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Universidade Federal de Pernambuco

Centro de Filosofia e Ciências Humanas

Programa de Pós-Graduação em Geografia

Grupo de Pesquisa em Inovação, Tecnologia e Território

A importância do espaço geográfico na construção e


funcionamento de redes científicas na área de farmácia
em Pernambuco fomentadas pela Política Nacional de
Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (PNCTIS).

Allison Bezerra Oliveira

Orientadora: Dra. Ana Cristina de Almeida Fernandes

Recife

2014
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO - UFPE

CENTRO DE FILOSOFIA E CIENCIAS HUMANAS – CFCH

DEPARTAMENTO DE CIENCIAS GEOGRAFICAS – DCG

PROGRAMA DE POS-GRADUÇÃO EM GEOGRAFIA – PPGEO

A importância do espaço geográfico na construção e


funcionamento de redes científicas na área de farmácia
em Pernambuco fomentadas pela Política Nacional de
Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (PNCTIS).

Tese de doutorado apresentada como requisito


parcial para obtenção do título de Doutor em
Geografia junto ao programa de pós-graduação em
geografia da Universidade Federal de Pernambuco.

Allison Bezerra Oliveira

Orientadora: Dra. Ana Cristina de Almeida Fernandes

Recife

2014
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Catalogação na fonte

O48i Oliveira, Allison Bezerra.


A importância do espaço geográfico na construção e funcionamento
de redes científicas na área de farmácia em Pernambuco fomentadas pela
Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (PNCTIS) /
Allison Bezerra Oliveira. – Recife: O autor, 2014.
346 f. : il. ; 30 cm.

Orientadora: Profª. Drª. Ana Cristina de Almeida Fernandes.

Tese (doutorado) - Universidade Federal de Pernambuco, CFCH.


Programa de Pós-Graduação em Geografia, 2014.
Inclui referências e apêndices.

1. Geografia. 2. Espaço Geográfico. 3. Redes científicas. 4. PNCTIS.


5. Fármacia – Pernambuco I. Ana Cristina de Almeida Fernandes
(Orientadora). II. Título.

910 CDD (23.ed.) UFPE (BCFCH2014-50)

Bibliotecário Tony Bernardino de Macedo, CRB-4 1567


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ALLISON BEZERRA OLIVEIRA

A importância do espaço geográfico na construção e funcionamento de


redes científicas na área de farmácia em Pernambuco fomentadas pela
Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (PNCTIS).

Tese defendida e APROVADA pela banca examinadora

Orientadora:____________________________________________________________

Profa. Dra. Ana Cristina de Almeida Fernandades - PPGEO/UFPE

2º Examinador: _________________________________________________________

Prof. Dr. Bertrand Roger Guillaume Cozic - PPGEO/UFPE

3º Examinador: _________________________________________________________

Prof. Dr. Raimundo Nonato Macedo dos Santos - PPGCI/UFPE

4º Examinador: _________________________________________________________

Prof. Dr. Luiz Eugênio Pereira Carvalho - UFCG

4º Examinador: _________________________________________________________

Prof. Dr. Marcos Aurélio Dornelas da Silva - ITEP

Recife

2014
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Para minha mãe Gilza Bezerra, meu pai Felix Oliveira (sempre lembrado)

Minha avó Dona Nita, meus irmãos (Mabson e Juliana)

e minha Alice. Por tudo. Por serem tudo.


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“Demore o tempo que for para você ver o que você quer
da vida, e depois que decidir, não recue ante nenhum
pretexto, porque o mundo tentará te dissuadir”
(Zaratrusta)
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MINHA GRATIDÃO

Agradecer é um ato de reconhecimento. Faço-o com a mesma satisfação


com que realizei esta pesquisa. Certamente outras pessoas que contribuiram para a
sua realização e para a manutenção de minha saúde emocional durante este período
de doutorado não são mencionadas. Para elas, peço-lhes compreensão pelo lapso de
uma memória tão congestionada. A todos tenham a certeza de meu mais profundo
agradecimento.

A Deus, pela fé que teima em divergir da racionalidade científica, mas que


sempre esteve presente nos momentos de prosperidade e de frustração.
A professora Ana Cristina de Almeida Fernandes a quem tive o privilégio de
ter como orientadora e incentivadora desde o mestrado até aqui no doutorado. Que
compreendeu e amparou minhas dificuldades, e mais que tudo, ofereceu um belo
exemplo de dignidade, competência e respeito, que admiro bastante. Aprendi muito
com a Senhora.
A minha mãe, minha avó e meus irmãos pelo amor incondicional e
constante apoio. Amo vocês.
A minha Alice, pelo amor, carinho, respeito, incentivo e paciência. Amo
você.
Ao professor Jan Bitoun, exemplo de pessoa e de geógrafo, sempre solícito
e altruísta às necessidades dos estudantes. Não me esqueço de sas palavras ao dizer
que “as crises intelectuais fazem parte da formação do pesquisador”.
Ao professor Breno Fontes, sociólogo, importante nome na pesquisa das
redes sociais, por sempre destinar um tempo para conversarmos sobre meus
questionamentos e pela disciplina de “redes, sociabilidade e poder local” que me foi
extremamente útil na construção deste trabalho.
Ao professor Bertrand Cozic pelas contribuições cotidianas no GRITT, pelas
palavras de incentivo e importantes considerações na qualificação e na defesa do
doutorado. A forma com que você expõe suas considerações não só ajudam mas,
incentivam o espírito do pesquisador.
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Ao professor Raimundo Santos, do departamento de Ciências da


Informação por prontamente me ajudar com meus dados, por suas valorosas palavras
na banca de qualificação e na defesa de doutorado.
Ao amigo e membro da banca, sociólogo Marcos Dornelas, por ter me
apresentado as redes sociais, ao Ucinet, por ter dedicado parte do seu tempo me
ajudando com uma série de questões metodológicas. Obrigado meu caro, suas ajudas
se estendem desde o mestrado, sem elas não poderia ter realizado este trabalho.
Ao amigo e membro da banca Luis Eugênio pelas conversas, pela amizade e
pelas considerações sobre a tese, e pelo apontamento sobre as redes ainda no início
desta pesquisa.
A professora Suely Galdino (In memoriam) por ser um exemplo de
incentivo a pesquisa científica no Brasil. Foi uma grande oportunidade conhecê-la
pessoalmente e tê-la como professora no PPGIT.
Ao professor e amigo Milton Farias de Belém - PA, que ouviu minhas
reclamações e me incentivou, além de me ajudar com a revisão da literatura sobre
redes.
A Universidade Federal de Pernambuco e o programa de Pós Graduação
em Geografia da mesma instituição, onde fiz mestrado e doutorado, pela formação
intelectual e profissional. Espero não me distânciar desta casa.
A Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco
FACEPE, pela bolsa concedida de Doutorado sem a qual não poderia ter realizado esta
pesquisa.
A Olga Lima que gentilmente se dispôs a me ajudar intermediando
entrevistas com gestores do campo da saúde.
Aos professores da área de farmácia que destinaram uma parte do seu
tempo tão prontamente para responderem aos meus questionários.
Ao Sr. Reinaldo Guimaráes pela gentileza em responder ao questionário
sobre a construção da PNCTIS.
Ao amigo Vladimir Homobono Soares, torcedor fanático do Remo, filho de
pais maravilhosos (Sr. Ariosvaldo e Dona Kátia), um irmão que escolhi, pela constante
amizade, parceria, incentivo e partilha de bons momentos.
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Ao amigo José Geraldo Pimentel Neto, torcedor do time com camisa de


abadá, que tenho como irmão, que sempre esteve disposto a me ajudar sem pedir
nada em troca, uma das pessoas mais parecidas comigo que já encontrei na vida, até
nos pensamentos mais absurdos.
Ao amigo Lywistone Galdino, amigo de todas as horas, obrigado pela
contribuição com os mapas, pelos bons momentos, pela amizade e pelas constantes
ajudas. Pelas noites sem sucesso tentando zerar bomberman. Lhe considero muito
cabra.
Ao amigo Paulo Baqueiro Brandão, torcedor fanático do Bahia, e uma das
pessoas mais humanas e gentis que tive o prazer de conhecer. Obrigado pela ajuda e
apoio emocional no meu concurso para professor. E vá tomar sua sopa bem longe de
mim.
Ao amigo Felipe de Castro, pelos valorosos e memoráveis momentos em
Recife, da formação mandala ao kovacic. És um aristocrata nato meu caro.
Ao amigo de longa data José Alenca(dinho), pessoa humana, solícita e
exímio dançarino de forró.
Ao amigo objetivo e direto Willian Magalhães Alcântara. Saudades de
nossas conversas sobre cinema meu caro.
A amiga Natália Raposo, minha conterrânea, pela ajuda com a revisão
ortográfica, e mais importante: pelas conversas, pelo compartilhamento de aflições,
pela torcida e pela empatia.
A amiga Priscila Félix, pela ajuda com o sumário da tese, e o principal: pelas
conversas sempre bem humoradas, pela torcida e o compartilhamento das angústias
do doutorado e da vida.
Para Octavie Paris pela enorme simpatia e empatia. Pelas conversas e
desabafos, pela amizade, pelos constantes incentivos.
A Kleython Monteiro, maior comunista que conheço, pelas anedotas na
internet, os papos sempre engraçados, as partidas de MMA e as idas ao cinema.
A Daniel Lira que me fez contrabandear semestralmente guaraná Jesus do
Maranhão durante seis anos para ele, pessoa solítica e amiga, altruísta em torcer para
a vitória dos demais.
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A Luciana Cruz, pela companhia nas idas ao cinema, pelos papos


engraçados.
Keilha Silveira, pelo jantar de despedida, pelo carinho e consideração. Será
beatificada por tolerar Geraldo, mulher!
Jonas Souza, obrigado pela ajuda com os gráficos camarada.
Aos amigos de muitos anos maranhenses, que sempre se constituíram
verdadeira família e sempre se felicitaram com minhas conquistas.
As minhas tutoras no curso do IFPE (Larissa Trigueiros, Juliana Andrade,
Rosileide Fontenele, Janaína Assis, Admares Marques) por um ambiente de trabalho
sempre profícuo e harmonioso.
A cidade do Recife, a quem tenho como minha segunda casa, e uma fonte
de repouso e inspiração.
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LISTA DE SIGLAS

ANPPS - Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde

ANS - Agência Nacional de Saúde

ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária

ARS - Análise de Redes Sociais

ATS - Atenção de Tecnologias em Saúde

BNDS - Banco Nacional de Desenvolvimento Social

C&T&I - Ciência, Tecnologia e Inovação

C&T&I&S - Ciência, Tecnologia, Inovação em Saúde

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CGEE - Centro de Gestão e Estudos Estratégicos

CISAM - Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros

CNCTIS - Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde

CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CNS - Conferências Nacionais de Saúde

CPqAM - Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães

DECIT - Departamento de Ciência e Tecnologia

FACEPE - Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco

FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos estratégicos

FIOCRUZ - Fundação Oswaldo Cruz

FNDCT - Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

FUNASA - Fundação Nacional de Saúde

FUNDAJ - Fundação Joaquim Nabuco

HEMOBRAS – Empresa Brasileira de Hemoderivados

HEMOPE - Hemocentro de Pernambuco


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ICTI - Institutos de Ciência, Tecnologia e Inovação

IMIP - Instituto Materno Infantil Professor Fernando Figueira

INAHTA - International Network of Agencies for Health Technology Assessment

INCT_IF - Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para a Inovação Farmacêutica

INCTI - Programa Institutos Nacionais de Ciência, Tecnologia e Inovação

INPI - Instituto Nacional de Propriedade Industrial

ISI - Institute for Scientific Information

ITEP - Instituto de Tecnologia de Pernambuco

LAFEPE - Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco

LIKA - Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami

MCTI - Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

MDIC - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

ME - Ministério da Educação

MS - Ministério da Saúde

P&D – Pesquisa e Desenvolvimento

PACTI - Plano Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação

PDP - Política de Desenvolvimento Produtivo

PITCE - Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior

PNB - Política Nacional de Biotecnologia

PNCTI - Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação

PNCTIS – Política Nacional de Ciência, Tecnologia, Inovação em Saúde

PNPMF - Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos

PPSUS - Programa Pesquisa para o Sistema Único de Saúde

PROÁFRICA - Apoio Financeiro para Atividades de Cooperação Internacional para a


Formação de Redes de Pesquisa com o Continente Africano

PROFARMA - Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Cadeia Produtiva


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PROSUL - Fomento a cooperação internacional bilateral em rede para a América Latina

PUC-RS - Pontifica Universidade Católica do Rio Grande do Sul

RBPC - Rede Brasileira de Pesquisa sobre o Câncer

REBRATS - Rede Brasileira de Avaliação de Tecnologias em Saúde

REDEGENOPORT - Rede de apoio a projetos de pesquisa em Genômica e Proteômica

REDEMA - Rede de Pesquisa sobre a Malária

RMR - Região Metropolitana de Recife

RNPCHE - Rede Nacional de Pesquisa Clínica em Hospitais de Ensino

RNTC - Rede Nacional de Terapia Celular

RPMMDDCIPN - Rede de Pesquisa em Métodos Moleculares para Diagnóstico de


Doenças Cardiovasculares, Infecciosas, Parasitárias e Neurodegenerativas

SciELO - ScientificElectronic Library Online

SCTIE - Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da


Saúde

SIAFI - Ministério da Saúde, Sistema Integrado de Administração Financeira do


Governo Federal

SIBRATEC - Sistema Brasileiro de Tecnologia

SIMEPE - Sindicato de Médicos de Pernambuco

SNCTI - Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação

SUS - Sistema Único de Saúde

TIC - Tecnologia da Informação, Processamento e Comunicação

UERJ - Universidade do Rio de Janeiro

UFAL - Universiade Federal de Alagoas

UFC - Universidade Federal do Ceará

UFOP - Universidade de Ouro Preto

UFPB - Universidade Federal da Paraíba

UFPE – Universidade Federal de Pernambuco


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UFPI - Universidade Federal do Piauí

UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UFRPE – Universidade Federal Rural de Pernambuco

UFRS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina

UFSCar - Universidade de São Carlos

UNB - Universidade de Brasília

UNICAMP - Universidade de Campinas

UNICAP - Universidade Católica de Pernambuco

UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo

UPE - Universidade de Pernambuco

USP - Universidade de São Paulo


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LISTA DE FIGURAS

Figura nº 1: Um emissor para vários receptores passivos .......................................................... 89

Figura nº 2: Emissor / Receptor: ponto a ponto ......................................................................... 89

Figura nº 3: Vários emissores e receptores ativos na mesma rede ............................................ 90

Figura nº 4: Informação, conhecimento e inovação ................................................................. 124

Figura nº 5: Cadeia de valor na área da saúde .......................................................................... 168

Figura nº 6: Principais acontecimentos na criação da PNCTIS .................................................. 173

Figura nº 7: Atores envolvidos na PNCTIS ................................................................................. 177

Figura nº 8: Principal marco institucional do fomento à pesquisa em rede na PNCTIS............ 189

Figura nº 9: Ator e relação ........................................................................................................ 216

Figura nº 10: Centralidade ........................................................................................................ 217

Figura nº 11: Grau de Centralidade........................................................................................... 218

Figura nº 12: Densidade forte e densidade fraca...................................................................... 218

Figura nº 13: Ator-Ponte ........................................................................................................... 219

Figura nº 14: Ator isolado ......................................................................................................... 219

Figura nº 15: Relações unidirecionais e bidirecionais ............................................................... 220

Figura nº 16: Subgrupo ou clique .............................................................................................. 220

Figura nº 17: Subgrupo ou clique .............................................................................................. 221

Figura nº18: Redes centralizadas, descentralizadas e distribuídas........................................... 221

Figura nº 19: Exemplo de uma rede científica entre Duncan Wattz e Albert-László Barabási 224

Figura nº 20: Exemplo de mapeamento de rede científica com base em artigos publicados .. 229

Figura nº 21: Rede de relações que resultaram em patentes 2000-2010 ................................ 239

Figura nº 22: Rede científica de farmácia em 2000 .................................................................. 242

Figura nº 23: Concentração de pesquisadores na Universidade Federal de Pernambuco 2000


................................................................................................................................................... 247

Figura nº 24: Atores centrais na rede de farmácia em 2000 .................................................... 248

Figura nº 25: Densidade da rede de farmácia em 2000 ............................................................ 249

Figura nº 26: Rede científica de farmácia em 2010 .................................................................. 251


16

Figura nº 27: Atores centrais na rede de farmácia em 2010 .................................................... 253

Figura nº 28: Densidade da rede de farmácia em 2010 ............................................................ 255

Figura nº 29: Concentração de pesquisadores na Universidade Federal de Pernambuco 2010


................................................................................................................................................... 260

Figura no 30: Cadeia local de pesquisa em farmácia em rede em Pernambuco. ...................... 289

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico nº 1: Multi autores por artigo de 1998 a 2011 ............................................................. 128

Gráfico nº 2: Artigos publicados na área de farmácia em Pernambuco 2000 – 2010 .............. 233

Gráfico nº 3: Evolução do número de pesquisadores entre 2000-2010 ................................... 235

Gráfico nº 4: Número total de pesquisadores entre 2000-2010 .............................................. 236

Gráfico nº 5: Espacialidade dos pesquisadores atuando em rede 2000-2010 ......................... 237

Gráfico no 6: Respostas sobre a realização de pesquisa científica em rede com pesquisadores


desconhecidos. .......................................................................................................................... 278

Gráfico no 7: Respostas sobre a importância de se conhecer o pesquisador ao se estabelecer


uma rede científica na área de farmácia em Pernambuco. ...................................................... 279

Gráfico no 8: Respostas sobre a importância de se ter experiência de trabalhos passados como


requisito para a construção de uma pesquisa em rede com outros pesquisadores. ............... 281

Gráfico no 9: Respostas sobre a importância da relação orientador x orientando na construção


de redes científicas na área de farmácia em Pernambuco. ...................................................... 282

Gráfico no 10: Respostas sobre a importância de contatos face a face na pesquisa em rede na
área de farmácia em Pernambuco. ........................................................................................... 284

Gráfico no 11: Respostas sobre a comunicação eletrônica como substituto eficaz na


comunicação pessoal. ............................................................................................................... 286

Gráfico no 12: Respostas sobre a importância da proximidade geográfica na pesquisa científica


em rede. .................................................................................................................................... 287

Gráfico no 13: Respostas sobre a importância da proximidade física na pesquisa científica em


rede. .......................................................................................................................................... 288

LISTA DE QUADROS

Quatro nº 1: Exemplo de matriz de relações sociais em rede .................................................. 223


17

Quadro nº 2: Grupos de pesquisa na área de farmácia com base no censo CNPq 2010.......... 227

Quadro nº 3: Evolução da quantidade de grupos de pesquisa e pesquisadores da área de


farmácia no Nordeste................................................................................................................ 234

Quadro nº 4: número de patentes depositadas no INPI por pesquisadores da área de farmácia


em Pernambuco entre os anos de 2000 e 2010 ....................................................................... 238

Quadro nº 5: Registro de patentes e atores envolvidos 2000-2010 ......................................... 238

Quadro nº 6: Interdisciplinaridade de atores trabalhando em rede em 2000 ......................... 244

Quadro nº 7: Instituições que cooperaram em rede em 2000 ................................................. 246

Quadro nº 8: Instituições que cooperaram em rede em 2010 ................................................. 258

Quadro nº 9: Interdisciplinaridade de atores trabalhando em rede em 2000 ......................... 261

LISTA DE TABELAS

Tabela nº 1: Dispêndios do governo federal em ciência e tecnologia (C&T) por órgão, 2000-
2010 (em milhões). ................................................................................................................... 178

Tabela nº 2: Sub-Agendas de Pesquisa na Saúde...................................................................... 180

Tabela nº 3: Vacinas prioritárias ............................................................................................... 181

Tabela nº 4: Número de projetos PACTI 2007-2010 ................................................................. 195

Tabela nº 5: Dispêndios do Ministério da Educação em Ciência & Tecnologia (C&T), 2000-2010.


................................................................................................................................................... 198

Tabela nº 6: Número de projetos de redes de cooperação internacional fomentados pelo CNPq


2000-2010 ................................................................................................................................. 200

Tabela nº 7: Número de editais destinados à construção de redes de cooperação internacional


CAPES 2000 a 2010.................................................................................................................... 201

Tabela nº 8: Projetos aprovados e valores gastos na modalidade PROSUL e PROÁFRICA no


período de 2000 a 2010. ........................................................................................................... 202

Tabela nº 9: Projetos aprovados e valor gasto no período 2000 a 2010 pelo CNPq na
modalidade de redes científicas diversas. ................................................................................ 204

Tabela nº 10: Relação entre editais lançados para a construção de redes em relação aos editais
diversos pelo CNPq 2006-2010 ................................................................................................. 205

Tabela no 11: Grupos de Pesquisa na área e farmácia no Brasil em 2010 ................................ 269
18

Tabela no 12: Principais estados em termos de massa crítica no Brasil na área de farmácia em
2010........................................................................................................................................... 270

Tabela no 13: projetos aprovados para a pesquisa em rede no Brasil entre 2005 e 2010 ........ 271

Tabela no 14: Respostas sobre a importância da pesquisa em rede para o desenvolvimento


científico da área de farmácia em Pernambuco. ...................................................................... 277

LISTA DE MAPAS

Mapa no 1: Fluxos das conexões científicas de Pernambuco na área de farmácia em 2000. ... 245

Mapa No 2: Fluxos das conexões científicas de Pernambuco na área de farmácia em 2010. .. 257

Mapa no 3: Editais aprovados para a Pesquisa em Rede no Brasil 2005-2010.......................... 272

Mapa no 4: Evolução da aprovação de editais para a pesquisa em rede no Brasil 2005-2010 . 274
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OIVEIRA, A. B. A importância do espaço geográfico na construção e funcionamento de


redes científicas na área de farmácia em Pernambuco fomentadas pela Política
Nacional de Ciência, Tecnologia, Inovação em Saúde (PNCTIS). Tese (Doutorado em
Geografia), Universidade Federal de Pernambuco. Recife, 2014.

RESUMO

A criação da Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação para a Saúde em 2004


proporcionou um novo marco no estímulo ao desenvolvimento científico e tecnológico
da saúde no Brasil. Pela primeira vez uma política pública brasileira desta natureza
insere em suas diretrizes o estímulo para a criação de redes de pesquisa científica
entre pesquisadores localizados no Brasil e fora dele como método para a obtenção de
melhores resultados no campo da saúde. Para tal a política admite que o trabalho
cooperativo em rede amplifica os resultados a medida em que pesquisadores com
conhecimentos complementares trabalham de forma cooperativa, além da
compreensão de que os atuais desdobramentos das redes só são permitidos graças
aos avanços tecnológicos nas comunicações e transportes. Assim, nossa investigação
parte do pressuposto que as relações envoltas na pesquisa em rede possuem forte
enraizamento local, exigindo proximidade geográfica entre os membros que
cooperam, além de contatos presenciais em determinados momentos da pesquisa.
Consideramos também, que o espaço geográfico deve ser compreendido enquanto
temporalidades, enquanto contextos históricos e que a relações que envolvem a
construção e o funcionamento de redes de pesquisa científica são bem mais
complexos que se possa julgar. Desta forma, selecionamos a área de farmácia como
recorte para a pesquisa e o período compreendido entre 2000 e 2010, antes e depois
da atuação política. Realizamos uma pesquisa baseada no mapeamento das relações
em rede entre pesquisadores da área mencionada antes e depois da atuação da
PNCTIS, além da análise das redes sociais. Procuramos verificar os desníveis entre
projetos aprovados para a pesquisa em Rede no estado de Pernambuco e no restante
do país, verificamos os principais impactos da política na produção de conhecimento e
aumento de pesquisadores trabalhando em rede, além de verificarmos a importância
da proximidade geográfica e dos contatos face a face na pesquisa em rede na área de
farmácia. Os resultados sugerem não só pouca compreensão por parte da política
sobre o espaço geográfico, como ratificaram a importância espacial do fenômeno.

Palavras-Chave: Espaço geográfico, redes científicas, PNCTIS, Farmácia, Pernambuco.


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OLIVEIRA, A. B. The importance of geographical space in the construction and


operation of scientific networks in the field of pharmacy in Pernambuco promoted by
the National Policy on Science, Technology, Health Innovation (PNCTIS). Thesis (Ph.D.
in Geography), Federal University of Pernambuco. Recife, 2014.

ABSTRACT

The establishment of the National Policy on Science, Technology and Innovation for
Health in 2004 provided a new milestone in fostering scientific and technological
development of health in Brazil. For the first time a Brazilian public policy of this kind
inserts in their guidelines the stimulus for the creation of networks of scientific
research among researchers located in Brazil and abroad as a method for obtaining
better results in the field of health. For such the policy acknowledges that the
cooperative networking amplifies the results the extent to which researchers with
complementary expertise work collaboratively, besides the comprehension that the
current developments of networks are only allowed thanks to technological advances
in communications and transport. Thus, our research assumes that relations shrouded
in network research have strong local roots, requiring geographic proximity between
members which cooperate, in addition to presential contacts at certain times of the
research. We also believe that the geographical space must be understood as time
frames, as historical contexts and the relations involving the construction and
operation of networks of scientific research are far more complex that one can judge.
So, we selected the area of pharmacy as cutout for the research and the period
between 2000 and 2010, before and after the policy action. We performed a mapping-
based research of networking relations among researchers in the area mentioned,
before and after the performance of PNCTIS, and analysis of Social Media. We seek to
observe the gaps between approved projects for networked researches in the state of
Pernambuco and in the rest of the country, observed the main impacts of the policy in
knowledge production and increase of researchers working in network, and verified
the importance of geographical proximity and face to face contacts in network
research in the field of pharmacy. The results suggested not only little understanding
by the policy on the geographic space, but also ratified its importance spatial
phenomenon.

Keywords: Geographical Space, scientific networks, PNCTIS, Pharmacy, Pernambuco.


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OIVEIRA, A. B. L’importance de l’espace géographique dans la construction et le


fonctionnement des réseaux scientifiques dans le secteur pharmaceutique dans l’Etat
du Pernambouc, créés par la Politique Nationale de la Science, de la Technologie et de
l’Innovation en Santé (PNCTIS). Thèse (Doctorat de géographie), Université Federale
du Pernambouc. Recife, 2014.

Résumé

La mise en place de la Politique Nationale de la Science, de la Technologie et de


l’Innovation en Santé en 2004 constitue une nouvelle étape dans l’incitation au
développement scientifique et technologique de la santé au Brésil. Pour la première
fois, une politique publique brésilienne de cette nature intègre dans ses lignes
directrices l’incitation à la création de réseaux de recherche scientifique entre
chercheurs localisés au Brésil et à l’étranger comme méthode pour obtenir de
meilleurs résultats dans le secteur de la santé. Pour ce faire, la politique admet que le
travail coopératif en réseau amplifie les résultats à mesure que les chercheurs ayant
des connaissances complémentaires travaillent de manière coopérative, au delà de
prendre en compte le fait que les actuels dédoublements des réseaux sont permis par
les avancées technologiques dans la communication et les transports. Ainsi, notre
travail de recherche part du présupposé que les relations en jeu dans la recherche en
réseaux possèdent un fort enracinement local et exigent une proximité géographique
entre les membres qui coopèrent, au delà des contacts présentiels à des moments
précis de la recherche. Nous considérons également que l’espace géographique doit
être pris en compte selon différentes temporalités et contextes historiques et que les
relations qui encadrent la construction et le fonctionnement des réseaux de recherche
scientifique sont bien plus complexes que l’on ne pourrait croire. Ainsi, nous avons
choisi le secteur pharmaceutique comme cadre de travail de recherche sur la période
comprise entre 2000 et 2010, avant et après l’action politique de la PNCTIS. Notre
recherche se base sur la cartographie des relations en réseaux entre chercheurs de
l’aire mentionnée avant et après la mise en place de la PNCTIS au delà de l’analyse des
réseaux sociaux. Nous avons cherché à souligner les écarts entre projets approuvés
pour la recherche en réseau dans l’Etat du Pernambouc et dans le reste du pays, en
vérifiant les principaux impacts de la politique sur la production de connaissance et sur
l’augmentation du nombre de chercheurs travaillant en réseau, venant s’ajouter à
l’importance de la proximité géographique et des contacts en face à face pour la
recherche en réseau dans le secteur de la pharmacie. Les résultats soulignent non
seulement une faible compréhension par la politique de l’espace géographique alors
qu’elle ratifie, dans le même temps, l’importance spatiale du phénomène.

Mot-clés: Espace géographique, réseaux scientifiques, PNCTIS, Pharmacie,


Pernambouc.
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SUMÁRIO

LISTA DE SIGLAS................................................................................................................. 11

LISTA DE FIGURAS .............................................................................................................. 15

LISTA DE GRÁFICOS............................................................................................................ 16

LISTA DE QUADROS ........................................................................................................... 16

LISTA DE TABELAS .............................................................................................................. 17

LISTA DE MAPAS ................................................................................................................ 18

RESUMO ........................................................................................................................... 19

ABSTRACT ......................................................................................................................... 20

INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 25

1ª CONEXÃO : SOBRE ESPAÇO GEOGRÁFICO, TÉCNICA, CIÊNCIA & INFORMAÇÃO ............... 37

1º NÓ - O ESPAÇO DAS PRÁTICAS E TRANSFORMAÇÕES: O ESPAÇO GEOGRÁFICO .............. 37

Do meio natural à Técnica................................................................................................... 39

O conceito de espaço na ciência geográfica ....................................................................... 46

O meio Técnico-Científico-Informacional ........................................................................... 60

2º NÓ - UM ESPAÇO DIGITAL E DE FLUXOS: O CIBERESPAÇO ................................................. 69

Da emergência das Tecnologias de Processamento, Informação e Comunicação ............ 71

A construção de um espaço digital e de fluxos ................................................................... 74

As atuais perspectivas de comunicação e conexão mediante o ciberespaço ..................... 82

2ª CONEXÃO: SOBRE REDES, E A PESQUISA CIENTÍFICA EM REDE ........................................ 95

1º NÓ - O ESPAÇO MÓVEL E INTEGRADO: AS REDES .............................................................. 95

A evolução da construção do conceito de rede .................................................................. 97

O estudo das redes na ciência geográfica ......................................................................... 101

As redes sociais ................................................................................................................. 107

2º NÓ - ESPAÇOS DE COOPERAÇÃO E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO: AS REDES


CIENTÍFICAS ........................................................................................................................... 119

Informação, conhecimento e inovação em rede .............................................................. 120


23

A emergência da cooperação internacional em rede ....................................................... 126

A pesquisa científica em rede e suas contribuições na obtenção de resultados e benefícios


........................................................................................................................................... 131

3º NÓ - AS MULTIPLICIDADES GEOGRÁFICAS DO “ESTAR AQUI” ......................................... 140

As multiplicidades geográficas em face dos fluxos tecnológicos ...................................... 141

A importância do “estar aqui” e de comunicar-se face a face na pesquisa científica em


rede ................................................................................................................................... 149

3ª CONEXÃO: A POLÍTICA NACIONAL DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM SAÚDE


(PNCTIS) E O FOMENTO À PESQUISA EM REDE.................................................................. 163

1º NÓ - A POLÍTICA NACIONAL DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM SAÚDE ........... 163

A pesquisa em Saúde no Brasil e sua importância no âmbito de um Sistema Único de


Saúde. ................................................................................................................................ 165

A PNCTIS: atores, criação e diretrizes. .............................................................................. 170

2º NÓ - A INDUÇÃO À PESQUISA EM REDE COMO UMA DAS ESTRATÉGIAS PARA ALCANCE


DOS OBJETIVOS DA PNCTIS ................................................................................................... 186

O imperativo da pesquisa em rede na PNCTIS. ................................................................. 187

O fomento à pesquisa em rede. ........................................................................................ 197

4ª CONEXÃO: AS REDES CIENTÍFICAS NA ÁREA DE FARMÁCIA EM PERNAMBUCO EM FACE DA


PNCTIS, E A IMPORTÂNCIA DO ESPAÇO NA CONSTRUÇÃO E FUNCIONAMENTO DESTAS .... 211

1º NÓ - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA A COLETA E TRATAMENTO DE DADOS 211

Referencial Teórico-Metodológico para a Base Analítica sobre a Análise de Redes Sociais


(ARS) .................................................................................................................................. 212

Procedimentos metodológicos utilizados para a coleta e tratamento de dados. ............ 223

2º NÓ - AS REDES CIENTÍFICAS NA ÁREA DE FARMÁCIA EM PERNAMBUCO EM FACE DO


FOMENTO DA PNCTIS............................................................................................................ 232

O impacto da PNCTIS no aumento de pesquisadores trabalhando em rede e na produção


de conhecimento científico. .............................................................................................. 232

O mapeamento das redes científicas na área de farmácia em Pernambuco nos anos de


2000 e 2010: Análise da evolução das relações entre os pesquisadores antes e depois da
PNCTIS. .............................................................................................................................. 240

3º NÓ - O ESPAÇO GEOGRÁFICO NA CONSTRUÇÃO E FUNCIONAMENTO DAS REDES


CIENTÍFICAS NA ÁREA DE FARMÁCIA EM PERNAMBUCO ..................................................... 263
24

O espaço geográfico enquanto temporalidades científicas e técnicas: os desníveis entre


projetos aprovados para a pesquisa em rede na área de farmácia em Pernambuco e no
Brasil. ................................................................................................................................. 264

Espaço e tecnologias comunicacionais: Quão importante é “estar aqui” na pesquisa


científica em rede na área de farmácia. ............................................................................ 275

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................. 294

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 305

ANEXOS........................................................................................................................... 322
25

INTRODUÇÃO

O acesso à informação e a produção de conhecimento são elementos-


chave para o desenvolvimento econômico e social de regiões e grupos sociais. A
capacidade de obter informações, além dos contornos restritos da própria
comunidade, é parte do capital relacional dos indivíduos e grupos, o que sugere que as
transformações na sociedade dependem das redes existentes entre os indivíduos de
um determinado grupo e atores localizados em diferentes espaços geográficos, ou
seja, da dimensão da capacidade de cooperação de certa comunidade.
Isto implica que investimentos para a ampliação das redes de trabalhos
cooperativos pressupõem retornos ou benefícios, servindo de base para o
desenvolvimento social, e tornando-se recorrente objeto de pesquisa nas ciências
sociais e humanas em anos recentes.
Tal entendimento tem inspirado o desenvolvimento de enfoques
institucionalistas na sociologia, economia e ciência política, geografia,
consequentemente ampliando o interesse por metodologias de análise de redes
sociais, além de proporcionar contribuições significativas para a compreensão do papel
das redes sociais para o desenvolvimento em suas variadas escalas.
Trata-se, assim, de fenômeno estreitamente relacionado ao
desenvolvimento de nações e regiões. Neste fenômeno se incluem também as redes
científicas. Se informação, conhecimento, ciência e tecnologia são elementos
fundamentais para o desenvolvimento regional, além de serem construções sociais,
pois não resultam da ação isolada dos indivíduos, mas do trabalho coletivo, a
construção de redes científicas construídas em uma dada região deve ser considerada
importante aspecto da análise de desenvolvimento científico e social. Sobretudo, pelo
fato de que estas podem se tornar um veículo eficaz na produção de retornos e
benefícios mútuos para todos os envolvidos.
Visto desta forma, o estudo das redes científicas supera o entendimento
comum, segundo o qual uma rede científica é simplesmente o mapa geográfico das
conexões possíveis entre os usuários de um sistema, e a busca de compreensão de
novos desafios científicos frente a uma nova forma de usar e se relacionar com o
26

espaço. Elas, as redes científicas, expressam temporalidades geográficas, contextos


históricos distintos e diferenciações espaciais existentes no país e no mundo, que
possibilitam ou dificultam a superação de limites e dificuldades ao seu
desenvolvimento, se valendo de importantes instrumentos de avanço científico e
social.
Assim, acredita-se que o trabalho cooperativo em rede amplifica os
resultados na medida em que agentes com conhecimentos complementares se
integram na busca de um objetivo comum. E este pode ser potencializado em
empreendimentos estruturados no formato das redes sociais. Em algumas áreas essa é
uma lógica tradicionalmente fundamental no desenvolvimento científico, tecnológico e
inovativo.
Nesta linha de raciocínio, a possibilidade do agrupamento de
pesquisadores em redes torna dinâmica eficaz no que compete a resultados mais
expressivos dos que os produzidos por um único indivíduo trabalhando de modo
isolado. A comunicação, a troca de informações e o trabalho se tornam efetivamente
mais frutíferos quando realizados em rede.
Estas perspectivas são potencializadas e dinamizadas com os atuais
avanços tecnológicos, na medida em que, conseguirmos evoluir na produção técnica e
criação de um espaço geográfico cada vez mais artificializado, híbrido. Avançamos no
deslocamento dos corpos de forma cada vez mais veloz com o avanço tecnológico dos
meios de transportes, e a comunicação simultânea e em tempo real com pessoas
dispostas em diversas partes do globo com o avanço das Tecnologias de Informação e
Comunicação. Em outras palavras, temos atualmente uma série de mecanismos para
nos comunicarmos, conectarmos, movermos, enviarmos arquivos e informações.
A dinâmica das redes, ancoradas no avanço tecnológico, tem se constituído
forte elemento na busca da solução dos diversos problemas, e o enfrentamento de
adversidades comuns. A noção da necessidade e dos retornos ocasionados pela prática
da pesquisa desta forma tem promovido em diversas partes do mundo ações políticas
e sociais para o estímulo a esta dinâmica.
Muito embora a pesquisa científica em rede seja uma prática tão comum e
quase tão antiga quanto à institucionalização do método cientifico ou da ciência
27

propriamente dita, os contornos tecnológicos atuais tem estimulados a criação de


redes científicas de proporções globais.
Se valendo deste contexto, só recentemente, mais precisamente em 2004,
fora criada a primeira Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde
(PNCTIS) que tem por objetivo “contribuir para que o desenvolvimento nacional se faça
de modo sustentável, e com apoio na produção de conhecimentos técnicos e científicos
ajustados às necessidades econômicas, sociais, culturais e políticas do País” (BRASIL,
2004, P. 84).
A proposta assim, de acordo com a Política, é a de estimular o
desenvolvimento de competências nacionais, com base nas necessidades do país.
Formar mão de obra qualificada e estabelecer o dinamismo Científico, Tecnológico e
Inovativo na área de saúde, fixar os pesquisadores brasileiros no país, integrar os
laboratórios e instituições de pesquisa, fortalecer a interação entre os setores privados
e as Universidades e Institutos de Pesquisa, promover a produção de conhecimentos
em consonância com as necessidades nacionais, abordando critérios bem
determinados.
Segundo o Ministério da Saúde, a PNCTIS define a Pesquisa em Saúde
como o conjunto de conhecimentos, tecnologias e inovações produzidos que resultam
em melhoria da saúde da população. Assim, a pesquisa em saúde deve superar a
perspectiva disciplinar e caminhar para uma perspectiva setorial, que incluirá a
totalidade das atividades de pesquisa clínica, biomédica e de saúde pública, vinculadas
à grande área das ciências da saúde, assim como as realizadas nas áreas das ciências
humanas, sociais aplicadas, exatas e da terra, agrárias e engenharias e das ciências
biológicas que mantenham esta vinculação.
Essa forma de abordagem, segundo o Ministério da Saúde, procura
modificar a forma tradicional de conceituação da Pesquisa em saúde que limitava
apenas àquelas ditas “tradicionais” negligenciando os conhecimentos complementares
necessários produzidos por outras áreas. A produção de conhecimento a partir de
agora não é tido exclusivamente por aquele produzido pela grande área da saúde e
procura conectar as diversas áreas do conhecimento.
Para tal, dentre várias diretrizes e formas de atuação a PNCTIS procura
desenvolver o estímulo ao desenvolvimento da área de saúde por meio da indução e
28

fomento a construção de redes científicas. Isto é, incentivar que pesquisadores


brasileiros estabeleçam redes de pesquisa entre si em suas mais diversas escalas, local,
regional, nacional e global.
Lógica instaurada é a de que, a possibilidade de conexões entre
pesquisadores brasileiros e pesquisadores estrangeiros pode ser alguma das
ferramentas possíveis na resolução de problemas nacionais e mundiais. Além da troca
de experiências, capacitação científica, formação profissional, e transferência de
tecnologias entre centros mais desenvolvidos e menos desenvolvidos.
Assim, por meio de editais de fomento, criaram-se mecanismos para a
construção de redes têm em vista resultados a curto, médio e longo prazo, a
construção de redes científicas na América Latina, África, Europa, a construção destas
internamente entre os estados e entre as regiões do Brasil, além de redes para
problemas comuns do país, problemas regionais ou mesmo projetos de redes
científicas por meio de processo de encomenda. Mesmo com estes e outros
mecanismos, verifica-se que ainda existe pouca compreensão das dinâmicas envoltas
na construção de redes científicas entre os pesquisadores, uma vez qua a maior parte
do fomento é calcado em uma mesma estrutura horizontal de indução.
Esta perspectiva vai à contra mão a compreensão da existência de diversos
espaços geográficos dentro do espaço geográfico brasileiro, estes por sua vez possuem
diferentes contextos históricos, temporalidades distintas e uma diversidade de
particularidades que podem potencializar ou dificultar a criação e o funcionamento das
redes científicas, proporcionando resultados bem diferentes daqueles esperados pelos
formuladores da PNCTIS.
Diante deste contexto apresentado nesta introdução surgem os principais
questionamentos da pesquisa e motivadores para a sua realização, este debate por si
só já justificaria esta pesquisa uma vez que ainda existe grande lacuna na análise do
papel do espaço geográfico, sobre múltiplos olhares e escalas em face da formação de
redes sociais contemporâneas.
Em face do escopo da PNCTIS de abranger toda a área de saúde, e em todo
o país, tomamos enquanto recorte a área de farmácia. A escolha da área se faz
pertinente pelo fato de que a farmácia, tanto enquanto área do conhecimento, ou
atividade protuvida, é fortemente baseada em ciência e depende fundamentalmente
29

de pesquisa científica cooperativa para o seu desenvolvimento. Ademas, parte


significativa do tratamento médico necessita da utilização de medicamentos, o que é
imsurável se analisarmos o papel do Sistema Único de Saúde brasileiro no
fornecimento de atendimento médico de qualidade.
Além do que, existe ainda grande gargalo na produção de medicamentos
no país para atender a demanda do SUS além de uma grande dependência das grandes
corporações farmacêuticas. É importante frisar que parte significativa do tratamento
médico é feito por meio da utilização de medicamentos. A compreensão destas
questões levou à mudanças políticas no país que mais que ratificam a escolha da área,
tais como: a criação da ANVISA e lei de genéricos em 1999, da Política Nacional de
Medicamentos em 2001, da criação da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos
Estratégicos em 2003, da Política industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior em
2004, da Empresa Brasileira de Hemoderivados em 2004, do Profarma também em
2004, em todas elas a área de farmácia e medicamentos estavam como enfoque
principal.
Como recorte temporal, optamos por selecionar a periodização
compreendida entre 2000 a 2010, período anterior e posterior a criação da política em
questão. Assim podemos vislumbrar as relações de redes e demais particularidades
antes e posteriormente a atuação política. E escolhemos Pernambuco como recorte
espacial.
Portanto, o trabalho parte da seguinte pergunta principal: “Qual a
importância do espaço geográfico na construção e funcionamento de redes científicas
na área de farmácia em Pernambuco fomentadas pela PNCTIS?” Para este
questionamento, elaborou-se o seguinte objetivo principal da pesquisa: “Analisar a
importância do espaço geográfico na construção e funcionamento de redes científicas
tomando como objeto empírico a área de farmácia em Pernambuco fomentada pela
PNCTIS”.
Para espaço geográfico, consideramos o conceito proporcionado por
Santos (1996) de que este seria “um conjunto indissociável, solidário e também
contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados
isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá” e como redes
científicas, as descrevemos como agrupamentos de pesquisadores e suas afiliações e
30

grupos, em uma continuidade de pesquisa em rede, onde se tem por finalidade a


construção de laços de cooperação, confiança, reciprocidade e compartilhamento de
experiências, promovendo, assim, o progresso da ciência por meio da produção de
bens, serviços, conhecimentos e inovações.
Para tal, estabeleceu-se a seguinte hipótese de trabalho: Que,
especificamente para a área de farmácia em Pernambuco, as relações envoltas em
todo o contexto da pesquisa em rede, ainda possuam forte enraizamento espacial
local, exigindo proximidade geográfica entre os membros que cooperam, além de
contatos presencias em determinados momentos da pesquisa, mesmo com os
desdobramentos dos fluxos comunicacionais via ciberespaço.
Consideramos também, que o espaço geográfico deve ser compreendido
enquanto temporalidades, enquanto resultados históricos, e que as relações que
envolvem a construção e o funcionamento de redes de pesquisa científica são bem
mais complexas que se possa julgar, elas ultrapassam a mera questão do fomento e
mecanismos tecnológicos de mediação eletrônica. Em outras palavras, as relações são
resultados dos espaços geográficos distintos, o que remetem configurações e impactos
diferentes sobre a atuação política. O espaço geográfico assim é resultado e
impulsionador das dinâmicas que ocorrem em rede.
Mais do que uma hipótese geral de trabalho, esta noção implica em uma
consideração clara e norteadora de que é imprescindível a compreensão das
diferenciações espaciais existentes no país e fora dele. Elas representam uma série de
particularidades que implicam na condução da pesquisa em rede, mesmo com o
fomento a sua construção e o advento tecnológico. A pouca sensibilidade às
Idiossincrasia dos processos espaciais, pode resultar contornos diferentes daqueles
esperados por políticas de indução à esta dinâmica.
Enquanto objetivos específicos foram traçados os seguintes: “Compreender
os argumentos dos formuladores da PNCTIS para o fomento à pesquisa em rede na
saúde” onde buscamos ter uma compreensão mais clara dos argumentos
formuladores da política e da inserção do debate em rede em suas diretrizes e
sobretudo a forma de atuação.
O segundo objetivo específico é o de: “Mapear as redes científicas dos
pesquisadores pernambucanos na área de farmácia antes e depois da PNCTIS, que
31

permitam verificar mudanças na estrutura da rede, nos laços, na espacialidade, na


densidade e centralidade” como o próprio objetivo, mapear as relações em redes na
pesquisa científica na área de farmácia com recorte especificado na busca de
apreendermos particularidades (espacialidade de atores, atores centrais, estrutura da
rede, fluxos, densidade) da dinâmica espacial estabelecida por elas antes e depois da
atuação da política em questão.
Consequentemente ao objetivo específico anterior, propôs-se “Verificar se
a PNCTIS tem estimulado o aumento na formação de redes científicas, no número de
pesquisadores trabalhando” analisando o aumento no número de projetos aprovados,
de pesquisadores trabalhando em rede e em produção de conhecimento diante do
estímulo dado pela política.
Em seguida, procurou-se “Verificar os possíveis desníveis entre projetos
aprovados para a pesquisa em rede na área de farmácia em Pernambuco em relação a
outros estados no país” para tal, ao considerarmos a importância do espaço
geográfico, é importante conceituarmos ele enquanto temporalidades científicas e
técnicas resultados de contextos históricos particulares, assim, existiriam contornos e
resultados diferentes entre Pernambuco e outros estados no país em relação a
competências e a aprovação de projetos para a área nesta modalidade.
Posteriormente, buscou-se “Investigar quão relevante é a proximidade
geográfica para aqueles que cooperam em rede, tomando como base a área de
farmácia e os pesquisadores pernambucanos em rede, e na produção de conhecimento
na área de farmácia em Pernambuco”, a proximidade geográfica aqui, um dos
componentes do espaço geográfico, é considerada tanto aquela construída
cotidianamente que resulta da proximidade física, quanto aquela proximidade
geográfica da acessibilidade da praticidade em se encontrar o outro.
E por fim, “Pesquisar se mesmo com o advento das tecnologias
informacionais e comunicacionais, o contato face a face ainda é relevante em algum
momento da construção ou funcionamento da pesquisa científica em rede na área de
farmácia em Pernambuco” em outras palavras, diante dos atuais contornos
potencializados pela mediação eletrônica, e o fomento da PNCTIS, o contato face a
face é relevante? Ou todo o processo de construção e funcionamento de uma pesquisa
em rede pode ser realizado sem que os membros se encontrem pessoalmente?
32

Albert-László Barabási em seu livro Linked (2009), afirma que tudo estaria
conectado, e apresenta exemplos de como as redes influenciariam nossas vidas e
como estas dizem muito sobre nós. Em sua obra, ele apresenta suas argumentações
sobre as redes por meio de uma de suas principais características: as conexões.
Seguindo uma proposta semelhante, e por considerarmos que esta
pesquisa tem por obrigação de uma harmoniosa conexão entre todos os temas aqui
abordados, seguimos uma estruturação parecida. Desta forma, organizamos este
trabalho em conexões, que expressam de forma mais ampla os desdobramentos que
serão abordados nos “nós”. Assim como nas redes, os nossos “nós” apresentam
amarras conceituais mais detalhadas daquilo que se apresentam nas conexões. Espera-
se que esta estrutura não cause estranheza.
A primeira conexão deste trabalho chama-se “Sobre espaço geográfico,
técnica, ciência e Informação” e está dividida em dois nós, o primeiro deles de nome
“o espaço das práticas e transformações: o espaço geográfico” busca proporcionar
debate conceitual acerca do espaço geográfico, sobretudo considerando este
enquanto reflexo das sociedades, e sua transformação e hibridação em face do avanço
técnico. Em ligação com o anterior, o segundo nó “um espaço digital e de fluxos: o
ciberespaço” busca destacar o avanço técnico, evidenciando a emergência das
Tecnologias de Informação e Comunicação, vislumbrando o debate sobre a construção
do conceito de ciberespaço e as novas perspectivas proporcionadas por ele.
A segunda conexão fala “sobre redes, e a pesquisa científica em rede” e
está dividida em três nós, o primeiro deles “o espaço móvel e integrado: as redes”
busca fazer uma análise da evolução da construção do conceito de rede, aborda sua
utilização dentro da ciência geográfica - em especial as redes de infraestrutura - e
posteriormente, trata das redes sociais, termo originário primeiramente na
antropologia social.
No nó seguinte “espaços de cooperação e produção de conhecimento: as
redes científicas” buscamos tratar de um tipo específica de rede social, aquela
construída para a pesquisa científica e abordar os resultados e benefícios de se
pesquisar nesta estrutura. E por fim, abordamos “o espaço geográfico, fluxos
tecnológicos e a pesquisa científica em rede” ao debatermos sobre a importância do
33

espaço geográfico em meio aos fluxos tecnológicos, da importância da materialidade a


virtualidade, da importância dos contatos face a face, do “estar aqui”.
A terceira conexão intitulada de “A política nacional de ciência, tecnologia
e inovação em saúde (PNCTIS) e o fomento à pesquisa em rede” tem por objetivo
promover uma análise das principais questões ou acontecimentos que envolveram a
construção da política e suas diretrizes e para tal, fora dividida em dois nós. O primeiro
deles, de nome “A política nacional de ciência, tecnologia e inovação em saúde” visa
contemplar o debate sobre a importância da pesquisa em saúde no Brasil, sobretudo
amparado na Constituição Federal de 1988 que garante o acesso universal e gratuito
desta a todos. E em seguida, aborda a construção da PNCTIS tomando como foco os
atores envolvidos, a sua criação e suas diretrizes.
O segundo nó desta conexão, “A indução à pesquisa em rede como uma
das estratégias para alcance dos objetivos da PNCTIS” tem por enfoque apresentar os
principais acontecimentos que levaram a política utilizar-se deste mecanismo para o
estímulo ao desenvolvimento da área de saúde, além de apresentar as forma de
fomento utilizado para a indução além de apresentar dados sobre investimentos
financeiros, além de bolsas e editais.
A quarta e última conexão, de nome “As redes científicas na área de
farmácia em Pernambuco em face da PNCTIS, e a importância do espaço na construção
e funcionamento destas” assim como a anterior, vista trazer resultados mais empíricos
da pesquisa, e análise destes diante da literatura construída. Seu primeiro nó está
focado em proporcionar uma revisão literária sobre a questão da Análise de Redes
Sociais e dos procedimentos metodológicos da pesquisa.
O segundo nó “As redes científicas na área de farmácia em Pernambuco em
face do fomento da PNCTIS” visa mapear as relações em rede na área de farmácia em
Pernambuco e a evolução desta após a política, mapear o direcionamento dos fluxos
das relações, verificar o aumento na produção dos pesquisadores atuando em rede e
na produção de conhecimento oriundo dessa modalidade.
O terceiro e último nó, “Espaço geográfico na construção e funcionamento
das redes científicas na área de farmácia e Pernambuco” analise o espaço geográfico
enquanto resultado de temporalidades científicas e técnicas, mostrando os desníveis
entre projetos aprovados em Pernambuco e o restante do país. Aborda também, com
34

base nas entrevistas com os pesquisadores da área de farmácia, a importância da


proximidade geográfica para aqueles que cooperam em rede, a importância dos
contatos face a face, em outras palavras a importância espacial do “estar aqui” .
35

1ª CONEXÃO

SOBRE ESPAÇO GEOGRÁFICO,


TÉCNICA, CIÊNCIA & INFORMAÇÃO.
36

1º Nó

O espaço das práticas e


transformações: o espaço geográfico.

“Espaço. Finito ou infinito, relativo ou absoluto, receptáculo ou,


simplesmente um “invólucro” dos objetos, o uso de tal categoria é,
sem dúvida, e em nossos dias, praticamente obrigatório em qualquer
tipo de debate acadêmico” (Douglas Santos, 2002, pp.15-16).
37

1ª CONEXÃO - SOBRE ESPAÇO GEOGRÁFICO, TÉCNICA, CIÊNCIA & INFORMAÇÃO

1º NÓ - O ESPAÇO DAS PRÁTICAS E TRANSFORMAÇÕES: O ESPAÇO GEOGRÁFICO

INTRODUÇÃO

A compreensão da dimensão da vida do ser humano e da sua própria


essência enquanto agente de um mundo, de uma realidade leva-nos a lembrar que a
técnica como capacidade humana de modificar/criar, deliberadamente, materiais,
objetos e eventos - chegando a produzir elementos novos, não existentes na natureza -
define o ser humano como “homo faber”, descrito por Arendt (1958).
O fazer, ou melhor, o saber fazer difere de outras capacidades humanas
como a de contemplar a realidade (literal ou mentalmente), agir (no sentido de adotar
decisões), experimentar sentimentos (influenciado ou não por valores culturais,
simbólicos, educacionais) e expressar-se (sobretudo manifestar a própria identidade,
as próprias ideias, anseios e valores) mediante uma linguagem articulada,
particularmente a enunciativa (ARENDT, 1958).
Esse caráter da técnica deve ser levado em consideração ao se procurar
entender a tecnologia como um fator que interfere no modo de vida dos seres
humanos, sobretudo na medida em que esse fator afeta outros e, principalmente,
como a técnica, a tecnologia, as ações e os objetos, condicionados e condicionantes,
interferem na construção de realidades sociais sobre a natureza, na construção do
espaço geográfico, e nos proporciona dimensões tempo-espaciais que contribuem
para sermos quem somos e vivermos onde/como vivemos.
Isso porque, sobretudo o homem vive - e sempre viveu - uma constante
relação de mutação, de estranheza, de busca e de transformação com a natureza,
dada pela técnica, pelas ações, pelo agir, pelo fazer, pela produção e pelo trabalho.
Desse sistema de interações e intercâmbio ele extraiu as condições para sua
sobrevivência, mudando a natureza à medida que mudava a si mesmo. Desta relação
do homem com o restante da natureza que resulta em novas transformações é que se
materializa o espaço geográfico (SANTOS, 1978; MOREIRA, 2010).
O espaço geográfico surge nesse contexto como a essência da unicidade.
Ele é o plano em que se dão as ações humanas - homens x homens, homens x
38

natureza, homens x objetos - onde as existências dissociadas se juntam e vice versa. O


espaço geográfico é o campo de coabitação onde a multiplicidade de fenômenos
possui um sentido comum e concreto em uma forma de organização e conteúdo.
O espaço geográfico é uma totalidade híbrida, diversa, marcada por
multiplicidade. Ele é afetivamente vivido e socialmente construído por um conjunto
cada vez mais indissociável de objetos materiais e ações imateriais que constroem,
impõem resistência, separam, unificam e produzem o seu funcionamento. O espaço
geográfico é assim, o próprio reflexo das sociedades (SANTOS, 1994, 1996; MASSEY,
2008.
Neste contexto, este primeiro nó objetiva discutir justamente isso, a
construção do conceito de espaço geográfico e suas diversas concepções de acordo
com a visão de diferentes autores, principalmente na ciência geográfica.
Principalmente pelo fato de que, a categoria espaço é aqui considerada como principal
componente para análise dos fenômenos que serão estudados.
Para tal, este nó fora dividido em três tópicos, que interligados, têm por
objetivo proporcionar uma concepção mais clara do arcabouço teórico que envolve o
conceito de espaço. Estes por sua vez estão estruturados da seguinte forma: o
primeiro “do meio natural à técnica” pretende destacar o papel das técnicas como
forma de expressão do homem como ente no mundo, e na produção dos vários
espaços geográficos na transformação da natureza.
O segundo tópico “O conceito de espaço na ciência geográfica” pretende
fazer uma leitura de como o conceito foi debatido ao longo dos anos até se tornar o
conceito chave da geografia. O terceiro tópico “o meio técnico-científico-
informacional” conceito criado por Milton Santos (1996) pretende debater a gradativa
inserção de ciência, técnica e informação nos espaços geográficos de forma que
concebemos espaços geográficos cada vez mais artificializados frutos das ações
modificadoras humanas.
O aporte teórico aqui utilizado segue os debates, não exclusivamente, mas
principalmente, propostos por Arendt (1958); Ortega Y Gasset (1963); Lefébvre (1976,
1984); Tuan (1979, 1983); Santos (1978, 1979, 1985, 1994, 1996, 2002); Corrêa (1982,
1995); Foucault (1986); Simondon (1989); George (1989); Harvey (1969, 1989); Moraes
39

(1990); Raffestin (1993); Soja (1993); Moreira, (2009, 2010, 2012); Barros (2003);
Massey (2008).

Do meio natural à Técnica

A presença do homem sobre a terra sempre proporcionou à natureza um


caráter de (re)descoberta constante. O meio natural e a criação de uma natureza social
promovida pelos homens criaram uma ordem racional das coisas, dos objetos, das
ações e do mundo. Diante da proporcionalidade cada vez maior de lugar ao artefato
técnico pela natureza, a racionalidade criada e imposta se confunde com o natural e
cria uma natureza instrumentalizada, domesticada e, por diversas vezes, surreal
(ORTEGA Y GASSET, 1963; SIMONDON 1989; GEORGE, 1989).
No início do desenvolvimento da civilização humana, a natureza era
selvagem e sofria pouca ou nenhuma intervenção do homem. Entretanto, no decorrer
dos anos e da evolução das sociedades, os elementos naturais foram sendo
substituídos por objetos fabricados, objetos técnicos, mecanizados e, recentemente,
cibernéticos, fazendo com que a natureza tenda a funcionar como uma máquina
artificial (GEORGE, 1989).
Assim, o homem impõe sua mudança à natureza por meio da técnica,
criando uma nova natureza, posta sobre a anterior, uma “sobrenatureza” com
modificações. A operação técnica é o lugar da combinação de elementos técnicos
inventados e elementos naturais. A respeito disso, Simondon (1989, p. 256) diz que
não há de um lado o natural e de outro o artificial, logo, “o artificial é o natural
suscitado”.
Na Grécia Antiga, a ideia de “sobrenatureza” ou “nova natureza” oriunda
das relações do homem com a natureza mediada pela técnica rogava nos discursos
filosóficos de Platão, por exemplo. Porém foi o romano Cícero, no século I A.C. em De
natura Doerum quem melhor definiu a segunda natureza:

À nossa disposição estão montanhas e planícies. Nossos rios e lagos.


Colhemos o milho e plantamos árvores. Fertilizamos o solo pela
irrigação. Represamos os rios para orientá-los a nosso bel prazer.
40

Pode-se dizer que com nossas mãos tentamos criar uma segunda
natureza no mundo natural (SMITH, 1984, p. 16).

Para Godoy (2004) passagens como esta, mostram, resumidamente, que os


problemas teóricos que cercam o debate sobre o espaço geográfico remontam a
própria institucionalização da geografia como saber científico. Mesmo que de forma
não tão explícita.
Ou seja, as transformações e produções humanas sempre foram motivos
de reflexão. Afinal, a natureza é um dado permanente, que se modifica a medida que
avançamos no seu conhecimento. “A transformação da natureza em meios de
produção de vida é feita pelos homens numa relação de cooperação e com apoio na
técnica” (MOREIRA, 2010, p. 103).
Assim, a natureza “tecnicizada” acaba por ser abstrata, já que as técnicas
insistem em imitá-la e culminam por consegui-lo (SIMONDON, 1989; SANTOS 1996).
Ou, como aponta Moreira (2010, p. 103) “a transformação da natureza em meios de
produção de vida é feita pelos homens numa relação de cooperação e com apoio na
técnica”.
Essa nova natureza e realidade são resultados da busca constante de
satisfação das necessidades e de melhoria em relação às adversidades impostas pela
natureza. Assim, a técnica tem, no contexto da evolução humana, uma relação de
utopia ou de panaceia na esperança de emancipação e de superação de todos os
problemas e entraves das mais diversas ordens.

A história do homem sobre a Terra é a história de uma rotura


progressiva entre o homem e o entorno. Esse processo se acelera
quando, praticamente ao mesmo tempo, o homem se descobre
como indivíduo e inicia a mecanização do Planeta, armando-se de
novos instrumentos para tentar dominá-lo. A natureza artificializada
marca uma grande mudança na história humana da natureza. Hoje,
com a tecnociência, alcançamos o estágio supremo dessa evolução
(SANTOS, 2008, p. 5).

A técnica é então criada por ações sociais personificadas por meio de atos
humanos que modificam e/ou reformam a circunstância ou a natureza, conseguindo
que nela passe a haver o que anteriormente não havia, incluindo o surgimento de
elementos antes da necessidade da existência deles. Todos estes atos são técnicos, são
41

específicos do homem, já que os animais têm que se ajustar ao que encontram na


natureza. Eles seriam assim, de acordo com Ortega Y Gasset (1963) “atécnicos”.
Estes atos técnicos são, em resumo, aqueles em que dedicamos o esforço,
primeiramente para inventar, inovar, modificar, produzir, criar e, depois, para executar
um plano de atividade que nos permita, segundo (ORTEGA Y GASSET, 1963 p. 30):
1) Assegurar a satisfação das necessidades evidentemente elementares;
2) Conseguir satisfação com o mínimo de esforço;
3) Criar-nos novas possibilidades complementares, produzindo objetos que
não existem na natureza do homem.
Ainda segundo Ortega y Gasset (1963, p. 14), “O conjunto destes atos é a
técnica, que podemos, desde logo, definir como a reforma que o homem impõe à
natureza em vista da satisfação de suas necessidades”. Para Santos (2006, p. 16), “As
técnicas são um conjunto de meios instrumentais e sociais, com os quais o homem
realiza sua vida, produz e, ao mesmo tempo, cria espaço”.
Já para Simondon (1989), a técnica é uma designação de um conjunto de
elementos dos gestos ligados à fabricação e à utilização de sistemas, melhorando e
ampliando as performances dos corpos nas suas relações com o meio ambiente. Essas
considerações reafirmam que a principal forma de relação entre o homem e a
natureza, entre o homem e o meio é dada pela técnica.
Mumford (1998), por sua vez, entende por técnica o controle ou a
transformação da natureza pelo homem, o qual faz uso de conhecimentos pré-
científicos. É importante destacar que técnica é diferente de tecnologia, uma vez que
esta seria um avanço daquela.
Sendo assim: a) não existe homem sem técnica – esta está diretamente
ligada ao contexto social humano, independentemente do contexto histórico ou
geográfico, sendo considerada como um dentre os vários aspectos da existência
humana; b) Essa técnica varia em grau máximo ou mínimo, de acordo com o contexto
histórico, o nível de conhecimento e/ou de necessidade; c) Nem toda técnica é
absoluta - na evolução humana e da própria técnica, em dados momentos, algo
extremamente útil e necessário será negligenciado pela humanidade (ORTEGA Y
GASSET, 1963; SIMONDON, 1989; SANTOS 1996).
42

Portanto, a ideia de técnica como algo onde o "humano" (pessoas) e o "não


humano" (instrumentos, técnica etc.) são inseparáveis é fundamental. Sem isso seria
impossível pretender superar dicotomias tão tenazes na geografia e nas ciências
sociais quanto as que opõem o natural e o cultural, o objetivo e o subjetivo, o global e
o local etc. (ORTEGA Y GASSET, 1963; SANTOS, 1996).
A própria evolução social do homem se confunde com as técnicas,
tecnologias desenvolvidas e empregadas em cada época. Isto nos diz que a história do
homem coincide com a história da técnica e que sem as ferramentas e o conhecimento
produzido por elas nossa própria existência seria diferente. Nesse sentido, podemos
reiterar que não existe homem sem técnica e vice versa. A técnica seria assim a própria
essência do homem.

À medida que a história vai fazendo-se, a configuração territorial é


dada pelas obras dos homens: estradas, plantações, casas, depósitos,
portos, fábricas, cidades etc. verdadeiras próteses. Cria-se uma
configuração territorial que é cada vez mais o resultado de uma
produção histórica e tende a uma negação da natureza natural,
substituindo-a por uma natureza inteiramente humanizada (SANTOS,
2006, p. 39).

É importante destacar que a técnica não pode ser concebida apenas como
o aspecto artesanal dos artefatos criados pelo homem a fim de alcançar certos
objetivos. A técnica é, acima de tudo, um conjunto de estratégias operacionais
mobilizadas para realizar objetivos individuais e coletivos. Esse conjunto de estratégias
inclui tanto o pensamento e o imaginário, como as ações sociais voltadas para as
diversas e complexas realizações humanas.
Nesse sentido, Simondon (1989) diz que a técnica é um modo de ser e um
modo de ação do homem no mundo. Mais do que isso, a técnica compreende o de
onde viemos e para onde vamos; e o principal: como vamos. Sendo assim, a técnica
deve ser considerada, assim como a magia, a religião, a ciência, a ética e a estética, um
modo cultural de/do ser no mundo em dadas gerações.
Para Simondon (1989, p. 185), “Todo objeto técnico, móvel ou fixo, pode ter
sua epifania estética, na medida em que ela prolonga o mundo e se insere nele”. A
percepção física do objeto enquanto ente do mundo faz-se necessário não apenas para
43

seu uso enquanto ferramenta, ou não, mas também para a compreensão de sua
função cartesiana no mundo.
Em suma, a técnica assim poderia ser definida como toda uma série de
ações que compreende uma pessoa, uma matéria e um instrumento de trabalho ou
meio de ação sobre a matéria, e cuja interação permite a fabricação de um objeto ou
de um produto. Entretanto, para que esta visão faça sentido, é importante
conceituarmos o que são os “objetos” e as “coisas”, pois se relacionam
fundamentalmente com o contexto em questão.
Segundo Santos (2006, p. 40), “os objetos seriam o produto de uma
elaboração social. As coisas seriam um dom da natureza e os objetos um resultado do
trabalho”. Focillon (1981, p. 4) destaca que “as coisas - formas naturais - são obras da
natureza, enquanto os objetos - formas artificiais - são obras dos homens”. Moles
(1971, p. 222) diz que o objeto seria “um elemento do mundo exterior, fabricado pelo
homem e que este deve assumir ou manipular”.
De acordo com Seris (1994, p. 22): "será objeto técnico todo objeto
susceptível de funcionar, como meio ou como resultado, entre os requisitos de uma
atividade técnica". Sua adoção pelas sociedades seria função de uma avaliação dos
valores técnicos em relação aos êxitos ou fracassos prováveis.
Bunge (1985) ao caracterizar o objeto (artefato) o define como toda coisa,
estado ou processo controlado ou feito deliberadamente com ajuda de algum
conhecimento aprendido e utilizável por outros. Para ele, “o resto” (coisas) seriam as
coisas sem utilidade, que abrangeriam até os produtos atuais não recicláveis.
Para Ortega Y Gasset (1963) e Santos (1996), a classificação mais intuitiva
entre objetos e coisas seria aquela segundo a qual no início da existência humana, no
momento em que a natureza era ainda inexplorada, tudo seriam coisas, ao passo que
hoje tudo tende a ter uma finalidade, intencionalidade e utilidade, transformando as
coisas em objetos. Assim, a natureza atualmente se transforma em um verdadeiro
sistema de objetos, e não mais em coisas.
Assim, os objetos técnicos podem ser analisados conforme o seu respectivo
conteúdo, ou, em outras palavras, conforme sua condição técnica; o mesmo pode ser
dito das ações que se distinguem segundo os diversos graus de intencionalidade e
44

racionalidade. Estes aspectos são a principal lógica por trás da existência desses
objetos.
Portanto, os objetos técnicos se instalam na superfície da terra por meio da
construção humana e fazem-no para responder a necessidades materiais
fundamentais dos homens: alimentar-se, produzir, residir, deslocar-se, confortar-se
etc.

O objeto técnico, pensado e construído pelo homem, não se limita


apenas a criar uma mediação entre o homem e a natureza; ele é um
misto estável do humano e do natural, contém o humano e o natural;
ele confere a seu conteúdo uma estrutura semelhante à de objetos
naturais, e permite a inserção no mundo das causas e efeitos naturais
dessa realidade humana (SIMONDON, 1989, p. 245).

A evolução técnica de um objeto não diz respeito apenas ao


funcionamento do próprio objeto, mas aos diversos modos como ele se insere e se
naturaliza na cultura. Por consequência, a evolução técnica não diz respeito apenas ao
aperfeiçoamento dos objetos, mas ao modo como humanamente nos relacionamos e
nos modificamos a partir dele.
A evolução do objeto técnico se confunde com o meio, ao passo que a
evolução social do homem se confunde com as tecnologias desenvolvidas e
empregadas em cada época. Esta é mais uma dentre as características dos períodos
humanos e técnicos. De acordo com Ortega y Gasset (1963, p. 75), os períodos
técnicos poderiam ser divididos em três etapas:
1º - A técnica do acaso: é a técnica primitiva do homem primitivo, seja ele
no contexto da evolução humana, seja como grupos sociais isolados que vivem seus
cotidianos a partir de técnicas desenvolvidas há alguns anos, como tribos indígenas,
por exemplo. Este desconhece por completo o caráter essencial da técnica, que
consiste em ser uma capacidade de mudanças e progresso;
2º - A técnica do artesão: A produção de alguns elementos como arcos,
flechas, vestimentas etc. se dá por meio dos artesões, que sabem fazer determinados
objetos. Em algumas circunstâncias não possuem noção da importância social de seus
atos técnicos;
45

3º - A técnica do técnico: Quando o homem descobre os caminhos que


devem ser traçados para que seus atos técnicos resultem em uma técnica que
proporcione o resultado esperado.
Ao longo da história, no decorrer dessas etapas, o homem adquiriu
consciência suficiente sobre suas eventuais capacidades e habilidades para realização
de determinados atos técnicos que gerassem resultados específicos e esperados. Além
disso, percebeu que a técnica não é um acaso da natureza ou da circunstância, como
poderia ser considerado num primeiro estágio. A técnica não seria, portanto, fixa, mas
uma quantidade ilimitada de atividades e possibilidades.
As infinidades de perspectivas permitidas pela técnica possibilitaram um
enorme crescimento de atos e resultados técnicos que integraram toda a vida social.

