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ADM I
PRINCÍPIOS EXPLÍCITOS DO
DIREITO ADMINISTRATIVO
UNESA
ADM I – 03 - PRINCÍPIOS EXPLÍCITOS – 2016.2
Profº. Francisco De Poli de Oliveira
I – INTRODUÇÃO
1.1 Elementos Introdutórios (princípios1 e regras2)
1. O estudo do Direito Administrativo no Brasil ainda não foi codificado. O que possuímos
sobre esse importante ramo do Direito Público é uma legislação esparsa (ex.: Desapropriação
(DL 3.365/41); Lei de Licitações e Contratos (Lei nº. 8.666/93); Lei do Processo Administrativo
no Âmbito da Administração Pública Federal (Lei nº. 9.784/99), etc. Por isso que os
PRINCÍPIOS são de vital importância na ausência de um sistema legal codificado.
2. Princípios vêm do latim “principium”, que significa início, ponto de partida. Ocorre que
antigamente o direito era somente o que estava positivado, legislado. Os princípios eram
sonhos, filosofia. Assim, somente tinham valor se estivesse legislado, positivado. Não era,
portanto, reconhecido. Era algo que ficava “no congelador” por assim dizer.
4. Vejam esse exemplo ilustrativo de nosso Código Civil, não muito distante, e percebam o
absurdo que é não se utilizar dos princípios: herdeiro que viesse a matar um parente não
perderia a herança, ou melhor, não era deserdado, por que não deixa de ser herdeiro. Com
base nos princípios-valores, a Corte Americana decidiu, dizendo: “Aquele que mata um parente
não pode herdar”. O modelo de regra era insuficiente para resolver essa questão do herdeiro
que mata parente seu. Os juristas começaram a recorrer a princípios. Foi então que os
princípios passaram a integrar os códigos.
6. É, portanto, com base nos princípios que se pode equacionar situações concretas. Se
estivermos estudando direito penal, civil, administrativo ou outras matérias, temos que iniciar o
nosso estudo pelos princípios. Só para que se tenha ideia da importância dos Princípios, se
uma determinada lei não for compatível com eles, então a lei é inconstitucional!
7. Os princípios, por terem uma textura aberta, permitem ao intérprete um leque maior de
interpretações. Princípio é um método interpretativo. Senão vejamos:
direito.
4 Recentemente a imprensa publicou o caso do pedreiro em que um vergalhão atravessou seu cérebro. A morte
era dada como certo. No entanto, foi operado e sobreviveu. Isso é a prova esmagadora de que provas
inequívocas não têm nada a ver com probabilidade!
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ADM I – 03 - PRINCÍPIOS EXPLÍCITOS – 2016.2
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b) Temos, então, que um princípio pode contradizer outro princípio. E, havendo colisão
entre os princípios, terá que ser utilizado o método de ponderação do interesse
público para verificar o princípio a ser utilizado. Chama-se a atenção que isso não
quer dizer que um princípio foi abolido. Tudo vai depender de cada caso concreto.
Tudo isso porque os princípios possuem uma textura aberta, ou seja, um princípio
abre espaço para o outro.
8. Nunca, nos Estados de Direito, invocou-se tanto os princípios. Estamos, sem sombra de
dúvida, vivendo a era principiológica do Direito. Por isso mesmo, na atualidade, é bastante fácil
encontrar decisões judiciais, do próprio STF, unicamente fundamentada em princípios. Violar
um princípio é muito mais grave que transgredir uma regra.
Art. 60 (...)
Parágrafo Único - É nulo e de nenhum efeito contrato verbal com a Administração.
10. Pela leitura do dispositivo acima, verifica-se que não é possível contrato verbal com a
Administração Pública. Contrato verbal é nulo e não produz efeitos. Que efeitos? Um dos
efeitos é exatamente o pagamento. Então o particular bate na porta do Poder Público e diz:
“Eu sou o particular e agora eu quero receber a minha remuneração”. Em réplica, o Estado vira
para o particular e diz: “Você sabe ler? ”. Leia, agora, o art. 60, parágrafo único, da Lei de
Licitação, que diz que o contrato verbal é nulo e não produz efeito. E a Administração finaliza:
“Então, eu não tenho como te pagar”. Como fica essa situação? A doutrina e o STJ entendem
que a Administração tem que pagar para o particular. Nesse caso prático, ocorre a colisão
entre o Princípio da Legalidade e o da Moralidade (metáfora da balança). Pergunta-se: “É justo
o Estado se beneficiar à custa do particular? ” Claro que não! Seria enriquecimento ilícito do
Estado. O Estado tem que prezar pela moralidade, tem que ser o exemplo, o modelar, o
protótipo. Portanto, havendo colisões entre princípios numa situação concreta, significa que um
deles deverá ceder espaço ao outro, mas sem invalidá-lo.
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11. Princípio é a base, é o alicerce, é o que sustenta todo o edifício jurídico. Princípios são
diretrizes e vetores a serem seguidos. Princípio é uma autêntica bússola. Princípio serve como
método interpretativo, é um caminho a ser seguido. Então, pelo exemplo dado, verifica-se que
o princípio define a lógica, a racionalidade. Os princípios se diferenciam das meras regras por
serem mais abrangentes. Princípios traduzem valores a serem seguidos. Nos princípios, há
alto nível de abstração; nas regras, baixo nível de abstração.
12. Houve época em que o direito ignorava os princípios. Só valia o que estava legislado.
Estávamos condenados a viver em uma sociedade fechada.
13. Vejamos outro exemplo: recente manchete de jornais: “STJ quebra o sigilo bancário do
Governador José Arruda”. Tal foi possível em vista de indícios, de provas inquestionáveis,
insofismáveis e esmagadoras de ocorrências de diversos ilícitos penais e administrativos.
Pergunta-se: o direito à intimidade pode proteger a prática de atividades ilícitas?
14. O que está acontecendo, nesse caso específico do Gov. Arruda é uma colisão entre
princípios: de um lado tem-se o direito fundamental que é protegido pelo “Princípio da
Inviolabilidade da Vida Privada”. Do outro, o “Princípio da Supremacia do Interesse Público
sobre o Interesse Particular”. Ambos são princípios constitucionais.
16. Muito bem! Quem sabe princípios sabe tudo acerca do Direito Administrativo. Violar um
princípio é muito mais grave de que se violar um artigo de determinada lei, tanto que a Lei de
Improbidade Administrativa diz que ao se violar um princípio se estará praticando crime de
Improbidade Administrativa. Improbidade, portanto, não é só desvio de verba, corrupção,
favorecimento.
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19. A maior parte dos princípios do Direito Administrativo encontra-se positivado, implícita
ou explicitamente (expressos), na Constituição Federal. Possuem eficácia jurídica direta e
imediata e exercem a função de diretrizes superiores do sistema, vinculando a atuação dos
operadores jurídicos na aplicação das normas que dizem respeito aos mesmos. Funcionam
como diretrizes superiores do sistema, objetivando a correção das graves distorções que
ocorrem no âmbito da Administração Pública e que impedem o efetivo exercício da cidadania.
5 Mazza, Alexandre. Manual de Direito Administrativo. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 37.
6 Racionalmente necessário, de maneira coercitiva, para o intelecto. Que constrange.
7 Relativo a modo ou modalidade.
8 Aquilo que é obrigatório. Adjetivo: deontológico.
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cânones (regra geral de onde se inferem regras especiais; padrão, modelo, norma, regra) pré-
normativos, norteando a conduta do Estado quando no exercício de atividades normativas.
FUNÇÕES
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NOÇÕES CENTRAIS
(Supraprincípios)
28. É por essa razão que a Administração, como defensora dos interesses públicos, recebe
da lei PODERES ESPECIAIS não extensivos aos particulares. São, esses poderes especiais,
as PRERROGATIVAS conferidas à Administração Pública e seus agentes, como decorrentes
do Princípio da Supremacia do Interesse Público.
9Esses supraprincípios são PRINCÍPIOS RELATIVOS, e não absolutos. Assim, não existe supremacia absoluta
do interesse público sobre o privado, nem indisponibilidade absoluta dos interesses públicos.
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PRERROGATIVAS ESPECIAIS
PRERROGATIVA SIGNIFICADO
Desapropriação Poder de transformar compulsoriamente a propriedade privada
em pública
Requisição de Bens É a autorização para usar a propriedade privada em situações
de iminente perigo público (Ex.: requisição de veículo
particular para fins de socorro às vítimas de acidente; para fins
de perseguição policial, etc.)
Requisição de Serviço É o poder de convocar particulares para a execução
compulsória de atividades públicas (Ex.: convocação de
mesários para as eleições)
Prazos Processuais Possui prazos processuais em dobro para recorrer e em
quádruplo para contestar
Rescisão de Contratos É a possibilidade de rescindir unilateralmente os contratos
administrativos
Passagem privilegiada no É o poder de ter passagem livre no trânsito para viaturas
trânsito devidamente sinalizadas (situações de emergência)
Presunção de Legitimidade Os atos administrativos gozam de presunção de legitimidade,
cabendo ao administrado a prova em contrário. Assim, até que
seja feita essa prova, os atos permanecerão validos e surtindo
os seus efeitos
Impenhorabilidade Os bens públicos são impenhoráveis
Imprescritibilidade Os bens públicos são imprescritíveis (não sofrem os efeitos do
usucapião)
Cláusulas Exorbitantes Os contratos administrativos possuem cláusulas exorbitantes
(vão além daquilo que é permitido nos contratos privados)
Poder de Polícia É a possibilidade do exercício, pelo Estado, do poder de
Polícia Administrativa
Imperatividade 10 É o poder de criar unilateralmente obrigações aos particulares
Autotutela É a possibilidade de a Administração Pública revogar e/ou
anular os seus próprios atos, sem a necessidade de
autorização judicial
Executoriedade 11 É o poder de praticar os atos administrativos sem a
necessidade de prévia autorização judicial (Ex.: interdição de
estabelecimento)
Exigibilidade 12
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31. A ANULAÇÃO está relacionada com a legalidade. Assim, somente é anulado aquilo que
é ilegal. E quem pode anular? Tanto a Administração Pública (exercício da autotutela) quando
o Poder judiciário (controle de legalidade dos atos administrativos). Os efeitos da ANULAÇÃO
são sempre ex tunc (retroagem), pois o que é ilegal já nasce assim.
32. A REVOGAÇÃO, por sua vez, está relacionada com o MÉRITO ADMINISTRATIVO
(conveniência e oportunidade). Significa dizer que a Administração pode revogar os seus atos
INCONVENIENTES e INOPORTUNOS a qualquer momento. E quem pode revogar? Somente
a Administração Pública pode revogar os seus atos administrativos, pois estão vinculados ao
mérito administrativo. O Poder Judiciário, por não poder se intrometer no mérito administrativo,
NÃO REVOGA os atos administrativos da ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. Pode, sim, revogar os
SEUS PRÓPRIOS ATOS (cuidado! Pegadinha!). Os efeitos da REVOGAÇÃO, por sua vez, são
ex nunc, ou seja, não retroagem, pois aquilo que é inconveniente ou inoportuno não nasceu
assim: tornou-se!
ANULAÇÃO X REVOGAÇÃO
ELEMENTOS ANULAÇÃO REVOGAÇÃO
Competência Administração Pública e Poder Administração Pública
Judiciário
Núcleo essencial Ilegalidade Mérito (conveniência e oportunidade)
Efeitos Ex Tunc Ex Nunc
35. Significa dizer que no exercício da função administrativa os agentes públicos estão
obrigados a atuar NÃO SEGUNDO A SUA VONTADE, mas da maneira DETERMINADA PELA
LEGISLAÇÃO.
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1.5.2 Em relação à Menção Expressa ou Implícita dos Princípios nos Textos Normativos
39. Esses princípios são divididos em:
a) Expressos ou explícitos: correspondem àqueles previstos no art. 37, caput, CRFB,
aplicáveis aos três Poderes e à Administração Pública Direta e Indireta. São eles:
1. Princípio da legalidade;
2. Princípio da Impessoalidade;
3. Princípio da Moralidade;
4. Princípio da Publicidade;
5. Princípio da Eficiência.
L = LEGALIDADE
I = IMPESSOALIDADE
M = MORALIDADE
P = PUBLICIDADE
E = EFICIÊNCIA
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b) Implícitos ou inespecíficos: são aqueles que não constam no art. 37, caput, CRFB,
mas em alguns artigos isolados e em leis esparsas. São reconhecidos pela doutrina e pela
jurisprudência a partir da interpretação sistemática do ordenamento jurídico, a exemplo dos
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, da segurança jurídica, etc.).
41. Mas, atenção: existem outros princípios administrativos expressos na CRFB que não
estão no art. 37, caput. São eles:
13 Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte:
(...)
§ 3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na administração pública direta e indireta, regulando
especialmente:
I - as reclamações relativas à prestação dos serviços públicos em geral, asseguradas a manutenção de serviços
de atendimento ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da qualidade dos serviços;
II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a informações sobre atos de governo, observado o
disposto no art. 5º, X e XXXIII;
III - a disciplina da representação contra o exercício negligente ou abusivo de cargo, emprego ou função na
administração pública.
14LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os
meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
15 LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
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II - DESENVOLVIMENTO
2.1 PRINCÍPIO EXPLÍCITO DA LEGALIDADE18 (JURIDICIDADE)
2.1.1 Histórico
42. O princípio da legalidade é fruto da separação clássica dos Poderes do Estado,
elaborada por Montesquieu. Essa divisão institui três poderes distintos, cabendo a cada um
deles uma das funções do Estado. Assim, temos que a administração fica a cargo do Poder
Executivo, poder incumbido de executar as leis; a legislação é atribuição do Poder Legislativo,
que deve elaborar as normas; e por fim cabe ao Poder Judiciário, que deve zelar para o
cumprimento da ordem jurídica, a jurisdição.
