Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
JORNALISMO EM TEMPO
DE CRISE
LISBOA, 2016
© Gustavo Cardoso, Susana Santos e Décio Telo (organizadores), 2016
ISBN: 978-989-8536-58-7
Depósito legal:
Editora Mundos Sociais, CIES, ISCTE-IUL, Av. das Forças Armadas, 1649-026 Lisboa
Tel.: (+351) 217 903 238
Fax: (+351) 217 940 074
E-mail: editora.cies@iscte.pt
Site: http://mundossociais.com
Índice
Introdução.................................................................................................................. 1
9 Metodologia..................................................................................................... 199
Décio Telo, Gustavo Cardoso e Susana Santos
Figuras
vii
viii JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
4.4 Perfil de audiência da TV generalista por região (em %), 2004 a 2013... 83
4.5 Perfil da audiência com TV cabo por género (em %), 2004 a 2013.......... 84
4.6 Perfil da audiência com TV cabo por idade (em %), 2004 a 2013 ............ 84
4.7 Evolução do investimento publicitário (milhares de euros),
2002 a 2013 ........................................................................................................ 86
5.1 Evolutivo de audiência acumulada de véspera (em %)............................ 113
5.2 Evolutivo do share de audiência médio — Top 5 ........................................ 114
5.3 Audiência acumulada de véspera (em %) por género, 2013.................... 114
5.4 Audiência acumulada de véspera (em %) por faixa etária, 2013 ............ 115
6.1 Número de notícias publicadas por dia em Portugal sobre a visita
de Angela Merkel a Lisboa ............................................................................ 136
6.2 Cobertura jornalística do Público à visita de Angela Merkel a Lisboa ... 137
6.3 Número de referências à Europa, Portugal, Alemanha, Espanha
e Grécia por dia de cobertura ........................................................................ 138
6.4 Categorias de análise do discurso ................................................................ 139
6.5 Força das associações entre categorias ........................................................ 140
9.1 Share global em 2011 ....................................................................................... 201
9.2 Distribuição de jornais televisivos a codificar em 2012 ............................ 202
9.3 Distribuição de jornais televisivos a codificar em 2013 ............................ 202
9.4 Circulação de jornais diários de informação geral em 2011..................... 204
9.5 Distribuição de edições consideradas na amostra em 2012 ..................... 204
9.6 Distribuição de edições consideradas na amostra em 2013 ..................... 205
9.7 Distribuição de boletins de notícias considerados na amostra
em 2012.............................................................................................................. 206
9.8 Distribuição de boletins de notícias considerados na amostra
em 2013.............................................................................................................. 206
10.1 Referências a candidatos no lead da notícia nos principais destaques
noticiosos (2014-2105) ..................................................................................... 216
10.2 Análise do sentido da opinião nas redes sociais — comparação
Marcelo Rebelo de Sousa e Aníbal Cavaco Silva
(6 a 10 de março de 2016) ............................................................................... 217
10.3 Análise da origem de referências a Marcelo Rebelo de Sousa
em diferentes meios online (6 a 10 de março de 2016)............................... 218
10.4 Análise do sentido da opinião nas redes sociais — Marcelo Rebelo
de Sousa (6 a 10 de março de 2016) ............................................................. 218
Quadros
xiii
xiv JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
2015). É desde 2013 membro da rede de investigação “The Crisis of Europe” so-
bre as transformações políticas, culturais e económicas em curso nas sociedades
europeias e na União Europeia.
Cronista regular no jornal Público, publica também semanalmente no site TVI24
o Barómetro de Notícias e a sua análise sobre temas emergentes na atualidade
política, economia e cultural.
Nasceu em 1969 em Lisboa, onde vive. É casado e pai de dois filhos.
Susana Santos é doutorada em Sociologia pelo Instituto Universitário de Lisboa
(ISCTE-IUL). Professora auxiliar convidada do departamento de Sociologia do
Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL). Bolseira de pós-doutoramento
da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) com um projeto dedicado ao es-
tudo da socialização, inserção profissional e identidades das elites transnacio-
nais. Exerceu funções de subcoordenação no Projeto Jornalismo e Sociedade.
Membro do CIES-IUL onde desenvolve atividades de investigação nas áreas
da Sociologia da Comunicação e da Sociologia Política. Exerceu funções de
subcoordenação no Projeto Jornalismo e Sociedade. Tem publicado na Sociolo-
gia, Problemas e Práticas, na Radio Journal: International Studies in Broadcast & Au-
dio Media, na Configurações - Revista de Sociologia, na Portuguese Journal of Social
Science e na Revista de Ciências Sociais e Políticas.
Décio Telo é mestre em Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação pelo
ISCTE-IUL e licenciado em Sociologia e gestor dos Laboratórios de Ciências
da Comunicação e de Culturas Visuais Digitais nessa instituição. É responsá-
vel pela metodologia do Barómetro de Notícias da Semana e coordenador
executivo do projeto. Publicou em coautoria textos relacionados com análise
das notícias, com destaque para “Telejornais no início do século XXI” (Coli-
bri) e “Crise Económica, Políticas de Austeridade e Representação Política”
(Assembleia da República).
Carlota Bicho é licenciada em Ciência Política pela Universidade Católica Portu-
guesa e mestre em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação pelo
ISCTE-IUL. Bolseira de investigação no Projeto Jornalismo e Sociedade, Cen-
tro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES-IUL), entre 2012 e 2014,
onde desempenhou as tarefas de codificação e análise de informação noticio-
sa e apoio à produção de relatórios científicos. Desempenhou depois funções
como gestora de redes sociais no jornal Expresso, atualmente é técnica de co-
municação e cultura no Conselho Nacional de Juventude.
Eloísa Silva é licenciada em Ciência Política pela Universidade da Beira Interior e mes-
tre em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação pelo ISCTE-IUL. Bol-
seira de investigação no Projeto Jornalismo e Sociedade, Centro de Investigação
e Estudos de Sociologia (CIES-IUL), entre 2012 e 2014, onde desempenhou as ta-
refas de codificação e análise de informação noticiosa e apoio à produção de rela-
tórios científicos. Atualmente exerce funções de consultora política na Projectos
Globais.
Introdução
O livro que nas próximas páginas se apresenta e discute tem por base o trabalho
de investigação desenvolvido pelo ISCTE-IUL, nos últimos anos, na análise do
jornalismo.
Foi também esta investigação, apoiada por três fundações portuguesas — a
FLAD, a Fundação EDP e a Fundação Calouste Gulbenkian — que permitiu o nas-
cimento do Laboratório de Ciências da Comunicação do ISCTE, o qual em conjunto
com um grupo de parceiros nacionais do setor da comunicação social deu origem
ao capítulo português do European Journalism Observatory (http://pt.ejo.ch).
Foi também este contexto de investigação que materializou o “Barómetro de
Notícias ISCTE-IUL”, realizado pelos organizadores deste livro, publicado entre
março de 2015 e fevereiro de 2016 semanalmente no jornal Público e, desde essa
data, presente na página online da TVI24.
Inspirado no trabalho de uma fundação norte-americana, o PEW Research
Center, e no seu projeto de monitorização contínua do jornalismo, o Project for the
Excellence in Journalism, o objetivo deste trabalho de investigação foi o de melhor
compreender a atual revolução nas práticas de jornalismo e de produção e distri-
buição informativa em Portugal.1
Para tal partimos de uma visão dos estudos da comunicação em diálogo per-
manente com os seus objetos de estudo — os media (os jornalistas, editores e direto-
res de informação), convidados a participar ativamente no projeto através de
múltiplas apresentações que tiveram lugar e que foram partilhadas através dos si-
tes http://futurojornalismo.org e do blogue http://estadodasnoticias.info.
A escolha do contexto da relação entre jornalismo e sociedade como forma de
estabelecer uma ponte entre cidadãos, académicos e jornalistas partiu do pressu-
posto de que os mediainformativos constituem um aspeto crucial para o fortaleci-
mento da democracia e das práticas democráticas contemporâneas.
Do trabalho, levado a cabo no âmbito do Projeto Jornalismo e Sociedade, re-
sultou uma análise que não se confina apenas aos anos de 2012 a 2014 pois, como
1 http://www.pewresearch.org/about/
1
2 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
Os autores
Parte I | Enquadramento, análise e tendências
Capítulo 1
Enquadramento da análise
1 O inquérito Sociedade em Rede desenvolvido pelo CIES-IUL regista desde 2003 a utilização da
internet pela população portuguesa. O último inquérito decorreu em dezembro de 2011, a uma
amostra de 1207 indivíduos representativa da população de Portugal continental. Os indivídu-
os foram selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruzou as variá-
veis sexo, idade e instrução (homens), ocupação (mulheres), região e habitat.
5
6 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
Como se define o que deve ser noticiado? Esta é uma das questões mais debatidas
nas Ciências da Comunicação ao longo do século XX. Vários são os autores e as cor-
rentes teóricas que se dedicaram ao estudo aprofundado dos fatores que levam a
que um determinado acontecimento seja considerado por uma redação/jornalista e
se transforme em notícia com maior ou menor destaque noticioso.
Nelson Traquina em 2002 propõe uma síntese dos vários fatores que são
acionados na construção da notícia, diferenciando-os segundo a ideia de valores-notí-
cia de seleção e valores-notícia de construção (Traquina, 2002: 196 e seg.). Esta síntese
pretende incorporar os contributos de Gaye Tuchman (Tuchman, 1973), Mauro Wolf
(Wolf, 1987) e Herbert Gans (Gans, 1980) entre outros. Apesar da diversidade de crité-
rios, vários são aqueles que ainda que com nomes diferentes designam a mesma coisa
e que apesar da diversidade de períodos estudados nos ajudam a compreender o facto
de que esses critérios pouco têm mudado ao longo dos anos, garantindo uma certa
continuidade entre as várias gerações de jornalistas. Aliás, tal como sublinha Traquina
(2002: 172) o padrão estável e previsível de seleção dos acontecimentos e da sua trans-
formação em notícias são a grande conclusão dos estudos empíricos.
Pierre Bourdieu descreveu este fenómeno de continuidade como um efeito
perverso do mimetismo social entre jornalistas e entre redações. Que têm na cópia
do outro (Bourdieu, 1997), no que o outro considera relevante, no que o outro noti-
cia e coloca em grande destaque a sua característica mais vincada. Mas podemos
igualmente pensar que esta continuidade se deve à existência de agendas domi-
nantes ou hegemónicas (Herman e Chomsky, 1988) que afastam do espaço mediáti-
co os eventos que colocam em causa essa agenda.
Sobre outra perspetiva podemos considerar que a continuidade é alcançada
através de uma profunda socialização profissional dos jornalistas (Tuchman, 1973)
que faz com que cada jornalista incorpore um conjunto de regras não formais ou
pelo menos não formalizadas (no sentido que não estão escritas) no seu habitus jor-
nalístico. Este conjunto de regras que segundo Gaye Tuchman é descrito pelos jor-
nalistas como “perspicácia jornalística” mais não será do que esse processo de
incorporação e de criação de um habitus jornalístico feito de partilha de códigos e de
regras não formais que de forma consciente e inconsciente, porque nem sempre en-
tendida pelo jornalista como reflexiva, o guiam na sua conduta e na sua ação
quotidiana, permitindo-lhe elaborar através de operações simples o que a cada mo-
mento pode ser selecionado como noticiável ou não. Importa realçar que é a simpli-
cidade das operações envolvidas que torna possível a existência e a continuidade
temporal dos critérios de noticiabilidade.
Esta aparente simplicidade que possibilita decisões em tempo real e cada vez
mais em tempo acelerado é fruto de um processo longo e complexo de critérios de
valores-notícia que se entrecruzam e que constituem a história do jornalismo
(Schudson, 1989, Ponte, 2004). Critérios como o extraordinário, a atualidade, a pro-
eminência social, o ilegal, o insólito, todos podem ser definidos como qualidades
duradouras da definição do que é a cada momento noticiável. E ainda valores de
consenso, integração e ordem social que tal como defendeu Herbert Gans se
ENQUADRAMENTO DA ANÁLISE 9
A distinção entre hard e soft news — Nelson Traquina (2002: 205) — traduz as duas ex-
pressões para língua portuguesa como notícias de relevo e notícias ligeiras — é uma
das formas mais utilizadas para categorizar as notícias. Tal como Carston Reineman et
al. (2011) afirma, o conceito de hard e soft news começou por ser utilizado pelos jornalis-
tas norte-americanos como forma de classificação. Esta forma foi incorporada na déca-
da de 1950 pelos estudos de comunicação e jornalismo e a partir dessa época passou a
assumir grande centralidade na investigação académica. Esta centralidade nem sem-
pre foi acompanhada por uma definição concetual precisa, sendo muitas vezes associ-
ada a fenómenos de maior ou menor qualidade jornalística, utilizada para medir a
tabloidização ou a presença de infotainment nas notícias (Reineman et al., 2011).
Um dos estudos pioneiros na definição de classificação das notícias foi levado a
cabo por Gaye Tuchman e publicado em 1973 na American Journal of Sociology. O obje-
tivo principal do estudo era perceber como é que a rotina profissional dos jornalistas
lhes permite lidar com eventos inesperados (uma boa parte da sua atividade profis-
sional) e em interligação como é que os jornalistas reduzem a complexidade do seu
trabalho nas formas como selecionam dos eventos disponíveis a cada momento
aqueles que são noticiáveis (Tuchman, 1973: 110).
A discussão em torno destas duas questões mantém toda a atualidade e neste
sentido importa convocar em pormenor a pesquisa de Gaye Tuchman para a nossa
pesquisa. As conclusões da investigação apontam para o facto que os jornalistas ca-
tegorizam os eventos que dão origem a notícias essencialmente em dois tipos: hard
e soft news.
As hard news são o mais importante a ser noticiado, considerado como algo de
“interesse para o ser humano”, que cada cidadão deve conhecer para se manter in-
formado sobre o mundo à sua volta ou, simplificando, as hard news são as notícias
de interesse público.
12 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
As soft news são definidas por oposição, são notícias de “interesse humano
que lidam com a vida dos seres humanos” que apresentam temas interessantes. O
principal diferenciador é a importância versus o interesse. Em termos práticos este
tipo de classificação é bastante difícil de usar, visto que ambas a categorias se po-
dem confundir num dado evento que se transforma em notícia.
Pamela Shoemaker (Shoemaker, 2010) utiliza um outro critério para distin-
guir hard e soft news. Segundo a autora, hard news são em geral breaking news (notíci-
as de última hora) que se não forem relatadas de imediato perdem a sua atualidade.
Em sentido oposto, as soft news são notícias que não perdem o seu valor se forem di-
vulgadas mais tarde, fazendo então parte desta categoria todos os eventos que são
publicados em forma de entrevista e reportagem ou documentário televisivo.
Assim, neste caso o principal critério de classificação é o tempo.
Em estudos comparativos recentes a definição de hard e soft news tem como
base o tema da notícia, isto é, considera-se hard news o conjunto de notícias sobre
política, economia e assuntos sociais onde se incluem a guerra e a pobreza e, como
soft news, o conjunto de notícias dedicadas às celebridades, histórias de interesse
humano e desporto (Aalberg et al., 2013: 396).
No mesmo estudo, abre-se a exceção para as notícias sobre crimes, tendo em con-
sideração uma classificação de um estudo comparativo anterior (Curran et al., 2009).
Estas são classificadas de acordo com o seu foco principal, nos casos em que as notícias
realçam o sistema de justiça como a aplicação das penas ou as consequências dos cri-
mes para a comunidade são consideradas hard news. No entanto, se o foco é o crime em
si, apresentando detalhes sobre o acontecimento, sobre as vítimas e os criminosos é
classificado como soft news (Curran et al., 2009: 9-10). Estes estudos realçam a impor-
tância dos temas e dos enquadramentos (framing) na definição de hard e soft news.
A revisão da literatura permite-nos demonstrar a multidimensionalidade do
conceito e a sua estreita ligação com outros quadros concetuais onde se incluem: os
valores-notícia, o acontecimento, o infotainment e a tabloidização.
A proposta da equipa de Carston Reineman (2011) pretende fazer uma sínte-
se e uma nova proposta concetual. O desenvolvimento da nova definição parte de
quatro premissas:
1) Em primeiro lugar, a distinção entre hard e soft news parte da ideia que os ele-
mentos da mensagem têm um potencial na perceção dos leitores sobre os as-
suntos públicos. Isto é, os autores entendem que a produção de notícias sobre
assuntos de interesse político é a função central do jornalismo e que neste sen-
tido a intensidade e o tipo de notícias sobre assuntos políticos devem ser con-
sideradas como um tópico central na investigação em jornalismo.
2) Em segundo lugar, a relevância das notícias nem sempre se pode medir pela
atualidade do acontecimento que é noticiado. Um exemplo importante pren-
de-se com o jornalismo de investigação que tem um tempo de recolha e pro-
dução de informação que não coincide com o tempo rápido da divulgação de
notícias. Em Portugal veja-se por exemplo o trabalho de investigação condu-
zido por Paulo Pena sobre a crise da banca portuguesa que o ocupou durante
cerca de dois anos (Pena, 2014).
ENQUADRAMENTO DA ANÁLISE 13
The more a news item is politically relevant, the more it reports in a thematic way, fo-
cuses on the societal consequences of events, is impersonal and unemotional in style,
the more it can be regarded as hard news. The more a news items is not politically rele-
vant, the more it reports in an episodic way, focuses on individual consequences of
events, is personal and emotional in style, the more it can be regarded as soft news.
(Reinemann et al., 2012: 233).
3 A este propósito aconselha-se a leitura dos testemunhos de alguns jornalistas que evidenciam o
facto que durante um longo período temporal o ciclo noticioso em Portugal funcionava de acor-
do com o ritmo de publicação semanal do jornal Expresso, onde saíam as grandes notícias que iri-
am ser desenvolvidas pelos outros meios ao longo da semana.
4 Por exemplo, o Project Syndicate que reúne opiniões de think thankers globais, disponível em 11
línguas diferentes e publicado em jornais de referência de vários pontos do globo. Em Portugal
(Público e Jornal de Negócios), na Alemanha (Die Welt), em Itália (Sole 24 Ore), no Reino Unido (The
Guardian), na China (China Daily). Ver http://www.project-syndicate.org/.
5 Veja-se, por exemplo, os textos publicados pelo jornalista angolano Rafael Marques sobre o po-
der em Angola, http://www.makaangola.org
16 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
As temáticas analisadas não são exaustivas dos desafios que os meios de co-
municação e a atividade profissional dos jornalistas enfrentam na atualidade, em
particular nos países onde a crise assumiu contornos monopolistas do debate pú-
blico, mas ajudam a percecionar e a melhor compreender as agendas noticiosas, os
critérios de noticiabilidade, a escolha dos protagonistas e o enfoque dado a cada
notícia.
Capítulo 2
Análise comparativa 2012/2013
Grandes tendências de cobertura do jornalismo português
i) o desemprego na zona euro, esta é aliás a terceira notícia do ano para os media
portugueses com 316 notícias, 3,8% do total da cobertura noticiosa;
ii) a crise grega, que agrega as questões relativas à instabilidade política e econó-
mica no país, a aplicação de medidas de austeridade e os seus efeitos econó-
micos e sociais, num total de 229 notícias, que correspondem a 2,8% do total
de notícias;
iii) o resgate financeiro à banca espanhola, com 120 notícias, 1,5% do total;
iv) as eleições legislativas na Grécia, com 118 notícias, 1,4% do total;
v) as eleições presidenciais em França, com 93 notícias, 1,1% do total.
17
18 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
Quadro 2.1 As 20 notícias com maior destaque nos meios de comunicação social portugueses nos setores de
televisão, rádio e imprensa escrita em 2012 e em 2013
% %
Notícia N.º sobre Notícia N.º sobre
o total o total
Orçamento do Estado 2013 380 4,6 Crise na coligação governativa 821 9,9
Euro 2012 332 4,0 Eleições autárquicas 362 4,4
Desemprego na zona euro 316 3,8 Orçamento retificativo 267 3,2
Derrapagem do défice 284 3,4 Orçamento do Estado 2014 264 3,2
Corte de subsídio de férias e Natal 253 3,1 Greve de professores de junho 156 1,9
Crise grega 229 2,8 Desemprego na zona euro 145 1,7
Caso das Secretas 226 2,7 Final de época de futebol 144 1,7
Investigação aos contratos
Reforma da legislação laboral 201 2,4 141 1,7
swaps
Incêndios em Portugal 185 2,2 Resignação do Papa Bento XVI 137 1,7
Greve geral de 14 de novembro 139 1,7 Greve geral 27 de junho 130 1,6
Greve geral de 22 de março 121 1,5 TC chumba medidas do OE 124 1,5
Resgate de Espanha (crise do euro) 120 1,5 7.ª avaliação da troika 114 1,4
TSU 120 1,5 Alterações na função pública 112 1,4
Eleições na Grécia 118 1,4 Finais europeias de futebol 111 1,3
Relatório do FMI para a
Crise na coligação governativa 111 1,3 109 1,3
refundação do Estado Social
Privatização de setores
Dívida da Madeira 99 1,2 104 1,3
estratégicos
Mercado de transferências de
Privatização de setores estratégicos 98 1,2 103 1,2
futebol
Reforma do poder local 93 1,1 Resgate ao Chipre 102 1,2
Eleições em França 93 1,1 Orçamento do Estado 2013 90 1,1
Crise na Síria 90 1,1 Fogos florestais de verão 89 1,1
N.º de grandes notícias 8248 43,4 N.º de grandes notícias 8287 51,1
N.º total de notícias 19.011 100,0 N.º total de notícias 16.218 100,0
1 http://expresso.sapo.pt/carta-de-demissao-de-vitor-gaspar=f817482
2 http://www.publico.pt/politica/noticia/o-comunicado-de-demissao-de-paulo-portas-
na-integra-1599019
ANÁLISE COMPARATIVA 2012/2013 19
i) o orçamento retificativo;
ii) o Orçamento do Estado para 2014;
iii) o chumbo do Tribunal Constitucional a algumas medidas do Orçamento do
Estado;
iv) as alterações na função pública presentes no Orçamento do Estado;
v) o Orçamento do Estado para 2013.
3 http://www.publico.pt/politica/noticia/televisoes-nao-farao-cobertura-da-campanha-eleitoral-
autarquica-1605334 ou em http://vaievem.wordpress.com/2013/05/16/nem-so-atraves-de-
debates-eleitorais-na-televisao-se-cumpre-a-funcao-de-informar/
20 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
Ambiente
Religião
Habitação e ordenamento do território
Ciência e tecnologia
Serviços públicos e transportes
Comunicação
Defesa e ordem interna
Eleições e campanhas
Quesões sociais e humanas
Educação
Política internacional
Cultura
Saúde
Desastres/acidentes/ epidemias
Diversos
Participação e protestos
Política europeia
Assuntos laborais e segurança social
Desporto
Justiça e sistema judicial
Política interna
Economia e sectores económicos
0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 16,0 18,0 20,0
2012 2013
de futebol foi a segunda notícia do ano, com 322 peças, 4% do total de notícias. Em
2013, o final de época desportiva e o mercado de transferências corresponderam res-
petivamente a 1,7% e a 1,2% do total de notícias analisadas.4
A comparação temática entre 2012 e 2013 permite dar uma maior robustez à
nossa análise. Ao olharmos para a figura 2.1 verificamos, em primeiro lugar, a con-
sistência temática da cobertura noticiosa. A maioria das categorias temáticas apre-
senta nos dois anos valores muito semelhantes e isto mostra um padrão na forma
como os meios de comunicação social portugueses fazem o seu trabalho de seleção
de temas e notícias.
Em segundo lugar, verificamos um conjunto de mudanças. A primeira já foi
referida e trata-se do decréscimo do enquadramento económico e do aumento do
enquadramento político. Em 2012, os assuntos económicos ocupavam 17,5% do to-
tal de notícias, contrastando com os 14,6% de 2013. Em sentido inverso, a categoria
política interna passa de 13,1%, em 2012, para 18,7% em 2013. Esta inversão não é a
mesma em todas as categorias temáticas relacionadas com a política. A visibilidade
da política europeia desce de 5,5% em 2012, para 3,6% em 2013. Já a política interna-
cional aumenta um ponto percentual de 2 para 3%.
Outra das alterações na cobertura está relacionada com a resignação do Papa
Bento XVI e a eleição do Papa Francisco I. Esta foi uma das notícias do ano e explica
Das 20 notícias apresentadas no quadro 2.1 foram selecionadas as cinco notícias re-
lativas à Europa. Assim, iremos proceder a análise das notícias: desemprego na
zona euro, crise grega, resgate de Espanha (crise do euro), eleições na Grécia e elei-
ções em França.
O primeiro ponto da análise é dedicado aos formatos de divulgação das notícias.
As variáveis em análise são: i) o espaço ocupado e a duração das notícias, ii) o género
jornalístico, iii) a manchete ou abertura (headline) e iv) as fontes de informação.
O espaço dedicado a uma notícia num jornal ou a sua duração na rádio e na televisão
são um indicador importante para aferir a importância que as redações atribuíram a
um determinado acontecimento. Ao maior tempo/espaço dedicados pressupõe-se
um maior investimento jornalístico no tratamento da notícia com o recurso a mais
meios, ida ao local (reportagem/diretos), entrevista e mais pesquisa.
As cinco notícias em análise sobre a Europa são de pequena dimensão nos jor-
nais. As notícias sobre as eleições em França, as eleições na Grécia, o resgate a Espa-
nha e a crise grega ocupam em mais de 40% até 1/3 de página de jornal. A exceção é o
desemprego na zona euro em que 39% das notícias ocupam mais de uma página de
jornal. Se tivermos em consideração o total de notícias na amostra, verificamos que
as quatro principais notícias relativas a assuntos europeus são de menor dimensão
do que as notícias em geral, com a exceção já referida do desemprego na zona euro.
Relativamente ao tempo de emissão dedicado pelos noticiários da rádio e da
televisão, devemos assinalar que em geral as notícias transmitidas na rádio são de
menor duração do que as notícias de televisão. Para termos uma base de compara-
ção, os noticiários na rádio ocupam em média um minuto e meio (90 segundos) de
emissão e os telejornais cerca de 3 minutos.5
As notícias dedicadas às eleições em França e na Grécia foram em geral de
grande dimensão, 52,6 e 62,4% respetivamente, ao contrário da cobertura nos jor-
nais que se pautou por artigos de pequena dimensão. O mesmo tipo de cobertura
teve a notícia sobre o resgate à banca espanhola.
As notícias sobre a crise grega oscilaram entre pequena (37,3%) e grande
(38,4%) dimensão.
5 Valores médios para o ano de 2012, base de dados do Projeto Jornalismo e Sociedade.
22 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
24,6
Total de notícias 41,4
34,1
31,2
Eleições em França 18,8
50,0
20,0
Eleições na Grécia 32,0
48,0
30,3
Resgate a Espanha 27,3
42,4
28,6
Crise grega 25,0
46,4
38,7
Desemprego na zona euro 29,0
32,3
pequena (até 1/3 página) média (até 1 página) grande (> 1 pagina)
Figura 2.2 Principais notícias sobre a Europa por dimensão dos artigos de jornal (em %)
Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.
47,0
Total de notícias
28,7
24,3
52,6
Eleições em França 35,5
11,8
62,4
Eleições na Grécia 15,1
22,6
53,4
Resgate a Espanha 11,4
35,2
38,4
24,3
Crise grega 37,3
51,0
31,2
Desemprego na zona euro 17,9
pequena (até 60 segundos) média (entre 61 e 120 segundos) grande (mais de 120 segundos)
Figura 2.3 Principais notícias sobre a Europa por duração na televisão e na rádio (em %)
Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.
ANÁLISE COMPARATIVA 2012/2013 23
Género jornalístico
Quadro 2.2 As cinco principais notícias sobre a crise europeia por género jornalístico na TV e na rádio
(em %)
6 As decisões sobre o alinhamento são decididas no caso da televisão na conferência de redação que
junta editores, diretores e jornalistas. Sobre o caso português, ver Gomes (2012). A elaboração de
noticiários radiofónicos que em algumas estações de rádio são transmitidas de 30 em 30 minutos
obedece a outras regras que se pautam pelo surgimento de breaking news e por uma maior concilia-
ção com o trabalho das agências noticiosas.
24 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
Quadro 2.3 As cinco principais notícias sobre a crise europeia por género jornalístico na imprensa escrita
(em %)
Das 20 notícias presentes no quadro 2.4 foram selecionadas cinco notícias para
uma análise mais aprofundada: i) a crise na coligação governativa, ii) as eleições
autárquicas, iii) o orçamento retificativo, iv) a greve de professores de junho e v)
o chumbo de algumas medidas do Orçamento do Estado de 2013 pelo Tribunal
Constitucional. As notícias foram selecionadas por preencherem dois tipos de
requisitos, de visibilidade mediática (a sua presença no top de notícias) e a sua
visibilidade social (medida pelo impacto na realidade social), esta segunda com
indicadores de mais difícil quantificação e que incluem vários espaços de en-
contro e de discussão como as redes sociais, os espaços de comentários dos mei-
os de comunicação social, os blogues, mas de igual modo espaços de interação
presencial como os cafés, as tertúlias, os locais de trabalho e de estudo.
O primeiro ponto da análise é dedicado aos formatos de divulgação das no-
tícias. As variáveis em análise são: i) o espaço ocupado e a duração das notícias, ii)
o género jornalístico, iii) a manchete ou abertura (headline) e iv) as fontes de
informação.
ANÁLISE COMPARATIVA 2012/2013 25
Quadro 2.4 As 20 notícias com maior destaque nos meios de comunicação social portugueses nos setores de
televisão, rádio e imprensa escrita em 2013
Relativamente ao indicador espaço ocupado pelas notícias, este foi dividido em três
categorias: pequena dimensão (até 1/3 de página), média dimensão (até 1 página) e
grande dimensão (superior a uma página). As notícias sobre o chumbo do Tribunal
Constitucional a algumas medidas do OE registaram a maior percentagem de pe-
quenas notícias (48,8%), seguindo-se a crise na coligação com 36,3% e a greve de pro-
fessores com 33,3%. Este facto pode ser explicado pela necessidade de dar a notícia
em primeira mão em detrimento de um maior aprofundamento característico do tra-
balho de reportagem. Em sentido contrário, as notícias sobre o orçamento retificati-
vo com 27,5% e as eleições autárquicas com 23,3% estão mais representadas na
categoria de grande dimensão, mais condicente com as reportagens, no primeiro
caso explicando as alterações e o significado na vida real dos portugueses e, no se-
gundo caso, seguindo a campanha eleitoral dos vários partidos.
Para captar a importância das notícias nos noticiários televisivos e nos noti-
ciários radiofónicos optou-se por analisar o indicador de duração das notícias.
O indicador foi dividido em três categorias tendo em consideração os valores mé-
dios de duração das peças noticiosas. Assim, foram criadas a categoria até 60 se-
gundos, 61 a 120 segundos e superior a 121 segundos.
Relativamente à televisão, verificamos que a maioria das peças é de duração
superior a 120 segundos/3 minutos com particular destaque para as notícias sobre
o orçamento retificativo, com 72,5% nesta categoria.
26 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
24,2
Total de notícias 57,8
18,0
22,0
TC chumba OE 29,3
48,8
12,5
Greve de professores 54,2
33,3
27,5
Orçamento retificativo 60,9
11,6
23,3
Eleições autárquicas 57,7
19,0
17,4
Crise na coligação 46,3
36,3
pequena (até 1/3 página) média (até 1 página) grande (> 1 pagina)
Figura 2.4 Principais notícias de 2013 por dimensão dos artigos de jornal (em %)
Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.
