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HONORE DE' BALZAC

B l B:L I' O T E CA D O S $=1€ C Yy L 0=S

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A PELA:.DEi''ONAGRO
A''C'OMÉDIA ~HUMANA :JESUS CRISTO EMó FLANDRES
DE
MELMÓTH;.'.APAZIGUADO
HONO RÉ DE B ALZ AC
MASSIMILLADONI
\ OBRA-PRIMA IGNORADA
[ntio(]âlkL]fL]QâtÇIEjg.oiâiáJly!gt$1à;à
Rónai
GAMBARA
A PROCURA
'\ DO',ABSOLUTO
xv Precedido de

"A INFLUÊNCIA DE BALZAC"


DE ERNST ROBERT CURTIUS

/ Tradição de
COMES DAJSILVEIRA
ESTUDOS FILOSOFICOS e VIDAL DE OLIVEIRA
#
Coh . 7 ilustrações fora .do texto

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1:.\?:.aovlaHia

EDITARA GLOBO
E': D; 1:.'r Õ:R A{.eG-:L 0 B O
SÃ0.PAULO RIOJDE JANEIRO - PÔRTO
'ALEGRE .!ú.' SÃO PAULO
KtO DB JANEIRO- PÔRTO ALEGRE -
B
388

Acha. Frdnçois Foscas' que üi ,idéias sõbrer'a l)itiEltt-a,rtã(Eori-


ginais e audaciosas
Paraa época,atribu das pot Batzaca .Frenho\er, n
sãos.deuidm a Delacroir, pois o diária: e a . c07'real)àndênda dêste 7
grande pintor. .ç.ontêtàmuitos conceitos sentelllantes sabre a sottlbra, zg tll» /orar
ó reflexo, o desenho, a .!naneila de tttodelar.
,/

Freqilentcmente ew t)reqençã .dos onlançes de BaLzQC ü gente \

fica entristecido, coltlo se tiuesiê assistido à mulitaçãos*detçtltd obra'


ptiuLa, e pensa.àa notieta do 'Próprio Bal.zac'lqtte.se' l:ltaHta.A' Obta-
Prima lgnotada, nâ .gl.faJ!.ie /a/a dc- wm qz4adro q-z4e é ltm borrão 1845l
cd+lfliso .de . côres: sob :o : qual aponta aqui e ali, algün : porntenor
csttlpeadcintento tpintado.{'++:-" Da: mestria fo?Tetafoi:' lentbrado- qüe?a
vida de BalzQC,c.õl :sela.desperdício.lot ço de fârçm e seus esforços l
s.õbfê-hxlTmnos,se explicara pela ficção dü pele de.onagro.++q'.Assim
õi:' símbolos üaii j:a?acterísticoi do Toniatlcistà, stw +nilologia parto
curar seruettl .\l)ara a::lihterl)i'etação:. de .uta +existêtici(b {ntiBla e: de +
GILLETTE
iüa obra.
)bseHlctHog :qüe ' o' 'couto .etü üPrêço, ..aPçsat de'i.forlntalüente Em fins de 1612, numa fria, ganha. de dezembro, uÚ~ rapaz,
estar imó/24ídoefll'A Comédia ]:iunlRna, ão fef} colei. Cala Ha red/idade cujc. vestuário era de modestaaparência,passeavaem frente à porta
»enhullta ligação; sva. aiãdCFrecede' de centena.s dê.brios Q él)oéa em de uma casa' situada na rua dos 3l;randes. Agostinjanos,il;em Paria.
que. w pese UQluc) :anão .con.ivnta do ciclo {ntelfo. Deliois de por muito tempo caminhar por. aquelas.rala c(Im a érreso-
lução de umlainante que não ousa apresentar-se.:em. casa da sua
p:.'R. primeira conquista,por mais fácil .que.ela, tivesse sido, acabouóot'
transpor o :umbral daquela porta, e perguntou sexmestre.Fráncisco
Porbus estará e© casa.i. Ante a respostaafirmativa que it)e fdi dada
pbr uma velha:entretida êm.Varrer uma sala''baixa, o jovem subiu
àgilmente os degraus,'detendo-seerH cada um dêles como um corte;
são noviço,.inquietopelo acolhimentoque Ihe faria o.-rêi. aquando
chegou aó alto da escadaria de caracol, fic.ou um momehtÓ no pata-
mar, hesitando sei-usaria ou não a grotesca aldrava que ornamentava
al porta da oficina onde devia :traba]har o pintor. de .]liénrique, IV',. 2
aó qual Mana de Medias 3 preferiu Rubens. O rapaz experimentava
essa Sensação profunda que deve. ter:feito$vibrar o .coração dos
grandesartistas, qttandb, em plenos.zênjte.
tía mocidadee dó ahoi'
/

1) c A identidade dêsse -lorde, assim como ó üsentido" das quatro linhas


de ?:pontinhos !i quer substituam a( dedicatória, não ;puderam set j.descobertos.
Tratar-se-á, provàvelmente, de duma dessas 'tnistificaçõe$ imitadas t de Sterné
que aparecemtambémnoLepíg.ralede.H- Pe/e de O/magro'
e numgtrechode
.4 Fiado/agia d., .Caiam/zeFifo J. ( Meditação XXV).
2)h Henr qze:.JT' ;(1553-1610),-fei da França, protetor das artes,' depois
'\de Va]ois gdesposou . 'Mãria] de :Medias.
de'. ie -divorciar ::dé. Margarida
+) Ft-ançois:,Fosca, .'.Ed íoiid rf / leJ {.Gonfotlrl,i. All)in Midlel. Pauis. 3): i!/úf a de ]fedicis (1573-1642) rainha da Frànça. foi .reconhecida re-
i941, pág. 238. g -j i:: :.$; €1;,'3'''.$:i ;..''-.'-.. l;l' gentepela parlalnênto
!idepois:,
o,..poderá em:,suas :'mãos
da: morte de lienrique:vlV.?e concentroutodo
até 1617.. .{Encarregou. Rubens de : pintar ; vários epi-
b+): Bencdetto Croce,'+o esitldok.qtjercprodltzintos no vol. Xyl da. prê-
sel!ie edição. sódios'da vida dela numa série de quadros, hoje conservadosno Louvrc.
389
+H)g BoKüer. ef .l/aynidl, Les Comptes Dfaúptiques de 'Éalzaq .}áp. 15.
390 EST U D OS F rLOSÓ Fl-COS
q
AqOBRA-.PRIÀÍA IGNORADA 391
pela arte, enfrentaram um homem de gênio ou alguma obra-prima.
Existe em todosos sentimentoshumanosuma fmi' primitiva, engen- peixe, atirem sôbre o gibão prêto;ldo.ancião uma pesadacorrente .de
drado por um . nob:e,lentusiastno que vai continuamente enfraque- ouro,:ie terão uma imagem imperfeita.dêssepersonagem,ao qual a
cendo até que a felicidade não-seja mais do quq uma lembrança & a escassa.]uz da escada acrescentava ainda uma cõr fantástica. .:.Dir-
glória- uma mentira.:;Por entre essasírágeisÜemõções, nada sê ge-iauma tela de Rembtandt:caminhando',s:lenciosamente,.
e sem o
assemelhatanto ao âtnor como.a-jÜven:l'paixão de UQ artista!que quadro, na escura atmosfera de-que olgrande pintor se apropriou.
. unida o delicioso suplíc:o .de seu destino de glória e de infortúnio. O ancião dirigiu ao rapaz um olllar. repassadode sagacidade,bateu
pàikãõ jcheià de audácia e de-timidez, -de crenças vagas e -deVdegà- três pancadas
na porta, e dissea um hotnemvaletudinário.de cêrca
nimgs positivos:' llAo artista qual de poucos haveres, que, adolescente de.quarenta anos,:que veio.abrir:: .-. .:,.\T;: k
de génio,:::
não palpitou vivamenteao.-apresentar:se'
diante de um ..-.:: Bom di.a, mestre.
mestre, sempre faltará uma corda nd jcoráção, não sej que pincelada, Porbus inclinou-se respeitosamente
; ' deixou o rapaz entrar, por
que sentimento na obra,. que indefinível expressão de poesia.::4.Se julga-lo .trazidojiipelo anc;ão, .é preocupou-se tanto menos.:com êle,
alguns fanfarrões, cheios dç. si«:crêemmuito"cedo no futuro, 'êsses por ;ter. .o neófito permanecido sob à encantatnento que. devem éxDe-
se:-ão homens de espírito .sàoentc: para os néscios.'" A ..ser.lassim. rimentar os;jpintores de voga(ãoarte o,aspecto.do primeiro .at.elier
o jovem desconhecido parecia !ter . Verdadeiro merecimento. se é. que que ,vêem é onde se lhes.revelam alguns dos processosmateriais da
o talefito *deve medir-se pol' êsÉa timidez .inicial, pot':- êsscJpudor arte..- Unha cja' abóia 'existente no teta .iluminava o atelierlde Porbus.
indefinível quc os bluesão destinadosà glót'ia sabem.perder üo 'cxct= Concentrada sôbre uma tela. colocada no cavalete, e que não fera aillda
Cíciõ..:de iuà arte, cbmoé ai :thulJieres bonitas perdem. o seu .nos .tocada.senão por três ou quatro. traços brancos, a luzÚnão alcan:ava
manéjo$-'dà faceirice.::lO hábito. do triunfo apequena'a dúvida, iê g as :negras profundezas . dos, cahtosj:daquela . vasta ?peça ; entretanto,
pudor .é talvez üma dúvida.
alguns reflexos:. perdidos faziam) brilhar naqliela sombra pardacenta
Det)'jhido..apela miséria .e gujbreeiid:doÇ';daquelemomento por ppa paleta prateada' FO ventre de uma couraça de. retre suspensa
$ua peful.ânc:a,õ pobre~ncófito:não.teria: entrado em casa do píntof na paredes listavanl .i:om um brusco sitlco de hiz a cornija esculpida
g .tlttem devemos õ admirável ,retrato de .l-lenrique~ IV,' sem. .ym
e encerada .çlc um antigo aparador coberto,de::louçasl curiosas, ou /
àPxílio ''extraordinário quê o acaso Ihe proporcionou; I'.Um 'ancião
pontilhavam de pingos brilhantes o tecido g-andloso de alguns.velhos
Vinha subindo a escada.'4.lPela singularidade do seu .trajo, pela magni- relioiteiros de brocado dou:ado..de grandes pregas desfeitas, ntiraaos
ficência .de.seu ca )deãode renda, pela prcpdnderante éaliilá do seu ali como: modelos.ü:;.Manequinsltde gêsso, fragmentos e bustos de
andar,:':o }rapaz adivinhou ser aqtxêle .personagem uú.; protetor; bu deusas: antigas, amorosamente . pol:das; pelos::' beijos ! dçs séculos. ,l
amigo do pintor ; recuou no patamar para daf-lhe. htgal' e' examinou-o enchiam as mes'nuas e ós cónsolos.J:Numerosos esboços, estudos a. \rl
com ..curiosidade, na esperançãlde. achar nêle a :boa Íhdolc de um lápb, a trêslêõres,sanguíneosou feitos a pena,cobriaip as paredes', l
artista, ou,'o caráter serviçal:daspessoasque ânlam a arte;:'mas áté âci teta.=1 Caixas. de tintas, garrafas de óleo e de essência,-mocho's
na(jucje rosto diV:sou alguma coisa dej=diabólico,:e, so})retido,. êsse caídos,,;não deixavam senão.éum ,can'indo estreito:para :ch-qat' eih :]
não re qwê que tanto atrai os artistas. Imaginetn' unia fronte.,calva, baixo . da auréola projetada.''pelaeclarabóia, 'cujos içraioÉ caíam ..em
abaulada, .proeminente, projetando-se saliente;sabre um. nariz peàuenb
cheio no. páJldõ .semblante de Porbus: e,sõble o crânio 1le;marfim. . ; 'l
e l:bato. arrebitado na ponta como {l de' Rabelais ou o delSócratêsi do homem- singular.'e A'intenção--do rapaz l:foi logo exclusivamente:;""-l
uma. ,bôca risonha;:;e'ç enrugada, .hml.=queixo Curto, orgulhosamente solicitadapor um quadro que; naqtlele:tempo.de motins e de revo-
êrguidói tapado'.::por um& barba grisalha,-- aparada em .tonta,.. olhos luções, já :Ée.:tornará célebre, e que era visitado pof alguns dêsses
irerde-mat embaciadosna aparência pela. idade, mas guQ. pelo êk)n- teimososaos quais se deve a conserva(ãodo fogo sag-ado durante og
traste do--branco nacarado em, que:ia-,pupilalflutuava,: deviam por dias mãus=TA(latia bela página tepresentata uma .#4'ariaZ?giPcÍacà'
vozes despedir olhares4mananéticos ; no paroxismo ãa cólera :ou do
qtié' se disptmha.zajiagar . ! passagemda barca....E.ssa'obra-prima,
entusiasmo.:jO rosto, aliásl-:estavasingularmente einurcheçido pelas
fadigas da idade;e; mais.ainda,.por êssesl)ensamento$
que corroer 4) à/aria :bgfpcíaca : Santa Mana dita a 'Eggipcíaca .(séciilo V.'d. C.)
igualmentea' alma ç olcorpo=â Oê:olhos não tinham mais cíl;os,"e que,. segunda.a lenda. levava em Alexand ia$um 'ávida escabrosa. rondo visto
mal se viam .vestígios de sobrancelhas por sôbre :as al'cadas' salientes. um grupo de peregrinos que s: destinava aTJerusalém,resolveu ir.êom êl's,
m4ç ao jchegRr"aum:rio não tinha çom que pagar a$sua:.passagem.'Foi
Ponham 'essa eabeçá llnum Pcorpo=franziho "e 'débil, cefquem-nã ' dc quando .Ihe :ocorreu ente?kar=Se ao cailoeifo .para? poder acompanhar l os pq-
umã renda de deslumbrantealvui'a e perfurada como uma éblher para feg idos:- Êsse :êpisódiol -fõrnecêu àssúntoÜ para . inúmeros'!quadros. lendas 'ê
poesias.
+
S92 nsT up og-. rl,L osÓ picos 'À OBRA-PRIMA IGNORADA 393