43. A origem do princípio remonta à Magna Carta de 1215, documento imposto pelos
barões ingleses ao rei João Sem Terra, com a finalidade de limitar o poder do monarca. O seu
sentido histórico decorreu da necessidade de se subordinar o governante, absolutista, ao
ordenamento jurídico, eliminando-se favoritismos e desejos pessoais. Substituiu-se a vontade
individual do monarca pela vontade geral, materializada na lei elaborada pelos representantes
do povo, na condução dos negócios públicos.
16LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes
17Nos processos perante o tribunal de contas da união asseguram-se o contraditório e a ampla defesa quando da
decisão puder resultar anulação ou revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a
apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão.
18 “Legalidade (lat. Medieval legalitas) 1. Característica daquilo que está de acordo com a lei, ou que é regido por
leis. 2. Observância exterior às leis, sem que isso corresponda a uma convicção ou a um respeito interno às
mesmas. “ Se a vontade se determina conforme a lei moral, mas não por respeito à lei, o ato terá legalidade, mas
não moralidade. ” (Kant)
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48. O princípio, nas palavras de Celso Antonio Bandeira de Melo, “implica subordinação
completa do administrador à lei. Todos os agentes públicos, desde o que lhe ocupe o cúspide
(extremidade aguda; ponta, vértice) até o mais modesto deles, devem ser instrumentos de fiel
e dócil realização das finalidades normativas”.
19 “A ordem da reta razão. Todo dever concreto, isto é, que concerne a um caso particular, é um juízo prático
moral, formulado como conclusão de um raciocínio baseado num princípio geral da lei natural ou positiva, e que
impõe uma obrigação. Este raciocínio pode ser simplesmente implícito, e ele o é, normalmente, nos casos em que
a aplicação da lei moral ao caso concreto se faz sem dificuldade. Pode-se, por conseguinte, definir o dever como
a obrigação moral de fazer ou não fazer alguma coisa”.
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51. O Estado, hoje, só pode agir quando autorizado por Lei. Logo, a Administração não
pode, por simples ato administrativo, impor obrigações a terceiros, extinguir ou criar direitos. A
grande virtude do Estado Democrático de Direito é que ninguém está acima da lei.
52. Vejam este exemplo: manchete de jornais: “Casas invadidas pelas enchentes tiveram
isenção do IPTU por decreto”. Ora, o Chefe do Executivo não poderia ter dado essa isenção
por decreto, mas sim – e somente – via Lei! Poderá, portanto, qualquer cidadão, postular uma
ação popular em nome da moralidade pública.
54. E quando há omissão? Ora, na omissão da Lei o Administrador não pode praticar o ato.
Vejam, por exemplo, esse julgado recente do STJ acerca do Poder de Polícia de
trânsito. A situação é a seguinte: (veículos multados por avanço de sinal quando o motorista já
adentrou na extensão da faixa de ultrapassagem e o sinal ficou amarelo). O STJ tem inúmeros
entendimentos no sentido de que quando o veículo está passando no cruzamento e o sinal
ficou, repentinamente, amarelo, a ultrapassagem do veículo não irá incidir em multa de
trânsito, sob o fundamento do Princípio da Legalidade Administrativa, pois não há no Código
de Trânsito nenhum dispositivo nesse sentido.
55. No direito privado, tudo aquilo que não está proibido o cidadão pode fazer. Se a lei não
proibiu o cidadão comum de praticar aquele ato, ele pode praticar. É a legalidade genérica. No
caso de atos omissivos previstos na lei, no direito privado prevalece a autonomia da vontade
(poder fazer ou não fazer), diferentemente do Direito Administrativo, onde não há espaço para
o princípio da autonomia da vontade. Em decorrência disso, a Administração não pode por
simples ato administrativo conceder direitos de qualquer espécie, criar obrigações ou impor
vedações. Para tanto, ela depende de lei. A Administração, em submissão ao princípio da
legalidade, só pode fazer o que a Lei determina. A vontade da Administração é a vontade da
lei.
56. Vejamos outro exemplo: dois particulares pretendem celebrar um contrato. O primeiro
obriga-se perante o segundo a pintar seu imóvel, e este em contrapartida obriga-se a transferir
seu computador. No direito privado, é possível a celebração dessa espécie de contrato entre
particulares, porque no Código Civil não há restrição nesse sentido. Já no direito administrativo
teria que haver licitação para pintar o prédio público. O administrador, por não ser o dono da
coisa pública, jamais poderia dispor de tal bem (computador), sob pena de o administrador ser
responsabilizado administrativamente e civilmente.
57. Importante sempre repetir que no direito Administrativo, no silêncio da lei, deduz-se que
não se pode praticar o ato. Para particulares, a regra é a da autonomia de vontade e, não
existindo previsão legal, não há possibilidade de atuação.
58. Vejamos um caso concreto extraído de uma prova do MP/RJ - 2006: Determinada
Secretaria de Estado necessita de renovar sua frota de veículos. Como já possui veículos
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usados, pretende dá-los como parte do pagamento dos automóveis zero quilômetro. Pergunta-
se: é possível proceder à licitação com tal finalidade e na forma pretendida pela Administração
Pública diante da legislação vigente? Resposta fundamentada (prova para o MP do rio de
Janeiro 2006).
59. Resposta sugerida pela banca: O administrador público tinha uma frota e “agiu como se
fosse empresário”, que pode fazer tudo que não esteja proibido em lei. Em vez de realizar uma
licitação para vender os carros velhos e outra para comprar os carros novos, ele juntou as
duas (compra e venda). Em síntese, iria ganhar a licitação quem comprasse os carros velhos e
desse um preço menor para adquirir os carros novos. Isso fere o princípio da legalidade. Na lei
da licitação não há artigo que autorize isso. O administrador só pode fazer o que estiver em lei.
O princípio da legalidade não permite esse tipo de trato. Já para os particulares, esses são
livres para agir, salvo expressa vedação da lei.
61. Vejamos um exemplo: o Alvará de licença para construir. Diz a lei: “terá direito a
construir o portador-proprietário que cumprir os seguintes requisitos (a lei elenca uma gama de
requisitos). Uma vez preenchido todos os requisitos, o administrador terá que conceder a
licença.
62. Já no ato discricionário, a lei concede um juízo de valor para o administrador. A título de
ilustração citamos o decreto expropriatório. Esse decreto é discricionário porque a lei deixa
para o administrador decidir quando é que vai desapropriar, onde desapropriar, e o que vai
desapropriar (a nossa opinião pouco importa).
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como também o prefeito poderá passar o mandato inteiro sem fazer uma desapropriação
sequer, pois não está obrigado a desapropriar. Há uma ressalva, contudo. No âmbito federal
há uma desapropriação obrigatória, que é a do art. 243 da CRFB21.
64. Ora, o art. 243 CF diz “imediatamente”, o que afasta de pronto a discricionariedade. A
Administração tem que desapropriar sem indenizar, por isso mesmo que ela é denominada de
confisco22.
65. O grande desdobramento do princípio da legalidade está contido no artigo 5º, inciso
XXXV da CRFB23 (controle jurisdicional dos atos administrativos).
“A administração
Art. 37, caput, CRFB púbica (...)”: significa a
atividade administrativa.
Trata-se da denominada
PRINCÍPIO DA legalidade geral, que
Art. 5º, II, CRFB
LEGALIDADE ultrapassa os limites do
Direito Administrativo.
21Art. 243. As glebas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas
serão imediatamente expropriadas e especificamente destinadas ao assentamento de colonos, para o cultivo de
produtos alimentícios e medicamentosos, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras
sanções previstas em lei.
22O STF tem se posicionado no sentido de que não se desapropria toda a fazenda, mas somente aquela área
onde há o cultivo da maconha.
23 XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.
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67. Assim, importante se faz tecer algumas considerações sobre essa tríplice
fundamentação. Vejamos cada uma delas:
24O Parlamento, dentro da organização estatal, representa diretamente o povo, sendo as leis a expressão maior
da vontade popular.
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70. A Lei Federal nº. 9784/99 (Lei do Processo Administrativo Federal) define, no seu art. 2º,
parágrafo único, I, que:
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73. É importante frisar que o Estado Democrático de Direito está ligado à legalidade, e o
Estado democrático, à legitimidade, ou seja, deve-se respeitar o limite do razoável.
Hipoteticamente, imaginemos que determinado prefeito resolva promover uma desapropriação
visando a construção de aeroporto para discos voadores a fim de incentivar o turismo. A Lei
Geral da Desapropriação26 prevê a desapropriação para construção de pista de pouso. Mas,
no caso hipotético, o ato é legal, mas não é legítimo, por ter ferido a razoabilidade.
25A Lei Federal nº. 9.784/99 – Lei do Processo Administrativo no âmbito da Administração Pública Federal define,
no seu art. 2º, parágrafo único, a legalidade como sendo o DEVER DE ATUAÇÃO CONFORME A LEI E O
DIREITO.
26 Art. 5º, “n”, Decreto-Lei nº. 3.365, de 21 de junho de 1941 – Desapropriações por utilidade pública.
27 Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com
força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. (...)
28Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional,
decretar estado de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a
ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por
calamidades de grandes proporções na natureza. (...)
29Art. 137. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional,
solicitar ao Congresso Nacional autorização para decretar o estado de sítio nos casos de: (...) Art. 138. O decreto
do estado de sítio indicará sua duração, as normas necessárias à sua execução e as garantias constitucionais
que ficarão suspensas, e, depois de publicado, o Presidente da República designará o executor das medidas
específicas e as áreas abrangidas. (...) Art. 139. Na vigência do estado de sítio decretado com fundamento no art.
137, I, só poderão ser tomadas contra as pessoas as seguintes medidas: (...)
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75. Obs.: Cabe ainda acentuar que este princípio não se coaduna com a edição de
medidas provisórias com inobservância dos pressupostos constitucionais (relevância e
urgência – art. 62 da CF). Há, por parte do governo, uma abusividade em relação à edição
dessas medidas, o que gera uma hiperinflação normativa, e viola o próprio princípio da
legalidade.
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carreados aos autos dão conta da autuação do recorrente, tendo em vista infração de trânsito
ocorrida em razão da presunção de dirigir sob a influência de álcool. II - No tocante à
instauração do processo de suspensão do direito de dirigir por infração, necessário observar a
vinculação do ato administrativo à Lei - Princípio da legalidade. Caracterizada a subsunção do
fato à norma, é dever do agente público atender ao comando legal, com a aplicação de todos os
efeitos daí decorrentes. III - No caso, o art. 165, do CTB, uma vez incidente, impõe ao órgão de
fiscalização a instauração de processo de suspensão do direito de dirigir por infração - Psddi -,
para fins de aplicação da penalidade, depois de esgotados todos os meios de defesa no âmbito
administrativo. IV - Nesta sede precária, antes do estabelecimento do contraditório, ausente
prova inequívoca a conferir verossimilhança às alegações do agravante, tampouco fundado
receio de dano irreparável ou de difícil reparação. Ademais, ausente o próprio auto de infração
de trânsito nº 505294, com a descrição dos sinais de alteração da capacidade psicomotora do
recorrente, ou, ainda, o termo de constatação de embriaguez. Agravo de instrumento
desprovido. (TJRS - AI: 5161608220138217000, Relator: EDUARDO DELGADO, TERCEIRA
CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 20/05/2014)
PRINCÍPIO
DA
LEGALIDADE
ATO ATO
DISCRICIONÁ- VINCULADO
RIO
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81. Assim:
ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA
IMPESSOALI- OBJETIVIDADE
DADE
Preferências Sentimento de
pessoais perseguição
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85. Significa dizer que as realizações não devem ser atribuídas à pessoa física do agente
público, mas sim à pessoa jurídica estatal a que estiver ligado. E isso tem uma consequência
que está ligada à responsabilidade civil do Estado:
87. A Administração Pública deve atuar no sentido de dar um tratamento igualitário a todas
as pessoas. Não é possível que a Administração atue visando proteger alguém. Tem que atuar
sem olhar para o rosto de alguém em particular. Os atos da Administração Pública têm que ser
praticados com impessoalidade, imparcialidade. Ela não pode atuar com vistas a prejudicar ou
beneficiar pessoas determinadas, uma vez que é sempre o interesse público que tem que
nortear o seu comportamento.
31Art. 37, II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de
provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma
prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e
exoneração;
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91. Há que se mencionar o controle dos nossos Tribunais no tocante à reprovação dos
candidatos em concursos públicos por ocasião do caráter sigiloso dos exames psicotécnicos,
entrevistas, e provas orais, o que viola o princípio da impessoalidade e da moralidade.
94. O exame psicotécnico não se confunde com inteligência, bastando lembrar que os
anais da criminologia registram numerosos casos de delinquentes de altíssima inteligência,
mas infelizmente direcionada para condutas antissociais.
95. O exame psicotécnico constitui uma fase do concurso seletivo. Apesar de aprovado em
todas as outras fases do concurso, o candidato pode ser reprovado e, consequentemente,
excluído do certame. Ocorre que a simples menção de “apto ou inapto” é arbitrária. Não se
admite, em hipótese alguma, reprovar candidatos em entrevistas realizadas em salas
fechadas, sem fundamentação de rigor científico, dotada de mero subjetivismo.