57,8
TC chumba OE 28,1
14,1
63,2
Greve de professores 23,5
13,2
72,5
13,8
Orçamento retificativo 13,8
63,7
25,0
Eleições autárquicas 11,3
60,2
26,2
Crise na coligação 13,5
pequena (até 60 segundos) média (entre 61 e 120 segundos) grande (mais de 120 segundos)
26,7
Total de notícias 29,0
44,4
36,8
TC chumba OE 21,1
42,1
40,0
Greve de professores 32,5
27,5
40,0
Orçamento retificativo 28,3
31,7
34,7
32,7
Eleições autárquicas 32,7
30,3
34,8
Crise na coligação 34,8
pequena (até 60 segundos) média (entre 61 e 120 segundos) grande (mais de 120 segundos)
Género jornalístico
Quadro 2.5 As cinco principais notícias de 2013 por género jornalístico na TV e na rádio (em %)
Quadro 2.6 As cinco principais notícias de 2013 por género jornalístico na imprensa escrita (em %)
A entrevista foi o género menos utilizado, com as exceções das eleições autár-
quicas e do chumbo do Tribunal Constitucional. Em sentido contrário, os espaços
de opinião estiveram mais presentes nos telejornais em especial no caso do chumbo
do TC e da crise na coligação, com respetivamente 21,7% e 14,4%.
As notícias, onde se incluem os artigos, são o tipo de apresentação mais fre-
quente na imprensa escrita. Destacam-se os casos da crise na coligação, das eleições
autárquicas e do orçamento retificativo, com valores ligeiramente superiores à to-
talidade da amostra.
No caso da imprensa escrita, a totalidade da amostra revela um aumento glo-
bal da percentagem de reportagens, de 2012 para 2013, de 12,2% para 19,4%. As cin-
co notícias em análise tiveram um menor tratamento enquanto reportagens, tal
como na televisão e na rádio. A entrevista foi utilizada sobretudo no caso das elei-
ções autárquicas e greve dos professores.
Os espaços de opinião, tal como no caso da televisão e da rádio, apresen-
tam-se como de grande importância, sendo no caso das notícias sobre a crise na co-
ligação e do chumbo do TC como o segundo género mais utilizado pela imprensa
escrita. Neste caso é necessário referir o caso absolutamente excecional das notícias
ANÁLISE COMPARATIVA 2012/2013 29
sobre o chumbo do TC em que 36,6% do total noticiado foi feito através do uso da
opinião de colunistas.
O editorial, espaço de opinião interno à redação vem mais uma vez confirmar
a necessidade sentida pelas direções editoriais em se situar face aos dois grandes
acontecimentos noticiosos do ano, a crise na coligação e o chumbo do TC, com 5,8%
e 4,9%, respetivamente.
28,6
Total de notícias
17,8
67,8
TC chumba OE
87,8
40,7
Greve de professores
29,2
42,7
Orçamento retificativo
47,8
29,2
Eleições autárquicas
28,6
69,0
Crise na coligação
79,6
Manchete Abertura
Figura 2.7 Principais notícias de 2013 por manchete (imprensa) ou abertura (rádio e televisão) (em %)
Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.
Fontes de informação
Quadro 2.7 As cinco principais notícias de 2013 por fonte de informação principal da notícia (em %)
Enfoque geográfico
A variável enfoque geográfico mede a localização da notícia e foi dividida nas se-
guintes categorias: i) local/regional, ii) nacional, iii) europeu com referência a Por-
tugal, iv) europeu sem referência a Portugal, v) internacional com referência a
Portugal, vi) internacional sem referência a Portugal, vii) sem focus.
Tal como em 2012, a maioria das notícias tem um enfoque nacional, 53,2% em
2012 e 53,2% em 2013. Se, em 2012, as cinco notícias em análise tinham um carácter
europeu e apresentavam-se numa ideia de integração de Portugal na crise econó-
mica e financeira europeia, em 2013 as cinco notícias selecionadas dedicam-se qua-
se em exclusivo à apresentação de uma perspetiva nacional da crise.
Assim, devemos destacar o caso das eleições autárquicas pela sua cobertura
local e regional, 46,7% das notícias sobre as eleições tinham um carácter local e cla-
ra oposição no conjunto das outras notícias selecionadas e mesmo se a comparar-
mos com os valores para a totalidade das notícias (15%). E os casos das notícias
sobre a crise na coligação e o chumbo do TC pela maior diversidade, seja pela refe-
rência a países europeus (4,9% e 3,2% respetivamente) como pela referência a paí-
ses não europeus (4,8% e 16,9% respetivamente), ou ainda pela divulgação de
notícias em que o enfoque principal são outros países europeus (1,1% e 4%
respetivamente).
Quadro 2.8 As cinco principais notícias de 2013 por enfoque geográfico (em %)
Os temas
A tematização das notícias pode ser entendida como um guia de orientação para o
consumidor de media, organizando em termos referenciais (Rebelo, 2001) os acon-
tecimentos. Analisando cada uma das cinco principais notícias de 2013, verifica-
mos o particular destaque concedido à política interna, à economia e à participação
e protestos.
Relativamente às notícias sobre a crise na coligação esta foi “arrumada” pelos
jornalistas dos vários meios de comunicação como um assunto de política interna
(82,8% dos casos) com maior ênfase nas declarações dos vários intervenientes políticos
e em muito menor grau como assunto económico (9,3%) e de política europeia (4,6%).
As eleições autárquicas foram apresentadas como e, passe a redundância,
matéria de eleições e campanhas (55,8%) e de política interna (29,8%).
O orçamento retificativo foi apresentado essencialmente em duas categorias:
política interna (48,3%) e assuntos laborais (35,2%) e com menor expressão como
tema económico (12%).
As notícias sobre a greve de professores foram descritas em grande parte
como participação e protestos (72,9%) e em menor número como questões de edu-
cação (16,1%) e assuntos laborais (8,4%).
Finalmente, o chumbo do TC a algumas medidas do OE representa uma mai-
or dispersão temática. Em 37,1% dos casos foi considerado como uma questão de
política interna, em 24,2% como tema de justiça, em 21,8% como tema da economia,
em 8,1% como de política europeia e, finalmente, em 5,6% dos casos como matéria
de assuntos laborais.
Os protagonistas
Quadro 2.10 As cinco principais notícias de 2013 pelos cinco protagonistas por ordem decrescente
Cavaco Silva Cidadão anónimo Pedro Passos Nuno Crato Pedro Passos
1.º
(22%) (15,3%) Coelho (23,2%) (32,2%) Coelho (26,5%)
Pedro Passos Luís Filipe Menezes Hélder Rosalino Mário Nogueira António José Seguro
2.º
Coelho (17,3%) (11,5%) (13,7%) (24,6%) (17,6%)
Paulo Portas Fernando Seara Paulo Portas Cidadão anónimo Joaquim Sousa
3.º
(12%) (9,6%) (11,8%) (16,9%) Ribeiro (7,4%)
António José António José Seguro Vítor Gaspar Pedro Passos Vítor Gaspar
4.º
Seguro (9%) (7,3%) (7,1%) Coelho (6,8%) (4,4%)
Vítor Gaspar Pedro Passos António José Seguro João Casanova Durão Barroso
5.º
(6,1%) Coelho (6,9%) (6,2%) de Almeida (6,8%) (4,4%)
A segunda parte deste livro é dedicada à análise por setor de comunicação social.
Dentro de cada setor, o número de meios e programas individuais variam conside-
ravelmente, assim como o número de histórias e volume da audiência. Começamos
por identificar previamente os diversos setores mediáticos, traçando em análise
longitudinal as tendências de consumo e o investimento publicitário.
Em seguida são identificados os meios de comunicação ínsitos em cada um
deles. Na análise de imprensa considerámos três tipos: a imprensa de referência, a
imprensa popular e a imprensa económica, num total de sete jornais diários. Na
análise da informação televisiva foram selecionados os principais blocos informa-
tivos dos quatro canais generalistas e dos três canais de informação. Na análise da
informação radiofónica foram escolhidas quatro rádios, três de índole informativa
generalista e os blocos noticiosos da rádio mais ouvida em Portugal em 2012 e 2013.
Unidades de estudo
Imprensa
Para cada uma das publicações selecionadas, codificamos apenas as peças que se
encontrem na primeira página. Tal baseia-se no argumento de que aquela foi a in-
formação que a imprensa considerou ser a mais relevante para caracterizar a agen-
da mediática daquele dia. Num primeiro momento, dado as dificuldades em
acedermos a todas as publicações, optámos por não codificar os artigos no interior
da publicação, visto que o acesso era apenas possível para menos de metade das
publicações.
Assim, num primeiro momento as notícias analisadas na imprensa corres-
pondem apenas ao conteúdo disponibilizado na capa. Esta opção implica várias li-
mitações para a análise, pois ao limitarmo-nos ao texto e imagem que aparece na
capa ficamos sem noção de quão desenvolvida foi a notícia, que protagonistas fo-
ram convocados e muitas vezes ficamos sem ter uma noção concreta sobre a fonte
37
38 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
Rádio
Televisão
A escolha do que codificar dentro de cada telejornal é uma zona sensível do proces-
so de amostragem, ao qual o projeto não foi alheio. Inicialmente optou-se por codi-
ficar todo o telejornal (janeiro e fevereiro de 2012) de modo a tentar perceber as
dinâmicas dos alinhamentos.
A partir de março optámos por codificar apenas as notícias que são apresenta-
das nos headlines. A explicação prende-se com a uniformização dos critérios de
amostragem entre setores, se é verdade que os serviços de informação televisivos
são os mais vistos pela população portuguesa, a sua duração superior a uma hora
(com exceção do telejornal da RTP 2) corresponde a um alinhamento noticioso
completamente distinto do alinhamento da rádio e da imprensa. Ao optarmos por
analisar as primeiras páginas dos jornais tentámos uniformizar este critério aos ou-
tros meios de comunicação, selecionando assim no caso da televisão os headlines de
cada bloco noticioso. Esta escolha permite evidenciar a agenda noticiosa de cada
meio, analisando o que em cada dia foi destacado como mais relevante, em termos
médios isto implica analisar entre dez a dezasseis notícias por bloco informativo
(valores mínimos e máximos).
Apesar de centrarmos a nossa análise nos headlines, a dimensão dos telejor-
nais face aos outros meios continua a fazer-se sentir na nossa amostra. No ano de
2012 foram codificadas 19.024 peças noticiosas: 6493 provenientes da imprensa
(34,1%), 8459 da televisão (44,5%) e 4072 da rádio (21,4%). Os dados obtidos em
2012 permitiram efetuar alguns testes metodológicos no sentido de avaliar a pos-
sibilidade de reduzir a dimensão da amostra sem, no entanto, perder a consistên-
cia dos resultados. Neste sentido foi possível, em 2013, atingir o mesmo objetivo
com uma amostra de 16.218 peças, das quais 6220 (38,4%) na imprensa, 7008
(43,2%) na televisão e 2990 (18,4%) na rádio.
Capítulo 3
Imprensa
Diferentes jornais, notícias diferentes: política, economia, justiça
e desporto e a transversalidade da crise governativa
Susana Santos, Décio Telo, Gustavo Cardoso, Carlota Bicho e Eloísa Silva
Notas introdutórias
41
42 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
De acordo com os dados do Anuário de Media e Publicidade, os anos de 2012 e 2013 fo-
ram, em geral, mais dois anos de quebra nas audiências para a maioria da imprensa
diária, mantendo a tendência de decréscimo que se instalou no setor desde 2008.
A exceção a esta tendência de quebra nas audiências médias é protagonizada
pelo Correio da Manhã, com um aumento na ordem dos 3% entre 2010 e 2011 e com
uma quebra mínima de 0,1% entre 2011 e 2013.
Também se poderá dizer que jornal Público e o Diário de Notícias contrariam a
tendência do setor, mas a subida é inferior a 1% em ambos os casos, o que faz com
que não seja possível aferir se os dois jornais estabilizaram as suas audiências mé-
dias na ordem dos 5% e 4%, respetivamente, ou se estão numa fase de crescimento
de leitores.
Tendo em consideração a evolução das tiragens de jornais, de 1994 a 2010, ve-
rificamos que o ano de 2008 é o pico de tiragens de jornais em Portugal, com valores
na ordem dos 731 milhões. Assistimos depois a uma tendência de queda nas tira-
gens, com o ano de 2010 a registar uma tiragem global de jornais de 609 milhões. No
que respeita à venda de jornais em banca, existiu um período de crescimento entre
1994 e 1999, ano com o maior número de tiragens registado — 353 milhões de jorna-
is. Entre 1999 e 2004, assistimos a uma estabilização das vendas na ordem dos 300
milhões de unidades. De 2004 a 2010, a tendência inverte-se com uma descida acen-
tuada do número de jornais em banca, com os valores a aproximarem-se daqueles
registados em 1994. 236 milhões em 2010 contra 211 milhões em 1994.
Os jornais de distribuição gratuita, presentes em Portugal desde 2002, não são
imunes a esta tendência de quebra na circulação de jornais. Tal como os jornais pa-
gos, o ano de 2008 marca o ponto alto dos valores da distribuição com 356 milhões.
2009 e 2010 são anos de quebra na circulação de jornais gratuitos, com valores na
ordem dos 285 e 276 milhões, respetivamente.
Os valores da circulação paga dos jornais diários de informação geral confir-
mam a tendência de quebra na imprensa. A única exceção é o Correio da Manhã que
desde 2002 tem aumentado de forma ligeira os valores da circulação paga, se bem
que em 2012 e 2013 verificamos também uma quebra. Em 2013, o Correio da Manhã
apresenta valores na ordem dos 114.712 exemplares O segundo jornal em termos
de circulação paga é o Jornal de Notícias com 64.192 exemplares. Em terceiro lugar,
surgem o Público e o Diário de Notícias com valores na ordem dos 20.000 exemplares.
O Jornal i, em banca desde 2009, apresenta valores modestos e em quebra, tendo re-
gistado em 2013 apenas 5.089 exemplares.
Os jornais económicos apresentam valores de circulação paga em contraten-
dência com os jornais de informação geral até 2011. Tanto o Diário Económico como
IMPRENSA 43
Quadro 3.1 Evolução anual da audiência média de publicações de informação geral (em %) 2004 a 2013
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Informação geral 34,1 35,7 33,0 36,6 40,0 39,4 37,6 37,4 35,5 35,6
Jornais diários 27,5 28,1 25,8 29,3 33,7 33,3 27,2 27,9 27,1 27,4
Correio da Manhã 10,1 10,2 9,3 12,0 11,4 12,4 11,6 14,2 14,0 14,1
Jornal de Notícias 11,3 12,0 11,4 11,9 11,0 12,1 11,6 11,4 11,7 12,0
Metro – – 5,6 7,9 7,7 6,0 5,4 4,5 3,6 2,5
Destak 0,9 3,5 5,4 7,7 7,6 5,5 5,3 4,3 3,7 2,5
Público 5,3 5,1 4,5 4,7 4,4 4,5 4,4 5,1 5,1 5,7
Diário de Notícias 3,8 3,8 3,2 3,8 3,6 4,1 3,7 4,1 4,2 4,5
24 horas 3 3,1 3,0 3,2 2,7 2,9 – – – –
Jornal i – – – – – – 1,2 1,3 1,6 1,4
Expresso 8,1 8,1 7,3 7,4 8,1 7,7 7,6 7,4 7,2 7,7
Sol – – – 2,8 2,6 3 3,2 2,5 2,3 2,5
Base 8,311 8,311 8,311 8,311 8,311 8,311 8,311 8,311 8,311 8,564
800
700
600
500
400
300
200
100
0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Distribuição gratuita Vendas Tiragens
Figura 3.1 Evolução das tiragens, vendas e circulação gratuita dos jornais (milhões), 1994 a 2012
Fonte: Estatísticas da Cultura, INE.
o Jornal de Negócios têm aumentado os seus valores de circulação paga até este ano,
para depois sofrerem também uma quebra, tal como tinha acontecido nos genera-
listas. Em 2013, o Diário Económico continua a ser o líder da informação económica
paga com 10.119 exemplares, com o Jornal de Negócios a atingir os 7781 exemplares.
O único jornal económico gratuito, o Oje, em circulação desde 2006, teve no ano de
2011 o primeiro ano de quebra nos valores de circulação, tendência que se continu-
ou a verificar em 2012 e 2013.
44 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
Quadro 3.2 Evolução da circulação paga por edição no segmento dos diários de informação geral (n.º), 1993
a 2013
1 Em 2012, as categorias reduziram-se a papel e papel e eletrónico, pelo que não existem dados re-
lativamente a publicações de suporte exclusivamente eletrónico
IMPRENSA 45
Quadro 3.3 Evolução da circulação paga por edição no segmento dos diários de economia e finanças (n.º),
1994 a 2013
Jornal Diário
Oje Total Média
de Negócios Económico
Quadro 3.4 Evolução das quotas de mercado no segmento dos diários de informação geral, 1993 a 2013
Quadro 3.5 Evolução das quotas de mercado no segmento dos diários de economia e finanças, 1994 a 2013
1994 – 100 –
1995 – 100 –
1996 – 100 –
1997 – 100 –
1998 – 100 –
1999 – 100 –
2000 – 100 –
2001 – 100 –
2002 – 100 –
2003 38,4 61,6 –
2004 43,8 56,2 –
2005 37,7 62,3 –
2006 19,7 32,9 47,4
2007 18,3 28,9 52,8
2008 18,7 29,9 51,4
2009 19,8 29,9 50,4
2010 19,3 31,7 49,0
2011 20,2 31,6 48,1
2012 21,8 33,4 44,8
2013 22,3 29,2 48,6
2000
1800
1600
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Investimento
Televisão Imprensa Outdoor Rádio Cinema Internet
total
Quadro 3.7 Taxa de variação anual do investimento publicitário por meio (em %)
Jornais de referência
2,6
Orçamento do Estado 2013 5,9
6,3
1,9
Greve geral de 14 de novembro 1,5
3,5
1,7
Derrapagem do défice 0,3
4,1
1,6
2,4
Crise grega 3,4
1,1
Desemprego na zona euro 1,7
3,0
0,3
Euro 2012 10,1
4,9
0,0
Eleições nos EUA 3,1
8,2
0,2
2,8
Eleições na Grécia 0,4
relativos à crise na zona euro, como o demostram as big stories crise grega, eleições
na Grécia e desemprego na zona euro.
2 http://expresso.sapo.pt/carta-de-demissao-de-vitor-gaspar=f817482
3 http://www.publico.pt/politica/noticia/o-comunicado-de-demissao-de-paulo-portas-
na-integra-1599019
4 http://www.jornaldenegocios.pt/economia/detalhe/cavaco_apela_a_compromisso_de_salva-
cao_ nacional_para_eleicoes_antecipadas_em_junho_de_2014.html
50 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
9,5
Autárquicas 7,6
12,4
8,2
Crise na coligação governativa 10,0
7,8
6,9
TC chumba OE 0,5
1,6
3,6
Investigação aos contratos swaps 1,0
2,4
3,3
Final de época 2,0
2,8
2,6
Orçamento retificativo 2013 2,4
3,4
1,0
Relatório FMI para a refundação do Estado social 2,4
2,0
1,6
Orçamento do Estado 2014 3,0
2,4
0,7
Resgate ao Chipre 1,0
2,7
0,7
Atentados em Boston 0,4
2,4
sendo que esta foi a história do ano mais coberta no Diário de Notícias e a segunda
nos dois outros jornais.
As eleições autárquicas de 29 de setembro foram as primeiras eleições duran-
te o programa de resgate a que o país foi submetido. Foram vistas por muitos como
a primeira ocasião em que o povo poderia manifestar a sua insatisfação para com o
Governo. Os termos exigidos pela CNE limitaram as possibilidades de cobertura
dos meios de comunicação, mas não foi por isso que este deixou de ser um momen-
to eleitoral intensamente mediatizado, chegando a ser a história mais coberta pelo
Jornal i e pelo Público. De realçar também as histórias associadas aos Orçamento do
Estado, tais como o chumbo de algumas medidas do Orçamento do Estado 2013
pelo Tribunal Constitucional, o orçamento retificativo do mesmo ano e o Orçamen-
to de 2014.
Em 2013, a imprensa centrou-se mais em assuntos nacionais, relegando para
segundo plano as notícias relativas a histórias internacionais, dos quais apenas
duas chegaram às cinco mais frequentes dos três jornais: o resgate ao Chipre e os
atentados em Boston (maratona).5 Estes eventos que mereceram alguma atenção
especialmente da parte do Público, tiveram menor cobertura em comparação com a
política nacional, o tema que mais originou big stories.
5 http://estadodasnoticias.info/2013/04/atentados-de-boston-diminuem-a-atencao- dada-a-
crise-economica-portuguesa/
IMPRENSA 51
A área das notícias categorizou-se da seguinte forma: até 1/3 de página, o artigo foi
considerado pequeno, com uma página, médio e com mais de uma página, grande.
Como podemos verificar pelo quadro 3.8, o tamanho mais frequente do Diário de
Notícias e do Público, nos dois anos em análise foi o médio. Já o Jornal i optou mais
frequentemente pelas peças de mais de uma página, tanto em 2012 como em 2013.
O tamanho menos frequente na imprensa de referência é o pequeno, com exceção
para o Diário de Notícias em 2012.
De referir ainda que, de 2012 para 2013, foi notória uma diminuição das peças
pequenas e um aumento das peças médias em todos os jornais em análise.
Quadro 3.8 Área das notícias em 2012 e 2013 na imprensa de referência (em %)
2012 2013
Pequeno até 1/3 página 27,6 32,2 26,5 13,3 17,5 8,6
Médio até 1 página 30,9 48,2 44,0 42,8 62,9 60,0
Grande > 1 página 41,5 19,6 29,4 44,0 19,5 31,3
No que toca aos formatos, a esmagadora maioria das peças em capa remetem para
o formato notícia.
Verificamos no entanto uma ligeira tendência para a diversificação do gé-
nero jornalístico em 2013: a percentagem de notícia diminuiu em todos os meios
em prol dos outros formatos, nomeadamente da reportagem, que surge como o
segundo mais utilizado em todos os meios e que sofre um crescimento visível
em 2013.
Relativamente à entrevista e opinião, nota-se que nenhum dos jornais em
análise recorreu com frequência às capas para promover peças sob estes formatos,
sendo que o Jornal i é aquele em que a entrevista mais saiu em capa nos dois anos
em análise.
52 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
2012 2013
No que respeita ao foco geográfico das peças analisadas, o primeiro dado a ter em
conta é o referente às peças cujo foco foi o exclusivamente nacional: mais de 50%
das peças em todos os meios tiveram como foco Portugal.
2012 2013
No jornal Público, o segundo tipo de foco mais frequente foi o referente aos
países não europeus sem referências a Portugal (Internacional) sendo que as peças
com este foco geográfico perfizeram 12,7% em 2012 e 9,9% em 2013. Esta tendência
de internacionalização da cobertura mediática do jornal Público já se tinha verifica-
do quer pelas big stories mais tratadas, quer pelos protagonistas e temas. A conso-
nância entre big stories, protagonistas e foco geográfico fazem com que o Público se
IMPRENSA 53
apresente como o jornal entre os três em análise que mais se aproxima do ideal de
jornalismo de referência ou qualidade, com maior dedicação às hard news (Reine-
man et al., 2012: 232).
O Diário de Notícias deu mais espaço a peças de teor regional ou local (em
2012, 10,5% e, em 2013, 12,9%). No Jornal i verifica-se alguma mudança de 2012
para 2013: enquanto no primeiro ano em análise o segundo tipo de foco mais fre-
quente foi o nacional com referência a países europeus (nacional-Europa), no
segundo ano foi o nacional com referência a países não europeus (nacional-
-internacional).
Dentro do foco geográfico local, verificamos que a região com mais cobertura me-
diática é Lisboa e Vale do Tejo no Diário de Notícias (35,6% em 2012, 44,1% em 2013)
no Jornal i (59,7% em 2012 e 53,5% em 2013) e, ainda que com percentagem significa-
tivamente menores e mais distribuídas por outras regiões, no Público (20% em 2012
e 36,9% em 2013).
A região do Grande Porto não recebeu uma atenção comparável à que foi con-
ferida à Grande Lisboa, ainda que o jornal Diário de Notícias tenha sido aquele que
mais espaço em capa conferiu a esta região (11,1% em 2012 e 7,1% em 2013). A este
facto não será alheio a cada vez maior partilha de conteúdos entre o Diário de Notíci-
as (com sede em Lisboa) e o outro jornal do grupo, o Jornal de Notícias com sede na
cidade do Porto.
De notar a grande atenção mediática que a região da Madeira atraiu no ano
de 2012, especialmente por parte do Público. Esta atenção explica-se em parte
devido ao escândalo do buraco financeiro do governo regional que rebentou em
2011 e cujos desenvolvimentos ainda sofreram intensa cobertura mediática em
2012. Também em 2013 a região esteve em destaque pelos grandes incêndios do
verão.
De notar as percentagens inesperadamente altas do Algarve em 2012, quando
em comparação com outras regiões do país, como por exemplo o Centro. Tal rele-
vância deve-se em parte aos incêndios de verão que nesse ano lavraram na serra al-
garvia, mas também ao tornado que ocorreu no mesmo ano na zona de Silves,
provocando feridos e danos materiais.
A Região Autónoma dos Açores e o Alentejo foram as que atraíram menos
atenção noticiosa, chegando a percentagem a ser 0 no Público de 2013, em ambas as
regiões. De realçar a cobertura do Jornal i à região do Alentejo em 2013 com 8,1%
das notícias de capa.
54 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
2012 2013
Norte (exceto Grande Porto) 9,3 14,4 10,0 12,9 20,5 15,4
Grande Porto 4,7 11,1 16,0 9,7 7,1 15,4
Centro 14,0 12,2 6,0 3,2 12,6 18,5
Lisboa e Vale do Tejo (Grande Lisboa) 53,5 35,6 20,0 59,7 44,1 36,9
Alentejo 2,3 4,4 4,0 8,1 1,6 0,0
Algarve 2,3 10,0 18,0 3,2 4,7 1,5
Região Autónoma da Madeira 11,6 7,8 20,0 1,6 1,6 12,3
Região Autónoma dos Açores 2,3 4,4 6,0 1,6 7,9 0,0
Os países europeus mais mencionados foram o Chipre, Itália, Vaticano, Reino Uni-
do, Espanha, França, Alemanha e Grécia. Num contexto de crise europeia, não é de
surpreender as referências a países do sul da Europa como Itália, Chipre ou Grécia.
A crise financeira deste último país foi a mais violenta da Europa e o programa de
resgate a que este país tem estado sujeito desde 2010 foi também fonte de muita
controvérsia e contestação, o que fez com que este país fosse alvo de uma intensa e
constante cobertura mediática, tornando-se até numa das grandes histórias mediá-
ticas como comprovamos pela big story crise grega na figura das big stories de 2012.
Além disso, a Grécia atravessou também um momento eleitoral tenso em 2012, o
que explica a maior atenção mediática que recebeu nesse ano. As referências a Itália
aumentam substancialmente em 2013, o que pode ser explicado também pelas elei-
ções legislativas nesse mesmo ano. A atenção mediática ao Chipre praticamente só
existe em 2013, ano em que este país pediu assistência financeira e foi colocado sob
um programa de resgate.
De notar também as frequentes referências aos países do eixo franco-alemão
na liderança de uma Europa em crise. Ambos os países passaram também por mo-
mentos eleitorais importantes (eleições presidenciais em França em 2012, eleições
legislativas na Alemanha em 2013).
A atenção mediática que o Reino Unido recebeu em 2013 explica-se essencial-
mente por três eventos: a morte de Margaret Thatcher em abril, o nascimento do
príncipe George, filho dos duques de Cambridge, e os Jogos Olímpicos de Londres.
De referir ainda os eventos que explicam a presença do Vaticano neste gráfico
em 2013: a resignação do Papa Bento XVI e a eleição do Papa Francisco I.
As referências a Espanha são muito frequentes, em especial no Diário de Notí-
cias e no Público de 2012, ano em que se acordou o resgate ao sistema financeiro da-
quele país. A observação de Espanha como um dos países com maior incidência de
cobertura noticiosa está em consonância com estudos anteriores sobre a agenda
IMPRENSA 55
2012 2013
No caso dos países internacionais (todos os que não pertencem ao continente euro-
peu) foram os EUA o país mais mencionado por todos os meios nos dois anos em
análise. Verifica-se, apesar disso, que houve um decréscimo de referências de 2012
para 2013. Dois grandes acontecimentos justificam a imensa atenção mediática que
este país mereceu da parte da imprensa portuguesa em 2012: o furacão Sandy que
afetou a costa leste dos EUA em outubro, e as eleições presidenciais em novembro.
E, em 2013, o atentado na maratona de Boston a 15 de abril.
Será de notar que constam na lista dos países mais referenciados quatro países
de língua portuguesa (Brasil, Angola, Guiné-Bissau e Moçambique). Apresença des-
tes países na narrativa noticiosa portuguesa não será de surpreender tendo em conta
a proximidade cultural e histórica. Será no entanto de relembrar o Caso Duarte Lima
que apesar de não constar nas cinco principais histórias de 2012 dos jornais em análi-
se, foi intensamente coberta pela comunicação social em geral e que contribuiu em
muito para a presença do Brasil nesta lista em 2012, tal como a visita do Papa e os pro-
testos em junho neste país contribuíram para que a cobertura mediática se mantives-
se intensa em 2013.7 Também Angola surge como um dos países mais referidos,
principalmente em 2013, ano em que houve algumas tensões nas relações diplomáti-
cas entre Portugal e este país.
A Guiné-Bissau recebeu mais atenção mediática em 2012, ano em que o país so-
freu um golpe de Estado, e Moçambique surge no plano dos países mais referidos
6 http://estadodasnoticias.info/home/apresentacao/dados-chave/as-noticias-do-ano-por-meio/
7 http://estadodasnoticias.info/2013/06/greve-de-professores-e-protestos-no-brasil-dividem-
atencao-mediatica-na-semana-de-17-a-22-de-junho/
56 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
2012 2013
No que respeita aos temas mais frequentes, denotamos uma clara predominância
da economia e da política interna. Em 2012, os três jornais deram primazia aos as-
suntos económicos, enquanto em 2013 o peso desta temática diminui em prol da
política interna, que passa a ser o principal tema no Público e no Diário de Notícias.
Esta viragem da economia para a política interna estava também já patente nas big
stories do ano de 2013 (capítulo 3), através das quais verificámos que o nacional se
tornou o principal foco das peças analisadas, devido às notícias relacionadas com
os orçamentos, as eleições autárquicas e a crise na coligação governativa.
Outros temas como a saúde, a cultura e os assuntos laborais mereceram tam-
bém algum destaque na imprensa de referência. De notar que o Diário de Notícias
dedicou bastante mais espaço ao desporto e à justiça e sistema judicial que o Público
ou o Jornal i, o que pode indicar uma aproximação da política editorial do jornal à
imprensa popular ou tabloide. De notar que a educação, tema “quente” nos media,
não ocupa lugar nos cinco temas mais falados na imprensa de referência.
8 http://estadodasnoticias.info/2013/11/rapto-de-portugueses-em-mocambique-e-a-noticia-da-
semana-de-4-a-9-de-novembro/
IMPRENSA 57
2012 2013
A percentagem de peças com protagonista nos três jornais rondou os 40% em 2012 e
os 60% em 2013. Denotamos que as personalidades protagonistas de notícias foram
na sua grande maioria políticos nacionais e internacionais. De destacar Passos Coe-
lho enquanto a personalidade que mais protagonismo teve nas peças analisadas,
tanto em 2012 como em 2013, não se verificando uma diferença significativa no pro-
tagonismo do primeiro-ministro de um ano para o outro.
O mesmo não se poderá dizer em relação aos meios: o Jornal i foi claramente
aquele que mais capa dedicou a Passos Coelho, tanto em 2012 (6,6%) como em 2013
(7,3%). O ex-ministro das finanças Vítor Gaspar e o ex-ministro dos assuntos parla-
mentares Miguel Relvas figuram também entre as personalidades com mais desta-
que. Foi o ministério de Vítor Gaspar o que mais protagonismo teve devido à crise
económica que o país atravessa, e a sua demissão em 2013 fez dele capa em todos os
jornais. Miguel Relvas foi por sua vez um dos ministros mais controversos do Go-
verno, devido às polémicas relacionadas com a sua licenciatura, vindo este tam-
bém a pedir demissão em abril de 2013, explicando-se assim a atenção que a
imprensa lhe dedicou.9
O Presidente da República surge como quarto protagonista, sendo que o seu
espaço em capa diminuiu de 2012 em 2013 em quase todos os meios.