r: h:
destinada à Mana de Medias, foi por éla 'Vendida nos dias -de sua
niiseria.

-- Tua santa me .agrada := .disse o .ân'Ciãó a Porbus --+-e eu


=w.:ã$,$.=:i :;:i:Êl:="1=:
tc daria por eh dez'.escudos.dé.Puro acima.do preço que â tainha '-- Ah! aí está ! ;r i'espondeu ó velhinho .-- Flutuante indeciso
oferece; mas.competir. cola ela.:: .. é o diabo! os dois-:sjstemás,entre b desenho.e a câr,. entre a feuma
-= Acha-a bem?
-.: Hum ! hum! -:'fêz o andiãoi:.-'bem?l.q: sim'e não.Í Essa
tua mulherzinhanão está mal-arranjada,.mas não têm vida. :.Vocês
pensam ter .feito tudo, .'gúando.desenlfaramlçorretamênte uma figura
.1
e puseram..éolretamente cada: coisa em' seu lugar:segundo as leis .da cura, . nem as decepci?dantes 1lagias do . claEd-escuro.'. Neste lugar,
anatomia ! J.l Vocês.. õolorem '.êsse..'bsbâçq' dom tonalidades de carne
de an.temãopreparadas.na paleta, tendo:;o cuidado de mantefl'um
dos 'lados mais sombrio ão que".o: outro, e, bomoEoiham de quando
em. quando .uma,mulher. nua que se conserva de pé em cima de uma tiu aos.magníficos trasbordamentos da paleta venezianae os conteve.
mesa;:julgam ter .copiado ã natureza : imakinãh'que são pintofés :e Tua figiira não está nem perfeitamente dêéenhada,nem perfeitamente
queÊroubaranl o éegfêdól -de Deu? !. : . '!P;rr !. .jBíãõ basta . para 'ser pintada, e.mostra em tôda a parte os vestígi(;sdessainfeliz indecisão.
um grande poeta conhecer a$fundo a sintaxe e não cometer erros ,íSenão te sentias'$ufiêientefnente forte para fundir juntos ao'fogo
dé linguagem! ::Olha'tua santa,tPorbus !I'; À primeira vista ela pa- do téu gênio ãs duas=maheirasrivais devias ter 'optado francamente
rece:admirável; mas.a unl segundo.exame vê-ge que está rolada no
fiando da tela. e que' não seria. possível dar uma solta em ltõrno :do
seu corpo:..::É uma silllueta que se.tem uma face,:'é tisna aparencia
recortada, uma .imagem incapaz':de. se'Çvirar, 'de mudar .je posição.
N.ão. cinto..ar. entro êsse braço .e . b f.undo do quadro'; faltam' espaço
e ptofUn.didade..;
entretantolem. perspectivatudo está.bem,e a' de-
lêB14il
HI
E também lâqui . .:--f,continuou êle' indicando
quadro, terminava o ombro. I'.ü Mias ali -.ü acrescentou} volt;nda ao
.o'.ponto
IH em que, no

gradação aérea'está exatamente ob$erváda.imas, apesar de tão . lou- {


centrQ. do:t:ojo, . ---.«tudo é falso. anão analiserüos' nada, qüe isso
váveisesforços,eu não poderia crer que êssebelo corpo.esteja seria. desesperar-te. :g ..' .v:-:;S; ., J ':,. ..: 'í- --' '
animado pelo morno.l.soproda vida. :. Parece-meque, ge eu colo-
cassea mão.naquele.colo de carnes firmes e harmoniosas,eu o acha- ;. O «dão s«to«-w -Ü-'i b;«q«ta: i.g«ÃÜ ' ab.ça ."m n
ria frio Pomo mámiore:. Não) :tneii amigo, o sangue não corre jpr
baixo daquelapele'de marfim,: a vida. não .intumesce.com seu;lor;valho .. ; .+.. Mlestre .l::.-- disse-lhe Porbüs =-.: entretan.td.. estudei bem o nu
purpúreo as veias e -as fíbrilasjque se enerelãçalnem rêdesíisob,a dêste colo; mas, por infelicidade nossa-existem efeitos .verdadeiros
na .natureza. que ..üa tela não são mais prováveis. l.;
transparência de âmbar..das .têmporas e do peito.. Êste .lugar:palpita,
mas aquêle outro está. imóvel, eÚ. cada pormenor a .vida'e.â morte
lutamí aqui é.uma,mulher, blli é uma estátua.:mais além,ê'iiim cadá-
ver. . 1:Tua criação'..é incompleta .anão pudeste trân;mijÍi': seflão uma
parte'de.tua almaà tua obra.querida...'0 fachode P;Qme:teu
s mais
de uúa vez le apagou àas, tuas inãoé, e:tüuitos lugares do teu quadro
não foram . tocados' pela chama celeste,

5) . Pf'olMflfÜ: ' filho de 'um 'titã e'irmão.de 'Àtlahte,.:segundo a' mito..


]ogia! formou o. homem.do limo da terra e, 'para gnimá-lo; sroubou o 'fogo
do':céu. Sofreu, por issoPte.rrível castiga:; por. ordem de Júpiter, foi acor-
rentado poi'.Vulcano ao. Cáucaso,:onde um abutre vinha devorar-lhe cr fígado\
atê : que Hércules :;p li.bertou.
: ., -' . .. ff.-( .,4 T'q

