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A concepção marxista de estado: considerações sobre antigos debates com novas Titulo

perspectivas
Mollo, Maria de Lourdes Rollemberg - Autor/a; Autor(es)
Lugar
IF, Instituto de Filosofía Editorial/Editor
2006 Fecha
Colección
Lucha de clases; Sociedad; Autonomía política; Política; Estado; Marxismo; Temas
Neoliberalismo; Teoría política; Poder político;
Doc. de trabajo / Informes Tipo de documento
"http://biblioteca.clacso.org.ar/Cuba/if-mctma/20130625122658/Rollember_Mollo.pdf" URL
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A CONCEPÇÃO MARXISTA DE ESTADO:
CONSIDERAÇÕES SOBRE ANTIGOS DEBATES COM NOVAS
PERSPECTIVAS
MARIA DE LOURDES ROLLEMBERG MOLLO(*)

INDICE
I. INTRODUÇÃO................................................................................................................................................ 2
II. O DEBATE MARXISTA SOBRE O ESTADO ................................................................................................ 2
1. A QUESTÃO DA IMPORTÂNCIA ANALÍTICA DA ESTRUTURA E DA LUTA DE
CLASSES NO DEBATE POULANTZAS X MILIBAND ................................................................................. 3
III. A NECESSIDADE DE DERIVAÇÃO LÓGICO-HISTÓRICA DO ESTADO .................................................. 7
1. CONCLUSÕES POLÍTICAS DAS DIFERENTES POSIÇÕES............................................................... 10
2. DISCUSSÕES TEÓRICAS E CONCLUSÕES POLÍTICAS ................................................................... 12
3. O PORQUÊ DA NECESSIDADE DO ESTADO SEPARADO DA SOCIEDADE. ................................... 12
4. AUTONOMIA RELATIVA DO ESTADO COM RELAÇÃO ÀS CLASSES E
CONCLUSÕES POLÍTICAS....................................................................................................................... 17
5. PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO CONTRÁRIAS AO NEOLIBERALISMO......................................... 20
IV. BIBLIOGRAFIA........................................................................................................................................... 23

(*)
A autora agradece a Adriana Amado, Alfredo Saad Filho, Fernanda Sobral e a dois pareceristas anônimos pelos comentários feitos ao
longo da elaboração deste artigo que possibilitaram aperfeiçoá-lo, e ao CNPq, pelo financiamento de pesquisa mais ampla da qual este
trabalho é um dos frutos. A responsabilidade das idéias contidas no texto é apenas da autora.

A CONCEPÇÃO MARXISTA DE ESTADO: CONSIDERAÇÕES SOBRE ANTIGOS DEBATES COM NOVAS PERSPECTIVAS. 1
noção de autonomia relativa para as conclusões
I. INTRODUÇÃO políticas marxistas (2.3); e, finalmente, sobre o
porquê de aproveitar esta idéia de autonomia
1. As críticas ao neoliberalismo provenientes relativa do Estado para re-regulamentar a
das correntes econômicas heterodoxas economia atualmente (2.4).
encontram eco nas visões marxistas (Brunhoff,
1996 a e b, e 1999, Chesnais, 1994 e 1996, II. O DEBATE MARXISTA SOBRE O
Salama, 1996). Se isto pode ser facilmente ESTADO
associado ao pensamento keynesiano mais
radical, onde a ação do Estado é vista como 3. Grande parte das idéias aqui discutidas foram
indutora de um equilíbrio que o mercado não motivo de controvérsias e debates ao longo dos
consegue garantir, o mesmo não se pode dizer anos setenta e início dos oitenta, período em
com relação à análise marxista. Nesta, o Estado que os acordos e desacordos sobre o papel do
não pode ser visto como mero solucionador de Estado numa perspectiva marxista foram férteis
problemas, já que o mercado não é, por si só, a em termos de trabalhos. Em particular,
fonte deles, atribuída à lógica capitalista de preocupações semelhantes às expostas na
produção. Como se insere, pois, teoricamente, a introdução deste artigo surgiram em debates da
ação estatal interventora, em particular a ação Conference of Socialist Economists, em
econômica do Estado, como algo desejado Londres e Edimburgo, no fim dos anos 70,
pelos marxistas críticos do neoliberalismo? Até como reação aos cortes de gastos e às políticas
onde a crítica ao neoliberalismo é suficiente ou monetaristas do período1. Revisitar estes
é avanço relativamente à busca da transição debates é nosso objetivo neste trabalho, de
para uma sociedade socialista? Quais os forma a tirar conclusões atuais. Neles,
argumentos teóricos que podem fundamentar destacam-se algumas questões interrelacionadas
tais respostas? Estas são as preocupações que que separam as correntes e autores. A questão
justificam este trabalho cujo objetivo, em maior, que sustenta a grande divisão, é a da
primeiro lugar (item 1), é resenhar as teorias e relação entre base econômica e superestrutura,
os debates sobre o papel do Estado numa visão ou entre a economia e a política, já abordada
marxista para, em seguida (item 2), discuti-los e em estudos anteriores a partir da obra de Marx.
tirar uma conclusão própria sobre tal papel. Isto Esta questão, ao longo das discussões, vai se
nos servirá para, nas conclusões do trabalho, transformando ou se detalhando, de forma que
justificar propostas como as da imposição da passamos a ter, por um lado, um debate entre o
taxa Tobin para reduzir o movimento de privilégio da estrutura ou da luta de classes na
capitais, da re-regulamentação das economias, e análise, e outro defendendo a derivação lógico-
de restrições às formações liberais de blocos histórica do Estado. Estas são as questões que
regionais que, criticando o neoliberalismo, nos interessa tratar neste trabalho,2 e as
acabam argumentando em favor de um
1
capitalismo regulado enquanto não ocorre a Ver London -Edimburgh Weekend Return Group (1979)
transição para o socialismo. 1980, a partir daqui citado como LEWRG (1980). Alguns
destes trabalhos foram revistos e condensados mais tarde em
2. A partir da resenha do debate sobre o Estado, coletâneas sobre o tema, em particular ver Clarke (1991) e
realizada no item 1, daremos nossa própria Bonefeld e Holloway (1991).
2
opinião, no item 2, sobre como derivar lógico- As análises de autores marxistas como Gramsci, que se
dedicaram ao estudo do Estado, só serão mencionadas aqui na
historicamente a necessidade do Estado medida em que forem úteis para esclarecer idéias usadas no
separado da sociedade (2.1); sobre a razão para tratamento destas duas questões escolhidas como tema do
a má compreensão de Poulantzas do papel da artigo, quais sejam a do privilégio da luta de classes ou da
estrutura no tratamento do Estado, e a da necessidade da
luta de classes (2.2); sobre a importância da derivação lógico-histórica do Estado. Idéias como as de

A CONCEPÇÃO MARXISTA DE ESTADO: CONSIDERAÇÕES SOBRE ANTIGOS DEBATES COM NOVAS PERSPECTIVAS. 2
discussões podem ser melhor situadas 7. No que se refere à relação entre o Estado e as
acompanhando, inicialmente, o conhecido lutas de classes, diz Poulantzas que “o Estado
debate entre Poulantzas (1971 a e b, e 1978) e fixa os limites no interior dos quais a luta de
Miliband (1069, 1973) entre os anos sessenta e classes age sobre ele próprio: o jogo das suas
setenta. instituições permite e torna possível essa
autonomia relativa face às classes e frações
1. A QUESTÃO DA IMPORTÂNCIA ANALÍTICA DA
dominantes. As variações e modalidades desta
ESTRUTURA E DA LUTA DE CLASSES NO DEBATE autonomia relativa dependem da relação
POULANTZAS X MILIBAND concreta entre as forças sociais no campo da
luta política de classes, dependem mais
4. Segundo Poulantzas, o Estado é o “fator de
particularmente, da luta política das classes
coesão” dos diferentes níveis de uma formação
dominadas” (Ibid., II, p. 136).
social (Poulantzas, 1971 a, I, p. 40), os níveis
8. E isso, mesmo que estas lutas não tenham
econômico, político e ideológico, com função
atingido o limiar do equilíbrio das forças
de regulação de seu equilíbrio global.
sociais.
5. As diversas funções do Estado constituem-se
9. Poulantzas analisa a separação política dos
em funções políticas, em vista do seu papel de
trabalhadores não como uma conseqüência da
fator de coesão, e estas funções correspondem
produção capitalista, mas do Estado, a quem
aos interesses políticos da classe dominante
cabe individualizar os trabalhadores por meio
(Idem, I, p. 51). Mas para ele o Estado
do aparelho jurídico- político e, com isso,
capitalista tem uma autonomia relativa com
impedir ou dificultar a luta de classes. Ao
relação às classes e frações de classes do bloco
mesmo tempo, o Estado organiza as classes
no poder (Ibid., I, p. 94), o que impede que o
dominantes. Neste processo, o Estado esconde
Estado possa ser visto como mero instrumento
o caráter de classe das lutas políticas.
desta classe dominante. O Estado capitalista é,
10. O poder político, para Poulantzas, ainda que
então, para Poulantzas, um estado - nacional -
“apoiado no poder econômico, é prioritário, no
popular - de classe, no sentido de um Estado
sentido em que sua transformação condiciona
cujo poder institucionalizado tem uma unidade
toda mudança em outras áreas de poder (...) e o
própria de classe, mas se apresenta como
poder se concentra no Estado” (Carnoy, 1986,
Estado nacional popular, representando a
p. 146)3.
unidade política de agentes privados entregues
11. No que tange mais especificamente à
a antagonismos econômicos, antagonismos
economia, e em obras mais recentes, Poulantzas
estes que cumpre ao Estado ultrapassar (Ibid., I,
diz que o modo de produção capitalista tem
p. 120).
uma especificidade, a “separação relativa” entre
6. Se a autonomia (relativa) de que fala
o Estado e a economia, ligada “à
Poulantzas não permite que o Estado possa ser
desapropriação (à separação na relação de
visto como mero instrumento da classe
posse) dos trabalhadores de seus objetos e
dominante, ela também não pode permitir a
meios de trabalho e ligada, assim, à
passagem ao socialismo sem a destruição do
especificidade da constituição das classes e da
aparelho do Estado. Nega, assim, a idéia de
luta de classes, sob o capitalismo” (Poulantzas,
“socialismo de Estado”, uma espécie de
1977 c, p. 16). Esta separação, todavia, não
revolução a partir de cima (Poulantzas, 1971 b,
significa uma “exterioridade” real do Estado,
II, p. 115).
3
Esse gênero de idéia de Poulantzas, juntamente com sua
crítica ao economicismo vão dar origem às acusações de “anti-
Harbermas e Offe, por exemplo, não foram objeto de análise economicismo”ou “politicismo” da sua obra (Miliband, 1973 e
por não enfatizarem estas questões. Clarke, 1991).

