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João Pessoa - PB
2017
FACULDADE DAMÁSIO
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DIREITO
CONSTITUCIONAL APLICADO
João Pessoa - PB
2017
ALEX DOUGLAS MEAUX DIAS RODRIGUES
TERMO DE APROVAÇÃO
The present study, entitled "Brazilian Nationality and the Lusosphere", has as its main
objective the investigation of the relationship between the people from the Portuguese-
speaking countries and Brazilian nationality, according to the Federal Constitution of
1988. Of a qualitative nature and an inductive approach, research is carried out from a
descriptive documentary and bibliographic study, assuming a dissertative discourse,
through an argumentative operation. Initially, it enters into the dimensions of the right to
nationality, and then to scrutinize the species of the aforementioned right within the legal
order of the country. The relation between the Lusosphere and the Brazilian nationality
in the Federal Constitution of 1988 is made taking into account the historical-descriptive
method, analyzing what is called "normative Lusotropicalism", a concept that intends to
demonstrate how relations Political-diplomatic relations of the second half of the
twentieth century implied the constitutionalization of facilities for the acquisition of
Brazilian nationality for those originating in Portuguese-speaking countries. Next, it
approaches, perfunctorily, contemporary initiatives for the institutionalization of
Lusophony citizenship, by de Community of Portuguese Language Countries, concluding
with the author's considerations on the subject.
INTRODUÇÃO ...............................................................................................................8
CAPÍTULO I – A NACIONALIDADE BRASILEIRA..............................................12
1.1 O direito à nacionalidade.......................................................................................12
1.2 Espécies de nacionalidade......................................................................................16
1.3 Hipóteses de aquisição da nacionalidade brasileira.............................................19
1.4 Distinções entre brasileiros natos e brasileiros naturalizados............................27
1.5 Perda e reaquisição da nacionalidade brasileira..................................................30
CAPÍTULO II – A AQUISIÇÃO DA NACIONALIDADE BRASILEIRA AOS
ORIGINÁRIOS DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA..................................32
2.1 O privilégio dado ao estrangeiro originário de país de língua portuguesa.........32
2.2 O Lusotropicalismo normativo.............................................................................35
2.2.1 O Tratado de Amizade e Consulta, de 1953........................................................36
2.2.2 A Emenda nº 1 à Constituição da República Federativa do Brasil, de 1969........38
2.2.3 O Decreto-Lei nº 70.391, de 1972.......................................................................41
2.2.4 O Decreto nº 3.927/2001....................................................................................43
CAPÍTULO III – DA NACIONALIDADE BRASILEIRA À CIDADANIA
LUSÓFONA...................................................................................................................46
3.1 O Projeto de Convenção-Quadro relativo ao Estatuto do Cidadão da CPLP..46
3.2 O que há de concreto?............................................................................................50
3.3 Hipóteses para a dificuldade de aprovação do Projeto de Convenção-Quadro
relativo ao Estatuto do Cidadão da CPLP....................................................................54
CONSIDERAÇÕES......................................................................................................59
REFERÊNCIAS.............................................................................................................61
ANEXO...........................................................................................................................65
8
INTRODUÇÃO
1
"O termo participação, tomado em sentido estrito, poderia ser reservado, finalmente, para situações em
que o indivíduo contribui direta ou indiretamente para uma decisão política. (BOBBIO, 1998, p. 889).
2
“Relativo àqueles que falam português como língua materna ou não” (HOUAISS, 2009, p.812).
9
estrangeiro, a língua, que “permite a expressão direta de uma espécie de cidadania natural,
pré-jurídica e pré-política, se pensarmos que a participação começa por se sustentar na
possibilidade de comunicação” (PIRES, 1997, p.37).
No âmbito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa3 (CPLP), por
exemplo, há significativa atividade de concertação diplomática e técnica, esta
representada pelo Grupo de Trabalho Alargado sobre Cidadania e Circulação no Espaço
da CPLP, empenhada em promover a cooperação dos Estados-membros4 na
institucionalização da cidadania lusófona, principalmente no que tange à circulação de
pessoas e à consonância dos ordenamentos jurídicos internos com a concessão de direitos
de participação política, econômica e social aos seus nacionais, no espaço territorial e
linguístico comum (a lusosfera), propondo, assim, a adoção do Projeto de Convenção-
Quadro relativa ao Estatuto do Cidadão da CPLP.
3
De acordo com Saraiva (2001), a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa é uma Organização
Intergovernamental Internacional, com personalidade jurídica internacional e autonomia administrativo-
financeira, constituída em julho de 1996 na I Conferência dos Chefes de Estado e de Governo, na cidade
de Lisboa, sua atual sede.
4
Atualmente, são nove os Estados possuem o português como língua oficial e que fazem parte da
organização: a República Popular de Angola, a República Federativa do Brasil, a República de Cabo Verde,
a República da Guiné-Bissau, a República da Guiné Equatorial, a República Popular de Moçambique, a
República Portuguesa, a República Democrática de São Tomé e Príncipe e a República Democrática de
Timor-Leste. A CPLP converge, portanto, países que não mantém contiguidade territorial entre si
(fronteiras), divididos em quatro continentes diferentes: Europa (Portugal), Ásia (Timor-Leste), África
(Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique e São Tomé e Príncipe) e América
(Brasil).
10
5
Segundo dados disponíveis no sitio eletrônico da CPLP (2017a), a área do globo terrestre ocupada pelos
nove Estados-membros da precitada comunidade é de 10.742.000 km². Deste total,
8 515 767,049 km² são apenas do Estado brasileiro.
6
Segundo dados da ONU (2017c), em 2016, a população total dos países que possuem o português como
língua oficial é de 217.200.000 milhões de pessoas, distribuídas da seguinte forma: Angola (25,8 milhões),
Brasil (209,6 milhões), Cabo Verde (500 mil), Guiné Equatorial (900 mil), Guiné-Bissau (1,9 milhões),
Moçambique (28,8 milhões), Portugal (10,3 milhões), São Tomé e Príncipe (200 mil) e Timor Leste (1,2
milhões).