97. O Supremo Tribunal Federal tem decidido, por reiteradas vezes, que são três os
requisitos indispensáveis para que o exame psicotécnico seja exigido em concursos públicos:
a) “somente por lei, ato normativo primário, pode estabelecer requisitos para o ingresso
no serviço público – CF, art. 37, I. Se o exame psicotécnico estiver previsto em ato
administrativo apenas, ocorre ilegalidade” (RE nº 232.571-7-RS, 2ª Turma, Rel. Ministro
CARLOS VELLOSO).
b) ”..., e que tenha por base critérios objetivos de reconhecido caráter científico – (RE nº
188.234. DF, Rel. Ministro Néri da Silveira). Logo, métodos cientificamente reconhecidos.
c) Possibilidade de recursos administrativos ou do Judiciário. Logo, os candidatos
podem, conhecendo os motivos de sua contraindicação, submetê-los à tutela
jurisdicional.
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101. Outra regra que efetiva a impessoalidade está contida no art.37, XXI32, CRFB. No
processo licitatório, aquele que apresentar a melhor proposta para o poder público assinará o
futuro contrato. Há, contudo, exceções que têm que ser tratadas com muito cuidado: o
afastamento da licitação com previsão nos artigos 2433 e 2534 da lei 8.666/93.
32 Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte:
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão
contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os
concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da
proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica
indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.
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VIII - para a aquisição, por pessoa jurídica de direito público interno, de bens produzidos ou serviços prestados
por órgão ou entidade que integre a Administração Pública e que tenha sido criado para esse fim específico em
data anterior à vigência desta Lei, desde que o preço contratado seja compatível com o praticado no
mercado;
IX - quando houver possibilidade de comprometimento da segurança nacional, nos casos estabelecidos em
decreto do Presidente da República, ouvido o Conselho de Defesa Nacional;
X - para a compra ou locação de imóvel destinado ao atendimento das finalidades precípuas da administração,
cujas necessidades de instalação e localização condicionem a sua escolha, desde que o preço seja compatível
com o valor de mercado, segundo avaliação prévia;
XI - na contratação de remanescente de obra, serviço ou fornecimento, em consequência de rescisão contratual,
desde que atendida a ordem de classificação da licitação anterior e aceitas as mesmas condições oferecidas pelo
licitante vencedor, inclusive quanto ao preço, devidamente corrigido;
XII - nas compras de hortifrutigranjeiros, pão e outros gêneros perecíveis, no tempo necessário para a realização
dos processos licitatórios correspondentes, realizadas diretamente com base no preço do dia;
XIII - na contratação de instituição brasileira incumbida regimental ou estatutariamente da pesquisa, do ensino ou
do desenvolvimento institucional, ou de instituição dedicada à recuperação social do preso, desde que a
contratada detenha inquestionável reputação ético-profissional e não tenha fins lucrativos;
XIV - para a aquisição de bens ou serviços nos termos de acordo internacional específico aprovado pelo
Congresso Nacional, quando as condições ofertadas forem manifestamente vantajosas para o Poder
Público;
XV - para a aquisição ou restauração de obras de arte e objetos históricos, de autenticidade certificada, desde que
compatíveis ou inerentes às finalidades do órgão ou entidade.
XVI - para a impressão dos diários oficiais, de formulários padronizados de uso da administração, e de edições
técnicas oficiais, bem como para prestação de serviços de informática a pessoa jurídica de direito público interno,
por órgãos ou entidades que integrem a Administração Pública, criados para esse fim específico;
XVII - para a aquisição de componentes ou peças de origem nacional ou estrangeira, necessários à manutenção
de equipamentos durante o período de garantia técnica, junto ao fornecedor original desses equipamentos,
quando tal condição de exclusividade for indispensável para a vigência da garantia;
XVIII - nas compras ou contratações de serviços para o abastecimento de navios, embarcações, unidades aéreas
ou tropas e seus meios de deslocamento quando em estada eventual de curta duração em portos, aeroportos ou
localidades diferentes de suas sedes, por motivo de movimentação operacional ou de adestramento, quando a
exiguidade dos prazos legais puder comprometer a normalidade e os propósitos das operações e desde que seu
valor não exceda ao limite previsto na alínea "a" do inciso II do art. 23 desta Lei:
XIX - para as compras de material de uso pelas Forças Armadas, com exceção de materiais de uso pessoal e
administrativo, quando houver necessidade de manter a padronização requerida pela estrutura de apoio logístico
dos meios navais, aéreos e terrestres, mediante parecer de comissão instituída por decreto;
XX - na contratação de associação de portadores de deficiência física, sem fins lucrativos e de comprovada
idoneidade, por órgãos ou entidades da Administração Pública, para a prestação de serviços ou fornecimento de
mão-de-obra, desde que o preço contratado seja compatível com o praticado no mercado.
XXI - para a aquisição ou contratação de produto para pesquisa e desenvolvimento, limitada, no caso de obras e
serviços de engenharia, a 20% (vinte por cento) do valor de que trata a alínea “b” do inciso I do caput do art.
23;
XXII - na contratação de fornecimento ou suprimento de energia elétrica e gás natural com concessionário,
permissionário ou autorizado, segundo as normas da legislação específica;
XXIII - na contratação realizada por empresa pública ou sociedade de economia mista com suas subsidiárias e
controladas, para a aquisição ou alienação de bens, prestação ou obtenção de serviços, desde que o preço
contratado seja compatível com o praticado no mercado.
XXIV - para a celebração de contratos de prestação de serviços com as organizações sociais, qualificadas no
âmbito das respectivas esferas de governo, para atividades contempladas no contrato de gestão.
XXV - na contratação realizada por Instituição Científica e Tecnológica - ICT ou por agência de fomento para a
transferência de tecnologia e para o licenciamento de direito de uso ou de exploração de criação protegida.
XXVI – na celebração de contrato de programa com ente da Federação ou com entidade de sua administração
indireta, para a prestação de serviços públicos de forma associada nos termos do autorizado em contrato de
consórcio público ou em convênio de cooperação.
XXVII - na contratação da coleta, processamento e comercialização de resíduos sólidos urbanos recicláveis ou
reutilizáveis, em áreas com sistema de coleta seletiva de lixo, efetuados por associações ou cooperativas
formadas exclusivamente por pessoas físicas de baixa renda reconhecidas pelo poder público como catadores de
materiais recicláveis, com o uso de equipamentos compatíveis com as normas técnicas, ambientais e de saúde
pública.
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XXVIII – para o fornecimento de bens e serviços, produzidos ou prestados no País, que envolvam,
cumulativamente, alta complexidade tecnológica e defesa nacional, mediante parecer de comissão especialmente
designada pela autoridade máxima do órgão.
XXIX – na aquisição de bens e contratação de serviços para atender aos contingentes militares das Forças
Singulares brasileiras empregadas em operações de paz no exterior, necessariamente justificadas quanto ao
preço e à escolha do fornecedor ou executante e ratificadas pelo Comandante da Força.
XXX - na contratação de instituição ou organização, pública ou privada, com ou sem fins lucrativos, para a
prestação de serviços de assistência técnica e extensão rural no âmbito do Programa Nacional de Assistência
Técnica e Extensão Rural na Agricultura Familiar e na Reforma Agrária, instituído por lei federal.
XXXI - nas contratações visando ao cumprimento do disposto nos arts. 3º, 4º, 5º e 20 da Lei no 10.973, de 2 de
dezembro de 2004, observados os princípios gerais de contratação dela constantes.
XXXII - na contratação em que houver transferência de tecnologia de produtos estratégicos para o Sistema Único
de Saúde - SUS, no âmbito da Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, conforme elencados em ato da direção
nacional do SUS, inclusive por ocasião da aquisição destes produtos durante as etapas de absorção tecnológica.
XXXIII - na contratação de entidades privadas sem fins lucrativos, para a implementação de cisternas ou outras
tecnologias sociais de acesso à água para consumo humano e produção de alimentos, para beneficiar as famílias
rurais de baixa renda atingidas pela seca ou falta regular de água.
XXXIV - para a aquisição por pessoa jurídica de direito público interno de insumos estratégicos para a saúde
produzidos ou distribuídos por fundação que, regimental ou estatutariamente, tenha por finalidade apoiar órgão da
administração pública direta, sua autarquia ou fundação em projetos de ensino, pesquisa, extensão,
desenvolvimento institucional, científico e tecnológico e estímulo à inovação, inclusive na gestão administrativa e
financeira necessária à execução desses projetos, ou em parcerias que envolvam transferência de tecnologia de
produtos estratégicos para o Sistema Único de Saúde – SUS, nos termos do inciso XXXII deste artigo, e que
tenha sido criada para esse fim específico em data anterior à vigência desta Lei, desde que o preço contratado
seja compatível com o praticado no mercado.
§ 1o Os percentuais referidos nos incisos I e II do caput deste artigo serão 20% (vinte por cento) para compras,
obras e serviços contratados por consórcios públicos, sociedade de economia mista, empresa pública e por
autarquia ou fundação qualificadas, na forma da lei, como Agências Executivas.
§ 2o O limite temporal de criação do órgão ou entidade que integre a administração pública estabelecido no inciso
VIII do caput deste artigo não se aplica aos órgãos ou entidades que produzem produtos estratégicos para o SUS,
no âmbito da Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, conforme elencados em ato da direção nacional do SUS.
§ 3o A hipótese de dispensa prevista no inciso XXI do caput, quando aplicada a obras e serviços de engenharia,
seguirá procedimentos especiais instituídos em regulamentação específica.
§ 4o Não se aplica a vedação prevista no inciso I do caput do art. 9o à hipótese prevista no inciso XXI do caput.
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cidadão com certa idade participar de um concurso público, visando ingresso na polícia.
Impossível! Como poderia subir morro, com arma na mão, na captura de bandidos, se possui
idade avançada?
105. No próprio Código Civil, o legislador fez a caridade de exemplificar os bens de uso
comum do povo. Não há como identificar quem vai à rua, já que pode ser qualquer um da
coletividade.
106. Vejamos o exemplo das ruas particulares. Queremos entrar nua rua e então aparece
alguém perguntando: “Para onde o Senhor vai?” Ora, a rua é logradouro público, portanto não
precisamos dar satisfação a ninguém. Toda rua é pública! A expressão “rua particular” é uma
palavra inexistente. Isso é um absurdo! Fere o princípio da impessoalidade. Se alguém disser:
“o prefeito é quem mandou fechar a rua!”. Significa que houve aprovação, via lei (adiantamos
que a lei, nesse caso, é inconstitucional). Perguntamos: Como é que se pode lançar mão de
uma rua, mesmo sem saída, e dar para meia dúzia de moradores? Fere o princípio da
Impessoalidade. Trata-se de uma agressão ao direito de ir e vir. A rua não é do morador!
Agora, diferentemente ocorre com as vias internas que estão dentro do condomínio. Via interna
não é mais logradouro público. Aí, tudo bem. Do portão para lá podemos ser barrados para fins
de identificação e autorização para entrar.
107. Outra situação: estamos na orla e encontramos uma placa com letras garrafais
avisando que...
108. Trata-se de uma situação estarrecedora. As praias são bem de uso comum do povo.
Não existe praia particular! O que existe são propriedades particulares que vão dar na praia.
Evidentemente, que eu não posso invadir a propriedade particular para chegar à praia! Eu não
posso cruzar uma propriedade particular para chegar à praia. Posso, a título de ilustração,
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ancorar minha canoa um pouco distante da praia, e ir nadando entre as pedras até chegar à
praia e então tomar banho junto com os milionários! Praia particular é algo inexistente, pois
fere o princípio da impessoalidade.
110. Mais um exemplo: no jornal (classificados) nos deparamos com o seguinte anúncio:
“Vende-se Ilhas Oceânicas! ” Qual a natureza jurídica das ilhas? É bem de uso comum do
povo. Assim, não podemos ser proprietários de uma ilha.
111. Analisemos o art. 2036, CRFB, especificamente seu inciso IV, que trata das ilhas.
Nesse caso, o que pode ocorrer é o direito de uso à União, a que se chama foro anual,
acrescido do IPTU para a prefeitura local. O que pode ser vendido são os bens edificados na
ilha. Aí, tudo bem. Há, contudo, uma forma de se tornar, por via oblíqua, pseudo-proprietário
de uma ilha oceânica: transformá-la em área de preservação ambiental.
37Art. 37, § 1º - A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter
caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens
que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.
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Silva...” não se pode fazer isso porque a obra não é dele, mas do Estado, da coletividade. Ele não
atua em nome próprio, pois é um representante do Estado (encarnação do Estado). Está, portanto,
proibido de vincular a atuação ao seu nome.38
113. Atenção! O princípio consagrado no art. 37, § 1º, CRFB é o da IMPESSOALIDADE. Não
tem nenhuma relação com o da PUBLICIDADE.
114. Por fim, vale frisar que o nosso ordenamento jurídico veda ao Estado e aos Municípios
atribuir nome de pessoa viva a avenida, praça, rua, logradouro, ponte, reservatório de água,
viaduto, praça de esporte, biblioteca, hospital, maternidade, edifício público, auditórios, cidades
e salas de aula. O Tribunal que julgou o pedido o considerou improcedente, por reputá-lo
incompatível com o princípio da impessoalidade.
115. O Pleno do STF, neste voto relatado pelo Min. Eros Grau, homenageia o princípio da
impessoalidade, fazendo valer a norma inserta no art. 37, §1°, CF/88.
116. Em seu voto, o Min. Eros Grau fez referência à Lei 6.454/77 a seguir parcialmente
reproduzida:
"Art. 1°. É proibido, em todo o território nacional, atribuir nome de pessoa viva a bem
público, de qualquer natureza, pertencente à União ou às pessoas jurídicas da
Administração indireta.