A CONCEPÇÃO MARXISTA DE ESTADO: CONSIDERAÇÕES SOBRE ANTIGOS DEBATES COM NOVAS PERSPECTIVAS. 3
“intervindo o Estado, sob o capitalismo, na relativa é a autonomia e a não entender bem a
economia apenas do ‘exterior’” (Poulantzas, luta de classes. Esta, ao ser definida como um
1977 c, p. 16), porque o Estado tem uma “efeito de um conjunto de estruturas”
presença constitutiva e reprodutiva das relações (Poulantzas, 1971, I, p. 62), e negada como
de produção sob o capitalismo. Além disso, a “fator de engendramento genético das estruturas
separação se transforma “segundo os estágios e de uma formação social e como fator de suas
fases do próprio capitalismo” (Idem, p. 17). É transformações” (Idem, p. 58) leva ao que
esta separação que marca os limites estruturais Miliband considera a fraqueza de Poulantzas,
da “intervenção do Estado na economia e de “um super determinismo estrutural” (Miliband,
seu papel de “regulação”, inclusive na fase 1973, p. 85).
atual do capitalismo monopolista” (Ibid., p. 17). 16. Avançando nesta crítica Miliband diz que
12. Este tipo de percepção da autonomia Poulantzas não consegue definir e distinguir
relativa do Estado da economia permite o bem o poder de classe e o poder do Estado, o
aparecimento de uma política social que que o conduz à negação da relatividade da
favoreça a classe dominada, e pode restringir o autonomia afirmada inicialmente, ao associar o
poder econômico da classe dominante, sem por poder do Estado aos interesses da classe
isso ameaçar seu poder político. O papel dominante. Assim fazendo, Poulantzas torna o
econômico do Estado é visto como fruto de seu político “uma forma epifenomenal” (Idem, p.
comprometimento com a reprodução do capital. 88).
É um agir positivo, em contraposição ao agir 17. Essa crítica é compartilhada por outros
negativo do Estado repressor/ autores que valorizam e privilegiam na análise
proibidor/mistificador (Poulantzas, (1978) o papel das lutas de classes, com a própria
1981, p. 35 e Carnoy, 1986, p. 145)4. forma do Estado sendo, para eles, objeto desta
13. A relação estabelecida por Poulantzas entre luta (Clarke, 1991, Holloway, 1991 a, b e c, e
o Estado e as lutas de classes é ao mesmo Bonefeld, 1992).
tempo vista como a principal contribuição dele 18. A crítica destes autores ao estruturalismo
ao debate sobre o Estado capitalista (Carnoy, em geral, e a Poulantzas em particular, é de que
1986, p. 129) e o locus analítico de críticas não é possível separar as estruturas das lutas de
ferrenhas (Miliband, 1973). classes, e também não é possível pensar em
14. Uma das críticas de Miliband a Poulantzas é estruturas permanentes de relações sociais, já
a de “abstracionismo”, ao não se referir a um que ao longo do seu processo de reprodução
Estado capitalista concreto, com as diferentes elas são permanentemente transformadas. Para
estruturas e níveis tendo pouca relação com a Bonefeld “estruturas devem ser vistas como
realidade concreta e histórica (Miliband, 1973, modo de existência “do antagonismo de capital
p. 85-86). e trabalho” (Bonefeld, 1992, p. 98) e então
15. A outra crítica feita por Miliband (1973) como resultado e premissa da luta de classes.
refere-se ao anti-economicismo de Poulantzas, 19. A idéia aqui é a de que as leis de
que o conduz a negar que a esfera política seja desenvolvimento capitalista, ou suas leis de
reflexo da econômica, por meio do conceito de movimento, nada mais são do que movimento
autonomia relativa. Para Miliband, isso conduz das lutas de classes. Assim, rejeitam a
Poulantzas a não poder dizer muito sobre quão autonomia do Estado, ainda que relativa, para
propor que o político e o econômico sejam
4
Quando o ano da edição da obra citada for importante para a discutidos “como constituindo uma unidade
análise da evolução dos pensamentos aqui resenhados, e não contraditória” (Idem, p. 98).
coincidir com a edição utilizada neste trabalho, indicaremos o 20. Para estes autores, o desenvolvimento do
ano da primeira edição entre parênteses, seguido do ano da
edição que está sendo usada. Estado é marcado pela contraditória interação

A CONCEPÇÃO MARXISTA DE ESTADO: CONSIDERAÇÕES SOBRE ANTIGOS DEBATES COM NOVAS PERSPECTIVAS. 4
entre a necessidade e os limites que surgem das repressivo, é criticado como determinista. Por
contradições da reprodução capitalista. Este conceber o poder político como prioritário,
processo de desenvolvimento do Estado apesar de apoiado no econômico, sem
envolve lutas sobre a escala e a forma de sua desenvolver a relação entre a base econômica e
intervenção. Na medida em que a crise o poder político, entre o Estado e as
capitalista se aprofunda, a separação entre o contradições capitalistas, Poulantzas foi
Estado e a economia é minada e, com ela, a acusado de “politicismo”.
ilusão reformista da neutralidade do Estado.5 24. Os desacordos entre Poulantzas e Miliband
21. Para Miliband, a dominação política do têm origem, em parte, em concepções
capital está ligada à monopolização do poder metodológicas distintas. Como estruturalista,
político e econômico. Daí a necessidade de Poulantzas vê indivíduos como “suportes” ou
buscar formas políticas diferentes da eleitoral “portadores” das relações estruturais nas quais
para se chegar ao socialismo. “O poder do estão situados. Isso justifica a relação entre as
Estado é o mais importante e último, mas não é estruturas e as classes sociais que estabelece,
o único meio pelo qual o poder de classe é além de fundamentar a crítica que faz a
assegurado e mantido” (Miliband, 1973, p. 87). Miliband, de que este último trata as classes
22. Embora Miliband critique a falta de sociais em termos de relações interpessoais e a
explicações de Poulantzas sobre a relatividade ação social como originária nos indivíduos, o
da autonomia do Estado, ele próprio identifica que justifica uma busca de motivações
muito o poder do Estado ao da classe individuais para suas condutas (Poulantzas,
dominante, com o Estado sendo formado por (1969), 1977 a, p. 137). Também quando
ela. Assim, a visão acaba por ser Miliband nega a neutralidade do Estado, o faz
“instrumentalista”, no sentido de um Estado via participação direta da classe dominante no
que é o braço da burguesia, dando margem a aparato estatal, ao invés de perceber a razão
uma saída “voluntarista”, onde os limites ao disso no próprio sistema social (Idem, p. 138)
poder do Estado devem ser buscados na ou nas relações estruturais entre Estado e
resistência popular, na organização, desejo e sociedade civil (Clarke, 1991, p. 19).
determinação da luta de classes (Clarke, 1991, 25. O pensamento de Poulantzas muda bastante
p. 19). Miliband é, por isso, acusado de reduzir entre o início do debate (Poulantzas, 1971 a e b)
a luta de classes à consciência de classes e de e suas obras mais recentes (Poulantzas, 1978).
reducionismo economicista, ao estampar os Enquanto a primeira concepção era bem
interesses da classe dominante no Estado, via estruturalista, onde “o Estado reproduz a
poder econômico (Clarke, 1991, p. 20). estrutura de classes porque é uma articulação
23. Se Miliband é acusado de economicista e de das relações econômicas de classe, na região
ser conduzido a uma postura voluntarista, política” (Carnoy, 1986, p. 129), e suas formas
Poulantzas, ao ver o Estado capitalista e funções moldam-se segundo esta estrutura,
determinado pela estrutura de classes, e pela nas obras mais recentes percebem-se
natureza de classe dos aparelhos ideológico e modificações importantes. Nestas, existe a
possibilidade de luta de classes no interior do
5
Este mesmo tipo de crítica é feito aos partidários do “Novo aparelho do Estado em função das contradições
Realismo”. Reformistas, estes raciocinavam argumentando que inerentes à autonomia do Estado. Estas
os socialistas deveriam estar cientes das restrições colocadas ao contradições e os movimentos sociais passam a
papel do Estado pelo capital. Holloway e Pisciotto (1976, citado
por Clarke, 1991, p. 46) questionam tal posição, observando ter importância na conformação do próprio
que a própria realidade das restrições estruturais não é dada, Estado. “O Estado concentra não apenas a
mas é objeto das lutas de classes. Estes autores questionavam relação de forças entre frações do bloco no
também a idéia de transformação da sociedade pela mera
conquista de instituições políticas. poder, mas também a relação de forças entre

A CONCEPÇÃO MARXISTA DE ESTADO: CONSIDERAÇÕES SOBRE ANTIGOS DEBATES COM NOVAS PERSPECTIVAS. 5
estas e as classes dominadas” (Poulantzas, 28. A escola francesa da regulação e a versão
(1978) 1981, p. 162). O Estado é “um campo de alemã dela, chamada reformulacionista6, são
batalha”, um local de lutas de classes mais do encaradas como sucessoras do estruturalismo de
que um local de organização do poder da classe Poulantzas e, da mesma forma, criticada por
dominante como nas primeiras obras (Carnoy, não considerar adequadamente o papel da luta
1986, p. 130). Observa-se uma ampliação do de classes. A crítica se refere mais
conceito de Estado para ser produto, ao invés de especificamente às idéias de 'regulação' de um
apenas modelador das lutas de classes. O regime de acumulação, e de 'correspondência'
próprio Estado, como “condensação de relações entre os regimes de acumulação e as formas
de força”, passa a ser objeto da luta de classes” sociais de repressão e de integração da classe
(Carnoy, 1986). trabalhadora. Nos dois casos, segundo os
26. Apesar das modificações de concepção críticos, privilegia-se as leis objetivas do
entre os escritos iniciais e os últimos, ainda são capitalismo e as transformações estruturais
limitados, na concepção final de Poulantzas, os deste, e não a luta de classes. Os conceitos
limites da ação das lutas de classes. Assim, para enfatizam formas estáveis de articulação entre a
ele, “a ação das massas populares, no seio do produção de valor e formas distintas de
Estado, é uma condição necessária a sua regulação. Como o foco é nas regularidades, o
transformação, mas não é, ela mesma, uma papel das lutas de classes é visto como
condição suficiente” (Poulantzas, 1980, p. 145). diminuído (Bonefeld, 1991, p. 40-41).
Este tipo de argumento é usado pelos críticos 29. Acompanhando a conceituação dos
para reafirmar que a luta de classes continua regulacionistas Bonefeld (1991, p. 42-43) vê
pouco importante na obra de Poulantzas, já que nela um argumento que reforça a idéia de
se encontra restrita pelas estruturas, mesmo nos pequena importância da luta de classes. A
seus últimos trabalhos. Voltaremos a isso no necessidade do Estado é, na visão
item 1.4. regulacionista, resultado da necessidade de
27. Outra tentativa de articular as esferas recomposição da sociedade desintegrada pela
econômica e política, a estrutura e a luta de ‘mercantilização’ das relações sociais e a
classes, é a de Jessop, de concepção universalização da relação salarial. O Estado
estruturalista/regulacionista. A forma valor funciona como força de coesão, o que, segundo
determina a estrutura na qual a acumulação de os críticos, é uma visão politicista como a de
capital se desenvolve, mas não completamente, Poulantzas. Nos conceitos de estratégias de
porque as ondas de lutas de classes e a anarquia acumulação alternativas aparece a idéia de
da produção não permitem determinar, a priori, condições estruturais dadas, que condicionam
o curso da acumulação. A idéia é de que é as estratégias e projetos. Neste caso, também a
necessária uma intervenção de um fator externo luta de classes fica desarticulada e subjugada
para impor mecanismo regulador, entre os quais pelas estruturas, que passam a ter o papel
destaca-se o poder do Estado. Como não existe determinante. O resultado deste tipo de
apenas uma estratégia de regulação, é possível argumento é ver o desenvolvimento das formas
esperar a influência das lutas de classes na de regulação vindo de cima, articuladas pelos
escolha da estratégia. (Jessop, 1991b). Trata-se, aparatos do Estado, e dificilmente atribuir a
pois, de uma escolha política. Diferentemente,
porém, de Holloway, Pisciotto e Bonefeld 6
Após as discussões dos regulacionistas franceses desenvolveu-
(Holloway, 1991 a, b e c, e Bonefeld e se também uma corrente de autores alemães dita dos
Holloway, 1991 b), o argumento aqui privilegia reformulacionistas, combinando conclusões dos chamados
a estrutura, já que esta, determinada pela forma derivacionistas com algumas idéias de Poulantzas. Destaque-se
aqui, em particular, os nomes de Hirsh (1977 e 1991) e de
valor, estabelece limites para as lutas de classes. Jessop (1991a e 1991b).

