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Jornalismo em Tempo de Crise

Gustavo Cardoso, Susana Santos e Décio Telo (organizadores)

JORNALISMO EM TEMPO
DE CRISE

LISBOA, 2016
© Gustavo Cardoso, Susana Santos e Décio Telo (organizadores), 2016

Gustavo Cardoso, Susana Santos e Décio Telo (organizadores)


Jornalismo em Tempo de Crise

Primeira edição: dezembro de 2016


Tiragem: 200 exemplares

ISBN: 978-989-8536-58-7
Depósito legal:

Composição em carateres Palatino, corpo 10


Conceção gráfica e composição: Lina Cardoso
Capa: Lina Cardoso
Foto da capa: José Nuno Pereira
Sugestão de capa: Ricardo Rodrigues
Revisão de texto: Ana Valentim
Impressão e acabamentos: Realbase

Este livro foi objeto de avaliação científica

Reservados todos os direitos para a língua portuguesa,


de acordo com a legislação em vigor, por Editora Mundos Sociais

Editora Mundos Sociais, CIES, ISCTE-IUL, Av. das Forças Armadas, 1649-026 Lisboa
Tel.: (+351) 217 903 238
Fax: (+351) 217 940 074
E-mail: editora.cies@iscte.pt
Site: http://mundossociais.com
Índice

Índice de figuras e quadros.................................................................................... vii


Sobre os autores........................................................................................................ ix

Introdução.................................................................................................................. 1

Parte I | Enquadramento, análise e tendências

1 Enquadramento da análise ........................................................................... 5


Gustavo Cardoso, Susana Santos e Décio Telo

2 Análise comparativa 2012/2013. Grandes tendências de cobertura


do jornalismo português ............................................................................... 17
Gustavo Cardoso, Susana Santos e Décio Telo

Parte II |Análise setorial

Síntese metodológica ..................................................................................... 37


Decio Telo, Susana Santos e Gustavo Cardoso

3 Imprensa. Diferentes jornais, notícias diferentes: política,


economia, justiça e desporto e a transversalidade da crise
governativa....................................................................................................... 41
Susana Santos, Décio Telo, Gustavo Cardoso, Carlota Bicho e Eloísa Silva

4 Televisão. Entre o futebol e a(s) crise(s) orçamentais, de governo


e desemprego................................................................................................... 79
Susana Santos, Décio Telo, Gustavo Cardoso, Carlota Bicho e Eloísa Silva

5 Rádio. Variedade temática e geográfica nas grandes histórias ............. 111


Susana Santos, Décio Telo, Gustavo Cardoso, Carlota Bicho e Eloísa Silva
vi JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Parte III | Caso a Caso

6 “Uma visita sem história”. Análise da cobertura do jornal Público


à visita de Estado da chanceler Angela Merkel a Lisboa ....................... 129
Susana Santos, Gustavo Cardoso, Décio Telo e Eloísa Silva

7 Mediatizações da crise europeia. A cobertura das eleições


legislativas gregas e presidenciais francesas pelas
televisões nacionais........................................................................................ 149
Susana Santos, Gustavo Cardoso, Décio Telo e Carlota Bicho

8 Cobertura mediática da crise na Europa. Análise comparativa


entre as narrativas sobre a crise nos países sob assistência,
nos países do norte e centro da Europa e no Reino Unido .................... 175
Susana Santos, Gustavo Cardoso e Décio Telo

9 Metodologia..................................................................................................... 199
Décio Telo, Gustavo Cardoso e Susana Santos

10 Conclusão. Uma agenda noticiosa em crise .............................................. 211


Gustavo Cardoso, Susana Santos e Décio Telo

Anexo | Projecto Jornalismo e Sociedade. Codebook...................................... 221

Referências bibliográficas...................................................................................... 247


Índice de figuras e quadros

Figuras

2.1 Principais categorias temáticas em 2012 e 2013 (em %)............................ 20


2.2 Principais notícias sobre a Europa por dimensão dos artigos de jornal
(em %)................................................................................................................ 22
2.3 Principais notícias sobre a Europa por duração na televisão e na rádio,
(em %)................................................................................................................ 22
2.4 Principais notícias de 2013 por dimensão dos artigos de jornal
(em %)................................................................................................................ 26
2.5 Principais notícias de 2013 por duração na televisão (em %) .................. 26
2.6 Principais notícias de 2013 por duração na rádio (em %) ........................ 27
2.7 Principais notícias de 2013 por manchete (imprensa) ou abertura
(rádio e televisão) (em %)................................................................................. 29
3.1 Evolução das tiragens, vendas e circulação gratuita dos jornais
(milhões), 1994 a 2012 ..................................................................................... 43
3.2 Evolução do suporte de publicação (n.º), 2004 a 2012............................... 46
3.3 Principais notícias em 2012 na imprensa de referência (em %)............... 49
3.4 Principais notícias em 2013 na imprensa de referência (em %)............... 50
3.5 Principais notícias de 2012 na imprensa económica (em %).................... 59
3.6 Principais notícias em 2013 na imprensa económica (em %)................... 60
3.7 Temas na imprensa económica (em %)........................................................ 64
3.8 Protagonistas na imprensa económica (em %)........................................... 65
3.9 Principais notícias de 2012 na imprensa popular (em %)......................... 66
3.10 Principais notícias de 2013 na imprensa económica (em %).................... 67
3.11 Temas da imprensa popular (em %) ............................................................ 72
3.12 Protagonistas na imprensa popular (em %)................................................ 73
4.1 Visionamento diário de televisão por espetador, 2001 a 2013 ................. 81
4.2 Perfil de audiência da TV generalista por género (em %),
2004 a 20113 ...................................................................................................... 82
4.3 Perfil de audiência da TV generalista por idade (em %), 2004 a 2013.... 83

vii
viii JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

4.4 Perfil de audiência da TV generalista por região (em %), 2004 a 2013... 83
4.5 Perfil da audiência com TV cabo por género (em %), 2004 a 2013.......... 84
4.6 Perfil da audiência com TV cabo por idade (em %), 2004 a 2013 ............ 84
4.7 Evolução do investimento publicitário (milhares de euros),
2002 a 2013 ........................................................................................................ 86
5.1 Evolutivo de audiência acumulada de véspera (em %)............................ 113
5.2 Evolutivo do share de audiência médio — Top 5 ........................................ 114
5.3 Audiência acumulada de véspera (em %) por género, 2013.................... 114
5.4 Audiência acumulada de véspera (em %) por faixa etária, 2013 ............ 115
6.1 Número de notícias publicadas por dia em Portugal sobre a visita
de Angela Merkel a Lisboa ............................................................................ 136
6.2 Cobertura jornalística do Público à visita de Angela Merkel a Lisboa ... 137
6.3 Número de referências à Europa, Portugal, Alemanha, Espanha
e Grécia por dia de cobertura ........................................................................ 138
6.4 Categorias de análise do discurso ................................................................ 139
6.5 Força das associações entre categorias ........................................................ 140
9.1 Share global em 2011 ....................................................................................... 201
9.2 Distribuição de jornais televisivos a codificar em 2012 ............................ 202
9.3 Distribuição de jornais televisivos a codificar em 2013 ............................ 202
9.4 Circulação de jornais diários de informação geral em 2011..................... 204
9.5 Distribuição de edições consideradas na amostra em 2012 ..................... 204
9.6 Distribuição de edições consideradas na amostra em 2013 ..................... 205
9.7 Distribuição de boletins de notícias considerados na amostra
em 2012.............................................................................................................. 206
9.8 Distribuição de boletins de notícias considerados na amostra
em 2013.............................................................................................................. 206
10.1 Referências a candidatos no lead da notícia nos principais destaques
noticiosos (2014-2105) ..................................................................................... 216
10.2 Análise do sentido da opinião nas redes sociais — comparação
Marcelo Rebelo de Sousa e Aníbal Cavaco Silva
(6 a 10 de março de 2016) ............................................................................... 217
10.3 Análise da origem de referências a Marcelo Rebelo de Sousa
em diferentes meios online (6 a 10 de março de 2016)............................... 218
10.4 Análise do sentido da opinião nas redes sociais — Marcelo Rebelo
de Sousa (6 a 10 de março de 2016) ............................................................. 218

Quadros

2.1 As 20 notícias com maior destaque nos meios de comunicação social


portugueses nos setores de televisão, rádio e imprensa escrita em 2012
e em 2013........................................................................................................... 18
2.2 As cinco principais notícias sobre a crise europeia por género
jornalístico na TV e na rádio (em %) ............................................................ 23
ÍNDICE DE FIGURAS E QUADROS ix

2.3 As cinco principais notícias sobre a crise europeia por género


jornalístico na imprensa escrita (em %) ....................................................... 24
2.4 As 20 notícias com maior destaque nos meios de comunicação
social portugueses nos setores de televisão, rádio e imprensa
escrita em 2013 ................................................................................................. 25
2.5 As cinco principais notícias de 2013 por género jornalístico na TV
e na rádio (em %)............................................................................................. 28
2.6 As cinco principais notícias de 2013 por género jornalístico
na imprensa escrita (em %)............................................................................ 28
2.7 As cinco principais notícias de 2013 por fonte de informação
principal da notícia (em %)............................................................................ 30
2.8 As cinco principais notícias de 2013 por enfoque geográfico (em %) .... 31
2.9 As cinco principais notícias de 2013 por tema (em %).............................. 32
2.10 As cinco principais notícias de 2013 pelos cinco protagonistas
por ordem decrescente ................................................................................... 34
3.1 Evolução anual da audiência média de publicações de informação
geral (em %), 2004 a 2013 ............................................................................... 43
3.2 Evolução da circulação paga por edição no segmento dos diários
de informação geral (n.º), 1993 a 2013.......................................................... 44
3.3 Evolução da circulação paga por edição no segmento dos diários
de economia e finanças (n.º), 1994 a 2013.................................................... 45
3.4 Evolução das quotas de mercado no segmento dos diários
de informação geral, 1993 a 2013 .................................................................. 45
3.5 Evolução das quotas de mercado no segmento dos diários
de economia e finanças, 1994 a 2013 ............................................................ 46
3.6 Evolução do investimento publicitário, 2002 a 2013
(milhares de euros).......................................................................................... 47
3.7 Taxa de variação anual do investimento publicitário por meio (em %) 48
3.8 Área das notícias em 2012 e 2013 na imprensa de referência (em %) .... 51
3.9 Formatos na imprensa de referência (em %) .............................................. 52
3.10 Cobertura geográfica na imprensa de referência (em %) ......................... 52
3.11 Cobertura geográfica regional na imprensa de referência (em %) ......... 54
3.12 Cobertura geográfica europeia na imprensa de referência (em %) ........ 55
3.13 Cobertura geográfica internacional na imprensa de referência (em %) 56
3.14 Temas na imprensa de referência (em %).................................................... 57
3.15 Protagonistas na imprensa de referência (em %)....................................... 58
3.16 Área das notícias em 2012 e 2013 na imprensa económica (em %)......... 60
3.17 Formatos na imprensa económica (em %) .................................................. 61
3.18 Cobertura geográfica geral na imprensa económica (em %) ................... 62
3.19 Cobertura geográfica europeia na imprensa económica (em %) ............ 63
3.20 Cobertura geográfica internacional na imprensa económica (em %)..... 63
3.21 Área das notícias em 2012 e 2013 na imprensa popular (em %) ............. 67
3.22 Formatos na imprensa popular (em %) ....................................................... 68
3.23 Cobertura geográfica na imprensa popular (em %) .................................. 69
3.24 Cobertura geográfica regional na imprensa popular (em %) .................. 69
x JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

3.25 Cobertura geográfica europeia na imprensa popular (em %) ................. 70


3.26 Cobertura geográfica internacional na imprensa popular (em %) ......... 71
4.1 Evolução média anual do share global entre 2002 a 2013 (em %)............ 81
4.2 Tempo médio diário de emissão por género de programa
(em minutos), 2012-2013................................................................................. 82
4.3 Alojamentos cablados em Portugal (n.º), 2000 a 2013 ............................... 85
4.4 Evolução dos assinantes de DTH (TV por satélite) por NUTS II
(em %), 2001 a 2013 ......................................................................................... 85
4.5 Evolução dos assinantes de DTH (TV por satélite) por NUTS II
(em %), 2001 a 2013 ......................................................................................... 86
4.6 Taxa de variação anual do investimento publicitário entre 2002
e 2013 (em %).................................................................................................... 87
4.7 As principais notícias nos canais generalistas de televisão em 2012,
(em %)................................................................................................................ 88
4.8 As principais notícias dos canais generalistas de televisão em 2013
(em %)................................................................................................................ 90
4.9 Duração das peças noticiosas nos canais generalistas entre 2012
e 2013 (em %).................................................................................................... 91
4.10 Os formatos nas televisões generalistas em 2012 e 2013 (em %) ............. 92
4.11 As áreas geográficas mais destacadas pelas televisões generalistas
entre 2012 e 2013 (em %) ............................................................................... 93
4.12 As regiões do país nos canais generalistas de televisão entre 2012
e 2013 (em %) ................................................................................................... 94
4.13 Os países europeus mais destacados pelos canais de sinal aberto
entre 2012 e 2013 (em %) ................................................................................ 95
4.14 Os países internacionais (não europeus) mais destacados pelos
canais de sinal aberto em Portugal em 2012 e 2013 (em %) ..................... 96
4.15 Os temas mais destacados nas televisões generalistas em 2012
e 2013 (em %).................................................................................................... 98
4.16 As individualidades mais presentes nos blocos noticiosos
generalistas entre 2012 e 2013 (em %) ......................................................... 99
4.17 As principais histórias noticiosas destacadas pelos canais de
notícias em 2012 (em %) ................................................................................. 100
4.18 As histórias noticiosas mais destacadas pelos canais de notícias
em 2013 (em %) ................................................................................................ 101
4.19 Duração das peças noticiosas nos canais de notícias em 2012
e 2013 (em %).................................................................................................... 102
4.20 Formatos jornalísticos nos canais de notícias em 2012 e 2013 (em %).... 103
4.21 As áreas geográficas mais destacadas pelos canais de notícias em
2012/2013 (em %) ............................................................................................. 104
4.22 As regiões do país mais presentes nos blocos noticiosos dos canais
de notícias em 2012 e 2013 (em %)................................................................ 105
4.23 Os países europeus mais destacados pelos canais de notícias em
2012 e 2013 (em %) ......................................................................................... 105
ÍNDICE DE FIGURAS E QUADROS xi

4.24 Os países internacionais (não europeus) mais presentes nos canais


de notícias entre 2012 e 2013 (em %) ............................................................ 106
4.25 Os temas mais relevantes nos canais de notícias nacionais entre 2012
e 2013 (em %) ................................................................................................... 107
4.26 Os protagonistas mais destacados nos canais de notícias entre 2012
e 2013 (em %).................................................................................................... 108
5.1 Evolutivo de audiência acumulada de véspera (em %) de 2002 a 2013 . 113
5.2 Evolução do investimento publicitário, 2002 a 2013
(milhares de euros).......................................................................................... 115
5.3 Taxa de variação anual do investimento publicitário por meio (em %) 116
5.4 As principais notícias na rádio em 2012 (em %) ........................................ 116
5.5 Principais notícias na rádio em 2013 (em %) .............................................. 117
5.6 Duração das peças jornalísticas nas rádios portuguesas em 2012/2013
(em %)................................................................................................................ 118
5.7 Taxa de variação anual do investimento publicitário por meio (em %) 119
5.8 A cobertura geográfica na rádio (em %)...................................................... 120
5.9 A cobertura geográfica das regiões do país na rádio (em %)................... 120
5.10 A cobertura geográfica dos países europeus na rádio (em %)................. 121
5.11 A cobertura geográfica dos países internacionais na rádio (em %) ........ 122
5.12 Principais temas em foco na rádio (em %) .................................................. 123
5.13 Protagonistas mais referidos na rádio (em %)............................................ 125
7.1 Distribuição das notícias analisadas nas televisões nacionais
das eleições legislativas gregas de 2012....................................................... 152
7.2 Distribuição das notícias analisadas nas televisões nacionais
das eleições presidenciais francesas de 2012 .............................................. 152
7.3 Coocorrências entre a formação/resultados eleitorais e os restantes
códigos desenhados para a análise .............................................................. 154
7.4 Mediatização do posicionamento ideológico dos partidos
anti/pró-sistema ............................................................................................... 156
7.5 Resultados das eleições parlamentares de 6 de junho de 2012
na Grécia ........................................................................................................... 157
7.6 Resultado das eleições parlamentares de 17 de junho de 2012 ............... 158
7.7 Mediatização da campanha eleitoral dos partidos anti/pró-sistema...... 158
7.8 Mediatização do posicionamento europeu dos partidos
anti/pró-sistema ............................................................................................... 160
7.9 Mediatização da política económica europeia dos partidos
anti/pró-sistema ............................................................................................... 160
7.10 Coocorrências entre a formação/resultados eleitorais e os restantes
códigos desenhados para a análise .............................................................. 162
7.11 Personalização dos principais candidatos e respetivos
posicionamentos ideológicos......................................................................... 164
7.12 Resultado das eleições presidenciais francesas, Quinta República,
1965-2012........................................................................................................... 165
7.13 Mediatização das campanhas eleitorais dos principais candidatos
às eleições presidenciais francesas ............................................................... 166
xii JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

7.14 Posicionamento à Europa dos principais candidatos às eleições


francesas de 2012 ............................................................................................. 168
7.15 Coocorrências entre o código campanha eleitoral/ formação
de governo e os restantes códigos em análise ............................................ 174
8.1 Origens da crise nos países sob assistência................................................. 181
8.2 Origens da crise nos países do norte/centro ............................................... 181
8.3 Origens da crise no Reino Unido.................................................................. 181
8.4 Responsabilidade nos países sob assistência.............................................. 182
8.5 Responsabilidade nos países do norte/centro ............................................ 182
8.6 Responsabilidade no Reino Unido ............................................................... 182
8.7 Mecanismos (curto prazo) nos países sob assistência............................... 184
8.8 Mecanismos (curto prazo) nos países do norte/centro ............................. 184
8.9 Mecanismos (curto prazo) no Reino Unido ................................................ 184
8.10 Respostas (longo prazo) nos países sob assistência................................... 185
8.11 Respostas (longo prazo) nos países do norte/centro ................................. 185
8.12 Respostas (longo prazo) no Reino Unido.................................................... 185
8.13 Custos da crise nos países sob assistência................................................... 187
8.14 Custos da crise nos países do norte/centro ................................................. 187
8.15 Custos da crise no Reino Unido.................................................................... 187
8.16 Países/regiões prejudicadas pela crise nos países sob assistência .......... 188
8.17 Países/ regiões prejudicadas pela crise nos países do norte/centro ........ 188
8.18 Países/regiões prejudicadas pela crise no Reino Unido............................ 189
8.19 Enquadramento geopolítico nos países sob assistência............................ 189
8.20 Enquadramento geopolítico nos países do norte/centro .......................... 190
8.21 Enquadramento geopolítico no Reino Unido............................................. 190
8.22 Retrato da UE nos países sob assistência .................................................... 191
8.23 Retrato da UE nos países do norte/centro................................................... 191
8.24 Retrato da UE no Reino Unido...................................................................... 191
8.25 Retrato do BCE nos países sob assistência .................................................. 192
8.26 Retrato do BCE nos países do norte/centro ................................................ 192
8.27 Retrato do BCE no Reino Unido ................................................................... 192
8.28 Medidas de austeridade nos países sob assistência .................................. 194
8.29 Medidas de austeridade nos países do norte/centro................................. 194
8.30 Medidas de austeridade no Reino Unido.................................................... 194
Sobre os autores

Gustavo Cardoso é professor catedrático de Ciências da Comunicação no ISCTE-IUL,


investigador associado no CADIS (Centre d’Analyse et d’Interventions Sociolo-
giques) e no College d’Études Mondiales na FMSH em Paris. Membro do Inno-
vation Lab da Annenberg School of Communication da University of Southern
California e do CIES-IUL em Lisboa, foi também professor visitante no IN3, em
Barcelona. Na áreas da avaliação de projetos e estudos da ciência, tem colabora-
do com a FCT e A3ES, com a rede europeia COST, com a European Science Foun-
dation, com o European Research Council e diferentes áreas da European
Research Area-DG Research.
Atualmente dirige o doutoramento de Ciências da Comunicação do ISCTE-IUL,
bem como as pós-graduações em Jornalismo e Organização e Inovação em Mé-
dia do ISCTE-IUL. Ainda no ISCTE-IUL coordena o Laboratório de Ciências da
Comunicação e o Barómetro de Notícias e também o Observatório Europeu do
Jornalismo. É, igualmente, membro do Conselho Diretivo do OberCom (Obser-
vatório da Comunicação) e editor do Journal OBS e preside à Secção de Estatísti-
cas Sociais do CSE.
Entre 1996 e 2006, foi consultor para a Sociedade da Informação da Casa Civil do
Presidente da República Jorge Sampaio e entre 2006 e 2012 foi vice-presidente
não executivo da LUSA — Agência de Notícias.
As suas análises de reflexão sobre a política, economia e cultura portuguesas in-
cluem O Poder de Mudar (Tinta-da-China, 2014) e a organização da obra Inovar
Portugal: 20 ideias para 2020 (Campo das Letras, 2005). Entre as suas obras no do-
mínio dos estudos da comunicação e informação incluem-se Os Media na Socieda-
de em Rede (Fundação Calouste Gulbenkian em Portugal; FGV no Brasil; e UOC
Press em Espanha) e os volumes por si coorganizados Sociedade em Rede: do Co-
nhecimento à Acção Política (INCM, 2006), World Wide Internet: Changing Societies,
Economies and Cultures (Universidade de Macau Press, 2010), Rescaldo e Mudança
(Esfera do Caos e Oxford University Press, 2012), a Sociedade dos Ecrãs (Tin-
ta-da-China, 2013), O livro, O Leitor e a Leitura Digital (Fundação Calouste Gul-
benkian, 2015) e A Sociedade em Rede em Portugal: dez anos de transição (Almedina,

xiii
xiv JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

2015). É desde 2013 membro da rede de investigação “The Crisis of Europe” so-
bre as transformações políticas, culturais e económicas em curso nas sociedades
europeias e na União Europeia.
Cronista regular no jornal Público, publica também semanalmente no site TVI24
o Barómetro de Notícias e a sua análise sobre temas emergentes na atualidade
política, economia e cultural.
Nasceu em 1969 em Lisboa, onde vive. É casado e pai de dois filhos.
Susana Santos é doutorada em Sociologia pelo Instituto Universitário de Lisboa
(ISCTE-IUL). Professora auxiliar convidada do departamento de Sociologia do
Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL). Bolseira de pós-doutoramento
da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) com um projeto dedicado ao es-
tudo da socialização, inserção profissional e identidades das elites transnacio-
nais. Exerceu funções de subcoordenação no Projeto Jornalismo e Sociedade.
Membro do CIES-IUL onde desenvolve atividades de investigação nas áreas
da Sociologia da Comunicação e da Sociologia Política. Exerceu funções de
subcoordenação no Projeto Jornalismo e Sociedade. Tem publicado na Sociolo-
gia, Problemas e Práticas, na Radio Journal: International Studies in Broadcast & Au-
dio Media, na Configurações - Revista de Sociologia, na Portuguese Journal of Social
Science e na Revista de Ciências Sociais e Políticas.
Décio Telo é mestre em Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação pelo
ISCTE-IUL e licenciado em Sociologia e gestor dos Laboratórios de Ciências
da Comunicação e de Culturas Visuais Digitais nessa instituição. É responsá-
vel pela metodologia do Barómetro de Notícias da Semana e coordenador
executivo do projeto. Publicou em coautoria textos relacionados com análise
das notícias, com destaque para “Telejornais no início do século XXI” (Coli-
bri) e “Crise Económica, Políticas de Austeridade e Representação Política”
(Assembleia da República).
Carlota Bicho é licenciada em Ciência Política pela Universidade Católica Portu-
guesa e mestre em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação pelo
ISCTE-IUL. Bolseira de investigação no Projeto Jornalismo e Sociedade, Cen-
tro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES-IUL), entre 2012 e 2014,
onde desempenhou as tarefas de codificação e análise de informação noticio-
sa e apoio à produção de relatórios científicos. Desempenhou depois funções
como gestora de redes sociais no jornal Expresso, atualmente é técnica de co-
municação e cultura no Conselho Nacional de Juventude.
Eloísa Silva é licenciada em Ciência Política pela Universidade da Beira Interior e mes-
tre em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação pelo ISCTE-IUL. Bol-
seira de investigação no Projeto Jornalismo e Sociedade, Centro de Investigação
e Estudos de Sociologia (CIES-IUL), entre 2012 e 2014, onde desempenhou as ta-
refas de codificação e análise de informação noticiosa e apoio à produção de rela-
tórios científicos. Atualmente exerce funções de consultora política na Projectos
Globais.
Introdução

O livro que nas próximas páginas se apresenta e discute tem por base o trabalho
de investigação desenvolvido pelo ISCTE-IUL, nos últimos anos, na análise do
jornalismo.
Foi também esta investigação, apoiada por três fundações portuguesas — a
FLAD, a Fundação EDP e a Fundação Calouste Gulbenkian — que permitiu o nas-
cimento do Laboratório de Ciências da Comunicação do ISCTE, o qual em conjunto
com um grupo de parceiros nacionais do setor da comunicação social deu origem
ao capítulo português do European Journalism Observatory (http://pt.ejo.ch).
Foi também este contexto de investigação que materializou o “Barómetro de
Notícias ISCTE-IUL”, realizado pelos organizadores deste livro, publicado entre
março de 2015 e fevereiro de 2016 semanalmente no jornal Público e, desde essa
data, presente na página online da TVI24.
Inspirado no trabalho de uma fundação norte-americana, o PEW Research
Center, e no seu projeto de monitorização contínua do jornalismo, o Project for the
Excellence in Journalism, o objetivo deste trabalho de investigação foi o de melhor
compreender a atual revolução nas práticas de jornalismo e de produção e distri-
buição informativa em Portugal.1
Para tal partimos de uma visão dos estudos da comunicação em diálogo per-
manente com os seus objetos de estudo — os media (os jornalistas, editores e direto-
res de informação), convidados a participar ativamente no projeto através de
múltiplas apresentações que tiveram lugar e que foram partilhadas através dos si-
tes http://futurojornalismo.org e do blogue http://estadodasnoticias.info.
A escolha do contexto da relação entre jornalismo e sociedade como forma de
estabelecer uma ponte entre cidadãos, académicos e jornalistas partiu do pressu-
posto de que os mediainformativos constituem um aspeto crucial para o fortaleci-
mento da democracia e das práticas democráticas contemporâneas.
Do trabalho, levado a cabo no âmbito do Projeto Jornalismo e Sociedade, re-
sultou uma análise que não se confina apenas aos anos de 2012 a 2014 pois, como

1 http://www.pewresearch.org/about/

1
2 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

veremos na conclusão, ela continua a permitir uma análise informada da atualida-


de noticiosa portuguesa e da relação entre jornalismo e sociedade.
Um olhar crítico sobre o resultado do trabalho desenvolvido na codificação e
análise de notícias rapidamente nos conduzirá até à sua importância para o atual
ciclo da sociedade portuguesa e para o futuro. Para tal basta, por exemplo, ler os ca-
pítulos sobre a mediatização da crise na Europa, ou sobre a análise da visita de
Angela Merkel a Portugal.
O trabalho apresentado é assim o de partilhar conhecimento, com futuros e
atuais analistas e cientistas associados aos fenómenos do estudo da comunicação e
do jornalismo, bem como o de produzir uma reflexividade crítica, assumindo os
autores um papel ativo de contributo para a mudança do mundo da comunicação
social em Portugal.
Os capítulos que constituem este livro permitem tanto um exercício de me-
mória como um ponto de perceção das dinâmicas do jornalismo e dos media, no que
concerne a escolha das temáticas a abordar e destacar.
Este é um livro que nos mostra os desafios que os meios de comunicação soci-
al e os jornalistas enfrentam na atualidade, sobretudo em países onde recentemen-
te a crise assumiu um carácter quase monopolista do debate público, continuando
hoje, anos depois, ainda a influenciar as discussões políticas, económicas, sociais e,
até, culturais na nossa sociedade.
Estamos cientes de que o trabalho aqui partilhado retrata um momento parti-
cular da história contemporânea portuguesa, os anos em que a crise no jornalismo
se encontra ombro a ombro com a crise económica e social, prolongando-se os seus
efeitos muito para além do fim da troika. É, por isso, que este é um livro que propor-
ciona matéria para reflexão sobre estas “duas crises” que se transformaram tam-
bém em parte do nosso quotidiano.

Os autores
Parte I | Enquadramento, análise e tendências
Capítulo 1
Enquadramento da análise

Gustavo Cardoso, Susana Santos e Décio Telo

Os meios de comunicação de massas, em especial a televisão, são ainda a principal


fonte de informação sobre assuntos políticos, económicos e sociais da população
portuguesa (Cardoso, 2013). Os dados do inquérito Sociedade em Rede de 2010 re-
velam que a taxa de penetração da televisão em Portugal é de 99%.1 O consumo de
notícias é o item mais referido entre os inquiridos, com 48,9% em 2010, embora es-
teja em decréscimo se o compararmos com os dados de 2008 em que era o item esco-
lhido por 78,7% dos inquiridos (Vieira et al., 2013: 283). Os dados revelam ainda que
a tendência de decréscimo nos consumos televisivos é maior entre os adolescentes
e os jovens adultos (entre os 15 e os 34 anos) e menor entre os cidadãos mais idosos
(com 65 ou mais anos). O estudo assinala o aumento dos consumos em multiplata-
formas onde a internet desempenha um papel de agregador de informação que
combina os media tradicionais, com a produção de conteúdos independentes e a
partilha em rede.
As características da internet estão em sintonia com as teorias da individuali-
zação, oferecendo a cada utilizador a potencialidade da procura de informação
personalizada de acordo com as suas características e os seus desejos. As teorias da
individualização (Beck, Giddens e Lash, 2000, Mouzelis, 2008) apontam para a
necessidade crescente dos indivíduos para a realização pessoal associada a uma
autonomização do self num processo de individualização e desvinculação das ins-
tituições como a família, os partidos políticos, o mundo do trabalho, gerando uma
quebra de laços e de ligações que transformam o indivíduo num ser atomizado, hi-
perconsciente da sua realidade e dos seus problemas mas afastado do outro e da re-
alidade exterior.
Os media digitais possibilitam ao indivíduo o espaço para que este coloque as
suas opiniões pessoais sobre os mais variados assuntos, com maior ou menor

1 O inquérito Sociedade em Rede desenvolvido pelo CIES-IUL regista desde 2003 a utilização da
internet pela população portuguesa. O último inquérito decorreu em dezembro de 2011, a uma
amostra de 1207 indivíduos representativa da população de Portugal continental. Os indivídu-
os foram selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruzou as variá-
veis sexo, idade e instrução (homens), ocupação (mulheres), região e habitat.

5
6 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

densidade argumentativa, e em vários suportes de imagem, texto e vídeo. Ao con-


trário da participação nos meios de comunicação tradicionais, a internet oferece
uma participação em tempo real, o que muda substancialmente as formas de inte-
ração entre meio e utilizadores. O que acontece na prática é que indivíduos com ca-
racterísticas e interesses semelhantes podem entrar em diálogo desde que tenham
acesso à internet, partilhem o mesmo fórum de discussão e a mesma língua ou pelo
menos entendam a língua utilizada na conversação. Manuel Castells refere-se a
este processo de apropriação individualizada dos mass media como a self mass
communication (Castells, 2009), enfatizando as potencialidades que cada utiliza-
dor individual pode trazer ao sistema mediático pela partilha e pela criação de
conteúdos.
Nos EUA, um estudo do PEW Internet Research Center de 2012 assinala a
crescente importância dos blogues e das redes sociais no acesso, partilha e discus-
são sobre informação política, mas igualmente na criação de redes de pessoas
com visões políticas semelhantes (Rainie e Smith, 2012). Os autores referem no
entanto que este aumento não acontece de forma igual entre todos os estratos po-
pulacionais, sendo que os cidadãos que se declaram democratas e liberais são
aqueles que mais valorizam a internet nos vários itens de informação política e
que os cidadãos com envolvimento político são os que mais tiram proveito das
potencialidades das redes.
Em Portugal, os dados recolhidos no último inquérito Sociedade em Rede
(Cardoso e Espanha, 2012) assinalam que a procura e partilha de informação políti-
ca têm alguma relevância nas atividades dos internautas portugueses. Assim, 30%
afirmam procurar notícias online diariamente, 5% colocam notícias de um jornal,
TV ou rádio no seu perfil nas redes sociais numa base semanal e 1% fá-lo diaria-
mente. A navegação em sites de partilhas de conteúdos como o Youtube é em 14,5%
dos casos realizada para pesquisar notícias e assuntos políticos. Entre os utilizado-
res existe a ideia que a internet é um meio de expressão livre das ideias políticas, as-
sim 71,9% dos utilizadores considera que “na internet é seguro dizer-se o que se
pensa acerca da política”, 87,1% que “as pessoas deveriam ser livres de criticar o
Governo na internet” e ainda 91,5% afirma que “as pessoas devem poder expressar
as suas ideias na internet, mesmo que sejam ideias extremistas”. As afirmações dos
utilizadores de internet portugueses parecem corroborar a ideia transmitida por
alguns autores que a internet assume-se cada vez mais como uma plataforma alter-
nativa de debate e de reflexão em detrimento dos mass media (Cardoso, 2013, Cas-
tells, 2009), não tendo ainda a visibilidade, a credibilidade e a legitimidade para
protagonizarem os debates públicos (Rasmussen, 2013) características atribuídas à
imprensa de referência (McQuail, 2003).
Relativamente à confiança acerca da informação disponível, os internautas
confiam mais na informação televisiva do que na informação acedida na internet,
3,79% contra 3,63% e ainda menos na informação publicada na imprensa com
3,53% (Cardoso e Espanha, 2012).2

2 Valores médios, numa escala de 1 a 5.


ENQUADRAMENTO DA ANÁLISE 7

A questão da confiança na informação remete-nos de novo para a importância


da televisão no panorama noticioso nacional e internacional e para o debate sobre as
transformações do meio televisivo nas últimas décadas. De agente socializador
(Blumler e McQuail, 1968) para os assuntos políticos, considerada como criadora de
“padrões de cidadania efetivos” (Blumler, 1970) nas décadas de 1960 e 1970, a agente
ativo nos fenómenos de despolitização, personalização e de política-espetáculo, a
partir da década de 1990 (Gurevitch, Coleman e Blumler, 2009).
O paradoxo reside no facto de que ao mesmo tempo que a televisão permite a
criação de um público atento e mais participativo ao fenómeno político, apresen-
ta-se enquanto espaço de lazer multicanal e leva esse mesmo público que ajudou a
criar para outras formas de entretenimento com que a política tem que competir.
A propósito do predomínio do entretenimento na informação jornalística, em
particular no ambiente mediático norte-americano, James Curran defendia em
2005 que “tem de existir também um jornalismo inteligente que promova os meca-
nismos da democracia. Se o entretenimento expulsar a cobertura da política e da
administração pública do horário nobre da televisão generalista a democracia tor-
nar-se-á faminta e anorética” (Curran, 2005: 136).
Em Portugal, os dados recolhidos pelo Projeto Jornalismo e Sociedade nos
anos de 2012 e de 2013 demonstram a cada vez maior apetência por assuntos políti-
cos. Em 2012, os temas políticos ocuparam cerca de 21% do total da cobertura noti-
ciosa, excluindo-se as notícias dedicadas a campanhas eleitorais que ocuparam
1,8%. Em 2013, esses valores sobem para 25,3% e apresentam-se claramente como o
tema mais noticiado pelos media nacionais. No entanto, esta maior cobertura não
significa uma maior oferta informativa sobre assuntos políticos, antes sim um cres-
cimento na noticiabilidade da atualidade política que em muitos casos se prende
com o que se pode classificar de infotainment (Brants, 1998), espetacularização
(Blumler, 1999) e a criação de fronteiras cada vez mais ténues entre o hard news e o
soft news (Tuchman, 1978, Reineman et al., 2011).
Vamos por partes, a proposta crítica de James Curran não assenta na ideia de
banir o entretenimento da cobertura noticiosa, aliás como Kees Brants demons-
trou, o infotainment (Brants, 1998) tem o potencial de atrair novos leitores e espeta-
dores e produz efeitos no debate público (Jebril, Albaek e de Vreese, 2013).
No mesmo sentido, autores como John Thompson (2000), Jay Blumler (1999) e
Michael Gurevitch, Coleman e Blumler (2009) assinalam a dramatização cénica da
política com as transmissões televisivas em direto e em horário nobre das conferên-
cias de imprensa do governo, congressos partidários e debates espetacularizados
onde se privilegia a forma (o cenário, os gestos, os sound bites, a figura física) em de-
trimento dos conteúdos ideológicos. Pseudoeventos no entender de Daniel Boors-
tin (1992 [1962]) que evidenciam a espetacularização da política e a personalização
das alternativas políticas em torno dos líderes partidários e da sua imagem
televisiva.
Estas transformações causam um impacto direto na classificação das notícias,
seja de acordo com critérios estritamente jornalísticos (Shoemaker, 2010) como
através da combinação de critérios jornalísticos com critérios de relevância social
(Reineman et al., 2011)
8 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Valores-notícia e noticiabilidade: transformações e permanências

Como se define o que deve ser noticiado? Esta é uma das questões mais debatidas
nas Ciências da Comunicação ao longo do século XX. Vários são os autores e as cor-
rentes teóricas que se dedicaram ao estudo aprofundado dos fatores que levam a
que um determinado acontecimento seja considerado por uma redação/jornalista e
se transforme em notícia com maior ou menor destaque noticioso.
Nelson Traquina em 2002 propõe uma síntese dos vários fatores que são
acionados na construção da notícia, diferenciando-os segundo a ideia de valores-notí-
cia de seleção e valores-notícia de construção (Traquina, 2002: 196 e seg.). Esta síntese
pretende incorporar os contributos de Gaye Tuchman (Tuchman, 1973), Mauro Wolf
(Wolf, 1987) e Herbert Gans (Gans, 1980) entre outros. Apesar da diversidade de crité-
rios, vários são aqueles que ainda que com nomes diferentes designam a mesma coisa
e que apesar da diversidade de períodos estudados nos ajudam a compreender o facto
de que esses critérios pouco têm mudado ao longo dos anos, garantindo uma certa
continuidade entre as várias gerações de jornalistas. Aliás, tal como sublinha Traquina
(2002: 172) o padrão estável e previsível de seleção dos acontecimentos e da sua trans-
formação em notícias são a grande conclusão dos estudos empíricos.
Pierre Bourdieu descreveu este fenómeno de continuidade como um efeito
perverso do mimetismo social entre jornalistas e entre redações. Que têm na cópia
do outro (Bourdieu, 1997), no que o outro considera relevante, no que o outro noti-
cia e coloca em grande destaque a sua característica mais vincada. Mas podemos
igualmente pensar que esta continuidade se deve à existência de agendas domi-
nantes ou hegemónicas (Herman e Chomsky, 1988) que afastam do espaço mediáti-
co os eventos que colocam em causa essa agenda.
Sobre outra perspetiva podemos considerar que a continuidade é alcançada
através de uma profunda socialização profissional dos jornalistas (Tuchman, 1973)
que faz com que cada jornalista incorpore um conjunto de regras não formais ou
pelo menos não formalizadas (no sentido que não estão escritas) no seu habitus jor-
nalístico. Este conjunto de regras que segundo Gaye Tuchman é descrito pelos jor-
nalistas como “perspicácia jornalística” mais não será do que esse processo de
incorporação e de criação de um habitus jornalístico feito de partilha de códigos e de
regras não formais que de forma consciente e inconsciente, porque nem sempre en-
tendida pelo jornalista como reflexiva, o guiam na sua conduta e na sua ação
quotidiana, permitindo-lhe elaborar através de operações simples o que a cada mo-
mento pode ser selecionado como noticiável ou não. Importa realçar que é a simpli-
cidade das operações envolvidas que torna possível a existência e a continuidade
temporal dos critérios de noticiabilidade.
Esta aparente simplicidade que possibilita decisões em tempo real e cada vez
mais em tempo acelerado é fruto de um processo longo e complexo de critérios de
valores-notícia que se entrecruzam e que constituem a história do jornalismo
(Schudson, 1989, Ponte, 2004). Critérios como o extraordinário, a atualidade, a pro-
eminência social, o ilegal, o insólito, todos podem ser definidos como qualidades
duradouras da definição do que é a cada momento noticiável. E ainda valores de
consenso, integração e ordem social que tal como defendeu Herbert Gans se
ENQUADRAMENTO DA ANÁLISE 9

apresentam como valores duradouros no processo de construção noticiosa, ligan-


do o trabalho jornalístico à sociedade onde se insere e interage.
Num esforço de síntese exaustiva Galtung e Ruge propuseram em 1965 doze
valores-notícia: 1) a duração do acontecimento; 2) a amplitude; 3) a clareza; 4) a sig-
nificância; 5) a consonância, enquanto capacidade de encadear o acontecimento em
outros anteriores; 6) o inesperado; 7) a continuidade; 8) a composição, enquanto
equilíbrio entre as partes; 9) a referência a nações mais importantes; 10) a referência
a elites; 11) a personalização, enquanto referência às pessoas envolvidas e a 12) ne-
gatividade, no sentido em que conteúdos negativos são mais rapidamente divulga-
dos do que conteúdos positivos.
Num primeiro olhar verificamos que a grande maioria destes critérios, senão
todos, são convocados para a seleção dos acontecimentos a noticiar nos dias de
hoje. Atendendo ao exemplo das notícias sobre o chumbo do Tribunal Constitucio-
nal a algumas medidas do Orçamento do Estado para 2013 (uma das notícias do
ano de 2013 como veremos no capítulo 3), verificamos que todos os critérios são aci-
onados de forma mais ou menos direta. Assim, este acontecimento teve uma dura-
ção que apesar de curta (a leitura do acórdão foi divulgada em direto por todos os
meios de comunicação através das plataforma de TV, rádio e internet) teve reper-
cussões longas, ocupando o espaço mediático nos dias e semanas seguintes com
grande amplitude e continuidade. Foi apresentada de forma clara e com significa-
do, mas apresentada como inesperada seja no desfecho como nas consequências,
acentuado a negatividade, centrada nas personalidades (juízes do Tribunal Consti-
tucional e agentes políticos do governo e da oposição) e de forma mais distante dos
países europeus que acompanhavam o desenrolar dos acontecimentos.
Nelson Traquina identifica um conjunto de valores-notícia relativos ao con-
texto de produção de notícias: 1) a disponibilidade; 2) o equilíbrio; 3) a visualidade;
4) a concorrência e o 5) dia noticioso.
O primeiro capta a capacidade que o próprio órgão de comunicação tem em
fazer a cobertura do acontecimento. Por exemplo, a conjugação entre crise econó-
mica, menor número de jornalistas numa redação e contenção de custos leva a que
as notícias internacionais tenham perdido valor-notícia nos últimos anos, ou que
em vários casos o recurso à informação veiculada pelas agências de notícias seja o
principal recurso. Como veremos no capítulo 3, a análise comparativa entre os anos
de 2012 e 2013 permite-nos aferir algumas dessas transformações com as cautelas
necessárias de estarmos perante dois anos de profunda crise económica em Portu-
gal sem termos um ano pré-crise como modelo de comparação. No entanto, esta re-
alidade não é alheia ao panorama europeu, em que os estudos vêm assinalando a
menor atenção dada aos temas internacionais, num processo identificado como de
tabloidização da imprensa de qualidade (Esser, 1999).
O equilíbrio caracteriza-se pela atenção que as redações prestam à necessidade
de produzir uma informação diversificada, o que pode levar a que num determina-
do momento uma notícia seja preterida no momento da sua divulgação/publicação
porque o meio de comunicação já concedeu muito espaço ao acontecimento. Esta no-
ção de equilíbrio é difícil de captar quando se analisam apenas as notícias publicadas
e não o processo de construção noticiosa, o que implicaria outras abordagens
10 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

metodológicas de carácter etnográfico que permitissem à equipa de investigação


contacto direto com todo o processo (Tuchman, 1973, 1978).
No entanto, a análise de conteúdo de notícias permite percecionar formas di-
ferentes de entender o equilíbrio. Se encontramos meios em que existe uma relativa
diversidade de notícias em destaque, outros meios tendem a focar-se mais num
conjunto limitado de acontecimentos (cf. capítulo 4, 5 e 6). E ainda certas conjuntu-
ras parecem ser mais favoráveis à delegação do critério de equilíbrio para segundo
plano. A conjuntura de crise económica em que vivemos transformou em parte a
conjugação de valores-notícia acionados no momento da construção noticiosa. Os
acontecimentos políticos com implicações diretas na vida dos portugueses ganha-
ram enorme relevância noticiosa e passaram a ocupar a grande parte das manche-
tes e aberturas de telejornais, bem como os espaços de opinião, de reportagem e de
entrevista, ainda que nem sempre se tratem de notícias “novas”.
O critério de visualidade, isto é, a existência de imagens disponíveis, tradicio-
nalmente mais importante no jornalismo televisivo, estendeu-se a todos os meios
com a sua presença na internet. Rádios e jornais procuram as melhores imagens e
vídeos que permitam documentar o acontecimento. E assim, se era verdade que
durante uma fase bastante longa do jornalismo internacional os desastres e as in-
tempéries eram mais comuns nos noticiários televisivos (Gans, 1979) pela força das
imagens, nos dias de hoje estenderam-se a jornais e rádios online. As redes sociais
parecem vir ainda reforçar o critério da visualidade já que as partilhas de notícias
com mais visualizações são aquelas que reproduzem imagens.
A concorrência entre meios de comunicação, agudizada pela presença online
que coloca em concorrência direta todos contra todos, é outro dos critérios contex-
tuais. Mais uma vez, estamos perante um critério que se tornou mais relevante com
as recentes transformações tecnológicas que possibilitam a existência de um mes-
mo meio de comunicação para diferentes plataformas.
Finalmente, o dia noticioso. O dia noticioso caracteriza-se por uma grande di-
versidade de acontecimentos que colocam as redações sob pressão, tanto ao nível
da seleção como da produção de notícias. Ou como de grande monotonia, com a to-
tal ausência de eventos transformáveis em notícia, e que caracterizam sobretudo os
períodos de férias de verão. Um exemplo recente da dificuldade em entrar na agen-
da noticiosa dos meios de comunicação num dia recheado de eventos é dado pelo
antigo jogador de futebol Paulo Futre.
Paulo Futre tinha agendado com a comunicação social para o final da tarde,
permitindo-lhe entrar em direto com os principais telejornais, uma conferência de
imprensa de apresentação da candidatura aos órgãos sociais do Sporting Clube de
Portugal. Ao mesmo tempo, irrompe uma notícia de última hora que perfaz todos
os critérios de noticiabilidade. O primeiro-ministro José Sócrates marca uma confe-
rência de imprensa surpresa para anunciar o seu pedido de demissão. De forma
quase instantânea é alterado o alinhamento dos telejornais e o acontecimento reú-
ne todas as condições de se transformar na única notícia da noite. A solução encon-
trada por Paulo Futre para reentrar no espaço noticioso é bastante audaciosa e
combina um conjunto de critérios que abordaremos de seguida e que tem que ver
com o insólito, o inesperado e a inversão.
ENQUADRAMENTO DA ANÁLISE 11

Estes critérios conhecidos na gíria jornalística e mediática como “o homem


que mordeu o cão” são considerados por Nelson Traquina como importantes para
as redações e revelam um conjunto de notícias que têm espaço em diversos órgãos
de comunicação, como as estórias sobre o carro do ladrão que avaria, o transeunte
que descobre um saco de dinheiro e o entrega às autoridades, o animal que adota
um animal de outra espécie, etc.
Finalmente, há que ter em consideração a interação entre jornalistas e os seus
públicos e a sua inserção enquanto atores sociais em sociedades repletas de códi-
gos, regras e rituais. Stuart Hall et al. (1978) designou os valores-notícia como uma
estrutura de retaguarda social que requer por parte do jornalista um conhecimento
sobre o que é consensual e o que é conflitual na sociedade em que vive e para os
seus leitores.
Assim, podemos considerar que as notícias não são apenas produções da in-
dústria cultural (Adorno) mas igualmente resultado de definições institucionais
que em cada momento histórico vão enformando.

Hard e soft news

A distinção entre hard e soft news — Nelson Traquina (2002: 205) — traduz as duas ex-
pressões para língua portuguesa como notícias de relevo e notícias ligeiras — é uma
das formas mais utilizadas para categorizar as notícias. Tal como Carston Reineman et
al. (2011) afirma, o conceito de hard e soft news começou por ser utilizado pelos jornalis-
tas norte-americanos como forma de classificação. Esta forma foi incorporada na déca-
da de 1950 pelos estudos de comunicação e jornalismo e a partir dessa época passou a
assumir grande centralidade na investigação académica. Esta centralidade nem sem-
pre foi acompanhada por uma definição concetual precisa, sendo muitas vezes associ-
ada a fenómenos de maior ou menor qualidade jornalística, utilizada para medir a
tabloidização ou a presença de infotainment nas notícias (Reineman et al., 2011).
Um dos estudos pioneiros na definição de classificação das notícias foi levado a
cabo por Gaye Tuchman e publicado em 1973 na American Journal of Sociology. O obje-
tivo principal do estudo era perceber como é que a rotina profissional dos jornalistas
lhes permite lidar com eventos inesperados (uma boa parte da sua atividade profis-
sional) e em interligação como é que os jornalistas reduzem a complexidade do seu
trabalho nas formas como selecionam dos eventos disponíveis a cada momento
aqueles que são noticiáveis (Tuchman, 1973: 110).
A discussão em torno destas duas questões mantém toda a atualidade e neste
sentido importa convocar em pormenor a pesquisa de Gaye Tuchman para a nossa
pesquisa. As conclusões da investigação apontam para o facto que os jornalistas ca-
tegorizam os eventos que dão origem a notícias essencialmente em dois tipos: hard
e soft news.
As hard news são o mais importante a ser noticiado, considerado como algo de
“interesse para o ser humano”, que cada cidadão deve conhecer para se manter in-
formado sobre o mundo à sua volta ou, simplificando, as hard news são as notícias
de interesse público.
12 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

As soft news são definidas por oposição, são notícias de “interesse humano
que lidam com a vida dos seres humanos” que apresentam temas interessantes. O
principal diferenciador é a importância versus o interesse. Em termos práticos este
tipo de classificação é bastante difícil de usar, visto que ambas a categorias se po-
dem confundir num dado evento que se transforma em notícia.
Pamela Shoemaker (Shoemaker, 2010) utiliza um outro critério para distin-
guir hard e soft news. Segundo a autora, hard news são em geral breaking news (notíci-
as de última hora) que se não forem relatadas de imediato perdem a sua atualidade.
Em sentido oposto, as soft news são notícias que não perdem o seu valor se forem di-
vulgadas mais tarde, fazendo então parte desta categoria todos os eventos que são
publicados em forma de entrevista e reportagem ou documentário televisivo.
Assim, neste caso o principal critério de classificação é o tempo.
Em estudos comparativos recentes a definição de hard e soft news tem como
base o tema da notícia, isto é, considera-se hard news o conjunto de notícias sobre
política, economia e assuntos sociais onde se incluem a guerra e a pobreza e, como
soft news, o conjunto de notícias dedicadas às celebridades, histórias de interesse
humano e desporto (Aalberg et al., 2013: 396).
No mesmo estudo, abre-se a exceção para as notícias sobre crimes, tendo em con-
sideração uma classificação de um estudo comparativo anterior (Curran et al., 2009).
Estas são classificadas de acordo com o seu foco principal, nos casos em que as notícias
realçam o sistema de justiça como a aplicação das penas ou as consequências dos cri-
mes para a comunidade são consideradas hard news. No entanto, se o foco é o crime em
si, apresentando detalhes sobre o acontecimento, sobre as vítimas e os criminosos é
classificado como soft news (Curran et al., 2009: 9-10). Estes estudos realçam a impor-
tância dos temas e dos enquadramentos (framing) na definição de hard e soft news.
A revisão da literatura permite-nos demonstrar a multidimensionalidade do
conceito e a sua estreita ligação com outros quadros concetuais onde se incluem: os
valores-notícia, o acontecimento, o infotainment e a tabloidização.
A proposta da equipa de Carston Reineman (2011) pretende fazer uma sínte-
se e uma nova proposta concetual. O desenvolvimento da nova definição parte de
quatro premissas:

1) Em primeiro lugar, a distinção entre hard e soft news parte da ideia que os ele-
mentos da mensagem têm um potencial na perceção dos leitores sobre os as-
suntos públicos. Isto é, os autores entendem que a produção de notícias sobre
assuntos de interesse político é a função central do jornalismo e que neste sen-
tido a intensidade e o tipo de notícias sobre assuntos políticos devem ser con-
sideradas como um tópico central na investigação em jornalismo.
2) Em segundo lugar, a relevância das notícias nem sempre se pode medir pela
atualidade do acontecimento que é noticiado. Um exemplo importante pren-
de-se com o jornalismo de investigação que tem um tempo de recolha e pro-
dução de informação que não coincide com o tempo rápido da divulgação de
notícias. Em Portugal veja-se por exemplo o trabalho de investigação condu-
zido por Paulo Pena sobre a crise da banca portuguesa que o ocupou durante
cerca de dois anos (Pena, 2014).
ENQUADRAMENTO DA ANÁLISE 13

3) Em terceiro lugar, a literatura existente aponta para a importância do foco da


notícia. O enquadramento e a seleção de cada acontecimento enquanto notí-
cia interferem na sua classificação e deve ser tido em consideração.
4) Finalmente, os vários estudos revelam ainda que a classificação numa catego-
ria dicotómica não é satisfatória. Hard e soft news devem ser entendidas num
contínuo com base num conjunto de dimensões que permitam a sua análise.

Assim, os autores propõem a seguinte definição:

The more a news item is politically relevant, the more it reports in a thematic way, fo-
cuses on the societal consequences of events, is impersonal and unemotional in style,
the more it can be regarded as hard news. The more a news items is not politically rele-
vant, the more it reports in an episodic way, focuses on individual consequences of
events, is personal and emotional in style, the more it can be regarded as soft news.
(Reinemann et al., 2012: 233).

A operacionalização do conceito é estabelecida através de três dimensões: o tema


(com maior ou menor relevância política), o enquadramento — que varia entre o
societal e o individual —, e entre o temático e o episódico e o estilo — que varia en-
tre o foco impessoal ou personalizado, e entre o tom distanciado e o tom emocional.
As vantagens deste tipo de categorização prendem-se com a possibilidade da
construção de um índice aditivo que permite medir as notícias em cada uma das di-
mensões e numa fase posterior construir clusters de notícias de acordo com as com-
binações de cada uma das dimensões. Esta abordagem permite uma análise mais
fina e mais robusta da produção de notícias.

Facto e acontecimento(s): construção social mediada da realidade

— experiência sensível (sensorial) da realidade;


— observação e categorização — dado empírico;
— jornalismo: tipo particular de conhecimento de facto — transmissão de co-
nhecimentos contingentes;
— é uma modalidade de tratamento do real do facto, uma construção ou produ-
ção de realidade;
— informação e acontecimento são instâncias interdependentes;
— a informação viabiliza o acontecimento: delimitando o campo, focando a vi-
são, estabelecendo a cena.

Segundo Patrick Charaudeau (1997), a transformação do acontecimento em notícia


tem por base três princípios: o princípio da modificação, o princípio da formaliza-
ção e o princípio da saliência, que remetem para o potencial explicativo, para a es-
truturação discursiva e para processos de reconhecimento social. Neste sentido, a
construção do facto enquanto acontecimento mediático tem em consideração não
apenas o facto em si mas a sua relação com os públicos que o irão rececionar.
14 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Gaye Tuchman chegou à conclusão de que os jornalistas (newsmens) cate-


gorizam os acontecimentos enquanto eventos do dia a dia e ao mesmo tempo en-
quanto potenciais materiais de noticiabilidade (newsworthy), isto é enquanto
passíveis de serem trabalhados e transformados em notícias por redações
profissionais.

Jornalismo de qualidade e jornalismo tabloide

De acordo com o Dicionário Collins, em língua inglesa quality newspaper é a im-


prensa séria que oferece detalhes sobre eventos de todo o mundo, bem como relata
notícias de economia, cultura e sociedade.
O jornal tabloide é um formato de jornal, mais pequeno que o tradicional bro-
adsheet, “página longa”, que condensa vários tipos de informação propondo uma
arrumação temática diferente, com notícias de menor dimensão e mais espaço de-
dicado a fotografias.
A tabloidização das notícias é um processo e resulta em parte da existência de
media comerciais e da sua pressão constante para aumentar as suas audiências
(Esser, 1999). Ao nível micro, a tabloidização pode ser entendida como um fenóme-
no da indústria dos media marcada um pouco por todo o mundo pelas privatiza-
ções e por uma cada vez maior concorrência na atração de financiadores e de
audiências. A um nível macro, o fenómeno pode ser considerado como em relação
com outras transformações sociais e pelo surgimento de novos valores como o cul-
to das celebridades, do sucesso imediato ou do dinheiro.
Nos anos 1990, Howard Kurtz descreve o fenómeno de tabloidização dos
media norte-americanos como marcado pelo decréscimo de qualidade da cobertura
jornalística, um crescimento do número de notícias sobre escândalos e entreteni-
mento e um decréscimo de notícias sobre política e economia e ainda uma transfor-
mação na forma como entendem o tratamento dedicado aos decisores políticos,
subentendendo uma mudança nas atitudes dos eleitores face à política e à adminis-
tração pública (Kurtz, 1993: 143-147).
O fenómeno da imprensa tabloide não é novo. Na década de 1930, a populari-
dade dos jornais tabloides no Reino Unido (Picard, 1998) era grande e a sua conti-
nuidade dependia em exclusivo da sua capacidade de atrair publicidade. De
acordo com Robert Picard, o surgimento da rádio não afetou a captação de receitas
da imprensa tabloide ao contrário do que se passou nos Estados Unidos em que a
rádio comercial vai disputar diretamente com a imprensa popular. O motivo prin-
cipal deve-se ao controlo da rádio pelo Estado que se desenvolve no Reino Unido
como meio público, tal como nos outros países europeus e em claro contraste com o
contexto norte-americano (Ala-Fossi, 2007).
A somar a estas transformações ao nível da produção e divulgação da in-
formação há que adicionar a profunda transformação nas práticas profissionais
dos jornalistas impostas pela passagem de ciclos noticiosos semanais e diários
(Rebelo et al., 2011) para os ciclos noticiosos de 24 horas, pela crescente concor-
rência entre meios, pela crescente literacia tecnológica dos seus públicos e pelo
ENQUADRAMENTO DA ANÁLISE 15

desinvestimento dos proprietários de media nas redações, fruto das repercus-


sões da crise económica europeia e mundial.3
Um exemplo dessas transformações recentes são as parcerias entre meios de
comunicação nacionais e internacionais de referência para a publicação de artigos
de especialistas de renome mundial, com especial destaque para as questões eco-
nómicas. Os media portugueses têm recorrido muitas vezes à tradução de artigos
do The Economist, The Wall Street Journal ou do The Guardian sem que isso afete a
possibilidade de os leitores dos media nacionais pesquisarem e acederem a essa in-
formação na língua original que se encontra disponível na internet.4
Deste modo o trabalho jornalístico entra numa nova fase de gatekeeping, sele-
cionando a informação (como tradicionalmente) e dando aos seus públicos a possi-
bilidade de confrontação com a fonte da notícia ao mesmo tempo que os ajudam a
definir um percurso de pesquisa pela internet, assumindo-se como mediador entre
as fontes de informação e os leitores.
As várias transformações têm impacto na autonomia profissional dos jornalis-
tas. As discussões sobre o condicionamento das agendas mediáticas pelo poder polí-
tico e pelo poder económico atravessam as várias democracias (Bourdieu, 1997,
Herman e Chomsky, 1994) e agudizam-se em períodos de crise económica (Gomes,
2012). No sentido inverso, o entendimento dos media enquanto quarto poder ou
quarto equívoco (Mesquita, 2004) tenta contrabalançar a discussão, apresentando
argumentos que demonstram a independência jornalística face aos vários poderes
estabelecidos e o papel do jornalismo na denúncia e no dar voz aos cidadãos.5 A di-
mensão ética do jornalismo é realçada, entre outros, por Bill Kovach e Tom Rosensti-
el, definindo que a primeira obrigação moral do jornalismo é a da lealdade para com
o cidadão mesmo que isso implique “divergir ou desafiar editores, patrões, anun-
ciantes ou até cidadãos e autoridades estabelecidas se a honestidade e a exatidão lho
exigirem” (Kovach e Rosenstiel, 2007: 231).
Parafraseando Adelino Gomes, a última palavra deve ser dada à redação
(Gomes, 2012), espaço de relações sociais onde coexistem o conflito e o consen-
so, onde se cruza a elite jornalística (Garcia, 2009) mais próxima do poder e jor-
nalistas e estagiários sem redes de capital social que lhes possam proporcionar a
entrada nas esferas de convívio do poder. Cabe às redações no seu trabalho quo-
tidiano a promoção da autonomia jornalística “guardiã da credibilidade e ele-
mento-chave que preserva a relevância no mundo do jornalismo, hoje” (Gomes,
2012: 61).

3 A este propósito aconselha-se a leitura dos testemunhos de alguns jornalistas que evidenciam o
facto que durante um longo período temporal o ciclo noticioso em Portugal funcionava de acor-
do com o ritmo de publicação semanal do jornal Expresso, onde saíam as grandes notícias que iri-
am ser desenvolvidas pelos outros meios ao longo da semana.
4 Por exemplo, o Project Syndicate que reúne opiniões de think thankers globais, disponível em 11
línguas diferentes e publicado em jornais de referência de vários pontos do globo. Em Portugal
(Público e Jornal de Negócios), na Alemanha (Die Welt), em Itália (Sole 24 Ore), no Reino Unido (The
Guardian), na China (China Daily). Ver http://www.project-syndicate.org/.
5 Veja-se, por exemplo, os textos publicados pelo jornalista angolano Rafael Marques sobre o po-
der em Angola, http://www.makaangola.org
16 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

As temáticas analisadas não são exaustivas dos desafios que os meios de co-
municação e a atividade profissional dos jornalistas enfrentam na atualidade, em
particular nos países onde a crise assumiu contornos monopolistas do debate pú-
blico, mas ajudam a percecionar e a melhor compreender as agendas noticiosas, os
critérios de noticiabilidade, a escolha dos protagonistas e o enfoque dado a cada
notícia.
Capítulo 2
Análise comparativa 2012/2013
Grandes tendências de cobertura do jornalismo português

Gustavo Cardoso, Susana Santos e Décio Telo

A recolha de notícias compreendeu os anos 2012 e 2013. Em 2012, foram codificadas


19.011 peças noticiosas e em 2013, 16.218 peças.
O quadro 2.1 apresenta as 20 grandes notícias (big stories) dos anos 2012 e
2013 na agenda noticiosa portuguesa. Em 2012, das 20 notícias com maior cober-
tura, 11 estão diretamente relacionadas com as consequências da crise económica
em Portugal e com o estabelecimento de um conjunto de políticas de austeridade
pelo governo de coligação PSD/CDS. De entre as onze notícias, o Orçamento do
Estado para 2013 é a mais mediatizada, com 380 peças emitidas nos vários meios
de comunicação social, o que corresponde a 4,6% do total da cobertura noticiosa
analisada.
A crise económica na Europa está presente em cinco das 20 grandes notícias
do ano. As notícias em destaque são:

i) o desemprego na zona euro, esta é aliás a terceira notícia do ano para os media
portugueses com 316 notícias, 3,8% do total da cobertura noticiosa;
ii) a crise grega, que agrega as questões relativas à instabilidade política e econó-
mica no país, a aplicação de medidas de austeridade e os seus efeitos econó-
micos e sociais, num total de 229 notícias, que correspondem a 2,8% do total
de notícias;
iii) o resgate financeiro à banca espanhola, com 120 notícias, 1,5% do total;
iv) as eleições legislativas na Grécia, com 118 notícias, 1,4% do total;
v) as eleições presidenciais em França, com 93 notícias, 1,1% do total.

Em 2013, as 20 notícias do ano refletem algumas mudanças nas regras de noti-


ciabilidade. A primeira está relacionada com um cada vez maior destaque aos
acontecimentos de âmbito nacional em detrimento dos acontecimentos euro-
peus e mundiais. Das 20 notícias com maior cobertura, apenas duas se referem à
Europa, o resgate ao Chipre, com 1,2% do total de cobertura noticiosa, e o de-
semprego na zona euro, com 1,7% do total, esta notícia engloba o fenómeno do
desemprego em todos os países da zona euro, incluindo Portugal.

17
18 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 2.1 As 20 notícias com maior destaque nos meios de comunicação social portugueses nos setores de
televisão, rádio e imprensa escrita em 2012 e em 2013

% %
Notícia N.º sobre Notícia N.º sobre
o total o total

Orçamento do Estado 2013 380 4,6 Crise na coligação governativa 821 9,9
Euro 2012 332 4,0 Eleições autárquicas 362 4,4
Desemprego na zona euro 316 3,8 Orçamento retificativo 267 3,2
Derrapagem do défice 284 3,4 Orçamento do Estado 2014 264 3,2
Corte de subsídio de férias e Natal 253 3,1 Greve de professores de junho 156 1,9
Crise grega 229 2,8 Desemprego na zona euro 145 1,7
Caso das Secretas 226 2,7 Final de época de futebol 144 1,7
Investigação aos contratos
Reforma da legislação laboral 201 2,4 141 1,7
swaps
Incêndios em Portugal 185 2,2 Resignação do Papa Bento XVI 137 1,7
Greve geral de 14 de novembro 139 1,7 Greve geral 27 de junho 130 1,6
Greve geral de 22 de março 121 1,5 TC chumba medidas do OE 124 1,5
Resgate de Espanha (crise do euro) 120 1,5 7.ª avaliação da troika 114 1,4
TSU 120 1,5 Alterações na função pública 112 1,4
Eleições na Grécia 118 1,4 Finais europeias de futebol 111 1,3
Relatório do FMI para a
Crise na coligação governativa 111 1,3 109 1,3
refundação do Estado Social
Privatização de setores
Dívida da Madeira 99 1,2 104 1,3
estratégicos
Mercado de transferências de
Privatização de setores estratégicos 98 1,2 103 1,2
futebol
Reforma do poder local 93 1,1 Resgate ao Chipre 102 1,2
Eleições em França 93 1,1 Orçamento do Estado 2013 90 1,1
Crise na Síria 90 1,1 Fogos florestais de verão 89 1,1
N.º de grandes notícias 8248 43,4 N.º de grandes notícias 8287 51,1
N.º total de notícias 19.011 100,0 N.º total de notícias 16.218 100,0

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

A segunda alteração prende-se com um maior enfoque dado às questões polí-


ticas, sobretudo ao Orçamento do Estado e à instabilidade governativa. Vamos por
partes, a crise na coligação governativa, originada pela demissão do ministro das
Finanças, Vítor Gaspar, no dia 1 de julho e pelo pedido de demissão do ministro
dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, no dia 2 de julho, foi a notícia com maior
cobertura do ano. 1 2 Esta situação contabilizou um total de 821 artigos noticiosos, o
que corresponde a 9,9% do total da cobertura noticiosa do ano de 2013.
As notícias relativas ao Orçamento do Estado para 2013 e 2014 foram desdo-
bradas em cinco grandes notícias presentes entre as 20 notícias do ano, contabili-
zando o total de 857 artigos noticiosos, o que corresponde a 10,4% do total da
cobertura noticiosa:

1 http://expresso.sapo.pt/carta-de-demissao-de-vitor-gaspar=f817482
2 http://www.publico.pt/politica/noticia/o-comunicado-de-demissao-de-paulo-portas-
na-integra-1599019
ANÁLISE COMPARATIVA 2012/2013 19

i) o orçamento retificativo;
ii) o Orçamento do Estado para 2014;
iii) o chumbo do Tribunal Constitucional a algumas medidas do Orçamento do
Estado;
iv) as alterações na função pública presentes no Orçamento do Estado;
v) o Orçamento do Estado para 2013.

As notícias relativas ao Orçamento do Estado tiveram uma larguíssima cobertura


no ano de 2012, apesar do enfoque temático ter sido direcionado sobretudo para a
economia e para os impactos das decisões políticas na atividade económica. Em
2013, as notícias sobre o Orçamento do Estado são apresentadas segundo uma ar-
rumação temática mais próxima da política interna, focando sobretudo as posições
dos principais intervenientes políticos. Este tipo de cobertura noticiosa sobre as-
suntos políticos dá um maior realce às questões pessoais em detrimento dos con-
teúdos ideológicos ou de propostas políticas, aproximando-se do infontaiment e da
política espetáculo (Brants, 1998).
As continuidades da agenda noticiosa dos media portugueses entre 2012 e
2013 encontram-se em três grandes temas: i) as greves gerais ou setoriais, ii) as elei-
ções e iii) o futebol.
As greves ocuparam um lugar de relevância no panorama mediático português.
Em 2012, as duas greves gerais, de 22 de março e de 12 de novembro, contabilizaram
em conjunto 3,2% do total da cobertura noticiosa. Em 2013, a greve geral de 27 de junho
totalizou 1,7% do total de notícias e a greve de professores durante o período de avalia-
ções finais em junho contabilizou 1,9%. Interessante perceber os motivos que condu-
zem a que uma greve de uma classe profissional tenha tal destaque no panorama
noticioso português. Muito diferente da visibilidade conseguida pelas greves setoriais
dos funcionários públicos das autarquias locais ou da administração central, ou mes-
mo das greves dos transportes públicos. Estamos perante uma classe profissional com
uma grande exposição mediática, fruto do seu reconhecimento social e da visibilidade
da sua atividade profissional, mas também de efeitos sociais da importância da escola
como plataforma de mobilidade social ascendente.
As eleições são tema que persiste no agendamento de notícias. Em 2012, esti-
veram no top as eleições na Grécia e em França. Em 2013, as eleições autárquicas
ocuparam o segundo lugar na tabela de notícias, contabilizando 362 entradas que
correspondem a 4,4% do total de notícias. Em 2013, a forte presença das eleições au-
tárquicas nas notícias do ano é ainda mais relevante se tivermos em consideração o
facto de que as televisões assinaram entre si um acordo de não cobertura da campa-
nha eleitoral.3
Finalmente, o futebol. O futebol evento desportivo, mas sobretudo evento me-
diático é uma presença constante nos media generalistas, com ligeiras diferenças que
veremos no ponto seguinte dedicado à análise por meio e setor. Em 2012, o Europeu

3 http://www.publico.pt/politica/noticia/televisoes-nao-farao-cobertura-da-campanha-eleitoral-
autarquica-1605334 ou em http://vaievem.wordpress.com/2013/05/16/nem-so-atraves-de-
debates-eleitorais-na-televisao-se-cumpre-a-funcao-de-informar/
20 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Ambiente
Religião
Habitação e ordenamento do território
Ciência e tecnologia
Serviços públicos e transportes
Comunicação
Defesa e ordem interna
Eleições e campanhas
Quesões sociais e humanas
Educação
Política internacional
Cultura
Saúde
Desastres/acidentes/ epidemias
Diversos
Participação e protestos
Política europeia
Assuntos laborais e segurança social
Desporto
Justiça e sistema judicial
Política interna
Economia e sectores económicos
0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 16,0 18,0 20,0
2012 2013

Figura 2.1 Principais categorias temáticas em 2012 e 2013 (em %)

de futebol foi a segunda notícia do ano, com 322 peças, 4% do total de notícias. Em
2013, o final de época desportiva e o mercado de transferências corresponderam res-
petivamente a 1,7% e a 1,2% do total de notícias analisadas.4
A comparação temática entre 2012 e 2013 permite dar uma maior robustez à
nossa análise. Ao olharmos para a figura 2.1 verificamos, em primeiro lugar, a con-
sistência temática da cobertura noticiosa. A maioria das categorias temáticas apre-
senta nos dois anos valores muito semelhantes e isto mostra um padrão na forma
como os meios de comunicação social portugueses fazem o seu trabalho de seleção
de temas e notícias.
Em segundo lugar, verificamos um conjunto de mudanças. A primeira já foi
referida e trata-se do decréscimo do enquadramento económico e do aumento do
enquadramento político. Em 2012, os assuntos económicos ocupavam 17,5% do to-
tal de notícias, contrastando com os 14,6% de 2013. Em sentido inverso, a categoria
política interna passa de 13,1%, em 2012, para 18,7% em 2013. Esta inversão não é a
mesma em todas as categorias temáticas relacionadas com a política. A visibilidade
da política europeia desce de 5,5% em 2012, para 3,6% em 2013. Já a política interna-
cional aumenta um ponto percentual de 2 para 3%.
Outra das alterações na cobertura está relacionada com a resignação do Papa
Bento XVI e a eleição do Papa Francisco I. Esta foi uma das notícias do ano e explica

4 Em 2013, procederam-se a algumas alterações na forma de categorização de notícias que permi-


tiram agrupar notícias dispersas em grupos uniformes. Esta alteração teve particular efeito nas
notícias dedicadas ao futebol muito protagonizadas por clubes e atletas individuais que foram
organizadas por competição, por exemplo, ligas nacionais, Liga dos Campeões, Liga Europa.
A boa prestação das equipas portuguesas nas competições europeias também se reflete na im-
portância da categoria “futebol” no total de notícias analisadas.
ANÁLISE COMPARATIVA 2012/2013 21

o porquê do aumento da categoria religião em quase dois pontos percentuais de 0,6


para 2,4% em 2013.

