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ANO I

ea
SÂO PAULO, OUTUBRO E NOVEMBRO DE 1965

• A redação de Dealbar to-


mou conhecimento da entre-
vista do psiquiatra Dr. A. C.
Pacheco e Silva, da Faculda-
de de Medicina da Universi-
«Um líder não deve ser
apontado como um semideus,
que age sobre autômatos, im-
pondo suas idéias, como fa-
zem muitas personalidades
inteiro a sua personalidade e
seus intuitos. Conquanto In-
teligentes e sagazes, dotados
de intuição política, são perso-
NÚMERO 2

da obscuridade, galgam rapi-


damente postos elevados.»
E finalmente conclui o Dr.
Pacheco e Silva:
nalidades psicopãtlcas, cujos
dade de São Paulo, concedi- com traços paranóicos, de ten- traços mais marcantes só são «Intolerantes, autoritários,
da ao «Globo» e publicada dia d ê n c 1 a s carismáticas, as revelados, como foi dito, quan- voluntariosos, fanáticos, não
16-9-65, à pág. 11. Constituin- quais, dotadas de grande ca- do alcançam o poder máximo. admitem a menor critica aos
do assunto de extrema impor- pacidade de persuasão e de Não se sujeitam à lei do País, seus atos, não aceitam conse-
tância transcrevemos o subs- sugestão, sem escrúpulos de comportam-se de forma ex- lhos dos amigos, nem mesmo
tância, transcrevemos o subs- qualquer natureza, fazem obra cêntrica e querem, à viva for- dos amigos mais devotados e
nossos leitores : de proselitismo, arrastando ça, fazer prevalecer a sua von- sinceros, lançando mão da
Inicialmente afirma : atrás de si as massas, empol- tade, como déspotas que são, violência e de métodos drásti-
«Neste momento em que se gadas pelo fanatismo, que im- convictos da infalibilidade dos cos para impor sua vontade.
aproximam as eleições, em pede tuna visão precisa da rea- seus atos. As idéias messiâ- São de uma audácia incrível
que o povo, através das urnas, lidade. nicas que os dominam, levam- e não hesitam, quando tomam
deverá escolher seus gover- -nos a se inculcarem como sal- uma decisão, em lançar, se
nantes, nunca é demais ad- Tais líderes, quando alcan- vadores da Pátria, encontran- necessário fôr, o País à guer-
verti-lo dos perigos da escolha çam o poder, não raro atra- do sempre adeptos. ra ou à revolução, sacrifican-
de elementos sem a necessá- vés de votos, em regimes de- do friamente populações intei-
ria higidez mental, perigosos mocráticos, dele não mais se Há, entre os líderes desse ti- ras, levando o povo à ruína e
e nocivos, muitos dos quais afastam. Para tanto recor- po, traços de personalidade à desgraça. Uns são impulsi-
já deram disso prova nos car- rem à força, à pressão, à de- muito semelhantes, caracteri- vos, outros se mostram frios,
gos para os quais foram elei- magogia e à corrupção, mos- zados sobretudo pela obstina- impassíveis e concentrados.»
tos.» trando-se implacáveis para ção, pela vontade do poder, pe- Das palavras do Prof. Pa-
Mais adiante enfatiza: com aqueles que se insurgem lo autodidatismo e por uma checo e Silva concluímos que
«Política e saúde mental são contra sua tirania. Isso tudo hipertrofia mórbida da per- seria necessário abrir um vas-
assuntos da maior relevância e demonstra a necessidade de sonalidade. Recorrem eles, tíssimo nosocômio, e treinar
atualidade, dado que nunca, se ventilarem os problemas re- quase sempre, aos mesmos psiquiatras e psicólogos, antes
como no presente, a política lacionados com a liderança à processos de propaganda de- que um político aperte o bo-
internacional e nacional ne- luz da psicologia e da psi- magógica, não revelam o me- tão desencadeador de uma ca-
cessitaram tanto de um per- quiatria. Muitos líderes que nor escrúpulo e agem sempre tástrofe.
feito equilíbrio psíquico dos logram se impor às em completo desacordo com Com este tema tão palpi-
seus dirigentes». massas, só depois de atingi- as idéias que pregam e as tante, voltaremos, no próximo
E após outras considerações rem o supremo poder da na- promessas feitas; tão logo se número, para comentar algu-
sintetiza : ção deixam transparecer por sentem suficientemente longe mas obras sobre o assunto.

Psiquiatra
adverte o povo
dos perigos
da eleição de
desequilibrados
mentais
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7. Favela e Política

Casa em Vila Kennedy, Toda favela tem sempre


um político que se interessa
pelo seu «desenvolvimento»,
ajudando os clubes de fute-

Vila Esperança e
bol e os donos de Mroscas
(pequenas casas de comércio
que vendem bebidas e man-
timentos, situadas no inte-
rior das favelas), que servem
de intermediário com os fa-

Vila Aliança resolveria velados. Outra grande fun-


ção desses políticos é soltar
vagabundos e criminosos,
agindo com sua influência

os problemas desta
junto aos delegados de polí-
cia. Tudo isto representa
apreciável contingente eleito-
ral.
As favelas constituem os

família ? seguintes problemas:


a) Problema Humano —
uma população de per-
to de 700 mil pessoas
que vivem em condi-
ções sub-animais.
b) Problema Social — as
favelas constituem fo-
cos propícios à desa-
gregação da pessoa hu-
mana. Abrigam ninhos
de marginais e são uni-

