Apresentação do módulo
Esta disciplina tem como premissa a ideia de que é essencial ter claro um objetivo de
fundo – por que ensinar? – e que este deve-se articular com o contexto concreto de
ensino-aprendizagem – esforço de localização docente. Portanto, há uma relação entre
os modos de pensar o Direito e os modos de ensiná-lo. O ensino se dá por meio de
um conjunto de práticas cotidianas cujos funcionamento como matriz e reforço de
construções ideológicas não deixam de existir porque são silenciados ou implícitos.
Dessa forma, há aparente consenso no discurso sobre a metodologia de ensino
jurídico, o que esconde um dissenso de fundo.
UNIDADE 1
Ensino de Direito
Cada nação e cada povo possuem a universidade que merecem. Acabaremos muito
mal, nesse terreno, se não soubermos o que queremos e, principalmente, se não
soubermos lutar pelo que queremos.
Clarificar nosso pensamento a esse respeito vem a ser parte de uma situação de luta,
da qual não poderemos ser poupados e nem nos poderemos poupar.
Podemos considerar o ensino do Direito como tarefa política.
Sugestão de leitura
É fácil esquecer essas perguntas na correria do dia a dia. Tais questões, no entanto,
não são meras especulações. Todas elas são questões vitais, de enorme relevância
prática.
O que ensinar?
Quando ensinar?
Como avaliar?
Ao lecionar um curso, o primeiro conjunto de escolhas que temos de fazer diz respeito
ao sentido da nossa proposta. Devemos decidir: o que iremos ensinar; por que
desejamos ensinar; por meio de qual método; a que grupo específico de alunos; e em
que momento específico da sua formação.
Desse modo, se o jovem docente inicia a sua carreira recebendo um programa pronto,
isso não o exime de analisar, criticamente, o material que tem em mãos. Tal material
deve ser objeto do mesmo rigor a que submetemos qualquer produção acadêmica.
Essa leitura cuidadosa faz parte da honestidade intelectual que deve caracterizar a
troca entre pares e que deve estar presente também no ensino.
Atenção!
É preciso examinar o que o programa inclui e exclui, o que enfatiza e o que minimiza.
A partir daí, é preciso que nos posicionemos.
A atuação do professor também deve considerar a sua:
Assista agora a uma cena que se relaciona com o conteúdo desta tela.
Filme
• KENNEDY, Duncan. The political significance of the structure of the law school
curriculum, Seton Hall Law Review, v. 14, p. 1-16, 1983-1984.
Exemplo:
É bem provável que ele decida estruturar o seu curso em torno de escolhas didáticas
que reflitam essa perspectiva.
Dessa forma, é mais do que possível que trabalhe em sala de aula, por exemplo, com
casos concretos e decisões reais, talvez proferidas em lides em que esteve envolvido
como profissional.
Talvez ele solicite aos seus alunos que escrevam peças ou que analisem documentos.
É claro que o debate teórico não estará ausente nas suas aulas. No entanto, como a
sua preocupação é construir um saber e desenvolver habilidades eminentemente
práticas, o debate teórico tenderá a receber menos atenção que a análise de situações
concretas.
Isso não acontece porque o professor Alberto não possui interesse em teorias. Ele
pode até ter grande facilidade e apreço pelas discussões mais abstratas, mas também
sabe que não é possível ensinar tudo e que é preciso fazer escolhas, descartando
algumas estratégias e abraçando outras.
Em seu curso, Alberto não tem tempo para discutir, exaustivamente, teoria e prática.
Por conta disso, ele faz uma escolha que está vinculada à sua crença fundamental
sobre a função da universidade: produzir egressos prontos para atuarem bem no
mercado.
Para ela, o Ensino Superior é, antes de tudo, um espaço de formação teórica, ou seja,
um espaço de desenvolvimento do pensamento crítico e de um arcabouço conceitual
capazes de alavancar discussões muitas vezes desconectadas das questões mais
imediatas do dia a dia.
Nesse caso, é bem provável que ela lance mão, sobretudo, de textos teóricos e de
discussões doutrinais como base para o seu curso.
É evidente que isso não significa que o exame de minúcias de casos concretos não
possa surgir algumas vezes, mas, ao menos em princípio, isso se dará com menor
frequência que exposições ou debates versando sobre a teoria e os conceitos
jurídicos.
Isso também não significa que Beatriz não acredite na importância das questões
práticas. Ela apenas entende que a função da universidade não é, prioritariamente, a
de formar com vistas à atuação prática imediata. O seu curso reflete esse
entendimento.
Por fim, suponhamos que o professor Custódio entenda que a função da universidade
seja, antes de qualquer coisa, a de certificar, perante a sociedade, o domínio que o
egresso tem de um saber técnico específico. Nesse caso, é bem provável que organize
o seu curso de forma a dar respostas àquelas ocasiões em que esse saber será
formalmente avaliado, como os concursos públicos, por exemplo.
