Você está na página 1de 24

Disciplina Opcional:

Repercussões oculares de doenças sistémicas


1º Semestre, Ano Lectivo 2011-12

Repercussões oculares de
doenças infecciosas

Virgílio Almeida
vsa@fmv.utl.pt

Cão

 Hepatite Infecciosa Canina (CAV1)


 Herpesvírus Canino (CHV)

1
CAV1 (Hepatite Infecciosa Canina)
Agente etiológico: ADENOVÍRUS CANINO TIPO 1.
Família Adenoviridae, Género Mastadenovirus.

CAV 1 sobrevive meses no meio ambiente em condições ideiais.

Hospedeiros susceptíveis: Família Canidae e Ursidae.


Nas raposas o CAV 1 causa encefalites (lesão rara no Cão).

Quadro sintomatológico dominado por hepatite mas muito parecido ao da


Esgana, diferenciando-se pela gradação dos sintomas/lesões.

Quadro lesional: hepatite e perihepatite fibrinosa, edema da vesícula biliar e


nalguns casos diásteses hemorrágicas.

Diagnóstico laboratorial [golden standard]: demonstração de inclusões virais


características  corpúsculos de inclusão nos núcleos das células
hepáticas.

QUADRO AGUDO CAUSADO PELO CAV1

Deve suspeitar-se de HIC quando os sintomas aparecem repentinamente, e


muitas vezes violentamente, em cachorros com menos de 8 semanas.

Período de Incubação: 4-7 dias.

A curva febril exibe 2-3 picos, porém nenhum deles supera o pico anterior. De
certo modo, assemelha-se à curva de temperatura bicúspide da Esgana.

Apatia, anorexia e às vezes sede intensa.

Hipertrofia dos linfonodos da cabeça.

Conjuntivite serosa. Ao fim de alguns dias instala-se uma opacidade da


córnea, geralmente unilateral, que coincide com novo acesso febril. Esta
opacidade é gradual e raramente perdura mais que 3 semanas mas
causa hipersensibilidade à luz. [deposição de complexos Ag+Ac]

2
CAV1
 Adenovírus canino (CAV1)
O edema da córnea e a
uveíte bilateral da
câmara anterior ocorre
em cerca de 20% dos
cães infectados e
em 1% dos cães
vacinados com
SC-MLV CAV-1.

Edema da córnea e severa uveíte bilateral


da câmara anterior (“blue eye”)

CAV1
 Adenovírus canino (CAV1) - “blue eye”
O edema da córnea e a
uveíte bilateral da
câmara anterior, coincide
frequentemente com o
início da recuperação
clínica de episódio de
doença.

Tende a haver
blefaro-espasmo,
fotofobia e corrimento
ocular seroso bilateral.

3
CHV (Herpesvírus canino)

O herpesvírus canino causa, no adulto, doença do tracto respiratório


superior ou do aparelho genital, principalmente vaginite.
Os sinais oculares limitam-se a uma conjuntivite transitória.

CHV (Herpesvírus canino)

Nos recém-nascidos, a doença é


muito grave  hipotermia severa e
envolvimento do sistema nervoso
central .
Os sinais oculares incluem:
panuveites, queratite, catarata,
neurite do nervo óptico, atrofia do
nervo óptico e descolamento da
retina.

4
Gato

 Imunodeficiência felina (FIV)


 Leucose felina (FeLV)
 Peritonite Infecciosa Felina (PIF)
 “Síndrome Coriza”

FiV

5
FIV - SINTOMAS

Os sintomas observados em gatos com FIV (infecção natural) são inespecíficos:

 Febre
 Feridas/cicatrizes
 Emagrecimento/emaciação
 Hipertrofia generalizada dos linfonodos
 Conjuntivite/uveíte
 Estomatite/gengivite
 Neoplasia
 Dermatite
 Otite
 Diarreia
 Insuficiência renal crónica
 Infecções do tracto respiratório superior
 Abcessos
 Sinais neurológicos (alterações comportamentais)

FIV – SINTOMAS (Cont.)

