e instanciação, temos que a entrada num
sistema de cultura acontecerá somente por propriedades variantes associadas com algum
contexto em particular.
A questão pode ser teorizada de uma perspectiva mais técnica. De acordo com o linguista
suíço Saussure, a “língua é um sistema de signos que expressam ideias” (1932, p.33). O ponto,
como afirma Hassan (M.A.K. HALLIDAY & J. WEBSTER (ed.), 2009, p.167) é que:
“Saussure deixou um esboço teórico baseado naquelas propriedades do signo que capacitam o

19
The term "systemic linguistics" can be used of any variant of system-structure theory in which language is
interpreted as essentially a vast network of interrelated sets of options. The structure of a language (wordings or
other syntagmatic realizations) is regarded as manifesting choices made from interdependent paradigmatic options,
which between them constitute the language's potential for conveying meaning.
24

sistema de signos da linguagem a trabalhar na forma como ele (o sistema de signo) funciona
nas trocas diárias de significado”.
A partir, dessa definição, Hasan (M.A.K. HALLIDAY & J. WEBSTER (ed.), 2009, p.166-
189) demonstra que a teoria de Saussure é fundamentada na Langue como um sistema de
signos. O que Hasan critica é que a linguística da Langue de Saussure não é capaz de chegar ao
seu objetivo precisamente porque ele tenta descrever a língua simplesmente através da
referência de apenas um aspecto da semiótica, ou seja, sua sistematicidade que caracteriza a
Langue, ignorando o processo de semiose, i.e., a Parole.
A crítica de Hasan é que o projeto de pesquisa de Saussure não funciona sem uma
análise das regularidades da Parole. Isso porque as categorias descritivas de Saussure são
derivadas exclusivamente dos signos e sua as regularidades, ou suas relações sistemáticas.
Como afirma Hasan (M.A.K. HALLIDAY & J. WEBSTER (ed.), 2009, p.170):

“Nada deverá ser admitido dentro de sua linguística que não derive da langue, ou não
seja guiado pelos TEMPLETES, i.e., formas regulares fundamentais daqueles casos
que foram submetidos a alteração dos princípios no sintagma da parole em que o
estudo da sintaxe é baseado”.

O problema é que a ideia de sistematicidade não permite tratar o sistema em relação ao


indivíduo, mas somente a relação entre os signos, levando o signo a ser concebido como
independente dos sensos de seus usuários, seu valor e significação.
Por outro lado, a SFL oferece provas que a Parole é sistematizável, pois com a exclusão
da Parole, são perdidas todas as evidências dos significados morfológicos.
Sendo mais específico: a SFL teorizou as dualidades de Saussure em termos de
estratificação, onde temos a semântica, lexicogramática e fonética, que são experienciados na
Parole através das realizações.
A SFL teorizou as relações entre langue e parole, pois, para a SFL, a parole não é
simplesmente uma sequência de signos somados a um axis espaço temporal, ao contrário, ela
participa nas atividades sociais que ocorrem num mesmo contexto de situação, onde essas
situações foram instanciadas pelo contexto de cultura. Para a SFL, a parole é relacionada a tipos
de atividade, onde regularidades culturais na prática social são construídas na linguagem, que
implicam em formas de regularidades na língua usada.
25

Na linguagem como semiótica social20, o sistema21 é, então, a categoria central para


representar a organização paradigmática, isto é, “padrões em o que poderia ser no lugar de”
(HALLIDAY & MATTHIESSEN, 2004, p.22). Isso faz da SFL uma perspectiva da “linguagem
que é funcional22...” (HALLIDAY & HASAN, 1978, p.122;140-1;1985, p.5; HALLIDAY &
MATTHIESSEN, 2004, p.4), ou seja, ela tanto é um produto que pode ser estudado, como “um
processo contínuo de escolhas semânticas, um movimento pela rede potencial de significados,
com cada conjunto de escolhas constituindo o ambiente para o conjunto a seguir” (HALLIDAY
& HASAN, 1985, p.10). Essa ideia de linguagem como semiótica social é construída através
de vários níveis ou estratos” (HALLIDAY & MATTHIESSEN, 2004, p.24).

Figura 1 - Modelo de estratificação da linguagem

FONTE: (Adaptado de MATTHIESSEN, 2009, p.14)

Esses estratos vão desde um estrato mais abstrato – a ideologia – até o nível concreto da
expressão (fonético). A relação entre a semiótica e o social é feita em termos de realização23
entre os estrados ou níveis. O conceito de estratificação, portanto, ajuda a entender melhor a
relação entre contexto e linguagem.

20
A linguagem é um dos diversos sistemas de signos que são usados para a construção de sentido, ou seja, a
linguística é um tipo de semiótica (Hasan, 1996:4). Social é entendido como oposição em linguagem como
conhecimento inato (Halliday. Social Semiotic. 10--12.), descritos por Halliday como a diferença entre
Interacionismo e Nativismo.
21
“Qualquer conjunto de alternativas, juntamente com sua condição de entrada”, ou seja, um conjunto de opções,
um conjunto de possibilidades A, B ou C, juntamente com a condição de entrada. A condição de entrada estabelece
o ambiente: no ambiente X, há uma escolha entre A, B e C. A escolha é obrigatória; se as condições existem, uma
escolha deve ser feita. O ambiente é, de fato, uma outra escolha (Halliday, 1978, p.41).
22
Contra a noção de competência x noção de performance de Chomsky
23
“A realização envolve também uma perspectiva dupla de construção e ativação: opções semânticas constroem
opções contextuais e estas são, elas mesmas, construídas pelas opções léxico-gramaticais. Ao mesmo tempo, as
opções semânticas são ativadas pelas contextuais; e, por sua vez, elas mesmas ativam as opções léxicogramaticais”
(Hasan, 1996, p.110).
26

Figura 2- Relações contexto/linguagem, sistema/instância

FONTE: (Adaptado de HALLIDAY, M.A.K. e MATHIESSEN, C.M.I.M, 2009, p.8)

Certamente precisaríamos de mais espaço para descrevermos as complexidades do


conceito de estratificação, mas a argumentação acima já é suficiente para levantarmos a
seguinte questão: que tipo de significado pode ser feito com a linguagem (quais as funções da
linguagem) num determinado contexto social e como esses significados interagem com o
contexto de situação? Para responder a essas questões, dois conceitos são importantes:
metafunções, registro.
Basicamente, seguindo a SFL, a linguagem possui três funções: 1) estabelecer relações
sociais, 2) representar experiências humanas e 3) organizar tudo isso num texto significativo.
Em termos hallidianos, os estratos linguísticos de um discurso semântico são organizados sob
essas três metafunções: interpessoal, ideacional e textual, respectivamente. Essas categorias do
discurso semântico refletem respectivamente as três dimensões do contexto como proposto por
Halliday: Tenor, Campo e Modo. Essas três variáveis situacionais se relacionam com as
metafunções linguísticas e são denominadas por Halliday como registro. Um registro é
constituído pelas “características linguísticas que estão tipicamente associadas com uma
configuração de características situacionais” (HALLIDAY, 1976, p.22).
Portanto, o contexto imediato e variável, ou seja, um tipo particular de situação24, ou,
ainda, um contexto imediato do evento25 de uso da linguagem possui os seguinte elementos:
campo, tenor e modo, onde através daquelas realizações dos estratos, redundam em discursos

24
O Contexto de Situação não se refere, necessariamente, ao ‘contexto real’, uma vez que ele pode ser “totalmente
remoto ao que está acontecendo durante o ato de fala ou escrita” (Halliday, 1978, p.109).
25
Todo o ato de significado tem um Contexto de Situação, um ambiente no qual ele é desempenhado e interpretado.
Para que a comunicação possa acontecer, é necessário que para aqueles que estão interagindo que eles sejam
capazes de fazer previsões inteligentes e informadas sobre que tipos de significados, provavelmente estão sendo
trocados. Eles o fazem com base na sua interpretação do significado – a estrutura semiótica – da situação (Halliday,
[1970]2002, p.201).
27

semânticos: campo: Ideacional significados, tenor: interpessoal significados e modo: textual


significados. Em suma:

O campo – a natureza da atividade social – determina os significados ideacionais; as relações


– os status sociais e os papéis dos participantes na situação – determinam os significados
interpessoais; enquanto o modo oracional – a parte atribuída à interação linguística na
situação total – determina os significados textuais (HALLIDAY, [1970]2002, p.201).

Temos na SFL uma ligação entre o contexto de cultura e o contexto situacional, onde essa
relação permite uma interação entre o sistema da linguagem (potencial) e o texto (instância),
intermediados por outros subsistemas (Figura 3) e, assim, uma relação mais robusta entre texto
e contexto.

Figura 3 – Instanciação dentro do contexto da linguagem

FONTE: (adaptado de MATTHIESSEN, 2005, p.535)


28

O caráter sistêmico da SFL tem sido aplicado ao grego por meio da massiva tese de Stanley
Porter sobre aspecto verbal e aprimorado num artigo publicado posteriormente junto com
Matthew Brook O'Donnell (2001, p.17):

Figura 4-Rede sistêmica verbal

FONTE: (PORTER; O’DONNELL, 2001, p. 17)

No grego, como em qualquer língua, um componente significativo (e.g. verbos) é parte de


um sistema de escolhas organizadas em uma rede. Logo, essa rede de sistemas requer a
interrelação de cada item (PORTER, 1989, p. 8) e não, primeiramente, em relação a outras
linguas (Latim, Sanskrit, por exemplo): o perfectivo, imperfectivo e estativo devem ser vistos
cada um em relação ao outro.
Essa rede de escolhas disponíveis num dado sistema é vista graficamente
(gramaticalmente). A forma de um verbo num texto representa uma escolha feita na rede
sistêmica de uma linguagem e isso não significa que essa escolha é completamente consciente
em todos os processos (tendo em vista a complexidade do uso da língua por um falante nativo).
O movimento de escolhas pela rede não significa uma progressão temporal, mas uma
escolha semântica cada vez mais específica (PORTER, 1989, p.9). Ou seja, para uma específica
e mais delicada realização ser feita (e.g estativo - forma do Perfeito, mais-que-perfeito) é
necessário que certas condições de entrada sejam satisfeitas (assim, aspectualidade é a primeira
condição para + aspectual, que é codição de entrada para – perfectivo, que por sua vez é
condição de entrada para + estativo, como oposto a + imperfectivo).
29

Na figura estão presentes as três principais condições de entrada para o sistema:


aspectual, finitude, casualidade. Essas três principais entradas não devem ser vistas como
independentes, mas relacionadas, como Albuquerque (2013, p.73) notou muito bem: “essas
principais entradas ocorrem simultaneamente na escolha do verbo”. Em nossa pesquisa estamos
analisando somente a entrada aspectual, mas reconhecendo que, por exemplo, a semantica
modal (análise da rede de finitude) seja também analisada para uma completa apreciação e
evitar interpretações erradas (ALBUQUERQUE, 2013, p.76).
O princípio que guia todas essas questões é que “escolha implica em significado”
(ALBUQUERQUE, 2013, p.89; PORTER, 1989, p.12). Três coisas importantes devem ser ditas
sobre esse principio. Primeiro, o conceito de escolha como implicando em significado é feita
dentro de um “sistema fechado”, redes semânticas formais, ou “genuínas redes”, em contraste
com sistemas “bogus”, que não são escolhas semânticas realizadas por uma estrutura formal
(PORTER, 2016, p.21-22). Nesse sentido, um sistema fechado possui um número limitado de
termos (ALBUQUERQUE, 2013, p.58). Dentro da rede semântica dos verbos gregos temos
quatorze sistemas (PORTER e O`DONELL, 2001, p.17). Podemos relacionar essa ideia de
“sistema fechado” e número limitado de termos com a relação semântica e pragmática26, da
qual Albuquerque faz um excelente afirmação (ALBUQUERQUE, 2013, p.58): “Semântica ou
gramática tem a ver com a rede das quatorze principais entradas relacionadas ao verbos no
sistema Grego e qualquer coisa fora desse ‘sistema fechado’ pertence a pragmática”.
Segundo, o conceito de escolha implicando em significado serve como uma ponte entre
forma e função (PORTER, 1989, p.13). Existe uma relação no modelo de Porter (SFL) de
realização entre os estratos (como foi visto) que permite que um determinado item formal tenha
uma função (não confundir com uso contextual) dentro do complexo sistema de significados de
uma linguagem.