11
7
Abbagnano (2007, p.864), explica com base em Kuhn (Estrutura das revoluções científicas, 1972), que o
conceito de paradigma assume um significado epistemológico e é usado em diversas acepções integráveis,
tendo dois significados básicos. O primeiro é que o paradigma é uma “constelação de crenças comungadas
por um grupo”, ou seja, um conjunto de teorias, valores e técnicas de pesquisa de determinada comunidade
científica. O segundo é que o paradigma é o exemplar das soluções concretas para os quebra-cabeças que
constituem a organização típica da ciência normal, aquela que se funda num resultado atingido pela ciência
do passado, que por determinado período de tempo atribui e constitui os fundamentos da práxis ulterior.
13
8
Referência às características dadas por Komparato (2015) aos Direitos Humanos.
9
“Artigo XV. 1. Todo indivíduo tem o direito a ter uma nacionalidade” (ONU, 2017a).
14
É por tal razão, explica Mendes (2017), que a embora a prerrogativa de adotar
legislação sobre nacionalidade pertença ao direito interno, a importância desse tema e a
preocupação de que se evite a existência de apátridas, isto é, pessoas sem vínculo com
nenhum Estado, são expressas em diversos instrumentos internacionais, implicando um
dever de não privar do indivíduo de sua nacionalidade ou do direito de mudá-la.
10
Sobre o termo, povo, Fernandes (2016) explica que quando o vínculo jurídico-político entre o indivíduo
e o Estado é formado, àquele integra à dimensão pessoal deste, formando o seu povo. Raciocínio idêntico
ao de Morais (2011), para quem povo remete ao conjunto de pessoas que fazem parte de um Estado,
constituindo seu elemento humano. Povo diferencia-se, entretanto, de população. Esta, para Fernandes
(2016) representa o conjunto de habitantes de determinado Estado, sejam eles nacionais ou estrangeiros.
15
11
Neste mesmo sentido, de acordo com Carvalho (2000) existiriam três versões do conceito de cidadania
herdados da tradição democrática ocidental: a primeira delas refere-se ao conceito liberal de cidadania como
titularidade de direitos. A segunda versão enfatiza a preocupação com a res publica, com o bem coletivo,
ainda que seja exigido o sacrifício individual. A terceira versão, por fim, refere-se a uma percepção
comunitária da cidadania, relacionada muito mais ao sentimento de pertencimento que à titularidade de
direitos.
12
“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e
do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: II - a
cidadania”. (BRASIL, 2017a).
13
“Art. 12. São brasileiros: I - natos: a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais
estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país; b) os nascidos no estrangeiro, de pai
brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em
repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em
16
qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira; II - naturalizados: a) os que,
na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa
apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade,
residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal,
desde que requeiram a nacionalidade brasileira. § 1º Aos portugueses com residência permanente no País,
se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo
os casos previstos nesta Constituição. § 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e
naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição. § 3º São privativos de brasileiro nato os cargos:
I - de Presidente e Vice-Presidente da República; II - de Presidente da Câmara dos Deputados; III - de
Presidente do Senado Federal; IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal; V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas. VII - de Ministro de Estado da Defesa § 4º - Será declarada a perda da
nacionalidade do brasileiro que: I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de
atividade nociva ao interesse nacional; II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos: a) de
reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; b) de imposição de naturalização, pela
norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu
território ou para o exercício de direitos civis”. (BRASIL, 2017a)
14
Compartilham da classificação doutrinária explícita pela precitada autora Fernandes (2016), Morais
(2011) e Lenza (2008).
17
Trata -se de critério que enfatiza o aspecto territorial (jus soli). Questão
básica concerne à definição do território nacional para os fins do
reconhecimento da nacionalidade brasileira. Evidente que esta abrange
toda a massa territorial brasileira, aqui contempladas as unidades
federadas e as diversas entidades municipais. (MENDES, 2017, p.629).
Sobre o critério territorial, Fernandes (2016) explica que território brasileiro deve
ser compreendido como todo o território físico: o solo, o mar territorial, o espaço aéreo
nacional e o território ficto: navios e aviões de guerra, no espaço aéreo ou marítimo,
nacional ou internacional, navios e aviões mercantis.
Morais (2011) reforça e esmiúça a precitada assertiva, afirmando que o art. 12,
inciso I da Constituição Federal de 1988, embora adote o critério territorial (jus soli) para
18
definir seus nacionais originários, mitigou-a pela adoção do jus sanguinis somado a
determinados requisitos. Neste sentido, são brasileiros natos:
15
Neste âmbito, é comum fazer menção ao art. 69, §4º da Constituição de 24 de fevereiro de 1891, dos
Estados Unidos do Brasil, segundo o qual seriam cidadãos brasileiros os estrangeiros que, achando-se no
Brasil aos 15 de novembro de 1889, não declararem, dentro de seus meses depois de entrar em vigor a
Constituição, o ânimo de conservar a nacionalidade de origem. De acordo com Morais (2011), o citado
dispositivo da naturalização tácita, quando aplicada aos pais, acarretava a naturalização dos filhos menores
em sua companhia.
19
16
Ibidem, p.227.
20
No que concerne à naturalização ordinária, observa-se que o art. 12, II, “a” da
Constituição Federal de 1988 tem eficácia limitada, porque dependente de
regulamentação legal. Neste sentido, ao expressar “aos que, na forma da lei, adquiram a
nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas
residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral” (BRASIL, 2017), a Lei Maior faz
referência à Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980, recepcionada pela Constituição Federal
de 1988, que deixará de vigorar, no país, aos 24 de novembro de 2017, quando passará a
viger a Lei 13.455, de 24 de maio de 201717.
Pois bem, hoje, no que tange à naturalização ordinária, levando-se em
consideração a dicção do art. 12, II, “a”, primeira da Constituição Federal e a Lei nº 6.815,
de 1980, existem duas hipóteses. Na primeira delas, de acordo com Masson (2015) e
Fernandes (2016), poderão se naturalizar brasileiros os estrangeiros que cumprirem os
requisitos legais estabelecidos no art. 112 da Lei 6.815, de 198018, o Estatuto do
Estrangeiro.