Também são conhecidas as neoplasias mais associados à FIV:

 Linfoma (linfócitos B)
 Leucemia
 Doença mieloproliferativa
 Carcinoma celulas escamoso
 Adenocarcinoma da mama
 Mastocitoma
 Carcinoma bronco-alveolar

Gato com carcinoma de células


escamosas de grau III na narina

6
FIV – SINTOMAS (Cont.)

Estão documentados inúmeros casos de infecções oportunísticas nomeadamente:

 Calicivirus
 FeLV
 Papillomavirus
 Poxvirus
 Vírus sincidial felino
 Mycobacterium sp.
 Fungos dermatófitas
 Crytococcus sp.
 Cryptosporidium sp.
 Haemobartonella felis
Toxocara cati
Calicivírus Felino

FeLV
O vírus da Leucose Felina (FeLV) foi identificado em 1964 (Jarrett et al.,
1964). “Epidemia de cancro” em gatis na Escócia.
Com base em semelhanças das sequências de nucleotídeos determinou-se
que o FeLV evoluiu de um LV do rato.
O FeLV pertence ao género Gamaretrovírus, Família Retroviridae.

O FeLV replica em vários tecidos, incluindo a medula óssea, as glândulas


salivares e o epitélio do tracto respiratório.

É um vírus oncogénico capaz de


provocar no gato infectado uma
leucemia grave acompanhada
de imunodeficiência de evolução
frequentemente mortal.

Infecta felinos. Não é uma zoonose.


Linfoma no timo

7
FeLV - SINTOMAS

Clinicamente, o FeLV causa doenças linfoproliferativas, nomeadamente


linfomas das células B, leucemias, anemias aplásticas e
imunodepressão.

Doença Doença
maligna não-neoplástica
proliferativa:  Aborto | Reabsorção fetal
 Glomerulonefrite
 Linfosarcoma  Síndrome tipo-panleucopénia
 Sarcoma células  Infecções secundárias
reticulares associadas à imunosupressão
 Reticuloendoteliose
 Leucose mielogénica

Doença
degenerativa
 Atrofia do timo
 Anemia não-regenerativa

FeLV

Uveíte hemorrágica severa

8
PIF

Granulomas

Ascite

A Peritonite Infecciosa Felina (PIF) é uma doença incurável, de evolução


fatal que afecta os felinos domésticos e selvagens.

A PIF é causada pelo Vírus da Peritonite Infecciosa Felina (VPIF) que é


um mutante do Coronavírus responsável pela Enterite Felina
(FECV/FeCoV). A teoria mais aceite pela comunidade científica é que o
FECV (normalmente benigno) sofre uma mutação que origina o VPIF.

O VPIF tem a capacidade de invadir e crescer nos glóbulos brancos,


particularmente nos macrófagos. A resposta imunitária do gato traduz-se
numa reacção inflamatória intensa.

Apenas 1 em cada 20 gatos debela a infecção. A incidência é de ≈ 1 em


5.000 apartamentos com 1-2 gatos.
A PIF ocorre numa frequência mais elevada em colónias de gatos e em
gatis, em proprietários com vários gatos com acesso ao exterior e dos
3m-3 anos e em gatos > 10 anos; de raça pura e “inteiros”.

9
PIF

PIF

Uveíte hemorrágica severa

Edema da córnea difuso com depósitos


celulares na camada interna da córnea

10
 PIF | FIV | FeLV

Descolamento da retina
Doenças sistémicas que
podem causar uveíte em
gatos (com ou sem
descolamento da retina):

PIF
FeLV
FIV Descolamento completo da retina
e hemorragias intra-retinais

21

SÍNDROME CORIZA

Herpesvírus felino (FRTV) [40% casos graves de Coriza]

Calicivírus felino (FCV) [40% casos ligeiros de Coriza]

Chlamydophila felis [30% casos conjuntivite crónica]

11
SÍNDROME CORIZA

FCV (Calicivirus felino)

RNA, Caliciviridae, Calicivirus; numerosas estirpes com diferentes respostas


serológicas.

Fita simples RNA. Sem envelope lipo-glicoproteico. Também não é muito resistente no
meio ambiente mas persiste um pouco mais que o FHV: < 1 semana em secreções
mantidas em ambiente húmido.
Também resiste melhor a pH baixos que o FHV. Não é tão sensível aos desinfectantes
como o FHV mas a concentração de lexívia (1:32) referida para o FHV também inactiva
o FCV.

Existem várias estirpes de FCV que diferem em antigenicidade e patogenicidade.


Apesar de existir um nível razoável de imunidade cruzada, é possível os gatos se
infectarem sucessivamente.

São incluídas nas vacinas, estirpes com a maior variação antigénica conhecida, p.ex., Fg
neutraliza pelo menos 50% dos isolados (Knowles et aI., 1990). Porém, esta estratégia
pode ao longo dos anos fazer uma pressão de selecção favorecendo estirpes hoje
menos frequentes.

24

12
PATOGENIA DO FCV

Portas de entrada: intranasal, oral (a presença de úlceras na língua e


no palato são sintomas que indiciam a infecção por FCV), conjuntival.