A CONCEPÇÃO MARXISTA DE ESTADO: CONSIDERAÇÕES SOBRE ANTIGOS DEBATES COM NOVAS PERSPECTIVAS. 6
integração dos trabalhadores aos ganhos da conduz à possibilidade de apreender o que é
acumulação ao fortalecimento das lutas de comum a qualquer Estado capitalista e que
classes (Bonefeld, 1991, p. 52). De novo, surge, decorre da lógica deste modo de produção, a
como em Poulantzas, a acusação de apreensão das suas transformações históricas
determinismo. requer a derivação histórica do Estado. Estas
30. A posição dos críticos que defendem o são as preocupações dos teóricos
privilégio analítico das lutas de classes é de que derivacionistas que procurarão corrigir
31. " o processo de reprodução social "crisis- problemas do estruturalismo ligados à ausência
ridden" deveria ser entendido em termos de de- da gênese dos fenômenos. Ao não fazer
e-recomposição da sociedade, ao invés de em corretamente a gênese da autonomia relativa do
termos de ‘correspondência – regulação- Estado diante da sociedade civil, fica-se
regularidade’. Então, o desenvolvimento impossibilitado de apreender bem suas
histórico deveria ser conceituado como um transformações históricas e suas condições de
processo de estrutura e lutas onde a estrutura evolução7.
está implícita na forma da relação de classe" 34. “De forma a entender a autonomia relativa
(Bonefeld, 1991, p. 45-46). do Estado - ou melhor, a separação ou
32. Neste debate sumariado aqui de forma bem particularização do Estado da economia - é
rápida, é possível situar a discussão estrutura x necessário derivar esta “autonomia relativa”
luta de classes, cujo foco se encontra na (particularização, separação) da estrutura básica
existência ou ausência de poder de classe para das relações de produção capitalistas: de forma
alterar as estruturas. Tal como a questão é a entender a relação entre duas ‘coisas’, é
colocada, porém, tanto por Poulantzas como necessário entender sua unidade” (Holloway,
por Miliband, a resposta é sempre insatisfatória, 1991 a, p.227-228).
uma vez que tanto a análise da estrutura da 35. Esta derivação não é entendida como
relação entre Estado e sociedade civil, quanto a determinismo mas, ao contrário, como a forma
análise das lutas de classes precisam ser de bem apreender as formas mutáveis de
desenvolvidas como aspectos de um mesmo relação Estado-sociedade e do próprio Estado, a
processo unitário. A forma de obter tal análise é partir da gênese analítica da necessidade do
buscando explicar tanto a estrutura da relação Estado, necessidade que surge das próprias
Estado - sociedade civil quanto a luta de classes contradições do modo de produção capitalista
nas relações sociais que caracterizam o modo (Holloway e Pisciotto, 1991).
de produção capitalista, nas suas leis de 36. Visto desta maneira, a crítica dos
movimento. Este é o objetivo dos derivacionistas não é à ênfase no econômico
derivacionistas que analisaremos no item 3. (economicismo) ou no político (politicismo),
mas à ausência de uma análise que apreenda os
III. A NECESSIDADE DE DERIVAÇÃO dois e a sua separação como resultado da
LÓGICO-HISTÓRICA DO ESTADO estrutura das relações sociais na produção
capitalista (Holloway, 1991 a, b e c).
33. A preocupação dos derivacionistas é 37. A forma de derivação, ou a forma como
mostrar que a separação entre o econômico e o explicam os imperativos lógicos do
político é algo típico do capitalismo, que aparecimento do Estado difere entre os autores.
precisa ser explicado como originário da forma
social da produção capitalista. Trata-se aí, de 7
Este tipo de crítica não apenas absorve o a-historicismo de
derivar logicamente a necessidade de Poulantzas, tal como criticado por Miliband, mas vai além,
mostrando que é necessário buscar na gênese lógico-histórica, o
autonomia ou separação relativa do Estado da que é típico de qualquer capitalismo e, historicamente, analisar
sociedade civil. Mas se tal derivação lógica suas transformações.

A CONCEPÇÃO MARXISTA DE ESTADO: CONSIDERAÇÕES SOBRE ANTIGOS DEBATES COM NOVAS PERSPECTIVAS. 7
Altvater deduz a necessidade do Estado da de Poulantzas existente em suas idéias9. A
concorrência entre capitais. O Estado precisa concepção é de que o Estado do Bem-Estar não
evitar que tal concorrência destrutiva é somente um resultado da luta de classes, mas
comprometa a reprodução do capital. Tem também um componente estrutural da forma
então como encargo reproduzir o capital na sua fordista de socialização, garantindo a regulação
totalidade, regulamentando o conflito capital - da acumulação de capital.
trabalho, proporcionando a infra-estrutura 40. Dois tipos de críticas são feitos à
necessária, ajudando o capital nacional nos argumentação de Hirsch que retornam às
mercados internacionais e regulamentando o questões da importância da derivação lógico-
desenvolvimento capitalista por meio da histórica e do debate estrutura x lutas de
política fiscal e monetária (Carnoy, 1986)8. classes. No primeiro caso, embora se aceite que
38. Hirsch associa inicialmente a derivação do Hirsch avança na procura dos porquês do
Estado a partir da anarquia da produção Estado e da sua separação da sociedade civil, ou
capitalista e, em trabalho posterior (Hirsch, do econômico e do político, “ele nunca de fato
1978), à necessidade de superar o exercício da explicou a necessidade desta separação, nem
força das relações capitalistas de exploração mostrou como esta ocorreu historicamente”
imediata, já que esta última requer a força de (Clarke, 1991, p. 15). Segundo Clarke, essa
trabalho livre. Para Holloway (1991 a) a separação entre o econômico e o político ocorre
abordagem de Hirsch “é uma das mais de uma vez por todas, ficando-se sem poder
frutíferas”. Ela deriva a particularização do analisar as transformações históricas e seu
Estado do fato de que a exploração da classe reflexo na forma desta separação. Além disso,
trabalhadora se dá via venda da mercadoria “a questão da “natureza inerente” da relação
força de trabalho. A coerção social precisa se capital-trabalho dentro dos diversos fenômenos
localizar numa instância separada dos capitais sociais e políticos foi reduzida meramente a
individuais, no Estado. uma questão de coesão histórica de diferentes
39. A lógica do Estado, para Hirsch, é estruturas” (Bonefeld, 1992, p. 15).
determinada pela do capital. A autonomia do 41. Outro tipo de crítica relaciona-se ao já
Estado é vista por ele como forma específica de mencionado papel secundário da luta de classes
dominação, onde a organização social coletiva é nas explicações de Hirsch, (Clarke, 1991 e
separada da sociedade propriamente dita. Os Bonefeld, 1992). Os dois tipos de crítica não
limites desta autonomia acham-se relacionados são estanques, mas têm a mesma explicação. Na
com a necessidade do Estado de assegurar a sua análise a objetividade das leis de
reprodução do capital para garantir sua própria desenvolvimento capitalista é justaposta à luta
reprodução. Para Hirsch, a tendência de classes, sem que estas estejam articuladas ao
decrescente da taxa de lucro representa uma próprio desenvolvimento, como motor da
condensação das contradições inerentes à história (Bonefeld, 1992, p. 95). Assim, Hirsch
acumulação capitalista e a necessidade do acaba por reproduzir um erro que se atribuía a
Estado surge exatamente para desenvolver Poulantzas, de não tratar adequadamente o
contra tendências. Em trabalho posterior, papel da luta de classes (Miliband, 1973,
Hirsch (1991) associa suas idéias à escola Clarke, 1991) ou de dedicar à luta de classes
francesa da regulação, confirmando a herança um papel secundário (Bonefeld, 1992).

8 9
Este tipo de visão foi criticado por supor a derivação que Embora Hirsch seja analisado neste trabalho pela forma de
deveria desenvolver e, ao derivar a necessidade do Estado de derivação do Estado que introduz, sua análise é estruturalista/
tendências destrutivas, supor novamente uma separação entre o regulacionista. É, neste sentido, sucessor de Poulantzas, de
econômico e o político que deveria explicar (Clarke, 1991, p. quem herda, segundo seus críticos, o problema de dar pouca
11). importância analítica à luta de classes.

