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1. INTRODUÇÃO
2. NOÇÃO
3. EVOLUÇÃO HISTÓRICA.
1
Fran Martins, Títulos de Crédito, vol. 1, 13a. edição, Ed. Forense, 1998, p. 4
2
Dylson Doria, Curso de Direito Comercial, Vol. II, 5a. edição, Ed. Saraiva, 1991, p. 3
3
Amador Paes de Almeida, Teoria e Prática dos Títulos de Crédito, 17a. edição, Ed. Saraiva, 1998, p. 1
1
Historicamente, os procedimentos de troca passaram por diversas fases, num
sistema evolutivo que se principiou com a denominada economia natural (permutavam-se
produtos de uso comum, como o gado e o sal - troca in natura), passando-se pela economia
monetária (a moeda se transformou em meio primordial de troca), para chegar à economia
creditória (alargando-se o âmbito da troca, as transações se tornaram mais rápidas e
abrangentes, notadamente pela circunstância de uma pessoa usufruir no presente, de
dinheiro cujo pagamento será feito posteriormente).
A economia creditória vem angariando grande relevância a cada dia que passa, a
ponto de alguns autores afirmarem-na como base da economia moderna. Efetivamente, os
efeitos do crédito facilitaram a vida dos indivíduos e, em conseqüência, o progresso dos
povos.
4. ELEMENTOS ESSENCIAIS
Por outro lado, o tempo integra ainda a noção de crédito. A operação creditória
mais não é que a troca no tempo. Entre a prestação atual e a futura deve medir um prazo,
sem o que não se poderá falar em operação creditícia”4.
5. FUNÇÃO
Sua função primordial reside, portanto, na melhor utilização dos capitais existentes,
possibilitando a realização de operações mercantis com maior amplitude. Tanto que,
freqüentemente se diz que o crédito é a alma do comércio, e tal afirmação, traduz uma
verdade inabalável.
6. TÍTULOS DE CRÉDITO
4
Dílson Doria, op. citada, p. 4
2
entende-se tal operação, como aquela pela qual se fornece uma prestação, na esperança de
uma contraprestação futura, acrescida ou não de outros valores. Evidenciava-se, destarte,
um grave problema relativo à circulação dos direitos creditórios, questão esta que só veio a
ser solucionada com o aparecimento dos títulos de crédito.
A locução "título de crédito" é muito criticada, por entenderem alguns juristas, entre
os quais DARCY ARRUDA MIRANDA JR.6, que ela tem sido utilizada, tanto para
designar aquele documento que materializa exclusivamente um direito de crédito, como
também aquele que contém outros direitos, como, por exemplo, o de participação nas
sociedades anônimas (ações). Em nosso país, no entanto, essa indicação se solidificou na
literatura jurídica, afastando totalmente outras expressões que porventura pudessem ser
mais adequadas.
5
Wilson Furtado, Curso de Direito Comercial, 1a. edição, Juruá Editora, 1998, p. 125
6
Darcy Miranda Jr., Curso de Direito Comercial, 2a. edição, Ed. Saraiva, 1989, Vol. III, p.2
3
DOS TÍTULOS DE CREDITO
SUMÁRIO: 7. Importância. 8. Finalidade. 9. Conceito, Características.
10. Cartularidade. 11. Literalidade. 12. Autonomia. 13. Independência e
Abstração. Efeitos práticos. 14. Natureza Jurídica. Teorias. 15.
Aspectos Gerais, 16. Títulos de Natureza Civil. 17. Classificação. 18.
Substituição de título dilacerado. 19. Perda, extravio ou injusto
desapossamento do título. 20. Espécies.
7. IMPORTÂNCIA
8. FINALIDADE
7
Amador Paes de Almeida, op. citada, p. 2.
8
De Plácido Silva, Curso de Direito Comercial, 13a. edição, Ed. Forense, 1988, p.501
4
9. CONCEITO
10. CARTULARIDADE
O credor deve provar que se encontra na posse da cártula, a fim de exercer o direito
nela incorporado e, neste âmbito, o jurista FÁBIO ULHOA COELHO 11 acolhe o princípio
da cartularidade como um eficaz meio de garantia, capaz de comprovar que o sujeito
postulador da satisfação do crédito é mesmo o seu titular. Esse posicionamento é correto,
posto que, eventual cópia autenticada de um título não outorga qualquer segurança,
porquanto, quem apresentá-la poderá não estar retendo necessariamente o instrumento
9
Cesare Vivante, Tratado de Derecho Mercantil, vol. III, 5a. edição, p. 12, n. 953
10
Gladston Mamede, Títulos de Crédito, 1a. edição, Ed. Atlas S.A, 2003, p. 37
11
Fábio Ulhoa Coelho, Curso de Direito Comercial, vol. I, Ed. Saraiva, 1a. edição, 1998,. p.207
5
original, por já tê-lo transferido a terceiros. Da mesma forma, prováveis processos de
execução e de falência – esta última lastreada na impontualidade do devedor – só poderão
ser interpostos com ajuntada dos próprios títulos, consolidadores da condição de legítimos
credores dos requerentes.
11. LITERALIDADE
No dizer de DYLSON DORIA, "desse atributo resulta ser decisivo o que se contém
no título, por isso não se leva em consideração o que nele se não achar inserto, ainda que
consignado em documento separado" 12. Assim, por exemplo, SE DEVO MAIS, MAS
ASSUMO NO TÍTULO OBRIGAÇÃO POR MENOS, OU SE DEVO MENOS E
ASSUMO NO TÍTULO OBRIGAÇÃO POR MAIS, PODEREI, NA ÉPOCA DO
VENCIMENTO, SER FORÇADO A CUMPRIR A OBRIGAÇÃO MENCIONADA NO
TÍTULO, NEM MAIS NEM MENOS DO QUE ALI SE CONTÉM.
Para AMADOR PAES DE ALMEIDA, "os títulos de crédito são literais porque
valem exatamente a medida neles declarada". E reporta-se a CARVALHO DE
MENDONÇA "para quem os títulos de crédito se caracterizam pela existência de uma
obrigação literal, isto é, independente da relação fundamental, atendendo-se
exclusivamente ao que eles expressam e diretamente mencionam”13.
12
Dylson Doria, op. citada, p.6
13
Amador Paes de Almeida, op. citada, p. 3
14
João Eunápio Borges, Títulos de Crédito, Ed. Forense, 2a. edição, 1977, p.13
6
aspecto positivo, somente do conteúdo ou do teor do título é que resulta a individuação e a
delimitação do direito cartular, sob o seu aspecto negativo, nem o subscritor, nem o
portador poderá invocar contra o título, fato ou elemento não emergente do mesmo título".
Atributo estático – Tomando por base a célebre frase de VIVANTE, para quem "o
que não está no titulo, não está no mundo", o eminente jurista CLÁUDIO ANTONIO
SOARES LEVADA15, considera a literalidade como atributo estático e não dinâmico. Não
se pode inferir que o teor ou conteúdo do título possam estar sujeitos a circunstâncias
exógenas, das quais dependerão "a individuação e a delimitação do direito cautelar". Este
– o direito cautelar – existe em função, da dependência direta do que está expresso no
título, não em função de circunstâncias outras que possam vir a delimitar, futuramente, os
elementos que desde logo devem estar nele presentes.
12. AUTONOMIA
A circulação dos títulos de crédito deve ser simples e segura. Tal procedimento se
tornaria impraticável se o possuidor de boa-fé não exercitasse um direito próprio e
permanecesse indefinidamente à mercê de restrições advindas do negócio subjacente, entre
os primitivos possuidores e o devedor.
15
Cláudio Antonio Soares Levada, Revista Jurídica, vol. 99, maio/junho de 1983, Livraria M. Saraiva Ltada.,
p. 10
16
Dylson Doria, op. citada, p.7
7
Diante do princípio da autonomia do título de crédito, estando ele em circulação até
a data do vencimento para retirada da mercadoria nos contratos de depósito ou transporte,
apenas ele, e não os direitos ou mercadorias nele representados constituirá objeto de medida
judicial (penhora, seqüestro, embargos, p. ex.), e poderá ser dado em garantia pelo credor
ou portador17. É o que dispõe o art. 895 do Código Civil Brasileiro.
17
Maria Helena Diniz, Código Civil Anotado, Ed. Saraiva, 10ª. Edição, 2004, p. 616
18
Paulo Maria de Lacerda, A Cambial no Direito Brasileiro, Ed. Leite, Ribeiro & Maurílio, 1a. edição, 1921,
p. 371
19
Dylson Doria, op. citada, p. 8
20
Maximilianus C. A . Fuherer, Resumo de Direito Comercial, Ed. Revista dos Tribunais, 5a. edição, p. 88
8
acabam por apresentar alguns pontos em comum, sem, contudo obterem um consenso
amplo e como conseqüência, não chegam a um resultado definitivo, capaz de integrar os
aspectos coerentes de cada uma. E, frente à impossibilidade de se consolidar uma
concepção una, destacamos sintetizadamente, as teorias que obtiveram maior repercussão
histórica no direito comparado.
Teoria da Emissão – Somente após o abandono voluntário da posse, seja por ato
unilateral, seja por tradição, é que nasce a obrigação do subscritor. Sem emissão
espontânea, não se estabelece o vínculo e ao contrário da tese prolatada anteriormente,
posto o título fraudulentamente em circulação, insubisiste a obrigação. Defendida por
STOBB e WINDSCHEID, a idéia que predomina é a da vontade como exclusivo elemento
gerador do título.
21
Rubens Requião, Curso de Direito Comercial, Vol. II, Ed. Saraiva, 24a. edição, 2005, p. 296
9
detentor se pague a importância do capital, ou seu interesse"). Tal ecletismo foi mantido
no Código Civil de 2002.
Escreve SOUZA NETO: "... se o devedor de um preço de compra emite, por isso,
uma promissória em favor do vendedor, o recebimento dessa promissória, constitui por si
só, novação da relação obrigatória resultante da compra e venda?". Depois de várias
considerações, ele responde: "O recebimento da promissória pelo vendedor, na pergunta
acima formulada, não constitui, pois, por si só, novação. A regra é que ele a recebe, não
em pagamento ‘pro soluto’, mas para pagamento 'pro solvendo” 23.
22
Fábio Ulhoa Coelho, Manual de Direito Comercial, Ed. Saraiva, 4a. edição, 1993, p.210
23
José Soriano de Souza Neto, Da Novação, pp.149/151, 1937
10
Antes do pagamento, a dívida não se considera solvida, conforme explica PAULO
RESTIFFE NETTO:- "É inerente ao cheque o caráter 'pro solvendo'. Só o efetivo
recolhimento de correspondente importância em dinheiro extingue a dívida. Ao contrário,
se por qualquer razão o beneficiário não consegue receber o valor correspondente ao
cheque, subsiste a dívida que com ele se pretendeu pagar” 24.
Muito embora se garanta natureza estritamente mercantil aos títulos de crédito, por
imposição exclusivamente normativa, existem alguns de origem civil, embora se lhes
aplique subsidiariamente a legislação cambial. Como ilustração, cite-se o disposto no art.
10 do Decreto-Lei 167 de 14/2/1967, que define as cédulas de crédito rural como títulos
civis líquidos e certos.
Por outro lado, atualmente, seguindo tendência universal, há uma forte corrente
favorável a junção do Direito Comercial e do Direito Civil, razão pela qual já prevendo
uma provável unificação do Direito Privado, o Código Civil Brasileiro passou a regular o
instituto dos Títulos de Crédito em nosso país, o que não descaracteriza a sua origem
comercial.
17. CLASSIFICAÇÃO
24
Paulo Restife Neto, Lei do Cheque, 2a. edição, Ed. Revista dos Tribunais, 1978, p. 39
11
d) títulos de crédito impropriamente ditos: nos quais, ainda que não representem
uma operação de crédito, incorporam um direito ao credor de exigir uma restituição ou
entrega daquilo que deu origem ao título ou a que ele se refere. Também chamados de
"títulos de legitimação", eles dão direito a algum serviço. Exemplos: bilhetes de viagens ou
de transporte.
Classificação quanto à circulação – Cada título nasce com sua lei de circulação,
dependente da vontade do legislador ou de quem o emite Assim, quanto à forma de se
passá-lo por vários possuidores legítimos, os títulos de crédito se dizem:
d) não à ordem: que obstam o pagamento senão aos titulares indicados, vedada a
transferência. Enquanto os anteriores circulam mediante a tradição acompanhada de
endosso, estas circulam com a tradição acompanhada de cessão civil de crédito.
25
Waldirio Bulgarelli, Títulos de Crédito, 18a. edição, Ed. Atlas, 2001, p. 88
12
solutionis): nacional e estrangeiro; (e) quanto ao prazo (ratione temporis): à vista e à
prazo (curto, médio e longo); (f) quanto ao emitente (ratione emitentis): públicos e
privados; (g) quanto ao campo de atuação (ratione usus): mercado de capitais e
extramercado; (h) quanto à ordem (ratione ordinis): principais e acessórios; (i) quanto à
emissão (ratione terminis): definitivos e provisórios e (j) quanto ao número (ratione
numeri): individuais e seriados”.
20. ESPÉCIES
São vários os títulos de crédito conhecidos no direito brasileiro e regulados por leis
especiais, já que inexiste, ao contrário de algumas nações como o México, uma disciplina
geral para todos ao mesmo tempo. Apontamos a seguir a maioria dos documentos desta
natureza mais destacados em nosso país: Letra de Câmbio, Nota Promissória, Cheque,
Duplicata Comercial, Duplicata de Serviço, Conhecimento de Depósito, "Warrant”,
Conhecimento de Transporte, Letra Hipotecária, Cédula Rural Pignoratícia, Cédula Rural
Hipotecária, Cédula Rural Pignoratícia e Hipotecária, Nota de Crédito Rural, Nota
Promissória Rural, Duplicata Rural, Letra Imobiliária, Certificado de Depósito Bancário
(CDB), Cédula de Crédito Industrial, Nota de Crédito Comercial, Ações de Sociedade Por
Ações, Certificado de Depósito de Ações, Debêntures, Nota de Crédito à Exportação,
Cédula de Crédito Comercial, Nota de Crédito Comercial, Certificado de Investimento,
Certificado de Depósito em Garantia, Cédula Hipotecária e Bilhete de Mercadoria, entre
outros e muitos dos quais, além dos cinco primeiros, considerados principais, serão
destacados oportunamente.
13
LETRA DE CÂMBIO
SUMÁRIO: 21. Importância - Suas regras se estendem aos
demais títulos. 22. Conceito. 23. Partes Intervenientes. 24.
Origem. 25. Fundamentação Legal. 26. Rigor Cambiário. 27.
Requisitos Essenciais. 28. Requisitos Gerais. 29.- Cláusulas
consideradas não escritas. 30. Requisitos Supríveis. 31.
Vencimento da Letra de Câmbio. 32. Modalidades de
Vencimento. 33. Princípio da Unicidade.
22. CONCEITO
26
Fran Martins, op. citada, p. 22
27
Dylson Doria, op. citada, p. 18
14
A emissão (saque) da letra de câmbio pressupõe logicamente, a existência de um
crédito do sacador perante o sacado, que ao invés de receber diretamente deste, determina o
seu pagamento para um terceiro, que por certo também mantém com aquele uma relação
creditória permissiva de tal transferência. Caso contrário, qualquer indivíduo poderia
utilizar-se da estrutura cambiária, de forma ilícita ou arbitrária, a fim de obter recursos para
si próprio em detrimento dos inúmeros transtornos e prejuízos que acarretaria às vítimas,
pessoas injustamente envolvidas num esquema fraudulento e que se respaldaria em critérios
exclusivamente técnicos.
A obrigação cambiária, por outro lado, só se efetiva por meio do aceite do sacado.
Apondo a sua assinatura no título, ele se compromete ao pagamento da letra, convertendo-
se com a posição de aceitante, em seu devedor primário. Ressalte-se que, na possibilidade
de se criar uma estrutura cambiária e recusando-se o devedor em anuir à ordem de
pagamento, o seu aceite poderá ser suprido pelo protesto por falta de aceite, hipótese que
detalhada e oportunamente será analisada.
24. ORIGEM
Apesar dessas divergências, tem-se como certo que a letra de câmbio se revelava
num instrumento de permuta e transporte. Assim, com o decorrer do tempo e diante das
práticas em vigor e das necessidades mercantis, as suas fórmulas incipientes foram
gradativamente evoluindo. De seu estágio inicial como de contrato de câmbio, passou a
funcionar como meio de pagamento, até chegar à noção de título de crédito, tal qual como
hoje a concebemos, ou seja, uma ordem de pagamento, representativa de um valor posto
28
J.A. Saraiva, A Cambial, vol. I, 1912, Ed. Rodrigues & Cia., p.27
29
Dylson Doria, op. citada, p. 18.
15
em circulação, assegurando-se que "a negociabilidade foi o objetivo primordial desses
títulos, tanto no sistema continental, quanto no anglo-americano" 30.