As principais notícias do ano de 2012

Das 20 notícias apresentadas no quadro 2.1 foram selecionadas as cinco notícias re-
lativas à Europa. Assim, iremos proceder a análise das notícias: desemprego na
zona euro, crise grega, resgate de Espanha (crise do euro), eleições na Grécia e elei-
ções em França.
O primeiro ponto da análise é dedicado aos formatos de divulgação das notícias.
As variáveis em análise são: i) o espaço ocupado e a duração das notícias, ii) o género
jornalístico, iii) a manchete ou abertura (headline) e iv) as fontes de informação.

Espaço ocupado e duração das notícias

O espaço dedicado a uma notícia num jornal ou a sua duração na rádio e na televisão
são um indicador importante para aferir a importância que as redações atribuíram a
um determinado acontecimento. Ao maior tempo/espaço dedicados pressupõe-se
um maior investimento jornalístico no tratamento da notícia com o recurso a mais
meios, ida ao local (reportagem/diretos), entrevista e mais pesquisa.
As cinco notícias em análise sobre a Europa são de pequena dimensão nos jor-
nais. As notícias sobre as eleições em França, as eleições na Grécia, o resgate a Espa-
nha e a crise grega ocupam em mais de 40% até 1/3 de página de jornal. A exceção é o
desemprego na zona euro em que 39% das notícias ocupam mais de uma página de
jornal. Se tivermos em consideração o total de notícias na amostra, verificamos que
as quatro principais notícias relativas a assuntos europeus são de menor dimensão
do que as notícias em geral, com a exceção já referida do desemprego na zona euro.
Relativamente ao tempo de emissão dedicado pelos noticiários da rádio e da
televisão, devemos assinalar que em geral as notícias transmitidas na rádio são de
menor duração do que as notícias de televisão. Para termos uma base de compara-
ção, os noticiários na rádio ocupam em média um minuto e meio (90 segundos) de
emissão e os telejornais cerca de 3 minutos.5
As notícias dedicadas às eleições em França e na Grécia foram em geral de
grande dimensão, 52,6 e 62,4% respetivamente, ao contrário da cobertura nos jor-
nais que se pautou por artigos de pequena dimensão. O mesmo tipo de cobertura
teve a notícia sobre o resgate à banca espanhola.
As notícias sobre a crise grega oscilaram entre pequena (37,3%) e grande
(38,4%) dimensão.

5 Valores médios para o ano de 2012, base de dados do Projeto Jornalismo e Sociedade.
22 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

24,6
Total de notícias 41,4
34,1

31,2
Eleições em França 18,8
50,0

20,0
Eleições na Grécia 32,0
48,0

30,3
Resgate a Espanha 27,3
42,4

28,6
Crise grega 25,0
46,4

38,7
Desemprego na zona euro 29,0
32,3

0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0


% de notícias

pequena (até 1/3 página) média (até 1 página) grande (> 1 pagina)

Figura 2.2 Principais notícias sobre a Europa por dimensão dos artigos de jornal (em %)
Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

47,0
Total de notícias
28,7
24,3

52,6
Eleições em França 35,5
11,8

62,4
Eleições na Grécia 15,1
22,6

53,4
Resgate a Espanha 11,4
35,2

38,4
24,3
Crise grega 37,3

51,0
31,2
Desemprego na zona euro 17,9

0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0


% de notícias

pequena (até 60 segundos) média (entre 61 e 120 segundos) grande (mais de 120 segundos)

Figura 2.3 Principais notícias sobre a Europa por duração na televisão e na rádio (em %)
Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.
ANÁLISE COMPARATIVA 2012/2013 23

Género jornalístico

O género jornalístico foi definido de forma diferenciada para a imprensa e para a


rádio/televisão, dadas as especificidades dos meios. Na rádio e na televisão, sobre-
tudo no caso da televisão, o pivô tem uma função muito importante na apresenta-
ção e no alinhamento das notícias em cada serviço noticioso, fazendo parte do
processo de tomada de decisão sobre o alinhamento (Ryfe, 2009).6
A análise das cinco notícias sobre a crise económica europeia quanto ao gé-
nero jornalístico na rádio e na TV confirmam o investimento dos meios na cober-
tura das eleições na Grécia e em França. Este investimento reflete-se no maior
número de reportagens, diretos (16,1% e 17,1%, respetivamente) e espaços de
opinião de comentadores habitais ou convidados. No caso das eleições france-
sas, o recurso à entrevista teve um valor muito superior, 10,5% em comparação
com as outras notícias sobre a Europa e mesmo relativamente ao total de
notícias.

Quadro 2.2 As cinco principais notícias sobre a crise europeia por género jornalístico na TV e na rádio
(em %)

Desemprego Crise Resgate Eleições Eleições Total


na zona euro grega a Espanha na Grécia em França das notícias
N.º=316 N.º=229 N.º=120 N.º=118 N.º=93 N.º=19.011

Peça editada 54,6 52,0 75,9 44,1 50,0 54,2


Reportagem 24,0 7,9 4,6 16,1 17,1 14,7
Direto 1,9 3,4 2,3 10,8 7,9 4,2
Entrevista 3,1 1,7 1,1 3,2 10,5 4,5
Opinião 2,3 5,1 5,7 7,5 6,6 4,0
Relato do pivô 14,1 29,9 10,3 18,3 7,9 18,4

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Relativamente às notícias sobre o desemprego na zona euro a utilização de re-


portagens é a mais elevada, com 24% dos casos, o que corrobora o anterior indica-
dor relativo à duração das notícias.
A análise do género jornalístico na imprensa escrita demonstra a mesma
tendência de cobertura, com as eleições na Grécia e em França a apresentarem
valores elevados no que respeita à elaboração de reportagens, 20,8% e 50%, res-
petivamente. O mesmo sucede com as colunas de opinião com 8,3% e 12,5% dos
casos.

6 As decisões sobre o alinhamento são decididas no caso da televisão na conferência de redação que
junta editores, diretores e jornalistas. Sobre o caso português, ver Gomes (2012). A elaboração de
noticiários radiofónicos que em algumas estações de rádio são transmitidas de 30 em 30 minutos
obedece a outras regras que se pautam pelo surgimento de breaking news e por uma maior concilia-
ção com o trabalho das agências noticiosas.
24 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 2.3 As cinco principais notícias sobre a crise europeia por género jornalístico na imprensa escrita
(em %)

Desemprego Crise grega Resgate Eleições Eleições em Total das


na zona euro a Espanha na Grécia França notícias
N.º=316 N.º=229 N.º=120 N.º=118 N.º=93 N.º=19.011

Notícia (inclui artigo) 78,8 82,0 65,6 62,5 31,3 78,0


Reportagem 13,5 6,0 25,0 20,8 50,0 12,2
Entrevista 5,8 6,0 3,1 0,0 6,3 5,6
Opinião (inclui coluna, crítica) 0,0 4,0 3,1 8,3 12,5 3,2
Editorial 1,9 2,0 3,1 8,3 0,0 0,6
Carta (inclui cartas do leitor) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1
Crónica 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,2

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

O editorial é um espaço de destaque utilizado pela redação para afirmar a sua


linha editorial que combina o tratamento noticioso e a opinião. Todas as notícias so-
bre a crise económica europeia foram objeto de editorial, com exceção das eleições
francesas.

As principais notícias do ano de 2013

Das 20 notícias presentes no quadro 2.4 foram selecionadas cinco notícias para
uma análise mais aprofundada: i) a crise na coligação governativa, ii) as eleições
autárquicas, iii) o orçamento retificativo, iv) a greve de professores de junho e v)
o chumbo de algumas medidas do Orçamento do Estado de 2013 pelo Tribunal
Constitucional. As notícias foram selecionadas por preencherem dois tipos de
requisitos, de visibilidade mediática (a sua presença no top de notícias) e a sua
visibilidade social (medida pelo impacto na realidade social), esta segunda com
indicadores de mais difícil quantificação e que incluem vários espaços de en-
contro e de discussão como as redes sociais, os espaços de comentários dos mei-
os de comunicação social, os blogues, mas de igual modo espaços de interação
presencial como os cafés, as tertúlias, os locais de trabalho e de estudo.
O primeiro ponto da análise é dedicado aos formatos de divulgação das no-
tícias. As variáveis em análise são: i) o espaço ocupado e a duração das notícias, ii)
o género jornalístico, iii) a manchete ou abertura (headline) e iv) as fontes de
informação.
ANÁLISE COMPARATIVA 2012/2013 25

Quadro 2.4 As 20 notícias com maior destaque nos meios de comunicação social portugueses nos setores de
televisão, rádio e imprensa escrita em 2013

Notícia N.º % sobre o total


Crise na coligação governativa 821 9,9
Eleições autárquicas 362 4,4
Orçamento retificativo 267 3,2
Orçamento do Estado 2014 264 3,2
Greve de professores de junho 156 1,9
Desemprego na zona euro 145 1,7
Final de época de futebol 144 1,7
Investigação aos contratos swaps 141 1,7
Resignação do Papa Bento XVI 137 1,7
Greve geral de 27 de junho 130 1,6
TC chumba medidas do OE 124 1,5
7.ª avaliação da troika 114 1,4
Alterações na função pública 112 1,4
Finais europeias de futebol 111 1,3
Relatório do FMI para a refundação do Estado Social 109 1,3
Privatização de setores estratégicos 104 1,3
Mercado de transferências de futebol 103 1,2
Resgate ao Chipre 102 1,2
Orçamento do Estado 2013 90 1,1
Fogos florestais de verão 89 1,1
N.º de grandes notícias 8287 51,1
N.º total de notícias 16.218 100,0

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Espaço ocupado e duração das notícias

Relativamente ao indicador espaço ocupado pelas notícias, este foi dividido em três
categorias: pequena dimensão (até 1/3 de página), média dimensão (até 1 página) e
grande dimensão (superior a uma página). As notícias sobre o chumbo do Tribunal
Constitucional a algumas medidas do OE registaram a maior percentagem de pe-
quenas notícias (48,8%), seguindo-se a crise na coligação com 36,3% e a greve de pro-
fessores com 33,3%. Este facto pode ser explicado pela necessidade de dar a notícia
em primeira mão em detrimento de um maior aprofundamento característico do tra-
balho de reportagem. Em sentido contrário, as notícias sobre o orçamento retificati-
vo com 27,5% e as eleições autárquicas com 23,3% estão mais representadas na
categoria de grande dimensão, mais condicente com as reportagens, no primeiro
caso explicando as alterações e o significado na vida real dos portugueses e, no se-
gundo caso, seguindo a campanha eleitoral dos vários partidos.
Para captar a importância das notícias nos noticiários televisivos e nos noti-
ciários radiofónicos optou-se por analisar o indicador de duração das notícias.
O indicador foi dividido em três categorias tendo em consideração os valores mé-
dios de duração das peças noticiosas. Assim, foram criadas a categoria até 60 se-
gundos, 61 a 120 segundos e superior a 121 segundos.
Relativamente à televisão, verificamos que a maioria das peças é de duração
superior a 120 segundos/3 minutos com particular destaque para as notícias sobre
o orçamento retificativo, com 72,5% nesta categoria.
26 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

24,2
Total de notícias 57,8
18,0

22,0
TC chumba OE 29,3
48,8

12,5
Greve de professores 54,2
33,3

27,5
Orçamento retificativo 60,9
11,6

23,3
Eleições autárquicas 57,7
19,0

17,4
Crise na coligação 46,3
36,3

0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0


% de notícias

pequena (até 1/3 página) média (até 1 página) grande (> 1 pagina)

Figura 2.4 Principais notícias de 2013 por dimensão dos artigos de jornal (em %)
Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Total de notícias 61,7


25,0
13,3

57,8
TC chumba OE 28,1
14,1

63,2
Greve de professores 23,5
13,2

72,5
13,8
Orçamento retificativo 13,8

63,7
25,0
Eleições autárquicas 11,3

60,2
26,2
Crise na coligação 13,5

0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0


% de notícias

pequena (até 60 segundos) média (entre 61 e 120 segundos) grande (mais de 120 segundos)

Figura 2.5 Principais notícias de 2013 por duração na televisão (em %)


Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.
ANÁLISE COMPARATIVA 2012/2013 27

26,7
Total de notícias 29,0
44,4

36,8
TC chumba OE 21,1
42,1

40,0
Greve de professores 32,5
27,5

40,0
Orçamento retificativo 28,3
31,7
34,7
32,7
Eleições autárquicas 32,7
30,3
34,8
Crise na coligação 34,8

0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0


% de notícias

pequena (até 60 segundos) média (entre 61 e 120 segundos) grande (mais de 120 segundos)

Figura 2.6 Principais notícias de 2013 por duração na rádio (em %)


Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

No que concerne às notícias na rádio, denota-se um efeito do meio, caracteri-


zado por emissões mais frequentes ao longo do dia, com noticiários a cada meia
hora ou de hora a hora. Assim, verifica-se um maior equilíbrio entre categorias de
duração das peças noticiosas. Se tivermos em consideração a comparação entre
cada notícia com o total de notícias analisadas, verificamos que as cinco notícias se-
lecionadas são de maior duração. Destacam-se as notícias sobre a greve de profes-
sores e sobre o orçamento retificativo em que, em ambos os casos, 40% das notícias
tiveram uma duração superior a 3 minutos.

Género jornalístico

O género jornalístico foi definido de forma diferenciada para a imprensa e para a


rádio/televisão, dadas as especificidades dos meios. No caso da televisão e da rádio
verificamos que as peças editadas, tal como em 2012, são o principal instrumento
de divulgação de notícias. Em 2013, isso fez-se notar em especial nos casos das notí-
cias sobre as eleições autárquicas com 60,1% e do orçamento retificativo, com
70,7%, ambas acima do total de notícias consideradas.
Relativamente à utilização da reportagem, nenhuma das cinco notícias em
análise tem valores acima dos valores médios de reportagem, com a exceção das
notícias sobre a greve dos professores com valores próximos, embora abaixo
(15,7% relativamente ao total de 16,4%).
A utilização do direto verificou-se tanto em acontecimentos previamente agen-
dados como no caso das eleições autárquicas, com 9,2%, ou a greve dos professores,
com 8,3%, como em acontecimentos imprevistos ou de desfecho imprevisível, caso
das notícias sobre a crise na coligação e o chumbo do Tribunal Constitucional.
28 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 2.5 As cinco principais notícias de 2013 por género jornalístico na TV e na rádio (em %)

Crise na Eleições Orçamento Greve de TC chumba Total


coligação autárquicas retificativo professores OE de notícias
N.º=821 N.º=321 N.º=267 N.º=156 N.º=124 N.º=16.218

Peça editada 51,8 60,1 70,7 54,6 36,1 53,6


Reportagem 7,3 8,1 4,0 15,7 12,0 16,4
Direto 12,1 9,2 6,6 8,3 10,8 4,8
Entrevista 1,9 4,6 2,5 2,8 4,8 3,7
Opinião 14,4 1,1 5,6 0,9 21,7 3,5
Relato do pivô 12,6 15,6 10,6 17,6 14,5 17,9

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Quadro 2.6 As cinco principais notícias de 2013 por género jornalístico na imprensa escrita (em %)

Crise Eleições Orçamento Greve TC Total


na coligação autárquicas retificativo de professores chumba OE de notícias
N.º=821 N.º=321 N.º=267 N.º=156 N.º=124 N.º=16.218

Notícia (inclui artigo) 72,3 76,2 76,8 71,7 46,3 71,8


Reportagem 8,1 14,3 18,8 15,2 9,8 19,4
Entrevista 2,3 6,3 2,9 6,5 2,4 4,7
Opinião (coluna, crítica) 11,6 3,2 1,4 6,5 36,6 3,1
Editorial 5,8 0,0 0,0 0,0 4,9 0,5
Carta (cartas do leitor) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1
Crónica 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,2

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade

A entrevista foi o género menos utilizado, com as exceções das eleições autár-
quicas e do chumbo do Tribunal Constitucional. Em sentido contrário, os espaços
de opinião estiveram mais presentes nos telejornais em especial no caso do chumbo
do TC e da crise na coligação, com respetivamente 21,7% e 14,4%.
As notícias, onde se incluem os artigos, são o tipo de apresentação mais fre-
quente na imprensa escrita. Destacam-se os casos da crise na coligação, das eleições
autárquicas e do orçamento retificativo, com valores ligeiramente superiores à to-
talidade da amostra.
No caso da imprensa escrita, a totalidade da amostra revela um aumento glo-
bal da percentagem de reportagens, de 2012 para 2013, de 12,2% para 19,4%. As cin-
co notícias em análise tiveram um menor tratamento enquanto reportagens, tal
como na televisão e na rádio. A entrevista foi utilizada sobretudo no caso das elei-
ções autárquicas e greve dos professores.
Os espaços de opinião, tal como no caso da televisão e da rádio, apresen-
tam-se como de grande importância, sendo no caso das notícias sobre a crise na co-
ligação e do chumbo do TC como o segundo género mais utilizado pela imprensa
escrita. Neste caso é necessário referir o caso absolutamente excecional das notícias
ANÁLISE COMPARATIVA 2012/2013 29

sobre o chumbo do TC em que 36,6% do total noticiado foi feito através do uso da
opinião de colunistas.
O editorial, espaço de opinião interno à redação vem mais uma vez confirmar
a necessidade sentida pelas direções editoriais em se situar face aos dois grandes
acontecimentos noticiosos do ano, a crise na coligação e o chumbo do TC, com 5,8%
e 4,9%, respetivamente.

Manchete ou abertura (headline)

A manchete de um jornal, tal como a abertura de um telejornal ou noticiário radio-


fónico, é um indicador de relevância jornalística. Também este indicador compro-
va a importância dada pelos media nacionais aos dois grandes acontecimentos do
ano. A crise na coligação governativa foi manchete em 79,6% das notícias sobre o
acontecimento e abertura de noticiários e telejornais em 69%. O chumbo do TC fez
manchete em 87,8% e abertura em 67,8%. Todos valores muito acima dos valores
para a globalidade da amostra.

28,6
Total de notícias
17,8

67,8
TC chumba OE
87,8

40,7
Greve de professores
29,2

42,7
Orçamento retificativo
47,8

29,2
Eleições autárquicas
28,6

69,0
Crise na coligação
79,6

0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0


% de notícias

Manchete Abertura

Figura 2.7 Principais notícias de 2013 por manchete (imprensa) ou abertura (rádio e televisão) (em %)
Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Fontes de informação

As fontes de informação foram codificadas tendo em consideração a regra da pre-


dominância, isto é, em cada artigo noticioso a fonte foi identificada no caso de ser
mencionada em 50% ou mais do total do artigo. As fontes foram divididas nos se-
guintes tipos: i) próprio meio de comunicação, ii) outro meio de comunicação, iii)
30 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 2.7 As cinco principais notícias de 2013 por fonte de informação principal da notícia (em %)

Crise Eleições Orçamento Greve TC chumba Total


na coligação autárquicas retificativo de professores OE de notícias
N.º=821 N.º=321 N.º=267 N.º=156 N.º=124 N.º=16.218

Próprio medium 59,7 60,2 39,0 63,5 41,9 41,4


Outros media 6,2 1,4 7,1 3,8 3,2 5,3
Agência LUSA 0,4 0,8 0,7 1,3 1,6 0,7
Outra agência noticiosa 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,3
Fonte institucional 17,9 5,5 13,5 16,7 3,2 11,5
Fonte anónima 1,5 0,3 1,1 0,0 0,0 0,9
Sem fonte mencionada 14,3 31,8 38,6 14,7 50,0 39,9

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

agência noticiosa nacional Lusa, iv) agências internacionais, v) fonte institucional,


vi) fonte anónima e vii) sem fonte mencionada.
Tal como em 2012, o próprio meio assume a responsabilidade da maioria das
fontes (próprio medium). Em 2012, o valor total era de 34,1% (quadro 2.7), em 2013
há um acréscimo de 7 pontos percentuais, passando a totalizar 41,4% do total de
notícias. A utilização de outros meios de comunicação enquanto fonte principal
teve particular relevância nas notícias sobre o orçamento retificativo (7,1%) e nas
notícias sobre a crise na coligação com 6,2%.
A utilização das agências noticiosas como fonte principal é residual e no caso
das agências internacionais, dado o enfoque geográfico nacional das cinco notícias
em análise, quase inexistente. A baixa utilização das notícias produzidas pela agên-
cia Lusa enquanto fonte principal não significa necessariamente que os jornalistas
dos meios não utilizem esse trabalho. Antes sim, trata-se de um problema de medi-
da, no sentido em que a grande maioria das peças que resultam de trabalho avança-
do pela Agência Lusa são reescritas pelos jornalistas de cada meio, tornando-se
num trabalho final híbrido em que muitas vezes se opta por não identificar a fonte
ou considerá-la como produção interna ao meio.
A utilização de fontes institucionais esteve mais presente nas notícias sobre a cri-
se na coligação (17,9%), orçamento retificativo (13,5%) e greve de professores (16,7%).
Em todos estes casos as fontes institucionais referem-se sobretudo ao trabalho de
agendamento noticioso do governo, através de comunicados, press releases, conferênci-
as de imprensa e de contactos entre jornalistas e membros dos gabinetes ministeriais.
Uma nota de atenção para a menor utilização de fontes institucionais no caso das notí-
cias sobre o chumbo do TC ao Orçamento do Estado (3,2%) que pode ser entendida,
por um lado, pelos deveres de reserva dos magistrados do Tribunal Constitucional e,
por outro lado, pela dificuldade dos gabinetes de imprensa ministeriais em “contro-
lar” o desenrolar deste acontecimento. Em todos estes casos estamos perante o que
Herbert Gans classificou em tempos como uma “dança” em que um dos pares (as fon-
tes) assume a função de condução (Gans, 1979).
ANÁLISE COMPARATIVA 2012/2013 31

Enfoque geográfico

A variável enfoque geográfico mede a localização da notícia e foi dividida nas se-
guintes categorias: i) local/regional, ii) nacional, iii) europeu com referência a Por-
tugal, iv) europeu sem referência a Portugal, v) internacional com referência a
Portugal, vi) internacional sem referência a Portugal, vii) sem focus.
Tal como em 2012, a maioria das notícias tem um enfoque nacional, 53,2% em
2012 e 53,2% em 2013. Se, em 2012, as cinco notícias em análise tinham um carácter
europeu e apresentavam-se numa ideia de integração de Portugal na crise econó-
mica e financeira europeia, em 2013 as cinco notícias selecionadas dedicam-se qua-
se em exclusivo à apresentação de uma perspetiva nacional da crise.
Assim, devemos destacar o caso das eleições autárquicas pela sua cobertura
local e regional, 46,7% das notícias sobre as eleições tinham um carácter local e cla-
ra oposição no conjunto das outras notícias selecionadas e mesmo se a comparar-
mos com os valores para a totalidade das notícias (15%). E os casos das notícias
sobre a crise na coligação e o chumbo do TC pela maior diversidade, seja pela refe-
rência a países europeus (4,9% e 3,2% respetivamente) como pela referência a paí-
ses não europeus (4,8% e 16,9% respetivamente), ou ainda pela divulgação de
notícias em que o enfoque principal são outros países europeus (1,1% e 4%
respetivamente).

Quadro 2.8 As cinco principais notícias de 2013 por enfoque geográfico (em %)

Crise Eleições Orçamento Greve TC chumba Total


na coligação autárquicas retificativo de professores OE de notícias
N.º=821 N.º=321 N.º=267 N.º=156 N.º=124 N.º=16.218

Local/regional 1,8 46,7 0,7 3,8 0,0 15,0


Nacional 87,2 52,2 90,6 96,2 74,2 53,6
Nacional com referência
4,9 0,0 1,9 0,0 3,2 7,7
a países europeus
Nacional com referência
4,8 1,1 6,7 0,0 16,9 8,1
a países não europeus
Países europeus com
1,1 0,0 0,0 0,0 4,0 2,8
referência a Portugal
Países europeus sem
0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 5,0
referência a Portugal
Países não europeus
0,2 0,0 0,0 0,0 1,6 2,1
com referência a Portugal
Países não europeus
sem referência a Portugal 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 5,7

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.


32 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Os temas

A tematização das notícias pode ser entendida como um guia de orientação para o
consumidor de media, organizando em termos referenciais (Rebelo, 2001) os acon-
tecimentos. Analisando cada uma das cinco principais notícias de 2013, verifica-
mos o particular destaque concedido à política interna, à economia e à participação
e protestos.
Relativamente às notícias sobre a crise na coligação esta foi “arrumada” pelos
jornalistas dos vários meios de comunicação como um assunto de política interna
(82,8% dos casos) com maior ênfase nas declarações dos vários intervenientes políticos
e em muito menor grau como assunto económico (9,3%) e de política europeia (4,6%).
As eleições autárquicas foram apresentadas como e, passe a redundância,
matéria de eleições e campanhas (55,8%) e de política interna (29,8%).
O orçamento retificativo foi apresentado essencialmente em duas categorias:
política interna (48,3%) e assuntos laborais (35,2%) e com menor expressão como
tema económico (12%).
As notícias sobre a greve de professores foram descritas em grande parte
como participação e protestos (72,9%) e em menor número como questões de edu-
cação (16,1%) e assuntos laborais (8,4%).
Finalmente, o chumbo do TC a algumas medidas do OE representa uma mai-
or dispersão temática. Em 37,1% dos casos foi considerado como uma questão de
política interna, em 24,2% como tema de justiça, em 21,8% como tema da economia,
em 8,1% como de política europeia e, finalmente, em 5,6% dos casos como matéria
de assuntos laborais.

Quadro 2.9 As cinco principais notícias de 2013 por tema (em %)

Crise Eleições Orçamento Greve TC chumba Total


na coligação autárquicas retificativo de professores OE de notícias
N.º=821 N.º=321 N.º=267 N.º=156 N.º=124 N.º=16.218

Política interna 82,8 29,8 48,3 2,6 37,1 18,7


Política europeia 4,6 0,0 1,9 0,0 8,1 3,6
Eleições e campanhas 0,1 55,8 0,0 0,0 0,0 1,9
Economia 9,3 1,7 12,0 0,0 21,8 14,6
Assuntos laborais 0,7 0,3 35,2 8,4 5,6 6,3
Participação e
0,6 0,0 2,2 72,9 0,0 5,2
protestos
Justiça 0,4 8,3 0,0 0,0 24,2 10,8
Educação 0,0 0,3 0,0 16,1 0,0 2,5

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade


ANÁLISE COMPARATIVA 2012/2013 33

Os protagonistas

A variável protagonista das notícias mede a presença de um indivíduo/organiza-


ção que seja mencionado/a em pelo menos 50% da peça a codificar. A variável é co-
dificada em dois tipos, identificando o nome individual e o cargo ou posição que
ocupa.
O quadro 2.10 apresenta os cinco protagonistas para cada uma das notícias
em análise. Em termos gerais verificamos que os protagonistas se repetem entre as
cinco notícias do ano, com especial atenção para Pedro Passos Coelho e António
José Seguro. O primeiro-ministro é protagonista nas cinco notícias e o líder do Par-
tido Socialista em quatro das cinco notícias.
Relativamente às notícias sobre a crise na coligação, o Presidente da Repúbli-
ca surge como o protagonista principal em 22% das notícias, seguindo-se o primei-
ro-ministro, o ministro demissionário, líder da oposição e o segundo ministro
demissionário.
Nas notícias sobre as eleições autárquicas, os cidadãos anónimos são o prota-
gonista principal com 15,3%, seguindo-se os dois candidatos da coligação PSD/CDS
aos municípios do Porto e de Lisboa.
Sobre o orçamento retificativo, os media selecionaram como protagonistas o
primeiro-ministro e secretário de Estado da Administração Pública e ainda os mi-
nistros Paulo Portas e Vítor Gaspar e o líder do PS.
A greve de professores foi protagonizada pelo ministro da Educação (32,2%)
e pelo líder da FENPROF, Mário Nogueira (24,6%).
O chumbo do TC ao Orçamento do Estado foi protagonizado pelo primei-
ro-ministro e líder da oposição. Seguindo-se o presidente do Tribunal Constitucio-
nal, juiz conselheiro Joaquim Sousa Ribeiro com 7,4%, o ministro das Finanças e o
presidente da Comissão Europeia, ambos com 4,4%. Esta é a única notícia entre as
cinco analisadas com um protagonista de um organismo europeu, no caso o portu-
guês Durão Barroso.
A análise dos protagonistas das cinco notícias do ano de 2013 permite-nos am-
pliar a nossa reflexão sobre a personalização das alternativas políticas em torno dos
líderes partidários e da sua imagem mediática iniciada no capítulo 1. Os dados empí-
ricos comprovam a importância das personalidades políticas enquanto critério de
noticiabilidade. Mas ser uma personalidade política não basta. Os dados mostram
que apenas os líderes de governo, o Presidente da República e o líder do principal
partido da oposição têm grande destaque noticioso. São estas as personalidades que
os jornalistas procuram ouvir para relatar os acontecimentos e transformá-los em
notícia. Outros agentes políticos estão arredados do espaço mediático pelo menos
dos lugares de destaque, surgem como complemento mas não como sujeito e fonte
da notícia.
Uma palavra sobre a influência das agendas mediáticas sobre as agendas no-
ticiosas, isto é, sobre a colonização das redações pelos assuntos catalogados como
de infotainment (personalização, celebridades, vida pessoal de figuras públicas,
etc.). A análise dos cinco protagonistas das eleições autárquicas permite-nos avan-
çar um pouco esta tese. A inclusão no topo da lista de protagonistas dos dois
34 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 2.10 As cinco principais notícias de 2013 pelos cinco protagonistas por ordem decrescente

Crise Eleições Orçamento Greve TC


na coligação autárquicas retificativo de professores chumba OE
N.º=821 N.º=321 N.º=267 N.º=156 N.º=124

Cavaco Silva Cidadão anónimo Pedro Passos Nuno Crato Pedro Passos
1.º
(22%) (15,3%) Coelho (23,2%) (32,2%) Coelho (26,5%)
Pedro Passos Luís Filipe Menezes Hélder Rosalino Mário Nogueira António José Seguro
2.º
Coelho (17,3%) (11,5%) (13,7%) (24,6%) (17,6%)
Paulo Portas Fernando Seara Paulo Portas Cidadão anónimo Joaquim Sousa
3.º
(12%) (9,6%) (11,8%) (16,9%) Ribeiro (7,4%)
António José António José Seguro Vítor Gaspar Pedro Passos Vítor Gaspar
4.º
Seguro (9%) (7,3%) (7,1%) Coelho (6,8%) (4,4%)
Vítor Gaspar Pedro Passos António José Seguro João Casanova Durão Barroso
5.º
(6,1%) Coelho (6,9%) (6,2%) de Almeida (6,8%) (4,4%)

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

candidatos do PSD aos municípios de Lisboa e do Porto, respetivamente Fernando


Seara e Luís Filipe Menezes, surge muito pelo seu lugar no espaço público enquan-
to figuras mediáticas. Isto é, enquanto figuras que se apresentam perante a comu-
nidade mostrando a sua vida privada, ocupando vários lugares extrapolíticos
(como no comentário de futebol ou no apoio público a dirigentes, jogadores e clu-
bes de futebol) e ainda protagonizando casos judiciais. No caso de Luís Filipe
Menezes, uma parte da cobertura noticiosa foi dedicada à legalidade da sua candi-
datura autárquica. De sublinhar ainda que sendo estas duas figuras os candidatos
com maior presença nas notícias sobre as eleições autárquicas, esse fator não pare-
ce ter tido grande importância no momento do voto, visto que ambos perderam as
disputas eleitorais em que estavam envolvidos.
Ainda relativamente ao papel das personalidades políticas na construção das
agendas noticiosas, o que verificamos é que muitas vezes o centro da notícia é a
própria personalidade e não tanto o que é dito ou sobre o que é dito. Isto é, em muitas
das notícias analisadas o que se verifica é que o principal critério de noticiabilidade é
o facto de ter sido dito pelo Presidente da República ou pelo primeiro-ministro e com
menor relevância o acontecimento em si.
Parte II |Análise setorial
Síntese metodológica

Decio Telo, Susana Santos e Gustavo Cardoso

A segunda parte deste livro é dedicada à análise por setor de comunicação social.
Dentro de cada setor, o número de meios e programas individuais variam conside-
ravelmente, assim como o número de histórias e volume da audiência. Começamos
por identificar previamente os diversos setores mediáticos, traçando em análise
longitudinal as tendências de consumo e o investimento publicitário.
Em seguida são identificados os meios de comunicação ínsitos em cada um
deles. Na análise de imprensa considerámos três tipos: a imprensa de referência, a
imprensa popular e a imprensa económica, num total de sete jornais diários. Na
análise da informação televisiva foram selecionados os principais blocos informa-
tivos dos quatro canais generalistas e dos três canais de informação. Na análise da
informação radiofónica foram escolhidas quatro rádios, três de índole informativa
generalista e os blocos noticiosos da rádio mais ouvida em Portugal em 2012 e 2013.

Unidades de estudo

Imprensa

Para cada uma das publicações selecionadas, codificamos apenas as peças que se
encontrem na primeira página. Tal baseia-se no argumento de que aquela foi a in-
formação que a imprensa considerou ser a mais relevante para caracterizar a agen-
da mediática daquele dia. Num primeiro momento, dado as dificuldades em
acedermos a todas as publicações, optámos por não codificar os artigos no interior
da publicação, visto que o acesso era apenas possível para menos de metade das
publicações.
Assim, num primeiro momento as notícias analisadas na imprensa corres-
pondem apenas ao conteúdo disponibilizado na capa. Esta opção implica várias li-
mitações para a análise, pois ao limitarmo-nos ao texto e imagem que aparece na
capa ficamos sem noção de quão desenvolvida foi a notícia, que protagonistas fo-
ram convocados e muitas vezes ficamos sem ter uma noção concreta sobre a fonte

37
38 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

dessa notícia. Dada a impossibilidade de acedermos de forma gratuita aos jornais,


o projeto estabeleceu um protocolo de cedência com a COFINA (Correio da Manhã e
Jornal de Negócios) e com o Público, e optámos por encarecer os custos do projeto
com a compra dos outros jornais. A partir de maio, a codificação passou a ter como
base as notícias da capa e o seu desenvolvimento no interior do jornal. As melhori-
as foram registadas ao nível das fontes, formatos, protagonistas e enfoque geográ-
fico, com um aumento da diversidade em cada um dos itens.
Uma reflexão ainda sobre a utilização das capas de jornais. A fragilidade des-
ta abordagem consiste, sem dúvida, no facto de descurar toda a agenda do dia, no
seu estado mais completo: de facto, alguns dos grandes temas surgem na primeira
página num dia e noutras páginas no dia seguinte. E se tal não se mostra muito rele-
vante na análise semanal, já o será no relatório de análise mensal e anual. Parte do
raciocínio que conduz à exclusão dessas histórias nacionais e internacionais é de
cariz prático: envolveria um enorme acréscimo de trabalho para cobrir um risco de
erro relativamente pequeno. O outro argumento é de índole concetual: pretende-
mos medir o que os jornais enfatizam, qual a sua agenda diária/semanal, não toda a
cobertura noticiosa.

Rádio

A rádio tem-se mostrado um meio de alcance bastante diversificado, atingindo


pessoas de distintos géneros, idades ou interesses. Não obstante, o problema que se
coloca com a codificação dos programas noticiosos prende-se com o facto de al-
guns dos programas serem de índole local, deixando de parte interesses por peças
jornalísticas que abarcam a realidade nacional. Por outro lado, existem variados
tempos específicos para atualização da informação, não podendo ser claro o exato
momento em que todas as histórias do dia são, efetivamente, as tidas por mais rele-
vantes por aquele media em concreto. Por fim, muitas das rádios comerciais reduzi-
ram o seu espaço informativo à leitura das manchetes de jornais e informação
oriunda de agências noticiosas.
Diariamente são codificadas as quatro rádios, selecionando para tal um dos
blocos noticiosos disponíveis. A seleção implica que cada bloco esteja igualmente
representado na amostra mensal. A razão prende-se com o facto de ser difícil aferir
qual o momento mais importante de audição de rádio pelos seus públicos, visto
que sabemos que existem públicos diferenciados de rádio, com hábitos de auscul-
tação diversos e associados a hábitos e estilos de vida, sendo que o período matinal
e de fim da tarde correspondem aos picos de audiência de rádio no automóvel. Por
outro lado, a rádio é um meio diferente da televisão e da imprensa na sua seleção e
apresentação dos acontecimentos. Tendo a capacidade de emitir noticiários novos
de hora a hora ou de meia em meia hora, é na rádio que mais facilmente se encon-
tram as breaking news, todos os acontecimentos imprevistos que escapam à agenda
mediática diária de cada meio de comunicação.
SÍNTESE METODOLÓGICA 39

Televisão

A escolha do que codificar dentro de cada telejornal é uma zona sensível do proces-
so de amostragem, ao qual o projeto não foi alheio. Inicialmente optou-se por codi-
ficar todo o telejornal (janeiro e fevereiro de 2012) de modo a tentar perceber as
dinâmicas dos alinhamentos.
A partir de março optámos por codificar apenas as notícias que são apresenta-
das nos headlines. A explicação prende-se com a uniformização dos critérios de
amostragem entre setores, se é verdade que os serviços de informação televisivos
são os mais vistos pela população portuguesa, a sua duração superior a uma hora
(com exceção do telejornal da RTP 2) corresponde a um alinhamento noticioso
completamente distinto do alinhamento da rádio e da imprensa. Ao optarmos por
analisar as primeiras páginas dos jornais tentámos uniformizar este critério aos ou-
tros meios de comunicação, selecionando assim no caso da televisão os headlines de
cada bloco noticioso. Esta escolha permite evidenciar a agenda noticiosa de cada
meio, analisando o que em cada dia foi destacado como mais relevante, em termos
médios isto implica analisar entre dez a dezasseis notícias por bloco informativo
(valores mínimos e máximos).
Apesar de centrarmos a nossa análise nos headlines, a dimensão dos telejor-
nais face aos outros meios continua a fazer-se sentir na nossa amostra. No ano de
2012 foram codificadas 19.024 peças noticiosas: 6493 provenientes da imprensa
(34,1%), 8459 da televisão (44,5%) e 4072 da rádio (21,4%). Os dados obtidos em
2012 permitiram efetuar alguns testes metodológicos no sentido de avaliar a pos-
sibilidade de reduzir a dimensão da amostra sem, no entanto, perder a consistên-
cia dos resultados. Neste sentido foi possível, em 2013, atingir o mesmo objetivo
com uma amostra de 16.218 peças, das quais 6220 (38,4%) na imprensa, 7008
(43,2%) na televisão e 2990 (18,4%) na rádio.
Capítulo 3
Imprensa
Diferentes jornais, notícias diferentes: política, economia, justiça
e desporto e a transversalidade da crise governativa

Susana Santos, Décio Telo, Gustavo Cardoso, Carlota Bicho e Eloísa Silva

Notas introdutórias

Apresentamos no presente capítulo os dados recolhidos pelo Projeto Jornalismo e


Sociedade referentes à imprensa em 2012 e 2013.
Numa primeira parte, contextualizaremos o setor da imprensa com dados re-
ferentes à sua evolução em termos de mercados e consumos. Analisaremos as au-
diências, as tiragens, a circulação, o suporte de publicação e o investimento
publicitário do setor, assim como as quotas de mercado de cada meio.
Numa segunda parte, realizaremos uma análise comparativa entre os dois
anos e os vários jornais com base nos dados recolhidos através do codebook do proje-
to Jornalismo e Sociedade. Para tal dividimos a nossa análise em três categorias
analíticas: jornais de referências, quality newspapers, jornais económicos e jornais
populares, tabloid (Esser, 1999, Sparks e Tulloch, 1999). Desta forma, procederemos
à descrição dos dados referentes aos dois anos por categoria e por órgão de comu-
nicação. Da primeira categoria farão parte o Público, o Diário de Notícias e o Jornal i;
da segunda, o Diário Económico e o Jornal de Negócios; da terceira, o Correio da Manhã
e o Jornal de Notícias. A opção de inclusão de cada um dos jornais na categoria de jor-
nalismo de qualidade, popular ou económica especializada obedeceu a dois princí-
pios: um de autoposicionamento (o modo como os jornais de apresentam ao seu
leitor); e um segundo de classificação interpares (a forma como cada jornal classifi-
ca os outros jornais que partilham a sua comunidade jornalística). Em cada uma
destas categorias analisaremos os dados referentes às grandes histórias mediáti-
cas (big stories), à área das peças, aos formatos, à cobertura geográfica regional,
europeia e internacional, às áreas temáticas (temas), e às personalidades mais re-
feridas (protagonistas). Selecionámos os cincos valores mais frequentes nos jorna-
is em análise em cada categoria (com exceção para o foco geográfico geral, no qual
analisamos todos os dados), que podiam ou não ser comuns aos vários meios. Ape-
nas os dados de 2012 e 2013 da variável big story serão analisadas separadamente,
por não haver nenhuma grande história comum aos dois anos. Nas restantes

41
42 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

variáveis, faremos ao mesmo tempo uma análise comparativa longitudinal (entre


os anos) e sincrónica (entre meios e anos).
Pretendemos desta forma contribuir para um conhecimento mais aprofunda-
do do estado da imprensa em Portugal nos últimos anos.

Contextualização do setor: dados sobre o consumo

De acordo com os dados do Anuário de Media e Publicidade, os anos de 2012 e 2013 fo-
ram, em geral, mais dois anos de quebra nas audiências para a maioria da imprensa
diária, mantendo a tendência de decréscimo que se instalou no setor desde 2008.
A exceção a esta tendência de quebra nas audiências médias é protagonizada
pelo Correio da Manhã, com um aumento na ordem dos 3% entre 2010 e 2011 e com
uma quebra mínima de 0,1% entre 2011 e 2013.
Também se poderá dizer que jornal Público e o Diário de Notícias contrariam a
tendência do setor, mas a subida é inferior a 1% em ambos os casos, o que faz com
que não seja possível aferir se os dois jornais estabilizaram as suas audiências mé-
dias na ordem dos 5% e 4%, respetivamente, ou se estão numa fase de crescimento
de leitores.
Tendo em consideração a evolução das tiragens de jornais, de 1994 a 2010, ve-
rificamos que o ano de 2008 é o pico de tiragens de jornais em Portugal, com valores
na ordem dos 731 milhões. Assistimos depois a uma tendência de queda nas tira-
gens, com o ano de 2010 a registar uma tiragem global de jornais de 609 milhões. No
que respeita à venda de jornais em banca, existiu um período de crescimento entre
1994 e 1999, ano com o maior número de tiragens registado — 353 milhões de jorna-
is. Entre 1999 e 2004, assistimos a uma estabilização das vendas na ordem dos 300
milhões de unidades. De 2004 a 2010, a tendência inverte-se com uma descida acen-
tuada do número de jornais em banca, com os valores a aproximarem-se daqueles
registados em 1994. 236 milhões em 2010 contra 211 milhões em 1994.
Os jornais de distribuição gratuita, presentes em Portugal desde 2002, não são
imunes a esta tendência de quebra na circulação de jornais. Tal como os jornais pa-
gos, o ano de 2008 marca o ponto alto dos valores da distribuição com 356 milhões.
2009 e 2010 são anos de quebra na circulação de jornais gratuitos, com valores na
ordem dos 285 e 276 milhões, respetivamente.
Os valores da circulação paga dos jornais diários de informação geral confir-
mam a tendência de quebra na imprensa. A única exceção é o Correio da Manhã que
desde 2002 tem aumentado de forma ligeira os valores da circulação paga, se bem
que em 2012 e 2013 verificamos também uma quebra. Em 2013, o Correio da Manhã
apresenta valores na ordem dos 114.712 exemplares O segundo jornal em termos
de circulação paga é o Jornal de Notícias com 64.192 exemplares. Em terceiro lugar,
surgem o Público e o Diário de Notícias com valores na ordem dos 20.000 exemplares.
O Jornal i, em banca desde 2009, apresenta valores modestos e em quebra, tendo re-
gistado em 2013 apenas 5.089 exemplares.
Os jornais económicos apresentam valores de circulação paga em contraten-
dência com os jornais de informação geral até 2011. Tanto o Diário Económico como
IMPRENSA 43

Quadro 3.1 Evolução anual da audiência média de publicações de informação geral (em %) 2004 a 2013

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Informação geral 34,1 35,7 33,0 36,6 40,0 39,4 37,6 37,4 35,5 35,6
Jornais diários 27,5 28,1 25,8 29,3 33,7 33,3 27,2 27,9 27,1 27,4
Correio da Manhã 10,1 10,2 9,3 12,0 11,4 12,4 11,6 14,2 14,0 14,1
Jornal de Notícias 11,3 12,0 11,4 11,9 11,0 12,1 11,6 11,4 11,7 12,0
Metro – – 5,6 7,9 7,7 6,0 5,4 4,5 3,6 2,5
Destak 0,9 3,5 5,4 7,7 7,6 5,5 5,3 4,3 3,7 2,5
Público 5,3 5,1 4,5 4,7 4,4 4,5 4,4 5,1 5,1 5,7
Diário de Notícias 3,8 3,8 3,2 3,8 3,6 4,1 3,7 4,1 4,2 4,5
24 horas 3 3,1 3,0 3,2 2,7 2,9 – – – –
Jornal i – – – – – – 1,2 1,3 1,6 1,4
Expresso 8,1 8,1 7,3 7,4 8,1 7,7 7,6 7,4 7,2 7,7
Sol – – – 2,8 2,6 3 3,2 2,5 2,3 2,5
Base 8,311 8,311 8,311 8,311 8,311 8,311 8,311 8,311 8,311 8,564

Fonte: Anuário de Media e Publicidade, 2011, Marktest.

800

700

600

500

400

300

200

100

0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Distribuição gratuita Vendas Tiragens

Figura 3.1 Evolução das tiragens, vendas e circulação gratuita dos jornais (milhões), 1994 a 2012
Fonte: Estatísticas da Cultura, INE.

o Jornal de Negócios têm aumentado os seus valores de circulação paga até este ano,
para depois sofrerem também uma quebra, tal como tinha acontecido nos genera-
listas. Em 2013, o Diário Económico continua a ser o líder da informação económica
paga com 10.119 exemplares, com o Jornal de Negócios a atingir os 7781 exemplares.
O único jornal económico gratuito, o Oje, em circulação desde 2006, teve no ano de
2011 o primeiro ano de quebra nos valores de circulação, tendência que se continu-
ou a verificar em 2012 e 2013.
44 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 3.2 Evolução da circulação paga por edição no segmento dos diários de informação geral (n.º), 1993
a 2013

Correio Jornal Diário


Público 24 Horas Jornal i
da Manhã de Notícias de Notícias

1993 53.447 71.050 – 68.536 – 36.843


1994 59.955 76.940 – 69.808 – 35.901
1995 56.044 77.317 – 78.377 – 39.460
1996 53.105 75.377 – 80.730 – 42.493
1997 49.728 71.431 – 78.815 – 42.554
1998 47.165 68.668 19.777 102.365 – 49.635
1999 52.018 74.644 19.964 105.688 – 55.005
2000 53.227 89.090 23.356 101.466 – 65.525
2001 53.509 98.270 30.641 103.844 – 58.599
2002 56.261 97.171 37.348 105.712 – 51.549
2003 54.286 110.714 47.544 102.509 – 47.117
2004 51.209 115.933 49.748 112.062 – 39.083
2005 48.994 113.785 48.795 95.249 – 35.536
2006 44.187 111.942 41.462 95.460 – 36.558
2007 41.764 115.361 35.803 91.827 – 36.237
2008 42.346 118.353 37.327 101.206 – 39.993
2009 37.276 118.399 26.007 89.007 12.824 32.771
2010 34.062 125.417 16.077 84.670 9467 29.374
2011 31.704 125.342 – 85.227 7169 33.973
2012 27.310 120.330 – 72.791 5510 27.748
2013 23.672 114.712 – 64.192 5089 20.025

Fonte: APCT; Edição OberCom.

Os dados relativos à quota de mercado no segmento dos diários de informa-


ção geral comprovam a linha de crescimento do Correio da Manhã. A extinção do jor-
nal 24 Horas tem beneficiado tanto o Correio da Manhã como o Jornal de Notícias na
disputa da quota de mercado relativamente aos outros jornais diários. O Público
tem visto a sua quota de mercado a descer continuamente desde 1993. Também o
Diário de Notícias tem vindo a perder terreno desde 200, apesar de uma tímida recu-
peração em 2011. Também o Jornal i, tem vindo a perder quota de mercado desde o
seu início, sendo hoje o diário de informação geral com menos quota de mercado,
seguindo-se-lhe o Diário de Notícias e o Público.
Relativamente à imprensa económica, o lançamento do Jornal de Negócios em
2002 veio retirar quota de mercado ao Diário Económico, até à data o único jornal espe-
cializado na área económica. Em 2006, o lançamento do Oje, jornal gratuito, diminuiu
de forma significativa as quotas de mercado do Jornal de Negócios e acima de tudo do
Diário Económico. Apesar de algumas oscilações até 2006/2007, devidas sobretudo à
entrada de novas publicações no mercado, a atribuição das quotas de mercado nos
diários de economia e finanças tem sido nos últimos anos relativamente estável.
O surgimento de publicações online em Portugal tem-se desenvolvido de for-
ma tímida de 2004 a 2012, neste último foram contabilizados pelo INE 146 publica-
ções exclusivamente online.1 No caso da utilização de suportes múltiplos (papel e

1 Em 2012, as categorias reduziram-se a papel e papel e eletrónico, pelo que não existem dados re-
lativamente a publicações de suporte exclusivamente eletrónico
IMPRENSA 45

Quadro 3.3 Evolução da circulação paga por edição no segmento dos diários de economia e finanças (n.º),
1994 a 2013

Jornal Diário
Oje Total Média
de Negócios Económico

1994 – 4281 – 4281 4281


1995 – 4690 – 4690 4690
1996 – 6918 – 6918 6918
1997 – 8453 – 8453 8453
1998 – 11.170 – 11.170 11.170
1999 – 10.794 – 10.794 10794
2000 – 11.920 – 11.920 11.920
2001 – 12.163 – 12.163 12.163
2002 – 9594 – 9594 9594
2003 6744 10.829 – 17.573 8787
2004 8628 11.054 – 19.682 9841
2005 7206 11.897 – 19.103 9552
2006 7161 11.979 17.258 36.398 12.133
2007 7589 12.003 21.926 41.518 13.839
2008 8575 13.687 23.579 45.841 15.280
2009 9694 14.623 24.663 48.980 16.327
2010 9521 15.605 24.161 49.287 16.429
2011 9388 14.682 22.322 46.392 15.464
2012 8650 13.251 17.752 39.653 13.218
2013 7781 10.199 16.973 34.953 11.651

Fonte: APCT; Edição OberCom.

Quadro 3.4 Evolução das quotas de mercado no segmento dos diários de informação geral, 1993 a 2013

Correio Jornal Diário


Público 24 Horas Jornal i
da Manhã de Notícias de Notícias

1993 23,3 30,9 – 29,8 16,0 –


1994 24,7 31,7 – 28,8 14,8 –
1995 22,3 30,8 – 31,2 15,7 –
1996 21,1 29,9 – 32,1 16,9 –
1997 20,5 29,5 – 32,5 17,5 –
1998 16,4 23,9 6,9 35,6 17,3 –
1999 16,9 24,3 6,5 34,4 17,9 –
2000 16,0 26,8 7,0 30,5 19,7 –
2001 15,5 28,5 8,9 30,1 17,0 –
2002 16,2 27,9 10,7 30,4 14,8 –
2003 15,0 30,6 13,1 28,3 13,0 –
2004 13,9 31,5 13,5 30,4 10,6 –
2005 14,3 33,2 14,3 27,8 10,4 –
2006 13,4 34,0 12,6 29,0 11,1 –
2007 13,0 35,9 11,2 28,6 11,3 –
2008 12,5 34,9 11,0 29,8 11,8 –
2009 11,8 37,4 8,2 28,1 10,4 4,1
2010 11,4 41,9 5,4 28,3 9,8 3,2
2011 11,2 44,2 – 30,1 12,0 2,5
2012 10,8 47,4 – 28,7 10,9 2,2
2013 10,4 50,4 – 28,2 8,8 2,2

Fonte: APCT, Edição OberCom.


46 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 3.5 Evolução das quotas de mercado no segmento dos diários de economia e finanças, 1994 a 2013

Jornal de Negócios Diário Económico Oje

1994 – 100 –
1995 – 100 –
1996 – 100 –
1997 – 100 –
1998 – 100 –
1999 – 100 –
2000 – 100 –
2001 – 100 –
2002 – 100 –
2003 38,4 61,6 –
2004 43,8 56,2 –
2005 37,7 62,3 –
2006 19,7 32,9 47,4
2007 18,3 28,9 52,8
2008 18,7 29,9 51,4
2009 19,8 29,9 50,4
2010 19,3 31,7 49,0
2011 20,2 31,6 48,1
2012 21,8 33,4 44,8
2013 22,3 29,2 48,6

Fonte: APCT; Edição OberCom.

2000
1800
1600
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Papel Electrónico Papel e electrónico

Figura 3.2 Evolução do suporte de publicação (n.º), 2004 a 2012


Fonte: Estatísticas da Cultura, INE.
IMPRENSA 47

Quadro 3.6 Evolução do investimento publicitário, 2002 a 2013 (milhares de euros)

Investimento
Televisão Imprensa Outdoor Rádio Cinema Internet
total

2002 1.528.408 449.815 170.871 169.880 – 2.318.975


2003 1.672.374 592.549 200.145 172.080 9903 – 2.647.051
2004 1.892.813 675.473 224.770 189.031 13.392 – 2.995.480
2005 2.483.635 700.606 250.590 187.322 13.596 – 3.635.750
2006 2.840.206 733.912 276.730 184.883 14.491 – 4.050.223
2007 3.085.780 816.546 283.984 183.458 21.976 – 4.391.744
2008 3.330.911 835.223 303.504 17.8760 23.427 – 4.671.825
2009 3.517.230 741.717 311.407 196.229 22.864 – 4.789.447
2010 3.797.464 721.939 294.186 200.128 23.485 – 5.037.203
2011 3.735.207 673.561 312.483 219.055 29.200 – 4.969.505
2012 3.421.115 616.190 301.024 229.363 26.989 – 4.594.681
2013 3.951.572 592.451 298.376 227.032 21.521 407.464 5.498.417

Nota: investimento a preços de tabela. Valores em milhares de euros.


Fonte: Anuário de Media e Publicidade, 2013, Marktest.

eletrónico) foram alcançadas em 2010 as 489 publicações, o que representa um cres-


cimento em sete anos na ordem de 100%, sendo que se registaram pequenas que-
bras nos anos posteriores. Ao mesmo tempo que as empresas de media apostam no
sistema de multiplataformas, as publicações exclusivas em papel têm decrescido,
sendo que de 2004 para 2013 o número caiu para metade.
A análise da evolução do investimento publicitário por meio indica que a im-
prensa é o segundo meio a arrecadar um valor mais elevado, mas mesmo assim
muito distante dos valores recebidos pela televisão, meio privilegiado do investi-
mento publicitário em Portugal. Os valores do investimento publicitário geral so-
freram uma grande quebra em 2011 e 2012, recuperando em 2013.
No caso da televisão, o investimento publicitário tem vindo a crescer desde
2002, apesar de uma pequena quebra em 2011 e 2012, seguida de uma grande recu-
peração em 2013.
Pelo contrário, na imprensa, desde 2008 que os valores têm vindo continua-
mente a descer: em 2013 representam cerca de 592 mil euros, sendo que é necessá-
rio recuar a 2003 para encontrarmos valores nesta ordem de grandeza.
Como podemos comprovar pelo quadro 3.7, 2012 foi um ano de descida do in-
vestimento publicitário em quase todos os meios, com especial destaque para a te-
levisão e para a imprensa, com quedas na ordem dos 8,5%.
Já em 2013, verificaram-se subidas no investimento em todos meios, exceto
no cinema e na imprensa, com uma queda de 3,9% relativamente ao ano anterior.
Os anos de 2012 e 2013 foram marcados pela continuidade da trajetória des-
cendente da imprensa. Desde 2008 que se verificam contínuas quebras nas audiên-
cias, nas tiragens e na circulação e no investimento publicitário.
48 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 3.7 Taxa de variação anual do investimento publicitário por meio (em %)

Televisão Imprensa Outdoor Rádio Cinema Total

2002/03 9,4 31,7 17,1 1,3 – 14,1


2003/04 13,2 14,0 12,3 9,9 35,2 13,2
2004/05 31,2 3,7 11,5 -0,9 1,5 21,4
2005/06 14,4 4,8 10,4 -1,3 6,6 11,4
2006/07 8,6 11,3 2,8 -0,8 51,7 8,4
2007/08 7,9 2,3 6,7 -2,6 6,6 6,4
2008/09 5,6 -11,2 2,6 9,8 -2,4 2,5
2009/10 8,0 -2,7 -5,5 2,0 2,7 5,2
2010/11 -1,6 -6,7 6,2 9,5 24,3 -1,3
2011/12 -8,4 -8,5 -3,7 4,7 -7,6 -7,5
2012/13 15,5 -3,9 0,9 -1,0 -20,3 19,7

Fonte: Anuário de Media e Publicidade, 2013, Marktest.

Jornais de referência

Principais notícias de 2012

Selecionámos as cinco notícias mais frequentes nos jornais de referência. Sendo


que a grande maioria era comum aos três jornais, chegámos por isso a um total de
oito histórias mais faladas na imprensa de referência no ano de 2012.
As big stories mais constantes na imprensa de referência são dedicadas às
questões políticas e económicas mais proeminentes, com exceção para o Euro 2012
que fez também parte das estórias mais faladas, nomeadamente no Diário de Notíci-
as, com 10,1% das histórias sobre o Euro. O evento desportivo foi de resto muito fa-
lado nos três meios, sendo que o Jornal i lhe dedicou pouco espaço. O Público é o
jornal que mais destaque dá a questões de política e economia europeia e internaci-
onal, sendo que a big story mais tratada neste jornal foram as eleições nos EUA que
ocorreram em novembro e das quais Barack Obama saiu vencedor para um segun-
do mandato, derrotando o candidato republicano Mitt Romney. O Jornal i deu pre-
ferência a temas nacionais, como o Orçamento do Estado de 2013 e a greve geral de
14 de novembro.
É no entanto este último jornal que apresenta dados mais dissemelhantes,
pois dá um realce menor a todas as oito big stories.
Sendo que os três jornais apresentaram uma percentagem de peças analisa-
das pertencentes a big stories muito semelhantes (33,8% no Público, 30,6% no Diário
de Notícias e 30,8% no Jornal i) não podemos afirmar que o Jornal i dedica menos es-
paço a este tipo de grandes histórias, mas sim dizer que se distribui mais entre as
principais notícias do ano.
De notar que apenas três das oito big stories (derrapagem do défice, greve ge-
ral, Orçamento do Estado 2013) diziam respeito a assuntos exclusivamente nacio-
nais, pelo que podemos dizer que 2012 foi um ano em que a imprensa de referência
em geral deu bastante espaço em capa a temas internacionais, em especial aos
IMPRENSA 49

2,6
Orçamento do Estado 2013 5,9
6,3
1,9
Greve geral de 14 de novembro 1,5
3,5

1,7
Derrapagem do défice 0,3
4,1
1,6
2,4
Crise grega 3,4
1,1
Desemprego na zona euro 1,7
3,0
0,3
Euro 2012 10,1
4,9
0,0
Eleições nos EUA 3,1
8,2
0,2
2,8
Eleições na Grécia 0,4

0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0

Público 2012 DN 2012 Jornal i 2012

Figura 3.3 Principais notícias em 2012 na imprensa de referência (em %)


Jornal i (N.º=198); Diário de Notícias (N.º=288); Público (N.º=268)
Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

relativos à crise na zona euro, como o demostram as big stories crise grega, eleições
na Grécia e desemprego na zona euro.

Principais notícias de 2013

As grandes histórias de 2013 foram as eleições autárquicas e a crise na coligação


governativa.
A crise na coligação governativa teve início em julho de 2013 quando foi
anunciada a demissão do ministro das finanças Vítor Gaspar, e a sua substituição
por Maria Luís Albuquerque. 2 Paulo Portas apresentou a sua demissão do Gover-
no no dia seguinte, decisão considerada pelo próprio como “irrevogável”, apesar
de não ter afirmado que a coligação seria rompida.3 Dias mais tarde, Pedro Passos
Coelho e Paulo Portas anunciaram ter chegado a um acordo em que Paulo Portas as-
sumiria o cargo de vice-primeiro-ministro, mas Cavaco Silva defendeu um compro-
misso de salvação nacional tripartido com o PS.4 As conversações com o maior partido
da oposição falharam, e a crise na coligação só se viu resolvida com a tomada de posse
do novo governo a 24 de julho, com Paulo Portas como vice-primeiro-ministro. Esta se-
quência de acontecimentos foi intensamente tratada pela imprensa de referência,

2 http://expresso.sapo.pt/carta-de-demissao-de-vitor-gaspar=f817482
3 http://www.publico.pt/politica/noticia/o-comunicado-de-demissao-de-paulo-portas-
na-integra-1599019
4 http://www.jornaldenegocios.pt/economia/detalhe/cavaco_apela_a_compromisso_de_salva-
cao_ nacional_para_eleicoes_antecipadas_em_junho_de_2014.html
50 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

9,5
Autárquicas 7,6
12,4
8,2
Crise na coligação governativa 10,0
7,8
6,9
TC chumba OE 0,5
1,6

3,6
Investigação aos contratos swaps 1,0
2,4
3,3
Final de época 2,0
2,8
2,6
Orçamento retificativo 2013 2,4
3,4
1,0
Relatório FMI para a refundação do Estado social 2,4
2,0
1,6
Orçamento do Estado 2014 3,0
2,4
0,7
Resgate ao Chipre 1,0
2,7
0,7
Atentados em Boston 0,4
2,4

0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0


%

Público 2013 DN 2013 Jornal i 2013

Figura 3.4 Principais notícias em 2013 na imprensa de referência (em %)


Jornal i (N.º=198); Diário de Notícias (N.º=288); Público (N.º=268)
Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

sendo que esta foi a história do ano mais coberta no Diário de Notícias e a segunda
nos dois outros jornais.
As eleições autárquicas de 29 de setembro foram as primeiras eleições duran-
te o programa de resgate a que o país foi submetido. Foram vistas por muitos como
a primeira ocasião em que o povo poderia manifestar a sua insatisfação para com o
Governo. Os termos exigidos pela CNE limitaram as possibilidades de cobertura
dos meios de comunicação, mas não foi por isso que este deixou de ser um momen-
to eleitoral intensamente mediatizado, chegando a ser a história mais coberta pelo
Jornal i e pelo Público. De realçar também as histórias associadas aos Orçamento do
Estado, tais como o chumbo de algumas medidas do Orçamento do Estado 2013
pelo Tribunal Constitucional, o orçamento retificativo do mesmo ano e o Orçamen-
to de 2014.
Em 2013, a imprensa centrou-se mais em assuntos nacionais, relegando para
segundo plano as notícias relativas a histórias internacionais, dos quais apenas
duas chegaram às cinco mais frequentes dos três jornais: o resgate ao Chipre e os
atentados em Boston (maratona).5 Estes eventos que mereceram alguma atenção
especialmente da parte do Público, tiveram menor cobertura em comparação com a
política nacional, o tema que mais originou big stories.

5 http://estadodasnoticias.info/2013/04/atentados-de-boston-diminuem-a-atencao- dada-a-
crise-economica-portuguesa/
IMPRENSA 51

Área das notícias em 2012 e 2013

A área das notícias categorizou-se da seguinte forma: até 1/3 de página, o artigo foi
considerado pequeno, com uma página, médio e com mais de uma página, grande.
Como podemos verificar pelo quadro 3.8, o tamanho mais frequente do Diário de
Notícias e do Público, nos dois anos em análise foi o médio. Já o Jornal i optou mais
frequentemente pelas peças de mais de uma página, tanto em 2012 como em 2013.
O tamanho menos frequente na imprensa de referência é o pequeno, com exceção
para o Diário de Notícias em 2012.
De referir ainda que, de 2012 para 2013, foi notória uma diminuição das peças
pequenas e um aumento das peças médias em todos os jornais em análise.

Quadro 3.8 Área das notícias em 2012 e 2013 na imprensa de referência (em %)

2012 2013

Área Jornal I Diário Público Jornal I Diário Público


de Notícias de Notícias
(N.º = 398) (N.º=668) (N= 554) (N.º= 739) (N.º= 195) (N.º=798)

Pequeno até 1/3 página 27,6 32,2 26,5 13,3 17,5 8,6
Médio até 1 página 30,9 48,2 44,0 42,8 62,9 60,0
Grande > 1 página 41,5 19,6 29,4 44,0 19,5 31,3

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Formatos em 2012 e 2013

No que toca aos formatos, a esmagadora maioria das peças em capa remetem para
o formato notícia.
Verificamos no entanto uma ligeira tendência para a diversificação do gé-
nero jornalístico em 2013: a percentagem de notícia diminuiu em todos os meios
em prol dos outros formatos, nomeadamente da reportagem, que surge como o
segundo mais utilizado em todos os meios e que sofre um crescimento visível
em 2013.
Relativamente à entrevista e opinião, nota-se que nenhum dos jornais em
análise recorreu com frequência às capas para promover peças sob estes formatos,
sendo que o Jornal i é aquele em que a entrevista mais saiu em capa nos dois anos
em análise.
52 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 3.9 Formatos na imprensa de referência (em %)

2012 2013

Formatos Jornal i Diário Público Jornal i Diário Público


de Notícias de Notícias
(N.º = 621) (N.º = 929) (N.º = 770) (N.º =728) (N.º = 1071) (N.º = 788)

Notícia (inclui artigo) 80,7 75,9 73,1 66,3 66,8 70,9


Reportagem 8,9 14,4 15,5 19,8 22,2 18,7
Entrevista 9,2 5,5 4,5 8,5 3,5 4,6
Opinião (inclui coluna, crítica) 1,3 2,8 5,3 4,0 6,3 4,3
Editorial 0,0 1,2 0,6 0,8 0,7 0,4

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Cobertura geográfica em 2012 e 2013

No que respeita ao foco geográfico das peças analisadas, o primeiro dado a ter em
conta é o referente às peças cujo foco foi o exclusivamente nacional: mais de 50%
das peças em todos os meios tiveram como foco Portugal.

Quadro 3.10 Cobertura geográfica na imprensa de referência (em %)

2012 2013

Cobertura geográfica Jornal i Diário Público Jornal i Diário Público


de Notícias de Notícias
(N.º=601) (N.º=876) (N.º=742) (N.º=730) (N.º=1043) (N.º=785)

Local / regional 8,0 10,5 6,6 8,6 12,9 8,9


Nacional 63,4 56,7 52,0 57,7 53,3 53,6
Nacional-Europa 9,5 10,5 10,8 8,8 8,9 5,2
Nacional-internacional 5,3 5,0 3,8 9,7 6,2 9,2
Europa-nacional 2,2 3,0 4,2 4,0 3,1 3,8
Europa 7,0 6,7 8,5 4,1 5,5 7,1
Internacional-nacional 1,7 1,8 1,5 2,3 2,4 2,2
Internacional 3,0 5,7 12,7 4,8 7,7 9,9

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

No jornal Público, o segundo tipo de foco mais frequente foi o referente aos
países não europeus sem referências a Portugal (Internacional) sendo que as peças
com este foco geográfico perfizeram 12,7% em 2012 e 9,9% em 2013. Esta tendência
de internacionalização da cobertura mediática do jornal Público já se tinha verifica-
do quer pelas big stories mais tratadas, quer pelos protagonistas e temas. A conso-
nância entre big stories, protagonistas e foco geográfico fazem com que o Público se
IMPRENSA 53

apresente como o jornal entre os três em análise que mais se aproxima do ideal de
jornalismo de referência ou qualidade, com maior dedicação às hard news (Reine-
man et al., 2012: 232).
O Diário de Notícias deu mais espaço a peças de teor regional ou local (em
2012, 10,5% e, em 2013, 12,9%). No Jornal i verifica-se alguma mudança de 2012
para 2013: enquanto no primeiro ano em análise o segundo tipo de foco mais fre-
quente foi o nacional com referência a países europeus (nacional-Europa), no
segundo ano foi o nacional com referência a países não europeus (nacional-
-internacional).

Cobertura geográfica regional em 2012 e 2013

Dentro do foco geográfico local, verificamos que a região com mais cobertura me-
diática é Lisboa e Vale do Tejo no Diário de Notícias (35,6% em 2012, 44,1% em 2013)
no Jornal i (59,7% em 2012 e 53,5% em 2013) e, ainda que com percentagem significa-
tivamente menores e mais distribuídas por outras regiões, no Público (20% em 2012
e 36,9% em 2013).
A região do Grande Porto não recebeu uma atenção comparável à que foi con-
ferida à Grande Lisboa, ainda que o jornal Diário de Notícias tenha sido aquele que
mais espaço em capa conferiu a esta região (11,1% em 2012 e 7,1% em 2013). A este
facto não será alheio a cada vez maior partilha de conteúdos entre o Diário de Notíci-
as (com sede em Lisboa) e o outro jornal do grupo, o Jornal de Notícias com sede na
cidade do Porto.
De notar a grande atenção mediática que a região da Madeira atraiu no ano
de 2012, especialmente por parte do Público. Esta atenção explica-se em parte
devido ao escândalo do buraco financeiro do governo regional que rebentou em
2011 e cujos desenvolvimentos ainda sofreram intensa cobertura mediática em
2012. Também em 2013 a região esteve em destaque pelos grandes incêndios do
verão.
De notar as percentagens inesperadamente altas do Algarve em 2012, quando
em comparação com outras regiões do país, como por exemplo o Centro. Tal rele-
vância deve-se em parte aos incêndios de verão que nesse ano lavraram na serra al-
garvia, mas também ao tornado que ocorreu no mesmo ano na zona de Silves,
provocando feridos e danos materiais.
A Região Autónoma dos Açores e o Alentejo foram as que atraíram menos
atenção noticiosa, chegando a percentagem a ser 0 no Público de 2013, em ambas as
regiões. De realçar a cobertura do Jornal i à região do Alentejo em 2013 com 8,1%
das notícias de capa.
54 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 3.11 Cobertura geográfica regional na imprensa de referência (em %)

2012 2013

Cobertura geográfica regional Jornal i Diário Público Jornal i Diário Público


de Notícias de Notícias
(N.º=43) (N.º=90) (N.º=50) (N.º=62) (N.º=127) (N.º=65)

Norte (exceto Grande Porto) 9,3 14,4 10,0 12,9 20,5 15,4
Grande Porto 4,7 11,1 16,0 9,7 7,1 15,4
Centro 14,0 12,2 6,0 3,2 12,6 18,5
Lisboa e Vale do Tejo (Grande Lisboa) 53,5 35,6 20,0 59,7 44,1 36,9
Alentejo 2,3 4,4 4,0 8,1 1,6 0,0
Algarve 2,3 10,0 18,0 3,2 4,7 1,5
Região Autónoma da Madeira 11,6 7,8 20,0 1,6 1,6 12,3
Região Autónoma dos Açores 2,3 4,4 6,0 1,6 7,9 0,0

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Cobertura geográfica europeia em 2012 e 2013

Os países europeus mais mencionados foram o Chipre, Itália, Vaticano, Reino Uni-
do, Espanha, França, Alemanha e Grécia. Num contexto de crise europeia, não é de
surpreender as referências a países do sul da Europa como Itália, Chipre ou Grécia.
A crise financeira deste último país foi a mais violenta da Europa e o programa de
resgate a que este país tem estado sujeito desde 2010 foi também fonte de muita
controvérsia e contestação, o que fez com que este país fosse alvo de uma intensa e
constante cobertura mediática, tornando-se até numa das grandes histórias mediá-
ticas como comprovamos pela big story crise grega na figura das big stories de 2012.
Além disso, a Grécia atravessou também um momento eleitoral tenso em 2012, o
que explica a maior atenção mediática que recebeu nesse ano. As referências a Itália
aumentam substancialmente em 2013, o que pode ser explicado também pelas elei-
ções legislativas nesse mesmo ano. A atenção mediática ao Chipre praticamente só
existe em 2013, ano em que este país pediu assistência financeira e foi colocado sob
um programa de resgate.
De notar também as frequentes referências aos países do eixo franco-alemão
na liderança de uma Europa em crise. Ambos os países passaram também por mo-
mentos eleitorais importantes (eleições presidenciais em França em 2012, eleições
legislativas na Alemanha em 2013).
A atenção mediática que o Reino Unido recebeu em 2013 explica-se essencial-
mente por três eventos: a morte de Margaret Thatcher em abril, o nascimento do
príncipe George, filho dos duques de Cambridge, e os Jogos Olímpicos de Londres.
De referir ainda os eventos que explicam a presença do Vaticano neste gráfico
em 2013: a resignação do Papa Bento XVI e a eleição do Papa Francisco I.
As referências a Espanha são muito frequentes, em especial no Diário de Notí-
cias e no Público de 2012, ano em que se acordou o resgate ao sistema financeiro da-
quele país. A observação de Espanha como um dos países com maior incidência de
cobertura noticiosa está em consonância com estudos anteriores sobre a agenda
IMPRENSA 55

Quadro 3.12 Cobertura geográfica europeia na imprensa de referência (em %)

2012 2013

Países Jornal i Diário Público Jornal i Diário Público


de Notícias de Notícias
(N.º=112) (N.º=173) (N.º=172) (N.º=62) (N.º=127) (N.º=104)

Grécia 14,3 8,7 9,9 4,9 2,9 1,9


Alemanha 11,6 4,6 6,4 7,4 5,1 8,7
França 8,9 8,7 9,9 3,7 10,9 7,7
Espanha 7,1 17,9 16,3 8,6 10,9 7,7
Reino Unido 3,6 6,9 4,7 6,2 15,9 18,3
Vaticano 0,0 1,2 0,6 8,6 11,6 4,8
Itália 2,7 1,2 3,5 6,2 5,1 9,6
Chipre 0,0 0,0 0,6 3,7 3,6 8,7

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

noticiosa portuguesa (Silveira e Shoemaker, 2010) e explicam-se pela grande proxi-


midade geográfica, económica e cultural entre os dois países.6

Cobertura geográfica internacional em 2012 e 2013

No caso dos países internacionais (todos os que não pertencem ao continente euro-
peu) foram os EUA o país mais mencionado por todos os meios nos dois anos em
análise. Verifica-se, apesar disso, que houve um decréscimo de referências de 2012
para 2013. Dois grandes acontecimentos justificam a imensa atenção mediática que
este país mereceu da parte da imprensa portuguesa em 2012: o furacão Sandy que
afetou a costa leste dos EUA em outubro, e as eleições presidenciais em novembro.
E, em 2013, o atentado na maratona de Boston a 15 de abril.
Será de notar que constam na lista dos países mais referenciados quatro países
de língua portuguesa (Brasil, Angola, Guiné-Bissau e Moçambique). Apresença des-
tes países na narrativa noticiosa portuguesa não será de surpreender tendo em conta
a proximidade cultural e histórica. Será no entanto de relembrar o Caso Duarte Lima
que apesar de não constar nas cinco principais histórias de 2012 dos jornais em análi-
se, foi intensamente coberta pela comunicação social em geral e que contribuiu em
muito para a presença do Brasil nesta lista em 2012, tal como a visita do Papa e os pro-
testos em junho neste país contribuíram para que a cobertura mediática se mantives-
se intensa em 2013.7 Também Angola surge como um dos países mais referidos,
principalmente em 2013, ano em que houve algumas tensões nas relações diplomáti-
cas entre Portugal e este país.
A Guiné-Bissau recebeu mais atenção mediática em 2012, ano em que o país so-
freu um golpe de Estado, e Moçambique surge no plano dos países mais referidos

6 http://estadodasnoticias.info/home/apresentacao/dados-chave/as-noticias-do-ano-por-meio/
7 http://estadodasnoticias.info/2013/06/greve-de-professores-e-protestos-no-brasil-dividem-
atencao-mediatica-na-semana-de-17-a-22-de-junho/
56 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 3.13 Cobertura geográfica internacional na imprensa de referência (em %)

2012 2013

Países Jornal i Diário Público Jornal i Diário Público


de Notícias de Notícias
(N.º=35) (N.º=79) (N.º=99) (N.º=656) (N.º=126) (N.º=125)
EUA 37,1 41,8 41,8 22,6 25,4 20,8
Brasil 20,0 17,7 9,1 7,1 11,9 8,8
Angola 5,7 2,5 4,0 7,1 4,0 10,4
China 5,7 5,1 3,0 1,2 1,6 1,6
Guiné-Bissau 5,7 5,1 2,0 2,4 0,8 2,4
Síria 0,0 2,5 10,1 2,4 1,6 5,6
Venezuela 2,9 2,5 5,1 0,0 7,9 3,2
Egito 2,9 3,8 3,0 0,0 1,6 3,2
Moçambique 0,0 0,0 0,0 3,6 1,6 8,0
FMI 0,0 0,0 0,0 4,8 2,4 0,8
África do Sul 0,0 0,0 0,0 1,2 7,1 2,4
Troika 0,0 0,0 0,0 33,3 17,5 16,8

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

apenas em 2013 devido ao conflito interno entre forças do exército e da Renamo e o


rapto de portugueses no território (notícia da semana de 4 a 8 de novembro).8
Não falharam à imprensa de referência os conflitos e guerras (Síria, Egito e
Guiné). De referir ainda a presença da Venezuela em 2013 devido à morte de Hugo
Chávez, e a de África do Sul, devido à morte de Nelson Mandela.