Art. 2°. E igualmente vedada a inscrição dos nomes de autoridades ou administradores
em placas indicadores de obras ou em veículo de propriedade ou a serviço da
Administração Pública direta ou indireta.
Art. 3°. As proibições constantes desta Lei são aplicáveis às entidades que, a qualquer
título, recebam subvenção ou auxílio dos cofres públicos federais".
38 1. O caput e o parágrafo 1º do artigo 37 da Constituição Federal impedem que haja qualquer tipo de
identificação entre a publicidade e os titulares dos cargos alcançando os partidos políticos a que pertençam. O
rigor do dispositivo constitucional que assegura o princípio da impessoalidade vincula a publicidade ao caráter
educativo, informativo ou de orientação social é incompatível com a menção de nomes, símbolos ou imagens, aí
incluídos slogans, que caracterizem promoção pessoal ou de servidores públicos. A possibilidade de vinculação
do conteúdo da divulgação com o partido político a que pertença o titular do cargo público mancha o princípio da
impessoalidade e desnatura o caráter educativo, informativo ou de orientação que constam do comando posto
pelo constituinte dos oitenta. 2. Recurso extraordinário desprovido.
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118. Nesse julgamento, portanto, o STF entendeu que a inclusão de slogan de partido
político na publicidade dos atos governamentais também ofende o art. 37, § 1º, CRFB.
120. Já houve caso de reprovação (justa) porque a candidata possuía no seu pescoço o
membro do amante tatuado (concurso para o judiciário), o que é diferente de, por exemplo, um
”golfinho” tatuado na lateral do corpo logo acima do biquíni, ou, ainda como exemplo, a
tatuagem de expressões como “Só Jesus salva”; “Carpe Diem”; etc...
121. Recentemente, por maioria, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) julgou
inconstitucional a proibição de tatuagens a candidatos a cargo público estabelecida em leis e
editais de concurso público. Foi dado provimento ao Recurso Extraordinário (RE) 898450 39,
com repercussão geral reconhecida, em que um candidato a soldado da Polícia Militar de
São Paulo foi eliminado por ter tatuagem na perna. “Editais de concurso público não podem
estabelecer restrição a pessoas com tatuagem, salvo situações excepcionais, em razão de
conteúdo que viole valores constitucionais”, foi a tese de repercussão geral fixada.
122. O relator do RE, ministro Luiz Fux, observou que a criação de barreiras arbitrárias para
impedir o acesso de candidatos a cargos públicos fere os princípios constitucionais da
isonomia e da razoabilidade. Em seu entendimento, qualquer obstáculo a acesso a cargo
público deve estar relacionado unicamente ao exercício das funções como, por exemplo, idade
ou altura que impossibilitem o exercício de funções específicas. Salientou que a jurisprudência
do STF prevê que o limite de idade previsto em lei é constitucional, desde que justificável em
relação à natureza das atribuições do cargo a ser exercido.
123. O ministro destacou que a tatuagem, por si só, não pode ser confundida como uma
transgressão ou conduta atentatória aos bons costumes. Segundo ele, a tatuagem passou a
representar uma autêntica forma de liberdade de manifestação do indivíduo, pela qual não
pode ser punido, sob pena de flagrante violação dos princípios constitucionais. Para o ministro
Fux, o respeito à democracia não se dá apenas na realização de eleições livres, mas também
quando se permite aos cidadãos se manifestarem da forma que quiserem, desde que isso não
represente ofensa direta a grupos ou princípios e valores éticos.
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125. O relator destacou que o Estado não pode querer representar o papel de adversário da
liberdade de expressão, impedindo que candidatos em concurso ostentem tatuagens ou
marcas corporais que demonstrem simpatia por ideais que não sejam ofensivos aos preceitos
e valores protegidos pela Constituição Federal. “A máxima de que cada um é feliz à sua
maneira deve ser preservada pelo Estado”, ressaltou o ministro.
126. Em seu voto, o ministro Fux assinalou que tatuagens que prejudiquem a disciplina e a
boa ordem, sejam extremistas, racistas, preconceituosas ou que atentem contra a instituição
devem ser coibidas. Observou, por exemplo, que um policial não pode ostentar sinais corporais
que signifiquem apologias ao crime ou exaltem organizações criminosas. Entretanto, não pode
ter seu ingresso na corporação impedido apenas porque optou por manifestar-se por meio de
pigmentação definitiva no corpo.
127. O relator explicou que as Forças Armadas vedam o ingresso de pessoas com
tatuagens que transmitam mensagens relacionadas à violação da lei e da ordem, tais como as
que discriminem grupos por sua cor, origem, credo, sexo, orientação sexual ou que incitem o
consumo de drogas ou a prática de crimes, por entender que são incompatíveis com a função
militar.
129. Esse princípio impõe ao administrador público que só pratique o ato para o seu fim
legal. Significa dizer que a atuação do administrador deve ser impessoal, genérica, ligada à
finalidade da atuação administrativa que vise à satisfação do interesse coletivo, sem atender
ao interesse exclusivo do administrado, como também significa a imputação da atuação do
órgão ou entidade estatal, não o sendo quanto ao agente público, pessoa física.
130. E o que é o impessoal? Impessoal é o que não pertence a uma pessoa em especial, ou
seja, aquilo que não pode ser voltado especialmente a determinadas pessoas. É uma
característica genérica da coisa que não pertence a pessoa alguma, e é isso que a atividade
da Administração Pública deve fazer: destinar-se a todos os administrados, à sociedade em
geral, sem privilégios ou discriminação de qualquer natureza, até mesmo por força do princípio
da isonomia, não cabendo sua atividade, portanto, beneficiar esta ou aquela pessoa ou
empresa.
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ADM I – 03 - PRINCÍPIOS EXPLÍCITOS – 2016.2
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131. Logo, para que haja verdadeira impessoalidade, é dever da Administração atender
exclusivamente ao interesse público, sua finalidade direta e primeira. É isso que diz o princípio
da impessoalidade.
132. Nas palavras de José dos Santos Carvalho Filho, tem-se que:
“Por outro lado, para que haja a verdadeira impessoalidade, deve a Administração
voltar-se exclusivamente para o interesse público, e não para o privado, vedando-se,
em consequência, sejam favorecidos alguns indivíduos em detrimento de outros.
Aqui reflete a aplicação do conhecido princípio da finalidade, segundo o qual o alvo a
ser alcançado pela Administração é somente o interesse público, e não se alcança o
interesse público se for perseguido o interesse particular, porquanto haverá nesse
caso sempre uma atuação discriminatória. ”
133. Assim, ocorre desvio de finalidade40, quando o administrador se afasta do escopo que
lhe deve nortear o comportamento – o interesse público.
134. Pode, entretanto, o interesse público coincidir com o de particulares, como ocorre
normalmente nos atos administrativos negociais e nos contratos públicos, casos em que é lícito
conjugar a pretensão do particular com o interesse coletivo.
135. Em resumo: a Administração deve ser impessoal, sem ter em mira este ou aquele
indivíduo de forma especial. Deve ser entendido, também, esse princípio, como sendo
excludente da promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos sobre suas realizações
administrativas (art. 37, §1º, CF)41.
40 Destaca-se o caso do agente político que, no último ano de seu mandato, sem a devida autorização legal,
permitiu o uso de bens imóveis públicos, beneficiando algumas entidades e vários particulares, que lá construíram
suas sedes e inúmeras moradias, não levando em conta que tais áreas seriam destinadas, futuramente, à
construção de postos de saúde, hospitais e escolas, o que inviabilizou, consequentemente, tais empreendimentos
de interesse público. A conduta desse agente, sem dúvida, revelou a inobservância dos princípios da legalidade,
impessoalidade, finalidade. Moralidade e da supremacia do interesse público, sendo suficiente para caracterizar
desvio de finalidade, além de improbidade administrativa, pelo inegável prejuízo ao erário que veio aquela
irregularidade causar. Com efeito, essa conduta privilegiou apenas uma parcela reduzida de pessoas em
detrimento do interesse público maior, ou seja, é manifesto o desvio de finalidade na medida em que buscou,
mediante ato administrativo (decreto), fazer entrega de bens públicos por tempo indeterminado e gratuitamente,
sem que houvesse qualquer resquício de interesse público.
41Este artigo dispõe que atos de propaganda oficial do governo, como programas, obras, serviços e campanhas
devem ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, mas que dessa publicidade não podem constar
nomes dos governantes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal, podendo ser colocado,
quanto muito, por exemplo, “obra patrocinada pelo governo do estado”, donde se conclui que, além de legal e
moral, o ato administrativo deve ser também impessoal, sendo vedada, portanto, a publicidade por parte da
entidade pública que implique promoção pessoal de autoridades ou servidores. Logo, o administrador não poderá
se autopromover com seus atos, mesmo em caráter educativo, informativo.
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parágrafo único, “e”, da Lei 4.717/1965)42, ou seja, embora o interesse pessoal seja legítimo, o
interesse público prevalece43.
137. Todo o ato que se apartar do interesse público sujeitar-se-á à invalidação por desvio de
finalidade, que a nossa lei da Ação Popular conceituou como o “fim diverso daquele previsto,
explícita ou implicitamente, na regra de competência” do agente (Lei 4.717/65, art. 2º,
parágrafo único, “e”). A sanção é a invalidade do ato administrativo contagiado com o desvio
de finalidade.
42 Art. 2º, Lei nº 4.717 - São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior, nos
casos de:
a) incompetência;
b) vício de forma;
c) ilegalidade do objeto;
d) inexistência dos motivos;
e) desvio de finalidade.
Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade observar-se-ão as seguintes normas:
a) a incompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nas atribuições legais do agente que o praticou;
b) o vício de forma consiste na omissão ou na observância incompleta ou irregular de formalidades indispensáveis
à existência ou seriedade do ato;
c) a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa em violação de lei, regulamento ou outro ato
normativo;
d) a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou de direito, em que se fundamenta o ato, é
materialmente inexistente ou juridicamente inadequada ao resultado obtido;
e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele previsto, explícita
ou implicitamente, na regra de competência.
43 Dá-se, a título de exemplo, o caso de um sujeito idos, míope, que requer porte de arma por medo de ser
assaltado, uma vez que sua atividade é de risco. Seu interesse é legítimo, mas não preenche os requisitos para o
porte de arma, que defende o interesse público, pois seria arriscado um sujeito míope e sem prática portar uma
arma.
Há também os casos de predestinação (desapropriação por motivos pessoais), que se caracteriza como desvio de
finalidade.
44 Art. 2º, Lei nº 9.784/99 - A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade,
finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança
jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de:
I - atuação conforme a lei e o Direito;
II - atendimento a fins de interesse geral, vedada a renúncia total ou parcial de poderes ou competências, salvo
autorização em lei;
III - objetividade no atendimento do interesse público, vedada a promoção pessoal de agentes ou autoridades;
IV - atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé;
V - divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as hipóteses de sigilo previstas na Constituição;
VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações, restrições e sanções em medida superior
àquelas estritamente necessárias ao atendimento do interesse público;
VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a decisão;
VIII – observância das formalidades essenciais à garantia dos direitos dos administrados;
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2.2.8 Resumindo:
139. São três, portanto, as abordagens distintas do Princípio da Impessoalidade:
ABORDAGEM REGRA
1ª Atuação impessoal, genérica, com a finalidade de atender ao
interesse público, não ao interesse do administrado
2ª Imputação do ato do agente público à Administração Pública (órgão
ou entidade estatal), e não ao agente público
3ª Que a Administração Pública não diferencie entre este ou aquele
administrado, evitando assim privilégios (princípio da isonomia)
IX - adoção de formas simples, suficientes para propiciar adequado grau de certeza, segurança e respeito aos
direitos dos administrados;
X - garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de alegações finais, à produção de provas e à
interposição de recursos, nos processos de que possam resultar sanções e nas situações de litígio;
XI - proibição de cobrança de despesas processuais, ressalvadas as previstas em lei;
XII - impulsão, de ofício, do processo administrativo, sem prejuízo da atuação dos interessados;
XIII - interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento do fim público a que se
dirige, vedada aplicação retroativa de nova interpretação.
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nesta ação direta de inconstitucionalidade foi objeto de deliberação por este Supremo Tribunal
em diversos casos, disso resultando a edição da Súmula Vinculante nº 13. 2. A teor do
assentado no julgamento da ADC nº 12/DF, em decorrência direta da aplicação dos princípios da
impessoalidade, da eficiência, da igualdade e da moralidade, a cláusula vedadora da prática de
nepotismo no seio da Administração Pública, ou de qualquer dos Poderes da República, tem
incidência verticalizada e imediata, independentemente de previsão expressa em diploma
legislativo. Precedentes. 3. A previsão impugnada, ao permitir (excepcionar), relativamente a
cargos em comissão ou funções gratificadas, a nomeação, a admissão ou a permanência de até
dois parentes das autoridades mencionadas no caput do art. 1º da Lei estadual nº 13.145/1997 e
do cônjuge do chefe do Poder Executivo, além de subverter o intuito moralizador inicial da
norma, ofende irremediavelmente a Constituição Federal. 4. Ação julgada procedente.
PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE
Art. 37 da CRFB
SINTETIZA O PRINCÍPIO DA
IGUALDADE OU ISONOMIA
Atuação da ADMINISTRAÇÃO
deve ser impessoal, não
importando a pessoa interessada
37
ADM I – 03 - PRINCÍPIOS EXPLÍCITOS – 2016.2
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141. A moral administrativa não tem nada a ver com a moral comum, mas sim com a moral
jurídica. Exemplo disso foi a estarrecedora a proposta do então Presidente da República para
que não se fiscalizassem as obras da Copa. Motivo: “para não atrasar as obras”. Isso fere a o
princípio da Moralidade Pública. É melhor então acabar com o Tribunal de Contas.