E, dentre as diversas fases pelas quais ela se consolidou, as mais importantes são a
francesa e a alemã. Na primeira, a partir de 1673 por intermédio da “Ordennance Sur Le
Comerce de Terre”, operaram-se importantes modificações estruturais, ressaltando,
inclusive, que a denominação letra de câmbio "é de origem francesa, advindo de "lettere"
(carta) e "change" (câmbio), que exprime troca, permutação. A segunda, decorrente do
desenvolvimento iniciado em 1848 pela Ordenança Geral da Alemanha, representa o seu
próprio estágio atual e, segundo AUGUSTO TOSCANO, "a nossa lei cambial é fruto das
modificações introduzidas por esse período, bem como na lei de quase todos os países” 31
30
Silva Pinto, Direito Cambiário, 7.3, Rio, 1951, apud Walter T. Alvares, op. citada, p. 586.
31
Augusto Toscano, Curso de Direito Comercial, 1a. edição, 1998, Copola Editora, p.163
32
Fábio Ulhoa Coelho, Curso de Direito Comercial, vol. I, 1a. edição, 1999, Ed. Saraiva, p. 385.
16
O Código Civil Brasileiro dispõe em seu art. 887, “in fine” que o título de crédito
somente produz efeito, quando preencher os requisitos da lei. O mesmo estatuto determina
que “a omissão de qualquer requisito legal, que tire ao escrito a sua validade como título de
crédito, não implica a invalidade do negócio jurídico que lhe deu origem”.
Assim, um título de crédito para valer como tal, deve obedecer a determinadas
formalidades previstas na legislação e a esse conjunto de regras legais dá-se a denominação
de rigor cambiário. É nele que repousa, em grande parte, as garantias do portador da
cártula. Invoquemos PONTES DE MIRANDA: "O direito cambiário chegou a tão grande
harmonia de técnicas e a técnica tão longe levou o seu intuito de harmonizar interesses
particulares e do público, que o sacrifício de qualquer elemento significa, sempre, erro de
justiça" 33.
33
Pontes de Miranda, Tratado de Direito Cambiário, Vol. I, 2a. edição, Editora Max Limonad, 1954, p.11
34
Darcy Arruda Miranda Jr. Op. citada, p. 13
17
prescrita, não sendo permitidas nem expressões elípticas, nem palavras eqüipolentes, às
quais a lei não deu a mesma interpretação técnica”.35
Ela deve ser expressa na mesma língua empregada na redação do Título de Crédito.
Nada impede, porém, que ela seja redigida em francês no Brasil, nem que um inglês a
redija em português 36. O que a legislação veta é uma possível estrutura idiomática bilíngüe.
Brasil, o padrão monetário atual é o Real. Assim, todos os títulos de crédito aqui
criados devem tê-lo por espécie de moeda, não se admitindo outra, sob pena de nulidade.
Evidentemente, tal hipótese não abrange o título emitido no exterior, para ser quitado em
nosso país.
35
José Maria Whitaker, Letra de Câmbio, 6a. edição, p. 45, 1964.
36
J.M. Caravalho Santos, Cód. Civil Brasileiro Interpretado, Vol. XXI, Ed. Freitas Bastos, 6a. edição, 1956,
pp. 5/6
37
Vittori Angeloni, La Cambiale e il vaglia Cambrário, 4a. edição, Milano,Guiffré, 1964, p. 45
38
Roberto Latif Kfouri, monografia publicada em “O Estado de São Paulo”em 28/12/1980, p.34
39
Cláudio Soares Levada, op. citada, pp. 23/24
18
CARVALHO SANTOS 40 que "líquidas são as obrigações de corpo certo, de quantidade
fixa, de soma determinada. (...) Vale dizer: líquida é a obrigação certa sobre a qual não
pode haver dúvida, (...), ou sejam precisamente as obrigações determinadas pela
respectiva espécie, quantidade e qualidade. Tais são, por exemplo: as letras de câmbio, as
notas promissórias, os títulos ao portador etc, etc.”. E esclarece o mesmo autor: "a dívida
é líquida quando o seu valor resulta constando do próprio título, sem necessidade de
recorrer-se a elementos a ele estranhos. Ou, em outros termos, quando para apurar-se o
seu total, basta fazer-se um simples cálculo aritmético, com os dados certos e positivos
constantes do próprio titulo”.
III - o nome da pessoa que deve pagá-la (sacado). Vinculando-se pelo aceite à
cambial, sacado é a pessoa física ou jurídica que deve pagá-la, razão pela qual deve constar
do título o nome completo do devedor. É matéria pacífica na doutrina e na jurisprudência a
indispensabilidade de tal requisito. Transcrevemos o seguinte julgado, utilizado por
AMADOR PAES DE ALMEIDA 41: – “Não se considera cambial a letra da qual não
consta o nome do sacado, da pessoa que deverá pagá-la “(Rev. dos Tribunais, 231/275)”.
De acordo com o art. 889 do Código Civil Brasileiro, o título de crédito deverá
conter: a) data da emissão, b) indicação precisa dos direitos por ele conferidos e c)
assinatura do emitente, “que pode ser o devedor (cheque, nota promissória) ou o credor
(letra de câmbio e duplicata)43. O parágrafo terceiro deste preceito legal ainda permite que
“o título poderá ser emitido a partir dos caracteres criados em computador ou meio
40
J. M. Carvalho Santos, op. citada, p. 6
41
Amador Paes de Almeida, op. citada, p.21
42
Dylson Doria, op. citada, p.14
43
Maria Helena Diniz, Código Civil Anotado, Ed. Saraiva, l0a. ed., 2004, p. 613
19
técnico equivalente e que constem da escrituração do emitente, observados os requisitos
mínimos previstos neste artigo”.
Conforme expresso no art. 890 do Código Civil Brasileiro, o título de crédito não
“comportará a inclusão de cláusula de estipulação de juros, salvo se lei especial a admitir,
de proibição de endosso, de excludente de responsabilidade pelo pagamento ou por
despesa, de dispensa de observância de termos e formalidades prescritas e de exclusão ou
restrição de direitos e obrigações, além dos limites legais. Se tais cláusulas forem nele
inseridas, serão tida como não escritas, apenas para efeitos de natureza cartular, visto que
não é contrato, mas obrigação de pagar certa quantia pecuniária”.44
Há alguns requisitos considerados não essenciais, ou seja, aqueles que, nos termos
do art. 2º da Lei Uniforme podem ser substituídos ou suprimidos, sem descaracterizarem os
instrumentos como títulos de crédito. Assim, se numa letra de câmbio se omitir o lugar do
saque (praça de pagamento), considerar-se-á como sendo o do local designado ao lado do
nome do sacador. Da mesma forma, inexistindo uma data para pagamento (vencimento),
entender-se-á a mesma pagável à vista.
44
Maria Helena Diniz, op. citada, p.614
45
Darci Arruda Miranda Jr., op. citada, p. 52
20
A lei prevê que as letras de câmbio podem ser passadas sob quatro modalidades de
prazo de vencimento, fixadas para fins de seus pagamentos, conforme a forma do saque.
São elas:
46
Darci Arruda Miranda Jr., op. citada, pp. 49/50
47
Fábio Ulhoa Coelho, Manual de Direito Comercial, Ed. Saraiva, ed. 2006, p.260.
48
Dílson Doria, op. citada, p. 48
21
CONSTITUIÇÃO DO CREDITO CAMBIARIO
SUMÁRIO: 34. Saque da Letra de Câmbio. 35. Efeitos. 36.
Situações Jurídicas Decorrentes do Saque. 37. Cláusula Mandato.
38. Aceite. 39. Ato Facultativo. 40. Forma. 41. Modalidades. 42.
Aspectos Gerais. 43. Cláusula "Não Aceitável".
De acordo com DE PLÁCIDO E SILVA49, "o simples saque da letra não indica por
si só o contrato, que dele se vai formar O credor, como sacador formula a ordem,
instrumenta a ordem contra o sacado, seu presumido devedor ou em poder de quem tem
fundos, que possa retirar”.
Dessa maneira, inicialmente, o saque se mostra um ato unilateral. Não se revela
ainda um contrato, pelo qual se estabeleça um vínculo obrigacional entre o sacado e o
sacador Somente quando o sacado reconhece ou aceita a ordem, firmando seu nome no
documento que o sacador expediu para seu aceite, é que o contrato se apresenta
juridicamente perfeito e capaz de surtir os efeitos legais”.
35. EFEITOS
49
De Plácio e Silva, op. citada, p.518
50
Wilson Furtado, op. citada., p. 128
22
“Como se trata de uma ordem de pagamento, a letra de câmbio, ao ser emitida, dá
ensejo a três situações jurídicas distintas: a do sacador, a do sacado e a do tomador.
Ressalte-se que se fala em situações jurídicas e não em sujeitos de direito. Quer dizer, a
mesma pessoa pode ocupar simultaneamente mais de uma situação: a lei uniforme, no art.
3º, autoriza o saque da letra à ordem do próprio sacador (nesse caso, a mesma pessoa
ocupa as situações de sacador e tomador) ou sobre ele (hipótese em que ocupa as
situações de sacador e sacado)" 51.
Vale dizer que quando o sacador se iguala à figura do tomador, os efeitos da letra de
câmbio se equivalem aos de uma nota promissória, como verificaremos mais adiante.
A exemplo dos demais atos cambiários, o saque também pode ser praticado por
procuradores com poderes especiais e se o sacador - como de resto, qualquer outro
obrigado cambial - não souber ou não puder assinar, o procurador, além da necessária
especificidade de seu instrumento de mandato, deverá ainda ser nomeado por instrumento
público.
38. DO ACEITE
É o ato cambial pelo qual o sacado concorda em acolher a ordem incorporada pela
52
letra . Assim, enquanto não manifesta a sua concordância, ele não tem nenhuma obrigação
51
Fábio Ulhoa Coelho, op. citada, pp. 383/384.
52
Fábio Ulhoa Coelho, op. citada, p. 221
23
cambial. De acordo com Amador Paes de Almeida 53
, “o aceite é o reconhecimento do
débito, obrigando o aceitante cambiariamente”.
40. FORMA
Dá-se o aceite, geralmente, pela sua subscrição na face do próprio título (anverso),
no seu lado esquerdo, em sentido transversal. Mas nada impede que o seja em qualquer
outro local do título, inclusive no verso, desde que identificado o ato praticado pela
expressão "aceito" ou outra equivalente. Embora tal situação não seja coibida pela
legislação vigente, também não chega a ser recomendada, exclusivamente pelos eventuais
transtornos de ordem prática que pode acarretar, em função dos usos e costumes comerciais
vigentes.
41. MODALIDADES
53
Amador Paes de Almeida, op. citada, p. 34
54
Fábio Ulhoa Coelho, op.citada, p. 391
55
Theófilo de Azeredo Santos, Manual dos Títulos de Crédito, 2 a. edição.
24
deve protestar a letra para suprir a ausência de consentimento e possibilitar a sua regular
circulação (inciso I do art. 19 do Decreto 2.044/ 1908).
b) Agente capaz – Qualquer pessoa pode se obrigar cambialmente, desde que tenha
capacidade civil, podendo o sacado aceitar o título ou por si mesmo, ou por mandatário
especial.
d) Aceite parcial – Em seu art. 26, a Lei Uniforme admite o aceite parcial ou
limitado, declarando textualmente: "O aceite é puro e simples, mas o sacado pode limitá-lo
a unia parte da importância sacada".
Apesar do sacado não estar obrigado ao aceite da letra de câmbio, tal recusa pode
provocar determinadas conseqüências, como o vencimento antecipado do título previsto no
art. 43 da Lei Uniforme (salvo nas hipóteses proibidas no mesmo preceito) visando-se
resguardar os interesses do tomador do título. "Trata-se do vencimento antecipado, previsto
no art. 43 da Lei Uniforme. Se o sacado não aceitar a ordem de pagamento que lhe foi
dirigida, o tomador – ou o credor – poderá cobrar o título imediato do sacador, posto que
o vencimento originariamente fixado à cambial é antecipado com a recusa do aceite”58.
Incide idêntica conseqüência quando ocorrer recusa parcial (aceite limitativo o sacado
aceita pagar apenas parte do título ou aceite modificativo - o sacado adere à ordem cambial
alterando parte das condições fixadas no documento, corno o adiamento de seu
vencimento).
Para evitar a antecipação provocada pela recusa do aceite e com efeitos prejudiciais
ao sacador e a outros prováveis co-devedores do título, como a sujeição, como responsáveis
56
Augusto Toscano, op. citada, p.164
57
Dylson Doria, op. citada, p.32
58
Fábio Ulhoa Coelho, op. citada, p. 220
25
ao pagamento imediato do título, o art. 22 da Lei Uniforme possibilita a introdução da
cláusula "não aceitável", que proíbe a apresentação da letra ao sacado, antes do vencimento.
DA CIRCULAÇÃO E
TRANSMISSÃO DA CAMBIAL
SUMÁRIO: 44. Generalidades. 45. Modalidades de Transmissão.
46. Cláusula Permissiva de Circulação Cambiária. 47. Forma
Pela Qual Se Processa o Endosso. 48. Efeitos. 49. Espécies (Em
Branco e Em Preto). 50. Inadmissão de Endosso Parcial. 51.
Endosso-Caução. 52. Endosso Póstumo. 53. Reendosso. 54.
Cadeia de Endossos. 55. Endosso-Mandato
44. GENERALIDADES
Há dois modos pelos quais normalmente se opera o giro cambial: pela tradição, que
consiste na entrega pura e simples da cambial ao seu novo proprietário, independentemente
de qualquer declaração escrita relativa à transferência 60 e pelo endosso translativo seguido
da tradição, que se constitui no meio pelo qual se transfere a propriedade de um título de
crédito, revelando-se num ato típico de circulação cambial.
A cláusula "à ordem" é permissiva à circulação dos títulos de crédito (ex: "... Por
esta única via pagará a Fulano ou à sua ordem...) e, de acordo com o art. 11 da Lei
Uniforme, ela não precisa vir expressa no contexto cambiário. O Código Civil prevê no
art. 904 que “a transferência de título ao portador se faz por simples tradição”. Por outro
lado, a cambial "não à ordem", cuja cláusula deve estar explícita, circula normalmente pela
forma e com os efeitos de uma cessão ordinária de crédito (cessão civil), conforme o
dispositivo legal supramencionado, também por sucessão "causa mortis", fusão,
incorporação etc. Neste aspecto, ressalte-se que o título à ordem, que for adquirido por
meio diverso do endosso, tem efeito civil (art. 919 do CCB): “Se alguém vier a adquirir
título à ordem por meio diverso do endosso, p.ex., em documento à parte, essa aquisição,
59
Darcy Arruda Miranda Jr., op. citada, p. 24
60
Paulo Maria Lacerda, A Cambial no Direito Brasileiro, 4a. edição, Ed. J. Ribeiro dos Santos, 1918, p.93
26
ou melhor, transferência, produzirá os mesmos efeitos da cessão civil, logo não gerará
conseqüências cambiais, pois perderá, portanto, seu caráter de título executivo”61
Tratando-se de declaração acessória, ele deve ser lançado no verso do título e para
sua validade, basta a assinatura do próprio punho do endossante (art. 8º do Dec. nº
2044/1900). Todavia, o art. 910 do Código Civil permite o seu lançamento também no
anverso. Nesta hipótese, é obrigatória a sua identificação como ato cambiário, não podendo,
para sua prática, apenas o endossante opor sua assinatura, como ocorre para simples
tradição.
Apesar de admitido por alguns autores, o endosso, por escritura pública não vem
sendo reconhecido e contra si, insurgem-se renomados comercialistas como CARVALHO
DE MENDONÇA: "O endosso não pode constar de ato separado, ainda que seja de
escritura pública, visto que é obrigação de estrito rigor formal. Deve ser lançado no verso
da letra de câmbio, para que se não confunda com outra obrigação cambial de diversa
natureza" 62.
48. EFEITOS
61
Maria Helena Diniz, op. citada, p. 631
62
J.X. Carvalho de Mendonça, Tratado de Direito Comercial, 6a. edição, 1963
27
endossante). Sua principal característica reside na circunstância de constar do título o nome
do endossatário, isto é, daquele a quem o endossador transfere a propriedade do título. e b)
endosso em branco, quando inexiste a indicação do beneficiário (ou endossatário) e consta
somente a assinatura do endossador (o mesmo que endossante no verso da letra), sendo
suficiente a tradução manual para que o título se transmita a outrem: A sua circulação pode
ocorrer como se fosse uma "letra ao portador", passível de posterior preenchimento pelo
interessado.
Por envolver todas as vantagens relativas ao crédito, a transferência não pode ser
parcial, ou seja, não se transfere parte do título, mas ele inteiro, com os direitos que
corporifica. O próprio art. 12 da Lei Uniforme decreta: "O endosso parcial é nulo.” O
parágrafo único do art. 912 do CCB também se reporta à mesma proibição.