Não
versidades de delin-
qüência.
c) Problema Econômico —
O desenvolvimento de
1. Definição Rio está ligada, também, à de- no Brasil 65% da população uma grande cidade pro-
molição de dezenas de edifí- moureja no campo em condi- cede, de modo geral,
Denominamos de Fave- da produção e consumo
las qualquer núcleo residen- cios, entre eles muitas cabe- ções precaríssimas, nos Esta-
ças-de-porco (habitações anti- dos Unidos apenas 5% traba- da população. A pro-
cial, sem simetria, feito de dução da favela é bai-
barracos de latas e madeira, -higiênicas, coletivas, da clas- lham no campo com maqui-
se proletária, nas quais, em naria capaz de ajudar a pro- xíssima, principalmen-
suspenso nos morros, ou em te pelo índice de deso-
terrenos planos e alagadiços, apenas um quarto, coabitam duzir para o resto do Pais. À
mais de 6 pessoas), a fim de medida que a agricultura cupados. Sob o ponto
onde em condições subhuma- de vista econômico um
nas vegeta parte da popula- efetuarem a abertura da Ave- atinge níveis mais técnicos, a
nida Rio Branco. máquina vai dispensando o verdadeiro peso morto
ção de uma cidade. para o progresso da ci-
O tipo de habitação que ca- esforço humano, liberando um
racteriza a favela não é ex- número crescente de homens» dade.
2. Origem das Favelas no
Rio clusiva da Guanabara. Existe para outras atividades.
em todo o Brasil, ainda que d) Problema Sanitário — O
Segundo as investigações 6. Uma Estatística Estar- ínfimo índice de salu-
com características locais de reeedora
históricas, após a Guerra dos diferenciação. Em São Paulo bridade, constituindo
Canudos, o Governo da Pri- aparece ao lado do porão, co- O professor Jaques Marie verdadeiros focos in-
meira República cedeu terre- mo tipo de moradia proletária Mahieu, sociólogo, economis- fecciosos contaminando
nos no Morro da Providência e sub-proletária. No Nordeste ta e técnico em pesquisa, ob- toda a cidade.
alguns remanescentes das for- é o mocambo de palha. Em teve para o Instituto de Pes-
ças federais, que para lá se e) Problema Municipal —
Minas é a casa de taipa, sem quisas e Estudos de Mercado A beleza natural da ci-
deslocaram, construindo case- reboco, a cafua. No Rio Gran- dados estarrecedores, assim
bres de emergência. Os solda- dade, a limpeza, os
de do Sul são as malocas. discriminados : transportes, tudo é
dos que se casaram na Bahia, . a) 20% da população do Rio
com mulheres naturais da ser- 5. Miséria e Degradação prejudicado pela exis-
de Janeiro vive em fave- tência das favelas.
ra Favela, no município de Para a Guanabara, em 1957, las.
Monte Santo, se estabeleceram uma-estatística afirmava que b) 15% da população das fa-
no morro da Providência. E Para o equacionamento e
existiam 64 favelas com uma velas é constituída de resolução dos múltiplos pro-
tanto falaram da serra Favela população global de 640.000 marginais criminosos.
que o morro da Providência blemas das favelas, seria ne-
habitantes. Há um traço de c) 21% é o índice de crimi- cessário o estabelecimento
virou da Favela. união entre o mocambo, a ca» nalidade nas favelas da dos itens:
fua, a maloca e a favela; é o Zona Sul.
3. Causa das Favelas baixíssimo padrão alimentar, S) As favelas da zona pro- 1 — Resolução do Problema
Os conglomerados de habi- as doenças, o analfabetismo, a letária (Zona Norte) Agrário, com a liquidação dos
tações irregulares, anti-higiê- criminalidade infantil, a pros- apresentam melhores con- latifúndios e minifúndios im-
nicas e superpovoadas estão tituição, as condições higiêni- dições de estabilidade so- produtivos. Fixação do cam-
em relação direta com o pro- cas sub-animais, a improduti- cial. ponês à terra, aumentando
cesso da Revolução Industrial vidade, a macumba, o espiri- e) 37% dos barracos das fa- seu padrão cultural, de vida
cjue propiciou em todas as tismo de terreiro, a ignorân- velas da Zona Norte não e de produtividade.
partes do mundo o êxodo das cia: em uma palavra, a misé- apresentam instalações Não podemos nos esquecer
populações campesinas e ru- ria econômica e moral daque- sanitárias. que a maioria -smagadora
rais para as cidades, a fim de la vida vegetativa. f) 80% dos barracos da Zo- dos favelos é constuuiua de
suprirem a demanda de mão Ora, podemos argumentar na Sul (zona da média e camponeses que imigram pa-
de obra pela nascente indús- que também nos países desen- alta »burguesia) não ra as "cidades, em busca de
tria. volvidos há o fenômeno da apresentam instalações condições suportáveis de vida
Por outro lado, o aumento migração para os centros ur- sanitárias. e que preferem a miséria das
desordenado das populações, banos e a formação de mora- g) A grande maioria dos
dias anti-higiênicas. Não há favelados é constituída de favelas à morte lenta no cam-
principalmente nos países sub- po.
-desenvolvidos, constitui outra dúvida que isto constitui um camponeses originários de
causa eficiente da existência fato; porém, sem a dramati- •Minas Gerais e Estado 2 — Urbanização imediata
das favelas. É suficiente cidade dos paises sub-desen- do Rio. O contingente de das favelas recuperáveis (cal-
afirmar que o Rio de Janeiro volvidos. O êxodo rural leva nordestinos é pequeno: çamento das ruas, água, es-
em 45 anos quadriplicou sua para as cidades, nos países 75 mil pessoas. Estran- goto, luz, construção de ca-
população, que no presente desenvolvidos, pessoas que geiros: 2,4% na maioria sas de tijolos, postos sanitá-
atinge a 4.550.000 habitantes. sobram no campo. A técnica portugueses, rios, escolas etc), com a par-
vem libertando o ser humano i) 60% da população fave- ticipação ativa de seus mora-
4. As Favelas no Brasil do lavrar a terra com o suor lada é dos sem traba-
A expansão das favelas no do seu rosto. Enquanto que lho. Conclui na página 7

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São Paulo, dealbar
Diretor

a infeliz PIETRO CATALUO

Correspondência
Caixa Postal, 5739
Redação e Administraço:
Rua Rubino de Oliveira, 85
São Paulo