Enquanto na Idade Média, na época do artesão, a técnica e a


naturalidade do homem pareciam compensar-se e a equação de
condições em que a existência se apoiava lhe permitia beneficiar-se
do dom humano para adaptar o mundo ao homem, mas sem que isso
levasse a desnaturalizar-lhe, hoje os supostos técnicos da vida
superam gravemente os naturais, de sorte tal que materialmente o
homem não pode viver sem a técnica a que chegou (ORTEGA Y
GASSET, 1963 p. 87).

Na Idade Média, o inventar não podia constituir um ofício porque o


homem ignorava seu próprio poder de invenção. Hoje, pelo contrário, o técnico se
dedica como à atividade mais normal e preestabelecida à construção, invenção,
inovação, sendo este último, inclusive, um dos aspectos mais marcantes de nossa
atualidade.
Entretanto, Mitcham (1989), quando fala da periodização proposta por
Ortega y Gasset (1963), destaca que na primeira fase (a técnica do acaso) não há um
método para descobrir ou transmitir as técnicas utilizadas; na seguinte (a técnica do
artesão), já há algumas técnicas conscientes transmitidas entre gerações por uma
classe especial: a dos artesãos. Todavia, há apenas "destreza e não ciência".
De acordo com Simondon (1989, p. 46), “O artesanato corresponde ao
estado primitivo de evolução dos objetos técnicos. A indústria corresponde ao estado
concreto”. Sendo assim, seria apenas na terceira fase (a técnica do técnico ou do
engenheiro) que se instala um estudo consciente: a tecnologia como desenvolvimento
de um modo de pensar o homem vinculado à ciência moderna.
46

Heidegger (1992) resume esse debate propondo que existem apenas dois
grandes períodos na evolução da técnica: a técnica dos antigos e a técnica dos
modernos. Ainda segundo ele, no começo da história social do planeta, ou no período
da técnica dos antigos, havia tantos sistemas técnicos quantos eram os lugares e os
grupos humanos. Estes, servidos apenas pelas técnicas do corpo, carentes de
mobilidade, eram dependentes de áreas geográficas restritas, onde os recursos de sua
inteligência e os recursos naturais combinados permitiam a emergência de modos de
fazer dependentes do entorno imediato. Cada ponto habitado da superfície terrestre
constituía, então, um conjunto coerente, formado sobre uma dada fração do planeta
por uma população local, pelas técnicas locais, por um sistema político local e um
regime econômico também local.

Porém cada período vê nascer uma nova geração técnica que o


caracteriza. Esse novo subsistema, por se mostrar mais eficaz que os
demais, emerge como um subsistema hegemônico. No passado, os
respectivos sistemas hegemônicos não dispunham de um alcance
global, podendo estar ausentes em certos países ou em certas
regiões. Hoje estes sistemas técnicos tornam proporções globais, não
mais sistemas técnicos locais, e sim globais, se tornam uma “uma
unicidade técnica” (SANTOS, 2006, p. 125).

Hoje, as técnicas estão potencializadas no coração da atividade


contemporânea de controle, de reconstrução da matéria e da vida. Acrescentamos que
a fonte das mutações técnicas é ela a própria técnica, afinal, a forma como se
combinam as técnicas de diferentes idades têm consequências sobre as formas de vida
das pessoas de dado momento histórico e na própria composição do espaço
geográfico.

O conceito de espaço na ciência geográfica

As técnicas constroem objetos e ações explicativas do espaço; elas contêm


aspectos empíricos da construção e evolução dele. É por meio delas que a evolução da
lógica social humana e os espaços são construídos, afinal, o espaço geográfico é uma
criação humana, portanto, é no meio natural, na natureza, na terra que ele se revela.
47

Elas, as técnicas, sempre estiveram no seio da evolução do debate sobre o


conceito de espaço geográfico, mesmo que nem sempre tenham sido lhe dadas o
devido destaque. Já o espaço geográfico, não se constituía em um conceito chave na
geografia tradicional, mesmo aparecendo de modo implícito nas obras de Ratzel e
Hartshorne, por exemplo.
O espaço proposto por Ratzel (1882) é visto como base indispensável para
a vida do homem, encerrando as condições de trabalho, quer naturais, quer aquelas
socialmente produzidas. Sendo assim, o domínio do espaço transforma-se em
elemento crucial na historia do homem. O espaço assim, mesmo que não sendo o foco
principal era a base de sustentação das teorizações que estavam em voga naquele
período.
Ratzel (1882) desenvolve dois conceitos fundamentais em sua
antropogeografia. O conceito de território e de espaço vital, ambos com fortes raízes
na ecologia. O primeiro vincula-se à apropriação de uma porção do espaço por
determinado grupo, enquanto o segundo expressa às necessidades territoriais de uma
sociedade em função do seu desenvolvimento tecnológico. “Seria assim uma relação
de equilíbrio entre a população e os recursos, mediada pela técnica” (MORAES, 1990,
p. 23). Em suma, espaço seria vital para a sobrevivência e manutenção de qualquer
povo.
A preservação e ampliação do espaço vital constitui-se, na formação
ratzeliana da própria razão de ser do Estado. “O espaço transforma-se, assim, através
da política, em território, em conceito-chave da geografia” (CORRÊA, 1995, p. 18).
Hartshorne (1939), em seu livro The Nature of Geography admite que as questões
espaciais sejam de fundamental importância para a geografia, sendo a tarefa dos
geógrafos descrever e analisar a interação e integração de fenômenos em termos de
espaço.
O espaço na visão hartshorniana, é o espaço absoluto, isto é, um conjunto
de pontos que tem existência em si, sendo independentes de qualquer outra coisa. O
espaço, ainda segundo ele, apareceria como um receptáculo que apenas contém as
coisas. O termo espaço é empregado no sentido de área que
48

[...] é somente um quadro intelectual do fenômeno, um conceito


abstrato que não existe em realidade [...] a área, em si própria, está
relacionada aos fenômenos dentro dela, somente naquilo que ela os
contém em tais e tais localizações (HARTSHORNE, 1939, p. 395).

Para Corrêa (1995), existiria uma associação entre essa concepção de


espaço e a visão ideográfica da realidade, na qual em uma dada área estabelece-se
uma combinação única de fenômenos naturais e sociais. Seria como se cada porção do
espaço absoluto fosse o lócus de uma combinação única (unicidade). “Nenhuma (lei)
universal precisa ser considerada senão a lei geral da geografia de que todas as suas
áreas são únicas” (HARTSHORNE, 1939, p. 644).
De acordo ainda com Corrêa (1995) somente em Schaefer (1953), Ullman
(1954), Watson (1955) e Bunge (1966) o espaço aparece pela primeira vez na história
do pensamento geográfico como o conceito chave da ciência. O espaço é considerado
sob duas formas que não são mutuamente excludentes. De um lado por meio da
noção de planície isotrópica e, de outro, de sua representação matricial.
A representação matricial se constituiria nos meios operacionais que nos
permitem extrair um conhecimento sobre localizações e fluxos, hierarquias e
especializações funcionais. A planície isotrópica é uma construção teórica que parte do
princípio de que o espaço seria uma superfície uniforme no que se refere à
geomorfologia, ao clima e à vegetação, assim como à ocupação humana. Existiria
assim uma uniformidade na densidade demográfica, de renda e cultura, por exemplo,
em dado espaço, onde a circulação nesta planície seria possível em todas as direções.
Nessa planície de lugares iguais desenvolvem-se ações e mecanismos
econômicos, por exemplo, que levam à diferenciação do espaço. Assim o ponto de
partida seria a homogeneidade, enquanto o ponto de chegada seria a diferenciação
espacial que é vista como expressando um equilíbrio espacial. Diferenciação e
equilíbrio não são estranhos nessa concepção (CORRÊA, 1995).
Nela, a variável mais importante seria a distância, determinando em um
espaço previamente homogêneo a diferenciação espacial, seja ela expressa em anéis
concêntricos de uso da terra, como em Von Thunen (1826) 1 na teorização da

1
A teoria dos anéis de Von Thuner de 1826 fora o primeiro estudo metodológico que incorporou o
espaço na noção econômica. De forma breve, para autor, poderíamos organizar as atividades
49

localização industrial de Weber (1909)2, ou densidades demográficas intra-urbanas, ou


ainda, em hierarquias de lugares centrais, como aponta Christaller (1933) 3.
Harvey (1969) evidencia a abordagem sobre espaço relativo, que é
importante elemento na concepção do conceito de espaço. A noção de espaço relativo
é compreendida a partir das relações entre os objetos e as relações que estes implicam
em custos – dinheiro, tempo, energia – para vencer a fricção imposta pela distância.
Seria no espaço relativo que se obteriam rendas diferenciais - de localização – e que
determinariam papel fundamental na determinação do uso da terra.
Entretanto, para Corrêa (1995), o privilégio exagerado do componente do
espaço “distância”, visto como variável independente, se colocou como grande
limitação no avanço da estruturação do conceito de espaço geográfico, proposto por
Harvey (1969), visto que outros elementos como as contradições, os agentes sociais, o
tempo, objetos, as ações e as transformações são renegados a um plano secundário.
Lefébvre (1976) em seu livro Espacio y Política entende o espaço como
espaço social, vivido, em estreita correlação com a prática social, não sendo visto
assim como um espaço meramente absoluto, “vazio e puro, lugar por excelência dos
números e das proporções” (LEFEBVRE, 1976, p. 29). Nem como um produto da
sociedade, “ponto de reunião dos objetos produzidos, o conjunto das coisas que
ocupam e de seus subconjuntos, efetuado, objetivado, portando funcional” (LEFEBVRE,
1976, p. 30).
Para este autor, o espaço não seria mais nem o ponto de partida – espaço
absoluto – nem o ponto de chegada – espaço como produto social. Ele vai além: o
espaço “desempenha um papel ou uma função decisiva na estruturação de uma
totalidade, de uma lógica, de um sistema” (LEFÉBVRE, 1976, p. 25).

econômicas de acordo com a localização dos tipos de culturas agropecuárias ou atividades


agroindustriais em relação ao centro urbano.
2
A teoria clássica da localização industrial de Afred Weber (1909) destacava a questão espacial
enquanto distância com fator de análise para as melhores disposições geográficas das indústrias, para o
autor, a indústria deveria ficar no centro de um "triângulo equilátero" em que as extremidades seriam a
distância de matéria prima, mão de obra e mercado consumidor.
3
Com base nos princípios que defendeu, Christaller (1933) explicou o número, a dimensão e a
distribuição dos lugares centrais, considerados como centros fornecedores de bens e serviços a uma
população circundante, hierarquizando-os segundo o seu grau de centralidade. Em suma o autor
procurou explicar como diferentes lugares se distribuem no espaço.
50

Do espaço não se pode dizer que seja um produto como qualquer


outro, um objeto ou uma soma de objetos, uma coisa ou uma
coleção de coisas, uma mercadoria ou um conjunto de mercadorias.
Não se pode dizer que seja simplesmente um instrumento, o mais
importante de todos os instrumentos, o pressuposto de toda
produção e de todo intercâmbio. Estaria essencialmente vinculado
com a reprodução das relações (sociais) de produção (LEFÉBVRE,
1976, p. 34).

Sendo assim, para Lefébvre (1976), o espaço geográfico seria como a


produção da sociedade, fruto da (re)produção das relações sociais de produção em sua
totalidade. Essas relações se dariam, desta forma, em todos os âmbitos da vida
cotidiana do homem. Corroborando com as ideias de Lefébvre (1976), Santos (1985)
em seu livro Espaço e método que sem produção – de qualquer natureza – impossível
existir o espaço.
Assim o espaço é concebido como lócus da reprodução das relações sociais
de produção, isto é, reprodução da sociedade. Quer sejam as relações entre os
homens e a natureza, quer sejam nos movimentos fabris de produção e transformação
seja da produção de relações de socializações etc. O mérito do conceito espaço
geográfico residiria no fato de se explicar teoricamente que uma sociedade só se torna
concreta através do seu espaço que ela produz e, por outro lado, o espaço só seria
inteligível através da sociedade (CORRÊA, 1995; MOREIRA, 2012).

A palavra espaço, então, amplia seu significado em Geografia,


abrindo para a disciplina extraordinárias possibilidades de
explorações temáticas através de diversos espaços teóricos e
relativos, possibilidades antes opacificadas pela concepção do espaço
geográfico único. Como corolário, os objetos da Geografia também se
multiplicam definidos pelos estudos das diversas relações entre os
inumeráveis componentes do espaço geográfico (BARROS, 2003, p.
8).

No seio das relações sociais, das possibilidades de exploração do conceito


de espaço geográfico é que no final dos anos 70 viu-se o surgimento da geografia
humanística, que, na década de 80, fora acompanhada pela retomada da geografia
cultural, baseada na crítica à geografia lógico-positivista e ancorando algumas de suas
observações nas subjetividades humanas, nas experiências e na vivência.
51

Contrariamente as geografias crítica e teorético-quantitativa, por


outro lado, a geografia humanística está assentada na subjetividade,
na intuição, nos sentimentos, na experiência, no simbolismo e na
contingência, privilegiando o singular e não o particular ou o
universal e, ao invés da explicação, tem na compreensão a base de
inteligibilidade do mundo real (CORRÊA, 1995, p. 30).

Neste contexto, Tuan (1979) em sua abordagem sobre espaço geográfico


dentro da geografia humanística considera os sentimentos espaciais, as noções de
pertencimento, as ideias de um grupo ou de um poço a partir da experiência. O espaço
seria “... também uma resposta do sentimento e da imaginação às necessidades
humanas fundamentais” (TUAN, 1983, p. 112).
A concepção de espaço vivido também é inserida: “O espaço vivido é uma
experiência contínua, egocêntrica e social, um espaço de movimento e um espaço-
tempo vivido [...] que se refere ao afetivo, ao mágico, ao imaginário” (HOLZER, 1992, p.
440).
A concepção de “espaço vivido” procurou destacar o lado afetivo, mágico e
imaginário das relações que se estabelecem e ajudam a configurar o sentido dos
lugares e das espacialidades cotidianamente vivenciadas, que passam também a se
expressar como um campo de representações simbólicas.
Nasce aí, um projeto vital de sociedade calcada nos sentimentos de
pertencimentos e de afetividade construídos a partir da vivência no lugar. “Em sinais
visíveis não só o projeto vital de toda a sociedade, subsistir, proteger-se, sobreviver,
mas também as suas aspirações, crenças, o mais íntimo de sua cultura” (ISNARD, 1982,
p. 71).
Tal espaço pode ser considerado um mosaico com elementos de diferentes
eras, sintetizando - de um lado - a evolução da sociedade, e explicando - de outro lado
- situações que se apresentam na atualidade.
O espaço geográfico, sendo assim, deve ser entendido como um conjunto,
um processo, um sistema sempre contínuo e nunca fechado. Uma imbricação de
trajetórias, sempre aberto ao inesperado, ao acaso, e que, enquanto lócus da
coexistência contemporânea, é marcado pela diversidade, diferença e multiplicidade
(MASSEY, 2008).
52

Além disso, é também uma criação humana e é produzido por si próprio,


assim, o espaço em si (natural, totalitário) pode ser organizado, modificado como
produto e resultado das experiências sociais. Como produto elaborado, o espaço
geográfico é projeção social remodeladora sobre a natureza. Este espaço é resultante
dos objetos intencionais dos atores e ações sociais (RAFFESTIN, 1993).

O espaço não é um reflexo da sociedade, ele é a sociedade [...]


Portanto, as formas espaciais, pelo menos no nosso planeta, hão de
ser produzidas, como o são todos os outros objetos, pela ação
humana. Hão de expressar e executar os interesses da classe
dominante, de acordo com um dado modo de produção e com um
modo específico de desenvolvimento (SOJA, 1993, p. 89).

O espaço geográfico é um produto da ação e criação humana. Ele é


efetivamente e afetivamente vivido e socialmente produzido. Esse “espaço vivido”, e
socialmente criado é descrito por Lefevre (1976), Foucault (1986), Soja (1993) e
Moreira (2012) como aquele dotado de simultaneidade concreta e abstrata, a
contextura das práticas sociais. É um espaço raramente visto, abstrato, e,
diferentemente do que algumas abordagens no passado já haviam feito, ele não pode
ser obscurecido por uma visão bifocal que o encare como uma construção mental ou
uma forma meramente física. Deve ser entendido também como relacional.

O espaço é a dimensão implícita que molda nossas cosmologias


estruturantes. Ele modula nossos entendimentos do mundo, nossas
atitudes frente aos outros, nossa política. Afeta o modo como
entendemos a globalização, como abordamos as cidades e
desenvolvemos e praticamos um sentido de lugar. Se o tempo é a
dimensão de mudança, então o espaço é a dimensão do social: da
coexistência contemporânea de outros (MASSEY, 2008, p. 15).

Portanto, tempo, espaço e mundo são realidades históricas que devem ser
mutuamente consideradas como interdependentes sob uma perspectiva mais
totalizadora, devem ser pensados também como elementos das transformações
sociais. “Enquanto espaço morada do homem, acreditamos ser necessário pensá-lo em
termos de suas conexões com tempo, pois tempo e espaço reúnem toda a experiência
humana” (CORRÊA, 1982, p. 34).
Assim, a noção de espaço é inseparável da ideia de sistemas de tempo.
Logo podemos buscar compreender as diferenciações temporais dos diversos espaços
53

existentes no mundo e as consequentes temporalidades humanas daqueles que os


produzem.

Se o tempo se revela como mudança, então o espaço se revela como


interação. Neste sentido, o espaço é a dimensão social não no
sentido da sociabilidade exclusivamente humana, mas no sentido do
envolvimento dentro de uma multiplicidade. Trata-se da esfera da
produção contínua e da reconfiguração da heterogeneidade, sob
todas as suas formas – diversidade, subordinação, interesses
conflitantes (MASSEY, 2008, pp. 97-98).

Afinal, a sociedade humana em processo é sempre um dos primeiros


enfoques das análises geográficas e das ciências humanas no geral. Esse enfoque se dá
sobre uma base material - o espaço e seu uso, o tempo e seu uso; a materialidade e
suas diversas formas; as ações e suas diversas feições. Santos (2006) frisa a
importância temporal na análise espacial dos fenômenos, destacando este elemento
como fundamental na composição estrutural do espaço.

Assim empiricizamos o tempo, tornando-o material, e desse modo o


assimilamos ao espaço, que não existe sem a materialidade. A técnica
entra aqui como um traço de união, historicamente e
epistemologicamente. As técnicas, de um lado, dão-nos a
possibilidade de empiricização do tempo e, de outro lado, a
possibilidade de uma qualificação precisa da materialidade sobre a
qual as sociedades humanas trabalham (SANTOS, 2006, p. 33).

As técnicas são objetos explicativos do espaço, elas contêm aspectos


empíricos da construção e evolução deste no tempo. O “aqui” deixa de ser tão
somente uma delimitação física para torna-se um espaço histórico (Freire, 1987). É por
meio das técnicas que a evolução da lógica social humana e o espaço são construídos,
afinal, o espaço geográfico é uma criação humana, portanto é no meio natural, na
terra que ele se revela.

O espaço geográfico é a base concreta da vivência terrena do


homem. O ato de transformação consciente da natureza em meios
de produção e de vida é um ato de construção consciente do espaço.
E esse espaço é um fato que se revela na paisagem, em sua evolução
de um ambiente dominado pela presença dos elementos primários
da natureza (a primeira natureza) pelos de uma natureza
54

progressivamente socializada pela ação transformadora do homem


(segunda natureza) (MOREIRA, 2010, p. 103).

Para Dollfus (1972), todo espaço geográfico seria organizado. Esta


organização dependeria de múltiplos fatores, alguns dos quais ligados ao meio natural
e outros às necessidades e aspirações das coletividades humanas que seriam refletidas
pelo uso e avanço das técnicas.
A forma da propriedade dos meios de produção dos meios de vida é a
relação determinante. É ela que vai definir o modo de relação do homem com a
natureza, a forma como vai se dar a mediação da técnica e a modalidade da
organização do espaço, definindo, assim, espaço como todo e meio geográfico.

Geneticamente, o espaço é o produto da relação técnica do homem


com a natureza. E o seu arranjo é o produto do modo como os
homens definem suas relações entre si ao redor de suas relações de
apropriação da natureza, uma vez que os homens entram em relação
com a natureza através das relações que estabelecem entre si. Dessa
dupla dimensão relacional decorre, então, a forma histórica de
sociedade que constroem (MOREIRA, 2010, p. 103).

É por intermédio das técnicas que o homem no trabalho (em suas mais
variadas formas) realiza a união entre espaço e tempo. Estas são periodizadas e
incluem tempo, qualitativa e quantitativamente. As técnicas são, portanto, uma
medida do tempo: o tempo do processo direto de trabalho, da circulação, da divisão
territorial do trabalho e da cooperação.

Técnicas e tempo estão, com toda a evidência, fortemente


entrelaçados. Ambas são outra coisa que não manifestações físicas
ou biológicas de uma função material ou de um ritmo orgânico.
Ambos estão fortemente mesclados à modelação de fenômenos e de
processos sociais sempre novos. As relações entre a técnica e o
tempo estão em geral muito mais emaranhadas do que as análises
mais correntes, que as reduzem a relações de causa e efeito, nos
querem fazer crer (HORNING, 1992, p. 49).

Portanto, o espaço é formado de objetos técnicos. O espaço do trabalho


contém técnicas que nele permanecem como normas, autoridades, cronogramas,
sentidos para fazer dada tarefa ou uma simples ação, em certas formas, medidas ou
55

ritmos. Tudo isso seria tempo, e o espaço enquanto distanciamento é controlado pelas
técnicas que comandam as estruturas e funcionalidades dos deslocamentos.

O trabalho supõe lugar, a distância supõe extensão; o processo


produtivo direto é adequado ao lugar, a circulação é adequada à
extensão. Essas duas manifestações do espaço geográfico unem-
se, assim, através dessas duas manifestações no uso do tempo
(SANTOS, 2006, p. 34).

As técnicas participam na produção e na percepção do espaço e do tempo


(tempo vivido, sensações de velocidade etc.). O espaço se destaca nas circunstâncias e
condições que oferece para a produção, circulação, comunicação, cooperação e
trabalho para o exercício do cotidiano da vida social como um meio operacional.
Assim, técnicas são mecanismos operacionais, percebidos e constitutivos do espaço e
do tempo.

O espaço está, assim, sempre no centro da duração existencial,


mostrando-se um espaço existencial tanto quanto o tempo
existencial, uma vez que o espaço e o tempo são contraditórios, mas
coetâneos na Historia. Seja na forma de relação com a natureza, seja
na relação com os outros homens (MOREIRA, 2010, p. 104).

Existe uma estreita relação entre a mudança da técnica e a mudança do


espaço geográfico e da vida social. Neste sentido, Santos (2006, p. 21) enfatiza:

A relação, que se deve buscar, entre o espaço e o fenômeno técnico,


é abrangente de todas as manifestações da técnica, incluídas as
técnicas da própria ação. Não se trata, pois, de apenas considerar as
chamadas técnicas da produção, ou como outros preferem as
técnicas industriais.

O espaço é formado de objetos, mas estes não determinam aquele. Ao


invés disso, é o espaço que determina os objetos: o espaço visto como um conjunto de
objetos organizados segundo uma lógica e utilizados (acionados) para um determinado
fim. “É o espaço que redefine os objetos técnicos, apesar de suas vocações originais, ao
incluí-los num conjunto coerente onde à contiguidade obriga a agir em conjunto e
solidariamente” (Santos, 2006, p. 24).
56

O espaço e o tempo são categorias básicas da existência humana. Na


sociedade moderna, muitos sentidos e percepções para o tempo se entrecruzaram,
conforme Harvey (1989) argumenta:

Os movimentos cíclicos e repetitivos (do café da manhã e da ida ao


trabalho a rituais sazonais como festas populares, aniversários, férias,
aberturas de temporadas esportivas) oferecem uma sensação de
segurança num mundo em que o impulso geral do progresso parece
ser sempre para frente e para o alto, na direção do desconhecido
(HARVEY, 2008, p. 187).

Neste sentido, as concepções de espaço e de tempo são criadas


necessariamente através de práticas e processos materiais que servem à reprodução
da vida social. A objetividade do espaço e do tempo advém, em ambos os casos, de
práticas materiais de reprodução social e, na medida em que estas podem variar
geográfica e historicamente, verifica-se que o tempo social e o espaço social são
construídos diferentemente. “Em suma, cada modo distinto de produção ou formação
social incorpora um agregado particular de práticas e conceitos do tempo e do espaço”
(HARVEY, 2008 p. 189).

Os indivíduos são considerados agentes movidos por um propósito


engajado em projetos que absorvem tempo através do movimento
no espaço. As biografias individuais podem ser tomadas como trilhas
de vida no tempo-espaço, começando com rotinas cotidianas de
movimento (da casa para a fábrica, as lojas, a escola, e de volta para
casa) e estendendo-se a movimentos migratórios que alcançam a
duração de uma vida (por exemplo, juventude no campo,
treinamento profissionais na cidade grande, casamento e mudança
para os subúrbios, e aposentadoria passada no campo) (HARVEY,
2008, p. 195).

Soja (1993, p. 34) especifica que “assim como o espaço, o tempo e a


matéria delineiam e abrangem as qualidades essenciais do mundo físico, a
espacialidade, a temporalidade e o ser social podem ser vistos como as dimensões
abstratas que, em conjunto, abarcam todas as facetas da existência humana”. Nesse
sentido, a ordem espacial da existência humana surge da produção social do espaço,
da construção da sociedade, da produção e da reprodução das relações, simbolismos,
instituições e práticas temporais e espaciais.
57

Lefevre (1974) menciona três dimensões das práticas espaciais que ele
caracteriza como: “vivido”, “percebido” e “imaginado”. Sendo assim, as práticas
espaciais materiais referem-se aos fluxos, transferências e interações físicas e
materiais que ocorrem no e ao longo do espaço, de maneira a garantir a produção e a
reprodução social. As representações do espaço compreendem todos os signos e
significações, códigos e conhecimentos que permitam falar sobre essas práticas
materiais e compreendê-las (a engenharia, a arquitetura, a geografia, o planejamento,
a ecologia social etc.). Os espaços de representações são invenções mentais (códigos,
signos, planos utópicos, paisagens imaginárias e até construções materiais como
espaços simbólicos, ambientes particulares construídos, pinturas etc.).
Harvey (2008, p. 202) por sua vez, menciona que as práticas espaciais e
temporais de toda sociedade são abundantes às sutilezas e complexidades, ou seja,
estão estreitamente implicadas em processos de reprodução e de transformação das
relações sociais. Para ele, haveria quatro aspectos das práticas sócio espaciais:
1. Acessibilidade e distanciamento referem-se ao papel da “fricção da
distância” nos assuntos humanos; a distância é tanto uma barreira como
uma defesa contra a interação humana; ela impõe custos de transação a
todo sistema de produção e reprodução (àqueles baseados em alguma
divisão social elaborada do trabalho, do comércio e da diferenciação social
de funções reprodutivas). O distanciamento é apenas uma medida do grau
até o qual a fricção do espaço foi superada para acomodar a interação
social.
2. A maneira pela qual o espaço é ocupado por objetos (casas, fábricas, ruas,
ferrovias etc.), atividades (usos e apropriações da terra etc.), indivíduos,
classes ou grupos sociais;
3. O domínio do espaço reflete o modo como indivíduos ou grupos
poderosos dominam a organização e a produção do espaço mediante
recursos legais ou extralegais, a fim de exercerem um maior grau de
controle quer sobre a fricção da distância ou sobre a forma pela qual o
espaço é apropriado por eles mesmos ou por outros.
4. A produção do espaço examina como novos sistemas (reais ou
imaginários) de uso da terra, de transporte e comunicação, de organização
58

territorial etc. são produzidos, e como surgem novas modalidades de


representação (por exemplo, tecnologia da informação, mapeamento
computadorizado etc.).
Essas práticas resultam na construção e produção do espaço geográfico,
por meio de atos, objetos, atores e circunstâncias os quais fazem dele um grande
sistema dotado de multiplicidade. Essa multiplicidade é criada pelas infinitas variáveis
que fazem do espaço geográfico dinâmico, rico, híbrido. “Não vivemos numa espécie
de vazio dentro do qual possamos situar indivíduos e coisas. Não vivemos num vazio
passível de ser colorido por matizes variadas de luz, mas num conjunto de relações que
delineia localizações irredutíveis umas às outras” (FOUCAULT, 1986 p. 23).
Santos (1978), em uma primeira abordagem, considerava o espaço
geográfico como um conjunto de forma, estrutura, função e processo.

Forma, estrutura, função e processo são quatro termos disjuntivos


associados, a empregar segundo um contexto do mundo de todo dia.
Tomados individualmente, representam apenas realidades parciais,
limitadas, do mundo. Considerados em conjunto, porém, e
relacionados entre sim eles constroem uma base teórica e
metodológica a partir da qual podemos discutir os fenômenos
espaciais em totalidade (SANTOS, 1985, p. 52).

Para ele, a forma é o aspecto visível - as formas espaciais; a função é a


atividade desempenhada pelo objeto criado, a estrutura (social e/ou natural) é
definida historicamente - criadas e instituídas; enquanto o processo significa a ação
que é realizada de modo que resulte em mudança.
Posteriormente Santos (1982), conceituou o espaço geográfico como um
somatório e indissociável de fixos e fluxos, argumentando que

Os elementos fixos, fixados em cada lugar, permitem ações que


modificam o próprio lugar, fluxos novos ou renovados que recriam as
condições ambientais e as condições sociais, e redefinem cada lugar.
Os fluxos são um resultado direto ou indireto das ações e atravessam
ou se instalam nos fixos, modificando a sua significação e o seu valor,
ao mesmo tempo em que, também, se modificam (SANTOS, 1982, p.
53).

A grande questão, ainda segundo esse autor tratava-se de que, dentro do


desenvolvimento histórico da humanidade, os fixos e fluxos permaneceram
59

interagindo entre si, aparecendo como objetos da geografia, porém, nos dias atuais,
com as mudanças nos sistemas técnicos e os resultados proporcionados por estas
mudanças, os fixos se tornaram cada vez mais artificiais e mais afixados no solo (e
alguns cada vez mais móveis), e os fluxos, progressivamente mais diversos, mais
amplos, mais rápidos, mais numerosos e mais dinâmicos.
Sendo assim, Santos (1996), em seu livro A Natureza do Espaço, propõe
outra conceituação para o espaço geográfico. Diz ele: “O espaço é formado por um
conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e
sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual
a história se dá” (SANTOS, 2006, p. 39).
Para ele, a natureza é a origem, ela provê as coisas, as quais são
transformadas em objetos pela ação do homem através da técnica, esta
interdependência resultaria no espaço geográfico. E a partir da evolução dessa
interdependência o espaço geográfico tenderia a mudar à medida que as relações
humanas com a natureza, objeto e entre os próprios homens viessem a mudar. O
espaço geográfico assim, para ele, seria também a própria sociedade, reflexo das ações
e coexistências.
A partir disso e, sobretudo, com a intenção de não criar aquilo que Milton
Santos chamou de “colcha de retalhos”, é essa a conceituação de espaço geográfico
que será tomada como norte em toda a pesquisa: “um conjunto indissociável, solidário
e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações” (SANTOS, 2006,
p. 39).
Com base nos principais autores aqui expressos, o espaço geográfico aqui é
pensado como uma totalidade híbrida, marcada por multiplicidade. Afetivamente
vivida e socialmente produzida por um conjunto de objetos materiais (naturais ou
artificiais, articulados ou não, construídos socialmente e historicamente) e ações
imateriais (sociais, políticas, jurídicas, econômicas, culturais) que constroem, impõe
resistência, separam, unificam e produzem seu funcionamento.
60

O meio Técnico-Científico-Informacional

O espaço atualmente é um sistema de objetos cada vez mais artificiais,


povoado por sistemas de ações carregadas de artificialidades. Estes sistemas
interagem entre si, uma vez que são interdependentes. Assim, de um lado os sistemas
de objetos estruturam formas e abrigam as ações, e do outro lado os sistemas de
ações proporcionam a criação de objetos novos ou a inovação dos objetos já
existentes, o que desencadeia a dinâmica de transformação do espaço.
A partir do reconhecimento dos objetos no espaço percebemos as relações
existentes entre os lugares; relações estas que são resultado do processo produtivo
em larga escala, incluindo desde a produção de mercadorias, estruturas até a
produção simbólica. Soja (1993, p. 34) pontua que “a experiência da modernidade
capta uma ampla mescla de sensibilidades, que reflete os sentidos específicos e
mutáveis das três dimensões mais básicas e formadoras da existência humana: o
espaço, o tempo e o ser”.
Estes objetos são móveis, fixos, móveis-fixos e imóveis – uma barragem,
uma cidade, uma ferrovia, estruturas de eletricidade, captadores de energia eólica, um
lago, uma plantação, um porto, um servidor, um laboratório, uma indústria etc. – cujos
valores e significados estão em continuidade e sistematicamente interligados
desempenhando um papel social.
As ações são a complementaridade que resulta na construção do espaço
geográfico. Os seres humanos são seres dotados de ações; agem sobre si próprios,
sobre os outros, sobre a terra, as coisas e objetos que nela habitam. Estas ações são os
principais veículos de transformação da natureza e da vida social.

A ação é o próprio homem. Só o homem tem ação, porque só ele tem


objetivo, finalidade. A natureza não tem ação porque ela é cega, não
tem futuro. As ações humanas não se restringem aos indivíduos,
incluindo, também, as empresas, as instituições. Mas os propósitos
relativos às ações são realizados por meio dos indivíduos (SANTOS,
2006, p. 53).

As ações resultam de necessidades sejam elas naturais ou criadas, ou


mesmo ações involuntárias ou instintivas. As necessidades podem ser: materiais,
imateriais, políticas, econômicas, sociais, culturais, morais, afetivas, que conduzem os
61

homens a agir e a realizarem funções. Estas funções acabam desembocando nos


objetos. “A ação é tanto mais eficaz quanto os objetos são mais adequados. Então, à
intencionalidade da ação se conjuga a intencionalidade dos objetos e ambas são, hoje,
dependentes da respectiva carga de ciência e de técnica presente no território”
(SANTOS, 2006, p. 60).
Todo e qualquer período histórico se afirma como um conjunto
correspondente de técnicas que o caracterizam e, consequentemente, como um
conjunto de objetos. Ao longo do tempo, um novo sistema de objetos responde ao
surgimento de cada novo sistema de técnicas, o que proporciona o surgimento de
novas formas de ação. Esses conjuntos explicam bem a evolução na construção e
produção do espaço geográfico ao longo do tempo.
Como um lugar se define como um ponto onde se reúnem várias relações,
o novo padrão espacial pode dar-se sem que as coisas sejam outras ou mudem de
lugar, quando há mudança morfológica, junto aos novos objetos, criados para atender
a novas funções, velhos objetos permanecem e mudam de função (SANTOS, 2006).
As técnicas atuais puderam unir todos os lugares, fazer com que os
símbolos, ações e diferenças se convergissem, tornando-se mundiais. Ciência,
tecnologia e informação são, portanto, a base técnica da vida social atual. Pela
primeira vez na história humana a divergência de tempo, de momentos dispersos,
desconexos pode ser diminuída, ou talvez, em algumas circunstâncias, até mesmo
superada. Segundo Santos (2008 p. 20), a “história do homem da nossa geração é
aquela onde os momentos convergiram, o acontecer de qualquer lugar podendo ser
imediatamente comunicado a qualquer outro”.
Áreas, regiões, territórios passam a se diferenciar a partir da proporção ou
densidade com que seus meios naturais são substitutos por meios técnicos. “Os
objetos técnicos, maquínicos, juntam à razão natural sua própria razão, uma lógica
instrumental que desafia as lógicas naturais, criando, nos lugares atingidos, mistos ou
híbridos conflitivos” (SANTOS, 2006, p. 158).
O período técnico-científico-informacional se distingue dos anteriores por
abrigar uma profunda interação entre a ciência, a técnica e a informação, a tal ponto
que o termo “tecnociência” é utilizado para destacar a inseparabilidade dos conceitos
e das duas práticas. Todavia, este fenômeno é limitado, pois nem todas as áreas do
62

planeta compactuam com as mesmas técnicas e nem todos os lugares as incorporaram


da mesma forma e no mesmo tempo; essa incorporação foi demorada e desigual.

O casamento da técnica e da ciência, longamente preparado desde o


século XVIII, veio reforçar a relação que desde então se esboçava
entre ciência e produção. Em sua versão atual como tecnociência,
está situada a base material e ideológica em que se fundam o
discurso e a prática da globalização (SANTOS, 2008, p. 115).

Junto com a unicidade das técnicas e a “convergência dos momentos”, a


mais-valia no nível global contribui para ampliar e aprofundar o processo de
internacionalização, que alcança um novo patamar. Agora, tudo se mundializa: a
produção, o produto, o dinheiro, o crédito, a dívida, o consumo, a política e a cultura.
“Esse conjunto de mundializações, cada qual sustentado, arrastando, ajudando a impor
a outra, merece o nome de globalização” (SANTOS, 2006 p. 134).
A globalização constitui o estágio máximo da internacionalização e
amplificação dos meios técnicos na criação de um sistema mundial de interligação
entre todos os lugares e todos os indivíduos, embora em graus diversos. Nessa
perspectiva de “unificação” do planeta, a terra torna-se um só “mundo”, diminuindo
distâncias do acesso e permitindo novas possibilidades concretas na modificação de
equilíbrios preexistentes (SANTOS, 2008).
O meio técnico-científico-informacional vem se iniciar após a segunda
guerra mundial nos países desenvolvidos. Nos países de terceiro mundo, esse início
data da década de 1970. O avanço cada vez maior no desenvolvimento entre técnica e
ciência encontra na divisão internacional do trabalho e na égide dos mercados globais
seu maior potencializador; na realidade, a divisão internacional do trabalho e a
construção de mercados globais só são permitidos mediante esta estrutura técnico-
científica que já nasce informacional.

A divisão do trabalho se amplia abrangendo muitos mais espaços, e,


de outro lado, ela se aprofunda interessando a um número muito
maior de pontos, de lugares, de pessoas e de empresas em todos os
países. Na medida em que se multiplicam as interdependências e
cresce o número de atores envolvidos no processo, podemos dizer
que não apenas se alarga a dimensão dos contextos como aumenta a
sua espessura (SANTOS, 2006, p. 171).
63

Dadas às intencionalidades de sua produção e a localização, eles são


criados como e a partir de informação. A informação é seu principal substrato de
existência e funcionamento. A informação não apenas está presente nas coisas, nos
objetos técnicos que formam o espaço, mas também é necessária à ação realizada
sobre essas coisas. Ela é o vetor fundamental do atual processo social e os territórios
são desse modo, equipados para facilitar a sua circulação.
Assim, todas as mudanças geográficas ocorridas em decorrência de novos
processos são oriundas do período classificado por Santos (2006) como meio técnico-
científico-informacional.

Quanto ao meio técnico-científico-informacional é o meio geográfico


do período atual, onde os objetos mais proeminentes são elaborados
a partir dos mandamentos da ciência e se servem de uma técnica
informacional da qual lhes vem o alto coeficiente de intencionalidade
com que servem às diversas modalidades e às diversas etapas da
produção (SANTOS, 2006, p. 157).

A partir da crescente inserção de técnicas e objetos técnicos dotados de


ciência, tecnologia e informação criou-se o que Santos (2006) chamou de
“cientificização” e “tecnização” da paisagem, o que, por sua vez, propiciou a criação de
um “tecnocosmo” onde a natureza, embora exista, tende a recuar e se artificializar
cada vez mais; aquilo que Simondon (1989) se referia ao mencionar que o artificial, de
tanto tentar, culmina por conseguir imitar o natural.

O meio técnico-científico-informacional é um meio geográfico onde o


território inclui obrigatoriamente ciência, tecnologia e informação
impondo assim, um novo sistema artificializado à natureza. “O meio
técnico-científico-informacional é a nova cara do espaço e do tempo.
É aí que se instalam as atividades hegemónicas, aquelas que têm
relações mais longínquas e participam do comércio internacional,
fazendo com que determinados lugares se tornem mundiais”
(SANTOS, 2008, p. 21).

Agora a natureza, assim como os espaços requalificados, tende a estarem


sob a ótica global, em uma realidade que tende a funcionar como unicidade. Quanto
mais técnicos são os objetos atuais, mais subordinados às lógicas globais eles são.
Santos (1994) aponta a associação cada vez mais clara entre os objetos modernos e os
64

atores hegemônicos, destacando ambos como os principais responsáveis pelo atual


processo de globalização.
Os objetos culturais tendem a tornar-se cada vez mais técnicos e
específicos, e são deliberadamente fabricados e localizados para responder melhor a
objetivos previamente estabelecidos. As ações, em consequência, tendem a ser cada
vez mais racionais e ajustadas. Convertidos em objetos geográficos, os objetos técnicos
são tanto mais eficazes quanto melhor se adaptam às ações esperadas, econômicas,
políticas culturais (SANTOS, 1996).
Assim, instala-se o que Santos (1996) chama de “tecnosfera”, que seria
uma atmosfera social estabelecida e cada vez mais dependente da cooperação entre
ciência e tecnologia traduzida em interesses de trabalho à distância, além de também
depender de uma sobreposição da natureza por uma atmosfera em que os ambientes
mais presentes são oriundos da combinação da ciência e técnica. “A tecnosfera é o
resultado da crescente artificializarão do meio ambiente. A esfera natural é
crescentemente substituída por uma esfera técnica, na cidade e no campo” (Santos,
2008, p. 13).
Esta realidade proporciona a criação de uma “psicosfera” que é formada
por um conjunto de ideias, crenças, culturas em volta de todo esse ambiente, ou seja,
ela se constitui como a base social da técnica e a estrutura comportamental da
interação moderna entre tecnologia e valores sociais apoiando cada vez mais a cultura
humana e a expansão do meio técnico-científico-informacional. “A psicoesfera é o
resultado das crenças, desejos, vontades e hábitos que inspiram comportamentos
filosóficos e práticos, as relações interpessoais e a comunhão com o Universo”
(SANTOS, 2008, p. 13).

O meio geográfico atual, graças ao seu conteúdo em técnica e


ciência, condiciona os novos comportamentos humanos, e estes, por
sua vez, aceleram a necessidade da utilização de recursos técnicos,
que constituem a base operacional de novos automatismos sociais.
Tecnosfera e psicosfera são os dois pilares com os quais o meio
científico–técnico-informacional introduz a racionalidade, a
irracionalidade e a contra racionalidade, no próprio conteúdo do
território (SANTOS, 2006, p. 172).
65

O espaço geográfico globalizado se define justamente entre as várias


presenças indissociáveis da “tecnosfera”, que é o “sistema de objetos”, e da
“psicosfera”, o “sistema de ações”. Os subespaços ou subsistemas irão existir e se
diferenciar pelas características específicas destes elementos.

Os espaços da globalização apresentam cargas diferentes de


conteúdo técnico, de conteúdo informacional, de conteúdo
comunicacional. Os lugares, pois, se definem pela sua densidade
técnica, pela sua densidade informacional, pela sua densidade
comunicacional, atributos que se interpenetram e cuja fusão os
caracteriza e distingue (SANTOS, 2006, p. 173).

A densidade técnica é dada pelos diversos graus de artifício. As situações


limite seriam, de um lado, uma área natural jamais tocada pelo homem, áreas que na
gestão ambiental são consideradas como zonas primitivas, intangíveis; e, de outro
lado, grandes centros empresariais, grandes cidades dotadas de significativas
infraestruturas. A densidade informacional nos indica o grau de exterioridade do lugar
e a realização de sua propensão a entrar em relação com outro s lugares, privilegiando
setores e atores.
Santos (1994) destaca que do ponto de vista da composição qualitativa e
quantitativa dos subespaços (dotados e construídos por aportes de ciência, tecnologia
e informação) haveria áreas de densidade alta - “zonas luminosas” - e áreas
praticamente vazias - “zonas opacas” - e uma infinidade de situações intermediarias
dependendo da mistura, inserção e funcionamento de ações e objetos. O meio
técnico-científico-informacional está presente em todas as partes, mas sua densidade
varia de acordo com regiões, países, lugares, pontos.
Entretanto, mesmo com essa divergência de densidades, a atualidade
proporcionada pela mistura de técnica, ciência e informação tem possibilitado, além
da modificação da natureza, a compreensão dela própria. Com o avanço de várias
técnicas de detecção, análise, monitoramento, fotografia podemos ter acesso a
fenômenos recorrentes na terra de uma forma nunca antes vista. E mais que isso, boa
parte deste conhecimento é divulgado e “acessível às pessoas”, pelo menos àquelas
que utilizam suportes tecnológicos dos atores hegemônicos.
66

O computador, atualmente presente em todos os âmbitos da vida


contemporânea, tem sido, de certa forma, o pilar técnico-científico-informacional das
ações e objetos das pessoas. Ele, em suas múltiplas e diversas formas, está presente
nas diversas conexões, nexos e redes que nos permitem pensar na construção das
atuais racionalidades.
A informacionalização, comunicação e movimentação que vemos hoje, são
produtos de um sistema proporcionado pelo avanço técnico do computador nas mais
variadas escalas. A produção maquinaria, das fábricas, nos controladores de bordo,
nos sensores de movimentação, nos celulares, sistemas de posicionamento globais,
satélites, ferrovias, sistemas de transportes, trabalhos individuais, produtos para a
saúde tem sido resultado dessa imersão gigantesca técnica do computador.
Assim, as Tecnologias da Informação e Comunicação permitem que as
inovações apareçam não apenas juntas e associadas, mas para serem propagadas em
conjunto; elas formam um gigantesco sistema científico-tecnológico-informacional que
representam a realidade do atual espaço geográfico e seus sistemas de ações e
sistemas de objetos.

Considerações finais

Santos (1996) definiu o espaço geográfico como um “um conjunto


indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de
ações” esta definição de modo mais intuitiva aqui é elevada como principal conceito
na concepção das práticas que constroem e produzem o espaço geográfico. Ela de um
lado nos leva a pensar metodologicamente quais seriam o sistema de ações e o
sistema de objetos que constroem os vários espaços, e de outro lado, nos levam a
pensar como esses sistemas evoluem com o tempo e se fazem importantes na
construção de novas práticas, socializações, modificações etc.
Moreira (2012, p. 30) para expressar como se dá todo o contexto da
materialização do espaço geográfico de forma bem didática explica que, o homem vive
em uma relação metabólica com a natureza, uma relação de intercâmbio
intranatureza, realizada pelo e como processo de trabalho. Desse intercâmbio ele
67

extrai suas condições de sobrevivência, mudando o conjunto da natureza ao mesmo


tempo em que muda a si mesmo. Dá-se então, um processo de hominização do
homem pelo próprio homem, um processo de historia natural que se desdobra em
historia social e que é a matriz constitutiva do homem e a orientação nova que é dada
à própria evolução total da natureza. Essa relação interna do homem com o restante
do universo da natureza que resulta num homem e numa natureza autotransformados
se externaliza para se materializar na forma do espaço.
Assim, o espaço geográfico é uma criação humana, é, portanto, na terra
que ele se revela. E todas estas transformações são proporcionadas pela inserção e
evolução das técnicas na natureza pelo homem e sobre o homem. Essa lógica cria
novos espaços e novas práticas de se relacionar com ele. Ela influencia nas formas
como o homem vive e como ele enxerga a própria existência.
Para tal, as técnicas atuais puderam unir todos os lugares, fazer com que os
símbolos, ações e diferenças se convergissem, tornando-se mundiais. Ciência,
tecnologia e informação são, portanto, a base técnica da vida social atual. Essa união
deu lugar ao conceito de Meio Técnico-Científico-Informacional criado por Milton
Santos, ele nos permite entender as particularidades do atual meio e espaço
geográfico.
Portanto, a categoria de análise nos leva a procurar vislumbrar os sistemas
de ações e os sistemas de objetos que constroem o espaço geográfico. Eles nos dão
indícios na compreensão de particularidades possivelmente negligenciadas por
abordagens que desprezem esse conceito como importante elemento na composição
de constantes transformações do mundo, nas constantes transformações das
sociedades. Seja no conjunto de objetos materiais (naturais ou artificiais, articulados
ou não, construídos socialmente e historicamente) quer seja no conjunto de ações
(sociais, políticas, jurídicas, econômicas, culturais).
Afinal, o espaço geográfico não é meramente um reflexo da sociedade, ele
é a própria sociedade. E procurar compreender sua importância é relevante
componente no entendimento das transformações e temporalidades em que as
diversas sociedades vivem e viveram. Buscar compreendê-lo é buscar entender como
as sociedades evoluíram e como elas agem, e como alguns fenômenos ocorrem e/ou
podem ocorrer.
68

2º Nó

Um espaço digital e de fluxos: o


ciberespaço.

“O ciberespaço é, o suporte da inteligência coletiva” (Pierre Lévy,


1999, p. 29).
69

2º NÓ UM ESPAÇO DIGITAL E DE FLUXOS: O CIBERESPAÇO

Introdução

A inserção gradativa de técnica, ciência e informação na natureza


debatidos no nó anterior contribuiu para a construção do meio técnico-científico-
informacional que resultou em um espaço geográfico cada vez mais artificializado e
globalizado, definido pelas presenças indissociáveis da tecnosfera, que é o sistema de
objetos, e da psicosfera, o sistema de ações apontadas por Santos (1996).
Estas mudanças são significativas não só no que se refere às modificações
no meio geográfico atual, mas também do ponto de vista de como elas
proporcionaram novas formas e perspectivas de interação, comunicação e difusão de
informação e conhecimento. E, consequentemente, nas mudanças das concepções
que a sociedade tem acerca do mundo e do que seria perto, longe, rápido ou devagar.
As tecnologias de informação, processamento e comunicação contribuíram
intensamente para tais mudanças. Elas permitiram a instantaneidade comunicacional
em face de uma mobilidade antes nunca experimentada. No seio dessa revolução, o
lançamento de satélites constituiu-se em uma sólida base, afinal, para os satélites as
distâncias são irrelevantes do ponto de vista analítico e transmissional; cada ponto tem
a mesma distância dos outros, o que proporciona convergências comunicacionais de
tempo-espaço simultâneas.
Computadores, celulares, microprocessadores, fax e a internet permitiram
apreendermos informações, transferirmos dados, nos comunicarmos em tempo real
em qualquer parte do mundo. A revolução da informática e do controle tornou
possível a realização de uma maior mobilidade generalizada (dos homens, da energia,
dos usos, de informações, dos produtos, no tempo e no espaço), uma mobilidade
medida, controlada, prevista, que assegura aos centros de decisão um real poder
sobre os outros pontos do espaço.
Consequentemente, a informação que vinha sendo produzida e que
circulava ao longo da história da humanidade por suportes atômicos como o papiro e o
papel, atualmente vem sendo também difundida em formato digital, por meio de
70

códigos binários (0 e 1). E a comunicação, que é um marco revolucionário a partir da


invenção do telégrafo e do telefone, passou para uma nova fase de evolução, em que
os vários meios comunicacionais permitem maior praticidade e instantaneidade
comunicacional em qualquer parte do mundo, seja em forma de sons, imagens,
arquivos ou dados.
É em meio a todas essas transformações que surge o espaço cibernético ou
ciberespaço - um ambiente de interatividade que se expandiu globalmente através da
microinformática – resultado da junção de todo o sistema técnico informacional atual.
Desde a primeira vez que o termo “ciberespaço” foi utilizado, em 1984, em um
romance de ficção científica, bem depois do surgimento da internet, em 1969, muitos
debates se propuseram, além de conceituar o que seria o ciberespaço (“não
territorial”, “pós-orgânico”, “imaterial”, “anti-espacial”, “espaço de fluxos”) e qual sua
abrangência, a pensar também as principais implicações de sua construção na
sociedade.
Dando continuidade ao nó anterior em que falamos sobre o espaço
geográfico, este nó se propõe a debater conceitualmente, a partir da revisão da
literatura, sobre um novo espaço, que também pode ser considerado como categoria
de análise espacial da geografia, porém ainda com imprecisões. Um espaço criado à luz
das atuais transformações técnicas, um espaço cibernético, eletrônico, digital, formado
por fluxos dos mais variados tipos fincados, móveis e enraizados no espaço geográfico.
Neste sentido, este nó está dividido da seguinte forma, em primeiro
momento no tópico “da emergência das Tecnologias de Processamento, Informação e
Comunicação” pretende-se falar das emergências das TICs como partes integrantes e
essenciais da construção desse espaço. No segundo momento, no tópico “A
construção de um espaço digital e de fluxos” tratar da trajetória da construção –
sobretudo conceitual - do ciberespaço face às transformações tecnológicas.
Em seguida “as atuais perspectivas de comunicação e conexão mediante o
ciberespaço” abordar as atuais perspectivas de comunicação e conexão
proporcionadas à luz da fluidez e instantaneidade do ciberespaço. E por fim, dando
sequência ao anterior, no tópico “o espaço de fluxos em face do espaço geográfico”
pretende-se destacar o conceito de espaços de fluxos de Castells (1999) e o debate de
fluidez ciberespacial em face das rugosidades do espaço geográfico.
71

O aporte teórico aqui utilizado é baseado, não exclusivamente, mas


principalmente, na literatura de Santos (1985, 1994, 1996); Graham (1998); Lévy
(1990, 1999, 2000); Castells (1999, 2001, 2003, 2006); Dodge & Kitchin (2001); Barros
(2003); Frey (2003); Koepsell (2004); Pires (2005, 2007, 2009); Ferrara (2008); Massey
(2008) e Fontes (2012).

Da emergência das Tecnologias de Processamento, Informação


e Comunicação

Embora informação e conhecimento sempre tenham constituído


elementos expressivos de identidade, manutenção e reprodução dos grupos humanos,
estes dois componentes têm se tornado cada vez mais expressivos na caracterização
do atual estágio da sociedade, ou “era da informação e conhecimento”, como define
Castells (1999), sendo principalmente potencializados no seio do desenvolvimento das
“tecnologias da inteligência” conceituadas por Lévy (1990).
Neste contexto, vivemos a era da informação que, em sua forma atual, é a
matéria-prima da revolução tecnológica iniciada na década de 1990 como resultado da
combinação de uma segunda geração de tecnologias da informação (baseadas na
mecânica, na eletromecânica e numa primeira fase da eletrônica) e de uma terceira e
atual geração de tecnologias da informação, com a microeletrônica (LÉVY, 1990;
SANTOS, 1994, 1996; CASTELLS, 1999).
É importante ratificar que quando falamos em tecnologias da informação,
processamento e comunicação (TICs) incluímos,

como todo, o conjunto convergente de tecnologias em


microeletrônica, computação (hardware e software),
telecomunicações/radiodifusão, e optoeletrônica. Além disso,
diferentemente de alguns analistas também incluo nos domínios da
tecnologia da informação a engenharia genética e seu crescente
conjunto de desenvolvimento e ações (CASTELLS, 1999, p. 67).

Assim, as TICs constituem atualmente a substância de muitas outras


tecnologias e a condição de sua operacionalidade, sendo os elementos tecnológicos os
mais relevantes da atualidade. Essa estrutura só pode ser o que é hoje por intermédio
72

da combinação entre a tecnologia digital, a política neoliberal e os mercados globais


(MORGAN, 1992). Todavia, esta mesma estrutura teve mais um elemento na
contribuição do seu desenvolvimento: trata-se do avanço nas tecnologias do
microprocessamento, pelo amadurecimento da ciência e da cibernética (MORIN, 1977;
SANTOS, 1994, 1996; CASTELLS, 1999).
A cibernética surge em meados do século passado para designar novos
tipos de máquinas artificiais. A primeira originalidade da cibernética foi conceber a
comunicação em termos organizacionais; a segunda foi ligar comunicação e comando
informacional. A informação comunicada torna-se um programa que desencadeia
operações simples e complexas.

A comunicação constitui uma ligação organizacional que se efetua


por meio de transmissões e de trocas de sinais. Assim, os processos
reguladores, produtores e realizadores, podem ser desencadeados
controlados e verificados por meio de emissões, recepções e trocas
de sinais e informações (MORIN, 1977, p. 220).

Assim, a informação que vinha sendo produzida, circulando ao longo da


história da humanidade por suportes atômicos (madeira, pedra, papiro, papel, corpo
etc.), na atualidade também circula, mas agora o faz pelos bits e códigos digitais
universais (0 e 1). As tecnologias da informática associadas às telecomunicações vêm
provocando mudanças radicais na sociedade por conta do processo de digitalização.
Uma nova revolução emergiu: a revolução digital (LÉVY, 1996; CASTELLS, 1999).
Digitalizada, a informação se reproduz, circula, modifica e se atualiza em
diferentes interfaces. É possível digitalizar sons, imagens, gráficos, textos e outras
tantas informações. Nesse contexto, “a informação representa o principal ingrediente
de nossa organização social, e os fluxos de mensagens e imagens entre as redes
constituem o encadeamento básico de nossa estrutura social” (CASTELLS, 1999, p.
505).
A revolução da informática e do controle tornou possível a realização de
uma maior mobilidade generalizada (dos homens, da energia, da informação dos usos,
dos produtos, no tempo e no espaço), uma mobilidade medida, controlada, prevista,
que assegura aos centros de decisão um real poder sobre os outros pontos do espaço.
73

Cada nova técnica não apenas conduz a uma nova percepção do


tempo. Ela também obriga a um novo uso do tempo, a uma
obediência cada vez mais estrita ao relógio, a um rigor de
comportamento adaptado ao novo ritmo. Veja-se o exemplo das
estradas de ferro. Na França, antes de sua introdução, cada
localidade tinha sua própria hora. Para permitir a operação
combinada das linhas, a ferrovia obrigou à instalação de um horário
unificado (SANTOS, 2006, p. 121).

O movimento de unificação, que corresponde à própria natureza do


capitalismo, se acelerou para hoje alcançar o seu ápice, com a predominância, em toda
parte, de um único sistema técnico, base material da globalização. Com a emergência
do meio técnico-científico-informacional, o atual sistema técnico se tornou comum a
todas as civilizações, culturas e sistemas políticos, a todos os continentes e lugares,
mesmo que sua difusão e inserção ocorram em escalas desiguais.

Cada período vê nascer uma nova geração técnica que o caracteriza.


Esse novo subsistema, por se mostrar mais eficaz que os demais,
emerge como um subsistema hegemônico. No passado, os
respectivos sistemas hegemônicos não dispunham de um alcance
global, podendo estar ausentes em certos países ou em certas
regiões. Hoje estes sistemas técnicos tornam proporções globais, não
mais sistemas técnicos locais, e sim globais, se tornam “uma
unicidade técnica” (SANTOS, 2006, p. 125).

O outro lado de toda esta “unicidade técnica” é a possibilidade que Santos


(2006, p. 128) chamou de “unicidade dos momentos”, proporcionada, como já
mencionado, pelo avanço das TICs que são subsidiadas pelo ganho do espaço e das
potencialidades promovidas pelos satélites. Para os satélites, as distâncias são
irrelevantes do ponto de vista analítico e transmissional, cada ponto tem a mesma
distância dos outros, o que proporciona convergências comunicacionais de tempo-
espaço simultâneas.
A informação ganhou a possibilidade de fluir instantaneamente,
comunicando a todos os lugares, sem nenhuma defasagem. Presentes nos meios de
transportes as TIC contribuíram pela maior velocidade e segurança nos deslocamentos
das pessoas. Sem esta realidade não haveria um sistema técnico universalmente
integrado, nem sistemas produtivos e financeiros transnacionais, nem informação
74

geral mundializada, nem trabalho simultâneo à distância, e o processo de globalização


seria impossível.
Através de um sistema de comunicação global vivemos uma situação de
comunicação generalizada e também global, a distância não é mais um fator de
isolamento comunicacional. É desse modo que a noção de tempo real ganha
substância, trazendo à vida social e política, mas, sobretudo, aos negócios, novos
pontos de apoio. O uso adequado e preciso do tempo e do espaço multiplica a eficácia
dos processos e o poder das firmas capazes de utilizar essas novas possibilidades
(SANTOS, 1985; HARVEY, 1989; LÉVY, 1990; CASTELLS, 1999).
A construção de todo esse imenso sistema técnico baseado principalmente
nas TICs - presente em todos os equipamentos tecnológicos atuais - convergiu para um
novo estágio de integração técnica. Essa integração resultou na criação de um novo
espaço, construído dentro do espaço geográfico, instaurado no tecnocosmos e que
têm em sua composição e força vital a instantaneidade e principalmente os fluxos, o
ciberespaço.

A construção de um espaço digital e de fluxos

O conceito de ciberespaço surgiu muito tempo depois de a Internet ter


sido criada, em 1969, nos Estados Unidos. Segundo Dodge & Kitchin (2001), em seu
livro “Atlas of Cyberspace”, o termo ciberespaço significa literalmente "espaço
navegável" e é derivado da palavra grega Kyber (Navegar).
Entretanto, foi em um livro de ficção científica – Neuromancer4em (1984),
de Willian Gibson - que o termo surgiu como relativo ao navegável, o espaço digital das
redes computacionais acessíveis a partir de um computador, e a partir disso começou
a ser apropriado por diversos ramos da ciência, e a Geografia foi um deles.

4
O romance examina os conceitos da inteligência artificial, a realidade virtual, a engenharia genética, as
corporações multinacionais esmagando a tradicional relação de nação-estado, e o ciberespaço muito
antes que estas ideias se tornassem alvos de discussões. O ciberespaço de neuromancer (1984) é um
espaço de dados, um mundo vasto nos fios conhecido como a matriz, onde existem empresas
transnacionais de comércio em informações em um espaço eletrônico de visual cartesiano. Nele, os
dados residem nas coloridas formas arquitetônicas, em um espaço da imaginação e interação. O
ciberespaço, como Gibson descreve, é um espaço de rede conectando os armazenamento e fluxos de
dados digitais que podem ser acessados e interagidos através de um computador conectado a rede.
75

Ciberespaço. Uma alucinação consensual experimentada diariamente


por bilhões de operadores legítimos, em todas as nações, por
crianças que estão sendo ensinados conceitos matemáticos [...]. Uma
representação gráfica de bancos de dados abstraídos de todos os
computadores do sistema humano. Complexidade impensável. Linhas
de luz variam no vácuo do mente, aglomerados e constelações de
dados. Como luzes da cidade, se afastando (GIBSON, 1984, p. 67).

A partir do documentário intitulado “Through the Looking Glass: Beyond


User Interfaces”, de 1989, que tinha por intuito propor “porta de entrada para o
ciberespaço”, teve-se um passo inicial para se pensar o tema e propostas para estudos
a respeito das potencialidades que o conceito viesse a permitir (DODGE & KITCHIN,
2001).
Posteriormente, vários debates se propuseram a dialogar sobre o conceito
de ciberespaço e suas implicações: um “universo paralelo”, segundo Benedikt (1991, p.
15); um “novo tipo de espaço, invisível aos nossos sentidos diretos, um espaço que
pode se tornar mais importante que o espaço físico em si [e que] no topo das camadas,
dentro e entre o tecido do espaço geográfico tradicional", nas palavras de Batty, (1993,
pp. 615-616); “um laboratório metafísico, uma ferramenta para investigar nosso
próprio senso de realidade”, conforme nos diz Heim (1993, p. 83); “suporte da
inteligência coletiva”, para Lévy (1999, p. 29); “uma ágora eletrônica global em que a
diversidade da divergência humana explode em uma cacofonia de sotaques”, de
acordo com Castells, (2003, p. 115); e, finalmente, “apenas outro meio de expressão”
para Koepsell (2004, p. 15).
Assim, o ciberespaço, espaço cibernético ou espaços de fluxos5, tornou-se
uma dimensão cada vez mais importante para o entendimento do conceito de
espacialidade dentro da geografia, precisamente pelas novas condições criadas por ele
para as formas e dinâmicas dos espaços humanos criados na superfície do planeta.

O espaço cibernético é apenas uma das redes que se encontram


entrançadas entre si; mas ele é, crescentemente, a via vital ou infovia
e se tem constituído num privilegiado foco de reflexão para aqueles
que procuram problematizar as distâncias e as relações espaciais na
superfície do planeta nas duas últimas décadas, especialmente nos

5
Existe uma polissemia e até mesmo redundância para definir no geral o que pode ser considerado a
mesma coisa. Várias ocorrências são encontradas para o conceito: espaços de fluxos, ciberespaço,
espaço cibernético, espaço virtual, espaço tecnológico.
76

anos 90. Não estamos mais diante das mesmas redes do


mercantilismo e da sociedade industrial. Crescentemente as relações
financeiras, industriais, agrícolas, comerciais, a produção cultural, a
educação, a política, as relações pessoais e privadas, a ciência e
tecnologia e muitos outros aspectos da vida passaram a acontecer
por meio de um espaço de fluxos e estoques planetários, e de forma
tão dominante que se fala num meio ambiente digital, que é uma
rede (network), com seus sites (sítios) (BARROS, 2003, p. 12).

A Geografia como ciência possibilita um viés analítico de interpretação e de


profícuo debate do ciberespaço, a partir do conceito de espaço geográfico enquanto
reflexo, e condição das práticas sociais. Nesta perspectiva podemos dizer que o
ciberespaço é uma projeção do espaço geográfico, porém, com uma geografia
diferente do mundo físico que, enquanto escala de análise ainda é impreciso.
Sua construção, projeção e fluidez, é resultado de impactos e necessidades
criadas no espaço geográfico, sobretudo no que compete a conexão e comunicação
das pessoas e da fluidez dos mais variados tipos. Sua existência enquanto dependente
do espaço geográfico destaca-se a cada vez mais indispensável de estrutura
tecnológica fixa, móvel, formada por conjunto de cabos de fibra ótica ou telefone,
pontos de presença, pontos de acesso ebackbones, ligados a várias redes LAN ou a um
único computador, que permite os fluxos de bytes.
Ter acesso ao ciberespaço é afinal, ter acesso a uma infraestrutura que, no
caráter de rede técnica, pouco difere de outras como a viária, de água, esgoto ou
drenagem: é formada também por uma trama de nós e linhas, pela qual é possibilitada
a circulação de algo que se quer distribuir. E que como tal não é acessível a todos, pelo
menos não na mesma intensidade.
Para Stefik (1996) e Graham (1998), o interessante do ponto de vista dos
geógrafos sobre o crescimento recente de discursos sobre o “ciberespaço” é que
mesmo a própria palavra “ciberespaço”, em si, tem sido dominada por metáforas
espaciais e territoriais. O que nos remete o entendimento de que o espaço geográfico
é fundamental na compreensão das dinâmicas apresentadas pelo ciberespaço.

A léxica expansão da Internet, o veículo mais bem conhecido do


ciberespaço, não é apenas repleto, mas na verdade, constituído pela
utilização de metáforas geográficas. Debates sobre a Internet que
usam metáforas espaciais para ajudar a visualizar o que são,
efetivamente, não mais do que os fluxos abstratos de sinais
77

eletrônicos, codificados como representação, informação e


intercâmbio. Um nó de satélite torna-se um teleporte. Um sistema de
quadro de avisos torna-se uma comunidade virtual ou um bairro
eletrônico. Web sites geridos por municípios tornam-se cidades
virtuais (GRAHAM, 1998, p. 166).

Tais metáforas espaciais ajudam a tornar tangíveis os sistemas


extremamente complexos, misteriosos e tecnológicos que sustentam a Internet e
outras redes, e a gama crescente de transações, interações sociais, culturais e
intercâmbios de força de trabalho, dados, serviços, dinheiro e das finanças e de fluxos
ao longo deles.
Estes podem, por implicação, de alguma forma serem imaginados
semelhantemente ao material e espaços sociais e os lugares da vida cotidiana. Na
verdade, tais metáforas espaciais são comumente relacionadas, geralmente através de
oposições binárias simples, para o diretório dos “espaços reais”, materiais e locais em
que a vida diária se limita, o espaço vivido e construído (LEFEVBRE, 1984, SANTOS,
1985).
Sawhney (1996, p. 293), por exemplo, argumenta que a estratégia de
desenvolvimento de metáforas espaciais é “talvez a única ferramenta conceitual que
temos para a compreensão do desenvolvimento de uma nova tecnologia”. Porém, as
metáforas que se tornam associadas às tecnologias de informação, processamento e
comunicação são como as representações em torno da produção material e social do
espaço e do território: ativas construções ideológicas (LEFEBVRE, 1984).
Conceitos como a “sociedade da informação” têm papeis importantes na
formação das maneiras como as tecnologias são socialmente construídas, nos usos que
delas são feitos, e nos efeitos e relações de poder que cercam o seu desenvolvimento.
Metáforas também incorporam conceitos normativos de como as TICs são usadas e
como elas se tornam representantes de expressões e comportamentos das sociedades.
Entretanto, boa parte do referencial teórico que aborda o conceito do
ciberespaço na maior parte do tempo é vago. No geral, acaba-se construindo uma
visão limitada, onde o ciberespaço é exclusivamente sinônimo de internet, ou vem
sendo indevidamente tratado como dimensão virtual ou realidade virtual cuja
natureza é “não territorial”, “pós-orgânico”, “imaterial”, “anti-espacial”, ensejando
78

inúmeros equívocos, mitificações e imprecisões. Entretanto, internet e realidade


virtual são apenas uma parte do ciberespaço.
A imaterialidade existente no ciberespaço só existe em face da
materialidade existente no espaço físico, no espaço geográfico; ela depende
exclusivamente dos objetos fixos e móveis para sua própria existência. Servidores que
armazenam dados de virtualidades são fisicamente construídos, verdadeiros sistemas
de objetos de informação estrategicamente montados para atender esta demanda. A
imaterialidade existente no ciberespaço depende fundamentalmente do meio técnico-
científico-informacional.
Uma parte significativa dos fluxos promovidos no ciberespaço, tendem a
seguir a mesma lógica dos fluxos humanos encontrados e realizados no espaço
geográfico, mesmo com as perspectivas das infovias digitais. Ou seja, boa parte da
noção comunicacional e informacional segue uma lógica bem estabelecida no espaço
produzido cotidianamente.
A ideia de “não territorialidade”, muitas vezes destacada, parece-nos um
equívoco, pois – ao contrário do que ela defende - revelam-se, sim, no ciberespaço
diferentes territorialidades, as quais, de acordo com Haesbaert (2004), traduzem-se na
redefinição dos espaços que passam a incorporar dimensões materiais e ou simbólicas.
Desse movimento, resultam territórios físicos, virtuais, políticos e culturais, dentre
outros, possibilitando a vivência de multiterritorialidades, em um contexto em que se
permite

[...] pela comunicação instantânea, contatar e mesmo agir sobre


territórios completamente distintos do nosso, sem a necessidade de
mobilidade física. Trata-se de uma multiterritorialidade envolvida nos
diferentes graus daquilo que poderíamos denominar como sendo a
conectividade e/ou vulnerabilidade informacional (ou virtual) dos
territórios (HAESBAERT, 2004, p. 345).

