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Parasitologia

Material Teórico
Vírus e Protozoários

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Norton Claret Levy Junior

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Vírus e Protozoários

• Introdução aos Vírus;


• Replicação Viral;
• Doenças Virais;
• Biologia dos Protozoários;
• Doenças Causadas por Protozoários;
• Anexo I;
• Anexo II.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Entender que os vírus são parasitas intracelulares obrigatórios;
• Conhecer a dimensão, estrutura e morfologia viral;
• Compreender os diferentes ciclos virais;
• Conhecer viroses e protozooses que ocorrem no Brasil;
• Aprender sobre a biologia dos protozoários.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Vírus e Protozoários

Introdução aos Vírus


Estudaremos agora um ser vivo de complexidade e tamanho tão pequenos que
não podem ser observados pelo microscópio ótico – devido à sua simplicidade
estrutural, com apenas alguns poucos compostos orgânicos, não são considerados
células e desafiam os sistemas de classificação. Mas uma coisa é certa: embora os
vírus sejam pequenos e simples demais, eles são extremamente perigosos e podem
causar doenças de fácil disseminação, como chicungunha, dengue, febre amarela
e zika, pois são transmitidas com a picada de insetos que habitam nossos lares, ou
pior, podem causar doenças mortais como a AIDS e o ebola.

Histórico
O russo Ivanovsky e o alemão Beijerink descobriram, por volta de 1900, que
uma doença comum às folhas do tabaco era transmitida por um “agente de infec-
ção”, hoje conhecido como “vírus mosaico do tabaco”. Notaram que o agente era
menor do que uma bactéria e que, se isolado, não se reproduzia e não era visível
no microscópio ótico. Anos mais tarde, Twort, um inglês, chegou a conclusões
parecidas estudando outro agente, que era capaz de infectar bactérias e, por isso,
chamado de bacteriófago (comedor de bactérias). Vários outros cientistas encon-
traram relações entre moléstias comuns aos humanos e outros seres vivos com
determinados agentes, que possuíam as características observadas por Ivanovsky
e Beijerink. Logo a comunidade científica aprendeu a fazer culturas de viroses, em
células, e usar essa técnica para a preparação de vacinas – formulações usadas
para promover a imunidade biológica ao agente, tal como a vacina da poliomielite.

Parasitas Intracelulares Obrigatórios


Os vírus, embora possuam material genético, o ácido nucleico (DNA ou RNA),
que contém as informações vitais de um ser vivo, não possui metabolismo pró-
prio e, portanto não consegue sintetizar substância, desenvolver-se e reproduzir-
-se. Sendo assim, tem sido colocado no limiar entre ser vivo, pela genética, pois
possui DNA ou RNA e matéria inerte, pela citologia, pois não possui metabolis-
mo próprio.

Devido ao motivo de não possuírem metabolismo próprio, os vírus obrigatoria-


mente precisam invadir uma célula para a sua reprodução e perpetuação da espé-
cie. Por isso recebem o nome de parasitas intracelulares obrigatórios. A palavra
vírus, ou vírion, vem do Latim e significa “veneno”.

Os vírus dependem totalmente da célula hospedeira para cumprir suas funções


biológicas. Eles não podem sintetizar proteínas, pois não possuem ribossomos,
então utilizam os das células hospedeiras para essa tarefa. Eles tão pouco podem
gerar, ou armazenar energia na forma de ATP, pois não possuem mitocôndrias,
e toda a energia consumida também vem das células hospedeiras, assim como os

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nucleotídeos e aminoácidos utilizados para sintetizar seus ácidos nucleicos e prote-
ínas também vêm das células hospedeiras. Alguns vírus mais qualificados utilizam
também lipídeos e carboidratos da célula hospedeira para formar suas membranas
lipoproteicas e glicoproteínas.

