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INTRODUÇÃO
O alho (Allium sativum L.) é uma hortaliça rica em amido e substâncias aromáticas de
alto valor condimentar e possui ação fitoterápica com diversas propriedades farmacológicas.
Uma das espécies cultivadas mais antigas começou a ser plantado há mais de 5.000 anos pelos
hindus, árabes e egípcios. A espécie é originária da Ásia Central e sua introdução no Ocidente
se deu a partir de plantios na costa do Mar Mediterrâneo.
Devido a sua capacidade de armazenamento e conservação, o alho fazia parte do
cardápio da tripulação das caravelas portuguesas, proporcionando a introdução no Brasil na
época do descobrimento. Uma vez em solo brasileiro, ficou por mais de quatro séculos restrito
ao plantio de fundo de quintal, onde era cultivado em pequena quantidade para suprir a
demanda familiar. Somente em meados do século XX o cultivo começou a expandir-se,
ganhando importância econômica.
O Brasil se destaca como um dos países com maior consumo per-capita de alho,
aproximando-se de 1,5 Kg/habitante/ano. Entretanto, a produção no país em 2013 foi de
aproximadamente 107 mil toneladas, que corresponde apenas a um terço do consumo interno.
Para atender a grande demanda de consumo, que deve atingir 300 mil toneladas em 2015, o
Brasil tem importado grandes quantidades, principalmente da China e Argentina.
Os Estados do Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Santa Catarina, Goiás e Bahia
respondem por cerca de 90% da produção brasileira. Em 2003, Minas Gerais e Goiás
tornaram-se os maiores produtores, com produtividades médias em torno de 10 t ha-1, devido
a introdução do alho na região do Cerrado. Atualmente, as produtividades no cerrado
ultrapassam 15 t ha-1. Este sucesso deve-se aos incrementos no uso de tecnologias como
mecanização da maioria dos tratos culturais e da colheita, racionalização da irrigação,
adensamento de plantio, uso de cultivares de alho nobre, vernalização e melhoria na qualidade
da semente utilizada, principalmente pela introdução do alho-semente livre de vírus.
Este grande avanço tecnológico observado nos últimos anos 15 anos, a despeito da
disponibilidade de vastas regiões com potencial para produção do alho, não foi suficiente para
o Brasil aumentar as áreas de plantios, que se estagnou ao redor de 10 mil hectares e, desta
forma, o país encontra-se ainda muito distante da almejada autossuficiência na produção desta
condimentar.
DESCRIÇÃO BOTÂNICA
O alho pertencente à família Alliaceae, é uma planta herbácea, com folhas lanceoladas
(alongadas), estreitas e cerosas, podendo atingir até 60 cm de altura, dependendo da cultivar.
As bainhas das folhas formam um pseudocaule curto, em cuja parte inferior origina-se o
bulbo (Figura 1A). O caule verdadeiro (Figura 1B) é um disco comprimido sendo o ponto de
partida das folhas e das raízes, que são pouco ramificadas e com profundidade variando de 20
a 30 cm
A B
Figura 1. A) Planta de alho, com as bainhas e pseudocaule. B) Caule verdadeiro.
Fotos: Paula Rodrigues; José Luis Pereira.
A A
B
Figura 2. A) Bulbilhos com envoltório individual. B) Bulbos de alho envoltos por túnicas
brancas.
B
Fotos: José Luis Pereira.
O Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) divide em dois grupos
as variedades de alho, Branco e Roxo. O alho chinês é caracterizado na origem como Branco
Puro (Pure White) e Branco (White) na negociação com o seu importador brasileiro, já o alho
argentino é classificado na origem como Semente Chinesa, Branco e ‘Roxo’. O MERCOSUL
utiliza as denominações para os grupos Branco e Roxo, que inclui todas as cultivares de alho
coloridas. No grupamento de Alho Branco há predominância da coloração branca no bulbilho,
que pode apresentar listras arroxeadas ou de outras colorações enquanto que o do Alho Roxo
apresenta predominância da coloração roxa em todos os bulbilhos. No Brasil , as variedades
de alho mais cultivadas são divididas ainda nos grupos nobre (menos de 20 bulbilhos por
bulbo) e comum (mais de 20 bulbilhos por bulbo).