Procurando desmitificar o uso consagrado pelo senso comum do termo


ciberespaço, Koepsell (2004, p. 15) afirma que estas incorreções são originárias de
questões ontológicas pertencentes a todos os fenômenos mediados pela tecnologia do
computador, sugerindo que
79

O termo “ciberespaço” referir-se-á ao conjunto de transações de


informação e comutadores 6 que ocorrem dentro e entre os
computadores por meio desses comutadores. O e-mail existe e
move-se no ciberespaço. A realidade virtual existe e ocupa o
ciberespaço. Transações financeiras ocorrem de forma crescente no
ciberespaço (KOEPSELL, 2004, pp. 25-26).

Logo, o ciberespaço não poderia se resumir meramente à internet, ele é


mais do que isso, ele é a junção de todo o sistema tecnológico atual conectado por
ondas, cabeamentos, fluxos, roteadores, hardwares, softwares e plugs que permitem a
criação de um sistema digital dinâmico, interligado, onde atividades, processos,
informações, acessos, contatos e uma infinidade de perspectivas que podem ser
realizadas de múltiplas formas, sob múltiplos objetos, múltiplos olhares e lugares, e
todos ao mesmo tempo.

O ciberespaço não compreende apenas materiais, informações e


seres humanos, é também constituído e povoado por seres
estranhos, meios textos, meio máquinas, meio atores, meio cenários:
os programas. Um programa, o software, é uma lista bastante
organizada de instrumentações codificadas, destinadas a fazer com
que um ou mais processados executarem uma tarefa. Através dos
circuitos que comandam os programas interpretam dados, agem
sobre informações, transforma outros programas, fazem funcionar
computadores e redes. Acionam máquinas físicas, viajam,
reproduzem-se etc (LÉVY, 1999, pp. 41-42).

A construção do ciberespaço é fruto da união de um sistema de objetos


(infraestruturas móveis e/ou fixas) interligados, amparados e operacionalizados pelas
tecnologias de comunicação, processamento e informação que promovem e auxiliam
os fluxos de informações, dados... e a integração e promoção de ações.
Estas infraestruturas são muitas vezes consideradas invisíveis porque, ao
contrário de estradas ou ferrovias, elas são enterradas, serpenteadas através do
oceano, andares, escondidas dentro de condutas de parede, invisíveis ou flutuando em
órbita acima nós. Dada a sua invisibilidade, é fácil supor que a infraestrutura do
ciberespaço é quase tão impalpável e virtual como a informação e comunicação que
ele suporta.

6
Um comutador ou switch é um dispositivo utilizado em redes de computadores para reencaminhar
módulos (frames) entre os diversos nós. A função tecnológica também é utilizada para designar certos
comportamentos ou posicionamentos de indivíduos em uma rede.
80

No entanto, a infraestrutura tem uma presença física que pode ser


mapeada, visivelmente vista e fixada no espaço geográfico “tecnicizado”,
componentes efetivos do meio técnico-científico-informacional. Cabos de
comunicação submarinos que ligam os continentes têm sido estabelecidos desde 1860.
Na década de 1990, sua capacidade foi aumentada com os avanços na tecnologia de
fibra óptica. Um único fio de cabo7 de fibra óptica pode transportar grandes volumes
de dados8.
A parte física que compõe o ciberespaço aponta para uma distribuição
geográfica desigual em todo o mundo. Assim como uma estrutura desigual. Com
efeito, é importante perceber que a localização, densidade e extensão de toda
infraestrutura nos fornece informações importantes sobre determinantes essenciais
no que diz respeito ao acesso ao ciberespaço, custo, velocidade, capacidade de
conexão, por exemplo.

O prefixo “ciber” que atua como predicativo do espaço e da cultura


que decorrem do suporte digital não os distingue com clareza no
sentido de indiciar hierarquia ou relações entre eles. Entretanto,
ambos e, sobretudo a cibercultura, parecem ser credores de um
capital cognitivo que transforma a tecnologia digital em um meio
comunicativo que promove interfaces, interatividades e longínquas e
duvidosas, porém possíveis, inclusões sociais, políticas e culturais
(FERRARA, 2008, p. 61).

O ciberespaço engloba uma enorme base de fluxos com várias


possibilidades de ações e agregação de pessoas: inúmeros grupos da Usenet, listas de
discussões, sites de publicidade, de empresas, sites especializados, de multiusuários,
web conferências, mensagens instantâneas, redes digitais, intranets corporativas,
comunidades virtuais e fluxos cada vez mais sofisticados de mídia e vídeo, grupos de
trabalho. O ciberespaço é a expressão tecnológica do “espaço de fluxos” mencionado
por Castells (1999).

7
Os cabos de fibra ótica consistem em grandes feixes de fibra ótica alojada dentro de uma proteção
envolta em aço, e podem, assim, realizar grandes volumes de dados na velocidade da luz. Isto levou a
um rápido crescimento em capacidade de comunicação total entre os continentes.
8
O cabo TAT-14 inserido no Atlântico Norte em 2000, por exemplo, pode transportar o equivalente a
9,7 milhões de conversas telefônicas simultâneas por segundo.
81

Apocalípticos e integrados são nomes que parecem corresponder ou


são lembrados para designar a realidade atual vinculada à
emergência da cultura que caracteriza o ciberespaço como
decorrência da Internet, entendida como meio comunicativo matriz e
da qual decorrem redes, blogs, chats, fotologs, sites, e os novos
dispositivos móveis. Todos esses nomes constituem meios
comunicativos com distintas atuações, mas eclodem no e a partir
daquele espaço (FERRARA, 2008, p. 61).

As muitas infraestruturas de telecomunicações concorrentes apoiam os


sistemas globais de máquinas de caixas privados automáticos, redes de cartão de
crédito, sistemas de compensação eletrônica, tele saúde, televendas e tele banco,
logística global, monitoramento remoto, back office e de televendas, os fluxos de
intercâmbio eletrônico de dados, transações financeiras eletrônicas, os fluxos do
mercado de ações, bem como de dados e fluxos de telefonia. A estes, somam-se
sistemas especializados de satélite, banda larga, TV a cabo e radiodifusão, com apoio
crescente às matrizes de fluxo de televisão.

O ciberespaço é definido como o espaço de comunicação aberto pela


interconexão mundial dos computadores e das memórias dos
computadores. [...] O termo especifica não apenas a infraestrutura
material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de
informações que ela abriga, assim como os seres humanos que
navegam e alimentam esse universo (LÉVY, 1999, p. 17).

Nele, relacionamentos em suas mais variadas facetas, podem ser


multiplicados gerando novas formas dinâmicas organizacionais. Lévy (2000) destaca
que no ciberespaço cada pessoa pode se tornar uma emissora, o que obviamente não
aconteceria nas comunicações feitas em mídias como o rádio ou a televisão.
Nelas, a multiplicidade de receptores se limita ao esquema Um x Todos
(com apenas um dos dois agentes enviando informações em face da passividade do
outro). No telefone convencional ou telégrafo, por exemplo, seria Um x Um (onde
ambos interagem, trocam informações, mas mesmo assim existe uma enorme
limitação). Já o ciberespaço introduz um novo tipo de interação: Todos x Todos (com
múltiplas e infinitas possibilidades simultâneas) (LÉVY, 2000).
82

Assim, o ciberespaço como um grande sistema eletrônico da sociedade


atual, é prático, interativo, conectado, instantâneo e se traduz como grande conector
de mundos e momentos por meio de suas redes e nós.

O computador não é mais um centro, e sim um nó, um terminal, um


componente da rede universal calculante. Suas funções pulverizadas
infiltram cada elemento do tecnocosmos. No limite, há apenas um
único computador, mas é impossível traçar seus limites, definir seu
contorno. É um computador cujo centro está em toda parte e a
circunferência em lugar algum, um computador hipertextual,
disperso, vivo, fervilhante, inacabado: o ciberespaço em si (LÉVY,
1999, p. 45).

O ciberespaço é, assim, uma projeção do espaço geográfico, potencializado


no seio do meio técnico-científico-informacional como expressão da atual sociedade
em rede. É nele que são estabelecidas as várias interconexões mundiais espalhadas
pelos vários dispositivos tecnológicos presentes no globo.
Nele permitimos fazer coisas velhas de novas formas, e modificarmos
significativamente nossas dimensões tempo espaciais em relação a quem conectamos
ao que transferimos e como nos comunicamos. Permitindo a construção de inúmeras
redes potencializada, mediadas e possibilitadas pelos aspectos eletrônicos.

As atuais perspectivas de comunicação e conexão mediante o


ciberespaço

A reflexão sobre os atuais contornos das redes (ancorada na estrutura


tecnológica e informacional) aponta diretamente para a concepção da sociedade em
rede de Manuel Castells, segundo a qual a sociedade moderna é caracterizada pela
predominância da forma organizacional da rede em todos os campos da vida social
(CASTELLS, 1999; 2001; 2003).
Conforme a interpretação de Castells (1999; 2006), os grupos sociais mais
poderosos adaptam-se de maneira cada vez melhor às novas condições da sociedade
da informação, utilizando as novas potencialidades abertas pela globalização e pelo
acesso às novas TICs em prol da consolidação de suas identidades grupais e do
83

fortalecimento de sua capacidade de agir em um mundo cada vez mais


interdependente e dinâmico.

A sociedade em rede, em termos simples, é uma estrutura social


baseada em redes operadas por tecnologias de comunicação e
informação fundamentadas na microeletrônica e em redes digitais de
computadores que geram, processam e distribuem informação a
partir de conhecimento acumulado nos nós dessas redes (CASTELLS,
2006, p. 20).

Não só atores hegemônicos, mas quase9 toda a sociedade adquire novas


formas de organização social que emergem a partir das redes estabelecidas via
ciberespaço. A internet é sempre destacada como o fator mais expressivo em torno
desse imenso sistema tecnológico como grande facilitadora, embora não seja a única.

Com a internet, a globalização e a consequente massificação dos


meios de transportes e comunicações, mais e mais pessoas se
conectam, estabelecem laços e se comunicam. Mas também se
descobre que as conexões são fenômenos recorrentes e quase
“naturais” que existem, portanto desde sempre. O que significa que
estão em todo lado, onde existirem pessoas, as redes se fazem
presentes (FONTES, 2012, p. 21).

As redes atualmente estão mediadas principalmente e em até certo ponto


no ciberespaço devido ao fato de ela possibilitar aceleração e ampla divulgação das
ideias, além da absorção de novos elementos em busca de algo em comum. As redes
no ciberespaço são as relações entre dois ou mais indivíduos na comunicação mediada
por inúmeros objetos tecnológicos interligados pela internet, ondas, fluxos,
infravermelhos, wi-fi etc.
Portanto, as tecnologias como expressão técnica humana proporcionam
novas formas de ação e interação, mas não são os únicos veículos de conexão; as
próprias redes de vizinhança são um bom exemplo de redes que não dependem
exclusivamente da tecnologia para existirem ou mesmo para funcionarem. Muito

9
Quase toda por que nem todos os espaços e grupos sociais foram incluídos pela Globalização, nem
todos os aspectos tecnológicos derivados da atual realidade são difundidos igualmente pelo mundo e
em alguns casos existe significativo controle do seu acesso.
84

embora, a tecnologia forneça uma nova dimensão temporal para todos os tipos de
conexões humanas.
Para Castells (1999), Loumieux (2000) e Portugal (2007), as razões do
sucesso da utilização do conceito de rede, fundamentalmente, estariam ligadas ao
desenvolvimento das tecnologias de informação, processamento e comunicação,
possibilitando a existência de conexões onde antes havia isolamento. Para Castells
(2006, p.18), “as redes de comunicação digital são a coluna vertebral da sociedade em
rede, tal como as redes de potência (ou redes energéticas) eram as infraestruturas
sobre as quais a sociedade industrial foi construída”.
Porém, como aponta Castells (2006, p. 17), “a tecnologia é condição
necessária, mas não suficiente para a emergência de uma nova forma de organização
social baseada em redes, ou seja, na difusão de redes em todos os aspectos da
atividade na base das redes de comunicação digital”, a base cultural, econômica e
política emergente são elementos significativos em toda essa realidade.
Neste contexto, o paradigma do ciberespaço é a base material – sistema de
objetos – para a expansão penetrante de redes tecnológicas na estrutura social da
sociedade contemporânea. Embora as redes sejam formas antigas de conexão
humana, como já citado anteriormente, “elas tomaram uma nova forma, nos tempos
atuais, ao transformarem-se em redes informacionais, revigoradas pela internet”
(CASTELLS, 2001, p. 1).
Como expressão do espaço geográfico, o ciberespaço padece de
antagonismos semelhantes aos existentes na vida material, não sendo, assim,
exclusivamente comunicacional. Desta forma, na construção e no acesso de redes não
poderia seria diferente: “As redes constituem a nova morfologia social de nossas
sociedades, e a difusão da lógica de redes modifica de maneira substancial a operação
e os resultados dos processos produtivos e de experiência, poder e cultura” (CASTELLS,
1999, p. 497).
As novas redes não apenas distribuem poder, mas também tornam
possível a disseminação de novas e diferentes formas de poder: senhas, servidores,
firewalls, grupos formados apenas por convidados, grupos privados e restritos, redes
de citações, link, redirecionamentos; são todas novas formas de poder criados no
ciberespaço que têm impactos no espaço geográfico e vice versa, afinal, estas
85

questões tendem a determinar aspectos da vida social, política, cultural e econômica.


Grupos humanos estabelecidos por elas incorporam e criam estas mesmas práticas
cotidianamente.
Assim, conforme Tinland (2001, p.263), as redes estruturam, à sua
maneira, o campo de forças das relações de cooperação e de antagonismo que estão
presentes na sociedade humana. As redes “são, de fato, instrumentos de poder e de
rivalidades para seu controle. Elas são suscetíveis (...) de funcionar como instrumentos
de integração e de exclusão, na linha direta dos processos de diferenciação”.
No entanto, mesmo com estas questões - que são característica de
qualquer tipo de rede –, no ciberespaço potencializa-se a fluidez, circulação e acessos
imateriais que facilitam relacionamentos transversais e comunicações mais rápidas,
logo, diversas “fronteiras são permeáveis, interações acontecem com diversos outros,
conexões mudam entre múltiplas redes e hierarquias podem ser reduzidas e recursivas”
(WELLMAN, 2001, p. 227).
Ou como aponta Frey (2003, p. 177),

E, de fato, enquanto as instituições territoriais tradicionais são mais


hierárquicas e rígidas, a internet tende a privilegiar modos de
relacionamento transversais e estruturas mais fluidas, em maior
sintonia com as estruturas de redes, que caracterizam os processos
sociais e políticos nas sociedades democráticas modernas.

Neste sentido, esperam-se efeitos positivos e significativos das redes


sociais em meio ao ciberespaço, não só aqueles produzidos para os grandes atores
hegemônicos, mas nos campos sociais e políticos. Entretanto, estas devem ser
analisadas com cautelas, os benefícios comunicacionais e informacionais das infovias
tecnológicas servem e contribuem até determinado ponto ou a determinado
propósito.
Isso implica em refletirmos que os impactos proporcionados pelo
ciberespaço na conexão e comunicação devem ser relativizados sobre contextos
específicos. Da mesma forma que as redes não são iguais, os agentes que usam delas
também não, como não são seus objetivos e os espaços distintos a que seus membros
estão inseridos.
86

Entretanto, não há como negarmos que as infovias digitais forneceram


novos subsídios na comunicação e transmissão de informações entre várias pessoas
distribuídas em espaços diferentes. Em até dado momento comunicar-se, trabalhar e
transferir informações neste meio se torna significativamente profícuo.
Assim, Castells (2001, p.5) acredita “que a internet é um instrumento
fundamental para o desenvolvimento do Terceiro Mundo” diante das possibilitadas por
ela permitidas:

Alega-se que as redes são capazes de proporcionar resultados que


normalmente só o mercado ou as hierarquias são capazes de
produzir, apresentando porém vantagens adicionais. Em redes pode
ocorrer todo tipo de troca sem os seus membros serem expostos às
incertezas e riscos das transações de mercado. As redes facilitam um
comportamento coordenado, sem a necessidade de aceitar a rigidez
de organizações inflexíveis e burocráticas. A rede mostra-se como a
única estrutura de ação capaz de cumprir duas funções básicas:
primeiro, a função estratégica de reduzir as incertezas com relação
ao comportamento de outros atores, como competidores ou
parceiros; segundo, a função instrumental de melhoria do
desempenho, isto é, um aumento dos resultados produzidos. Além
disso, as redes parecem preservar a autonomia dos parceiros e
aumentar sua capacidade de aprendizagem (FREY, 2003, p. 175).

De acordo com o tipo de rede, e o objetivo da atividade a ser desenvolvida,


a instantaneidade e praticidade proporcionada a atuação de vários atores em vários
níveis transversais em uma mediação tecnológica deve ser considerada como
importante suporte tele comunicacional.
Web conferências, suporte para mensagens instantâneas, download,
anexação de arquivos, disponibilidade de tutoriais, fóruns de dúvidas, grupos de
torrentes, formação de grupos10 virtuais para debates e transferência de informações,
contribuem significativamente em determinados momentos do trabalho em rede e o
acesso de informações.

10
Neste contexto, muito tem se falado também na concepção criada por Derek J. Solla Price, em 1963,
em seu trabalho Big science, little Science sobre os “colégios invisíveis”, ou mesmo da atual
determinação derivada do ciberespaço: os “colégios virtuais”. Entretanto, a presente pesquisa não
pretende seguir por esta linha de raciocínio, e esta própria abordagem deixa algumas dúvidas, como as
expressas no trabalho Academic communication and internet discussion groups: their spread, use and
“survival” within academic communities, de Uwe Matzat, de 2001.
87

Não há dúvidas de que as redes eletrônicas transformam as


dimensões de tempo e espaço. A informação é transmitida em tempo
real e pode-se estabelecer contatos imediatamente,
independentemente da distância espacial. A comunicação em rede
garante, em princípio, um acesso universal, confortável, não-filtrado
e de baixo custo a informações e processos políticos. Entretanto, o
potencial democrático específico da internet baseia-se em sua
estrutura não-hierárquica e cibernética que, em princípio, favorece a
interatividade (FREY, 2003, p. 177).

As redes eletrônicas digitais podem ser simultaneamente, adaptáveis e


hibridas graças à sua capacidade de descentralizar o seu desempenho e conectividade
ao longo de uma rede de componentes autônomos, enquanto se mantêm as
capacidades de coordenar todo o processo de determinada atividade de forma
descentralizada, com a possibilidade de partilhar a tomada de decisões em vários
pontos por uma parcela do grupo ou todo ele, em momentos distintos ou simultâneos,
dinamizando os resultados e procedimentos metodológicos de processos de trabalho.
Em uma web conferência, por exemplo, uma pessoa envia uma mensagem
a dezenas ou centenas de outras. Entre estas, algumas respondem. Depois, outras
respondem àquela resposta e assim por diante. Como todas essas as mensagens são
registradas, sedimenta-se, assim, progressivamente uma memória, um contexto do
grupo de discussão. Esse contexto comum, não hierarquizado, em vez de vir de um
centro emissor central e exclusivo, emerge da interação entre os participantes. Todos
os nós de uma continuidade conectada participam igualmente nessa rede eletrônica.

Ora, o ciberespaço abriga milhares de grupos de discussão (os news


groups). O conjunto desses fóruns eletrônicos constitui a paisagem
movediça das competências e das paixões, permitindo assim atingir
outras pessoas, não com base no nome, no endereço geográfico ou
na filiação institucional, mas segundo um mapa semântico ou
subjetivo dos centros de interesse. O endereçamento por centro de
interesse e a comunicação todos-todos são condições favoráveis ao
desenvolvimento de processos de inteligência coletiva (LÉVY, 1998, p.
44).

Atores têm a oportunidade de conectarem as suas redes


instantaneamente, vislumbrando sons, imagens e interagindo todos ao mesmo tempo.
Os membros não são apenas nomes, ou “atores inanimados” em uma teia de contatos.
Ao contrário das conexões estabelecidas pelo telégrafo, por exemplo, onde os nós da
88

rede eram apenas pontos em uma continuidade geográfica, as redes no ciberespaço


permitem a construção e transmissão de inúmeras particularidades sociais - os pontos
já não são mais pontos, são pessoas - e até certo ponto a transmissão desses aspectos
ajuda significativamente na manutenção da interatividade por todos os nós.

A comunicação de mão dupla, que se torna possível na internet,


contrapõe-se à comunicação de mão única, que prevalece nos meios
de comunicação de massa. Enquanto, por exemplo, na televisão os
debates públicos são conduzidos em geral pelos líderes de opinião,
sem uma participação ativa dos cidadãos comuns, surgem com a
internet novas possibilidades de criação de uma esfera pública
interativa, um tipo de “ágora eletrônica” (ROESLER, 1997, p. 182).

Consequentemente, com a comunicação de mão dupla, multiplamente


interativa proporcionada pelo ciberespaço, acredita-se que as redes facilitem o acesso
à informação e ao conhecimento codificado, não só ao acesso, como a troca
dependendo das circunstâncias.
A imprensa, a edição, o rádio e a televisão funcionam segundo um
esquema em estrela, ou “um para todos”. Um centro emissor envia mensagens na
direção de receptores passivos e, sobretudo, isolados uns dos outros. Mas não há
reciprocidade nem interação (ao menos no interior do dispositivo) e o contexto é
imposto pelos centros emissores (LÉVY, 2008).
O emissor acaba tendo um papel central na transmissão de informação não
pela capacidade de interação com os vários indivíduos, mas pela incapacidade deles
interagirem, se expressarem e, consequentemente, se transformarem em emissores
também. Como mostrado na figura nº 1 a seguir:
89

Figura nº 1: Um emissor para vários receptores passivos

Fonte: Elaboração própria com base em Lévy (2008).

O correio e o telefone desenham um esquema em rede, ponto a ponto,


“um para um”, no qual, ao contrário da mídia tradicional, as mensagens podem ser
endereçadas com precisão e, sobretudo, trocadas com reciprocidade. Entretanto, este
esquema em rede não cria comunidade ou “público”, pois a partilha de um contexto
em escala é significativamente difícil e o tempo de espera entre uma troca e outra, às
vezes, pode ser longo ou pouco difuso. E apenas dois elementos – um em cada ponta -
interagem no mesmo momento, como mostrado na figura nº 2.

Figura nº 2: Emissor / Receptor: ponto a ponto

Fonte: Elaboração própria com base em Lévy (2008).

Já o ciberespaço combina vantagem dos dois sistemas anteriores,


permitindo ao mesmo tempo a reciprocidade na comunicação e a partilha de um
contexto entre os vários membros da rede que o utilizam. Permitindo, assim, bem
mais atores que no formato de rede ponto a ponto, como mostrado na figura nº 3.
90

Figura nº 3: Vários emissores e receptores ativos na mesma rede

Fonte: Elaboração própria com base em Lévy (2008).

A troca de informação, o aprendizado em alguns setores pode ser bem


mais produtivo, não só pela quantidade de pessoas conectadas, mas pela velocidade
com que estas informações podem chegar aos vários pontos, desde que estes estejam
bem conectados. O ponto neste caso é que, estas perspectivas mesmo que não
atinjam a todos os tipos de redes e a todos os tipos de circunstâncias ainda se tornam
significativamente construtivas em dados momentos, e não que não existiriam sem as
infovias tecnológicas.

[...] o conhecimento dos canais de comunicação e do posicionamento


de um ator em uma rede pode contribuir para um melhor
aproveitamento dos fluxos de informação nela contidos, visto serem
as redes sociais caracterizadas por um conjunto de interações entre
indivíduos e, por meio destas interações, poderem-se distinguir
padrões de relacionamentos entre seus membros (RODRIGUES &
TOMAÉL, 2008, p. 17).

A quantidade de atores em redes eletrônicas mediadas pelo ciberespaço,


além de poder alcançar um nível de instantaneidade indefinido, estes podem se
conectarem por determinado tempo apenas com aqueles que momentaneamente
sejam importantes, sem que sejam necessariamente excluídos da rede, os canais de
transmissão e trocas: e-mail, servidores, bate papos são enormes.
91

Considerações Finais

A contínua artificialização do meio geográfico, com a inserção contínua de


técnica, ciência e informação na natureza, promoveu o que podemos considerar a
gradativa produção de um novo espaço, um espaço sobre outro espaço. Produziu-se
um espaço digital e de fluxos dentro do próprio espaço geográfico, em que sua
principal essência é a promoção de maior fluidez e circulação.
O ciberespaço é assim compreendido como grande infovia tecnologia e
comunicacional mundial. É por meio dele que os mais diversos fluxos se encontram e
circulam entre os vários pontos distribuídos e criados no mundo. Os fluxos juntamente
com a tecnologia são além de sua base conceitual sua própria sustentação.
Comumente considerado com sinônimo apenas de internet, o ciberespaço
deve ser visto além desse erro conceitual, uma vez que sua concepção e abrangência
vai, além disso, ele é aqui considerado como a junção de todo o sistema tecnológico
atual conectado por ondas, cabeamentos, fluxos, roteadores, hardwares, softwares e
plugs que permitem a criação de um sistema digital dinâmico, interligado, onde
atividades, processos, informações, acessos, contatos e uma infinidade de perspectivas
que podem ser realizadas de múltiplas formas, sob múltiplos objetos, múltiplos olhares
e lugares, e todos ao mesmo tempo.
Mas e o que é internet, então? Ela é resultado e ao mesmo tempo técnica,
mídia, rede, infraestrutura e conteúdo. E ela por sua vez é importante elemento, não
só do ciberespaço mas enquanto infovia e como o espaço geográfico não é só matéria,
ele é relacional também, devemos compreender que os aspectos virtuais da internet e
do espaço geográfico se conectam e se influenciam, mas nunca se sobrepõem.
Portanto, enquanto grande sistema eletrônico da maior parte das
sociedades atuais, o ciberespaço é prático, interativo, interconectado, instantâneo e se
traduz como grande conector de mundos e momentos por meio de suas redes e nós.
Ele é o principal responsável pelos contornos pelas quais as atuais redes eletrônicas
são concebidas e de parte das novas relações entre as pessoas e o espaço.
Suas contribuições são reais, e suas possibilidades são vastas, sua
influencia nos atuais contornos sociais são de significativa relevância, entretanto, sua
análise deve ser concebida com cautela e reflexão sob alguns pontos. O ciberespaço
92

deve ser entendido como projeção do espaço geográfico, potencializado no seio do


meio técnico-científico-informacional e não como um completo substituto, ou espaço
em si, assim como o geográfico.
Da condição de um espaço digital e de fluxos permeado pela junção da
internet e demais tecnologias de informação, processamento e comunicação, destaca-
se a cada vez mais dependente de estrutura tecnológica fixa, formada por conjunto de
cabos de fibra ótica ou telefone, pontos de presença, pontos de acesso de backbones,
ligados a várias redes LAN ou a um único computador que permite os fluxos de bytes.
Ter acesso ao ciberespaço depende, afinal, de uma infraestrutura que, no caráter
de rede técnica, pouco difere de outras como a viária, de água, esgoto ou drenagem: é
formada também por uma trama de nós e linhas, pela qual é possibilitada a circulação
de algo que se quer distribuir.
Ou seja, a imaterialidade e fluidez existente no ciberespaço só existem em
face da materialidade existente no espaço geográfico; ela depende exclusivamente dos
objetos fixos e móveis para sua própria existência. Servidores que armazenam dados
de virtualidades são fisicamente construídos, verdadeiros sistemas de objetos de
informação estrategicamente montados para atender esta demanda.
Uma parte significativa dos fluxos promovidos no ciberespaço,
dependendo do objetivo ou da intencionalidade, tende a seguir a mesma lógica dos
fluxos humanos encontrados e realizados nas rugosidades do espaço geográfico.
Assim, boa parte das perspectivas comunicacionais e informacionais seguem uma
lógica estabelecida no espaço geográfico produzido cotidianamente que não deve ser
negligenciada em face da atual fluidez comunicacional.
93

2ª CONEXÃO

SOBRE REDES, E A PESQUISA


CIENTÍFICA EM REDE.
94

1º Nó

O espaço móvel e integrado: as redes.

“As redes constituem a nova morfologia social de nossas sociedades,


e a difusão da lógica de redes modifica de maneira substancial a
operação e os resultados dos processos produtivos e de experiência,
poder e cultura” (Manuel Castells, 1999, p. 497).
95

2ª CONEXÃO: SOBRE REDES, E A PESQUISA CIENTÍFICA EM REDE

1º NÓ O ESPAÇO MÓVEL E INTEGRADO: AS REDES

Introdução

O termo rede, como destaca Mercklé (2004), goza atualmente de uma


popularidade crescente. Para Musso (2010) o termo chega a ser até mesmo
onipresente e mesmo onipotente nos debates atuais. O grande fato é que, o conceito
é utilizado na linguagem corrente para a definição de uma série de aspectos, objetos,
ações e fenômenos.
Desde a sua utilização inicial, que tinha como objetivo designar os fios e
tecidos usados para entrelaçar os vários nós e linhas das malhas e texturas feitas pelos
artesões no século XII, até os dias de hoje, o termo fora utilizado como designação de
inúmeras metáforas: extensão, deslocamento, ligação, entrelaçamento, controle e
coesão, circulação, fluxo, intercalação, tráfego, topologia, malha, conexão,
conhecimento e representação topológica.
Entre todas as metáforas e designações, duas principais características
sempre estiveram presentes, denotando as reais possibilidades que o conceito de rede
tem a proporcionar, seja em análises metafóricas às mais teórico-metodológicas, a
saber: a circulação e conexão.
E não poderia ser diferente, pois circulação e conexão são as principais
funcionalidades ou qualidades do conceito de rede em suas diversas formas, das redes
hertzianas, ferroviárias, neurais, redes de fluídos, redes viárias, redes de migração, de
transportes, redes telefônicas até as mais variadas redes de infraestruturas
(geográficas) e as redes imateriais, as redes sociais.
De modo breve, simplificado e até mesmo intuitivo, podemos conceituar as
redes de infraestrutura como “toda infraestrutura, simples ou complexa que permite
conexão e o transporte de matéria, de energia ou de informação”, enquanto que as
redes sociais podem ser conceituadas como “um conjunto de pontos traduzidos em
atores, conectados entre si, estes pontos, denominados são nós e são unidos por laços
96

que se estruturam a partir de certas regras e motivações, e tendo sua objetividade


definida pelos seus vários membros.”.
Em ambos os casos, existe, em até certo ponto ou em alguns casos, uma
enorme interdependência para a existência de ambas, isto é, as redes sociais
necessitam das redes de infraestrutura para existirem, sobretudo na forma espaço-
temporal com que são concebidas atualmente; já as redes de infraestruturas são
resultados da necessidade dos homens de se conectarem mais e mais, de
transportarem matéria e informação, traduzidas no resultado de seus esforços
técnicos.
Assim, a evolução técnica teve papel significativo nos desdobramentos
pelos quais as mais variadas redes passaram ao longo dos anos. As redes de
infraestrutura evoluíram para patamares que tornassem os fluxos (materiais e
imateriais) mais fluídos, mais rápidos e eficazes, como consequência da constante
inovação técnica, remarcando e reorganizando novos e velhos recortes espaciais.
Desta forma, as considerações que seguirão neste nó, dando sequência aos
outros dois anteriores, têm por objetivo debater sobre a construção do conceito de
rede e para tal estão divididas em três tópicos: o primeiro deles “a evolução da
construção do conceito de rede” pretende abordar a trajetória da construção do termo
redes em face suas diversas denominações e atribuições. O segundo “O estudo das
redes na ciência geográfica” é uma tentativa de trazer uma abordagem pontual sobre
o debate de redes em face da ciência geografia, destacando assim a influência delas na
análise científica da geografia e vice versa. E por fim, no tópico sobre “as redes sociais”
procura-se debater sobre a construção do conceito de redes sociais em face desta ser
um dos componentes mais importantes do trabalho.
O aporte teórico aqui utilizado é baseado, não exclusivamente, mas
principalmente, na literatura de Santos (1985, 1994, 1996); Barnes, (1987); Raffestin,
(1993); Elias (1994); Dias (1995); Lastres & Ferraz, (1999); Lastres & Albagli (1999); ;
Allen, (2000); Castells (1999, 2006); Buchanan (2002); Barabási (2002); Mercklé (2004);
Molina (2004); Musso (2001, 2003, 2004); Watts (2006; 2009); Portugal (2007); Acioli
(2007); Christakis & Fowler (2010); Matos (2011); Fontes (2012).
97

A evolução da construção do conceito de rede

Para Mercklé (2004, p. 3), o termo "rede" goza atualmente de uma


“popularidade crescente”, é abundantemente usado em linguagem corrente,
acadêmica ou política para designar uma grande variedade de objetos, ações e
fenômenos. No entanto, o termo estaria longe de ser um neologismo: a palavra, antiga
na história, surgiu no início do século XII e, desde então, seus usos são extremamente
instrutivos, pois permitem distinguir claramente os diferentes registros metafóricos
que o conceito já recebeu e continua recebendo.
A palavra rede (résau) só aparece na língua francesa no século XII, vindo do
latim retolus, diminutivos de retis, e do francês antigo résel: a rede designa então
redes de caça ou pesca e tecidos, uma malha têxtil que envolve o corpo. Como aponta
Musso, (2010, p. 18) “fios entrelaçados para os tecidos, os cordéis ou cestas, as malhas
ou tecidos estão em torno do corpo”. No século XVI, o termo résuil no francês antigo
veio designar também os véus e rendas com que as mulheres cobriam a cabeça e,
ainda também o tecido que elas colocavam sobre suas camisas, o sutiã.
Mercklé (2004) faz referência as ocorrências mais constantes e precisas do
termo rede, ao se referir do livro “Le Thresor de la langue française”, de Nicot (1606),
onde é usado termo résau, que significa “tecelões de malha de fios, incluindo redes,
sacos, bolsas”. O livro considerava o termo - originário do latim – como:
“entrelaçamento de linhas”, portanto, referindo-se a um tecido, mencionado nos
séculos anteriores. O uso do dicionário da academia francesa de 1694 define o
vocábulo como uma obra “de linha ou de seda, feitos por pequenas malhas em forma
de redes”, termologia adotada inclusive para a língua portuguesa.
Neste sentido, Musso (2001), ao fazer uma análise metafórica das redes11 e
seu entrelaçamento nos diversos espaços e territórios, menciona que nas técnicas
manuais de tecelagem, a fiandeira produz o tecido (rede) num ritmo contínuo de vai-e-
vem, um movimento circular e cíclico, um símbolo de continuidade e ruptura. Assim,

11
Musso (2001) define três visões metafóricas diferenciadas de rede de acordo com o contexto social da
inserção de cada uma: A rede biometafisica (do tecido); a rede biopolítica (do organismo), acompanhada
da visão lógica e moderna de Saint-Simon; e a rede bioecológica (do cérebro/computador).
98

para o autor, desde a origem a simbologia do tecido é abordada na ambivalência da


continuidade do entrelaçamento e da ruptura e do corte do cinzel12.
Nesta linha de raciocínio, pode-se analisar a rede sob a concepção de
pausa, ou seja, enquanto ruptura que se opõe ao fluxo, geralmente atribuída aos
espaços; e também enquanto movimento, que pode representar os fluxos contínuos
evidentes no último século, decorrentes da mundialização do capital, da revolução
técnica, do transporte das pessoas e das mais variadas mobilidades e integrações.
No século XVII a palavra rede acabou por ser definida para designar a
intersecção das fibras, face ao uso de redes têxteis. Consequentemente utilizou-se o
termo, ainda no mesmo século, em prontuários para designar artérias, veias e o
sistema nervoso. A visão anterior do tecido é transferida para o interior do organismo,
a partir das veias que se comunicam no corpo fluindo de um lado a outro alimentando
organismos vivos.
Em especial, pelos trabalhos do naturalista e médico italiano Marcelo
Malpighi que trás para a ciência o vocábulo rede, até então reservado ao tecido, para
descrever o “corpo reticular da pele”. Muito embora, essa noção, já tenha sido
abordada anteriormente pela medicina de Hipócrates que tratava do fluxo invisível da
circulação dos humores e do arranjo de fluxos e malhas que partem do cérebro.
(MUSSO, 2004).
Em Traité de l'homme (1662), Descartes compara o corpo humano a uma
máquina feita de mangueiras, fibras, fios, artérias, redes pequenas, intestinos, tubos,
de forma que o movimento de sangue no corpo produza uma circulação constante e
intermitente. Para ele os fluxos e conexões do corpo humano, principalmente o
cérebro eram como rendas, uma densa rede de fios entrelaçados.
Descartes, analisa uma zona precisa do cérebro, a glândula de pineal,
afirmando ser este o lugar de passagem das mensagens que vinham do coração, o
meio de comunicação da mente para os demais membros do corpo, uma verdadeira
rede de distribuição.

12
Formão (português europeu) ou cinzel (português brasileiro) é um instrumento manual que possui
numa extremidade uma lâmina de metal resistente muito aguçada em bisel, usado para entalhar ou
cortar (madeira, ferro, pedra etc.), geralmente com auxílio de um martelo. Esse termo vem do latim
popular arcaico "císellus": "cortar".
99

As artérias e veias do corpo humano estariam estendidas como malhas de


tecidos estendidos e conectados como tapeçarias. É nesse momento que se consolida
a ideia do “fluxo”, correspondente ao fluxo sanguíneo que posteriormente se constitui
como alguns dos principais aspectos das redes: fluir e circular.
Assim, as primeiras formas de representação da rede designam caminhos,
convergências, linhas e nós, seja pelas técnicas de tecelagem, seja pelas conexões
interiores ao corpo. Inicialmente, a rede é externa e envolve o corpo; depois as redes
passam a constituir o próprio corpo, passam a fazer parte de sua composição, dão
sentido ao seu funcionamento como a funcionalidade de uma máquina composta de
engrenagens, fios, tubos e conexões de todos os tipos.
A partir de meados do século XVIII, a noção de rede é enriquecida com o
significado de topografia, com a sua aplicação aos métodos de triangulação do espaço
em rede. Em 1750 aproximadamente, o abade de La Caille, professor de matemática,
chama “rede” uma reunião de fios que permite observar as estrelas com uma luneta
astronômica (retículo óptico) (MERCKLÉ, 2004).
Posteriormente os geógrafos e oficiais militares Achille-Nicolas Isnard e
Pierre Alexandre d’Allent em seu Ensaio de conhecimento militar (1802) empregam o
termo rede no sentido de “redes de comunicação” com o objetivo de representar o
território como um esboço de linhas imaginárias ordenadas em rede de modo que
matematicamente contribuísse na construção de mapas (MUSSO, 2004).
Consequentemente, ainda em meados do século XIX, dando sequência a
conhecimentos técnicos produzidos por engenheiros, militares na construção de
infraestruturas e demarcações dos grandes territórios, existe a grande ruptura no
conceito de rede, em que é observada sua “saída” do corpo e dos fios da tecelagem,
que eram até então as duas grandes metáforas.
É também no século XIX que o conceito de rede tem sua maior expansão
em termos, derivações, metáforas e utilização para análise e designar uma série de
fenômenos. É nesse momento também que ela é utilizada por uma série de ramos da
ciência como objeto de estudo, principal e complementar.
Ela, a rede, foi pensada como cristal e depois como grafo. E, sobretudo,
ancorada na matemática e geometria que forneceram conhecimento técnico para uma
100

análise do conceito de rede sobre um aspecto operacional, representada pelas


construções técnicas dos engenheiros sobre o território.
Assim, a rede é objetivada como uma lógica técnica, expansionista,
demarcadora, conectora, promotora do acesso, fluxo e transporte por meio de
infraestruturas itinerárias, estradas de ferro, redes de telegrafia, estradas, caminhos
que atravessavam as regiões, cidades e países modificando a relação com o espaço e
com o tempo.

A rede não é mais apenas observada sobre ou dentro do corpo


humano, ela pode ser construída. Distinguida do corpo natural, ela se
torna um artefato, uma técnica autônoma. A rede está fora do corpo.
O corpo será até mesmo tomado pela rede técnica enquanto se
desloca em suas malhas, no seu território. De natural, a rede vira
artificial. De dada, ela se torna construída. O engenheiro a concebe e
a constrói, enquanto o médico se contentava em observá-la. A rede
pode ser construída, porque ela se torna objeto pensado em sua
relação com o espaço. Ela se exterioriza como artefato técnico sobre
o território para encerrar o grande corpo do Estado-Nação ou do
planeta. Para sair de sua relação com o corpo físico, a rede devia
primeiramente ser pensada como conceito para torna-se operacional
como artefato (MUSSO, 2010, p. 20).

A rede, enquanto grande ruptura no seu conceito incorporou algumas


características chaves, que a nosso ver, abarcam de forma objetiva o sentido real e
funcional que se pressupõe ou espera-se de uma rede (ou de uma estruturação em
rede), seja ela construída pelos artefatos técnicos, ou existentes de relações sociais, ou
mesmo a construção das várias interligações de artérias e veias do corpo humano, que
seriam: conectar, transportar, circular e fluir.
Seu conceito se tornou atualmente fundamental na compreensão de
muitos fenômenos e na potencialização de outros. A rede assim, em sua instituição é
uma estrutura composta por elementos de interação; em sua dinâmica, ela é uma
estrutura de conexão instável, transitória e não linear; e em sua relação com um
sistema complexo, ela é uma estrutura cuja dinâmica supõe-se explicar o
funcionamento de um subsistema visível.
Nos dias de hoje, como mesmo destaca Musso (2010, p. 17) a noção de
rede chega a ser
101

Onipresente, e mesmo onipotente, em todas as disciplinas: nas


ciências sociais, ela define sistemas de relações (redes sociais, de
poder...) ou modos de organização (empresa-rede, por exemplo); na
física, ela se identifica como a análise dos cristais e dos sistemas
desordenados (percolação); em matemática informática e
inteligência artificial, ela define modelos de conexão (teoria dos
grafos, cálculos sobre rede, conexionismo...); nas tecnologias, a rede
é a estrutura elementar das telecomunicações, dos transportes ou da
energia; em economia, ela permite pensar novas relações entre
atores na escala internacional (redes financeiras, comerciais...); a
biologia é apreciadora dessa noção de rede que, tradicionalmente, se
identifica com a análise do corpo humano (redes sanguíneas,
nervosas, imunológicas...).

E muito embora o autor não tenha se dedicado nesta citação a mencionar


a geografia, o conceito de rede se mostrou constantemente presente nos estudos
geográficos, denotando os vários recortes espaciais, territorialidades tecnológicas e
sociais. E é justamente quando as redes passam a se tornar objeto pensado em sua
relação com o espaço, por meio da influência técnica (e não apenas ela) no século XIX
que a Geografia passa a se preocupar com sua funcionalidade e transformações.

O estudo das redes na ciência geográfica

Diante das várias e emergentes designações e metáforas do conceito, no


século XIX a Geografia Clássica veio a se preocupar com as redes, entretanto, tendo
como aspecto central os fluxos e movimentos e, por conseguinte, suas transformações
espaciais. Os elementos da mobilidade, comunicação e circulação, estiveram nas
análises e estratégias sobre a dominação de pontos na terra. As infraestruturas
construídas que cortavam e ligavam os territórios e que serviam para demarcar, mas
também transportar, também foram fenômenos estudados.
Contudo, antes do maior interesse pelas redes formadas pelas pessoas em
meio aos fluxos e as circulações, elas, as redes hidrográficas, podem ser consideradas
como as primeiras estruturas desta natureza observadas pelo homem e construídas
pela natureza. Desde os textos da Roma Antiga ou mesmo o Egito, mostraram o
interesse do homem pelas curvas, conexões e fluxos das águas formadas pelos rios.
102

O homem ao vericiar e buscar compreender as múltiplas ocorrências da


natureza, notadamente percebia as conexões e emaranhado de canais dos rios e seus
fluxos d`àgua, a concepção do conceito de rede até então, mas a noção de que a
hidrografia permitira a construção de um emaranhado de redes era notado.
A geografia de Ratzel e de La Blache destacou as transformações entre os
homens e a natureza, entre outras formas, por intermédio dos fluxos, como os fluxos
migratórios fundamentais, ao estabelecimento de grupos humanos sobre a terra. Vital
de la Blache (1922) evidenciou em seu trabalho Principes de la géographie humaine a
presença e importância da circulação na grande marcha humana sobre a superfície da
terra, desde os “caminhos de almocreve” ou pelas estradas criadas e frequentadas
pelas frentes do comércio. Ratzel pontuou o caráter do Estado-Nação no consumo de
espaços contínuos e não contínuos, legitimando ações que tiveram não somente a
circulação de pessoas e mercadorias, mas, sobretudo políticas expansionistas.
Já mais recentemente, no século XX, outra importante influência das redes
na geografia aparece na “teoria dos lugares centrais”, focada nos estudos de geografia
urbana em que Walter Christaller (1966) considerou os graus de centralidade de
respectivas regiões da Alemanha meridional, procurando compreender a rede urbana
através da hierarquia de seus centros, em decorrência da oferta de bens e serviços.
Assim, a partir de seus conseguintes sucessos, não só na geografia, mas
também em outras áreas do conhecimento, o conceito de rede foi enriquecido por
várias metáforas de extensão, deslocamento, ligação, entrelaçamento, controle e
coesão, circulação, conhecimento e representação topológica. Na linguagem cotidiana,
o uso da noção de rede é dotado de metáforas desta natureza (intercalação, tráfego,
topologia).
Para Santos (1995), no âmbito da evolução da produção e da vida nas redes
elas podem ser divididas em três momentos:
Primeiro momento – dominado pelos dados naturais, nesse período a
estrutura humana era limitada e em alguns casos subordinada à natureza; as redes
eram criadas a partir da causalidade, espontaneidade. Elas serviam, neste momento, a
uma pequena vida de relações, significativamente limitada em termos de espaço,
tempo e conteúdo. Os itens eram pouco numerosos e as trocas pouco frequentes.
103

Segundo momento – proporcionado pouco antes da entrada na


modernidade, caracteriza o momento em que as redes ganham unidade funcional com
as novas formas de energia e tendem a assumir a racionalidade das novas formas
produtivas. O progresso técnico auxilia, mas ainda é limitado; o principal aspecto é o
interesse no fechamento ou na abertura de fronteiras em função do “comércio
mundial”.
Terceiro momento – iniciado no período técnico-científico-informacional,
no qual os suportes das redes encontram-se no território, nas forças dominadas pelos
homens, como a emissão de ondas e rádio, do espectro eletromagnético e nas forças
oriundas do desenvolvimento técnico-científico-informacional, como o computador e a
internet.
É importante lembrar, como falado anteriormente, que o conceito de rede
não pertence exclusivamente a uma única ciência. Devido ao reconhecimento das suas
capacidades descritivas e explicativas, outros campos das ciências humanas o têm
utilizado, em primeiro lugar, separadamente, para, em seguida, proporcionar diálogos
que são sempre mutuamente vantajosos. Algumas ciências que o utilizam: sociologia,
geografia, psicologia, antropologia, história, economia, e outras disciplinas
relacionadas à engenharia e à gestão urbana também utilizada no campo transportes,
telecomunicações, arquitetura e urbanismo. A matemática também aproveitou este
conceito em torno do qual foi particularmente bem desenvolvida a teoria dos grafos13
(MERCKLÉ, 2004).
O estudo das redes nas diversas ciências tem sido trabalhado de acordo
com seus interesses específicos. No caso da ciência geográfica, seu estudo sempre foi
em sua grande maioria focada nas redes de infraestruturas, redes técnicas
provenientes em sua maioria das inovações tecnológicas e suas transformações
espaciais. Como aponta Matos (2011, p. 168),

13
A teoria dos grafos é um ramo da matemática que estuda as relações entre os objetos de um
determinado conjunto. Para tal, são empregadas estruturas chamadas de grafos. Atribui-se ao artigo de
Leonhard Euler, publicado em 1736, sobre o problema das sete pontes de Königsberg, o primeiro
resultado da teoria dos grafos. Grafo é um conjunto de nós, conectados por arestas que, em conjunto,
formam uma rede. Na sociologia, a teoria dos grafos é uma das bases do estudo das redes sociais,
ancorado num tipo de análise estrutural particularmente veiculado por Barry Wellman proveniente das
décadas de 60 e 70.
104

As redes despontaram como objeto de estudo [da geografia] desde o


século XIX, como parte da necessidade de dimensionamento ténico e
regulatório nos processos de normatização de diversas infraestruras
econômicas. Eram infraestruturas que participavam da expansão
urbano-industrial e evoluíam com as inovações derivadas da
chamada segunda revoluçrão industrial, a exemplo das redes de
transporte ferroviário cada vez mais complexas, das redes de
abastecimento de água e esgoto, das redes de eletricidade, entre
outras. As redes urbanas, inclusive, por seu caráter territorialmente
abrangente e estratégico, sempre foram uma evidência de força das
nações e impérios há bem mais tempo.

A noção de redes na geografia, segundo Santos (1995) ao se referir ao


dicionário da geografia coordenado por George (1970) assume três grandes enfoques
que seriam divididos em: a) polarização de pontos de atração e difusão, que é o caso
das redes urbanas; b) projeção abstrata, que é o caso dos meridianos e paralelos na
cartografia do globo; c) projeção concreta de linhas de relações e ligações, que é o
caso das redes hidrográficas, das redes técnicas territoriais e, também, das redes de
telecomunicações, apesar da ausência de linhas e com uma estrutura física limitada
aos nós; e consideramos uma quarta, só recentemente debatida com mais ênfase: d)
redes “imateriais”, analisadas a partir de uma perspectiva social que se refere às
pessoas, mensagens e valores.
As redes 14 que se configuram atualmente na perspectiva geográfica
possuem características distintas, tais como as redes de infraestrutura, que funcionam
como suporte para o fluxo de materiais e informações no território. Um exemplo disso
são as redes de transporte (rodovias, ferrovias, transportes etc.) e as de comunicação e
informação (infovias, internet, sistemas de comunicação via satélites, etc.).
Estas se apresentam como estruturas resultantes, de uma maior
tecnicização do espaço geográfico visando à boa realização das ações empreendidas
pelos agentes que delas participam sem a qual não seria possível a circulação e a
comunicação necessárias ao estabelecimento das “relações” próprias à composição de
outras redes (políticas, simbólicas, culturais ou, em sentido próprio: “sociais”).
De acordo com Musso (2004) uma estrutura ou diagrama em rede é
constituído, em um dado instante, de uma pluralidade de pontos (picos) ligados entre

14
Outros tipos de aplicação do termo rede surgiram na atualidade: redes de serviços, redes de
prestação e atenção à saúde, redes epidemiológicas...
105

si por uma pluralidade de ramificações (caminhos). Um pico é a interseção de vários


caminhos e, reciprocamente, um caminho põe em relação vários picos. Uma rede
sempre oferece uma à possibilidade de vários caminhos.
Assim como na construção do conceito de tessitura do século XVII,
tradicionalmente as redes no âmbito geográfico15 possuem algumas características
bem típicas. No âmbito de sua materialidade

Rede é toda infra-estrutura, que permitindo o transporte de matéria,


de energia ou de informação, se inscreve sobre um território onde se
caracteriza pela topologia dos seus pontos de acesso ou pontos
terminais, seus arcos de transmissão, seus nós de bifurcação ou de
comunicação (CURIEN & GENSOLLEN, 1985, p. 50-51).

Com relação à sua dimensão, essência e conteúdo, Santos (1996, p. 209)


destaca que a rede “é também social e política, pelas pessoas, mensagens, valores que
a frequentam. Sem isso, e a despeito da materialidade com que se impõe aos nossos
sentidos, a rede é, na verdade, uma mera abstração”.
Tomando emprestadas diversas contribuições, Musso (2010, pp. 31-32) dá
a seguinte definição para o conceito de rede “rede é uma estrutura de interconexão,
instável, composta de elementos em interação, e cuja variabilidade obedece a alguma
regra de funcionamento”. Podemos distinguir três níveis nesta definição:
1. A rede é uma estrutura composta de elementos em interação; estes
elementos são os picos ou nós da rede, ligados entre si por caminhos
ou ligações, sendo o conjunto instável e definido em um espaço de três
dimensões: conexão, circulação e transporte.
2. A rede é uma estrutura de interconexão instável no tempo; a gênese de
uma rede (ou de um elemento de uma rede) e sua transição de uma
rede simples para uma mais complexa são consubstanciais e podem
mudar constantemente.

15
Para Musso (2001) o termo rede possui uma polissemia que pode atrapalhar a sua concepção
enquanto conceito e objeto empírico. Entretanto, para Miranda Neto (2008), a rede possui uma
polissemia que enriquece o conjunto de significações agregadas ao conceito e permite uma rica análise
epistemológica que para ele a polissemia pode ser vista muito mais como uma vantagem, uma vez que
ela conecta múltiplos olhares, sobretudo na ciência geográfica, uma ciência acostumada a lidar com
múltiplas significações complexas e, às vezes, antagônicas.
106

3. A existência, manutenção ou mudança de uma rede obedece a alguma


regra ou lógica de funcionamento.
As redes são virtuais e ao mesmo tempo são reais. As redes são técnicas,
mas também são sociais. Elas são materiais, mas também são viventes. Elas são um
sistema de ordem dupla e ao mesmo tempo estrutural e funcional.

Animadas por fluxos, que dominam o seu imaginário, as redes não


prescindem de fixos – que Constituem suas bases técnicas - mesmo
quando esses fixos são pontos. Assim, as redes são estáveis e, ao
mesmo tempo, dinâmicas. Fixos e fluxos são intercorrentes,
interdependentes. Ativas e não passivas, as redes não têm em si
mesmas seu princípio dinâmico, que é o movimento social (SANTOS,
2006, p. 188).

Dias (1995, p. 147) complementa que a rede apresenta a propriedade de


conexidade, isto é, através da conexão de seus nós ela, simultaneamente, tem a
potencialidade de solidarizar ou de excluir, de promover a ordem e a desordem. Além
disso, ela destaca que a rede é uma forma particular de organização, e, no âmbito dos
processos de integração, de desintegração e de exclusão espacial, ela “aparece como
instrumento que viabiliza [...] duas estratégias: circular e comunicar”.

A rede aparece [...] como fios seguros de uma rede flexível que pode
se moldar conforme as situações concretas e, por isso mesmo, se
deformar para melhor reter. A rede é proteiforme, móvel e
inacabada, e é desta falta de acabamento que ela tira sua força no
espaço e no tempo: se adapta as variações no espaço e as mudanças
que advém do tempo. A rede faz e desfaz as prisões do espaço,
tornando território: tanto libera como aprisiona (RAFFESTIN, 1993, p.
204).

Assim, a rede técnica permitiu a comunicação, conexão e democratização


das informações pelas pessoas por meio da circulação e transporte nos territórios dos
homens, reduzindo as distâncias físicas e tempos, interconectando os lugares,
recortando espaços graças as suas vias de comunicação e de interligação.
Elas são ao mesmo tempo locais e globais, as redes são singulares e
múltiplas, ao mesmo tempo concentradoras e dispersoras, condutoras de forças
centrípetas e de formas centrífugas, são estáveis, dinâmicas. Por meio delas há uma
criação paralela e transversal de ordem e desordem no território, já que elas integram,
107

desintegram, constituem estruturas reveladoras de poder, são móveis e integradas,


constroem e destroem novos e velhos recortes espaciais.
Consequentemente, podemos definir alguns pontos importantes ao nível
dos estudos geográficos das redes: a rede não deve ser tomada simplesmente como
“um conjunto de linhas e pontos”, mas enquanto “relações” que se dão no tempo e no
espaço de forma descontínua, ou seja, sem preenchê-los por completo. Essa definição
permite atenuar os impasses causados pelas redes técnicas do tipo hetzerianas (redes
de satélite, de telefonia celular, etc.) que podem prescindir das linhas (físicas) sem,
contudo, se livrar das conexões.
Assim, toda rede geográfica é imbuída de uma presença técnica (de
engenharia) e por uma ação política (estratégia definida por pessoas ou grupos) que
carrega as contradições imanentes à estrutura socioespacial (diferenciações). A rede
pode ser também definida no âmbito de relações simbólicas de pertencimento,
representadas por laços afetivos que se traduzem em novas formas de representação
espacial. Dependendo da concepção de território que se propõe entender, a rede pode
constituí-lo (por exemplo, as vias de integração nacional), ou fazer-se o próprio
território (redes simbólicas, territorialidades).
Porém, as redes que aqui nos interessam são formadas das relações entre
as pessoas, construídas por circunstâncias simbólicas e múltiplas subjetividades. É um
tipo de rede em cujo conceito se faz uma observação recente: sua construção antes
dos grandes adventos técnicos era lenta, pequena e, sobretudo, de vizinhança; já no
seio da atual sociedade, ganhou outros contornos. Estas redes são “sociais”. E estas, na
nossa visão, se mostram ainda como lacuna no debate da ciência geográfica.

As redes sociais

Para Portugal (2007), o conceito de “rede social” apareceu relativamente


cedo na Sociologia e na Antropologia Social. No entanto, inicialmente, nos anos 30 e
40, o termo era, sobretudo, usado em sentido metafórico: “os autores não
identificavam características morfológicas, úteis para a descrição de situações
específicas, nem estabeleciam relações entre as redes e o comportamento dos
indivíduos que as constituem” (PORTUGAL, 2007, p. 3).
108

O uso do conceito de rede para designar conjuntos de indivíduos e suas


relações com os demais, descrevendo estruturas, sistemas, círculos, grupos data de
meados do século XX. A primeira aproximação remonta à Claude Lévi-Strauss em sua
análise etnográfica das estruturas elementares de parentesco, na década de 1940. Na
década seguinte, em 1950, Radcliffe-Brown usa o termo "redes", na tentativa de
caracterizar a estrutura social enquanto uma rede de relações institucionalmente
controladas ou definidas.
A primeira utilização do conceito de “rede social” é creditada ao
antropólogo britânico John A. Barnes16 (1954). Para a Antropologia Social, a noção de
redes sociais busca apoiar "a análise e descrição daqueles processos sociais que
envolvem conexões que transpassam os limites de grupos e categorias" (BARNES, 1987,
p. 163). O conceito revelou-se importante não só para a descrição da estrutura da
comunidade, como, também para a compreensão de processos sociais fundamentais,
como o acesso ao emprego ou a cargos políticos (PORTUGAL, 2007).
Pouco tempo depois, foi Elizabeth Bott (1957), em seus estudos sobre
família e as redes de relações sociais, que teve como mérito reconhecer a associação
entre o caráter interno de uma relação e a estrutura de uma rede, mostrando que uma
relação familiar não depende apenas do comportamento dos membros, mas também
das conexões que estes estabelecem com outros, como vizinhos e amigos, e que o
conceito de rede social veio definitivamente chamar a atenção da comunidade
científica.
Durante a segunda metade do século XX, o conceito de rede social tornou-
se importante na teoria sociológica e deu margem para inúmeras discussões sobre a
existência de um novo paradigma nas ciências sociais. No decorrer das últimas
décadas, a sociologia das redes sociais constituiu-se num domínio específico do
conhecimento e institucionalizou-se progressivamente, ao ponto de
consequentemente abranger outras áreas da ciência.

16
O estudo de John A. Barnes sobre Bremmes, uma comunidade de pescadores norueguesa, realizado
no início da década de 1950, foi pioneiro nesta área. Ao estudar a importância das interações individuais
na definição da estrutura social comunitária, Barnes isolou dois campos (territorial e industrial) com
base nos quais se estabelecem as relações entre os indivíduos. No entanto, o autor chega à conclusão
de que a maioria das ações individuais não pode ser compreendida com base no pertencimento
territorial ou industrial. Assim, ele isola então um terceiro campo, formado pelos laços de parentesco,
amizade e conhecimento, que concebe como uma rede: rede de relações, flexível e discreta, em que os
diferentes membros se podem ou não conhecer uns aos outros e interagir entre si (BARNES, 1987).
109

Desde os finais da década de 1990, diversas obras vêm defendendo a


emergência de uma “nova ciência das redes”, que usa o conceito como forma de
apreender as interconexões do mundo contemporâneo (PORTUGAL, 2007). Autores
como Buchanan (2002), Barabási (2002), Watts (2006; 2009), Christakis (2010) e
Fowler (2010) têm cruzado conhecimentos das ciências sociais, da matemática, da
física, da engenharia, da medicina e da biologia na defesa de uma visão do mundo “em
que tudo está ligado17”.
Visões como estas devem ser encaradas com significativa cautela, uma vez
que em alguns pontos colocam a questão das redes sociais como uma verdadeira
panaceia na compreensão de todas as particularidades sociais. Por outro lado, têm
possibilitado aos cientistas um significativo diálogo interdisciplinar não apenas
metafórico, mas também teórico-metodológico na compreensão de fenômenos até
pouco tempo atrás não mensuráveis sob esta perspectiva da conectividade.

A ciência das redes tem que se tornar, em suma, uma manifestação


do seu próprio objeto de estudo, uma rede de cientistas resolvendo
coletivamente problemas que não podem ser resolvidos por
indivíduos isolados ou mesmo por disciplinas isoladas (WATTS, 2009,
p. 2).

Assim, epidemias, redes de difusão de inovação, redes comunitárias, redes


de pesquisa, redes de apoio social, etc. podem ser analisadas sob o contexto de redes
sociais, apontando para a sociedade contemporânea “como uma rede social
complexa”, ao mesmo tempo em que demonstra um “mundo pequeno em que
vivemos” (BARABÁSI, 2002).
Inspirados pelos estudos fundadores do psicólogo americano Stanley
Milgram, na década de 1960, – que ficaram conhecidos como small world studies18 –

17
Como indica o título da obra de divulgação de Albert-László Barabási – Linked. A nova ciência das
networks: como tudo está conectado a tudo e o que isso significa para os negócios, relações sociais e
ciências (2002). Para este autor as redes são pré-requisito para descrever qualquer sistema complexo,
que resulta no fato de que a teoria da complexidade está por trás de qualquer teoria de redes.
18
Stanley Milgram conduziu uma experiência nos Estados Unidos da América do Norte que consistia em
pedir a diversas pessoas escolhidas ao acaso (habitantes de Boston e do Nebraska) que fizessem chegar
um dossiê a um “indivíduo-alvo” (um corretor de Boston), dispondo apenas de informação sobre o seu
local de residência e profissão. Os indivíduos podiam usar o correio, o contato pessoal, no caso de
conhecerem a pessoa, ou usarem um intermediário que tivesse maiores possibilidades de conhecer o
indivíduo em questão. Das 296 pessoas da amostra, 217 aceitaram o desafio e expediram o dossiê a um
110

estes autores procuram “padrões e regularidades na arquitetura de diferentes tipos de


redes” (BUCHANAN, 2002, p. 19). Assim, a “ciência das redes”, como aponta Fontes
(2012, p. 75), “pretende ser um instrumento para a compreensão de fenômenos
universais, desde estruturação de complexos arranjos neurais até processos
ecológicos”.

As estruturas sociais podem ser representadas como redes – como


conjuntos de nós (ou membros do sistema social) e conjuntos de
laços que representam as suas interconexões. Esta é uma ideia
maravilhosamente libertadora. Dirige o olhar dos analistas para as
relações sociais e liberta-os de pensarem os sistemas sociais como
coleções de indivíduos, díades, grupos restritos ou simples
categorias. Usualmente, os estruturalistas têm associado “nós” com
indivíduos, mas eles podem igualmente representar grupos,
corporações, agregados domésticos, ou outras coletividades. Os
“laços” são usados para representar fluxos de recursos, relações
simétricas de amizade, transferências ou relações estruturais entre
“nós” (WELLMAN & BERKOWITZ, 1991, p. 4).

Surge então uma “ciência das redes”, que é baseada na ideia de que o
comportamento humano pode ser mais plenamente explicado por uma compreensão
da estrutura das relações sociais nas quais os atores estão situados. Pesquisadores da
teoria de redes sugerem que estas estruturas têm um impacto mais profundo sobre o
comportamento do que as normas, valores etc. A teoria de redes sociais é diferente da
análise de redes19 sociais, que é um conjunto de técnicas que se aplicam às teorias de
rede.

Ao construir uma linguagem para falar de redes que seja precisa o


bastante para descrever não apenas o que é uma rede, mas também
que tipos diferentes de redes existem no mundo, a ciência das redes
está fornecendo ao conceito uma força analítica real (WATTS, 2009,
p. 11).

dos seus contatos, sendo que 64 dossiês chegaram ao seu destino, através de cadeias de tamanho
variável, mas cuja média era de 5,5 intermediários. Os estudos levados a cabo por Milgram tiveram
inúmeros desenvolvimentos (sobre as implicações teóricas e metodológicas do seu trabalho, ver
Degenne & Forsé, 1994; Watts, 2003; e Mercklé, 2004). Apesar de o autor nunca ter usado esse número
– como sublinha Barabási (2002) – as conclusões do small world studies levou à generalização da ideia
de que todos no mundo estão separados por apenas seis pessoas. Conduto, este estudo caiu em desuso,
depois que foi revitalizada por estudos sobre redes sociais eletrônicas, como o Facebook em 2008.
19
A análise de redes sociais tornou-se o estudo dos efeitos dos padrões sociais de relações sobre o
comportamento humano. Ela constitui-se, portanto, numa ferramenta conceitual, analítica e
metodológica que não pode ser desmembrada do debate sobre redes sociais.
111

A teoria das redes é um ramo da sociologia estrutural, ciência na qual a


ação humana é vista como uma função dos constrangimentos e oportunidades
oferecidas pelas forças que existem fora do indivíduo. As raízes da estrutura
sociológica voltam para as obras de Karl Marx, Émile Durkheim e Georg Simmel, mas a
abordagem das redes surgiu na sociologia contemporânea.

A concepção básica de redes – tanto para uso metafórico, quanto


para o uso analítico - seria a de que a configuração de vínculos
interpessoais entrecruzados são de forma inespecífica conectados às
ações dessas pessoas e às instituições da sociedade. A ideia que
permeia a metáfora de redes, é a de indivíduos em sociedade, ligados
por laços sociais, os quais podem ser reforçados ou entrarem em
conflito entre si (ACIOLI, 2007, p. 3.)

Concomitantemente, o termo “rede social”, para as ciências sociais, seria o


conjunto de relações sociais entre um grupo de indivíduos e também entre os próprios
indivíduos isoladamente. O termo rede social, enquanto instrumento de análise,
permite a reconstrução dos processos interativos dos indivíduos e suas afiliações a
grupos.
As conexões entre as pessoas em uma rede de contatos revelaria bem mais
do que simplesmente seus vínculos, elas revelariam: motivações, atributos, regras,
resultados, relações de poder e outros aspectos que não ocorrem meramente ao acaso
poderiam ser vislumbrados.

O fenômeno das redes sociais apresenta dois ingredientes


considerados fundamentais desde os clássicos: o fato de que
somente poder-se-á ter uma compreensão adequada da sociedade a
partir do momento em que se foque a atenção nos complexos
processos subjacentes às relações entre as pessoas, de um lado e,
por outro, no fato de que, estes fenômenos embora adquiram uma
feição aparentemente aleatória, estruturam-se em uma lógica
relativamente invariante (FONTES, 2012, p. 91).
112

Assim, uma rede social é, essencialmente, composta por diversos agentes


individuais (os nós, ou atores da rede) ligados por relações sociais (os elos, ou laços:20
fortes ou fracos) e pelos mecanismos de regulação dessas interações (motivações,
normas) estruturados por lógicas e atributos que definem os vários tipos de redes e
seus objetivos e funcionalidades. Existe também a distinção entre os laços diretos
(relação direta entre dois atores) e os laços indiretos (ligação de dois nós por
intermédio de outros nós).
Para Matos (2011, pp. 173-174), “rede social é, basicamente, um conjunto
de relações resultantes da articulação de grupos de pessoas, ou instituições sociais,
segundo motivações específicas mais ou menos duráveis no tempo. Uma rede social
pode se desdobrar por localidades contínuas ou distantes e aglutinar outras redes
sociais”. Ou, como nas palavras de Fontes (2012, p. 178):

Rede, neste sentido, pode ser conceituada como um conjunto de


pontos conectados entre si. Estes pontos, denominados nós, são
unidos por laços, que se estruturam a partir de certas regras; quer
dizer, que apresentam alguma universalidade ou, o que é o mesmo,
são passíveis de se extrair proposições de ordem geral sobre suas
propriedades.

Para Molina (2004, p. 1), “uma rede é um conjunto de relações (linhas, links
ou empates) entre um conjunto definido de elementos (nós). Cada ligação corresponde
a uma rede diferente”, o que permite múltiplas análises e descrições dos processos
sociais (fluxos, motivações, grupos, números, densidades, informações, resultados,
normas, afiliações etc.).

(a noção de rede social permite) a análise e descrição daqueles


processos sociais que envolvem conexões que transpassam os limites
de grupos e categorias. As conexões interpessoais que surgem a
partir da afiliação a um grupo fazem parte da rede social total tanto

20
Sobre os tipos de laços, em um artigo pioneiro sobre a análise das redes sociais e sua importância
para a compreensão das interações entre os níveis micro e macro, Mark Granovetter (1973) coloca essa
unidade de análise – as redes interpessoais – como um elemento fundamental nessa ponte. Ele analisa
os laços sociais existentes, classificando-os como fortes (definidos como aqueles nos quais os indivíduos
despendem mais tempo, intensidade emocional e trocas; por exemplo, amigos de longa data, família) e
fracos (aqueles nos quais o investimento é menor ou nulo, como, por exemplo, conhecidos, colegas). O
autor mostrou que no acesso ao emprego, por exemplo, determinado tipo de laços (laços fracos)
permite estabelecer pontes entre diferentes grupos sociais, possibilitando acesso aos indivíduos que
seriam inacessíveis dentro de suas redes de relações próximas (laços fortes).
113

quanto aqueles que vinculam pessoas de grupos diferentes (BARNS,


1987, p. 162).

Para Mercklé (2004, p. 4), uma rede social pode ser definida como “um
conjunto de unidades sociais e de relações, diretas ou indiretas, entre essas unidades
sociais, através de cadeias de dimensão variável”. Essas unidades sociais podem ser

indivíduos ou grupos de indivíduos, informais ou formais, como


associações, empresas, países. As relações entre os elementos da
rede podem ser transações monetárias, troca de bens e serviços,
transmissão de informações, podem envolver interação face a face
ou não, podem ser permanentes ou episódicas (PORTUGAL, 2007, pp.
23-24).