Temas em 2012 e 2013

No que respeita aos temas mais frequentes, denotamos uma clara predominância
da economia e da política interna. Em 2012, os três jornais deram primazia aos as-
suntos económicos, enquanto em 2013 o peso desta temática diminui em prol da
política interna, que passa a ser o principal tema no Público e no Diário de Notícias.
Esta viragem da economia para a política interna estava também já patente nas big
stories do ano de 2013 (capítulo 3), através das quais verificámos que o nacional se
tornou o principal foco das peças analisadas, devido às notícias relacionadas com
os orçamentos, as eleições autárquicas e a crise na coligação governativa.
Outros temas como a saúde, a cultura e os assuntos laborais mereceram tam-
bém algum destaque na imprensa de referência. De notar que o Diário de Notícias
dedicou bastante mais espaço ao desporto e à justiça e sistema judicial que o Público
ou o Jornal i, o que pode indicar uma aproximação da política editorial do jornal à
imprensa popular ou tabloide. De notar que a educação, tema “quente” nos media,
não ocupa lugar nos cinco temas mais falados na imprensa de referência.

8 http://estadodasnoticias.info/2013/11/rapto-de-portugueses-em-mocambique-e-a-noticia-da-
semana-de-4-a-9-de-novembro/
IMPRENSA 57

Quadro 3.14 Temas na imprensa de referência (em %)

2012 2013

Temas Jornal i Diário Público Jornal i Diário Público


de Notícias de Notícias
(N.º=641) (N.º=941) (N.º=794) (N.º=740) (N.º=1095) (N.º=798)

Economia e setores económicos 25,7 11,2 16,6 21,6 11,0 13,7


Política interna 15,9 9,8 12,3 18,2 14,0 16,5
Justiça e sistema judicial 9,5 14,8 9,1 10,8 14,9 9,0
Assuntos laborais e Segurança Social 8,0 5,6 6,8 5,0 5,0 5,3
Cultura 4,8 5,7 6,8 5,5 4,9 5,0
Política europeia 4,7 3,3 6,8 8,0 2,6 5,9
Desporto 2,5 12,4 5,4 4,6 11,6 6,4
Saúde 3,6 5,0 4,8 3,0 5,6 3,5

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Protagonistas em 2012 e 2013

A percentagem de peças com protagonista nos três jornais rondou os 40% em 2012 e
os 60% em 2013. Denotamos que as personalidades protagonistas de notícias foram
na sua grande maioria políticos nacionais e internacionais. De destacar Passos Coe-
lho enquanto a personalidade que mais protagonismo teve nas peças analisadas,
tanto em 2012 como em 2013, não se verificando uma diferença significativa no pro-
tagonismo do primeiro-ministro de um ano para o outro.
O mesmo não se poderá dizer em relação aos meios: o Jornal i foi claramente
aquele que mais capa dedicou a Passos Coelho, tanto em 2012 (6,6%) como em 2013
(7,3%). O ex-ministro das finanças Vítor Gaspar e o ex-ministro dos assuntos parla-
mentares Miguel Relvas figuram também entre as personalidades com mais desta-
que. Foi o ministério de Vítor Gaspar o que mais protagonismo teve devido à crise
económica que o país atravessa, e a sua demissão em 2013 fez dele capa em todos os
jornais. Miguel Relvas foi por sua vez um dos ministros mais controversos do Go-
verno, devido às polémicas relacionadas com a sua licenciatura, vindo este tam-
bém a pedir demissão em abril de 2013, explicando-se assim a atenção que a
imprensa lhe dedicou.9
O Presidente da República surge como quarto protagonista, sendo que o seu
espaço em capa diminuiu de 2012 em 2013 em quase todos os meios.
De destacar ainda Angela Merkel e Barack Obama como os protagonistas in-
ternacionais das notícias. O protagonismo da chanceler alemã tem sido alto duran-
te a crise da zona euro, e adquiriu uma relevância ainda maior no segundo ano em
análise, o que se explica com as eleições legislativas alemãs desse ano, das quais
saiu vencedora.

9 http://estadodasnoticias.info/2013/02/o-valor-noticia-dos-protestos-estudantis-a-noticia-dos-
incidentes-na-conferencia-dos-20-anos-da-tvi-no-iscte-iul/
58 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 3.15 Protagonistas na imprensa de referência (em %)

2012 2013

Protagonistas Jornal i Diário Público Jornal i Diário Público


de Notícias de Notícias
(N.º=332) (N.º=489) (N.º=368) (N.º=453) (N.º=728) (N.º=548)

Pedro Passos Coelho 6,6 3,5 4,6 7,3 4,3 4,9


Vítor Gaspar 4,5 1,6 2,4 4,6 2,6 1,6
Miguel Relvas 4,2 1,2 2,4 0,9 1,5 1,8
Cavaco Silva 3,6 1,4 1,9 3,5 3,2 2,9
Angela Merkel 2,1 1,4 0,8 1,3 0,3 0,7
Paulo Portas 2,1 2,1 0,5 1,5 2,3 2,6
José Sócrates 1,8 1,8 0,3 1,5 0,5 ,9
António José Seguro 1,2 2,9 2,2 3,5 3,2 3,6
Barack Obama 0,3 1,8 6,3 0,4 1,5 2,2
Cristiano Ronaldo 0,3 1,8 0,3 0,2 1,4 0,4

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Também as eleições presidenciais nos EUA explicam o protagonismo de Oba-


ma em 2012, especialmente no Público, o jornal que mais intensamente cobriu o mo-
mento eleitoral, como já tínhamos verificado no gráfico referente às big stories de
2012.
A única personalidade fora do mundo da política foi Cristiano Ronaldo. Mais
uma vez, podemos verificar que foi o Diário de Notícias a dar mais relevância ao des-
porto, sendo que foi dos três jornais de referência o que mais espaço dedica ao joga-
dor, tanto em 2012 como em 2013.

Jornais económicos

Principais notícias de 2012

As principais notícias de 2012 nos jornais económicos foram algo distintas. No Diá-
rio Económico as notícias mais tratadas foram a nova lei do arrendamento, que pre-
via a atualização dos valores para imóveis, e o resgate a Espanha, que remete para o
resgate da banca espanhola; no caso do Jornal de Negócios foi o corte de subsídio de
férias e de Natal, seguindo-se-lhe o Orçamento do Estado de 2013.
Será de realçar as diferenças no tratamento das três big stories relativas a aconte-
cimentos transnacionais — desemprego na zona euro, crise grega e resgate a Espa-
nha — entre os dois jornais económicos analisados. Amaior diferença encontra-se na
cobertura da temática desemprego na zona euro: os números do Diário Económico
(6,1%) contrastam em muito com a parca parcela que o Jornal de Negócios dedicou ao
tema (1,8%). Também no resgate a Espanha o primeiro diário apresentou uma cober-
tura mais extensiva, apesar de neste caso ser bastante próxima (6,7% e 6%, respetiva-
mente). Já a crise grega parece ter cativado mais a atenção do Jornal de Negócios (com
7,7%) do que a do Diário Económico (5,5%).
IMPRENSA 59

8,9
Orçamento de Estado 2013
6,1

9,5
Corte de subsídio de férias e de Natal
4,2

0,0
Crise grega 5,5

1,8
Desemprego na zona euro 6,1

6,0
Resgate de Espanha (crise do euro)
6,7

6,0
Nova lei do arrendamento
9,1

0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0


%

Económico Negócios

Figura 3.5 Principais notícias de 2012 na imprensa económica (em %)


Diário Económico (N.º=165); Jornal de Negócios (N.º=168)
Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Principais notícias de 2013

Em 2013, a cobertura das grandes histórias foi bastante diferente nos dois jornais
económicos. Contudo, a grande história do ano foi comum aos dois jornais: a cri-
se na coligação governativa que perfez 10,4% das big stories no Diário Económico
e 8,3% no Jornal de Negócios. O Diário Económico parece ter dado mais espaço em
capa a histórias nacionais, tais como as alterações legislativas para a função pú-
blica, as investigações aos contratos swap, as privatizações e orçamento retifica-
tivo de 2013. Apenas o orçamento de 2014 a que o Jornal de Negócios (5,9%)
prestou mais atenção do que o Diário Económico (3,5%) é uma exceção a esta re-
gra. As duas histórias que não se confinam ao nacional — resgate ao Chipre e
morte de Hugo Chávez — foram mais cobertas pelo Jornal de Negócios do que
pelo Diário Económico. Esta última foi inclusivamente a segunda mais frequente
no Jornal de Negócios. Verificámos na nossa base de dados que a cobertura do Jor-
nal de Negócios a este acontecimento foi acima de tudo sobre as consequências
que a morte de Chávez poderia ter na economia venezuelana e, por consequên-
cia, nos negócios de Portugal com aquele país.
60 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

8,3
Crise na coligação governativa 10,4

Investigação aos contratos swaps


6,5
Morte de Hugo Chávez 0,0
0,9
Orçamento retificativo 2013 9,7
5,3
Privatização de setores estratégicos 9,7

5,9
OE 2014 3,5

Resgate ao Chipre 5,3


0,7
0,7
Alterações legislativas 4,9

0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0


%

Económico Negócios

Figura 3.6 Principais notícias em 2013 na imprensa económica (em %)


Diário Económico (N.º=144); Jornal de Negócios (N.º=169)
Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Área das notícias em 2012 e 2013

Tal como na imprensa de referência, também nos diários económicos o tamanho


mais frequente foi o médio, que em 2013 ultrapassa os 50% das peças analisadas.
Este último ano trouxe uma grande diminuição das peças pequenas e um aumento
das peças médias em todos os jornais em análise

Quadro 3.16 Área das notícias em 2012 e 2013 na imprensa económica (em %)

2012 2013

Área Jornal Diário Jornal Diário


de Negócios Económico de Negócios Económico
(N.º=366) (N.º=222) (N.º=431) (N.º=330)

Até 1/3 página 27,9 29,0 12,5 18,8


Até 1 página 33,1 36,9 53,1 52,7
> 1 página 39,1 34,1 34,3 28,5

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.


IMPRENSA 61

Formatos em 2012 e 2013

Também nos jornais económicos o formato das peças com mais espaço em capa foi a
notícia, seguida pela reportagem, entrevista, opinião e editorial. Apesar de o primei-
ro tipo ser esmagadoramente mais frequente em todos os anos e meios analisados, o
Jornal de Negócios parece apostar mais na diversificação do género jornalístico, espe-
cialmente no ano de 2013, em que a reportagem ultrapassa os 20% das peças e a en-
trevista os 10%. As peças de formato opinião tiveram uma frequência constante no
Diário Económico, enquanto no Jornal de Negócios assistimos a uma clara queda (de
9,4% para 1,9%) no recurso ao formato. O género editorial foi residual em capa.

Quadro 3.17 Formatos na imprensa económica (em %)

2012 2013

Formatos Jornal Diário Jornal Diário


de Negócios Económico de Negócios Económico
(N.º=625) (N.º=509) (N.º=413) (N.º=326)

Notícia 68,8 74,7 62,2 69,6


Reportagem 11,5 10,4 23,2 13,8
Entrevista 8,2 7,9 10,4 9,5
Opinião 9,4 6,1 1,9 5,8
Editorial 1,9 1,0 1,7 0,6

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Cobertura geográfica geral em 2012 e 2013

Mais de 60% das peças analisadas focavam-se exclusivamente em Portugal. No


entanto, as notícias referentes a uma região nacional específica foram muito ra-
ras. Foram também consideradamente constantes as notícias de foco nacional
com referência a países europeus, (nacional-Europa) que no entanto decaíram
de 2012 para 2013 nos dois jornais. As notícias nacionais com referência a países
não europeus (nacional-internacional) aumentaram de 2012 para 2013 nos dois
meios. Foram poucas as notícias de foco geográfico exclusivamente não euro-
peu (internacional) ou de foco não europeu com referência a Portugal
(internacional-nacional).
62 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 3.18 Cobertura geográfica geral na imprensa económica (em %)

2012 2013

Cobertura geográfica Jornal Diário Jornal Diário


de Negócios Económico de Negócios Económico
(N.º=581) (N.º=499) (N.º=425) (N.º=330)

Local/regional 2,6 3,6 2,6 2,4


Nacional 67,3 64,9 65,9 66,4
Nacional-Europa 11,0 13,2 6,1 9,1
Nacional-internacional 7,2 9,6 13,9 13,9
Europa-nacional 4,0 5,0 5,4 2,7
Europa 3,6 2,2 1,9 3,0
Internacional-nacional 1,5 0,6 1,6 2,1
Internacional 2,8 0,8 2,6 0,3

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Cobertura geográfica regional 2012 e 2013

A frequência de peças de foco regional foi extremamente baixa nos dois jornais e
nos dois anos (em 2012 houve um total de 14 notícias com foco regional dos dois jor-
nais e em 2013 um total de 10). Como tal, consideramos irrelevante a apresentação
de gráfico e da sua análise. Podemos no entanto verificar que Lisboa e Vale do Tejo
foi a região mais tratada nas notícias dos jornais económicos.

Cobertura geográfica europeia 2012 e 2013

Os países europeus mais mencionados foram o Chipre, Reino Unido, Espanha,


França, Alemanha e Grécia — exatamente os mesmos que constam na lista da im-
prensa de referência que no entanto contava ainda com o Vaticano e com Itália.
As referências a Espanha são muito frequentes, em especial no ano de 2012,
visto ter sido esse o ano do resgate ao seu sistema financeiro, e esta ter sido uma das
grandes histórias do ano nos jornais económicos. Também inserido no grupo dos
países mais afetados pela crise europeia contamos ainda com a Grécia e com o Chi-
pre, sendo que o primeiro país foi foco geográfico com mais frequência em 2012, e o
segundo em 2013, ano em se acordou um plano de resgate à banca deste país.10
Mais uma vez, surgem na lista dos países europeus mais referidos França e
Alemanha, sendo geral a subida da percentagem de peças com o foco geográfico
neste último país em 2013, ano de eleições legislativas das quais saiu vencedora
Angela Merkel. Verificamos ainda uma substancial atenção mediática ao Reino
Unido, que também viu aumentado o seu protagonismo entre os países europeus
no ano de 2013.

10 http://estadodasnoticias.info/2013/04/o-regresso-de-jose-socrates-e-a-iminencia-
da-bancarrota-no-chipre/
IMPRENSA 63

Quadro 3.19 Cobertura geográfica europeia na imprensa económica (em %)

2012 2013

Países Jornal Diário Jornal Diário


de Negócios Económico de Negócios Económico
(N.º=107) (N.º=97) (N.º=43) (N.º=34)

Chipre 0,0 0,0 16,3 2,9


Reino Unido 2,8 5,2 4,7 8,8
Alemanha 4,7 8,2 7,0 14,7
França 4,7 1,0 2,3 5,9
Espanha 16,8 15,5 9,3 8,8
Grécia 17,8 12,4 2,3 8,8

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Cobertura geográfica internacional em 2012 e 2013

No caso dos países não europeus, temos enquanto países mais referidos pelos jor-
nais económicos os EUA, Angola, Turquia, Brasil, China e Venezuela.
A atenção mediática dada aos Estados Unidos, claramente maior em 2012, ex-
plica-se pelas eleições presidenciais que tiveram extensa cobertura dos jornais eco-
nómicos. Brasil, Angola e China são os países mais comummente referidos pelos
dois meios de comunicação, que serão também aqueles que têm mais impacto no
mundo empresarial português. Não é de surpreender o caso da Venezuela no Jornal
de Negócios de 2013, pois que já tínhamos verificado que a morte de Hugo Chávez
foi intensamente coberta por este jornal que explorou o tema sob a perspetiva do
impacto deste acontecimento na economia venezuelana.

Quadro 3.20 Cobertura geográfica internacional na imprensa económica (em %)

2012 2013

Países Jornal Diário Jornal Diário


de Negócios Económico de Negócios Económico
(N.º=44) (N.º=29) (N.º=49) (N.º=31)

EUA 22,7 13,8 8,2 9,7


Angola 18,2 17,2 8,2 16,1
Turquia 15,9 0,0 0,0 0,0
Brasil 13,6 41,4 14,3 12,9
China 6,8 20,7 4,1 3,2
Venezuela 0,0 0,0 20,4 0,0

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.


64 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Temas

Não é uma surpresa que nos jornais económicos a área de economia e setores
económicos seja a mais frequente. Denota-se um ligeiro crescimento deste tema
de 2012 para 2013, tal como acontece com o tema política interna. Verificamos na
imprensa de referência que 2013 tinha sido um ano mais virado para o nacional
que 2012 e podemos dizer que essa tendência também se verifica nos jornais eco-
nómicos, ainda que de forma mais tímida. Comprovam-no o crescimento da po-
lítica interna e o decréscimo da política europeia durante os dois anos em
análise.
Os assuntos laborais mereceram mais atenção em 2012, o que se poderá ex-
plicar pela cobertura de medidas tais como os cortes nos subsídios (que faz par-
te das grandes histórias de 2012). Como quinto e último dos temas mais falados
temos a justiça e o sistema judicial com 3,3% e 3,9% no Jornal de Negócios e 3,9% e
5,2% no Diário Económico. De notar que ambos os jornais dedicam secções espe-
cializadas à justiça económica, com a presença assídua de comentadores da área
do Direito.

52,6
Economia e setores económicos 52,8
58,5
59,7

6
6,2
Política europeia 5,3
4,5

8,2
11,3
Política interna 10,7
11,5

3,3
3,9
Justiça e sistema judicial 3,9
5,2

10,9
Assuntos laborais 10,1
e Segurança Social 8,4
8,8

0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0

Diário Económico 2013 Jornal de Negócios 2013 Diário Económico 2012 Jornal de Negócios 2012

Figura 3.7 Temas na imprensa económica (em %)


Jornal de Negócios 2012 (N.º=645); Diário Económico 2012 (N.º=515); Jornal de Negócios 2013 (N.º=431);
Diário Económico 2013 (N.º=330)
Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.
IMPRENSA 65

Protagonistas em 2012 e 2013

No que respeita aos protagonistas verifica-se uma grande preponderância de perso-


nalidades da vida política e económica. Tal como tinha acontecido nos jornais de re-
ferência, a personalidade mais referida foi Pedro Passos Coelho. Destacam-se os
responsáveis pelos ministérios diretamente relacionados com assuntos económicos,
como o ministro das Finanças Vítor Gaspar e a sua sucessora, Maria Luís Albuquer-
que, e o ministro da Economia Álvaro Santos Pereira. Ainda dentro das personalida-
des do mundo político temos Cavaco Silva e Paulo Portas, este último bastante mais
referido em 2013, o que se deve à crise na coligação governativa da qual foi protago-
nista. De destacar ainda a presença de personalidades ligadas ao mundo empresarial
como é o caso de António Mexia e Américo Amorim.

4,8 6,4
Pedro Passos Coelho 6,1
9,0
4,3
6,9
Vítor Gaspar 3,8
3,9
3,5
1,5
Álvaro Santos Pereira 2,7
0,6
2,2
2,0
Cavaco Silva 2,3
2,8
1,7
2,0
Américo Amorim 0,0
1,1
0,0
1,0
Maria Luís Albuquerque 5,3
3,9
0,9
1,0
Paulo Portas 2,2
3,0

0,4
1,5
António Mexia 1,1
3,4

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0
%

Diário Económico 2013 Jornal de Negócios 2013 Diário Económico 2012 Jornal de Negócios 2012

Figura 3.8 Protagonistas na imprensa económica (em %)


Jornal de Negócios 2012 (N.º=230); Diário Económico 2012 (N.º=202); Jornal de Negócios 2013 (N.º=263);
Diário Económico 2013 (N.º=178)
Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Jornais populares

Principais notícias de 2012

O Euro 2012, que tinha já surgido como parte das histórias mais cobertas na im-
prensa de referência, mas que não chegou a fazer parte da mesma lista na im-
prensa económica, surge na imprensa popular como a big story mais forte do ano
de 2012.
66 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

4,4
Incêndios em Portugal 3,1

11,9
Euro 2012 11,5

2,2
Orçamento de Estado 2013 7,9

3,5
Caso Freeport 2,1

3,5
Caso das Secretas 1,6

4,0
Desemprego na zona euro 5,2

0,0
Greve geral 14 Novembro 8,4

4,0
Restruturação do SNS 4,7

0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0


%
Jornal de Notícias Correio da Manhã

Figura 3.9 Principais notícias de 2012 na imprensa popular (em %)


Correio da Manhã (N.º=226); Jornal de Notícias (N.º=191)
Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

É de notar que à exceção do desemprego na zona euro, todas as oito big stories
da imprensa popular dizem respeito a assuntos nacionais. No Jornal de Notícias é a
greve geral de 14 de novembro, na qual houve acesos confrontos entre a polícia e os
manifestantes, que ocupa o segundo lugar das histórias mais cobertas. Já no Correio
da Manhã, os incêndios em Portugal fizeram capa 4,4% das vezes.
O Jornal de Notícias cobriu com bastante mais intensidade assuntos da polí-
tica nacional, como é o caso de Orçamento do Estado de 2013 e a reestruturação
do Serviço Nacional de Saúde, e o Correio da Manhã centrou-se mais nos escânda-
los do ano a nível de abuso de poder e corrupção (Caso Freeport e Caso das
Secretas).

Big stories de 2013

Na lista de big stories mais presentes na imprensa popular, encontramos três re-
lacionadas com o desporto (pré-temporada de futebol 2013-2014, jornada euro-
peia de futebol e mercado de transferências) e duas no âmbito da política
nacional (crise na coligação governativa e eleições autárquicas 2013). No Jornal
de Notícias a história do ano de 2013 foram as eleições autárquicas com 12%, segui-
da pela crise na coligação, 7,2%. Já no Correio da Manhã foi o mercado de transferên-
cias a notícia que mais fez capa com 6,3%, seguindo-se-lhe a crise na coligação com
5%. Sendo que ambos os jornais em análise tiveram a mesma percentagem de big
stories em relação às peças totais analisadas (cerca de 30%), podemos concluir que o
Correio da Manhã distribuiu mais a sua atenção e o Jornal de Notícias deu mais espaço
a um grupo mais restrito de big stories, e por isso na figura 3.10 referente às cinco
IMPRENSA 67

6,3
Mercado de transferências 5,3

5,0
Crise na coligação governativa 7,2

4,5
Jornada europeia de futebol 5,9

3,9
Pré-temporada de futebol 2013-14 4,5

3,7
Autárquicas 12,0

0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0

%
Jornal de Notícias Correio da Manhã

Figura 3.10 Principais notícias de 2013 na imprensa económica (em %)


Correio da Manhã (N.º=381); Jornal de Notícias (N.º=375)
Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

mais frequentes, verificamos percentagens mais altas do Jornal de Notícias. Ainda


assim, podemos denotar que o Jornal de Notícias cobriu mais intensamente as big sto-
ries não referentes a deporto, sendo que a diferença é de 8,3% no caso das autárqui-
cas e de 2,2% no caso da crise na coligação.

Área das notícias em 2012 e 2013

Mais uma vez, o tamanho médio revela-se o mais frequente, com exceção para o
Jornal de Notícias em 2012, cujas peças foram mais frequentemente pequenas. Ao
contrário do que aconteceu na maioria da imprensa de referência e na imprensa
económica, na imprensa tabloide o tamanho menos popular é o grande. Também
aqui temos uma exceção que no entanto não é significativa (em 2013, o Correio da
Manhã teve 19,8% de peças pequenas e 20,4% de peças grandes). Em 2013 tanto o

Quadro 3.21 Área das notícias em 2012 e 2013 na imprensa popular (em %)

2012 2013
Área Jornal de Notícias Correio da Manhã Jornal de Notícias Correio da Manhã
(N.º=1061) (N.º=1228) (N.º=1280) (N.º=1321)

até 1/3 página 49,2 29,7 25,4 19,8


até 1 página 40,1 51,0 62,1 59,8
> 1 página 10,7 19,4 12,6 20,4

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.


68 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Correio da Manhã como Jornal de Notícias diminuíram o número de peças pequenas


(no caso do Jornal de Notícias, a diminuição foi bastante mais substancial) e aumen-
taram o número de peças médias.

Formatos em 2012 e 2013

O género jornalístico mais recorrente foi a notícia, com mais de 75% das peças neste
formato nos dois meios. A reportagem foi o segundo formato mais utilizado. De re-
ferir que é visível nos dois jornais um crescimento deste formato de 2012 para 2013.
A entrevista foi parcamente utilizada pelos dois meios, sendo que foi o Jornal de No-
tícias o que mais recorreu a este modelo. A percentagem de opinião e editorial nas
capas da imprensa popular foi residual.

Quadro 3.22 Formatos na imprensa popular (em %)

2012 2013
Formatos Jornal de Notícias Correio da Manhã Jornal de Notícias Correio da Manhã
(N.º=1212) (N.º=1026) (N.º=1309) (N.º=1225)

Editorial 0,0 0,1 0,0 0,2


Opinião (inclui coluna, crítica) 0,9 1,0 0,9 0,8
Entrevista 3,3 2,0 3,1 1,6
Reportagem 11,2 11,6 18,2 18,2
Notícia (inclui artigo) 84,6 85,0 77,7 78,5

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Cobertura geográfica em 2012 e 2013

No que respeita às áreas geográficas alvo de cobertura mediática, existem algumas


diferenças notórias entre os dois jornais populares. No Correio da Manhã o foco naci-
onal foi o mais frequente, com mais de 50% das peças codificadas enquanto nacio-
nais nos dois anos em análise. Também no Jornal de Notícias o foco exclusivamente
nacional foi frequente (39,7% das peças em 2012 e 38,3% em 2013). Mas o foco geo-
gráfico mais frequente das peças do Jornal de Notícias foi o foco local/regional, per-
fazendo 47,1% das peças em 2013 e 45,8% em 2013. Esta categoria local/regional foi
a segunda mais frequente no Correio da Manhã com 29% em 2012 e 28,4% em 2013.
Registou-se ainda alguma frequência de peças com foco nacional com referência a
países estrangeiros. A referência a países europeus (nacional-Europa) é mais fre-
quente que a países não europeus (nacional-internacional), apesar de a primeira ter
diminuído de 2012 para 2013 e a segunda, aumentado. As notícias com foco princi-
pal no internacional foram residuais nos dois jornais.
IMPRENSA 69

Quadro 3.23 Cobertura geográfica na imprensa popular (em %)

2012 2013
Cobertura geográfica Jornal de Notícias Correio da Manhã Jornal de Notícias Correio da Manhã
(N.º=1175) (N.º=977) (N.º=1304) (N.º=1226)

Local/regional 47,1 29,0 45,8 28,4


Nacional 39,7 57,8 38,3 56,4
Nacional-Europa 7,5 7,9 6,1 5,2
Nacional-internacional 2,3 2,4 4,1 4,6
Europa-nacional 1,3 0,6 2,0 1,6
Europa 1,3 0,9 1,5 1,2
Internacional-nacional 0,6 0,3 1,0 1,0
Internacional 0,3 1,1 1,3 1,5

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Cobertura geográfica regional em 2012 e 2013

A região mais presente no discurso mediático do Correio da Manhã é a Grande Lis-


boa, com 39,6% das peças em 2012 e 39,4% em 2013. O Jornal de Notícias dedica cerca
de metade das suas capas à área geográfica do Norte e cerca de 30% ao Grande Por-
to. O Jornal de Notícias diferencia-se de todos os outros jornais já analisados não ape-
nas enquanto o mais voltado para o local, como também como o mais focado numa
região em particular. As restantes regiões merecem mais atenção por parte do Cor-
reio da Manhã, das quais se destacam o Centro do país (com 25,7% em 2012 e 17,9%
em 2013) e o Algarve (com 8,2% em 2012 e 6,5% em 2013). Tal como na imprensa de
referência e na imprensa económica, a cobertura noticiosa à região autónoma dos
Açores é meramente residual.

Quadro 3.24 Cobertura geográfica regional na imprensa popular (em %)

2012 2013

Cobertura geográfica regional Jornal Correio Jornal Correio


de Notícias da Manhã de Notícias da Manhã
(N.º=687) (N.º=280) (N.º=733) (N.º=340)

Norte (exceto Grande Porto) 42,5 11,4 52,0 19,7


Grande Porto 37,7 11,1 29,9 10,9
Centro 10,5 25,7 8,0 17,9
Lisboa e Vale do Tejo (Grande Lisboa) 7,0 39,6 8,7 39,4
Alentejo 0,7 1,4 0,7 3,8
Algarve 0,9 8,2 0,5 6,5
Região Autónoma da Madeira 0,2 1,8 0 0,6
Região Autónoma dos Açores 0,4 0,7 0,2 1,2

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.


70 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Cobertura geográfica europeia em 2012 e 2013

Os países europeus mais referidos na imprensa popular não apresentam novida-


des em relação aos já citados na imprensa de referência e na imprensa económica,
com a exceção da Suíça, que apenas surge no Correio da Manhã e no Jornal de Notícias.
A Suíça surge aqui associada à Operação Monte Branco, uma investigação judicial
a esquemas de branqueamento de capitais e fraudes fiscais com sede neste país,
que foi intensamente coberta pela imprensa popular.11 12

Quadro 3.25 Cobertura geográfica europeia na imprensa popular (em %)

2012 2013
Países Jornal de Notícias Correio da Manhã Jornal de Notícias Correio da Manhã
(N.º=123) (N.º=92) (N.º=108) (N.º=91)

Espanha 19,5 19,6 22,2 14,3


Reino Unido 8,9 17,4 5,6 17,6
França 6,5 3,3 8,3 6,6
Alemanha 5,7 3,3 6,5 7,7
Grécia 3,3 5,4 3,7 5,5
Suíça 2,4 5,4 2,8 2,2
Vaticano 0,8 1,1 11,1 14,3

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Cobertura geográfica internacional em 2012 e 2013

Apesar das referências a países não europeus serem escassas na imprensa popular,
os países presentes no discurso mediático no Jornal de Notícias e no Correio da Manhã
são os mesmos que tiveram relevância nos outros jornais. No Correio da Manhã pre-
dominam os EUA, o que neste caso se explica devido às eleições presidenciais e ao
furacão Sandy em 2012 e aos atentados em Boston em 2013. A Venezuela, Angola e
China marcam presença nestes jornais pelos mesmos motivos que os tornaram pre-
sentes nos outros tipos de imprensa. O Brasil é o país mais referido pelo Jornal de
Notícias e o segundo mais referido pelo Correio da Manhã. As referências a este país
surgem no contexto do Caso Duarte Lima em 2012 e no âmbito da visita do Papa em
2013. Angola é o país mais referido pelo Correio da Manhã que acompanhou de per-
to a tensão diplomática entre os dois países.

11 http://visao.sapo.pt/a-teia-do-monte-branco-foi-desvendada-aqui=f686614
12 http://www.pgr.pt/Noticias/comunicados_imprensa/2014/nota_%20monte_branco.pdf
IMPRENSA 71

Quadro 3.26 Cobertura geográfica internacional na imprensa popular (em %)

2012 2013
Países Jornal de Notícias Correio da Manhã Jornal de Notícias Correio da Manhã
(N.º=24) (N.º=27) (N.º=64) (N.º=69)

Brasil 16,7 29,6 25,0 27,5


China 12,5 3,7 0,0 1,4
Angola 8,3 7,4 4,7 15,9
EUA 8,3 33,3 12,5 24,6
Turquia 4,2 7,4 6,3 4,3
Venezuela 4,2 0,0 6,3 2,9

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Temas de 2012 e 2013

Ao contrário do que aconteceu nos jornais de referência e nos económicos, com cla-
ro destaque para a política e a economia, na imprensa popular os temas mais retra-
tados foram o desporto e a justiça e o sistema judicial. No entanto, a economia e a
política interna figuram nos cinco temas mais frequentes.
A justiça foi mesmo o tema que registou as percentagens mais altas, pois am-
bos os jornais dedicaram uma grande parte das suas capas a notícias relacionadas
com o crime. Denota-se no entanto uma tendência contrária nos dois jornais em
análise: se no Correio da Manhã aumentaram as notícias nesta temática (de 20% para
25,9%), no Jornal de Notícias a percentagem diminuiu (de 30% para 18,9%). O des-
porto surge como segundo tema, sendo que é o no Correio da Manhã que ele ganha
mais destaque, tanto em 2012 como em 2013.
De realçar que é a imprensa popular que nos dois anos dá maior destaque à
categoria diversos, onde se encontram as histórias sobre celebridades, ainda que
haja diferenças na comparação longitudinal. No caso do Jornal de Notícias em 2012
dedicou 11,7% das notícias de capa e em 2013, apenas 3,8%. No caso do Correio da
Manhã, em 2012 os diversos estavam presentes em 6,8% das notícias de capa e em
2013 houve um aumento para 11,3%.
Já na categoria de economia e setores económicos, podemos verificar que o
Jornal de Notícias abordou mais estas temáticas do que o Correio da Manhã. Quanto à
política interna, foi também o Jornal de Notícias de 2013 que maior percentagem
apresentou, o que pode ser explicado pela atenção que o jornal conferiu às eleições
autárquicas nesse mesmo ano.
Por último, os desastres, acidentes ou epidemias surgem também na lista das
temáticas mais abordadas pela imprensa popular, sendo que no caso desta catego-
ria não se registaram diferenças significativas entre os meios ou os anos em análise.
A predominância das notícias sobre celebridades, desastres e acidentes que
em 2013 no Correio da Manhã totalizam 17,1% e no Jornal de Notícias 8,9% e, em 2012,
no Correio da Manhã atingem os 11,1% e no Jornal de Notícias 17,5% confirmam os
dois jornais como tabloides (Esser, 1999). No entanto, as diferenças apresentadas
72 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

20,2
Desporto 18,3
20,6
17,1

10,1
Economia e setores económicos 11,5
8,0
11,7

6,8
Diversos 11,7
11,3
3,8
6,0
3,5
Política interna 4,6
8,4

20,0
30,0
Justiça e sistema judicial
25,9
18,9
4,3
5,8
Desastres/acidentes/epidemias 5,8
5,1

0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0

Jornal de Notícias 2013 Correio da Manhã 2013 Jornal de Notícias 2012 Correio da Manhã 2012

Figura 3.11 Temas da imprensa popular (em %)


Jornal de Notícias 2012 (N.º=1228); Correio da Manhã 2012 (N.º=1061); Jornal de Notícias 2013 (N.º=1321);
Correio da Manhã 2013 (N.º=1280)
Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

na análise longitudinal parecem indiciar estratégias diferenciadas que apenas o


tempo e a análise de séries mais longas permitirá confirmar. Se o Correio da Manhã
se afirma nestes dois anos com um tipo de agenda editorial consistente, o Jornal de
Notícias oscila entre os dois anos.
Em 2012 com um pendor claramente tabloide em busca de notícias sobre cele-
bridades, desastres e criminalidade, contrariando a sua história de jornal regional
de grande informação. Em 2013, há um crescimento da cobertura das notícias de
política e economia em detrimento sobretudo das notícias sobre celebridades, in-
cluídas na categoria diversos. As notícias recentes de despedimento coletivo na
empresa Controlinveste que detém o jornal dificultam a elaboração de previsões
sobre os sentidos da política editorial do jornal e se estamos perante um jornal que
se “tabloidizou” na expressão de Frank Esser ou se é antes um jornal à procura de
novos leitores.

Protagonistas de 2012 e 2013

Os principais protagonistas da imprensa popular podem dividir-se em dois gru-


pos: personalidades da política nacional e personalidades do mundo do desporto.
Jorge Jesus foi o protagonista do ano em 2013 em ambas as publicações em
análise. Verificámos pelas big stories que o desporto se tornou em 2012 um assunto
mais relevante nestes dois jornais, mas este protagonismo do treinador do Benfica
pode também ser explicado com os incidentes ocorridos entre setembro e novem-
bro desse ano, em que na sequência da intromissão de Jorge Jesus numa ação da
IMPRENSA 73

2,4
3,9
Cristiano Ronaldo 2,3
2,6
1,5
2,5
Pedro Passos Coelho 2,4
2,4
1,4
2,3
Vítor Gaspar 1,0
1,1
1,2
0,0
Luís Filipe Menezes 1,4
0,2
0,5
1,5
Godinho Lopes 0,2
0,1
1,0
1,0
Jorge Jesus 3,8
5,2
0,3 1,2
Cavaco Silva 1,2
1,7
1,2
Pinto da Costa 0,7
1,7
1,0

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0


%

Jornal de Notícias 2013 Correio da Manhã 2013 Jornal de Notícias 2012 Correio da Manhã 2012

Figura 3.12 Protagonistas na imprensa popular (em %)


Jornal de Notícias 2012 (N.º=583); Correio da Manhã 2012(N.º=596); Jornal de Notícias 2013 (N.º=836);
Correio da Manhã 2013 (N.º=870)
Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

polícia para controlar adeptos, este enfrentou uma suspensão de 30 dias, e ainda
com a presença da equipa na final da Liga Europa.13
Cristiano Ronaldo foi a segunda personalidade mais destacada, especialmen-
te em 2012, ano do campeonato europeu que foi de resto a história do ano.
Ainda no mundo do desporto figuram, entre as personalidades mais marcan-
tes para a imprensa popular, o ex-presidente do Sporting Godinho Lopes e o presi-
dente do Futebol Clube do Porto, Pinto da Costa, sendo claro o destaque que este
último mereceu no Jornal de Notícias.
No âmbito da política surgem os já recorrentes protagonistas da cena da polí-
tica nacional: o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, o ministro das finanças Ví-
tor Gaspar e o Presidente da República Cavaco Silva.
Por fim, encontramos ainda Luís Filipe Menezes na lista das personalidades
mais referidas, sendo claro que é ao Jornal de Notícias que se deve essa posição. A
atenção dedicada a esta personalidade cresceu em 2013 devido às eleições autár-
quicas nas quais concorreu à presidência da Câmara Municipal do Porto.

13 http://estadodasnoticias.info/2013/05/final-da-liga-europa-e-a-noticia-da-semana-de-13-a-18-
de-maio/
74 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Considerações finais

O ano de 2012 teve duas big stories comuns à imprensa de referência, económica e
popular: o orçamento de 2013 e o desemprego na zona euro. A crise grega consta na
lista das cinco estórias mais fortes de 2012 nos jornais de referência e nos jornais
económicos, enquanto o Euro 2012 não marcou presença na imprensa económica,
mas mereceu larga cobertura por parte dos jornais de referência e sobretudo por
parte dos jornais populares.
Em 2013, a crise na coligação governativa foi a história transversal a todos os
meios e a todas as nossas categorias de imprensa. Já as eleições autárquicas de 2013,
principal notícia do Público e do Jornal i, marcaram presença também na imprensa
popular, mas não fizeram parte das histórias mais cobertas pelos jornais económi-
cos. O orçamento retificativo de 2013, o orçamento de 2014 e o resgate ao Chipre fo-
ram histórias comuns entre a imprensa de referência e a económica, mas não
mereceram especial atenção por parte do Correio da Manhã ou do Jornal de Notícias.
Quanto à área ocupada pelas peças, verificámos que o tamanho mais frequen-
te das peças é até uma página em todos os tipos de imprensa. No entanto, enquanto
nos jornais de referência e nos económicos o menos frequente foi o pequeno (me-
nos de uma página), nos jornais populares o menos frequente foi o grande (mais de
uma página). Neste tipo de imprensa são mais raras as grandes reportagens ou en-
trevistas que ocupam mais do que uma página pois regra geral os temas não são tão
desenvolvidos como na imprensa económica ou de referência.
Os formatos sob os quais as peças se apresentaram variaram pouco entre os
jornais, as categorias analíticas ou os anos. O género notícia foi o mais frequente em
todos, sendo especialmente alta no Correio da Manhã e Jornal de Notícias. O género
reportagem foi quase sempre o segundo mais utilizado e foi mais frequente em
2013 que em 2012.
Em termos de cobertura geográfica, o tipo de foco geográfico mais comum foi
o nacional. Mas os jornais de referência demonstraram-se mais virados para o exte-
rior: as referências a países europeus e não europeus foram mais frequentes neste
tipo de imprensa. No outro lado do espectro encontramos a imprensa popular, em
que o local e o regional ganham um destaque que não merecem nos outros meios
analisados. No entanto, as regiões nacionais mais presentes no discurso mediático
dos dois jornais desta categoria diferem. O Jornal de Notícias cobre intensivamente a
área geográfica do Norte e do Grande Porto, deixando as outras regiões do país
muito aquém. O Correio da Manhã por sua vez, centra-se mais na região da Grande
Lisboa não deixando por isso de cobrir também outras regiões como o Norte, o
Centro e o Algarve.
Lisboa foi também a região mais retratada pela imprensa de referência, se-
guindo-se-lhe o Norte e região do Grande Porto. Outras regiões como a Madeira e o
Algarve mereceram também alguma atenção por parte destes media devido a acon-
tecimentos particulares que tiveram lugar durante o tempo de análise, como já re-
ferimos ao longo da análise dos dados.
A cobertura da zona geográfica europeia não registou grandes diferenças en-
tre os vários meios: Alemanha, França, Reino Unido, Espanha e Grécia foram
IMPRENSA 75

comuns a todos. Verificámos que a imprensa de referência cobriu a zona europeia


de forma mais alargada, contando com países que surgem tanto por questões liga-
das a desenvolvimentos económicos (Chipre, também presente nos jornais econó-
micos) como por questões ligadas a religião (Vaticano, também presente nos
jornais populares). Também na cobertura de países não europeus, a imprensa de
referência se revelou mais completa e exaustiva. Angola, Brasil, Venezuela, China
e EUA foram os países comuns a todos os jornais.
Os critérios que parecem definir a relevância de um país não europeu no dis-
curso mediático da imprensa portuguesa são a tradição da proximidade cultural e
histórica, como por exemplo países de língua oficial portuguesa ou mesmo o caso
especial de Espanha (Silveira, Cardoso e Belo, 2010, Silveira e Shoemaker, 2010), as
parcerias estratégicas do ponto de vista económico (por exemplo, China), países
com grandes comunidades portuguesas (Venezuela, África do Sul, Brasil e EUA),
eventos de relevância política, cultural ou desportiva (como eleições, ou Jogos
Olímpicos, ou morte de personalidades importantes), e países foco de conflito ou
vitimizados por calamidades naturais.
No que respeita aos temas, os dados variaram bastante entre as categorias. Na
imprensa de referência predominaram os assuntos económicos e a política interna,
com um ligeiro crescimento deste último tema e um decréscimo da cobertura dos
assuntos económicos em 2013. Já nos jornais económicos, o tema economia e seto-
res económicos foi esmagadoramente mais frequente, seguindo-se-lhe a política
interna, na qual também se denota um crescimento de 2012 para 2013. Na imprensa
popular os temas mais frequentes foram a justiça e sistema judicial e o desporto.
Podemos afirmar assim que a imprensa de referência e a imprensa económica con-
vergem na atenção à economia e política interna.
Os protagonistas comuns a todos os jornais em análise foram três personalida-
des incontornáveis no cenário da política nacional em 2012 e 2013: Pedro Passos Coe-
lho, Vítor Gaspar e Cavaco Silva. A nível de diferenças, verificamos que a imprensa de
referência foi a única a conceder espaço a atores internacionais (Obama e Merkel) e
membros do maior partido da oposição (António José Seguro e José Sócrates). Os jor-
nais económicos referiram frequentemente personalidades do mundo dos negócios
(Américo Amorim e António Mexia) e a imprensa popular teve como protagonistas
das suas notícias de forma frequente personalidades do mundo do desporto como
Pinto da Costa, Jorge Jesus, Godinho Lopes ou Cristiano Ronaldo.
Foram verificáveis linhas diferenciadoras entre os vários tipos de imprensa.
Como seria de esperar, os jornais económicos dedicaram grande parte do seu espaço a
economia e negócios, tanto nas suas big stories, como nos temas, nos protagonistas ou
até mesmo na seleção dos enfoques geográficos a ser cobertos. Apouca diversidade te-
mática característica da imprensa especializada não comprometeu no entanto a cober-
tura dos grandes acontecimentos do ano, com exceção para a ausência do Euro 2012
nas cinco maiores big stories de 2012. Esta ausência é justificável, visto que a imprensa
económica se faz mais de hard news do que qualquer outra.
Já a imprensa popular fez uma extensiva cobertura do Euro 2012 e de outra
história de desporto em 2012 (pré-temporada de futebol, jornada europeia de fute-
bol e mercado de transferências). Também a nível de temas, os eventos desportivos
76 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

foram intensamente cobertos, a par da justiça e sistema judicial. Há na imprensa


popular uma visível tendência para notícias sobre crimes, sejam eles de violência
contra as pessoas ou grandes histórias de corrupção e abuso de poder, que geral-
mente são cobertos de forma detalha e personalizada, numa abordagem que se en-
caixa estas notícias na categoria de soft news (Curran et al., 2009). A tendência para o
entretenimento e para cobertura de escândalos é de resto característica dos tabloi-
des (Kurtz, 1993). Foi também no discurso destes jornais que se verificou uma mai-
or presença do local e do regional, precisamente devido às notícias relacionadas
com crimes e casos “insólitos”.
Os jornais de referência foram aqueles que cobriram os assuntos de forma mais
abrangente, seja a nível dos temas, dos protagonistas e até dos enfoques geográficos.
Foi nesta categoria que encontrámos uma maior presença de hard news em termos te-
máticos — os temas como política interna, política europeia, assuntos laborais e Se-
gurança Social e economia (que registou níveis mais altos na imprensa económica
mas que também foi muito significativo nos jornais de referência) foram mais inten-
samente cobertos pela imprensa de referência. Mas nem por isso deixou de haver es-
paço para outro tipo de notícias, como as relacionadas com desporto. Foi também
nesta categoria que encontrámos o maior número de notícias, temas e protagonistas
transnacionais.
O Diário de Notícias surge aqui como um jornal em aparente processo de tabloi-
dização, sendo que apresenta uma distribuição temática com forte incidência em no-
tícias soft como desporto e crime e uma maior tendência para narrativas sobre
escândalos que os outros jornais de referência, aproximando-se assim dos jornais po-
pulares. Sendo que o processo de tabloidização está intimamente ligado à pressão
económica (Esser, 1999), também no caso do Diário de Notícias ele fará parte de uma
estratégia para evitar perdas a nível de audiências, circulação e quotas de mercado,
que caiu para metade na última década, como verificámos no primeiro ponto deste
capítulo. É no entanto arriscado dizer se este processo será para se manter ou se
chagará ao patamar em que possamos considerar este jornal “popular”, pois a utili-
zação de técnicas tradicionalmente associadas ao jornalismo popular é cada vez
mais frequente no jornalismo de referência (Örnebring e Jönsson, 2004). Aliás, a
própria demarcação entre um tipo mais “sério” de notícias e outro tipo menos sério
ou mais sensacionalista também é cada vez mais difusa (Bennet, 2001), pois mesmo
as geralmente categorizadas como hard news são cada vez mais personalizadas e
carregadas de dramatismo e escândalo, e por isso a sua maior frequência não é por
si só um garante de jornalismo realmente informativo. Esta questão é particular-
mente manifesta no caso das notícias sobre política, tema que tem sido alvo de
grande espetacularização por parte dos media (Blumler, 1999).
A nível de grande tendências, verificamos que em 2012 a imprensa se fechou
menos sobre os assuntos nacionais do que em 2013. Conferimos esta tendência não
apenas pela ligeiramente maior cobertura da zona geográfica europeia no primeiro
ano, mas também pelas grandes histórias presentes no discurso mediático em 2012,
em que momentos cruciais para a crise na Europa mereceram mais destaque, como
o comprovam as big stories sobre as eleições e crise na Grécia, e assuntos transnacio-
nais que foram frequentemente alvo de referência, como é o caso o desemprego na
IMPRENSA 77

zona euro. Já 2013 foi um ano mais nacional, com dois grandes acontecimentos
marcantes: as eleições autárquicas e a crise na coligação. Esta tendência é também
verificável nos temas, visto que em 2013 o tema política interna ganhou mais desta-
que do que em 2012.
O primeiro ano de análise foi por isso um ano mais internacional e sobretudo
mais europeu, e o segundo um ano mais focado em questões internas.
Capítulo 4
Televisão
Entre o futebol e a(s) crise(s) orçamentais, de governo e desemprego

Susana Santos, Décio Telo, Gustavo Cardoso, Carlota Bicho e Eloísa Silva

Notas introdutórias

Os dados recolhidos pelo inquérito Sociedade em Rede de 2010 divulgam que a te-
levisão em Portugal tem uma taxa de penetração de 99%. O consumo de notícias é
uma das principais escolhas dos telespetadores, mas os dados referentes ao ano de
2010 quando comparados com 2008 revelam uma tendência de decréscimo nos
consumos televisivos sobretudo entre os adolescentes e os jovens adultos (entre os
15 e os 34 anos) (Vieira et al., 2013: 283). Mas mesmo tendo esta dinâmica mais re-
cente em consideração, a televisão constitui-se ainda como uma das principais fon-
tes de informação sobre temas políticos, económicos e sociais para a sociedade
portuguesa (Cardoso, 2013).
Tendo em consideração a importância da televisão quer na divulgação como
no consumo dos conteúdos informativos, o presente capítulo irá dividir-se em qua-
tro partes distintas. A primeira divisão constitui-se pela contextualização dos con-
sumos do setor televisivo através da recolha de alguns dados presentes no anuário
de comunicação 2012/2013 produzidos pela OberCom. Os dados recolhidos são re-
lativos às audiências da televisão por cabo ou subscrição; ao visionamento diário
de televisão por espetador; ao perfil de audiência da TV generalista por género,
idade e região; ao perfil da audiência com TV cabo por género e por idade; aos alo-
jamentos cablados em Portugal e à evolução destes por NUTS II; à evolução dos as-
sinantes de TV por satélite por NUTS II (em %); às receitas publicitárias e, por
último, à evolução destas receitas por meio.
A segunda parte corresponde aos canais generalistas (RTP1, RTP2, SIC e TVI),
sendo que a terceira acomoda os canais de notícias (RTP Informação, SIC Notícias e
TVI24), estas duas partes organizam-se de forma semelhante no que diz respeito às
categorias de análise. Os telejornais analisados — em horário nobre — para cada blo-
co de canais foram analisados numa perspetiva comparativa longitudinal (em 2012 e
2013) e sincrónica (entre meios) em dois pontos de análise. O primeiro ponto de aná-
lise é dedicado aos formatos de divulgação das notícias e é constituído pelas seguin-
tes variáveis: i) a duração das notícias, e ii) os formatos jornalísticos. O segundo

79
80 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

ponto da análise é relativo aos conteúdos noticiados e constitui-se: i) pelo enfoque


geográfico, ii) pelo tema, e iii) pelos protagonistas.
Relativamente à categoria da cobertura geográfica, pretende-se perceber se a
informação de uma determinada notícia é relevante ao nível local/nacional/euro-
peu/internacional. Para satisfazer este objetivo o focus geográfico foi dividido em i)
local/regional, ii) nacional), iii) europeu com referência a Portugal, iv) europeu sem
referência a Portugal, v) internacional com referência a Portugal, vi) internacional
sem referência a Portugal, vii) sem focus. Este “internacional” é entendido como os
países não europeus. A cobertura geográfica irá ser analisada, em primeiro lugar,
por uma abordagem mais geral da frequência de todas as categorias criadas para
cobrir o enfoque geográfico e, posteriormente, ir-se-á analisar separadamente as
regiões do país, bem como os países europeus e internacionais mais presentes nas
peças jornalísticas das televisões nacionais.
Por último, na quarta parte deste capítulo analisam-se as tendências globais do
meio televisão nos anos de 2012 e 2013 na generalidade das categorias analisadas.

Contextualização do setor: dados sobre o consumo

No que diz respeito ao share global assinala-se pelos dados recolhidos no Anuário de
Media e Publicidade, entre 2002 e 2013, o crescimento das audiências da televisão por
cabo ou subscrição. Em 2012, a audiência global dos canais por cabo atinge os
29,6%, crescendo em 2013 para 33,4%.
Relativamente ao número de minutos de visionamento televisivo por espeta-
dor, tem-se mantido estável na última década com valores próximos dos 200 minu-
tos diários. No ano de 2013 regista-se o valor mais elevado com 235 minutos, o
equivalente a 3,54 horas de visionamento diário de televisão.
A ficção é o género televisivo com mais tempo de emissão na televisão gene-
ralista portuguesa, para esse facto muito contribui o espaço dedicado à ficção
pela SIC e TVI. Assinala-se a exceção da RTP1 no ano de 2012, que dá mais relevo a
conteúdos associados ao divertimento — concursos, reality shows — e o da RTP2
em 2013 pelo privilégio de conteúdos informativos. A oferta destes conteúdos re-
gistou uma diminuição em todos os canais generalistas em 2013 (com a exceção
da RTP2). A oferta de informação é igualada pela publicidade na TVI com 248 mi-
nutos diários e no caso da SIC a publicidade ocupa mais tempo de emissão com
300 minutos diários.
Os conteúdos associados à arte e cultura revelam-se pouco presentes nas tele-
visões generalistas nacionais nos anos em análise, e no caso da SIC e TVI estes con-
teúdos não registam nenhuma expressão.
Relativamente ao perfil de audiência por género, numa perspetiva longitudi-
nal, comprova-se que são as mulheres que mais assistem às emissões da televisão
generalista. Foi em 2012 que se registou a percentagem mais elevada de assistência
do género feminino a conteúdos da televisão generalista nacional.
No que concerne à idade, são os mais velhos, com idade superior a 64 anos,
aqueles que mais consomem televisão generalista, o que ajuda a traçar um perfil de
TELEVISÃO 81

Quadro 4.1 Evolução média anual do share global entre 2002 a 2013 (em %)

RTP1 RTP2 SIC TVI Cabo/outros* Total/TV

2002 21,1 5,3 31,5 31,4 10,6 100


2003 23,8 5,0 30,3 28,5 12,3 100
2004 24,7 4,4 29,3 28,9 12,7 100
2005 23,6 5,0 27,2 30,0 14,1 100
2006 24,5 5,4 26,2 30,0 14,0 100
2007 25,2 5,2 25,1 29,0 15,4 100
2008 23,8 5,6 24,9 30,5 15,2 100
2009 24,0 5,8 23,4 28,7 18,2 100
2010 24,2 5,3 23,4 27,5 19,7 100
2011 21,6 4,5 22,7 25,7 25,5 100
2012 18,5 3,4 21,8 26,7 29,6 100
2013 16,9 2,1 21,5 26,0 33,4 100

Fonte: Anuário de Media e Publicidade, 2013, Marktest.

300

250
235
214 215 218 222
200 206 212 210 209 209 210
193
185
150

100

50

0
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Figura 4.1 Visionamento diário de televisão por espetador, 2001 a 2013


Nota: valores em minutos (tempo médio por espetador)
Fonte: Anuário de Media e Publicidade, 2013, Marktest.

telespetador mais associado a mulheres inativas (domésticas e reformadas) com


grande disponibilidade de tempo para assistir a programas de televisão.
Introduzindo a variável região, verificamos que os maiores consumidores de
televisão se situam no interior do país, seguindo-se (por ordem decrescente) a re-
gião da Grande Lisboa e do Litoral Centro para 2012, e o Litoral Norte para 2013.
O perfil das audiências da TV por cabo ou assinatura, analisada em perspeti-
va longitudinal, caracteriza-se por um público mais masculino por oposição ao
perfil mais feminino das audiências da TV generalista.
82 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 4.2 Tempo médio diário de emissão por género de programa (em minutos), 2012-2013

Total RTP1 RTP2 SIC TVI

2012 2013 2012 2013 2012 2013 2012 2013 2012 2013

Arte e cultura 5 5 1 1 4 4 0 0 0 0
Cultura geral/ 532 390 70 66 399 267 32 30 30 26
conhecimento
Desporto 271 136 50 33 185 86 18 9 18 9
Divertimento 1038 978 417 341 51 43 279 275 291 318
Ficção 1268 1154 238 283 180 112 406 378 444 381
Informação 990 1119 357 326 158 343 213 203 262 248
Juventude 513 518 23 10 406 419 54 51 30 37
Publicidade 905 783 237 219 20 17 341 300 306 248
Outros 240 235 48 51 36 38 97 83 59 62
Total 5762 5318 1441 1330 1439 1329 1440 1329 1440 1329

Fonte: Anuário de Media e Publicidade, 2013, Marktest.

100
90
80
70
60

% 50
40
30
20
10
0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Feminino Masculino

Figura 4.2 Perfil de audiência da TV generalista por género (em %), 2004 a 2013
Fonte: Anuário de Media e Publicidade, 2013, Marktest.

Relativamente às idades, estamos de igual modo perante perfis diferentes re-


lativos aos consumidores de televisão generalista, com as faixas etárias entre os
25-34 e os 35-44 anos a revelarem-se como os maiores espetadores de TV por cabo.
No entanto, em 2010, as tendências invertem-se com a faixa etária dos mais de 64
anos a apresentar-se como a dos maiores espetadores de TV por cabo, sendo que to-
das as outras faixas etárias descem os seus valores de visionamento. A partir de
2011, os perfis voltam a estabilizar.
TELEVISÃO 83

100
90
80
70
60
% 50
40
30
20
10
0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

4 a 14 15 a 24 25 a 34 35 a 44 45 a 54 55 a 64 Mais de 64

Figura 4.3 Perfil de audiência da TV generalista por idade (em %), 2004 a 2013
Fonte: Anuário de Media e Publicidade, 2013, Marktest.

100

80

60

%
40

20

0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Grande Lisboa Grande Porto Litoral Norte Litoral Centro Interior Sul

Figura 4.4 Perfil de audiência da TV generalista por região (em %), 2004 a 2013
Fonte: Anuário de Media e Publicidade, 2013, Marktest.
84 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

100

80

60

%
40

20

0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Feminino Masculino

Figura 4.5 Perfil da audiência com TV cabo por género (em %), 2004 a 2013
Fonte: Anuário de Media e Publicidade, 2013, Marktest.

100

80

60

%
40

20

0
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

4 a 14 15 a 24 25 a 34 35 a 44 45 a 54 55 a 64 Mais de 64

Figura 4.6 Perfil da audiência com TV cabo por idade (em %), 2004 a 2013
Fonte: Anuário de Media e Publicidade, 2013, Marktest.
TELEVISÃO 85

Quadro 4.3 Alojamentos cablados em Portugal (n.º), 2000 a 2013

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

2,601 3,024 3,349 3,494 3,631 3,773 3,825 4,026 4,215 3,99 4,056 4,011 4,082 4,139

Unidade: 1000 alojamentos cablados

Quadro 4.4 Evolução dos assinantes de DTH (TV por satélite) por NUTS II (em %), 2001 a 2013

Norte Centro Lisboa Alentejo Algarve RAA RAM

2000 24,6 15,4 47,6 2,7 5,0 1,9 2,8


2001 25,4 14,5 48,1 2,8 4,9 1,7 2,6
2002 25,7 13,8 47,8 3,5 5,1 1,6 2,4
2003 26,0 13,7 47,5 3,5 5,3 1,6 2,4
2004 26,7 13,8 46,9 3,4 5,3 1,5 2,4
2005 26,9 14,0 46,6 3,4 5,4 1,5 2,3
2006 29,4 13,9 44,7 3,2 5,1 1,5 2,3
2007 30,0 14,0 43,6 3,7 5,1 1,4 2,3
2008 31,0 13,9 42,3 3,8 5,1 1,6 2,2
2009 26,6 14,5 45,4 3,9 5,5 1,8 2,3
2010 26,7 14,7 45,1 3,9 5,5 1,9 2,2
2011 26,5 14,6 45,8 3,7 5,6 1,9 1,7
2012 26,8 14,5 45,6 3,8 5,7 1,9 1,7
2013 26,8 14,3 45,4 4,0 5,7 1,9 1,7

Fonte: ANACOM.

No que concerne ao número de alojamentos equipados com dispositivos


cabo, verifica-se uma estabilização deste indicador em 2007, a partir deste ano
as variações são mínimas. Entre 2012 e 2013 regista-se um ligeiro aumento.
Tendo em conta a distribuição do número de alojamentos cablados por re-
gião, verifica-se que é na região de Lisboa que se regista uma maior concentração
destes, representando sempre mais de 40% do número de alojamentos cablados.
Por sua vez, as regiões autónomas dos Açores e da Madeira apresentam os valores
mais baixos.
Relativamente à TV por satélite o maior número de assinantes encontra-se
nas regiões Norte e Centro de Portugal continental.
No que concerne à evolução do investimento publicitário, a leitura da figura
4.7 e do quadro 4.6 permite-nos observar que pela primeira vez em 2011 se regista
um decréscimo nas receitas publicitárias televisivas e o ano de 2012 acentua esta
tendência. Por sua vez, em 2013 inverte-se esta dinâmica, registando-se uma taxa
de variação anual do investimento publicitário na televisão de 15,5 pontos
percentuais.
Em suma, relativamente às principais dinâmicas associadas aos consumos no
setor televisivo, regista-se um aumento do share dos canais de televisão por cabo;
assinala-se o contraste entre os perfis das audiências dos canais generalistas (mais
feminino e constituído por pessoas com idade superior a 64 anos) e dos canais por
86 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 4.5 Evolução dos assinantes de DTH (TV por satélite) por NUTS II (em %), 2001 a 2013

Norte Centro Lisboa Alentejo Algarve RAA RAM

2001 31,3 30,6 11,2 13,6 7,1 5,5 0,7


2002 32,0 29,5 12,3 13,7 6,1 5,5 0,9
2003 32,5 30,9 11,2 13,3 5,7 5,3 1,2
2004 32,9 31,1 10,9 12,9 5,4 5,4 1,4
2005 31,3 29,7 11,6 12,4 5,0 5,8 4,2
2006 32,4 28,5 11,2 11,1 4,7 7,9 4,1
2007 32,4 28,3 10,6 10,8 4,6 9,2 4,0
2008 32,8 28,8 11,2 10,4 4,7 8,2 3,9
2009 34,0 29,6 11,5 9,7 4,5 6,9 3,8
2010 34,3 30,4 10,9 9,6 4,4 6,3 4,0
2011 35,9 33,2 10,7 10,4 4,4 3,3 2,2
2012 35,2 34,1 10,5 11,1 4,4 2,7 2,1
2013 35,1 34,3 10,3 11,1 4,4 2,3 2,1
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: ANACOM.

4.500.000

4.000.000

3.500.000

3.000.000

2.500.000

2.000.000

1.500.000
1.000.000

500.000

0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Televisão Imprensa Outdoor Rádio Cinema Internet

Figura 4.7 Evolução do investimento publicitário (milhares de euros), 2002 a 2013


Fonte: Anuário de Media e Publicidade 2013, Marktest. Edição OberCom
Nota: investimento a preços de tabela. Valores em milhares de euros.

cabo (público mais masculino e compreendido principalmente nas faixas etárias


entre os 25-34 e os 35-44); denota-se ainda a concentração do maior número de alo-
jamentos cablados na região de Lisboa e a maior presença de assinantes de televi-
são por satélite nas regiões Norte e Centro de Portugal; e por último, 2011 regista
um significativo decréscimo no investimento publicitário na televisão mas esta
tendência foi “normalizada” em 2013.
TELEVISÃO 87

Quadro 4.6 Taxa de variação anual do investimento publicitário entre 2002 e 2013 (em %)

Televisão Imprensa Outdoor Rádio Cinema Total

2002/03 9,4 31,7 17,1 1,3 — 14,1


2003/04 13,2 14,0 12,3 9,9 35,2 13,2
2004/05 31,2 3,7 11,5 -0,9 1,5 21,4
2005/06 14,4 4,8 10,4 -1,3 6,6 11,4
2006/07 8,6 11,3 2,8 -0,8 51,7 8,4
2007/08 7,9 2,3 6,7 -2,6 6,6 6,4
2008/09 5,6 -11,2 2,6 9,8 -2,4 2,5
2009/10 8,0 -2,7 -5,5 2,0 2,7 5,2
2010/11 -1,6 -6,7 6,2 9,5 24,3 -1,3
2011/12 -8,4 -8,5 -3,7 4,7 -7,6 -7,5
2012/13 15,5 -3,9 -0,9 -1,0 -20,3 19,7

Fonte: Anuário de Media e Publicidade, 2013, Marktest.

Encerra-se desta forma a análise dos consumos no setor televisivo. De se-


guida iremos proceder à comparação entre as notícias em destaque nos canais
generalistas (RTP1, RTP2, SIC e TVI) e nos canais de notícias (SICN, RTP Infor-
mação e TVI24) em 2012 e 2013. Estes dois blocos televisivos irão ser analisados
em dois pontos distintos. O primeiro ponto da análise é dedicado aos formatos
de divulgação das notícias, segundo a variável da duração e dos formatos jorna-
lísticos. Comecemos então pelos canais generalistas relativamente à categoria
de análise associada à duração.

Canais generalistas

As principais notícias em 2012

O quadro 4.7 é relativo às cinco principais histórias cobertas pelos canais generalis-
tas de televisão — RTP1, RTP2, SIC e TVI — em 2012. Para cada um destes canais fo-
ram selecionadas as cinco notícias com maior destaque. Seria expectável que a
tabela se apresentasse por quinze big stories, mas como houve notícias comuns
entre os canais generalistas esta constituiu-se apenas por nove notícias. Estas
nove notícias dizem respeito à reforma da legislação laboral, Orçamento do
Estado de 2013, Caso das Secretas, derrapagem do défice, incêndios em Portu-
gal, corte do subsídio de férias e de Natal, Euro 2012, crise grega e desemprego
na zona euro.
O desemprego na zona euro, bem como os cortes nos subsídios de férias e de
Natal pertenceram ao top 5 de todos os canais generalistas. A big story do desempre-
go na zona euro é um reflexo da crise económica europeia dimensionada especial-
mente a partir dos países do sul, onde as taxas de desemprego atingem valores
elevados. A RTP1 foi o principal canal de televisão a cobrir mediaticamente esta
história — 5,3% das notícias com big story são referentes ao desemprego na zona
euro — segue-se a RTP2 (5%), a SIC (3,6%), e por último a TVI (2,9%). Outra história
88 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 4.7 As principais notícias nos canais generalistas de televisão em 2012 (em %)

RTP1 RTP2 SIC TVI


Big stories N.º= 696 N.º= 597 N.º= 729 N.º= 954

Desemprego na zona euro 5,3 5,0 3,6 2,9


Crise grega 3,6 3,5 2,1 0,8
Euro 2012 3,6 0,5 6,9 3,6
Corte de subsídio de férias e Natal 3,2 4,7 3,4 2,9
Incêndios em Portugal 3,2 0,7 3,6 2,3
Derrapagem do défice 2,4 4,0 2,1 1,8
Caso das Secretas 1,3 3,9 2,7 1,8
OE 2013 2,7 2,3 4,0 2,8
Reforma da legislação laboral 1,3 3,5 1,8 3,2

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

fortemente destacada em 2012 foi o corte do subsídio de férias e de Natal. A RTP2


(4,7%) foi o canal de televisão que mais relevo lhe atribuiu.
Para além destas duas histórias pertencentes ao top 5 de todos os canais de
televisão generalistas, o Orçamento do Estado de 2013 também se constituiu em
análise como uma história jornalística de relevo, principalmente para os canais pri-
vados de televisão. A SIC (4%) foi o canal que mais destaque lhe conferiu, seguin-
do-lhe a TVI (2,8%), a RTP1 (2,7%) e, por último, a RTP2 (2,3%). O ano de 2012
introduziu alterações no mercado laboral nacional, nomeadamente através da fle-
xibilização dos despedimentos por inadaptação, na redução do pagamento das ho-
ras extraordinárias, no alívio das indemnizações por despedimento, entre outras
medidas. Os canais de televisão que mais relevo atribuíram a esta big story foram: a
RTP2 (3,5%) e a TVI (3,2%). A derrapagem no défice também se constituiu numa
das histórias mais mediatizadas em 2012 especialmente pela RTP2 (4%).
Estas histórias jornalísticas (big stories) atrás mencionadas, correspondentes a
dinâmicas políticas e económicas internas, foram contextualizadas mediaticamen-
te num ambiente de crise nacional e europeia. Esta presença constante do tema cri-
se foi ainda suportada pela big story crise grega, sendo os canais públicos nacionais
os que mais lhe atribuem relevância — RTP1 (3,6%), RTP2 (3,5%) / SIC (2,1%) e
TVI (0,8%).
Por sua vez, os canais generalistas também alimentaram outras histórias que
fogem ao espectro mediático da crise — Euro 2012, incêndios em Portugal e o Caso
das Secretas. Pela visualização do quadro 4.7 percebemos que a SIC se distancia dos
restantes canais pela forte cobertura do Euro 2012, onde 6,9% das notícias com big
story dizem respeito a este evento desportivo. A SIC (3,6%) foi também o canal de te-
levisão que mais cobertura assistiu aos incêndios em Portugal no verão de 2012. Por
último, o chamado Caso das Secretas, em redor da suspeita de cinco arguidos — sen-
do Jorge Silva Carvalho um dos principais — por violação do segredo de Estado, cor-
rupção e abuso de poder, acesso ilegal a dados, acesso ilegal agravado e violação do
segredo profissional, foi principalmente abordado pela RTP2 (3,9%).
TELEVISÃO 89

As principais notícias em 2013

O ano de 2013 foi fortemente marcado por notícias relativas à crise da coligação go-
vernativa. A instabilidade política do governo PSD/CDS-PP atingiu o seu ponto
mais elevado no início de julho de 2013 com a demissão do ministro Vítor Gaspar e
o pedido de demissão do ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, que
terminou com uma profunda remodelação governamental. 1 2 3 A TVI foi o canal
que mais cobriu a crise da coligação — 16,4% das notícias com big stories são relati-
vas a esta temática — seguindo-lhe a RTP1 (15,4%), a SIC (14,7%) e a RTP2 (5,3%).
A cobertura mediática das principais notícias de 2013 concentra-se sobretudo na
crise da coligação governativa. Esta concentração resultou numa menor represen-
tação percentual de outras notícias.
O orçamento retificativo também adquiriu um estatuto relevante nos blocos
noticiosos de todos os canais generalistas. O Orçamento do Estado de 2013 foi alte-
rado em dois momentos — em maio e em outubro — mas esta big story apenas diz
respeito à primeira alteração.4 A cobertura mediática destas notícias entre os canais
de televisão generalistas é homogénea — TVI (3,3%), SIC (2,8%), RTP2 (2,8%) e
RTP1 (2,2%). Também as notícias referentes ao chumbo do Tribunal Constitucional
a quatro normas inscritas no OE 2013 se manifestaram no top dos canais generalis-
tas nacionais.5 O tribunal declarou inconstitucional o corte do subsídio de férias a
funcionários públicos e a suspensão do mesmo a pensionistas; a contribuição sobre
prestações de doença e desemprego; e declarou ainda como inconstitucional uma
norma referente aos contratos de docência e investigação. A TVI (2,6%) foi o canal
de televisão que mais abordou esta história, seguida da SIC (2,2%), da RTP2 (1,7%)
e da RTP1 (0,6%). A temática do orçamento encerrou-se nesta análise pelas notícias
referentes ao Orçamento do Estado para 2014, sendo a RTP2 (3,6%) o canal que
mais destaque lhe fornece.
Foram ainda destacadas pelos canais generalistas nacionais outras notícias que
se distanciam de questões relacionadas com finanças públicas nacionais, estas dizem
respeito às eleições autárquicas (2013), ao apuramento para o mundial e ao final de
época de futebol. As eleições autárquicas foram abordadas principalmente pela RTP1
(4,1%). O apuramento para o mundial foi especialmente coberto pelos canais públicos
de televisão — RTP1 (2,3%) e pela RTP2 (1,1%) / SIC (0,5%) e pela TVI (0,1%). Por sua
vez, o final da época de futebol de 2013 foi especialmente destacado pelos canais priva-
dos de televisão — SIC (4%), TVI (2,5%) / RTP1 (0,7%) e RTP2 (0,3%).

