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Disciplina: Metodologia do Ensino e Diretrizes Curriculares para o Ensino de Ciências

Aluno: Giovanni Augusto Téles de Ataíde

Análise de Documento – BNCC (Base Nacional Curricular Comum)

A BNCC é um documento normativo cujo objetivo é propor uma base comum curricular (como
o nome diz), fazendo com que os alunos de todas as regiões do país saiam dos mesmos níveis
de escolaridade com as mesmas competências e habilidades, embora os detalhes de como isso
seja alcançado sejam desenvolvidos por parte de cada unidade federativa e município
brasileiro. O ajuste se faz necessário, pois existem problemas particulares e variações culturais
significativas, imprescindíveis na construção da identidade e diversidade do povo.

Mostrando-se como trunfo e ferramenta de validação de uma educação de qualidade, o


documento propõe sua dezena de competências de aprendizagens essenciais, referentes
diferentes às áreas, almejando a superação da visão antiga de fragmentação e nuclearização do
conhecimento, sendo substituída pela formação de pessoas com visões ampliadas do mundo no
qual vivemos, capazes de atuar nele e modificá-lo.

Envolvendo os mais diversos órgãos nacionais e internacionais (OCDE, Pisa, MEC, CNE,
Consed, Undime etc.), os organizadores do projeto têm a noção mínima de que mudanças com
tal magnitude exigem mobilização geral. No entanto, nota-se a presença de comodismo e falta
de estímulo em cada ponto hierárquico, fazendo-se perpetuar os velhos costumes, evidenciado
não somente através de materiais monótonos confortáveis, extensões recolhidas e portas
fechadas, mas também pela cíclica formação do professorado e da negligência no tratamento
das próprias imposições.

Ao verificarmos os objetivos intrínsecos e compará-los aos dados coletados, temos o ledo


engano em supor que, dessa forma, rapidamente cumpriremos todas as metas e atingiremos a
excelência. Não à toa, o Brasil é o segundo país no mundo com a pior percepção da realidade,
posto que estar de acordo com a Agenda ONU 2030 para o desenvolvimento sustentável (antes
mesmo do prazo) e alcançar Idebs estratosféricos estejam entre as maiores ilusões quantitativas
e exemplos de maquiavelismo averiguados na educação brasileira.

Em defesa da “igualdade, diversidade e equidade”, crianças pobres não assistem aulas em 2020,
no esquema “EAD pandêmico”. Tudo faz-se parecer merecimento, trazendo culpabilidade a
elas, desesperança, mera manutenção de estrutura, enquanto a superestrutura sugere, em um
comercial do Governo Federal “a vida não pode parar, é preciso ir à luta, se superar”. Quanto
um ser humano é capaz de se esforçar sem os mesmos privilégios, meus caros? Passos em falso
maiores que as próprias pernas e poucos estão preocupados com o crescimento delas em
primeiro plano.

A tentativa desesperada em parecer um Estado maduro, desenvolvido educacional e


culturalmente e poderoso frente aos demais só tem reforçado a incapacidade de realizar uma
administração suficiente (a qual não passa nem nas competências estabelecidas na BNCC).
Quanto mais lia (tanto este, quanto os outros documentos desta série), percebia a perversidade
e a hipocrisia fantasiadas de texto pedante, embora repleto de boas ideias.

No que tange as ciências naturais, como seria possível incentivar a preservação do Meio
Ambiente, se o ministro responsável por esta importante área diz, em reuniões ministeriais para
“ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas” durante o foco
midiático na questão do Covid-19, como cortina de fumaça (bastante utilizada, metafórica e
literalmente) que facilite flexibilização de leis ambientais. Bem como o negacionismo a
respeito das queimadas na Amazônia ou a dedicação pífia na preservação do Pantanal,
recentemente acometido por queimadas colossais.

Querer desmistificar a ciência, desconstruir a ideia de inacessibilidade, a figura estereotipada


do cientista descabelado, solitário em um laboratório, que abdica da própria humanidade em
prol da construção de um mundo melhor é uma coisa. Mas não me venha utilizar figuras de
máxima autoridade para afirmar contrários, porque o ser humano se dispõe a seguir líderes,
principalmente os “mitos”.

Mostrar que a ciência é capaz de errar e não é detentora do conhecimento absoluto não é
justificar opiniões porcas e sem embasamento. Isso é facilmente dedutível. Minha sugestão
pessoal seria a leitura realizada por estes, os quais tampouco se propõem a ler decretos antes
mesmo de assinar e consideram livros como, “via de regra, um amontoado de um monte de
coisa escrita”. Para além desta visão limitada sobre a ciência, a BNCC compreende expansão
da consciência acerca da integralidade e conectividade universais na ideia de letramento
científico, permitindo a atuação no e sobre o mundo com responsabilidade (não é o caso).

Com a diminuição dos eixos temáticos para três (matéria e energia, vida e evolução e terra e
universo), acredito que seja possível o favorecimento da noção unificadora. No entanto, deve-
se ter cuidado com o tratamento contextualizado e aplicado, porque, em alguns casos, a
abrangência possa se tornar excludente. A retomada espiral e gradual dos diferentes assuntos
pode ser uma boa medida, embora tenha dúvidas se o acompanhamento particular permita o
devido nivelamento ou se, pela continuidade, alguém termine não aprendendo
verdadeiramente, como tem acontecido nos últimos, levando em conta apenas os resultados de
rendimento numérico, erroneamente tratados (assim dito anteriormente).

Na minha concepção, curricular ou não, a base precisa de reforma real. Sem alicerce bem
construído e blocos devidamente assentados, o progresso é inviável. Isso se estende em todo
âmbito social, econômico e cultural, assim como pontuado no documento, a noção de
desigualdade deve remover as raízes da tradição e comover os corações vestigiais dos
burgueses. Por enquanto, nunca é tarde para aprender.

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