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Fig.1A – Raio X simples dos antepés. Vista dorsoplantar Fig. 1B – Incidência para os sesamóides
te localizada sob a base do primeiro dedo, que o obrigou Onze meses após o trauma, o quadro clínico manti-
a adotar atitude antálgica de discreta supinação do ante- nha-se inalterado. Foi feita tomografia computadoriza-
pé, aliviando a carga no primeiro raio. da (TC), com sete cortes, que não evidenciou alterações
No sexto dia após o trauma, o exame físico não evi- no sesamóide medial, assim como a cintilografia, ã mes-
denciava lesões superficiais. Acusava dor à digitopressão ma época (fig. 2, A e B).
ao nível do sesamóde medial, com o hálux em posição Quatro meses após a primeira TC, foi solicitada no-
neutra e em extensão. A marcha era claudicante e o va, agora com onze cortes, que mostrou imagem irregular
apoio em flexão dorsal aumentava a intensidade da dor. nas bordas do sesamóide medial, sugerindo necrose avas-
Com a hipótese diagnóstica de sesamoidite medial trau- cular (fig. 3).
mática, a investigação constou de raio X simples dos an- Optou-se pelo tratamento operatório dezesseis me-
tepés, que não evidenciou alterações (fig. 1, A e B). ses após o trauma inicial. A via de acesso foi na face
O tratamento constou de palmilhas de alívio para medial da articulação metatarsofalângica, na linha de tran-
a região metatarsofalângica e medicação antiinflarnató- sição de pele dorsal e plantar (entre os ramos nervosos
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ria não esteróide (AINE). Observou-se que a dor se man- cutâneos plantar, medial e dorsal) , iniciando na base
tinha em níveis suporáveis, mas não havia remissão to- da falange proximal do hálux e se dirigindo proximal-
tal dos sintomas. mente até o colo do primeiro metatarsal. Abrindo-se a
454 Rev Bras Ortop — Vol. 29, N° 7 — Julho, 1994
NECROSE AVASCULAR PÓS-TRAUMÁTICA DO SESAMÓIDE MEDIAL DO PRIMEIRO METATARSAL
costeróide, devido aos seus efeitos deletérios para a carti- A tomografia computadorizada com cortes finos
lagem articular, já conhecidos de todos. de 3mm mostrou ser um bom exame de investigação diag-
Esgotados os meios clínicos e com a impressão diag- nóstica.
nóstica de necrose avascular pela tomografia e quadro A importância da integridade biomecânica do com-
persistente de dor à digitopressão e à carga direta, optou- plexo glenometatarsossesamóideo foi considerada na in-
se pelo tratamento operatório, visando estimular o apor- dicação do tratamento operatório sem a sua exérese.
te sanguíneo ao sesamóide e a preservação do mesmo,
o que resguardaria a biomecânica do complexo glenome- REFERÊNCIAS
tatarsossesamóideo. Embora freqüentemente a literatu-
ra proponha a excisão do sesamóide comprometido, jul- 1. DuVries, H.: “Sesamoidite”, in Cirurgia del pie, Editorial Intera-
gamos que deva ser reservada aos casos mais tardios e mericana, 1960. Cap. 12, p. 264-281.
com degeneração irreversível (1,4,6) . 2. Gould, J.S.: Metatarsalgia. Clin Ortop Am Nate Trat Probl Pés
20: 555-564, 1990.
No pós-operatório, o paciente foi mantido em imo-
3. Lelievre, J.: “Fractura de los sesamoideos del dedo gordo”, in Pa-
bilização gessada suropodálica por cinco semanas, segui-
tologia del pie, Barcelona, Toray, 1976. Cap. IV. p. 378-379.
da de fisioterapia com reeducação postural da marcha.
4. Mann, R. & Coughlin, M.J.: “Sesamoids and accessory bones of
Um ano após a cirurgia, está assintomático, retor- the foot”, in Surgery of the F.a.A., St. Louis, Mosby, 1993. V. 1,
nando às suas atividades esportivas. cap. 10, p. 467-539.
5. Prado Júnior, I., Souza Nery, C.A. & Teixeira, V.P.A.: Estudo
CONCLUSÃO morforradiográfico dos ossos sesamóides do hálux. Folha Médica
106: 27-33, 1993.
A necrose avascular do sesamóide é uma complica- 6. Viladot, A.: “Sesamoidite”. in Patologia do antepé, Barcelona,
ção da sesamoidite traumática. Roca, 1987. p. 133-137.