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I MANIFESTO JUDEU MESSIANICO .. *. % 9 1 MANIFESTO
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Um desafio, tanto para os juda* que honrm Yeshua (A& "


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,fonte de informaçb para outros, quer sejam a favor, quer .
owstOg, OU apenas curiosos.

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1986, bisneb de doi8 doe pdmelm vinte judeus


da oldade. Obtave Ph.D, em eeoncmia ne Unhrer:
aidade de Prlnceton e foi W m r na U n M - '
de da CalMrnIa Em 1972 abriu-se h f6 em Ye-
ahua; obteve, então, o dlpbma de h4a8ter of DM-
nity do Fuller Theobgical Semlnaiy e fez trabalho
de araduaoáo na' Unlvsrsiiy of Judaism Csurou-c.
em1976 & Martha ~rankel,tambám judla mi&
sidnica, e juntas servlrm um ano na equipe cio
"Judeus para Jesus". Dau o primeiro curso &
"Judaiam and Chrlstfanity" no Fullsr Seminary, w-
ganbou congnssos judeunieselân@ e encontros d e l l d ~ a W Serviu
k ~ iambOm
na hhslank Jewlsh Alllsince of Amerlca h 1979 a femllla Stem fez aüyeh (d-
grou para i6raelk agora moram em Jefusalh can seus dols fllh08. O Dr. %rai>
eacnveu RESTAURANDOO JUDA~MO00 EVANQELHOe widpreparando o .
NOVO. TESTANIEHTO JUDAICO, sua prbpda traduçúo do Npm Testamenio db
origlnal grego de uma forma que saliente seu Judeiemo, a c ~ ~ d dod 88~ poq.
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David H. Stern

MANIFESTO
JUDEU
MESSIÂNICO

v EDIÇOES LOUVA-A-DEUS
COMUNIDADE EMAMUEL
I DESTINO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
A. A Alta Vocação de Deus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
B. Plano do Livro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1. A Quem se Destina -
2. A Visão de Conjunto -
C. Desafios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
D. Manifesto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
Copyright 1988 por David H.Stem E.Ecos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
Jewish New Testament Publications
78 Manahat, 96901 Jerusal15m, Israel. I1 IDENTIDADE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1989, A. Por que o Judaísmo Messiânico? . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Direitos da -50 BrasileirxIComunidade Emanuel 1. Construindo um Caso -
EdpFões Louva-a-Deus, Caixa Postal 941 2. Oposição Judaica -
20001 - Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 3. Oposição Cristã Gentia -
a. Separatismo: Reconstruindo o "Muro
Tradução de Áurea Weissenberg e Teresinha Austregésilo. Divisório do Meio" -
b. Não Mais Judeu, e Sim Cristão -
c. Orgulho da Judaicidade, Comparação Invejosa com
os Crentes Gentios -
d. Super-ênfase Herética no Judaísmo -
e. Judaizando -
f. Artificial, Não Natural -
B. "Judeu Messiânico - Definições . . . . . . . . . . . . . . . . . 15.
1. Quem E Judeu? -
2. Quem E Messiânico? -
3. Quem E Judeu Messiânico? -
4. Judeu Sub-Messiânico -
5. 100% Messiânico e 100% Judeu -
6. O Desafio de Ser Judeu Messiânico -
C. Terminologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1. Alternativas Para o Termo "Judeu Messiânico"-
2. "Judeu Messiânico", Objeções e Respostas -
3. "Messiânico" Versus "Judeu Messiânico" -
4. São "Cristãos" os Judeus Messiânicos? Parte I:
"Cristão" no Novo Testamento -
HIST~RIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . IV TEOLOGIA ...............................
......... 79
A. História - A Chave de Tudo . . . . . . . . . . . A. Necessidade de Uma Teologia Sisteniática
1. Com o Foco Alhures - .........
Para o Judeu-messiânica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
'2. As Três Perguntas Básicas - 1. Teologia Orientada Para o Consumo e os
3. O Significado da Vida - Quatro Públicos -
4. Coiaborando coni Deus Para Fazer Sua Vonl 2. Diferenças Dentro dos Quatro Públicos -
5. O "A" e o "Z"- Apatia e Zelo - tade -
6. Judaísmo Messiânico no Centro da História - B. Observações Iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
7. Judeus Messihicos! Sua História Determina- 1. Nossos "Inimigos" São Nossos Melhores Amigos -
Vocação - Sua 2. O Espectro Ortodoxo-Liberal -
3. Mesmas Conclusões, Diferentes MetodoIogias:
B. Israel, Igreja e Judeus Messiânicos . . . . . . .
1. A Sabedoria Convencional - ......... Usando a Agenda Teológica Judaica -
4. Lidando com o Judaísnlo Secular -
2. Exercício de Lógica: Toda a Humanidade Dil 5. Teologia Judaica do Cristianismo -
3. Uma Pergunta Empírica: Existem Judeus ~ e ~ ~ cemf -e - ~ ~
:ssianicos? - 6. Teologia Cristã do Judaísmo -
4. Teologia da Oliveira -
C. Teologia Propriamente Dita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
C. Judaísmo Messiânico e História . . . . . . . . .
......... D. Pecado, Expiação, FB, Obras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
D. Judaísmo Messiânico e Histúria Judaica . . . . 1. O Homenl A Imagem de Deus -
1. Participani os Cristãos Gentios da Históna Ji . * ' ' - ' ' ' ' 2. Pecado -
2. Porque a Hist6ria Judaica E a Minha ~ i s t d r i d . -~ ~ ~ ~ ~ ? 3. Arrependimento, Expiação, Perdão -
3. Porque os Judeus Messiânicos São Judeus - Ia - 4. O Dever Moral do Honienl -
4. Atitudes judaicas para com Yeshua e o Novt 5 . FéeObras-
Testamento - O
'
E. O Povo de Deus: Alianças, Corporatividade, Promessas e
E. O Judaísmo Messiânico e a Igreja . . . . . . . . o Evangelho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
1. Neurose nc 1: Anti-judaísmo - .......... 90
1. Alianças -
2. Neurose nc 2: Anti-cristianismo - a. Todas as Cinco Alianças Estão Até Hoje em Vigor -
3. Sem Neurose - b. Carta aos Judeus Messiânicos (Aos Hebreus) 7-8 - A
4. Atitudes Cristãs Gentias para com os "Antiga" Aliança Foi Abolida pela "Nova"? -
Judeus Messiânicos - 2. Aspectos Corporativos do Evangelho -
F. História do Judeu-Messiânica . . . . . . . . . . 3. Yeshua E Identificado Com o PGVOde Israel -
1. Exame da História do Judeu-Messiânica - ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' 4. Deus Cunlprirá Suas Proniessas ao Povo Judaico -
2. Livros sobre a História Judeu-Messiânica - a. O Novo Testamento o Prova -
b. O Taizakh o Prova -
G. Relações Judeu-cristãs . . . . . . . . . . . . . .
1. Oposição - .......... c. Refutação dos Argumentos de que Deus Não
Quer Mais Saber dos Judeus (2 Coríntios I,20,
2. Separatismo -
Mattityahu (Mateus) 5,17) -
3. ToIerhcia -
5. A Promessa da Terra -
4. Sincretismo - 6. A Promessa do Reino -
5. Assimilação - 7. Conclusão -
6. Concessões -
7. Evangelização, Conversão e Competição - F. Escatologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
8. Reconciliação - 1. O Messias -
2. Reconipensa e Punição -
H. Existem Judeus Messiânicos Cristãos? 3. Profecia do Fin~dos Tempos -
Parte 2: Debate Aberto . . . . . . . . . . . . . .
.......... G. Inspiração e Autoridade da Escritura . . . . . . . . . . . . . . 108
1. O que Constitui a Palavra de Deus? -
2. O Judaísmo do Novo Testamento -
111 HISTÓRIA ................................ LV TEOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
A. História - A Chave de Tudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A. Necessidade de Uma Teologia Sistemática
Com o Foco Alhures -
1. Para o Judeu-messiânica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
' As Três Perguntas Básicas -
2. 1. Teologia Orientada Para o Consumo e os
O Significado da Vida -
3. Quatro Públicos -
Colaborando com Deus Para Fazer Sua Vontade -
4. 2. Diferenças Dentro dos Quatro Públicos -
5.
O "A" e o "Z" - Apatia e Zelo - B. Observações Iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
Judaísmo Messiânico no Centro da História -
6. 1. Nossos "Inimigos" São Nossos Melhores Amigos -
7.
Judeus Messiânicos! Sua História Determina Sua 2. O Espectro Ortodoxo-Liberal -
Vocação - 3. Mesnias Conclusões, Diferentes Metodologias:
B. Israel, Igreja e Judeus Messiânicos . . . . . . . . . . . . . . . .
Usando a Agenda Teológica Judaica -
4. Lidando com o Judaísmo Secular -
1. A Sabedoria Convencional -
2. Exercício de Lógica: Toda a Humanidade Divide-se em - 5. Teologia Judaica do Cristianismo -
6. Teologia Cristã do Judaísmo -
3. Uma Pergunta Empírica: Existem Judeus Messiânicos?-
4. Teologia da Oliveira - C. Teologia Propriamente Dita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
C. Judafsmo Messiânico e História . . . . . . . . . . . . . . . . . . I>. Pecado, Expiaqão, Fé, Obras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
1. O Honieni A Iniageni de Deus -
D. Judaísmo Messiânico e História Judaica . . . . . . . . . . . . . 2. Pecado -
1. Participam os Cristãos Gentios da Históna Judaica? -
3. Arrependimento, Expiação, Perdão -
2. Porque a História Judaica E a Minha História -
3. Porque os Judeus Messiânicos São Judeus - 4. O Dever Moral do Homem -
4. Atitudes Judaicas para com Yeshua e o Novo 5. Fé e Obras -
Testamento - E. O Povo de Deus: Alianças, Corporatividade, Promessas e
E. O Judaísmo Messiânico e a Igreja . . . . . . . . . . . . . . . . . o Evangelho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
1. Alianças -
1. Neurose n": Anti-~udaísmo-
2. Neurose nv 2: Anti-cristianismo - a. Todas as Cinco Alianças Estão Até Hoje eni Vigor -
3. Sem Neurose - b. Carta aos Judeus Messiânicos (Aos Hebreus) 7-8 - A
4. Atitudes Cristãs Gentias para com os "Antiga7' Aliança Foi Abolida pela "Nova"? -
Judeus Messiânicos - 2. Aspectos Corporativos do Evangelho -
3. Yeshua E Identificado Coni o Pouo de Israel -
F. História do Judeu-Messiânica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4. Deus Cumprir&Suas Promessas ao Povo Judaico -
1. Exame cla História do Judeu-Messiânica - a. O Novo Testamento o Prova -
2. Livros sobre a História Judeu-Messiânica - b. O Tanakh o Prova -
G. Relações Judeu-cristãs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . c. Refutação dos Argumentos de que Deus Não
1. Oposição - Quer Mais Saber dos Judeus (2 Coríntios 1,20,
2. Separatismo - Mattityahu (Mateus) 5,171 -
3. Tolerância - 5. A Proniessa da Terra -
4. Smcretismo - 6. A Promessa do Reino -
5. Assim~laçáo- 7. Conclusão -
6. Concessões - F. Escatologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .106
7. Evangelizaçáo, Conversão e Competição - 1. O Messias -
8. Reconciliação - 2. Recon~pensae Punição -
H. Existem Judeus Messiânicos Cristãos? 3. Profecia do Finí dos Tempos -
Parte 2: Debate Aberto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . G. Inspiração e Autoridade da Escritura .............. 108
1. O que Constitui a Palavra de Deus? -
2. O Judaísmo do Novo Testamento -
3. Anti-semitismo no Novo Testamento? - 6. Cristãos Gentios e Judaísmo Messiânico -
a. Conversão de Cristãos Gentios ao Judaísmo -
H. ApologBtica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . b. Casamentos Entre Judeus Messiânicos e
Cristãos Gentios -
V TORAH . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . c. Casamento Misto Entre Cristãos Gentios
A. A Terra lnc6gnita da Torah . . . . . . . . . . . . . . . . . . e Judeus-Messiâniws -
1. A maior Deficiência da Teologia Cristã - d. A Legislação de Práticas Judaicas nas Reuniões
2. Nomos no Novo Testamento - Judeu-messiânicas -
a. Romanos 10,4 - O Messias Pôs Fim à Lei? - e. Maneiras Pelas Quais os Cristãos Gentios Podem
b. "Sob a Lei" e "Obras da Lei" - Ajudar o Judaísmo Messianico -
c. Gáiatas 3,lO- 13 - Redimidos da Maldição da Lei? - 7. Judaísmo Messiânico e a Comunidade Judaica -
d. Judeus Messiânicos (Aos Hebreus) 8,6 - a. Pode o Judaísmo Messiânico Ser um Quinto Ramo
A Nova AIiança Foi Dada Como Torah - do Judaísmo? -
3. Evangelho Com Uma Lei Cancelada não É b. A Respeito da Estrutura da Comunidade Judaica -
Nenhum Evangelho - c. Comportamento de Judeus Messihicos
B. A Torah do Messias, Árvore de Vida . . . . . . . . . . . . em Ambiência Judaica Não-Messiânica -
1. Devem os Judeus Messiânicos Observar a Torah? - d. Em que Tipo de Judaísmo Deve o Judaísmo
2. O que se Quer Dizer com "A Torah"? - Messiânico Buscar Padróes? -
3. Devem os Judeus Messiânicos Obedecer à Torah e. Tdpicos de Especial Interesse Para a Comunidade
Corno Compreendida no Judaísmo Ortodoxo? - Judaica -
4. A Torah E Hoje a Torah do Messias - f. O Imperativo Evangelístico -
5. Quem Tem o Direito de Determinar o que 6 a Torah? - 8. Conclusão: Torahl Toraht TnraW -
6. Qual 6 o Papel da Haiakhah? Ou: Por que a Lei Oral
era Oral Ou O que Significa "Observar" a Torah? - VI SANTIDADE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171
7. Torah Para os Gentios? - A. O Peso da Santidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171
C. Questões Hdáquicas no Judaísmo Messiânico . . . . . . . B. Planejamento Versus Santidade? . . . . . . . . . . . . . . . . . 172
I. Introdução -
C. Três Níveis de Santidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 172
2. O Halakhot do Novo Testamento - 1. Santidade Individual -
a. Yochanan (João) 7,22-23 - 2. Santidade Interpessoal -
b. Gálatas 2,ll- 14 - 3. Santidade Comunitária -
c. Marcos 7,l-23 -
d. A ~ O10,9-17,28
S - D. Ser Santo Implica Ser Salvo - e Vice-Versa . . . . . . . : . . 175
3. Outros Materiais a Usar-se na Criação da E. Poder . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .176
calakhah da Nova Aliança -
4. Areas de Halakhak da Nova Aliança VIIPROGRAMA . . . . . . . . . . . . i . . . . . . . . . . . . . . . . . 179
Para os Judeus -
a. Vida Particular e Familiar - A. A Comunidade Judeu-Messiânica Hoje -
b. Calendário e as Festas - 1. Números, Estrutura -
c. Etica e Moral - 2. O que nos Une-
5. Vida Congregacional - 3. O que nos Divide -
a. Sinagogas Messihicas - B. Programática e Judaísmo Messiânico . . . . . . . . . . . . . . 181
b. Horário das Reuniões -
C. Instituições de que Precisamos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183
c. Kippah - 1. Precisamos, Afinal, de Alguma Instituição? -
d. Fazendo Mau Uso das Coisas Santas Judaicas? - 2. Organização de Amplo Movimento
e. Rabis Messignicos - ("Denominacional') -
f. Liturgia Judeu-messiânica -
3.Necessidades Comunitárias - EVANGELHO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 217
4.Instituições Educacionais -
5.Instituiçóes Profissionais - EVANGELHO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 217
D. A Literatura de que Precisamos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 190
1.Traduções e Comentários da Bíblia - d. Romanos 1,16 - O Evangeiho É "Especialmente
2.Outros Livros Acadêmicos e de Informação- Para os Judeus" -
3. Biografias e Testemunhos -
4.Outros Livros - D. Bênçãos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 235
5.Livros Infantis - 1. Como Será a Abençoada Igreja? -
6. Periódicos - 2. Como Será Abençoado o Povo Judaico? -
7. Ficção, Poesia, Drama -
8. Outros Meios de Comunicação - ~ N D I C EDE VERS~CULOSDA ESCRITURA E
OUTRA LITERATURA PRIMITIVA . . . . . . . . . . . . 241
E. Judaísmo Messiânico e IsraeI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 195
1. Israel, Centro do Judaísn~oMessiânico -
2. A Comunidade Judeu-Messiânica em Israel Hoje -
3. Judeus Messiânicos e Aliyula -
4. Programa Judeu-Messiânico Relativo a Israel -
d. Romanos 1,16 - O Evangelho É "Especialmente
F. Em que Direção? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 210 Para os Judeus" -
APÊNDICB: RESTAURANDO O J U D A ~ S M ODO D. Bênçãos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 235
EVANGELHO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 217 1. Como Será a Abençoada Igreja? -
2. Como Será Abençoado o Povo Judaico? -
A. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 217
B.Contextualização Versus Restauração . . . . . . . . . . . . 218 ~ N D I C EDE VERS~CULOSDA ESCRITURA E
\
1. Cristianismo e Cultura - OUTRA LITERATURA PRIMITIVA . . . . . . . . . . . . . . . 241
a. "Judaísmo Transcultural" -
b. Cristianismo Não-Transcultural -
c. "Agora que Você E Cristáo, Coma um Sanduíche
de Presunto! " -
2. Contextualizando o Evangelho -
a. Contextualizando o Evangelho para os Judeus -
b. Evangelização Tipo I, Tipo 11 e Tipo 111-
c . Onde Entram os Judeus? -
3. Nada de Contextualização, e sim Evangelização Tipo 1V -
4. Que se Quer Dizer com "Restaurando"? -
C. Pressupostos da Restauração do Judaísmo do Evangelho . . 227
1. O Cristianisn~oE Judeu -
2. Anti-semitisrno é Anti-Cristão -
3. Recusa ou Negligência de Evangelizar os Judeus
E Anti-seniitismo -
a. .+
Negligência Benigna dos Judeus
E Anti-semita -
b. A Neghgêpccia Proposital, Justificada pela
Hist6ria, E Anti-semitismo -
c. Negligência Proposital, Justificada pela
TeoIogia; 6 Anti-seniitismo -
Este manifesto é dirigido primordialmente aos judeus mes-
siânicos, apresentando elementos de ideologia, teologia e progra-
ma, num chamado à ação. Espero, contudo, que seja também in-
formativo para outras pessoas, sejam elas favoráveis, contrárias
ao nosso movimento, ou apenas curiosas.
A maioria de seus fatos e idéias 6 de domínio público, mas
a apresentação, as ênfases e conclusões são minhas. Não espero
concordância total nem de amigos, menos ainda dos detratores do
movimento. Mas não é preciso estar de acordo com um livro para
considerá-lo útil. Se os leitores me transmitirem suas críticas, tal- ,

vez em edição futura eu seja capaz de meihorar o que escrevi.


Conjuguei o Apêndice com partes dos capítulos III. IV
e V, formando um livro condensado, entitulado Restoring theJe-
wishness of the Gospel (Restaurando o Judaísmo do Evangelho),
destinado em especial aos cristãos gentios. E sua finalidade apre-
sentar algumas das idéias deste livro de forma abreviada. Quem
tiver lido o Manifesto não p i s a ler Resturing. Quem ler Resto-
ring e conservar dúvidas, quiser explorar mais profundamente as
questões, ou compreender melhor o meu ponto de vista deve ler o
Manifesto. O Apêndice contém um quadro que expõe minuciosa-
mente a relação entre os dois livros.
Entre as muitas pessoas que contribuíram para os meus
critérios desejo reconhecer explicitamente a ajuda e amizade de
quatro judeus messiânicos israelenses: Joseph Shulam, fundador
da organizaqão e congregação "Netivyah" de ~erusa1ém;'Shirae
Ari Sorko-Rarn, de cuja congregação fizemos parte quando.vi-
1
víamos em Ramat-HaSharon; e, acima de todos, Martha Stem,
minha mulher - Eshet chayil uni matzati! Mas só eu sou respon-
sável pelo conteúdo do livro.

David H. Stern
78 Manahat
96901 Jerusalém
Israel
DESTINO
5 Iyar 5748 (21 de abril de 1988)
400 Aniversário do Estado de Israel
A. A ALTA VOCAÇÃO DE DEUS
A finalidade do povo judaico é louvar, agradecer, confes-
sar, obedecer e tomar conhecido o Deus vivo - nas palavras de
Isaias. ser a luz das nações1. Mas o povo judaico jamais será a luz
das nações se não der relevo àquele que é a luz do mundo.2
O objetivo da Comunidade Messiânica de Deus (que os
gentios cristãos chamam Igreja) é louvar, agradecer, confessar,
obedecer e tomar conhecido o Deus vivo - nas palavras de Ye-
shua, fazer discípulos de todas as nações3, para que por seu in- '
termédio se aproximem os que se acham afastados da comunidade
de Israel4. Mas a Igreja nunca aproximará os outros de Israel se
não vivenciar, expressar e saborear seu íntimo envolvimento com
o povo judaico; e o conflito Igreja-Sinagoga não a preparou para
isso.
O tema central deste livro é: sem o Judaísmo Messiânico -
o Judaísmo que aceita Yeshua (Jesus) como o Messias - tanto o
povo judaico como a Igreja deixarão de atingir suas verdadeiras e
gloriosas metas.
A idéia não é nova. Na verdade tem dois mil anos de exis-
tência; mas há séculos sua expressão social permanece adormeci-
da. Nos últimos vinte anos, porém, uma constelação singular de
fatores sociais, históricos, políticos, teológicos e espirituais trou-
xeram vida nova ao movimento judeu-messiânico, e em resultado
ele vem atraindo a atenção de diversos setores. Confio em que a
comunidade judeu-messiânica ser6 o veículo da cura do pior cis-
ma na história mundial, a cisão entre cristãos e judeus. ajudando
ao mesmo tempo a ambos no cumprimento do seu chamado divino. refas na construção da comunidade judeu-messiânica, apresentar
Os dois parágrafos acima não são simples retórica. confor- aspectos do Evangelho aos judeus à maneira judaica, instruir em
me pensariam alguns, pois dos cinco bilhões de pessoas que po- aspectos esqu~,iidosdo evangelismo judaico, incrementar a per-
voam o mundo, mais de um bilhão entitularn-se cristãos, com uma cepção do judaísmo na ié neotestamentária. e facilitar a tolerância
história de dois mil anos; e cerca de quinze milhões de judeus têm e o incrementn !a comunidade judeu-messiânica peIos gentios
uma história de quatro mil anos. Será possível que cem mil judeus cristãos, pelos jiir;,=vsnão-messiânicos e pelo restante do mundo.
messiânicos, lutando para criar um movimento a partir, pratica-
mente, do nada. venham a tornar-se o veículo para dissipar as B. PLANO DO LIVRO
contradições, as discórdias. as diferenças, os ódios, violências,
desentendimentos e recusas de comunhão que entrevaram as rela- 1. A Quem se Destina
ções entre os dois ramos separados do novo povo de Deus? E Quando eu disse, ao rabino da sinagoga por mim frequen-
possível e acontecerá. tada desde pequeno, que era judeu messiânico, ele replicou que
Por que? Porque Deus fará com que aconteça: assim disse cu estava tentando me sentar no espaço entre duas cadeiras - o
o Senhor na Escritura - que consiste na Bíblia hebraica e no No- vácuo! De certo modo este livro é uma resposta a isso. embora
vo Testamento. Deus, através da nova Aliança instituída por Ye- não dirigida primordialmente a ele. ou aos judeus náo-messiâni-
shua, o Messias judeu, com a casa de Israel e a casa de Judá, gra- cos em geral. A exceção do Apêndice, seu público também não
vará a Tomh no coração dos judeus; a Igreja obedeced ao seu são os cristãos gentios. muitos dos quais tem as suas dúvidas com
mandato para proclamar o Evangelho pelo mundo inteiro; a tota- rela<;ãoao judaísmo messiánico. Mas ambos são convidados. as-
lidade dos gentios entrará e todo; o Israel será salvo." sim como os gentios não-cristãos, a ler este livro juntamente com
Assim, o destino do Judaísmo Messiânico é viver o fato de os judeus messiânicos, para quem ele pretende ser um grito de
ser simultaneamente 100% messiânico e 100% judaico, rejeitando convocação. galvanizando as tropas e conduzindo-as à açio.
o "um ou outro" exigido por muitos cristãos e judeus e, através
de sua própria existência e auto-expressão. acarretando a recon- 2. A Visão de Conjunto
~ i l i a ~ ãEventualmente
o.~ isto se centralizará em Israel, a terra que
Deus prometeu ao povo judeu. O movimento proporcionará a Contudo, ainda nem sequer definimos o judaísmo messiâ-
matriz do crescimento do judaísmo e do verdadeiro cristianismo. nico, ou justificamos seu direito a existência; isto será feito no
para auxiliar a ambos no cumprimento dos seus justos objetivos. capítulo 11. No capítulo I11 examinaremos a história - judaica,
Será o meio de evangelizar o povo judaico como corporaçáo, co- cristã, judeu-messiânica - e a filosofia da própria história - a fim
mo povo. de demonstrar porque o judaísmo messiânico deveria ter, deve ter,
Mas esta vitória do judaísmo messiânico - que será vitória e de fato tem o papel central para ele reclamado.
de todos, não apenas dos judeus messiânicos - não se deverá ao Os dois capítulos seguintes tratam de teologia. O capítulo
nosso poder ou número, pois somos bem poucos; mas, de um la- PV é dedicado as questões preliminares e outras questões impor-
do, porque o judaísmo messiânico é certo, uma idéia que flores- tantes que o judaísmo messiânico deve abordar, enquanto o capí-
ceu quando chegou o seu tempo, uma solução radical que é a coi- tulo V, o mais longo do livro, trata da questáo-chave não solucio-
sa mais natural do mundo e, de outro, porque com Deus todas as nada entre judaísmo e cristianismo, o papel d a Torah ("a Lei")
coisas são possíveis. em relação à Nova Aliança.
Para promover esta vitória universal, os objetivos deste li- O capítulo VI trata da santidade, fundamental a qualquer
vro são fortalecer o compromisso pessoal com Deus e seu Mes- visão ou programa do judalsmo messiânico. No capítulo VIl, após
sias. esclarecer o que é a identidade judeu-messiânica, sugerir fa- &#naapreciação da posição atual do judaísmo messiânico. traçarei
em grandes linhas um programa para o nosso movimento. Final- antigafen ("golpear") e relaciona-se com as palavras "defender",
I
mente, no Apêndice, p e ~ oaos cristãos gentios fazerem o possível "ofender" e "infestar". Manifesm significa "palpável, claro,
no sentido de ajudar a restaurar o judaísmo do ~van~e1ho.n Óbvio, aparente. evidente". Golpear com a mão toma palpável
(literalmente!) a presença de uma pessoa - Óbvia, evidente. mani-
C. DESAFIOS festa. O Webster's Third Bntemtional Dictionaly define "mani-
O movimento judeu-messiânicoestá ganhando terreno. mas festo" como "Capaz de ser pronta e imediatamente percebido ...
o tempo passa. Vários dos nossos pioneiros faleceram sem ter não oculto ou escondido ... Capaz de ser facilmente compreendi-
vislumbrado a realização do seu objetivo, e muitos outros irão pa- do, ou reconhecido pela mente. não obscuro, óbvio". O dicioná-
ra o Seaabor sem terem visto' todo o Israel salvo e a Igreja apre- rio define "manifesto" como: "Uma declaração pública de inten-
ciando o que significa estar inserido em raízes judaicas e agindo ções, motivos. ou pontos de vista; uma declaraqão pública de po-
de acordo. Mas aqueles que trabalham para esta meta terão a sa- lítica. ou opinião".
tisfação de saber que participaram daquilo que Deus considera a Chamei este livro de manifesto porque estou expondo uma
cura mais importante do mundo. Avante! Ser judeu messiânico é, ideologia e um programa que. segundo espero. será prontamente
com certeza, a maneira mais emocionante de ser judeu! percebido. facilmente compreendido pela mente. palpável. claro.
Para que os gentios cristãos não pensem que eu julgo terem simples e óbvio; sem elementos ocultos. ou obscuros. Mas trata-se
os judeus messiânicos status mais elevado que o deles no Reino de um tipo especial de manifesto. O mais famoso documento do
do Céu quero dizer, logo de saída, que todos os seguidores de mundo com esta forma literária é o Manifesto Comunista de Karl
Yeshua são iguais. Sua salvação é idêntica, devida somente à Mam e Fríedrich Engels; a história do século vinte seria impensá-
graça de Deus que concede o perdão efetivo através do nosso vel sem ele. O mais conhecido dos manifestos judaicos é O Esta-
Messias. Se algo dito neste livro aparentemente sugerir o contrá- do Judaico, de Theodor Herzl. no qual o jornalista austríaco ex-
rio deverá ser entendido i luz desta afirmação. Veremos que há põe suas idéias relativas 5 solução do "problema judaico", re-
muita coisa que os gentios cristãos podem fazer para incrementar criando uma pátria para os judeus. Estes homens. contudo. não
o movimento judeu-messiânico, e incentivamos e solicitamos tal tentaram ajustar suas idéias à Palavra de Deus e reivindico isto'
ajuda de nossos caros irmãos gentios no Messias. para mim. Este manifesto, inclui, portanto, não apenas ideologia e
Contudo, em última análise, o jadaísmo messiânico depen- programa. como também teologia. Quero convocar as tropas, mas
de dos judeus, porque um judeu messiânico é um judeu que acre- somente no âmbito da verdade manifestada por Deus.
dita em Yeshua. O evento operativo que aciona o judaísmo mes- Talvez o leitor se pergunte com que autoridade escrevo um
siânico é, portanto, mais judeus ingressando na fé rnessiânica. livro entitulado Manifesto Judeu-messiânico. A resposta é: ne-
Mas, para que isto aconteça. o judaísmo messiânico deve levar a nhuma. Nenhuma instituição ou grupo nomeou-me seu porta-voz.
sério o que o judaísmo não-messiânico e a comunidade judaica Digo apenas o seguinte: sou judeu, sou messiânico e tenho algu-
organizada afirmam a respeito do que significa ser judeu. ma instrução cristã. judaica e acadêmica. meditei sobre a questão
Finalmente, aqueles que não são nem judeus. nem cristãos e há muitos anos desejo escrever este livro. Já que não tenho se-
esiáo convidados a considerar a verdade do que é dito aqui e a guidores organizados mesmo entre os judeus messiânicos, escolhi
entregar sua vida ao Deus de Abraio. Isaac e Jacó através de Ye- cuidadosamente o meu título: Manifesto Judeu-messiânlco, sem o
shua. o Messias - Jesus Cristo. artigo definido. pois o "o" implicaria numa qualidade oficial. Si-
milarmente. uma vez que escrevo por conta própria. uso com fre-
D. MANIFESTO quência a primeira pessoa do singular ("Penso ...") onde outros
Que é um manifesto? A palavra origina-se do latim mani- escolheriam locuções diversas ("E bem sabido que ..." "Vemos
festus. composta de rruanus ("mão") e festus, que tem raiz mais assim ...) para evitar a aparência de autoridade rnagistenal. E não
6
reivindico originalidade. Muitos dos meus fatos e idéias serão en- ferente para apreendê-lo de modo correto, uma geração futura.
contrados em Jewish ~oots' (Raízes Judaicas) de Daniel Juster. melhor e mais alerta. se erguerá para compreendê-lo. Os judeus
descrito.com razão como "a primeira teologia abrangente do ju- messiânicos que o tenham, reavivando a salvaqáo dos judeus e
daísmo messiânico". e nos livros de John ~ i s c h e r Arnold
~, Fru- realizando a Grande Missão da Igreja. serão recompensados pela
chtenbaumlO, Jacob ~ocz", e outros. Se fiz algo de original foi coroa da eterna glória e a merecerão1'.
escrever com a finalidade de estimular ação relativa às metas do
nosso movimento. Mas a originalidade é menos importante para
mim do que prestar uma contribui(;ão sistemática a um debate em Isaias 49,6
andamento. Yochanan (João) 8,12
Mattityahu (Mateus) 28,18-20
Efésios 2,11-22
E. ECOS Jeremias 31,30-34; Mattityahu (Mateus) 28,18-20, 24,14; Romanos
11,25-26.
Em 1848, Marx e Engels iniciaram seu manifesto que aba- Ver Capítulo 111, seção G, referente às relações judeu-cristãs, espe-
laria o mundo com as paiavras: "Um espectro ronda a Europa - o cialmente a seçáo G-8.
Conjuguei o Apêndice com partes dos Capítiilos 111, 1V e V, forman-
espectro do comunismo". do um livro destinado primordialmente ans gentios cristãos, entitula-
Hoje. outro tipo de espectro esta "rondando" a cristandade do Restoriag The Jewishaess Of The Gospel. Para detalhes ver Apên-
e a comunidade judaica. o espectro do judaísmo messiânico. dice, seção A e a nota 2.
Muitas igrejas e denominações cristás sentem-se ofendidas por Daniel Juster. Jcrwish Rnots (Pacific Palisades, California: Davar
quem se esforça para levar o povo judeu ao conhecimento do Publishing Co., 1986).
John Pischer, The Olive Tre~,Connectioiz (Downers Grove, Illi-
Messias judeu e da verdade do Novo Testamento. Outros cristãos nois: InterVarsity Press, 1983).
supõem erroneamente que os judeus messiânicos advogam doutri- Arnold Fruchtcnbaum, Hebrcw Christiani~:Zrs Theology, History
nas deslígadas da Escritura. ou se empenham em "judaizar". ou AridPlzilosophy (Washington, D. C.: Canon Press, 1974).
buscam se separar dos demais membros do Corpo de Messias. Por Jacob Jocz, The Jewisiz People and Jesus Clzrist (Londres: S.P.C.K.,
outro lado, a comunidade judaica - que no passado podia ignorar, 1962).
Ver Apêndice, nota 5.
rejeitar ou condenar os judeus que se "convertiam ao cristianis- Estes dois parágrafos têm como modelo a passagem inicial de "O
mo"12 - é cada vez mais solicitada a enfrentar com seriedade os Manifesto Comunista", de Karl Marx e Friedrich-Engels (1884) em
supostos enganos e ameaças representadas pelos judeus messiâ- Great Political Thinkers: Plato to the Present. de William Ebenstein
nicos. (Rinehart & Co.. 1951) pp. 669-686.
Assim, o judaísmo messiânico é cada vez mais reconhecido Comparar este parsgrafo com o último parágrafo do Prefácio de
Theodor Merzl, The Jewish State (1985) (Londres: H . Pordes, 6Qdi-
como uma força social, ideológica e teológica a ser enfrentada. ção, 1972) p. 9.
Chegou a hora. portanto. de colocar diante dos vários públicos - A escolha de palavras de Herzl, que pedi de empréstimo, exige uma
gcntios cristãos. judeus tradicionais e seculares. judeus messiâni- nota teológica: "A coroa da eterna glória" que "eles merecerão" não
cos e "o resto do mundo" (gentios não-cristãos) - um quadro é a salvaçáo, produto da.chesed de Deus ("amor, graça"), que nin-
abrangente do que constitui o judaísmo messiânico. e para onde gu6m merece, e sim uma recompensa como as promessas do Novo
Testamento para as boas obras dos crentes (Efésios 2,8- 10, 1 Corín-
ele se encaminha, a fim de substituir as falsas imagens atualmente tios 3,8- 15, 1 Kefa (1 Pedro) 5,4).
apresentadas no mercado de o p i n i ~ e s ' ~ .
Mas, parafraseando ~ e r z l ' ~se, o programa teológico-
ideológico esbo~adoneste livro vai ou não motivar açáo depende-
rá dos judeus messiânicos. Se a atual geraçiio for demasiado indi-
8
IDENTIDADE

A. POR QUE O JUDAÍMO MESSIÂNICO?

1, Construindo Um Caso
Por que existiria um movimento judeu-messiânico? Que
necessidade existe de uma identidade judeu-rnessihnica? Embora
não construndo totalmente o caso, desejo esboçar argumentos a
favor do judaísmo messiânico.
As quatro primeiras razões apoiam a idéia de que o judaís-
mo messiânico é necessário B luz da Escritura.
* O conceito de integridade cultural segundo Sha'ul (Paulo), que
diz que o Evangelho não nega as culturas, mas age por seu in-
, termédio, só pode expressar-se em relação ao povo judaico
através do judaísmo messiânico.
* O judaísmo messiânico está implícito em qualquer teologia cor-
reta dos judeus, que são - únicos entre as nações - o povo es-
colhido de Deus.
* O judaísmo messiânico é necessário para que os gentios cristãos
tenham todo o conselho de Deus.
* Somente o judaísmo messiânico é capaz de proporcionar a es-
trutura comunal, teológica e ideológica na qual o atual judaísmo
não-messiânico pode se tornar aquilo que deve ser.
O segundo grupo de razões argumenta no sentido de que o
judaísmo messiânico é útil para se alcançar determinados objeti-
vos legítimos indicados na Escritura.
* Proporcionando um ambiente judaico para a fé messiânica. o
judaísmo messiânico é útil para evangelizar os judeus.
11
* É útil para enfocar a atenção da Igreja no povo judaico, de mo- ! tratamento, opostos um ao outro. mas ambos insatisfatórios. Há
do que os gentios cristãos apreciem suas raízes judaicas e te- igrcjas que tentam nos assimilar às maneiras dos gentios. negan-
nham uma correta compreensão da tradição judaica. i do-nos o direito de expressar o nosso judaísmo; isto é feito muitas
* É útil para o ministério junto aos judeus que aceitaram Yeshua vezes sob a flâmula de eliminar "o muro divisório" entre os ju-
como o Messias. deus e os gentios, que foi destruído por Yeshua. o Messias.Qu-
* Será um testemunho para o mundo: o efeito curador do amor de tras igrejas nos consideram ultra-especiais - seja como elementos
Deus sobre as relações judeu-cristãs expresso através do ju- estranhos. não totalmente cristãos, ou como super-cristãos dupla-
daísmo messiânico faIará aos gentios não-cristãos. mente abençoados. No último caso somos colocados em destaque,
Além de construir um caso precisamos construir um mo- solicitados a prestar "testemunho" com frequência, e qualquer
delo positivo EZr quem somos e de quem deveríamos ser. Este mo- questão relativa ao Antigo Testamento é imediatamente entregue
delo positivo náo i' totalmente abstrato. Temos uma história pas- ao "nosso cnstãos judeu" - em suma, nós nos tomamos o sím-
sada e uma comvnidride presente,', assim como um glorioso futu- bolo judaico da igreja. Em ambos os casos o nosso judaísmo se
ro. Temos Yeshua como o nosso perfeito exemplo. E temos uma torna uma cause célèbre e - o que mais importa aqui - é definido
relagão permanente com Deus - como indivíduos, como judeus e não por nós mesmos e sim pelos gentios que nos rodeiam. Isto
como membros do Corpo de Messias. Esta relação é estruturada tende a nos desumanizar, tornando-nos objetos de outras pessoas.
pela sua Palavra; e esta Palavra, a Bíblia. é um dom. não sujeito em vez de pessoas independentes.
aos desejos de judeus ou cristãos que preferem nos definir de mo- Há membros da Igreja que são de opinião que o judaísmo rnessiâ-
do diverso. Nossa história, nossa comunidade, nosso futuro, o I
nico é um erro. Aqui vão seis razões que me foram apresentadas.
juntamente com as minhas refutações:
exemplo do Messias e a Palavra de Deus moldam a nossa iden-
tidade.
i
1 a. Separatismo: Reconstruir o ''Muro Divisório do Meio"
2. Oposição Judaica 1 O ,jUdai~momessiânico é m a f o m de separatisma den-
tro do Corpo, excluído por versiculos como Gálatas 3,28 ("Não
itias existe tmbéni oposição. Alguns elementos da comu-
há judeus, nem gregos", comparar com Colossenses 3.11 ) e Efé-
nidade judaica haveriam de preferir, com certeza, que não existís- sios 2,14 (Yeshua "destruiu o muro de inimizade que separava"
semos como movimento. Uma vez que existimos, procuram nos
judeu e gentio).
excluir de sua companhia e às vezes até mesmo de seu consciente.
Os versículos citados significam que indivíduos judeus e
Alguns recusam-se a nos reconhecer como judeus; na verdade
gentios são iguais diante de Deus com respeito à salvação
trata-se de uma atitude comum, que lembra a do avestruz. Ou en-
do pecado, assim como homens e mulheres sáo iguais.
tão podemos ser considerados judeus. porém maus judeus. Em
Contudo. homens e mulheres existem. assim como existem
tais condições nós nos sentimos. naturalmente. pressionados a
judeus e gentios. Cada qual tem as suas funções. regras e
provar que o nosso judaísmo é real e autêntico, e que temos o di- promessas na economia d i ~ i n a . ~
reito de ser incluídos. Contudo. estar incluídos e aceitos entre os
nossos irmãos de sangue não pode ser o nosso principal objetivo. b. Não Mais Judeu, e Sim Cristão
Somente conhecer, agir de acordo e comunicar a verdade e o O judeu que aceita Yeshua ,já mio é ,judeu e sim cristão e
amor de Deus preencherá este papel. deveria retirar a ênfase de suas origem judaicas.
3. Oposição/Cristã Gentia Os judeus que acreditam no NOVO Testamento como Sha'ul
(Paulo) e Kefa (Pedro) continuaram a reconhecer e praticar
Os gentios cnstãos nos sujeitam às vezes a dois tipos de o seu j u d a í ~ m o Ademais,
.~ o Novo Testamento não indica
que os crentes jamais tivessem chamado os judeus messiâ-
nicos de cristão^".^
1 Tios, ou a abandonar a 2-orah7.

c. Orgulha da Judaicidade, Comparagáo Invejosa com os


1
!
,f. Artificial, Não Natural
O judaísmo rnessiânico é artificial, não verdeiramente
Crentes Gentios
natural, exceto possivelmente no Estado de Israel.
Os judeus messiâplicos talvez tenham orgulho indevido Este argumento só poderia ter surgido na Diáspora judaica;
pelo fato de serem membros natos e renascidos do povo de Deus; é uma variação do argumento do separatismo. Mas Deus,
consideram os cristúos gentios como cidadãos de segunda classe que tem a intenção de preservar os judeus, parece tè-10
do Reino de Deus, e se empenham naquilo que Moishe Rosen, li- feito em parte levando-os a conservar religião e costumes
der dos judeus pró Jesus, chama de "etnolatria" (culto idólatra separados dos das culturas gentias nas quais viveram.
do seu próprio povo). Não é preciso que a cultura majoritária seja judaica para
-0 orgulho é, na verdade, um pecado, embora não seja ex- que o judaísmo messiânico seja natural, uma vez que a
clusividade dos judeus messiânicos. Devemos estar sempre existência normal para os judeus da Diáspora é uma sub-
vigilantes contra ele, mas o risco não constitui razão para cultura. O fato de a subcultura não prevalecer nem por isso
se rejeitar o judaísmo messiânico. a faz menos real. Assim, a forma judaica de fé messiânica
d. super-&fase Excessiva no Judaísmo que surge numa subcultura da Diáspora judaica é natural.
Mas estou de acordo em que o terreno mais natural do
O jdaismo messiânico enfatiza em excesso o judaísmo as mundu para o judaísmo messiânico lançar raízes é Psrael.
expensas da verdade e da prática neotestamentdrias, tornando-se Voltaremos ao assunto no último capítulo.
assim umu f o m de cristianismo retrógrada e herética, como a
dos ebionitm.4 B . "JUDEU MESSIÂNICO- - DEFIWIÇOES
A genuína heresia deve ser evitada, mas o perigo é peque-
no. Contudo, na Diáspora, onde o judeu é sempre pressio- 1. Quêm É Judeu?
nado no sentido de manter o seu judaísmo numa sociedade Definir "judeu messiânico" não é fácil. Quem quer que
de gentios, os judeus messiânicos correm o risco de permi- conheça o Estado de Psrael sabe que a pergunta "Quem é judeu?"
tir que o judaísmo substitua Yeshua como foco da vida surge constantemente na vida político-religiosa do país,' e em tó-
congregacional. Este perigo é bastante amenizado em is- pico algum o velho ditado é mais verdadeiro: "Dois judeus, três
mel, uma vez que ali o judaísmo é aceito sem discussão. opiniões".
Falaremos mais a respeito no capítulo VEI. Segundo a halakhah (lei religiosa judaica19, judeu é a pes-
soa nascida de mãe judia, ou convertida ao judaísmo. Uma ques-
tão corrente em Israel gira em tomo de quem tem autoridade para
O juduísmo messiânico sancionu o judaizar, que é uma realizar conversões reconhecidas pelo Estado secular. O rabinato
heresia. ortodoxo alega que somente os rabinos ortodoxos podem fazê-lo,
Errado. Judaizar significa solicita aos gentios que vivam ou enquanto os movimentos Conservador e Reformado reivindicam,
se portem corno judeus (vide Gálatas 2,ll-15); a heresia naturalmente, o privilégio também para os seus rabinos.
está em insistir em que náo se salvarão a menos que o fa- Entretanto é opinião geralmente aceita que a Bíblia situa
çam. Mas incentivar os judeus a viverem como judeus não geneticamente a judaicidade através do pai. Segundo esta teoria, a
é judaizar. Como poderia sê-lo? Lembrem-se de que Sha'ul judaicidade passou a ser delineada através da mãe em tempos de
não ensinou os judeus a deixarem de circuncisar seus fi- agitação histórica. quando as mulheres judias eram vendidas co-
clui os judeus messiânicos. A Suprema Corte decidiu em 1978
mo concubinas aos gentios, de modo que pudesse haver dúvida que Eileen (Esther) Dorfiinger, crente em Yeshua, nascida de pais
quanto a ser ou não judeu o pai da criança. Contudo pode-se ar- judeus e batizada numa igreja denominacional por um clérigo
gumentar que mesmo na Bíblia a judaicidade depende da mãe.'' cristáo ordenado, embora mantivesse alguns aspectos da cultura
Parte do movimento da Refonna cortou o nó górdio, aceitando judaica, não poderia ir para Psrael como judia sob a Lei do Retor-
como judeu qualquer pessoa que tenha um dos genitores judeu. no. l 1 Outro caso, talvez mais importante, o de Gary e Shirley Be-
Conforme acontece com a maioria das definições, surgem resford, do Zimbabwe, acha-se diante da Corte Suprema, porém
dificuldades marginais. Por exemplo: fiz uma palestra, um dia. na ainda não foi decidido até a data (1988).
Igreja Pentecostal Holiness de Oklahoma. Mais tarde uma senhora
se aproximou para partilhar o que considerava uma interessante 2. Quem É Messiânico?
observaçáo a respeito de si mesma: a mãe de sua máe fora "ju- Nem todos os que se denominam messiânicos ou cristãos o
dia" antes de se "converter ao cristianismo". A aparência, lin- são de fato. Nos círculos judaicos, os termos "gentio" e "cristão"
guagem e outras características sociais da senhora eram as mes- são muitas vezes usados como sinônimos, o que cria confusão.
mas das senhoras gentias cristãs que a rodeavam; mas a,hahddmh Gentio é qualquer não-judeu. Mas cristão ... bem, isto é um pouco
diz que a neta é judia, seja qual for a sua aparência, ou maneira mais complicado.
de falar. Os protestantes tendem a se definir "cristãos" em termos
David Ben Gurion, o primeiro Primeiro Ministro de Israel, de crença. Somente os "verdadeiros crentes" são considerados
dizia que judeu é qualquer um que, tendo em vista as agraras su- cristãos. Haveria diferenças relativas a quem é o "verdadeiro
portadas pelos judeus, mostra-se disposto a denominar-se judeu. crente", mas algo semelhante a que se segue estaria pr6xirno de
Este gracejo demonstra que há fatores além do parentesco capazes um consenso: seria a pessoa (judeu ou gentio) que se afastou de
de ajudar a identificar o judaísmo: nacionalidade, etnia. cultura, ídolos, ou da descrença para servir ao Deus vivo através de Ye-
sociologia, religião, história. shua, o Messias. de todo coração, alma e forças, tendo aceitado a
Aponta ainda para o lado subjetivo de ser judeu, reconhe- verdade da Bíblia total, que consiste no Tanakh (o "Antigo Tes-
cendo a própria judaicidade em lugar de negá-la ou ignorá-la. tamento") e nas Escrituras da Nova Aliança ("Novo Testamen-
Devemos chamar judeu qualquer um cujos pais sejam judeus? Ou to") - e reconhecido Yeshua como o Messias de Israel e como o
o termo só se deve aplicar àqueles que reconhecem. de certo mo- seu próprio Salvador e Senhor.
do, a sua judaicidade? E costiime quase universal não fazer tal Tal defmiçáo exclui o "cristão cultural", que talvez tenha
exigência. Mas voltaremos ao assunto ao definir mais adiante o sido educado num lar cristão, frequentado a igreja e a escola pa-
"judeu messiânico", quando discutiremos também os gentios roquial, lido a Bíblia, mas que não nasceu de novo12, não fez a
cristãos que se entitulam judeus com base em certos versículos do entrega do seu coração para viver segundo a Palavra de Deus.
Novo Testamento. Exclui também o "cristáo de nome", que talvez tenha concluído
A questão "Quem é judeu?" é importante para o judeu intelectualmente que Yeshua é o Messias, que talvez tenha passa-
messiânico que queira fazer aliyah (imigrar para Psrael) sob a Lei do por todos os rituais e procedimentos costumeiros, que pode ter
do Retomo israelense, que concede cidadania quase imediata e experimentado a cura de Deus, sua orientação e até sua presença,
muitos privilégios a qualquer judeu, de qualquer parte do mundo, mas cuja santidade não penetrou sua vida - "a fé sem obras é
que se transferir para a Te?. Para as finalidades da LRi do Re- morta". l 3
torno, Israel define o judeu como "uma pessoa que nasceu de mãe Os católicos romanos e as mais antigas denominações
judia, ou convertida ao judaísmo, e que não é membro de outra orientais, assim como alguns protestantes das principais denomi-
religião". A questão a ser definitivamente decidida nos tribunais nações, tendem a definir o cristão em termos de comunidade, o
de Psrael é se a frase "e que náo é membro de outra religião" ex-
16
que corresponde melhor aquilo que a maioria dos judeus enten- judaicidade, talvez se pudesse denominá-lo judeu messiânico "em
dem quando falam a respeito da religião de alguém, e é fácil per- potencial". Mas se estiver fugindo 2 sua identidade judaica, de-
ceber porque. A pessoa cujos pais são judeus é judia. Neste caso. nominando-se "ex-judeu", "antigo judeu", ou "cristão e não ju-
por que não seria cristã a pessoa cujos pais são cristãos? A res- deu", eu pediria de sua parte um pouco de conscientização antes
posta, em última análise, virá da Escritura, e ali a definição é feita de chamá-lo judeu messiânico. Podem-se relacionar as pessoas
em termos de fé. "Que devo fazer para me salvar?" perguntou o dessa categoria com os "ainda não" de Franz Rosenz~eig.'~
carcereiro grego em Filipos . "Confia no Senhor Yeshua e serás Há gentios cristãos que citam versiculos tais como Roma-
salvo .."I4 nos 2,28-29 ("Não é verdadeiramente judeu o que o é exterior-
Resta apenas comparar os termos "messiânico" e "cris- mente, nem verdadeira circuncisão a que aparece exteriormente
tão". "Messiânico" vem do hebraico mashiach, que significa na carne. Mas é judeu o que o é interiormente, e ~erdade'~6ircun-
"ungido". "Cristão" vem do grego christos, que é a tradução cisão é a do coração, segundo o espírito da Lei e não segundo
neotestamentária de mshiach e significa o mesmo. Os judeus a letra") e Filipenses 3,3 ("Porque os verdadeiros circuncisos
messiânicos preferem o último por razões culturais: para a maioria somos nós, que prestamos culto a Deus pelo Espírito de Deus, e
dos judeus s termo "messiânico" gera menos dissonância cogni- pomos nossa glória no Messias Yeshua!") como autoridade para
tiva do que "cristão". Mas existe razão mais forte: no Novo Tes- se denominarem judeus messiânicos. Julgo que é um erro e um
tamento o termo "cristáo", que surge apenas três vezes,15 denota uso enôneo da Escritura.19 O gentio que acredita em Yeshua, de-
aparentemente o gentio que acredita em Yeshua, de modo que, do nominado "cristão" em Atos 11,25, ou talvez "gentio cristão" na
ponto de vista das Escrituras. ''judeu cristão" é uma contradiq% moderna terminologia para distinguí-10 do "judeu cristão" (termo
em termos.'6 que não se encontra na Escritura), não é judeu messiânico. Talvez
promova o judaísmo messiânico. Talvez goste dos judeus messiâ-
3. Quem É Judeu Messiânico? nicos. Quem sabe sente afinidade com as formas judaicas de culto
Quem é, então, judeu messiânic02~~ Minha primeira esco- que reverenciam Yeshua, o Messias. Talvez refira-se a si mesmo,
lha entre definições é: metaforicamente, como possuidor de coração judaico. Mas não
A pessoa que nasceu judia, ou se converteu ao ju- é judeu, messiânico ou não. Sugiro que, para distinguí-10 dos
daísmo. que é "verdadeiro crente" em Yeshua e re- gentios que não chegaram à fé do Deus de Abraáo, Isaac e Jacó
conhece a sua judaicidade. através de Yeshua, o Messias, embora o associem sirnultanea-
Incluem-se aí os que se denominam cristãos hebreus (abaixo). mente ao movimento judeu-messiânico, nós o chamemos de gen-
Contudo, uma definição mais limitada os excluiria. chamando ju- tio messiânico.
deus messiânicos somente os que desejam viver um tipo de vida 4. Judeu Sub-Messiânico
ostensivamente judaico. isto é, uma vida messiânica dentro da es-
trutura da Torah (Adiante falaremos mais a respeito). Com as definições acima podemos analisar diversas posi-
Uma definição mais ampla incluiria também os judeus as- ções judaicas sub-messiânicas. Os competidores próximos do ju-
similados, que não estão interessados no reconhecimento da sua daísmo messiânico apresentam muitas vezes características admi-
judaicidade, e até se opõem a isto. Levantamos anteriormente a ráveis, mas eu os rejeitaria por várias razões.
questão, dizendo que esta consideraçáo não faz parte da definição As seguintes posições são "demasiado judaicas", ou "não
de "judeu". Mas talvez "judeu messiânico" gere exigências dife- suficientemente messiânicas":
rentes. Quanto a mim, julgo que é um erro atribuir o termo "judeu * Judeus "abertos", os que se mostram dispostos a ouvir a res-
messiânico" a qualquer um que acredite em Yeshua e cujos pais peito de Yeshua e do Evangelho, mas não se salvam. Talvez te-
sejam judeus. Caso ele não tenha refletido muito a respeito da sua nham pontos positivos a dizer a favor de Yeshua, do Novo
18 19
Testamento e dos crentes, mas não estão dispostos a fazer o ato * Certas formas de cristianismo hebraico, em oposição ao judaís-
de fé necessário a quem quer nascer de novo. mo messiânico (no sentido restrito) acham-se fossilizadas. Em-
* OS "crentes secretos", que permanecem na comunidade judaica bora o cristianismo hebraico do início de 1800 até 1930 se
sem confessar publicamente sua fé em Yeshua. Declaro que tais mostrasse, com frequência, tão radical quanto o judaísmo mes-
pessoas não são messiânicas e não renasceram, pois Yeshua siânico é hoje considerado, alguns dos que se arrebanham hoje
disse: "Portanto, quem der testemunho de mim diante dos ho- sob esta bandeira não se conservam em dia com o que exige a
mens, também eu darei testemunho dele diante de meu Pai que presente realidade. Em vez, canonizam abordagens anteriores
está nos céiis: aquele, porém, que me negar diante dos homens, mais relevantes quando a sociedade em geral, e a igreja em
também eu o negarei diante de meu Pai que está nos particular, eram menos abertas a expressar em conjunto o ju-
* Há crentes judeus que se sentem pouco à vontade em igrejas daísmo e a fé messiânica. Há pessoas muito abertas a explorar
dos cristãos gentios, mas nunca se aproximam de uma congre- todas as possibilidades de expressão da fé messiânica de rnanei-
gação de judeus messiânicos. Não frequentam nenhuma igreja, ras judaicas, mas preferem o temo "cristianismo hebraico" a
mas vinculam-se casualmente com pessoas que agem da mesma "judaismo messiânico"; estes não são fósseis!
maneira. Os aspectos comunais da nossa fé, que só podem ser * Por outro lado existe perigo autêntico, anteriormente observa-
alcançados em ambiente congregacional, são negligenciados. A do, de a pessoa se apaixonar de ta1 modo pelo judaísmo, que as
fé da pessoa é messiânica, não "sub-messiânica", mas o seu verdades básicas do Evangelho ficam de lado. Isso seria de es-
crescimento espiritual é prejudicado pela sua posição distante. perar-se daqueles que viviam totalmente imersos na prática ju-
As posições seguintes podem ser caracterizadas como "ex- daica antes de chegarem à fé, mas na verdade parece dar-se de
cessivamente gentias": modo diverso. Muitas vezes são os judeus que tiveram pouca
* Os judeus que se gentilizam em igrejas cristãs, fazendo todo o instrução no judaísmo antes de acreditarem em Yeshua, que se
possível para ocultar sua judaicidade e "passar por" gentios. tornam indevidamente ligados a um punhado de costumes ju-
Este fenômeno foi mais prevalente nos séculos dezoito Ê deze- daicos, tornando-os o centro de sua vida, em vez de aí coloca-
nove, quando muitos judeus consideravam o batismo como "o rem Yeshua.
7
passaporte para a Civilização Ocidental '. Muitas vezes os ju-
deus que apresentam esta falta de fé autêntica, uma vez que sua 5. 100% Messiânico e 100%Judeu
motivaç5o é deixar de ser judeu, não chegam a Deus. É a premissa deste livro que não existe conflito algum en-
* Verniz de judaísmo. Com frequência as missões cristãs junto tre ser messiânico e ser judeu. Crer em Yeshua, no Messias judeu,
aos judeus utilizam-se de um verniz de judaísmo para recobnr, é uma das coisas mais judaicas que um judeu pode fazer. O crente
da melhor maneira possível, aquilo que é claramente uma abor- judeu em Yeshua não se defronta com a necessidade de renunciar
dagem cristã gentia à fé. A queixa de alguns membros da co- a parte do seu judaísmo a fim de ser mais messiânico, ou de ter
munidade judaica, no sentido de que os cristãos "utilizam-se er- que renunciar a parte de sua fé messiânica para ser mais judeu.22
roneamente das coisas sagradas judaicas" para ocultar o fato de Os judeus não-messiânicos talvez tentem convencê-10 disso, as-
estarem tentando conquistar os judeus para Cristo, é facilmente sim como o farão alguns gentios cristãos, mas cometem um erro.
demonstrável em conexão com tais missões e igrejas. O pro- O quadro neotestarnentário em toda a questão diz que os judeus
blema surge no desconhecimento missionário do quanto é ju- que acreditaram em Yeshua permaneceram tão plenamente judeus
daico o Evangelho e de como expressar a fé messiânica bíblica como antesmZ3 A única mudança exigida por sua fé não se achava
de maneiras genuinamente judaicas.'' no sentido de menos judaísmo, e sim de maior santidade. Assim,
Isto acarreta perturbaçóes na maneira de expressar o ju- o judeu messiânico não escolhe entre ser, digamos, 80% cristão e
daísmo: 20% judeu, ou o reverso; ele pode e deveria dizer que é 100% ju-
21
deu e 100% messiânico e, em seguida, procuraria expressar tais mente assim a tensão entre "eu, perseguido", e "eu, perseguidor"
verdades em sua vida. se dissolverá.
Mas quando me intitulo judeu e messiânico ao mesmo 6. O Desafio de Ser Messiânico
tempo identifico-me assim tanto com a comunidade judaica como
com a Igreja. Embora no Novo Testamento a palavra "Igreja" A partir deste exemplo aprendemos que não é fácil ser ju-
signifique a "Comunidade Messiánica de Deus", dos genuínos deu messiânico. Não surpreende, portanto, que a maioria dos ju-
crentes, pode referir-se também a uma instituição que inclui ca- deus messiânicos esteja despreparada para o nosso papel, que não
é apenas questão de fé pessoal, mas tem implicaçóes públicas pa-
racteristicamente crentes apenas de nome. Isto me causa proble-
mas e este é um dos típicos: de que modo eu, como judeu messiâ- ra duas grandes comunidades de pessoas lançadas em desacordo
nico, me avenho com a perseguição dos judeus pela Igreja? Se pela história. E uma das finalidades deste livro ajudar-nos, a nós,
pertenço plenamente à Igreja e sou plenamente judeu, então estou judeus messiânicos, a compreender quem somos e o que de nós se
ligado tanto aos perseguidores quanto às vítimas. Que significa espera. Precisamos compreender melhor tanto a nossa identidade
isto? Aqui vai uma possível análise: judaica como a messiânica. Não basta proclamar simplesmente em
* Como vítima, tenho sensação muito negativa em relação ao per- voz alta o nosso judaísmo se, como a grande maioria dos judeus
seguidor - como judeu, sinto amargura diante do que a Igreja messiânicos, somos judaicamente desinfomados e desengajados.
fez ao meu povo durante séculos. Já que nos denominamos judeus messiânicos devemos ter a inten-
* Como messiânico, sinto gratidão à Igreja, porque, embora per- ção de respaldar nossas palavras com atos, demonstrando que o
seguidora, direta ou indiretamente, ela me fez conhecer o Mes- nosso judaísmo tem substância. Similarmente, talvez saibamos
sias. que fomos unidos ao Messias pela fé, mas, se deixamos de fazer
* Como judeu messiânico, posso perdoar o perseguidor (se ele o que ordena nosso Senhor e continuarmos a viver à maneira do
quiser ser perdoado), ou seja, a amargura que poderia nutrir mundo em vez de a ele renunciar, envergonhamos publicamente a
contra a Igreja, como pessoa que não foi salva, desapareceu por Deus.
causa daquilo que Deus fez por mim e a mim através de Ye- Buscamos fazer com que nossa identidade messiânica seja
shua. aceita por judeus não-messiânicos e gentios cristãos, mas sofre-
* Mas também sou perseguidor, pois identificar-me com a Igreja mos rejeição. Se tentarmos esquecer quem somos e buscarmos os
como perseguidora é parte inevitável da bagagem incluída na prazeres do mundo, a nossa consciência, de sensibilidade tanto
adesão à Comunidade Messiânica. Seja qual for a medida em judaica quanto messiânica, não o permitirá. Assim, nós nos vol-
que represente a Igreja, posso ser penitente por sua causa e tamos para os nossos irmãos judeus messiânicos, encontrando,
buscar o perdão dos judeus. Mas não posso esperar que eles, porém, com frequência, superficialidade, auto-isolacionismo, ou
como pessoas que não foram salvas, estejam dispostos a me falsa coragem. Há comunidades que ultrapassaram esse estágio,
perdoar. mas outras não o fizeram. De qualquer modo, nosso número é re-
Tenho dois chapéus, faço parte de duas comunidades, em duzido e temos que lutar para satisfazer as nossas necessidades
oposição uma à outra. Ademais, se a transação espiritual que (ou seja, atender aos judeus rnessiânicos pobres, dar apoio aos
permite às pekoas perdoarem de coração, não ocorrer entre os pastores judeus messiânicos, distribuir bolsas de estudos àqueles
judeus, não espero que "nós, judeus" perdoemos "n6s, a Igreja". que as solicitam), quanto mais para atingir outras pessoas. Nossa
Ponderem a delicadeza e a tensão da situação - da qual, embora liderança, embora dedicada, sena a primeira a reconhecer as suas
criação histórica e não minha, não posso fugir, porque faço parte falhas. Estarnos longe de ser o que gostaríamos de ser, tanto pelos
da história. Não sou esquizofrênico relativamente ao assunto; pre- padrões da comunidade judaica, quanto pelos da Igreja.
fim orar pelo dia prometido em que Israel será salvo, pois so- Afirmamos que o Messias conferiu significado à nossa vi-
-da. Mas as palavras soam vazias se comparadas à frequente es- que a pes,r~.ackicredita no Messias, mio esclarece se é judia ou
treiteza de nossa visão. Sofremos uma ampla crise de identidade. cristã.
Nós, judeus messiânicos, precisamos de uma ideologia e * Cristão hebreu. Um termo antigo, do século dezenove. Hoje
um programa para expressar a verdade interior daquilo que so- soa um tanto antiquado chamar um judeu de "hebreu". Contu-
mos. Pois somos 100% judeus, digam o que disserem. Assim do, o termo é importante, pois é usado por judeus que acreditam
aconteceu entre os crentes judeus do primeiro século, e assim de- em Yeshua e desejam sublinhar a prioridade do seu cristianismo
ve ser hoje. Esta é uma verdade determinada por Deus em face de sobre o seu judaísmo. Alguns talvez usem o termo por inércia,
todas as mentiras, calúnias e desinformaçáo daqueles que querem ou por ser mais conhecido nos círculos em que se movimen-
negar a nossa verdadeira identidade. Mas cabe a nós afirmar as tam, ou em deferência aos muitos crentes judeus para quem ser-
nossas reivindicaçóes. No Messias devemos, obedientes a Deus, viu como divisa, ou para evitar ofender os gentios cristãos que
pelo poder do seu Espínto Santo, criar a realidade visível que poderiam se sentir rejeitados por um termo que não inclua a
comprovará a nossa retórica. palavra "cristáo". Os termos "cristão hebreu" e "judeu mes-
"Quem se gloria, glorie-se no Senhor", lemos tanto no siânico" (no sentido mais restrito) descrevem correntes ou ma-
Tanakh como no Novo ~estamento.~' Assim não nos gloriaremos neiras diversas de ser crente judeu em Yeshua.
de nossa identidade judaica, e sim do Deus do universo que deci- * Cristão judeu. Os intelectuais usam o termo para descrever os
diu agir por intermédio do povo de que somos membros. E não judeus que aceitaram Yeshua como o Messias nos quatro pri-
nos gloriaremos de nossa identidade messiânica, e sim do Messias meiros séculos da Era Cristã. De certo modo parece um termo
que escolheu entre judeus e gentios aqueles que são seus, e nós neutro, mas quando a finalidade é enfatizar o judaísmo da cren-
somos dele. E não nos gloriaremos de nossa identidade de judeus ça no Messias judeu é mais sensato não usar um termo - ou se-
messiânicos, e sim do Senhor que fez de nós a ponte entre duas ja, "cristao" - que o Novo Testamento parece utilizar apenas
comunidades aparentemente separadas, de que fazemos parte, e para os crentes gentios.27
nos deu a tarefa de ajudar a reuní-las. Dediquemo-nos a cumprir Judeu cristão. E a mesma idéia, embora o termo não seja usado
as nossas responsabilidades pelo poder do Espírito Santo que ha- pelos eruditos.
bita em nós, de modo que Yeshua, o Messias, e Deus Pai sejam * Judeu completo, judeu pleno. Aceitando a verdade do Novo
glorificados no povo reunido de Deus. Testamento, o judeu completa e plenifica a sua fé no Antigo
Testamento. Os judeus tradicionais talvez objetem contra a im-
C. TERMINOLOGIA plicaçáo de que sua fé é incompleQ e imperfeita; mas os termos
falam por si, e a implicação é corkta: judaísmo sem Yeshua é'
1. Alternativas Para o Termo "Judeu Messiânico'" menos completo e menos pleno do que virá a ser um dia. Con-
tudo, por causa da tendenciosidade inerente, assim como por
Uma variedade de termos foram e estão sendo usados para certa indefinição, o termo não se recomenda.
descrever os judeus que acreditam em Yeshua. Aqui vão os que * Judeu bzíSlico, ou seja, aquele que segue o que é ensinado em
chegaram ao meu conhecimknto, de par com as minhas reações: toda a Bíblia, tanto no Antigo como no Novo Testamento. Isto
s Crente judeu. Vago, uma vez que não está claro o que ou em
implica também, às vezes, na rejeição da To-h Oral e do "ra-
quem ele acredita. Os judeus ortodoxos e os judeus religiosos binismo", como não-bíblicos. De novo, este parece ser um ter-
de outras correntes são também chamados crentes judeus. Mas mo inutilmente tendencioso, uma vez que os judeus de outras
se estiver claro o contexto, o termo empresta variedade, e eu o correntes consideram serem suas versões do judaísmo baseadas
utilizo no decorrer do livro. na Bíblia hebraica. Contudo, muitos judeus messiânicos não
* Crente rnessiânico. Também vago, porque, embora esclareça quereriam, em princípio, dar a entender que se separam de to-
das as tradições rabínicas.
* Judeus pró-Jesus. A organização "Judeus Pró-Jesus", funda- justo, pois embora Messias seja palavra 'que, do
da no início da década de 70 e tendo como principal objetivo ponto de vista linguística, antecede o vocábulo gre-
a evangelização do povo judaico, recebeu este nome dos seus go Christos - sendo assim corretamente usado para
detratores. O nome era tão marcante que ficou. Não apenas indicar os judeus que acreditam que o Messias, Je-
isso: o termo passou a ser aplicado às dezenas de milhares de sus, já veio - é possível argumentar que todos os ju-
judeus que acreditam em Yeshua, mas não são membros da- deus ortodoxos e crentes no Antigo Testamento são
quela organização, assim como às várias dezenas que perten- messiânicos, uma vez que acreditam na vinda do
cem. Já que uma organização é chamada por esse nome, cau- Messias, ou pelo menos numa Era Messiânica. Ne-
sa confusão usar o mesmo termo para o movimento como um nhuma forma de judaísmo ou cristianismo, porém,
todo. Ademais, a organização "Judeus Pró-Jesus" tem um utilizou o termo 'judaísmo messiânico' na sua desig-
estilo e uma abordagem características, que não são necessa- nação adequada. Seja como for, o sentido das pala-
riamente compartilhadas por todos os judeus que crêem em vras é dado por aqueles que as empregam. Daí a
Y eshua. evolução da linguagem.
2. "Judeu Messiânico", O b j q k s e Respostas 'Judaísmo messiânico' conquistou seu sentido como
termo graças aos que o empregam nas suas raízes.
O t e m "judaísmo messiânico': tem história documentada Virá dia em que a maioria dos judeus e cristãos en-
que remonta a 1 8 9 6 ~ ~ foi; novamente utilizado por Theodore tenderão o temo como ... referência aos judeus que
Lucky numa controvksia com David Baron cerca de 1911, e sur- seguem Jesus e conservam lealdade a sua herança
giu em artigos do jornal da Aliança Internacional Hebreu-Cristã
no inicio dos anos 20. Mas seu uso só se generalizou nas décadas
de 60 e 70, periodo em que muitos americanos andavam em busca 3. "Messiânico" Versns "Judeu-Messiânico"
de suas raízes étnicas. No final dos anos 60, Manny Brotrnan en-
titulou a sua organização de "Movimento Internacional do Ju- "Você foi à conferência messiânica? Ouvimos excelente
daísmo Messiânico". Em 1976, a Aliança Hebreu-Cristã da Amé- música messiânica". Quem fala está se referindo a uma conferên-
rica mudou o nome para "Aliança Judeu-Messiânica da América" cia judeu-messiânica, mas não se dá ao trabalho de dizer "judeu".
(MJAA), o que constitui uma linha divisória. A partir daí o uso Uma vez que "messiânico" e "cristão" são com frequência usa-
do termo por aqueles que sublinham o judaísmo da crença em Ye- dos como sinônimos, ele poderia, teoricamente, estar descrevendo
shua continuou a crescer. A formação da União das Congrega- uma conferência que nada tem de judaica, uma conferência de,
ções Judeu-messiânicas (UMJC) em 1979 lançou o termo em cir- por, ou para cristãos gentios. Similarmente a música "messiâni-
culação ainda mais ampla. ca" poderia ser um concerto de hino protestantes do século 19.
Há quem objete ao temo; contudo, sou decididamente a Ou cantatas de Bach, ou missas de Haydn.
favor de os judeus messiânicos tomarem a iniciativa no que res- Sou períeccionista bastante para preferir me ater à palavra
peita à defínição de sua identidade e utilizarem a sua própria ter- "judeu". Quero que ela seja ,ouvida. Há pessoas que ainda não
minologia. Em conexão com a principal objeção ao termo "judeu conhecem o nosso movimento e não entendem, a menos que ou-
messiânico", em geral apresentada pelos judeus tradicionais, em- çam as palavras "messiânica" e "judeu". Mas é provável que se
bora ocasionalmente M rn pelos cristãos liberais, n d a de me- trate de uma batalha perdida. "Seja como for, o sentido das pala-
lhor posso fazer que citar Daniel Juster, primeiro presidente da vras é dado por aqueles que as empregam. Daí a evolução da lin-
UMJC: guagem".
"O termo 'judaísmo rnessiânico' é considerado in-
26
4. São "Cristãos" os Judeus Messiânicos? A palavra surge apenas mais duas vezes no Novo Testa-
mento. Em Atos 26,24-29, Sha'ul (Paulo), detido em Cesaréia pa-
Parte I: "Cristão" no Novo Testamento
ra ser julgado diante do imperador em Roma, falou 20 rei Herodes
Esta questão de terminologia gera espantosa exaltação, en- Agrippa e à sua corte. Atento a apresentar uma defesa bem racio-
quanto pessoas portadoras de várias agendas ocultas insistem fu- cinada do messianismo de Yeshua numa estmtura de pensamento
riosamente que o somos ou não o somos. _judaica, foi subitamente interrompido pelo governador romano
A resposta tem duas partes. Primeira: já que a palavra Festus, que gritou em alta voz "Sha'ul, estás louco! O teu muito
"cristão" se origina no Novo Testamento precisamos verificar de saber tira-te o juízo!"
que modo ela é ali usada no contexto do primeiro século. Mas pa- Sha'ul respondeu:
ra responder à pergunta no século vinte, precisamos da análise "Não estou louco, excelentíssimo Festo, mas digo
histórica do capítulo seguinte. Assim, adiando o debate final para palavras de verdade e de prudência. Pois destas coi-
o término do capítuIo UI, examinaremos aqui o significado de sas tem conhecimento o rei, em cuja presença falo
"cristão" no Novo Testamento. com franqueza. Sei que nada disto ihe é oculto, por-
Segundo as Escrituras, a palavra "cristão" não denota que nenhuma destas coisas se fez ali ocultamente.
crentes judeus em Yeshua, de modo algum. O Novo Testamento Crês, ó rei Agrippa, nos profetas? Bem sei que
os denomina seguidores "deste caminho" (Atos 9,2 e 22,4) e crês!"
"nazarenos" (Atos 24,5). São OS ramos naturais da árvore na qual O erudito rei Agrippa reagiu à seriedade de Sha'ul (necessária
os crentes gentios foram enxertados (Romanos 11,16-26). são os aqui para rebater a explosão de Festo), ironizando suavemente:
membros originais da comunidade onde ingressaram os crentes "Por pouco não me persuades a fazer-me cristáo!"
gentios (Efésios 2,ll-16). Mas o Novo Testamento náo chama De preferência a "nazareno", ele usou o termo com que seus
"cristãos" aos crentes judeus. Segundo o Novo Testamento, o cortesãos gentios estariam familiarizados, embora poucos tives-
uso do termo "cristão" estava reservado aos crentes gentios no sem maior compreensão do conteúdo da fé que a media dos ho-
Messias judeu Yeshua. mens de hoje teria da religião do Reverendo Moon.
Atos 11,19-26 narra que em Antioquia alguns crentes ju- Nem confirmando, nem rebatendo o uso da palavra "cris-
deus de Chipre e Cirene não limitaram a sua proclamação de Ye- tão" pelo rei, Sha'ul replicou com tato, dissipando a ironia sem
shua como Messias aos judeus, segundo fora a norma até então, depreciar a seriedade de sua mensagem:
mas abriram terreno novo proclamando o Evangelho também aos "Prouvera Deus que por pouco, e por muito, não
gregos. Muitos desses gentios vieram a acreditar no "christos" somente tu, senão também quantos me ouvem, se fi-
(esta palavra grega é traduçáo de mashiach, do hebraico; ambas zessem hoje tais quaissou ... menos estas algemas!"
as palavras significam "ungido", sendo uma levada para o portu- A terceira vez em que a palavra "cristão" aparece é em 1 Kefa (1
guês como "Cristo" e a outra como "Messias"). Ao que parece, Pedro) 4,14-16:
os outros gentios de Antioquia ouviam seus amigos falarem sem- "Se fordes ultrajados pelo nome de Cristo, bem-
pre desse "christos", reconhecendo-o como seu líder, de modo aventurados sois vós, porque o Espirito de glória, o
que cunharam o vocábulo christlanoi ("cristãos"), assim como o s Espírito de Deus, repousa sobre v6s. Que ninguém
seguidores do reverendo Sun Myung Moon foram apelidados de vós sofra como homicida, ou ladráo, ou difama-
"moonies". Assim, o termo "cristão" foi inventado pelos gentios dor, ou cobiçador do alheio. Se, porém, padecer co-
para descrever gentios numa ambiência gentia. O Novo Testa- mo cristio, não se envergonhe, pelo contrário, glori-
mento declara explicitamente que "os discípulos foram chamados fique a Deus por ter este nome".
cristãos pela primeira vez em ~ n t i o q u i a " . ~ ~ A carta é dirigida "aos exilados eleitos da Diáspora de Ponto,
Galácia", etc. (1 Kefa, 1, I), isto é, muito explicitamente aos fiéis refletindo o espectro total da vida judaica, do religioso ao secular, so-
bre a questão de "quem é judeu".
judeus localizados na Diáspora. Pedro os exorta a não se enver- 9. Sobre o significado de halnkímk consultar o Capítulo V, nota 9.
gonharem quando as pessoas - no contexto, os detratores - lhes 10. O ex-rabino-mor de Israel Shlomo Goren o consegue com engenhosi-
atribuirem o termo "cristão". Não deveriam discutir a respeito do dade em Litvin e Hoenig (op. cit. na nota 8 acima), pp. 32-37
nome, nem mergulhar em depressão, e sim dar glória a Deus, tal- 11. O assunto é debatido no meu estudo inidito The Annotated Dorflinger
vez transformando o insulto numa ocasião de orientar o agressor Decision.
12. Yochanan (João) 3,3: O termo "nascido de novo", agora de uso co-
para a misericórdia de Deus em Yeshua. Não ficamos sabendo se mum nos Estados Unidos, teve aqui a sua origem. Quanto ao signifi-
os crentes judeus devem chamar-se cristãos, nem se os fiéis gen- cado do contexto, ler Yochanan 3,l-21.
tios devem chamar os crentes judeus de cristãos: mas se o nome 13. Ya'akov (Tiago) 2,14-26. Consultar ainda Capítulo VI, Seção D.
lhes for aplicado, seja como epíteto, ou por ignorância, os crentes 14. Atos 16,30-31. O termo "salvo" tomou-se palavra cristã muito usada.
judeus devem suportá-lo de boa vontade. Mas para o indivíduo significa "liberto da culpa, perdoado do pecado,
introduzido no processo pelo qual vai sendo eliminado o estrangula-
Sei que nem todos se convencerão com o raciocínio acima. mento da própria vida pelo pecado". Este significado, oculto àquclcs
Contudo, é minha conclusão que o Novo Testamento deixa pouco que caminham pela estrada larga (prova disso é o titulo do livro do
ou nenhum espaço para os crentes denominarem os judeus mes- psiquiatra Karl Menninger, Whatever Becarm of Sin? Que Fim Levou
siânicos "cristãos". Antes, eram os crentes gentios que eram o Pecado?), parece ter sido conhecido pelo povo comum no mundo
chamados "cristãos", e isto foi resultado dos bem sucedidos es- antigo, pelo menos pelo guarda da prisáo de Filipos, que fez a per-
gunta. Quando o povo judaico, reunido no Templo para festejar Slta-
forços dos primeiros cristãos na evangelização pluricultural. Eles vu'ot, fez essencialmente a niesnlu pergunta, "Kefa (Pedro) respondeu:
traduziram para o grego palavras e idéias hebraicas; e se náo o ti- 'Arrcpcndei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus
vessem feito, a palavra "cristão" não existiria, existindo apenas Cristo para remissão dos vossos pecados e recebereis o dom do Ruach
"rnessiânico". A aproximação cultural dos crentes judeus do pri- Hakodesh (o Espírito Santo)!'" (Atos 2,38, Jewish New Testanzent, ver
meiro século não deveria obrigar os judeus messiânicos do século adiante a nota 20).
15. Atos 11,26; 26,28; 1 Kefa (1 Pedro) 4,16.
vinte a usar terminologia de raiz grega ao se auto-denominarem. 16. Consiiltar a Seção C- 4 adiante.
Contudo, dois mil anos de história marcaram os usos. Concluire- 17. Com respeito à maneira como os crentes judeus eram considerados
mos a discussão após considerar a história no capítulo ~eguinte.~ pela comunidade judaica ler Lawrence H. Schiffman, Who Was A
Jew? Rabbinic and Halakhic Perspectives on the Jewish-Christian
Schism (Hoboken, Nova Jersey, Ktva Publishing House, 1985).
1. Consultar Capítulo III, Seção F, e Capítulo VII, Seção A. 18. Franz Rosenzweig (1886-1.929), intelectual judeu alemão assimilado,
2. Efésios 2,ll-22. considerou converter-se ao cristianismo até que foi reconquistado
3. Mais a respeito no Capítulo V, Seção B. para o judaísmo pela beleza da cerimônia ortodoxa do Yom Kipp~rr;
4. No caso d e Sha'ul, consultar H.L. Ellison, "Paul and the Law, 'All tornou-se um dos mais importantes filósofos deste século. Uma vez
Thing to All Men'", Apostolic History arzd the Gospel, de W . Ward que não fora educado na prgtica do judaísmo, perguntaram-lhe um
Gasque e Ralph P. Martin (Grand Rapids, Michigan: Wm.B. Eerd- dia, após sua volta à religião judaica: "O senhor usa tefillin?" Ele res-
mans Publishing Company, 1970), pp. 195-202. Ver ainda Apêndice, pondeu: "Ainda não". (Especulação: s e o judaísmo messiânico exis-
Seção 3-2-e, último parAgrafo. tisse naquela época Rosenzweig se teria tornado judeu messiânico?)
5. Consultar Seçáo C - 4 adiante. 19. Remeto às minhas notas relativas a esses versículos no Jewish New
6. Para esta seita judeu-cristã do segundo sBculo, que reconhecia Ye- Testarnent (ver adiante, nota 20). Encontro de vez em quando um gen-
shua, mas não Sha'ul, consultar Hans-Joachim Schoeps, Jewish Chris- tio cristão que diz: "Deus me disse que eu era judeu", passando daí em
tiunity (Filadelfia, Fortress Press, 1964). diante a denominar-se judeu. O Apocalipsc 2,9 tem palavras duras
7. A ~ O 16,l-3;
S 21,17-27. para "aqueles que se dizem judeus, mas náo são"; ler minha nota sobre
8. Baruch Litvin, compilador, e Sidney B. Hoenig, editor, Jewish Iden- este versículo no Jewish New Tesimenr.
tity: Modern Responsa and Opinion (Nov York, Feldheim, 1970) 20. Mattityahu (Mateus) 10,32-33, Jewish New Tesramnt, que C minha
apresentam pontos d e vista de mais de 40 líderes judeus, tradução do Novo Testamento para o inglês de modo a destacar a sua
30
judaicidade, juntamente com os meus comentários sobre importantes
questóes judaicas ali levantadas. Literatura a respeito pode ser obtida
através do Jewish New Testarnent Publications, 78 Manahat, 96901,
Jerusalém, Israel. Ler também adiante Capítulo VII, Seção D-1.
21. Ler Capítulo V , Seção C-5 e Apêndice, Seções B e C.
22. Salvo o indicado no Capítulo VII, Seção F.
23. Ler nota 4, acima; Capítulo 111, Seção D-3, parágrafos 2 e 3 e Apên-
dice, Seção C - I.
24. Há crentes judeus em Yeshua que frequentam grupos de cristãos gen-
tios - na AIemanha e noutros países - oferecendo o perdão em nome
"dos judeus" pelos maus tratos que Ihes foram infligidos pelos cris-
tãos. Isto não parece sensato. Posso oferecer o meu perdão pessoal, A. HISTÓRIA - A CHAVE DE TUDO
mas os "judeus" não me nomearam seu representante.
25. 1 Coríncios 1,30, Jeremias 9,23-24. 1. Com o Foco Alhures
26. Ler a Seção C - 3 adiante.
27. Ler adiante a Seção C-4 e o Capítulo 111, Seç5o H. Hoje as pessoas não se voltam para a história. Talvez al-
28.' David Rausch, Mcssianic Judaism; Its Histov, Theology and Polity guns conheçam fatos e teorias históricas, mas, para a maioria,
(Nova York e Toronto, The Edwin Mellin Press, 1982), pp.55ff. história é coisa seca e poeirenta, desligada das alegrias e tristezas
29. Juster (op.cit. no Capítulo 1, nota 8), p.viÜ. da vida. No entanto, a história se acha no âmago da existência. E
30. Atos 11,26.
31. Ler Capítulo 111, S q á o H. a chave para o significado, o propósito e a felicidade.
Esta afirmativa, quase não compreendida nos dias de hoje,
é algo que abala. Contraria a atitude convencional tão compacta-
mente expressa por Henry Ford: "História é tolice". O que o in-
ventor queria dizer, naturalmente, é que libertando-nos de trilhas
batidas, devemos deixar o pensamento voar à solta para além do
limitado e tradicional. Mas, já que a atual geração não entende
a liberdade como "ser livre para" e sim "ser livre de", a história
é vista como grilhões e não como uma estrutura para ação. As
pessoas não querem liberdade para modificar a história e sim para
liberar-se da história. Contudo, os sábios ouvirão George Santa-
yana: "Quem não der atenção à história condena-se a repeti-la".
Por que as pessoas têm tal aversão à história? Não, a per-
gunta está errada. A pergunta certa é a seguinte: por que as pes-
soas andam tão indiferentes à história? Aqui vão algumas razões.
Esta geração se sente desenraizada. Em criança, na segunda guer-
ra mundial, ensinaram-me o patriotismo que estava entranhado na
história norte-americana; mesmo então, poucos levavam a sério o
que era ensinado. A mobilidade, as comunicações de massa e o
materialismo contribuiram para a alienaçáo. As rebeliões contra a
autoridade na década de 60,seguidas pela introversão da geração
"eu" da década de 70 desviaram a atenção do passado e do futu-
ro, focalizando-a no presente.
33
As falsas religiões constituiram também importante fator esta consciência do rniraculoso na história é constante-
contributivo, pois a maioria não tem qualquer senso de história. mente projetada na arena pública.
As orientais embeberam sua doutrina de reencarnação naquilo que
chamo "teoria i9-iô da história": a alma do indivíduo, livre no 2. As Três Perguntas Básicas
plano celestial salvo por seu vínculo com Deus, penetra num cor-
Por que afirmo que a história é a chave de tudo? Porque
po aqui neste mundo de ilusão, vive uma vida, e depois liberta-se
creio que só existem na vida três perguntas básicas, que cada qual
desse corpo e volta ao céu, para novamente descer a outro corpo,
faz à sua maneira, uns conscientemente, outros de modo total-
viver, morrer subir, descer, subir, descer... até escapar deste pe-
mente inconsciente. Elas são:
rene círculo da vida. Neste esquema social a existência é ilusória,
sem importância e a história nada significa. A certa altura, antes
* Como é possível ser feliz?
que eu percebesse a importância da história, senti-me atraído, por
* O que se deve fazer?
algum tempo, por uma falsa religião, Na época eu seria incapaz
* Qual o significado de tudo?
A primeira é a pergunta central da psicologia. A segunda -
de explicar porque, mas sei agora que foi porque essa religião ti-
depois que se ultrapassa o aconselhamento vocacional - é a per-
nha uma teoria da históna. A teoria estava completamente errada,
gunta central da ética. E a terceira? A terceira cai, aparentemente,
mas ao menos dizia que a existência universal tem uma linha con-
no âmbito da filosofia, mas não é exato, E a questão central da
dutora, com início, meio e fim. O comunismo atrai porque se en-
história. Como questão filosófica leva a debate interminável e in-
raiza na história (na verdade é um falso messianismo, uma heresia
conclusivo, porque permanece abstrata, sem fundamento nos
bíblica). Mas somente a Bíblia e a verdadeira religião dão verda-
acontecimentos. Mas a história nada é se não se fundamentar em
deiro sentido à história.
acontecimentos - na verdade é possível definir a história com
Hoje os norte-americanos andam mais que nunca desliga-
duas palavras: "eventos interpretados". Assim é nos eventos, na
dos da história. No passado tínhamos slogans capazes de mobili-
história, que o sentido da vida se revela.
zar a nação: "Cumpra o seu destino!" "Tome o mundo seguro
para a democracia!" Isso ja não existe. Hoje em dia raros são os
3. O Significado da Vida
norte-americanos que se sentem à vontade com a idéia de que o
nosso país tem uma missão no mundo, baseada num passado dig- A questão do sentido é a questão crítica; inclui todas as
no de orgulho e num futuro a ser aprimorado. Muitos se envergo- outras. Se você conhece o sentido da vida será capaz de discernir
nham da nossa história. Muitos se sentem desesperançados, mas o que fazer e como ser feliz. A busca da felicidade fracassará co-
poucos entendem que isto se origina na falta de objetivo. mo objetivo último, porque não levará à descoberta do sentido da
Em Eretz-Yisrael as pessoas são um pouco mais cônscias vida - donde o erro das décadas de 68 e 70, e quem sabe o erro
da história, por vários motivos. Primeiro, o judaísmo,, que é uma cardial dos Estados Unidos.
religião baseada na história e que santifica o tempo através das O enfoque no que fazer será um fracasso porque analisa os
suas festas, exerce influência, de inúmeras maneiras, sobre a vida meios sem considerar os fins. Mais cedo ou mais tarde a pessoa
pública. Segundo, o sionismo secular, sendo uma variante do perceberá a lacuna, e toda a estrutura entrará em colapso.
messianismo, gira também em torno da história. Terceiro, o povo De certo modo Sartre e os existencialistas ateus que nega-
de Israel tem espírito coletivo mais forte e menos individualismo ram a existência $e uma finalidade inerente ao universo e insisti-
(no mau sentido) que o povo norte-americano, embora isto pareça ram em que cada qual é responsável pela criação do seu próprio
estar se perdendo, infelizmente. E por Último, a própria existência sentido de vida, prestaram-nos um serviço. Seguindo a 16gica de
de Israel desafia a natureza e testemunha a aç3o das forças sobre- sua premissa de que o Deus da Bíblia não existe, revelaram a
naturais na históna - até mesmo alguns ateus concordariam - e inutilidade e a falta de sentido da vida em tal universo. Conforme
disse Camus com tanta clareza nas primeiras frases de seu Iivro O
Mito de Sístfo: meta que Deus nos deu, para sermos nada menos que seus coope-
"~xisteapenas um problema filosófico verdadeiramentesé- -
radores não num sentido Iouco e pretencioso, mas com humil-
no: é o do suicídio. Julgar se a vida vale ou não a pena ser vivida dade. Quando aceitamos que Deus nos deu um Livro inspirado,
é responder 5 questão fundamental da filosofia".' no qual seus objetivos são revelados, o nosso objetivo se toma
Ou, conforme eu diria, a questão fund&ental da história. simplesmente realizar os seus objetivos, fazer a sua vontade. A
Noutras palavras, se a história caminha no sentido de algo que questão passa a ser então: como conhecer a vontade de Deus.
valha a pena é a única questão crucial; tudo o mais é tolice. Basta agora observar que Deus expôs grande parte de sua vontade
O sentido da vida! Esteja a questão em chamas ou em cin- em sua Palavra, de modo que se outros meios de discemir a von-
zas, como é que as pessoas respondem? Entre os que rejeitam a tade de Deus - tais como uma diretiva interior, um sonho, a pala-
Deus, alguns se inclinam para Sartre, procurando carfegar o pleno vra de um amigo, um desejo sincero - entram em conflito com a
fardo de gerar sentido num universo sem sentido. Mas não vejo, Bíblia, esses meios estão comprovadamente errados. "Eu sou
simplesmente, como conseguem suportar uma tarefa tão sem sen- Adonai, eu não mudou4.
tido, ingrata, sem objetivo, e arrasadora. Caso Same tivesse ra-
zão, não seríamos tentados a responder 5 pergunta de Carnus no 5 - "A" e o "Z"' - Apatia e Zelo
negativo irreversível? Outros se esquivam, respondendo com am-
bição, com zelo, com boas obras, com o apoio a causas louváveis, E aqui vai uma palavra sobre apatia, entusiasmo, zelo e
com auto-gratificação, com aperfeiçoamento cultural - enquanto o motivação. Excetuando-se o conhecimento da fmalidade de Deus
Lebreiro do Céu2 O permitir. para a história, a apatia é a condigo humana normal, uma vez
Pois somente a Biõlia dá o verdadeiro sentido da vida e da que ela é a resposta natural quando a pessoa responde "Não" às
história. "No começo Deus criou" o homem com uma finalidade, perguntas "A vida tem sentido? Alguma coisa tem importância?"
isto 6 , a de glorifi~cara Deus. Ele permitiu o mal moral; decidiu Mas quando se vê que Deus respondeu com o seu "Sim", a
através de um homem, Abraão, redirnir um povo, Israel; e através resposta natural é o entusiasmo. A palavra vem do grego en
desse povo, Israel, enviar um Messias, Yeshua, que redimjria toda -('bemy')e thear ("Deus"): estar "em Deus" e ter "Deus em" vo-
a humanidade, de modo que esta pudesse novamente glorificar a cê. Se a resposta de Deus é que algo tem importância, e se você
Deus. Deus tem como objetivo da história a vinda em plenitude. está em Deus e Deus em você, conforme sua Palavra promete que
do Reino de Deus, que já começou a ser grava* na humanidade acontecerá, então você estará - literalmente - entusiasmado.
Ademais, Deus em você o encherá de zelo para cumprir a
por Yeshua, o Messias, e seu Corpo. Este povo peregrino atual dá
sua vontade. A Escritura previne que o zeIo, como a dinamite, é
um sentido imperfeito àquilo que o futuro contém. Mas chegará o
tempo em que Israel será salvo e o Messias Yeshua reinará glo- perigoso. Sha'ul (Paulo) testemunhou que embora Israel tivesse
y