Apesar dessa inadmissão, o mesmo diploma legal permite que o endossante possa
excluir sua responsabilidade relativamente ao aceite e ao pagamento da letra e vetar novo
endosso, e, se isto ocorrer, não terá responsabilidade perante aqueles a quem a letra for
endossada, apesar da proibição63.
O Código Civil Brasileiro dispôs expressamente no art. 914, que se o título não
conter cláusula expressa nesse sentido, não é responsável pelo cumprimento da obrigação
nele contida. Ao contrário, constando tal situação, torna-se devedor solidário da cártula,
assegurando-se no direito de regresso contra os coobrigados anteriores, se vier a pagá-la.
51. ENDOSSO-CAUÇÃO
63
Walter T. Álvares, Curso de Direito Comercial, 1ª. edição, p. 593, 1979, Ed. Sugestões Literárias S.A.
28
lançado depois de expirado o prazo fixado para se fazer o protesto, produz os efeitos de
uma cessão ordinária de crédito (civil), isentando o endossante da vinculação cambial.
53. REENDOSSO
Urna letra pode sofrer reendosso, em vez de ser endossada para frente. O primeiro
endosso deve ser obrigatoriamente do tomador como beneficiário direto do crédito
declarado, sendo o único com legitimidade para transferi-la, "razão pela qual é inadmissível
o endosso de um título em branco sem o preenchimento prévio desse requisito" 64. Desta
forma, o endossatário poderá reendossar o título a um terceiro ou a qualquer outro figurante
do título, até mesmo o sacado, que antes do vencimento, poderá colocá-lo novamente em
circulação, reendossando-o, por exemplo, ao sacador.
55. ENDOSSO-MANDATO
64
Darcy Arruda Miranda Jr., op. citada, p. 20
29
DA GARANTIA DA LETRA DE CÂMBIO
SUMÁRIO: 56. Do Aval. 57. Efeito Primordial. 58. Natureza
Jurídica. 59. Aval Parcial. 60. Forma. Aval Antecipado. 61.
Quem Pode Ser Avalista. Indicação Para Quem Se Dá. 62.
Pluralidade de Avais. 63. Aval e Fiança. 64. Aval Póstumo.
56. DO AVAL
65
Pontes de Miranda, Tratado de Direito Privado, Vol. XXXVII, p. 127
66
Dílson Dorya, op. citada, p. 43
67
João Eunápio Borges, Do Aval, cap. II, 3a. edição, Ed. Forense, 1960.
30
c) doutrina italiana:
1 - VIDARI (trata de fiança);
2 – BOLAFFIO (garantia formal, independente de obrigação garantida);
3 – VIVANTE (garantia peculiar às formas cambiárias).
A doutrina brasileira, por sua vez, segue com agrado a orientação da Lei 2.044 de
1908, a respeito de que o aval é obrigação autônoma, nada tendo em comum com a fiança.
Ao contrário do endosso, o aval podia ser parcial, de sorte que garantia toda a letra
ou parte dela, conforme a Lei Uniforme. Entretanto, o Código Civil Brasileiro, no parágrafo
único do art. 897, vedou tal situação. Assim, o avalista se obriga pelo valor total do débito
consignado.
Há autores que entendem, por não ter o CCB revogado a LU, que se mantém a tal
possibilidade, ou seja, o aval pode ser outorgado parcialmente. A questão é complexa,
esperando consolidação jurisprudencial. No entanto, a doutrina dominante acena pela
impossibilidade, notadamente pelo aval não acatar o benefício de ordem, previsto na
legislação civil.
60. FORMA
O aval pode ser outorgado tanto na face anterior da cártula cambiária, como no seu
verso (art. 898). Produzido no anverso, ele se perfaz com a só assinatura do avalista.
Aposto no verso, à sua perfeição exige ainda o emprego da locução "bom para aval" ou
equivalente (“por aval" ou "aval"), junto à subscrição do garantidor.
Todas as pessoas, desde que civilmente capazes, podem ser avalistas. Mas, à tal
qualidade, não se requer seja a pessoa estranha à relação cambial. Antes, qualquer dos
coobrigados, o endossante, o sacador, o próprio aceitante da letra podem ser avalistas 69.
68
STF, Rec. Extr. 67.378, DJ, 14.11.69, p.5432
69
Dyson Doria, op, citada, p. 43
31
Indicação da pessoa por quem se dá – A alínea quarta do art. 31 da Lei Uniforme
dispõe que "o aval deve indicar a pessoa por quem se dá". Não havendo essa menção,
entende-se que o aval foi prestado ao sacador da Letra de Câmbio ou ao emitente da Nota
Promissória.
Outras diferenças. É de se ressaltar ainda que a fiança pode ser limitada, inclusive
em valor inferior ao da obrigação principal, o que é vedado ao aval (arts. 822,823 e 897 do
CCB). Doutrinadores apontam outras diferenças, como Gladston Mamede: “..É lícito ao
credor exigir a substituição do fiador que se torna insolvente ou incapaz, na forma do art.
826, o que não alcança o aval. O fiador demandado pelo pagamento da dívida tem direito
a exigir, até a contestação da lide, que sejam primeiro executados os bens do devedor, por
previsão do art. 827 do Código Civil; o avalista não, pois responde como devedor
solidário, sendo lícito ao credor exigir diretamente dele a integridade do pagamento...”70
O aval lançado após o vencimento do título não produzia efeitos cambiais (aval
póstumo). Em face de tal conseqüência, A.J. SARAIVA lançou a tese de que este aval seria
uma fiança 71, ao que não adere corretamente outros autores, como CARVALHO DE
MENDONÇA, pois além do aval não ser fiança em consonância com a Lei Cambial,
igualmente não se contrata fiança desta maneira 72.
70
Gladston Mamede, op. citada, p.137
71
J.A . Saraiva, op. citada, vol. I, p. 382
72
J.X. Carvalho de Mendonça, op. citada, vol. V, 2 a. parte, n. 762.
32
DA NOTA PROMISSORIA
SUMÁRIO: 65.Conceito. 66. Características. 67. "Causa
Debendi". 68. Requisitos Essenciais. 69. Nota Promissória
em Branco. 70. Título de Crédito Incompleto (ao tempo da
emissão). 71. Requisitos Supríveis. 72. Diferenças com a
letra de Câmbio. 73. Vencimento. 74. Impossibilidade de
Aceite. 75. Legislação Aplicável.
65. CONCEITO
66. CARACTERÍSTICAS
A Nota Promissória traduz uma promessa direta de pagamento que o devedor faz a
seu credor. Trata-se de um título de crédito, mediante o qual o seu emitente se obriga a
pagar a seu beneficiário, ou à sua ordem, a quantia em dinheiro nele declarada. Assim,
numa abordagem inclusiva de MAGARINOS TORRES, são as seguintes as suas
características: a) título formal; b) autônomo; c) transmissível; d) traduz obrigação
incondicional; e) instrumento de crédito; f) título cambial e g) comercial 75.
73
Antonio Magarinos Torres, Nota Promissória, Ed. Saraiva, 1928, p. 109
74
Walter T. Álvares, op. citada, 616
75
Antonio Magarinos Torres, op. citada, Cap. I, p.111
33
direta emitente-tomador. Por conseguinte, o terceiro, como endossatário, fará valer o seu
crédito contra o endossante e o emitente 76.
76
Walter T. Álvares, op. citada, p.616
77
Revista dos Tribunais, 270/350
34
câmbio, cujo crédito preexiste à criação do título. Por outro lado, enquanto que nesta o
sacador responde apenas regressivamente, na outra o emitente se obriga diretamente.
A melhor base destas distinções entre os dois institutos é a que preconiza ser a Letra de
Câmbio uma promessa indireta de pagamento, já que o sacador se obriga por fato de
terceiro, ou seja, o aceite do sacado. A nota promissória representa uma promessa direta de
pagar, feita pelo seu emitente.
73. VENCIMENTO
"A Nota Promissória é uma promessa de pagamento e, por isso, não se aplicam, a
ela, as normas relativas à letra de câmbio incompatíveis com esta natureza da promissória.
Assim, não há que se cogitar de aceite, vencimento antecipado por recusa de aceite,
cláusula não aceitável etc" 79. Cite-se a título meramente ilustrativo, que não existe a figura
do "aceite" relativamente à nota promissória porque o próprio devedor é quem emite o
título, momento em que já aceita implicitamente a existência de uma obrigação.
78
Amador Paes de Almeida, op. citada, p. 89
79
Fábio Ulhoa Coelho, op. citada, p. 244
80
Édson Mesquita de Paula, Leis Uniformes sobre Cambiais e Cheques, Como foram promulgadas e como
estão em vigor”, Ed. Jalovi Ltda., 1a. edição, 1983
35
DO CHEQUE
SUMÁRIO: 76. Conceito. 77. Origem. 78. Características.
79. Natureza Jurídica. 80. Figuras Intervenientes. 81.
Fundamentação Legal. 82. Requisitos Essenciais.
76. CONCEITO
Qualquer que seja a data lançada no título é sempre pagável à vista e se reputa não-
escrita qualquer cláusula que vise torná-lo instrumento de promessa de pagamento futuro.
Não se pode negar exeqüibilidade ao cheque a pretexto de ter sido emitido em garantia de
prestação futura, com desnaturamento de sua função normal 82. Assim, para o Direito
Comercial, inexiste cheque pré-datado, ou seja, ele não pode ter sua apresentação ao banco
sacado e sua cobrança judicial condicionadas ao cumprimento de eventuais obrigações
assumidas pelo credor.
No caso do cheque, desviado de sua função econômica, mas sem mácula aos seus
requisitos formais, configura doutrinariamente, apenas um caso de título irregular, porém,
nunca de título nulo ou inválido. E sua compensação, com base no raciocínio acima, valerá
até para o cheque sem data, ou mesmo, com data falsa83.
77. ORIGEM
81
Amador Paes de Almeida, op. citada, p. 95
82
Sergio Shimura, Título Executivo, Ed. Saraiva, 1997, p. 280
83
Humberto Theodoro Jr., artigo Exeqüibilidade do Cheque Emitido em Promessa de Pagamento e do
Cheque sem Data, AJURIS, 27/68.
84
Walter T. Álveres, apud, op. citada, p. 622
85
Vieira Lins e Thales Azevedo, História do Banco da Bahia, p. 58, 1969, Rio de Janeiro.
36
78. CARACTERÍSTICAS
No entanto, com muita razão, a maioria dos autores, apesar de abalizadas opiniões
em contrário, consideram-no um título de crédito, ainda que tenha características próprias
ou que se utilize elementos comuns de outras figuras jurídicas. Acertadamente,
WALDIRIO BULGARELLI afirma tratar-se de um "título específico, com regime jurídico
próprio, autônomo” 90.
86
Walter T. Álvares, op. citada, p. 623
87
J.M. Othon Sidou, O Cheque e sua Certificação pelo Sacado, p. 9, 1971, Recife
88
Pontes de Miranda, Tratado de Direito Privado, vol. 37, parágrafo 4.093
89
Paulo Restiffe Neto, Lei do Cheque, 1973
90
Waldírio Bulgarelli, Direito Comercial: Títulos de Crédito, vol. III, ed. 1979
37
subsidiariamente, pela Lei Uniforme do Cheque, promulgada pela Lei n. 57.595 de
07/01/1966, naquilo em que não foi derrogada.
Pelo art. 1º da Lei 7357185, o cheque deve conter: a) a palavra "cheque" inserta no
próprio texto do título e expressa na língua empregada à sua redação; b) ordem
incondicional de pagar quantia determinada; c) o nome do banco ou da instituição
financeira que deve pagar (sacado); d) a indicação do lugar do pagamento; e) a indicação da
data e do lugar onde o cheque é passado e f) a assinatura de quem paga o cheque ou de
mandatários com poderes especiais.
38
ASPECTOS GERAIS DO CHEQUE
SUMÁRIO: 83. Fundos Disponíveis. 84. Conta-Corrente. 85.
Apresentação e pagamento. 86. Cheque Em Branco. 87. Cheque
com Pluralidade de Exemplares. 88. Morte ou Incapacidade do
Sacador. 89. Contra-Ordem e Oposição. 90. Descaracterização do
Estelionato. 91. Cheque Pré-Datado. Prática Atual.
A emissão de cheques sem fundos constitui infração à lei, ficando o sacador sujeito
às sanções impostas pelo Banco Central, além de outras penas em que possa incorrer
previstas na Lei Penal, como a decorrente do crime de estelionato (art. 171 parágrafo
segundo do Código Penal Brasileiro).
84. CONTA-CORRENTE
É o contrato em virtude do qual o Banco se obriga a receber os valores que lhe são
remetidos pelo cliente (correntista) ou por terceiros, bem como a cumprir as ordens de
pagamento do cliente até o limite de dinheiro nela depositado ou do crédito que se haja
estipulado 93.
91
Fran Martins, O Cheque Segundo a Nova lei, n.1, Ed. Forense, 2a. edição, 1987, p. 1
92
De Plácidoe Silva, op. citada, p. 602
93
Sérgio Carlos Covello, Contratos Bancários, Ed. Saraiva, 2a. edição, 1991, p. 92
94
Acórdão unânime da 4a. Câmara do Primeiro Tribunal de Alçada Cível de São Paulo, de 27/6/1979, Ap.
248.126 – Rel. Juiz Arthur de Godoy, RT 535:114
39
respectiva apresentação. "O pagamento do cheque só pode ser exigido mediante a
apresentação do original” 95.
Por outro lado, o ato de apresentação é de suma importância, já que existe um prazo
para o seu exercício, sob pena da perda de sua eficácia executiva contra endossantes e
avalistas, como veremos oportunamente. Os termos para apresentação são de um mês,
quando na praça onde deva ser pago e sessenta dias, quando passado em outra praça ou em
outro país.
"O Banco deve pagar os cheques à medida que forem sendo apresentados, visto que
o cheque é ordem de pagamento à vista, ainda que possua data futura. Na hipótese de dois
beneficiários se apresentarem à caixa do Banco com cheques, cujo montante supere o
saldo aa conta contra a qual foram sacados, o caixa deverá verificar qual dos cheques foi
emitido em primeiro lugar a fim de efetuar o pagamento. Se ambos os cheques tiverem a
mesma data, pagar-se-á o de numero inferior na presunção de que tenha sido emitido com
anterioridade. " (cf. Lei nº 7.357/85, art.40)96.
Como exceção ao princípio da emissão em uma única via, a Lei 7.357/85, em seu
art. 56, admite o cheque com pluralidade de exemplares, exclusivamente em título nominal,
emitido num país para ser pago em outro, mantendo o que já dispunha o art. 49 da Lei
Uniforme. Assim reza o dispositivo da lei brasileira: "Excetuado o cheque ao portador,
qualquer cheque emitido em um país pagável em outro pode ser feito em vários exemplares
95
. Acórdão unânime da 4a. Câmara do Primeiro Tribunal de Alçada Cível de São Paulo, de 27/6/1979, Ap.
248.126 – Rel. Juiz Arthur de Godoy, RT 535:114
96
Sérgio Carlos Covello, op. citada, p. 132
97
Amador Paes de Almeida, op. citada, p. 128
40
idênticos, que devem ser numerados no próprio texto do título, sob pena de ser
considerado cheque distinto”.
De acordo com o art. 37 da Lei 7.357/85, após a sua emissão, havendo morte ou
incapacidade do sacador, esses fatos não retiram os efeitos do cheque, que pode ser
validamente pago pelo sacado, havendo evidentemente, fundos disponíveis.
Alguns autores sustentam que com o falecimento do sacador, a provisão em mãos do
sacado i à não mais lhe pertence, pois os bens do "de cujus" passam aos seus herdeiros (art.
1572 do Cód. Civil Brasileiro). Todavia, o mesmo estatuto dispõe que a herança responde
pelas dívidas do falecido (art. 1796). Idêntico argumento se aplica à sobrevinda
incapacidade do passador do cheque 98.
A lei prevê dois meios de obstar o pagamento do cheque: a contra-ordem (art. 35) e
a oposição (art. 36). Na primeira, o emitente pode fazê-lo mediante um aviso ao banco,
contendo as razões motivadoras do ato, via judicial ou extrajudicial. A oposição, por outro
lado, não revoga o cheque, apenas impede provisoriamente o seu pagamento, devendo
fundar-se em causas justificáveis.
Pagamento com cheque sem fundos disponíveis, como garantia de débito, não
configura a infração prevista pelo art. 171 do Código Penal Brasileiro. Nesta hipótese,
corresponde a mero inadimplemento de contrato que caracteriza ilícito de natureza civil. O
cheque pré-datado, não reconhecido pelo Direito Comercial, emitido para assegurar
eventual dívida, não constitui ordem de pagamento à vista e o emitente, por isso, não é
obrigado a resgatá-lo antes da data aprazada.
98
Fran Martins, Títulos de Crédito, Vol. II, p. 88
99
José Cretella Jr. E José Cretella, Mil Perguntas e Respostas de Direito Comercial, Ed. Forense, 2a. edição,
1998, p. 110.
41
inexistência de provisão de fundos na conta do emitente, não serve a caracterizar o delito
do art. 171, parágrafo segundo" (Recurso 613 – Hábeas-Corpus do STJ).