De destacar ainda Angela Merkel e Barack Obama como os protagonistas in-
ternacionais das notícias. O protagonismo da chanceler alemã tem sido alto duran-
te a crise da zona euro, e adquiriu uma relevância ainda maior no segundo ano em
análise, o que se explica com as eleições legislativas alemãs desse ano, das quais
saiu vencedora.
9 http://estadodasnoticias.info/2013/02/o-valor-noticia-dos-protestos-estudantis-a-noticia-dos-
incidentes-na-conferencia-dos-20-anos-da-tvi-no-iscte-iul/
58 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
2012 2013
Jornais económicos
As principais notícias de 2012 nos jornais económicos foram algo distintas. No Diá-
rio Económico as notícias mais tratadas foram a nova lei do arrendamento, que pre-
via a atualização dos valores para imóveis, e o resgate a Espanha, que remete para o
resgate da banca espanhola; no caso do Jornal de Negócios foi o corte de subsídio de
férias e de Natal, seguindo-se-lhe o Orçamento do Estado de 2013.
Será de realçar as diferenças no tratamento das três big stories relativas a aconte-
cimentos transnacionais — desemprego na zona euro, crise grega e resgate a Espa-
nha — entre os dois jornais económicos analisados. Amaior diferença encontra-se na
cobertura da temática desemprego na zona euro: os números do Diário Económico
(6,1%) contrastam em muito com a parca parcela que o Jornal de Negócios dedicou ao
tema (1,8%). Também no resgate a Espanha o primeiro diário apresentou uma cober-
tura mais extensiva, apesar de neste caso ser bastante próxima (6,7% e 6%, respetiva-
mente). Já a crise grega parece ter cativado mais a atenção do Jornal de Negócios (com
7,7%) do que a do Diário Económico (5,5%).
IMPRENSA 59
8,9
Orçamento de Estado 2013
6,1
9,5
Corte de subsídio de férias e de Natal
4,2
0,0
Crise grega 5,5
1,8
Desemprego na zona euro 6,1
6,0
Resgate de Espanha (crise do euro)
6,7
6,0
Nova lei do arrendamento
9,1
Económico Negócios
Em 2013, a cobertura das grandes histórias foi bastante diferente nos dois jornais
económicos. Contudo, a grande história do ano foi comum aos dois jornais: a cri-
se na coligação governativa que perfez 10,4% das big stories no Diário Económico
e 8,3% no Jornal de Negócios. O Diário Económico parece ter dado mais espaço em
capa a histórias nacionais, tais como as alterações legislativas para a função pú-
blica, as investigações aos contratos swap, as privatizações e orçamento retifica-
tivo de 2013. Apenas o orçamento de 2014 a que o Jornal de Negócios (5,9%)
prestou mais atenção do que o Diário Económico (3,5%) é uma exceção a esta re-
gra. As duas histórias que não se confinam ao nacional — resgate ao Chipre e
morte de Hugo Chávez — foram mais cobertas pelo Jornal de Negócios do que
pelo Diário Económico. Esta última foi inclusivamente a segunda mais frequente
no Jornal de Negócios. Verificámos na nossa base de dados que a cobertura do Jor-
nal de Negócios a este acontecimento foi acima de tudo sobre as consequências
que a morte de Chávez poderia ter na economia venezuelana e, por consequên-
cia, nos negócios de Portugal com aquele país.
60 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
8,3
Crise na coligação governativa 10,4
5,9
OE 2014 3,5
Económico Negócios
Quadro 3.16 Área das notícias em 2012 e 2013 na imprensa económica (em %)
2012 2013
Também nos jornais económicos o formato das peças com mais espaço em capa foi a
notícia, seguida pela reportagem, entrevista, opinião e editorial. Apesar de o primei-
ro tipo ser esmagadoramente mais frequente em todos os anos e meios analisados, o
Jornal de Negócios parece apostar mais na diversificação do género jornalístico, espe-
cialmente no ano de 2013, em que a reportagem ultrapassa os 20% das peças e a en-
trevista os 10%. As peças de formato opinião tiveram uma frequência constante no
Diário Económico, enquanto no Jornal de Negócios assistimos a uma clara queda (de
9,4% para 1,9%) no recurso ao formato. O género editorial foi residual em capa.
2012 2013
2012 2013
A frequência de peças de foco regional foi extremamente baixa nos dois jornais e
nos dois anos (em 2012 houve um total de 14 notícias com foco regional dos dois jor-
nais e em 2013 um total de 10). Como tal, consideramos irrelevante a apresentação
de gráfico e da sua análise. Podemos no entanto verificar que Lisboa e Vale do Tejo
foi a região mais tratada nas notícias dos jornais económicos.
10 http://estadodasnoticias.info/2013/04/o-regresso-de-jose-socrates-e-a-iminencia-
da-bancarrota-no-chipre/
IMPRENSA 63
2012 2013
No caso dos países não europeus, temos enquanto países mais referidos pelos jor-
nais económicos os EUA, Angola, Turquia, Brasil, China e Venezuela.
A atenção mediática dada aos Estados Unidos, claramente maior em 2012, ex-
plica-se pelas eleições presidenciais que tiveram extensa cobertura dos jornais eco-
nómicos. Brasil, Angola e China são os países mais comummente referidos pelos
dois meios de comunicação, que serão também aqueles que têm mais impacto no
mundo empresarial português. Não é de surpreender o caso da Venezuela no Jornal
de Negócios de 2013, pois que já tínhamos verificado que a morte de Hugo Chávez
foi intensamente coberta por este jornal que explorou o tema sob a perspetiva do
impacto deste acontecimento na economia venezuelana.
2012 2013
Temas
Não é uma surpresa que nos jornais económicos a área de economia e setores
económicos seja a mais frequente. Denota-se um ligeiro crescimento deste tema
de 2012 para 2013, tal como acontece com o tema política interna. Verificamos na
imprensa de referência que 2013 tinha sido um ano mais virado para o nacional
que 2012 e podemos dizer que essa tendência também se verifica nos jornais eco-
nómicos, ainda que de forma mais tímida. Comprovam-no o crescimento da po-
lítica interna e o decréscimo da política europeia durante os dois anos em
análise.
Os assuntos laborais mereceram mais atenção em 2012, o que se poderá ex-
plicar pela cobertura de medidas tais como os cortes nos subsídios (que faz par-
te das grandes histórias de 2012). Como quinto e último dos temas mais falados
temos a justiça e o sistema judicial com 3,3% e 3,9% no Jornal de Negócios e 3,9% e
5,2% no Diário Económico. De notar que ambos os jornais dedicam secções espe-
cializadas à justiça económica, com a presença assídua de comentadores da área
do Direito.
52,6
Economia e setores económicos 52,8
58,5
59,7
6
6,2
Política europeia 5,3
4,5
8,2
11,3
Política interna 10,7
11,5
3,3
3,9
Justiça e sistema judicial 3,9
5,2
10,9
Assuntos laborais 10,1
e Segurança Social 8,4
8,8
Diário Económico 2013 Jornal de Negócios 2013 Diário Económico 2012 Jornal de Negócios 2012
4,8 6,4
Pedro Passos Coelho 6,1
9,0
4,3
6,9
Vítor Gaspar 3,8
3,9
3,5
1,5
Álvaro Santos Pereira 2,7
0,6
2,2
2,0
Cavaco Silva 2,3
2,8
1,7
2,0
Américo Amorim 0,0
1,1
0,0
1,0
Maria Luís Albuquerque 5,3
3,9
0,9
1,0
Paulo Portas 2,2
3,0
0,4
1,5
António Mexia 1,1
3,4
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0
%
Diário Económico 2013 Jornal de Negócios 2013 Diário Económico 2012 Jornal de Negócios 2012
Jornais populares
O Euro 2012, que tinha já surgido como parte das histórias mais cobertas na im-
prensa de referência, mas que não chegou a fazer parte da mesma lista na im-
prensa económica, surge na imprensa popular como a big story mais forte do ano
de 2012.
66 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
4,4
Incêndios em Portugal 3,1
11,9
Euro 2012 11,5
2,2
Orçamento de Estado 2013 7,9
3,5
Caso Freeport 2,1
3,5
Caso das Secretas 1,6
4,0
Desemprego na zona euro 5,2
0,0
Greve geral 14 Novembro 8,4
4,0
Restruturação do SNS 4,7
É de notar que à exceção do desemprego na zona euro, todas as oito big stories
da imprensa popular dizem respeito a assuntos nacionais. No Jornal de Notícias é a
greve geral de 14 de novembro, na qual houve acesos confrontos entre a polícia e os
manifestantes, que ocupa o segundo lugar das histórias mais cobertas. Já no Correio
da Manhã, os incêndios em Portugal fizeram capa 4,4% das vezes.
O Jornal de Notícias cobriu com bastante mais intensidade assuntos da polí-
tica nacional, como é o caso de Orçamento do Estado de 2013 e a reestruturação
do Serviço Nacional de Saúde, e o Correio da Manhã centrou-se mais nos escânda-
los do ano a nível de abuso de poder e corrupção (Caso Freeport e Caso das
Secretas).
Na lista de big stories mais presentes na imprensa popular, encontramos três re-
lacionadas com o desporto (pré-temporada de futebol 2013-2014, jornada euro-
peia de futebol e mercado de transferências) e duas no âmbito da política
nacional (crise na coligação governativa e eleições autárquicas 2013). No Jornal
de Notícias a história do ano de 2013 foram as eleições autárquicas com 12%, segui-
da pela crise na coligação, 7,2%. Já no Correio da Manhã foi o mercado de transferên-
cias a notícia que mais fez capa com 6,3%, seguindo-se-lhe a crise na coligação com
5%. Sendo que ambos os jornais em análise tiveram a mesma percentagem de big
stories em relação às peças totais analisadas (cerca de 30%), podemos concluir que o
Correio da Manhã distribuiu mais a sua atenção e o Jornal de Notícias deu mais espaço
a um grupo mais restrito de big stories, e por isso na figura 3.10 referente às cinco
IMPRENSA 67
6,3
Mercado de transferências 5,3
5,0
Crise na coligação governativa 7,2
4,5
Jornada europeia de futebol 5,9
3,9
Pré-temporada de futebol 2013-14 4,5
3,7
Autárquicas 12,0
%
Jornal de Notícias Correio da Manhã
Mais uma vez, o tamanho médio revela-se o mais frequente, com exceção para o
Jornal de Notícias em 2012, cujas peças foram mais frequentemente pequenas. Ao
contrário do que aconteceu na maioria da imprensa de referência e na imprensa
económica, na imprensa tabloide o tamanho menos popular é o grande. Também
aqui temos uma exceção que no entanto não é significativa (em 2013, o Correio da
Manhã teve 19,8% de peças pequenas e 20,4% de peças grandes). Em 2013 tanto o
Quadro 3.21 Área das notícias em 2012 e 2013 na imprensa popular (em %)
2012 2013
Área Jornal de Notícias Correio da Manhã Jornal de Notícias Correio da Manhã
(N.º=1061) (N.º=1228) (N.º=1280) (N.º=1321)
O género jornalístico mais recorrente foi a notícia, com mais de 75% das peças neste
formato nos dois meios. A reportagem foi o segundo formato mais utilizado. De re-
ferir que é visível nos dois jornais um crescimento deste formato de 2012 para 2013.
A entrevista foi parcamente utilizada pelos dois meios, sendo que foi o Jornal de No-
tícias o que mais recorreu a este modelo. A percentagem de opinião e editorial nas
capas da imprensa popular foi residual.
2012 2013
Formatos Jornal de Notícias Correio da Manhã Jornal de Notícias Correio da Manhã
(N.º=1212) (N.º=1026) (N.º=1309) (N.º=1225)
2012 2013
Cobertura geográfica Jornal de Notícias Correio da Manhã Jornal de Notícias Correio da Manhã
(N.º=1175) (N.º=977) (N.º=1304) (N.º=1226)
2012 2013
2012 2013
Países Jornal de Notícias Correio da Manhã Jornal de Notícias Correio da Manhã
(N.º=123) (N.º=92) (N.º=108) (N.º=91)
Apesar das referências a países não europeus serem escassas na imprensa popular,
os países presentes no discurso mediático no Jornal de Notícias e no Correio da Manhã
são os mesmos que tiveram relevância nos outros jornais. No Correio da Manhã pre-
dominam os EUA, o que neste caso se explica devido às eleições presidenciais e ao
furacão Sandy em 2012 e aos atentados em Boston em 2013. A Venezuela, Angola e
China marcam presença nestes jornais pelos mesmos motivos que os tornaram pre-
sentes nos outros tipos de imprensa. O Brasil é o país mais referido pelo Jornal de
Notícias e o segundo mais referido pelo Correio da Manhã. As referências a este país
surgem no contexto do Caso Duarte Lima em 2012 e no âmbito da visita do Papa em
2013. Angola é o país mais referido pelo Correio da Manhã que acompanhou de per-
to a tensão diplomática entre os dois países.
11 http://visao.sapo.pt/a-teia-do-monte-branco-foi-desvendada-aqui=f686614
12 http://www.pgr.pt/Noticias/comunicados_imprensa/2014/nota_%20monte_branco.pdf
IMPRENSA 71
2012 2013
Países Jornal de Notícias Correio da Manhã Jornal de Notícias Correio da Manhã
(N.º=24) (N.º=27) (N.º=64) (N.º=69)
Ao contrário do que aconteceu nos jornais de referência e nos económicos, com cla-
ro destaque para a política e a economia, na imprensa popular os temas mais retra-
tados foram o desporto e a justiça e o sistema judicial. No entanto, a economia e a
política interna figuram nos cinco temas mais frequentes.
A justiça foi mesmo o tema que registou as percentagens mais altas, pois am-
bos os jornais dedicaram uma grande parte das suas capas a notícias relacionadas
com o crime. Denota-se no entanto uma tendência contrária nos dois jornais em
análise: se no Correio da Manhã aumentaram as notícias nesta temática (de 20% para
25,9%), no Jornal de Notícias a percentagem diminuiu (de 30% para 18,9%). O des-
porto surge como segundo tema, sendo que é o no Correio da Manhã que ele ganha
mais destaque, tanto em 2012 como em 2013.
De realçar que é a imprensa popular que nos dois anos dá maior destaque à
categoria diversos, onde se encontram as histórias sobre celebridades, ainda que
haja diferenças na comparação longitudinal. No caso do Jornal de Notícias em 2012
dedicou 11,7% das notícias de capa e em 2013, apenas 3,8%. No caso do Correio da
Manhã, em 2012 os diversos estavam presentes em 6,8% das notícias de capa e em
2013 houve um aumento para 11,3%.
Já na categoria de economia e setores económicos, podemos verificar que o
Jornal de Notícias abordou mais estas temáticas do que o Correio da Manhã. Quanto à
política interna, foi também o Jornal de Notícias de 2013 que maior percentagem
apresentou, o que pode ser explicado pela atenção que o jornal conferiu às eleições
autárquicas nesse mesmo ano.
Por último, os desastres, acidentes ou epidemias surgem também na lista das
temáticas mais abordadas pela imprensa popular, sendo que no caso desta catego-
ria não se registaram diferenças significativas entre os meios ou os anos em análise.
A predominância das notícias sobre celebridades, desastres e acidentes que
em 2013 no Correio da Manhã totalizam 17,1% e no Jornal de Notícias 8,9% e, em 2012,
no Correio da Manhã atingem os 11,1% e no Jornal de Notícias 17,5% confirmam os
dois jornais como tabloides (Esser, 1999). No entanto, as diferenças apresentadas
72 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
20,2
Desporto 18,3
20,6
17,1
10,1
Economia e setores económicos 11,5
8,0
11,7
6,8
Diversos 11,7
11,3
3,8
6,0
3,5
Política interna 4,6
8,4
20,0
30,0
Justiça e sistema judicial
25,9
18,9
4,3
5,8
Desastres/acidentes/epidemias 5,8
5,1
Jornal de Notícias 2013 Correio da Manhã 2013 Jornal de Notícias 2012 Correio da Manhã 2012
2,4
3,9
Cristiano Ronaldo 2,3
2,6
1,5
2,5
Pedro Passos Coelho 2,4
2,4
1,4
2,3
Vítor Gaspar 1,0
1,1
1,2
0,0
Luís Filipe Menezes 1,4
0,2
0,5
1,5
Godinho Lopes 0,2
0,1
1,0
1,0
Jorge Jesus 3,8
5,2
0,3 1,2
Cavaco Silva 1,2
1,7
1,2
Pinto da Costa 0,7
1,7
1,0
Jornal de Notícias 2013 Correio da Manhã 2013 Jornal de Notícias 2012 Correio da Manhã 2012
polícia para controlar adeptos, este enfrentou uma suspensão de 30 dias, e ainda
com a presença da equipa na final da Liga Europa.13
Cristiano Ronaldo foi a segunda personalidade mais destacada, especialmen-
te em 2012, ano do campeonato europeu que foi de resto a história do ano.
Ainda no mundo do desporto figuram, entre as personalidades mais marcan-
tes para a imprensa popular, o ex-presidente do Sporting Godinho Lopes e o presi-
dente do Futebol Clube do Porto, Pinto da Costa, sendo claro o destaque que este
último mereceu no Jornal de Notícias.
No âmbito da política surgem os já recorrentes protagonistas da cena da polí-
tica nacional: o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, o ministro das finanças Ví-
tor Gaspar e o Presidente da República Cavaco Silva.
Por fim, encontramos ainda Luís Filipe Menezes na lista das personalidades
mais referidas, sendo claro que é ao Jornal de Notícias que se deve essa posição. A
atenção dedicada a esta personalidade cresceu em 2013 devido às eleições autár-
quicas nas quais concorreu à presidência da Câmara Municipal do Porto.
13 http://estadodasnoticias.info/2013/05/final-da-liga-europa-e-a-noticia-da-semana-de-13-a-18-
de-maio/
74 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
Considerações finais
O ano de 2012 teve duas big stories comuns à imprensa de referência, económica e
popular: o orçamento de 2013 e o desemprego na zona euro. A crise grega consta na
lista das cinco estórias mais fortes de 2012 nos jornais de referência e nos jornais
económicos, enquanto o Euro 2012 não marcou presença na imprensa económica,
mas mereceu larga cobertura por parte dos jornais de referência e sobretudo por
parte dos jornais populares.
Em 2013, a crise na coligação governativa foi a história transversal a todos os
meios e a todas as nossas categorias de imprensa. Já as eleições autárquicas de 2013,
principal notícia do Público e do Jornal i, marcaram presença também na imprensa
popular, mas não fizeram parte das histórias mais cobertas pelos jornais económi-
cos. O orçamento retificativo de 2013, o orçamento de 2014 e o resgate ao Chipre fo-
ram histórias comuns entre a imprensa de referência e a económica, mas não
mereceram especial atenção por parte do Correio da Manhã ou do Jornal de Notícias.
Quanto à área ocupada pelas peças, verificámos que o tamanho mais frequen-
te das peças é até uma página em todos os tipos de imprensa. No entanto, enquanto
nos jornais de referência e nos económicos o menos frequente foi o pequeno (me-
nos de uma página), nos jornais populares o menos frequente foi o grande (mais de
uma página). Neste tipo de imprensa são mais raras as grandes reportagens ou en-
trevistas que ocupam mais do que uma página pois regra geral os temas não são tão
desenvolvidos como na imprensa económica ou de referência.
Os formatos sob os quais as peças se apresentaram variaram pouco entre os
jornais, as categorias analíticas ou os anos. O género notícia foi o mais frequente em
todos, sendo especialmente alta no Correio da Manhã e Jornal de Notícias. O género
reportagem foi quase sempre o segundo mais utilizado e foi mais frequente em
2013 que em 2012.
Em termos de cobertura geográfica, o tipo de foco geográfico mais comum foi
o nacional. Mas os jornais de referência demonstraram-se mais virados para o exte-
rior: as referências a países europeus e não europeus foram mais frequentes neste
tipo de imprensa. No outro lado do espectro encontramos a imprensa popular, em
que o local e o regional ganham um destaque que não merecem nos outros meios
analisados. No entanto, as regiões nacionais mais presentes no discurso mediático
dos dois jornais desta categoria diferem. O Jornal de Notícias cobre intensivamente a
área geográfica do Norte e do Grande Porto, deixando as outras regiões do país
muito aquém. O Correio da Manhã por sua vez, centra-se mais na região da Grande
Lisboa não deixando por isso de cobrir também outras regiões como o Norte, o
Centro e o Algarve.
Lisboa foi também a região mais retratada pela imprensa de referência, se-
guindo-se-lhe o Norte e região do Grande Porto. Outras regiões como a Madeira e o
Algarve mereceram também alguma atenção por parte destes media devido a acon-
tecimentos particulares que tiveram lugar durante o tempo de análise, como já re-
ferimos ao longo da análise dos dados.
A cobertura da zona geográfica europeia não registou grandes diferenças en-
tre os vários meios: Alemanha, França, Reino Unido, Espanha e Grécia foram
IMPRENSA 75
zona euro. Já 2013 foi um ano mais nacional, com dois grandes acontecimentos
marcantes: as eleições autárquicas e a crise na coligação. Esta tendência é também
verificável nos temas, visto que em 2013 o tema política interna ganhou mais desta-
que do que em 2012.
O primeiro ano de análise foi por isso um ano mais internacional e sobretudo
mais europeu, e o segundo um ano mais focado em questões internas.
Capítulo 4
Televisão
Entre o futebol e a(s) crise(s) orçamentais, de governo e desemprego
Susana Santos, Décio Telo, Gustavo Cardoso, Carlota Bicho e Eloísa Silva
Notas introdutórias
Os dados recolhidos pelo inquérito Sociedade em Rede de 2010 divulgam que a te-
levisão em Portugal tem uma taxa de penetração de 99%. O consumo de notícias é
uma das principais escolhas dos telespetadores, mas os dados referentes ao ano de
2010 quando comparados com 2008 revelam uma tendência de decréscimo nos
consumos televisivos sobretudo entre os adolescentes e os jovens adultos (entre os
15 e os 34 anos) (Vieira et al., 2013: 283). Mas mesmo tendo esta dinâmica mais re-
cente em consideração, a televisão constitui-se ainda como uma das principais fon-
tes de informação sobre temas políticos, económicos e sociais para a sociedade
portuguesa (Cardoso, 2013).
Tendo em consideração a importância da televisão quer na divulgação como
no consumo dos conteúdos informativos, o presente capítulo irá dividir-se em qua-
tro partes distintas. A primeira divisão constitui-se pela contextualização dos con-
sumos do setor televisivo através da recolha de alguns dados presentes no anuário
de comunicação 2012/2013 produzidos pela OberCom. Os dados recolhidos são re-
lativos às audiências da televisão por cabo ou subscrição; ao visionamento diário
de televisão por espetador; ao perfil de audiência da TV generalista por género,
idade e região; ao perfil da audiência com TV cabo por género e por idade; aos alo-
jamentos cablados em Portugal e à evolução destes por NUTS II; à evolução dos as-
sinantes de TV por satélite por NUTS II (em %); às receitas publicitárias e, por
último, à evolução destas receitas por meio.
A segunda parte corresponde aos canais generalistas (RTP1, RTP2, SIC e TVI),
sendo que a terceira acomoda os canais de notícias (RTP Informação, SIC Notícias e
TVI24), estas duas partes organizam-se de forma semelhante no que diz respeito às
categorias de análise. Os telejornais analisados — em horário nobre — para cada blo-
co de canais foram analisados numa perspetiva comparativa longitudinal (em 2012 e
2013) e sincrónica (entre meios) em dois pontos de análise. O primeiro ponto de aná-
lise é dedicado aos formatos de divulgação das notícias e é constituído pelas seguin-
tes variáveis: i) a duração das notícias, e ii) os formatos jornalísticos. O segundo
79
80 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
No que diz respeito ao share global assinala-se pelos dados recolhidos no Anuário de
Media e Publicidade, entre 2002 e 2013, o crescimento das audiências da televisão por
cabo ou subscrição. Em 2012, a audiência global dos canais por cabo atinge os
29,6%, crescendo em 2013 para 33,4%.
Relativamente ao número de minutos de visionamento televisivo por espeta-
dor, tem-se mantido estável na última década com valores próximos dos 200 minu-
tos diários. No ano de 2013 regista-se o valor mais elevado com 235 minutos, o
equivalente a 3,54 horas de visionamento diário de televisão.
A ficção é o género televisivo com mais tempo de emissão na televisão gene-
ralista portuguesa, para esse facto muito contribui o espaço dedicado à ficção
pela SIC e TVI. Assinala-se a exceção da RTP1 no ano de 2012, que dá mais relevo a
conteúdos associados ao divertimento — concursos, reality shows — e o da RTP2
em 2013 pelo privilégio de conteúdos informativos. A oferta destes conteúdos re-
gistou uma diminuição em todos os canais generalistas em 2013 (com a exceção
da RTP2). A oferta de informação é igualada pela publicidade na TVI com 248 mi-
nutos diários e no caso da SIC a publicidade ocupa mais tempo de emissão com
300 minutos diários.
Os conteúdos associados à arte e cultura revelam-se pouco presentes nas tele-
visões generalistas nacionais nos anos em análise, e no caso da SIC e TVI estes con-
teúdos não registam nenhuma expressão.
Relativamente ao perfil de audiência por género, numa perspetiva longitudi-
nal, comprova-se que são as mulheres que mais assistem às emissões da televisão
generalista. Foi em 2012 que se registou a percentagem mais elevada de assistência
do género feminino a conteúdos da televisão generalista nacional.
No que concerne à idade, são os mais velhos, com idade superior a 64 anos,
aqueles que mais consomem televisão generalista, o que ajuda a traçar um perfil de
TELEVISÃO 81
Quadro 4.1 Evolução média anual do share global entre 2002 a 2013 (em %)
300
250
235
214 215 218 222
200 206 212 210 209 209 210
193
185
150
100
50
0
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Quadro 4.2 Tempo médio diário de emissão por género de programa (em minutos), 2012-2013
2012 2013 2012 2013 2012 2013 2012 2013 2012 2013
Arte e cultura 5 5 1 1 4 4 0 0 0 0
Cultura geral/ 532 390 70 66 399 267 32 30 30 26
conhecimento
Desporto 271 136 50 33 185 86 18 9 18 9
Divertimento 1038 978 417 341 51 43 279 275 291 318
Ficção 1268 1154 238 283 180 112 406 378 444 381
Informação 990 1119 357 326 158 343 213 203 262 248
Juventude 513 518 23 10 406 419 54 51 30 37
Publicidade 905 783 237 219 20 17 341 300 306 248
Outros 240 235 48 51 36 38 97 83 59 62
Total 5762 5318 1441 1330 1439 1329 1440 1329 1440 1329
100
90
80
70
60
% 50
40
30
20
10
0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Feminino Masculino
Figura 4.2 Perfil de audiência da TV generalista por género (em %), 2004 a 2013
Fonte: Anuário de Media e Publicidade, 2013, Marktest.
100
90
80
70
60
% 50
40
30
20
10
0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
4 a 14 15 a 24 25 a 34 35 a 44 45 a 54 55 a 64 Mais de 64
Figura 4.3 Perfil de audiência da TV generalista por idade (em %), 2004 a 2013
Fonte: Anuário de Media e Publicidade, 2013, Marktest.
100
80
60
%
40
20
0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Grande Lisboa Grande Porto Litoral Norte Litoral Centro Interior Sul
Figura 4.4 Perfil de audiência da TV generalista por região (em %), 2004 a 2013
Fonte: Anuário de Media e Publicidade, 2013, Marktest.
84 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
100
80
60
%
40
20
0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Feminino Masculino
Figura 4.5 Perfil da audiência com TV cabo por género (em %), 2004 a 2013
Fonte: Anuário de Media e Publicidade, 2013, Marktest.
100
80
60
%
40
20
0
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
4 a 14 15 a 24 25 a 34 35 a 44 45 a 54 55 a 64 Mais de 64
Figura 4.6 Perfil da audiência com TV cabo por idade (em %), 2004 a 2013
Fonte: Anuário de Media e Publicidade, 2013, Marktest.
TELEVISÃO 85
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
2,601 3,024 3,349 3,494 3,631 3,773 3,825 4,026 4,215 3,99 4,056 4,011 4,082 4,139
Quadro 4.4 Evolução dos assinantes de DTH (TV por satélite) por NUTS II (em %), 2001 a 2013
Fonte: ANACOM.
Quadro 4.5 Evolução dos assinantes de DTH (TV por satélite) por NUTS II (em %), 2001 a 2013
Fonte: ANACOM.
4.500.000
4.000.000
3.500.000
3.000.000
2.500.000
2.000.000
1.500.000
1.000.000
500.000
0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Quadro 4.6 Taxa de variação anual do investimento publicitário entre 2002 e 2013 (em %)
Canais generalistas
O quadro 4.7 é relativo às cinco principais histórias cobertas pelos canais generalis-
tas de televisão — RTP1, RTP2, SIC e TVI — em 2012. Para cada um destes canais fo-
ram selecionadas as cinco notícias com maior destaque. Seria expectável que a
tabela se apresentasse por quinze big stories, mas como houve notícias comuns
entre os canais generalistas esta constituiu-se apenas por nove notícias. Estas
nove notícias dizem respeito à reforma da legislação laboral, Orçamento do
Estado de 2013, Caso das Secretas, derrapagem do défice, incêndios em Portu-
gal, corte do subsídio de férias e de Natal, Euro 2012, crise grega e desemprego
na zona euro.
O desemprego na zona euro, bem como os cortes nos subsídios de férias e de
Natal pertenceram ao top 5 de todos os canais generalistas. A big story do desempre-
go na zona euro é um reflexo da crise económica europeia dimensionada especial-
mente a partir dos países do sul, onde as taxas de desemprego atingem valores
elevados. A RTP1 foi o principal canal de televisão a cobrir mediaticamente esta
história — 5,3% das notícias com big story são referentes ao desemprego na zona
euro — segue-se a RTP2 (5%), a SIC (3,6%), e por último a TVI (2,9%). Outra história
88 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
Quadro 4.7 As principais notícias nos canais generalistas de televisão em 2012 (em %)
O ano de 2013 foi fortemente marcado por notícias relativas à crise da coligação go-
vernativa. A instabilidade política do governo PSD/CDS-PP atingiu o seu ponto
mais elevado no início de julho de 2013 com a demissão do ministro Vítor Gaspar e
o pedido de demissão do ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, que
terminou com uma profunda remodelação governamental. 1 2 3 A TVI foi o canal
que mais cobriu a crise da coligação — 16,4% das notícias com big stories são relati-
vas a esta temática — seguindo-lhe a RTP1 (15,4%), a SIC (14,7%) e a RTP2 (5,3%).
A cobertura mediática das principais notícias de 2013 concentra-se sobretudo na
crise da coligação governativa. Esta concentração resultou numa menor represen-
tação percentual de outras notícias.
O orçamento retificativo também adquiriu um estatuto relevante nos blocos
noticiosos de todos os canais generalistas. O Orçamento do Estado de 2013 foi alte-
rado em dois momentos — em maio e em outubro — mas esta big story apenas diz
respeito à primeira alteração.4 A cobertura mediática destas notícias entre os canais
de televisão generalistas é homogénea — TVI (3,3%), SIC (2,8%), RTP2 (2,8%) e
RTP1 (2,2%). Também as notícias referentes ao chumbo do Tribunal Constitucional
a quatro normas inscritas no OE 2013 se manifestaram no top dos canais generalis-
tas nacionais.5 O tribunal declarou inconstitucional o corte do subsídio de férias a
funcionários públicos e a suspensão do mesmo a pensionistas; a contribuição sobre
prestações de doença e desemprego; e declarou ainda como inconstitucional uma
norma referente aos contratos de docência e investigação. A TVI (2,6%) foi o canal
de televisão que mais abordou esta história, seguida da SIC (2,2%), da RTP2 (1,7%)
e da RTP1 (0,6%). A temática do orçamento encerrou-se nesta análise pelas notícias
referentes ao Orçamento do Estado para 2014, sendo a RTP2 (3,6%) o canal que
mais destaque lhe fornece.
