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POR QUE TENHO MEDO bos Juizes Eros Roberto Grau ‘Segundo o Auto, Este lvro comega por ser uma distnta versio do meu Ensaio ‘eciscurso sobre a inlerpretagdovapicagao do direito. De modo ta, ord, que 6 outro tivo. ‘Comegava atrabalhar sobre o que haveria de sersua 6 ecig6o ‘quando me dei conta de que deveriareescrevé-o. A uma porque € experiéneia que duranta seis anos vivi como juiz do Supremo ‘Tibunal Federal fora extremamente significative, enquanio pratica do interpretagéovaplicagao do dieito. A duas porque tudo ‘que pensava a respaito dos princpios havia de ser revisto. Além {6 todo porque passe! 2 roaimonto temer juizes que, usando '© abusando dos principios — embro aqui a cangao de Roberto Carlos -, sem saber o que é dirt, fazem suas préprias eis. 0 deito positive & contraditéo: esté a servico do modo de _produo social dominantee, concomitantemente, consubstarcia ' derradeira garantia de defesa das classes subaiteras. Noste sentido, a0 defender veementemente a positvidade do dieifo, teste 6 para ser um lvro miitante. Quando vier um outro tempo, ‘condluzko pola méo da Historia, uma notvel mudanga qualiativa ‘carrer, (..) Até que chegue, este meu Ivo militar em defesa do direito postive. fl ES © EROS ROBERTO GRAU 8 2 2 3 POR QUE TENHO MEDO DOS JUIZES {a interpretacao/aplicagao do direito e os principios) Eros Roberto Grau — AAO 6 eligi refundda do ensaio e discurso sobre a interpretacda/aplicagao do direito 2 tiragem EROS ROBERTO GRAU POR QUE TENHO MEDO DOS JUIZES (a interpretagdolaplicagao do direito e os principios) (6 edigao refundida do ENSAIO E DISCURSO SOBRE A INTERPRETAGAOIAPLICAGAO DO DIREITO 2etiragem POR QUE TENHO MeDO Dos JuizES (ainterpretagdolaplicagdo do diretoe 0s principios) '© Enos Roosxro GRay ‘Cano Bu Discs solves inept do Die: ei 04202 2a: 200 ss 012005. 1 ei: 2008; a 0120; op 05301 ISBN o7Easam2.01969 vin reams a 8 ‘mal: malcrsedoes@teracom b- Compa ‘Aege Ci i rap Vn Am ‘Ae PC Br Lit, Pred Br sane wrropu¢io 1 Dirt seguranga e mere seen 2. (5 - 3. Sepuranga e mercado : 4.0 Poder Juleéro, hoje Su dustin edircito Ce 7 (segue) 8. Legalidade e dre postive 9.05 juices e Sartre - 10.Velores — 11.05 prinepis ado regras - 12. Ponderago entre prei08 13.A objetidade dali e Franz Neumann I-A nreereragio 14, Observagieriniciais - 15.A iterpretapio até 0 anos 1970 ea subsungto SUMARIO 16. Interpretaricompreender 29 17 Situagdes de isomorfae stages de inkerpretag80 0. 30 18. Por ques impse a interpreta do dete? 31 19. Interpreagioe concreting da dirt 2 20.0s contestos da inerpretgao 3 21. Compreender e reesprimir 3 22.Signileantese siguificador 38 23. Artes autoréficase artes elogrdfeas 6 24.0 testo normativo€alogrifco %6 25.Adeterminagbo do conteido normativo 3 26, Texto norma as normas resulta da interpreta. 31 27.4 concep de Ascareli sobre a interprtago do deta. 39 28. Oposiae entre uel de seguranca uric da iberdade individual e fang dainterreagao no desenolsimento do fireto “ 29. Oposigdoenredimensao loilativee dimensdo normative ‘do direito a1 30. Oposiges« composes 2 I-A flsaoposigdo entre 0 veo €0 novo 2 32. Separagd dos Poderes, texto « norma 6 33.0 intrprete produ norma a 34.A metdfor da Venus de Milo “s 35.0 imtrprete auténtico a 36. Interpreagio = aplicogtio a 7. Interpret in comcreto en absteaeto ” 38.4 interpreta auénticn 33 39. Interpretago dos textos edos ftos st 40.4 interpretac dos ftos ea hipstese de Durrell 38 M.A hipdese de Durell e Santo Toms 36 2. Discurso do dritaldicurso jaro eas) deoogats) so dirito 48. Contreponto 4.0 texto 0s ftos,a