Estrutura viral
Os vírus, também denominados de vírions, são compostos basicamente de
ácido nucleico envolvido por uma cobertura de proteínas chamada de capsídeo
(Figura 1). Alguns deles, como o vírus da AIDS, possuem uma segunda cobertura
que recebe o nome de envelope e, portanto, são separados em vírus envelopados
e vírus não envelopados.
6 Espículas

Material genético: DNA ou RNA


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3 Vírus não envelopado
2
Capsídeo

4 5 Envelope lipoproteico
Caosômeros
Figura 1 – Estrutura básica viral. 1 - material genético (DNA ou RNA),
2 - capsídeo, 3 - material genético mais capsídeo formam um vírus não envelopado,
4 - capsômero, que são as unidades proteicas que formam o capsídeo,
5 - envelope lipoproteico composto de lipídios (fosfolipídios e colesterol), proteínas e carboidratos,
6-espículas glicoproteicas que tem função de ancoragem à célula hospedeira

Ácido Nucleico
Em uma célula, seja ela procarionte ou eucarionte, o DNA contém as informa-
ções vitais e o RNA é um coadjuvante na expressão do código genético, auxiliando
a célula na produção de proteínas. Veja como os vírus são diferentes: alguns vírus
possuem em seu interior apenas DNA e outros vírus possuem em seu interior ape-
nas RNA (Item 1). Então os vírus que contêm apenas RNA possuem suas informa-
ções vitais nessa molécula.
Também existem diferenças em como essas moléculas se arranjam: o DNA ou
RNA, como filamentos simples ou duplos, como filamentos lineares ou circulares,
ou como filamentos únicos ou segmentados.

Capsídeo
Capsídeo (Item 2) é um polímero formado por proteínas codificadas pelo ge-
noma viral, sua estrutura representa a maior parte da estrutura viral. As proteínas

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UNIDADE Vírus e Protozoários

formam capsômeros (Item 4) que podem ser de um único tipo ou de vários. O cap-
sídeo protege o ácido nucleico viral do ataque das nucleases celulares, ancora o
vírus em sítios específicos na membrana plasmática e auxilia a sua penetração ou
injeção do material genético na célula hospedeira. A estrutura formada pelo ácido
nucleico e o capsídeo é denominada de nucleocapsídeo.

Envelope
Os vírus envelopados possuem uma camada lipoproteica (Item 5) composta
de lipídios (fosfolipídios e colesterol), proteínas e carboidratos, uma vez que estas
são oriundas da membrana plasmática da célula hospedeira, adquirida quando os
vírions saem da célula. Outras membranas celulares, como a do complexo de Gol-
gi, a do reticulo endoplasmático ou a da membrana nuclear, podem estar presentes
no envelope, mas isso depende do local onde ocorreu a replicação viral. O envelo-
pe pode ainda ser misto, contendo parte codificada pelo genoma do vírus.

As glicoproteínas do envelope desempenham importante papel na ancoragem,


fusão e penetração do vírus na célula hospedeira.

Proteínas, Lipídios e Carboidratos


A grande maioria das proteínas tem função estrutural e encontra-se principal-
mente no capsídeo, uma parte considerável está no envelope associada aos carboi-
dratos, formando as glicoproteínas que são chamadas de espículas (Item 6) e tem
importante papel na ancoragem do vírus à célula hospedeira.

Alguns vírus possuem proteínas internas, como no caso dos vírus de RNA de-
nominados de retrovírus que têm a enzima transcriptase reversa, que produz um
DNA a partir de um RNA e só assim consegue dar continuidade à replicação viral.

Os bacteriófagos, vírus que infectam bactérias, produzem uma enzima seme-


lhante à lisozima que produz um pequeno orifício na parede celular bacteriana
permitindo que seu ácido nucleico adentre a célula. Em um estágio mais avançado
da infecção, quando centenas ou milhares de vírions já estão formados dentro da
bactéria, uma quantidade muito grande dessa enzima é produzida para promover a
lise da parede celular bacteriana.

Os lipídios são encontrados nos vírus envelopados e têm função estrutural.

Alguns vírus podem conter carboidratos no capsídeo, sendo essa substância


mais encontrada no envelope e na forma de glicoproteína com a função de anco-
ragem à célula hospedeira.