Foram ainda destacadas pelos canais generalistas nacionais outras notícias que
se distanciam de questões relacionadas com finanças públicas nacionais, estas dizem
respeito às eleições autárquicas (2013), ao apuramento para o mundial e ao final de
época de futebol. As eleições autárquicas foram abordadas principalmente pela RTP1
(4,1%). O apuramento para o mundial foi especialmente coberto pelos canais públicos
de televisão — RTP1 (2,3%) e pela RTP2 (1,1%) / SIC (0,5%) e pela TVI (0,1%). Por sua
vez, o final da época de futebol de 2013 foi especialmente destacado pelos canais priva-
dos de televisão — SIC (4%), TVI (2,5%) / RTP1 (0,7%) e RTP2 (0,3%).
1 http://estadodasnoticias.info/2013/07/a-crise-na-coligacao-governativa-foi-a-noti-
cia-da-semana-de-1-a-6-de-julho/
2 http://estadodasnoticias.info/2013/07/crise-na-coligacao-governativa-continua-no-topo-da-
agenda-noticiosa-na-semana-de-8-a-12-de-julho/
3 http://estadodasnoticias.info/2013/08/pela-3a-semana-a-crise-governativa-domina-a-agenda-
informativa/
4 http://estadodasnoticias.info/2013/06/entrega-do-orcamento-rectificativo-no-parlamento-e-a-
noticia-da-semana-de-27-de-maio-a-1-de-junho/
5 http://estadodasnoticias.info/2013/04/chumbo-do-tribunal-constitucional-e-a-noticia-da-se-
mana-de-4-a-10-de-abril-de-2013/
90 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
Quadro 4.8 As principais notícias dos canais generalistas de televisão em 2013 (em %)
As peças jornalísticas grandes, entendidas como as que registam mais de 120 se-
gundos, são as mais constantes nos canais de sinal aberto nacionais. Assinala-se
apenas a exceção da RTP2 no ano de 2013, que privilegia as peças jornalísticas de
pequena dimensão. A SIC é o canal que regista uma maior presença de peças de
grande dimensão nos dois anos de análise. Em 2012, 66,1% das notícias são de di-
mensão grande, em 2013 regista-se a percentagem de 72%. A SIC, a TVI e RTP1 ma-
nifestam um aumento de peças de grande dimensão de 2012 para 2013.
Relativamente às notícias de média duração são as segundas mais presentes
na TVI, na SIC e na RTP1. O canal de televisão que mais apresenta notícias com esta
dimensão é a TVI para os dois anos de análise — 2012 (33,5%) e 2013 (28,4%). Em
6 http://estadodasnoticias.info/2013/02/a-resignacao-do-papa-bento-xvi-em-semana-de-carnaval/
TELEVISÃO 91
Quadro 4.9 Duração das peças noticiosas nos canais generalistas entre 2012 e 2013 (em %)
Pequena
10,4 9,8 15,0 42,3 9,2 5,9 13,6 7,8
(até 60 segundos)
Média (entre 61
26,1 23,6 26,0 20,8 24,7 22,0 33,5 28,4
e 120 segundos)
Grande (mais de 120
63,5 66,6 59,0 36,8 66,1 72,0 52,9 63,8
segundos)
Formatos jornalísticos
Peça editada 64,0 54,2 65,1 56,3 62,0 50,6 58,4 55,3
Reportagem 17,6 23,7 13,2 9,8 18,5 28,9 23,1 24,8
Direto 8,6 9,7 2,3 1,5 5,8 8,7 5,3 6,3
Entrevista 1,2 2,2 3,7 1,7 1,5 1,5 2,7 2,9
Opinião 0,9 3,0 7,9 1,4 4,8 6,6 1,7 4,3
Relato do pivô 7,7 7,1 7,8 29,3 7,3 3,7 8,8 6,4
Aludindo à área de cobertura geográfica, o quadro 4.11 permite constatar a maior pre-
ponderância das notícias exclusivamente nacionais.7 O focus nacional é o mais predo-
minante nos canais generalistas nacionais em 2012 e em 2013. As regiões do país
também têm uma cobertura bastante significativa em todos os canais, constituindo-se
na segunda categoria geográfica com maior representação.
Para além do domínio nacional e regional, o domínio europeu também se
manifesta como relevante nos anos detidos para análise. No que concerne à co-
bertura geográfica em domínio europeu esta divide-se em três categorias: i) no-
tícias nacionais com referência a países europeus; ii) notícias europeias com
referência a Portugal e iii) notícias exclusivamente europeias. A primeira cate-
goria é a mais presente para todos os canais generalistas no ano de 2012. O canal
de televisão que mais relevo deu a notícias nacionais com referência a países eu-
ropeus foi a RTP1 (10,9%). No ano de 2013 esta relevância geográfica perde-se
na SIC e na TVI. Os canais generalistas privados reservam, em 2013, uma maior
percentagem de notícias europeias com referência a Portugal — SIC (9,2%), TVI
(7,3%). A categoria geográfica Europa-nacional cresceu em 2013 em todos os ca-
nais generalistas nacionais. Em contrapartida as notícias exclusivamente euro-
peias registam um decréscimo em 2013.
Relativamente à cobertura geográfica em domínio internacional divide-se
em: i) notícias nacionais com referência ao internacional; ii) notícias interna-
cionais com referência a Portugal e iii) notícias internacionais. No ano de 2012
os canais generalistas nacionais dão mais relevo a notícias nacionais com
7 O enfoque geográfico constitui-se pela regra de pelo menos 50%, ou seja, metade do conteúdo
das notícias deve corresponder a uma determinada área geográfica. As notícias que não cum-
prem esta regra foram codificadas sem enfoque geográfico. No caso de haver dois enfoques geo-
gráficos na mesma peça, considerou-se o que ocupava espaço.
TELEVISÃO 93
Quadro 4.11 As áreas geográficas mais destacadas pelas televisões generalistas entre 2012 e 2013 (em %)
Cobertura regional
No que respeita às regiões do país é facilmente verificável que as notícias sobre a re-
gião de Lisboa e Vale do Tejo ocupam mais espaço nos telejornais. A região do
Centro também tem uma forte presença nas notícias dos canais generalistas, princi-
palmente na TVI — 2012 (20,7%) e 2013 (20,6%). Por sua vez, a região do Grande
Porto (23,1%) e do Norte (17,3%), mesmo que pertinentes em todos os canais de te-
levisão, tiveram uma especial presença na RTP2 de 2013. Estas duas regiões regis-
taram um aumento em todos os canais generalistas de 2012 para 2013 — com a
exceção da RTP1 para a região do Grande Porto.
A região do Algarve encontra-se principalmente presente nas peças jornalís-
ticas correspondentes ao ano de 2012. Este fenómeno pode ser esclarecido pela
existência de um tornado no concelho de Sines e Lagoa em novembro de 2012. Para
além deste desastre natural, a região do Algarve esteve ainda em foco pelos violen-
tos incêndios registados na serra algarvia. Foi a TVI (6,7%) o principal canal a
destacar esta região do país. Também a região do Alentejo se encontra mais repre-
sentada em 2012. Neste ano as televisões generalistas registaram com alguma rele-
vância o triplo homicídio de Beja, acontecimento em redor da suspeita de um
homem ter assassinado a mulher, filha e neta. Este acontecimento registado na re-
gião do Alentejo ajuda a explicar a pertinência desta região especialmente no ano
de 2012.
A Região Autónoma da Madeira foi principalmente destacada em 2012. A re-
levância das histórias jornalísticas associadas ao buraco financeiro descoberto em
2011, que deu origem a um plano de ajustamento orçamental para esta região, e os
94 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
Quadro 4.12 As regiões do país nos canais generalistas de televisão entre 2012 e 2013 (em %)
Países europeus
O quadro 4.13 agrega os cinco principais países europeus nas televisões generalis-
tas nacionais em 2012/2013. Através desta podemos afirmar que o país mais
frequente nestes meios de comunicação é a Espanha. Sendo especialmente referen-
ciada pelos canais públicos nos dois anos de análise — RTP1 2012 (18,1%), RTP2
2013 (20,2%). Não é novidade o privilégio que os canais generalistas atribuem a
Espanha, vários estudos apontam este país como a principal referência das notícias
não nacionais pelos meios de comunicação portugueses (Silveira, Cardoso e Belo,
2010, Silveira e Shoemaker, 2010).
Para além da forte presença do país vizinho, assinala-se o destaque a Fran-
ça, Reino Unido, Grécia, Itália, Alemanha e Vaticano. A representação da Grécia
comprova-se especialmente nos canais generalistas no ano de 2012, registan-
do-se uma queda bastante significativa das notícias que referenciavam este país
em 2013. A evidência deste país em 2012 justifica-se pela sua contextualização
numa grave crise económica e também pela ocorrência de eleições legislativas
que se afiguraram num impasse político possibilitado pela dificuldade na for-
mação de um governo maioritário. O canal de televisão que mais referenciou
este país foi a RTP2 (12,3%). Outro país do sul europeu relevante para os canais
generalistas foi a Itália, sendo especialmente referenciado em 2013. Para além
da cobertura mediática a este país passar pelas suas fragilidades económicas
num cenário de crise europeia, Itália foi ainda contextualizada por notícias refe-
rentes às eleições legislativas de 2013 e por um acidente denominado jornalisti-
camente por naufrágio em Lampedusa, dando conta do naufrágio de uma
TELEVISÃO 95
Quadro 4.13 Os países europeus mais destacados pelos canais de sinal aberto entre 2012 e 2013 (em %)
No caso dos países não europeus considerados como aqueles que não perten-
cem à Europa, denotamos que o principal país referenciado são os Estados Uni-
dos da América. Este país foi principalmente destacado no ano de 2012 pois
96 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
Quadro 4.14 Os países internacionais (não europeus) mais destacados pelos canais de sinal aberto em
Portugal em 2012 e 2013 (em %)
8 http://estadodasnoticias.info/2013/09/o-conflito-na-siria-esteve-no-topo-da-agenda-noticio-
sa-portuguesa-na-semana-de-9-a-14-de-setembro/
TELEVISÃO 97
Principais temas
O quadro 4.15 foi elaborado a partir da seleção dos cinco principais temas de cada
canal generalista de televisão nos anos de 2012 e de 2013. A tematização das notíci-
as permite que um determinado acontecimento seja “arrumado” numa categoria,
facilitando a compreensão da realidade por parte do leitor (Gomes, 2012).
O grande tema de 2012 foi o da economia e setores económicos. Por sua vez,
em 2013 o tema relativo à política interna constitui-se como o mais relevante entre
os canais de televisão. O assunto relativo à justiça e sistema judicial, mesmo que em
menor evidência relativamente aos dois primeiros mencionados, também se evi-
dencia pela sua transversalidade presente em todos os canais de televisão nos dois
anos de análise.
Mas nem todos os temas, presentes no quadro 4.15, tiveram esta presença
constante e homogénea nos canais de televisão em análise. O desporto foi desta-
cado principalmente pela SIC — 2012 (12,6%), 2013 (11,3%) — contrastando com
a RTP2 que se evidencia por um espaço mais residual atribuído às notícias des-
portivas — RTP2 2012 (1,2%), RTP2 2013 (5,8%). No que diz respeito aos assun-
tos laborais e Segurança Social, tiveram uma maior presença em 2012, havendo
um decréscimo desta temática em todos os canais generalistas em 2013. O canal
de televisão que mais destacou este assunto foi a RTP2 — 2012 (11,4%), 2013
(8,2%) Também o tema da participação e protestos foi destacado nos dois anos
de análise principalmente pela RTP2 — 2012 (8,5%), 2013 (7,4%). A temática dos
desastres/acidentes/epidemias foi mais evidente na RTP1 — 2012 (7,3%), 2013
(7,1%). Por último, relativamente aos diversos (onde se incluem as histórias so-
bre celebridades) foi a TVI (10,1%), em 2012, o canal que mais destaque lhe atri-
buiu, sendo a SIC (6,8%) a ganhar esse protagonismo em 2013.
9 http://estadodasnoticias.info/2013/03/as-noticias-internacionais-mar- cam-a-agen-
da-noticiosa-da-semana-de-7-a-13-de-marco/
98 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
Quadro 4.15 Os temas mais destacados nas televisões generalistas em 2012 e 2013 (em %)
Economia e setores
17,1 9,3 18,3 11,5 13,3 10,7 16,2 11,5
económicos
Política interna 13,4 22,6 17,7 26,7 12,6 21,5 14,3 20,6
Desporto 11,8 5,8 1,2 5,8 12,6 11,3 9,2 7,5
Justiça e sistema judicial 11,5 10,1 9,9 7,4 13,7 8,3 13,0 10,3
Assuntos laborais
8,0 4,9 11,4 8,2 7,2 5,1 8,2 4,7
e Segurança Social
Participação e protestos 5,2 7,1 8,5 7,4 7,0 3,6 5,4 4,2
Desastres/acidentes/epidemias 7,3 7,1 5,7 5,0 6,4 4,8 5,8 6,1
Diversos 4,2 4,6 3,1 2,4 6,8 7,4 5,7 10,1
Principais protagonistas
Em relação aos protagonistas o quadro 4.16 é o resultado da seleção das cinco princi-
pais personagens destacadas pelos canais generalistas nacionais em 2012 e 2013. A
personalidade a que todos os canais de televisão deram mais relevo nos dois anos de
análise foi o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho. Este é o protagonista com mais
relevo mediático, sendo a RTP2 o canal que mais destaque lhe proporcionou — 2012
(14,6%), 2013 (12%). O segundo protagonista mais destacado foi Cavaco Silva, sendo a
RTP1 o canal que mais destaque lhe atribuiu — 2012 (6,7%), 2013 (6,3).
Na sequência da crise governativa de julho de 2013 o governo sofreu uma forte
remodelação que resultou na entrada de novos protagonistas na esfera política portu-
guesa e pela saída de outros. Este acontecimento refletiu-se na nossa análise pelo au-
mento do destaque de algumas individualidades e pelo decréscimo na representação
de outras personalidades políticas. Álvaro Santos Pereira e Miguel Relvas exemplifi-
cam o que atrás foi descrito. Em 2012, Álvaro Santos Pereira esteve bem presente nas
televisões nacionais, sendo mais evidenciado pela SIC (3,6%). Por sua vez, este prota-
gonista em 2013 sofreu um forte decréscimo na sua representação, justificado pela sua
saída do governo. No caso de Miguel Relvas, que também abandonou o governo no
mesmo período, a suavização do seu protagonismo em 2013 foi mais ligeira relativa-
mente ao antigo ministro da Economia. Vítor Gaspar foi substituído por Maria Luís
Albuquerque, por esta razão a nova ministra das Finanças apenas se encontra presente
no ano de 2013. ARTP2 (3,1%) foi o canal de televisão que mais destaque lhe concedeu,
seguiu-se a SIC (3%), a RTP1 (2,2%) e por último a TVI (2,1%). Um outro protagonista
também com uma clara predominância no ano de 2013 foi Paulo Portas. Este ganhou
um destaque acrescido potencializado pela crise política no verão de 2013, sendo des-
tacado de igual forma pela SIC, TVI e RTP2 (4,5%).
Para além do destaque a estas figuras governamentais, as televisões generalistas
nacionais protagonizam a oposição principalmente através de António José Seguro.
A sua representação cresceu claramente no ano de 2013 em todos os canais de
TELEVISÃO 99
Quadro 4.16 As individualidades mais presentes nos blocos noticiosos generalistas entre 2012 e 2013 (em %)
Pedro Passos Coelho 10,1 10,2 14,6 12,0 9,8 9,5 11,0 9,5
Cavaco Silva 6,7 6,3 5,3 6,2 4,6 4,0 6,3 4,0
Vítor Gaspar 4,6 2,9 5,3 1,7 4,6 3,8 3,2 3,8
Álvaro Santos Pereira 3,0 0,5 2,4 0,3 3,6 0,5 2,6 0,6
Miguel Relvas 2,4 1,4 4,1 0,3 3,5 0,7 2,5 1,8
António José Seguro 1,6 2,9 3,9 7,2 3,1 4,3 2,7 4,3
Alberto João Jardim 2,4 0,2 1,7 0,3 3,5 0,2 0,8 0,1
Angela Merkel 1,6 0,2 1,7 1,4 0,6 0,4 3,6 0,8
Paulo Portas 0,4 4,1 1,9 4,5 1,5 4,5 1,0 4,5
Francisco I – 4,2 – 4,5 – 2,8 – 3,5
Nelson Mandela – 3,0 – 1,0 – 3,4 – 1,0
Maria Luís Albuquerque – 2,2 – 3,1 – 3,0 – 2,1
televisão, sendo neste mesmo ano principalmente destacado pela TVI (4,3%). Por sua
vez, a “voz europeia” é protagonizada através de Angela Merkel. A chanceler alemã
foi mais destacada em 2012, registando-se uma presença superior na TVI (3,6%).
Para além destes protagonistas políticos pertencentes essencialmente à esfera
política nacional, os canais generalistas atribuíram ainda relevo mediático ao Papa
Francisco I e a Nelson Mandela. Estes apenas estão presentes no ano de 2013. Na se-
quência da resignação do Papa Bento XVI, no início do ano de 2013, Francisco I foi
eleito como o novo Papa. O canal que atribuiu um maior destaque a Francisco I foi a
RTP2 (4,5%). Por último, em maio de 2013, morreu Nelson Mandela, acontecimen-
to que justifica a sua presença no top 5 dos protagonistas mais destacados pelos ca-
nais generalistas. A SIC (3,4%) foi o canal que mais relevo lhe atribuiu.
Os protagonistas encerram o segundo ponto da análise dedicado aos conteúdos
noticiados. De seguida, irão ser analisados os canais de notícias nacionais — SIC Notí-
cias, RTP Informação e TVI24 — relativamente aos formatos de divulgação das notíci-
as segundo as categorias de análise relativas à duração e aos formatos.
Canais de notícias
O quadro 4.17 apresenta as principais histórias presentes nos canais de notícias na-
cionais no ano de 2012. Pela leitura do mesmo, podemos afirmar que as histórias
mais mediatizadas por estes canais são: o corte dos subsídios de férias e de Natal e o
desemprego na zona euro. Estas duas histórias pertencem ao top 5 da SIC Notícias,
RTP Informação e da TVI24. Relativamente ao corte dos subsídios de férias e de Na-
tal, foi coberto mediaticamente de uma forma regular entre os vários canais, ape-
nas se registando uma ligeira proeminência por parte da RTP Informação (4,8%).
100 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
Quadro 4.17 As principais histórias noticiosas destacadas pelos canais de notícias em 2012 (em %)
A big story do desemprego na zona euro foi principalmente mediatizada pela SIC
Notícias (4,5%), seguida da TVI24 (4,3%) e RTP Informação (3,3%). Este fenómeno
já se tinha verificado nas televisões generalistas, também são estas duas big stories
as mais frequentes em todos os canais generalistas em 2012.
Para além desta semelhança, verificamos ainda que as histórias noticiosas re-
lativas à derrapagem no défice, ao Caso das Secretas, ao Orçamento do Estado para
2013 e ao Euro 2012 também se encontram destacadas pelos canais de notícias. É
mais uma tendência partilhada entre estes dois blocos de canais. Relativamente ao
Euro 2012 deve-se salientar que o destaque provém essencialmente da RTP Infor-
mação (6,4%), observando-se uma presença quase residual nos restantes canais de
notícias — SIC Notícias (0,8%) e TVI24 (0,3%).
As “histórias novidade” que os canais de notícias destacaram foram: o golpe
de Estado na Guiné-Bissau e a crise na coligação governativa. A 12 de abril de 2012
um autodenominado “Comando Militar” tomou o poder em Bissau, destituindo o
presidente interino, Raimundo Pereira, e o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júni-
or. Este acontecimento descrito pela história do golpe militar na Guiné-Bissau foi
destacado principalmente pela RTP Informação (3,2%), seguida da SIC Notícias
(2,9%) e da TVI24 (2%). Para além desta, a crise na coligação governativa também
foi evidenciada pelos canais de notícias. Enquanto nos canais generalistas esta his-
tória ganha um verdadeiro destaque apenas em 2013, nos canais de notícias as di-
vergências políticas no governo já se encontram mediatizadas nas notícias de 2012.
Em outubro de 2012 lançaram-se algumas suspeitas relativas ao voto de Paulo Por-
tas no Orçamento do Estado de 2013, questionando-se a coesão entre os partidos de
governo. Esta história foi especialmente coberta pela TVI24 (3,7%).
Quadro 4.18 As histórias noticiosas mais destacadas pelos canais de notícias em 2013 (em %)
As peças com mais de 120 segundos são as mais frequentes nos canais de notícias
nos dois anos de análise. O canal de televisão que mais recurso faz destas peças é a
SIC Notícias — 2012 (69,7%) e 2013 (64,8%). Na RTP Informação e na TVI24
102 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
Quadro 4.19 Duração das peças noticiosas nos canais de notícias em 2012 e 2013 (em %)
Formatos jornalísticos
Quadro 4.20 Formatos jornalísticos nos canais de notícias em 2012 e 2013 (em %)
Relativamente à área geográfica observamos que a grande maioria das peças noti-
ciosas, presentes nos canais de notícias, são de cariz nacional. As notícias de cariz
europeu também ocupam um espaço considerável nos canais de notícias, princi-
palmente as notícias nacionais com referência a países europeus. O canal público
de notícias nos dois anos de análise é o que mais destaque lhes confere — 2012
(14%) e 2013 (12,5%). Por sua vez, as peças jornalísticas apenas de cariz europeu
também são destacadas por estes canais de televisão, sendo a TVI24 em 2012 (7,9%)
e a RTP Informação em 2013 (6,1%) os canais que mais importância lhes atribuem.
As notícias europeias com referência a Portugal são as menos significativas na cate-
goria geográfica europeia.
As notícias nacionais com referência a países internacionais têm um espe-
cial destaque nos canais privados de notícias, registando-se de 2012 para 2013
um aumento significativo destas. A SIC Notícias — 2012 (6,3%), 2013 (11%) — é
o canal que mais destaque confere a notícias nacionais com referência a países
internacionais. O canal de televisão com maior presença de notícias exclusiva-
mente internacionais foi a RTP Informação — 2012 (5,3%), 2013 (6,7%). Por sua
vez, as notícias internacionais com referência a Portugal são de um modo geral
mais reduzidas nos canais noticiosos, com a exceção da RTP Informação em
2013 (7,3%).
Outro aspeto a salientar é o afastamento da RTP Informação relativamente
aos restantes canais de televisão no que diz respeito à cobertura geográfica regio-
nal. Como demonstra o quadro 4.21, a RTP Informação (11,1%) nos dois anos de
análise é claramente o canal com mais presença de notícias regionais, contrastando
com os restantes — SIC Notícias 2012 (3,4%), SIC Notícias 2013 (4,7%), TVI24 2012
(7,9%) e TVI24 2013 (3%).
104 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
Quadro 4.21 As áreas geográficas mais destacadas pelos canais de notícias em 2012/2013 (em %)
Cobertura regional
Quadro 4.22 As regiões do país mais presentes nos blocos noticiosos dos canais de notícias em 2012 e 2013
(em %)
Norte (exceto Grande Porto) 9,6 19,8 7,7 22,5 8,7 7,4
Grande Porto 11,2 19,8 7,7 7,5 19,6 14,8
Centro 21,4 11,3 15,4 5,0 13 14,8
Lisboa e Vale do Tejo (Grande Lisboa) 27,3 28,3 42,3 47,5 32,6 48,1
Alentejo 7,0 3,8 3,8 2,5 2,2 –
Algarve 5,9 3,8 7,7 5,0 10,9 –
Região Autónoma da Madeira 15,0 4,7 7,7 8,7 7,4
Região Autónoma dos Açores 2,7 8,5 7,7 10,0 4,3 7,4
Países europeus
O país mais destacado por todos os canais de notícias é a Espanha. O canal de notícias
que mais referencia este país nos dois anos de análise é a RTP Informação — 2012
(19,5%), 2013 (22,4%). Denotamos ainda que a França é outro país transversal a todos
os canais de notícias, pertence ao top 5 de todos os canais, sendo novamente a RTP
Informação a conceder-lhe mais relevância — 2012 (5,9%), 2013 (8,8%). O destaque
principal à Espanha pelos canais de notícias, bem como a forte representatividade de
França em todos eles é uma tendência partilhada com os canais generalistas. Mas para
além destas semelhanças, percebemos que os principais países europeus destacados
pelos canais por cabo são idênticos aos dos canais generalistas. Apenas se constata a
novidade pela representação do Chipre. Este país foi especialmente evidenciado no
ano de 2013. Neste ano o Chipre necessitou de pedir ajuda externa para “salvar” o seu
setor bancário. O principal canal a referenciar este país foi a TVI24 (14,4%).
Quadro 4.23 Os países europeus mais destacados pelos canais de notícias em 2012 e 2013 (em %)
Tal como nos canais de televisão generalistas, também os canais por cabo dão espe-
cial representatividade aos Estados Unidos da América. É o país mais recorrente
nas peças jornalísticas especialmente em 2012, encontrando-se um ligeiro relevo no
canal público de notícias (29,8%) relativamente aos restantes. Por sua vez, esta rele-
vância transversal a todos os canais em análise não se comprova relativamente ao
Brasil. Este país não integra o top 5 dos canais de notícias nacionais. Mas estes
canais de televisão aproximam-se muito, nos países mais evidenciados, com os ca-
nais generalistas, denotando-se apenas a exceção da China. Este país é especial-
mente destacado no ano de 2012 e é especialmente enquadrado nas histórias
jornalísticas relativas às nomeações polémicas para o conselho geral e de supervi-
são da EDP. O principal canal a destacar este país é a SIC Notícias (7,8%).
Quadro 4.24 Os países internacionais (não europeus) mais presentes nos canais de notícias entre 2012 e 2013
(em %)
Principais temas
Tal como nos canais generalistas também os canais noticiosos no ano de 2012 foram
marcados essencialmente por notícias pertencentes ao tema economia e setores econó-
micos, sendo a SIC Notícias (24,3%) o canal que mais destaque deu a este tema. Por sua
vez, e também a comprovar a tendência já presente nos canais generalistas, o ano de
2013 foi marcado essencialmente por notícias pertencentes à política interna — TVI24
(37,7%), SIC Notícias (33,2%) e RTP Informação (18,7%). Os acontecimentos jornalísti-
cos em 2013 foram preferencialmente arrumados tematicamente na categoria de polí-
tica interna. Mas esta maior significância do tema política interna não significa
TELEVISÃO 107
Quadro 4.25 Os temas mais relevantes nos canais de notícias nacionais entre 2012 e 2013 (em %)
Principais protagonistas
O quadro 4.26 é o resultado da reunião dos protagonistas mais relevantes nos ca-
nais noticiosos em 2012 e 2013. Esta variável mede a presença de um determinado
indivíduo numa peça jornalística. Eram codificados os protagonistas que manifes-
tavam uma presença em pelo menos 50% da peça jornalística.
Como se pode verificar o top 5 dos protagonistas nos canais noticiosos não di-
verge em muito relativamente ao dos canais generalistas. Pedro Passos Coelho é o
protagonista com mais relevo nos dois anos de análise, e é a TVI24 que mais desta-
que lhe atribui — 2012 (16%), 2013 (14,5%). Cavaco Silva é o segundo protagonista
mais relevante e também principalmente destacado pela TVI24. O protagonista no-
vidade — em relação aos canais generalistas — é Jorge Jesus, sendo apenas destaca-
do pela RTP Informação — 2012 (1,3%), 2013 (2,7%).
108 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
Quadro 4.26 Os protagonistas mais destacados nos canais de notícias entre 2012 e 2013 (em %)
Considerações finais
Susana Santos, Décio Telo, Gustavo Cardoso, Carlota Bicho e Eloísa Silva
Notas introdutórias
Este capítulo diz respeito à análise setorial da rádio e divide-se em duas partes
distintas.
A primeira parte contextualiza o setor em termos de mercado e consumo,
através de dados recolhidos no Anuário de Comunicação 2012/2013 da OberCom.
Serão analisados os dados relativos a audiências, ao share e ao investimento
publicitário.
Numa segunda parte, realizaremos um estudo numa perspetiva comparativa
longitudinal (em 2012 e 2013) e sincrónica (entre meios — TSF, Antena 1, Rádio Re-
nascença, e Rádio Comercial) relativamente a dois pontos de análise. O primeiro
ponto é dedicado aos formatos de divulgação de notícias. As variáveis que irão ser
analisadas são: i) a duração das notícias e ii) o formato jornalístico. Por sua vez, o se-
gundo ponto é relativo aos conteúdos noticiados. As variáveis em análise são: i) o
enfoque geográfico, ii) o tema e iii) os protagonistas.
Deve assinalar-se que a categoria relativa à cobertura geográfica tem como
objetivo identificar se a informação noticiosa é relevante em contexto local/regio-
nal, nacional, europeu e internacional. De forma a satisfazer este propósito, o enfo-
que geográfico divide-se nas seguintes variáveis: i) local/regional, ii) nacional), iii)
europeu com referência a Portugal, iv) europeu sem referência a Portugal, v) inter-
nacional com referência a Portugal, vi) internacional sem referência a Portugal, e
vii) sem focus. Para a presente análise, a cobertura geográfica irá ser analisada num
primeiro momento por um enfoque geográfico geral e, posteriormente, por um en-
foque geográfico regional, europeu e internacional.
Este capítulo encerra-se com uma síntese das principais tendências relativas
às categorias em análise no setor da rádio.
111
112 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Total Rádio 54,7 58,4 58,0 58,9 56,3 54,6 55,0 57,0 55,9 57,1 56,9 57,3
Grupo R/Com 25,8 28,2 25,4 24,7 23,7 24,2 24,7 26,0 24,7 25,1 24 23,6
RFM 12,3 14,3 13,5 13,3 13,0 13,7 14,1 15,0 13,7 14,0 13,1 12,8
Rádio
12,3 12,5 10,9 10,5 9,8 9,5 9,3 9,4 8,6 8,2 7,7 7,3
Renascença
Mega FM 1,5 1,8 1,5 1,6 1,5 1,5 1,8 1,8 2,5 3,1 3,2 3,2
Rádio Sim - - - - - - - 0,9 0,9 0,9 1,1 1,4
Grupo Media
13,4 12,6 15,6 15,8 15,3 13,6 14,9 16,3 17,9 18,7 21,5 22,4
Capital
Rádio Comercial 6,3 5,9 6,9 6,6 7,3 6,6 7,3 8,2 9,1 10,7 14,2 14,9
Cidade FM 3,8 2,6 3,9 5,1 4,9 4,4 4,6 4,5 4,6 4,1 3,8 4,0
M80 - - - - - 0,5 1,4 2 3,9 4,5 4,2 4,4
Rádio Clube - 1,9 3,6 3,3 2,6 1,4 1,2 1,3 - - - -
Best Rock FM - 1,1 1,5 1,0 0,8 0,7 0,6 0,6 0,6 0,3 - -
Smooth - - - - - - - - - - 0,3 0,5
Grupo RDP 6,1 7,6 8,3 9,2 9,1 8,8 8,4 8,7 7,8 7,7 6,9 8,1
Antena 1 3,1 3,8 4,1 5,1 4,9 4,9 4,4 5,1 4,5 4,7 4,4 5,7
Antena 2 0,4 0,5 0,5 0,6 0,6 0,5 0,5 0,6 0,5 0,5 0,4 0,4
Antena 3 2,4 3,2 3,7 3,6 3,6 3,4 3,5 3,1 3,0 2,6 2,2 2,1
TSF 3,4 4,5 5,0 5,6 4,6 4,2 4,3 4,2 4,2 4,4 3,9 4,6
Base (000) 7,528 8,311 8,311 8,311 8,311 8,311 8,311 8,311 8,311 8,311 8,311 8,564
16
14
12
10
0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
30
25
20
15
10
0
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Feminino
43%
Masculino
57%
10%
Mais de 64 anos 18%
15-24 anos
14%
55-64 anos
21%
25 -34 anos
17%
45-54 anos
20%
35-44 anos
Figura 5.4 Audiência acumulada de véspera (em %) por faixa etária, 2013
Fonte: Anuário de Media e Publicidade 2013, Marktest.