Essa visão da universidade articula-se, é claro, com o modo como cada docente
entende a ciência e como enquadra (ou não) o Direito nesse conceito.
Protagonismo do aluno
Vejamos, a seguir, um vídeo sobre o protagonismo do aluno.:
As visões sobre o desenho do curso podem ser muito diferentes entre os docentes. No
entanto, mesmo com a divergência de opiniões, podemos supor que diferentes
docentes concordem com a afirmação de que a universidade é um espaço em que se
constrói e transmite conhecimento.
Além disso, se acreditamos que há mais de uma forma de conhecer, mais de um tipo
de conhecimento, também é preciso que nos interroguemos sobre o tipo de
conhecimento que acreditamos caracterizar o Ensino Superior.
No caso específico dos professores de Direito, há ainda mais uma tarefa a cumprir:
assumir um posicionamento com relação à ideia do Direito como ciência.
O debate sobre a concepção do Direito como ciência é antigo. No entanto, isso não
significa que esteja superado ou que possa ser evitado. Esse debate não pode ser
evitado porque são essas crenças sobre o conhecimento e a ciência que moldam o
objeto que iremos ensinar.
Quando discutimos metodologia, não estamos discutindo formas diferentes de
ensinar a mesma coisa, muito menos de apresentar um mesmo objeto – que existe
antes e além de qualquer interpretação. Pelo contrário, esse objeto só se constitui a
partir do momento em que falamos sobre ele, em que definimos as suas fronteiras,
em que elegemos os seus traços constitutivos.
Esse tipo de declaração não faz referência a um conceito anterior objetivo e não
descreve algo que existe no mundo, independentemente do nosso discurso. Pelo
contrário, define, implícita ou explicitamente, o sentido que nós damos ao Direito Civil,
à Teoria Política, ao Direito Constitucional, à moral e ao Direito.
Em outras palavras, esse tipo de frase constrói o objeto no mesmo momento em que
o ensina.
Os dois processos são indissociáveis. É por isso que é tão importante discutir a forma
como entendemos a articulação entre conhecimento, ciência e ensino.
A seguir, navegue pelo mapa conceitual que sintetiza o conteúdo desta unidade.
Clique e arraste os itens de conteúdo para visualizar as ramificações dos assuntos.
Ensino de direito : > implica o posicionamento sobe a função social do Ensino
Superior.
> envolve 2 pontos:
1 Escolhas e posicionamentos.
2 Elaboração de proposta de ensino. > abrange 2 pontos:
1 ponto de partida. > que considera: perfil do aluno; expectativa do aluno; objetivos da
instituição.
2 ponto de chegada que abarca o objetivo do ensino e perspectiva metodológica.
UNIDADE 2
Modelo moderno
A matéria de que se fala também importa, mas não é ela que determina se o
conhecimento é científico ou não. O que determina é o modo de tratá-la, o método.
Filme
Clique no ícone para acessar as informações sobre o filme The paper chase.
The paper chase
Sinopse
Esse filme fala muito sobre o ensino e sobre o método específico do professor
Kingsfield, que entende que a sua missão é ensinar os alunos a pensarem de maneira
correta, ao seu modo.
Ficha técnica
THE PAPER CHASE = O HOMEM que eu escolhi. Diretor: James Bridges. Intérpretes:
Timothy Bottoms; Lindsay Wagner; John Houseman; Graham Beckel. Estados Unidos.
1973. 111 min., son., color.
Nas suas aulas, os alunos são submetidos a uma impiedosa sessão de diálogo
socrático, enfrentando perguntas sempre mais complexas.
Kingsfield não tem paciência nem tempo a perder com alunos nos quais falte talento
intelectual ou preparação. Ele não tolera aqueles que julga incapazes de discutir, com
inteligência, os conceitos que apresenta no seu curso.
Kingsfield entende que a sua missão é ensinar os alunos a pensarem de maneira
correta. No entanto, ele está seguro de que é um fato da vida que nem todos sejam
capazes de aprendê-lo.
Para os que não alcançam o resultado esperado, o melhor seria que desistissem logo,
poupando a si e ao professor de um bocado de desgosto.
Se não são capazes de aprender a pensar adequadamente, então o seu lugar não é a
universidade.
Mas, afinal, o que significa pensar de maneira correta? Ou, pelo menos, o que é que
Kingsfield e a linha didática que ele representa entendem por isso?
Observando o seu método de ensino, podemos sugerir que Kingsfield acredita que
exista uma única maneira correta de pensar e que seja possível ensiná-la.