As várias estirpes de FCV variam no tropismo para diferentes tecidos.


A replicação do vírus ocorre sobretudo na cavidade oral e nos tecidos
do tracto respiratório superior: mucosa do septo nasal, naso-faringe,
amígdalas.

A conjuntiva, os linfonodos mandibulares e a traqueia (extremidade


superior) também estão frequentemente envolvidos na replicação do
FCV.
Porém, algumas estirpes de FCV têm tropismo para o pulmão
(pneumonia intersticial proliferativa).

A conjuntivite, os corrimentos oculares e nasais e os espirros não são


tão frequentes nem copiosos como no FHV.

Calicivirus: Conjuntivite, úlceras


no focinho e na língua.

13
Síndrome Coriza
 Chlamydophila felis

Família Chlamydiacea. Bactéria Gram -. Parasita intracelular obrigatório.


Não sobrevive fora do hospedeiro.

Os corrimentos oculares são o principal produto virulento. A transmissão


exige contacto directo frequente.

Maior incidência em gatos a partir de 1 ano de idade e em colónias de


gatos ou em apartamentos com vários gatos.

10% gatos não vacinados para a Coriza exibem anticorpos específicos


contra Chlamydophila felis.

P = 3% em gatos sem sinais clínicos de Coriza.

P = 12 - 20% em gatos com sinais clínicos de Coriza [PCR].

Não é uma zoonose.

Síndrome Coriza
 Chlamydophila felis
Células alvo: conjuntiva.

PI: 2-5 dias.

Início dos sinais clínicos associado a


conjuntivite unilateral que evolui para
bilateral muito intensa com extrema
hiperémia da membrana nictitante,
blefarospasmo.

Os corrimentos oculares inicialmente


são serosos, depois mucóides ou
mucopurulentos.

A quimose da conjuntiva é frequente Podem surgir complicações como


nas infecções oculares por adesões da conjuntiva mas a queratite
Chlamydophila felis. e as ulcerações da córnea são raras.

14
Síndrome Coriza
 Chlamydophila felis

Síndrome Coriza
 Chlamydophila felis

15
Síndrome Coriza
 Chlamydophila felis
Tratamento

A infecção por Chlamydophila felis em gatos cede ao tratamento com


antibióticos. A administração parenteral é mais eficaz que a aplicação
local/tópica.

As tetraciclinas são o antibiótico de eleição. A doxiciclina tem a vantagem


de exigir apenas 1 administração e é dada por via oral na dose de 10
mg/kg. Este tratamento deve manter-se por 4 semanas para assegurar a
eliminação da bactéria pois pode ocorrer recrudescência se a medicação
for suspensa antes. Está recomendado prolongar a medicação por 2
semanas após o desaparecimento dos sintomas.

As tetraciclinas podem induzir efeitos secundários em gatinhos (menos


reportados com a doxiciclina que com a oxitetraciclina). Devido a esta
possibilidade a amoxacilina+ácido clavulâmico durante 4 semanas é a
opção mais segura para tratar gatinhos.

SÍNDROME CORIZA

FRTV (vírus da rinotraqueíte felina)

Herpesviridae, αHerpesvirinae.

Dupla fita DNA. Envelope lipo-glicoproteico. Muito sensível ao calor, ácidos e aos
desinfectantes comuns (p.ex., lexívia a 1:32).
Sobrevive < 18 horas em secreções mantidas em ambiente húmido; < 12 horas em
secreções mantidas em ambiente seco.
É instável na forma de aeróssol.
Testes serológicos convencionais (neutralização) e análises por enzimas de restrição
confirmam a existência de 1 único serótipo (C27).
Estabelece latência no tecido nervoso.

16
Síndrome Coriza
 Herpesvírus Felino
A rinotraqueíte viral felina é a doença
infecciosa com maior prevalência na
população de gatos. Estima-se que 80% dos
gatos sejam expostos ao vírus.

Tal como ≈90% dos humanos mantém o vírus


herpes simplex nos tecidos nervosos após
exposição prévia, cerca de 80% dos gatos de
apartamento ou de vida semi-livre,
albergam o FHV no seu organismo.

Caso o sistema imunitário não esteja


comprometido, p.ex., devido a FeLV, FIV,
tumores, etc., os gatinhos debelam a infecção
primária pelo FHV em 1-2 semanas (episódios
benignos de FHV).

17
Síndrome Coriza
 Herpesvírus Felino

Queratite por herpesvírus com Simbléfaro com fissura da pálpebra


úlceras superficiais da córnea (sequela duma infecção
por herpesvirus)

SIMBLÉFARO é uma aderência da conjuntiva palpebral à córnea.