CULTIVO DO ALHO
Produção de alho-semente
Alho-semente
2
1ª opção Lavoura comercial 1000 m
50 m
1 ha
2ª opção
Lavoura comercial
1 ha 2
1000 m Alho-semente
Figura 4. Esquema de produção de alho comercial a partir de estoques básicos de alho livres
de vírus em telados individuais (1) e coletivos (2).
Um caso de sucesso da adoção da tecnologia do alho livre de vírus pode ser observado
na região de Cristópolis e Cotegipe, onde os produtores começaram a utilizá-la em 2002.
Antes da implantação da tecnologia, os produtores separavam os menores bulbos produzidos
para uso como alho-semente no próximo plantio, resultando no uso de semente ainda mais
infectada por vírus e produtividades frequentemente inferiores a 04 t ha-1. Com a introdução
do alho-semente livre de vírus foi possível, em um período de 05 anos, a substituição
gradativa da semente local, revertendo essa situação. Segundo dados do IBGE, a
produtividade média das lavouras de alho da região saltou de 4,5 toneladas em 2002, para 10
toneladas por hectare em 2009 (Figura 6), mesmo com uma redução na área plantada de 200
para 120 hectares neste período. Além do aspecto quantitativo, observa-se aumento da
porcentagem de alho de melhor qualidade, com bulbos maiores, que recebem melhor
remuneração no mercado. Com isso, os produtores que recebiam remuneração de R$ 0,93/Kg,
conseguiram aumentar o valor pago para R$ 4,50/Kg, permitindo que a receita com a cultura
do alho na região saltasse de R$ 200.000,00 para R$ 2.000.000,00, ou seja, um aumento de
90% na renda da região.
Classificação do alho-semente
Armazenamento do alho-semente
O bulbilho do alho entra em estado de dormência logo após a formação das folhas de
armazenamento e da gema de brotação. Assim, os bulbilhos não devem ser plantados logo
depois de colhidos, pois se encontram em estado de dormência que tem duração variável de
acordo com a cultivar e condições de armazenamento. A dormência do alho pode-se
prolongar por até 70 dias depois da colheita e sua intensidade diminui gradualmente com o
aumento do tempo de armazenamento.
É imprescindível que a superação da dormência do alho seja avaliada antes do plantio
para evitar sérias perdas de estande e de produtividade. Esta avaliação é feita por ocasião do
plantio cortando-se uma amostra de bulbilhos no sentido longitudinal para observação da cor
e do tamanho da gema de brotação. Pelo Índice Visual de Superação de Dormência (IVD)
calculado pela fórmula IVD = (A/B) x 100, onde A compreende o comprimento folha de
brotação e B, o comprimento do bulbilho, verifica-se o tamanho da gema de brotação e,
valores superiores ou iguais a 70% indicam que o alho-semente está adequado para o plantio
(Figura 8).
Outro parâmetro que pode ser utilizado é a coloração da folha de brotação, sendo que a
coloração branca indica estado de dormência do bulbilho e, à medida que a coloração muda
do creme para esverdeado o bulbilho esta apto para plantio.
B
A
Clima
O alho é uma planta originária da Ásia, de locais de clima frio. Para um bom
desenvolvimento vegetativo e produtividade, a cultura exige temperaturas amenas (18º a
20oC) na fase inicial do ciclo, temperaturas mais baixas (10º a 15oC) durante o período de
bulbificação e temperaturas mais elevadas (20º a 25oC) na fase de maturação.
O fotoperíodo ou comprimento do dia (número de horas entre o nascer e o pôr-do-sol)
é determinante para a formação do bulbo, assim algumas cultivares necessitam de dias mais
longos para bulbificação, sendo consideradas tardias, enquanto as precoces respondem ao
estimulo de dias mais curtos. Em condições de fotoperíodo insuficiente (numero de horas de
luz abaixo do mínimo exigido pela cultivar) ocorre apenas o crescimento vegetativo, sem
formação de bulbos.