riosamente. Assim, "No principio ' está ligado, pelo meio que "zelo por Deus", este não era "baseado num reto entendimen-
toH5. Escreveu ainda: "Ser zeloso é bom, contanto que a causa
agora vivemos, ao verdadeiro e glorioso fim3
seja boam6.
Finalmente acredito que as mais fortes motivações para a
açáo surgem de situaçów de conflito; e quanto mais importante,
decisivo o conflito, maior a motivação do indivíduo para resol-
4. Colaborando Com Deus Para Fazer Sua Vontade vê-lo (e maior a alegria quando ele finalmente se resolve). Numa
bateria elétrica, quanto maior a diferença na carga entre os temi-
Quando percebemos que Deus implantou a histdria com nais, mais forte a corrente. Do mesmo modo o conflito entre o
uma fuialidade, sabemos o que fazer. Sabemos agir na direção
povo judaico e a Bgreja está fortemente carregado de amor e ódio,
positivo e negativo. Imensa energia foi gasta neste conflito e sua entidades separadas. Um "judeu tfpico" diria o seguinte:
importância na história não encontra paralelo. Qualquer indivíduo "Sim, Yeshua e seus primeiros discípulos eram judeus, mas em
que dele participa, portanto, deveria sentir forte motivação para breve o movimento que ele fundou afastou-se do judaísmo. Mui-
ajudar a resolvêlo, e sua resoluçáo - "quando chegar a plenitude tos gentios ingressaram, trazendo suas idéias pagãs e levando o
de Israel e assim todo o Israel se salvará"' - resultará em alegria cristianismo ao ponto em que hoje se encontra - tudo bem para os
sem par na história. Romanos 11,15 denomina-o "ressumiçáo gentios, mas muito distante do judaísmo. Ademais, o que se fez
dentre os mortos". ao povo judaico em nome de Yeshua destrói qualquer vestígio de
interesse pessoal que eu teria em aprofundar meus conhecimentos
6 . Judaísmo Messiânico no Centro da História
a respeito do cristianismo. Que os cristãos venerem a Deus como
Em virtude de estarem tanto na comunidade judaica como bem entendam. Eu continuo judeu" - e isto seja a pessoa ortodo-
na Igreja, os judeus messiânicos acham-se duplamente envolvi- xa, conservadora, reformista, atéia, ou simples indiferente.
dos, ocupando a posiqão de maior tens50 e energia potencial, ten-
do assim a maior motivação para ajudar a resolver o maior con-
flito da história. Já dec1are.i que é o destino da comunidade judeu-
messiânica fazer exatamente isso, cooperando asssim com Deus
na realização de seu objetivo já expresso. O judaísmo messiânico
acha-se, com certeza, no ponto central da história.

7. Judeus Messiânicos! Saa História Determina Sua Vo-


cação.
Escrevi o que está acima porque desejo que meus leitores
judeus messiânicos se sintam peessoalmente envolvidos na análise
histórica que se segue. Náo desejo que se limitem a pensar de
modo abstrato a respeito das "forças sociais em ação na história",
como o fariam num teste de colégio. A Páscoa, Haggadah, os in-
cita a viver o Êxodo como sua história pessoal - vocês deixaram
pessoalmente a escravidão sob o Faraó do Egito e atravessaram o
mar a pé enxuto com Moisés, rumo à liberdade. Desejo ainda que
vivam o que aconteceu entre Israel e a Igreja como sua própria
história - sua tragédia, sua esperança e seu campo de ação. Sua
história judaica, nlessiânica e judeu-messiânica determina a sua
vocação e deveria empolgá-los! Conforme disse, ser rnessiânico é Judeus que deixaram o sem povo, atravessaram
a maneira mais emocionante de ser judeu. a tem d e ninguém e se tornaram "cristãos de origem
judaica", a fim de se salvarem.
B. ISRAEiL, IGREJA E JUDEUS MESSIÂNICOS
FIGURA 1
1. A Sabedoria Convencional
"A Sabedoria Convencional"
A sabedoria convencional considera Israel e a Igreja como Relativa ao Povo Judaico e B Igreja:
O Judaísmo Messianico 6 um Palco Vazio
39
Similarmente, um "cristão típico" diria: "Sim, Yeshua era
judeu, mas os judeus o rejeitaram. Eles têm a sua religião e eu te-
nho a minha. Que eles venerem a Deus como quiserem. Eu conti-
nuo cristão" - seja a pessoa protestante, católica, ou ortodoxa
oriental, crente genuina, ou cristã apenas de nome.
O que ambos os lados vêem é algo semelhante à figura I,
na qual o pequeno círculo representa a comunidade judaica (me-
nor, porque a comunidade judaica é mais reduzida), enquanto o
maior representa a Igreja. Os círculos não se sobrepõem. Para que
um judeu se "converta ao ~ristianismo"~ ele terá que deixar o seu
povo e ingressar na igreja. Simples, fácil de entender. Mas não Náo Masibicos
necessariamente exato.
2. Exercício de Lógica: Toda a Humanidade Se ~ i v i d e "
Em...
Toda a humanidade se divide em duas partes - aqueles que
dizem que se pode dividir a humanidade em duas partes e os que
dizem que não se pode. Pertenço ao primeiro grupo, de modo
que... Aqui vai.
Precisamos das duas maneiras seguintes para dividir a hu-
manidade em duas partes, a fim de explicar melhor do que a sa- 3. Gentios 4. Gentios N@u-
bedoria convencionaI a reIação entre judeus e cristãos. Não-Judeus Messiânicos Messiânibos
Toda a humanidade se divide em judeus e gentios (não-ju- (Gentios) (Gentios Cristãos) (Resto do Mundo)
deus). Debatemos anteriormente os problemas de se definir um
judeu - segundo a mãe, o pai, ambos, etc. Mas, seja qual for a de-
finição do termo, a lógica exige que todo mundo seja judeu ou
não-judeu. Não pode ser arnbas as coisas e não pode deixar de ser
FIGURA 2
uma delas.
Do mesmo modo, toda a humanidade se divide em messiâ-
nicos e não-messiânicos (evitamos os termos comuns "cristão" e Lógica do Relacionamento
"não-cristão" por razões expostas adiante). Também aqui há pro- Entre o Povo Judaico e a Igreja
blemas para se definir messiânico - segundo a fé, a comunidade,
a cultura, ou seja o que for. Mas de novo a lógica exige que todos
sejam messiânicos ou nio-messiânicos - ou uma coisa ou outra,
não pode ser ambas, ou nenhuma delas.9
A confusão quando se pensa em judeus e cristãos resulta
de não perceber que judeu-gentio e rnessiânico/não-messiânico
são duas maneiras distintas e logicamente não-relacionadas de
descrever-se a raça humana, duas dimensões separadas.
40
Há quatro categorias possíveis resultantes deste sistema
classificatório bi-dimensional (Figura 2), ou seja: judeus rnessift- ~ovamente'o pequeno círculo representa os judeus e o
nicos (Casa l), judeus não-rnessiânicos (Casa 2), gentios messiâ- grande círculo a Igreja, mas agora os dois se sobrepkm. A inter-
nicos (ou gentios cristãos, Casa 3) e gentos não-messiânicos (Ca- seção dos dois círculos representa os judeus messiânicos. O res-
sa 4). Todo ser humano se ajusta a uma, e apenas uma, dessas tante do cíiculo judaico representa os judeus não-messiânicos e o
categoias. restante do círculo da Igreja representa os cristãos gentios. A
A confusão se resoIve quando a pessoa percebe que os ju- quarta categoria, os gentios não-messiânicos, o restante da huma-
deus se incluem nas casas 1 e 2 (judeus messiânicos e não-mes- nidade, aqueles que não são nem judeus, nem cristãos, é repre-
siânicos), enquanto a Igreja se inclui nas casas 1 e 3 (judeus mes- sentada pela parte do círculo maior, exterior aos dois menores.
siânicos e gentios rnessiânicos). Assim - e este é o ponto muito
simples e óbvio - é possível, logicarnente, ser ao mesmo tempo 3. Uma Pergunta Empírica: Existem Judeus Messiânicos?
judeu e rnessiânico.
A Figura 2, portanto, pode ser retraçada (de acordo com as Falamos até agora em categorias lógicas abstratas. A
linhas da Figura 1) como a Figura 3. O círculo maior representa questão empírica é a seguinte: existem judeus messiânicos?
toda a humanidade. Existem pessoas reais nesta categda? Ou se trata de um quadro
vazio? Alegam alguns que "judeu messiânico" é uma impossibi-
lidade lógica, uma contradição em termos, mas o raciocínio acima
o contradiz' de modo conclusivo. Resta a seguinte pergunta:
existem de fato no mundo pessoas a um tempo judias e messiâni-
2 Igreja cas? Respondo que existem. Na verdade, sou uma delas. O que se
segue é uma explanação de porque tal grupo existe e o motivo de
ser assim denominado.
Iniciamos com três entidades - Israel, o povo judaico e a
Igreja - e perguntamos quais são as relações entre elas. Devemos
examinar a questão do ponto & vista teológico e histórico. A
teologia nos mostrará o verdadeiro relacionamento, como são as
coisas "nos céus", enquanto a história mostrará o que aconteceu
aqui na terra. Estaremos então mais bem situados para considerar
o que fazer.
Os teólogos cristãos, ao lidarem com o assunto, seguiram
5 Judeus Salvos que decidem em geral uma de duas abordagens. A mais antiga e mais conheci-
livremente expressar sua fé da é geralmente chamada teologia da substituição, ou teologia da
num contexto não-judaico. Aliança, embora hoje em dia surja também com outros nomes; ela
declara que a Igreja é Israel "Espiritual", ou "Novo Israel", que
substituiu o "Antigo" Israel (os judeus) como o povo de Deus.
FIGURA 3 Mais recentemente surgiu em setores protestantes a teologia dis-
pensacional, que em sua forma mais extremada declara que o po-
Os Fatos Conforme a Mgica, vo judaico recebeu promessas somente na terra, enquanto que a
Não Conforme a Sabedoria Convencional: Igreja tem promessas no céu. Não estudaremos minuciosamente
O Judaísmo Messiiinico é um Quadro Não-Vazio essas abordagens, mas a conclusão revela que a b a s são excessi-
43
I
vamente simplistas, e no processo chegam a conclusóesl' obvia- veira cultivada, com muito maior razão os ramos naturais serão
mente anti-semitas 'O. reenxertados em sua própria oliveira!
"Pois, irmãos, quero que entendam esta verdade que Deus
4. Teologia da Oliveira antigamente ocultava, mas que agora revelou, de modo que não
i imaginem saber mais do que sabem na verdade. E que a obstina-
A análise que se segue demonstrará que a separação entre I ção, em certa medida, veio sobre Israel. até que o mundo dos
Igreja e povo judaico, conforme vem ocorrendo há mais de 2000 gentios entre em sua plenitude; e que é assim que todo o Israel se-
anos, esta totalmente fora da vontade de Deus, é um erro terrível, rá salvo".
o que chamei anteriormente de o pior cisma da história. Veremos Nas páginas 50-51, a Figura 5 representa a "oliveira culti-
então que é nossa tarefa retificar esse erro, lançarmo-nos plena- vada" desenvolvendo-se no decorrer da história; a linha do tempo
mente naquilo que o judaísmo chama de tikkunha'olam, literal- à esquerda abarca quatro mil anos. A Figura 5 ilustra cortes
mente "arrumar o mundo", consertá-lo. Segundo a tradição judai- transversais da oliveira: mostrando o relacionamento entre o povo
ca, essa atividade apressa a vinda do Messias; e isto corresponde judaico e a Igreja em diversas épocas.
ao que Kefa (Pedro) incentiva os que crêem em Yeshua a fazer, A oliveira que Deus cultivou é Israel. Suas raízes são os
ou seja, apressarem a vinda do Dia de Deus.12 Chamo a esta patriarcas - Abraão, Isaac e Dessa raiz saiu o povo judai-
abordagem "teologia da Oliveira", baseado na alegoria de ShaYu1 co. Entretanto os gentios eram uma oliveira selvagem, a quem
(Paulo) em romanos 1 1.16-26, dirigida aos gentios cristãos (mi- I
Deus, o agricultor, não havia dedicado a mesma atenção especial.
nha tradução, excerto do Jewish New ~estamentj~:~~ i Sha'ul escreve que "Estáveis naquele tempo sem Cristo, sem di-
"Mas se o chllah14 oferecido como primícias é santo, en- reito à didadania de Israel, alheios às alianças. sem esperança da
tão também o é o pão inteiro. E se a raiz é santa, também o são os promessa, sem esperança e sem Deus neste mundo"l% A Figura
ramos. Mas se alguns dos ramos estiverem quebrados e você - 5A ilustra esta situação, que prevaleceu até o tempo do ministério
oliveira selvagem - for enxertado entre eles e passou a partilhar de Yeshua (25 D.C.)
igualmente da rica raiz da oliveira, não se gabe como se fosse i Ao chegar, Yeshua situou-se no centro da árvore, no cen-
melhor do que os ramos! Contudo, caso se gabe, lembre-se de que tro do povo judeu, a quintessência do judeu, assim como a quin-
não está sustentando a raiz, a raiz é que o está sustentando. Então tessência do homem. Reuniu ao seu redor discípulos judeus. Mor-
você dirá: "Ramos foram quebrados para que eu pudesse ser en- reu, ressuscitou e subiu ao céu. A comunidade judeu-messiânica
xertado". Exato, por que não? Foram quebrados por sua falta de cresceu - cento e vinte pessoas (Atos 1,15), três mil (Atos 2,41),
confiança. Contudo você conserva o seu lugar somente por causa cinco mil (Atos 4,4) "e seu número continuou a multipIicar-se"
da confiança. Não seja arrogante, portanto; pelo contrário, encha- (Atos 9,31). Consultar a Figura 51B (35 D.C.).
se de temor! Pois se Deus não poupou os ramos naturais, não o Os judeus não-messiânicos reagiram contra os judeus mes-
poupará com certeza! siânicos, afastando-os do centro (Atos 4-9,12). Entretanto a men-
"Assim contemple profundamente a bondade de Deus e sua sagem divulgou-se entre os gentios - Cornélio (Atos 10, Antio-
severidade; de um lado, severidade para com aqueles que cairam; quia); observar a figura 5C (50 D.C.).
mas de outro, a bondade de Deus para com você r contanto que
você se mantenha dentro desta bondade! Caso contrário será tam-
bém cortado! Ademais, os outros, se não persistirem em sua des-
confiança, serão enxertados; porque Deus é capaz de reenxertá-
10s. Pois se você foi mancado daquilo que é por natureza uma
oliveira selvagem e enxertado, contrariando a natureza, numa oli-
44
23 Fig.SG : 24 "Todo o I m l ecrá Avo"
1 "O Final dos Tempos"
"Todo Israel €salvo" (Fig. 5G) - "O Final dos Tempos" - Romanos 11.26.

3 1988 D.C. - messiânico(Fig. 5F)


\

8 350 D.C. até os tempos


entilizada(Fig. 5ã)
-
)" judeus
Skulo IV - os
devem renunciar
a todos OS costumes ju-
&os para ingressar na
Igrela. A Igreja 6 maior
10 70D.C. que o povo judeu.
12 50 D.C.
14 35 D.C. Depois do trabalho de Paulo -
16 25 D.C. gentios são maioria na Igrcja.

32
A Igreja comcçaa aceitar gentios -
Comblio, congregaçãoda Antioquia.
n
33 Fig. 5B: 3
a comunidadejudeu--bica primitiva.

FIGURA 5
35 Fig. 5A: 25 D.C.

0 36 Povo judaico
38 Cristãosgmtios

Cortes t r a n s e da Oliveira:
A-Igreja e o Povo Judaico em
Pontos Especfficos da História
Embora somente em Jerusalém os judeus messiânicos che-
gassem a "dezenas dc milhares... todos zelosos pela ~ o r a h " , ]as~ Yeshua, não podendo assim jurar fidelidade a qualquer outro. isto
viagens de Sha'ul (Atos 13-28) e outros empreendimentos missio- íoi também considerado traição e o restante da comunidade judai-
nários tomaram em breve os gentios maioria na Igreja. Contudo, ca fechou-se, amarga, contra eles.
Além da tensão política havia ainda a tensão religiosa, con-
os fiéis judeus eram ainda aceitos pelo povo judaico como fazen-
forme testemunha o acréscimo à liturgia da sinagoga do Birkat-
do parte da comunidade judaica (Figura 5D,70 D.C.).
Ha-Minin (bênção para proteção contra os "sectários", conforme
Mas à época em que Sha'ul escreveu a apístola aos Roma-
eram em geral designados os crentes judeus) cerca de 90 D.C. Em
nos (cerca de 57 D.C.) estava claro que a maioria dos judeus re-
conseqüência desses acontecimentos, os crentes em Yeshua pas-
jeitava Yeshua como Messias.I8 Sha'ul denominou-os ramos cor-
saram a ser cada vez mais excluídos da comunidade judaica.
tados da oliveira cultivada. Preveniu os fiéis gentios, porém, que
dema mais, no setor dos gentios cristãos a ortodoxia da fé
não deviam se vangioriar indevidamente por terem sido enxerta-
dos crentes judaicos passou a ser esmiuçada de modo crescente,
dos na oliveira, ou considerarem-se melhores que os ramos corta- para ver se atinham- aos costumes e às lealdades judaicas. No
dos, uma vez que mantinham aquela posição somente pela fé, e Diálogo Com Trifão, Judeu, de Justin no mártir, cristão gentio
sem ela seriam eles próprios ramos cortados. Inversamente, os (cerca de 160 D.C.) percebe-se limitada tolerância aos judeus
ramos cortados (judeus não-messiânicos) podem ser novamente messiânicos que conservam características judaicas20
enxertados pela fé; e, do ponto de vista agrícola, o enxerto é mais Mas depois que o cristianismo se tomou a religião oficial
capaz de "pegar" sendo ramo da própria árvore do que noutra ár- de Roma no inicio do sécuio BV, inúmeros gentios que náo tinham
vore qualquer, e espera-se que os frutos dos ramos cultivados se-
sido salvos ingressaram na Igreja institucional. Ela expandiu-se,
jam melhores do que os silvestres (contudo, Deus não é limitado
tomando-se muito mais ampla do que a população judaica do
pelas expectativas humanas). O importante para Sha'ul é que es-
mundo inteiro, tornou-se plenamente gentilizada, considerando os
ses ramos naturais serão de fato novamente enxertados "quando o judeus como o adversário vencido, e exibindo escassa cornpreen-
mundo gentio entrar em sua plenitude".
são dos fiéis judeus que queriam conservar o seu judaísmo. Tor-
Com o passar do tempo, a situação dos fiéis judeus sofreu nou-se impossível manifestar publicamente uma identidade a um
significativa mudança. À medida que as nuvens se acumulavam, tempo judaica e messiânica. O judeu que quisesse aceitar o Mes-
prenunciando a primeira revolta dos judeus contra Roma, os ju- sias judeu era obrigado a abandonar o seu povo para ingressar na
deus messiânicos recordavam a profecia de Yeshua:
igreja (Fig. 5E, 350 D.C.). Os judeus que acreditavam em Yeshua
Quando virdes Jerusalém sitiada por exércitos, então sabei
eram solicitados a se separarem totalmente do judaísmo, do povo
que está próxima a sua ruína. Os que então se acharem na Sudéia
judeu e de seus costumes judaicos. Aqui vai uma confissão típica
fujam para os montes; os que estiverem dentro da cidade retirem-
das que os judeus messiânicos tinha que assinar:
se; os que estiverem nos campos hão entrem na cidade".19
"Renuncio a todos os costumes, ritos, legalismos, pão ázi-
Fugiram para a cidade de Pella, escapando assim à destrui-
mo e sacrifícios de cordeiros dos hebreus, e a todas as demais
ção do Templo (70 D.C.) e à mortandade pelos romanos de quase celebrações hebraicas, sacrifícios, preces, aspersões, purificações,
um milhão de judeus (segundo Josephus, número menor segundo santificaçóes e propiciações, e jejuns, luas novab e Sabbaths, e
outras estimativas). Por esta prudência os zelotas que lideraram a superstições, hinos e cantos, observâncias e sinagogas, e aos ali-
~ebeliãoconsideraram traidores os judeus messiânicos. mentos e bebidas dos hebreus; numa palavra, renuncio absoluta-
Na segunda revolta (132-135 D.C.), os crentes judeus mente a tudo o que é judaico, a todas as leis, ritos e costumes... e
aquiesceram de início; mas quando o rabino Akiva declarou que o se mais tarde quiser reriegar e voltar à superstição judaica, ou for
líder militar judeu Shim'on Bar-Kochva era o Messias, eles jií não surpreendido Iazendo uma refeição com judeus, ou celebrando
puderam cooperar, por quanto sabiam que o verdadeiro Messias é suas íestas, ou conversando secretamente e condenando a religião
48
deus não-salvos (ramos naturais coitados). os judeus salvos (ra-
cristã em vez de rejeitá-las abertamente e condenar sua fé vazia,
mos naturais ligados à árvore) e os fiéis gentios (ramos silvestres
que o tremor de Caim e a lepra de Gehazi se apoderem de mim,
enxertados) cada qual tem a sua participação atuante no único Hs-
assim como os castigos legais a que me reconheço sujeito. E que
mel; e este fato precisa ser levado em consideração em qualquer
eu seja anátema no mundo que há de vir, e que Satanás e os de-
teologia correta de israei e da Igreja.
mônios se apoderem de minha almaw2'
Por mais grosseira que pareça esta confissão ao leitor de Não há uma só palavra na passagem da "oliveira", ou em
quaiqeur outro trecho das Escrituras acerca de dividir as promes-
hoje, ela é representativa - admite-se que em forma extrema, con-
sas em terrenas para os judeus e celestiais para a Igreja. Contudo,
dizente com o fanatismo dos séculos quarto e quinto - de atitudes Deus Cez dois tipos de promessas. Com respeito às relacionadas
que têm persistido na Igreja por centenas de anos. A hquisição
com a sarvação individual não há judeu ou gentio (Gálatas 3,28),
espanhola interrogava os católicos de origem judaica para venfi- nenhuma distinção entre os dois (Romanos 10,12), nenhum muro
car se conservavam costumes judeus. Do repúdio gentio pelo ju-
divisório feito de hostilidade (Efésios 2,1419). Por outro lado
daismo emergiu a perseguição cristã aos judeus - Cruzadas, h-
quisição, pogroms, a Alemanha nazista (sim, houve envolvimento restam promessas para a nação de Israel, para o povo judeu, nas
quais as nações gentias incorporadas, e os fiéis gentios indivi-
cristão,'tanto para o bem quanto para o mal) - com todo o sofri-
dualmente, não partilham diretamente - embora valha a pena ob-
mento e ièaldade que os judeus não podem esquecer, e que a
Igreja não terá permissão para esquecer até que todos os cristãos
servar que existem também promessas para certas nações gentias
(Isaias 19,24-25, por exemplo, assegura que Deus abençoará o
(náo apenas alguns) aprendam a lição.
Assim, até recentemente o povo judaico e a Ygreja pema- Egito e a Assíria juntamente com Israel, de modo que os fiéis
necerarn separados, sem espaço para o judan'smo messiânico, uma gentios que fazem parte dessas nações se beneficiarão dessas
vez que tanto a maioria dos judeus (pessoas que rb foram salvas, bênçãos).
cuja experiência com a Igreja foi em grande parte negativa) como Na atual situação da comunidade de Israel, gentios de inú-
a maioria dos cristãos (gentios que não compreenderam sua pró- meras nações reconhecem o Messias judeu, porém a maioria da
pria fé naquilo que ela se relaciona1 com o povo judeu) assim o nação israelense não o reconhece. Suponhamos que cidadãos do
desejavam. Canadá, da hdia, Nigéria, Austrália e outros membros da com-
Deixando por um instante o desenvolvimento histórico monwealth britânica reconhecessem a rainha Elisabeth II como
sua rainha, mas quase todos os ingleses, como indivíduos, assim
desta trágica divisão da oliveira cultivada em dois aparentemente
como o governo britânico, nio reconhecessem. Nesta circunstân-
separados povos de Deus examinemos a ampla metáfora da olha
cia seria errado dizer que a Grã-Bretanha já não era membro da
com o objetivo de compreender suas implicações teológicas. Só
Commonwealth, quando na verdade seria ainda o membro centmãl
existe uma árvore cultivada, e isto significa que só existe um is-
entre iguais. Seria também incorreto concordar com os ingleses
raei, não dois. Os ramos silvestres (gentios) foram enxertados
no sentido de que Elisabeth não era rainha. Só se poderia tentar
através da fé no Messias "reunidos no sangue do rist to":^ de
convencê-los - tanto a ingleses individuais como ao sistema go-
modo que se acham agora incluídos na comunidade de Israel. Mas
vernamental - a prestar obediência a Elisabeth a, que é de fato a
não são, segundo a teolagia da Substituição, um Novo Israel. E
os fiéis judeus e gentios reunidos não constituem um Novo Israel, rainha.23
No futuro, "todo o Israel se salvará". No TanaWt (Antigo
uma vez que os ramos cortados são ainda identificáveis como Bs-
Testamento), ou seja, na maneira de pensar hebraica, a palavra
mel, embora não tenham a seiva viva da árvore a fluir no seu in-
kl ("tudo") em rexsn~ãoa um coletivo não significa cada indiví-
terior. Pois Deus os está preservando miraculosmente, de modo
duo que o compõe, e sim a maior parte, a parte essencial, a maio-
que em vez de secarem, como acontece normalmente aos ramos
ria considerável. Creio, portanto, que quando "todo o Israel" se
separados, são capazes de ser reenxertados pela fé. Assim os ju-
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salvar não será porque cada judeu acredite em Yeshua, e sim por- mm ma Messias judeu Yeshua, +em tsabdhar juntos p m des-
que a nação judaica terá uma maioria de crentes elou um governo fazer o dano causado pela divisa0 entre o povo judaico e a Igreja
crente. Usando a metáiora de Moisés. os judeus messiânicos serão em, aparentemente, dois povos de Deus separados. O povo judai-
"a cabeça e não a cauda"24 (Figuna 5G). co deve ser levado a compreender - de livre vontade, não coagi-
Cieio que o ieaparecimenio de uma comunidade de judeus do, ou iludido - que as antigas metas do esforço judaico só serão
messiânicos em nossos dias é uma fase signiiicativa no processo concretizados quando o povo judaico compreender e confiar em
de salvação de Deus para todo o .srael. Se a Fiyra 5G é a meta Yeshua, o Messias judeu. A Igreja precisa ser levada a compre
derradeira, e a Figura 5E (Wtusimente igual à Figura 1, à sabe- ender - de livre vontade, não por coagão, ou ludibrio - que seus
doria convencional) demonstm a situação como se apresentava até objetivos só se concretizarão quando toda forma de anti-semitis-
recentemente. neste caso a Figura 5D não só esboça um velho mo ou distanciarnento, franco ou encoberto, desaparecer, e a uni-
estágio histórico. mas também reúne o presente e o futuro ime- dade intima com o povo judaico for reconhecida.
diato, representada pela Figura 5F, demonstrando que começamos Haverá objetivo mais glorioso? Vivemos numa época emo-
a recuperar o nosso passado. Ademais ensina que os eventos co- cinante, conforme vemos no hpeto de nossa história rumo h rea-
meçam a se ajustar meihor à lógica (Figuras 2,3 e 5F) do que à lização da profecia de Sha'ul, ou seja, que Israel se salvará. E en-
sabedoria convencional (Figuras 1 e 5E). Tomou-se novamente quanto trabaihamos para realizar esta finalidade é essencial que
possível a um judeu que crê em Yeshua identificar-se tanto como estejamos armados com a justa compreens50 do relacionamento
judeu como messiânico, e expressar essa identidade de modo so- entre Israel e a Igreja.
cialmente reconhecido.
isto aconteceu do ponto de vista histórico por causa da
grande expansão da liberdade na vida politica, econôrnica e social
do Ocidente nos últimos trezentos anos, fenômeno que revela com Cada uma das quatro categorias da humanidade tem sua
certeza o amor de Deus pela humanidade. Anteriormente, uma re- história. A história judaica tem 4000 anos; a história da Igreja,
duzida minoria não poderia ter esperanças de efetuar mudança distinta da história judaica na qual se baseia, tem 2080 anos, as-
fundamental em duas entidades sociais opostas e muito mais am- sim como a distinta história judeu-messiânica (embora por vários
plas, alegando hzer parte de ambas. Hoje a nossa liberdade para séculos esta seja dificil de se discernir). A história do resto do
tentar esta absurdamente impmvávei tarefa (improvável pelos pa- mundo é, naturalmente, mais longa; os outros estão nela inseri:
drões humanos, não p i o s divinos) é protegida em países demo- dos. E agora, precisamente porque os judeus messiânicos sáo a
cráticos pluralistas. A medida que crescia a iiberdade política, já um tempo judeus e messiânicos, precisamos nos relacionar com
em 3718 Joho Toland, no seu iivro ~ a z a r e n msugeria
~ ~ que os todas essas histórias como também nossas,
"crisláos entre os judeus" obser?assem a Iorah. Com o desen- Mas cabe aqui uma advertência. E interessante ter quatro
volvimento da liberdade emnômica, o movimento hebreu-cristáa histórias, mas não podemos optar por isto ou aquilo. Devemos
pôde avançar com poucos Unpeciihcs na kpiaterra do século de- aceitar o que é mau juntamente com o que é bom, os caractem
"enove. E com o desenvolvhnento da iiberdade social, juntamente e incidentes infiéis e desprezíveis juntamente com o ~ s t a n t fiel
e e
com o avanço das comunicaçóes, nos é possfvel hoje ter a ousadia os eventos dignos de ser celebrados. Autenticidade é a melhor
de esperar ~ u oejuda'smo messiânico atingirá sua meta de sanar a política para o historiador. Ademais existe para isso um madvi-
cisão er,tre a &reja e o povo judaico. lhoso precedente - a Bíblia, que não se nega a regisim o lado
E tarela dos judeus messiânicos, e dos gentios cristãos que desagradável da verdade.
com eles simpatizam, empreender o tikkun-hu'olamde que fala- No decorrer do livro usarei um termo que muito me agrada:
mos anteriormente. São estes que, em conseqüência de sua fé co- "a história da salvação". Significa o registro dos atos e interven-
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ções divinas nos negócios humanos, a fim de redirnir a humanida-
de do pecado e de suas conseqüências. Retrata toda a extensão da L. Porque a História Judaica É a Minha História
história humana da ótica de Deus nos salvando. A expressão traz O motivo pelo qual a história judaica é a minha história
implícito o principal objetivo de Deus para a humanidade, sua ra- está em que não sou gentio messiânico e sim judeu messiânico.
zão primordial para permitir que a história prossiga. Infelizmente, Um adversário judeu não-messiânico perguntaria talvez: "Por que
os intelectuais liberais alemães que inventaram e usaram o temo a história judaica é importante para você? Seja cristáo e encontre
(em alemão: Heilsgeschichte) não acreditavam em Deus conforme o seu lugar na corrente da história". Náo, isto é insatisfatório por
a Biblia o retrata. Em resultado, alguns dos que crêem na Bíblia diversas razões.
sentem-se desconcertados diante desses intelectuais e das expres- Primeira - a história judaica é minha porque sou judeu.
sões que usam. Mas acredito que o bem e a verdade estão onde Rejeito a alegação de que não o sou. A história judaica conduz
você os encontra, de modo que vou usar, de qualquer maneira, até mim e explica quem eu sou.
o termo "história da salvaçio". Segunda - a história judaica é importante para mim porque
o judaísmo preservou melhor que o cristianismo alguns elementos
E HISTÓRIA JUDAICA
D. JUDAÍSMOMESS~ÂNKO de verdade. Por exemplo: o sistema que gera hlakhah no judaís-
mo produziu melhor aplicação da verdade bíblica a muitas situa-
I. Participam os Cristãos Gentios da História Judaica? ções éticas decisórias específicas do que os costumeiros arranjos
cristãos, que tendem a ser mais ad hoc e, portanto, menos ade-
Os gentios cristãos consideram como sua, necessária e le- quadamente destinados a preservar a sabedoria. Ademais, feno-
gitimamente, história de Israel, o povo de Deus, registrada na Bí- menos como a santZicação do tempo em festivais e no Shubbat, e
blia hebraica, porque grava a história da salvação na qual eles, a introdução da santidade na vida diária através de repetidas ati-
através da fé no Novo Testamento, vieram a partilhar. O registro vidades, tais como o te$llin, a recitação das preces numa sinago-
prossegue através de tempos intertestarnentais (400 A.C. até o ga e até a rnezuzah na porta, expressam de maneiras prhticas a
tempo de Yeshuaj, dando particular Qestaqueao judaísmo e à am- imanência de Deus. Assim, a moderna história judaica, e o ju-
biência judaica do primeiro século, com suas várias tendências, daísmo que ela produziu, nos ajudam a nós, judeus messiânicos, a
partidos e seitas, porque Yeshua surgiu então, em conseqüência compreender a nossa fé. Mas na verdade seria uma boa razão
do que os gentios começaram a ingressar sistematicamente no po- também para os cristãos gentios envolverem-se com o judaísmo -
vo de Deus através da fé no Messias judeu, mas sem se converte- e na verdade talvez fosse isto que Ya'akov (Tiago) tinha em
rem ao judaísmo. mente quando, após o ConciZio de Jerusalém haver decidido que
Mas, a essa altura, os cristãos gentios despedem-se da his- os cristãos gentios teriam que obedecer apenas a quatro mitzvot
tória judaica. Alguns - bem poucos - conservaram interesse inte- para serem aceitos como crentes imiáos, declarou: "Desde os
lectual e até autêntica e sincera preocupação e simpatia pelos tempos mais remotos, Moisés tem tido em cada cidade aqueles
destinos e desventuras do povo judaico nos últimos dois mil anos; que o veneram, lendo suas palavras na sinagoga todo ~habbat"."
mas não falo disso. Refiro-me a que os cristáos gentios não se
acham pessoaimente envolvidos na história judaica pós-Novo
E terceira - a história judaica é minha porque se nós, ju-
Testamento. isto é exato por uma razão certa e uma errada: a deus messiânicos, quisermos empreender a nossa tarefa de ajudar
certa 6 que a hist6ria judaica pós-Novo Testamento não é deles. a sanar a divisão entse a Igreja e os judeus, como integrantes de
A errada é considerarem que, ap6s Yeshua, a história judaica já ambos, precisamos estar plenamente identificados tanto com a
cão h z parte da história da salvação, embora ela o faça, com história judaica quando com a história cristã.
Assim o Rambam é o meu Rambam e David BenLGurion 8
certeza.
o meu David Ben-Gurion, assim como Moses Mendelssohn e Mo-
she Feinstein e Solomon Schechter e Stephen Wise e Judah Ha- prevenindo contra a falta de generosidade e nada além disso.
Nasi e Raba e Abaye e Meyer Lansky, Albert Einstein e os Mar- Ademais, isto se encaixa pedeitamente no contexto: "Onde está o
xes - Karl e Groucho - e Peres e Shamir, Rav Kahane e Chxiie teu tesouro também aí está o teu coração ... Não se pode servir a
Biton. Todos são meus! E eu, como judeu que venera o Messias Deus e ao dinheiro"28.
judeu Yeshua, sou deles. Alguns judeus não-messiânicos reconhecem que existiu
uma comunidade cristã judaica nos velhos tempos, mas negam a
3. Porque os Judeus Messiânicos São Judeus possibilidade de uma comunidade judeu-messiânica hoje. conside-
remos as observações do juiz Sharngar, judeu ortodoxo, na deci-
Sim, sou deles. De modo que é estranho que alguns judeus são Dorflinger:
não-messiânicos tentem excluir os judeus messiânicos da comuni- "Para esta finalidade (convencer a corte de que ela era ju-
dade judaica. Não foi assim de início, com certeza. Os fatos são dia, com direito a fazer aliyah segundo a Lei do Ketorno de Is-
indiscutíveis. Durante anos todos os discípulos de Yeshua foram rael) ela cometeu exageros, com prolongados e tortuosos argu-
judeus. O Novo Testamento foi inteiramente escrito por judeus mentos referentes às possibilidades de ser judia que acredita que
(sendo Lucas, provavelmente, prosélito do judaismo). O próprio Jesus é o Messias, como se ainda vivêssemos no inicio do primei-
conceito de Messias nada B sen5o judeu. E o próprio Yeshua era ro século da Era Cristã, como se desde então nada houvesse
judeu - era e é, jB que em parte alguma as Escrituras dizem ou acontecido relativo Si cristalizagão das estruturas religiosas e à se-
sugerem que ele deixou de ser judeu. O Apocalipse 5,5 poderia paração do judaísmo de todos aqueles que escolheram outro ca-
chamar o Messias glorificado de " h ã o da Tribo de Judá" se ele minh~".~~
não continuasse a ser judeu? O eterno Rei dos Judeus pdt:,ia Meu comentário é o seguinte: "Se as 'estnituras religiosas'
tornar-se gentio'! For'un os judeus que ':varam o Evangelho tios 'cristalizaram' de um modo que separa 'do judaísmo todos aqueles
não-judeus. Sha'ul, o principai en;;asArio junto aos gentios, foi que escolheram outro caminho', então é tarefa dos judeus messiâ-
judeu observante a vida inteira. Na verdade, a principal questão nicos persuadir judeus e cristãos a descristalizarem as estruturas
na Igreja primitiva era saber se, sem se converter totalmente ao de modo a colocá-las em linha com a ~alidade".~'

