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Behaviorismo Considerações Gerais

Behaviorismo, também designado de comportamentalismo, é o conjunto das teorias psicológicas que


postulam o comportamento como o mais adequado objeto de estudo da Psicologia. Os campos de
conhecimento conhecidos como análise do comportamento e comportamentologia podem ser
considerados como vanguarda das tradições sob o rótulo "behaviorismo", atualmente em disputa pelo
título de "a ciência do comportamento".

O comportamento é definido por meio de unidades analíticas, como respostas e estímulos, e


investigado por meio de diferentes métodos, dentre os quais destacam-se:

a observação do comportamento em ambiente experimentalmente controlado;


a observação do comportamento em ambiente natural;
a interpretação de relações comportamentais orientada por evidências empíricas.

Como precedentes do comportamentalismo podem ser considerados os fisiólogos russos Vladimir


Mikhailovich Bechterev e Ivan Petrovich Pavlov. Bechterev, grande estudioso de neurologia e
psicofisiologia, foi o primeiro a propor uma Psicologia cuja pesquisa se baseia no comportamento -
Psicologia Objetiva. Pavlov, por sua vez, foi o primeiro a propor o modelo de condicionamento do
comportamento conhecido como reflexo condicionado, e tornou-se conceituado pelas suas
experiências de condicionamento com cães. A sua obra inspirou a publicação, em 1913, do artigo
Psychology as the Behaviorist views it, de John B. Watson. Este artigo apresenta uma contraposição à
tendência até então mentalista (isto é, focada nos processos psicológicos internos, como memória ou
emoção) da Psicologia do início do século XX, além de ser o primeiro texto a usar o termo
"behaviorismo".

Behaviorismo Clássico - A proposta de Watson era abandonar provisoriamente o estudo dos processos
mentais (pensamento ou sentimentos) e mudando o foco da Psicologia, para o comportamento
observável. Para Watson, a pesquisa dos processos mentais era pouco produtiva, de modo que seria
conveniente concentrar-se no que é observável - o comportamento. Neste caso, o comportamento
seria qualquer mudança observada, num organismo, como consequência de algum estímulo ambiental
anterior, especialmente alterações nos sistemas glandular e motor. Devido à ênfase no movimento
muscular, alguns autores referem-se ao "behaviorismo clássico" como "Psicologia da Contração
Muscular".

O behaviorismo clássico partia do princípio de que o comportamento era modelado pelo paradigma
pavloviano de estímulo e resposta conhecido como condicionamento clássico. Noutras palavras, para
o behaviorista clássico, um comportamento é sempre uma resposta a um estímulo específico mesmo
que não tenha ocorrido aprendizagem. Porém, é importante notar que Watson em momento algum
nega a existência de processos mentais. Para Watson, o problema no uso destes conceitos não é tanto
o conceito em si, mas a inviabilidade de, à época, poder analisar os processos mentais de maneira
objetiva.
Watson era um defensor da importância do meio na construção e desenvolvimento do indivíduo. Ele
acreditava que todo comportamento era consequência da influência do meio (experiência do Pequeno
Albert).

Edward Thorndike foi também um grande impulsionador do behaviorismo, contribuindo com a sua
chamada Lei do Efeito, ou seja, as consequências do comportamento do individuo no que era
aprendido entre Estimulo e Resposta. A sua teoria da aprendizagem descrevia o modo como estas
conexões podiam ser fortalecidas ou enfraquecidas. Achava que a aprendizagem era, basicamente, um
empreendimento de tentativas e erros, prestando pouca atenção à possibilidade de formação de
conceitos ou de pensamentos.

1. A Lei da Prontidão: quando o organismo se encontra num estado em que as unidades de


transmissão (conexões E-R) estão prontas a transmitir, então esta torna-se satisfatória. Se a
unidade de transmissão não está pronta a transmitir, então a transmissão é perturbada.
2. A Lei do Exercício: também conhecida como lei do uso e do desuso, afirma que quanto mais
uma conexão E-R for utilizada mais forte se tornará, no inverso, quanto menos utilizada for,
mais fraca será a conexão (“A prática faz a perfeição”). A prática cega, sem qualquer
conhecimento das consequências do ato, não tem qualquer efeito sobre a aprendizagem.
3. A Lei do Efeito: afirma que uma conexão E-R é fortalecida se for seguida de satisfação
(recompensa). Do mesmo modo, uma conexão é enfraquecida se for seguida de uma punição,
apesar de posteriormente chegar à conclusão que uma recompensa fortalece mais do que uma
punição enfraquece.

Com base nestas leis, Thorndike tornou-se um dos primeiros psicólogos a realçar a importância da
motivação no processo de aprendizagem, e a elaborar o conceito de transferência, através da lei dos
elementos idênticos, defendendo que quem aprende poderá confrontar melhor problemas futuros se
estes tiverem elementos semelhantes aos já resolvidos com sucesso.

Neobehaviorismo mediacional - Tolman publicou, em 1932, o livro Purposive Behavior in Animal and
Men, no qual propõe um novo modelo behaviorista baseando-se nalguns princípios dissonantes da
teoria watsoriana. Esse modelo apresentava um esquema S-O-R (estímulo-organismo-resposta) onde,
entre o estímulo e a resposta, o organismo passa por eventos mediacionais, a que Tolman chama de
variáveis intervenientes (em oposição às variáveis independentes, i. e. os estímulos, e às variáveis
dependentes, i. e. as respostas). As variáveis intervenientes seriam, então, um componente do
processo comportamental que conectaria os estímulos e as respostas, sendo os eventos mediacionais
processos internos.