As cultivares originárias do Sul do Brasil, que exigem mais de treze horas diárias de
luz e temperaturas mais baixas e somente bulbificam nas regiões Sudesde, Centro-Oeste e
Nordeste quando os bulbos são submetidos à vernalização em pré-plantio. Por outro lado,
cultivares de alho comum como Amarante, Cateto Roxo, Gigante Roxo e BRS Hozan quando
cultivadas em fotoperíodos longos como o da região Sul reduzem o ciclo cultural e antecipam
o inicio da bulbificação.
A formação do bulbo em resposta ao fotoperíodo acontece somente após a planta
receber o estimulo de baixa temperatura, que pode ocorrer tanto na parte aérea no campo ou
no alho-semente em câmara frigorifica antes do plantio.
O período de plantio se estende do final de fevereiro até junho nas regiões Sudeste,
Centro-Oeste e Nordeste. Porém, as melhores épocas de plantio são os meses de março e
abril. O período mais favorável para o plantio do alho esta relacionado com a procedência da
cultivar, a latitude e a altitude da região onde se vai plantar (Tabela 3). Temperaturas
relativamente baixas, seguidas por fotoperíodos crescentes favorecem o desenvolvimento das
plantas e estimulam a bulbificação. Próximo à colheita, a ocorrência de temperaturas mais
altas promovem a maturação dos bulbos. Essas condições ocorrem nessa ordem no Brasil
entre março e outubro.
Na região Sul o plantio é feito a partir de maio estendendo-se até julho. No caso de
plantios muito antecipados, a fase juvenil de crescimento da planta coincide com as condições
climáticas que favorecem a incidência da mancha púrpura das folhas. Por outro lado, plantios
tardios favorecem o aparecimento da ferrugem, podendo coincidir a colheita com o início do
período chuvoso e também a produção de bulbos pequenos.
Vernalização
Escolha do terreno
Deve-se dar preferência a solos leves, de textura média, ricos em matéria orgânica,
planos ou ligeiramente inclinados para permitir um bom preparo do terreno. O alho produz
bulbos subterrâneos, portanto, as características relacionadas acima aliadas ao plantio em
canteiros são imprescindíveis para se ter produtividades satisfatórias e bulbos com qualidade.
Assim, solos muito argilosos e pesados impedem o desenvolvimento normal do sistema
radicular, causam deformação dos bulbos e dificultam seu arranquio durante a colheita.
Em solos bem drenados, o encanteiramento não é necessário, mas desejável.
Entretanto, em terrenos sujeitos a encharcamento, este procedimento é indispensável. O
encanteiramento facilita os tratos culturais e as operações de colheita. Devem-se evitar solos
muito argilosos, por dificultarem a colheita, e os muito arenosos, por não reterem a umidade e
os nutrientes. Escolhido o terreno, deve-se retirar amostras do solo e enviar ao laboratório
para fazer a análise química, para verificar a necessidade de calagem e adubação.
Preparo do solo
Adubação
Nutrição de plantas
A extração de nutrientes pelo alho apresenta uma relação bastante direta com o
crescimento e desenvolvimento da planta. O crescimento da cultura se acentua a partir dos 60
dias e cessa aos 120 dias após o plantio, sendo que a bulbificação inicia-se por volta dos 70
dias, intensificando-se entre 90 até 130 dias após o plantio. Nas primeiras semanas após a
emergência, a folha de brotação utiliza apenas as reservas presentes nos bulbilhos e por isso a
extração de nutrientes do solo, é reduzida até os 45 dias. O nitrogênio e o potássio são
macronutrientes acumulados mais intensamente pelo alho, sendo os demais absorvidos em
menor quantidade, acompanhando a curva de crescimento da planta.
Os micronutrientes são acumulados ativamente, porém de forma inconstante, desde os
primeiros dias da cultura. O ferro é o micronutriente extraído em maior quantidade pelo alho,
destacando-se também o zinco e o manganês pela elevada absorção no período entre 120 a
135 dias após o plantio.