I
judaísmo, um gentio poderia ser cristão. A expiação vicána do
Messias está enraizada no sistema sacrificial judaico; a Ceia do 4. Atitudes Judaicas para com Yeshua e o
Senhor tem raízes nas tradições da Páscoa judaica; o batismo é Novo Testamento
uma prática judaica; e, na verdade, todo o Novo Testamento está Mas talvez tudo isto seja mais bem compreendido se ano-
embasado na Bíblia hebraica, com suas profecias e sua promessa tarmos as cinco atitudes básicas que um judeu pode ter em relação
de uma Nova Aliança, de modo que o Novo Testamento sem o a Yeshua, ao Novo Testamento e ao cristianismo. Estas talvez
Antigo é tão impossível quanto o segundo pavimento de uma casa não sejam as únicas posições possíveis, mas não me ocorre qual-
sem o primeiro. quer ponto de vista que deixe de expressar, em maior ou menor
Ademais, grande parte daquilo que está escrito no Novo grau, uma dessas atitudes. Acrescentei a cada uma breves réplicas
Testamento é incompreensível se isolado do judaísmo. Aqui vai minhas.
um exemplo. Yeshua diz no Sermão da Montanha: "Se teu olho é * "Yeshua era mau, Sha'ul (Paulo) era mau, o Novo Testamento
mau, todo o teu corpo será mergulhado nas trevas".27 Que 6 um é mau, o cristianismo é mau, a igreja é má, nada presta". Espe-
olho mau? Qiaem não conhega o background judaico podei r a SII- ra-se que tal atitude seja defendida com virulência por anti-mis-
por que Yeshua estivesse falando de feitiçaria. Mas em hebraico sionários ativos, mas é também encontrada em todas as catego-
ter um ayin ra'ah, "olho mau", significa ser avaro, enquanto ter rias de não-messiânicos - judeus ortodoxos, reformados, secu-
um ayin tov, "olho bom", significa ser generoso. Yeshua está lares. Os ortodoxos que defendem esta posição consideram Ye-
shua um impostor que desviou o povo judeu do caminho, e daí Paganismo, anti-semitismo e política passaram a dominar a
em diante as coisas só fizeram piorar. Igreja e os prejuízos causados aos judeus pelos cristãos, desde
Em gerai as pessoas que detêm este ponto de vista essa época, tomaram impossível, para nós hoje, considerar as ale-
vivem em seu próprio mundo. Não levam a sério os gações do Novo Testamento."
antigos documentos, não se interessam por compre- Uma resposta muito simples: a verdade não depende de co-
endê-los no contexto judaico e não podem sequer mo as pessoas reagem a ela. Se a Igreja utilizou e aplicou
entreter a possibilidade de que o que afirmam seja erroneamente o Novo Testamento, isto não pode afetar a
verdade. Discutir com eles é tempo perdido. Só se verdade do que afirma o Novo Testamento.
pode avaliar a pmhndeza de sua dor e orar para que b "Yeshua era bom, Sha'ul era bom, o Novo Testamento é bom, a
o Espínto Santo abra seus corações para considera- Igreja é boa - mas não é para nós". Esta é a teoria das duas
rem racionalmente as a f i i t i v a s da verdade. alianças, isto é, gentio caminham para Deus através de Yeshua,
* "Yeshua é bom, mas Sha'ul é mau". Esta é a opinião daqueles mas os judeus não precisam dele porque já estão próximos de
que desejam reclamar: Yeshua para o povo judeu. "Yeshua era Deus.
um bom judeu, não o Messias, e naturalmente não o Filho de Yeshua apresentou-se à "Casa de Israel" como o Messias
Deus, e sim um dos maiores mestres, de quem todos nós pode- judeu, e o Evangelho é "primeiro para os judeus". A teoria
mos imitar. O vilão da história é Sha'ul. Ele tentou facilitar o da dupla aliança tenta reduzir a pressão para crer, mas age
judaísmo para os pagãos que o rodeavam, introduzindo idéias assim escolhendo aqui e ali textos do Novo Testamento que
idólatras colhidas de suas religiões. Yeshua não ensinou que estejam de acordo com suas conclusões pré-determinadas e
a Torah fora abolida, mas Sha'ul ensinou. Yeshua não alegou polindo aqueles que não estejam.j2
ser Deus, mas Sha'ul fez dele um deus. Yeshua exigiu um com- * "Yeshua é bom, Sha'ul também, assim como o Novo Testa-
portamento correto, mas Sha'ul ensinou que basta a fé, niio im- mento - e eu acredito nele".
porta o que se faça." Esta é a minha posição, a de um judeu messiânico.
O próprio Yeshua ensinou que era o Messias, divino, o ex-
piado~dos pecados do mundo. Já que era um mestre mara- E. O JUDAÍSMO MESSIÂNICO E A IGREJA
viihoso deve-se crer naquilo que ele ensinou! Ou, como di-. Os judeus messiânicos tendem a ser neuróticos no relacio-
zia C.S. Lwis, diante do que Yeshua falou de si mesmo namento com o restante da Igreja, chegando a um dos dois extre-
não se pode concluir que era simplesmente um mestre. mos. Ou mergulham totalmente na ambiência da Igreja, rejeitando
"Ele seria ou iuni louco - a nível de alguém que aFiasse total ou parcialmente seu judaísmo; ou mantêm 21 distância a his-
ser um ovo cozido - ou então seria o próprio demônio. Pre- tória da Igreja e a cristandade em geral, desligando-se da Igreja e
cisamos fazer a nossa opção. Ou esse homem era, e é, o fi- daquilo que ela fez. Nem uma, nem outra faz justiça à realidade a
lho de Deus, ou então um louco, ou algo pior".31 ser judeu messiânico, plenamente judeu e plenamente messiânico.
Além disso, este ponto de vista é errôneo a respeito de
Sha'ul, que não introduziu idéias pagãs, nada facilitou, e 1. Neurose n" 1: Anti-judaísmo
não ensinou que a toruh estava abolida (conforme v e m o s Por exemplo: houve um crente judeu chamado Moses Mar-
no cap. V). goliouth (1820-1881) que publicou em 1843 um livro intitulado
r "Yeshua era bom, Sha'ul também, e eu nada tenho contra o
The Fundapntal Principies of Modern J u d a i a Investigated
Novo Testamento - 6 h literatura. O problema surgiu quando
(Uma Investigação dos Princípios Fundamentais do Moderno Ju-
os gentios ultrapassaram em número os judeus na Igreja, adqui-
daísmo). Aprende-se com este livro, mas é preciso lutar constan-
rindo poder no século EV, no tempo do imperador Constantino.
temente com o seu estilo, que só pode ser intitulado anti-judaico;
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e da pena de um judeu messiânico isto é uma vergonha, conforme 2. Neurose no 2: Anti-Cristianismo
se verifica pela citação de menos de um parágrafo:
"Os rabinos, que exigem de nossos judeus que acre Encontrei, por outro lado, inúmeros crentes judeus que ig-
ditem neles 'mesmo quando estão dizendo que di- noram, ou negam, certos aspectos da Igreja.
reita é esquerda e esquerda é direita' (conforme o alguns discordam de doutrinas com as quais simplesmente
comentário do rabino Jarchi em Deut. 17,l I), tentam não se pode transigir, por exemplo, a natureza íntima de Deus e a
persuadi-los de que o Ser Divino usa filactérias, e divindade de Yeshua. A pdavra "trindade" não se encontra nas
esforçam-se por prová-lo da maneira mais absurda e Escrituras, de modo que não há necessidade de extrair de qual-
extravagante; o que constitui outro exemplo de sua quer fiel uma confissão da palavra "trindade". Mas aquilo a que a
obstinada perversão da palavra de Deus, conforme palavra se refere - o que John Fischer chama de "unidade singu-
veremos no seguinte trecho encontrado em ..." e t ~ . ~ ~ lar" de Deus - é algo com que não se pode transigir: Deus é de
Ele escreveu ainda: "Estabeleço grande diferença entre ju- fato Pai, Filho, Espírito Santo. Disto existe prova escrimal mais
deus e judaímo nwdem. Aos primeiros estimo, respeito e que adequada, consisdndo não só de muitos versículos do Novo
amo... quanto ao riltimo... descobri muitas falhas"34 Margo-liou- Testamento, como também de algumas alusões no Tanakh. Há
th, que se tornou pastor anglicano pouco depois de o livro ser pu- quem queira considerar Yeshua "inferior" ao Pai, o que pode ser
blicado, sem dúvida amava o Senhor e a Igreja, mas, com ati- feito no quadro da teologia cristã ortodoxa, porque qudquer teo-
tude tão negativa em relação ao judaísmo, é difícil imaginá-lo ex- logia ortodoxa da natureza interior de Deus deve levar em conta
pressando efetivamente a "estima, respeito e amor" que afirmou tanto a igualdade como a hierarquia. De um lado, Pai, Filho e Es-
ter pelos judeus seus companheiros. Existem verdades no judaís- pírito Santo são iguais; de outro, o Pai é maior que o Filho e am-
mo tradicional, de modo que embora algumas ambiências judaicas bos são maiores que o Espírito Santo. Aqui, repetimos, não existe
sejam opressivas (assim como pode ocorrer com algumas cristãs) escassez de provas escriturais de ambos os aspectos. Não vejo
seria melhor mostrar-se menos dispersivo e mais moderado ao problemas com os crentes judeus que optam por faIar mais sobre
apontar abusos. Ademais, as observações a respeito de Deus h- hierarquia do que sobre igualdade - talvez seja precisamente o
pondo tefiZZin são errôneas, já que a fonte judaica é aggadica, que os cristãos gentios que os rodeiam precisam ouvir. Mas se
apresentando uma drash (hornilia), não uma descrição literal. não consigo fazer com que um judeu que alega crer em Yeshua
Concluindo, parece-me que ele se sentia em paz com a Igreja, admita que Yeshua é ~ e u(os que não é o mesmo que dizer que
mas não com o seu judaísmo. Deus é Yeshua; esta afirmativa é, no melhor dos casos, deslocada
Certos judeus que aceitaram o Messias durante a Idade e no pior, herética), e que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são,
Média tomaram-se instrumentos da Igreja institucionalizada con- pelo menos em algum sentido ou sentidos, iguais, então devo
tra seus companheiros judeus. Neles se incluem Pablo Christiani concluir que a pessoa não é saiva, ou - idéia mais generosa e
(d. 1274), cujo debate com a rabino Moshe ben Nachman (Nach- mais comum - que não sabe o que está dizendo. A finalidade de
manides) está registrado; Avner de Burgos (Paulus de Santa Ma- dizer tudo isto é que às vezes os crentes judeus, no desejo de
ria, 1351-1435), Nicholas Donin (século XIII) e Johann Josef apresentar de maneira judaica a sua fé messiânica, geram expres-
Pfefferkom (1469-1522)encontram-se também entre os vilóes sões sub-messiânicas que precisam ser corrigidas.
- incentivaram p o g r m , queimaram Talmuds e fizeram falsas Outra forma de anti-cristianismo 6 a recusa de enfrentar o
acusações de viirias espécies contra os judeus. Os judeus têm an- fato de que cristãos perseguiram judeus. Aceitamos sem discussão
tenas sensíveis com relação ao anti-semitismo. Os judeus messiâ- que o anti-semitismo B incompatível com a fé bibli~a.~* Em Zaca-
nicos não deveriam permitir que suas antenas se tomassem obtu- rias 2,8 Deus fala: "Aquele que vos toca" - o povo judaico -
sas, especialmente com respeito iis suas próprias ações. "toca a pupila do meu olho", isto é, a parte mais sensível e útil
61
da vista. Em Gênesis 12,3 Deus assegura a Abraáo, o pai do povo messiânicos. Grande número de judeus messiânicos sentirá que
judaico, "Eu abençoarei aqueles que vos abençoam e amaldiçoa- Deus os chama precisamente para esta missão.
rei aqueles que vos amaldiçoam". O segundo papel que eIe tem a representar é ser instm-
Contudo, tanto os indivíduos como a Igreja como institui- mento para incrementar a evangeliza~áojudaica, auxiliar a Igreja
ção ensinaram doutrinas anti-semitas e cometeram atos anti-semi- a levar o Evangelho "primeiro aos judeus",37 conforme requerem
b s em nome de Cristo. Além disso, embora alguns desses indiví- as Escrituras.
~'110sfossem cristãos apenas de nome, sem revelar qualquer evi-
dencia de fé genuína, outros eram pessoas que, segundo qualquer 4. Atitudes Cristãs Gentias para com os
critério, exceto o do próprio anti-semitismo, eram na verdade Judeus Messiânicos
cristãos - tais como Agostinho e Martinho Lutero. Na verdade, Os gentios da Igreja assumem uma entre quatro posições
embora este tenha iniciado a Reforma Protestante, é possível ter em relação aos judeus messiânicos: a nosso favor, contra nós; ig-
sérias dúvidas, à luz dos padrões estabelecidos por Gênesis 12,3, noram-nos, ou nos utilizam.
se o homem que encheu seu tratado "Sobre os Judeus e Suas A posição mais comum é nos ignorarem. Não que sejamos
~ e n t i r a s "de
~ ~imprecações contra os descendentes de Abraão ignorados como povo; somos ignorados como judeus. Supõe-se
estaria salvo. que a destruição do muro divisório significa que n6s, judeus, de-
Creio que convém aos cristaos gentios e aos judeus mes- vemos agir como gentios. Nossas preocupações judaicas não
siânicos assumirem responsabilidade por tais coisas, serem humil- preocupam a mais ningudm, de modo que o aspecto judaico do
des diante delas, reconhecerem pessoalmente 3 culpa da Igreja nosso ser será simplesmente congelado. Isto é, naturalmente, o
diante dos judeus, sem esperarem necessariamente ser por eles oposto exato daquilo que ensina o Novo Testamento. Sha'ul in-
perdoados. Noutras paiavras, devemos concordar em que o anti- sistia em que os gentios não precisavam agir como os judeus para
sernitismo é mau, sem passar um verniz sobre o anti-semitismo da se tomarem A possibilidade oposta, isto 6, que um dia
Igreja; menos que isto será anticristáo. se haveria de esperar que os judeus agissem como gentios, não
Cabe aqui mencionar outro fenômeno encontrado entre os ocorreu a Sha'ul, mas é impensáveI que a aprovasse. De fato,
judeus messiânicos: o antigentilismo. Em geral esta atitude peca- provar que ele não estava ensinando os judeus a abandonar a To-
minosa é um resíduo da vida da pessoa como judeu antes de ser rah de Moisés custou-lhe a liberdade - e , finalmente, talvez a vi-
salvo, embora ocasionalmente se desenvolva depois. Se os cris- da.39
tãos gentios precisam renunciar ao preconceito antijudaico, os ju- Outros cristãos gentios nos usam. Mencionamos o fato an-
deus messiânicos devem renunciar ao preconceito antigentilico e teri~rmente~~; aqui acrescentarei apenas que, embora colocar em
buscar a cura divina. Se o sentimento não desaparecer devem-se destaque um crente judeu seja quase sempre questão não de malí-
adequar os próprios atos aos padrões das Escrituras e confiar em cia e sim de entusiasmo, seria melhor conhecê-lo como pessoa,
que Deus modificará os sentimentos. O crente judeu não deve to- saber o que ele necessita, quais o seus talentos, de modo que ele
lerar o antigentilismo em si mesmo ou noutros fiéis. possa servir como deve ao Corpo.
3. Sem Neurose Há duas maneiras de ser contra nós. Ainda existem Igrejas
onde um crente judeu não 6 bem-vindo pelo simples de ser judeu.
, O judeu rnessiânico tem dois papéis não-neuróticos a re- Louvo a Deus por não conhecê-las, mas ouço hist6rias a respeito.
presentar na Igreja. Primeiro, deve fazer o possível para corrigir a Claro que o fenômeno era mais disseminado antigamente, quando
Igreja no seu relacionamento com os judeus, com o judaísmo. Por a conformidade cultural era mais facilmente confundida com a
exemplo, as questões levantadas neste livro precisam ser levadas ortodoia teológica. Naqueles tempos, os cristãos gentias,
à atenção de todos na Igreja, tanto cristãos gentios, como judeus $em saber o que fazer diante daquela singularidade em seu meio,
o judeu crente, tendiam a se distanciar, ou considerá-lo cristáos A segunda forma de oposição que encontro entre os gen-
de segunda classe. tios cristãos não é contra mim como pessoa, ou como judeu, e sim
Contudo, tenho encontrado um fenômeno a que chamo an- contra o meu desejo de incrementar um movimento, desenvolver o
ti-semitismo inconsciente ou latente. As pessoas que o abrigam judaísmo messiânico como expressão comunal da fé no Novo
talvez pretendam conscientemente o oposto, mas seus padrões de Testamento. As razões de tal oposição, em geral, não são pessoais
hábitos e atitudes anti-semitas são tão arraigados que não conse- e sim teológicas; contudo, creio que essas pessoas estão erradas.
guem controlá-los e, de fato, nem os percebem. Minha mulher e Este livro é a minha resposta ii teologia tão e ~ n e a .
eu estávamos conversando com o pastor de uma igreja conhecida Finalmente existe a atitude que me agrada ver - a favor.
em todo o país, com mais de 5.000 membros, acerca de um co- Há cristáos gentios que compreendem que há um componente ju-
nhecido mútuo, um crente judeu que serve bem ao Senhor. "Eu daico na minha natureza, que eu tenho ambições para o judaísmo
aprecio de fato o seu ministério, mas pergunto: por que ele age de messiânico como movimento comunal, que a Igreja precisa apre-
modo tão judaico?" disse o pastor. Marthe e eu ficamos ambos ciar melhor o seu fundamento judaico e compreender melhor o
desconcertados com a pergunta, e foi ela a primeira a se recupe- povo judaico, e que os cristãos estáo inseridos numa raiz judaica.
rar, replicando - de modo tipicamente judaico, fazendo outra per- Quando n6s, judeus messiânicos, nos virmos rodeados desses
gunta: "Por que vocês agem de modo tão gentio?" O caso é que o cristãos gentios a nos incentivarem, incrementarem e apoiarem te-
Evangelho não exige absolutamente que a pessoa "aja". Há todos nho certeza de que as neuroses da nossa Igreja desaparecerão
os comportamentos adequados e existe a promessa de que Deus, todas.
agindo nos fiéis, hes dará a força de se portarem como devem.
Mas o Evangelho não estã ligado a nenhuma cultura em especial,
de modo que não existe qualquer razão para que um judeu mes-
siânico deixe de "agir como um judeu". Através desse Evange- 1. Exame da História do Judeu-Messiânica
lho, os gentios v$m a conhecer o Deus do povo judaico sem mu- Conforme dissemos anteriormente, a f6 messiânica teve
dar de cultura. E um duplo erro, portanto, esperar que os judeus início com o judaísmo; de fato, não poderia ser de outro modo.
messiânicos deixem de agir como judeus: primeiro porque o Vimos que os judeus messiânicos teriam permanecido na comuni-
Evangelho era de início judeu, e segundo porque a própria essên- dade judaica, mas pressões insuportáveis levaram-nos a ser ex-
cia do Evangelho é não exigir a desculturação dos fiéis. cluídos no século II (talvez, em certas &as, no sec. III ou IV) e
Outro exemplo que encontramos foi quando nos serviram deixaram de existir como movimento identificável cerca do século
iim refeição num restaurante. Os cristãos gentios sentados co- V, com reduzidas exceções. A história dos primeiros judeus cns-
m c o observaram-nos escolhendo com dificuldade os pratos, num tãos foi estudada, embora se conheça menos a seu respeito do que
esforço para manter uma aparência de kosher. Ao explicarmos o seria desejável.
que estávamos fazendo, replicaram com a citação "Comei o que Do século V ao XVIII não houve espaço, na Igreja ou na
colocarem diante de vós"41. Se eles fossem os nossos anfitriões comunidade judaica, para os judeus messiânicos que desejavam
teríamos feito exatarnente isso, sém hesitar, embora o versículo conservar sua dupla identidade. Um judeu que quisesse venerar
citado nada tenha a ver com a observância judaica das leis diéti- Yeshua teria que desligar-se do seu povo e ingressar na Igreja
cas. Mas num restaurante não magoamos os sentimentos de nin- dominada pelos gentios. Nesse período, a Igreja e a comunidade
guém pelo que comemos ou deixamos de comer. Quando expli- judaica desenvolveram as suas histórias, mas a história do ju-
camos o judaísmo messiânico mostraram-se interessados e pude- daismo messiânico deixa de ser comunal e se torna as histbrias de
ram empatizar conosco. Mas a reação inicial inconsciente foi anti- crentes judeus individuais em relacionamento com as comunida-
judaica. des judaica, cristã e secular.
O atual reavivamento do judaísmo messiânico tem início tória do Cristianismo Judaico), ela ainda permaneça o único estu-
em forma de idéia, conforme dissemos, com as sugestões de John do abrangente que traça os destinos dos judeus messiânicos no
Toland, aproximações cristãs m o aos judeus na Holanda e na decorrer dos últimos dois mil anos. Embora seus livros posterio-
Alemanha, nos séculos dezessete e dezoito, e o movimento cris- res, tais como The Passover Plot (A Trama da Páscoa) sejam do-
táo-hebraico em inícios do século dezenove, na Inglaterra. Esfor- nlinados por louca especulagão, ele tomou relativamente poucas
ços esporádicos foram feitos no sentido de manter uma aborda- liberdades nessa primeira obra. Infelizmente a edição está esgota-
gem judaica; por exemplo, o rabino Isaac Lichtenstein, que pre- da e os exemplares são difíceis de encontrar.
gou Yeshua do púlpito de sua sinagoga em Tapio-Szele, Hungria Outro livro esgotado e difícil de encontrar é Some Jewish
(final de 1800); Josef Rabinovich, que fundou uma sinagoga mes- VJitnesses For ~ h r i s t(Algumas
~~ Testemunhas Judaicas Para
siânica em Kishinev, nos anos 1880; Yechiel Lichtenstein, com Cristo). Contém biograf~asde várias centenas de fiéis judeus des-
seus comentários do Novo Testamento (1891-1904); Mark John de o primeiro século até a data da publicação (1909).
Levy e Theodore Lucky (início de 1900). Mas, como o movi- Infelizmente nenhuma obra descrevendo uma amostra tão
mento era ainda imbuído de gentilismo, conquistou principal- ampla de judeus messiânicos do século vinte foi até hoje produzi-
mente os judeus marginais, como B.Z. Sobe1 docur~lentade ma- da, embora tenham surgido vários livros menores. Seria urna ins-
neira arrasadora em seu livro Hebrew Christianity: The Thirie- piração para os crentes judeus tomarem conhecimento de outros
enth Tribe (Cristianismo Hebraico: a Décima Terceka Tn'bo), no que partilham a nossa fé. Se a comunidade judaica pode apontar
estud& de uma pequena organização missioniria do iriícáo de para Freud, Marx e Einstein, por que náo reclaman'mos o com-
1960. positor judeu messiânico Felix Mendelssohn (1809- 1847), cujos
Recentemente o movimento das congregações judeu-mes- oratórios Elijah e Paul, testemunham sua f6? E tamMm Benjamin
siânicas implernentou os princípios do evangelismo que não exi- Disraeli (1804-1881), o primeiro e único judeu Primeiro Ministro
gem conformidade com a cultura dominante, mas permitem hs da Inglaterra; menos conhecido é o fato de que ele foi também
pessoas conservar seus costumes, exceto o que for proibido pelas o único Primeiro Ministro judeu messiânico.
Escrituras. A ênfase cultural judaica é assim apoiada não apenas Podemos orgulhar-nos de parte da nossa história - e enver-
para o indivíduo, ou dentro de um grupo fraterno de importância gonhar-nos de outras; mas é nossa e merecemos conhecê-la; para
secundária, e sim na própria congregação, que expressa o seu ju- conhecê-la temos que pesquisá-la e escrevê-la!
daísmo tanto quanto desejar. O desenvolvimento do judaísmo
rnessiânico nos últimos vinte anos, inclusive o surgimento de de-
zenas de congregações judeu-messiânicas, sugere que é chegada a
hora do Manifesto Judeu-Messiânico. Uma área de particular interesse para os judeus messiâni-
Debateremos com maior profundidade no capítulo VII, se- cos são as relações judeu-cristãs.47 Na lista de formas que essas
çáo A, o movimento judeu-messiânico nos dias de hoje. relações podem assumir e que apresentamos adiante é preciso ter
em mente que os judeus messiânicos não são quase nunca incluí-
2. Livros Sobre a História Judeu-Messiânica dos como terceira pessoa com direito a se manifestar.
Existem vários livros sobre o cristianismo judaico desde o
primeiro até o quinto 1. Oposição
O falecido Jacob Jocz, crente ju-
deu, escreveu tanto a história como a teologia no The Jewish A Igreja coagiu, o povo judaico resistiu. Nem é preciso di-
People and Jesus Chrisf14.(O POVO Judaico e Jesus Cristo). Mas zer que este tem sido o paradigma há séculos.
é lamentável que mais de meio século após o falecido Hugh
Schonfield ter escrito The History of Jewish Christianity (A His-
2. Separatismo nalidades são diretamente contrárias às que professamos. Isso
acaba por limitar o grau de assistência.
Noutras palavras, viva e deixe viver. Esta será talvez a "Ecumenismo" é palavra que vale a pena mencionar aqui.
primeira escolha de muitos judeus e de não poucos cristãos; con- Se for outro meio de expressar "diálogo inter-crenças", nada
tudo é isolacionista, ignorando o fluxo da história, que reúne cada mais é preciso acrescentar. Caso signifique cooperação inter-de-
vez mais as pessoas na aldeia global. )
nominacional e possivelmente fusão é inadmissível que possa ha-
ver fusão entre uma denominação cristã e uma judaica.
3. Tolerância
I 4. Sincretismo
Ser contra a tolerância é o mesmo que ser contra a mater- O sincretismo é a união de duas crenças religiosas, sem
nidade, e eu não sou contra ela. Mas considero a tolerância como que se integrem plenamente uma com a outra e muitas vezes acar-
separatismo escondido sob o verniz da cortesia. É melhor do que retando transigência, ecletismo ilógico, aceitação sem critica de
o separatismo descortês e melhor do que a intolerância e o fana- princípios mutuamente inconsistentes, ou incorporação de aglo-
tismo, mas não é o objetivo h a i . Para que a tolerância funcione, merados indigestos de doutrina ou pdtica. A chamada tradição
os participantes concordam implicitamente em evitar elementos judeu-cristã possui elementos de sincretismo, assim como a "reli-
inflexíveis nos seus respectivos pontos de vista. Contudo, pode gião civil" americana. "Todos os caniinhos levam a Deus" 6 uma
ser um Útil primeiro passo no sentido da melhoria de relações. falsa proposição que, se desenvolvida além da forma de slogan,
Na medida em que é desejável a tolerância do judaísmo inclui necessariamente sincretismo. 'Tho melhor de cada reli-
pelo cristianismo e viceversa, na mesma medida a tolerância do gião" significa na verdade fundar a sua religião pessoal e prova
judaísmo messiânico por judeus não-messiânicos e cristãos gen- ser em geral sincretismo com outro nome. Nenhum judeu ou cris-
tios, e vice-versa, é desejável. Representantes do judaísmo mes- tão sensato ficaria satisfeito com uma abordagem sincretista As
siâ&co déveriam, portanto, ser incluídos nas atividades destina- relações judeu-cistãs.
das a promover a tolerância.
Vários pássaros interessantes fazem ninho na árvore da to-
lerância. Um é o diálogo ecumênico, valioso porque qualquer
I 5. Assimilação
No Novo Testamento, os judaizantes queriam exigir dos
comunicação é melhor do que nenhuma. A Conferência Nacional gentios que assimilassem o judaísmo para serem aceitos como
de Cristãos e Judeus e a Liga Anti-Difamação de"B7naiBrith são cristãos. Hoje, assimilação significa judeus tomando-se menos
duas conhecidas organizações que trabalham nessa área. Mas os judeus e mais semelhantes à chamada "cultura cristã" que os ro-
judeus rnessiânicos raramente são convidados a participar: espero ' deia. Do ponto de vista comunal judaico, assimilação é inimigo
que isto mude em breve. mais temido que a morte, pois A medida que os judeus abandonam
Outra expressão de tolerância é a cooperação ou aliança o judaísmo e a comunidade judaica, a comunidade se reduz; e se a
entre cristãos e judeus para finalidades limitadas, por exemplo, assimilação fosse total, a comunidade judaica deixaria de existir,
ajudar judeus a saírem da Rússia, ou apoiar o Estado de Israel. de modo que - conforme diriam os autores judeus da era pós-se-
Este é outro tipo de relacionamento distante que, repetimos, é gunda p r r a mundial - Hitler conheceria uma vitória p6~tuma.'~
melhor do que nenhum. Torna-se dificil quando um lado questio- E preciso observar que a cultura que nos rodeia não é de
na os motivos do outro. modo algum cristã no sentido cristão; e ser batizado já não é o
A tolerância leva As vezes ao auxilio mfituo. Como expres. cartão de ingresso para a civilizaçio ocidental. A assimilação se
são de bondade humana, quem pode levantar objeçóes? Contudo dá com maior frequência para a cultum gentia, com seus inúmeros
é problemhtico ajudar uma comunidade ou organização cujas fi- elementos pagãos e não-cristãos.
68
A resposta judeu-messiânica ao problema da assimilação é que os círculos que representam o judaísmo e o cristianismo não
que um judeu não precisa deixar de ser judeu quando crê no Mes- se sobrepõem (Figuras 1,5E). Se, conforme alego, eles se sobre-
sias judeu, Yeshua. De fato, muitos judeus tornam-se mais côns- põem (Figuras 3,5F), o judeu que acredita em Yeshua não precisa
cios do seu judaísmo, e não menos, quando chegam à fé do Novo abandonar o judaísmo, de modo que a definição popular de con-
Testamento. versão aí não se aplica.
Em termos de ~ l a ç õ e sjudeu-cristãs, a assimilação não é A evangelização ocom quando os que crêem na verdade
resposta, absolutamente. E exato que h o l d Toynbee declarou cio Novo Testamento voItam-se para os que não crêem, apresen-
que o judaísmo era um "fóssil" sem função na atualidade, o que tando essa verdade. Houve tempo em que o judaísmo era uma R-
implica em que ele era de opinião que o judaísmo devia assimilar- ~ ~ já não o é em grande parte - embora
ligião ~ n i s s i o n á n amas
se e dar-se a si mesmo por encerrado. Mas, Deus seja louvado, o judaísmo da Reforma tenha proposto a missão e r i k os gentios
isto simplesmente não está para acontecer. "que não são da Igreja", e os h i d i r n Lubavitcher procurem com
6. Concessões toda energia levar judeus não-ortodoxos As suas seitas (isto não é
fazer missão, uma vez que as pessoas visadas já são judias; mas
Fazer concessões difere de assimilar, uma vez que envolve seus métodos lembram os de alguns rniission6rios).
ambos os lados e é voluntário. Mas baseia-se na idéia de renun- A conversão (no sentido popular), a evangelização e a mis-
ciar a algo de bom para obter algo de bom. Com diferenças de- são supõem todas um relacionamento competitivo entre as comu-
norninacionais e ecumenismo, a mútua concessão apresenta uma nidades religiosas. Isto não é mau; na verdade, no caso da evan-
história em parte auspiciosa. Mas, entre judaísmo e cristianismo, a gelização, é conseqüência do fato objetivo de que a verdade é o
abordagem não é de múhia concessão, uma vez que cada qual que é.
considera certas questões infensas a qualquer transigência. A re- A evangelização e o diáiogo inter-crenças são às vezes
conciliação, por outro Iado, conforme veremos, baseia-se na idéia considerados incompatíveis. Supõese que os que estabelecem o
de conformidade com a vontade de Deus, o que só pode ser bom. diálogo não devam ter a atitude "Eu estou cetto e você está erra-
'Noutras palavras, transigir é um "jogo de soma zero", no qual do". Mas, por que não? Afinal diálogo é apenas duas pessoas fa-
aquilo que um lado ganha o outro perde; enquanto que a reconci- lando. As pessoas podem faIar sem estabelecer pré-condições re-
liação, como a produção econômica, é um "jogo de soma positi- lativa às atitudes uma da outra. Basta estar disposto a escutar o
va", no qual ambos os lados ganham. que a outra tem a dizer, e estar disposto a falar com sinceridade.
7. Evangelização, Conversão e Competição Nouüas palavras, o conflito entre evangehação e diálogo desa-
parece quando a meta é monciliação sem précondições.
São interrelacionados e serão estudados em conjunto.
Evangelização é a divulgação do Evangelho. Conversão, do S. Reconciliação
ponto de vista das Escrituras, significa chegar à fé autêntica em A reconciliação é o ideal. Para ser real, deve basear-se na
Yeshua, o Messias. Contudo, no sentido popular, significa passar verdade, não em tolerância superfícial, ou seja, não deve ter pr6-
de uma comunidade religiosa para outra. Segundo esta definição ~quisitos,exceto aquele de que ambos os lados estão dispostos a
popular, conversão não B solução para as relações judeu-cristãs, se ajustarem ao que é verdade. Na minha opinião, a reconciliação
uma vez que é tarnbdm um jogo de soma zero: todo judeu con- incluir6 mudança tanto no judaísmo como no cristianismo, numa
quistado para o cristianismo é um judeu perdido para o judaísmo. dirqão que o judaísmo messiânico pode ajudar a tomar visível,
conversão deste tipo não resolve problemas enquanto um dos la- embora não alegue ter ele próprio chegado ao objetivo final.
dos resistir. Ademais, a reconciliação é consistente com qualquer forma de
Mas a definição popular de conversão baseia-se na idéia de evangelização que utilize métodos honestos e esteja disposEa a
70 71
respeitar a livre escolha dos que estão sendo evangelizados. O ju-
daísmo messiânico tem um papel nitido a representar na reconci- Outro cristão gentio: Eu o considerarei meu irmão em
Cristo, mas parece-me que sua fé é deficiente e você 6 um h ã o
liação.
1n\1h.ofraco, já que resiste a usar o título de cristão.
H. EXISTEM JUDEUS MESSIÂNICOS CRISTÁOS? Primeiro gentio cristáa: De qualquer modo, é m fato
histórico que a palavra "cíistão" foi usada durante séculos para
Parte 2: Debate Aberto descrever toda pessoa que acredita em Jesus, gentio ou judeu.
Estmos finalmente prepa-ados para enfrentar o resto da Você acha que é capaz de modificar a história?
questão levantada no final do capítulo anterior. Examino ali de Judeu messiânico: Posso tentar! Escutem, vocês dois, ten-
que modo o termo "cristão" é usado no Novo Testamento. Para Por que iria eu aiar falsas impressões na mente
teíii con~preei~der!
examinar se "crist5o" poderia sei aplicado aos judeus messiâni- cie outros judeus utilizando uma palavra que traz conotaçóes e&-
cos no século vinte construirei uma conversação imaginária entre neas a meu respeito? Estou combatendo a falsa impressgo dos
váirias pessoas que a c o m p a n k m a análise até este ponb. crentes judeus, que meus companheiros judeus mantiveram no
Alguém começa dizendo: Qual é o problema? A palavra passado e muitas vezes ainda conservam. Vocês estão num trem
usada para descrever a pessoa que acredita em Yeshua como que viaja a cento e vinte quilômtms horários na direçáo errda e
Messias e aceita o Novo Testamento é "cristã", de modo que estou tentando fazer para o trem! Uma vez que esteja imobiliza-
trata-se apenas de usiil a hguagen de maneira normal. do e com a direçáo hveriida poderemos conversar sobre se devo
Judeu messiânico: Já verificamos que o Novo Testamento ou não me chamar cristão. Se quiser me chamar de cristáo, tudo
não a resenta crentes chamando os judeus rnessiânicos de "cris- betri, porquanto você e eu compreendemos que não abandonei o
r á o s ' . Devemos usar os temos tkcnicos da Bíblia da maneira povo judaico, ou a religião judaica ao acreúikír em Yeshua. Mas
que a Bíblia os utiliza. eles nãio compreendem. Julgam que mudei de religião ...
Mas, aindâ que deixemos de lado esse argumento, as pala- Judeu: E não mudou? Eu própio não sou religioso, mas
vras têm conotações ao lado das denotações. Variam as conota- sei de uma coisa: judeus não acreditam em Jesus. Se você não é
ções da paíavra "cris~o" para os judeus não-messiânicos, mas capaz de confessar...
poucas são positivas. Pode significar "perseguidor", e eu não sou Judeu messiânico: Você: também! Pmcure compreender!
perseguidor. Pode significar "gentio", e eu não me tomei gentio. Você é secular, mas eu sou religioso. N5o ortodoxo, conservador,
Pode despertar uma visão de estátuas, velas e ídolos, e eu nada ieformado, ou reconstmcionis8, e sim messiânico.
tenho a ver com isso. Pode significar ódio ou rejeição do meu po- Judeu: Eu diria que, se você não se denomina cristão, está
vo judeu, e isso eu n h tenho. ludibriando. Tenta nos convencer de que não é algo que na ver-
Ánti-missionário: Tem, sim! Tem, sim! Mentiroso! Traidor! dade é. Usa o termo "judeu messiânico" para rastejar de volta ao
Quem quer que se volte para "aquele homem" abandonou seu seu povo e tentar nos converter. Caso se denominasse simples-
povo! Chame a si mesmo de cristão, mas não diga que é judeu de mente cristão, todos nós saberíamos qual a sua posição. Então eu
qualquer espéciei o respeitaria pelo que você é.
Judeu messiânico: Você niãlo saberia absolutamente qual a
J&u messiápzico: Aparentemente a análise que acabamos
de fazer ri50 G itrip~~ssionou. minha posição! Porque está me coIocando num quadrado, está me
Crastáo gentio: DescwílPpe, mas me parece que, já que vocb esticando para que eu me ajuste ao espaço que me destinou. O
nxo quer se denominar cristão, e n t b não é cristão. Por que eu o I problema 6 que você não quer pensar se Yeshua é ou não de fato
o Messias do povo judeu, e se um judeu pode venerá-lo à maneira
consideraila meu h ã o no Senhor se você não quer ser identifi-
cado pelo nome mais próxirao e querido ao meu coração? judaica. Aqui vai o que confesso: se ele não for o nosso Messias.
entáo não é Messias de ninguém.
72
73
Escute, já afirmei que sou 100%judeu e 100%messiânico. 13 Op. cit. no Capítulo 11, nota 20.
"Messiânico" significa que acredito em Yeshua. Segui a Torah 14 Consultar o verbete challah no Glossário.
até o ponto que eIa conduz, e ela conduz ao Messias, de modo 15 "Embora haj5 quem considere C riza (grego, "a raiz") uma referência a
que sou agora um judeu que sabe quem é o Messias. Que quer de Cristo e outros achem que se refere aos cristãos judeus, existe uma
ampla concordância entre os comentaristas de que deve referir-se aos
rmiirni?-_ ptriarcas ..." (C.E.B. Cranfield, Rornuns (Intermtional Critical Com-
E vamos deixar o assunto por aqui. mentary); T & T Clark, Ltd., 1981, vol. 2, p.565). Que a raiz são os
Patriarcas é confirmado por Romanos 4 1 6 ("Abraão, o pai de todos
nós") e Gálatas 3,7 29. Comparar ainda com a oliveira e raiz de Sha'ul
1 Albert Camus, The Myth of Sisyphus (Nova Iorque, Vintage Books, uma fonte judaica do primeiro século antes da Era Cristã, o Livro de
1959), p.3. Ou Hamlet de Shakespeare: "Ser ou não ser, eis a aues- Enoch 93, 5: "E a sua posteridade (de Abraão) se tornará a planta da
tão". justiça para todo o sempre".
2 "The Hound of Heaven", poema de Francis Thompson, apresenta 14 Efésios 2,12.
Yeshua nos perseguindo em amor súplice através de nossos vános re- 17 Atos 21,2(3, Jewish New Testament (op. cit. no capítulo li, nota 20).
ftígios falsos, até que o aceitemos. Primeiras linhas: 18 Para uma visão judaica não-messiânica deste í>eríodo crítico 50-,135
Fugi dele por noites e dias; D.C., consultar Schiffaman (op, cit. no capítulo II,nota 17).
Fugi dele pelas arcadas dos anos; 19 Lucas 21,20-21, Jewish New Testament.
Fugi dele atravis dos labirintos 20 Justino Mártir, "Dialogue With Trypho, A Jew" (Diálogo Com Trifão,
De minha pr6pria mente.., Judeu) em klexander Roberts e James Donaldson, editores, The Ante-
3 Ler Romanos 1 1,11-32, Yochanan (Joáo) 17,5 10 20-22 24. Esta fi- Nicene Fathers (Grand Rapids, Michigan, Wm. B. Eerdmans Publi-
losofia da história foi expressa contra o fundo do pensamento moderno shing Company, 1975), vol. I pp. 194-270. A seguinte seleção da parte
nos livros de Francis A. Schaeffer e John Warwick Montgomery. xlvii (p.218) ilustra esta "limitada tolerância".
4 Malaquias 3,6. "Se alguns, por fraqueza de espírito, desejam observar as instituições
5 Romanos 10,2. como foram entregues a Moisés, c das quais esperam alguma virtude,
6 Gdatas 4,17- 18. mas que julgamos terem sido indicadas em razão da dureza dos cora-
7 Komanos 11,25-26. ções, juntamente com sua esperança neste Cristo, e (desejarem cum-
O Ver Apêndice, nota 5. prir) os eternos e naturais atos de justiça e piedade, mas optam por vi-
9 Conheço alguém que diz que "nem acredita, nem desacredita no evan- ver com os cristãos e os fibis, conforme declarei anteriormente, não os
gelho", mas denomina-se "amigo dos crentes". A Escritura não deixa introduzindo a serem circuncidados como eles próprios, ou a observa-
espaço para os que ficam no alto do muro. Yeshua diz "Quem não está rem o Shabbat, ou a observarem qualquer outra cerimônia, sou de opi-
comigo é contra mim, aqueles que não colhem comigo estão dispersan- nião que devemos nos reunir a eles, e nos associamos a eles em todas
do" (Mattityahu (Mateus) 12,30; Zacarias 1,15 e Mattityahu 25,31-46 as coisas, como parentes e irmãos".
excluem também um tertiwn quid). Ele acrescenta que desaprova os judaizantes, mas acredita que os fiéis
10 Neste livro, a palavra "anti+semita" é sinônirno de "anti-judeu". Este gentios judaizados se salvarão. Contudo, aqueles "que voitaram, por
emprego é passível de crítica por dois motivos. Primeiro, certos árabes qualquer razão, à dispensação da Lei e negaram que este homem é
podem ofender-se porque são também semitas; mas os povos de língua Cristo, e não se arrependeram antes de morrer, não se salvarão de ma-
inglesa não pensam em "anti-árabe" quando dizem "anti-semita". Se- neira alguma".
gundo, ouvi um cristão objetar que a palavra "anti-semitismo" apre- 21 "Profissão de Fé da Igreja de Constantinopla: de Assemani, Cod. Lit.,
senta conotações imediatas com os horrores da Alemanha hitlerista. I p.lQ5", citado em James Parkes, The Conflict of the Church and the
Embora eu não esteja tentando evocar tais lembranças toda vez que Synanogue (Nova York, Atheneum, 1974, pp. 397-398).
ocorre o termo é preciso reconhecer que o anti-semitismo representa 22 Efésios 2,13.
um espectro não do bem mas do mal, desde pecados relativamente me-
nores até os piores que se possam imaginar. 23 Devo a Daniel Juster, Growiag To Marurify (Gaithersburg, Maryland,
l i Para uma análise judeu-messiânica dessas duas abordagens teológicas
Union of Messianic Jewish Congregations) 1982, pp.253-254, esta ana-
consultar Juster (op. cit. CapltaIo I , nota 8), pp.43-45. logia.
i 2 2 Kefa (2 Pedro) 3,12. 24 Deuteronômio 28,13.
25 John Toland, Nazarenus, 1718, citado em Rausch (op. cct. no capítulo
11, nota 28) e Schonfield (op-cit. na nota 45 abaixo). do inédito "Luther's View of the Jews: A Lesson For Our Time",
26 Atos 15,21. 1974.
27 Mattityahu (Mateus) 6,23. 37 Romanos 1,16; para um debate desta frase, consultar Apêndice, seção
28 Mattityahu (Mateus) 6,21.24. Para outros exemplos de textos do Novo C-4.
Testamento que, quando vistos contra o pano de fundo judaico do pri- 38 Gáiatas 2,ll-20, Atos 15,l-2.
meiro século, apresentam significados diversos daqueles em geral ensi- 39 Atos 21,20 ss., 2 Timóteo 4,6-8,16.
nados, consultar o capitulo V, s6ries B-5 (sobre Mattityahu 18,18-20) 40 Capítulo 11, seção A-3. r:
e C-2. 41 1 Coríntios 10,27.
29 Corte Suprema de Justiça de Israel, Caso no 563177; citado em meu 42 B.Z.Sobel, Hebrew Christianity: The Thirteenth Tribe (Nova York,
estudo inédito "The Annotated Dorfiinger Decision", pp.14-15. Ler John Wiley & Sons, 1974).
acima capítulo 11, seção B- 1, e abaixo, capítulo VPP, seção E-3. 43 B. Bagatti, The Church From the Circumcision ((Roma, Pontifica1 Ei-
blical Institute, 1971); Jean Danielou, The Theology of Jewish Christia-
30 Ibid., p. 15. nity (Londres, Dalton, Longman & Todd, 1964); Schoeps (op. cit. no
31 C.S. Lewis, Mere Christziznity,(Nova York, MacMillan, 1958) p. 41. capítulo 11, nota 6).
32 Para uma descrição mais extensa e refutação da teoria das duas alian- 44 Jacob Jocz, The Jewish People and Jesus Christ (Londres, S.P.C.K.,
ças consultar Apêndice, seçáo C-3-c. 1962).
33 Moses Margoliouth, The Fundamental Principles of Modern Judaism 45 Hugh Schonfield, The History of Jewish Christianity (Londres, Duck-
Investigated, Londres, B. Wertheim, 1843, p. 28. worth, 1936).
34 Zbid., p. 192. 46 A. Bernstein, Some Jewish Witnesses For Christ (Londres, Operative
35 Ler. Apbndice, s q á o C-2 e também um estudo do judeu messiânico Jewish Converts' Institution, 1909).
Menahem Benhayirn, Jews, Gentiles and the New Testament Scriptwes: 47 Da ampla literatura referente às relações judeu-cristãs, os tres itens se-
Alleged Anti-sernitism in the New Testament (Jerusalem, Yanetz, 1985). guintes podem ser de especial interesse para muitos leit~resdeste livro:
36 Martin Luther, "On the Jews and Their Lies" (1543), traduzido por Marc H. Tanenbaum, Marvin R. Wilson e A. James Rudin, eds., Evan-
Martin H. Bertram, editado por Franklin Sherman, vol. 47, pp. gelicals and Jews in Conversation on Scripture, Theology and History
121-306, em Luther's Works, de Jaroslav Pelikan e Helmut T. Leh- (Grand Michigan, Baker Book Kouse, 1978); mesmos editores, Evan-
mann (Filadelfia, Fortress Press e St. Louis, Concordia Publishing gelicals and Jews in an Age of Pluralisna (Baker, 1984)); e Merril Si-
House, 1962-1974). Abaixo um excerto das pp. 268-278: mon, Jerry Falwell and the Jews (Middle Village, Nova York, Jonathan
"Que faremub n6s, cristãos, com este povo rejeitado e condenado, os David Publishers, 1984).
...
judeus? Vou dar-lhes meu conselho sincero: primeiro, atear fogo 'as 48 Ler Emil Fackenheim, "Jewish Faith and the Holocaust", Commen-
suas sinagogas ... em honra a Nosso Senhor e à Cristandade, de modo tary, 1947, em G o d s Presence in History (Nova York, Karper & Row,
que Deus veja que somos cristãos ...Aconselho que suas casas sejam 1970), p. 84. Mas comparar com esta observação de Vera Schlamm,
...
também arrasadas e destruídas Aconselho que seus livros de orações judia que sobreviveu aos campos de concentração, .no seu testemunho
...
e escritos talmúdicos Ihes sejam arrebatados ... Aconselho que seus sobre como passou a crer em Yeshua: "Se permitirmos que a lembran-
rabinos sejam proibidos de ensinar, sob pena de perderem a vida e se- ça dos nazistas nos afastem do Messias concederemos a Hitler o poder
...
rem mutilados Acreditaremos que Nosso Senhor Jesus Cristo dizia a de agir além do túmulo, destruindo-nos de modo horrível, como nem
verdade ao falar sobre os judeus que não o aceitaram e o crucificaram, sequer sua mente maligna seria capaz de imaginar". Ruth Rosen, ed.
"Sois uma raça de víboras e filhos do demônio ..." Li e ouvi muitas Jesus for Jews (San Francisco, A Messianic Sewish Perspective, 1987),
histórias relativas a judeus que estão de acordo com este juizo do pp. 106-107.
Cristo, isto é, que envenenaram poços, assassinaram, sequestraram 49 Mattityahu (Mateus) 23,15.
...
crianças Ouvi dizer que'um judeu mandou a outro judeu, por inter- 50 Ler capítulo 11, seção C-4.
médio de um cristão, um recipiente cheio de sangue, juntamente wrn
um barril de vinho, no qual, depois de bebido até o fim, encontrou-se o
cadgver de um judeu".
Não é leitura edificantp. O iininica fator atenuante, se é que se pode usar
tal expressão, é que Lutem se mostrou igualmente exagerado ao distri-
buir acusações venenosas a todos os que considerava seus inimigos,
cristãos e não-cristãos. Análise mais extensa encontra-se no meu estu-
76
TEOLOGIA

A. NECESSIDADE DE UMA TEOLOGIA


SISTEMÁ~CAPARA O JUDEU-MESSIÂNICO

A teologia cristã tende a subestimar ou interpretar erro-


neamente os fenômenos judaicos. A teologia judaica ignora o
Novo Testamento. Uma- vez
-1,. -
que qualquer autêntica reonciliaçáo
entre "Igrejae povo judeu deve em de a.&rdo com a verdade bí-
blica é necessário. antes que qualquer programa d~ ação seja ar-
quitetado, uma estrutura de pensamento que faça justiça tanto aos
eIementos messiânicos, quanto aos judaicos de qualquer tópico
teológi~o,,.Ogome dessa estrutura de pensamento é teoJogia.sis-
temática judeu-messiânica. (Contudo, não apresento neste livro
u&--teologia completa - se é que tal coisa existe. Indico tópicos
que exigem tratamento teológico e sugiro maneiras de chegar a
isso).
1. Teologia Orientada Para o Consumo e
os Quatro Públicos
Defino teologia sistemática como a apresentação da verda-
de bíblica de maneira organizada, por assuntos, de modo a ser
compreendida pelo público a que se destina. Minha ênfase no pú-
blico tem uma finalidade: não creio que a teologia deva ser ape-
nas o que quer que o autor queira dizer e colocar no mercado para
quem queira comprar. Uma teologia orientada para o produtor é
egoísta; os teólogos devem considerar o consumidor.
Embora este seja um princípio geral aplicável a qualquer
teologia, é fator obrigatório na teologia judeu-messiânica. porque
não temos apenas um público e sim quatro. São as quatro catego-
79
versidade Yeshiva, talvez assuma posição menos rígida, em de-
rias de seres humanos que se excluem mutuamente mencionadas terminados pontos, que os afiliados ao mundo yeshival; a aborda-
no capítulo anterior: judeus messiânicos. judeus não-messiânicos, gem de ambos seria diferente, em determinados aspectos, da dos
cristãos gentios e o resto da humanidade. Surgem confusão e da- W i d i m ; e entre os hasidim existem campos extremamente con-
nos quando teólogos escrevem sobre questões judeu-messiânicas flitantes. Alguns ortodoxos estão dispostos a reconhecer as de-
sem levar em consideração quem lerá o que escrevem. nominações conservadora e reformada, outros não. Alguns judeus
Este problema poderá ser resolvido utilizando-se o proce- ortodoxos reconhecem os judeus messiânicos como judeus, outros
dimento de Thomás de Aquino na-Summa Theologica. Ele expõe não. Similarmente, os ramos revisionistas do judaísmo - conser-
um princípio teológico, acompanha-o com as possíveis objeçóes e vador, reformado, reconstrucionista, humanista - cada qual tem
em seguida responde a elas. Um teólogo judeu messiânico poderia suas alas direita e esquerda e suas diferenças internas. Entre os
também expor um princípio, dividir as objeções naquelas que es- judeus seculares, rótulos como "agnóstico" e "ateu" podem ser
peraria dos quatro públicos, e concluir com suas respostas. enganadores, pois que alguns judeus seculares talvez tenham con-
Um teólogo que focalize os quatro públicos deve ter em siderado cuidadosamente as questões espirituais antes de chega-
mente a existência dos outros três. Judeus messiânicos ou não- rem 21s suas atuais conclusÓes, enquanto outros podem ser indife-
messiânicos talvez estejam lendo em cima do ombro do cristão rentes, não esclarecidos e desinteressados. E já que ser judeu não
gentio para quem ele escreveu. Judeus não-messiânicos e cristãos é questão de religião e sim de povo, outra maneira de estabelecer
gentios podem estar a escuta quando ele fala aos judeus messiâ- categorias é segundo o envolvimento com pessoas judias em ge-
nicos. ral, ou com a comunidade judaica organizada em particular. Outra
Quando se dirige a um desses públicos, o teólogo deve maneira é pela atitude em relação a IsraeI: sionista, não-sionista,
tratar daquilo que o preocupa, em lugar de irritar as pessoas de- anti-sionista, ou desligadolindiferente.
batendo questões pelas quais não se interessam, nem precisam ter A denominação de um cristão gentio esclarece a respeito
despertado o seu interesse. Noutras palavras, toque no que im- de sua fé. atitudes e interesses. Outro fator 6 o seu lugar na escala
porta, e não no resto! direita-esquerda no fundamenta1istaevangélico-liberal.Uma ter-
Mas, quando estamos no papel de bisbilhoteiros de uma ceira dimensão é a sua atitude para com o judaísmo messiânico -
mensagem que a nós não se destina, devemos nos colocar no lu- a favor, inclinado para, neutro. contrário, desinfomado mas cu-
gar daqueles a quem ela é dirigida, em lugar de criticar quem fala rioso para aprender mais, ou inapelavelmente desinteressado.
por não levar em consideração as nossas preocupações. As distinções feitas para os judeus messi2inicos e os cris-
Se um teólogo muda de público deve deixar isto bem claro. tãos gentios se aplicariam também aos judeus messiânicos.
Sha'ul (Paul) sabia muito bem fazê-lo. Em Romanos 11 começa Gentios não-cristãos têm um ponto de vista filosófico ou
dirigindo-s tanto aos crentes judeus como aos gentios. Mas no religioso, seja outra religiáo, seita ou culto, adesão religiosa a
versículo 13 volta-se especificamente para os gentios cristãos. princípios de psicologia, filosofia, economia, ou ideologia politi-
Adiante, em 12,l mais uma vez se refere a todos os crentes como ca; secularismo, ateísmo, hedonismo, ou simples apatia. Um dos
"irmãos". nossos mentores, Sha'ul de Tarso, disse que tentou colocar-se na
2. Diferenças Dentro dos Quatro Públicos posição de qualquer pessoa com quem conversasse. na esperança
de que ao fazer o possível para lidar com a maneira pela qual a
Nenhum dos quatro grupos é monolítico. Judeus não-mes- pessoa agia. pensava e sentia com respeito à vida, essa pessoa se
siânicos, por exemplo. não só caem nas categorias familiares de salvasse2.
ortodoxo, conservador. reformados. reconstrucionista, hurnanista
e secular. como cada uina dessas categorias tem sub-grupos. O
judeu ortodoxo moderno, do tipo que poderia graduar-se na Uni-
80
entenderem-se mutuamente quando ocupam o mesmo lugar no seu
espectro de ortodoxo-a-liberal. No caso dos liberais. isto significa
1. Nossos "Inimigos" São os Nossos Melhores Amigos que podem confortavelmente se engajar no diálogo inter-religiões
sem por qualquer instante tentar persuadir o outro a modificar.
Os críticos mais severos entre nós são, em geral, os mais Mais particularmente, os cristãos liberais não sentem necessidade
fluentes ao dizerem porque nos combatem, proporcionando assim de evangelizar seus equivalentes judeus, o que alivia. natural-
nossas mais claras orientações para o progresso. Os cristãos que mente, a tensão sentida por muitos judeus quando sabem que es-
escrevem contra o judaísmo messiânico. ou contra a evangeliza- tão sendo alvo de evangelização.
ção judaica, esclarecem as questões teológicas que devemos en- O caso de direita é interessante: de um lado, ambos acre-
frentar para defender o judaísmo messiânico dentro da Igreja. ditam que as Escrituras são inspiradas. mas diferem naquilo que
Os judeus não-messiênicos que escrevem apologética con- será definido como de autoridade divina. Os judeus ortodoxos
tra o Novo Testamento e contra a compreensão cristã da Bblia aceitam o Tartakh ("Antigo Testamento") mais a Torah Oral, os
hebraica, tais como o rabino Karaite do século dezesseis, Yitz- cristãos ortodoxos aceitam o Ta& mais o Novo Testamento,
chac de Troki, indicam áreas que exigem esclarecimento. espe- Ambos aceitam milagres. ~ m b o aceitam
s a ressurreição dos mor-
cialmente aquelas em que a posição judeu-messiânica pode preci- tos como real, embora os cristãos. naturalmente, acreditem na res-
sar ser separada de pontos de vista cristáos mais tradicionais que surreição de Yeshua e os judeus ortodoxos (à exceção de Penchas
não levam em conta adequadamente a ambiência judaica do Novo Lapides) não acreditem. Ambos concordam que as pessoas vão a
Te~tamento.~ Similarmente, alguém como Sobe14, aguçando a Deus somente pelo caminho de Deus. mas diferem no que seja es-
nossa perceião das atitudes judaicas contra a institucionalização se caminho. Os judeus ortodoxos esperam que os gentios obede-
da crença judaica em Yeshua com Messias, aponta rumos para a çam às "Leis de NO^"^ e os judeus obedeçam a Torah de Moisés
melhoria do nosso movimento. interpretada pelos rabinos, enquanto os cristãos ortodoxos estão
certos de que ninguém, judeu ou gentio, vai ao Pai senão por Ye-
2. O Espectro Ortodoxo-Liberal shua. o Messias7 e pela Nova Aliança instaurada por sua morte
Um fator que atrapalha a comunicação tanto com amigos redentora na cruz.
como "inimigos" é o espectro liberal-ortodoxo encontrado no ju- 3. Mesmas Conclusóes, Diferentes Metodologias: Usando
daísmo e no cristianismo. Este espectro surge em parte dos pres- a Agenda Teológica Judaica
supostos filosóficos e epistemológicos que as pessoas levam ao
seu entendimento de religião - pressupostos que em geral não de- Já se disse que a teologia dos gentios cristãos parte das
sejam ver questionados. Tanto ortodoxos judeus como cristãos or- epístolas paulinas e recua. encontrando justificação no Antigo
todoxos consideram a Escritura como a palavra inspirada de Testamento, enquanto que a teologia do judaísmo messiânico de-
Deus, interpretam-na literalmente, aceitam os milagres como rea- veria começar com a Torah e adiantar-se para as novas descober-
lidade e acreditam que a única maneira de se aproximar de Deus tas daTor& que não existiriam sem o Novo Testamento. Em
ou agradar-lhe é através dos procedimentos autorizados por Deus. princípio. uma vez que ambos usam os mesmos textos e a verdade
Os liberais, por outro lado, assumem posição contrária a todas as é uma só. os resultados deveriam ser os mesmos; mas esperasse
acima mencionadas: a Escritura é simplesmente humana. os mila- que a metodologia seja diferente. Moishe Rosen expressou-o as-
gres são fraudulentos ou ilusórios, todos os caminhos levam a sim: precisamos de uma teologia bíblica que não se apoie nas
Deus, proposições do Novo Testamento, mas chegue às conclusões do
Uma hipótese não testada. que a observação casual me leva Novo Testame~to.~
a crer seja verdadeira, é que judeus e cristáos acham mais fácil Seria sensato, portanto, utilizar a agenda teológica judaica
82
na teologia judeu-messiânica. Isto talvez sugira uma interação Por exemplo: as doutrinas cristãs da Encarnação e Trinda-
com material judaico tradicional, tal como o Talmud, MidrashUn.
de são descritas no pensamento judeu como shittuf. "participa-
códigos e responsos, polêmicas e apologética anti-cristã e escritos
ção", ou "associação". O cristianismo é visto como ensinando
judaicos contemporâneos, talvez escrevendo-se comentários a
que Yeshua "participa" da divindade que por direito pertence
respeito. Pode também irnmpiicar no uso da estrutura de pensa-
somente a Deus (i.e., na terminologia cristã. somente a Deus Pai);
mento da teologia judaica. da qual os tópicos principais são Deus.
um ser humano é erroneamente elevado à posição de Deus e como
Israel e a Torah. de preferência à agenda teológica, antropológi-
tal venerado. Na Idade Média, as opiniõs entre os escritores ju-
ca. soteriológica e escatológica cristã.
deus dividiam-se entre isto constituir ou não idolatria; hoje, com
4. Lidando com o Judaísmo Secular certas exceçóes, os pensadores judeus concordam em que shimf
não impede o cristianismo de ser uma religião monoteísta, não-
A relação teológica com judeus seculares difere do discur-
so com "verdadeiros crentes" de algum tipo. As questões a seguir idólatra.
Similarmente, o judaísmo tem a sua própria teologia do ba-
acham-se entre as surgem então: Deus existe e intervém na histó-
ria humana? Este debate deve necessariamente distinguir o Deus tismo cristão. Os cristãos discutem se as pessoas são batizadas no
da Bíblia do "Deus" imaginário que o secular coIocou no seu lu- Messias, ou na Igreja. O judaísmo não se importa muito com
Deus é justo e misericordioso? Isto leva ii questão de como aquilo "em que" o cristão é batizado; preocupa-se com "de onde
ele teria permitido o KoIocausto, e de quem ou o que é por ele sai" o batismo. Para grande parte do pensamento judaico, o ba-
responsável. Surgem questões epistemológicas. tais como de que tismo cristão significa que o indivíduo deixou a comunidade ju-
modo saber que existe um Deus. como saber se a Bíblia é verda- caica e se deslocou para a comunidade cristã. Esta conceituação
em termos de deixar uma comunidade e ingressar noutra não de-
deira. e o que constitui uma prova. Finalmente há o embaraço de
veria nos surpreender. uma vez que o judaísmo é mais centrado
ser "escolhido" - a queixa de Tevyelo. Com estas mesmas ques-
na comunidade que o cristianismo. Uma das implicações é que
tões o judaísmo religioso não-meshiânico tem que lidar ao se diri-
o judeu pode entreter em particular qualquer idéia "louca" que
gir a judeus seculares.
deseje - e talvez até em público. caso não perturbe a comunidade
5. Teologia Judaica do Cristianismo - inclusive até, quem sabe, a crença de que seus pecados foram
perdoados pela morte do Messias Yeshua. Mas se for batizado. o
O judaísmo não-messiânico foi forçado pelas circunstân-
que é visto não como a proclamação de um novo relacionamento
cias a lidar com a cristandade. Como todas as religiões. elaborou
com o Deus de Israel através do Messias judeu, e sim como uma
uma apologética (defesa de seus pontos de vista) e uma polêmica
iniciação no cristianismo. ele também se "exclui" do judaísmo.
(ataques a outros pontos de vista). Além disso, porém, creio que a
Contudo, em termos da análise do capítulo III, esta compreensão
pressão foi tão intensa que desenvolveu dois elementos adicionais
do batismo supõe que não se pode ser ao mesmo tempo judeu e
em relação ao cristianismo. O primeiro é a teologia defensiva, e
messiaânico; se, conforme alegamos. isto é possível, então a teo-
por esta expressão quero dizer que ele assumiu posições teológi-
logia é falsa. Ademais é inconsistente com a hlaWzah, que diz
cas em reação a posições teológicas cristãs. Uma vez que.o cris-
tianismo adotou esta e aquela postura, o judaísmo assumiu uma que "um mau judeu continua a ser um judeu" e não existe ato
postura de oposiçio mais marcante do que assumiria caso o cris- pelo qual ele possa se desjudaizar.
tianismo não existisse. Ademais o judaísmo precisou elaborar a Desconheço qualquer fonte que apresente urna teologia ju-
sua própria teologia concernente a importantes idéias cristãs. isto daica abrangente do cristianismo, mas a Ieitura de estudos judai-
6,o judaísmo teve que ponderar questóes que não seriam absolu- cos do cristianismo e literatura polêmica judaica contrária ao
mente levantadas caso o cristianismo não existisse. cristianismo revelam a maioria dos seus elementos. O judaísmo
messiânico consideraxia útil sistematizar tais idéias.
85
6. Teologia Cristã do Judaísmo intercambiavelmente, o que sugere um triteísmo prático tanto
Similarmente, o judaísmo messiânico se beneficiaria estu- ofensivo aos judeus quanto ignorante da judaicidade do Evan-
dando de que modo os cristãos entederam e desentenderam o ju- gelho.
daísmo. Grande parte deste livro é dedicada a comgir impressões
en-Ôneas de idéias e práticas judaicas; é uma importante tarefa,
juntamente com a correção de atitudes judaicas errôneas relativas
à mensagem do Novo Testamento. 1. O Homem à Imagem de Deus
Também aqui cabe iniciar com os pontos comuns. Exem-
C. Teologia Propriamente Dita plo: judeus e cristãos concordam em que o homem é feito à ima-
Na teologia propriamente dita. o estudo da natureza de gem de Deus. Certas teologias cristãs supõem que o pecado dani-
Deus pode ser iniciado com os elementos comuns ao entendi- ficou essa imagem, enquanto outras localizam o dano algures.
mento judaico e cristão, ou "tradição judeu-cristã" - por exem- A teologia judaica não faia em imagem danificada.
plo. a unidade. eternidade. onipotência e santidade de Deus. Mas
logo é preciso coníkontar-se com as duas principais questões que 2. Pecado
dividem - a divindade do Messias e a natureza íntima de Deus. Judeus e cristãos reconhecem o fato óbvio de que os seres
A história levou o judaísmo não-messiânico ao ponto de humanos pecam. Para além disso, as teologias do pecado movi-
negar totalmente a possibiIidade da encarnaçao e a insistir na uni- mentam-se em direções opostas. A noção cristã de "pecado origi-
dade absoluta de Deus, de maneira a negar a maioria das afirma- nal" é considerada por muitos judeus como "grosseiramente in-
tivas cristãs referentes à Trindade (este é um exemplo de "teolo- justa" - por que nós, hoje, seríamos castigados pelo pecado que
gia defensiva"1~).Contudo, pode-se encontrar no judaísmo su- Adáo cometeu há tanto tempo? De igual modo. a "depravação
gestóes de que a oposição nem sempre foi assim tão monolítica. total" sugere que todos praticam as mais grosseiras formas de ví-
Concepções errôneas precisam ser esclarecias de ambos os cio; mas não é a isto que os teólogos se referem ao usar esta ex-
lados. Os judeus supõem muitas vezes que os cristãos pensam que pressão. O homem é pecador por que peca, ou ele peca porque é
Yeshua se tomou Deus e não entendem que o Novo Testamento pecador? Os judeus afirmam o primeiro, os cristãos, o Último.
ensina o oposto, isto é, que o Deus eterno, sempre comprometer Mas a resposta é importante em termos práticos? Não importa o
ou diluir a sua divindade, assumiu um corpo e se tomou ho- que seja certo; permanece o fato de que as pessoas violam a von-
mem.12 Do mesmo modo é idéia comum entre os judeus que os tade de Deus, conforme nos lembra o Tanukh, "não ha ninguém
cristãos acreditam em três deuses. Mas Yeshua citou o *ma co- que faça (somente) o bem e não peque".14
mo o mais importante dos mandamentos: "Ouve, ó Israel! O Se- Embora a teologia judaica do pecado seja "defensiva". pa-
nhor, nosso Deus, é o Unico Senhor. Amarás o Senhor teu Deus rece-me que as teorias cristãs do pecado também seguem uma
de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas for- agenda oculta, que é grayar nas pessoas aidéias de que Deus leva
ças7'.13 muito a sério o pecado. E possível que o objetivo possa ser alcan-
.DO lado cristão, a tendência entre as massas, senão entre os çado com descrições do caráter pecaminoso do homem, o que
teólogos. é ignorar o Pai e voltar-se exclusivamente para Yeshua. apresenta menos problemas intelectuais e é tão exato quanto aos
ou, no caso de alguns carisdticos, para o Espírito Santo. Yeshua fatos da Escritura quanto as versões agostinianas que dominaram
instruiu seus discípulos no sentido de orarem ao Pai; e a "Oração o pensamento cristão desde a sua época. E de fato essas outras
do Senhor" que ele lhes ensinou é dirigida ao Pai. Mas os cris- versões existem; se as teorias de Arrninius, Cocceius e John
tãos usam com frequência os nomes das três pessoas da Trindade Wesley (nenhum dos quais é considerado herético como o adver-
87
sário de Agostinho, Pelágio) fossem mais conhecidas nos círculos pode ter sido eficaz, já que Deus abomina 0 sacrifício h w ~ ~ ~ ~ o
judaicos, alguns dos problemas desta hrea da teologia seriam Primeiro, nenhum outro sacrifício humano seria eficaz. porque
amenizados. ninguém mais era isento de pecado, sem mácula. conforme exigi-
3. Arrependimento. Expiação, Perdão do dos sacrifícios. Segundo. a abominação divina pelo sacrifício
humano demonstra com maior força o quanto ele nos amava: sa-
Na questão da reparação do pecado, o judaísmo messiânico crificou. apeszr disso. o seu filho. Assim o sacrifício de Deus foi
deveria trazer à tona, com certeza, tudo o que o Novo Testamento l d .
ensina sobre o assunto. pois o cristianismo tende a atenuar justa- O sistema levítico de sacrifícios foi abolido pela Nova
mente os elementos acentuados pelo judaísmo. Para que a repara- Aliança? A carta do Novo Testamento dirigida aos judeus mes-
@o de Yeshua seja efetiva. a pessoa que pecou deve não só ad- siânicos (Hebreus) é dedicada ao assunto, mas uma leitura cuida-
mitir seu pecado, como também arrepender-se - o que significa dosa demonstra que só foi cancelada a oferta do pecado, substi-
estar decidido a não cometer novamente o pecado; deve arrepen- tuída pelo próprio Yeshua. Parece que se e/ou quando o Tempo
der-se, não por auto-compaixão, e sim por lamentar ter ofendido foi reconstruído (os profetizadores têm opiniões variadas a res-
outras pessoas elou a Deus; e deve compensar a pessoa que foi peito)l7, os demais sacrifícios (oferenda contínua, oferenda de
prejudicada. Do cristianismo. o que se ouve com mais frequência agradecimento. oferenda de cereais, etc.) continuariam.
é que Deus está disposto a perdoar; do judaísmo, o quanto é cru- Os judeus supõem que são cristis as idéias de reparação
cial para nós fazer todo o possível para corrigir o mal. Mas com- vicária e mediação entre Deus e o homem, mas são totalmente ju-
gir erros esta nas Escrituras, tanto o Tanakh como no Novo Tes- daicas, ilustradas no Tanakh pelos sacrifícios animais e os sacer-
tamento. assim como o desejo de Deus perdoar o pecador &e- dotes, respectivamente. Repetindo. a fonte básica desses assuntos
pendido. no Novo Testamento é a carta aos Judeus Messiânicos (aos He-
A responsabilidade individual, já ensinada por Moisés e breus), em especial os capítulos 7-10, que relacionam os.sacrifí-
reafirmada por Bzequiel, está bem clara no Novo Testamento. cios animais e o sacerdócio levítico da Torah com o auto-sacrifí-
Houve maientendido cristão da oração Kol Nidre,15 que cio definitivo. vencedor da morte. de Yeshua. e conseqüente su-
pode parecer ao leitor não esclarecido oferecer "graça barata"; mo-sacerdócio eterno.
mas este malentendido é fácil de esclarecer quando se compreen-
de o contexto histórico. 4. O Dever Moral do Homem
O sistema sacrificial deve ser discutido. Os cristãos preci-
sam compreender que o sistema de sacrifícios do Tanakh. embora O judaísmo enfatiza o dever moral do homem. â exigência
aguardasse a vinda do sacrifício final de Yeshua. o Messias, para de que obedeça a Deus, de que seja santo porque Deus - a cuja
redimir o pecado, era eficaz. Os judeus devem compreender que é imagem foi criado - é santo, e sublinha que ele tem o livre arbí-
preciso mais do que "oração. arrependimento e caridade" para trio para assim agir. O cristianismo. em geral considerado nos cír-
"evitar o decreto do mal",16 porque a penalidade decretada para culos do judaísmo como subIinhando a incapacidade humana nes-
o pecado é a morte (Gênesis 2,17), donde a necessidade de um sas áreas, diz na verdade que o fiel "pode fazer todas as coisas
sacrificio, rn morte. A pm'tica do kapparot (sacrificar uma gali- através do Messias. que o fortale~e".'~o que dificilmente pode
nha) no Yom Kippur em alguns círculos de judeus ortodoxos tes- ser tido como um ensinamento de desespero. As exigências mo-
temunha uma consciência reminiscente da importância do sacnfí- rais do Novo Testamento não são inferiores b do Antigo; na ver-
cio. mas este costume náo é sequer conhecido da maioria dos ju- dade. a própria comparação é um erro. uma vez que se compara
deus. Deus com Deus - ele não muda.
Os judeus questionam de que modo o sacrifício de Yeshua
5. Fé e Obras
1. Alianças
Finalmente, uma vez que o judaísmo se considera "orien-
tado para as obras" e o cristianismo, por razões diversas, concor- Um dos mais importantes tópicos teológicos são as alianças
da com esta auto-avaliação, é preciso elaborar uma nítida com- (contratos entre Deus e os homens), porque enquadram toda a
preensão do relacionamento entre obras e fé. A fé deve ser com- história da salvação. Nossa teologia deve considerar as aliangas
preendida no sentido judaico como emunah, "fidelidade confian- com Noé, Abraão, Moisés, Davi e Yeshua em relação aos judeus,
te", boas obras devem ser entendidas como se originando dessa gentios e judeus messiânicos.
fidelidade confiante;lg e deve estar claro que as boas obras exe-
cutadas por qualquer motivo que não a fidelidade confiante. em- a. Todas as Cinco Alianças estáo em Vigor até Hoje
bora úteis aos outros e talvez de utilidade para a formaçõ do indi- Um ponto-chave de partida para inúmeras teologias cristãs
víduo, não são creditadas para ele como j~stiça.~O De qualquer é a insistência em que as cinco alianças permanecem em vigor até
modo, o legalismo é tão fatal para a fé e as boas obras no cristia- hoje.
nismo como no judaísmo. e nenhuma das duas religiões, na sua * A aliança de Deus com a humanidade através de Noé
melhor expressão. o desposa. E preciso sublinhar que nenhuma (Gênesis 9) é, na tradição judaica, a base das "Leis de
quantidade ou qualidade de boas obras que possamos reunir por Noé", sob as quais os gentios recebem a salvação. Em-
nossas próprias forças será suficientemente boa para nos con- bom o Novo Testamento afirme que a salvação para ju-
quistar o aplauso de Deus. deus e gentios igulamente só ocorre atravbs de Yeshua, o
Os judeus que não sentem inclinação para realizar detenni- resultado do Concílio de Jerusalém (Atos 151, que esta-
nado mitmah ouvem, às vezes, de seus rabinos: "Faça-o de qual- beleceu as condições mínimas para a aceitação dos gen-
quer maneira, a vontade virá depois". Os cristãos que vêem este tios no Corpo do Messias, faz paralelo com as "Leis de
procedimento como formaiismo deveriarii lembrar-se de que di- Noé". Para maiores esclarecimentos consuItar o capítulo
zem à sua gente: "Não se apoie nos seus sentimentos, siga a pa- V, Seção B-7.
lavra de Deus". A meu ver, dá na mesma. * A aliança de Deus com Abraão (Gênesis 12, 13, 15, 17)
gerou o povo judeu. A exceção do requisito da circunci-
E. O POVO DE DEUS: ALIANÇAS. são trata-se de uma aliança incondicional, prometendo
CORPORATIVIDADE. PROMESSAS E O EVANGE- que OS judeus serão uma bênção para toda a humanidade.
LHO Isto é verdade comprovada especialmente através de Ye-
shua, o Messias, a "semente de Abraão", que nasceu do
O povo de Deus é povo escolhido, reino de sacerdotes. na- povo judeu e cuja soberania justa sobre todas as nações
ção santa. testemunha de Deus, povo com uma missão. povo com se estenderá a partir de JerusaIém, a capital judaica. A
um Livro, bênção para as nações. Os judeus são o povo de Deus. aliança aplica-se agora tanta aos judeus como aos gentios
e a Igreja é o povo de Deus - conforme vimos no Capítulo 111. que seguem Yeshua, conforme foi explicado em Roma-
Secão B. Outros conceitos bíblicos que deveriam infegrar-se a nos 4 e Gálatas 3. O povo judaico, um dia, abençoará o
qualquer teologia judeu-messiânica incluem o "resto fiel" e "Is- mundo de maneira sem precedentes (Zacarias 8,23; Apo-
rael de Deusw2;. calipse 7,14).
Três importantes assuntos que exigem uma correta compre- r A aliança de Deus com o povo judaico atravds de Moisés
ensão do povo de Deus são: alianças. aspectos corporativos do levou a Torah a exortá-lo e guiá-lo a uma reta maneira
Evangelho e o relacionamento entre o Evangelho e as promessas de viver, aumentar a sua consciência do pecado e da ne-
de Deus a Israel. cessidade de arrependimento, ensinando-o a aceitar os
91
2