26
Veja a nota 18
30

Figura 5 - Relação forma/função

FONTE: (adaptado de MATTHIESSEN, 2005, p.530)

Por exemplo (figura 5), selecionar a forma do Perfeito, que possui um valor semântico
– estativo, indica a escolha (aspecto) de uma função, onde o autor/falante deseja conceber o
processo como uma condição ou estado de coisas. Usando o exemplo do piano (PORTER, 2016,
p.44): sua função é ser um instrumento musical, e esta é realizada quando ele é tocado por um
instrumentista. Entretanto, o piano pode ter outros usos, como decorativo, estante para livros,
etc. Função deve ser cuidadosamente distinguida de uso contextual27, que não são
sistematizáveis.
Porter, aplicando SFL, vê o sistema de aspecto verbal como expressando a metafunção
ideacional, interpessoal e textual e constitui um dos dois maiores sistemas da rede de sistema
dos verbos gregos. No caso do grego, Porter nota que (PORTER, 1989, p.8):

Embora que com uma linguagem epigráfica o corpus seja limitado, e a análise deva
ser feita a partir do ponto de vista do intérprete, o uso dos conceitos de sistema e redes
vinculam uma estimativa para momentos reais, em oposição a outras seleções
possíveis dentro da linguagem, primeiramente em termos de linguagem em si mesma
antes da formulação de equivalentes de tradução.28

Na perspectiva de Porter, o autor possui três aspectos nesse processo de escolha, o perfectivo
(Aoristo) onde a ação é vista como um todo não diferenciado, em sumário. O imperfectivo

27
Ou outros termos como ‘força semântica’ não possuem critérios formais e, por isso, o contraste entre elementos
se torna inviável.
28
Although with an epigraphic language the corpus is limited, and analysis must be done from the interpreter's
standpoint, the use of the concepts of system and network bind evaluation to actual instances in opposition to other
possible selections within the language, primarily in terms of the language itself before formulation of translational
equivalents.
31

(Presente e Imperfeito) onde a ação é vista em progresso. E por último, o estativo (Perfeito e
mais-que-perfeito) que expressa um complexo “estado de coisas”29, ou seja, o aspecto em si
mesmo representa meramente “o estado ou condição do sujeito gramatical, como
conceitualizado pelo orador ou escritor.” (PORTER, 1998, p.259).
A relação entre os aspectos é de equipolência binária, ou seja, todos os aspectos operam
dentro de uma sistêmica rede de relações binárias e cada um deles, mesmo não sendo
semanticamente idênticos, contribui semanticamente de uma forma identificável, e a escolha
de um aspecto mais significante (+ marcado) implica num maior peso semântico (PORTER,
1998, p.90), como demonstrado abaixo:

Figura 6 Rede de aspectualidade do Grego

+ expectação
+ perfectivo (Aoristo)
ASPECTUALIDADE
+ imperfectivo (presente)
ASPECTO 1
+ aspectual ASPECTO 2
- perfectivo
+ estativo (perfeito)

FONTE: (Adaptado de PORTER, 1989, p.90)

Quando analisamos a definição de Stanley Porter, observamos que existe uma relação
sistêmica onde o falante ou escritor faz escolhas significantes. Como foi proposto acima, a
relação entre os aspectos acontece por meio de um conjunto de relações binárias: + perfectivo
(Aoristo) x –perfectivo, se o – perfectivo for selecionado, então uma outra escolha aspectual
surge: + imperfectivo (presente e imperfeito) e + estativo (perfeito). A pergunta que precisamos
responder nesse ponto é: qual o critério para determinar essas oposições? A resposta está na
teoria de Markedness.
Uma clara e precisa definição de Markedness pode ser providenciada por WESTFALL
(2005, p.33): “Markedness está relacionada com a natureza hierárquica das categorias lexicais
e gramaticais”. Ou como afirma Battistella (1995, p.1):

“Termo Markedness refere-se à relação entre os dois polos de uma oposição; os

29
τί δέ; ἐκεῖνο ἀκήκοας, ὅτι Μυσοὶ καὶ Πισίδαι ἐν τῇ βασιλέως χώρᾳ κατέχοντες ἐρυμνὰ πάνυ χωρία καὶ κούφως
ὡπλισμένοι δύνανται πολλὰ μὲν τὴν βασιλέως χώραν καταθέοντες κακοποιεῖν, αὐτοὶ δὲ ζῆν ἐλεύθεροι; καὶ τοῦτό
γ᾽, ἔφη, ἀκούω. XENOPHON OF ATHENS, Memorabilia 3.5.26; τί δέ; Θεμιστοκλέα οὐκ ἀκούεις ἄνδρα ἀγαθὸν
γεγονότα καὶ Κίμωνα καὶ Μιλτιάδην καὶ Περικλέα τουτονὶ τὸν νεωστὶ τετελευτηκότα, οὗ καὶ σὺ ἀκήκοας; Plat.
Gorg. 503. Sobre o último exemplo Porter afirma: “… Perfeito enfatiza o estado de Socrates de ser uma auditor
pessoal de Pericles” (1998, p.249)
32

termos marcado e não-marcado refere-se a avaliação dos polos; o mais simples, mais
geral polo é o termo não-marcado da oposição, enquanto que o mais complexo e
focado polo é o termo marcado.”

Podemos ilustrar essa relação com o sistema de referenciação de Pessoa. A terceira


pessoa indica uma especificação mais geral e menos específica de seu referente, enquanto uma
não-terceira pessoa dá uma referência mais específica e um foco mais limitado. A consequência
disso é que a terceira pessoa é não-marcada ou menos marcada, e a não-terceira pessoa é
marcada ou mais marcada (Figura 7):

Figura 7 - Relação de marcação na referencia de Pessoa

FONTE: Elaborada pelo autor

Somado a essa ideia de marcado e não marcado, temos o conceito de hierarquia, onde
outra relação binária pode ocorrer quando um dos polos de oposição é selecionado. Na figura,
se a não-terceira pessoa é selecionada, uma condição de entrada é satisfeita para a seleção de
um item mais marcado:

Figura 8 - Hierarquia de marcação na referência de Pessoa

FONTE: Elaborada pelo autor


33

O trecho de 1 Co 10.1-10 é um bom exemplo. Na primeira seção, Paulo inicia o texto


com uma exortação (Οὐ θέλω γὰρ ὑμᾶς ἀγνοεῖν) usando a primeira pessoa. No restante, ele usa
a terceira pessoa (8x) para exemplificar o povo de Israel. Existe nesse ponto um uso mais geral
de referênciação, menos específico.
Na segunda seção, a primeira pessoa (plural) e a segunda pessoa demonstram mais
participação e interação com os leitores, e marca, junto com outros fatores (imperativos,
Presentes), um momento chave dos v.1-10. Por exemplo, no v. 7a (μηδὲ εἰδωλολάτραι γίνεσθε),
acontece uma relação mais específica entre o Paulo e o seus leitores. No v.8a (μηδὲ
πορνεύωμεν) uma nova exortação, mas agora com um maior envolvimento de Paulo30. A
mudança entre segunda pessoa e primeira pessoa, como, também, no v.9a (μηδὲ ἐκπειράζωμεν)
e v.10a (μηδὲ γογγύζετε) ajudam a pontuar momentos chaves no discurso, que quando
analisados com outros fatores, ajudam a criar ‘zonas de turbulência’.
Porter e O’Donnell (2001) tem aplicado às formas de tense dos verbos gregos os valores
de markedness, notando um cline de “combinados fatores”, um continuum de formas verbais
menos marcadas as formas mais marcadas. Quatro critérios gerais determinam o sistema de
markedness: (1) material (2) implicacional (3) distribucional e (4) semântico.
Material: Simplesmente se refere a ideia de que elementos não marcados, são menos
elaborados em forma, do que seus outros pares. O valor de markedness é ligado à simplicidade
da construção morfológica dessa forma; implicacional: é relacionado às regularidades ou
irregularidades num conjunto paradigmático da forma. As formas que evidenciarem uma menor
quantidade de irregularidades são mais marcadas do que aquelas com mais irregularidades;
distribucional: a habilidade de um termo de aparecer numa ampla variedade de relações
sintagmas e com outros itens linguísticos; semântico: Uma realização léxico-gramatical
marcada representa uma outra escolha mais delicada dentro da seleção do processo semântico.
Dado os critérios acima, Porter define o Aoristo imperfectivo como a escolha menos
marcada dentro do sistema grego de verbos. O aoristo possui menor quantidade de bulk
morfológico e maior ocorrência de irregularidades. Mesmo que a questão distribucional não
seja muito determinante, ela identifica o aoristo como menos marcado e como a escolha mais
básica (default) do sistema verbal grego. Por outro lado, o imperfectivo possui um pouco mais

30
Alguns comentaristas notam esse fato, ainda que, talvez, com uma conclusão equivocada: Robertson e Plummer
(1963, p.204): “O apostolo ...mais uma vez coloca a si mesmo no mesmo nível com seus leitores.”. Barrett (1968,
p.334) “a primeira pessoa não é simplesmente um sinal de humildade e de tato; Paulo cria que ele também
precisava ter cuidado e atuar com vigilância”
34

de substância morfológica do que o perfectivo e menores irregularidades, ocorrendo um pouco


menos frequentemente. O imperfectivo é mais marcado que o perfectivo e representa uma
escolha mais delicada e semanticamente mais definida. O perfeito possui maior material
morfológico, menos irregularidades, ocorre menos que os outros verbos e sugere uma escolha
mais delicada que as anteriores e semanticamente mais complexa.
Porter também desenvolve um ‘esquema de visualização’. A relação lógica é que, se o
aspecto verbal apresenta a concepção do autor de um processo, então qual figura ou quadro o
autor pode criar? A resposta é dada por Porter através do “esquema de visualização”. O
conhecido exemplo do desfile cabe aqui:

“Se eu sou um correspondente televisivo da BBC sobrevoando num helicóptero sobre um


desfile, eu estou vendo o desfile ou o processo em sua relação imediata de observação exterior
da ação como “perfectivo”, i.e., em sua totalidade como um único e completo todo. Se eu sou
espectador sentado na arquibancada assistindo o desfile passar na minha frente, eu vejo o
processo imergido dentro dele como “imperfectivo”, i.e., como um evento em progresso. E se
eu sou o gerente do desfile considerando todas as condições de existência nessa parada,
incluindo não somente tudo que está sendo concretizados, mas tudo aquilo que permite o desfile
se realizar, eu vejo o processo não em suas particularidades ou em suas imediações, mas como
“estativa”, i.e. como uma condição ou estado de coisas em existência”. (1989, p.91)

Considerando o exemplo acima do ‘esquema de visualização’, podemos encontrar o centro


do conceito de aspecto (PORTER, 1989, p.91): A ação é descrita como a representação
subjetiva do falante, onde a mesma ação é vista de três perspectivas diferentes. Logo, essa
concepção subjetiva não implica numa perspectiva completada ou durativa da ação, como se
referindo a tempo, mas completa (perfectiva) ou em progresso (imperfectiva). A descrição ou
caracterização objetiva da ação em si não está em jogo, mas na mudança de ênfase da
perspectiva no observador.