Ç
A'OBRA-PRlbãA IGNORADA.
394 ES+U DOS F ILOSÓ F ICES

carne. , belos bdrtinãdoÉ dé cábelós, .mãs, onda o sangdê qae Stl-


.= A :n)issãd' da arte Dão é:;copiarba natureza e sim exl)ri-
gendra a calma ou a paixão e qúd causa .efeitóÊparticüiárés?; 'fiiü
hi-la! f: Não iés um vil copista, e:sim um poeta!.---- exclamou viva- santa é um& mulher morena, mas.iÉtó aqui, meu .pobre'PorbtlgiÍ'é de
mente'o an-:iãd' intei'rompendo Porbus .cón{ uh gesto .despótico.-- urna loura!«;' AÉ..figuras de vocês são:então pálidos farltasmas colo-
De outra forma, um escultor, estaria quite com.:;todos .os seus tra-
ridos que vocês nos.{passeiam diantejdos olhos, e chamam a isso
balhos modelando unia mulller! Pois. bem, ex-perimehtalincdelar a pintura! e ai'te! !apelo.l fato.'. de: .terem feito : alguma!!coisa que::se
:mãos de . tua aDIante e a 'mlocar :diante de. ti ;:-depararás,;.éom; :unt
assemelha mais; a uúa mulher do que a: uma .casa,:vocês pensam ter
horrível Cadáver, sém-nenhuma parecença, e serás forçado a irl eh alcançado ;o alvo,l.e, muito ufanos ,por não serem mais obrigados á
busca :do escopros do : homem que,:qsem copia-la.: êxatamente,''ne14 escrever ao lado :de suas figuras, c?lrrzlsueHusfm. ou p!{/c/ter /lopíto.g
representará o:.mov;naento e a .vida. : Temos dc apreender.o espírito,
a alma. a f-isiononlia das coisas e dos' gêies. : Os efeitos*!i ç)s':efeitos!
çomo.los primeiros;:p:ntores,-:vocês
julgam per artistas maravilhosos
l
Ah l.ah ! ainda não alcançaramo alvo, meus denodadoscoülpanheiros;
mas se êles:cão os acidentes da vida .e não. a tida! 'qUmã mão, já terão ainda de gastar muitos lápis, borrarFmuitas;telasantes{.detal
quêltecorri :a êsse exemplo,lama mã(i não está$ünicamenteprêsa ab conseguir! ;;Não há dúvida de que uma mulher traz-a cabeça.dêsse
corpos ela' expritne:;e continua 'üm pensamento que lé preciso;'apreen-
modo,tielajisegura .p {saía : assim, .seus olhos sejgenlanguesêêm e se
de!«e reproduzir.ü: Nem o -pint-Dr;neiü o poeta, nem o escultor devem fundem nesse,ar de. doçura resignada, a:sombra palpitante .dos cílios
separar o :efeito da causa? que invencivelmente estão 'um no Outro- flutua dêsse .modo isõbre as .faces-! . 'É isso, e,anão:;é isso. l Que
A.:verdadeira luta está aí ! Muitos pintores triunfam jnstiptivaMente falta,. pois? um nada. mas êsse:nadaé tudo.,Ê Vocês dão a aparêhcía
sem:l.conlleéerêsse tema da arte:{ 8Vocês desenham unia mulher, imãs
da:. vi(Ta,. mas ngo :exprimem, seu .excesso; qüc transbot'da,l\êsse não
não a vêeml' : Não é assim que: se -consegue forçar o arcano:'da
natureza. - As mãos de vocêsrepródu=em, scm que se dêem conüaip sei-quê que é a alma, talvez, e que flutua. nebulosamentesôbre o
invólucro..;. enfim, essa flor de vida que Ticiano e.!tafael surpt:een-
modêlo .que copiaram na :oíicinaydo mes.tfe. .Vocês não descem su'
\

dçram. . Partindo:se .do .ponto extremo .a. que: vocês achegaram.üfat'-


ficientelllente na intimidades (tá: forma, não:! a} perseguem.'.'com:su-
se-ia. talvez, .ext:dente.:pintura.; mas vocês :se cansam muito depressa:
ficiente amor e perseverançanos seus d-enviose nas.suas fugasl A O vulgo admira, mas o.verdadeiro conhecedorsorri. .r- ó Mabttse,9
beleza é unia t:asa serei'a 'e ~difícil qüe .não.,se3jdeixa al:andar [
ó meu mestre -ú acrescentou aquêle singular personagem,.:+' és um
vontade, éf'preciso espe;artsuas horas, espioná-la,acossá-la-
-e:ien- lailrão,. levaste' a vida '.contigol -'- Feitas .essasrestrições T--; pros-
taçá-la firmemente para . obriga-la allrender-se.) A' Forma é ufn seguiu H-- esta$tela vale mais de :que as.. p?nturas .dêsse jmatiola de
Próteu7 muitotmais inatingível e mais'fértil :en] sinuosidadesdo quc Rubens. com as suas montanhas de carnes flaúengasj' polvilhadas de
oiProteu rla Fábula; não é senãoj:depois de denaorados combates
vermelhão.- éóm duas bátegas de cabêleirasj-castáhhase Éuá orgia .4e
que se pode .ccnstrangê-la a mostram-se sob: seu. verdadeiro aspecto- tõi'es..'' Pelo henosfvocê tem aí cõr; #htimento é desenho,as três
Vocês contentam-sçj:com a prinleirá aparência que ela lhes :entrega,
liártês essenciais
da arte.
ou quando muitoEcom a segunda) Ou com a terceira; não. é als.im
..;.-;Mas essa santa é sublime, velhote! -=- exclamou ó tat)áz coÕ
qt'e 'procedem os lutadores .vitoriopbs !:- .Êsses pintores. jamais ,ven- tõz forte,;!ao sair de demorado 'devahêio.''-L- Esêas4duaé figuras. 'a
cidos não se deixam'ludibriar por êsses mais-ou-menos, perseveram
da santa e' a: do'' barqueiro,'têm ufnaLfintlra/.de inten;ção:
qué bs
até blue'ü natureza se 'bela reduzida a mostrar-se inteiramente.nua. pintores -italianos ignoravam :;:.nãoÇconheço um ' único que tivesse in-
e no l:seu: verdades-o espírita. ? Assim procedeu:'Rafael P-:-::rdisse o
ventada: a: indecisão do barqttéiró.
ancião,,tirando séu boné'.de veludo prêto para exprimir o respeito -=. Êsse:maroto é seu? :.+ perguntou Potbttê ao ancião.
que Ihe :inspi:iavp o rei da attÊ -i 'sua grahdê supê!:oridade; provém .--=' Ai: de .mim ! mestra, perdoe o meu atrevimento IÜ-'respandêü
do: sentido iÍútimó qué,:l nêlej parece .querer:'despedaçar a ' torna:
ó tleófitó: corando:. .=J. Sou descónhecidõ; tlM pinta=moúos instintivo.
A forma, nas suas figuras, .é p mesmoque.entre pós, um intérprete
e:. chegado faã pouco aLlesta cidade, fonte de'tôda éiênciá.
para comunicatbidéias, sensações;*umq: vasta poesia.:ÉITõda imagem ;' $"=':f\ \fr uf \ t âJ t
é um mundo, ' um retratobcujo modêlo surgiu: huna .visão sublime,
8) :'c#+rrn #fntnf#i':(em Cjatim).! ' lindo . barro" i »rlc#iêF.l
J;orítõ!' Kt)do
coloridos de luz,.'designado poria,uma voz..ante:iorl jdespidoL:porãuin homem''
dedo celestial que tnostrou,,,po passado de tôda: unia: vida, as fontes 9)2.; À/abtn? : . Jean Gassaert del Mlabttse: (ou de $Maub?üge :+1499-1562)
da expressão. ;',Vocês-:: fazem nas suas mulheres~ belos.lvostidos de pintora flamengo que: introduziu cm seu paÍsi b estilo- ihliano; autor' de qua-
dros mitológicos =.i:omo /)aKaé.recebendo a C&tlua !ide.::Oírro ;ei sd)retudo. de
quadros religiosos, catre oi quais uma 'íamasa Descida (ü .Cr?a.
7) ' P?:àfeH : -.dhihdadp mitolóeiõã qiip Inudava . constantemente 'Üc formes.
28
39Ó ES T tJD.O S F.l L O S Ó:F..i.C.o S.
f
P

!
A OBRA-PRIÀ{A IGNORADA 3»
-h, Mãos à obra.ll,:+ retntcou:lhe Potbus apresentandoqlhç
um
láplê ve.nllelho :e.:uma. :folha . .de papel. pele;de:moça,
+ comoo tom misturadodd pardoavermelhado'
e:de
;O-desconhecido..copiou . cêleremente a .ã/ar;a em.!poucos traços. ocre cakinado -aquece. a grisea triezã.. desta .'grande: sombra.lnâ qual
Ohl:.oh ! i ::: exclamou .g ancião. .;---:Como se chama: ? o' sangue se coagular'a ao invés de eircularl Rapaz, rapaz, o que
b.'.
O rapaz :escreveu ;por.::bai xo i N.i:JVico/as ;Pozrsdíí.' io
a(lui. té. estou mostrando,.nenhtiln mestre poderei. ensinaf=te. Sà-
ú=- Eiglaqui algotque'!nãoesta mal:para um Íitincipiante ..=.'afia--
móu !;ío :;Singular.! personagemg que tão3 alotit-adamente discorria.
Vejo*que;Êepbdç falar ;em;bintufa diante de ti.' Não te.censuroiúr
erres 'admirado a farta :de'jPorbüs. . apara todos: é 'úma j:obra-priãla,
.:..
Ej: l:MI
W$Fm::ü:!i:X
por:isto~que te estou deixando entrever. ;z' --' :.-h "'. '...:'=

ê?sõnlênte os: íníõiados nogímdig: prõíQndos arcanos* :da arte. podem Au mesmo tempo que falava, Q:.estranhoancião.tocava êm todos
descobrir- no que ela peca.'l#.'Uma.tez, porém, que:és :digno da liijão os pontos;dó :quadro;. aqui duasl)inceladas,. ali qmá. única. das sempre
é' i:afaz: de:*compreender,' vou :fazer-te' ver 'o .pouco. quemseria t)recibo tão .a propósito, .(Ue se di.ria umã nova pintil ra, mas 'uúa pintura
para:'complétaf a obra.l.!sabre bem os alhos e presta tôda allatenção, DanDâoa (le luz: .'lirBbalhava Com unl atdoi' tão. .apaixonado. ;qiie o
pois 'semelhante.ocasião de 'te instruires não: tornará jamais; :talvez, a suor.gotêjou= nal sua fronte .calva ; ia tão ràpidamente :com pequenos
se:! :apreserltat'. f ::-Tua;!paleta, . Pofbus ! movimentos tão: impacteQtes,'tão entrecortados:'que, l cara oy ji)vem
Porbus foi 'buscar a paletó :e.os pincéis..l O velhinho arregaçou Poussin, parecia haver no : '' 'personagem
' co:po daquele singela!. '-'- .- '-'---
,.üü
as mangas:com um cesto'de .fudeia convulsa, passou õ polegar ína demónio que atuãva :por sua! . mãos, tomarão.al; 'lfahtâsticamcnte
paletas.matizada e cheia .das tintas que Porbus llle :oferecia; ;arran: contra a vontade do homem,i;O brilho sobrenatural de deus olhai.
cou-lhe das mãos, mais .do que o recebeu;'uhl punhado cle pincéis de as convulsões (lue pareciam:.:o efeito de' uma 'resistência, 'dâvain
todos'os tamanhos,e sua barba,:5aparada
êm palita;'moveu-idesubi: àquela.:i(téia um sifnulacro de verdadetqtie devia 'atear' $õbreÍ uMa
tamente . por egforçoi ameaçadores que exprimiam õ 'prurido.de uma mlaginação moça - O ancião continuava; dizendo:
a'paixonadajfantasia. TtAo Mesmo tempo que enchia o pihçel de tinta, a,';t'-.= Paf.! .pãf ! . pari! . eis 'aqui ;como..disto se lambuza, rapaz !
resmtlíigava'entre dentes: VFtlham, minhas piliceladinhas:.'façam-mecrestar êste tom' glacial!
=- Estas cõrés:só:.prestam para serena.Qt:Fadaspela. janela, junto .4