desígnios de Deus - a princípio os sacrifícios animais, e, na lado, a regra anterior é posta de lado por causa de sua fraqueza e
plenitude dos tempos, o sacrifício de Yeshua - para sanar o 1 ineficácia (pois a Torah não levou nada até a sua meta); e de ou-
afastamento de Deus causado pelo pecado. tro a esperança de algo melhor é introduzida, e por seu intermédio
Em relação às suas bênçãos e maldições, a aliança mosaica
é condicional do lado judaico - mas não do lado de Deus, pois
g nós estarnos nos aproximando de Deus".22
Mas "uma tranformação da Torah" não implica em sua
Deus é fiel ainda quando o seu povo não o é (Romanos 3,2-3). abolição. Regras específicas são postas de lado - por exemplo,
Segundo a Escritura, o povo judaico, tendo rompido a aliança (Je- a Torah tem que ser adaptada, de modo a levar em conta o papel
remias 31,31-32), é, no momento, receptáculo de suas maldições
$ de Yeshua como cohen gadd (sumo sacerdote). No entanto, a
:!
e não de suas bênçãos (Deuteronômio 28). Quando os judeus, in- 2, própria Torah continua em vigor e deve ser observada, assim co-
dividualmente, fazem-se obedientes e deixam de romper a aiiança, mo a Constituição não é abolida por causa das emendas. O Capí-
Deus os abençoa a cada um. Quando o povo judaico se tomar tulo V trata desta questão p01êmica.~~
obediente e deixar de romper a aliança, Deus cumprirá a sua pro- "Dias virão" - diz Adomi, em que fmarei ... uma
messa de abençoá-lo como nação. nova aliança ...' (Jeremias 31,30-34) Ao dizer 'nova'
Contudo, a Torah apresentada sob esta aliança foi dada pa- I
ele tratou a primeira aliança como 'antiga'; e tudo
ra sempre e nunca abolida, e essa Torah ainda se acha em vigor. .I
I aquilo que está envelhecendo, tudo aquilo que se
Uma vez que esta importante verdade vai de encontro a grande acha em processo de envelhecer está próximo de de-
parte da teologia cristã, suas implicações serão extensamente ex- ~a~arecer"~~.
ploradas no Capítulo V; consultar também adiante a Seção E-1-b. d A se nda vinda de Yeshua esta "póxima" ("O Senhor se
* A aliança de Deus com Davi ( 2 Samuel 7) estabeleceu apronirnaW2~mas ainda não a m n t e ~ e u !De
~ igual modo, embora
para sempre o trono do seu reino. Por esta razão o Mes- a "primeira" ou "antiga" aliança (isto é, a Aliança Mosaica) es-
sias esperado era e é chamado de Filho de Davi. O Mes- teja "perto de desaparecer" aiiida não desapareceu, mas está em
sias Yeshua, descendente de Davi, subirá o trono segun- ccprocessode envelhecimento". Neste momento em que escrevo
L
do a vontade do Pai (Atos 1,6-7, Apocalipse 20,2-6). estou com cinquenta e dois anos e também em processo de enve-
* A Nova Aliança de Deus com a casa de Israel e a casa de I
fiecimento; mas espero que ninguém me trate como se eu já tives-
Judá (Jeremias 31,30-34) através de Yeshua, o Messias, se desaparecido - pelo menos por algum tempo!. Não sabemos
abençoa toda a humanidade, proporcionando a reparação quando a "antigaH aliança desaparecerá, mas sabemos o que disse
definitiva e permanente do pecado e prometendo que o Yeshua: "Passaráo o céu e a terra antes que desapareça um yod,
Espírito Santo de Deus grave a Torah no coração de to- um traço da Torah - não até que aconteça tudo o que deve acon-
dos os que têm fé. Complementa assim as alianças ante- t e c e ~ -" Fntretanto,
~~. a Aliança Mosaica está presente para ser ob-
riores sem as anular (Gálatas 3). Foi prometida no Tam- servada e não rompida do nosso lado (embora nossos antepassa-
kh e os livros do Novo Testamento a elaboram. dos a tenham rompido28), uma vez que nunca foi rompida por
Deus.
b. Carta aos Judeus Messiânicos (Aos Hebreus) 7-8 - A "Anti-
ga'' Aliança foi Abolida pela "Nova!'? 2. Aspectos Corporativos do Evangelho
~ ~ parece
u ilugar apropriado para se estudar mais inten- Existem no Evangelho aspectos corporativos, não apenas
samente de que modo a "Carta a um Grupo de Judeus Messihi- relacionados com indivíduos. Os cristãos que consideram correto
cos" ("Aos Hebreus") trata & "antiga" e da "nova" alianças. pregar o Evangelho aos judeus apresentam muitas vezes um
"Pois se o sistema de cohanzh for transformado, ocorrerá Evangelho inadequado porque voltado apenas para o indivíduo,
necessariamente uma transformação da Torah ... Assim, de um sem tratar o povo judaico como uma entidade corporativa. A meu
ver um evangelho voltado apenas para individuos é inadequado caliza-se 9a integridade e santidade do povo judaico em geral, o
não só para os judeus como também para os gentios. que atesta, por exemplo, a frequente explicação no Deuteronômio
Que é o Evangelho para o indivíduo? A declaração mais do castigo capital, ou excomunhão, "para que o mal seja expulso
completa do Novo Testamento referente a isso é a Epístola aos de entre vós"; compare-se ainda à história de Achan em Josué 7.
Romanos, capítulos 1-8, embora toda parte essencial seja também Uma vez que a maioria do povo judeu, após 4.000 anos de
encontrada no T d . Os capítulos 1-3 dizem que todos pecaram história comunitária, tem um forte sentido de LUTI Evan-
e não obedecem plenamente a Deus (1Reis 8,46, Eclesiastes gelho individual parece-lhe egoDta e insuficiente, wna vez que
7,20), que este pecado levanta um muro entre o pecador e Deus náo toca diretamente em aspiuap5es naciomais e univermis. Em
(Isaias 59,l-2), que a penalidade do pecado é a morte (Gênesis, m'dia, os judeus vivem m i s em corporação do que a m i o r h dos
2,17), e que ninguém pode restabelecer o relacionamento com ocidentais individualistas - e eu digo para vergonha da Igreja,
Deus através dos seus próprios esforços (Salmd 143-2, Isaias que o NoviFTestamento proclama ser "um só corpo". Na verda-
64,5-6), mas que Deus através, de sua parte, por seu próprio ato de, a Igreja pode e deveria aprender do povo judaico o que signi-
soberano de ofertar Yeshua, o Messias, como reparação do peca- fica cuidar uns dos outros.
do, estabeleceu uma ponte sobre o abismo e restaurou a amizade Expressando a idéia noutras palavras, meu vinculo indivi-
entre o indivíduo e seu Deus (Isaias 52,13; 53,12). Os capítulos dual com Deus é direto, mas não solitário - está entretecido com
4-6 explicam que, para restabelecer o seu relacionamento indivi- o seu. Um Evangelho que ignora o entrelaçar de vidas em "na-
dual com Deus, a pessoa deve depositar nele a sua confiança, ções e raças e povos e línguas" é um Evangelho sirnplista. esca-
aceitando pessoalmente o que Deus já fez por ele através de Ye- pista. "Homem algum é uma ilha, inteiro por si mesmo". A reli-
shua (Gênesis 15,6). Os capítulos 7-8 acrescentam que esta con- gião das Escrituras não é praticada na posição lotus. Não só um
fiança vinda do coração (em hebraico emunuh, em grego, pistis) Evangelho excessivamente introvertido deixará de atrair pessoas
que o Novo Testamento deixa claro não ser simples afirmativa mais.ligadas ao bem da sociedade, o que acontece com muitos ju-
intelectual de determinados fatos (Ya'akov (Tiago)2,14.-26),con- deus, como deixará de representar plenamente os designios de
duzirá ao desejo e à capacidade - pelo poder do Espírito Santo Deus,
atuando nele - de reaIizar as ações que são agradáveis a Deus. Para os gentios, que precisam ser salvos apesar de sua
Nos Estados Unidos, onde o direito do indivíduo a buscar cultura e, &adição religiosa. é possível argumentar que o aspecto
sua própria felicidade vem sendo considerado, há mais de dois individual élo ponto-chave. É por isso que Sha'ul (Paulo). ernis-
séculos, como virtualmente uma lei natural (aquilo que a Declara- sário junto aos gentios3', sublinhou tanto este ponto. De igual
ção da Independência chamou de "direito inalienável"), o Evan- modo, os aspectos individuais do Evangelho podem falar de ma-
gelho é convenientemente apresentado ao indivíduo em folhetos neira adequada ao coração dos assimilados, ou pertubados judeus,
contendo quatro ou cinco "leis espirituais"; e pode-se supor que cujo envolvimento com a comunidade judaica é fraco. Mas os ju-
o Evangelho se limite a isso. Mas a salvação é corporativa, tanto deus que se sentem parte integrante de sue povo - e não raros
para a comunidade como para o indivíduo. Qualquer estudo da gentios de orientação social - precisam ouvir também os aspectos
palavra yesh'ah ("salvação, libertação") na Bíblia hebraica de- corporativos do Evangelho, ou poderãlo considerá-lo superficial,
monstrará que a Iibertação nunca é considerada exclusivamente não se salvando assim.
para o indivíduo, embora a salvação individual faça parte, defini- Ademais, até as pessoas cujo interesse é o seu próprio
tivamente , da mensagem do Antigo ~ e s t a m e n t o Contudo,
~~. a bem-estar precisam conhecer os aspectos corporativos do Evan-
salvação para o indivíduo judeu, aparte a preocupação com a li- gelho. Na verdade, precisam mais que isso, uma vez que um as-
bertação do povo judaico em geral, não se encontra no Ta&. pecto importante da salvação, para eles, pode ser o abandono de
Pelo contririo, grande parte de seu discurso sobre a salvaçáo fo- t uma abordagem egoísta, egocênbica h vida e a adoçáo da aborda-
94 95
gem de Deus, que se orienta para os outros3*. Assim, um Evan- um texto o seu verdadeiro sentido,
gelho que deixe de focalizar os elementos corporativos e sociais, * Sod ("secreto") - Trabalha-se com os valores numéricos as le-
deixa de ser "o conselho total de Deus"33 para quem quer que tras hebraicas; por exemplo, duas palavras que têm o mesmo
seja. número de letras seriam boas candidatas para revelar um segre-
do através da "bissociação de idéias"34.
3. Yeshua É Identificado Com o Povo de Israel A acusação de que Mattityahu usou de modo inadequado a
Um modo interessante de pensar no Evangelho como 'si- Escritura só será válida se ele estiver lidando com p'shat. Pois,
multaneamente individual e corporativo é considerar as maneiras conforme dissemos, p'shat de Oséias 11,1 aplica-se à nação de Is-
pelas quais o Messias Yeshua representa seu povo de Israel e se rael e não a Yeshua.
identifica intimamente com ele. Assim como o indivíduo que con- Mas talvez Mattityahu esteja fazendo uin mtdrash, lendo o
fia em Yeshua une-se com ele e é "imerso" (batizado) em tudo Messias num versículo que trata de Israel. Muitos rabinos usaram
aquilo que Yeshua é, inclusive morte e ressurreição - de modo a mesma abordagem; seus leitores não o considerariam condená-
que sua natureza pecaminosa é considerada morta e sua nova na- vel.
tureza, fortalecida pelo Espírito Santo. é considerada viva - assim Creio, porém. que Mattityahu não está fazendo nem uma
como esta íntima identificação com o Messias é válida para o in- coisa, nem outra, e sim nos apresentando um uemez, uma sugestão
divíduo, do mesmo modo o Messias se identifica com Israel como de verdade muito profunda. Israel é chamada filho de Deus al-
nação e o incorpora. guns versículos acima em Mattityahu 1 ,I8-25, refletindo passa-
No Novo Testamento encontra-se primeiro esta noção em gens do Tanakh, tais como Isaias 95-7, o Salmo 2,7 e Provérbios
Mattityahu Wateus) 2,15, onde se conta que Yeshua foi levado 30,4. Assim o Filho se. iguala ao filho; o Messias é equiparado
para o Egito. "Isto aconteceu para que se cumprisse o que Adonai com a nação de Israel. E o que Mattityahu sugere ao chamar a fu-
havia dito através do profeta, 'Do Egito chamei meu filho'. O ga de Yeshua para o Egito um cumprimento de Oseias 11 ,I.
versículo citado é Oséias 11,l. Contudo, no contexto, o profeta A idéia de que um representa todos pode ser encontrada em
Oséias falava claramentenão sobre um futuro Messias, e sim so- toda a Bíblia, às vezes para degria, às vezes para tristeza - na
bre a nação de Israel e o Exodo. história de pecado de Acan (Josué 7). no relacionamento entre Is-
Há quem acuse Mattityahu de utilizar-se erroneamente das rael e seu rei (várias passagens do Tanakh, por exemplo, 1Reis
Escrituras neste ponto, tirando um versículo do seu contexto e 9,349, em Romanos 5,12-21, em Corintios 15,4549, e no debate
aplicando-o a Yeshua. Seria ele culpado? Para responder deve- a respeito das "passagens do servo." de Isaias (42,l-9; 49-1-13,
ríamos observar os quatro tipos de interpretação das Escrituras 40,4-11, e 52,ll-52,12). Na verdade, a controvérsia em tomo de
usados pelos rabinos: Isaias 53 se referir a Israel, ou ao Messias que ainda não havia
* P'shat ("simples ") - O sentido simples, lato do texto, o que os nascido dissolve-se quando recordamos que o Messias de Israel
intérpretes modernos chamam exegesse gramático-histórica. personifica seu povo. Consideremos, de igual modo, as seguintes
* Remez ("sugestão") - Característica s peculiares do texto são frases de Isaias 49,l-6:
consideradas sugestks de uma verdade mais profunda do que a "Adonai ... me disse 'Tu és meu servo, Israel, em quem se-
transmitida pelo sentido lato. rei glorificado'... e então Adonai diz... Não basta que sejas
* Drash ou midrash ("pesquisa") - A criatividade é usada para meu servo para reerguer as tribos de Jacó e restaurar o
pesquisar o texto em reIaçáo ao restante da Bíblia, outra litera- resto de Israel; vou fazer de ti a luz das nações para propa-
tura, ou a vida, a fim de desenvolver uma aplicação alegórica gar minha salvação até os confins do mundo".
ou hornilética do texto. Isto acarreta eisegesis - ler os próprios Israel restaura o resto de Israel? Quem 6 a "luz das na-
pensamentos num texto - assim como exegese, que é extrair de ~óes"?O judaísmo entende esta passagem como um objetivo a ser
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cumprido pelo povo judaico. Os cristãos pensam imediatamente Examinaremos dois textos como demonstração.
um Yochanan (João) 8,12, onde Yeshua diz sobre si mesmo "Eu O primeiro é Mattityahu (Mateus) 23,37-39. Depois de re-
sou a luz do mundo". Sugiro no início do capítulo 1 que o povo preender determinado grupo de mestres da Torah ("estribas")
judaico será a luz das na~óesquando tivermos em nós aquele que e P'rushim ("fariseus"), cujos corações endurecidos tbhm-se
é a luz do mundo. voltado contra a verdade espiritual, Yeshua exclamou:
O conceito de que o Messias personifica o povo judaico "Jerusalém! Jerusalém, que matas os profetas! Que ape-
não deveria parecer estranho aos fiéis, que aprendem precisa- drejas aqueles que te são enviados! Quantas vezes quis
mente isto a respeito de Yeshua e da Igreja. Que outra coisa sig- reunir teus filhos, como a galinha reune os pintinhos sob
nificawiza falar da Igreja como um corpo do qual o Messias é a ca- suas asas, mas recusaste! Vê! 'Deus está abandonando tua
beça? Ou um templo do qual ele é a pedra angular? O conceito de casa, deixando-a em escombros' (Jeremias 22,5). Pois ago-
um representando o todo nos é familiar. Mas a Igreja não apreen- ra os digo que já não me vewis até que digais 'Bendito seja
deu claramente que o Santo de Israel, Yeshua, está em uniiio não aquele que vem em nome de Adonaii (Salmo 1 18,26)."
s6 com a Igreja, como também com o povo judaico. Quando os Independentemente do fato de o Messias, ao dizer "Jeru-
cristãos o digerirem plenamente e conseguirem comunicar aos ju- salém! Jerusalém!", estar se dirigindo a todo o povo judaico, ou
deus que através de Yeshua, o Messias, em virhide de sua identi- apenas ao governo judaico concer$fado na Cidade Santa, é óbvio
ficação com IsraeI, o povo judaico realizará o seu destino, então o que ele falava não só a indivíduos "como à nação em geral, pro-
povo judaico terá sido apresentado a um Evangelho menos estra- metendo que a salvação nacional chegará a Israel quando este
nho e mais atraente. E a Igreja se terá tornado mais fiel a ele. disser como nação: "Bendito seja aquele que vem em nome do
"A verdade, toda a verdade e nada senão a verdade"? Ye- Senhor".
shua disse "Eu sou... a verdade". Mas identifica-se com Israel. Outra passagem-chave afirmando que Deus cumprirá suas
Quem crê no Evangelho adquire verdade, identificando-se com promessas à nação de Israel está em Romanos 9-11. Esta parte do
Yeshua. Mas neste caso também a pessoa, judeu ou gentio, deve Livro de Romanos não é, conforme alegam alguns dispensaciona-
identificar-se com o povo judaico, com quem Yeshua se identifi- listas extremados, um "parêntese" sem relação àquilo que Sha'ul
ca. Caso contrário não se identificou com Yeshua. Esta é a ver- escreve antes e depois. Antes responde a uma questão-chave le-
dade! "Conhecereis a verdade" - Yeshua, que se identifica com o vantada nos últimos versículos do capítulo 8, onde Sha'ul pro-
povo judaico - "e a verdade vos tomará 1 i v r e ~ ' I ~ ~ . mete que os que crêem em Yeshua, tendo sido escolhidos, serão
4. Deus Cumprirá Suas Promessas ao Povo Judaico glorificados (v.30), e que nada o pode impedir (vv.31-39). A res-
posta natural do leitor do primeiro século a esta afirmativa de que
Um importante elemento corporativo da Boa Nova é a ga- Deus manterá suas promessas para quem tem fé deve ter sido: "E
rantia de que Deus cumprirá suas promessas ao povo judaico co- Israel? Não vejo que Deus tenha cumprido suas promessas para
mo povo. Essas promessas surgem reiteradamente no Tanakh; com eles. O Messias veio e se foi, e o povo judaico não o está se-
duas das mais importantes dizem que o povo judaico voltará do guindo. E Israel?" A resposta de Romanos 9-11 é que Deus
Exilio para possuir e habitar Eretz-Yisrael (a Terra de IsraeI), e manterá de fato suas promessas feitas a Israel - à sua maneira e
que Reino será restabelecido com o Filho de Davi subindo ao aos tempo - de modo que no final "todo Israel", isto é, Israel
trono. como entidade nacional, ''ser6 salvo".
a . O Novo Testamento o Prova Vemos assim que o futuro da nação de Israel é, na verdade,
mencionado no Novo Testamento; ademais, estas duas passagens
Muitos cristãos ignoram que o Novo Testamento afirma a não são de modo algum as Únicas em que isto é mencionado.
futura realização das promessas de Deus para a nação de Israel.
98
b. O Tamkh o Prova
"rorque toaas as promessas de Deus são 'sim' em Jesus",
Ainda que o Novo Testamento não tenha mencionado pro-
(2 Coríntios 1,20).
messas feitas à nação judaica, nós a encontrariariamosno Tanakh,
A teologia da substituição entende que isto significa que
que é, afinal, também a Palavra de Deus. Aquilo que os cristãos
todas as promessas do Antigo Testamento já foram, num sentido
chamam de Antigo Testamento era a única Biblia de Yeshua, que
nela acreditava de todo coração. De fato, referindo-se ao Tanakh místico, cumpridas, de modo que nada resta para os judeus. l~~las o
e suas promessas, ele disse: "Não se pode desobedecer a Escritu- versículo não diz, ou significa, que todas as promessas já tenham
ra". Sha'ul escreveu também que "toda escritura", isto é, todo sido cumpridas, e sim que as promessas de Deus que foram cum-
o Tanakh, "é inspirada por Deus e proveitosa para a doutri- pridas o são em, através, ou por Yeshua. Ele é o instrumento
na..."36 O Novo Testamento não cancela ou substitui o Tanakh; através do qual Deus Pai cumpriu, está cumprindo e cumprirá to-
das as promessas que fez ao povo judaico - inclusive e a de que
antes, baseia-se nele - mais exatmente, o assume. Tudo o que ele voltará do Exílio para possuir a Terra de Israel e nela viver, e
está escrito no Tanakh,portanto, é considerado fiel e verdadeiro a promessa de que0 Reino será restaurado, com o Filho de Davi
no Novo Testamento, inclusive todas as promessas para a nação sentado no trono. Um texto que d m a que Deus cumprirá cada
uma de suas promessas feitas aos judeus não deve ser transforma-
de Israel,
do num pretexto para as cancelar!
Ademais, as promessq&o ,Tanukh relativas a uma Nova
Aliança e um novo coração espírito para o povo judaico estão "Não julgueis que vim abolir a Iei ou os profetas. Náo vim
ligados à promessa de que ele permanecerá uma nação e viverá para os abolir, mas para lev6-10s a perfeição" (Mattityahu
em segurança na Terra de Israel (Jeremias 31,30-37 e Ezequiel (Mateus) 5,17).
36,22-36). Se acreditarmos que as profecias de uma Nova Aliança A teologia da substituição entende ainda que Yeshua, na
sua primeira vinda, cumpriu a Torah, de modo que não precisa-
encontradas nessas passagens são realizadas por Yeshua, deve-
mos fazê-lo (a lógica que conduz a esta conclusão não é clara); e
mos também crer que as profecias associadas, relativas à volta de
que ele realizou todas as profecias do Antigo Testamento, de mo-
Israel do Exílio para a Terra serão também cumpridas. A Bíblia
do que, mais uma vez, nada restou para os judeus.
não admite que a eoretem em pedaços segundo as noções precon-
Mas a palavra em geral traduzida como "curnprjr", do gre-
cebidas do leitor.
go pleroô, não transmite necessariamente este sentido específico.
c . Refutação dos Argmntos de que Deus Não Quer Mais E uma palavra muito comum, que significa simplesmente 'en-
Saber dos Judeus (2 Corintios, 1,20, Mattityahu (Ma- cher", "completar", "preencher", como quando se enche um co-
teus) 5,171 po ou um buraco. Deveria ser evidente que o verdadeiro sentido
Mas existem aqueles cuja teologia não admite a persistên- está expresso no Novo Testamento Jduico: "Não julgueis que
cia de promessas à nação judaica como t& De fato, a maioria das vim abolir a Torah ou os Profetas. Não vim para abolir e sim para
formas de teologia de substituição dizem que quando o povo ju- completar" - ou seja, "plenificar" o sentido daquilo que reque-
daico rejeitou Yeshua como Messias recusou todas as bençãos da rem a Torah e as exigências éticas dos Profetas. Na verdade, este
Antiga Aliança, e que só lhe restam, como povo, as maldições. Já versículo, assim compreendido, expressa o tema de todo o Sermão
observamos que a teologia da substituição baseia-se numa com- da Montanha, no qual o Messias diz seis vezes: "Ouvistes o que
preensão errônea do reIacionamento entre Israel e a Igreja;37mas, foi dito aos antigos", o sentido incompleto ou uma distorção,
já que é grande a sua influência, analisaremos dois versículos do "mas eu vos digo", o sentido espiritual completo, pleno, que se
Novo Testamento que eIa utiliza para negar as promessas de Deus deve apreender e obedecer.
ao povo judaico, demonstrando, ao contrário, que esses versiculos Conforme 2 Conntios 1,20, Yeshua realiza as predições
na verdade as confirmam. dos Profetas; do mesmo modo obedeceu perfeitamente à Torah.
Mas n5o é a isso que Yeshua se refere no Sermão da Mon-
tanha.
Ele realizará na verdade toda profecia referente a ele pró- Terra antscede Moisés. Esta promessa foi feita a Abraáo (Gênesis
prio e será também o meio pelo qual Deus Pai fará com que sejam 12,7; 12; 14-17; 15,7-21; 17,743; 24,7), Isaac (Gênesis 26,2-4;
realizadas todas as profecias ainda não cumpridas relativas aos 28-3-4, 13-15) e Jacó (Gênesis 35,ll-12) muito antes de Moisés
\
judeus. entrar em cena, embora a promessa também tenha sido repetida
Em suma, as promessas da Bíblia hebraica para os judeus para ele (Êxodo 32,13). Pela lógica de Gálatas 3,15-17, que diz
não estão canceladas em nome de terem sido "cumpridas por Ye- que uma aliança posterior não altera a anterior, a promessa da
shua". Antes, a realizaçáo de Yeshua é garantia adicional de que Terra feita aos Patriarcas não se alteraria nem pelo advento da
aquilo que Deus prometeu aos judeus ainda se realizará. "Pois os Nova Aliança, nem pela suposta anulação da Aliança M o ~ a i c a . ~ ~
dons e o chamado de Deus sáo irrevogáveis".3~ Hoje, quando a questão de quem terá direitos à Terra de Is-
rael se acha constantemente nos jornais, os cristãos precisam sa-
5. A Promessa da Terra ber o que diz a Bíblia. Que não se deixem iludir pelo livro de
Colin Chapman, Whose Promised h d ? (Terra Prometida de
Um dos mais importantes aspectos do Evangelho judaico é, Quem?) que toma como base a teologia da substituição para negar
-r\ certeza, a promessa de que Israel voltará do Exílio para que a Terra de Israel ainda seja prometida por Deus aos judeus.
,.-et;.-Yisrael.É exato que nem todo judeu considera Exílio a sua Agrada-me, pelo contrário, uma fórmula que me foi sugeri-
existência na Diáspora. Há muitos que consideram os Estados da por Joseph Shulam, lider da Congregação "Netivyah" de Jeru-
Ilnidos (ou qualquer país ?nde vivam) como terra onde correm salém: "Embora os árabes não tenham direito à Terra, têm direito
mais leite e mel do que n: Terra Prometida. Mas Deus apresenta na Terra". Deus prometeu o domínio de Eretz-Yisrael ao povo
em sua Palavra uma opinião contrária, e é a sua opinião que fi- judaico, mas os "habitantes da Terra" que queiram viver em paz
nalmente prevalecerá. A maneira e ao tempo de sua escolha, Deus têm direito ao pacífico uso da propriedade de que possuem o ti-
reunirá o povo judaico, vindo de todas as nações do mundo, na tulo, direito a um preço justo pela terra que deles é adquirida, di-
Terra que ele nos deu "de heraniq .ara sempre".39 reito de não serem explorados, envergonhados, ou maltratados.
Esta promessa, nat~ralr~cnte, tem suas raízes no Tunak, Nós, judeus israelenses que estarnos no momento dominando os
mas uma interessante referência do Novo Testamento à Terra en- árabes dos Territórios por administração militar, náo temos me-
contra-se no Sermão do Monte das Oliveiras, cujo sentido é dis- lhor guia de comportamento do que a Torah e os Profetas:
torcido na maioria das traduções. Segundo Mattityahu (Mateus) "Porque Adonai, vosso Deus, é o Deus dos deuses, e o
24,30, quando o sinal do Filho do Homem surgiu no céu, "todas Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e temível,
as tribos da Terra baterão no peito", - não "todas as tribos do que não faz acepção de pessoas, nem aceita presente; ele
mundo", como na maioria das versões, porque Yeshua está alu- faz justiça ao órfao e à viúva e ama o estrangeiro, ao qual
dindo a Zacarias 12,Iq.14. Mattityahu nos diz que quando o Mes- dá alimento e vestuário. Assim, deveis amar o estrangeiro,
sias voltar "nas nuvens do céu, com tremendo poder e majestsa- porque fostes estrangeiros no E g i t ~ " . ~ ~
de", as doze tribos de Israel estará0 vivendo na Terra de Tsrael e "Já te foi dito, ó homem, o que convém, o que o Senhor
elas o veráo. reclama de ti: que pratiques a justiça, que ames a bondade
A teologia da substituição às vezes baseia sua opinião de e que antes com humildade diante do teu Deus".43
que já não existe qualquer reivindicaçao válida por parte dos ju- Já que falamos no assunto, permitam-me algumas palavras
deus à Terra de Israel na noção de que, com a vinda de Yeshua, a a respeito da paz entre judeus e árabes. Há judeus que desespe-
Aliança Mosaica, om sua nmr7essa da Terra, foi abolida. Embora ram de realizar qualquer tipo de coexisthcia pacífica com os ára-
eu não seja de opln;ào qu -L',! qliança tenha sido abolida, assim bes e há outros que se esforçam para fazer contato e compreen
como não o foi a de Abraso, é Útil observar que a promessa da der. Parece-me que a única grande esperança de genuína
Estado de Israel na Terra de Israel.
paz com justiça reside no afetuoso companheirismo entre cristãos
O judaísmo messiânico vai concentra-se eventualmente em
árabes e judeus messiânicos, baseado em nossa fé comum em Ye- Israel; "porque de Sião virá a Torah e de Jerusalém a palavra de
shua (Yesm em árabe). Somente o Messias no coração dos árabes
~donai"~ Quando
~. todo Israel estiver salvo, o governo de Israel
e dos judeus pode estabelecer a paz entre nós. Neste momento fa-
(isto é, a sua maioria) será judeu-messiânico.
zem-se esforços nesse sentido. O caminho é longo, os perigos e
as oportunidades de erros, numerosos; contudo, não vejo outra Após o que foi dito acima, a pergunta seguinte talvez pare-
&aestranha: deve o judeu messiânico ser sionista, não sionista, ou
esperança. A inimizade entre judeus e árabes apresenta colora-
anti-sionista? Existem judeus anti-sionistas, tanto ultra-ortodoxos
ções teológicas, que somente a nossa fé comum no Messias tem
como liberais. Os ultra-ortodoxos rejeitam o atual Estado porque
possibilidades de unir. Porque os judeus são a vara de medir de
ele não foi estabelecido pelo Messias. Os liberais o rejeitam por-
Deus - "Abençoarei aqueles que te abençoarem e amaldiçoarei
que acreditam que particularmente judaicas sejam um anacronis-
aqueles que te amaldiçoarem", disse Deus a Abraão (Gênesis
mo; contudo, seu número diminuiu grandemente nos últimos qua-
12,3), e isto se aplica também aos árabes quando eles abençoam
renta anos, desde que o Estado foi fundado. Nos círculos judai-
ou amaldiçoam o povo judaico. Por outro lado, Deus reservou
cos, o anti-sionismo está cada vez mais equiparado ao anti-semi-
bênçãos para Ismael: faria dele "uma grande nação" (Gênesis tismo. Mas os árabes palestinos "usam a palavra 'sionista' uando
21~13). -
Os esforços de entendimento entre árabes e judeus são, até
querem assustar os filhos" (cito um amigo árabe ~ristáo).~ 'i Exis-
tem judeus não-sionistas, ou talvez se devesse chamá-los judeus
a data, promissores, cheios de esperança, comovedores. Ainda as- indiferentes, sem fortes sentimentos ou idéias relativas ao Estado
sim, temos longa caminhada pela frente. Cantamos os cânticos judaico, exceto talvez que ele é ótimo para aqueles que dele ne-
uns dos outros, rejubilarno-nos nos testemunhos mútos de fé. Mas cessitam - os refugiados, os pobres, os perseguidos. E finalmente
temos ainda que despejar, uns diante dos outros, os nossos cora- há quem seja a favor do Estado. Talvez não apoiem tudo que fa-
ções feridos, reconhecer dos nossos pecados, arrependermo-nos zem seus líderes, mas sentem-se encantados com a existência do
deles, perdo& e pedir perdão, revelar os nossos mais recônditos Estado. Logicamente o passo seguinte seria fazer aliyah, mas
desejos. Precisamos ainda submeter as nossas idéias a respeito da poucos norte-mericanos o fazem.
Terra não aos outros e à disciplina da Escritura, com o objetivo Com os judeus messiânicos deveria ser diferente. Por causa
de chegar a um acordo teológico. J$ezem por nós nessas áreas. de um versículo, Isaias 35,10, todo judeu messiânico que não vi-
E quanto à poIítica? "Falcões"? "Pombas"? Guerra? Paz? va em Israel deveria estar pensando seriamente em se mudar para
Creio firmemente que se um número suficiente de judeus e árabes lá. O versículo diz que "os redimidos do Senhor voltarão e entra-
forem levados a colocar sua confiança em Yeshua, o Rei de Is- rão cantando em Sião, e alegria eterna descerá sobre suas cabe-
rael, submetendo-se a ele, haverá paz. ças. Obterão alegria e júbilo, e a dor e a tristez desaparecerão".
- A teoIogia judeu-messiânica da Terra, depois de tratar da
Se os "redirnidos do Senhor", no contexto, não são ~ e s t fiel o -
visão .biblica, cristã, judaica e árabe de quem ela é, precisa deba- os judeus messiânicos - então quem são? Todo ano a Seder da
ter agora como os fiéis devem encarar o atual Estado de Israel. Páscoa encerra-se com as palavras HaShanah HaBa'ah BiYeru-
Embora o Estado secular de Israel não seja obviamente o estado shulayim! ("No próximo ano em Jerusalém!") por que não'.
messiânico, parece ser uma fase de tikkun-ha'olam. Joseph Shu-
lam, utilizando o princípio do Tartakh, o "resto fiel", ensinou que 6. A Promessa do Reino
Deus protege o Estado de Israel por causa dos seus judeus mes-
Deus prometeu que haveria um descendente de Davi para
siânicos, que constituem o resto atual de Israel. Yeshua chamou
governar o povo judaico4a Conforme é bem sabido, a expectativa
os fiéis de "sal da erra":^ já que o sal é um conservante, de
no tempo de Yeshua era de que o Messias restauraria o prestígio
modo que pode-se dizer que os judeus messihicos preservam o
naciona1 de Israel, libertando-o do jugo roniailo e restabelecendo
o reinado. Tão ansiosos estavam alguns ouvintes de Yeshua que Sub-tópicos incluem a primeira e a segunda vinda do Mes-
este sonho se realizasse que tentaram concretizâ-10 à força.49 sias: a. visáo do Messias em escritos judaicos; especulação mes-
No decorrer do seu ministério de três anos, Yeshua impe- si&: Pntre os judeus; falsos Messias; o que é considerado evi-
diu seus discípuIos de o importunarem a respeito, ensinando-lhes dência acerca de quem será o Messias; a pessoa e a obra do Mes-
que ele tinha que morrer pelos pecados da humanidade e ressurgir sias; a Era Messiânica - com ou sem um Messias pessoal; a rela-
dos mortos. Mas depois que ele cumpriu tudo isso não foi absurdo ção entre a Era Messiânica e o Reino de Deus; e finalmente. é
que perguntassem: claro, a apresentação de Yeshua como o Messias.
"Senhor, é porventura agora que ides restaurar o Reino de
Israel?" Respondeu-lhes ele: "Não vos pertence a vóe sa-. 2. Recompensa e Punição
ber os tempos e os momentos que o Pai f i o u em seu po- Recompensa e castigo são minimizados no judaísmo mo-
der" .50 demo, que abraça a idéia de que os atos feitos por amor a Deus
Sua resposta pode não ter sido aquela que desejavam ouvir, são superiores Aqueles feitos para se obter recompensa mundana
mas sabemos por esse texto do Novo Testamento que não há dú- ou celestial. A teologia judeu-messiânica deve ser capaz de har-
vida de que Deus vai "restaurar a autonomia de Israel". A Única monizar essa atitude com os elementos da 'Escritura que subli-
dúvida é quando. nham a importância da recompensa. Similarmente, a tônica judai-
7. Conclusúo ca em viver esta vida corretamente é, às vezes, contrastada com
uma suposta super-ênfase cristã na vida futura. Isto também é
Concluindo, as promessas de Deus para a nação judaica uma questão de ênfase, mais que de contradição substantiva, de
são um elemento-chave da religião bíblica. Quem sabe se sem modo que também pode ser harmonizada.
elas o povo judaico teria sobrevivido? Elas permanecem elemento
central da vida comunitária judaica. Um Evangelho que nada tem 3. Profecia do Fim dos Tempos
a dizer a tal respeito é um Evangelho que poucos judeus compro-
metidos podem levar em consideração. Felizmente, conforme vi- Já que tantas profecias bíblica a respeito do ackrit hu-
mos, o verdadeiro Evangelho, o Evangelho judaico de Yeshua, o y m i m ("o final dos tempos") envolvem o povo judaico, não sur-
Messias, confirma essas promessas; na verdade, é através do Mes- preende que haja intensa excitação entre tantos judeus messiâni-
sias que elas são todas Sim. cos que aguardam a sua iminente realização. De igual modo, as
discussões que talvez surjam entre aqueles que diferem quanto
F, ESCATOLOGIA à interpretação das profecias podem ser intensas. Este livro não é
o veículo para que eu entre na luta. Lideres do movimento e teó-
1. O Messias logos parecem estar bem cônscios de que as opiniões acerca do
É óbvio que um tópico importante de qualquer teologia ju- futuro devem ser debatidas com leveza, uma vez que podem re-
deu-messiânica é a questão do Messias e dos diferentes signfica- velar-se errôneas.
dos atribuídos a esse conceito no judaísmo e no cristianismo. Ao mesmo tempo, profecia não deve ser ignorada, ou dei-
Uma interpretação correta das passagens relevantes do Tanakh é, xada de Iado pois algumas das mais importantes profecias sairam
ao mesmo tempo, o início e a meta. Embora não se espere o apa- dos lábios do próprio Messias Yeshua. Ademais, nossa fé baseja-
recimento de muitas evidências novas, as diferenças entre a com- se em grande parte no fato de que Yeshua cumpriu todas as pro-
preensão judaica e a cristã dos textos devem sofkr comparação, fecias do Tamkh relativas à primeira vinda do Messias. Se pres-
ser explicadas h luz de pressupostos e da história e finalmente tamos atenção As profecias realizadas, devemos também dar peso
conciliadas na medida permitida pela Escritura. Bs não realizadas, segundo nos ensina a E ~ c r i t u r a . ~ ~
106 I97
G. INSPIRAÇÃO E AUTORIDADE DA ESCRITURA de Karl Barth: a noção da Pdavra inspirada wmo (I) endarnada,
(2) escrita, e (3) pregada. Pergunta: de que modo é inspirada a
1. O que constitui a Palavra e Deus? palavra pregada? E que dizer da "palavra" de "dois ou très" para
Judaísmo e Cristianismo discordam profundamente sobre o decidir questões da halakhah do Novo Te~tamento?~~
que constitui a Escritura. Judaísmo e cristianismo estão de acordo
em que Deus inspirou a Bi'blia hebraica, o T a d h , que os cris- 2. O Judaísmo do Novo Testamento
tãos chamam de Antigo Testamento. Mas a este ceme comum o O Novo Testamento é considerado por muitos judeus um
judaísmo acrescenta o material da Lei Oral - o Mishna, Gemara, livro gentio. Conforme observei anteriormente, ele é judaico em
códigos e os responsos haláquicos, enquanto o cristianismo acres- todos os sentidos. O trabalho em andamento da teologia bíblica
centa o Novo Testamento. judeu-messiânica deve ser a recuperação do background judaico
A diferença parece inconcilíavel, e a hstração diante dis- do Novo Testamento sempre que possível. A teologia judeu-mes-
so leva a uma prematura simplificação excessiva das questões. siânico e prática deve mostrar a relevância do Novo Testamento
Todos os judeus corretamente chamados de messiânicos, junta- para a vida comunal e individual judaica nos dias de hoje. Procu-
mente com os gentios corretamente chamados de cristãos, afir- ro contribuir para essas metas no Jewish New ~ e s t a m s n t . ~
mam a inspiração divina e a autoridade do Tanakh e do Novo
Testamento. Mas alguns judeus messiânicos são tão enamorados 3. Anti-semitismo no Novo Testamento?
da Lei Oral que a consideram totalmente inspirada e exigindo
obediência; ao mesmo tempo, muitos outros parecem dispostos a O Novo Testamento é acusado de ser anti-semita. Até
deixar de lado a Lei Oxal e tudo a ela vinculado, considerando-o mesmo alguns cristãos acreditam nisso. Um exame superficial po-
sub-inspirado, sem autoridade e, portanto, irrelevante. Exarnina- de conduzir à conclusão com base em passagens como Mittityahu
remos mais a fundo estas questões no capítulo V; entretanto posso (Mateus) 27,25; referências ao Ioudaioi em Yoch an an (João),
dizer categoricamente que a teologia judeu-messiânica não chega- onde se traduz "judeus" na maioria das versões, mas em geral
rá a parte alguma seja com uma atitude, seja com a outra. O ju- "judeans" no JNT; e I Tessalonicenses 2.15, onde loudaioi sig-
daísmo messiânico precisa levar em conta todo esse material, es- nifica também "judeans". Contudo, uma leitura feita com mente
tudando-o cuidadosamente ao formular a sua teologia da Escritu- mais aberta revelará que o anti-semitismo se acha ausente do No-
ra. Mas, assim como o judaísmo não-messiânico está disposto a vo Testamento, assim como do Tanakh.s4Mas o anti-semitismo
julgar os escritos rabínicos com base no Tanakh, o judaísmo mes- inconsciente que se acha disseminado na cristandade fez com que
siânico deveria julgar esses mesmos escritos também à luz do No- os tradutores e comentaristas do Novo Testamento apresentassem
vo Testamento. Certas partes não suportarão o teste. algumas se- interpretações anti-sernitas, de modo que ele pode parecer anti-
rão totalmente satisfatórias tais qirais se acham, e outras precisa- semita onde não é. O judaísmo messiânico deve arrancar peIas
rão ser mofincadas para se ajustarem aos padrões do Novo Tes- raizes os pressupostos anti-sernitas, substituindo-os pelo verdadei-
tamento. ro sentido do texto, baseado no background judaico.
Um Útil instrumento para lidar com estas questões será a
exploração das diferenças entre os conceitos de inspiração judai-
cos e cristãos. Os conceitos cristãos tendem a ser coloridos de
preto ou branco - ou o documento é inspirado, ou não é. O ju- Precisamente porque nós, judeus messiânicos, falamos
daísmo tem a noção de maíor ou menor inspiração: os .cinco livros tanto aos judeus não-messiânicos quanto aos cristãos gentios,
de Moiséis são os mais altamente inspirados, e os demais escritos nossa tarefa é duplamente apologética. Que os judeus erguem
se acham em escala decrescente. Seria valioso aqui um conceito objeções a Yeshua, ao Novo Testamento, ao cristianismo, ao ju-
109
6 - Consultar o capitulo V, seção B-7.
daísmo messiânico e a dezenas de pontos específicos é coisa bem 7 - Yochanan (João) 14,6; Atos 4,12.
sabidaV5'A história da literatura de defesa é bastante longa; de- 8 - Conversação particular, 16 de fevereiro de 1977.
vemos estar preparados para aceitar a tocha daqueles que a carre- 9 - Dois tratamentos populares do assunto por teólogos cristãos: Francis
garam antes de nós.5h A. Schaeffer, The God Who 1s There (Downers Grove, IIIinois: In-
De igual modo precisamos ser capazes de defender diante terque, Macmillan Publishing Co., Inc., 1961).
dos gentios cristãos as nossas idéias a respeito da evangelizaçáo 10 - No musical Fiddler On The Roof, baseado nas histórias de Sholem
Aleichem, o protagonista, Tevye, queixa-se a Deus: "Por que não
dos judeus, da identidade judeu-messiânica dentro da Igreja, do escolhe outra pessoa, para variar?"
anti-iemitismo e outras questões. 11 - Ver acima, seção B-5.
Uma vez que a apologética tomou-se, por necessidades 12 - Yochanan (João) 1,l-14.
uma das áreas mais desenvolvidas da teologia judeu-messiânica, 13 - Marcos 12,28-30, citando o Deuteronômio 6,4-5. Mais teologia
não é preciso nos estendermos aqui sobre o assunto. propriamente dita consultar acima, capítulo 111, seção E-2, par&
grafo 2. .
14 - Eclesiastes 7,20.
1 - Consultar Williarn B. Helmreich, The World O( Tlze Yeshivn: Aii Iri- I5 - A oração Kol Nidre, que precede a cerimônia do Dia do Perdão, pe-
timate Portrair Of Ortlzo~loxJeivry (Nova Iorque, The Free Press, de a Deus que perdoe certos falsos propósitos feitos consciente-
1982). mente. "...o contexto toma perfeitamente bbvio que nenhum voto
2 - 1 Corfntios 9,20-23. ou obrigação relativos aos outros estão subentendidos (somente os
3 - Isaac Troki, FaitIz Stre17jithcnerl (1593) (Nova lorque, Ktav Publi- votos em relação a Deus)... O Kol Nidre assumiu intenso significado
shing House, 1970). Seus argumentos foram respondidos ponto por em especial durante a tempo das perseguições na Espanha, onde
ponto em A . Lukyn Williams, A Manunl Qf Christinil Evidentes For centenas de milhares de judeus foram obrigados a abjurar sua f6 e
Jewish People (Londres, Society For Promotion Christian Kno- adotar uma nova religião, Muitos frequentavam secretamente a si-
wledge, 1919, 2 volumes), embora algumas das réplicas sejam ina- nagoga, arriscando sua vida e utilizavam o texto do Kol Nidre como
ceitáveis do ponto de vista messiânico; infelizmente o livro se acha forma de renunciar aos votos que lhes tinham sido imposta pela In-
esgotado. A maior parte da literatura anti-missionária embora con- quisição". Philip Birnbaum, tradutor e comentarista, High Holyday
siste em repetições um tanto monótonas dos argumentos do rabino Prayer Book (Nova Iorque, Hebrew Publishing Company, 1951),
Yitzchak. Consultar, por exemplo, Sarnuel Levine, Yorc Tnkc Jenis, pp. 489-92.
I'll Take God: How To Refiitnte Chrisrian Missionnries (Los Angeles, I6 - Ê-stas são as palavras finais do Un'tanneh tokej prece dos Grandes
Hamoroh Press, 1980); dois panfletos de Shmuel GoIding, A Gcriclc Dias Santos Machzor, vide ibid., p. 359-362.
To The Misled (Beersheva, Israel, 1986) e A Cou~iselor'sGuiclc: Je- 17 - Ver abaixo, seção F-3.
wisk Answers To The Missionary Prolem (Jerusalém, 1986); de autor 18 - Filipenses, 4,13.
anônimo, Tlze Disputation (SaIford, Inglaterra, Scholarly Publica- 19 - Efésios 2,lO.
tions, 1972); e Geral Sigal, Tlze Jcw Anrl The Ckristiait Missionnry: A 20 - Isaias 64,5-6; Romanos 4,3; 14,23.
Jewish Response To Missiorzary Christin~zip(Nova Iorque: Ktav Pu- 21 - Gálatas 6,16.
blishing House, 1981), em resposta ao livro, o dr. Louis Goldberg, 22 - Judeus Messiânicos (aos Hebreus) 7,12,18-19, Jewislz New Testa-
judeu messiânico, escreveu o panfleto A Jewish Cliristian Response ment (op. cit. no capítulo 11, nota 20).
(São Francisco, Jews for Jesus, 1986). Consultar ainda notas 55 e 23 - Estudar particularmente o Capítuio V, seção A-2-d, que prova, com
56, abaixo. base em Judeus Messiânicos (aos Hebreus) 8,6, que havia a Nova
4 - Consultar capítulo 111, nota 4.1. Aliança "foi dada como Torah."
5 - Pinchas Lapide, Tke kessurrectioiz qf Jesus: A Jewish Perspcctive 24 - Judeus Messiânicos 8,9,13, minha traduçáo.
(Minneapolis, Augsburg Publishing House, 1983). O autor, judeu 25 - Filipenses 4 3 . Ver ainda Mattityahu (Mateus) 24,42-50; 25,l-13;
ortodoxo, aceita a ressurreição de Yeshua como acontecimento his- Lucas 12,35-40; Romanos 13,ll-12; 1 Coríntios 7,29-31; Ya' akov
tórico autêntico, mas não encontra nela uma razão para que o povo (Tiago) S,8-9; Apocalipse 1,l-3; 22,6-10.
judeu o aceite como Messias. Ele argumenta que, embora toda a po- 26 - 2 Tessalonicenses 2,l-2.
pulação de israelitas testemunhasse Deus no Monte Sinai, apenas um 28 - Jeremias 31,3I -32, Judeus Messiânicos (aos Hebreus) 8,10.
reduzido grupo (várias centenas) viram Yeswa ressuscitado.
29 - Ler Salmo S1,12 (51,14 em algumas versões). vez o sionismo de pessoas que não acreditam na Bíblia deva ser jul-
30 - Ler, por exemplo, Mordechai M. Kaplan, The Greater Judaism in gado assim. Mas, na medida em que o sionismo é teológico, refletin-
The Making (Nova Iorque, The Reconstructionist Press, 1960), es- do as afirmativas bíblicas sobre o reIacionamento entre Deus, o povo
pecialmente is mais de 100 páginas de referências sob "Jewish peo- juriaico e a Terra de Israel, deve ser avaliado pela Palavra de Deus.
plehood", no índice. Um excerto das pp. 30-31: "O Povo judaico E nessa mesma medida, ningu6m deve assustar seus filhos com o
parece ter alcançado uma consciência étnica mais intensa e perma- sionismo.
nente do que qualquer outro povo da antiguidade... Toda a educação 47 - Quanto à minha tirada incentivando os judeus messiânicos a fazerem
da criança judia estava limitada a textos que tinham a ver com o po- aliyah, ler o Capítulo VII, seção E-3.
vo judaico. A principaI finalidade dessa educação era cultivar lealda- 48 - 2SamuelÍ,I4
de e dedicação a Israel e ao Deus de Israel, e a ensinar os fatos que a 49 - Yochanan (João) 6,15.
criança precisava saber e seus deveres como membro do povo judai- 50 - A tos 1,6-7, Jewish New Testament.
co... (Comunh5o com Deus no culto) não era em termos de um Eu- 51 - Para mais elementos sobre estas questões confessadamente fasci-
Tu, e sim um relacionamento Nós-Tu, sendo "Nós" o povo judeu nantes, consultar Miliard J. Erickson, Conremporary Optiom in Es-
que Deus havia escolhido para tornfi-lo conhecido ao mundo intei- chatology; Ludwigson, A Swvey of Bible Prophecy; William E. Bie-
ro". derwolf, The Second Coming Bible; e J. Barton Payne, Bncyclopedia
31 - Romanos 11,14. of Biblical Prophecy. Dois Iivros de cristãs hebreus, Israel Zn The
32 - Levítico 19,f 8; Filipenses 2,l- 11. Spotlight; de Charles Lee Feinberg (Chicago, Moody Press, 1975)
33 - Atos 20,27. e Footsteps Of The Messiah; de Arnold G. Fruchtenbaum (198 1).
34 - O termo foi cunhado por Arthur Koestler, judeu cosmopolita e as- 52 - Ver abaixo, CapítuIo V, seção B-5.
similado, filósofo político e romancista, em seu livro The Act Of 53 - Op. Cit. no Capítulo 11, nota 20; ler ainda Capítulo VII, seçáo D- 1.
Creation (1964).. Significa
- . uma corzjunçáo criativa de duas idéias de 54 - Ler Capítçio 111, nota 35.
maneira At6 então nunca idealizada ou explorada. 55 - Ler nota 3 acima. Três outras obras de apoIog6tica judaica são: Jews
35 - Yochnun (Joáoj 8,32. and "'Jewish Christianity", de David Berger e MichaeI Wyschogrod
36 - Yochamn (Joãa) 10,35:2 Timóteo 3,16. (Nova Iorque, Ktav Publishing House, 1978); Where Judaism Dzye-
37 - Sobre a teologia da subsiituiçáo ler Capímlo III, seçáo B-3, com a red, de Abba HilleI Siiver (Nova Iorque, The Macmiilan Company,
nota 1 I . 1956); e Trude Weiss-Rosmarin, com seu livro Judaim and Chris-
38 - Romanos 11,29. Sha'ul escreve esta vigorosa palavra de afmmação tianity: The Differences (Nova Iorque, Jonathan David, 1968). Ler
ao discutir a promessa de que "todo o Israel se salvarü' (Romanos ainda o capítulo VII, nota 15.
11,26). Mas esta grande e ampla promessa ao povo judaico é a sú- 56 - As obras apologéticas judeu-messiânicas e hebreu-cristãs incluem as
mula de toda a panóplia de promessa que Deus Ihes fez na BÍTblia citadas no capítulo I, notas 8-11; Jesus Was a Jew, de Amold FN-
hebraica. chtenbaum (Nasville, Tennessee, Broadman Press, 1974); The Mes-
39 - Ler referências ao Gênesis e Êxodo no texto, dois parágrafos abaijco. sianic Hope, de Arthur W. Kac (Grand Rapids, Michigan, Baker
40 - Ler seçáo E-l acima. Book House, 1975); The Missiaship Of Jesus: What Jews And Jewish
41 - Colin Chapman, W h o ~ ePromised Lund? Tring, Herls, Inglaterra, Christians Say, de Artur W . Kac, compiiador (Chicago, Moody
Lion Publishing, 1983). Press, 1980); Messianic Prophecy Zn The Old Testament, de Aaron
42 - Deuteronômio 10,17-19. Klingerman (Grand Rapids, Michigan, Zondervan Publishing House,
43 - Miquéias 6,8. 1957); e Yshua: The Jewish Way To Say Jesw, de Moishe Rosen
44 - Matn'tyahu (Mateus) 5,31; na maioria das traduções,"o sal da terrd'. (Chicago, Moody Press, 1982).
45 - Isaias 2,3.
46 - Conforme aqui transcrito, trata-se de uma declarrqh candente, de
modo que desejo proporcionar algum contento. Conhecendo como
conheço a pessoa que a fez, estou convicto de que ela fala do sio-
nismo no sentido político e não teológico. Se o sionismo fosse T e -
nas m movimento polftico, como as ouiras 'yrenbes de libertação"
do mundo, poderia ser inteiramente avaliado em termos prdticos,
polfticos e sociais. Alguns o quoiariam, outros o combaterim. Tal-
CAP~TULOV

