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PERIODIZAÇÃO DA HISTÓRIA DO DIREITO PORTUGUÊS

Marcello Caetano
 Critério Político, matizado pelo critério do pensamento jurídico dominante
 Direito Público privilegiado, na medida em que corresponde à evolução da sociedade politica
intrinsecamente ligado ao Restado e influenciada pelas ideias, doutrinas e fontes de Direito
Períodos Início/Fim Caracterização
1140 – Início do Reinado de D.
.Predomina um Direito consuetudinário e foraleiro,
FORMAÇÃO DO Afonso Henriques
num tempo em que os Reis estavam absorvidos
ESTADO 1248 – Fim do Reinado de D.
pelas conquistas territoriais e seu povoamento.
Sancho II

1248 – Início do Reinado de D.


.Marcado pela influência do Direito Comum romano-
Afonso III
canónico, pelo apelo ao direito escrito e pela
1495 – Final do Reinado de D.
CONSOLIDAÇÃO DO multiplicação das leis gerais.
João II
ESTADO .Período de fortalecimento da autoridade do Rei e da
afirmação da autoridade das Cortes num contexto de
(1ª fase – 1248 à Rev. 1383
2ª fase – 1383 a 1495) renovação política, social e económica.

.Assiste-se á difusão das leis pela imprensa, à


promulgação das Ordenações e á proliferação das
1495 - Início do Reinado de D.
leis extravagantes.
Manuel I
ESTABILIZAÇÃO DO .Os Descobrimentos Marítimos Portugueses
ESTADO proporcionaram uma maior independência financeira
1750 – Final do Reinado de D.
do reino que contribuiu para o fortalecimento do
João V
poder régio e, consequentemente, para a
secundarização das Cortes.

1750 – Início do Reinado de D. .Período de um caráter transitório de quebra com os


José. Período de Governação períodos antecedentes e preparação para o período
REFORMAS DA
do Marquês de Pombal seguinte.
ILUSTRAÇÃO /
1820 – Início da Revolução .Preponderação da renovação do pensamento e a
ILUMINISMO
Liberal reforma das leis e das instituições, sobretudo quanto
ao Direito Nacional e ao Direito natural racionalista.

1820 – Início da Revolução .Caracteriza-se por uma profunda modificação das


REVOLUÇÃO LIBERAL Liberal instituições e das leis.
1926 – Início Ditadura Militar .A periodização detém-se em 1926.
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Ruy de Albuquerque e Martim de Albuquerque


 Critério jurídico-externo para desenhar a periodização, combinado com o critério do pensamento jurídico
dominante quanto às sub-épocas
 Conceção da ordem jurídica como um todo composto pelas normas trazidas de épocas históricas
anteriores e por aquelas que paulatinamente se acrescentam
 As datas de referência que circunscrevem os períodos tomam por referência o critério político
Datas de
Períodos Caracterização
Referência
.Coexistência de elementos normativos de proveniência
1140 – Fundação de
românica, germânica, canónica e outra. Coexistem fontes
Portugal
e instituições, onde nenhuma se sobrepõe a outra.
PERÍODO PLURALISTA 1415 – Conquista de
.Marcado pela heterogeneidade de fontes (costume, direito
Ceuta. Início da Era
dos Descobrimentos prudencial, direito estatal-legal, direitos locais)
.O Direito emanado do Estado não é predominante.
PERÍODO .Ponto de viragem coincidente .Estabilidade do
MONISTA 1415 – Conquista de com o início da Era dos Direito Público
ÉPOCA PRÉ Ceuta. Início da Era Descobrimentos Portugueses, que . Permanência das
REVOLUÇÃO dos Descobrimentos do ponto de vista interno linhas mestras do
LIBERAL 1820 – Revolução impulsionou: Direito Privado com a
Liberal Portuguesa - Emancipação de um aparelho vigência das
político-administrativo próprio Ordenações
- Institucionalização de órgãos
ÉPOCA PÓS A partir de 1820 (até .Autêntica
aos dias de hoje) legislativos próprios
REVOLUÇÃO transformação
- Criação de um aparelho
LIBERAL dogmática do Direito
judiciário específico
Público
- Largo recurso ao Direito Romano
.Consagração de um
como forma de suprir as lacunas
novo Direito Privado
do Direito Nacional
– com a promulgação
- Centralização e desenvolvimento
do primeiro Código
do Estado Português
Civil Português
. Afirmação do conceito moderno (1867)
de Estado . A ordem jurídica
. Redução do Direito aos factos portuguesa assume-
jurídicos por ele emanados se como um sistema,
. Tendencial identificação entre dotado de uma
Direito e Lei Constituição escrita
. Abertura de subfases ligada à
Revolução Liberal, que marca a
transição de uma ordem legislativa
lacunar (Ordenações) para uma
estrutura legislativa sistemática
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(Código Civil e demais legislação


avulsa)

Nuno J. Espinosa Gomes da Silva


 Critério misto: - critério jurídico-externo (decisivo na delimitação do âmbito de cada um dos períodos)
- critério político (datas de referência que circunscrevem os períodos)
- critério do pensamento jurídico dominante (dois últimos períodos)
Períodos Datas de Referência Caracterização
1140 – Início do Reinado
PERÍODO DO DIREITO .Emancipação do direito consuetudinário loca e
de D. Afonso Henriques
CONSUETUDINÁRIO E Diversidade das suas influências, com
1248 – Início do Reinado
FORALEIRO predomínio do elemento germânico
de D. Afonso III

