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oe ~ Violao Intercambio Leta: LUTHERIA SEGOVIA, Os novos luthiers, por Antonio Tessarin Uma segunda e controversa viso, por Fabio Falando em luteria, por Roberto Gomes......pag. 7 Z8NOn pag. 12 Espécies de madeiras, por Eugénio Follmann...pég.8 — ENTREVISTA COMO DUO ASSAD Ermano Chiavi, por Géris Lopes.. Por Sidney Molina, moi Entrevista, com Roberto Gomes. “Assim foi temperado o ago" A segdo Perfil homenageia nesta edi- ¢o o prof. Antonio Carlos Guedes. Leia a entrevista na pag. 4 Editorial s ntimeros recentes do Violdo Intercimbio trouxeram a consolidagdo de mu- dangas que ao longo de 1997 tentamos alcangar: aumento do ntimero de pagi nas e do ntimero de colaboradores para equilibrar opinides ¢ tendéncias do mercado violonistico brasileiro. Nesse em especial, mostramos a nossos leitores o dindmico mundo da lutheria de violéo, com depoimentos de profissionais da drea. O assunto no termina aqui, falare- mos mais a respeito da construgdo de violdes em ntimeros futuros. Na seco Perfil, destacamos e homenageamos o prof. Antonio Guedes, de Jundiai, que realiza um trabalho significativo com o qual identificamos. No més de outubro, pela primeira vez, 0 violao foi escolhido como matéria principal de uma prestigiosa publicagao de musica erudita brasileira: a revista CONCERTO soli tou ao violonista Sidney Molina, do Quaternaglia, uma entrevista com 0 duo Assad. Realizada com Sergio Assad por telefone, diretamente de Nova York, conta detalhes sobre a carreira do principal duo de violées da atualidade. Devemos parabenizar a i ativa € torcer para que ocorram outras matérias dessa qualidade ligadas ao violao. Que- remos também agradecer a gentileza do editor de CONCERTO, Nelson Rubens Kunze, que cedeu os direitos sobre a entrevista para publicagzio no VIOLAO INTERCAMBIO. Expediente Os artigos aqui veiculados sdo de inteira responsabilidade de seus autores, Jomalista responsdvel: Teresinha Rodrigues Prada Soares MTb 19130 Editoracao eletrénica: Ricardo Marui Colaboradores: Gilson Antunes, Géris Lopes, Eugenio Follmann, Ant6nio Tessarin, Maria da Penha Soares, Edmauro de Oliveira, Wladimir Bonfim, Moacyr Teixeira, Fébio Zanon, Sidney Molina Jr. Endereco para correspondéncia/assinatura: Rua Angelo Guerra 18/92, CEP 11045-510, Santos - SP, tel. (0132) 37-5660 com Teresinha Prada. Assinatura: RS 8,00 (semestral) - RS 15,00 (anual) E-mail: rmarui@originet.com.br Complete sua colegio de “Violdo Intercambio” adquirindo nimeros anteriores. Escreva para nds informando quais exemplares deseja receber. A taxa é de R$ 2,50 por exemplar. Agenda SAO PAULO - SP 30/11 - Recital de Formatura de Gustavo Costa no auditério Maestro Joao Batista Julido - Insti- tuto de Artes da UNESP, 2s 20 h, oenderego é: r. Dom Lujs Lasagna 400. Gustavo, que concluiu © Bacharelado sob orientagiio de Gisela Noguei- 1a, se apresentou em diversas salas de Sao Paulo ¢Riode Janeiro, foi vencedor dos Concursos Sou- za Lima e Musicalis de Sao Paulo foi semifina- lista dos Concursos das Radios MEC ¢ Eldorado. 03/12 - Recital de Formatura da violonista Ledice Fernandes na Escola Municipal de Musica, No repertério obras de Bach, Granados, Radamés Gnattali ¢ Leo Brouwer. 712 - Langamento do CD “A queda dos Péssa- ros”, de Paulo Porto Alegre. Local: Livraria Sa- raiva do Shopping Eldorado. 09/12 - No Musicalis, 0 violonista Alexandre Moschella toca obras de Dowland, Brouwer, Krieger, Villa-Lobos e John Duarte. 1998 29/30 e 31 de janeiro e 01 e 02 de Fevereiro - V Semindrio de Violio Souza Lima. Informagées: Rua José Maria Lisboa 745 - Fone (011) 884- 9149. BE) - 28/11 - No palicio das Artes, Edelton Gloeden ¢ Adélia Issa (soprano) se apresentam na Sala Juvenal Dias. No repertério, obras de Gehard, Rodrigo, Mignone, Guarnieri e Mahle. NITEROI- RI 28/11 - Homenagem da violonista Graga Alan 20 seu irmiio Marcos Alan. Participagiio de: Gra- ca Alan, Bartholomeu Weise, Maria Haro, Marcus Llerena, Chuang Yu Ting, Paulo Pedrassoli. Lo- cal: Teatro Municipal de Niteréi. RIO DE JANEIRO - RI 10/12 - Na Universidade Federal do Rio de Ja- neiro, onde cursa o Mestrado sob orientagio de Turfbio Santos, Ledice Fernandes se apresenta- rdem recital. EGTA O CD “Duo Barbieri Schneiter 10 anos” € 0 novo langamento do selo. InformagGes: tel. (011) 571-0288. Préximos langamentos: “Sonatas Latino-Americanas” obras de Ginastera, Guastavino, Ronaldo Miranda (1? gravago mundial). Com Fabio Zanon. Langamento previsto para meados de Dezem- bro. “OQ violdo nos anos 20 e 30” Repertério da tese de Mestrado de Edelton Gloeden para a USP. Na gravacdo, é utilizado um violio Henrique Garcia-Francisco Simplicio, de 1923, instru- mento histérico com o qual Agustin Barrios se apresentou em varios concertos. Lancamento previsto para inicio de 1998. AGENDA INTERNACIONAL 1998 FINLANDIA De 3 a 13/06 - The International Leo Brouwer Guitar Competititon em Tampere - Finlandia. Diregdo: Timo Korhonen; juri formado por Leo Brouwer, Oscar Ghiglia, Per-Olof Johnson, Timo Korhonen e Jukka Tiensuu. O prazo final para inscrig&io 27/02/98. A primeira rodada em 4 ¢ 5/06; a semifinal em 7 e 8/08 ea final em 190 11/06 acompanhado pela Orquestra Filarménica de Tampere. Enderego: Tampere Hall Festival P.O. Box 16 FIN-33101 Tampere, Finland. Fax 358 3 243 4197.concert department@TampereHall.tampere. fi http://www. info.tampere.fi/TampereHall/ guitar98.htm Pigina3 Perfil Antonio Carlos Guedes por Teresinha Prada e Gilson Antunes Idade: 60 anos Natural de Capivari » SP e-mail: tarrega@jd.dglnet.com.br Fitho de seresteiro, 0 prof. Guedes iniciou aos 10 anos os estudos de Musica, € 0 violdo entrou em sua vida aos 14. Nao havendo pro- ‘fessor em Capivari, esforgou-se sozinho em sa- ber mais sobre o instrumento - descobriu dis- cos de Segovia ¢ um método em espanhol de Mario Arenas, que ia decifrando aos poucos. Continuow estudando sozinho até os 21 anos, quando numa viagem a Séo Paulo para com- prar partituras, conheceu Sdvio, com quem es- tudaria por 6 anos (1958-1964). Em 1960, ven- ceu entre 35 concorrentes o Concurso de Con- servatbrios do estado de Sao Paulo, patrocina- do pela Giannini. Dat comegaram as apresen- tagdes, inclusive no Teatro Municipal de Sao Paulo (1964). Em 1980, obteve bolsa para es- tudar com Carlevaro. Um aspecto que nito pode ser deixado de lado é que, durante todo esse tempo, trabathava em metaliirgica (por 32 anos). Sobre Guedes, a definigdo mais poética € merecedora de citagdo é a do compositor Gil- berto Mendes, em um artigo de dezembro de 1980: “Assim foi temperado 0 ago, diz o titulo de um velho romance operdrio, Assim foi tem- perada a técnica e a concepgao de interpreta. do de Antonio Guedes. E interessante verifi- car como a vivéncia de um homem se projeta em sua realizagao (...) Em Antonio Guedes, 0 metaliirgico, admiro 0 homem e o artista, numa 56 pessoa”. - Como vocé enfoca os estudos iniciais de um estudante? Primeiro, comegar com um bom professor, pois im ele ja tera a mao “arrumada”, porque hé muitos casos de alunos que chegam mal formados © 0 que acontece € que aquele pique do comeco Pigina 4 Pass eles jé gastaram com 0 outro professor e quando a gente fala “vamos recomegar” - eles desistem. En- Go, comegando bem ele vai ter mais chance de se firmar como violonista. O repent6rio inicial; eu con- sidero dois pilares - Sor e Giuliani. Como estudar: © metrénomo eu uso bastante, por exemplo, com criangas; eu vou mostrando as primeiras notas, jé vou posicionando mio, fago ele cantar - porque é importante que ele se ouga. As horas de estudo; su- giro que a crianga intercale periodos de estudo do violdo com suas atividades didrias, meia hora, por exemplo, Se ele estiver interessado ele fard. E mais imeressante pegar no violdo varias vezes no dia do que s6 uma hora direto. Quando tiver avangado, é normal que fique mais tempo. A técnica didria pode ser com um método, por exemplo, 0 do Carcassi op. 59, mas a pessoa pode