1 http://estadodasnoticias.info/2013/07/a-crise-na-coligacao-governativa-foi-a-noti-
cia-da-semana-de-1-a-6-de-julho/
2 http://estadodasnoticias.info/2013/07/crise-na-coligacao-governativa-continua-no-topo-da-
agenda-noticiosa-na-semana-de-8-a-12-de-julho/
3 http://estadodasnoticias.info/2013/08/pela-3a-semana-a-crise-governativa-domina-a-agenda-
informativa/
4 http://estadodasnoticias.info/2013/06/entrega-do-orcamento-rectificativo-no-parlamento-e-a-
noticia-da-semana-de-27-de-maio-a-1-de-junho/
5 http://estadodasnoticias.info/2013/04/chumbo-do-tribunal-constitucional-e-a-noticia-da-se-
mana-de-4-a-10-de-abril-de-2013/
90 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 4.8 As principais notícias dos canais generalistas de televisão em 2013 (em %)

RTP1 RTP2 SIC TVI


Big stories
N.º= 727 N.º= 359 N.º= 744 N.º= 769

Crise na coligação governativa 15,4 5,3 14,7 16,4


Autárquicas (2013) 4,1 1,7 3,0 2,0
Orçamento do Estado 2014 2,8 3,6 2,0 2,5
Apuramento mundial 2,3 1,1 0,5 0,1
Orçamento retificativo 2013 2,2 2,8 2,8 3,3
Crise na Síria 0,3 3,9 0,4 0,1
Estaleiros de Viana 0,1 2,8 0,8 0,1
Final de época 0,7 0,3 4,0 2,5
Morte de Nelson Mandela 2,2 0,6 2,8 0,8
Bento XVI resigna 1,7 0,6 2,3 4,4
TC chumba OE 0,6 1,7 2,2 2,6

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade

As notícias internacionais com mais destaque nos canais generalistas foram: a


crise na Síria, a morte de Nelson Mandela e a resignação de Bento XVI.6 A crise na
Síria foi especialmente coberta pela RTP2 (3%), tendo uma representação irrisória
nos restantes canais de televisão — SIC (0,4%), RTP1 (0,3%) e TVI (0,1%). A morte
de Nelson Mandela foi mais destacada pela SIC (2,8%), seguida da RTP1 (2,2%), da
TVI (0.,8%) e da RTP2 (0,6%). Por último, a resignação do Papa Bento XVI desta-
cou-se principalmente através da TVI (4,4%), seguida pela SIC (2,3%), RTP1 (1,7%)
e pela RTP2 (0,6%).
Posto isto, podemos afirmar que o ano de 2013 foi mais fechado em questões
nacionais relativamente ao ano de 2012 nos canais generalistas de televisão. Esta
internalização das histórias noticiosas em 2013 deveu-se principalmente à cobertu-
ra da crise da coligação governativa e de questões associadas às finanças públicas
nacionais.

Duração das notícias

As peças jornalísticas grandes, entendidas como as que registam mais de 120 se-
gundos, são as mais constantes nos canais de sinal aberto nacionais. Assinala-se
apenas a exceção da RTP2 no ano de 2013, que privilegia as peças jornalísticas de
pequena dimensão. A SIC é o canal que regista uma maior presença de peças de
grande dimensão nos dois anos de análise. Em 2012, 66,1% das notícias são de di-
mensão grande, em 2013 regista-se a percentagem de 72%. A SIC, a TVI e RTP1 ma-
nifestam um aumento de peças de grande dimensão de 2012 para 2013.
Relativamente às notícias de média duração são as segundas mais presentes
na TVI, na SIC e na RTP1. O canal de televisão que mais apresenta notícias com esta
dimensão é a TVI para os dois anos de análise — 2012 (33,5%) e 2013 (28,4%). Em

6 http://estadodasnoticias.info/2013/02/a-resignacao-do-papa-bento-xvi-em-semana-de-carnaval/
TELEVISÃO 91

Quadro 4.9 Duração das peças noticiosas nos canais generalistas entre 2012 e 2013 (em %)

RTP1 RTP1 RTP2 RTP2 SIC SIC TVI TVI


Duração 2012 2013 2012 2013 2012 2013 2012 2013
N.º= 1310 N.º=1119 N.º= 922 N.º= 584 N.º=1413 N.º=1284 N.º=1737 N.º=1301

Pequena
10,4 9,8 15,0 42,3 9,2 5,9 13,6 7,8
(até 60 segundos)
Média (entre 61
26,1 23,6 26,0 20,8 24,7 22,0 33,5 28,4
e 120 segundos)
Grande (mais de 120
63,5 66,6 59,0 36,8 66,1 72,0 52,9 63,8
segundos)

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

2013 registou-se um decréscimo no recurso destas peças em todos os canais de tele-


visão generalistas nacionais.
Por último, as peças de pequena duração são mais presentes na RTP2 em 2012
(15%) e em 2013 (42,3%). O telejornal da RTP2 relativamente aos restantes canais
generalistas regista um formato mais curto, especialmente no ano de 2013. Este fac-
to ajuda a justificar a diminuição de peças grandes e de média duração e, por sua
vez, a elevada concentração de peças pequenas em 2013 na RTP2. A RTP2 é o único
canal de televisão que insere este aumento, os restantes canais assinalam um de-
créscimo de peças curtas em 2013.

Formatos jornalísticos

No que se refere aos formatos verifica-se a esmagadora presença da peça editada


em todos os canais generalistas nos dois anos detidos para a análise. O segundo for-
mato mais recorrente é a reportagem.
No que diz respeito aos restantes formatos denotamos que a RTP2 se distan-
cia dos outros canais generalistas. A estrutura do bloco noticioso deste canal públi-
co sofreu algumas alterações de 2012 para 2013, e estas são visíveis na nossa análise.
No que concerne ao relato do pivô, denotamos um aumento muito significativo
deste formato de 2012 para 2013 — RTP2 2012 (7,8%) e RTP2 2013 (29,3%). Este forte
aumento não se manifesta em mais nenhum canal de televisão. Relativamente à
opinião, a RTP2 passou do canal generalista com maior permanência do formato
de opinião em 2012 para o canal com menos frequência do mesmo em 2013. Neste
ano o canal de televisão com mais frequência da opinião é a SIC (6,6%). Este fenó-
meno também é visível em relação ao formato entrevista. Em 2012, a RTP2 (3,7%) é
o canal que mais recurso faz da entrevista, perdendo este estatuto para a TVI (2,9%)
em 2013. Por último, constatamos ainda que o direto é um dos formatos menos uti-
lizados pela RTP2.
Através dos formatos jornalísticos mais presentes no setor televisivo genera-
lista esgotamos o primeiro ponto de análise. De seguida iremos prosseguir para o
segundo ponto de análise — dedicado aos conteúdos noticiados — relativamente
aos canais generalistas. As variáveis que irão estar em análise são as seguintes: i)
92 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 4.10 Os formatos nas televisões generalistas em 2012 e 2013 (em %)

RTP1 RTP1 RTP2 RTP2 SIC SIC TVI TVI


Formato 2012 2013 2012 2013 2012 2013 2012 2013
N.º= 1309 N.º= 1119 N.º= 920 N.º= 584 N.º= 1407 N.º= 1280 N.º= 1735 N.º= 1299

Peça editada 64,0 54,2 65,1 56,3 62,0 50,6 58,4 55,3
Reportagem 17,6 23,7 13,2 9,8 18,5 28,9 23,1 24,8
Direto 8,6 9,7 2,3 1,5 5,8 8,7 5,3 6,3
Entrevista 1,2 2,2 3,7 1,7 1,5 1,5 2,7 2,9
Opinião 0,9 3,0 7,9 1,4 4,8 6,6 1,7 4,3
Relato do pivô 7,7 7,1 7,8 29,3 7,3 3,7 8,8 6,4

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

enfoque geográfico, ii) tema e iii) os protagonistas. Comecemos pela cobertura da


área geográfica pelos canais generalistas nacionais.

A cobertura geográfica geral

Aludindo à área de cobertura geográfica, o quadro 4.11 permite constatar a maior pre-
ponderância das notícias exclusivamente nacionais.7 O focus nacional é o mais predo-
minante nos canais generalistas nacionais em 2012 e em 2013. As regiões do país
também têm uma cobertura bastante significativa em todos os canais, constituindo-se
na segunda categoria geográfica com maior representação.
Para além do domínio nacional e regional, o domínio europeu também se
manifesta como relevante nos anos detidos para análise. No que concerne à co-
bertura geográfica em domínio europeu esta divide-se em três categorias: i) no-
tícias nacionais com referência a países europeus; ii) notícias europeias com
referência a Portugal e iii) notícias exclusivamente europeias. A primeira cate-
goria é a mais presente para todos os canais generalistas no ano de 2012. O canal
de televisão que mais relevo deu a notícias nacionais com referência a países eu-
ropeus foi a RTP1 (10,9%). No ano de 2013 esta relevância geográfica perde-se
na SIC e na TVI. Os canais generalistas privados reservam, em 2013, uma maior
percentagem de notícias europeias com referência a Portugal — SIC (9,2%), TVI
(7,3%). A categoria geográfica Europa-nacional cresceu em 2013 em todos os ca-
nais generalistas nacionais. Em contrapartida as notícias exclusivamente euro-
peias registam um decréscimo em 2013.
Relativamente à cobertura geográfica em domínio internacional divide-se
em: i) notícias nacionais com referência ao internacional; ii) notícias interna-
cionais com referência a Portugal e iii) notícias internacionais. No ano de 2012
os canais generalistas nacionais dão mais relevo a notícias nacionais com

7 O enfoque geográfico constitui-se pela regra de pelo menos 50%, ou seja, metade do conteúdo
das notícias deve corresponder a uma determinada área geográfica. As notícias que não cum-
prem esta regra foram codificadas sem enfoque geográfico. No caso de haver dois enfoques geo-
gráficos na mesma peça, considerou-se o que ocupava espaço.
TELEVISÃO 93

Quadro 4.11 As áreas geográficas mais destacadas pelas televisões generalistas entre 2012 e 2013 (em %)

RTP1 RTP1 RTP2 RTP2 SIC SIC TVI TVI


Enfoque geográfico 2012 2013 2012 2013 2012 2013 2012 2013
N.º=1305 N.º=1102 N.º= 920 N.º=580 N.º=1397 N.º=1254 N.º=1716 N.º=1270

Regional 16,8 13,4 10,1 9,0 18,9 13,0 17,2 13,2


Nacional 47,7 48,8 55,5 51,9 50,5 46,3 53,4 51,2
Nacional-Europa 10,9 7,4 7,2 7,8 9,6 7,6 9,7 7,2
Europa-nacional 3,7 7,4 3,3 7,2 3,4 9,2 3,0 7,3
Europa 5,4 2,9 3,3 2,8 4,2 3,0 4,7 3,0
Nacional-internacional 9,7 8,5 11,8 8,1 6,4 6,7 6,1 8,7
Internacional-nacional 1,6 2,9 2,2 3,3 1,0 3,9 1,2 2,2
Internacional 4,2 8,6 6,6 10,0 6,0 10,3 4,5 7,2

Fontes: Projeto Jornalismo e Sociedade.

referência a países internacionais, sendo a RTP2 (11,8%) o canal de televisão que


mais as destaca. O ano de 2013, por sua vez, é principalmente constituído no
campo internacional por notícias exclusivamente internacionais, sendo a SIC
(10,3%) o canal que lhes reserva mais destaque. Relativamente às notícias inter-
nacionais com referência a Portugal afiguram-se como as menos relevantes para
os canais generalistas nacionais.

Cobertura regional

No que respeita às regiões do país é facilmente verificável que as notícias sobre a re-
gião de Lisboa e Vale do Tejo ocupam mais espaço nos telejornais. A região do
Centro também tem uma forte presença nas notícias dos canais generalistas, princi-
palmente na TVI — 2012 (20,7%) e 2013 (20,6%). Por sua vez, a região do Grande
Porto (23,1%) e do Norte (17,3%), mesmo que pertinentes em todos os canais de te-
levisão, tiveram uma especial presença na RTP2 de 2013. Estas duas regiões regis-
taram um aumento em todos os canais generalistas de 2012 para 2013 — com a
exceção da RTP1 para a região do Grande Porto.
A região do Algarve encontra-se principalmente presente nas peças jornalís-
ticas correspondentes ao ano de 2012. Este fenómeno pode ser esclarecido pela
existência de um tornado no concelho de Sines e Lagoa em novembro de 2012. Para
além deste desastre natural, a região do Algarve esteve ainda em foco pelos violen-
tos incêndios registados na serra algarvia. Foi a TVI (6,7%) o principal canal a
destacar esta região do país. Também a região do Alentejo se encontra mais repre-
sentada em 2012. Neste ano as televisões generalistas registaram com alguma rele-
vância o triplo homicídio de Beja, acontecimento em redor da suspeita de um
homem ter assassinado a mulher, filha e neta. Este acontecimento registado na re-
gião do Alentejo ajuda a explicar a pertinência desta região especialmente no ano
de 2012.
A Região Autónoma da Madeira foi principalmente destacada em 2012. A re-
levância das histórias jornalísticas associadas ao buraco financeiro descoberto em
2011, que deu origem a um plano de ajustamento orçamental para esta região, e os
94 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 4.12 As regiões do país nos canais generalistas de televisão entre 2012 e 2013 (em %)

RTP1 RTP1 RTP2 RTP2 SIC SIC TVI TVI


Enfoque geográfico 2012 2013 2012 2013 2012 2013 2012 2013
N.º=212 N.º=144 N.º=829 N.º=52 N.º=89 N.º=160 N.º=261 N.º=165

Norte 10,4 14,6 4,5 17,3 4,5 15,0 10,3 12,1


Grande Porto 10,4 5,6 10,1 23,1 10,1 11,3 12,6 11,5
Centro 18,9 17,4 12,4 15,4 12,4 19,4 20,7 20,6
Lisboa e Vale do Tejo
31,1 38,9 36,0 28,8 36,0 39,4 28,7 38,2
(Grande Lisboa)
Alentejo 11,8 6,3 7,9 1,9 7,9 3,8 9,2 6,7
Algarve 6,1 6,3 9,0 3,8 9,0 5,6 9,2 7,9
Região Autónoma da Madeira 10,8 6,3 18,0 7,7 18,0 3,8 8,0 1,2
Região Autónoma dos Açores 0,5 4,9 2,2 1,9 2,2 1,9 1,1 1,8

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

incêndios em julho de 2012 no concelho do Funchal ajudam a explicar a pertinência


desta área geográfica em 2012. O canal que mais referenciou a Região Autónoma da
Madeira foi a RTP2 (18%). Por sua vez, a Região Autónoma dos Açores foi a área re-
gional menos destacada pelos canais de televisão generalistas.

Países europeus

O quadro 4.13 agrega os cinco principais países europeus nas televisões generalis-
tas nacionais em 2012/2013. Através desta podemos afirmar que o país mais
frequente nestes meios de comunicação é a Espanha. Sendo especialmente referen-
ciada pelos canais públicos nos dois anos de análise — RTP1 2012 (18,1%), RTP2
2013 (20,2%). Não é novidade o privilégio que os canais generalistas atribuem a
Espanha, vários estudos apontam este país como a principal referência das notícias
não nacionais pelos meios de comunicação portugueses (Silveira, Cardoso e Belo,
2010, Silveira e Shoemaker, 2010).
Para além da forte presença do país vizinho, assinala-se o destaque a Fran-
ça, Reino Unido, Grécia, Itália, Alemanha e Vaticano. A representação da Grécia
comprova-se especialmente nos canais generalistas no ano de 2012, registan-
do-se uma queda bastante significativa das notícias que referenciavam este país
em 2013. A evidência deste país em 2012 justifica-se pela sua contextualização
numa grave crise económica e também pela ocorrência de eleições legislativas
que se afiguraram num impasse político possibilitado pela dificuldade na for-
mação de um governo maioritário. O canal de televisão que mais referenciou
este país foi a RTP2 (12,3%). Outro país do sul europeu relevante para os canais
generalistas foi a Itália, sendo especialmente referenciado em 2013. Para além
da cobertura mediática a este país passar pelas suas fragilidades económicas
num cenário de crise europeia, Itália foi ainda contextualizada por notícias refe-
rentes às eleições legislativas de 2013 e por um acidente denominado jornalisti-
camente por naufrágio em Lampedusa, dando conta do naufrágio de uma
TELEVISÃO 95

Quadro 4.13 Os países europeus mais destacados pelos canais de sinal aberto entre 2012 e 2013 (em %)

Focus RTP1 RTP1 RTP2 RTP2 SIC SIC TVI TVI


geográfico: 2012 2013 2012 2013 2012 2013 2012 2013
Europa N.º=342 N.º=166 N.º=204 N.º=84 N.º=285 N.º=170 N.º=353 N.º=193

Espanha 18,1 19,9 12,7 20,2 15,4 12,4 17,3 18,1


Grécia 12,9 2,4 21,6 9,5 9,8 7,4 10,5 1,0
França 7,9 6,6 12,3 11,9 8,8 11,2 5,7 2,6
Reino Unido 7,3 12,7 3,9 2,4 5,6 28,2 9,6 22,3
Alemanha 5,0 1,8 8,3 7,3 2,5 5,9 9,1 7,3
Vaticano 0,3 16,9 0,5 6,0 0,9 15,9 0,3 24,4
Itália 3,5 7,2 4,4 7,1 3,2 6,5 3,1 7,3

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

embarcação de emigrantes africanos ao largo da ilha italiana. A TVI (7,3%) foi o


principal canal a destacar este país em 2013.
O espaço geográfico referente ao eixo franco-alemão também se encontra
destacado pelos canais de televisão nacionais. Evidencia-se uma maior presen-
ça da França em relação à Alemanha nas peças noticiosas nacionais. França
esteve em foco especialmente no ano de 2012 pela existência de eleições presi-
denciais francesas, mas houve ainda outro acontecimento que as televisões na-
cionais cobriram consideravelmente, este diz respeito a um tiroteio numa escola
judaica na cidade de Toulouse em março de 2012. A RTP2 é o canal que mais refe-
rencia este país — RTP2 2012 (12,3%) e RTP2 2013 (11,9%), contrapondo-se com
a TVI — 2012 (5,7%) e 2013 (2,6%) — que é o canal que menos destaque lhe pres-
ta. Relativamente à Alemanha, a sua representação é regular nos dois anos em
análise, com a exceção da RTP1 em 2013 em que apenas 1,8% das notícias fazem
referência a este país. As notícias referentes à Alemanha em 2012 passam forte-
mente pela sua contextualização enquanto líder na resolução da crise económi-
ca europeia, mas através de outro evento descrito mediaticamente pela visita da
chanceler alemã a Portugal. Por sua vez, em 2013 a representação da Alemanha
passou pela cobertura das eleições federais. O principal canal a destacar este
país europeu foi a TVI — 2012 (9,1%) e 2013 (7,3%).
O Reino Unido tem por parte dos canais generalistas um maior destaque
em 2013, ano de Jogos Olímpicos em Londres. A SIC (28,2%) foi o canal de televi-
são que mais destaque deu a este país. A cidade-estado do Vaticano encontra-se
bastante referenciada nas notícias nacionais em 2013, devido à resignação do
Papa Bento XVI. Este destaque é mais presente na RTP1 (7,2%) e na TVI (7,3%)
em 2013.

Países internacionais (não europeus)

No caso dos países não europeus considerados como aqueles que não perten-
cem à Europa, denotamos que o principal país referenciado são os Estados Uni-
dos da América. Este país foi principalmente destacado no ano de 2012 pois
96 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 4.14 Os países internacionais (não europeus) mais destacados pelos canais de sinal aberto em
Portugal em 2012 e 2013 (em %)

RTP1 RTP1 RTP2 RTP2 SIC SIC TVI TVI


Focus geográfico:
2012 2013 2012 2013 2012 2013 2012 2013
internacional
N.º=89 N.º=171 N.º=81 N.º=110 N.º=104 N.º=241 N.º=90 N.º=166

EUA 39,3 14,0 30,9 14,5 34,6 27,8 53,3 32,5


Brasil 10,1 16,4 8,6 7,3 8,7 18,3 11,1 15,1
Egito 7,9 1,8 11,1 1,8 6,7 0,8 8,9 0,6
Angola 5,6 4,7 1,2 8,2 3,8 4,1 1,1 2,4
Síria 5,6 1,8 8,6 9,1 5,8 0,4 5,6 0,6
Troika 18,7 22,7 15,8 20,5
Moçambique 2,2 8,8 2,5 5,5 2,1 1,2
África do Sul 8,8 2,7 10,8 6,6
Guiné-Bissau 4,5 19,8 3,6 3,8 0,4 3,3 1,2
Austrália 0,6 4,8 0,4
Turquia 1,1 2,3 1,2 3,6 1,9 5,0 2,4
Irão 4,4
Venezuela 2,3 4,5 1,9 3,3 1,1 4,2

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

realizaram-se as eleições presidenciais americanas. Neste ano, o canal de televi-


são que mais referenciou este país foi a TVI (53,3%), seguida da RTP1 (39,3%),
SIC (34,6%) e da RTP2 (30,9%). Em 2013 registou-se um significativo decréscimo
no destaque deste país, sendo novamente a TVI (32,5%) o canal que mais evidên-
cia lhe prestou. Para além dos Estados Unidos da América, o Brasil também apa-
rece no top 5 de todos os canais de televisão generalistas. O destaque deste país
aumentou de 2012 para 2013, com a exceção da RTP2. Em 2012 o canal que mais
destaque atribuiu ao Brasil foi a TVI (11,1%), enquanto em 2013 foi a SIC
(18,3%).
O ano de 2012 foi marcado por inúmeros conflitos estendidos em vários pon-
tos geográficos. A representação mediática dos países internacionais pelos canais
generalistas nacionais espelham estes acontecimentos. O Egito foi especialmente
contextualizado através da revolução egípcia e pela tragédia de Port Sai — ocorreu
no dia 1 de fevereiro após um jogo de futebol entre Al Masry e Al Ahly, com a morte
de 79 pessoas e registo de milhares de feridos. O canal que mais importância atribu-
iu ao Egito foi a RTP2 (11,1%), seguida da TVI (8,9%), RTP1 (7,9%), e da SIC (6,7%).
A Síria, pela mediatização da guerra civil, também teve um forte relevo no ano de
2012 e no ano de 2013, sendo a RTP2 (8,6% em 2012 e 9,1% em 2013) o canal que mais
destaque lhe forneceu.8 A Guiné-Bissau, pelo golpe de Estado a 12 de abril de 2012,
foi significativamente mais referenciada pela RTP2 (19,8%). Por último, Moçambi-
que também contextualizado pelo seu conflito interno em 2013, mas sobretudo
pelo rapto de cidadãos portugueses, foi principalmente referido neste mesmo ano
pela RTP1 (8,8%).

8 http://estadodasnoticias.info/2013/09/o-conflito-na-siria-esteve-no-topo-da-agenda-noticio-
sa-portuguesa-na-semana-de-9-a-14-de-setembro/
TELEVISÃO 97

Angola também foi um país destacado pelos canais de televisão generalis-


tas, para além da sua relevância económica em contexto nacional, a sua repre-
sentação passou ainda pela cobertura da venda do BPN ao banco angolano BIC
em 2012. No ano de 2013, a evidência deste país foi construída em redor da
“tensão” entre Portugal e Angola provocada pelo desconforto relativamente às
investigações judiciais do ministério público português a individualidades an-
golanas. Os canais públicos de televisão foram os que mais destacaram Angola
— RTP1 2012 (5,6%) e RTP2 2013 (8,2%). Por sua vez, a Venezuela e a África do
Sul encontram-se especialmente presentes nas peças jornalísticas em 2013, de-
vido à morte de Hugo Chávez (Venezuela) e de Nelson Mandela (África do
Sul).9 Relativamente à África do Sul, a SIC (10,8%) foi o canal que mais cobertura
lhe concedeu, enquanto a Venezuela foi principalmente destacada pela RTP2
(4,5%)

Principais temas

O quadro 4.15 foi elaborado a partir da seleção dos cinco principais temas de cada
canal generalista de televisão nos anos de 2012 e de 2013. A tematização das notíci-
as permite que um determinado acontecimento seja “arrumado” numa categoria,
facilitando a compreensão da realidade por parte do leitor (Gomes, 2012).
O grande tema de 2012 foi o da economia e setores económicos. Por sua vez,
em 2013 o tema relativo à política interna constitui-se como o mais relevante entre
os canais de televisão. O assunto relativo à justiça e sistema judicial, mesmo que em
menor evidência relativamente aos dois primeiros mencionados, também se evi-
dencia pela sua transversalidade presente em todos os canais de televisão nos dois
anos de análise.
Mas nem todos os temas, presentes no quadro 4.15, tiveram esta presença
constante e homogénea nos canais de televisão em análise. O desporto foi desta-
cado principalmente pela SIC — 2012 (12,6%), 2013 (11,3%) — contrastando com
a RTP2 que se evidencia por um espaço mais residual atribuído às notícias des-
portivas — RTP2 2012 (1,2%), RTP2 2013 (5,8%). No que diz respeito aos assun-
tos laborais e Segurança Social, tiveram uma maior presença em 2012, havendo
um decréscimo desta temática em todos os canais generalistas em 2013. O canal
de televisão que mais destacou este assunto foi a RTP2 — 2012 (11,4%), 2013
(8,2%) Também o tema da participação e protestos foi destacado nos dois anos
de análise principalmente pela RTP2 — 2012 (8,5%), 2013 (7,4%). A temática dos
desastres/acidentes/epidemias foi mais evidente na RTP1 — 2012 (7,3%), 2013
(7,1%). Por último, relativamente aos diversos (onde se incluem as histórias so-
bre celebridades) foi a TVI (10,1%), em 2012, o canal que mais destaque lhe atri-
buiu, sendo a SIC (6,8%) a ganhar esse protagonismo em 2013.

9 http://estadodasnoticias.info/2013/03/as-noticias-internacionais-mar- cam-a-agen-
da-noticiosa-da-semana-de-7-a-13-de-marco/
98 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 4.15 Os temas mais destacados nas televisões generalistas em 2012 e 2013 (em %)

RTP1 RTP1 RTP2 RTP2 SIC SIC TVI TVI


Temas 2012 2013 2012 2013 2012 2013 2012 2013
N.º=1310 N.º=1119 N.º=922 N.º=584 N.º=1413 N.º=1284 N.º=1737 N.º=1301

Economia e setores
17,1 9,3 18,3 11,5 13,3 10,7 16,2 11,5
económicos
Política interna 13,4 22,6 17,7 26,7 12,6 21,5 14,3 20,6
Desporto 11,8 5,8 1,2 5,8 12,6 11,3 9,2 7,5
Justiça e sistema judicial 11,5 10,1 9,9 7,4 13,7 8,3 13,0 10,3
Assuntos laborais
8,0 4,9 11,4 8,2 7,2 5,1 8,2 4,7
e Segurança Social
Participação e protestos 5,2 7,1 8,5 7,4 7,0 3,6 5,4 4,2
Desastres/acidentes/epidemias 7,3 7,1 5,7 5,0 6,4 4,8 5,8 6,1
Diversos 4,2 4,6 3,1 2,4 6,8 7,4 5,7 10,1

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Principais protagonistas

Em relação aos protagonistas o quadro 4.16 é o resultado da seleção das cinco princi-
pais personagens destacadas pelos canais generalistas nacionais em 2012 e 2013. A
personalidade a que todos os canais de televisão deram mais relevo nos dois anos de
análise foi o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho. Este é o protagonista com mais
relevo mediático, sendo a RTP2 o canal que mais destaque lhe proporcionou — 2012
(14,6%), 2013 (12%). O segundo protagonista mais destacado foi Cavaco Silva, sendo a
RTP1 o canal que mais destaque lhe atribuiu — 2012 (6,7%), 2013 (6,3).
Na sequência da crise governativa de julho de 2013 o governo sofreu uma forte
remodelação que resultou na entrada de novos protagonistas na esfera política portu-
guesa e pela saída de outros. Este acontecimento refletiu-se na nossa análise pelo au-
mento do destaque de algumas individualidades e pelo decréscimo na representação
de outras personalidades políticas. Álvaro Santos Pereira e Miguel Relvas exemplifi-
cam o que atrás foi descrito. Em 2012, Álvaro Santos Pereira esteve bem presente nas
televisões nacionais, sendo mais evidenciado pela SIC (3,6%). Por sua vez, este prota-
gonista em 2013 sofreu um forte decréscimo na sua representação, justificado pela sua
saída do governo. No caso de Miguel Relvas, que também abandonou o governo no
mesmo período, a suavização do seu protagonismo em 2013 foi mais ligeira relativa-
mente ao antigo ministro da Economia. Vítor Gaspar foi substituído por Maria Luís
Albuquerque, por esta razão a nova ministra das Finanças apenas se encontra presente
no ano de 2013. ARTP2 (3,1%) foi o canal de televisão que mais destaque lhe concedeu,
seguiu-se a SIC (3%), a RTP1 (2,2%) e por último a TVI (2,1%). Um outro protagonista
também com uma clara predominância no ano de 2013 foi Paulo Portas. Este ganhou
um destaque acrescido potencializado pela crise política no verão de 2013, sendo des-
tacado de igual forma pela SIC, TVI e RTP2 (4,5%).
Para além do destaque a estas figuras governamentais, as televisões generalistas
nacionais protagonizam a oposição principalmente através de António José Seguro.
A sua representação cresceu claramente no ano de 2013 em todos os canais de
TELEVISÃO 99

Quadro 4.16 As individualidades mais presentes nos blocos noticiosos generalistas entre 2012 e 2013 (em %)

RTP1 RTP1 RTP2 RTP2 SIC SIC TVI TVI


Protagonistas 2012 2013 2012 2013 2012 2013 2012 2013
N.º=505 N.º=528 N.º=510 N.º=293 N.º=892 N.º=704 N.º=728 N.º=710

Pedro Passos Coelho 10,1 10,2 14,6 12,0 9,8 9,5 11,0 9,5
Cavaco Silva 6,7 6,3 5,3 6,2 4,6 4,0 6,3 4,0
Vítor Gaspar 4,6 2,9 5,3 1,7 4,6 3,8 3,2 3,8
Álvaro Santos Pereira 3,0 0,5 2,4 0,3 3,6 0,5 2,6 0,6
Miguel Relvas 2,4 1,4 4,1 0,3 3,5 0,7 2,5 1,8
António José Seguro 1,6 2,9 3,9 7,2 3,1 4,3 2,7 4,3
Alberto João Jardim 2,4 0,2 1,7 0,3 3,5 0,2 0,8 0,1
Angela Merkel 1,6 0,2 1,7 1,4 0,6 0,4 3,6 0,8
Paulo Portas 0,4 4,1 1,9 4,5 1,5 4,5 1,0 4,5
Francisco I – 4,2 – 4,5 – 2,8 – 3,5
Nelson Mandela – 3,0 – 1,0 – 3,4 – 1,0
Maria Luís Albuquerque – 2,2 – 3,1 – 3,0 – 2,1

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

televisão, sendo neste mesmo ano principalmente destacado pela TVI (4,3%). Por sua
vez, a “voz europeia” é protagonizada através de Angela Merkel. A chanceler alemã
foi mais destacada em 2012, registando-se uma presença superior na TVI (3,6%).
Para além destes protagonistas políticos pertencentes essencialmente à esfera
política nacional, os canais generalistas atribuíram ainda relevo mediático ao Papa
Francisco I e a Nelson Mandela. Estes apenas estão presentes no ano de 2013. Na se-
quência da resignação do Papa Bento XVI, no início do ano de 2013, Francisco I foi
eleito como o novo Papa. O canal que atribuiu um maior destaque a Francisco I foi a
RTP2 (4,5%). Por último, em maio de 2013, morreu Nelson Mandela, acontecimen-
to que justifica a sua presença no top 5 dos protagonistas mais destacados pelos ca-
nais generalistas. A SIC (3,4%) foi o canal que mais relevo lhe atribuiu.
Os protagonistas encerram o segundo ponto da análise dedicado aos conteúdos
noticiados. De seguida, irão ser analisados os canais de notícias nacionais — SIC Notí-
cias, RTP Informação e TVI24 — relativamente aos formatos de divulgação das notíci-
as segundo as categorias de análise relativas à duração e aos formatos.

Canais de notícias

Principais histórias em 2012

O quadro 4.17 apresenta as principais histórias presentes nos canais de notícias na-
cionais no ano de 2012. Pela leitura do mesmo, podemos afirmar que as histórias
mais mediatizadas por estes canais são: o corte dos subsídios de férias e de Natal e o
desemprego na zona euro. Estas duas histórias pertencem ao top 5 da SIC Notícias,
RTP Informação e da TVI24. Relativamente ao corte dos subsídios de férias e de Na-
tal, foi coberto mediaticamente de uma forma regular entre os vários canais, ape-
nas se registando uma ligeira proeminência por parte da RTP Informação (4,8%).
100 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 4.17 As principais histórias noticiosas destacadas pelos canais de notícias em 2012 (em %)

RTP Informação SIC Notícias TVI24


Big stories: canais de notícias 2012 2012 2012
N.º= 926 N.º= 379 N.º= 301

Euro 2012 6,4 0,8 0,3


Corte de subsídio de férias e Natal 4,8 4,7 4,3
Caso das Secretas 4,4 4,2 1,0
Desemprego na zona euro 3,3 4,5 4,3
Golpe de Estado na Guiné-Bissau 3,2 2,9 2,0
Orçamento do Estado para 2013 2,1 4,2 11,0
Derrapagem do défice 2,4 3,4 6,0
Crise na coligação governativa 1,0 2,6 3,7

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

A big story do desemprego na zona euro foi principalmente mediatizada pela SIC
Notícias (4,5%), seguida da TVI24 (4,3%) e RTP Informação (3,3%). Este fenómeno
já se tinha verificado nas televisões generalistas, também são estas duas big stories
as mais frequentes em todos os canais generalistas em 2012.
Para além desta semelhança, verificamos ainda que as histórias noticiosas re-
lativas à derrapagem no défice, ao Caso das Secretas, ao Orçamento do Estado para
2013 e ao Euro 2012 também se encontram destacadas pelos canais de notícias. É
mais uma tendência partilhada entre estes dois blocos de canais. Relativamente ao
Euro 2012 deve-se salientar que o destaque provém essencialmente da RTP Infor-
mação (6,4%), observando-se uma presença quase residual nos restantes canais de
notícias — SIC Notícias (0,8%) e TVI24 (0,3%).
As “histórias novidade” que os canais de notícias destacaram foram: o golpe
de Estado na Guiné-Bissau e a crise na coligação governativa. A 12 de abril de 2012
um autodenominado “Comando Militar” tomou o poder em Bissau, destituindo o
presidente interino, Raimundo Pereira, e o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júni-
or. Este acontecimento descrito pela história do golpe militar na Guiné-Bissau foi
destacado principalmente pela RTP Informação (3,2%), seguida da SIC Notícias
(2,9%) e da TVI24 (2%). Para além desta, a crise na coligação governativa também
foi evidenciada pelos canais de notícias. Enquanto nos canais generalistas esta his-
tória ganha um verdadeiro destaque apenas em 2013, nos canais de notícias as di-
vergências políticas no governo já se encontram mediatizadas nas notícias de 2012.
Em outubro de 2012 lançaram-se algumas suspeitas relativas ao voto de Paulo Por-
tas no Orçamento do Estado de 2013, questionando-se a coesão entre os partidos de
governo. Esta história foi especialmente coberta pela TVI24 (3,7%).

Principais histórias em 2013

As histórias pertencentes ao top 5 de todos os canais de notícias em 2013 foram: a


crise da coligação governativa, orçamento retificativo e o Orçamento do Estado
para 2014. Estes meios de comunicação deram um especial destaque à crise da coli-
gação governativa, sendo a TVI24 (8,8%) o canal que mais evidência lhe confere,
TELEVISÃO 101

Quadro 4.18 As histórias noticiosas mais destacadas pelos canais de notícias em 2013 (em %)

RTP Informação SIC Notícias TVI24


Big stories: canais de notícias 2013 2013 2013
N.º= 515 N.º= 515 N.º= 601

Crise na coligação governativa 6,6 6,8 8,8


Jornada europeia de futebol 5,0
Orçamento retificativo 2013 3,5 3,3 5,2
Desemprego na zona euro 3,3 2,3 3,0
Autárquicas (2013) 3,1 4,1 2,3
Orçamento do Estado para 2014 3,1 4,0 4,0
Investigação aos contratos swaps 1,2 3,3 1,7
Onda de protestos a ministros 2,5 2,5 2,0
Greve de professores de junho de 2013 0,8 1,4 3,8

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

seguida da SIC Notícias (6,8%), e da RTP Informação (6,6%). Relativamente ao or-


çamento retificativo de 2013 também foi a TVI24 (5,2%) que mais importância lhe
conferiu. Por último, o Orçamento do Estado de 2014 foi igualmente coberto pela
SIC Notícias (4%) e pela TVI24 (4%), diminuindo esta cobertura na RTP Informação
(3,1%). Em suma, estas são as três principais big stories dos canais de notícias em
2013. Este posicionamento é partilhado pelos canais generalistas e pelos canais de
notícias. Mas mesmo tendo em consideração estas similitudes, em 2013 os canais
de notícias distanciaram-se — mais do que em 2012 — dos canais generalistas rela-
tivamente às principais histórias destacadas.
As notícias referentes à greve dos professores ganharam relevância nos ca-
nais de notícias. Em junho de 2013 os professores decidiram entrar num período
de greve de forma a conseguir negociar com o governo a proposta da mobilida-
de especial e o aumento do horário de trabalho. Estes acontecimentos foram es-
pecialmente destacados pela TVI24 (3,8%). Os canais de notícias destacaram
também as notícias referentes à onda de protestos a ministros em 2013. Esta his-
tória foi igualmente destacada pela SIC Notícias e pela RTP Informação (2,5%).
A investigação aos contractos swaps também foi evidenciada especialmente pela
SIC Notícias (3,3%), seguida da TVI 24 (1,7%) e, por último, pela RTP Informa-
ção (1,2%).
Os canais de notícias acompanham ainda a tendência visível nos canais ge-
neralistas em 2013 de um maior destaque de histórias nacionais. O discurso me-
diático nestes afunila-se num contexto nacional, não se verificando nenhum
destaque pertinente de nenhuma história internacional pelos canais de notícias
em 2013.

Duração das peças jornalísticas

As peças com mais de 120 segundos são as mais frequentes nos canais de notícias
nos dois anos de análise. O canal de televisão que mais recurso faz destas peças é a
SIC Notícias — 2012 (69,7%) e 2013 (64,8%). Na RTP Informação e na TVI24
102 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 4.19 Duração das peças noticiosas nos canais de notícias em 2012 e 2013 (em %)

RTP RTP SIC SIC TVI24 TVI24


Informação Informação Notícias Notícias
Duração
2012 2013 2012 2013 2012 2013
N.º= 1715 N.º= 971 N.º=765 N.º=862 N.º= 593 N.º=905

Pequena (até 60 segundos) 21,7 13,6 10,5 11,7 27,3 18,7


Média (entre 61 e 120 segundos) 30,6 25,6 19,9 23,4 33,1 29,3
Grande (mais de 120 segundos) 47,8 60,8 69,7 64,8 39,6 52,0

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

verificou-se um aumento substancial das peças de grandes dimensões de 2012


para 2013, em contraste com a SIC Notícias que manifestou um decréscimo relati-
vamente a estas peças.
Relativamente às peças entre 61 e 120 segundos, média duração, revelam-se
como as segundas mais presentes nos blocos noticiosos das televisões por cabo.
A TVI24 é o canal que mais privilégio atribui às notícias de média duração nos dois
anos detidos para a análise — 2012 (33,1%) e 2013 (29,3%).
Por último, as notícias de pequena duração são as menos relevantes (relativa-
mente à sua frequência) nos canais de notícias nacionais. E é também a TVI24 o ca-
nal que mais destaque lhes atribui em 2012 (27,3%) e em 2013 (18,7%). Deve-se
ainda assinalar a tendência, partilhada por todos os canais de notícias, pela dimi-
nuição de notícias de pequena duração de 2012 para 2013.

Formatos jornalísticos

O principal formato que surge a enquadrar as notícias dos canais noticiosos é a


peça editada. O segundo formato mais relevante a todos os canais noticiosos, com a
exceção da RTP Informação em 2013, é o relato do pivô. O canal de televisão que
mais uso faz deste formato é a TVI24 — 2012 (17,5%), 2013 (9,7%). A reportagem
também tem um espaço considerável, sendo mais utilizado em 2012 pela TVI24
(8,5%), e em 2013 pela RTP Informação (14,8%). Relativamente à entrevista ganha
uma maior preeminência na SIC Notícias — 2012 (13,3%), 2013 (13,8%) — contra-
pondo-se com a TVI24 — 2012 (0,3%), 2013 (1,3%) — que lhe atribui uma relevância
irrisória. Por sua vez, a opinião destaca-se através da RTP Informação em 2012
(10,1%). Por último, o direto é um dos formatos com menor lugar nos canais
noticiosos.
De seguida os canais televisivos de notícias irão ser analisados segundo os
seus conteúdos noticiados, relativamente ao i) enfoque geográfico, ii) aos temas e
iii) aos protagonistas.
TELEVISÃO 103

Quadro 4.20 Formatos jornalísticos nos canais de notícias em 2012 e 2013 (em %)

RTP RTP SIC Notícias SIC Notícias TVI24 TVI24


Informação Informação
Formatos
2012 2013 2012 2013 2012 2013
N.º=1711 N.º=969 N.º=766 N.º=867 N.º=590 N.º=905

Peça editada 61,0 59,4 63,7 62,1 68,8 76,8


Relato do pivô 13,1 8,9 11,1 8,9 17,5 9,7
Opinião 10,1 5,9 5,6 3,6 2,5 2,3
Reportagem 7,9 14,8 4,8 7,7 8,5 7,1
Entrevista 4,1 7,1 13,3 13,8 ,3 1,3
Direto 3,9 3,9 1,4 3,9 2,4 2,8

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Cobertura geográfica geral

Relativamente à área geográfica observamos que a grande maioria das peças noti-
ciosas, presentes nos canais de notícias, são de cariz nacional. As notícias de cariz
europeu também ocupam um espaço considerável nos canais de notícias, princi-
palmente as notícias nacionais com referência a países europeus. O canal público
de notícias nos dois anos de análise é o que mais destaque lhes confere — 2012
(14%) e 2013 (12,5%). Por sua vez, as peças jornalísticas apenas de cariz europeu
também são destacadas por estes canais de televisão, sendo a TVI24 em 2012 (7,9%)
e a RTP Informação em 2013 (6,1%) os canais que mais importância lhes atribuem.
As notícias europeias com referência a Portugal são as menos significativas na cate-
goria geográfica europeia.
As notícias nacionais com referência a países internacionais têm um espe-
cial destaque nos canais privados de notícias, registando-se de 2012 para 2013
um aumento significativo destas. A SIC Notícias — 2012 (6,3%), 2013 (11%) — é
o canal que mais destaque confere a notícias nacionais com referência a países
internacionais. O canal de televisão com maior presença de notícias exclusiva-
mente internacionais foi a RTP Informação — 2012 (5,3%), 2013 (6,7%). Por sua
vez, as notícias internacionais com referência a Portugal são de um modo geral
mais reduzidas nos canais noticiosos, com a exceção da RTP Informação em
2013 (7,3%).
Outro aspeto a salientar é o afastamento da RTP Informação relativamente
aos restantes canais de televisão no que diz respeito à cobertura geográfica regio-
nal. Como demonstra o quadro 4.21, a RTP Informação (11,1%) nos dois anos de
análise é claramente o canal com mais presença de notícias regionais, contrastando
com os restantes — SIC Notícias 2012 (3,4%), SIC Notícias 2013 (4,7%), TVI24 2012
(7,9%) e TVI24 2013 (3%).
104 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 4.21 As áreas geográficas mais destacadas pelos canais de notícias em 2012/2013 (em %)

RTP RTP SIC Notícias SIC Notícias TVI24 TVI24


Informação Informação
Enfoque geográfico
2012 2013 2012 2013 2012 2013
N.º=1695 N.º=953 N.º=756 N.º=860 N.º=585 N.º=902

Regional 11,1 11,1 3,4 4,7 7,9 3,0


Nacional 54,6 51,0 64,2 60,5 58,3 68,5
Nacional-Europa 14,0 12,5 8,9 8,3 9,1 7,1
Europa-nacional 3,6 3,0 5,4 2,3 4,8 2,9
Europa 6,5 6,1 4,5 3,8 7,9 3,4
Nacional-internacional 2,8 2,2 6,3 11,0 5,0 10,9
Internacional-nacional 2,1 7,3 2,6 3,5 2,4 2,0
Internacional 5,3 6,7 4,6 5,9 4,8 2,2

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Cobertura regional

Em qualquer um dos canais de notícias a região de Lisboa e Vale do Tejo é sem-


pre a mais presente. As regiões do Grande Porto, do Norte e a do Centro também
se destacam nos conteúdos noticiosos dos canais de notícias, mesmo que de
uma forma mais irregular relativamente à região de Lisboa. A região do Norte
em 2012 foi principalmente coberta pela RTP Informação (9,6%), seguida da
TVI24 (8,7%) e da SIC Notícias (7,7%). Em 2013 esta área geográfica teve uma re-
presentação bastante superior na RTP Informação (19,8 %) e na SIC Notícias
(22,5%), suavizando-se na TVI24 (7,4%). As notícias referentes ao Grande Porto
foram mais presentes em 2012 na TVI24 (19,6%), enquanto em 2013 essa presen-
ça manifestou-se com mais persistência na RTP Informação (19,8%). No que diz
respeito à cobertura noticiosa da região Centro denota-se um decréscimo signi-
ficativo de 2012 para 2013 na RTP Informação — 2012 (21,4%), 2013 (11,3%) — e
na SIC Notícias — 2012 (15,4%), 2013 (5%). Por sua vez, na TVI24 a cobertura de
notícias relativas ao Centro do país entre os dois anos de análise foi constante —
2012 (13%), 2013 (14,8%).
A Região Autónoma da Madeira manifesta-se com mais persistência nas
peças jornalísticas presentes na RTP Informação (15%), principalmente no ano
de 2012. Por sua vez, o destaque da Região Autónoma dos Açores é substancial-
mente mais persistente em 2013, sendo principalmente destacada pela SIC Notí-
cias (10%). A região do Alentejo é a área do país com menos destaque mediático
por parte dos canais de notícias, apenas com a exceção da RTP Informação em
2012 (7%).
TELEVISÃO 105

Quadro 4.22 As regiões do país mais presentes nos blocos noticiosos dos canais de notícias em 2012 e 2013
(em %)

RTP RTP SIC SIC TVI24 TVI24


Informação Informação Notícias Notícias
Focus geográfico: regional
2012 2013 2012 2013 2012 2013
N.º=187 N.º=106 N.º=26 N.º=40 N.º=46 N.º=27

Norte (exceto Grande Porto) 9,6 19,8 7,7 22,5 8,7 7,4
Grande Porto 11,2 19,8 7,7 7,5 19,6 14,8
Centro 21,4 11,3 15,4 5,0 13 14,8
Lisboa e Vale do Tejo (Grande Lisboa) 27,3 28,3 42,3 47,5 32,6 48,1
Alentejo 7,0 3,8 3,8 2,5 2,2 –
Algarve 5,9 3,8 7,7 5,0 10,9 –
Região Autónoma da Madeira 15,0 4,7 7,7 8,7 7,4
Região Autónoma dos Açores 2,7 8,5 7,7 10,0 4,3 7,4

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Países europeus

O país mais destacado por todos os canais de notícias é a Espanha. O canal de notícias
que mais referencia este país nos dois anos de análise é a RTP Informação — 2012
(19,5%), 2013 (22,4%). Denotamos ainda que a França é outro país transversal a todos
os canais de notícias, pertence ao top 5 de todos os canais, sendo novamente a RTP
Informação a conceder-lhe mais relevância — 2012 (5,9%), 2013 (8,8%). O destaque
principal à Espanha pelos canais de notícias, bem como a forte representatividade de
França em todos eles é uma tendência partilhada com os canais generalistas. Mas para
além destas semelhanças, percebemos que os principais países europeus destacados
pelos canais por cabo são idênticos aos dos canais generalistas. Apenas se constata a
novidade pela representação do Chipre. Este país foi especialmente evidenciado no
ano de 2013. Neste ano o Chipre necessitou de pedir ajuda externa para “salvar” o seu
setor bancário. O principal canal a referenciar este país foi a TVI24 (14,4%).

Quadro 4.23 Os países europeus mais destacados pelos canais de notícias em 2012 e 2013 (em %)

RTP RTP SIC Notícias SIC Notícias TVI24 TVI24


Focus geográfico: Informação Informação
europeu 2012 2013 2012 2013 2012 2013
N.º=410 N.º=170 N.º=146 N.º=89 N.º=126 N.º=90

Espanha 19,5 22,4 15,8 12,4 19,0 5,6


Reino Unido 9,5 11,8 2,1 6,7 3,2 2,2
Grécia 8,5 4,1 13,7 1,1 8,7 1,1
Alemanha 6,6 4,7 4,8 5,6 6,3 12,2
França 5,9 8,8 4,8 3,4 4 2,2
Vaticano – 9,4 0,7 6,7 – 14,4
Rússia 3,7 8,8 1,4 – – 1,1
Itália 2,2 2,9 2,1 4,5 3,2 1,1
Chipre 0,2 – – 10,1 0,8 14,4

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.


106 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Países internacionais (países não europeus)

Tal como nos canais de televisão generalistas, também os canais por cabo dão espe-
cial representatividade aos Estados Unidos da América. É o país mais recorrente
nas peças jornalísticas especialmente em 2012, encontrando-se um ligeiro relevo no
canal público de notícias (29,8%) relativamente aos restantes. Por sua vez, esta rele-
vância transversal a todos os canais em análise não se comprova relativamente ao
Brasil. Este país não integra o top 5 dos canais de notícias nacionais. Mas estes
canais de televisão aproximam-se muito, nos países mais evidenciados, com os ca-
nais generalistas, denotando-se apenas a exceção da China. Este país é especial-
mente destacado no ano de 2012 e é especialmente enquadrado nas histórias
jornalísticas relativas às nomeações polémicas para o conselho geral e de supervi-
são da EDP. O principal canal a destacar este país é a SIC Notícias (7,8%).

Quadro 4.24 Os países internacionais (não europeus) mais presentes nos canais de notícias entre 2012 e 2013
(em %)

RTP RTP SIC SIC TVI24 TVI24


Foco geográfico: Informação Informação Notícias Notícias
internacional 2012 2013 2012 2013 2012 2013
N.º=121 N.º=116 N.º=64 N.º=133 N.º=41 N.º=96

EUA 29,8 26,7 20,3 9,8 29,3 10,4


Guiné-Bissau 24,8 1,7 15,6 3,0 2,4 1,0
Egito 13,2 1,7 1,6 0,8 12,2 1,0
Brasil 6,6 12,1 4,7 4,5 2,4 1,0
Angola 2,5 2,6 21,9 18,0 4,5 4,2
África do Sul – 8,6 – 5,3 – 4,2
Turquia 2,5 5,2 – – – –
Israel – 3,4 – 1,5 – –
China 1,7 0,9 7,8 1,5 4,9 1,0
Síria 2,5 2,6 9,4 5,3 9,8 –
Moçambique – – – 6,8 2,4 4,2
Venezuela 0,8 1,7 – 5,3 – 4,2
Irão 1,7 0,9 4,7 0,8 14,6 –

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Principais temas

Tal como nos canais generalistas também os canais noticiosos no ano de 2012 foram
marcados essencialmente por notícias pertencentes ao tema economia e setores econó-
micos, sendo a SIC Notícias (24,3%) o canal que mais destaque deu a este tema. Por sua
vez, e também a comprovar a tendência já presente nos canais generalistas, o ano de
2013 foi marcado essencialmente por notícias pertencentes à política interna — TVI24
(37,7%), SIC Notícias (33,2%) e RTP Informação (18,7%). Os acontecimentos jornalísti-
cos em 2013 foram preferencialmente arrumados tematicamente na categoria de polí-
tica interna. Mas esta maior significância do tema política interna não significa
TELEVISÃO 107

Quadro 4.25 Os temas mais relevantes nos canais de notícias nacionais entre 2012 e 2013 (em %)

RTP RTP SIC SIC TVI24 TVI24


Informação Informação Notícias Notícias
Temas
2012 2013 2012 2013 2012 2013
N.º=1715 N.º=968 N.º=766 N.º=867 N.º=593 N.º=905

Desporto 21,0 20,6 0,7 1,4 5,1 0,2


Política interna 18,5 18,7 23,8 33,2 22,6 37,7
Economia e setores económicos 10,8 8,8 24,3 17,6 20,4 15,9
Justiça e sistema judicial 8,8 7,4 9,1 6,9 7,3 6,0
Assuntos laborais e Segurança Social 8,5 4,8 7L0 5,1 10,5 12,6
Participação e protestos 6,3 7,9 4,4 6,5 7,8 7,5
Política europeia 5,0 2,5 11,1 6,1 11,6 7,0
Política internacional 2,5 2,8 4,0 6,9 4,2 4,4

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

necessariamente uma maior ocorrência de acontecimentos políticos em 2013. Pelo


contrário, pode significar um maior realce do tema política interna por questões pesso-
ais em detrimento dos conteúdos ideológicos ou propostas políticas, ligando-se ao in-
fontaiment e à política espetáculo (Brants, 1998).
Para além da política interna e da economia, a justiça e sistema judicial tam-
bém é um tema transversal a todos os canais por cabo nos dois anos de análise, em
2012 é principalmente representado pela SIC Notícias (9,1%), enquanto em 2013 é a
RTP Informação (7 4%) que lhe atribui uma maior relevância.
A RTP Informação nos dois anos de análise é o canal noticioso que mais
destaque presta ao tema desporto — 2012 (21%), 2013 (20,6%) — contrastando
com os restantes canais que reservam um destaque mais residual a esta temática
— SIC Notícias 2012 (0,7%), SIC Notícias 2013 (1,4%), TVI24 2012 (5,1%) e TVI24
2013 (0,2%). A TVI24 é o canal de notícias nos dois anos de análise que mais ex-
plora as temáticas dos assuntos laborais — 2012 (10,5%), 2013 (12,6%) — e da
política europeia — 2012 (11,6%) e 2013 (7%). Por sua vez as notícias sobre políti-
ca internacional encontram-se mais presentes na SIC Notícias (6,9%) em 2013.

Principais protagonistas

O quadro 4.26 é o resultado da reunião dos protagonistas mais relevantes nos ca-
nais noticiosos em 2012 e 2013. Esta variável mede a presença de um determinado
indivíduo numa peça jornalística. Eram codificados os protagonistas que manifes-
tavam uma presença em pelo menos 50% da peça jornalística.
Como se pode verificar o top 5 dos protagonistas nos canais noticiosos não di-
verge em muito relativamente ao dos canais generalistas. Pedro Passos Coelho é o
protagonista com mais relevo nos dois anos de análise, e é a TVI24 que mais desta-
que lhe atribui — 2012 (16%), 2013 (14,5%). Cavaco Silva é o segundo protagonista
mais relevante e também principalmente destacado pela TVI24. O protagonista no-
vidade — em relação aos canais generalistas — é Jorge Jesus, sendo apenas destaca-
do pela RTP Informação — 2012 (1,3%), 2013 (2,7%).
108 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 4.26 Os protagonistas mais destacados nos canais de notícias entre 2012 e 2013 (em %)

RTP RTP SIC SIC TVI24 TVI24


Informação Informação Notícias Notícias
Protagonistas
2012 2013 2012 2013 2012 2013
N.º=772 N.º=968 N.º=425 N.º=579 N.º=275 N.º=574

Pedro Passos Coelho 11,1 5,3 13,6 10,7 16,0 14,5


Miguel Relvas 5,6 0,4 3,5 2,2 1,8 –
Cavaco Silva 4,9 4,0 5,4 4,3 5,8 5,9
António José Seguro 2,8 5,9 3,1 5,0 6,2 10,3
Vítor Gaspar 2,7 1,5 5,9 5,0 6,2 6,8
Jorge Jesus 1,3 2,7 – – – –
Francisco I – 2,3 – 0,9 – 0,2
Paulo Portas 1,0 0,8 5,4 3,3 4,4 2,8

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Considerações finais

Os canais generalistas e os canais de notícias nacionais foram analisados relativa-


mente a dois pontos de análise, o primeiro dedicado aos formatos e o segundo de-
dicado aos conteúdos. O primeiro ponto constitui-se pelas variáveis da duração e
dos formatos jornalísticos e o segundo pelas variáveis dedicadas à cobertura geo-
gráfica, aos temas e aos protagonistas. Para além destas, os dois blocos noticiosos
foram ainda analisados em relação às suas principais histórias em 2012 e em 2013.
Relativamente às histórias mais destacadas pelos canais de notícias e pelos
canais generalistas em 2012, estes dois blocos televisivos encontram-se bastante
próximos. O desemprego na zona euro, a derrapagem do défice, o Euro 2012, o
Caso das Secretas, o corte de subsídios de Natal e de férias e o Orçamento do Estado
para 2013 incorporaram o top das big stories dos canais generalistas e dos canais de
notícias. Neste ano os dois blocos de televisão apenas se distanciam, nesta catego-
ria, pelo relevo mais acentuado de notícias correspondentes à reforma da legisla-
ção laboral e à crise grega por parte dos canais generalistas, e pelo destaque
especial dos canais de notícias à instabilidade política entre os partidos de governo
e ao golpe de Estado na Guiné-Bissau.
A categoria das big stories em 2013 estrutura-se pelo destaque de onze notícias
nos canais generalistas e pelo destaque de nove notícias nos canais por cabo. Ape-
nas quatro big stories são similares aos dois blocos televisivos — crise na coligação
governativa, Orçamento do Estado 2014, orçamento retificativo de 2013 e as autár-
quicas. O orçamento retificativo de 2013 mas principalmente a crise na coligação
governativa constituem-se nas duas principais notícias para os dois blocos de tele-
visão. Mas no ano de 2013 os canais generalistas e os canais de notícias distanci-
am-se, relativamente a 2012, no destaque atribuído às principais notícias. Os
primeiros dão um maior enfoque ao chumbo do Tribunal Constitucional a algumas
normas inscritas no Orçamento do Estado de 2014; à problemática associada aos es-
taleiros de Viana; à resignação de Bento XVI; à crise na Síria e, por último, a eventos
desportivos associados ao final da época de futebol nacional em 2013 e aos jogos de
TELEVISÃO 109

apuramento para o Mundial de 2014 por parte da seleção portuguesa de futebol.


Por sua vez, os canais de notícias destacam como relevantes as histórias associadas
à greve dos professores em junho de 2013, a onda de protestos a ministros, a inves-
tigação aos contratos swaps, o desemprego na zona euro e os eventos futebolísticos
enquadrados na competição europeia de futebol.
No que concerne aos formatos de divulgação das notícias também se identifi-
cam orientações similares entre os canais de notícias e os generalistas. Relativa-
mente à duração das peças jornalísticas, os dois blocos televisivos dão um maior
destaque a notícias de grande dimensão, sendo seguidas das notícias médias e, por
último, das notícias de pequena dimensão. Nos formatos, os generalistas e os noti-
ciosos aproximam-se pela primazia da peça editada e da reportagem. Nos canais
de notícias regista-se um maior recurso ao formato de opinião e entrevista (especi-
almente visível na SIC Notícias) relativamente aos canais generalistas.
No ponto de análise dedicado aos conteúdos noticiados, os canais generalis-
tas e os canais de notícias foram analisados relativamente ao enfoque geográfico,
aos temas e aos protagonistas. Em relação à cobertura geográfica denotamos que a
tendência na categoria regional é partilhada pelos canais generalistas e de notícias,
ambos dão bastante relevo à região de Lisboa e Vale do Tejo. No domínio europeu e
no domínio internacional, os canais de notícias afastam-se dos generalistas pela
maior presença de notícias enquadradas nestes espaços geográficos. Relativamen-
te à categoria dos temas, denota-se uma primazia de notícias relativas a assuntos
económicos em 2012, enquanto em 2013 revela-se uma supremacia de notícias per-
tencentes ao tema da política interna. Houve uma internalização e uma politização
do discurso mediático em 2013 partilhada entre os canais generalistas e os noticio-
sos. Por último, no que diz respeito ao destaque de individualidades, o primei-
ro-ministro português é o protagonista mais relevante, seguindo-se o Presidente
da República para os dois blocos televisivos.
Posto isto, e apesar de algumas exceções, podemos afirmar que os canais ge-
neralistas e os canais de notícias se aproximam na grande generalidade nos dois
pontos de análise. Relativamente às principais histórias destacadas, os dois blocos
televisivos aproximam-se mais no ano de 2012 do que em 2013. Tendo estes resulta-
dos em consideração e a consciência de que o setor televisivo se constitui como uma
das principais fontes de informação para a sociedade portuguesa (Cardoso, 2013),
interessa por último refletir acerca das potencialidades deste meio de comunicação
nas suas audiências.
O contexto televisivo associa-se a um paradoxo que se constitui por este meio
permitir, em simultâneo, a criação de públicos concentrados e mais participativos
em relação aos factos políticos, como também por “desviar” estes mesmos públi-
cos para outras formas de entretenimento com os quais a política compete no espa-
ço mediático. Os dados que o Projeto de Jornalismo e Sociedade reuniu em 2012 e
2013, principalmente neste último ano de análise, mostram uma concentração nos
assuntos políticos e a televisão não escapa a esta tendência. Mas esta maior
cobertura de notícias associadas a assuntos políticos não revela uma maior oferta
informativa sobre esta temática, mas sim um crescimento na noticiabilidade da
atualidade política que em muitas situações se pode caracterizar de infotainment
110 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

(Brants, 1998), espetacularização (Blumler, 1999) e em alguma promiscuidade entre


hard news e o soft news (Tuchman, 1978, Reineman et al., 2011). Uma das expressões
deste fenómeno é uma certa dramatização cénica da política através de transmis-
sões televisivas em direto e em horário nobre de conferências de imprensa do
governo, congressos partidários e de debates políticos onde se desprezam os con-
teúdos ideológicos pela performance dos candidatos (Thompson, 2000, Blumer,
1999, Gurevicth, Coleman e Blumler, 2009).
Um dos motivos para que os “eventos” políticos, com implicações diretas na
vida dos portugueses, tenham adquirido um maior destaque nos blocos tele-
visivos em 2013 pode ser explicada pelo contexto de crise económica vivido
atualmente. A crise económica pode ter contribuído para a alteração dos valo-
res-notícias na construção das agendas noticiosas. Esta é uma linha de investiga-
ção que necessita de maior continuidade temporal para que possamos fazer
afirmações mais perentórias.
Capítulo 5
Rádio
Variedade temática e geográfica nas grandes histórias

Susana Santos, Décio Telo, Gustavo Cardoso, Carlota Bicho e Eloísa Silva

Notas introdutórias

Este capítulo diz respeito à análise setorial da rádio e divide-se em duas partes
distintas.
A primeira parte contextualiza o setor em termos de mercado e consumo,
através de dados recolhidos no Anuário de Comunicação 2012/2013 da OberCom.
Serão analisados os dados relativos a audiências, ao share e ao investimento
publicitário.
Numa segunda parte, realizaremos um estudo numa perspetiva comparativa
longitudinal (em 2012 e 2013) e sincrónica (entre meios — TSF, Antena 1, Rádio Re-
nascença, e Rádio Comercial) relativamente a dois pontos de análise. O primeiro
ponto é dedicado aos formatos de divulgação de notícias. As variáveis que irão ser
analisadas são: i) a duração das notícias e ii) o formato jornalístico. Por sua vez, o se-
gundo ponto é relativo aos conteúdos noticiados. As variáveis em análise são: i) o
enfoque geográfico, ii) o tema e iii) os protagonistas.
Deve assinalar-se que a categoria relativa à cobertura geográfica tem como
objetivo identificar se a informação noticiosa é relevante em contexto local/regio-
nal, nacional, europeu e internacional. De forma a satisfazer este propósito, o enfo-
que geográfico divide-se nas seguintes variáveis: i) local/regional, ii) nacional), iii)
europeu com referência a Portugal, iv) europeu sem referência a Portugal, v) inter-
nacional com referência a Portugal, vi) internacional sem referência a Portugal, e
vii) sem focus. Para a presente análise, a cobertura geográfica irá ser analisada num
primeiro momento por um enfoque geográfico geral e, posteriormente, por um en-
foque geográfico regional, europeu e internacional.
Este capítulo encerra-se com uma síntese das principais tendências relativas
às categorias em análise no setor da rádio.

111
112 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Contextualização do setor: dados sobre o consumo

O evolutivo de audiência acumulada de véspera refere-se à percentagem de indiví-


duos que escutaram uma estação, no período de um dia, independentemente do
tempo despendido. No total, a audiência acumulada de véspera tem-se mantido
relativamente estável.
Como podemos ver pelo quadro 5.1, as cinco rádios com maior audiência acu-
mulada de véspera em 2013 foram a Rádio Comercial, a RFM, a Rádio Renascença,
a Antena 1 e a TSF.
Das cinco rádios com maior audiência acumulada de véspera, destaca-se a
Rádio Comercial com 14,9% e a RFM com 12,8%.
A trajetória da Rádio Comercial tem sido, de resto, ascendente, principalmen-
te a partir de 2008, sendo que desde esse ano até 2013 os valores dobraram. Por ou-
tro lado, a trajetória da RFM, com o segundo maior share, tem sido descendente
principalmente a partir de 2009. De notar ainda a grande queda da Rádio Renas-
cença e a trajetória bastante estável da Antena 1 e da TSF, observáveis na figura 5.1
Como podemos ver na figura 5.2, também no que concerne à evolução do sha-
re de audiência médio, verificamos que a Rádio Comercial é aquela que mais cres-
ceu desde 2003. A RFM encontra-se em segundo lugar em competição pelo share de
audiência, apesar de a sua trajetória ter sido descendente. A Antena 1 e a TSF man-
têm o seu share sem grandes oscilações ao longo dos anos.
No que concerne à audiência acumulada de véspera por sexo e por grupos
etários verificamos que a maioria dos ouvintes em 2013 era do sexo masculino e
que a faixa etária entre os 25 e os 44 perfaz mais de 40% do total.
A televisão é, como já tínhamos verificado, o meio que mais investimento pu-
blicitário atrai. A rádio é um dos meios com menos investimento publicitário, ultra-
passando apenas o cinema. Os valores do investimento publicitário geral sofreram
uma grande quebra em 2011 e 2012, recuperando em 2013, ao contrário do que
aconteceu na rádio, cujo investimento publicitário se manteve e cresceu em 2010,
2011 e 2012, decrescendo ligeiramente em 2013
Como podemos comprovar pelo quadro 5.2, 2011 e 2012 foram anos de desci-
da no investimento publicitário total. Foi no entanto entre 2010 e 2011 que se regis-
tou uma das maiores subidas do investimento publicitário na rádio (9,5%). 2013 foi
já um ano de queda não só para a rádio, como também para a imprensa e cinema.
No geral, a rádio tem mantido as suas audiências nos últimos dez anos. Den-
tro do setor, há que destacar a ascendência rápida da Rádio Comercial que chega
em 2012 a ultrapassar a RFM, que desde 2003 mantinha o maior share no setor.
De seguida iremos proceder à análise dos quatro meios de rádio — TSF, Rádio
Comercial, Rádio Renascença e Antena 1 — relativamente ao primeiro ponto de
análise, dedicado aos formatos de divulgação das notícias. As variáveis relativas à
duração das peças jornalísticas e aos formatos jornalísticos constituem este primei-
ro ponto. Comecemos então pela duração.
RÁDIO 113

Quadro 5.1 Evolutivo de audiência acumulada de véspera (em %) de 2002 a 2013

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Total Rádio 54,7 58,4 58,0 58,9 56,3 54,6 55,0 57,0 55,9 57,1 56,9 57,3
Grupo R/Com 25,8 28,2 25,4 24,7 23,7 24,2 24,7 26,0 24,7 25,1 24 23,6
RFM 12,3 14,3 13,5 13,3 13,0 13,7 14,1 15,0 13,7 14,0 13,1 12,8
Rádio
12,3 12,5 10,9 10,5 9,8 9,5 9,3 9,4 8,6 8,2 7,7 7,3
Renascença
Mega FM 1,5 1,8 1,5 1,6 1,5 1,5 1,8 1,8 2,5 3,1 3,2 3,2
Rádio Sim - - - - - - - 0,9 0,9 0,9 1,1 1,4
Grupo Media
13,4 12,6 15,6 15,8 15,3 13,6 14,9 16,3 17,9 18,7 21,5 22,4
Capital
Rádio Comercial 6,3 5,9 6,9 6,6 7,3 6,6 7,3 8,2 9,1 10,7 14,2 14,9
Cidade FM 3,8 2,6 3,9 5,1 4,9 4,4 4,6 4,5 4,6 4,1 3,8 4,0
M80 - - - - - 0,5 1,4 2 3,9 4,5 4,2 4,4
Rádio Clube - 1,9 3,6 3,3 2,6 1,4 1,2 1,3 - - - -
Best Rock FM - 1,1 1,5 1,0 0,8 0,7 0,6 0,6 0,6 0,3 - -
Smooth - - - - - - - - - - 0,3 0,5
Grupo RDP 6,1 7,6 8,3 9,2 9,1 8,8 8,4 8,7 7,8 7,7 6,9 8,1
Antena 1 3,1 3,8 4,1 5,1 4,9 4,9 4,4 5,1 4,5 4,7 4,4 5,7
Antena 2 0,4 0,5 0,5 0,6 0,6 0,5 0,5 0,6 0,5 0,5 0,4 0,4
Antena 3 2,4 3,2 3,7 3,6 3,6 3,4 3,5 3,1 3,0 2,6 2,2 2,1
TSF 3,4 4,5 5,0 5,6 4,6 4,2 4,3 4,2 4,2 4,4 3,9 4,6
Base (000) 7,528 8,311 8,311 8,311 8,311 8,311 8,311 8,311 8,311 8,311 8,311 8,564

Fonte: Anuário de Media e Publicidade, 2013, Marktest.

16

14

12

10

0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

R.Renascença R. Comercial Antena 1 TSF RFM

Figura 5.1 Evolutivo de audiência acumulada de véspera (em %)


Fonte: Anuário de Media e Publicidade, 2013, Marktest.
114 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

30

25

20

15

10

0
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

R.Renascença R. Comercial Antena 1 TSF RFM

Figura 5.2 Evolutivo do share de audiência médio — Top 5


Fonte: Anuário de Media e Publicidade, 2013, Marktest.

Feminino
43%

Masculino
57%

Figura 5.3 Audiência acumulada de véspera (em %) por género, 2013


Fonte: Anuário de Media e Publicidade, 2013, Marktest.
RÁDIO 115

10%
Mais de 64 anos 18%
15-24 anos

14%
55-64 anos

21%
25 -34 anos

17%
45-54 anos

20%
35-44 anos

Figura 5.4 Audiência acumulada de véspera (em %) por faixa etária, 2013
Fonte: Anuário de Media e Publicidade 2013, Marktest.