A CONCEPÇÃO MARXISTA DE ESTADO: CONSIDERAÇÕES SOBRE ANTIGOS DEBATES COM NOVAS PERSPECTIVAS. 8
42. Outro argumento derivacionista é o econômica, ela reaparece no conflito entre
fornecido por Blanke, Jürgens e Kastendiek políticas, em soluções contingentes transitórias
(1978) segundo o qual a troca de mercadorias e comportamentos cíclicos da economia,
tem duplo caráter, de troca entre coisas por (Reuten and Williams, 1989).
meio da lei do valor e relação de propriedade 46. Holloway e Pisciotto (1978) vão procurar a
entre pessoas e suas mercadorias. A garantia da razão das relações econômicas e das relações
propriedade privada requer o aparecimento do políticas como formas que aparecem separadas
Estado e da lei. Além disso, o Estado é na sociedade burguesa, nas relações sociais
necessário para garantir igualdade dos neste tipo de sociedade, em particular, nas
participantes do mercado quando se trata da relações antagônicas entre capital e trabalho.
relação capital - trabalho, uma vez que a forma Tal como valor e dinheiro, o Estado é uma
da relação de troca, envolvendo cidadãos livres forma específica de relação social datada
e iguais perante a lei, contradiz o conteúdo, de historicamente (Holloway, 1991a, p. 229).11
subordinação do trabalho ao capital (Clarke, 47. Enquanto no feudalismo a sujeição
1991)10. econômica e política do servo ao senhor feudal
43. Reuten e Williams (1989), apoiando-se em tornava indiferentes estes dois aspectos e não os
Hegel e Marx, derivam a necessidade do Estado separava, na produção capitalista a constituição
da contradição entre a forma valor de necessária do trabalhador como proprietário da
reprodução da economia e o abstract free will. força de trabalho e cidadão, separa o aspecto
44. “Desta contradição é derivada a sociedade econômico do político. No primeiro caso temos
de sujeitos competitivos dispondo de fontes de uma desigualdade material e no segundo uma
renda (que são formas de valor) de forma a igualdade formal (Blanke, Jürgens e
sobreviver. Enquanto a existência desses Kastendiek, 1978, citado por Holloway, 1991a).
sujeitos competitivos é baseada nos direitos de Esta separação nada mais é do que um processo
propriedade privada e, idealmente, de permanente de tentativa de “suprimir a
existência, estes direitos não podem ser experiência de classe, de suprimir a organização
reproduzidos dentro da sociedade competitiva. de classe”. Assim, entender o Estado como
Esta contradição é baseada no desdobramento “forma-processo” de separação do político da
da sociedade competitiva em sociedade civil e relação capital, fundamental para a reprodução
Estado. Sociedade competitiva então mediatiza do capital, é parte importante da luta contra o
a economia e o Estado, o que é uma condição próprio capital (Holloway, 1991a, p. 241).
necessária da existência da totalidade burguesa” 48. Sumariando a posição derivacionista após
(Reuten e Williams, 1989, p. 164). os debates dos anos setenta, Holloway, (1991a),
45. Nesta percepção, “o Estado é determinado coloca que é possível derivar o Estado da
como sujeito social universal que preserva os necessidade de generalização da produção de
direitos de propriedade e existência” (Reuten e mercadorias, a partir da individualização dos
Williams, 1989, p. 184 ), e a política econômica sujeitos privados, tratados como sujeitos
é “um momento chave da unidade contraditória econômicos proprietários de mercadorias. Se a
da sociedade civil e do Estado”. Assim, ao produção de mercadorias requer tais indivíduos
invés da contradição ser superada pela política privados, a forma legal trata-os como
homogêneos.
10
Clarke (1991) menciona que Blanke, Jürgens e Kastendiek 49. O primeiro impulso para o crescimento da
foram criticados por derivar a forma do Estado capitalista da
produção de mercadorias. A defesa deles, com a qual intervenção estatal surge com a necessidade de
concordamos, é de que só no capitalismo temos um
desenvolvimento efetivo da produção de mercadorias.
11
Voltaremos a isso na segunda parte do texto, ao discutirmos Ver também Rubin (1927) 1978, para a necessidade da
nossa própria posição sobre os debates gênese do valor e do dinheiro .

A CONCEPÇÃO MARXISTA DE ESTADO: CONSIDERAÇÕES SOBRE ANTIGOS DEBATES COM NOVAS PERSPECTIVAS. 9
reprodução da força de trabalho como 52. As diferenças de análise teórica entre
mercadoria. Também aqui o trabalhador é estruturalistas de um lado e teóricos das lutas de
tratado como mero comprador e vendedor classes, de outro, conduziram a posturas
proprietário de uma fonte de renda. Em políticas diferenciadas nos anos 70 e 80 no que
qualquer caso, foram escondidas as relações de se refere à relação entre a classe trabalhadora e
classe, o que faz parte da fetichização o Estado. Os estruturalistas (em particular
característica do capitalismo. Assim, como diz Hirsch, os regulacionistas e os
Bonefeld (1991, p. 116) “por trás da igualdade reformulacionistas) viam a classe operária
formal e da liberdade formal encontra-se a incorporada ao Estado fordista de seguridade e
reprodução da forma capital”, ou seja, a aos movimentos de massa como os de
produção de valor e mais valor. A exploração sindicatos, partidos social-democratas e novos
aparece como salvaguarda de direitos, e o que movimentos sociais. Neste gênero de visão,
aparece como direito de emancipação política é "enquanto o keynesianismo era a expressão
negado pelo direito à propriedade que, ao ideológica da tentativa do capital e do Estado
contrário, impede tal emancipação. de responder a aspirações generalizadas da
50. Isto conduz, do ponto de vista teórico, a classe trabalhadora no boom do pós-guerra, o
concluir que neoliberalismo é a expressão ideológica da
“O Estado deve ser visto não como uma forma subordinação das aspirações da classe
de existência da relação capital, mas como um trabalhadora à valorização do capital" (Jessop,
momento na reprodução do capital como uma 1991b). Este pensamento é criticado como
relação de exploração mediada por trocas consequência de uma visão determinista onde o
individuais de mercadoria força de trabalho, capitalismo é reproduzido de acordo com " uma
como um processo de formação da atividade quasi-autônoma lógica" . O resultado, para os
social de forma a reproduzir as classes como críticos, é que o marxismo torna-se uma teoria
indivíduos atomizados e excluir a possibilidade de reprodução do capitalismo, mais do que de
de organização de classe contra o capital” sua ruptura." (Holloway, 1991c, p 173).
(Holloway, 1991 a, p. 250). 53. Quanto aos teóricos das lutas de classes,
percebem a relação permanente e inerentemente
1. CONCLUSÕES POLÍTICAS DAS DIFERENTES
contraditória entre o Estado e a classe
POSIÇÕES trabalhadora. Por um lado, a mobilização
51. A crítica dos teóricos que privilegiam as política da classe trabalhadora força o Estado a
lutas de classes à visão atender suas aspirações materiais. Mas as
estruturalista/regulacionista é a de que as lutas necessidades não podem ser todas satisfeitas,
de classe e a ação do Estado são percebidas porque os trabalhadores precisam sempre ser
como solução das contradições do capitalismo, submetidos ao capital. Assim, por maiores que
ao invés de conseqüência delas. (Clarke, 1991, sejam os ganhos obtidos com o Estado Bem-
p. 50-51). Outro tipo de crítica relaciona-se com Estar, eles estão limitados e condicionados à
o grupo de autores que nega a autonomia do reprodução desta sujeição (Clarke, 1991a, p.
Estado com relação ao capital. Esta crítica 58). A reação política a esta percepção, segundo
refere-se “à impossibilidade de pensar a ação eles, “não é rejeitar a política de classe
reguladora do Estado quando não existe um só tradicional como reformista, em favor da
Estado e quando a lei do valor se impõe aos absorção na política dos novos movimentos
estados individuais (Barker, (1978)1991). sociais, mas é desenvolver o potencial
Atribuem ao Estado, assim, muito menos progressivo inerente a todas as formas de lutas
autonomia do que os estruturalistas em geral. de classe, desenvolvendo novas formas de
políticas de classe que possam ameaçar as

A CONCEPÇÃO MARXISTA DE ESTADO: CONSIDERAÇÕES SOBRE ANTIGOS DEBATES COM NOVAS PERSPECTIVAS. 10
formas alienadas do poder capitalista” (Clarke, desestabilizador inerente à retração do Estado”
1991a, p.59). (Holloway, 1991a, p. 251).
54. A posição do grupo de Edimburgo no que 57. Trata-se, pois, de tatear entre os interesses
se refere à estratégia política em relação ao para a classe operária de ganhos de políticas
Estado é de que ela deve cuidar tanto da forma capitalistas interventoras, e o interesse em
quanto do conteúdo da política do Estado, de desestabilizar ou em evitar a estabilização de
modo a, por um lado, resistir ao poder do um sistema que se quer ver transformado. “O
capital e, por outro, desenvolver alternativas problema com a simples pressão ou defesa das
socialistas, em qualquer caso evitando que uma velhas formas de Estado agora sendo superadas
vitória em termos de reforma social é que isso não só perde essa oportunidade, mas
desmobilize a classe trabalhadora e enfraqueça- efetivamente esmaga-a afirmando a
a nas lutas subsequentes. Para tanto, são neutralidade ou potencial neutralidade do
sugeridos tanto o engajamento com o Estado Estado” (Idem, p. 254).
quanto a extração de concessões do Estado, 58. Mas a ação para reformular as relações
desde que sempre organizando sem sociais do capitalismo não se refere só à ação
institucionalizar, e na base de classes e não de do Estado ou fora dele, mas também à ação
indivíduos (LEWRG, 1980). dentro do aparato do Estado. Para tratar destas
55. Do ponto de vista dos teóricos que lutas, Holloway distingue a forma do Estado
privilegiam a luta de classes, a conclusão é de como relação de dominação capitalista, do
que aparato do Estado como aparato institucional,
“A luta contra o Estado não pode simplesmente onde os antagonismos aparecem sob a forma de
ser uma questão de esclarecimento teórico da lutas de clientes do Estado (organizações de
classe trabalhadora, nem simplesmente o requerentes, trabalhadores pertencendo a
controle do Estado ou o confronto com ele, mas conselhos, trabalhadores protestando contra
deve envolver o desenvolvimento de formas provisões de moradias, etc). Numa visão
materiais de contra-prática, de contra- socialista cabe “trabalhar dentro do aparelho do
organização (Holloway, 1991a, p. 250). Estado, mas contra a forma do Estado”, no
56. Outra conclusão política importante para se sentido do fortalecimento da organização de
deixar discutida aqui, refere-se à crise, vista não classe, contra o fetichismo e a dominação de
somente como resultado das contradições uma classe pela outra. Para tanto, não é
capitalistas mas, também, como momento de necessário esperar a destruição do aparato
restruturação das relações capitalistas de estatal, mas é possível lutar dentro dele,
produção. Assim, buscando formas de organização e
“É claro que a esquerda deve defender os representação baseadas não em pessoas mas em
ganhos da classe trabalhadora que se tornaram classes.
inscritos nas atividades de bem-estar do Estado, 59. Outro tipo de debate nos anos setenta
porém qualquer defesa simples do Welfare procurava explorar a idéia de “determinação em
State que esqueça sua forma capitalista é última instância pelo econômico” com a
altamente problemática. Primeiro, porque tal aceitação, em geral, de certa funcionalidade do
estratégia não parece mobilizar amplo suporte: Estado para o capital. As grandes divergências
a grande força do ataque burguês nessa área neste debate encontravam-se nas diversas
acha-se precisamente no fato do Estado ter sido opiniões sobre os limites desta funcionalidade.
longamente experimentado como opressivo De um lado, os chamados fundamentalistas
(...). E segundo, tal estratégia perde uma (Bulloc e Yaffe 1975, Fine e Harris, 1976 a)
oportunidade de explorar o potencial percebiam limites econômicos ao próprio papel
do Estado e, então, à própria intervenção estatal