inventar a sua técnica diéria, mesclando varios exercicios. Para os mais avangados, se quer fazer arpégio - Estudo 1 do Villa- Lobos; se quer escalas - Estudo 7; quer melhor es- tudo de ligados que 3 do Villa? Acordes - mimero 4. Enfim, hé muitos métodos bons de acordo com a fase; “Ciranda”; Carcassi Opus 59; “‘Iniciago” € “Curso Progressivo” do Henrique; Opus 60 do Sor; Opus 48 do Giuliani. - E sobre repertérios? Primeira coisa que a turma escolhe pra repertério € aAllemandee a Bourrée do Bach; se ainda ndio.con- segue, toca-se “Espagnoleta” ¢ “Greensleeves”. Nesse meio dé pra colocar os dois Andantes do ‘Térrega. O Opus 60 do Sor, em seguida. Terminada esta fase a pessoa procura repertério. Pode ser Sor opus 6; opus 29; opus 35. = O que vocé costuma indicar durante uma pega? Primeiro tem que dissecar a pega, se € AB, se nao é. Decorar por fraseados, segdes, cantar... ‘Voce precisa saber a forma, os caminhos por onde vocé estd indo. = Que mais vocé acha bom o aluno fazer? Tocar um instrumento melédico também ou o canto pra descobrir o fraseado, saber respirar, fazer mi- sica de cfimara. A hora em que voc® vai tocar junto com alguém, muda a leitura, muda tudo, vocé € obri- gado a marcar alguma coisa, as sinalizagdes, fora o entrosamento, a troca de informagées. = Desde que vocé comegou a estudar é que vocé pensou em todos esses esquemas? Nio, fui formando com os anos. Quando eu come- cei - com 0 Savio -, vocé tocando a nota certa ja estava bom, Nao errando, j4 estava bom, Por exem- plo, aqui no Brasil, tocar “Sevilha” e “Catedral” era uma coisa de um deus! Hoje nao, hd mais informa- go, mais técnica. O Henrique foi uma pessoa que me fez ver 0 violio de uma forma diferente. O Edelton (Gloeden) também, outra visdo, outra pes- soa excelente pra Didética. -Como foi com 0 Carlevaro? Passei um més com ele, e € uma linha-dura. Tem que gostar, e como eu gosto... funcionou né? - Qual sua relagéio com os alunos? An! Pra mim aluno meu € um filho (risos)! Porque no é uma coisa isolada. = Vocé acha que é porque vocé mora aqui em = Vocé seria assim em Sao Paulo-capital? Eu sou a mesma coisa em qualquer lugar. Porque tem gente que gosta de falar diffcil, de mudar o tom de voz. Eu no. Vocé sabe que tem professor que intimida. Eu nio, eu falo assim: “Voce vai tocar, voce vai ser melhor que todo mundo, nem esquen- te!” E sempre foi assim com os meus alunos. Ser colega né? + Entéto muitos ex-alunos te procuram? Sim, pra mostrar uma pega, ou duo com alguém. “Pra desencanar”, como diz o Fabio Zanon. - E também porque uma opinido sua tira um grande peso. Porque miisico é moral. Quando uma pessoa ga- nha um concurso, no dia seguinte se tiver que dar um recital ela dobra a performance. - Vocé soube trabathar bem com a sua “vida dupla” ndo é mesmo? Eu tenho duas vidas. A primeira, tem 32 anos de servigo - ferramenteiro-modelador. Af aposentei ¢ pensei: “Bem eu vou pro violdo, vou cumprir horério agora s6 no violdo”. - E ndo existia meia-jornada, nao €? Nao tinha. Eram 48 horas por semana. Eu levan- tava as 10 pras 4; tomava o café da manha; estu- dava um pouquinho até 4 e meia, depois safa de casa pra pegar o Gnibus que passava aqui na rua de cima as 20 pras 5. Chegava Sh10 na firma, 5h27 eu estava trabalhando. Chegando do servigo as 16h30 tomava banho e ia estudar violao. O meu pai também jé tinha essa vontade de aprender. - Como vocé vé o violéo hoje em dia, em termos de mercado? violdo solo estd em baixa. - Devido a qué? Novas tecnologias? As pessoas esto ouvindo coisas.. Nao. Esto ouvindo muita besteira (risos). Entdo mtisica, musica mesmo, virou violonista tocando pra violonista. Quando deveria ser violonista to- cando pra piblico, Esté faltando divulgagio séria, pra mostrar pro povo que existe esse som e tal. Agora se a midia ndo quer mostrar, ai € outro de- partamento. Mas est4 em baixa por causa disso - falta de divulgagao. Phigina OS NOVOS LUTHIERS ESTAO CHEGANDO por Antonio Tessarin Para quem no sabe, luthier & 0 arteso que constr6i qualquer instrumento de cordas, exceto pianos ¢ cra- vos. A palavra, francesa, quer dizer “construtor de alaides”(em Francés, alaide ¢ uth) mas, como estes foram largamente divulgados ¢ popularizados, seu sig- nificado se ampliou. ‘Quando comecei a me interessar pelo assunto, por volta de 1985, tive a sorte de poder contatar rapidamen- te a maioria dos luthiers ativos no Brasil, através dos conhecimentos de meu imo violonista, Quase todos esses artistas, porém, ndio gostavam de divulgar seu tra- balho e, assim, ndlo foi facil comegar a aprender. Hoje, ‘quando sou eu o procurado por iniciantes, acho- a0 con- trlrio de muitos - que essa nova “onda de luthiers” que std surgindo é benéfica, principalmente por levar a0 ‘grande piblico a nogiiode superioridade do instrumen- to artesanal em comparago com o industrial. Isso se explica: em uma linha de montagem, o resul- tado uma obra construfda por muitas méios. Como sai: ria um quadro pintado por virias pessoas?Que estilo afinal teria ele? Somem-se a isso todos os problemas préprios de produgio em grande escala, bem como 0 uso da madeira compensada para suprira falta crescen- te da maciga e teremos toda a diferenga. O instrumento feito por um luthier, 20 contritio, s6 utiliza madeira maciga de primeira qualidade (espécie, corte ¢idade ideais, secagem natural ¢ umidade correta) técnica de construgao especifica, acessérios de Funcio- namento perfeito, verniz de boa qualidade ¢ espessura, {erramental prOprio, muita habilidade, paciéncia..e um pouco de sua alma, Mas tomar-se um luthier € bastante dificil: as ferra- mentas apropriadas, acessérios e até mesmo as madei- ras (com raras excegSes) stio importadas e caras. Pior {que isso: nao temos escolas especializadas ¢ o mercado de trabalho ainda é pequeno, embora comece a crescer ‘© mfimero de pessoas que nos procuram para reparar os seus instruments e, € claro, para encomendar instru- ‘mentos novos. Os pregos desses servigos variam bastante de profis- sional para profissional, oscilando também em fungio dos materiais e acessérios empregados, mas so sempre relativamente elevados. A construgio de um violio, por exemplo, pode custar de RS 400,00 a R$ 3.000,00. Pigina (Outra coisa que quase sempre causa estranheza é 0 pra- zo de entrega do instrumento encomendado: de um até 1ués anos. E isso no Brasil, porque no Exterior hé luthiers que pedem até quinze anos ou mais! E-claro que quem quer comegar agora vai ter que tra- balhar duro para se colocar no mercado, pois habilidade ¢ experiéneia s6 virdo com o tempo, assim como a valoriza- 0, por consequéncia, os bons pregos dos servigos pres- tados. Mas se estiver realmente interessado na drea, um bom comeco ¢ dirigir-se STEWART-MACDONALD’S GUITAR SHOP SUPPLY (Fax n.0 00 1 406 586-1030) uma empresa americana onde se pode adquirir materiais e literatura especializada através de catélogos, via Comrei- os, E estudar este interessantissimo desenho da “anatomia"de um violdo... ANTONIO TESSARIN - Rua 29 de Outubro, 340 - So Paulo - SP - 03510-000 FALANDO EM LUTERIA Em menos de um ano os pregos do Jacarandé-da-{ndia e do Bbano aumentaram em 30% em todo o mercado internacional. Estas duas epécies de madeira to importan- tes para a construgao de violdes de qualidade esto ficando escassas e ha uma certa previ- so de que, nos proximos 15 anos, estas duas madeiras estardio quase na mesma situagio do Jacarand4-da-Bahia, quase extinta e com prego absurdo. O Abeto europeu (pinho alemio, pinho su- eco etc..) que normalmente era fornecido por firmas alemiis e de origem alemd também tem decafdo em qualidade. Uma das regides desta espécie é a antiga Iugoslavia, que por causa da guerra no estava suprindo 0 mercado e talvez agora a oferta em termos de qualidade volte a ser boa. Hé um otimismo em relagio ao abeto que cresce na Riissia mas por causa da bagunga geral deste pafs é bem dificl con- seguir bons fornecedores. O famoso luthier espanhol radicado na