TORAH

A. A TERRA INC~GNITADA TORAH


1. A Maior Deficiência da Teologia Cristã
Dediquei um capítulo inteiro à questão de como o judaismo
messiânico se relacionaria com a Torah porque estou certo de que
a falta de uma teologia da Lei correta, clara e relativamente com-
pIeta, judeu-messiânica ou gentio-cristã, é, não só um importante
obstáculo para os cristãos compreenderem sua própria fé, como
também a maior barreira para o povo judaico aceitar o Evangelho.
Embora tantos judeus não observem a Torah, com frequência
desconhecendo-a ou não lhe dando importância, insisto nesta
afirmativa, porque a Iigação com a Torah se acha profundamente
enraizada na memória do povo judaico, onde inconscientemente
afeta as atitudes.
Embora em última análise a questão se reduza a quem seja
Yeshua - Messias, Filho do Deus Vivo, Expiação final, Senhor
de nossas vidas - o problema da Igreja no caso é principalmente o
de comunicação, de expressar a verdade de maneiras que se rela-
cionem com a visão de mundo judaica. Mas a Igreja nem sabe o
que fazer da Torah, ou de que modo ajustá-la ao Novo Testa-
mento. E se a Igreja não sabe, não espere que os judeus o descu-
bram para ela! Creio que o cristianismo perdeu o rumo na sua
maneira de tratar o assunto, e que a tarefa mais urgente da teolo-
gia nos dias de hoje é ajustar a sua visão da Lei.
O cristianismo organiza a teologia sistemática por assuntos
que considera importantes. Assim, tópicos como o Espírito Santo
e a pessoa e a obra do Messias ocupam um amplo e sadio espaço
115
em quaIquer teologia sistemática cristã. O judaísmo também orga- 2. Nomos no Novo Testamento
niza o seu pensamento teológico em categorias que refletem as
suas preocupações e, conforme observamos anteriormente, seus Um bom ponto de partida seria um completo estudo da pa-
três principais tópicos são Deus, IsraeI (isto é, o povo judeu) e lavra grega m o s ("lei", "Torah") e seus derivados, conforme
a Torah. usada no Novo Testamento. Infelizmente não há espaço neste li- .
Comparando a teologia judaica e a cristã percebe-se que vro para empreender tal estudo, uma vez que a palavra e suas
ambas dedicam grande atenção a Deus e ao povo de Deus (num cognatas surgem cerca de 200 vezes. A amostragem que se segue
caso os judeus, no outro, a Igreja). Torna-se mais surpreendente, destina-se a despertar o apetite e incentivar outras investigações.
portanto, observar quanto pensamento judaico e quão pouca teo-
a . Romanos 10,4- O Messias pôs a Lei?
logia cristá se dedica ao tópico da Torah - em geral traduzida
como a "Lei", embora o significado da palavra hebraica seja Consideremos Romanos 10,4 que declara - em tradução tí-
"ensino". Como medida aproximada verifiquei o índice da Sys- pica, mas errada - "Porque Cristo é o fim da Lei, para justificar
tematic Theology de Augustus Strong e descobri 28 páginas dedi- todo aquele que crê". Como essa tradução, a maioria dos teólogos
cadas à "Lei", num total de 1 .O56 (menos de 3%). Na Systemtic entende que o versículo diz que Yeshua acabou com a Torah.
Theology de L. Berkhof há 3 páginas em 745 (menos de 0,5%). E Mas a palavra grega traduzida como "fim" é telos, donde'provém
na obra em sete volumes de Lewis Sperry Chafer, com o mesmo a palavra "teleologia", definida no dicionário Webster's Third
título, há apenas 7 páginas em 2.607 (cerca de 0,25%). Por outro International como "o estudo filosófico das evidências de desíg-
lado, The Faith of Judaism, de Isidor Epstein, dedica 57 páginas nio na natureza; ... o fato ou caráter de ser orientado em dkção a
à Torah nas suas 386 (15%), Aspects of Rubbinic Theology, de ...
um fim, ou amoldado por um propósito - usado de natureza ...
Solomon Schechter, dedica 69 das 343 páginas (20%) e A Jewish concebido como determinado ... pelo desígnio de uma Providên-
Theology, de Louis Jacobs, 73 em 331 (22%) - estes três autores cia divina .,," O significado normal de telos em grego - que é
sáo ortodoxo, conservador e liberal respectivamente. A pessoa é também o seu significado aqui - é "objetivo, propósito, consuma-
forçada a concluir que o assunto não interessa nem a judeus, nem ção", não "término". O Messias não acabou e não acaba com
a cristãos. a Torah. Pelo contrário, atenção ao Messias e fé nele são a finali-
E isso é lamentável para os cristãos. Significa, antes de &de e propósito para os quais se orienta a Torah, a consequência
mais nada, que a maioria dos cristãos tem uma compreensão ex- lógica, o resultado e a realização da observância da Torah com fé
tremamente simplista do significado da Lei; e segundo, que o genuína, em oposição à sua observância apenas por legalismo.
cristianismo quase nada de relevante tem a dizer aos judeus a res- Assim, o que Sha'ul mostra não é o fim da Torah, conforme se
peito de uma das três mais importantes questões de sua fé. Em pode verificar do contexto de Romanos 9,30;10,11?
suma, a Torah é o grande território inexplorado, a tema incógnita.
b. ''Sob a Lei" e ''Obras da lei"
da teologia cristã.
O principal motivo é que a teologia cristã, com o precon- Grande parte da teologia cristã relativa à Torah baseia-se
ceito anti-judaico incorporado nos primeiros séculos, entendeu no entendimento errôneo de duas expressões gregas inventadas
mal Sha'ul (Paulo) e concluiu que a Torah já não se acha em vi- por Sha'ul. A primeira é upu N u m ; surge 10 vezes em Roma-
gor. Este não é o Evangelho judaico, nem o verdadeiro Evange- nos, 1 Corfntios e Gálatas-e é, em geral, traduzida como "sob a
lho. E hora dos cristãos compreenderem a verdade acerca da Lei. lei". A outra é erga mmou, encontrada, com pequenas variações,
Os te6logos cristãos esboçaram um inicio nos últimos trinta 10 vezes em Romanos e Gálatas e traduzida como "obras da lei".
anos.' Os judeus messiânicos deveriam adiantar-se para a linha O que quer que Sha'ul esteja tentando transmitir com estas
de frente e estimular o processo. expressões, uma coisa é clara: ele as considera negativamente -
116 117
estar "sob a lei" é mau, e as "obras da lei" são más. A teologia com a Torah, agora que estava unido ao Messias, do sentimento
cristã considera, em geral, que a primeira significa "dentro da es- de opressão que notava nas pessoas (gentios, provavel~nente!~)
tnitura de observância da ,Torah" e a segunda, "atos de obediên- que, em vez de se relacionarem alegremente com a Torah santa,
cia à Torah". Esta maneira de ver é errônea. Sha'ul não considera justa e boa de Deus, submetiam-se a urna perversão legãiística
mau viver de acordo com a estmtura & Torah,
i nem que seja mau dela.
obedecer a ela; pelo contrário, escreve que a Torah é "santa, Se as traduções acima de upo mmon e erga nomou fossem
usadas nas 20 passagens onde tais frases ocorrem, creio que isso
justa e boa" (Romanos 7,12). modificaria para melhor a teologia cristã da Torah.
C.E.B. Cranfield esclareceu estas duas frases; seu primeiro
ensaio relativo ao assunto foi publicado em 1%13 e ele o resumiu c. Gálatas 3,lO-13 - Redimidos da Maldição da Lei?
em seu extraordinário comentário sobre ~omanos,4onde escreve: Gálatas 3,lO-13 apresenta vários problemas na maioria das tradu-
"...a língua grega, no tempo de Paulo, não possuía grupo ções. Na N e w American Statza!urd Bible, por exemplo, tradução
de palavras correspondente a nosso "legalismo", "legalis- que não me parece melhor ou pior do que a maioria, encontramos:
$" e "legalístico". Isto significa que ele não dispunha de "(10) Todos os que se apóiam nas obras da Lei estão sob
terminologia adequada para expressar uma distinção vital, um reg@e de maldição. Pois está escrito: 'Maldito aquele
encontrando-se assim, com certeza, cerceado na tarefa de que nãb cumpre todas as prescrições do livro da Lei'.
esclarecer a posição cristã referente 5 lei. Diante disto de- (11) Que ninguém 6 justificado pela Lei perante Deus é
vedamos estar sempre, parece-me, dispostos a enfrentar a evidente, porque 'o justo viver6 pela fé'. (12) Ora, a Lei
possibilidade de que as declarações paulinas, que a princí- não provém da fé e sim 'quem observar estes preceitos vi-
verá por eles'. (13) Cristo remiu-nos da maldição da Lei,
pio parecem depreciar a lei, voltavam-se na verdade não fazendo-se por nós Maldição, pois está escrito: 'Maldito
contra a própria lei, e sim contra aquela má compreensão e todo aquele que é suspenso no madeiro"'.
mau uso da lei, para os quais dispomos agora de termino- Estes versiculos estão traduzidos da seguinte maneira no
logia adequada. Neste terreno muito difícil, Paulo foi pio- Javish N e w T e s t m n t (Novo Testamento Judaico):
neir~".~ "(10) Pois todos os que se apóiam na observância legalista
Se CranfieId tem razão, conforme creio, deveríamos abor- dos mandamentos da Torah (erga nomou) vivem sob uma
dar Sha'ul coni o mesmo espírito pioneiro. Deveríamos entender maldição, pois está escrito: 'Maldito todo aquele que não
erga nomou não como "obras da lei", e sim como "observância persevera em fazer tudo o que está escrito no rolo da To-
legalista de determinados mandamentos da Torah". De igual mo- rah' (Deuteronômio 27,26). (11) Ora, é evidente que nin-
do, deveríamos entender que upo m o n não significa "sob a guém é declarado justo por Deus pelo legalismo (nomos),
lei", e sim "em sujei90 ao sistema que resulta de perverter a To- porquanto 'O justo terá a vida pela confiança e fidelidade'
(Habacuc 2,4)(12) Ademais o legalismo (nomos) não se
rah em legalismo". E assim que estas expressões são traduzidas baseia na fé e na fidelidade, mas no uso e ~ ô n e odo texto
no J e w k h N e w Testmnt. que diz 'Todo aquele que pratica essas coisas terá vida
A expressão "em sujeição" é importante porque o contexto através delas' (Levítico 18,5). (13) O Messias nos remiu da
de upo nomon transmite sempre um elemento opressivo. Sha'ul é maldição pronunciada na Torah ( m o s ) fazendo-se mal-
bem claro a kspeito, conforme se verifica em 1 Coríntios 9,20 dito por nós; pois o TanaXh diz 'Maldito todo aquele que é
onde, depois de dizer que para os que não tinham a Torah ele se suspenso do madeiro' @euteronÔmio 21,22-23)".
tornara como algudm sem a Torah, sublinhou que ele próprio não "A maldiçáo da lei" não é a maldição de ter que viver
era sem Torah e sim ennornos Christou, "na lei", ou "na Torah dentro da estrutura da Torah, pois a própria Torah$ boa. Nem é a
do Messias". Ele usou um termo diferente, enaomos em lugar de maldição de ser obrigado a obedecer à Torah sem capacidade pa-
upo nomn, para distinguir seu relacionamento liv& de opressão ra fazê-lo - isto seria uma espécie de " M i l 22", indigqo de
Deus, embora haja teologias que ensinem exatarnente isto. E, an-
118 119
gua). O Jewish New Te.rtmnr (Novo Testamento Judaico) traduz
tes, "a maldição pronunciada na Torah" (v. 13; v. 10) pela deso- assim Judeus Messiânicos 8,6:
bediência a ela. O que Sha'ul quer dizer é que a maldição recai "Mas agora a obra que Yeshua recebeu o encargo de reali-
sobre pessoas que estio na verdade tentando obedecer à Torah, zar é muito superior à deles, assim coyo é melhor a aliança
caso seus esforços se baseiem no legalismo (vv. lla,12). Para da qual é mediador. Pois esta aliança é entregue como To-
Sha'ul esta abordagem legalística já é desobediência, pois o pró- rah, na base de melhores promessas".
prio Tanakh exige que a genuína obediência provenha da fé (v. Assim a Nova Aliança foi "entregue como Torah", o que
1lb). Não há espaço aqui para provar que este é o caso, ou para implica em que a Torah ainda existe e deve ser observada no
lidar com outras controvérsias despertadas pela interpretação aci- tempo presente, por todos os judeus e todos os gentios, conforme
ma destes quatro versícuIos; o meu comentário no Jewish New veremos. Contudo, o que é exigido precisamente de "todos os ju-
Testament aborda estas questões. deus" e de "todos os gentios" não é tão evidente. Voltaremos ao
d . Judeus M essiânicos (aos Hebreus) 8,6 - A Nova Aliança Foi assunto de modo limitado, mas uma abordagem abrangente trans-
Dada Como Torah <eude o âmbito deste livro.
3. Evangelho com Uma Lei Cancelada
Uma das mais surpreendentes descobertas que fiz no de- não é Nenhum Evangelho
curso da prt:paração. do Jewish New Testament é que a própria Alguém declarou (não digo que concordo) que dos três
Nova Aliança foi entregue como Torah, tanto e exatarnente no itens mencionados acima como os mais importantes da agenda
mesmo sentido daquílo que Moisés recebeu no Monte Sinai, en- teológica judaica, os judeus reformistas focalizam principalmente
tregue comq Torah. O versículo que oculta este segredo extre- "Deus"; os conservadores, "Israel"; e os ortodoxos, a Torah. Ju-
mamente bkrn guardado é Judeus Messiânicos (aos Kebreus) 8,6, deus reformados e seculares discordam dos ortodoxos e conserva-
que diz, numa tsaduçãb típica: dores no que respeita à observância perene da Torah, enquanto os
"Más assim Cristo obteve um ministério que é tanto mais judeus conservadores negam a reivindicação exclusiva da ortodo-
excelente quanto ele é mediador de uma aliança mais per- xia de determinar aplicações específicas daquilo que concordam
feita, selada por melhores promessas". ser a Torah eterna. Contudo, embora os judeus ortodoxos consti-
A passagem d a i a a impressão de ser pobre material para os tuam somente 15-20% da população judaica de Israel e menos
meus esfokos de pesquisa. Mas, ao examinar o texto grego, notei ainda dos Estados Unidos, sua visão da Torah como eterna en-
que a- frase' "é selada 'por" traduz a palavra nenomothetêtai, com- controu um profundo lugar no coração do povo judaico; tanto que
posto de m s ("lei", "Torah") com o verbo tithêmi ("colo- os não-ortodoxos acham-se um pouco no papel de anivistas ten-
car", "situar"). $e o assunto da Epístola para um Grupo de Ju- tando subverter um govemante inteligente, experiente e auto-con-
deus Messiânicos fosse, digamos, a lei grega, ou o Senado roma- fiante.
no, seria aptopriado traduzir a palavra como "decretado, estabe- Se o cristianismo vem à tal ambiência com a mensagem de
lecido, legislado", isto é, "posta" ou "colocada como lei". que a Torah já não se acha em vigor, a Iinha de comunicação com
Mas na epístola a esses judeus messiânicos, a palavra no- o judaísmo ortodoxo é simplesmente cortada. Não há mais nada a
mos, que aparece 14 vezes, significa sempre, especificamente, discutir. Ademais, se estou certo a respeito do papel da visáo ju-
Torah, nunca legislação em geraI. Ademais, a única outra vez em daica ortodoxa da Torah na mentalidade judaica, atk o judeu se-
que nenomothetêtai surge no Novo Testamento é em alguns ver- cular "sabe", em cei-to nível, corretamente ou não, que a ortodo-
sículos anteriores, em Judeus Messiânicos 7,11, ande só se pode xia está certa. De fato há judeus seculares que, embora não reli-
referir à entrega da Torah no Sinai (a palavra relativa, nomothe- giosos eles próprios, consideram os ortodoxos como os preserva-
sia, "entrega da Tordz", em Romanos 9,4, é igualmente ambí-
121
120
dores da nação Judaica. Messiânicos (aos Hebreus) é que a Tr)rah foi escrita no coração
Assim, se o cristiaIIismo não puder ençxax cometa c seria- das pessoas (Jeremias 3 1,30-3.1, Judeus Messiânicos 8,9-12). E
mente a questão da Torah, nada krá a dizer ao povo ~udaico.h- preciso mistificação teológica inaceitável para concluir que quan-
dividualmente, judeus podem Ser conquistados para o cristianis- do Deus grava a Torah nos corações, ele a modifica em algo di-
mo, transpondo o largo posto entre o povo judaico e a Igreja verso da Torah!
(voltar à Figura 5E); mas a Preocupação central do próprio ju- M& se judeus messiânicos e gentios messiânlcos reconhe-
daísmo 6 posta de lado, talvez com uma citação casual e cerem a permanência da Torah surge a questão: "O que exige
superficial de RoflawS 6,141 "18 6 0 estais mais sob a Lei e sim a Torah, agora que Yeshua, o Messias, inaugurou a Nova Alian-
sob a graça.w~m minha opinião, este modo de pensar superficial ça? O que é a halakhah da Nova ~ l i a n ç a ? "E~ isto já é uma
e estéril tem-se demasiadamente na Igreja e não serve questão judaica e, conforme veremos, um elemento essencial do
finalidade exceto à do Inimigo! Evangelho.
disso, esta maneira de pensar é não apenas superfi- Pois existe no judaísmo uma tradição que diz que, quando
cial, mas também perversa! Yeshua disse claramente na sentença o Messias chegar, ele explicará os pontos difíceis da Torah. Ou-
terna do Semão da Montanha: "Não penseis que vim para abolir tra tradição diz que ele modificará a Torah. Yeshua, o Messias, já
a L i - ..; não vim para abolir e sim para plêr6sai' ', "levá-la h per- chegou; explicou certas coisas no Sermão da Montanha, por
feigão". Observamos menormente' que o "levá-los h perfeiçb" exemplo - e outras foram modificadas, conforme aprendemos
de Yeshua significa aqui esclarecer o pleno e correto sentido da mais adiante, neste capítulo. (Quando ele vier pela segunda vez,
Torah, e obsewfloS que ainda que plêroô significasse "cumpri- talvez dê mais explicações e faça outras mudanças!) Um judeu é
mento" não ser distorcido para significar "abvlição", em capaz de aceitar este tipo de abordagem a Torah. E os cristãos te-
contradiçáo com o que ele havia dito três palavras antes. Isto pa- rão que se habituar a ela.
rece tão claro que me é difícil compreender de que modo a teolo-
gia cfistg ousou propor a idéia de que a Torah deixou de existir.
Pessoalmente que isso aconteceu -por causa de precon- "Porque é sã a doutrina que vos dou, não abandoneis a rni-
ceitos mti-judaicoS infundidos na Igreja dos gentios nos primei- nha Torah. E uma árvore da vida para aqueles que .a ela se
ros séculos8; este ~reconceitoestá agora tão difundido e difícil de seguram, e os que a ela se agarram são felizes. Seus cami-
desenraizar, que até cristãos toamente desprovidos de anti-semi- nhos são caminhos prazeirosos e todas as suas veredas são
tismo pessoal se acham inevitavelmente por ele afetados. de paz".'o
O remédio é =avaliar a teologia da Tomh. Estou convicto
de que se descoblká que a 7orah continua em vigor. Quando o 1. Devem o s Judeus Messiânicos Observar a Torah?
não fwuma "concessão ao judaísmo", como certos cníi- Conforme dizemos aqu) e ~ l no i -decorrer deste livro, es
cri~táossefim capazes de supor. Nem estou expressando, de crentes judeus sofrem uma crise de identid-ade que não foi por
certo modo, teologia anti-Torah em linguagem p5-Tomh hi- eles criada, que não é um problema psicológico. E mtes causada
pócrita, enganadora e conhisa, acusação que poderia esperar de por acontecimentos históricos dos últimos dois mil anos, pelos
certos judeus nao-messihicos. Exponho, tão claramente quanto quais eles não são responsáveis." A crise de identidade consiste
me é possível, 3quilo que segundo acredito, ensina o Novo Tes- em como reunir e expressar em suas vidas os elementos judaicos e
menro, Isto rijo será nem uma concessão, nem uma confusã0.e messiânicos.
sim um desafio, tanto para 0s judeus como para os cristãos. A pergunta que soa mais alto neste conflito é: "Devem os
para um elemento-chave da Nova Aliança, conforme pro- judeus messiânicos observar a Torah?" A maioria dos crentes ju-
messa de Jeremiãs e citado na Epístola a um Grupo de Judeus deus surpreende-se, mais cedo ou mais tarde, a braços com ela;
122
com o tempo ela penetra a mente até mesmo daqueles que não têm namentos e regras legais elaborado pelo povo judaico no decorrer
qualquer ligação com o judaísmo religioso. O que acontece na de mais de três milênios. Tem início com os Cinco Livros de
atual fase da história do judaísmo messiânico é que judeus mes- Moisés e prossegue com o restante do Tanakh e a Lei Oral, que,
siânicos individuais, ou congregações judeu-messiânicas indivi- segundo os ortodoxos, foi revelada por Deus a Moisés no Monte
duais, elaboram seus próprios meios de relacionamento com a To- Sinai. A Lei Oral se acha no Talrnud, no Misdrashim Haláquico e
rah, cada qual fazendo o que é certo a seus olhos. Mas esta abor- nos escritos de sábios de épocas posteriores - os Savora'im,
dagem reflete fracasso comunitário; e a maneira de enfrentar esta Pos'Kim, Rishnirn e Acharonlm - em seus códigos e responsos.
falha é levar a comunidade judeu-messiânica como um todo a lan- Dentro desta estrutura, dependendo do contexto, a palavra
çar um ataque concentrado sobre a questão. Não que seja neces- Torah pode significar: (1) os cinco livros de Moisés; (2) isso e
sária a uniformidade de opinião - as palavras de Reit-Hillel e de mais os Profetas e os Escritos, isto é, o Taaakh; (3)isso e mais
Bet-Shammai foram ambas consideradas palavras do Deus vivo - a Torah Oral, que inclui o Talmud e escritos legais posteriores;
mas que as questóes precisam ser compreendidas em profundidade. ou (4) isso e mais todos os ensinamentos religiosos dos rabinos,
Por que é crucial a questão? Judeus ortodoxos e conserva- inclusive material ético e agádico.
dores comprometidos e informados perceberão imediatamente a Uma avaliação daqui10 que os judeus ortodoxos conside-
razão, uma vez que consideram a obediência à Torah a caracte- ram legalmente obrigat6rio pode ser encontrada no Shulchaiz Aru-
rística distintiva do judaísmo. Uma vez que crêem, provavelmen- kh, códice abrangente, escrito no siculo dezessers; este, por sua
tè, que o cristianismo ensina os judeus "a rejeitar Moisés, dizen- vez, foi resumido num livro de Solomon Ganzfried, traduzido pa-
do-lhes que nao devem circuncidar seus filhos e nem seguir as ra o inglês, Code of .Jewish Z..w.13 0 s 0rtodo~0.~ admitem gue a
tradições",I2 é provável que considerem impossível ao judaísmo Lei pode se adaptar n circua~tâncimem mutqãcr,, mas na prati-
messiânico ser judeu. (Certos judeus ortodoxos rejeitam o judaís- ca adapta-se bem lentam~ntee;houve m i o r flexibilidade em sé-
mo conservador e o reformado pelos mesmos motivos). Os judeus culos passados, antes que a Lei Oral fosse registrada por escri-
que definem seu judaísmo de modo diverso, sublinhando a ética e 10. Os ortodoxos negam categoricamente que qualquer pessoa
a unidade de Deus (Reforma), ou a identidade com o povo judai- que esteja fura da corrente do judaísmo ortodoxo te& autori-
co (alguns conservadores e reconstrucionistas), talvez não consi- dade para fazer regras que afetem a Let .
derem tão crucial a obediência à Torah ao delinear uma posição Os judeus conservadores atêm-se geralmente a estrutura
em relação ao judaísmo messiânico. Os cristãos que têm uma ati- geral de pensamento desenvolvida na ortodoxia, mas divergem em
tude simplista de que "a E é mais importante que as obras" po- juízos específicos, quase sempre rumo à adaptação da Lei às ne-
dem ser insensíveis às glórias e nuances da Tomh compreendida cessidades da sociedade moderna e da remoção daquilo que con-
por aqueles que a apóiam; esses cristãos podem, portanto, deixar sideram aspectos cruéis, obstrutivos, ou desprovidos de sentido. É
de tratar da questiio de maior interesse para substancial parcela de claro que discordam da idéia de que somente os ortodoxos podem
judeus, e seu Evangelho de fé sem a Torah (que fica aquém do ditar regras obrigatórias.
verdadeiro Evangelho) passará pelos judeus ortodoxos compro- O judaísmo r e f o r d o , ao contrário das posições ortodoxa
metidos como um navio a noite, sem contato algum. e conservadora, afirma em geral que somente os mandamentos
éticos constituem Lei obrigatória; os componentes cerimoniais e
2. O Que Se Quer Dizer com "A Torah" civis são opcionais. Sua posição, estranhamente, não difere muito
Antes de decidir se os judeus messiânicos devem guardar a daquela de inúmeros cristãos quue consideram a lei moral eterna e
Torah precisamos indagar o que se entende por "a Torah" . A ~ Ú ~ obrigatória, mas julgam que as cerimônias judaicas e as regras de
vão cinco respostas possíveis. procedimento civil foram revogadas pelo Novo Testamento.
O judaí.mo ortudoxo considera a Torah o corpo de ensi- A Lei Bíblica, isto é, a Lei Escrita, é aquilo que alguns ju-
124 125
tantes da Torah -justiça, misericórdia, confiança. Estas são as
deus messiânicos e certos grupos de cristãos acreditam que deve coisas a que deveríeis dar atenção, sem negligenciar as ou-
ser seguido; consideram que a Lei Oral não é inspirada, nem tras!"" Sem retirar a ênfase de Yeshua sobre a justip, a mise-
obrigatória, É por isso que os Adventistas do Sétimo Dia são ve- ri-
getarianos - é a sua versão da comida kosher. Há judeus messiâ- córdia e a confiança 6bservamos que ele acrescenta "sem ne-
nicos que dizem manter-se "biblicamente kosher". Não comem gligenciar as outras", a fim de afirmar que os mandamentos de
carne de porco e camarão, mas servem leite e carne na mesma re- menor peso continuam em vigor.
feição, porque esse aspecto do kashrut não é ensinado na Bíblia. * Em Mattityahu 23,2-3, ele diz: "Os mestres da Torah e os
No tempo de Yeshua, os saduceus mantinham posição algo se- P'rushim sentaram-se na cadeira de Moisés", significando que
melhante, rejeitando a tradição oral dos fariseus. No século oitavo tinham autoridade para determinar como aplicar a Lei em casos
da era cristã, os karaitas romperam com o judaísmo rabínico por específicos. E prossegue: "Assim, observai e fazei tudo o que
causa da mesma questão. eles dizem".
+ Em Romanos 7,12, Sha'ul (Paulo) diz que a Torah é "santa,
A meu ver a T d é eterna e o Novo Testamento não a
anulou. Mas na sua totalidade a Torah deve ser compreendida justa e boa".
e interpretada a luz daquilo que Yeshua, o Messias, e o resto das Contudo, é improvável que as observaçõess de Yeshua se
Escrituras da Nova Aliança disseram a respeito. destinassem a aplicação no decorrer da histbia, especialmente
à luz de Mattityahu 16,19 e 18,18-20, onde ele estabelece seus
3. Devem os Judeus Messiânicos Obedecer h Torah Como ralrnidim (discípulos) como a fonte de autoridade decisória na in-
Compreendida no Judaísmo Ortodoxo? ''
terpretação da Torah. E o fato de que a Lei é santa, justa e boa
Uma vez que as discussões em tomo de os judeus messiâ- não a torna necessariamente compulsória; ademais, 'Torah" em
nicos deverem ou não obedecer à Torah geram mais calor que luz Romanos 7,12 não inclui necessariamente a Lei Oral.
quando o assunto é aquilo que se entende por "a Torah", para as Desconheço qualquer movimento moderno de judeus cren-
finalidades deste capítulo definiremos arbitrariamente Torah co- tes em Yeshua que assuma a posição de que os judeus messiâni-
mo aquilo que o judaísmo ortodoxo a considera ser, de modo a cos devem observar a Lei Judaica Ortodoxa, ou renunciar a sal-
podermos passar a análise. Aqui vão cinco respostas possíveis, vação.
cujo espectro vai de Sim a Não. 2. 2 desejável. É desejável que os judeus messiânicos ob-
I. Sim Absoluto. Os judeus messiânicos devem obedecer à servem a lei judaica ortodoxa, mas não essencial. Por que desejá-
Lei judaica ortodoxa. Esta era a opinião de certas seitas que a vel? Por três razões.
Igreja considerava heréticas, por exemplo, os ebionitas do século Primeira - a Lei (as partes biblicas, pelo menos) foi entre-
segundo. Pode-se encontrar apoio no Novo Testamento para a gue por Deus ao povo judaico e nunca suspensa; é o guia divino
obediência compulsória da Lei. para o comportamento justo e digno de ser seguido. Somos ju-
* Em Mattityahu (Mateus) 5,17-20, Yeshua diz que não deus, de modo que a seguiremos.
veio pafa abolir a Turah, e que quem quer que desobe- Segunda - quem conhece a história judaica não pode igno-
deça o menor de seus mandamentos e o ensinar assim aos rar qu,e a Lei guardou o povo judaico mais do que este guardou a
outros será considerado mínimo no Reino dos céus.14 Lei. E a vontade de Deus que o povo judaico seja preservado -
* Ao castigar o governo religioso por destacar irrelevani- nós o sabemos, não só pela espantosa história de sobrevivência
cias, ele não deprecia qualquer parte da Torah: "Ai de apesar de dois mil anos de dispersão e perseguição, mas também
vós, hipócritas mestres da Torah (escribas) e P'rushlm pelo Tanakh (e.g. Isaías 49,6) e o Novo Testamento (Romanos)
(fariseus)! Pagais vossos tributos de hortelã, coentro e 11). Os judeus messiânicos devem apoiar, portanto, um dos prin-
cuminho, mas negligenciais as questões mais impor- cipais meios de que Deus se utilizou para nos preservar.

126
Terceira - É um modo de o judeu messiânico identificar-se ções abaixo, que dominaram a Igreja no decorrer de quase toda a
com seus companheiros judeus, alguns dos quais talvez o consi- sua história. Mas estaria Deus satisfeito ao ver ignorada a sua To-
derem excluído da comunidade judaica. É assim que funciona: um rah? Seria para ele uma questão indiferente? Tendo nos dado uma
crente judeu diz a outro judeu, nGo-messiânico: "Eu acredito em Torah santa, justa e boa, cujos caminhos são de paz, deixaria a
Yeshua e ainda assim sou judeu". Resposta: "Você diz que é ju- nossa escolha obedecer ou não? Será reahente isto o que diz o
deu, mas confesse: observa o kosher? Evita dirigir no Shabbat?" Novo Testamento?
O judeu messiânico que é capaz de responder afirmativamente 4. É Indesejável. É indesejável para os judeus messiânicos
remove, ao que se supõe, uma barreira potencial ao Evangelho, observarem a lei judaica ortodoxa, mas não é proibido. Por que
tornando-se a si próprio e ao Evangelho mais dignos de crédito, indeseJável? Porque os judeus messiânicos deveriam compreender
Há quem apóie esta abordagem com 1 Coríntios 9,20, onde le- que estão agora "livres da Lei", com sua "letra morta", e estão
mos : "E entre os judeus tornei-me judeu para poder ganhar os ju- "vivos no Espírito". A segunda aos Corintios 3 e Romanos 7-8
deus". Mas no Jtwish New T~stamenté traduzido de modo djver- dão apoio plaiisivel a esta posição.
so, destacando que Sha'ul não modificava seu comportamento Então, por que "não e proibido"? Porque o crente judeu
como o carnaleão muda de cor, e sim ernpatizava, colocando-se na que deseja continuar a observar a lei judaica será considerado
posição das pessoas com quem partilhava o Evangelho. (Confor- "fraco na fé" no sentido de Romanos 14,l-2, alguém que deve
me veremos, esta terceira razão é bem fraca). ser visto com indulgência até estar suficientemente vigoroso para
Mas, já que 6 tão "desejáveIV,por que a Lei não é "essen- renunciar a sua "muleta de Iegdismo". Esta posição e expressa
cial''? Porque a salvação, responderiam os proponentes desta po- com maior frequência como pressao socid do que claramente ar-
sição, baseia-se somente na confiança, na fé, na conmção dos pe- ticulada. Os judeus que passam a crer em Yeshua sao levados a
cados e na conversão a Deus pelo Messias, Yeshua. O comporta- sentir-se estranhos na Igreja se continuam - e nem se fala em co-
mento agradável a Deus pode ser sugerido num código escrito, mqar - a seguir os costumes judaicos diversos da maioria dos
mas se for interpretado pela letra e não pelo Espírito Santo resul- cristãos gentios.
tará em morte e não em vida.I7 A unica coisa "essencial" 6 amar
a Deus e ao próximo - subentendendo-se que amor implica em 5 . Não, absolutamente. 0 s judeus messiânicos não deve-
atos e não apenas em sentimento. riam observar a lei judaica ortodoxa, porque se o fizerem a consi-
3 . É Indifiirente. Os judeus messiânicos podem observar a derarão como meio de salvação, de preferência a confiarem em
lei judaica se quiserem, ou então não observá-la. Observar ou não Yeshua. Os textos que apóiam esta posição são em geral tirados
a Lei, para os judeus messiânicos é questão de consciência indi- de Romanos, Gálatas e Hebreus. Um elementochave envolve
vidual, nem obrigatória, nem proibida. O Novo Testamento, a aqui a equação Torah - observância com legalismo, equação que
Igreja e o cristianismo nada têm a dizer sobre o assunto, neste ou desaprovamos anteriormente.'"
naquele sentido, e devem manter-se neutros. Os princípios que Esta atitude está presente, conscientemente ou não, no
orientam a Igreja em tais ''adiaphora" (questões indiferentes) cristão que diz a um novo crente judeu (e isto tem acontecido):
estão expostos em Romanos 14 e 1 Coríntios 8. A Única condição "Agora que você é cristão está livre da Lei. Aceite um sanduíche
que os proponentes desta posição haveriam de querer explicitar é de presunto!" - sem perceber que "gentilizar" um judeu infringe
que a obediência à lei judaica não vale diante de Deus para se o espírito de Galatas 2,13-14 do mesmo modo que tentar judaizar
obter a sdvação. um gentio. Eles consideram "de pouca fé" os judeus messiânicos
Esta posição é assumida por várias denominaqoes cristãs e que observam os costumes judaicos, no sentido de Romanos 14,I-2
por muitos judeus rnessiânicos. E mais pró-Torah e menos inibi- (embora o texto fale de gentios, não de judeus), mas não obede-
dora da identidade judaica dentro do Corpo do que as duas posi- cem a advertência de Sha'ul nos versículos seguintes, isto é, não
128
mh?" não é exatamente o objetivo. Prefiro refomulá-Ia: "De-
julgar o irmiio por observáncias feitas "no Senhor". vem todos os judeus e todos os gentios observarem a Torah?"
Estas cinco posições devem ser avaliadas não só com base Separando o fim do começo afirmo que a resposta é "Sim!" Mas
no seu conteúdo, como também com base nas agendas que por ela depende das respostas a quatro perguntas subsidiárias:
trás delas se escondem, pois a oposição da Igreja a que um judeu I
messiânico observe a Torah parece fundamentar-se no medo de * A esta altura da história, o que é, de fato, a Torah?
que ele abandone totalmente a sua fé messiânica e volte ao ju-
* Quem tem o direito de determinar o que a Torah exige de nós?
daísmo não-rnessiâni~o.,'~ ou que estabeleça uma elite de obser-
* Que significa "guardar" ("obedecer", "observar") a Torah?
vantes da Lei dentro do Corpo, assim "reconstruindo o muro di-
* Quais as diferentes responsabilidades dos judeus e dos gentios?
visório" 20
I No restante da seção B procuraremos fazer progresso no
delinear destas questões, embora não possamos ter a esperança de
Similarmente, por que os judeus messiânicos que não con-
resolvê-las. Examinaremos as perguntas uma a uma.
sideram a Lei Oral de inspiração divina inclinam-se a observa-la,
senão na esperança de fortalecer sua alegação de que continuam
judeus? Mas qualquer judeu messiânico que julgue que seguir a I 4. A Torah 6 Hoje a Torah do Messias
versão judaica ortodoxa ou conservadora da Torah aumentará a
sua credibilidade diante dos judeus não-messiânicos deveria des- Dissemos que no âmbito do judaísmo tradicional a palavra
fazer-se imediatamente da idéia. Ele jamais será "suficientemente "Torah" pode ter quatro significados: (I) Os cinco livros de
judeu" para provar que Yeshua é o Messias, e corre o risco de ele Moisés, (2) o Tanukh; (3) e mais a Torah Oral; e (4) todo o ensi-
próprio se tornar a questão, e niio Yeshua. Ademais, os judeus namento religioso dos rabinos. Todos esses sentidos podem en-
contrar-se no Novo Testamento. Algumas das referências são
não-messidnicos, que já não o consideram judeu, não se conven-
cerão com a sua observância da Lei. Dirão, pelo contrário: "Você feitas à Toràh segundo compreendida pelo judaísmo náo-messiâ-
nico. Outras sáo para a Torah na estrutura da verdade da Nova
abandonou o judaísmo, de modo que já não nos importa que ob-
serve ou não a Lei". Ou dirão: "Você a esta observando só para Aliança. Especificamente, no Novo Testamento: (I) a Torah deve
nos iludir, para nos emaranhar nas suas artimanhas". ser entendida como o Messias a entende,*I (2) ela inclui os mitz-
Outros judeus não-messianicos não negarão o judaísmo de vot do Messias,22 (3) inclui o próprio Novo Te~tamento,~~ e (4)
nomeia um novo grupo de pessoas como detentoras da autoridade
um judeu que aceite Yeshua, mas dirão que ele está se iludindo,
para interpretar a Torahz4.Além desses princípios gerais que sur-
com liase em que a Lei ipso facto exclui a crença em Yeshua e no gem da "mudança de ~orah"*' trazida pelo Messias, o Novo
Novo Testamento. E não admitirão que um judeu messiânico te- Testamento contém um verdadeiro diney-Tord ("decisões legais
nha autoridade para interpretar a Lei de modo a permitir-lhe tal
relativas a Torah") abrangendo aplicaçks específicas da Lei.*"
crença.
A frase do Novo Testamento que melhor abarca todos esses no-
Contudo, é previsa~enteisto que necessita ser feito, de
vos elementos é "a Torah do Me~sias";~'
modo que abandonamos agora o pressuposto de que a Torah é o
Certos teólogos cristãos parecem pensar que a Torah do
que o judaísmo ortodoxo (ou qualquer outra forma de judaísmo
Messias pode ser virtualmente separada de seu contexto judaico.
não-messiânico) afirma que seja. Em vez disso, verifiquemos o Há quem rejeite a Torah judaica, alegando que a única coisa que
que os judeus messiânicos dizem que ela é. dela resta depois que o Novo Testamento a revoga é o amor.2R
A Torah é realizada pelo amor, mas este fato não constitui uma
ordem para substituir a sabedoria que Deus nos deu em sua T m h
por uma vaga instrução no sentido de "amar". Outros conservam
Para orientar o debate nesta nova direção, começo dizendo
apenas os Dez Mandamentos, embora seja preciso certa ginástica
que a pergunta "Devem os judeus messiânicos obedecer à To-
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teol6gica para lidar com o mandamento que ordena a observância do que uma constituição. Nunca pcideia ter havido renipo em que
do Shahbat. Outros retem os aspectos morais da T ~ r u h .mas algum tipo de tradição deixasse de ser adjunto necesszirio a Tomh
abandonam as partes cerinioniais e civis como sendo "para os ju- escri!a - pois esta simplesrilente não contém toda as leis e costu-
deus sujeitos a antiga dispensação, e, portanto, nao vigorando v - , s necessários para se reger uma nação.
hoje em dia". Disto há evidência até no Pentateuco. Moisés escreveu em
Posto que a maioria dos teólogos tem sido constituída de deuteronbmio 12,21 que o povo de israe! podia abater antn-iais
cristãos gentios, e os gentios não são judeus, eles tem tido pouco "confom-ie eu vos ordenei", tnas náo se encontram mandamentos
incentivo para enfrentar o número imenso de questões minuciosas referentcs a maneira de sacr~ficá-10sem parte algu~nada i<.,rtlh
levantadas quando se leva a sério a Toruh. Os judeus messiânicos escrita. Algo de externo está implícito - legislaçiio, tradiçan, uma
não podem dar-se ao luxo de ser tão descuidados. Não só falha- To1~7h oral. Deus podia pruclaniar do céu a sua vontade sempre
remos no objetivo de levar o Evangelho ao nosso povo. como que surgisse uma dúvida, mas este iiao e 0 meio nom-,ai de orien-
tanlbém estaremos procIarnando e vivendo "outro E,vangelho"'" taqao, seja no Antigo, seja no Novo Testamento. Coisa alguma na
se não interagimos em nível intelectual sério com as especifici- Bíblia sugere que Deus se opõe à acuiriula~aode conhecimento t
dades da Iàrah. como o judaísmo religiosu a compreende, "LI- experiência, ou à criação de regras e linhas mestras. Somente
herto da Lei" é esconder a cabeça ria areia. quando esias são mal utilizadas é que sc tornam erroneas. Yeshua
Scgundo o pensamento judaico, o que constitui a Toralz iiáo crgueu objeçoes à tradiqao crimo tal, ao criticar o fJ'rr~shrm. e
está intiman-ienteligado a quem tem o direito de dizer o que ela e; sirri i "vossa" íradiçao: "Pela vr~s.sutradiçãci anulais L. esvaziais a
de modo que trataremos de ambos os assiintíis em conjunto na se- palavra de Deus!" - e deu uiii exeniplo específico do que queria
dizer.:'.
@Oseguinte.
Para o judaísmo tradicional, o fundamento cscritunslico dc
5. Quem Tem o Direito de Determinar o Que é a Torah? um sistema autoritativo de interprctaçao da Tí~r<lhé Deuteronô-
O judaísmo tradicional baseia-se não só no Antigo Testa- mio 17-8-12. que diz que Israel deve consultar e obedecer ao sa-
mento como na Lei Oral. No ambito do judaísmo supóe-se q ~ ae cerdote ou juiz "que esteja de serviqo naqueles dias". Este é o
Lei Oral, que corresponde mais ou menos ao que o Novo Testa- fundamento de todo o sistema da lei criada pelos rabinos, que é
mento denomina "a tradição dos antigo^",'^' foi entregue a Moi- considerada náo como recriada e sim derivada daquela que Moi-
sés no Sinai, juntamente com a Lei Escrita. A Lei Escrita foi in- sés recebeu no Sinai e transmitiu aos anciãos. Conforme explicou
tegrada, naturalmente, na Bíblia Mebraica; mas a Lei Oral só foi Saul Kaatz, erudito judeu alemão :
colocada por escrito quando os compiladores da Mi.shna rornel;a- "Toda interpretaqão da To~-c:hfeita por autoridade univer-
ram o seu trabalho no segundo século da Era Cristã. Da Lei Ora1 salmente reconhecida é considerada divina e transmitida no
a Mishim diz : Sinai, no sentido de que é aceita como a interpretaçao ori-
"Moiscs recebeu a T P no ~Sinai e entregou-a a Josué, e ginal divinamente desejada (gortpii7othe) do texto: pois o
Josué aos anciãos ('3s J U I L ~ S O, U outros líderes primitivos), Deus oniscicnte e sábio incluiu em sua Tornh revelada toda
e os anciãos aos profetas, e os profetas a entregaram aos as nuances de sentido que a interpretaqio divinamente ins-
homens da Grande Assembléia (120 líderes que voltaram pirada descobriu daí em diante... Portanto, toda interpreta-
do cxíiio com Ezra)" çáo é chamada cle~m.rh,"busca" daquilo que Deus ali colo-
E err6nea a idéia cristã generalizada de que o judaísmo cou originalmente... Toda interpretasão do Talmutle feita
"degenerou" por que a tradiçáo humana foi acrescentada a Lei de pelos eruditos foi recebida por Moisés no Morite Sinai,
Deus. Os cinco livros de Moisés têm sido com justiqa chamados pois havia recebido a Torah e a interpretaçio estava nela
de constituiqáo da nação judaica, nias uma naçao precisa de mais contida, não tilecânica, mas organicamente, como o fruto

132 133
da árvore estava contido na semente da qual a árvore se importância, mas devem determinar a forma e a maneira ,de usar
"'"'
desenvoiveu... essa autoridade baseada numa compreensão judaica do texto.
O Novo Testamento estabelece um sistema diferente de Ho.je, no Estado de Israel existe um conflito que se diz ser
autoridade, embora exista a questão de ele ser ou não totalmente sobre a questão "Quem é judeu?", mas na verdade gira em tomo
independente do sistema mais antigo. Em Mattityahu (Mateus) de "Quem é rabino?" Em Israel, os ortodoxos recusam-se a reco-
- 18,f 5-20, depois que Yeshua autorizou os líderes da congregaçao nhecer como válidas as conversões de gentios ao judaísmo feitas
a excomungar os rebeldes, lemos: por rabinos conservadores e reformados , mesrno quando estas
"Em verdade vos digo: tudo o que ligardes (isto é, proibir- conversões são feitas conforme os procedimentos prescritos na
des) na terra será Iigado no céu, e tudo o que desligardes halukhah ortodoxa. Se isto acontece, imaginemos como será bem
(permitires) na terra será desligado no céu. Repito: "Se mais amplo o conflito quando começarem a existir autoridades
dois de vós aqui na terra concordarem sobre qualquer coisa "halaquiras" judeu-messiánicas que pretendam estabelecer
que as pessoas pedem, assim será para elas. Porque da dinqv-toruh (julgamentos "haláquicos"). Até a data, os judeus
parte de meu Pai que está nos céus, onde dois ou três estão messiânicoi têm-se mantido a distância desse conflito, náo por
reunidos em meu nome, aí eu estou no meio deles".?" medo e sim por omissão, por causa do errôneo ponto de vista
A última sentença é em geral considerada uma garantia de teológico de que a halakhh e irrelevante para a vivência do No-
que Yeshua está presente entre os fiéis que oram reunidos - ouvi vo Testamento. Esta era está para findar. Quando os judeus mes-
dizer que um rninyan'T messianico consiste de "dois ou três" siánicos (e talvez gentios messiánicos bem informadosj começa-
reunidos em nome de Yeshua, mais o prhprio Yeshua, que "está rem a lidar com a Tnrah a maneira judaica, emitindo decisóes ba-
ali com eles". Isto é exato, mas não com base neste versículo. seadas na autoridade concedida por Yeshua, mas até agora igno-
Aqui Yeshua fala de pessoas que têm autoridade para reger a vida mda, a proclamação do Evangelho ter6 entrado numa nova era.
comunal messiânica (ler os três versículos precedentes). Ele diz Mas, de que modo estas decisões afetarão a vida dos fiéis?
que esses lideres - e presumivelmente os líderes subsequentes Ou será que afetarão? Esta é nossa próxima pergunta.
- têm o direito de estabelecer hukdhah porque os termos "unir"
e "separar" eram usados no judaísmo do primeiro século, signifi- 6. Qual o Papel da Halakhah? Ou: por que a Lei Oral
cando "proibir" e "permitir". Yeshua está ensinando que quando Era Oral? Ou que Significa "Observar" a Torah?
uma questão é exposta formalmente a um painel de dois ou três Conforme eu disse, halakhah significa "a maneira de ca-
líderes comunitários messiânicos, e eles emitem uma decisão ha- minhar" e pode referir-se, de modo geral, a todo o sistema de
láquica aqui na terra, podem estar certos de que a autoridade di- como viver dentro da estrutura da Torah, ou a uma regra especí-
vina está por detrás deles. fica destinada a orientar o comportamento em determinada situa-
As linhas de batalha acham-se assim claramente traqadas. ção. Foi somente quando a nação judaica estava sendo dispersada
O judaísmo tradicional alega que os rabinos determinam a halu- pelo mundo e já não havia Templo para unir o povo, que os rabi-
khah. O Novo Testamento transfere essa autoridade para os dis- nos perceberam que seria necessário colocar por escrito a Lei
cípulos de Yeshua e, segundo Mattityahu (Mateus) 28,20, para os Oral contendo as halakhot.
fiéis em posição de liderança de então em diante. A Igreja católi- Muitos tinham dúvidas sobre isto e não sem razão. En-
ca utiliza esta passagem e Mattityahu 16,19 para estabelecer a su- quanto a Lei Oral permaneceu oral, os julgamentos tendiam a ser
cessão petrina do Papa e a autondade de sua hierarquia. Os pro- mais espontâneos, as tomadas de decisão mais flexíveis, mais de
testantes, em reaçáo, despojaram virtualmente estes versículos de acordo com as necessidades de determinada situação. Era mais
seu significado pleno e sua importância. Os judeus messiânicos fAcil considerar mudanças na vida social sem se sentir ligado a
deveriam consideri-10s uma concessão de autoridade de imensa precedentes estabelecidos séculos antes, quando as condiçoes
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eram diferentes. Mas quando a lei começou a ser escrita, houve tem sido desde a compilação do Talmude, havia mais espaço para
desvantagens e vantagens. Já não era necessário reinventar rodas, flexibilidade. O judaísmo conservador procura - embora de modo
mas às vezes as que existiam não se ajustavam ao veículo. muito limitado, de vez que as entidades que estabelecem suas re-
E é precisamente esta a crítica que os ramos revisionistas gras são controladas pela ala direita - modernizar certas hulakhot.
do judaísmo fazem hoje ao judaísmo ortodoxo. Por exemplo, a Um conhecido exemplo é a regra referente à agunah, a mulher
própria Biblia diz que o judeu não deve acender fogo no Shabbat. cujo marido desapareceu, permanecendo desconhecido o seu pa-
Os rabinos interpretaram isto no sentido de que o judeu está proi- radeiro. Segundo a halakhah ortodoxa, a mulher não pode se di-
bido de usar um elevador no Shabbat, porque quando ele com- vorciar porque o marido não se acha presente para escrever-lhe
prime o botão, o elevador é ativado por uma centelha de eletrici- o gcg6. e não pode ser considerada viúva, porquanto não há evi-
dade, ou fogo. Mas se for instalado um "elevador de Shabbat" dência prévia de que o marido morreu. Portanto, não pode tomar
que automaticamente suba e desça o dia inteiro, parando em cada a casar-se. Isto pode causar grandes dificuldades; uma jovem
andar, o judeu ortodoxo tem permissão de entrar quando ele pára agunah que nunca descobre o destino do mando, deve permane-
no seu pavimento e saltar quando eIe chega aonde quer que de- cer sozinha toda a sua vida. 63 judaísmo conservador elaborou
seje ir, porque ele próprio ríão está acendendo fogo no Shabbat uma halakhah diferente, que permite novo casamento sob deter-
(ou sequer induzindo a que um fogo seja aceso. minadas condições, aliviando assim o problema.37
A maioria dos judeus, mesmo aqueles que compreendem Tudo isto e mencionado a modo de pano-de-fundo para a
a lógica acima, acham que existe algo de peculiar num sistema coaisideraçkio de qual possa ser o papeI da halcdchah 21 luz da No-
que produz tal regra, que esta regra não estimula a espiritudidade va Aliança. Segundo o Novo Testamento, todo crente traz em si o
humana e nem expressa a vontade de Deus. Existe um princípio Espirito de Deus." Está escrito que a letra mata, mas o Espírito
"hdáquico" que diz que uma halakhah rejeitada pela maioria não vivi~ica.~" Ele não diz que a Twah mata, pois ela é santa, justa e
é válida, mas o judaísmo ortodoxo não acha que é conveniente boa. Mas diz que o amor plenifica a Torah, o que, a meu ver, é
aplicá-la a eles mesmos (dizem que para uma regra ser inválida, outra maneira de dizer que a obediência 2 Torah segundo o Espí-
ela deve ser inaceitável para a maioria dos judeus ortodoxos). rito vivjfica-a.
A maioria dos judeus, em espiíito de pluralismo, não proi- E claro que as pessoas precisam de orientação no compor-
biria, com certeza, os judeus ortodoxos de obedecer às suas pró- tamento ético. Mas a ética cristã tende a flutuar acima de regras
prias regras, mas não gostaria de vê-las impostas à força a eIes específicas, rumo a um mundo platônico de princípios gerais. Isto
mesmos. A meu ver, esta atitude é devida menos à rebeldia contra pode ser visto nos escritos de Dietrich Bonhoeffer, que viveu uma
autoridade dos rabinos, que a um senso profundo de que a orto- existência ética (ao ponto de morrer às mãos de nazistas), mas
doxia vem fracassando há séculos na tarefa de enfrentar satisfato- cujos livros sobre ética tendem a projetar-se em níveis espirituais,
riamente as realidades da vida. Na Diáspora, este conflito entre os inspiradores, mas distantes das realidades concretas. A hlakhah
ortodoxos e a maioria dos judeus não chega às manchetes, porque messiânica é capaz de proporcionar orientação específica para
os judeus ortodoxos não dispõem de poder político. Mas em Israel aqueles que a procuram. Fornece uma base para debate, para son-
ele gerou uma hlturkmnpf de grandes proporções entre os judeus dagem na direção de soluções retas para questões éticas, assim
7
"seculares ' e os "religiosos", conflito no qual os judeus messiâ- como para situações cerimoniais, ajudando a estabelecer normas
nicos não se acham no momento envolvidos exceto por estarem comunais - nomias, não regras inabaláveis! E preciso estabelecer
convencidos de que se tanto os judeus religiosos como os secula- um equilíbrio entre a imposição férrea de decisões haláquicas à
res colocassem a sua fé em Yeshua, o Messias, a kultwkampf comunidade dos crentes, e a omissão descuidada de dar orienta-
terminaria. ção adequada, com o resuItado de que cada qual deva se arranjar
Quando a Torah Oral era realmente oral e não fixa, como à sua maneira.
136 137
Assim, nossa resposta é a seguinte: "observar" a Torah do pela última, todas são negativas, e mesmo a última é co-
Messias significa aceitar a orientação da halakhah do Novo Tes- mumente interpretada como determinando a observância
tamento para as nossas vidas, permanecendo ao mesmo tempo das outras (Maimonides, op. cit. 9,l). Elas derivam-se
sensíveis ao Espírito Santo. Se o Espírito quer que obedeçamos à exegeticamente dos mandamentos divinos dirigidos a Adáo
regra ou a quebremos, é algo a ser decidido dentro de um quadro (Gênesis 2,16) e Noé (ver Midrash Rabhah sobre Gênesis
comunal, congregacionai, em que respeitados líderes e colegas 34; Sanhedrin 59b), isto é, os progenitores de toda a hu-
nos ajudam a determinar o pensamento do Messias, que "nós" - manidade, e assim são considerados como universais... Os
como comunidade, não cada indivíduo - receber no^.^^ que estão sob as "Leis de Noé" podem também optar li-
7. Torah Para os Gentios? vremente por praticar alguns outros mandamentos judaicos
(kíaimonides, op. cit., 10,9-10). Os judeus sáo obrigados a
Porque os gentios estão incluídos na Nova Aliança, estão tentar estabelecer o Código de Noé sempre que possível
sujeitos à T o r d da Nova Aliança, a Torah do Messias. Uma vez (ibid., 8,10). Maimonides afirmava que aqueles devem não
que a própria Torah é um m i o pelo qual Deus expressa a sua só aceitar "as sete leis" por seu próprio valor, como tarn-
graça para com seu povo, não é de surpreender que se, através de bém aceitá-las por serem revelaqáo divina. Isto se segue da
Yeshua, Deus derramou sua graça igualmente sobre gentios e ju- tese segundo a qual toda ética não é, em última análise,
deus (este é o ponto principal de Romanos 1,l l), estabeleceu "natural", mas exige uma estrutura teológica... Opiniões
também requisitos a gentios e judeus (alguns deles expostos em divergem quanto a se o estágio derrradeiro da humanidade
Romanos 12-15). compreenderti tanto o judaísmo como o "noaquidismo", ou
O que Deus exige inicialmente dos gdntios que aceitam se o "noaquidismo" é apenas o penÚItimo plano anterior à
Yeshua como o Messias é denominado no judaísmo tradicional universalizaçâo de toda a Torah (ver o Talmude de Jem-
como "Leis de Noé", que são, segundo a Enciclopédia Judaica: salém), Avodah Zurah 2,1)...~'
"As sete leis consideradas pela tradição rabínica como os Muitos comentaristas têm notado a semelhança entre as
deveres morais mínimos impostos pela Bíblia a todos os "Leis de Noé" e as exigências feitas aos crisths gentios em Atos
homens (Tatmud, Sanhedrin 56,6O; Maimonides; Mislzned 15,20. O Concílio de Jerusalém, uma espécie de Sanhedrin mes-
Torah, Yad Chazakuh, Melakhim 8,10; 10,12). Os judeus siânico, reuniu-se para determinar em que condições os fiéis gen-
são obrigados a observar toda a Torah, enquanto todo não- tios deviam ser aceitos na Comunidade Messiânica (isto é, na
judeu é "filho da aliança de Noé" (ler Gênesis 9), e aquele Igreja). Foi decidido que não precisam converter-se ao judaísmo,
que aceita as suas obrigações é um ger-toshav ("Estrangei- mas devem inicialmente observar quatro rnitzvot - "abster-se de
ro residente", op. cit., 8,lO). Maimonides equipara o "ho- objetos poluídos por ídolos, da fornicaçáo, daquilo que é estran-
mem justo (hasidj das nações (gentias)" que tem a sua gulado e de sangue".
parte na vida futura mesmo sem se tomar judeu, com o Isto nos ensina que os elementos da Torah que se aplicam
gentio que observa tais leis. Este homem tem dire'ito a aos gentios sob a Nova Aliança não são os mesmos que se apli-
completo apoio material da comunidade judaica ... e às cam aos judeus. (O Concílio de Jerusalém n k fez qualquer modi-
mais elevadas honrarias deste mundo ... As sete "Leis de ficação na T m h aplicada aos judeus, de modo que alguns anos
Noé" tradicionalmente enumeradas são: proibição da ido- mais tarde poderiam ainda existir em Jerusalém "dezenas de rni-
latria, da blasfêmia, do derramamento de sangue, de peca- lhares" de judeus messiânicos "zeIosos pela T ~ r a h " ~ 'Não
) . nos
dos sexuais, do roubo, de alimentar-se de animal vivo, as- deveria surpreender que a Torah da Nova Aliança especifique
sim como a injunçáo de estabelecer um sistema legal (tra- mandamentos diversos para judeus e gentios. Primeiro, os Cinco
tado Tosefla, Avo& l h a h 8,4; Sanhedrin 59a). Exceto Livros de Moisés têm mandamentos que se apIicam a certos gru-
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pos e não a outros - ao rei, mas não aos súditos, aos coktirn c. QUEST~ESHALÁQUICAS N O
("sacerdotes"), mas não aos outros judeus, aos homens e não h JUDAÍSMO MESSIANICO
mulheres. Segundo, o Novo Testamento também tem diferentes 1 . Introdução
mandamentos para diferentes categorias de pessoas; por exemplo,
homens e mulheres, maridos e esposas, pais e filhos, escravos e O judeu messiânico que compreende que a Tor-ahcontinua
mestres, líderes e seguidores, às viúvas e não às outras mulhe- em vigor sob a Nova Aliança estará cheio de interrogações. Como
r e ~ . ~ ~ deve ser aplicada a Torah? Que é halakhah sob a Nova Aliança?
Contudo, Atos 15 ensina também que, embora os gentios Que se deve fazer e que não se deve fazer em determinadas situa-
fossem obrigados a observar apenas quatro leis ao ingressar na ções?
Comunidade Messiânica, tinham a permissão de aprender do ju- Pode-se imaginar a criação de um corpo de leis do Novo
daísmo tanto quanto desejassem. Esta faceta Corresponde também Testamento semelhante ao Talmud, aos Códigos e Responsos do
ao "noaquidismo". A única condição acrescentada na Nova judaísmo. Levaria em consideração a halakhah judaica, que afinal
Aliança (em Gálatas) é que os gentios não esperassem que sua tratou de todos os setores da vida humana; no entanto, tudo preci-
auto-judaização Ihes garantisse "pontos de salvação" com Deus. saria ser reexarninado a luz da verdade da Nova Aliança. Seria
Ademais, não se deve pensar que a única exigência que a criado por eruditos e juízes judeus e gentios, familiarizados com a
Nova Aliança faz aos gentios seja obedecer a esses quatro man- Bíblia e o processo da halakhah, e o primeiro texto a servir de
damentos. Pelo contrário, há centenas de mandamentos-no Novo base a esse procedimento seria Mattityahu I 8,18-20.46
Testamento destinados tanto aos gentios como aos judeus. E não Mas de que serviria isto? Quem daria ouvidos? Quem obe-
se deve julgar que a Nova Aliança acabe com a lei moral, civil, deceria? Alguém o está exigindo? Quem precisa disto? Quem se
cerimonial, ou de qualquer outra categoria. Há mandamentos do importa? Não somos em todas as coisas orientados peIo Espirito
Novo Testamento para judeus e gentios em todas essas categorias. Santo? Precisamos de um conjunto de regras e baiisas? O Novo
Para dar alguns exemplos, Romanos 13,l-7 e Atos 5,29 referern- Testamento permite sequer uma abordagem haláquica?
se à obediência e desobediência civil, Mattityahu (Mateus) 28,19 E assim que começa o debate. Prosseguiremos até certo
e 1 Coníitios 11,17-34 tratam de questões cerimoniais, 1 C o h - ponto com ele no restante deste capítulo; não há como terminá-lo.
tios 5,l; 6,7; 1 4 , 2 6 4 , 2 Coríntios 2,511 e Mattityahu 18,15-17 Faremos algumas perguntas e tentaremos ponderar a respeito.
tratam da ordem na Comunidade Messiânica, e há tantos outros Aqui nada pretende ser considerado "regra" para qualquer as-
mandamentos morais, éticos e espirituais que não é preciso citá- sunto, uma vez que ninguém me autorizou a estabelecer regras.
10s (1.O50 mandamentos de todas as espécies, de acordo com uma 2. O Halakhot do Novo Testamento
enumeração)".
Concluímos que sob a Nova Aliança a Torah permanece Uma das questões levantadas acima foi: o Novo Testa-
em vigor tanto para os gentios como para os judeus, embora as mento permite uma abordagem halúquica? A única resposta pos-
exigências específicas para os gentios difiram daquelas para os sível é: Sim, porque o próprio Novo Testamento expõe, na ver-
judeus. Examinaremos agora com mais detalhes algumas implica- dade, várias diney-torah (julgamentos específicos, relativos a co-
ções desta concIusão. mo se aplicar a Torah),ou halakhor (aplicações da Lei), e em ge-
ral chega-se a eles através de modos de pensar totalmente rabíni-
cos. Aqui vão quatro exemplos :
a. Yochanan (João) 722-23
Nesta passagem, Yeshua apresenta um din-torah segundo a
141
qual mitzvah da cura tem precedente sobre o de se deixar de tra- como sugestão de que as leis dietéticas judaicas devam deixar de
balhar no Shahht. Ao tomar esta decisão referente a qual das ser observadas.
duas leis conflitantes predomina em determinada situação, ele fa- c . Marcos 7,1-2-7
zia mais ou menos o mesmo que os rabinos que elaboraram a To-
rah Oral. Na verdade Yeshua referia-se, nesta passagem, a uma Já que estamos no assunto de kashmt examinaremos outras
decisão bem conhecida que pode ser encontrada no Talrnud, tra- duas passagens citadas em gera1 para provar a sua abolição, de-
tado Shabbat, pp. 128 ass. monstrando que não é esta a sua finalidade. Marcos 7,I-23 não
Os rabinos defrontavam-se com o conflito entre a lei que trata de kashrut, e sim da abolição ritual antes das refeições
proibia o trabalho no Shabbat e o mandamento de que o homem (n'tilat-yadayim), prática observada hoje no judaísmo tradicio-
devia circuncidar seu filho no oitavo dia de vida. O conflito surge na1.47 quando Yeshua declarou, portanto, que "todo alimento é
do fato de que cortar e carregar instrumentos necessários à execu- não declarava kosher os alimentos treif, mas dizia que a
ção de um b'rit-mil& através de domínio público são tipos de comida kosher não se toma ritualmente impura quando tocada por
trabalho proibidos pelos rabinos no Shabbat. Foi decidido que se mãos que não foram ritualmente purificadas. Embora em nossos
o oitavo dia cai no Shdbbar executa-se o trabalho necessário cir- dias seja difícil para qualquer pessoa que não seja judeu ortodoxo
cuncidando o menino; mas se a circuncisão deve ocorrer após o raciocinar com entendimento a respeito de impureza ritual, sua
oitavo dia, digamos, por questões de saúde, não ser feita no importância no tempo de Yeshua pode ser de certo modo avaliada
Shabbat, em violação das proibições de trabalho; espera-,se por pelo fato de que uma das seis principais divisões do Talmud (To-
um dia da semana. h m t , "Purezas") é quase totalmente dedicada ao assunto.
Yeshua, ao defender este ditame, utilizou o que o judaísmo Contudo, a importante hulakhah que devemos observar na-
chama de argumento kal v'humer ("leve e pesado"), conhecido da tem a ver com a comida. Nesta passagem, Yeshua não atribui
na filosofia como raciocínio a fortiori ("de força maior"). Sua es- peso zero h "tradição dos antigos", como o fazem tantos cristãos.
sência está na frase "muito mais ..." O argumento de Yeshua em Ele insiste em que as tradições humanas não devem ser usadas pa-
Yochanan 7,23 é: "Vós permitis que se trabalhe no Shabbata fim ra "anular e esvaziar a palavra de Deus." Esta é uma regra-chave
de observar o mitzvah da circuncisáo; muito mais importante é cu- haláquica pronunciada peIo próprio Messias, que nos pode
rar todo ocorpo de um homem, de modo que deveis permitir o orientar hoje na criação da halakhah do Novo Testamento. Decla-
trabalho no ShablKrt também para isso!" ra que devemos conservar retas as nossas prioridades: somente a
palavra de Deus exige obediência absoluta. Nossas hakakhor po-
h. Gálaras 2,Il-14 dem ser úteis, sugestivas, edificantes, valiosas como oikeltaqão,
Sha'ul (Paulo) pronunciou importante halakhah em Galatas mas permanecem apenas "tradição dos homens", e por isso fali-
2,11-14. Refere-se também a uma decisão quanto 2 maneira de veis e menos importantes. A halakhah do Messias contrasta com
proceder quando há conflito entre dois princípios válidos, mas o ponto de vista dominante no judaísmo ortodoxo que, descen-
neste caso o conflito era entre um mandamento do Antigo Testa- dendo diretamente da posição farisaica cnticada por Yeshua, po-
mento e uma necessidade da Nova Aliança. Sua conclusão não de punir com maior severidade a violaç5o de uma regra rabínica
era, como supõem alguns, que as leis dietéticas judaicas já não se do que a de um preceito bíblico.
aplicavam, e sim que a observância do kashrut pelos fiéis judeus
não deveria impedir o companheirismo com os fiéis gentios. A
comunhiio no Messias é mais importante do que a comida kosher. Kefa (Pedro) teve uma visão na qual por três vezes animais
Mas quando a obsemhcia do kosher pelo judeu não rompe este treif baixaram do céu num manto e ouviu uma voz que dizia
companheirismo, nada em Gálatas 2,ll-14 pode ser interpretado "Mata e come". A diferença dos intérpretes que supõem imedia-
142
tamente que a passagem ensina que os judeus já nao precisam se XVII) e Acharonim (sécuIos XVIII-XX), contendo códigos, ws-
alimentar de comida koskr, Kefa passou algum tempo "meditan- ponsos (casos jurídicos) e outros escritos. Não existem atalhos
do sobre o significado da visão". Somente ao chegar à casa de para a familiarização com este amplo corpo de material; se o ju-
Cornélio é que reunira as peças do quebra-cabeças, de modo que daísmo mesSiânico empreender a séno a criação da kalakhh do
pode declarar: "Deus me mostrou que não devo chamar impura Novo Testamento terá que preparar seus eruditos para a tarefa.
pessoa alguma". A visão tinha a ver com pessoas e não com ali- O restante do material judaico sobre a kalakhaih refere-se
mento. Não ensinou a Kefa - que sempre tinha se alimentado de mais a fontes externas que internas. Por exemplo: existe filosofia
comida kosher - que devia mudar de hábitos alimentares, e sim judaica, ética judaica (musar), e uma interessante literatura sobre
aceitar os gentios em pé de igualdade com os judeus, como can- t a ' m y ha-mitzvot, "as razões dos rnandarnent~s"~~. Deveríamos
didatos a salva~ão. pesquisar os escritos conservadores, reformados e constmcionis-
E preciso recordar que o manto que descia dos céus conti- tas sobre kalakhah, uma vez que esses movimentos têm precisado
nha todos os tipos de animais, feras selvagens, répteis e pássaros; explicar aos seus próprios membros porque adotam um ponto de
contudo, desconhqo intérprete da Bíblia que insistia em que vista diverso do ortodoxo, sendo, portanto, pioneiros em certos
águias, abutres, corujas, moTcegos, doninhas, ratos, lagartos, cro- caminhos que deveríamos explorar, embora náo desejemos termi-
codilos, camaleões, serpentes, aranhas e insetos sejam considera- nar aonde conduzem.
dos comíveis. Deus especifica em Levítico 11 o que os judeus Os líderes chamados "escribas" no Novo Testamento eram
devem considerar "alimento". Ainda que tivesse havido nesta vi- na verdade mestres da Torah, judeus bem instruidos no judaísmo.
são uma mensagem. secundária relativa a comida, não anularia Yeshua, no final do seu ensinarnento sobre o Reino do Céu, diz
totalmente as leis dietéticas, mas reafirmaria a regra que encon- algo muito interessante a respeito deles: "Por isso, todo escriba
tramos acima em Gáiatas 2,lI-14, isto e, que a preservação da instruído nas coisas do reino dos céus é comparável a um pai de
amizade entre fiéis judeus e gentios pode às vezes suplantar a ob- família que tira de seu tesouro coisas novas e velhas" (Mattityahu
servância do k d i ~ h r u t . ~ ~ (Mateus) 1333). Isto significa que o ralmid c h c b m ("aIuno sa-
3. Outros Materiais a usar-se na Criação da Halakhah bio"), o judeu bem adestrado em literatura rabínica, que chega à
da Nova Aliança fé no Messias Yeshua, está em situação singular para ajudar o ju-
daísmo messiânico a desenvoIver sua kuIakhah. Yeshua contradiz
O que os halaquistas judeu-messiânicos desejariam con- assim a reclamação da comunidade judaica de não ser acolhido no
sultar na preparação de sua tarefa? Acabamos de ver que o Novo Corpo do Messias um judeu educado no seu judaísmo. Pelo con-
Testamento é uma dessas fontes, e nem é preciso mencionar que o trário, conforme afirmei anteriormente, ser messiânico é a maneira
Tanakh é a outra. Além da Bíblia, os halaquistas judeu-messiâni- mais emocionante de ser judeu!
cos precisam saber como lidar com a vasta quantidade de material
haláquico que surgiu no judaísmo. Ele inclui não só a Mishna 4. Áreas de Halakhah da Nova Alian~aPara os Judeus
(220 E.C.) e as duas G e m r a s (cada uma delas, juntamente com a O judaísmo ocupa-se de todas as áreas da vida. Nesta parte
Mishna equivale a um Talmud - o Talmud de Jerusalém (século falarei sobre essas áreas e levantarei algumas das questões,que
IV) e o babilônio (século V) ) - mas ainda o Tosefta (composto a halukhah judeu-messiânica pode querer estudar, aIudido em es-
de codificaçóes dos séculos I1 e 111, similares'a Mishna), o midra- pecial a maneira como devem viver os judeus messiânicos.
shim haláquico (Mekhilta no Exodo, Sifra no Levitico, Sifiei em
Números e Deuteronòmio, todos compilados nos séculos IV ou a . Vi& Particular e Familiar
V) e as opiniões do Suvoraim (skulos VI e VII), Gaonirn (sé- Devem os judeus messiânicos fazer uso do mikveh (banho
culos VII-X), Poskim (séculos XI-XIV), Rishonim (séculos XIV- ritual) e , caso afirmativo, para que e por que? Devem os casais
I45
I
judeu-messiânicos observar o mandamento bíblico do ni&h (se- é louvado por seus mandamentos, não por suas permissões, de
paração de marido e mulher durante e após o período menstrual modo que esta modificação soa estranha. Ouvi também "...que
da mulher?) Devem os judeus messiânicos recitar as bênçãos diá- nos ordenaste ser a luz das nações" substituindo a frase final.
rias? Devem observar kashrut? Devem colocar mezuzot nas por- Embora a substituição tenha fundamento bíblico, não é imediata-
tas? Deixar sem revestimento uma parede da casa que se constrói mente relevante para as velas do Shabbat, podendo entrar em
para recordar a destruição do Templo? Devem os judeus messi2- conflito com o delicado princípio de que os b'rakhot devem ser
nicos usar tzitziyot? colocar t7fiIIin?usar kippah? pronunciados na execução de atos específicos; caso contrário, são
considerados como ditos "em vão".
h. Calendário e Fesros Já que tocamos no assunto dos b ' r a l h t , observamos a fia-
O judaísmo santifica o tempo com seus requisitos de ob- se encontrada em muitas bênçãos "...que nos santificaste por teus
servância de vários eventos ligados ao calendário. As cerimônias mandamentos". Há quem levante objeções, com base em que os
da sinagoga 'estão ligadas ao dia, Shuhbat à semana, Rosh Cho- crentes da Nova Aliança são santificados (escolhidos de Deus)
desch ao mês, as festas ao ano, shmittah (deixar sem cultivo ter- por Yeshua, por seu sangue (i.e., sua morte), e pelo Espírito
ras agrícolas) ao ciclo de sete anos, o jubileu ao ciclo de cin- S a n t ~ , 'mas
~ não pelos mandamentos. Uma possível solução resi-
quenta anos, e vários acontecimentos importantes ao ciclo vital. de na metonímia: os mandamentos representam aquele que man-
Podemos afirmar categoncamenie que os judeus messiâni- da. Outra solução: uma vez que tanto a Torah como o Espírito
cos têm tanto direito a estas celebrações como os não-messibi- Santo foram entregues em Shavu' ot, s50s mandamentos simboli-
cos. Se devemos observá-las, já é questão a ser debatida. E rorno zam, representam, ou expressam o ~ s p & t oSanto.
celebrá-las, é abrir uma grande lata de minhocas! Devemos sim- Desde que o crente jude Victor Buksbazen publicou The
plesmente aceitar a maneira de celebrar do judaísmo não-messiâ- 8
Gospel in the F e a t s of lsrae , surgiram diversos livros apon-
tando para o significado messiânico dos festejos, inclusive um
nico? Ou tentar infundir nessa maneira um sentido messiânico?
Devemos eliminar elementos sem fundamento bíblico? Ou pode- que incentiva os gentios cristãos a experimentar as bênçãos re-
mos incluir elementos rabínicos sem compromoter a nossa fk? sultantes de sua ~bservância.~'No judaísmo messiânico, a manei-
Devemos acrescentar elementos evangélicos? Que significa a nos- ra de observar as festas não se acha ainda estabelecida. Há três
sa celebração - para nós, para os judeus não-messiânicos, para os princípios que se devem ter em mente ao trabalhar nesta área:
gentios cristãos e para Deus? queremos celebrar o Messias, conservar o significado judaico e
Consideraremos a cerimônia da sinagoga na sub-sessão re- manter as coisas suficientemente espontâneas e no Espírito (estas
lativa à liturgia,'] mas aqui vão algumas questões ligadas à ob- duas expressões não são necessariamente idênticas!)
servância do Shabbat. Deve-se abster de acender fogo no ,?hh- Os principais eventos do ciclo vital são a b'rit-milah (cir-
bat? Observamos que n5o se trata de uma proibição rabínica, e cuncisão), a pidyon-ha-ben (redenção do fiIho prirnogênito),-bar-
sim bíblica." De que modo o princípio "O Shabbat é para o ho- mitzvah, casamento e morte. Fiz um curso na Universidade Judai-
mem, não o homem para o Shabbe~t"-~~, que tem paralelos no ju- ca de Los Angeles, com HaroId Schulweiss, famoso rabino con-
daísmo rabínico, será aplicado aqui e em geral? Deve um judeu servador, no qual ele deu a seguinte tarefa para a prova trimes-
messiânico acender as velas do ,Thahhat? Caso positivo, deve re- tral: "Os acontecimentos do ciclo vital atraem muitos judeus que
citar a tradicional b'rakhah ("bênção"), "Louvado sejas tu, Ado- têm pouca ligação com sua religião. Se você fosse o rabino ofi-
nai, nosso Deus, rei do universo, que nos santificaste por teus ciante, que tipo de sermão faria em cada festa do ciclo vital, para
mandamentos e nos ordenaste acender a Iuz do Shabbat", embora conquistar esses elementos afastados a uma vida mais judaica?"
não se encontre este mandamento na Escritura? Já ouvi a palavra Aproveitei a oportunidade para explicar que pregaria para tomar
"permitiste" substituindo "ordenaste"; mas no judaísmo, Deus Yeshua mais conhecido nas cerimônias judaicas. (Ganhei a nota
146 147
mais alta no estudo, fias sem qualquer comentário relativo ao seu gregacional. Adiaremos para mais tarde o exame de como os ju-
conteúdo). O ponto de vista do rabino Schulweiss deveria ser deus messiânicos e os gentios messiânicos devem interrelacionar-
bem acolhido pelos judeus messiânicos interessados em usar as se na vida pública de urna congregação judeu-messih~ica~~ e de-
festas para finaIidades de evangelização. Deveríamos usá-las para bater aqui outras questões problemáticas.
tornar mais unida no Senhor a nossa comunidade. Falaremos mais
longamente a respeito ao debater a liturgia. .a. Sinagogas rnessiânicas
Esta é uma boa ccasião para observar o princípio judaico Deve-se chamar uma congregação judeu-messiânica de si-
de realizar com muita beleza o mitzvot. Grande parcela da arte nagoga messiânica? Existe nas Escrituras permissão para fazê-lo
judaica gira em tomo dos objetos necessários ao cerimonial do em Ya'akov (Tiago) 2,l-2 que diz:
mitzvot, e recentemente artistas judeu-messiânicos começaram a "Irmãos, praticai a fé em nosso Senhor Yeshua, o glorioso
desenvolver esses temas na produção de artigos judaicos messiâ- Messias, sem demonstrar favoritismo. Suponhamos que um
nicos. Existem bem desenhados ktubot (contratos de casamento), homem entre na sua sinagoga usando anéis e belas roupas,
aronot-Torah,(arcas da Torah), kippot, coberturas de afikornane e também um pobre coberto de andrajos..."
outros itens de ritual. Há espaço para acolher quaisquer festejos e Ya'akov escreve para "as doze a s da Diá~pora"?~ isto
formas de arte tradicionais, usando-os para refletir a nossa fé com é, os judeus. Além disso, conforme vemos na passagem citada,
alegria e beleza. esses judeus são messiânicos, a quem ele chama "irmãos" e
exorta a "praticar a fé em nosso Senhor Yeshua, o glorioso Mes-
c. Ética e Moral sias". A palavra traduzida por "sinagoga" no Jewish New Testa-
O judaísmo rnessiânico desejará tratar de tópicos na área da rnent e que as versões da Biblia orientada para os gentios tradu-
vida moral, tais como caridade, bondade, justiça, amor filial, hu- zem em geral como "assembléia", "igreja", ou "reunião", é a
mildade, pureza, santidade, espírito cívico, perdão, temperança e palavra grega sunagôgê, que significa nada menos que "sinago-
derekh-eretz (literalmente, "o caminho da Terra", i.e., a maneira ga" quando o contexto é judaico (o vocábulo aparece 57 vezes no
de se portar para com os outros). Estudará questóes da vida práti- Novo Testamento). Finalmente, Ya'akov fala de "smsinagoga",
ca, tais como dignidade do trabalho, estudo, responsabilidades de aquela pela qual vocês, judeus messiânicos, são responsáveis e na
operários e patrões; questões de legislação civil, tais como tribu- qual, portanto, não devem "mostrar favoritismo". A luz deste
tação, deveres para com os govemantes, ganho ilícito, danos por precedente do Novo Testamento não vejo razão para deixar de
atos e palavras; questões afetando as relaçóes entre as classes so- fal& hoje em sinagogas messiânicas e estabelecê-las em número
ciais, caridade pública e privada, justiça, verdade e paz; e deseja- cada vez maior - conservando em mente que os gentios messiâni-
rá abordar assuntos correntes específicos, tais como minorias, cos devem ser nelas acolhidos.
aborto, eutanásia, genocídio, guerra, ecologia, fumo e assim por 0.problema com o termo não resulta do Novo Testamento,
diante, infindavelmente. O fato de eu reduzir estes tópicos a um e sim das expectativas de um judeu quando lhe dizem que vai a
breve parágrafo não significa que deixem de ser importantes! O uma "sinagoga". Não nos surpreenderemos se protestar contra a
judaísmo rnessiânico parece no momento preocupado com rituais nossa ênfase messiânica; é de se esperar. Mas não gostan'amos de
porque estamos a procura de nossa identidade. Mas sabemos tam- passar pelo embaraço de usar material judaico errôneamente. Uma
bém que estas questões mais profundas exigem nossa atenção e sinagoga messiânica não deveria ser apenas uma cerimônia reli-
não devem ser adiadas. giosa, com algumas palavras, roupagens e sírnboios judaicos in-
tercalados. Se é usado material judaico, isto deve ser feito de mo-
5. Vida Congregacional do correto; ou se modificarmos a maneira habitual de usar tais
Muitas questões da haIukhuh surgem na área da vida con- itens deveríamos faz610 intencionalmente, e não por ignorância.
148
Por exemplo : sei de uma congregação que possui um sefer- rael, uma congregação pelo menos reúnese no sábado à noite
Torah (rolo da Tordt para leitura pública). Até aí, tudo bem. Mas (Motza'ey-Shabbat), depois que os ônibus voltam a circular; além
que faz ela com esse rolo da Torah? Recita a bênção "noten ha- disso parece que é quando se reúnem os crentes no Novo Testa-
Torah" ("Louvado sejas, Adonai, doador da Torah"), mas em
seguida lê a Bíblia traduzida porque ninguém sabe hebraico sufi-
-
mento no "primeiro dia da semana", que no calendário judaico
tem início depois que o sol se põe no sábado.61 O Shabbat repre-
ciente para ler o rolo (ou sequer um texto hebraico indicado). A senta unidade com os judeus e o domingo com os gentios ais-
um observador judeu esclarecido isto parece ridículo. Pode-se de- tãos? Neste caso haverá uma espécie de esquizofrenia, e como en-
fender esta paródia de procedimento na sinagoga dizendo que frentá-la? Ou o dia de reunião será para nós uma questão de me-
Deus julga os corações e não se preocupa com detalhes do ritual, nor importância?
ou'com o fato das pessoas saberem ou não o hebraico. Isto é
exato no que conceme aos próprios fiéis; sua salvação não está c. Kippah
em jogo. Mas Sha'ul ensina a nos preocuparmos com o que "pes- O judeu não é obrigado por halakhah a usar kippah; não
soas ignorantes ou infi&is'@ pensarão, caso assistam fis nossas há menção dele em parte alguma do Talmud. Mas é com certeza
cerimônias. Nosso objetivo não é diverti-los ou ofendê-los, e sim uma tarjeta de identificação, uma vez que se tomou costume uni-
coplquistá-10s para o Senhor; não precisamos acrescentar a ofensa versal entre os judeus reliesos, a ponto de quase ter o peso de
do fiel ignorante h 'ofensa do Evangelho. Ninguém espera a leitu- um requisito da halakhah. E interessante que aquilo que o kippah
ra da Torah numa c e d i a da igreja, e também há ce- identifica na Diáspora difere daquilo que ele identifica em Israel.
rimônias na sinagoga sem a leitura da Torah. Mas se um rolo Na Diáspora ele significa "judeu", mas em Israel significa "da-
da Torah é aberto em uma sinagoga ~nessiânicadeverá ser lido ti" (religioso) e seu estilo (tricotado, preto, bordado, etc.) revela
corretamente. Se ningu6m é capaz disso, então é melhor nem que tipo de judeu ortodoxo o está usando.
tentá-lo. Por causa de 1 Coríntios, 11 surgiu urna questao referente
Não quero dizer que tudo deve ser feito com perfeição. Há ao judeu messiânico poder ou não usar o kippah quando está
muitas sinagogas em que as pessoas não agem da maneira comta. orando. A resposta, publicada em rninha "Réplica" a "Em Busca
A diferença é que frsqiientemente as congregações judeu-messiâ- de Uma Teologia Messiânica", de Arnold Fmchtenbaum, em
nicas têm pouco desejo de ir além do que denomino "verniz ju- Mishkan, é :
daico" para adquirir maior autenticidade. Muitas vezes a razão do "Não é contrário às Escrituras que os judeus rnessiânicos usem
verniz judaico é impressionar os não-crentes (relativamente igno- yarmulkes no culto, conforme é evidente pelo significado das pa-
rantes, claro), e não expressar a fé judeu-messiânica da congrega- lavras gregas usadas em 1 Corintios 11,4-5a, 7a. Aqui vai uma
ção. Isto é um erro. Nada de bom pode resultar de uma simuIação. tradução literal da passagem: "Todo homem que esteja orando ou
As congregaçks que agem assim serão acusadas de tentar ludi- profetizando com (algo) sobre a cabeça envergonha a sua cabeça,
briar, e com razão. Somente as congregaçóes cujos membros pro- mas toda mulher que esteja orando ou profetizando de cabeça
curam com seriedade expressar o judaísmo, que é de fato seu, descoberta envergonha sua cabeça.. Pois um homem não deve
conseguirão enfrentar estas críticas; e as enfrentarão porque estão (ter) a cabeça velada". Paub escreve a respeito de véus, que des-
agindo com autenticidade e não representando um espetáculo. cem sobre a cabeça. O kippah não é um véu, não cai sobre a ca-
b. Hordrio das Reuniües beça. Não há conflito, portanto, entre l Corintios, 11 e o fato de
um homem usar ~ o l i d é u . ~ ~
Quando devem ser realizadas as cerimônias? Nos Estados
Unidos, as congregações de judeus messiânicos reúnem-se habi- d. Fazendo Mau Uso das Coisas Santas Judaicas?
tualmente nas noites de sexta-feira e manhãs de sábado. Em Is- Os judeus messiânicos são acusados por certos membros da co-
150 153
munidade judaica de "usar inadequadamente objetos sacros judai- bino messiânico, ou permite que sua congregaçáo assim o chame,
cos". Falamos ligeiramente a respeito mais acima, em relação à deveria ter treinamento de acordo com o que lhe faculte qualifi-
leitura do rolo da Torah. Declarei que os objetos são nossos para car-se como rabino em ambiente.judaiconão-messiânico. (Mas em
serem utilizados, uma vez que também somos judeus, mas não qual ambiente - ortodoxo, conservador, ou reformado? Ou seria
podemos usá-los inadequadamente por ignorância, eles não são esta uma pergunta errada?) Deve o rabino messiânico ter smikhah
nossos para exibição; pertencem-nos para com eles expressarmos (ser ordenado)? Caso positivo deveria ser messiânico ou não-mes-
e incrementarmos a nossa fé messiânica. siânico? Caso messiânico, quem está qualificado para ordená-lo?
Assim, sk utilizarmos a metade do afikoman e o terceiro Onde um aspirante a rabino messiânico obtém a necessária insüu-
cálice do Seder da Páscoa para a comunhão, os judeus não-mes- ção? De qualquer modo, para não embaraçar o movimento judeu-
siânicos talvez protestem; mas podemos defender-nos com base messiânico, insisto junto aos líderes sem preparo rabínico que não
em que foi isto que o Messias fez. Se observarmos que os três permitam ser chamados de "Rabino".
matzot representam Pai, FiIho e Espírito Santo e que a matzah
partida do celim representa o corpo de Yeshua, quebrado por f.Liturgia Judeu-messiânica
n6s, temos bases teológicas para fazê-lo. Na verdade há uma boa
charice de termos fundamentos hist0ricos; muitos eruditos acredi- Uma vez que muitos elementos do movimento judeu-mes-
tam que esses costumes f o m iniciados pelos judeus messiânicos siânico receberam grande parte de sua experiência messiânica em
e investidos dos significados que apontamos aqui, mas os cosa- igrejas protestantes com abordagem anti-litiirgica ao culto, deve-
mes foram, de um modo ou de outro, absorvidos pelo judaísmo mos principiar observando que o judaísmo é uma religião litúrgi-
não-messiânico e despojados de seu significado messiânico. Seria ca. Isto é exato não só do judaismo nas suas formas rabínicas,
sensato de nossa parte fazer tais modificações somente depois de como também do judaísmo no T d . Os levitas do Templo en-
muita ponderação e prece, pois estamos lidando com cerimônias toavam os Salmos, aparentemente em coros antifônicos. O Tam-
carregadas de sentido intelectual, emocional e espiritual. Mudan- kh contém muitas fórmulas a serem repetidas verbatim. Hd &mz-
ças ad hoc se revelarão, provavelmerite, carentes de gosto, ofen- bém elementos litúrgicos ao Novo Testamento. Ademais, as de-
sivas, teologicamente errôneas, ou as três coisas ao mesmo tempo. nomiraações proteshntes que se i n c l i m pma o culto "livre" de-
senvolvem, em geral, formas .& rig& quanto as abordzgens li-
e . Rabis M essiânicos túrgicas que combatem. Basta dizer gue a Zihrpgia corretamente
Principiando pelo Iado cristfio do tópico, temos Mattityahu uma21 não impede o Espkito Santo de agir d m t e o culto.
(Mateus) 23,8, onde o Messias previne seus discípulos: "Não vos As principais liturgku do jucliahmo são:
deixeis chamar de "Rabinos" porque tendes um Rabino, e sois * Siddur - livro de orações para as cerimônias diárias e do
todos irmãos uns dos outros". Mas uma abordasem literal parece Shabbat celebradas na sinagoga, assim como para outras
aqui imprópria, uma vez que ele também previne contra ser cha- cerimônias na sinagoga e em casa.
mado de "pai" ou "mestre". O contexto leva-me a crer que Ye- * Machzor para as Grandes Festas, contendo as orações da
shua proíbe aqui os crentes de aceitarem de modo geral honrarias sinagoga para Rosh-HaShanahe Yom-Kippur.
imerecidas, mas não está proscrevendo para sempre aqueles três * fiagguduhJ'contendo a cerimônia a ser lida em casa no
títulos. Seder da Páscoa.
Que seria um "rabino messiânico"? Simplesmente um * Liturgias domésticas e da sinagoga para outras festas,
pastor com outro nome? Parece-me de novo que, como no caso da por exemplo, Sukkot, Chanukah, Purim, Shuvu' ot (a
"sinagoga", o termo "rabino" estabelece expectativas judaicas palavra muchzor também é usada para elas).
que deveriam ser concretizadas. Quando alguém se denomina ra- * ~iturgiaspara os eventos do ciclo-vital.
153
Muito esforço foi empregado para "messianizar" estas li- daiSn>c>hoje e>i?.tcafi:. nio b:renicir, r 1terri;itivá senão (:riar UI, ii
turgias, mas nenhum refletiu esforço concentrado, ou conquistou likr gia judeu-mc ssiár ira. A'riez que rrao hsja de:manida dessa li-
a aprovação geral da comunidade judaico-messiânica como um turgia pua fin;ilidades de cu:to ela s.c:ria ní:cessaria pci causa da
todo. Desejo, portanto, sugerir alguns princípios para aqueles que interaçao com o material 1itUrgico do judaismo.
queiram elaborar liturgia judeu-messiânica: Julgo. na verdade. que o Evangelho pode ser bem comuni-
M e i m - a versão judeu-mssiânica da liturgia seria ba- cado atraves da liturgia judeu-messihica. Ademais. esta liturgia
seada na versão do judaísmo ortodoxo. As liturgias conservadora pode expressar a nossa fe e quem somos nos como judeus messia-
e reformada derivam-se da ortodoxa e assim não precisamos fazer nicos. E lamentavel perder tal oportunidade e creio que Deus
modificações numa modificação. (Na verdade há várias versões abençoará o trabalho.
ortodoxas, porque as comunidades étnicas elaboraram pequenas Relacionados com a liturgia. mas não exatamente a mesma
variações, que não constituem obstáculo significativo). coisa. existem as antologias devocionais e os livros de cantos. Em
Segundo - a versão judeu-messiânica deveria consistir da conexao com a composição de cantos quero dizer que existe. em
versão ortodoxa com acréscimos e subtrqões. Os acréscimos ex- Israel mais de uma centena de cantos hebraicos escritos e publi-
pressarão especificamente os aspectos messiânicos da nossa fé na cados nos Últimos anos. usados pelas congregações locais. Con-
estrutura das orações apresentadas; esses acréscimos poderiam tudo. a maioria é breve e usa textos da Biblia. embora alguns te-
ser, por exemplo, citaçóes do Novo Testamento, afirmações de nham raizes no Sidhr. Atk a data. temos poucos hinos originais
verdades teológicas neotestamenthias, ou expressões de unidade em hebraico. mas possuirnos traduções dos hinos cristaos tradi-
com o corpo do Messias. As subhções seriam palavras, frases cionais para excelente hebraico. Estes são. porem. caracteristica-
e talvez oraçóes inteiras inconsistentes com a fé messiânica, ou mente escritos para melodias tradicionais crista. que não trans-
para ela irrelevantes. mitem qualquer sabor judaico. Sugiro que os compositores talen-
Terceiro - a versão publicada da liturgia judeu-messsiâqica tosos transponham esses hinos traduzidos - cujas letras sao exce-
incluiria toda a versão ortodoxa, com as subtraçóes incluídas, mas lentes - para melodias mais judaicas ou israelenses.
claramente indicadas, e os acréscimos também indicados. Assim
6. Cristãos Gentios e Judaísmo Messiânico
qualquer pessoa seria capaz de verificar imediatamente de que
modo a versão judeu-messiânica difere da ortodoxa. A razão dis- O judaismo messiinico reergue o muro divisório entre ju-
so é estabelecer uma base para discussão com os judeus não-mes- deus mèssiinicos e gentios cristaos? Ou entre congregaçcks ju-
siânicos, assim como educar a nossa própria gente. A versão pu- deu-messianicas e igrejas de orientação gentia? Estarão oferecen-
blicada deveria ser bem indexada (uma agradável variação da do aos cristãos gentios. no judaismo messiinico. uma cidadania
maioria das liturgias publicadas), e codificada para indicar ele- de segunda classe? O separatismo espreita dos bastidores? Explo-
mentos optativos para aqueles que desejarem cerimônias mais raremos vGos topicos relacionados com esta questão.
breves. Certos comentários devem ser incluídos, pois muita gente Mas. antes de mais nada. vamos reafirmar que os gentios
deseja compreender as origens e funções das preces que são soli- messiãnicos e os judeus messiinicos sao iguais diante de Deus no
citadas a pronunciar. Cantos e leituras relacionados serão apre- Corpo do Messias. Nao ha espaço na Comunidade Messiinica pa-
ciados. Na maioria dos casos a versão publicada seria em hebrai- ra comparações invejosas entre fieis judeus e não-judeus. Isto e
co e no vernáculo. fundamental. Sobre esta base podemos construir.
Resta uma pergunta: quem utilizará a liturgia judeu-mes- a. Conversio de Cristãos Gentios ao Judaísm
siânica? Má demanda para ela? Se eu tiver razão no sentido de
que o judaísmo messiânico não se aprofundará de modo signifi- _Lembremos que o judeu messiAnico foi definido como uma pessoa
cativo na comunidade judaica sem interagir seriamente com o ju- nascida de mãe judia ou convertida ao judaismo. e crente autknti-
154
tiça esperada. Estar circuncidado ou incircunciso de
ca. e que reconhece positivamente o seu judaismo.a Indagamos
nada vale em Cristo Jesus. mas sim a Fe que opera
se um membro gentio de congregação messiânica poderâ denomi- pela caridade."66
nar-se judeu messiânico e concluimos que não deveria. Suponha-
Durante anos entendi estes dois textos como proibição aos
mos. porém. que um cristão gentio que saiba que não e judeu 1 gentios cristáos de se converterem ao judaísmo. mas o artigo de
queira tomar-se judeu. Surge eniito a questào da conversão - que
um filosofo judeu ortodoxo chamado Michael Wyschobrod modi-
e um assunto delicado.
ficou minha (Ele e tambem. aliâs. co-autor de um livro
Uma vez que nenhum gentio precisa tomar-se judeu para
contra o "cristianismo judaico:'68). No seu artigo o autor observa
se salvar.64 por que um crista0 gentio haveria de querer conver- ?Ir
4 que pela,halakhah os rabinos sao solicitados a desencorajar con-
ter-se para o judaismo? Podem-se imaginar conversoes de conve-
niência para a esposa de um judeu messiânico. ou para um gentio
cristão que viva ou queira viver no Estado de Israel. mas religião
3
rk
vertidos em potencial. a fim de afastar os insinceros. e sugere que
as observações de Sha'ul são deste carriter e não proibições abso
alguma. inclusive o judaismo. olha com simpatia os convertidos 8 lutas.
por razoes ulteriores. O judaismo considera com razao o yirat- a
3
Ja que Wyschogrod e filosofo e nao historiador. tenho mi-
nhas dúvidas. Essa "dissuasao normal e conhecida de fontes do
HaShem, "temor de Deus*'.como a única razao legitima para a 3
3 terceiro ao quinto secu10s~~. mas Sha ul escreveu no primeiro.
conversão. Se o temor de Deus de um cristão gentio incluir não
so a adesao ao Messias. como também igual compromisso para Neste Yeshua falou dos mestres da Torah e dos P'mhim que