142. A moralidade está ligada a alguns bens jurídicos. Quais são eles? Lealdade, decoro e
boa-fé. Portanto, ao se ferir a lealdade, a boa fé e o decoro estamos ferindo a moralidade
pública independentemente se esses atos importarem enriquecimento ilícito ou se causarem
prejuízo material ao erário público.
143. Esse princípio exige que a atuação administrativa, além de respeitar a Lei, seja ÉTICA,
LEAL e SÉRIA. Nesse sentido, o art. 2º, parágrafo única, IV, da Lei nº. 9.784/99 impõe ao
administrador, mormente nos processos administrativos, a “ATUAÇÃO SEGUNDO PADRÕES
ÉTICOS DE PROBIDADE, DECORO E BOA-FÉ. ”
45 A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau,
inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia
ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na
administração pública direta e indireta em qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal.
46
"Ementa: Ação Declaratória de Constitucionalidade, ajuizada em prol da Resolução nº 07, de 18/10/2005, do
Conselho Nacional de Justiça. Medida cautelar. (...) O ato normativo que se faz de objeto desta ação declaratória
densifica apropriadamente os quatro citados princípios do art. 37 da Constituição Federal, razão por que não há
antinomia de conteúdos na comparação dos comandos que se veiculam pelos dois modelos normativos: o
constitucional e o infraconstitucional. Logo, o Conselho Nacional de Justiça fez adequado uso da competência que
lhe conferiu a Carta de Outubro, após a Emenda 45/04. Noutro giro, os condicionamentos impostos pela
Resolução em foco não atentam contra a liberdade de nomeação e exoneração dos cargos em comissão e
funções de confiança (incisos II e V do art. 37). Isto porque a interpretação dos mencionados incisos não pode se
desapegar dos princípios que se veiculam pelo caput do mesmo art. 37. Donde o juízo de que as restrições
constantes do ato normativo do CNJ são, no rigor dos termos, as mesmas restrições já impostas pela Constituição
de 1988, dedutíveis dos republicanos princípios da impessoalidade, da eficiência, da igualdade e da moralidade.
(...) Não se trata, então, de discriminar o Poder Judiciário perante os outros dois Poderes Orgânicos do Estado,
sob a equivocada proposição de que o Poder Executivo e o Poder Legislativo estariam inteiramente libertos de
peias jurídicas para prover seus cargos em comissão e funções de confiança, naquelas situações em que os
respectivos ocupantes não hajam ingressado na atividade estatal por meio de concurso público. O modelo
normativo em exame não é suscetível de ofender a pureza do princípio da separação dos Poderes e até mesmo
do princípio federativo. (...) Ademais, o art. 125 da Lei Magna defere aos Estados a competência de organizar a
sua própria Justiça, mas não é menos certo que esse mesmo art. 125, caput, junge essa organização aos
princípios 'estabelecidos' por ela, Carta Maior, neles incluídos os constantes do art. 37, cabeça. Medida liminar
deferida para, com efeito vinculante: a) emprestar interpretação conforme para incluir o termo 'chefia' nos inciso II,
III, IV, V do artigo 2° do ato normativo em foco b) suspender, até o exame de mérito desta ADC, o julgamento dos
processos que tenham por objeto questionar a constitucionalidade da Resolução nº 07/2005, do Conselho
Nacional de Justiça; c) obstar que juízes e Tribunais venham a proferir decisões que impeçam ou afastem a
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ADM I – 03 - PRINCÍPIOS EXPLÍCITOS – 2016.2
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aplicabilidade da mesma Resolução nº 07/2005, do CNJ e d) suspender, com eficácia ex tunc, os efeitos daquelas
decisões que, já proferidas, determinaram o afastamento da sobredita aplicação." (ADC 12 MC, Relator Ministro
Ayres Britto, Tribunal Pleno, julgamento em 16.2.2006, DJ de 1.9.2006)
"Ementa: Administração Pública. Vedação nepotismo. Necessidade de lei formal. Inexigibilidade. Proibição que
decorre do art. 37, caput, da CF. RE provido em parte. I - Embora restrita ao âmbito do Judiciário, a Resolução
7/2005 do Conselho Nacional da Justiça, a prática do nepotismo nos demais Poderes é ilícita. II - A vedação do
nepotismo não exige a edição de lei formal para coibir a prática. III - Proibição que decorre diretamente dos
princípios contidos no art. 37, caput, da Constituição Federal." (RE 579951, Relator Ministro Ricardo
Lewandowski, Tribunal Pleno, julgamento em 20.8.2008, DJe de 24.10.2008)
"Então, quando o art. 37 refere-se a cargo em comissão e função de confiança, está tratando de cargos e funções
singelamente administrativos, não de cargos políticos. Portanto, os cargos políticos estariam fora do alcance da
decisão que tomamos na ADC nº 12, porque o próprio capítulo VII é Da Administração Pública enquanto
segmento do Poder Executivo. E sabemos que os cargos políticos, como por exemplo, o de secretário municipal,
são agentes de poder, fazem parte do Poder Executivo. O cargo não é em comissão, no sentido do artigo 37.
Somente os cargos e funções singelamente administrativos - é como penso - são alcançados pela imperiosidade
do artigo 37, com seus lapidares princípios. Então, essa distinção me parece importante para, no caso, excluir do
âmbito da nossa decisão anterior os secretários municipais, que correspondem a secretários de Estado, no âmbito
dos Estados, e ministros de Estrado, no âmbito federal." (RE 579951, Voto do Ministro Ayres Britto, Tribunal
Pleno, julgamento em 20.8.2008, DJe de 24.10.2008)
47
● Nepotismo e agente político
"1. A jurisprudência do STF preconiza que, ressalvada situação de fraude à lei, a nomeação de parentes para
cargos públicos de natureza política não desrespeita o conteúdo normativo do enunciado da Súmula Vinculante
13." (RE 825682 AgR, Relator Ministro Teori Zavascki, Segunda Turma, julgamento em 10.2.2015, DJe de
2.3.2015)
"Reclamação - Constitucional e administrativo - Nepotismo - Súmula vinculante nº 13 - Distinção entre cargos
políticos e administrativos - Procedência. 1. Os cargos políticos são caracterizados não apenas por serem de livre
nomeação ou exoneração, fundadas na fidúcia, mas também por seus titulares serem detentores de um munus
governamental decorrente da Constituição Federal, não estando os seus ocupantes enquadrados na classificação
de agentes administrativos. 2. Em hipóteses que atinjam ocupantes de cargos políticos, a configuração do
nepotismo deve ser analisado caso a caso, a fim de se verificar eventual 'troca de favores' ou fraude a lei. 3.
Decisão judicial que anula ato de nomeação para cargo político apenas com fundamento na relação de
parentesco estabelecida entre o nomeado e o chefe do Poder Executivo, em todas as esferas da federação,
diverge do entendimento da Suprema Corte consubstanciado na Súmula Vinculante nº 13." (Rcl 7590, Relator
Ministro Dias Toffoli, Primeira Turma, julgamento em 30.9.2014, DJe de 14.11.2014)
"5. Em princípio, a questão parece enquadrar-se no teor da Súmula Vinculante nº 13: o interessado é parente de
segundo grau, em linha colateral, da Vice-Prefeita do Município que, embora não seja a autoridade nomeante,
encaixa-se na categoria de 'servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou
assessoramento', se compreendida de forma ampla. Resta saber, portanto, se a circunstância de se tratar de
cargo de natureza política impediria a incidência do enunciado. 6. Na Rcl 6.650 MC-AgR/PR (Rel. Min. Ellen
Gracie), esta Corte afirmou a impossibilidade de submissão do reclamante, Secretário Estadual de Transporte,
agente político, às hipóteses expressamente elencadas na Súmula Vinculante nº 13, por se tratar de cargo de
natureza política'. No entanto, não se pode perder de vista que se estava em sede cautelar, de modo que a
matéria não foi conhecida de forma exauriente e aprofundada. Tanto assim que, nessa ocasião, alguns Ministros
observaram que a caracterização do nepotismo não estaria afastada em todo e qualquer caso de nomeação para
cargo político, cabendo examinar cada situação com a cautela necessária. (...) 7. Notas semelhantes foram feitas
quando do julgamento do precedente que resultou na edição da Súmula Vinculante (RE 579.951/RN, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski). Além do Relator, os Ministros Cármen Lúcia e Cezar Peluso registraram a possibilidade
de se caracterizar o nepotismo em algumas dessas situações - o que só se poderia examinar no caso concreto. 8.
Estou convencido de que, em linha de princípio, a restrição sumular não se aplica à nomeação para cargos
políticos. Ressalvaria apenas as situações de inequívoca falta de razoabilidade, por ausência manifesta de
qualificação técnica ou de inidoneidade moral." (Rcl 17627, Relator Ministro Roberto Barroso, decisão
monocrática, julgamento em 8.5.2014, DJe de 15.5.2014)
"Esta Corte apreciou exceções à vedação ao nepotismo em pelo menos duas oportunidades.
No RE 579.951, Pleno, DJe 24.10.2008, conforme relatado pelo min. Ricardo Lewandowski, tratava-se de recurso
extraordinário de acórdão que entendera inexistir ilegalidade na nomeação de irmãos de autoridades municipais
aos cargos de motorista e secretário de saúde. O acórdão recorrido fora proferido em ação voltada contra a
prática de nepotismo. Os fatores determinantes para que esta Corte concluísse pela legalidade da nomeação do
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secretário de saúde foram, por um lado, a qualificação normalmente exigida para o cargo de secretário de saúde,
especialmente em pequenas localidades do interior, e, por outro, a inexistência de indícios de troca de favores.
(...) Importante ressaltar que, na mesma oportunidade, a Corte também assentou que aquele julgamento não
deveria ser considerado um precedente específico, pois a abordagem do nepotismo deveria ser realizada caso a
caso. Conforme registrado pela min. Ellen Gracie, relatora do agravo regimental contra decisão que deferiu a
medida cautelar na Rcl 6.650, Pleno, DJe 21.11.2008, tratava-se ali de reclamação contra decisão de juiz de
primeira instância, proferida em ação popular, que suspendera a nomeação do irmão de governador de estado ao
cargo de secretário estadual de transportes em virtude de ofensa ao princípio da moralidade. Em sede de liminar,
este Supremo Tribunal concluiu que a suspensão da nomeação violara a súmula vinculante 13. Mais uma vez,
ficou registrado que a exceção à súmula deveria ser verificada caso a caso. (...) Assim, em linha com o afirmado
pelo reclamante, tenho que os acórdãos proferidos por este Supremo Tribunal Federal no RE 579.951 e na
medida cautelar na Rcl 6.650 não podem ser considerados representativos da jurisprudência desta Corte e
tampouco podem ser tomados como reconhecimento definitivo da exceção à súmula vinculante 13 pretendida
pelo município reclamado. Bem vistas as coisas, o fato é que a redação do verbete não prevê a exceção
mencionada e esta, se vier a ser reconhecida, dependerá da avaliação colegiada da situação concreta descrita
nos autos, não cabendo ao relator antecipar-se em conclusão contrária ao previsto na redação da súmula, ainda
mais quando baseada em julgamento proferido em medida liminar. Registro, ainda, que a apreciação indiciária
dos fatos relatados, própria do juízo cautelar, leva a conclusão desfavorável ao reclamado. É que não há, em
passagem alguma das informações prestadas pelo município, qualquer justificativa de natureza profissional,
curricular ou técnica para a nomeação do parente ao cargo de secretário municipal de educação. (...) Ante o
exposto, defiro a cautelar pleiteada pelo reclamante (...)." (Rcl 12478 MC, Relator Ministro Joaquim Barbosa,
Decisão Monocrática, julgamento em 3.11.2011, DJe de 8.11.2011)
"Com efeito, a doutrina, de um modo geral, repele o enquadramento dos Conselheiros dos Tribunais de Contas na
categoria de agentes políticos, os quais, como regra, estão fora do alcance da Súmula Vinculante nº 13, salvo nas
exceções acima assinaladas, quais sejam, as hipóteses de nepotismo cruzado ou de fraude à lei." (Rcl 6702 MC-
AgR, Relator Ministro Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, julgamento em 4.3.2009, DJe de 30.4.2009)
"Ementa: (...) 1. Impossibilidade de submissão do reclamante, Secretário Estadual de Transporte, agente político,
às hipóteses expressamente elencadas na Súmula Vinculante nº 13, por se tratar de cargo de natureza política.
(...)" (Rcl 6650 MC-AgR, Relatora Ministra Ellen Gracie, Tribunal Pleno, julgamento em 16.10.2008, DJe de
21.11.2008)
● Servidor público efetivo indicado para cargo em comissão e relação de parentesco com servidor não
efetivo do mesmo órgão
"Considerada a amplitude e a complexidade da estrutura administrativa dos diversos órgãos do Poder Judiciário
no tocante à gestão de seus servidores (efetivos ou não), entendo que não configura nepotismo a nomeação de
pessoa sem vínculo efetivo com o órgão para cargo de direção, chefia ou assessoramento sem que se questione
a existência de qualquer influência do servidor efetivo com quem o nomeado é casado, mantém relação estável
ou possui relação de parentesco sobre a autoridade nomeante, seja para fins de se alcançarem interesses
pessoais do servidor efetivo (devido a relações de amizade, subordinação ou mudança de localidade, por
exemplo) ou da autoridade nomeante (mediante troca de favores), sob pena se afrontar um dos princípios que a
própria Resolução CNJ nº 7/05 e a Súmula Vinculante nº 13 pretenderam resguardar, qual seja, o princípio
constitucional da impessoalidade." (MS 28485, Relator Ministro Dias Toffoli, Primeira Turma, julgamento em
11.11.2014, DJe de 4.12.2014).