In- glaterra, José Romanillos, est trabalhando no seu segundo livro soobre Luteria (0 pri- meiro € 0 jd cléssico trabalho sobre o grande mestre Antonio de Torres). Romanillos vem pesquisando j4 hé algum tempo os luthiers espanhdis da virada do século passado até 1930, Sem duvida sera um trabalho interesante pois quase que s6 ha “feras” neste periodo: os irmios Ramirez, José e Manuel; Enrique Garcfa, Francisco Simplicio, Santos Hernandez, Domingo Esteso entre outros. A familia Ramirez de Madri, por meio de seu representante, José Ramirez IV, est mu- dando sua politica de produgio. Estio redu- por Roberto Gomes zindo o numero de funcionérios, ficando so- mente 0 pessoal mais tarimbado e vio fazer nao mais de 150 violdes de primeira linha por ano (no auge da fama, Ramirez produ- zia cerca de 800). Também irdo se concen- trar em instrumentos com escala de 650mm pois jd nao é de hoje que os violonistas recla- mam da escala de 667mm. Com estas mu- dangas, os pregos tendem a fcar mais “sal- gados”: estavam na faixa de US$ 3,000 a US$4,000, mas nos Estados Unidos jé an- dam sendo vendidos a USS7,500 e sem ser com Jacarandé-da-Bahia, e sim 0 indiano. Mas quem ja tocou nestes violdes s6 elogiou. Jé ha varios anos 0 Abeto Engelmann que €nativo da América do Norte, vem substitu- indo 0 Abeto europeu e mais recentemente hé uma certa agitagiio no ar quanto ao Engelmann que vem do Canad. Por ser de regidio mais fria, o crescimento das drvores é mais lento, gerando assim caracteristicas de veios mais juntos, mais duros, drvores de mairo parte, tornando o corte excelente. Também ha uma, relativamente, nova es- pécie de Jacarandé que vem da Africa e que € do mesmo género do nosso Jacarand4, que & uma Dalbergia, sendo 0 nosso da éspécie Nigra, ¢ 0 africano, Melanoxylon. O nome popular é Pau preto africano (African Blackwood). E mais denso que o nosso Jacarandé ¢ na maior parte das vezes é preto como o ébano. ROBERTO GOMES - Estrada da Pedra Vermelha, 1956 Sao Francisco Xavier - SP - 12249-000. Tel.: (012) 326-1263/011)870-1395. Paina? ESPECIES DE MADEIRAS O JACARANDA Ha cerca de 250 espécies a0 redor do mundo entre érvores, arbustos ¢ trepadeiras que recebem a deno- minagdo Jacarand4. Destas, umas 20 espécies sio de interesse comercial, j4 que sua madeira se caracteri- za por excelentes propriedades de trabalhabilidade, polimento direto muito bom, 3s vezes de colagem € vernizagem dificl pelo elevado contetido de dleo ¢ poros dilatados, mas sempre de coeficiente de amor- tecimento (friego interna) baixo, o que determina um “sustain"de som prolongado quando a pega é per cutida. Esta particularidade determina o seu valor ‘como material para instrumentos musieais. As deno- minagGes do jacaranda em outros idiomas so: Palo (pau) Santo - Palisandro (Espanhol - Portugués); Rosewood (Inglés); Palissandre (Francés) ¢ Palissanderhoiz (Alemio). Asespécies mais importantes sio: Dalbergia Cearensis (Brasil) - Kingwood ou Violewood. De veios cor violeta pilido e violeta es- curo, em desenho muito préximo e paralelo. E uma excelente madeira, com aroma agradvel, é uma das dalbergias mais densas e de poros mais diminutos, tendo por isso sido utilizada pelo rei Ludovico da Bavaria para a fabricagio de flautas - dai a denomi- nagio kingwood, Em 1980 rainha da Inglaterra re- cebeu um violio de concerto construido pelo luthier Paul Fischer com esta madeira, 0 que € raro, jé que as toras quase nunca atingem um diametro superior a 25cm. Dalbergia Latifolia india) - Indian Rosewood. Sua cor € marrom com desenhos paralelos difusos de cor mais marrom ou violeta, de poros abertos, em toras de 80 cm. Utiliza-se para fundos ¢ faixas de viol6es ¢ escalas; teclas de xilofone, acess6rios, cravelhas. Dalbergia Nigra Brasil) -E 0 Jacarandé-da-Bahia ou Rio-Rosewood. Uma das madeiras mais impor- tantes e uma das mais caras do mundo. De cores va- riadas e desenhos fantasiosos sobre base cor de la- ranja até marrom escuro, desenhos de linhas finas como teia de aranha, em cor violeta até preta e laba- redas cor verde-esmeralda até violeta-azulado che- gando a preto. E madeira cléssica para a confecgio _Ge.yipl6es de concerto de primeiralinka, Tem poros por Eugenio Victor Follmann ‘abertos sendo portanto de vernizagem dificil. Em 1992 em Washington, Estados Unidos, foi decretado oem- bargo universal para a comercializagiio desta madei- ra. Por causa de sua crescente escassez nos tiltimos anos, tém aparecido muitas madeiras de aparéneia semelhante. Confunde-se com: Santos-Rosewood, Pau-Ferro; Pau-Ferro de Goidis-Amazonas; Pau-Fer- ro de Pernambuco; Jacarandé -Antam, Jac~ Jacarandi-de-espinho; Bico-de-pato; Jacarandé- Piranga; Jacarandi-Cip6; Jacarandé-Roxo; Mocitatba, Orelha-de-o1 Pitomba-preta, Pitomba-rajada; Macacatiba; Saboarana, Bombeira. Dalbergia Stevensonii_- (América Central) Honduras Rosewood. De cor marrom médio com de- senhos difusos em marrom escuro, estabilidade dimensional média, poros abertos, colagem boa, vernizagem dificil. Utliza-se para escalas e cavaletes de violio, rarmente para fundos ¢ faixas de violZo. Esta familia vegetal tem dado com sua excelente madeira um valioso aporte para a cultura da huma dade. Cabe humanidade agora ter a cultura necessi- ria para preservé-la da extingZoe legd-la para as futu- Tas geragées. Nao errado retirar da Natureza aquilo que contri- bui para 0 aprmoramento do espirito humano, sobre- tudo se se retiram as toras secas e caidas, que morre- ram de velhas e foram derrubadas pelo vento, e que so as que dio a melhor madeira. O que é errado, criminoso até, ¢ nao replantar, no repér, saquear a Naturreza, deixando-a cada vez mais depauperada. Palavras do chefe-indio Seatle: “O que acontecer & Terra acontecerd aos filhos da Terra”. Todas as iniciativas e atitudes para restabelecer 0 equilfbrio da biosfera tém algo de sagrado e melhor heranga para nossos filhos ¢ 0s filhos deles misica também é parte disso. Os luthiers tém uma especial responsabilidade em fazer com que aharmo- nia na vida e na cultura se perpetuem juntas. EUGENIO FOLLMANN - Rua 3 n.0 570 - Mairipora - SP - (011) 430-3394. ERMANO CHIAVI Zurique - Sui¢a por Géris Lopes - Quando vocé comegou a construir violbes? HA 25 anos atrds aqui em Zurique. Meu mes- tre foi o alemao G.K. Hannabach de Erlangen, Alemanha. ~ Que madeiras vocé utiliza? Construo meus violdes “top” somente com “spruce” aqui da Suica, além de “Rosewood” (do Brasil ou da india), eu prefiro da India, pois é melhor para o som. Uso também “Maple”, “Ebano”, “Cedrella”e “Taxus Baccata”. - E sobre teus modelos? Eu faco apenas modelos pessoais. Tenho um modelo estudante, construfdo no modelo ale- mao e tenho quatro categorias desta série. Eu tenho o modelo bisico para concerto, de estilo espanhol, como o Torres e finalmente ‘os modelos especiais, com 10 ou 8 cordas. = Quantos modelos vocé faz por ano, em média? Por ano, de 10a 15 violdes € todos so enco- mendados. Especialmente para Suiga, Ale- manha e Japa - Ermano, voce jé recebeu alguma encomen- da de algum violonista muito famoso? Nao, mas Leo Brouwer experimentou um de meus violdes, um pequeno modelo de 63 centimentros, que ele gostou muito por cau- sa da precistio do som, muito bom para mi- sica contempordnea. Falou-me que se ele comprasse um violdo agora ele compraria 0 meu (risos)! David Russell tocou em um ou- tro violdo meu. Primeiramente ele disse que © som era muito bom, mas ele teve proble- mas com a distincia das cordas, que ele achou muito altas ¢ que teria de fazer muita agdo. Depois, eu reparei isso, ele tocou novamente € gostou muito das melhorias que fiz. - Vocé poderia comentar sobre precos? Eu tenho pregos dos modelos de estudo que variam de 3.000 a 5.000 francos sufgos. De- pende da madeira, do modelo etc., Para 0 modelo de concerto eu tenho um prego Gnico que é 6.800 francos suicos, incluindo estojo. Para exportaciio, eu faco esse prego sem a taxa sufca, que € de 6%. No ato da encomen- da, a pessoa paga 1/3 do