Essa maneira tem pouco ou nada a ver com o senso comum, com o modo de pensar
que utilizamos para refletir sobre os episódios da nossa vida cotidiana.
Podemos, é claro, ter outros saberes, outras formas de pensar. Talvez uma aluna seja
uma grande artista, outra seja uma atleta de primeira e uma terceira tenha uma
grande experiência com diferentes culturas. Contudo, para o ambiente universitário,
esses saberes e formas de pensar são absolutamente irrelevantes. A experiência
concreta das pessoas seria secundária em relação à verdade dos conceitos.
Atenção!
A matéria de que se fala também importa, mas não é ela que determina se o
conhecimento é científico ou não. O que determina é o modo de tratá-la, o método.
Essa premissa é um dos fundamentos do modo de conhecer da Modernidade e
desdobra-se em uma série de questionamentos muito importantes sobre as relações
entre visões de ciência e visões de ensino.
objetivo
O conhecimento científico não se altera segundo os valores, os desejos ou as crenças
de sociedades e indivíduos. As verdades científicas são supraculturais e
supraindividuais. Elas derivam dos fatos – e os fatos não se curvam à nossa vontade.
Em outras palavras, a verdade científica não se altera porque gostamos dela ou não,
porque ela nos faz felizes ou infelizes.
neutro
Como não reflete uma escolha do sujeito, o conhecimento científico é moralmente
neutro.
As suas aplicações práticas podem ser morais ou imorais, mas a forma de indagação,
de teorização e de comprovação científicas não comportam nenhuma dimensão ética.
universal
O conhecimento científico é o mesmo para todos os seres humanos e em qualquer
lugar do mundo. Se todos raciocinarmos corretamente, fatalmente, chegaremos às
mesmas conclusões.
abstrato
Embora examine eventos concretos, o conhecimento científico não o faz senão para
extrair deles uma teoria geral.
Dessa forma, o episódico e o anedótico não são científicos enquanto não forem
reduzidos a uma lei geral que os apresente como manifestações pontuais de uma
verdade mais ampla.
procedimental
O conhecimento científico reflete a ordem subjacente a todo o universo. Cada
elemento na natureza está judiciosamente posicionado no lugar perfeito para o todo.
Os eventos no mundo estão ligados segundo uma relação de causa e efeito
racionalmente compreensível e axiologicamente neutra.
O modo como Kingsfield conduz as aulas mostra relações importantes entre as visões
de ciência e de ensino.
Paixões de todo tipo tendem a turvar o nosso entendimento, pois fazem com que
desejemos um resultado em vez de outro, uma resposta em vez de outra.
Para Kingsfield, isso não é ciência, não é conhecimento científico. Isso é o que ele pode
esperar "da pessoa comum, aquela que tem o crânio repleto de gosma, não de um
aluno de Harvard."
A visão de Kingsfield molda, ponto por ponto, a sua forma de ensinar, o que é
absolutamente natural. Se ele entende que a função da universidade é transmitir o
conhecimento científico e se o conhecimento científico é entendido dessa forma, é
preciso estabelecer um método de ensino compatível com esse propósito.
Kingsfield não pensa que os seus alunos não sabem nada. Ele tem consciência de que
esses alunos podem ser experts em cinema, beisebol ou criação de búfalos.
Em primeiro lugar, é preciso formatar a unidade que irá receber a informação, isto é,
capacitá-la a entender a linguagem em que se inscrevem os dados para, só depois,
transmitir todo o conteúdo.
No nosso caso, a unidade receptora é o cérebro do aluno. O bom aluno entende bem
e é dócil a essa transmissão. O mau aluno, o aluno obtuso, não consegue formatar a
sua mente para receber, de modo adequado, aquilo que lhe é transmitido.
Exemplo
Para a surpresa (e o alívio) de todos, Kingsfield não só não se ofende como se alegra
com a explosão, afirmando que aquela ofensa foi a coisa mais inteligente que Hart
havia dito naquele dia.
Ao final do curso, Hart inicia os aplausos com que a classe, de pé, agradece ao mestre
pela sua arrogância intelectual e postura inflexível.
O método desenvolvido por Kingsfield sugere que o objetivo primeiro do aluno seria
igualar-se ao mestre, para depois buscar superá-lo.
Ele é o grande astro da aula, não os seus alunos. O professor paira acima dos
discípulos, inspirando-os, mas sempre um passo à frente, sempre misteriosamente
melhor.
O silêncio seco com que responde aos aplausos mostra que Kingsfield aceita essa
admiração como um tributo natural que se faz aos superiores.
A seguir, navegue pelo mapa conceitual que sintetiza o conteúdo desta unidade.
Clique e arraste os itens de conteúdo para visualizar as ramificações dos assuntos.