Esses indivíduos, grupos de indivíduos, informais ou formais estão inseridos


dentro dos mais diversos tipos de processos de sociabilidades cotidiana, estas por sua
vez implicam nos propósitos com que as relações são iniciadas, continuadas ou
terminadas. Ou como nas palavras de Fontes (2012, p. 78) onde destaca que,

Os processos estruturantes das redes sociais têm por origem as


interações sociais estabelecidas quotidianamente pelos indivíduos.
Quer dizer, a estrutura de sociabilidade presente em cada uma das
pessoas (seres sociais por excelência), que surge com base em
“certos impulsos ou função de certos propósitos”; é organizada em
campos sociais, elementos de identidade de uma geografia social que
permite, por exemplo, a localização dos indivíduos em uma estrutura
social e as potencialidades interativas entre eles.

Neste sentido, a estrutura social proposta sob o enfoque de uma ciência


das redes estaria ligada a uma concepção de redes sociais, estabelecidas pelas
múltiplas relações em processo: vínculos, fluxos, conexões, mudanças, informações e
circulação realizada pelos vários indivíduos em meio a uma intermitente
interdependência.
As pessoas sempre se conectaram às outras, de inúmeras formas e por
inúmeros motivos, a exemplo das vizinhanças, redes de apoio familiar, redes
comunitárias, redes na escola etc. Temos pelo menos uma conexão em nossa vida, que
é com o espaço que produzimos e vivemos. Para além desta, várias outras conexões
acabam surgindo, quais sejam as relações cotidianas, as redes de trabalho, redes de
114

escola e grupos estudantis etc., ligações que evidenciam a imensidão dos fluxos,
contatos e conexões construídas e terminadas diariamente.
Em sociedade, a quantidade de conexões e a velocidade com que ocorrem
são cada vez maiores. Basta atendermos ao telefone celular para nos conectarmos de
imediato a outra pessoa em qualquer lugar do mundo. Algo similar acontece quando
navegamos via internet por links criados entre páginas na web ou contatos com outras
pessoas.
Para tal, estes aspectos são incorporados à metáfora de redes, que, para
Elias (1994), explicam as várias inter-relações e as várias estruturas sociais existentes
na sociedade.

Para ter uma visão mais detalhada desse tipo de inter-relação,


podemos pensar no objeto de que deriva o conceito de rede: a rede
de tecido. Nessa rede, muitos fios isolados ligam-se uns aos outros.
No entanto, nem a totalidade da rede nem a forma assumida por
cada um de seus fios podem ser compreendidas em termos de um
único fio, ou mesmo de todos eles, isoladamente considerados; a
rede só é compreensível em termos da maneira como eles se ligam,
de sua relação recíproca (ELIAS, 1994, p. 35).

Para Fontes (2012), a noção de rede, deste modo, significa muito mais que
um instrumento metodológico de análise dos processos interativos. Este fenômeno
aparece em cima de uma montagem complexa, cujos componentes se localizam na
estrutura social.

Estrutura social que é âncora das práticas dos indivíduos, orientados


por razões de qualquer forma idiossincráticas, mas em constante
comunicação um com o outro. A análise dos processos de interação
social através da investigação dos processos formativos das redes,
nos é útil na medida em que nos permite o esclarecimento de suas
diversas facetas (FONTES, 2012, p. 79).

As mais variadas faces expressas por meios das conexões estabelecidas


pelas redes sociais acabam por adquirirem novos contornos e multiplicar as
possibilidades de agrupamentos e construções de vínculos sociais e grupos sociais,
sobretudo na contemporaneidade.
115

A evidência do meio técnico-científico-informacional e, por consequência,


a construção do ciberespaço, articulados com a necessidade das pessoas de se
conectarem, mas também pelo simples fato de se comunicarem e interagirem, acabam
por potencializar novas formas de conexões, em nível mundial, nas quais os
relacionamentos, o contato e a circulação de informação criam os mais variados
vínculos antes inacessíveis.
Os pontos não são apenas pessoas, são links, hipertextos, servidores e
vários outros esquemas que incorporam as redes sociais e as redes tecnológicas. Tudo
isso se torna um só, mediado por uma imensidão de fluxos comportados pelo
ciberespaço. As conexões e as redes ganham significativa instantaneidade e escalas
antes nunca imaginadas. Estes aspectos foram são destacados na obra de Manuel
Castells A sociedade em rede.

Considerações finais

O termo rede, surgido no século XII em alusão ao entrelaçamento de


malhas e fios utilizados pelos artesões, recebeu significativa atenção nos anos que se
seguiram, servindo como base para se denotar vários objetos, ações e fenômenos.
Inicialmente foi utilizado para designar caminhos, convergências, linhas e nós,
posteriormente, em prontuários, ao mencionar artérias, fios, veias e o sistema
nervoso. No século XVIII, fora utilizado para topografia, na utilização de métodos
cartesianos; já no XIX, para designar tráfego, caminhos, estradas e ferrovias que
atravessavam uma região, cidade ou país; culminando, no século XX, em seu uso para
designar uma das formas mais antigas de agrupamento humano: as redes sociais.
Neste contexto, o conceito de rede passou por várias incorporações que
abrangeram desde os aspectos mais metafóricos até os teóricos metodológicos. Dos
fios e malhas dos tecelões, perpassando pelas artérias de Hipócrates, aos fluxos de
Rene Descartes, das redes urbanas de Walter Christaller às recentes redes sociais de
John A. Barnes. Em todas estas incorporações os aspectos de “circular e conectar”,
características principais de uma rede, sempre estiveram presentes nas mais diversas
observações.
116

E assim, a partir dos consequentes sucessos e tendo como principal


característica a circulação e conexão entre vários pontos numa continuidade, o termo
rede foi utilizado para a designação de inúmeros fenômenos que acabaram se
permeando por vários segmentos da sociedade: redes de saúde, redes de transporte,
redes hertzelianas, redes urbanas, redes ferroviárias, redes rodoviárias, redes sociais e
inúmeras outras ramificações.
Somente no século XX é que o termo rede foi utilizado para designar
conjuntos de indivíduos e suas relações com os demais, descrevendo estruturas,
sistemas, círculos e grupos. Antes disso, porém, Claude Lévi-Strauss, na década de
1940, e Radcliffe-Brown, na década de 1950 já tratavam do tema. Contudo foi em 1954
que o conceito redes sociais nasceu, na antropologia social, por meio do antropólogo
britânico John A. Barnes.
Percebeu-se então que as estruturas sociais podem ser representadas
como redes, como conjuntos de nós. E o conjunto de laços que representam estas
interconexões e as significativas particularidades existentes neste sistema, uma vez
que os padrões de conexão entre as pessoas não ocorrem ao acaso, partilham de
inúmeros aspectos que influenciam em maior ou menor intensidade certos
agrupamentos e/ou comportamentos.
Esta visão se tornou extremamente libertadora, uma vez que contribuiu
para uma concepção que vai além de ver os sistemas sociais apenas como coleções de
indidívuos, diádes, grupos restritos ou simples categorias. Os nós nas redes sociais
seriam não somente atores, mas podem representar também grupos, corporações,
instituições e outros tipos de coletividade e os laços são usados para representar
apenas meramente os contatos, mas os fluxos de recursos (materiais ou imateriais),
compartilhados e transferidos entre os nós.
Assim o conceito rede social, enquanto instrumento de análise, permite a
reconstrução dos processos interativos dos indivíduos e suas afiliações a grupos.
Revelando, consequentemente, bem mais do que os vínculos e conexões entre os
vários pontos, evidenciaria as mais variadas intenções, atributos ou motivações
elevadas a mais importantes por determinados agentes dentro de uma rede, regras,
punições dentro de uma estrutura, resultados individuais e coletivos, jogos de poder,
agentes centrais e sua importância dentro de um grupo etc.
117

Essa lógica se mostra bastante promissora na análise de uma série de


fenomenos, sobretudo pelo fato de que a atual sociedade tende a se agrupar em rede,
face os recentes desdobramentos tecnológicos. As redes, tomadas sobre a lógica da
coletividade podem efetivamente proporcionar ganhos e nos mostrar uma série de
particulares eventualmentes opacificadas por olhares que fujam a este lógica, que
veremos a seguir.
Desta forma, desde a construição de um conceito e sua atual polissemia,
as redes podem ser vistas, concebidas e analisadas sobre várias formas e em várias
circunstâncias: desde as redes hidrográficas dos caminhos feitos pela natureza para
circular e conectar os rios, às redes de infraestrutura, construções técnicas dos
homens na busca da circulação e transportede pessoas e produtos as redes sociais
construídas pelas relações cotidianas ou não, pelas conexões e pelo compartilhamento
de signos e objetivos, em que se circulam ideias, sons, informações.
118

2º Nó

Espaços de cooperação e produção de


conhecimento: as redes científicas.

“A ciência das redes tem que se tornar, em suma, uma manifestação


do seu próprio objeto de estudo, uma rede de cientistas resolvendo
coletivamente problemas que não podem ser resolvidos por
indivíduos isolados ou mesmo por disciplinas isoladas” (Ducan J.
Watts, 2009, p. 2).
119

2º NÓ ESPAÇOS DE COOPERAÇÃO E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO: AS REDES


CIENTÍFICAS

Introdução

O acesso à informação é um elemento-chave para o desenvolvimento


econômico e social de regiões e grupos sociais. A capacidade de obter informações,
além dos contornos restritos da própria comunidade, é parte do capital relacional dos
indivíduos e grupos, o que sugere que as transformações na sociedade dependem das
redes existentes entre os indivíduos de um determinado grupo e atores localizados em
outros espaços geográficos, ou seja, da dimensão do capital social da comunidade.
Tal entendimento tem inspirado o desenvolvimento de enfoques
institucionalistas na sociologia, economia e ciência política, consequentemente
ampliando o interesse por metodologias de análise de redes sociais, e trazendo
contribuições significativas para a compreensão do papel do capital social para o
desenvolvimento em suas variadas escalas.
Neste fenômeno se incluem também as redes científicas. Se informação,
conhecimento, ciência e tecnologia são elementos fundamentais para o
desenvolvimento regional, além de serem construções sociais, pois não resultam da
ação isolada dos indivíduos, mas do trabalho coletivo, a construção de redes científicas
construídas em uma dada região deve ser considerada importante aspecto da análise
de desenvolvimento científico e social. Sobretudo pelo fato de que estas podem se
tornar um veículo eficaz na produção de retornos e benefícios mútuos para todos os
envolvidos.
Visto desta forma, o estudo das redes científicas supera o entendimento
comum, segundo o qual uma rede científica é simplesmente o mapa geográfico das
conexões possíveis entre os usuários de um sistema e a busca de compreensão de
novos desafios científicos frente a uma nova forma de usar e se relacionar com o
espaço. Elas expressam valores culturais e competências existentes numa dada região
que possibilitam ou dificultam a superação de limites e dificuldades ao seu
desenvolvimento, se valendo de importantes instrumentos de avanço científico e
social.
120

Desta forma, este nó, objetiva principalmente abordar conceitualmente


dos retornos e benefícios para a ciência por meio da pesquisa em rede, das redes
científicas. Para tal, a abordagem que segue, fora dividida em três tópicos, o primeiro
deles, intitulado de “Informação, conhecimento e inovação em rede” busca destacar a
importância destes elementos para a criação de janelas de oportunidades relativas ao
desenvolvimento da capacidade de aprender, trabalhar coletivamente, produzir
conhecimento e concretizar inovações, sobretudo ancoradas pelas possibilidades da
coletividade em rede.
Em seguida este nó visa abordar a “emergência da cooperação
internacional em rede” destacando recentes trabalhos e atuações de diversos
cientíscas localizados no mundo com objetivos comuns de retorno a ciência,
mostrando os novos desdobramentos de cooperação científica no mundo
contemporâneo.
Por fim, busca-se evidenciar as redes científicas, importante veículo na
construção de conhecimento, otimização de recursos e produção de resultados
comuns, uma vez que elas proporcionam a ampliação do repertório de abordagens e
ferramentas que advém do intercâmbio de informações e da fertilização cruzada que
se verifica quando grupos distintos juntam esforços no sentido de atingir determinada
meta.
O aporte teórico aqui utilizado é baseado, não exclusivamente, mas
principalmente, na literatura de Medows & O’Connor (1971); Nohria & Eccles (1992);
Putnam (1993); Weisz & Roco (1996); Castells (1999); Lin (2001); Newman (2001);
Fontes, (2004), Fontes & Eichner (2004); Cassiolato & Lastres (2005); Balancieri (2005);
Morgan (2006); Portugal (2007); Massey (2008); Fujino et. al. (2009); Carvalho (2009);
Barabási (2009); LARA & LIMA (2009); Witter (2009); Christakis & Fowler (2010); Maciel
& Albagli (2010); Funaro (2010); e Adams (2012).

Informação, conhecimento e inovação em rede

Informação e conhecimento sempre foram fatores fundamentais na


manutenção e sobrevivência de quaisquer grupos humanos. Consequentemente, uma
parte significativa na tomada dos rumos que as várias sociedades seguiram, podemos
121

sugerir que são frutos da forma com que a informação foi apropriada e conhecimento
gerado. Estes dois aspectos também são expressivos se os usarmos para analisar as
diferenças técnico-científicas-informacionais existentes entre os vários espaços
existentes na terra.
A produção, aquisição, absorção, reprodução e difusão do conhecimento
são vistos por muitos como a características fundamentais da dinâmica competitiva
contemporânea. Muito antes desse debate se tornar popular, os estudiosos haviam
manifestado um profundo interesse em distinguir entre diferentes tipos de
conhecimento (GERTLER, 2003).
Autores como Ryle (1949) e Polanyi (1958; 1966) desenvolveram debates
que enunciaram para eles a distinção crucial entre conhecimento que poderia ser
efetivamente expressado usando formas simbólicas de representação - explícitas ou
codificadas - e outras formas de conhecimento que desafiaram tal representação - o
conhecimento tácito21.

Embora Informação e conhecimento estejam correlacionados, não


são sinônimos. Também é necessário distinguir dois tipos de
conhecimentos: os conhecimentos codificáveis — que,
transformados em informações, podem ser reproduzidos, estocados,
transferidos, adquiridos, comercializados etc. — e os conhecimentos
tácitos. Para estes a transformação em sinais ou códigos é
extremamente difícil já que sua natureza está associada a processos
de aprendizado, totalmente dependentes de contextos e formas de
interação sociais específicas (LASTRES & FERRAZ, 1999, p. 30).

O conhecimento tácito tem sido reconhecido como um componente


central da economia da aprendizagem, e uma chave para a inovação e criação de valor.
Além disso, o conhecimento tácito também é reconhecido como um determinante
principal da geografia da atividade produtora de conhecimento e inovação, uma vez
que o seu papel central no processo de aprendizagem através de interação e
consequente acesso à informação e conhecimento tende a reforçar em muitas
circunstâncias o papel do local sobre o global.

21
De acordo com Gertler (2003) talvez a maneira mais fácil de definir o conhecimento tácito é
especificando o que não é. O desempenho de habilidades, tais como a natação, o desembarque de um
avião, identificar o rosto de uma pessoa, andar de bicicleta, ou fazer pão. Em cada caso, o bom
desempenho de uma habilidade depende da observância de um conjunto de regras que não são
claramente conhecidas.
122

Para um número crescente de estudiosos, isso explica a perpetuação e


aprofundamento da concentração geográfica em um mundo de mercados em
expansão, fronteiras, enfraquecendo em alguns momentos as tecnologias de
informação e comunicação cada vez mais baratas e mais difundidas (POLANYI, 1966,
1987; GERTELER, 2003, 2005).
Já a Informação pode ser entendida do ponto de vista funcional como um
recurso redutor de incertezas. Ela faz parte dos vários símbolos, dados e signos
compartilhados diariamente nas socializações e comunicações humanas, sendo
também entendida como componente fundamental e anterior na produção de
qualquer conhecimento.

É o acesso às informações o primeiro passo para a comunicação que


propiciará o compartilhamento e intercâmbio de resultados de
pesquisas e que confere às comunidades a oportunidade efetiva de
participação na sociedade da informação (FUJINO, A. et. al., 2009, p.
215).

Ter acesso mais rapidamente à informação e fazer com que ela circule
entre os vários nós de uma continuidade em rede com vários agentes conectados,
contribui significativamente para a produção de conhecimento e a solução dos mais
diversos problemas. Estes aspectos são destacados por Castells (1999) como alguns
dos mais expressivos do atual estágio da sociedade, que, para ele é atualmente mais
do que nunca, informacional e conectada em rede.

Informacional porque a produtividade e a competividade de


unidades ou agentes nessa economia (sejam empresas, regiões ou
nações) dependem basicamente de sua capacidade de gerar,
processar e aplicar de forma eficiente a informação baseada em
conhecimentos. [...] É em rede porque, nas novas condições
históricas, a produtividade é gerada, e a concorrência é feita em uma
rede global de interação entre redes... (CASTELLS, 2008, p. 119).

Neste sentido, existe uma série de mudanças sociais, institucionais,


tecnológicas, organizacionais, econômicas, culturais e políticas as quais, a informação e
o conhecimento passaram a desempenhar um novo e estratégico papel não apenas no
desenvolvimento científico, tecnológico.
123

Verificam-se novas práticas de produção, comercialização e


intensidade no uso de informação e conhecimento. Tais práticas
apoiam-se, por sua vez, em novos saberes e competências, em novos
aparatos e instrumentais tecnológicos, tanto como em novas formas
de inovar e de organizar o processo produtivo (LASTRES & ALBAGLI,
1999, p. 8).

As contribuições já mencionadas proporcionadas pelas TICs dão à chamada


economia baseada na informação e no conhecimento uma diferente base tecnológica,
que, radicalmente, amplia as condições de produção e distribuição de conhecimentos.
Assim, emergência do ciberespaço implica em maiores possibilidades de acesso à
informação, de codificação de conhecimentos e a transferência destes conhecimentos
codificados.

A produção e a competitividade na produção informacional baseiam-


se na geração de conhecimentos e no processamento de dados. A
geração de conhecimentos e a capacidade tecnológica são as
ferramentas fundamentais para a concorrência entre empresas,
organizações de todos os tipos e, por fim, países. Assim, a geografia
da ciência e da tecnologia deve surtir grande impacto sobre as redes
e as redes da economia global (CASTELLS, 2008, p. 165).

Para as autoras Lastres & Albagli (1999), o novo papel da informação e do


conhecimento no mundo contemporâneo vem provocando modificações significativas
nas relações, na forma e no conteúdo do trabalho, o qual assume um caráter cada vez
mais “informacional”. Logo, a capacidade de transporte, transferência, produção e
aquisição de informação e conhecimento se tornam aspectos centrais na produção de
recursos materiais e imateriais necessários à manutenção de uma série de
necessidades sociais.
Em uma sequência simples e sucinta, podemos dizer que informação
contribuiria para a construção de conhecimento, que, por sua vez, é peça fundamental
para a produção da inovação.
124

Figura nº 4: Informação, conhecimento e inovação

Fonte: Elaboração própria a partir de Lastres & Albagli (1999).

A inovação é entendida como resultado de uma ação coletiva e sistêmica


na qual interagem diversos panoramas (o científico, o educacional, o tecnológico, o
técnico, o econômico, o social e o institucional - formalizado ou não) e a qual permite a
empresas, organizações e pessoas aprenderem, usarem e acumularem capacidades e
competências, além de desenvolverem novos produtos, bens e processos. Para tal, ela
depende fortemente da capacidade de se trocar informação, produzir e absorver
conhecimento, sobretudo conhecimento científico.
Fernandes & Lima (2006) afirmam que a inovação é um processo: (1)
coletivo; (2) interativo; (3) cumulativo; (4) não linear; e (5) sistêmico. É coletivo, visto
que, na atualidade, são muitos os agentes – e não um inventor isolado; interativo,
porque a troca de conhecimento entre diferentes agentes envolvidos no
desenvolvimento da inovação é fundamentalmente indispensável para este último
acontecer, em vista da impossibilidade de um único agente deter todo o conhecimento
e todas as informações necessárias ao processo; cumulativo, pois o conhecimento
acumulado propicia a base para o desenvolvimento de novo conhecimento ao longo
do tempo; é não linear, porque se processa em várias etapas, e não necessariamente
em sequência do laboratório à fábrica; é sistêmico, denotando que o processo de
inovação resulta da ação de vários agentes e das relações entre eles.
Cassiolato & Lastres (2005) argumentam que os principais pressupostos da
inovação seriam, portanto: (A) o conhecimento é base do processo inovador, e sua
criação, uso e difusão alimentam a mudança econômica, constituindo-se em
importante fonte de competitividade sustentável, associando-se às transformações de
longo prazo na economia e na sociedade; (B) o aprendizado é o mecanismo chave no
processo de acumulação de conhecimentos; (C) a empresa é considerada o ponto mais
importante neste processo. Porém, o processo de inovação é geralmente interativo,
125

contando com a contribuição de vários atores, detentores de diferentes tipos de


informações e conhecimentos, dentro e fora da empresa; (D) os processos de
aprendizado, capacitação e inovação são influenciados e influenciam os ambientes
socioeconômicos e políticos onde se realizam.

Existe uma ampla gama de informações e conhecimentos essenciais


favorecendo a geração e incorporação de novidades (inovação),
processos estes caracterizados por mecanismos de tentativa e erro e
de feedbacks. As inovações passaram a ser entendidas como
resultantes do conjunto de atividades interligadas, compreendendo
principalmente sua assimilação, uso e difusão. A análise do processo
inovativo passa a se concentrar nas estruturas subjacentes a tais
conexões, sobretudo aquelas em rede (CASSIOLATO & LASTRES,
2007, p. 154).

Assim, a coletividade e a cooperação são importantes práticas para a


criação, fortalecimento e consequente consolidação do processo inovador. É a partir
destas dinâmicas que os vários agentes atuarão de forma sistêmica, configurando-se
melhores condições de produção e aquisição de conhecimento.
Para Castells (1999), parte considerável do desnível entre indivíduos,
organizações, regiões e países deve-se à desigualdade de oportunidades relativas ao
desenvolvimento da capacidade de aprender, trabalhar coletivamente, produzir
conhecimento e concretizar inovações. De forma semelhante, Abdalla (2004) ratifica
que uma proposta de racionalidade baseada no princípio da cooperação pode ter
como resultado o equacionamento de uma série de problemas e crises da sociedade.
Estas capacidades proporcionam novos processos políticos de
independência, concorrência e poder. O acesso material e imaterial ao conhecimento
se torna um trunfo momento em que trabalhar coletivamente, compartilhar
informações, produzir conhecimento e gerar inovações pode resultar na resolução de
problemas sociais dos mais diversos tipos.

Poder que não mais se restringe ao domínio dos meios materiais e


dos aparatos políticos e institucionais, mas que, cada vez mais,
define-se a partir do controle sobre o imaterial e o intangível — seja
das informações e conhecimentos, seja das ideias, dos gostos e dos
desejos de indivíduos e coletivos. Estabelecem-se assim novas
hierarquias geopolíticas, definidas com base em novos diferenciais
sócio-espaciais, refletindo fundamentalmente desiguais
126

disponibilidades de informações e conhecimentos estratégicos, bem


como desiguais posições no âmbito dos fluxos e dos fixos que
compõem as redes de informação e comunicação em escala
planetária (LASTRES & ALBAGLI, 1999, p. 8).

Contudo, é fundamental contar com uma base de conhecimentos


sustentada por um processo de aprendizado contínuo. Neste contexto, o caráter
interativo do aprendizado e da inovação - potencializado pelas possibilidades abertas
pelas TICs de intensificar as mais variadas conexões entre diferentes agentes - se faz
imprescindível. De forma semelhante, considera-se a importância de se focalizar a
coletividade em face de tais processos, e, em consequência, a construção de
ambientes articulados e conectados, propensos a estimular a geração, aquisição e
difusão de conhecimentos, como o caso das redes científicas.
As circunstâncias acima mencionadas contribuíram juntamente com uma
série de fatores para um novo patamar de cooperação internacional em rede que
busca a solução de problemas e a busca e produção de conhecimentos que venham a
atender as mais diversas necessidades.

A emergência da cooperação internacional em rede

Mais do que estarmos na era da sociedade da informação e conhecimento,


e mesmo de uma própria sociedade em rede, estamos no momento da cooperação
internacional em rede. Cooperação esta que é possibilitada – em até certo ponto - pelo
avanço técnico traduzido pelos meios de transportes e principalmente pelas
tecnologias de informação e comunicação. Para além de outras possibilidades de
cooperação internacional em rede, esta modalidade se faz pertinente enquanto sólida
e necessária na produção e transmissão de conhecimento científico e na superação de
desigualdades e problemas comuns enfrentados.

A produção de conhecimento novo requer, cada vez mais, o esforço


compartilhado entre pares, inclusive aqueles situados em contextos
nacionais e institucionais diversos, em torno de ações colaborativas e
iniciativas conjuntas para o encontro de soluções a questões e
problemas comuns no mundo globalizado. A cooperação
internacional deverá levar em conta essa tensão entre o acirramento
127

da competitividade e a necessária produção colaborativa de


conhecimento (MACIEL & ALBAGLI, 2010, P. 9).

Para Adams (2012) as novas redes regionais estão reforçando a


competência e a capacidade das economias emergentes de investigação, e alterando o
equilíbrio global de atividade de pesquisa científica que por sua vez podem revelar
diferentes formas de abordar os problemas das grandes instituições mundiais. Ainda
segundo o autor se as superpotências não quiserem serem deixadas para trás, elas
terão que sair de suas zonas de conforto para acompanhar o dinamismo das novas
mudanças que estão acontecendo.

Essas transformações podem representar o aprofundamento das


assimetrias nas relações internacionais e os riscos daí decorrentes,
sobretudo para os países em desenvolvimento; mas, também,
abrem-se novas oportunidades de uma possível democratização do
acesso à informação e ao conhecimento e sua apropriação social em
favor de um desenvolvimento em novas bases, sob diferentes pontos
de vista. No plano da geopolítica, coloca-se o desafio da
desconcentração do conhecimento, tanto entre países quanto entre
regiões (MACIEL & ALBAGLI, 2010, P. 9).

A colaboração é normalmente uma coisa boa do ponto de vista público. O


conhecimento é melhor transferido e combinado por colaboração entre vários
autores. Os artigos destes autores por sua vez tendem a ser citados com mais
frequência e ter mais impacto na comunidade científica mundial, pois, normalmente
possuem uma profundidade e consistência mais razoável, eles também permitem
cobrir muitos países e disciplinas de investigação ao mesmo tempo (ADAMS, 2012).
A quantidade de trabalhos publicados em conjunto em comparação a
isolada tem, ao longo dos anos têm aumentado exponencialmente. Em artigo recente,
King (2012) faz um retrospecto da quantidade de autores por trabalho científico com
base de dados da Nature. No início de 1980, os artigos com mais de 100 autores eram
raros, em 1990, o registro anual com esse número ultrapassou 500. O primeiro
trabalho com 1.000 autores foi publicado em 2004, uma pesquisa com 3.000 autores
em 2008. No ano passado, um total de 120 artigos de física teve mais de 1.000 autores
e 44 tinham mais de 3000. Muitos deles são de colaborações no Large Hadron Collider
128

(LHC) do CERN, na Europa no laboratório de aceleração de partículas, perto de


Genebra, na Suíça.

Gráfico nº 1: Multi autores por artigo de 1998 a 2011

Fonte: King (2012). Disponível em: http://go.nature.com/w3f2jt

O gráfico nº 1 pertencente ao trabalho de King (2012) em que o autor


destaca os artigos indexados pela base de dados da Thomson Reuters no período
concebido entre 1998 e 2011, mostrando o número de trabalhos com mais de 50, 100,
200, 500 e 1000 autores. A partir do final dos anos de 1990 a meados dos anos 2000,
as linhas são relativamente planas, subindo a partir do ano de 2001. Com exceção da
queda no ano de 2006, a tendência é claramente de subida, em 2010 mais de 1000
trabalhos superaram o número de 50 autores. Claro que é importante lembrar que em
algumas áreas como as ciências humanas essa prática ainda é muito incomum.

A cooperação internacional em ciência e tecnologia tem crescido a


uma taxa significativa. Partindo de uma base inexpressiva em meados
do século XX, a cooperação internacional representa hoje uma
parcela considerável da pesquisa científica. Quando medida, por
exemplo, através da contagem de artigos publicados em co-autoria
por pesquisadores trabalhando em, pelo menos, dois países
diferentes, a cooperação internacional mais do que duplicou entre
1988 e 2001 – passou de 8 para 18% do total de artigos publicados e
indexados pelo Science Citation Index (NSF, 2004, Science and
Engineering Indicators, pp. 54-55).

Essa tendência de crescimento em “multi autoria” continuará seguindo as


prioridades globais como aquelas voltadas para a saúde, energia, clima e estruturas
129

sociais, impulsionado em parte por organismos internacionais como a Organização


Mundial da Saúde (OMS). “Parte desse crescimento não virá de verdadeira
colaboração, mas sim de contribuições independentes, de esforços conjuntos,
geralmente na forma de dados, que envolvem apenas fraca interação intelectual”
(ADAMS, 2012, p. 335).
Artigos com vários autores vêm a contribuir para a difusão da cooperação
entre os países. Por exemplo, a União Europeia possui extenso tratado de redes de
cooperação científica entre os países membros. Alemanha e Reino Unido possuem
uma rede de pesquisa significativamente intensa, o que representa conexões de
inúmeros pesquisadores.
De acordo com dados da Web Of Science (2011) os dois países tinham
cerca de 10.000 publicações conjuntas em sua base de dados para períodos, que por
sua vez eram o dobro do total de artigos indexados em 2003 e que significavam 10%
da produção total de cada país. Os Estados Unidos tem cooperado significativamente
nos últimos anos com a China e essa tendência tem aumentado, em 2011 ambos
publicaram 19.141 artigos juntos.
Para Barabási (2009) o mundo se tornou bem menor que os seis graus de
separação do ponto de vista científico, a busca pela cooperação tem proporcionado
contribuições significativas na ciência e promissoras estruturas de pesquisa em rede
pelo mundo que por sua vez tem aproximado nações distantes geograficamente e as
vizinhas. Além do que para o autor, estas redes, são fortes veículos diplomáticos.
A quantidade de artigos publicados em parceira tem aumentado nos
números anos à medida que as nações e grupos de cientistas vêm compreendendo a
importância do networking no mundo acadêmico atual. A geopolítica mundial tem se
mostrado também direcionada para uma geopolítica em rede em que as forças de
muitos países têm emergido como grandes blocos de pesquisa comum (CHRISTAKIS &
FOWLER, 2010).

Essas transformações podem representar o aprofundamento das


assimetrias nas relações internacionais e os riscos daí decorrentes,
sobretudo para os países em desenvolvimento; mas, também,
abrem-se novas oportunidades de uma possível democratização do
acesso à informação e ao conhecimento e sua apropriação social em
favor de um desenvolvimento em novas bases, sob diferentes pontos
130

de vista. No plano da geopolítica, coloca-se o desafio da


desconcentração do conhecimento, tanto entre países quanto entre
regiões (MACIEL & ALBAGLI, 2010, P. 9).

De acordo com Adams (2012) antes da década de 90 nenhum país havia


compartilhado mais de 1.000 artigos em conjunto em um ano. Para o autor o rápido
crescimento da China desde 2000 está levando a um nível de cooperação acadêmica
mais estreita com Japão (até quatro vezes desde 1999), Taiwan (até oito vezes), Coreia
do Sul (até dez vezes), Austrália (mais de dez vezes) e com todos os outros países na
região da Ásia-Pacífico região.
A Índia tem construído ao longo dos anos uma rede de pesquisa, com
Japão, Coréia do Sul e Taiwan, no Oriente Médio, Egito e Arábia Saudita tem forte
parceria de pesquisas científicas também em rede que por sua vez tem atraído os
vizinhos Tunísia e Argélia. Na América Latina existe uma rede de pesquisas emergente
focada em torno do Brasil, que por sua vez dobrou a cooperação com Argentina, Chile
e México. O continente africano tem duas redes distintas uma no sul da África, em
países de língua francesa e outro na África Oriental em países de língua inglesa
(ADAMS, 2012).
Hoje, já não há dúvida de que a cooperação entre os países e outros atores
internacionais – em plena época da sociedade e da economia do conhecimento –
converteu-se, de mera opção, em necessidade imprescindível. Basta pensarmos em
como a comunidade científica internacional poderá conquistar um desenvolvimento
científico e tecnológico e ter amplo acesso às novíssimas áreas do conhecimento e
assegurar sua aplicação em benefício geral, enfrentar os graves problemas globais do
nosso tempo e até sobreviver a eles, sem um sistemático esforço de cooperação, em
escala jamais vista antes (MONSERRAT FILHO, 2010).
Para Morel et. al. (2007), mais do que iniciativas de promoção da
cooperação internacional, estas devem ser estabelecidas em redes que ao longo do
tempo possam se tornar fortes e estáveis veículos de circulação de informação, ideia e
conexão de pesquisadores, como o caso da rede internacional de doenças
negligenciáveis da qual o Brasil faz parte.
A cooperação internacional por sua vez se faz veículo estimulante na
construção de redes sociais voltadas para a pesquisa científica, uma vez que estas
131

estruturas se comportam como verdadeiras facilitadoras na circulação de informações


e ajuda na conexão entre os vários membros, facilitando o aprendizado social
conjunto.
A pesquisa científica em rede e suas contribuições na obtenção
de resultados e benefícios

Da mesma forma em que a conexão por meio de redes é prática antiga na


organização dos grupos humanos, a pesquisa em rede também é uma atividade antiga,
quase tão antiga quanto à instauração de métodos científicos com o objetivo de
abordar e pesquisar fenômenos existentes na terra. Logo, a comunidade científica,
como manifestação social, sempre atuou em rede, por meio dos vários recursos que
foram estabelecendo-se ao longo de sua história.
O fato mais significativo neste contexto, é que, da forma com que as redes
são concebidas atualmente, a ciência tem de maneira bastante significativa um novo
suporte para potencializar o seu avanço: justamente a possibilidade de maior conexão
entre os seus pesquisadores localizados em espaços geográficos distintos por meio das
tecnologias de informação e comunicação.
Para Castells (1999), as redes se constituem na nova morfologia social da
atual sociedade, e a difusão de sua lógica modifica de forma substancial a operação de
resultados dos processos produtivos, de experiência, poder e cultura. Assim, surge nos
últimos anos uma significativa atenção a três grandes abordagens: a) os resultados de
comunicação e circulação oportunizados pelo ciberespaço; b) as possibilidades de
conexão humana; e c) as perspectivas de trabalho coletivo, amplificadas a partir da
junção destes dois componentes, principalmente ancoradas na construção de redes
sociais.

Nesse sentido, as redes sociais podem ser compreendidas como


formas independentes de coordenação de interações. A marca
central da rede é a cooperação, baseada em confiança entre atores
autônomos e interdependentes. Estes trabalham em conjunto por
um período limitado de tempo e levam em consideração os
interesses dos parceiros envolvidos, que estão conscientes de que
essa forma de coordenação é o melhor caminho de alcançar seus
objetivos particulares. É em função dessa capacidade de agregação
que as redes têm um grande potencial para instigar processos de
132

aprendizagem e são defendidas para a implementação de projetos de


inovação, nos casos em que os riscos envolvidos apresentarem-se
altos demais para cada um dos parceiros individualmente (FREY,
2003, p. 175).

Para tal, parte-se da seguinte premissa: o trabalho cooperativo amplifica os


resultados na medida em que agentes com conhecimentos complementares se
integram na busca de um objetivo comum. E este pode ser potencializado em
empreendimentos estruturados no formato das redes sociais. Em algumas áreas essa é
uma lógica tradicionalmente fundamental no desenvolvimento científico, tecnológico e
inovativo.
Portanto, podemos reafirmar que, o acesso ao conhecimento é uma
ferramenta chave no desenvolvimento de regiões e grupos sociais, orientado não
somente para o incremento econômico, mas entendido, sobretudo, como elemento
indispensável ao desenvolvimento humano.
Nesta linha de raciocínio, a possibilidade do agrupamento de
pesquisadores em redes se torna dinâmica eficaz no que compete a resultados mais
expressivos do que os produzidos por um único indivíduo trabalhando de modo
isolado. A comunicação, a troca de informações e o trabalho se tornam efetivamente
mais frutíferos quando realizados em rede.
Barabási (2009) e Christakis & Fowler (2010), em seus trabalhos, destacam
“o poder das conexões”, ratificando a importância do networking, o seu poder de
moldar nossas vidas e, consecutivamente, de produzir mudanças significativas, por
exemplo, no âmbito da pesquisa. Para eles, um dos fatores que auxilia
significativamente na melhoria de resultados empreendidos pelas pessoas está nas
suas conexões com outros indivíduos que, obrigatoriamente, tem alguma experiência
ou informação para acrescentar.
Assim como defendem Christakis & Fowler (2010), da mesma forma com
que os ricos ficam mais ricos se conectando a outros ricos, e pessoas felizes se
conectam a outras pessoas felizes, para a ciência de um modo geral, o seu progresso
está atrelado à capacidade de pesquisadores se conectarem a mais e mais
pesquisadores, de maneira que a informação e as mais diversas competências sejam
133

utilizadas em problemas comuns, e que conhecimentos e resultados sejam produzidos


com mais intensidade por todos os membros da rede.
Em uma rede formada por pesquisadores - como em qualquer rede social -
vários atores se estruturam como hubs, ou seja, atores que servem para o
fornecimento e envio de informações, estes são os principais agregadores dos demais
e outros como conectores na transmissão compartilhamento de informação e
aprendizado. Os conectores são os membros que se conectam aos hubs para que daí
se disperse mais informações. Cria-se, assim, em uma rede, a possibilidade de
instauração de um contexto de solidariedade e multiplicidade de resultados e trocas
de experiências, o que ratificando o que dito anteriormente, dificilmente ocorreria em
projetos organizados isoladamente ou com indivíduos pouco conectados.

Os conectores são um componente extremamente importante da


nossa rede social. Eles criam tendências e modas, fazem contatos
importantes, espalham novidades ou ajudam a abrir um restaurante.
São a tessitura da sociedade juntando facilmente diferentes raças,
níveis de instrução e linguagens. [...] Os conectores são nós que
contêm um número anomalamente grande de links (BARABÁSI, 2009,
pp. 50-51).

Deste ponto de vista, a inserção em novos grupos, com novos hubs e


conectores, permite a possibilidade de interação e cooperação entre novos membros
com conhecimento em áreas muito específicas, diferentes, restritas. Permite-se
também a conexão com agentes com maior reputação ou experiência, com maior
poder de conexão, agregação de outros grupos, instituições e outros recursos
materiais ou imateriais.

A inclusão/exclusão em redes e arquitetura das relações entre redes,


possibilitadas por tecnologias rapidíssimas da informação,
configuram os processos e funções predominantes em nossas
sociedades. Redes são estruturas abertas que tendem a se expandir,
gerando novos nós, que compartilham os mesmos códigos de
comunicação (valores ou objetivos de desempenhos) (FUJINO, A. et.
al., 2009, p. 212).

A interdisciplinaridade encontrada nas redes entre pesquisadores propõe


ascender o universo muitas vezes fechado da ciência e trazer à tona a multiplicidade
dos modos de conhecimentos, reconhecendo assim as variedades de indivíduos e dos
134

conhecimentos destes indivíduos, principalmente como produtores de novos e velhos


modos de produzir ciência.
Kodama (1992) afirma que alguns dos mais significativos avanços
científicos surgiram da integração ou fusão de campos científicos anteriores separados
ou onde havia pouco diálogo entre seus pesquisadores. Porém, como aponta Fujino,
et. al. (2009, pp. 215-216),

A ciência é uma atividade eminentemente coletiva e social,


construída por meio de relações sociais entre os pares. Seus
resultados (avanços ou retrocessos) são resultantes da interação
entre os pesquisadores, seja de maneira direta (por meio de
desenvolvimento de projetos e publicações em coautoria) ou indireta
(por meio da citação de trabalhos da comunidade científica). De certo
modo, existe uma relação entre todos os membros de uma
comunidade científica de determinada área, tanto nacionalmente
quanto internacionalmente, e, em consequência ao desenvolvimento
da atividade científica como um todo.

Para LARA & LIMA (2009), a cooperação científica é um processo social


intrínseco às formas de interação humana para efetivar a comunicação e o
compartilhamento de competências e recursos. Para as autoras, a cooperação
científica em rede é um meio para otimizar recursos, dividir trabalho, aliviar o
isolamento próprio da atividade acadêmica e criar sinergia entre os membros dessa
atividade.
Para Balancieri (2005), uma rede científica pode ser então, definida como
uma organização de coesão tênue, consistindo em diferentes indivíduos ou grupos
ligados entre si por vínculos de naturezas diversas. Essas redes são tipicamente centros
“não físicos” que contam com meios de comunicação avançados, a fim de promover a
interação de participantes com qualificações complementares. O grau de participação
de cada unidade participante é flexível.
A divulgação dos resultados das pesquisas, quando também publicados em
cooperação, e a conexão entre os vários agentes que contribuíram para a realização do
trabalho formam o que aqui é considerado como redes científicas, que, segundo
Newman (2001), é um termo derivado da linguagem social, que adota a nomenclatura
redes sociais.
135

Para Medows & O’Connor (1971), uma rede científica pode ser definida
como um conjunto de trabalhos cooperativos desenvolvidos entre dois ou mais
pesquisadores e identificados por meio de artigos co-assinados, identificando suas
instituições e localidades de origem. Para os autores, os artigos como resultado da
produção de quaisquer tipos de conhecimento representa a comprovação social de um
trabalho estabelecido por uma rede com enfoque na ciência.
Na tentativa de também conceituar o que é, aqui, considerado como uma
rede científica 22 acredita-se que esta possa ser descrita como agrupamentos de
pesquisadores e suas afiliações e grupos, em uma continuidade de pesquisa em rede,
com vários níveis hierárquicos ou não, em espaços geográficos distintos ou não, onde
se tem por finalidade a construção de laços de cooperação, confiança, reciprocidade e
compartilhamento de experiências, promovendo, assim, o progresso da ciência por
meio da produção de bens, serviços, conhecimentos e inovações.
Nelas se reflete a horizontalidade, voluntariedade, interdisciplinaridade,
cooperação, flexibilidade, solidariedade, objetivos e metas comuns. Elas podem ser
estruturadas nos âmbito das mais variadas escalas: local, regional, nacional,
internacional; em vários níveis diferentes: intra, inter ou mista, considerando-se a
conexão entre grupos, departamentos, instituições, setores; também pode se
estruturar de acordo com suas motivações: culturais, sociais, econômicos, simbólicas,
políticos, científicos e tecnológicos.
Em uma rede científica, Newman (2001) chama os grupos ou as pessoas de
“atores” e a conexão entre elas de “vínculo”. Os atores, assim como o vínculo, podem
ser definidos de várias maneiras, dependendo das questões de interesse. O ator pode
ser uma pessoa, um grupo, instituição, laboratório ou uma empresa.
Para Funaro (2010, p. 53), “na pesquisa científica os atores são cientistas, e
o vínculo entre eles é a colaboração, que posteriormente resultará em uma publicação
em forma de colaboração ou coautoria”. A publicação, ou registro de uma patente, por
exemplo, é a expressão dos resultados e objetivos aspirados por uma rede científica. A
promoção da construção de um vínculo em uma rede que resulte no avanço da ciência

22
Existe uma polissemia de termos e definições com relação a este tipo de rede, na maior parte dos
casos usam-se várias nomenclaturas para denotar o mesmo objeto: redes de coautoria, redes de
colaboração acadêmica, redes de colaboração científica, redes de cooperação científica, redes de
conhecimento, redes sociais cooperativas, redes acadêmicas de pesquisa etc.
136

ou na solução de um problema por sua vez pode ser considerada como o objetivo
primário de qualquer rede científica.
De acordo com Witter (2009), desde os anos 60 do século passado observa-
se o crescimento das redes sociais cooperativas no âmbito da pesquisa científica,
possibilitando a solidificação de grupos formados por pesquisadores geograficamente
distantes, ou mesmo aqueles não distantes. Este tipo de pesquisa em rede, no
passado, dependia em grande parte das debilidades espaço-temporais do correio, fax,
telégrafo e telefone (mostrados anteriormente), principalmente no transporte de
arquivos.
Ainda segundo Witter (2009), a rede social merece a adjetivação de
colaborativa ou cooperativa quando todos os que a integram, não apenas os que são
nós, ou membros com maior centralidade (aqueles com maior número de contatos ou
maior poder na rede), mas todos contribuem significativamente para o grupo,
empenhando-se em disseminar via rede o que for de interesse comum e partilham as
informações com todos.
Nesse tipo de rede social23, todos cooperam para melhorar: o desempenho
de cada um, o produto que estejam elaborando, o conhecimento a ser produzido, ou
para atingir os objetivos gerais ou específicos estabelecidos. Contudo, se pressupõe
que em uma rede de pesquisa, a ação cooperativa esteja implícita em sua
estruturação, caso contrário, a rede perderia sua estrutura básica, por isso neste
trabalho é utilizado apenas o termo “rede científica”.
Para Weisz & Roco (1996), uma rede científica pode ser um
empreendimento cooperativo que envolve metas comuns, esforço coordenado e
resultados ou produtos (trabalhos científicos) com responsabilidade e mérito
compartilhados. Assim, a cooperação científica oferece uma fonte de apoio para
melhorar o resultado e maximizar o potencial da produção científica.
Ainda segundo Weisz & Roco (1996), em uma ótica social, importante
ganho resultante da formação de redes científicas quando comparada a pesquisadores
isolados é a ampliação do repertório de abordagens e ferramentas que advém do

23
Admite-se também que uma rede científica, assim como as demais estruturas sociais, não esteja livre
de disputas por poder, territorialidades, e a construção de grupos rivais dentro de uma estrutura maior,
sobretudo por que estas particularidades compõe organizacionalmente qualquer agrupamento desta
natureza.
137

intercâmbio de informações e da fertilização cruzada que se verifica quando grupos


distintos juntam esforços no sentido de alcançar determinada meta.
Para Carvalho (2009), as redes sociais, se movimentam em diferentes
direções e se articulam e usufruem de forma positiva do que oferecem os sistemas de
informação. Na realidade brasileira interessam, prioritariamente, o fortalecimento
significativo da pesquisa, do ensino-aprendizagem e de iniciativas voltadas para a
cidadania. Sendo assim, as redes científicas podem contribuir para o crescimento do
País, principalmente em regiões periféricas como é o caso do Nordeste.

No caso brasileiro, essas redes surgem como uma alternativa


concreta para agregar grupos de pesquisadores distribuídos
geograficamente e embora atuem em temas conexos, nem sempre
têm a oportunidade de encontros presenciais, em virtude de
questões econômicas, de tempo e espaço. A interatividade abre
infinitas possibilidades de interatuação em tempo real e em múltiplos
espaços (FUJINO, et. al., 2009, p. 217).

As redes representam o mundo em movimento, e, mediante as relações


entre as pessoas, vão de modo contínuo reconstruindo a estrutura social, sendo a
informação, o conhecimento e a possibilidade de transmissão e construção destes o
elemento aglutinador em uma estrutura em rede, sobretudo na ciência. A rede
enquanto espaço plural de conexões potencializa ações coletivas e de solidariedade
entre pessoas que são de grande relevância nas mais variadas áreas.
Para Fujino et. al. (2009), uma rede científica é um dos mecanismos mais
eficazes no compartilhamento das experiências e atividades indispensáveis para a
alimentação do fluxo que leva ao desenvolvimento da ciência. As redes permitiriam,
assim, ao indivíduo uma condição de contiguidade e continuidade, trazendo mudanças
no fluxo de informações e nas relações entres os indivíduos.
Tais redes representam, nesse contexto, não só um elemento competitivo
significativamente vantajoso, mas também estruturas potencializadoras de
aprendizado social, independência científica e tecnológica, que por sua vez, podem
também “capacitar” os indivíduos a se valerem das mudanças técnicas em prol de
perspectivas em favor de uma convivência solidária, recíproca, cooperativa e
comunitária.
138

Considerações Finais

A premissa que se procurou defender neste nó foi a seguinte: o trabalho


cooperativo em rede amplifica os resultados na medida em que agentes com
conhecimentos complementares se integram na busca de um objetivo comum. Assim,
o importante ganho resultante da formação de redes científicas quando comparada a
pesquisadores isolados é a ampliação do repertório de abordagens e ferramentas que
advém do intercâmbio de informações e da fertilização cruzada que se verifica quando
grupos distintos juntam esforços no sentido de determinada meta.
Mais do que simplesmente obter acesso à informação, a construção deste
tipo de rede se torna elemento-chave na produção de conhecimento, que, por sua vez,
sempre foi à base para a manutenção e o desenvolvimento de nações e grupos sociais.
É na produção de conhecimento que se tem elemento básico no desenvolvimento de
qualquer área científica.
Esta dinâmica por sua vez tem aumentado cada vez mais e influenciado a
cooperação internacional em rede com países que antes mantinham pouca ou
nenhuma relação deste tipo. A busca pelo enfrentamento de problemas comuns tem
mudado a geopolítica mundial gradativamente, indicando novas tendências de
articulações em rede.
Para além dos retornos científicos produzidos pela pesquisa científica em
rede, os tipos de redes em que os atores se inserem condicionam principalmente suas
práticas políticas, que por sua vez pode proporcionar ideologicamente uma estrutura
de cooperação em rede constante para a solução de problemas comuns existentes em
um único país ou em vários.
Especificamente, os novos contornos e desafios aos problemas comuns e
as especificidades, está a cada vez mais crescente cooperação internacional, que busca
por meio de redes de pesquisadores satisfazer a necessidade de todos em busca da
compreensão de problemas e retornos para todos os envolvidos. Do ponto de vista
social e científico a construção de redes é importante veículo no alcance dos mais
diversos objetivos e possibilidade de solução dos mais diversos problemas.
139

3º Nó

As multiplicidades geográficas do
“estar aqui”.

“Contatos face a face, sensíveis-afetivos, que fazem do espaço – e das


contingências simultâneas, enquanto veículos da multiplicidade – o
lócus do aparecimento do efetivamente novo” (Rogério Haesbaert no
prefácio de Pelo Espaço, p. 09, de Dorey Massey, 2005)
140

3º NÓ - AS MULTIPLICIDADES GEOGRÁFICAS DO “ESTAR AQUI”

Introdução

Se a cooperação em rede permite vislumbrarmos novos níveis de


contribuição, retornos e benefícios para os que interagem, sobretudo para a pesquisa
científica, temos que compreender a importância de alguns elementos em toda essa
dinâmica. Desta forma, além das já tratadas potencialidades permitidas pelo
ciberespaço, traduzido por meio de suas tecnologias informacionais e
comunicacionais, e do próprio contexto de retorno em termos de resultados e
benefícios promovidos da pesquisa científica em redes, procura-se destacar que o
simples fato do avanço das tecnologias de informação, processamento e comunicação
por si só, não refletem elementos suficientes para a construção e o funcionamento da
pesquisa científica em rede com parceiros distantes.
Portanto, a análise dos fluxos tecnológicos em face das redes estabelecidas
às longas distâncias deve ser feita com cautela, neste sentido acredita-se que novas e
complexas relações estão surgindo em face do espaço geográfico e os ambientes
eletrônicos acessíveis, e que para cada tipo de contexto analisado, encontraremos
dinâmicas e resultados diferentes. Desta forma, este nó visa abordar a diversidade de
elementos existentes na presencialidade dos contatos em rede.
Para tal, a abordagem que segue, fora dividida em dois tópicos, o primeiro
deles, primeiro deles intitulado de “as multiplicidades geográficas em face dos fluxos
tecnológicos” procura debater a fundamental importância do espaço geográfico
enquanto produtor de inúmeras temporalidades e multiplicidades. E
fundamentalmente sua relevância enquanto fundamental palco de cooperação e
interação, mesmo com os adventos tecnológicos.
Para tal busca-se analisar o debate sobre o “espaço de fluxos” de Castells
(1999) ancorado em debates de autores tais como Pascal (1987); Benedikt (1991);
Heim (1993); Batty (1993); Virilio (1993); Schroeder (1994); Negroponte (1995); Ianni
(1996); Baldwin et. al. (1996) e Musso (2003). O ponto defendido é que a consideração
dos autores mencionados é pouco sensível à geograficidade dos processos sociais. E
141

que a negação do espaço é puro reducionismo e mostra pouca sensibilidade para com
as noções de distância e idiossincrasias do espaço geográfico.
Por fim, o tópico “a importância do ‘estar aqui’ e de comunicar-se face a
face na pesquisa científica em rede” visa defender o argumento que, estar
presencialmente em determinados momentos com os membros – construção, término
e atuação da pesquisa - de uma rede não só facilita à interação, a coordenação e a
comunicação entre os membros, como potencializa os níveis de proximidade social e a
consequente maior troca e compreensão de códigos e signos e estabelecimento de
confiança.
O que por sua vez, nos leva a considerar que as ferramentas tecnológicas
no que diz respeito à comunicação e trabalho à distância só fornecem subsídios até
certo ponto, exigindo assim contatos face a face em determinados momentos da
pesquisa científica em rede. Os contatos presenciais neste caso, são considerados
como veículos de multiplicidades pois carregam as diversas linguagens e bagagens
pessoais das pessoas que cooperam.
O aporte teórico aqui utilizado como fonte de revisão e ponto de vista,
baseia-se principalmente, mas não exclusivamente, nos seguintes autores: Polanyi
(1958, 1966, 1987); Nohria & Eccles (1992); Santos (1994, 1996); Robbins (1995,
1997); Graham (1997, 1998); Kitchin (1998); Lastres & Ferraz, (1999); Lastres & Albagli
(1999); Allen, (2000); Storper & Venables (2001); Gertler (2001a, 2001b, 2003, 2005);
Massey (2005); Torre & Rallet (2005); Morgan (2006); Lagendijk & Lorentzen (2007).

As multiplicidades geográficas em face dos fluxos tecnológicos

Como já mencionado anteriormente, Castells (1999) destaca que as redes,


influenciaram e influenciam fortemente na construção de uma nova morfologia social.
Para o autor, estaríamos vivendo na “sociedade em rede” que reiterando em termos
simples, seria uma estrutura social baseada em redes operadas por tecnologias de
comunicação e informação, fundamentadas na microeletrônica e em redes digitais de
computadores que geram, processam e distribuem informação a partir do
conhecimento acumulado nos nós dessas redes.
142

Através dessa análise Castells (1999) abre espaço para abordar o debate
em torno do fato de que a atual sociedade em rede esta instaurada em meio aos
fluxos: fluxos de capital, fluxos da informação, fluxos de tecnologia, fluxos de interação
organizacional, fluxos de pessoas, fluxos de diálogos, fluxos de imagens, sons e
símbolos. Os fluxos assim para o autor não representariam apenas um elemento da
organização social: eles seriam a expressão dos processos que dominam nossa vida
econômica, política e até simbólica.

Nesse caso, o suporte material dos processos dominantes em nossas


sociedades será o conjunto de elementos que sustentam esses fluxos
e propiciam a possibilidade material de sua articulação em tempo
simultâneo. Assim, proponho a ideia de que há uma nova forma
espacial característica das práticas sociais que dominam e moldam a
sociedade em rede: o espaço de fluxos. O espaço de fluxos é a
organização das práticas sociais de tempo compartilhado que
funcionam por meio de fluxos (CASTELLS, 2008, p. 501).

A tendência dominante de acordo com o autor aponta para um horizonte


de espaços de fluxos e históricos em redes, visando impor sua lógica nos lugares
segmentados e espalhados, que estariam cada vez menos relacionados uns com os
outros, cada vez menos capazes de compartilhar códigos culturais.
Para Castells (2005, p. 500) do ponto de vista da teoria social, “o espaço é o
suporte material de práticas sociais de tempo compartilhado”. Por tempo
compartilhado o autor se refere ao fato de que o espaço reúne as práticas que são
simultâneas no tempo. Nesse sentido, o autor destaca uma possível existência de
suportes materiais de simultaneidades que não dependam de continuidade física, visto
que para ele seja exatamente este o caso das práticas sociais predominantes na era
por ele considerada da informação.
Para tal, o autor acredita, entre outras coisas, que as pessoas cada vez mais
estariam propensas ao estabelecimento de redes sociais duradoras sem necessitarem
de contatos físicos ou de contatos face a face. De acordo com ele, a atual morfologia
tecnológica da sociedade em rede tenderia a suprir em determinados segmentos a
143

necessidade de comunicações presenciais, diante dos fluxos estabelecidos no que ele


conceitua de “espaços de fluxos24”.
As colocações de Castells (1999) apoiam-se nas dinâmicas recentes da
produção dadas pela chamada nova economia da informação e do conhecimento, na
cultura e poder disseminados pelas redes enquanto morfologia social e técnica,
apontando assim para a instauração de um paradigma tecnológico informacional que
dá a lógica e o sentido a boa parte da base material das sociedades atuais.
Para o autor, a lógica viária de uma sociedade em rede baseada nos fluxos,
proporcionaria gradativamente a diminuição da rigidez física da distância, do tempo e
das impossibilidades que as rugosidades e a materialidade nos proporcionam. A
conexão e comunicação mediada pelo “espaço de fluxos” ou “ciberespaço” permitiria
ascendermos á uma nova instantaneidade relacional.
A argumentação de Castells (1999) é justamente uma das principais
vertentes que se propõem a debater sobre a dinâmica dos fluxos atuais e a perda
gradativa da necessidade de contatos presenciais, elas estão ancoradas no debate em
torno das redes medidas pelos suportes tecnológicos.
As colocações do autor são ancoradas em debates semelhantes como os de
Pascal (1987); Benedikt (1991); Heim (1993); Batty (1993); Virilio (1993); Schroeder
(1994); Negroponte (1995); Ianni (1996); Baldwin et. al. (1996) e Musso (2003) em que
procuram debater sobre a unicidade de tempos e a convergência de momentos
proporcionada pelo ciberespaço em face de suas transformações espaço-temporais.
Para os autores estas rupturas proporcionariam a criação espaços sociais em meio aos
fluxos que substituiriam as qualidades formais do espaço geográfico.
A lógica das telecomunicações e da mediação eletrônica é assim
interpretada como inevitável apoio à dispersão geográfica de grandes regiões
metropolitanas, das cidades, dos compartilhamentos cotidianos e das interações
presenciais entre as pessoas. Nela, uma vez que o tempo tornou-se instantâneo, o
espaço se tornaria desnecessário (GRAHAM, 1997).

24
Ao conceito de ciberespaço, Castells (1999) se reporta enquanto “espaço de fluxos”. Lévy (2000)
conceitua como “um imenso espaço digital permeado por fluxos”. Em ambos os casos a polissemia de
termos aponta para um mesmo objeto.
144

Autores como Musso (2003, p. 332), consideram que o ciberespaço possa


ser visto como “espaço ilimitado de redes informacionais pode circular em um espaço
puro, sem fricção, etéreo e virtual”. Para ele, as rugosidades da vida cotidiana se
apagariam ao instituir-se um espaço eletrônico liso, livre de controle e de barreiras:
“No ciberespaço, o território áspero e resistente é excluído, restando um espaço liso,
fluido, feito para o tráfego” (MUSSO, 2003, p. 334).
Com a mesma concepção, Negroponte (1995, p. 165) fala que para ele a
“vida digital inclui cada vez menos a dependência de estar em um local específico em
um momento específico, e a transmissão do lugar em si vai começar a se tornar
possível”. De forma semelhante, aponta Virilio (1993, pp. 8-9),

Tudo chega tão rapidamente que a partida se torna desnecessária.


[...] Crise na noção de dimensão física de espaço, lugar, região e
cidade. Na arcaica tirania das distâncias entre as pessoas que foram
dispersas geograficamente.

Para estas concepções, uma vez que o tempo tornou-se instantâneo, o


espaço se tornaria desnecessário. Autores como Benedikt (1991, p. 10), passam a
questionar “a importância da localização geográfica em todas as escalas”. Eles
colocam as tecnologias como solução para uma parte significativa dos problemas
espaciais, sobretudo aqueles referentes à comunicação, o que acabam por gerar
imprecisões e equívocos, tais como o de não relativizar o que é de fato o espaço
geográfico, e, por conseguinte a geograficidade dos processos sociais. Inclusive aqueles
mediados pelas redes eletrônicas.
Robbins (1997, p. 198) sugere que tem havido um “desejo, há muito
existente, de transcendência, dessa ligação com a terra, desses constrangimentos do
espaço geográfico, do lugar” que por sua vez tem implicado na promoção de visões
equivocadas em que, é sugerida gradativa diminuição da importância da
geograficidade dos processos sociais cotidianos, das rugosidades, das proximidades.
Da mesma forma, Massey (2008, p. 142) reforça a “importância da
materialidade em oposição à virtualidade” e sugere também cautela com “versões
idealizadas, nostálgicas e sem atrito, imaginadas pelos otimistas digitais”. Ainda sob
este ponto de vista Robins (1997) destaca,
145

A política do otimismo quer livrar-se da carga da geografia (e, junto


com ela, da bagagem histórica), pois considera a determinação
geográfica e a situação como tendo sido fontes fundamentais de
frustação e limitação na vida humana e social (ROBINS, 1997, p. 197).

Robins (1997) ao falar da “política do otimismo” destaca que por trás de


algumas correntes ideológicos constrói-se uma análise equivocada e ainda imprecisa
das relações complexas surgidas entre o ciberespaço e o espaço geográfico. Ainda de
acordo com o autor, temos que ter cautela com as rupturas promovidas pelo
deslocamento promovido pelos meios de transporte e as tecnologias comunicacionais.
Ademais, é importante frisar assim como afirma Massey (2008, p. 9) que “o espaço não
é redutível à distância de qualquer maneira”.
Massey (2008, p. 138) faz uma reflexão usando como ponto de análise as
comunicações a longa distância como o telefone, a web conferência etc. Ao afirmar
que “isto seria como dizer que, por que uma chamada telefônica seja instantânea, os
participantes dela, estejam fundidos em uma única entidade”. Seria o mesmo que
acreditarmos que a instantaneidade da ligação permita a instantaneidade da presença
dos corpos e todas as particularidades que acompanham. Mesmo uma web
conferência, está limitada por debilidades.
A confiança generalizada em tais perspectivas espaciais e tecnológicas, na
verdade, pode servir para ofuscar as complexas relações entre comunicação, o
ciberespaço, tempo, e o espaço geográfico. Onde pouco se coloca a pensar
conceitualmente sobre como as relações no ciberespaço realmente se conectam aos
espaços geográficos e aos lugares ligados à vida humana territorial (GRAHAM, 1998).
Sem uma análise cautelosa sobre as implicações os fluxos tecnológicos, do
espaço geográfico e sobre como as novas formas de se relacionar são incorporadas por
eles (e neles), algumas reflexões podem ser reducionistas e determinísticas. Estas
podem apontar para inconsistências destacadas, por exemplo, por Thu Nguyen &
Alexander (1996, p. 117), as quais destacam que se tem aumentado cada vez mais os
debates que consideram que a vida cotidiana estaria cada vez mais dominada pela
“participação na ilusão de uma eterna e imaterial eletrônica mundial, o mundo
material do espaço e lugar se tornariam gradualmente eviscerados”.
146

A implicação é que de acordo com essas perspectivas, os próprios


conceitos materiais de espaço geográfico, de tempo, e do corpo, serão problemáticos
ou mesmo obsoletos, cria-se outro erro apontando por Kitchin (1998, p. 394) em que
se acredita que o “espaço no ciberespaço é totalmente produzido socialmente sem
contrapartida física”.

A visão comum de um futuro que será diferente do presente, de um


espaço ou de uma realidade que é mais desejável do que o mundo
que atualmente rodeia e nos contém [...]. Tudo isso é impulsionado
por uma crença febril na transcendência, uma fé que, desta vez, uma
nova tecnologia vai finalmente e verdadeiramente livra-nos das
limitações e frustrações deste mundo imperfeito. Desta geografia
imperfeita. (ROBINS, 1995, p. 135).

A proposta de Castells (1999), assim como as de Pascal (1987); Benedikt


(1991); Heim (1993); Batty (1993); Schroeder (1994); Negroponte (1995); Virilo (1993;
1996); Rheingold (1994); Ianni (1996), para nós, assim como para Matos (2011, p. 171)
“é pouco sensível à geograficidade dos processos sociais [...] A negação do espaço é
puro reducionismo e mostra pouca sensibilidade para com as noções de distância e
idiossincrasias do espaço geográfico”. Boa parte destas considerações acaba por tratar
a geografia como simplesmente espaço físico, quando na realidade este precisa ser
entendido também, e, além de tudo, como espaço relacional (MORGAM, 2006).

O espaço revela no conteúdo de suas formas as mesmas contradições


que o produziram. Essas, por sua vez, geravam também as condições
de reprodução das relações sociais. Nesse sentido, o espaço é
resultado e, ao mesmo tempo, condição da reprodução social. Em
outras palavras, o espaço consiste em um “efeito” que se transforma
em “causa”, ou, um resultado que se transforma em processo
(GODOY, 2004, p. 31).

Embora Castells (1999, p. 43) debata que “o dilema do determinismo


tecnológico é, provavelmente, um problema infundado, dado que a tecnologia é a
sociedade, e a sociedade não pode ser entendida ou representada sem suas
ferramentas tecnológicas”, a lógica que se tenta estabelecer aqui se direciona para o
fato de que, as conexões eletrônicas fornecem profícuo ambiente de cooperação e
interação, mas que só servem até certo ponto, ou para determinadas atividades ou
147

funções específicas, que por sua vez não incorporam todas as multiplicidades que
envolvem o espaço geográfico (TORRE & RALLET, 2005; LAGENDIJK & LORENTZEN,
2007).
Embora a percepção de grupos sociais mais favorecidos em grandes áreas
metropolitanas, em países “desenvolvidos”, pode ser que o mundo em que estamos
vivendo represente um "espaço de fluxos" cada vez mais integrado e cosmopolita,
como para os acadêmicos com sede em Paris ou Londres, grande parte da população
mundial ainda experimenta suas vidas tão fortemente e territorialmente enraizadas.
(JONES, 2005).
Lidar com as multiplicidades do espaço, portanto, requer muito mais do
que meramente a "conquista da distância ou instantaneidade". E enquanto as novas
tecnologias de informação e comunicação, por sua vez, podem induzir o rearranjo de
configurações espaciais e a reordenação das multiplicidades, elas não podem
prejudicar o caráter fundamentalmente múltiplo de espaço (MASSEY, 2005).
Portanto, assim como para Lagendijk & Lorentzen (2007) e para nós,
podemos, sim, ter entrado numa época em que se tornou substancialmente mais fácil
para os grandes agentes hegemônicos produzirem situações de “estar ao mesmo
tempo aqui e ali” e se mobilizarem em grandes regiões “centrais”, mas, ao contrário
do que os defensores da “morte da distância, morte da geografia” sugerem, isso não
provocou um colapso das relações presenciais cotidianas.
Massey (2008 p. 93) destaca a importância do “conteúdo relacional das
formas espaciais, e, em especial, a natureza embutida nas relações de poder”.
Principais mecanismos de poder e controle, por exemplo, da concessão e acesso a
locais e recursos continuam fortemente fundamentados sobe as práticas de base
territorial, como o acesso a determinado objetos técnicos.

Em um sentido mais material, a imagem de mobilidade pessoal sem


limites, de longe, supera a capacidade real para mover grande
número de pessoas, resultando em novas formas de seletividade
espacial e controle. Além disso, a infraestrutura necessária para
sustentar o "espaço de fluxos" tem um custo enorme em termos de
investimentos localizados. Os custos de funcionamento, manutenção,
consumo de energia, medidas de segurança, e os custos para lidar
com os danos ambientais e congestionamento de custos e benefícios
148

são suportados de formas muito diferentes por diferentes lugares


(LAGENDIJK & LORENTZEN, 2007, p. 462).

A facilidade de viagens e comunicação tem realmente aumentado à


necessidade e possibilidade de articulação, criando a circulação de novas imagens e
narrativas espaciais, produzindo e reforçando hierarquias simbólicas no espaço.
Porém, em vez de modificar radicalmente as relações espaciais, estas várias forças
parecem replicar, ou mesmo reforçar os padrões existentes de polarização espacial e
centralização (SIMMIE, 2005).
Logo, não acreditamos ser possível um mundo criado apenas por fluxos,
nem um espaço formado somente por fluxos, sem estabilizações, sem fronteiras
físicas, sem rugosidades, sem estruturas físicas. Mobilidade e fixidez, fluir e assentar,
um pressupõe o outro. As cidades e empresas globais, os grandes atores hegemônicos,
com suas enormes capacidades de gerar e controlar fluxos, são construídos por vários
recursos físicos ou não, espacialmente fincados, móveis e distribuídos no espaço
geográfico (SANTOS, 1996; ROBINS, 1997; GRAHAM, 1998; MASSEY, 2005).
O movimento e a mobilidade para um espaço de fluxos de Castells (1999)
só pode ser alcançado por meio da construção técnica e material de estabilizações. O
digital só é permitido e existe em face da existência do palpável. Os fluxos tecnológicos
dependem das configurações múltiplas do espaço geográfico.
Ademais, é importante destacar que o mundo não é totalmente
globalizado. O próprio fato de que alguns estão se empenhando tanto em fazê-lo é a
prova de que o projeto está incompleto. Mas isso é mais uma questão de
incompletude, que uma questão de esperar os retardatários, seria uma questão de
temporalidades, multiplicidades e espacialidades diferentes em territórios com
contextos históricos distintos.
Estas questões nos fazem refletir que, sendo o espaço geográfico múltiplo
e reflexo da sociedade, sua importância em face dos fluxos tecnológicos estaria mais
do que cotidianamente renovada. O palpável, o relacional, o presencial e todos os
aspectos contidos nestes aspectos estariam tão importantes quanto antes, mesmo
com os adventos tecnológicos.
149

A importância do “estar aqui” e de comunicar-se face a face na


pesquisa científica em rede

Trabalhos recentes sobre a importância do espaço geográfico em face dos


novos fluxos tecnológicos e as formas de se agrupar e produzir conhecimento em rede
sugerem a necessidade da proximidade e contatos face a face entre as partes que
colaboram para o bom desenvolvimento de alguns aspectos, tais como: a) construção
de bons grupos de trabalho, e de boas relações; b) o bom a construção e
funcionamento de um projeto; c) otimização da comunicação e organização de
atividades; e) adoção de novas tecnologias e medidas de atuação (ALLEN, 2000;
STORPER & VENABLES, 2001; GERTLER, 2003, 2005; TORRE & RALLET 2005; LAGENDIJK
& LORENTZEN, 2007).
Os autores também concordam em três questões importantes: a) a
importância das novas tecnologias comunicacionais para o fornecimento de profícuos
canais de comunicação para os agentes que cooperam, e b) o fato de que para cada
contexto analisado as tecnologias por sua vez atuam de forma distinta, e c) do papel
ainda relevante da “proximidade25” e da comunicação face a face entre os agentes que
cooperam.
Para eles, a possibilidade dos pesquisadores “estarem aqui” e se
comunicarem face a face em dados momentos, não só é necessário, como reduz uma
série de incertezas, e dinamiza o trabalho cooperativo. Em outras palavras, ter os
demais membros “próximos” na hora de se formar uma equipe ou durante a realização
do projeto, facilita a realização do trabalho em si, além da inserção de novos membros
no grupo.
O contato face a face alimenta da historia comum do conjunto de atores.
Esta especificidade da proximidade recai sobre certas modalidades do exercício de
confiança que repousa não só sobre a reputação do outro (que poderia se realizar até
certo ponto à distância), mas de uma prática mais complexa e mais efetivada em longo
25
Gertler (2003, 2005) fala da importância do “estar aqui” para tratar das multiplicidades encontradas
nos diversos espaços distintos. Para o autor, a possibilidade de se estar presente, aperfeiçoa os
resultados, diminui incertezas e facilita a comunicação. Ainda segundo ele, estas questões são tão
importantes atualmente quanto ter acesso à tecnólogas comunicacionais e de transporte.
150

prazo. Esta prática constitutiva da confiança que se apoia, das relações que só podem
ser realizadas pessoalmente (STORPER & VENABLES, 2001).
A “proximidade” aqui mencionada é usada, tanto no sentido literal, como
permitir que mais frequente e eficaz, muitas vezes, a interação e cooperação não
planejada, e mais ampla, quanto a mais abrangente, como o compartilhamento de
língua comum, modos de comunicação, estrutura de trabalho, costumes, convenções,
simbolismos e normas sociais. Ou seja, a proximidade enquanto continuidade social,
dentro de um contexto histórico geográfico constante de (re)produção das relações
sociais cotidianas.
Do ponto de vista das construções e produções acessíveis e cotidianas,
Lagendijk & Lorentzen (2007, p. 460) destacam que fundamentalmente a proximidade
geográfica não deve ser equacionada apenas com a proximidade meramente física
pura e simplesmente.