Morfologia Viral
Os vírus são menores do que o comprimento de onda da luz visível e, portanto,
não são vistos em microscópios óticos. O tamanho da maioria dos deles varia de
20 a 300 nanômetros (nm), sendo possível observá-los apenas ao microscópio

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eletrônico. Existem exceções, como o Mimivírus, que infecta amebas e tem tama-
nho aproximado ao de uma bactéria.

Os nucleocapsídeos são organizados de maneira muito simétrica, apresentan-


do dois tipos principais de formas, cilíndrica e esférica. Os vírus cilíndricos exi-
bem simetria helicoidal, e os esféricos, simetria icosaécrica. Em todos os casos, a
estrutura característica do vírus é determinada pelos capsômeros que compõem
os capsídeos.

Embora exista uma variedade muito grande de formas virais, vamos dividi-las em
três estruturas genéricas para facilitar nosso entendimento (link a seguir).
• Formas helicoidais: formadas por capsômeros idênticos que se arranjam em
forma cilíndrica ou de bastonetes do tamanho de seus ácidos nucleicos; o vírus
do Mosaico do Tabaco tem 18nm de diâmetro por 300nm de comprimento;
outros exemplos de vírus com forma helicoidal são os da gripe, do sarampo e
do ebola.
• Formas icosaédricas: formados por polígonos de 20 faces que são ligeira-
mente arredondadas; os arranjos mais simples apresentam três capsômeros
por face, em um total de 60 por capsídeo; no entanto, existem configurações
com maior número de capsômeros que, em cada face do poliedro, podem ser
iguais ou distintas. Como exemplo, temos os vírus da AIDS, HPV, poliomielite,
herpes simples e adenovírus.
• Formas complexas: temos o vírus da varíola, que é descrito com forma de
paralelepípedo ou tijolo, ou ainda de retângulo, arredondado com aproxima-
damente 302-350nm por 244-270nm, sendo que possui dois envoltórios, o
vírus da Raiva, que tem forma de projétil (bala), e os vírus que infectam bac-
térias, os bacteriófagos, que possuem cabeça icosaédrica e cauda helicoidal.
Explor

Formas virais, as três simetrias mais comuns, disponível em: https://goo.gl/9QRuRC

Especificidade viral
Em geral, um vírus ataca um ou poucos tipos de células. Isso porque um deter-
minado tipo de vírus só consegue infectar uma célula que possua, na membrana,
substâncias às quais interajam com suas proteínas ou glicoproteínas de superfície
e, então, ele consiga ancorar-se e iniciar o processo de infecção.

O vírus da poliomielite, por exemplo, é altamente específico, infectando


apenas células nervosas, intestinais e da mucosa da garganta. Já os vírus da
rubéola e da varíola conseguem infectar um maior número de tecidos huma-
nos. Os vírus da gripe são bastante versáteis e podem infectar diversos tipos de
células humanas e também células de diferentes animais, como patos, cavalos
e porcos. Em muitos casos, essa capacidade se deve ao fato de esses vírus

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UNIDADE Vírus e Protozoários

conseguirem ancorar-se a substâncias presentes em células de diversos tipos de


organismo. Os vírus, tanto de plantas como de animais, apresentam uma gama
determinada de hospedeiros. Assim, o vírus da febre amarela urbana tem como
hospedeiro somente o homem e o vírus da febre amarela silvestre, o macaco e
o homem. Já o vírus causador da tristeza do citrus infecta pelo menos 74 espé-
cies vegetais distribuídas em 14 famílias.

Nos vírus animais, a especificidade vai até o nível histológico, servindo de base
para classificá-los em: vírus dermotrópicos, como os causadores de varíola, varice-
la, sarampo, rubéola, e outras doenças; vírus pneumotrópicos, que podem causar
resfriado ou gripe; vírus neurotrópicos, que causam raiva, poliomielite, encefalites,
meningite e outras doenças infecciosas no sistema nervoso; vírus hepatotrópicos,
como os da febre-amarela e da hepatite; e vírus linfo e glandulotrópicos, como os
da caxumba e linfogranuloma inguinal.