"Em agosto de 1990, o Superior Tribunal de Justiça decidiu que a devolução pela
insuficiência de fundos de cheque pré-datado não configura crime de estelionato,
funcionando apenas, como garantia de um pagamento futuro e não imediato. Na visão do
STI, esse título de crédito, emitido com data futura, não é outra coisa, senão o
desvirtuamento do uso do cheque, juridicamente definido como pagamento à vista.
Entretanto, na hipótese das partes envolvidas na transação entrarem em acordo sobre a
data posterior à apresentação do cheque 'não pode falar, sendo ele devolvido, por falta de
fundos, na figura criminal prevista no art. 171 do Código Penal Brasileiro (estelionato)'.
No julgamento da concessão de uni 'habeas-corpus' impetrado pelo comerciante baiano
João Marques de Oliveira, que permitiu que a ação penal que lhe era promovida fosse
encerrada, os ministros do Superior Tribunal entenderam que o cheque funciona apenas
como um título de garantia de dívida, estabelecendo ainda, que as conseqüências civis do
ato perduram, cabendo à parte lesada, o ajuizamento de uma ação de reparação de danos
ou cobrança. Em seu voto, o ministro JOSÉ DANTAS destacou que, desde que aceito pelo
vendedor no ato da compra como obrigação futura, a devolução de um cheque por
insuficiência de fundos pode caracterizar o seu emissor tão somente como mau pagador,
não cabendo a ele, processo criminal" 100.
Vale dizer, qualquer que seja a data lançada no cheque, o título é sempre pagável à
vista, e se reputa não escrita qualquer cláusula que vise torná-lo instrumento de promessa
de pagamento futuro. E o raciocínio impõe-se para o caso de cheque sem data. Na prática,
as duas situações se equivalem 102.
100
João Carlos José Martinelli, Cheque Pré-datado Sem Fundos não caracteriza Estelionato, artigo publicado
no suplemento Domingo Especial do Jornal da Cidade de Jundiaí, em 17/03/1991
101
Sérgio Shimura, op. citada, p. 280
102
Humberto Theodoro Jr. ,Exeqüibilidade do Cheque Emitido em promessa de Pagamento e do Cheque Sem
Data, Ajuris, 27/68
42
“Compra e venda de mercadoria em promoção. Cheque pré-datado para o dia do
pagamento do preço constante do anúncio. Apresentação ao banco sacado antes da data
combinada. Encerramento da conta da parte emitente. Responsabilidade do vendedor.
Compra e venda de eletrodoméstico em promoção amplamente divulgada pela
fabricante e pela vendedora, em conhecida e usual técnica de marketing. Comprador que
aderiu às condições anunciadas e assim manifestou a vontade negocial. Mercadoria
vendida e entregue contra o recebimento de cheque pré-datado para a data do pagamento
constante do anúncio e vinculado expressamente à campanha, tudo rigorosamente de
acordo com as condições oferecidas. Vendedor que desrespeita o pactuado, apresentando e
reapresentando o cheque ao Banco sacado antes da data combinada, com isso acarretando
o encerramento da conta bancária da parte emitente, caso em que se toma inequívoca a
responsabilidade da vendedora, de reparar o prejuízo causado, competindo ao julgador
arbitrar o valor da indenização, segundo a sua prudência" (TJRJ – Ac. 23 8/ 91 – 7a. C).
43
ESPECIES DE CHEQUES
SUMÁRIO: 92. Considerações Preliminares. 93. Cheque
ao Portador. 94. Cheque Nominal. 95. Cheque Cruzado.
96. Cheque para Creditar. 97. Cheque Visado. 98. Cheque
de Viagem. 99. Cheque de Matriz à Agência. 100. Cheque
Administrativo. 101. Cheque Marcado. 102. Cheque
Especial. 103. Cheque Postal. 104. Cheque Fiscal.
A peculiaridade deste cheque está em que qualquer pessoa que o detém licitamente,
habilita-se a apresentá-lo para pagamento. Sua circulação faz-se da mesma forma como a
moeda, ou seja, pela simples tradição manual 104, e ainda que seja endossado, não se
modifica, não perde a sua condição de cheque ao portador, porém o endossante se torna
cambiariamente responsável.
Na prática, entretanto, eles permanecem em grande uso e, qualquer que seja o valor,
circulam de mão em mão, persistindo devedores e credores indeterminados, até que o
último se mostra quando apresenta o título para cobrança junto à respectiva agência
financeira.
103
Amador Paes de Almeida, op. citada, p. 109
104
Sérgio Carlos Covello, op. citada, p. 71
44
segundo não poderá ser transferido à terceiro por via de endosso, só sendo transmissível por
cessão civil, nos termos do Código Civil, perdendo o título sua eficácia executiva.
É aquele no qual o emitente o atravessa com dois traços paralelos, com isto
indicando que só pode ser pago a um banco (cheque cruzado em branco) e, se entre as duas
linhas cruzadas o emitente colocar o nome de um banco, isto significa que só a este banco
poderá ser pago (cheque cruzado em preto ou qualificado). Uma vez lançado o cruzamento
em um cheque, esse adere ao título de tal maneira que dele não pode vir mais separado 106.
Previsto na Lei Uniforme, mas também admitido pela Lei 7.357/85, é aquele que
não pode ser pago em dinheiro, mas tão somente creditado em conta do beneficiário. Os
seus efeitos são garantidos com a adoção da cláusula "para ser creditado" e que não admite
cancelamento.
Espécie anteriormente muito difundida para fins de viagem, ele é sacado por bancos
para pagamento em suas agências sucursais, tanto no território nacional quanto no
estrangeiro. Normalmente já trazem impressa a quantia a ser paga. Como medida de
cautela, não são negociáveis, conquanto aceitos por hotéis internacionais e companhias de
turismo, pagáveis com a apresentação da identidade do portador.
105
Silvio Rodrigues, Parte Geral das Obrigações, 3a. edição, 1968, Ed. Max Limonad
106
J. M. Othon Sidou, Cheque e sua Certificação pelo Sacado, 1971, Recife.
107
Fran Martins, Títulos de Crédito, Ed. Forense, Vol. II, p. 101
45
Também denominados "cheques de turismo", sofrem restrição do Banco Central,
que só permite sua emissão pelos bancos por ele previamente autorizados e com a
observância das normas que dispõem sobre a emissão de cheques contra as próprias caixas.
É uma forma de cheque que se compra, numa agência, para pagamento em outra
agência do mesmo banco, em outra localidade. Em razão do grande desenvolvimento da
informatização, ele praticamente caiu em desuso.
Também denominado "cheque passado sobre o próprio sacador", ou ainda, "à ordem
de pagamento contra o ordenador", é o auto-saque, ou seja, através dele um banco pode
sacar contra um dos seus estabelecimentos ou filiais, em favor de terceiros. É, pois, o
cheque emitido pelo próprio banco, contra si mesmo. Passado (emitido ou sacado) contra o
próprio sacador 108.
Normalmente esse tipo de cheque, emitido pelo banco contra seu próprio caixa, é
comprado por clientes em qualquer agência bancária para pagamento de terceiros. O banco
emite em nome do cliente ou da pessoa física ou jurídica que ele (cliente) indicar. Quem
recebe pode descontar ou depositar sua importância numa das agencias do banco emissor,
que é responsável pelo seu pagamento. Ilustrativamente, cite-se que, para se resgatar um
título levado a protesto, o pagamento tem que se efetuar somente por cheque
administrativo.
É aquele que o banco obtém do seu portador, que como agente bancário (sacado),
indica um dia certo para o seu pagamento. Trata-se de um recurso da instituição para evitar
o pagamento à vista, e, se o portador isto permitir, exonera todos os coobrigados110.
108
Amador Paes de Almeida, op. citada, p. 124
109
Sérgio Carlos Covello, op. citada, p. 91
110
Walter T. Álvares, op. citada, p. 627
46
confiança do público nesse instituto. No direito pátrio não existem normas legais a seu
respeito, embora se constitua num uso comercial de manifesta aceitação.
Os Correios, por suas agências, fazem as vezes dos bancos, pagando os cheques
contra estes emitidos. A Lei 7.357/85 admite o cheque especial no art. 66, submetendo-o a
regime especial.
111
Sérgio Carlos Covello, op. citada, p. 98
112
Amador Paes de Almeida, op. citada, p. 125
113
Rubens Requião, Curso de Direito Comercial, vol. II, Ed. Saraiva, 19a. edição, 1993, p. 420
47
DUPLICATA
SUMÁRIO: 105. Fatura Comercial. 106. Nota Fiscal-Fatura.
107.Conceito de Duplicata. 108. Origem. 109. Espécies. 110.
Requisitos. 111. Remessa e Devolução. 112. Aceite. 113.
Triplicata. 114. Duplicatas Simuladas. 115. Prova de Pagamento.
116. Protesto. 117.Reforma ou Prorrogação.
Dispõe a Lei de Duplicatas (Lei 5.474 de 18/07/68), em seu artigo primeiro, que "em
todo contrato de compra e venda mercantil, com prazo não inferior a trinta dias, contados
da data da entrega ou despacho das mercadorias, o vendedor deverá extrair a respectiva
fatura para apresentação ao comprador".
Compra e venda mercantil pode ser definida como sendo aquela na "qual alguém,
mediante certo preço, se obriga a transferira outrem a propriedade de certa coisa,
considerada objeto de comércio e adquirida com o fim de especulação e lucro, sendo
comerciante pelo menos unia das partes"114
Prevê, o artigo segundo do mencionado diploma legal que “no ato da emissão da
fatura, dela poderá ser extraída uma duplicata para circulação com efeito comercial, não
sendo admitida qualquer outra espécie de título de crédito para documentar o saque do
vendedor pela importância faturada ao comprador".
Ressalte-se que os negócios efetuados com prazo inferior a trinta dias ensejam apenas a
extração de nota fiscal (esse prazo caracteriza as vendas à vista, consoante entendia a antiga
legislação fiscal) que "é o documento de emissão obrigatória por parte do comerciante, por
ocasião da venda de produto ou de serviço, para efeitos tributários, indicando a
quantidade, o tipo de fornecimento e seu preço" 116.
114
Descartes Drumond de Magalhães, Curso de Direito Comercial, Livraria Zeneth, vol. II,1924, p. 274
115
Carlos Fulgêncio da Cunha Peixoto, Comentários à Lei de Duplicatas, n. 85, Forense, 1970
116
Dylson Doria, op. citada, p. 111
48
venda mercantil e também as necessárias às finalidades tributárias. A fatura, a nota fiscal e
a nota fiscal-fatura não são títulos representativos de mercadorias, mas apenas documentos
que as descrevem117.
108. ORIGEM
109. ESPÉCIES
A lei prevê duas espécies básicas, com variações de forma. As espécies são:
117
José Cretella Jr. e José Cretella Neto, op. citada, p. 111
118
José Cretella Jr e José Cretella Neto, op. citada, p. 111
119
Walter T. Álvares, op. citada, p. 632
120
Amador Paes de Almeida, op. citada, p. 1509
121
Dílson Doria, op. citada, p.112
49
110. REQUISITOS
A lei impõe à duplicata possuir requisitos essenciais a fim de compor seu esquema
formal: a sua titularidade cambial denominação "duplicata"; número da fatura; data de
vencimento; o nome e domicilio do vendedor e comprador; a importância a pagar e o aceite
(este pode ser suprido pelo protesto por falta de aceite).
O vendedor é obrigado a emitir a fatura nas vendas a prazo igual ou superior a trinta
dias, mas se resolver também emitir duplicata, deverá remetê-la ao comprador dentro de
trinta dias da data de emissão. Não sendo duplicata à vista, o comprador deverá devolvê-la
dentro do prazo de dez dias, devidamente aceita ou acompanhada de declaração escrita
justificando a sua recusa. Nos dias atuais, essa prática está em desuso diante da
possibilidade de emissão da triplicata.
112. ACEITE
113. TRIPLICATA
122
Fran Martins, op. citada, vol. II, p. 205
50
adquiriu mercadorias aprazo, não existe razão suficiente para se obrigar a extração da
triplicata quando a duplicata é extraviada ou perdida, a não ser pelo fato de ser a
cobrança de vendas a prazo feita sempre por meio de duplicatas".
A duplicata simulada ou "fria" é tida como infração penal. Tanto a emissão quanto o
aceite de duplicata que não corresponda a uma venda efetiva ou a uma real prestação de
serviço, configura prática delituosa (art. 172 do Código Penal). A infração se consuma com
a expedição do título para aceite ou para desconto bancário.
116. PROTESTO
A duplicata admite três tipos de protesto, ou seja, por falta de aceite, por falta de
devolução e por falta de pagamento. “Qualquer que seja a causa do protesto, se o
comprador não restituiu o título ao vendedor, ele se fará por indicações do credor
fornecidas ao cartório de protesto, segundo o que faculta o art. 13, in fine, da Lei de
Duplicatas. Trata-se de norma jurídica que excepciona o princípio da cartularidade, posto
permitir o exercício de direitos cambiários sem a posse do título. O protesto por indicação,
naturalmente, prescinde da exibição da cártula 123.
123
Fábio Ulhoa Coelho, op. citada, p. 268
124
Amador Paes de Almeida, op. citada, p. 160
51
DO PROTESTO
SUMÁRIO: 118. Conceito. Aspectos Gerais. 119. Protesto
Judicial. 120. Protesto Facultativo. 121. Protesto
Obrigatório. 122. Tipos de Protestos. 123. Importância do
Protesto ao Exercício do Direito Cambiário. 124. Protesto
Por Indicação. 125. Algumas Formalidades. 126. Defesas
do Devedor. 127. Sustação de Protesto. 128. Extinção do
Protesto Especial.
118. CONCEITO
Para nós, um dos melhores conceitos de protesto, é o que dispõe ser ele "o ato público e
solene, pelo qual o devedor toma conhecimento de que o portador de um título de crédito,
líquido, certo e exigível exige seu aceite ou pagamento e manifesta sua vontade de ressalvar
seu direito regressivo contra os coobrigados" 125.
São inúmeras as definições sobre o presente instituto, que na realidade, tem caráter
manifestamente preventivo ao exercício dos possíveis direitos cambiários. Com efeito, o
protesto no sentido que usaremos neste trabalho, é aquele denominado pelos tratadistas
como protesto extrajudicial ou comum, isto é, lavrado pelo oficial do cartório de protesto de
títulos mercantis.
Aspectos gerais – Podemos dizer, pois, que ele é um ato oficial e solene; é um ato
extrajudicial; objetiva conservar e ressalvar direitos; faz prova da falta ou recusa, total ou
parcial, do aceite ou do pagamento de um título de crédito e caracteriza a mora do devedor.
125
Orlando de Assis Correa, Processo Cautelar e Sustação de Protesto (Teoria e Prática)”- Aide Editora, 1a.
edição, 1980, p. 62.
52
O título cambial não precisa ser protestado para ser executado ou cobrado. Assim, o
protesto é facultativo em relação aos obrigados principais (devedores), aceitantes e seus
respectivos avalistas, já que os últimos lhes são equiparados para todos os efeitos. Ele
objetiva aqui, tão somente caracterizar a impontualidade do devedor. Exemplificando: se A
emite uma nota promissória em beneficio de B, tendo sido avalizada por C. Na data de seu
vencimento, se o título não for resgatado, A poderá executar ou cobrar B e C, diretamente,
sem levar a cambial a protesto.
a) por falta de pagamento: que é o mais comum e no qual o devedor paga ou apresenta
prova do pagamento ou o título será protestado;
c) por falta de devolução: nos casos das duplicatas não devolvidas pelos devedores,
contrariando a legislação pertinente;
126
Rubens Requião, Curso de Direito Falimentar, Ed. Saraiva, 1984.
53
123. IMPORTÂNCIA DO PROTESTO AO EXERCÍCIO DO DIREITO
CAMBIÁRIO
Não tendo a duplicata sido devolvida pelo comprador no prazo especificado pela lei,
sem que para essa não devolução haja um motivo justificado (como, por exemplo, a
retenção autorizada pelo vendedor), o portador terá que tirar o protesto mediante simples
indicações feitas ao Oficial de Protesto, visto como não dispõe, o portador, de título para
fazer presente àquele serventuário.
a)Local: Como regra geral, o protesto deve ser tirado no local onde deva ser exigida a
obrigação. Por exemplo, um cheque emitido em Santos, cuja praça de pagamento seja
Jundiaí, após a sua apresentação sem que contenha provisões, será protestado na segunda
cidade, onde deveria ser solvido, e não no município onde foi passado. Exceção: as partes
podem eleger, de comum acordo, outro local, fazendo constar do título, por exemplo, o
lugar indicado para aceite ou o domicílio do sacado;
Tendo recebido o aviso do oficial de protestos de que contra si existe um título a ser
protestado por quaisquer das razões admitidas pela legislação, o interessado que não queira
54
pagar, aceitar ou devolver por motivo judicialmente relevante, poderá utilizar-se de dois
tipos de defesas, ou seja, através de medidas administrativas ou sustação judicial de
protesto.