Quadro 5.2 Evolução do investimento publicitário, 2002 a 2013 (milhares de euros)

Investimento
Televisão Imprensa Outdoor Rádio Cinema Internet
total

2002 1.528.408 449.815 170.871 169.880 - 2.318.975


2003 1.672.374 592.549 200.145 172.080 9903 - 2.647.051
2004 1.892.813 675.473 224.770 189.031 13.392 - 2.995.480
2005 2.483.635 700.606 250.590 187.322 13.596 - 3.635.750
2006 2.840.206 733.912 276.730 184.883 14.491 - 4.050.223
2007 3.085.780 816.546 283.984 183.458 21.976 - 4.391.744
2008 3.330.911 835.223 303.504 178.760 23.427 - 4.671.825
2009 3.517.230 741.717 311.407 196.229 22.864 - 4.789.447
2010 3.797.464 721.939 294.186 200.128 23.485 - 5.037.203
2011 3.735.207 673.561 312.483 219.055 29.200 - 4.969.505
2012 3.421.115 616.190 301.024 229.363 26.989 - 4.594.681
2013 3.951.572 592.451 298.376 227.032 21.521 407.464 5.498.417

Fonte: Anuário de Media e Publicidade 2013, Marktest.


116 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 5.3 Taxa de variação anual do investimento publicitário por meio (em %)

Televisão Imprensa Outdoor Rádio Cinema Total

2002/03 9,4 31,7 17,1 1,3 – 14,1


2003/04 13,2 14,0 12,3 9,9 35,2 13,2
2004/05 31,2 3,7 11,5 -0,9 1,5 21,4
2005/06 14,4 4,8 10,4 -1,3 6,6 11,4
2006/07 8,6 11,3 2,8 -0,8 51,7 8,4
2007/08 7,9 2,3 6,7 -2,6 6,6 6,4
2008/09 5,6 -11,2 2,6 9,8 -2,4 2,5
2009/10 8,0 -2,7 -5,5 2,0 2,7 5,2
2010/11 -1,6 -6,7 6,2 9,5 24,3 -1,3
2011/12 -8,4 -8,5 -3,7 4,7 -7,6 -7,5
2012/13 15,5 -3,9 0,9 -1,0 -20,3 19,7

Fonte: Anuário de Media e Publicidade 2013, Marktest.

Análise do setor

Principais notícias em 2012

Selecionadas as cinco big stories mais presentes nos quatro órgãos em análise, con-
tamos com oito grandes histórias na rádio portuguesa no ano de 2012.
Denotamos uma substancial variedade nesta lista de grandes histórias,
seja em termos de temáticas, seja em termos da área geográfica a que dizem
respeito.
A política e a economia merecem destaque (resgate a Espanha, desemprego
na zona euro, crise grega, OE 2013, derrapagem do défice) sendo que contamos
também com o evento desportivo do ano (Euro 2012), com os incêndios de verão e,
pela primeira vez na nossa análise a todos os meios e setores, com uma big story re-
lacionada com assuntos laborais e protestos (greve da CP). Estas greves dos

Quadro 5.4 As principais notícias na rádio em 2012 (em %)

Antena 1 TSF Rádio Renascença Rádio Comercial


Big stories N.º=618 N.º=564 N.º=417 N.º= 345

Orçamento do Estado 2013 6,6 4,4 6,7 6,7


Derrapagem do défice 6,0 5,7 6,2 5,2
Crise grega 5,0 4,3 3,8 2,9
Desemprego na zona euro 4,7 4,3 4,3 2,6
Resgate de Espanha (crise do Euro) 3,7 0,9 0,2 –
Incêndios em Portugal 2,5 3,5 4,3 5,8
Euro 2012 2,3 3,2 1,4 8,1
Greve na CP 1,0 1,1 0,2 4,3

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.


RÁDIO 117

trabalhadores da CP, em protesto contra os cortes nas remunerações ao trabalho


extraordinário e ao fim das viagens gratuitas para reformados e familiares, foram
intensamente cobertas pela rádio, principalmente pela Rádio Comercial, nos me-
ses de maio, junho, outubro e novembro.
As histórias do ano na Rádio Comercial foram o Euro 2012 e o OE 2013, esta
última, também uma das duas mais faladas na TSF, Antena 1 e Rádio Renascença, a
par das notícias sobre a derrapagem do défice.

Principais notícias em 2013

Tal como se tinha verificado com os outros setores, 2013 foi um ano mais nacional
também na rádio, pelo menos relativamente à análise das big stories. Das oito, seis
têm enfoque em Portugal e as duas restantes têm como enfoque geográfico o espa-
ço europeu: a participação de equipas portuguesas nas ligas europeias — jornada
europeia de futebol — e a resignação do Papa.
Encontramos nesta lista cinco acontecimentos de relevância no mundo da po-
lítica nacional: as eleições autárquicas, o Orçamento do Estado para 2013, o orça-
mento retificativo, o Orçamento do Estado para 2014 e a crise na coligação
governativa, sendo que esta última foi, sem margem para dúvidas, a grande histó-
ria de 2013 na rádio com 5,2% na Rádio Comercial, 10,2% na Antena 1, 7,9% na TSF
e 8,3% na Rádio Renascença.
Tal como acontecera em 2012, surge nesta lista uma greve — a greve de pro-
fessores de junho de 2013. Esta greve em contestação às medidas de mobilidade es-
pecial estendeu-se ao longo do período de avaliações e por isso o seu impacto nos
próprios alunos foi alvo de muita discussão e controvérsia. De realçar que mais
uma vez foi a Rádio Comercial a que mais cobriu a única greve presente nas gran-
des histórias do ano.

Quadro 5.5 Principais notícias na rádio em 2013 (em %)

Rádio Renascença TSF Antena 1 Rádio Comercial


Big stories
N.º=315 N.º=444 N.º=462 N.º=381

Crise na coligação governativa 8,3 7,9 10,2 5,2


Orçamento do Estado 2014 5,1 5,2 2,8 2,9
Orçamento retificativo 2013 4,8 2,9 3,7 3,4
Bento XVI resigna 4,4 1,4 ,6 0,5
OE 2013 2,5 1,8 0,2 0,5
Greve dos professores de junho de 2013 2,5 2,5 2,2 3,4
Autárquicas 2013 2,2 3,4 3,5 2,4
Jornada europeia de futebol 0,3 0,9 0,6 3,1

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.


118 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Duração das peças noticiosas

Os noticiários na rádio são de menor duração relativamente aos noticiários da tele-


visão. Em base de comparação, as peças noticiosas na rádio ocupam em média um
minuto e meio de emissão, enquanto na televisão ocupam cerca de três minutos.
A Rádio Comercial distancia-se das restantes pelo predomínio de notícias de
pequenas dimensões nos dois anos analisados — 2012 (97,1%) e 2013 (91,7%). Os
restantes formatos de duração na Rádio Comercial são irrisórios. Há ainda que re-
alçar a orientação, partilhada entre todos os canais radiofónicos, para decréscimo
de notícias de curta duração de 2012 para 2013.
Relativamente às notícias de média duração, compreendidas entre os 61 e os
120 segundos, são mais constantes na Rádio Renascença em 2012 (40,2%) e em 2013
(47,6%). Por sua vez, as notícias de grandes dimensões são mais presentes na TSF
também nos dois anos analisados — 2012 (44,3%) e 2013 (50,6%). Estas últimas notí-
cias manifestam em todas as rádios um aumento de 2012 para 2013.

Quadro 5.6 Duração das peças jornalísticas nas rádios portuguesas em 2012/2013 (em %)

Antena 1 Antena 1 TSF TSF Rádio Rádio Rádio Rádio


Renascença Renascença Comercial Comercial
Duração
2012 2013 2012 2013 2012 2013 2012 2013
N.º=1160 N.º=654 N.º=1121 N.º=791 N.º=876 N.º=521 N.º=866 N.º=808

Pequena (até
26,6 17,7 22,3 18,6 38,8 24,6 97,1 91,7
60 segundos)
Média (de 61
38,5 40,1 33,4 30,8 40,2 47,6 2,5 4,5
a 120 segundos)
Grande (mais
34,9 42,2 44,3 50,6 21,0 27,8 0,3 3,8
de 120 segundos)

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Formatos jornalísticos

A peça editada é o formato mais frequente na TSF, Rádio Renascença e na Ante-


na 1. Por sua vez, na Rádio Comercial o formato mais presente é o relato do pivô
— 2012 (89,5%) e 2013 (83,3%). As peças jornalísticas da Rádio Comercial con-
centram-se sobretudo no formato relato do pivô e também na peça editada, os
restantes formatos têm uma presença residual neste canal de rádio. Esta proe-
minência do relato do pivô na Rádio Comercial explica-se por esta ser uma rádio
essencialmente de música, onde os conteúdos informativos têm um peso mais
residual. A reportagem é o terceiro formato mais presente em todas as rádios
nacionais nos dois anos de análise, registando-se uma diminuição deste forma-
to de 2012 para 2013 na Rádio Renascença, TSF e na Antena 1. A entrevista
RÁDIO 119

Quadro 5.7 Os formatos mais frequentes na rádio (em %)

Rádio Rádio TSF TSF Antena 1 Antena 1 Rádio Rádio


Renascença Renascença Comercial Comercial
Formatos
2012 2013 2012 2013 2012 2013 2012 2013
N.º=883 N.º=523 N.º=1121 N.º=795 N.º=1165 N.º=658 N.º=875 N.º=812

Peça editada 44,7 55,8 44,6 54,6 45,7 60,3 9,1 14,7
Relato do pivô 26,5 17,8 19,4 16,9 18,3 12,3 89,5 83,3
Reportagem 13,7 14,1 21,0 18,4 20,7 18,7 0,7 1,4
Entrevista 8,7 3,6 8,7 4,5 7,9 2,4 0,7 0,1
Direto 4,2 4,8 3,2 2,5 4,5 3,8 – 0,5
Opinião 2,2 3,8 2,9 3,1 2,9 2,4 – 0,1

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

encontra-se mais destacada na TSF nos dois anos, enquanto o direto regista-se
com mais frequência nas notícias da Antena 1 em 2012 (4,5%) e pela Rádio Re-
nascença em 2013 (4,8%). A opinião é o formato menos frequente nas estações de
rádio nacionais, com a exceção da TSF em 2012 (2,9%).
Os formatos jornalísticos encerram o primeiro ponto de análise. De seguida,
iremos abordar o segundo ponto de análise que se dedica aos conteúdos noticia-
dos. Comecemos pela cobertura da área geográfica presente nas notícias das rádios
portuguesas.

Cobertura geográfica geral

Cerca de metade das notícias do setor da rádio tem como enfoque geográfico o
nacional. Salienta-se que as notícias exclusivamente nacionais registaram um
significativo aumento da sua relevância em todas as rádios analisadas de 2012
para 2013. A segunda cobertura geográfica mais presente refere-se ao local/regi-
onal. Em contraste com a cobertura nacional, o enfoque regional regista um de-
créscimo em todos os canais de rádio de 2012 para 2013. As notícias nacionais
com referência a países europeus (nacional-Europa) são as terceiras mais pre-
sentes nas rádios nacionais, registando-se apenas a exceção da Rádio Renascen-
ça em 2013 (7,8%) que dá mais primazia a notícias nacionais com referência a
países internacionais (10,5%).
Os restantes espaços geográficos tiveram uma cobertura mediática mais irre-
gular entre as várias rádios em análise. Constatamos que as notícias exclusivamen-
te europeias também se destacam como relevantes, mas registam um decréscimo
na sua ocorrência de 2012 para 2013. É a rádio pública que mais destaque lhes reser-
va em 2012 (8,5%) e em 2013 é a Rádio Comercial (5,5%). As notícias europeias com
referência a Portugal são menos frequentes em todas as rádios relativamente às
atrás mencionadas.
As notícias nacionais com referência a países internacionais cresceram sig-
nificativamente em 2013 em todas as rádios nacionais, sendo a Rádio Renascença
120 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 5.8 A cobertura geográfica na rádio (em %)

Rádio Rádio TSF TSF Antena 1 Antena 1 Rádio Rádio


Enfoque
Renascença Renascença Comercial Comercial
geográfico:
2012 2013 2012 2013 2012 2013 2012 2013
geral
N.º=867 N.º=515 N.º=1105 N.º=785 N.º=1151 N.º=655 N.º=855 N.º=804

Nacional 47,9 53,0 44,8 55,3 50,9 53,9 47,6 56,8


Local/regional 22,4 15,3 18 12,2 16,1 12,7 21,8 16,2
Europa 5,2 4,9 7,9 4,5 8,2 5,0 6,2 5,5
Nacional-Europa 11,0 7,8 11,1 9,3 9,8 10,1 12,9 7,8
Internacional 5,8 3,7 7,3 6,6 5,2 4,0 3,6 5,5
Nacional-
4,2 10,5 5,2 9,2 5,6 9,6 4,3 6,1
-internacional
Europa-nacional 2,0 3,1 3,6 1,7 2,8 3,2 2,7 1,4
Internacional-
1,7 1,7 2,0 1,3 1,5 1,5 0,9 0,7
-nacional

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

em 2013 (10,5%) que mais destaque lhe confere. Por sua vez, as notícias exclusiva-
mente internacionais registaram um decréscimo em 2013, com a exceção da Rádio
Comercial. Por último, as notícias internacionais com referência a Portugal têm
uma representação mais reduzida nas rádios nacionais.

Cobertura geográfica regional

A área de Lisboa é a região com maior cobertura em todas as rádios analisadas. A es-
magadora maioria das notícias de carácter local enquadra-se nesta área geográfica. As
regiões do Norte, do Grande Porto e do Centro no que concerne à sua relevância me-
diática são áreas transversais entre as diferentes rádios analisadas. A região do Norte é

Quadro 5.9 A cobertura geográfica das regiões do país na rádio (em %)

Rádio Rádio TSF TSF Antena 1 Antena 1 Rádio Rádio


Focus geográfico: Renascença Renascença Comercial Comercial
regional 2012 2013 2012 2013 2012 2013 2012 2013
N.º=173 N.º=66 N.º=174 N.º=85 N.º=158 N.º=575 N.º=153 N.º=127

Lisboa e Vale do
35,3 53,0 35,6 50,6 41,1 37,3 56,9 61,4
Tejo (Grande Lisboa)
Norte (exceto
14,5 12,1 12,1 9,4 12,0 14,7 5,9 7,9
Grande Porto)
Grande Porto 13,3 9,1 13,8 17,6 15,8 13,3 9,2 8,7
Centro 13,3 13,6 17,2 8,2 10,8 16,0 8,5 10,2
Região Autónoma
8,1 1,5 6,9 4,7 8,2 4,0 6,5 1,6
da Madeira
Alentejo 6,9 2,3 3,2 6,7 2,0 2,4
Algarve 5,8 3,0 9,8 7,1 5,7 8,0 7,2 5,5
Região Autónoma
2,9 7,6 2,3 2,4 3,2 0 3,9 2,4
dos Açores

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.


RÁDIO 121

mais destacada em 2012 pela Rádio Renascença (14,5%) e pela Antena 1 em 2013
(14,7%), registando-se uma menor presença desta região na Rádio Comercial. As notí-
cias referentes ao Grande Porto também se encontram menos presentes na Rádio Co-
mercial, sendo a Antena 1 em 2012 (15,8%) e a TSF em 2013 (17,6%) as rádios que mais
destaque lhe proporcionam. A região Centro encontra uma maior presença na TSF em
2012 (17,2%) e na Antena 1 em 2013 (16%) e a Região Autónoma da Madeira é geral-
mente mais representada do que a Região Autónoma dos Açores. A região menos pre-
sente nos blocos noticiosos das rádios nacionais é o Alentejo.

Cobertura geográfica europeia

O quadro 5.10 agrega os cinco países mais relevantes para cada rádio nacional.
O país mais referido é Espanha, com a exceção da Rádio Renascença em 2012
(12,1%) e da Rádio Comercial em 2013 (8,9%). A Rádio Renascença em 2012 (13,4%)
dá um maior relevo à Grécia e a Rádio Comercial em 2013 evidencia com mais des-
taque o Reino Unido. A rádio acompanha a tendência do destaque privilegiado a
Espanha, já visível no setor da imprensa e da televisão, bem como já referenciada
por vários estudos no domínio da comunicação (Silveira, Cardoso e Belo, 2010, Sil-
veira e Shoemaker, 2010).
A Rússia aparece destacada especialmente no ano de 2013 pela TSF (5,8%).
Este país surge particularmente associado aos eventos desportivos das equipas
portuguesas na jornada europeia de futebol e aos jogos da seleção portuguesa de
futebol de apuramento para o Mundial de 2014. Para além destes eventos desporti-
vos, a Rússia aparece também ligada aos atentados bombistas em Volgogrado,
ocorridos entre 29 e 30 de dezembro de 2013.
A cobertura mediática dos restantes países europeus destacados seguiu os
mesmos moldes, já anteriormente explorados, da cobertura geográfica europeia
nos canais de televisão generalistas e nos canais de notícias nacionais.

Quadro 5.10 A cobertura geográfica dos países europeus na rádio (em %)

Rádio Rádio TSF TSF Antena 1 Antena 1 Rádio Rádio


Focus
Renascença Renascença Comercial Comercial
geográfico:
2012 2013 2012 2013 2012 2013 2012 2013
europeu
N.º=157 N.º=61 N.º=263 N.º=86 N.º=246 N.º=86 N.º=186 N.º=79

Grécia 13,4 1,6 11,4 2,3 15,9 2,3 8,6 5,1


Espanha 12,1 13,1 16,0 15,1 22,0 7,0 15,6 8,9
Reino Unido 6,4 3,3 3,0 4,7 2,0 4,7 7,5 13,9
França 5,1 3,3 8,4 7,0 9,8 4,7 5,9 10,1
Vaticano 3,8 16,4 0,8 3,5 – 3,5 0,5 3,8
Itália 2,5 21,3 1,9 9,3 0,8 4,7 2,7 12,7
Chipre – 8,2 – 7,0 0,8 8,1 – 6,3
Alemanha 2,5 – 2,3 8,1 4,1 7,0 1,6 2,5
Rússia 1,9 1,6 2,3 5,8 2,0 3,5 3,8 5,1

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.


122 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Cobertura geográfica internacional

Os principais países internacionais (não europeus) destacados pelas rádios nacionais


não divergem dos países mais evidenciados pelos restantes setores de comunicação.
Os países mais frequentes em todas as rádios analisadas são os Estados Uni-
dos da América, o Brasil e Angola. Esta tendência também já tinha sido verificada
no setor da imprensa e no setor televisivo.
Os Estados Unidos da América são o país mais destacado por todas as rádios
nacionais, tendo um maior relevo em 2012 — ano das eleições presidenciais. O Bra-
sil também é um país frequente em todas as rádios analisadas nos dois anos, com a
exceção da TSF em 2012 (3,3%) e da Rádio Renascença em 2012 (1,6%), onde adqui-
re uma presença menos notória. Angola é mais referenciada nas peças jornalísticas
da TSF e da Antena 1 em 2013, enquanto em 2012 as rádios que mais destacaram
este país foram a Rádio Comercial e a Rádio Renascença.

Quadro 5.11 A cobertura geográfica dos países internacionais na rádio (em %)

Rádio Rádio TSF TSF Antena 1 Antena 1 Rádio Rádio


Focus
Renascença Renascença Comercial Comercial
geográfico:
2012 2013 2012 2013 2012 2013 2012 2013
internacional
N.º=61 N.º=66 N.º=91 N.º=105 N.º=85 N.º=78 N.º=39 N.º=85

EUA 27,9 13,6 34,1 12,4 24,7 12,8 46,2 18,8


Angola 11,5 3,0 3,3 6,7 4,7 16,7 5,1 2,4
Guiné-Bissau 11,5 1,5 5,5 2,9 8,2 5,1 2,6 2,4
Síria 11,5 9,1 16,5 10,5 18,8 6,4 – 1,2
Brasil 1,6 9,1 3,3 6,7 8,2 6,4 17,9 11,8
Venezuela – 3,0 – 1,0 4,7 6,4 2,4
China – 1,5 5,5 1,0 4,7 2,6 2,6 1,2
Moçambique 3,3 3,0 3,3 3,8 1,2 6,4 – 5,9
Irão – 1,5 1,1 1,0 5,9 – – –
África do Sul – 3,0 – 3,8 – 3,8 – 5,9

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Temas em 2012 e 2013

A tematização das notícias pode ser retida como uma orientação para o consu-
midor de conteúdos de media, possibilitando que estes consigam organizar em
limites referenciais os acontecimentos. Encontramos na rádio uma grande di-
versidade de temas alvo de cobertura mediática. No entanto, tal como se tem
vindo a constatar até aqui, são os temas económicos e de política interna que
predominam.
A temática da economia e setores económicos é uma constante ao longo dos
dois anos, sendo que o seu peso aumentou na Rádio Comercial e na Antena 1 e
RÁDIO 123

Quadro 5.12 Principais temas em foco na rádio (em %)

Rádio Rádio TSF TSF Antena 1 Antena 1 Rádio Rádio


Renascença Renascença Comercial Comercial
Temas
2012 2013 2012 2013 2012 2013 2012 2013
N.º=882 N.º=523 N.º=1121 N.º=795 N.º=1167 N.º=726 N.º=875 N.º=811

Economia e setores
15,5 14,9 16 15,7 15,9 17,9 10,4 11,1
económicos
Política interna 10,5 18,0 10,3 18,9 13,1 23,7 6,3 12,6
Assuntos laborais
9,6 9,2 8,4 8,8 10,1 10,1 8,6 7,3
e Segurança Social
Justiça e sistema
7,0 8,2 5,6 7,7 6,3 5,9 5,8 6,2
judicial
Participação
6,7 10,3 7,5 7,7 7,5 8,4 11,7 11,8
e protestos
Desporto 4,8 3,1 7,4 5,9 5,7 4,7 18,4 17,4
Política europeia 5,8 4,6 7,0 4,7 8,8 5,9 3,8 2,7
Desastres/acidentes
6,7 5,4 4,5 3,4 3,9 3,0 9,8 7,2
/epidemias

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

diminuiu na Rádio Renascença e na TSF. Esta temática foi mesmo a mais importan-
te para o conjunto de rádios em 2012, com exceção da Rádio Comercial que deu
mais destaque ao desporto. A grande evolução entre os dois anos encontra-se na te-
mática da política interna. Tal como se tinha verificado nos setores da imprensa e
televisão, o peso da política interna aumentou substancialmente em 2013 em todos
os meios. Para este aumento contribuíram em muito as grandes histórias do ano,
como é o caso da crise na coligação, que perfez 27,8% das notícias de política inter-
na da rádio de 2013. Comprovando esta tendência de o segundo ano ter sido um
ano menos europeu e mais nacional, o tema política europeia torna-se bastante me-
nos frequente em todos os meios em 2013.
Os assuntos laborais foram também uma categoria de peso na rádio, com es-
pecial destaque na rádio pública, em que mais de 10% das notícias foram sobre este
tema. Para o peso deste tema em muito contribuíram as histórias sobre o desempre-
go na Europa.
O tema da justiça registou crescimento em todos os meios, exceto na Antena 1
na qual verificamos uma ligeira diminuição do peso desta temática. De destacar
ainda o peso dos temas desporto e desastres/acidentes/epidemias na Rádio Comer-
cial, que parece ser o meio que mais destaque dá a temas passíveis de serem classifi-
cados como soft news (Reineman et al., 2011). Também na Rádio Comercial o tema
participação e protestos tem mais relevância, devido acima de tudo à cobertura de
greves.

Protagonistas em 2012 e 2013

Agregando as cinco personalidades mais referidas em cada rádio, chegámos a tre-


ze protagonistas: oito do mundo da política nacional e uma da política europeia,
124 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

dois líderes religiosos, uma personalidade do mundo desportivo e o líder de uma


central sindical.
Passos Coelho é, mais uma vez, a personalidade mais referida em todos os
meios, seguindo-se-lhe Cavaco Silva. António José Seguro surge na rádio com mais
protagonismo do que nos outros setores, chegando a ser a segunda personalidade
mais referida na Antena 1 de 2013. A relevância do líder da oposição sobe conside-
ravelmente em 2013, o que se deve não apenas ao seu papel na crise da coligação
governativa mas também ao episódio da moção de censura que o PS apresentou ao
governo em abril desse ano.
Ainda no plano da política nacional, surgem ainda os ministros Vítor Gaspar,
Maria Luís Albuquerque, Miguel Relvas, Paulo Portas e Assunção Cristas. A pre-
sença de Vítor Gaspar e Maria Luís Albuquerque nas notícias intensifica-se em
2013 em todos os meios, ano em que o primeiro apresentou demissão e a segunda
lhe sucedeu. Também Paulo Portas é mais referido durante este ano, devido ao seu
papel na crise da coligação. Já a presença de Miguel Relvas foi mais forte em 2012
devido ao escândalo sobre a sua licenciatura. Assunção Cristas, ministra da Agri-
cultura, aparece pela primeira vez entre as personalidades mais referidas em 2012
devido à cobertura mais intensa do problema da seca por parte da rádio. A ministra
surgiu como grande protagonista desta história, principalmente depois das suas
declarações polémicas sobre o assunto, em que afirmou “ter fé que chovesse”.1
A chanceler alemã é a única personalidade do mundo da política europeia,
sendo que a sua aparição foi consideravelmente menos frequente em 2013, ano em
que o discurso mediático se restringiu mais a assuntos nacionais.
De relevar a presença do Papa Bento XVI e de Francisco I, que surgem nesta lista
principalmente devido à cobertura da Rádio Renascença. Bento XVI foi presença assí-
dua nas peças da Rádio Renascença nos dois anos mas, nos outros meios, a sua presen-
ça foi principalmente destacada em 2013, devido à sua resignação em fevereiro desse
mesmo ano. O sucessor, Francisco I, eleito em março, é obviamente apenas referido em
2013 sendo mais relevante na Rádio Renascença e Rádio Comercial.
Contamos pela primeira vez com o líder da central sindical UGT, João Proen-
ça, na lista de personalidades mais referidas. A sua relevância é superior em 2012,
ano em que as controvérsias relativas às mudanças da legislação laboral lhe pro-
porcionaram algum tempo de antena, principalmente na TSF. Em 2013, o secretá-
rio-geral da UGT passou a ser Carlos Silva, pelo que as referências a João Proença se
tornam mais raras.

1 http://expresso.sapo.pt/devo-dizer-que-sou-uma-pessoa-de-fe-esperarei-sempre-
que-chova-e-esperarei-sempre-que-a-chuva-nos-minimize-alguns-destes-danos-como-e-evid
ente-quanto-mais-depressa-vier-mais-minimiza-quanto-mais-tarde-menos-minimiza-se-nao-
vier-de-todo-nao-perderei-a-minha-fe-mas-teremos-obviamente-de-atuar-em-conformidade=
f706194
RÁDIO 125

Quadro 5.13 Protagonistas mais referidos na rádio (em %)

Rádio Rádio TSF TSF Antena 1 Antena 1 Rádio Rádio


Renascença Renascença Comercial Comercial
Protagonistas
2012 2013 2012 2013 2012 2013 2012 2013
N.º=519 N.º=485 N.º=736 N.º=561 N.º=741 N.º=485 N.º=315 N.º=297

Pedro Passos Coelho 6,6 6,0 5,3 4,8 5,9 5,8 7,3 7,4
Cavaco Silva 3,5 3,0 1,5 5,0 2,3 3,7 2,5 6,1
Miguel Relvas 2,1 0,8 1,0 0,5 2,6 2,3 3,5 0,7
Vítor Gaspar 1,9 2,7 1,4 2,1 2,4 3,5 2,9 0,7
Bento XVI 1,9 1,6 0,4 0,9 – 0,4 – –
António José Seguro 1,7 3,8 2,9 3,7 3,1 5,6 2,9 4,7
Paulo Portas 1,3 2,5 1,1 3,9 1,9 2,5 1,0 2,4
João Proença 0,8 0,8 2,0 0,2 1,2 0,8 0,6 –
Angela Merkel 1,2 1,8 0,5 0,9 0,2 1,3 –
Assunção Cristas 0,4 0,3 1,5 0,9 0,4 1,0 1,0
Maria Luís
– 1,1 – 2,5 – 1,6 – 0,3
Albuquerque
Francisco I – 3,0 – 0,9 – – – 3,0
Jorge Jesus 0,2 0,3 0,2 1,2 0,1 0,6 1,6 4,7

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Considerações finais

As principais notícias da rádio em 2012 foram o desemprego na zona euro e Orça-


mento do Estado para 2013. Neste ponto a rádio alinha com os outros setores já ana-
lisados, tornando assim estas suas histórias nas histórias do ano. Em relação às
histórias de 2013, a rádio também não traz novidades, acompanhando a televisão e
a imprensa na maior noticiabilidade às eleições autárquicas de 2013 e à crise na co-
ligação governativa.
No que concerne à forma de divulgação das notícias, verificou-se um decrésci-
mo das peças noticiosas de curta duração e um ligeiro aumento das de grande dura-
ção em todos os meios de 2012 para 2013. A duração mais frequente na rádio variou
também consoante o meio em análise: na Antena 1 e na TSF predominam as peças
grandes, na Rádio Renascença, as de média duração e na Rádio Comercial, as peque-
nas. Este último meio foi também caracterizado pelo recurso ao relato do pivô. Nas
outras rádios, o formato mais frequente foi a peça editada e a reportagem, ainda que
se tenha registado uma diminuição das reportagens de 2012 para 2013.
Em relação às áreas geográficas alvo de cobertura, a rádio alinhou com os res-
tantes setores na predominância de notícias nacionais que cresceram no ano de 2013.
O foco regional foi o segundo mais frequente, seguindo-se-lhe a referência a países
europeus. Esta última categoria sofreu um decréscimo de um ano para o outro (de
destacar a diminuição acentuada a países como Grécia e Espanha) o que corrobora a
ideia de nacionalização das notícias em 2013 já verificada nos outros setores.
O grande protagonista das notícias na rádio foi, como nos outros setores, o
primeiro-ministro Pedro Passo Coelho. Surgiram na lista das personalidades mais
faladas dois líderes religiosos e um líder sindical, que nos outros setores tinham re-
cebido pouca atenção.
126 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

No que respeita a especificidades entre os meios do setor, encontramos as


maiores disparidades na Rádio Renascença, que trouxe às grandes histórias alguns
eventos religiosos, e na Rádio Comercial, que cobriu de forma mais intensa aconte-
cimentos que noutros meios não foram tão relevantes (histórias associadas a assun-
tos laborais e greves).
É de ter em conta as especificidades dos meios analisados. A rádio pública e
a TSF registaram frequentemente valores próximos nas várias variáveis em análi-
se, sendo as duas de carácter claramente informativo, enquanto na Rádio Renas-
cença e na Rádio Comercial a informação não é tão central. A inclinação religiosa
da Rádio Renascença ficou patente na lista de protagonistas nas quais os líderes
religiosos tiverem forte frequência. A Rádio Comercial exibe os resultados mais
dissemelhantes, apresentando uma inclinação para soft news (Tuchman, 1993)
como o comprovam as altas percentagens de temáticas como o desporto e os de-
sastres/acidentes/epidemias. Esta é, de resto, um meio de índole diferente dos ou-
tros analisados, pois é uma rádio direcionada para a música, na qual a informação
tem um peso menos significativo, seja em termos de duração, seja em termos do
tipo de conteúdos.
Tal como aconteceu nos outros setores em análise, também na rádio se verifi-
cou um aumento das notícias de cariz estritamente nacional em 2013. Neste segun-
do ano o peso da política interna aumentou e as notícias sobre política europeia
foram mais raras. Tal tendência deve-se acima de tudo à cobertura intensiva da cri-
se da coligação governativa. Este fenómeno verificou-se não apenas pelo aumento
do peso do tema política interna e diminuição do tema política europeia, mas pela
perda de peso de protagonistas europeus e internacionais e pela valorização de
protagonistas da esfera política nacional.
Parte III | Caso a Caso
Capítulo 6
“Uma visita sem história”
Análise da cobertura do jornal Público à visita de Estado da chanceler
Angela Merkel a Lisboa

Susana Santos, Gustavo Cardoso, Décio Telo e Eloísa Silva

Introdução

O presente capítulo tem dois objetivos principais. Em primeiro lugar, contribuir


para o debate sobre a esfera pública nacional e europeia. O conceito de esfera públi-
ca, inicialmente proposto por Habermas (1989 [1962]), tem desempenhado um pa-
pel central nos estudos sobre comunicação (media studies) nas últimas décadas. A
atualidade e a pertinência do conceito têm sido colocadas à prova pelo conjunto de
transformações de ordem política, económica e social. A globalização, o rápido de-
senvolvimento tecnológico, a crescente literacia mediática, a constituição de con-
glomerados de media mundiais, a concorrência e a desregulação entre organizações
de comunicação social são alguns dos fenómenos que ajudam a explicar a passa-
gem de uma esfera pública com base no Estado-nação para uma esfera pública
transnacional (Lunt e Livingstone, 2013: 89-90).
No entanto, a constituição de uma esfera pública transnacional está longe
de ser um dado adquirido. A crise económica que afeta as democracias ociden-
tais pode ter um efeito de retorno ao Estado-nação. Autores como Dani Rodrik
afirmam que os motivos da crise económica se devem à inconciliação entre o
enorme défice de governação de uma globalização económica que transcende
os Estados-nação e a regulamentação nacional apenas aplicável ao mercado in-
terno (Rodrik, 2011). A crise económica na Europa tornou visível um conjunto
de problemas latentes no interior da União Europeia e da zona euro, como o dé-
fice de representação dos pequenos países face aos países mais populosos e en-
tre os países economicamente mais fortes e os mais débeis. Essa crescente
visibilidade extravasou as fronteiras da Europa e transformou-se num tema de
discussão mundial.
O editorial de 14 de abril de 2013 do New York Times é um bom exemplo dis-
so, intitulado “Europe’s Bitter Medicine” relata como, nos últimos dois anos,
países em situação financeira frágil como Portugal, Grécia, Espanha e Itália fo-
ram forçados a seguir políticas de austeridade fiscal e reformas estruturais no
Estado social com o objetivo de resolver os problemas financeiros e económicos

129
130 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

da zona euro.1 O editorial termina com um apelo aos líderes europeus para que in-
vertam as políticas económicas e ajudem os países em dificuldades através da
emissão de eurobonds permitindo o relançamento da economia e a criação de
emprego.
Ainda assim, os media nacionais têm um papel fundamental na construção da
esfera pública pelo seu ponto central nos debates públicos, informando e forman-
do a opinião pública através da divulgação, interpretação e análise dos aconteci-
mentos. Discutir e analisar as formas como apresentam a crise económica é de
extrema importância na compreensão de fenómenos como a formação de agendas
públicas dominantes. A apresentação da crise económica aos públicos de media é
elaborada através da construção de narrativas sobre a crise, onde se destacam um
conjunto de protagonistas, se selecionam problemas e perspetivas de solução, se
apresentam conflitos e proximidades entre nações, se constroem e reificam precon-
ceitos e estereótipos sobre determinados povos.
Em segundo lugar, explorar a análise qualitativa dos conteúdos publicados
na imprensa de referência durante o período de crise económica e social.

Esfera pública nacional e esfera(s) pública(s) europeia(s) em


tempos de crise económica e financeira

O conceito de esfera pública de Habermas (1989 [1962]) remonta para uma ideia
de modernidade como triunfo, uma sociedade iluminada que abre os seus espa-
ços públicos, os cafés, aos intelectuais burgueses que aí encontram lugar para
discutir e partilhar as suas ideias sobre o mundo, numa lógica racional, com pre-
domínio da razão comunicativa sobre a razão instrumental. A comunicação é
feita de mensagens com sentido, partilhadas e bem-sucedidas, no sentido em
que idealmente os interlocutores perseguem o bem comum e não interesses par-
ticulares ou de fação É igualmente de forma ideal, um espaço de abertura à par-
ticipação dos cidadãos e um espaço de mediação entre a governação de um
Estado ou de uma comunidade e a sociedade civil. A atividade central da esfera
pública é a sua interação linguística, a capacidade de expressão e de discurso
dos seus interlocutores.
O conceito de esfera pública, tal como primeiramente definido por Habermas
em 1962, não é isolado da época em que é escrito e da participação e contribuição do
autor para esse mesmo espaço social, a Alemanha do pós-guerra. Tal como analisa
Pierre Guibentif (2010: 163 e seguintes), Habermas está muito atento às formas
como a República Federal da Alemanha se vai definindo como Estado democráti-
co, seja na sua administração pública, como nas universidades, como ainda na rela-
ção entre as opiniões veiculadas pela imprensa e pelos círculos intelectuais e a
formação de opinião dos cidadãos alemães.

1 Versão online disponível em: http://www.nytimes.com/2013/04/15/opinion/europes-bitter- me-


dicine-of-austerity.html?_r=1&. O editorial foi publicado na versão papel no dia 15 de abril.
“UMA VISITA SEM HISTÓRIA” 131

A formação e veiculação de opiniões estão no centro do conceito de esfera pú-


blica e da importância da formação de um espaço social onde este debate tenha lu-
gar. No seu desenho inicial, o conceito centra-se nos indivíduos com capacidade de
formação de opiniões e nos círculos restritos onde esses debates têm lugar. Essa
concetualização é criticada por vários autores que sublinham a visão restrita de jus-
tiça implícita e que se aplica apenas aos membros da esfera pública, deixando no
lado de lá do muro todos aqueles que não pertencem (as mulheres, os iletrados, os
imigrantes ilegais) (Fraser, 1992, Calhoun, 1992).
Esta forma de exclusão caracteriza-se como uma forma de solidariedade co-
munitarista e não cosmopolita que aceita apenas quem participa e está integrado
na esfera, excluindo todos os que não gozam desse reconhecimento (Chouliaraki,
2013). Esta ideia é importante para perceber como é que os jornalistas escolhem os
entrevistados, como selecionam dentro de um vasto universo de possíveis apenas
aqueles que já pertencem à comunidade mediática e são aceites pelos outros como
membros integrados dessa comunidade.
Habermas (2006) considera que o conceito evolui de uma ideia de espaço físi-
co concreto, um local de encontro entre pessoas, para as potencialidades da comu-
nicação e as suas consequências, quando e onde possam ter lugar. Essa maior
plasticidade permite a utilização do conceito para explicar as formas de comunica-
ção na internet e redes sociais. Esta visão aproxima Habermas de Luhmann (1995 e
2000) no seu entendimento sobre a centralidade da comunicação e dos fluxos co-
municacionais nas sociedades contemporâneas.
A esfera pública é de igual modo um mecanismo de legitimação democrática,
um espaço físico e simbólico onde os cidadãos estabelecem laços entre si e entre o
Estado, uma forma de reconhecimento do contrato social entre o Estado de direito
e os seus cidadãos (Esteves, 2002).
No presente capítulo partimos da definição de esfera pública como um espa-
ço físico ou virtual de circulação de comunicações sobre assuntos de interesse geral
ou de interesse comum.
O debate público acontece em geral dentro das fronteiras do Estado-nação,
onde um conjunto de fatores externos ao debate possibilitam a sua existência. Esses
fatores são: os media nacionais, o ordenamento jurídico, os governos, os partidos
políticos, as associações voluntárias e as organizações de interesse.
Contudo, não podemos afirmar que existe uma esfera pública nacional, vári-
as são as formas de diferenciação. Em primeiro lugar dos públicos, a existência de
uma audiência nacional esconde a fragmentação de públicos que tem por base o
posicionamento ideológico e de classe do indivíduo, o seu interesse por questões
políticas, a sua participação na vida social, a sua literacia mediática e a sua exposi-
ção aos media.
Em segundo lugar, dos meios de comunicação, nestes a diferenciação existe
em termos de qualidade, prestígio e circulação. Um meio pode ser considerado
como de qualidade, isto é, reconhecido socialmente como produtor de informação
e de opinião com capacidade de influenciar a vida política e social, com a participa-
ção de reconhecidos intelectuais em várias áreas e que tem como objetivo marcar a
opinião sobre um determinado assunto, seja ele de natureza política, económica ou
132 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

cultural. No entanto os meios de qualidade, em geral associados à imprensa escri-


ta, têm uma circulação reduzida se os comparamos com a imprensa popular ou ta-
bloide. Aliás, vários autores têm discutido e apresentado evidências empíricas
sobre o crescimento do infotainment nos meios de comunicação, em especial nos no-
ticiários de televisão (Brants, 1998) e dos seus efeitos no debate público (Jebril et al.,
2013).
A qualidade surge assim claramente associada à noção de prestígio, isto é, à
capacidade de influência das elites políticas, económicas e culturais, mas também à
difusão e legitimação da cultura dominante (Örnebring e Jönsson, 2004).
Nos media eletrónicos encontramos espaços de debate e de reflexão, sobretu-
do em blogues, mas estes ainda não têm ainda a visibilidade, a credibilidade e a le-
gitimidade para protagonizarem os debates públicos em detrimento dos mass
media (Rasmussen, 2013). Não são protagonistas mas assumem-se cada vez mais
como uma plataforma alternativa para os cidadãos no acesso a mais fontes de infor-
mação e no apoio à formação da sua opinião.
Para além disso, a esfera pública nacional centrada nos meios de comunica-
ção social, em especial a televisão (Wolton,1994), polo agregador de sentido de co-
munidade e de partilha entre os cidadãos mas de igual modo de afirmação e de
criação de identidade nacional (Anderson, 1993), tem vindo a ser posta em causa
pela circulação de informações de origem geográfica diversa. As tecnologias da in-
formação aliadas à crescente literacia tecnológica e linguística dos utilizadores/pú-
blicos possibilitam o desenvolvimento de várias esferas de carácter supranacional
que se organizam não através de uma base geográfica ou de identidade nacional,
mas antes tendo como suporte a partilha de um conjunto de interesses e de caracte-
rísticas individuais. Vários estudos comprovam as potencialidades da internet en-
quanto meio capaz de gerar debates públicos sobre temas de interesse geral,
afirmando assim o seu potencial como espaço de suporte da deliberação democrá-
tica (Rasmussen, 2013).
As características da internet estão em sintonia com as teorias da individua-
lização, oferecendo a cada utilizador a potencialidade da procura de informação
personalizada de acordo com as suas características e os seus desejos. As teorias
da individualização (Giddens e Beck, 2000; Mouzelis, 2008) apontam para a ne-
cessidade crescente dos indivíduos para a realização pessoal associada a uma au-
tonomização do self num processo de individualização e desvinculação das
instituições como a família, os partidos políticos, o mundo do trabalho, gerando
uma quebra de laços e de ligações que transformam o indivíduo num ser atomiza-
do, hiperconsciente da sua realidade e dos seus problemas mas afastado do outro
e da realidade exterior.
Os media digitais possibilitam ao indivíduo o espaço para que este coloque
as suas opiniões pessoais sobre os mais variados assuntos, com maior ou menor
densidade argumentativa e em vários suportes de imagem, texto e vídeo. Para
além do espaço ser potencialmente infinito em caixas de comentários, blogues,
páginas pessoais e redes sociais, traz também uma diferença significativa no
eixo temporal. Ao contrário da participação nos meios de comunicação tra-
dicionais, a internet oferece uma participação em tempo real, o que muda
“UMA VISITA SEM HISTÓRIA” 133

substancialmente as formas de interação entre meio e utilizadores. O que acon-


tece na prática é que indivíduos com características e interesses semelhantes po-
dem entrar em diálogo desde que tenham acesso à internet, partilhem o mesmo
fórum de discussão e a mesma língua ou pelo menos entendam a língua utiliza-
da na conversação.
A questão linguística é extremamente importante e não deve ser escamotea-
da. Na atualidade muitos dos meios de comunicação nacionais de referência publi-
cam artigos de outros meios de comunicação internacionais traduzindo-os para a
sua língua de origem.2
Por exemplo nas questões económicas, os media portugueses têm recorrido
muitas vezes à tradução de artigos do The Economist, The Wall Street Journal, da Time
ou do The Guardian sem que isso afete a possibilidade de os leitores dos media nacio-
nais pesquisarem e acederem a essa informação na língua original que se encontra
disponível na internet. Pelo contrário, o efeito parece ser cumulativo com os
leitores dos media nacionais depois de lerem o artigo traduzido em português pes-
quisarem o artigo completo em inglês nas páginas originais em busca de mais in-
formação. Parece assim ter um efeito cumulativo para o leitor que acede desta
forma a mais informação de mais fontes, nacionais e internacionais. Deste modo o
trabalho jornalístico entra numa nova fase de gatekeeping, selecionando a informa-
ção (como tradicionalmente) e dando aos seus públicos a possibilidade de confron-
tação com a fonte da notícia ao mesmo tempo que o ajuda a definir um percurso de
pesquisa pela internet, assumindo-se como mediador entre as fontes de informa-
ção e os leitores.
O projeto político europeu necessita de uma esfera pública europeia para se
legitimar junto dos cidadãos europeus. Esta afirmação pertence a Habermas (2012)
mas é de igual modo corroborada por um número elevado de académicos euro-
peus (Bauman, Beck, Giddens, Sassen, Wierwiorka, etc.) que consideram que o dé-
fice democrático das instituições europeias não pode ser ultrapassado sem a
construção de um espaço de debate e de circulação de informação aberto a todos os
cidadãos europeus.3
A existência de uma esfera pública europeia pode funcionar também como
caixa de ressonância exterior das instituições europeias (parlamento, comissão,
banco central) na medida em que faz circular um conjunto de tópicos comunicati-
vos relativos a processos de decisão em curso no interior das instituições.
Segundo Habermas (2012) é possível a construção de um discurso pós-nacional,
desde que tenha em consideração a diferença. A esfera pública enquanto espaço aber-
to à deliberação democrática pode funcionar numa rede de relações e de interligações

2 Por exemplo, o project Syndicate que reúne opiniões de think thankers globais, disponível em 11
línguas diferentes e publicado em jornais de referência de vários pontos do globo. Em Portugal
(Público e Jornal de Negócios), na Alemanha (Die Welt), em Itália (Sole 24 Ore), no Reino Unido (The
Guardian), na China (China Daily). Ver http://www.project-syndicate.org/.
3 Manifesto pela construção de uma Europa bottom-up, 3 de maio de 2012, disponível em:
http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2012/may/03/bottom-up-europe e petição em:
http://manifest-europa.eu/?lang=pt (em 15 línguas europeias).
134 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

de fluxos comunicativos, em línguas diferentes, integrada e reproduzida por di-


ferentes grupos sociais, aberta às minorias. Neste espaço e de acordo com Ha-
bermas, os problemas e as propostas de solução são colocados à prova no
processo deliberativo que seleciona as soluções através do debate e da partilha
de opiniões com um objetivo geral comum (Chambers, 2003). Neste caso, a legi-
timidade advém não do número de participantes diretos no processo, antes sim
na capacidade do processo de envolver e integrar a diversidade dos participan-
tes (Rasmussen, 2013: 102).
A existência de uma esfera pública europeia padece de comprovação empíri-
ca. As investigações têm chegado a resultados contraditórios, nos estudos levados
a cabo por Peters (2004) mostram que a palavra “nós” quase não existe no léxico
para descrever a Europa. Os fluxos transnacionais existem apenas em segmentos
da cultura erudita europeia, como nos casos da literatura e das artes plásticas. No
entanto, não existe comprovação empírica de que a intensidade dos fluxos comuni-
cacionais entre artistas europeus no século XXI seja substancialmente diferente das
trocas culturais dos séculos XIX e XX.
Peters (2004) conclui que não existe uma esfera pública europeia, antes sim
uma esfera pública transatlântica alicerçada nos fluxos comunicacionais da cultura
de massas e da cultura erudita (científica e artística), com um claro privilégio da in-
fluência norte-americana na Europa. De acordo com Rasmussen (2013), a análise
da esfera pública europeia deve incidir nas relações e interconexões criadas entre
os media e as agendas europeias.

Desenho da pesquisa, metodologia e hipóteses de trabalho

Após a revisão do conceito de esfera pública e de esfera pública europeia, interessa


agora testar a sua existência junto dos meios de comunicação social portugueses.
Não existe a possibilidade de comparar os discursos veiculados sobre a crise eco-
nómica europeia entre meios de comunicação de vários países da Europa, sobretu-
do entre os países sob intervenção externa, países do sul da Europa e os países do
centro da Europa.
O papel dos meios de comunicação na formação de uma agenda mediática
dominante foi discutido teoricamente, chegou agora o momento de testar empi-
ricamente. Parte-se da hipótese que a imprensa de referência produz um conjunto de
discursos sobre a crise económica capazes de fornecer informação que promova um co-
nhecimento que se afaste dos estereótipos sobre cada nação, mais associados à imprensa
popular ou tabloide.
Dado o alcance geográfico da crise económica parte-se igualmente da hipóte-
se que os discursos difundidos na imprensa de referência combinam informações várias so-
bre a Europa que apoiam o leitor na compreensão de um fenómeno complexo. Pelo contrário,
espera-se que a imprensa popular valorize menos o fornecimento de informação de contexto
e dedique a sua atenção às histórias de interesse humano.
“UMA VISITA SEM HISTÓRIA” 135

O presente artigo utiliza os dados recolhidos durante o ano de 2012 no Projeto


Jornalismo e Sociedade.4 A metodologia é exclusivamente qualitativa e tem como
objetivo analisar em profundidade um acontecimento marcante ocorrido durante
o ano de 2012 em Portugal. Para tal recorreu-se à técnica de análise de discurso com
apoio de um programa de software especializado, o atlas.ti.
A seleção do acontecimento teve como critérios: 1) a presença nos três setores
mediáticos (TV, imprensa e rádio); 2) o número elevado de notícias; 3) a permanên-
cia no espaço noticioso; 4) a referência a países europeus da zona euro. O evento es-
colhido foi a visita de Angela Merkel a Lisboa que corresponde a um total de 59
ocorrências, onde se incluem artigos noticiosos, reportagens, artigos de opinião e
editoriais.5 A seleção deste evento teve como principal motivo o facto de se tratar da
visita de um chefe de Estado do país com maior responsabilidade na condução das
políticas económicas europeias da zona euro a um país sob intervenção financeira
externa.
Após a escolha do evento procedeu-se à seleção do meio de comunicação.
Tendo em conta que se trata de uma análise exploratória, optou-se pela seleção de
um único meio de comunicação.
A escolha do jornal Público teve como principal critério o facto de ser um jor-
nal de referência identificado com a formação e veiculação de opiniões das elites
políticas, culturais e económicas. No presente estudo interessa perceber que tipo
de referências e de imagens sobre a crise económica são veiculadas através dos
meios de comunicação que têm impacto na esfera pública.
Em segundo lugar, o jornal Público é um jornal de matriz europeísta, fundado
em 1989 com o objetivo de ombrear com os jornais de referência europeus (Público,
1998) que conta desde o início com um conjunto de jornalistas e cronistas especiali-
zados em questões europeias.

O evento: a visita da chanceler Angela Merkel a Portugal

A notícia da visita da chanceler alemã teve grande destaque nos media portugueses.
A visita de um dia foi responsável por 72 notícias de acordo com o índice de notícias
do Projeto Jornalimo e Sociedade. No dia da visita, 12 de novembro, foram codifi-
cadas 59 notícias num total de 108 notícias analisadas nesse dia, o que equivale a
mais de metade das notícias do dia.

4 O Projeto Jornalismo e Sociedade codificou durante o ano de 2012 um total de 19.204 notí-
cias.
5 As 59 notícias correspondem a todas as notícias analisadas pelo Projeto Jornalimo e Sociedade
no dia 12 de novembro, independentemente do meio e do setor mediático. A análise do discurso
teve como base os 19 textos publicados no jornal Público sobre o evento e os textos publicados no
Correio da Manhã.
136 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

70

60

50

40

30

20

10

0
15.10.2012 31.10.2012 08.11.2012 09.11.2012 12.11.2012 13.11.2012

Imprensa Televisão Rádio Total

Figura 6.1 Número de notícias publicadas por dia em Portugal sobre a visita de Angela Merkel a Lisboa

Contexto

A visita da chanceler Angela Merkel a Lisboa teve lugar a 12 de novembro de


2012, após ano e meio do pedido de resgate financeiro de Portugal à União Euro-
peia, FMI e Banco Central Europeu. A estratégia do governo português nas ne-
gociações com a troika tem como pontos fundamentais a imposição de medidas
de austeridade mais radicais do que as inicialmente definidas e o apoio incondi-
cional ao governo alemão dentro da União Europeia.6 O apoio ao governo ale-
mão tem impossibilitado a criação de alianças com os outros países em situação
de intervenção externa, como a Grécia, a Irlanda e mais recentemente a Espanha
e o Chipre.

Análise de discurso da cobertura do jornal Público

A recolha e tratamento dos discursos veiculados pelo jornal Público tanto na sua di-
mensão de informação como de formação de opinião permitem analisar as relações
entre o campo discursivo da construção social da realidade e os usos práticos e cria-
tivos que os sujeitos dão azo nas suas práticas quotidianas.
O jornal Público deu grande destaque à visita da chanceler alemã a Lisboa, a
notícia foi manchete durante dois dias e foram publicadas 19 peças repartidas pe-
los dias 8, 9, 12, 13 e 15 de novembro. Das peças publicadas, 10 são artigos e

6 Com o pedido de resgate financeiro, o governo em funções liderado por José Sócrates (Partido
Socialista) pede a demissão e são convocadas novas eleições legislativas. As eleições decorreram
no dia 5 de junho de 2011 e originaram uma nova maioria de direita composta pelo PSD e CDS,
liderada por Pedro Passos Coelho.
“UMA VISITA SEM HISTÓRIA” 137

opinião
37%

artigos
52%

editorial
11%

Figura 6.2 Cobertura jornalística do Público à visita de Angela Merkel a Lisboa

reportagens que descrevem a visita e as reuniões entre a chanceler e o governo por-


tuguês e ainda os encontros entre empresários alemães e empresários portugueses,
e dois são editoriais. Sete são artigos de opinião assinados por jornalistas, professo-
res universitários e eurodeputados.
O número elevado de artigos de opinião no total da cobertura jornalística de-
monstra a importância do acontecimento para a direção editorial do jornal. Para
além de informar, apresentando um relato pormenorizado da visita e dos seus in-
tervenientes, o jornal procurou refletir sobre as relações entre Portugal e a Alema-
nha no contexto europeu, publicando com esse intuito um conjunto de artigos de
opinião de vários especialistas nas áreas da história contemporânea e relações
internacionais.
A opção pelo comentário em detrimento da notícia é uma tendência nos últi-
mos anos no jornalismo português. Esta opção acarreta consequências para a esfe-
ra pública nacional nas suas vertentes de circulação de informação e de criação de
opinião pública. O espaço dedicado à informação no jornal e, em particular, nos jor-
nais de referência tem vindo a ser ocupado por colunas de opinião, onde especialis-
tas contratados pelo jornal apresentam os seus pontos de vista sobre a atualidade.
Este fenómeno cria um afunilamento dos temas em debate (escolhidos pelos colu-
nistas, que em geral circulam entre os jornais de referência) e privam os leitores de
acesso a mais informação, com fonte e conteúdo diversificado.
De frisar que apesar do contexto de crise económica não foram publicados ar-
tigos de economistas ou outros especialistas em finanças. As interpretações históri-
cas e políticas foram privilegiadas relativamente às interpretações económicas
sobre o acontecimento.
A partir do conjunto de textos publicados, a análise foi organizada em gran-
des blocos com o objetivo de num primeiro momento perceber a frequência de
138 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

15-11-2012

13-11-2012

12-11-2012

09-11-2012

08-11-2012

0 5 10 15 20 25 30 35

Referência à Grécia Referência a Portugal


Referência a Alemanha Referência a Espanha Referência à Europa

Figura 6.3 Número de referências à Europa, Portugal, Alemanha, Espanha e Grécia por dia de cobertura

referências à Europa, à Alemanha e a Portugal e ainda aos países que tal como Por-
tugal partilham com intensidade diferente a crise da Europa do sul, a Grécia e a
Espanha.
A análise da frequência de referências mostra que os casos da Grécia e de
Espanha são marginais nos textos publicados, Espanha é referida numa ocasião e a
Grécia em cinco momentos. Em segundo lugar, as referências à Europa têm um va-
lor importante nos discursos produzidos, algo que contraria uma certa ideia de
desvalorização da Europa e da União Europeia relativamente aos Estados-nação
que a constituem. No entanto, é de ressalvar o facto de que estamos a analisar um
jornal europeísta (pelas razões apresentadas na metodologia) e que as referências
estão presentes nos discursos produzidos por membros das elites políticas e cultu-
rais portuguesas, por regra mais cosmopolitas e europeístas do que o conjunto da
população.
Em terceiro lugar, as referências à Alemanha são superiores em número às re-
ferências a Portugal, apesar do acontecimento ter tido lugar em território portu-
guês. No dia da visita, a Alemanha surge por 30 vezes nos textos publicados por
contraste a Portugal que esteve presente em 17 passagens.
Num segundo momento foi criado um conjunto de categorias que pretende
distinguir os modos como as imagens de cada país são construídas na opinião pú-
blica e veiculadas através da imprensa de referência. As categorias foram elabora-
das segundo a grounded theory (Strauss, 1987, Strauss e Corbin, 1998), isto é, não
partindo de um quadro analítico definido, antes sim utilizando as palavras dos tex-
tos como ponto de partida para a construção das categorias. A quase ausência de
Espanha e da Grécia nos discursos sobre a visita de Angela Merkel a Lisboa impos-
sibilitou a sua inclusão nas categorias de análise. Assim foram criadas três grandes
grupos: a Europa, a Alemanha e Portugal.
“UMA VISITA SEM HISTÓRIA” 139

Europa: debate e discussão


Falta de democracia na Europa
Europa
Futuro da Europa
Oposição à política de austeridade
Alemanha do pós-guerra
Bom parceiro do passado
Contribuinte alemão
Investimento alemão
Alemanha
Isolamento alemão
O bom amigo alemão
Deusa germânica pagã
As lições da Alemanha
Portugal, protetorado estrangeiro
Portugal, recetador de fundos
Portugal, bom aluno / aluno marrão
Portugal
Culpa própria e individual
Eugenia económica
Inúteis portugueses

Figura 6.4 Categorias de análise do discurso

De seguida foi elaborado um mapa de associações entre as categorias de aná-


lise. A leitura desse mapa permite identificar as categorias que surgem associadas
entre si através do grau de ocorrência que varia entre 0 (sem relação) e 1 (relação
máxima). As categorias mais relacionadas entre si são: a Alemanha do pós-guerra
com o bom parceiro do passado (1-3); as lições da Alemanha com o bom amigo ale-
mão (2-14); o contribuinte alemão com a culpa própria e individual (4-5); a culpa
própria e individual com a eugenia económica (5-7); o contribuinte alemão com os
inúteis portugueses (4-11); culpa própria e individual com os inúteis portugueses
(5-11); as lições da Alemanha com o isolamento alemão (2-13); o contribuinte ale-
mão com o Portugal, recetador de fundos (4-18); a eugenia económica com o inves-
timento alemão (7-12); a eugenia económica com o Portugal, aluno marrão (7-16); a
falta de democracia na Europa com o futuro da Europa (9-10); os inúteis portugue-
ses com o Portugal, protetorado estrangeiro (11-17); o Portugal, aluno marrão com
o Portugal, protetorado estrangeiro (16-17).
A análise das relações entre as categorias permite afirmar que os discursos
são produzidos de forma circular, isto é, os argumentos utilizados representam
um padrão entre causas e consequências da crise económica em Portugal e na Eu-
ropa. Portugal e os portugueses são identificados como causadores da crise, en-
quanto a Alemanha surge dividida em duas realidades temporais distintas.
A Alemanha do pós-guerra identificada como amiga das nações europeias e a
Alemanha da atualidade associada a uma política europeia isolacionista e ao
140 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 Totais:

1 0,57

2 0,86

3 0,46

4 0,52

5 0,66

6 0,26

7 0,47

8 0,1

9 0,23

10 0,49

11 0,59

12 0,24

13 0,65

14 0,71

15 0 ,12

16 0,88

17 0,38

18 0,13

Legendas de cores: Legendas de categorias:


0
1- Alemanha do pós-guerra
0,01 a 0,1
2- As lições da Alemanha
0,11 a 0,2
3- Bom parceiro do passado
0,21 a 0,3
0,31 a 0,4 4- Contribuinte alemão
5- Culpa própria e indivídual
6- Deusa germânica pagã
7- Eugénia económica
8- Europa: debate e discussão
9- Falta de democracia na Europa
10 - Futuro da Europa
11 - Inúteis portugueses
12 - Investimento alemão
13 - Isolamento alemão
14 - O bom amigo alemão
15 - Oposição à política de austeridade
16 - Portugal, aluno marrão
17 - Portugal, protetorado estrangeiro
18 - Portugal, recetador de fundos

Figura 6.5 Força das associações entre categorias


“UMA VISITA SEM HISTÓRIA” 141

papel ativo dos contribuintes alemães na condução das estratégias de resolução


da crise económica.

Os discursos sobre a Europa

A Europa, mais especificamente a União Europeia, é apresentada e discutida nas


páginas do jornal Público como um espaço político e social num momento de encru-
zilhada. As reflexões surgem associadas a momentos marcantes do passado recen-
te europeu, como a 2.ª Guerra Mundial, o plano Marshall, a reunificação alemã.
A Europa surge associada ao défice democrático das instituições europeias não le-
gitimadas pelo voto direto dos europeus.
“Quis o destino que a União Europeia chegasse a esta crise com a sua arquite-
tura inacabada. Teríamos precisado que a união fosse já uma democracia, na qual
as decisões políticas fossem legitimadas por 500 milhões de cidadãos. Mas a união
comportou-se como apenas um cartel de Estados.”7
É ainda apontada como uma organização com modos de funcionamento dis-
tantes do passado, entendidos como de igualdade entre os Estados, para uma orga-
nização que privilegia as desigualdades económicas e sociais.
“A União Europeia já não é, infelizmente, baseada na igualdade dos Estados,
mas na sua desigualdade: manda quem pode, obedece quem deve! A UE transfor-
mou-se numa ‘ditadura sobre democracias’!”8
A Alemanha é uma constante nas referências sobre a Europa. Os discursos
produzidos assinalam sobretudo a transformação da política europeia alemã, ca-
racterizada numa primeira fase que vai desde a criação da comunidade económica
até à reunificação alemã, como “europeísta”, para uma segunda fase com a crise
das dívidas públicas em 2008 de “isolacionismo” face aos outros países europeus.
“A Alemanha já reunificada continuou a ser o mais ‘europeísta’ dos grandes
países da União (…). O que a chanceler devia perceber em Lisboa, como em Roma
ou em Paris, é que uma Alemanha que veja na Europa apenas um instrumento do
seu poder mundial acabará isolada.”9
O futuro da Europa é entendido pelos vários comentadores como possível ape-
nas se cada um dos Estados-membros estiver disponível para em conjunto trabalhar
para uma solução comum que seja do interesse de todos os países da União Europeia.
“Em conjunto, e como parceiros, enfrentamos sérios desafios e partilhamos
sérias responsabilidades.”10
“A Europa precisa de levar a cabo para salvar o projeto europeu da única ma-
neira que pode ser salvo: indo ao encontro do interesse de todos.”11
A Europa está presente na esfera pública portuguesa, tal como se comprova
através da análise dos discursos veiculados pelo jornal Público. No entanto, não é

7 Artigo de opinião, 12-11-2012.


8 Artigo de opinião, 12-11-2012.
9 Artigo de opinião, 12-11-2012.
10 Artigo de opinião, 12-11-2012.
11 Artigo de opinião, 12-11-2012.
142 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

possível responder com a mesma acuidade sobre a existência de uma esfera públi-
ca europeia que faça a circulação de mensagens entre os vários cidadãos europeus.
Aliás, através dos discursos é possível traçar um quadro duma Europa constituída
por países com claras assimetrias de poder político e económico.
O centramento da discussão entre a Alemanha e os países do sul da Europa
não permite percecionar os discursos produzidos por outros países europeus sobre
a crise económica, nem ajudar a criar uma ligação entre os cidadãos europeus.