2.1.3 OUTROS MODELOS DE ASPECTO VERBAL NO NOVO TESTAMENTO

O modelo de Porter tem sido desafiado por outras propostas de aspecto verbal. O
principal é o de Fanning.
Fanning define aspecto verbal como uma categoria gramatical “que reflete o foco ou o
ponto de vista do falante em relação a ação ou condição que o verbo descreve” (1990, p.84).
Ele define dois tipos de aspecto: o aspecto interno/imperfectivo e o aspecto externo/perfectivo.
A diferença entre os aspectos se dá pelo ponto de referência de quem a ação é vista. Se a ação
é vista de um ponto de referência de dentro da ação, sem se reportar ao início ou o fim da ação,
35

então o aspecto é interno/imperfectivo. De outra forma, se a ação é vista de um ponto de


referência fora da ação, vista do começo ao fim, então temos um aspecto perfectivo.
Fanning prefere não usar o termo Aktionsart, mas, seguindo o trabalho de Bache, prefere
usar ‘procedural characteristic’, que envolve:

“Como realmente a ação ocorre; reflete os fatos externos, objetivos da ocorrência;


…geralmente expressado lexicalmente, ou no significado inerente da forma lexical ou
na morfologia derivacional (i.e. por meio de prefixos, sufixos que afetam o significado
dos verbos” (1990, p. 31)

Fanning distingue aspecto de procedural characteristic, muito embora aspecto e


Aktionsart também sejam distintos, mas são sistemas muito próximos. Para Fanning, um correto
entendimento de aspecto requer o entendimento do significado básico dos aspectos e sua função
em combinação com outros traços linguísticos, que inclui ação e os procedural characteristics
dos verbos. (FANNING, 1990, p.77):
Esses significados característicos e suas combinações de várias maneiras e em diferentes
classes tem um impacto significante na função dos aspectos.
Fanning usa a taxinomia de Vendler-Kenny (1990, p.126-96) como estrutura básica da
procedural characteristics, onde indicadores temporais são gramaticalizados na combinação
de formas de tense, outros traços lexicais e significados contextuais. Ainda sobre a relação
temporal, para Fanning, existe uma relação temporal entre traços contextuais e os verbos no
Indicativo. Essa relação temporal no imperfectivo permite que o Imperfeito indique o tempo
passado, o Presente indique o tempo presente (FANNING, 1990, p.198-8-240) e o aoristo
descreve o Aspecto perfectivo. Em relação ao Perfeito, Fanning faz uma junção de estatividade
Aktionsarten, tempo passado e aspecto perfectivo ou externo.
Em relação ao discurso, os verbos fazem parte da “habilidade de uma língua de
estruturar textos estendidos”. Fanning cita de três formas (FANNING, 1990, p.72-78): Como
um indicador do tipo de discurso (de forma limitada), traços de proeminência em Narrativas,
indicador de sequência temporal em Narrativas.
Com relação a relevos discursivos, Fanning considera os verbos perfectivos como
primeiro plano e os imperfectivos como plano de fundo, mas não existe uma relação direta. Em
Narrativas, por exemplo, o Aoristo é usado como narrativa principal ou ‘foreground’, enquanto
que o presente é usado para relatar informações de plano de fundo.
As duas principais divergências entre Porter e Fanning são, primeiro, o que cada um
36

considera como o núcleo semântico, não cancelável, característico dos verbos Gregos. Para
Fanning, por exemplo, no indicativo, a ideia de tempo absoluto permanece e ele não vê a
estatividade do perfeito como aspecto, mas vê isso como um assunto de Aktionsart. A segunda
divergência é sobre o papel funcional que os verbos exercem no discurso. Para Funning (1990,
p. 198-199): “Aspecto tem nada inerentemente a ver com [...] proeminência no discurso”, ou
seja, proeminência discursiva é um assunto de puramente de pragmatica.
Outra proposta de aspecto verbal é a de K. Mckay. Sendo um dos primeiros a considerar
o sistema verbal Grego gramaticalizando aspecto, Mckay define aspecto como uma categoria
do sistema verbal Grego onde o falante relaciona a ação em relação ao seu contexto. (McKay,
1972, p.20). Três simples aspectos são identificados, Imperfectivo, Aoristo e o Perfeito. O
futuro é considerado um tipo de anomalia, embora reconheça o fator modal, ele considera isso
como + intenção, portanto, simples futuridade (MCKAY, 1994, p.27, 34).
Em relação a fatores lexicais, Mckay identifica dois tipos de verbos: Ação e Estado.
Além disso, considera fortemente a importância do contexto para determinar a tradução de um
aspecto (McKay, 1994, p.29). Nesse ponto, uma certa confusão se inicia com relação ao
entendimento de Mckay sobre a relação de tempo e aspecto, ou como resolver a equação tense
e aspecto. Porter admite expressamente que o seu trabalho é muito dependente do trabalho de
Mckay. Muitas semelhanças podem ser vistas, como no fato dos verbos gregos não realizarem
tempo, mas aspecto, e que deve-se abordar o sistema de verbos gregos também
pragmaticamente (i.e. uso em contexto) e não simplesmente num plano teórico. Outra
semelhança são as terminologias ou metalinguagens usadas por Mckay para descrever os
aspectos e defini-los: Imperfectivo: expressa uma atividade em processo; Perfectivo: expressa
uma atividade como uma ação completa ou um simples evento; Perfeito: expressa um estado
resultado de uma ação; e o Futuro, que é a maior divergência entre Porter e Mckay, que expressa
intenção. Mckay, então, trabalha com quatro aspectos, diferentemente de Porter, que trabalha
com três aspectos.
Um outro trabalho que merece ser citado é de Mari Olsen (1997), que divide aspecto em
duas categorias: gramatical e lexical. Aspecto lexical, em certo sentido, se assemelha muito ao
que é chamado de Aktionsart, enquanto aspecto gramatical é relacionado com o ponto de vista
da interno da constituição temporal de uma ação. Aspecto lexical expressa a natureza da interna
constituição temporal da ação, que é analisado através da taxinomia de Vendler sobre as
propriedades temporais dos verbos. Aspecto gramatical é explanado em termos de como a ação
é relacionada ao tempo do evento e ao tempo de referência, onde tense é representado pela
relação entre tempo de referência e um centro deítico (C). Esse centro deítico é o tempo da fala,
37

que é determinado por implicatura pragmática. Então, se o Tempo de Referência acontece antes
de C, o tempo da ação é passado, e se o tempo de referência é localizado em C, então é presente,
e assim por diante.
Olsen também relaciona aspecto com composicionalidade. Para ela, o completo
significado aspectual deriva tanto de várias constituintes que sistematizam o aspecto lexical
(verbos, seus argumentos, advérbios temporais, etc.) como dos morfemas do aspecto gramatical
(OLSEN, 1997, p.14), ou seja, a escolha de um aspecto lexical é a nível de proposição (OLSEN,
1997, p. 14). O ponto central dela é que constituintes lexicais contribuem para o todo do
significado aspectual e que regras explícitas podem ser definidas por derivação de classes de
aspectos com as constituintes da clausula. Olsen liga aspecto lexical e todo o significado do
aspecto gramatical a nível de sentença, o aspecto lexical próprio dos verbos em combinação
com outras constituintes sentenciais.
Uma das principais contribuições de Olsen é a noção de cancelabilidade em relação ao
aspecto gramatical e lexical, sob a noção de oposição privativa31 e da rubrica de um
entendimento monotónico do aspecto Grego. Olsen afirma que somente os membros positivos
(com a marca) possuem uma constituição de significado semântico não cancelável, ou não
podem ser canceladas pelo contexto, ao passo que as constituintes sem traços específicos pelos
verbos podem ser marcadas ou não por elementos contextuais (implicatura). Resumindo,
apenas o Futuro, de acordo com sua análise baseada em oposição privativa, é o único não
marcado tense no Grego Koiné, todos outros são marcados com + imperfectividade e +
perfectividade.
Constantine Campbell (2007,2008) produziu outro trabalho que apresenta muita
dependência da perspectiva do Porter, muito embora ele tenha algumas divergências. Por
exemplo, para Campbell, os verbos Gregos gramaticalizam aspecto, com exceção do futuro.
Ele trabalha com dois aspectos.
A principal divergência entre Campbell e Porter é com relação ao Perfeito. Campbell inclui
o perfeito ao aspecto imperfectivo, com uma semântica de proximidade espacial enfática.
Ainda, apesar de algumas semelhanças com Porter, Campbell introduziu uma categoria espacial
como parte do núcleo dos componentes semânticos dos verbos: Imperfectivo, tendo
proximidade espacial; e perfectivo, tendo afastamento espacial, ou remoteness. Com relação ao
discurso, procura analisar e categorizar cada aspecto dentro de um tipo de discurso: Main-line

31
Diferente da oposição equipolente, em que cada polo da oposição apresenta uma marca diferente (amarei #
amare[mos], a oposição privativa se caracteriza pela ausência da marca em um dos polos da oposição (carro [s] #
carro [Ø]).
38

(Aoristo) Offline (presente/imperfectivo) e discurso direto (perfeito).


Algumas questões e dificuldades32 podem ser levantadas ao modelo de Campbell com
relação a espacialidade como a seguinte: para Campbell, remoteness é considerado um valor
semântico – sempre vai existir quando uma forma do aoristo for usada (2010, p.37, I:125). Em
outro lugar ele afirma:

“Eu creio que fora do modo indicativo remoteness não é gramaticalizado e


consequentemente não tem o ε-aumento. Enquanto aspecto em si mesmo é
plenamente operacional através de todos os verbos não indicativos, remoteness em
sua própria distinta categoria é restrito ao modo indicativo, da mesma forma como o
tempo passado tem sido relacionando dentro das propostas tradicionais”
(CAMPBELL,2007, p.118-119)

Comparando as duas frases, existe uma questão que precisa ser resolvida por Campbell:
se tem valor semântico, como isso é cancelável fora do indicativo? Mas ele afirma em outro
lugar que: “A cancelabilidade é relacionada à semântica e está relacionada com o valor que é
inerente nas formas gramaticais e são, consequentemente, não canceláveis” (CAMPBELL,
2007, p.126).
O que queremos argumentar é que Campbell parece forçar a ideia de remoteness para
chegar a sua suposição de proximidade, para isso ele parece igualar espacialidade com aspecto,
podendo até a espacialidade se tornar a peça central das formas e não aspecto.
Uma afirmação mais problemática de Campbell é a seguinte:

Remoteness é um negativo termo que é usado para distinguir a forma presente da

32
Outras questões são: se existem diferentes formas para o Presente e o Perfeito, por que colocar as duas formas
dentro da mesma categoria aspectual? Para Campbell, o fato de aparecerem próximas uma da outra em narrativas
(Porter desmente esse cálculo). Qual o critério para determinar os diferentes valores de proximidade do Presente
e do Perfeito? Se for morfológico, por que isso não foi aplicado para diferenciar a categoria aspectual (para
Campbell) do Presente (imperfectivo) e o Perfeito (imperfectivo)? A metodologia de analisar o valor semântico
das formas e suas funções dentro de um gênero - narrativas - é um método digno para determinar um valor
semântico de uma forma? Como dizer que remoteness é parte do núcleo semântico da forma Aoristo, e depois
dizer que “fora do modo indicativo remoteness não é gramaticalizado”? Qual a diferença entre os imperfectivos:
Particípios Presente, Imperfeito e Perfeito, já que as categorias espaciais não são codificadas fora do indicativo?
Mesmo afirmando que as distinções de categorias espaciais entre o Presente e o Perfeito no particípio permanecem,
qual é base formal? (Campbell não explana, apenas afirma analogamente com a permanência de tempo ou alguma
relação temporal entre o particípio Presente e o Perfeito na visão tradicional, ou seja, o argumento é circular e sem
suporte formal (linguístico, nem base teórica, seja direta ou modificada). Se o aoristo é a mainline nas narrativas,
como isso pode ser remoteness? E quando há mudança de gênero, mudando de narrativa para expositiva, onde os
valores relativos da proeminência dos aspectos mudam, seguindo Porter (2009, p.57-58)? Vale ressaltar que
Campbell faz suas análises aspectuais apenas em narrativas, certamente uma grande fraqueza de sua teoria, como
notou Mathewson (2010, p.33)
39

forma do imperfeito; o imperfeito é espacialmente mais remoto do que o presente,


mas isso não nos fala como o presente é visto dentro do seu próprio lugar/categoria.
Enquanto que a proposta linguística sistêmica requer de nós ver as formas de tense
em relação a sua oposição, não obstante, é necessário ter um valor positivo
estabelecido, e a partir da qual, formar uma oposição, especialmente se nós estamos
comprometidos com um sistema de oposições equipolentes, em que cada membro de
uma oposição tem um valor positivo em si mesmo. (CAMPBELL, 2007, p.49)

Observe que Campbell parece igualar afastamento linguístico e sua ideia de proximidade a
partir de uma relação de equipolência binária e, como veremos a seguir, isso provavelmente é
uma conclusão equivocada. Se ele atribui remoteness a uma marca gramatical, o ε-aumento,
qual a marca semântica de proximidade (presente) ou proximidade enfática (perfeito) das outras
formas? A simples ausência da marca? Então deveria isso ser visto como equipolente (O
presente demonstrando um positivo valor de proximidade)? Entretanto, nós estamos falando da
ausência de uma marca, isso deveria ser oposição privativa e, por isso, tratado simplesmente
como ausência de valor semântico.
Remoteness é um termo que necessita de uma definição mais precisa nos tratamentos dentro
do grego do NT. De forma geral, nos estudos linguísticos, esse conceito é ligado ao conceito de
modalidade e enunciados factivos, não factivos e contra-factivos (HUDDLESTON, 2002,
p.143-148). Ou seja, geralmente afastamento linguístico refere-se à convicção de que um
falante ou escritor possui uma habilidade para construir experiências para seus recipientes de
uma forma que sejam mais ou menos remotas da realidade. Por exemplo, os verbos como
‘should’, ‘could’ e ‘go’, observe como eles podem construir um cline “remoto” da realidade.
Para Lyons (1977, p.819-820), afastamento linguístico relacionado à modalidade é somente
um caso particular de remoteness e deveria ser melhor visto num nível mais fundamental, não
como “passado e não passado”, mas “lá” (remoto) e “aqui” (não-remoto) e, submetidos a essa
oposição, os outros usos contextuais podem acontecer como “depois” e “agora”
(temporalidade), ou factivo e não factivo (ou contra-factivo). Em Porter, por exemplo, o
imperfeito e o presente se diferenciam porque o imperfeito possui a característica adicional de
remoteness, e é menos marcado que o presente, portanto, é usado em contextos onde ação é
vista como mais remota do que a ação descrita pelo Presente (não remoto).
No que diz respeito a relação do ε-aumento e remoteness, deve-se notar que o ε-aumento
parece ser uma característica ou traço linguístico cancelável, tanto no nível morfológico, como
no nível semântico. Isso deve nos levar à seguinte conclusão: Tendo em vista o seu flutuante
uso no seu desenvolvimento histórico, devemos supor que ele possivelmente não teve/tem
40

algum impacto semântico na forma a qual ele está ligado, (imperfeito, aoristo e algumas vezes
no mais-que-perfeito), logo, não deve ser igualado com o sufixo final do aoristo (- σα) que
possui um papel bem definido na história da língua grega representando um valor semântico.
Devemos então tratar o e-aumento como uma forma funcional e opcional (indicador). Ou
seja, o elemento de afastamento da forma Imperfeito é uma característica cancelável (ou
contextual), mas sua forma em si sempre será imperfectiva como o Presente, podendo ser
adicionado a ele o traço linguístico de remoteness (“lá” [remoto] e “aqui” [não-remoto]). Assim,
o Imperfeito com o remoteness pode ser usado em contextos de não-passado - referência
temporal - mas também a nível de desenvolvimento de discurso: contra factível [ver Jo 11.8];
como na descrição de Porter acima; ou a nível lógico em exposição (como em Gl 4.20 – não
factível).
Alguns tem dito que uma das maiores fraquezas do modelo de Porter diz respeito ao e-
aumento33, pois tradicionalmente o ε – que aparece no imperfeito, aoristo e mais-que-perfeito -
tem sido tratado como um indicador temporal passado. Stanley Porter fez uma recente defesa
sobre sua posição contra temporalidade do ε-aumento. Para isso ele cita Egbert J. Bakker tanto
para oferecer novas evidências como para fundamentar sua principal base teórica, Drewtti, que
afirmou anteriormente que: “...não é o e-aumento que cria ou enfatiza o significado passado em
qualquer tense”.
Porter está interessado em algumas das conclusões dos artigos de Bakker. Primeiro, a
ratificação de Bakker do trabalho de Drewtti (ao lado de outro autor, Platt, que parece ser
totalmente desconhecido a Trevor Evans (2001, p.48), e a demonstração da possibilidade de
examinar Homero levando em conta vários fatores.
Na pesquisa de Bakker, Porter cita o uso dele de Louis Basset, em que ele invoca o
trabalho de Émile Benveniste que distinguia entre histoire como narrativa objetiva e discoures,
como discurso subjetivo, o primeiro sendo referente ao passado e o último ao presente. A
ligação que Basset faz é juntar verbos sem o ε-aumento, e verbos com e-aumento ligar a passé
composé, especialmente como encontrados em traços de discursos.
O ponto é que o ε-aumento era usado para diferenciar discursos de narrativas. Bakker
então cita três usos do aoristo indicativo com e-aumento, onde todos não têm referência passada
(Iliad, 11.362-363, diálogo de Diometes com Hector).
Por fim, depois de examinar o aoristo e o imperfeito com uma robusta pesquisa

33
Para Stanley Porter ε-aumento “é possivelmente um marcador discursivo que os gregos ligaram/anexaram em
certas formas para indicar um tipo de discurso, especialmente eventos discursivos sequenciais, como as
narrativas”. (2015, p.243)
41

linguística, a conclusão de Bakker é que o ε-aumento não era um indicador de tempo passado,
mas tinha uma função dêitica.
Em sua recente defesa, Porter ainda cita vários novos trabalhos para fundamentar o uso
de Homero e como esses trabalhos desafiam o antigo conceito, com base em formas literárias
e usos de dialetos, J. Griffin, Richardson, A.B Lord. Esses argumentos então são suficientes
para refutar a posição de Trevor Evans sobre o ε-aumento e no final, e o uso de Homero por
Trevor Evans acaba por fortificar a posição de Stan Porter.
Na análise de alguns versos, Decker providencia riquíssimas contribuições. Primeiro,
Decker (2000, p.40) observa que nem todas as referências temporais passadas tem um e-
aumento: O mais-que-perfeito nem sempre tem o e-aumento: Mc 14.44; Mc 15.7, assim como
frequentemente o imperfeito (Mc 6:31) e o aoristo (Mc 13:2) não tem o e-aumento.
Segundo, é significante que alguns referentes não-passado (incluindo não-indicativos)
tem um e-aumento; O futuro em Mt 12:20; Subjuntivo Jo 19:31.
Por último, DECKER afirma:

Se é para argumentar que o e-aumento é usualmente (mas nem sempre) um marcador


de tempo passado, então é necessário perguntar, “Como alguém sabe quando o e-
aumento está ou não funcionando dessa maneira?”. A única resposta seria, “do
contexto”. Mas isso estabelece um caso: de forma última, o contexto providencia a
referência temporal, não a forma somente. (2000, p.40).

Em resumo, para Porter, nós temos o Presente que gramaticaliza uma categoria
semântica do aspecto imperfectivo; Imperfeito, que gramaticaliza o aspecto imperfectivo com
a opção de + remoteness; Aoristo, que gramaticaliza aspecto perfectivo; Perfeito e o mais-que-
perfeito (com opção de remoteness) que gramaticalizam o aspecto estativo; Por fim, o Futuro,
que nem gramaticaliza aspecto, nem modo, reduzindo-se apenas a categoria de + expectação.
Antes de seguirmos adiante, dois importantes comentários devem ser feitos, o primeiro
sobre os verbos que possuem aspectualidade vaga, e o segundo sobre a forma do Futuro no
Grego.
A classe de formas verbais consideradas aspectualmente vagas são aquelas que há falta
de um completo e desenvolvido paradigma e não oferece um completo campo de escolhas
aspectuais significativas. Esses verbos incluem especialmente os de terminação –μι, sendo εἶμι
o principal exemplo. Por não ter possibilidade de escolha (e isso é uma noção base de toda
teoria do Porter, ou seja, que não vê o traço semântico aspectual como isolado, mas em relação
42

de contraste) esses verbos não entram na análise aspectual.


Não é só o aspecto do Perfeito que possui muitas disputas entre os estudiosos da área, o
Futuro também possui muitos problemas sobre o seu valor semântico.
No modelo de Porter, o Futuro tem um tratamento diferenciado, pois gramaticaliza um
traço semântico de + expectação. É nesse ponto que muitas críticas surgem, ou afirmam ser
uma teoria problemática ou difícil de entender (MCKAY, 1994, p.35-36; CAMPBELL, 2010,
p.136).
O ponto de partida de Porter é demonstrar que o Futuro não possui um completo edifício
paradigmático, e possui uma sobreposição funcional aos modos não indicativos. (PANG, 2010,
p.151; PORTER, 1989, p.95). Dessa forma, qualquer tipo de análise do Futuro, seja como
tempo verbal, Modo, ou aspecto, encontrará muitas dificuldades, seja na classificação em
relação a oposição aspectual, ou com as várias exceções, assim como um problema temporal,
com a forma do Futuro aparecendo em contextos temporais sem referência futura (Mt 6.14-15;
15:14; 5.21; 7.7, etc.). Tendo isso em vista, “existem funções e construções que o Futuro
compartilha com os verbos indicativos e existem funções e construções que o Futuro
compartilha com os Modos não indicativos” (PORTER, 1989, p.412).
Na rede sistêmica do modelo do Porter, o Futuro é tratado sob uma categoria aspectual
por possuir tense ou traços morfológicos (PANG, 2010, p.155), nesse sentido, “ele é compatível
com os ambientes onde completas escolhas aspectuais são feitas, mas não gramaticaliza tal
escolha por si mesmo” (PORTER, 1989, p.414), ou seja, não inteiramente aspectual (na
linguagem do Porter), ainda que seja uma forma de ver a ação, ao mesmo tempo que ele é usado
em lugares paralelos com Modos não-indicativos, providenciando uma certa direção para
determinar o traço semântico característico do Futuro, ou seja, segundo Porter, o Futuro
expressa “uma volição, um desejo, um objetivo em direção a um alvo, uma predição, uma
intenção, uma expectação” (PORTER, 2010, p.414).
Em suma, o “Futuro é uma forma única no Grego, similar tanto com aspecto, como com
atitudes, mas nenhum dos dois completamente, e não realiza uma realização temporal, mas uma
expectação marcada e enfática em direção a um processo”. (PORTER, 1989, p.414)

