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A BNCC é um documento normativo cujo objetivo é propor uma base comum curricular (como
o nome diz), fazendo com que os alunos de todas as regiões do país saiam dos mesmos níveis
de escolaridade com as mesmas competências e habilidades, embora os detalhes de como isso
seja alcançado sejam desenvolvidos por parte de cada unidade federativa e município
brasileiro. O ajuste se faz necessário, pois existem problemas particulares e variações culturais
significativas, imprescindíveis na construção da identidade e diversidade do povo.
Envolvendo os mais diversos órgãos nacionais e internacionais (OCDE, Pisa, MEC, CNE,
Consed, Undime etc.), os organizadores do projeto têm a noção mínima de que mudanças com
tal magnitude exigem mobilização geral. No entanto, nota-se a presença de comodismo e falta
de estímulo em cada ponto hierárquico, fazendo-se perpetuar os velhos costumes, evidenciado
não somente através de materiais monótonos confortáveis, extensões recolhidas e portas
fechadas, mas também pela cíclica formação do professorado e da negligência no tratamento
das próprias imposições.
Em defesa da “igualdade, diversidade e equidade”, crianças pobres não assistem aulas em 2020,
no esquema “EAD pandêmico”. Tudo faz-se parecer merecimento, trazendo culpabilidade a
elas, desesperança, mera manutenção de estrutura, enquanto a superestrutura sugere, em um
comercial do Governo Federal “a vida não pode parar, é preciso ir à luta, se superar”. Quanto
um ser humano é capaz de se esforçar sem os mesmos privilégios, meus caros? Passos em falso
maiores que as próprias pernas e poucos estão preocupados com o crescimento delas em
primeiro plano.
No que tange as ciências naturais, como seria possível incentivar a preservação do Meio
Ambiente, se o ministro responsável por esta importante área diz, em reuniões ministeriais para
“ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas” durante o foco
midiático na questão do Covid-19, como cortina de fumaça (bastante utilizada, metafórica e
literalmente) que facilite flexibilização de leis ambientais. Bem como o negacionismo a
respeito das queimadas na Amazônia ou a dedicação pífia na preservação do Pantanal,
recentemente acometido por queimadas colossais.
Mostrar que a ciência é capaz de errar e não é detentora do conhecimento absoluto não é
justificar opiniões porcas e sem embasamento. Isso é facilmente dedutível. Minha sugestão
pessoal seria a leitura realizada por estes, os quais tampouco se propõem a ler decretos antes
mesmo de assinar e consideram livros como, “via de regra, um amontoado de um monte de
coisa escrita”. Para além desta visão limitada sobre a ciência, a BNCC compreende expansão
da consciência acerca da integralidade e conectividade universais na ideia de letramento
científico, permitindo a atuação no e sobre o mundo com responsabilidade (não é o caso).
Com a diminuição dos eixos temáticos para três (matéria e energia, vida e evolução e terra e
universo), acredito que seja possível o favorecimento da noção unificadora. No entanto, deve-
se ter cuidado com o tratamento contextualizado e aplicado, porque, em alguns casos, a
abrangência possa se tornar excludente. A retomada espiral e gradual dos diferentes assuntos
pode ser uma boa medida, embora tenha dúvidas se o acompanhamento particular permita o
devido nivelamento ou se, pela continuidade, alguém termine não aprendendo
verdadeiramente, como tem acontecido nos últimos, levando em conta apenas os resultados de
rendimento numérico, erroneamente tratados (assim dito anteriormente).
Na minha concepção, curricular ou não, a base precisa de reforma real. Sem alicerce bem
construído e blocos devidamente assentados, o progresso é inviável. Isso se estende em todo
âmbito social, econômico e cultural, assim como pontuado no documento, a noção de
desigualdade deve remover as raízes da tradição e comover os corações vestigiais dos
burgueses. Por enquanto, nunca é tarde para aprender.