Bacteriófagos
Os bacteriófagos podem ser vírus de DNA ou de RNA que infectam somente
organismos procariotos, as bactérias. São formados apenas pelo capsídeo, não
existindo formas envelopadas. Os mais estudados são os que infectam a bactéria
intestinal Escherichia coli, conhecida como fagos T4, que são constituídos por
uma cauda de aproximadamente 20 proteínas diferentes e uma cápsula proteica
bastante complexa como um número ainda maior de proteínas em sua composição
e com formato poligonal que envolve uma molécula de DNA. A cauda cilíndrica
contém em sua extremidade livre fibras proteicas responsáveis pela adesão e anco-
ragem do bacteriófago à célula hospedeira (Figura 2).

Cabeça

Calda

Fibras da causa

Placa basal
Figura 2 – Desenhos de um bacteriófago T4, que infecta Escherichia coli. Mostrando sua cabeça icosaédrica,
cauda cilíndrica, placa basal e fibras da cauda que tem função de ancoragem do fago à célula hospedeira
Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons

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Replicação Viral
Ciclo de Vida dos Bacteriófagos
A reprodução ou replicação dos bacteriófagos, assim como os demais vírus,
ocorre somente no interior de uma célula hospedeira.

Existem basicamente dois tipos de ciclos reprodutivos: o ciclo lítico e o ciclo


lisogênico. Esses dois ciclos iniciam com o fago T aderindo à superfície da célula
bacteriana através das fibras proteicas da cauda. Esta se contrai, impelindo a par-
te central, tubular, para dentro da célula, à semelhança, de uma microsseringa.
O DNA do vírus é, então, injetado dentro da célula e a cápsula proteica fica vazia.
A partir desse momento, começa a diferenciação entre ciclo lítico e ciclo lisogênico.

Ciclo Viral Lítico


No ciclo lítico, a adsorção (ancoragem ou ligação) do bacteriófago à célula
hospedeira é mediada pelas fibras de sua cauda. As extremidades das fimbrias in-
teragem especificamente com polissacarídeos encontrados na parede celular das
bactérias. A ação da enzima semelhante à lisozima perfura a parede celular bacte-
riana, a bainha viral contrai-se e injeta o DNA viral no interior da célula, ficando o
restante do envoltório proteico viral fora da bactéria (Figura 3).

a) Livre e se aproximando de uma bactéria;


b) Procurando a interação das longas fibras
de sua cauda com polissacarídeos da parede
celular bacteriana, ou seja, interação com os
receptores específicos;
c) Realizando a adsorção (ancoragem);
d) Contraindo a bainha da cauda e injetando
seu material genético no interior da bactéria.

Figura 3 – Desenho esquemático de um bacteriófago T

As funções normais da bactéria infectada são interrompidas na presença de


ácido nucleico do vírus (DNA ou RNA). Esse, ao mesmo tempo em que é repli-
cado, comanda a síntese das proteínas que comporão o capsídeo. Os capsídeos
organizam-se e envolvem as moléculas de ácido nucleico. São produzidos, então,
novos vírus, que recebem o nome de vírion. Sob comando do DNA viral, uma
quantidade agora maior ainda da enzima semelhante lisozima é produzida e ocorre

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UNIDADE Vírus e Protozoários

a lise, ou seja, a célula infectada rompe-se e os novos bacteriófagos (vírions) são


liberados (Figura 4). Sintomas causados por um vírus que se reproduz através dessa
maneira, em um organismo multicelular, aparecem imediatamente. Nesse ciclo,
os vírus utilizam o metabolismo celular para fabricar suas proteínas e duplicar seu
ácido nucleico.

Figura 4 – Ciclo Viral Lítico: estágios resumidos de replicação de um bacteriófago

Ciclo Viral Lisogênico


No ciclo lisogênico, o vírus invade a bactéria ou a célula hospedeira, onde o
DNA viral incorpora-se ao DNA da célula infectada. Isto é, o DNA viral torna-se
parte do DNA da célula infectada. Uma vez infectada, a célula continua suas ope-
rações normais, como reprodução e ciclo celular. Durante o processo de divisão
celular, o material genético da célula, juntamente com o material genético do vírus
que foi incorporado, sofre duplicação e, em seguida, é dividido equitativamente
entre as células-filhas. Assim, uma vez infectada, uma célula começará a transmitir
o vírus sempre que passar por mitose e todas as células estarão infectadas também.
Sintomas causados por um vírus que se reproduz dessa maneira, em um organismo
multicelular, podem demorar a aparecer. Doenças causadas por vírus lisogênico
tendem a ser incuráveis. Alguns exemplos incluem a AIDS e herpes.