ÉPOCA DA 1248 – Início do Reinado


RECEÇÃO DO de D. Afonso III ”Principal
.Receção do Direito Comum
PERÍODO DE DIREITO 1446 – Ordenações Experiência da
INFLUÊNCIA DO COMUM Afonsinas História do
DIREITO 1446 – Ordenações Direito
.Compilação e
COMUM ÉPOCA DAS Afonsinas Português”
sistematização das fontes
ORDENAÇÕES 1750 – Início do Reinado
operada pelas Ordenações
de D. José

1750 – Início do Reinado


. Impera o racionalismo
PERÍODO DE INFLUÊNCIA de D. José
. Vontade do monarca impõe-se no valor a
ILUMINISTA 1820 – Revolução
atribuir às diferentes fontes de Direito
Liberal Portuguesa

1820 – Revolução
. Focalização nos direitos naturais do indivíduo
PERÍODO DE INFLUÊNCIA Liberal Portuguesa
que se manterão numa dialética constante
LIBERAL E INDIVIDUALISTA 1914/18 – Primeira
perante os poderes reais
Guerra Mundial
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Mário Júlio de Almeida Costa


 Combinação de Critérios: - critérios jurídico-externo e do pensamento jurídico dominante (quanto ao
conteúdo das fases)
- critério político (delimitação temporal das fases)
 Não obedece a um critério homogéneo
Períodos Datas de Referência Caracterização
.A independência de Portugal não acarretou
uma imediata autonomização do direito
1140 – Início do
vigente, pelo que se assistiu à conservação
Reinado de D. Afonso
das fontes de Direito Do Estado Leonês (ex:
PERÍODO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DO Henriques
Código Visigótico)
DIREITO PORTUGUÊS 1248 – Início do
. Foi-se desenvolvendo um direito português
Reinado de D. Afonso
III
de caráter consuetudinário e foraleiro, aliado
a um certo empirismo jurídico protagonizado
pelos tabeliães ou notários da época.
PERÍODO DO ÉPOCA DA Marcado pela .Atividade das Escolas
DIREITO RECEÇÃO DO preeminência do jurídicas dos glosadores,
1248 – Início do
PORTUGUÊS DIREITO ROMANO Direito Comum comentadores e
Reinado de D. Afonso
DE INSPIRAÇÃO renascido E DO (ius commune) humanistas
III
ROMANO- DIREITO .Difusão do direito
1446/47 – Ordenações
CANÓNICA CANÓNICO comum por toda a
Afonsinas
renovado (Direito Europa (séc. XII) e em
Comum) Portugal (séc. XIII)
ÉPOCA DAS 1446/47 – Ordenações .Inicia-se com a
ORDENAÇÕES Afonsinas promulgação das
Segunda metade do Ordenações Afonsinas –
século XVIII
primeira compilação
oficial aplicável a todo o
país; representam o
iniciar de uma
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centralização legislativa
e emancipação do direito
pátrio frente ao comum.
Segunda metade do
século XVIII
(1769 - Lei da Boa
. O atual sistema jurídico português assenta
Razão
nos postulados da Lei da Boa Razão e dos
ÉPOCA DO e
Estatutos da Universidade
JUSNATURALISMO 1772 – Estatutos da
RACIONALISTA Universidade)
. Conceitos- chave: racionalismo,

1820 – Revolução iluminismo, usus modernus pandectarum,

Liberal Portuguesa individualismo, liberalismo político e


económico, positivismo jurídico, direito
PERÍODO DA
1820 – Revolução social
FORMAÇÃO DO ÉPOCA DO
Liberal Portuguesa
DIREITO INDIVIDUALISMO /
1914/18 – Primeira .Reflete as mudanças ocorridas no
PORTUGUÊS ÉPOCA LIBERAL
Guerra Mundial pensamento jurídico, num contexto de
MODERNO
A partir de 1914/18 – democratização económica e de
Primeira Guerra intervencionismo estatal na produção
Mundial legislativa, limitando o reduto intangível da
autonomia da vontade e da liberdade
(até aos dias de hoje)
ÉPOCA DO contratual.
DIREITO SOCIAL .Difunde-se a ideia de um direito social e
(Direito da 1ª
emerge o critério da justiça material na
República ≠ Direito do
solução de casos concretos
Estado Novo
Corporativo ≠ Direito
posterior a 1974)

 Fragilidades: - Segundo período demasiado extenso  Talvez fizesse mais sentido juntar o Período da
Individualização do Direito Português à Época da Receção do Direito Romano renascido e do
Direito Canónico renovado. O primeiro período contemplaria, assim, os primórdios do nascimento
do direito pátrio e a receção do direito comum.
- A segunda época, enquanto hiato temporal, tem características que permitem autonomizar
o segundo período, torná-lo independente.
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- Terceiro período demasiado ambicioso.  É precipitado tomar o presente como pretérito,


já que a investigação histórica carece de um certo distanciamento face à realidade (Nuno J.
Espinosa Gomes da Silva)

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