A CONCEPÇÃO MARXISTA DE ESTADO: CONSIDERAÇÕES SOBRE ANTIGOS DEBATES COM NOVAS PERSPECTIVAS. 11
no interesse do capital. Chamavam atenção para civil e à economia, sob pena de
a relação econômica entre a produção e a comprometermos possibilidades de ganhos
distribuição e para as conseqüências desta políticos ou de redução de perdas sociais para
relação para as crises. Do outro lado, os trabalhadores. Neste sentido é que
encontravam-se os neo-ricardianos (O’Connor, concluiremos tratando de questões atuais que
1973, Gough, 1975) que, ao invés de requerem a participação do Estado e que
explorarem os limites da ação do Estado no justificam propostas de re-regulamentação
econômico, atribuíam-nos a razões políticas. Ao econômica assumidas pelos marxistas.
rejeitarem a teoria do valor-trabalho, atribuíam Analisaremos mais detidamente estes aspectos
o crescimento maior das despesas que das nos próximos itens.
receitas não a razões relativas ao trabalho
3. O PORQUÊ DA NECESSIDADE DO ESTADO
improdutivo, mas a dificuldades distributivas,
com a classe capitalista recusando-se a pagar SEPARADO DA SOCIEDADE.
mais para um papel do Estado necessariamente 62. Partindo do acordo com os autores
maior com a acumulação monopolista. O peso derivacionistas, que chamam atenção para a
da política na determinação do papel do Estado necessidade de entender o porquê do Estado e
conduz Gough (1975) a argumentar que seu papel, de forma a poder analisar sua
reformas econômicas e sociais podem ser evolução, buscamos seu porquê naquilo que, a
obtidas pela classe trabalhadora explorando nosso ver, define a sociedade capitalista de
divisões dentro da classe capitalista. produção, seu caráter produtor de mercadorias,
2. DISCUSSÕES TEÓRICAS E CONCLUSÕES
por um lado, e seu caráter de valorização do
valor, que chamamos aqui o caráter capitalista
POLÍTICAS
propriamente dito, de outro, insistindo que os
60. Da resenha elaborada no item anterior é dois aspectos são necessariamente relacionados
possível destacar algumas questões para entre si.
discussão mais aprofundada, de forma que 63. No que tange ao caráter produtor de
possamos concluir sobre a posição marxista mercadorias, é preciso iniciar observando que a
crítica ao neoliberalismo. produção de mercadorias só se desenvolve, de
61. Em primeiro lugar, destaca-se como aspecto fato, com a produção capitalista, embora Marx
importante a reter a necessidade de buscar, nas descreva esta característica nos três primeiros
leis de movimento do capitalismo e nas suas capítulos do capital (primeira parte: Mercadoria
contradições, o porquê da necessidade do e Dinheiro) e passe a tratar do capital somente
Estado e o porquê deste aparecer como algo no capítulo IV (segunda parte: A
separado da sociedade. Em segundo lugar, Transformação do Dinheiro em Capital). Tal
temos a destacar a importância que devem ter divisão sugere que ele vai acrescentando
as lutas de classes ao longo de qualquer análise determinações e derivando as diferentes
do processo de produção capitalista, como categorias e formas necessárias ao
condição e resultado deste processo. Neste funcionamento do processo capitalista de
sentido, analisaremos com Clarke (1991 b) o produção.
porquê de Poulantzas não ter bem apreendido 64. Ao tratar da mercadoria propriamente dita
isso, sobretudo nos seus primeiros trabalhos. Marx estabelece a necessidade do valor e do
Finalmente, chamaremos atenção para a dinheiro como formas sociais. O trabalho, em
necessidade de não perder de vista a economias produtoras de mercadorias, é
importância da idéia de autonomia, ainda que privado, e os produtores aparentemente
relativa, do Estado com relação à sociedade independentes. Todavia, a independência só

A CONCEPÇÃO MARXISTA DE ESTADO: CONSIDERAÇÕES SOBRE ANTIGOS DEBATES COM NOVAS PERSPECTIVAS. 12
pode ser aparente, uma vez que as mercadorias, especificamente por meio da conversão da
por definição, precisam ser vendidas, o que mercadoria em dinheiro, que a contradição
explicita uma dependência recíproca entre privado-social é resolvida nos termos de Marx,
produtores privados, uma dependência social ou seja, é deslocada de forma a viabilizar o
baseada numa produção regida pela divisão funcionamento da sociedade. O deslocamento
social do trabalho. A divisão social do trabalho, da contradição ocorre porque o trabalho privado
nestas economias, se dá de forma complexa. contido na mercadoria converte-se em trabalho
Em primeiro lugar, ela ocorre apenas na medida social ao ser transformado em dinheiro, e isto
em que as mercadorias confrontam-se umas porque o dinheiro, na produção de mercadorias,
com as outras, o que requer a abstração dos nada mais é do que a forma de representação
trabalhos concretos, um processo que, na social do trabalho. É neste sentido que se diz
prática, requer o valor, como forma de que a moeda, na produção de mercadorias,
permutabilidade. O valor, por sua vez, valida socialmente trabalhos privados ou tem o
apresenta-se de forma sempre relativa, pelo papel de validador social dos trabalhos privados
confronto de duas mercadorias ou da ( Brunhoff, 1979; Aglietta, 1986 e Lipietz,
mercadoria e do dinheiro. Esta é a forma do 1983).
valor, o valor de troca. Na medida em que a 66. Assim, podemos já afirmar que o dinheiro,
produção de mercadorias se desenvolve e se como validador social dos trabalhos privados, é
generaliza, impõe o aparecimento de um valor importante no deslocamento da contradição
de troca universal, ou da forma universal do privado-social, e não pode cumprir tal papel se
valor, o dinheiro. Temos então uma análise de sujeito estiver a tais interesses privados. Daí a
Marx que, ao desvendar a mercadoria, percebe necessidade do Estado intermediando tais
a necessidade do trabalho abstrato; do valor interesses. Este gênero de análise impõe o
como forma social de expressão do trabalho aparecimento do Estado e de um Estado que
abstrato; do valor de troca como forma social apareça como superior aos interesses privados,
de expressão do valor; e do dinheiro como separado destes para poder intermediá-los.
forma social (reconhecida socialmente) de Trata-se, então, de uma ação do Estado que é ao
expressão do valor de troca12. mesmo tempo “imanente”, porque atende a
65. A gênese do dinheiro nada mais é, pois, que necessidades inerentes ao funcionamento
a conseqüência necessária em uma sociedade capitalista, e exterior, porque não se confunde
onde a dependência entre os homens se mostra com interesses privados específicos (Brunhoff,
pela necessidade de trocar coisas (mercadorias), 1982 e Mollo, 1990). Esta é, pois, a primeira
resolvendo, assim, a contradição ligada ao razão para a necessidade do Estado e da sua
processo de trabalho nestas sociedades: privado separação da sociedade.
no momento da sua efetivação, mas social por 67. Depois de entender a mercadoria e a
estar sujeito a uma divisão social. Ora, se o produção de mercadorias, Marx pode entender
dinheiro surge e se desenvolve e acompanha o capital. O capital nada mais é do que uma
necessariamente a produção de mercadorias, relação social que surge quando e porque a
isto ocorre porque é por meio dele, mais força de trabalho humana vira mercadoria. O
que garante tal processo é a propriedade privada
12
Marx começa buscando o conteúdo dos conceitos, saindo dos dos meios de produção, por um lado, e um
conceitos mais complexos e concretos para os mais simples e mundo de mercadorias, onde todo mundo é
abstratos (dinheiro – valor de troca – valor – trabalho), e retorna
desvendando a forma que serve a estes conteúdos, desta feita comprador e vendedor, por outro. É porque
partindo dos conceitos mais simples e abstratos para os mais todo mundo precisa comprar, num mundo de
complexos concretos (trabalho abstrato – valor – valor de troca mercadorias, que é preciso vender algo, e é
– dinheiro ). Este é, conforme Rubin (1978), o método genético
ou dialético. porque não se tem mais nada para vender a não

A CONCEPÇÃO MARXISTA DE ESTADO: CONSIDERAÇÕES SOBRE ANTIGOS DEBATES COM NOVAS PERSPECTIVAS. 13
ser a força de trabalho que esta vira mercadoria. 70. Este gênero de percepção da necessidade do
Mas só não se tem o que vender, além da força Estado pode ser complementada pela visão de
de trabalho, porque não é possível produzir Brunhoff. Esta visão se adequa aqui porque,
mercadorias outras e vendê-las, e isso porque o para Brunhoff, mercadorias especiais como a
acesso aos meios de produção é vedado pela força de trabalho e a moeda no sentido de
propriedade dos mesmos pelos capitalistas e sua Marx, são particularmente carentes de uma ação
“despossessão” pelos trabalhadores. Assim, a do Estado, em vista da relação que nelas se
força de trabalho só vira mercadoria porque os estabelece entre valor de uso e valor de troca.
meios de produção são de propriedade privada e Segundo Brunhoff, as mercadorias força de
os meios de produção só podem ser vistos como trabalho e moeda, “cujo valor de uso mantêm
capital se e quando submetem a força de com o valor de troca relações particulares, têm
trabalho, impondo-lhe a necessidade de virar condições de reprodução que exigem uma
mercadoria e ser vendida. Neste gênero de intervenção estatal” (Brunhoff, 1977, p. 130)13.
análise o capital não é uma coisa, mas é uma 71. A necessidade de uma ação estatal sobre a
relação social, é a relação social que tem força de trabalho “é imposta pela insuficiência
necessariamente implicada a venda da força de do salário direto em assegurar a reprodução
trabalho contra um salário. Capital e força de desta força” (Brunhoff, 1977, p. 131). Se, por
trabalho assalariada são, pois, dois ângulos de um lado, o capitalista paga com o salário o
uma mesma relação social. valor “quotidiano” da força de trabalho, o
68. Assim, quando Marx, no capítulo IV, objetivo de lucro, baseado na exploração, não
explica como o dinheiro se transforma em admite o custo da manutenção do trabalhador
capital, o faz mostrando que apenas o dinheiro vivo mas desempregado, ou doente. Ao mesmo
que compra força de trabalho e meios de tempo, sabemos, a massa de trabalhadores
produção é capital. Compra força de trabalho desempregados é necessária para rebaixamento
como mercadoria e, só o faz, porque compra ou do salário e para proporcionar reserva de mão
já comprou os meios de produção. de obra disponível necessária nos saltos da
69. Neste processo, a compra e venda de força acumulação. Assim, são as próprias
de trabalho exige, conforme o próprio Marx, contradições definidoras do modo de produção
que o trabalhador seja livre em dois sentidos: capitalista que supõem uma ação estatal na
livre, no sentido de “despossuído” dos meios de gestão da força de trabalho, neste caso
produção e livre para procurar emprego e para proporcionando formas de assistência,
deixar um emprego por outro ou seja, para previdência e seguridade sociais. Mesmo
vender e revender sua força de trabalho como quando os aparatos de assistência, previdência e
mercadoria e não cedê-la simplesmente. O seguridade sociais são transferidos para a
Estado é necessário aqui, para garantir esta iniciativa privada, restam sempre funções
possibilidade de venda, e tudo se passa como se ligadas ao Estado, em regra aquelas que não
o Estado tratasse todos os vendedores de podem ser transferidas para os próprios
mercadorias como iguais enquanto tal, mesmo operários (mais carentes) e não arcadas pelos
que saibamos que, neste processo, trata-se de capitalistas para não reduzir o lucro. Segundo
garantir o funcionamento de um sistema de Brunhoff (1982), a gestão de uma parte do valor
produção que implica duas classes, uma da força de trabalho não pode ser empreendida
dominante, a capitalista, e uma dominada, a por nenhuma das duas classes interessadas, sob
trabalhadora. O Estado aparece pois, como
neutro, embora a defesa que faz seja do 13
Embora Brunhoff não se refira ao capital fictício, mercadoria
funcionamento de um sistema que nada tem de também especial para Marx, a análise da ação estatal que o
mesmo requer deve ser analisada e compreendida, o que é
neutralidade. nosso objetivo em outros trabalhos em andamento.