"Origem dos
grandes erros
filosóficos"
São Paulo, a infeliz ral que está aí? O número cidades trabalha-se pelo habi-
Houve um tempo — supo- cada vez maior de jovens que tante, para que êle possa ser MARIO FERREIRA
nho — em que São Paulo era procuram emprego e não o feliz, em São Paulo simples- DOS SANTOS
uma cidade onde se pudesse encontram? O número de de- mente se esqueceu que na ci-
viver. De repente, porém, a sempregados que, depois de dade existem homens, mulhe- PREÇO CR$ 3.500
cidade começou a se deterio- não ter dinheiro nem para dar res e crianças. Os outros têm Pedidos para Livraria e
rar. Como se um exército de de comer à mulher e aos fi- progresso, nós temos a nossa
lhos, deixam de ter dinheiro infelicidade... e a lamentá- Editora LOGOS Ltda,.
vândalos a houvesse invadi-
do, suas ruas foram arreben- até para sair de casa e pro- vel burrice e indiferença de Ruã 15 de Novembro, 137
tadas e nunca mais refeitas; curar emprego? Progresso? sucessivos governos incompe- 8.o andar - Tel. 35-6080
suas casas cobriram-se de Que progresso? O crescente tentes. SÂ0 PAULO
poeira; seus habitantes, como número de favelas, onde o in-
se castigados, passaram a res- vasor amontoa os habitantes? Jorge Brandão
pirar fumaça; e para humi- Falar no progresso de São
Paulo sem conhecer o que es-
lhá-los ainda mais, os invaso-
res obrigam-nos a se apresen-
tar em filas todos os dias, pe-
tá sendo feito em cidades
de outros países é de causa
MARTIM BUBER
la manha e à tarde e, em se- risos de piedade! Célebre filósofo e humanis- incapaz de por si provocar
guida, apertam-nos em ônibus, Progresso coisa alguma! ta judeu, autor de notáveis essa renovação.
bondes e trens apodrecidos. Enquanto os outros crescem, obras como : «Que é o Ho-
As ruas da cidade são man- trabalham, melhoram, nós pio- mem?» «Caminhos da Utopia» Termina por apresentar o
tidas eternamente imundas : ramos a cada dia. Enquanto, etc, faleceu a 13 de junho do movimento cooperativo das
por lixo ou por material de em outras cidades de outros corrente ano em Jerusalém. kibutzas como autêntica ex-
construção, que é abandonado países, constróem-se largas Os dados sobre sua origem periência renovadora da so-
na calçada sem o menor res- avenidas, em São Paulo ten- indicam que seu pensamento ciedade, realizada em larga ;
peito pelo pedestre. Todos os ta-se apenas mudar as mãos se nutria nas fontes européias escala, e cuja experimentação
dias. dezenas de habitantes de direção. Enquanto os ou- e na ortodoxia judaica dos é legítima e vitoriosa.
são executados a sangue-frio, tros ampliam as suas redes de massidim polacos do século Para a comunidade a que
em plena rua, por automó- metrô, em São Paulo enchem- XV. aspira afirmar o seguinte no
veis enlouquecidos. E os pró- -se as ruas de ônibus que mais fim do seu livro : «Na estru-
prios motoristas são submeti- atrapalham do que ajudam e Incansável investigador dos tura da sociedade que imagi-
dos também, todos os dias, a engavetase a única solução caminhos do autêntico socia- no, deverá, também, haver um
torturas: obrigam-nos a se verdadeira, que é a de cons- lismo, escreveu uma pe- sistema de representação; po-
trancar em suas caixas metá- truir linhas subterâneas de quena obra-prima que se cha- rém, não se traduzirá, como
licas, e agüentar barulhos, fu- transporte. Enquanto os ou- ma Caminhos da Utopia, na os atuais, em pseudos repre-
maças, trombadas, lentidão tros têm equipes de limpeza qual, após substancial análise sentantes de massas amorfas
de movimentos. As queixas para manter as suas cidades do pensamento de Fourier, de eleitores, mas em repre-
da população jamais são ou- impecáveis, ou fazem campa- Owen, Saint Simon, entra na sentantes acreditados no tra-
vidas. nhas visando educar os habi- medula do ideário ácrata com balho das comunidades. Os
O mais triste é que, ao con- tantes para o prazer de ter Proudhon, Kropótkine, Baku- representados estarão unidos
trário de outras cidades que uma cidade sem sujeira, em nine e Landauer para desa- com seus representantes, não
foram invadidas, a nossa não São Paulo a gente tropeça em guar no cerne de Marx e En- como hoje em abstração vá-
reage. Seu povo aceita todas lixo, tijolos e emporcalha-se gels. Extraordinária síntese cua, mediante a frase ologia
as humilhações sem se orga- com a poeira. Enquanto em de um sábio, procurando nes- de um prograrna de partido,
nizar em guerrilhas ou movi- outras cidades faz-se planeja- se cabedal de pensadores o te- mas concretamente, mediante
mentos subterrâneos. Os par- mento para os próximos cem ma da renovação da socieda- a atuação comum e a expe-
tidos políticos — que deve- anos, em São Paulo um enge- de-pela modificação do teci- riência comum.»
riam representar esse povo — nheiro da Prefeitura, pergun- do societário. Em vão é sua
deixaram-se vender, traíram tado pela razão por que são busca dentro dos quadros mar- É indubitável e marcante a
a população, fecharam-se em aprovados loteamentos sem xistas. No pensamento liber- influência de Landauer no
seus círculos inexpugnàvel- praças ou jardins — resul- tário fixa-se de forma notável pensamento social de Martin
mente aristocráticos. tando em regiões inteiras de- em Landauer, de quem foi Buber, assim como sobre as
Buracos nas ruas, má pavi- sumanizadas, como o Broo- amigo e admirador, para res- formações cooperativas de
mentação, sujeira, abandono, klin e Santo Amaro — res- saltar que «a transformação Israel. Para os que duvida-
falta de consciência social, fu- ponde «que não tem tempo da sociedade, só pode vir com rem basta somente ler o li-
maça de ônibus, ausência de para se preocupar com essas o amor, o trabalho e a quie- vro «Incitação ao Socialismo*
organização no tráfego, Jalta coisas»! Enquanto em outras tude». Não devemos esperar e a «Revolução», fete último
de jardins e parques, falta de cidades um acidente automo- que venha; é necessário in- escrito a pedido do próprio
árvores, indiferença das auto- bilístico em ruas do centro é tentá-la, começar a realizá-la. Buber, para se ter a compro-
ridades, falta de telefones, de considerado um escândalo, em vação cabal.
transportes, de conforto, de São Paulo é considerado fato Nesse trabalho atinge o pon-
dignidade — a todos os males corriqueiro — porque nem o to nevrálgico das transforma- Com a morte desse notável
a população é submetida sem pedestre tem faixas por onde ções sociais. Afirma que para pensador, torna-se a humani-
um protesto siquer. atravessar, nem o motorista a renovação da sociedade é dade mais pobre espiritual-
Não, ninguém me venha se sente tranqüilo vendo cen- necessário ir de imediato à mente, enquanto silenciam por
com o argumento conformista tenas de pedestres pular à sua renovação das cédulas so- culpa os megafones da «cul-
de que este é o preço do pro- frente em qualquer parte da ciais, ao mesmo tempo que tura tupiniquim»* mais preo-
g r e s s o. Que progresso? rua. descarta o processo revolucio- cupada com o último roman-
Essa estagnação ge- Enfim, enquanto em outras nário violento e clássico, como ce do 007.