UNIDADE 3
Experiência pós-moderna
Ao longo de todo o filme The paper chase, admiramos Kingsfield pelo seu brilhantismo
intelectual, mas o odiamos pela sua arrogância e prepotência.
Não é com o professor inflexível que o público tende a se identificar, mas com o
personagem do jovem Hart, o aluno-problema. A semelhança sonora com a
palavra heart, que significa coração na língua inglesa, talvez não seja acidental. De
algum modo, as plateias parecem acreditar que ele esteja lutando por valores mais
importantes que o conhecimento abstrato, como:
• a liberdade;
• a afirmação da própria singularidade e
• a possibilidade de expressar e viver seus próprios valores e afetos.
Pós-modernidade
Um dos autores mais influentes na crítica aos moldes tradicionais da ciência moderna,
Jean-François Lyotard, resume assim o problema:
Pós-modernidade
Para saber mais sobre pós-modernidade, leia:
Para muitos, não é mais possível assumir como axiomática e não problemática a
superioridade do universal sobre o particular, ou do abstrato sobre o concreto, pelo
menos, da forma como o faz Kingsfield.
Preferir Hart a Kingsfield – ou seja, preferir um modelo a outro – é uma decisão que
expressa a adesão a uma visão de mundo em detrimento de outra. Fazer essa escolha
significa filiar-se, de maneira mais ou menos consciente, a um sistema de valores e
crenças.
A visão pós-moderna tem grande impacto na forma de se pensar o ensino. Por conta
disso, vale a pena destacarmos algumas das suas características. Clique em cada uma
delas, a seguir, para saber mais.
subjetiva
cultural
político-moral
localizada
visão pós-moderna
Para saber mais sobre visão pós-moderna, leia:
A seguir, navegue pelo mapa conceitual que sintetiza o conteúdo desta unidade.
Clique e arraste os itens de conteúdo para visualizar as ramificações dos assuntos.
UNIDADE 4
Nova concepção de ensino
O tipo de professor implícito nessa nova concepção de ciência pode ser representado
pelo personagem John Keating, do filme Sociedade dos poetas mortos.
John Keating é o nome do personagem interpretado por Robin Williams em Sociedade
dos poetas mortos, de 1989. O seu estrondoso sucesso deve-se, sobretudo, ao fascínio
que o grande público sentiu pelo professor pouco ortodoxo e pelo seu modo
revolucionário de ensinar.
Filme
Clique no ícone para acessar as informações sobre o filme Sociedade dos poetas
mortos.
Isso nos permite perceber como questões teóricas complexas são apropriadas e
naturalizadas pelo senso comum – muitas vezes, sem grande reflexão.
Em The paper chase, Kingsfield deixa claro aos alunos que abomina a indisciplina,
desconsidera as idiossincrasias pessoais e idolatra a teoria límpida que emerge do uso
rigoroso da razão.
Em Sociedade dos poetas mortos, Keating faz exatamente o inverso. Ele pede aos
alunos que desconsiderem as teorias como fontes apriorísticas de verdade. Ele os
instiga a comprová-las – ou refutá-las – com base na sua experiência pessoal e os
convida a confiar, sobretudo, naquilo que têm de mais idiossincrático e particular.
É essa ruptura radical com o modelo anterior que dá força a uma das cenas
emblemáticas do filme, em que Keating ordena aos alunos que arranquem do livro de
poesia a erudita introdução teórica que precede os versos dos poetas:
"Excremento. Isto é o que penso do senhor J. Evans Pritchard [o respeitado Ph.D. autor
da introdução]. Não estamos fazendo um encanamento, estamos falando de poesia.
Quero que arranquem essa página. […] Digo-lhes mais, cavalheiros, não arranquem
apenas essa página, mas a introdução inteira. Quero que desapareça, suma.
Arranquem tudo. Suma daqui, senhor J. Evans Pritchard, Ph.D. […] Isto não é a Bíblia,
vocês não vão para o inferno por causa disso. […] Chega do Sr. J. Evans Pritchard. Em
minha sala de aula, vocês aprenderão a pensar por si mesmos novamente."
Representada pela jovialidade informal dos alunos, desconfia das fórmulas gerais e as
submete ao crivo do subjetivo e do singular.
4.4 Debates
Sugestão de leitura
Clique no ícone para acessar sugestões de leitura sobre tensão entre propostas
opostas.
Assim como os personagens de Kingsfield e Keating, as acusações também são
caricatas e reduzem, impiedosamente, a complexidade e a riqueza de cada um dos
modelos, pois são simplificações poderosas. Talvez sejam mais eficientes em
convencer-nos dos defeitos alheios que dos méritos próprios.
Nos termos de Lyotard, há uma sensação de que faliu a grande narrativa que dava
sentido à educação.