A fisiopatologia do desenvolvimento do simbléfaro está associada a gatinhos que fizeram úlceras da
córnea com erosão epitelial e que permaneceram - devido à dor provocada pelo espasmo do corpo
ciliar - com as pálpebras cerradas por um longo período de tempo, levando a conjuntiva palpebral a
aderir à superfície da úlcera.
Estas aderências podem causar desde uma ligeira limitação dos movimentos do globo ocular, à total
obstrução do axis visual do animal, que conduz à cegueira.
36
Em casos de simbléfaro avançado deve proceder-se à cirurgia: queracectomia superficial com
remoção da conjuntiva aderente junto com porções do estroma córneano e do epitélio.

18
Síndrome Coriza
 Herpesvírus Felino

Querato-conjuntivite severa com Necrose da córnea (sequestrum)


quimose, edema da córnea caracterizada por opacidade negra
e ulceração (infecção por herpesvirus)
(infecção por herpesvirus)

Síndrome Coriza
 Herpesvírus Felino
Infecção por herpesvírus e ulceração da córnea

Recorre-se com frequência à medicação tópica com


pomadas/colírios de terramicina para reduzir os riscos de
infecções bacterianas secundárias (sinusite e pneumonia).

Normalmente os gatos FHV+ são assintomáticos. Porém,


alguns gatos exibem úlceras na córnea sempre que sujeitos
a stress intenso, p.ex., após destartarização.

Os gatos Persas e Himalaios exibem mais quadros clínicos


de FHV devido à forma dos focinhos que favorece o
aparecimento de “olhos secos”. Problemas dentários e
sinusites, que atingem os olhos via ductos lacrimais, são
também mais frequentes nessas raças.

19
Síndrome Coriza
 Herpesvírus Felino
Infecção por herpesvírus e ulceração da córnea

Deve testar-se os gatos com úlceras na córnea para FHV


(PCR, a partir de zaragatoas da conjuntiva).
Infelizmente, cerca de 20% dos gatos infectados são FN
neste teste porque o vírus pode estar em zonas muito
Úlcera da córnea marcada
com fluoresceína num gato profundas da úlcera (ou no tecido nervoso) e não é acessível
FHV+.
por zaragatoa.

Gotas oculares antivíricas são eficazes na terapêutica das


ulcerações causadas pelo FHV mas são caras e têm que se
administrar numa frequência elevada (5 x/dia) logo que
surgem as úlceras.

Deve referir-se os gatos com úlceras persistentes para um


veterinário oftalmologista para resolução cirúrgica.

Síndrome Coriza
 Herpesvírus Felino

Herplex® (idoxuridina, solução oftálmica a 1%,), Viroptic® (trifluridina,


solução oftálmica a 1%) ou Vira-A® (pomada oftálmica: 30mg de vidarabina
por g). As células infectadas usam essas proteínas para fabricar novas
partículas virais e depois ficam incapazes de se reproduzir. Como a
duração deste processo é desconhecida, faz-se a terapia durante 4-6
semanas ou mais!

Em caso de resistência a estes tópicos, a alternativa é recorrer ao Zovirax®


(acyclovir: pomada oftálmica a 3%, aplicada 5x/dia ou de 4-4 horas)
prolongando o tratamento até 3 dias após a cicatrização. Este princípio activo
funciona bem em humanos e coelhos, mas os efeitos secundários no gato
ainda são desconhecidos. Reservem o acyclovir para os casos mais
resistentes!)

20
Síndrome Coriza
 Herpesvírus Felino
Interferão
A aplicação de interferão no olho 5x/dia desencadeia uma resposta do sistema
imunitário do gato que aumenta a produção do seu próprio interferão. Após o
episódio clínico ter sido debelado, o uso de interferão 1x/dia ajuda a prevenir
recidivas.

Projecto de Investigação em curso no


CIISA com o apoio da Virbac no gatil da
Sociedade Protectora dos Animais, Lisboa.

Síndrome Coriza
 Herpesvírus Felino

LISINA
Este aminoácido ajuda a destruir o FHV e é muito seguro em gatos.
Administra-se por via oral.

Se prescreverem os 3 medicamentos, o gato


será medicado com o anti-viral (p.ex.,
idoxuridina), o interferão e a lisina.
A idoxuridina será aplicada no olho 5x/dia.
O interferão 5x/dia, 1 minuto após a aplicação
da idoxuridina.
A lisina é administrada por via oral 2x/dia
(idealmente sem misturar na comida).

21
Síndrome Coriza

22
23
24

Você também pode gostar