Calagem
O alho se desenvolve bem numa faixa de pH entre 5,5 e 6,5, sendo indispensável
proceder a calagem quando a acidez do solo for alta. O índice de saturação de bases ideal
deve estar em torno de 70%. A calagem fornece cálcio (Ca) e magnésio (Mg) como nutrientes
e elimina os efeitos tóxicos do alumínio (Al), manganês (Mn) e ferro (Fe). É aconselhável que
se aplique a metade do calcário antes da aração profunda e a outra metade antes da primeira
gradagem, para que haja uma boa incorporação e distribuição no perfil do solo.
Deve-se preferir o calcário dolomítico ou magnesiano, a fim de manter uma boa
relação cálcio:magnésio, que é importante no balanço de absorção de magnésio. A relação
ideal entre esses nutrientes, para a cultura é 4:1. A cultura do alho responde bem à aplicação
de cálcio e magnésio independente da elevação do pH. Em solos do Cerrado esses nutrientes
têm limitado a produção e conservação do alho.
Adubação
O alho apresenta boa resposta à adubação orgânica que pode ser feita tanto na forma
de composto, de esterco de gado ou de aves completamente curtido. Para o esterco de gado ou
composto, a quantidade recomendada é de 30 t ha-1. Quando o esterco for de galinha,
recomendam-se 10 t ha-1. A distribuição do adubo orgânico é feita a lanço sobre o terreno,
antes da última gradagem para uma boa incorporação.
A adubação química deve aplicada diretamente nos canteiros e incorporada. Em caso
de aplicação localizada, adubo químico dever ser colocado cerca de 5 cm abaixo e ao lado dos
nos sulcos de plantio, evitando contato direto com os bulbilhos.
A adubação foliar pode ser usada com êxito na cultura para correção de deficiências de
micronutriente como boro (B) e zinco (Zn) e também para adubação com uréia e sulfato de
Magnésio. Devido à intensa cerosidade das folhas, o uso de espalhante adesivo é fundamental
para se ter sucesso com esta prática.
Tabela 4. Adubação mineral NPK e de outros nutrientes sugerida para cultura do alho de
acordo com o nível destes nutrientes no solo.
Deve-se tomar cuidado com o nitrogênio (N), pois este nutriente em excesso pode
provocar o pseudoperfilhamento, principalmente em cultivares mais sensíveis a este distúrbio.
Para estas cultivares, a adubação nitrogenada em cobertura deve ser dividida em duas etapas.
A primeira é feita antes da diferenciação dos bulbilhos ou do inicio do estresse hídrico, ou
seja até 20 - 30 dias após o plantio. A segunda etapa é realizada com o retorno da irrigação,
logo após o fim do período de estresse hídrico, por volta de 60 dias após o plantio.
Para as cultivares insensíveis ao superbrotamento, a dosagem recomendada no
nitrogênio deve ser parcelada, sendo 1/3 no plantio e o restante dividido, metade aos 30 dias e
a outra metade 60 dias após a emergência.
Sistemas de plantio
Durante muitos anos o plantio do alho foi realizado em fileiras simples espaçadas 20 a
25 cm entre as linhas por 8 a 10 cm entre as plantas, gerando um estande de 400 a 600 mil
plantas por hectare. Atualmente recomenda-se que os espaçamentos sejam definidos em
função do tamanho/peso dos bulbilhos (Tabela 5) e, o uso do esquema de plantio em fileiras
duplas tornou-se corriqueiro, principalmente em sistemas mais tecnificados. O plantio em
canteiros largos com 4 linhas duplas tem sido preferido por alguns produtores, permitindo
simultaneamente uma melhor aeração e um maior adensamento da cultura. Nesse caso
utilizam-se espaçamentos de 30 a 40 cm entre fileiras duplas, 10 a 12 cm entre fileiras simples
e 8 a 10 cm entre plantas. Normalmente os bulbilhos são plantados a uma profundidade de 2 a
3 cm e os estandes, neste sistema de cultivo, variam de 350 a 450 mil plantas por hectare,
dependendo do espaçamento utilizado.
