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45 anos de Independência:

Línguas Nacionais reclamam o seu Estatuto na


Legislação Moçambicana

Por: Anastácio Bernardo Massango*

As Línguas Nacionais Moçambicanas, reclamam um instrumento


juridico a ser aprovado pela Assembleia da Republica, cujo objectivo
principal é promover a inclusão social e fortalecer a unidade na
diversidade, o pluralismo cultural e linguístico.
O Governo através da Estratégia de Expansão do Ensino Bilingue
2020-2029 advoga que visa tornar a expansão do ensino bilingue
criteriosa, gradual e sustentável, pois o uso da lingua bulingue deve
servir de veiculo de ensino e aprendizagem nas escolas moçambicanas.
Como é sabido na República de Moçambique a língua portuguesa é a
língua oficial. (Artigo 10 da Constituição da Republica), e o Estado
valoriza as línguas nacionais como patrimonio cultural e educacional e
promove o seu desenvolvimento e utilização crescente como línguas
veiculares da nossa identidade. (Artigo 9 da Constituição da Republica).
Em função deste apanagio, constata - se que, a falta de um instrumento
jurídico que regula e promove a utilização das línguas nacionais em todo
o território nacional e em todos os órgãos de soberania do país, impõe
ao legislador rigor na sua abordagem quer na clarificação da igualdade
entre todas as línguas e suas variantes, quer na abordagem quer pelo seu
valor como património cultural do país, quer como uma das tarefas
fundamentais do Estado.
Contudo antes de se criar o instrumento juridico de Línguas Nacionais
deve haver uma de auscultação pública, considerando que as Línguas
Nacionais constituem um veículo fundamental para a Identidade
Cultural Moçambicana e jogam um relevante papel no reconhecimento
do Pluralismo Cultural e Linguístico Moçambicano.
Considerando que a Constituição da República de Moçambique, prevê
como tarefas fundamentais do Estado, a protecção, valorização e
dignificação das línguas moçambicanas de origem africana promovendo
o seu desenvolvimento, como línguas de identidade nacional e de
comunicação, o instrumento juridico deverá estabelecer os princípios
orientadores para a valorização, fomento, defesa e ensino das línguas
nacionais e das suas variantes locais, a serem observadas em todo o
território nacional. Moçambique tem duas variantes nomeadamente a
Língua Oficial, a língua à qual é conferido o privilégio de utilização no
quadro das actividades oficiais, sendo utilizada e obrigatoriamente em
todos os órgãos do Estado e pelas entidades privadas e a Língua
Materna, quer a língua nacional ou portuguesa que o indivíduo aprende
em primeira instância de vida.
A abordagem, do instrumento juridico, vai contribuir para preservar a
identidade nacional, dando a todos os cidadãos, as mesmas
possibilidades reais de acesso as instituições quer públicas e privadas.
Para o efeito deve se dar garantias aos cidadãos onde, todos os cidadãos
podem solicitar que o conteúdo de qualquer acto administrativo seja
traduzido na língua nacional que melhor entenda, quando não domine a
utilizada, e a obstrução da celeridade dos actos administrativos por
razões de natureza linguística, e quando não saiba ler e escrever a língua
em causa, deverá ser passível de responsabilização, dai que todo o
indivíduo deverá ter o direito de utilizar e ser abordado na língua oficial
ou materna, no seu contacto com os órgãos e serviços da Administração
Pública, e deverá ser proibido qualquer acto discriminatório por
desconhecimento da língua.
Com a abordagem acima, o Estado terá competências para o fomento,
estudo e divulgação das variantes das línguas nacionais, o que acontence
na emissão dos noticiários da TVM, em linguas nacionais.
Nas relações sociais as línguas nacionais devem servir de elemento de
identidade cultural, tendo sempre em conta o respeito pelos outros,
sendo fomentado, por isso o intercâmbio, o respeito e a tolerância pela
diferença cultural como fundamento da dignidade, responsabilidade e
lealdade patriótica.
Sendo assim, todos os cidadãos que melhor dominarem as línguas
nacionais devem contribuir para a sua difusão, traduzindo o pensamento
ou interpretando a mensagem do interlocutor ou ouvinte na língua em
que melhor possa ser entendida e será obrigação do Estado garantir que
a utilização das línguas nacionais não deturpe ou ofenda a honra, a
dignidade ou a identidade dos seus falantes.
Com uma lei do estatuto das linguas nacionais, os órgãos de soberania
podem, nos seus actos, utilizar as línguas nacionais, sem que no
desempenho das suas funções, sejam preteridos os princípios da
igualdade e pluralismo linguístico, como meios de dignificação e
unificação do povo Moçambicano, dai que as línguas nacionais
poderiam ser utilizadas nos debates das sessões na Assembleia da
Republica de modo que todos deputados intervenham nos debates,
sempre que existam condições técnicas e administrativas para que se
realizem traduções em simultâneo.
Salientar que com base em inventários de Firmino (2000),
Sitoe&Ngunga (2000) e Chimbutana (2012), pode-se dizer que as
línguas bantu mais faladas em Moçambique e as províncias em que são
faladas são as seguintes:
Maconde – Cabo Delgado, Mwani – Cabo Delgado, Yao – Niassa,
Nyanja – Niassa, Tete, Zambézia, Macua – Cabo Delgado, Nampula,
Niassa, Zambézia, Lomwé – Zambézia, Chwabo – Zambézia, Nyungwe
– Tete, Sena – Manica, Sofala, Tete, Zambézia, Cibalke – Manica, Ndau
– Manica, Sofala, Ciwutee – Manica, Cimanyika – Manica, Tshwa –
Inhambane, Bitonga – Inhambane, Chope – Inhambane, Gaza, Changana
– Gaza, Maputo Cidade, Maputo Província, Ronga – Maputo Cidade,
Maputo província (Cf. Chimbutana, F. “Línguas e educação em
Moçambique: Uma perspectiva sócio-histórica.” In Gonçalves, P. e
Chimbutane, F. (orgs) (2015) Multilinguismo e Multiculturalismo em
Moçambique: Em Direcção a uma Coerência entre Discurso e Prática,
pp 37-38. Maputo. Alcance Editores.)
A Constituição da República de Moçambique, que já foi traduzida para
duas linguas nacionais, ao Hino Nacional e a todas as disposições de
grande referência jurídico, social e económico, deveriam ser criadas
condições para a sua tradução em línguas nacionais e as leis aprovadas e
demais instrumentos jurídicos relevantes para as comunidades deveriam
ser divulgadas em línguas nacionais com aprovação pela Assembleia da
República de um instrumento jurídico que versa sobre a matéria.
*Licenciado em História
*Certificação em Administração Pública
*Licenciado em Direito

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