3. ASPECTO VERBAL E PROEMINÊNCIA:

O objetivo central nesse tópico é estabelecer primeiramente como as formas aspecto-verbais


funcionam como indicadores de proeminência na perspectiva de Stanley Porter e, em seguida,
43

na de Jeffrey Reed.
Recentes críticas têm tentado colocar em dúvida o modelo linguístico de proeminência de
Stanley Porter34. Entretanto, afirmamos que grande parte dessas críticas ocorre porque
possivelmente não entenderam, de fato, o que Stanley Porter está procurando articular e, mais
especificamente, quais as questões que ele está procurando solucionar à luz de todo um
complexo teórico35. A seguir, listo suas principais preocupações, a fim de entendermos melhor
o seu modelo teórico de proeminência (PORTER, 2009, p.46): Quais os significados
sintagmáticos e paradigmáticos que trazem elementos de proeminência? Qual é a relação
entre esses elementos formais e semânticos? Ou, qual a relação desses elementos e o
discurso? Como um linguista julga entre vários e competentes indicadores de proeminência?
Como alguém descreve e caracteriza a força dos itens proeminentes?
Além dessas questões devemos pontuar quais as bases metodológicas que Porter usa e como
ele utiliza suas bases teóricas na aplicação ao Grego do Novo Testamento. Nosso ponto aqui é
que, ao contrário de pensa que Porter manipula36 suas bases teóricas, precisamos entender que
ele adapta suas bases fundamentado numa metodologia geral (Linguística Sistêmica Funcional)
e assim aplica suas conclusões à língua grega (NT), dentro de suas particularidades.
Alguns conceitos chaves são importantes esclarecer ou frisarmos, são eles: proeminência,
markedness (que já vimos), relevos discursivos, níveis do discurso e domínio de
proeminência.
Sobre o primeiro conceito, proeminência, para fins didáticos, dividiremos numa definição
mais geral e em seguida numa mais especifica. De forma geral, Porter afirma (2009, p.45):

“Aqueles que usam a linguagem indicam graus relativos de proeminência de vários


itens no seu discurso como meios de diferenciação da sua importância para o discurso,
e consequentemente como meio de guiar os seus intérpretes a como ler seus
discursos”.

34
Como a crítica de RUNGE, Steven em Markedness: Contrasting Porter's Model with the Linguists Cited as
Support. Bulletin for Biblical Research. 2016, Vol. 26 Issue 1, p.43-56. 14p. Agradeço ao autor do artigo, Steven
Runge por me enviar uma cópia, já com a errata da publicação corrigida. Veja também: Buist Fanning, “Greek
Presents, Imperfects, and Aorists in the Synoptic Gospels: Their Contribuition to Narrative Structuring” in Runge
(ed.), Discouse Studies and Biblical Interpretation, 167-86.
35
Stanley Porter lista alguns falsos entendimentos dos artigos de S. Runge contra o modelo de Porter: A função
do princípio de substituição contrastiva. O lugar e o papel de um modelo linguístico, as limitações do uso de
tipologia, e a diferença de aspecto gramatical e processos aspectuais (Aktionsart), e outras questões. (Stanley E.
Porter Linguistic Analysis of the Greek New Testament: Studies in Tools, Methods, and Practice Grand Rapids,
MI: Baker, 2015.)
36
Como afirma Steve Runge Markedness: Contrasting Porter's Model with the Linguists Cited as Support. Bulletin
for Biblical Research. 2016, Vol. 26 Issue 1, p.43-56
44

A primeira citação de Porter nos ajuda a compreender que proeminência é uma subcategoria
da análise do discurso e funciona como um meio do autor utilizar certas características formais
para enfatizar certos pontos para chegar o seu objetivo geral37, seja por meio da ordem desses
itens ou da escolha de um item em vez de outro (substituição). A necessidade de proeminência
num discurso também é considerada por Porter (2009, p.45). Callow deixa claro essa
necessidade (1974, p.49):

Uma história em que cada personagem foi igualmente importante e cada evento
igualmente significante dificilmente pode ser imaginado. Até mesmo a história mais
simples tem pelo menos um personagem central e um enredo, e isso significa que um
personagem é mais importante do que outros, e certos eventos da mesma forma. Os
seres humanos não podem observar eventos simplesmente como acontecimentos; eles
os observam como acontecimentos relacionados e significativos, e relatam-nos como
tal.

De forma mais especifica, para Porter, “proeminência é markedness que é motivado” (2009,
p.50). Essa breve e mais técnica definição é explicada por Porter: “Ou seja, isso envolve
características marcadas que são apresentados num contexto particular, de forma que uma dada
dimensão do texto é trazida à tona” (PORTER, 2009, p.50). Para entendermos essa definição
temos que relacionar o que vimos sobre markedness e a ideia de motivação.
A afirmação de Porter relacionando proeminência como markedness que é motivado é, na
verdade, uma adaptação da ideia de Halliday, onde ele afirma que “foregrounded é
proeminência motivada (1977, p.112). Podemos identificar claramente que Porter segue a
tradição de Halliday, em certo sentido, que por sua vez tem suas raízes no formalismo Russo e
na Escola de Praga (PORTER, 2009, p.47-62). Entretanto, Porter parece fazer algum tipo de
modificação nos termos, ele usa o termo proeminência de forma similar ao conceito de
foreground em Halliday, e o termo markedness de forma similar à proeminência em Halliday.
Para Halliday, proeminência é um nome geral para saliência de um item linguístico, de forma
que alguma característica do texto se destaca de alguma maneira (HALLIDAY, 1977, p. 113).
A consequência disso é que, para Halliday, proeminência pode ser quantificada ou verificada

Uma boa definição é “those semantic and grammatical elements of discourse that serve to set aside certain subjects,
ideas or motifs of the author as more or less semantically and pragmatically significant than others” (Reed,
Philippians, 106; Jeffrey T. Reed and Ruth A. Reese, “Verbal Aspect, Discourse Prominence, and the Letter of
Jude,” FN 9 [1996] 186); e “the use of devices that languages have which enable a speaker to highlight material
or make some part of the text stand out in some way” (Cynthia Long Westfall, A Discourse Analysis of the Letter
to the Hebrews: The Relationship between Form and Meaning [LNTS 297: London: 2005] 31).
45

estatisticamente, dito de outra forma, podem ser analisadas através da presença, ausência ou
desvios de padrões normais de formais características textuais. Entretanto, para um traço
linguístico proeminente (markedness para Porter) ser foreground, não é suficiente que esse
traço seja simplesmente estatisticamente menos esperado, pois isso não indica necessariamente
sua relevância para o significado total do discurso, ou seja, ele não garante que ele está sendo
“foregrounded” (proeminente para Porter). Como Halliday afirma: O que não pode ser expresso
estatisticamente é ‘foregounding’, números não nos dizem se uma forma particular tem ou não
tem ‘valor no jogo’. (1977, p.55). Isso nos lembra duas das questões que Porter tenta solucionar:
Qual é a relação entre esses elementos formais e semânticos? Ou, qual a relação desses
elementos e o discurso? Para Halliday, um item proeminente só funcionará como forenground
se houver motivação, ou seja, apenas se de alguma forma esse item contribuir para o significado
total que está sendo feito pelo usuário da língua. Existe, para Halliday (HALLIDAY, 1977,
p.112), uma relação funcional, onde um item proeminente é analisado dentro da sua função no
sistema de uma linguagem, tendo em vista que, quando um item proeminente construiu para o
significado geral de uma obra, isso acontece pelo seu próprio valor dentro de uma língua.
(HALLIDAY, 1977, p.112).
De forma geral, como vimos anteriormente, Markedness se refere a descrição linguística de
uma oposição binária baseada em características formais no texto, que pode ou não pode ser
usada para significar proeminência, enquanto, proeminência é uma descrição semântica de um
elemento linguístico baseado em observáveis desvios das formas dos elementos marcados ou
não marcados em relação ao discurso como o todo. Em resumo, enquanto um se refere a
característica de um componente formal, o outro é relacionado a sua significância semântica.
A grande questão é como relacionar essas características marcadas e a semântica.

3.1 PROEMINÊNCIA E RELEVOS DISCURSIVOS

Porter então segue Halliday e define proeminência como “um fenômeno highligting
linguístico, por meio do qual característica da linguagem de um texto aparecem, de alguma
forma, mais evidenciado” (1973, p.98). Mais do que uma mera análise de certos “desvios da
norma”, nessa definição foca nas motivações para criar foregrounding. Para Porter, certos
desvios de formas sintáticas esperadas ou paradigmáticas podem não aparecer como
proeminência no discurso (ou seja, não necessariamente é motivada). De qualquer forma, o
ponto principal é que a análise de Porter caminha pela criação de certas características
linguísticas, cada uma com seus níveis formais de marcações que são relacionadas ou são
46

paralelas com uma escala semântica de relevos discursivos. Dessa forma, Porter relaciona
características formais e semântica, ao invés de reduzir isso simplesmente a diferentes formas
de sintaxe, como ele afirma (PORTER, 2009, p.45), não adianta analisar uma mudança na
ordem sintática sem um quadro ideacional mais amplo.
A significância disso é digna de ser notada. Se ao analisarmos um texto percebemos
uma mudança na ordem padrão sintática, precisamos questionar qual a significância semântica
do componente que foi alterado dentro do discurso como um todo. Alguns poderiam responder
que a ênfase está em tal componente, mas a réplica seria: “ênfase em que fenômeno semântico
do discurso?” Então, geralmente, a resposta seria: “com base no significado do léxis ou
conceito”, mas nada foi dito sobre a relação semântica de uma determinada forma com outros
enunciados e suas relações com o discurso como um todo. Para clarear mais ainda a
significância disso, Porter cita Hassan (HASSAN, 1997, p.89 abud. PORTER,2009, p.53):

“Cada enunciado tem uma tese: O conteúdo do que se está falando, único e
instantâneo; e em adição a isso, cada enunciado tem uma função na organização
interna do texto; em combinação com outros enunciados do texto é realizado o tema,
estrutura e outros aspectos”.