Irrigação
A cultura do alho é bastante sensível a falta de água, porém o excesso é tão prejudicial
quanto à falta. Desta forma, manejo adequado da irrigação é um fator determinante para uma
boa produção e conservação dos bulbos após a colheita. Enquanto a falta de água pode causar
reduções drásticas de produtividade, o excesso favorece o aparecimento de doenças, estimula
o pseudoperfilhamento e reduz a conservação dos bulbos no armazenamento.
As irrigações por aspersão, microaspersão por pequenos produtores e pivô central em
grandes áreas são as mais usadas atualmente. O uso de microaspersão com mangueiras
microperfuradas tem crescido em pequenas áreas e entre os agricultores familiares devido ao
baixo custo e facilidade de manuseio.
A aspersão tem sido o sistema de irrigação mais difundido para produção de alho, em
função do sistema radicular ser fasciculado e bastante distribuído no perfil do solo (atinge
profundidades de 40 a 80 cm), exigindo melhor distribuição e uniformidade da água, além de
exercer efeito no controle de ácaros e tripes pelo impacto da água. Estima-se que mais de 95%
da área de alho no Brasil seja irrigada por este método.
A B
C D
Figura 10. Opções para irrigação na cultura do alho: (A) pivot central, (B) aspersão, (C)
microaspersão e (D) mangueiras microperfuradas.
Fotos: Francisco Vilela Resende.
Ao longo de todo o ciclo a exigência total de água pelo alho varia de 400 a 850 mm,
dependendo das condições climáticas e ciclo da cultivar. No estagio inicial da cultura, que
pode variar de 15 a 30 dias, as irrigações devem ser leves e frequentes. A fase de crescimento
vegetativo que se estende até a diferenciação dos bulbilhos e posteriormente durante o
crescimento dos bulbos são os períodos mais sensíveis ao déficit hídrico, exigindo irrigações
mais pesadas para se ter mais umidade no perfil do solo, no entanto, com aumento no turno de
rega. Durante o período de maturação dos bulbos a irrigação deve ser reduzida em 25 a 35%.
Recomenda-se suspender a irrigação 5 a 20 dias antes da colheita dependendo do tipo de solo,
permitindo a obtenção de bulbos de melhor qualidade, com maio teor de sólidos solúveis e
pungência e, conservação durante o armazenamento.
Pseudoperfilhamento
O alho é uma planta que sofre bastante com a competição das plantas invasoras em
função do seu crescimento inicial lento, do porte baixo e da arquitetura das plantas com folhas
estreitas e eretas que não cobrem perfeitamente o solo. O período crítico de competição do
alho com as plantas espontâneas ocorre entre o 20º dia e o início da maturação dos bulbos. No
final do ciclo, apesar de não mais interferir na produção, as plantas daninhas dificultam a
colheita e aumentam o banco de sementes no solo. O controle pode ser feito por meio de
capinas (manuais ou com auxílio de enxadas) ou ainda com a aplicação de herbicidas.
A escolha do herbicida depende das espécies de plantas invasoras presentes na área e
do seu estádio de desenvolvimento. Alguns herbicidas devem ser aplicados e incorporados ao
solo antes do plantio. Outros devem ser aplicados após o plantio e antes da emergência das
plantas daninhas e do alho (pré-emergência). Também existe a possibilidade de utilizar
herbicidas que são aplicados após a emergência do alho e das plantas daninhas (pós-
emergência). Aplicações em pós-emergência apresentam bons resultados quando o mato
estiver com 2 a 3 folhas definitivas, aproximadamente 10 a 15 dias após o plantio do alho.
Para melhor eficiência, os herbicidas pré-emergentes devem ser aplicados em solo
seco ou úmido, bem preparado, bem destorroado e antes da cobertura morta. Deve-se tomar
cuidado para não aplicar em solos encharcados ou excessivamente úmidos. Para escolha e
utilização correta de herbicidas é recomendável que um Engenheiro Agrônomo seja
consultado.
A cobertura morta é uma prática opcional utilizada em algumas regiões produtoras de
alho, sendo relatados aumentos de até 30% na produtividade pelo uso desta prática. Seu uso
depende da disponibilidade de material para cobertura, custo de transporte e distribuição do
mesmo. A cobertura de um hectare de alho necessita de 300 m3 de palha e cerca de 60
serviços para sua colocação.
