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ESTRATÉGIA DA PINÇA

DA GUERRA PARA A POLÍTICA

A estratégia da pinça é uma conhecida manobra militar executada primorosamente


pelo gênio do cartaginês Aníbal Barca para derrotar os romanos na batalha de Cannas,
dois séculos a.C. O objetivo tático desse tipo de operação é imobilizar o inimigo,
criar confusão e levá-lo ao descontrole de suas forças. Isto ocorre quando as
pontas da pinça se tocam, cercando completamente o oponente e derrotando-o.

No clássico A arte da guerra, Sun Tzu recomendou que, ao executar a estratégia da


pinça, deveriam ser evitadas situações de cerco completo ao inimigo, pois este
reagiria lutando com maior ferocidade. Considerou ser mais prudente e eficaz,
militarmente, abrir ao inimigo uma rota de fuga, induzindo-o a desistir da batalha antes
de se fechar o cerco.

O PT, desde a sua constituição – dos primeiros documentos internos ao manifesto de


fundação em 1980 apresentou-se como uma alternativa eleitoral. A disputa por vias
democrático-burguesas, constitucionais e representativas nunca foi descartada, ao
contrário, estava estritamente articulada e subordinada à sua meta socialista e ao seu
caráter de massas. Contudo, a proximidade com esta impunha-lhe uma
operacionalização de sua tática, que adquiria, somada as primeiras dificuldades
neoliberais para o trabalho aos anos 1980/1990, uma evolutiva deterioração estratégica.

A degeneração, já facilmente imaginada pelo seu confusionismo ideológico de classe,


inicia-se mais abertamente com a metáfora da “pinça” em 1989. Segundo esta teoria, o
longo prazo de acúmulo de forças seria alicerçado em duas ações: uma intervenção
de massas, apoiada no movimento popular e sindical (CUT); e outra, na atuação por
dentro da estrutura pública institucional através das eleições. O ponto de encontro
e a direção destes dois braços seria a organização do PT como força política socialista,
independente e de massas (IASI, 2006, p. 442). Com este movimento, supunha-se uma

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alteração na correlação de forças na sociedade civil e no Estado, tornando “possível
colocar na ordem do dia as mudanças sociais profundas do Programa Democrático e
Popular” (IASI, 2006, p.443).

Entretanto, as possibilidades reais de chegada à presidência e a conquista nas eleições


de cargos da administração pública direta e indireta, anteciparam a abertura de um
longo processo de cooptação, para o qual Fernandes (1976, p.363) qualificou ser a
nossa possível “dissidência esterilizada e esterilizável dos setores insurgentes”. Esta
esterilização político-partidária deu-se no mesmo movimento que a programática
pensada, de forma processual, com o acúmulo de desvios e equívocos teóricos,
exacerbados e degenerados ao longo dos calendários eleitorais. Podemos sistematizá-
la brevemente, no que consideramos serem os três momentos de amoldamento do
“socialismo petista”: um prévio às eleições de 1989, um pós-eleições no decorrer dos
anos 1990 e a falência declarada do governo PT a partir de sua posse em 2002.

Em síntese: o partido vence democraticamente as eleições, governa e administra o


Estado autocrático burguês e ao executar a sua estratégia democrática e popular entra
em choque com os interesses dos trabalhadores.

As garras da pinça (dentro e fora da ordem) foram sendo desenvolvidas de forma


desigual. No decorrer dos anos, a dedicação à esfera institucional foi crescendo de
forma acelerada, tanto no executivo quanto no legislativo.

As eleições ganham uma importância monumental e o que era um movimento para


acumular forças e alcançar a ruptura socialista acaba ganhando uma importância
desproporcional. As energias militantes são giradas prioritariamente para vencer as
eleições e cada vez menos dedicadas à construção processual e metódica de
organização pela base, com viés socialista.

Referências:

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1.NARVAI. C.P ."A estratégia da pinça" .acessado em 04/0720 disponível em:
https://aterraeredonda.com.br/a-estrategia-da-pinca/

2.MARQUES,G Morena-"Em busca da revolução brasileira:Uma análise crítica da


estratégia democrático popular". pág.192-193.

3.SOUZA.J.F,-"Estratégia democrática e popular e luta sindical docente no Distrito


Federal"

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