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Or. Newton F. Josi-tti


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Ainda estava Freud ligado porque «ose» é característico prosseguir numa ação. Em a ginástica, e a observar o
a Breuer, quando realizou seu dos processos destrutivos ou geral, também, se apresenta efeito que produz, dentro do
trabalho sobre a história. Dai, degenerativos. Portanto, tais o problema da queda. É pre- organismo, cada um desses
partiu para um conjunto de pessoas tomavam o nome de ciso não confundir este pro- movimentos. O indivíduo to-
experiências que culminaram degenerados mentais. No en- blema da queda no sonho, mado para observação era ca-
no estudo dos sonhos. tanto, na neurose não há ne- com aquele outro que senti- paz de andar 60 a 80 quilô-
nhuma destruição ou anoma- mos, quando entramos no so- metros sem apresentar can-
O descobrimento de que os lia nos nervos ou nos centros no, pela mudança do equilí- saço. Foi objeto de um estu-
sistemas patológicos de deter- nervosos. São processos em brio neuro-vegetativo, que do primoroso de onde saíram
minados indivíduos nervosos que se mantém a integridade passa do tônus existente na conclusões interessantes. Foi
possuíam um sentido (signi- anatômica, havendo apenas vigília à predominância va- o mesmo observado por Freud
ficado, segundo Ogden & Ri- uma perturbação funcional. gai. com os histéricos.
chard) e a comprovação de
que esses sintomas e suas cau- Hoje, já se inicia o estudo O estudo dos sonhos, por- Devemos, assim, entender
sas se apresentavam abertas do córtex cerebral e de seu tanto, pode ser considerado que Freud voltou aos sonhos
ou veladamente nos sonhos funcionamento de forma ex- como um conhecimento intro- que tinham sido deixados ao
dessas pessoas, foi o ponto de perimental, por intermédio dutório e preparatório ao es- descaso. Desenvolveu esses
partida da psicanálise. Freud da corticografia, do qual pos- cudo das neuroses. elementos num livro que de-
concluiu que podemos chegar sui o Brasil um nome expo- i pois foi dado à publicidade.
ao conhecimento das causas nencial, pouco conhecido, o Neste ponto, Freud faz uma Freud pronunciou uma série
de determinados sintomas pa- professor D'Ultra, de Man- pequena digressão, uma bre- de conferências para a intro-
tológicos, não só seguindo a guinhos. ve resenha histórica da inter- dução ao estudo dos sonhos
técnica elaborada (hipnose) pretação dos sonhos na Anti- e dos outros fatores envolvi-
mas, também, tomando como O estudo dos sonhos, atra- güidade e a sua decadência a dos na Psicanálise, que pas-
ponto de partida os temas vés do estabelecimento de partir da Idade Média que, no saram a ser uma introdução
apresentados nos sonhos. Por- uma série de enlaces, permi- entanto, nos legou um con- ao estudo da Psicanálise;
tanto, colocou o sonho como tiu que se definisse a estru- junto de conhecimentos mui- mais tarde foram reunidos
ponto de pesquisa científica, tura das neuroses em: fóbi- to mais absurdo do que a in- em livro.
usando o método experimen- cas, obsessivas, compulsivas, terpretação dos sonhos. Freud
tal — (no campo das ciências, síndromes histeriformes e an- faz referência ao repositório CONCEITOS GERAIS
parte-se das conseqüências pa- gustiosas. de sonhos de Artemidoro de DO SONHO
ra inferir as causas). Daldis, século II, que foi o
Na neurose fóblca, apare- sistematizador daquele co- Nós chegamos à mesma
Verificou, mais adiante, exis- .ce no sonho o elemento ou nhecimento que mereceu a conclusão a que já havia che-
tir determinado grupo de pa- situação fobígena. Na neuro- atenção de Thomaz de Aqui- gado Freud. O sonho é algo
decimentos que se repete cons- se obsessiva aparece a figu- no. Daí para diante os filó- evidente, todos nós o conhe-
tantemente em certos indiví- ração da autoridade represso- sofos têm o sonho em total cemos, mas não podemos ain-
duos. Isto já havia sido obser- ra: soldados, militares, guar- descrédito. Somente mais da dizer o que é o sonho.
vado por outras pessoas, mas das, vigias etc. Nas neuroses tarde a sua importância foi Freud deu como conceitos ge-
não havia ainda o entendi- compulsivas, aparece o ele- reabilitada em virtude da di- rais do sonho o seguinte:
mento da natureza do proces- mento compulsivo. Nos sm- fusão do trabalho de Freud,
so dessas alterações, que vi- dromes histeriformes, que visto os trabalhos de seus a) — surge quando estamos
nham rotuladas ora como per- são os que estão mais vincu- precursores Maury e Tinie, dormindo;
turbações nervosas ora como lados com elementos moto- não terem sido tomados a sé-
perturbações motoras, ou ain- res, existe aquela circunstân- rio, embora tivessem elemen- b) — representa um proces-
da anímicas, carecendo de cia em que a criatura está a tos substanciais. Tinie fêz so psíquico fora da vi-
uma classificação. ponto de não poder mais mo- seus trabalhos tomando por gília;
ver-se. Nas neuroses de an- base uma personalidade com
A esse conjunto de fenôme- gústia, o indivíduo nunca che- delírio ambulatório (Alber- c) — tem semelhanças com
nos dava-se o nome de nevro- ga a um determinado lugar to). Êle se preocupava em es- os fenômenos da vida
se, denominação imprópria, ou está impossibilitado de tudar os movimentos físicos. desperta;