A CONCEPÇÃO MARXISTA DE ESTADO: CONSIDERAÇÕES SOBRE ANTIGOS DEBATES COM NOVAS PERSPECTIVAS. 14
pena de “introduzir práticas de classe” definido como modo de produção com forças
(Brunhoff, 1982, p. 23), podendo entrar em produtivas e relações sociais de produção
contradição com o objetivo da assistência ou específicas, que implicam permanente luta de
previdência ou seguridade social. Voltaremos a classes.
essa questão no item 2.4. 76. A análise de Poulantzas ((1968) 1971 a e b)
72. Vemos, pois, que tanto no caso da ação porém, parece definir o modo de produção
estatal sobre a moeda, quanto sobre a força de apenas pelas forças materiais da produção,
trabalho, ela se impõe como “imanente” apreendendo sobretudo relações técnicas e sem
(Brunhoff, 1977 e 1982), em vista das entendê-las como relações sociais, o que coloca
contradições que definem o capitalismo, ao problemas para sua análise da luta de classes.
invés de provir de um Estado visto como sujeito 77. Ao analisar o problema do status teórico das
exógeno do processo. classes, Poulantzas (1971, I) refere-se ao nível
73. Tanto no caso da intervenção sobre a força econômico, à luta econômica entre capital e
de trabalho quanto no caso da moeda, a ação trabalho “indivíduos agentes de produção”,
estatal apesar de sempre necessária em vista das dizendo que essa luta não se manifesta nas
contradições mencionadas, modifica-se ao citações de Marx ao pé da letra como lutas de
longo do tempo e atende a necessidades classes. (p.56). Em seguida refere-se a uma
históricas específicas. Assim, se em períodos outra luta ligada aos interesses econômicos que
como os do pós-guerra ela se pautou por também não se confunde com a luta de classes,
intervenção maciça em investimentos e em porque se trata de uma luta de classe em si. Esta
evolução de crédito farto, para financiá-lo, o é, finalmente, distinta de uma terceira luta, de
liberalismo atual não nega a necessidade de classe por si, observada a partir da organização
ação estatal mas, ao contrário, sua retirada da dos trabalhadores para agir como classe e pela
economia é também estratégica do ponto de classe. Esta última é uma luta política de classe.
vista da acumulação. Poulantzas afirma ainda que “as classes sociais
74. Em qualquer caso, porém, a eficácia da ação não são jamais teoricamente concebidas por
estatal é limitada: pela inflação nos períodos Marx como a origem genética das estruturas...”
intervencionistas, pela deflação nos liberais. (Poulantzas, 1971 a, I, p.60).
Percebe-se, assim, que o Estado é necessário, 78. Ora, do que foi mencionado no item 2.1 é
mas não resolve os problemas que são inerentes possível concluir que, se o que determina a
às contradições do capitalismo. E neste sentido relação de exploração fundadora do capital é a
é que é possível criticar a forma tradicional de relação entre proprietários do capital, de um
encarar a política econômica “como um dado, lado, e proprietários da mercadoria força de
quando ela constitui um problema” (Brunhoff, trabalho, do outro e, se as estruturas são
1977, p. 116). estruturas específicas do modo de produção
capitalista, então a luta de classes entre
1) RELAÇÕES SOCIAIS E LUTAS DE CLASSES
capitalistas e trabalhadores é fundadora.
75. Nas análises do item 2.1 mostramos a 79. O que ocorre é que Poulantzas apreende as
necessidade do Estado e do Estado separado a relações de produção capitalistas não como
sociedade a partir das relações sociais que relações sociais de produção, mas como
definem o modo de produção capitalista: moeda relações técnicas de produção. É o que é
e relação de exploração. Nestas, o Estado tem possível perceber quando Poulantzas condena o
uma ação “ao mesmo tempo imanente e não emprego indiferenciado dos termos “relações de
redutível à relação fundamental de exploração” produção e relações sociais de produção” (p.
(Brunhoff, 1982, p. 3) e, por isso, é condição e 62) e associa as classes sociais apenas às
resultado do processo capitalista de produção relações sociais de produção, apesar de destacar

A CONCEPÇÃO MARXISTA DE ESTADO: CONSIDERAÇÕES SOBRE ANTIGOS DEBATES COM NOVAS PERSPECTIVAS. 15
que o próprio Marx trata de forma que faz Poulantzas, ao concluir que “ as
indiferenciada tais termos (p.63). Esta é a relações de produção como estrutura não são
conclusão conseqüente de uma análise do então classes sociais...” (Poulantzas, 1971, I, p.
econômico como técnico, separado do social. É 64), ou que “o conceito de classe não pode
o que é possível observar quando Poulantzas recobrir a estrutura das relações de
afirma que “de um lado, a instância econômica produção”(Poulantzas, 1971, I, p. 64).
consiste na unidade do processo de trabalho 81. Este gênero de argumentação sustenta, pois,
(relativo às condições materiais e técnicas do a idéia de Poulantzas de classes sociais como
trabalho, e mais particularmente, os meios de “efeito” de um conjunto de estruturas dado, ao
produção, em suma em geral as relações invés de influenciarem, definirem e
homem-natureza) e as relações de produção transformarem as estruturas. É aí que reside, a
(relativas às relações dos agentes de produção e nosso ver, o ponto principal da crítica ao
dos meios de trabalho). Resulta disso que as determinismo de Poulantzas.
relações de produção conotam não 82. Os mesmos motivos que levam Poulantzas a
simplesmente relações de agentes da produção diferenciar relações de produção de relações
entre eles, mas estas relações em combinações sociais de produção o levam a classificar uma
específicas destes agentes e das condições formação social como se referindo a níveis
materiais e técnicas do trabalho. De outro lado, estruturais, enquanto sociedade passa a ser o
as relações sociais de produção são relações de domínio das relações sociais e a separar os
agentes de produção distribuídos em classes níveis econômico, político e ideológico, ao
sociais, relações de classe. Dito de outra invés de tratá-los como conjunto de relações
maneira, as relações “sociais” de produção, as sociais, onde o econômico acaba por impor sua
relações de classe, se apresentam, ao nível lógica.
econômico, como um efeito desta combinação 83. Crítica semelhante a essa é feita por Clarke
específica agentes de produção - condições (1991 b), ao se referir às concepções
materiais e técnicas do trabalho que são althusseriana e gramsciana de relações de
relações de produção” (Poulantzas, 1971 a, I, produção separadas de relações de distribuição
p. 65, itálicos no original). e, em especial, ao se referir a Poulantzas. Neste
80. Ora, esta separação entre relações de último caso diz que,“a distinção entre ‘relações
produção e relações sociais da produção é um de produção’ e ‘relações sociais de produção’,
enorme equívoco. Como já vimos, o que funda entre ‘estrutura’ e ‘prática’, rigorosamente
o capital como relação social entre proprietários reproduz aquele entre relações técnicas de
de meios de produção e de mercadoria força de produção e relações sociais de distribuição”
trabalho é uma relação de submissão dos (Clarke, 1991b, p.90).
últimos relativamente aos primeiros, que nada 84. O resultado disso, para Clarke, é que
tem de técnico mas de social. Quaisquer que Poulantzas é conduzido a conceber as classes
sejam as “combinações específicas” entre apenas em termos distributivos, como
agentes e condições materiais, elas requerem decorrentes de rendas provindo de fontes
antes o aparecimento do capital como relação diferentes, fontes essas definidas em termos
social e da moeda como relação social, tal como puramente técnicos. Neste tipo de visão, não é
afirmava Marx. Como pensar então em agentes possível estabelecer relações de dominação e,
da produção e não em classes e relação entre por vezes, nem conflitos de interesses. Por isso,
elas neste tipo de abordagem? E como pensar para Clarke, o Estado é definido em relação a
em classes antagônicas desde o aparecimento sua função na estrutura, e não em relação à
do capital sem pensar em luta de classes mesmo dominação de classes. Diz Clarke a esse
que não necessariamente consciente? Mas é o respeito:

A CONCEPÇÃO MARXISTA DE ESTADO: CONSIDERAÇÕES SOBRE ANTIGOS DEBATES COM NOVAS PERSPECTIVAS. 16
“A estrutura ... não é ela própria estrutura de porque, mesmo quando ela beneficia os
relações sociais, mas ... uma unidade funcional trabalhadores, ela significa o fortalecimento do
combinando uma concepção tecnicista do capitalismo e de todo seu antagonismo.
econômico, junto com níveis político e Observe-se, porém, em primeiro lugar, que isso
ideológico definidos funcionalmente em relação reflete uma percepção de Estado cuja
com o econômico”(Clarke, 1991b, p. 93). autonomia relativamente à classe dominante é
85. É este tipo de análise de Poulantzas que, quase inexistente. Em segundo lugar, observe-
segundo Clarke, o conduz a ver a luta de classes se que esta concepção conduz a que estes
determinada pela estrutura. Mais importante teóricos só possam confiar de fato em
ainda, como a estrutura não é constituída, no mudanças que não passem pelo aparato estatal,
pensamento de Poulantzas, por contradições, ou onde o aparato Estatal tenha pouca
não é claro como a conjuntura pode mudar a importância, não podendo tirar muito proveito
estrutura como menciona Poulantzas. de medidas estatais de intervenção. Assim
fazendo, porém, o que é negado é qualquer tipo
4. AUTONOMIA RELATIVA DO ESTADO COM
de autonomia do Estado relativamente à classe
RELAÇÃO ÀS CLASSES E CONCLUSÕES POLÍTICAS dominante, cabendo à luta de classes toda a
86. Vemos, pois, que a percepção de alguma responsabilidade pelas mudanças. O perigo
autonomia do Estado com relação à sociedade e deste gênero de análise é, por um lado,
à economia, é o que leva os estruturalistas desalentar os que percebem as dificuldades
/regulacionistas a acreditarem em ganhos destas lutas ou, o perigo oposto, de cair no
possíveis da classe operária no interior do voluntarismo de uma consciência de classes que
capitalismo, a depender da ação específica do é capaz de, por si só, empreender sem mairoes
Estado. A relatividade desta autonomia, obstáculos as transformações necessárias.
contudo, os limites da mesma, é o que os leva a Trata-se, além disso, de uma posição que fica
certo ceticismo quanto a tais vitórias, razão pela impossibilitada de usar a autonomia ainda que
qual consideram as lutas de classes uma relativa do Estado em prol de benefícios para a
"condição" para a transformação das estruturas, classe trabalhadora, ou onde este tipo de
mas não uma condição suficiente. A intervenção, visto como mantenedor do
relatividade ou os limites da autonomia do capitalismo, não pode ser aproveitado como
Estado, neste caso, decorrem da lógica forma específica de luta de classes. Vejamos
dominante do capital, que penetra o próprio isso mais devagar.
Estado. 88. A idéia de autonomia relativa do Estado que
87. Os teóricos que privilegiam as lutas de retemos aqui é a de um Estado cuja relação com
classes, por sua vez, ao derivar a necessidade a sociedade de classes, não se confunde com a
do Estado do próprio capitalismo, onde a luta relação de exploração propriamente dita14 que a
surge com o capital e é o próprio capital define. Daí sua autonomia. Porém seu papel
enquanto relação social, percebem os surge e se desenvolve como necessidade
problemas de confiar num Estado que serve ao “imanente” do capitalismo. Daí a relatividade
capital com todo seu caráter antagônico. Daí as ou os limites de sua autonomia com relação às
prescrições de lutar por e ao mesmo tempo classes. Dito de outra forma, ao Estado cabe
contra o Estado, ou por e contra a intervenção garantir a reprodução do capital mas, até para
do Estado, mesmo quando ela beneficia os
14
trabalhadores (Holloway, 1991c e LEWRG, Neste sentido, não concordamos com a citação de Holloway
1980). Aqui há algo mais profundo nos mencionada anteriormente, segundo a qual “o Estado deve ser
visto ... como uma relação de exploração mediada por trocas
problemas visualizados na ação do Estado individuais da mercadoria força de trabalho” (Holloway, 1991
a, p. 250).