Investimento
Televisão Imprensa Outdoor Rádio Cinema Internet
total
Quadro 5.3 Taxa de variação anual do investimento publicitário por meio (em %)
Análise do setor
Selecionadas as cinco big stories mais presentes nos quatro órgãos em análise, con-
tamos com oito grandes histórias na rádio portuguesa no ano de 2012.
Denotamos uma substancial variedade nesta lista de grandes histórias,
seja em termos de temáticas, seja em termos da área geográfica a que dizem
respeito.
A política e a economia merecem destaque (resgate a Espanha, desemprego
na zona euro, crise grega, OE 2013, derrapagem do défice) sendo que contamos
também com o evento desportivo do ano (Euro 2012), com os incêndios de verão e,
pela primeira vez na nossa análise a todos os meios e setores, com uma big story re-
lacionada com assuntos laborais e protestos (greve da CP). Estas greves dos
Tal como se tinha verificado com os outros setores, 2013 foi um ano mais nacional
também na rádio, pelo menos relativamente à análise das big stories. Das oito, seis
têm enfoque em Portugal e as duas restantes têm como enfoque geográfico o espa-
ço europeu: a participação de equipas portuguesas nas ligas europeias — jornada
europeia de futebol — e a resignação do Papa.
Encontramos nesta lista cinco acontecimentos de relevância no mundo da po-
lítica nacional: as eleições autárquicas, o Orçamento do Estado para 2013, o orça-
mento retificativo, o Orçamento do Estado para 2014 e a crise na coligação
governativa, sendo que esta última foi, sem margem para dúvidas, a grande histó-
ria de 2013 na rádio com 5,2% na Rádio Comercial, 10,2% na Antena 1, 7,9% na TSF
e 8,3% na Rádio Renascença.
Tal como acontecera em 2012, surge nesta lista uma greve — a greve de pro-
fessores de junho de 2013. Esta greve em contestação às medidas de mobilidade es-
pecial estendeu-se ao longo do período de avaliações e por isso o seu impacto nos
próprios alunos foi alvo de muita discussão e controvérsia. De realçar que mais
uma vez foi a Rádio Comercial a que mais cobriu a única greve presente nas gran-
des histórias do ano.
Quadro 5.6 Duração das peças jornalísticas nas rádios portuguesas em 2012/2013 (em %)
Pequena (até
26,6 17,7 22,3 18,6 38,8 24,6 97,1 91,7
60 segundos)
Média (de 61
38,5 40,1 33,4 30,8 40,2 47,6 2,5 4,5
a 120 segundos)
Grande (mais
34,9 42,2 44,3 50,6 21,0 27,8 0,3 3,8
de 120 segundos)
Formatos jornalísticos
Peça editada 44,7 55,8 44,6 54,6 45,7 60,3 9,1 14,7
Relato do pivô 26,5 17,8 19,4 16,9 18,3 12,3 89,5 83,3
Reportagem 13,7 14,1 21,0 18,4 20,7 18,7 0,7 1,4
Entrevista 8,7 3,6 8,7 4,5 7,9 2,4 0,7 0,1
Direto 4,2 4,8 3,2 2,5 4,5 3,8 – 0,5
Opinião 2,2 3,8 2,9 3,1 2,9 2,4 – 0,1
encontra-se mais destacada na TSF nos dois anos, enquanto o direto regista-se
com mais frequência nas notícias da Antena 1 em 2012 (4,5%) e pela Rádio Re-
nascença em 2013 (4,8%). A opinião é o formato menos frequente nas estações de
rádio nacionais, com a exceção da TSF em 2012 (2,9%).
Os formatos jornalísticos encerram o primeiro ponto de análise. De seguida,
iremos abordar o segundo ponto de análise que se dedica aos conteúdos noticia-
dos. Comecemos pela cobertura da área geográfica presente nas notícias das rádios
portuguesas.
Cerca de metade das notícias do setor da rádio tem como enfoque geográfico o
nacional. Salienta-se que as notícias exclusivamente nacionais registaram um
significativo aumento da sua relevância em todas as rádios analisadas de 2012
para 2013. A segunda cobertura geográfica mais presente refere-se ao local/regi-
onal. Em contraste com a cobertura nacional, o enfoque regional regista um de-
créscimo em todos os canais de rádio de 2012 para 2013. As notícias nacionais
com referência a países europeus (nacional-Europa) são as terceiras mais pre-
sentes nas rádios nacionais, registando-se apenas a exceção da Rádio Renascen-
ça em 2013 (7,8%) que dá mais primazia a notícias nacionais com referência a
países internacionais (10,5%).
Os restantes espaços geográficos tiveram uma cobertura mediática mais irre-
gular entre as várias rádios em análise. Constatamos que as notícias exclusivamen-
te europeias também se destacam como relevantes, mas registam um decréscimo
na sua ocorrência de 2012 para 2013. É a rádio pública que mais destaque lhes reser-
va em 2012 (8,5%) e em 2013 é a Rádio Comercial (5,5%). As notícias europeias com
referência a Portugal são menos frequentes em todas as rádios relativamente às
atrás mencionadas.
As notícias nacionais com referência a países internacionais cresceram sig-
nificativamente em 2013 em todas as rádios nacionais, sendo a Rádio Renascença
120 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
em 2013 (10,5%) que mais destaque lhe confere. Por sua vez, as notícias exclusiva-
mente internacionais registaram um decréscimo em 2013, com a exceção da Rádio
Comercial. Por último, as notícias internacionais com referência a Portugal têm
uma representação mais reduzida nas rádios nacionais.
A área de Lisboa é a região com maior cobertura em todas as rádios analisadas. A es-
magadora maioria das notícias de carácter local enquadra-se nesta área geográfica. As
regiões do Norte, do Grande Porto e do Centro no que concerne à sua relevância me-
diática são áreas transversais entre as diferentes rádios analisadas. A região do Norte é
Lisboa e Vale do
35,3 53,0 35,6 50,6 41,1 37,3 56,9 61,4
Tejo (Grande Lisboa)
Norte (exceto
14,5 12,1 12,1 9,4 12,0 14,7 5,9 7,9
Grande Porto)
Grande Porto 13,3 9,1 13,8 17,6 15,8 13,3 9,2 8,7
Centro 13,3 13,6 17,2 8,2 10,8 16,0 8,5 10,2
Região Autónoma
8,1 1,5 6,9 4,7 8,2 4,0 6,5 1,6
da Madeira
Alentejo 6,9 2,3 3,2 6,7 2,0 2,4
Algarve 5,8 3,0 9,8 7,1 5,7 8,0 7,2 5,5
Região Autónoma
2,9 7,6 2,3 2,4 3,2 0 3,9 2,4
dos Açores
mais destacada em 2012 pela Rádio Renascença (14,5%) e pela Antena 1 em 2013
(14,7%), registando-se uma menor presença desta região na Rádio Comercial. As notí-
cias referentes ao Grande Porto também se encontram menos presentes na Rádio Co-
mercial, sendo a Antena 1 em 2012 (15,8%) e a TSF em 2013 (17,6%) as rádios que mais
destaque lhe proporcionam. A região Centro encontra uma maior presença na TSF em
2012 (17,2%) e na Antena 1 em 2013 (16%) e a Região Autónoma da Madeira é geral-
mente mais representada do que a Região Autónoma dos Açores. A região menos pre-
sente nos blocos noticiosos das rádios nacionais é o Alentejo.
O quadro 5.10 agrega os cinco países mais relevantes para cada rádio nacional.
O país mais referido é Espanha, com a exceção da Rádio Renascença em 2012
(12,1%) e da Rádio Comercial em 2013 (8,9%). A Rádio Renascença em 2012 (13,4%)
dá um maior relevo à Grécia e a Rádio Comercial em 2013 evidencia com mais des-
taque o Reino Unido. A rádio acompanha a tendência do destaque privilegiado a
Espanha, já visível no setor da imprensa e da televisão, bem como já referenciada
por vários estudos no domínio da comunicação (Silveira, Cardoso e Belo, 2010, Sil-
veira e Shoemaker, 2010).
A Rússia aparece destacada especialmente no ano de 2013 pela TSF (5,8%).
Este país surge particularmente associado aos eventos desportivos das equipas
portuguesas na jornada europeia de futebol e aos jogos da seleção portuguesa de
futebol de apuramento para o Mundial de 2014. Para além destes eventos desporti-
vos, a Rússia aparece também ligada aos atentados bombistas em Volgogrado,
ocorridos entre 29 e 30 de dezembro de 2013.
A cobertura mediática dos restantes países europeus destacados seguiu os
mesmos moldes, já anteriormente explorados, da cobertura geográfica europeia
nos canais de televisão generalistas e nos canais de notícias nacionais.
A tematização das notícias pode ser retida como uma orientação para o consu-
midor de conteúdos de media, possibilitando que estes consigam organizar em
limites referenciais os acontecimentos. Encontramos na rádio uma grande di-
versidade de temas alvo de cobertura mediática. No entanto, tal como se tem
vindo a constatar até aqui, são os temas económicos e de política interna que
predominam.
A temática da economia e setores económicos é uma constante ao longo dos
dois anos, sendo que o seu peso aumentou na Rádio Comercial e na Antena 1 e
RÁDIO 123
Economia e setores
15,5 14,9 16 15,7 15,9 17,9 10,4 11,1
económicos
Política interna 10,5 18,0 10,3 18,9 13,1 23,7 6,3 12,6
Assuntos laborais
9,6 9,2 8,4 8,8 10,1 10,1 8,6 7,3
e Segurança Social
Justiça e sistema
7,0 8,2 5,6 7,7 6,3 5,9 5,8 6,2
judicial
Participação
6,7 10,3 7,5 7,7 7,5 8,4 11,7 11,8
e protestos
Desporto 4,8 3,1 7,4 5,9 5,7 4,7 18,4 17,4
Política europeia 5,8 4,6 7,0 4,7 8,8 5,9 3,8 2,7
Desastres/acidentes
6,7 5,4 4,5 3,4 3,9 3,0 9,8 7,2
/epidemias
diminuiu na Rádio Renascença e na TSF. Esta temática foi mesmo a mais importan-
te para o conjunto de rádios em 2012, com exceção da Rádio Comercial que deu
mais destaque ao desporto. A grande evolução entre os dois anos encontra-se na te-
mática da política interna. Tal como se tinha verificado nos setores da imprensa e
televisão, o peso da política interna aumentou substancialmente em 2013 em todos
os meios. Para este aumento contribuíram em muito as grandes histórias do ano,
como é o caso da crise na coligação, que perfez 27,8% das notícias de política inter-
na da rádio de 2013. Comprovando esta tendência de o segundo ano ter sido um
ano menos europeu e mais nacional, o tema política europeia torna-se bastante me-
nos frequente em todos os meios em 2013.
Os assuntos laborais foram também uma categoria de peso na rádio, com es-
pecial destaque na rádio pública, em que mais de 10% das notícias foram sobre este
tema. Para o peso deste tema em muito contribuíram as histórias sobre o desempre-
go na Europa.
O tema da justiça registou crescimento em todos os meios, exceto na Antena 1
na qual verificamos uma ligeira diminuição do peso desta temática. De destacar
ainda o peso dos temas desporto e desastres/acidentes/epidemias na Rádio Comer-
cial, que parece ser o meio que mais destaque dá a temas passíveis de serem classifi-
cados como soft news (Reineman et al., 2011). Também na Rádio Comercial o tema
participação e protestos tem mais relevância, devido acima de tudo à cobertura de
greves.
1 http://expresso.sapo.pt/devo-dizer-que-sou-uma-pessoa-de-fe-esperarei-sempre-
que-chova-e-esperarei-sempre-que-a-chuva-nos-minimize-alguns-destes-danos-como-e-evid
ente-quanto-mais-depressa-vier-mais-minimiza-quanto-mais-tarde-menos-minimiza-se-nao-
vier-de-todo-nao-perderei-a-minha-fe-mas-teremos-obviamente-de-atuar-em-conformidade=
f706194
RÁDIO 125
Pedro Passos Coelho 6,6 6,0 5,3 4,8 5,9 5,8 7,3 7,4
Cavaco Silva 3,5 3,0 1,5 5,0 2,3 3,7 2,5 6,1
Miguel Relvas 2,1 0,8 1,0 0,5 2,6 2,3 3,5 0,7
Vítor Gaspar 1,9 2,7 1,4 2,1 2,4 3,5 2,9 0,7
Bento XVI 1,9 1,6 0,4 0,9 – 0,4 – –
António José Seguro 1,7 3,8 2,9 3,7 3,1 5,6 2,9 4,7
Paulo Portas 1,3 2,5 1,1 3,9 1,9 2,5 1,0 2,4
João Proença 0,8 0,8 2,0 0,2 1,2 0,8 0,6 –
Angela Merkel 1,2 1,8 0,5 0,9 0,2 1,3 –
Assunção Cristas 0,4 0,3 1,5 0,9 0,4 1,0 1,0
Maria Luís
– 1,1 – 2,5 – 1,6 – 0,3
Albuquerque
Francisco I – 3,0 – 0,9 – – – 3,0
Jorge Jesus 0,2 0,3 0,2 1,2 0,1 0,6 1,6 4,7
Considerações finais
Introdução
129
130 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
da zona euro.1 O editorial termina com um apelo aos líderes europeus para que in-
vertam as políticas económicas e ajudem os países em dificuldades através da
emissão de eurobonds permitindo o relançamento da economia e a criação de
emprego.
Ainda assim, os media nacionais têm um papel fundamental na construção da
esfera pública pelo seu ponto central nos debates públicos, informando e forman-
do a opinião pública através da divulgação, interpretação e análise dos aconteci-
mentos. Discutir e analisar as formas como apresentam a crise económica é de
extrema importância na compreensão de fenómenos como a formação de agendas
públicas dominantes. A apresentação da crise económica aos públicos de media é
elaborada através da construção de narrativas sobre a crise, onde se destacam um
conjunto de protagonistas, se selecionam problemas e perspetivas de solução, se
apresentam conflitos e proximidades entre nações, se constroem e reificam precon-
ceitos e estereótipos sobre determinados povos.
Em segundo lugar, explorar a análise qualitativa dos conteúdos publicados
na imprensa de referência durante o período de crise económica e social.
O conceito de esfera pública de Habermas (1989 [1962]) remonta para uma ideia
de modernidade como triunfo, uma sociedade iluminada que abre os seus espa-
ços públicos, os cafés, aos intelectuais burgueses que aí encontram lugar para
discutir e partilhar as suas ideias sobre o mundo, numa lógica racional, com pre-
domínio da razão comunicativa sobre a razão instrumental. A comunicação é
feita de mensagens com sentido, partilhadas e bem-sucedidas, no sentido em
que idealmente os interlocutores perseguem o bem comum e não interesses par-
ticulares ou de fação É igualmente de forma ideal, um espaço de abertura à par-
ticipação dos cidadãos e um espaço de mediação entre a governação de um
Estado ou de uma comunidade e a sociedade civil. A atividade central da esfera
pública é a sua interação linguística, a capacidade de expressão e de discurso
dos seus interlocutores.
O conceito de esfera pública, tal como primeiramente definido por Habermas
em 1962, não é isolado da época em que é escrito e da participação e contribuição do
autor para esse mesmo espaço social, a Alemanha do pós-guerra. Tal como analisa
Pierre Guibentif (2010: 163 e seguintes), Habermas está muito atento às formas
como a República Federal da Alemanha se vai definindo como Estado democráti-
co, seja na sua administração pública, como nas universidades, como ainda na rela-
ção entre as opiniões veiculadas pela imprensa e pelos círculos intelectuais e a
formação de opinião dos cidadãos alemães.
2 Por exemplo, o project Syndicate que reúne opiniões de think thankers globais, disponível em 11
línguas diferentes e publicado em jornais de referência de vários pontos do globo. Em Portugal
(Público e Jornal de Negócios), na Alemanha (Die Welt), em Itália (Sole 24 Ore), no Reino Unido (The
Guardian), na China (China Daily). Ver http://www.project-syndicate.org/.
3 Manifesto pela construção de uma Europa bottom-up, 3 de maio de 2012, disponível em:
http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2012/may/03/bottom-up-europe e petição em:
http://manifest-europa.eu/?lang=pt (em 15 línguas europeias).
134 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
A notícia da visita da chanceler alemã teve grande destaque nos media portugueses.
A visita de um dia foi responsável por 72 notícias de acordo com o índice de notícias
do Projeto Jornalimo e Sociedade. No dia da visita, 12 de novembro, foram codifi-
cadas 59 notícias num total de 108 notícias analisadas nesse dia, o que equivale a
mais de metade das notícias do dia.
4 O Projeto Jornalismo e Sociedade codificou durante o ano de 2012 um total de 19.204 notí-
cias.
5 As 59 notícias correspondem a todas as notícias analisadas pelo Projeto Jornalimo e Sociedade
no dia 12 de novembro, independentemente do meio e do setor mediático. A análise do discurso
teve como base os 19 textos publicados no jornal Público sobre o evento e os textos publicados no
Correio da Manhã.
136 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
70
60
50
40
30
20
10
0
15.10.2012 31.10.2012 08.11.2012 09.11.2012 12.11.2012 13.11.2012
Figura 6.1 Número de notícias publicadas por dia em Portugal sobre a visita de Angela Merkel a Lisboa
Contexto
A recolha e tratamento dos discursos veiculados pelo jornal Público tanto na sua di-
mensão de informação como de formação de opinião permitem analisar as relações
entre o campo discursivo da construção social da realidade e os usos práticos e cria-
tivos que os sujeitos dão azo nas suas práticas quotidianas.
O jornal Público deu grande destaque à visita da chanceler alemã a Lisboa, a
notícia foi manchete durante dois dias e foram publicadas 19 peças repartidas pe-
los dias 8, 9, 12, 13 e 15 de novembro. Das peças publicadas, 10 são artigos e
6 Com o pedido de resgate financeiro, o governo em funções liderado por José Sócrates (Partido
Socialista) pede a demissão e são convocadas novas eleições legislativas. As eleições decorreram
no dia 5 de junho de 2011 e originaram uma nova maioria de direita composta pelo PSD e CDS,
liderada por Pedro Passos Coelho.
“UMA VISITA SEM HISTÓRIA” 137
opinião
37%
artigos
52%
editorial
11%
15-11-2012
13-11-2012
12-11-2012
09-11-2012
08-11-2012
0 5 10 15 20 25 30 35
Figura 6.3 Número de referências à Europa, Portugal, Alemanha, Espanha e Grécia por dia de cobertura
referências à Europa, à Alemanha e a Portugal e ainda aos países que tal como Por-
tugal partilham com intensidade diferente a crise da Europa do sul, a Grécia e a
Espanha.
A análise da frequência de referências mostra que os casos da Grécia e de
Espanha são marginais nos textos publicados, Espanha é referida numa ocasião e a
Grécia em cinco momentos. Em segundo lugar, as referências à Europa têm um va-
lor importante nos discursos produzidos, algo que contraria uma certa ideia de
desvalorização da Europa e da União Europeia relativamente aos Estados-nação
que a constituem. No entanto, é de ressalvar o facto de que estamos a analisar um
jornal europeísta (pelas razões apresentadas na metodologia) e que as referências
estão presentes nos discursos produzidos por membros das elites políticas e cultu-
rais portuguesas, por regra mais cosmopolitas e europeístas do que o conjunto da
população.
Em terceiro lugar, as referências à Alemanha são superiores em número às re-
ferências a Portugal, apesar do acontecimento ter tido lugar em território portu-
guês. No dia da visita, a Alemanha surge por 30 vezes nos textos publicados por
contraste a Portugal que esteve presente em 17 passagens.
Num segundo momento foi criado um conjunto de categorias que pretende
distinguir os modos como as imagens de cada país são construídas na opinião pú-
blica e veiculadas através da imprensa de referência. As categorias foram elabora-
das segundo a grounded theory (Strauss, 1987, Strauss e Corbin, 1998), isto é, não
partindo de um quadro analítico definido, antes sim utilizando as palavras dos tex-
tos como ponto de partida para a construção das categorias. A quase ausência de
Espanha e da Grécia nos discursos sobre a visita de Angela Merkel a Lisboa impos-
sibilitou a sua inclusão nas categorias de análise. Assim foram criadas três grandes
grupos: a Europa, a Alemanha e Portugal.
“UMA VISITA SEM HISTÓRIA” 139
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 Totais:
1 0,57
2 0,86
3 0,46
4 0,52
5 0,66
6 0,26
7 0,47
8 0,1
9 0,23
10 0,49
11 0,59
12 0,24
13 0,65
14 0,71
15 0 ,12
16 0,88
17 0,38
18 0,13
possível responder com a mesma acuidade sobre a existência de uma esfera públi-
ca europeia que faça a circulação de mensagens entre os vários cidadãos europeus.
Aliás, através dos discursos é possível traçar um quadro duma Europa constituída
por países com claras assimetrias de poder político e económico.
O centramento da discussão entre a Alemanha e os países do sul da Europa
não permite percecionar os discursos produzidos por outros países europeus sobre
a crise económica, nem ajudar a criar uma ligação entre os cidadãos europeus.
Os discursos sobre a Alemanha são construídos a partir de uma ideia comum aos
vários jornalistas e comentadores, a ideia do “bom parceiro do passado”. A tese do
bom parceiro é sustentada pelo conjunto de políticas e de protagonistas políticos
alemães no período entre o fim da 2.ª Guerra Mundial e a criação da moeda única,
isto é, entre 1945 e 2000. A Alemanha é descrita como um parceiro de grande impor-
tância na construção e consolidação da democracia portuguesa.12
“A Alemanha foi decisiva no caminho para a democracia e a Europa que Por-
tugal escolheu depois da revolução.”13
“Não é também a Europa de Helmut Kohl, o chanceler da reunificação, que
esteve disposto a abdicar do marco alemão para garantir que a Europa não seria
alemã mas a Alemanha continuaria a ser europeia.”14
Na atualidade a Alemanha é descrita pela maioria dos jornalistas e comenta-
dores do jornal Público como um país que deixou de ser um bom parceiro para se
transformar num professor rígido e autoritário que dá lições aos outros Esta-
dos-membros, sobretudo àqueles em dificuldades.
“É a Merkel que tenta afastar a imagem de que Berlim viaja apenas para dar li-
ções à Europa.”15
“Merkel mostrou-se também disponível para apoiar a criação de um banco de
fomento em Portugal, replicando a experiência do KfW, um banco de desenvolvi-
mento público criado em 1948 para financiar a reconstrução da Alemanha depois
da Segunda Guerra Mundial.”16
A imagem da deusa germânica surge associada à ideia de perda de soberania
do Estado português face à troika e, em especial, face ao governo alemão, corporiza-
do na figura da sua chanceler.
“Merkel era tratada como a demiurga que poderia com um gesto travar ou
lançar a austeridade.”17
12 Têm sido desenvolvidos vários estudos sobre as relações entre Portugal e a Alemanha durante o
século XX por investigadores portugueses, vide Ana Mónica Fonseca (2007), A Força das Armas: o
Apoio da República Federal da Alemanha ao Estado Novo (1958-1968), Lisboa, Instituto Diplomático,
(2011) É Preciso Regar os Cravos!A Social Democracia Alemã e a Transição Portuguesa para a Democra-
cia (1974-1976), ISCTE-IUL, tese de doutoramento.
13 12-11-2012.
14 12-11-2012.
15 Editorial, 12-11-2012.
16 Reportagem, 13-11-2012.
“UMA VISITA SEM HISTÓRIA” 143
Esta ideia é reforçada em tom irónico num artigo publicado três dias depois
por um comentador que descreve os portugueses como inúteis e dependentes do
poder económico alemão.
“(Portugal), sítio imundo cheio de inúteis que, além de não trabalharem, ar-
rotam e dormem a sesta após um almoço acima das suas possibilidades generosa-
mente pago pelo contribuinte alemão.”24
O investimento alemão é ainda descrito como um investimento pernicioso,
como dá conta uma notícia publicada no dia 8 de novembro sobre uma carta aberta
dirigida à chanceler alemã e subscrita por um conjunto de cidadãos portugueses.
“Vêm comprar ‘a preço de saldo’ o património português privatizado.”25
que Portugal tem a fazer na atual situação é comunicar melhor aos potenciais in-
vestidores alemães (e de outros países) todas as suas vantagens como local para
instalar as empresas. E, além disso, ‘manter o rumo de política atual’.”28
É também o país “laboratório de experiências” das políticas de austeridade.
O exemplo utilizado pelos parceiros internacionais (FMI, Banco Central Europeu,
Comissão Europeia, Alemanha) e que por essa mesma razão deve ser apoiado pe-
las instituições internacionais.
“Seria ótimo termos uma economia do sul da Europa a reerguer-se, para mos-
trar que a receita [da austeridade] está a funcionar.”29A segunda narrativa é cons-
truída com referência à Europa e à União Europeia. Portugal é apresentado como
um país que deve ter uma voz ativa nos centros de decisão europeus e que deve es-
tabelecer alianças com outros países nesse sentido. Esta narrativa critica a relação
classificada como de “seguidismo acrítico” do governo português face ao governo
alemão.
“Eleger a Alemanha como o ‘aliado preferencial’ de Portugal estaria certo se
não significasse apenas a adesão acrítica à sua estratégia.”30
“Enquanto europeus, a nossa responsabilidade é dizer aquilo que achamos
da crise e da União sem nos sentirmos tolhidos pela situação de Portugal.”31
É o país representado internacionalmente por um governo que executa políti-
cas com consequências económicas e sociais mais graves do que as impostas pelo
memorando de entendimento (MoU) assinado com a troika em julho de 2011.
“O Governo contribui para alimentar toda a espécie de ressentimentos contra
o país que mandava. Ao acreditar com uma verdadeira fé ideológica nas virtudes
da receita alemã para ‘endireitar’ as economias do sul, deixou-se enredar na pró-
pria armadilha de um programa de ajustamento que não é exequível na forma
como está desenhado e que está a destruir qualquer perspetiva para a saída da cri-
se.”32
Um governo que é acusado de praticar técnicas de seleção natural sobre o seu
povo, rotuladas como de “eugenia económica”.
“No final do processo, dizem eles, o país sairá depurado, mais forte, mais sau-
dável. Pura eugenia económica!”33
De acordo com esta narrativa, a situação de Portugal só poderá melhorar com
uma presença portuguesa forte nas instituições europeias que apresente as suas
ideias e debata com os outros Estados-membros caminhos alternativos de resposta
à crise.
“Enquanto europeus, a nossa responsabilidade é dizer aquilo que achamos
da crise e da União sem nos sentirmos tolhidos pela situação de Portugal.”34
28 Entrevista, 13-11-2012.
29 Declarações de Hans-Peter Keitel, presidente da Confederação da Indústria Alemã, 13-11-2012.
30 Artigo de opinião, 12-11-2012.
31 Artigo de opinião, 12-11-2012.
32 Artigo de opinião, 12-11-2012.
33 Artigo de opinião, 08-11-2012.
34 Artigo de opinião, 12-11-2012.
146 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
Conclusões
35 Esta foi defendida na esfera pública portuguesa a partir de 1985, por Cavaco Silva, primei-
ro-ministro entre 1985 e 1995 e Presidente da República em exercício desde 2006, vide:
http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=2039800&seccao=Jos%E9%20Ma-
nuel%20Pureza&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco
36 Artigo de opinião, 8-11-2012.
37 Artigo de opinião, 8-11-2012.
38 Artigo de opinião, 8-11-2012.
“UMA VISITA SEM HISTÓRIA” 147
cobertura jornalística e dentro desse espaço a maioria foi ocupada com o relato da
visita da chanceler e sua comitiva. Podemos entender esta opção na cobertura do
acontecimento com base no tipo de leitor do jornal. Enquanto jornal de referência, o
Público dirige-se principalmente a um leitor mais informado, com maior literacia
mediática e consequentemente com um maior conhecimento sobre os temas da
atualidade. Assim, pode-se entender que o jornal preferiu fornecer ao leitor pistas
de interpretação dos acontecimentos através da publicação de artigos de opinião
em detrimento de mais informação contextualizadora do acontecimento.
No entanto, a opção pela publicação de artigos de opinião a cargo de pro-
fessores universitários, jornalistas e políticos não se revelou capaz de colmatar a
falha na divulgação de informação que permita ao leitor a compreensão de um
fenómeno complexo e multicausal como a crise económica europeia. O elevado
número de artigos de opinião vem sim confirmar a prevalência de uma solidari-
edade comunitarista em detrimento de uma solidariedade cosmopolita (Chou-
liaraki, 2013) seja nas escolhas dos intérpretes como nos discursos produzidos e
veiculados.
A análise dos discursos publicados no jornal Público sobre a visita de Angela
Merkel a Lisboa aponta para a fragilidade da esfera pública europeia no que se re-
fere à sua capacidade de circulação e transmissão de ideias sobre a Europa e os
vários países que constituem o espaço europeu.
As referências à Europa têm como base a relação entre países e apenas alguns
países, no caso o país dominante, a Alemanha, relativamente aos países da Europa
do sul em dificuldade, mas esta referência é elaborada num sentido bilateral, os
países da Europa do sul nunca surgem em conjunto e como uma força social de con-
junto. São unidades fragmentadas, cada país a medir forças com a Alemanha e a
produzir um discurso para a Alemanha. Os outros países europeus não surgem
nos discursos sobre a Europa, como se a União Europeia e a consagração de direitos
iguais para cada Estado-nação fossem apenas uma mera formalidade jurídica.
Assim, podemos afirmar que a nossa hipótese inicial que os discursos difundi-
dos na imprensa de referência combinam informações várias sobre a Europa que apoiam o
leitor na compreensão de um fenómeno complexo não se comprova. A diversidade de in-
formações não foi encontrada nos vários textos analisados, quer na origem dos jor-
nalistas e comentadores, quer nos discursos produzidos que versaram apenas
sobre a Alemanha e sobre Portugal, recorrendo muitas vezes a estereótipos asso-
ciados a cada um dos países.
Finalmente, a leitura do corpus de análise permite-nos concluir que existem
várias narrativas sobre a crise económica europeia que se alicerçam em duas pre-
missas distintas. Uma primeira que parte da ideia de que Portugal é um país que se
endividou num passado recente de forma pouco controlada, motivo principal para
a crise, e que é através de políticas de austeridade que se podem encontrar as solu-
ções. E uma segunda ideia que aponta para um problema sistémico de organização
do capitalismo na sua forma atual, em que os vários líderes europeus devem contri-
buir para uma solução global, apelando a formas de solidariedade europeia e não
de punição dos países periféricos.
Capítulo 7
Mediatizações da crise europeia
A cobertura das eleições legislativas gregas e presidenciais francesas
pelas televisões nacionais
Introdução
Os recentes anos têm-se realçado pela onda crescente de instabilidade social e polí-
tica, esta instabilidade está interligada com a emergência da crise financeira em
2008. Através desta, tornou-se urgente o controlo das dívidas soberanas. Barack
Obama, nos Estados Unidos, reagiu com um exigente plano de redução da despesa
pública e a Comissão Europeia impôs de imediato um controlo dos défices regista-
dos em 2009 (Castro, 2010).
Os primeiros países europeus a sofrerem as consequências do contágio da crise
financeira internacional foram a Islândia, seguida da Lituânia e da Hungria. A União
Europeia e o Banco Central Europeu intervieram nestes dois últimos países de uma
forma discreta e rápida. No entanto, foi o caso grego que arrastou a seriedade da crise
financeira até ao núcleo da zona euro. Rapidamente vários países europeus como Por-
tugal, Irlanda, Espanha e Itália ficaram sob grande pressão, chegando mesmo alguns
deles a pedirem auxílio externo (Castro, 2010). A ajuda externa, promovida por orga-
nizações internacionais e europeias, “obriga” os governos a implementarem cortes
impertinentes de forma a controlarem as suas despesas públicas. Através do condicio-
namento pelo objetivo na contenção da despesa pública, os vários governos europeus
revelam incapacidade de administrarem as suas economias nacionais (Monteiro,
2010). Os representantes nacionais parecem perdidos entre o cumprimento das exi-
gências dos seus eleitores e na satisfação dos requisitos impostos pelos agentes exter-
nos — europeus e internacionais.