● Configuração objetiva do parentesco
"Pelos documentos citados, tem-se que o irmão do Impetrante fora investido no cargo de Juiz Federal quando o
Impetrante foi nomeado para exercer função comissionada no Tribunal Regional Federal da 1ª Região. (...) Não
prospera, portanto, o argumento de que seria necessária comprovação de 'vínculo de amizade ou troca de
favores' entre o irmão do ora Impetrante e o desembargador de quem é assistente processual, pois é a análise
objetiva da situação de parentesco entre o servidor e a pessoa nomeada para exercício de cargo em comissão ou
de confiança na mesma pessoa jurídica da Administração Pública que configura a situação de nepotismo vedada,
originariamente, pela Constituição da República. Logo, é desnecessário demonstrar a intenção de violar a
vedação constitucional ou a obtenção de qualquer benefício com o favorecimento de parentes de quem exerça
poder na esfera pública para que se estabeleça relação de nepotismo." (MS 27945, Relatora Ministra Cármen
Lúcia, Segunda Turma, julgamento em 26.8.2014, DJe de 4.9.2014).
● Súmula Vinculante 13 e não exaustão das possibilidades de nepotismo
"Ao editar a Súmula Vinculante nº 13, a Corte não pretendeu esgotar todas as possibilidades de configuração de
nepotismo na Administração Pública, dada a impossibilidade de se preverem e de se inserirem, na redação do
enunciado, todas as molduras fático-jurídicas reveladas na pluralidade de entes da Federação (União, estados,
Distrito Federal, territórios e municípios) e das esferas de Poder (Executivo, Legislativo e Judiciário), com as
peculiaridades de organização em cada caso. Dessa perspectiva, é certo que a edição de atos regulamentares ou
vinculantes por autoridade competente para orientar a atuação dos demais órgãos ou entidades a ela vinculados
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quanto à configuração do nepotismo não retira a possibilidade de, em cada caso concreto, proceder-se à
avaliação das circunstâncias à luz do art. 37, caput, da CF/88." (MS 31697, Relator Ministro Dias Toffoli, Primeira
Turma, julgamento em 11.3.2014, DJe de 2.4.2014).
"(...) 3. A redação do enunciado da Súmula Vinculante nº 13 não pretendeu esgotar todas as possibilidades de
configuração de nepotismo da Administração Pública, uma vez que a tese constitucional nele consagrada consiste
na proposição de que essa irregularidade decorre diretamente do caput do art. 37 da Constituição Federal,
independentemente da edição de lei formal sobre o tema. (...)" (Rcl 15451, Relator Ministro Dias Toffoli, Tribunal
Pleno, julgamento em 27.2.2014, DJe de 3.4.2014).
● Extinção de cargos em comissão por emenda constitucional e nepotismo
"De fato, a Emenda contestada, em quase sua totalidade, procura fazer com que o provimento dos cargos de
confiança locais reflita aquilo que a Lei Maior prescreve para a Administração Pública em geral. (...) Esse artigo
[art. 4º] reza que ficam extintos os cargos em comissão que não atenderem às disposições do parágrafo 4º do art.
20 e do art. 32, caput, ambos da Constituição do Estado, ou seja, os cargos que não se destinarem às funções de
direção, chefia ou assessoramento. Não resta dúvida que a destinação irregular de cargo em comissão deve
acarretar o afastamento do seu ocupante. Entretanto, a questão é saber se a Assembleia Legislativa poderia
editar norma declarando extintos tais cargos, com a exoneração daquele que o ocupa. A resposta, entendo, há de
ser negativa. Isso porque a extinção de cargos públicos, sejam eles efetivos ou em comissão, pressupõe lei
específica nesse sentido, dispondo quantos e quais cargos serão extintos e não simplesmente por meio de norma
genérica inserida na Constituição. Ademais, o dispositivo apresenta, de fato, uma inconstitucionalidade formal, ou
seja, um vício de iniciativa, porquanto a Assembleia Legislativa determinou a extinção de cargos que integram a
estrutura funcional de outros Poderes, invadindo, destarte, a competência privativa destes na matéria. (...)
Estabelece esse artigo [art. 5º] a extinção do provimento, após a respectiva exoneração, dos cargos em comissão
nas situações em que o cargo foi provido de forma a configurar 'nepotismo'. Diversamente do que afirmando em
relação à extinção do cargo por ato administrativo, a 'extinção do provimento', no caso no nepotismo prescinde de
lei, porquanto a proibição de ocupá-lo decorre da própria Constituição. Nessa linha, por ocasião do julgamento da
ADC 12/DF, Rel. Min. Ayres Britto, assentei que 'os princípios que estão inseridos no caput do artigo 37,
sobretudo os princípios da impessoalidade, da moralidade e da eficiência, são auto-aplicáveis no que diz respeito
à vedação ao nepotismo'." (ADI 1521, Relator Ministro Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, julgamento em
19.6.2013, DJe de 13.8.2013).
● Nepotismo e lei estadual que prevê hipóteses de exceção
"A previsão impugnada, ao permitir (excepcionar), relativamente a cargos em comissão ou funções gratificadas, a
nomeação, a admissão ou a permanência de até dois parentes das autoridades mencionadas no caput do art. 1º
da Lei estadual nº 13.145/1997 e do cônjuge do chefe do Poder Executivo, além de subverter o intuito moralizador
inicial da norma, ofende irremediavelmente a Constituição Federal." (ADI 3745, Relator Ministro Dias Toffoli,
Tribunal Pleno, julgamento em 15.5.2013, DJe de 1.8.2013).
● Lei municipal que veda contratação de parentes com o município
"É certo que o referido art. 9º [da Lei 8.666/1993] não estabeleceu, expressamente, restrição à contratação com
parentes dos administradores, razão por que há doutrinadores que sustentam, com fundamento no princípio da
legalidade, que não se pode impedir a participação de parentes nos procedimentos licitatórios, se estiverem
presentes os demais pressupostos legais, em particular a existência de vários interessados em disputar o certame
(v.g. BULOS, Uadi Lammêgo. Licitação em caso de parentesco. In: BLC: Boletim de licitação e contratos, v. 22, n.
3, p. 216-232, mar. 2009). Não obstante, entendo que, em face da ausência de regra geral para este assunto, o
que significa dizer que não há vedação ou permissão acerca do impedimento à participação em licitações em
decorrência de parentesco, abre-se campo para a liberdade de atuação dos demais entes da federação, a fim de
que eles legislem de acordo com suas particularidades locais (no caso dos municípios, com fundamento no art.
30, II, da Constituição Federal), até que sobrevenha norma geral sobre o tema. E dentro da permissão
constitucional para legislar sobre normas específicas em matéria de licitação, é de se louvar a iniciativa do
Município de Brumadinho-MG de tratar, em sua Lei Orgânica, de questão das mais relevantes em nossa pólis,
que é a moralidade administrativa, princípio-guia de toda a atividade estatal, nos termos do art. 37, caput da
Constituição Federal." (RE 423560, Relator Ministro Joaquim Barbosa, Segunda Turma, julgamento em
29.5.2012, DJe de 19.6.2012).
● Servidores concursados ocupantes de cargo efetivo e parentesco
"Evidentemente que se devem retirar da incidência da norma [é vedado ao servidor público servir sob a direção
imediata de cônjuge ou parente até segundo grau civil] os servidores admitidos mediante concurso público,
ocupantes de cargo de provimento efetivo. A norma anti-nepotismo deve incidir sobre cargos de provimento em
comissão, as funções gratificadas e os cargos de direção e assessoramento. Esse quadro, julgo procedente, em
parte, a ação direta para emprestar interpretação conforme à Constituição para declarar constitucional o inciso VI,
do art. 32, da Constituição do Estado do Espírito Santo, somente quando incida sobre os cargos de provimento
em comissão, função gratificada, cargos de direção e assessoramento: é o meu voto." (ADI 524, Voto do Ministro
Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, julgamento em 20.5.2015, DJe de 3.8.2015)
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145. Por outro lado, ressalte-se que o STF afasta a aplicação dessa súmula para os cargos
políticos, o que, a nosso entender, é inapropriado, uma vez que o princípio da moralidade
administrativa é um princípio geral aplicável, indistintamente, à toda a Administração Pública,
alcançando, inclusive, os cargos de natureza política.
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restara vencido. No mérito, entendeu-se que a Resolução 7/2005 está em sintonia com os princípios constantes
do art. 37, em especial os da impessoalidade, da eficiência, da igualdade e da moralidade, que são dotados de
eficácia imediata, não havendo que se falar em ofensa à liberdade de nomeação e exoneração dos cargos em
comissão e funções de confiança, visto que as restrições por ela impostas são as mesmas previstas na CF, as
quais, extraídas dos citados princípios, vedam a prática do nepotismo. Afirmou-se, também, não estar a resolução
examinada a violar nem o princípio da separação dos Poderes, nem o princípio federativo, porquanto o CNJ não
usurpou o campo de atuação do Poder Legislativo, limitando-se a exercer as competências que lhe foram
constitucionalmente reservadas. Vencidos, no ponto relativo à interpretação conforme, os Ministros Menezes
Direito e Marco Aurélio, reputá-la desnecessária. ADC 12/DF, rel. Min. Carlos Britto, 20.8.2008. (ADC-12)
49(INFO 354, STJ) CONCURSO PÚBLICO. NOMEAÇÃO. ATO VINCULADO. É dever da Administração Pública
nomear os candidatos aprovados para as vagas oferecidas no edital do concurso. Com a veiculação em edital de
que a Administração necessita prover determinado número de vagas, a nomeação e posse, que seriam, a
princípio, atos discricionários, tornam-se vinculados, gerando, em consequência, direito subjetivo para o candidato
aprovado dentro do número de vagas previsto no edital. Precedentes citados: RMS 15.420-PR; RMS 15.345-GO,
DJ24/4/2007, e RMS 15.034-RS, DJ 29/3/2004.
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152. Importante este exemplo dado pela doutrina: um determinado prefeito, após ter sido
derrotado no pleito municipal, às vésperas do encerramento do mandato, congela o Imposto
Territorial Urbano, com a intenção de reduzir as receitas e inviabilizar a administração
seguinte. Ainda que tenha agido conforme a lei, agiu com inobservância da moralidade
administrativa.
153. Vale ressaltar que, qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que
vise a anular ato lesivo à moralidade administrativa (art. 5°, LXXIII, da CRFB51), ficando o
autor, salvo comprovada a má fé, isento das custas judiciais e do ônus da sucumbência.
50 O STJ mudou posição até então consolidada que a aprovação em concurso público constitui mera expectativa
de direito à nomeação. Atualmente a posição majoritária na Casa é que o aprovado em concurso público dentro
do número de vagas previsto no edital em direito subjetivo à nomeação. Neste sentido, posicionou-se a Quinta
Turma no julgamento do RMS 26.447/MS (DJe 13/10/09) destacando que o direito à nomeação não se limita
apenas aos aprovados dentro do número de vagas divulgados no edital, alcançando também aqueles aprovados
além deste número, porém beneficiados com desistências ou eliminações de candidatos nomeados (...). Quanto
ao STF, a Primeira Turma, por maioria, no julgamento do RE 227.480 (DJe 20/08/09), posicionou-se de acordo
com esta tese, contrariando posição tradicional que o aprovado em concurso público tem mera expectativa de
direito à nomeação. (...)
51Art.
5º, LXXIII, CRFB - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo
ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e
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155. Curiosidade: já prosperou uma ação popular que tinha por objeto impugnar mudança
de nome de rua por lesão à cultura histórica (a Administração Pública pretendia trocar o nome
de uma Rua, que era de um grande historiador, pelo nome de uma palmeira).
156. Ação popular é um instituto portentoso e cívico que não faz parte da cultura brasileira,
talvez por perseguição política. Tal ação não admite desistência. E para não cercear o direito
cívico a ação se realiza de forma graciosa. E também não há que se falar em coisa julgada na
ação popular, a não ser se for favorável ao cidadão.
157. Para propor ação popular qualquer cidadão do povo é parte legítima. Exige-se apenas
do cidadão o título de eleitor. É entendimento jurisprudencial, consolidado através da Súmula
n° 365 do STF52, que pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular.
158. Ao indagar se o menor eleitor pode ser autor popular ou o idoso que tenha devolvido o
título eleitoral, por não estar mais obrigado a votar, entendemos, como estabelece a lei, que
apenas o menor seria legalmente autorizado a figurar no polo ativo desta relação processual,
desde que assistido na forma da lei civil. Já o idoso, como abdicou da condição de eleitor,
sendo esse o requisito essencial à propositura da ação popular, não poderá ingressar em juízo
como autor da Ação Popular.
ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da
sucumbência;
52 S.365/STF – Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor Ação Popular.
53Art. 37, § 4º, CRFB - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a
perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas
em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
54Art. 37, § 5º, CRFB - A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente,
servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento.
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164. A moral comum é aquela imposta ao homem para sua conduta interna, ao passo que a
moral administrativa é imposta ao agente público para sua conduta interna, segundo as
exigências da instituição a que serve e a finalidade de sua ação: o bem comum.
165. O princípio da moralidade obriga que o ato administrativo não terá que obedecer
somente à lei jurídica, mas também à lei ética da própria instituição, pois nem tudo o que é
legal é honesto, é moral.