Vqnlos! Pon ! pon.! l.pon ! -= murmurava'l. dando calor às partes onde


comi.o que .as.::misturou:ã.sãodé! uma:jcrneza. e .de uma 'falsidade se assinalara uúa: falta..de . vida, fazendo desaparecer por üeió'. de
fe.Voltantesl,;: Cofnd se. poderá pintar comi isso ? algumas placas:di tinta: 'as diferenças de temperamento,' el restabelo
Molhava .depois . com ..febril }=:vivacidade:ia. ponta ,do 'pincel .nas cendoi .a..:uni.formidade de tom exigida por pma ard(Iate egípcia.
Várias: côres; dasí; quais . percorria '. por . .vêzes I'fada a escala '.mais -.=.Vês, Heu filho'; o que .Vale.é ã última pincelada, 'tPorbtts
ràpidamente do que.)tml ; organista de ca:edral.ípercorre altçxtensão deu cem:; eu:;.dou..umã semente.l Ninguém .ho! agradece.:a quc está
de. seu .teclado nol\O /í/{i ti da: Páscoa. eü. baixo.: .Fique: sabendo isso bem !
Po.obus..é- Poussin permqlieciam - imóveis, 'cada : um ..dêles. a um
., , Finalmente, aquêle demónio.- sc deteve, e; virando;'e :.:pan'o
lado. .d? }.ela,;IhergÍilhadõs ba. mais: yeemeiite; contcmplaçãQ. :!)orbus
e Poussin,
:mudos
deadmiração,
disse-lhos:irt:
:!..:} : :\ !
.-;).Vês.. .!apaz: -'F:i8 dizendo o velho;: bem.' se voltam,;;--:.vês como
p'or meio de três ou quatro pinceladas :e:de uns.toques- azuladosrse - Isto não vale ainda .a minha Z?e//e /v'oíie sêJ etitretàntd.
podia .fazer....o;+r gire.ular?jà. toda .da .cabeça desta pobre santa, que poiiia-se. assinar o . nom©, ao t)é .de} semelhante',obra.;3Sim; Íeu a
devia estar sufocada .e sentir-sé .presa nessa atmosfera densa l=Olha assmarla:: -n. acrescentou,iÊerguendo-se para pegar'; um espelho; :nà
conto.l esta,.fazenda . re:voluteia,{agora .:e:.como; se compreendemque a qual:.olhou-a. .--"'- Agorai, vamos 'almoçar.:-+- 'd;sse êló. --' Vétiham
brisa aj:soerguell'dantes tinha o. aspecto .de.:uma. tela: engomada e os dois à 'minha:.:casa:
.'Tenho presunto deíumadoe bom vinhoi:'i:!
prêsa comi alfinetes.l; Estás notando como o brilllo acetinado que Eh ! eh l apesar dos tempos desgraçadosJ:falar.emos de :pínfiiiFI So-
mos de -fôrça .l: .;:daqui efta UH- homenzinho, - acrescentou: dando
anal)o :je. .depõe no peito;reproduz' bem :a fofa .jflexibilidade de uma
uma palmada õb õmblo.. de Nicolas. Poussin .;= que.item'.:faciliaadei.
Í
de
lO):' Mira/ai'Potnsi : ver agiota31 ile .4 Pele de Otiàgfo. 0 cpis15did
sua l vida; aqui qrelatadi).Xé imaginário. ]2)E Be/le J]Voisarif': ' A} linda l;rigona";: ÍO'' adjetivO ' Ho;sPíi.if. +oi-
i
-lil)}üO::/ini el. /iliae: l:vença nota 72hde içlassi 3ül& Dom. . arcaic.aé um derivado do tsubstantivo nni.tf, ainda usado na ckprcssão
c/ic'rc/ifr uiíe à Üii /iyu'lu} ' procurar 'briga cuin alt;uéni
:/

W8 RS;t U DOS .;:P] LO S O F ] CO $


A OBRA-PRIMA IGNORADA 399
l

Ãó.ver .então o. Casaco ordinário do ndrnlando,= tirou dd cititurãd


:lci: Que belo Giorgi9nel {3
lxttu balsade couro,=meteuds dedos nela, de lá trouxe :duái hoedãÀ
de-ouro e; mostraltdo-thag; -!- Não :F- replicou o ancião ;-- está vendo uma das :3}1inllaf
primeiras lambuzadas.
-u; Compr(i o. teu desenho;--'- disso êle.
-.=: Acêitã :,:: ãcohselhdü :Pofbug a:Poussin; aó' vê-lo esttemecêt -+nDemõnios
! .estouentãoemcasado deus.dapintura1--- dínt
ingênuamepte Poussin.
e çarai' de ~'vergonha, porqixanto'b 'jovem. adepto .tihhâ' o orgulho .aó O ancião sorriu como';um?homemhabituado-de há muito a
ijóbtb. :::--'. .Acéíêà-l dê. 'utnã .Véà;- i)üii .Ütié nâ gtiá: sacola. êle téni ó êsse-elogio.
resgatelde dois .reis.
Os três .descerama ,escada. dà oficina e caminharamchãrlandoa -. Mestre Frenhofer 1.--. disse Porbus.:----ílão. quererá mandar
buscar um pouco do-seu bom.vinho do Rena para mim?- -:.::il'J
rQpeito de arüq:.até..chegarettl,a .üm4 bela casa dé : madeira situada
'-'- Duas pipas ! '--' respondeu;-o ancião.f.-- Umã para .!ngar o
Óettol da ponte..de,.Sãa;Â41iguel,e cujos .o!!amentos.{;a aldraba, õs
uixilllos. das .Janelas; os;:árabe$cos,i. maravilharam Poussin:üi,O: as:
prazer''que'tive estamanhã
.ao ver tua linda-pecadora,
e a outra
i:aDIo un] presentelde amizade..
biraqt! -a . pintor :.vjg-se{ repentinamente .numa sala ..baixa, , diante de
itÚ. t)oh fogo, junto al cima mesa servida de manjares apetitosos, e, -= Ah! se eu não. estivesse sempre. doente :.-- respondeu Porbus /