Os partidos e os governos parecem ter sido transportados para fora da socie-
dade civil, pois parecem inaptos na tradução das exigências do seu eleitorado de
base em respostas institucionais capazes de acalmarem os seus anseios. Este confli-
to, entre as exigências dos cidadãos e a incapacidade de resposta por parte dos vári-
os agentes políticos, traduz-se num défice de representação democrático, que pode
colocar em causa o elo de legitimidade que alimenta as democracias liberais con-
temporâneas (Teles, 2011).1
São especialmente sentidas, no contexto político europeu, as consequências des-
te défice possibilitado pela desconexão dos interesses sustentados pelas instituições
149
150 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
1 Não é um fenómeno recente, já se fazia sentir mesmo antes da crise financeira de 2007/2008 e não
pode ser reduzido aos países periféricos da União Europeia. Mas a crise financeira internacional
clarificou os contornos desta tensão principalmente na periferia europeia.
2 Teles, 2011: 86.
MEDIATIZAÇÕES DA CRISE EUROPEIA 151
Quadro 7.1 Distribuição das notícias analisadas nas televisões nacionais das eleições legislativas gregas
de 2012
RTP1 20 h 16 14 30
RTP2 22 h 5 7 12
SIC 20 h 14 15 29
TVI 20 h 17 15 32
Total 52 51 103
Quadro 7.2 Distribuição das notícias analisadas nas televisões nacionais das eleições presidenciais francesas
de 2012
RTP1 20 h 16 16 32
RTP2 22 h 1 6 7
SIC 20 h 12 13 25
TVI 20 h 15 20 35
Total 44 55 99
3 Constituída pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), pelo Banco Central Europeu (BCE) e
pela União Europeia (UE).
4 PASOK é o partido socialista grego.
154 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
Quadro 7.3 Coocorrências entre a formação/resultados eleitorais e os restantes códigos desenhados para
a análise
Formação de governo/
resultados eleitorais
Protagonistas
Candidatos e políticos relevantes na esfera política grega 51
Líderes políticos europeus 18
Cidadão comum 15
Especialistas/analistas/comentadores 12
Representantes de instituições políticas europeias 9
Representantes políticos portugueses 7
Membros de organizações económicas 3
Assuntos eleitorais
Impasse político 67
Punição eleitoral/voto de crise 24
Pressão externa para o entendimento entre os partidos 20
Indicadores económicos/sociais
Austeridade 30
Bancarrota 12
Desemprego 8
Recessão 8
Crescimento 6
Anti-imigração 5
Criminalidade 1
Corrupção 1
Emoções
Reação dos mercados financeiros 13
Apreensão/medo/desespero 11
Alívio 8
Como demonstra o quadro 7.3, a família de códigos mais próxima do processo elei-
toral foi a do espectro político e ideológico. O período de campanha eleitoral, bem
como o de formação de governo, foi mediatizado por uma escolha partidária
pró/antissistema. O eixo partidário pró-sistema foi constituído pela ND (60),
PASOK (57) e DIMAR (11), por sua vez o eixo antissistema constitui-se pelo Syriza
(48) e pela Aurora Dourada (18).5 Foram os partidos mais mediatizados nestas elei-
ções. Esta mediatização passou por uma forte caracterização ideológica destes par-
tidos baseados na divisão atrás mencionada.
Ideologicamente os dois blocos partidários — pró/antissistema — foram co-
bertos pelos canais de televisão nacionais por uma distinção básica entre esquer-
da/direita ao centro e nos extremos (quadro 7.4). Ou seja, a ND e o Pasok são
aproximados por se posicionarem ao centro, o primeiro à direita e o segundo à es-
querda, enquanto o Syriza se aproxima da Aurora Dourada nos extremos, o primei-
ro à esquerda e o segundo à direita. Para além desta aproximação, o PASOK e a ND
são ainda acercados ideologicamente por incorporarem o arco tradicional do poder e
por constituírem o bloco central grego. Por sua vez, o polo antissistema foi desenha-
do na categoria do posicionamento ideológico, através de uma ligação do Syriza à
Aurora Dourada pela sua correspondência através de expressões como: “partidos
de franja” e “pequenos partidos”. Um fator a ter ainda em conta é o afastamento
ideológico do Syriza relativamente ao DIMAR, pela caracterização deste último
“como uma esquerda menos radical”. Este afastamento, pela intensidade do radica-
lismo, justifica-se pela posição mais soft do DIMAR relativamente ao memorando.
A Esquerda Democrática é caracterizada como menos crítica das políticas de austeri-
dade, incorporando uma posição de maior conformidade com as políticas europeias.
Relativamente ao segundo momento eleitoral, a mediatização ideológica partidária
foi mais reduzida, a 17 de junho o eixo antissistémico incorpora-se apenas pelo Syri-
za, enquanto o eixo pró-sistema caracteriza-se essencialmente pela ND.
A redução da cobertura mediática do posicionamento ideológico partidário, no
segundo momento eleitoral, justifica-se pela forte fragmentação do espectro ideológi-
co a 6 de maio de 2012. O sistema partidário grego mudou após as eleições de 6 de
maio. Este momento eleitoral quebrou a ideia que apenas os governos maioritários,
constituídos por um partido intercalado entre a ND e o PASOK, conseguiam reunir as
competências necessárias para governar a Grécia. Até então, dominava uma cultura
política que legitimava a prosperidade de dinastias políticas tais como: Papandréu,
Karamanlis, Mitsotakis, e outras famílias importantes. Esta cultura foi quebrada pela
dispersão dos votos, obrigando à obtenção de um consenso mais alargado e à forma-
ção de governos de coligação. Através das eleições de 2012 rompeu-se com o ciclo bi-
partidário vivido na Grécia desde 1974, transformou-se o centro político grego pela
expulsão do PASOK e pela entrada do Syriza (Dimitrakopoulos, 2012).
Votos Assentos
Partido Votos
(em %) parlamentares
Votos Assentos
Partido Votos
(em %) parlamentares
Quadro 7.10 Coocorrências entre a formação/resultados eleitorais e os restantes códigos desenhados para
a análise
Protagonistas
François Hollande 85
Nicolas Sarkozy 74
Líderes políticos de países europeus(1) 33
Marine Le Pen 30
Políticos relevantes na esfera política francesa(2) 26
Especialistas/comentadores/analistas(3) 18
Cidadão comum 12
François Bayrou 13
Jean-Luc Mélenchon 12
Mulheres dos candidatos 8
Líderes políticos nacionais(4) 7
Líderes políticos internacionais(5) 6
Representantes de instituições políticas europeias(6) 5
Membros de organizações económicas(7) 3
Espectro político/ideológico
Socialismo/socialismo 56
Extrema-direita/Frente Nacional 37
Esquerda 31
Direita/centro-direita 24
Extrema-esquerda/esquerda radical 12
Política europeia e finanças públicas nacionais
Futuro da Europa 38
Revisão do tratado europeu 33
Eixo franco-alemão 27
Desequilíbrio de forças na União Europeia 16
Economia de austeridade 16
Papel do Banco Central Europeu 6
Queda do governo holandês 4
Plano Europeu para o Crescimento 3
Espanha sob pressão 2
Indicadores económicos/sociais
Crescimento 33
Austeridade 27
Desemprego 11
Anti-imigração 11
Emprego 9
Assuntos eleitorais
Mudança 30
Punição eleitoral — voto de crise 22
Programa eleitoral de Hollande 17
Programa eleitoral de Sarkozy 8
Polémicas associadas à candidatura de Sarkozy 22
Enfoque geográfico
Países do sul 28
Países do norte/centro 26
Emoções
Reação dos mercados 11
(1)
Angela Merkel (31); Mario Monti (3); Mariano Rajoy (2); Wolfgang Schäuble (1); Soraya Saenz de Santamaria (1);
(2)
François Mitterrand (7); Jean-Marie Le Pen (7); Ségolène Royal (6); Dominique Strauss-Kahn (5); Nadine Morano
(militante da UMP) (1); Vítor Hugo (1); Charles de Gaulle (1);
(3)
Comentadores políticos nacionais (9); jornalistas (7); analistas financeiros (6); publicitários (1);
(4)
António José Seguro (5); Pedro Passos Coelho (2); Mário Soares (1); Carlos Zorrinho (1); Francisco Louçã(1);
António Rodrigues (PSD) (1); João Almeida (CDS) (1);
(5)
Muammar Kadafi (6); Barack Obama (1);
(6)
Mario Draghi (2); Amadeu Altafaj (1); Durão Barroso (1); Jean-Claude Juncker (1);
(7)
Olivier Blanchard (1);
Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.
MEDIATIZAÇÕES DA CRISE EUROPEIA 163
televisão nacionais. Este quadro organiza este objetivo por oito grupos distintos,
por famílias de códigos, estas famílias e os códigos correspondentes estão organi-
zadas por ordem decrescente do número de ocorrências.
De forma a facilitar a interpretação dos dados organizados no quadro 7.10, a
análise da campanha eleitoral e de formação do executivo nas presidenciais france-
sas decorrerá em dois planos. O primeiro plano invoca-se pela abordagem da me-
diatização dos principais candidatos presidenciais, bem como de algumas das suas
promessas eleitorais e das ideologias associadas. O segundo plano cumpre-se pela
contextualização da relevância das eleições presidenciais francesas de 2012 no con-
texto europeu.
Como se verifica no quadro 7.10 a família de códigos com mais peso na análise, ou
seja, mais próxima mediaticamente do código relativo à campanha eleitoral e de
formação de governo, é a dos protagonistas. A mediatização do processo eleitoral
passou por uma elevada personalização dos candidatos mais relevantes às presi-
denciais francesas — François Hollande (85); Nicolas Sarkozy (74); Marine Le Pen
(30); François Byrou (13) e Jean-Luc Mélenchon (12). François Hollande, pela sua
vitória no Eliseu, foi o protagonista mais referenciado.
A abordagem das eleições pela forte personalização dos seus principais can-
didatos é um reflexo do sistema político francês. É um sistema semipresidencialis-
ta, sendo o poder executivo partilhado pelo presidente e pelo primeiro-ministro,
mas o sistema francês pressupõe a figura política do presidente como a predomi-
nante. A constituição da quinta república foi adotada em 1958, sob a presidência do
general De Gaulle, garantido a proeminência do executivo (detido pelo presidente)
sob o poder legislativo (Foucault e Nadeau, 2012).
Esta proeminência da figura presidencial transforma os momentos eleitorais
em França em espaços competitivos pela atenção de eleitores sob individualidades
(Foucault e Nadeau, 2012). As ideologias são ofuscadas por traços de personalida-
de. O quadro 7.11 demonstra o que atrás foi descrito: a campanha eleitoral e o
processo de formação de governo em França estiveram sujeitos a uma elevada per-
sonalização dos candidatos presidenciais e a uma básica distinção ideológica
partidária.
A personalização dos candidatos foi mais intensa relativamente a Sarkozy
e a Hollande. Sarkozy, com o slogan de campanha “França Forte”, foi construído
mediaticamente como um homem poderoso e forte, detentor de uma postura
agressiva e arrogante. São-lhe identificadas capacidades políticas, como a retó-
rica e o à-vontade perante públicos, foi mesmo apelidado pelos media de “ani-
mal político”. Por sua vez, Hollande projetou-se mediaticamente por três vias: a
primeira como um sucessor legítimo de Mitterrand, chegando mesmo a imitar o
estilo oratório do antigo presidente. Esta semelhança é visível na presente análi-
se pelo número de ocorrências a políticos relevantes na esfera política francesa,
no quadro 7.10, onde uma das personalidades mais referenciadas é François
164 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
Quadro 7.12 Resultado das eleições presidenciais francesas, Quinta República, 1965-2012
A mediatização dos dois primeiros justifica-se pela sua relação com o poder, a pre-
sidência foi apenas partilhada entre socialistas e a UMP. Relativamente à Frente
Nacional, a elevada mediatização deve-se à sua significância política pelo seu cres-
cimento eleitoral, nas eleições de 2012.
AFrente Nacional depois de 40 anos sob a liderança de Jean-Marie Le Pen reno-
vou-se através de sua filha. A ascensão de Marine le Pen à liderança da Frente Nacio-
nal inaugurou uma nova era política na extrema-direita em França. A nova liderança
modernizou a Frente Nacional. A procura do partido pela credibilidade e pela “nor-
malização” foi iniciada nas eleições presidenciais de 2007, mas foi ainda mais acentu-
ada depois de Marine assumir a liderança do partido em 2011. A nova liderança fez
um esforço no sentido de se afastar das afirmações e das posições controversas do
passado de Jean-Marie Le Pen, geralmente reconhecido pelo seu estilo demagogo.
Para além da redefinição da imagem pública da liderança da Frente Nacional, este
partido renovou-se ainda nas suas posições políticas. O novo manifesto económico
da Frente Nacional é marcado curiosamente por uma mudança à esquerda através
de revindicações pelo protecionismo social incorporado numa doutrina antiglobali-
zação. A base sociológica do eleitorado da FN foi alterada através de um discurso
ideológico mais vasto e além-fronteiras do seu tradicional eleitorado — incorporado
pela pequena burguesia e pela classe trabalhadora. Estas transformações impulsio-
naram uma nova perceção pública relativamente ao partido, como sendo mais mo-
derado e, portanto, politicamente mais aceitável (Ivaldi e Evans, 2012).
Para além destas alterações na ideologia e na imagem pública da liderança par-
tidária da FN, há ainda outros fatores que explicam esta ascensão da extrema-direita
em França, estes contextualizam-se no ambiente das eleições presidenciais de 2012.
A mudança do estatuto de Sarkozy como um líder de direita incontestável e confian-
te, para um presidente altamente impopular, levou muitos cidadãos a votarem na
FN (Ivaldi e Evans, 2012). Esta tendência eleitoral foi caracterizada mediaticamente
por um voto de crise (22) (quadro 7.10). Estes votos representam o “protesto”, a “rai-
va” e o “sofrimento” pelas consequências da situação económica em França. Sarkozy
chega mesmo a justificar o voto de crise como: “Os franceses estão zangados, querem
166 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
Quadro 7.13 Mediatização das campanhas eleitorais dos principais candidatos às eleições presidenciais
francesas
Frente de
Movimento
Partido Socialista: União por Um Movimento Frente Nacional: Esquerda:
Democrático:
François Hollande Popular: Sarkozy Marine Le Pen Jean-Luc
François Bayrou
Melénchon
Criação de 60 mil Controlar a emigração Apelo ao voto Voto de desespero Voto de desespero
postos de trabalho em Hollande
Diminuir a idade Suspensão/restrições ao — Voto de raiva Voto de raiva
da reforma Tratado de Schengen
Congelar o preço Combater o terrorismo — Voto extremo —
dos combustíveis
Reduzir os salários Fortalecimento dos — Apelo ao voto —
dos políticos valores nacionais em branco
Aumento dos subsídios Valores do trabalho — — —
sociais
Aumento dos impostos Escândalo — — —
sob grandes fortunas do financiamento
da campanha eleitoral
de 2007
Taxar as transações Escândalo sexual — — —
financeiras de Domique Straus-Kahn
Eurobonds Autoelogio político — — —
Banco Europeu –– — — —
de Investimento
Renegociação — –– — —
do tratado europeu
manter o seu estilo de vida, estes votos representam pedidos de proteção. O voto em
Marine Le Pen — não há ninguém que pense que esta consegue realmente governar
a França — é uma forma de as pessoas informarem os altos responsáveis: olhem bem
para a nossa situação” (SIC, terceira semana de análise).
A elevada percentagem de votação em Marine Le Pen foi detida como uma ex-
pressão da crise, e a sedução deste eleitorado especialmente protagonizado por
Sarkozy no segundo turno das eleições presidenciais passou pela compreensão
deste “sofrimento” e deste desespero. Para além deste entendimento, o quadro
7.13demonstra que Sarkozy concentrou a sua estratégia eleitoral em questões
como o terrorismo, a emigração descontrolada, colocando mesmo a hipótese de
restringir, ou até mesmo suspender, o acordo de Schengen.7
Estas questões, associadas ao elogio dos valores do trabalho sob os que sobre-
vivem contando com subsídios sociais, ou a defesa do fortalecimento dos valores
nacionais, deram corpo à campanha eleitoral de Sarkozy. Foi uma campanha
7 http://europa.eu/legislation_summaries/glossary/schengen_agreement_pt.htm.
MEDIATIZAÇÕES DA CRISE EUROPEIA 167
Quadro 7.14 Posicionamento à Europa dos principais candidatos às eleições francesas de 2012
8 Países do sul da Europa referenciados (55): Portugal (25); Espanha (12); Grécia (11); Itália (7); pa-
íses do norte e do centro da Europa referenciados: Alemanha (27); Holanda (5); Áustria (2); Di-
namarca (1); Bélgica (1).
MEDIATIZAÇÕES DA CRISE EUROPEIA 169
francesas foi efetuada a partir de canais de televisão portugueses. Mas esta referência a
Portugal foi homogeneizada pela perceção favorável que a vitória socialista em França
poderia provocar no nosso país. Hollande poderia representar um alívio na adminis-
tração da crise portuguesa, porque iria confrontar a Alemanha com uma nova possibi-
lidade — suavizar a austeridade pelo crescimento.
Esta perceção positiva da vitória de Hollande não foi geral. Nas duas primei-
ras semanas, correspondentes ao primeiro turno das eleições presidenciais de
2012, o socialista — François Hollande —, assinalado pelo crescimento que impul-
sionaria a mudança na Europa, foi “marginalizado” pelos mercados financeiros e
até por alguns líderes europeus. Angela Merkel distanciava-se de François Hollan-
de mostrando irredutibilidade na renegociação do tratado orçamental europeu.
Por sua vez, os mercados não reconheciam validade na alternativa apresentada por
Hollande, chegando mesmo a “castigar” as bolsas das principais praças europeias
devido à vitória socialista na primeira volta. Manifestavam receios relativos às con-
sequências que uma viragem à esquerda poderia ter para a França e para a Europa,
nomeadamente no relaxo do controlo das dívidas soberanas. “Os mercados têm re-
ceio que a vitória socialista se reflita num aumento da dívida” (RTP1, segunda se-
mana de análise). Para além do receio de uma “França socialista”, os mercados
também mostraram preocupações relativamente à mudança das dinâmicas do eixo
franco-alemão e às consequências que esse fenómeno representaria no comando
da política económica europeia. Estas últimas são bem visíveis nas seguintes ex-
pressões retiradas das televisões nacionais durante a análise: “A viragem à esquer-
da representou um duro golpe nos mercados, pois Hollande dificilmente fará
‘dupla’com a senhora da Europa” (SIC, segunda semana de análise); “Os mercados
habituados à liderança implacável de Merkel e Sarkozy temem agora que Hollande
provoque uma reviravolta nos caminhos europeus (SIC, segunda semana de análi-
se); ”Os investidores receiam que o fim da aliança Merkel e Sarkozy se traduza
num abrandamento dos esforços de solucionar a crise" (RTP1, segunda semana de
análise).
Esta retórica relativa à reação dos mercados a uma eventual vitória socialista
alterou-se a partir da terceira semana de análise, quando a vitória da esquerda pa-
recia cada vez mais inquestionável. A partir da terceira semana de análise, os mer-
cados começam a “aceitar” Hollande como uma escolha possível. Os mercados
começaram a reconhecer Hollande como um líder “razoável” e “moderado”, por-
tanto admitem-no como uma escolha legítima em França e para a Europa. “O mun-
do das finanças já se está ajustar a Hollande” (TVI, terceira semana de análise).
Para além do reconhecimento de Hollande, por parte dos mercados financei-
ros, vários líderes de países europeus e de várias instituições europeias também
manifestaram uma aceitação ao socialista e ao seu vínculo pelo crescimento. Inclu-
sivamente, na terceira semana de análise, começa-se a discutir um eventual plano
de crescimento europeu, “Bruxelas está a desenhar um novo pacto para o cresci-
mento, é como um novo plano Marshall para a Europa” (TVI, terceira semana de
análise). Pondera-se mesmo que este “novo plano Marshall” possa abranger uma
das propostas eleitorais de Holande — a criação de um fundo de investimento.
170 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
Estes discursos foram ainda possibilitados pelo auxílio, por parte dos media, de várias
declarações fragmentadas e em tom de ameaça: “A Grécia tem que cumprir os seus
compromissos” (Christine Lagarde, RTP1); “Nós queremos a Grécia no euro mas esta
tem que cumprir os compromissos acordados independente da escolha partidária”
(Durão Barroso, TVI). Os canais de televisão nacionais potenciaram, em parte, a cons-
trução do procedimento eleitoral grego como paternalista, em que algumas figuras
políticas relevantes mas também alheias à esfera política nacional estavam habilitadas
a insurgirem sob o processo eleitoral grego com “ultimatos”.
Pode-se resumir que as eleições legislativas gregas de 2012 foram mediatiza-
das pelos canais de televisão nacionais através da construção de uma narrativa da
impossibilidade de mudança. O discurso mediático afunilou-se numa única esco-
lha democrática possível — pró-sistémica. Em contraste está a cobertura mediática
pelos canais de sinal aberto nacionais das eleições presidenciais francesas.
A cobertura mediática relativamente ao espectro ideológico nas eleições
presidenciais francesas girou em redor da UMP, do Partido Socialista e da Fren-
te Nacional. Os dois primeiros são partidos do poder e a terceira força política
mais votada foi a FN, o que torna expectável que a cobertura mediática se cons-
trua essencialmente a partir destes. A distinção ideológica entre estes partidos
172 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
Quadro 7.15 Coocorrências entre o código campanha eleitoral/ formação de governo e os restantes códigos em
análise
Códigos/Grécia Códigos/França
Política europeia e finanças nacionais Política europeia e finanças nacionais
Acordo/programa com a troika (34) Futuro da Europa (38)
Futuro da Europa (29) Revisão do tratado europeu (33)
Saída da Grécia do euro (28) Eixo franco-alemão (27)
Renegociação/alívio das metas do resgate financeiro (21) Desequilíbrio de forças na União Europeia (16)
Economia de austeridade (13) Economia de austeridade (16)
Risco de incumprimento (5) Papel do Banco Central Europeu (6)
Espanha sob pressão (3) Queda do governo holandês (4)
Plano Europeu para o Crescimento (3)
Espanha sob pressão (2)
Emoções Emoções
Reação dos mercados financeiros (13) Reação dos mercados financeiros (11)
Apreensão/medo/desespero (11)
Alívio (8)
Enfoque geográfico Enfoque geográfico
Países do sul da Europa (20) Países do sul da Europa (28)
Países do norte/centro da Europa (15) Países do norte/centro da Europa (26)
Outros países (3) Outros países
Protagonistas Protagonistas
Candidatos e políticos relevantes na esfera política grega (51) Candidatos presidenciais (214)
Líderes políticos europeus (18) Líderes políticos europeus (33)
Cidadão comum (15) Políticos relevantes na esfera política francesa (26)
Especialistas/analistas/comentadores (12) Especialistas/comentadores/analistas (18)
Representantes de instituições políticas europeias (9) Cidadão comum (12)
Representantes políticos portugueses (7) Esposas dos candidatos (8)
Membros de organizações económicas (3) Líderes políticos nacionais (7)
Representantes de instituições políticas europeias (5)
Membros de organizações económicas (3)
Instituições políticas/económicas Instituições políticas/económicas
europeias/internacionais europeias/internacionais
Instituições políticas europeias (28) Instituições políticas europeias
FMI e troika (20) FMI e troika
Espectro ideológico Espectro ideológico
Conservadores/Nova Democracia (60) Socialista (56)
Socialistas/PASOK (57) Extrema-direita/Frente Nacional (37)
Partidos anti e pró-sistema (56) Esquerda (31)
Esquerda radical/Syriza (48) Direita/centro direita (24)
Aurora Dourada/extrema-direita (18) Extrema-esquerda/esquerda radical (12)
Esquerda Democrática (11)
Outros partidos (5)
Indicadores económicos/sociais Indicadores económicos/sociais
Austeridade (30) Crescimento (33)
Bancarrota (12) Austeridade (27)
Desemprego (8) Desemprego (11)
Recessão (8) Anti-imigração (11)
Crescimento (6) Emprego (9)
Anti-imigração (5)
Criminalidade (1)
Corrupção (1)
Assuntos eleitorais Assuntos eleitorais
Impasse político (67) Mudança (30)
Punição eleitoral/voto de crise (24) Punição eleitoral/voto de crise (22)
Pressão externa para o entendimento entre os partidos (20) Programa eleitoral de Hollande (17)
Programa eleitoral de Sarkozy (8)
Polémicas associadas à candidatura de Sarkozy (8)
Introdução
A crise económica que se arrasta desde 2008 teve um grande impacto na confiança
no projeto europeu e provocou uma discussão sobre a coordenação económica na
zona euro. Debateu-se a possibilidade da saída de alguns países da zona euro e até
o possível desmantelamento total da mesma. Esta crise aprofundou algumas dis-
paridades internas e trouxe ao debate a questão das dicotomias entre os países do
norte vistos como cumpridores e produtivos, e os países do sul muitas vezes retra-
tados como irresponsáveis e culpados do mal que a toda a Europa se foi alastrando.
Fomentou-se a ideia dos países do norte e do centro da Europa enquanto líde-
res do projeto europeu e intensificou-se em particular a cooperação entre Alema-
nha e França, as duas grandes potências europeias, personalizadas na figura dos
seus chefes de Estado, Nicolas Sarkozy (e mais tarde François Hollande) e Angela
Merkel. Surgiu no vocabulário da crise a expressão “Merkozy”, que remetia não
apenas para a proximidade ideológica dos dois protagonistas, mas também para a
crescente colaboração dos dois países mais poderosos na tentativa de resolução de
um problema europeu.
Desta forma, a crise trouxe ao debate público a questão das assimetrias de po-
der dentro da união, que são representadas nos dois grandes extremos: por um
lado os países da Europa do norte e central, de maior desenvolvimento económico
e político, com o eixo franco-alemão no comando, e os países do sul, vistos num
misto de vítimas de um défice de representação e poder dentro da união e culpados
da crise europeia.
Numa Europa cada vez mais tensa e dividida interessa saber como os media
estão a ajudar a construir a opinião pública nos diversos países, nomeadamente no
que concerne aos culpados e responsáveis por resolver o problema, as soluções a
ser aplicadas e o papel das instituições europeias.
175
176 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
Enquadramento teórico
Uma das ideias mais presentes e transversais em toda a sociedade europeia será a
de que o jornalismo enquanto pilar da democracia desempenha o importante papel
de vigilante do ambiente sociopolítico e de criador de um agenda-setting com temas
relevantes que permitam ao cidadão fazer escolhas informadas (Gurevitch e Blum-
ler, 1993).
Debate-se hoje o papel dos media na constituição de uma esfera pública euro-
peia, vista por muitos como crucial para a manutenção de uma democracia euro-
peia. Por esfera pública europeia entenda-se, antes de mais, “uma esfera pública
europeia que implica um debate público comum levado a cabo através de uma
agenda noticiosa partilhada a nível europeu” (Vreese, 2008).
É fundamental conhecer o contributo dos media nacionais na criação deste es-
paço comum que se afirma como cada vez mais essencial na construção europeia.
Será necessário no entanto ter em atenção que os sistemas mediáticos na Europa
são muito diferentes entre si.
É possível verificar várias tendências comuns ao jornalismo nos diversos paí-
ses europeus nos últimos anos, tais como a penetração do entretenimento na infor-
mação e a revolução tecnológica que expandiu as possibilidades comunicacionais e
esbateu fronteiras
Será no entanto erróneo pretender retratar o jornalismo europeu como homo-
géneo e uno. As tradições jornalísticas na Europa são múltiplas e diversas.
Daniel Hallin e Paolo Mancini (2004) identificaram padrões comuns em três
grupos de sistemas de media europeus com base em quatro fatores: i) a estrutura
dos mercados de media, ii) o nível de paralelismo político para com o sistema parti-
dário, iii) o nível de profissionalização do jornalismo e iv) o nível de intervenção do
Estado. Os autores criaram a partir dessa conjugação de fatores três grandes cate-
gorias de sistemas mediáticos: o sistema pluralista polarizado característico dos
países da margem norte do Mediterrâneo (com baixa circulação de jornais, alto pa-
ralelismo, fraca profissionalização, forte intervenção do Estado), o sistema demo-
crático corporativo da Europa central e do norte (alta circulação de jornais, menos
paralelismo, forte profissionalização, forte intervenção do Estado mas com prote-
ção da liberdade de imprensa) e o sistema atlântico ou liberal (circulação mediana,
imprensa neutra e sem paralelismo no sistema político, forte profissionalização,
sem intervenção do Estado — imprensa de mercado). Os autores alertam para o
facto de os países que integram estes grupos serem também diferentes entre si, ape-
sar de partilharem padrões comuns importantes.
Com efeito, o jornalismo europeu é muito diverso. O jornalismo italiano, que
caberia no modelo pluralista polarizado proposto por Hallin e Mancini, é tipica-
mente mais partidário e menos comprometido com a autonomia profissional, en-
quanto nos países da Europa do norte (modelo democrático corporativo) existe um
maior compromisso para com a imparcialidade e objetividade (Golding, 2008).
É neste panorama de diversidade que se impõe a questão de como encontrar o
tão necessário espaço comum, a esfera pública europeia. Ramussen (2013) defende
que a diversidade não impede a concretização de uma ideia de esfera pública, pois
COBERTURA MEDIÁTICA DA CRISE NA EUROPA 177
é possível que esta se construa na base de uma multitude articulada de redes de co-
municação interligadas. É necessária a construção de um discurso supranacional
coeso que não deixe de abarcar em si as diferenças.
Acima de tudo, e como refere Peters (2004), a europeização do debate público
requer um “sentido histórico comum” para além do imaginário coletivo de uma co-
munidade política económica ou geográfica.
Considerando o período especialmente tenso que atravessamos, marcado
pela crise económica, será também de grande relevância atentar na forma como
as diferentes posições que os países ocupam perante a crise se refletem nas suas
narrativas mediáticas pois, como refere Krzyzanowski (2009), “Essas crises (so-
ciais, políticas e económicas) são definidas como momentos perturbadores da
história durante as quais uma aceleração singular de construções explíci-
tas/implícitas da esfera pública é crucial. É também no seio das crises que as
perceções sensíveis de objetos de referência pública (...) são particularmente
salientes”.
Neste sentido, será importante perceber se existem efetivamente discursos
díspares sobre a crise assentes em perceções diferentes daquilo que é a Europa,
sendo que o conceito de Europa ou de identidade europeia é ainda difícil de
definir.
A “Europa” enquanto comunidade será “imaginada” no conceito de Ander-
son (1983), segundo o qual todas as comunidades são imaginadas pois “Mesmo os
membros da mais pequena nação nunca conhecerão a maior parte dos seus conci-
dadãos, conhecê-los ou até mesmo ouvir falar deles, mas nas mentes de cada um
vive a imagem das suas comunidades”.
Chalániová (2013) acrescenta ainda que esta comunidade imaginada, cuja
identidade se define e redefine sempre de forma um pouco fragmentada, muitas
vezes necessita de um “outro” do qual o “eu” se distingue e assim melhor se
define.
Mas como alerta a autora, o “outro” não tem necessariamente que ser externo
à comunidade, ele pode também ser encontrado no seu seio.
As dicotomias sul/norte tão discutidas neste contexto de crise podem ser um
bom exemplo de como a identidade europeia se encontra num processo de redefi-
nição que corre riscos de criar um ou vários “outros” dentro de si mesma.
Pretendemos com a nossa análise mapear um discurso comum sobre a crise e
identificar possíveis disparidades nos discursos dos vários países que possam cul-
minar a construção de um “outro” dentro da própria união.
Para tal, analisaremos países com três diferentes posições perante a crise e a
construção europeia. Os países do sul mais atingidos pela crise que se encontram
sob programas de assistência (Portugal, Espanha e Itália), os países do centro da
Europa (Bélgica, Holanda, Alemanha e França), e o Reino Unido, que tem
mantido uma distância controlada face ao processo de integração, sendo que rei-
na na opinião pública e nos media um crescente euroceticismo. Como refere
Krzyzanowski (2009), “Na imprensa britânica, a perceção da Europa e a aborda-
gem a acontecimentos em países estrangeiros (europeus) permanece praticamen-
te a mesma e está enraizada na perceção ”eurocética" ou de “pragmatismo
178 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
Metodologia
1.º evento: 11-12 de fevereiro de 2010: cimeira da UE — papel dos governos e do FMI.