São oito os requisitos: a) capacidade civil, segundo a lei brasileira; b) ser
registrado como permanente no Brasil; c) residência contínua, pelo prazo de quatro anos;
d) ler e escrever português; e) boa conduta e boa saúde; f) exercício de profissão ou posse
de bens suficientes à manutenção própria e da família; e g) inexistência de denúncia,
pronúncia ou condenação no Brasil ou no exterior por crime doloso a que seja cominada
pena mínima de prisão, abstratamente considerada superior a um ano.
Outrossim, deve-se levar em consideração, segundo Masson (2015), que as
precitadas exigências, constantes no art. 112 do Estatuto do Estrangeiro vigente, são
relativizados no artigo seguinte19. Neste mesmo sentido:
17
É preciso consignar que as modalidades de naturalização explícitas pela maioria dos constitucionalistas
pátrios (ordinária ou extraordinária), a exemplo de Fernandes (2016), Masson (2015), Cunha Júnior (2013),
Morais (2011) e Lenza (2008) não leva em consideração, até pelo próprio requisito temporal, a Lei nº
13.445, de 24 de maio de 2017, o novo Estatuto do Estrangeiro, em vigor somente aos 24 de novembro do
ano de 2017. É relevante destacar, neste sentido, que o artigo 64 da Lei 13.447, de 2017 enumera 04 (quatro)
tipos de naturalização: ordinária, extraordinária, especial e provisória.
18
“Art. 112. São condições para a concessão da naturalização: I - capacidade civil, segundo a lei brasileira;
II - ser registrado como permanente no Brasil; III - residência contínua no território nacional, pelo prazo
mínimo de quatro anos, imediatamente anteriores ao pedido de naturalização; IV - ler e escrever a língua
portuguesa, consideradas as condições do naturalizando; V - exercício de profissão ou posse de bens
suficientes à manutenção própria e da família; VI - bom procedimento; VII - inexistência de denúncia,
pronúncia ou condenação no Brasil ou no exterior por crime doloso a que seja cominada pena mínima de
prisão, abstratamente considerada, superior a 1 (um) ano; e VIII - boa saúde”. (BRASIL, 2017b).
19
“Art. 113. O prazo de residência fixado no artigo 112, item III, poderá ser reduzido se o naturalizando
preencher quaisquer das seguintes condições: I - ter filho ou cônjuge brasileiro; II - ser filho de brasileiro;
III - haver prestado ou poder prestar serviços relevantes ao Brasil, a juízo do Ministro da Justiça; IV -
recomendar-se por sua capacidade profissional, científica ou artística; ou V - ser proprietário, no Brasil, de
21
bem imóvel, cujo valor seja igual, pelo menos, a mil vezes o Maior Valor de Referência; ou ser industrial
que disponha de fundos de igual valor; ou possuir cota ou ações integralizadas de montante, no mínimo,
idêntico, em sociedade comercial ou civil, destinada, principal e permanentemente, à exploração de
atividade industrial ou agrícola. Parágrafo único. A residência será, no mínimo, de um ano, nos casos dos
itens I a III; de dois anos, no do item IV; e de três anos, no do item V.” (BRASIL, 2017b)
20
Adotando-se uma interpretação literal do artigo 12, II da Constituição Federal de 1988, não se permitiria
que os estrangeiros originários de territórios que compuseram o império colonial português, como o Estado
Português da Índia (hoje composto pelo Estado indiano de Goa e pelos territórios indianos de Damão e Diu
e Dadra e Nagar-Haveli), como a Fortaleza de São João Baptista de Ajudá (a cidade beninense de Ouidá) e
Macau (hoje uma região administrativa da China), gozassem do benefício previsto no precitado artigo.
Mesma situação deve ser levada em consideração com os estrangeiros originários da Comunidade
Autônoma da Galiza, na Espanha, cujo idioma oficial, o galego, é inteligível com o português, sendo
considerado por pesquisadores e pelos políticos reintegracionistas locais variantes do mesmo idioma.
22
hoje vigente no Brasil, é direcionada a todos os estrangeiros que não sejam originários
dos países de língua portuguesa.
É preciso consignar que além desta possibilidade de aquisição da nacionalidade
brasileira aos originários dos países de língua portuguesa, a Constituição Federal de 1988,
em seu §1º do art. 12, permitiu aos portugueses (e somente a eles), com residência
permanente no Brasil e se houver reciprocidade em favor dos brasileiros 21, a atribuição
de direitos inerentes ao brasileiro, excetuando-se os casos previstos na Lei maior.
Esta disposição, denominada doutrinariamente como “quase-nacionalidade”, não
implica, para o nacional português que a requeira, na perda de sua nacionalidade
originária. Isto quer dizer que ele permanece português, mas possui, no Brasil (e vice-
versa) direitos equivalentes aos do brasileiro naturalizado, excetuando-se que o português
“não pode prestar serviço militar, se sujeita à expulsão e também à extradição (esta
requerida pelo Governo português) e, por fim, em situação no exterior na qual necessite
de proteção diplomática, deverá requerê-la a Portugal e não ao Brasil” (MASSON, 2015,
p. 322). O trâmite para requerimento da quase-nacionalidade, pelos portugueses, é
administrativo, devendo ser, pelo demandante, comprovada a nacionalidade portuguesa,
a capacidade civil e a admissão na República Federativa do Brasil em caráter permanente.
É preciso consignar, com base em Masson (2015), que o Estatuto do Estrangeiro,
em seu artigo 115, §2º22 traz, ainda, duas hipóteses de aquisição da nacionalidade
brasileira pela via ordinária: a radicação precoce e a conclusão de curso superior. A
primeira delas refere-se aos que venham residir no Brasil até os cinco anos de idade
incompletos, desde que requeiram a naturalização dentro de dois anos, após completarem
a maioridade. A segunda hipótese destina-se aos estrangeiros que venham residir no
Brasil antes de completar a maioridade e tenham concluído curso superior em
21
Ela existe. Encontra-se vigente no Decreto nº 3.927, de 2001, que promulgou o Tratado de Cooperação,
Amizade e Consulta Brasil/Portugal.