titn:n felicidade inaudita, .nal companhia de Pois grandes:'artistas --=...j''iese;iquisesse deixar-me'+er sua 'BeZ/à .Noisellse,' eu lmdefia
daêios de bonomia. fazei:álgutnã pintura. elevadaLvasta e profunda: ha qual as .figura
seriam ''de.tamanho , natural.
Jovetn --. disse-lhe PorbüÉ, ao vê-lo- pasmado em. frente a um
=.=..Mlostrarminhalobra! 1--; disse o, ancião. emoci(içado.-=
quadro -= não olhe.,muito .essa tela, pois ficaria .desesperado-
Não ! não ! preciso aperfeiçpá-.la aindaP Ontem, ão entãideéei',' pen"
Eta o z4daíH. (iue Mabusel fêz pata sair da brisãf? na qual seus
bt:edores:o\ retiveram. durante muito .tetnpo.[ T Aquela figura apresett- sei tê:lá terminado:. : Os olhost dela pareciam-he únijdos, sua carne
estava agitada.;' :As tranças dos!:seus cabelos moviaÚl:se. ' Ela rcr
fava, efetivam,ente, :um tal poder de ;realidade,:. que INicolas Poussin
pirata !.''' Embora:.:eu.Êtenha achado' o l,]neio dek;realizar nuca tela
(i;iiüeçoti,::desde
.aquêle
:haomentn,
à i:o.4nl3reeüde$
. o .verdadeiro
.s:n- chata o relêvp e jas rotundidades da.natureza, hoje de banha, à luz,
tlad dls' t#qfuiás ,'palaylag dõxlncião: .' 'Êseê.-:'.çqntelrplaba'::oqua:ro
i'éconheci meti êrró: 'jAh l para ':chegar .4 êsseKresultado glolióso; es-
é:ót li;l : sàtiifeito,' úN sem..,'Fhtusiasmo.lparecéndi).dizer.: &."Fiz
tudei á fundo'os .grandes mestres ddéolorido, 'analisei: é ergui camada
bisa itielhoi !'?
por camadaos quadros do;l'iciano, êsserei:da luz ; como êssepintor
:l:.,: ]liá vida aí ,:e.-;comentou i--= meu pobre. mestre sobrepuj.ou soberano,-esbocei minha figura num -tom claro com }.uúa pasta fle
:se ; .falta, .poréip, ainda u+n pouclg .de .verdade no fundo :da: .tela.. .O xível e~abundante,
parqueüj:a
sombranada mais é do que um aci-
hb11:uéú esta: i)eü' :.vi+ó, iãi íev:atar-g4: e dirigir-sê. .para::jhós:.amas dente, guarda isso, -garoto! ': Depoisi:'voltei à linha .;obra b, por
b àt. ó 'céusó +etii:o due réspirãúos, Vemos..ç...$entiihoS, nãd...estão.+i. meio Hde .bacias-tintas e de :côres claras e translúcidas . cuja transpa-
Ademai$, .não há aí maia do qúe um homêh !'"'Orã,'6 único hanaem rência eu ia diminuindo gradualmente, reproduzi aslmais= .viga.rosas
saído.diretamente das mãos.de.,Deus devia tef .algo:üe divin(i, que sombras e até os ip4ii .rçb.uscadognegros; porquanto; as sombras dos
Ealtà.I' O próprio Mlabuse,'quando hão estava ébrios::dizia isso cheio pintores comuns;sãq..deÍoutra .hatufezal que.os: seus tons .claros ; é
de despeito. padeira,:é .bronze,'.é. tudo que quiserem,t plenos carne ná soma)r3.
Poussin: .Olhavam
:alternativamente para , o . ancião : er!.paul'lPorbus -Sente-se qtíe sc as -figuras dêles mudassem de posição,É::os ]tlgares
com unia curiosidadeinquieta.. .Aproximou-se.dêste como pára pet- sombreados não se clareariam e hão se tornariam luminosos. ;Evitei
guntarrlhe o Dome do: aãfitiião ;!á.pintor, porém, põs. ljm ..dedos;no$ êsse êrmo,Lno:;qual muitos dos. mais ilustres .lcaíram,;é:'êm m;m a'
lát)ios :com ar .de' m.istériO, e o , rapaz,. vivamente:,interessado, calou-se, alvura ;:sêlrealça: gob à opacidade da mais firme sombra;' «:Não fiz
esperando .,que, :cedo:.OH.Í tarde 'alguma. palavra. ; Ihe: . pérmijiri4'- .adivi- i:õmo uma'.porção' dé ignorantes quem
pensant desenllar corretaménte
nhar. o nome do ieu hospedeiro,:cuja :.riqueza. e t.alentos.eram stt pofqtte fazem um traço cuidadosamentenítido ; não, eu não assinaleí
fidetltanente . atestados pelo despeito quç: Porbus Ihe testemunhavà sêcaniente 'as bordas exte.riorcs da minha l figura 'é não fiz ressaltar
e pelas maravilllaá acumuladas ttaquela sala.
Poussin. ao ver :no sombrios ferro de madei.ra :de carvalho um 13) Giorgione; apc]ida dc: G:o-gio :Barbare]]i-'(1477-]51i).Ú$um dos
graniles :pintores'' dá::alta Renascença em Veneza:'autor de retratos ê.'Ccha8
lüagníficó retrato .tlê- Mulher.;excjaúou ! religiosas: e mitológicas ; a maioria das ;obras/que :se; Ihe atribuem! são. de
autenticidade duvidosa.
qoo EST anOS: FILOSÓ FIGOS A rOBIUÀ-PRIÀ[A IGNORA,DA; 401
7
até a 'menor minúcia anatõni:ca, .pot'que 'o corpo humano :não acaba que - aquêle .honieh ;'velho aíetavqlman.i íesiár pelas .falais belits;ten-
por,:linhas.' : Nisso. os -escultores podem aliroxiJüar-ic.: nláiÉ da t'©t- tativas da: arte; suâjlriqueza. suas maneiras, a deíef-ência:de: :llbiiltís
dade:do que nós:- ,A natureza comporta uma.série:det.curvas.queisQ por ; êle, 'aquela obfá: .l)ór= tanto ;..tenlpol -hlantidà ' eni ;segrêdo, 'iol)ra
envolvem' nulas nas .outras. Ü Rigorosamente «falando;' o desenho não de. paclêóc:p,:sbhl;tlúvida uma bbü ' dê.' génio,'sél:'Ée.;
devia'ljul#:ir
existe ! :Não. se ria. rapaz!..' Por :mais estranha :que Ihe :pareça essa pela cal)eçá:da r;rgfni (lue o jovem Poussin tãolfratlcamente .a(tnii-
aíinnaçãa, .algtlnl: dia v'ocê .Ihe:compreenderá as .razões..çíA linha .é rara,:é .que,bela ainda. mesmo'ante Q.,4dant de blabuse.'atestava'ia
o meia pelo. (luar o, homem áe'dá conta do';afeito;aa .luzilsõlire os impei ial ;..feitura :de. .tim dbs'. príhéipes: da arte? tudo .naquele ;ancião
obje.ta$;. pas, . na ...natureza,..
ehtle tudo é ,cheio;. .não..hâ+:linhas=.ié ultrapassava 'ós mini:tes da" natureza :humana.IP:O que.-:a: rica iiilagf-
modelando quélge .desenh.a,:isto. é.: que' se,destacamas ;.coi?asdo meio nação .dê 'Nicolns::Põltssit].: põ.de.a])reender de claro: :é dd percej)cível
enl-.que elas.. se:;acha]n.;.:.é
.;sàmepte 4}]djstribuição ; da::,lu4 blue..dá aa. ver' .+qttcla criar ura iobrênatüral, ' foi . uma imagem;Lcohpletã.;da
apareQcia ao: corpo.!:j Po;. isso não. ::fixei . .QS: traços, ::espalhem'sôbre natureza jartística,ll dessas:a]otlcadaJtaittre.;a ; à [tlttti]- sãolconíia(]os
s contornos' uma nuvem :de. me;ãi-tintas louras :e quentes que faz tantos'poderás. :e que cí)m demasiada"freqüencia dêles abusa. ârnls-
com qüe não:se possa com:.precisãocolocar.o.dado no Ittgar em quc tando ü fria razão. os ;burgueses e mesmo alguns amadora.s, através
êles '!:le confundem comi'n o .:'íut3do. $;1De .,perto, ,êsse trabalho parece de.mil estudas pddregolab.onde.para êles,.nada.há: ao passoque,
nebuloso e cago .que falto de precisão; mas a. dois passos: tudóÉjse brincalhona nas suas fantasias.'cessa
rapariga de asas brancas ali des-
afirma.'se detém,; sc destaca; o;corpo .gira,Las ';fo:Mas tornam:se cobre:: epopéiasi;'castelos, obras l;de arte. bNatnreza'l zolnbeteira ie
salientes. sente-se õ''ar cir('alar 'em tõrnó. IEntretanto, ainda- não boa,=fecünda 1.e:jpol)re l '? Assim,: pois;l' para o entusiasta :: Poussin,
estoúl:satisfeito.',tenho ' dúvidas.:;Seria. preciso:.talvez nãcl desenhlt aquêle ancião' tornara-sé. lmr '.uma.súbita i'ransfiguraçãi). a própria
um único .traço, talvez- fôsse pi'eferivel;. come'çar}u.ml figura .'pelo Arte. a arte caiu os: seusljsebaredos;seus ãr(]oi'es e':selas devaneios.
meio, dedicando-se primeiro às; saliências mais ..iluminadas, para pari' =--.1:Sim, meti'caro Porbus =.L volveu Frcnhofer .u. faltou-me até
sar ãepeis às porçoes npjs sombt:asl:..xqd'..ç assim"que, faz.;Q sq, agora encontrar uma:jmulher irrepreensível,ttnl'corpo cujos Contor-
êsse .di'Fino pintor do ;.uni verbo.? :':ó natureza.!' naturezas ! : que.m, jamais nos sejam'de ltülla lleleza perfeita, e cuja carnação.; . ltak --.: con-
te suta:eendeu nas tuas .'fugas! 'Olhem,i Q'''excessode ciSnçia, do. tlóuou . êle,. após tti)la .pausa '= .onde vivera essa .Vênus dos antigos,
mesmo ,Díodo que a ignorância; ;leva a uma negação. Não tehbo. impossível tle achar, tantas irêzes procü:ada; e da qualtencontramós
confiança na nainha ol)ra! apenas algumas belezas esparsas? . Ohl para ver um momento,:uma
O .ancião fêz uma pausa. depois prosseguiu : .Única vez, a natureza divinas completa, o ideal enfim. ©u daria«'tõíla
--ü Faá dez'anos, meu rapaz, que trabalho; mas o que são dez ã fninha fortuna. . í ; Alas irei p;ócurar:te nos .teus limbos, beleza
minguados :anos;: quando ! se trata de lutar: com :a.r;natureza? -,lgho- celestial.! Colho Orfeu, ts:'descereiàó'.inferno da'arte para dellá
trazer a vida.
ramos; o: tempo que o.-senhor -Pigmaliãoi+ empregou para:)fazer. â
única .estátua que cam:óhou.! --: Podemos
irÍemborá'idàqui-- dissePorbus:ça
::Poussin
; l:-
O :ãficiãó. mergulhou em 'profunda meditação( e permaneceu :de êle:não nos ouve ma:s, :hão nos'<vê" mais l
olhos f.ixó$: brincando maquinalmente. com uma?,'faca. -- Vamos ao seu are/ier!.'= ' p'opôs o rapazj'maravilhado.
- Oh! o velho ret:e soube defender-lhe a entrada.b Seus. te-
-..: Ei. lo .em conversação*com'.+ seu p/pífílo! :L;l:disso .Porbus
em ':voz baixa. souros estão por. demais bem guardados para que possamos::chegar
até.'êles. Não .'esperei tua opinião e tua íantasiãÍparai-tentar =o
Ap, ouvir tais palavras,' Nicolas..Poussin.sentiu:$esobra. ln: assaltóüdo;. mistério:
fltfõ'ncia de ümq inexl\licâvel: curiosidade . de .artista..: ;. Aquêle ancião
-- l-lá, então.:um mistério?
ab olhos ,t;roncos. atem'to e: estúllidç). que se, tornara. para: êles mais-. do
que .unl llomptD. afigurou:se-lhe. um.gênio.fantástico que vivesse numa 15).;, Or/e# : personagem Mitológica, músico .'dc üextraotdinário talento.
;sfé'rã .i desconhecida.'. .Êle despertava-lhe j m11 idéias confusas na Com I'$uaKlirac comovia. i:ãol só as pessoasàvivas+':mas ;.as ;ãferas8e; atév DS
all\la.; . O .fenõhleno moral dessa espécie de fascinação não pode. sér obj«tos-.;nanimadog./.:Tenílo sua esl)õsê.;.aninfa.. Euridiêe, sido' mordiilaf pbr
áeíinido üntó como..não o pode set .a emoção p.invocadapor ur'a uma'cobra no:t)fóprio: (l:a::das núpcias:Orl?u' deÉccuaoSlníernõ'e'.Com
osj;acentos de suã lira;comovi'u 'as divindadê$ infernais,'« Estes prometcraín-
:caução quê. leillbte a l)átrla no cotação de unl .exilado. O desprezo Jhe devolver a: esl)õsa. üue dc\.ia segui-lo .atéi,a terra, contallto q!:e éle. não
$.:.Ü {
se .,virá.sse : antlsgdc lá cllegart'm.$ blasà C)roeu;fnãoJ coube }donliilar : al curio-
14) ?Pignic/fão veráa nota-'144ijd: 4 Pf/f de:1Onagro. m sidade, virou-se c-viu' Eurídice pela :últiinla vez.
n U
i'-( {f g.,7' ;
i
A-:COBRA-PRIMAIGNOKJiDA
26T u'Pos ' F:iJ.os'Évl ços
manhã tive çoníiança ep qim! Posso ser up grande bomeml
.:- .Sim Ee iRgpondçBIP9fbqs..-='.Q -velllp Frplhgfer foj'.q,únlcp Crê,çGillette, seremo! ricos,3íelizes! '. Há ouro, nesses pincéis. .
bKjãiJ';ãê:
Mli$B.,l;i$i$:
:'$;.:1:;
T iljÓ-:Ç'
@$?41;!ÜKl:.dele,
W Mas ;calou-pé de repente.l:' Seu 'rosto lgravç ç vigoroso perdeu