Sob determinadas condições, naturais ou artificiais (tais como radiações ultra-


violeta, raios X ou certos agentes químicos), uma bactéria lisogênica pode transfor-
mar-se em não lisogênica e iniciar o ciclo lítico (Figura 5).

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Figura 5 – Alternância entre ciclo viral lítico e ciclo viral lisogênico

Reprodução Viral em Célula Animal


Primeiro ocorre a fixação que representa a interação entre as espículas ou
proteínas do capsídeo ou envelope com os receptores localizados na membrana
celular. Ocorre então a adsorção e penetração da partícula viral na célula por
endocitose. Após o capsídeo ser introduzido na célula, inicia-se o processo de des-
nudamento, que tem como objetivo, a remoção da proteína do capsídeo para a
liberação do genoma viral. Esse processo ocorre graças à ação de autodefesa onde
enzimas celulares, presentes no citoplasma e nos lisossomos, destroem o capsídeo
e liberam o genoma. Após a liberação do genoma, ocorre a síntese proteica e a
replicação do ácido nucleico. Os próximos passos são a montagem e a liberação
dos vírions. Os vírions com capsídeos fazem um processo de brotamento, de
modo a carregar um pedaço da membrana da célula hospedeira que já contém es-
pículas inseridas (liberação) e só assim podem se tornar infecciosos (link a seguir).

Alguns vírus que contêm filamento de RNA simples possuem uma enzima deno-
minada transcriptase reversa, que realiza a transcrição reversa, produzindo uma
molécula de DNA a partir de seu RNA, a exemplo do HIV, que, por esse motivo,
é denominado de retrovírus.
Explor

Estágios de reprodução viral em célula animal, disponível em: https://goo.gl/Q3eg4b.

Vírus e tecnologia
Estudos demonstram que os vírus podem ser usados em terapias gênicas, pois têm
potencial para inocular genes saudáveis em células que possuem genes deficientes.
Também tem potencial para serem usados como antibióticos destruindo bacté-
rias e outros parasitos do nosso organismo.
A utilização na agricultura também é promissora: utilizando-os no controle bio-
lógico de pragas, teremos a diminuição do uso de agrotóxicos.

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UNIDADE Vírus e Protozoários

Doenças Virais
No homem, inúmeras doenças são causadas por vírus. Praticamente todos os te-
cidos e órgãos humanos são afetados por alguma infecção viral. Algumas são fatais
como a AIDS, o ebola, gripe aviária (SARS) e a dengue hemorrágica. Caxumba, cata-
pora, rubéola, sarampo, herpes, hepatite C, febre amarela, chicungunha, zika, gripe,
resfriado, raiva e meningite também são doenças virais humanas. A varíola foi mun-
dialmente erradicada e a poliomielite foi erradicada em vários países, incluindo o Brasil.
Um único vetor, o Aedes aegypti, é responsável pela transmissão de várias do-
enças virais, como dengue, febre amarela, chicungunha e zika.

Para se inteirar sobre o Aedes aegypty que muito nos incomoda e as doenças virais por ela
Explor

transmitidas dengue, febre amarela, chicungunhae e zika, leia:


• O livro Vírus, Mosquitos e Modernidade a febre amarela no Brasil entre ciência e
política, disponível em: https://goo.gl/Zi1uF8
• O artigo Infecções emergentes e reemergentes, disponível em: https://goo.gl/Fi9rPi

Vírus e Câncer
Muitos retrovírus possuem genes denominados oncogenes, que induzem as cé-
lulas hospedeiras à divisão descontrolada com a formação de tumores cancerosos.
O HPV (vírus do papiloma humano) é o principal responsável pelo câncer de có-
lon de útero; cerca de 90% das mulheres com esse câncer ou estão contaminadas
ou já tiveram histórico de contaminação. O HTLV é um retrovírus que infecta os
linfócitos T e causa um tipo de leucemia (câncer do sangue).