167. Instrumento relevante de tutela jurisdicional é a Ação Popular, contemplada no art. 5º,
LXXIII da CRFB. Pela Ação Popular, regulamentada pela Lei n° 4.717/65, qualquer cidadão
pode deduzir a pretensão de anular atos do Poder Público contaminados de imoralidade
administrativa.
168. Outro instrumento, também relevante, á a Ação Civil Pública, prevista no art. 129, III,
CRFB56, que é uma das funções institucionais do Ministério Público, e regulamentada pela Lei
55 A moralidade administrativa, que nos propomos estudar, não se confunde com a moralidade comum; ela é
composta por regras da boa administração; ou seja, pelo conjunto de regras finais e disciplinares suscitadas, não
só pela distinção entre o Bem e o Mal, mas também pela ideia geral de administração e pela ideia de função
administrativa. BRANDÃO, Antônio José. “Moralidade Administrativa”. Boletim de Direito Administrativo, fev. 2002,
p.63.
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2.3.3 Resumindo
169. É a seguinte a interpretação constitucional do Princípio da Moralidade Administrativa:
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados
nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias à sua garantia;
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio
ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;
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LIMINAR SUSPENDE DECISÃO DO TCU SOBRE COMPRA DE TRILHOS PELA VALEC. O ministro
Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu liminarmente uma decisão do
Tribunal de Contas da União (TCU) que aplicou a teoria da desconsideração da personalidade
jurídica em procedimento administrativo referente a licitação para compra de trilhos para estrada
de ferro pela estatal Valec. Na decisão do TCU, a licitação foi considerada ilegal porque se
entendeu que sanções impostas a uma empresa anteriormente suspensa por irregularidades
deveriam ser estendidas à vencedora do contrato com a Valec, em razão de ambas as empresas
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PRINCÍPIO DA MORALIDADE
Art. 37 da CRFB
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173. Então, todo ato no regime democrático de direito, deve, necessariamente, chegar ao
conhecimento dos cidadãos como forma de permitir o controle político e jurídico. De que
adiantaria o manto sagrado do princípio da legalidade, se ninguém tivesse acesso ao
desempenho da função administrativa. Assim é que a omissão de publicação, consoante
reiteradas decisões do STJ, é causa de invalidade do ato.
175. Importante: STJ - Informações sobre processos na internet não dispensam publicação
oficial:
As informações sobre andamento de processos na internet não possuem caráter oficial e, por
isso, não podem servir para verificação de prazos nem para qualquer outro efeito legal. Para tais
efeitos, é indispensável a publicação em diário oficial da Justiça, mesmo que na forma
eletrônica. O processamento das reclamações com essa finalidade está regulamentado na
resolução 12/09 do STJ.
Em sua reclamação, o Banco Cruzeiro do Sul pede a reforma do acórdão da turma recursal
gaúcha, para ajustá-lo à interpretação do STJ. "Verifica-se a patente divergência entre o
entendimento adotado pela turma recursal e a jurisprudência desta Corte, no sentido de que as
informações prestadas via internet têm natureza meramente informativa, não possuindo,
portanto, caráter oficial" – afirmou o ministro Sidnei Beneti, ao fundamentar sua decisão.
67Art. 5º, XXXV, CRFB - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.
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176. Nós, como cidadãos, temos o direito a ter documento, com fé pública, que ateste ou
não a existência de um fato. Temos direito a ter uma certidão, independentemente do
pagamento de taxas, de nosso interesse individual ou de interesses gerais ou coletivos, sob
pena de responsabilidade. É a previsão do direito de certidão, contido no art. 5º, inc. XXXIV,
“b”68.
177. A Lei Federal no 8.666/1993, mais conhecida como Lei das Licitações e Contratos,
permite o acesso ao público para presenciar os atos de procedimento de licitações (art. 3 o, §
3o), desde que tal não turbe o ato, além do resumo dos seus instrumentos ou de seus
aditamentos na imprensa oficial, estando assim definido no parágrafo único, do art. 61,
parágrafo incluído pela Lei no 8.883/199469.
178. Publicação não significa, obrigatoriamente, publicação em Diário Oficial. A lei exige a
publicação na Imprensa Oficial. No sertão do Nordeste brasileiro, por exemplo, certamente não
há Diário Oficial e nem imprensa oficial. Mas, mesmo assim, terá que haver publicação (vão
central do órgão da Prefeitura, do Judiciário, do Legislativo, etc.).
70Art. 61. Todo contrato deve mencionar os nomes das partes e os de seus representantes, a finalidade, o ato
que autorizou a sua lavratura, o número do processo da licitação, da dispensa ou da inexigibilidade, a sujeição
dos contratantes às normas desta Lei e às cláusulas contratuais.
Parágrafo único. A publicação resumida do instrumento de contrato ou de seus aditamentos na imprensa oficial,
que é condição indispensável para sua eficácia, será providenciada pela Administração até o quinto dia útil do
mês seguinte ao de sua assinatura, para ocorrer no prazo de vinte dias daquela data, qualquer que seja o seu
valor, ainda que sem ônus, ressalvado o disposto no art. 26 desta Lei.
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181. Todos os atos administrativos precisam ser públicos? Não. Há exceções. Quais são as
exceções? Art. 5º, XXXIII, CRFB71. Toda informação que seja imprescindível à segurança da
sociedade e do Estado não podem se tornar públicas (contrato envolvendo material bélico com
a Alemanha, por exemplo). A segunda exceção está contida no art. 5º, LX, da CRFB72.
Ademais, há também uma previsão no art. 20 do CPP73 (evitar instaurar o pânico na
sociedade). Questão de foro íntimo, na Justiça, não se admite publicidade (somente para os
advogados das partes). Assim, taxado o sigilo, somente algumas pessoas, como os autores e
os seus procuradores legais, que atuam nos processos, podem fazer vistas.
182. Há outro desdobramento do Princípio da publicidade que está no art. 5º, inc. LXXII, “a”,
CRFB74 (habeas-data). O habeas data é uma ação judicial sujeito ao prévio exaurimento da
instância administrativa. Posição do STF: para se exercitar a ação de habeas data, o
impetrante terá que provar que requereu administrativamente a retificação.
184. No que tange à publicidade dos atos processuais, observamos o caso de um indivíduo,
portador do vírus HIV. Por ter desenvolvido a doença, precisou ajuizar ação ordinária para
obter do Poder Público o fornecimento de medicação adequada, solicitando, contudo, que o
processo fosse mantido em sigilo, uma vez que a publicidade dos fatos e atos praticados
afetaria sobremaneira sua vida pessoal e profissional. A fundamentação está corretíssima
porque a Constituição preserva a privacidade dos indivíduos, em franca defesa da dignidade
da pessoa humana versus o princípio da publicidade dos atos processuais.
71 XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de
interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas
aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;
72 LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse
social o exigirem.
73 Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse
da sociedade.
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186. Publicidade é a divulgação oficial do ato para conhecimento público e início de seus
efeitos externos.
188. Isso permite aos cidadãos gozarem do pleno exercício do Estado Democrático de
Direito. Daí o princípio da publicidade, tornando obrigatória a divulgação oficial dos atos
administrativos, ressalvadas as hipóteses de sigilo legal, quando a própria publicidade pode
causar lesão à finalidade de interesse público a ser atendido.
190. Tem efeitos tanto para a divulgação oficial dos atos da Administração Pública quanto
para o direito do cidadão de invocá-lo na defesa de seus direitos, o que poderá fazê-lo através
de dois instrumentos básicos: o direito de petição e as certidões (já tratadas no item 2.4.1).
191. Se o exercício desses direitos for negado, ou ainda não veiculada a informação, ou
veiculada incorretamente, terá o prejudicado os instrumentos constitucionais para garantir a
restauração da legalidade. São eles: o Mandado de Segurança (art. 5º, LXIX, CRFB75) e o
Habeas Data (art. 5º, LXXII, CRFB).
192. Conclui-se, portanto, que a publicidade é obrigatória como meio conferidor de eficácia
da atividade administrativa, mas se admite a manutenção do sigilo quando expressamente
autorizar a Constituição ou quando concorrer possível prejuízo para a coletividade ou para
outrem.
75LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por "habeas-
corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou
agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público;
54
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2.4.3 Resumindo
193. Tem tríplice função:
1º. Dar transparência à atividade administrativa;
2º. Dar eficácia ao ato, ou seja, o ato apenas estará produzindo efeitos após se tornar
público, pelo órgão oficial;
3º. Iniciar o prazo para a contagem dos prazos prescricionais e decadenciais.
PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE
Art. 37 da CRFB
Realizado pela
própria
Tribunal Poder Administração
de Contas Judiciário Pública
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195. Com relação a esse princípio, pouca coisa se tem na doutrina, até porque a
jurisprudência é escassa, em razão dos pouquíssimos casos concretos que chegaram ao
Judiciário.
196. Exemplo real é esse que pode ser encontrado nos anais dos tribunais: presos com
doenças transmitidas por ratazanas. Ocorrência de ratazanas à noite roendo os dedos dos pés
dos detentos. Era uma situação extrema insalubridade que perdurou por mais de cinco anos
sem que nenhuma providência fosse tomada. Tem-se a discricionariedade do administrador
que prefere construir praças ou monumentos (motivos eleitoreiros) ao invés de investir nos
presídios. Há, nesse caso, uma omissão específica injustificável do Administrador, cabendo ao
Judiciário intervir.
198. Mais um caso julgado pelo STJ, mostrando a consequência em se ferir o princípio da
eficiência: uma determinada senhora requereu a aposentadoria, preenchendo todos os
requisitos legais. A Administração Pública levou dois anos para decidir, ferindo o Princípio da
Eficiência e os direitos fundamentais da servidora. Essa pessoa foi indenizada por danos
morais (ela queria morar com seu filho no exterior que se encontrava em cadeiras de rodas,
vítima de um acidente automobilístico).
199. A EC nº 19, alterando substancialmente o art. 37, § 3º76, da CF, deu ao cidadão o
direito de exigir, fiscalizar e cobrar a eficiência. A Reforma do Judiciário, com o advento da EC
n° 45, denominada Reforma do Poder Judiciário, no inciso LXXVIII, do art. 5° da CRFB, reza
textualmente: “...a todos, no âmbito judicial e administrativo são assegurados a razoável
duração do processo...”
76 § 3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na administração pública direta e indireta, regulando
especialmente:
I - as reclamações relativas à prestação dos serviços públicos em geral, asseguradas a manutenção de serviços
de atendimento ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da qualidade dos serviços;
II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a informações sobre atos de governo, observado o
disposto no art. 5º, X e XXXIII;
III - a disciplina da representação contra o exercício negligente ou abusivo de cargo, emprego ou função na
administração pública.
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201. Pelo princípio da eficiência, é errado o juiz afirmar: “Eu fiz concurso para Juiz e não
para administrar cartório”. O juiz hoje é um administrador de cartório, sim, e terá que
supervisionar a sua administração (O juiz só toma conhecimento quando o pepino estoura,
virando manchete de jornais).
202. Outro absurdo: petições que são juntadas oito meses após a entrada do requerimento.
A cada ano, são aproximadamente 1.200.000 processos novos. Os juízes têm compromisso
com a qualidade. A grande morosidade da justiça dá margem para a perda de sua
credibilidade. Daí, dizer-se que a justiça é lenta e cara!
203. É lógico que a regra do concurso público não serve para medir a eficiência. Às vezes, o
candidato pode ser o gênio dos concursos e ser imprestável para a Administração Pública. Daí
o art. 41, caput, da CRFB77, após a Emenda Constitucional no 19/98, exigir que, durante três
anos, além do período de experiência (esse se tiver previsão na lei criadora do cargo) ele
estará em estágio probatório.
204. Então, o servidor pode ser demitido por ineficiência. Haverá avaliação periódica de
desempenho. Se o servidor for ineficiente no desempenho de suas funções, ele será
exonerado (e não demitido). Por enquanto esse artigo não está sendo aplicável, por depender
de lei complementar.
206. Para viabilizar a eficiência, temos a regra do art. 169, da CRFB78. A Administração
Pública não pode, com despesas de pessoal, seja ativo ou inativo, ultrapassar os limites
77 Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores nomeados para cargo de provimento
efetivo em virtude de concurso público.
§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo:
I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado;
II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa;
III - mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei complementar, assegurada
ampla defesa.
§ 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do servidor estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupante
da vaga, se estável, reconduzido ao cargo de origem, sem direito a indenização, aproveitado em outro cargo ou
posto em disponibilidade com remuneração proporcional ao tempo de serviço.
§ 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade, o servidor estável ficará em disponibilidade, com
remuneração proporcional ao tempo de serviço, até seu adequado aproveitamento em outro cargo.
§ 4º Como condição para a aquisição da estabilidade, é obrigatória a avaliação especial de desempenho por
comissão instituída para essa finalidade.
78 Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não
poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar.
Parágrafo único. A concessão de qualquer vantagem ou aumento de remuneração, a criação de cargos ou
alteração de estrutura de carreiras, bem como a admissão de pessoal, a qualquer título, pelos órgãos e entidades
da administração direta ou indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, só poderão ser
feitas:
§ 1º A concessão de qualquer vantagem ou aumento de remuneração, a criação de cargos, empregos e funções
ou alteração de estrutura de carreiras, bem como a admissão ou contratação de pessoal, a qualquer título, pelos
órgãos e entidades da administração direta ou indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo poder
público, só poderão ser feitas:
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previstos em lei complementar. Esses limites foram definidos como sendo: art. 19, da Lei
Complementar nº 101/0079 (Lei de Responsabilidade Fiscal): para a União o limite de 50%
(cinquenta por cento de sua receita líquida, e para os Estados e Municípios esse percentual é
de 60% senta por cento).