(1
i
"percorrem mares e terras para conquistar um p r o s é ~ i t o ] 'o~ ~ .
com o povo judaico. inclusive o desejo de servir a Deus e ao seu
oposto da "dissuasao normal". Houve algum precedente do pri-
Messias como judeu. entio parece-me que esta qualificado para a
meiro seculo dissuadindo os gentios de se converterem ao judais-
conversão.
mo? Sim. houve. Segundo Josephus. Izates. rei de Adiabene
Estarri mesmo? A Escritura permite que um gentio cristào
(proximo do Golfo Pérsico). de 36 a 60 D.C.. foi convencido da
se converta ao judaismo? Sha'ul escreveu.
"Que cada um viva na condição na qual o Senhor o I
I,
verdade do judaismo por um mercador judeu chamado Ananias
(Chananyah) sua mie Helena. porém. temeu que. se eIe fosse
colocou. ou em que o Senhor o chamou. E o que re-
comendo a todas as igrejas. O que era circunciso circuncidado. o povo não aceitasse o seu governo. Chananyah
quando foi chamado (a fe) nao dissimule a sua cir- tranquilizou-o dizendo que "ele poderia servir a Deus sem ser
circuncidado. embora decidisse seguir totalmente a lei judaica'
cuncisão. Quem era incircunciso não se faça circun-
que o culto divino era de natureza superior a circuncisao- . Foi
cidar. A circuncisão de nada vale. e a incircuncisáo
temporariamente persuadido. mas não perdeu o desejo de se con-
de nada vale. o que importa e a observância dos
verter totalmente. de modo que quando outro judeu chamado
mandamentos de Deus. Cada um permaneça na pro-
El'azar (que era evidentemente de intento mais missioniirio) viu-o
fissão em que foi chamado por Deus".65
"É para que sejamos homens livres que Cristo nos lendo a Torah e o censurou por nao obedecer ao que a Torah
libertou. Ficai. portanto. f m e s e não vos submetais manda. ele se fez circuncidar. Isto aconteceu antes de ele subir ao
outra vez ao jugo da escravidão. Eis que eu. Paulo. trono em 36 D.c."
Esta evidencia me convence de que. se um cristão gentio
vos declaro: se vos circuncidardes. de nada vos ser-
quiser identificar-se plenamente com o povo judaico. o Novo
virá Cnsto. E atesto novamente a todo homem que
Testamento permite que ele se tome judeu. Devera aceitar toda
se circuncidar: esta obrigado a observar toda a Lei. a- Torah conforme entendida no judaismo a que se esta conver-
Ja estais separados de Cristo. vos que procurais a
tendo (isto se acha implicito em Gdatas 5.3. onde "Torah" pare-
justificação pela Lei. Decaistes da graça. Quanto a
ce incluir a Torah Oral). exceto nos pontos conflitantes com a
nos. e espirituaimente. da Fé. que aguardamos a jus-
Nova Aliança. do ponto de vista do Novo Testamento!
Contudo. por causa das reservas que qualquer agencia de Para os judeus messiinicos existe um ponto final. smiolo-
conversão do judaismo nao-messiánico apresentari. provavel- gico: se muitos cristãos gentios se converterem ao judaismo (por
mente. ao aceitar no judaísmo um gentio que continue acreditando intermedio de rabinos messiinicos ou nao-messiânicos). seu nu-
em Jesus. continua havendo um problema quanto a conversão do mero ultrapassará o judeus natos no movimento. acrescentando
cristão gentio do judaísmo. Se o convertido malta o fato de que outra dimensão problematica ao relacionamento entre judeus mes-
continua a acreditar em Jesus. a questão etica e obvia. Contudo. siiinicos e a comunidade judaica não-messiãnica.
sei de um caso em que um cristão gentio estudou o judaismo or- b. Casamentos Entre Judeus M essiânicos e .
todoxo durante mais de um ano quando estava para entrar no .
Cristãos Gentios
mikveh para a cerimonia da conversão informou ao seu rabino que
continúava acreditando no Messias Yeshua. O rabino espantou- Deve um judeu messiinico casar com urna crista gentia?
se. mas permitiu que a cerimonia prosseguisse e eventualmente De um lado. o Novo Testamento o permite - dois crentes podem
(apos adiamento fora do comum e diversos pedidos) enviou-lhe casar-se segundo 1 Corintios 7.39.
pelo correio o certificado de conversão. Outro fiel judeu comen- Um aspecto desse casamento e o potencial de testemunho
tou que, embora esse homem nao tivesse ocultado a sua fe. o ra- positivo. a fe comum do casal em Yeshua devera ajuda-los a vi
bino nao o havia compreendido verdadeiramente; em vez de per- ver um casamento feliz. ainda que outros tenham expectativas
ceber a sua sinceridade. o rabino julgou provavelmente que ele contrárias.
havia feito uma observaçáo casual e que. a luz de um ano de es- Por outro lado. o judaismo ortodoxo não reconhece o ca-
tudo e prática do judaismo. aquele vestígio de cristianismo desa- samento de um judeu com uma gentia. e muitos judeus não reli-
pareceria em breve. Noutras palavras. a pessoa falou. o rabino giosos tarnbem experimentam certo mal-estar diante disso. porque
ouviu. mas não houve verdadeira comunicaçao. Deixo aqui o ca- o casamento misto e considerado uma grande ameaça a sobrevi-
so. embora inacabado. acrescentando apenas que. embora certos vkncia da comunidade judaica. Os indices de casamento misto em
judeus encarem a conversio de qualquer cristio gentio ao judais- certas regioes chega a 50% e há sombrias predições de que se isto
mo como algo de fraudulento se o Convertido continuar a acredi- continuar (juntamente com o baixo indice de nascimentos). ri co-
tar em Jesus. outros respeitam quem voluntiria e sinceramente munidade judaica norte-americana passarsi de seis milhões a um
junta o seu destino ao do povo judaico. ainda que conserve a fe milhão no seculo vinte e um. Neste contexto. qualquer casamento
em Yeshua. judeu-gentia é considerado uma contribuição para a catistrofe.
O judaismo messihico tem outro problema com respeito a Ademais. os judeus rnessiànicos ouvem às vezes de judeus
conversão de cristãos gentios por rabinos judeus não-messiinicos. não-messianicos "Voce pode continuar judeu. mas que acontece-
isto é. que se respeitarmos essa conversão estaremos assim reco- í-d aos seus filhos? Criados em ambiente cristão perderá0 a identi-
nhecendo a autoridade desses rabinos não-messiánicos em nossa dade judaica". E antigamente isto constituía uma acusação h-
comunidade. Isto e algo que deve ser debatido e não pressuposto. fuiivel. Esperemos que. com o desenvolvimento da comunidade
ante de ser feito. judaico-messiluiica. seremos capazes de pelo menos ultrapassar
Em principio não hi motivo pelo qual o judaismo messia- esta critica. Mas o casamento misto so torna a tarefa mais dificil.
nico deixe de fazer convers6es. Mas ate que o judaismo messiâni- não facilita!
co tenha uma idas mais clara do que significa ser judeu em am- Existe assimetria entre o marido cristão gentio casado com
bikncia messiánica parece prematuro converter gentios. convidan- mulher judia-messiánica e a mulher crista gentia com marido ju-
do-os a "observar toda a Toruh" (Galatas 5.3) antes de nos mes- deu messianico. Uma vez que a influència da mãe sobre as crian-
mos estarmos certos daquilo que ti "toda a Toruh",compreendida ças pequenas tende a ser mais forte que a do pai. e uma vez que
159
os filhos de mãe judia são judeus pela halakhah,.os filhos podem
Aliança? Contudo não haverá um risco, caso assumam cargos de
ter uma identidade judaica mais vigorosa Mas. sendo a vida e o
autoridade, ou se reúnam em grande número a congregações ju-
ministbrio da familia com mais frequencia determinados pelo pai.
deu-messiânicas, de comprometer o testemunho judaico? Mas será
tenderão a orientar-se para os gentios - exceto no raro caso de um
homem cristão gentio que realmente deseja se envolver com o ju- correta esta consideração? Quem sabe devam ser pastores e auto-
daísmo messiiinico. O marido judeu messiinico e a mulher gentia ridades apenas temporariamente, até que se forme uma liderança
crista. na maioria dos casos. se envolverão com o estilo de vida judeu-messiânica? Existe a tendência entre cidadãos gentios, em
do judaísmo messihico. determinado pelo marido; mas os filhos
tal situação, de se apegar por tempo excessivo à liderança? - e
neste caso, isto é um simples exemplo da "síndrome rnissionária"
serao educados com menor conhecimento do judaísmo. a menos
encontrada no mundo inteiro, na verdade uma espécie de colonia-
que o marido tome parte ativa na educação dos filhos. E claro que
lismo que sufoca e irrita o desenvolvimento local? Alguém ex-
ha muitas exceções para estas generalizações.
pressou a opinião de que os cristãos gentios deveriam estar dis-
Resumindo. com relação ao casamento misto (outro assunto
poníveis, não no alto; servindo os judeus messiânicos, não dizen-
delicado!) como pesaria a huzalíhuh da Nova Aliança as varias do-lhes o que devem fazer. Mas ta1 atitude parece distante das
reivindicações de judeus. gentios. do judaismo-messianico. do ca- Escrituras, pois todos nós devemos servir uns aos outros.
sal e de sinas famlias - para não falar em Deus?
d. A Legislaçiio das Prdticas Judaicas raas
c. Casamento Misto Entre Cristãos Gentios e Reuniaes Judeu- M essiânicas
Judeus-Messiânicos
As congregações fazem, às vezes, exigemias aos seus
Surgem diversas questões interessantes no relacionamento membros. Numa congregação judeu-messiânica, alguns desses re-
entre cristãos gentios e judeus messiânicos em congregações ju- quisitos talvez sejam adotar determinadas práticas judaicas. De-
deus-messianicas. vem as práticas judaicas legisladas por uma congregação ser exi-
Voltemos ao fato de que judeus e gentios são iguais diante gidas tanto de judeus como de gentios? Isto será judaizar, o que é
do Messias. A questão é saber se esta igualdade deve ser expressa proibido nas escritura^?^^ Ou os cristãos gentios numa congrega-
em toda atividade congrecional judeu-messiânica. Por exemplo: ção judeu-messiânica - ainda que constituam maioria - concor-
deve-se confiar a um cristão gentio a leitura de um Aliyah (con- dam implicitamente em obedecer aos padrões judeu-messiânicos?
vocação) tirada do rolo da Torah numa sinagoga messiânica? O E que dizer de práticas não oficialmente "Iegisladas", mas enten-
princípio de igualdade diria sim, mas a judaicidade da leitura do didas por todos como "é assim que fazemos as coisas por aqui"?
rolo da Torah talvez diga não. O fato de as exigências da Torah Como exemplo específico, que dizer da circuncisão de fiéis
sob a Nova Aliança serem diversas para judeus e gentios pode gentios numa congregação judeu-messiânica? Seria apenas para
conduzir ao resultado de que os gentios não se vejam envolvidos crianças? Caso seja também para os adultos só pode significar
especificamente em atividades judaicas. No entanto, o princípio conversão ao judaísmo - a respeito do que falamos acima. Se be-
da igualdade (nada de muro intermediário, nada de cidadãos de bês gentios forem circuncidados, a mesma cerimônia seria usada
segunda classe no Reino) poderia ditar que ele (ou ela, segundo o para um bebê judeu-messiânico, incIusive a colocaçáo sob a
padrão do judaísmo conservador) tenha esta permissão. aliança de Abraiio? Creio que não.
Devem os cristãos gentios ser autoridades nas congrega- Os gentios cristãos devem envolver-se nas decisões relati-
ções judeu-messihicas? Pergunta mais exigente: existem ou não vas às práticas-que deverão ser seguidas por uma congregação ju-
fundamentos nas Escritiaras parta excluí-los? Na verdade, exccluí- deu-messiânica? Parece estranho que gentios digam a judeus o
10s não lesaria a unidade de judeus e gentios sob a Nova Aliança, que devem fazer como judeus, mas a igualdade deve ser preser-
uma vez que a autoridade é especificamente um mandato da Nova vada e evitada a discriminação.
Até que ponto podem ou deveriam membros gentios das humana. Foi Deus, e não a comunidade judaica, que nos fez ju-
congregações judeu-messiânicas imitar ou assumir por escolha deus, de modo que falta à comunidade judaica autoridade e poder
práticas judaicas? Devem usar kippot? tallitot? tzitzivot? deitar para nos impedir de ser um ramo do judaísmo se é isso o que de-
tefilin? Minha reação íntima é que seria estranho vê-los agir as- sejamos.
sim. Que significa gentios fazendo tais coisas? Que significaria se b. O Respeito da Estrutura da Comunidade Jtldaica
cristãos gentios, em congregações gentias, começassem a agir as-
sim? Que significa judeus messiânicos agirem assim? Quando é Que devem fazer os judeus messiânicos em relação à es-
que judeus não-messiânicos assim agem? trutura comunitária judaica institucionalmente organizada, isto é,
o United Jewish Appeal, centros comunitários judaicos, filantro-
e. Maneiras Pelas Quais os Cristúos Gentios Podem Ajudar o pias judaicas, organizações sionistas? Pode apoiá-los o judaísmo
Judaismo M essiânico messiânico? Deve apoiá-las? Como? Quando? A que condições
Os cristãos gentios, inclusive aqueles não diretamente en- deveríamos submeter-nos e quais a que naio deveríamos? Encon-
volvidos no movimento judeu-messiânico, podem contribuir para tramo-nos às vezes neste impasse: queremos ser puros, não condi-
o movimento. Como? Na organização, com pessoal, e financeira- cionar nosso apoio a um quid pro qtro da comunidade judaica -
mente; ensinando; corrigindo a teologia cristã dos gentios e a tal como a permissão de manifestarmos publicamente a nossa fi?.
ideologia à luz do judaísmo mssiânico; aconselhando, incenti- Par outro lado, deveríamos concordar em manter silêncio? "Se
vando e ajudando aos que procuram criar a teologia judeu-mes- não me confessardes diante dos homens, eu não os confessarei
siânica e prriticas diversas das geralmente encontradas na Igreja; diante do meu Pai do Mas se consentirmos em silenciar
evangelizando os judeus nãemessiânicos; estudando mais a cul- estaxmos permitindo que usem de n6s? Caso positivo, isto é
tura judaica, o judaísmo e as raízes judaicas do cristianismo - e mau? E assim por diante.
incentivando os judeus messiânicos a ministrar junto a Igreja. c. Comportamento de Judeus Messiânicos em
Ambiência Judaica Não-Messiânica
7. Judaísmo Messiânico e a Comunidade Judaica
Encarreguei uma pessoa de tricotar vários kippot com a
a . Pode o judakrmo messiâaico Ser o Quinto Ramo inscrição "Yeshua HaMashiach" e os uso nas ruas de Jerusalém
, do judaimo? e nas reuniões da minha congregação. Uma vez, sem refletir
E queremos ser? Há quem queira, outros estão satisfeitos muito no assunto, compareci com um deles a um bar-rnitzvah
com uma atitude mais separatista em relação à comunidade judai- messiânico no Kotel (o Muro das Lamentações) e eIe atraiu aten-
ca não-salva. A idéia de sermos um ramo do judaísmo infringe ção desfavorável de alguns judeus ortodoxos, um dos quais arran-
cânones do Novo Testamento? Se os círculos sobrepostos das Fi- cou-o da minha cabeça e o queimou. A princípio fiquei zangado e
guras 3 e 5F são o nosso modelo, a resposta é: Não, porque não persegui-o, mas (com alguma ajuda dos meus amigos) lembrei-me
deixamos o círculo messiânico quando nos denominamos um ra- de que a área do Kotel é oficialmente considerada uma sinagoga -
mo do judaísmo. A Igreja protestará? Certas facções, não; outras, e, na verdade, não apenas uma sinagoga qualquer, e sim a mais
que compreendem menos o judaísmo messiânico, objetarão. O ju- santa do mundo. Em tal lugar a lei religiosa está em vigor com
daísmo organizado levantará objeções? Sem dúvida alguma; farão a lei do Estado de Israel e, uma vez que a halakhuh tem prova-
todo o possível para nos deter a cada passo do caminho. Neste velmente algo a dizer a respeito de um Yeshua kippah, pareceu-
caso, em que sentido o judaísmo messiânico seria o quinto ramo e me sensato abrandar a questão e voltar ao bar-rnitzvuh (alguém
não a quinta engrenagem? Resposta: no sentido escriturístico, me emprestou um yamulkz mais convencional). Após contar essa
pois a Escritura não pode ser modificada por simples oposição história a respeito de mim mesmo direi que, via de regra, não crio
problemas em sinagogas e nio o recomendo; é melhor acompa- cidade do Novo Testamento; e o papel do Estado de Israel (ler
nhar os cânones de comportamento usuais, rezar, orar, aprender mais a respeito no capítulo VII).
e deixar que o Espírito reveIe oportunidades de evangelização
pessoal. f. O Imperativo Evangelístico
Contudo, continuo a usar um Yeshua kippah em ambientes Não importa o que se diga a respeito do nosso relaciona-
não-religiosos, onde, é claro, ele desperta interesse e incentiva i &nto com a comunidade judaica - o judaísmo messiânico não
boa conversação. Suponho que a chave é gerar interesse no Mes- pode jamais ignorar o imperativo da evangelização. De um lado,
sias Yeshua - e isto pode incluir interesse desfavorável, em geral nosso amor e ajuda são genuínos e não apenas meio para atingir
melhor do que nada - sem vioIar os padrões legais, morais, ou um fim;de outro, nosso desejo de levar as pessoas à salvação é,
éticos. A organização ''Judeus para Jesus" vem se mantendo na em si, uma expressão do nosso amor. O equilíírio é delicado; no
linha de frente do pioneirismo na arte de tornar Yeshua conhecido final somente Deus, que conhece os nossos corações, é capaz de
de um publico que ainda não está especialmente interessado em julgar a nossa honestidade e integridade.
ouvir a seu respeito, sem violar os mencionados limites legais,
morais e éticos. 8. Conclusão: Torah! Torah! Torah!
d , Em Que Tipo de Juduísmo Deve o Judaísmo Messiânico O que escrevi aqui não soa como o escrito de um rabino
Buscar os Seus Padrões? discorrendo sobre a halakhah. Contudo, escrevendo sobre as
questões da hulakhah tão bem quanto me é possível, espero esti-
Talvez haja puristas que digam: Em nenhum. Devemos mular outras pessoas a manifestarem suas idéias relativas a estes
elaborar nossos padrões. Ou: devemos buscar em Deus os nossos assuntos. Pois a chave para a uniáo dos wninhos da Igreja e da
padrões. Mas não vivemos isolados. O judaísmo não é simples- Sinagoga é o papel da Lei. Nosso brado de convocação deve ser
mente o que quer que um grupo de judeus decida fazer. Devemos Torah! Torah! Torah! entendido no Espírito do Messias.
buscar no judaísmo da uiáspora, no de Israel, no rabínico, no se- Mas o Espírito do ~ e s s i a és o Espírito de Santidade. Sem
cular, no Yiddishit étnico (que teve origem na Diáspora)? Ou santidade' o Judaísmo Messiânico fracassará totalmente. Para isto
devemos elaborar um judaísmo baseado somente na B&lia? Isto já nos voltaremos agora.
foi debatido.74 Em número recente de The Hebrew Cristian, o
crente judeu israelense Baruch Maoz assinou um artigo intitulado
"Como Devemos Festejar a Pásc0a",7~ no qual sugeriu várias 1 Consultar W.D. Davies, Paul and Rabbinic Judaism, 4a ed. (Filadélfia,
práticas novas; algumas revelam-se bastante expressivas, mas são Fortress Press, 1980); Daniel P. Fuiier, Gospel and Law: Contrast or
Continuum? (Grand Rapids, Michigan: Eerdrnans, 1980); Hans Hueb-
tão diversas das costumeiras que somos obrigados a perguntar: ner, Law in Paul's Thought (Edinburgo, T&T CIark, 1984); Jacob Jer-
elas nos isolariam daquilo que os outros judeus reconhecem como vell, The Unknown Paul (Mineápolis, Augsburg Press, 1984); E.P.
judaico? Ou podemos esperar introduzir os nossos costumes no Sanders, Paul, the Law, and Jewish Peopb (Filadélfia, Fortress Press,
mundo, de modo que sejam compreendidos e apreciados? E o que 1983); E.P. Sanders, Paul and Palestinian Judaism (Londres, SCM
resta verificar. Press, Ltd., 1977); 'Gerard S. Sloyan, Is Christ lhe End of lhe Law?
(Filadilfia, Westminster Press, 1978); Clark M. Williamson, Has God
e . Tópicos de Especial Interesse Para a Comunidade Judaica Rejected His People? (Nashville, Tennessee, Abingdon, 1982).
2 Os seis versículos seguintes de Romanos introduzem outra questão
Entre os tópicos que o judaísmo messiânico deveria explo- ofuscada pelos tradutores. A conhecida Versão do Rei Jaime serve
rar e que seriam de especial interesse para a comunidade judaica tanto quanto qualquer outra para demonstrar o problema. Romanos
estão: o Holocausto; o anti-semitismo no cristianismo e no ju- 10,5 menciona "a justiça que vem da.IeiV; e o versículo 6 principia
"Mas a justiça que vem da fé ..." Toda tradução de que tenho conheci-
daísmo messiânico e não-messiânico (Ódio de si mesmo); a judai- mento, traduzindo a primeira palavra do versículo 6 (grego de) como
"mas" parece sugerir a existência de duas maneiras diversas e con-
trastantes de alcançar a justiça. Os teólogos encaram este "mas" como 8 Foi o inimigo (Satanás) quem introduziu este preconceito contra os ju-
um vigoroso adversativo, significando "pelo contrário", e somos assim deus na Igreja. Ele detesta os judeus com eterna fúria porque Deus de-
levados por um caminho enganoso a considerar mã "a justiça que vem cidiu agir na história atravbs deles. Mas Satanás só pode entrar onde
da lei" e boa a "justiça que vem da fé". Daí em diante estamos a um não existe defesa contra ele Wattityahu (Mateus) I2,43-43). Ler ainda
passo de considerar má a Torah e bom o Evangelho. Apêndice, seçáo C-2, e o parágrafo sobre "anti-semitismo incons-
Mas a língua grega tem urna palavra diferente, alla, para "pelo contrá- ciente, ou latente", no Capítulo 111, Parte E-4.
rio''. A palavra de usada aqui, é mais fraca; pode ser traduzida como 9 Halakhah significa, literalmente, "maneira de caminhar", mas depen-
"e", "também', "além disso', sugerindo que o que se segue continua o dendo do contexto pode transmitir seja o sentido mais amplo, "modo
pensamento anterior e não contrasta com ele. Ou pode significar de viver segundo a "Torah", ou o sentido mais estrito, "a regra a ser
"mas" no sentido de limitar a declaração anterior, de preferência a seguida" numa situação determinada. Em discurso judaico, quando se
contratá-la. De qualquer modo, só existe um meio que se alcançar a fala em "a halakhah" vem mente toda a estrutura da vida judaica
justiça, e não dois. Sha'ul afirma que a justiça, que de fato vem quando vista de determinada ótica. Há vezes em que a intenção é saber o per-
se observa a Torah (v.5), só é alcançada se a pessoa tem fé (w.6-8). mitido e o proibido pela lei judaica; contudo, muitas vezes a preocupa-
(Ele afirmou o mesmo, versículo acima, em Romanos 9,30-32). ção não é "legal", mas simplesmente relacionada com a busca de quais
E altamente significativo que eIe retire sua evidência da Torah - Leví- serão os costumes, e talvez do motivo de serem como são. A expressão
rico 18,5 no verstcub 5 e Deuteronômio 30,11-14, nos versículos 6-8 - "a hulakhah" tem conotaçáo com o povo judaico no decorrer de sécu-
demonstrando que a própria Torah obriga à fé, a fim de alcançar a 10s e se expressa atravis de judeus comuns consultando seus rabinos
justiça. Se houvesse duas maneiras de alcançar a justiça, uma na Torah a f i de aprenderem mais a respeito de como Deus deseja que eles vi-
e outra no Evangelho, ele seria cdpado de citar a Torah contra ela vam.
mesma. Mas nunca, em qualquer dos seus escritos, Sha'ul demonstra 10 ProvBrbios 4,2 e 3,18 citados no Siddur (Iivro de oraçiies judaico) e re-
uma parte da BíbIia inconsistente com outra. citados na sinagoga depois da leitura púbiica da Torah).
Aqui está o que ensina Romanos 10,5. A justiça que vem da lei diz que 11 Ler Capitulo 111, seção B-4.
aquele que "age assim", aquele que faz o que Deus ordena, alcançará a 12 Atos 21,22. Estas palavras expressavam uma falsa acusação contra
vida assim agindo (v.5). Mas essa mesma justiça que "vem da lei" deve Paulo.
tarnbgrn, necessariamente, vir "da fé" para ser eficaz (vv.6-8) "Agir 13 Solomon Ganzfield, Code of the Jewish Law (Nova Iorque, Hebrew
assim, legalisticamente, jamais será garantia de vida eterna. Somente Pubiishing Company, Nova Iorque, 1961).
quando a obediência aos mandamentos de Deus na Torah estiver fun- 14 Se isto argumenta ou não a favor da obediência compulsória à Torah, a
damentada no tipo de fíel confiança que não exige subir ao céu, ou perspectiva de ser considerado o menor no Reino dos Céus deveria
atravessar os mares para trazer o Messias (uma vez que estes são es- dissuadir líderes cristãos e judeus-messiânicos de ensinarem publica-
forços pessoais legalísticos para alcançar a justiça). mas limita-se a es- mente a desobediência à Torah.
perar que Deus o envie e o reconhece agora que ele veio (w.9-10) a 15 Mattityahu (Mateus) 23,23, Jewish New Testament.
salvação estarã assegurada. 16 Para debate mais amplo consultar seção B-5 abaixo.
Sou grato a um antigo professor meu, DanieI P. Fuller (op.ciz. na nota 17 2 Coríntios 3,6.
1 acima, especiaImente o Capitulo 4, "Paul's View of the Law") por 18 Ler seção A-2-b acima.
estas instituições, mas não alego que ele concordaria com a minha for- 19 Isto fica bem claro no confissZo citada no Capítulo 111,seção B-4.
mulação. 20 Efésios 2,ll-16.
3 C.E.B. Cranfield, "St. Paul and the Law", no Scottish Jourml of 21 Como, por exemplo, no Sermão da Montanha (Mattityahu Wateus)
Theology (1964), pp. 43-68. 5-7); ler debate de Mattityahu 5,17 no Capítulo IV, seção E-4-c.
4 C.E.B. Cranfield, Romanr (laterrian'onal Critica1 Commentary) (Edin- 22 Yochana (João) 14,15; mitzvot significa "mandamentos".
burgo, T.& T. Clark, Ltd., 1981) volume 2, PP. 845-OG2. 23 Judeus Messiânicos (Hebreus) 8,6; ler seção A-2-d acima.
5 Ibid., p. 853. 24 Mattityahu (Mateus) 18,18-20; ler seçáo 3 - 5 adiante.
6 Sha'ul já mencionou os judeus em I Coríntios 9,20; "aqueles sob a Iei" 25 Judeus Messihicos (Hebreus) 7,12; ler Capitulo IV, seção E-1-b.
são outra categoria, isto é, gentios judaizados. Ler minhas notas relati- 26 Ler seçáo C-2 adiante.
vas a este versículo no Jewish New Testanaent (op. cit., no cap, 11, nota 27 Gálatas 6,2.
20). 28 Romanos 13,8-10, Gálatas 5,I4.
7 Capítulo IV, Seçáo E-4-c. 29 Gálatas 1,6-9.
30 Mattityahu (Mateus) 15,S ss., Marcos 7.3 SS.
166
167
52 Êxodo 35,3.
31 Pirkey-Avot 1,l. 53 Marcos 2,77.
32 Marcos 7,8- 13. 54 1 Coríntios 1,2, Judeus Messiânicos (Hebreus) 13,12, Romanos 15,16.
33 Saul Kaatz, Muendliche Lehp und'lhr Dogrna, Berlirn, 1923, p. 48, 55 Êxodo 19,l ss., Atos, 2,l ss.
conforme citado em George Horowitz, The Spirit of the Jewish Law, 56 Victor Buksbazen, The Gospel in the Feasts of Israel (West Collings-
(Nova Iorque, Central Book Company, 1973), p.92. wood, Nova Jersey, The Spearhead Press, 1954).
34 Mattityahu (Mateus) I8,lX -20, Jewish New Testament. 57 Martha Zirnmerman: Celebrate the Feasts (Minneapolis, Bethany
35 Minyan B o quorum suficiente para orações públicas, dez no judaísmo House, 1981).
tradicional. 58 Ler seção C-6-d abaixo.
36 Get é essencialmente aquilo que o Tanakh e o Novo Testamento cha- 59 Y a'akov (Tiago) 1,1, Jewish New Testament.
mam de "decreto de divórcio";'ver Deuteronômio 24,l-4, Mattityahu 60 1 Coríntios 14,23.
(Mateus) 19,3-9. 61 Isto parece bem cIaro em Atos 20,7-1 I, onde a igreja de Troas se reu-
37 Um debate do problema da agunah na Encyclopedia Judaica, vol. 2, niu no "primeiro dia da semana", ao anoitecer, presurnivelmente ao
pp. 429-433. crepúsculo do dia de repouso judaico, e Pau10 permaneceu atB o dia se-
38 Romanos 8,9. guinte. Isto parece mais provável do que a idéia de que os crentes ju-
39 2 Coríntios 3,6. deus do corpo local se dispersariam para seus locais de trabalho por um
40 I Coríntios 2,16: "N6s, porém, temos o pensamento do Messias". dia, voltando a reunir-se na noite de sa%ado.
41 Encyclopedia Judaica (Jerusalém, Keter Publishing House, Ltd., 62 Arnold Fruchtenbaum, "The Quest for a Messianic Theology: State-
1971), vol. 12, p. 1189. ment" and David H. Stern, "Response" em M i s h n , No-2 (Inverno,
42 Atos 21,20, Jewish New Tesrament. 1985), pp. 1-23. A citação é da p.22.
43 Ler 1 Corhtios 11,S-16, 14,34-36; Efésios 5,22,6-9; Colossenses 63 Ler Cap. 11, seção B-3.
3,18,4,1; 1 Tim6teo 3,l-13, 5,3-16; Judeus Messiânicos (Hebreus) 64 A ~ O15,l-29.
S
I3,7,7; 1 Kefa (I Pedro) 3,I-7. 65 1 Coríntios 7,17-20, Jewish New Testanaent.
44 Atos 15,21. 66 Gálatas 5,l-6, Jewish New T e s t m n r .
45 Finnis Jennings Dake, Dake's Annotated Referente Bible Lawrence- 67 Michael Wyschogrond, "Judaism and Evangelical Chrimsnanity",em
ville Georgia; Dake Bible SaIes, Inc., 1961), New Testament, pp. 313- Marc H . Tanenbaum, Marvin R. WiIson e A. J m e s Rudin, Evangelicals
316. and Jews in Conversation (Grand Rapids, Michigan, Baker Book
46 Ler debate desta passagem na seção B-5 acima. House, 1978), pp. 34-52.
47 Ler Marcos 7,2-5. .68 David Berger e Michael Wyschogrod (op. cit. em Capítulo IV, nota
48 Marcos 7,19. 55).
49 Material sobre o assunto nas minhas notas sobre os Gaatas 2,ll-14 no 69 Kuth Rabbah 2,16, Yevamot 47a-47b.
Jewish New Testament. 70 Mattityahu (Mateus) 23,15.
50 Ler (atribuído a) Rabino Aaron HaLevi de Barcelona (Charles Wen- 71 Josephus, Antiquities of lhe Jews, 20, 2,3-4; Encyclopedia Judaica,
grov, tradutor), Sefer HaHinnuch (Jerusalém & Nova Iorque, Fel- Volume I, pp. 267-268,924; comparar com Genesis Rahbah 46,IO.
dheim Publishers, 1978); Gersion Appel, A Philosophy of Mitzvot (No- 72 Gálatas 2,11-21.
*
va Iorque, Ktav Publishing House, 1975); Abraham P. Bloch, The Bi- 73 Lucas 12,9.
blical and Historical Background of Jewish Customs and Ceremonies 74 Ler seção B-2 acima.
(Nova Iorque, Ktav Publishing House, 1980); Abraham Chill, The 75 Bamch Maoz, "Como Dev~mosFestejar a Páscoa", The Hebrew
Mikvot : the Commandments and Their Rationale (Nova Iorque, Bloch Christian, Volume 60, Número 1 (Março-Maio de 1987) pp. 14-24.
Publishing Co., 1974); Abraham ChilI, The Mirzhagim : The Customs
and Ceremonies of Judaism, Their Origins and Rationule (Nova Ior-
que, Sepher-Hermon Press, 1979); Alfred J. Kolatch, The Jewish Book
of Why (Middle VilIage, Nova Iorque, Jonathan David Publishers,
1981); Alfred J. Kolatch, The Second Jewish Book of Why (Middle
Village, Nova Iorque, Jonathan David Publishers, 1985); Abraham I.
Sperling, Reasons for Jewish Custom and Traditions (Nova Iorque,
Bloch Publishing Co., 1968).
51 Seção C-5-f.
168
SANTIDADE

A. O PESO DA SANTIDADE

O elemento mais importante na visão judeu-messiânica é a


santidade. Não a auto-justificação, não a atitude c'mais-santo-que-
os-ouiros", e sim "a santidade, sem a qual ninguém verá o Se-
nhor"'. Meu capitulo a respeito é um dos mais breves, mas com-
paro a santidade com os dois Últimos versiculos do Eclesiastes,
onde o Pregador escreve:
"Em conclusão, tudo bem entendido, teme a Deus e
observa seus preceitos! Isto é o que significa ser
humano. Pois Deus julgará todas as ações - mesmo
as mais ocultas - sejam boas ou más".
O klesiastes é como uma gangorra mal equiIibrada, com
uma pedra pesada no lado curto, mais que compensando os pesos
leves da extremidade mais longa. O Pregador fez planos maravi-
lhosos, obras extraordinárias, exerceu grande sabedoria e con-
cluiu, no entanto, que tudo era vaidade, esforço vão, quando rea-
lizado sem o temor de Deus e de seu julgamento, sem a observân-
cia dos seus mandamentos.
O mesmo ocorre com esta ou qualquer outra visão do ju-
daísmo messiânico. Aprecio o epigrama de Herzl que inspirou o
movimento sionista: "Se você o deseja niio é um sonho". Mas, no
caso do judaísmo messiânico, não basta sonhar ou desejar. A me-
nos que tenhamos a visão de Deus, nossos sonhos e desejos são
meros esforços vãos. Na busca das metas do judaísmo messiânico
a santidade transcende todos os sonhos, esforços e ambições.
B. PLANEIAMENTO VERSUS SANTIDADE? 4 disciplinar os outros; trabalhar numa congregação local; amar a

No capítulo final exporei um esboço de plano de ação, in-


clusive metas para o judaísmo messiânico e indicações para a ma-
neira de alcançá-las. Direi que precisamos deste e daquele pro-
grama, desta e daquela pesquisa, de tais e tais livros e materiais,
I
\
I
Deus e ao próximo e não amar ao mundo - exceto à maneira de
Deus, que "amou a tal ponto o mundo que entregou seu único
Filho para que todos os'que nele confiam tenham a vida eterna,
em vez de se condenarem ~ompletamente".~Devemos evitar
preocupações egoístas, orgulho, métodos da carne, abuso de po-
locais e sedes. organizações, instituições e pessoal. Mas precisa- der; devemos deixar de lado as nossas diferenças, colocar o pró-
mos realmente de tudo isto? Ou precisaremos viver uma vida ximo acima de nós mesmos; devemos concretizar na terra a uni-
santa, temente a Deus e obediente aos seus mandamentos? dade que já é nossa no céu; devemos, peIa fé, fazer as boas obras
Não é uma boa pergunta. Estabeleci uma falsa dicotomia, ! que Deus preparou para que nós as fizéssemos; devemos nos
colocando duas alternativas em oposição, como se se excluissem manter próximos de Deus.
mutuamente. Isso nZio é exato. Santidade e planejamento podem 2. Santidade Interpessoal
caminhar lado a Iado, conforme se tornou claro para o autor do
livro intitulado Gud's Purpose, Man's ~1an.s~(Desígnios de Eu a denomino santidade interpessoal, o Novo Testamento
Deus, Planos do Homem). a charaia de amar o irmão,6 e a comunidade judaica diz que isto é
A Santidade significa fazer tudo na vida no temor de Deus ser pnentsh. A palavra vem do alemão Mensch (homem), mas um
e na obediência aos seus mandamentos. Isto inclui planejar, pro- meatsh - homem ou mulher - é mais do que apenas horno sa-
gramar, construir, administrar, pesquisar, escrever, trabalhar, di- 4
1I
piem; rnentsh é uma pessoa real, aquilo que um ser humano deve
vertir-se ... Há momentos em que fica claro que a pessoa deve ser, reto, ético, interessado, manso no momento certo e f m e
afastar-se da agitação da atividade diária e "servir ao Senhor", quando deve ser firme, como no "Se" de Rudyard Kipling:
conforme aprendemos na vida de Yeshua, Elias, Moisés, e José, "Se puderes manter o sangue frio quando todos ao
entre outros. Mas esses retiros nos preparam para avanços. A Bí- teu redor
blia ensina que o progresso vem em conjunção com planejamento )j= O perderam, culpando-o por isso,
humano e participação voluntária, não passiva indecisão. O pla- Se puderes (segue-se uma longa reiação de traços de
nejamento deve ser feito com a disposição para deixar o plano de um caráter nobre).
lado, a fim de seguir a instrução imediata de Deus - adoramos a Então o mundo é teu, com tudo o que ele contém, '
Deus, não ao plano. Mas quando não ouvimos tal instrução se- E mais ainda: então serás wn "homem", um mentsh,
guimos o plano. A bênção de Deus pode vir de maneira não rela- . meu filho".
cionada com o plano, mas o planejamento em si terá sido feito em Ser mentsh significa também entender-se com,os outros,
-+..
.?*-

obediência a Deus. a. s
p e r m i t i r ~ u ~ ~ d o i ã t n n a re iaiE%Eias
C--...e.-*-, práticas
@-imo! a: >??asw próprias opiniões e*&@- 55'11 11 co-
tratamós
C. TRÊS NÍVEIS DE SANTIDADE mo irmãos e umás aqueles de quem discodamos.
~onsidere&os,por exemplo, o rm~hiientocarismático, um
1. Santidade Individual s u b p p o multidenominacional. Há judeus messiânicos de ambos
Santidade individual é amar a Deus de todo o coração, de os lados da questão carisrnática. Em minha experiência, carismá-
toda a alma e de todas as forças.4 Outros escreveram tão bem so- ticos e não-&smtíticos podem entender-se bem uns com os ou-
bre a santidade na vi& particular que nada tenho a acrescentar. tros, mas anti-carismáticos e hiper-carismáticos geram problemas.
Devemos orar, arrepender-nos, perdoar; entregar-nos a Deus e Que quero dizer com isso? Os carismáticos ztfjümam que os dons
uns aos outros, e à divuIgação do evangelho; ser disciplinado a do Espírito Santo7 são manifestados hoje no Corpo do Messias,
conforme prometido na Bíblia, e dizem que estão vivendo esta são de que nos Últimos anos o movimento judeu-messiânico ama-
experiência. Os não-carismáticos acreditam em geral que os dons dureceu, e seus líderes tornaram-se mais inclinados a se aproxi-
são reais, mas náo se manifestam da maneira como alegam os ca- marem uns dos outros com deto, para solucionarem as suas dife-
rismáticos, e dizem que as experiências podem vir de Deus, mas renças. Há um longo caminho a percorrer, mas tendo o Messias
náo são idênticas aos dons que Deus distribuiu no primeiro sécu- por modelo continuaremos a competir com resistência no páreo
lo. Os dois discordam, mas respeitam-se. Prestam culto em con- que se acha à nossa frente.
junto, em cerimônia catismática ou não-carismática, contanto que 8 Uma visão comum e uma comum percepção dos perigos
cada qual observe a ordem prevalente na reunião. Os anti-caris- com que se defrontam os judeus messiânicos podem ajudar a nos
máticos consideram ofensivos as atitudes, fenômenos e doutrinas unir. Tenho esperança de que este Iivro contribuirá para tal uni-
carismáticas, não oriundos de Deus, e não os suportam. Os hiper- dade, mas tenho também consciência de que uma obra desta espé-
carismáticos, tratam, de fato, qualquer pessoa que não seja caris- cie pode ser facilmente utilizada a serviço tanto da divisão quanto
mática como um cristão inferior, ou alguém que talvez nem se- da expressão da unidade de pensamento e corasão. Assim, en-
quer esteja salvo. Ambos manifestam em geral suas opiniões de quanto escrevo, oro para que isto não aconteça e nos rnantenha-
modo tão vigoroso e incisivo que os outros precisam usar de mos junto de Deus e, através dele, unidos uns aos outros.
muita paciência para suportar sua companhia. A santidade implica 3. Santidade Comunitária
em que ambos tenham uma doutrina cometa e sejam capazes de se
entender com os irmãos, mas um conflito tão agudo dificulta a Cada um de nós é, na verdade, singularmente unido a
santidade! Talvez não possa ser de modo diverso e não deva ser - Deus, mas somos coletivamente um Corpo e individualmente
para que confiemos cm que a graça de Deus nos conduzirá à har- - membros desse Corpo.I2 Nossa santidade deve expressar-se cor-
monia, amoldando-nos cada vez mais aos padrões de Yeshua. porativamente, de modo que nos destaque como uma comunidade
O movimento do judaísmo messiânico está dividido nesta diversa das comunidades organizadas à maneira do mundo. Santi-
questão e também pelas tensões entre judeus messiânicos (num dade em grupo implica açáo social, testemunho evangélico e, co-
sentido restrito) e cristãos hebreus, assim como por lealdades con- mo comunidade, a permanência junto de Deus.
flitante~.~Em todas essas áreas estudo e paciência são necessh- D. SER SANTO IMPLICA SER SALVO - e
rios. E mais ainda: não devemos permitir que estas diferenças nos VICE-VERSA
afastem uns dos outros. Yeshua orou para que fôssemos um9. E
fácil nos unirmos àqueles com quem concordamos, mas o verda- Somente as pessoas salvas podem ser santas. Ninguém é
deiro milagre acontece quando podemos sentir genuíno amor por salvo do pecado e de suas conseqüências, a eterna separação de
aqueles de quem discordamos, o que nos permite trabalhar com Deus, separado de Yeshua, o Messias. Mas os padrões foram
eles harmoniosamente. Isto é possível através de Yeshua: "Estou abaixados - não os de Deus e sim os humanos. Muita gente pensa
convosco sempre"10 - convosco, plural, - mesmo quando discor- que renasceu quando isto não é exato. Esta é a realidade: podem-
dam uns dos outros. se viver experiências extraordinárias, sobrenaturais e ainda assim
Na verdade, a maioria dos conflitos existentes no movi- não se salvar. Pode-se ser rniracuIosamente curado de uma doença
mento judeu-messiânico (e em todos os outros movimentos) não fatal, saber que Deus o curou e ainda assim não se salvar. Pode-
giram em tomo de doutrinas e sim 'de lutas de poder e personali- se ter a experiência da própria presença de Deus e ainda assim
dade. Na epístola aos Gálatas, Paulo relaciona quinze pecados não se salvar.
que excluem a pessoa do Reino de Deus; a maioria reflete mau Nos últimos anos muita gente tem confundido experiências
relacionamento interpessoal - "desavenças, brigas, inveja, ira, e sentimentos com salvação. Os critérios para a salvação estão
ambição egoísta, dissenção, intriga e inveja"". Tenho a impres- claros na Escritura: arrependa-se; aceite a graça de Deus e o seu
174 175
perdão, confiando em Yeshua como Messias, Salvador e Senhor;
reconheça-o publicamente; batize-se; e pelo poder do Espírito sentido o seu amor, atendidas as nossas preces e experimentadas
Santo viva uma santa vida. "Senhor" significa "comandante". as suas curas, sinais e maravilhas, as pessoas se arrependam e se
Quando Yeshua é o Senhor, ele diz o que você deve fazer e você salvem. "E eles (os discípulos de Yeshua) saíram e proclamaram
faz. "Por seus frutos os conhecereis". l 3 (o Evangelho) por toda parte, e o Senhor trabalhava com eles,
A pessoa que não se dedica totalmente a viver uma santa confmando a mensagem por sinais que a ac~mpanhavam".~~
vida não está salva. Isto é o que sigmfica estar salvo. Deus a tor- Uma advertência: nem toda força espiritual vem de Deus.
na justa aos olhos dele (não auto-justificada); isto significa que Embora limitado por Deus, o Inimigo (Satanás) e seus demônios
você está sendo diariamente amoldado à verdadeira imagem do são adversários de Deus no reino espiritual, ofertando sua ma-
próprio Messias. Ele não produz dedicação a meio. Meia santida- ligna espécie de poder. O cerne da nossa fé é o amor. A medida
de não é renascer. Somente as pessoas salvas podem ser santas, que construímos o nosso movimento, incorporamos ou adaptamos
mas somente os santos podem se salvar. elementos do judaísmo não-messiânico e da tradição cristã, que
Enquanto este livro vai sendo impresso, torpes escândalos podem incrementar este cerne de fé e amor, Mas, como o judaís-
e histórias de ambição têm abalado a comunidade cristã dos Esta- mo não-messiânico não é submisso ao Messias Yeshua, e muita
tradição cristã tem origem simplesmente humana, recisamos nos
dos Unidos, envergonhando o Evangelho. S6 pode haver uma
reação nas pessoas genuinamente salvas, o único tipo de pessoas
E
acautelar contra os poderes espirituais das trevas que estão li-
que podem construir um movimento judeu-messiânico - um com- gados a tais sistemas. Quando estudamos o Talmude, por exem-
promisso ainda mais estreito com a "santidade, sem a qual nin- plo, não devemos nos abrir a um espírito de religiosidade, ou de
guém verá o Senhor". legalismo, ou de orgulho étnico, ou a quaIquer outro espírito de-
moníaco que se utilizaria de nosso interesse em expressar o nosso
E. PODER judaísmo para abafar o Espírito Santo, o único que nos pode guiar
"Mas recebereis a força quando o Ruach hidodesh descer para a verdade total. Não podemos permitir que o judaísmo, ou
sobre vós"14. mesmo o movimento do judaismo messi~ico,transforme-se num
Precisamos da força de Deus! Sem ela o judaísmo rnessiâ- ídolo. "Não tereis outros deuses senão a mimy'.2,1
nico estará morto, árido, incapaz de fazer qualquer coisa de útil Concluo este capítulo sobre a santidade, portanto, com uma
no mundo. Corh o poder de Deus, o judaísmo messiânico trans- exortação e advertência final: busquem o poder de Deus, porque
formará a história, ministrando a vida, a santidade, a beleza, o sem ele o movimento do judaísmo messiâniw de nada valerá;
amor, a misericórdia e a justiça de Deus - exatamente como nos contudo, não busquem o poder em si mesmo, ou sequer por causa
tempos do Novo Testamento. do movimento, e sim para a glória de Deus.
Mas como podemos obter esta força? Não focalizando o
poder, mas buscando a Deus! "Buscai primeiro seu senhorio e a 1 Judeus Messiânicos (Hebreus) 12,14.
siia justiça e o mais vos será dado por acréscimo".15 Precisamos 2 Eclesiastes 12,13-14, tradução minha.
buscar ousadamente, com fé, que Deus cumprirá sua promessa do 3 Ed. Dayton, Godys Purpose, Man7s Plans ( ~ i n r o v i a ,Calif6niia,
Espírito Santo para nós, pessoaImente" 16. MARC, rev. ed. 1974).
Poder? "Digo que quem confia em mim fará as obras que 4 Deuteronomio 6,5, Marcos 12,30.
5 Yochanan (João) 3,16, Jewish New Testatment (op. cii. no cap. 11,
eu faço e até - tais como testemunhar o que Deus fez nota 20).
através de Yeshua na história e na vida das pessoas, demonstrm- 6 1 Yochanan (I João) 4,7-21.
do o amor de Deus, orando no Espírito Santo e exercendo os dons 7 Conforme relacionado, por exemplo, em 1 Coríntios 12,29-30.
do Espírito, de modo que quando é percebida a verdade de Deus, 8 Ler cap. VII, seção A-3.
9 Yochanan (João) 17,20-21.
10 Mattityahu (Mateus) 28,20.
11 Gáiatas 5,19-21.
12 1 CorXntios 12,27.
13 Mattityahu (Mateus) 7,16.
14 Atos 1,8, Jewish New Testament.
15 Mattityahu (Mateus) 6,33, Jewish New Testament.
16 1 Coríntios 14,I.
17 Yochanan (João) 14,12. Jewish Wew Testament.
18 Marcos 16,20, k w i i h k - w Testament. C A P ~ ~ Lvn
O
19 Jó 1-2.
20 Ler Gáíatas 3,l-3, Ef6sios 6,IO-18,2 Coríntios 10,3-5.
21 Exodo, 20,3. ' PROGRAMA

Neste esboço de programa de ação para o judaísmo mes-


siânico procurei traçar com pinceladas muito rápidas sobre tela
bastante ampla. Espero não ter deixado muitos pontos em branco.
E me sentirei satisfeito se alguém corrigir o desenho e outros
acrescentarem colorido e textura. Não me sentirei desapontado se
toda a tela precisar ser descartada, cedendo lugar a outra. Estou
certo de que o movimento judeu-messiânico avançará e precisará
ponderar de que modo.