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I
Foto de Dalóia
d) — tem marcadas diferen- 7 anos, quando a reflexão vai sonhos de crianças. Como entre pai e filho. Êle então
ças com os fenômenos se acentuando. Quanto à se- exemplo disto cita Freud os se recorda que tem a mesma
da vigília. xualidade, a primeira mani- sonhos de preguiça, nos quais situação familiar. Toda a ra-
festação que aparece de for- a criatura se vê já desperta zão do sonho estava escondi-
E definiu o fenômeno oní- ma objetiva, e sem caracte- ou se encaminhando para o da. A mesa faz alusão sim-
rico como um estado inter- res morais, surge entre os 6 trabalho e com isto ela dor- bólica ao fato. Êle observou
mediário entre o sono e a vi- e 7 anos. Porém, Freud e me mais um pouco. Também que nunca aparece, nos so-
gília, o que, inicialmente, nos seus seguidores, ainda que os sonhos de conflitos infan- nhos dos adultos, o fator cau-
propõe o problema do ato de dissidentes, colocam entre os tis costumam apresentar-se sai do próprio sonho, mas
dormir. Freud já se encami- 4 e 6 anos, época da eclosão expressos em tempo presente sim uma alusão ou referên-
nhava, neste sentido, para do conflito sexual básico. indicativo, como sonhos de cia (a que denominamos sim-
estabelecer uma valorização Freud e seus seguidores tam- conflitos sociais nas relações bólica) para permitir ou pos-
do ato de dormir. Hoje sabe- bém admitem que manifesta- humanas. Por exemplo: uma sibilitar o encontro da causa
mos, pelos trabalhos de Kleit- ções primordiais da sexuali- pessoa sonha que está fazen- real.
man e Dement, que é muito dade já aparecem na lactân- do uma excursão com vários
-mais importante o ato de so- cia e alguns outros, como amigos, mostrando uma difi- No processo de analogia é
nhar do que o sono, que é Otto Rank, a fazem regre- culdade de convívio social e preciso compreender qual é a
apenas um acessório do ato dir ao período pré-natal, o que de relações humanas. Porém, situação problemática que a
de sonhar. Nós ficamos na Wilhem Stekel procura de- há uma diferença marcante. pessoa está vivendo e o mo-
contingência de dormir para monstrar com a análise de Os sonhos infantis se apre- tivo desencadeador do sonho.
poder sonhar, o que fazemos alguns sonhos muito esclare- sentam numa forma direta, A pessoa do referido sonho
5 a 6 vezes por noite, duran- cedores, embora não conclu- enquanto os sonhos do adulto lembra-se de que, ao passar
te o sono, em horas determi- sivos, no seu livro intitulado são alternados, despertando a por uma rua, viu um senhor
nadas, 2', 3', 5', 7? e 8' horas «A Linguagem dos Sonhos». necessidade de pesquisar qual levando pela mão o filho a
de sono. a razão dessa modificação. quem atendia amorosamente,
No modelo tomado por Daí ter partido Freud para o em lugar de se irritar com
Freud começou a onirolo- Freud, uma criança faz um estudo de todos os mecanis- suas impertinências. Foi este
gia pelos estudos dos sonhos passeio de lancha com a mãe, mos deformadores dos so- o motivo desencadeante do
infantis, nos quais aparece atravessando um lago. No ou- nhos. sonho. Portanto, temos:
sempre o caráter realizador, tro lado do lago esta criança
nunca o caráter optativo. é arrancada da lancha aos Observou que, em várias 1. Um fator externo que,
berros de protesto. Ã noite, circunstâncias, os sonhos insuspeitadamente, se articu-
De acordo com a psicolo- ela sonha que está atraves- mantêm uma certa fixidez de la com uma condição ou si-
gia evolutiva, sabemos hoje sando o lago, numa barca. O significação, do mesmo modo tuação problemática do indi-
que a criança começa a so- que estaria desejando essa que ocorre na interpretação víduo;
nhar entre os 4 e 5 anos, que criança? O seu protesto deve popular dos sonhos como es-
é a idade em que já apare- eqüivaler ao desejo de conti- tão registrados nos livros co- 2. a existência de uma es-
cem estados emocionais mais nuar passeando no lago. A nhecidos como «dicionário dos
desenvolvidos. Começam a ação é desenvolvida no pre- timulação que põe em ação
sonhos» ou «livro dos so- o seu psiquismo e a sua^fe-
aparecer, também, nitidamen- sente, realizando o desejo. nhos».
te, as ações inibitórias e ex- Nos sonhos de adulto, em ge- tividade, elaborando um so-
citatórias básicas do sistema ral, o desejo vem expresso Exemplo: uma criatura so- nho onde está referido esse
nervoso e se mostra mais evi- num tema do presente, mas nha com uma mesa de forma- problema;
dente o início do processo de não do indicativo, sendo mais to particular. A investigação
eclosão dos caracteres psíqui- comum vir no imperfeito. sobre o significado dessa me- 3. a utilização de uma con-
cos herdados e que quase sa o faz recordar de uma de-
conflui com a terminação da Depois de estudar os so- terminada família em cuja dição simbólica (mesa) por
maturação motora básica, nhos infantis, passou Freud casa existe uma mesa desse intermédio da qual se pode
fruto dos componentes gené- ao estudo dos sonhos de adul- formato. Nessa família há chegar ao problema do indi-
ticos também herdados. Tu- tos. Mas, há sonhos de adul- uma circunstância relevante: víduo e até do fator que o
do isto fica estabelecido aos tos que se assemelham aos uma desarmonia completa estimulou.