Nesse sentido, existe uma grande relação entre caracteres formais e como isso contribui
para os relevos discursivos. Logo, se uma análise se concentra em examinar proeminência
unicamente com base em desvios de construções sintáticas, e só por agora considerarmos isso
correto, ao analisar uma ênfase, o interprete unicamente analisará isso em relação àquele
enunciado. Mas como relacionar isso aos outros e ao discurso como um todo? Como relacionar
as características formais individuais com todos os níveis do discurso? Para Stanley Porter, a
resposta está em determinar níveis de proeminência, que é relacionado com o termo grounding
ou relevos discursivos, dessa forma, teremos um guia do quadro ideacional geral. Em suma,
tendo em mente a definição mais específica de Porter como proeminência sendo markedness
motivado, podemos afirmar que os usos das formas verbais possuem uma função textual
relacionada às escolhas aspectuais, que por sua vez possui seu valor de markedness e, assim,
procura-se analisar como essas escolhas aspectuais contribuem para o significado total do texto.
Seguindo Porter, essa contribuição é intermediada pelo esquema de visualização (como vimos
anteriormente) onde os três aspectos operam dentro de correspondentes níveis de relevos
discursivos, de acordo com o valor de markedness das formas verbais.
Porter sugere três níveis de relevos discursivos (PORTER, 2009, p.53; 1989, p.92):
47

background, foreground e frontground. Utilizaremos aqui, respectivamente: plano de fundo,


primeiro plano e primeiríssimo plano. Os conceitos de relevos discursivos são baseados na
linguística cognitiva, que usam a terminologia de ground e figure, relacionados
respectivamente a background e foreground. Porter adiciona uma terceira categoria,
frontground, que providencia uma mais estreita gama de características semânticas do que os
outros planos. A seguir exploraremos esses conceitos.
Plano de fundo (Background), de forma simples e precisa, providencia o grave contexto
(linguístico) para o primeiro ou primeiríssimo plano. (WESTFALL, 2005, p.34). Uma questão
importante nesse ponto é que os relevos discursivos são relativos, ou seja, um em relação ao
outro. Nesse sentindo, precisamos entender que plano de fundo, na perspectiva de Porter, não
é uma informação desnecessária, não-essencial, pois com presença do plano de fundo, assume-
se que existe um primeiro plano, providenciando um “importante background para os materiais
mais destacados” (PORTER, 2009, p.54; WALLACE 1982, p.208). A relação do relevo
discursivo de segundo plano é com o aspecto perfectivo, nesse caso o menos marcado, e
gramaticalizado pela forma verbal Aoristo. Em narrativas, por exemplo, ele é usado para
sumarizar e narrar os principais eventos da linha principal da história. Já em exposição, o
aspecto perfectivo é usado para estabelecer material de plano de fundo, geralmente eventos
passados que formam a base para material mais temático. Porter relaciona isso a nível de
clausula, tendo em vista que é utilizado para estabelecer a estrutura de uma narrativa, ou um
suporte histórico, ou material descritivo em textos discursivos ou expositivos.
O material de primeiro plano (foreground) introduz informações que o autor ou falante
deseja assinalar contra a informação de segundo plano, ou pano de fundo. O material de
primeiro plano é relacionado com o aspecto imperfectivo, que é mais marcado do que o
perfectivo, gramaticalizado pela forma verbal do Imperfeito e o Presente. Em narrativas, ele
assinala a introdução de novas propriedades discursivas e importante transições, podendo fazer
referências climáticas a situações concretas (WALLACE, 1982, p.213). Quando um falante ou
narrador gramaticaliza o aspecto imperfectivo, + remoteness, ou seja, o Imperfeito, ele
geralmente narra eventos que são remotos da linha principal, geralmente para suplementar ou
como um suporte. Além disso, pode funcionar também para chamar a atenção para a ação
principal. Já com a forma verbal Presente é usada para chamar atenção para eventos
significantes (Presente Histórico) ou assinalar a importância de um evento climáticos. Em
exposições, geralmente, o Presente é usado para assinalar um material que é tematicamente
proeminente e move o discurso para frente. O Imperfeito é usado para assinalar eventos sobre
o aoristo (background). Porter relaciona o material de primeiro plano a nível de clausula
48

complexa, ou múltiplas clausulas ligadas.


O mais altamente marcado é o Perfeito, que gramaticaliza o aspecto estativo. Ele é usado
para colocar em primeiríssimo plano certos elementos no discurso, ou seja, ele é utilizado para
assinalar, geralmente, material mais saliente do que os outros, como afirma Westfall (2005,
p.35), o material de primeiríssimo plano são informações que são assinaladas com um holofote.
O material de primeiríssimo plano é ligado a nível de parágrafo ou subparágrafos, pois
geralmente podem funcionar como pico do discurso, ou em zonas de turbulência.
Até aqui podemos observar que as formas verbais gramaticalizam um valor semântico
aspectual, que dentro de uma relação sistêmica de equipolência binária, são organizados pelos
seus valores de markedness, que possuem correspondência com os relevos discursivos e, dessa
forma, podem contribuir para a criação de motivação para proeminência.
Não temos espaço para respondermos todas as críticas ao modelo de Stanley Porter, mas
duas merecem a nossa atenção. A seguir, trataremos essas críticas em formas de perguntas.
Primeiro, tendo em vista todas as relações que vimos, podemos afirmar que sempre onde
houver uma forma verbal Perfeito, a ação sempre será mais proeminente do que as outras?
As objeções levantadas (MOISÉS, 1990, p.115; CAMPBELL, 2007, 234-235;
WESTFALL, 2005, p.34), de que proeminência não pode ser gramaticalizada simplesmente na
base das formas verbais, argumentam que proeminência é estabelecida na base pragmática.
Devemos nesse ponto, lembrar que, para Stanley Porter, proeminência é um complexo conjunto
que envolve outros fatores não explorados nesse trabalho, tais como os sistemas de voz, modo,
pessoa e número, além de outras relações paradigmáticas e sintagmáticas, onde todas essas
relações contribuem para os relevos discursivos e devem ser analisadas dentro dos seus
domínios de markedness.
Na base dessas objeções está o elemento da subjetividade, no sentido de que os
interpretes parecem ficar livres para determinar proeminência sem um elemento formal ou um
guia formal, ou mesmo pistas. Ainda podemos argumentar que essas objeções, ainda que
válidas, não respondem como o perfeito, em vários lugares, aparece de forma saliente ou
proeminente.
Battistella usa o princípio de markedness de assimilação, onde “elementos marcados
tendem a ocorrer em contextos marcados, enquanto elementos não marcados ocorrem em
contextos não marcados” (1990, p.7). Nesse sentindo, as formas verbais atuam junto com outros
traços formais (morfológicos), somado a outros elementos co-textual para criar um contexto
geral marcado ou um domínio de proeminência (WESTFALL, 2005, p. 57-58). Dessa forma
(CIRAFESI, 2013, p.67):
49

“O perfeito sendo o mais altamente marcado, frequentemente ocorre em muitas seções


proeminentes dos discursos, mas para explanar a motivação do seu uso e quantificar
e avaliar a asserção, o interprete deve procurar outros itens marcados no imediato co-
texto que vai propor se o autor está desejando criar um todo contexto marcado”.

4. JEFFREY T. REED, PROEMINÊNCIA E ASPECTO VERBAL

Reed trata proeminência sob a rubrica do fluxo de informação. Para ele, proeminência
são: "Elementos semânticos e gramaticais do discurso que servem para arranjar certos assuntos,
ideias ou motifs do texto, como mais ou menos, semanticamente e pragmaticamente,
significantes do que outros. “(1996, p.7). Esses elementos não são vistos como absolutos, mas,
como Porter, relativos. Cada item é proeminente em relação a outros itens no discurso. Somado
a isso, é importante frisar que Reed também enfatiza que proeminência não é parte de um código
linguístico, mas é uma função do discurso, ele afirma:

Proeminência não é uma função morfológica propriamente dita mas é o resultado de


formas morfológicas em como elas são usadas no discurso...Por isso, num dado
contexto do discurso, particulares formas morfológicas (e.g. tense-form) podem ser
usadas para indicar proeminência, ao passo que em outros contextos, elas podem
exercer um diferente papel funcional. (1996, p. 10)

Reed, como Porter, utiliza como base metodológica a linguística Sistêmica Funcional. A
única diferença diz respeito aos termos usados para diferenciar os níveis de proeminência em
relação aos relevos discursivos. Reed utiliza três categorias: Background (segundo plano),
Tema e Foco. Observe que, em termos gerais, a ideia de estruturação e o uso das formas verbais
também permanecem, ainda que o uso de aspecto verbal para indicar proeminência seja um
papel secundário - uma função pragmática de uma gramática - e, assim, uma função discursiva,
não uma função morfológica da gramática grega.” (1996, p.11)
Background (segundo plano), no caso de não-narrativa, seve para dar suporte ao argumento
principal, provendo comentários auxiliares, explanações, conclusões e sumários, e no caso da
narrativa, serve para dar suporte para a trama principal com participantes e eventos secundários
carrega a história para frente.
Tema é a informação central do autor da mensagem. Em narrativas, elementos temáticos
consistem de maiores participantes e eventos, geralmente ocorrendo ao longo de uma linha
50

cronológica. Em não-narrativas, os elementos cronológicos são geralmente ausentes, como em


argumentação, exortação ou explanação. Como Reed afirma:

"Esses elementos geralmente são reduzidos a formas não marcadas, tais como
pronomes, sufixos verbais, ou zero anáfora, visto que eles são partes de um terreno
comum do discurso compartilhado pelo falante e ouvintes" (1996, p.12)

Foco é a terceira categoria discursiva com um nível maior de proeminência. A


linguagem de Foco, procura especificar uma intenção do narrador, falante ou escritor, de manter
em primeiro plano, na mente dos ouvintes ou leitores, certas informações. Isso pode acontecer
quando o escritor/falante reintroduz certos personagens ou elementos temáticos que, nas
palavras de Reed, “que tem sido reduzido a formas pronominais ou zero anáfora” (1996, p.13),
ou seja colocar em foco na mente dos leitores. A ideia geral é que (1996, p.14):

A atenção do leitores é arrebatada, ainda que eles fossem anteriormente introduzidos


no discurso, tais elementos podem não carregar muito peso semântico, mas eles tem
uma maior função prática, i.e., de levar o leitor de volta para o processo comunicativo.

Reed segue a básica linha de Porter sobre a relação discursiva com os aspectos.
Perfectivo: descrição geral de um evento; imperfectivo: foca em alguma particularidade do
evento; estativo: estado mais acentuado, resultado de outras circunstâncias. Entretanto, isso é
dividido nas próprias categorias de Reed: Não-narrativas: Background - aoristo - perfectivo;
Temática - presente ou imperfeito (futuro) - imperfectivo; Focal - perfeito, mais que perfeito.
Reed afirma então que evidências antigas e modernas sugerem que falantes/autores
fazem alternados tense-form a fim de comunicar um status de informação. Talvez o melhor
terreno para fazer uma leitura de proeminência ocorre quando um particular tense-form é
repetidamente usado com certas palavras (conceitos) e outros tense-forms são usados com
diferentes palavras (ou conceitos) num mesmo contexto linguístico geral (i.e. o autor está
contrastando certas informações vindas de outras informações por meio de tense-forms).
Dessa maneira, a interpretação de proeminência não é somente baseada em tense-forms,
mas em outros indicadores não ambíguos de proeminência no discurso.
51