Em casos raros, até excepcionais, ocorrendo erro ou dolo do oficial de protestos e não
se solucionando o impasse diretamente com este, através de medida administrativa, o
credor poderá dirigir-se, da mesma forma, ao juiz corregedor, solicitando desde logo, com a
máxima urgência, a ordem liminar de sustação. “... A medida é administrativa, como
administrativo será o processo em que se apurará definitivamente se existe ou não erro ou
dolo do oficial. Já o mandado de segurança, se for impe-trado, ante a denegação da ordem
pelo juiz corregedor, este sim, será processo de procedimento especial” 127.
Apesar de atender ao disposto no art. 797 do CPC, alguns autores entendem-na como
ação de rito especial. "Estudando tal matéria, e, salvo melhor juízo, cheguei à conclusão de
que a sustação de protesto não é Medida Cautelar, como tem sido considerada, mas, sim,
uma AÇAO DE RITO ESPECIAL que deve ser proposta com suporte no art. 28 do Dec.
2.044 e dentro dos três (3) dias ali previstos, com igual prazo para contestação, mantendo-
se a igualdade entre as partes" 129. Todavia, o seu processamento acolhe as normas editadas,
em sua plenitude, às medidas cautelares, passando a impróprias ou frágeis, quaisquer
discussões sobre tal pertinência.
127
. Orlando de Assis Correa, op. citada, p. 68
128
Pedro Vieira Mota, Sustação de Protesto Cambial, São Pulo, 1976, 5a. edição.
129
Edson Ribeiro, artigo Ação de Sustação de Protesto,Artigo 28 do Decreto 2.044 de 31/12/1908, publicado
na Revista Jurídica n. 97, janeiro/fevereiro de 1983, p. 47
55
finalidade de obstar o protesto de um título que se tem por nulo, seja por qualquer motivo
que lhe traga esta característica, protegendo cidadão de abusos que se lhe tentem cometer.
O foro competente é o do cartório de protestos, já que, medida eminentemente u gente,
visando manter maculado o crédito de alguém, não poderia interpô-la em outro juízo, sob
pena de se ver frustra o resultado perseguido.
Assim era o chamado protesto especial, ao qual estavam sujeitas as sentenças judiciais,
inclusive trabalhistas, desde que com suas contas de liquidação devidamente homologadas
pelo R. Juízo, e assim, líquidas e certas, poderiam fundamentar pedido de falência do
devedor. A título ilustrativo, citemos AMADOR PAES DE ALMEIDA: "A necessidade de
protesto de sentença para requerimento de falência surge aos ouvidos dos desatentos como
verdadeira heresia jurídica, e até mesmo advogados militantes, obviamente alheios ao
processo falimentar, ignoram o princípio, e, o que é mais grave, inclusive alguns escrivães
de cartório, que por dever de ofício deveriam conhecê-lo, simplesmente o estranham...” 130
130
Amador Paes de Almeida, Curso de Falência e Concordata,, Ed. Saraiva, 10a. edição, p.25
56
DA AÇÃO CAMBIAL
SUMÁRIO: 129. Títulos Executivos Extrajudiciais. 130.
Ações Executiva e de Conhecimento. 131. Tipos de Ações
Cambiais. 132. Ação de Locupletamento. 133. Direito de
Regresso Sem Protesto.
Convém aduzir que é o título cambiário que gera o título executivo e garante a via
executiva, e não o negócio subjacente. A função econômica do título não está ligada à sua
eficácia cartular, que na verdade, nasce não do negócio fundamental, mas da perfeição
formal do documento 132.
131
Paulo Furtado, Execução, Ed. Saraiva, 2a. edição, 1991, p. 36.
132
Humberto Theodoro Jr., op. citada, p. 27
133
Candido Dinamarco, Direito Processual Civil, 1974, Ed. Revista dos Tribunais, p. 199
57
realidade sensível, afeiçoando-a, na medida do possível, àquilo que, segundo o direito, ela
deve ser 134.
134
José C. Barbosa Moreira, O Novo Processo Civil Brasileiro, Vol. II, Ed. Forense, p. 7
135
Paulo Roberto Colombo Arnoldi, Ação Cambial, Ed. Saraiva, 1991, pop. 25/26.
58
ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA ou LOCUPLETAMENTO, prevista no art. 48 da
mencionada lei que estabelece: "Sem embargo da desoneração da responsabilidade
cambial, o sacador ou o aceitante fica obrigado a restituir ao portador, com os juros
legais, a soma com a qual se locupletou à custa deste". Ela obedece ao rito ordinário na
fase de cognição, permite a discussão sobre a relação subjacente que deu origem a emissão
do título e tem prazo prescricional de vinte anos.
Por outro lado, ressalte-se que o portador do título de crédito marcado pela
prescrição perde o direito de ação contra os demais obrigados no título, restando-lhe
somente ação contra os devedores principais. Nesta trilha, é a lição de JOSÉ MARIA
WHITAKER: "Somente contra os devedores principais da letra, sacador e aceitante, cabe
a ação de locupletamento. Não cabe contra o avalista, porque este, em regra, nada tendo
recebido, nada poderá também ter lucrado com a desoneração da responsabilidade
cambial; nem tampouco, contra os endossantes, porque, normalmente, terão pago a seus
cedentes o que tiverem recebido de seus cessionários; nem, ainda, contra o sacado que não
aceitou, apesar de ter recebido provisão para o fazer, precisamente porque, não tendo
aceito, deixou de contrair com o portador qualquer responsabilidade cambial” 136.
Por conseguinte, utilizada esta variante, é possível haver direito de regresso mesmo
sem protesto da letra, pelo que é vantajoso negociar-se letra da qual conste a cláusula
inserida pelo sacador 138.
136
José Maria Witaker, Letra de Câmbio, 4a. edição, Ed. Saraiva, 1950.
137
Paulo Roberto Pereira de Souza, op. citada, p. 19
138
Walter T. Álvares, op. citada, p. 601
59
DA PRESCRIÇÃO CAMBIAL
SUMÁRIO: 135. Da Prescrição. 136. Da Prescrição
Cambial. 137. Prazos Prescricionais. Da Letra de Câmbio
e da Nota Promissória. Início do Lapso Prescricional. Do
Cheque. Da Duplicata. 138. Interrupção da Prescrição.
139. Efeitos da Prescrição em Matéria Cambial.
135. DA PRESCRIÇÃO
Para que seja possível o equilíbrio das relações jurídicas é que todo sistema
consagra o instituto da prescrição, que exprime o modo pelo qual o direito se extingue, à
vista do seu não exercício por certo lapso de tempo. Como observa PONTES DE
MIRANDA, "os prazos prescricionais servem à paz social e à segurança jurídica. Não
destroem o Direito; não cancelam, não apagam as pretensões; apenas, encobrindo a
eficácia da pretensão, atendem à conveniência de que não perdure por demasiado tempo a
exigibilidade ou a acionabilidade” 139. A prescrição atinge, de regra, o direito de ação. Sem
ação temos um direito mutilado, pois não poderá ser exercitado por seu titular. A inércia do
credor toma presumível o seu desinteresse, consagrando o Direito o princípio de que
"dormientibus no sucurrit jus", ou seja, "a lei não socorre os que dormem" 140.
A ação cambial deverá ser proposta nos prazos abaixo assinalados sob pena de
perder o portador do título o direito ao exercício desta ação.
139
Pontes de Miranda, Tratado de Direito Privado, 4a. edição, vol. VI/101 – SP – Ed. Revista dos Tribunais,
1974
140
Paulo Roberto Pereira de Souza, artigo A Prescrição em Matéria Cambial – Jurisprudência Brasileira, n.
69, p. 15
141
Sergio Shimura, op. citada, p. 284
60
Da Letra de Câmbio e da Nota Promissória - Nos termos do art. 70 da Lei
Uniforme, prescrevem:
c) em seis meses: as ações dos endossantes uns contra os outros e contra o sacador.
Ao contrário da Lei Cambial, com o advento do Dec. 57.663, que promulgou as convenções
para adoção de uma Lei Uniforme em Matéria de Letra de Câmbio e Nota Promissória, hoje
em vigor entre nós, ocorreu omissão em relação aos avalistas. Todavia, tanto o
entendimento doutrinário, como jurisprudencial hoje dominantes, consagram a tese que
defende a aplicabilidade do art. 70 a estes obrigados cambiais.
Como ensina J. M. OTHON SIDOU, "o prazo de apresentação do cheque tem como
base de contagem a data da emissão (Lei Uniforme, art. 29, 4), obedecidas as seguintes
regras: 1) o cômputo não compreende o dia que marca o seu início (Lei Uniforme, art. 56);
2) quando o último dia for feriado legal, o prazo e prorrogado até o primeiro dia útil que
se seguir ao termo do mesmo (Lei Uniforme, art. 55, 2); 3) os dias feriados intermediários
são compreendidos na computação"144.
142
João Eunápio Borges, Do Aval, 4a. edição, Ed. Forense, p. 207, 1975
143
Sérgio Shimura, op. citada, p. 280
144
J. M. Othon Sidou, Do Cheque, 1a. edição, Ed. Forense, p. 173, 1975.
61
Da Duplicata – Nos termos do art. 18 da Lei 6.458/77, a pretensão à execução da
duplicata prescreve:
O Direito Cambial não traz normas próprias sobre interrupção da prescrição. Dessa
forma, na ausência de tal previsão, aplicam-se as normas do Direito Comum. Nos termos
dos arts. 172 do Código Civil e 219 e 867 do CPC, interrompe-se a prescrição:
I – pela citação pessoal feita ao devedor, ainda que ordenada por juiz incompetente;
"Deve-se destacar, contudo, que o protesto a que se refere o art. 172 do CC não é o
protesto cambial. Com efeito, o protesto cambial, nos termos da lei, serve exclusivamente
para provara impontualidade no pagamento e constituir o devedor em mora. Tal
entendimento é confirmado pela Súmula 153 da jurisprudência do STF, ao assentar que:
'Simples protesto cambiário não interrompe a prescrição’.
145
Paulo Roberto Pereira de Souza, op. citada, p. 18
62
O primeiro efeito da prescrição é a perda da ação cambial, seguindo-se o da
liberação dos demais coobrigados, tais como endossadores e avalistas. A prescrição, no
entanto, jamais extingue o direito, que sempre poderá ser alegado em defesa pelo credor do
título prescrito. Nesse sentido é escorreita a lição de PONTES DE MIRANDA quando
ensina que: "Quando se diz que 'prescreveu o direito', emprega-se elipse reprovável,
porque em verdade se quis dizer que 'o direito teve prescrita a pretensão (ou a ação) que
dele se irradiava, ou teve prescritas todas as pretensões (ou ações) que dele se irradiavam'.
Quando se diz 'divida prescrita' elipticamente se exprime 'dívida com pretensão (ou ação)
prescrita'. Muito diferente é o que se passa quando se diz 'pretensão prescrita' ou 'ação
prescrita'. O direito não se encobre por exceção de prescrição, o que se encobre é a
pretensão, ou a ação que dele se irradiam” 146.
A título ilustrativo cite-se que, vencido o prazo prescricional sem ter havido o
aforamento da execução, perde-se o direito à via executiva, mas não o direito de crédito,
que só prescreve em dez anos.
146
Pontes de Miranda, op. citada, p. 101
147
Paulo Roberto Pereira de Souza, op. citada, p. 17
63
AÇAO MONITORIA E A RECUPERAÇÃO DA
EFICÁCIA EXECUTIVA
SUMÁRIO: 140. Conceito. 141. Finalidade. 142. Natureza. 143.
Fundamentação Legal. 144. Defesa. 145. Procedimento Especial.
146. Recuperação da eficácia executiva.
140. CONCEITO
E aquela conferida a quem possua prova documental, sem força executiva, para
pleitear o pagamento de quantia em dinheiro ou entrega de coisa148.
141. FINALIDADE
A ação monitória visa propiciar ao credor uma rápida e eficaz constituição do título
executivo, com condenação do devedor, o que ocorre com a decisão que decreta o mandado
injuntivo ou monitório, conferindo-se eficácia executiva ao pedido do autor ou
constituindo-se título executivo em seu nome e, determinação ao devedor para efetuar o
pagamento ou entregar a coisa 149
142. NATUREZA
148
Clito Fornaciari Jr. , A Reforma Processual Civil (Artigo por Artigo), Ed. Saraiva, 1996, p. 211
149
José Rubens Costa, Ação Monitória, Ed. Saraiva, 1995, p. 5
150
Vicente Greco Filho, Comentários ao Procedimento Sumário, Ao Agravo e À Ação Monitória”, Ed. Sar
151
Vicente Greco Filho, Comentários ao Procedimento Sumário, Ao Agravo e À Ação Monitória”, Ed. Sar
aiva, 1996, p. 50
64
144. DEFESA
Há os que lhe dão uma feição sumária, como ELAINE HARZHEIM MACEDO155:
"Em nossa modesta opinião, parece-nos que o procedimento monitório, enquanto forma do
agir processual, é, efetivamente, um procedimento sumário, na medida em que há um corte
da atividade cognitiva: com base apenas na alegação e prova produzida unilateralmente
pelo autor, emite o juiz um decreto, uma ordem, que é mais do que mero chamamento
citatório, inaudita altera pars, colocando o demandado em situação de desvantagem, em
que pese não ter essa ordem o império de modificar a situação fática dos sujeitos da
relação processual. De qualquer sorte, com base na simples verossimilhança do crédito
sumariamente demonstrado pelo autor, é proferida uma ordem judicial de conteúdo
condenatório, para somente depois, com a citação do réu, oportunizar-se-lhe a abertura do
contraditório, o que caracteriza uma inversão na seqüência lógica do iter cognitivo. O
contraditório, assim invertido, resta diferido no tempo, cabendo ao réu – e não ao autor,
como no procedimento comum – a iniciativa de provocá-lo”.
152
Antonio Cláudio da Costa Machado, A Reforma do Processo Civil Interpretado, Ed. Saraiva, 1996, p. 160
153
José Rubens Costa, op. citada, p. 7
154
Vicente Greco Filho, op. citada, p. 50.
155
José Rubens Costa, op. citada, p. 7
65
É oportuno esclarecer para o nosso estudo que, através da ação monitória é possível
recuperar a força executiva de determinados títulos de crédito, que perderam tal atributo em
função dos prazos prescricionais, inerentes à matéria cambial.
66
A DECADÊNCIA CAMBIAL
SUMÁRIO: 147. Conceito de Decadência. 148. Decadência
e Prescrição. 149. Efeitos da Decadência. 150. Decadência
no Direito Comercial. 151. Decadência Cambial. 152.
Prazos Decadenciais. 153. Hipótese de decadência em
Direito Cambial.
A despeito de certa semelhança com a prescrição extintiva, posto que ambas têm
como ponto em comum o decurso do tempo aliado à inatividade do respectivo titular, a
decadência com ela não se confunde. Enquanto a primeira extingue a ação, a segunda
elimina o direito. Nesse sentido, ARRUDA ALVIM assim argumenta: “A decadência é um
prazo estabelecido pela norma para o exercício de um direito. Não usado dentro do prazo
ter-se-á a extinção do direito. A prescrição é um praz dentro do qual se pode ajuizar a
ação. Se não o for, a ação prescreve, embora o direito desmunido de ação exista, sendo,
todavia, em termos práticos, muito difícil de prosperar a pretensão”158.
Ensina-nos MARIA HELENA DINIZ 160: "Extinto o direito pela decadência, torna-
se, portanto, inoperante; não pode ser fundamento de qualquer alegação em juízo, nem
156
Maria Helena Diniz, Curso de Direito Civil Brasileiro, Ed. Saraiva, 1983, Vol. I, p. 198
157
Paulo Torminn Borges, Decadência e Prescrição, Ed. Pró Livros, 1980, pp. 33-34.
158
José Manoela de Arruda Alvim Netto, Manual de Direito Processual, Ed. Revista dos Tribunais, 1979,
Vol. I, pp. 281-285.
159
Paulo Roberto Colombo Arnoldi, Prescrição e Decadência Cambial, Ed. Saraiva. 1994, p. 48
160
Maria Helena Diniz, op. ditada, p. 199
67
pode ser invocado ainda mesmo por via de exceção. A decadência produz seus efeitos
extintivos de modo absoluto.
O prazo decadencial corre contra todos; nem mesmo aqueles contra as quais não
corre a prescrição ficam isentas de seus efeitos.
Por outro lado, a Lei Uniforme apresenta outros casos de decadência, destacando-se
entre eles, o art. 53, que dispõe sobre a sua ocorrência no direito do portador contra os
endossantes, sacador e respectivos avalistas pela expiração dos seguintes prazos: a) para
apresentação de uma letra à vista ou a certo termo de vista (art. 34); b) para se fazer o
161
Waldemar Ferreira, Tratado de Direito Comercial, Ed. Saraiva, 1963, Vol. XI, p.651, n. 2679
162
Paulo Roberto Colombo Aranoldi, Prescrição e Decadência, Ed. Saraiva, 1994, p. 95
163
apud Lauro Muniz Barreto, Comentários de Jurisprudência, RDM, São Paulo, Ano X, 1971, 3;82-3.