22
“Art. 115. O estrangeiro que pretender a naturalização deverá requerê-la ao Ministro da Justiça,
declarando: nome por extenso, naturalidade, nacionalidade, filiação, sexo, estado civil, dia, mês e ano de
nascimento, profissão, lugares onde haja residido anteriormente no Brasil e no exterior, se satisfaz ao
requisito a que alude o artigo 112, item VII e se deseja ou não traduzir ou adaptar o seu nome à língua
portuguesa. § 2º. Exigir-se-á a apresentação apenas de documento de identidade para estrangeiro, atestado
policial de residência contínua no Brasil e atestado policial de antecedentes, passado pelo serviço
competente do lugar de residência no Brasil, quando se tratar de: I - estrangeiro admitido no Brasil até a
idade de 5 (cinco) anos, radicado definitivamente no território nacional, desde que requeira a naturalização
até 2 (dois) anos após atingir a maioridade; II - estrangeiro que tenha vindo residir no Brasil antes de
atingida a maioridade e haja feito curso superior em estabelecimento nacional de ensino, se requerida a
naturalização até 1 (um) ano depois da formatura.” (BRASIL, 2017b).
23
23
“Art. 63. O filho de pai ou de mãe brasileiro nascido no exterior e que não tenha sido registrado em
repartição consular poderá, a qualquer tempo, promover ação de opção de nacionalidade. Parágrafo único.
O órgão de registro deve informar periodicamente à autoridade competente os dados relativos à opção de
nacionalidade, conforme regulamento. ” (BRASIL, 2017c).
24
“Art. 67. A naturalização extraordinária será concedida a pessoa de qualquer nacionalidade fixada no
Brasil há mais de 15 (quinze) anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeira a
nacionalidade brasileira”. (BRASIL, 2017c).
25
“Art. 64. A naturalização pode ser: I - ordinária; II - extraordinária; III - especial; ou IV – provisória”.
(BRASIL, 2017c).
25
26
“Art. 65. Será concedida a naturalização ordinária àquele que preencher as seguintes condições: I - ter
capacidade civil, segundo a lei brasileira; II - ter residência em território nacional, pelo prazo mínimo de 4
(quatro) anos; III - comunicar-se em língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando; e IV -
não possuir condenação penal ou estiver reabilitado, nos termos da lei”. (BRASIL, 2017c).
27
“Art. 66. O prazo de residência fixado no inciso II do caput do art. 65 será reduzido para, no mínimo, 1
(um) ano se o naturalizando preencher quaisquer das seguintes condições: I - (VETADO); II - ter filho
brasileiro; III - ter cônjuge ou companheiro brasileiro e não estar dele separado legalmente ou de fato no
momento de concessão da naturalização; IV - (VETADO); V - haver prestado ou poder prestar serviço
relevante ao Brasil; ou VI - recomendar-se por sua capacidade profissional, científica ou artística. Parágrafo
único. O preenchimento das condições previstas nos incisos V e VI do caput será avaliado na forma disposta
em regulamento”. (BRASIL, 2017c).
26
28
“Art. 68. A naturalização especial poderá ser concedida ao estrangeiro que se encontre em uma das
seguintes situações: I - seja cônjuge ou companheiro, há mais de 5 (cinco) anos, de integrante do Serviço
Exterior Brasileiro em atividade ou de pessoa a serviço do Estado brasileiro no exterior; ou II - seja ou
tenha sido empregado em missão diplomática ou em repartição consular do Brasil por mais de 10 (dez)
anos ininterruptos”. (BRASIL, 2017c).
29
“Art. 69. São requisitos para a concessão da naturalização especial: I - ter capacidade civil, segundo a
lei brasileira; II - comunicar-se em língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando; e III -
não possuir condenação penal ou estiver reabilitado, nos termos da lei”. (BRASIL, 2017c).
30
“Art. 70. A naturalização provisória poderá ser concedida ao migrante criança ou adolescente que tenha
fixado residência em território nacional antes de completar 10 (dez) anos de idade e deverá ser requerida
por intermédio de seu representante legal. Parágrafo único. A naturalização prevista no caput será
convertida em definitiva se o naturalizando expressamente assim o requerer no prazo de 2 (dois) anos após
atingir a maioridade”. (BRASIL, 2017c).
31
“Art. 71. O pedido de naturalização será apresentado e processado na forma prevista pelo órgão
competente do Poder Executivo, sendo cabível recurso em caso de denegação. § 1 o No curso do processo
de naturalização, o naturalizando poderá requerer a tradução ou a adaptação de seu nome à língua
portuguesa. § 2o Será mantido cadastro com o nome traduzido ou adaptado associado ao nome anterior”.
(BRASIL, 2017c).
32
“Art. 72. No prazo de até 1 (um) ano após a concessão da naturalização, deverá o naturalizado
comparecer perante a Justiça Eleitoral para o devido cadastramento”. (BRASIL, 2017c).
27
Embora a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, caput, estabeleça que
todos são iguais perante a lei, alçando à categoria de Direito Fundamental a igualdade,
estabelece expressamente as distinções, de ordem constitucional (já que há vedação, para
tanto, em âmbito infraconstitucional), entre brasileiros possuidores de nacionalidade
primária e secundária (ou seja, brasileiros natos e naturalizados). Sobre esta questão:
Morais (2011), para efeito didático, explica que tais distinções encontram-se
divididas em quatro categorias: cargos, função, extradição e direito de propriedade,
estando previstas, respectivamente, no artigo 12, §3º; no artigo 89, inciso VII; no artigo
5º, inciso LI e no artigo 222, todos da Constituição Federal.
Existem, portanto, cargos privativos de brasileiros natos, ou seja, de brasileiros
detentores da nacionalidade brasileira primária. A discrição destes cargos encontra-se
explícito no §3º do artigo 12 da Constituição Federal de 198833, que determina que apenas
33
“Art. 12. § 3º São privativos de brasileiro nato os cargos: I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados; III - de Presidente do Senado Federal; IV - de Ministro do
Supremo Tribunal Federal; V - da carreira diplomática; VI - de oficial das Forças Armadas. VII - de
Ministro de Estado da Defesa”. (BRASIL, 2017a).