2.º evento: 2 de maio de 2010: intervenção na Grécia.
3.º evento: 16 de dezembro de 2010: mudança no tratado da UE.
4.º evento: 5 de agosto de 2011: BCE pede mais medidas de austeridade a Itália.
5.º evento: 5 de outubro de 2011: greve geral na Grécia.
6.º evento: 26-27 de outubro de 2011: cimeira UE — fundo de estabilidade.
7.º evento: 12-13 de novembro de 2011: resignação de Berlusconi/ nomeação de Monti.
8.º evento: 23 de novembro de 2011: livro verde sobre obrigações de estabilidade.
9.º evento: 23 de maio de 2012: cimeira da UE — crescimento, austeridade, atenção
sobre Espanha, encontros governamentais no Reino Unido.
10.º evento: 28-29 de junho de 2012: cimeira UE sobre a crise da dívida soberana.
11.º evento: 15 de julho de 2012: declaração de Merkel sobre a necessidade de ade-
são a metas orçamentais e monotorização europeia.
1 Disponível em https://reutersinstitute.politics.ox.ac.uk.
180 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
Resultados
Para efeitos de descrição de dados e para mais facilmente dar a entender as grandes
questões que pretendemos ver respondidas, agrupamos as 12 variáveis em sete
grupos:
1) Protagonistas da crise;
2) Narrativa sobre as origens da crise e atribuição da responsabilidade de resol-
ver o problema;
3) As soluções indicadas a longo e curto prazo;
4) Benefícios e custos da existência da moeda única;
5) Principais beneficiários e principais prejudicados pela crise da zona euro;
6) Enquadramento geopolítico das peças;
7) Retrato das instituições europeias e do BCE;
8) Retrato das consequências das medidas de austeridade.
1. Protagonistas da crise
Em Portugal, Angela Merkel foi a protagonista mais referida, com 18,1% das cita-
ções em seu nome, seguida de Nicolas Sarkozy com 5,4%. Em Espanha, também
Angela Merkel (14,4%) e Sarkozy (6,8%) foram os protagonistas, enquanto em Itá-
lia a Merkel (17,2%) se segue Mario Monti (11%).
Também nos países da Europa central, a protagonista das notícias foi Merkel
(Alemanha 12,3%, França 20,6%, Holanda 18,9%, Bélgica 21,5%), sendo que Sar-
kozy foi o segundo mais citado em todos, à exceção da Bélgica, onde Herman van
Rompuy se destacou como segundo mais citado.
No Reino Unido, Merkel surge como segunda personalidade mais citada
(14,7%) quase a par da primeira, David Cameron (14,9%).
A protagonista da crise nas narrativas mediáticas foi sem dúvida a chanceler
alemã Angela Merkel. De notar também que o presidente francês Nicolas Sarkozy
foi o segundo mais citado em cinco dos países em análise, o que remete para o eixo
franco-alemão enquanto principal centro de poder e liderança no contexto da crise
europeia.
2. Origens e responsabilidades
Nos dados referentes à primeira variável que contemplava as origens da crise indi-
cadas nas peças em análise, verificamos uma alta percentagem de peças que não in-
dicavam qualquer tipo de origem da crise. Em Itália, França e Reino Unido menos
de 20% das peças analisadas tratavam do assunto, assim como em Portugal (cerca
de 26%). Espanha, Alemanha, Holanda e Bélgica registaram um número mais alto
COBERTURA MEDIÁTICA DA CRISE NA EUROPA 181
Reino Unido
Reino Unido
de peças que referiam esta questão, sendo que, apesar disso, em nenhum dos casos
elas perfizeram mais de 40%.
Na categoria dos países sob assistência destacam-se as raízes políticas com 8,7%
em Portugal e 8,5% em Espanha. A distribuição no caso italiano é mais equilibrada e as
percentagens de cada hipótese mais baixas devido aos 82,2% na categoria “nenhum”.
No grupo dos países do norte/centro, a origem da crise tende a ser atribuída às políticas
fiscais e sociais nacionais, que foi a categoria mais frequente na Alemanha, Holanda e
Bélgica e a segunda mais frequente em França. Enquanto nos países sob assistência há
uma clara atribuição da culpa à classe política, nos países do norte tende-se a indicar as
políticas nacionais dos países afetados pela crise enquanto geradoras da mesma.
No Reino Unido a categoria mais frequente foi condições iniciais e estrutura
do euro, sendo esta visão mais eurocética da imprensa britânica um dado que não
nos surpreende.
A segunda variável pretendia perceber a quem os media atribuem a responsa-
bilidade de resolver a crise. A responsabilidade foi identificada em mais de 50%
das peças em todos os países, exceto em França (com apenas 34% das notícias e in-
dicar responsabilidades) e no Reino Unido (em que 83,4% das peças não atribuíam
responsabilidades).
Ficou claro neste caso que é geralmente entendido que a responsabilidade de
resolver a crise é coletiva, sendo que as percentagens mais altas recaíram sobre a
União Europeia e os membros da zona euro nos dois grupos em análise.
Os países com problemas de dívida foram também com alguma frequência
indicados enquanto responsáveis por resolver a crise, sendo que as instituições e
entidades económicas e financeiras como o BCE, FMI e os bancos foram esmagado-
ramente poupados à atribuição de responsabilidades no discurso dos media em to-
dos os países em análise.
3. Soluções
No que toca a soluções para resolver a crise, a análise contemplou dois tipos de res-
postas: curto e longo prazo.
Nas soluções a curto prazo os empréstimos e a redução do défice (aumentos
de impostos e austeridade) foram as hipóteses mais indicadas. Em Portugal
(33,4%), Itália (38,3%) e Espanha (24,3%), as categorias referentes a empréstimos e a
redução do défice perfizeram sempre mais de 20%.
Nos países do norte/centro os empréstimos e as reduções do défice foram
também claramente as mais frequentes, apesar de no caso francês este ser um facto
não tão evidente devido à elevada percentagem de “nenhuns” em comparação
com os outros países, como podemos ver pelo quadro 8.11.
No caso do Reino Unido, verificamos mais uma vez uma alta percentagem de “ne-
nhuns” tal como em França. As soluções mais frequentemente indicadas foram, como
no resto dos países em análise, a redução do défice (6,4%) e os empréstimos (4,9%).
Nas respostas a longo prazo, as soluções mais debatidas nos dois grupos em
estudo foram as reformas estruturais nos países com problemas e a hipótese de um
maior controlo da UE sobre os orçamentos nacionais.
184 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
Reino Unido
Reino Unido
As reformas estruturais nos países com problemas são as mais indicadas por
Itália e Espanha, com cerca de 20% das ocorrências. Em Portugal 84,4% das peças
não indicavam qualquer tipo de resposta a longo prazo. Também nos países do
norte se encontraram algumas diferenças internas, apesar de as soluções mais indi-
cadas continuarem a ser as reformas estruturais e o maior controlo da UE sobre os
orçamentos. Enquanto na Alemanha e na Holanda a opção reformas estruturais
nos países com problemas foi a indicada em cerca de 25% das peças, em França e na
Bélgica a mais discutida foi o maior controlo da UE sobre os orçamentos. De desta-
car também que a percentagem de “nenhuns” em França foi de 70,7%.
No Reino Unido a solução mais discutida foi a de reformas estruturais nos
países com problemas, sendo que a hipótese de mais poder da UE sobre os orça-
mentos ficou a 9,5 pontos percentuais da categoria mais indicada.
As duas variáveis através das quais se pretendia aferir qual o discurso dos media re-
lativamente ao papel da moeda única — mais especificamente, os seus custos e be-
nefícios — registaram quase sempre percentagem de “nenhuns” superiores a 90%.
Desta forma, consideramos que a comparação entre os países se torna irrelevante.
Este facto revela que a moeda única não foi vista pelos media enquanto tema a
ser debatido no contexto da crise.
R.U.
segunda mais frequente, tal como em França. A Bélgica e a Holanda neste caso ali-
nham com os países sob assistência: a região do sul e respetivos países (com desta-
que para a Grécia) foram os mais mencionados.
A imprensa britânica também apontou os países da União Europeia em geral
e a Grécia.
Podemos afirmar que na maior parte dos países em análise, a região dos países
do sul e os países que a compõem são vistos como os mais prejudicados pela crise. Os
media alemães foram os que registaram o comportamento mais díspar, devido às fre-
quentes referencias ao próprio país enquanto o grande prejudicado pela crise.
188 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
Quadro 8.16 Países/regiões prejudicadas pela crise nos países sob assistência
Quadro 8.17 Países/ regiões prejudicadas pela crise nos países do norte/centro
Reino Unido
Bélgica 0,1
Chipre 0,3
França 0,8
Alemanha 0,4
Grécia 6,9
Hungria 0,1
Irlanda 1,1
Itália 3,0
Espanha 3,5
Portugal 0,3
Reino Unido 3,1
Países do sul 5,5
Países da UE em geral 14,5
Outro 0,0
Nenhum 30,4
Missing 26,6
Total 100,0
6. Enquadramento geopolítico
Esta variável tinha por objetivo aferir qual o enquadramento geopolítico das peças
em análise.
Nos países sob assistência o enquadramento da maioria das peças foi euro-
peu. Em Itália os dados apontam para uma distribuição mais uniforme, sendo que
a categoria países estrangeiros distancia-se da primeira por apenas 4 pontos
percentuais.
Nos países do centro, registaram-se dois comportamentos diferentes: na Ale-
manha e em França o enquadramento mais frequente foi claramente o europeu, en-
quanto na Holanda e na Bélgica a categoria país estrangeiro foi a mais frequente.
De destacar também que nestes dois países a percentagem de artigos sem enqua-
dramento foi muito mais alta, tal como aconteceu no Reino Unido. Neste último
país, o enquadramento mais frequente foi também país estrangeiro.
Reino Unido
Doméstico 11,1
País estrangeiro 17,1
Europeu 5,5
Outro 0,2
Nenhum/enquadramento não claro 66,0
Missing 0,0
Total 100,0
Reino Unido
Reino Unido
das peças que discutiram o papel das instituições europeias caracterizaram-nas ne-
gativamente. Em Portugal, o retrato foi positivo (17% positivo e 18,9% negativo).
Utilizando esta escala valorativa, verificamos também que na Alemanha
(16,2% positivo e 11% negativo) e na Holanda (42,9% positivo e 28,8% negativo) o
retrato foi positivo. Em França (9,3% positivo e 7,1% negativo) e na Bélgica (33,3%
positivo e 29,3% negativo) as instituições europeias foram retratadas de forma
mais negativa, tal como aconteceu no Reino Unido em que 7,8% dos retratos foram
positivos e 2,5% negativos.
Apesar de esta escala nos ajudar a perceber se o retrato é tendencialmente po-
sitivo ou negativo, não podemos deixar de notar que no plano geral o retrato foi aci-
ma de tudo ao centro, sendo que as caracterizações mais fortes foram pouco
utilizadas em todos os países.
No que concerne ao retrato do BCE, a narrativa mediática foi bem mais
favorável.
Nos países sob assistência a categoria central para lidar com a crise foi a mais
frequente em todos os países. Por outro lado, percentagens de “nenhum” foram
mais altas do que na variável anterior.
Somando as categorias como acima mencionámos, e aqui tratando as catego-
rias atuando dentro do seu enquadramento legal como positiva e atuando na fron-
teira ou fora do seu enquadramento legal como negativa, podemos verificar que o
retrato positivo foi o mais frequente em Portugal (16,1%), Itália (18,5%) e Espanha
(19%).
Nos países do norte e centro o retrato mais frequente foi também o de central
para lidar com a crise, e o retrato do BCE foi maioritariamente positivo em todos os
países (12,7% em França, 13% Alemanha, 28,9% na Holanda e 22,3% na Bélgica)
No Reino Unido, a categoria mais frequente também foi central para lidar
com a crise e o retrato no geral foi mais positivo do que negativo, mas este país dis-
tingue-se mais uma vez com o maior número de peças que não faziam qualquer
retrato.
Podemos assim dizer que o papel das instituições europeias foi mais discuti-
do do que o retrato do BCE, devido às altas percentagens de artigos sem qualquer
tipo de retrato desta instituição. França e Reino Unido destacaram-se pela falta de
abordagem do papel destas instituições, nas tuas varáveis.
Quando as instituições foram tratadas, o BCE mereceu mais destaque positi-
vo em relação à sua atuação perante a crise do que as instituições da União
Europeia.
Reino Unido
o retrato das medidas de austeridade nos países sob assistência foi maioritaria-
mente positivo.
O retrato mais frequente na Alemanha, França e Holanda foi sucesso/zona
euro preservada e na Bélgica o retrato foi ainda mais positivo com as medidas a se-
rem tidas enquanto uma forma de mais integração. Nesta categoria de países o re-
trato das medidas de austeridade foi também maioritariamente positivo.
No Reino Unido a percentagem de peças sem retrato foi mais uma vez a mais
alta, sendo que o retrato geral foi também positivo e a categoria mais frequente a de
mais integração.
Considerações finais
Quem ganha e quem perde com a crise foi uma questão na qual encontramos
uma importante semelhança entre as várias narrativas mediáticas: foi generaliza-
do o silêncio sobre os beneficiados pela crise e foi extenso o debate sobre os mais
prejudicados — que foram sempre países ou regiões em particular.
Nos países do sul não houve qualquer tipo de dúvida sobre os principais pre-
judicados pela crise (a região países do sul e países que a compõem), mas na segun-
da categoria de países houve posições diferentes: Holanda, Bélgica e França
indicaram também os países do sul e mais especificamente a Grécia como prejudi-
cados pela crise, apesar de os media franceses darem primordial destaque aos paí-
ses da UE em geral. A Alemanha ocupa aqui o lugar de exceção por se nomear a si
mesma como o país mais prejudicado pela crise. O Reino Unido discutiu os custos
da crise sofridos por todos numa visão sobre os acontecimentos que se pode inter-
pretar enquanto mais “externa”, o que terá a ver não apenas com o lugar “distante”
que o país ocupa perante a ideia de “Europa”, mas também com o facto de os jor-
nais escolhidos para análise, especialmente o Financial Times que representou cerca
de 43% da amostra, serem jornais de referência internacional e por isso produtores
de um discurso de visão mais global e menos “doméstica”.
O enquadramento geográfico europeu foi o mais frequente em todos os paí-
ses sob assistência e no eixo franco-alemão, o que remete para uma noção comum
de que a crise é um problema coletivo. No entanto na Holanda, na Bélgica e no Rei-
no Unido a categoria mais frequente foi a de país estrangeiro o que denota que estes
países se encontram mais longe do “epicentro” da crise.
A descrição das instituições europeias também não registou grandes diferen-
ças entre os países sob assistência, os países do norte e centro e o Reino Unido. Fo-
ram geralmente negativamente retratadas, mas acima de tudo pouco eficazes
perante a crise. O papel do BCE não foi um assunto frequente em nenhuma das nar-
rativas, mas foi geralmente retratado enquanto positivo.
Curiosamente as consequências das medidas de austeridade não foram alvo
de grande caracterização, nem mesmo nos países sob assistência aonde têm sido
implementadas. Foram retratadas enquanto maioritariamente positivas em todos
os países.
Houve uma maior coerência interna entre os países sob assistência do que
entre os países da segunda categoria nos discursos sobre a crise. Verificamos que
França se aproximou algumas vezes do discurso nos países do sul, o que não se
torna uma surpresa devido às particularidades do seu sistema mediático, já des-
crito por Hallin e Mancini (2004) como tendo muitas características do sistema
mediterrânico.
Verificamos uma maior divergência entre os discursos das três categorias
no que concerne às origens da crise e aos principais prejudicados pela mesma e
uma grande concordância nos protagonistas, na responsabilidade coletiva de
resolver o problema, no papel das instituições e nas soluções mais indicadas
para levar a cabo essa resolução. Nos media britânicos as percentagens de peças
sem resposta às perguntas feitas foram especialmente altas e o discurso distan-
ciou-se um pouco dos outros países nomeadamente no que respeita às origens
da crise.
COBERTURA MEDIÁTICA DA CRISE NA EUROPA 197
Amostra
Aamostra foi construída de forma a incluir um vasto grupo de meios e órgãos ilustrati-
vos mas não necessariamente representativos do universo dos media no campo jorna-
lístico. A sua definição reflete o balanço de um conjunto de fatores, incluindo a
caracterização dos setores de media que oferecem notícias (cujas métricas são diferen-
tes entre si), o número de meios ou empresas de informação jornalística em cada setor,
o número e características dos programas de notícias dentro de cada um desses meios
e ainda dados relativos a audiência/tiragem. Desta forma não foi possível optar por
um método estritamente aleatório nem tão pouco por uma fórmula pré-determinada.
Conforme vimos anteriormente, foram considerados os setores ditos tradici-
onais para a análise das big stories disseminadas pelos órgãos de comunicação em
1 http://www.journalism.org/news_index_methodology.
199
200 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
RTP1 21,6
RTP2 4,5
SIC 22,7
TVI 25,7
SICN 21h
RTPN 24h
TVI24 21h
TVI 20h
SIC 20h
RTP2 22h
RTP1 20h
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Set Out Nov Dez
SICN 21h
RTPN 24h
TVI24 21h
TVI 20h
SIC 20h
RTP2 22h
RTP1 20h
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Set Out Nov Dez
Imprensa
Correio da Manhã
Diário de Notícias
Jornal de Notícias
Público
Jornal i
SOL
Expresso
Económico
Jnegócios
DN
JN
Jornal I
CM
Público
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
N.º de exemplares
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Set Out Nov Dez
SOL
Expresso
Económico
Jnegócios
DN
JN
Jornal i
CM
Público
0 20 40 60 80 100 120
N.º de exemplares
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Set Out Nov Dez
Rádio
Rádio Comercial
Antena 1
Rádio Renascença
TSF
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Set Out Nov Dez
Rádio Comercial
Antena 1
Rádio Renascença
TSF
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Set Out Nov Dez
— TSF: 7h, 8h, 9h, 12h, 13h, 17h, 18h, 19h, 20h
— Rádio Renascença: 7h, 8h, 9h, 12h, 13h, 17h, 18h, 19h
METODOLOGIA 207
— Antena 1: 7h, 8h, 9h, 12h, 13h, 14h, 17h, 18h, 19h, 20h
— Rádio Comercial: 7h, 8h, 9h, 18h, 19h, 20h
Considerados estes fatores a amostra para o ano 2012 ficou distribuída conforme se
verifica na figura 9.7
Em 2013, com a revisão da amostra referida anteriormente, houve um ligeiro
aumento do n.º de emissões consideradas na amostra (figura 9.8).
A unidade de contexto para o setor rádio é constituída pelo conjunto das notí-
cias destacadas na abertura do noticiário (headlines), notícia de abertura e eventuais
notícias de última hora (breaking news). A unidade de análise, tal como para
a televisão, é a peça noticiosa (cf. capítulo Televisão).o ????????RFM
era a estação TSF de trinta em trinta minutos. Apesar da diversida-
de de emissoras de ro peso dos jornais económicos
Toda a análise do Projeto Jornalismo e Sociedade (2012-2013) teve como refe-
rência temporal a cobertura semanal (com início na segunda-feira, excluindo fins
de semana e feriados, com exceção do jornal Expresso cuja publicação é ao sábado).
No ano de 2012 foram codificadas 19.011 peças noticiosas. 6493 provenientes
da imprensa (34,1%), 8459 da televisão (44,5%) e 4072 da rádio (21,4%). Os dados
obtidos em 2012 permitiram efetuar alguns testes metodológicos no sentido de
avaliar a possibilidade de reduzir a dimensão da amostra sem, no entanto, perder a
consistência dos resultados. Neste sentido foi possível, em 2013, atingir o mesmo
objetivo com uma amostra de 16.218 peças, das quais 6220 (38,4%) na imprensa,
7008 (43,2%) na televisão e 2990 (18,4%) na rádio.
O Projeto Jornalismo e Sociedade publicou, ainda, relatórios semanais com
uma análise mais aprofundada da notícia da semana (http://estadodasnotici-
as.info.) e mensais com a identificação das 3 notícias que se destacaram no mês
(http://futurojornalismo.org/).
Principais conceitos
As big stories podem ser por sua vez agrupadas de acordo com as diferentes
narrativas que se constroem em seu torno, variações do tema ou novos enredos.
Estas “subcategorias” constituem a variável substoryline, termo igualmente adota-
do sem tradução do PEJ News Cover Index. São as substorylines que, de certa forma,
fazem manter o foco de atenção mediática numa determinada big story ao longo do
tempo.
A operacionalização do conceito assenta num conjunto de regras cujos objeti-
vos são: aproximar a observação empírica à lógica jornalística de hierarquização
das notícias de acordo com a importância percecionada (pelas redações) e captar a
visibilidade pública de uma determinada notícia por via do destaque que lhe é
dado e posicionamento nos respetivos suportes (manchete na imprensa, abertura
de noticiários na TV e rádio).
A base para medir o peso de uma notícia na televisão e na rádio é o tempo enquanto
na imprensa é o espaço ocupado por texto e imagem/grafismo. O Projeto Jornalis-
mo e Sociedade considera, por isso, as duas medidas isoladamente. Na televisão e
rádio, é codificada a duração da notícia em segundos. Na imprensa é codificada a
área ocupada pela unidade de análise, incluindo elementos gráficos.
Género jornalístico
Fonte da informação
Assunto
2010 com o título Telejornais em exame (Silveira e Shoemaker, 2010) e que por sua vez
reflete a metodologia desenvolvida por Pamela Shoemaker num estudo internaci-
onal sobre noticiabilidade, em 2006.
As categorias assim definidas permitem refletir sobre o espectro temático do
conteúdo jornalístico mas correspondem, obviamente, a uma construção analítica que
se impõe como uma camada interpretativa sobre esse produto. As regras metodológi-
cas que orientam a classificação de uma notícia num determinado tema promovem as-
sim indicadores da tematização do conteúdo noticioso. Desta forma, considerou-se
uma vasta lista de itens de tematização e subcategorização dos temas traduzidos em
22 assuntos principais subdivididos em 92 subcategorias temáticas.
Enfoque geográfico
O enfoque geográfico tem como objetivo identificar e classificar as notícias que são
enquadradas geograficamente e, para estas, perceber qual o seu ponto de referên-
cia numa escala que varia entre o enfoque local/regional até ao enfoque internacio-
nal (sem qualquer referência a Portugal). Pretende-se com esta variável perceber
qual o peso das notícias nacionais face à dimensão local/regional assim como a rela-
ção das notícias europeias e internacionais (fora da Europa) com a dimensão nacio-
nal. Ou seja, as dimensões consideradas pelo Projeto Jornalismo e Sociedade
procuram identificar notícias que são: essencialmente nacionais com referência a
países ou instituições europeias; essencialmente europeias ou internacionais (resto
do Mundo) mas com algum grau de referência a Portugal; europeias ou internacio-
nais sem qualquer referência a Portugal.
Definir o que é uma agenda noticiosa num determinado momento apresenta vários
desafios e riscos. Começamos pelos desafios.
O primeiro desafio foi o de pensar em como é que um projeto de investigação
pode ser ao mesmo tempo um espaço de desenvolvimento de linhas de pesquisa
académicas em diálogo com os seus pares e um lugar de encontro entre investiga-
dores e jornalistas. Lugar onde os jornalistas se podem olhar num espelho, visua-
lizando o seu produto final — as notícias — não observando apenas o caso
excecional, a notícia que não corresponde às regras da ética e da deontologia, mas
todas as notícias, de todos os meios. Esse desafio foi atingido, através da monitori-
zação das notícias dos principais meios de comunicação portugueses entre 2012 e
2013, continuando essa análise, ainda hoje, no barómetro de notícias do ISCTE-IUL
numa lógica semanal de alargamento temporal da base de dados sobre notícias em
Portugal.
O segundo desafio foi o de tentar criar uma rotina, entre os profissionais e
alunos de jornalismo, de refletirem sobre o seu trabalho e sobre o que os meios de
comunicação diariamente colocam à disposição dos cidadãos em forma de notíci-
as. Foi assim lançado um repto aos profissionais e aos estudantes de comunicação
social para participarem num conjunto de encontros nas várias universidades e po-
litécnicos, com cursos de comunicação social, no sentido de discutirem e refletirem
sobre o estado atual do jornalismo português. Desses encontros e do tipo de com-
promisso público aí ocorrido resultou uma larga adesão de alunos e profissionais
ao debate das questões criadas no relacionamento entre jornalismo e sociedade,
com impactos para além do momento do debate público, nomeadamente nos curri-
cula dos cursos de jornalismo, mas também nas rotinas das redações. Embora sen-
do de difícil mensuração de resultado, o que sobressai do trabalho realizado é o
facto de ele representar o início das fundações de um trabalho de debate recorrente
dentro das instituições educativas e jornalísticas portuguesas.
O terceiro desafio, este de carácter mais ambicioso, consistiu em disponibili-
zar aos cidadãos informação atualizada sobre a produção noticiosa em Portugal.
Para tal criou-se um blogue com atualização semanal que esteve ativo durante todo
211
212 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
o período de execução do projeto e que, com o seu término, transitou numa primei-
ra fase para as páginas do jornal Público de sábado e a partir de março de 2016 para a
página web da TVI24. Neste ponto o projeto adotou a premissa da informação como
bem público, pedra fulcral no desenvolvimento das sociedades democráticas.
Assumindo a responsabilidade social de, ao centralizar e disponibilizar dados so-
bre a agenda noticiosa portuguesa numa base semanal, permitir aos cidadãos a uti-
lização da informação como ferramenta de conhecimento sobre a realidade e
instrumento de interpelação e de reflexão no espaço público.
Vamos aos riscos. Pensar na agenda noticiosa portuguesa é convocar um con-
junto de meios de comunicação com diversidade de objetivos e lógicas concorren-
ciais entre si, seja na sua história, nos seus modelos de negócio ou ainda nas
práticas profissionais de cada redação. Esse era um risco calculado para o qual nos
munimos de um conjunto de reflexões dos estudos da comunicação, nomeada-
mente através da parceria com o Project for the Excellence in Journalism. Desse
trabalho em conjunto resultou a criação de um conjunto de instrumentos metodo-
lógicos capazes de darem conta da diversidade dos meios, seja através de análises
extensivas como de análises intensivas. O principal instrumento — codebook — pos-
sibilitou a criação de bases de dados semanais, mensais e anuais, que pela sua ex-
tensão — dois anos de codificação ininterruptos — nos permitiu traçar um retrato
do estado das notícias num tempo singular — o período de intervenção financeira
externa na sociedade portuguesa.
Um segundo risco assumido pelo projeto e pelos jornalistas mais diretamente
envolvidos foi o de discutir os princípios do jornalismo atuais, ou seja, aqueles que
na mente dos protagonistas são assumidos mas raras vezes vertidos numa lista de
princípios de práticas e representações para além do que se faz impelido pela roti-
na do quotidiano. Com a colaboração de um vasto leque de participantes, sob a co-
ordenação de Adelino Gomes e Gustavo Cardoso, foi proposta e apresentada uma
Carta de Princípios do Jornalismo na Era da Internet a qual tem ainda certamente
um vasto caminho a percorrer na sociedade portuguesa, mas que cujo caminho se
iniciou com o Projeto Jornalismo e Sociedade.
O tempo deste projeto e o tempo decorrido desde o seu terminus foram tem-
pos de mudança rápida e de aparência vertiginosa que pode ser entendido como de
difícil comparação com outros períodos da história recente portuguesa. As ques-
tões levantadas ao longo deste livro foram muitas e as tentativas de resposta tam-
bém. No entanto, há questões que sabemos não terem sido respondidas na sua
totalidade e que é necessário recuperar numa tentativa de contribuir para a sua res-
posta. Essas questões são, por exemplo, se estamos perante uma agenda noticiosa
dos tempos da crise? Se essa agenda é produto de um contexto específico do meio
ambiente mediático exterior às redações e por isso mesmo irrepetível, ou não? E,
por último, será que o regresso à normalidade democrática acarretará o regresso à
normalidade da agenda noticiosa? Os próximos seis pontos constituem uma tenta-
tiva de resposta, possível, para essas inquietações na relação entre o jornalismo fei-
to em Portugal e a sociedade portuguesa.
CONCLUSÃO 213
Aanálise realizada ao longo desses dois anos de pesquisa demonstrou que o uso indis-
criminado de notícias de meios de comunicação internacionais, muitas vezes com re-
curso a uma simples tradução sem divulgação da origem da notícia, se tornou numa
norma da prática jornalística. De algum modo pareceu termos vivido durante os anos
de crise a demonstração do pressuposto do mimetismo social dos media (Bourdieu,
1997), dando razão à crítica de que uma vez publicado algo nos media a probabilidade
de repetição é exponencial, mesmo que não seja possível acrescentar nada mais ao que
já foi publicado por outros meios de comunicação social. A crise manifestou-se no
campo das notícias também através da reprodução parcial de notícias já publicadas e
apresentadas depois como novas em outros meios.
CONCLUSÃO 215
E agora?
250
204
200
150
133
100
69
60
50
23
18
11
5
0
2014 (N.º = 16652) 2015 (N.º =20752)
Figura 10.1 Referências a candidatos no lead da notícia nos principais destaques noticiosos (2014-2105)
Figura 10.2 Análise do sentido da opinião nas redes sociais — Comparação Marcelo Rebelo de Sousa
e Aníbal Cavaco Silva (6 a 10 de março de 2016)
1 Neste estudo foram consideradas, num primeiro momento, as redes Twitter, Facebook (limita-
do a páginas públicas), Tumblr e ainda uma vasta amostra de páginas Web de conteúdos infor-
mativos. A amostra é limitada à língua portuguesa e a mensagens publicadas em Portugal. Num
segundo momento a pesquisa foi limitada ao Twitter, dada a disponibilidade de todas as publi-
cações publicadas em Portugal, cobrindo assim todo o universo de conversação, incluindo twe-
ets, retweets e mentions. Foram recolhidos dados entre os dias 6 e 10 de março. Informação
detalhada sobre o algoritmo que suporta a plataforma Crimson-Hexagon pode ser consultada
no artigo “A method of automated nonparametric content analysis for social science”
(http://gking.harvard.edu/files/abs/words-abs.shtml).
218 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
3K
2K
Post
1K
0
6 7 8 9 10
Blogues (312) Fóruns (149) News (886) Facebook (232) Twitter (2509) Comments (18)
Figura 10.3 Análise da origem de referências a Marcelo Rebelo de Sousa em diferentes meios online
(6 a 10 de março de 2016)
Positivo/Apoio 52%
Negativo/Protesto 25%
Sarcástico/Irónico 5%
Infomativo/Notícia 18%
Figura 10.4 Análise do sentido da opinião nas redes sociais — Marcelo Rebelo de Sousa
(6 a 10 de março de 2016)
A primeira é que o novo ciclo político pós-troika e pós-crise não se afigura ca-
paz de constituir uma rutura com a lógica de noticiabilidade que vivemos durante
os anos de chumbo da intervenção de 2012-2014.
A segunda ideia chave é a de que a noticiabilidade embora iniciada pelos jor-
nalistas é cada vez mais mediada por um grupo de cidadãos, comunicadores em
rede (Cardoso et al., 2015), que através das redes sociais remixa, ressignifica, recria
as notícias e as faz circular num processo que cada vez mais parece ser dominado
pelas mensagens ressignificadas e pelas pessoas, cidadãos ou jornalistas, que as co-
mentam e menos pelos detentores dos meios e produtores das mensagens iniciais.
Há um novo reequilíbrio em formação nas redes da comunicação da sociedade em
rede, também em Portugal. No entanto, a questão é que esse reequilíbrio não está
ainda finalizado e, portanto, não podemos ainda dizer que relação entre jornalismo
e sociedade se está a formar, se uma relação mais distópica ou utópica? Se se
CONCLUSÃO 219
caminha para dar mais voz aos poderosos, no caminho para um jornalismo menos
livre e mais próximo dos vários poderes políticos e económicos, mais preso do po-
pulismo das redes sociais? Ou um jornalismo capaz de voltar a ser um mediador de
novos reequilíbrios entre cidadãos e poderes, mantendo o seu poder de escrutínio
sobre os outros poderes, nos quais se inclui o próprio jornalismo.