Os discursos sobre a Alemanha

Os discursos sobre a Alemanha são construídos a partir de uma ideia comum aos
vários jornalistas e comentadores, a ideia do “bom parceiro do passado”. A tese do
bom parceiro é sustentada pelo conjunto de políticas e de protagonistas políticos
alemães no período entre o fim da 2.ª Guerra Mundial e a criação da moeda única,
isto é, entre 1945 e 2000. A Alemanha é descrita como um parceiro de grande impor-
tância na construção e consolidação da democracia portuguesa.12
“A Alemanha foi decisiva no caminho para a democracia e a Europa que Por-
tugal escolheu depois da revolução.”13
“Não é também a Europa de Helmut Kohl, o chanceler da reunificação, que
esteve disposto a abdicar do marco alemão para garantir que a Europa não seria
alemã mas a Alemanha continuaria a ser europeia.”14
Na atualidade a Alemanha é descrita pela maioria dos jornalistas e comenta-
dores do jornal Público como um país que deixou de ser um bom parceiro para se
transformar num professor rígido e autoritário que dá lições aos outros Esta-
dos-membros, sobretudo àqueles em dificuldades.
“É a Merkel que tenta afastar a imagem de que Berlim viaja apenas para dar li-
ções à Europa.”15
“Merkel mostrou-se também disponível para apoiar a criação de um banco de
fomento em Portugal, replicando a experiência do KfW, um banco de desenvolvi-
mento público criado em 1948 para financiar a reconstrução da Alemanha depois
da Segunda Guerra Mundial.”16
A imagem da deusa germânica surge associada à ideia de perda de soberania
do Estado português face à troika e, em especial, face ao governo alemão, corporiza-
do na figura da sua chanceler.
“Merkel era tratada como a demiurga que poderia com um gesto travar ou
lançar a austeridade.”17

12 Têm sido desenvolvidos vários estudos sobre as relações entre Portugal e a Alemanha durante o
século XX por investigadores portugueses, vide Ana Mónica Fonseca (2007), A Força das Armas: o
Apoio da República Federal da Alemanha ao Estado Novo (1958-1968), Lisboa, Instituto Diplomático,
(2011) É Preciso Regar os Cravos!A Social Democracia Alemã e a Transição Portuguesa para a Democra-
cia (1974-1976), ISCTE-IUL, tese de doutoramento.
13 12-11-2012.
14 12-11-2012.
15 Editorial, 12-11-2012.
16 Reportagem, 13-11-2012.
“UMA VISITA SEM HISTÓRIA” 143

A perda de soberania é apontada por alguns comentadores não apenas como


algo factual, um país sob ajuda externa deve obedecer a um conjunto de requisitos
previamente acordados entre as partes, mas sobretudo como simbólico. O país que
é representado pelos meios de comunicação como incapaz de desenvolver políticas
próprias e um governo que não responde perante o seu eleitorado, mas antes junto
das instâncias internacionais. A ideia de um plano Merkel para o sul da Europa é
um bom exemplo dessa incapacidade simbólica.
“Na televisão pública, Merkel foi questionada sobre as políticas portuguesas,
como se não existisse em Lisboa uma entidade, a que se convencionou designar por
Governo de Portugal, que responde por essas políticas, e chegou-lhe mesmo a ser
perguntado porque não havia um Plano Merkel para o Sul da Europa, uma versão
mediterrânica do célebre Plano Marshall.”18
O recurso a expressões como “a imperatriz” como forma de enunciação da
chanceler Angela Merkel acentua a imagem de Portugal como um país sob inter-
venção estrangeira, apelando para as referências culturais dos leitores sobre o im-
pério austro-húngaro.
“Vem aí a chanceler ou vem aí a imperatriz.”19
O “bom amigo alemão” é descrito como uma nova estratégia da diplomacia
alemã depois do falhanço da estratégia do professor autoritário. De uma posição
de controlo total para uma apresentação de si enquanto parceiro europeu disponí-
vel para apoiar os estados em dificuldades.
“Em Atenas, Merkel disse que a visita foi efetuada enquanto ‘boa amiga e boa
parceira’ e não para dar lições, como a Alemanha é frequentemente acusada.”20
Sobre a situação portuguesa, a chanceler durante a visita a Lisboa sentiu ne-
cessidade de afirmar que as medidas de austeridade são uma imposição da troika e
não do governo alemão.
“A austeridade em prática em Portugal não é uma imposição sua (‘Não são
ideias minhas’), mas sim da troika (‘Não fui eu a inventá-las [as medidas]’).”21 O seu
discurso foi acompanhado pela garantia que a Alemanha está interessada na recu-
peração portuguesa.
“Angela Merkel garantiu que tudo fará para que ‘Portugal tenha um final fe-
liz’.”22 O contribuinte alemão e o investimento alemão surgem associados. A pri-
meira expressão é referida para reforçar a ideia que o contributo alemão para a
resolução da crise económica em Portugal não pode passar pela substituição de
responsabilidades no pagamento da dívida soberana portuguesa.
“Mas discordar da Alemanha é uma coisa. Outra bem diferente é simples-
mente reclamar que os contribuintes alemães paguem as dívidas soberanas dos ou-
tros Estados-membros.”23

17 Artigo de opinião, 15-11-2012.


18 Artigo de opinião 15-11-2012.
19 Artigo de opinião, 12-11-2012.
20 Notícia, 12-11-2012.
21 Reportagem, 12-11-2012.
22 Notícia, 13-11-2012.
144 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Esta ideia é reforçada em tom irónico num artigo publicado três dias depois
por um comentador que descreve os portugueses como inúteis e dependentes do
poder económico alemão.
“(Portugal), sítio imundo cheio de inúteis que, além de não trabalharem, ar-
rotam e dormem a sesta após um almoço acima das suas possibilidades generosa-
mente pago pelo contribuinte alemão.”24
O investimento alemão é ainda descrito como um investimento pernicioso,
como dá conta uma notícia publicada no dia 8 de novembro sobre uma carta aberta
dirigida à chanceler alemã e subscrita por um conjunto de cidadãos portugueses.
“Vêm comprar ‘a preço de saldo’ o património português privatizado.”25

Os discursos sobre Portugal

A situação de Portugal aquando da visita de Angela Merkel surge nas páginas do


jornal Público entre duas narrativas. Uma primeira narrativa que acentua as res-
ponsabilidades do país, dos representantes políticos e do seu povo pelo pedido de
resgate financeiro externo. É a “narrativa” do país pobre que viveu durante um cer-
to tempo “acima das suas possibilidades”, beneficiando do crescimento europeu e
da pertença à zona euro para atingir níveis de endividamento insustentáveis.
Este Portugal é apresentado na imprensa de referência como principal res-
ponsável pelo seu destino, não podendo atribuir culpas pela sua situação aos ou-
tros Estados-membros da União Europeia. Aliás essa atribuição iria contra a sua
“natureza hospitaleira” que pode ser entendida pela sua apresentação aos outros
Estados-membros como país que necessita da ajuda dos outros e não tanto como
país parceiro com direitos e deveres iguais aos demais.
“Já foi dito e repetido, mas parece ser ciclicamente esquecido, que chegámos
onde chegámos pelo nosso próprio caminho.”26
“E seremos nós a fazer e a escolher o caminho que vamos percorrer a seguir.
Atribuir as responsabilidades a ‘estrangeiros’ é um clássico recurso autoritário e
autárcico que não fica bem a uma sociedade aberta e tradicionalmente hospitaleira
como a portuguesa.”27
Esta construção do país como país hospitaleiro e submisso tem ecos no exteri-
or. Em entrevista, um grupo de empresários alemães com atividade em Portugal
sublinha os baixos custos laborais que fazem de Portugal um país mais competitivo
do que os países do leste europeu, ao mesmo tempo que afirmam as vantagens da
manutenção das políticas de austeridade.
“Os custos laborais têm-se mantido baixos ao longo do tempo, de forma está-
vel, e se se confirmarem as medidas que estão anunciadas na legislação laboral,
Portugal vai continuar a ser mais favorável que a Hungria ou a República Checa. O

23 Artigo de opinião, 12-11-2012.


24 Artigo de opinião, 15-11-2012.
25 Notícia, 08-11-2012.
26 Artigo de opinião, 12-11-2012.
27 Artigo de opinião, 12-11-2012.
“UMA VISITA SEM HISTÓRIA” 145

que Portugal tem a fazer na atual situação é comunicar melhor aos potenciais in-
vestidores alemães (e de outros países) todas as suas vantagens como local para
instalar as empresas. E, além disso, ‘manter o rumo de política atual’.”28
É também o país “laboratório de experiências” das políticas de austeridade.
O exemplo utilizado pelos parceiros internacionais (FMI, Banco Central Europeu,
Comissão Europeia, Alemanha) e que por essa mesma razão deve ser apoiado pe-
las instituições internacionais.
“Seria ótimo termos uma economia do sul da Europa a reerguer-se, para mos-
trar que a receita [da austeridade] está a funcionar.”29A segunda narrativa é cons-
truída com referência à Europa e à União Europeia. Portugal é apresentado como
um país que deve ter uma voz ativa nos centros de decisão europeus e que deve es-
tabelecer alianças com outros países nesse sentido. Esta narrativa critica a relação
classificada como de “seguidismo acrítico” do governo português face ao governo
alemão.
“Eleger a Alemanha como o ‘aliado preferencial’ de Portugal estaria certo se
não significasse apenas a adesão acrítica à sua estratégia.”30
“Enquanto europeus, a nossa responsabilidade é dizer aquilo que achamos
da crise e da União sem nos sentirmos tolhidos pela situação de Portugal.”31
É o país representado internacionalmente por um governo que executa políti-
cas com consequências económicas e sociais mais graves do que as impostas pelo
memorando de entendimento (MoU) assinado com a troika em julho de 2011.
“O Governo contribui para alimentar toda a espécie de ressentimentos contra
o país que mandava. Ao acreditar com uma verdadeira fé ideológica nas virtudes
da receita alemã para ‘endireitar’ as economias do sul, deixou-se enredar na pró-
pria armadilha de um programa de ajustamento que não é exequível na forma
como está desenhado e que está a destruir qualquer perspetiva para a saída da cri-
se.”32
Um governo que é acusado de praticar técnicas de seleção natural sobre o seu
povo, rotuladas como de “eugenia económica”.
“No final do processo, dizem eles, o país sairá depurado, mais forte, mais sau-
dável. Pura eugenia económica!”33
De acordo com esta narrativa, a situação de Portugal só poderá melhorar com
uma presença portuguesa forte nas instituições europeias que apresente as suas
ideias e debata com os outros Estados-membros caminhos alternativos de resposta
à crise.
“Enquanto europeus, a nossa responsabilidade é dizer aquilo que achamos
da crise e da União sem nos sentirmos tolhidos pela situação de Portugal.”34

28 Entrevista, 13-11-2012.
29 Declarações de Hans-Peter Keitel, presidente da Confederação da Indústria Alemã, 13-11-2012.
30 Artigo de opinião, 12-11-2012.
31 Artigo de opinião, 12-11-2012.
32 Artigo de opinião, 12-11-2012.
33 Artigo de opinião, 08-11-2012.
34 Artigo de opinião, 12-11-2012.
146 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

A metáfora do bom aluno português tem já alguma tradição na forma como é


definida a relação entre Portugal e a União Europeia.35 Esta metáfora é apresentada
como uma mais-valia pelos defensores da primeira narrativa sobre a crise econó-
mica portuguesa e atacada pelos proponentes da segunda narrativa. Para os prime-
iros o cumprimento de todos os requisitos impostos pelo exterior promove a
credibilidade do país junto das entidades internacionais. Para os segundos, a metá-
fora do bom aluno corresponde a uma postura subserviente que isola Portugal no
contexto europeu e lhe retira capacidade negocial.
“A vontade de copiar o melhor da turma não parece ter mudado.”36
Finalmente esta narrativa pretende encontrar as causas do que considera ser
o “seguidismo acrítico” do governo português ao governo alemão e a falta de parti-
cipação nos debates europeus. A responsabilidade é atribuída à burguesia portu-
guesa “mais estrangeirada que as outras” e “estrangeira no seu próprio país”.
“A burguesia portuguesa é mais estrangeirada que outras, não tanto porque o
país é pequeno e lhe parece demasiado pequeno para as suas ambições, mas por-
que ela própria é estrangeira no seu país.”37
Esta assunção de responsabilidade pode ser entendida como um paradoxo.
Num jornal de referência lido e escrito pelas elites políticas, culturais e económicas
do país, um comentador pertencente a essa mesma elite denuncia que a razão de
ser da incapacidade de Portugal ter uma voz mais ativa na União Europeia e fazer
valer os seus interesses se deve à própria burguesia que tem ocupado os vários car-
gos políticos desde o século XIX.
“Numa sociedade onde se procurou quase sempre importar a mudança, a
descrição que ao longo dos últimos 250 anos as elites fizeram das realidades estran-
geiras consideradas superiores foi também sempre a formulação de uma vontade
de ser como o estrangeiro.”38

Conclusões

Partimos inicialmente da hipótese que a imprensa de referência produz um conjunto de


discursos sobre a crise económica capazes de fornecer informação que promova um conheci-
mento que se afaste dos estereótipos sobre cada nação, mais associados à imprensa popular
ou tabloide. A análise do corpus de notícias não veio confirmar totalmente a hipótese.
Em primeiro lugar, porque os artigos produzidos a propósito da viagem da chan-
celer alemã a Lisboa não foram acompanhados de informações sobre a situação
atual dos dois países, o espaço dedicado à informação foi de 53% no total da

35 Esta foi defendida na esfera pública portuguesa a partir de 1985, por Cavaco Silva, primei-
ro-ministro entre 1985 e 1995 e Presidente da República em exercício desde 2006, vide:
http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=2039800&seccao=Jos%E9%20Ma-
nuel%20Pureza&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco
36 Artigo de opinião, 8-11-2012.
37 Artigo de opinião, 8-11-2012.
38 Artigo de opinião, 8-11-2012.
“UMA VISITA SEM HISTÓRIA” 147

cobertura jornalística e dentro desse espaço a maioria foi ocupada com o relato da
visita da chanceler e sua comitiva. Podemos entender esta opção na cobertura do
acontecimento com base no tipo de leitor do jornal. Enquanto jornal de referência, o
Público dirige-se principalmente a um leitor mais informado, com maior literacia
mediática e consequentemente com um maior conhecimento sobre os temas da
atualidade. Assim, pode-se entender que o jornal preferiu fornecer ao leitor pistas
de interpretação dos acontecimentos através da publicação de artigos de opinião
em detrimento de mais informação contextualizadora do acontecimento.
No entanto, a opção pela publicação de artigos de opinião a cargo de pro-
fessores universitários, jornalistas e políticos não se revelou capaz de colmatar a
falha na divulgação de informação que permita ao leitor a compreensão de um
fenómeno complexo e multicausal como a crise económica europeia. O elevado
número de artigos de opinião vem sim confirmar a prevalência de uma solidari-
edade comunitarista em detrimento de uma solidariedade cosmopolita (Chou-
liaraki, 2013) seja nas escolhas dos intérpretes como nos discursos produzidos e
veiculados.
A análise dos discursos publicados no jornal Público sobre a visita de Angela
Merkel a Lisboa aponta para a fragilidade da esfera pública europeia no que se re-
fere à sua capacidade de circulação e transmissão de ideias sobre a Europa e os
vários países que constituem o espaço europeu.
As referências à Europa têm como base a relação entre países e apenas alguns
países, no caso o país dominante, a Alemanha, relativamente aos países da Europa
do sul em dificuldade, mas esta referência é elaborada num sentido bilateral, os
países da Europa do sul nunca surgem em conjunto e como uma força social de con-
junto. São unidades fragmentadas, cada país a medir forças com a Alemanha e a
produzir um discurso para a Alemanha. Os outros países europeus não surgem
nos discursos sobre a Europa, como se a União Europeia e a consagração de direitos
iguais para cada Estado-nação fossem apenas uma mera formalidade jurídica.
Assim, podemos afirmar que a nossa hipótese inicial que os discursos difundi-
dos na imprensa de referência combinam informações várias sobre a Europa que apoiam o
leitor na compreensão de um fenómeno complexo não se comprova. A diversidade de in-
formações não foi encontrada nos vários textos analisados, quer na origem dos jor-
nalistas e comentadores, quer nos discursos produzidos que versaram apenas
sobre a Alemanha e sobre Portugal, recorrendo muitas vezes a estereótipos asso-
ciados a cada um dos países.
Finalmente, a leitura do corpus de análise permite-nos concluir que existem
várias narrativas sobre a crise económica europeia que se alicerçam em duas pre-
missas distintas. Uma primeira que parte da ideia de que Portugal é um país que se
endividou num passado recente de forma pouco controlada, motivo principal para
a crise, e que é através de políticas de austeridade que se podem encontrar as solu-
ções. E uma segunda ideia que aponta para um problema sistémico de organização
do capitalismo na sua forma atual, em que os vários líderes europeus devem contri-
buir para uma solução global, apelando a formas de solidariedade europeia e não
de punição dos países periféricos.
Capítulo 7
Mediatizações da crise europeia
A cobertura das eleições legislativas gregas e presidenciais francesas
pelas televisões nacionais

Susana Santos, Gustavo Cardoso, Décio Telo e Carlota Bicho

Introdução

Os recentes anos têm-se realçado pela onda crescente de instabilidade social e polí-
tica, esta instabilidade está interligada com a emergência da crise financeira em
2008. Através desta, tornou-se urgente o controlo das dívidas soberanas. Barack
Obama, nos Estados Unidos, reagiu com um exigente plano de redução da despesa
pública e a Comissão Europeia impôs de imediato um controlo dos défices regista-
dos em 2009 (Castro, 2010).
Os primeiros países europeus a sofrerem as consequências do contágio da crise
financeira internacional foram a Islândia, seguida da Lituânia e da Hungria. A União
Europeia e o Banco Central Europeu intervieram nestes dois últimos países de uma
forma discreta e rápida. No entanto, foi o caso grego que arrastou a seriedade da crise
financeira até ao núcleo da zona euro. Rapidamente vários países europeus como Por-
tugal, Irlanda, Espanha e Itália ficaram sob grande pressão, chegando mesmo alguns
deles a pedirem auxílio externo (Castro, 2010). A ajuda externa, promovida por orga-
nizações internacionais e europeias, “obriga” os governos a implementarem cortes
impertinentes de forma a controlarem as suas despesas públicas. Através do condicio-
namento pelo objetivo na contenção da despesa pública, os vários governos europeus
revelam incapacidade de administrarem as suas economias nacionais (Monteiro,
2010). Os representantes nacionais parecem perdidos entre o cumprimento das exi-
gências dos seus eleitores e na satisfação dos requisitos impostos pelos agentes exter-
nos — europeus e internacionais.
Os partidos e os governos parecem ter sido transportados para fora da socie-
dade civil, pois parecem inaptos na tradução das exigências do seu eleitorado de
base em respostas institucionais capazes de acalmarem os seus anseios. Este confli-
to, entre as exigências dos cidadãos e a incapacidade de resposta por parte dos vári-
os agentes políticos, traduz-se num défice de representação democrático, que pode
colocar em causa o elo de legitimidade que alimenta as democracias liberais con-
temporâneas (Teles, 2011).1
São especialmente sentidas, no contexto político europeu, as consequências des-
te défice possibilitado pela desconexão dos interesses sustentados pelas instituições

149
150 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

europeias e internacionais, relativamente aos interesses dos eleitores “sediados” em


Estados-nação. As necessidades e as exigências destes últimos colidem com os interes-
ses sustentados pelos primeiros. A União Europeia (UE), bem como o Fundo Monetá-
rio Internacional (FMI) são agentes ativos na dinamização de uma economia de
austeridade como solução da crise europeia (Monteiro, 2011).2
Tornou-se importante perceber como estas medidas, defendidas por uma
economia de austeridade, são aceites em sociedades democráticas, chegando mes-
mo a serem legitimadas pelo consentimento popular em atos eleitorais (Teles,
2011). Os períodos eleitorais tornaram-se momentos de grande tensão por toda a
Europa, especialmente nos países do sul. A escolha dos candidatos e dos partidos,
mas também dos programas eleitorais e ideologias associadas, deixa de ser uma
questão unicamente nacional para se transformar numa preocupação europeia.
Portanto estes momentos eleitorais, partilhados entre os vários Estados-nação
num contexto europeu, constituem-se como fulcrais para a compreensão das dinâ-
micas associadas a um período de crise europeia. Uma forma de testar estas dinâ-
micas passa pela sua abordagem mediática. Os media têm um forte papel na
intermediação e na consolidação de discursos e de imagens dominantes que ali-
mentam o imaginário social.
A análise mediática da crise económica europeia permite-nos compreender
um momento perturbado da história onde se jogam diferentes perceções de refe-
rências comuns — tais como o Estado-nação, a Europa, a integração europeia, o
projeto europeu, entre outros. Os media nacionais dos vários países europeus têm
um papel singular na mediação de diferentes perspetivas, de diferentes imaginári-
os e de diferentes representações relativas à crise económica europeia (Gurevitch et
al., 2009). Os media posicionados na ligação comunicativa entre as elites políticas e a
população em geral constituem-se como plataformas narrativas capazes de disse-
minarem e reiterarem representações e imaginários sociais e económicos de várias
comunidades relativamente à crise económica europeia.
O objetivo deste capítulo consiste na análise destes imaginários e destas repre-
sentações sociais e económicas presentes na cobertura mediática durante os perío-
dos eleitorais das eleições legislativas gregas e das eleições presidenciais francesas
de 2012, pelos canais de televisão de sinal aberto nacionais. De forma a cumprir este
objetivo, o presente capítulo foi estruturado em quatro partes distintas.
A primeira explora o desenho da estratégia metodológica para a presente
análise, que se assemelha nos dois acontecimentos eleitorais, e explora ainda as
amostras associadas a cada momento eleitoral no setor de comunicação televisivo.
A segunda parte analisa a cobertura mediática das eleições legislativas gregas de
2012 pelos canais de televisão nacionais. Por sua vez, a terceira parte invoca a análi-
se das eleições presidenciais francesas. Estas duas partes irão ser analisadas segun-
do dois pontos de análise. O primeiro invoca a mediatização partidária (no caso

1 Não é um fenómeno recente, já se fazia sentir mesmo antes da crise financeira de 2007/2008 e não
pode ser reduzido aos países periféricos da União Europeia. Mas a crise financeira internacional
clarificou os contornos desta tensão principalmente na periferia europeia.
2 Teles, 2011: 86.
MEDIATIZAÇÕES DA CRISE EUROPEIA 151

grego) e dos principais candidatos presidenciais (no caso francês) relativamente a


posicionamentos ideológicos, bem como à campanha eleitoral. O segundo ponto
de análise agrega a mediatização dos partidos e dos principais candidatos presi-
denciais relativamente ao posicionamento à Europa e, no caso grego, ao posiciona-
mento relativamente à política económica europeia. Por último, a quarta parte
constitui-se por reflexões finais elaboradas através da comparação dos resultados
para cada momento eleitoral analisado.

Metodologia e hipótese preliminar

A estratégia metodológica deste estudo foi desenhada de forma a capturar as re-


presentações sociais e económicas vinculadas às eleições legislativas gregas e às
eleições presidenciais francesas, presentes na cobertura mediática dos canais de si-
nal aberto nacionais — RTP1, RTP2, SIC e TVI — num contexto de crise económica
europeia. Através da comparação das diferentes imagens e dos diferentes discur-
sos produzidos pelos media nacionais iremos testar a hipótese da existência de dife-
rentes narrativas referentes à crise europeia.
As eleições parlamentares gregas foram constituídas por dois momentos elei-
torais — o primeiro no dia 6 de maio e o segundo a 17 de junho de 2012. Relativa-
mente às eleições presidenciais francesas contabilizaram-se na décima eleição
presidencial da quinta república francesa, tendo o primeiro turno ocorrido a 22 de
abril e o segundo a 6 de maio de 2012. A análise do presente estudo concentra-se
nestas duas eleições, sendo que o período de codificação correspondeu a duas se-
manas de análise para cada momento eleitoral — uma semana precedente e uma
posterior.
Foram codificadas todas as notícias referentes às eleições gregas e francesas
presentes nos noticiários dos canais de televisão de sinal aberto. No total foram
analisadas 202 notícias. Relativamente às eleições legislativas gregas contabiliza-
ram-se 103 notícias — como mostra o quadro 7.1. Em relação às eleições presidenci-
ais francesas foram analisadas 99 notícias (quadro 7.2).
Como se pode verificar nos quadros 7.1 e 7.2, a distribuição das notícias en-
tre as duas eleições analisadas, bem como a sua distribuição pelos canais de tele-
visão, foi relativamente equitativa, a única exceção diz respeito à RTP2 das 22
horas. Este canal de televisão regista um número de notícias bastante mais redu-
zido do que os restantes canais, pois não foram codificadas as notícias replica-
das pelo telejornal da RTP2 das 22 horas provenientes do telejornal da RTP1 das
20 horas.
Metodologicamente este estudo foi desenhado de forma a conseguir reunir
numa base de dados comum todas as notícias referentes às eleições gregas e france-
sas. Através de visualizações preliminares e durante o processo de codificação
agregaram-se a cada eleição um conjunto de 49 expressões — mediaticamente re-
presentativas das dinâmicas sociais e económicas das eleições francesas e gregas.
Algumas destas expressões, mais precisamente 27 delas, são comuns às duas
eleições analisadas, ou seja, possuem o mesmo código de análise mas possuem
152 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 7.1 Distribuição das notícias analisadas nas televisões nacionais das eleições legislativas gregas
de 2012

rgãos Primeiro Segundo


Total
de comunicação momento eleitoral momento eleitoral

RTP1 20 h 16 14 30
RTP2 22 h 5 7 12
SIC 20 h 14 15 29
TVI 20 h 17 15 32
Total 52 51 103

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Quadro 7.2 Distribuição das notícias analisadas nas televisões nacionais das eleições presidenciais francesas
de 2012

rgãos Primeira Segunda


Total
de comunicação volta volta

RTP1 20 h 16 16 32
RTP2 22 h 1 6 7
SIC 20 h 12 13 25
TVI 20 h 15 20 35
Total 44 55 99

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

significados diferentes correspondentes às dinâmicas mediáticas associadas a cada


eleição. Posteriormente, na tentativa de facilitar o processo de interpretação e des-
crição dos dados, estas expressões foram distribuídas por 8 grupos de famílias —
política europeia e finanças nacionais; emoções; focus geográfico; protagonistas;
organizações políticas e económicas; espectro ideológico; assuntos eleitorais e in-
dicadores económicos e sociais. Estas famílias são transversais aos dois momentos
eleitorais analisados.
Através de cruzamentos de coocorrências permitiu-se perceber quais as ex-
pressões mais mediatizadas e as mais interligadas a cada momento eleitoral anali-
sado, possibilitando a indagação da existência de uma narrativa, ou de várias
narrativas, referentes à crise económica europeia contextualizada através das elei-
ções gregas e francesas de 2012, pelos canais de televisão de um país intervenciona-
do — Portugal.

Análise dos resultados: o caso grego

A Grécia foi exposta a um exigente programa de austeridade acordado sob a forma


de MdE (memorando de entendimento) entre os governos helénicos de 2010 e 2011
e a troika.3 Em 2010 a Grécia encontrava-se na iminência da bancarrota. O governo
era constituído pelo PASOK e através do apoio partidário proveniente do LAOS,
MEDIATIZAÇÕES DA CRISE EUROPEIA 153

desenhou-se um acordo de ajuda externa de forma a evitar a sua insolvência


(Spyropoulou, 2013).4 Mas o acordo de 2010 falhou e em outubro de 2011 foi assina-
do um novo acordo que incluía mais medidas de austeridade e um rigoroso corte
na dívida acumulada. Em novembro de 2011, o primeiro-ministro grego, Geórgios
Papandréu, pediu ao parlamento um voto de confiança que possibilitasse a negoci-
ação de um novo governo de coligação. Fugindo à tradição grega, o novo governo
era constituído por uma coligação entre três partidos e liderado pelo tecnocrata Lu-
cas Papademos — antigo governador do banco central grego (1994-2002) e antigo
vice-presidente do Banco Central Europeu (2002-2010).
Devido à conjuntura económica, as eleições legislativas de 6 de maio e de 17
de junho de 2012 na Grécia receberam uma forte atenção dos media internacionais,
pois foram consideradas como cruciais para o alcanço da estabilidade na zona
euro. Importa equacionar como estas eleições foram exploradas mediaticamente
pelos canais de televisão nacionais. O quadro 7.3 resume este objetivo através de
um cruzamento de coocorrência entre o código formação de governo/resultados
eleitorais e os restantes códigos desenhados para análise das eleições gregas. Estes
códigos foram distribuídos pelas várias famílias de códigos e organizaram-se por
ordem decrescente do número de ocorrências.
Concluímos que a família de códigos com mais peso na análise refere-se aos
do espectro político e ideológico, apresentado mediaticamente por uma divisão
entre partidos pró/antissistema (56). A família da política europeia e finanças naci-
onais foi a segunda mais mencionada e compôs-se mediaticamente entre os códi-
gos acordo/programa com a troika (34), futuro da Europa (29) e saída da Grécia da
zona euro (28). A terceira família com maior peso mediático são os protagonistas,
os candidatos e políticos relevantes na esfera política grega (51) são os mais menci-
onados, seguidos dos líderes políticos europeus (18). A quarta família com mais
ocorrências refere-se aos assuntos eleitorais, esta foi mediatizada através da narra-
tiva de impasse político (67) após a incapacidade dos vários partidos políticos se
entenderem quanto à formação de governo.
Estas são as famílias de códigos mais relacionadas com o processo eleitoral e a
formação de governo. A interpretação destas famílias de códigos irá ajudar-nos a
encontrar a narrativa presente no setor televisivo nacional relativamente às elei-
ções legislativas gregas. Pretende-se cumprir este objetivo em dois pontos de análi-
se. O primeiro é dedicado à abordagem mediática dos partidos relativamente ao
posicionamento ideológico e às campanhas eleitorais associadas. E o segundo pon-
to empenha-se na abordagem mediática dos partidos segundo o seu posiciona-
mento à Europa e à política económica europeia.

3 Constituída pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), pelo Banco Central Europeu (BCE) e
pela União Europeia (UE).
4 PASOK é o partido socialista grego.
154 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 7.3 Coocorrências entre a formação/resultados eleitorais e os restantes códigos desenhados para
a análise

Formação de governo/
resultados eleitorais

Espectro político e ideológico


Conservadores/Nova Democracia 60
Socialistas/PASOK 57
Partidos anti e pró-sistema 56
Esquerda Radical/Syriza 48
Extrema direita /Aurora Dourada 18
Esquerda Democrática 11
Outros partidos 5

Política europeia e finanças públicas nacionais


Acordo/programa com a troika 34
Futuro da Europa 29
Saída da Grécia do euro 28
Renegociação/alívio das metas do resgate financeiro 21
Economia de austeridade 13
Risco de incumprimento 5
Espanha sob pressão 3

Protagonistas
Candidatos e políticos relevantes na esfera política grega 51
Líderes políticos europeus 18
Cidadão comum 15
Especialistas/analistas/comentadores 12
Representantes de instituições políticas europeias 9
Representantes políticos portugueses 7
Membros de organizações económicas 3

Assuntos eleitorais
Impasse político 67
Punição eleitoral/voto de crise 24
Pressão externa para o entendimento entre os partidos 20

Indicadores económicos/sociais
Austeridade 30
Bancarrota 12
Desemprego 8
Recessão 8
Crescimento 6
Anti-imigração 5
Criminalidade 1
Corrupção 1

Instituições políticas/económicas europeias/internacionais


Instituições políticas europeias 28
Troika e FMI 20
Enfoque geográfico
Países do sul da Europa 20
Países do norte e do centro da Europa 15
Outros países 3

Emoções
Reação dos mercados financeiros 13
Apreensão/medo/desespero 11
Alívio 8

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.


MEDIATIZAÇÕES DA CRISE EUROPEIA 155

Mediatização partidária: posicionamento ideológico e campanha eleitoral

Como demonstra o quadro 7.3, a família de códigos mais próxima do processo elei-
toral foi a do espectro político e ideológico. O período de campanha eleitoral, bem
como o de formação de governo, foi mediatizado por uma escolha partidária
pró/antissistema. O eixo partidário pró-sistema foi constituído pela ND (60),
PASOK (57) e DIMAR (11), por sua vez o eixo antissistema constitui-se pelo Syriza
(48) e pela Aurora Dourada (18).5 Foram os partidos mais mediatizados nestas elei-
ções. Esta mediatização passou por uma forte caracterização ideológica destes par-
tidos baseados na divisão atrás mencionada.
Ideologicamente os dois blocos partidários — pró/antissistema — foram co-
bertos pelos canais de televisão nacionais por uma distinção básica entre esquer-
da/direita ao centro e nos extremos (quadro 7.4). Ou seja, a ND e o Pasok são
aproximados por se posicionarem ao centro, o primeiro à direita e o segundo à es-
querda, enquanto o Syriza se aproxima da Aurora Dourada nos extremos, o primei-
ro à esquerda e o segundo à direita. Para além desta aproximação, o PASOK e a ND
são ainda acercados ideologicamente por incorporarem o arco tradicional do poder e
por constituírem o bloco central grego. Por sua vez, o polo antissistema foi desenha-
do na categoria do posicionamento ideológico, através de uma ligação do Syriza à
Aurora Dourada pela sua correspondência através de expressões como: “partidos
de franja” e “pequenos partidos”. Um fator a ter ainda em conta é o afastamento
ideológico do Syriza relativamente ao DIMAR, pela caracterização deste último
“como uma esquerda menos radical”. Este afastamento, pela intensidade do radica-
lismo, justifica-se pela posição mais soft do DIMAR relativamente ao memorando.
A Esquerda Democrática é caracterizada como menos crítica das políticas de austeri-
dade, incorporando uma posição de maior conformidade com as políticas europeias.
Relativamente ao segundo momento eleitoral, a mediatização ideológica partidária
foi mais reduzida, a 17 de junho o eixo antissistémico incorpora-se apenas pelo Syri-
za, enquanto o eixo pró-sistema caracteriza-se essencialmente pela ND.
A redução da cobertura mediática do posicionamento ideológico partidário, no
segundo momento eleitoral, justifica-se pela forte fragmentação do espectro ideológi-
co a 6 de maio de 2012. O sistema partidário grego mudou após as eleições de 6 de
maio. Este momento eleitoral quebrou a ideia que apenas os governos maioritários,
constituídos por um partido intercalado entre a ND e o PASOK, conseguiam reunir as
competências necessárias para governar a Grécia. Até então, dominava uma cultura
política que legitimava a prosperidade de dinastias políticas tais como: Papandréu,
Karamanlis, Mitsotakis, e outras famílias importantes. Esta cultura foi quebrada pela
dispersão dos votos, obrigando à obtenção de um consenso mais alargado e à forma-
ção de governos de coligação. Através das eleições de 2012 rompeu-se com o ciclo bi-
partidário vivido na Grécia desde 1974, transformou-se o centro político grego pela
expulsão do PASOK e pela entrada do Syriza (Dimitrakopoulos, 2012).

5 ND — Nova Democracia; DIMAR — Esquerda Democrática; Syriza — Coligação de esquerda


radical.
156 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 7.4 Mediatização do posicionamento ideológico dos partidos anti/pró-sistema

1.º momento eleitoral - 6 de maio de 2012


Partidos pró-sistema Partidos antissistema
ND PASOK DIMAR Syriza Aurora Dourada
Centro direita Socialistas Esquerda menos Esquerda radical Extrema-direita
Conservadores radical Extremo/extremistas Nacionalista
Social-democrata Neonazi
Partido do arco Partido do arco – Partido de franja Partido de franja
tradicional do poder tradicional do poder Pequeno partido Pequeno partido
Bloco central grego Bloco central grego
– – – – Violento
2.º momento eleitoral - 17 de junho de 2012
Partidos pró-sistema Partidos antissistema
ND Pasok DIMAR Syriza Aurora Dourada
Conservadores – –- Esquerda radical Neonazi

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Os dois principais partidos do espectro ideológico grego — PASOK e Nova


Democracia (ND) — no espaço de trinta meses perderam 3,3 milhões de votos. Em
outubro de 2009 o PASOK alcançou 43,9% do total dos votos, a 6 de maio de 2012
apenas conseguiu conquistar 13,2% destes (quadro 7.5). Por sua vez, a ND caiu de
33,4% em 2009 para 18,9% no primeiro momento eleitoral de 2012. Os dois grandes
partidos na Grécia apenas conseguiram atingir 32% dos votos enquanto em 2009,
juntos, registaram uma votação de 77,4%. Colocando estes resultados em perspeti-
va, conclui-se que o PASOK e a ND juntos não conseguiram atingir a margem dos
33,4% que o segundo partido mais votado — ND — arrecadou nas eleições de 2009
(Spyropoulou, 2013).
Já a coligação à esquerda — Syriza — mais do que triplicou a sua percenta-
gem de votação, conseguindo atingir 16,8% dos votos. Os Gregos Independentes,
resultado de uma cisão pelo seu posicionamento antimemorando relativamente à
ND, registaram 10,6% dos votos. Mas um dos desfechos mais surpreendentes des-
tas eleições foi o resultado do partido de extrema-direita — Aurora Dourada — re-
gistando uma votação de 7%, já a Esquerda Democrática (DIMAR) obteve 6,1% dos
votos (Spyropoulou, 2013).
As negociações entre os três partidos mais votados (ND, Syriza e Pasok) a 6 de
maio de 2012 falharam, marcaram-se novas eleições para 17 de junho de 2012. No se-
gundo momento eleitoral, a dispersão de votos foi menor com os dois partidos mais
votados na primeira volta a verem aumentada a sua votação em cerca de dez pontos
percentuais — ND e Syriza. Como se pode verificar no quadro 7.6, o vencedor das
eleições foi a ND com 29,7% dos votos, seguida do Syriza com 26,9%, e em terceiro lu-
gar ficou o PASOK com apenas 12,3% dos votos. O aumento da votação no Syriza e
na ND deveu-se ao decréscimo dos partidos mais pequenos, por exemplo, o KKE
caiu dos 8,5% dos votos conquistados em maio para 4,5% (Spyropoulou, 2013).
MEDIATIZAÇÕES DA CRISE EUROPEIA 157

Quadro 7.5 Resultados das eleições parlamentares de 6 de junho de 2012 na Grécia

Votos Assentos
Partido Votos
(em %) parlamentares

Nova Democracia (ND) 1.192.103 18,9 108


Syriza (Coligação da esquerda radical - União de Frente Social) 1.061.929 16,8 52
PASOK (Movimento Socialista Panhellenic) 833.452 13,2 41
Gregos Independentes 671.325 10,6 33
KKE (Partido Comunista Grego) 536.104 8,5 26
Aurora Dourada 440.985 7,0 21
Esquerda Democrática (DIMAR) 386.394 6,1 19

Fonte: Ministério do Interior grego (2014, www.ypes.gr).

A Grécia assistiu a um verdadeiro terramoto eleitoral através da forte pena-


lização dos partidos tradicionais ao arco do poder — ND e PASOK — nas eleições
de 6 de maio e de 17 de junho de 2012. Esta penalização refletiu-se na nossa análi-
se pelo peso que a família dos assuntos eleitorais (quadro 7.3), através do código
relativo à punição eleitoral (24), adquiriu. Como demonstra o quadro 7.7, rela-
tivamente à mediatização da campanha eleitoral pela divisão entre partidos
pró/antissistema, o PASOK e a ND aparecem ligados pelo apelo ao voto útil e pela
punição eleitoral (24) antecipada pelas sondagens.
As eleições legislativas gregas de 2012 mostraram a indignação e a rejeição
clara dos eleitores aos dois principais partidos gregos. O voto volatizou-se pelos
extremos, quer à direita como à esquerda, mostrando o descontentamento vivi-
do num país resgatado pela receita da austeridade. Foi evidente o voto de pro-
testo que os gregos manifestaram perante a sua situação política reflexa de
pretensões alheias ao plano doméstico. A ND e o PASOK foram os principais
derrotados nestas eleições, pois eles são vistos como parte do problema e não
como a solução da situação económica do seu país. Os gregos demonstraram
que não acreditam na recuperação da crise através destes partidos tradicionais
ao poder (Dimitrakopoulos, 2012).
O fim do bipartidarismo grego, pela restruturação do centro político através
da saída do PASOK e a entrada do Syriza, revelou-se mediaticamente num im-
passe político entre a escolha dos que queriam continuar a receita económica de
austeridade na Grécia e aqueles que a refutavam. Este impasse político suavizou
a clássica divisão de esquerda-direita pelas cisões pró/antimemorando; drac-
ma/euro, pró/anti-Europa. A emergência destas divisões, que preencheram o es-
pectro ideológico e partidário grego nas eleições legislativas, contribuíram para a
edificação de um campo complexo e ambíguo no ambiente político grego.
Em suma, a penalização por parte dos eleitores gregos aos partidos tradicio-
nais do poder foi contextualizada mediaticamente pela incapacidade de a Grécia
conseguir formar um governo maioritário capaz de reunir as condições governati-
vas alinhadas com a defesa da política económica europeia. A expressão “alívio”
(quadro 7.7) aparece relacionada com os três partidos que constituíram o governo
de unidade nacional — ND, PASOK e DIMAR — nas eleições de 17 de junho. Este
158 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 7.6 Resultado das eleições parlamentares de 17 de junho de 2012

Votos Assentos
Partido Votos
(em %) parlamentares

Nova Democracia (ND) 1.825.514 29,7 129


Syriza (Coligação da esquerda radical - União de Frente Social) 1.655.042 26,9 71
PASOK (Movimento Socialista Panhellenic) 756.045 12,3 33
Gregos Independentes 462.410 7,5 20
Aurora Dourada 426.027 6,9 18
Esquerda Democrática (DIMAR) 384.971 6,3 17
KKE (Partido Comunista Grego) 277.214 4,5 12

Fonte: Ministério do Interior grego (2014, www.ypes.gr).

Quadro 7.7 Mediatização da campanha eleitoral dos partidos anti/pró-sistema

1.º momento eleitoral - 6 de maio de 2012


Partidos pró-sistema Partidos antissistema
ND Pasok DIMAR Syriza Aurora Dourada
Penalização eleitoral Penalização eleitoral – – –
Apelo ao voto útil Apelo ao voto útil
Partido Vencedor – – –
Mandato para formar Mandato para formar – Mandato para formar –
governo governo governo
Falharam as Falharam as – Falharam as –
negociações para a negociações para a negociações para a
formação do governo formação do governo formação do governo

2.º momento eleitoral - 17 de junho de 2012


Partidos pró-sistema Partidos antissistema
ND Pasok DIMAR Syriza Aurora Dourada
Partido vencedor – – – –
Governo de unidade Governo de unidade Governo de unidade Força de oposição –
nacional nacional nacional
Alívio Alívio Alívio – –

alívio traduz a ideia que a Grécia conseguiu garantir os requisitos da estabilidade


política que convergem com o caminho das políticas económicas europeias. Impor-
ta equacionar de seguida o posicionamento dos partidos que incorporam o eixo
pró/antissistema no seu posicionamento relativamente à Europa e à política econó-
mica europeia.
MEDIATIZAÇÕES DA CRISE EUROPEIA 159

Mediatização partidária: posicionamento à Europa e à política económica


europeia

Como nos demonstra o quadro de cocorrência entre o código formação de gover-


no/ campanha eleitoral e os restantes códigos desenhados para a análise das elei-
ções gregas (quadro 7.3), a família de códigos relativos à política europeia e
finanças nacionais está altamente presente na mediatização do processo eleitoral
grego. Esta correspondência advém de um impasse político, possibilitado pela pe-
nalização dos dois principais partidos (PASOK e ND). Esta penalização foi associa-
da mediaticamente a um questionamento das políticas europeias, nomeadamente
da sua política económica pela defesa da austeridade. Questões relacionados com
o memorando assinado com a troika (34), ou com a possibilidade de a Grécia sair da
zona euro (28) foram bastante abordadas pelas televisões portuguesas.
Mediaticamente o questionamento das políticas económicas europeias foi
traduzido pela distinção clara entre os partidos pertencentes ao eixo pró ou antis-
sistema. Os primeiros são representados pela sua posição favorável à Europa, de-
marcando-se de uma posição antieuropeia protagonizada pelo Syriza e pela
Aurora Dourada (quadro 7.8). Mas este posicionamento europeu está altamente in-
terligado com um posicionamento à política económica europeia pela defesa da
austeridade (quadro 7.9).
Como se verifica nas quadros anteriores, o eixo pró-sistema protagonizado
pela ND, PASOK e DIMAR é construído mediaticamente pela sua posição favorá-
vel relativamente à Europa, ou seja, todos os partidos pertencentes a este eixo são
pró-europeus e pró-euro. Mesmo que defendam uma renegociação de algumas
medidas acordadas com a troika, ou um alargamento do prazo de pagamento da dí-
vida (no caso do PASOK), todos eles têm respeito pelo memorando, concordando que
a austeridade é necessária. Defendem que esta apenas deve ser suavizada por uma
austeridade mais doce e mais suave. Pode-se dizer que o eixo pró-sistema mediatica-
mente é caracterizado pelos agentes políticos que defendem a necessidade de a
Grécia continuar alinhada com a política económica europeia, o rumo económico
europeu é apenas questionado neste eixo pela necessidade de diminuir a intensi-
dade da receita económica prescrita pela troika.
Relativamente ao eixo antissistémico, o Syriza e a Aurora Dourada são apro-
ximados pela sua posição antieuropeia. Mas o Syriza é o partido mais mediatizado,
do eixo antissistema, relativamente ao seu posicionamento à Europa e à política
económica europeia. É detido como o principal opositor do plano de resgate à Gré-
cia, e como um forte crítico das políticas de austeridade, a sua imagem mediática
passou pela sua caracterização como populistas antiausteridade. Este partido é
ainda contextualizado como sendo contra os ditames da Europa, e portanto em
caso de vitória representaria a saída da Grécia da zona euro e o regresso à dracma.
Em suma, se o Syriza vencesse as eleições de 2012 e pela sua pretensão de rasgar o
acordo com a troika colocaria o futuro da Grécia enquanto nação em risco.
Esta eleições foram altamente cobertas pelos media nacionais como um “tes-
te” à continuação da Grécia na zona euro. Os gregos deveriam resolver o seu im-
passe político ora pela escolha entre um futuro alinhado com a Europa (partidos
160 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 7.8 Mediatização do posicionamento europeu dos partidos anti/pró-sistema

1.º momento eleitoral - 6 de maio de 2012


Partidos pró-sistema Partidos antissistema
ND PASOK DIMAR Syriza Aurora Dourada
Pró-Europa Pró-Europa Pró-Europa Anti-Europa Anti-Europa
Pró-euro Pró-euro Saída do euro

2.º momento eleitoral - 17 de Junho de 2012


Partidos pró-sistema Partidos antissistema
ND PASOK DIMAR Syriza Aurora Dourada
Permanência na zona euro – – Saída do euro –
Continuação na moeda Fim da moeda
única única

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Quadro 7.9 Mediatização da política económica europeia dos partidos anti/pró-sistema

1.º momento eleitoral - 6 de maio de 2012


Partidos pró-sistema Partidos antissistema
ND PASOK DIMAR Syriza Aurora Dourada
Pró-austeridade Pró-austeridade Antiausteridade –-
Populistas
antiausteridade
Renegociar acordo Alargamento do Renegociar acordo Rasgar acordo com a –-
com a troika prazo de pagamento com a troika troika
da dívida Declaração de guerra
à troika

2.º momento eleitoral - 17 de junho de 2012


Partidos pró-sistema Partidos antissistema
ND PASOK DIMAR Syriza Aurora Dourada
Negociar termos do Negociar termos do Negociar termos Rasgar acordo com –-
plano de resgate plano de resgate do plano de resgate a troika
Austeridade mais Austeridade mais Austeridade mais –- –
doce e mais suave doce e mais suave doce e mais suave
Manutenção dos Respeito pelo Antirresgate mas Futuro da Grécia –-
empréstimos memorando sem uma posição enquanto nação está
radical como o Syriza em risco

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.


MEDIATIZAÇÕES DA CRISE EUROPEIA 161

pró-sistema), ou um futuro pela saída Grécia da zona euro (Syriza). Se a escolha


eleitoral recaísse nesta segunda opção, representaria o caos político para a Grécia,
pois esta não conseguiria subsistir enquanto nação. A construção do caos e do
pânico político, caso o impasse político fosse resolvido pela vitória do Syriza, foi
possibilitado pela ameaça de a Grécia sair da zona euro. Esta ameaça foi ainda
construída mediaticamente por uma forte pressão externa proveniente de vários lí-
deres europeus, com mais frequência por líderes políticos alemães, e também pela
reação dos mercados financeiros.
Na terceira semana de análise, ou seja, no período de campanha eleitoral das
eleições de 17 de junho, uma edição alemã do Financial Times fez um apelo claro ao
voto nos conservadores da Nova Democracia, dirigindo-se ao Syriza como os “de-
magogos da esquerda radical”, e lembrou ainda aos gregos em que condições foi
emprestado o dinheiro à Grécia para evitar a sua bancarrota. Para além deste caso e
também na mesma semana, o ministro das finanças alemão profere as seguintes
frases: “Sejam quais forem os resultados das eleições o cenário económico não vai
mudar”; “O povo grego pode votar em quem quiser mas o plano de austeridade é
para cumprir”; “A Grécia mergulhou de tal maneira na crise que não é o ato eleito-
ral a possibilitar mudanças neste país”; “Tenho simpatia pelo povo grego mas as
condições não podem mudar”.6
Estas posições, ora da edição alemã do Financial Times, ora do ministro das fi-
nanças alemão, representam um condicionamento na liberdade de escolha demo-
crática por parte dos eleitores gregos. Estas intervenções ajudam no afunilar da
narrativa mediática por uma escolha pró-sistémica, detida como a única possível.
A escolha pelo Syriza é afastada enquanto uma verdadeira escolha por representar
o extremismo, a impossibilidade, a demagogia e a catástrofe. Para além disto, a
pressão externa orientada para a escolha pró-sistema, difundida pelos media nacio-
nais e principalmente protagonizada pelos líderes políticos alemães, traduz ainda
uma ideia de comando político europeu detido pela Alemanha e, por sua vez, a
Grécia é detida como periférica na liderança política europeia.

Análise dos resultados: o caso francês

Tal como as eleições legislativas gregas, também as eleições presidenciais francesas de


2012 foram alvo de uma forte cobertura mediática em França e por toda a Europa, pois
o contexto de crise económica e financeira na zona euro, acompanhado de um elevado
défice público em território francês, contribuíram para a extraordinária relevância
deste momento eleitoral (Kuhn, 2012).
As televisões portuguesas acompanharam também esta forte e generalizada
mediatização das eleições presidenciais francesas de 2012. O quadro 7.10 reflete
uma tentativa de medir quais as realidades sociais e económicas mais mediatiza-
das e mais correlacionadas presentes no processo eleitoral francês pelos canais de

6 SIC, terceira semana de análise.


162 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 7.10 Coocorrências entre a formação/resultados eleitorais e os restantes códigos desenhados para
a análise

Campanha eleitoral/ resultados eleitorais

Protagonistas
François Hollande 85
Nicolas Sarkozy 74
Líderes políticos de países europeus(1) 33
Marine Le Pen 30
Políticos relevantes na esfera política francesa(2) 26
Especialistas/comentadores/analistas(3) 18
Cidadão comum 12
François Bayrou 13
Jean-Luc Mélenchon 12
Mulheres dos candidatos 8
Líderes políticos nacionais(4) 7
Líderes políticos internacionais(5) 6
Representantes de instituições políticas europeias(6) 5
Membros de organizações económicas(7) 3
Espectro político/ideológico
Socialismo/socialismo 56
Extrema-direita/Frente Nacional 37
Esquerda 31
Direita/centro-direita 24
Extrema-esquerda/esquerda radical 12
Política europeia e finanças públicas nacionais
Futuro da Europa 38
Revisão do tratado europeu 33
Eixo franco-alemão 27
Desequilíbrio de forças na União Europeia 16
Economia de austeridade 16
Papel do Banco Central Europeu 6
Queda do governo holandês 4
Plano Europeu para o Crescimento 3
Espanha sob pressão 2
Indicadores económicos/sociais
Crescimento 33
Austeridade 27
Desemprego 11
Anti-imigração 11
Emprego 9
Assuntos eleitorais
Mudança 30
Punição eleitoral — voto de crise 22
Programa eleitoral de Hollande 17
Programa eleitoral de Sarkozy 8
Polémicas associadas à candidatura de Sarkozy 22
Enfoque geográfico
Países do sul 28
Países do norte/centro 26
Emoções
Reação dos mercados 11
(1)
Angela Merkel (31); Mario Monti (3); Mariano Rajoy (2); Wolfgang Schäuble (1); Soraya Saenz de Santamaria (1);
(2)
François Mitterrand (7); Jean-Marie Le Pen (7); Ségolène Royal (6); Dominique Strauss-Kahn (5); Nadine Morano
(militante da UMP) (1); Vítor Hugo (1); Charles de Gaulle (1);
(3)
Comentadores políticos nacionais (9); jornalistas (7); analistas financeiros (6); publicitários (1);
(4)
António José Seguro (5); Pedro Passos Coelho (2); Mário Soares (1); Carlos Zorrinho (1); Francisco Louçã(1);
António Rodrigues (PSD) (1); João Almeida (CDS) (1);
(5)
Muammar Kadafi (6); Barack Obama (1);
(6)
Mario Draghi (2); Amadeu Altafaj (1); Durão Barroso (1); Jean-Claude Juncker (1);
(7)
Olivier Blanchard (1);
Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.
MEDIATIZAÇÕES DA CRISE EUROPEIA 163

televisão nacionais. Este quadro organiza este objetivo por oito grupos distintos,
por famílias de códigos, estas famílias e os códigos correspondentes estão organi-
zadas por ordem decrescente do número de ocorrências.
De forma a facilitar a interpretação dos dados organizados no quadro 7.10, a
análise da campanha eleitoral e de formação do executivo nas presidenciais france-
sas decorrerá em dois planos. O primeiro plano invoca-se pela abordagem da me-
diatização dos principais candidatos presidenciais, bem como de algumas das suas
promessas eleitorais e das ideologias associadas. O segundo plano cumpre-se pela
contextualização da relevância das eleições presidenciais francesas de 2012 no con-
texto europeu.

Mediatização dos principais candidatos presidenciais: posicionamento


ideológico e campanha eleitoral

Como se verifica no quadro 7.10 a família de códigos com mais peso na análise, ou
seja, mais próxima mediaticamente do código relativo à campanha eleitoral e de
formação de governo, é a dos protagonistas. A mediatização do processo eleitoral
passou por uma elevada personalização dos candidatos mais relevantes às presi-
denciais francesas — François Hollande (85); Nicolas Sarkozy (74); Marine Le Pen
(30); François Byrou (13) e Jean-Luc Mélenchon (12). François Hollande, pela sua
vitória no Eliseu, foi o protagonista mais referenciado.
A abordagem das eleições pela forte personalização dos seus principais can-
didatos é um reflexo do sistema político francês. É um sistema semipresidencialis-
ta, sendo o poder executivo partilhado pelo presidente e pelo primeiro-ministro,
mas o sistema francês pressupõe a figura política do presidente como a predomi-
nante. A constituição da quinta república foi adotada em 1958, sob a presidência do
general De Gaulle, garantido a proeminência do executivo (detido pelo presidente)
sob o poder legislativo (Foucault e Nadeau, 2012).
Esta proeminência da figura presidencial transforma os momentos eleitorais
em França em espaços competitivos pela atenção de eleitores sob individualidades
(Foucault e Nadeau, 2012). As ideologias são ofuscadas por traços de personalida-
de. O quadro 7.11 demonstra o que atrás foi descrito: a campanha eleitoral e o
processo de formação de governo em França estiveram sujeitos a uma elevada per-
sonalização dos candidatos presidenciais e a uma básica distinção ideológica
partidária.
A personalização dos candidatos foi mais intensa relativamente a Sarkozy
e a Hollande. Sarkozy, com o slogan de campanha “França Forte”, foi construído
mediaticamente como um homem poderoso e forte, detentor de uma postura
agressiva e arrogante. São-lhe identificadas capacidades políticas, como a retó-
rica e o à-vontade perante públicos, foi mesmo apelidado pelos media de “ani-
mal político”. Por sua vez, Hollande projetou-se mediaticamente por três vias: a
primeira como um sucessor legítimo de Mitterrand, chegando mesmo a imitar o
estilo oratório do antigo presidente. Esta semelhança é visível na presente análi-
se pelo número de ocorrências a políticos relevantes na esfera política francesa,
no quadro 7.10, onde uma das personalidades mais referenciadas é François
164 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 7.11 Personalização dos principais candidatos e respetivos posicionamentos ideológicos

União por Um Movimento


Partido Socialista Frente Nacional Frente de Esquerda
Movimento Popular Democrático
Socialismo Direita Centrista Extrema-direita Extrema-esquerda
Esquerda Partido conservador –- Partido patriótico Esquerda radical
–- –- –- Partido nacionalista –-
François Hollande Nicolas Sarkozy François Bayrou Marine Le Pen Jean-Luc Melénchon
Pragmático Agressividade ––- Racista Candidato surpresa
Unificador Divisão Xenófoba Fenómeno das
Senhor normal Poderoso Revindica questões eleições
Reconciliador Oscilante populares
Razoável Arrogante Herdeira do trono
Moderado Animal político do pai
Sólido Presidente impopular Personalidade forte
Presidente
improvável
Sem carisma
Cinzento

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Mitterrand. A segunda refere-se à enfatização da capacidade de união de Hol-


lande, por ser um homem sólido, razoável e moderado. Por último, Hollande foi
ainda projetado como sendo um homem normal, distinguindo-se da conduta de
Sarkozy e Dominique Strauss-Kahn, estes eram visto como os “presidentes dos
ricos” (Kuhn, 2012). Hollande representou a candidatura da normalidade, e por
isso ele era detido antes das eleições presidenciais de 2012 como um candidato
sem carisma e, portanto, um presidente improvável.
O espectro ideológico e partidário foi menos explorado relativamente à per-
sonalização dos principais candidatos às eleições presidenciais. A caracterização
ideológica/partidária mesmo que fortemente ligada ao ato eleitoral em França —
como se verifica no quadro 7.10 é a segunda família mais próxima do código da
campanha eleitoral/formação de governo — é redutora e básica. Os partidos ideo-
logicamente distinguem-se entre o espectro da esquerda e da direita “moderada”,
ou entre o espectro da esquerda e da direita “extremista”. Como demonstra o qua-
dro 7.12 até à alternância socialista em 1981, a presidência era detida pela direita
tradicional. O comando do executivo detido pelos socialistas entre 1981-1988 ape-
nas foi retomado nas presentes eleições presidenciais de 2012.
Esta clivagem internalizada entre a esquerda e a direita foi massificada nas elei-
ções presidenciais de 2012. Depois de 17 anos de presidentes eleitos por partidos de
centro-direita, o Eliseu conheceu um novo presidente socialista — François Hollan-
de (Foucault e Nadeau, 2012). Justifica-se então que a mediatização das eleições pre-
sidenciais francesas decorresse entre o espectro esquerda vs. direita, associado à
alternância política protagonizada por um presidente socialista.
Como se comprova nos quadros 7.10 e 7.11 os partidos mais mediatizados fo-
ram: o Partido Socialista; a União por Um Movimento Popular e a Frente Nacional.
MEDIATIZAÇÕES DA CRISE EUROPEIA 165

Quadro 7.12 Resultado das eleições presidenciais francesas, Quinta República, 1965-2012

Candidato Votos Candidato Votos


Data
em exercício (em %) da oposição (em %)

1965 De Gaulle 55,2 Mitterrand 44.8


1969 Pompidou 58,2 Poher 41.8
1974 Giscard d'Estaing 50,8 Mitterrand 49.2
1981 Giscard d' Estaing 48,2 Mitterrand 51.8
1988 Mitterrand 54,0 Chirac 46.0
1995 Jospin 47,4 Chirac 52.6
2002 Chirac 82,2 Le Pen 17.8
2007 Sarkozy 53,1 Royal 46.9
2012 Sarkozy 48,4 Hollande 51.6

A mediatização dos dois primeiros justifica-se pela sua relação com o poder, a pre-
sidência foi apenas partilhada entre socialistas e a UMP. Relativamente à Frente
Nacional, a elevada mediatização deve-se à sua significância política pelo seu cres-
cimento eleitoral, nas eleições de 2012.
AFrente Nacional depois de 40 anos sob a liderança de Jean-Marie Le Pen reno-
vou-se através de sua filha. A ascensão de Marine le Pen à liderança da Frente Nacio-
nal inaugurou uma nova era política na extrema-direita em França. A nova liderança
modernizou a Frente Nacional. A procura do partido pela credibilidade e pela “nor-
malização” foi iniciada nas eleições presidenciais de 2007, mas foi ainda mais acentu-
ada depois de Marine assumir a liderança do partido em 2011. A nova liderança fez
um esforço no sentido de se afastar das afirmações e das posições controversas do
passado de Jean-Marie Le Pen, geralmente reconhecido pelo seu estilo demagogo.
Para além da redefinição da imagem pública da liderança da Frente Nacional, este
partido renovou-se ainda nas suas posições políticas. O novo manifesto económico
da Frente Nacional é marcado curiosamente por uma mudança à esquerda através
de revindicações pelo protecionismo social incorporado numa doutrina antiglobali-
zação. A base sociológica do eleitorado da FN foi alterada através de um discurso
ideológico mais vasto e além-fronteiras do seu tradicional eleitorado — incorporado
pela pequena burguesia e pela classe trabalhadora. Estas transformações impulsio-
naram uma nova perceção pública relativamente ao partido, como sendo mais mo-
derado e, portanto, politicamente mais aceitável (Ivaldi e Evans, 2012).
Para além destas alterações na ideologia e na imagem pública da liderança par-
tidária da FN, há ainda outros fatores que explicam esta ascensão da extrema-direita
em França, estes contextualizam-se no ambiente das eleições presidenciais de 2012.
A mudança do estatuto de Sarkozy como um líder de direita incontestável e confian-
te, para um presidente altamente impopular, levou muitos cidadãos a votarem na
FN (Ivaldi e Evans, 2012). Esta tendência eleitoral foi caracterizada mediaticamente
por um voto de crise (22) (quadro 7.10). Estes votos representam o “protesto”, a “rai-
va” e o “sofrimento” pelas consequências da situação económica em França. Sarkozy
chega mesmo a justificar o voto de crise como: “Os franceses estão zangados, querem
166 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 7.13 Mediatização das campanhas eleitorais dos principais candidatos às eleições presidenciais
francesas

Frente de
Movimento
Partido Socialista: União por Um Movimento Frente Nacional: Esquerda:
Democrático:
François Hollande Popular: Sarkozy Marine Le Pen Jean-Luc
François Bayrou
Melénchon
Criação de 60 mil Controlar a emigração Apelo ao voto Voto de desespero Voto de desespero
postos de trabalho em Hollande
Diminuir a idade Suspensão/restrições ao — Voto de raiva Voto de raiva
da reforma Tratado de Schengen
Congelar o preço Combater o terrorismo — Voto extremo —
dos combustíveis
Reduzir os salários Fortalecimento dos — Apelo ao voto —
dos políticos valores nacionais em branco
Aumento dos subsídios Valores do trabalho — — —
sociais
Aumento dos impostos Escândalo — — —
sob grandes fortunas do financiamento
da campanha eleitoral
de 2007
Taxar as transações Escândalo sexual — — —
financeiras de Domique Straus-Kahn
Eurobonds Autoelogio político — — —
Banco Europeu –– — — —
de Investimento
Renegociação — –– — —
do tratado europeu

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

manter o seu estilo de vida, estes votos representam pedidos de proteção. O voto em
Marine Le Pen — não há ninguém que pense que esta consegue realmente governar
a França — é uma forma de as pessoas informarem os altos responsáveis: olhem bem
para a nossa situação” (SIC, terceira semana de análise).
A elevada percentagem de votação em Marine Le Pen foi detida como uma ex-
pressão da crise, e a sedução deste eleitorado especialmente protagonizado por
Sarkozy no segundo turno das eleições presidenciais passou pela compreensão
deste “sofrimento” e deste desespero. Para além deste entendimento, o quadro
7.13demonstra que Sarkozy concentrou a sua estratégia eleitoral em questões
como o terrorismo, a emigração descontrolada, colocando mesmo a hipótese de
restringir, ou até mesmo suspender, o acordo de Schengen.7
Estas questões, associadas ao elogio dos valores do trabalho sob os que sobre-
vivem contando com subsídios sociais, ou a defesa do fortalecimento dos valores
nacionais, deram corpo à campanha eleitoral de Sarkozy. Foi uma campanha

7 http://europa.eu/legislation_summaries/glossary/schengen_agreement_pt.htm.
MEDIATIZAÇÕES DA CRISE EUROPEIA 167

construída pela sedução do eleitorado de Marine Le Pen, pois a UMP necessitava


dos seus votos para conseguir ascender ao Eliseu.
Por sua vez, a campanha eleitoral de Hollande concentrou-se em dois planos:
no plano nacional e no plano europeu. O primeiro foi “preenchido” por promessas
eleitorais como a criação de 60 mil postos de trabalho na área da educação; ou a re-
dução do salário dos políticos; o aumento dos impostos sob grandes fortunas, e
também pelo aumento das contribuições sociais. O segundo constituiu-se por pro-
messas que iriam mudar o rumo atual da Europa, defendendo o controlo das tran-
sações financeiras, a criação de um Banco Europeu de Investimento, os eurobonds e
a revisão do tratado orçamental europeu.
As promessas eleitorais de Hollande (17) foram mais mediatizadas relativa-
mente ao programa eleitoral de Sarkozy (8), como se comprova no quadro 7.10,
pois o socialista representava a mudança em França e na Europa. Este recusou a
ideia que a sua candidatura se encerrava num duelo fechado nas fronteiras de
França. Hollande, através da “Mudança é agora” — o seu slogan de campanha —
defendeu a transformação do caminho europeu pela convergência à esquerda em
França. Importa, de seguida, equacionar as posições dos principais candidatos às
eleições presidenciais francesas relativamente à Europa.

Mediatização dos principais candidatos presidenciais: posicionamento


à Europa

As eleições presidenciais francesas de 2012 foram mediatizadas não apenas como


um acontecimento importante no contexto francês, mas também como um aconte-
cimento determinante para a Europa, ou seja, estas deixaram de ser apenas uma
questão nacional para se transformarem numa questão europeia. O quadro 7.10 —
de coocorrência entre o código da campanha eleitoral/formação de governo com os
restantes códigos desenhados para a análise — revela-nos que a família correspon-
dente a questões europeias está bastante próxima do processo eleitoral em França.
O código futuro da Europa (38) foi o mais referenciado nas peças relativas à campa-
nha eleitoral e à formação de governo. As eleições presidenciais francesas de 2012
foram mediatizadas como um acontecimento determinante no futuro da Europa.
A urgência do momento europeu, contextualizado através de uma grave crise eco-
nómica e financeira, europeizou as eleições francesas, pois estas representaram
uma alternativa ao status quo da política económica europeia.
Dada a forte contextualização das eleições francesas como um acontecimento
determinante para o futuro da Europa, achámos relevante perceber qual o posicio-
namento dos principais candidatos relativamente a esta categoria. O quadro 7.14
reúne este objetivo.
O posicionamento à Europa é mediatizado a partir de Hollande e de Sarkozy,
e, de uma forma genérica, o primeiro representa a rutura com as atuais dinâmicas
europeias e o segundo é detido como um dos protagonistas dessas dinâmicas. Ou
seja, enquanto Hollande protagoniza o novo rumo europeu, Sarkozy é alinhado a
Merkel e às dinâmicas de poder promovidas pelo eixo franco-alemão, protagoni-
zado pelo “casal Merkozy”. Hollande incorpora um novo compromisso para a
168 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 7.14 Posicionamento à Europa dos principais candidatos às eleições francesas de 2012

Partido Socialista: François Hollande União por Um Movimento Popular: Sarkozy


Novo compromisso para a Europa Alinhado com Merkel
Novo rumo europeu Merkozy
Confronto com a Alemanha Apelos xenófobos
(Des)equilíbrio de forças na Europa Papel do Banco Central Europeu
Papel do Banco Central Europeu —
Agenda para o crescimento —
Marginalizado pelos chefes de Estado da Europa —

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.

Europa possibilitado pelo confronto com Alemanha, de forma a reequilibrar as for-


ças hegemónicas na Europa.
As eleições presidenciais de 2012 foram caracterizadas mediaticamente pelo
jogo do equilíbrio de forças no comando das políticas económicas na Europa. Este co-
mando é reconhecido no eixo franco-alemão, com a predominância da Alemanha na
liderança pela resolução da crise financeira. Hollande é visto como capaz de reequili-
brar a França relativamente à Alemanha, através do rompimento do eixo fran-
co-alemão “Merkozy”. Este rompimento é pretendido pela inscrição na zona euro de
uma agenda para o crescimento. O candidato socialista não descarta a necessidade de
disciplina orçamental no controlo das dívidas soberanas, mas quer reduzir a austeri-
dade e inscrever como prioridade europeia o crescimento económico.
Hollande encontra o caminho para o crescimento pela revisão do Tratado
Orçamental Europeu (33) (quadro 7.10). Defende que este tratado necessita de ser
revisto no sentido de inscrever nele uma genuína agenda para o crescimento. Cres-
cimento que, na sua opinião, deverá ser financiado pelo aumento das contribuições
por parte dos países mais estáveis economicamente no seio da Europa. Defende a
criação de um fundo de investimento capaz de promover a criação de emprego.
Outra proposta socialista no sentido de resolver a crise europeia, pela via do cresci-
mento, é o questionamento do papel do Banco Central Europeu, Hollande critica a
circunscrição do quadro de atuação legal deste banco. Defende que o BCE deveria
alargar a sua atuação concedendo empréstimos diretamente aos Estados.
Esta projeção de Hollande como promotor de um novo rumo europeu foi explo-
rada mediaticamente, em relação ao foco geográfico, numa dicotomia entre norte/cen-
tro e sul europeu (quadro 7.10).8 O país mais mencionado do bloco do sul foi Portugal e
o país mais referenciado do bloco norte/centro foi a Alemanha. Relativamente a Portu-
gal, é expectável que fosse o país mais mencionado, visto que a análise das eleições

8 Países do sul da Europa referenciados (55): Portugal (25); Espanha (12); Grécia (11); Itália (7); pa-
íses do norte e do centro da Europa referenciados: Alemanha (27); Holanda (5); Áustria (2); Di-
namarca (1); Bélgica (1).
MEDIATIZAÇÕES DA CRISE EUROPEIA 169

francesas foi efetuada a partir de canais de televisão portugueses. Mas esta referência a
Portugal foi homogeneizada pela perceção favorável que a vitória socialista em França
poderia provocar no nosso país. Hollande poderia representar um alívio na adminis-
tração da crise portuguesa, porque iria confrontar a Alemanha com uma nova possibi-
lidade — suavizar a austeridade pelo crescimento.
Esta perceção positiva da vitória de Hollande não foi geral. Nas duas primei-
ras semanas, correspondentes ao primeiro turno das eleições presidenciais de
2012, o socialista — François Hollande —, assinalado pelo crescimento que impul-
sionaria a mudança na Europa, foi “marginalizado” pelos mercados financeiros e
até por alguns líderes europeus. Angela Merkel distanciava-se de François Hollan-
de mostrando irredutibilidade na renegociação do tratado orçamental europeu.
Por sua vez, os mercados não reconheciam validade na alternativa apresentada por
Hollande, chegando mesmo a “castigar” as bolsas das principais praças europeias
devido à vitória socialista na primeira volta. Manifestavam receios relativos às con-
sequências que uma viragem à esquerda poderia ter para a França e para a Europa,
nomeadamente no relaxo do controlo das dívidas soberanas. “Os mercados têm re-
ceio que a vitória socialista se reflita num aumento da dívida” (RTP1, segunda se-
mana de análise). Para além do receio de uma “França socialista”, os mercados
também mostraram preocupações relativamente à mudança das dinâmicas do eixo
franco-alemão e às consequências que esse fenómeno representaria no comando
da política económica europeia. Estas últimas são bem visíveis nas seguintes ex-
pressões retiradas das televisões nacionais durante a análise: “A viragem à esquer-
da representou um duro golpe nos mercados, pois Hollande dificilmente fará
‘dupla’com a senhora da Europa” (SIC, segunda semana de análise); “Os mercados
habituados à liderança implacável de Merkel e Sarkozy temem agora que Hollande
provoque uma reviravolta nos caminhos europeus (SIC, segunda semana de análi-
se); ”Os investidores receiam que o fim da aliança Merkel e Sarkozy se traduza
num abrandamento dos esforços de solucionar a crise" (RTP1, segunda semana de
análise).
Esta retórica relativa à reação dos mercados a uma eventual vitória socialista
alterou-se a partir da terceira semana de análise, quando a vitória da esquerda pa-
recia cada vez mais inquestionável. A partir da terceira semana de análise, os mer-
cados começam a “aceitar” Hollande como uma escolha possível. Os mercados
começaram a reconhecer Hollande como um líder “razoável” e “moderado”, por-
tanto admitem-no como uma escolha legítima em França e para a Europa. “O mun-
do das finanças já se está ajustar a Hollande” (TVI, terceira semana de análise).
Para além do reconhecimento de Hollande, por parte dos mercados financei-
ros, vários líderes de países europeus e de várias instituições europeias também
manifestaram uma aceitação ao socialista e ao seu vínculo pelo crescimento. Inclu-
sivamente, na terceira semana de análise, começa-se a discutir um eventual plano
de crescimento europeu, “Bruxelas está a desenhar um novo pacto para o cresci-
mento, é como um novo plano Marshall para a Europa” (TVI, terceira semana de
análise). Pondera-se mesmo que este “novo plano Marshall” possa abranger uma
das propostas eleitorais de Holande — a criação de um fundo de investimento.
170 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Reflexões finais: análise comparativa do caso grego e do caso


francês

Através do quadro 7.15 relativo a um cruzamento de coocorrência entre o código


campanha eleitoral/formação de governo e os restantes códigos desenhados para
análise das eleições presidenciais francesas e das eleições legislativas gregas de
2012, podemos afirmar que estes dois momentos eleitorais foram cobertos de for-
ma distinta pelos canais de televisão nacionais.
As cinco famílias de códigos mais próximas ao processo eleitoral grego, e or-
ganizadas por ordem decrescente de relevância, foram: espectro político e ideoló-
gico; política europeia e finanças públicas nacionais, protagonistas, assuntos
eleitorais e indicadores económicos e sociais. No caso francês as cinco famílias
mais mediatizadas no processo eleitoral foram: protagonistas, espectro político e
ideológico, política europeia e finanças públicas nacionais e indicadores econó-
micos e sociais. Constatamos que o top 5 das famílias de códigos é o mesmo para
os dois momentos eleitorais, mas este distingue-se para cada momento eleitoral
na relevância que cada família adquire. Por exemplo, denota-se que o processo
eleitoral grego foi mediatizado através de uma forte presença das ideologias par-
tidárias, enquanto no caso francês os momentos eleitorais foram mediatizados
por uma forte personalização dos candidatos presidenciais como de outras per-
sonagens relevantes na esfera política francesa. Esta primazia da personalização
dos candidatos e de outras figuras relevantes relativamente às suas ideologias
justifica-se pelas diferenças entre o sistema político francês e grego. Enquanto a
Grécia é uma democracia republicana parlamentar, França é uma república de-
mocrática semipresidencialista. E no caso desta última, o sistema político pressu-
põe a figura política do presidente como a predominante, tendo implicações nos
momentos eleitorais através da sua transformação em espaços competitivos pela
atenção dos eleitores sob individualidades.
Mais importante do que constatar o peso que cada família de códigos teve na
análise, é perceber como estas cinco famílias foram contextualizadas mediatica-
mente para cada caso eleitoral. Portanto, de seguida iremos equacionar comparati-
vamente estas cinco famílias e os seus respetivos códigos para cada momento
eleitoral, de forma a reconstruir a(s) narrativa(s) mediática(s) presentes nos canais
de televisão nacionais relativamente à crise económica europeia.
A cobertura mediática das eleições legislativas gregas de 2012 foi fortemente
contextualizada através do impasse político entre uma escolha pelos partidos
pró-sistema (ND, PASOK e DIMAR) e os partidos antissistema (Syriza e Aurora
Dourada). Ideologicamente o eixo partidário pró-sistema foi aproximado por per-
tencer ao centro do espectro político, com a exceção do DIMAR que foi caracteriza-
do pela demarcação ao Syriza como sendo uma “esquerda menos radical”. Por sua
vez, o bloco antissistémico correspondia-se ideologicamente por pertencer aos ex-
tremos do espectro político.
Para além desta distinção básica, o eixo pró e o eixo antissistema afastavam-se re-
lativamente ao seu posicionamento à Europa e à política económica europeia. Os par-
tidos pró-sistema foram detidos mediaticamente como pró-europeus, pois defendiam
MEDIATIZAÇÕES DA CRISE EUROPEIA 171

o respeito do memorando através da implementação de medidas de austeridade, ou


seja, eram pró-europeus pois convergem com a política económica europeia. Já os par-
tidos antissistema foram considerados como antieuropeus, pois questionavam o
memorando e eram críticos da capacidade de a austeridade resolver a situação econó-
mica do seu país. Mediaticamente este bloco partidário foi constituído como antissis-
témico porque divergia da política económica europeia.
Ou seja, em última análise esta divisão partidária representa um futuro da
Grécia alinhado com a Europa, ou um futuro em que a Grécia teria que abandonar a
zona euro. Por outras palavras, as eleições legislativas gregas de 2012 representa-
ram uma escolha entre a manutenção do status quo económico europeu (partidos
pró-sistema) e a alternativa ao establishment económico europeu (Syriza) (Castro,
2011). Mas esta alternativa foi mediatizada pela impossibilidade e pela irredutibili-
dade da União Europeia em modificar o rumo da sua política económica, portanto
se a Grécia não se subordinasse a ela, a sua opção era colocar-se à margem da zona
euro. A escolha democrática pela alternativa foi encerrada numa narrativa de ca-
tástrofe, de impossibilidade e de instabilidade. Enquanto a escolha democrática
convergente com o modelo económico europeu é desenhada mediaticamente
como a possível e a única que garante estabilidade. Este discurso mediático pode
ser resumido nas seguintes “equações”:

— Pró-forças europeias — pró-austeridade — respeito pelo memorando — cen-


tro/moderados (ND, PASOK e DIMAR) — “sim à Grécia na zona euro”— estabi-
lidade política;
— Antiforças europeias — antiausteridade — “rasgar acordo com a troika” —
extremismo/esquerda radical — saída da Grécia da zona euro e regresso à
dracma — caos político.

Estes discursos foram ainda possibilitados pelo auxílio, por parte dos media, de várias
declarações fragmentadas e em tom de ameaça: “A Grécia tem que cumprir os seus
compromissos” (Christine Lagarde, RTP1); “Nós queremos a Grécia no euro mas esta
tem que cumprir os compromissos acordados independente da escolha partidária”
(Durão Barroso, TVI). Os canais de televisão nacionais potenciaram, em parte, a cons-
trução do procedimento eleitoral grego como paternalista, em que algumas figuras
políticas relevantes mas também alheias à esfera política nacional estavam habilitadas
a insurgirem sob o processo eleitoral grego com “ultimatos”.
Pode-se resumir que as eleições legislativas gregas de 2012 foram mediatiza-
das pelos canais de televisão nacionais através da construção de uma narrativa da
impossibilidade de mudança. O discurso mediático afunilou-se numa única esco-
lha democrática possível — pró-sistémica. Em contraste está a cobertura mediática
pelos canais de sinal aberto nacionais das eleições presidenciais francesas.
A cobertura mediática relativamente ao espectro ideológico nas eleições
presidenciais francesas girou em redor da UMP, do Partido Socialista e da Fren-
te Nacional. Os dois primeiros são partidos do poder e a terceira força política
mais votada foi a FN, o que torna expectável que a cobertura mediática se cons-
trua essencialmente a partir destes. A distinção ideológica entre estes partidos
172 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

manifesta-se essencialmente pela divisão entre esquerda/direita. Embora em


França esteja sempre bem presente esta clivagem, nas eleições de 2012 ela foi
ainda mais refincada devido à alternância política pela esquerda — Partido So-
cialista — 17 anos depois. Mais do que ideologicamente estes três partidos fo-
ram mediatizados através de uma forte personalização dos seus candidatos.
Marine Le Pen foi caracterizada com traços de personalidade fortes e também
como racista e xenófoba. Nicolas Sarkozy foi representado como um “homem
poderoso”, agressivo e arrogante, a sua conduta era o espelho da elite política
francesa. Enquanto Hollande afrontava mediaticamente a conduta do seu prin-
cipal candidato pela “candidatura da normalidade”, o candidato socialista foi
representado mediaticamente como um “homem normal”.
Para além do distanciamento dos dois principais candidatos à presidência fran-
cesa por traços de personalidade distintos, estes foram ainda afastados pelo seu posici-
onamento à Europa. Hollande caracteriza-se pela defesa do novo rumo europeu
possibilitado pelo confronto com Merkel de forma a reequilibrar as forças no comando
político europeu, ou seja, de forma a reequilibrar o eixo franco-alemão. Por sua vez, a
imagem mediática de Sarkozy alimenta-se pelo seu alinhamento à “Senhora da Euro-
pa”, protagonizado pelo “casal Merkozy”. O confronto à liderança política “Mer-
kozy” possibilita-se pela inscrição de uma genuína agenda para o crescimento capaz
de rebalancear a austeridade. Hollande através do seu slogan “Amudança é agora” de-
fendeu a mudança na Europa através do crescimento potenciado pela criação de euro-
bonds, ou pela criação de um fundo de investimento europeu e pela renegociação do
tratado europeu, entre outras propostas.

— François Hollande — “homem normal” — “mudança é agora” — afronta a


Merkel — reequilíbrio das forças políticas europeias — crescimento — novo
rumo europeu;
— Nicolas Sarkozy — poderoso — “França forte” — “casal Merkozy” — dese-
quilíbrio de forças no eixo franco-alemão — austeridade — manutenção da
conjuntura política e económica na Europa.