Pelo contrário, é um conceito dinâmico, intimamente associado com


a noção de estruturação espacial. Por um lado, a proximidade
geográfica é um produto de uma construção histórica, de um
acumulado de infraestruturas de transporte e de locais de encontro,
tanto de uma forma e sentido mais material e virtual, bem como,
gostaríamos de acrescentar, a formação de espaços territorialmente
delimitados, dimensões sociais, institucionais, políticas e econômicas
(LAGENDIJK & LORENTZEN, 2007, p. 460).

Para Lagendijk & Lorentzen (2007) a proximidade geográfica promove e


potencializa também efeitos casuais não esperados, além de sustentar a conectividade
e posicionalidade dos agentes. Da mesma forma, Gertler (2005) destaca a importância
espacial como componente na facilitação do processo de compartilhado de códigos de
comunicação, cooperação bem como na construção de um legado comum de práticas
e instituições sociais. Ainda segundo o autor, a proximidade parece facilitar a formação
e manutenção em alta qualidade de relacionamentos que necessitem de intensiva
interação e proporciona maior e mais livre fluxo de informações entre os atores.
Para ele, no caso em que grandes distâncias venham a intervir, problemas
podem decorrer, mesmo com a funcionalidade eletrônica. A “falta de proximidade”
151

26
tenderia a tornar o processo de cooperação oneroso . E que mesmo
(in)voluntariamente os membros ainda tendem a procurar o estabelecimento de
conexões com outros que estão próximos.
As colocações de Gertler (2003, 2005) são reforçadas por Lagendijk &
Lorentzen (2007, p. 462) ao destacarem que “os lugares continuam sujeitos a formas
mais simbólicas de posicionalidade”. Na mesma linha de raciocínio, Allen (2000)
evidencia que as rotinas organizacionais em curso e as práticas sociais de trabalhos
coletivos envolvidos em empreendimentos comuns são mais facilmente fortalecidas
pelas interações cotidianas. Para tal, as práticas espaciais produzem perspectivas que
em alguns casos – ou momentos – sejam permitidas à distância, mas que mantem
significativa importância presencial.
Mais do que simplesmente “estar perto”, é importante que rotinas
organizacionais em curso e as práticas sociais de trabalhos coletivos envolvidos em
empreendimentos comuns sejam fortalecidas cotidianamente. Para tal as práticas
espaciais produzem perspectivas que em alguns casos – ou momentos – sejam
permitidas à distância, mas que mantem significativa importância presencial cotidiana.
(ALLEN, 2000)
Portanto, estar presencialmente em determinados momentos com os
membros de uma rede não só facilita à interação, a coordenação e a comunicação
entre os membros, como potencializa os níveis de proximidade social e a consequente
maior troca e compreensão de códigos e signos e estabelecimento de confiança. A
necessidade de contatos face a face é tanto mais importante quanto maior for o
caráter tácito do conhecimento, por exemplo.

[...] com relação à troca eletronicamente mediada, a estrutura do


contato face a face oferece possibilidade incomum de interrupção,
reparo, feedback e aprendizagem. Contrariamente a interações
grandemente sequenciais, a interação face a face possibilita a duas
pessoas emitir e receber mensagens simultaneamente. O ciclo de
interrupção, feedback e reparo, possível na interação face a face é
tão rápido que é praticamente instantâneo (NOHRIA & ECCLES, 1992,
p. 292).

26
O autor indica alguns problemas tais como: fuso horário, postos de fronteiras, distâncias físicas de
deslocamento, diferenças entre infraestruturas técnicas, problemas de comunicação relacionados às
diferentes linguagens, idiomas, regionalismos, diferenças contextuais das práticas no local de trabalho,
as culturas de formação etc.
152

O conhecimento tácito caracteriza-se pela dificuldade de transmissão à


distância, pois por maior que seja a habilidade de um indivíduo em alguma função, ele
pode não ter completa consciência de tudo que realmente sabe e de tudo que é
realmente necessário para a execução dessa tarefa aparentemente simples para o
próprio ou para os demais membros da rede, além de não conseguir explicitar seu
conhecimento apenas com palavras (POLANYI, 1987).
Para aquisição de tal conhecimento necessitam-se experiências,
observações pessoais dos agentes na rede e interações sociais, tornando-se, portanto,
dificilmente transbordável pela telemediação no ciberespaço ou por diferentes
contextos geográficos. Esse não é estabelecido de forma explícita, requerendo
experiência de trabalho cooperativo através de contatos face a face, ainda que tais
conexões não sejam exigidas durante todas as fases de uma pesquisa científica em
rede (GERTLER, 2003).
Ou seja, o componente tácito do conhecimento necessário para o bom
desempenho de uma habilidade é o que desafia a codificação ou articulação - ou
porque a pessoa não é totalmente consciente de todos os “segredos” do bom
desempenho ou porque os códigos de linguagem são não suficientemente bem
desenvolvida para permitir explicação, como o caso de idiomas, regionalismos,
comportamentos. Nesses casos, a melhor maneira de transmitir esse conhecimento é
através da demonstração, experiência e cooperação, como no caso entre professor e
aluno, orientador e orientando.
Ainda nas palavras de Polanyi (1987, p. 4), em que o autor afirma que
“sabemos mais do que somos capazes de comunicar”. A comunicação face a face extrai
sua riqueza e poder não apenas por nos permitir estarmos presencialmente e
detectarmos mensagens intencionais, mas também mensagens não intencionais que
podem ser carregadas apenas por esse contato visual.

O contato FaF, elimina o anonimato, faz aumentar a probabilidade de


boas escolhas, graduais e interativas, sobre as habilidades dos outros,
quando não se pode saber, de início, a respeito de sua capacidade de
operosidade; também pode fazer com que os indivíduos se tornem
mais capazes de sinalizar para os outros suas habilidades e níveis de
operosidade. É uma maneira de tornar transparente e de baixo custo
153

este tipo de informação, embora também permita, nos primeiros


contatos FaF, que certas pessoas se juntem e permaneçam no grupo.
(STORPER & VENABLES, 2001, p. 41)

Neste contexto, é importante se relativizar a relação entre o conhecimento


tácito e o espaço, já que ele tanto define quanto é definido pelo contexto geográfico.
Por um lado, o conhecimento tácito é um complemento essencial para o
conhecimento explícito, no sentido de que ele suporta a aquisição e transmissão de
conhecimento explícito através de construções tacitamente mantidas como as regras
que permitem a fala, leitura e escrita. Ao mesmo tempo, o conhecimento tácito só
pode ser compartilhado de forma mais eficaz entre duas ou mais pessoas, quando eles
também compartilham o mesmo espaço geográfico comum, e isso implica em
compreender as variáveis como valores, simbolismos, língua, cultura etc ou seja, as
diferenciações espaciais.
A lógica na importância do conhecimento tácito na produção de
conhecimento científico em rede é fundamentalmente espacial: a de que o
conhecimento tácito é um fator importante da geografia da atividade científica e
inovadora. Há dois elementos intimamente relacionados com este argumento de
acordo com Gertler (2003). O primeiro diz respeito ao fato de que o conhecimento
tácito é difícil de trocar a longas distâncias. Portanto, a sua natureza específica do
contexto o torna espacialmente importante. A segunda relaciona-se com a natureza
mutável do processo de produção de conhecimento e inovação em si e, em particular,
a importância crescente dos processos de aprendizagem estarem cada vez mais
socialmente organizados.
Da mesma forma Polanyi (1966, 1987) argumenta que conhecimento
científico é produzido por indivíduos que impregnam sua busca por novos
conhecimentos com conteúdo profundamente pessoais, que são resultado de uma
série de interações e particularidades. Em outras palavras, o conhecimento científico
não seria apenas um conjunto claramente articulado de axiomas, regras, algoritmos e
declarações. Estes por sua vez, em alguns casos, são incompreensíveis, por
telefonemas, chats, web conferências, e-mails, servidores e demais tecnologias.
Ou seja, mesmo com os meios eletrônicos, o conhecimento tácito não flui
tão facilmente. Isto porque a sua transmissão é mais comum por meio da interação
154

face a face entre os parceiros que já compartilham questões espaciais “básicas”: a


mesma língua, "códigos" comuns de comunicação, convenções e normas
compartilhadas, o conhecimento pessoal de cada um baseado em uma história do
passado colaboração de sucesso ou interação informal. Estas semelhanças são ditas
para servir o propósito vital de construção de confiança entre os parceiros, que por sua
vez facilita o fluxo local de conhecimento tácito entre os parceiros (LUNDVALL, 1988;
MORGAN, 1997; GERTLER, 2003).
A geograficidde do conhecimento tácito está associada a uma perspectiva
que de acordo com Gertler (2003) seria clara e inequívoca: uma vez que a proximidade
é fundamental para a efetiva produção e transmissão/compartilhamento do
conhecimento tácito, isso reforçaria a importância de clusters, distritos, e
adensamentos de pesquisadores.
Entretanto, mais do que simplesmente “estar perto”, é importante que
rotinas organizacionais em curso e as práticas sociais de trabalhos coletivos envolvidos
em empreendimentos comuns sejam fortalecidas constantemente. Para tal as práticas
espaciais produzem perspectivas para as duas situações: a) àquelas que podem ser
realizadas à distância e b) àquelas que necessitam significativa presença cotidiana
(ALLEN, 2000).

Com o desenvolvimento de novas tecnologias, estamos, na verdade,


mais e mais abertos a experiências de (des)realização e de
(des)localização. Mas continuamos a ter existência física e localizada.
Devemos considerar o nosso estado de suspensão entre essas duas
condições (ROBINS, 1995, p. 153).

As tecnologias, através do ciberespaço para Morley & Robins (1995) são


vistas como fornecedoras de um novo espaço social, um espaço onde as pessoas
podem se encontrar e interagir, um espaço com uma geografia nova e virtual que tem
pouca semelhança com a geografia fora dos fios. Que por sua vez, nos fornece
subsídios diferentes - e em alguns casos ainda imprecisos - para cada tipo de contexto
analisado.

Ao contrário da visão viriliana, a localização geográfica torna-se


portadora de um valor estratégico ainda mais seletivo. As vantagens
155

locacionais são fortalecidas e os lugares passam a ser cada vez mais


diferenciados pelo seu conteúdo (DIAS, 1995, p. 157).

Torre & Rallet de (2005, p. 53) também discutem que mesmo com a atual
explosão comunicacional, ou “a onipresença promovida pela comunicação e
mobilidade – física e virtual” certos recursos e relações permanecem espacialmente
enraizados. Que a proporção de enraizamento, da presencialidade, de contatos face a
face variara de acordo com a atividade, “mas que em todas, ainda encontraríamos
faísca da necessidade da produção espacial presencial cotidiana”.

[...] com relação à troca eletronicamente mediada, a estrutura do


contato face a face oferece possibilidade incomum de interrupção,
reparo, feedback e aprendizagem. Contrariamente a interações
grandemente sequenciais, a interação face a face possibilita a duas
pessoas emitir e receber mensagens simultaneamente. O ciclo de
interrupção, feedback e reparo, possível na interação face a face é
tão rápido que é praticamente instantâneo (NOHRIA & ECCLES, 1992,
p. 292).

Portanto, a proximidade virtual proporcionada pelos fluxos tecnológicos


não pode substituir a proximidade geográfica nas transações de alta complexidade e
ambiguidade, por exemplo, não só no âmbito do próprio funcionamento da pesquisa
científica, mas na própria construção e consolidação de relações que necessitem de
circunstâncias presenciais.

Como os ciber-evangelistas são ingenuamente obcecados com as


capacidades abstratas e transmissionais das tecnologias de
informação, os debates tecnologicamente deterministas
normalmente negligenciam a riqueza e a inserção da vida humana
cotidiana no espaço (GRAHAM, 1998, p. 172).

Por mais que tenhamos acesso aos recursos tecnológicos da


“telemediação27”, ainda necessitamos do contato físico. Ou como nas palavras de
Graham (1998, p. 169): “Em uma cidade sem limites, toda a população pode exigir

27
É a mediação por meio de tecnologias de informação e comunicação. Pode ser descrita, por exemplo,
como uma web conferência em tempo real.
156

mais do que 30 vezes o diâmetro de um átomo28 do feixe de luz de um sistema de


computadores óticos” para pesquisarem juntas.

A presença mútua – estar suficientemente próximo, a ponto de


tocar-se um no outro – permite o “contato” visual e a “proximidade
emocional”, a base para a construção das relações humanas. A
comunicação FaF, mais que apenas uma troca, é um desempenho
pelo qual o discurso e outros tipos de ações e contextos se juntam
para exercitar a comunicação, de uma maneira muito complexa, em
muitos e diferentes níveis ao mesmo tempo (STORPER & VENABLES,
2001, p. 32).

Morgan (2006), em seu trabalho sobre “a exagerada morte da geografia”,


destaca que existem nuanças da comunicação pessoal que requerem proximidade
entre as pessoas, como regionalismos, contextos históricos e linguagens corporais
promovidas apenas pelo contato face a face. Para o autor, é imprescindível não
confundir o alcance espacial e a profundidade das relações sociais, assim como os
contextos geográficos distintos, uma vez que o entendimento de linguagens regionais
e difusão de conhecimento tácito em rede – via infovia- podem não ser facilmente
compreendidos.
Uma pessoa falante pode entender como outros respondem a sua
mensagem, mesmo antes de emiti-la, e altera-la durante o seu curso, de modo a
propiciar uma resposta diferente. Os regionalismos, signos e códigos geográficos locais
permitem as ações cotidianas de comunicação, coordenação, reunião propiciar um
ambiente mais propenso para a compreensão de mensagens subliminares expressas
nas ideias e diálogos dos membros.

O que importa, em tais situações não é apenas o fato de


enraizamento local, mas a existência de relações em que as pessoas
são capazes de internalizar entendimentos compartilhados ou são
capazes de traduzir performances e linguagens particulares, com
base em seus próprios entendimentos tácitos e codificados (ALLEN,
2000, p. 28).

28
Faz referência ao diâmetro de um cabo de fibra ótica, a medida mencionada “30 vezes o diâmetro de
um átomo”, que é entre 0.1 e 0.5 nanometros.
157

Nestes termos, as performances e linguagens particulares se traduziriam


nas perspectivas e necessidades que se criariam no momento em que se opta pela
criação de uma rede de pesquisa científica, e na forma com que os membros desta
estrutura se comunicarão e realizarão o trabalho. Para determinados tipos de
atividades, ou área, a localização dos membros a possibilidade deles “estarem aqui” ou
poderem se comunicar face a face em determinados momentos pode vir a determinar
os agentes que farão parte da pesquisa.
O aspecto geográfico não se destina apenas meramente ao caso do
conhecimento tácito, ou mesmo o codificado, ele direciona-se para o simples
manuseio ou construção de relações cotidianas na produção da pesquisa. Para
terminados objetos a tomada de decisões, a realização de reuniões, firmamento de
projetos, assinatura de tratados, divisão de benefícios, tarefas, acesso à equipamentos,
relações de orientação, e coordenação podem exigir com mais ou menos intensidade
que os membros estejam próximos, mesmo com a comunicação virtual cotidiana.

O contato FaF é um meio particularmente eficiente de comunicação


em certas circunstâncias, como, por exemplo, quando necessitamos
estabelecer relações com outras pessoas capazes e trabalhadoras,
mas não temos como verificar inteiramente tais atributos
previamente, nem observa-los diretamente. Isso nos leva a buscar a
seleção dos que estão no grupo, o conjunto de prováveis parceiros
com quem decidiremos trabalhar, em que o contato FaF (seja, de
modo geral, por “estar lá”, ou burburinho, seja por meio de reuniões)
constitui-se a tecnologia-chave de comunicação para assim agirmos.
(STORPER & VENABLES, 2001, p. 35)

Igualmente, o contato face a face enquanto componente das


multiplicidades geográficas de interação não constitui, tão somente, uma eficiente
tecnologia de comunicação imediata. Ele extrai sua riqueza e poder não apenas por
nos permitir estarmos presencialmente e podermos detectar mensagens intencionais,
mas também mensagens não intencionais que podem ser carregadas apenas com um
contado visual em face do compartilhamento de ações e objetos geograficizados.
Ele prevê efeitos em longo prazo sobre a capacidade de nos
comunicarmos, promove a interação dos indivíduos e oferece-lhes instrumentos para
sinalizar verificações mais eficazes da possível conveniência da construção de
determinada pesquisa em rede, de encontros em determinados momentos para a
158

solução de problemas comuns, ainda permite maior reprodução das relações sociais
entre o sistema de ações e sistema de objetos locais.

Se o tempo se revela como mudança, então o espaço se revela como


interação. Neste sentido, o espaço é a dimensão social não no
sentido da sociabilidade exclusivamente humana, mas no sentido do
envolvimento dentro de uma multiplicidade. Trata-se da esfera da
produção contínua e da reconfiguração da heterogeneidade, sob
todas as suas formas – diversidade, subordinação, interesses
conflitantes (MASSEY, 2008, pp. 97-98).

Portanto, por mais que tenhamos todas as ferramentas disponíveis diante


do avanço técnico, e todas as possibilidades comunicacionais permitidas pelo
ciberespaço, acredita-se que estas não forneçam elementos suficientes para suprir
todos os aspectos que envolvem a formação e a comunicação dentro de uma pesquisa
em rede.
Afinal, uma rede científica é palco de convergências e divergências de
relações sociais que vão para muito além da pesquisa acadêmica e das competências
complementares dos vários agentes envolvidos, elas refletem territorialidades,
contextos históricos, fortalecimento de vínculos, estabelecimento de grupos,
necessidades locais, trocas eficazes e confiáveis de informações, busca por
conhecimento e qualificação profissional que são próprias da produção das relações
sócio espaciais.

Considerações Finais

O movimento e a mobilidade para um espaço de fluxos de Castells (1999)


só pode ser alcançado por meio da construção técnica e material de estabilizações. O
digital só é permitido e existe em face da existência do palpável. Os fluxos tecnológicos
dependem das configurações múltiplas do espaço geográfico. Das rugosidades que são
(re)produzidas cotidianamente.
Reitera-se que, as colocações que desprezem as multiplicidades
geográficas em face dos fluxos tecnológicos, são pouco sensíveis à geograficidade dos
processos sociais. E que a negação do espaço é puro reducionismo e mostra pouca
159

sensibilidade para com as noções de distância, tempo e idiossincrasias do espaço


geográfico.
Logo, não acreditamos ser possível um mundo criado apenas por fluxos,
nem um espaço formado somente por fluxos, sem estabilizações, sem fronteiras
físicas, sem rugosidades, sem estruturas físicas. Mobilidade e fixidez, fluir e assentar,
um pressupõe o outro. As cidades e empresas globais, os grandes atores hegemônicos,
com suas enormes capacidades de gerar e controlar fluxos, são construídos por vários
recursos físicos ou não, espacialmente fincados, móveis e distribuídos no espaço
geográfico.
Ademais, é importante destacar que claramente que o mundo não possui a
mesma distribuição técnica. Ou mesmo não é totalmente globalizado. O próprio fato
de que alguns estão se empenhando tanto em fazê-lo é a prova de que o projeto está
incompleto. Mas isso é mais uma questão de incompletude do que uma questão de
esperar os retardatários, seria uma questão de temporalidades, espacialidades
diferentes em territórios com contextos histórico-geográficos distintos.
Em específico, do ponto de vista das redes científicas, enquanto
construções sociais, estas se mostram subsidiadas pelos fluxos tecnológicos até certo
ponto, neste sentido, acredita-se que para o trabalho acadêmico com membros
distantes, as tecnologias comunicacionais só fornecem um ambiente satisfatório até
certo ponto, necessitando assim, que os pesquisadores se encontrem pessoalmente.
Mais do que se encontrarem face a face, a proximidade traduzida no “estar
aqui” promove e potencializa efeitos casuais não esperados, além de sustentar a
conectividade e posicionalidade dos agentes. Para tal a importância espacial é
importante componente na facilitação do processo de compartilhado de códigos de
comunicação, cooperação bem como na construção de um legado comum de práticas
e instituições sociais.
A proximidade parece facilitar a formação e manutenção em alta qualidade
de relacionamentos que necessitem de intensiva interação e proporciona maior e mais
livre fluxo de informações entre os atores. Mais do que isso, a proximidade facilita o
intercâmbio cultural, linguísticos, simbólico, político, diminui as barreiras de tempo e
aproxima os membros. Compartilhar o mesmo espaço geográfico, facilita a maior
compreensão e troca entre todos os seus membros, além de favorecer o
160

fortalecimento de vínculos, a criação de melhores relações, a redução de incerteza, a


delegação de atividades e a própria realização da pesquisa científica
Para tal, o contato Face a face elimina o anonimato, faz aumentar a
probabilidade de boas escolhas, graduais e interativas, sobre as habilidades dos
outros, quando não se pode saber, de início, a respeito de sua capacidade de
operosidade; também pode fazer com que os indivíduos se tornem mais capazes de
sinalizar para os outros suas habilidades e níveis de operosidade. É uma maneira de
tornar transparente e de baixo custo este tipo de informação, embora também
permita, nos primeiros contatos Face a face, que certas pessoas se juntem e
permaneçam na rede.
161

3ª CONEXÃO

A POLÍTICA NACIONAL DE CIÊNCIA,


TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM
SAÚDE (PNCTIS) E O FOMENTO À
PESQUISA EM REDE.
162

1º Nó

A Política Nacional de Ciência,


Tecnologia e Inovação em Saúde.

“A desigualdade é o calcanhar-de-aquiles da civilização brasileira.


Todo o progresso conquistado por gerações, em todos os campos em
que isso foi observado, esbarra na marca infame – muitas vezes
crescente – da desigualdade. Não é diferente no campo da saúde”
(Reinaldo Guimarães, 2004, p. 378).
163

3ª CONEXÃO: A POLÍTICA NACIONAL DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM


SAÚDE (PNCTIS) E O FOMENTO À PESQUISA EM REDE

1º NÓ A POLÍTICA NACIONAL DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM SAÚDE

Introdução

A institucionalização do Sistema Único de Saúde (SUS), a partir da


promulgação da Constituição Federal brasileira de 1988, proporcionou uma nova
dimensão na estrutura de atendimento e assistência médica no país, quando pela
primeira vez, afirmou-se que a “saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de
outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 2004, p. 84).
É de responsabilidade do Estado, também, a formulação e execução de
políticas científicas, econômicas e sociais que visem, entre outros aspectos,
estabelecer condições que assegurem acesso universal às ações e serviços para
promoção, proteção e recuperação da saúde, como formação de profissionais, criação
de procedimentos, aparelhos, medicamentos, que devem chegar a todas as camadas
sociais com custos baixos para que todo cidadão possa ter acesso.
Nestes termos, deter conhecimento científico e tecnológico sobre uma
área é a melhor forma de uma nação proporcionar a sua população a dignidade no
acesso à saúde. Isso implica em compreender o papel do Estado em proporcionar
medidas que possibilitem a produção de conhecimentos em consonância com as
realidades e necessidades internas.
Assim, conjugar a saúde pública ao vasto campo da ciência, tecnologia e
inovação é avançar no caminho do desenvolvimento econômico e do progresso social
de uma nação. Para que o Brasil alcance esse horizonte, voltado às reais necessidades
da população, é fundamental abreviar o hiato entre os diversos redutos de pesquisa
acadêmica e institucional e os de gestão pública. Assim, aproximar as atividades
científicas às ações de prevenção e controle dos problemas de saúde que mais
acometem a sociedade, como as recorrentes doenças emergentes e negligenciadas
que abatem os países em desenvolvimento.
164

Em meio a estes aspectos, no segundo semestre de 2004, fora criada a


Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (PNCTIS) que é uma
entre tantas medidas propostas pelo Governo Brasileiro com o objetivo em linhas
gerais de promover o desenvolvimento científico, tecnológico e inovativo da área da
saúde no país atendendo as especificidades locais, de forma que os conhecimentos
gerados sejam incorporados pelo Sistema Único de Saúde e que também forneçam
fortes subsídios para o mercado interno e externo.
Este nó se propõe a tratar dos aspectos envoltos na PNCTIS e para tal está
dividido em dois tópicos: o primeiro deles “A pesquisa em Saúde no Brasil e sua
importância no âmbito de um Sistema Único de Saúde” pretende introduzir ao debate
reiterando os aspectos aqui falados nessa introdução envoltos no papel do Estado na
promoção da pesquisa em saúde, e o papel também desta no âmbito de um Sistema
Único de Saúde.
O segundo deles, “A PNCTIS: atores, criação e diretrizes” pretende fazer
um retrospecto de sua criação, destacando os principais atores envolvidos, agendas de
trabalho, eventos realizados que proporcionaram debates na construção e publicação
desta, bem como as diretrizes, e objetivos. Esse tópico pretende também destacar
alguns elementos que, juntamente com a PNCTIS, fazem parte do fomento para o
desenvolvimento da área da saúde.
Portanto, este nó, em consonância com o próximo, pretende responder ao
seguinte objetivo específico “compreender os argumentos dos formuladores da PNCTIS
para o fomento à pesquisa em rede na saúde”. E isso implica para além da
compreensão dos argumentos formuladores da referida política, compreendermos os
atores envolvidos em sua criação, suas diretrizes, enfoques e demais particularidades
que compõem o contexto de formação e atuação da mesma.
O objetivo final é fazer um detalhamento dos principais aspectos que
envolvem o campo da saúde em face da construção e atuação da política, para tal,
foram utilizadas informações coletadas dos Ministérios de Ciência, Tecnologia e
Inovação, Ministério da Saúde, Sistema Integrado de Administração Financeira do
Governo Federal (Siafi), dados do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE),
Plano Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação – PACTI, Departamento de Ciência e
Tecnologia (Decit), Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE),
165

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Conselho


Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Financiadora de Estudos
e Projeto estratégicos (Finep), nos documentos da XI e XII Conferências Nacionais de
Saúde (CNS), da 2ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde
(CNCTIS), de Guimarães (2004), Guimarães et. al. (2006) além do próprio texto da
PNCTIS divulgado pelo Ministério da Saúde (Brasil, 2004).

A pesquisa em Saúde no Brasil e sua importância no âmbito de


um Sistema Único de Saúde.

A Constituição Federal de 1988 definiu ainda que cabe ao poder público


regulamentar e fiscalizar medidas e serviços que ampliem o acesso da população à
saúde, bem como a divisão de trabalho entre três escalas de governo – federal,
estadual e municipal. A saúde tem definição ampla, na Constituição brasileira de 1988,
em seu artigo 196, a qual é retificada na Lei 8.080, de 1990 que, em seu artigo 2º
registra que, “a saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado
prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício”.
É de responsabilidade do Estado, também, a formulação e execução de
políticas econômicas e sociais que visem, entre outros aspectos, estabelecer condições
que assegurem acesso universal às ações e serviços para promoção, proteção e
recuperação da saúde, como formação de profissionais, criação de procedimentos,
aparelhos, medicamentos, que devem chegar a todas as camadas sociais com custos
baixos para que todo cidadão possa ter acesso.
Assim, a saúde constitui um valor humano associado à própria cidadania,
havendo interesses sanitários legítimos voltados para a garantia das condições de
saúde. Isto requer uma ação política e social para a ampliação do acesso aos bens e
serviços e, simultaneamente, para o estabelecimento de constrangimentos que
limitem a ação econômica dos agentes e, em particular, a estratégias empresariais das
organizações públicas e privadas.
Do ponto de vista da política social, essa dimensão da saúde se expressa na
preservação dos gastos em saúde, uma vez que, a despeito dos esforços generalizados
166

em termos internacionais para a contenção do gasto público, a partir dos anos de


1980, a área da saúde tem preservado tanto sua participação nas despesas nacionais
financiadas pelo setor público quanto na magnitude da intervenção estatal na
regulação e nas ações de assistência e de promoção, mesmo quando ocorreram
transformações na forma de ação do Estado no âmbito dos governos que tiveram a
marca das políticas referidas como neoliberais (GADELHA, 2003).
Cordeiro (2001) aponta que é nesse espaço de diversidade, complexidade e
conflito que o Estado precisa atuar para regular e gerir as práticas em saúde. As
características, os espaços de intervenção e as limitações apontadas precisam,
contudo, ser compreendidas e consideradas em quaisquer tentativas de melhor gerir a
tecnologia em saúde, seja no que se refere ao processo de desenvolvimento, no
controle da incorporação de tecnologias ao Sistema de Saúde, na regulação da
utilização ou ainda na busca de um uso mais racional e eficiente dos recursos
disponíveis.
Se há um direito à saúde que deve ser garantido pelo Estado, este não
significa apenas, como somos induzidos a pensar, “acesso a serviços assistenciais”, ou
seja, oportunidade a todos de cuidar de sua “doença”. O direito à saúde começa pelo
direito a não ficar doente em decorrência de causas que competem ao Estado
enfrentar, mediante intervenção nas suas mais diversas bases geradoras.
É de responsabilidade do Estado, também, a formulação e execução de
políticas econômicas e sociais que visem, entre outros aspectos, estabelecer condições
que assegurem acesso universal às ações e serviços para promoção, proteção e
recuperação da saúde, como a geração de conhecimento e produtos que tendem a ser
inseridos e aplicáveis no Sistema Único de Saúde.
Neste sentido, o Estado assume papel central, muitas vezes complexo na
dinâmica dos setores de atividade na promoção da regulação, na aquisição de bens e
serviços, na disponibilização para prestações de serviços, em investimentos em
políticas direcionadas, investimentos em estatais que atuem no setor na assistência
social e no sistema econômico como um todo.
Portanto, compete ao Estado brasileiro a formulação de políticas de
Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde em várias bases suprir as demandas por
serviços de saúde no país. Sendo assim, o artigo 200 (inciso V) da Constituição Federal
167

estabelece as competências do SUS e entre elas inclui o incremento do


desenvolvimento científico e tecnológico em sua área de atuação.
O SUS pauta-se por três princípios constitucionais: universalidade,
integralidade e equidade. E nos três casos, frutos da nossa Constituição. Do ponto de
vista da ciência e da tecnologia, a aplicação desses princípios deve corresponder ao
compromisso político e ético com a produção e apropriação de conhecimentos e
tecnologias que contribuam para redução das desigualdades sociais em saúde.
A produção de conhecimentos científicos e tecnológicos reveste-se de
características que são diferentes daquelas da produção de serviços e ações de saúde.
Por este motivo, os princípios organizacionais que regem o SUS – municipalização,
regionalização e hierarquização - nem sempre poderão ser adotados mecanicamente
no desenho do sistema de ciência, tecnologia e inovação em saúde (CT&I/S).
Para garantir a autossuficiência do SUS é necessário o fortalecimento da
formação dos pesquisadores brasileiros e da produção de conhecimento científico e
tecnológico em consonância com as necessidades do Estado, Sociedade e Mercado. A
capacidade de colaborar para o desenvolvimento econômico e social, coloca a
pesquisa em saúde como estratégica para a soberania do país.
Gadelha (2005) expõe que o fomento à pesquisa em saúde pode
corroborar para o crescimento da economia, devido à relação entre ciência e a
inovação. Nos países em desenvolvimento como o caso do Brasil, a interseção e a
articulação entre os componentes: ciência, tecnologia e inovação em saúde, ainda são
insipientes e os esforços recentes.
As decisões baseadas em evidências científicas podem promover a
equidade em saúde, reduzir custos sociais ou econômicos e proporcionar maior
impacto à saúde de um maior número possível de pessoas. Ao adotar essa estratégia,
o Estado se posiciona como crescente demandante e consumidor de resultados de
investigações, assim como a sociedade. Nessa perspectiva a pesquisa em saúde busca
por estratégias e soluções capazes de minimizar os problemas sanitários, podendo
romper o círculo vicioso da pobreza, doença e sobretudo a dependência científica do
país em face de grandes corporações que atuam na saúde.
Estes aspectos ficam mais evidentes quando pensamos em quão longa é a
cadeia de valor na área de saúde. A gama de variáveis que interferem no atendimento
168

do paciente no SUS, e interferem diretamente na emancipação científica e tecnológica


do País é enorme. A figura nº 5 destaca que o conhecimento gerado por meio da
pesquisa na saúde é importante elemento no desenvolvimento de serviços,
procedimento da pesquisa clínica, das indústrias química e biotecnológica, da indústria
de materiais etc.
Figura nº 5: Cadeia de valor na área da saúde

Fonte: Elaboração própria.

Recentemente, as perspectivas para a área de C&T&I tornaram-se mais


promissoras no Brasil com a aprovação da Política Nacional de Ciência, Tecnologia e
Inovação em Saúde (PNCTIS) de responsabilidade do Ministério da Ciência, Tecnologia
e Inovação (MCTI). Trata-se de um conjunto de alternativas e soluções políticas que
tem como finalidade construir um novo projeto nacional nesse campo a partir da
criação de um ambiente nacional favorável para o desenvolvimento científico e
tecnológico do país.
De acordo com Guimarães (2004), o novo projeto político nacional para o
setor de C&T&I pode ser capaz de considerar as contradições existentes nessa área e
reverter esse quadro. A saúde representa cerca de 30% do esforço nacional de
investigação, devido a sua relevante capacidade e necessidade nacional de pesquisa, o
que faz com que ela ocupe a posição de maior destaque na produção de conhecimento
científico no país, afirma o autor.
169

Pesquisa em saúde humana é o maior componente do esforço


brasileiro em pesquisa. Por outro lado, a saúde é um setor de
atividade que possui, desde 1990, uma política de Estado expressa
pelo SUS. A despeito dessas duas evidências, as diretrizes gerais da
pesquisa em saúde no país estavam afastadas das diretrizes da
política de Estado. A construção da PNCTIS objetivava, em última
instância, aproximar as prioridades da pesquisa em saúde das
prioridades da política de saúde (Reinaldo Guimarães um dos
principais responsáveis pela formulação da PNCTIS em entrevista).

A pesquisa em saúde no Brasil é uma das mais antigas e quem detém


ampla e consolidada comunidade científica, cuja atuação é reconhecida no âmbito
internacional. Entretanto, as atividades de fomento nesse campo, tradicionalmente,
estiveram desvinculadas das concepções e prioridades da Política Nacional de Saúde –
o Sistema Único de Saúde, das necessidades e demandas da população, assim como,
dos interesses do mercado nacional (XII CNS, 2004).
Para Guimarães (2004), Ciência, Tecnologia, inovação em Saúde (C&T&I&S)
destacam-se como essenciais e estratégicas para a sustentabilidade e consolidação do
SUS, por contribuir para a implementação dos princípios29, diretrizes30 e prioridades
em suas três esferas. Para ele, C&T&I&S demanda a obrigatoriedade de formulação de
políticas públicas específicas para a saúde.
O que por sua vez, implica nas palavras de Andrade (2007, p. 148) que “a
pesquisa em saúde precisa ocupar um outro patamar político, orçamentário e
financeiro, o que pode ser alcançado mediante o fortalecimento desse tema na agenda
da autoridade sanitária nacional e na formulação de uma política pública setorial”.
Esforços nessa direção foram iniciados com a reorganização institucional
do Ministério da Saúde (MS), a partir do ano de 2000 (XII CNS, 2004). A criação de
instâncias dentro da estrutura ministerial com a responsabilidade de discutir essa
temática, a construção de marcos institucionais: a Agenda Nacional de Prioridades de
Pesquisa em Saúde (ANPPS) e a Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em
Saúde (PCNTIS) e o termo de cooperação técnica com o MCTI, foram iniciativas do MS
com o propósito de aproximar as ideias e interesses do SUS com a PNCTIS.

29
Dentre os princípios do SUS destacam-se a Universalidade, a Integridade, e a Equidade.
30
A intersetorialidade, a participação social, a humanização da saúde, a hierarquização dos níveis de
atenção e o orçamento participativo entre as três esferas são diretrizes do SUS.
170

Em especial, cabe destacar a criação recente Política Nacional de Ciência,


Tecnologia e Inovação em Saúde (PNCTIS), que de acordo com as recomendações da 1ª
Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia em Saúde, é parte integrante da Política
Nacional de Saúde, formulada no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), e tem
como objetivo estimular o desenvolvimento científico, tecnológico e inovativo da área
de saúde com base no desenvolvimento de competências locais em consonância com
as necessidades sociais locais que falaremos a seguir.

A PNCTIS: atores, criação e diretrizes.

Em dezembro de 2000, a XI Conferência Nacional de Saúde deliberou pela


necessidade da realização da II Conferência31 Nacional de Ciência &Tecnologia (C&T)
em Saúde. Em 2001 foi criado o Fundo Setorial de Saúde32, que contemplou duas áreas
estratégicas em especial: a saúde e a biotecnologia. Este por sua vez foi vinculado ao
Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação e passou a financiar infraestrutura,
desenvolvimento e pesquisa científica e tecnológica para estas duas áreas.
Em 2000 foi realizada a implantação do Departamento de Ciência e
Tecnologia (Decit) com a elaboração de seus marcos normativos, que por sua vez
deram início ao processo de institucionalização da área de Avaliação em Saúde no
Ministério da Saúde (MS). Em 2002, mais precisamente em 10 de junho, foi publicada a
Portaria nº. 16 do MS que instituiu o Grupo de Trabalho encarregado de elaborar o

31
A 1ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia em Saúde foi realizada em 1994, na ocasião,
sugeriu-se, no caso da criação de uma política voltada para Ciência, Tecnologia e Saúde que esta deveria
adotar como diretriz principal a necessidade de aumentar a capacidade indutora do sistema de fomento
científico e tecnológico no país para o campo da saúde.
32
O Fundo Setorial da Saúde (CT-Saúde) foi criado pela Lei Nº 10.332, de 19 de dezembro de 2001, para
subsidiar e fomentar o Programa de Fomento à Pesquisa em Saúde. As principias prioridades do Fundo
são: 1) capacitação tecnológica e inovação tecnológica nas áreas de interesse do Sistema Único de
Saúde; 2) difusão e incorporação de novas tecnologias visando ampliação do acesso aos bens e serviços
em saúde, tendo por base a equidade, a integralidade e a elevação dos atuais patamares de qualidade.
O objetivo geral do CT-Saúde é contribuir – por meio do fomento de atividades de Ciência, Tecnologia e
Inovação – C&T&I – para o melhoramento das condições gerais de saúde, com base nos princípios
constitucionais da justiça social e da equidade no acesso a bens e serviços de qualidade em saúde. Os
objetivos específicos são: 1) contribuir para a melhoria da qualidade dos serviços de saúde ofertados à
população brasileira, por meio das ações de C&T&I; 2) contribuir para ampliar o acesso da população
aos bens e serviços de saúde, por meio das ações de C&T&I; 3) estimular o aumento dos investimentos
públicos e privados em C&T&I aplicados à saúde; 4) estimular a atualização tecnológica da “indústria”
brasileira de bens e serviços de saúde; 5) estimular a formação e a capacitação de Recursos Humanos
para a Pesquisa em Saúde; 6) difundir o conhecimento científico e tecnológico.
171

documento preliminar de uma Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em


Saúde (PNCTIS), que viria a ser criada mesmo, só no segundo semestre de 2004.
No processo de trabalho referente à construção do documento técnico da
PNCTIS, Guimarães (2008, p. 5) destaca que,

no processo de discussão para elaboração da Política Nacional de


Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (PNCTIS) foram apontados
como alguns de seus principais objetivos: o reforço à capacidade de
indução à produção de conhecimentos essenciais, a maior articulação
entre as ações de fomento científico-tecnológico e a política de saúde
e a implementação de mecanismos de coordenação,
acompanhamento e avaliação adequados entre as múltiplas
instâncias de fomento.

Os objetivos debatidos no processo de discussão, já eram resultados de


uma mudança política e institucional que tinha por objetivo promover a emancipação
científica e tecnológica do país em algumas áreas. Principalmente na saúde pelo seu
caráter social, e pelos enormes gastos e dependência do país em face do SUS. Para,
além disso, foi pensado também na possibilidade de promoção de conhecimento que
atingisse o mercado interno e externo a partir de conhecimento que fosse gerado
internamente. E essa ideia não era tão recente, já vinha sendo debatida desde 1994
conforme destaca Guimarães em entrevista:

A necessidade da construção de uma PNCTIS vinha amadurecendo


desde 1994, quando foi realizada a I Conferência Nacional de Ciência
e Tecnologia em Saúde. Como foi realizada no final do curto governo
Itamar Franco, suas propostas, entre as quais estava a da construção
da PNCTS, não prosperaram muito durante os anos seguintes.
Entretanto, a chama continuou acesa e em 2000 o DECIT/MS foi
criado. Essa portaria, que desdobrou-se num seminário em BsB, foi
mais um passo nessa caminhada que, no entanto, teve maior impulso
com a criação da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos
Estratégicos e o fortalecimento do DECIT, ambos em 2003.

A partir da reestruturação do Decit, em 2003, foi incluída a missão de


definir normas e estratégias para controle e avaliação da incorporação de tecnologias,
promovendo, também, a difusão de conhecimentos científicos e tecnológicos em
saúde. Ainda em 2003, criou-se a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos
Estratégicos do Ministério da Saúde (SCTIE) e, em paralelo, contemplou-se, através do
172

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), a inserção da


área de fármacos e medicamentos entre os prioritários para Política Industrial,
Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE) e da Política Nacional de Saúde, como uma
das medidas para fortalecimento da saúde no país, onde, inicialmente, houve certa
resistência, como destaca Guimarães em entrevista:

Inicialmente houve resistência, tanto de componentes do MS quanto


da comunidade científica e tecnológica. Aos poucos essa resistência
foi sendo superada e a política foi pactuada entre esses dois atores
principais (comunidade da saúde e comunidade da C&T) na II
Conferência Nacional, em 2004.

A XII Conferência Nacional de Saúde fora realizada somente no primeiro


semestre de 2004. Ela mobilizou diversos atores envolvidos com o tema da pesquisa
em saúde e várias organizações, que produziram propostas de políticas nacionais
orientadoras da pesquisa em saúde, em paralelo, no início do segundo semestre de
2004 fora realizada a 2ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em
saúde (2ª CNCTIS) que produziu ao seu final a Agenda Nacional de Prioridades de
Pesquisa em Saúde (ANPPS).

O marco institucional mais importante desse movimento foi a


realização da 2ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e
Inovação em Saúde (2ª CNCTIS), ocorrida em julho de 2004.
Desenhada nos moldes tradicionais das conferências do setor saúde,
a 2ª CNCTIS ampliou a discussão da pesquisa em saúde, com a
realização de mais de 300 conferências regionais e municipais e 24
conferências estaduais, democratizando o debate da ciência e
tecnologia em saúde, antes restrito à comunidade acadêmica.
(Coleção Progestores/Para entender a Gestão do SUS. Livro 4, 2007,
p. 09).

Após a realização da XII Conferência Nacional de Saúde e a 2ª Conferência


Tecnologia e Inovação em Saúde, fora apresentado um texto, indicando que, a então
Política Nacional de Ciência Tecnologia e inovação (PNCTI) que como o próprio nome
sugere, tinha como enfoque estimular o desenvolvimento científico, tecnológico e
inovativo, atuando em setores prioritários, incorporasse em sua formulação a grande
área de saúde e todos os segmentos, subáreas e conhecimentos complementares que
viessem a contribuir para o fortalecimento da saúde no país.
173

Assim, em 2004 criou-se Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em


Saúde (ANPPS), e em especial a Política Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação em
Saúde (PNCTIS), que é também um componente da Política Nacional de Ciência,
Tecnologia e Inovação (PNCTI) e, como tal, subordina-se aos mesmos princípios que a
regem. Ambas criadas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
A Política Industrial e de Educação também fazem parte do contexto gestor
da PNCTIS, assim como fazem parte do contexto de políticas para o desenvolvimento
da saúde a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), a Política Nacional de
Biotecnologia, e a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos.
A linha do tempo a seguir (figura nº 6), procura destacar os principais
acontecimentos mencionados anteriormente, que foram importantes não só para a
construção da PNCTIS, mas para o estabelecimento de diretrizes e metodologias
adotadas para o fomento e desenvolvimento da pesquisa em saúde no Brasil.

Figura nº 6: Principais acontecimentos na criação da PNCTIS

Fonte: Elaboração própria

No final de 2004, a PNCTIS, a Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa


em Saúde e a Oficina de Elaboração da Proposta para ATS no âmbito do SUS ajudaram
a estabelecer prioridades e linhas de ação. Ainda no mesmo ano, foi criado o Conselho
de Ciência, Tecnologia e Inovação do MS que, entre outras atribuições, é responsável
pela definição de diretrizes para avaliação tecnológica e pela incorporação de produtos
e processos pelos gestores e profissionais de saúde do SUS.
174

Foi criado, ainda, um Grupo de Trabalho Permanente de Atenção de


Tecnologias em Saúde (ATS), composto por técnicos do Decit, de órgãos de
administração direta e de agências de vigilância sanitária e de saúde suplementar.
Após o reconhecimento da ATS como instrumento estratégico para subsidiar a gestão
de tecnologias de saúde, durante a XII Conferência Nacional de Saúde ainda no
segundo semestre de 2004, foi criada a Coordenação Geral de Avaliação de
Tecnologias em Saúde, vinculada à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos
Estratégicos (SCTIE).
Assim, objetivo geral da PNCTIS, seria de “contribuir para que o
desenvolvimento nacional se faça de modo sustentável, e com apoio na produção de
conhecimentos técnicos e científicos ajustados às necessidades econômicas, sociais,
culturais e políticas do País” voltadas para a saúde (BRASIL, 2008 p. 5).
A proposta, assim de acordo com a Política, é a de estimular o
desenvolvimento de competências nacionais, com base nas necessidades do país.
Formar mão de obra qualificada e estabelecer o dinamismo Científico, Tecnológico e
Inovativo na área de saúde, fixar os pesquisadores brasileiros no país, integrar os
laboratórios e instituições de pesquisa, fortalecer a interação entre os setores privados
e as Universidades e Institutos de Pesquisa, promover a produção de conhecimentos
em consonância com as necessidades nacionais, abordando critérios bem
determinados.
Diante disto, importante questão a ser considerada na PNCTIS é a utilização
da pesquisa científica e tecnológica como importante subsídio para a elaboração de
instrumentos de regulação e operacionalização, nas três esferas de governo. Por suas
competências legais, cabe às três esferas, a produção de leis e normas que, apoiadas
em conhecimentos, permitam garantir de forma ampliada, a adequada promoção,
proteção e recuperação da saúde dos cidadãos (BRASIL, 2008).
Entre as diretrizes que orientam a PNCTIS destacam- se:
• o desenvolvimento da capacidade de intervir na cadeia de conhecimento
da pesquisa, com aplicação imediata até a pesquisa orientada ao desenvolvimento
tecnológico e inovação;
• a convocação à participação dos produtores, agências de financiamento e
usuários da produção técnico-científica;
175

• a orientação do fomento segundo prioridades;


• a consideração da relevância social e econômica relacionada com o
avanço do conhecimento ou da aplicação dos resultados à solução de problemas
prioritários de saúde.
De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2008) para que as diretrizes
fossem alcançadas a PNCTIS criou as seguintes estratégias:
 Sustentação e fortalecimento do esforço nacional em Ciência,
Tecnologia e Inovação em Saúde;
 Criação de um Sistema Nacional de Inovação em Saúde;
 Construção da Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde;
 Superação de desigualdades regionais;
 Aprimoramento da capacidade regulatória do Estado e criação da rede
nacional de avaliação tecnológica;
 Difusão de avanços tecnológicos e científicos;
 Formação e capacitação de recursos humanos;
 Participação e fortalecimento da responsabilidade social.
O desafio, portanto, seria de, ao mesmo tempo, fomentar o avanço do
conhecimento científico na área da saúde, orientar os vetores de desenvolvimento
tecnológico e de inovação da indústria de equipamentos, medicamentos, imunizantes
e outros insumos básicos à saúde, sempre sem perder de vista os mecanismos de
apropriação societária dos resultados alcançados no conjunto de suas ações.

Uma PNCTIS voltada para as necessidades de saúde da população


deveria ter como objetivo principal desenvolver e otimizar os
processos de absorção de conhecimento científico e tecnológico
pelas indústrias, pelos serviços de saúde e pela sociedade. O
acatamento desta assertiva implica analisar o esforço nacional de
C&T em saúde como um componente setorial do sistema de inovação
brasileiro. Por outro lado, essa perspectiva não deve sugerir uma
visão reducionista ou utilitarista da política. Pelo contrário,
reconhecendo a complexidade dos processos de produção de
conhecimento científico e tecnológico neste setor, a PNCT&I/S deve
dar conta de todas as dimensões da cadeia do conhecimento
envolvida na pesquisa em saúde (GUIMARÃES, 2004, p. 378).
176

Sua missão seria, segundo a lógica da Política Nacional de Saúde,


desenvolver a área da saúde em suas mais variadas esferas de modo que esta possa
atender as necessidades sociais das populações, à conquista de padrões mais elevados
de equidade em saúde e a própria autonomia brasileira no que compete à produção
de tecnologias e conhecimentos para a área.
Segundo o Ministério da Saúde, a PNCTIS define a Pesquisa em Saúde
como o conjunto de conhecimentos, tecnologias e inovações produzidos que resultam
em melhoria da saúde da população. Assim, a pesquisa em saúde deve superar a
perspectiva disciplinar e caminhar para uma perspectiva setorial, que incluirá a
totalidade das atividades de pesquisa clínica, biomédica e de saúde pública, vinculadas
à grande área das ciências da saúde, assim como as realizadas nas áreas das ciências
humanas, sociais aplicadas, exatas e da terra, agrárias e engenharias e das ciências
biológicas que mantenham esta vinculação (GUIMARÃES, et. al., 2006).
Essa forma de abordagem, segundo o Ministério da Saúde, procura
modificar a forma tradicional de conceituação da Pesquisa em saúde que limitava
apenas àquelas ditas “tradicionais” negligenciando os conhecimentos complementares
necessários produzidos por outras áreas. A produção de conhecimento a partir de
agora não é tido exclusivamente por aquele produzido pela grande área da saúde.
O Sistema de Ciência e Tecnologia em Saúde é composto por diversos
atores e instituições públicas e privadas. Na gestão pública federal estão incluídas as
ações desenvolvidas por três ministérios e suas instituições ou agências vinculadas aos
mesmos, que interligam compondo a PCNTIS ou propiciando meios para que ela atue
de forma mais eficaz, como exposto na figura nº 7 a seguir:
177

Figura nº 7: Atores envolvidos na PNCTIS

Fonte: Elaboração própria a partir da PNCTIS (Ministério da Saúde, 2008) e CGEE (2010).

O Ministério da Saúde é responsável pela implementação, monitoramento


e avaliação da PNCTIS e da Agenda Nacional de Prioridades da Pesquisa em Saúde.
Como partes da coordenação da política fazem parte a Agência Nacional de Saúde
(ANS); a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA); FIOCRUZ; Fundação
Nacional de Saúde (FUNASA); e a Empresa Brasileira de Hemoderivados (HEMOBRAS).
Cabe ao Ministério da Saúde conjuntamente com o Ministério da Educação
monitorarem e prepararen a integração entre os Hospitais cadastrados nas redes de
pesquisa em C&T. Até 2010, nos últimos dados fornecidos pelo MS e pelo CGEE
existiam 29 hospitais conectados nesse contexto, dentre eles, dois no estado de
Pernambuco: o Hospital Universitário Oswaldo Cruz e Pronto Socorro Cardiológico de
Pernambuco da Universidade de Pernambuco –UNIPECLIN/HUOC-PROCAPE/UPE.
Já o Ministério da Educação, especialmente através da Capes, coordena e
avalia os planos e políticas do sistema nacional de pós-graduação, formação de
recursos humanos (bolsas, auxílios e etc.), o acesso à produção científica mundial e
gestão dos hospitais universitários (Pesquisa clínica, por exemplo).
O Ministério da Ciência e Tecnologia, por sua vez, através do CNPq e a
FINEP, atua financiando estudos, sobretudo voltados para a consolidação de um
178

“Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação” e no desenvolvimento da


infraestrutura e fomento da pesquisa científica e tecnológica, e promoção da inovação
tecnológica nas empresas, Universidades, laboratórios e Institutos.
Estes três componentes – MCTI, MS e ME – são a base principal de gestão e
fomento dos meios para que a política atinja seus objetivos. É por meio deles e suas
linhas de investimento que a produção de conhecimento em saúde é fomentada. Os
dados a seguir, mostram os dispêndios do governo federal no período de (2000 a
2010) pelos três órgãos envolvidos: Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação;
Ministério da Saúde e Ministério da Educação.

Tabela nº 1: Dispêndios do governo federal em ciência e tecnologia (C&T) por órgão,


2000-2010 (em milhões).

MCTI MS ME
Ano C&T C&T C&T
2000 321,7 1.255,6 2.087,2
2001 444,7 1.613,4 2.270,1
2002 482,5 1.514,1 2.613,3
2003 546,3 2.000,9 2.901,8
2004 720,8 2.228,6 3.347,1
2005 767,7 2.690,5 3.631,5
2006 964 3.193,1 4.401,6
2007 1.156,00 3.645,8 5.641,7
2008 1.175,00 4.396,8 6.576,7
2009 1.367,80 5.251,8 6.996,6
2010 1.423,00 6.445,4 8.508,8
Fonte: Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi) (2013).

No período registrado, no tocante a evolução do aumento de verbas, o


Ministério da Saúde aumentou em pouco mais de 500% os gastos no período, seguido
pelo Ministério da Educação com pouco mais de 400% e o Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação com proporção semelhante.
A financiadora de estudos e projetos FINEP, por meio de novas exigências,
teve em 2011, segundo o MCTI, a avaliação do Banco do Brasil apoiado aos Ministérios
da Saúde, Educação e Ciência e Tecnologia para tornar-se um banco público para
179

financiar empresas e instituições de pesquisa que desenvolvam projetos de inovação.


A mudança deverá demorar de dois a três anos.
Com a alteração de status, a financiadora funcionará como o BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico Social) e poderá levantar mais recursos para
empréstimos e captar mais verbas do que as que são destinadas hoje à área pelo
FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). As prioridades
são para projetos de energia, saúde, tecnologia da informação e comunicação,
tecnologia aeroespacial, defesa, produção de novos materiais, sustentabilidade
ambiental e biodiversidade.
Na gestão pública estadual estão às secretarias estaduais de saúde, de
ciência e tecnologia e as fundações de amparo à pesquisa, como a Fundação de
Amparo a Ciência e Tecnologia de Pernambuco (FACEPE), no estado de Pernambuco,
responsáveis pela implementação das políticas estaduais de pesquisa em saúde.
Incluem-se também os setores produtivos público e privado atuantes nas
áreas farmacêuticas, farmoquímica, biotecnológica e de equipamentos e materiais; a
comunidade científica, representada pelas universidades e institutos de pesquisa,
associações científicas e profissionais, assim como a representação da sociedade civil.
Como complementariedade fora criado o Plano Nacional de Ciência
Tecnologia e Inovação – PACTI, dividido em duas etapas 2007-2010(1ª) e 2011-
2015(2ª), que estabeleceram em suas áreas estratégicas o Programa de Insumos para
Saúde, planejado, coordenado e executado pelo MCTI, suas agências (CNPq e Finep) e
outros parceiros do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI).
Neste contexto foram ainda criadas 24 sub-agendas (tabela nº 2) de
atuação dentro de uma Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde, em
consonância com a atuação da PNCTIS, para aumentar a indução seletiva para a
produção de conhecimentos e bens materiais nas áreas prioritárias para o
desenvolvimento das políticas sociais.
180

Tabela nº 2: Sub-Agendas de Pesquisa na Saúde

SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS COMPLEXO PRODUTIVO DA SAÚDE


AVALIAÇÃO DE TECNOLOGIAS E ECONOMIA DA
SAÚDE MENTAL SAÚDE
VIOLÊNCIA, ACIDENTES E TRAUMA EPIDEMIOLOGIA
SAÚDE DA POPULAÇÃO NEGRA DEMOGRAFIA E SAÚDE
DOENÇAS NÃO-TRANSMISSÍVEIS SAÚDE BUCAL
SAÚDE DO IDOSO PROMOÇÃO DA SAÚDE
SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS
SAÚDE DA MULHER COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO EM SAÚDE
SAÚDE DOS PORTADORES DE NECESSIDADES
ESPECIAIS GESTÃO DO TRABALHO E EDUCAÇÃO EM SAÚDE
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO SISTEMAS E POLÍTICAS DE SAÚDE
BIOÉTICA E ÉTICA NA PESQUISA SAÚDE, AMBIENTE, TRABALHO E BIOSSEGURANÇA
PESQUISA CLÍNICA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA
Fonte: Elaboração própria a partir de Ministério da Saúde (BRASIL, 2008).

Dentre as sub-agendas a destacar, primeiro o Complexo Produtivo da


Saúde, que tem por objetivo fomentar o desenvolvimento de ensaios clínicos de
vacinas (Fases I, II, III e IV), de novas vacinas utilizando as atuais e a transferência de
tecnologia como plataforma, Pesquisa de novos adjuvantes e formas de aplicação,
hemoderivados, e principalmente vacinas diversas.
A ANPPS em conjunto com a PNCTIS estabeleceram neste contexto um
tabela nº 3 com as vacinas prioritárias do fomento para a pesquisa em saúde.
181

Tabela nº 3: Vacinas prioritárias

VACINA INTERESSE INTERESSE REAÇÕES


ESTRATÉGICO EPIDEMIOLÓGICO ADVERSAS

DENGUE X
DPT/ HBV/ Hib (nova combinação)
DTPa X
ESQUISTOSSOMOSE X
FEBRE AMARELA X
HEPATITE A X
HEPATITE C X
HIV X
HPV X
INFLUENZA (nova tecnologia de produção) X
LEISHMANIOSE X
LEPTOSPIROSE X
MALÁRIA X
MENINGITE A conjugada X
MENINGITE B/C conjugada X X
MENINGITE C conjugada X
PNEUMOCOCOS conjugada 7 valente X
RAIVA (diminuir o número de doses) X
ROTAVIRUS X
TB X
TOXOPLASMOSE X
TRÍPLICE VIRAL (caxumba Jeryl-Lynn) X
TRÍPLICE VIRAL + VARICELA
VARÍOLA X
Fonte: Elaboração própria a partir da ANPPS/PNCTIS Ministério da Saúde (BRASIL, 2008).

E em segundo, a assistência farmacêutica que se dispõe a fomentar


estudos dos fármacos e medicamentos, considerando todo o seu ciclo: da pesquisa à
utilização segura dos medicamentos. A exploração, produção e controle de qualidade
de fitoterápicos, de acordo com as potencialidades regionais, para o tratamento de
doenças de maior prevalência. Pesquisas de princípios ativos, desenvolvimento em
química fina e produção de insumos para produção pública de medicamentos para o
SUS, e pesquisa e desenvolvimento de medicamentos homeopáticos e da flora
brasileira.
Como também componente integrador de fomento ao desenvolvimento
científico e tecnológico da saúde, tendo como destaque o setor de fármacos &
182

medicamentos33 foi criado já recentemente – em abril de 2013 – o programa Inova


Saúde, que é uma iniciativa do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação e da FINEP
em cooperação com o Ministério da Saúde, o BNDES e o CNPq para apoiar atividades
de P&D&I em consonância com os objetivos propostos pela PNCTIS. Esse programa,
assim como o PACTI é divido em blocos, o primeiro estabelecido no período 2013-
2015.
Por fim, destacamos que a delimitação adotada para o campo da pesquisa
em saúde pela PNCTIS é a sua finalidade, ou seja, os conhecimentos, tecnologias e
inovações cuja aplicação resultem melhoras na saúde da população. Entre as várias
estratégias criadas para obtenção de resultados pela PNCTIS, destaca-se uma em
particular, trata-se da orientação para a indução da pesquisa em rede como uma das
perspectivas plausíveis na de resultados e benefícios, que falaremos no próximo nó.

Considerações Finais

As informações coletadas por meio do material já mencionado nos


evidenciam que os debates para a criação de uma política destinada para a ciência,
tecnologia e inovação em saúde não são recentes, eles se se iniciaram em 1994 com a
realização da 1ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia em Saúde, como uma
exigência já há muito debatida desde a criação da Constituição de 1988, na ocasião,
sugeriu-se, a criação de uma política voltada para Ciência, Tecnologia e Saúde que por
sua vez, esta deveria adotar como diretriz principal a necessidade de aumentar a
capacidade indutora do sistema de fomento científico e tecnológico no país para o
campo da saúde.

33
Segundo a FINEP (20013) o inova saúde pretende apoiar projetos de Pesquisa Desenvolvimento e
Inovação em farmoquímicos obtidos por processos de síntese química, biotecnológicos e extrativos,
para desenvolvimento de medicamentos, novos ou genéricos, tanto para atendimento às demandas do
Sistema Único de Saúde - SUS, quanto para o atendimento ao mercado nacional e internacional. Será
apoiado também o desenvolvimento de intermediários químicos para a indústria farmacêutica.
Nesta linha temática devem também ser fomentados projetos que envolvam a busca de competências
tecnológicas para ampliar e consolidar a produção doméstica de biofármacos - como anticorpos
monoclonais e proteínas terapêuticas – no sentido de incorporar a rota biotecnológica na base
produtiva de saúde no País. O apoio a esta linha deve incluir os processos de aprendizagem tecnológica
e exploração de inovações, bem como a infraestrutura necessária ao desenvolvimento pretendido,
notadamente quanto à capacitação para escalonamento, estudos e pesquisas pré-clínica e clínica e para
o atendimento às exigências de certificação nacional e internacional.
183

Porém, foi preciso uma década, após a realização da 1ª CNCTS para que
uma Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde fosse realmente
criada em 2004. Durante cinco anos, entre 1994 e 1999 os debates permaneceram em
passos lentos, para só então no ano de 2000 se iniciarem em direção a criação não só
da PNCTIS, mas de uma agenda especial de fomento à saúde.
No ano de 2000 se iniciaram os debates a partir da XI Conferência Nacional
de Saúde, no ano seguinte, a criação do Fundo Setorial de Saúde em 2001,
posteriormente em 2002, a implantação do Departamento de Ciência e Tecnologia
(Decit) que permitiram a institucionalização da Avalição em Saúde no Ministério da
Saúde, como resultado foi estabelecido naquele mesmo ano à criação do grupo de
trabalho retomar as atividades em prol da construção da política, deste grupo de
trabalho foi elaborado o documento técnico que apontou o reforço à capacidade de
indução a produção de conhecimentos essenciais e maior articulação entre as ações de
fomento uma noção essencial.
Isso, entre outros motivos, levou a criação no ano seguinte, em 2003 da
Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde
(SCTIE). Consequentemente, no primeiro semestre de 2004, fora realizada a XII
Conferência Nacional de Saúde, que serviu como base para os debates da 2ª
Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em saúde, realizada no
segundo semestre do mesmo ano, retomando antigas e novas propostas.
O marco institucional mais importante desse movimento pode-se definir
como a realização da 2ª CNCTIS, que ampliou a discussão da pesquisa em saúde, com a
realização de mais de 300 conferências regionais e municipais e 24 conferências
estaduais, democratizando o debate da ciência e tecnologia em saúde, antes restrito à
comunidade acadêmica. O texto final dessa conferência proporcionou a elaboração da
PNCTIS no final de 2004 com atuação já no ano de 2005.
Para além dos fatos marcantes que levaram a construção e a própria noção
estabelecida na política, deve-se destacar que outras ações foram tomadas em prol da
criação de circunstâncias que proporcionassem a efetividade da atuação política, como
a Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde, uma maior integração de
Ministérios de ações de fomento – como próprio resultado dos grupos de estudos em
2002 – a atenção especial dada para a formação nas pós-graduações, a compreensão
184

do conhecimento complementar dado por outras áreas do conhecimento para a


saúde, o Plano Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação (PACTI), e a atenção especial
para o setor de fármacos e medicamentos, diante da vulnerabilidade social do país
nesta questão.
Diante desse cenário, deu-se a criação da PNCTIS que teve como objetivo
principal o de “contribuir para que o desenvolvimento nacional se faça de modo
sustentável, e com apoio na produção de conhecimentos técnicos e científicos
ajustados às necessidades econômicas, sociais, culturais e políticas do País” voltadas
para a saúde (BRASIL, 2008 p. 5).
Assim a delimitação adotada para o campo da pesquisa em saúde pela
PNCTIS é a sua finalidade, ou seja, formação profissional, os conhecimentos,
tecnologias e inovações de cuja aplicação resulte em melhorias na saúde da
população.
185

2º Nó

A indução à pesquisa em rede como


uma das estratégias para alcance
dos objetivos da PNCTIS.

“O incentivo e apoio à formação de redes de pesquisa é


extremamente eficaz para a indução ao desenvolvimento de uma
dada área do conhecimento, o fortalecimento da capacidade
instalada nas instituições de pesquisa e da realização de pesquisa
colaborativa e interdisciplinar com integração entre as várias
ciências, possibilitando a troca de metodologias, promoção do
intercâmbio de dados, bem como a produção conjunta e a divulgação
científica dos resultados” (Edital CNPq de fomento à construção de
redes científicas de 2009).
186

2º NÓ A INDUÇÃO À PESQUISA EM REDE COMO UMA DAS ESTRATÉGIAS PARA


ALCANCE DOS OBJETIVOS DA PNCTIS

Introdução

Podemos sugerir dois principais aspectos que levaram a criação de


uma Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde, o primeiro
deles a instauração e abrangência de um Sistema Único de Saúde, o segundo,
acaba existindo em face do primeiro, que é a necessidade de emancipação
tecnológica do país nessa área diante desse mesmo Sistema.
Autores como Albuquerque & Cassiolato (2000), Cordeiro (2001),
Gadelha et. al. 2003, Gadelha (2003), Oliveira et. al. (2006), Carvalho et. al. (2005),
MOREL et. al.(2007), já destacaram a estreita relação entre emancipação
tecnológica e o desenvolvimento científico e tecnológico na saúde.
Os autores ratificam a enorme dependência e consequentemente os
enormes gastos do Brasil com as grandes corporações que atuam na saúde para
atender a demanda do SUS. Para eles, a forma de obter melhores índices
econômicos e de saúde é investir em produção de conhecimento local em
consonância com as necessidades locais.
As diretrizes que fundamentam a PNCTIS têm por objetivo atuar
justamente nesta questão, que é a de proporcionar avanços na saúde com base na
produção brasileira. Diante disso inúmeras estratégias foram adotadas, entre uma
delas, a se destacar que é a proposta da pesquisa em rede.
A PNCTIS admite que um dos veículos fundamentais na obtenção de
resultados e benefícios e assim atingir o seu objetivo é fomentar a construção de
redes científicas, em outras palavras, induzir os pesquisadores brasileiros a
trabalharem em rede, não só internamente, mas internacionalmente também,
lança-se aí, um grande desafio.
Este nó, dando sequência ao anterior, em vista do objetivo específico
de “compreender os argumentos dos formuladores da PNCTIS para o fomento à
pesquisa em rede na saúde” divide-se em dois tópicos. O primeiro deles, “O
imperativo da pesquisa em rede na PNCTIS”, objetiva abordar os debates que
187

promoveram a inserção da pesquisa em rede dentro do texto final da PNCTIS,


determinar o marco legal para a inserção desta proposta de pesquisa na
composição da política, e evidenciar de que forma a questão da pesquisa em rede
se apresenta no texto final da PNCTIS.
O segundo, “O fomento à pesquisa em rede”, tem por finalidade, como
o próprio nome indica, evidenciar dados sobre o estímulo a pesquisa em rede por
parte das agências de fomento que fazem parte da PNCTIS. Para tal foi
estabelecida a linha temporal compreendida entre os anos de 2000 à 2010,
acredita-se que este período possa nos mostrar uma reflexão sobre essa linha de
fomento antes e depois da ação política.
As fontes de informações utilizadas na composição deste nó são as
mesmas utilizadas no anterior, com a diferença que aqui são expressos dados
quantitativos com relação a valores fomentados, números de editais lançados, e
projetos aprovados. Em especial com dados fornecidos pelo CNPq, Capes, Finep,
PACTI (2007-2010), e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para a Inovação
Farmacêutica (INCT_if) e entrevista com Sr. Reinaldo Guimarães, principal
formulador e divulgador da PNCTIS até o ano de 2008.

O imperativo da pesquisa em rede na PNCTIS.