A CONCEPÇÃO MARXISTA DE ESTADO: CONSIDERAÇÕES SOBRE ANTIGOS DEBATES COM NOVAS PERSPECTIVAS. 17
fazer isso, pode ser por vezes importante não 92. O segundo resultado é como entender as
atender a interesses de parte dos capitalistas ou forças dirigindo o desenvolvimento capitalista.
atender necessidades dos trabalhadores, desde Dado que existem maiores mudanças tendo
que garantido o processo de exploração. É este lugar no padrão de relações sociais capitalistas
tipo de autonomia que permite aos no momento, como entender tais mudanças?
trabalhadores, por vezes, ganhos com medidas Com a substituição de um modelo por outro,
do Estado, ganhos que são resultado de lutas de conduzida pelas tendências objetivas do
classe permanentes. Mas é preciso ter em mente desenvolvimento capitalista, ou como um
que tal autonomia é sempre relativa, uma vez processo tomando lugar por meio de constantes
que ela pressupõe a defesa, pelo Estado e difíceis lutas? (Bonefeld, 1991 b, p.7)
capitalista, da exploração que define o capital. 93. A primeira hipótese é associada por
89. O fato de apreender o Estado como Bonefeld ao regulacionismo/
expressão dos requerimentos ou da lógica do reformulacionismo, que retira, segundo ele,
capital recebe, por vezes, a crítica de poder de mudança, enquanto a segunda é
funcionalismo. Mas é justamente a idéia de associada aos que acreditam que a realidade
autonomia, embora relativa, do Estado vis à vis pode ser mudada pela luta de classes. Também
as classes, que permite evitar tal crítica. Holloway diz que a idéia de Pós Fordismo
90. Ao mesmo tempo, a falta de percepção da implica que " a luta de classes contra o
relatividade desta autonomia possibilita, ou a desenvolvimento capitalista é sem esperança. O
idéia determinista de um Estado que nada mais mundo é fechado, o futuro é determinado”
é do que o braço da burguesia, ou a idéia (Holloway, 1991 b, p. 88).
voluntarista de um Estado visto como podendo 94. É este tipo de argumento que, de um lado,
ser modificado e usado pelos trabalhadores. os conduz à crítica de determinismo dos
91. A leitura feita pelos teóricos das lutas de regulacionistas/reformulacionistas e, por outro,
classes da noção de autonomia relativa parece, a propor que as lutas de classes se desenvolvam
porém, diferente desta. Para eles as concepções no interior e contra o próprio Estado. Se, por
regulacionista e reformulacionista são vistas um lado, as medidas do Estado podem
como deterministas porque, como sucessores de beneficiar por vezes os trabalhadores, “a
Poulantzas, estes autores separam as estruturas injustiça, a desigualdade e a discriminação da
das lutas de classes, dando a essas últimas uma sociedade em geral estão presentes também no
importância secundária. A idéia é a de que as interior do Estado e de qualquer coisa que ele
noções de Fordismo e Pós Fordismo, comuns a faz” (LEWRG, 1980, p. 52). Neste sentido, o
estas concepções, conduzem a analisar o Estado é sempre opressivo. Assim, é preciso
capitalismo por meio do seu desenvolvimento e lutar dentro do Estado e contra o Estado,
processo de reorganização, ao invés de desenvolvendo formas alternativas de
apreender os sinais de crise. É o que se percebe organização, contrabalançando “a fragmentação
quando Bonefeld afirma que imposta pelo Estado” e dando “expressão
“Existem dois resultados na discussão do material à solidariedade de classe”.
Fordismo e do Estado Fordista. O primeiro é a 95. As análises da necessidade de luta e
natureza da presente crise. O capitalismo já está organização permanente da classe trabalhadora
no caminho de superar a crise internacional e resistindo e quebrando regras de maneira
estabelecer uma base estável para novo período politicamente efetiva e buscando o socialismo
de prosperidade como a tese pós-Fordista são interessantes e pertinentes. A idéia é
sugere, ou estamos ainda no meio de uma desenvolver métodos de ação no interior do
prolongada crise de sobreacumulação, como Estado que se oponham às relações de controle
Clarke sugere?.... típicas do capitalismo, formas de organização,

A CONCEPÇÃO MARXISTA DE ESTADO: CONSIDERAÇÕES SOBRE ANTIGOS DEBATES COM NOVAS PERSPECTIVAS. 18
participação, controle e contraposição capital não com o internacionalismo socialista,
alternativas, que permitam resistir ao capital e, mas com esquemas de regeneração da
ao mesmo tempo, preparar o socialismo. Para “economia nacional”, na expectativa ingênua de
tanto, é preciso buscar formas de organização que a confrontação nacionalista com as
cooperativas ao invés de competitivas, e que aspirações globais do capital adquirirão um
destaquem nos processos sociais e nas momento socialista ao invés de degenerar em
discussões, sua natureza de classe, ao invés de um ofensiva contra a classe trabalhadora, na
analisá-los como relacionados a indivíduos. medida em que as tentativas de regenerar a
96. Observe-se, porém, que toda esta análise economia nacional encorajando a acumulação
das formas de luta se faz no interior de uma do capital produtivo doméstico confronta a
discussão antiga que vê a participação do barreira das aspirações da classe trabalhadora”
Estado com certa ambigüidade, exatamente, a (Clarke, 1991 b, p. 131).
meu ver, por não apreender bem a idéia de 100. Observe-se, em primeiro lugar, que a
autonomia, ainda que relativa, do Estado com posição ‘quanto pior, melhor’ é problemática
relação às classes. porque nem sempre a crise provoca mudanças
97. Para Holloway, já vimos, qualquer defesa estruturais na sociedade. Como observa
do Welfare State é problemática. Em primeiro Gramsci (1980),
lugar, porque o caráter opressivo do Estado não “Pode-se excluir que, de per si, as crises
deve conduzir a muito apoio nesta defesa. Em econômicas imediatas produzam
segundo lugar, porque se perde “oportunidade acontecimentos fundamentais; apenas podem
de explorar o potencial desestabilizador criar um ambiente favorável à difusão de
inerente à retração do Estado”. Esta é uma determinadas maneiras de pensar, de formular e
percepção antiga, baseada em algumas resolver as questões que envolvem todo o curso
observações do próprio Marx. Ao se pronunciar ulterior da vida estatal” (Gramsci, 1980, p. 52).
sobre o libre-échange, por exemplo, dizia Marx 101. Mas, além disso, diz ele que a ruptura do
que: somos favoráveis ao comércio livre equilíbrio de forças entre as classes pode se
porque, com sua introdução todas as leis modificar tanto porque ‘o mal-estar se tornou
econômicas com suas contradições mais intolerável”, quanto porque “uma situação de
gritantes agirão numa esfera mais ampla, sobre bem-estar é ameaçada, tanto porque houve
um território mais vasto, no mundo inteiro, e “empobrecimento do gurpo social interessado
porque todas estas contradições desencadearão em romper o equilíbrio” quanto por conflitos
uma luta que levará por sua vez à liberação do ligados ao “‘prestígio’ de classe, a uma
proletariado (Karl Marx, Sa Vie, Son Oeuvre, exasperação do sentimento de independência,
Moscou, Ed. Du Progress, 1973, citado por G. de autonomia e poder”... (Gramsci, 1980, p.
Caire, (1982, p. 657). 53).
98. Trata-se de uma visão que deu origem à 102. Em segundo lugar, observe-se que, sem
idéia de quanto pior, melhor, na esperança de desconhecer a dificuldade de defender a
transição rápida para o socialismo. intervenção de um Estado capitalista, é
99. Este mesmo caráter problemático da importante destacar que a transição do
intervenção estatal se observa em Clarke, para intervencionismo keynesiano para o liberalismo
quem se monetarista reduziu em muito os ganhos dos
“O capital procurou ampliar as crescentes trabalhadores e também sua organização, o que
barreiras para a acumulação global, foi a pode atenuar a força da consciência, dos
esquerda que preparou o caminho para a sentimentos e das ações libertárias. Assim,
resposta social imperialista à crise, ficam ameaçadas, inclusive, as formas de lutas
confrontando a maçonaria internacional do de classe sugeridas no interior e contra o