28
34
“Art. 89. O Conselho da República é órgão superior de consulta do Presidente da República, e dele
participam: I - o Vice-Presidente da República; II - o Presidente da Câmara dos Deputados; III - o Presidente
do Senado Federal; IV - os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos Deputados; V - os líderes da
maioria e da minoria no Senado Federal; VI - o Ministro da Justiça; VII - seis cidadãos brasileiros natos,
com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos
pelo Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de três anos, vedada a
recondução”. (BRASIL, 2017a).
29
[...] parcela da doutrina aponta que o trecho final do dispositivo (art. 5º,
LI, CF/1988) encerra norma de eficácia limitada, dependente de
regulamentação normativa posterior, a fim de produzir com plenitude
seus efeitos jurídicos. Isso significa que a viabilidade da extradição,
neste caso, está na dependência de edição de lei ordinária que prescreva
procedimento de cognição do pressuposto de mérito autorizador da
extradição: o confirmado enlace com a atividade delituosa. (MASSON,
2015, p. 327).
35
Hodiernamente, o procedimento de extradição está previsto na Lei 6.815, de 1980 e no RI/STF, que
deverão adequar-se às determinações constantes nos incisos LI e LII da Constituição Federal de 1988.
36
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
e à propriedade, nos termos seguintes: LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em
caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito
de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei”. (BRASIL, 2017a).
37
Ibidem, p.327.
38
“Art. 222. A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens é privativa
de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis
brasileiras e que tenham sede no País”. (BRASIL, 2017a).
30
39
“Art. 12. § 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que: I - tiver cancelada sua
naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional; II - adquirir outra
nacionalidade, salvo nos casos: a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; b) de
imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como
condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis”. (BRASIL, 2017a).
40
Ibidem, p.679.
31
41
Segundo dados informados pela ONU, existem, hoje 193 países (2017b).
33
42
O número em epígrafe foi o resultado da subtração da população brasileira (209.600.000) do total da
população mundial (7.443.000.000), no ano de 2016.
43
O número em epígrafe foi o resultado da soma da população dos oito países de língua oficial portuguesa,
excetuando-se a população brasileira, no ano de 2016: Angola (25,8 milhões), Cabo Verde (500 mil), Guiné
Equatorial (900 mil), Guiné-Bissau (1,9 milhões), Moçambique (28,8 milhões), Portugal (10,3 milhões),
São Tomé e Príncipe (200 mil) e Timor Leste (1,2 milhões).
44
A entrada da Guiné Equatorial na CPLP foi confirmada pela Declaração de Díli, de 23 de julho de 2014,
cujo teor encontra-se presente no sítio eletrônico da CPLP (CPLP, 2017c).
45
As maiores discussões à admissão da Guiné Equatorial se deram em função da cláusula democrática, da
comunidade, em cotejo com o controverso governo de Teodoro Obiang, à frente da presidência da Guiné
Equatorial desde 1979.
34
gozar do benefício inscrito no art. 12, II, “a” da Constituição Federal de 1988. Poderiam
ser abrangidos, neste âmbito, segundo informações colhidas do Instituto Camões (2017):
a) os originários da região da Casamansa, no Senegal (cujo território, tal qual a
Guiné Equatorial, fez parte do Império português, até meados do século XIX
e que parte da população fala crioulo de base léxica portuguesa, assemelhado
ao falado na Guiné-Bissau);
b) os originários do antigo Estado Português da Índia (atual Estado de Goa e
territórios de Damão e Diu e Dadra e Nagar-Haveli, na Índia), extinto em
1961, com a invasão da União Indiana e outras cidadelas do Decão e ilha do
Sri Lanka, com população falante de crioulos indo-portugueses;
c) os originários da região administrativa chinesa de Macau (portuguesa até
1999, quando entregue ao Estado Chinês);
d) a população Kristang da cidade de Málaca, na Malásia;
e) a população de Larantuka, na ilha de Flores, Indonésia;
f) os falantes do papiamento em Aruba, Bonaire e Curaçao, ilhas neerlandesas
no Mar do Caribe; e
g) os falantes de saramacano, no Suriname.
Poderia se incluir, neste conjunto, também, os originários da Galiza, região
autônoma espanhola que tem como idioma oficial o galego, língua inteligível com o
português, sendo considerada por pesquisadores e pelos políticos reintegracionistas locais
variantes do mesmo idioma, como explica Santana (2014).
Do mesmo modo, poderia se incluir neste âmbito parte dos uruguaios,
provenientes do Estado que pertenceu, sucessivamente, ao Império Espanhol e ao Império
Português (a antiga Província Cisplatina, do Brasil), entre os séculos XVII ao XIX, até
conseguir sua independência do Brasil, em 1828, pelo Tratado do Rio de Janeiro. Neste
país, o Uruguai, nos departamentos fronteiriços com o Brasil, falam-se os “dialectos
portugueses del Uruguay”, segundo Elizaicín, Behares e Barrios (1987).
Não obstante exista esta perspectiva limitadora em relação à totalidade da
lusosfera, pela própria dicção da norma constitucional brasileira, o fato é que a República
Federativa do Brasil está a consagrar dispositivo que facilita a aquisição da nacionalidade
brasileira aos originários dos países de língua portuguesa, valorizando elemento
linguístico comum e, com isso, deixando entrever a expressão de uma cidadania bastante
singular, a cidadania lusófona.
35
46
O Decreto nº 3.927, de 2001.
36
dois últimos tratados assinalados por Cervo (2011) e a Convenção sobre Igualdade de
Direitos e Deveres entre Brasileiros e Portugueses (o Decreto-Lei nº 70.391, de 1972).
Também será analisada a iniciativa nacional presente na Emenda nº1 à Constituição da
República Federativa do Brasil, de 1969.
47
“O Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil e o Presidente da República Portuguesa,
conscientes das afinidades espirituais, morais, étnicas e linguísticas que, após mais de três séculos de
história comum, continuam a ligar a Nação Brasileira à Nação Portuguesa, do que resulta uma situação
especialíssima para os interesses recíprocos dos dois povos, E animados do desejo de consagrar, em solene
instrumento político, os princípios que norteiam a Comunidade Luso-Brasileira no mundo, Resolveram
celebrar o presente Tratado de Amizade e Consulta”. (BRASIL, 2017d).