A seguir, navegue pelo mapa conceitual que sintetiza o conteúdo desta unidade.
Clique e arraste os itens de conteúdo para visualizar as ramificações dos assuntos.
UNIDADE 5
Modelo de protagonismo do aluno
Paulo Freire, John Dewey, Jean Piaget e Lev Vygotsky são apenas alguns dos teóricos
que formulam sua reflexão sobre o processo educacional a partir do ponto de vista
daquele que aprende.
1
no nível da sua condição concreta de vida e
2
no nível das suas peculiaridades históricas, psicológicas e sociais.
Nesse sentido, o objetivo do professor passa a ser criar condições para que
o aluno aprenda por si mesmo e para que desenvolva as suas próprias
estratégias de construção do saber.
Comentário
É preciso lembrar, contudo, que não se esperava que o aprendiz medieval se limitasse
a repetir, mecanicamente, o que fazia o mestre. A observação e a repetição eram
características do seu processo formativo, mas, certamente, não as únicas.
Fonte: ECO, Umberto. Arte e beleza na estética medieval. Rio de Janeiro: Record, 2010.
Para alguns, o estágio profissional deveria começar o quanto antes, pois seria a base
para a formação de um jurista de qualidade. Quem abraça esse entendimento crê que
o exercício constante da reflexão sobre a prática é o responsável pelo aprendizado.
Comentário
Se, ao longo dos anos, ele não conseguir desenvolver essas habilidades, não será
contratado – ou, pelo menos, não será contratado para uma posição de
responsabilidade, que implique tomar decisões e formular estratégias de ação.
Essa capacidade de articulação não está na doutrina nem nos casos. Ela é uma
faculdade do sujeito que experimenta e pensa – é a habilidade que ele tem de refletir
sobre o concreto e formular hipóteses sobre o seu sentido.
Para atingir a sua plenitude, a habilidade de articulação entre teoria e prática precisa
ser desenvolvida e refinada. Em outras palavras, essa habilidade precisa ser ensinada.
As propostas de ensino que têm por base o protagonismo do aluno buscam trazer o
encontro entre teoria e prática para o interior da sala de aula e, a partir daí, qualificam
a capacidade de reflexão de cada indivíduo.
A dimensão prática é essencial para que o aluno se coloque como sujeito diante da
complexidade do mundo real, pois as questões da vida concreta e as escolhas que
fazemos têm implicações de todos os tipos.
O modo como cada aluno olha para tais questões e para as escolhas que faz é de
responsabilidade individual. Em outras palavras, são as opções de fundo que refletem
o percurso e os valores de cada um.
Uma das dimensões que os métodos participativos buscam incorporar é a
ideia de que cada aluno é protagonista da sua história cotidiana, tanto no
âmbito pessoal quanto no profissional. As questões da vida cotidiana
podem ter implicações éticas, econômicas, políticas, sociais, psicológicas,
entre outras.
Deixados à própria sorte, os alunos têm como limite para a sua apreensão e
teorização do real o repertório de estratégias cognitivas que conseguiram desenvolver
individualmente. Esse repertório, na maioria das vezes, é composto de matrizes
fundamentais de pensamento que caracterizam e dão um grau de unidade aos grupos
sociais.
Comentário
Articulação entre propostas de ensino
Talvez alguns de nós conheçamos intelectuais que sejam brilhantes fora da sala de
aula e muito menos fascinantes dentro delas. O fulgor do seu saber e o agudo das
suas reflexões encantam os alunos, mas parecem constituir objetos únicos,
irrepetíveis. A excelência daquilo que sabem fica muito além daquilo que os seus
alunos aprendem e, nesse intervalo entre o brilho do mestre e o pasmo dos alunos,
muito se perde.
A seguir, navegue pelo mapa conceitual que sintetiza o conteúdo desta unidade.
Clique e arraste os itens de conteúdo para visualizar as ramificações dos assuntos.
UNIDADE 6
Métodos de ensino
Falar de métodos de ensino é falar, sobretudo, de uma leitura sobre a relação entre o
objeto de ensino, a forma de ensiná-lo e o público a que se ensina.
No dia a dia, a ideia de conhecer pode surgir, variadamente, como a capacidade de:
2. Quando alguém me diz "Você não conhece o Carlos", pode estar querendo
dizer:
• que nunca encontrei o Carlos, que não tenho qualquer informação sobre ele,
que não sei quais são as suas feições;
• que, embora talvez o tenha visto, não sou, contudo, capaz de prever as suas
ações e reações ou
• que, embora o tenha visto e tenha certa condição de prever como ele irá agir,
sou incapaz de compreender o porquê de ele agir de um modo ou de outro –
ou seja, não o conheço porque sou incapaz de compreender os seus
sentimentos, as suas motivações e os seus valores mais profundos.