prego. Eu inicio 0 servigo, envio 0 instrumento e a pessoa con- clui o pagamento. = Como vocé poderia descrever a situagao aqui na Europa na sua Grea? Em Zurique eu sou o tnico luthier, mas te- nho muita concorréncia na Suga - cerca de 10 construtores. Na Alemanha, sio muitos luthiers mesmo e bons. Na Europa em geral nao est to facil construir violdes - no 0 ato de construir mas sim vender (risos)! Ha cen- tenas de luthiers na Alemanha, Inglaterra e Italia. - Vocé tem problemas para conseguir ma- deiras? Nao, porque sei quais pessoas vendem as ma- deiras, jé sio conhecidos meus. - Além do Duo Assad, 0 que mais vocé sabe do Brasil em termos de violéo? Escuto algumas vezes uma ou outra coisa. Mas realmente sei muito mais do que est4 acontecendo somente por aqui. Nao sei mui- to sobre o que se passa por Nova York, Bra- sil ou outrolugar. ERMANO CHIAVI - Hardstrasse 219 ch-8005 - Ziirich - fax 01 278 78 Gos ROBERTO GOMES esta de volta ao Brasil Depois de mais de um ano morando na California, o luthier Roberto Gomes estd de volta ao Brasil e conta nesta entre- vista um pouco de sua experié ancia no exterior ~ Quando voc# comecou com luteria de violdo? Em 1979, eu estudava com 0 Henrique Pinto, mas j queria mexer com alguma coisa de luteria,fazia uns reparos, uo- ava rastlho € tal. E em 1981 eu me mudei para Sio Joio Del Rey, lé eu comece’ a fazer mais reparos mesmo e em 1982 eu fiz 0 meu primeiro instrumento, que foi um alaiide renascentista de 7 ordens. Eu dava aula no Conservat6rio do Estado de Sao Joao até 1985, quando af eu larguei de vez e me dediquei tempo integral a fazer vioWes. = Como & que aconteceu esta ida para os Estados Unidos? Vocé jétinha planejado antes? Em 1989 eu consegui fazer uma escola de luteria na univer- ‘idade local 14 em So Joo Del Rey, af eu mandei umas ‘cartas para umas revistas intemacionais¢ 0 Guild of America Lathiers ficou sabendo da escola, acharam interessante € ime estimularam a ir pra convencio em 1992. Foi 6timo [porque eu fiz contatos. e em 1994 eu volte, também a tra- batho, fiquei um més ld. Depois em 1995 eu panicipei de ‘novo do Guild, fui convidado a fazer uma palestra sobre Jacarand-da-Bahia. Aiem 1996 eu Stina alguns contatos ‘em So Francisco, no norte da Califémia, achei que seria imeressante moras 1d E profissionalmente foi muito bom. = Qual a principal diferenca? E00 tamanbo do mercado. Aqui no Brasil ainda € muito timido. Li bi espacos enormes pare violSo clissico, quase todos 0s grandes estados tém uma sociedade de violSo clés- ico oo mais de uma: uma ou duas lojas de volo cléssico ‘exctusivamente. E ume populaeo muito maior que abrasi- Ikira, a renda é pelo menos quase que 8 vezes maior que a ‘possa. Ensino, Caltura e Arte sS0 muito estimulades. Prase ter idGia, um aluno da Universidade da California. que com- (proa um de mees viol’es, tem um tipo de empréstimo para ‘szadante que voc? pode pedir USS5,000 ou mais pra estu- oem geral, e no caso de Miisica comprar seu instrumento, ‘evocd tem 15 anos pra pagar esse empréstimo. Este acesso 2 infra-estrutura material para estodo, para pesquisa é de- smaix Como tem mercado Id. voce encontra violies por pre- ‘90s muito bons Eu trouxe para meu uso um “Juan Orasco” ‘que é feito pelo Masaru Khono (qve foi inclusive mestre do ‘Suguyama). E um violSo que valeria USS 2,000 e eu com- rei por USS700 - porque era usado. O estudante compra ‘virios instruments. - Enso voct foi pra i basicamente em busca de mercado? ‘Sime no me decepcionei. Vendi bem Ki. O meio dos huthiers, (fi me combecia, mas no 0s violonistas, s6 que tem uma Pig 10 Reportagem: Violéo Intercambio ‘vantagem em vocé ser estrangeiro, brasileiro, me definiram ‘como “ex6tico”. Entio, americano gosta dessas coisas. = Quanto tempo vocé ficou la? Dezenove meses. Eu cheguei em feverciro de 96 ¢ voltei ‘agora em setembro. Mas a adaptacio & sempre dificil. Cli- ma, moradia, montar a oficina. E neste espaco entre montar a ofcina e desmontd-la para a volta a0 Brasil eu fiz 20 vio- Woes - mais ou menos uns 13 meses. E vendi todos. Fiz contatos com 0 pessoal da Universidade ¢ ‘comecci assim, com alunos algumas lojas. Pelo menos 1/3 dda minha produgo anual mandarei para 14; fechei alguns contratos. = Eo que te acrescentou em termos de técnica? A gente sempre aprende alguma coisa, vendo, ouvindo,con- versando. Hd muitos luthiers na drea de violdo corda de ago. cerca de 90%, alguns fazem clissicos também. Exclusiva- mente cldssico € minoria, destacando-se o Humphrey. 0 Gilben. o Ruck. Cheguci a falar com o Humphrey e ele até me autorizou a fazer 0 modelo Milenium. Mas nio teve as- sim nenhum luthier em especial que me influenciou. Voltan- do agora pro Brasil, eu querofazer algumas cérias do Milenium, as réplicas de Torres, ¢ uma idéia que ex tenho é conseguir dois ajudantes, dois apreendizes, pra faciliatr um pouco o trabalho, Quem conhece 2 profissao sabe que é um {trabalho muito duro, e também para passar. transmitir 0 co- nbecimentoe tal. = Como é esse Milenivum? ‘A escala perto da boca é mais levantada, facilitando tocar nas oitavas, e por causa da diferenga de angulag3o do tampo em relaci0 is cordas, dé mais volume. O Staufferem Viena {Stinha feito alguma coisa assim. - Por que que é ido dificil a aquisigdo das madeiras? (© mercado aqui € pequeno. Nos Estados Unidos 0 mercado € ativo, importa-se muito e as taxas sS0 sempre bem meno- tes. Fica dificil competirinternacionalmente. + Fale um pouco de pregos. Nos Estados Unidas, variam de USS600 até USS30.000 ou USS 40,000, conforme o luthier. Um Hauser Il esté na faixa e USS 20,000; um Hauser I chega a USS35,000. Os luthiers ‘contemporineos famosas, de USS6,000 2 USS10,000.E um ‘mercado rico. Mas eu acho que a gente tem de tudo pra en- ‘tas no mercado, embora.o norte-americano tenha uma cesta resttigio 20 violSo brasileiro ~ porque no conhece -, mas quando comegam a ver alguns huthiers, como Sergio Abreu, ‘Virgilio de Sabard, Suguiyama, Mario Jorge do Rio de J2- nino, comegam a propagar. O VIOLAO E O TEMPO ‘A vontade desnecessiria de se intelectualizar 0 violdo, por parte das escolas e universidades, acarreta uma cadeia de fatos e posigdes de dificil compreensio € de resultados muitas vezes insatisfat6rios. Essa preocupagdo gera uma ex- pectativa e uma necessidade de execugdes musi- cais complicadas que aderem-se & musica con- temporinea, onde pulam-se etapas de aprendi- zagem ¢ transformam.-se 0s nossos futuros miisi- cos em executores técnicos perfeitos mas com espontaneidade musical um tanto quanio defici- ente. Ha aqui a negagao A gradagio didatica no ensino violonistico, pois da-se preferéncia a mu- sicas contemporaneas com um peso exorbitante pelo grau de dificuldade de execugao, em face de um curriculo que incluiria Vivaldi, Bach, Sor e por ai afora. Acredito que seria por este tiltimo prisma didatico, respeitando um crescendo pe- dagogico que aleangariamos o sentimento musi- cal do aluno e do piblico que nos é to impor- tante Por outro prisma, temos a miisica brasileira que € por muitos cercada de criticas de funda- mentagdo preconceituosa, errdnea, baseada sem- pre no nivel de capacidade técnica. Ora, a misi- ca brasileira € admirada no mundo inteiro por ser ritmica, melédica @ harmonicamente virtuo- sa. Tendo a seu favor esta frase que Ihe foi atri- buida: “A miisica brasileira € uma ilha onde to- dos querem pisar”. Estamos obviamente airasa- dos, mas este atraso advém da desvalorizagao que atribuimos as nossas préprias raizes. Atrasados porque desprezamos, por exemplo, pegas lindissimas de Jodo Pernambuco, Garoto, Nazareth, Guerra-Peixe, Guarnieri e Dilermando Reis e sem falar na novidade que representam as miisicas de compositores como Villani Cértes, Egberto Gismonti, Baden Powell, Hermeto Paschoal, Tom Jobim e tantos outros. Por isso, € para mim totalmente estranko que estudantes € mestres no incluam em suas apresentagies tais por Maria da Penha Soares compositores, enquanto, na verdade, eles