O imperativo do debate sobre a pesquisa em rede como parte integrante


da política de Ciência, Tecnologia, Inovação em Saúde deu início em 2000, após a
implantação do Departamento de Ciência e Tecnologia (Decit), que teve como marco
normativo a avaliação da saúde, e da pesquisa em saúde. Um dos principais objetivos
do departamento, e de sua própria criação, fora o da responsabilidade pelo incentivo a
pesquisa em saúde em redes, inicialmente institucionais.
No segundo semestre de 2002, foi publicada a Portaria nº. 16 do MS que
instituiu o Grupo de Trabalho encarregado de elaborar o documento preliminar de
Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (PNCTIS). Esse grupo de
trabalho já havia sido orientado, com base nos debates proporcionados no Decit sobre
188

a necessidade da inserção da pesquisa em rede. O próprio grupo de trabalho


responsável possuía perspectivas que estavam em consonância com esta orientação.
Essa orientação se estendeu de tal forma que o Decit proporcionou a
criação de uma série de redes institucionais - da Rede Nacional de Terapia Celular
(RNTC), Rede Brasileira de Pesquisa sobre o Câncer, Rede Malária, Rede de Pesquisa
em Métodos Moleculares para Diagnóstico de Doenças Cardiovasculares, Infecciosas,
Parasitárias e Neurodegenerativas e a Rede Nacional de Pesquisa Clínica em Hospitais
de Ensino – que devido aos resultados positivos, forneceram subsídios normativos
para servirem como base para os diálogos que foram realizados no seguinte ano, de
2003.
No ano seguinte, em 2004, foram realizadas inúmeras as conferências
mencionadas anteriormente – em especial a 2ª Conferência Nacional de Ciência,
Tecnologia e Inovação em Saúde e a 12ª Conferência Nacional de Saúde - em que a
proposta da pesquisa em rede foi levada como destaque, orientada pelos
pesquisadores estrangeiros participantes, que por sua vez, na elaboração do
documento final, como mecanismo para a superação das desigualdades regionais, fora
decidido que as iniciativas em implementação pelo MCTIS e o MS em parceria com as
fundações estaduais de amparo e fomento à pesquisa, atenderiam, como estratégia
para as demandas de C&T&I& em saúde a formação da pesquisa em rede.

Tal estratégia, da pesquisa em rede, visa ampliar a capacidade de


produzir conhecimentos para qualificar as decisões no âmbito da
gestão pública. Desta forma, será possível suprir uma das maiores
necessidades nas sociedades modernas, que é dispor de informações
técnicas e científicas indispensáveis para fundamentar o processo de
tomada de decisão, que têm forte impacto sobre diversos campos
científicos e contribui para o estabelecimento de um novo patamar
nas relações entre ciência, Estado e sociedade (2ª CNCTIS –
documento base, 2004, p. 21).

Estas sugestões foram incorporadas ao final, como uma das estratégias na


composição da Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde criada no
segundo semestre do mesmo ano. A linha do tempo a seguir (figura nº 8), destaca o
marco institucional principal na inclusão da pesquisa em rede para a área da saúde.
189

Figura nº 8: Principal marco institucional do fomento à pesquisa em rede na PNCTIS.

Fonte: Elaboração própria.

Entretanto, no início de 2005, já com a agenda de fomento em vigor da


PNCTIS, com o intuito de realizar articulações intersetoriais, foi realizado o I Seminário
Internacional de Gestão de Tecnologias em Saúde, com a presença de representantes
de países europeus e americanos. O estabelecimento de cooperação interinstitucional,
em âmbito internacional – como já resultado da recente orientação da pesquisa em
rede - foi uma das consequências do evento, por meio da associação do Decit/SCTIE à
Rede Internacional de Agências de Avaliação de Tecnologias em saúde - International
Network of Agencies for Health Technology Assessment (INAHTA) - um marco para a
ATS no Brasil. Sobre a importância do Decit no estímulo à construção de redes
científicas Guimarães em entrevista destaca,

O Decit foi o principal ator executivo na construção da política.


Igualmente, o Decit acabou por eleger a forma de atuação em rede
como uma de suas grandes prioridades. Existem hoje a Rede Nacional
de Terapia Celular, a Rede Nacional de Pesquisa Clínica, a Rede
Brasileira de Avaliação Tecnológica em Saúde, a Rede de Pesquisa em
Câncer, entre outras.

Com relação à gestão de tecnologias no SUS, foi instituída Comissão para


Elaboração de Proposta para a Política Nacional de Gestão de Tecnologias em Saúde
(2005), composta por atores sociais com experiência e influência no tema. Após alguns
190

trabalhos a proposta foi validada mediante apreciação em consulta pública e em


fóruns do SUS e da Agência Nacional de Saúde Suplementar.
A constituição de redes de pesquisa para realização de estudos
estratégicos foi então uma das recomendações da proposta, em consonância com o
Decit e a PNCTIS já em vigor o que foi trabalhado em Oficinas de Prioridades de
Pesquisa em Saúde desde 2004, e foi inicialmente validado no 2º Seminário
Internacional de Gestão de Tecnologias, que por sua vez induziu os órgãos de fomento
a aumentar a verba destinada para esta modalidade.
Como resultado, os órgãos de fomento por meio de seus editais, passaram
a inserir a temática em rede como metodologia para a pesquisa em C&T&I em Saúde
até para aqueles que inicialmente não tinham esta como objetivo, os tratados de
acordos internacionais, por exemplo, foram incorporados à temática. Parte
significativa do fomento à pesquisa em saúde dado pela PNCTIS tinha a normativa rede
nos editais lançados nos anos de 2005/2006 em diante.
A atuação geral da PNCTIS no que se refere à pesquisa, gestão e produção
de conhecimentos na saúde de modo geral é feita das seguintes formas:

 Fomento à produção de conhecimentos nos marcos da agenda nacional de


prioridades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, com lançamento
de editais nacionais temáticos, para estudos e projetos estratégicos e
editais descentralizados nos estados, por intermédio do Programa Pesquisa
para o Sistema Único de Saúde: Gestão Compartilhada (PPSUS).
 Fomento ao desenvolvimento da pesquisa clínica e de avaliação de
tecnologias em saúde, com lançamento de editais nacionais para estudos e
revisões sistemáticas e para a formação de redes temáticas e estudos
multicêntricos.
 Fomento ao desenvolvimento do Complexo Produtivo da Saúde, com
lançamento de editais e estabelecimento de mecanismos de contratação
institucional para a inovação em saúde.
 Informação para a tomada de decisão em saúde, implicando a participação
dos gestores, tanto nas etapas do fomento (da definição de prioridades à
utilização dos resultados da pesquisa na gestão do sistema e serviços de
191

saúde) como no desenvolvimento de instrumentos para selecionar, validar


e promover a utilização do conhecimento gerado no sistema de saúde.
 Promoção da produção de conhecimento por meio dos grupos de pesquisa
brasileiros na área da saúde ou em áreas que atuem interdisciplinarmente
com pesquisas para a área.
Em suma, o principal fio condutor da Política para desenvolver a área da
saúde é a publicação de fomento por meio da abertura de editais e fundos de
financiamento para a pesquisa pelos componentes que dela fazem parte. Esses
financiamentos são feitos sobre vários enfoques, modalidades, escalas, atendendo
vários tipos de prioridades e suas subdivisões, voltados para a produção de Ciência &
Tecnologia & Inovação para a área de saúde.
Dentre as estratégias elaboradas pela PNCTIS, duas podem ser
consideradas como primordiais: a) a difusão de avanços tecnológicos e científicos; b) a
formação e capacitação de recursos humanos. E para que estas duas estratégias sejam
atingidas, fora adotada pela Política e consequentemente pelas agências de fomento34
que a construção de redes de pesquisa seria prática eficaz na produção de
conhecimentos científicos para a saúde.
Ou seja, os objetivos da PNCTIS olhados sobre as perspectivas da
construção de redes de pesquisa, podem ser resumidos em três: a) o aumento da
produção de conhecimento; b) o aumento no número de redes e de pesquisas em
redes no país; c) o maior adensamento das relações de cooperação em rede dentro e
fora dos âmbitos locais, em resumo, que os pesquisadores passam a cooperar com
outros estabelecidos em outras localidades.
Os resultados esperados sob a ótica desta estratégia em suma seriam de
que: a) existisse maior capacitação dos pesquisadores ativos no país; b) mais
pesquisadores fossem formados; c) as pesquisas ativas trabalhassem em face das
necessidades locais, com conhecimentos gerados por pesquisadores nacionais; d) o
adensamento e aumento das relações em rede que permitissem maior número de
produção de conhecimento traduzido em publicações e patentes; e) maior

34
Embora o conceito de rede social seja recente, e o próprio contexto tecnológico que tem propiciado as
possibilidades destas também seja algo relativamente recente, em países da Europa, políticas indutoras
de trabalhos cooperativos em rede já fazem duas décadas, como nos casos mostrados por CASTELLS
(2005); KANTZ, et. al. (2005); MULGAN (2005); COLE (2005); HIMANEN (2005); LIIKANEN (2005).
192

proximidade entre o conhecimento local produzido e sua inserção dentro do Sistema


Único de Saúde.
Assim sobre o trabalho científico em rede, Guimarães ratifica em
entrevista, “O trabalho em rede potencializa a força do trabalho em pesquisa, na
medida em que abre canais de comunicação entre os pesquisadores e racionaliza os
recursos financeiros mediante a divisão de tarefas”.
A construção de redes científicas35 é incorporada assim como importante
veículo metodológico na obtenção de resultados satisfatórios em vários níveis da
ciência e tecnologia brasileira para a área da saúde. A proposta apresentada é que os
pesquisadores brasileiros trabalhem em conjunto com pesquisadores de outras
localidades dentro do país, e, principalmente de outros países.
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),
como um dos veículos de fomento da política define a importância da pesquisa em
rede no país da seguinte forma,

O incentivo e apoio à formação de redes de pesquisa é


extremamente eficaz para a indução ao desenvolvimento de uma
dada área do conhecimento, o fortalecimento da capacidade
instalada nas instituições de pesquisa e da realização de pesquisa
colaborativa e interdisciplinar com integração entre as várias
ciências, possibilitando a troca de metodologias, promoção do
intercâmbio de dados, bem como a produção conjunta e a divulgação
científica dos resultados. A articulação de redes científicas inter-
regionais e interdisciplinares de pesquisa estimulará o intercâmbio
entre instituições que concentram competências, a interação entre
pesquisadores, o uso otimizado de recursos, o compartilhamento de
infraestrutura para a pesquisa, com a perspectiva de convergência
dos resultados (CNPq, em sua linha do fomento à pesquisa em rede).

Neste sentido, um dos mecanismos da PNCTIS para promover o


desenvolvimento científico e tecnológico da saúde é por meio do aumento das
conexões entre os pesquisadores através da construção de várias redes de pesquisa.
Para a lógica assumida por ela, além dos próprios ganhos do trabalho em rede, a

35
Assim como o próprio conceito de rede, existe uma polissemia nos vários termos utilizados pelas
diversas agências de fomento envolvidas e pela própria PNCTIS para designar o que em suma é o mesmo
objeto: redes de pesquisa, redes de cooperação, redes científicas, redes de pesquisa científica, redes de
cooperação acadêmica, redes de cooperação internacional de pesquisa... são algumas das termologias
encontradas.
193

tentativa de proporcionar uma política de cooperação acadêmica mútua entre


membros em diversas localidades é outra possibilidade.
Assim o fluxo de conexões e informações entre as várias competências e
centros/pesquisadores com conhecimentos complementares no Brasil e no mundo
aumentaria significativamente uma vez que temos as possibilidades já mencionadas do
ciberespaço. O enfoque na construção de redes entre os pesquisadores está assim
presente em toda a composição das diretrizes da Política Nacional de Ciência,
Tecnologia, Inovação em Saúde:
Para a Sustentação e o Fortalecimento do Esforço Nacional em Ciência,
Tecnologia e Inovação em Saúde entre outras, as principais estratégias são:

§ 63. J) Esforços para criação de parcerias e redes de pesquisas nos


países da América Latina, África e Ásia, visando a enfrentar
problemas de saúde comuns;
§ 64. É necessário, ainda, incentivar a articulação interinstitucional
entre centros mais desenvolvidos e menos desenvolvidos e estimular
a cooperação técnica horizontal entre países. Em âmbito nacional,
essa articulação interinstitucional deve incluir a formação de redes
entre as diversas instituições de CTI/S, visando à elaboração de
programas e de projetos de pesquisa que priorizem as necessidades
regionais, sem sobreposição ou duplicação de ações ou pesquisas e
garantindo a aplicabilidade de seus resultados (BRASIL, 2004, p. 22).

Para a criação do Sistema Nacional de Inovação em Saúde:

§ 65. A criação desse sistema é importante para fortalecer a


autonomia nacional e a superação do atraso tecnológico. Requer a
mobilização da totalidade da capacidade instalada de pesquisa,
ensino, iniciativas de desenvolvimento tecnológico e inovação em
saúde, numa perspectiva metodológica específica e Inter setorial,
incluindo redes de cooperação interinstitucional.
§ 66. Dentre as ações, destacam-se a implementação de projetos de
pesquisa e produção de conhecimentos cooperativos em rede e
interinstitucionais (BRASIL, 2004, pp. 22-23).

Para o setor da indústria farmacêutica, as estratégias propostas são:

a) Em curto prazo: implantação de uma rede nacional de


informação de plantas medicinais
b) Em médio prazo: estímulo ao desenvolvimento de redes de
cooperação técnico-científica.
194

c) Em longo prazo: a produção de conhecimentos por meio de


redes de cooperação que resultem em novos princípios ativos a
serem inseridos no Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2004, pp. 24-
26).

Para a Superação das Desigualdades Regionais:

§ 91. As iniciativas de formação de núcleos e de redes de pesquisa,


de elaboração das demandas para o sistema de CTI/S e de
implantação de programas de incentivo à produção do conhecimento
científico, em desenvolvimento pelos ministérios da Saúde e da
Ciência e Tecnologia e pelas fundações estaduais de amparo à
pesquisa, em parceria com as secretarias de saúde, são exemplos de
programas mobilizadores importantes que devem ser fortalecidos;
§ 94. H) Estimular a criação de redes de cooperação (BRASIL, 2004,
pp. 29-30).

Na Agenda Nacional de Prioridades: “Desenvolvimento de redes


sociotécnicas em saúde – subjetividades e sociabilidades para a produção de
conhecimento” (Brasil, 2004, p. 27). E no modelo de gestão da Política Nacional de
Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde uma das propostas são o: “incentivo à
criação de cooperativas de pesquisa em saúde para o desenvolvimento
regional”(BRASIL, 2004, p. 37).
Dentro do âmbito do Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e inovação
(PACTI 2007-2010, 2011-2015), fora criado o programa “Institutos do Milênio” em
2004, com o objetivo de promover a formação de redes de pesquisa em todo o
território nacional e o fortalecimento de grupos de pesquisa nas mais diversas áreas,
onde mais tarde em 2008 evoluiu para o Programa Institutos Nacionais de Ciência e
Tecnologia (INCTI) que entre seus objetivos estão:
i. Promover a formação de redes de pesquisa em todo território nacional;
ii. Mobilizar e agregar, de forma articulada, os melhores grupos de
pesquisa em áreas de fronteira da ciência e em áreas estratégicas
para o desenvolvimento sustentável do país;
iii. Impulsionar a pesquisa científica básica e fundamental competitiva
internacionalmente.
195

Atualmente no país existem 123 INCTIs em diversas áreas, 37 só para a


área da saúde, segundo o MCTI (2013). O estado de Pernambuco36 possui o maior
número de INCTIs no nordeste, cinco ao todo, destes, um atua na área de farmácia
com 479 pesquisadores cadastrados, segundo do próprio Instituto em 2013, divididos
entre vinte estados, o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para a Inovação
Farmacêutica (INCT_if), tem por objetivo

Desenvolver, internalizar e difundir práticas científicas e tecnológicas


capazes de superar as fragilidades e lacunas da cadeia inovativa e
produtiva farmacêutica, propondo mecanismos operacionais capazes
de viabilizar a transformação de resultados científicos promissores
em resultados econômicos efetivos com impactos sociais (INCT_if
em sua página).

Outro componente a se destacar dentro desse cenário de fomento,


sobretudo à pesquisa em rede, o Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e inovação, no
período de 2007 a 2010 fomentou 439 projetos de várias áreas – inclusive saúde -
dentro da modalidade de ampliação e consolidação de redes de cooperação
internacional, com um total gasto de 86,36 milhões. Só para o setor de fármacos e
medicamentos nesse mesmo período financiou-se 207 projetos em um total de R$
170,03 milhões, como mostra a tabela nº 4 a seguir:
Tabela nº 4: Número de projetos PACTI 2007-2010

Centro
Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul Total
Ampliação e consolidação de
redes de cooperação
internacional diversas 33 69 6 228 102 439

Valor gasto (milhões) 5,23 13,73 2,32 50,34 14,74 86,36

Para o setor de fármacos e


medicamentos * 20 24 21 103 39 207
Valor gasto (milhões) 10,98 12,68 6,97 112,01 27,39 170,03

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Finep e CNPq (2013)


*Em fármacos e medicamentos estão inclusos: fármacos, medicamentos, produtos médicos e
biomateriais, kits diagnósticos, hemoderivados e vacinas.

36
Os outros INCTis existentes em Pernambuco são: Instituto Nacional de C&T para Engenharia de
Software, Instituto Nacional de C&T de fotônica, Instituto Nacional de C&T Virtual da flora e dos fungos.
196

Como parte integrante do PACTI, e da proposta de integração dos


institutos de pesquisa brasileiros em rede, a partir do ano de 2004/2005 foram
implementados com recursos do MCTI, CNPq, FINEP e ME uma série de redes
institucionais para a área da saúde, segundo dados do MCTI (2013), podemos destacar:
Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia; Sistema Brasileiro de Tecnologia
(SIBRATEC): 3 redes em Saúde do total de 14 redes setoriais; Rede Brasileira de
Avaliação de Tecnologias em Saúde-REBRATS; Rede Genoprot37 – Apoio a projetos de
pesquisa em Genômica e Proteômica; Rede Brasileira de Pesquisa Sobre o Câncer;
Rede Brasileira de Pesquisa sobre o Câncer II; Rede Nacional de Pesquisa Clínica em
Hospitais de Ensino; Rede Nacional de Terapia Celular (RNTC); Rede Estudo
Longitudinal de Saúde do Adulto – ELSA Brasil.
Neste mesmo contexto, fora montada a Rede de Centros de Inovação em
Insumos para a Saúde Humana – que também nos proporciona uma visão de como o
enfoque na formação de redes está em vigor pelos Ministérios - que conta com um dos
centros em Pernambuco, que tem como objetivos:
 Executar projetos cooperativos de inovação tecnológica em parceria com
empresas, visando proporcionar um impulso ao desenvolvimento
tecnológico e econômico do setor empresarial de Insumos para a Saúde
Humana;
 Proporcionar complementaridade na atuação e suporte às empresas na
geração de inovação de produtos e processos, visando ampliar as
possibilidades das empresas em atender as reais demandas dos mercados
público e privado;
 Desenvolver e transferir tecnologia em insumos para a saúde humana,
abrangendo fármacos, biofármacos, vacinas, imunobiológicos e reativos
para diagnóstico, por meio de projetos cooperativos delimitados visando
concluir etapas precisas do desenvolvimento tecnológico e inovação.

37
Só em 2010 a rede Genoprot recebeu 34 bolsas de pesquisas nacionais, e obteve aprovação de 24
projetos para estudos do genoma em rede.
197

O objetivo dos Ministérios é a partir do estabelecimento de redes


institucionais 38 promoverem um ambiente que facilite a cooperação entre os
pesquisadores que deles fazem parte. Cabe ressaltar que estas redes são institucionais,
montadas por pactos estabelecidos pelo próprio Ministério da Saúde e Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovação, elas não foram construídas a partir da autonomia 39 dos
pesquisadores que delas fazem parte por meio de editais e financiamentos de
pesquisa.

O fomento à pesquisa em rede.

Parte significativa dos editais e auxílios destinados para a pesquisa em rede


podem ser analisados do ponto de vista do atendimento do princípio da
“extensividade” abordado como um dos eixos condutores40 da PNCTIS, este por sua
vez é o enfoque dado para a produção de conhecimento41, sobretudo àquele realizado
nas Universidades, hospitais e Institutos de pesquisa, mesmo que este não seja
aplicável de imediato,

A extensividade inclui toda pesquisa que visa ao avanço do


conhecimento, seja aquele de aplicação imediata ou não. Inclui,
portanto, além da produção de conhecimentos, as pesquisas voltadas
para o desenvolvimento tecnológico e a inovação (BRASIL, 2006, p.
19).

Este tipo de pesquisa é importante por ser capaz de mobilizar o maior


número de pesquisadores ativos no país, sobretudo nas pós-graduações. Existe uma

38
Para esta questão pode-se mencionar também o projeto do MCTI “redes cooperativas entre as
Universidades brasileiras em C&T” segundo o qual 28 Universidades brasileiras estão incluídas. Inclusive
a Universidade Federal de Pernambuco.
39 39
Ao contrário do que acontece com o programa RENORBIO que segue proposta de estimular a
formação de parcerias para realização de projetos cooperativos organizados na forma de redes, que
articulem diversas instituições e pesquisadores disponíveis na Região Nordeste com experiência e
competência em Biotecnologia. E para este caso as redes são determinadas pelos próprios
pesquisadores por meio dos editais e auxílios lançados pelas agências de fomento, e não por pactos
ministeriais.
40
Demais eixos condutores da PNCTIS são: inclusividade, seletividade, complementaridade,
competitividade, mérito científico e tecnológico, e a relevância social e econômica.
41
A PNCTIS considera todos os tipos de pesquisas os respectivos conhecimentos produzidos em
resultado, da pesquisa básica até a operacional (BRASIL, 2008).
198

significativa relação entre a quantidade de bolsas e auxílios fomentados e o número de


trabalhos cooperativos em rede e a publicação de artigos científicos.

A formação e capacitação de recursos humanos, por meio de cursos


de pós-graduação lato sensu e stricto sensu, visam aprimorar a
capacidade regulatória das instituições; implementar a avaliação de
tecnologias em saúde; desenvolver a produção e o uso do
conhecimento científico e tecnológico nos programas, ações e
serviços de saúde; aperfeiçoar a gestão de CT&I/S e outras demandas
decorrentes do encaminhamento desta política (2ª CNCTIS –
documento base, 2004, p. 21).

Se analisarmos os dados fornecidos pelo Ministério da Educação em


relação ao destino dos gastos com as pós-graduações, veremos que, no período
compreendido entre os anos de 2000 a 2010, mais da metade dos valores investidos
foram destinados para as pós-graduações.

Tabela nº 5: Dispêndios do Ministério da Educação em Ciência & Tecnologia (C&T),


2000-2010.

Total Total
Ano C&T Pós-Graduação
2000 2.087,2 1.523,40
2001 2.270,1 1.590,40
2002 2.613,3 1.861,40
2003 2.901,8 2.159,30
2004 3.347,1 2.542,90
2005 3.631,5 2.616,10
2006 4.401,6 3.319,50
2007 5.641,7 4.391,90
2008 6.576,7 5.033,10
2009 6.996,6 5.050,70
2010 8.508,8 6.069,80
Fonte: Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi) (2013).

O aumento no investimento nas pós-graduações no tocante da própria


melhoria na educação, qualidade do ensino e demais benefícios proporciona
significativos retornos em C&T&I, sobretudo porque permite meios para que os
pesquisadores realizem seus trabalhos. Isto sob o ponto de vista da extensividade da
199

PNCTIS pode ser analisado sob o fato de que, o conhecimento produzido nas pós-
graduações mesmo que não aplicado imediatamente é fonte básica para subsidiar
outras pesquisas futuras, interações e trocas de experiências.
Dentre as várias possibilidades que o conceito de rede científica possa
alcançar, ainda é nas pós-graduações em que se tem o maior número de pesquisas em
rede e onde ainda se agrega o maior número de pesquisadores ativos no país. É a
partir dos grupos de pesquisa, dos líderes, dos coordenadores de projetos, das
relações de orientação que se pode estabelecer o maior número de conexões possíveis
entre Universidades, Instituições, hospitais, laboratórios, empresas.
Estes tipos de conexões e os conhecimentos resultantes delas são peças
fundamentais na produção de conhecimento e na realização de inovações que, por sua
vez, geram bens e serviços que possam ser utilizados pela sociedade. Diante da lógica
assumida pela PNCTIS, além dos próprios ganhos da pesquisa em rede em termos de
conhecimento, podemos considerar o estabelecimento de uma cultura de trabalho
cooperativo em rede a longo prazo em outro ganho.
A indução à pesquisa em rede é feita em consonância com as necessidades
estratégicas de pesquisa em saúde e leva em consideração a troca de competências
locais e internacionais no processo de aprendizado e produção do conhecimento. O
primeiro tipo de fomento é o destinado para o lançamento de editais de cooperação
internacional, que visa estabelecer a pesquisa cooperativa em rede com instituições
com parcerias já firmadas com os órgãos brasileiros. Eles procuram além das pesquisas
de interesses comuns, a capacitação, formação em conjunto de pesquisadores, e a
produção de conhecimento em Ciência & Tecnologia & Inovação.
Esta modalidade só é realizada com instituições que possuem acordos já
firmados com o Brasil. A tabela nº 6 mostra a evolução no fomento entre os anos de
2000 a 2010 em face da quantidade de projetos aprovados nesse mesmo período para
a modalidade e o valor gasto.
200

Tabela nº 6: Número de projetos de redes de cooperação internacional fomentados


pelo CNPq 2000-2010

Número de chamadas aprovadas


Chamada Fomento à Pesquisa
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
CNPq/Alemanha 8 7 13 17 1
CNPq/Argentina 5 4 3 5
CNPq/Bélgica 2 5 3 2 16
CNPq/Canadá 2 1
CNPq/Cuba 7 4 1 4 14 5
CNPq/Itália 4 3
CNPq/França 20 16 10 12 12 5
CNPq/Colômbia 7 7 5 7 8 6
CNPq/México 3 4 3 10
CNPq/Costa Rica 1 1 1
CNPq/Chile 6 4 4 1
CNPq/Uruguai 4 5 4 2 6
CNPq/Portugal 11 11 8 1
CNPq/ Eslovênia 5
CNPq/EUA 8 9 8 7 13 10
CNPq/Espanha 9 7
CNPq/Suíça 8
CNPq/Venezuela 1 2
Total: 67 78 55 67 84 77
Valor pago (Milhões) 1.888 2.664 1.483 2.227 4.246 3.890
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do CNPq/AEI (2013).

A quantidade de projetos aprovados permaneceu em média muito


próxima, ano após ano, com exceção do ano de 2007 que tem a menor quantidade dos
anos em destaque. É importante destacar também, que antes esta linha de fomento
não existia no país, até o ano de 2004 nenhum edital de financiamento para a
construção de pesquisas em redes seja na modalidade de cooperação internacional ou
para qualquer outro para o CNPq.
Na escala estadual, em Pernambuco a Fundação de Amparo a Ciência e
Tecnologia de Pernambuco (FACEPE), passou a partir de 2006 a fomentar projetos de
pesquisa para redes de cooperação internacional. No período de 2006 a 2010 foram
lançados 11 editais nesta modalidade com 9 projetos aprovados.
201

A CAPES como um dos órgãos integrantes inseriu também a modalidade de


cooperação internacional como parte integrante de sua política de fomento, a tabela
nº 7 a seguir, revela além da quantidade de editais lançados no período de 2000 a
2010, que a data de início de financiamento converge para a mesma data que a do
CNPq e da atuação da PNCTIS em 2005.

Tabela nº 7: Número de editais42 destinados à construção de redes de cooperação


internacional CAPES 2000 a 2010.

Chamada Fomento à Pesquisa


2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
CAPES/Alemanha 3 2 5
CAPES/Argentina 1 3 3 3
CAPES/Bélgica 1
CAPES/Cuba 2 2 2
CAPES/Espanha 1 1 2
CAPES/Estados
Unidos 1 1 1 5 4 7
CAPES/França 2 5 6 6
CAPES/Holanda 1 1 1 1 2
CAPES/Itália 1
CAPES/Japão 2
CAPES/México 2
CAPES/Portugal 1 1 2
CAPES/Reino Unido 2
CAPES/Uruguai 1 1 2
TOTAL 3 3 6 19 23 36
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da CAPES (2013).

Se olharmos para a mesma linha de fomento da CAPES, mas desta vez pela
quantidade de editais lançados e não projetos no mesmo período 2000 a 2010,
percebemos ocorrer a mesma lógica: antes de 2005 não existia a linha de fomento na
instituição e o número de editais aumentaram significamente no período 2005 a 2010
de 3 editais ao ano em 2005 para 36 editais em 2010. A proposta é ter um número
cada vez maior de parcerias, como é o caso da China que ainda está em fase de
negociação.

42
Os dados destacam a quantidade de editais lançados anualmente e não o número de projetos
aprovados ou de bolsas. Sendo assim, um único edital pode fomentar significativo número de bolsas ou
projetos distintos.
202

Existem também, nos mesmos moldes da cooperação internacional,


mostrada nos quadros anteriores, duas modalidades: a) cooperação 43 em redes
bilaterais internacionais; b) cooperação44 em redes internacionais trilaterais entre
países ou continentes envolvidos. Estes por sua vez, assumem projetos de parcerias
em áreas temáticas com acordos assinados com países, e não propriamente
instituições.
A tabela nº 8 a seguir, destaca projetos aprovados e valores gastos no
período de 2000 a 2010 com dois dos maiores grupos de cooperação bilateral
continental: o PROSUL, que de acordo com o CNPq destina “Apoio Financeiro para
Atividades de Cooperação Internacional para a Formação de Redes de Pesquisa
voltado para pesquisas na América Latina” e o PROÁFRICA, que da mesma forma,
objetiva “Apoio Financeiro para Atividades de Cooperação Internacional para a
Formação de Redes de Pesquisa com o Continente Africano”.

Tabela nº 8: Projetos aprovados e valores gastos na modalidade PROSUL e


PROÁFRICA no período de 2000 a 2010.

Número de Projetos
Chamada Fomento à Pesquisa
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

PROSUL 10 21 86 77 63 20
Valor Total
(em milhões): 306 730 2.065 1.164 1.639 568
PROÁFRICA 4 56 60 62 4
Valor Total
(em milhões): 839 3.488 1.989 1.685 1.147
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do CNPq/AEI (2013).

Estas duas modalidades se juntam com outras que atuam em escala


menor, como o programa de cooperação bilateral entre Brasil e Índia ou o programa
43
Ver por exemplo os editais do CNPq nº 027/2006; CNPq nº 004/2007; CNPq Nº 061/2008; CNPq Nº
015/2009; CNPq Nº 053/2010 que tem como objetivo apoiar, de forma complementar, o
desenvolvimento de projetos conjuntos em rede de pesquisa científica, tecnológica e de inovação, por
meio do financiamento a atividades de cooperação internacional, no âmbito dos convênios bilaterais
entre o CNPq e instituições financiadoras estrangeiras (CNPq, 2006).
44
Ver também, o Edital MCT/CNPq Nº 045/2009 Programa de Apoio à Cooperação Científica e
Tecnológica Trilateral entre Índia, Brasil e África do Sul que tem por finalidade apoiar áreas identificadas
como prioritárias para a cooperação trilateral, o desenvolvimento de atividades de cooperação
internacional em Ciência, Tecnologia e Inovação (C&T&I) entre pesquisadores brasileiros, indianos e sul-
africanos, que contribuam de forma sustentada, para o desenvolvimento científico e tecnológico dos
países envolvidos.
203

de cooperação trilateral entre Brasil, Índia e África do Sul. Para além da consolidação
das relações destas modalidades, as chamadas preveem até visitas exploratórias para
contatos presenciais com intuito de facilitar os diálogos entre os pesquisadores
brasileiros e estrangeiros.
Outro grupo de fomento pode ser definido pelos Editais na modalidade
encomenda, onde os projetos são selecionados como o próprio nome diz por
“encomendas” do CNPq, estabelecidos por meio de termos de cooperação, redes ou
convênios do CNPq com Ministérios. Eles tendem a atender planos de ações para áreas
estratégicas ou segmentos específicos de pesquisa, por meio da aprovação de projetos
e bolsas para os pesquisadores inseridos nas propostas de pesquisa em rede. De
acordo com dados do CNPq (2013), especificamente para a saúde, só no ano de 2010
foram fomentados 97 projetos sob esta modalidade, com 210 bolsas para o mesmo
ano.
O grupo para redes diversas - o maior deles em número de projetos e
fomento - é o que engloba a construção de redes diversas em C&T&I. Essa modalidade,
os pesquisadores e suas pesquisas podem se conectarem sem a exigência de um
indivíduo específico, região, país45 ou instituição, ficando a critério dos pesquisadores
os delineamentos pelos quais a sua rede irá tomar.
Envolve as linhas de: a) Apoio para a construção de atividades de
cooperação internacional para a formação de redes de projetos temáticos; b) Apoio
para a construção de atividades de cooperação internacional para a execução de
projetos conjuntos em redes de C&T&I; c) redes cooperativas de pesquisa; d) Redes de
cooperação em Projetos Conjuntos de P&D&I; e) formação de redes de pesquisa
diversas; f) formação de redes de pesquisa interdisciplinares; g) formação de redes
temáticas. A tabela nº 9 a seguir, mostra a evolução do fomento à pesquisa em
número de projetos aprovados no período de 2000 a 2010 e o valor gasto pelo CNPq
para a modalidade de redes científicas diversas.

45
Muito embora, seja importante destacar, que mesmo para esta modalidade, a construção de redes
com pesquisadores de outros países ainda é o maior interesse por parte da PNCTIS e das agências de
fomento.
204

Tabela nº 9: Projetos aprovados e valor gasto no período 2000 a 2010 pelo CNPq na
modalidade de redes científicas diversas.

Fomento a pesquisa
Ano 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Projetos 66 28 107 131 133 200
Valor pago
(milhões) 4.654 926 5.369 3.138 4.667 9.218
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do CNPq/AEI (2013).

Do ano de 2005 o primeiro para o fomento a este tipo de pesquisa, até o


de 2010, o último analisado, o número de projetos aprovados passou de 66 para 200
mais que triplicando a quantidade, os valores gastos também dobraram entre o
período inicial e o final. Como nos segmentos anteriores, essa linha também não
existia antes do ano de 2005. É importante destacar também que, na tabela
apresentada estão inseridas apenas informações referentes às redes científicas
diversas exemplificadas.
Existe ainda um último grupo de redes científicas, fomentadas a partir das
novas orientações do MS, MCTIS, ME e a PNCTIS que embora não apareçam tão
claramente nos editais de fomento, no que se refere ao objeto principal, elas estão
presentes e são responsáveis por grandes agrupamentos de pesquisadores
trabalhando assim.
Trata-se das redes que são formadas por grandes investimentos em
grandes projetos. Estes projetos são aprovados e dadas a complexidade do objeto de
estudo, necessitam de grande quantidade de pesquisadores e instituições conectadas
trabalhando juntos. Embora editais desta natureza não sejam publicados com este
objetivo em especial, o fato do projeto permitir a construção de redes é fator
importante de julgamento de mérito científico. Estes tipos de rede portanto são
organizadas a partir dos seus projetos aprovados e são construídas exclusivamente a
partir dos interesses dos agentes centrais da rede, na maioria dos casos líderes de
grupos de pesquisa.
A tabela nº 10 a seguir procura fazer uma relação entre os editais lançados
pelo CNPq que tinham por objetivo principal ou secundário a pesquisa em rede e os
editais diversos nos anos de 2006 a 2010.
205

Tabela nº 10: Relação entre editais lançados para a construção de redes em relação
aos editais diversos pelo CNPq 2006-2010

Ano Pesquisas em rede Pesquisas diversas Total


2006 28 Editais 30 Editais 58
2007 19 Editais 26 Editais 35
2008 20 Editais 44 Editais 64
2009 22 Editais 39 Editais 61
2010 32 Editais 38 Editais 70
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do CNPq (2013).

No destaque, percebe-se que durante o período de 2006 a 2010 os editais


que possuem a temática da pesquisa em rede, chegaram a quase metade dos editais
diversos. Essa proporção é bem significativa se levarmos em conta que o segundo
grupo incorpora todos os outros tipos de fomento da instituição.
Essa quantidade também pode ser explicada pelo fato de que, não só a
saúde, mas também outras áreas por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (FNDCT) e seus fundos setoriais46 como é o caso do CT-Agro,
CT-Petro, CT-Biotec, CT-Hidro, passaram a incorporar a pesquisa em rede como
componente de fomento.
É importante ressaltar por último que, até para os editais em que a
pesquisa em rede não é o foco da chamada, a formação de redes científicas foi
incorporada como um dos elementos de avaliação do mérito técnico-científico47 dos
projetos submetidos. Todas essas informações nos sugerem a dimensão no qual as
redes foram inseridas nas agências de fomento brasileiras e como estas entram em
consonância com a atuação da PNCTIS.

Considerações Finais

A criação da PNCTIS em 2004 trouxe consigo um desafio: o de promover


desenvolvimento científico, tecnológico e inovativo para a área saúde, de modo a
46
Alguns exemplos de chamadas lançadas pelo CNPq que destacam também a pesquisa em rede:
45/2006 – CT-Hidro; MCT/CNPq/CT-AGRO Nº 24/2009;MCT/FINEP/CT-Petro nº 01/2009; MCT/CNPq/CT-
BIOTEC nº 27/2010.
47
Alguns exemplos podem ser observados nos editais: MCT/CNPq/CT-Saúde – Nº 18/2006; MCT/CNPq -
nº 026/2007; MCT/CNPq - nº 51/2008; MCT/CNPq - Nº 020/2009.
206

atender consequentemente as demandas sociais existentes no país. E mais,


proporcionar que os conhecimentos gerados sejam oriundos de pesquisadores
brasileiros e com isso uma possível emancipação tecnológica que nos faria diminuir o
gargalo tecnológico da área. E consigo, a política trouxe uma série de metas, propostas
e diretrizes a fim de atingir os seus objetivos.
É nesse contexto que uma das propostas assumidas pela PNCTIS para
promover o desenvolvimento na saúde em curto, médio e longo prazo é a
incorporação do debate de redes. Elas são entendidas assim como veículo eficaz na
produção de conhecimento e na integração dos pesquisadores brasileiros dentro e
fora do país. Esses argumentos ficam claros e evidentes ao observarmos a composição
da política na íntegra e a própria formulação das linhas de ação por meio dos órgãos
de fomento.
Em outras palavras, existe significativa consonância entre os argumentos
destacados na construção da PNCTIS no que se refere ao fomento à pesquisa em rede,
os dados de fomento, e as informações prestadas em entrevista pelo Sr. Reinaldo
Guimarães, principal articulador da política. A noção de que o trabalho cooperativo em
rede proporciona benefícios para além daqueles trazidos por pesquisadores isolados,
tem proporcionado não só para a área da saúde ou especificamente da farmácia o
incentivo nesta modalidade, mas outras áreas têm sido inseridas nessa forma de
fomento. Esta concepção, nos direciona também para os retornos sociais resultantes
do capital social gerado à medida que mais e mais relações são construídas por meio
da pesquisa científica em rede
É a partir do ano de 2005 que a PNCTIS passa a vigorar, e como tal a
proposta de fomentar a pesquisa em rede também se inicia nesse ano. Os dados nos
mostraram não só o aumento significativo na quantidade de editais, bolsas, e valores
pagos nos últimos anos, como também mostrou que anteriormente ao ano de 2004,
não existia nenhuma linha de fomento nos principais órgãos envolvidos: CNPq, CAPES,
FACEPE e FINEP para a pesquisa em rede existir.
Embora não fosse possível o acesso a informações mais precisas de outras
áreas de conhecimento, os dados sugerem que a proposta da pesquisa em rede tenha
sido incorporada por outras áreas de atuação, como o caso do CT-Hidro, CT-Amazônia,
CT-Biotec e CT-Agro em que aparecem com editais lançados especialmente para
207

projetos nesta modalidade, além dos próprios editais de encomenda destinados para a
pesquisa em rede nesta e em outras áreas.
Aparentemente, este tipo de orientação não tenha influenciado apenas a
composição da PNCTIS, mas outras linhas de ação também, uma mostra disso é que no
último ano estudado, o de 2010, do total geral de editais lançados pelo CNPq 32 editais
(56%) tinham como objetivo principal ou secundário o fomento à pesquisa em rede.
Em alguns casos, até para aqueles editais lançados que não objetivavam a modalidade,
possuíam como metodologia no julgamento de mérito científico pesquisas que se
predispusessem a construírem redes de pesquisa. O PACTI, por exemplo, no período
de 2007-2010 fomentou 439 projetos modalidade de ampliação e consolidação de
redes de cooperação além da construção dos vários INCTI`S em que o próprio objetivo
é a construção de institutos conectados em rede com pesquisadores articulados pelo
país.
Devido a forma integrada na construção da PNCTIS com os Ministérios
(Educação, Saúde, e Ciência, Tecnologia & Inovação) o enfoque na atuação de redes
não se dá exclusivamente de forma objetiva com editais e processos direcionados para
a pesquisa em rede. A atuação é dada por meio do aumento de verbas destinadas para
a pesquisa nas Universidades, Institutos e centros de pesquisa para que sejam
viabilizados mecanismos de atuação voluntárias em conjunto iniciadas pelos próprios
pesquisadores.
Por fim, como resultado da busca de compreender outro importante
argumento por parte da PNCTIS, sugerimos que, existe uma compreensão ainda
equivocada das dificuldades de se construir uma pesquisa científica em rede, dos
desdobramentos acadêmicos em termos de relações em rede, de formas de se manter
e monitorar a pesquisa, e as relações nelas inseridas em longas distâncias.
Assim consideramos que a política está construída como um único
arcabouço analítico, mesmo com as inúmeras agências de fomento e as
particularidades dos editais, sua composição negligencia as inúmeras particularidades
espaciais do país. Negligencia as temporalidades científicas, técnicas, culturais,
simbólicas, políticas e econômicas existentes nos diversos espaços brasileiros e no
cotidiano dos pesquisadores.
208

Também é possível observar que para a PNCTIS e seus formuladores, a


revolução massiva das TICs, dos transportes, aliados aos editais de fomento para a
construção desta modalidade de pesquisa, são elementos suficientes para estimular o
crescimento de redes no país e fora dele. Além de prover meios para manutenção
destas relações a curto, médio e longo prazo.
É importante destacar também, que não existe uma clara distinção entre as
escalas preteridas para a formação de redes com base na política, fala-se em redes de
cooperação com vários níveis na América Latina, Ásia, África, Europa, e internamente
entre os centros mais desenvolvidos e os menos desenvolvidos, porém é dado pouco
destaque às redes impulsionadas localmente. Assim, acreditamos que o global seja
mais prioritário que o local. Os INCTs aparentemente são os mecanismos principais na
aproximação de pesquisadores dentro do país.
Sobre a aproximação entre os pesquisadores, com exceção dos editais
voltados para “visitas exploratórias” não foram encontrados indícios de editais de
fomento, ou na composição da política de mecanismos que viessem a tratar das
dificuldades de se pesquisar em rede à longas distâncias ou da necessidade dos
contatos presenciais.
209

4ª CONEXÃO

AS REDES CIENTÍFICAS NA ÁREA DE


FARMÁCIA EM PERNAMBUCO EM FACE
DA PNCTIS, E A IMPORTÂNCIA DO
ESPAÇO NA CONSTRUÇÃO E
FUNCIONAMENTO DESTAS.
210

1º Nó

Procedimentos metodológicos para


a coleta e tratamento de dados.
211

4ª CONEXÃO AS REDES CIENTÍFICAS NA ÁREA DE FARMÁCIA EM PERNAMBUCO EM


FACE DA PNCTIS, E A IMPORTÂNCIA DO ESPAÇO NA CONSTRUÇÃO E
FUNCIONAMENTO DESTAS

1º NÓ PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA A COLETA E TRATAMENTO DE DADOS

Introdução

Edgar Morin em seu livro “A natureza da natureza” de 1977 evidencia a


existência do todo e a impossibilidade de compreensão e recorte do mesmo. O todo
assim seria tudo e por ser tudo é dinâmico, e de proporções intermiváveis, para tal,
toda pesquisa deve se fazer de um recorte, seja este temporal, espacial ou
metodológico.
Carl Sagan em seu livro “Cosmos” de 1980, considera que o recorte - ao
mesmo tempo que defende a nececessidade de uma visão mais abrangente de mundo
- além de facilitar a atuação e o papel do pesquisador, é resultado da nossa limitação
enquanto ser, e o primeiro caminho na compreensão da imensão que é o
conhecimento científico, o mundo, o universo, o humano, o todo.
Desta forma, na compreensão destes aspectos este primeiro nó desta
quarta e última conexão vista apresentar o referêncial teórico metodológico pra a base
analítica do debate sobre redes sociais além dos procedimentos metodológicos da
pesquisa, não que em cada nó anterior não já tivéssemos apresentado em suas
introduções o recorte, a fonte de informações e a forma metodológica, sobretudo a
baseada na literatura, que foram utilizada para suas construções.
Mas especificamente neste, destinamos estes campos especialmente para
isso. O primeiro deles de nome “Referencial Teórico-Metodológico para a Base
Analítica sobre a Análise de Redes Sociais (ARS)” visa proporcionar revisão da literatura
sobre o debate da Análise de Redes Sociais (ARS) ferramenta metodológica construída
para auxiliar os estudos das redes sociais. Além de, apresentar alguns
questionamentos norteadores da pesquisa em redes sociais e esquemas estruturantes
que fazem destas estruturas visualizáveis e analisáveis, os sociogramas.
O segundo, “Procedimentos metodológicos utilizados para a coleta e
tratamento de dados” busca destacar o recorte espacial e temporal utilizado na
212

pesquisa, bem como seguido de sua justificativa. Além de procedimentos


metodológicos detalhados não só para a busca de dados mas para a sua construção.
Nele é destacado também os motivadores para a utilização das bases de dados e
apresentado

Referencial Teórico-Metodológico para a Base Analítica sobre a


Análise de Redes Sociais (ARS)

A Análise de Redes Sociais48 – ARS (Social Network Analysis – SNA) surge


também, como uma forma de estudar as relações sociais entre indivíduos por meio de
uma estrutura em forma de rede de relacionamentos. Busca estudar sistemas
interativos e os tipos de relações, verificando o posicionamento estrutural de cada ator
(pessoa ou entidade) dentro de um contexto relacional específico.
Nos principais trabalhos sobre o tema, a origem é atribuída aos estudos
pioneiros de Moreno (1934), que desenvolveu sociogramas como forma de
demonstrar a estrutura dos relacionamentos emotivos interpessoais dentro de um
grupo. Outros autores são apontados como importantes no estudo do método, como
Simmel (1993), Claude Lévi Strauss, nos anos 1940. John Barnes, nos anos de 1950,
como já mencionado, foi o responsável, formalmente, pelo termo “rede social” (social
network). Ao estudar as características estruturais de uma determinada sociedade,
abriu-se caminho para a controvérsia em torno da origem dos estudos sistemáticos
com uso de redes sociais, assim como estudos de psicologia social dos anos de 1920
nos Estados Unidos são apontados como seminais na metodologia (GUIMARÃES &
MELO, 2005; PENNA et. al., 2007; ACIOLI, 2007; ZANCAN, 2008).

48
A Análise de Redes Sociais – ARS (Social Networks Analysis – NSA) teve expansão no mundo quando a
partir, de 1978, foi criada, por Barry Wellman, uma associação, a International Netwokrs for Social
Network Analysis (INSNA), e, em 1979, inicia-se a primeira conferência anual (International Network for
Social Network Analysis). Conta com revistas especializadas, como a Social Networks (editada desde
1979), a Connections, que é o boletim oficial da INSNA, o Journal of Social Structure (revista eletrônica),
REDES – Revista Hispana para elanálisis de redes sociales. Também há vários programas que buscam
mostrar graficamente as redes estudadas. Os mais utilizados são: UCINET/NetDraw, Pajek, STRUCTURE,
StOCNET, GRADAP, NetMinter, Krackplot. A ARS compreende os seguintes campos do conhecimento:
matemática (teoria dos grafos, teoria dos grupos e álgebra de matrizes), antropologia, sociologia,
psicologia, ecologia, estudos organizacionais, epidemiologia, linguistica e ciência política (BORGATTI,
2003; PENNA et. al., 2007).
213

Dando continuidade aos primeiros trabalhos antropológicos, pesquisadores


de Harvard construíram modelos de relações interpessoais nos estudos sobre a
formação de grupos executivos. Lewis, nos anos 1950, focou seu estudo nas
propriedades estruturais do espaço social. Há autores que defendem que a noção de
rede abrange tanto aspectos de ausência de relação como de intensidade, status e
papel social e que tais características são capazes de analisar o uso metafórico e o
analítico (ACIOLI, 2007). Nos anos de 1960 e 1970, outros antropólogos ligados à
Universidade de Manchester desenvolveram pesquisas sobre os processos de relações
comunitárias em países africanos quando buscaram identificar as redes sociais no
processo migratório, aliando os modelos matemáticos da teoria dos grafos às teorias
sociais (GUIMARÃES; MELO, 2005; PENNA et. al., 2007).
O fundamento dos estudos de ARS são os vínculos relacionais
(relationaltie) entre atores (pessoas, organizações, grupos ou outra unidade de análise)
que são ligados uns aos outros. Esses vínculos podem ser: a) do tipo social (por laço de
amizade); b) por associação, afiliação (laços existentes nos clubes, associações etc.); c)
por interação profissional (laços de trabalho); d) por relação física (bairro, cidade); e)
relação virtual (via internet); e, f) por laços biológicos (família). Tais vínculos podem ser
analisados com diversos objetivos, mas, ao final, todos buscam perceber formas,
padrões, estruturas e constâncias de relacionamentos sociais (GRANOVETTER, 1973;
FREEMAN, 1979; WELLMAN, 1983; CARLEY, 1991; HANNEMAN, 1998; BORGATTI,
2003).
A densidade é retirada pela diferença do total das relações esperadas entre
participantes de um grupo e o total de relações realmente existentes em uma rede de
relações (BATAGELJ & MRVAR, 1999; BORGATTI, 2002; EVERETT, 2002; FREEMAN,
2002; HATALA, 2006). Quanto maior o número de relações existentes entre atores de
um grupo, maior é a densidade da rede e melhor para a transmissão de informações.
A metodologia da ARS tem propriedades importantes a serem
consideradas, entre elas estão os laços direcionais, os não direcionais, os simétricos e
os assimétricos. A ARS têm formas de verificação (ou medição) da dimensão estrutural
e relacional da rede. Para isso é fundamental na análise de rede: a) tamanho, que diz
respeito ao número de atores (pontos, nós, etc.) pertencente à rede; b) abrangência,
que identifica o número total de atores (pontos, nós), apontando o número de atores
214

isolados; c) conectividade dos atores que se refere à quantidade de ligações entre os


atores (direcional e não direcional); d) simetria, que verifica a média entre as ligações
simétricas e assimétricas entre os atores (FREEMAN, 1979; HANNEMAN, 1998;
BATAGELJ & MRVAR, 1999; BORGATTI et. al. 2002).
Há basicamente duas formas de se fazer análise de redes sociais: por meio
da análise do perfil de relacionamento, sem qualquer restrição de fonte de
relacionamento. Nesta forma, parte-se de um determinado ponto para “rastrear” as
suas relações; por meio da análise dos relacionamentos de um grupo. Nesta forma, os
relacionamentos devem ser restritos ao grupo definido, previamente, para o estudo. A
primeira é chamada de rede de relacionamento pessoal, pois parte-se de um indivíduo
para os demais de sua “rede” de relacionamentos. A segunda é denominada rede de
relacionamentos estruturais. O procedimento para o estudo é baseado em um
conjunto de questões feitas para uma determinada pessoa ou ainda nos fundamentos
dos motivos das relações (MARSDEN, 1990; BORGATTI, 2002; EVERETT, 2002;
FREEMAN, 2002, KADUSHIN, 2002).
Para operacionalização da pesquisa objetivando a construção de redes
sociais, tanto estrutural como pessoal, normalmente se utiliza o questionário
semiaberto para que o respondente indique, livremente, seus principais
relacionamentos, além de outras indicações, que podem apontar para uma
determinada tendência e/ou características das pessoas com as quais existem os
vínculos. Esse tipo de pesquisa é usado quando se pretende conhecer todos os
relacionamentos importantes de uma pessoa, independentemente do grupo dos quais
são provenientes tais relacionamentos. Parte-se do nodo para as demais relações que
ela mantém (BORGATTI, 2002, 2003, 2005; EVERETT, 2002; FREEMAN, 2002; MOLINA,
2005; ACIOLI, 2007).
A segunda 49 forma consiste na identificação prévia do grupo a ser
estudado. Na coleta de informações, é necessário definir, antecipadamente, o tipo de
relacionamento que se deseja identificar, desta forma é possível analisar o
relacionamento dentro de um grupo muito bem delimitado, possibilitando a

49
Separamos três formas de pesquisa para o mapeamento de redes sociais, não que existam apenas
estas. O caráter particular de cada pesquisa pode revelar diferentes formas de apreender e estrutura os
dados.
215

compreensão da sua dinâmica. Pode-se usar questionário ou entrevista (BORGATTI,


2002, 2003, 2005; EVERETT, 2002; FREEMAN, 2002; ACIOLI, 2005; MOLINA, 2005).
Existe uma terceira forma, cada vez mais difundida pelas ciências da
informação, que para este trabalho é considerada mais relevante, que é a análise de
redes sociais colaborativas em determinadas áreas de atuação usando como forma a
utilização de bases de dados secundárias, publicações, e demais formas que permitam
visualizar as relações sem que haja necessariamente entrevistas50 com os atores
(POBLACIÓN, et. al.,2009).
Os estudos de Borgatti (2003) e Guimarães & Melo (2005) demonstram
que a ARS é útil quando se busca mapear redes de confiança (quem confia em quem?)
e de rede de aquisição de informação (com quem você busca informação sobre
determinado assunto?). No entanto, outras informações sobre a rede podem ser
buscadas em um estudo de ARS; são elas: a) rede de conhecimento (quem conhece
quem?); b) rede de comunicação regular (quem se comunica regularmente com
quem?); c) rede de acesso entre pessoas (quem tem acesso a quem?); d) rede de
pessoas com potencial de conhecimento para ajudar (quem tem conhecimento para
me ajudar?); e) rede de reconhecimento das competências entre as pessoas (quem
tem consciência da competência de quem?); e f) redes de pesquisa científica (quem
pesquisa com quem? Onde estão os pesquisadores?).
A ARS pode ser usada para encontrar respostas simples e diretas,
reformulação de problemas, relações entre pessoas (sociocêntricas ou egocêntricas)
ou entre empresas, projetos de colaboração, identificação de redes sociotécnicas. A
estrutura de rede é a forma de estudo cuja ênfase está nos motivos da conexão entre
os pontos da rede e busca identificar: quem fala com quem sobre o que? Quem dá,
recebe ou compartilha que tipo de recurso com quem? Também analisa os resultados:
como a estrutura de rede afeta o fluxo de recursos entre os membros do grupo? Como
a informação circula na rede? Que tipo de “capital social” é adquirido pelos membros
da rede? O que os indivíduos (atores) obtêm das suas redes? Quem são os atores

50
Nesta fase de mapeamento da relações não se utilizou de entrevista e sim de fontes documentais
para o mapeamento das relações. Entretante, as entrevistas se fazem relevantes e foram aplicadas em
um segundo momento da pesquisa.
216

centrais da rede? Onde estão localizados os atores conectados? (BORGATTI, 2003;


MOLINA, 2005; GUIMARÃES; MELO, 2005).
Para se estudar uma rede, pode-se partir de duas estratégias: uma que se
limita ao tamanho dela, por meio da identificação prévia de seu tamanho ou estrutura.
Neste caso a coleta de dados, pode ser feita de várias formas (com foco na análise
quantitativa ou qualitativa); a segunda forma é quando se parte da coleta de dados de
um determinado ponto da rede (nó ou ator) posicionado em qualquer lugar, e por
meio dele se faz a seleção dos grupos usando seleção amostral, sendo a mais usada a
técnica “bola-de-neve” (ou snowball), que acontece quando um ator indica mais atores
da rede com quem tem relação, ou ainda para a geração de nomes por meio da
indicação dos participantes da rede. Na técnica bola-de-neve, há limites para seleção
das pessoas, que podem ser a quantidade de pessoas, tempo disponível para se
desenvolver o estudo ou outros. Para a coleta de informações, a partir dos
participantes, o limite é definido quando os nomes de um determinado grupo começar
a se repetir, deixando claro o tamanho do grupo indireto.
A metodologia da ARS tem formas de verificação (ou medição) da
dimensão estrutural e relacional da rede. Isso é possível pelos conceitos utilizados.
Uma rede social é um grupo de indivíduos que, de forma grupada ou individual, se
relacionam uns com os outros, com um fim específico, caracterizando-se pela
existência de fluxos de informação. Uma rede é formada basicamente por indivíduos,
relações e fluxos. A metodologia de ARS é a configuração geral entre esses indivíduos
(atores, nós) e suas relações (linhas); e o sociograma é uma representação gráfica (o
mapa) que demonstra isso.

Figura nº 9: Ator e relação

Fonte: elaboração própria


217

Para verificar se alguns atores são mais ou menos importantes ou


acionados pelos demais, o conceito usado é o de centralidade. A centralidade é
detectada pelo número de ligações que um ator recebe (BORGATTI, 1999; EVERETT,
2002). Quanto mais ligações (linhas com as setas a ele direcionadas) ele recebe, mais
importância ele tem na rede (ver Figura nº 10). Atores que têm mais laços que outros
podem ter posições mais vantajosas, pois eles têm mais alternativas para satisfazer
suas necessidades, de obter informações e acesso à outros agentes,
consequentemente, diminuindo sua dependência em relação ao grupo.

Figura nº 10: Centralidade

Fonte: elaboração própria

Sobre o grau de centralidade dos agentes, Hanneman & Riddle (2005)


propõem mais três categorizações, além da acima mencionada: A) Grau de
intermediação (betweenness centrality) onde dois nodos que não têm ligação direta
entre si dependem dos laços que fazem a intermediação. O grau depende de quantas
vezes um laço é usado como caminho para a ligação entre dois outros não adjacentes.
B) Centralidade de proximidade (closeness centrality) que indica o quanto um nodo
está próximo dos outros, permitindo acesso rápido a recursos disponíveis na rede. O
cálculo desta centralidade é feito basicamente levando em conta a soma dos
comprimentos das distâncias geodésicas em relação aos outros vértices. C)
Centralidade de aproximação (Eigenvector centrality) que evidencia os membros mais
centrais em termos globais, não se preocupando com os laços mais próximos, como é
característica da centralidade de proximidade.
218

Figura nº 11: Grau de Centralidade

Fonte: Hanneman & Riddle (2005)

A figura demonstra o agente central, ou seja, aquele que possui o maior


número de laços na rede, assim nesta base de análise o ator central fica com tamanho
maior. O ator circulado possui 7 vezes mais centralidade que o ator com menor
centralidade na rede, que pode ser verificado pelo tamanho dos pontos ou o número
de laços que ele possui. Neste trabalho em especial utilizaremos o grau o betweenness
centrality.
Já a densidade de uma rede vari de 0 a 1. Ser forte ou fraca, depende do
contexto. À medida que as relações entre os atores aumentam, a densidade também
aumenta, pois ela é medida verificando o número de relações existentes e dividindo
pelo número de relações possíveis de existir (ver Figura nº 12).

Figura nº 12: Densidade forte e densidade fraca

Fonte: elaboração própria


219

Quanto maiores as relações entre os membros de uma rede maior é a sua


densidade e mais coeso é o grupo. A forma de se obter a densidade é a seguinte:

A formação de subgrupos pode ter um ator-ponte, que é o ator que


permite a conexão entre dois ou mais grupos atores de grupos diferentes (Figura nº
13).
Figura nº 13: Ator-Ponte

Fonte: elaboração própria

Uma rede pode ter diversos tipos de atores, dependendo de ser essa sua
função. Uma rede pode ter um ou vários atores isolados, que são aqueles que não têm
conexão com outros atores (ver Figura nº 14). Quando uma rede tem muitos atores
isolados e baixa densidade nas relações entre os atores, indica que é uma rede fraca,
com frágeis relações entre os atores.

Figura nº 14: Ator isolado

Fonte: elaboração própria


220

As relações entre os atores podem ser do tipo díade, tríade, grupo... que é
uma relação apenas entre dois atores. Ela pode ser de duas formas: unidirecional ou
bidirecional (Figura nº 15); acontece quando dois atores estão ligados.

Figura nº 15: Relações unidirecionais e bidirecionais

Fonte: elaboração própria

A seta na direção de um ator indica que este ator é acionado para se


relacionar com outro, seja porque tem o recurso que o outro deseja (informação,
conhecimento, recursos variados etc.), seja quando um pequeno número de atores se
relaciona tendo maior número de relações, eles formam subgrupos dentro de uma
rede (rede densa). Neste caso, chamamos de subgrupo ou clique (ver Figura nº 16).

Figura nº 16: Subgrupo ou clique

Fonte: elaboração própria

No entanto, uma rede ou um subgrupo pode contar como um tipo de ator


que não faz conexão com outros; a este ator chamamos de ator unilateralmente
conectado (ver Figura nº 17), que embora receba muitas relações (conexões) elas são
do tipo unidirecional - significa que não há reciprocidade na relação, iu mesmi que
demonstra hierarquização ou falta de confiança no grupo. Essa característica é
percebida a partir do conceito de fluxo, que indica a direção do vínculo (relação) e é
representado por uma seta mostrando o sentido do fluxo (unidirecional ou
bidirecional).
221

Figura nº 17: Subgrupo ou clique

Fonte: elaboração própria

Reciprocidade de uma relação é a troca de recursos (de todos os tipos)


entre os atores. Quando isso ocorre, há certa tendência para que o ator que recebe as
ligações seja mais importante porque detém recursos e/ou pode, ainda, ser ou é um
líder que já esteja se constituindo como centro de um clique ou no futuro possa vir a
ter maior centralidade numa rede.
Quanto ao nível de (des)centralidade das relações as redes podem ser
verificadas de três maneiras, expressas pela figura a seguir:

Figura nº18: Redes centralizadas, descentralizadas e distribuídas

Fonte: Tipologia criada por Paul Baran.


222

Nas situações em que existam redes sociais centralizadas, toda a


informação passa por um dos nós rede (o centro) para, então, poder ser distribuída
para os demais nós. Esse é o modelo clássico de broadcasting, no qual o poder de
controle e distribuição da informação é concentrado na fonte emissora.
Já as redes descentralizadas funcionam como várias redes centralizadas
conectadas entre si, na qual vários nós centralizam e distribuem a informação. Dessa
forma, trata-se de uma rede com vários centros, sendo que a maior parte das
organizações hierárquicas que conhecemos (como os vários grupos de pesquisas)
funcionam nesse modelo – departamentos, que são centros localizados na rede,
conectando-se a outros departamentos e com a informação controlada e disseminada
por esses centrinhos.
Nas redes distribuídas não existem centros e qualquer nó da rede pode
receber e disseminar a informação para qualquer outro nó. Nesse tipo de organização,
o poder e o controle são distribuídos pelos nós e sua principal característica é que
ninguém é dono da rede.
Os três tipos de redes sociais existem em conjunto e as mesmas pessoas
que formam uma rede podem se organizar dessas três formas, dependendo de como
se conectam. Os nós, nas três configurações de rede, estão exatamente no mesmo
lugar e são as mesmas pessoas.Deste modo, o que determina se uma rede social,
grupo ou organização é centralizada, descentralizada ou distribuída não são os nós e
suas posições e sim a dinâmica das conexões entre os nós e a estrutura que
proporciona essa dinâmicas. Em suma, é o que acontece entre os nós da rede.
A construção destas relações para que uma rede seja mapeada é dada por
meio de um quadro relacional, em que o ator que se conecta com outro é dado por 1,
e atores na mesma rede que não se conectam lhe é atribuído o valor 0. Existem outras
circunstâncias em que o número varia de acordo com o número de conexões, atores
que se conectam 5 vezes, em vez de apenas uma, no quadro matricial de relações
tradicional. O quadro a seguir nº 1 mostra como é construída a matriz de uma rede em
que estão envolvidos 9 atores:
223

Quatro nº 1: Exemplo de matriz de relações sociais em rede

João Ana José Maria Rosa Manuel Antônio Pedro Carla


João 0 1 0 1 0 1 0 1 0
Ana 1 0 1 1 1 0 0 0 0
José 1 0 0 1 0 0 1 0 1
Maria 1 1 1 0 0 0 0 0 0
Rosa 0 0 1 0 0 1 1 0 0
Manuel 0 0 0 1 1 0 0 1 1
Antônio 1 1 0 1 0 0 0 0 0
Pedro 1 1 1 0 1 0 1 0 0
Carla 0 1 0 0 0 1 1 1 0
Fonte: Elaboração própria

Esta matriz é a sistematização matemática das relações em rede. Ela nos


aponta informação de quem interagem com quem dentro de um recorte. Os trabalhos
publicados sobre análise de redes sociais no Brasil ainda são poucos. No entanto, a
produção acadêmica internacional evidencia uma preocupação de décadas de estudos,
Freeman (1996), e em ascendência, como mostra o estudo de Molina et. al. (2005). Os
poucos estudos publicados no Brasil utilizando a ARS estão focados na Sociologia,
Biblioteconomia e nos estudos da ciência da informação.

Procedimentos metodológicos utilizados para a coleta e


tratamento de dados.

Na linguagem das análises de redes sociais, as pessoas ou os grupos,


instituições, afiliações são chamados de “atores”, e as conexões, de “ligações”. Ambos
podem ser definidos em diferentes caminhos, dependendo da questão de interesse.
Um ator pode ser uma única pessoa, um grupo ou uma empresa. Uma ligação pode ser
uma amizade entre duas pessoas, uma colaboração ou um membro comum entre dois
grupos, ou ainda um relacionamento de negócios entre duas empresas (NEWMAN,
2000).
A abordagem de Newman amplia o conjunto de possibilidades para a
análise de redes, pois acrescenta-lhes propriedades estatísticas, como número de
224

artigos escritos por autor, número de autores por artigo, número de colaboradores dos
cientistas da rede, a distância entre a rede de um pesquisador e a outra rede. Também
permite produzir uma variedade de medidas de conexidade dentro da rede, tais como
proximidade e intermediação. A figura nº 18 mostra uma rede científica com base na
produção de conhecimento com base em artigos científicos entre Duncan Wattz e
Albert-László Barabási.

Figura nº 19: Exemplo de uma rede científica entre Duncan Wattz e Albert-László
Barabási

Fonte: elaboração própria com base em Newman (2000)

As contribuições do autor acabam por ter impactos em áreas como ciências


da informação, biblioteconomia, cienciometria, que procuram vislumbrar por meio de
dados quantitativos como estão às relações de pesquisa sobre determinadas escalas.
Nestas considerações, não se usaria o método da entrevista – ou apenas ele - se utiliza
base de dados para fornecer subsídios para mensurar empiricamente a quantidade e
tipo de relacionamentos, sobretudo aqueles acadêmicos.
Os métodos desenvolvidos pela Cienciometria foram concebidos para
identificar e tratar as informações contidas nas publicações científicas e técnicas,
“envolvendo essencialmente artigos, livros ou patentes” (CALLON et. al., 1995, p. 15).
Ainda de acordo com os autores, estes métodos estariam divididos em duas categorias
“os indicadores de atividades e os indicadores de relação”.
No primeiro caso, ela gera informação sobre o volume e o impacto das
atividades de pesquisa, enquanto que o segundo possibilita rastrear os laços e as
225

interações entre atores em rede e os campos de pesquisa. Ou seja, no “primeiro


modelo se concentra nos volumes e o segundo nas interações e na evolução dos
conteúdos” (CALLON et. al., 1995, p. 42).
Assim surgiram diversos debates sobre formas metodológicas de se
mapear a cooperação científica em rede com base em fontes de dados quantitativas.
Boa parte destes debates destaca como importante fonte documental, os artigos
indexados em períodos nas diversas áreas. Os artigos ou registros de patentes por sua
vez, é o resultado final e documentado de um esforço cooperativo entre um grupo de
cientistas, além das informações contidas neles, ele tende a revelar particularidades
dos tipos de relações que foram construídas em face daquele trabalho, como
formação ou a localização dos membros.
Katz e Martin (1997) mostram que, em geral, os trabalhos teóricos
produzem conhecimento com poucos parceiros, em comparação a trabalhos
experimentais, ou seja, experimentalistas tendem a cooperar mais que teóricos em
face da particularidade que muitas vezes exige de várias ciências a necessidade de
conhecimentos complementares.
Em específico, a área de farmácia, é considerada na literatura evolucionária
sobre conhecimento e inovação tecnológica, como uma das áreas mais intensivas em
ciência. Sua dinâmica concorrencial é baseada em ciência, e não apenas em tecnologia,
o que o leva a manter estreita interação com a pesquisa básica desenvolvida nas
universidades. Mais do que isso, a particularidade da área exige que esta se conecte
com outras áreas do conhecimento para que ao final um problema seja resolvido, o
que por sua vez resulta um número grande de pesquisadores envolvidos. Na produção
de conhecimento na área de farmácia, além dos próprios pesquisadores da área, se
exige a estreita conexão com biólogos, químicos, físicos, biomédicos, médicos,
engenheiros, biotecnólogos, dentre outras áreas.
Foram utilizados como fonte documental artigos publicados que tenham
pelo menos um pesquisador de Pernambuco – ou pesquisador que esteja no estado ou
filiado a uma instituição pernambucana - entre os membros. O recorte temporal para a
226

pesquisa foram os anos51 de 2000 e o de 2010, ou seja, antes e depois da criação e


atuação da PNCTIS. Este recorte servirá para podermos comparar o cenário da
pesquisa científica antes da atuação da PNCTIS e o posterior.
Inicialmente foram utilizadas três indexadoras de artigos como base de
dados bibliográficos: Isi web of knowledge52, SciVerse Scopus53 e Scientific Electronic
Library Online - SciELO54. A escolha destas três bases55 de dados se dá pela importância
e abrangência delas para a área em especial. A maioria dos autores tende a publicar os
seus melhores trabalhos em revistas de maior impacto acadêmico.
Posteriormente, com o intuito de se obter maior abrangência das relações
e publicações dos pesquisadores de Pernambuco, foi feita uma nova busca das
publicações com base nos currículos dos líderes dos grupos de Pesquisa na área de
farmácia cadastrados na base de dados do CNPq do cde 2010, apresentados no quadro
nº 2 a seguir:

51
Muito embora apenas os anos 2000 e 2010 sejam utilizados para o mapeamento das redes, toda a
produção no intervalo destes anos também será pesquisada a fim de se verificar o aumento na
produção de conhecimento, no número de pesquisadores trabalhando em rede neste período.
52
Web of Science é uma base de dados do Institute for Scientific Information (ISI), que permite a busca
de trabalhos publicados nos mais importantes periódicos internacionais, apresentando as referências
bibliográficas contidas nos mesmos, informando ainda, sobre os trabalhos que os citaram, com
referências a outros trabalhos. O período de abrangência estende-se de 1900 até o presente, incluindo o
conteúdo da base "Century of Science".
53
SciVerseScopus é uma banco de dados de resumos, artigos e citações de artigos para jornais/revistas
acadêmicos. Abrange cerca de 18 mil títulos de mais de 5.000 editoras internacionais, incluindo a
cobertura de 16.500 revistas peer-reviewed nos campos científico, técnico, e de ciências médicas e
sociais (incluindo as artes e humanidades).
54
A ScientificElectronic Library Online - SciELO é uma biblioteca eletrônica que abrange uma coleção
selecionada de periódicos científicos brasileiros. A SciELO é o resultado de um projeto de pesquisa da
FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo, em parceria com a Bireme - Centro Latino-
Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde. A partir de 2002, o Projeto conta com o
apoio do CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
55
Cabe ressaltar que estudos desta natureza no país poderiam prover melhores resultados se tivéssemos
revistas especializadas com sistemas de indexação e busca semelhante. A falta delas se torna uma clara
debilidade metodológica.
227

Quadro nº 2: Grupos de pesquisa na área de farmácia com base no censo CNPq 2010

Grupo 1: Desenvolvimento Farmacotécnico Industrial de Produtos Farmacêuticos


Grupo 2: Desenvolvimento Galênico e Biofarmácia
Grupo 3: Doenças Infecciosas e Resistência Antimicrobiana
Grupo 4: Farmacologia e Toxicologia Pré-Clínica de Produtos Bioativos
Grupo 5: Grupo de Estudo Multidisciplinar em Plantas Medicinais
Grupo 6: Grupo de Pesquisa em Inovação Terapêutica – GPIT
Grupo 7: Laboratório de Planejamento, Avaliação e Síntese de Fármacos - LABSINFA
Grupo 8: Modelagem para Inovação Molecular – MODiMOL
Grupo 9: Núcleo de Estudos Avançados em Caracterização de Alimentos, Medicamentos e Suplementos
Nutricionais
Grupo 10: Núcleo de Pesquisas em Nutrição Parenteral
Grupo 11: Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos
Grupo 12: Planejamento e Síntese de Fármacos – LPSF
Grupo 13: Principios Bioativos e Neuroproteção
Grupo 14: Síntese e Química de Produtos Naturais
Grupo 15: Sistemas de liberação controlada de fármacos e vacinas: Nanotecnologia Farmacêutica
Fonte: Censo CNPp (2010)

O censo do CNPQ de 2010 indicou a existência de 15 grupos pesquisando


na área de farmácia no estado de Pernambuco, com um total de 24 líderes e 156 56
cadastrados. Após a retirada de artigos duplicados, chegou-se ao final do número de
publicações57 que apareciam, ou nas bases de dados mencionadas ou no currículum
lattes dos pesquisadores líderes de grupos de pesquisas da área de farmácia de acordo
com o censo.
Os artigos selecionados poderão demonstrar a evolução quantitativa no
volume de publicação, de redes montadas, e de pesquisadores atuando nesta
modalidade antes e depois da política. Estes resultados serão fortalecidos ao se unirem
posteriormente com o número de registros de patentes cadastradas no Instituto

56
É importante se destacar que uma parte significativa dos pesquisadores cadastrados não atuam mais
em Pernambuco ou não se inseriam em nenhum trabalho cooperativo em rede com base nas
publicações nos anos estudados.
57
Acredita-se que a metodologia possa oferecer algum subdimensionamento das relações, por exemplo,
não foram incluídos artigos publicados em anais de eventos brasileiros. Entretanto, como já
demonstrado, o volume de informações é significativo, foram utilizadas três grandes bases de dados
mais os curricúluns lattes dos pesquisadores cadastrados no CNPq. Na impossibilidade de abraçar o
todo, optou-se por esse recorde.
228

Nacional de Propriedade Industrial – INPI58 - por pesquisadores de Pernambuco na


referida área no mesmo período que resultaram da pesquisa em rede.
Para mensurar os desníveis entre os projetos aprovados para a pesquisa
em rede em Pernambuco e o restante do país, somou-se estes resultados com a
seleção dos editais voltados para esta modalidade fornecido pela base de dados do
Departamento de Ciência e Tecnologia (Decit), que como já apontado é o um dos
principais órgãos de construção e fomento desta prática de pesquisa científica.
O mapeamento das redes científicas nos anos estudados com base nos
artigos e patentes publicadas, pode ser explicado com base na metodologia trabalhada
por Newman (2001) e Strogatz & Watts (2001), que podem ser visualizadas com base
na figura nº 19.
Nela, os números de 1 a 4 são os artigos publicados, e os pesquisadores
são as letras compreendidas entre A e K, a partir das várias conexões entre os vários
autores por meio de suas relações na pesquisa científica, gera-se uma matriz
relacional, onde 1 significa que existe conexão entre dois atores, e 0 que não existe
conexão. A matriz é o reflexo numérico das relações expostas nos artigos científicos,
esta por sua vez, serve como modelo para que a rede seja ao final mapeada. São
utilizados no procedimento os softwares Ucinet59 e Netdraw.