1. Números, Estrutura
Antes de apresentar este programa devo pintar outro qua-
dro, também rápido, do estado atual da Comunidade judeu-mes-
siânica.,
E difícil apresentar números, em parte por causa de pro-
blemas de definição (Quem é judeu? messiânico? Judeu messiâni-
co?)l,e em parte' porque os crentes judeus, embora definidos, são
h vezes difíceis de localizar e relacionar. Nos últimos anos soube
de estimativas em tomo de 50.000- 100.000 para o número de
crentes judeus nos Estados Unidos, mas há quem diga que seriam
menos, e outros, mais. Em Israel talvez haja 1.000-3.000em
25-30 congregações, três a doze das quais são mais ou menos de
orientação judaica. Na Grã-Bretanha, as cifras, segundo soube,
são 3.000- 5.000, e noutros países ocidentais 1/2 a 1% da popula-
ção judaica podem constituir uma boa aproximação. Segundo Ri-
chard Wurmbrand, crente judeu resgatado da Romênia comunista
179
depois de quatorze anos preso por causa de sua fé, existem pelo
menos seis mil crentes judeus em Moscou; por extrapolação, a O que divide os judeus messiânicos entre si? Diferenças
população judaica da Rússia deve ser constituída por várias deze- teológicas podem fazê-lo, tais como a nossa posição relativa ao
nas de milhares de pessoas. Considere simples estimativas todas judaísmo messiânico (no sentido estrito) vs. o cristianismo he-
estas cifras e deixe por isso mesmo. braico; assirnilacionismo vs. judaísmo; congregações judeu-mes-
Existe nos Estados Unidos cerca de uma centena de con- siânicas ou não; carismáticas ou não; doutrinas distintas relativas
gregações de judeus messiânicos, na maioria independentes, al- ao local onde tenhamos estudado, ou às pessoas com quem nos
gumas afiliadas a denominações cristãs. Há missões concentradas associamos; nossa abordagem ao ecumenismo (certos judeus que
na evangelização judaica; algumas patrocinam congregações, ou- tiveram experiência messiânica em ambiência protestante questio-
tras reúnem regularmente seus membros. Há ministérios pelo rá- nam se é possível aos católicos judeus serem irmãos no Senhor);
dio e pela televisão, editoras, escolas e acampamentos associados diferenças a respeito da profecia relativa ao final dos tempos. O
ao nosso movimento. Há muitos crentes judeus em igrejas de remédio é conservar em mente as palavras de Sha'ul (Paulo) :
orientação gentia (mais de 200 numa grande igreja da Califórnia), "Pois agora vemos obscuramente, como através de um es-
e outros virtualmente isolados. Existe uma organização guarda- pelho, mas então veremos face a face. Agora sei em parte; então
chuva para indivíduos judeus messiânicos, a Aliança Judeu-Mes- saberei plenamente, assim como Deus me conhece plenamente"2.
siânica (carismática, independente), a Aliança Internacional das Diferenças em prática e método podem fazê-10. Um irn-
Congregações e Sinagogas Messiânicas (não-oarismática), e um portante judeu messiânico foi, um dia, solicitado a desligar-se de
agrupamento intradenorninacional dentro das Assembléias de uma congregação hebreu-cristã por usar kippah na reunião.
Deus. Crentes judeus divergem com respeito a em que medida e de que
A AIiança Internacional Hebreu-Cristã, fundada em 1925 modo evangelizar os judeus. O remédio é deixar que floresça uma
na Grã-Bretanha, onde conserva a sua sede, tem onze alianças centena de flores, regando-as com a água viva.
nacionais afiliadas - na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos, Ca- I
Lealdades conflitantes, sejam a denominações, congrega-
I
nadá, Argentina, Uruguai, França, Holanda, Suíça, África do Sul ções, organizações para-congregacionais (missões, irmandades,
e Austrália, assim como representantes na Escandinávia e Israel. ministérios), sejam a indivíduos podem fazê-lo. "Sou por
Diversas missões junto aos judeus estão sediadas ali e noutros Sha'ul!" "Sou por Apolo!" "Sou por Kefa!" "Sou pelo Mes-
países. s i a ~ ! "A~ advertência "Não toqueis os ungidos de ~ e u s ! "é ~com
2. O Que Nos Une frequência sinal de perigo para quem está em busca do poder. O
remédio está em Filipenses 2,4 : "Cada qual tenha em vista não os
O que nos une, a nós, judeus messiânicos, é estarmos com- I seus próprios interesses e sim os dos outros" e versículos se-
prometidos com Deus, com Messias Yeshua e com o seu Santo pintes.
Espírito em nós; sermos parte do seu Corpo, a Comunidade Mes- I Finalmente, o isolamento pode fazê-lo. Um grupo retira-se
siânica, irmãos em espírito de todos os judeus messiânicos e gen- da praça e da luta espiritual refugiando-se em chavões piedosos,
tios cristãos; sermos judeus, irmãos de sangue de todos os judeus no seu pequeno território protegido, fragmentando o nosso movi-
messiânicos e não-messiânicos; estarmos empenhados na evange- mento e nos privando uns dos outros. O remédio é "Sede fortes e
lização em geral, e a do povo judaico em particular, suportando CO~~~~SOS!"~ -,
em comum uma parcela de tensão, assim como de fratemidade no
relacionamento tanto com a Igreja quanto com a comunidade ju-
daica; e termos o sentido do nosso futuro (para qual este livro
pretende contribuir). I A palavra que uso para o planejamento restrito pela teolo-

180
gia é "Programática". Com isso refiro-me à disciplina teológica O judaísmo messiânico é singular. Nenhuma outra comuni-
que estabelece um programa para todo ou parte do Corpo do Mes- clulc se acha em posição de mediar entre, e ao mesmo tempo per-
sias. Inclui o estabelecimento para um grupo de pessoas, ou uma tciiccr a ambas as partes do povo único de Deus. Por conseguinte,
instituição, de propósitos, metas, meios de atingir os objetivos, os inodelos adequados a várias situações de igreja não se ajustam
prioridades entre as metas, determinação dos recursos necessários iieccssariamente ao caso. O judaísmo messiânico não é apenas
para alcançar as metas, avaliaçáo dos recursos disponíveis e es- outro ramo culturalmente distinto da Igreja, como a igreja corea-
calação - em resumo, os elementos básicos do planejarnento - na, ou a da tribo berbere. Nenhuma igreja étnica defronta-se com
mas tudo num contexto teológico e ideológico. Teologia (isto é, a passagens como a de Efésios 2,11 ss., Gálatas 2,1-21; 3,28; Ro-
disposição organizada da verdade bíblica para determinado povo, iiianos 9-1 l. Existe um estrato teológico na compreensão do ju-
cultura e tempo) e a ideologia (corpo coordenado de idéias relati- daismo messiânico que não se acha presente em nenhum outro lu-
vas à vida e à cultura humanas, ligado a afirmativas, teorias e gar.' Somente uma abordagem abrangente ao planejamento, à luz
objetivos integrados, constituíndo uma visão social, política e es- da teologia, assim como da ideologia, pode esclarecer a visão do
piritual) tornam-se o crivo através do qual devem passar metas, judaísmo messiânico de modo que ele possa aspirar ao seu destino
meios e prioridades. na vida dos judeus, da Igreja e do mundo.
Os lideres do movimento judeu-messiânico não desconhe-
cem a programática. O progresso que o movimento conhecpu a C. AS INSTITUIÇÓES DE QUE PRECISAMOS
partir da década de $8 pode ser entendido em parte nos termos I'?
1. Precisamos Afinal, de Alguma Instituição?
amplitude de visão e redizaçáo de planos. A maioria dos líderes é
gente p r a g d c a , revisando constantemente seus planos de acor- A importância de ter uma visão e um plano para criar ins-
do com a experiência, novos conhecimentos, necessidades recen- tituições - e trabalhar incansavelrnenti para realizá-lo - é de-
temente percebidas, feedback do que aconteceu até então, recur- monstrado pelo rabino Isaac Mayer Wise (1819-1900), figura -
sos externos de informação e melhor compreensão das Escrituras. chave na transformação do judaísmo reformado em componente
E que isto continue assim. destacado do judaísmo norte-americano. Chegou aos Estados
Por que é importade a programática? Porque "sem visão o Unidos na década de 1840 e, tão logo orientou-se nas condições
povo perece'. Segundo George Ladd, este versículo, do ponto de vigentes, passou a insistir em que o judaísmo norte-americano
vista exegético, significa que sem uma visão profética inspirada precisava de três instituições - uma organização para as congre-
por Deus o povo sucumbe. O que quero dizer, portanto, é que a gações, uma instituição para formação de rabinos e uma fraterni-
programática deve expor esta visão profética. dade para os rabinos - e um novo livro de orações adequado ao
'
A maioria das visões proféticas são contingentes, isto é, ambiente norte-americano. Os resultados de sua insistência foram
especificam as "bênçãos" caso se adote um curso de ação, e as a União das Congregações Hebreu-Norte-americanas (1873); o
"maldições" (conseqüências desagradáveis) se for adotado outro Colégio da União Hebraica (1875), do qual foi o primeiro presi-
curso de ação. A moderna teoria da decisão faz o mesmo. dente; a Conferência Central de Rabinos norte-americanos .
A Escritura contém uma extensa visão profética do Reino (1889), da qual também foi o primeiro presidente, cargo que ocu-
de Deus; com esta visão não pereceremos. Qualquer visão ou pla- pou até morrer; o Livro de Preces da União (que não era o de seu
no nosso deve situar-se no grande plano de Deus. O versículo- agrado, mas que ainda assim concretizava a sua visão); e um mo-
chave dessa grande visão, que nos incentiva em todas as contin- vimento que congrega hoje cerca de um milhão de membros e
gências, é: "Sabemos que tudo concorre para o bem dos que cuja infra-estrutura existe por causa do espírito infatigável desse
amam a Deus, para aqueles que são chamados segundo o seu de- homem.
sígnio".' Muitos crentes desconfiam de instituições. Desconfiam por
182
princípio - as pessoas são afetuosas e interessadas, mas as insti- citar uma organização familiar a alguns dos meus leitores). Em
tuições são frias e sem coração, tomando-se facilmente veículos especial deveria levar em consideração :
para o domínio da maioria sobre a minoria. Embora exista um
cerne de verdade por detrás desta atitude no que vai abaixo, su- Indivíduos:
pondo que as pessoas são capazes de suportar a idéia de criar * Crentes judeus (judeus messiânicos) e suas esposas (isto
instituições e organizações e podem vê-las mais como instrumen- é, "membros regulares").
tos a ser usados que como monstros a ser temidos. * Cristáos gentios que partilham do nosso ponto de vista e
De fato, quando falo sobre um programa para criar e de- desejam nos incentivar ("membros de apoio").
senvolver instituições tenho em mente uma ambiência comunitá- . * Pessoas que talvez não concordem conosco, mas estão
ria; e por natureza a comunidade deve ser orgânica, constituida interessadas em se manter informadas e dispostas a se associarem
sobre relações interpessoais. Não que a comunidade perfeita deva ("associados"). Entre estes poderiam incluir-se cristãos que não
existir antes que as instihúçóes sejam criadas; pelo contrário, a têm simpatia especial pelo judaísmo messiânico, assim como al-
finalidade das instituições é incrementar a comunidade. ~estinam- guns judeus não-messiânicos e gentios seculares.
se ainda a incentivar o desenvolvimento da identidade judeu-mes-
siânica na estrutura da comunidade judeu-messiânica. Organizações:
Minha abordagem será abstrata, de preférencia a histórica. * Congregações judeu-messiânicas,
O que quero dizer é que discutirei as instituições necessárias co- * Igrejas de gentios com muitos membros judeus, sejam in-
mo se nada existisse hoje para preencher no todo ou em parte a dependentes ou &liadas a denominações.
necessidade. Noutras palavras, vou ignorar em grande parte o * Missões e outras extensões volbdas para os judeus, se-
material que apresentei na s e ~ á oA; os que estão envolvidos no jam independentes ou denominacionais. Exemplos: Diretório
movimento judeu-messiânico saberão como ajustar o meu esboço Norte-americano das Missões Junto aos Judeus, Movimento Inter-
2 situação existente. ' nacional Judeu-messiânico, Judeus Para Jesus.
Para que o judaísmo messiânico se tome o que deve ser * Igrejas de gentios cristãos com poucos ou nenhum judeu
precisamos de urna organização de "movimento amplo" ("Deno- messiânico, mas que apóiam as nossas reivindicações.
minacional"), precisamos atender 2s necessidades comunais e de- * Organizações cristãs além das igrejas e missões judaicas,
senvolver instituiçóes educacionais e profissionais. que apóiam as nossas reivindicações.
* Sinagogas interessadas e organizações comunitárias ju-
2. Organizaçáo de Amplo Movimento daicas; seria preciso deixar claro que sua associação conosco não
("Denominacionai") implicaria necessariamente em simpatia com os nossos objetivos
Sei que a palavra "denominação" assusta as pessoas, de (comparar a categoria de "associados" para indivíduos).
modo que a coloquei entre parêntesis e entre haspas, onde não
prejudicará, usando, em vez dela, o termo desajeitado "movi- Super-organizações:
mento amplo" para descrever o judaísmo messiânico no sentido * Organização para indivíduos: Alianga Judeu-Messiânica
mais amplo. A organização é necessária para capitalizar ativida- dos Estados Unidos.
des em vários níveis e incrementar participação comunitária (a * Organizações de congregações judeu-messiânicas (há
palavra em moda hoje é "networking" - entrar em rede). Náo de- quatro no momento).
veria ter autoridade sobre congregações e indivíduos, mas facili- * Fraternidades para pastores; no momento esta função é
tar seu desejo de cooperação. Terai vários níveis ou categorias de executada dentro das organizações congregacionais.
associados, como a Associação Nacional dos Evangélicos (para * Fratemidades para missioniuios; a Fraternidade dos Tes-
184
ternunhos Cristãos para os Judeus preencheu este papel. * Fornecer material educativo sobre o judaísmo messiânico
t Câmara de compensação da evangelização judaica: mais para as sinagogas messiânicas, escolas e seminários judeu-mes-
especificamente, Consulta de Lausanne sobre Evangelização Ju- siânicos, e público em geral, judeus não-messiânicos, cristãos
daica. gentios.
t Denominações cristãs de gentios, ativas em trabalho com * Treinamento de professores.
os judeus, tais como as Assembléias de Deus. * Criação de jornais e revistas voltados' para o judaísmo
messiânico e a educação judeu-messiânica.
Outros Tipos de Entidades: * Promover apresentações em outros meios: televisão, rá-
* Organizações de sub-grupos de crentes judeus, por dio, teatro, filmes, música, etc.
exemplo, de judeus messiânicos carisrnáticos e não-carismáticos, * Organizar seminrisios para o intercâmbio de opiniões
ou de médicos judeus messiânicos. eruditas e pontos de vista sobre determinados tópicos - somente
t Jornais, revistas, programas de rádio e televisão, compa- para judeus messiânicos e/ou para judeus messiânicos e outros
nhias de cinema ligadas ao movimento. judeus cristãos.
* Instituições educacionais Iigadas ao movimento. 1 * Criar material para melhoria das relações judeu-cristãs,
* Organizações judeu-messiânicas de finalidades específi- organizando seminários, forums, encontros e promovendo bolsas
cas, tais como Maoz, Inc. nessa área.
* Comitês de finalidades específicas, por ex., teologia, li- Tratar de relações públicas e apologética, revidando ata-
turgia, ação social, incremento da unidade. ques contra nós, falando em nossa defesa em mal-entendidos e
acusações de judeus, da Igreja e de seculares.
3. Necessidades Comunitárias. * Fazer mediação - resolvendo conflitos entre vários com-
A relação abaixo das necessidades da nossa comunidade ponentes, facções e indivíduos no interior do movimento judeu-
não procura de modo algum esgotar o assunto. messiânico. Supõe-se que esta função se estenda a fazer o mesmo
* Atendimento aos judeus messiânicos necessitados, ido- pelo relacionamento entre grupos de judeus messiânicos, judeus,
sos, carentes, incapacitados. "A observância religiosa que Deus ou cristãos exteriores ao movimento.
Pai considera pura e sem falta é a seguinte: cuidar dos órfãos e * Cooperar sempre que possível com a comunidade judai-
das vidvas em suas necessidades e guardar-se de ser contaminado ca, por ex., ajudando a retirar judeus da Rússia, apoiando o Esta-
pelo mundov9. do de Israel, auxiliando os idosos - mas não, por exemplo,
* Promover aljah, demonstrando apoio ao Estado de apoiando yeshivas que ensinam contra o Messias Yeshua.
Israel e promovendo ali o judaísmo messiânico (Vide seção E * Cooperar com a Igreja - a nível local, denominacional,
abaixo). nacional e internacional.
Promover e operar um seminário judeu-messiânico. Para tratar destes e de outros objetivos podem-se imaginar
* Estabelecer uma biblioteca de material judeu-messiânico diversas instituições, ou apenas uma. Não há falta de material es-
crito descrevendo como a comunidade judaica se organizou; ele
e material ligado às relações judeu-cristãs. (A biblioteca do fale
tido Elie Cleaveland foi doada ao Colégio Batista do Nordeste pode sugerir áreas que necessitem atenção na comunidade judeu-
Norte-americano, em parte porque os crentes judeus não haviam messiânica.
criado uma instituição capaz de lidar com mais de 20.000 vo- 4. Instituições Educacionais
l~nnes).
ç Promover bolsas para teologia, história, filosofia e litur- Para assegurar que a identidade que desenvolvemos gra-
gia no judaísmo messiânico. dualmente para nós como judeus messiânicos e que o conheci-
186 187
mento adquirido através da pesquisa do judaísmo e do cristianis- importante o desenvolvimento de material de ensino judeu-mes-
mo será transmitido a outros, inclusive aos nossos filhos, preci- siânico para elas).
samos de instituições educacionais especializadas. Pois embora a O cuniculum deste seminário deveria começar por cursos
responsabilidade básica da educação na fé, após a própria família, J judaicos e cristãos, tais como se encontram em catálogos de semi-
repouse nas congregações, estas raramente têm a capacidade de nários existentes, retirando deles material para ser digerido nos
organizar o que é necessário para o movimento como um todo. cursos judeu-messiânicos e deixando de lado o que é irrelevante.
Para nossos filhos precisamos não só de "escolas domini- O ponto de vista geral focalizaria individualmente a disciplina e
cais", isto é, aulas uma ou duas vezes por semana, como também socialmente os quatro públicos. O curriculum incluiria:
de escolas diárias, onde toda a gama de estudos seculares e reli- Bíblia: Antigo e Novo Testamentos
giosos possa ser combinada num ambiente incrementador da fé. Introdução à Bi'blia
Uma chave para o sucesso dessas escolas é a criação de material História bíblica e intertestarnentária
infantil judeu-messiânico; outra é dispor de professores que sejam Teologia bíblica
exemplo de identidade e vida judeu-messiânica. Caso contrário, Teologia sistemática
temos apenas uma escola dominical cristã que utiliza algumas Apologética para judeus, apologética para a Igreja
palavras cristãs. As congregações judeu-messiânicas de Filadél- Etica, inclusive questões de moral prática e consciência social
fia, da área de Washington D.C.,nos Estados Unidos, e de outras Hebraico
cidades têm feito mais do que um início promissor neste sentido;
já estão conduzindo programas bem sucedidos. Talmud
Para adultos jovens poderíamos criar um colégio ou uni- M idrash
versidade, mas a necessidade mais premente é um seminário ou Literatura rabínica em geral
yeshiva, onde os que pesquisarn o judaísmo e o cristianismo, e Halakhah e o processo haláquico
ajudam a desenvolver o lado intelectual da nossa identidade ju- Filosofia judaica
deu-messiânica, possam transmitir aos outros o que foi aprendido, Literatura judaica em geral
e onde rabinos e pastores messiânicos em potencial, e outros ele- História judaica desde a Bíblia, inclusive o panorama atual
rneilws, possam ser ueinaaos. Esta necessidade começou a ser História da Igreja, inclusive o panorama atuai
atendida na citada área de Washington pela Messiah Yeshiva, sob História judeu-messiânica, figuras importantes
a liderança do Dr. Michael Brown. Fundamentos da vida espiritual
A maneira mais econômica de iniciar-se um seminário ju- Práticas de culto judaico e cristão; liturgia
deu-messiânico seria empregar (desculpem a expressão) o sistema Prática judaica para os judeus messiânicos
da pequena poupança. Os estudantes são enviados a uma institui- Evangelização
ção judaica para fazer seus estudos de judaísmo e a uma institui- Relacionamento entre Judeus, Igreja e Mundo : ação social
ção cristã para estudar o cristianismo, de modo que somente os Ano de estudo e experiência em Israel
estudos especificamente judeu-messiânicos e uma visão abran- Outros projetos educacionais poderiam incluir cursos de extensão
gente precisassem ser ensinados pelo staff do seminário. (Obser- para judeus rnessiânicos isolados, educação de adultos, acarnpa-
vem o contraste entre o que é adequado a crianças e adequado a mentos de férias para crianças e breves t o u d e s em Israel, in-
adultos. Os adultos podem mastigar e digerir material. cristáo cluindo contato com os crentes judeus do país.
gentio e judaico não-rnessiânico, rejeitando o que é irrelevante e
culturalmente inadequado. As cílanças não são, em geral, sufi-
cientemente maduras para isto; 8 por este motivo que se toma tão
188
5. Instituições Profissionais siânicos dos Livros do Novo Testamento". Ele disse: "Faça is-
to"'O. Iniciei meu comentário sobre o livro. dos Atos, mas logo
Instituições para facilitar a atividade profissional incluem : descobri que metade dele ocupava-se de objeções à tradução in-
* Uma associação para congregar líderes, uma associação de glesa que eu estava utilizando. Como experiência tentei traduzir
pastores. os primeiros capítulos de Atos e me senti satisfeito como resulta-
No momento já existem pelo menos duas associações colegiais, do. Assim surgiu o Jewish New Testament.
nas quais os pastores partilham os seus problemas, rezam uns O Jewish New Testament, agora no prelo, é a miriha tradu-
pelos outros e ajudam-se mutuamente. ção, para o inglês, do original grego ds' Novo Testamento, acres-
* Uma Sociedade Teológica Judeu-Messiânica para teólogos, cido de meus comentários. A tradução põe em reIevo o judaísmo,
eruditos e halaquistas. Sua finalidade seria permitir aos teólo- de três maneiras que denomino cosmética (ou superficial), cultu-
gos judeu-messiânicos saber quais entre eles seriam mais capa- ral-religiosa e teológica. Mudanças cosméticas - "estaca de exe-
zes de criticar e comentar o seu trabalho e proporcionar incen- cução" em vez de "cruz", "Yeshua" em vez de "Jesus" - são as
tivo, correçáo e esforço cooperativo. A sociedade poderia pu- mais óbvias; sua frequência proporciona um efeito coletivo.
blicar um jornal, promover conferências e ser um ponto de con- Usando a palavra hitzit em vez de "orla" em Mattityahu (Mateus)
centração para os crentes judeus que desejarem educação reli- 9,20 para descrever o que a mulher hernorroíssa tocou 6 mudança
giosa e teológica. Poderia talvez incrementar a exploração de cultural-religiosa, mergulhando o Evangelho de modo mais segu-
uma variedade de questões teológicas, filosóficas, ideológicas e ro na sua estrutura judaica. As mudangas teológicas incluem o
práticas peculiares ao judaísmo messiânico. Talvez possa assu- que foi anteriormente indicado na anáIise de Judeus Messiânicos
mir um papel de Iiderança no desenvolvimento e divulgação de (Hebreus) 8,6: a Nova aliança foi "feita Tomh", não apenas
um ponto de vista distintamente judeu-messiânico para os qua- "estabelecida". O comentário trata de perguntas que o povo ju-
tro públicos. daico tem em relação ao Novo Testamento, a Yeshua e ao cristia-
* Uma associação para seminaristas judeu-messiânicos que estu- nismo; perguntas que os cristãos fazem em relação ao judaísmo e
dam em diversos tipos de instituições, na qual possam focalizar às raízes judaicas do cristianismo; e perguntas que os judeus mes-
juntos as questões judeu-messiânicas.Isto seria um projeto da siânicos fazem a respeito de sua própria identidae e papel.
instituição acima. Desde que iniciei meu trabalho, duas adaptações de tradu-
ções crisGs gentias existentes foram publicadas - The Book of
D. A LITERATURA DE QUE PRECISAMOS Life (O Livro da Vida) de Sid Roth, que é uma modificação da
. - ..--.
'Estou certQ de que se dispusesse de uma equipe de uma Nova Versão do Rei Jaime e The Living Bible, do falecido David
Bronstein, Edição Messiânica. Além disso há uma tradução de um
centena de erudrtos judeus messiânicos seria capaz de mantê-los
todos ocupados pesquisando e escrevendo pelo resto da vida. En- crente judeu chamado H.W.Cassirer, que nasceu na virada do s é
tre os livros e materiais que beneficiariam o judaísmo messiânico culo e faleceu há cerca de dez anos; está programada para publi-
estão: cação pela Eerdmans.
Jehiel Zvi Hirschensohn-Lichtenstein (1827-1912) escre-
1. Traduções e Comentários da Biblia veu um comentário em hebraico sobre todo o Novo Testamento,
HLi dez anos eu dispunha de todo o material para o M d - que foi publicado em fascículos pelo Institutum Delitzschianum
festo Judaico-Messiânico, mas o Senhor não permitiu que eu o de Leipzig, Alemanha, entre 1891 e 1904, com o texto em letra
escrevesse. Em vez disso induziu-me a examinar a minha lista de gótica e comentários em escrita Rashi. Ele seguiu os passos de
tudo o que o Judaísmo Messiânico necessitava (baseei este capi- Joiachim Heinrich Biesenthal (nascido com o nome de Raphael
tulo nessa lista) e meu olhar caiu sobre "Comentários Judeu-Mes- Hirsch, 1800-1886), que escreveu comentários sobre os Evange-
190
lhos, Romanos e Hebreus, assim como sobre os Salmos e Isaías. va o Novo Testamento. Escreveu ainda quase 200 canções judeu-
Neste século, Victor Buksbazen, Charles Lee Feinberg e Moshe messiânicas, algumas das quais são entoadas em I ~ r a e l . 'Sua
~
Ben-Maeir encontram-se entre os crentes judeus que escreveram história é uma das muitas que se perderão se pesquisadores e es-
comentários sobre um ou mais livros da Bíblia. Resta a necessia- critores não principiarem agir!
de de comentários judeu-messiânicos de todos os livros da Bíblia, Há dois livros que eu pessoalmente gostaria de ler se al-
tanto do Tanakh como do Novo Testamento. A organizaqão guém quiser escrevê-los - e se ninguém quiser serei tentado a fa-
"Netivyah" de Jerusalém prepara, no momento, um comentário zê-lo eu mesmo: um sobre os milagres nas vidas de judeus mes-
do Novo Testamento apoiado em fontes judaicas e tenta recuperar siânicos e outro sobre como casais judeu-messiânicos se conhece-
a compreensão judaica. ram e casaram (mas terá que incluir a história de como Martha e
eu nos conhecemos no congresso "Messiah 75" da MJAA!)
2. Outros Livros Acadêmicos e de Informação
4. Outros Livros
Precisamos de pesquisa e escritos judeu-messiânicos nas
áreas de teologia bíblica e sistemática, ética, liturgia, apologética, Aqui vão alguns títulos sugestivos:
~ l a ç ó e sjudeu-cristãs e anti-sernitismo. Precisamos de pesquisa e Os Judeus Messiânicos e o Estado de Israel (Veja Parte E
escritos sobre a história do judaísmo messiânico.ll Precisamos de abaixo).
livros que expliquem o que é o judaísmo messiânico; eles devem Um Judeu Messiânico Olha Para o Talmud
ser escritos tendo-se em mente os diversos públicos. E precisamos A Atitude Juibica Diante do Cristianim e do judaísmo
de material bibliográfico para os pesquisadores. Messiânico. Existem vários sumários escritos por judeus não-
rnessiâni~os,'~ mas nenhum de fôlego escrito por judeu messiâni-
3. Biografias e Testemunhos
co. O livro deveria abarcar o período que vai do Tahud, passan-
~ Ó d omundo quer saber como Devs está agindo na vida do pela Idade Média, até os tempos modernas. Nos tempos mo-
dos outros, e todos os que viveram esta experiência querem dernos é útil distinguir o ponto de vista ortodoxo, reformado e se-
transrnití-Ia aos demais. Dispomos, portanto, de muitas autobio- cular.
grafias, testemunhos e coleções de testemunhos.12 Mencionei an- A Compreensão Judeu-Messiânica da Bíblia. Comparar,
teriormente a coleção de biografias de ~ e r n s t e i n le~sugeri que do lado dos cristãos gentios, Invatation to t h N a v Testament de
uma atualização moderna, incluindo a vida dos crentes deste sé- W.D. Davies com o lado não-messiânico no livro de Samuel San-
culo, seria bem-vinda. Caso contrário nós os esqueceremos. dmel : A Jewish Undestanding of the New Testament. (Uma Visão
Houve, por exemplo, o rabino Daniel Zion (1883-1979). Judaica do Novo Testamento).
Tradutor do Siddw para o búlgaro, era o Rabino-mór da Bulgária Um Judeu Messiânico L2 a Halakhah
quando teve uma visão de Yeshua e passou a crer nele. Por causa Judaísmo Messiânico e M i s t i c i m .
de sua fé e de sua posição foi ouvido pelo rei Boris II nos anos . Questões do Judatsmo Messiânico para estimular reflexão
críticos de 1943-1944, quando os nazistas queriam deportar os sobre controvérsias recentes.
judeus para os campos de concentração. Rav Daniel instou incan- Variedades de Judaismo Messiânico. A idéia seria traçar
savelmente junto ao rei para que não o consentisse e foi atendido. uma gama de possibilidades, usando abordagem comparativa
Em resultado, 86% dos 50.000 judeus na Bulgária salvaram-se, ilustrada por testemunhos e esboços biográficos. Conviria docu-
um recorde entre os países afetados pelo nazismo, com excqão mentar judeus ortodoxos praticantes, que acreditam em Yeshua
possivelmente-da Dinamarca. Após a segunda guerra mundial, ele secreta ou abertamente, apóstatas compIetos do judaísmo, que se
fez aliyah com quase todos os judeus da Bulgária. No Shabbut, uniram aos gentios cristaos para perseguir os judeus, judeus assi-
eIe oficiava pela manhã na sua sinagoga de Jaffa e à tarde ensina- milados que se tornaram membros gentilizados da Igreja, judeus
192
i
1
1:
assimilados que redescobriram o seu judaísmo, judeus messiâni-
cos que foram educados como tais, judeus messiânicos por razões
dos Céus" para apreciar o valor dessas formas.

ideológicas, impedidos de integrarem congregações, ou de serem 8. Outros Meios de Comunicação


batizados, etc.
Enciclopédia Judeu-Messiânica. Não consigo sequer ima- Observemos outros meios de comunicação, inclusive músi-
I
ginar o que poderia vir a ser, mas é um título emocionante! ca e arte. A música judeu-messiânica pode ser usada em reuniões,
no palco, em concertos, gravações. Belas artes, artes gráficas e
5. Livros Infantis artesanato podem ser colocados a serviço do Reino. A dança tam-
'~
I I Livros infantis são um modo popular de instilar a fé nas bém, no palco e em participação folclórica, tem potencial para o
!I crianças. Como importante fazêlo à maneira judeu-messiânica! serviço do Reino. Tudo isto vem sendo feito presentemente, e po-
I
8 ,
, Precisamos desesperadamente de livros infantis que transmitam às de-se esperar que prossiga.
nossas crianças a identidade judeu-messiânica. Acima de tudo Um pedido final: qualidade. Quando o dr. Henry Ehspru-

, 8 ,

j!
precisamos de Bíblias para crianças de diversas idades, tanto
condensadas como completas.
6. Periódicos
Jornais, revistas, e livros do ano podem situar-se entre o
ch apresentou a sua tradução do Novo Testamento para o iídiche
decidiu fazê-lo com capricho. Os elegantes gráf~cos que ilustram
o texto são de Ephraim Lilien, um dos fundadores da Escola e
Arte BetzaIel de Jerusalém; e a produção do livro é de fato ex-
traordinária.16 Não nos contentemos com a mediocridade. Isto é
popular e o erudito. A finalidade é explicar nós mesmos e o Eva- particularmente importante nos livros infantis, onde o trabalho
gelho, fazendo apolog6tica e evangelizaçáo, interagindo com e artístico transmite grande parte do sentido.
respondendo aos que escrevem a nosso respeito nos meios de co-
municação judaicos, cristáos e seculares, estabelecendo metas e E. JUDA~SMOMESSIÂNICO E ISRAEL
prioridades, incrementando q ã o e trocando idéias. Repetimos: as 1. Israel, Centro do Judaísmo Messiânico
publicações devem focalizar os diversos públicos. As publicações
existentes incluem The laterpreter, The Hebrew Christian, (pu- Nesta parte debate~mosIsrael como o centro potencial
blicados pela Aliança Internacional Mebreu-Cristã), o Messianic mundial do judaísmo messiânico e, por conseguinte, de que modo
Jewish A l l i m e Quarterly (publicado pela Aliança Judeu-Messiâ- o judaísmo messiânico deve relacionar-se com a Terra de Israel e
nica dos Estados Unidos), MisWcan ( f o m teológico publicado o Estado de Israel.
pelo Conselho da União Cristã em Israel), e uma variedade de Colocamos certos fundamentos teológicos no Capítulo N,
publicações missionánas, tais como lssues (de Judeus Para Jesus, seção E 4 , E-5 e E-6. Concluímos aIi que Deus cumprirá sua
tratando de questões do interesse de judeus n20-crentes), Jewish promessa de entregar a Terra de Israel ao povo judeu, embora os
Voice (publicado pela "Jewish Voice"), The Chosen PeopZe @i- direitos dos árabes dispostos a nela viver em paz devam ser pre-
retório Norte-americano de Missões Junto aos Judeus), e diversas servados. Observamos que o judaísmo messiânico vai girar even-
publicações mais ou menos conhecidas. As publicaç*~ em Iíngua tualmente em torno de Israel, primeiro porque a Escritura o pro-
hebraica, em Israel, incluem B'Shuv e Me'et Le'et, .editados por fetiza - "Por que de Sião sairá a Toruh e a palavra de Adonai de
Menahem Benhayim e Baruch Maoz, respectivamente. Jer~salém"'~;segundo, porque nenhum movimento importante
que se centralize na Diáspora quando existe o Estado Judaico po-
7. Ficção, Poesia, Drama de ter esperanças de detar significativamente o povo judeu; e ter-
Trata-se de campo aberto. Basta recordar romances como ceiro, porque existe um forte sentimento enraizado entre os ju-
., 1
,
I O Manto Sagrado e Ben-Hw, ou um poema como "O Lebreiro deus messiânicos de que assim deve ser. Significa que, em última
I !
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1 ' 11
1; 1
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análise, quando "todo o Israel for salvo", o sistema sócio-político renda (que possuem também a sua analogia espiritual), é que Ihes
de Israel será judeu-messiânico. falta uma boa infra-estrutura econômica. As mercearias ficam de-
Lançamos o fundamento comportamental no Capítulo III, seção sabastecidas por causa de transporte inadequado; a eletricidade é
A-7, onde observamos que os judeus israelenses são mais sensí- fornecida a apenas metade do país, coín frequentes interrupções;
veis que os judeus da Diáspora ao papel do povo judeu na histó- os sinais de trânsito são raros e muitas vezes não funcionam devi-
ria, o que provaveImente os sensibiliza para a mensagem de que do à falta de material de reposição e operários competentes; falta
somi;nte através de Yeshua esse papel poderá realizar-se. taIento para os negócios, em especial na administração.
No Capítulo 11, seção A-4 dissemos que, embora o Judaísmo Algo similar acontece espiritualmente. Países de muitos
Messihico na Diáspora seja uma válida expressão da fé neotes- crentes e de longa história de fé em Yeshua dispõem de uma bem
hmentária, o Iugar mais natural para que ela se enraíze é Israel, e desenvolvida infra-estrutura espiritual. Há igrejas em todas as es-
isso porque ser judeu é mniml em Israel. O judeu na Diáspora, quinas. Escolas, seminários, acampamentos bhlicos e centros de
messiânico ou não, sente verdadeira dificuldade em ver o quanto aconselhamento são abundantes. O Evangelho é procIamado a
é distorcida a sua vida de judeu fora de Israel. Uma medida dessa velhos e moços, ricos e pobres, atletas e deficientes, homens de
distoqão é a tendência que têm os judeus messiânicos na Diáspo- negócio e gente de rua. Dezenas de milhares de livros baseados
ra de focalizar o seu judaísmo como algo que têm que "fazer". na verdade da Nova )Aliança podem ser adquiridos em livrarias
Em Israel, o judeu não tem que "fazer" o seu judaísmo ou pro- religiosas de fácil acesso, ou retirados de bibliotecas bem abaste-
vá-lo. Quase todo mundo é judeu, de modo que ele é aceito como cidas. Acima de tudo existem l i d e ~ es pastores bem treinados e
judeu , faça ou não algo para prová-lo. Uma congregação judeu- experientes.
rnessiânica de Israel, portanto, é livre, pelo menos em principio, Os cristãos do Ocidente aceitam tudo isso com naturalida-
para focalizar o Messias, em vez de ser nitidamente judaica. Isto de, mas Israel não possui virtualmente nada disso. Calcula-se que
não nos livra da necessidade de sentir que se não nos "compor- existam de um a três mil crentes judeus no país, o que constitui
tarmos como judeus" seremos absorvidos por outra maneira de menos de um décimo de um por cento da população judaica de
ser. Podemos ser apenas nós mesmos. Isto é normal. 3,7 milhões. A maior congregação do país (calculada pela fre-
quência de não-turistas à maior reunião semanaI) conta com me-
nos de 200 pessoas, enquanto que a maioria das cerca de 25 con-
2. A Comunidade Judeu-Messiânicq em Israel de Hoje
gregações incluindo número significativo de crentes judeus é h-
quentada por 15-50 pessoas. Livros baseados na Nova Aliança
Qual a situaçáo da comunidade judeu-messiânica no Israel
de hoje? Será forte bastante para suportar o peso da investidura podem ser adquiridos em oito ou dez livrarias em todo o país. E
educação teológica está apenas começando; qualquer wisa a que
da liderança de um movimento com o papel-chave da história,
conforme reivindicamos? A resposta deve ser que, embora os ju-
se possa chamar de senhario ou colégio bíblico está no futuro.
De fato não existe um só livro de teologia bíblica ou sistemática
deus messiânicos de Israel lutem sob muitas adversidades, Deus,
abrangente em hebraico. O alcance é fraco, esparso e não dirigido
com sua graça, nos está 'preparando aqui em Israel de maneiras
consistentemente a nenhum subgnipo.
óbvias e não tão óbvias para a tarefa que certamente nos caberá
Economias de Escala. "Economias de Escala" refere-se %i
um dia.
vantagens adicionadas a uma grande empresa peb simples fato do
Um País Espiritualmente Subdesenvolviab. Acho conve-
seu tamanho. Nossas congregações são pequenas e por esta razão
niente iniciar a minha análise por conceitos tirados da minha for-
não temos economias de escala. Uma igreja dos Estados Unidos
mação de economista. Vejo Israel como um país espiritudoilente
com mil pessoas, colhendo enbe seus membros conselheiros, pro-
subdesenvolvido. O que acontece com países economicamente
fessores, motoristas de ônibus e faxineiras, ainda terá bastante
subdesenvolvidos, além do fato evidente dos baixos níveis de
196 197
soldados para participar de grupos de oração, evangelizar, cantar instalações modernas no Monte CarmeIo, em Haifa. A Netivyah
no coro e organizar festinhas. Mas um kehillah de vinte e cinco organiza seminários três vezes por ano. Nos últimos cinco anos,
pessoas que se dedique a um âmbito comparativo de atividades, uma série de conferências musicais ressaltou diversos talentos
vive em constante estado de exaustão. Cada membro de uma pe- entre os israelensese, o que resultou em mais de uma centena de
quena congregação vive pressionado para a simples manutenção cançõe hebraicas gravadas em cassetes, impressas e entoadas em
da existência do grupo. Qualquer novo plano que exija dispêndio todo o país, muitas delas usadas no mundo inteiro. Outra confe-
de energia é acolhido com suspiros. rência teve início como reunião da juventude durante a Semana
Isto é particularmente exato em Jerusalém, onde grande da Páscoa, 1981; desde então tomou-se um evento anual que atrai
número de turistas visitam as pequenas congregações da cidade, a 200 pessoas, inclusive crianças e adultos. Mas não existe centro
fim de viver a knção.que é assistir a uma cerimônia na cidade de conferência em todo o país que comporte número superior a
onde a Igreja nasceu. As vezes há mais visitantes que gente local este.
numa reunião e podemos esperar que isto continue semana após A primeira conferêcia de enfoque judeu-messiânico (em
semana, até a volta do Messias (e provavelmente também então). sentido estrito) foi organizada em 1986 por Ari Sorko-Piam e a
A hospitalidade exige que tratemos cortêsmente esse incessante congregação Ramat HaSharon, tendo Daniel Juster como orador
fluxo de Vmãos e irmãs, já que para tantos deles uma peregrina- principal. Duas conferências decorrentes da primeira f o m orga-
ção a Terra Santa é o ponto alto de uma vida de fé. Ainda assim nizadas em seguida, e um congresso de judeus rnessiâmcos norte-
isso aumenta a pressão sobe o Corpo do Messias em Israel. americanos e israelenses está programado para S h u ' o t de 1988.
A Comzuzidade Messiânica de Israel. Uma boa coisa que "Seleçóes". Mais ou menos t d o s os meses é publicado
temos-em Israel é o senso do Corpo em termos de na~ão.Isto é, um resumo de 6 a 10 piiginas da reportagem local sobre questões
pode-se faIar em "Comunidade Messiânica de Israel" de um mo- de interesse dos crentes - judaísmo messiânico, missões cristãs,
do que não se aplicaria a "Igreja dos Estados Unidos". Viajando, atividade anti-rnissionária, outras reaçóes judaicas (inclusive po-
assistindo a conferências e partilhando com os irmãos o crente te- sitivas), dialogo judeu-cristão e cultos. O Conselho Cristão Unido
rd aqui, dentro de dois ou três anos, amigos em todo o país. Posso de Israel utiliza o serviço de uma agência de recortes de jornais
visitar qualquer congregação, "de Dan a Beersheva", e visitar para reunir artigos de jornais e revistas dos meios de comunicação
gente que conheço pessoalmente, gente por quem rezei, de quem hebraicos locais. Manahem Benhayim, Secretário para IsraeI da
ouvi falar e que conhecem pessoas que encontro o tempo todo. Aliança Hegreu-Cristã Internacional, resume e traduz esse mate-
Quando a congregação de Tiberíades viu destruido o seu local de rial. Ter uma sassinatum é a melhor maneira, a meu ver, para uma
encontro, irmãos e irmãs do país inteiro compadeceram-se e agi- pessoa de língua inglesa vivendo no exterior ficar a par da situa-
ram. Existe uma profunda unidade que transcende as. diferenças çáo dos crentes em Israel. No momento em que escrevo, a assi-
doutrinárias e de personalidade, oriunda da consciência de que natura anual custa $25 dólares; os cheques devem ser enviados a
"estamos todos no mesmo barco". Parte desta união é devida UCCI "Selections", Post Office Box 116, Jerusalém 91000, Is-
simplesmente, claro, ao fato de qeu o Corpo é aqui tão pequeno - mel.
do tamanho de uma igreja média nos Estados Unidos. Evangelização e Temor Jlcdaicos. Houve nos ÚItimos anos
Conjerêmias Nacionais. Temos diversas conferências na- uma transformação salutar na atitude dos crentes judeus relativa à
cionais que atraem 100-2W pessoas; e os crentes precisam delas evangelizaçáo. Embora alguns ainda a temam, e outros se mos-
para sobreviver espiritualmente; pois se a congregação estiver li- úem cautelosos e discretos, há quem comece a prestar ousados
rnitada a 15 ou 30 membros, a vida messiânica torna-se facilmente testemunhos públicos. quando minha mulher Martha e eu fizemos
introvertida, morna, com caracten'sticas de gueto. A Assembléia- aliyah, há oito anos, o medo era o principal fator que impedia a
Messiânica e suas cangregações irmãs promovem conferências em evangelizaçáo. Mas agora parece que o medo está se retraindo e
adiantando-se a franca proclamação do Evangelho.
Aqui vai um exemplo do que quero dizer com "medo". Em as árvores? Calculo que haja menos de 100 judeus israelenses por
1980, Martha e eu viajamos pela E1 A1 para a nossa primeira vi- ano convertidos à fé (menos de um para cada trinta e cinco mis-
sita à "velha pátria". A snhora sentada atrás de nós notou que sionários).
Martha estava lendo um livro a respeito de uma família judia que Os crentes judeus talvez tenham diferentes temores. Às vezes são
encontrara o seu Messias. Cristã que vivia em Jerusalém, iniciou despedidos do emprego (ou não são admitidos) por causa de sua
conversa observando que conhecia a autora. Martha respondeu: fé; ou os filhos sofrem perseguição na escola, ou a f m l i a é víti-
"Eu também a conhqo. Nós nos encontramos quando eu traba- ma de algum tipo de discriminação, ou intimidação. Mas alguém
lhava com Judeus Para Jesus". Ao ouvir isso, a senhora relanceou nos prometeu um mar de rosas - não podemos esquecer os espi-
para os outros passageiros judeus e cochilou: "Cuidado! Alguém nhos na carne.
pode escutar!" Martha, tipicamente, ergueu a voz ao replicar: "O A maneira mais extremada do judeu messiânico mmir'estar o seu
que? Por que não devem saber que trabalhei para JUDEUS PA- temor é permanecer um "crente secreto". Perguntaram-me pari-
RA JESUS?" A senhora encolheu-se na sua poltrona. tos existem em Israel. Como posso saber? Ademais, que bem fa-
Que temem os crentes? Muito simples: tem mais medo dos zem às pessoas - a si mesmos, ao Corpo, ou ao Senhor? Conforme
homens que de Deus. Há quem não queira perder amigos judeus disse anteriormente, baseado em Lucas 12,8-9, não devem ser
antagonizando-os, supostamente, com o Evangelho. Frequente chamados de crentes''. Ouço falar em crentes secretos e, pior
mente(trema) não percebem que os judeus israelenses estão muito ainda, em cristãos que os incentivam a permanecerem assim. Mas
mais dispostos a ouvir o Evangelho do que a maioria dos judeus oramos para que tenham a coragem de "vir para a luz", assumin-
da Diáspora. E isto porque o Evangelho não ameaça a identidade do abertamente a sua fé.
do israelense, O judeu da Diáspora, pertencendo a uma pequena Um fator histórico responsável por grande parte do medo é a fuga
minoria numa sociedade de gentios, está constantemente alerta de crentes judeus após a fundação do Estado em 1948. Nessa
para defender o seu judaísmo contra a adversidade; muitas vezes época, os líderes denorninacionais cristãos, temendo um expurgo
o único ato 'bjudaico" que ocorre a um judeu assimilado é rejeitar de crentes judeus quando terminou o mandato britânico, evacua-
Yeshua. Mas aqui, numa sociedade judaica, o judeu não tem que ram muitos deles para a Europa e os Estados Unidos. O expurgo
provar que é judeu - todo mundo é. Assim escuta o Evangelho e o não aconteceu, mas o corpo local ficou deprimido, e desprovido
acolhe por seus próprios méritos, sem ter que combatê-lo automa- de liderança. O trauma afetou as atitudes aqui no país durante
ticamente. trinta anos; somente agora está surgindo uma nova geração de sa-
Muitos crisíãos gentios daqui, com vistos temporários, tem baraseducados na fé, livres da paranóia e capazes de avaliar com
medo de que se evangelizarem abertamente serão expulsos do realismo a oposição.
país. Nossa pergunta serão mesmo? Suponhamos que 100 dos su- A OPOSZÇAO. Fora de Israel correm boatos de perseguição aos
postos 3.500 missionários de Israel saissem lpara as ruas, andas- crentes. Digamos de uma vez por todas que, comparado aos paí-
sem de porta em porta, ou fizessem qualquer tipo de evangeliza- ses cojmunistas e rnaometanos, nada existe aqui digno do nove de
ção que o Senhor hes tenha confiado, abertamente, destemida- "perseguição a gentios cristãos, ou a judeus messihicos. Nin-
mente, e em expediente integral. Se a oposição conseguisse per- guém é assassinado, preso, ou torturado por causa de sua fé.
suadir o governo a n;ao mnovar os vistos de apenas dez, isto se Contudo existe verdadeira oposiçfio aos crentes e ao Evagelho.
tornaria rapidamente uma causa mundial para glorificar o nome de Ataques físicos a pessoas são raros, mas há intimidação social,
Yeshua. Deus Iouvará "missionários" temerosos, que não evan- econômica e psicológica - inclusive escuta telefônica e de outros
gelizam, por repousarem seu corpo na Terra Santa? Alegam al- tipos, espionagem e violação de correspondência (ate5 que ponto é
guns que estão "semeando". Talvez, mas neste caso onde estio difícil de avaliar). Existe vandalismo ocasional - o auditório da
igreja batis'ta foi totalmente incendiado, um hotel onde a congre-
200
I
, I'

gaçáo de Tiberíades costumava reunir-se foi invadido, um piano Em suma, os que divulgam o Evangelho devem esperar
i foi destruido na Assembléia Messiânica de Jerusalém. E há um oposição - leia-se o Livro dos Atos. Mas nada digno do nome
fluxo contínuo de agressão verbal contra Yeshua, o Evangelho e "perseguição" acontece por aqui - ninguém é expulso da cidade
os crentes, vindo de uma minoria insignificante de "anti-missio- e espancado por causa de pregar a Palavra, como aconteceu a
nários". Ademais, embora em princípio exista liberdade religiosa, Sha'ul (Atos 14,19). Devo dizer "Louvado seja.0 Senhor!", ou
I
o governo nem sempre a apoia com o vigor a que estão habitua- "Que vergonha!"?
I dos os norte-americanos; em vez dessa a atividade anti-missioná- Respondendo a Oposição.,Uma coisa digna de nota é que,
ria conta com aprovação, pelo menos tácita, de certos ramos do
ii governo e às vezes apoio financeiro encoberto.
como Sha'ul baseando-se na cidadania romana para defender seu
direito de pregar - a comunidade dos crentes começa aqui a res-
4 Mas não é ilegal em Israel falar aos judeus sobre Jesus?", ponder à oposição de modo amadurecido e comedido, em vez de
1 perguntam-me. Não, não é. Em 1977 foi aprovada uma lei contra se retrair por detrás de portas fechadas "por medo dos judeus"
sobornar alguém para mudar de status, conforme registrado ofi- (como se acha na maioria das traduções de Yochanan (João)
cialrnente na carteira de identidade, passando de uma religião pa- 20,19).t9 Nossos amigos An e Shira Sorko-Rarn moveram ação
li ra outra; mas ninguém foi jamais acusado do crime e menos ainda
I condenado (um caso recente em preparação, que não teria chan-
ces de vencer num tribunal, foi discretamente retirado pelo go-
contra o prefeito de Ramat HaSharon por difamá-los numa reu-
nião do conselho da cidade, descrevendo-os como "missionários"
que "subornam crianças para convertê-las ao cristianismo"; o

1i
verno). Além disso, a maioria dos judeus que acreditam em Ye- prefeito foi obrigado a publicar uma retratação. Os PeylUn pres-
shua como o Messias de Israel não modificam o seu status oficial sionaram a Cidade de Jerusalém no sentido de mover ação contra
e se oporiam a modificá-lo por princípio, uma vez que não deixa- a organização Netivyah por organizar reuniâes públicas num pré-
I
II ram de ser judeus.

,
dio em zona residencial (embora a Prefeitura tivesse enviado car-
I
11 "Suponhamos que Yad L'achirn descubra" (Yad L'Achim, tas de aviso a dezenas de violadores do zonemnto, sem levá-
literalmente "Uma Ajuda Para Os Irmãos", conhecidos também los, porém, à justiça); combatemos este caso de infração pedindo
I como Peylim, -"AtivistasV, é a mais conhecida organizaçáo anti-
1 1 ao juiz que o resolvesse com base em discriminação reIigiosa, e
I
I missionária). Isso nos leva de volta ao assunto medo, e a nossa em resultado parece que a Prefeitura deixou o caso morrer. Mas
resposta é: "Suponhamos que saibam. E daí?" E bem mais im- ainda temos um recurso para responder publicamente à difamação
portante divulgar o Evangelho do que desperdiçar tempo preocu- pública de Yeshua e seu Corpo.
pando-se com um bando de nudniks. Os Peylim produzem relató-

'1 1
Usar a Oposição Para Divulgar o Evangelho. A oposição
rios sobre missionários e crentes judeus, em geral cheios de men- espera que os crentes se acovardem e atemorizem, e infelizmente
tiras, subentendidos e desinformação. Para dar exemplo de alguns

1
suas expectativas têm se concretizado com muita frequência. Lu-
anos atrás: um operáno cristão foi descrito numa dessas pubIica-
1 ções como tendo sido forçado a sair do país; subentendia-se que
tamos contra isso depois de aprender a importância da ousadia e
da estratégia. Aqui vai um caso.
os Peylim o haviam pressionado a isso, Na verdade o homem A intervalos os Peylim lançam uma campanha contra os
1 morrera.
Além disso, não só são poucos os que os apóiam, como são
cristãos em geral e os judeus messiânicos em particular. Isto os
ajuda a convencer os contribuintes do exterior de que estão fa-

1
i,
numerosos os que os combatem, judeus seculares e de qualquer
outro tipo, que desprezam extremistas religiosos de mentalidade
estreita, sejam de que espécie forem. Um judeu messiânico é capaz
de conquistar simpatizantes em Israel fazendo apelo aos judeus se-
zendo alguma coisa. H&três anos organizaram uma passeata e es-
palharam posters por toda Jerusalém, advertindo os judeus de que
deviam se abster de envolvimento na Netivyah, na Assembltia
Messiânica, no Centro Caspari (que se dedica à educação teológ
i! I culares que a p ó k os direitos civis e combatem a ortodoxia, ca dos crentes de língua hebraica) e a Igreja Batista (que
203
certo número de crentes judeus). Em geral a comunidade de 3. Judeus Messiânicos e Aliyah
crentes não teria reagido publicamente; no máximo alguém envia-
ria uma carta ao editor de T h Jerusalem Post. Neste caso toma- A medida lógica para quem considera Israel a pátria dos
mos a iniciativa e escrevemos o texto para o poster abaixo, irn- judeus é "fazer aliyah", isto é, imigrar para Israel. (O significado
presso em hebraico : literal de aliyuh é "subir". A geografii espiritual do mundo é de
tal modo que de qualquer Iugar, até mesmo do Evehest, & & - s e
para Israel). Mas raros são os judeus norte-americanos, messiâni-
cos ou não, que fazem aliyah. Estou convicto, nas profunclezas de
os JUDEUS MESSIÂNICOS minha alma, de que devia haver mais judeus messiânicos em Is-
AGRADECEM mel. Há duas maneiras pelas quais nós, judeus messiânicos que já
AOS PEYLIM / YAD L'ACHIM! estamos em Israel, podemos ajudar a concretizar isso: incentivan-
do nossos filhos a observar a fé, e evangelizando a população ju-
Querenaos agradecer a esse pequeno grupo de extremistas ultra- daica israelense. O terceiro modo é, naturalmente, aumentar o
ortodoxos pela publici& que seus posters e passeatas angaria- número de judeus messiânicos que fazem aljah.
ram para: qmtro grupos de cristãos e judeus messiânicos que en- O Desafio. Somente depois de virmos para cá e voltarmos
s i m a respeito de aos Estados Unidos de visita descobrimos quanta indiferenqa e
até oposição existe entre os crentes judeus na questão da aliyuh.
YESHUA, O MESSIAS! Tive a mais clara demonstcaçáo quando fui convidado a apresen-
tar um relatório de Israel a um grupo de judeus messiânicos, anos
Os judeus messiaaicos e seus amigos convidam a todos os que atrás. Havia cerca de cem pessoas presentes. Perguntei quem era
desejarem saber a respeito do Novo Testamento e de Yeshua, O judeu e cerca de metade do público levantou a mão. Pedi aos que
Messias de Israel, a virem a (nomes, endereços e telefones dos esperavam um dia viver em Israel que mantivessem a mão suspen-
quatro grupos). sa, e 90% o fizeram. Perguntei então: "Quantos de vocês que es-
peram ir para lá começaram a planejar a sua aliyah?" Todos, ex-
ceto três ou quatro, baixaram a mão.
Falei ao grupo: "Supondo que sejam como a maioria dos
crentes judeus com quem converso nos Estados Unidos - dizem '

É provável que apenas uns 20 destes posters tenham sido em geral que o motivo de ainda não terem começado a planejar é
afixados, e foram todos rasgados em poucas horas; A nossa res- não se sentirem chamados a tomar esta decisão. Mas não precisam
posta foi publicada em pelo menos três jornais hebraicos e até re- de um chamado especial", falei, "porque os crentes judeus já fo-
gistrada num jornal judaico no exterior. Por que? Porque transmi- ram chamados por Deus, na Escritura! Vocês sabem que Deus
tiu com muita clareza uma mensagem oculta: "Não tememos. Não concedeu Eretz-Yisrael aos judeus, e se isto não os inclui, por '
nos calaremos. Utilizaremos a oposição em benefício do Senhor". que se denominam judeus messiânicos? Em Isaías 51,ll lemos
Que eu saiba, os Peylh não colocaram mais cartazes contra os que "os remidos do Senhor voltarão e entrará0 cantando em Sião,
crentes e desde então encontraram, aparentemente, outras manei- e alegria eterna descerá sobre sua cabqa. O j4bilo e a&gria os
ras de angariar fundos. invadirão e a tristeza e os lamentos fugirão". No contexto, "os
Comlusdu. Em swna, se ser messiânico é a maneira mais remidos do Senhor" são o resto de Israel, que na p&senteLera
emocionante de ser judeu, Israel é a cidade mais emocionante pa- significa judeus messiânicos. Em EzequieI 36,26-28, depois que
ra um judeu messihico viver. E isto nos leva ao tópico seguinte. Deus fala "Colocarei em vós um novo espírito", o que é real&-
~ *

204 205
Unidos da América. Mas, urna vez que a possibilidade, ou antes,
do no sentido individual quando um judeu passa a crer em Ye-
a normalidade da aliyah judeu-messiânica for colocada diantede-
shua, Deus prossegue: "E habitareis a terra que dei a vossos
les, juntamente com os fundamentos da Escritura, inúmeros ju-
pais", o que se realiza quando o judeu se muda para Israel.
"Assim, caso estejam esperando um chamado de Deus para deus messiânicos sentem-se interessados e desafiados.
fazer aliyah, entenderam tudo às avessas! Precisam um chamado Segundo - Entrem em contato com pessoas capazes de
de Deus para saber que devem permanecer no Galut! Na Escritu- orientá-los e incentivá-los. Mudar de país é complicado, sem dú-
ra, galut é considerado uma maldição, não uma bênção. Há quem vida; mas a única maneira de expor suas preocupagóes particula-
tenha recebido este chamado e serve a Deus produtivamente nos ries e ver respondidas as suas perguntas e comunicarem-se. Ente-
Estados Unidos ou noutros países. Mas se não foram pessoal- retanto, aqui vão algumas indicações gerais:
mente chamados por Deus para permanecer na Diáspora, deve- * Lei do Retorno. O Estado de Israel tem urna "Lei do
Retomo" que permite a todos os judeus "voltarem" a Israel e ali
riam pensar seriamente na aliyah, não em esperar um chamado
especial de Deus. Ninguém acorda de manhã dizendo: Será que
se tomarem cidadãos. (Os judeus norte-americanos não precisam
Deus vai me mostrar que devo roubar um banco hoje, ou matar renunciar, para isso, à cidadania norte-americana). A Lei do Re-
alguém? Todos já conhecem a vontade de Deus, pois que ele a tomo é is vezes executada de maneira que tende a excluir judeus
manifestou nos Dez Mandamentos, de modo que não precisam de messiânicos renomados porque define "judeu" como "pessoa
um chamado especial para deixar de assaltar ou assassinar. De nascida de mão judia, ou convertida ao judaísmo, e que não seja
igual modo a vontade de Deus para os judeus, sejam crentes ou membro de outra religião". Em 1978, a Suprema Corte de Israel
determinou que Esther Dorflinger, crente em Yeshua, nascida de
não, com referência à aiiyah é claro como cristal, embora não es-
mãe judia, não podia fazer aliyah como judia sob a Lei do Retor-
teja manifesto como mandamento. no, com base em que ela era ''membro de outra religião". No en-
"O Estado Judaico existe na Terra Prometida. Venham vi-
tanto, sou de opinião que este caso não estabeleceu um prece-
ver nela, ser chalutzim, pioneiros. David Ben Gurion e Golda
dente universal e que há condições em que os judeus messiânicos
Meir restauraram fisicamente a Terra, mas vocês serão os chalut-
podem imigrar legalmente sob a Lei do ~ e t o r n oPlaneiem
.~~ - ~ .cui-
--
- -- -
zim espirituais que levam a Palavra de Vida a um povo muito se- . .
dadosamente e consultem pessoas bem informadas, porque, para
dento! Ou incentivem as suas congregações inteiras a fazerem
citar um provérbio modemo, "Só se tem uma chance de acertar na
aliyah em grupo, como os primeiros pioneiros. Planejem agora a
primeira vez".
sua aliyah! Venham cantar em Sião e suas cabecas serão cingidas
Se sua mãe não é judia, aliás, segundo a halakhah e a Lei
de eterna alegria!" do Retomo você não é judeu. Contudo, se seu pai ou avô se
Conselho Prático. Se estão pensando em realizar pessoal-
ajustam à definição de "judeu" segundo a Lei do Retorno, ainda
mente a promessa de Deus - "os remidos do Senhor (isto é, os que você seja abertamente conhecido como cristão terá o direito
judeus messiânicos) voltar50 e entrarão cantando em Sião, e eter-
na alegria cingirá a sua cabeça" - aqui vão alguns conselhos prá- inalienável de imigrar para Israel sob uma cláusula especial da
ticos. Lei do Retomo que trata de não-judeus descendentes de judeus.
O primeiro e mais importante a fazer é convencer-se total- * Dinheiro. Venham com dinheiro, se puderem. Se um ano
ou dois de trabalho árduo aumentar simcativamente as suas
mente de que a aliyah judeu-messiânica é da vontade de Deus e
economias taIvez valha a pena adiar a grande mudança, porque é
uma coisa boa para cada um pessoalmente. Confonne disse, a
maioria dos crentes judeus dos Estados Unidos, como a mioria bem mais fácií acumular dinheiro nos Estados Unidos que em Is-
rael. (Piada israelense: Como se faz uma pequena fortuna em Is-
dos incrédulos judeus - como eu próprio antes que Deus mudasse
a minha mentalidade - espera viver o resto da vida naquilo que rael? Trazendo-se uma grande fortuna).
considera a terra onde corre leite e mel, isto é, os velhos Estados * Trabalho. Venha com uma profissão, se puder. Mas an-
ido a Israel, visitem a Terra durante quatro ou seis semanas, para
tes de investir anos em treinamento verifique se seus talentos são sentirem o ambiente. Entrem em contato com os crentes de Israel,
necessário, se será bem pago o seu trabalho, se você será capaz para que eles forneçam indicações úteis e respondam às suas per-
de trabalhar sem amplo conhecimento do hebraico, e se seria me- guntas. Depois voltem para casa e planejem a diyah com base em
lhor adquirir em Israel e não no Galut as especializações da sua conhecimento direto, pessoal. Pois se uma foto vaIe mil palavras,
profissão. uma visita vale um milhão de fotos.
* Hebraico. Principie agora a estudar hebraico. Servirá tu- i! Peça Conselhos. É mais fáciI pessoalmente, mas até
do o que aprender. Se possível faça um curso que lhe proporcione através do oceano você poderá ser orientado a respeito do que
uma visão da estrutura linguística e da gramática, porque os ulpa- deve levar, onde morar, onde e quando adquirir equipamento,
nim de Israel (programas de ensino da língua hebraica) nunca o utilidades domésticas, obter emprego, finanças, aprender hebrai-
fazem. Uma vez que a maioria dos americanos acredita, lá no co, fazer amizades, orientar-se em questões espirituais - em suma,
fundo do coração, que o inglês é a única língua "verdadeira" no todos os detalhes que, reunidos, eventualmente constituirão o su-
mundo inteiro, estudar hebraico é a maior barreira para se adaptar cesso ou o fracasso dos que viajarem para lá. Os crentes que se-
a Israel. guiram na frente o ajudarão. Assim vocês evitarão armadilhas e
* Casamento. Filhos. Se você é solteiro, não faz diferença estarão preparados para as diíiculdades- que são muitas, mas que
casar aqui ou Iá, embora o pool de crentes judeus em Israel seja vale a pena enfrentar.
muito reduzido, Mas se você é casado, sem filhos e está pensando Terceiro - deixem o medo de lado. Lembrem-se de que
no que será melhor, ter filhos em Israel ou no exterior, vá para Is- quando Moisés enviou doze homens para sondar Eretz-Yisrael
rael e tenha-os ali mais tarde, porque o tempo e a energia neces- (Números 13-14), dois deles - Josué e Caleb - voltaram com boas
sários à manutenção da familia tornarão mais lentos o seu apren- notícias, incentivando o povo a ir em frente e conquistar a Terra;
dizado do hebraico e adaptação à cultura, ambos elementos es- mas dez apresentaram maus reIatórios, descrevendo os habitantes
senciais a uma uljlah bem sucedida e que exige um m'nimo de como demasiado fortes, invencíveis. Conforme sabemos, o povo
2-3 anos. Ainda assim, mesmo que já tenha filhos, vá! Muito bre- acreditou nos dez e recusou-se a entrar, embora Deus assim o
ve eles estarão ensinando hebraico a você, pois aprendem dos fi- quisesse. Por que se recusou? Pensem no assunto. Eles podiam
lhos a língua materna. escolher. Escolheram o medo e não a fé. Estou apresentando um
* Necessidades Espirituais. Faça planos para as suas ne- bom relatório sobre a T e m de Israel. Vão em frente e conquis-
cessiclades espirituais. Comece por consultar seus superiores e sua tem-na!
congregação, de modo a estar espiritualmente coberto enquanto Finalmente, nós e outros crentes judeus que fizemos ali-
planeja um passo muito importante de sua vida; não parta desor- yah, vindos dos Estados Unidos e de outros países, podemos ser
denadamente, esteja espiritualmente preparado ao chegar. Faça sua pátria longe da pátria, um pedacinho da "velha terra" para os
contatos em Israel e planeje de modo a ligar-se a outros crentes, turistas judeus messiânicos que estiverem considerando a aliyah,
não se tomando um ósao espiritual. Caso contrário, a excitação, e para os olim (imigrantes) que estiverem sofrendo choque cultu-
as dificuldades e os choques da vida no Estado de Israel causarão ral, animando-os quando deprimidos, solidários ou fmstados. Pelo
um de três resultados, todos maus: você ficará espiritualmente fato de que a maioria de nós ainda se encdntra no estágio de ser-
isolado e assim inútil para o Reino, ou não se adaptará e deixar&a mos absorvidos em Israel, estarnos bem colocados para descer um
Terra, ou se afastari da f6. Conheiaeço vários casos dos três tipos, e ou dois degraus, ao encontro de vocês. Venham para uma visita
todos poderiam ter sido evitados se as pessoas tivessem se mos- ou estada permanente, nós diremos: " B a h-ba ~ ba-shem
trado menos paranóides e mais zelosas com relaçáo a reunirem-se Adunui (Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor)".
a um grupo de crentes em Israel.
* Visitar. Se for possível, em especial se nunca tiverem
4. Programa Judeu-Messiânico Relativo a Israel

O movimento judeu-messiânico deveria criar instituipjes


adequadas para promover aliyah.de judeus messiânicos e auxiliar
o judaísmo messiânico e a evangelização judaica no Estado de 1s-
rael.
Deveria haver instituiçóes designadas para cooperar com a
comunidade judaica não-messiânica em conexão com o apoio do
Estado de Israel, embora isto deva ser feito com cuidadosa previ-
são. Conhqo uma igreja que entregou grandes somas de dinheiro
ao Estado de Israel, que as distribui de modo que parte dos fun-
dos chegue às mãos de yeshivm ortodoxos, que ensinam as pes-
soas a odiarem Yeshua. Isto não é boa administração. E melhor
designar fundos para auxiliar os idosos, plantar árvores, ou outras
atividades neutras.
O movimento judeu-messiânico deve ser cauteloso ao coo-
perar com organizqões sionistas cristãs (gentias), uma vez que
elas podem estar trabalhando para objetivos um tanto diversos,
com motivos um tanto diferentes, e sob diversas pressóes. A sepa-
ração organizacional talvez seja mais útil.
Sem levar em conta o que faz o movimento judeu-messiâ-
nico em geral, judeus messiânicos podem individualmente apoiar
Israel, visitá-lo, ou fazer d j a h .

Nunca vi um desenho como a Figura 6 num livro de teolo-


gia. Ou num manifesto. Mas como sou economista vejo cerca de
vinte diagramas como este em cada exemplar da American Eco-
nomic Reviav. Sim, sei que Thomar Carlyle rotulou a ecopiamia FIGURA 6
de ciência depressiw, mas procw-em me acompanhar. EM QUE DIRECAO?