11ÜilãÉÜ:ifÜ#Ç;$ iil U;mllê41Q;:$ quê-';çxpressãQ; 'ãe 41egriã, quando. . i:amparou a :imensidão das suas
e$pera1lças'
.com:+ # ççli(;cridadeIde sêls f$cursos.':l As p?regemestq-
vao'jÇcobertas ' dé sitpplês .papéis cheios"\lç esboços1.# lápis. Não
possuía senão quátrõ Itelas próprio: ' As tintas. çs@yam então muito
caras, .ç d pqbrç cabaz yia sua paleta.pouco tnãis ou,menos vaz:tp.
No sçiojdessa. miséria, êle possuía..le sentia: riquezas lngive:s no
coração,: ç: 4 '.êuperabundânciã de ;'u$ gêiiio dcyprador. : I'raz+do a
P:Íris:;po; um .dl; seus " amigos, gentil-homeiÊ?. gp talvez pejo seu
próprio :talento, êle ali veio encontrar sùbitamente.uma amante,uma
àessãi alÚ'as: nobres e Úcnerosas quê' 'irem. sofrer junto a um grande
ho;lçm, 'partilham deus:'trabalhos e se esforçam .por çompíeendet-lhes

h::E':::i=.'H:.\:=\U;g:'u:%
Ó ' sorriso'
=m.;;::.=
que''errava .'nos lábios del Gillette dourava: aquêle sótão e
rivalizavacom o brilho do ééu. O $ol nem semprebrilhava,'.ao
passo que. ela . sempre estava .ali, :interi(irizada. na . sua paixão,, presa
" sua felicidade,:ao seu sofrimento, consolando o gênio qüe trans-
bordava no amor antes de se apoderar da arte.
Ouve, Çillette, vem.
A obediente ç' alegre coça saltou sôbre os joelhos do pintor.
Era ela tôda graça, tôda beleza,.linda õom'ouma primavera,'ornada'
conatôdas as riquezas femininas e iluminando:as .c6m o fogo de uma
bela alnaa.
.-)Óh1l=êDeus! --;:: exclamou'. êle ;--. jamais) me atfeverei a
dizer-llle
-- Um: degrêdo? !:l!; perguntou ela. .L-. quero sabê-lo.
'/

Poussin perra.aneceiJpensativo.
í--.4NÓs penetraremos . lá 1l.-= . exclamou Poussin!:, que não ouvia --;;Fala de uma vez.
úa;s Pàlbus e 'de' mais nada duvidava.Ç.l.i IÜ :;: :P -J l :$ül = .'il . .: Gilletté..:: . : pobre coração amado !
Pnrbus sorriu. ante 'o> entusiasmo do jovem desconhecido,te -- Ohl .queres algutna coisa de mim.?
ruy-se dêle' convidando-o ã 'que õ fôsse .visitar.E. ü ;. ..:.
- . --'"'
-;.Sequeresqueeu. )bse ainda
. ..t pata 'ti,....como
. ho
. outro
.. dia.
/-- replicou êla com'üm arzinho ailayadogl -- jamais consenljrei cm
tal. 'porquê nesses :lnoúento$ \teus :l)llio$ ,não me dizem mais nada.
Não pensas mais :em mim, ê-contudo me olhas.
: - :Préferirias ver-nje. copiando uma outra mulher?
:-ü salve: J'disse Zela '-= se fôsse .bem feia.
=:. Pois bem :-- replicou Poüssin, epl tom:sel:lo ;:; sq pela
minha glória futura,; se; .p4m.nlc tomar: uh grande pintor, íõõn
pelo inQ.dp.çoÚ que .êle..mPyerÊ b trinco.
..- Que tens? . ::-: perguntou-lhe. 'i'"! &=%.':i: ;":"., ':..,«&-''« '.b: +-%h; p'í'4:
:..É.!=$'iàlÍ.,!iqã ,i:;HoduP;li,='TW; =% tamente que eu não',iria.
'4
E S T U D O S '.' É l L O SÓFICOS A } OBRA-PRIMA IGNORADA 405

11
Poussln inclinou ã .cabeça sõbfe o peito, comàl 'um homem .qtê Ç

sucunlbetg uma alegria ou à uma dpr:fa; te doma:s:para a sua ãhna.


-.b Ouve --p-disse .çla:'puxãndo=PouÉsin. pela 'manga' de seü:gibão rCAI'ARINr\!LESCAULT
surrada -T.l eu' te disse, . Nick,' qué ;daria, niiííha .:lida; pari;ti i Rias Et : h:l'. !!.'ttêlb$tfi
nunca te prometi .denunciar ao nlêu' amor:: enquanto:lvivessei Tiêb Meses :deliois do encontro de .Poilssin ,e T?orbus. êste foi
.--b Renunciar?l:f=- Ékclatnou. o jovem artista. vis;táf liüestlc .",F renhofer.:-' O ,ancião': estava; então: sujeito,, a . um
-- Se cu me mostrasseassiiai.a um outro:'tu+lnão'meamadas dêsses desânimos profundos e espontâneos cuja causa,.se (levemos dar
mais, e:'eu n:espia me :acharia indigna ile .:tl:!.:- Obedecer -?aos teus crédito,caosmaténláticoslda nle(ticltla,: reside numa má digestão. no
caprichos. nã(i é :um.a coifa llatu: al :ê simples i' ':JEhtbora lied :(queira, véúto.:..no.cáloi., oti eni algitma inchação d'li hipocõndrios ; ê, segundo
Si1lto-me*feliz e ':mesmo orgulhosa por fazer tua.';vontade querida. os.êipiritualistas,.ná imperfeição da nossa natureza Imoral. ijO velhote
Rias' para um outro;V:Deus :jnl'ê' livre ! pura..e$jml)lesmente
$e'Cansara
em dar a últiitta demãono seu mis-
--JIPerdoa, minha Gillette =-;disse.o .pintor ajoelhando-se aós pés téi logo:.quadra.;lTIEstava preguiçosamente sentado numa vasta pol-
dela. 1--; Pteiiro ger' amadora ser glorioso: ; Pã:-ã mim,' és.amais trona de..cáivalho. e$culpidQ.j:forrada de couro. prêto ; e, sem sair .de
bela do que a fortuna e .as -honrarias;: ''Vaia' atira fora meus pincéis, suaatitude melalicólic4,dirigiu a Porbuso olhar de um homemquc
queima êsses esboços. fEnganei:nle.':' A'l inca vocação é amai'-t'e.!'l;indo se instalara no:seu tédio.
sou 'iün pintor,'sou. unl amoroso, ; ;Morfãnl'ea alce e todos;. os :seus -= E ientão,. mostre:-= perguntou-lhe Porbus . -- o :tiltramat'
segredos.! que:' foi.lbuscar..em .Bruges não..çra bom?. : Será que não.soube mis-
Ela admirava-ó. feliz, .seduzida?Ela reinava, sentia instiiitíva- ttlrar"nosso novo branca? i"lSêuóleo:.era..ruim,'ou os pincéis eram
men:e:que as artes eram esquecidaspor'ela, 'e:jatiràdas a seus Õés teimosos?
como un} grão de incenso. =;. Ai áe mim!; --l exclamou o ancião --, durante umlmomento
.-- Entretanto, trata-se apenas de um ancião ..+' insistiu Pois: / acredlitÉlí..que 'minha obra estiüésse concluída ; alas com certeza.. me
slm
Êlç não lx)dera. veÉ..:Flu .ti/senão. a. iílulher.:l TüY és tão eúgaOçi- F.alguns . detalhes. e não ..sdssFgará, enquanto não . dissipar'
perfeita ! minhas dúvidasl.".Estou decidido a-viajar e'iou à Turquia. à Grécia,
==- É preciso amar muito ú:l= exclamou eja pronta a sacíificat' à Ária' para ptocucar pót. lá um modêja e çonlparar; meu quadro com
seus escrúpulos de anlot a fim. de recompensar.seu aDIante porétudos alguns nus. : ..::t.Éjpossíveli.que eu'..tenlla lá . çm:'cima :,=- continuou.
os; sacrifícios que .êle llleãfazia.,2-- A'las l:.+- .acrescentou rl :::n-::isso esboçando. .}tm.. sorri o dê :satisfação .-.= a p'ópria natureza... Por
seria perdernne. Ah i:perder:mç por ti..: i: Sim,l seria uilla .coisa vêzcs,.quase..lenho:mêdode que um sopro despeítleaquela mulher e
belíssima! mas tu' nle .esquecerás.ãt;Oh! que: mau .pensamento'.êsse que ela desapareça.
que tiveste l .Depois,: ergueu-se -de repente, :como para partir.
-q.:l'ive-o e té amo .z disse êle cona uma espécie de contrição. ';:;.' Oh l oh! . -,--.:respondeu.Porbus?l-- chego a'\tempo:.para
--b Mas::então serei iuml, infâi\le ?
-poupar-lhe as despesas q as fadigas (da . viagem.
Consultamos .o~".velho +lardouin :::-- propôs .clal
-. Como:;assim:? -.-. perguntou Frenhofer. admirado.
--;Oh.!,.hão;. fique isso em3segrêdo:énLte nós dois.
--3Pois bebi, irei ; . mas:'(lue;nãb estejas' presente '--- disse ela. -- õ,joveiF. Poussin.é amado por un?fmulher ctljâ:incomparável.
--.'Fica na poitá, armadocoitoo teu punhal.;llsegrito, entra e mata beleza não :tem a menor impel'feição. ;- Alas, meu .cai'o mestre, se êle
consente ..em :emprestam':lha, será preciso : pelo menos$que : nos' deixe
o pintor. ver sua tela.
Não vendo mais do que süã arte, Poussin'estreitou Gillette em
seus braços:- O ancião.lpermaneceu de lié, imóvel, num estado de perfeita
estupidez.
----. Êle não-me ama ma:sl -ü pensou Gillefte, quando .ficou só.
Já estava arrepend..da dà . suà. resoliição::' : hla$ logo' 'foi, :prêsa
'::==Como! ;-- exclamouêle,'por:afim:dolorosamente- mostrar
minha criatura, minha esposa?-rasgar o véu éob o qual cast&mente
de un] pàv.ormais ê;uel db que seü.arfepeiidimqnto
; esforçou-seem
.eiãÕol)rilnlinha felicidade ?'!çMas isso seria uma horrivelã prostituição l
repelir um 'pensamento horríl'el.; que. Êe e:rgpià eni; seü co: ã ãó. :Jul-
Faz dez anos que vivo com essanlulhe:.-ela é minha: só ínínha, 'ela
gava já. estar amando n=enog o pintor $orl suspeitam'serlêle ,illenos
me ama. Não melsoniu. a:cada pincela(taque Ihe dei? .lEIa tem
estimável do que antes.
uma alma,-ã alma com que a dotei. tela corada se outros olhai que
A. 0BBAüPRrll.A IGNORADA 4@
r xs'F u ppp F.}.l,.QSÓr.i Ços
.:...:Pois bens -= disse Porbus-::t--- nãa falemos mais nisso. Mlag,
não.>osmeus a fixassem. -.;Mostra.la! mas qual é o marido,. o adiante antesdo senhó}achar, mesmo:na Ásía,l.uma:mulher tão bela. tãd
suficientemente vil.para levar Éuã.mulher à desonra? :....Quandol fales perfeita conto esta de que l.he íaló, morrerá talvez semter concluído
um qüadr0,para á cõrtç, não põesnêle tpõp.p tua alma,:não vendes seu:-quadro.:
aos cortésãol; mais. do 'qqe manequins 'cololldós.. . Minha pintura .não :.: Oh! êle está acabado --; disse Frenhofer. --;Quem a 'irisse,
é umapintura,é um sentimento,
üma..
pqix?#
l,.}NITló? .ne minha julgaria estar velado unia Mulher deitada num leitolde veludo, velada
oficina, ela aí dele 'pe:i'manecêi'
virgem'ê hãg'bode '#ii;: ?epão'vestida: J por cortinas::: Junta: à ela Íunla. tripeça?' de ouro :exala perfumes.
A' lioesiaF 'qá'mulheres'"sóÉe.l:!pregam=hüiis"'qp b$1uÉ ilpante$! Ficarias tentador a :agarrar'Eas borlas =doé cordões. que retêm as
Poüüímóénó; a úodêlÓdê Rafàél:,a:.;Ailgéliéà ;:d :Afio$to;:ã.Beà- cortinas,:!e te::pareceriat. verte seio de Catarina Lescault, u\ala bela
triz: do Dafite?l Nãà! não.lhes irçmoÉ.
seilãóai, :fõrml$T=1)is bem, cortesã chamada Be// '/Voisetlse, mover-se com a respiração: ;'. En-
à abra que iênhb' }á ,'em. i:iha ;tráii(lãáa a flittâlho"g iúül# 'ekji.eção' na tretanto, eu quite.ra: terá: certeza.,. .
nossa arte. ':-!Não lé::í'uma; teláÍ é umà 'úullKI ! ..umq''p1lhçi' . êop a .+- Vá pois: para .al Ária l-'- respondeu . Porbus, ao perceber unia
qual ;choro,,brio, 'kop+(Irão!.. penso; . Queres .quÊ': rêpepfinamentei eu cei'ta. hesitação.no .olhar dei FreQhofer.
abandoneuma ;felicidade de' dez' anãs comoj5e atira .tünq .copa.;.Sue E :Porbtts .deu :alguns passos em direção$à porta da sala.
iãl;Êüiá.iénte :éu 'üeiié :iie, 5j:r bá 1:' j!$ãnte .11.gt:ü ? :lBsqlldüibl. Nesse momento, : Gillette. 'e .Nicolau Poussin tinhamlp chegado