68
protesto por falta de aceite ou por falta de pagamento (art. 44, 11 e 111) e c) para
apresentação a pagamento, no caso de cláusula "sem despesas" (art. 46, II) 164.
Quanto a este importante aspecto, transcrevemos o que dispõe sobre ele o jurista
PAULO ROBERTO COLOMBO ARNOLDI 165:
A caducidade não atinge todos os casos de obrigação cambiária, tanto que nunca
pode afetar o aceitante, que é um devedor incondicional, ou o principal devedor Ele se
obriga sem subordinação ao protesto, subordina-se ao pagamento e ao cumprimento de
qualquer requisito do título para com o credor".
164
Paulo Roberto Colombo Aranoldi, op. citada, pp. 96/97
165
Paulo Roberto Colombo Arnoldi, op citada, pp. 95/96
69
TITULOS DE CREDITO IMPRÓPRIOS
SUMÁRIO: 154. Introdução. 155. Títulos de Legitimação.
156. Títulos de Participação. 157. Títulos Representativos.
158. Títulos de Financiamento. 159. Títulos de Investimento.
154. INTRODUÇÃO
166
Fábio Ulhoa Coelho, Manual de Direito Comercial, citado, pp. 274/279
70
157. TÍTULOS REPRESENTATIVOS
71
DOS TITULOS DE CREDITO RURAL
SUMÁRIO: 160. Conceito. 161. Crédito Rural. 162.
Fundamentação Legal. 163. Espécies de Títulos de Crédito Rural.
164. Nota de Crédito Rural. 165. Duplicata Rural. 166.
Características das Cédulas de Crédito Rural. 167. Cédula Rural
Pignoratícia. 168. Cédula Rural Hipotecária. 169. Cédula Rural
Pignoratícia e Hipotecária. Diversos Registros. 170. Nota de
Crédito Rural. Requisitos. Aspectos Gerais.
160. CONCEITO
167
Theóphilo Azerdo, apud Amador Paes de Almeida, op. citada, pp. 221/221
72
Conforme suas destinações, eles se agrupam em duas espécies: a) Originários de
Venda a Prazo de Bens Agrícolas (Nota Promissória Rural e Duplicata Rural) e b)
Relativos a Financiamentos ou Instituições Financeiras (Cédula Rural Pignoratícia, Cédula
Rural Hipotecária, Cédula Rural Pignoraticia e Hipotecária, Nota de Crédito Rural e
Cédula de Produto Rural).
168
Augusto Toscano, op. citada, p. 173
169
Nelson Abrão, Direito Bancário, Ed. Revista dos Tribunais, 4a. edição, 1998 – p. 202
73
Requisitos – A duplicata rural conterá os seguintes requisitos, lançados no seu
contexto: I – denominação "Duplicata Rural”; II – data do pagamento, ou a declaração de
dar-se a tantos dias da data da apresentação ou de ser à vista; III – nome e domicílio do
vendedor; IV – nome e domicílio do comprador; V – soma a pagar em dinheiro, lançada em
algarismos e por extenso, que corresponderá ao preço dos produtos adquiridos; VI – praça
de pagamento; VII –indicação dos produtos objeto da compra e venda; VIII – data e lugar
da emissão; IX –cláusula à ordem; reconhecimento de sua exatidão e a obrigação de pagá-
la, para ser firmada do próprio punho do comprador ou de representante com poderes
especiais e XI –assinatura do próprio punho do vendedor ou de representante com poderes
especiais.
Privilégio Especial – Este título, cuja semelhança com a duplicata mercantil vai
além da denominação, tem praticamente a mesma finalidade da nota promissória rural, não
tendo como esta, os bens relacionados em seu contexto como garantia de pagamento, mas
goza de privilégio especial (art. 53).
As cédulas de crédito rural são promessas de pagamento sem, ou com, garantia real
cedularmente constituída, isto é, no próprio título, dispensando documento à parte, podendo
esta ser ofertada pelo próprio financiado ou por um terceiro (art. 68).
170
Nelson Abrão, op. citada, p. 198
74
endossantes e seus avalistas. Em decorrência dessa dispensa, a data inicial do prazo
prescricional é sempre a do vencimento do documento.
171
Darcy Arruda Miranda Jr., op. citada, p. 289
75
aderidos à garantia, retirados, destruídos ou alterados sem o consentimento por escrito do
credor" 172.
Estelionato – Por disposição especial da Lei (art. 21, parág. Único), “pratica crime
de estelionato e fica sujeito às penas do art. 171 do Código Penal aquele que fizer
declarações falsas ou inexatas acerca da área dos imóveis hipotecados, de suas
características, instalações e acessórios, da pacificidade de sua posse, ou omitir, na
Cédula, a declaração de já estarem eles sujeitos a outros ônus ou responsabilidade de
qualquer espécie, inclusive fiscais".
Aspectos Gerais - a) Consoante o art. 23, à Cédula Rural Hipotecária são aplicáveis
os princípios da legislação ordinária sobre hipoteca, podendo ser objeto de hipoteca cedular
imóveis rurais e urbanos; b) ela será inscrita no Cartório de Registro de Imóveis da
circunscrição competente, sob pena de ineficácia contra terceiros; c) dispõe o parág. 1º do
art. 32, que para a inscrição, o apresentante oferecerá, com o original da Cédula que lhe
será devolvido, devidamente averbado, uma cópia tirada em impressão idêntica à da
Cédula, com a declaração impressa, em linhas paralelas transversais, "Via Não Negociável"
e d) a descrição do imóvel pode ser feita em documento à parte, em duas vias, contendo
todas as indicações impostas pela lei, para melhor identificação do imóvel oferecido em
garantia, sendo tal descrição substituída pelos seus títulos de propriedade, que serão
anexados à Cédula. "Nesse caso, menção ao fato constará da Cédula que, de qualquer
modo, conterá a descrição do imóvel hipotecado. Da menção, na Cédula, da anexação dos
títulos de propriedade dos imóveis hipotecados deverá constar que referidos títulos farão
parte integrante da Cédula até sua final liquidação" 173.
Neste título a garantia é prestada por bens imóveis e também móveis, sendo
justamente essa a sua especialidade, ou seja, comporta em um mesmo instrumento, a
constituição de du garantias. Diferentemente do que ocorre com a cédula rural hipotecária,
não são apenas os bens incorporados ao imóvel por sua destinação (máquinas, aparelhos e
172
Fran Martins, Títulos de Crédito, Vol. II, citado, p. 220
173
Fran Martins, op. citada, p. 220
76
instalações) que podem ser oferecidos, mas também os existentes em local diferente deste,
por isso se caracterizam o penhor e a hipoteca.
77
Aspectos Gerais: – a) Embora destituída de garantia real, ela está sujeita a registro
no Cartório de Registro de Imóveis da circunscrição em que esteja situado o imóvel a cuja
exploração se destina o financiamento cedular, compreendendo-se tal exigência para o fim
de se estabelecer sua eficácia em relação a terceiros (art. 27); b) O cancelamento se fará do
mesmo modo como são feitos os cancelamentos das cédulas de crédito rural em geral
(averbação, ordem judicial competente e prova da quitação do título).
78
TITULOS DE CRÉDITO INDUSTRIAL
SUMÁRIO: 171. Crédito Industrial. 172. Cédula de
Crédito Industrial. 173. Nota de Crédito Industrial.
O Dec. Lei 413/69 dispôs em seu art. 1º, "que o financiamento concedido por
instituições financeiras à pessoa física ou jurídica que se dedique à atividade industrial
poderá efetuar se por meio de cédula de crédito industrial”.
Trata-se, conforme a própria definição do art. 9º do Dec. Lei 413 de 09/01/1969 que
a instituiu, de "promessa de pagamento em dinheiro, com garantia real, cedularmente
constituída".De acordo com o art. 10 do mencionado diploma legal, ela se constitui em
"título líquido e certo, exigível pela soma dele constante ou do endosso, além dos juros,
comissão de fiscalização e demais despesas que o credor fizer para segurança,
regularidade e realização de seu direito creditório".
79
de penhora no processo, aqui o prazo é de quarenta e oito horas da efetivação deste
procedimento.
174
Nelson Abrão, op. citada, p. 192
80
DA CÉDULA HIPOTECARIA
SUMÁRIO: 174. Conceito. 175. Espécies. 176. Requisitos.
177. Forma.
174. CONCEITO
Trata-se de um título de crédito causal, lastreado nos empréstimos com garantia
hipotecária efetivados por instituições financeiras. Criada pelo Dec. Lei nº 70 de
21/11/1966, compreende-se dentro das operações bancárias, mesmo porque, poderá ser
emitida por Bancos de Investimentos, pela Caixa Econômica Federal e pelos Bancos de
Desenvolvimento, conforme dispõe a Resolução 228 do Banco Central de 04107/1972.
175. ESPÉCIES
De acordo com o parágrafo. 1º do aludido art. 10, a cédula hipotecária poderá ser:
a) Integral: quando representar a totalidade do crédito hipotecário;
176. REQUISITOS
Conforme o art. 15 do Dec. Lei nº 70/66 que a instituiu, a cédula hipotecária deve se
revestir dos seguintes requisitos: I – no anverso: a) nome, qualificação e endereço do
emitente e do devedor; b) número e série da cédula hipotecária, com indicação da parcela
ou totalidade do crédito que a represente; c) número, data, livro e folhas do Registro Geral
de Imóveis em que foi inscrita e averbada a cédula hipotecária; d) individualização do
imóvel dado em garantia; e) o valor da cédula, os juros convencionados e a multa
estipulada para o caso de inadimplemento; f) o número de ordem da prestação a que
corresponder a cédula hipotecária; g) a data do vencimento da cédula hipotecária ou,
quando representativa de várias prestações, os seus vencimentos de amortização e juros; li)
a autenticação feita pelo oficial do Registro de Imóveis; i) a data da emissão, e as
assinaturas do emitente, com a promessa de pagamento do devedor; j) o lugar de
pagamento do principal, juros, seguro e taxa; e II – no verso, a menção ou locais
apropriados para o lançamento dos seguintes elementos: a) data ou datas de transferência
por endosso; b) nome, assinatura e endereço do endossante; c) nome, qualificação,
81
endereço e assinatura do endossatário; d) as condições do endosso e e) a designação do
agente recebedor e sua comissão.
177. FORMA
"A cédula hipotecária é sempre nominativa e endossável em preto, sujeitando-se,
por isso, à disciplina cambiária, destarte, o emitente, cuja posição equivale à do sacador
da letra de câmbio, e o endossador, permanecem solidariamente obrigados pela boa
liquidação do crédito, a menos que avisem o devedor hipotecário e o segurador, quando
houver, de cada emissão ou endosso, até trinta dias após sua realização, por carta
expedida por Cartório de Títulos e Documentos, ou de notificação judicial, caso em que a
transferência do título produzirá meros efeitos de cessão”175.
175
Nelson Abrão, op. citada, p. 192
82
TÍTULOS DE FINANCIAMENTO
COMERCIAL
SUMÁRIO: 178. Crédito Comercial. 179. Espécies de
Títulos de Financiamento Comercial. 180. Ajuste de
Orçamento. 181. Requisitos. 182. Disciplina Legal. 183.
Aspectos Gerais.
181. REQUISITOS
De conformidade com o art. 5º da Lei 6.840/80, com exceção feita à denominação,
os requisitos dos títulos citados são os mesmos, respectivamente, da cédula de crédito
industrial e da nota de crédito industrial, inclusive os respectivos modelos.
176
Darcy Arruda Miranda Jr., op. citada, p. 286
177
Dylson Doria, op. citada, p. 145
83
é de quarenta e oito horas da juntada do auto de penhora no processo e não de dez dias
como na ação executiva regular.
84
OUTROS TÍTULOS DE NATUREZA
FINANCEIRA / COMERCIAL
SUMÁRIO: 184. Cédula de Crédito À Exportação e Nota de Crédito à
Exportação. 185. Certificados de Depósito Bancário (CDBs). 186. Letra
de Câmbio Financeira. 187. "Commercial Paper". 188- Cédula de
Crédito Bancário.
178
Darcy Arruda Miranda Jr., op. citada, p. 287
179
Fran Martins, citado, p. 242
85
convencionados". Ele pode ser transferido mediante endosso datado e assinado pelo seu
titular, ou mandatário especial, com a indicação do nome e qualificação do endossatário.
A Lei de Mercado de Capitais (Lei 4.278/65) dispôs em seu art. 27, que "as
sociedades de fins econômicos poderão sacar, emitir ou aceitar letras de câmbio ou notas
promissórias cujo principal fique sujeito à correção monetária, desde que observadas as
seguintes condições: I – prazo de vencimento igual ou superior a 1 (um) ano, e dentro do
limite máximo fixado pelo Conselho Monetário Nacional; II – correção segundo os
coeficientes aprovados pelo Conselho Nacional de Economia, para a correção atribuída às
obrigações do Tesouro; III – sejam destinadas à colocação no mercado de capitais com o
aceite ou coobrigação de instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central". O
180
Fran Martins, op. citada. P. 241
86
parágrafo. 2º da referida norma determinou a inclusão nos títulos da cláusula de correção
monetária.
Extrai-se, portanto, que as denominadas letras de câmbio financeiras são
instrumentos de captação de recursos às sociedades de fins econômicos, caracterizando-se
como títulos representativos de empréstimos das mesmas, que através delas procuram se
capitalizar para realizar as suas atividades comuns e subordinam-se a uma regulamentação
especial. Desta forma, divergem-se manifestamente das verdadeiras letras de câmbio,
identificando-se com estas, apenas por apresentarem os requisitos constantes do art. 1º da
Lei Cambial (Lei 2.044/1908).
181
Fran Martins, op. citada, p. 240
87
papel se ela não pagar os juros ou resgatá-los. Entretanto, se for necessário requerer o
disclosure toda vez que emite o título, fica impossível a emissão rápida do CP” 182.
182
Akira Hinen, Commercial Paper- Novo Título de Valor Mobiliário no Processo de Globalização da
Economia, Ed. Atlas S. A ., 1996, p. 33.
183
Fran Martins, op. citada, p. 243
88
DAS LETRAS IMOBILIÁRIAS
SUMÁRIO. 189. Crédito Imobiliário. 190.
Sociedades de Crédito Imobiliário. 191. Conceito de
Letra Imobiliária. 192. Requisitos. 193. Forma. 194.
Negociação. 195. Tipos. 196. Novo conceito de
Concessão de Crédito Imobiliário. 197. Certificado
de Recebíveis Imobiliários. 198. Letra de Crédito
Imobiliário e Cédula de Crédito Imobiliário.
184
Amador Paes de Almeida, op. citada, p. 312
89
do vencimento; III- da numeração dos títulos e da série e IV – das condições de resgate”185
192. REQUISITOS
193. FORMA
194. NEGOCIAÇÃO
195. TIPOS
b) TIPO D: – são títulos que conferem aos seus titulares, juros e correção monetária,
somente em seus vencimentos.
185
Amador Paes de Almeida, op. citada, p. 313
90
196. NOVO CONCEITO DE CONCESSÃO DE CRÉDITO IMOBILIÁRIO
186
Arnaldo Rizzardo, Contratos de Crédito Bancário, Editora Revista dos Tribunais, 4a. edição, 1999, p. 203
187
Gladston Mamede, op. Citada, p. 414
188
Nelson Abrão, Direito Bancário, Ed. Saraiva, Ed. 2007, p. 526
91
CONHECIMENTO DE DEPÓSITO E "WARRANT"
SUMARIO: 199. Armazéns Gerais. 200. Recibo de Depósito. 201.
Conceito de Conhecimento de Depósito e "Warrant". 202. Requisitos.
203. Livro de Talão. 204. Circulação. 205. Prazo de Depósito.
189
apud Dylson Doria, op. citada, p. 122
190
Walter T. Álvares, op. citada, p. 642
92
beneficiário, garante esse pagamento com o penhor sobre as mercadorias depositadas”
191
7.
202. REQUISITOS
204. CIRCULAÇÃO
É de seis meses o prazo de depósito nos armazéns gerais, sendo prorrogáveis ajuízo
das partes. "Não havendo prorrogação deve o depositante, mediante a apresentação do
conhecimento de depósito e do Warrant, retirar as mercadorias. Não o fazendo, fica o
armazém geral autorizado a proceder a venda das mercadorias em leilão. Nessa hipótese,
destacado o Warrant e circulando mediante endossos, o saldo, se houver, será entregue ao
seu portador”192.
191
Dylson Doria, op. citada, p. 123
192
Amador Paes de Almdeida, op. citada, p. 261
93
DO CONHECIMENTO DE TRANSPORTE
SUMÁRIO: 206. Conceito. 207. Fundamentação Legal. 208.
Espécies. 209. Requisitos. 210. Contrato de Transporte. 211.