norma Jurca ¢ a norma de decide 45.A interpreta é uma prudéncia; a lniabilidade da inca ‘soluedocoreta 4. Chnones de inerpretacio 7-Acompreensio 48.4 précompreensao eo crea hermentico (Gadamer) B. (segue) 50. (segue) ‘1. Acontecimentos que infuenciam a decsi judicial 52.Asintimeras solusbes covets; ques deft 53.4 aallapio do dre ‘S4.Asidologas de inerpreagao ea atualingdo do dieto 55.4 “vonade do legilador” 36. Alnda a atuaizaio do drcita $7.0 direto 64m dinamismo 58. Nao se interpreta odireto em tras '59.A finaldade do dirsito eas normar-obetiva (0.4 iterpreagto da Consituige 61. Consttuigd formal e Costu matelal (2.0 diseurso do testo normative, odiscursonormativ ea ‘atualicagdo da Consiga 63. Consttuigdo «dinamivmo da vide politco-social (64. Negagdo da dicrcionariedade jul 65. (segue) (6. subvert do testo 67.A foreanormativa do dito (65.0 chamado “caso beg se 9 59 6s 6 70 0 14 73 1 a 85 86 © n 11-08 PRINCIPIOS 70.05 principio, he 71.A no transcendéncia dos principio 72 (segue) 73. Kelaen eo principas 74 Principias: descobertaepostivagéo 75 Prinipasereras, espéciee género 176.A.exposcto de Antoine Jeammaud 77. Testo normative, norma juries eprincpios 78. tnterpretago, dsericionariedade e pondera entre prineipios 79, Ponderagio entre principiose norma de decsdo $0, Ponderaio entre prinipisedseriionaredade segundo ‘ecardo Guasint 1, Ponderogto como juizo nde delgalidadeeeterlcado do cardtr nrmativ dos prinipias 482. Desafoeperigo da ponderagdo e incetesjurica 83. Derrida ea decistjuritca 84. Aindaa incerta uridica 88, Racionalidade jurdeaecaleulabilidade ¢prevsbldede dos comportamentos 86.A tirana dos valores (Car Schmit 97.4 flesibiliaso do sistema {88.0 plano do deverser um espe d plano do ser; ireito ‘modern transgressdo 59, Mercado capitalism ¢ transpressio 90. A estabildade, a regularidade, harmonia do sistema furiicedependem da sua transressto D1. Aexcegto 92. (segue) 99 101 03 ro 109 i hs us 6 16 7 ne ug ng 0 na ro 3 26 ns 93.(seque) 26 94. Aina 0 “caso beg” excerd,hpdtese de incidence, ‘orga maior estado de normalidade im 95. (segue. i 96, (segue) 19 97-A exces o drto;o milagre ea teolgia (Carl Schmit) .129 98.0 STF ea captura de siuagies de excecio bo 98. Proporionaidade, razoabilidade exclu de stages do sistema jriica 1 100. 0s chamados principio da proprcionalidadee da ‘acoabilidade 133 101. Equidade, razoaildade ¢proporcionalidade 133 102. (segue) 1 103. (segue) ns 104 Propocionalidade, rezoabiidadee transgresiedosxema Jurdico 36 108. Porque tenho medo do ues 1 ‘Aventice~A LINGUAGEM E 0S CONCEITOS JURIDICOS 106, Sobre inguagem jurtica 140 107 (seque) 41 108 (segue) a2 108. (sg) 4 100 (segue) us IIL. Conceito¢ conceit juriico 1a 112.(seque) “7 13. (segue) Me 114 (segue) Me. 1. (sgue) 9 cc IT.Ascrel.e os concetosjurdieas 18. Ainda 08 conceit juris 119.(segue) 120, Coneeitse defines jurdias nr) ist 7 153 184 188 121.0 chamados“concetosindterminades ios de conccites juridicos ea imerpretagio 122.(segue) 123.Conetioe nogdo 124. (segue) : 125.(seque) Biblografia 136 138 139 tt 163, A meme Pea Nobuo = fins de mewn gra, ceviamone urls amiga PREFACIO Ee lio omega por ser uns dita verso do meu Basaio cars sbre a inerpretaedolaplcaa do dive De edo, po que € out liv. Comegava a waar sobre o qu vera d et su 6 eto quando me dei conta de que deers reeserev-l.A ua, Porque a expriacia que durant si ano viv como jas do ST fos tstremamentesignifieativa,enguano pita de inerpretgdatplce, fo do dire. Adu, pore ido o que pensava a respeito dos pint. ‘los havi esr revisto, Alem de tuo, porque pase neal tomer ‘tes que usando