58
Criado em 1970, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) é atualmente vinculado ao
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), esta autarquia federal é
responsável pelo aperfeiçoamento, disseminação e gestão do sistema brasileiro de concessão e garantia
de direitos de propriedade intelectual para a indústria. Entre os serviços do INPI, estão os registros de
marcas, desenhos industriais, indicações geográficas, programas de computador e topografias de
circuitos, as concessões de patentes e as averbações de contratos de franquia e das distintas
modalidades de transferência de tecnologia. Na economia do conhecimento, estes direitos se
transformam em diferenciais competitivos, estimulando o surgimento constante de novas identidades e
soluções técnicas.
59
O Ucinet é um pacote de software para a análise de dados de redes sociais. Foi desenvolvido por Lin
Freeman, Everett Martin e Steve Borgatti e inclui a ferramenta de visualização da rede NetDraw.
229

Figura nº 20: Exemplo de mapeamento de rede científica com base em artigos


publicados

Fonte: Elaboração própria a partir de Newman (2001), Strogatz & Watts (2001), e
Balancieriet. al. (2005).

Desta forma, o mapeamento das redes permitirá responder a uma série de


questionamentos, que são característicos da reprodução das relações em rede,
sobretudo em face do fomento da PNCTIS, tais como: Quem são e onde estão os
pesquisadores que interagem na malha pernambucana? Quais as instituições de
origem dos pesquisadores que aparecem na rede na área de farmácia em
Pernambuco? Quais possíveis mudanças podem ser visíveis na estrutura e na
densidade da rede científica pernambucana antes e depois da atuação da PNCTIS?
Quem são os atores centrais da rede? E por quê? Qual foi o avanço na produção de
conhecimento em termos de artigos científicos e patentes? Houve aumento no
número de pesquisadores trabalhando em rede? O local é importante?
A partir do reconhecimento de parte das particularidades em volta da
construção de laços para a pesquisa em rede na área, e a inevitável multiplicidade
geográfica que as acompanha, foram selecionados os atores centrais da rede para que
230

juntamente com os demais dados se pudesse verificar a espacialidade dos membros, a


importância da proximidade geográfica para aqueles que cooperam em rede e a
relevância do contato face a face na pesquisa científica em rede na área de farmácia
mesmo com o advento das tecnologias comunicacionais.
231

2º Nó

As redes científicas na área de


farmácia em Pernambuco em face
do fomento da PNCTIS.
232

2º NÓ AS REDES CIENTÍFICAS NA ÁREA DE FARMÁCIA EM PERNAMBUCO EM FACE DO


FOMENTO DA PNCTIS.

O impacto da PNCTIS no aumento de pesquisadores


trabalhando em rede e na produção de conhecimento científico.

Dentre os vários tipos de redes, e os vários subtipos de redes que o


conceito de rede científica possa abranger, o tipo de rede científica que aqui interessa
é a rede científica voltada para a produção de conhecimento, desde o básico ao
aplicado. Este conhecimento gerado por este tipo de rede é fundamental no
desenvolvimento científico e tecnológico da saúde, mesmo que não seja direta ou
imediatamente. Ele é a base material para a criação da inovação tecnológica.
Este tipo de rede científica é basicamente criada nas Universidades do país,
seguida dos institutos de pesquisa, laboratórios e hospitais (Brasil, 2006). Elas estão
pautadas sobre a lógica da PNCTIS com base na concepção da “extensividade
científica”. “A extensividade inclui toda pesquisa que visa ao avanço do conhecimento,
seja aquele de aplicação imediata ou não. Inclui, portanto, além da produção de
conhecimentos, as pesquisas voltadas para o desenvolvimento tecnológico e a
inovação” (BRASIL, 2006, p. 19).
Fomenta-se portando, a criação de redes científicas voltadas para a
produção de conhecimento, e pode-se avaliar a atuação da política de acordo com o
Departamento de Ciência e Tecnologia (DECIT), sobre cinco lógicas distintas: a)
formação de profissionais, b) aprovação de projetos, c) produção de artigos científicos,
d) tecnologias ou conhecimentos aplicados imediatamente no Sistema Único de Saúde,
e) registro de patentes.
Diante disso, este tópico, conjuntamente com o próximo, tem como meta,
alcançar o objetivo específico da pesquisa de “verificar se a PNCTIS tem estimulado o
aumento na formação de redes científicas, no número de pesquisadores trabalhando
em rede, e na produção de conhecimento na área de farmácia em Pernambuco”.
As principais perguntas a serem respondidas neste tópico são: Qual o
impacto da PNCTIS no aumento de pesquisadores trabalhando em rede, dentro e fora
do estado de Pernambuco, na área de farmácia? Qual o impacto da referida política na
233

produção de conhecimento científico? Qual o impacto da mesma, na produção de


patentes na farmácia em Pernambuco? O alcance dos objetivos se dará por meio de
metodologia já exposta anteriormente.
Sobre o impacto na produção de artigos científicos, a figura nº 2 destaca a
evolução da publicação nas bases estudadas, na área de farmácia em Pernambuco.

Gráfico nº 2: Artigos publicados na área de farmácia em Pernambuco 2000 – 2010

Fonte: Elaboração própria a partir de:Isi web of knowledge, Scopus e SciELO e da plataforma lattes

A saber, o volume de trabalhos publicados entre os anos de 2000 e 2004


teve um crescimento de uma média de 20% aproximadamente, exceto o ano de 2001
que regrediu em relação ao anterior. É pertinente observar que a quantidade de
publicação até 2004 é bem inferior ao número que passa a surgir a partir do ano de
2005, primeiro ano de atuação da PNCTIS. De 2004 para 2005 mais que triplica a
quantidade de artigos publicados.
Do ponto de partida, o ano de 2000 e o final do ano de 2010, a publicação
de artigos cresceu 7 vezes e meia. Com exceção de 200960 a produção aumentou
razoavelmente. Claro que é importante ratificar que este tipo de aumento não se deve
60
Embora não se tenha dados precisos sobre possíveis motivações da baixa publicação em 2009 em
relação ao crescimento exponencial desde 2005, percebeu-se que no ano anterior em 2008, foram
fomentados 67 projetos para redes de cooperação pelo CNPq, bem menos do que nos anos de 2009
onde foram fomentados 84 e 2010 em que foram 77. Diminuição semelhante acontece com a CAPES.
Levanta-se duas hipótese para a diminuição em 2009: a primeira delas o término do primeiro bloco de
fomento formado de quatro anos de atuação da política em 2008 e o segundo a crise econômica
mundial de 2008.
234

exclusivamente a PNCTIS em si, o próprio investimento no geral dado pelo MS, ME e


MCTI em parceria, contribuiu para o aumento das taxas de produção de crescimento.
A ação da PNCTIS como já mencionado, não é isolada, existe uma série de atores
envolvidos. O aumento na criação dos Grupos de Pesquisa na área de farmácia
representado no quadro nº 3, é um deles.

Quadro nº 3: Evolução da quantidade de grupos de pesquisa e pesquisadores da área


de farmácia no Nordeste

UF 2000 2002 2004 2006 2008 2010


PE 9 11 14 11 13 15
BA 2 5 11 8 11 17
CE 10 7 8 6 9 13
PB 3 4 5 5 11 13
RN 2 3 2 4 5
SE 1 1 1 1 1
MA 1 3 1 2 1 1
PI 1 2
AL 1 4 6
Fonte: Elaboração própria a partir do censo CNPq (2012).

É importante destacar que o aumento no investimento por parte do MS,


ME e MCTI incentivou também o aumento na quantidade de grupos de pesquisa e da
quantidade de pesquisadores envolvidos. O CT-Proinfra61 que aumentou sua atuação
em face das novas diretrizes dadas pelo MS para a produção de conhecimento nas
universidades contribuiu para a modernização e consolidação de infraestrutura para a
pesquisa na área de farmácia.
Entretanto, o aumento por si só de conhecimento produzido não
significaria necessariamente o aumento no número de pesquisadores envolvidos. Uma
mesma rede pode produzir vários trabalhos resultantes de ações cooperativas sem a
necessidade do aumento do número de agentes.

61
Apoio financeiro à execução de projetos institucionais de implantação, modernização e recuperação
de infraestrutura física de pesquisa nas Instituições Públicas de Ensino Superior e/ou Pesquisa.
235

Gráfico nº 3: Evolução do número de pesquisadores entre 2000-2010

Fonte: Elaboração própria a partir de:Isi web of knowledge, Scopus e SciELO e da plataforma lattes

O gráfico da evolução do número de pesquisadores atuando em rede segue


padrão semelhante ao dos artigos publicados. Entretanto, com algumas pequenas
diferenças, o número de pesquisadores ao final em 2010 é maior do que 3 vezes mais a
quantidade no ano de 2000. Se estabelecermos uma média ponderada pela
quantidade de pesquisadores atuando em rede nos anos entre o período de 2000 a
2004, e 2005 a 2010, teremos a média de 67,4 e 155 pesquisadores atuando em rede
por ano, respectivamente. A média dos últimos 6 anos mais que dobra em relação aos
5 primeiros.
É importante frisar que o volume de atores pesquisando em rede por ano,
não é o total absoluto, ou seja, muitos pesquisadores se repetem aparecendo em
várias publicações, sobretudo aqueles com maior densidade de relações na área de
farmácia. O cálculo para o valor anual final retira as repetições, neste caso um ator só
aparece uma vez por ano nos dados destacados anteriormente. Ou seja, os valores
mostrados anteriormente excluem as repetições anuais, a evolução da quantidade
detalhada pode ser vista a seguir:
236

Gráfico nº 4: Número total de pesquisadores entre 2000-2010

Fonte: Elaboração própria a partir de:Isi web of knowledge, Scopus e SciELO e da plataforma lattes

O volume de pesquisadores é bem maior que o anterior, entretanto, o


número de participação de pesquisadores (ou repetição) em artigos também é bem
superior após o ano de 2005. Enquanto existe uma margem de aproximadamente 15%
de pesquisadores que aparecem no mesmo ano e mais de um trabalho cooperativo em
rede antes de 2005, após esse ano esta margem sobe para pouco mais de 20%.
Antes de 2005 a maior participação em mais de um trabalho era quase que
totalmente dos líderes de grupos de pesquisa ou professores das instituições em
Pernambuco, após 2005 esse número teve uma maior participação de outros
pesquisadores que não estivessem nesse grupo – a maioria orientandos de programas
de pós-graduações - e de pesquisadores de fora do estado (aumento no número de
conexões fora de Pernambuco) mesmo que em menor número.
Quanto ao impacto no aumento de redes estabelecidas com pesquisadores
de outros estados, e, sobretudo fora do país, os resultados sugerem que pouco se
conseguiu em termos de criação de vínculos com atores de outros países 62 ,
principalmente se levarmos em consideração àqueles vínculos duradouros em que os
pesquisadores cooperam em rede em mais de uma vez resultando em produção de
conhecimento. O gráfico a seguir evidencia a evolução dos pesquisadores atuando em
rede com base em três escalas: Pernambuco, Brasil e fora do Brasil.

62
Muito embora seja pertinente destacar que em 2010 teve-se o maior número de pesquisadores de
outros países conectado com os Pernambucanos no período pesquisado, em um total de 22
pesquisadores de outros país (8% de todos os nós da rede).
237

Gráfico nº 5: Espacialidade dos pesquisadores atuando em rede 2000-2010

Fonte: Elaboração própria a partir de: Isi web of knowledge, Scopus e SciELO e da plataforma lattes

As informações trazidas pelo gráfico destacam que sob o ponto de vista da


espacialidade dos pesquisadores, destaca que assim a grande concentração de
pesquisadores no estado de Pernambuco em 2000 (70%) aumenta significativamente
até o ano de 2010, em que, 72% dos atores estão no estado, mais precisamente na
Região Metropolitana de Recife em detrimento de poucas interações em rede que
resultaram em produção de conhecimento.
O estado que mais cooperou com Pernambuco foi o vizinho a Paraíba. Fora
da região Nordeste a maior parte das interações direcionaram-se para o Sudeste do
país, em especial São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Houve ainda pequeno
aumento na colaboração internacional com base nos resultados colhidos, o ano de
2010 foi o que mais concentrou este tipo de relação entre o período estudado.
Sobre o número de patentes depositadas no INPI nos mesmos anos, estas
por sua vez, permaneceram no geral ainda em pequeno número. Os depósitos e
registros para Pernambuco oriundos de pesquisadores da farmácia permanecem com
um padrão semelhante de quantidade neste período como aponta o quadro nº 4:
238

Quadro nº 4: número de patentes depositadas no INPI por pesquisadores da área de


farmácia em Pernambuco entre os anos de 2000 e 2010

Nº de
Ano Patentes
2000 -
2001 -
2002 2
2003 3
2004 -
2005 1
2006 2
2007 1
2008 2
2009 2
2010 2
Fonte: Elaboração própria a partir de:Isi web of knowledge, Scopus e SciELO e da plataforma lattes

O número ainda é pequeno, se comparado ao volume de pesquisadores da


área e de outras áreas da saúde que atuam juntos no estado. A quantidade anual
permaneceu muito próxima ano após ano, exceto 2000, 2001 e 2004 que não foram
identificados registros de patentes na área. O quadro nº 5 a seguir destaca os registros
encontrados e a quantidade de atores envolvidos em cada projeto.

Quadro nº 5: Registro de patentes e atores envolvidos 2000-2010


Ano Nº Registro Nº envolvidos
2002 PI 0203153-1 1
2003 PI 0301912-8 5
2003 PI 0301912-8 5
2005 PI 0503991-6 8
2006 PI 0601826-2 A2 3
2006 PI 0601827-0 3
2007 PI 0701016-8 6
PCT/BR
2008 2008/0001 5
2009 PI 0906399-4 A2 3
2009 PI 000087 4
2010 PI 1006319-6 6
2010 PI 09063994 5
Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados do INPI e plataforma lattes
239

Por meio das patentes, possibilitou-se o mapeamento das relações que


resultaram nos registros. O mapeamento pode ser visto com mais detalhe na o
sociograma (figura nº 20) a seguir:

Figura nº 21: Rede de relações que resultaram em patentes 2000-2010

Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados do INPI (2014) e plataforma lattes

No tocante aos trabalhos cooperativos em rede que resultaram em


registros de patentes, cabe destacar que todos eles foram coordenados por líderes de
grupos de pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco. Em todos os casos havia
pelo menos um líder de grupo de pesquisa da UFPE envolvido. Nenhum pesquisador
em qualquer tipo de instituição (hospital, laboratório, instituto de pesquisa, e
Universidade) coordenou ou participou de nenhum tipo de trabalho em grupo ou em
rede que resultasse em patente. As únicas presenças de pesquisadores fora de Recife
são destacadas pelos círculos pretos e correspondem a membros vinculados à
Universidade Federal do Rio de Janeiro, também pesquisadores da área de farmácia.
Além da concentração de Líderes de Pesquisa da Universidade Federal de
Pernambuco, com exceção do ano de 2003 em que houve participação de
pesquisadores da medicina, todos os trabalhos que resultaram em patentes são
240

exclusivamente oriundos de pesquisadores da farmácia. Muito embora os dados do


IPNI (2013) indiquem que existam ainda 21 pedidos de patentes entre os anos de 2011
a 2013 de trabalhos realizados entre 2005 e 2010, podemos sugerir que a PNCTIS
pouco impactou no aumento de registros de patentes na área de farmácia nos últimos
anos, os resultados são bem menores se compararmos à inserção de pesquisadores de
outras localidades em redes locais que resultaram em patentes.
Por fim outro aspecto expressivo é quanto à interdisciplinaridade, os
registros de patentes cadastrados no INPI, na área em questão em Pernambuco, foram
feitos exclusivamente por pesquisadores da área de farmácia, não havendo interação
com qualquer área complementar.

O mapeamento das redes científicas na área de farmácia em


Pernambuco nos anos de 2000 e 2010: Análise da evolução das relações
entre os pesquisadores antes e depois da PNCTIS.

Este tópico, seguindo o anterior, destina-se a atender o objetivo específico


de “mapear as redes científicas dos pesquisadores pernambucanos na área de
farmácia antes e depois da PNCTIS, que permitam verificar mudanças na estrutura da
rede, nos laços, na espacialidade, na densidade e centralidade”.
O mapeamento nos permitirá visualizar em dois momentos distintos, 2000
e 2010, mudanças nos seguintes aspectos: a) o número de pesquisadores trabalhando
entre os dois anos, b) a densidade das relações em rede, c) a localização geográfica dos
pesquisadores, d) as instituições que aparecem conectadas por meio de seus agentes
dentro e fora de Pernambuco, e) os atores centrais da rede nestes anos, f) mudanças
na quantidade e nos padrões de conexões entre os pesquisadores e os grupos de
pesquisa.
Com relação à elaboração e manipulação da rede, os números de artigos
publicados e o número dos trabalhadores que cooperaram neles, serviram para a
elaboração de duas matrizes, uma de 70 x 70 (2000) refere-se a 10 redes, e outra de
259 x 259 (2000) no Excel, que posteriormente foram plotadas para o UCINET 6.109 e,
consequentemente, o mapeamento dos grafos com o auxílio do NETDRAW 2.28.
241

Como já falado, o trabalho em rede é tão antigo quanto à própria produção


científica, quanto o fazer ciência, o grande diferencial de antes e agora, é o novo
patamar de possibilidades de conexões, trabalho e comunicação entre os pares. Assim
sendo, não há porque pensarmos que antes da atuação da PNCTIS os pesquisadores da
área de farmácia não se utilizassem desta abordagem para multiplicar os ganhos e
atingir os objetivos. Afinal, a contribuição de pesquisadores de diversas áreas é
tradicionalmente pré-requisito para o bom funcionamento da pesquisa nesta área.
Para facilitar a distinção dos autores, os círculos que representam cada um
foram categorizados de forma diferente para que se ficasse mais visível possível à
rede, dado o número de informações. Líderes de grupo de pesquisa, na área de
farmácia no estado de Pernambuco, estão categorizados com círculo vermelho;
pesquisadores no estado de Pernambuco, independente da instituição, com o círculo
azul; pesquisadores compreendidos dentro do nordeste, com o círculo laranja;
pesquisadores no sudeste, com o círculo verde; e pesquisadores fora do Brasil, com o
círculo amarelo. Os nomes dos autores foram expressos por números de acordo com a
quantidade de agentes, a relação de autores x números encontra-se em anexo ao final
deste trabalho.
No período apreço, especificamente o de 2000, foram encontradas dez
redes científicas que resultaram na produção de conhecimento, ou seja, de pelo
menos um artigo científico ou patente. O recorte permitiu localizar 10 trabalhos
publicados, e 14 redes existentes. Cabe lembrar que uma única rede pode produzir
vários trabalhos ou um único trabalho ser resultado da junção de várias redes. Quanto
ao número de pesquisadores, 81 foram mapeados, retirando as repetições, que são
pesquisadores que aparecem em mais de uma rede, temos um valor total de 70
pesquisadores ativos com base no recorte metodológico apresentado.
Wasserman & Faust (1999) definem que qualquer tipo de rede possui uma
estrutura e determinadas relações entre os atores. Para os autores, é por meio da
presença de certas regularidades ou padrões nas relações que definem a estrutura de
uma rede. A estrutura por sua vez, contém os canais pelos quais os atores trocam
bens, serviços, compartilham recursos e informações. O mapeamento da rede permite
entre outras coisas, identificar certos padrões que seriam a estrutura da rede.
242

As relações em rede 63 em 2000 mapeadas, apresentam a seguinte


configuração, destacada pelo sociograma (figura nº 21) exposta a seguir:

Figura nº 22: Rede científica de farmácia em 2000

Fonte: Elaboração própria.

Quanto à estrutura da básica da rede64 (sociograma nº 1) no ano de 2000,


os dados sugerem que existe uma hierarquia e ao mesmo tempo segmentação das
relações, em outras palavras, de um lado encontramos em todas as ocorrências a
presença de um líder de grupo de pesquisa, não havendo nenhuma rede na base de
dados que não seguisse este padrão.
Por fim, as interações ficam limitadas internamente, que é onde existe a
mínima densidade na rede, não existe cooperação em rede que fuja além das criadas
dentro dos grupos de pesquisa. Estes por sua vez, são os principais agregadores,
juntamente com os líderes na construção de relações.

63
Para facilitar o acompanhamento do debate esta versão menor da rede foi inserida durante o texto,
mas, a versão em uma escala maior com mais detalhes encontra-se nos anexos deste trabalho.
64
Sabe-se que na literatura de Análise de Redes Sociais a distância entre atores ou as redes é passível de
análise. Entretanto, em nossa sistematização este viés não foi considerado, a proximidade dos atores na
rede foi proporcionada pelo UCINET de forma que a visualização das conexões ficasse melhor.
243

Neste ano a taxa de centralidade da rede é de 4,19% que aponta para


pouca centralidade das informações em atores específicos, esta característica poderia
apontar uma rede mais descentralizada, em que o fluxo de informação circulasse de
forma mais efetiva entre os nós o que não ocorre diante da pouca articulação entre os
vários grupos existentes nela.
As redes, mesmo aquelas que possuem pesquisadores de outras
localidades, são fruto da formação dos grupos de pesquisa, em virtude disso, a
presença dos líderes dos grupos. Os grupos de pesquisa são também os responsáveis
pelas únicas duas ocorrências de cooperação entre os líderes de pesquisa, neste caso
os nº 12 e 16, e os líderes nº 23, 26 e 33. É importante destacar que os grupos por sua
vez são exclusivamente oriundos da Universidade Federal de Pernambuco, não se
encontrando assim atores de nenhuma outra instituição no estado.
Em suma, o fluxo de informação sobre a ótica de produção de
conhecimento cooperativo em rede aparece limitado a estas pequenas formações, às
redes formadas pelos grupos de pesquisa, pelos laboratórios. A mesma ocorrência nas
relações se repete nos anos de 2001 a 2003.
A área de farmácia é fortemente dependente de interações, da troca de
informações e da divisões de atividades na produção de um novo conhecimento e/ou
medicamento, no tocante a rede do ano de 2000 é surpreendente não se verificar
nenhuma interação que fuja aos grupos de pesquisa. Embora esta informação não
tenha sido comprovada em campo, considera-se enquanto hipótese que existam
relações em rede nestes anos, mas que não resultaram em produção de conhecimento
ou eram parcerias que não tinham este objetivo.
Quando pensamos na interdisciplinaridade bem característica e necessária
para o desenvolvimento da farmácia, tanto em área acadêmica, quanto atividade
produtiva, o quadro nº 6 exposto a seguir mostra a interação com pesquisadores de
outras áreas.
244

Quadro nº 6: Interdisciplinaridade de atores trabalhando em rede em 2000

Área Quantidade Percentual


Farmácia 59 84%
Química 6 8%
Biologia 3 4%
Física 1 2%
Medicina 1 2%
Fonte: Elaboração própria

O quadro demonstra que assim como nos grupos de pesquisa, existe uma
concentração de pesquisadores exclusivamente da área de farmácia, a interação com
pesquisadores de outras áreas é pequena se considerarmos os números apresentados,
tanto de interações quanto de áreas envolvidas. O fato da maior parte das relações em
rede se concentrarem nos grupos de pesquisa, sobretudo voltados para a formação de
profissionais em níveis de graduação e pós-graduação, pode ser um dos fatores que
proporcionam tal concentração.
Quanto ao fluxo das conexões, e a espacialização dos pesquisadores, estas
por sua vez, são majoritariamente concentradas em Recife, em especial na
Universidade Federal de Pernambuco; o único estado do Nordeste que possui
interações, é o estado vizinho da Paraíba, que também é concentrada na capital João
Pessoa distante 120km de Recife.
E neste caso, todos os pesquisadores localizados na Paraíba já atuaram em
Recife (normalmente estudantes em níveis de graduação e pós-graduação) ou em
outros tipos de trabalhos antes de se mudarem definitivamente para a capital
paraibana. O mapa no 1 apresenta os fluxos das redes existentes em Pernambuco na
área de farmácia no ano de 2000, nele podemos compreender um pouco da dinâmica
das conexões no período em questão.
245

Mapa no 1: Fluxos das conexões científicas de Pernambuco na área de farmácia em


2000.

Fonte: Elaboração própria.

O mesmo ocorre com os pesquisadores que aparecem fora do país, em


ambos os casos, França e Canadá, os pesquisadores que interagiram no ano de 2000 já
haviam interagido com os pesquisadores de Pernambuco por meio de programas de
pós-graduação. Internamente, a maior parte dos fluxos de conexões fora de
Pernambuco destina-se para o sudeste do Brasil, em específico São Paulo, Rio de
Janeiro, Minas Gerais.
O mapa nos mostra que as relações que se externalizam para fora do
estado, acabam seguindo a mesma lógica65 que outros fluxos: instituições menos
desenvolvidas tecnologicamente procurando se conectar com instituições mais

65
Quando mencionamos “a lógica” de outros fluxos no país, podemos utilizar o exemplo dos fluxos
migratórios norte do país para o sudeste em face dos ciclos econômicos. Este é um ótimo exemplo pra
explicar como outras dinâmicas acabam sendo reproduzidas também para a pesquisa científica em rede.
246

desenvolvidas tecnologicamente localizadas nas regiões mais desenvolvidas do país,


como o caso dos estados do Sudeste, em especial MG, SP e RJ.
As redes estabelecidas com outros países ainda são poucas, havendo
poucas instituições conectadas. Sobre estas e as demais, o quadro nº 7, evidencia a
quantidade e as instituições que aparecem na pesquisa no ano de 2000 cooperando
com os pesquisadores de Pernambuco.

Quadro nº 7: Instituições que cooperaram em rede em 2000

Número de
Localização pesquisadores Instituição
Pernambuco 47 UFPE

Nordeste 4 UFPB

2 UFSCar
2 UNIFESP
1 USP
Sudeste 4 UFRJ
1 UFOP
2 UNICAMP

2 Uni. of Windsor – Canadá


Fora do país 3 Uni. Paris – França
2 Université Joseph-Fourier - França
Fonte: Elaboração própria

Temos uma concentração de aproximadamente 67% de pesquisadores em


Pernambuco, 6% na Paraíba, 17% no Sudeste do país e 10% fora do país. A
concentração em Recife é tamanha, que mapeando as relações pesquisador-
instituição, vemos a criação de um cluster (sociograma nº 2). A maior parte dos
pesquisadores se conecta à UFPE e às instituições de fora também, todo o canal de
informações é coordenado pela referida instituição.
247

Figura nº 23: Concentração de pesquisadores na Universidade Federal de


Pernambuco 2000

Fonte: Elaboração própria

No sociograma, os pesquisadores são representados pelos círculos e as


instituições pelos quadrados, as cores são as mesmas da legenda da figura anterior,
representam a localização das instituições envolvidas, e a UFPE ao centro. Assim
sendo, ela nos mostra a grande concentração geográfica de pesquisadores no estado
de Pernambuco, especialmente na UFPE, o que sugere que os maiores canais de
comunicação, informação e recursos estão na instituição, mesmo que não totalmente
articulados.
Qualquer ator que apareça produzindo conhecimento científico neste
período, por meio dos dados, tem se conectado direta ou indiretamente à UFPE ou a
um membro vinculado à esta, por isso a presença tão central dos líderes do grupo de
pesquisa destacados na figura anterior. É importante ratificar que essa concentração
se dá na cidade de Recife, não aparecem membros da instituição de outras localidades
do estado.
Quanto a identificação dos atores centrais, embora os líderes de pesquisa
concentrem as maiores relações de poder dentro da rede, pois além de coordenarem
248

as redes de pesquisa, eles concentram a maior parte dos recursos traduzido na


responsabilidade dos laboratórios dos grupos de pesquisa, em termos de conexão. A
rede indica certo nível de similaridade nas relações de centralidade uma vez que existe
um número muito próximo de conexão entre todos os membros. Categorizando a rede
pelo cálculo de centralidade (betweenness centrality) com base na proposta de
Hanneman & Ridle (2006), temos o seguinte sociograma (figura nº 23) expressa a
seguir:

Figura nº 24: Atores centrais na rede de farmácia em 2000

Temos em primeiro nível o pesquisador 23 como ator central, em segundo


nível os pesquisadores 12, 17, 26, 33 como centrais. Os pesquisadores 23, 12 e 17 além
de centrais na rede atuam também como atores ponte como acesso a outras
estruturas da rede. Em todos os casos, como já destacado, os maiores níveis de
centralidade são concentrados nos líderes dos grupos de pesquisa. Quanto ao cálculo
da densidade da rede, este fora obtido por meio da fórmula L/(N(N-1)/2) já
apresentada na metodologia do trabalho.
249

O resultado obtido é de uma densidade de 2,8% de laços possíveis na rede,


onde, para Hatala (2006), e Hanneman & Ridle (2006), o ideal66 para esse tipo de
estrutura é igual ou superior a 50%. Contudo a densidade como próxima do ideal
proposta pelos autores trata de comunidades com número de agentes bem maiores e
não grupos acadêmicos. Mesmo com estas considerações é importante relativizar que
estamos falando de Pernambuco, uma região periférica.Neste caso, a densidade
pernambucana é muito pequena por que ela se restringe essencialmente aos grupos
de pesquisa e não se externalizando para outros agentes no estado e fora dele. O
sociograma (figura nº 24) demonstra a baixa densidade da rede em 2000.

Figura nº 25: Densidade da rede de farmácia em 2000

Fonte: Elaboração própria

Estes resultados demonstram a baixa concentração dos laços entre os


participantes independendo da direção que o laço ocorra. Os laços se direcionam
apenas para seus pares do outro lado da rede formado pelos membros dos grupos, os
66
Porém, é importante relativizar estas informações. O volume de densidade mínimo ideal para uma
maior democratização do conhecimento, maior fluxo e maior possibilidade de criação de laços para este
tipo de estrutura é de um valor igual ou superior a 50% de acordo os autores. Entretanto, estamos
falando de uma região retardatária, Pernambuco, de um país periférico, Brasil. As perspectivas que tem
impulsionado o aumento nessa dinâmica são recentes, e esbarram em contextos geográficos distintos.
Como o próprio acesso a fomento de Políticas Públicas ou mesmo a própria difusão tecnológica. O
aumento na densidade das relações ainda é um grande obstáculo para esta modalidade.
250

seus vizinhos, sobretudo aqueles que atuam na mesma instituição não interagem. Isso
ocorre pelo fato de que existem pequenos e poucos grupos existentes no estado, além
da pouca conexão entre eles. Segundo Hatala (2006), uma baixa densidade da rede
indica uma conexão pobre da rede entre os membros do grupo e podem impactar no
fluxo de informações requeridas para um nível aceitável.
Isso impacta não só na construção de relações duradouras, mas também
na de capital social e traduzido em redes de confianças com retornos para todos. A
informação fica segmentada e seu fluxo debilitado, se concentrando exclusivamente
nos pequenos núcleos que pouco potencializam suas informações e suas capacidades
produtivas em face de sua pequena capacidade de interagir e cooperar.
Após o cenário apresentado em 2000 com a criação da PNCTIS em 2004 e
seu estímulo já no mesmo ano, selecionamos o ano de 2010 para analisarmos a rede
científica pernambucana, agora com novos incentivos e a possível inserção de novos
agentes. No ano em questão, teve-se um salto para 259 pesquisadores ativos
mapeados, retirando-se as repetições, o que levaria a um total de 311 atuações. A
respeito do número de trabalhos publicados já apresentados anteriormente, foram
encontradas 84 formações de redes científicas em 2010. Esse recorte permitiu a
construção do sociograma67 exposto (figura nº 5) a seguir:

67
Uma versão em qualidade superior encontra-se em anexo neste trabalho.
251

Figura nº 26: Rede científica de farmácia em 2010

Fonte: Elaboração própria

Em 2010, de forma semelhante ao padrão das relações ocorridas em 2000,


a maioria das redes construídas são oriundas de grupos de pesquisas, de
pesquisadores que colaboram na maioria dos casos nas mesmas instituições, estas por
sua vez essencialmente são sempre coordenadas por um líder destes grupos. Em
outras palavras, em todas as redes mapeadas no ano em questão houve a participação
de um líder dos grupos.
O agrupamento das redes estabelecidas, pode ser dividido em dois
aspectos: o primeiro deles a parte mais densa, com um volume maior de conexões,
pesquisadores e redes, em que há maior nível de conectividade entre os membros
diminuindo a distância entre todos na formação. O segundo formado pelos
agrupamentos de pequenas redes dispersas da parte mais densa sem nenhum tipo de
interação coordenadas pelos líderes 219, 239 e 247. Estas redes apresentam o mesmo
padrão nos anos de 2009 e 2011 quanto a conectividade, ou seja, não possuem
qualquer vínculo com a parte mais densa da rede pernambucana.
252

Embora este tipo de “vazio” entre as redes no estado tenham diminuído


significativamente, a exemplo do ano de 2000 em que todas as estruturas se limitavam
exclusivamente aos grupos de pesquisa, é importante destacar que todas estas são
estruturadas a partir da Universidade Federal de Pernambuco, isso implica dizer que,
mesmo habitando a mesma instituição, o estabelecimento de cooperação em rede
entre os pesquisadores não é algo simples de se potencializar.
Además, durante o período após a atuação da PNCTIS o estabelecimento
de pesquisa científica em rede seguiu fluxo semelhante ao período antecessor, de
certa instabilidade, os pesquisadores pouco se inserem em estruturas de pesquisa
mais duradouras, a maior parte das conexões são ocasionais e por períodos limitados.
A maior continuidade das relações ainda está localizada naquelas redes oriundas dos
grupos de pesquisa, em especial em três casos: pesquisadores líderes do mesmo
grupo, compartilhamento de temas correlatos, pesquisadores em formação
(graduação e pós-graduação).
Contudo, como mostrado no sociograma, houve maior adensamento das
relações de um modo geral em toda a rede no estado de Pernambuco, a maior parte
dos pesquisadores pode ter acesso ao outro por meio dos seus laços. Para tal, por
meio do aumento de nós e pontes na rede, os atores podem chegar facilmente até
outros, o que diminui a distância entre os membros de uma rede e facilita a
transmissão de conhecimento e a troca. A oportunidade para a criação de novos laços
fracos aumenta significativamente com estas particularidades.
Os principais agentes responsáveis pela conexão da rede são os líderes de
pesquisa, eles possuem não só a maior centralidade e maior número de conexões nas
redes coordenadas por eles, mas são os maiores responsáveis por funcionarem como
ponte entre as redes. Em específico encontramos a existência de 22 líderes de
pesquisa servindo como atores pontes na rede.
A relevância dos líderes enquanto atores ponte na rede, é tamanha que,
sem suas conexões, a rede mais densa seria dividida em 18 redes menores, sem
nenhuma conexão. Isso implica em compreendermos que, a grande maioria das redes
só se conecta mediante a força política dos líderes.
Esse maior adensamento das relações, contrariamente em 2000
proporcionou o mapeamento de novos “atores ponte” que não exclusivamente os
253

líderes, atuando como “hubs” no fornecimento, acesso e troca de informações,


participando de mais de uma rede científica e atuando com vários agentes, não
meramente os líderes e aqueles dos grupos de pesquisa ao qual fazem parte.
Nesta circunstância, foram mapeados 11 atores que atuam também como
ponte, com menos centralidade na rede, mas que possuem significativa relevância de
conexão, mesmo que subordinados à centralidade dos líderes. A formação, em nível de
graduação e pós-graduação, nas instituições Pernambucanas permitiu a existência
destes membros. Em outras palavras, todos eles se formaram em Pernambuco e
fizeram mestrado e doutorado no estado sob a orientação de um dos líderes
mencionados.
O papel central e concentrador de relações na rede por parte dos grupos
de pesquisa é apresentado pelo sociograma (figura nº 26). Nele podemos reiterar o
papel de importância e centralizador de laços por parte dos pesquisadores
estabelecidos na Universidade federal de Pernambuco. Até mesmo para as três
ocorrências em que existem atores com relevante importância estes estão associados
essencialmente aos líderes.

Figura nº 27: Atores centrais na rede de farmácia em 2010

Fonte: Elaboração própria


254

O sociograma acima evidencia os principais atores no ano em questão, no


tocante, é importante ratificar o que já vem sendo destacado: os líderes dos grupos de
pesquisa são os principais agentes centrais da rede com os maiores números de
contatos e relevância dentro da rede. Os poucos atores que se mostram expressivos,
que não são líderes de grupos de pesquisa estão diretamente associados a estes.
Ser ator central, requer compreendermos o impacto nas relações de poder
existentes no estado, na concentração dos nodos e mecanismos para a produção de
conhecimento e acesso a pessoas e objetos, a relações, a grupos, a editais e a pesquisa
científica propriamente dita. Mesmo as três ocorrências com centralidade
intermediária (113, 144 e 204) estão hierarquicamente subordinados aos líderes de
seus grupos, e consequente seus orientadores na formação profissional (graduação e
pós-graduação).
Assim, a centralidade de relações, implica não exclusivamente maior
acesso a um maior número de vínculos, mas significa considerar também enquanto
resultado temporal de pesquisas, acesso a bens, editais, recursos e materiais, que são
fundamentais para o avanço acadêmico tanto quanto para o avanço social dos nós.
Para termos uma noção mais exata da centralidade da rede, enquanto no
ano de 2000 tínhamos uma taxa de 4.19% em 2010 este valor sobe 10.53%. É claro que
o último ano da pesquisa aponta para uma rede mais centralizada em relação a 2000,
contudo este maior volume é resultado do aumento dos grupos de pesquisa e das
pessoas trabalhando em conjunto. Como é uma característica particular das redes
pernambucanas as informações passarem pelos líderes, é que verifica este percentual
de concentração de poder destes pontos.
Nestes termos, estas particularidades permitem vislumbrar que certas
centralidade e poderes podem ser reproduzidos e fortalecidos, em detrimento de
outros. Assim, alguns grupos ou atores estabelecem poder por meio de seus nós e seus
acessos a bens materiais o que dificulta a polarização do conhecimento, inserção de
novos agentes e aumento na densidade sobre o ponto de vista de uma rede mais
ampla com mais vínculos e atores inseridos.
Quanto a densidade da rede científica pernambucana, o sociograma (figura
nº 7) nos mostra em termos de conexões a densidade das relações estabelecidas em
2010.
255

Figura nº 28: Densidade da rede de farmácia em 2010

Fonte: Elaboração própria

O sociograma apresentado acima destaca que os valores resultantes das


relações continuam significativamente baixos, muito embora tenha havido significativo
aumento no período em questão. Enquanto em 2000 havia 2,8% de laços possíveis
entre os pesquisadores mapeados no estado, dez anos depois, a mesma rede, com
novos membros, e novos estímulos por meio das agências de fomento coordenadas
pela PNCTIS, teve-se um salto em termos de contatos entre os membros resultando
em 14,7% de laços possíveis .
Estes valores podem parecer pequenos em termos absolutos, entretanto,
pensando no crescimento de relações possíveis dentro da rede, é salutar tal resultado,
sobretudo do ponto de vista da criação de pontes e conexões entre os grupos. Para
este tipo de rede – a rede científica – que tem como foco principal a produção de
conhecimento o aumento na densidade significa mais contatos entre os membros,
mais possibilidade para a criação de novos laços e fortalecimento de velhos.
Porém, os resultados ainda se mostram bem aquém dos necessários para
este tipo de estrutura, principalmente porque, como já destacado, a maior
porcentagem da densidade se encontra dentro de redes fechadas, formadas por
256

grupos de pesquisa, neste caso, como apresentado, os contatos tendem a


aumentarem o fluxo de informação mais com os seus “vizinhos” do que com aqueles
que estão “longe68”.
Quanto a espacialidade dos atores que interagem em 2010, pelo que já
abordamos até agora podemos ter uma noção que destes, a grande maioria está
concentrada no estado de Pernambuco, e em particular na Região Metropolitana de
Recife (RMR). Desta forma, 195 pesquisadores (75%) de todos os mapeados estão em
Pernambuco, 19 (8%) estão na região Nordeste, 3 (1%) estão na região Centro Oeste,
12 (5%) no Sudeste, 8 (3%) no Sul do Brasil, e 22 (8%) estão em outros países.
É pertinente ressaltar que com relação aos fluxos das conexões houve
significativo aumento em relação as redes estabelecidas com pesquisadores de outros
estados do país, e outros países principalmente. O mapa No 2 apresenta algumas
mudanças no estabelecimento de redes científicas e consequemente no fluxo das
relações no ano de 2010 após a atuação da PNCTIS.

68
Quando falamos em “longe” é tanto no sentido de distanciamento geográfico em termos de distância,
quanto distância em termos de possibilidade de estabelecimento de conexões. Como os pesquisadores
que atuam na mesma área e na mesma instituição mas que não estabelecem qualquer tipo de vinculo
que resulte em pesquisa científica cooperativa.
257

Mapa No 2: Fluxos das conexões científicas de Pernambuco na área de farmácia em


2010.

Fonte: Elaboração própria.

Além do aumento nos fluxos no próprio nordeste com estados vizinhos, a


PNCTIS, conseguiu estimular, o crescimento nas conexões fora do país, sobretudo, a
construção de uma rede científica de maior densidade estabelecida por pesquisadores
de vários países que incluiu pesquisadores pernambucanos, a rede pode ser observada
a direita do mapa mostrando as conexões entre India, Paquistão, França, Marrocos e
Pernambuco.
Mais do que “apenas” promover a consolidação de uma rede científica
entre um pesquisador pernambucano e pesquisadores de um país específico, a rede
em questão passa para o patamar do estabelecimento de conexões entre uma rede
mais densa com vários atores de países distintos. Isso seria o segundo estágio da
258

consolidação do trabalho cooperativo em rede que permite que insira membros de


várias nacionalidades trabalhando em equipe e não “somente duas”.
Por outro lado, os fluxos fora do nordeste reforçam a trajetória em direção
ao sudeste e ao sul do país. Nada se vê em termos de aumento nas relações entre
todos os estados do Nordeste ou mesmo entre estados de outras regiões como o caso
do Norte e do Centro Oeste. Assim como a urbanização brasileira, a densidade das
relações em rede do ponto de vista acadêmico são focadas no litoral do país, em
detrimento da parte mais ocidental, ainda existem vários “vazios” a serem preenchidos
nesta concepção.
Quanto às instituições que aparecem em cooperação, o quadro nº 8
exposto a seguir destaca as mesmas e a quantidade de atores que as representaram.

Quadro nº 8: Instituições que cooperaram em rede em 2010

Número de
Localização pesquisadores Instituição
180 UFPE
11 UFRPE
Pernambuco 3 Aggeu Magalhães/FIOCRUZ
1 IMIP

4 UFPB
4 UFRN
Nordeste 7 UFC
1 UFPI
1 UFAL
2 Oswaldo Cruz – BA

Centro Oeste 3 UNB

2 UNICAMP
Sudeste 2 UENF-RJ
7 USP
1 UFOP

1 UFSC
Sul 3 UFRJ
3 UFRS
1 PUC-RS
259

2 Universit of California-USA
3 Jamia Millia Islamia - Índia
2 Faculté des Sciences Dhar Mehraz - Marrocos
4 Université de Rennes - França
Fora do Brasil 2 Bahauddin Zakariya University - Paquistão
2 Universidad de Valencia - Espanha
2 Unisidade de Porto - Portugal
4 University de Dundee - Escócia
1 Universidad Santiago de Compostela - Espanha
Fonte: Elaboração própria

Nos últimos anos, sobre a metodologia apresentada, 2010 foi o ano que
teve o maior número de pesquisadores estrangeiros atuando em rede, embora em
pequeno número e com uma quantidade pequena de instituições e atores de outros
países atuando em rede se considerarmos a quantidade de países e editais lançados
para o estabelecimento de cooperação em rede expostos anteriormente. Outro
aspecto pertinente é que ao contrário do que havia nos anos anteriores a 2005 outras
instituições apareceram como o caso da UFRPE, IMIP, FIOCRUZ embora em números
pequenos se contextualizarmos com a quantidade fornecida pela UFPE.
Todos os pesquisadores estrangeiros se conectam obrigatoriamente com
pesquisadores oriundos da UFPE. A grande concentração de pesquisadores nesta
instituição não só permanece como se acentua, em outras palavras, a quantidade de
pesquisadores cresceu em 2010, mas também cresceu o aglomerado destes na
instituição. Para termos uma visão mais clara do que se está falando, o sociograma a
seguir (figura nº 28), destaca o cluster de pesquisadores que se forma em torno da
UPFE.
260

Figura nº 29: Concentração de pesquisadores na Universidade Federal de


Pernambuco 2010

Fonte: Elaboração própria

Pode-se visualizar pelo sociograma a grande concentração na UFPE e a


particularidade de que, todo fluxo de informação ou cooperação tem que
obrigatoriamente passar por ela, qualquer tipo de pesquisador que tente acessar a
outro sobre esta lógica, terá que necessariamente ter uma conexão com algum
membro existente na UFPE, assim todas as demais instituições ficam subordinadas
hierarquicamente a Universidade Federal de Pernambuco.
Enquanto o aumento de pesquisadores é claramente algo positivo, a
concentração em uma única instituição no estado, revela pouca diversificação de
recursos e até pouca democratização de conhecimento sobre a pesquisa na área uma
vez que a maior parte dos membros se reportam a UFPE obtendo maior acesso a
261

fundos e a equipamentos enquanto outras instituições permanecem em situação de


dependência.
Claro que a maior parte dos grupos de pesquisa na área de farmácia do
estado de Pernambuco se concentram na UFPE, contudo, nem todos os pesquisadores
ativos no estado se encontram nesta, tanto aqueles da área em específico quanto os
de áreas complementares, sem mencionarmos as outras instituições importantes
existentes como o Laboratório Farmaceutico de Pernambuco (LAFEPE), o
HEMOCENTRO DE PERNAMBUCO (HEMOPE) e os diversos laboratórios, hospitais e
outras universidades públicas e privadas. O próprio fato de que todas as redes
mapeadas possuem obrigatoriamente um líder de grupo de pesquisa da UFPE aponta
este problema.
Estas questõs podem influenciar resultar também em uma maior
concentração de pesquisadores da própria área, dificultando a interdisciplinaridade
tão importante para o desenvolvimento científico da área da saúde, e parte integrante
da atuação da PNCTIS. O quadro nº a seguir, evidencia os áreas de formação dos
pesquisadores que aparecem em 2010.

Quadro nº 9: Interdisciplinaridade de atores trabalhando em rede em 2000

Área Quantidade Percentual


Farmácia 206 80%
Biologia 23 9%
Química 21 8%
Medicina 6 2%
Física 3 1%
Fonte: Elaboração própria

Nenhuma outra área da ciência foi encontrada em 2010 que diferenciasse


das já apresentadas anteriormente dispostas no quadro. A maior mudança esteve no
quantitativo de pesquisadores atuando, embora a grande maioria esteja concentrada
essencialmente na grande área da farmácia. Do ponto de vista da
Interdisciplinariedade a PNCTIS pouco impactou na inserção de pesquisadores de
outras áreas com competências complementares.
262

3º Nó

O ESPAÇO GEOGRÁFICO NA
CONSTRUÇÃO E FUNCIONAMENTO
DAS REDES CIENTÍFICAS NA ÁREA
DE FARMÁCIA E PERNAMBUCO .
263

3º NÓ O ESPAÇO GEOGRÁFICO NA CONSTRUÇÃO E FUNCIONAMENTO DAS REDES


CIENTÍFICAS NA ÁREA DE FARMÁCIA EM PERNAMBUCO

Introdução

O olhar e análise do espaço geográfico, para nós, deve seguir a mesma


compreensão da impossibilidade de abordagem do todo, isto se justifica pelo fato dele
ser a conjução de uma série de sistemas de sistemas, e possuir uma infinidade de
multiplicidades que inviavelmente poderiam ser abordadas em sua plenitude. Da
mesma forma que utilizamos um recorte temporal, espacial e metodológico para a
pesquisa, utilizamos um recorte para analisar a importância dele na construçã e
funcionamento das redes fomentadas pela PNCTIS.
Assim, utilizamos, além das informações já apresentadas nas conexões
anteriores, três principais pontos, ou recortes para analisar a importância do espaço
geográfico na construção e funcionamento das redes, além dos próprios contornos
proporcionados pelas conexões em redes apresentadas nos mapeamentos anteriores.
Em outras palavras, ao mesmo tempo que são recortes, eles são enfoques
e objetivos específicos. Para tal para este último nó desta útima conexão pretendemos
abordar os seguintes objetivos específicos da tese: “Verificar os possíveis desníveis
entre projetos aprovados para a pesquisa em rede na área de farmácia em
Pernambuco em relação a outros estados no país”, “Investigar quão relevante é a
proximidade geográfica para aqueles que cooperam em rede, tomando como base a
área de farmácia e os pesquisadores pernambucanos em rede, e na produção de
conhecimento na área de farmácia em Pernambuco”, e “Pesquisar se mesmo com o
advento das tecnologias informacionais e comunicacionais, o contato face a face ainda
é relevante em algum momento da construção ou funcionamento da pesquisa
científica em rede na área de farmácia em Pernambuco”.
Desta forma, dividimos esta seção em dois tópicos: o primeiro deles, “O
espaço geográfico enquanto temporalidades científicas e técnicas: os desníveis entre
projetos aprovados para a pesquisa em rede na área de farmácia em Pernambuco e no
Brasil” visa apresentar a compreensão já destacada, do espaço geográfico enquanto
contexto histórico e temporalidades, mostrando as divergências entre editais
264

aprovados para a pesquisa em rede na área de farmácia em Pernambuco com o


restante do país.
O segundo, “Espaço e tecnologias comunicacionais: Quão importante é
“estar aqui” na pesquisa científica em rede na área de farmácia” pretende evidenciar
por base nas redes e nas entrevistas quão é importante a proximidade geográfica e os
contatos face a face para aqueles que cooperam por meio da pesquisa em rede na
área de farmácia em Pernambuco.

O espaço geográfico enquanto temporalidades científicas e


técnicas: os desníveis entre projetos aprovados para a pesquisa em rede
na área de farmácia em Pernambuco e no Brasil.

Ao se tratar do espaço geográfico, Massey (2005) destaca como já falado,


que este por sua vez é resultado de um conjunto de multiplicidades, e estas por sua
vez explicariam os diversos delineares sociais, sobretudo se olharmos os contextos
histórico-geográficos em que estes são contruídos ou produzidos. Para a autora,
compreender as multiplicidades geográficas e os seus respectivos contextos, é
compreender as diversas adversidades e potencialidades que acompanham os diversos
espaços produzidos cotidianamente e historicamente.
Isso implica em consideramos que, para a lógica da construção e
funcionamento das redes científicas sob o ponto de vista do fomento da PNCTIS, é
importante relativizarmos e analisamos os diversos espaços geográficos regionais
produzidos dentro do espaço geográfico brasileiro. Ou seja, compreendermos os
diversos sistemas de sistemas que compõem as diversas escalas, os diversos olhares,
as diversas sociedades, enfim, as diversas particularidades existentes em nosso país.
Ora, se existe um Brasil, este por sua vez não é homogêneo, e não é, pois
ele é resultado de geograficidades distintas ocorridas ao longo de anos. Trata-lo como
igual é remetê-lo a um invólucro único, onde as temporalidades ocorreram e ocorrem
da mesma forma, e consequentemente proporcionariam mesmos resultados.
Compreender estas questões é fundamental na estruturação de uma política de
265

atuação eficaz voltada para as diferenças regionais, preparada para atingir resultados
diferentes em espaços geográficos distintos.
Contudo, ao se observar a lógica estabelecida na construção das formas de
atuação, das linhas de pesquisa, e de fomento, os resultados em termos de editais,
projetos e verbas aprovadas nestes primeiros anos da PNCTIS, o que se observa é
pouca compreensão destas particularidades no que compete a uma construção mais
heterogênea em termos do incentivo a construção de redes, e principalmente da
própria compreensão dos agentes que atuam no país.
Primeiramente, a própria construção da política enquanto resultado de
uma série de convenções - como já apresentado em nossa linha do tempo -
concentrou-se no sudeste do país e no Distrito Federal. Embora tenha havido
participação de pesquisadores brasileiros de diversos estados e estrangeiros, o debate
pouco foi estendido a instituições e pesquisadores de outras regiões.
Consequentemente, a formulação do texto final e de suas ações de
fomento foi feito em uma estrutura “horizontal e homogênea69” com um único viés
principal de fomento para todos os estados – mesmo que com diversos editais – o que
consequentemente pouco proporcionou a dinamização da construção de laços a longo
prazo internamente no país.
Ou seja, os editais, em sua grande maioria, exceto aqueles voltados para
particularidades regionais – e mesmo estes alguns possuem abrangência nacional –
são lançados por igual, atendendo ao país como um todo. O que se observa é uma
lógica que considera que todos os centros do país estão em capacidade semelhante
para concorrer.
Em outras palavras, existe uma grande diferença entre o número de
instituições existentes no país, o número de pesquisadores e o próprio know-how
acumulado. Isso resulta em uma enorme concentração de pesquisas aprovadas em
determinados estados ou regiões e outras com pouquíssimas aprovações ou mesmo

69
Consideramos este olhar em virtude da grande massa de fomento para a pesquisa em Rede. E
consideramos também a existência dos editais de encomenda, ou editais direcionados para
determinadas regiões ou para problemas específicos. Porém, mesmo com os editais mais “específicos”
as regiões focadas concorrem de igual para igual com os maiores centros em termos de aprovação para
editais, o que provoca em curto prazo significativa discrepância entre a quantidade de editais aprovados
e verba destinada para esta modalidade de pesquisa no país.
266

nenhuma. A democratização do conhecimento, a maior integração dos fluxos de


informações e pessoas no país tende também a ficar concentrado em poucos centros.
Por exemplo, mesmo para os editais de encomenda, ou para editais
específicos para determinadas regiões ou condicionantes de saúde local, a grande
parcela das chamadas é de ordem nacional, isso acarreta que, em algumas
circunstâncias, instituições com maior número de pesquisadores, equipamentos de
pesquisa acabam por aprovar um número maior de projetos de pesquisa em
detrimento das instituições locais com menor capacidade “competitiva”.
Isso faz com que, instituições locais pouco agreguem em termos de
conhecimento ou construção de infraestrutura sobre necessidades suas locais,
cotidianas. O fluxo de informação e as relações de cooperação em rede, em vez de
serem coordenados pelas instituições de regiões mais pobres, passam a serem
coordenadas pelas instituições ou regiões mais avançadas cientificamente. Isso pode
acarretar que, as instituições locais adquiriam pouco know-how sobre necessidades
cotidianas e pouco possam intervir no direcionamento das suas redes de cooperação.
Para entendermos um pouco do que está sendo falado, é importante que
consideremos que, a construção de instituições de ensino e pesquisa no Brasil se deu
de forma desigual por todo o seu território, neste ponto de vista o país possui
significativas temporalidades. Em especifico, temos o caso de Pernambuco.
Pimentel Neto (2008) destaca as diferenças brasileiras em Ciência,
Tecnologia e Inovação tomando como ponto de partida o espaço geográfico
pernambucano, para o autor o atraso na construção de instituições de ensino e
pesquisa no estado, em relação a outras regiões como a de São Paulo, Minas Gerais e
Rio de Janeiro promoveu significativas disparidades se comparamos Pernambuco a
outros estados.
Sendo o espaço geográfico resultado de temporalidades distintas na sua
produção, ao observamos a evolução dos processos tecnológicos, de criação de
infraestrutura, e de Instituições de Ensino e Pesquisa, vemos Pernambuco enquanto
estado retardatário se compararmos aos estados do Sudeste agora mencionados.
Somente em 1902 iniciou-se a construção da primeira faculdade de Saúde
do estado de Pernambuco, localizada em Recife que é justamente a faculdade de
farmácia, esta por sua vez foi impulsionada, sobretudo pela Constituição de 1895 e
267

resultante também dos esforços de Alfredo Arnóbio Marques, Alcides Codeceira e João
Baptista Regueira Costa (PIMENTEL NETO, 2008).
Ou seja, somente no início do século tem-se a criação da primeira
instituição de ensino superior do estado no campo da saúde. Somente uma década
depois, em 1912 é fundada a Escola Politécnica (atual Universidade de Pernambuco)
que impulsionou posteriormente a criação da segunda Faculdade do Recife que é a de
Odontologia. E em 1920 fora criada a primeira Faculdade de Medicina do Recife.
Somente 22 anos depois é iniciada a criação do Instituto de Tecnologia de
Pernambuco (ITEP) e, “é especialmente neste momento que Pernambuco não consegue
mais acompanhar o nível nacional, tendo um processo mais lento que os do Sudeste.
No Brasil que já está criando Universidades desde pouco antes de 1932” (PIMENTEL
NETO, 2008, p. 57-58). Mais detalhadamente o autor evidencia que,

Porém devido ao atraso na criação das infraestruturas, é somente


neste período [1940] quando está começando o processo de criação
das universidades em Pernambuco. Antes disso, a única coisa que
aparece de destaque é a criação do Sindicato de Médicos de
Pernambuco (SIMEPE) e mesmo assim não é uma instituição de
pesquisa ou/e ensino. Vale ressaltar que até esse momento,
Pernambuco não apresenta iniciativas que incluam instituições de
pesquisa científica. Desde o início da criação das instituições de
ensino para a área de saúde a preocupação é a formação de
profissionais na área (PIMENTEL NETO, 2008, p.58).

A primeira Universidade de Pernambuco é a Universidade Federal de


Pernambuco, criada somente em 1946, catorze anos do marco brasileiro de
impulsionar a construção de instituições voltadas para o ensino e pesquisa. E mesmo
assim, nela ainda não existia o curso de medicina que só foi incorporado no ano de
1958.
Em 1947, é criado o Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros
(CISAM) da UPE, que tem o foco principal na formação de profissionais, ou seja, no
ensino. Também é criada no mesmo ano, a Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ), que
junto com o ITEP para Pimentel Neto (2008) são as principais instituições de pesquisa
deste período. E em 1949 é criada a Secretaria de Saúde de Pernambuco.
Em 1945 é criada a faculdade de ciências médicas da Universidade de
Pernambuco (UPE) e, somente em 1951 é criada a segunda Universidade de
268

Pernambuco a UNICAP (Universidade Católica de Pernambuco). Já bem recentemente


em 1960 que é criado o Instituto Materno Infantil de Pernambuco (IMIP) que
atualmente é uma das principais instituições referências em pesquisa médica de
Pernambuco.
Em 1966 é fundado do Laboratório Farmacêutico do Estado de
Pernambuco (LAFEPE) principal referência em produção de medicamentos do estado,
e somente em 1970 é criado um dos principais institutos de pesquisa de Pernambuco,
o Centro de Pesquisas Aggeu Magallhães/FioCruz (CPqAM), que contrasta, por
exemplo, com a criação do Instituto Manguinhos/FioCruz do Rio de Janeiro que já
havia sido criado em 1900, ou do Centro de Pesquisa René Rachou/FioCruz criado em
1955 em Minas Gerais.
Em 1977 fora criada a Fundação de Hematologia e Hemoterapia de
Pernambuco (HEMOPE) e em 1986 o Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami
(LIKA). Em toda essa trajetória de criação de instituições no estado de Pernambuco,
além do próprio caráter tardio de suas criações e a o enfoque mais voltado para a
questão do ensino é importante destacar que todas foram instituídas na Região
Metropolitana de Recife, pouco ou nada agregando ao interior do estado em termos
de Pesquisa.
Isso não só concentrou no estado a esmagadora parcela dos pesquisadores
ativos no estado na RMR como a construção de infraestrutura técnica, em especial o
sistema de objetos necessário à realização da pesquisa (laboratórios, Universidades,
Salas, equipamentos...). Somente no ano de 2000 criou-se o plano de interiorização
das Instituições de Pesquisa, Ensino e Extensão no estado.
Estes aspectos proporcionaram não só atraso de Pernambuco em relação a
outros estados, como proporcionou a instauração de temporalidades distintas – como
haveria de ser – entre Pernambuco e outras regiões. Se olharmos sob o ponto de vista
do censo do CNPq (2010) dos grupos de pesquisa na área de farmácia exposto na
tabela no 11, tomando como ênfase a quantidade de grupos de pesquisa, de linhas, de
pesquisadores envolvidos e de estudantes observamos o grande desnível em termos
de massa crítica no país.
269

Tabela no 11: Grupos de Pesquisa na área e farmácia no Brasil em 2010

Área do conhecimento / UF Grupos Linhas de Pesquisa Pesquisadores Estudantes

Alagoas 6 34 39 97
Amapá 2 11 25 13
Amazonas 5 20 40 58
Bahia 17 62 121 123
Ceará 13 75 123 184
Distrito Federal 6 53 48 77
Espírito Santo 3 5 22 27
Goiás 10 41 72 173
Maranhão 1 3 10 15
Mato Grosso 1 5 6 3
Mato Grosso do Sul 2 9 11 28
Minas Gerais 35 159 300 300
Paraná 43 188 316 377
Paraíba 13 79 132 163
Pará 6 25 60 58
Pernambuco 15 72 156 230
Piauí 2 5 19 33
Rio Grande do Norte 5 37 135 227
Rio Grande do Sul 42 175 353 475
Rio de Janeiro 33 107 285 214
Santa Catarina 27 121 174 299
Sergipe 1 3 16 79
São Paulo 97 357 624 662
Fonte: Diretório dos grupos de Pesquisa do CNPq, censo de 2010.

Os dados apresentados pela tabela no 11 acima, destacam as diferenças em


termos de quantidade volume de atores envolvidos promovendo a pesquisa científica
na área da farmácia, estados do Nordeste, Norte e alguns do centro oeste possuem um
número bem aquém dos demais estados do país. Sintetizando a planilha destacando os
sete estados com maior volume de pesquisadores e grupos de pesquisa, temos os
seguintes resultados.
270

Tabela no 12: Principais estados em termos de massa crítica no Brasil na área de


farmácia em 2010

Área do conhecimento / UF Grupos Linhas de Pesquisa Pesquisadores Estudantes

São Paulo 97 357 624 662


Paraná 43 188 316 377
Rio Grande do Sul 42 175 353 475
Rio de Janeiro 33 107 285 214
Minas Gerais 35 159 300 300
Bahia 17 62 121 123
Pernambuco 15 72 156 230
Fonte: Diretório dos grupos de Pesquisa do CNPq, censo de 2010.

No tocante as diferenciações entre o volume de pesquisadores ativos e


grupos de pesquisa de acordo o cadastro nacional do CNPq, censo de 2010, vemos
que, dos sete estados com maior número de grupos de pesquisa e pesquisadores
ativos, três estão no sudeste e dois no sul no país.
As diferenças ficam maiores se observamos que, enquanto Pernambuco
possui 15 grupos de pesquisa cadastrados, São Paulo possui 97 grupos (seis vezes e
meio mais). Mesmo os demais estados que apresentam um percentual inferior,
possuem quase três vezes a quantidade de PE, como Paraná, Rio Grande do Sul. Rio de
Janeiro e Minas gerais vem com o dobro de grupos de pesquisa.
Para o total de pesquisadores ativos cadastrados, PE possui 156 de acordo
com o censo, e São Paulo, por exemplo, possui 624 (quatro vezes mais). Paraná, Rio
Grande do Sul e Rio de Janeiro aproximadamente o dobro cada um dos estados. O
volume de estudantes que participam, que se formam, e proporcionam o maior
número de conexões e troca de informações também possui enorme discrepância
entre os estados.
A tabela no 13 exposta a seguir vislumbra a aprovação da pesquisa em rede
na área de farmácia no Brasil durante o período de 2005 a 2010. Ela nos apresenta de
forma mais quantitativa a distribuição de editais aprovados sob esta modalidade entre
os estados do país.
271

Tabela no 13: projetos aprovados para a pesquisa em rede no Brasil entre 2005 e
2010

Ano Nordeste Sudeste Sul Norte Centro Oeste


PE BA CE RN PB AL MA PI SE SP RJ MG ES RS PR SC AM PA RO DF GO MT MS
2005 10 12 8 9 2 1 1 38 7 11 1 17 8 5 6 2 1 1
2006 10 10 11 5 3 2 1 23 60 17 3 9 4 1 1 1 1 2 3
2007 4 1 3 1 5 5 13 2 2 1 1
2008 3 4 3 1 1 14 19 12 5 3 8 1 1 1
2009 12 13 4 6 3 2 1 37 24 14 1 6 1 2 4 2 6 1
2010 4 6 1 2 10 10 12 1
Total: 43 46 22 18 10 8 5 4 4 127 125 79 5 40 18 9 5 17 1 10 6 2 2
Fonte: Departamento de Ciência e Tecnologia (DECIT)

Se compararmos, enquanto Pernambuco no período aprovou 43 projetos


para a modalidade de redes científicas em farmácia, estados como São Paulo e Rio de
Janeiro aprovaram 127 e 125 respectivamente, três vezes mais aproximadamente. No
Nordeste o estado da Bahia apresenta a maior aprovação de editais, seguida de PE, o
volume de dados dos demais estados é significativamente pequeno, se agrava ainda
mais ao analisarmos o Norte e Centro Oeste do país.
O mapa no 3 evidencia de forma mais clara, estes desníveis entre a
quantidade de projetos aprovados no território nacional, neles a intensidade das cores
reflete a proporção de projetos apresentados na tabela anterior, enquanto estados
não aprovaram nenhum edital para a pesquisa em rede no período 2005 – 2010 só o
estado de São Paulo aprovou 127 e Rio de Janeiro 125. Ele vem a ratificar mais ainda as
informações apontadas nos mapas 1 e 2 onde observamos os estados onde se
reportam a maior parte dos fluxos de conexões, mesmo tomando como foco o estado
de Pernambuco.
272

Mapa no 3: Editais aprovados para a Pesquisa em Rede no Brasil 2005-2010

Fonte: Elaboração própria com base nos dados fornecidos pelo Decit (2014)

As diferenças de intensidade representam as diferenças de editais


aprovados para a pesquisa em rede na área de farmácia dentro do Brasil, de acordo
com a legenda exposta no próprio mapa. Da mesma forma que percebemos uma
maior intensidade na faixa litorânea brasileira em relação a continuental em relação a
outras questões, aqui no volume de aprovação dos editais vemos a mesma ocorrência.
Entre a região Norte quatro estados, Acre, Amapá, Tocantins, e Rondônia
não aprovaram um único projeto no total de anos pesquisados. A indensidade mais
clara em relação ao volume cobre a grande parcela ocidental do país enquanto a parte
oriental litorânea se concentra a maior taxa de editais de aprovação. Os estados de
São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais somados ultrapassam todos os estados das
regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste juntos.
273

Mais importante, não se trata simplesmente da diferença em termos de


editais aprovados, se trata dos desníveis resultantes da construção e atuação de uma
política que não incorpora de forma mais eficaz a compreensão das diversidadades
geográficas brasileiras. Velhas dinâmicas que impulsionaram antes os fluxos humanos,
a exemplo das próprias migrações internas no Brasil, oriundas das diferenciações
econômicas regionais, acabam sendo reproduzidas para os fluxos de cooperação na
pesquisa científica em rede na área de farmácia também.
Alguns estados e regiões pouco podem incorporar e controlar o
direcionamento da construção de seus laços uma vez que pouco lhe é permitido para
tal. O fluxo acadêmico e as redes são concentradas nos grandes centros e acabam por
atrair os pontos de outros estados. A malha da rede científica brasileira acaba por
reproduzir a malha anteriormente criada das redes de infraestrutura ténica,
concentradas e controladas pelos grandes centros em detrimentos de outros.
Assim, centros menos desenvolvidos tecnologicamente ficam fortemente
dependente das conexões em rede estabelecidas pelos centros mais desenvolvidos, o
que não lhe permite que eles mesmos possam estabelecer de forma eficaz a curto,
médio e longo prazo suas próprias redes uma vez que a maior parte do fomento é
destinado para os estados de maior densidade apresentados nos mapas. Nestes
aspectos é claro que não há como negar que a conexão entre centros menos
desenvolvidos e mais desenvolvidos possa resultar de trocas afortunadas para ambos.
Estas questões associadas as diferenciações espaciais e ao próprio
distanciamento geográfico, dificultam a dinamização e maior adensamento das redes
dentro do próprio país. Além da dificuldade em proporcionar que regiões mais
periféricas estabeleçam know-how e certa autonomia acadêmica diante de grantes
instituições por meio dos editais em que existe o mesmo parâmetro concorrencial.
A autonomia proporcionada pelos mecanismos que proporcionam a
pesquisa, permite que os pesquisadores estabeleçam com mais facilidade suas
conexões tomando como base critérios subjetivos e particulares de proximidade.
Assim, o compartilhamento de certas características pré acordadas, permitiram que
grupos com mais afinidade estabelecessem suas conexões promovendo a construção
de laços mais duradouros a longo prazo.
274

Na ausência de mecanismos para pesquisar, ou estabelecer uma pesquisa


de forma independente, ou seja, escolher suas próprias redes, as conexões seguem em
direção exclusivamente aos centros mais desenvolvidos, dimuindo o adensamento da
relações, no país como um todo. O mapa no 4 apresenta de forma mais clara estas
questões.
Mapa no 4: Evolução da aprovação de editais para a pesquisa em rede no Brasil 2005-
2010

Fonte: Elaboração própria


275

Os mapas apresentados acima mostram de forma mais ampla do que


estamos falando, desmembrarmos o mapa anterior do valor total dos editais
aprovados para a pesquisa em rede em seis mapas demonstrando a quantidade
aprovada por cada estado brasileiro ano ao ano, no período de 2005 a 2010 vemos
ainda mais os desníveis entre Pernambuco e os estados mais desenvolvidos
tecnologicamente ou mesmo os desníveis em nível nacional entre os estados mais
desenvolvidos cientificamente e os menos desenvolvidos.
Assim, os resultados apontados pelos mapas sugerem de forma mais clara
anualmente as disparidades na aprovação de projetos de pesquisa em rede, existem
estados que não aprovam nem mesmo um único edital nos períodos destacados. Norte
e Centro Oeste ficam bem aquém dos demais estados do Brasil. No Nordeste somente
Pernambuco e Bahia aprovam editais em todos os anos estudados, juntamente com
SP, MG, RJ e RS, e mesmo assim, em número bem inferior que os estados do Sudeste e
do Sul mencionados. Existe um claro descompasso deste ponto de vista por não
considerar projetos especiais e mais específicos para cada realidade regional por parte
da atuação da PNCTIS.