deve- riam ser os primeiros a divulgar a misica brasi- leira. Os compositores ¢ instrumentistas estran- geiros fazem os melhores elogios € com toda certeza os nossos deveriam estar bem prepara- dos, pois sempre receberam deles pedidos de execucio da nossa miisica, tanto aqui no Brasil como quando vio ao exterior. Felizmente nem todos sofrem do mesmo mal! Ha violonistas que estao mais preparados para criar na missica do que para se debulhar em téc- nicas ou serem meros repetidores de notas. Exis- te nesses a necessidade de procurar por algo mais interessante, por sons a serem pesquisadas, es- tudados e sentidos no violZo. Por isso. sinto que © violio nio é para ser apenas tocado, mas para “ser Miisica”, como fazem Paulo Bellinati Jardel Caetano, Duo Barbieri-Schneiter. Giacomo Bartoloni, Marcos Pereira, Paulo Porto Alegre. Edelton Gloeden e outros iguais que levara bandeira, dia a dia, nota a nota. Estudei com grandes professores, todavia pas- sei longos anos estudando violo no sentido téc- nico; afirmo hoje que tocar viol3o n30é sé fazer posigdes orientadas. sons comedidos e prosr- mados; é ter audécia de experimentar, ser livre ¢ atingir a supremacia da comunicagSo de sea- timentos por meio da miisica com o pablica. E assim que acredito no estudo violoaistico como a jung3o da forma, que é a técnica, com 0 con tetido, que € sentimental, musical ¢ objetiva. Rodando no bonde da histéria concieo que 0 percurso determina as tendénciss, mas 0 tempo determina com certeza as mudsngas. MARIA DA PENHA SOARES é professora do Conservatério Estadual de Poaso Alegre (MG) e do Conservatério Municipal de Guaralhos (SPL SEGOVIA Uma segunda (e controversa) visao por Fabio Zanon Lendo a edi¢ao de julho/agosto do “Violdo In- tercdmbio”, vi o étimo perfil de Segovia escrito por Osmar Pimenta de Andrade. Sem sombra de divida nés violonistas devemos a Segovia 0 fato de estarmos aqui. Entretanto, fico incomo- dado com a heroizagiio de Segovia. Acho que jé € mais que hora de se fazer uma revisiio de sua Posigiio como miisico e como personagem. Quando comecei a estudar violdo eu jd era lou- co por misica cldssica havia um certo tempo. Sempre li o nome de Segévia mas demorei anos até achar um disco seu em minha cidade. Nesse meio-tempo eu jé havia ouvido o melhor do vi- olao brasileiro, de Dilermando Reis e José Rastelli ao Duo Abreu, ¢ ouvir Segévia pela pri- meira vez foi inquietante. Por um lado era pre- ciso ter muita ma vontade para ignorar a extre- ma sensibilidade para som e a criatividade da enunciagdio melédica; acima de tudo, fiquei fas- cinado com o fato de que nem tudo era tocado de forma “bonita”: como Horowitz ao piano, muitas vezes ele produzia um som deliberadamente desagrad4vel para maximizar © contraste e cativar com os sons melifluos de seu inimitdvel apoio lateral. Havia uma coisa de muito errado, moralmente condendvel, na- quela maneira de tocar. Para comecar, havia esse desrespeito ao texto que era dificil de digerir. Do alto da “autoridade” dos meus 13 ou 14 anos eu sentia vontade de dar-Ihe umas palmadas por nao respeitar as proporgdes ritmicas, por nao apagar os baixos na hora certa, por fazer crescendos onde estava escrito diminuendo e vice-versa, por evitar a dificuldade técnica mas- carando-a com um rubato ultra-expressivo. Pa- radoxalmente, havia uma qualidade de inescapdvel hipnose naquela maneira de tocar, Hoje considero uma boa parte do legado de Segovia um verdadeiro monumento ao violao. Como intérprete, muitas vezes por intuigdo, mas muitas vezes através de um s6lido controle inte- lectual, suas frases assumem contornos inespe- rados, suas cores vibram, seus acentos atraem a atengio para a nota certa, o acorde certo. Dizer que tocar com liberdade romantica era um mal da época é sé meia-verdade: basta ouvir Rachmaninov, Heifetz ou Rosenthal para perce- ber que um estilo mais severo coexistia. Ele foi, de longe, mas muito longe mesmo, a maior téc~ nica por quase 50 anos, até o surgimento de John Williams, Segovia tem sido retratado como 0 bom menino talentoso que, através de um idea- lismo incorruptivel lutou contra todas as agru- ras € saiu vitorioso, colocando o instrumento num patamar elevado dentro da miisica de concerto e encorajando com sua musicalidade incompard- vel compositores a criarem um repertério novo para 0 instrumento. Cada uma dessas afirmagoes pode ser refutada ou vista através de lentes me- nos réseas. O violdo, na virada do século, era realmente um instrumento associado com, o lado sujo da vida. Na Espanha era certamente um instrumento de ciganos, ¢ estes niio eram, como hoje, vistos ‘como um gueto de resisténcia cultural; mas sim ligados & bandidagem. Em outras partes, como ‘os paises de lingua germinica, era ignorado - afinal o que a grande arte (neste caso Bach, Beethoven, Mozart etc.) nao consagra, é social- mente marginal; na Franga e Itdlia era um ins- trumento de uso doméstico ou para misica ligei- ra, e, na Inglaterra e paises eslavos, inexistente. Seg6via vinha de uma familia de aspiragdes bur- guesas de Granada; ainda crianga foi afastado de seus pais, o que alimentou sua rebeldia (0 que 0 fez estudar violao) e ambi¢ado (0 que o fez lutar por ele). Ainda menino, fugia da escola para to- car flamenco com os ciganos de Sacromonte. Isso resultou numa expulsio da escola, e, na épo- ca, foi uma verdadeira vergonha para ele e sua familia. Esse trauma com os ciganos explica o fato de ele deplorar o flamenco e fazer o possivel para dissociar o violio das “grosseiras harmoni- as das mtisicas folcléricas”, segundo ele mesmo. Sem dtivida Segévia lutou mais ninguém para colocar 0 Violdo nas salas de concerto, mas cre- ditar essa luta unicamente ao amor pelo instru- mento € coisa de novela. Ojovem Segovia era o maior violonista de sua época. Mas isso no quer dizer de forma alguma que ele foi o pioneiro ou lutador solitério. © que existiu foi uma circulagiio maior de informagao € um movimento de pessoas interessadas mais ‘ou menos nas mesmas idéias - e ele foi o mais talentoso e voluntarioso de todos. Tarrega ndo estava tio longe assim: ele foi o grande desbra- -vador no campo da transcrigdo, uma maneira um pouco invertida de se criar repertério para qual- quer instrumento mas que, na €poca, era uma das poucas possibilidades. Segovia infelizmente fez o que pode para brilhar sozinhoe criar o mito de ser 0 tinico e maior. Nao precisava; as grava- Bes de seus contemporiineos somente depdem a seu favor. Llobet, grande misico e artista refina- do, tinha uma sonoridade pobre em comparaciio a Segovia; os irmios Sainz de la Maza estavam bem atrés em seus dotes artisticos, apesar de Regino ter uma certa presenga; Pujol caiu na ar- madilha do toque sem unhas. Nunca ouvi Josefina Robledo, mas, a julgar pelas gravagdes, Maria Luisa Anido era um verdadeiro gigante em musicalidade, técnica e som; o porqué de nao ter feito uma carreira de tanto sucesso quanto Segovia deve residir em outros fatores como cons- tncia, repertério, ter nascido mulher, menor empenho ou carisma. Segovia soube utilizar os dotes de seus contemporiineos de forma pessoal € nica - seu repertério de musica antiga veio de Pujol, as transcrigdes e contratos profissionais de Llobet etc.. Mas ele também soube ser cruel, e fez o que péde para difamar Barrios, que estava sendo bastante comentado na América do Sul, e evitar que ele fosse para a Europa. Posso estar errado, mas Barrios poderia ter dividido a ribal- ta com Segovia; foi o primeiro violonista a gra- var, a tocar um a suite de Bach completa, ¢ suas gravagées siio, apesar de menos polidas que as de Segovia, repletas de (por falta de um termo melhor) genialidade. Segovia tampouco foi re- ceptivo a Yepes ou Bream (“o alatide é um ins- trumento morto, apesar de Bream”), O ambiente era favordvel - a miisica contem- poranea se desconectava do gosto do piblico e as pessoas comegavam a procurar por coisas antigas “novas”. A ressurreigdio do cravo com Wanda