Biologia dos Protozoários


Os protozoários pertencem ao Reino Protista no qual também se encontram as
algas unicelulares protista euglenófitas, crisófitas e pirrófitas. Todos os protistas são
unicelulares e eucariontes, ou seja, possuem núcleo celular organizado dentro de
uma membrana. As algas são autotróficas, dotadas de pigmentos fotossintetizan-
tes, possuem elaborados sistemas de produção de energia celular (ATP). Os proto-
zoários são heterotróficos e não são capazes de produzir sua própria energia celu-
lar, por isso necessitam capturar outros seres vivos, partes ou conteúdos de outros
seres vivos para metabolizar a sua própria energia celular (ATP).

A Euglena é uma exceção do reino Protista, pois são ao mesmo tempo autotróficas e hetero-
Explor

tróficas. Autotróficas porque possuem clorofila e heterotróficas por realizam fagocitose. Leia
o artigo e assista os vídeos do site sugerido.
Disponíveis em: https://goo.gl/LlpbLU e https://goo.gl/khf1ak

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Classificação e locomoção
A classificação taxonômica dos protozoários é muito complexa, chamado de
Sub-reino Protozoa, é constituído por sete filos, dos quais quatro têm interesse
em parasitologia humana. Muitos protozoários são de vida livre e, portanto, não
são parasitas.

Vamos utilizar a classificação do protozoário de acordo com a suas estruturas


de locomoção, que podem ser feitas com auxílio de um ou mais dos seguintes re-
cursos: pseudópodos, flagelos, cílios e microtúbulos subpeliculares que permitem a
locomoção por flexão, ondulação ou deslizamento.
• Classificação:
» Sarcodíneos ou Rizópodes: locomoção através de pseudópodos.
» Mastigóforos ou Flagelados: locomoção através de flagelos.
» Ciliados: locomoção através de cílios.
» Esporozoários ou Apicomplexos: não apresentam estrutura locomotora.

Morfologia
Os protozoários apresentam grandes variações, conforme sua fase evolutiva e
meio a que estejam adaptados. Podem ser esféricos, ovais ou mesmo alongados.
Alguns são revestidos de cílios, outros possuem flagelos, e existem ainda os que
não possuem nenhuma organela locomotora especializada. Dependendo da sua
atividade fisiológica, algumas espécies possuem fases bem definidas como o tro-
fozoíto, que é a configuração ativa do protozoário, na qual ele se alimenta e se
reproduz, por distintos processos. No entanto, também podem assumir uma con-
figuração de resistência, onde o protozoário possui uma parede resistente que o
protegerá quando estiver em meio impróprio ou em fase de latência, denominada
cisto. E algumas espécies produzem uma configuração sexuada, o gameta.

Os organismos participantes do Reino Protista possuem uma única célula que,


para sobreviver, realiza todas as funções mantenedoras da vida: alimentação, respi-
ração, reprodução, excreção e locomoção.

Para cada função existe uma organela própria:


• Cinetoplasto: é uma mitocôndria especializada, rica em material genético;
• Corpúsculo basal: base de inserção do componente motor dos cílios e flagelos;
• Reservatório: supõe-se que seja um local de secreção, excreção e ingestão de
partículas, pelo processo de pinocitose;
• Lisossomo: permite a digestão intracelular de partículas alimentares;

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UNIDADE Vírus e Protozoários

• Complexo de Golgi: síntese de carboidratos e condensação da secreção pro-


teica para o meio extracelular ou para incorporação nas membranas lipídicas
do organismo;
• Retículo endoplasmático: a) Liso: responsável pela síntese de esteroides;
b) Granular ou Rugoso: responsável pela síntese de proteínas em seu lúmen;
• Mitocôndria: produção energética da célula;
• Microtúbulos: movimentos celulares (contração e distensão) e vias de trans-
porte interno de vesículas;
• Flagelos, cílios, membrana ondulante e pseudópodes: locomoção da célu-
la no meio em que se encontra;
• Axonema: eixo central do flagelo;
• Citóstoma: permite a ingestão de partículas alimentares.