A prática da cobertura morta na cultura do alho oferece as seguintes vantagens:
- diminui a temperatura do solo;
- reduz a perda de água do solo por evapotranspiração, diminuindo necessidade de irrigação;
- reduz o impacto da chuva ou da irrigação sobre o solo, evitando erosão;
- dificulta o aparecimento de plantas invasoras;
- favorece a emergência da cultura.
O alho deve ser colhido quando aproximadamente 2/3 das folhas estiverem amarelas
ou secas. Nesta fase, os bulbos encontram-se fisiologicamente maduros e não haverá prejuízos
à conservação dos mesmos após a colheita. A colheita pode ser feita manualmente com
auxílio de ferramentas, mecanizada com máquinas desenvolvidas especificamente para este
fim ou através de uma lâmina tracionada por trator que desprende os bulbos e facilita a
colheita manual (Figura 12 A).
A B
C
A colheita deve ser feita em dias de sol e quando possível, pela manhã. A fase inicial
da cura ao sol pode ser feita no próprio local da colheita ou em terreiros. Nesta fase, os bulbos
são distribuídos um ao lado do outro em fileiras, de tal modo que os bulbos de cada fileira
sejam recobertos pelas ramas da fileira subseqüente (Figuras 12 B e C). A continuação da
cura é feita em galpões, à sombra. Recomenda-se curar por três a cinco dias ao sol, e
posteriormente por 20 a 50 dias à sombra.
É importante que durante a cura e o armazenamento por longos períodos os bulbos
sejam mantidos com folhas e raízes. Durante o período de cura ainda ocorre remobilização de
nutrientes para o bulbo a partir da parte aérea e raízes. No caso de armazenamento de alho-
semente, o toalete de folhas e raízes deve ser feito o mais próximo possível da época de
plantio.
A duração da cura à sombra varia de acordo com a modalidade da comercialização.
Em geral, o alho é trançado em réstias ou amarrado em molhos e pendurado com rama para
cima em galpões, onde fica aguardando o beneficiamento, para ser embalado e
comercializado. O armazenamento deve ser feito em local bem seco, bem ventilado e de
pouca luz (Figura 13).
A B
Figura 13. Cura e armazenamento em galpão na forma de réstias (A) ou molhos (B).
Fotos: José Luis Pereira; Francisco Vilela Resende.
A cura está completa quando as ramas estiverem com aparência bem seca, cor amarelo
palha, diâmetro do colo reduzido e a película externa do bulbo desprendendo-se com
facilidade. Para o alho nobre roxo, a cura em galpões acentua a coloração arroxeada da
película de proteção dos bulbilhos, valorizando e aumentando a aceitação deste tipo de alho
pelo mercado.
Para classificação devem ser seguidas normas da portaria nº 242, de 17/09/1992, do
MAPA, que prevê a classificação em grupos (alho nobre e alho comum), subgrupos (bulbos
brancos e bulbos roxos) e classes de tamanho. Entretanto, o mercado brasileiro convive com
outras classificação de alho por tamanho como as preconizadas pelo mercado chinês e pelo
MERCOSUL que tem sido adotada pelos grandes produtores de alho brasileiros (Tabela 6).
Embalagens e comercialização
Para ser comercializado no atacado para o mercado interno, o alho deve ser
acondicionado em caixas de madeira com testeiras oitavadas ou sacos de polipropileno,
ambos com capacidade para 10 Kg de bulbos. Os produtores maiores, que trabalham de forma
mais profissional e empresarial, já utilizam caixas de papelão pela facilidade de manuseio,
armazenamento e transporte (Figura 14).
A B C
Figura14. Sacos de ráfia, caixas de papelão e réstias para comercialização de alho.
Fotos: Francisco Vilela Resende (1); José Luiz Pereira (2,3)
Doenças
As doenças que atacam a cultura do alho podem ser separadas em dois grupos, as que
ocorrem no solo atacando os bulbos e as raízes e as foliares.
Em relação às de solo, a principal doença é podridão-branca, ocorrendo também a
fusariose ou podridão seca, a raiz rosada e o mofo cinzento.