Landowska e a elevagdo do status do violoncelo com Casals coincidem claramente com a ascensio de Segovia. Ao contririo deles, entretanto, ele no possufa um repertério satisfat6rio e foi & luta, transcrevendo e enco- mendando, Este € um outro tabu. Segovia incentivou Ponce, Castelnuovo-Tedesco, Tansman, Torroba, Harris ete. a escreverem para 0 violdo, mas to- dos estes, 4 excegao de Turina, Roussell e Villa- Lobos, so compositores sem grande relevancia fora do mundo do violo (apesar de isso no ser verdade na época). Muita gente critica Segovia por ter tido um gosto excessivamente conserva- dor, esnobado a vanguarda ¢ ter criado um re- pertério passadista. Nao creio que esta seja a linha de pensamento correta: afinal pianistas tampouco tocam Schoenberg ou Bartok com frequéncia, e ninguém pensaria em fazer car- reira nos anos 20 com obras inacessiveis, além do mais num instrumento marginal. Exigir isso de Segovia seria injusto, por mais que lamente- mos a recusa feita a Stravinsky (“ndo quero co- meter a indelicadeza de no tocar uma pega do senhor”) ou o ostracismo das pegas de Broque ‘ou Frank Martin, Hi uma carta de Segovia a Ponce espinafrando os estudos de Villa-Lobos, ‘© que tem-me feito duvidar de seu bom-gosto. Perguntei recentemente a um historiador de Granada o porqué de Segovia ter encomendado ‘somente a compositores conservadores de segun- da categoria; ele respondeu que Segovia queria aparecer sozinho, no queira que seu nome com- petisse com o de um compositor demasiado fa- moso. Adoro as obras de Torroba ou Tansman, agian 3 mas hd que ver que Segovia conhecia pessoal- mente Ravel (que tinha interesse pelo violio), Rachmaninov, Dukas, Martina e, mais tarde, teria tido facil acesso também a Sibelius (que chegou a compor cangées com violdo), Korngold, Szimanovsky, Barber, Casella, Poulenc, todos compositores bem tonais que po- deriam ter contribufdo. O caso dos compositores espanhéis éum pou- co mais complicado. Segovia evitou sistemati- camente todas as pegas compostas para Sainz € la Maza, incluindo 0 “Concerto de Aranjuez”. Citimes? Ele dizia que o Aranjuez era mal es- crito, soando “como um bandolim ” ; bem, a hist6ria demonstrou o contrério. As desventu- ras politicas da Espanha também tiveram um papel. Segovia era conservador e amigo de Fran- co; mesmo que algum dia tenha sabido da sona- ta de Antonio José, jamais a teria tocado, Dizer que artistas so apoliticos € uma desculpa que no cola; néio tomar uma posigio ja € uma posi- Gio. Nao € minha intengdo macular a reputagaio de Segovia de foram alguma, sua contribu igdo foi inestimavel, Quantas pessoas podem se gabar de dar recitais com mais de 90 anos de idade? Sua posicio inigualével no panorama musical pode ter sido alcangada através de um exercicio de egolatria, mas as decorréncias disso amplamen- te justificaram os meios. Ele criou um piiblico real para 0 violdo, gente que nio sabia o que era © instrumento e ficou sabendo através dele. Noticias de nossos correspondentes SALVADOR - BA 29/09 - Marcio Souza defendeu tese de Mestrado na UFBa, com o tema “Interpretagao em violio de Orpheus”. Trata do trabalho de intérprete junto ao do compositor, aumentando as possibi- lidades de fidelidade ao que o autor queria. 02, 07 e 09/10 - Apresentaram-se os violonistas ‘Wladimir Bonfim e Mateus Dela Fonte na sala do Niicleo de Canto da UFBa. 26/10 - Apresentou-se no projeto “Pelourinho Dia ¢ Noite” o violonista Sebastiao Tapajés, 27110 a 31/10 - No audit6rio da Universidade Catélica, o professor Henrique Pinto ministrou masterclasses. - Langado em setembro, 0 livro “A Troca da Clave” de autoria do professor Leonardo Boccia da UFBa, Trata-se de uma proposta sobre a apli- cago das claves de Fa, Do (terceira linha) ¢ Sol a atual prética da leitura no violao. O livro tam- ‘bém comenta varios assuntos como a compra de um bom violio; cordas e acess6rios; os diferen- tes ritmos, estilos e técnicas do instrumento; harmonias, modulagées e progresses; o reper- t6rio de diferentes épocas. Boccia conclui ao fi- nal do livro, que a troca da clave dimensionaré Pigina 4 © repert6rio ¢ cita como o exemplo a questo da antiga tablatura, que foi substitufda por ser limi tada, Hé no livro varios exemplos impressos de pegas muito conhecidas, j4 com o novo sistema, que buscando defender este sistema. A TROCA DA CLAVE - Prof. Leonardo Vincenzo Boccia Tel/Fax: (071) 235-1365. RIO DE JANEIRO - RI 12/09- Na Sala Cecflia Meireles, apresentou-se o violonista Fabio Zanon, tocando Bach, Ronaldo Miranda, Térrega ¢ Ginastera. 04/11 - No Auditério do IBAM 0 duo Barbieri- Schneiter realizou o langamento do CD ‘Duo Barbieri-Schneiter 10 Anos”. © duo tem uma home page: http://www.alternex.com.br/~dbs. yr - 23/09 - Na série “Jovens Talentos”, no Centro Musical Villa-Lobos, sala Ricardina Stamato, 0 Quarteto de Violoes do Rio de Janeiro, formado por Augusto César, Chuang Yu Ting, Filipe Freire e Marcus Tardelli, apresentou obras de Vivaldi, André Santos, Mignone, Falla ¢ Brouwer. 24/09 - Apresentaram-se no Centro de Ane Mu- sical, sala Dalmon Fernandes, os alunos do prof. José Conceigao: Caio Simao de Lima, Frederico Augusto M. da Silva, Willian Amaral Lopes, Vitor anio Rocha, Raoni Urbano Neto, José Naziazeno Miranda, Werviton M. Breda, Miguel de Laquila Oliveira, Waltair R. Rodrigues, Nilton R. da Silva, tocando obras de Sthepen Foster, Othon G.R. Filho, G. Sanz, Led Zepelin, J. S. Bach, E. Pujol, H. Pinto, F. Térrega, F. Sor, A. Rovira, F. Ferandiere. 15/10 - O Duo Paganini, formado por Moacyr Teixeira Neto (violdo) e Hariton Nathanailidis (violino) realizou concerto no Teatro Carlos Go- mes, apresentando obras de Paganini, Jaime Zenamon, M. de Oliveira, entre outros, ¢ agora prepara um CD com obras exclusivamente de Paganini. - Ol Seminério Capixaba de Violio, tendo como professor convidado Henrique Pinto, foi realiza- do na Escola de Musica, contando com mais de 35 participantes. +O Centro Musical Villa-Lobos comunica que iré realizar em 1998 a Ta. edi¢do do Concurso Naci- onal Villa-Lobos _(suspenso desde 1992), espe- rando contar com a presenga de violonistas de todo o pais. - O duo Teixeira-Mayer de Violdes, formado por Moacyr Teixeira Neto Fabiano Mayer, foi con- templado pela Lei Cultural “Rubem Braga” de Vitria, para gravar um CD de Musica Contem- pordnea. SAO PAULO - SP 16/08 - Durante o Il Congresso de Interco- municagio, no Anhembi, sala Elis Regina, apre- sentaram-se Joao Paulo Costa Nascimento e Mar- cos Flavio Nogueira, em duo, e em violdo-solo Jilio César Pereira, Os trés jovens so alunos da profa, Maria da Penha Soares dos Santos. 29/09 - Fabio Zanon recebeu, no Palicio dos Ban- deirantes, sede do governo paulista, o Prémio Santista Juventude, na categoria Intérprete Mui- sica Erudita, Os premiados deste ano foram a gravurista Maria Bonomi, o grupo de miisica ins- trumental Uakti, € na categoria Juventude, Zanon ¢ a fotdgrafa Rosingela Renné, A lista de premiados no passado inclui nomes como Niemeyer, Jorge Amado, Di Cavalcant, Paulo Autran, Guarnieri, Mignone, Santoro e Eleazar de Carvalho. Uma das caracteristicas do Pré- mio 6 que a pessoa nio pode se inscrever, mas, sim ter seu nome indicado por alguma instit do cultural e académica e selecionado por co- misso de dezenas de intelectuais , incluindo 0 Ministro da Cultura, em reunido no Supremo Tribunal Estadual. Fabio foi indicado pela USP, por sugesto de Edelton Gloeden e José Eduar- do Martins. UAR) -SP 20/09 - No Conservatério Municipal de Arte de Guarulhos, esteve a Orquestra de Violdes do Conservatério de Pouso Alegre, com regéncia de Amaury Vieira. A apresentagio foi muito bem recebida pelo piiblico. POUSO ALEGRE - MG = 04/09 - Nas “Quintas Musicais” do Conserva- t6rio de Pouso Alegre, auditério lotado para ver o recital do duo Joao Paulo Costa Nascimento e Marcos Flavio Nogueira da Silva, que também apresentaram solos. -05/09 - No encerramento da Semana Cultural da FAPIEP, no audit6rio da