3. Do mesmo modo, nos cursos jurídicos, posso entender que alguém conhece o
Direito se:
• saber
• olhar
Exemplo
Escolha de método de ensino aplicado ao ensino
do Direito
Imaginemos, a título de exemplo, que uma professora seja convidada a elaborar um
curso sobre Direitos Humanos e a indicar a metodologia de ensino mais adequada.
A primeira pergunta que ela se colocará, provavelmente, diz respeito ao objeto do seu
curso: O que quero ensinar?
Dessa vez, as perguntas são relativas à melhor estratégia, ao melhor método para
levar os alunos a apreenderem o objeto segundo a perspectiva que ela privilegia:
O mais provável é que a docente faça escolhas que apresentem uma mistura de tudo
isso. Haverá, em momentos e atividades diferentes, pesos diferentes para a dimensão
do saber, do fazer e do olhar.
É nosso olhar como professor que define a substância daquilo que ensinamos.
Precisamos saber, claramente, qual é o nosso olhar como professor, quais são os seus
fundamentos e fazê-los claros para os alunos.
SABER
prioridade prioridade método e método escolhido scolhido
FAZER
OLHAR
prioridade prioridade método e método escolhido scolhido
Os métodos de ensino não são fórmulas, receitas neutras ou práticas que possam ser
mecanicamente aplicadas.
ESCOLHAS FUNDAMENTAIS
- JUSTIFIUE O PORQUE DESSA ESCOLHA.
PORQUE ESSA OPÇÃO?
PORQUE ESSA É A MELHOR?
EXEMPLO DAS OPÇÕES: LEI, DOUTRINA OU DECISÕES.
A seguir, navegue pelo mapa conceitual que sintetiza o conteúdo desta unidade.
Clique e arraste os itens de conteúdo para visualizar as ramificações dos assuntos.
UNIDADE 7
Métodos participativos
A opção pela proposta de ensino cujo sujeito do processo é o aluno demanda uma
reflexão muito detida sobre a forma como implementar, consistentemente, essa
proposta.
Nessa reflexão sobre o método, não falamos sobre o método em abstrato, descolado
do seu objeto ou das suas condições de aplicação, mas sobre o método que traduz, na
sua formulação e lógica de aplicação, a sofisticação do olhar a partir do qual o
professor concebe o seu objeto.
No ensino jurídico, a proposta envolve uma reflexão sobre métodos que
articulem uma síntese consistente entre as leituras que cada docente faz do
Direito, do saber e do ensino.
Ao longo do tempo, foi gerado um conjunto de propostas que podem ser reunidas
sobre a rubrica métodos de ensino participativos. Esse conjunto de propostas deriva
dos esforços:
• para construir uma síntese consistente entre as leituras que cada docente faz do
Direito, do saber e do ensino e
• para traduzi-las em uma metodologia que corresponda às suas premissas.
O prestígio atribuído aos métodos de ensino participativo também flutua, pois está
atrelado ao prestígio das molduras conceituais que lhe servem de base.
Dessa forma, apresentam uma dinâmica em que o centro da atividade em sala de aula
está naquele que aprende.
A tradição sugere que Sócrates respondia às indagações dos seus discípulos com
novas perguntas, e não com explicações definitivas.
Enquanto alguns professores são mais rigorosos com a pertinência substantiva dos
argumentos, outros estão menos preocupados com isso.
STRICTO SENSU
diálogo socrático stricto sensu
Aqueles que aplicam o método socrático desse modo priorizam levar o aluno a
entender a dinâmica, os limites e as contradições do seu modo de raciocinar e
argumentar.
O domínio conceitual vem depois, e é maior e mais completo, pois está inserido em
uma moldura de reflexão mais apurada.
LATO SENSU
diálogo socrático lato sensu
Dessa forma, ele pode iniciar a sua aula perguntando, por exemplo, se é legítimo que
um laboratório farmacêutico que detém os direitos de produção de determinado
medicamento decida não o fabricar, ainda que haja pessoas que dele necessitem.
Os alunos respondem, variadamente, que sim ou que não, segundo as suas crenças, e,
possivelmente, lançam mão de conceitos como os de propriedade e interesse público.
É possível também que alguns alunos tenham uma leitura limitada (ou mesmo
equivocada) desses conceitos. Em um primeiro momento, contudo, o professor
Demétrio não vai corrigi-los nem apresentar-lhes uma conceituação precisa.
Por meio de repetidas perguntas, Demétrio vai fazer os alunos refletirem sobre as
premissas dos seus argumentos, sobre as contradições dos seus postulados, a
inconsistência das suas articulações causa-consequência, etc.