A B
C
Figura 15. A) Escleródios de Sclerotiumcepivorum; B) Micélio característico da doença; C)
Ataque em reboleiras.
Fotos: Lenita Lima Haber; José Luis Pereira.
O fungo pode ser disseminado por meio dos bulbos infectados, da água de irrigação,
de ferramentas e maquinários utilizados em áreas infestadas e, em embalagens utilizadas para
transporte dos bulbos. O controle preventivo, como plantio de alho-semente oriundo de
regiões onde não há incidência da doença, tratamento do alho-semente com fungicidas
específicos, a solarização das áreas infectadas e a rotação de cultura por longos períodos são
as medidas mais indicadas para o manejo da doença, que pode inviabilizar o cultivo do alho
caso não seja controlada.
- Raiz rosada: o fungo Pyrenochaeta terrestres ataca somente o sistema radicular das plantas,
que tem seu desenvolvimento prejudicado em decorrência dos sintomas desenvolvidos. A
princípio, as raízes infectadas ficam rosa claro, depois escurecem para vermelho ou roxo,
murcham e morrem. A mudança da coloração das raízes varia em função da severidade e do
tempo de infestação, ficando mais escura à medida que a doença progride, sendo
caracterizado como principal sintoma para identificação da doença. As plantas infectadas são
facilmente arrancadas do solo, pois possuem pequena quantidade de raízes, o que leva
também a uma redução do tamanho dos bulbos. Não é uma doença de grande importância
para a cultura e seu desenvolvimento está relacionado à ocorrência da fusariose, que funciona
como porta de entrada para o fungo. Recomenda-se o controle preventivo, pois uma vez
instalado no solo torna-se difícil erradica-lo. A rotação de culturas, principalmente com
gramíneas, a solarização e o uso de sementes sadias são algumas medidas que podem ser
adotas.
Quanto às doenças foliares podemos citar a mancha purpura, a ferrugem e a queima
bacteriana (podridão das folhas). Maiores detalhes serão discorridos abaixo.
- Mancha púrpura: também conhecida por alternaria, é uma doença causada pelo fungo
Alternaria porri (Ellis) Ciff. é considerada como uma das doenças mais importantes da
cultura, podendo ocorrer em todas as áreas de produção no Brasil e, se não controlada pode
causar perdas superiores a 50% da lavoura, e dependendo do grau de infestação, pode acabar
com a lavoura em pouco tempo, uma ez que seu ciclo é curto, em torno de 4 dias (Figura 17).
A B C
Figura 20. Sintomas de bacteriose em folhas (A e B) e bulbos de alho (C).
Fotos: Carlos Alberto Lopes (1) e Francisco Vilela Resende (2)
Durante o armazenamento, os bulbos podem ser atacados por fungos dos gêneros
Penicillium, causadores do mofo ou bolor azul e pelo Embellisiaallii (Camp.) Simmons,
causador da cabeça negra.
- Mofo azul: caracteriza-se pela rápida perda de peso dos bulbos, os quais ficam chochos em
função do processo de deterioração dos bulbilhos. A parte externa pode ou não manifestar
sintomas, no entanto, quando debulhados, percebe-se um mofo de cor azul (Figura 21). Os
bulbilhos infectados (sem sintomas aparentes) e usados para o plantio desenvolvem lesões que
amolecem e ficam recobertas pelo mofo azul e rapidamente morrem. As plantas que superam
a doença tem seu desenvolvimento comprometido, formando bulbos de menor tamanho.
O fungo é disseminado pelo ar e, para que ocorra a infecção é necessário que haja
ferimentos nos bulbilhos. Temperaturas na faixa de 20º a 30ºC favorecem o desenvolvimento
da doença. O tratamento dos bulbilhos com fungicidas; a debulha manual, a fim de reduzir
danos mecânicos nos bulbilhos; o plantio e a colheita no tempo certo e armazenamento
apropriado são medidas de controle da doença.
PRAGAS
As principais pragas da cultura do alho são ácaros, tripes, pulgões e nematoides que,
além de causarem danos oriundos de seu ataque são vetores de algumas doenças, como as
viroses do alho.