Cada organela é mais ou menos semelhante nas várias espécies dentro do reino,
entretanto, ocorrem pequenas diferenças que podem ser observadas ao microscópio
óptico ou, unicamente, por intermédio de um microscópio eletrônico (link a seguir).

lustração (a esquerda) e microscopia eletrônica (a direita) de um paramécio. A ilustração


Explor

mostra algumas de suas estruturas celulares, disponível em: https://goo.gl/GeJg7c

Reprodução
Temos os seguintes tipos de reprodução:
• Assexuada:
»» Divisão binária ou Cissiparidade;
»» Brotamento ou Gemulação;
»» Endogenia: formação de duas ou mais células-filhas por brotamento interno
à célula;
»» Esquizogonia: divisão nuclear seguida da divisão do citoplasma, constituin-
do indivíduos isolados. Esses rompem a membrana celular da célula mãe e
continuam a desenvolver-se. Na realidade, existem três tipos de esquizogo-
nia: merogonia (produz merozoítos), gametogonia (produz microgametas) e
esporogonia (produz esporozoítos).
• Sexuada:
»» Conjugação: consiste na união temporária de dois indivíduos, com troca
mútua de materiais nucleares;
»» Singamia ou Fecundação: consiste na união de microgameta e macroga-
meta formando o ovo ou zigoto, que pode dividir-se para fornecer esporozo-
ítos. O processo de formação de gametas recebe o nome de gametogonia.

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Nutrição
Quanto ao tipo de alimentação, divide-se em:
• Autotróficos: são os que, a partir de pigmentos citoplasmáticos, conseguem
sintetizar energia a partir da luz solar pelo processo denominado fotossíntese;
• Heterotróficos: ingerem partículas orgânicas, digestão por ação enzimática.
Essa ingestão se dá por fagocitose (ingestão de partículas sólidas) ou pinocitose
(ingestão de soluções aquosas);
• Saprozóicos: absorvem substâncias inorgânicas, já decompostas e dissolvidas
em meio líquido;
• Mixotróficos: são capazes de se alimentar por mais de um dos métodos
acima descritos.

Excreção
A excreção dos metabólitos celulares ocorre por meio de difusão através da
membrana plasmática ou bombeamento pelos vacúolos contráteis (ou pulsáteis).

Respiração
A maioria é aeróbia e vive em ambiente rico em oxigênio. Alguns como os que
vivem no trato digestivo são anaeróbios.
Explor

Os Protozoários, disponível em: https://youtu.be/BUuDvXITlAg

Doenças Causadas por Protozoários


A maioria dos protozoários possui vida livre e habita principalmente o solo e
a água. No entanto, alguns levam uma vida parasitária causando doenças em ani-
mais. Febre, cistos dolorosos e outros efeitos são alguns sintomas em seus hospe-
deiros. Muitos protozoários causam doenças nos seres humanos e a outros animais
vertebrados. Por exemplo: Trypanosoma cruzi é um protozoário flagelado causa-
dor da doença de Chagas. Entre as outras doenças provocadas por protozoários,
destacam-se a amebíase (pela Entamoeba histolytica), a giardíase (pela Giardia
lamblia), a malária (por Plasmódios sp), diferentes tipos de leishmaniose (pelas
Leishmania sp) e diversas outras patogenias.

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UNIDADE Vírus e Protozoários

Anexo I
Glossário
• ATP (adenosina trifosfato): é a molécula de mais alta energia encontrada na
célula. É responsável por fornecer energia para as funções celulares, tais como
duplicação do DNA, síntese de proteínas e lipídios e muitas outras;
• Icosaedro: poliedro de 20 faces;
• Fagocitose: Ação realizada pela membrana plasmática através de pseudó-
podos com o objetivo de englobar uma célula parte de uma célula ou anda
substância do meio extracelular e colocar para dentro da célula com objetivo
posterior de se utilizar esse material como alimento. OBS. Algumas células do
nosso organismo, como os macrófagos e os neutrófilos, utilizam este mecanis-
mo para nos defender de agentes invasores;
• Lise: ruptura ou quebra. Exemplo: lise celular = quando a célula tem sua mem-
brana plasmática rompida;
• Lisozima: enzima produzida em nossas secreções que tem ação antibacteriana;
• Nanômetros (nm): unidade de medida que corresponde à milionésima (10-6)
parte do mm (milímetro);
• Nucleases celulares: enzimas que causam lise do ácido nucleico;
• Pseudópodos: movimentos realizados pela membrana plasmática que permi-
te o deslizamento da célula.