Natureza Jurídica. 212. Responsabilidade. 213. Classificação.
214. O Conhecimento de Frete Marítimo. 215. Conhecimento
Aéreo. 216. Previsão no CCB.
206. CONCEITO
208. ESPÉCIES
209. REQUISITOS
193
Amador Paes de Almeida, op. citada, p. 272
194
Walter T. Álvares, op. citada, p. 570
94
O conhecimento de transporte deve atender aos seguintes requisitos, consoante
dispõe o art. 2º do Dec. 19.47311930: I – o nome, ou denominação da empresa emissora; II
– o número de ordem; III – a data, com indicação de dia, mês e ano; IV – os nomes do
remetente e do consignatário; V – o lugar da partida e do destino; VI – a espécie e a
quantidade, ou peso das mercadorias; VII – a importância do frete e VIII – a assinatura do
empresário ou do seu representante.
Frete – A palavra frete, recolhida pelo Código Comercial, veio da legislação lusa,
que a recebeu das práticas do Direito Marítimo, vindo do latim fretum, e que significa
transportar por mar. O frete pode ser pago ou a pagar, e é sempre calculado levando-s e em
conta distância em quilômetro, peso em quilogramas e categoria do veículo 195.
212. RESPONSABILIDADE
195
Walter T. Álvares, op. citada, p. 571
196
Walter T. Álvares, op. citada, p. 571
95
eventual perda, avaria, atraso etc., o transportador poderá ser responsabilizado pelos
possíveis danos que tais variações poderão acarretar.
213. CLASSIFICAÇÃO
197
José da Silva Costa, Direito Comercial, Marítimo, Fluvial e Aéreo, Tomo I, Ed. Freitas Bastos, 3a. edição,
1935, p. 446
198
Waldir Vitral, Manual de Direito Marítimo, Ed. Bushatsky, 1977, p. 172
199
José da Silva Costa, op. citada, p. 446
200
Darcy Arruda Miranda, op. citada, p. 244
96
Embora tal modalidade de conhecimento de transporte e tenha pontos de contato
com o conhecimento terrestre e o marítimo, ele apresenta algumas distinções em vários
aspectos, ressaltando-se que a Lei 7.565 de 19/12/86 (Código Brasileiro de Aeronáutica)
acabou por regulamentá-lo de forma mais abrangente, notadamente através do art. 235 e
seguintes.
97
DOS VALORES MOBILIÁRIOS
SUMÁRIO: 217. Conceito. 218. Espécies. 219. Comissão
de Valores Mobiliários. 220. Bolsa. 221. Bolsas de Valores.
222. Das Ações. 223. Espécies quanto à forma. 224.
Classificação. 225. Ações Escriturais. 226. Requisitos. 227.
Aspectos Gerais. 228. Títulos Múltiplos de Ações. 229.
Partes Beneficiárias. 230. Certificado de Depósito de
Ações. 231. Bônus de Subscrição. 232. Debêntures. 233.
Cédula Pignoratícia de Debêntures.
217. CONCEITO
A Lei 6.385 de 07/12/1976, que dispôs sobre o mercado de valores mobiliários, não
os conceitua, limitando-se a asseverar em seu art. 1º que "serão disciplinadas e fiscalizadas
de acordo com esta lei a emissão e distribuição de valores mobiliários no mercado". A
citada legislação não oferece elementos que permitam dar, com supedâneo legal, uma
definição de valores mobiliários. No entanto, compartilhável é a opinião dos autores que
afirmam constituir os valores mobiliários uma subespécie dos títulos de crédito 201.
Tanto que NEWTON DE LUCCA afirma que "como direito cambiário é espécie do
gênero 'direito cautelar', entendendo-se por esta última expressão as normas reguladoras
de todos os títulos de crédito, é forçoso concluir-se que, pelo menos sob certo aspecto
sejam os valores mobiliários unia subespécie de títulos de crédito" 202.
Pode-se dizer ainda que são títulos que envolvem operações coletivas de
investimentos, inconcebíveis isoladamente, mas como parte integrante de uma massa
homogênea, com função unilateralmente considerada, como por exemplo, as ações e
obrigações (debêntures) de uma sociedade por ações 203.
218. ESPÉCIES
O art. 2 da Lei 6.385/76 indica que são valores mobiliários: as ações, as partes
beneficiárias, as debêntures, os cupões e bônus de subscrição e os certificados de depósitos
de valores mobiliários. Exclui os títulos da dívida pública em todas as suas esferas (federal,
estadual e municipal) e os títulos cambiais de responsabilidade de instituição financeira,
salvo as debêntures. Admite ainda a criação, pelas sociedades anônimas, de outras espécies,
desde que autorizadas pelo Conselho Monetário Nacional.
201
Darcy Arruda Miranda Jr., op. citada, p. 252
202
Newton de Lucca, Aspectos da Teoria Geral dos Títuloss de Crédito, Ed. Pioneira, 1a. edição, 1979, p. 37
203
Darcy Arruda Miranda Jr., op. citada, p. 252.
98
Criado pela lei supramencionada, a Comissão de Valores Mobiliários é uma
entidade autárquica, vinculada ao Ministério da Fazenda, com atribuições muito vastas
sobre o sistema de distribuição de valores mobiliários, e assim abrangendo instituições
financeiras, companhias abertas, bolsa de valores, estas com autonomia admistrativa,
financeira e patrimonial, mas operando sob a supervisão desta (art. 17).
220. BOLSA
São consideradas associações civis, sem finalidade lucrativa, com número limitado
de membros, com capital social, patrimônio, e uma administração distribuída por uma
assembléia geral, conselho de administração e superintendência-geral.
"'Ação é uma das partes iguais em que se divide o capital social, representada por
um título transmissível e negociável.
Daí duas acepções da palavra ‘ação’. como parte do capital social (sentido
subjetivo), representa o conjunto dos direitos e obrigações derivadas da qualidade de
sócio. Como título ou documento (sentido objetivo), é o meio de prova e exercício desses
direitos e obrigações. É ainda o título representativo do valor do bem incorporado pelo
204
Apud Walter T. Álvares, op. citada, p. 670
205
Walter T. Álvares, op. citada, pp 670/671
99
acionista ao capital social e que comprova a qualidade do acionista. Constitui um bem
móvel” 206.
Para J.M. CARVALHO SANTOS, "a ação representa um direito eventual que o
acionista possui, em troca do capital que empregou ao adquiri-la, a unia parte dos lucros,
enquanto durar a sociedade, ou a uma parte do patrimônio social, quando esta vem a ser
dissolvida” 207.
224. CLASSIFICAÇÃO
As ações, conforme a natureza dos direitos ou vantagens que conferem aos seus
titulares, podem ser ordinárias (ou comuns), preferenciais e de fruição (ou de gozo).
206
Aloysio Lopes Pontes, Sociedades Anônimas, Ed. Forense, 5a. edição, vol. I, p. 152
207
J. M. Carvalho Santos, Parecer, Revista Forense, vol. 97, p. 44
208
Aloysio Lopes Santos, op. citada, p. 152.
209
José Cretella Jr. e José Cretella Neto, op. citada, p. 54.
100
Embora de uso bastante generalizado no estrangeiro e reconhecida pela doutrina, a emissão
de ações preferenciais com privilégio de voto não tem sido incluída em nossa legislação
sobre o anonimato.
As ações de fruição ou de gozo, também denominadas por ações amortizadas, são
aquelas cujos titulares, tendo integralizado e, posteriormente, recebido o valor total de suas
ações, na vida regular da sociedade, conservam todos os direitos que possuíam, entre os
quais, o direito à percepção dos dividendos, o direito de votar nas assembléias gerais, o
direito ao restante do ativo na liquidação, depois de coberto o passivo. São destituídas de
capital e devolvem ao acionista o valor de seu investimento.
226. REQUISITOS
210
José Cretella Jr. e José Cretella Neto, op. citada, p. 55
211
Todo o presente capítulo se encontra adaptado às modificações advindas às Sociedades Anônimas com a
promulgação da Lei n. 9.457 de 05/05/1997, utilizando-se aqui, como instrumento de consulta, a obra
Comentários à Lei de Sociedades Anônimas, vols. I e II, de Modesto Carvalhosa, Ed. Saraiva, 1997
101
penhora ou de medida cautelar por obrigação de responsabilidade de seu titular; b) o
certificado de depósito de ações poderá ser transferido por endosso em preto ou em branco,
assinado pelo titular das ações ou por mandatário com poderes especiais (parág. 3 do art. 43
da Lei 6.404/76), sendo que ao endosso, no que couber, aplicam-se as normas afins dos
títulos cambiáríos; c) a pedido de seu titular e por sua conta, os certificados poderão ser
desdobrados ou grupados (parág. 4º do art. 43 da Lei 6.404/76) e d) a falta de qualquer dos
requisitos dá ao acionista o direito à indenização por perdas e danos contra os diretores, na
gestão dos quais foram os títulos emitidos (parág. 1º do art. 20 da Lei 6.404/76). Nesta
trilha, escreve TRAJANO MIRANDA VALVERDE, "se o documento não contém
qualquer dos ditos elementos, ou os contém, mas erradamente, o título é nulo, mas em
beneficio do seu possuidor, que não fica, assim, privado da qualidade de acionista” 212.
O art. 46 do diploma legal disciplinador das sociedades por ações dispõe que estas
poderão criar, a qualquer tempo, títulos negociáveis, sem valor nominal e não
representativos do capital e que conferem a seus titulares o direito de participação nos
lucros líquidos anuais distribuídos aos acionistas.
Requisitos – Dispõe o art. 49, que o certificado das partes beneficiárias conterá: I –
a denominação "parte beneficiária"; Il – a denominação da companhia, sua sede e prazo de
duração; III – o valor do capital social, a data do ato que o fixou e o número de ações em
212
Trajano Miranda Valverde, Sociedade por Ações, Ed. Forense, 3a. edição, 1959, p. 221
213
J. X. Carvalho de Mendonça, Tratado de Direito Comercial Brasileiro, vol. 6, n. 1063, p. 419
214
Aloysio Lopes Pontes, op. citada, p. 162
215
Darcy Arruda Miranda Jr., op. citada, p. 260
102
que se divide; IV – o número de partes beneficiárias criadas pela companhia e o respectivo
número de ordem; V – os direitos que lhes são atribuídos pelo estatuto, o prazo de duração
e as condições de seu resgate, se houver; VI – a data da constituição da companhia e do
arquivamento e publicação de seus atos constitutivos; VII – o nome do beneficiário; VIII –
a declaração de sua transferibilidade por endosso, se endossável; e IX – a data da emissão
do certificado e a assinatura de dois diretores (quando existirem em tal número. Já que a lei
permite seja a sociedade administrada por um ou mais diretores)..
São títulos emitidos pelas sociedades anônimas até o valor do aumento do capital
autorizado nos estatutos, conferindo aos titulares, o direito de subscrever ações, e que
podem facilitar, em determinadas conjunturas, a captação de recursos.
216
Vale lembrar que coisas fungíveis são aquelas que podem ser substituídas por outras da mesma espécie,
qualidade e quantidade.
217
Darcy Arruda Miranda Jr., Breves Comentários à lei de Sociedades Por Ações, Ed. Saraiva, 1977, pp.
61/62.
103
"Os bônus de subscrição, na verdade, conferem o direito de imediata conversão em
ações mediante o pagamento de seu preço de emissão, e não propriamente o direito de
subscrever ações no desenrolar de processo normal de aumento de capital” 218.
232. DEBÊNTURES
De acordo com DARCY ARRUDA MIRANDA JR., "se quiséssemos dar uma
definição simples e incompleta, diríamos que a debênture representa o crédito resultante da
colocação de um empréstimo junto ao público, empréstimo esse representado por títulos
que correspondem a frações iguais do mesmo, em cada série, e independentes entre si.
Difícil, porém é dar uma definição que não seja descritiva, dada a sua enorme
complexidade” 220.
Distinções com outros valores mobiliários - Das Ações. Enquanto os titulares das
ações são sócios-proprietários das sociedades, os titulares de debêntures são credores das
companhias, sendo as primeiras, títulos de renda variável e as segundas, títulos de renda
218
Mauro Brandão Lopes, Sociedade Anônima. Títulos e Contratos Novos. Ed. Revista dos Tribunais, 1978,
p. 85
219
Carlos Alberto Carmona, artigo Títulos Executivos Extrajudiciais no CPC contido no livro Processo de
Execução e Assuntos Afins coordenado por Teresa Arruda Alvim Wambier, Ed. Revista dos Tribunais, 1a.
edição, 1998, pp. 69/70.
220
Darcy Arruda Miranda Jr., op. citada, p. 263
104
fixa. Das partes beneficiárias. Apesar de seus titulares serem credores da sociedade, o
crédito relativo às partes beneficiárias somente será pago nos exercícios em que forem
realizados lucros, ao contrário do crédito relativo às debêntures, que deve ser pago na data
do vencimento, independentemente da realização de lucros.
Conversão De Debêntures Em Ações - Como forma de tornar mais atrativa a
subscrição das debêntures colocadas no mercado, a lei permite que elas sejam acrescidas de
vantagens adicionais, entre as quais a da sua conversão em ações da companhia emissora
daqueles valores mobiliários, conforme disposto no art. 57 da Lei 6.404/76, que ainda
indica as condições à efetivação de tal procedimento, sempre condicionado ao aumento do
capital social.
"Os títulos em foco foram criados com a finalidade de dar uma maior flexibilidade
e eficácia à intermediação entre as companhias emissoras e o mercado de capitais de
empréstimo, pois, quando as condições deste último não permitirem ou não aconselharem
a distribuição imediata de uma emissão ou série de debêntures, no montante ou com os
prazos de vencimentos requeridos pela mutuária, a instituição financeira poderá
subscrever a emissão ou a série de debêntures, mantendo-a em carteira para oportuna
distribuição no mercado” 221..
É de se ressaltar que a sua estruturação jurídica recebeu severas críticas por parte de
alguns autores, entre os quais, MAURO BRANDÃO LOPES 222.
Requisitos – Dispõe a "Lei das S.As" que tais certificados deverão conter as
seguintes declarações, conforme dispõe o parág. 2º do art. 72: I – o nome da instituição
financeira emitente e as assinaturas dos seus representantes; II – o número de ordem, o
local e a data da emissão; III – a denominação "Cédula de Debêntures"; IV – o valor
nominal e a data do vencimento; V – os juros, que poderão ser fixos ou variáveis, e as
épocas do seu pagamento; VI – o lugar do pagamento do principal e dos juros; VII – a
identificação das debêntures-lastro, do seu valor e da garantia constituída; VIII – a cláusula
de correção monetária se houver; e IX – o nome do titular.
221
Darcy Arruda Miranda Jr., Breves Comentários à Lei de Sociedade Por Ações, citada, p. 112
222
Mauro Brandão Lopes, op. citada, p. 71
105
DOS TÍTULOS DA DÍVIDA PÚBLICA
SUMÁRIO: 234. Conceito. 235. Formas. 236. Títulos da
Dívida Agrária. 237. Notas do Tesouro Nacional. 238.
Utilização Para Pagamentos de Débitos Fiscais.
234. CONCEITO
235. FORMAS
223
Amador Paes de Almeida, op. citada, pp. 306/3
224
apud Amador Paes de Almeida, op. citada, p. 293
106
dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte
anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização, será definida em lei".
Da mesma forma, outros títulos da dívida pública, alguns até antiquíssimos, vêm
sendo usados para o mesmo fim, apesar das intensas discussões jurídicas sobre a prescrição
ou não dos mesmos. Em todo o caso, a questão é de manifesto interesse, face às
conseqüências que dela podem advir, principalmente no tocante à quitação de débitos
fiscais. Ocorre que, adquiridos por valores bem menores dos constantes em suas faces, são
repassados ao Governo Federal, credor dos mesmos, levando-se em conta os seus valores
reais, devidamente atualizados, o que se torna para os devedores, sem sobras de dúvidas,
um excelente negócio.
107
Apêndice
108
Recusar cheques não é crime
Embora a maioria das pessoas entenda que o cheque se iguala em
todos os sentidos ao dinheiro em espécie, acreditando ser crime a sua não
aceitação, tal situação não traduz a correta conotação jurídica que lhe
reveste. Na realidade, há contravenção penal quando se rejeita a moeda de
curso legal (o real), porém, inexiste qualquer proibição legal na recusa
deste tipo de título de crédito, constituindo-se numa faculdade do credor
em recebê-lo ou não. É por isso que em alguns estabelecimentos, embora
em número bem reduzido, ainda existem placas indicativas de que "não se
aceitam cheques para pagamentos".