- Tripes: considerados a principal praga do alho, Thripstabaci são insetos pequenos, medindo
de 1 a 1,2 mm de comprimento. Sua coloração varia de amarelo a acastanhado claro. O
aparelho bucal é do tipo picador sugador. As fêmeas fazem a postura na face inferior das
folhas e, quando eclodem, as ninfas de coloração amarelo-esverdeada, se alojam no interior
das bainhas, principalmente nas folhas centrais (Figura 23). Tanto os adultos quanto as ninfas
raspam e sugam constantemente a seiva das folhas. O sintoma característico do ataque é o
surgimento de manchas e estrias esbranquiçadas ou prateadas com posterior amarelecimento e
secamento das folhas.
Figura 23. Sintomas do ataque e presença de tripes em folha de alho.
Foto: José Luiz Pereira
Figura 26. Variação sintomatológica de plantas de alho infestadas por Ditylenchus dipsaci.
Foto: Jadir B. Pinheiro
A penetração nas plantas pode ocorrer pelos estômatos, lenticelas ou pelo ponto de
emissão das radicelas em crescimento. A umidade do solo parece afetar tanto o movimento
dos nematoides quanto sua longevidade. Durante períodos de precipitação ou irrigação da
cultura, tornam-se ativos, movem-se até as raízes da planta mediante película de água e
entram nas folhagens novas por meio dos estômatos.
Chuvas, água de irrigação, movimento de máquinas agrícolas e beneficiamento do
alho (restos do processamento) também causam a disseminação de uma área para outra, no
entanto, a principal forma de disseminação é por meio de tecidos vegetais (sementes, bulbos e
bulbilhos infectados), além de pequenas partículas de solo que podem acompanhar materiais
de alho.
A disseminação de D. dipsaci geralmente é mais lenta em solos argilosos comparado
com os solos arenosos. As densidades populacionais em solo flutuam ao longo do tempo,
dependendo do tipo de solo, condições climáticas, cultivar plantada e plantas hospedeiras
presentes. Geralmente, níveis de danos são detectados com populações de 10 juvenis e/ou
adultos por 500 g de solo.
A melhor forma de manejo para Ditylenchusdipsaci bem como para qualquer outra
espécie é a prevenção, pois uma vez presentes em áreas de cultivo sua erradicação torna-se
praticamente impossível, podendo inviabilizar áreas de plantio dependendo dos níveis
populacionais presentes, bem como o abandono de áreas por parte dos produtores. Assim,
conhecer o histórico da área, bem como a realização da amostragem para a detecção de
nematoides são medidas fundamentais para se evitar a presença destes organismos na cultura
do alho.
A utilização de sementes certificadas, no caso de bulbilhos, isentos do nematoide e o
plantio em solos não infestados é medida preventiva de extrema importância. Outra
alternativa de eficácia no controle de nematoides na cultura do alho é o plantio de propágulos
obtidos por meio de cultura de meristemas.
Outras medidas de manejo como o plantio de plantas antagonistas (crotalária -
Crotalariaspectabilis, C. juncea, C. breviflora; cravo-de-defunto - Tagetespatula, T. minuta,
T. erecta; as mucunas - Estizolobium spp.; e, mucuna-preta (Mucunaaterrima), o alqueive, a
eliminação de restos de culturas e plantas hospedeiras, a solarização e o uso da Manipueira
podem ser aplicadas na cultura do alho.
Figura 27. Adultos da traça do alho (A); lagartas recém-eclodidas (B); bulbos danificados el
função do ataque das lagartas (C).
Fotos: Miguel Michereffi Filho.
Os sintomas da presença dessas pragas caracterizam-se pelo surgimento de bulbos
chochos e de fezes isoladas ou ligadas entre si por fios de seda, que formam longos cordões
sobre os bulbilhos.
A manutenção da limpeza dos armazéns, deixando-os isentos de restos de alhos de
safras anteriores, bem iluminados e com boa ventilação são medidas de controle, uma vez que
armazéns sujos, escuros e abafados favorecem a infestação e o desenvolvimento das traças.
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