Baseado nesses princípios, Tolman apresenta uma teoria do processo de aprendizagem sustentada
pelo conceito de mapas cognitivos, i. e., relações estímulo-estímulo, ou S-S, formadas nos cérebros dos
organismos. Essas relações S-S gerariam expectativas no organismo, fazendo com que ele adote
comportamentos diferentes e mais ou menos previsíveis para diversos conjuntos de estímulos. Esses
mapas seriam construídos através do relacionamento do organismo com o meio, quando observa a
relação entre vários estímulos. Os processos internos que permitem a criação de um mapa mental
entre um estímulo e outro são usualmente chamados gestalt (sinais).

Como se vê, Tolman aceitava os processos mentais, assim como Watson, mas, ao contrário deste,
utilizava-os, efetivamente, no estudo do comportamento. Tolman também acreditava no caráter
intencional do comportamento: para ele, todo comportamento visa alcançar algum objetivo do
organismo, e o organismo persiste no comportamento até o objetivo ser alcançado. Por essas duas
características da sua teoria (aceitação dos processos mentais e proposição da intencionalidade do
comportamento como objeto de estudo), Tolman é considerado um precursor da psicologia cognitiva.

Behaviorismo radical - Burrhus F. Skinner publicou, em 1953, o livro Science and Human Behavior
marcando assim o início da corrente comportamentalista conhecida como behaviorismo radical.

O behaviorismo radical foi desenvolvido não como um campo de pesquisa experimental, mas sim uma
proposta de filosofia sobre o comportamento humano. As pesquisas experimentais constituem a
Análise Experimental do Comportamento, enquanto as aplicações práticas fazem parte da Análise
Aplicada do Comportamento. Skinner jamais negou em sua teoria a existência dos processos mentais,
mas afirma ser improdutivo buscar nessas variáveis a origem das ações humanas, ou seja, os eventos
mentais não causam o comportamento das pessoas. A análise de um comportamento (seja ele
cognitivo, emocional ou motor) deve envolver, além das respostas em questão, o contexto em que ele
ocorre e os eventos que seguem as respostas.

Skinner desenvolveu os princípios do condicionamento operante e a sistematização do modelo de


seleção por consequências para explicar o comportamento. O condicionamento operante segue o
modelo SD-R-SR, onde um primeiro estímulo Sd, dito estímulo discriminativo, aumenta a
probabilidade de ocorrência de uma resposta R. A diferença em relação aos paradigmas S-R e S-O-R é
que, no modelo SD-R-SR, o condicionamento ocorre se, após a resposta R, segue-se um estímulo
reforçador Sr, que pode ser um reforço (positivo ou negativo) que "estimule" o comportamento
(aumente sua probabilidade de ocorrência), ou uma punição (positiva ou negativa) que iniba o
comportamento em situações semelhantes posteriores.

O condicionamento operante difere do condicionamento respondente de Pavlov e Watson porque, no


comportamento operante, o comportamento é condicionado não por associação reflexa entre
estímulo e resposta, mas sim pela probabilidade de um estímulo se seguir à resposta condicionada.
Quando um comportamento é seguido da apresentação de um reforço positivo ou negativo, aquela
resposta tem maior probabilidade de se repetir com a mesma função; do mesmo modo, quando o
comportamento é seguido por uma punição (positiva ou negativa), a resposta tem menor
probabilidade de ocorrer posteriormente. O behaviorismo radical se propõe a explicar o
comportamento animal através do modelo de seleção por consequências. Desse modo, o
behaviorismo radical propõe um modelo de condicionamento não-linear e probabilístico, em oposição
ao modelo linear e reflexo das teorias precedentes do comportamentalismo.

Para Skinner, os comportamentos são selecionados através de três níveis de seleção. Os componentes
da mesma são:
Nível filogenético: que corresponde aos aspetos biológicos da espécie e da hereditariedade do indivíduo;
Nível ontogenético: que corresponde a toda a história de vida do indivíduo;
Nível cultural: os aspetos culturais que influenciam a conduta humana.

Através da interação desses três níveis (onde nenhum deles possui um status superior a outro) os
comportamentos são selecionados. Para Skinner, o ser humano é um ser ativo, que opera no ambiente,
provocando modificações nele, modificações essas que retroagem sobre o sujeito, modificando os
seus padrões comportamentais.
Uma das razões pela qual os educadores precisam de conhecer o condicionamento é que um grande
número de reflexos autónomos podem ser condicionados ao longo de toda a escolaridade. As
respostas autónomas como o suor, ritmo cardíaco acelerado ou sentimentos difusos de ansiedade,
podem ser condicionados por certos indícios, que acabam por ficar associados a vários aspetos do
contexto escolar. As crianças que foram condicionadas ao ponto de ficarem paralisadas com um
problema de matemática, dificilmente conseguirão aprender os conteúdos e gostar da disciplina. Não
significa que os professores criem deliberadamente estes medos, mas podem, sem querer preparar o
cenário para o condicionamento. Este tipo de processo não ocorre sem razão, podendo por vezes
acontecer porque os próprios professores terem um medo condicionado da Matemática (por exemplo)
e, sem querer, transmiti-lo aos alunos sob a forma de repressões, ameaças ou através de uma
abordagem rígida da disciplina.

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