Como demonstram as anteriores “equações”, tal como no caso grego, também o


discurso mediático das eleições presidenciais francesas foi construído entre uma
escolha pela manutenção do modelo económico europeu (protagonizada por Sar-
kozy) ou pela mudança desse modelo (protagonizada por Hollande). Mas enquan-
to a alternativa política na Grécia foi afastada pela impossibilidade, nas eleições
francesas a alternativa foi viabilizada como possível. Por outras palavras, a alterna-
tiva política na Grécia liderada pelo Syriza foi invalidada como não sistémica, deti-
da como impossível, extremista, demagoga e catastrófica. Por sua vez, a alternativa
política em França nasceu no interior do próprio sistema político através da vitória
socialista, desenhada mediaticamente como moderada, credível e respeitável.
Os canais de televisão nacionais projetaram as eleições francesas e gregas de
2012 de forma notoriamente diferente. As eleições legislativas gregas, país tido como
periférico ao poder político europeu, foram contextualizadas como um assunto nacio-
nal capaz de prejudicar o rumo europeu pelo questionamento da sua política
MEDIATIZAÇÕES DA CRISE EUROPEIA 173

económica. Portanto, o discurso mediático afunilou-se na defesa do status quo eco-


nómico europeu possibilitado apenas por uma escolha possível — pró-sistémica.
Enquanto em França, país pertencente à liderança política europeia, as eleições foram
contextualizadas como potenciadoras de uma mudança no rumo das políticas econó-
micas europeias. O discurso mediático foi construído pela mudança do establishment
económico permitido pela escolha política na alternativa — em Hollande.
Pelo que atrás foi descrito as televisões nacionais, através da análise das
eleições legislativas gregas e das eleições presidenciais francesas de 2012, reproduzi-
ram duas narrativas distintas no mesmo espaço temporal relativamente à crise eco-
nómica europeia. Portanto, a nossa hipótese — existência de diferentes narrativas
referentes à crise europeia — confirma-se.
É importante ainda realçar que estas duas narrativas distintas da crise econó-
mica europeia foram construídas mediaticamente pelos mesmos “veículos” comu-
nicativos — os canais de televisão nacionais — num país intervencionado pela
troika. Portugal também sente o peso da política económica europeia baseada em
austeridade, também se discute se esta receita é a mais adequada para resolver os
problemas da crise económica. E se por um lado, através do discurso mediático das
eleições gregas, se transporta a ideia que Portugal tem que continuar a aplicar as
medidas de austeridade, por outro, através do discurso das eleições francesas, po-
de-se abrir um espaço na construção de novas referências e de novos imaginários
sociais que coloquem em causa a economia de austeridade.
Esta dualidade foi visível na nossa análise pela voz atribuída aos políticos na-
cionais em cada momento eleitoral. As eleições legislativas gregas deram voz a per-
sonalidades do governo, bem como a personalidades dos partidos que lhe estão
associados — PSD e CDS — o que traduz de alguma forma o interesse pela manu-
tenção da política económica europeia, pois o governo português é um dos seus
promotores. Enquanto nas eleições presidenciais francesas os agentes políticos
nacionais mais referenciados pertenciam à oposição, mais frequentemente a indi-
vidualidades do Partido Socialista português, incorporada por visões mais diver-
gentes à economia de austeridade.
Que consequências tiveram estas duas narrativas distintas sobre a crise eco-
nómica europeia nas referências e nos imaginários sociais nacionais? Não conse-
guimos responder a esta pergunta. O que podemos afirmar é que estas duas
narrativas mediáticas refletem os processos eleitorais em duas democracias libe-
rais, contextualizadas num ambiente de crise económica europeia. No caso grego,
a escolha democrática foi afunilada numa única possível, enquanto no caso francês
houve espaço para a edificação de alternativas políticas e, portanto, houve espaço
para edificação de escolhas democráticas.
174 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 7.15 Coocorrências entre o código campanha eleitoral/ formação de governo e os restantes códigos em
análise

Códigos/Grécia Códigos/França
Política europeia e finanças nacionais Política europeia e finanças nacionais
Acordo/programa com a troika (34) Futuro da Europa (38)
Futuro da Europa (29) Revisão do tratado europeu (33)
Saída da Grécia do euro (28) Eixo franco-alemão (27)
Renegociação/alívio das metas do resgate financeiro (21) Desequilíbrio de forças na União Europeia (16)
Economia de austeridade (13) Economia de austeridade (16)
Risco de incumprimento (5) Papel do Banco Central Europeu (6)
Espanha sob pressão (3) Queda do governo holandês (4)
Plano Europeu para o Crescimento (3)
Espanha sob pressão (2)
Emoções Emoções
Reação dos mercados financeiros (13) Reação dos mercados financeiros (11)
Apreensão/medo/desespero (11)
Alívio (8)
Enfoque geográfico Enfoque geográfico
Países do sul da Europa (20) Países do sul da Europa (28)
Países do norte/centro da Europa (15) Países do norte/centro da Europa (26)
Outros países (3) Outros países
Protagonistas Protagonistas
Candidatos e políticos relevantes na esfera política grega (51) Candidatos presidenciais (214)
Líderes políticos europeus (18) Líderes políticos europeus (33)
Cidadão comum (15) Políticos relevantes na esfera política francesa (26)
Especialistas/analistas/comentadores (12) Especialistas/comentadores/analistas (18)
Representantes de instituições políticas europeias (9) Cidadão comum (12)
Representantes políticos portugueses (7) Esposas dos candidatos (8)
Membros de organizações económicas (3) Líderes políticos nacionais (7)
Representantes de instituições políticas europeias (5)
Membros de organizações económicas (3)
Instituições políticas/económicas Instituições políticas/económicas
europeias/internacionais europeias/internacionais
Instituições políticas europeias (28) Instituições políticas europeias
FMI e troika (20) FMI e troika
Espectro ideológico Espectro ideológico
Conservadores/Nova Democracia (60) Socialista (56)
Socialistas/PASOK (57) Extrema-direita/Frente Nacional (37)
Partidos anti e pró-sistema (56) Esquerda (31)
Esquerda radical/Syriza (48) Direita/centro direita (24)
Aurora Dourada/extrema-direita (18) Extrema-esquerda/esquerda radical (12)
Esquerda Democrática (11)
Outros partidos (5)
Indicadores económicos/sociais Indicadores económicos/sociais
Austeridade (30) Crescimento (33)
Bancarrota (12) Austeridade (27)
Desemprego (8) Desemprego (11)
Recessão (8) Anti-imigração (11)
Crescimento (6) Emprego (9)
Anti-imigração (5)
Criminalidade (1)
Corrupção (1)
Assuntos eleitorais Assuntos eleitorais
Impasse político (67) Mudança (30)
Punição eleitoral/voto de crise (24) Punição eleitoral/voto de crise (22)
Pressão externa para o entendimento entre os partidos (20) Programa eleitoral de Hollande (17)
Programa eleitoral de Sarkozy (8)
Polémicas associadas à candidatura de Sarkozy (8)

Fonte: Projeto Jornalismo e Sociedade.


Capítulo 8
Cobertura mediática da crise na Europa
Análise comparativa entre as narrativas sobre a crise nos países sob
assistência, nos países do norte e centro da Europa e no Reino Unido

Susana Santos, Gustavo Cardoso e Décio Telo

Introdução

A crise económica que se arrasta desde 2008 teve um grande impacto na confiança
no projeto europeu e provocou uma discussão sobre a coordenação económica na
zona euro. Debateu-se a possibilidade da saída de alguns países da zona euro e até
o possível desmantelamento total da mesma. Esta crise aprofundou algumas dis-
paridades internas e trouxe ao debate a questão das dicotomias entre os países do
norte vistos como cumpridores e produtivos, e os países do sul muitas vezes retra-
tados como irresponsáveis e culpados do mal que a toda a Europa se foi alastrando.
Fomentou-se a ideia dos países do norte e do centro da Europa enquanto líde-
res do projeto europeu e intensificou-se em particular a cooperação entre Alema-
nha e França, as duas grandes potências europeias, personalizadas na figura dos
seus chefes de Estado, Nicolas Sarkozy (e mais tarde François Hollande) e Angela
Merkel. Surgiu no vocabulário da crise a expressão “Merkozy”, que remetia não
apenas para a proximidade ideológica dos dois protagonistas, mas também para a
crescente colaboração dos dois países mais poderosos na tentativa de resolução de
um problema europeu.
Desta forma, a crise trouxe ao debate público a questão das assimetrias de po-
der dentro da união, que são representadas nos dois grandes extremos: por um
lado os países da Europa do norte e central, de maior desenvolvimento económico
e político, com o eixo franco-alemão no comando, e os países do sul, vistos num
misto de vítimas de um défice de representação e poder dentro da união e culpados
da crise europeia.
Numa Europa cada vez mais tensa e dividida interessa saber como os media
estão a ajudar a construir a opinião pública nos diversos países, nomeadamente no
que concerne aos culpados e responsáveis por resolver o problema, as soluções a
ser aplicadas e o papel das instituições europeias.

175
176 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Enquadramento teórico

Uma das ideias mais presentes e transversais em toda a sociedade europeia será a
de que o jornalismo enquanto pilar da democracia desempenha o importante papel
de vigilante do ambiente sociopolítico e de criador de um agenda-setting com temas
relevantes que permitam ao cidadão fazer escolhas informadas (Gurevitch e Blum-
ler, 1993).
Debate-se hoje o papel dos media na constituição de uma esfera pública euro-
peia, vista por muitos como crucial para a manutenção de uma democracia euro-
peia. Por esfera pública europeia entenda-se, antes de mais, “uma esfera pública
europeia que implica um debate público comum levado a cabo através de uma
agenda noticiosa partilhada a nível europeu” (Vreese, 2008).
É fundamental conhecer o contributo dos media nacionais na criação deste es-
paço comum que se afirma como cada vez mais essencial na construção europeia.
Será necessário no entanto ter em atenção que os sistemas mediáticos na Europa
são muito diferentes entre si.
É possível verificar várias tendências comuns ao jornalismo nos diversos paí-
ses europeus nos últimos anos, tais como a penetração do entretenimento na infor-
mação e a revolução tecnológica que expandiu as possibilidades comunicacionais e
esbateu fronteiras
Será no entanto erróneo pretender retratar o jornalismo europeu como homo-
géneo e uno. As tradições jornalísticas na Europa são múltiplas e diversas.
Daniel Hallin e Paolo Mancini (2004) identificaram padrões comuns em três
grupos de sistemas de media europeus com base em quatro fatores: i) a estrutura
dos mercados de media, ii) o nível de paralelismo político para com o sistema parti-
dário, iii) o nível de profissionalização do jornalismo e iv) o nível de intervenção do
Estado. Os autores criaram a partir dessa conjugação de fatores três grandes cate-
gorias de sistemas mediáticos: o sistema pluralista polarizado característico dos
países da margem norte do Mediterrâneo (com baixa circulação de jornais, alto pa-
ralelismo, fraca profissionalização, forte intervenção do Estado), o sistema demo-
crático corporativo da Europa central e do norte (alta circulação de jornais, menos
paralelismo, forte profissionalização, forte intervenção do Estado mas com prote-
ção da liberdade de imprensa) e o sistema atlântico ou liberal (circulação mediana,
imprensa neutra e sem paralelismo no sistema político, forte profissionalização,
sem intervenção do Estado — imprensa de mercado). Os autores alertam para o
facto de os países que integram estes grupos serem também diferentes entre si, ape-
sar de partilharem padrões comuns importantes.
Com efeito, o jornalismo europeu é muito diverso. O jornalismo italiano, que
caberia no modelo pluralista polarizado proposto por Hallin e Mancini, é tipica-
mente mais partidário e menos comprometido com a autonomia profissional, en-
quanto nos países da Europa do norte (modelo democrático corporativo) existe um
maior compromisso para com a imparcialidade e objetividade (Golding, 2008).
É neste panorama de diversidade que se impõe a questão de como encontrar o
tão necessário espaço comum, a esfera pública europeia. Ramussen (2013) defende
que a diversidade não impede a concretização de uma ideia de esfera pública, pois
COBERTURA MEDIÁTICA DA CRISE NA EUROPA 177

é possível que esta se construa na base de uma multitude articulada de redes de co-
municação interligadas. É necessária a construção de um discurso supranacional
coeso que não deixe de abarcar em si as diferenças.
Acima de tudo, e como refere Peters (2004), a europeização do debate público
requer um “sentido histórico comum” para além do imaginário coletivo de uma co-
munidade política económica ou geográfica.
Considerando o período especialmente tenso que atravessamos, marcado
pela crise económica, será também de grande relevância atentar na forma como
as diferentes posições que os países ocupam perante a crise se refletem nas suas
narrativas mediáticas pois, como refere Krzyzanowski (2009), “Essas crises (so-
ciais, políticas e económicas) são definidas como momentos perturbadores da
história durante as quais uma aceleração singular de construções explíci-
tas/implícitas da esfera pública é crucial. É também no seio das crises que as
perceções sensíveis de objetos de referência pública (...) são particularmente
salientes”.
Neste sentido, será importante perceber se existem efetivamente discursos
díspares sobre a crise assentes em perceções diferentes daquilo que é a Europa,
sendo que o conceito de Europa ou de identidade europeia é ainda difícil de
definir.
A “Europa” enquanto comunidade será “imaginada” no conceito de Ander-
son (1983), segundo o qual todas as comunidades são imaginadas pois “Mesmo os
membros da mais pequena nação nunca conhecerão a maior parte dos seus conci-
dadãos, conhecê-los ou até mesmo ouvir falar deles, mas nas mentes de cada um
vive a imagem das suas comunidades”.
Chalániová (2013) acrescenta ainda que esta comunidade imaginada, cuja
identidade se define e redefine sempre de forma um pouco fragmentada, muitas
vezes necessita de um “outro” do qual o “eu” se distingue e assim melhor se
define.
Mas como alerta a autora, o “outro” não tem necessariamente que ser externo
à comunidade, ele pode também ser encontrado no seu seio.
As dicotomias sul/norte tão discutidas neste contexto de crise podem ser um
bom exemplo de como a identidade europeia se encontra num processo de redefi-
nição que corre riscos de criar um ou vários “outros” dentro de si mesma.
Pretendemos com a nossa análise mapear um discurso comum sobre a crise e
identificar possíveis disparidades nos discursos dos vários países que possam cul-
minar a construção de um “outro” dentro da própria união.
Para tal, analisaremos países com três diferentes posições perante a crise e a
construção europeia. Os países do sul mais atingidos pela crise que se encontram
sob programas de assistência (Portugal, Espanha e Itália), os países do centro da
Europa (Bélgica, Holanda, Alemanha e França), e o Reino Unido, que tem
mantido uma distância controlada face ao processo de integração, sendo que rei-
na na opinião pública e nos media um crescente euroceticismo. Como refere
Krzyzanowski (2009), “Na imprensa britânica, a perceção da Europa e a aborda-
gem a acontecimentos em países estrangeiros (europeus) permanece praticamen-
te a mesma e está enraizada na perceção ”eurocética" ou de “pragmatismo
178 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

britânico” do espaço europeu que é especificamente britânica". Desta forma, con-


siderámos não incluir o Reino Unido na segunda categoria onde se encontram ou-
tros países do centro e norte da Europa com uma visão em geral pró-europeia e
tomámos a decisão de construir uma nova categoria que isolasse o Reino Unido
dos outros grupos de países.
Pretendemos assim perceber se existem posições diferentes em cada catego-
ria de países perante a questão europeia e se estas posições se traduzem em diferen-
tes tipos de discurso sobre a Europa.

Metodologia

Pretendemos identificar as semelhanças e diferenças das perceções sobre a crise


nas duas categorias de países mencionadas, através da análise da cobertura mediá-
tica de um conjunto de onze eventos noticiados entre 2010 e 2012.
Foram selecionados onze períodos de relevância política e económica no con-
texto da crise:

1.º evento: 11-12 de fevereiro de 2010: cimeira da UE — papel dos governos e do FMI.
2.º evento: 2 de maio de 2010: intervenção na Grécia.
3.º evento: 16 de dezembro de 2010: mudança no tratado da UE.
4.º evento: 5 de agosto de 2011: BCE pede mais medidas de austeridade a Itália.
5.º evento: 5 de outubro de 2011: greve geral na Grécia.
6.º evento: 26-27 de outubro de 2011: cimeira UE — fundo de estabilidade.
7.º evento: 12-13 de novembro de 2011: resignação de Berlusconi/ nomeação de Monti.
8.º evento: 23 de novembro de 2011: livro verde sobre obrigações de estabilidade.
9.º evento: 23 de maio de 2012: cimeira da UE — crescimento, austeridade, atenção
sobre Espanha, encontros governamentais no Reino Unido.
10.º evento: 28-29 de junho de 2012: cimeira UE sobre a crise da dívida soberana.
11.º evento: 15 de julho de 2012: declaração de Merkel sobre a necessidade de ade-
são a metas orçamentais e monotorização europeia.

Procedemos a uma análise de conteúdo da cobertura mediática sete dias antes e


sete dias depois destes eventos.
A análise comparativa será feita entre seis países, aqui divididos em três cate-
gorias analíticas: países sob assistência financeira, países centro/norte e Reino
Unido.
Para a primeira categoria trabalhámos com dados referentes a Espanha, Portugal
e Itália. Na segunda categoria integrámos França, Alemanha, Holanda e Bélgica. Na
terceira categoria, optámos por isolar o Reino Unido por duas razões: a primeira
prende-se com uma questão de divisão em termos do sistema mediático: Hallin e
Mancini chamaram a atenção para o facto de a imprensa britânica ser fundamental-
mente diferente da restante imprensa europeia, enquadrando-a no grupo da imprensa
atlântica ou liberal em conjunto com a imprensa norte-americana. A segunda razão
pela qual se opta por analisar este país numa terceira categoria tem que ver com o seu
COBERTURA MEDIÁTICA DA CRISE NA EUROPA 179

posicionamento geopolítico e a sua desconfiança face ao aprofundamento do pilar


económico da União Europeia, que conduziu a que entre outras opções o Reino Unido
não tenha aderido ao euro.
De referir ainda que apesar de Itália ser um país de grande peso político e eco-
nómico na Europa, optamos aqui por inclui-lo no primeiro grupo porque faz parte
dos países mais afetados pela crise.
Os dados portugueses foram recolhidos pela equipa do Projeto Jornalismo e
Sociedade e os dados dos outros países foram retirados dos relatórios produzidos
pelas equipas de investigação de cada país no âmbito do projeto The Euro Crisis,
Media Coverage, and Perceptions of Europe within the EU da Reuters Institute of the
Study of Journalism, coordenado pelo professor Robert Picard que amavelmente nos
cedeu o codebook e nos permitiu o acesso aos relatórios.1
No caso português foram analisados os dois jornais de referência, Público
(36,5%) e Diário de Notícias (26,5%), o jornal popular Correio da Manhã (10,9%) e o jor-
nal económico Jornal de Negócios (26,2%). Ao todo foram analisados 688 artigos. To-
dos os jornais analisados são de tiragem diária, incluindo os fins de semana, exceto
o Jornal de Negócios, que é distribuído apenas nos dias úteis.
Em Espanha os jornais selecionados foram o jornal económico Expansion
(17,7%), o jornal El País de tendência ideológica de esquerda (42,2%), o conservador
ABC (17,2%) e o centrista com mais tiragens, El Mundo (20,9%), perfazendo um to-
tal de 1062 peças analisadas.
No caso italiano analisou-se o jornal económico Il Solle 24 Ore (43,1%), o libe-
ral La Repubblica (21,3%), o conservador Il Giornale (11,3%), e o mais vendido de ca-
rácter ideológico mais liberal, Il Corriere della Sera (24,3%).
Os jornais franceses escolhidos para análise foram o diário financeiro Les
Echos (que perfez 33,4% das peças), o popular de maior circulação Le Parisien (5,6%)
e dois jornais de referência: Le Figaro (25%), de carácter mais conservador, e Le Mon-
de (36%), com tendências ideológicas mais centro-esquerda. Foram ao todo analisa-
das 1142 peças.
Na Alemanha analisou-se jornal financeiro Handelsblatt (32% da amostra),
o tabloide Even Bild (8,7%), o conservador Frankfurter Allgemeine (31,8%) e o libe-
ral Süddeutsche Zeitung (27,5%). O jornal Handelsblatt tem uma tiragem de cinco
dias por semana e os outros três jornais de seis. Analisaram-se 2280 peças.
Os media belgas analisados foram o jornal de negócios De Tijd (32,2), os jornais
de referência De Standaard (30,6%) e De Morgen (25,9%), e o jornal popular Het Laats-
te Nieuws (11,3), num total de 793 peças.
Na Holanda analisaram-se os jornais de referência, NRC Handelsblad (32,9%) e
De Volkskrant (27,7%), o jornal financeiro Het Financieele Dagblad (30,4%) e o jornal po-
pular de Telegraaf (8,9%). Foram analisadas 671 peças.
No Reino Unido os jornais selecionados para análise foram The Financial Ti-
mes (41,3%), The Guardian (30,1%), The Times (21,3%) e o tabloide The Sun (7,3%).
O número total de notícias analisadas foi 2074.

1 Disponível em https://reutersinstitute.politics.ox.ac.uk.
180 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

A análise foi feita através de um sistema de codificação em SPSS, cujo codebook


se encontra em anexo.

Resultados

Para efeitos de descrição de dados e para mais facilmente dar a entender as grandes
questões que pretendemos ver respondidas, agrupamos as 12 variáveis em sete
grupos:

1) Protagonistas da crise;
2) Narrativa sobre as origens da crise e atribuição da responsabilidade de resol-
ver o problema;
3) As soluções indicadas a longo e curto prazo;
4) Benefícios e custos da existência da moeda única;
5) Principais beneficiários e principais prejudicados pela crise da zona euro;
6) Enquadramento geopolítico das peças;
7) Retrato das instituições europeias e do BCE;
8) Retrato das consequências das medidas de austeridade.

1. Protagonistas da crise

Em Portugal, Angela Merkel foi a protagonista mais referida, com 18,1% das cita-
ções em seu nome, seguida de Nicolas Sarkozy com 5,4%. Em Espanha, também
Angela Merkel (14,4%) e Sarkozy (6,8%) foram os protagonistas, enquanto em Itá-
lia a Merkel (17,2%) se segue Mario Monti (11%).
Também nos países da Europa central, a protagonista das notícias foi Merkel
(Alemanha 12,3%, França 20,6%, Holanda 18,9%, Bélgica 21,5%), sendo que Sar-
kozy foi o segundo mais citado em todos, à exceção da Bélgica, onde Herman van
Rompuy se destacou como segundo mais citado.
No Reino Unido, Merkel surge como segunda personalidade mais citada
(14,7%) quase a par da primeira, David Cameron (14,9%).
A protagonista da crise nas narrativas mediáticas foi sem dúvida a chanceler
alemã Angela Merkel. De notar também que o presidente francês Nicolas Sarkozy
foi o segundo mais citado em cinco dos países em análise, o que remete para o eixo
franco-alemão enquanto principal centro de poder e liderança no contexto da crise
europeia.

2. Origens e responsabilidades

Nos dados referentes à primeira variável que contemplava as origens da crise indi-
cadas nas peças em análise, verificamos uma alta percentagem de peças que não in-
dicavam qualquer tipo de origem da crise. Em Itália, França e Reino Unido menos
de 20% das peças analisadas tratavam do assunto, assim como em Portugal (cerca
de 26%). Espanha, Alemanha, Holanda e Bélgica registaram um número mais alto
COBERTURA MEDIÁTICA DA CRISE NA EUROPA 181

Quadro 8.1 Origens da crise nos países sob assistência

Portugal Itália Espanha

Condições iniciais e estrutura do euro 4,7 3,4 7,5


Políticas industriais (nacionais) 1,2 0,6 5,5
Políticas fiscais e sociais (nacionais) 2,8 4,6 5,5
Políticas de bancos e instituições financeiras 6,3 4,6 8,0
Raízes políticas 8,7 2,3 8,5
Tratado de Maastricht 0,0 0,4 0,7
Banco Central Europeu 0,3 0,2 0,2
Raízes económicas 2,0 0,5 2,7
Outro 0,0 1,2 1,6
Nenhum 74,1 82,2 59,9
Total 100,0 100,0 100,0

Quadro 8.2 Origens da crise nos países do norte/centro

França Alemanha Holanda Bélgica

Condições iniciais e estrutura do euro 6,2 4,6 8,2 6,2


Políticas industriais (nacionais) 1,3 4,5 3,0 2,9
Políticas fiscais e sociais (nacionais) 5,3 12,1 8,3 18,0
Políticas de bancos e instituições financeiras 3,5 8,9 6,7 12,7
Raízes políticas 2,3 2,9 7,3 8,3
Tratado de Maastricht 0,5 0,4 2,1 2,3
Banco Central Europeu 0,0 0,0 0,0 0,0
Raízes económicas 0,5 1,8 0,0 0,0
Outro 0,2 0,6 4,8 4,2
Nenhum 80,1 64,2 53,6 45,4
Total 100,0 100,0 100,0 100,0

Quadro 8.3 Origens da crise no Reino Unido

Reino Unido

Condições iniciais e estrutura do euro 7,3


Políticas industriais (nacionais) 0,9
Políticas fiscais e sociais (nacionais) 1,0
Políticas de bancos e instituições financeiras 5,4
Raízes políticas 2,5
Tratado de Maastricht 0,0
Banco Central Europeu 0,1
Raízes económicas 0,5
Outro 1,1
Nenhum 81,3
Total 100,0
182 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 8.4 Responsabilidade nos países sob assistência

Portugal Itália Espanha

Países com problemas de dívida 18,9 15,1 17,4


Países sem problemas de dívida 3,5 3,7 8,4
Membros da zona euro 24,1 24,5 13,4
União Europeia 15,4 14,9 16,3
Banco Central Europeu 2,5 9,1 5,2
FMI/ Banco Mundial 1,7 1,4 0,3
Bancos, investidores e outros 0,9 2,2 0,8
Outro 0,4 4,2 0,8
Nenhum 32,6 24,9 37,6
Total 100,0 100,0 100,0

Quadro 8.5 Responsabilidade nos países do norte/centro

França Alemanha Holanda Bélgica

Países com problemas de dívida 4,1 10,5 12,1 13,6


Países sem problemas de dívida 2,0 6,2 2,2 1,0
Membros da zona euro 20,0 18,2 46,2 30,4
União Europeia 2,5 5,0 3,9 13,4
Banco Central Europeu 2,6 4,0 8,6 6,9
FMI/ Banco Mundial 1,0 1,3 3,4 1,9
Bancos, investidores e outros 1,3 3,5 0,6 2,4
Outro 0,4 3,7 3,1 1,6
Nenhum 66,1 47,5 19,8 28,8
Total 100,0 100,0 100,0 100,0

Quadro 8.6 Responsabilidade no Reino Unido

Reino Unido

Países com problemas de dívida 1,4


Países sem problemas de dívida 0,4
Membros da zona euro 7,4
União Europeia 1,8
Banco Central Europeu 2,4
FMI/ Banco Mundial 0,4
Bancos, investidores e outros 0,1
Outro 2,7
Nenhum 83,4
Total 100,0
COBERTURA MEDIÁTICA DA CRISE NA EUROPA 183

de peças que referiam esta questão, sendo que, apesar disso, em nenhum dos casos
elas perfizeram mais de 40%.
Na categoria dos países sob assistência destacam-se as raízes políticas com 8,7%
em Portugal e 8,5% em Espanha. A distribuição no caso italiano é mais equilibrada e as
percentagens de cada hipótese mais baixas devido aos 82,2% na categoria “nenhum”.
No grupo dos países do norte/centro, a origem da crise tende a ser atribuída às políticas
fiscais e sociais nacionais, que foi a categoria mais frequente na Alemanha, Holanda e
Bélgica e a segunda mais frequente em França. Enquanto nos países sob assistência há
uma clara atribuição da culpa à classe política, nos países do norte tende-se a indicar as
políticas nacionais dos países afetados pela crise enquanto geradoras da mesma.
No Reino Unido a categoria mais frequente foi condições iniciais e estrutura
do euro, sendo esta visão mais eurocética da imprensa britânica um dado que não
nos surpreende.
A segunda variável pretendia perceber a quem os media atribuem a responsa-
bilidade de resolver a crise. A responsabilidade foi identificada em mais de 50%
das peças em todos os países, exceto em França (com apenas 34% das notícias e in-
dicar responsabilidades) e no Reino Unido (em que 83,4% das peças não atribuíam
responsabilidades).
Ficou claro neste caso que é geralmente entendido que a responsabilidade de
resolver a crise é coletiva, sendo que as percentagens mais altas recaíram sobre a
União Europeia e os membros da zona euro nos dois grupos em análise.
Os países com problemas de dívida foram também com alguma frequência
indicados enquanto responsáveis por resolver a crise, sendo que as instituições e
entidades económicas e financeiras como o BCE, FMI e os bancos foram esmagado-
ramente poupados à atribuição de responsabilidades no discurso dos media em to-
dos os países em análise.

3. Soluções

No que toca a soluções para resolver a crise, a análise contemplou dois tipos de res-
postas: curto e longo prazo.
Nas soluções a curto prazo os empréstimos e a redução do défice (aumentos
de impostos e austeridade) foram as hipóteses mais indicadas. Em Portugal
(33,4%), Itália (38,3%) e Espanha (24,3%), as categorias referentes a empréstimos e a
redução do défice perfizeram sempre mais de 20%.
Nos países do norte/centro os empréstimos e as reduções do défice foram
também claramente as mais frequentes, apesar de no caso francês este ser um facto
não tão evidente devido à elevada percentagem de “nenhuns” em comparação
com os outros países, como podemos ver pelo quadro 8.11.
No caso do Reino Unido, verificamos mais uma vez uma alta percentagem de “ne-
nhuns” tal como em França. As soluções mais frequentemente indicadas foram, como
no resto dos países em análise, a redução do défice (6,4%) e os empréstimos (4,9%).
Nas respostas a longo prazo, as soluções mais debatidas nos dois grupos em
estudo foram as reformas estruturais nos países com problemas e a hipótese de um
maior controlo da UE sobre os orçamentos nacionais.
184 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 8.7 Mecanismos (curto prazo) nos países sob assistência

Portugal Itália Espanha

Empréstimos de outros países sem supervisão 0,3 13,5 5,5


Empréstimos de outros países com supervisão 17,3 13,3 6,4
BCE (empréstimos e compra de obrigações) 9,9 10,0 10,4
Renegociação de acordos para empréstimos /redução de juros 4,8 3,1 4,7
Redução do défice 15,8 11,3 12,4
Estímulo fiscal 1,6 1,0 2,7
Políticas de crescimento 6,5 7,7 4,9
Outro 0,3 7,9 6,8
Nenhum 43,5 32,2 46,2
Total 100,0 100,0 100,0

Quadro 8.8 Mecanismos (curto prazo) nos países do norte/centro

França Alemanha Holanda Bélgica

Empréstimos de outros países sem supervisão 9,9 2,8 20,4 11,0


Empréstimos de outros países com supervisão 2,6 23,5 1,9 9,1
BCE (empréstimos e compra de obrigações) 5,9 8,8 10,6 10,3
Renegociação de acordos para empréstimos
1,1 4,6 5,1 4,2
/redução de juros
Redução do défice 7,7 10,2 12,2 21,1
Estímulo fiscal 0,4 1,1 0,3 0,4
Políticas de crescimento 2,7 3,8 2,8 3,7
Outro 1,3 7,8 13,1 7,1
Nenhum 68,4 37,5 33,5 33,3
Total 100,0 100,0 100,0 100,0

Quadro 8.9 Mecanismos (curto prazo) no Reino Unido

Reino Unido

Empréstimos de outros países sem supervisão 0,2


Empréstimos de outros países com supervisão 4,7
BCE (empréstimos e compra de obrigações) 6,5
Renegociação de acordos para empréstimos/redução de juros 1,7
Redução do défice 6,4
Estímulo fiscal 1,9
Políticas de crescimento 4,4
Outro 7,4
Nenhum 66,9
Total 100,0
COBERTURA MEDIÁTICA DA CRISE NA EUROPA 185

Quadro 8.10 Respostas (longo prazo) nos países sob assistência

Portugal Itália Espanha

Mais poder da UE sobre os orçamentos nacionais 8,3 10,5 11,6


Economias mais frágeis saírem do euro 0,1 7,0 3,7
Economias mais fortes saírem do euro 0,4 1,6 0,3
Reformas estruturais nos países com problemas 6,3 20,1 18,8
Acabar com a zona euro 0,1 1,4 0,8
Outro 0,3 10,5 5,9
Nenhum 84,4 49,1 58,9
Total 100,0 100,0 100,0

Quadro 8.11 Respostas (longo prazo) nos países do norte/centro

França Alemanha Holanda Bélgica

Mais poder da UE sobre os orçamentos nacionais 15,9 8,7 22,1 19,9


Economias mais frágeis saírem do euro 2,0 3,1 1,9 2,3
Economias mais fortes saírem do euro 0,5 0,3 0,4 0,4
Reformas estruturais nos países com problemas 8,5 26,7 24,1 19,2
Acabar com a zona euro 0,4 0,5 0,4 0,4
Outro 1,9 8,4 5,7 5,3
Nenhum 70,7 52,4 45,3 52,6
Total 100,0 100,0 100,0 100,0

Quadro 8.12 Respostas (longo prazo) no Reino Unido

Reino Unido

Mais poder da UE sobre os orçamentos nacionais 3,9


Economias mais frágeis saírem do euro 2,5
Economias mais fortes saírem do euro 0,3
Reformas estruturais nos países com problemas 13,4
Acabar com a zona euro 0,1
Outro 5,1
Nenhum 74,8
Total 100,0
186 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

As reformas estruturais nos países com problemas são as mais indicadas por
Itália e Espanha, com cerca de 20% das ocorrências. Em Portugal 84,4% das peças
não indicavam qualquer tipo de resposta a longo prazo. Também nos países do
norte se encontraram algumas diferenças internas, apesar de as soluções mais indi-
cadas continuarem a ser as reformas estruturais e o maior controlo da UE sobre os
orçamentos. Enquanto na Alemanha e na Holanda a opção reformas estruturais
nos países com problemas foi a indicada em cerca de 25% das peças, em França e na
Bélgica a mais discutida foi o maior controlo da UE sobre os orçamentos. De desta-
car também que a percentagem de “nenhuns” em França foi de 70,7%.
No Reino Unido a solução mais discutida foi a de reformas estruturais nos
países com problemas, sendo que a hipótese de mais poder da UE sobre os orça-
mentos ficou a 9,5 pontos percentuais da categoria mais indicada.

4. Benefícios e custos do euro

As duas variáveis através das quais se pretendia aferir qual o discurso dos media re-
lativamente ao papel da moeda única — mais especificamente, os seus custos e be-
nefícios — registaram quase sempre percentagem de “nenhuns” superiores a 90%.
Desta forma, consideramos que a comparação entre os países se torna irrelevante.
Este facto revela que a moeda única não foi vista pelos media enquanto tema a
ser debatido no contexto da crise.

5. Benefícios e custos da crise

A variável beneficiários da crise teve mais de 90% de “nenhuns” em quase todos os


países, com exceção de Itália (em que os “nenhuns” perfizeram 84,9%) e Alemanha
(82,8%).
No que toca à indicação de quem sofre ou sofrerá os custos (económicos e po-
líticos) da crise do euro, os países ou regiões em particular são os mais indicados
em todos os países em análise.
Nos países sob assistência a categoria país e região em particular perfez uma
clara maioria no que toca àqueles, enquanto mais prejudicados pela crise do euro.
Também nos países do norte/centro a referência mais frequente é aos países e
regiões em particular. Nos media alemães, os atores económicos privados são tam-
bém mencionados com alguma frequência, o que remete para as perdas sofridas
pelos bancos alemães durante a crise.
Os quadros 8.16, 8.17 e 8.18 são referentes aos países ou regiões em particular
mais referidas pelos media enquanto prejudicados pela crise da zona euro.
Os media espanhóis e italianos referem o próprio país como o mais prejudica-
do pela crise (com 13,4% e 18,5% respetivamente). Nos media portugueses a região
mais referida foi a países do sul com 17,9%, seguindo-se-lhe países da UE no geral
com 6,7%. Espanha também deu algum destaque aos países do sul (11,1%) e Itália
referiu com alguma frequência a Grécia (15,3%).
O país mais referido como sendo o principal prejudicado pela crise nos meios
de comunicação alemães foi a Alemanha. A categoria países da UE no geral foi a
COBERTURA MEDIÁTICA DA CRISE NA EUROPA 187

Quadro 8.13 Custos da crise nos países sob assistência

Portugal Itália Espanha

País ou região em particular 39,2 59,3 44,0


Autoridades políticas e financeiras 5,5 7,1 2,2
Atores económicos privados 7,4 7,2 2,6
População 3,6 6,0 6,0
Outro 0,3 1,6 0,8
Nenhum 43,9 18,8 44,4
Total 100,0 100,0 100,0

Quadro 8.14 Custos da crise nos países do norte/centro

França Alemanha Holanda Bélgica

País ou região em particular 17,9 25,7 39,8 43,0


Autoridades políticas e financeiras 1,4 5,8 1,0 1,6
Atores económicos privados 3,9 18,6 9,1 9,0
População 4,2 11,4 5,2 5,5
Outro 0,8 2,9 19,1 13,9
Nenhum 71,8 35,6 25,8 27,0
Total 100,0 100,0 100,0 100,0

Quadro 8.15 Custos da crise no Reino Unido

R.U.

País ou região em particular 34,8


Autoridades políticas e financeiras 0,0
Atores económicos privados 5,1
População 2,9
Outro 1,9
Nenhum 55,3
Total 100,0

segunda mais frequente, tal como em França. A Bélgica e a Holanda neste caso ali-
nham com os países sob assistência: a região do sul e respetivos países (com desta-
que para a Grécia) foram os mais mencionados.
A imprensa britânica também apontou os países da União Europeia em geral
e a Grécia.
Podemos afirmar que na maior parte dos países em análise, a região dos países
do sul e os países que a compõem são vistos como os mais prejudicados pela crise. Os
media alemães foram os que registaram o comportamento mais díspar, devido às fre-
quentes referencias ao próprio país enquanto o grande prejudicado pela crise.
188 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 8.16 Países/regiões prejudicadas pela crise nos países sob assistência

Portugal Itália Espanha

Áustria 0,0 0,1 0,0


Finlândia 0,0 0,0 0,1
França 0,1 1,3 0,7
Alemanha 1,6 1,9 0,6
Chipre 0,0 0,2 0,0
Grécia 5,4 15,3 9,7
Irlanda 0,1 0,5 0,1
Itália 5,5 18,5 0,9
Portugal 4,9 0,1 0,0
Espanha 4,9 3,7 13,4
Holanda 0,0 0,1 0,0
Luxemburgo 0,0 0,0 0,1
Eslovénia 0,0 0,1 0,1
Reino Unido 0,0 0,3 0,8
Regiões 0,0 1,0 0,0
Países do sul 17,9 10,2 11,1
Países do norte 0,4 0,2 0,0
Países da UE em geral 6,7 13,3 9,6
Outro 0,0 1,7 0,8
Nenhum 52,3 31,5 52,1
Total 100,0 100,0 100,0

Quadro 8.17 Países/ regiões prejudicadas pela crise nos países do norte/centro

França Alemanha Holanda Bélgica

Áustria 0,0 0,7 0,1 0,0


Bélgica 0,3 0,2 0,1 3,9
Bulgária 0,0 0,4 0,0 0,0
Chipre 0,5 0,7 0,0 0,4
Estónia 0,0 0,1 0,0 0,0
Finlândia 0,1 0,3 0,1 0,0
França 2,5 1,5 0,7 0,6
Alemanha 0,7 14,1 1,3 0,5
Grécia 4,6 7,9 14,9 15,3
Hungria 0,1 0,1 0,0 0,1
Irlanda 0,0 0,9 0,3 0,8
Itália 1,3 2,4 4,0 3,8
Letónia 0,0 0,2 0,0 0,0
Luxemburgo 0,0 0,2 0,0 0,0
Holanda 0,1 0,0 2,2 0,0
Polónia 0,0 0,2 0,0 0,0
Espanha 1,7 2,3 4,2 3,9
Portugal 0,4 0,4 0,3 0,1
Eslovénia 0,1 0,0 0,1 0,0
Roménia 0,0 0,2 0,0 0,0
Reino Unido 0,6 2,2 0,3 0,0
Países do sul 2,9 8,0 12,5 12,7
Países do norte 0,4 0,6 0,6 0,1
Países da UE em geral 7,1 9,4 3,1 3,0
Outro 0,2 3,2 0,1 1,5
Nenhum 76,4 42,1 54,7 53,0
Total 100,0 100,0 100,0 100,0
COBERTURA MEDIÁTICA DA CRISE NA EUROPA 189

Quadro 8.18 Países/regiões prejudicadas pela crise no Reino Unido

Reino Unido

Bélgica 0,1
Chipre 0,3
França 0,8
Alemanha 0,4
Grécia 6,9
Hungria 0,1
Irlanda 1,1
Itália 3,0
Espanha 3,5
Portugal 0,3
Reino Unido 3,1
Países do sul 5,5
Países da UE em geral 14,5
Outro 0,0
Nenhum 30,4
Missing 26,6
Total 100,0

6. Enquadramento geopolítico

Esta variável tinha por objetivo aferir qual o enquadramento geopolítico das peças
em análise.
Nos países sob assistência o enquadramento da maioria das peças foi euro-
peu. Em Itália os dados apontam para uma distribuição mais uniforme, sendo que
a categoria países estrangeiros distancia-se da primeira por apenas 4 pontos
percentuais.
Nos países do centro, registaram-se dois comportamentos diferentes: na Ale-
manha e em França o enquadramento mais frequente foi claramente o europeu, en-
quanto na Holanda e na Bélgica a categoria país estrangeiro foi a mais frequente.
De destacar também que nestes dois países a percentagem de artigos sem enqua-
dramento foi muito mais alta, tal como aconteceu no Reino Unido. Neste último
país, o enquadramento mais frequente foi também país estrangeiro.

Quadro 8.19 Enquadramento geopolítico nos países sob assistência

Portugal Itália Espanha

Doméstico 14,1 29,8 28,1


País estrangeiro 28,8 30,2 14,5
Europeu 55,5 34,3 55,1
Outro 0,4 0,2 0,8
Nenhum/enquadramento não claro 1,2 5,5 1,5
Total 100,0 100,0 100,0
190 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 8.20 Enquadramento geopolítico nos países do norte/centro

França Alemanha Holanda Bélgica

Doméstico 15,9 23,7 11,6 8,7


País estrangeiro 24,4 20,6 42,3 27,4
Europeu 42,7 40,4 11,6 21,9
Outro 2,9 2,8 0,0 0,0
Nenhum/enquadramento não claro 14,0 12,5 32,2 42,0
Total 100,0 100,0 100,0 100,0

Quadro 8.21 Enquadramento geopolítico no Reino Unido

Reino Unido

Doméstico 11,1
País estrangeiro 17,1
Europeu 5,5
Outro 0,2
Nenhum/enquadramento não claro 66,0
Missing 0,0
Total 100,0

7. Retrato das instituições europeias e do BCE

Os media dos países sob assistência tenderam a caracterizar as instituições europei-


as mais ao centro, isto é, com a frequência mais alta nas categorias pouco eficaz e
central para lidar com a crise. Portugal fez um retrato mais positivo, categorizando
as instituições mais frequentemente enquanto centrais. A caracterização mais fre-
quente em Espanha e Itália foi pouco eficaz perante a crise.
Nos países do norte e centro as percentagens de “nenhuns” foram significati-
vamente mais altas, com exceção para a Holanda. Os retratos mais comuns tam-
bém se encontram a meio do espectro, com as devidas diferenças: o retrato mais
comum na imprensa francesa e belga foi o de pouco eficaz perante a crise, e o retra-
to nos media alemães e holandeses foi mais positivo: em 12,5% e 21,9% das peças as
instituições foram tratadas enquanto centrais.
Também nos países do norte e centro as categorias pouco eficaz perante a cri-
se e central para lidar com a crise foram as mais frequentes.
O Reino Unido teve, mais uma vez, percentagens especialmente altas de pe-
ças sem qualquer tipo de retrato, sendo que o mais frequente foi também o de pou-
co eficaz perante a crise.
Considerando insignificante perante a crise, com falta de capacidade para li-
dar com a crise e pouco eficaz perante a crise, atributos negativos, e central para li-
dar com a crise e forte e determinada a lidar com a crise, como atributos positivos,
verificamos que a caracterização das instituições europeias foi predominantemen-
te negativa nos países sob assistência. Em Itália (37,4) e Espanha (26,8) a maioria
COBERTURA MEDIÁTICA DA CRISE NA EUROPA 191

Quadro 8.22 Retrato da UE nos países sob assistência

Portugal Itália Espanha

Insignificante perante a crise 2,8 2,5 1,1


Com falta de capacidade para lidar com a crise 4,8 11,4 8,3
Pouco eficaz perante a crise 9,4 23,5 17,4
Central para lidar com a crise 16,6 15,3 17,3
Forte e determinada a lidar com a crise 2,3 2,7 2,2
Outro 0,1 3,0 0,4
Nenhum 64,0 41,5 53,3
Total 100,0 100,0 100,0

Quadro 8.23 Retrato da UE nos países do norte/centro

França Alemanha Holanda Bélgica

Insignificante perante a crise 0,5 1,1 0,4 1,0


Com falta de capacidade para lidar com a crise 2,2 4,0 3,1 4,4
Pouco eficaz perante a crise 6,6 5,9 25,0 27,9
Central para lidar com a crise 6,0 12,5 41,0 21,9
Forte e determinada a lidar com a crise 1,1 3,7 1,9 7,4
Outro 0,2 0,9 0,0 0,0
Nenhum 83,4 71,8 0,4 37,3
Missing 0,0 0,0 28,0 0,0
Total 100,0 100,0 100,0 100,0

Quadro 8.24 Retrato da UE no Reino Unido

Reino Unido

Insignificante perante a crise 0,2


Com falta de capacidade para lidar com a crise 0,4
Pouco eficaz perante a crise 5,5
Central para lidar com a crise 1,7
Forte e determinada a lidar com a crise 0,8
Outro 0,1
Nenhum 91,2
Missing 0,2
Total 100,0
192 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 8.25 Retrato do BCE nos países sob assistência

Portugal Itália Espanha

Insignificante perante a crise 1,5 0,3 0,1


Com falta de capacidade para lidar com a crise 3,5 10,5 1,3
Pouco eficaz perante a crise 5,7 5,7 6,5
Central para lidar com a crise 12,5 15,4 14,9
Forte e determinada a lidar com a crise 1,9 2,3 2,2
Atuando dentro do seu enquadramento legal 1,7 0,8 1,9
Atuando na fronteira ou fora do seu enquadramento legal 0,1 0,5 0,1
Outro 2,9 0,4
Nenhum 73,1 61,6 72,7
Total 100,0 100,0 100,0

Quadro 8.26 Retrato do BCE nos países do norte/centro

França Alemanha Holanda Bélgica

Insignificante perante a crise 0,2 0,8 0,0 0,6


Com falta de capacidade para lidar com a crise 1,8 2,1 0,9 1,4
Pouco eficaz perante a crise 2,5 2,5 4,2 8,8
Central para lidar com a crise 7,7 8,9 24,0 16,4
Forte e determinada a lidar com a crise 2,9 3,1 4,0 4,8
Atuando dentro do seu enquadramento legal 2,1 1,0 0,9 1,1
Atuando na fronteira ou fora do seu
0,5 3,4 0,4 0,4
enquadramento legal
Outro 0,1 1,2 0,3 0,0
Nenhum 82,1 77,0 65,3 66,5
Total 100,0 100,0 100,0 100,0

Quadro 8.27 Retrato do BCE no Reino Unido

Reino Unido

Insignificante perante a crise 0,1


Com falta de capacidade para lidar com a crise 0,5
Pouco eficaz perante a crise 4,9
Central para lidar com a crise 5,9
Forte e determinada a lidar com a crise 0,1
Atuando dentro do seu enquadramento legal 0,4
Atuando na fronteira ou fora do seu enquadramento legal 0,2
Outro 0,2
Nenhum 87,6
Total 100,0
COBERTURA MEDIÁTICA DA CRISE NA EUROPA 193

das peças que discutiram o papel das instituições europeias caracterizaram-nas ne-
gativamente. Em Portugal, o retrato foi positivo (17% positivo e 18,9% negativo).
Utilizando esta escala valorativa, verificamos também que na Alemanha
(16,2% positivo e 11% negativo) e na Holanda (42,9% positivo e 28,8% negativo) o
retrato foi positivo. Em França (9,3% positivo e 7,1% negativo) e na Bélgica (33,3%
positivo e 29,3% negativo) as instituições europeias foram retratadas de forma
mais negativa, tal como aconteceu no Reino Unido em que 7,8% dos retratos foram
positivos e 2,5% negativos.
Apesar de esta escala nos ajudar a perceber se o retrato é tendencialmente po-
sitivo ou negativo, não podemos deixar de notar que no plano geral o retrato foi aci-
ma de tudo ao centro, sendo que as caracterizações mais fortes foram pouco
utilizadas em todos os países.
No que concerne ao retrato do BCE, a narrativa mediática foi bem mais
favorável.
Nos países sob assistência a categoria central para lidar com a crise foi a mais
frequente em todos os países. Por outro lado, percentagens de “nenhum” foram
mais altas do que na variável anterior.
Somando as categorias como acima mencionámos, e aqui tratando as catego-
rias atuando dentro do seu enquadramento legal como positiva e atuando na fron-
teira ou fora do seu enquadramento legal como negativa, podemos verificar que o
retrato positivo foi o mais frequente em Portugal (16,1%), Itália (18,5%) e Espanha
(19%).
Nos países do norte e centro o retrato mais frequente foi também o de central
para lidar com a crise, e o retrato do BCE foi maioritariamente positivo em todos os
países (12,7% em França, 13% Alemanha, 28,9% na Holanda e 22,3% na Bélgica)
No Reino Unido, a categoria mais frequente também foi central para lidar
com a crise e o retrato no geral foi mais positivo do que negativo, mas este país dis-
tingue-se mais uma vez com o maior número de peças que não faziam qualquer
retrato.
Podemos assim dizer que o papel das instituições europeias foi mais discuti-
do do que o retrato do BCE, devido às altas percentagens de artigos sem qualquer
tipo de retrato desta instituição. França e Reino Unido destacaram-se pela falta de
abordagem do papel destas instituições, nas tuas varáveis.
Quando as instituições foram tratadas, o BCE mereceu mais destaque positi-
vo em relação à sua atuação perante a crise do que as instituições da União
Europeia.

8. Consequências das medidas de austeridade

Em Portugal e Espanha as consequências das medidas de austeridade foram mais


frequentemente retratadas por sucesso/zona euro preservada, enquanto em Itália a
categoria mais frequente foi mais integração/transferência de soberania nacional
para as instituições europeias.
Na mesma lógica utilizada nas variáveis anteriores, e aqui considerando as
primeiras três categorias positivas e as restantes quatro negativas, verificamos que
194 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quadro 8.28 Medidas de austeridade nos países sob assistência

Portugal Itália Espanha

Mais integração/transferência de soberania nacional para as instituições


1,7 13,1 8,1
europeias
Euro mais forte e mais estável 2,9 1,6 1,4
Sucesso/ zona euro preservada 16,9 4,2 8,8
Divisão da zona euro em dois (norte/sul) 2,0 6,2 3,1
Falhanço/países com problemas de dívida saírem do euro 5,7 8,1 5,4
Estabelecimento de um sistema de transferências para os países
0,7 1,8 3,4
com problemas de dívida
Inflação na Europa 0,0 0,6 0,5
Outro 0,0 4,3 5,1
Nenhum 70,1 60,0 64,3
Total 100,0 100,0 100,0

Quadro 8.29 Medidas de austeridade nos países do norte/centro

França Alemanha Holanda Bélgica

Mais integração/transferência de soberania nacional para


3,6 6,1 10,6 14,6
as instituições europeias
Euro mais forte e mais estável 1,8 3,4 0,9 0,8
Sucesso zona euro preservada 4,8 13,2 11,5 6,2
Divisão da zona euro em dois (norte/sul) 2,5 1,3 1,3 1,3
Falhanço/países com problemas de dívida saírem do euro 3,1 4,6 6,3 1,8
Estabelecimento de um sistema de transferências para
0,9 2,4 3,1 1,0
os países com problemas de dívida
Inflação na Europa 0,5 1,6 0,6 1,3
Outro 0,8 7,6 2,2 2,5
Nenhum 82,0 59,9 63,5 70,6
Total 100,0 100,0 100,0 100,0

Quadro 8.30 Medidas de austeridade no Reino Unido

Reino Unido

Mais integração/transferência de soberania nacional para as instituições europeias 2,7


Euro mais forte e mais estável 0,2
Sucesso/zona euro preservada 1,4
Divisão da zona euro em dois (norte/sul) 0,4
Falhanço /países com problemas de divida saírem do euro 2,1
Estabelecimento de um sistema de transferências para os países com problemas de dívida 0,2
Inflação na Europa 0,2
Outro 1,0
Nenhum 91,7
Total 100,0
COBERTURA MEDIÁTICA DA CRISE NA EUROPA 195

o retrato das medidas de austeridade nos países sob assistência foi maioritaria-
mente positivo.
O retrato mais frequente na Alemanha, França e Holanda foi sucesso/zona
euro preservada e na Bélgica o retrato foi ainda mais positivo com as medidas a se-
rem tidas enquanto uma forma de mais integração. Nesta categoria de países o re-
trato das medidas de austeridade foi também maioritariamente positivo.
No Reino Unido a percentagem de peças sem retrato foi mais uma vez a mais
alta, sendo que o retrato geral foi também positivo e a categoria mais frequente a de
mais integração.

Considerações finais

Em muitas das variáveis em análise os resultados foram maioritariamente homo-


géneos. No que concerne à fonte mais citada nas notícias, Angela Merkel surge
como a protagonista inequívoca da crise europeia seguida na maior parte dos casos
por Sarkozy. As narrativas mediáticas dos países em análise parecem estar de acor-
do neste ponto: o eixo franco-alemão, aqui personalizado nas figuras dos seus che-
fes de Estado, é retratado enquanto o grande centro de poder e decisão dentro da
união.
As origens da crise foram muito timidamente discutidas nos media europeus.
Predominou a culpabilização da classe política nos países sob assistência e as indi-
cações das políticas fiscais e sociais foram as principais origens da crise para países
do norte e centro, remetendo para o frequentemente criticado “papel insustentável
do Estado”. No Reino Unido predominou o discurso eurocético, sendo que as con-
dições iniciais e a estrutura do euro foram as mais indicadas. Se em relação às ori-
gens da crise predomina o silêncio por um lado e discórdias por outro, no que toca à
responsabilidade de resolver o assunto todas as narrativas mediáticas convergem:
a responsabilidade é coletiva. Os países membros da zona euro e União Europeia
enquanto instituição são os mais indicados enquanto aqueles que se devem res-
ponsabilizar por encontrar uma solução para o problema.
No que respeita às soluções, tanto os países sob assistência como os países
do eixo franco-alemão subscrevem os empréstimos e as medidas para redução
do défice como as mais indicadas para conter a crise a curto prazo. As soluções a
longo prazo são menos debatidas pelos media europeus, sendo que em quase to-
dos os países o assunto foi debatido em menos de 50% das peças. Ainda que
pouco expressivas, são no entanto próximas as narrativas nas três categorias em
análise: debateu-se a possibilidade de um maior poder da União Europeia sobre
os orçamentos nacionais e a necessidade de reformas estruturais nos países com
problemas
O grande assunto tabu nos media europeus foi a questão da moeda única. Fo-
ram irrelevantes as percentagens de artigos que refletiam sobre os benefícios e cus-
tos do euro, revelando que nem os países economicamente mais débeis, nem nos
países do norte e centro da Europa, nem mesmo no eurocético Reino Unido, as nar-
rativas mediáticas deram espaço ao debate sobre o assunto.
196 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Quem ganha e quem perde com a crise foi uma questão na qual encontramos
uma importante semelhança entre as várias narrativas mediáticas: foi generaliza-
do o silêncio sobre os beneficiados pela crise e foi extenso o debate sobre os mais
prejudicados — que foram sempre países ou regiões em particular.
Nos países do sul não houve qualquer tipo de dúvida sobre os principais pre-
judicados pela crise (a região países do sul e países que a compõem), mas na segun-
da categoria de países houve posições diferentes: Holanda, Bélgica e França
indicaram também os países do sul e mais especificamente a Grécia como prejudi-
cados pela crise, apesar de os media franceses darem primordial destaque aos paí-
ses da UE em geral. A Alemanha ocupa aqui o lugar de exceção por se nomear a si
mesma como o país mais prejudicado pela crise. O Reino Unido discutiu os custos
da crise sofridos por todos numa visão sobre os acontecimentos que se pode inter-
pretar enquanto mais “externa”, o que terá a ver não apenas com o lugar “distante”
que o país ocupa perante a ideia de “Europa”, mas também com o facto de os jor-
nais escolhidos para análise, especialmente o Financial Times que representou cerca
de 43% da amostra, serem jornais de referência internacional e por isso produtores
de um discurso de visão mais global e menos “doméstica”.
O enquadramento geográfico europeu foi o mais frequente em todos os paí-
ses sob assistência e no eixo franco-alemão, o que remete para uma noção comum
de que a crise é um problema coletivo. No entanto na Holanda, na Bélgica e no Rei-
no Unido a categoria mais frequente foi a de país estrangeiro o que denota que estes
países se encontram mais longe do “epicentro” da crise.
A descrição das instituições europeias também não registou grandes diferen-
ças entre os países sob assistência, os países do norte e centro e o Reino Unido. Fo-
ram geralmente negativamente retratadas, mas acima de tudo pouco eficazes
perante a crise. O papel do BCE não foi um assunto frequente em nenhuma das nar-
rativas, mas foi geralmente retratado enquanto positivo.
Curiosamente as consequências das medidas de austeridade não foram alvo
de grande caracterização, nem mesmo nos países sob assistência aonde têm sido
implementadas. Foram retratadas enquanto maioritariamente positivas em todos
os países.
Houve uma maior coerência interna entre os países sob assistência do que
entre os países da segunda categoria nos discursos sobre a crise. Verificamos que
França se aproximou algumas vezes do discurso nos países do sul, o que não se
torna uma surpresa devido às particularidades do seu sistema mediático, já des-
crito por Hallin e Mancini (2004) como tendo muitas características do sistema
mediterrânico.
Verificamos uma maior divergência entre os discursos das três categorias
no que concerne às origens da crise e aos principais prejudicados pela mesma e
uma grande concordância nos protagonistas, na responsabilidade coletiva de
resolver o problema, no papel das instituições e nas soluções mais indicadas
para levar a cabo essa resolução. Nos media britânicos as percentagens de peças
sem resposta às perguntas feitas foram especialmente altas e o discurso distan-
ciou-se um pouco dos outros países nomeadamente no que respeita às origens
da crise.
COBERTURA MEDIÁTICA DA CRISE NA EUROPA 197

O discurso geral sobre a crise europeia revelou algum nível de fragmentação,


que de resto era já prevista devido às especificidades dos vários sistemas mediáti-
cos e às posições dos países perante o assunto em questão. Apesar disso, não se ve-
rificou uma real divergência entre as narrativas dos vários países no que respeita
aos assuntos que chegaram a debate, nem se pode dizer que haja um real confronto
entre os vários discursos que culmine na ideia de um “outro” fundamentalmente
diferente ou antagónico nas suas visões e valores.
A referência mais concreta aos “outros” no discurso dos vários países em aná-
lise verificou-se apenas no debate sobre aos países mais prejudicados pela crise, va-
riável com as maiores disparidades entre países. Nesta variável os países sob
assistência convergiram muito nas suas narrativas, ao contrário dos restantes paí-
ses em análise. Não se poderá no entanto utilizar este dado para justificar a existên-
cia de um “outro” nos discursos, sendo que os países do norte e centro e o Reino
Unido apresentaram uma narrativa mais genérica no que concerne aos custos da
crise, que foram vistos enquanto igualmente repartidos por toda a Europa.
Concluímos por isso que as narrativas mediáticas nos vários países não são
contrárias entre si nem se denota um conflito entre visões realmente diferentes na
cobertura dos vários media nacionais, pelo que a ideia de que existe um discurso na
Europa que cria uma noção de um “outro” dentro de si mesma não se comprova
nos países em análise.
A omissão de alguns temas, comuns a todos os media nacionais analisados, foi
o dado mais revelador no nosso estudo: a moeda única não foi posta em causa, tal
como não foram discutidos possíveis beneficiários da crise. As consequências das
medidas de austeridade e o papel do BCE foram também pouco debatidos. Mesmo
a percentagem de peças sem qualquer tipo de discurso marcado sobre os assuntos
mais recorrentes foi alta ao longo de quase toda a análise.
O discurso geral parece tender para pontos em comum: O eixo de poder cen-
tral encontra-se na Alemanha encabeçada por Merkel, mas a crise deve ser resolvi-
da por todos os membros da zona euro e pela união, através das medidas que estão
já a ser implementadas (empréstimos, austeridade e reformas estruturais), apesar
de ao mesmo tempo haver um claro descrédito na atuação das instituições. Outras
noções ou debates foram em grande parte deixados de lado por toda a imprensa
europeia. Desta forma, a contribuição dos media dos vários países em análise para o
debate publico europeu sobre a crise revela-se pouco aprofundada (se não insufici-
ente), falhando na cobertura de assuntos centrais tais como o papel do euro e os be-
neficiários da crise, o que parece revelar um certo “pacto de silêncio”.
Assim, apesar de não se ter verificado uma clara construção de um “outro” no
retrato que os media fizeram da crise, também não podemos afirmar que encontrá-
mos um discurso europeu com um sentido comum forte. Podemos antes dizer que
narrativas nos vários países espelharam os tempos de incerteza e tensão que vive-
mos, não conferindo espaço à discussão sobre temas mais “fraturantes” mas extre-
mamente importantes para um debate público informado e produtivo.
Capítulo 9
Metodologia

Décio Telo, Gustavo Cardoso e Susana Santos

A metodologia do Projeto Jornalismo e Sociedade foi desenhada tendo em conside-


ração o seu objetivo principal, nomeadamente identificar os acontecimentos que
obtêm maior cobertura jornalística ao longo do tempo e os acontecimentos que
num determinado período temporal são apresentados com maior destaque. To-
mando como referência metodológica o PEJ News Cover Index (NCI) preten-
deu-se, com esta abordagem, caracterizar a agenda noticiosa global nos órgãos de
comunicação social em Portugal.1
O universo de referência para a análise do Projeto Jornalismo e Sociedade
compreende todos os órgãos de comunicação de âmbito nacional nos setores de
media ditos tradicionais: televisão — de sinal aberto e por cabo — imprensa e rádio.
Com base nas características do universo, inconstante e de difícil delimitação devi-
do à natureza da atividade jornalística em várias plataformas, e considerando a ne-
cessidade de garantir a sua exequibilidade, optou-se pela análise por amostragem.
A constituição da amostra teve em consideração as especificidades de cada setor.

Amostra

Aamostra foi construída de forma a incluir um vasto grupo de meios e órgãos ilustrati-
vos mas não necessariamente representativos do universo dos media no campo jorna-
lístico. A sua definição reflete o balanço de um conjunto de fatores, incluindo a
caracterização dos setores de media que oferecem notícias (cujas métricas são diferen-
tes entre si), o número de meios ou empresas de informação jornalística em cada setor,
o número e características dos programas de notícias dentro de cada um desses meios
e ainda dados relativos a audiência/tiragem. Desta forma não foi possível optar por
um método estritamente aleatório nem tão pouco por uma fórmula pré-determinada.
Conforme vimos anteriormente, foram considerados os setores ditos tradici-
onais para a análise das big stories disseminadas pelos órgãos de comunicação em

1 http://www.journalism.org/news_index_methodology.

199
200 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Portugal. Nos próximos parágrafos procederemos à caracterização da amostra,


considerando as especificidades de cada setor e seus efeitos no processo de
amostragem.

Televisão de sinal aberto e por cabo

A oferta televisiva em sinal aberto em Portugal é garantida pelas estações de televi-


são RTP1, RTP2, SIC e TVI.2 Com exceção da RTP2 todos os canais generalistas de
TV em sinal aberto ofereciam, em 2012 e 2013, dois programas diários de informa-
ção televisiva no formato de jornal televisivo, às horas de almoço e de jantar.
Enquanto género, o jornal televisivo mantém muitas das características que o tor-
naram no ponto de referência de toda a programação televisiva (cf. Cardoso e Telo,
2010), especialmente quando nos referimos ao jornal “da noite”, normalmente
transmitido à hora “de jantar” ou, em linguagem de mercado, na transição para o
prime-time televisivo.
O setor televisivo de sinal aberto mantém uma importância relevante do pon-
to de vista do impacto e alcance públicos. De acordo com dados da OberCom, pu-
blicados no Anuário da Comunicação, em 2011 cada espetador dedicava diariamente
e em média 3 horas e 38 minutos à televisão. Do ponto de vista da oferta televisiva
foram emitidos diariamente, em média, 18 horas de programas de informação, ou
seja, 19,3% da emissão diária em termos médios, nas 5 estações (Cardoso e Men-
donça, 2012).
Nesse mesmo ano, que serviu de referência ao Projeto Jornalismo e Sociedade
para definição da amostra, a TVI detinha a maior percentagem de share global de entre
as restantes estações de sinal aberto, conforme se pode verificar na figura anterior.
Com base nos dados e pressupostos que aqui tentámos ilustrar de forma su-
cinta, a amostra para este subsetor considerou os jornais televisivos das 20 horas
nas estações RTP1, SIC e TVI. Para a RTP2, cuja oferta informativa, do ponto de vis-
ta programático, se caracterizava pela complementaridade e aprofundamento no
tratamento dos temas noticiosos, foi considerado o único programa de informação
desse canal, transmitido às 22 horas.
Limitado o formato ao “jornal da noite”, foi necessário delimitar a amostra
diária de forma a manter o difícil equilíbrio entre os recursos disponíveis e a exe-
quibilidade do projeto. Desta forma, com base no já referido PEJ News Cover Index
(NCI) e, em especial, no contributo de Tom Rosenstiel em reuniões de preparação

2 Consideramos televisão de sinal aberto a distribuição de conteúdos por empresas emissoras,


concessionadas para transmissão “livre” do sinal televisivo (i.e., bastando ao telespetador pos-
suir um recetor de TV e sintonizar a emissão através de uma antena terrestre). Note-se que parte
do projeto foi desenvolvido ainda no período pré-TDT (Televisão Digital Terrestre) sistema de
televisão digital difundida por via hertziana ou terrestre, baseado na norma DVB-T, que substi-
tuiu o sistema analógico terrestre. O switch of oficial terminou no dia 26 de abril de 2012, embora
tenham continuado a existir várias populações não abrangidas pela TDT. Mais informações po-
dem ser encontradas na página do regulador ANACOM em: http://www.anacom.pt/ren-
der.jsp?contentId=1125549.
METODOLOGIA 201

RTP1 21,6

RTP2 4,5

SIC 22,7

TVI 25,7

0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0

Figura 9.1 Share global em 2011


Fonte: Anuário de Media e Publicidade, 2012, Marktest. Edição OberCom.

metodológica realizadas em 2011, optou-se por estabelecer um modelo de rotativi-


dade entre estações de forma a analisar dois jornais televisivos por dia e, no caso da
RTP2, dois jornais por semana.
Relativamente à informação televisiva em sinal por cabo, a oferta tem vindo a
aumentar significativamente nos últimos anos. Em 2011 detinha um share global
estimado de 25,5%. De acordo com dados da Marktest Audimetria/Kantar Media e
da MediaMonitor em 2012 a SIC Notícias mantinha-se com clara vantagem relati-
vamente à concorrência com 2,3% de share, seguida da RTP Informação (1%) e
TVI24 (0,9%). Com base nestes dados, a amostragem da informação televisiva ficou
completa com a inclusão de 2 jornais televisivos de televisão por cabo diariamente,
a codificar rotativamente entre SIC Notícias, RTP Informação e TVI24.
A distribuição de jornais televisivos a codificar no setor televisão em 2012 fi-
cou distribuída conforme se poder verificar na figura 9.2.
Em 2013, com uma amostra inferior, a distribuição manteve-se semelhante
(ver figura 9.3).
A unidade de contexto é compreendida pelo conjunto de notícias destacadas
na abertura dos jornais televisivos (headline), acrescidas da notícia de abertura e de
eventuais notícias de última hora que surjam em qualquer altura do noticiário.
Desta forma procura-se garantir a codificação dos temas noticiosos que são, na
perspetiva das redações, os mais relevantes do ponto de vista do interesse público
ou, pelo menos, de maior interesse para os seus espetadores.
No alinhamento noticioso de um jornal televisivo, as notícias são hierarqui-
zadas e estruturadas numa lógica narrativa mais ou menos pré-definida onde, caso
não surjam acontecimentos imprevistos (que se “encaixam” nas notícias de última
hora), os assuntos são por vezes organizados em torno de um conjunto de peças
202 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

SICN 21h

RTPN 24h

TVI24 21h

TVI 20h

SIC 20h

RTP2 22h

RTP1 20h

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Set Out Nov Dez

Figura 9.2 Distribuição de jornais televisivos a codificar em 2012

SICN 21h

RTPN 24h

TVI24 21h

TVI 20h

SIC 20h

RTP2 22h

RTP1 20h

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Set Out Nov Dez

Figura 9.3 Distribuição de jornais televisivos a codificar em 2013

isoladas que se complementam explícita ou implicitamente no relato da notícia


propriamente dita. Do ponto de vista analítico, a unidade de codificação é, portan-
to, a peça noticiosa. A introdução e a conclusão da peça (quando ocorre) feita pelo
pivô é considerada na peça noticiosa. A peça noticiosa pode assumir diferentes for-
matos ou géneros jornalísticos (cf. género jornalístico).
METODOLOGIA 203

Imprensa

Para a definição da amostra na imprensa, considerou-se o alcance do setor com refe-


rência ao ano de 2011, tal como para os restantes setores de media. A oferta informativa
pode subdividir-se quanto à natureza — informação generalista, informação especia-
lizada — e quanto à periodicidade — diária, semanal, outras. Na imprensa especiali-
zada podemos considerar os jornais de economia como os mais relevantes para o
Projeto Jornalismo e Sociedade.
A oferta de informação geral diária em Portugal (excluindo a distribuição
gratuita) é, desde 2010, constituída pelos jornais Correio da Manhã, Jornal de Notícias,
Público, Diário de Notícias e Jornal i. Em 2011, o Correio da Manhã foi o jornal diário
com maior tiragem (774.520) seguido do Jornal de Notícias (522.669), Diário de Notíci-
as (211.622), Público (203.703) e Jornal i com uma tiragem anual de 53.641.
A imprensa diária especializada e de distribuição paga, na área de economia,
compreendia em 2011, tal como atualmente, o Diário Económico (com uma circula-
ção de 93.362 exemplares) e o Jornal de Negócios (62.078 exemplares) ambos conside-
rados na amostragem da oferta noticiosa no setor imprensa.
Por último, foram considerados os dois semanários de informação geral com
circulação em Portugal: o Sol, às sextas-feiras, e o Expresso, aos sábados.
Tal como para a amostragem no setor televisão, procedeu-se a uma seleção de
edições a codificar na imprensa com base no mesmo princípio de rotatividade e de
acordo com as seguintes regras: i) garantir a exequibilidade da análise tendo em
conta a disponibilidade de recursos humanos; i) garantir a representatividade de
cada órgão de comunicação na amostra.
A combinação das duas regras determinou que cada jornal diário generalista
teria que ser codificado duas vezes por semana e cada jornal de economia uma vez
por semana. Cada semanário seria codificado quinzenalmente.
Com base nestas regras a amostra no setor ficou distribuída como descrito na
figura 9.5.
Em 2013 foram considerados alguns ajustes na amostragem do setor impren-
sa de forma a reestruturar o peso dos jornais económicos e semanários na amostra.
Foram realizados testes na base de dados do ano anterior (2012) de forma a verifi-
car o efeito das alterações nos resultados globais. Desta forma, em 2013 a amostra
na imprensa ficou distribuída como descrito na figura 9.6.
A unidade de contexto, na imprensa, corresponde às notícias de primeira pá-
gina não se circunscrevendo a análise apenas à primeira página. Ou seja, fazem
parte da amostra todas as peças publicadas no corpo do jornal que estejam ligadas
à notícia destacada na primeira página. De forma idêntica às notícias dos jornais te-
levisivos, a unidade de análise é a peça de informação que, no caso da imprensa,
corresponde ao artigo ou caixa de texto identificados, normalmente com ajuda de
elementos sintáticos do texto em análise ou elementos de design e paginação do
jornal.
204 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Correio da Manhã

Diário de Notícias

Jornal de Notícias

Público

Jornal i

0 100.000 200.000 300.000 400.000 500.000 600.000 700.000 800.000 900.000

Figura 9.4 Circulação de jornais diários de informação geral em 2011


Fonte: APCT — Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação.