5. ANÁLISES BÍBLICAS:
5.1 LUCAS 17.11-19

A narrativa inicia com o aspecto perfectivo providenciando um background ou plano de


fundo, ἐγένετο, ao passo que o aspecto imperfectivo apresenta um específico lugar onde a
narrativa se desenvolverá (ἐν τῷ πορεύεσθαι εἰς Ἰερουσαλὴμ καὶ αὐτὸς διήρχετο διὰ μέσον
Σαμαρείας καὶ Γαλιλαίας.). Enquanto a forma Presente providencia o lugar de desenvolvimento
da narrativa como significante (também no v. 12a), o imperfeito providencia uma informação
suplementar aquela descrita pelo presente, reforçando essa ideia da importância do ambiente
onde a narrativa se desenrola.
Ao passo que os eventos são descritos, o aspecto perfectivo vai formando as
informações de background. O encontro de Jesus com os dez leprosos (ἀπήντησαν) e a atitude
deles em relação a Jesus (ἔστησαν πόρρωθεν; ἦραν φωνὴν; ἐλέησον) são descritas no
perfectivo. A reação de Jesus também é descrita no perfectivo (ἰδὼν; πορευθέντες ἐπιδείξατε)
assim como a sua ordem de irem se apresentar ao sacerdote. A descrição da cura é marcada
também por dois perfectivos (ἐγένετο ἐν τῷ ὑπάγειν αὐτοὺς ἐκαθαρίσθησαν). Entretanto no
v.15, onde a atitude de um dos leprosos é descrita, o plano de fundo para ação dele no perfectivo
providencia a base para a informação mais temática, o seu louvor e sua ação de graças,
imperfectivo (Εἷς δὲ ἐξ αὐτῶν, ἰδὼν ὅτι ἰάθη, ὑπέστρεψεν μετὰ φωνῆς μεγάλης δοξάζων τὸν
θεόν καὶ ἔπεσεν ἐπὶ πρόσωπον παρὰ τοὺς πόδας αὐτοῦ εὐχαριστῶν αὐτῷ)
No fim, diante das três perguntas de Jesus onde o perfectivo é utilizado (ἀποκριθεὶς;
ἐκαθαρίσθησαν; οὐχ εὑρέθησαν ὑποστρέψαντες δοῦναι δόξαν τῷ θεῷ εἰ μὴ ὁ ἀλλογενὴς
οὗτος), Jesus se direciona ao leproso que voltou, primeiramente no perfectivo, depois no
imperfectivo (ἀναστὰς πορεύου), e no seu pronunciamento final de salvação no aspecto
estativo, que traz à tona um grande ponto da narrativa. Dessa forma, a proeminência não parece
ser no ato de cura de Jesus, mas no pronunciamento de Salvação de um leproso samaritano,
(primeiríssimo plano, sendo o tópico da narrativa), que teve fé em Jesus e voltou para glorificar
e dar graças (informações temáticas desse tópico, ou primeiro plano).

5.2 MARCOS 4.35-41

A narrativa inicia com um Presente (Histórico?) (Καὶ λέγει αὐτοῖς ἐν ἐκείνῃ τῇ ἡμέρᾳ ὀψίας)
Introduzindo uma parte significante, no caso, a fala de Jesus. Em seguida, dois Aoristos são
utilizados, o primeiro é um particípio (γενομένης) e o segundo com modulação subjuntiva
(διέλθωμεν). Ambos descrevem a despedida dos discípulos e o fato de levarem Jesus da forma
52

que estava, ou seja, sem preparação prévia para viagem (DECKER, 2014, p.112). Em seguida,
mais uma informação em plano de fundo é dada (ἀφέντες), seguida de um presente
(παραλαμβάνουσιν) enfatizando a mudança de localização da narrativa (DECKER, 2014,
p.112).
No v.37, mais uma vez, o presente marca um momento de primeiro plano na narrativa, (o
grande temporal que se levantou) seguido de uma informação suplementar com o Imperfeito,
as ondas que batiam no barco. O presente, então, é usado para marcar a circunstância que
antecede o diálogo deles com Jesus (ὥστε ἤδη γεμίζεσθαι τὸ πλοῖον).
O imperfectivo descreve Jesus como estando καθεύδων, assim como quatro ações dos
discípulos: ἐγείρουσιν, λέγουσιν, μέλει, ἀπολλύμεθα.
No v. 39, as ações de Jesus são descritas em background, perfectivo (καὶ διεγερθεὶς
ἐπετίμησεν τῷ ἀνέμῳ καὶ εἶπεν τῇ θαλάσσῃ) e seu discurso com um imperfectivo e um estativo:
(σιώπα, πεφίμωσο). O estativo parece funcionar como um grande momento na narrativa, pois
em seguida o background, pano de fundo, aoristo, perfectivo, retoma, descrevendo o resultado
das ordens de Jesus: (καὶ ἐκόπασεν ὁ ἄνεμος καὶ ἐγένετο γαλήνη μεγάλη).
A narrativa termina com uma pergunta de Jesus sobre a fé dos discípulos (καὶ εἶπεν αὐτοῖς·
τί δειλοί ἐστε; οὔπω ἔχετε πίστιν) e a reação final dos discípulos: o temor deles (ἐφοβήθησαν)
e o imperfeito, mais uma vez marcando informação suplementar (ἔλεγον πρὸς ἀλλήλους).
Primeiro, Marcos destaca as circunstâncias da Narrativa (a furiosa tempestade [v.37a], a
água enchendo o barco [v.37b]). Segundo, ele destaca a posição de Jesus diante da grande
tempestade (v. 37a, dormindo). Terceiro, o medo dos discípulos em morrer e no fato de que
Jesus parece não se importar com eles (v.38b). O ponto alto, onde o primeiríssimo plano é
trazido à tona, é na atitude de Jesus em relação a tempestade, que gera uma profunda reação
nos discípulos.

5.3 ROMANOS 5.1-11

Nossa próxima análise é referente a proeminência verbal em exposições.


Paulo inicia sua argumentação com uma clausula participial adjuntiva e uma conjunção
inferencial pospositiva (Δικαιωθέντες οὖν ἐκ πίστεως). O particípio aoristo precede o verbo
principal, ἔχομεν, à parte da discussão sobre como deve ser visto o modo desse verbo dentro da
crítica textual, podemos observar como o conjunto particípio aoristo produz, tanto uma
priorização de relativa saliência para o verbo principal, como o fundamento ou background
(aoristo) para ação descrita pelo verbo no Presente (informação temática).
53

A significância do presente, ἔχομεν está, dentre outras coisas, em destacar um importante


participante no discurso, o “nós”, que são predicados nas duas principais (primárias) e
secundárias clausulas de 5.1-3, e como sujeito implícito dos verbos ἔχομεν, ἐσχήκαμεν,
ἑστήκαμεν, καυχώμεθα (descrevendo a resposta ativa a ação Divina). O “nós” também é
referenciado no particípio médio, καυχώμενοι, no v.11, e através de várias outras clausulas
participiais, descrevendo o “nós” antes da salvação (fracos [v.6], pecadores [v.8], inimigos de
Deus [v.10]) e depois da salvação (justificados pela fé (v.1), reconciliados com Deus [v.10]).
Nos verbos de voz passiva, em v.9-10, δικαιωθέντες, σωθησόμεθα, κατηλλάγημεν,
καταλλαγέντες, o “nós” é descrito como o beneficiário da ação Divina.
No v.2, em duas clausulas secundárias (e complexas), Paulo produz proeminência quando
usa duas formas do Perfeito (ἐσχήκαμεν, ἑστήκαμεν) para enfatizar o estado daqueles que estão
em paz com Deus (v.1). Com uma conjunção καὶ, dando continuidade, Paulo muda a forma
verbal para imperfectivo, com a forma do Presente, καυχώμεθα (observe como o presente
carrega a linha de argumentação em exposições). O imperfectivo, καυχώμεθα repete-se no v.3.
A argumentação lógica é que ao contrário de se καυχαομαι, como em v.2:17, 23, 3:7; 4.2, de
forma negativa, Paulo articula esse καυχώμεθα positivamente, de forma dupla, ἐπʼ ἐλπίδι τῆς
δόξης τοῦ θεοῦ e nas θλίψεσιν. E o motivo do orgulho nas aflições (θλίψεσιν) é expressado
através de uma série de clausulas complexas.
No v.5, o presente continua carregando a exposição com καταισχύνει e, em seguida, explana
porque a esperança não desaponta, a base é o amor de Deus derramado em nossos corações,
com o verbo no aspecto estativo (ἐκκέχυται). Ainda no mesmo verbo, a base ou fundamento
para ação descrita no perfeito é dada com um particípio aoristo, δοθέντος ἡμῖν.
Do v.6 em diante destacaremos o uso do perfectivo por Paulo para descrever informação de
background, ou como um ação-fundamento. A descrição da morte de Cristo e a metáfora
humana são descritas no perfectivo: ἀπέθανεν, ἀποθανεῖν; Χριστὸς ὑπὲρ ἡμῶν ἀπέθανεν.
Assim como o nosso presente estado diante de Deus, δικαιωθέντες e κατηλλάγημεν (ἐλάβομεν
v. 11), é diante disso que devemos καυχώμενοι, no imperfectivo.

5.4 GÁLATAS 1.11-17

11 Γνωρίζω (imperfectivo) γὰρ ὑμῖν, ἀδελφοί, τὸ εὐαγγέλιον τὸ εὐαγγελισθὲν


(perfectivo) ὑπʼ ἐμοῦ ὅτι οὐκ ἔστιν κατὰ ἄνθρωπον· 12 οὐδὲ γὰρ ἐγὼ παρὰ ἀνθρώπου
παρέλαβον (perfectivo) αὐτὸ οὔτε ἐδιδάχθην (perfectivo), ἀλλὰ διʼ ἀποκαλύψεως
Ἰησοῦ Χριστοῦ.
54

Paulo inicia com o aspecto imperfectivo (na forma Presente), seguindo com uma série
de perfectivos destacando o fato de que ele não recebeu, nem aprendeu o evangelho de homem
nenhum, mas (ἀλλὰ) de Cristo, construindo informações de pano de fundo.

Ἠκούσατε (perfectivo) γὰρ τὴν ἐμὴν ἀναστροφήν ποτε ἐν τῷ Ἰουδαϊσμῷ, ὅτι καθʼ
ὑπερβολὴν ἐδίωκον (imperfectivo, + remoteness) τὴν ἐκκλησίαν τοῦ θεοῦ καὶ
ἐπόρθουν (imperfectivo, + remoteness) αὐτήν, καὶ προέκοπτον (imperfectivo, +
remoteness) ἐν τῷ Ἰουδαϊσμῷ ὑπὲρ πολλοὺς συνηλικιώτας ἐν τῷ γένει μου,
περισσοτέρως ζηλωτὴς ὑπάρχων (imperfectivo) τῶν πατρικῶν μου παραδόσεων

Paulo, então, descreve com uma série de imperfeitos sua vida passada como um zeloso
judeu, construindo um material de primeiro plano mais remoto.

Ὅτε δὲ εὐδόκησεν (perfectivo) [ὁ θεὸς] ὁ ἀφορίσας (perfectivo) με ἐκ


κοιλίας μητρός μου καὶ καλέσας (perfectivo) διὰ τῆς χάριτος αὐτοῦ
ἀποκαλύψαι (perfectivo) τὸν υἱὸν αὐτοῦ ἐν ἐμοί

No v.15-16a Paulo retoma o perfectivo como material de pano de fundo para a


informação mais temática, e com o imperfectivo aspecto no v. 16b: εὐαγγελίζωμαι (observe o
modo não indicativo, subjuntivo). Depois de ter enfatizado sua antiga vida no judaísmo, Paulo
explana o motivo de ter sido separado por Deus, para que ele pregasse o evangelho,
demonstrando assim o material temático dessa seção (embora anteriormente usando
imperfectivos para descrever sua vida passada, usando imperfectivos, porém, eram mais
remotos, forma do Imperfeito).