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É óbvio o encarniçado pro-
pósito dos eternos inimigos do
avanço social, daqueles que
pensam que todo o progresso,
toda a evolução, todo o gran-
de e penoso sacrifício das ge-
rações passadas e presentes,
deve estar à mercê do seu fu-
nambulismo mercenário e das
fortunas escusas de suas ar-
"Enquanto a Igreja cas. Esses foram sempre os
não for pobre, causadores dos grandes atritos
sociais. Constitui o já muito
completamente pobre conhecido poderio econômico,
não passará de uma que decide quanto cada pes-
soa deve comer, em que con-
formosa palhaçada" dições pode viver, e, também,
como deverá morrer. São os
temerosos de que um novo or-
Papa Paulo VI denamento social, um sistema
4-- mais justo de entendimento
humano, os deixe sem teto e
- •„. w<,- sem conforto, como castigo
merecido pelo acervo de injus-
tiças praticadas.
Não sabem que a solução,
a verdadeira solução humana,
Não obstante o panorama grupos de jovens missionários os jornais que este jovem pa- justa e definitiva, não reside,
sombrio que se estende sobre fazendo comida e limpeza nos dre está sofrendo uma seve- positivamente, em despojar
o nosso conturbado mundo, próprios casebres de velhinhos ra perseguição por parte dos uns para enriquecer outros,
refletindo tétricas e apocalíp- desamparados. Aí estão nú- bispos porque entre outras em tornar verdugos os que fo-
ticas cavalgadas que amea- cleos de jovens estudantes de coisas disse que: — «A re- ram vítimas. Mas sim, na dis-
çam destruir todas as gran- ambos os sexos que em suas volução na Colômbia é inevi- tribuição eqüânime para to-
des conquistas e até mesmo férias embarafustam pelo li- tável num prazo inferior a dos, no atendimento racional
a própria humanidade, so- toral afora, instruindo, curan- cinco anos, porque o país se de cada um, e na garantia de
pram ventos vivificantes e de do e animando os desventura- acha governado por minoria vida tranqüila e decente para
-esperanças, que são uma pro- dos caiçaras. Vimos durante e o povo não acredita nos po- sempre. Esta é a solução que
messa de amor, um compro- as noites cortantes deste cruo líticos.* — O padre Torres devem procurar todas as reli-
misso de paz, um amplexo de inverno, pessoas anônimas co- censurou a posição da igreja giões, todas as doutrinas.
íraternidade. mo sombras misteriosas, per- colombiana, a qual, em sua Esta é a solução que devem
Os donos do mundo, os fa- correrem as ruas da cidade, opinião: «Dispõe do pior las- buscar todos os partidos, to-
zedores de guerras, os provo- distribuindo cobertores, tra- tro, que consiste em possuir das as filosofias. Esta é a so-
cadores de hecatombes, esme- vesseiros, mantas, agasalhos bens e poder político, o que lução que querem todos. Esta
ram - se na fúnebre tarefa enfim aos infelizes que dor- a leva a seguir a sabedoria é a solução que se aproxima.
de extermínio, insensibili- miam enregelados nas calça- dos homens mais que a sabe-
zados pela tremenda força das frias. E que dizer então doria de Deus, como dizia S. Pedro Catallo
do seu desmedido poderio po- dos espontâneos doadores de Paulo». Afirma ainda o pa-
lítico e econômico. O seu sangue e dos grupos de des- dre Torres: — «O clero colom- Grupo de Amigos de
desígnio foi sempre matar, favelamento ? biano é o mais retrógrado do
matar sempre, ou fabricando Tudo isso é idealismo, ab- mundo, pior ainda que o da "Nossa Chácara"
guerras ou fabricando fomes. negação e desejo de renovar o Espanha».
Sempre foi assim e continua
sendo, sempre surdos, frios e
mundo. Mas, o depoimento
capital, o mais insuspeito e
Quando a reformulação da
sociedade humana encontra
Comprou Um Sítio
indiferentes ao clamor dos, significativo por ser de onde adeptos no seio da mais con- E agora?.
justos, ao sacrifício dos ab- é, nos vem do papa Paulo VI, servadora e mais potente or- Agora nós precisamos ajudar.
negados. O ouro, a prata, o que, em divina exasperação e ganização do mundo, que é o O Grupo de Amigos, de
dinheiro, matou-lhes a sensi- com candentes palavras, dis- clero, não padece a mínima «Nossa Chácara», numa con-
bilidade, arrebatou-lhes a se ao clero mundial em recen- dúvida que ela se processará. jugação de esforços extraor-
consciência, estrangulou-lhes a te discurso: — «Enquanto a O que a riqueza social, dinária, vê coroada de êxito
razão. Igreja não fôr pobre, concre- administrada em condições a conquista de um objetivo
Mas, a justiça humana tamente pobre, não passará de outras traria a solução dese- que vinha sendo perseguido há
abre-se num caminho, escan- uma formosa palhaçada re- jada para muitos problemas muito. Trata-se da aquisição
cara as portas da esperança e pleta de escapulários e proibi- que parecem insolúveis, é de um sítio, cuja gleba de ter-
um dealbar de luzes deslum- ções, nunca porém, o que ponto pacífico e predominan- ra de cinco alqueires, possibi-
bra e ilumina as consciências Cristo e eu desejamos que se- te. E aqueles que se recusam litará o pleno desenvolvimen-
impolutas que se aglomeram, ja» ... «há só uma coisa into- obstinadamente a colaborar to das iniciativas e ideais que
se fundem e se engrandecem. cável: a palavra de Deus. O na transformação paulatina e constituem o apanágio dos
E o milagre da redenção hu- demais tudo é reformável, po- racional que se verifica na que integram o grupo. Para
mana está-se aproximando, rém, essa palavra de Deus, economia e nos costumes em tanto colocaram «Nossa Chá-
está-se realizando, pouco a não é uma frase nem um sis- toda a extensão universal, se- cara» à venda e então empe-
pouco, passo a passo. É a di- tema de idéias. Essa palavra rão surpreendidos por esse nhados em arrecadar fundos
nâmica moderna que em boa está encarnada em Cristo e maravilhoso câmbio que mu- e por nosso intermédio fazem
hora permeia as consciências em cada pobre do mundo. E dará, fundamentalmente, to- apelo a todos aqueles que co-
adormecidas, despertando-as que fizemos até hoje com es- do o conjunto de inter-rela- nhecem a iniciativa e com
para a realidade-ambiente que sa palavra, que se morre de ções coletivas. Acontece que ela têm afinidade para que
demanda a presença de todos fome e dê tristeza ao lado das a dinâmica moderna de inves- procurem a Comissão e com
na grandiosa obra de recons- nossas nunciaturas, das nos- tigação social revela tranqüi- ela colaborem, pois os encar-
trução social. sas púrpuras e dos nossos pri- las possibilidades de uma se- gos são pesados.
Pessoas de todas as catego- vilégios ? Eu deponho a mi- gura reformulação de todo o Nós que conhecemos o que
rias sociais filiam-se a este nha coroa, a Igreja há de de- patrimônio social, e conclui são suas promoções de con-