â Ü li:ÜltÊ::l;Eql :ieuÇ !?'xii"


Tll;
'::
'héiáào, beijarei as' Óegadáê; êç::.céus passa!. p? ,Fdlía! l :fazei
junto. à residência de Frenhofer! : Quando a moça estava a ponto de
entrar, soltou o .braço &o pintor, e.recuou,como se a tivesse invadido
alguiti súb:tó: presséhtimento.
dêle 'heü .fíval ?"ópíóbrio sõbié $iP l::r Ahi!: 'àh !: joü cais. amai.le b-. MaÉ afinal,: que venllo eu fazer aqui? -- perguntou ao amante
ainda':do :que ]iintor..:l: Sim, 'terei lõ;çàg para' $ueimat 'ã minha :B+JZ# (gm tim :botn de..çdz. drõfundo' e ólhandõ-o fixamente.
jVolsetlse ão. dar o último 'suspiro ; mas . fazê-la .suportaçlo .olhar.de :=.= Gillette, il(lixéi-ee senhbta de tua vontade e quedo .obedecer-te
uM hdàeiL; de um .rapaz, de 'ilnl.pintei?: hãg, :n.!o;!i..:jMatari.a.
no dia em tudo. TÜ .és .milha consciência e minha glória. ,Volta para casa;

:üi:etlíi::
QueFésagora'gUeeu
:'o-r'. '::- . " '' . ..:
UÜiÇé 1'%:i#:gFMg
. . -.".' -.':.-".',.
subméta meu íd61i).jjàs;lriaél 'hithdas é~;.às L.,
eu serei mais íel;z,ttalvez,..do que se tui-.
2.- Pérten<(i-higj.ãcás(i,quando me falas assim-? Oh! não, não
Ébu senãoLuma ci'lança: ! .'?;Vamos :--- acresceütoii, parecendo fazer
críticas estúpidas doÊ imbecis? Ah ! o :amar ;ii.;tlM Mistério), $ue. go umrlesfâtçn Violento :-' ê tlósso.amor morrer ei'se puser noj'.úeu
teh vida no fundo dosJcoíações, ;e tudo êste perdida?l qüandol.üm coração iim infitidável$artependiinento, , não será '+üa celebridade b
homem diz, nlcsihb .ao seio amig(i : . .I'A} está..à qlulherl áue aúó !" preço da 'minha .óí)ediência àos teus desejos?i. Entremos, será ainda
O zinciãó parecia . têr remoçado'; seus :olholi: . tina?lh .brilho;, e viver o esgarÉemprncomo uma récordpçãonatua paleta.
tinham vida ; aias faces pálidas, .esta:vam matizad?ê,.aç liitn v.ermelho Ad abriram a porta .da casa;o$ dais amantes:seênconttai'am
vivo, e suas.mãos tremiam." Porbus:,.espantado;
J:omJ.q Violência com, Porbusl o' qual;.gUtpreendido pêra beleza de Gillette, cujos. olhos
apaixonada cõw que' aquelas palavras' {büa. prof.çr.idaêr{.nãosabia estavam naquela moãtento rasos de lágrimas, segurou-a tôda trêNtila
o qm respondera üm.sentimentotão novo'comoproftindd' : ii'] mh& e; leváhda;ã :àntê oi;ancião, digne-lhe :
fer estava 'iió uso éía:+azãol ou louco.?K' Estaria êle:stlbjugado. por .uma
l-z veja, não Vale ela tôdas ãs obras-primas.l do Mundo ?
fantasia de artista, ou as idéias que êle êxprimirá: procederias dêsse Ft'enhófef; estremeceu. .' Gillette ali estava na ;atitude ingênua' e
smKular fan'atíslno :qüé lse' produz 'êm nós'.pela 'criação llábdtiosâ de simples : tlê ..üma jõirem àeotkiana inocente e medrosa; "raptada par
lll;='eraÀde obra?;.ll'Poder-Fe-ia-éspérat' transigir ttní diá '.êom'..'aquela bandidõÉ'ê apresentadaa;'algum úetcadór de escravos:j':Um ptidico
paixão estranha? rubor (Ídravaseü tóstd:; elã baixava"osolllosl âs tnãos pendiam:aos
Empolgado por todos êsses pénsamentoÉ: Porbug disso Qb;adeja(Z.: ladosj as fõfçás..parediâmabandona-la,e lágrimas protestavam contra
--: Mas não é umas mulher. por otxtrã mulher? f.jlião .ehtréga â viólêncla'feita ão seu pudor, }l Nesse momento, Poussin; -desesi)etado
Poussin sua.andante'àos olhares da:.senhor:?l por ter tirado do bótãó:aquêlebelo:tesouro,amaldiçoou-sea si próprio.
--:: Que amante? :---; respondeu.Frenho.íçr! í-+ ;Cedo .ou tardo cla Tornou-se mais amante do que artista,e mil escrúputo$torturaramilhe
p.traíra:i; A minha me será sempre .fiel ! o lcaraç4d qtzandd Viu os ôlho! rejuvenescidos do ancião, õ qual, por
üm üábitü :de ' bütüri despiu, par. àssint dizer, aquela moça; adivi-
ceifa nota: 34 de : # )PTZf ,;àr : OHagro
16)$ Carreggio
7
t A OBRA-pRIÀ{A-:IGNORADA 409
E ST.'U'D O S/ FIL O S.õ F'].C O S