Até algum tempo atrás, era comum encontrarmos nos mais variados
estabelecimentos, placas indicativas de que "não aceitavam cheques", pressupondo que os
pagamentos nestes locais só se efetivavam em dinheiro. Com a estabilização parcial da
economia através da implantação e sustentação do Real como padrão monetário, a
utilização destes títulos em nosso país, passaram a ser fluentes, chegando-se inclusive, a
representarem as próprias parcelas de um negócio efetivado à crédito. Tanto que em
inúmeras lojas, os produtos são oferecidos para quitação, exemplificadamente, "através de
cheques para trinta, sessenta e noventa dias", ao invés de três prestações mensais, como
eram anteriormente anunciados. Entretanto, até hoje, mesmo em menor número, persistem
comerciantes que se recusam a recebê-los, originando algumas questões de interesse geral,
como a obrigatoriedade ou não na sua aceitação e se uma eventual rejeição configura a
prática de algum crime previsto em lei.
109
Mesmo com as intensas campanhas no sentido da moralização do instituto e não
obstante a proteção prevista no inciso VI, parágrafo segundo do art. 171 do Código Penal
(Fraude No Pagamento Por Meio de Cheque), os cheques continuam sendo objetos de
preocupações dos credores, dada a infinidade dos títulos que são passados sem as
respectivas provisões (cheques sem fundos). Nem os cadastros forenses, os serviços de
proteção ao crédito, os arquivos de informantes e as medidas bancárias, como o
encerramento de contas-correntes e demais conseqüências aos inadimplentes são eficazes à
identificação imediata dos maus pagadores. Os artifícios de suas condutas, os
mascaramentos de suas atitudes, a mistificação e a dissimulação são por vezes tão perfeitas
que chegam a envolver os mais cuidadosos e prevenidos beneficiários dos títulos.
Desta forma, são plenamente justificáveis algumas reações negativas à circulação
irrestrita do cheque e, por isso mesmo, inexiste qualquer proibição legal à sua rejeição. Há
contravenção penal expressa, isso sim, quando se recusa o recebimento da moeda de curso
legal, ou seja, do real.
É de se ponderar que a recusa de cheque emitido por bom pagador, zeloso, pontual,
honesto e cônscio das suas responsabilidades e obrigações, sob a alegação simplista e
lacônica de "que não se aceita cheque", além de nutrir o milenar ditado popular de que "os
bons pagam pelos maus", pode gerar atitudes das mais desagradáveis. Nesta trilha, cite-se
um caso que mereceu ampla publicidade na época e foi citado por SANTO ROMEU NETO
na coluna Direito Usual (Folha da Tarde, 12/03/79): "Tratava-se de um comerciante,
credor de certa importância, que se recusou ao recebimento da mesma através de cheque.
O devedor não teve dúvidas. Foi ao banco, sacou o dinheiro e compareceu na casa
comercial lá derramando milhares de moedas, na importância do débito. Foi,
evidentemente, a forma mais apropriada que sua fértil imaginação lhe sugeriu, para
responder, com certa ironia, à negativa do credor ao recebimento de um cheque em
pagamento".
Na situação acima apontada, se o comerciante não aceitasse a quitação da forma
como se processou - através de milhares de moedas - ele estaria flagrantemente cometendo
um ilícito penal, sujeito às cominações legais daí decorrentes.
110
Duplicata Simulada
111
A título ilustrativo, destaque-se que a jurisprudência tem entendido que se o ajuste
procedeu só com negligência, não utilizando a duplicata após o desfazimento do negocio, a
conseqüência é civil e não criminal. Por outro lado, o endossatário e o avalista não
respondem pelo crime, uma vez que os seus comportamentos não se indicam no núcleo
"emitir". Só responderão penalmente, se agirem dolosamente, desde o início, pretendendo
lesar o sacado.
(Artigo Publicado no suplemento Domingo Especial do Jornal
da Cidade de Jundiaí em 24/12/1991)
112
O avalista se equipara ao devedor principal
Muitos leigos acreditam que ao avaliarem títulos de crédito, só poderão ser
responsabilizados pela quitação dos mesmos, após a tentativa, sem êxito, de cobrança dos
devedores principais. Ledo engano. O credor cambiário pode promover ação diretamente
contra o avalista ou simultaneamente à pessoa a favor de quem foi concedido o aval, que é
uma forma de garantia de pagamento autônoma, individual e solidária.
Dispõe o art. 32 da Lei Uniforme, que regulamenta a matéria: "o dador do aval é
responsável, da mesma maneira que a pessoa por ele afiançada. A sua obrigação mantém-
se, mesmo no caso de a obrigação que ele garantiu ser nula por qualquer razão que não
seja um vício deforma. Se o dador de aval paga a letra, fica sub-rogado nos direitos
emergentes de letra contra pessoa a favor de quem foi dado o aval e contra os obrigados
para com esta em virtude da letra”.
A obrigação do avalista é assim, tão independente, que não lhe cabe nem mesmo
alegar a falsidade, a falsificação ou a nulidade da assinatura da pessoa a favor de quem foi
concedida o aval. Não pode, inclusive, opor contra o credor, eventuais defesas pessoais de
que disporia contra o avalizado. O único consolo, no caso de resgatar o título de crédito que
garantiu, é de que poderá reaver do devedor a quantia despendida, já que lhe é assegurado
contra esse, o direito de regresso. Na prática, entretanto, aquele que não honra com suas
obrigações, normalmente é insolvente, tomando-se bastante difícil ao avalista, recuperar
qualquer defesa que venha a efetivar com o cumprimento do aval que tenha concedido.
Invoquemos aqui, JOSÉ MARIA WHITAKER: "O avalista é equiparado ao seu avalizado:
não assume a obrigação deste, mas uma obrigação igual a deste, tanto nos seus efeitos
como nas suas conseqüências e, como todos os subscritores cambiários, pode ser acionado
de preferência a qualquer outro, por isso que se obrigou diretamente a realizar o valor
declarado na letra, se este valor não foi realizado pontualmente no dia do respectivo
vencimento" (Letra de Câmbio, 6ª Edição, pág. 189).
Ressalte-se ainda, que o credor cambiário de falido ou concordatário pode promover
ação executiva ou de cobrança, diretamente do avalista, sem se habilitar no processo de
falência ou concordata. Pode até cobrar do avalista e habilitar-se simultaneamente, sendo
vedado apenas receber mais do que lhe é devido. A título ilustrativo, transcrevemos os
seguintes julgados: "A circunstância de estar em concordata preventiva o emitente da nota
promissória não o afasta a procedência do pedido de cobrança contra o avalista, pois está
expresso no art. 148 da Lei de Falência que a concordata não desonera os coobrigados
com afirma concordatária” (Ap. n.' 127.087 - TA, Civil SP). "Mesmo que haja habilitação
de credor na concordata preventiva do emitente do título, isso não impede a cobrança
contra o avalista" (Ap. nº 215.63 8 - 1º TA, Civil - RT 483/ 121).
Tal situação, abraçada pela doutrina e jurisprudência, derruba a intenção atual de
muitos empresários em impetrarem pedido de processamento de concordata preventiva.
113
Jurisprudência
114
TITULO EXECUTIVO - Nota promissória - Origem reprovada - Possibilidade.
(Inoponibililade das exceções) 225.
Será título executivo judicial a nota promissória originada por aposta política, se o
exeqüente, que a adquirir por endosso, desconhecia sua origem reprovada.
TAMMG - Ap. 186.291-1 - 4 a Câm. - Rel. Juiz Célio César Paduani - v.u. -j. 1510211995.
225
Nota do Autor
115
oponível ao terceiro de boa-fé. Não se poderá, contudo, argüir a boa-fé se há prova de que o
terceiro conhecia perfeitamente a origem da dívida" (in Curso de direito civil brasileiro
interpretado, 4ª. Ed., 5º v., p. 373).
No mesmo sentido, doutrina o grande mestre Carvalho Santos:
"Mas a nulidade da dívida não pode ser oposta ao terceiro de boa-fé, isto é, àquele
que ignore a origem reprovada da dívida.
Quer dizer: o perdente, uma vez transferido o título por cessão ou endosso, a um
terceiro de boa-fé, a este não poderá negar o pagamento, restando-lhe, todavia, o direito
regressivo contra o cedente ou endossante para dele haver a quantia que tiver sido obrigado
a pagar" (in Código Civil Brasileiro Interpretado, 4ª ed., v. XIX, p. 422).
Insisto em que não se provou que o apelante soubesse da origem da dívida, que
redundou na emissão do título creditício. As testemunhas ouvidas (fls.) nem ao menos
sabem quem é o embargado. Este nega conhecer a origem da dívida, consubstanciada na
nota promissória. Em suma, não se provou a má-fé do apelante, motivo pelo qual não se lhe
pode opor a nulidade da dívida.
Em face dessas considerações, dou provimento ao apelo para reformar a sentença,
julgando improcedentes os embargos e subsistente a penhora, invertendo os ônus da
sucumbência.
Custas, pelo apelado.
É como voto.
116
TÍTULO EXTRAJUDICIAL - Causa debendi Perquirição - Possibilidade.
(Inobservância de requisito extrínseco) 226.
Mesmo apresentando a nota promissória literalidade e autonomia, o que lhe dá
liquidez, certeza e exigibilidade, poderá ela ser desconstituída como título executivo, caso
tenha sido obtida por indevida pressão psicológica.
TARJ - Ap 6.891196 - 3 a Câm. - Rela. Juíza Maria Augusta Vaz Monteiro de Figueiredo -
vu. -j. 1711011996.
ACÓRDÃO - Vistos, relatados e decididos estes autos de Ap. Civ. 6.891/96 em que
é apelante Casa de Saúde São José Ltda. e apelado Hélio Oliveira Prado: Acordam os
Juízes da 3' Câm. do TA.Civ. RJ, por unanimidade de votos, em negar provimento ao
recurso de apelação, rejeitadas as preliminares.
Trata-se da ação de embargos à execução proposta por Hélio Oliveira Prado contra
Casa de Saúde São José Ltda., objetivando desconstituir o título executivo extrajudicial que
esta executa contra ele. Alega que a nota promissória foi-lhe apresentada em um dia de
abril de 1992, quando sua mulher fora internada às pressas e dera à luz um filho prematuro,
com exigência de que a assinasse em garantia ao pagamento que deveria ser efetuado pelo
Iaserj, com quem a clínica mantinha convênio, sob ameaça de não ser dada alta à esposa e
ao filho, sendo ela funcionária do Iaserj e estando por isso beneficiada pelo convênio.
A sentença julgou procedente o pedido, sob o argumento de que não tinha havido
circulação do título e que por isso era possível discutir a relação jurídica havida entre
credor e devedor, que no caso se apresentava inviável para justificar a cártula, afinal
anulada.
Inconformada, a embargada apelou (f.). Inicialmente protestou pelo julgamento do
agravo retido (f.). Argüiu, depois, preliminares de nulidade da sentença, por não ter sido
proferida pela juíza que presidiu a audiência de instrução e julgamento, por não ter
apreciado o cabimento, ou não, da juntada do documento de L, por não ter o MM. Juiz a
quo agido imparcialmente, ao dirigir-se em duros termos à embargada, e por não haver
provas que sustentem as alegações do embargante, em ofensa aos arts. 5º, da CF, 125, inc.
V, do CPC, e 35, inc. IV, da IC 35/ 79. No mérito sustentou que o embargante firmou com
a embargada avença de caráter particular, alheia ao fato de sua mulher, como funcionária
pública, ter direito ao convênio do Iaserj, carecendo inclusive de legitimidade ad causam,
consoante os arts. 3º, 6º e 267, inc. VI e § 3º, do CPQ; insiste na impossibilidade da
discussão sobre a nota promissória que embasa a execução, por gozar de autonomia,
certeza, liquidez e literalidade. Por fim, atacou as provas dos autos, que, a seu ver, não dão
sustento ao decisum, os documentos por nada terem a ver com as alegações da inicial e a
testemunha por se limitar a repetir o que lhe dissera o embargante. Insurgiu-se, ainda,
contra a fixação de honorários advocatícios em 20% do valor dado à causa na inicial da
execução, em afronta ao art. 20, § 4º, do CPC.
As contra-razões ao recurso estão a f.
O recurso é tempestivo e foi oportunamente preparado.
É o relatório.
Inicialmente impõe-se a apreciação do agravo retido (L), tempestivamente
apresentado, e no qual a Casa de Saúde São José Ltda. se opôs ao despacho saneador que
deferiu provas requeridas e designou AIJ por entender que se impunha o julgamento
226
Nota do Autor
117
antecipado da lide, tendo aquela decisão afrontado o art. 330, inc. I, do CPC, motivo pelo
qual quer a anulação do processo a partir de então.
Não procede tal argumento e por isso, apesar de se conhecer do agravo, não se lhe
pode dar provimento. Os presentes embargos à execução objetivaram a desconstituição do
título executivo extrajudicial, sob o argumento de que foi obtido por indevida pressão, e
que não havia relação jurídica a justificar sua emissão, de forma que a questão demandava
produção de prova e não era apenas de direito, como afirma a apelante, justificando-se
plenamente o despacho saneador, já que a hipótese destes autos não se enquadrava nos
moldes do inc. I do art. 330 do CPC, que, por isso, não pode ter sido afrontado.
Também as preliminares argüidas na apelação carecem de seriedade e não podem
prosperar. De pronto se vê que não foi ofendido o princípio da identidade física do juiz,
porque a MMa. Juíza, que presidiu a AU em setembro de 1994 foi promovida em
novembro desse mesmo ano, e, como a sentença foi prolatada em abril de 1996, foi
observado o disposto no art. 133 do CPC. O fato de a sentença não ter apreciado o
cabimento do documento da L, contra o qual a apelante então se opôs, não induz nulidade
da sentença, já que nenhum prejuízo representou para ele, pois também não se lastreou nele
o juiz para decidir como o fez, pois nenhuma referência há na sentença a esse documento, o
que, porém não implica agressão ao art. 458, incs. I e II, do CPC, porque a não menção a
documento que sequer havia sido recebido apenas significa que ele não influenciou o juiz,
que, porém, abordou todas as questões de fato e de direito. No mais, a embargante não se
conforma com as conclusões do juiz, que são resultado do convencimento que nele
produziram as provas dos autos, sendo absurdo chamar de parcial ao julgador que contra
ele decidiu a causa, ainda que não lhe agrade a firmeza de suas expressões.
No que concerne ao mérito, melhor sorte não tem a apelante, novamente mostrando-
se inatacável a sentença, pois, como bem mostrou o MM. Juiz da Comarca de Piraí,
inclusive com citação de acórdão deste tribunal (5º CC - f.), não obstante a literalidade e
autonomia do título de crédito, não se pode deixar de examinar em certos casos se aquele
estava vinculado ao negócio jurídico havido entre originários credor e devedor. E este é
exatamente um desses casos em que validamente se há de perquirir tal negócio jurídico,
visto que a nota promissória passada a favor da embargada não foi posta em circulação e
dúvida não há nos autos de que ela foi obtida por indevida pressão psicológica, que autoriza
a afirmação de que não houve livre vontade na emissão da cártula, sendo esse o motivo
pelo qual se impõe sua anulação.
Ao contrário do que alega a embargante, há firmes elementos probatórios nos autos
a formarem tal convicção. Não se nega que a esposa do apelado é funcionário do Iaserj, que
este mantinha convênio com a apelante e que ela já estivera internada e tivera as despesas
cobertas pelo laserj. Em abril de 1992 novamente precisou se internar e dessa vez teve seu
marido de assinar nota promissória responsabilizando-se pelo pagamento. Por que o fazia
se sabia que a esposa tinha a cobertura do convênio? Porque a casa de saúde passou a
discordar do pagamento que o laserj fazia com base em sua tabela, apesar de não ter
denunciado o convênio na época oportuna, como dão conta os documentos de f. Estes
deixam claro que a casa de saúde não denunciou o convênio e por isso devia a ele se
submeter, enviando as despesas decorrentes do atendimento de Ângela Adelaide Rodrigues
Barbosa Viana ao laserj; porém, por não aceitar os valores da tabela deste, entendeu ser
mais vantajoso apresentar a nota promissória do marido. Ora, é de elementar bom senso do
homem médio que, sabendo deste convênio, do qual já se utilizara, não assinaria nota
118
promissória para arcar com custos, que o Iaserj não cobriria se considerasse acima da
tabela, não estivesse psicologicamente premido a tanto.
A prova dos autos mencionada na sentença autoriza essa conclusão, devendo aqui
ser acrescido que inexistem as afrontas argüidas contra os apontados dispositivos legais,
pois foram apreciados todos os fundamentos de direito e de fato, que tiveram correta
solução, estando o ora apelado legitimado a fazer o presente questionamento não obstante
os pressupostos cartulares, em face da constatação de vício na base da relação jurídica entre
original credor e original devedor, do qual teria surgido o título de crédito.
Por fim se diga que a hipótese dos autos não cabe na do § 4' do art. 20 do CPC e que
também nessa parte correta está a sentença.
Nega-se, por isso, provimento ao agravo retido, bem como à apelação, mantendo-se
a sentença, rejeitadas as preliminares.
Rio de Janeiro, 17 de outubro de 1996 - JÚLIO CÉSAR PARAGUASSU, pres. - MARIA
AUGUSTA VAZ MONTEIRO DE FIGUEIREDO, relatora.
119