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Anexo II
Atividade de aprofundamento
As pesquisas científicas na área da saúde tem nos ajudado a combater um nú-
mero significativo de doenças infecciosas, seja por meio de vacinas, antibióticos ou
ainda pelos antimicrobianos sintéticos como o AZT e o aciclovir. No entanto, para
alguns microrganismos, ainda não conseguimos desenvolver vacinas, como no caso
da AIDS. Para outros microrganismos como os da gripe, as vacinas precisam de re-
forços anuais e os antibióticos não são ativos para todos os tipos de microrganismos.
1. A que se deve o fato de ainda não existirem vacinas para a AIDS?
2. Por que os antibióticos não são efetivos no tratamento de doenças virais?

Respostas
1. As vacinas estimulam nosso organismo a produzir anticorpos que se ligam
a glicoproteínas da superfície do vírus, neutralizando-o e impedindo a sua
fixação na célula hospedeira e, desse modo, a sua infecção. O HIV cau-
sador da AIDS possui alta taxa de mutação gênica e modifica com muita
rapidez suas proteínas que compõem as glicoproteínas de superfície, im-
pedindo que os anticorpos por nós produzidos após a vacinação se liguem
a essas glicoproteínas.
2. Os antibióticos só são efetivos contra microrganismos celulares como as
bactérias e os fungos, pois seus mecanismos de ação estão direcionados
ao metabolismo celular, à membrana plasmática ou à parede celular e os
vírus não possuem tais elementos.
Explor

Por que não tem vacina contra o HIV? Disponível em: https://youtu.be/u75Ui0qnFl4

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UNIDADE Vírus e Protozoários

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Livros
Dengue no Brasil Doença Urbana
Dengue no Brasil Doença Urbana – Timerman, A.; NUNES, E.; LUZ, K. São Paulo:
Limay Editora, 2012.
https://goo.gl/Nf3ycy
A Virologia no Estado do Rio De Janeiro Uma Visão Global
A Virologia no Estado do Rio De Janeiro Uma Visão Global – SCHATZMAYR, H.
G.; CABRAL, M. C. 2. ed. Rio de Janeio: FioCruz, 2012.

 Vídeos
VÍRUS - MICROBIOLOGIA - Prof. Kennedy Ramos
https://youtu.be/sqsNVBv_dPs
Replicação do virus
https://youtu.be/ai-GtpXGP9Y

 Leitura
O que são vírus? Um novo conceito
O que são vírus? Um novo conceito – CASTRIGNANO, S.B. Bol Inst Adolfo Lutz.
2016; pp. 1-3.
https://goo.gl/t08djB

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Referências
BRENER B. Parasitologia Médica. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015.

DE CARLI, G. A. Parasitologia Clínica: Seleção de Métodos e Técnicas de Labora-


tório para o Diagnóstico das Parasitoses Humanas. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2007.

FERREIRA, M. U. Parasitologia Contemporânea. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 2012.

MADIGAN, M. T.; MARTINKO, J. M.; PARKER, J. Microbiologia de Brock. 10.


ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010.

NEVES, D. P.; MELO, A. L.; LINARDI, P. M.; VITOR, R. W. A. Parasitologia


Humana. 13. ed. São Paulo: Atheneu, 2016.

PELCZAR JUNIOR, M. J. Microbiologia: conceitos e aplicações. São Paulo:


Pearson Makron Books, 2005.

REY, L. Bases da Parasitologia Médica. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 2014.

SEHNEM, N. T. Microbiologia e Imunologia. São Paulo: Pearson Education do


Brasil, 2015.

TRABULSI, L. R. Microbiologia. São Paulo: Atheneu, 2005.

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