A CONCEPÇÃO MARXISTA DE ESTADO: CONSIDERAÇÕES SOBRE ANTIGOS DEBATES COM NOVAS PERSPECTIVAS. 19
próprio aparato do Estado. A queda na previdência social e conseqüente crescimento
capacidade de organização relaciona-se não dos fundos de pensão, e a imposição da taxa
apenas com a precarização do trabalho e das Tobin, para controle do movimento de capitais.
condições de vida do trabalhador pela 106. No que se refere à formação de blocos
deterioração dos serviços prestados pelo Esta regionais, o ceticismo dos marxistas deve-se à
do, mas também devido à tônica individualista tendência, nas atuais propostas de integração
do liberalismo. Além disso, com o aumento das entre países, de não perceber ou eliminar
desigualdades dentro e entre países que o especificidades econômicas produtivas dos
liberalismo acirra, o ônus maior acaba sendo diferentes países, tendência traduzida em
para a classe trabalhadora em geral, e para a propostas de uniformização das moedas e das
classe operária dos países menos políticas econômicas, esquecendo-se dos custos
desenvolvidos, menos protegidos sociais envolvidos nestes processos.
institucionalmente, em particular. 107. De fato, as propostas atuais de integração
103. Mesmo as possibilidades de proposição de econômica adquiriram um caráter bastante
formas de organização participativas ficam liberal do ponto de vista do mercado. De
mais difíceis quando as condições de propostas de cunho marxista de
exploração se aguçam como destaca o próprio internacionalismo socialista, que buscavam a
LEWRG (1980) no seu Pós Scriptum: embora união de forças do operariado e, de cunho
condenando a nostalgia com relação ao keynesiano, expressas no “bancor”, que
keynesianismo, pelo menos ele criava espaço buscava respeitar especificidades e aproveitar
“ao menos uma base a partir da qual organizar a complementariedades, as propostas atuais
ação coletiva” (LEWRG,1980, p. 123) em vista evoluíram para uma idéia de integração de
do crescimento da intervenção estatal. mercados por meio de aguçamento da
104. Assim, a luta contra o liberalismo faz concorrência, sem contemplar especificidades
sentido, tanto para reduzir o custo social sobre produtivas. Assim, além das preferências
os trabalhadores do receituário liberal, evitando tarifárias e aberturas comerciais incompletas,
a idéia de quanto pior, melhor, quanto para observa-se uma tendência generalizada à
organizar e desenvolver a luta de classes, não liberalização completa dos espaços econômicos
apenas resistindo ao capitalismo, mas buscando (com aprofundamentos das integrações sob a
organizar-se de forma participativa e solidária, forma de uniões aduaneiras, mercados comuns
como requer o socialismo. Para tanto, o e uniões monetárias), acirrando a concorrência
conceito de autonomia relativa é importante, entre eles e eliminando a possibilidade de
justamente para abrir espaço para esta compromissos sociais próprios. Ora, ao
resistência e construção, evitando tanto o contrário do que pensa a visão dominante em
determinismo, quanto o voluntarismo. economia, que vê a concorrência entre
mercados e países como salutar, conduzindo a
5. PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO CONTRÁRIAS AO
maior igualdade entre eles e maiores
NEOLIBERALISMO estabilidade e eficiência alocativa, a concepção
105. É, pois, buscando reduzir custos sociais marxista de concorrência conduz às
para os trabalhadores e melhorar a relação de concentração e centralização do capital e leva
forças deles na relação capital - trabalho que se ao desemprego estrutural ou tecnológico, sendo
justificam as reações marxistas contra a tônica então responsável por maiores desigualdade e
liberal do mundo globalizado. Entre estas pobreza entre países e no interior dos países e
reações destacam-se as críticas à formação de conduzindo, neste sentido, a perdas para os
blocos regionais, à privatização dos sistemas de trabalhadores (Mollo e Amado, 1999).

A CONCEPÇÃO MARXISTA DE ESTADO: CONSIDERAÇÕES SOBRE ANTIGOS DEBATES COM NOVAS PERSPECTIVAS. 20
108. Assim, explica-se porque a posição de (Chesnais, 1994; Salama, 1996; Guttmann,
autores marxistas é de cautela no que tange à 1994)
formação de blocos regionais e moedas únicas 110. Ora, nestes processos, tendem a perder os
(Brunhoff, 1996 b, e 1999). O acirramento da trabalhadores contribuintes dos fundos de
concorrência nestes sistemas liberais de pensão, que não apenas não os gerem conforme
integração tende a pressionar custos e nivelar seus interesses, já que a sua administração é
por baixo o preço da força de trabalho, por entregue a administradores profissionais mas,
expedientes ligados à flexibilização e pior, sofrem os efeitos danosos de suas
mecanização do trabalho, que implicam queda aplicações especulativas, quando as promessas
tanto do salário direto quanto do indireto. Ao de pagamento de aposentadorias e pensões não
contrário do buscado com o internacionalismo são cumpridas em vista de falências,15 ou
socialista, o operariado não soma forças de quando as crises financeiras reduzem seus
organização, mas compete entre si e perde empregos e salários.
posição relativamente ao capital, o que dificulta 111. Os fundos de pensão têm hoje participação
sua capacidade de organização como observado muito elevada nos ativos dos investidores
no item 2.3. institucionais, 16 que movimentam recursos
109. No que se refere à precarização do vultosos em operações sobretudo de curto
mercado de trabalho e à perda de salário prazo, buscando lucros especulativos. Daí sua
indireto, destaca-se a evolução dos sistemas de responsabilidade no processo de financeirização
previdência social no mundo todo, reduzindo os característico da economia globalizada. Além
ganhos dos trabalhadores, sob a alegação de disso, esses investidores detêm parte
que é preciso inserir bem os países na substancial das dívidas públicas do mundo todo
globalização, o que requer maior (Chesnais, 1996). Assim, os trabalhadores
competitividade, ou argumentando ser este um assalariados além de produzirem a mais valia
resultado inevitável, em vista da situação frágil que sustenta o lucro dos capitais globalizados,
das finanças públicas. Assim é que ainda sustentam o movimento especulativo
desenvolveram-se os fundos de pensão. destes capitais, que os pune de novo com
Inicialmente nos países onde o sistema público desemprego e salários mais baixos a cada crise.
de previdência era inexistente ou ineficiente E os próprios aparelhos estatais, cuja autonomia
(EUA e Inglaterra, conforme Farnetti, 1996), os relativamente às classes foi analisada
fundos de pensão desenvolveram-se no mundo anteriormente, ficam impedidos de serem
todo como substitutos dos sistemas públicos de usados em prol da classe trabalhadora nos
previdência, reduzidos com o propósito de limites conferidos pela autonomia relativa que
sanear as finanças estatais. Os ativos dos fundos lhes cabe, porque ficam eles próprios nas mãos
de pensão são de propriedade das empresas que dos investidores institucionais, detentores das
os administram e não dos empregados dívidas públicas. Aqui se confirma o já
(Aglietta, 1976, p.159) agindo, portanto, dentro discutido no item 2.2 e bem colocado por
de uma lógica privada de maximização de Brunhoff (1982) sobre a necessidade dos
lucro. O desenvolvimento destes fundos, ou
suas aplicações financeiras, respondem por boa 15
Exemplo disto foram as falências de empresas nos EUA, nos
parte da movimentação financeira na economia anos 60 e 70, que deram origem, em 1974, a lei de proteção da
globalizada, sendo responsáveis pela chamada poupança de aposentados chamada ERISA (Employee
Retirement Income Security Act). Ver a esse respeito Farnetti,
“financeirização” das economias, ou seja, pelo 1996 e Guttmann, 1994.
processo pelo qual as aplicações de recursos em 16
Os ativos dos investidores institucionais são constituídos
operações meramente financeiras tendem a se principalmente, além dos fundos de pensão, por fundos mútuos,
companhias de seguros em geral e companhias de seguros de
realizar em detrimento da atividade produtiva vida.

A CONCEPÇÃO MARXISTA DE ESTADO: CONSIDERAÇÕES SOBRE ANTIGOS DEBATES COM NOVAS PERSPECTIVAS. 21
fundos previdenciários serem geridos pelo necessária à sustentação da família. Trata-se do
Estado, e não por qualquer uma das classes. aumento arcaico da mais valia absoluta, pelo
Entregues aos trabalhadores assalariados, estes aumento da jornada de trabalho. Em qualquer
fundos financiariam seus interesses, por caso, a “financeirização”, ao aumentar os custos
exemplo, em políticas sindicais. Entregues aos financeiros em ambiente deflacionário, leva à
capitalistas, como no caso dos fundos de deterioração das condições de trabalho e salário
pensão, estes fundos buscam o lucro, ampliando dos operários, piorando sua posição no
a exploração dos trabalhadores, e desvirtuando- confronto capital-trabalho.
se de sua finalidade original, qual seja, a de 113. É com vistas a resistir a esse processo que
manter a força de trabalho desempregada. se explica a imposição da taxa Tobin. Isso
112. Observe-se, além disso, que se a porque, ao reduzir os movimentos especulativos
concorrência da economia globalizada tende a de capital, ela permite, por um lado, que as
aumentar a mais valia relativa subtraída aos taxas de juros sejam mais baixas, dando
trabalhadores, a “financeirização”, decorrente margem a políticas econômicas específicas que
da liberalização financeira, tende a aumentar a admitam compromissos sociais menos
mais valia absoluta, aumentando a intensidade desfavoráveis aos trabalhadores. Neste sentido
do trabalho (Salama, 1996). Os juros altos, a taxa Tobin é vista como interessante porque
característicos da “financeirização”, elevam os “implica em mudança na relação de forças
custos financeiros e reduzem a remuneração do excessivamente favorável aos financiadores da
capital. A pressão para absorção de mais valia ‘internacional dourada’ ” (Brunhoff, 1996, p.
adicional pode ir na direção de métodos de 56), rompe com a ideologia neoliberal e permite
produção que aumentam a produtividade do lutar por um compromisso social menos danoso
trabalho (mais valia relativa), mas também aos trabalhadores (Brunhoff, 1999).
podem se fazer no sentido de aumento da 114. Em todas essas proposições encontra-se a
intensidade do trabalho (mais valia absoluta). idéia de que a re-regulamentação da economia
Para tanto, contribuem os processos de não é impossível, tanto quanto não foi a
flexibilidade funcional do trabalho, quando o desregulamentação, e que ela pode vir
trabalhador torna-se polivalente e realiza várias pressionada por crises financeiras cada vez
tarefas, reduzindo o tempo desocupado dentro mais sérias, embora isso seja perigoso em vista
da jornada de trabalho, forma de aumentar a dos custos sociais que costumam atingir mais
mais valia absoluta por métodos mais os trabalhadores e, entre eles, os menos
modernos. Mas a mais valia absoluta pode qualificados e mais pobres. Em todas há
também ser obtida por métodos arcaicos, mais também a idéia de que “International
comum em países menos desenvolvidos Convergence of workers’ struggles could
(Salama, 1996). Nestes, a pressão dos custos oppose international “financialization” of
financeiros reflete-se em atitudes do capitalista capital” (Brunhoff, 1999, p. 58), em virtude dos
que conduzem à introdução de métodos de efeitos danosos dela sobre a classe operária
produção que acabam levando à menor (Chesnais, 1996; Salama, 1996, Brunhoff, 1996
absorção dos empregados em setores onde o a e b e 1999), aproveitando, para isso, a relativa
emprego é de melhor qualidade e relativamente autonomia que o Estado tem relativamente às
melhor remunerado, substituídos pelos classes e usando, neste sentido, o seu poder
empregos menos remunerados e de pior econômico regulador para impedir maiores
qualidade, em atividades informais ou de perdas dos trabalhadores assalariados.
pequenos negócios, por exemplo, no setor de
serviços. Com isso, os turnos de trabalho se
ampliam para garantir a renda mínima

A CONCEPÇÃO MARXISTA DE ESTADO: CONSIDERAÇÕES SOBRE ANTIGOS DEBATES COM NOVAS PERSPECTIVAS. 22
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A CONCEPÇÃO MARXISTA DE ESTADO: CONSIDERAÇÕES SOBRE ANTIGOS DEBATES COM NOVAS PERSPECTIVAS. 24

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