SOL

Expresso

Económico

Jnegócios

DN

JN

Jornal I

CM

Público

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
N.º de exemplares
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Set Out Nov Dez

Figura 9.5 Distribuição de edições consideradas na amostra em 2012


METODOLOGIA 205

SOL

Expresso

Económico

Jnegócios

DN

JN

Jornal i

CM

Público

0 20 40 60 80 100 120
N.º de exemplares
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Set Out Nov Dez

Figura 9.6 Distribuição de edições consideradas na amostra em 2013

Rádio

A oferta de informação na rádio é feita, tradicionalmente, nos boletins informativos


emitidos a cada hora e, em alguns casos, de trinta em trinta minutos. Apesar da di-
versidade de emissoras de rádio, existem 3 grupos económicos que detêm a maior
parte das estações — R/Com, Media Capital, RDP — a que se adiciona a TSF, única
estação de rádio nacional de informação 24/24. Em 2011, o grupo R/Com detinha
duas das três estações com maior percentagem de share médio: a RFM (21,9%), se-
guida da Rádio Comercial (grupo Media Capital) com 15% e Rádio Renascença
(11,6%). Na rádio os momentos de informação são, geralmente, muito curtos à ex-
ceção de alguns noticiários à hora de almoço e no final de tarde. Como exceção a
esta regra, temos a TSF que enquanto rádio de notícias apresenta na sua programa-
ção jornais radiofónicos de duração superior.
A construção da amostra para a rádio teve em consideração três fatores: i) a
diversificação quanto ao grupo económico proprietário das estações; ii) a impor-
tância da informação em cada estação; iii) o share médio de audiência como indica-
dor de visibilidade pública.
Neste sentido, optou-se pela constituição de uma amostra com a Rádio Re-
nascença (grupo R/Com), Rádio Comercial (grupo Media Capital), Antena 1 (gru-
po RDP) e TSF (grupo Controlinveste). De seguida foi necessário proceder à
seleção dos noticiários a codificar. Neste ponto manteve-se o princípio da rotativi-
dade como fator de organização da amostragem para o setor, neste caso uma dupla
rotatividade uma vez que se procedeu à rotação de horários dos boletins, para além
da rotação de estações por semana.
Neste sentido, considerou-se a regra de codificar um boletim por dia em cada
estação considerada na amostra, de forma a garantir que, diariamente, eram
206 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

Rádio Comercial

Antena 1

Rádio Renascença

TSF

0 50 100 150 200 250

N.º de boletins informativos – 2012

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Set Out Nov Dez

Figura 9.7 Distribuição de boletins de notícias considerados na amostra em 2012

Rádio Comercial

Antena 1

Rádio Renascença

TSF

0 50 100 150 200 250

N.º de boletins informativos – 2013

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Set Out Nov Dez

Figura 9.8 Distribuição de boletins de notícias considerados na amostra em 2013

analisados quatro boletins noticiosos. Para garantir a rotatividade dos horários


procedeu-se a uma distribuição simples, a partir dos horários de emissão, de forma
a garantir a aleatoriedade possível:

— TSF: 7h, 8h, 9h, 12h, 13h, 17h, 18h, 19h, 20h
— Rádio Renascença: 7h, 8h, 9h, 12h, 13h, 17h, 18h, 19h
METODOLOGIA 207

— Antena 1: 7h, 8h, 9h, 12h, 13h, 14h, 17h, 18h, 19h, 20h
— Rádio Comercial: 7h, 8h, 9h, 18h, 19h, 20h

Considerados estes fatores a amostra para o ano 2012 ficou distribuída conforme se
verifica na figura 9.7
Em 2013, com a revisão da amostra referida anteriormente, houve um ligeiro
aumento do n.º de emissões consideradas na amostra (figura 9.8).
A unidade de contexto para o setor rádio é constituída pelo conjunto das notí-
cias destacadas na abertura do noticiário (headlines), notícia de abertura e eventuais
notícias de última hora (breaking news). A unidade de análise, tal como para
a televisão, é a peça noticiosa (cf. capítulo Televisão).o ????????RFM
era a estação TSF de trinta em trinta minutos. Apesar da diversida-
de de emissoras de ro peso dos jornais económicos
Toda a análise do Projeto Jornalismo e Sociedade (2012-2013) teve como refe-
rência temporal a cobertura semanal (com início na segunda-feira, excluindo fins
de semana e feriados, com exceção do jornal Expresso cuja publicação é ao sábado).
No ano de 2012 foram codificadas 19.011 peças noticiosas. 6493 provenientes
da imprensa (34,1%), 8459 da televisão (44,5%) e 4072 da rádio (21,4%). Os dados
obtidos em 2012 permitiram efetuar alguns testes metodológicos no sentido de
avaliar a possibilidade de reduzir a dimensão da amostra sem, no entanto, perder a
consistência dos resultados. Neste sentido foi possível, em 2013, atingir o mesmo
objetivo com uma amostra de 16.218 peças, das quais 6220 (38,4%) na imprensa,
7008 (43,2%) na televisão e 2990 (18,4%) na rádio.
O Projeto Jornalismo e Sociedade publicou, ainda, relatórios semanais com
uma análise mais aprofundada da notícia da semana (http://estadodasnotici-
as.info.) e mensais com a identificação das 3 notícias que se destacaram no mês
(http://futurojornalismo.org/).

Principais conceitos

Big story e substoryline

A análise do Projeto Jornalismo e Sociedade centra-se no conceito de big story, ter-


mo adotado do PEJ News Cover Index e que corresponde ao conjunto de notícias
que são publicadas a partir de um determinado acontecimento ou tema. Uma notí-
cia é considerada como big story a partir do conjunto de notícias disponíveis na
amostra. São tidos em consideração 3 dimensões: recorrência — quando uma notí-
cia se mantém em destaque na agenda durante dois ou mais dias; diversidade quan-
to ao órgão de comunicação — é dada maior relevância às notícias que são
publicadas em diferentes setores de media; intensidade — uma notícia que tem um
foco de atenção mediática muito elevado num curto período temporal (o exemplo
de um tema que abre todos os jornais televisivos e na rádio e que é manchete na im-
prensa pode ser considerada big story nessa semana, mesmo que não se enquadre
na primeira dimensão).
208 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

As big stories podem ser por sua vez agrupadas de acordo com as diferentes
narrativas que se constroem em seu torno, variações do tema ou novos enredos.
Estas “subcategorias” constituem a variável substoryline, termo igualmente adota-
do sem tradução do PEJ News Cover Index. São as substorylines que, de certa forma,
fazem manter o foco de atenção mediática numa determinada big story ao longo do
tempo.
A operacionalização do conceito assenta num conjunto de regras cujos objeti-
vos são: aproximar a observação empírica à lógica jornalística de hierarquização
das notícias de acordo com a importância percecionada (pelas redações) e captar a
visibilidade pública de uma determinada notícia por via do destaque que lhe é
dado e posicionamento nos respetivos suportes (manchete na imprensa, abertura
de noticiários na TV e rádio).

Espaço ocupado e duração das notícias

A base para medir o peso de uma notícia na televisão e na rádio é o tempo enquanto
na imprensa é o espaço ocupado por texto e imagem/grafismo. O Projeto Jornalis-
mo e Sociedade considera, por isso, as duas medidas isoladamente. Na televisão e
rádio, é codificada a duração da notícia em segundos. Na imprensa é codificada a
área ocupada pela unidade de análise, incluindo elementos gráficos.

Manchete e destaque jornalístico (headline)

A notícia de abertura, o destaque jornalístico e as notícias de última hora (os mo-


mentos em que o imprevisto irrompe no alinhamento mais ou menos pré-definido
e hierarquizado dos noticiários do dia) delimitam o contexto de análise do Projeto
Jornalismo e Sociedade. Esta opção implica o reconhecimento da importância das
operações de seleção e hierarquização das notícias realizadas pelas redações num
contexto marcado pela concorrência económica mas também pela concorrência en-
tre suportes tecnológicos e visa dar conta do que o jornalista considera ser de maior
interesse para o espetador/leitor e, simultaneamente, sobre o mundo (ou pelo me-
nos sobre o mundo que o noticiário lhe apresenta na forma fragmentada de peças
noticiosas).

Género jornalístico

As peças noticiosas dispostas no alinhamento de um jornal televisivo ou nas pági-


nas de um jornal são estruturadas e organizadas de acordo com regras próprias do
campo profissional do jornalismo. Uma das características dessa estruturação de
conteúdos é o género jornalístico. Neste domínio, os jornalistas utilizam um con-
junto de recursos e estratégias na apresentação das narrativas em formas mais ou
menos reconhecíveis pelo público consumidor das notícias.
O conceito de género jornalístico é operacionalizado, no Projeto Jornalismo e
Sociedade, de forma diferenciada para a televisão/rádio e imprensa. Nas peças te-
levisivas e radiofónicas são considerados: os relatos do pivô, notícias que são
METODOLOGIA 209

apresentadas exclusivamente pelo pivô durante a emissão em direto com ou sem


imagens sobrepostas; as peças editadas, definidas como um produto de edição au-
diovisual com recurso a imagens de arquivo ou recolhidas no local e cujo texto é in-
troduzido em voz off; as reportagens, que se distinguem das peças editadas pela
presença do repórter no local que, normalmente, encerra a peça com um comentá-
rio de conclusão; o direto, caracterizado através de legenda indicativa ou anúncio
do pivô e que é sempre considerada peça noticiosa, mesmo que surja no alinha-
mento em situações de “atualização” da informação veiculada em peça anterior; a
entrevista, que ocorre em estúdio ou em local previamente preparado do ponto de
vista da encenação, elemento fundamental na definição deste género. A entrevista
pressupõe, igualmente, a definição clara e bem demarcada dos papéis de entrevis-
tador e entrevistado; a opinião ou comentário diverge da entrevista por tratar, nor-
malmente, de um tema específico, normalmente em estúdio e onde o pivô tem um
papel interventivo e, muitas vezes, inquiridor.
Na imprensa mantêm-se as categorias reportagem, entrevista e opinião, com
as devidas adaptações, às quais se acrescenta o artigo como a forma mais básica de
apresentação da notícia, assente numa abordagem factual e descritiva e o editorial
como espaço de expressão de uma posição do jornal perante um tema. A inclusão
de um editorial numa determinada notícia é indicador da importância do tema
para a redação do jornal em questão. São ainda considerados para a análise géneros
menos frequentes, alguns em desuso, mas característicos deste suporte: a carta do
leitor (na condição que assume relevância tal que chega à primeira página), a cróni-
ca, enquanto género híbrido que se encontra na interseção entre o jornalismo e a li-
teratura, de cariz opinativo e que é muito pouco expectável de alcançar a primeira
página de um jornal e, por fim, a autopromoção, enquanto género em que o jornal
escreve sobre si próprio, por exemplo, através do destaque dado a suplementos.
O espaço dedicado à publicidade não é analisado.

Fonte da informação

Este conceito pretende identificar a explicitação da fonte usada pelos jornalistas


numa determinada peça noticiosa. É considerada a fonte predominante e explícita
na peça analisada. Apenas se considera que o próprio meio pode ser fonte da notí-
cia quando esta é claramente produzida pelo órgão de comunicação em causa (por
exemplo, uma afirmação ou opinião que se produz em entrevista no estúdio de um
jornal televisivo ou página de jornal é um exemplo típico de uma notícia cuja fonte
é atribuída ao próprio meio, para efeitos da análise). Para além do próprio meio são
consideradas as dimensões: outros media; fonte institucional; agência noticiosa;
sem fonte explícita e fonte anónima.

Assunto

A categorização temática do conteúdo é uma variável clássica nos estudos sobre


notícias. O Projeto Jornalismo e Sociedade integrou no seu codebook, com algumas
adaptações, a categorização temática proposta no estudo português publicado em
210 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

2010 com o título Telejornais em exame (Silveira e Shoemaker, 2010) e que por sua vez
reflete a metodologia desenvolvida por Pamela Shoemaker num estudo internaci-
onal sobre noticiabilidade, em 2006.
As categorias assim definidas permitem refletir sobre o espectro temático do
conteúdo jornalístico mas correspondem, obviamente, a uma construção analítica que
se impõe como uma camada interpretativa sobre esse produto. As regras metodológi-
cas que orientam a classificação de uma notícia num determinado tema promovem as-
sim indicadores da tematização do conteúdo noticioso. Desta forma, considerou-se
uma vasta lista de itens de tematização e subcategorização dos temas traduzidos em
22 assuntos principais subdivididos em 92 subcategorias temáticas.

Enfoque geográfico

O enfoque geográfico tem como objetivo identificar e classificar as notícias que são
enquadradas geograficamente e, para estas, perceber qual o seu ponto de referên-
cia numa escala que varia entre o enfoque local/regional até ao enfoque internacio-
nal (sem qualquer referência a Portugal). Pretende-se com esta variável perceber
qual o peso das notícias nacionais face à dimensão local/regional assim como a rela-
ção das notícias europeias e internacionais (fora da Europa) com a dimensão nacio-
nal. Ou seja, as dimensões consideradas pelo Projeto Jornalismo e Sociedade
procuram identificar notícias que são: essencialmente nacionais com referência a
países ou instituições europeias; essencialmente europeias ou internacionais (resto
do Mundo) mas com algum grau de referência a Portugal; europeias ou internacio-
nais sem qualquer referência a Portugal.

Protagonista da notícia e esfera de atuação

O protagonista da notícia é o sujeito da ação na narrativa em análise numa peça notici-


osa. Note-se que este conceito não pretende identificar apenas o ator ou atores mencio-
nados na peça noticiosa mas sim aquele ou aqueles “de quem se fala”, o agente da
notícia. Do ponto de vista da análise, este conceito apenas considera protagonista o su-
jeito da ação que ocupe mais de 50% da notícia (medido em tempo, na televisão e
rádio, e em espaço, na imprensa). Para além desta medida relacionada com a persona-
lização das notícias (a proeminência do ator é um valor-notícia dominante e ampla-
mente reconhecido nos estudos sobre jornalismo) o Projeto Jornalismo e Sociedade
identifica a esfera de atuação do protagonista enquanto sujeito da ação, a partir da ca-
tegorização do papel atribuído ao ator social na peça analisada.
Capítulo 10
Conclusão
Uma agenda noticiosa em crise

Gustavo Cardoso, Susana Santos e Décio Telo

Definir o que é uma agenda noticiosa num determinado momento apresenta vários
desafios e riscos. Começamos pelos desafios.
O primeiro desafio foi o de pensar em como é que um projeto de investigação
pode ser ao mesmo tempo um espaço de desenvolvimento de linhas de pesquisa
académicas em diálogo com os seus pares e um lugar de encontro entre investiga-
dores e jornalistas. Lugar onde os jornalistas se podem olhar num espelho, visua-
lizando o seu produto final — as notícias — não observando apenas o caso
excecional, a notícia que não corresponde às regras da ética e da deontologia, mas
todas as notícias, de todos os meios. Esse desafio foi atingido, através da monitori-
zação das notícias dos principais meios de comunicação portugueses entre 2012 e
2013, continuando essa análise, ainda hoje, no barómetro de notícias do ISCTE-IUL
numa lógica semanal de alargamento temporal da base de dados sobre notícias em
Portugal.
O segundo desafio foi o de tentar criar uma rotina, entre os profissionais e
alunos de jornalismo, de refletirem sobre o seu trabalho e sobre o que os meios de
comunicação diariamente colocam à disposição dos cidadãos em forma de notíci-
as. Foi assim lançado um repto aos profissionais e aos estudantes de comunicação
social para participarem num conjunto de encontros nas várias universidades e po-
litécnicos, com cursos de comunicação social, no sentido de discutirem e refletirem
sobre o estado atual do jornalismo português. Desses encontros e do tipo de com-
promisso público aí ocorrido resultou uma larga adesão de alunos e profissionais
ao debate das questões criadas no relacionamento entre jornalismo e sociedade,
com impactos para além do momento do debate público, nomeadamente nos curri-
cula dos cursos de jornalismo, mas também nas rotinas das redações. Embora sen-
do de difícil mensuração de resultado, o que sobressai do trabalho realizado é o
facto de ele representar o início das fundações de um trabalho de debate recorrente
dentro das instituições educativas e jornalísticas portuguesas.
O terceiro desafio, este de carácter mais ambicioso, consistiu em disponibili-
zar aos cidadãos informação atualizada sobre a produção noticiosa em Portugal.
Para tal criou-se um blogue com atualização semanal que esteve ativo durante todo

211
212 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

o período de execução do projeto e que, com o seu término, transitou numa primei-
ra fase para as páginas do jornal Público de sábado e a partir de março de 2016 para a
página web da TVI24. Neste ponto o projeto adotou a premissa da informação como
bem público, pedra fulcral no desenvolvimento das sociedades democráticas.
Assumindo a responsabilidade social de, ao centralizar e disponibilizar dados so-
bre a agenda noticiosa portuguesa numa base semanal, permitir aos cidadãos a uti-
lização da informação como ferramenta de conhecimento sobre a realidade e
instrumento de interpelação e de reflexão no espaço público.
Vamos aos riscos. Pensar na agenda noticiosa portuguesa é convocar um con-
junto de meios de comunicação com diversidade de objetivos e lógicas concorren-
ciais entre si, seja na sua história, nos seus modelos de negócio ou ainda nas
práticas profissionais de cada redação. Esse era um risco calculado para o qual nos
munimos de um conjunto de reflexões dos estudos da comunicação, nomeada-
mente através da parceria com o Project for the Excellence in Journalism. Desse
trabalho em conjunto resultou a criação de um conjunto de instrumentos metodo-
lógicos capazes de darem conta da diversidade dos meios, seja através de análises
extensivas como de análises intensivas. O principal instrumento — codebook — pos-
sibilitou a criação de bases de dados semanais, mensais e anuais, que pela sua ex-
tensão — dois anos de codificação ininterruptos — nos permitiu traçar um retrato
do estado das notícias num tempo singular — o período de intervenção financeira
externa na sociedade portuguesa.
Um segundo risco assumido pelo projeto e pelos jornalistas mais diretamente
envolvidos foi o de discutir os princípios do jornalismo atuais, ou seja, aqueles que
na mente dos protagonistas são assumidos mas raras vezes vertidos numa lista de
princípios de práticas e representações para além do que se faz impelido pela roti-
na do quotidiano. Com a colaboração de um vasto leque de participantes, sob a co-
ordenação de Adelino Gomes e Gustavo Cardoso, foi proposta e apresentada uma
Carta de Princípios do Jornalismo na Era da Internet a qual tem ainda certamente
um vasto caminho a percorrer na sociedade portuguesa, mas que cujo caminho se
iniciou com o Projeto Jornalismo e Sociedade.
O tempo deste projeto e o tempo decorrido desde o seu terminus foram tem-
pos de mudança rápida e de aparência vertiginosa que pode ser entendido como de
difícil comparação com outros períodos da história recente portuguesa. As ques-
tões levantadas ao longo deste livro foram muitas e as tentativas de resposta tam-
bém. No entanto, há questões que sabemos não terem sido respondidas na sua
totalidade e que é necessário recuperar numa tentativa de contribuir para a sua res-
posta. Essas questões são, por exemplo, se estamos perante uma agenda noticiosa
dos tempos da crise? Se essa agenda é produto de um contexto específico do meio
ambiente mediático exterior às redações e por isso mesmo irrepetível, ou não? E,
por último, será que o regresso à normalidade democrática acarretará o regresso à
normalidade da agenda noticiosa? Os próximos seis pontos constituem uma tenta-
tiva de resposta, possível, para essas inquietações na relação entre o jornalismo fei-
to em Portugal e a sociedade portuguesa.
CONCLUSÃO 213

A nacionalização das notícias e nacionalização dos problemas

Um dos paradoxos da cobertura noticiosa destes últimos anos de crise residiu no


facto de cada vez mais os media apresentarem factos e acontecimentos apenas
numa perspetiva nacional. Ao mesmo tempo que se fazem sentir de forma cada vez
mais premente os impactos da globalização económica e financeira e a perda de so-
berania dos governos nacionais, o jornalismo aparenta virar-se para dentro, para o
olhar nacional. Os dados apresentados ao longo do livro deixam bem patente a im-
portância do nacional. No caso da televisão, no caso da rádio, no caso da imprensa,
o enfoque geográfico europeu e internacional esteve sempre abaixo dos 10% do to-
tal da análise.

A obsessão pelos Orçamentos do Estado

A análise empírica demonstrou a forte preponderância dos temas políticos e eco-


nómicos na agenda noticiosa nos anos de 2012 e 2013. A leitura dos dados aponta
para o foco num único assunto: a discussão e aprovação dos Orçamentos do Estado
no parlamento. Em 2012 o Orçamento do Estado ocupou 4,6% do total de notícias
analisadas. Em 2013, se somarmos as notícias referentes aos orçamentos retificati-
vos com o novo orçamento, chegamos a um total de 6,4% do total, apenas ultrapas-
sado pelas notícias sobre a crise governativa de julho desse mesmo ano.
As notícias relativas ao Orçamento do Estado tiveram uma larguíssima cobertura
no ano de 2012, com um enfoque temático direcionado sobretudo para a economia
e para os impactos das decisões políticas na atividade económica. Em 2013, as notí-
cias sobre o Orçamento do Estado foram apresentadas segundo uma arrumação te-
mática mais próxima da política interna, focando sobretudo as posições dos
principais intervenientes políticos.
A outra face da moeda é a subalternização de outras formas de entendimento da
crise, com menor espaço de cobertura para as consequências sociais e culturais.
Esta desvalorização é notória tanto na produção de informação como no comentá-
rio, totalmente ou quase controlado por economistas, jornalistas e políticos.

Um jornalismo de versões ou a reprodução das narrativas da crise

As narrativas da crise estiveram presentes nas agendas noticiosas de 2012 e 2013.


Um bom exemplo pode ser retirado do estudo de caso da cobertura da televisão
portuguesa das eleições legislativas gregas e das eleições presidenciais francesas
de 2012. A cobertura eleitoral transmitiu duas narrativas distintas no mesmo espa-
ço temporal relativamente à crise económica europeia. Uma narrativa centrada nas
políticas de austeridade e na ausência de alternativas credíveis — a cobertura das
eleições gregas. E num sentido contrário, uma narrativa construída a partir da ideia
de alternativa política à austeridade através do investimento público — a cobertu-
ra das eleições francesas.
Esta dualidade foi visível na nossa análise pela voz atribuída aos políticos na-
cionais em cada momento eleitoral. As eleições legislativas gregas deram voz a
214 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

personalidades do governo português de então, bem como a personalidades dos


partidos que lhe estavam associados (PSD e CDS) o que traduz de alguma forma o
interesse pela manutenção da política económica europeia, pois o governo portu-
guês era um dos seus promotores. Nas eleições presidenciais francesas os agentes
políticos nacionais mais referenciados pertenciam à oposição, mais frequentemen-
te a individualidades do Partido Socialista, associados a visões divergentes à eco-
nomia de austeridade.
O estudo de caso reforça a intuição sociológica esboçada nos estudos extensi-
vos da análise noticiosa, o da presença de um novo fenómeno, o jornalismo repro-
dutor de versões. Este tipo de jornalismo caracteriza-se pela produção de notícias
com base na transcrição de versões, o contraditório é justificado através da diaposi-
ção entre a versão A e a versão B. O jornalismo de versões desresponsabiliza os me-
dia e os jornalistas. Cada peça emitida em que o jornalista apenas se apresenta como
um relator distante ajuda a minar a relação de confiança com os cidadãos, sejam
eles públicos atentos ou distraídos, habituais ou de primeira vez.

A personalização das notícias

Os dados empíricos comprovaram a importância das personalidades políticas en-


quanto critério de noticiabilidade. No entanto, ser uma personalidade política não
basta. Os dados mostram que apenas os líderes de governo, o Presidente da Repú-
blica e o líder do principal partido da oposição têm grande destaque noticioso. São
estas as personalidades que os jornalistas procuram ouvir para relatar os aconteci-
mentos e transformá-los em notícia. Outros agentes políticos estão arredados do
espaço mediático, pelo menos dos lugares de destaque, eles surgem como comple-
mento mas não como sujeito e fonte da notícia.
Ainda relativamente ao papel das personalidades políticas na construção das
agendas noticiosas, o que verificamos é que muitas vezes o centro da notícia é a pró-
pria personalidade e não tanto o que é dito ou sobre o que é dito. Isto é, em muitas das
notícias analisadas o que se verifica é que o principal critério de noticiabilidade é o fac-
to de ter sido dito pelo Presidente da República ou pelo primeiro-ministro e com me-
nor relevância o acontecimento em si.

Um jornalismo de tradução e de repetição

Aanálise realizada ao longo desses dois anos de pesquisa demonstrou que o uso indis-
criminado de notícias de meios de comunicação internacionais, muitas vezes com re-
curso a uma simples tradução sem divulgação da origem da notícia, se tornou numa
norma da prática jornalística. De algum modo pareceu termos vivido durante os anos
de crise a demonstração do pressuposto do mimetismo social dos media (Bourdieu,
1997), dando razão à crítica de que uma vez publicado algo nos media a probabilidade
de repetição é exponencial, mesmo que não seja possível acrescentar nada mais ao que
já foi publicado por outros meios de comunicação social. A crise manifestou-se no
campo das notícias também através da reprodução parcial de notícias já publicadas e
apresentadas depois como novas em outros meios.
CONCLUSÃO 215

Um falso jornalismo cidadão

A instrumentalização do potencial do jornalismo cidadão, em especial, nas emissões


dos noticiários televisivos tornou-se também um novo padrão noticioso. Ao invés de
se praticar uma relação de confiança e responsabilidade entre jornalistas e cidadãos
optou-se, vezes demais, pelo uso indiscriminado de recursos colocados à disposição
pelos cidadãos. Com uma capa de interatividade e de diálogo, mas que mais não é do
que a mostra de vídeos no YouTube de acidentes, catástrofes naturais ou mau tempo,
os cidadãos são chamados a colaborar num processo de desvalorização dos valores
notícia e na glorificação do infotainment. O crescente recurso a não jornalistas no terre-
no, sobretudo na cobertura de acontecimentos internacionais, através da busca da tes-
temunha de algo, banalizou durante este período o papel social do jornalista.

E agora?

Passados alguns anos do início do Projeto Jornalismo e Sociedade e passada a cen-


tralidade da intervenção externa da troika em Portugal, poderemos dizer que um
“Novo Tempo” de agenda noticiosa chegou com o novo ciclo político, iniciado em
2015 com as eleições legislativas e consolidado em 2016 com a eleição presidencial?
Que desafios novos se colocam à agenda noticiosa, aos jornalistas e aos cidadãos?
Se o país saiu da crise, vive o jornalismo ainda o tempo da crise? E os cidadãos e o
jornalismo? Como se processará a relação futura de reconstrução da co-habitação
entre sociedade e jornalismo no Portugal pós-crise?
Para tentar ajudar-nos a responder a estas questões mergulhemos, ainda que de
modo superficial e breve, na análise das eleições presidenciais de 2016 e da noticiabili-
dade dos seus candidatos e também na análise da tomada de posse do Presidente da
República a 9 de março de 2016 e do final de mandato do Presidente da República,
Aníbal Cavaco Silva, através do olhar das redes sociais e dos media em Portugal.
No início de janeiro de 2016, em pré-campanha para as presidenciais 2016,
um dos temas que ocupou uma parte substancial dos comentários e opiniões nos
media tradicionais e nas redes sociais foi o da desigualdade entre candidatos no
acesso ao campo mediático e, em particular, no espaço noticioso. A partir dessa dú-
vida, analisamos na figura 10.1 a presença de quatro candidatos no destaque notici-
oso publicado em 2014 e 2015.
Os dados na figura 10.1 indicam que para cada peça em que Sampaio da Nó-
voa foi referido num destaque noticioso em 2014, Marcelo Rebelo de Sousa regis-
tou 15 referências, Maria de Belém 2,8 e Marisa Matias, 4,5. Em 2015, esse rácio
passa para 1,5 referências a Marcelo Rebelo de Sousa por cada peça em que Sampa-
io da Nóvoa é referido, 0,5 para Maria de Belém e 0,2 para Marisa Matias. Con-
clui-se assim que, até ao final do mês de dezembro de 2015, Marcelo Rebelo de
Sousa teve mais 50% de destaque do que Sampaio da Nóvoa e mais 200% que Maria
de Belém ou Marisa Matias.
Durante os 15 dias que antecederam e os 15 dias posteriores ao lançamento da
candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa (9 de outubro de 2015), esse candidato teve
61 destaques de abertura de noticiários ou primeiras páginas em diferentes meios de
216 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

250

204
200

150
133

100
69
60

50
23
18
11
5
0
2014 (N.º = 16652) 2015 (N.º =20752)

Marcelo Rebelo de Sousa Sampaio da Nóvoa Maria de Belém Marisa Matias

Figura 10.1 Referências a candidatos no lead da notícia nos principais destaques noticiosos (2014-2105)

comunicação social, enquanto a António Sampaio da Nóvoa foram apenas conferidos


15 destaques. A razão por detrás de tão grande disparidade não resultou de um favo-
recimento de um candidato em detrimento de outros. Não são os jornalistas ou os mei-
os que criam intencionalmente esta disparidade, pois ela é produto da rotina e da
preponderância das audiências e da criação de “marcas” nas próprias notícias, tanto a
marca “Marcelo” como a marca “Ronaldo” criam uma apetência de noticiabilidade.
Por exemplo, no ano que antecedeu a apresentação da sua candidatura presidencial,
Marcelo Rebelo de Sousa obteve 200% de crescimento de noticiabilidade face ao ano
anterior em torno do seu nome, das suas ideias e comentários. O problema não é a exis-
tência de “marcas” com noticiabilidade, o problema reside em o jornalismo não se
aperceber da extensão do mesmo fenómeno e, ao não o fazer, não ser capaz de prestar
corretamente o seu papel de mediador entre poderes e cidadãos. Se o jornalismo não
tiver consciência dessas dinâmicas autoinduzidas não será capaz de as contrariar,
mantendo-se uma tendência de maximização da personalização das notícias que con-
tinuará e moldará a noticiabilidade para além dos anos da crise económica e política,
contribuindo para manter a crise na prática jornalística.
Se existiu um fenómeno em claro desenvolvimento e que mereceu a atenção
dos próprios jornalistas ao longo dos anos de crise em Portugal foi o aproveitamen-
to das redes sociais para o protesto e organização de atos de protesto (Cardoso et al.,
2015). No entanto, o fenómeno das redes sociais como ressignificadoras das men-
sagens jornalísticas, no caso do comentário e partilha de notícias, ou da difusão de
opinião sobre eventos com noticiabilidade jornalística tem sido menos alvo de
atenção. Mas a sua compreensão é fundamental para a análise da evolução do jor-
nalismo em Portugal. Por exemplo, a figura 10.2 apresenta uma comparação das
mensagens do Twitter sobre dois Presidentes da República, um empossado, Mar-
celo Rebelo de Sousa, e outro terminando o seu mandato, Aníbal Cavaco Silva.
CONCLUSÃO 217

Marcelo Rebelo de Sousa Positivo/Apoio Negativo/Protesto Sa Infomativ...

Cavaco Silva Positivo/A... Negativo/Protesto Sarcástico/... Infor...

Figura 10.2 Análise do sentido da opinião nas redes sociais — Comparação Marcelo Rebelo de Sousa
e Aníbal Cavaco Silva (6 a 10 de março de 2016)

A análise que resultou nesta comparação foi feita seguindo a metodologia


proposta pelo Pew Research na análise de enquadramentos de discussão
nas redes sociais, mais especificamente no Twitter, através da plataforma de
codificação da Crimson-Hexagon. Este software permite analisar o conteúdo
escrito de utilizadores ou páginas públicas. De forma muito simplificada, a pla-
taforma classifica o conteúdo online identificando padrões estatísticos das pala-
vras de uma mensagem, através de um processo de treino efetuado por um
codificador humano devidamente treinado para o efeito.1 A análise da platafor-
ma Crimson-Hexagon identificou 1859 conteúdos sobre Aníbal Cavaco Silva,
entre 6 e 10 de março, nas principais redes sociais, incluindo blogues, fóruns,
páginas de meios de comunicação portugueses, Facebook (limitado a páginas
públicas) e Twitter. Marcelo Rebelo de Sousa obteve mais do dobro dos posts do
que Cavaco Silva nas redes sociais (4188 contra 1859), com grande ênfase para o
Twitter (60%).
O que esta breve análise de eventos de elevada noticiabilidade nos demonstra
é que o número de comentários em blogues, Twitter e Facebook é sempre superior
às próprias notícias. Esta é uma constatação normal no sentido em que os jornais,
TV e rádios publicam notícias e os cidadãos partilham notícias e opinião em maior
número nas redes sociais.
No entanto, quando analisamos o que é partilhado pelos cidadãos percebe-
mos que as partilhas que ressignificam o sentido das notícias numa lógica positi-
va, negativa ou sarcástica são sempre superiores às que se limitam a retransmitir
o que a comunicação social e os jornalistas inicialmente produziram. O resultado
é a existência de um novo filtro da produção jornalística que é realizado por cida-
dãos nas redes sociais.
Terminamos este diagnóstico, algo cinzento, da construção social da crise em
Portugal através do jornalismo nacional com duas ideias chave.

1 Neste estudo foram consideradas, num primeiro momento, as redes Twitter, Facebook (limita-
do a páginas públicas), Tumblr e ainda uma vasta amostra de páginas Web de conteúdos infor-
mativos. A amostra é limitada à língua portuguesa e a mensagens publicadas em Portugal. Num
segundo momento a pesquisa foi limitada ao Twitter, dada a disponibilidade de todas as publi-
cações publicadas em Portugal, cobrindo assim todo o universo de conversação, incluindo twe-
ets, retweets e mentions. Foram recolhidos dados entre os dias 6 e 10 de março. Informação
detalhada sobre o algoritmo que suporta a plataforma Crimson-Hexagon pode ser consultada
no artigo “A method of automated nonparametric content analysis for social science”
(http://gking.harvard.edu/files/abs/words-abs.shtml).
218 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

3K

2K
Post

1K

0
6 7 8 9 10
Blogues (312) Fóruns (149) News (886) Facebook (232) Twitter (2509) Comments (18)

YouTube (39) Google Plus (0) Tumblr (43)

Figura 10.3 Análise da origem de referências a Marcelo Rebelo de Sousa em diferentes meios online
(6 a 10 de março de 2016)

Positivo/Apoio 52%

Negativo/Protesto 25%

Sarcástico/Irónico 5%

Infomativo/Notícia 18%

Figura 10.4 Análise do sentido da opinião nas redes sociais — Marcelo Rebelo de Sousa
(6 a 10 de março de 2016)

A primeira é que o novo ciclo político pós-troika e pós-crise não se afigura ca-
paz de constituir uma rutura com a lógica de noticiabilidade que vivemos durante
os anos de chumbo da intervenção de 2012-2014.
A segunda ideia chave é a de que a noticiabilidade embora iniciada pelos jor-
nalistas é cada vez mais mediada por um grupo de cidadãos, comunicadores em
rede (Cardoso et al., 2015), que através das redes sociais remixa, ressignifica, recria
as notícias e as faz circular num processo que cada vez mais parece ser dominado
pelas mensagens ressignificadas e pelas pessoas, cidadãos ou jornalistas, que as co-
mentam e menos pelos detentores dos meios e produtores das mensagens iniciais.
Há um novo reequilíbrio em formação nas redes da comunicação da sociedade em
rede, também em Portugal. No entanto, a questão é que esse reequilíbrio não está
ainda finalizado e, portanto, não podemos ainda dizer que relação entre jornalismo
e sociedade se está a formar, se uma relação mais distópica ou utópica? Se se
CONCLUSÃO 219

caminha para dar mais voz aos poderosos, no caminho para um jornalismo menos
livre e mais próximo dos vários poderes políticos e económicos, mais preso do po-
pulismo das redes sociais? Ou um jornalismo capaz de voltar a ser um mediador de
novos reequilíbrios entre cidadãos e poderes, mantendo o seu poder de escrutínio
sobre os outros poderes, nos quais se inclui o próprio jornalismo.
Anexo
Projecto Jornalismo e Sociedade
Codebook

Regras comuns

Código 88 = Não se aplica


Código 99 = Não identificado/vários
Nas variáveis “duração”, “internacional_outro”, “bigstory_outro”, “substoryline_outro”,
não se aplicam os códigos “88" e ”99".

Caracterização do Meio/ Peças

Setor mediático
1. Imprensa
2. Televisão
3. Rádio

Órgão de comunicação social (canal televisivo/rádio/jornal em análise)


1. Público
2. Jornal I
3. Diário de Notícias
4. Correio da Manhã
5. Jornal de Notícias
6. Diário Económico
7. Jornal de Negócios
8. Expresso
9. Sol
10. RTP1 20h
11. RTP2 22h
12. RTPN 24h
13. SIC 20h

221
222 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

14. SIC Notícias 21h


15. TVI 20h
16. TVI 24 21h
17. TSF 7h
18. TSF 8h
19. TSF 9h
20. TSF 18h
21. TSF 19h
22. Rádio Renascença 7h
23. Rádio Renascença 8h
24. Rádio Renascença 9h
25. Rádio Renascença 18h
26. Rádio Renascença 19h
27. Antena 1 7h
28. Antena 1 8h
29. Antena 1 9h
30. Antena 1 18h
31. Antena 1 19h
32. Rádio Comercial 7h
33. Rádio Comercial 8h
34. Rádio Comercial 9h
35. Rádio Comercial 18h
36. Rádio Comercial 19h
37. TSF 12h
38. TSF 13h
39. TSF 17h
40. Rádio Renascença 12h
41. Rádio Renascença 13h
42. Rádio Renascença 14h
43. Rádio Renascença 17h
44. Antena 1 12h
45. Antena 1 13h
46. Antena 1 14h
47. Antena 1 17h
48. Antena 1 20h
49. Rádio Comercial 20h
50. TSF 20h

Determinação das peças a analisar


* TV e rádio:

1. Notícia de abertura:
a. A notícia de abertura constitui o primeiro tema a ser abordado por completo no bloco
noticioso, esteja ele antes do headline (como é o caso da RTPN) ou depois.
PROJECTO JORNALISMO E SOCIEDADE 223

b. Codifica-se o tema que abre o jornal — ou seja, se esse tema for dividido em mais de
uma peça, elas são todas codificadas pois compõem o tema de abertura. Exemplo: a
primeira peça da grelha é sobre a possível candidatura do António Costa à liderança
do PS e a segunda é um comentário do Seguro a essa possibilidade. Apesar do assunto
estar dividido em duas peças, ambas são codificadas.

2. Headlines: analisar todas as peças que são referidas nos headlines apresentados antes
e/ou durante todo o bloco noticioso.
a. Quando o headline refere o assunto de um ponto de vista geral, codificam-se todas as
peças presentes na grelha relacionadas com o assunto. Exemplo: no headline temos:
“Entra em vigor o pagamento dos subsídios em duodécimos”; na grelha, existe uma
peça que explica a situação em geral, outra sobre a opinião das frentes sindicais e ou-
tra ainda que aborda o ponto de vista dos trabalhadores do setor público. Neste caso,
todas as peças serão codificadas.
b. Quando o headline refere uma questão específica dentro de um tema, só se codifica a
peça referente a essa questão/perspetiva. Exemplo: no headline “Frentes sindicais criti-
cam a solução do pagamento dos subsídios em duodécimos”. Neste caso, codifica-se
apenas a 2.ª peça, referente exclusivamente à opinião das frentes sindicais sobre o
assunto.
c. Quando, no headline, o assunto é referido no geral mas também é destacada uma ques-
tão específica, codifica-se a peça geral e a peça que aborda a questão/perspetiva espe-
cífica que foi referida no headline. Exemplo: no headline ouvimos/vemos: “Entra em
vigor o pagamento dos subsídios em duodécimos. Pagamento será obrigatório no se-
tor público”. Neste caso, codifica-se a peça geral e a que diz respeito à situação dos tra-
balhadores no setor público, ignorando a que diz respeito à opinião das frentes
sindicais.

3. “Últimas horas”: codificam-se as notícias que são apresentadas como última hora.

Duração da peça em rádio ou televisão (em segundos)


(Variável aberta)

Formato (TV/rádio)

1. Peça editada
Peça que foi editada e que normalmente apresenta uma notícia factual, em voz off e com
recurso a imagens de arquivo ou recolhidas por equipas de reportagem. É apresentada
pelo pivô que em alguns casos também faz um comentário após o final.

2. Reportagem
É uma forma de história que recorre, por vezes, a imagens de arquivo mas tem como
fatores distintivos o facto de se realizar in locus (muitas vezes com deslocação do
repórter ao exterior) e a presença do repórter (normalmente no início e no final da peça).
O repórter costuma “assinar” a peça. A reportagem tem uma narrativa própria
(introdução, desenvolvimento e conclusão).
224 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

3. Direto
Qualquer peça que ocorra em direto (com a legenda indicativa ou anúncio do pivô) deve
ser classificada como direto, mesmo que possa tratar-se de entrevista ou ocorrer após
uma reportagem (situação muito comum). Nestes casos, mesmo podendo tratar-se de
um desenvolvimento ou atualização da notícia anterior deve classificar-se como uma
nova peça.

4. Entrevista
A entrevista ocorre em estúdio ou em local previamente trabalhado do ponto de vista da
encenação. Pressupõe dois papéis (entrevistador-entrevistado) e decorre num ritmo de
pergunta/resposta acerca de diversos temas.

5. Opinião
A opinião diverge da entrevista por normalmente tratar de um tema nos seus
desenvolvimentos. O papel do entrevistador é muitas vezes executado pelo pivô. Ocorre
normalmente em estúdio e o comentador é normalmente um(a) especialista no assunto
em discussão.

6. Relato do pivô
Peça em que o pivô apresenta a informação com ou sem imagens de vídeo sobrepostas.
Não há outros intervenientes na peça. São normalmente curtas.

99. Outros

Género jornalístico (apenas para imprensa)

1. Notícia (inclui artigo)


Apresenta factos, mesmo que incluam relatos dos atores da notícia desde que não se
apresentem como entrevista ou opinião.

2. Reportagem
Contém factos e histórias, recolhidos pelo jornalista do medium e normalmente
identificado como tal.

3. Entrevista
Normalmente identificada pelo formato pergunta/resposta e identificada como tal no jornal.

4. Opinião (inclui coluna ou crítica)


Artigos de opinião normalmente identificados numa secção específica e assinados pelo autor.

5. Editorial
Categoria jornalística que normalmente está identificada no jornal e é assinada pelo
diretor ou vice-diretor.

6. Carta (inclui “cartas do leitor”)


PROJECTO JORNALISMO E SOCIEDADE 225

Quando uma carta, por algum motivo, obtém valor-notícia para ter destaque na 1.ª
página do jornal.

7. Crónica
A crónica é um género híbrido que se encontra na interseção entre o jornalismo e a
literatura. É de cariz opinativo. Na narrativa cronista pode encontrar-se um misto de
funções de linguagem (poética, denotativa). Pode expressar os sentimentos do autor.

8. Autopromoção
Deve considerar-se autopromoção quando o jornal, de alguma forma, fala de si próprio.
Inclui oferta de objetos ou adereços, suplementos ou ainda a distribuição de filmes,
livros, etc.

9. Publicidade (explícita)
Espaço vendido para publicidade de qualquer entidade exterior ao jornal e sem
referência a este.

88. Não se aplica

99. Outros/não identificado (inclui meteorologia, trânsito, teasers, etc.)

Ordem de apresentação das peças (imprensa_pag1_ordem)


Ordenar a notícia de acordo com as seguintes regras:

• A 1.ª peça corresponde à manchete. Esta caracteriza-se essencialmente pelo posicio-


namento na 1.ª página — normalmente (mas não exclusivamente) na área superior es-
querda — e pelo tamanho aumentado do título (letra garrafal). Ver exemplo na última
página. Em caso de dúvida sobre o posicionamento deve optar-se por escolher a notí-
cia que apresente o título com letra garrafal.
• A 2.ª peça, na maior parte dos jornais nacionais, está associada a fotografia que ocupa
parte considerável da 1.ª página (ver exemplo típico na última página).
Os semanários e o Jornal i podem implicar mais dificuldade na codificação desta
variável. Deve ter-se também em conta as regras essenciais da leitura visual,
nomeadamente o varrimento do campo visual (da esquerda para a direita e de cima para
baixo). Para aprofundar o conceito de direção e outros sobre organização visual ver por
exemplo o blogue
http://dedsign.wordpress.com/textos/a-organizacao-visual-segundo-a-perspetiva-gestalti
ca/.
1. 1.ª peça
2. 2.ª peça
3. Outra
88. Não se aplica
99. Não identificado
226 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

A notícia tem suporte gráfico, na 1.ª página?


1. Sim
2. Não
88. Não se aplica
99. Não identificado

Tipo de suporte gráfico, na 1.ª página, associado à peça


Em caso de vários optar pelo mais predominante.
1. Fotografia
2. Caricatura (desenho)
3. Cartoon
4. Infografia (inclui gráficos, cronologias, etc.)
5. Outra
88. Não se aplica
99. Não identificado/desconhecido

Área ocupada pela peça


(Codificar a peça no interior do jornal. Inclui área ocupada por elementos gráficos e
visuais associados à peça)
0. < 1/4 de página
1. 1/4 de página
2. 1/2 de página
3. 4/4 de página
4. 1 página
5. 1 + 1/4 de página
6. 1 + 1/2 de página
7. 1 + 3/4 de página
8. 2 páginas
9. 2 + 1/4 de página
10. 2 + 1/2 de página
11. 2 + 3/4 de página
12. 3 páginas
13. 3 + 1/4 de página
14. 3 + 1/2 de página
15. 3 + 3/4 de página
16. 4 páginas
17. Mais de 4 páginas

Ordem de apresentação das peças

* TV e rádio:
1. Categoriza-se como “1.ª notícia” a “notícia de abertura”, esteja ela ou não referida no he-
adline. Quando o primeiro assunto/tema de abertura acaba por se desdobrar em várias
PROJECTO JORNALISMO E SOCIEDADE 227

peças (como no exemplo que demos na “Determinação das peças a analisar”), anali-
sam-se todas essas peças e todas são categorizadas como 1.ª peça. Isto permitirá assinalar
o tema de abertura de forma a não excluir os desenvolvimentos a que este for sujeito.
2. As peças seguintes:
a. As peças constantes nos headlines são categorizadas como “Seguintes”;
b. As peças de “Última hora” são codificadas como “Última hora”.

Fonte (codificar a fonte da notícia mencionada explicitamente na notícia)


(No caso da peça incluir mais do que uma fonte, optar pela predominante — i.e., aquela
que deu origem aos factos que se encontram na origem da peça).
1. Próprio medium
2. Outros media
3. Agência Lusa
4. Outra agência noticiosa
5. Fonte institucional
6. Fonte anónima
99. Sem fonte mencionada

Enfoque geográfico (para todos os setores)


Classificar notícias com um enfoque geográfico que ocupe pelo menos 50% do conteúdo.
Se uma notícia tiver um enfoque inferior, classificar como “sem enfoque geográfico”. Em
caso de haver mais do que um enfoque geográfico em pelo menos 50% da peça
considerar o que ocupa mais tempo/palavras.

1. Local/regional
Quando pelo menos 50% da notícia é abordada de forma circunscrita ao local da
ocorrência. (e.g., um acidente ou incêndio numa rua da Covilhã. O desemprego no
Alentejo).

2. Nacional
Quando pelo menos 50% da notícia tem um enfoque que ultrapassa o âmbito da
ocorrência ou acontecimento (e.g., uma decisão na AR, uma notícia focada num
problema da agricultura, em geral, durante a visita do Presidente da República a uma
região).

3. Nacional com referência a países europeus ou instituições europeias


Quando pelo menos 50% da notícia é dominada por uma abordagem de âmbito nacional
e parte da peça refere um país europeu (se abordar mais do que um país, classificar o
mais referido).

4. Nacional com referências a outros países ou instituições internacionais (não europeus)


Quando pelo menos 50% da notícia é dominada por uma abordagem de âmbito nacional
e parte da peça refere um país não europeu (se abordar mais do que um país, classificar
o mais referido).
228 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

5. Países europeus ou instituições europeias com referência a Portugal


Quando pelo menos 50% da notícia é dominada por uma abordagem de âmbito
supranacional, focada num país europeu, e parte da peça é abordada no plano nacional
(mesmo que Portugal não seja o 2.º mais referido).

6. Países europeus ou instituições europeias sem referência a Portugal


Quando pelo menos 50% da notícia é dominada por uma abordagem de âmbito
supranacional, focada num país europeu, sem que haja qualquer abordagem no plano
nacional.

7. Países não europeus ou instituições internacionais (não europeias) com referência


a Portugal
Quando pelo menos 50% da notícia é dominada por uma abordagem de âmbito
supranacional, focada num país não europeu, e parte da peça é abordada no plano
nacional (mesmo que Portugal não seja o 2.º mais referido)

8. Países não europeus ou instituições internacionais (não europeias) sem referência


a Portugal
Quando pelo menos 50% da notícia é dominada por uma abordagem de âmbito
supranacional, focada num país não europeu, sem que haja qualquer abordagem no
plano nacional.

99. Sem enfoque geográfico


Quando pelo menos 50% da notícia não tem um enfoque geográfico (e.g., notícias sobre a
internet, uma expedição a Marte).

Local/regional
1. Norte (exceto Grande Porto)
2. Grande Porto
3. Centro
4. Lisboa e Vale do Tejo (Grande Lisboa)
5. Alentejo
6. Algarve
7. Região Autónoma da Madeira
8. Região Autónoma dos Açores
88. Não se aplica
99. Não identificado/vários

Europa
1. Áustria
2. Bélgica
3. Bulgária
4. Chipre
5. República Checa
PROJECTO JORNALISMO E SOCIEDADE 229

6. Dinamarca
7. Estónia
8. Finlândia
9. França
10. Alemanha
11. Grécia
12. Hungria
13. Irlanda
14. Itália
15. Letónia
16. Lituânia
17. Luxemburgo
18. Malta
19. Países Baixos
20. Polónia
21. Roménia
22. Eslováquia
23. Eslovénia
24. Espanha
25. Suécia
26. Reino Unido
27. Rússia
28. Albânia
29. Andorra
30. Arménia
31. Azerbaijão
32. Bielorrússia
33. Bósnia Herzegovina
34. Geórgia
35. Listenstaine
36. Moldávia
37. Mónaco
38. Noruega
39. São Marino
40. Sérvia
41. Suíça
42. Ucrânia
43. Kosovo
88. Não se aplica
99. Não identificado/vários

Internacional_rec
1. Afeganistão
2. Angola
230 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

3. Arábia Saudita
4. Argentina
5. Austrália
6. Brasil
7. Canadá
8. China
9. Coreia do Norte
10. Coreia do Sul
11. Cuba
12. Egito
13. EUA
14. Filipinas
15. Guiné-Bissau
16. Índia
17. Indonésia
18. Irão
19. Iraque
20. Japão
21. Nova Zelândia
22. Peru
23. Senegal
24. Síria
25. Somália
26. Sudão do Sul
27. Turquia
28. Venezuela
29. Honduras
30. Ilhas Caimão
31. Ilhas Seicheles
32. Macau
33. Malawi
34. Maldivas
35. Marrocos
36. México
37. Moçambique
38. Myanmar
39. Palestina
40. Papua Nova Guiné
41. Paquistão
42. Síria
43. Timor-Leste
44. Tunísia
45. Zâmbia
46. Líbia
88. Não se aplica
PROJECTO JORNALISMO E SOCIEDADE 231

99. Não identificado/vários

Internacional_outro
(variável aberta)

Big story_rec
Definição: Estórias que surgem várias vezes retratadas nos media durante o período de
tempo analisado. Ex.: eleições na Madeira. Procedimento: se pelo menos 50% da peça se
referir um grande tema, dever-se-á codificar enquanto tal. Se a peça apenas se referir ao
mesmo grande tema mas desenvolver um outro, deverá ser este último a ser tido em
conta.
Nota: consultar o documento disponível no Google Docs para conhecer as big stories já
criadas.

Big story_outro
Variável aberta, para novas estórias. Negociado e definido em equipa.

Substoryline_rec
Descrição: desenvolvimento da big story. Uma sub-story implica, normalmente, a
abordagem de uma big story sob um novo ângulo.
Definição: trata-se de acontecimentos que vão atualizando um grande tema. Ex: eleições
na Madeira (grande tema); PSD ganha eleições na Madeira (subtema).

Substoryline_outro
Variável aberta, negociada e definida em equipa

Resumo
Resumo do conteúdo da peça (e.g., título e subtítulo de uma notícia na imprensa).
Variável aberta.

Broad story topic


Nas 3 primeiras categorias, classificar a variável colocando-se do ponto de vista nacional
(e.g., uma notícia sobre a administração Obama referente à dívida pública americana
deve ser classificada como “política internacional”, apesar de se tratar de um assunto
interno para os norte-americanos).
1. Política interna
2. Política europeia
3. Política internacional
4. Eleições e campanhas
5. Defesa e ordem interna
232 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

6. Justiça e sistema judicial


7. Economia e setores económicos
8. Assuntos laborais e Segurança Social
9. Participação e protestos
10. Serviços públicos e transportes
11. Ambiente
12. Habitação e ordenamento do território
13. Saúde
14. Educação
15. Ciência e tecnologia
16. Comunicação
17. Questões sociais e humanas
18. Cultura
19. Desporto
20. Desastres/acidentes/epidemias
21. Religião
22. Diversos
99. Não identificado

Outra Broad story topic


Sugestão de um broad story topic caso classifique a notícia como “Diversos-Outros”.

Assunto
Determina o tipo de assunto abordado na peça:

1. Política interna
101. Atividades da Presidência da República
102. Atividade legislativa /parlamentar
103. Ações do executivo/governamentais
104. Atividades dos órgãos próprios das regiões autónomas
105. Atividades dos órgãos próprios das autarquias (juntas de freguesia e câmaras
municipais)
106. Atividades de comissões e grupos de trabalho
107. Relações interpartidárias
108. Relações internas de um partido político/governo
109. Declarações e atividades de políticos individuais
199. Outro

2. Política europeia
201. Atividade política das instituições pertencentes à UE (comissão, parlamento,
conselho, associações)
202. Atividades/declarações de políticos individuais que representem os órgãos
próprios da UE
203. Atividades/declarações de políticos individuais de um país da UE
PROJECTO JORNALISMO E SOCIEDADE 233

204. Atividades de partidos políticos ao nível europeu


205. Legislação financeira e monetária da UE/ país europeu
206. Negociações/acordos/ajuda entre países da UE
207. Tensões e disputas entre países da UE
299. Outro

3. Política internacional
301. Atividade política de organizações internacionais (i.e., ONU)
302. Atividades/declarações de políticos individuais
303. Atividades dos partidos políticos
304. Legislação financeira e monetária
305. Negociações e/ou acordos diplomáticos
306. (retirado)
307. Tensões e disputas internacionais (conflitos sem uso de armas)
308. Guerra entre países (conflito que envolva utilização de armas).
Nota: entra nesta categoria o conflito Israel / Palestina.
309. Embargos
399. Outro

4. Eleições e campanhas
401. Eleições internas nacionais (legislativas, presidenciais)
402. Eleições internas regionais (regiões autónomas)
403. Eleições internas locais (autárquicas)
404. Eleições internas partidárias
405. Eleições para órgãos comunitários
406. Eleições internas de países estrangeiros (UE e Internacional)
499. Outras

5. Defesa e ordem interna (nacional, europeu e internacional)


501. Política de defesa/segurança
502. Atividades/exercícios militares
503. Terrorismo
504. Atividades e gestão da polícia
505. Atividades e gestão dos bombeiros
506. Conflitos Internos de um país (com utilização de armas)
507. Conflitos internos de um país (sem utilização de armas)
599. Outro

6. Justiça e sistema judicial


601. Furtos e roubos
602. Homicídios e agressões
603. Burla e fraude
604. Abuso de poder/corrupção
605. Tráfico (droga, pessoas, armas, etc.)
606. Violência doméstica e maus-tratos
234 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

607. Abuso sexual (i.e., pedofilia, violação, etc.)


608. Processos judiciais /decisões judiciais
609. Estabelecimentos prisionais
610. Medidas legais e políticas de justiça
611. Investigação/inquérito
612. Situação do sistema nacional de justiça
699. Outro

7. Economia e setores económicos


701. Falências e insolvências
702. Indicadores económicos (números sobre a economia, setores ou atividades
económicas)
703. Legislação monetárias e financeiras
704. Medidas e políticas fiscais
705. Finanças públicas do Estado, governos regionais e autarquias
706. Mercado de ações/bolsa
707. Agricultura, pescas e pecuária
708. Indústria
709. Mercado de habitação e construção civil
710. Comércio nacional
711. Setor da banca e seguros (créditos, etc.)
712. Turismo
713. Setor energético
714. Privatizações/nacionalizações
715. Negócios entre empresas nacionais
716. Negócios internacionais/globalização
717. Monopólios/ concorrência
718. Setor automóvel e motociclos
719. Setor publicitário
720. Parcerias Público-Privadas (PPP)
721. Obras públicas (i.e., infraestruturas de transportes)
799. Outro

8. Assuntos laborais e Segurança Social


801. Medidas legais e políticas (emprego, desemprego, Segurança Social)
802. Iniciativas e atividades de associações sindicais (que não impliquem greves
ou manifestações)
803. Iniciativas e atividades de associações patronais
804. Conflitos laborais (que não impliquem greves)
805. Emprego
806. Contratações
807. Despedimentos
808. Desemprego
809. Proteção no desemprego (subsídio de desemprego, subsídio social
de desemprego, etc.)
PROJECTO JORNALISMO E SOCIEDADE 235

810. Pensões (reformas, complemento solidário para idosos, pensão por invalidez, etc.)
811. Outros apoios sociais (licença de maternidade, paternidade, RSI, baixas, etc.)
812. Segurança Social (situação financeira da SS, etc.)
899. Outro

9. Participação e protestos
901. Greve
902. Manifestações e protestos
903. Iniciativas/atividades de grupos ou movimentos sociais
904. Declarações de elementos do grupo ou movimento social
905. Protestos individuais
906. Petições
907. Conflitos com violência
999. Outro

10. Serviços públicos e transportes


1001. Questões relativas ao fornecimento de água
1002. Questões relativas ao fornecimento de gás
1003. Questões relativas ao fornecimento de eletricidade
1004. Questões relativas ao tratamento de águas residuais (ETAR, etc.)
1005. Questões relativas ao tratamento de resíduos sólidos
1006. Questões relativas ao fornecimento de serviços postais
1007. Preços e tarifas (se for uma questão de impostos, colocar nas medidas fiscais,
estacionamento)
1008. Serviços mínimos de transporte
1009. Transportes públicos
1099. Outro

11. Ambiente
1101. Ameaças ao ambiente (i.e., poluição)
1102. Atividades de organizações ambientalistas/proteção de animais
1103. Políticas e medidas gerais sobre o ambiente
1104. Conservação da natureza e recursos naturais
1199. Outro

12. Habitação e ordenamento do território


1201. Políticas e medidas gerais sobre a habitação (inclui a questão das rendas)
1202. Planeamento urbano
1203. Habitação social
1204. Políticas e medidas gerais sobre ordenamento de território (política de solos, etc.)
1299. Outro

13. Saúde
1301. Políticas e medidas legais sobre saúde
1302. Situação do sistema nacional de saúde
236 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

1303. Taxas moderadoras


1304. Seguros de saúde
1305. Práticas médicas ou de saúde
1306. Indústria farmacêutica
1307. Doenças e patologias
1308. Negligência e erros médicos
1399. Outro

14. Educação
1401. Políticas e medidas gerais sobre educação
1402. Situação do sistema nacional de ensino
1403. Matrículas e propinas
1404. Provas e exames
1405. Comunidade escolar (inclui professores, alunos, encarregados de educação, etc.)
1406. Curricula escolares
1407. Violência escolar (e.i., bullying, agressões professor/aluno)
1499. Outro

15. Ciência / tecnologia


1501. Medidas políticas e legais sobre ciência e tecnologia
1502. Padrões e normas científicas ou tecnológicas
1503. Investigação
1504. Atividades e iniciativas de cientistas individuais
1505. Atividades e iniciativas de organizações científicas
1506. Apoio à investigação científica e tecnológica
1507. Descobertas e expedições
1599. Outro

16. Comunicação
1601. Indicadores, relatórios e estatísticas sobre o setor dos media
1602. Regulação dos media
1603. Serviço público
1604. Jornalistas e jornalismo
1605. Jornais
1606. Televisão
1607. Rádio
1608. Internet e redes sociais virtuais
1609. Telefones /telemóveis
1610. Publicidade ao próprio meio/grupo mediático (i.e., anúncio a novos programas,
conteúdos programáticos, etc.)
1611. Censura e liberdade de expressão
1699. Outros

17. Questões sociais e humanas


1701. Fome e pobreza extrema
PROJECTO JORNALISMO E SOCIEDADE 237

1702. Ações de beneficência/caridade/apoio


1703. Questões de género (exceto violência)
1704. Questões de orientação sexual
1705. Questões étnicas
1706. Questões geracionais ou familiares
1707. Questões de imigração e emigração
1708. Carência de recursos económicos
1709. Medidas legais e políticas sobre os assuntos anteriores
1710. Prostituição
1711. Hábitos e práticas sexuais
1712. Toxicodependência (incluindo dependência alcoólica e tabágica)
1799. Outro

18. Cultura
1801. Música
1802. Teatro, ballet, dança
1803. Cinema e fotografia
1804. Literatura e poesia
1805. Pintura e escultura
1806. Eventos promovidos pelo medium ou outro medium
1807. Festivais (i.e., festivais de verão, de cinema, etc.)
1808. Museus e património histórico
1809. Arquitetura e arte urbana
1810. Moda e design
1811. Atividade/iniciativas de artistas
1812. Medidas legais e políticas culturais
1899. Outro

19. Desporto
1901. Medidas políticas e legais sobre desporto
1902. Competições/resultados desportivos
1903. Atletas individuais/treinadores/árbitros/clubes desportivos
1904. Ligas e associações desportivas
1905. Sócios/apoiantes/claques
1999. Outro

20. Desastres/acidentes/epidemias
2001. Desastres naturais (sismos, cheias, derrocadas, etc.)
2002. Incêndios
2003. Epidemias (i.e., sida)
2004. Acidentes de transportes
2005. Acidentes de trabalho
2006. Acidentes domésticos
2099. Outro
238 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

21. Religião
2101. Cerimónias religiosas/de culto
2102. Declarações e atividades de líderes espirituais
2103. Declarações e atividades de fiéis/crentes
2199. Outro

22. Diversos
2201. Histórias sobre celebridades
2202. Histórias de vida (cidadão comum)
2203. Comemorações (i.e.
Dia do Pai, Sexta-feira Santa, etc.)
2204. Histórias sobre animais/ viagens
2205. Histórias místicas ou sobrenaturais
2206. Prémios e homenagens
2207. Horóscopos
2208. Jogos, apostas, sorteios (i.e., Totoloto, Euromilhões)
2209. Boletim meteorológico
2210. Temas sobre o clima (i.e., inverno mais frio da década, a pior seca)
2211. Trânsito
2212. Gastronomia
2213. Sondagens, inquéritos e opiniões
2214. Concursos de beleza
2299. Outro

Outro assunto
Sugestão de um “assunto” caso tenha optado por “outros” em qualquer uma das
categorias.

Protagonistas principais e secundários


1. A diferença entre protagonista principal da peça e protagonistas secundários tenderá
a basear-se nas declarações/atos que estejam na base da notícia.
Exemplo: “Licenciatura de Miguel Relvas: António José Seguro e o Jerónimo de Sousa
vêm a público pronunciarem-se sobre a licenciatura do ministro Relvas”.
O protagonista principal desta notícia tenderia a ser Miguel Relvas e os protagonistas
secundários seriam António José Seguro e Jerónimo de Sousa.
2. Nas notícias em que o número de protagonistas principais e/ou secundários exce-
dam as duas possibilidades de codificação, codificaremos aqueles dois que te-
nham mais destaque; se tal não for possível de quantificar, não codificamos
qualquer protagonista.

Protagonista — Outro (lead newsmaker)


Preencher se ao ator principal (sujeito da estória) não tiver já sido atribuído um código
PROJECTO JORNALISMO E SOCIEDADE 239

Esfera de atuação
1. Política Interna /política nacional
101. Presidente da República
102. Presidente da Assembleia da República
103. Primeiro-ministro
104. Ministros, secretários de Estado
105. Líderes parlamentares/líderes políticos
106. Deputados
107. Militantes políticos
108. Presidentes de governos regionais
109. Membros de governos regionais
110. Presidentes e outros membros de autarquia
111. Dirigentes de órgão reguladores
112. Responsáveis de comissões especializadas e grupos de trabalho
113. Ex-detentores de cargos políticos
114. Comentadores e especialistas em política nacional
199. Outros

2. Política europeia
201. Presidente da Comissão Europeia
202. Comissários europeus;
203. Presidente, responsáveis e líderes do Parlamento Europeu;
204. Deputados europeus
205. Responsáveis do Conselho da Europa
206. Responsáveis de comissões especializadas e grupos de trabalho, de âmbito
europeu
207. Ex-detentores de cargos políticos
208. Embaixadores/funcionários diplomáticos
209. Presidentes/monarcas e família real
210. Primeiros-ministros
211. Ministros e secretários de Estado
212. Parlamentares e líderes políticos
213. Comentadores e especialistas em política europeia
299. Outros

3. Política internacional
301. Chefes de Estado (presidentes/ monarcas e família real)
302. Ministros de governos estrangeiros (primeiros- ministros/ ministros)
303. Porta-vozes de governos / parlamentares e líderes políticos
304. Responsáveis de organizações internacionais (ONU, NATO, OPEP, etc.)
305. Voluntários e funcionários de organizações internacionais
306. Responsáveis/porta-vozes de movimentos não reconhecidos/rebeldes
307. Responsáveis militares estrangeiros ou de forças internacionais
308. Embaixadores/funcionários diplomáticos
240 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

309. Ex-detentores de cargos políticos/militares


310. Comentadores e especialistas em política internacional
399. Outros

4. Eleições e campanhas
401. Candidatos a eleições internas nacionais
402. Candidatos a eleições internas regionais
403. Candidatos a eleições internas locais
404. Candidatos a eleições internas partidárias
405. Candidatos a eleições para órgãos comunitários
406. Candidatos a eleições em países estrangeiros (Europa e internacional)
407. Militantes/apoiantes
408. Ex-candidatos
409. Comentadores e especialistas em questões eleitorais
499. Outro

5. Defesa e ordem interna (Portugal, UE e internacional)


501. Responsáveis militares (Exército, Marinha, Força Aérea, GNR, etc.)
502. Outros militares
503. Responsáveis por forças de segurança e proteção (PSP; GNR; Polícia Judiciária;
Brigada de Trânsito; Proteção Civil; Serviços de Estrangeiros; bombeiros)
504. Outros membros de forças de segurança e proteção
505. Terrorista
506. Comentadores e especialistas em questões de segurança, defesa e ordem interna
599. Outros

6. Justiça e sistema judicial


601. Procurador-Geral da República,
602. Juízes e delegados do Ministério Público
603. Funcionários do sistema judicial
604. Presidente do Supremo Tribunal de Justiça
605. Bastonário da Ordem dos Advogados
606. Advogados
607. Responsáveis do sistema prisional, incluindo diretores de estabelecimentos
penitenciários
608. Funcionários e oficiais subalternos do sistema prisional
609. Suspeitos, arguidos e reclusos
610. Vítimas de crime
611. Testemunhas
612. Familiares das vítimas e/ou dos suspeitos, arguidos e reclusos
613. Comentadores e especialistas em questões jurídicas e judiciais
699. Outros

7. Economia e setores económicos


701. Dirigentes de associações/confederações económicas
PROJECTO JORNALISMO E SOCIEDADE 241

702. Grandes empresários


703. Pequenos e médios empresários
704. Administradores/gestores de instituições bancárias e seguradoras
705. Administradores/gestores de empresas públicas
706. Responsáveis de agências de rating
707. Dirigentes de associações de defesa do consumidor
708. Consumidores
709. Contribuintes
710. Comentadores e especialistas em questões económicas
799. Outros

8. Assuntos laborais e sindicatos


801. Dirigentes de centrais sindicais/ federações de sindicatos
802. Outros dirigentes sindicais; líderes de comissões de trabalhadores
803. Dirigentes de associações patronais
804. Outros responsáveis de entidades patronais
805. Trabalhadores
806. Desempregados
807. Pensionistas
808. Beneficiários de outros subsídios
809. Responsáveis e porta-vozes do Instituto de Segurança Social
810. Comentadores e especialistas em questões laborais, sindicais e de apoio social
899. Outros

9. Participação e cidadania
901. Grevistas
902. Manifestantes/participantes em protestos
903. Fundadores de grupos/movimentos sociais
904. Peticionários
905. Comentadores e especialistas em questões de participação e cidadania
999. Outros

10. Serviços públicos essenciais e transportes


1001. Responsáveis das empresas fornecedoras de serviços públicos essenciais
1002. Utilizadores dos serviços
1003. Responsáveis pelas associações de defesa dos direitos do utilizador
1004. Comentadores especializados em questões ligadas à prestação de serviços
essenciais
1005. Responsáveis por infraestruturas e grandes empresas de transporte
(TAP; CP; REFER; Transtejo; Metro, etc.)
1006. Funcionários do setor de transporte
1007. Engenheiros, arquitetos e técnicos superiores do setor de transporte
1008. Dirigentes de comissões de utentes
1009. Utentes
1010. Comentadores e especialistas em política de transportes
242 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

1099. Outros

11. Ambiente
1101. Dirigentes de organizações ambientalistas
1102. Dirigentes de associações de proteção de animais
1103. Cidadãos ativos/ membros de organizações ambientalistas e afins
1104. Responsáveis por infraestruturas ligadas ao ambiente
1105. Cientistas e investigadores
1106. Comentadores e especialistas em questões ambientais
1199. Outros

12. Habitação e ordenamento do território


1201. Representantes de empresas de construção civil
1202. Representantes de associações de compradores/ moradores
1203. Comentadores e especialistas em questões de planeamento/habitação/construção
1299. Outros

13. Saúde
1301. Responsáveis do Sistema Nacional de Saúde (diretores hospitalares, etc.)
1302. Bastonários das ordens do médicos, farmacêuticos, enfermeiros, psicólogos
1303. Responsáveis de organizações não lucrativas ligadas à saúde
1304. Associações de utentes
1305. Médicos e enfermeiros
1306. Utentes/pacientes
1307. Investigadores e cientistas da área da saúde
1308. Comentadores e especialistas em questões de saúde
1309. Responsáveis do setor farmacêutico
1399. Outros

14. Educação
1401. Presidentes de organismos de educação (Conselho de Avaliação, Conselho
Nacional de Educação, etc.)
1402. Diretores de escolas,
1403. Responsáveis de associações de encarregados de educação
1404. Professores
1405. Funcionários do setor
1406. Estudantes
1407. Encarregados de educação
1408. Comentadores e especialistas em questões de educação
1499. Outros

15. Ciência e tecnologia


1501. Responsáveis nacionais e estrangeiros de organismos científicos
1502. Investigadores, cientistas e técnicos do setor
1503. Grandes empresários do setor da tecnologia
PROJECTO JORNALISMO E SOCIEDADE 243

1504. Comentadores e especialistas em questões da ciência/tecnologia


1599. Outros

16. Comunicação
1601. Responsáveis do setor dos media (membros de conselho de administração, etc.)
1602. Presidente e membros de órgãos superiores da ERC;
1603. Diretores de informação dos vários media
1604. Responsáveis por serviços de new media
1605. Jornalistas
1606. Dirigentes de associações profissionais do setor
1607. Utentes e utilizadores
1608. Comentadores e especialistas em media
1699. Outros

17. Questões sociais e humanas


1701. Emigrantes
1702. Imigrantes
1703. Pessoas carenciadas
1704. Vítimas de violência doméstica
1705. Vítimas de maus-tratos e abandono (crianças, idosos)
1706. Vítimas de discriminação (de género, raça, etc.)
1707. Responsáveis do terceiro setor (ONG, IPSS, etc.)
1708. Representantes de comunidades de migrantes
1709. Responsáveis de instituições públicas de combate à discriminação
1710. Responsáveis do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF)
1711. Técnicos e especialistas do setor
1712. Comentadores e especialistas em Direitos Humanos e afins
1799. Outros

18. Cultura
1801. Dirigentes e responsáveis por organismos culturais (museus, etc.)
1802. Realizadores, encenadores, compositores e outros criativos responsáveis
por projetos
1803. Bailarinos
1804. Atores
1805. Músicos e cantores
1806. Pintores e escultores
1807. Especialistas e estudiosos
1808. Dirigentes de associações recreativas, pequenos teatros, grupos folclóricos, etc.
1809. Comentadores especializados em questões culturais
1810. Criadores de moda/design
1811. Criadores/promotores de produtos de beleza
1812. Modelos e manequins
1813. Comentadores e especialistas em questões de moda/beleza
1814. Escritores, poetas e cronistas
244 JORNALISMO EM TEMPO DE CRISE

1815. Arquitetos responsáveis por projetos de arte urbana


1816. Fotógrafos
1899. Outros

19. Desporto
1901. Dirigentes de federações, confederações e ligas desportivas
1902. Dirigentes de clubes desportivos
1903. Atletas/jogadores
1904. Treinadores
1905. Árbitros
1906. Sócios/apoiantes
1907. Responsáveis por claques
1908. Comentadores e especialistas em questões do desporto
1999. Outros

20. Desastres/acidentes/epidemias
2001. Vítimas de desastres naturais
2002. Vítimas de incêndios
2003. Vítimas de epidemias
2004. Vítimas de acidentes de transporte
2005. Vítimas de acidentes de trabalho
2006. Vítimas de acidentes domésticos
2007. Testemunhas dos acidentes
2008. Responsáveis por acidentes
2099. Outros

21. Religião e espiritualidade


2101. Líderes espirituais
2102. Fiéis
2103. Comentadores e especialistas em fé e religiões
2199. Outros

22. Diversos
2201. Organizadores de eventos
2202. Participantes em eventos
2203. Celebridades
2204. Cidadão comum identificado
2205. Cidadão comum não identificado
2206. Vencedores de concursos/jogos
2207. Comentadores em questões de celebridades, horóscopos, amor, etc.
2299. Outros

Esfera de atuação_Outro1
Variável aberta, 100 caracteres.
PROJECTO JORNALISMO E SOCIEDADE 245

Comentadores (TV/rádio/jornais)
Quando o formato da peça se tratar de uma opinião, deve-se indicar quem é o
comentador daquela peça — ou seja, deve-se referir o seu nome.
Esta nova variável é aplicável quer aos comentadores residentes como aos restantes.

Anotações
Espaço para o codificador registar dados de observação que considere relevantes para a
equipa de investigação.
Variável aberta, 255 caracteres.
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