Jamais pintor, -pincéis, tintas, tela :e 'luz farão.lama rival a Catarina


nhando:lhe .âs formas mais secretas, úRetornou então ao ,feros ciúme LesCaulti a bela cortesã !
dO:verdadeiro amor.
-- Partatnos.= Gillette 1 --,- bradou.l Possuídos de. viva curiosidade,. Porbus ,e Poussin correram para
o centro de uma vasta oficina ..cobertade pón onde tudo.estava' em
Ante aquêle rasgo.rií amante, alegre, ei'gueu os olhos para êles
viu-o, e correu para deus braços. desordem,. onde =vifaní , aqui e ali quiidros; pendurados: nas paredes.
,Ah! entãoç fq.,me an\as l - :respondeu; desatando a chorar.. Det:velam-seprimeiro diante.de uma:figura de mulher de tamanho
Depoisl'de ter.tido a energia de fazer -calar seu sofrimento, ela natural,« seminua, e que q encheu .de admiração.
não. tinha fôrças.para ocultar suamfelicidade. :=: Oh l.mão. se ocupem com .isso.':;-- disse. Frenhafer"'--:é tlmã
- Oh1;7deixç-itTa por. um'.momeritoÜ.-.; disse'o velho pintor ?.ip tela que. ba;r.ei para.lestudat.. uma .pose; êsse quadra\não vale .nada.
c poderá conipará-la com a minha Ca/arÍ71a: . i:l' Simi consinto. Aí:.. estão. meus { erros =,- . continuou,:'.mostrando-lhes . :encantadoras
composições penduradas às paredes,' à roda.-dêles.
No grito de Frenhofer ainda havia'amor'.: ..Pareciatet .íãceírice
para com geu simulacfõ de mulher,' e gozar de-antemãól:dtriun.ío que Ante' essasl.palavras,í. Porbus :ei:Poussih, éstttpefatos . com aquêle
a belezas:de
suacriaçãoia conseguirsôbrea debma +erdádeiramoça. desdémpor tais obras, procuiarani o' retrato.anunciado,sem.con-
seguir'vê-lo:==;lÉ 'b PL .;; '. ; .; .. '
-- ; Não-.'o *deixe +:desde:esse,:.= "exclamou +Porbu's','abatendo! no
ombro de Poussin:J.---:r Os fatos do amor passam ,depressa, ós da .arte -.= Pois' bem, aí está êle l ,z-. disse-lhes:o ancião, cujos ..cabelos
são blimortais. estavam en] desordemf'cujo rosto ' estava injelado por uma exaltação
sobrenatural, cujos -olhos cintilavam, é. que.ofegava como um rapaz
-- Paramêle : -= res]5ondeü Gillette,\ olhando:: Poussin 'ié .Porbus
ébria : de .amor. .-= Ah l ah !:--. exclamou .-:,- nãõÊesperavam tanta !
atentamente. --. eu não serei então ,mais do; bue uma mt41hei.?l
perfeição! Estão diante dd,unia:mulherê procurais ttm quadro.
.Ergueu al.cabeça com altivez ;. mas, :quando, depois de dirigir ttm Há tanta profundidade nessatela, o al' é nela tão real, quç não podem
olhar cintilante a Frenhofer. ela fiu seu amante entretido a.contem- mais distingui-lo do :ar que nos cerca:-\'Onde.estáiâ 'arte? perd;da,
plar :outra ve2 ;b . retrato.xque anteriormentdj:êle 'tomara por 'pm desaparecida ! Eis . as . firmas: verdadeiras de uma : t'apariga.:::.Não
Giorgioné':; Ihe déi beta o colorido, a p-ecisãodas linhas'lque parecemterminar
-- Ah lg-- disse:leia ::-- subamos ! Êle nunca me olhQÜ assim. o:corpo?: .Não é :o mesmo fenómeno'que nos api'esentamos objetos
.=:Ancião. ...--. 'disse ' ;Poussin, . arrancado 4n sua .meditaçãoÊ- pela que estãona atmosfera=como..'os peixesna água:?: Admirem como
voz de.Gillette --- olha esta~espadaÍ
eu à mergulharem. no'teu::coração os bontofnos se:destacam do5ftindo! 'Não lhes parece que podem
à primeira palavra de queixa. que :.proferirçesta. moça, ateareiíjfogo passar as mãos nessesdorso?} Também, durante sete anos,:jestudei
à tuà rasa,' e ninguém sairá dela. -;CompréehdeÉ? os .efeitos da conjunção da luz e dos'objetosi, ''E êsses cabelos, não
Nicolãs Poussin estavalsombrio, e seu!.:falarfói ..terrível.i Essa os :- inundai.a .luz ?.':. a'y Mas, creio, . elas-:resp:rota! . ã !Vejam, dêsse
seio ll..ÇAh! quem,'não o -quere:ia.l adorar de 'joelhos? As carnes
atitude e sobretudo «b gesto. do jovem pintorqconsolaram: Gillette,
quq:.quase o perdoou ;.por sacrifica;la à' pintura:j.e ao seu glorioso palpitam. '; Ela . vai erguer-se, esperem l
futur(i. 1;Porbus e. Poussin} ficaràht na porta ,do:ãfe/{er, olhando iene -- Está vendo alguma coisa? 11;perguntotl Poussin a Polbus.
silêncioum parao outro:. Se, a princípio,d pintor de :Alar;a.Egipría- ..=: Nãos, ..E você?
ca se permitiu algtlmas exclamações:. .-.."Ah l ela 'seiestá.l.despind(i, ---' .N ada
êle manda-a .coloca.t-se em l)oa luz !.=Compara:a I'?p.,pronto calou-se Os.:dois pintores deixaram Q velho entregue 'a seu êxtase, olha- L'
ante oll.aspecto,;.dé.l Pdussin,., cujo .semblante :lestavai p;ofundamente ram para :+er be a lua/!ao :cair a prumo#sõbre a tela que êlc lhes
triste:; e, !conquanto.o.sljvelhos pintores não tenham. mais ,escrúpulos estava mostrando,!:não neutralizava::todosç:os' seus::efeitos.:. Exa:
dêsses,-tão .mesquinhos .diante da arte, .êle..admirou-os, dç: tal forma
mlnaíümx então a.: pinturaEcolocando-se à direita, . à~ esquerda,' de
eram ingênuos e bonitos. ,:l:O rapaz estava. comi.a ,mão no\punho da frente,'i abaixando-se e . IFvahtando-Ée alternati\.amente.
espada e com o ouvido.:quase colado '.à porta.! «.A:mbos, .na sombra e .de
Sim,: s:m, é mesmouma tela --+ dizia-lhes Frenho.fei, enga-
pé;..assemelhâvam-se assim . à: ,dois ;conspiradores à . espera da ; hora
nando-!e:(comi a finalidade daquela: exame escrupuloso. .--:: Olhem,
de apunhalar um.tirano.
aqui es.lá a moldura, o cavalete,enÍinl,' a(luirestão minhas tiiítas,
EntrenlÍ entrem 1 ,--: disse o{ ancião, .radiante. de;.felicidade. meus';ptnceJS.
-+.-blinlia. obra está perfeita, e: agora posso niostrá-la com orgulha.
A: OBRA-#lÜMA IGNORADA
ustunos FILOSÓFICOS
t-3,'Êle é ainda mais poeta do que pintor .-- respondeu Paiissin
E ápoderau-se de um t)incel, que IhiÚ apresedtotí nüm gesto grau.emeDte.
üigénuo. j:''if=H$! i :l :=':i;L :7 g:. .:.: :iS;.: .C.4.'l.,..Í. :. .. ':
-- Aqui -- prosseguiu Porbus, tocando a tela.-p acaba a 61asu
arte sôbre a .,terra.
-...: E, daí, vai l)erder-se. no céu =-: disse Poussin.
.-r- iQuanto gôzo .nesse pedaço de tela! ---l exclamou.. Porbus
O ancião; absorto, não os ouvia e sorria àquela mulher .ima-
gtnana,
-- Mas cedoou tarde êle se aperceberádê que.:nãohá'.nada

'.*.
na sua tela! -.: exclamou Poussini
, rl;il:.=: Nada na minha telalÍj-= disso Ftenhofer, olhando alternad-
yamente os .dois':pintores e sêü. pretenso:'.quadro.
Que fêz você1-..: disse Porbus em voz baixa a Poussin.

iàZãi:K: ai;,exüs8'W
Ó' Velho segurou cona fõfçal;o .braço do rapaz e disse-lhe:
-.:-.Nada .]vês, labrego ! tratante ! patife ! desavergonhado l '.-;l:'au
que poisÉsubiste aqui? ' Meü bom.- Porbus.: disw êle virando-se

=à.#:: àH.s::;Üã.;ri rW::?$,==ü\


êle,$rivia.:
para o pintor -- será que você também ge está divertindo à minha
custa? ':Responda! sou seu amigo, diga, teria.eu estragado Qeu
quadro?

: Êl:1%:':='J==.='=;',.iü':*-««*.: I'.
l preciso íél {é. viyét .multo tempo coM .p:opria.ot)ra
e. a
Porbus. indeciso, não sê atreveu a. falar ; mas a ansiedadepin-
tada na fisionomia lívida do anciãoera tão cruel, que êle apontou
para a tela, dizendo:
--- ;v eja !
Frenhofer contenlploLt seu quadro um instante e cambaleo.u:
=.. Nada !!nada ! Z E 'têr' trabalhado dez anos!.
Sentou-se;le chorou.
-: .Sou pois um; imbecil,3jumlouco! nãa-tenho nem talento,
Qemcapacidade! Não sou senão~ um honacü rico que,-ao caminhar,
nada mais faz dó qlie caminhar! .l Não terei; pois,-.produzido nada!
Contenlplóu a tela .através dê.:suas lágrimas, .ergueu-se sübita-
naentccom orgulho, e lançou aos dois pintores' uln olhar fulgurante:
Pelo sanÉuc, pelo corpo, .pela cabeça: de Cristo.l :vocês são
uns ;nvejosos quem?melqberem .paper ;.crer que ela está estragada,
ma çóubarem ! :;:'Eu vejo-a! -- gritou,q --- ela é maravilhosa-
mente bela'. ;
longe êle desaparece..'Vejam! âlii.creio,' êle: é béh visív'el:.. i Naquele,:momento . Poussiit . ouviu b; pranto de Gillette, es(lua-
Cida num canto.
de:cõr clara.
Porbus batêtí no 'otnb'ro: .do anciãói vitaüdo-ge para .Pou$siü :
-= Que te«s, meu ,.«jo? perguntou-lhe a pintor, vaJtando
a gcr:uln apaixona(to
-- Sal)e qúe vemos nêle um bem grande pintor? -=- ai#bé: n
29
E s 'r u 1) 0 s ;': F l L o s 6 ricos

clip ::'ZC Inata-mel' .=: disse ela: ;--.k Eu .seria tÍÚa in game1:sei te
amasseainda, ue=ie despre/o-'l
l 'Admiro-te, e'-.i'lied causas
hurronJ 4 ARIA-te,.' ê; tremo que' já 'té odeio !
Enquanto: Poussin ouvia Gillette,'l;tenhofer: cobria sua -Cala-
ra'rnaç:com. uma: sarja.:verde, :com 'a séria tranqüiljdade; de um joa-
lheiro;:que ;'fechasse : suas gavetas .ao julga!:se ..na :companllia, de
hább'íé' }ladrõesi .':'DirigjÚ aos :dois bintorês túil ólhâr :pro.fundamente
diibiilittlado.'.'rêjileto de deslirêio':é. deXdescon
fiança, põ=los-silenció-
saliientefora de sua oficina.' comi;tunapresteza.convulsiva;depois,
à; poria kle ..$ua.!casal.disse:lhes :
-- .Adeus, meus amiguinhos.
Êsse À(leus . gelouí.os=dóis pintores;=j- No . ,4i! seguinte,. Porbus
i;quieto.. voltou . para .yet . l?.(enhoíeF, .e soube .quem êle'TlhorreFaçs à GÀMBARÀ'
Evite?:del#js de \eríquêinlado suas,telas.
Paria. janeiro.11;'!1832.
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Tradução de Vidas de. Oliveira

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