Por outro lado, se o professor Demétrio preferisse o diálogo socrático lato sensu,
possivelmente, provocaria os alunos com perguntas do tipo:
No método do caso, cada decisão deve ser meticulosamente dissecada, para que se
possam conhecer as suas partes constitutivas e a forma como essas partes se
relacionam.
Dessa forma, sentenças e acórdãos devem ser tratados como espécimes a serem
analisados, e o jurista deve debruçar-se sobre eles com o mesmo cuidado e o mesmo
viés investigativo dos seus colegas de áreas como a Botânica ou a Física, por exemplo.
Sugestão de leitura
Para saber mais sobre método do caso, leia:
Comentário
Emprego de um caso como exemplo ilustrativo ao
longo de uma exposição conceitual
Em algumas situações, ao longo de uma exposição conceitual, o professor lança mão
de um exemplo ocorrido no seu escritório para esclarecer melhor o instituto jurídico
de que está tratando e para tornar as ideias abstratas mais acessíveis ao homem
comum.
Nessas situações, ele não está aplicando o método do caso, embora possa estar
utilizando um bom recurso pedagógico. Ele está aplicando o modelo clássico da
exposição, que recorre a exemplos para tornar-se mais atraente, para "dar mais
colorido" ao discurso.
A postura ativa por parte do aluno é central para que ele apreenda tanto o repertório
teórico quanto a forma de pensar que caracterizam o Direito.
Comentário
Críticas e controvérsias referentes ao método do
caso
Dadas a sua longa história e a sua ampla aplicação, não é surpresa que o método do
caso tenha-se tornado alvo de críticas e controvérsias.
7.4 Role-play
Segundo Gabbay e Sica, o role-play propõe que cada aluno adote um papel – ou ponto
de vista – e atue, juridicamente, a partir dele. O seu objetivo é desenvolver a
capacidade de formular e desenvolver soluções e instrumentos mais adequados a um
conjunto específico de interesses.
Ao solicitar que se adote um papel, o método role-play exige que cada aluno seja
capaz de avaliar imediatamente o repertório de caminhos jurídicos possíveis para a
promoção de um fim específico.
Ao trazer essa tensão entre arsenal teórico e objetivos práticos para o espaço
universitário, o role-play busca também propiciar ao aluno a supervisão crítica de um
docente qualificado.
Esse docente deve levar a classe a uma reflexão mais sofisticada sobre a prática, a
lógica das escolhas feitas, os seus limites e as suas consequências.
Exemplo
Sugestão de leitura
Para saber mais sobre role-play, leia:
• GABBAY, Daniela Monteiro; SICA, Ligia Paula Pires Pinto. Role-play. In:
GHIRARDI, José Garcez (Org.). Métodos de ensino em direito: conceitos para um
debate. São Paulo: Saraiva, 2009, pp. 73-88.
7.5 Simulação
Segundo Gabbay e Sica, a mímese do cotidiano trazida pelo role-play é ainda mais
radical na simulação. A simulação também supõe que cada aluno – ou grupo de
alunos – adote um papel, exatamente como no role-play.
role-play
O role-play centra-se, por assim dizer, na lógica interna da solução jurídica elaborada e
na sua adequação à situação concreta.
simulação
O Método Baseado em Problemas (em inglês, Problem Based Learning – PBL) abraça a
mímese de situações reais como melhor caminho para o ensino. Para isso, propõe que
os alunos sejam desafiados com um problema concreto, complexo, cujas possíveis
soluções determinem impactos diversos para as partes envolvidas.
O aluno deve ser capaz de fazer a lógica do Direito dialogar com as lógicas
concomitantes da Economia, da Política, etc.
Exemplo
Pode ser também um ponto de vista sugerido pelo professor: Qual é a solução factível
mais adequada para os exportadores de suco de laranja?
Muitos alunos alegam que não têm tempo para se preparar com antecedência ou que
chegam muito extenuados à sala de aula. Em contrapartida, muitos professores
expressam uma visão semelhante sobre os limites que a prática cotidiana impõe à
viabilidade de uma proposta de ensino que solicita trabalho constante.
Comentário
Dificuldades na aplicação dos métodos
participativos
A preocupação com as condições concretas de ensino é necessária, mas não é
verdadeiro que precise ter como decorrência lógica ou necessária a crença na
inviabilidade dos métodos participativos para o contexto brasileiro.
Além disso, é um instrumento dentro de uma proposta mais ampla e, por si só, é
demasiado limitado para desobrigar-nos das perguntas fundamentais: O que quero
ensinar? Por que quero ensinar?
O método tampouco nos exime de definir com clareza o que exatamente vale a pena
para nós e o que tem valor no ensino jurídico. Essa é uma resposta individual de cada
docente e deve traduzir-se também na forma como a avaliação é concebida.