abuso dos peincipio embro au aca de Rober Carlos som saber 0 que rea, fce sus propria Te Avvaio MaLiBios suger publissemos um novo ens, 6 qe agora aqui ext, Dirse-f que mina bibliografia vai at inicio dos nos 2000, dat no paso, Ever qu minha insedo em um Trbunal leno de pr ‘esos stem deidos compeomea me a liberdade de pesos lve anos pei nfo apropos do qoe me saa inclecanimc, ‘mas pra resolver qustes especies, particulzaas Apa apse {dora no Tribunal, dei-me cona de ue os ators de gue me vl para sparta conclunde ao Ensaio discus bast para que pose expat Ediza o que deseo reste que pretend ej um nove liv Agora ‘£0 dessevo objeivament, uma defers do diet postive. nis 4 qué prescindo de letras de textos sofsticados Soe pci ¢ ‘sss pondergbes, por excinplo,e a epee de neopensomers | Slo Plo, Mates Bas, 202, co digs 208,20, 206 € 200% e200 fo psa rp 0 Eur spre apes ‘tn et dee, Ma Esta Dynes 07) 2 Rem, fel tm opie pid inguge od itz in eget Ena epee ‘leap doa, (0 direitoposivo ¢contaitria ext a sevigo do modo de pode ‘co socal dominate e,concomitantementeconsbsanci& deraia arma de dete das classes subaeris. Neste sentido, a defender ‘eementement a psitvidade do dito, et € pars serum iv i tant. Quindo vier outro tempo conducido pela mo da ita, a novel mucanga qualita card O dria do tempo qe vik de ‘encontrar fandumentos em dsints dos que conferem Mente cx riter a0 que hoje cham de dete potv, dita modern, eto Sormel, Sch ctro. Nap si quis canes cantare, Seo Hi & se ‘gritos homens tendo pred a er elizestavercinicos celeste, ‘ou um hinoitemaionl Ser ato tempo, tempo de nave ramos. AS ‘que cee, ete meu To ltd em defen do iret posv Howeuun, ame de 2013, intRoDUCAO 1 Direit,segurancae mercado ara expla tema que os jie hoe me causa 0 que justi ‘ex exposigo que vir a seguir respi de interpetagovapiag ao do dito =, comego refeendo a racionalidade do ieto modero Vatho-me do que em otros textos tenho afm, sem por de ept- slo. A reterag de algumas premissas € necesdria 8 compreesio do (que se preende stent © chamado dirsio modern €racional, ma media em gue permite ‘8 instalago de um hoxizont de preiblidade ecaalaidade em ‘elago os comportamentoshminos vale der: sguranga, Ct. ‘amente tocamos aosaineguraga por submisso ap poder! defi rnimos “segranga” plo seu contre. Agu, oje~ sob chamado s- {ado moderno~,setanos 0 poder po cost de gaanias minima de segurancapor ee best ou mal assess 0 Estado moderno suo on: ves de au no campo ee9- imo, o pasar do tempo ene aleragSes agenas no seu modo de tua Nes plas de Habermas (19737779), ce conta e preserve, ‘complement, sbsitu e compensa omedo de produto capitlsa, Des ‘dea garam das insiuiges sca da propredad c da libedade de ‘xstrtr até a compensa ds disTunges do processo de acuulaS0 (Geto ambiente drto do consid. egitmagso, por exempl) ois oso lana mo do dieio moder prs preserar mecca os. Dat que odio madera ¢insrumento de ues alo Estado pars ‘Elender ocoptlsno dos capitals, Caled e previa ‘So pee insaaias porque sem elas © mercado io podea xis. LO tcuvo.eLpisinee aso, “ ror que BwHo mao nos izes A ropésito,teno lebrado Webes [1969238], para quer as exi- _séncis de caleulebldadee conan no fuciosarmeno da nde dla ena chamada Administra costituem exigncia il do capi talismo rcionalo capitals industrial depend da possi de revises seguis ~ deve poder cont com estabilidade,nequrancae ‘bjetividadenofancinarenco da onde jrdca eno carter rata © €m principio previiel das ese da Adminsragio. A pequena bur ‘esi die Ferdinand Lasalle 1985:34-5] ~ poss vlna, ao fn ‘do sboluismo, “em benecio do seu coméioe de sua