imperativo humano e prestam por seu triste avoengo de sa- que a humanidade possui re- fraternização, onde se apren-
seu deliberado apoio, partici- cristia, para se pôr a servi- cursos e faculdades suficien- de a amar a natureza e a cul-
pando, como podem, de inicia- ço do mundo». tes para suprimir, do conví- tuar a dignidade da vida, o
tivas condizentes com esta Ainda no setor do clero te- vio humano, a fome, a misé- quanto têm de elevado idea-
extraordinária aspiração. Mes- mos o pronunciamento do jo- ria e todo o sofrimento pro- lismo os propósitos que nor-
mo daqueles setores que sem- vem padre Camilo Torres, que vocado pelo egoísmo, pela ga- teiam o Grupo, damos o nos-
pre foram ultra conservado- ademais de padre é também nância e pela indiferença, que so incondicional apoio. Para
res por excelência e avessos sociólogo na Universidade Na- são, afinal de contas, males a frente pois, Amigos de
mesmo a qualquer enunciado cional da Colômbia. Revelam perfeitamente removíveis. «Nossa Chácara»!
que significasse melhoramen-
tos para os desprotegidos, sur-
gem rasgos de eqüidade em EDITORA GERMINAL Av. 13 de Maio, 23 - 9' and. - sala
manifestas atitudes paladíni- 922 - Tel. 52-1001
cas. Aí estão, moças e senho- Fundada em 1947
ras de famílias abastadas, Importação e Exportação de livros Para correspondência:
chamadas voluntárias, que técnicos, científicos, filosóficos etc. Caixa Postal, 142 - Agência da Lapa
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seus serviços nos hospitais; Assinatura de revistas estrangeiras - Rio de Janeiro - Brasil.
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É preciso
arrebentar
as raízes.
Atirar aos
infernos nossos
hapéus. Rasgai;
o medo
e coloca'-lo,
aos pes.
Porque:
Brutalizaram a idéia de mingos, na Argélia, guerri- Brasil... mas reina paz na ter- tra a mordaça, as alienações
Deus, profanaram a apregoa- lhas na Peru; até a natureza ra dos homens sem coragem... e o achaque que nos procu-
ção do Cristo, torpedearam se desespera varrendo cidades que de cócoras apostam na ram impor. É preciso cora-
os direitos do homem, puse- com seu furacão Betsy; vo- corrida que se faz rumo à gem. Mas também para viver
ram a ferros a liberdade... e mitando suas lavas o vulcão Lua. «—O foguete tem cento é preciso coragem, pois a vi-
nenhuma voz, nenhum gesto Taal mata duas mil pessoas; e vinte metros de altura». da existe em face com a mor-
se ergueu para impedi-los... inundações devastam o Rio É a idade do desastre, a era te. E é de dealbar a coragem
Foi decretada a falência do Grande do Sul; surgem indí- das alienações, da lenga-lenga das vozes que traz o venfo:
homem. cios de peste bubônica na dialética, da tática sublimi- «Não concordo com uma só
Há guerra no Vietnã, na Ca- Bahia; morrem de fome qua- nar. Tornam-nos contra nós palavra que dizeis, mas de-
chemira, revolta em São Do- trocentas crianças por dia no mesmos, nos distraem e nem fenderei até à morte o teu di-
sequer percebemos que nos reito de dizê-las». É o princí-
Casa em Vila Kennedy, Vila Esperança.. cospem no rosto; pensamos
que são sorrisos.
pio em tempos de dealbar.
Conclusão da página 2 vela, transformam as novas BALANCETE
habitações em autênticas fa- Amarrados por nossas raí-
dores, que emprestariam a velas pela má utilização do zes, plantados na triste felici- DO PRIMEIRO NUMERO
mão-de-obra, em sistema de sistema sanitário, pelo acú- dade de nossa miséria, escon-
cooperativa de auxílio mútuo. mulo de detritos que são ati- demo-nos da luz, abrigados à CONTRIBUIÇÕES
Desapropriação pela munici- rados pela janela, pela depre- sombra de nossos grandes
palidade das áreas faveladas dação das paredes das casas, chapéus, como ridículos co- Saldo de «O Libertário»,
e venda a baixo preço de ter- pelo desrespeito aos direitos gumelos visionários, a eon- 90.000; Fêlix, 1.000; Dias, 500;
renos aos habitantes das fa- cie seus semelhantes, culmi- contemplar satisfeitos glórias Frange, 300; Diversos do Cen-
velas. nando com a venda da pró- passadas, ou a decifrar o sig- tro de Cultura; 36.000; Polis-
3 — Erradicação total da pria casa e o retorno a outra nificado de sonhos idos. É sou, 2.500; Virgílio DaTOca,
favela irrecuperável, com a favela, onde parecem encon- preciso arrebentar as raizes, 1.000; J. C, 2.000; Rojo, 2.000;
mudança de sua população trar-se mais satisfeitos e in- atirar aos infernos nossos Germinal, 2.000; Cecílio, 2.000;
para casas pré-construídas, e tegrados. O problema reedu- chapéus, rasgar o medo e cal- Trubilhano, 10.000; Chiquinho,
que já está sendo feito pelo cativo e reorientador parece- cá-lo aos pés. São tempos de 2.000.
Governo da Guanabara, com -nos de amplitude extrema, dealbar... porque vai alto o Total Cr$ 151.300
a construção das Vilas Ken- pois é mais do que necessá- negrume da noite e só nós, os
nedy, Aliança e Esperança; rio modificar as condições ex- homens, juntos, podemos er-
porém, não no ritmo que se- DESPESAS
ternas, sociais, ao mesmo guer a claridade do dia e fa-
ria desejável. tempo que as condições inter- zer lúcido este capitulo des- Registro: Reconheci-
4 — Reeducação do favela- nas condicionantes, determi- vairado da História. mento de firma .. 100
do para uma vida comunitá- nantes. Pensar marxistica- Registra: Selagem no
ria e cooperativa, integrada Não é a hora de discutir es-
mente que pela modificação tèrilmente a existência de Fórum 400
no reconhecimento dos direi- das condições econômicas e Registro: Fórum —
tos e deveres de cada um pa- Deus, os direitos do homem,
sociais tudo será modificado, eu a liberdade. Repartição Arreca-*"
ra consigo e com seus seme- é estar longe dos modernos dadora 1.340
lhantes. A realidade dos fa- conhecimentos de sociologia, É hora de estudo, trabalho Clichês 45.000
tos tem mostrado que não é psicologia e psiquiatria social. e protesto: estudo da atual Tipografia 56.600
suficiente dar apenas melho- Homem e meio paralelamen- situação mundial, do Brasil,
res condições de habitação e te devem ser modificados, e de sua História, de seu mo-
padrão de vida para que os Total Cr$ 103.440
no caso das favelas uma as- mento presente, de métodos
favelados se modifiquem. Nu- sistência psicológica, sanitá- que o possam encaminhar ao RESUMO
ma percentagem elevada, es- ria e psiquiátrica é meio ne- cooperativismo e desenvolvê-
tão de tal modo pervertidos cessário para a recuperação -lo; trabalho para a institui- ENTRADAS .... Cr$ 151.300
psiquicamente que resistem integral do favelado para ção de sociedades cooperati- SAÍDAS 103.440
a toda modificação para me- uma vida útil, social e produ- vas com resultados positivos
lhor. Preferem viver na fa- tiva. para exemplar; protesto con- Saldo em Caixa Cr$ 47.860