A seguir, navegue pelo mapa conceitual que sintetiza o conteúdo desta unidade.
Clique e arraste os itens de conteúdo para visualizar as ramificações dos assuntos.
UNIDADE 8
Perspectivas, instrumentos e modalidades de avaliação
Avaliar é estabelecer uma distinção entre o que merece ser guardado e o que pode ser
esquecido ou abandonado.
Além disso, sinaliza aquilo que, segundo a perspectiva do docente, realmente tem
valor.
No primeiro dia de aula, quase infalivelmente, os alunos perguntam como vai ser a
prova e a composição da nota. Tais questões não significam apenas um interesse
mesquinho, indiferente ao processo e restrito ao resultado final de aprovação ou
reprovação.
É claro que esse resultado é uma preocupação central dos alunos, e nem poderia ser
diferente.
Os critérios que irão nortear a avaliação devem ser estabelecidos o quanto antes e de
forma clara.
Para realizar uma síntese da nossa visão sobre o processo de ensino-aprendizagem,
devemos, logo no primeiro encontro, sinalizar aos alunos sobre as seguintes
informações:
1
Programa de curso ‒ esclarecer os recortes de temas e conteúdos que julgar
pertinentes.
2
Metodologia
3
Sistema de avaliação ‒ discutir os critérios de avaliação para que todos saibam que
postura frente ao conhecimento será privilegiada.
Atenção!
Essa definição também gera consequências absolutamente práticas, uma vez que
determina os instrumentos, as modalidades e os momentos avaliativos.
A prática mais corriqueira tende a reduzir ou ignorar essa dimensão mais ampla do
processo avaliativo. Navegue pelas setas para conhecer dois fatores dessa redução.
No cotidiano, é comum que se assuma, tacitamente, que o único ator que está sendo
avaliado é o aluno.
Comentário
Sob esse ponto de vista, temos que o curso é bom, o professor é bom, os alunos é que
são ruins. Para se sustentar essa visão, o docente precisaria:
•
• Vejamos, a seguir, um vídeo sobre avaliação. Depois que o vídeo carregar,
clique em play.
Sugestão de leitura
Como a avaliação não diz nada sobre o curso, mas apenas sobre os alunos, não
haveria motivo para que a aferição de desempenho seja efetuada pelo professor. A
sua tarefa termina com a elaboração do instrumento de avaliação.
Atenção!
Caso a dimensão certificatória seja transformada em dimensão única, tal perspectiva
poderá empobrecer substancialmente a potencialidade educativa da avaliação.
Falar sobre o aluno, e não para o aluno, faz com que as possibilidades de reflexão
discente sobre os seus próprios resultados sejam reduzidas ou descartadas.
Desse modo, a avaliação contribui pouco para que o próprio aluno se transforme a
partir da análise do seu trabalho.
Dessa forma, propõe que, ao permitir que o próprio aluno pondere sobre as suas
estratégias de enfrentamento das diferentes questões e problemas, o processo
avaliativo se potencializa como ferramenta para conduzir ao objetivo pedagógico
desenhado pelo professor.
avaliação certificatória
A avaliação formativa geralmente traduz-se pela atenção dada ao processo, que, para
materializar-se, necessita forçosamente de diferentes momentos, instrumentos e
modelos.
Comentário
Isso significa apenas que ele não acredita que seja importante avaliar formalmente tal
processo. Também significa que ele acredita ser possível estabelecer a proficiência de
diversos alunos, com segurança, pela aplicação de um único instrumento e em um
único momento.
Pluralidade de instrumentos
A perspectiva formativa se ocupa daquilo que se conhece e da forma como se
conhece. Além disso, tem como objetivo permitir que os discentes reflitam sobre a sua
capacidade global de resposta, a sua capacidade global de aprender.
Atenção!
Clique em cada uma das perspectivas para saber um pouco mais sobre a percepção
da sua avaliação.
CERTIFICATÓRIA
A perspectiva mais tradicional (certificatória) costuma privilegiar avaliações individuais.
A exceção mais costumeira a essa regra é o seminário.
O seu propósito é certificar que cada aluno, individualmente, seja capaz de atender,
adequadamente, às demandas do curso.
Desse modo , não faz sentido desenhar uma avaliação em que as individualidades se
confundam. Isso poderia, no limite, tornar impossível a verificação, com segurança, da
relação aluno-produto, fundamento da proposta certificatória de avaliação.
FORMATIVA
A perspectiva formativa de avaliação tende a reservar mais espaço para trabalhos e
avaliações em grupo.
Comentário
A seguir, navegue pelo mapa conceitual que sintetiza o conteúdo desta unidade.
Clique e arraste os itens de conteúdo para visualizar as ramificações dos assuntos.