Faculdade de Medi- cina, apresentaram-se: Elizingela Mendes, Fld- via Liicia Pereira dos Santos e Jilio César Pe- reira, executando obras de Gismonti, Villa-Lo- bos ¢ Paulo Porto Alegre. NOTICIAS INTERNACIONAIS = Marcus Llerena esteve na Europa, nos meses de outubro e novembro, apresentando-se no Ins- tituto Cervantes de Haia - Holanda e no Forum des Halles, em Paris - Franga. O violonista tam- bém realizou este ano muitas atividades no Bra- sil, em So Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Pagina tS ENTREVISTA COM O DUO ASSAD Os irméos Sergio e Odair Assad, nascidos em Sao Jodo da Boa Vista - mesma cidade em que nasceu Guiomar Novaes - no interior de Sdo Paulo, formam principal duo violonistico da atualidade. Com 30 anos de entrosamento e uma invejavel agenda inter- nacional, eles estdo realizando gravagées com no- mes como Gidon Kremer, Nadja Salerno-Sonnenberg € Yo-Yo Ma, Sergio Assad desenvolve também um im- portante trabalho como compositor. Cabe citar al- ‘gumas dentre suas obras mais recentes, como Saga dos Migrantes para duo de violdes, Uarekena para quatro violdes e Natsu no Niwa Suite, tritha sonora de filme dirigido pelo japonés Shinji Soum Ai. O vi- olonista Sidney Molina, do quarteto de violdes Quaternagtia, realizou esta entrevista especialmen- te para a revista CONCERTO durante as gravacées realizadas pelo duo em Nova York em setembro tilti- mo, Agradecemos a autorizagdo para publicd-la no Violao Intercambio, VIOLAO INTERCAMBIO- Quando vocés tiveram oprimeiro contato com o violdo? Sergio Assad- 0 inicio foi em | indo cho- 0. Nés acompanhvamos nosso pai, que ainda hoje um dos defensores do choro. Comegamos em nos- sacidade, Sao Jodo da Boa Vista, no interior de Sao Paulo. Tocdvamos por puro diletantismo, apenas para passar 0 tempo apenas trés anos mais tarde, j4 radicados no Rio de Janeiro, & que comegamos a estudar mais seriamente, pasando a ter aulas coma professora Monina Tévora. VIOLAO INTERCAMBIO.- Nessa época, vocés jd apostavam no trabalho cameristico ou chegaram a cogitar a possibilidade de se dedicarem a carreiras solo? ;A- Quando fomos estudar com Monina, nfo tinha- mos a mfnima idéia de que um dia serfamos misi- cos. Eu, por exemplo, tinha conviegdo que estuda- ria medicina; a decisiio de fazermos o duo foi, na verdade, uma decisio unilateral de nossa professo- ra, Como 0 falo ocorreu muito cedo em nossas vi- das, nés realmente nunca chegamos a optar. Certas Pagina 16 por Sidney Molina coisas - quando incutidas na cabeca de criangas ¢ ado- lescentes - ficam muito arraigadas e, por essa razio, creio que nunca consideramos seriamente a possibili- dade de sermos solistas. VIOLAO INTERCAMBIO- Qual a importincia do Duo Abreu para a formagao de vocés? (O duo formado pelos cariocas Sergio e Eduardo Abreu, considerado um dos principais grupos cameristicos dos anos 60 e 70, éainda hoje uma forte referéncia para o ‘meio violonistico nacional e internacional). SA- Importincia crucial. Quando saimos do interior, no tinhamos contato nenhum com 0 violio clissico. Ao chegarmos ao Rio, nos deparamos com o melhor duo de violdes do mundo, que, infelizmente, desapa- receu prematuramente. (O duo desfec-se apds a gra- vagdo de trés histdricos dlbuns, no auge de uma fan- tdstica carreira internacional. Sergio Abreu prosseguiu o trabalho musical atuando como solista durante al- guns anos, apés os quais optou por dedicar-se & cons- trugiio de violées. Hoje é um luthier reconhecido in- ternacionalmente). VIOLAO INTERCAMBIO- Conte-nos um pouco so- bre o inicio da carreira internacional. Quando vocés ‘optaram por morar na Europa? SA- As primeiras oportunidades demoraram a surgir. De certa forma, acreditamos que tenha sido bom, pois 1nés pudemos nos preparar adequadamente. Nossa pri- meira saida foi para representar 0 Brasil num festival, em Bratislava, na ento Tehecoslovaquia, com muito apoio do compositor Marlos Nobre. Em 1979 estive- mos nos Estados Unidos, com patrocinio da Coca- Cola. Tudo ocorreu um pouco tarde para o que geral- mente se espera de uma carreira internacional, uma vez que jf estévamos beirando os 30 anos de idade. As coisas foram ocorrendo lentamente e, por volta de 83, jf estévamos radicados na Europa. VIOLAO INTERCAMBIO.- Fale um pouco sobre a especialidade de cada um. Como vocés dividem as fun- ges no duo? SA- Cada um de nés jé tem um certo talento para algo. No nosso caso, isso ocorre de uma forma natural. Eu sempre tive inclinagdo para fazer arranjos e escrever um pouco de miisica. Assim sendo, o repertério fica mais por minha conta, Eu reputo meu irmao Odair como um dos maiores violonistas que eu ja conheci, de todas as geragdes. Fica muito fécil trabalhar com ele, pois o irrealizavel torna-se realizivel. Pode-se arriscar muito, pode-se abusar um pouco da imagina- io. VIOLA O INTERCAMBIO- Quando comegoua sur- gir um repertorio especifico de obras dedicadas ao duo? SA- A primeira obra que nos rendeu grandes frutos foi Tango Suite de Astor Piazzolla. Podemos afirmar que ela teve uma escalada vertiginosa. Eu elaborei, recentemente, uma versio para trio - 2 violdes violoncelo -que gravamos com Yo-Yo Ma. Outra obra importante foi a Suite Retratos, de Radamés Gnatalli adaptada para duo de violdes pelo compositor. Nutri- amos grande carinho por Radamés. Ele escreveu muito para nés, deixando inclusive trés concertos para 2 vi- ‘oldes ¢ orquestra. VIOLAO INTERCAMBIO- Comente um pouco sua atividadle como compositor. Como vocé lida com os réwlos mais comuns, a saber “erudito, “popular”, “nacionalista”, “vanguarda”? SA- A questio dos rétulos € muito delicada. Eu real- mente nadei contra a corrente. Quando estudante, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, a onda era 0 dodecafonismo. Nao era 0 meu universo, havia saido do choro, da misica popular, Durante muito tempo, eu apenas atuei como intérprete, deixando de lado a necessidade de compor, que na verdade é bisica em mim. Com 0 passar dos anos, fui retomando lenta- mente a atividade de escrever musica. Eu nio defen- do 0 nacionalismo, eu inclusive gosto muito de Stockhausen. Fazer musica nos moldes de Stockhausen no Brasil, porém, é no ser um compo- sitor brasileiro. Nossa mtisica tem um forte apelo rit- mico, resultado da influéncia africana, por exemplo. Nio h4 como negar a importincia e a interferéncia dessa grande mistura cultural que nés somos. VIOLAO INTERCAMBIO- Como esté a agenda de vocés este ano? SA- Este foi o ano que mais estivemos ocupados. No més passado, fomos A China e Taiwan. Depois retornamos a Asia para apresentagdes no Japfio, com programas diferentes. Estamos em Nova York para gravar um disco com a violinista americana Nadja Salerno- Sonnenberg, para o qual preparei o reper- \6rio. Estou trabalhando numa pega para 2 violdes e orquestra, que vamios estrear em dezembro com a St. Paul Orchestra, em Minneapolis, Em outubro, estaremos em So Pauloe no Rio;em novembro, na Evropa e, durante fevereiro e margo de 1998, numa grande tournte pelos Estados Unidos. VIOLAO INTERCAMBIO- Qual é a opinido de vocés sobre as gravacdes? Quantos discos voces jd gravaram? SA- Nés, na verdade, somos bastante puristas. O ideal seria fazer tudo ao vivo, No entanto, as com- panhias no pensam assim, para elas € muito mais trabalhoso. Fizemos no Brasil uns 4 ou 5 discos e, no exterior, sete. VIOLAO INTERCAMBIO- Como esté.aGHA? SA- A GHA €a gravadora da esposa de Odair, Eles esto com projetos lindissimos, como a gravacio de concertos para violdoe orquestra com Leo Brouwer, regendo a Orquestra de Cérdoba e solistas de pri- meira grandeza. VIOLAO INTERCAMBIO- Que momento especial da carreira vocé destacaria como sendo um dos mais importantes ou emocionantes? SA- Com o passar dos anos, os momentos especiais vo se somando. Realmente hd muitos. Podemos, no entanto, citar um deles: em 82 ou 83, fomos to- car na Radio France, em Paris, e pudemos conhecer pessoalmente 0 lendério violonista espanhol Andres Segovia. Nés