48
Ibidem, p.10 (apud MEAUX, p.60).
37
Estava contido, portanto, neste artigo, a gênese do que hoje se encontra previsto
no artigo 12, II, “a” da Constituição Federal de 1988. É preciso consignar que a sua
implementação restou carente de regulamentação à época, principalmente porque na
ordem constitucional de 1946, como na atual, cabia à União a legislação sobre questões
atinentes a nacionalização de estrangeiros50, não tendo a proposição sido levada adiante,
na precitada ordem constitucional, para fins de validação.
49
“Artigo Oitavo. As Altas Partes Contratantes comprometem-se a estudar, sempre que oportuno e
necessário, os meios de desenvolver o progresso, a harmonia e o prestígio da Comunidade Luso-Brasileira
no mundo.
50
“Art. 5º - Compete à União: XV - legislar sobre: n) naturalização, entrada, extradição e expulsão
de estrangeiros”. (BRASIL, 2017e).
38
51
Ibidem, p. 208 (apud MEAUX, 2016, p. 147-148).
52
A Emenda Constitucional nº 1, foi promulgada aos 17 de outubro de 1969, quando o Presidente Costa e
Silva já se encontrava afastado por problemas de saúde. Foi promulgada, portanto, durante a vigência da
Junta Governativa Provisória.
39
53
Embora invadido pela Indonésia em 1975, enquanto eram organizados os movimentos para a
independência do Timor-Leste em face de Portugal, este último país manteve, até 2002, perante as Nações
Unidas, a condição de potência administrante, velando, internacionalmente, pelo direito do povo timorense
à autodeterminação.
42
54
“Art. . 2º O exercício pelos portugueses no Brasil e pelos brasileiros em Portugal de direitos e deveres,
na forma do artigo anterior não implicará em perda das respectivas nacionalidades”. (BRASIL, 2017f).
55
“Art. . 11. O português ou brasileiro, no gozo da igualdade de direitos e deveres, que se ausentar do
território do Estado da residência terá direito à proteção diplomática apenas do Estado da nacionalidade”.
(BRASIL, 2017f).
56
“Art. . 10. Não poderão prestar serviço militar no Estado de residência os portugueses e brasileiros nas
condições do artigo 1º. A lei interna de cada Estado regulará, para esse efeito, a situação dos respectivos
nacionais”. (BRASIL, 2017f).
57
“Art. . 9º Os portugueses e brasileiros que gozem do estatuto de igualdade não estão sujeitos à extradição,
salvo se requerida pelo Governo do Estado da nacionalidade”. (BRASIL, 2017f).
43
58
“Art. . 7º (1) O gozo de direitos políticos por portugueses no Brasil e por brasileiros em Portugal só será
reconhecido aos que tiverem cinco anos de residência permanente e depende de requerimento à autoridade
competente. (2) A igualdade quanto aos direitos políticos não abrange as pessoas que no Estado da
nacionalidade, houverem sido privadas de direitos equivalentes. (3) O gozo de direitos políticos no Estado
de residência importa na suspenção do exercício dos mesmos direitos no Estado da nacionalidade”.
(BRASIL, 2017f).
59
“Art. . 6º A igualdade de direitos e deveres extinguir-se-á com a cessação da autorização de permanência
no território do Estado ou perda da nacionalidade”. (BRASIL, 2017f).
60
“Art. . 13. Aos portugueses no Brasil e aos brasileiros em Portugal serão fornecidos, para uso interno,
documentos de identidade de modelos iguais aos dos respectivos nacionais, com a menção da nacionalidade
do portador e referência à presente Convenção”. (BRASIL, 2017f).
44
oportunidade, a chegada das naus comandadas por Pedro Álvares Cabral, descobridor do
Brasil no imaginário português.
Este Tratado representa, em profundidade, como explica Cervo (2011), a versão
atualizada, contemporânea, do Tratado de Amizade e Consulta entre o Brasil e Portugal,
firmado em 1953, sobre o qual nos debruçamos no subitem 2.2.1 deste trabalho de
conclusão de curso.
Foram discriminados, ao todo, setenta e oito artigos envolvendo a cooperação nos
mais diversos âmbitos, envolvendo, também, as delimitações normativas atinentes a
quase-nacionalidade, especificando-se os direitos e deveres concedidos aos brasileiros e
portugueses no Estado da residência e no Estado da nacionalidade. Neste mesmo sentido:
61
“Artigo 17. 1. O gozo de direitos políticos por brasileiros em Portugal e por portugueses no Brasil só será
reconhecido aos que tiverem três anos de residência habitual e depende de requerimento à autoridade
competente. 2. A igualdade quanto aos direitos políticos não abrange as pessoas que, no Estado da
nacionalidade, houverem sido privadas de direitos equivalentes. 3. O gozo de direitos políticos no Estado
de residência importa na suspensão do exercício dos mesmos direitos no Estado da nacionalidade”.
(BRASIL, 2017g).
45
62
Ibidem, p. 633.
46
63
“Art. 24. 3.Poderão ser atribuídos aos cidadãos dos países de língua oficial portuguesa direitos não
conferidos aos estrangeiros e apátridas, exceto o acesso à titularidade dos órgãos de soberania, o serviço
nas Forças Armadas e a carreira diplomática”. (CABO VERDE, 2017a).
51
64
“ARTIGO 28° 1 — Os estrangeiros, na base da reciprocidade, e os apátridas, que residam ou se
encontrem na Guiné-Bissau, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres que o cidadão
guineense, excepto no que se refere aos direitos políticos, ao exercício de funções públicas e aos demais
direitos e deveres expressamente reservados por lei ao cidadão nacional”. (GUINÉ-BISSAU, 2017).
65
“Artigo 15.º Estrangeiros, apátridas, cidadãos europeus. 3. Aos cidadãos dos Estados de língua
portuguesa com residência permanente em Portugal são reconhecidos, nos termos da lei e em condições de
reciprocidade, direitos não conferidos a estrangeiros, salvo o acesso aos cargos de Presidente da República,
Presidente da Assembleia da República, Primeiro-Ministro, Presidentes dos tribunais supremos e o serviço
nas Forças Armadas e na carreira diplomática”. (PORTUGAL, 2017c).