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Isto é um pistom. Assim Cantava um Cida-
dão do Mundo (poemas
Isto pode fazer que levaram o autor 13
vezes às masmorras da In-

muito barulho. quisição do Salazar) Ro-


berto das Neves Cr$2.500

E pode fazer jazz. Na Inquisição do Salazar,


L. Portela (em colabora-
ção) Cr$ 3.000
Mas V sabe mesmo Nova Ética Sexual, E. Ar-
mand Cr$ 2.000
COOPERATIVA
oqueé jazz? Tufão sobre Portugal, Ge-
neral Humberto Delgado ... Cr$ 2.500 EDITORA MUNDO
Erros e Contradições do
Marximos. V. Tchekesoíf .. Cr$ 2.000 LIVRE
Alguns amigos meus, a ceira forma decisiva: a im-
quem prezo especialmente, provisação. Assim, o execu-
têm feito comentários ocasio- tante é ao mesmo tempo cria-
nais sobre música que me dor, o que lhe confere uma FALA A CIÊNCIA desse método. Afirma êle que
deixam atônito. Sabendo de dignidade extra de composi- numa só noite aprendeu uma
meu interesse por Jazz, vez tor. Temos então que qual- (Continuação do num. ant.) lista de novas palavras e seus
por outra chamam minha quer música, dependendo do significados.
atenção para alguma grava- tratamento, pode ser executa- A marcha deve constituir- Pelo que ficou demonstra-
ção, cpm uma frase deste ti- da «jazzlsticamente», e inver- -se na principal forma de do, parece ser possível modl-
po: «V. ouviu o Sinatra can- samente temas jazzísticos po- exercício para os pacientes ficar-se os padrões de apren-
tando BLUE MOON? Não é dem ser aproveitados para desta natureza. O golfe, a na- dizado, se o método se tornar
sensacional? Êle é o maior outro tipo de comunicação tação, a pesca e a caça são universal. Conhecimentos es-
cantor de jazz do mundo!». musical. aconselháveis, para aqueles senciais, que atualmente só
Mas será mesmo Jazz aqui- No primeiro caso temos a que já o praticavam antes de podem ser assimilados atra-
lo que Sinatra canta? Será «Élégie» de Massenet (um adoecer. A prática de exercí- vés de longos e cansativos
que é Jazz o que fazem Do- compositor «sério»), gravado cios que exigem grande dis- estudos, poderiam ser agora
ris Day, ou Ray Coniff, ou por Art Tatum em 1954, num pêndio de energia é totalmen- apreendidos sem esforço e
Bert Kampfert, ou Connie solo de piano bastante arro- te proscrita. com maior rapidez, durante
Francis? jado. Evidentemente qualquer Há mais de 30 anos, Aldous o sono.
Gosto muito de Frank Si- pessoa poderia reconhecer na Huxley escreveu sua famosa Uma vez adormecido o alu-
natra, como de alguns dos ou- Élégie de Tatum traços óbvios obra «Admirável Mundo No- no, sua mente está livre das
tros, mas não posso permitir da peça de Massenet, mas in- vo». Naquele livro falava êle distrações continuamente pro-
que chamem ao que eles fa- discutivelmente a comunica- de seres humanos que apren- vocadas pelas sensações, du-
zem de Jazz. ção que provém de Tatum é diam através do inconsciente. rante a vigília. A concentra-
Assim, chegamos ao ponto: totalmente diferente da trans- Isto é, usavam atalhos para ção é assim absoluta. Como
o que é Jazz? E o dilúvio mitida pela obra de Massenet. desenvolver seus talentos da sustenta o próprio sr. Sto-
universal começa. Porque não Nós dissemos diferente, e «om melhor maneira possível. cker, «não há motivo para
há nenhum ponto em que os isso frisamos uma diferen- Hoje, os céticos rendem-se que um aluno tema a má me-
apreciadores de Jazz mais di- ciação aue não envolve juízo à realidade: milhares de es- mória, se preocupe com a in-
ferem do que a definição ou , de valor. tudantes, em muitos países, capacidade de concentrar-se,
significado do próprio termo. No outro caso a composi- provaram o valor do método ou duvide da própria habili-
Cada autor ou teórico tem ção que Duke Ellington gra- como auxílio estimável à edu- dade para estudar matérias
uma explicação diferente, os vou pela primeira vez em cação. que imagina muito difíceis
admiradores constróem suas 1927, «Mood índigo», foi con- O sr. Geoffrey Stocker, um para sua compreensão. Uma
definições de acordo com o es- tinuamente utilizada por di- dos mais famosos professo- vez conseguida a receptivida-
tilo que mais apreciam, e os versos conjuntos de Jazz dos res a utilizar o novo método, de, o aprendizado durante o
próprios músicos, quando in- mais diversos estilos. Hoje é presidente de uma associa- sono se torna processo repe-
terrogados, refugiam-se em em dia encontram-se grava- ção para a pesquisa do apren- tido simples, não exigindo
ambíguas e confusas modula- ções «comerciais» de Mood dizado enquanto o aluno se qualquer esforço mental».
ções verbais. índigo por orquestras desde encontra adormecido. Uma vez que o ser huma-
Acho que não nos interessa George Melachrino, que não A Associação conta com um no normal passa um terço de
tanto, no momento, a análise tem nada a ver com Jazz, até dormitório-sala de aula, em sua vida na cama, as possibi-
das várias definições surgidas à Banda de Carabineiros da Hampstead, no norte de Lon- lidades de aumentar a capa-
através da História. Pretende- Sardenha, que tem muito me- dres. Cada cama no dormitó- cidade de aprendizado enquan-
mos abordar o Jazz inicial- nos ainda. rio tem pequeno alto-falante to se dorme parecem ser es-
mente através de sua signifi- sob o travesseiro. Esse é, por timulantes — e quase ilimi-
cação social e cultural, sem Isso parece vir provar a sua vez, ligado a um grava-
enorme força viva que é o tadas. A medida da inteligên-
omitirmos certos detalhes dor de fita à cabeceira e a cia, parece, assim, seria mais
técnicos de importância deci- Jazz, erradicando-se em cen- um comutador automático.
tenas de direções e desenvol- o conforto da cama que a du-
siva. O aluno simplesmente vai reza do banco escolar...
Voltando a Sinatra, concor- vendo-se através de uma sé- dormir, como normalmente o
damos em que o que êle faz rie imensa de estilos, o que, faz, depois de preparar o
não é Jazz. Mas isso não sig- se por um lado causa uma equipamento para reproduzir
certa confusão no espírito

dealbar
nifica que êle não possa fa- uma determinada fita. Na ho-
zer Jazz, se quiser. Daqui ex- dos leigos, demonstra de so- ra estabelecida, o gravador
traímos a primeira idéia im- bejo sua tremenda vitalidade. começa automaticamente a
portante sobre o Jazz: Jazz Gosto do Jazz por isso: es- funcionar, e o saber lenta-
(qualquer que seja sua defi- sa linguagem musical sui- mente passa pelo travesseiro,
nição), não é um tipo espe- -generis, totalmente destituí- pela audição do aluno, alo- Nós precisamos do seu
cial de música, que só pode da de formalismos e acade- jando-se em seu inconsciente. tempo:
ser executada por tipos es- mismos, essa linguagem viva Esta parte da mente, sem- Queremos que V. leia
peciais de músicos. Jazz é, que transcende as barreiras pre alerta, é altamente recep- Dealbar inteirinho.
antes de tudo, uma forma de das nações, os preconceitos, tiva a qualquer informação
comunicação, um modo espe- os sectarismos, as ideologias, que lhe seja dada.
cial de executar uma compo- constitui-se num mundo fas- Do inconsciente, a matéria Nós precisamos do seu
sição, modo esse que depende cinante para mim e milhares é levada à memória, onde per- dinheiro :
tão sòmonte do executante. de outras pessoas em todas manecerá gravada, para fu- Queremos que V. dê uma
E aqui chegamos à segun- as partes do mundo. turo uso pela pessoa. contribuição para que
da idéia básica: contraria- O modo como tudo isto co- O sono do aluno é inteira- Dealbar continue saindo.
mente à chamada música sé- meçou, e como se desenvol- mente tranqüilo. Muitos alu-
ria, em que o executante é veu, bem... essa já é outra nos do sr. Stocker fizeram a
somente o intérprete de algo história. experiência em suas próprias Dealbar não tem preço. Dê
criado por outra pessoa, no casas. Um deles, por exemplo, quanto V. acha que êle vale.
Jazz o processo criaçãoexecu- Sérgio L. de Carvalho recentemente aprendeu uma Ou dê quanto V. possa dar.
ção é acrescido de uma ter- — Guerreiro língua estrangeira através Isso será uma grande ajuda.

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