No eixo horizontal é medido o "judeu". Isso inclui envol-


virnento na vida da comunidade judaica, comparecimento regular
h sinagoga, vida segundo p a d h s éticos, fazer mitzvot, "aprendi-

211
zado" (o que os yeshiva bockrs chamam de estudos rabínicos), direito superior, "100% judeu e 100% messihico", a um grau
comer lox e bagels, etc. Seja qual for o complexo de coisas que desconhecido no momento. Segundo a minha compreensão do
envolva a palavra "judaico", se você estiver mais à direita rece- cristianismo hebraico, sua expressão máxima (MCH) seria menos
berá mais. V& começa como um bebê (em O, de "origem", ou judaico, mas plenamente cristão. Por uma questão de plenitude
de "zero"), e à medida que vai crescendo, aprendendo e toman- conceitual exibimos também uma gama de possibilidades extre-
do-se cada vez mais "judeu", passa de J-menos (m-ha'aretz, li- mamente judaicas, mas limitadas messianicamente (MJLM), que
teralmente "povo da terra", mas significa uma pessoa ignorante levam pessoas ao renascimento, mas atrofiam de certo modo o seu
em judaísmo) a J-zero, "o judeu médio". Então, se você prosse- crescimento no Senhor.
guir, passará para J-mais e se algum dia chegar a JM ("o judeu Tomemos agora o judeu típico, J-zero; vamos chamá-lo Jo.
máximo") você "conquistou tudo a que tinha direito". Talvez de- I
Deus fez em sua vida o maior dos milagres: salvou-o. Que acon-
va chamar a esse estado elevado de "TC", talmid chacham ("- tece então com ele? Para onde ele vai daí em diante?
~ d i t o sábio"),
, ou "LV", ' 'lamed-vavnik'', um dos chamados 36 Conforme verificamos, no quarto século ele seria solicitado
homens justos, em cujo favor, segundo a tradição judaica, Deus a seguir o Caminho (I), de volta ao O, e acompanhar o eixo verti-
preserva o mundo. cal, conformando-se inteiramente aos padrões gentios e renun-
Verticalmente mede-se "messiânico" e "cristão" (e uso ciando totalmente ao seu judaísmo. E desde o quarto século este
aqui os termos com amplitude, como sinônimos). Os pontos do tem sido um caminho aceitável, e até normal, para o judeu que
eixo vertical são os cristãos gentios (uma vez que o componente quer ingressar na Igreja.
judaico é zero). "Messiânico" ou "cristão" inclui codíança em Mas nem sempre a Igreja foi tão restrita e muitas vezes
Yeshua como Salvador, Messias e Senhor, exibindo o fruto do permitia que Jo fosse quem era. Contudo nada fez para preservar
Espirito, possuidor de entendimento teológico, levando uma boa o judaísmo de Jo e uma vez que ele estava numa igreja de gentios
vida de oração, cuidando das viúvas e dos órfãos, etc. - mas em cristãos, cercado de amigos quase todos gentios cristãos, seu
que mistura e com que outros elementos deixo a juizo do leitm. comportamento e atitudes tomavam-se graduaimente menos judai-
Quanto mais alto se está, mais se recebe, e em JMIC ("ais- cos e mais gentilizados à medida que crescia na fé, seguindo um
tãolmessiânico máximo") a pessoa "tem de tudo". caminho mais parecido com (2).
Evidentemente "ter de tudo" é absurdo em ambos os casos, Surge então o cristianismo hebraico no sécuIo 19, trazendo
u m vez que Deus é infinito e nós somos fínitos. Por outro lado, a noção de que um judeu pode permanecer judeu, sendo embora
nosso potencial para nos tomarmos semelhantes a ele, nos adap- cristão. Não houve preocupações de aumentar o judaísmo de Jo,
tando cada vez mais imagem do Messias, ou nos desenvolvendo mas também não houve pressão para diminui-lo, tomando-o mais
ao longo das linhas de ser judeu ou messiânicolcristáo, não é ex- gentilizado. Seu judaísmo era questão indiferente no que se refe-
plicitamente limitado. Mas já que não podemos traçar diagramas ria à fé. De modo que ele enveredou pelo caminho (3), onde não
infinitos, nós nos arranjaremos com o que temos. adquiria mais judaísmo, nem perdia o que tinha. Se este diagrama,
Os judeus não-messiânicos agarram-se ao eixo horizontal e com sua Fronteira, é traçado de modo a refletir uma realidade, ele
os cristãos gentios em geral permanecem no eixo vertical, mas os chega a um ponto ALCK (atual limite do cristianismo hebraico)
judeus messiânicos vagueiam para acima do eixo horizontal-e onde se torna difícil seguir direto em frente (direto para cima);
descem para o espaço inferior, à esquerda da linha da "Frontei- isto é, para Jo crescer na fé ele precisa ser pioneiro por detrás da
ra". Esse espaço representa formas disponíveis agora, hoje, para Fronteira, onde renunciará 2 parte do seu judaísmo. Por que? Tal-
expressar em conjunto a fé judaica e messiânica. Aldm da Frontei- vez haja tão poucos cristãos hebreus que mantenham o judaísmo
ra, acima 55 direita, há formas que ainda não foram alcançadas. sequer ao nível de Jo, que para crescer na fé ele vai necessaria-
O Apice do Judaísmo Messiânico (AJM) estaria no canto mente acrescentando à sua vida novas experiências gentias,
212 213
icrderíamos falar mais longamente sobre a Figura 6, desco-
adiantando-se assim ao longo da Franteira em ACHH (Ápice do- brindo significados para outros pontos, caminhos e regiões do
Cristianismo Hebraico Hoje). gráfico. Outro interessante raciocínio experimental é analisar o
A meta do Ápice do Judaísmo Messiânico (AJM) apresenta que significa traçar de modo diverso a Fronteira, ou dedocá-Ia.
ouúa possibilidade, ou seja, Jo crescer ao mesmo tempo messiâ- Mas existe uma outra dimensão, uma dimensão que sobe,
nica e judaicamente, adiantando-se ao longo do caminho (4). Mas sai do gráfico, do livro e penetra os espaços celestiais com Deus.
em ALJM (atual limite do judaísmo messiânico) ele chega i Esta dimensão não pode ser dqmonstrada no papel, tem que ser
Fronteira; e, conforme tracei a Fronteira, ALJM está em nível in- vivida. Sem esta dimensão o "Apice do Judaísmo Messiâoico" fi-
ferior de fé messiânica, mas em nível mais elevado de expressão ca preso à terra, morto, reduzido às palavras de um livro, a grul-
judaica do que PLCH. Se a Fronteira assim traçada (caíndo para a cos traçados no papel. Com ela, com a dimensão do Deus vivo,
direita) reflete de fato a realidade, é, em si, questão a examinar. com ele, o judaísmo messiânico alcançará o seu destino último, e
Espero que Jo não se desvie para o caminho (5) que o con- o Deus que nos criou a todos, e nos deu a Turah,-e a nosso Mes-
duz a uma forma limitada de fé messiânica, embora cresça em co- sias Yeshua, nos levará à meta prometida.
nhecimento do judaísmo.
E se ele não estivesse salvo poderia ter seguido o caminho "Ó abismo de riqueza,
(6) tornando-se taEPnid chacham (não-messiânico). de sabedoria e de ciência em Deus!
SE VOCÊ É JUDEU MESSIÂNICO, JO E VOCE. EM Quão impenetráveis são os seus juízos
QUE DIREçÃ0 ESTA SEGUINDQ? e inexploráveis os seus caminhos!
Não precisamos excluir os cristãos gentios do quadro C. é Dele e por ele e para ele
um cristão gentio que, sem tentar judaizar-se, decide apoiar o são todas as coisas.
movimento judeu-messiânico. Ele sai do caminho (7) rumo a A ele g16ria por toda a eternidade!
Al'M. Sua experiência neste caminho será muito diferente da de Amém;21
Jo, mas se Jo estiver no caminho (41, ambos têm o mesmo objeti-
vo. Mas C chegaria à Fronteira em X, que representa o "atual li-
mite dos cristãos gentios que apóiam o movimento judeu-messiâ- 1 Veja Capítulo 11, seção B. Sobre a hist6ria judeu-messilnica anterior
veja Capítulo 111, seção F.
nico"; é menos judeu e mais cristão do que LACH. E isto é de se 2 1 Coríntios 13,I2
esperar, porque C não é judeu. Ele absorve o judaísmo como um 3 Yochanan (João) 7,38.
estranho, e seu bckcbcgrod inclui, provavelmente, eIementos 4 1 Coríntios 1,12.
culturais cristãos de que Jo não pariilha. Mesmo na Fronteira (se- 5 Veja Salmo 105,15.
gundo o desenho) seu "judaísmo" 6 mais ou menos o mesmo de 6 Deuteronômio 31,6-7-23; Josué 1,6-9-18. Sobre a necessidade da
santidade para resolver nossos conflitos veja capítulo VI, seção C-2.
J-menos, o am-ha'aretz. 7 Romanos 8,28.
Mas deve Jo olhar C com w de superioridade por causa 8 O estrato teológico explica porque a evangeIização judaica difere de
disso? Nunca! Nós nos amamos uns aos outros no Senhor, consi- todas as outras, porque a "contextualiza~ão" do EvangeIho é inaequa-
deramos o próximo melhor que nós mesmos, nada fazemos por da, e porque é necessária a "evangelização Tipo IV". Veja Apêndice,
egoísmo ou vaidade, somos da mesrna opinião e vivemos de acor- Parte B.
9 Ya'akov (Tiago) 1,27.
do. O cadinho norte-americano transformou-se há muito tempo 10 Para os curiosos : Deus não disse com paIavras, mas me concedeu a p?z
numa panela de cozido, de modo que apreciamos uns aos outros ao fazê-lo e afastou o bloqueio que me afligiu quando eu tentava es-
tais como somos, sem desejar que os gentios sejam mais judeus, crever este livro. 2.
ou os judeus mais gentios. O AJM é um alvo que tanto judeus I I Veja Capítulo 111, notas 43-45.
como gentios devem procurar atingir sem se tomar cópias uns dos 12 Três antologias dos testemunhos de judeus que ingressaram na f é mes-
outros. 214 215
siânica nas Últimas décadas: Ruth Rosen. ed , Jesus For Jews (San APÊNDICE : RESTAURANDO O JUDA~SMO
Francisco: A Messianic Jewish Perspectiva, 1987); Mike Evans e Bob DO EVANGELHO
Summers, Young Lions of Judah (Plainfield, Nova Jersey, Logos In-
ternational, 1974); e James Hefley, The New Jews (Wheaton, Illinois,
Tyndale House Publishers, 1974). Três antologias de testemunhos de
judeus que ingressaram na fé de 50 a 150 anos passados : Henry e Ma-
rie Einspruch, eds., Would l?Would You? (Baltimore, Maryland, The Este apêndice apresenta uma simples mensagem, isto é, a
Lewis and Harriet Lederer Foundation, 1970); Jacob Gartenhaus, Fa- menos que a Igreja faça todo o possível para restaurar o judaísmo
mous Hebrew Christians (Grand Rapids, Michigan, Baker Book Hou-
se, sem data); e Zola Levitt, Meshumed! (Chicago, Moody Press, 1979).
do Evangelho ficará sem o elemento-chave da mensagem de
13 Op. cit. no Capitulo 111, nota 46. Deus. Não poderá, portanto, cumprir corretamente a Grande Mis-
I4 Esta informação foi prestada em grande parte por Joseph Shulam, que são, e o povo judeu não será o tipo correto de "luz das nações".
pertence à comunidade judaica búlgara de Israel. Conheci pev Daniel Os sete capítulos da parte principal deste Iivro examinam o
em 1974 e ouvi seu testemunho. que constitui o acima mencionado "judaísmo", e deixa bem claro
15 Veja, por exemplo, Walter Jacob, Christiani~Through Jewish Eyes, que o encargo de desenvolver o judaísmo messiânico recai so-
(Hebrew Union College Press, 1974), F E. Talmadge, ed., Disputatioa
and Dialogue; Readings za the Jewish Chrisrian Encounter, Trude bretudo, necessariamente, sobre os judeus messiânicos. Este
Weiss-Rosmarin, ed., Jewish Expressions on Jesus: An Anthology (No- apêndice, contudo, destina-se principalmente aos c r i s h s gentios,
va Iorque, Ktav hblishing House, 1976). a vasta maioria da Igreja; e demonstramos aqui que o judaísmo do
16 Henry Einspnich, The New Testument in Yiddish (6204 Park Heights Evangelho precisa ser restaurado, esta é a idéia principal que de-
Avenue, Baltimore, Maryland, The Lewis and Harriet Lederer F'oun-
dation).
sejo comunicar a todos os crentes. Peço aos cristáos não-judeus
17 Isaías 2,3. que partilhem a responsabilidade de restaurar o judaísmo do
18 Capítulo 11, seção B-4. Evangelho e façam o que for possível para transmitir este con-
~ cit., no capítulo 11, nota 20) traduz co-
19 The Jewish New T e s f m e n(op. ceito aos membros da Igreja que possam ser instrumentos nesta
mo 'cjudaicos" e insiste nisso. realização.
20 O primeuo caso relativo ao direito de um judeu que crê em Yeshua fa- Quando a Igreja proclama um Evangelho sem a restauração
zer aliyah sob a Lei do Retorno foi o do "Irmão DaníeI" Rufeisen, em
1961. Em seu requerimento, ele se descreveu como judeu de nacionali- do seu judaísmo está, no melhor dos casos, deixando de procla-
dade e católico de religião. A corte decidiu que, embora ele fosse judeu mar "todo o conselho de Deus" (Atos 20,27). No pior dos casos,
segundo a hahkhah, o Estado não o consideraria judeu segundo a Lei talvez esteja comunicando o que Sha'uI (Paulo) chamou de "outro
do Retorno, porque o homem da rua não reconheceria como judeu um Evangelho" (Gálatas 1,6-9). Ademais, não são só os judeus que
monge carmelita de burel marron e cruz pendurada no pescqo. Esse sofrem com esta pregação desfocada - os gentios sofrem também.
argumento do "homem da rua" perdeu sua força recentemente na me-
dida em que é apIicado aos judeus messiânicos. Uma pesquisa entre o Creio, portanto, que estou focalizando um problema extrema-
público judeu israelense, feita pelo Instituto de Pesquisas Dahaf, o mente sério, que não recebeu dos cristãos a atenção merecida.
equivalente ao Instituto GaIIup, revelou que 78% do público judeu is- Em vez de "restauração", o que vem sendo ensinado nos
raelense considera os judeus messiânicos leais ao povo judeu ao Estado círculos missionários é a "contextuaIização" do Evangelho.
de IsraeI e acha que devem ter permissão para fazer aliyak sob a Lei do Contextualização ficam aquém da restauração. A seçáo B exami-
Retorno. Na verdade os resultados foram ainda mais favoráveis, pois
apenas 17% votaram contra nós (os restantes 5% não tinham opinião na porque esta é uma abordagem inadequada à evangelizaçãodos
formada), ou seja, somos apoiados por uma maioria de 82% de judeus judeus.
israelenses de opinião formada. Não apenas isso, mas uma checagem Na seçáo C, eu exploro três propostas com as quais supo-
por auto-identificaçáo religiosa demonstrou que até 77% dos religiosos nho que os leitores concordarão. Não fazem parte propriamente
(dati) são o nosso favor! do judaísmo restaurado, mas este as pressupõe: primeira - o cris-
21. Romanos 11,33-35,Jewish New Testament.
tianismo é judeu; segunda - o anti-sernitismo' não é cristão; e ter-
a obediência aos quatro mitzvot (preceitos) esboçados em Atos
ceira - rejeitar ou negligenciar a evangelização dos judeus é anti-
15,20.
semitismo. Nesta parte examino ainda o que Sha'ul queria dizer
Mais tarde, Sha'ul enunciou de modo ainda mais claro at6
quando declarou em Romanos I,16 que o Evangelho é o poder de
onde estava disposto a ir para conquistar as pessoas - todos, ju-
Deus para a salvação "primeiro dos judeus".
deus ou gentios - para o Senhor. Ele escreveu em 1 Corhtiss
A seção D examina as bênçãos que fluem, tanto para os ju-
9,1!?-22:
deus como para a Igreja, da restauração do judaísmo do Evan-
"Embom livre de sujeição a qualquer pessoa, eu me
gelho.
fiz servo de todos, para ganhar o maior número pos-
Conjuguei este apêndice com partes dos Capítulos 111, TV e
V do; Manifesto J&u-Messidnico para formar um livro mais
sível. Para os judeus fu-me judeu, a fim de ganhar
os judeus. Para os que estão sujeitos à Lei fiz-me
curto, entitulado-RestoringThe Jewishness Of The Gospel, desti-
como se eu estivesse sujeito à Lei embora não o es-
nado principalmente a um público de cristãos gentio!. E sua fina- teja, a fim de ganhar aqueles que estão sujeitos 21
lidade apresentar algumas das idéias a serem encontradas no Ma- Lei. Para os que não t2m Lei fiz-me como se eu não
nifesto de forma mais breve e menos exigente. Quem ler o Muni- tivesse Lei, ainda que não esteja isento da Lei de
festo não precisa ler Restoring. Quem ler Restoring e ainda achar Deus - porquanto estou sob a Lei do Cristo - a fim
que ficaram perguntas sem resposta, quiser explorar mais profun-
de ganhar os que não têm Lei. Fiz-me fraco com os
damente as questões, ou dese ar compreender melhor o meu ponto
fkacos, a fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para
de vista deve ler o Manifesto.-i2
todos, a fim de salvar alguns".
Ao citar o texto sou forçado, por causa das críticas feitas
B . CONTEXTUALIZAÇAOVERSUS RESTAURAÇAO em geral, a observar que, ao tornar-se ''tudo para todos", Sha'ul
não se apresentava como um camaleão, ou um hipócrita. Ao dizer
1 . Cristianismo e Cultura
que "se tornou" como os outros afirmava que se colocava na sua
posição, empatizava com eles, tentava compreender seu estado de
espírito, dava atenção à questão "de onde vinham eIes" e "onde
A "Grande Missão" de Yeshua para a Igreja era fazer dis-,
Mas tão logo os primeiros judeus se encontravam". O que o motivava era o desejo de conquistar os
cípulos de todas as
perdidos. Poderia ter sido preguiçoso, pedido aos outros que se
messiânicos principiaram a buscar os gentios foi preciso separar o
adaptassem à sua cultura em vez de empatizar com a deles. Mas o
Evangelho do seu contexto cultural, de modo que sua mensagem
chamado de Deus em sua vida forçou-o a ir aIém, na verdade a
essencial não ficasse sobrecmegada com bagagem culturaI des-
L ' e s ~ r a ~ i ~ a ràs
- snecessidades
e~' dos outros.
necessária à salvação.
Aprender que a Nova Aliança não exigia dos gentios torna- Em suma, Sha'ul náo forçou os gentios a adotarem a cultu-
ra judaica. Compreendeu que a mensagem do Novo Testamento
rem-se judeus para se salvarem foi um processo traumático para
para os gentios era de fato, nas palavras de Phil Goble, "judaísmo
os judeus que acreditavam em Yeshua (Jesus). Isto começou com
transcultural", ou como passou a ser conhecido, cristianismo.
a visão de Kefa (Pedro) e a conversão de Cornélio? Mas foi
Sha'ul, o emissário dos gentios, quem elaborou muitos dos deta- b. Cristianismo Não-Transcultural
lhes. Ele estava presente no Concílio de Jerusalém quando Ya'a-
kov (Tiago) anunciou a decisão de que os gentios não precisariam Mas nem todos os que tentaram levar a mensagem do
Evangelho através de barreiras culturais compreenderam os prin-
ser circuncidados e obedecer a Torah (a Lei) conforme se passara
cípios da evangelização transcultural como Sha'ul os ensinou.
a crer no jadaísmo tradicional. Em vez, o único requisito de in- Muitas vezes acontecia exatamente o oposto: o Evangelho era
gresso para serem plenamente aceitos como irmãos no Senhor era
218 219
confundido com a cultura, de modo que a mensagem não era ape- servamos kmhrut (as leis dietéticas judai~as)~.
nas converter-se do pecado para Deus através de Yeshua, mas Outro exemplo: muitos cristãos se ofendem quando judeus
também abandonar a própria cultura e tomar-se a ela estranho. messiânicos celebram as festas judaicas em vez de Nata1 e W-
Em certas partes do mundo, os missionários viviam (e ain- coa, embora as primeiras fossem mandamentos da Escritura, en-
da vivem) num gueto criado por eles próprios, "o complexo dz quanto as ùltirnas são invenções humanas. Uma das mais aq?:~
missão". Quando Deus tocava um nativo e lhe dava um novo es- expressões de anti-judaísmo na Igreja foi a controvérsia qu&or.'--
pírito, os missionários levavam-no para o complexo e lhe minis- cirnana do segundo século, que levou ao decreto do Concilio de
travam uma nova cultura (geraIrnente ocidental). Nicéia, orientado pelos gentios, segundo o qual a data para a ce-
James Michener descreve graficamente esta abordagem no lebração da morte e ressurreição de Yeshua não deveria ser esta-
livro Havaí. Este livro é historicamente errôneo e cheio de ten- belecida pela data do calendário judaico que marca a Páscoa.
dências e preconceitos anti-cristãos, mas adotaremos por um ins-
tante a perspectiva do autor. Ele descreve os missionários da No- 2. Contextualizando o Evangelho
va Inglaterra no início de 1800 exigindo que os nativos havaianos
construíssem igrejas de madeira com campanários e se vestissem A medida que os missiologistas - os erutidos que ajudam
como puritanos para se tomarem crisfáos. Precisavam tomar-se os evangelistas .e missionários no trabalho de obedecer à Grande
alienigenas em sua própria cultura. E exato que o s kamaainas Missão - começaram a examinar o problema das pessoas aliena-
costumavam andar nus e a disciplina cristã exige a modéstia: das da sua cultura para se tornarem cristãs, desenvolveu-se o con-
contudo, a modéstia não exige necessariamente a adoçio de um ceito de contextuaZizaçÚo. A palavra significa simplesmente apre-
traje estrangeko. Quando as pessoas se tornam cristãs precisam sentar o Evangelho no contexto da cultura de quem o recebe, e
apenas renunciar ao pecado, e não à sua cultura, à exceção de não fora dela. Pode-se até dizer que é um modo fantasioso de fa-
elementos específicos que infringem as normas da Escritura. lar a respeito daquilo que Sha'ul fazia naturalmente.
Quando o Evangelho é contextualizado, os novos cristãos
c. "Agora que VocE E Cristão, Coma um permanecem dentro de sua cultura e procuram amoldá-la, e a si
Sanduiche de Presunto!" mesmos, à vontade de Deus.
No que conceme à evangelização dos judeus tomou-se a. Contextualizando o Evangelho Para os Judeus
procedimento normal no quarto século não seguir o padrão de
Sha'ul ao apresentar o Evangelho da maneira mais simpática A fundação' daquilo que passou a chamar-se movimento
àqueles a que se destinava. Pelo contrário, não bastava que um hebreu-cristão na Inglaterra e noutros países europeus no decorrer
judeu aceitasse Yeshua como Messias, Salvador e Senhor; preci; do século dezenove foi essencialmente um esforço no sentido da
sava "converter-se ao cri~tianismo"~, o que em geral significava contextualização do Evangelho para os judeus. Os crentes judeus
adotar uma cultura estrangeira e exigia às vezés que a pessoa re- eram aconselhados a não abandonar seu povo, mas a continuarem
jeitasse tudo o que era judeu! Isto é evidente na profissão de fé da judeus na medida em que sua fé cristã permanecesse orbdoxa.
Igreja de Constantinopla, citada acima6, que os judeus tinham que Eram incentivados a festejar a Páscoa, Chnukah e outras datas e
professar se quisessem ingressar na santa Comunidade do Messias a expressar, de modo geral, o seu judaísmo. Eram também lem-
Judeu, Yeshua. brados de que a observância dos elementos da Lei Mosaica não
Observei anteriorii~enteque às vezes os judeus messiânicos garantia a sua salvação - e que eles, como os gentios, eram salvos
são solicitados a "comprovar o seu cristianismo" comendo um pela fé e não pelas "obras da lei".
sanduíche de presun~7;e que minha mulher e eu tivemos ocasião Claro que a contextualização era um avanço em relação 21
de perceber o mal-estar de líderes cristãos ao descobrirem que ob- exigência de que os judeus renunciassem a tudo o que havia de
220 221
judaico. Mas tratava dos crentes judeus como indivíduos-proble- de modo que o ouvinte responda com fé. No Tipo EH, esta termi-
ma, e não do judaísmo e do povo judeu como uma entidade cor- nologia aparece estranha e importuna. As idéias devem ser trans-
porativa erguendo-se contra o cristianismo e a Igreja, e fazendo mitidas de modo diverso aos ouvintes não-cristianizados, com
exigências conflitantes com respeito à verdade bíblica. exemplos tirados da vida, não com o jargão da igreja. No Tipo
b. Evangelizaçíio Tipo I, Tipo 11 e Tipo III HI, a linguagem e a cultura podem dificultar a própria expressão
dos conceitos.
Os missiologistas elaboraram uma tríplice classificação das
barreiras culturais e linguísticas através das quais o Evangelho c. Onde Entram os Judeus?
deve ser proclamado. Aonde se encaixam os judeus neste esquema? Caso se con-
A Evangelizqáo Tipo I é partilhar com cristãos de nome sidere os judeus candidatos ao Tipo II de Evangelização, como
na própria cultura. São pessoas que não só partilham a língua e membros não-cristianizados da mesma sociedade e gmpo de lin-
o background cultural, mas podem ter se criado frequentando a guagem, supõe-se que a Igreja proclame o verdadeiro evangelho,
igreja, ouvindo o Evangelho e lendo a Bíblia. Em suma, são de modo que a tarefa se reduz a contextua1iz.á-la. Queni assumir
"cris~ianizados", mas não renascidos. Em termos de facilidade de esta abordagem argumentara que se um habitante de Samoa pode
comunicação, este tipo de evangelização é o mais simples. (Se se- ser cristão e permanecer sarnoano, por que um judeu não pode ser
rá o mais fácil em termos de salvação é outro caso). cristão e permanecer judeu?
Evangelização Tipo II é feita com pessoas que partilham a Contudo há algo de estranho, errado até, em falar de con-
nossa língua e talvez vivam na mesma sociedade, ou numa socie- textualização do Evangelho para judeus; porque o Evangelho era
dade similar, mas cujos pressupostos culturais e religiosos talvez de início completamente judaico! Se as raízes do cristianismo são
sejam bem diferentes. Os cristãos brancos de classe alta que le- judaicas, se o próprio Evangelho é judaico em sua essência, por
vam o Evangelho aos negros de classe média e baixa e partilham que precisaria ser contextualizado para os judeus?
o Messias com brancos da rua estão engajados na EvangeIizaçáo A resposta C que ele não precisa, contanto que o Evange-
Tipo II. O mesmo acontece com os cristãos japoneses no Japão, iho do Novo Testamento seja de fato proclamado! Na verdade, o
onde o ambiente religioso é budista e shintoísta. Evangelho teve que ser contextualizado para os gentios! Foi este
A Evangelizaçí50 Tipo III leva o Evangelho através barrei- o ministério de Sha'ul. Foi a vitória de Atos 15, na qual o Concí-
ras culturais e linguísticas que parecem vezes insuperáveis. lio de Jerusalém decidiu que os gentios não precisavam tomar-se
A idéia é bem transmitida peIa imagem tradicional do missionário judeus para serem cristãos. Foi esta a vitória de Gálatas 2, na qual
numa selva primitiva, aprendendo a língua da tribo, inventando Sha'ul confrontou Kefa (Pedro) com respeito à judaização dos
um alfabeto, traduzindo a Bíblia, lutando contra o ambiente cultu- crentes gentios. A história subsequente, levando ao resultado de
ral e físico, a fm de tomar conhecida a graça de Deus. De iguaI que os judeus precisavam ser gentiiizados para se tomarem mes-
modo os cristãos da Coréia ou Indonésia que pregam à juventude siânicos demonstra até que ponto a prática se afastou dos princí-
descrente da Europa talvez estejam realizando a Evangelização pios que Sha'ul estabelecera no Novo Testamento. Indica também
Tipo 111. que algo de muito estranho havia acontecido pelo caminho ao
Cada um desses tipos exige a sua própria abordagem à Evangelho Judaico!
contextudização. Para dar um exemplo consideremos a apresen- E a prática desviou-se não só dos princípios de Sha'ul, co-
tação verbal de importantes conceitos teológicos. No Tipo F de mo de sua mesma prática. Sha'ul foi durante toda a sua vida judeu
Evangelizaçáo pode-se usar "linguagem cristã", com termos co- praticante. Segundo o Livro dos Atos, Sha'ul circuncidou Timó-
mo "pecado", "ressuscitado", "salvo", sendo o objetivo apro- teo (Atos 16,3); ia regularmente à sinagoga (17,Z); fez um voto
fundar a compreensão ~spiritualdo que esses termos significam, judaico (18,18); corria a Jerusalém para assistir à festa dos pere-
223
grinos de Shvu'ot (Pentecostes) (20,lá); pagava a outros judeus história pagã, e sim comunicar um Evangelho teologicamente cor-
para oferecer sacrifícios no Templo (21,23-27), declarou diante reto vis-a-vis o povo judeu, cuja história e papel na comunicação
do Sanhedrin que era então - a partir daquele momento e não da salvação de Deus é uma parte eterna da Sagrada Escritura. A
apenas uItimamente - um Parush (fariseu) (23,7); e decIarou ao Evangelização Tipo N é necessária para evangebizar o povo de
governador romano, Festus, que "nada tinha feito contra a Torah Deus.
que os judeus observam, IÍem contra o Templo" (25'8, versão do . Noutras palavras, contextualizar a forma gentia do Evan-
~ewishNew Testmnt). Finalmente, tendo combatido o bom gelho para os judeus é um duplo desvio. Originalmente a sua
combate, terminada a corrida e conservada a fé, podia dizer a um forma judaica era contextualizada para os gentios - a grande
público de judeus em Roma: "Nada fiz contrário ao povo ou aos contribuição de Sha'ul para a evangelização. Mas, 2 medida que
costumes dos antigos" (28,17) e a frase "costumes dos antigos" as primeiras comunidades judeu-messiânicas enfrentavam tempos
inclui iradiqks judaicas, assim com a Torah escrita. Se este tipo difíceis e desapareciam, desaparecia também o judaísmo origi-
de vida foi bom para Sha'ul é bom também para os crentes judeus nalmente presente, de modo que um Evangelho contextualizado
de hoje. Nada de sanduíches de presunto, por favor, para os ju- pelos gentios, privado de seu substrato judaico, era o único evan-
deus messiânicos que observam kusher. gelho existente, um leito procusteano no qual o crente judeu era
forçado a mentir. Recentemente esse Evangelho aproximativo (do
3. N a d a de Contextualizaçíío e ponto de vista judaico) foi retrabalhado, "contextualizado", para
Sim Evangelizaçáo Tipo lV fazer com que "se pareça mais judaico". Mas a dupla adaptação
De fato qualquer judeu, como Sha'ul, pode ser messiânico não e a mesma coisa que o original. Olhar para o reflexo de uma
e permanecer judeu. No entanto, julgar que isto resolve todas as pessoa no espelho refletido num segundo espelho não é o mesmo
questões é um grande erro porque foge à questão. A razão é que olhar para a pessoa.
teológica. Do ponto de vista sociológico, os judeus são uma O que a Evangelização Tipo IV requer não e um Evange-
cultura como outra qualquer, como os sarnoanos (na verdade lho gentilizado, contextualizado para os judeus, e sim a restaura-
não é assim tão simples, uma vez que existem muitas culturas ju- ção do judaísmo que está na verdade presente no Evangelho, mas -
daicas). que se tomou obscurecido. Ademais, os cristãos gentios também
Mas teologicamente os judeus são singulares porque Deus precisam do Evangelho que uma restauração do seu judaísmo lhes
os escolheu como veículos da salvação do mundo. Toda a Bíblia proporcionará.
hebraica o atesta, assim com o Novo Testamento (ver Yochanan Contudo, muitos crentes ficam em dúvida com relação à
(João) 4,22; Romanos 3,2; 8,4-5). Os judeus são o povo de Deus restauração judaica do Evangelho e ao fato de incentivarem os
num sentido que não se aplica a qualquer outro no mundo. Por judeus messiânicos a manifestar a sua identidade judaica. Temem
isso, a Novo Testamento é abundante em Scyllas e Chaybdes que surja um elitismo, no qual os cristãos gentios se sintam cida-
teológicos, passagens difíceis, de perigoso trânsito. Que outro dãos de segunda classe do Reino. Isto é uma verdadeira arrnadi-
povo se defronta com Gálatas 3,28 ("não há judeu nem grego") lha, e a Escritura adverte contra a divisão entre judeus e gentios
ou Efésios 2,ll-22 ("o muro divisdrio")? Se os cristãos france- no corpo de Yeshua, que serve a um Deus através de um Espírito.
ses afrancesam outros crentes, quem levanta uma questão dou- Portanto, que todos os crentes, tanto judeus como gentios, traba-
tiniiria? Mas se os judeus messiânicos se empenharem em judai- lhem juntos para evitar comparações invejosas, que só servem ao
zar - cuidado! Inimigo. Que todo judeu messiânico e todo cristão gentio de-
Não, o povo judeu é mais do que uma cultura, eIe é o po- monstre em sua vida os elementos de judaísmo que emergem de
vo de Deus. Portanto a tarefa relativa aos judeus não é contex- seu próprio consciente e identidade espiritual, sem se sentir con-
tudizar o Evangelho como ele chegou aos não-judeus, com sua denado por expressar em excesso ou de menos. E que cada qual
225
permaneça aberto ao senhorio de Deus, de modo que este aspecto detrás do mandamento escrito. Por exemplo, com referência a 1
de sua vida, como todos os demais, possa conformar-se cada vez Coríntios 11,2-15, a mulher de hoje deve cobrir a cabeça numa
mais A imagem de Yeshua, o Messias dos judeus e dos gentios. reunião da congregação?. Ou este requisito só tinha relação com a
Tendo advertido contra o elitismo e a divisão perguntamos situação da vida no primeiro século, de modo que sua moderna
o que a restauração do judaísmo do Evangelho de fato acarreta. A aplicação é vestir-se com modéstia pelos padrões atuais?
essa questão voltamos agora a nossa atenção. Não examinei esse tipo de questão neste livro, embora ela
4. Que se Quer Dizer com "Restaurando"? se tome importante na vida prática à medida que evolui o judaís-
mo messiânico. Procurei chamar atenção para aspectos do Evan-
Restaurar o judaísmo do Evangelho significa preencher gelho que seriam evidentes aos fiéis do primeiro século, mas que
o conteiido do Evangelho em sua plenitude, como ele pertence século de negligência fizeram desaparecer de vista.
aos judeus e ao relacionamento entre o povo judeu e a Igreja. Restaurar o judaísmo do Evangelho significará, primeiro,
Noutras palavras, significa oferecer, em relação a essas coisas, permitir a incentivar os judeus messiânicos a desenvolverem o ju-
"todo o conselho de Deus", e não apenas uma parte. daísmo messiânico, e, segundo, fazer com que os cristãos não-ju-
É importante compreender o que os teólogos querem dizer deus aprendam com o processo, de modo a incorporarem em sua
quando falam de "restauração". Gostaríamos de ver a Igreja própria vida cristã esses aspectos esquecidos da fd, que um ju-
"restaurada", voltando ao que era no primeiro século. Ou pelo daísmo messiânico restaurado tornará conhecido.
menos é o que dizemos. Seria bom, com certeza, restaurar o zelo
dos primeiros fiéis, a retidão de suas vidas, sua disposiçáo para C. PRESSUPOSTOS DA RESTAURAÇAO DO
seguir Yeshua, o Messias, a qualquer custo, o estarem cheios do JUDAÍSMODO EVANGELHO
Espírito Santo, sua ânsia de rezar, sua segurança e experiência de Suponho que, conforme escrevi na Parte A, meus leitores
que Deus realiza milagres em resposta à fé. Mas haverá aspectos concordarão com os três pontos seguintes, que não fazem parte,
exteriores do estilo de vida dos fiéis do primeiro século que deve- em si, da restauração do judaísmo do Evangelho, mas são por ele
ríamos nos empenhar em restabelecer? Ou aspectos da doutrina pressupostos: (1) o cristianismo é judaico, (2) e anti-sernitismo é
que eles teriam aceito, mas que os fiéis dos tempos posteriores anti-cristão e (3) recusar ou negligenciar a evangelização dos ju-
ignoraram? Neste caso, quais deles? E que devemos fazer a res- deus é anti-semitismo. Chegou a hora de discutir estas questões,
peito? uma vez que certos leitores não terão concordado e precisarão ser
É minha opinião que deveríamos principiar fazendo todos convencidos. Concluiremos considerando o que Sha'ul queria di-
os esforços para compreender o texto do Novo Testamento como zer quando escreveu em Romanos 1,16 que o EvangeIho é "pri-
os ouvintes do primeirocséculo o teriam compreendido e aplicado meiro para o judeu".
à sua situação na vida. Mas não creio que se espere que apiique-
mos o Evangelho da mesma maneira, porque isto significaria res- 1. O Cristianismo é Judeu
taurar a situação da vida no primeiro século, o que, ainda que Edith Schaeffer, mulher do falecido Francis Schaeffer, es-
fosse desejável, seria impossívet Não se pode recuar no tempo. O creveu um livro intitulado Christianity is Jewish9 (O Cristianismo
que devemos é compreender corretamente a Escritura e então é Judaico),É sua tese, e minha também, que o Cristianismo, ern-
aplicá-la de modo adequado 2 nossa situação. bom algumas de suar atmisf o m de expressão s e m não;iudai-
Os parggrafos acima não expressam uma nova filosofia. azs,tem as raizesfinca& no juldaísnw e no povo judeu.
Expressam uma abordagem familiar que normalmente conduz a ConfoPme vimos anterioumente, os fatos bhicos não podem
perguntar se determinada injunçáo do Novo Testamento deve ser ser &hzctidos - os mccteres e autores primipis eram judeus e o
literalmente aplicada, ou se deve buscar um princípio geral por prbprio Novo Testcunento deve ser entendido contra o pano de
226
fu& judaico.'.' Sha'ul torna bem explícito o judaísmo da fé 3. Recusa ou Negligência de Evangelizar os Judeus
cristã no livro de Romanos. Escreve: "Em primeiro lugar, aos ju- É Anti-semitismo
deus foram confiadas as próprias palavras de Deus"," referindo-
se à Bíblia hebraica, e em seguida expande o tema acrescentando Somente fanáticos e tolos contesbnarn os dois primeiros
que o povo de Israel pontos desta parte. Mas há muita gente que se denomina cristã e
"foi feito filho de Deus, a Sh'khinah (glória de Deus discordaria deste terceiro ponto, insistindo em que o correto e
manifesta) tem estado com eles, as alianças são de- adequado mio é levar o Evangelho aos judeus, seja como indiví-
les, assim como a entrega da Torah, o serviço do duos, seja como povo. Outros não se recusam em princípio a
Templo e as promessas; os Patriarcas são deles; e evangelizar os judeus, mas simplesmente negligenciam fazê-lo,
deles, na medida que conceme a sua descendência considerando-o prioridade relativamente baixa em sua vida cristã.
física, veio o Me~sias';.'~ Assim a nossa tarefa aqui é estabelecer que a evangeliza-
Assim, todo o contexto da fé messiânica não é senão judai- çáo dos judeus deveria ser alta prioridade para todos os cristãos.
co. Ainda que a pessoa aceitasse a falsa premissa da Teologia da
Substituição, de que os judeus já não são o povo de Deus, isto a. A Negligência Benigna dos Judeus é Aati-semita
não modificaria o fato de que o cristianismo é judaico. Tentar
compreendê-lo de modo diverso é distorcer a mensagem divina. Má cristãos que justificam o fato de negligenciarem a
Mas o cristianismo é judaico também noutro sentido, isto é, evangelização dos judeus com observações do tipo: "Não conhe-
que em princípio é mais bem assimilado por judeus, conforme in- (;O nenhum judeu"; "Nunca pensei no judaísmo", "Deus não me
dica Sha'ul nas passagens citadas de Romanos; seu objetivo é chamou a me preocupar com os judeus".
mostrar que o Evangelho é "especialmente parios judeus" - con- São todas desculpas insatisfatorias, porque a Escritura não
forme veremos na sqão C-4. permite a opção de ignorarmos os judeus. Zacarias 1,15 é um ver-
sículo muito interessante. Deus diz ao profeta: "Estou muito irri-
tado com os goyim" - a palavra hebraica pode significar' gentios,
Noutro contexto diksemos que o anti-semitismo é incompa- pagãos ou nações - "que vivem despreocupados; eu estava so-
tível com a fé bíb1ica.13 Muito simplesmente: qualquer idéia, pa- mente um pouco agastado, mas essas nações ajudaram a "desen-
lavra ou ato que prejudique indivíduos judeus, ou o povo judaico cadear a aflição" dos judeus? Vivendo "despreocupados"- indi-
como um todo pelo simples fato de ser judaico, ofende tudo o que ferentes, desinteressados, ignorando a situação. Edmund Burke
há de cristão e deve ser considerado pecado. observou que os males do mundo podem ser atribuídos aos ho-
Em categoria um tanto diversa estão as formas inconscien- mens bons que se instalam e nada fazem. O próprio Yeshua disse:
tes do anti-semitismo (uma releitura deste livro indicará várias "Os que não estão comigo são contra mim, e os que não colhem
delas14). Há cristãos bem intencionados que não antipatizam e comigo de~perdiçam".'~Não há meio termo, nenhum tertium
nem querem ofender os judeus, mas absorvem atitudes anti-judai- quid. Todos devem assumir uma posição; não assumi-la é assumir
cas de uma cultura mergulhada há séculos em ensinamentos an- por omissão.
ti-judaicos. Substituir a,s interpretações anti-judaicas do Novo Se a indiferença pelo povo judaico conta como oposiçáo e
Testamento por interpretações baseadas no seu background judai- é errônea, então o que é certo? Certo é transmitir o Evangelho a
co pode ser a Única maneira eficaz de lidar com este fenômeno. esse povo, de modo a levar seriamente em conta a sua posição
como povo de Deus, cujo dom e vocação, escreveu Sha'ul, são ir-
revogáveis. Ou, noutras palavras, o certo é ser um canal do amor
de Deus para os judeus.
229
b. Negligência Proposital, Justificada Pela História,
É Anti-semitisrno rores contra os judeus. Não sei ao certo se são de fato meus ir-
mãos, mas não vou abrandar a minha consciência c"C-
goriacamente a possibilidade".
Mas existem também pessoas que se denominam cristãs e
Ademais, sua posição diante dos judeus em relaçáo ao
não só negligenciam os judeus, como se recusam a evangelizá-
Holocausto deveria ser a busca do perdão sem esperar essc PCr-
los, mas fazem-no propositalmente, julgando que têm razão. dão. Deveria reconhecer que a Igreja pecou. E pedir Nias
Alguns simplesmente têm medo de ser rejeitados, uma vez
que é bem sabido que muitos judeus não são abertos a considerar por que o judeu o concederia? Que fez a Igreja para mcr~ccr0
as asserções de Yeshua e do Novo Testamento. Se é esta sua úni- perdão do povo judeu? Um dos elementos do perdão é a rcslitiii-
ca razão, elas podem ser encorajadas a abandonar o medo, orar a $50. Como pode a Igreja, ou qualquer pessoa, compensar a 11101'~~
Deus para que ele abençoe seus esforços, e obedecer a Grande de seis milhões de pessoas? Em último caso a resposta C cluc $0-
mente Deus pode reparar. O Holocausto é demasiadohorrívd 1':-'
Missão buscando os judeus com a oferta do amor e do perdão de
Deus através do Messias. ra que qualquer ato humano, ou conjunto de atos, possa co111l~~ll-
sá-10. Somente Deus, a sua maneira rniraculosa, tlo Çiirí'
Outros sentem que deveriam respeitar a sensibilidade do
povo judaico que diz que não quer saber de Yeshua. Para eles o trazida pelo Messias Yeshua, pode restaurar o coração do5 v i ~ f l "
remédio é dar a Escritura maior peso que aos seus sentimentos e a ponto de permitir o perdão. Cristão algum tem o direito dc c!~V"
renovar esforços - com tato, sensibilidade, como o Senhor ditar - rar o perdão dos judeus pelo Holocausto, e na verdade 6 pro~fivcl
no sentido de comunicar a verdade do Evangelho aos judeus. De- que não obtenha tal perdão dos judeus cujos coraçks ainrl:~
vo a minha salvação em parte a um rapaz que, não levando ern foram curados por Yeshua, o Messias.
conta a minha sensibilidade, disse-me a verdade a respeito de Contudo, o cristão deve levar o Evangelho aos iuclclis. 1'0'
Yeshua. que? Porque é verdade, porque é necessário - sem ye&ua o povo
judeu, como o povo gentio, está destinado à eterna deslniic'sO;
Contudo, há quem não se apóie em emoções, mas procure
racionalizar, desviando-se da evangelização dos judeus pela ma- além disso, sem Yeshua o verdadeiro Messias do povojudcli, cssc
nobra dos fatos. Uma justificativa comum para não evangelizar os povo não atingirá seus gloriosos objetivos prometidos na liscl'itii-
judeus é o Holocausto. Nos doze anos de domínio hitlerista, as ra. Náo pregar o Evangelho aos judeus é o pior do,y atas rlv (1flf'-
sernitismo. Portanto, apesar do Holocausto - e da liiiIuisiq:~~~ C
igrejas do estado mostraram-se notoriamente silenciosas e fracas
dos pogroms, e de todos os demais horrores - os cristãos dcVCll'
face ao mal visível; ademais, a principal corrente teológica cristã,
embora não verdadeiramente anti-semita, mostrou-se bastante fria tomar do Evangelho e levá-lo aos judeus. Pois sem Ycshiia, Po-
vo judeu (e outros povos), individual e coletivamentc,niio tC1"
para com os judeus e o judaísmo, permitindo que o anti-semitismo
esperança.
virulento se manifestasse sem freios. Inúmeros cristãos bem in-
tencionados perguntam como, face a tal pecado da Igreja, ousa- c . Negligência Proposital, Justificada Pela TeoEo8jcr,
mos dizer aos judeus que deveriam crer em Jesus? É Anti-Semitisrno
A resposta é dupla. De um lado, a resposta à pergunta
Outra maneira pela qual os cristãos que não qucrcin cV"-
"Como?" é: "Com humildade.". O cristão deve estar disposto a
gelizar os judeus se justificam é através da teologia tlas duas
carregar o fardo da Igreja com respeito aos judeus. Não deve di-
alianças. Ela diz que Jesus trouxe a aliança pela qual os gentios
zer: "A má teologia cristã foi feita por liberais, e eles não eram
emergem do paganismo para conhecerem o único verdadeiro
verdadeiros cristãos. As igrejas do estado não eram dirigidas por
Deus; mas que os judeus já têm a aliança através tlc moi sé^, de
verdadeiros crist2os". Em vez disso, deveria admitir que "E pos-
modo que não precisam do Messias Yeshua - na "crdade é Uma
sível que pessoas que são irmãos em Cristo tenham cometido hor-
digressão e um insulto falar a judeus a respeito dele.
23 1
A primeira objeção a isto é uma simples questão de lógica. dentro de uma estrutura de pensamento cristã. Eram bem inten-
Se Yeshua não é o Messias dos judeus, não é o Messias de nin- cionados, mas não alcançaram o ponto principal, isto é, que se-
guém e os gentios também nao precisam dele. gundo o Novo Testamento (por exemplo), Efésios 2,ll - l6), ju-
Mas para quem aceita o Novo Testamento como dom de deus e gentios só podem reconciliar-se com Deus e entre si i:juan-
Deus, um versículo basta para destruir toda a teoria das duas do ambos aceitarem Yeshua como Messias, Salvador e Senhor.
-alianças. Yochanan (João) Isl,á: "Yeshua disse: Eu sou o carni- Porque Yochanan 14,6 não pode ser tão facilmente ignora-
nho, a verdade e a vida; ninguém vai ao Pai senão por mim". O do. Yeshua falava aos judeus quando pronunciou essas palavras;
versículo ensina que ninguém - nem judeu, nem gentio - vai ao além disso, quando as pronunciou, o Evangelho só havia sido
Pai senão através do Messias Yeshua. Se isto não bastasse há apresentado em Israel, de modo que não há razão para supor que:
também Atos 4.,12, onde Kefa (Pedro) diz, falando de Yeshua: ele se referia aos gentios. De igual modo, Marcos narra que, pou-
"Não há salvação em mais ninguém! Pois não há outro nome sob cas horas depois, sua resposta à pergunta do sumo-sacerdote -
o céu dado aos homens pelo qual possamos nos salvar!" - ne- "Sois o Mashiach Ben-HaM'vorakh (o Messias, Filho do Bendi-
nhum outro nome, senão o de Yeshua, é dado aos homens para a to)?" - foi inegável: "SOU". EnGo, para tomar absolutamcnto
salvação, não a gentios e não a judeus. cristalina a resposta, citou dois versículos do Tanakh.de colorido
E compreensível que a teologia das duas alianças não tenha messiânico, o Salnio 110,l e Daniel7,13: "Ademais v6s vereis 'o
começado no cristianismo e sim no judaísmo, uma vez que pro- Filho do Homem' sentado a direita do NaG'vuruh ('o Poder', isto
porciona uma defesa judaica contra o Evangelho. O Rarnb~rn,'~ é, Deus) e vindo sobre as nuvens do O próprio conceito
funcionando uma arnbiência onde a cristandade controlava o esta- de Messias é judaico, não gentio. Os quatro Evangelhos o repre-
do e todas as instituições mais importantes, desenvolveu a teoria sentam vindo dos judeus, para os judeus (embora sem excluir ou-
de que o cristianismo era certo para os gentios, uma vez que Ihes tros). A teoria da dupla alianqa e fantasia e desejo, não verdade e
permitia deixar de adorar ídolos, adotando, em vez deles, o Deus realidade.
de Abraão, Isaac e Jacó. Seu culto era imperfeito porque estava O próprio Yeshua ansiava ser aceito pelo povo judeu como
misturado com o culto de um homem, assim como o de Deus; mas ele é. Mas não forçou ninguém a recebê-lo, nem permitiria que os
o culto imperfeito de Deus era melhor do que a idolatria. Esta era outros forçassem as pessoas a recebê-lo, não permitiria quc os
uma visão relativamente otimista do cristianismo, comparada às outros usassem de força para dele obter aquilo que era seu por di-
opiniões judaicas que consideravam o próprio cristianismo uma reito.18 Antes, chorou: "Jerusalém! Jerusalém!... Quantas vezes
idolatria. quis reunir teus filhos como a galinha reúne seus pintinhos sob as
No início do século vinte. Franz Rosenzweig adotou esta asas, mas tu recusaste!... Pois digo que não me verás de novo atd
abordagem. Em seu livro, The Star of Redemption (A Estrela da que digas: 'Bendito aquele que vem em nome de Adonai' "19.
Redenção) expôs a teoria das duas alianças em linguagem teoló- Concluindo, Yeshua é o Messias tanto dos judeus como
gica moderna. Yeshua é verdadeiramente o Messias para os gen- dos gentios. Há uma Nova Aliança firmada "com a casa de Israel
tios, argumenta, ainda que não o seja para os judeus. Wosenzweig e a casa de Judá" (Jerernias 31.30-34) tanto para os judeus como
apresentou até uma resposta a Yochanan 14,6. Sim, Jesus é o ca- para os gentios. Os judeus precisam de Yeshua e da Nova Alian-
minho, a verdade e a vida para os gentios, e ninguém chega ao ça tanto quanto os gentios. Cabe aos crisiáos gentios e aos judeus
Pai senão por ele. Mas os judeus já estão com o Pai, por causa messiânicos tomar isto conhecido aos judeus e aos gentios não-
das alianças mosaica e abraârnica, de modo que não precisam ir a salvos, e não descobrir desculpas para desobedecer à Grande
ele. Weinhold Nieburh, o teólogo, e Jaines Parkes, o historiador Miscnn
que escreveu extensamente sobre o relacionamento entre P p j a e
Sinagoga, são daqueles que propuseram a teoria das duas alianças
232
d. Romanos 1,16 - O Evangelho É "Especialmente tante do que a visão de Deiis, ou que as pessoas envolvidns
Para os Judeus' ' na evangelização judaica tenham uma vocação mais eleva-
da. Observamos que a aplicação prática da prioridade espi-
Romanos 1,16 (na versão do Jewish New Testament) diz: ritual é difícil de entender e aplicar. Mão sugerimos qtic
"Pois não me envergonho da Boa Nova, pois é o podero- deva haver uma aplicação radical do "primeiro aos judciis"
so meio de Deus para levar a salvação a todos os que con- na chamada a todos os evangelistas, missionários e cristios
tinuam confiando, especraimente ao judeu, mas igualmente para procurar os judeus antes de falar aos não-judcus na
ao gentio". sua esfera de testemunho! Mas convocamos a igreja a rcs-
Esta tradução ressalta o significado da frase geralmente taurar o ministério entre esse povo que firmou aliançíi c-oiii
traduzida como "primeiro aos judeus". Deus, colocando-o no seu Iugar bíblico na estra1cgi;i íI;i
Mitch Glasser, de Judeus para Jesus, em palestra no Semi- evangelizaçáo mundial" .21
nario da Aliança TeoIógica em 1984 intitulada "Primeiro aos Ju- Os cristãos rezam no Pai-NOSSO "Venha a nós o vosso rci-
deus: o Ponto de Partida da Grande ~issão",'" upresentou ü-ês no, seja feita a vossa vontade assim na t e m como no céii". (1s
opçães parn a compreen.Go destu frase. E concluiu que e h não se - Jcus rezam no Kaddrsh "Que ele estabeleça o scu rcino tio tlc-
refere somente a 'prioridacie histhica", ao fato d~ qgcre historica- correr dc sua vida e de seus dias, e dentro da vida de toda íi ciis;r
mente o Evangelho foi a[~re.~erztndo primeiro aos judeus e só mais de Israel, com rapidcz e brevemente". A 2 Kefa (2 Peílro), .3,l2,
tmde aos gentios, embora &o sep emto. 'i7 aos que crêem em Yeshua que devem apressar a vinda clo Ilia
E nem se refere somente a "rioriclndc da aliarzçn", d idéicl
de que, conforme observou John Murray ern seu Cornerzth-lo so-
.. ' a s . Seria a razão da "presente prioridade" de prcgar o

~vangelho"especialmente ao judeu" o fato de que negligenciar :i


bre Romanos, "A .kzlw~iioamvés da fé tem relevdncia primor- evangelizaçáo dos judeus atrasa a vinda do Reino de Dciis no
dia1 para o judeu... s w g i d o do fato de que ele foi escolhido por mundo?
Deus para ser o receptor uh promesm do Evangelho e que a ele
foram confindos os oráculos de Dec~s",ernbora isto tumbérn seja
ver- Por que restaurar o judaísmo do Evangelho? Para abcnçoar
dade. tanto a Igreja quanto o povo judaico.
'Primeiro aos judeus'' significa que existe uma 'prioridade
presente" na aprcsen~çãodo Evangelho aos judeus, e a Igreja 1. Como Será Abençoada a Igreja?
deveria reconhecê-la. Não significa necesswiamente que todo Como será abençoada a Igreja? Já falamos de Gêncsis
crente deveria proc~mros judeus da comunidade e testemunhar 12.3, no qual Deus diz a Abraáo: "Abencoarei os que abençoa-
diante deles antes de falar aos gentios sobre Jesus - embora s& rem meu povo". Esta é uma bênção que os cristãos podern cxpe-
emtamente isto que Sha'ul fez em todo o livro dos Atos. Confor- nmentar desde já. Qualquer bênção, seja espiritual se-ja material
me observa Mitch Glasser, os crentes de hoje deveriam ter "uma (veja Romanos 15,27), ao povo judaico trará como retorno bên-
priorihde evangélicn refereste ao povo juhico ... Talvez a expli- çãos para a Igreja. "Atira teu pão às águas, pois o encontrarás
azção mais lúck '- da visão de Prioridade Presente em Romanos depois de muitos dias. "22
I ,I6 se enconire rn declcrraç& da Consulta de Lausann~sobre a Mas há outra bênção guardada para a Igreja. Sha'ul diz aos
Evangelização dos Judeus, Estudos Suplementares no 7: gentios cristãos, com relação ao povo judaico:
'Xecai, portanto, sor'.re a igrejçr uma grande responsabili- "Pois, se o fato de eles terem sido postos de lado significa
dade de c o m p t i l k r Cristo com o povo ludaico. /$to nfio reconciliação para o mundo, quanto não significará a acei-
quer dizer que a evcirtg~ltzaqüojudaica seja mais impnr- tação deles? Será ressurreição dentre os
234
Será ressurreição tanto para judeus como para cristáos. Terceiro - 0 adesivo diz multa CO:V~ a respeito da diferença
Este é um motivo poderoso para uma evangelização bem sucedida entre jhidaismo e cristianismo segundo opinião corrente: EU, so-
do povo judaico. Digo "bem sucedida" porque Sha'ul aqui não zinho, em meu pequeno e aconcheynte casulo, descobri; NOS, o
promete nota 10 pelo esforço. Apenas quando os judeus forem povo judaico, o povo de Deus nunca o perdemos. Mentalidade
realmente "aceitos" é que virá a "ressu~eiçãodentre os mortos". corporativa - inielimente o cristianismo, especialmente na rnaio-
E essa t'ressurreição dentre os mortos" não será meramente o que ria das suas mmirertações protestantes, a perdeu!
alguns cristãos entendem por "reavivamento" - ter um pouco De que mo60 o cristianismo vencerá esta dificuldade? Dc
mais de energia e sentir-se bem - mas será a Ressureição mesmo! urna só n1aneira!~';7nciumando os judeus. E como o conseguir@?
A Ressurreição ocorrerá apenas quando "todo o Israel for salvo". ReveBanando a misericórdia de Deus para com o povo judaico. E o
que Sha'ul prescreve aos cristãos gentios no fina1 de Romanos
2. Como Será Abençoado o Povo Judaico? 9-11:
Como será abençoado o pnvo judaico? Tomando-se capaz "Assim corno vocês próprios desobedeceram antes a Dcus,
de realizar o velho objetivo de ser a luz das nações, e também re- mas receberam agora a rnisericórdia por causa da desobediência
cebendo a libertação pela qual tanto esperou. A 1ibcrtação.será de Israel, também Israel mostrou-se agora desobediente, de modo
tanto individual como corporativa, conforme verificamos. que mostrando vocês por eles a mesma misericórdia que Ilcus
De que modo ess?? 'rhçaos descerão sobre o povo judai- mostrou por vocês, eles também receberão agora a misericórdia
co? Vindo de Deus, 6 n 1- :,. Mas não direlimente! Virão através de Deus. Pois Deus congregou toda a humanidade sob a desobc-
da Igreja e especificampo.te através dos cristãos gentios quando diencia, a fim de poder manifestar a todos a sua rniseri~órdia"~~
finalmente deixem enciurnados os judeus!24 Há quem suponha que esta passagem diga apenas que Deus
E que razão teriam os judeus para sentir inveja da Igreja démonstrará aos judeus a mesma misericórdia que demonstrou aos
nos dias de hoje? Um adesivo judaico que surgiu há alguns anos gentios. Isto é verdade, mas não atinge o ponto principal. Depois
dizia tudo. Durante u m campanha naciona1 de evangelização na de advertir severmente os cristãos gentios em Romanos 1 1,17-24
década de 70, os c ~ + - f +I-olocavam
- nos seus carros adesivos com para que não se vangloriem diante dos ramos cortados (judeus
o slogan "Eu o erucnl xei", esperando provocar, se não inveja, não-salvos), Sha'ul conclui sua exortação aconselhando-os a fazer
pelo menos interesse. Os judeus replicaram com adesivos que di- algo bem diverso, mostrar-lhes misericórdia. Será na verdade a
ziam: "Nunca o perdemos". misericórdia que Deus lhes concedeu que eles canalizarão para os
Há três pontos no caso: primeiro - o povo judaico compre- judeus. Mas Sha'uP não pede uma observação passiva, para ver
endeu bem o que haviam encontrado as pessoas dos adesivos, isto como Deus demonstrará aos judeus a sua misericórdia. Antes
é, um relacionamento com Deus através de Jesus. De fato, pro- conclama os cristãos gentios a demonstrarem ativamente miseri-
clamando ao mundo a teologia da dupla aliança, o adesivo judai- córdia aos judeus agpra mesmo. Deus pede participação ativa no
co dizia que já tinham um relacionamento com Deus e que, por- seu plano salvífico. E a única coisa que pode fundir os corações e
tanto, não precisavam de Jesus; ademais questionavam implicita- fazer com que os judeus, não-salvos sintam inveja dos cristãos.
r-lente a teologia cristii que supões que as pessoas perdem a rela- Nada mais o fará! Pena que tão poucos o tenham tentado!
ção com Deus, de modo que precisam ser salvas,25
Segundo - os adesivos ridicularizavam a própria idéia de Este extraordinário plano de Deus de tal modo deixa mara-
que uma questão séria como relacionar-se com Deus vivo poderia vilhado Sha'ul, que ele passa a cantar, no final de Romanos 11,
ser tratada de maneira tão leviana. Quem quer falar de questões um canto tão jubiloso e profundo que não existe nada que o
de importância universal por meio de slogans em adesivos? Você iguale em todo o Novo Testamento - e com ele encerro o apêndi-
o encontrou? Devemos sentir inveja? Você deve estar brincando! ce, conforme encerrei o corpo do livro:
"Ó abismo de riqueza bidos de fazer. Ler CapítuIo 11, seções A e B, e Capítulo 111, seção
de sabedoria e de ciência em Deus! 13-4. (Mais recentemente muitos judeus convertidos ao cristianisnio
Quão impenetráveis são os seus juízos! optaram voluntariamente por fugir, ignorar e limitar o seu grau dc
identificação judaica). Na verdade, no Novo Testamento, a palavra
Quão inexploráveis os seus caminhos! "cristão" não é usada pelos crentes com referência aos judeus messiâ-
nicos, e sim aos gentios que passam a conhecer o único verdadeiro
Dele, por ele e para ele Deus através de Yeshua, o Messias judeu. Ler Capítulo 11, seção C-4.
são todas as coisas. Se o termo cristão deveria ser ou não aplicado aos judeus messiânicos
A ele glória por toda eternidade! de hoje é debatido no Capítulo 111,
seção H.
~rnérn."*~ 6 Ler Capítulo 111,seçáo B-4 e nota 19.
7 Isto foi debatido no Capítulo V, seçáo B-3.
!I Ler Capítulo 111, seção E-4.
1 Ler Capítulo 111, rota 9, sobre o rrso <'as palavras "anti-scrni- 9 Edith Schaeffer, Christianity Is JewisR (Wheaton, Illinois, Tyntlnlc
tismo" e "anti-semita" neste livre House PubIishers, Inc., 1975).
2 A tabela abaixo indica onde se encontra DO it/,rrri,>stoO material usado 10 Ler CapítuIo 111, scção D-3, parágrafos 2 e 3.
no Restoring; 11 Romanos 3,2.
Restoring Manifesto 12 Romanos 9,4-5.
13 I x r Capítulo 111, seção E-2, par8grafos 3,4 e 5.
Introdução Apêndice, seção A 14 Ler especialrnentç CapítuIo 111, seçáo E-4 e CapítuIo V, nota 8.
Capítulo I Apêndice, seções B- 1, B-2, B-3 15 Lucas 11,23.
Capítulo 11, seção A Apêndice, seção B -4 16 ('Blanharm': é uma acrossemia de Rabino Moshe ben-Maimoii, conheci-
Capítulo 11, seção B Capitulo 111, scçóes B-3, B-4 do como Maimonides (1135- 1204).
Capítulo 11, seção C Capítulo IV, seção E-2 17 Marcos 14,61-62, Jewish New Testrzrnent.,
Capítulo TI, seção D Capítulo IV, seção E-3 I8 Yochanan (João) 6,15.
Capítulo 11, seçóes E- 1, E-2, E-3 Capítulo IV, seção E-4 19 Mattityahu (Mateus) 23,37,39, Jewish New Testament.
Capítulo 11, seçõcs E-4, E-5, E-6 Capítulo IV, seções E-5, E-6, E-7 20 Mitch Glaser, "Primeiro Para os Judeus: O Ponto de Partida da Gran-
s 1, F-2, F-3
Capítulo 11, s e ~ õ e F- Capítulo V , seçóes A- 1, A-2, A-3 dc Missão", paIestra apresentada no Seminário Teológico da Aliança,
Capítulo 11, seçáo F-4 Capítulo V, seções C-2, B-7 1984. Manuscrito disponível através de Judeus Para Jesus, São Fran-
Capítulo 11, seçáo F-5 Capítulo V, seções B-5, B-4 cisco, Califóinia.
Capítulo 111, seção A Apêndice, seções C-1 ; Capítulo I11 21 Ibid.
seção D-3, parágrafos 2 e 3. 22 Eclesiastes 1 I , 1.
Capítulo 111, seção B Apêndice, seção C-2, Capítulo III 23 Romanos 11, 15.
seçáo E-2, parágrafos 3 , 4 e 5. 24 Romanos 10, 19; 11, 11.14
Capítulo 111, seção C Apêndice, seção C-3 25 A respeito ler Abba HiIlel Silver; Where Judaism Di$Ered (op. cit. Ca-
Capítulo IV Apêndice, seção D pítulo IV, nota 55), CapítuIo 10, intitulado "Que os homens Precisam
Salvar-se".
Se algum capítulo ou parte do Maiz~estonão se achar na tabela aci- 26 "Via única!" foi outro sIogan evangaico da década de 70, e nada mau
ma/sÓ poder&ser encontrado no Manifesto e não em Restoring. face á teologia das duas alianças e às religiões da "nova Era".
3 Mattityahu (Mateus) 28,18-20 27 Romanos 11, 30-3- Jewish New Testament.
4 Atos 10,1 28 Romanos 11,22,36, Jewish New Testamenf.
5 Conforme usado aqui, "converter-se ao cristianismo" deve ser
comparado a "tornar-se judeu messiânico". s convertidos judeus
ao cristianismo e os judeus messiânicos acreditar.: em Yeshua, mas
os últimos conservam a identidade judaica (sue significa tanto prá-
ticas quanto maneira de pensar judaica) - precisamente o que os
crentes judeus do quarto século em diante crarn muitas vezes proi-
23 8
~NDICEDOS VERS~CULOSDA ESCRITURA
E OUTROS ESCRITOS PRIMITIVOS
TAN AKH (ANTIGO TESTAMENTO)
Gênesis PAg. Josuê PAg . Malaquias PAg.
2. 16 . . . . . . . . 139 1. 6 ........ 181 3. 6 . . . . . . . . . 37
2. 17 . . . . . . . 88-94 1.9 .. .. .. .. .. .. .... 181 salmos .
9 . . . . . . . . 91-138 1.18 181
PAg
7 ........ 95-97 2.7 . . . . . . . . . 97
2 Sarnuel Pãg . 51.12 (51.14) . . . . 94
105.15 . . . . . . . 181
7 . . . . . . . . . . 92 710.1 . . . . . . . 233
7. 14 . . . . . . . . 105 118.26 . . . . . . . 99
. 143. 2 . . . . . . . . 94
PBg.
1 Reis Pdg
15. 7.21 . . . . . . 103 ........
ProvBrbios
17 . . . . . . . . . 91 8. 46
........
94
17. 7.8 . . . . . . . 103 9. 3.9 97
21. 13
24. 7
.......
........
104
103
içaias P6g .
26. 2.4 ....... 103 2.3 . . . . 105-176-195
28.3.4 ....... 103 9. 6.7 . . . . . . . . 97
28.13-15 ...... 103 19.2 4.25 . . . . . . 51
35.1 1.12 ...... 103 35. 10 . . . . . . . 105
Exoda PAg. 42.1.9 . . . . . . . 97
. .
. . . . . . . 97
~ ~

49. 16
49.1.13
. 7.20
. . . . . . . 87-94
49. 6 . . . . . . . 3-127 11.1 . . . . . . . . 235
50.4.11 . . . . . . . 97 12.13.14 . . . . . . 171
51. 11 . . . . . . . 205 Daniel PAg.
52.11.53. 12 . . . . . 97
52.13.53. 12 . . . . . 94 7. 13 ........ 233
59. 1.2 . . . . . . . 94
64. 5.6 . . . . . . 90-94
11 . . . . . . . . . 144 .
18. 5 . . . . . . . . 119 Jeremias PAg
19.18 . . . . . . . . 96 . . . . . . . 24
PAg. 9.23.24
Números
22. 5 . . . . . . . . 99
31.30.37
31.3 0.34
31.3 1.32
.. .. .3-92-930-123
. . . 100
. . . . 92-93
Ezequiel PAg.

36.2 2.36 . . . . . . 100


36.26.28 . . . . . . 205
Oséias Pãg .
11. 1 ....... 96-97
Miquéias Pdg .
6. 8 ......... 103
Habacuc PAg .
2. 4 ........ 119
Zacarias Pdg.

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