5.5 APOCALIPSE 5

A próxima passagem que analisaremos brevemente é Apocalipse 5, que possui um


significante uso das formas verbais38. A visão inicia com o aoristo εἶδον, que é usado em outros

38
O livro de Apocalipse possui 1568 verbos, em que 891 (57%) estão no modo indicativo, 88 (6%) estão no modo
imperativo, 86 (5%) estão no modo subjuntivo e 399 (25%) são particípios. Analisando os aspectos verbais temos
que 682 (43%) são aoristos, 613 (39%) são presentes, 39 (2%) são imperfeitos, 118 (7%) são futuros, 117 (7%)
são perfeitos, e apenas um mais que perfeito. As vozes verbais são: 1,176 (75%) ativas; somente 248 (16%) são
passivas. Verbos no Aoristo tendem a estar no indicativo (452 ou 66%) e terceira pessoa do singular (241 ou 53%
de 452).
55

três outros lugares (v.2,6,11) para marcar uma mudança de cena ou foco na visão. Para uma
clarificação da função de εἶδον, observe abaixo:

• “Καὶ εἶδον ἐπὶ τὴν δεξιὰν τοῦ καθημένου ἐπὶ τοῦ θρόνου..”. v.1
• “καὶ εἶδον ἄγγελον ἰσχυρὸν…” v.2
• “Καὶ εἶδον ἐν μέσῳ τοῦ θρόνου…” v.6
• “καὶ εἶδον, καὶ ἤκουσα φωνὴν ἀγγέλων πολλῶν κύκλῳ τοῦ θρόνου”
v.11

O aoristo εἶδον serve para marcar o início da visão e o início das três sub-unidades de
todo o capítulo, providenciando um background para os eventos que se seguirão. Os outros
aoristos da visão funcionam para mover a narrativa e indicar informação de plano de fundo:
nos v.2-4, três aoristos marcam (ἀνοῖξαι, λῦσαι, εὑρέθη) o grande dilema da visão, “ninguém
foi achado digno de abrir o livro, nem mesmo de olhar para ele.”(v.4)39. Nos v.5-10, a atenção
é direcionada (ἰδοὺ) ao Cordeiro, introduzido com dois aoristos: a credencial do Cordeiro
(ἐνίκησεν) que o torna digno de abrir (ἀνοῖξαι) o livro. No v.7, a primeira ação do cordeiro em
relação ao rolo, “tomar” (Perfeito- εἴληφεν), é antecedida com um aoristo (ἦλθεν), marcando
uma informação de plano de fundo, “καὶ ἦλθεν καὶ εἴληφεν”, e de forma abrupta, faz uma
mudança de forma verbal.
No v.8, quando os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos se prostraram em
resposta a ação do Cordeiro, os aoristos ἔλαβεν e ἔπεσαν são usados, e no conteúdo do louvor,
o fato do Cordeiro ser digno de tomar e abrir o livro também são marcados com dois aoristos:
λαβεῖν e ἀνοῖξαι. Três aoristos marcam as razões para o louvor em uma clausula subordinada,
assinalando um pano de fundo ou base para a dignidade do cordeiro: ἐσφάγης, ἠγόρασας,
ἐποίησας. No v.13, é sumarizado o que João ouviu (ἤκουσα) e no v.14, é sumarizada a resposta
dos quatro seres viventes.
O aoristo é usado de quatro formas: para introduzir a visão e suas sub-unidades,
sumarizar eventos chaves, providenciar a linha narrativa da visão, e indicar material de suporte
(o motivo do louvor, por exemplo).
Com relação aos usos do Presente, nota-se que a fala do anjo é material de primeiro
plano no v.2, e em todas introduções, tanto de outros discursos, como dos louvores, a forma do

39
Almeida Revista e Atualizada
56

Presente é utilizada. O autor também assinala a significância do conteúdo dos louvores para a
interpretação de outras questões no capítulo com o uso do Presente (v.11-12; 13-14). Nos v.1,7
e 13, o Particípio Presente serve para caracterizar aquele que está assentado no trono e, nos v.
6,8,9 e 10, é usado para descrever características de outros participantes.
O Imperfeito, como imperfectivo [+remoteness] funciona para adicionar cor, ou
informação suplementar à visão. No v.3, o fato de que ninguém era capaz de abrir o livro é
assinalado com um Imperfeito, assim como no v.4, na descrição do choro de João. Desta forma,
os Imperfeitos contrastam com o Aoristo, pois descrevem e ressaltam certas ações e adicionam
cor na descrição da visão.
O Perfeito, com a semântica de estatividade, funciona para assinalar eventos que são de
primeiríssimo plano. Podemos descrever a significância disso da seguinte forma:

• βιβλίον γεγραμμένον ἔσωθεν καὶ ὄπισθεν κατεσφραγισμένον σφραγῖσιν ἑπτά. (v.1)


• Καὶ εἶδον ἐν μέσῳ τοῦ θρόνου καὶ τῶν τεσσάρων ζῴων καὶ ἐν μέσῳ τῶν
πρεσβυτέρων ἀρνίον ἑστηκὸς ὡς ἐσφαγμένον ἔχων κέρατα ἑπτὰ καὶ ὀφθαλμοὺς
ἑπτὰ οἵ εἰσιν τὰ ἑπτὰ πνεύματα τοῦ θεοῦ ἀπεσταλμένοι εἰς πᾶσαν τὴν γῆν. καὶ ἦλθεν
καὶ εἴληφεν ἐκ τῆς δεξιᾶς τοῦ καθημένου ἐπὶ τοῦ θρόνου. (v.6-7)
• λέγοντες φωνῇ μεγάλῃ· ἄξιόν ἐστιν τὸ ἀρνίον τὸ ἐσφαγμένον. (v.12)

Dois importantes participantes no discurso são marcados com o Particípio Perfeito40, o


Livro e o Cordeiro. O único Particípio Perfeito no Indicativo da passagem é utilizado quando
esses dois participantes se encontram, numa abrupta mudança de forma verbal: ἦλθεν καὶ
εἴληφεν. O primeiríssimo plano é utilizado para assinalar os principais participantes da
narrativa (com o uso do Particípio Perfeito), como afirma David Aune, “o rolo selado e o
Cordeiro constituem o foco de Ap. 5” (1997, p.338), sendo o ponto mais alto da visão, o estado
do Cordeiro que tomou (εἴληφεν) o Livro, com o uso de um Perfeito Indicativo.
Finalmente, o valor aspectual é o mesmo independente do seu gênero discursivo, entretanto,
o seu relativo valor de proeminência pode mudar, ou seja, o Aoristo que marca informação e

40
O particípio perfeito ocorre 83 vezes em Apocalipse. João frequentemente junta dois ou mais particípios em
torno novas ou significativas pessoas ou objetos que são introduzidas na sua visão, muitas vezes referindo-se a seu
vestido e/ou postura (em pé). Alguns exemplos são: 7.4-8: Os 144,000 (ἐσφραγισμένων – οι [x4); 7.9: A grande
multidão (ἑστῶτες , περιβεβλημένους); 11.3-4: Duas testemunhas (περιβεβλημένοι, ἑστῶτες); 12.1,4: a mulher
com as dozes estrelas (περιβεβλημένη);14.1-3: Os santos vitoriosos (ἑστὸς, γεγραμμένον, ἠγορασμένοι); 15:2: Os
que estavam em Pé junto ao mar de vidro (μεμιγμένην , ἑστῶτας); 15:6-7: Os anjos com as sete pragas
(ἐνδεδυμένοι,περιεζωσμένοι); 17.4: (cf. 18.16): A prostituta/Babilônia (περιβεβλημένη, κεχρυσωμένη); 19.12-16:
A guerra do Messias: (γεγραμμένον, περιβεβλημένος, βεβαμμένον, γεγραμμένον); 21.2: A esposa/Nova
Jerusalém: (ἡτοιμασμένην, κεκοσμημένην).
57

carrega a narrativa em exposições, continua sendo informação de pano de fundo, mas


geralmente é usado para fundamentar (ex. “doutrina”), descrever ou elaborar alguma
informação para o Presente, que funciona para carregar a linha argumentativa da exposição e
fazer marcadas informações no discurso.
Os verbos Gregos são distribuídos no discurso, nesse caso, na narrativa, em informações de
segundo plano (background), primeiro plano e primeiríssimo plano, através de seu valor
semântico aspectual (perfectivo, imperfectivo, estativo), determinados pelo seu valor de
markedness (semântico, Implicacional, distribucional e material). Somado ao valor aspectual,
outros traços do sistema verbal (voz, pessoa e número, Modo, Modulação, Modalidade),
contribuem para determinar proeminência num nível paradigmático, que quando somado a
outros componentes de relação sintagmática, formam uma melhor e mais precisa análise de um
contexto proeminente.

6. CONCLUSÃO

O sistema verbal do Grego do NT entendido como não gramaticalizando tempo e/ou


Aktionsart, mas aspecto, possui uma direta relação com o conceito de proeminência no discurso.
Essa relação é estabelecida devido a natureza sistêmica e organizacional via teoria de
Markedness. O esquema de visualização, representado pelos aspectos, possui uma relação com
os planos do discurso, que organizam o ato comunicativo em camadas de informações de
segundo plano (aoristo [perfectivo]), primeiro plano (presente/imperfeito [imperfectivo] e
primeiríssimo plano (perfeito [estativo]).
Dentro de um tipo de discurso (narrativa ou exposição), as formas verbais relacionadas
com os planos do discurso nos permitem identificar quais as informações mais proeminentes
(primeiro ou primeiríssimo plano). Embora possuindo a mesma base metodológica, os modelos
de Porter e Reed se distinguem em suas nomenclaturas e no fato de que, para Reed, a função
proeminente dos aspectos possui uma influência mais contextual (sendo assunto de pragmática)
do que uma relação formal mais direta, como no caso da perspectiva de Porter. Sabendo disto,
podemos concluir que:
Primeiro, o modelo de Porter e Reed, que relaciona aspecto à proeminência através de
relevos discursivos (cada um com suas terminologias), embora metodologicamente (o uso da
SFL) possua suas complexidades, na prática se tornam muito úteis, como por exemplo, na
preparação de um sermão. No caso do modelo de Porter, a linha metodológica de esquema de
58

visualização a relevos discursivos, providenciam um fácil guia para ser utilizado na prática
exegética.
Segundo, o uso da linguística sistêmica funcional tem se mostrado uma robusta
metodologia para analisar o grego do NT. Porter e Reed procuram relacionar o conceito
aspectual dos verbos a um quadro maior, ou seja, as morfologias dos verbos e seus valores
semânticos se encontram dentro de uma análise do discurso. A SFL permite uma análise
metodologicamente mais precisa entre a interação de forma, função e usos contextuais na língua
grega, assim como uma organização que permite uma melhor interação entre texto e contexto.
Terceiro, nossa análise, embora restrita ao valor de proeminência dos verbos no
discurso, demonstrou que o estabelecimento de ‘um contexto proeminente’ requer a análise de
outros fatores e relações gramaticais que fogem do escopo desse trabalho. Entretanto, a
importância do sistema verbal dentro da língua Grega do NT é incontestável, o que faz da nossa
análise uma discussão acerca do centro do sistema gramatical do Grego bíblico, demonstrando
assim, a relevância desse trabalho. Não queremos dizer com isso que nossa análise foi exaustiva
sobre o assunto, mas procurou trabalhar os principais fundamentos e problemáticas do assunto.
Finalmente, ainda existe muito para se trabalhar dentro dos campos aspectuais,
principalmente sobre a relação entre aspecto gramatical e lexical, assim como no campo de
proeminência discursiva. Essa necessidade se aprofunda quando a análise do Grego bíblico está
em foco. Ainda há uma necessidade de que sejam produzidos mais trabalhos e pesquisas na
área do grego bíblico em nosso idioma, e esse trabalho procurou, em algum nível, contribuir
providenciando um recurso para pesquisa sobre os assuntos de aspecto verbal e proeminência
discursiva de uma das mais importantes perspectivas sobre o assunto atualmente,
primariamente, de Stanley E. Porter e, de forma secundária, de Jeffrey T. Reed.
59
60

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