66
Promulgado, no Brasil, através do Decreto nº 6475, de 5 de junho de 2008.
52
67
Promulgado, no Brasil, através do Decreto nº 6.471, de 4 de junho de 2008.
68
Promulgado, pelo Brasil, através do Decreto nº 6.529, de 4 de agosto de 2008.
53
apenas os seguintes documentos: duas fotografias iguais, tipo passe (3X4) a cores;
documento de viagem com validade superior em, pelo menos três meses à duração
de estada prevista; prova de meios de subsistência; bilhete de passagem de ida e
volta e certificado internacional de imunização (vacinação);
69
Promulgado, pelo Brasil, através do Decreto nº 6.771, de 16 de fevereiro de 2009.
70
Promulgado, pelo Brasil, através do Decreto nº 9.100, de 19 de julho de 2017.
71
Promulgado, pelo Brasil, através do Decreto nº 7.935, de 19 de fevereiro de 2013.
54
72
Disponívelem:<http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/12/151217_portugal_circulacao_paise
s_rm>. Acesso em: 03 ago 2017.
55
Esta visão é endossada por outros pesquisadores, que observam que a CPLP é,
geralmente, utilizada como “um foro para dar apoio às pretensões da política externa
brasileira multilateralmente” (MIYAMAMOTO, 2009 p.33); “como um espaço de
manutenção da zona de influência portuguesa estabelecida desde o período colonial”
(FREIXO, 2017a, p.2) ou como “um locus no qual os PALOP e o Timor-Leste podem
buscar o estabelecimento de parcerias que lhes permitam buscar o desenvolvimento ou a
resolução de seus graves problemas sociais” (FREIXO, 2017b).
Esta dimensão, que envolve uma percepção antiga sobre a comunidade, referente
a existência de uma “triangulação” de poderes, isto é, Portugal, Brasil e os PALOP (com
o Timor-Leste), que explicita sérios constrangimentos para a afirmação contemporânea
da CPLP, segundo Saraiva (2001). Desse modo, para o referido autor, cada um dos três
56
ângulos carrega uma série de dificuldades estruturais e estão submetidos a uma plêiade
de constrangimentos internacionais que tornam a vontade de fazer da CPLP um agente
relevante na cena internacional uma realidade difícil.
No ângulo brasileiro, por exemplo, a CPLP já surgiu coincidindo com um ciclo
de retraimento das relações comerciais, diplomáticas e estratégicas com os países
africanos e mesmo neste âmbito, é a relação com a Nigéria e a África do Sul, e não com
os PALOP, que é privilegiada. Assim, a comunidade se insere dentro de um contexto
desprivilegiado e, ainda, associado ao contexto das relações especiais mantidas pelo
Brasil com a Angola, o terceiro parceiro estratégico brasileiro no continente africano.
Um segundo constrangimento, que não contribui para o avanço da comunidade
advém da “insistência de que a CPLP é um instituto em construção” (SARAIVA, 2001,
p.63), um explícito imobilismo e falta de interesse político do Brasil – convergente,
inclusive, com a notícia veiculada pela BBC (2017), citada acima.
Situação diversa da brasileira, por outro lado, é a de Portugal. Neste ângulo, há
uma política bem definida e a imbricação de consolidação da comunidade lusófona com
a própria parceria estratégica lusa, no contexto da União Europeia. O maior
constrangimento português, sem dúvida, reside no antilusitanismo dos PALOP, que
associa a vigência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa a uma manutenção
contemporânea dos vínculos coloniais que uniram Portugal aos seus territórios de além-
mar.
Consistiria a CPLP, assim, como um espaço para o esforço neocolonizador
português:
Portugal foi uma metrópole que ficou muito tempo na África. Há ainda
uma memória anticolonial nos PALOP, criando, em certos casos,
resistências subterrâneas à CPLP. As longas lutas anticoloniais ainda
não desapareceram da memória coletiva dos países africanos de língua
oficial portuguesa. A força mobilizadora dessas lutas, mesmo perante
as novas gerações, não pode ser subestimada. (SARAIVA, 2001, p.68).
Ainda, é preciso consignar, neste âmbito dos PALOP, que a língua portuguesa não
é fator de unidade nacional para todos, é associada, na maioria das vezes, à língua do
colonizador sofrendo, também, concorrência com a aproximação de países como
Moçambique e Guiné-Bissau a outras comunidades linguísticas ocidentais, a exemplo da
britânica Commonwealth73 e da francesa Organisation Internationale de la
Francophonie74, respectivamente.
Finalmente, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e
Príncipe e o Timor Leste, além do mais recente Estado membro, a Guiné Equatorial,
acabam sendo vítimas da ausência de conteúdo político e econômico nas formulações e
práticas da instituição. Segundo Saraiva (2001), o desejo por cooperação técnica,
científica e tecnológica é frustrado pelo tratamento dado ao Brasil, à comunidade, por um
lado, e, por outro, contrasta com o caráter quase que exclusivamente cultural da política
portuguesa para a CPLP.
Há, por fim, um elemento importante a ser considerado, nesse conjunto, que é a
fragilidade financeira da organização, que implica em dificuldades para aprofundar a
agenda de cooperação. Este aspecto amolda-se, perfeitamente, ao cenário hodierno, pois
“o Brasil e os países africanos de língua portuguesa não têm condições, no momento, de
aportar recursos líquidos suficientes para tais projetos” (SARAIVA, 2001, p.97).
Sobre as hipóteses para a dificuldade de aprovação do Projeto de Convenção-
Quadro relativo ao Estatuto do Cidadão da CPLP, poder-se-ia arguir, também, que o
elemento mais importante a congregar os Estados-membros no projeto de livre-circulação
de cidadãos no espaço CPLP, que é a partilha, pelos Estados-membros, da língua
portuguesa, talvez não tenha gerado a experiência espontânea de pertencimento à
comunidade que implique na assunção de compromissos pelos países.