munca tivemos oportunidade de vé-1o tocar a0 vivo. Ele foi professor de nossa professora - Monina Tavora - durante 7 anos. Recordamos com muito carinho que, enquanto tocdvamos, ele estava 14, 0 maestro Segovia, 0 “pai de todos”. VIOLAO INTERCAMBIO. Obrigado pela entrevis- ta, SIDNEY MOLINA - Formado em Filosofia pela USP, é também especialista em Musicologia pela Fa- culdade Carlos Gomes. E diretor do Conservatorio Mozart em Séio Paulo, professor de Estética Musical do curso de misica da FAAM e membro do quarteto de violdes Quaternagtia, Pigina 17 VIII CONCURSO DE VIOLAO SOUZA LIMA e uma abordagem sobre a formagao do violonista © percurso a ser seguido pelo estudante de misica até sua realizagio profissional ¢ longo ¢ frduo, uma férrea disciplina, trabalho com pe- gas de dificil dedilhado, a exigéncia de um pro- fessor que nao vé seu estdgio atual, mas 0 visualiza num futuro préximo j4 preparado para atuar neste mercado musical, exfguo ¢ inflacionado cada vez mais por novos ¢ melho- res valores, produtos de didatica sempre atuali- zada, com referéncia técnicas que encurtam 0 caminho do estudante, fazendo despontar seu talento com toda plenitude ¢ energia que sua juventude possui. O violonista, para seguir uma carreira como intérprete, est4 em desvantagem com 0 miisico de orquestra: este no precisa ne- cessariamente ser um virtuose, mas simplesmete um bom misico (as vezes até mediocre, se o ins- trumento for pouco procurado pelo estudante de miisica), este j terd uma carreira, junto a maes- tros e colegas que realizam os melhores compo- sitores, j4 no universo profissional que inclue saldrio fixo jornada de trabalho pré- estabelecida. A safda vidvel do violonista, aquela que daré oportunidade de seu ingresso no mundo dos concertistas, & sair vencedor de concursos, que tem como prémio recitais em eventos relaciona- dos ao mundo violonistico. Mas isto se tornaré efémero se no houver uma continuidade em suas apresentagées, ¢, para que isto se torne realidade, € necessrio haver o aprendizado de como apresentar seu produto artistico ¢ vende- lo, isto , como fazer seu curriculo, organizar seu programa de recitais, tocar qual repertério em que determinado ambiente, como escrever uma carta-proposta, a agilidade das respostas, enfim, tudo relacionado ao mistér da profissio. Acredito que esta parte, que ndo faz parte do ensino do contraponto, harmonia, histéria, téc- nica do instrumento, solfejo, etc, etc, iria dar Pégioa 18 por Henrique Pinto um complemento a profissionalizagio do misi- Co, ¢ principalmente ao solitério violonista, que no final de seu curso ainda se encontra em estado de inocéncia com relagdo a este mundo em que terd de conviver, ainda agarrado a fantasia do ar- tista romantico e a injustiga de seu nfo reconhe- cimento, apesar de todos os esforgos ¢ talento. Creio ter divagado um pouco sobre a possibili- dade do violonista caminhar em terra firme ¢ sa- ber se situar neste mundo tendo um objetivo a ser alcangado, mas sempre ter a certeza por onde ca- minha, e cada vez mais ter autonomia em sus movimento, ser bom profissional implica em sa- ber todos os elementos de sua profissdio ¢ também saber se mover neste universo de possibilidades. No VIII Concurso de Violéo Souza Lima, em que tive como companheiros de juri Breno Cha- ves, Eduardo Fleury ¢ Sidney Gimenez, assi mos um desfilar de talentos, € claro, que alguns, com possiblidades maiores de destaque, como os primeiros prémios: Alessando Pereira, Mateus Andrade dela Fonte, Vladimir Bomfim Primo, Marcos Flavio Nogueira da Silva, Gilson da Sil- va Brito, Felipe Moreira, Mauricio Pereira. Posso ainda citar alguns candidatos que me impressio- naram ¢ nio ficaram com os primeiros prémios, como: Tiaraju Cunha Gaiger, Ivan Claus Maga- Indes Weudes de Lima, Solange Miyabe Kuwamoto, Sergio Adriano Marostegan e me per- doem os nao citados, creio que muitos mostraram somente um pouco do que podem, por uma ma escolha de repertério ou seu estado emocional nao permitir uma apresentago melhor. Mas, com to- dos os prés e contras a respeito dos concursos, houve um respeito grande pelos concorrentes, ten- tamos ser justos, dentro da nossa frdgil justiga de nossa condigGo humana. O congragamento ¢ a atitude de coleguismo foi uma constante em to- dos os momentos, mesmo apés 0 resultado final. O objetivo do concurso foi alcangado em todos os ‘seus aspectos, € no s6 pelo melhor candidato deste momento, mas por sua lisura ¢ pelo movimento positive no meio violonistico. CLASSIFICACAO DO VIII CONCURSO DE A LIMA Lure 1 prémio Felipe Augusto Fachini Moreira Mauricio André Pereira da Silva 2 prémio —_Ricieri Chaga Piran 3 prémio Thiago M. Rodrigues da Cunha Prémioespecial Bruno Hasegawa Kono 1Turno I®prémio _Gilsonda Silva Brito 2 prmio Marcio Leandro Ramos 3*prémio. Marcos Vietora Wagner Prémio especial André Marques Porto Moreira Talo Aoki ‘UWTurno *prémio Marcos Flavio Nogueira da Silva Mateus Andrade dela Fonte 2 prémio Ivan Claus Magalhiies Weudes de Lima prémio —Tiaraju Cunha Gaiger Alessandro Pereira Vladimir Bomfim Primo Marcelo Femiandes Pereira Solange Miyabe Kawamoto Duo, Trio e Quarteto de Violies prémio especial Grupo de Cimara Vidarte II FESTIVAL NACIONAL DILERMANDO REIS Guaratinguetd recebeu de 18 a21 de setembro cerca de cem violonistas de todo o Brasil para o 2.0 Festival Nacional Dilermando Reis, mostran- do aimportincia que o violZo tem no cendrio cul- tural brasileiro como instrumento solista e divul- gando e valorizando seus compositores e intér- pretes. Devido ao sucesso do 1.0 Festival no ano passado, a Secretaria Municipal de Educagio Cultura da cidade dividiu 0 apoio coma iniciati- va privada, propiciando a inclusio no calendrio turistico da cidade, iniciativa espontnea da Ca- mara Municipal, por meio do vereador Ant6nio José. O evento cotou com a participagio de bolsis- tas ¢ concertistas de renome, que dividiram as atividades entre recitais, masterclasses e workshops, sempre com enorme sucesso de pii- blico. As atividades foram desenvolvidas nos Principais espagos culturais da cidade como: Audit6rio do Museu Frei Galvao, Auditério do Colégio Fénix eno coreto da praga Conselheiro Rodrigues Alves. Os professores concertistas por Edmauro de Oliveira convidados foram: Edmauro de Oliveira (Guaratinguet4); Giacomo Bartoloni (UNESP); Edelton Gloeden (USP); José Ananias (flauta OSESP); Trio Dilermando Reis (Guaratingueté); Henrique Pinto (FAM); Mil- ton Costa (Sao José dos Campos); Rodrigo Rus- so Domingos (Sao Bernardo do campo); Pau- Jo Porto Alegre (SP) ¢ Orquestra de Violdes de Tatui. O calendério obedeceu uma intensa progra- magio durante os quatro dias, quando foram apresentadas diversas tendéncias do violo con- tempordineo, uma homenagem aos 20 anos do transcurso da morte de Dilermando Reise cul- | minando com o langamento do CD de Paulo Porto Alegre “A Queda dos Péssaros”. Pelo enorme sucesso ¢ receptividade entre bolsis- tas, professores e a comunidade de Guaratingueti, terceira edigdo do Festival ten- deré a se transformar em um evento internaci- onal. Pigna9 PAULO BELLINATI ESTARA MINISTRANDO O CURSO "ARQUITETURA DO ARRANJO PARA VIOLAO SOLO" de 17/11 a 4/12 Escola de Musica Companhia das Cordas Rua Nazaré Paulista 308 Tels.: 262-1925 262-1761 ROBERTO GOMES LUTHIER ESTRADA DA PEDRA VERMELHA 1956 SAO FRANCISCO XAVIER - SP CEP 12249-000 (012) 326-1263 (011) 870-1395 Know-How Composigdo Editorial e Artes Grdficas Elaboramos e digitamos: Teses, Monografia, Apostilas,Curriculum Vitae, Etiquetas, Folhetos Diagramagio de Jomais, Revistas, Livros, Catilogos Melhor Preco e Prazo Rua do Arouche, 72 - Cj. 13 Fonefax: 221-9827/220-0765 VENDO VIOLAO Luthier - 1991 Bem conservado R$ 2.500,00 Tel. (013) 234-7296 VENDO VIOLAO SERGIO ABREU - 1990 JACARANDA BRASILEIRO US$ 2.800,00 (011) 211-4979 VENDO VIOLAO Roberto Gomes; em Cedro - R$ 1.300,00 (facilitado) Tratar: (011) 5084-3927.

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