I - se houver prévia dotação orçamentária suficiente para atender às projeções de despesa de pessoal e aos
acréscimos dela decorrentes;
II - se houver autorização específica na lei de diretrizes orçamentárias, ressalvadas as empresas públicas e as
sociedades de economia mista.
§ 2º Decorrido o prazo estabelecido na lei complementar referida neste artigo para a adaptação aos parâmetros
ali previstos, serão imediatamente suspensos todos os repasses de verbas federais ou estaduais aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios que não observarem os referidos limites.
§ 3º Para o cumprimento dos limites estabelecidos com base neste artigo, durante o prazo fixado na lei
complementar referida no caput, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios adotarão as seguintes
providências:
I - redução em pelo menos vinte por cento das despesas com cargos em comissão e funções de confiança;
II - exoneração dos servidores não estáveis.
§ 4º Se as medidas adotadas com base no parágrafo anterior não forem suficientes para assegurar o
cumprimento da determinação da lei complementar referida neste artigo, o servidor estável poderá perder o cargo,
desde que ato normativo motivado de cada um dos Poderes especifique a atividade funcional, o órgão ou unidade
administrativa objeto da redução de pessoal.
§ 5º O servidor que perder o cargo na forma do parágrafo anterior fará jus a indenização correspondente a um
mês de remuneração por ano de serviço.
§ 6º O cargo objeto da redução prevista nos parágrafos anteriores será considerado extinto, vedada a criação de
cargo, emprego ou função com atribuições iguais ou assemelhadas pelo prazo de quatro anos.
§ 7º Lei federal disporá sobre as normas gerais a serem obedecidas na efetivação do disposto no § 4º.
79 Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total com pessoal, em cada
período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente
líquida, a seguir discriminados:
I - União: 50% (cinquenta por cento);
II - Estados: 60% (sessenta por cento);
III - Municípios: 60% (sessenta por cento).
§ 1o Na verificação do atendimento dos limites definidos neste artigo, não serão computadas as despesas:
I - de indenização por demissão de servidores ou empregados;
II - relativas a incentivos à demissão voluntária;
III - derivadas da aplicação do disposto no inciso II do § 6o do art. 57 da Constituição;
IV - decorrentes de decisão judicial e da competência de período anterior ao da apuração a que se refere o § 2o
do art. 18;
V - com pessoal, do Distrito Federal e dos Estados do Amapá e Roraima, custeadas com recursos transferidos
pela União na forma dos incisos XIII e XIV do art. 21 da Constituição e do art. 31 da Emenda Constitucional no 19;
VI - com inativos, ainda que por intermédio de fundo específico, custeadas por recursos provenientes:
a) da arrecadação de contribuições dos segurados;
b) da compensação financeira de que trata o § 9o do art. 201 da Constituição;
c) das demais receitas diretamente arrecadadas por fundo vinculado a tal finalidade, inclusive o produto da
alienação de bens, direitos e ativos, bem como seu superávit financeiro.
§ 2o Observado o disposto no inciso IV do § 1o, as despesas com pessoal decorrentes de sentenças judiciais
serão incluídas no limite do respectivo Poder ou órgão referido no art. 20.
80 Art. 38. A inexecução total ou parcial do contrato acarretará, a critério do poder concedente, a declaração de
caducidade da concessão ou a aplicação das sanções contratuais, respeitadas as disposições deste artigo, do art.
27, e as normas convencionadas entre as partes.
§ 1o A caducidade da concessão poderá ser declarada pelo poder concedente quando:
I - o serviço estiver sendo prestado de forma inadequada ou deficiente, tendo por base as normas, critérios,
indicadores e parâmetros definidores da qualidade do serviço;
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208. Eficiência é gastar menos? É atender ao interesse público, mesmo que para tal
necessite gastar mais? A eficiência pode ser aquilatada através de laudos, perícias, pareceres
etc.
209. Hoje, a doutrina majoritária afirma categoricamente que o princípio da eficiência está
intimamente ligado com a economicidade, girando em torno da análise prévia do
custo/benefício expresso no art. 70, caput , da CRFB.
210. Vejamos um caso concreto: entre construir uma ponte ou um terminal de barcas para
atravessar determinado rio, a Administração deve levar em conta o custo dos investimentos e o
benefício em termos de desenvolvimento econômico, de geração de empregos, de impostos,
etc. Então, como se observa facilmente, o princípio da eficiência tem como objetivo um maior
grau de racionalidade econômica nos gastos públicos.
211. A dispensa de licitação por valor que a Lei de Licitações e Contratos estabelece
acontece em função do princípio da eficiência. Gastar-se-ia muito mais com o procedimento do
que com a compra propriamente dita.
212. Por fim, vale enfocar que o princípio da eficiência integra o controle da legalidade ou
legitimidade e não do mérito administrativo. Com isso, é possibilitada, em tese, a apreciação
do poder judiciário de um ato administrativo quanto a sua eficiência, pois o ato ineficiente é
ilegítimo, o que enseja sua anulação.
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213. É o último princípio expresso no caput do art. 37 da CF. Ele também abarca dois
entendimentos possíveis: tange ao agente público, que não pode atuar amadoristicamente,
devendo buscar a consecução do melhor resultado possível, como também diz respeito à
forma de organização da Administração Pública, que deve atentar para os padrões modernos
de gestão da administração, vencendo o peso burocrático, atualizando-se e modernizando-se.
216. Fim à isonomia de vencimentos: trata da norma vigente do art. 37, XIII, da CRFB81,
modificada pela EC nº. 19/1998.
220. Adequação das despesas com pessoal: Art. 169, caput, da CRFB83.
82 Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores nomeados para cargo de provimento
efetivo em virtude de concurso público.
§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo:
I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado;
II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa;
III - mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei complementar, assegurada
ampla defesa.
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2.5.4 Resumindo
a) Impõe a todo agente público a realização de suas atribuições com presteza, perfeição
e rendimento funcional;
b) É o “dever de boa administração”;
c) Eficiência é a tradução jurídica da expressão econômica “custo x benefício”: A
atividade administrativa deve buscar o maior proveito possível com o menor
dispêndio necessário;
d) É a busca da melhor qualidade, do menor dispêndio de recursos materiais, inclusive
naturais, e financeiros, no menor tempo possível e com o maior respeito ao usuário
dos serviços;
e) O dever de eficiência exige a melhor alocação possível de pessoas, bens, tempo e
recursos financeiros, bem como a maior universalização possível no atendimento da
população usuária no menor tempo;
83Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não
poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar.
84 Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, no âmbito de sua competência,
regime jurídico único e planos de carreira para os servidores da administração pública direta, das autarquias e das
fundações públicas. (Vide ADIN nº 2.135-4)
§ 2º A União, os Estados e o Distrito Federal manterão escolas de governo para a formação e o aperfeiçoamento
dos servidores públicos, constituindo-se a participação nos cursos um dos requisitos para a promoção na carreira,
facultada, para isso, a celebração de convênios ou contratos entre os entes federados.
85 § 7º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios disciplinará a aplicação de recursos
orçamentários provenientes da economia com despesas correntes em cada órgão, autarquia e fundação, para
aplicação no desenvolvimento de programas de qualidade e produtividade, treinamento e desenvolvimento,
modernização, reaparelhamento e racionalização do serviço público, inclusive sob a forma de adicional ou prêmio
de produtividade.
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PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA
Art. 37 da CRFB
O DEVER DE RESULTADO NA
GESTÃO PÚBLICA PODE SER
MEDIDO OBJETIVAMENTE
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A Constituição do Estado do Espírito Santo prevê, em seu art. 32, VI, que é "vedado ao
servidor público servir sob a direção imediata de cônjuge ou parente até segundo grau civil".
Foi proposta uma ADI contra esta norma. O STF decidiu que essa regra é:
O que a CE quis foi proibir o nepotismo. Ocorre que o nepotismo significa "proteção",
"apadrinhamento", que é dado pelo superior para um cônjuge, companheiro ou parente seu,
contratado para o cargo ou designado para a função em virtude desse vínculo. Isso ofende a
moralidade.
Se a pessoa foi aprovada em concurso público e irá assumir um cargo efetivo, ela poderá
assumi-lo mesmo que na direção imediata esteja seu cônjuge ou parente. Isso porque, neste
caso, este cônjuge ou parente não teve influência na contratação, que se deu em virtude de
aprovação em concurso público.
Se fôssemos aplicar essa proibição, inclusive para cargos efetivos, incorreríamos em violação
ao art. 37, I e 11, da CF/88, que garante o livre acesso aos cargos, funções e empregos
públicos aos aprovados em concurso público.
O nepotismo é vedado em qualquer dos Poderes da República por força dos princípios
constitucionais da impessoalidade, eficiência, igualdade e moralidade, independentemente de
previsão expressa em diploma legislativo.
Assim, o nepotismo não exige a edição de uma lei formal proibindo a sua prática, uma vez que
tal vedação decorre diretamente dos princípios contidos no art.37, caput, da CF/88 {STF. Rcl.
Nº. 6.702/PR-MC-Ag). Logo, essa previsão da CE era dispensável.
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Princípio da Publicidade:
O princípio da publicidade exige que, em regra, haja ampla divulgação dos atos praticados pela
Administração Pública.
O princípio da publicidade existe porque vivemos em uma República democrática, na qual o
titular do poder é o povo (art. 1°, parágrafo único, da CF/88). O administrador apenas atua em
nome do povo. Logo, ele tem o dever de prestar contas ao povo sobre todos os atos que
pratica. O povo tem que controlar socialmente o poder. Como o povo vai exercer tal controle se
não sabe como o Poder Público está agindo? Sem essas informações, não se consegue
controlar a coisa pública de uma forma adequada.
Esse princípio da publicidade também está relacionado à eficiência na gestão das contas
públicas, já que possibilita uma maior fiscalização.
Exceção:
A própria CF/88 afirma que o princípio da publicidade não é absoluto e que deverá ser
assegurado o sigilo se a informação a ser divulgada puder gerar riscos à segurança da
sociedade e do Estado (vejam esta questão de concurso público: Na esfera administrativa, o
sigilo, como exceção ao princípio da publicidade, é inadmissível ante a existência de preceito
constitucional expresso que veda sua adoção pela Administração Pública. (ERRADO)).
Para a Corte, a divulgação dos vencimentos dos servidores, a ser realizada oficialmente,
constitui informação de interesse público que não viola a intimidade e a segurança deles, uma
vez que esses dados dizem respeito a agentes públicos em exercício nessa qualidade.
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ADM I – 03 - PRINCÍPIOS EXPLÍCITOS – 2016.2
Profº. Francisco De Poli de Oliveira
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ADM I – 03 - PRINCÍPIOS EXPLÍCITOS – 2016.2
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Toda ação envolvendo União e Estados em polos distintos será julgada originariamente pelo
STF com base no art. 102, I, “f” da CF/88?
NÃO. Para se caracterizar a hipótese do art. 102, I, "f", da CF/88 é indispensável que, além de
haver uma causa envolvendo União e Estado, essa demanda tenha densidade suficiente para
abalar o pacto federativo. Em outras palavras, não é qualquer causa envolvendo União contra
Estado que irá ser julgada pelo STF, mas somente quando essa disputa puder resultar em
ofensa às regras do sistema federativo. Confira trecho de ementa que revela essa distinção:
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ADM I – 03 - PRINCÍPIOS EXPLÍCITOS – 2016.2
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Ex.: disputa entre a União e o Estado por Ex.: ação proposta pelo Estado questionando a
conta do alugue de um imóvel. Em regra, sua indevida inclusão no CAUC, o que tem
é julgado pelo juiz federal de 1ª instância. gerado o fim de repasses federais.
É julgado pelo STF (art. 102, I, “f”, da CRFB).
No caso concreto, o STF entendeu que ele próprio era competente para julgar a ação. Isso
porque, além da presença, em polos distintos, de Estado-membro e União, estava em jogo a
inscrição do ente local em cadastro federal de inadimplência, o que impedia a contratação de
operações de crédito, celebração convênios e recebimento de transferências de recursos.
Essa situação revela possível abalo ao pacto federativo, já que está mitigando (enfraquecendo;
a autonomia do Estado-membro, a ensejar a incidência do art. 102, I, "f", da CF/88.
Por que a ação foi proposta pelo Estado contra a União? Não deveria ser ajuizada contra o
FNDE (autarquia federal)?
O STF entendeu que a ação deveria ser proposta contra a União mesmo. Isso porque, embora
o FNDE possua personalidade jurídica própria, cabe à União, na qualidade de gestora, realizar
a inscrição no CAUC e no SIAFI. Logo, antes do registro dessa inscrição, deve ser garantida a
ampla defesa ao ente, sendo também da União a competência para a retirada do cadastro.
E o que o STF decidiu quanto ao mérito? A Corte concordou com os argumentos do Estado-
membro?
SIM. O STF entendeu configurada ofensa ao devido processo legal. Para a Corte, ficou
demonstrada a ocorrência de incêndio que destruiu a documentação relacionada à execução
dos recursos advindos do convênio. A inscrição no cadastro federal de inadimplência foi feita
sem que o Estado-membro tivesse pleno conhecimento dos elementos necessários à
apresentação de sua defesa.
Diante disso, o STF entendeu que seria impróprio considerar o Estado-membro como
inadimplente.
Para o Supremo, é necessário observar o devido processo legal, o contraditório e a ampla
defesa antes que haja a inscrição de entes públicos nos cadastros federais de inadimplência.
Em suma:
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