73
Disponível em:< http://thecommonwealth.org/>. Acesso em: 24 jun. 2017.
74
Disponível em:< https://www.francophonie.org/>. Acesso em: 24 jun. 2017.
58
CONSIDERAÇÕES
75
Ela existe. Encontra-se vigente no Decreto nº 3.927, de 2001, que promulgou o Tratado de Cooperação,
Amizade e Consulta Brasil/Portugal.
60
diplomática desejada para a aprovação do projeto, situação que, associada aos problemas
estruturais existentes na maioria dos PALOP e no Timor-Leste, arrefece o esforço
português em relação a aprovação do Projeto de Convenção-Quadro relativo ao Estatuto
do Cidadão da CPLP.
Para que a cidadania lusófona, nos moldes preconizados pela CPLP, logre existir,
será necessária a convergência nas relações “triangulares” existentes na Comunidade.
Neste âmbito, caberá ao Brasil, especificamente, convencer-se de que a CPLP se
constitui, já, como uma organização com plena capacidade de propiciar a concertação
diplomática neste aspecto e que a extensão da cidadania aos nacionais dos países
lusófonas já uma realidade que aqui vigora – eis a contribuição do trabalho.
A adoção do projeto, em profundidade, beneficiaria aos próprios brasileiros, que
teriam a garantia da reciprocidade jurídica nos territórios da lusosfera: direitos civis e
políticos, mobilidade internacional, residência em espaços do mundo (Europa, África e
Ásia) no quais compartilhamos a mesma língua. Significaria um formidável e ambicioso
passo na extensão e cooperação de direitos aos nacionais dos Estados membros.
61
REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
ALMEIDA, Gaspar de. Carta de Portugal insular e ultramarino. 1 mapa, color.
1185cm x 1600cm. Porto: Editor Manuel Pereira, livraria escolar progredir, 1970.
ALVES-MANZOTTI, Alda Judith; GEWANDSZNAJDER, Fernando. O método nas
ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. São Paulo: Editora
Pioneira, 1998.
BAPTISTA, Olívia Cerdoura. Direito de nacionalidade em face das restrições
coletivas e arbitrárias. Curitiba: Juruá, 2007.
BBC BRASIL. Portugal quer liberdade de circulação e residência entre países
lusófonos; Brasil enxerga ideia com cautela. Disponível em:
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/12/151217_portugal_circulacao_paises_r
m>. Acesso em: 03 ago 2017.
BONAVIDES, Paulo. Comentários à Constituição Federal de 1988. Rio de Janeiro:
Editora Forense, 2009.
BOBBIO, Norberto. Dicionário de política. Vol 1. Brasília: Editora Universidade de
Brasília: 1998.
BRASIL, Planalto. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>.
Acesso em: 25 mar. 2017a.
______. Planalto. Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6815.htm>. Acesso em: 25 mar. 2017b.
______. Planalto. Presidência da República. Lei nº 13.445, de 24 de maio de 2017.
Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2017/lei/L13445.htm>. Acesso em: 25 maio 2017c.
______. Ministério das Relações Exteriores. Tratado de amizade e consulta entre o
Brasil e Portugal, de 16 de novembro de 1953. Disponível em:<http://dai-
mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/1953/b_50/at_download/arquivo>.
Acesso em: 25 maio. 2017d.
ANEXO
66
a) à saúde
b) à educação
c) ao direito e aos tribunais.
Artigo 13.º Pensões, Subvenções e Rendimentos Ao cidadão da CPLP é garantido, nos
termos da legislação aplicável, designadamente nos termos de Convenções Multilaterais
celebradas no âmbito da CPLP e dos Acordos e/ou Protocolos Bilaterais existentes ou que
venham a ser celebrados, e de acordo com os princípios da igualdade de tratamento e do
pagamento extraterritorial de 11 pensões, o direito de continuar a receber no território de
qualquer Estado-Membro em que passe a residir quaisquer pensões, subvenções ou
rendimentos constituídos no território de um dos Estados-Membros, com excepção das
pensões sociais que tenham natureza não-contributiva.
Artigo 14.º Lei penal. Os cidadãos da CPLP estão sujeitos à lei penal do Estado de
residência.
Artigo 15.º Circulação de Pessoas Os Estados-Membros, com observância das
respectivas legislações internas e ainda dos Acordos respeitantes às organizações e aos
Agrupamentos Regionais em que se inserem, adoptarão por Convenção Multilateral
celebrada no âmbito da CPLP ou ainda por Acordo Bilateral, as medidas tendentes a
facilitar a circulação dos cidadãos entre si.
Artigo 16.º Tratamento Mais favorável Os Estados-Membros poderão conceder, a título
unilateral ou por força de obrigações emergentes do direito internacional, que tenham por
base instrumentos existentes ou que venham a ser celebrados entre Estados-Membros, e
de acordo com os respectivos ordenamentos jurídicos nacionais, um tratamento mais
favorável aos cidadãos da CPLP do que o previsto na presente Convenção.
Artigo 17.º Depositário
1. Os instrumentos de ratificação serão depositados junto do Secretariado Executivo da
CPLP.
2. O Secretariado Executivo da CPLP notificará os Estados-Membros do depósito
daqueles instrumentos.
Artigo 18.º Entrada em vigor
1. A presente Convenção entrará em vigor no primeiro dia do mês seguinte ao do último
depósito do instrumento de ratificação junto do Secretariado Executivo da CPLP.
2. Até à entrada em vigor da presente Convenção, qualquer Estado-Membro pode, ao
proceder ao depósito do instrumento de ratificação, ou em qualquer outro momento,
declarar que a presente Convenção lhe é aplicável nas relações com os Estados Membros
que tiverem feito a mesma declaração. Essas declarações produzirão efeitos 90 dias a
contar da data do seu depósito.
Artigo 19.º O presente Acordo está aberto à adesão de Estados que venham a obter o
estatuto de Estado-Membro da CPLP.
Artigo 20.º O texto original da presente Convenção será depositado na Sede da CPLP,
junto do seu Secretariado Executivo, que enviará cópias autenticadas do mesmo aos
Estados Membros.
69