Anexo
Projecto Jornalismo e Sociedade
Codebook
Regras comuns
Setor mediático
1. Imprensa
2. Televisão
3. Rádio
221
222 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
1. Notícia de abertura:
a. A notícia de abertura constitui o primeiro tema a ser abordado por completo no bloco
noticioso, esteja ele antes do headline (como é o caso da RTPN) ou depois.
PROJECTO JORNALISMO E SOCIEDADE 223
b. Codifica-se o tema que abre o jornal — ou seja, se esse tema for dividido em mais de
uma peça, elas são todas codificadas pois compõem o tema de abertura. Exemplo: a
primeira peça da grelha é sobre a possível candidatura do António Costa à liderança
do PS e a segunda é um comentário do Seguro a essa possibilidade. Apesar do assunto
estar dividido em duas peças, ambas são codificadas.
2. Headlines: analisar todas as peças que são referidas nos headlines apresentados antes
e/ou durante todo o bloco noticioso.
a. Quando o headline refere o assunto de um ponto de vista geral, codificam-se todas as
peças presentes na grelha relacionadas com o assunto. Exemplo: no headline temos:
“Entra em vigor o pagamento dos subsídios em duodécimos”; na grelha, existe uma
peça que explica a situação em geral, outra sobre a opinião das frentes sindicais e ou-
tra ainda que aborda o ponto de vista dos trabalhadores do setor público. Neste caso,
todas as peças serão codificadas.
b. Quando o headline refere uma questão específica dentro de um tema, só se codifica a
peça referente a essa questão/perspetiva. Exemplo: no headline “Frentes sindicais criti-
cam a solução do pagamento dos subsídios em duodécimos”. Neste caso, codifica-se
apenas a 2.ª peça, referente exclusivamente à opinião das frentes sindicais sobre o
assunto.
c. Quando, no headline, o assunto é referido no geral mas também é destacada uma ques-
tão específica, codifica-se a peça geral e a peça que aborda a questão/perspetiva espe-
cífica que foi referida no headline. Exemplo: no headline ouvimos/vemos: “Entra em
vigor o pagamento dos subsídios em duodécimos. Pagamento será obrigatório no se-
tor público”. Neste caso, codifica-se a peça geral e a que diz respeito à situação dos tra-
balhadores no setor público, ignorando a que diz respeito à opinião das frentes
sindicais.
3. “Últimas horas”: codificam-se as notícias que são apresentadas como última hora.
Formato (TV/rádio)
1. Peça editada
Peça que foi editada e que normalmente apresenta uma notícia factual, em voz off e com
recurso a imagens de arquivo ou recolhidas por equipas de reportagem. É apresentada
pelo pivô que em alguns casos também faz um comentário após o final.
2. Reportagem
É uma forma de história que recorre, por vezes, a imagens de arquivo mas tem como
fatores distintivos o facto de se realizar in locus (muitas vezes com deslocação do
repórter ao exterior) e a presença do repórter (normalmente no início e no final da peça).
O repórter costuma “assinar” a peça. A reportagem tem uma narrativa própria
(introdução, desenvolvimento e conclusão).
224 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
3. Direto
Qualquer peça que ocorra em direto (com a legenda indicativa ou anúncio do pivô) deve
ser classificada como direto, mesmo que possa tratar-se de entrevista ou ocorrer após
uma reportagem (situação muito comum). Nestes casos, mesmo podendo tratar-se de
um desenvolvimento ou atualização da notícia anterior deve classificar-se como uma
nova peça.
4. Entrevista
A entrevista ocorre em estúdio ou em local previamente trabalhado do ponto de vista da
encenação. Pressupõe dois papéis (entrevistador-entrevistado) e decorre num ritmo de
pergunta/resposta acerca de diversos temas.
5. Opinião
A opinião diverge da entrevista por normalmente tratar de um tema nos seus
desenvolvimentos. O papel do entrevistador é muitas vezes executado pelo pivô. Ocorre
normalmente em estúdio e o comentador é normalmente um(a) especialista no assunto
em discussão.
6. Relato do pivô
Peça em que o pivô apresenta a informação com ou sem imagens de vídeo sobrepostas.
Não há outros intervenientes na peça. São normalmente curtas.
99. Outros
2. Reportagem
Contém factos e histórias, recolhidos pelo jornalista do medium e normalmente
identificado como tal.
3. Entrevista
Normalmente identificada pelo formato pergunta/resposta e identificada como tal no jornal.
5. Editorial
Categoria jornalística que normalmente está identificada no jornal e é assinada pelo
diretor ou vice-diretor.
Quando uma carta, por algum motivo, obtém valor-notícia para ter destaque na 1.ª
página do jornal.
7. Crónica
A crónica é um género híbrido que se encontra na interseção entre o jornalismo e a
literatura. É de cariz opinativo. Na narrativa cronista pode encontrar-se um misto de
funções de linguagem (poética, denotativa). Pode expressar os sentimentos do autor.
8. Autopromoção
Deve considerar-se autopromoção quando o jornal, de alguma forma, fala de si próprio.
Inclui oferta de objetos ou adereços, suplementos ou ainda a distribuição de filmes,
livros, etc.
9. Publicidade (explícita)
Espaço vendido para publicidade de qualquer entidade exterior ao jornal e sem
referência a este.
* TV e rádio:
1. Categoriza-se como “1.ª notícia” a “notícia de abertura”, esteja ela ou não referida no he-
adline. Quando o primeiro assunto/tema de abertura acaba por se desdobrar em várias
PROJECTO JORNALISMO E SOCIEDADE 227
peças (como no exemplo que demos na “Determinação das peças a analisar”), anali-
sam-se todas essas peças e todas são categorizadas como 1.ª peça. Isto permitirá assinalar
o tema de abertura de forma a não excluir os desenvolvimentos a que este for sujeito.
2. As peças seguintes:
a. As peças constantes nos headlines são categorizadas como “Seguintes”;
b. As peças de “Última hora” são codificadas como “Última hora”.
1. Local/regional
Quando pelo menos 50% da notícia é abordada de forma circunscrita ao local da
ocorrência. (e.g., um acidente ou incêndio numa rua da Covilhã. O desemprego no
Alentejo).
2. Nacional
Quando pelo menos 50% da notícia tem um enfoque que ultrapassa o âmbito da
ocorrência ou acontecimento (e.g., uma decisão na AR, uma notícia focada num
problema da agricultura, em geral, durante a visita do Presidente da República a uma
região).
Local/regional
1. Norte (exceto Grande Porto)
2. Grande Porto
3. Centro
4. Lisboa e Vale do Tejo (Grande Lisboa)
5. Alentejo
6. Algarve
7. Região Autónoma da Madeira
8. Região Autónoma dos Açores
88. Não se aplica
99. Não identificado/vários
Europa
1. Áustria
2. Bélgica
3. Bulgária
4. Chipre
5. República Checa
PROJECTO JORNALISMO E SOCIEDADE 229
6. Dinamarca
7. Estónia
8. Finlândia
9. França
10. Alemanha
11. Grécia
12. Hungria
13. Irlanda
14. Itália
15. Letónia
16. Lituânia
17. Luxemburgo
18. Malta
19. Países Baixos
20. Polónia
21. Roménia
22. Eslováquia
23. Eslovénia
24. Espanha
25. Suécia
26. Reino Unido
27. Rússia
28. Albânia
29. Andorra
30. Arménia
31. Azerbaijão
32. Bielorrússia
33. Bósnia Herzegovina
34. Geórgia
35. Listenstaine
36. Moldávia
37. Mónaco
38. Noruega
39. São Marino
40. Sérvia
41. Suíça
42. Ucrânia
43. Kosovo
88. Não se aplica
99. Não identificado/vários
Internacional_rec
1. Afeganistão
2. Angola
230 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
3. Arábia Saudita
4. Argentina
5. Austrália
6. Brasil
7. Canadá
8. China
9. Coreia do Norte
10. Coreia do Sul
11. Cuba
12. Egito
13. EUA
14. Filipinas
15. Guiné-Bissau
16. Índia
17. Indonésia
18. Irão
19. Iraque
20. Japão
21. Nova Zelândia
22. Peru
23. Senegal
24. Síria
25. Somália
26. Sudão do Sul
27. Turquia
28. Venezuela
29. Honduras
30. Ilhas Caimão
31. Ilhas Seicheles
32. Macau
33. Malawi
34. Maldivas
35. Marrocos
36. México
37. Moçambique
38. Myanmar
39. Palestina
40. Papua Nova Guiné
41. Paquistão
42. Síria
43. Timor-Leste
44. Tunísia
45. Zâmbia
46. Líbia
88. Não se aplica
PROJECTO JORNALISMO E SOCIEDADE 231
Internacional_outro
(variável aberta)
Big story_rec
Definição: Estórias que surgem várias vezes retratadas nos media durante o período de
tempo analisado. Ex.: eleições na Madeira. Procedimento: se pelo menos 50% da peça se
referir um grande tema, dever-se-á codificar enquanto tal. Se a peça apenas se referir ao
mesmo grande tema mas desenvolver um outro, deverá ser este último a ser tido em
conta.
Nota: consultar o documento disponível no Google Docs para conhecer as big stories já
criadas.
Big story_outro
Variável aberta, para novas estórias. Negociado e definido em equipa.
Substoryline_rec
Descrição: desenvolvimento da big story. Uma sub-story implica, normalmente, a
abordagem de uma big story sob um novo ângulo.
Definição: trata-se de acontecimentos que vão atualizando um grande tema. Ex: eleições
na Madeira (grande tema); PSD ganha eleições na Madeira (subtema).
Substoryline_outro
Variável aberta, negociada e definida em equipa
Resumo
Resumo do conteúdo da peça (e.g., título e subtítulo de uma notícia na imprensa).
Variável aberta.
Assunto
Determina o tipo de assunto abordado na peça:
1. Política interna
101. Atividades da Presidência da República
102. Atividade legislativa /parlamentar
103. Ações do executivo/governamentais
104. Atividades dos órgãos próprios das regiões autónomas
105. Atividades dos órgãos próprios das autarquias (juntas de freguesia e câmaras
municipais)
106. Atividades de comissões e grupos de trabalho
107. Relações interpartidárias
108. Relações internas de um partido político/governo
109. Declarações e atividades de políticos individuais
199. Outro
2. Política europeia
201. Atividade política das instituições pertencentes à UE (comissão, parlamento,
conselho, associações)
202. Atividades/declarações de políticos individuais que representem os órgãos
próprios da UE
203. Atividades/declarações de políticos individuais de um país da UE
PROJECTO JORNALISMO E SOCIEDADE 233
3. Política internacional
301. Atividade política de organizações internacionais (i.e., ONU)
302. Atividades/declarações de políticos individuais
303. Atividades dos partidos políticos
304. Legislação financeira e monetária
305. Negociações e/ou acordos diplomáticos
306. (retirado)
307. Tensões e disputas internacionais (conflitos sem uso de armas)
308. Guerra entre países (conflito que envolva utilização de armas).
Nota: entra nesta categoria o conflito Israel / Palestina.
309. Embargos
399. Outro
4. Eleições e campanhas
401. Eleições internas nacionais (legislativas, presidenciais)
402. Eleições internas regionais (regiões autónomas)
403. Eleições internas locais (autárquicas)
404. Eleições internas partidárias
405. Eleições para órgãos comunitários
406. Eleições internas de países estrangeiros (UE e Internacional)
499. Outras
810. Pensões (reformas, complemento solidário para idosos, pensão por invalidez, etc.)
811. Outros apoios sociais (licença de maternidade, paternidade, RSI, baixas, etc.)
812. Segurança Social (situação financeira da SS, etc.)
899. Outro
9. Participação e protestos
901. Greve
902. Manifestações e protestos
903. Iniciativas/atividades de grupos ou movimentos sociais
904. Declarações de elementos do grupo ou movimento social
905. Protestos individuais
906. Petições
907. Conflitos com violência
999. Outro
11. Ambiente
1101. Ameaças ao ambiente (i.e., poluição)
1102. Atividades de organizações ambientalistas/proteção de animais
1103. Políticas e medidas gerais sobre o ambiente
1104. Conservação da natureza e recursos naturais
1199. Outro
13. Saúde
1301. Políticas e medidas legais sobre saúde
1302. Situação do sistema nacional de saúde
236 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
14. Educação
1401. Políticas e medidas gerais sobre educação
1402. Situação do sistema nacional de ensino
1403. Matrículas e propinas
1404. Provas e exames
1405. Comunidade escolar (inclui professores, alunos, encarregados de educação, etc.)
1406. Curricula escolares
1407. Violência escolar (e.i., bullying, agressões professor/aluno)
1499. Outro
16. Comunicação
1601. Indicadores, relatórios e estatísticas sobre o setor dos media
1602. Regulação dos media
1603. Serviço público
1604. Jornalistas e jornalismo
1605. Jornais
1606. Televisão
1607. Rádio
1608. Internet e redes sociais virtuais
1609. Telefones /telemóveis
1610. Publicidade ao próprio meio/grupo mediático (i.e., anúncio a novos programas,
conteúdos programáticos, etc.)
1611. Censura e liberdade de expressão
1699. Outros
18. Cultura
1801. Música
1802. Teatro, ballet, dança
1803. Cinema e fotografia
1804. Literatura e poesia
1805. Pintura e escultura
1806. Eventos promovidos pelo medium ou outro medium
1807. Festivais (i.e., festivais de verão, de cinema, etc.)
1808. Museus e património histórico
1809. Arquitetura e arte urbana
1810. Moda e design
1811. Atividade/iniciativas de artistas
1812. Medidas legais e políticas culturais
1899. Outro
19. Desporto
1901. Medidas políticas e legais sobre desporto
1902. Competições/resultados desportivos
1903. Atletas individuais/treinadores/árbitros/clubes desportivos
1904. Ligas e associações desportivas
1905. Sócios/apoiantes/claques
1999. Outro
20. Desastres/acidentes/epidemias
2001. Desastres naturais (sismos, cheias, derrocadas, etc.)
2002. Incêndios
2003. Epidemias (i.e., sida)
2004. Acidentes de transportes
2005. Acidentes de trabalho
2006. Acidentes domésticos
2099. Outro
238 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
21. Religião
2101. Cerimónias religiosas/de culto
2102. Declarações e atividades de líderes espirituais
2103. Declarações e atividades de fiéis/crentes
2199. Outro
22. Diversos
2201. Histórias sobre celebridades
2202. Histórias de vida (cidadão comum)
2203. Comemorações (i.e.
Dia do Pai, Sexta-feira Santa, etc.)
2204. Histórias sobre animais/ viagens
2205. Histórias místicas ou sobrenaturais
2206. Prémios e homenagens
2207. Horóscopos
2208. Jogos, apostas, sorteios (i.e., Totoloto, Euromilhões)
2209. Boletim meteorológico
2210. Temas sobre o clima (i.e., inverno mais frio da década, a pior seca)
2211. Trânsito
2212. Gastronomia
2213. Sondagens, inquéritos e opiniões
2214. Concursos de beleza
2299. Outro
Outro assunto
Sugestão de um “assunto” caso tenha optado por “outros” em qualquer uma das
categorias.
Esfera de atuação
1. Política Interna /política nacional
101. Presidente da República
102. Presidente da Assembleia da República
103. Primeiro-ministro
104. Ministros, secretários de Estado
105. Líderes parlamentares/líderes políticos
106. Deputados
107. Militantes políticos
108. Presidentes de governos regionais
109. Membros de governos regionais
110. Presidentes e outros membros de autarquia
111. Dirigentes de órgão reguladores
112. Responsáveis de comissões especializadas e grupos de trabalho
113. Ex-detentores de cargos políticos
114. Comentadores e especialistas em política nacional
199. Outros
2. Política europeia
201. Presidente da Comissão Europeia
202. Comissários europeus;
203. Presidente, responsáveis e líderes do Parlamento Europeu;
204. Deputados europeus
205. Responsáveis do Conselho da Europa
206. Responsáveis de comissões especializadas e grupos de trabalho, de âmbito
europeu
207. Ex-detentores de cargos políticos
208. Embaixadores/funcionários diplomáticos
209. Presidentes/monarcas e família real
210. Primeiros-ministros
211. Ministros e secretários de Estado
212. Parlamentares e líderes políticos
213. Comentadores e especialistas em política europeia
299. Outros
3. Política internacional
301. Chefes de Estado (presidentes/ monarcas e família real)
302. Ministros de governos estrangeiros (primeiros- ministros/ ministros)
303. Porta-vozes de governos / parlamentares e líderes políticos
304. Responsáveis de organizações internacionais (ONU, NATO, OPEP, etc.)
305. Voluntários e funcionários de organizações internacionais
306. Responsáveis/porta-vozes de movimentos não reconhecidos/rebeldes
307. Responsáveis militares estrangeiros ou de forças internacionais
308. Embaixadores/funcionários diplomáticos
240 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
4. Eleições e campanhas
401. Candidatos a eleições internas nacionais
402. Candidatos a eleições internas regionais
403. Candidatos a eleições internas locais
404. Candidatos a eleições internas partidárias
405. Candidatos a eleições para órgãos comunitários
406. Candidatos a eleições em países estrangeiros (Europa e internacional)
407. Militantes/apoiantes
408. Ex-candidatos
409. Comentadores e especialistas em questões eleitorais
499. Outro
9. Participação e cidadania
901. Grevistas
902. Manifestantes/participantes em protestos
903. Fundadores de grupos/movimentos sociais
904. Peticionários
905. Comentadores e especialistas em questões de participação e cidadania
999. Outros
1099. Outros
11. Ambiente
1101. Dirigentes de organizações ambientalistas
1102. Dirigentes de associações de proteção de animais
1103. Cidadãos ativos/ membros de organizações ambientalistas e afins
1104. Responsáveis por infraestruturas ligadas ao ambiente
1105. Cientistas e investigadores
1106. Comentadores e especialistas em questões ambientais
1199. Outros
13. Saúde
1301. Responsáveis do Sistema Nacional de Saúde (diretores hospitalares, etc.)
1302. Bastonários das ordens do médicos, farmacêuticos, enfermeiros, psicólogos
1303. Responsáveis de organizações não lucrativas ligadas à saúde
1304. Associações de utentes
1305. Médicos e enfermeiros
1306. Utentes/pacientes
1307. Investigadores e cientistas da área da saúde
1308. Comentadores e especialistas em questões de saúde
1309. Responsáveis do setor farmacêutico
1399. Outros
14. Educação
1401. Presidentes de organismos de educação (Conselho de Avaliação, Conselho
Nacional de Educação, etc.)
1402. Diretores de escolas,
1403. Responsáveis de associações de encarregados de educação
1404. Professores
1405. Funcionários do setor
1406. Estudantes
1407. Encarregados de educação
1408. Comentadores e especialistas em questões de educação
1499. Outros
16. Comunicação
1601. Responsáveis do setor dos media (membros de conselho de administração, etc.)
1602. Presidente e membros de órgãos superiores da ERC;
1603. Diretores de informação dos vários media
1604. Responsáveis por serviços de new media
1605. Jornalistas
1606. Dirigentes de associações profissionais do setor
1607. Utentes e utilizadores
1608. Comentadores e especialistas em media
1699. Outros
18. Cultura
1801. Dirigentes e responsáveis por organismos culturais (museus, etc.)
1802. Realizadores, encenadores, compositores e outros criativos responsáveis
por projetos
1803. Bailarinos
1804. Atores
1805. Músicos e cantores
1806. Pintores e escultores
1807. Especialistas e estudiosos
1808. Dirigentes de associações recreativas, pequenos teatros, grupos folclóricos, etc.
1809. Comentadores especializados em questões culturais
1810. Criadores de moda/design
1811. Criadores/promotores de produtos de beleza
1812. Modelos e manequins
1813. Comentadores e especialistas em questões de moda/beleza
1814. Escritores, poetas e cronistas
244 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
19. Desporto
1901. Dirigentes de federações, confederações e ligas desportivas
1902. Dirigentes de clubes desportivos
1903. Atletas/jogadores
1904. Treinadores
1905. Árbitros
1906. Sócios/apoiantes
1907. Responsáveis por claques
1908. Comentadores e especialistas em questões do desporto
1999. Outros
20. Desastres/acidentes/epidemias
2001. Vítimas de desastres naturais
2002. Vítimas de incêndios
2003. Vítimas de epidemias
2004. Vítimas de acidentes de transporte
2005. Vítimas de acidentes de trabalho
2006. Vítimas de acidentes domésticos
2007. Testemunhas dos acidentes
2008. Responsáveis por acidentes
2099. Outros
22. Diversos
2201. Organizadores de eventos
2202. Participantes em eventos
2203. Celebridades
2204. Cidadão comum identificado
2205. Cidadão comum não identificado
2206. Vencedores de concursos/jogos
2207. Comentadores em questões de celebridades, horóscopos, amor, etc.
2299. Outros
Esfera de atuação_Outro1
Variável aberta, 100 caracteres.
PROJECTO JORNALISMO E SOCIEDADE 245
Comentadores (TV/rádio/jornais)
Quando o formato da peça se tratar de uma opinião, deve-se indicar quem é o
comentador daquela peça — ou seja, deve-se referir o seu nome.
Esta nova variável é aplicável quer aos comentadores residentes como aos restantes.
Anotações
Espaço para o codificador registar dados de observação que considere relevantes para a
equipa de investigação.
Variável aberta, 255 caracteres.
Referências bibliográficas
AICEP — Portugal Global (2013), Evolução das Exportações Portuguesas de Bens e Serviços em
2012 (Janeiro a Dezembro), Direção de Informação, disponível em
http://www.exittalks.pt/exportacoes.pdf.
Ala-Fossi, Marko (2005), Saleable Compromises: Quality Culture in Finnish and US Commercial
Radio, Tampere, Tampere University Press.
Amable, B., E. Guillaud, e S. Palombarini (2012), “Changing french capitalism: political
and systemic crisis in France”, Journal of European Public Policy, pp. 1168-1187.
Anderson, Benedict (1993), Imagined Communities: Reflections on the Origin and Spread of
Nationalism, Londres, Verso.
Beck, Ulrich, Anthony Giddens e Scott Lash (2000), Modernidade Reflexiva: Política, Tradição
e Estética no Mundo Moderno, Oeiras, Celta Editora.
Bennet, W. Lance e Robert M. Entman (2001), Mediated Politics: Communication in the Future
of Democracy, Nova Iorque, Cambrige University Press.
Bennet, W. Lance (2001), News: the Politics of Illusion, University of Washington.
Blumler, Jay G. e Dennis McQuail (1968), Television in Politics: its Uses and Influence,
Londres, Faber and Faber.
Blumler, Jay G. (1970), “The effects of political television”, em J.D. Halloran (org.), The
Effects of Television, Londres, Panther.
Blumler, Jay G. e Michael Gurevitch (1995), The Crisis of Public Communication, Routledge
Blumler, Jay G. e Dennis Kavanagh (1999), “The third age of political communication:
influences and features”, Political Communication, 16 (3), pp. 209-230.
Bondebjerg, e Madsen, Peter (ed.) (2008), Media, Democracy and European Culture, Intellect
Books
Boorstin, Daniel (1992 [1962]), The Image: a Guide to Pseudo-Events in America, Nova Iorque,
Vintage Books.
Bosco, A., e S. Verney (2012), “Electoral epidemic: the political cost of economic crisis in
southern Europe, 2010-11", South European Society and Politics, 17 (2).
Bourdieu, Pierre (1997), Sobre a Televisão, Oeiras, Celta Editora.
Brants, Kees (1998), “Who’s afraid of infotainment?”, European Journal of Communication, 13
(3), pp. 315-335.
247
248 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE
Calhoun, Craig (1992), Habermas and the Public Sphere, Cambridge (MA), The MIT Press.
Cardoso, Gustavo, António Firmino da Costa, Ana Rita Coelho e André Pereira (2015),
A Sociedade em Rede em Portugal: Uma Década de Transição, Coimbra, Almedina.
Cardoso, Gustavo, Sandro Mendonça, Tiago Lima, Miguel Paisana e Marta Neves (2014),
A Internet em Portugal: Sociedade em Rede 2014, Lisboa, OberCom.
Cardoso, Gustavo (org.) (2013), A Sociedade dos Ecrãs, Lisboa, Edições Tinta-da-China.
Cardoso, Gustavo e Espanha, Rita (orgs.) (2012), Sociedade em Rede: A Internet em Portugal
2012, OberCom, disponível em
http://www.obercom.pt/client/?newsId=548&fileName=sociedadeRede2012.pdf.
Carmo, Renato e João Rodrigues (2009), “Prefácio: da ficção do mercado livre à realidade
do Estado”, em Renato Miguel do Carmo e João Rodrigues, Onde Pára o Estado:
Políticas Públicas em Tempos de Crise, Lisboa, Edição Nelson de Matos.
Castells, Manuel (2009), Communication Power, Oxford, Oxford University Press.
Chalániová, Daniela (2013), “Turn the Greek: how the eurozone crisis changes the media
image of Greeks and what do visual representations of Greeks tell us aboute
european identity?”, Perspectives, 21 (1), pp. 5-30.
Chambers, Simone (2003), “Deliberative democracy theory”, Annual Review of Political
Science, 6, pp. 307-326.
Chouliaraki, Lilie (2013), “Mediating vulnerability: cosmopolitanism and the public
sphere”, Media, Culture & Society, 35 (1), pp. 105-112.
Colombo, Clelia, Carol Galais e Aina Gallego (2012), “Internet use and political attitudes
in Europe”, em Eva Anduiza, Michael James Jensen e Laia Jorba (eds.), Digital Media
and Political Engagement Worldwide: a Comparative Study, Cambridge, Cambridge
University Press, pp.102-117.
Costa, O., A. Freire, e J. B. Pilet, (2012), “Political representation in Belgium, France and
Portugal: MPs and their constituents in very different political systems”,
Representation, 48 (4).
Curran, James (2005), “What democracy requires of the media”, em Geneva Overholser
e Kathleen Jamieson (orgs.), The Press: Institutions of American Democracy, Oxford,
Oxford University Press, pp. 120-140, disponível em
http://www.johnkeane.net/pdf_docs/teaching_sources/curran/curr_media.pdf.
Debord, Guy, (2012 [1967]), A Sociedade do Espectáculo, Lisboa, Edições Antígona.
Dimitrakopoulos, D. (2012), “The Greek elections of 2012 and Greece’s future in the
eurozone”, European Policy Analysis, 7.
Esser, Frank (1999), “Tabloidization of news: a comparative analysis of anglo-american and
german press journalism”, European Journal of Communication, 14 (3), pp. 291-324.
Eurostat (2012), Europe in Figures Yearbook 2012, Luxemburgo, Publications Office of the
European Union.
Evans, J., e G. Ivaldi (2012), “Forecasting the FN presidential vote in 2012", French Politics,
10 (1), MacMillan Publishers, pp. 44-67.
Foucault, M., e R. Nadeau (2012), “Forecasting the 2012 french presidential election”,
PS: Political Science & Politics, 45 (2).
Fraser, Nancy (1992), “Rethinking the public sphere: a contribution to the critique of
atually existing democracy’, em Craig Calhoun (ed.), Habermas and the Public Sphere,
Cambridge (MA), MIT Press, pp. 109-42.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 249
Kirchheimer, Otto (1990), “The catch-all party”, em Peter Mair (ed.), The West European
Party System, Nova Iorque, Oxford University Press.
Klinger, Ulrike (2013), “Mastering the art of social media”, Information, Communication &
Society, 16 (5), pp. 717-136.
Kovach, Bill, e Tom Rosenstiel (2007), The Elements of Journalism: What Newspeople Should
Know and the Public Should Expect, Nova Iorque, Three Rivers Press.
Kruikemeier, Sanne, Guda van Noort, Rens Vliegenthart, e Claes de Vreese (2013),
“Getting closer: the effects of personalized and interactive online political
communication”, European Journal of Communication, 28 (1), 53-66.
Krzyzanowski, Michal (2009), “Europe in crisis?”, Journalism Studies,10 (1), Routledge,
pp. 19-35.
Kuhn, R. (2012), “The media and the 2013 presidential elections”, Modern & Contemporary
France, 21 (1), pp. 1-16.
Kurtz, Howard (1993), Media Circus: the Trouble with America’s Newspapers, Nova Iorque,
Time Books.
Lichtenberg, Judith (1993), Democracy and the Mass Media, Nova Iorque, Cambridge
University Press.
Lilleker, Darren G., e Nigel A. Jackson, (2010), “Towards a more participatory style of
election campaign: the impact of web 2.0 on the UK General Election”, Policy &
Internet, 2 (3), pp. 69-98.
Lisi, Marco (2011), “A profissionalização das campanhas em Portugal: partidos e
candidatos nas eleições legislativas de 2009", Revista de Ciências Sociais e Políticas, 2,
pp. 109-128.
Luhmann, Niklas (1995), Social Systems, Stanford, Stanford University Press.
Luhmann, Niklas (2000), The Reality of the Mass Media, Stanford, Stanford University Press.
Lunt, Peter, e Sonia Livingstone (2013), “Media studies’ fascination with the concept of the
public sphere: critical reflections and emerging debates”, Media, Culture & Society, 35
(1), pp. 87-96.
Margolis, Michael, e David Resnick (2000), Politics as Usual: The Cyberspace Revolution,
Thousand Oaks (CA), Sage.
McQuail, Denis (2003), Media Accountability and Freedom of Publication, Oxford, Oxford
University Press.
Mesquita, Mário (2004), O Quarto Equívoco: o Poder dos Media nas Sociedades Contemporâneas,
Coimbra, Minerva.
Monteiro, Sandra (2011), “O austeritarismo, mutação do pensamento único”, em José Reis
e João Rodrigues (orgs.), Portugal e a Europa em Crise: para Acabar com a Economia de
Austeridade, Lisboa, Actual Editora.
Mouzelis, Nicos (2008), Modern and Postmodern Theorizing: Bridging the Gap, Cambridge,
Cambridge University Press.
Murray, Gregg R., e Anthony Scime (2010), “Microtargeting and electorate segmentation:
data mining the american national election studies”, Journal of Political Marketing, 9
(3), pp. 143-166.
Norris, Pippa (ed.) (1997), Politics and the Press: the News Media and Their Influences,
Londres, Lynne Publishers.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 251
Spyropoulou, P. (2013), “Hard times to win: explaining the rise of the radical left in the
last elections in Greece”, ECPR General Conference, Bordéus, 4-7 de setembro.
Strauss, Anselm (1987), Qualitative Analysis for Social Scientists, Cambridge, Cambridge
University Press.
Strauss, Anselm, e Juliet Corbin (1998), Basics of Qualitative Research: Techniques and
Procedures for Developing Grounded Theory, Thousand Oaks, Sage Publications.
Teles, Nuno (2011), “A crise, a dívida e o meio de a conjurar” em José Reis e João
Rodrigues (orgs.), Portugal e a Europa em Crise: para Acabar com a Economia de
Austeridade, Lisboa, Actual Editora.
Thompson, John (2000), Political Scandal: Power and Visibility in the Media Age, Cambridge,
Polity Press.
Traquina, Nelson (2002), Jornalismo, Lisboa, Quimera.
Tuchman, Gaye (1973), “Making news by doing work: routinizing the unexpected”,
American Journal of Sociology, 79 (1).
Tuchman, Gaye (1978), Making News: a Study in the Construction of Reality, Nova Iorque,
The Free Press.
Vergeer, Maurice, Liesbeth Hermans e Steven Sams (2011), “Online social networks and
micro-blogging in political campaigning: the exploration of a new tool and a new
campaign style”, Party Politics, 19 (3), pp. 477-500.
Vieira, Jorge et al. (2013), “Ecrãs em rede: televisão, tendências e prospectivas”, em
Gustavo Cardoso (org.), A Sociedade dos Ecrãs, Lisboa, Edições Tinta-da-China.
Wolton, Dominique (1994), Elogio do Grande Público: Uma Teoria Crítica da Televisão, Porto,
Edições Asa.
Zoonen, Liesbet Van (2005), Entertaining the Citizen, Oxford, Rowman & Littlefield
Publishers.