snipers isa. a em ea rnqulidade pion 0 mesmo tempo a ees, ago dc ura justia comets dente do Pate “Tease cro, da ondem publica, constitu pels normas jui- 8 que compe oncleo mals expressivo dag de Nicos Poulan 205 [1965:326) cham de fe bescn de clea de prvision. os agentes ‘scantmices, no interior de um mercado extemtmente complete no {ua oganhovotad acum o de capa jog papel prepondean ‘necesita de uma juga ede wma Administra cio funciona ‘mento posse se, m principio, caleulade racionamente- Esa poss. lida comesponde «una exgénlainnfastivel do meieado, Nese Suara ord plc, pra lem da raconalidae a generale da Fei, arate a exes dos contatos. Pos saber com certo gat de cet 'eza que os conraos serio espeitdos, iso ~ dia Frans Neumann [196849 es indispensivel 20 sesso empresa ‘Antes disseraHexmann Helle 1987-208 segura das oss (1 x ceteza do dit tomaranese povsves cm daconenia de mt nosivelcalculsbdade e previsbldage ds elagdes soca, que oe ‘ornam realizvessomente sas telagbes soils sobetudo a coon. mas, so eguladas de modo rescente por um nico ondename nO Sein.cmanado deur ico pont eisai O resid fina, aa |queniodefiniivo, dese rocesso deacons oscil 60 modem Estado de Diet 2. (segue) ‘Oro cumprimento dos comats no pda ser ascgurao so a aide, incompatvel com a eaeulabidade,o primero requisito do ‘revo madera Ere noeséro wansfomar a epuidade em um sitema rigid de rormas, aim de que fose assured a cleulablidade eign peas IransigSes econ, ‘Esa fecessidae jsifco ago de pdr da moana pati ‘monil eo feualsno ecuimino nanstiugso do pr eit os Parlamentos Atri primordial do sal ea dara de wma orden irc qe tomas passive ocumproneto ds obrigorbes cones ‘calcul a expecta de que exa lr oyzes seriam camps. Aintervengio do Estado na vidaecontmin um rdtr deriscos tanto pars. nividoosquano prs empresa, detfcando seem termos economicos ~ como observa Aves Nunts (1972125) com lm principio de sepuranca, No posers ser enter come lado ‘u desvio imposto as ebjtivos és empress (parculamen das andes empresas), mas como redoo de rsos e gaan de maior ‘seguranga na prosecugo dos fs mos da scum capitalist, 3. Seguranga ¢ mercado © mercado € institu juries consti pelo dri paso. {expresso de um projet poitico como principio de gana so ‘al = avidade. O Esto deve garantr a libenade econOnica ‘oncomitanemene, operara sua rgulementado Alive concontocia ~via Franz Neumann (196%49-50)—“pre ‘ina da genealdade dae eo diritopor se la mi alta on de ‘ncioalidade. Necesita também de abel subordinggo do ju 2 rit, d sepaago de Poderes™-O moo de produ socal cap tata, que elege como rato fundamentals do ontenamento poles © Incr, eoloca odio positive a seu servi, Esse dit, posto plo Estado modem, existe fundanentimente rs peritiraflénia da ila meant pret “doer” ‘a deerminomosecondmicos. Een pene ~ de dominarealade expe macantecoaradio, que pode ser enuniad nos seins tet. rns ocapélism (ei-se: 0 Terceso Eso, argues) necesita da conde, masa detest, procwando a qalqer custo exile © direito moderno é racial gerque permite a instalago de um hovaonte de previsibilidade cleubildade em rela aos compar ‘amentos humanos, sobretud aueles ques dio nos metas. 6 ro QUE Temo Mtoe pos Cotidamament trocamos oss nseguranga poe submis 0 po- der lima nti, no eat, aseguangeacoreza juries com ‘que ost modemo nos code cnsstem na sega dino mercado, 4.0 Poder Jucirio, hoje 0 Poder Juco aqui oj, converts em um prador de in sepuranga [Nocorter da piginas que seguem uma indagasso sed soluconads = quem produza norma jwrdica? O Leislaivo ow o Jueiro? ~

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