Espaço e tecnologias comunicacionais: Quão importante é


“estar aqui” na pesquisa científica em rede na área de farmácia.

Aqui, assim como para Gertler (2003, 2005) a forma mais direta de
tentarmos determinar a importância do espaço geográfico70 do ponto de vista do
“estar aqui” no trabalho científico em rede, além da própria construção de uma
literatura pertinente sobre a temática, é perguntarmos diretamente para os agentes
em questão. Neste caso, perguntar diretamente aos pesquisadores que atuam na área
de farmácia em Pernambuco.
Neste caso, verificar qual a importância atribuída aos pesquisadores em ter
outros membros “próximos” na hora de se estabelecer uma pesquisa científica em

70
É importante ratificar o que já fora dito antes: o espaço geográfico enquanto reflexo das sociedades
pode ser analisado, sob múltiplos olhares, múltiplas escalas e múltiplas óticas, na impossibilidade de
“abarcar o toco” escolhemos o enfoque do “estar aqui” já tão discutido em estudos de geografia
econômica que tratam da proximidade.
276

rede ou mesmo realizar a própria pesquisa. A proximidade em questão, como já


mencionada, nos diz respeito tanto da perspectiva de ter acesso contínuo e talvez
cotidiano ao outro membro, permitir que se tenha acesso a este de maneira mais
rápida e fácil, além do estabelecimento de proximidade física estabelecida
cotidianamente pela construção de convívios espaciais contínuos.
Outro ponto importante que se conecta com as questões acima
mencionadas, é verificar a opinião dos pesquisadores da área de farmácia, se para a
pesquisa científica em rede com membros distantes geograficamente, as Tecnologias
de Informação e Comunicação forneceriam substitutos eficazes para a comunicação
pessoal ao ponto de não ser necessário à realização de encontros Face a Face entre os
membros.
A escolha dos pesquisadores para a pesquisa levou em consideração a
metodologia já destacada, ou seja, os agentes com maior densidade de relação na rede
mapeada pernambucana seriam selecionados para a entrevista (em especial os líderes
de grupos de pesquisa), a lista incluiu também outros atores que se mostraram
relevantes na rede.
Os pesquisadores foram selecionados por duas categorias: a) Principais
atores centrais da rede, tendo três membros neste grupo; b) grandes atores da rede,
tendo doze atores nesse grupo; e por fim, c) atores intermediários e atores pontes
relevantes totalizando 15 pesquisadores nesse grupo.
Diante a dificuldade do agendamento de entrevistas pessoais com os
pesquisadores 71 em virtude de suas atribuições profissionais foram enviados
questionários por e-mail informando a motivação do convite e contextualizando a
pesquisa. Fora informado que em cada pergunta o pesquisador ficara livre para
escrever comentários e justificar suas respostas, o questionário72 contou com onze
perguntas objetivas (com as opções: sim, não e irrelevante) e uma pergunta subjetiva.
Foram enviados em um total 30 questionários, obtivemos retorno de 20 (67%).
Em acordo com o que já fora falado, não há como negar as eventuais
diferenças nas visões, experiências e compreensões da pesquisa científica em rede

71
Deixamos aqui nossos agradecimentos a todos os pesquisadores da área de farmácia em Pernambuco
que destinaram gentilmente parte de seu tempo em colaborar com nossa pesquisa.
72
Questionário encontra-se nos anexos deste trabalho. O número de perguntas fora reduzido devido a
relutância de parte dos pesquisadores em responder questionários mais extensos.
277

pelos pesquisadores da área em Pernambuco, mesmo para aqueles que habitam a


mesma instituição. Os resultados de tal investigação são apresentados nos dados a
seguir, que avalia a importância atribuída pelos pesquisadores à pesquisa em rede e
questões importantes da pesquisa científica em rede. Há um padrão óbvio e
consistente para as respostas.
Para tal, as considerações que seguem, são resultados de análise literária
somada às observações da área de farmácia e retorno dos questionários respondidos.
Não há dimensionamento do “todo”, há apenas, uma análise com um recorte sobre
informações e percepções apreendidas.
A primeira pergunta procurou conectar o que a literatura trás sobre o
debate sobre a pesquisa científica em rede com a opinião dos pesquisadores que
atuam na área de farmácia, assim duas perguntas foram feitas: a) se o pesquisador
acreditava que pesquisar em rede realmente potencializaria a produção de resultados
na área de farmácia e b) se para a área da farmácia, pesquisar de forma cooperativa
em rede seria melhor.
Para estas duas perguntas, o quadro no 14 apresenta o total das respostas,
neste caso, todos os pesquisadores que retornaram os questionários (no total de 20
questionários) foram enfáticos e responderam sim, sobre a importância da pesquisa
em rede para potencializar os resultados acadêmicos, e, sobretudo, para o
desenvolvimento da área de farmácia. Há uma clara consonância entre a literatura
sobre o debate os pesquisadores que vem atuando na modalidade. Mesmo aqueles
que pouco atuam desta forma possuem a concepção de sua importância para o avanço
da ciência.

Tabela no 14: Respostas sobre a importância da pesquisa em rede para o


desenvolvimento científico da área de farmácia em Pernambuco.

Pergunta 1 Pergunta 2
Sim Não Irrelevante Sim Não Irrelevante
TOTAL 20 0 0 20 0 0
Fonte: Elaboração própria
278

Fora perguntando aos pesquisadores se eles já haviam iniciado alguma


pesquisa científica em rede com outros que não haviam conhecido pessoalmente, o
intuito foi tentar avaliar quão disposto o pesquisador em Pernambuco está a cooperar
com outros sem que exista mínimo contato pessoal entre ambos. Dos entrevistados,
11 deles (55%) responderam que sim, que já haviam iniciado uma pesquisa científica
em rede sem conhecer os demais membros (nem pessoalmente nem por outras
formas de contato como e-mail, telefone, comunidades) e 9 pesquisadores (45%)
responderam que não, que nunca tinham iniciado uma pesquisa em rede sem
conhecer pelo menos um dos membros pessoalmente. Os resultados são expostos no
gráfico a seguir.

Gráfico no 6: Respostas sobre a realização de pesquisa científica em rede com


pesquisadores desconhecidos.

Fonte: Elaboração própria

Mais do que uma questão meramente de “disposição” os resultados


apontam os novos contornos da necessidade da busca de novos parceiros na pesquisa
acadêmica mundial, já que as respostas em termos quantitativos foram bem similares,
além do que estas práticas são em até certo pondo subsidiadas pelas Tecnologias de
Informação e Comunicação, afinal, mesmo sem conhecer o membro pode-se
estabelecer um contato a distância após a construção da equipe. Entretanto, quase
metade dos pesquisadores considera importante conhecer pessoalmente os demais
279

membros com que se estabelece uma pesquisa científica, é parte do exercício de


confiança e diminuição de incertezas no que compete ao comprometimento na
pesquisa a ser realizada e nas formas de trabalho73 em grupo.
Mesmo a maioria tendo respondido sim, sobre a pergunta anterior, ao se
perguntar para os pesquisadores se eles consideram já ter conhecido pessoalmente o
pesquisador com que se estabelece uma rede a grande maioria, 65% (13
pesquisadores) consideram sim, importante esta particularidade, enquanto 30% (6
pesquisadores) não consideram importante, e apenas um pesquisador 5% considerou
irrelevante esta questão, os dados são apresentados no gráfico no 7 a seguir.

Gráfico no 7: Respostas sobre a importância de se conhecer o pesquisador ao se


estabelecer uma rede científica na área de farmácia em Pernambuco.

Fonte: Elaboração própria

Conhecer o pesquisador anteriormente remete entre outras questões ao


conhecimento das formas de trabalho (liderança, cooperação, empenho,
comprometimento, conhecimento) e também laços mais próximos entre ambos.

73
Gertler (2003, 2005) considera estas estruturas de trabalho dentro de uma equipe, como a sincronia
entre os membros, as normas estabelecidas e o conhecimento de formas de atuação no geral como
proximidade institucional que faz parte da proximidade geográfica no geral enquanto componente do
espaço e que só pode ser construída no exercício de socialização cotidiano que exige proximidade física
e de distância entre os membros.
280

Conhecer o pesquisador só não é mais relevante que ter experiência de trabalhos


passados.
Conhecer previamente o pesquisador com quem se pretende trabalhar,
principalmente em casos oriundos de trabalhos passados que tiveram resultados
produtivos, fazem parte de alguns dos fatores sociais apontados por Lin (2001a e
2001b) tais como: Laços construídos em relações anteriores específicas influenciam os
agentes que têm um papel importante nas decisões, na contratação de serviços,
construção de novas parcerias institucionais, inserção de novos membros em uma
rede de pesquisa científica, em que não só o membro com maior centralidade e uma
maior relação de poder na rede toma decisões, mas os demais também.
Em segundo lugar, os laços sociais podem ser concebidos como credenciais
que garantem as possibilidades individuais de ascender a recursos disponíveis através
das suas redes, como relações de confianças estabelecidas por pesquisas anteriores
bem sucedidas onde todo o trabalho científico em rede fora satisfatório para todos os
membros (o prestígio e a reputação criada anteriormente se torna importante elo no
acesso a uma nova rede ou equipamentos).
Em terceiro lugar, as relações sociais reforçam a identidade o e
reconhecimento; ser reconhecido como indivíduo e membro de um determinado
grupo, além de garantir suporte emocional, possibilita reconhecimento público no que
compete ao direito a determinados recursos, relações de poder, editais de fomento
etc.
Mesmo para autores que indicaram que conhecer o pesquisador
anteriormente não ser tão relevante, indicaram que já experiência de trabalhos
passados com o pesquisador a que se irá iniciar um trabalho em rede importante,
estas informações podem ser visualizadas no gráfico no 8 abaixo. A experiência de
trabalhos passados faz parte do que Segundo Lin (2001a e 2001b) considera como
“credenciais” que conferem as redes a capacidade de gerarem capital social e
dinamizarem circunstâncias que desencadeiam benefícios a outras formas de capitais.
281

Gráfico no 8: Respostas sobre a importância de se ter experiência de trabalhos


passados como requisito para a construção de uma pesquisa em rede com outros
pesquisadores.

Fonte: Elaboração própria

Dos pesquisadores que responderam, 17 deles (85%) destacaram que é


importante na construção de uma pesquisa em rede já ter trabalhado anteriormente
com os membros, em contrapartida 3 pesquisadores (15%) responderam que esta não
é uma circunstância tão importante. Notadamente a maioria das respostas está
entrelaçada, e dizem muito sobre o perfil do espaço científico em rede formado pelos
pesquisadores em Pernambuco.
Por exemplo, o porquê muitos autores localizados na Região Metropolitana
de Recife e atuantes na Universidade Federal de Pernambuco aparecem sucessivas
vezes trabalhando em vários trabalhos em rede, nos dados já apresentados,
apontamos a quantidade de repetições de pesquisadores. Sugeriria também o
aumento da quantidade de laços de pesquisadores que tinham poucas conexões no
início da análise (ano de 2000) e muitas conexões no final (ano de 2010).
Apontaria para uma relação extremamente importante que é a relação dos
orientandos de graduação em todo o contexto da pesquisa científica em rede no
estado na área de farmácia e na construção dos espaços em redes de pesquisa
282

acadêmica montados. Se não vejamos, no mapeamento das redes científicas, foram


encontrados uma quantidade expressiva de pesquisadores atuantes que estão nos
níveis de formação (graduação, mestrado e doutorado), ou seja, orientandos em
formação.
Ao serem perguntados sobre a importância da construção de um elo de
proximidade física entre orientador e orientando na construção de nova e futuras
pesquisas em redes, 19 pesquisadores (95%) foram enfáticos em ratificar esta
importância, enquanto apenas um pesquisador (5%) destacou como irrelevante. Estes
dados podem ser vistos no gráfico em seguida.

Gráfico no 9: Respostas sobre a importância da relação orientador x orientando na


construção de redes científicas na área de farmácia em Pernambuco.

Fonte: Elaboração própria

Para termos uma noção da importância desta relação, 68% de todos os


pesquisadores que apareceram cooperando em rede no ano de 2010 eram de
orientandos ou de ex orientandos. Um bom exemplo de exercício de proximidade física
é aquele construído cotidianamente pelas relações de orientação na formação
individual dos pesquisadores, o “estar aqui” do orientando e orientador potencializa as
relações de socialização, facilita a interação, apreende particulares do conhecimento
283

tácito, e potencializa a criação de uma proximidade organizacional, além da construção


de confiança.
Para Fukuyama (1996, p. 26), o reconhecimento da confiança como
“virtude” da cultura de determinados território, como resultado das relações criadas
ao longo do tempo, deve ser entendida como forte elemento para a construção de
capital social e consequente retornos e benefícios. Na pesquisa científica em rede não
seria diferente. “A confiança representa as expectativas que se desenvolvem no interior
de uma comunidade, regida por um comportamento regular, honesto e cooperativo.
Fundamentada em normas habitualmente partilhadas com os outros membros desta
comunidade”. As quatro perguntas anteriores, fazem parte dos elementos que compõe
a construção da confiança.
Também destacando a confiança como elemento importante de uma rede
na construção de capital social D`Araújo (2010) ratifica que

Uma sociedade cuja cultura pratica e valoriza a confiança


interpessoal é mais propícia a produzir o bem comum, a prosperar. A
cooperação voluntária, assentada na confiança, por sua vez, só é
possível em sociedades que convivem com regras de reciprocidade
[...]. Em sociedades que tenham capital social, que, a exemplo de
outras formas de capital, é produtivo e possibilita a realização de
certos objetivos que sem ele seriam inatingíveis. O capital social
facilita a cooperação espontânea e minimiza custos de transação
(D`ARAÚJO, 2010, p. 17).

Tanto para Putnam (1993) quanto para Fukuyama (1996), confiança74 é a


base para a construção do capital social. Confiança é a expectativa de reciprocidade
que pessoas de uma determinada comunidade ou rede, baseada em normas
partilhadas, têm acerca do comportamento dos outros. Quem sente e sabe que pode
confiar75 recebe mais colaboração e aproveita mais as oportunidades que aparecem.

74
Embora Putnam e Fukuyama não quantifiquem a confiança de forma empírica em seus trabalhos, eles
destacam de forma qualitativa como este aspecto influenciou positivamente no avanço cívico e
econômico em países. A quantificação do capital social ainda se mostra um desafio.
75
Suzana Lundåsen (2002) realizou um levantamento detalhado dos múltiplos significados que o termo
confiança comporta. Em seu trabalho, se identificam pelo menos 15 significados distintos para confiança
interpessoal, que Couch & Jones (apud Lundåsen, 2002, p. 310) sintetizaram em três níveis
fundamentais: “confiança generalizada” (voltada para a “natureza humana”, a humanidade como um
todo), “confiança relacional” (voltada para pessoas específicas, “conhecidos”) e “confiança na rede”
(nível intermediário, voltado para redes sociais ou familiares). Para a autora, os componentes
fundamentais da confiança seriam risco, informação, expectativas em relação ao comportamento da
284

Por isso, poder confiar 76 nos demais é um importante fato de desenvolvimento


econômico.
Para Bourdie (1080) existem dois elementos que potencializam a
construção de confiança, de capital social: as relações que permitem aos indivíduos
aceder aos recursos e a qualidade e quantidade desses recursos. A PNCTIS é um bom
exemplo de uma ferramenta de incentivo destes componentes. Ela prevê que os
pesquisadores possam não só estabelecerem redes com outros dispostos em
localidades distintas, mas que a própria pesquisa possa ser realizada a distância, de
forma que esta seja otimizada para os casos em que não se possa estar presente. Essa
lógica é claramente amparada nos avanços tecnológicos atuais já destacados.
Diante disto, perguntamos aos pesquisadores se eles consideram que a
pesquisa científica em rede na área de farmácia possa ser realizada sem que existam
contatos presenciais entre os membros. Ou seja, se todo o processo de pesquisa pode
ser conduzido sem a realização de encontros face a face.

Gráfico no 10: Respostas sobre a importância de contatos face a face na pesquisa em


rede na área de farmácia em Pernambuco.

Fonte: Elaboração própria

contraparte, a possibilidade de obter confiança dos outros e a possibilidade de ter um retorno maior se
confiar.
76
Para Bruno Reis (2003), o conceito de confiança comporta matizes tão relevantes quanto aqueles
respectivos ao capital social, e que deve ser vista de forma cautelosa, já que, para o autor, confiança
apresenta-se como uma caixa-preta conceitual, passível de variadas interpretações.
285

No gráfico no 10 mostra que dos questionários respondidos 6


pesquisadores (30%) afirmaram que sim, que a pesquisa científica em rede na área de
farmácia pode ser realizada sem que existam encontros presenciais entre os membros,
enquanto 14 pesquisadores 70% do total afirmaram que não, que não é possível ou
mesmo viável. A maioria destacou que, embora o pesquisador eventualmente não
esteja presente na realização do experimento, este necessita de contatos presenciais
para definir assuntos importantes da pesquisa que em grande parte só podem ser
realizados pessoalmente.
Como exemplo, podemos mencionar as tomadas de decisões mais
relevantes como destinação de verba, compra de equipamento ou impacto em outras
comunidades científicas que às vezes necessitam de apresentações e reuniões
presenciais. Entretanto, é claro que para muitas situações esta perspectiva possa ser
realizada, muito embora uma das particularidades da área de farmácia é a pesquisa
laboratorial.
Estas considerações são ratificadas ao se perguntar para os pesquisadores
se eles consideram importante a realização de pelo menos um encontro presencial em
algum momento da pesquisa científica em rede. Neste caso todos os 20 pesquisadores
foram enfáticos em destacar que é sim importante a realização de pelo menos um
encontro presencial na pesquisa científica em rede na área de farmácia.
Esta linha de raciocínio segue outro padrão bem consistente, que trada da
opinião dos pesquisadores sobre a perspectiva da comunicação eletrônica e todas as
perspectivas por ela proporcionadas (e-mail, telefone, web conferências etc) serem
substitutos eficazes para a comunicação presencial na pesquisa científica em rede, que
serão apresentados a seguir.
286

Gráfico no 11: Respostas sobre a comunicação eletrônica como substituto eficaz na


comunicação pessoal.

Fonte: Elaboração própria

O gráfico no 11 mostra que, do total de respostas obtidas, 14


pesquisadores (70%) não consideram a comunicação eletrônica como plenamente
eficaz na comunicação presencial, enquanto 6 pesquisadores (30%) consideram que
sim, que esta seja. No tocante às respostas, mesmo aqueles que consideraram a
comunicação eletrônica como um substituto eficaz para a comunicação pessoal,
ratificam a importância da realização de contatos presenciais durante a realização da
pesquisa.
Sobre a importância da proximidade geográfica na realização da pesquisa
em rede na área de farmácia, 10 pesquisadores, metade do total considerou-a
importante enquanto 10 pesquisadores consideraram irrelevante. Os dados são
apresentados no gráfico a seguir.
287

Gráfico no 12: Respostas sobre a importância da proximidade geográfica na pesquisa


científica em rede.

20
18
16
14
12
10
8 Sim
6
4 Não
2 Irrelevante
0
Na Pesquisa científica em rede na área de farmácia,
cooperar com que está próximo geograficamente é
melhor para otimização do trabalho em conjunto e
consequentemente dos resultados?

Fonte: Elaboração própria

A grande maoria dos pesquisadores77, 80% deles, destaca a importância da


proximidade geográfica para a otimização dos resultados e melhor desempenho da
pesquisa cooperativa, neste caso, mesmo com as tecnologias comunicacionais
pesquisar com quem está perto geograficamente é significativamente melhor. Apenas
dois pesquisadores (10%) consideram irrelevante a proximidade geográfica neste tipos
de pesquisa, mas enfatizam que caso oportuno, ela ainda é a melhor forma.
Porém ao se perguntar sobre a importância da proximidade física entre os
membros para a construção de uma rede de pesquisa, as respostas foram mais
enfáticas e se conectaram mais ainda com as respostas de outros questionamentos
anteriores. Dos entrevistados 19 pesquisadores (95%) foram enfáticos que sim,
enquanto apenas 1 pesquisador (5%) mencionou que esta seria irrelevante para esta
situação. Os dados destes questionamentos são apresentados nos gráfico a seguir.

77
A primeira versão deste questionário não incorporava na pergunta a frase “[...]Para otimização do
trabalho em conjunto e consequentemente dos resultados?” O que promoveu resultados diferentes dos
aqui apresentados. Foi feito nova pesquisa que é apresentada no gráfico em destaque.
288

Gráfico no 13: Respostas sobre a importância da proximidade física na pesquisa


científica em rede.

Fonte: Elaboração própria

Para os pesquisadores, proximidade física é fundamentalmente mais


importante até mesmo que a proximidade geográfica, para eles estar próximo
geograficamente só se torna mais vantajoso quando se pode construir um maior nível
de comunicação e intimidade com o outro. A proximidade física por outro lado, é mais
fortemente construída com a convivência cotidiana, que é resultado da (re)produção
do espaço geográfico local, ela é portanto, a responsável pelos principais laços
duradouros e bons trabalhos em conjunto realizados.
Assim como os laços de vizinhança, as relações familiares cotidianas, as
relações na escola, as convivências nos parques, nos bairros, nas Universidades só
podem ser mais facilmente fortalecidas pela proximidade geográfica tanto do ponto de
vista da facilidade e rapidez de acesso ao outro, quanto pela construção de um nível de
intimidade pessoal, as informações sugerem que o fortalecimento das redes de
pesquisa na área de farmácia em Pernambuco possuem no geral forte enraizamento
local.
Não apenas pelo caráter da pesquisa que em alguns momentos necessita
de encontros presenciais, ou nas tomadas de decisões e nas comunicações relevantes
que se fazem pertinentes pessoalmente, pelas trocas de olhares, pelos gestos,
289

sotaques, pelas experiências afortunadas de pesquisa, mas também pela consolidação


de uma estrutura de trabalho comum que só pode ser feita cotidianamente e de certa
forma pessoalmente.
A figura no 29 a seguir, apresenta um esquema simples do que seria parte
da estrutura de trabalho na área de farmácia em Pernambuco, e consequentemente
parte da estrutura de pesquisa em rede na referida área, ela nos demonstra algumas
particularidades que são apresentadas nos resultados anteriormente mencionados.

Figura no 30: Cadeia local de pesquisa em farmácia em rede em Pernambuco.

Fonte: Elaboração própria

Foi notadamente claro que as redes no estado seguem fortemente os


grupos de pesquisa, tendo como resultado os líderes e uma grande quantidade de
estudantes e pesquisadores locais. Os quadrados azuis referem-se aos grupos, e os
círculos vermelhos de um lado aos líderes e de outros os demais pesquisadores
envolvidos.
Diante disso, percebe-se que, os grupos de pesquisa da área no estado em
questão atuam em diversas áreas, como também atuam em segmentos específicos da
pesquisa científica na farmácia, mesmo que alguns deles eventualmente não
colaborem ou tenham pouca colaboração. No processo da produção de um novo
medicamento, por exemplo, deste a pesquisa inicial até sua chegada ao mercado
existe um longo caminho assim como longas etapas que são divididas.
O grupo A formado por seus líderes se conecta a vários pesquisadores
dentro e fora do estado, entretanto, este é especializado, por exemplo, na síntese de
um único tipo de molécula, depois de feito o trabalho de síntese, esta molécula precisa
290

de um tipo especifico de trabalho realizado apenas pelo grupo B formado pelos demais
agentes que o compõe, após esta etapa é repassado para o grupo C para que seja
verificado a eficácia no tratamento de determinadas enfermidades, que por ventura
após esta etapa será repassada para o Grupo D para que este possa verificar a
potencialidade de que esta tem a se agregar a outros princípios ativos para a formação
de um potencial novo fármaco, após esta etapa se segue para o Grupo E, e assim por
diante até que se tenha a possibilidade de inserção no mercado do produto ou que
seja verificada a viabilidade de inserção.
Da mesma forma, existe outra estrutura de trabalho que pode
compreendido pela figura, nele o pesquisador do Grupo A precisa de que o
pesquisador B e C realizem um processo da pesquisa, para que o processo final retorne
e ele possa realizar a parte restante da pesquisa e vice versa. Neste caso, a lógica
apresentada deve ser compreendida como multidimensional.
Neste caso, existe uma cadeia típica da produção de um novo
medicamento que se assemelha muito a boa parte dos tipos de rede que são
montadas, e que em muitos casos, a proximidade tanto do ponto de vista físico quanto
geográfico são fundamentais para que exista uma significativa conexão entre os
diversos agentes para que este pesquisa e dividam os bônus da pesquisa. Neste caso
“estar aqui” é fundamental. Essa dinâmica explicaria também o porque da maioria
esmagadora dos pesquisadores mapeados serem da área de farmácia.
Não que em alguns casos este tipo de processo não seja necessário e
possível ser realizado a distância, entretanto com as restrições anteriores já
mencionadas de contatos presenciais, experiências passadas, proximidade física etc.
Mas o estar aqui potencializa todo o processo e viabiliza maior dinamismo na emissão
e incorporação de feedbacks tanto quanto tomadas de decisões importantes.
Na circunstância apresentada, o fluxo da informação é facilitado: os laços
sociais colocados em posições estratégicas fornecem aos atores informações úteis
sobre oportunidades e escolhas, que, de outra maneira, não estariam disponíveis -
cooperação mútua em uma rede de pesquisa em que os conhecimentos individuais se
unem para somar na construção de competência de todos os demais -
291

Estas relações descritas, da cadeia de trabalho em conjunto que é


tipicamente da área de farmácia e de grade parte da pesquisa em rede em
Pernambuco, faz parte da construção cotidiana de capital social entre estes
pesquisadores que por sua vez emerge emerge como facilitador da cooperação
voluntária: “o capital social diz respeito a características da organização social, como
confiança, normas e sistemas, que contribuam para aumentar a eficiência da
sociedade, facilitando as ações coordenadas” (PUTNAM, 1993, p. 177). “Assim como
outras formas de capital, o capital social é produtivo, possibilitando a realização de
certos objetivos que seriam inalcançáveis se ele não existisse” (COLEMAN, 1990, p.
302).
Desta forma, para Putnam (1993), a dimensão normativa do capital social
emerge das relações sociais; para ele, o capital social refere-se às conexões entre
indivíduos – redes sociais e normas de reciprocidade e confiança que delas emergem –
e surgiria em formas, tamanhos e usos diferentes como: pesquisadores que atuam em
rede devido a proximidade geográfica estabelecida os grupos de pesquisa que fazem
parte.
Mas afinal, quando “estar aqui” mais importa? Quando não se conhece
pessoalmente os demais pesquisadores, suas reputações nem estruturas de trabalho.
Quando se necessita de tomar decisões importantes, delegação de tarefas relevantes.
Quando se está em processo de formação de atuais ou futuros parceiros de pesquisa
(processos de orientação dos mais diversos tipos). Quando se está criando uma
estrutura de trabalho em conjunto por meio de grupos de pesquisas, acesso a
laboratórios e demais sistemas de objetos necessários à pesquisa. Quando se precisa
ou se quer ter acesso rápido, cotidiano, e contínuo aos demais membros ou á própria
pesquisa em si. Quando se necessita de supervisão e/ou orientação nos processo de
trabalho e pesquisa. Quando é necessário “ver o processo de pesquisa” pessoalmente
mais do que “ler sobre o processo de pesquisa”. Quando existem diferenças culturais
nas formas de estrutura de pesquisa que dificultam os processos de trabalho em
conjunto, dadas às particularidades de cada um. Quando se precisa de uma
observação mais contínua para a apreensão de conhecimento tácito. Quando se
precisa de trocas de feedbacks mais rápidos e pontuais com base em erros e acertos
experimentais cotidianos.
292

E quando o “estar aqui” menos importa? Quando já se conhece


pessoalmente o outro pesquisador, já existem experiências de trabalhos passados e
principalmente quando existe sinergia na estrutura de trabalho em comum. Quando já
existe confiança entre ambos e o reconhecimento de retornos profícuos de trabalhos
anteriores para todos. Quando o sotaque, o idioma, fuso horário, as convenções
sociais de trabalho não são tão diferentes. Quando o processo de pesquisa ou a etapa
do processo não necessita da presença do pesquisador, apenas de coordenação
simples e/ou orientação básica. Quando as decisões relevantes são (des)centralizadas
ao ponto de que não exista significativa importância para os demais. Nestes casos, a
mediação eletrônica é possivelmente capaz de substituir os contatos presenciais em
até certo ponto, pois já existe relativa proximidade física entre todos, criada quase que
sempre por meio de longa ou pequena proximidade geográfica cotidiana.
293

Considerações finais
294

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo principal da pesquisa girou em torno da perspectiva de analisar


a importância do espaço geográfico na construção e funcionamento de redes
científicas diante do fomento proporcionado pela Política Nacional de Ciência,
Tecnologia e Inovação em Saúde. As considerações a seguir serão abordadas por meio
de tópicos em reflexo aos objetivos específicos deste trabalho.
Com relação ao objetivo específico de “compreender os argumentos dos
formuladores da PNCTIS para o fomento à pesquisa em rede na saúde”, para que este
campo não fique exaustivo, não trataremos da trajetória política para a construção da
própria PNCTIS, uma vez que já destinamos outras considerações detalhadas a respeito
no docorrer do trabalho. Nos atearemos à lógica aqui considerada mais relevante que
trata da inserção do debate sobre a indução da pesquisa em rede.
A primeira consideração refere-se à percepção de que existe significativa
consonância entre os argumentos destacados na construção da PNCTIS sobre fomento
à pesquisa em rede e a sua indução para a construção destas práticas. Os dados
fornecidos por entrevistas, Ministérios (da saúde, da educação e da ciência, tecnologia
e inovação) e órgãos de fomento, destacam que existe uma clara e inequívoca
concepção de que o trabalho cooperativo em rede proporciona benefícios para além
daqueles trazidos por pesquisadores isolados, uma vez que amplifica as possibilidades
apartir das trocas de experiência entre pesquisadores. Isto foi perceptível, sobretudo
em agências como CAPES, CNPq, e FINEP.
Os dados apresentados mostraram não só o aumento significativo na
quantidade de editais, bolsas e valores pagos nos últimos anos para a pesquisa
científica em rede, como a diversidade de enfoques de atuação para a modalidade. Um
fato importante levantado foi o de que, anteriormente ao ano de 2004, ano e criação
da PNCTIS, não existia nenhuma linha de fomento para esta modalidade no CNPq,
CAPES, FACEPE e FINEP.
A modalidade de pesquisa em rede se estendeu de tal forma, que mesmo
boa parte daqueles editais fomentados que não visavam prioritariamente à pesquisa
científica em rede, passaram a considerar como critério no julgamento de mérito
295

técnico-científico pesquisas que propusessem direta ou indiretamente a construção de


qualquer tipo de parceria para a pesquisa científica em rede.
Embora não tenha sido possível o acesso a informações mais precisas de
outras áreas de conhecimento, uma vez que este não era foco de trabalho, os dados
coletados no CNPq e CAPES sugerem que a proposta da pesquisa em rede tenha sido
incorporada por outras áreas de atuação, a exemplo do CT-Hidro, CT-Amazônia, CT-
Biotec e CT-Agro que aparecem com editais lançados especialmente para projetos
nesta modalidade, além dos próprios editais de encomenda.
O PACTI, por exemplo, no período de 2007-2010 fomentou 439 projetos
modalidade de ampliação e consolidação de redes de cooperação além da construção
dos vários INCTIs em que o próprio objetivo é a construção de institutos conectados
em rede com pesquisadores articulados pelo país. Para termos uma noção mais
expressiva do impacto que a dinâmica do fomento à pesquisa em rede tem
proporcionado no país, no ano de 2010, 56% dos editais lançados no CNPq tinham
como foco principal ou secundário a pesquisa nesta modalidade.
Da mesma forma que há uma relação clara e inequívoca por parte da
PNCTIS quanto aos benefícios da pesquisa em rede e suas ações de fomento, o mesmo
não ocorre quando se trata da compreensão de toda a dinâmica que envolve as redes
em sua totalidade. Mesmo que existam em suas diretrizes perspectivas para a
consideração de diferenciações, na prática o que se observa é pouca compreensão da
imensidão de multiplicidades que envolvem as relações sociais que envolvem a
dinâmica da pesquisa em rede no país. Para colocar estas questões com mais clareza
seguem dois pontos principais a seguir.
O primeiro deles se refere à compreensão ainda equivocada das
dificuldades de se construir uma pesquisa científica em rede, dos desdobramentos
acadêmicos em termos de relações nesta estrutura, das formas de monitorar os
diferentes tipos de pesquisa das diversas áreas da saúde, das particularidades dos
diversos grupos acadêmicos existentes no país, e principalmente das relações nelas
inseridas em longas distâncias. Em outras palavras, das dinâmicas espaciais. O marco
conceitual da política fora construído principalmente com base na noção de que o
simples fomento aliado às mudanças sociais nas comunicações e transportes seria
suficiente na consolidação de redes de pesquisa dos mais diversos tipos que
296

proporcionariam retornos e benefícios para o campo da saúde. Uma concepção


claramente ainda equivocada.
O segundo ponto trata do fato de que a política desconsidera em seu viés
horizontal de fomento, calcado em um único arcabouço analítico, as diferenças
espaciais e as temporalidades existentes nos vários espaços geográficos produzidos
dentro do espaço geográfico brasileiro. Em suma, as informações sugerem que,
mesmo com as poucas exceções dos editais de encomenda, a PNCTIS proporciona a
concepção, mesmo que de forma indireta, de que todos os estados e instituições
possam concorrer como iguais para a aprovação das chamadas. As próprias
conferências que contribuíram para a construção do texto final da PNCTIS ocorreram
predominantemente no Distrito Federal, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul
e pouco incorporaram aos debates as necessidades e dificuldades de outras regiões do
país, mesmo a superação das desigualdades regionais no campo da pesquisa em saúde
entre outros aspectos a serem contemplados pelas diretrizes da política.
Estes dois pontos foram ratificados quando buscamos “verificar os
possíveis desníveis entre projetos aprovados para a pesquisa em rede na área de
farmácia em Pernambuco em relação a outros estados no país”. Neste aspecto,
percebemos um ainda claro atraso científico e tecnológico do estado de Pernambuco
em relação aos grandes centros, muito embora o estado possua significativo lugar de
destaque dentro da região norte e nordeste.
A análise dos resultados deste objetivo pode ser dividida em três pontos
principais: o primeiro deles diz respeito ao fato de que, só recentemente -
diferentemente de estados como São Paulo e Rio de Janeiro - mais precisamente no
ano de 2000, criou-se o plano de interiorização das instituições de ensino e pesquisa
no estado, proposta para diminuir a enorme concentração de agentes na RMR.
O segundo ponto se diz respeito ao fato de que Pernambuco é somente o
8º estado em quantidade de grupos de pesquisa na área de farmácia no país, o estado
de São Paulo, por exemplo, possui 650% mais grupos de pesquisa que Pernambuco.
Estes dados aumentam significativamente ao consideramos linhas de pesquisa,
pesquisadores e estudantes envolvidos.
O terceiro, e principal ponto em relação aos demais, se dá enquanto
resultado da pesquisa empírica dos dados de fomento para a pesquisa em rede: se o
297

espaço geográfico deve ser considerado enquanto contextos históricos e


temporalidades científicas e técnicas, e ao desconsiderar isto, a PNCTIS proporciona a
mesma estrutura de fomento para todo o país, nada provável que tenhamos
resultados diferentes para um país tão diferente.
Desta forma, estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, no
período de 2005 a 2010 aprovaram em torno de 127, 125 e 79 projetos para a
pesquisa em rede respectivamente, enquanto Pernambuco aprovou 43 no mesmo
período. Estes dados ficam mais discrepantes se olharmos outras regiões do país.
Os desníveis de projetos aprovados proporcionam a reprodução de velhas
dinâmicas também para o âmbito da construção de redes de pesquisa, tais como: a)
concentração de maior capital humano articulado nos grandes centros, b)
concentração da maior parte dos fluxos das redes em direção a alguns estados da
região sudeste e sul, c )pouca polarização, possibilidade de articulação e adensamento
das redes e fluos entre todos os estados do país. A tradicional concentração de redes
de infraestrutura em estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas e Rio Grande
desta forma tende a ser reproduzida para a concentração de redes científicas.
Contudo, a política em si, promoveu significatios avanços na maior
articulação da pesquisa em rede em Pernambuco. O mapeamento das redes
proporcionou vislumbrar particularidades importantes: a primeira delas se diz respeito
à pouca comunicação existente entre os grupos/redes existentes no estado antes da
atuação política, as relações concentravam0se quase que totalmente dentro dos
grupos e pouco havia comunicação entre os grupos do ponto de vista de produção de
pesquisas de forma cooperativa.
Após a atuação da PNCTIS o nível de articulação aumentou
significativamente ao ponto de existir poucos grupos com nenhuma articulação
resultante de trabalhos cooperativos. Para termos uma ideia mais precisa do que
estamos falando, a densidade da rede pernambucana que em 2000 era de 2,8% passou
para 14,7% no ano de 2010, embora sejam densidades baixíssimas não há como negar
o aumento do adensamento das relações e redes e consequentemente aumento na
possibilidade de laços criados.
A principal característica da rede pernambucana está no fato de que os
grupos de pesquisa são vitais na construção das relações, aprovação de editais, e
298

orientação das conexões criadas entre os pesquisadores. Desta forma, a maior parte
das relações estão centradas em estruturas que tem os grupos de pesquisa como o
ponto principal. Não é estranho termos observado que os líderes de pesquisa os atores
principais e centrais da rede em ambas as periodizações. Mesmo aqueles atores que
mudaram de posição e conseguiram maior número de laços no decorrer dos anos,
estavam obrigariamente vinculados aos grupos e conectados aos líderes.
Não foram encontradas nenhumas estruturas que fugissem ao “padrão”
acima mencionado. Esta particularidade era esperada devido a maior capacidade dos
grupos de aprovar projetos de pesquisa, deterem objetos necessários à pesquisa, e
servirem como hubs na captação e distribuição de conexões. Existe assim uma lógica
envolta nos grupos de poder e composição de uma proximidade organizacional de
cooperação entre os grupos, e entre os membros dentros dos grupos.
Nas duas periodizações, a rede é maioritariamente composta por
pesquisadores da área de farmácia e é extremamente concentrada na Região
Metropolitana de Recife, só no ano de 2010, 72% os pesquisadores mapeados destes
estavam na cidade, sobre a principal instituição, quase que totalmente concentram-se
na Universidade Federal de Pernambuco, com poucas participações de outras
universidades e/ou pesquisadores de outras cidades no estado. Os fluxos das conexões
internas do país seguem a lógica maioritária Pernambuco para a região Sudeste. Após
a política deve-se ressaltar houve ampliação, mesmo que pequeno na construção de
redes internacionais.
Ainda sobre os avanços proporcionados pela PNCTIS, ao verificarmos se “a
PNCTIS tem estimulado o aumento na formação de redes científicas, no número de
pesquisadores trabalhando em rede, e na produção de conhecimento na área de
farmácia em Pernambuco” percebeu-se que houve significativo aumento no número
de trabalhos publicados em base de dados, 10% aproximadamente ao ano. De forma
semelhante, houve também aumento no número de pesquisadores trabalhando em
rede, em torno de 15% ao ano.
A concentração na RMR não se dá de forma ocasional, ela é resultado da
concentração das instituições de ensino e pesquisa na capital do estado, além da
necessidade de ainda se trabalhar com pesquisadores que estão próximos
geograficamente com o intuito de melhorar as relações e otimizar os resultados. Ao
299

investigarmos “quão relevante é a proximidade geográfica para aqueles que cooperam


em rede, tomando como base a área de farmácia e os pesquisadores pernambucanos”
percebemos que, a proximidade geográfica, tanto do ponto de vista de acesso
cotidiano em termos de distância, quanto do ponto de vista de proximidade física
construída cotidianamente pelo compartilhamento de signos, códigos, linguagens e
experiências, é considerada ainda relevante para os pesquisadores que atuam na área
de farmácia.
Embora alguns pesquisadores considerem que trabalhar a distância possa
ser uma possibilidade até certo ponto, é inegável a preferência por trabalhar com
quem está próximo. Neste caso, a maioria dos pesquisadores considera que, com
pesquisadores conhecidos, em que já existe experiência de trabalhos cooperativos
positivos anteriores, é mais profícuo do ponto de vista de atuação em rede. Desta
forma, o “estar aqui” faz parte do exercício de confiança, da potencialização do
trabalho, da criação de uma sinergia de atuação cooperativa, que resulta na
construção de uma proximidade ou estrutura organizacional de atuação acadêmica
que proporciona maior dinamismo e retorno para todos.
Mais do que uma questão proximidade em termos de distância ou física, a
pesquisa em farmácia exige significativa cooperação e concordância para aqueles que
atuam. Em outras palavras, a pesquisa característica necessita de que os agentes
estejam atuando cotidianamente, isso proporciona maior aprendizado, maior
existência de feedbacks e maios capacidade de trocas e capacitação profissional que é
difícil, em alguns casos a longas distâncias. Mesmo que em determinados momentos
de experimentos não exijam a presença de todos os membros, a supervisão, a tomada
de decisões é mais propensa a ser facilitada face a face.
Ao pesquisarmos “se mesmo com o advento das tecnologias informacionais
e comunicacionais, o contato face a face ainda é relevante em algum momento da
construção ou funcionamento da pesquisa científica em rede na área de farmácia em
Pernambuco” verificamos que a grande maioria dos pesquisadores acha relevante a
comunicação presencial face a face, sobretudo em momentos de tomada de decisões.
Sobretudo em situações em que não se conhece pessoalmente nem a reputação do
outro pesquisador, ou mesmo a forma de trabalho.
300

Para eles a mediação eletrônica, facilita, potencializa, mas de maneira


alguma substitui a presencialiade. E para tal o contato presencial face a face seria
importante em pelo menos um momento da pesquisa científica em rede. Para os
autores o contato face a face é mais importante até do que conhecer o pesquisador
pessoalmente com que se coopera. Para eles, todo o contexto da pesquisa na área de
farmácia é melhor quando realizado de forma próxima e presencial.
Dentro desse universo, os pesquisadores consideram a presencialidade, o
contato face a face, a experiência de trabalhos anteriores significativamente
importantes para se construir e de se tralhar em rede. A valorização de experiências
conjuntas e o compartilhamento de ações e estruturas de trabalho comum se mostra
presente quando os pesquisadores consideram a proximidade física importante até
mais que a geográfica. Muito embora um alto número destes coloca esta como ainda
fundamental.
Para concluir, as redes, assim como assinala Moreira (2010) permitem
recortar, reorganizar, produzir e conectar os diversos espaços geográficos existentes.
Daí sua colocação em que considera as redes o espaço móvel e integrado. Claro que
para o caso do autor, ele se refere mais as redes de infraestrutura, do que as redes
sociais propriamente ditas, muito embora, a finalidade, como destacado no trabalho
sejam as mesmas: circular, conectar, comunicar, transportar.
Mas as redes, em suas mais diversas denotações, tipos, metáforas e
caracterizações devem ser pensadas, enquanto meios, enquanto mecanismos, e não
como fim. O fim é, e sempre será o espaço geográfico. O palco fundamental e principal
das práticas e transformações. É no espaço geográfico que elas, as redes, estão e são
construídas. Elas são produto e ao mesmo tempo produtoras dele. E neste caso, o
espaço geográfico importa, sim.
O advento tecnológico e toda sua interconexão que resulta no que é
considerado ciberespaço, é a base material para a constituição da nova estrutura e
perspectiva das redes, e como tal ele é o veículo para que se conectem vários espaços,
e não para que se crie um. Pelo menos não um que seja o lócus principal e
fundamental de reprodução das relações sociais e existência humana. Ele é assim, mais
um dos componentes que promovem o atual meio técnico-científico-informacional.
301

Da condição de um espaço digital e de fluxos permeado pela junção da


internet e demais tecnologias de informação, processamento e comunicação, destaca-
se a cada vez mais dependente de estrutura tecnológica fixa, formada por conjunto de
cabos de fibra ótica ou telefone, pontos de presença, pontos de acesso de backbones,
ligados a várias redes LAN ou a um único computador que permite os fluxos de bytes.
Ter acesso ao ciberespaço depende, afinal, de uma infraestrutura que, no caráter
de rede técnica, pouco difere de outras como a viária, de água, esgoto ou drenagem: é
formada também por uma trama de nós e linhas, pela qual é possibilitada a circulação
de algo que se quer distribuir.
Ou seja, a imaterialidade e fluidez existente no ciberespaço só existem em
face da materialidade existente no espaço geográfico; ela depende exclusivamente dos
objetos fixos e móveis para sua própria existência. Servidores que armazenam dados
de virtualidades são fisicamente construídos, verdadeiros sistemas de objetos de
informação estrategicamente montados para atender esta demanda.
Uma parte significativa dos fluxos promovidos no ciberespaço,
dependendo do objetivo ou da intencionalidade, tende a seguir a mesma lógica dos
fluxos humanos encontrados e realizados nas rugosidades do espaço geográfico.
Assim, boa parte das perspectivas comunicacionais e informacionais seguem uma
lógica estabelecida no espaço geográfico produzido cotidianamente que não deve ser
negligenciada em face da atual fluidez comunicacional.
Mas então, há um espaço digital e de fluxos, assim como há um espaço
geográfico? Consisderamos que não. Assim como aponta Santos (1994, 1996),
devemos nos lembrar de que a realidade do espaço geográfico supõe trabalho, ou
produção, por isso ele não é apenas material ou físico ele é também relacional, e está
sempre ganhando novas definições substantivas com as mudanças sociais, que são
nada mais, nada menos que os desdobramentos espaciais.
O trabalho que o espaço supõe deve ser encarado, portanto, como sempre
multidimensional, o ciberespaço assim, em si não seria trabalho, nem seria habitado e
produzido por aqueles que o constroem. Ele é assim, apenas a condição de trabalho, a
perspectiva, a possibilidade, um mecanismo. Ele permite comunicar, conectar, enviar,
circular o resultado de um trabalho ou parte de seu processo de um trabalho real,
palpável sobre múltiplas formas. Contudo, ele apenas autoriza o trabalho, o permite, o
302

viabiliza, mas não o constitui. Portanto, ele não pode exclusivamente ser o condutor
principal da questão em torno das redes científicas, e não deve ser considerado de
nenhuma forma como o principal elemento dinamizador destas.
Elas, as redes científicas, redes sociais por excelência, potencializadas no
seio da revolução tecnológica, não só permitem a conexão entre pessoas, mas também
entre espaços. Nas contingências simultâneas, enquanto veículos de multiplicidade
elas sim, produzem espaço. Para tal, existe sim, um espaço das redes, ou pelo menos
produzido por elas. Este espaço é real e vital, e é resultado e ao mesmo tempo
mecanismo para a produção de trabalho.
A PNCTIS ao incentivar a construção de redes em si não produz ou constitui
espaço, nem o define. Ela é um mecanismo de incentivo, potencialização, facilitação,
um veículo facilitador na formação de relações que produzem trabalho e produzem o
espaço. Se ela o definisse teríamos espaços construídos em acordo com o que a
política espera, o que na prátia não temos. Aqueles que produzem o espaço, direta ou
indiretamente são os agentes que se integram, e se conectam, que trabalham, que
produzem. A PNCTIS se constitui neste caso em um elemento dentro deste sistema de
sistemas, um elemento de multiplicidade, extremamente relevante, não há dúvidas.
Mas então que tipo de espaço as redes científicas formam, ou que tipo de
espaço a PNCTIS contribuiu para a criação em Pernambuco? Um espaço geográfico
voltado para a produção de conhecimento, o burburinho da pesquisa científica
articulada, estabelecido pela vizinhança das redes, pela proximidade física e grupos de
pesquisa. Um espaço calcado nestas definições e dinâmicas em que os objetos e as
ações como tal, seguem esta lógica.
Que tipo de espaço então, é criado no ciberespaço? Neste caso,
consideramos que o espaço criado em meio aos fluxos via ciberespaço é um reflexo do
espaço cotidiano, do espaço produzido em muitas vezes presencialmente. A tecnologia
permite assim uma projeção do espaço geográfico “físico”, “palpável” apenas com
dinâmicas e temporalidades novas. Os contatos presenciais, por exemplo, são
meramente agilizados, potencializados, tornados mais rápidos nesta dinâmica.
Se existe um espaço geográfico Pernambuco, existe sim, dentro deste
espaço outro espaço ou outro sistema, o espaço da pesquisa e produção de
conhecimento na área de farmácia. Produzido e concentrado na Região Metropolitana
303

de Recife, e na Universidade Federal de Pernambuco. Dentro deste sistema de


sistemas, temos os laboratórios, equipamentos, salas, infraestrutura diversas,
centrífugas, tubos de ensaio, refrigeradores, seringas, programas enquanto sistemas
de objetos e, socializações cotidianas, delegações de tarefas, transferência de
conhecimentos, trocas, orientações, cooperação, análises, sínteses, a troca enquanto
sistemas de ações.
Um espaço em que o local é extremamente relevante, determinante e até
mesmo concentrador. Nele, o contato face a face alimenta a possibilidade de trocas,
aprendizagens, proximidade, maior possibilidade de compreensão, entendimento, e
retorno de feedbacks entre os agentes. Sua construção é um exercício diário de
trabalho, linguagens, confiança e cooperação mútua. A construção de proximidade da
mesma forma que a formação profissional, é lenta e cotidiana exigindo exercícios
diários de socialização.
A proximidade cotidiana e as experiências de trabalhos proporcionados por
pesquisas realizadas são em muitos casos pré-requisito para a inserção em novas redes
ou a permanência em antigas, sejam aquelas perto geograficamente ou mesmo
aquelas distantes. Os principais agentes coordenadores e estruturas de apoio são os
líderes de pesquisa e os grupos de pesquisas da área, estes elementos são os
responsáveis pelo maior fluxo de dinamização de contatos, informação, infraestrutura
e recursos.
Um espaço que, assim como todos os outros, aponta para o fato de que a
história importa, sim. Importa enquanto temporalidades, enquanto desníveis,
enquanto contextos, enquanto trocas, enquanto necessidades, enquanto práticas.
Estas multiplicidades é que resultam na maior valorização de contatos presenciais em
detrimento dos virtuais. Que permitem que os pesquisadores prefiram trabalhar com
quem está próximo geograficamente em detrimento quem está longe sob as diversas
formas. E se o espaço é o reflexo das sociedades, ele – enquanto proximidade
geográfica, física, contextos históricos, contatos face a face, construção de relações de
confiança... - importa sim. E deve ser sempre considerado, passível de análise e
reflexão.
Devemos considerar enquanto primeira limitação de nosso trabalho, o
grande universo de debates conceituais que envolvem todos os aspectos que
304

envolvem a dinâmica aqui pesquisada. Pela sua dimensão, reconhecemos que este
instrumento científico sempre será incompleto, imperfeito.
Outra questão relevante se diz respeito à falta de uma base de dados
consolidada brasileira que possa proporcionar um recorte mais próximo do real. Sua
falta sempre proporcionará pesquisas baseadas em pequenos recortes que sempre
proporcionarão uma visão, ainda que importante, mas subdimensionada dos fatos
existentes.
Por fim, a relutância de parte dos pesquisadores brasileiros em responder a
questionários. A relutância torna-se maior quando o questionário procura apreender
mais informações, mais detalhes. Neste caso, optamos por um questionário mais
sucinto e direto para que facilitasse a proximação com os pesquisadores, e nesta
particularidade, pode ter havido perda de informações significativamente relevantes.
É imprescindível como sugestão para melhorias na PNCTIS a realização de
uma análise de como é a dinâmica da cooperação em rede realizada por cada área do
conhecimento contemplada pela política em cada estado e região do país. A divisão da
análise por escalas de atuação, da mesma forma que a divisão do fomento por esta
mesma metodologia.
A partir do reconhecimento da dinâmica da pesquisa em rede, por área e
região, se permitirá criar editais específicos, direcionados para atender a demandas
diferenciadas no país, ou mesmo cotas regionais para a pesquisa científica em rede. E
este reconhecimento e análise local só pode ser feita com base na reconstrução
histórica do espaço geográfico local. Afinal, se existe uma realidade hoje, ela não
surgiu como uma abiogênese, ela é fruto de temporalidades, de contextos que são
construídos historicamente e que explicam muito do que encontramos hoje.
Para encerramos, sugerimos como pesquisas futuras, estudos q
considerem a dinâmica espacial na construção da confiança e de capital social entre
pesquisadores que atuam em rede na área de farmácia. Consideramos relevante
também a verificação de como ocorre a questão da proximidade e do contato face a
face na pesquisa em rede em outras áreas do conhecimento, em especial as áreas da
saúde.
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322

ANEXOS

Anexo nº 1: Questionário A

Universidade Federal de Pernambuco

Centro de Filosofia e Ciências Humanas


Departamento de Ciências Geográficas
Programa de Pós-Graduação em Geografia

Questionário

Título da pesquisa:

A importância do espaço geográfico na construção e funcionamento de redes


científicas fomentadas pela PNCTIS na área de farmácia em Pernambuco.

Allison Bezerra Oliveira


Doutorando em Geografia – UFPE
e-mail: allisonbzr@gmail.com

Ana Cristina de Almeida Fernandes


Orientadora
Professora do Departamento de Ciências Geográfica – UFPE

IDENTIFICAÇÃO DO ENTREVISTADO
Nome:
Cargo:
Instituição e cargo que ocupa:
E-mail:
As perguntas tratam da criação da Política Nacional de Ciência, Tecnologia, Inovação
em Saúde (PNCTIS) e o seu fomento à pesquisa em rede.

1ª - Em 10 de junho de 2002, foi publicada a Portaria nº 16 do Ministério da Saúde que


instituiu um Grupo de Trabalho encarregado de elaborar o documento preliminar da
323

PNCTIS. Qual foi importância da criação desse grupo? Quais foram os resultados
advindos dele?

2ª – Quais as motivações para a construção da PNCTIS?

3ª – Quais as dificuldades para se implementar a PNCTIS de forma que esta alcance os


objetivos esperados?

4ª – Qual a importância do DECIT para a formulação da PNCTIS, e o fomento à pesquisa


em rede no país?

5ª – Em sua opinião, qual a importância da pesquisa em rede para o desenvolvimento


da área de saúde no Brasil?

6ª – No parágrafo 63 do texto da PNCTIS, destaca-se a necessidade de esforços no


sentido da ampliação na formação de redes de pesquisa nos países da América Latina,
África, Europa, Ásia, além do próprio Brasil internamente. Como é pensada a
construção, a manutenção e a própria pesquisa científica em uma estrutura em rede
por parte da política em questão, quando se tem pesquisadores dispostos tão
distantes geograficamente?

7ª – No parágrafo 64 do texto da PNCTIS, destaca-se a necessidade de se incentivar a


articulação interinstitucional em rede entre centros mais desenvolvidos e menos
desenvolvidos. Como pensar a construção e o fortalecimento de redes de pesquisa
quando o Brasil possui enormes diferenças regionais, por exemplo, em termos de
distribuição de massa crítica, de infraestrutura dos centros de pesquisas?

8ª – Em sua opinião quais principais obstáculos na criação e consolidação de redes de


pesquisa no país em face do fomento da PNCTIS?

9ª – Como você observa a importância dos INCTs na articulação de redes de pesquisa


científica pelo país?

10ª – Quais resultados até agora alcançados pela PNCTIS? Em sua opinião, a Política
tem atingido os objetivos esperados?

11ª – Existem mecanismos de monitoramento dos resultados da PNCTIS? Quais?

12ª – Que ajustes na política poderiam ser feitos considerando a pesquisa em rede?
324

Anexo 2: Questionário B

Universidade Federal de Pernambuco

Centro de Filosofia e Ciências Humanas


Departamento de Ciências Geográficas
Programa de Pós-Graduação em Geografia

Questionário

Título da pesquisa:

A importância do espaço geográfico na construção e funcionamento de redes


científicas fomentadas pela PNCTIS na área de farmácia em Pernambuco.

Allison Bezerra Oliveira


Doutorando em Geografia – UFPE
allisonbzr@gmail.com

Ana Cristina de Almeida Fernandes


Orientadora
Professora do Departamento de Ciências Geográfica – UFPE

IDENTIFICAÇÃO DO ENTREVISTADO
Nome: Cargo:
Instituição e cargo que ocupa:
E-mail:

1. Em sua opinião, pesquisar em rede realmente potencializa a produção de


resultados na área de farmácia?
( ) Sim
( ) Não
325

[Espaço para Comentários]

2. De modo geral, para a área da farmácia, pesquisar de forma cooperativa é


melhor?
( ) Sim
( ) Não
[Espaço para Comentários]

3. A cooperação internacional entre pernambucanos e pesquisadores estrangeiros


na área de farmácia ainda é pequena. Em sua opinião a que se deve isso? Quais
os maiores obstáculos para o aumento nestas relações?
[Espaço para Comentários]

4. Você já iniciou alguma pesquisa científica em rede em que não conhecia


pessoalmente o(s) outro(s) membros(s)?
( ) Sim
( ) Não
[Espaço para Comentários]

5. Para você, conhecer o pesquisador pessoalmente é importante etapa na


construção de uma parceria cooperativa em rede?
( ) Sim
( ) Não
[Espaço para Comentários]

6. Já ter trabalhado anteriormente com outro pesquisador é fator relevante na


hora de se montar uma nova parceria para pesquisa científica?
( ) Sim
( ) Não
[Espaço para Comentários]
326

7. A relação orientador(a) & (ex)orientando é importante elo na construção de


parcerias para a pesquisa em rede?
( ) Sim
( ) Não
( ) Irrelevante
[Espaço para Comentários]

8. a pesquisa científica em rede na área de farmácia, é possivel realizar todo o


processo de pesquisa sem que haja encontros presenciais entre os membros?
( ) Sim
( ) Não
[Espaço para Comentários]

9. Para os casos em que os pesquisadores encontram-se distantes


geograficamente. Você considera importante a existência de pelo menos um
encontro presencial em algum momento de uma pesquisa cooperativa?
( ) Sim
( ) Não
[Espaço para Comentários]

10. Você considera que a comunicação eletrônica e todas as perspectiva por ela
proporicionadas (e-mail, telefone, web conferências etc) possam ser um
substituto eficaz para a comunicação presencial em uma pesquisa científica em
rede na área de farmácia?
( ) Sim
( ) Não
[Espaço para Comentários]

11. Na pesquisa científica em rede na área de farmácia, cooperar com quem está
próximo geográficamente é melhor para otimização do trabalho em conjunto e
consequentemente dos resultados?
( ) Sim
327

( ) Não
( ) Irrelevante
[Espaço para Comentários]

12. Você considera a proximidade física como importante facilitadora na


construção e realização de uma pesquisa científica em rede na área de
farmácia?
( ) Sim
( ) Não
( ) Irrelevante
[Espaço para Comentários]
328

Anexo nº 3: Lista de pesquisadores mapeados e sua numeração na rede


em 2000

Líder Instituição Pesquisador Nº


Sim UFPE ROLIM NETO, P.J. 1
UFPE NUNES, R.S. 2
Sim UFPE ALBUQUERQUE, U.P. 3
UFPE XAVIER, H.S. 4
Sim UFPE SANTANA, D.P. 5
Sim UFPE PISCIOTTANO, M.N.C. 6
Sim UFPE MAGALHÃES, N. S. 7
UFPE PONTES, A. 8
UFPE PEREIRA, V. W. 9
UFPE PEREIRA, S. 10
UFPE SILVA, A. 11
Sim UFPE GALDINO, S.L. 12
Sim UFPE LEITE, L.F.C. da C. 13
UFRJ BARREIRO, E.J.L. 14
UFPE RAMOS, M.N. 15
UFPE SILVA, J.B.P. 16
Sim UFPE PITTA, I. da R. 17
UFOP GUARDA, V.L. de M. 18
Université Joseph-Fourier -
França PERRISSIN, M. 19
Université Joseph-Fourier -
França THOMASSON, F. 20
UFPE XIMENES, E.C.P.A. 21
Université Joseph-Fourier -
França LUU-DUC, C. 22
Sim UFPE BRONDANI, D. J. 23
UFPE VIEIRA, R.F.F. 24
UFPE FARIA, A.R. 25
Sim UFPE WANDERLEY, A.G. 26
UFPE AFIATPOUR, P. 27
UFPE SRIVASTAVA, R.M. 28
UFPE XIMENES, E.C.P.A. 29
UNICAMP OLIVEIRA, C.F. 30
UNICAMP MEDEIROS, M.V. 31
UNICAMP ANTUNES, E. 32
Sim UFPE LEITE, A.C. 33
UFPE SOUZA, J.M. 34
UFPE MAIOR, R.M.S. 35
UFPE AZEVEDO, W.M. 36
Sim UFPE HERNANDES, M.Z. 37
UFPB FELIX, L.A. 38
UFPB OLIVEIRA, C.A.F. 39
329

UFPB KROSS, R.K. 40


UFPB PEPPE, C. 41
Uni. of Windsor - Canadá BROWN, M.A. 42
Uni. of Windsor - Canadá TUCK, D.G. 43
UFSCar LONGO, E. 44
UFSCar SENSATO, F.R. 45
Sim UFPE PAIM, A.P.S. 46
USP REIS, B. F 47
Sim UFPE SANTOS, B.S. 48
UFPE DONEGÁ, C.M. 49
UFPE PEREIRA, G.A.L. 50
UFPE PETROV, D.V. 51
Sim UFPE ALVES, A.J. 52
UFPE PEREZ, E.P. 53
UFPE TEODÓSIO, N.R. 54
UFPE ALVES, A. 55
UFPE DIMENSTEIN, W. 56
UFPE GUEDES, R.C.A. 57
UFPE LAFAYETTE, S.S.L. 58
UFRJ QUINTAS, L.E. 59
UNIFESP CARICATI NETO, A. 60
UNIFESP JURKIEWICZ, A. 61
UFRJ NOEL, F. 62
Sim UFPE SANTOS-MAGALHÃES, N.S. 63
UFPE LARSSON, P.O. 64
UFPE ANDERSON, A. 65
Uni. Paris BASZKIN, A. 66
Uni. Paris BOISSONNADE, M.M. 67
UFPE CARVALHO JÚNIOR, L.B. 68
UFPE CORREIA, M.T.S. 69
UFPE COELHO, L.C.B.B. 70
330

Anexo nº 4: Lista de pesquisadores mapeados e sua numeração na rede


em 2010

Líder Instituição Pesquisador Nº


Sim UFPE ROLIM NETO, P.J. 1
UFPE SOARES-SOBRINHO, J.L. 2
UFPE LA ROCA SOARES, M.F. 3
Uni. Santiago de Compostela - Espanha TORRES-LABANDEIRA, J. J. 4
UFPE LOPES, P.Q. 5
UFPE CORREIA, L.P. 6
UFPB SOUZA, F.S. 7
UFPB MACÊDO, R.O. 8
UFPE LYRA, M.M.A. 9
UFPE ALVES, L.D.S. 10
UFPE FONTES, D.A.F. 11
UFPE PRESMICH, G.M.A. 12
UFPE ROLIM, L.A. 13
UFPE CAVALCANTI, O.R.B.R. 14
UFPE SILVA, K.E.R. 15
UFPE SOARES, M.F.L.R. 16
UFPE GRANJEIRO JUNIOR, S. 17
UFPE ALVES, L.D.S. 18
UFPE MEDEIROS, F.P.M. 19
sim UFPE ALBUQUERQUE, M. M. 20
UFPE CÂMARA, A.C. 21
UFPE AGUIAR, C.M. 22
UFPE PIMENTEL, M.F. 23
UFPE SILVA, R.H. 24
UFPE SIMOES, S.S. 25
Sim UFPE SANTANA, D.P. 26
UFPE SILVA, J. A. 27
UFPE BEDOR, D.C.G. 28
UFRN DAMASCENO, B.P.G. 29
UFPE OLIVEIRA, A.G. 30
UFRN EGITO, E.S.T. 31
UFPE SOUZA FILHO, J.H. 32
UFPE BONIFACIO, F.N. 33
UFPE RAMOS, V.L. 34
UFPE SOUZA, C. E. M. 35
UFPE SARDON, L.L.F. 36
UFPE MOTA, T. G. 37
UFPE MOREIRA R.C.D. 38
UFPE LEAL, L.B. 39
Sim UFPE PISCIOTTANO, M.N.C. 40
UFPE SARAIVA, A.M. 41
UFPE CASTRO, R.H.A. 42
331

UFPE CORDEIRO, R.P. 43


UFPE PEIXOTO SOBRINHO, T.J. 44
UFPE CASTRO, V.T.N.A. 45
UFPE XAVIER, H.S. 46
Sim UFPE AMORIM, E.L.C. 47
sim UFPE WANDERLEY, A.G. 48
UFPE VASCONCELOS, C.F.B. 49
UFPE MARANHÃO, H.M.L. 50
UFPE BATISTA, T.M. 51
UFPE FERREIRA, F. 52
UFPE COSTA, J. 53
UFPE SOARES, L.A.L. 54
UFPE SÁ,M.D.C. 55
UFPE SOUZA,T.P. 56
UFPE CALDAS, G.F.R 57
UFPE COSTA, I.M.A. 58
UFPE SILVA, J.B.R. 59
UFPE NÓBREGA, R.F. 60
UFC RODRIGUES, F.F.G 61
UFC COSTA, J.G.M. 62
UFPE SILVA, M.G.B. 63
UFPE ARAGÃO, T.P. 64
UFPE FERREIRA, P.A. 65
UFPE ANDRADE, B.A. 66
UFPE COSTA-SILVA, J.H. 67
Sim UFPE LAFAYETTE, S.S. 68
Sim UFPE MAIA, M.B.S. 69
UFPE PEREIRA, E.C.G. 70
UFPE SILVA, N.H. 71
UFPE SANTOS, R.A. 72
UFPE SUDARIO, A.P.P. 73
UFPE SILVA, A.A.R. 74
Sim UFPE ALBUQUERQUE, U. P. 75
UFPE MELO, J.G. 76
UFPE ARAÚJO, T.A. de S. 77
UFPE CABRAL, D.L.V. 78
UFPE RODRIGUES, M.D. 79
UFPE NASCIMENTO, S. 80
UFRPE MONTEIRO, J.M. 81
UFRPE LIMA, E.A. 82
UFRPE ALENCAR, N.L. 83
UFPE GOMES, T. 84
UFPE CARDOSO, K. 85
UFPE ALMEIDA, C. de F.C.B.R. 86
UFPE RAMOS, M.A. 87
UFRPE FERREIRA JUNIOR, W.S. 88
332

UFPE CRUZ, M.P. 89


UFPI VIEIRA, F.J. 90
UFPE SOLDATI, G.T. 91
UFC CARTAXO, S.L. 92
UFPE SOUZA, M.M.A. 93
UFRPE LINS NETO, E.M.de F. 94
UFSC PERONI, N 95
UFPE SILVA, T.C. 96
UFRPE MEDEIROS, P.M. de 97
Sim UFPE GALDINO, S.L. 98
Sim UFPE PITTA, I. da R. 99
Sim UFPE LIMA, M. do C. A. de 100
UFPE MENDONÇA-JUNIOR, F.J.B. 101
UFPE SOUZA, A.M.A. de 102
UFPE WALFRIDO, S.T.P. 103
Sim UFPE LEITE, A.C.L. 104
UFPB BARBOSA FILHO, J.M. 105
UFAL SIMONE, C.A. de 106
UFPE BARROS, C.D. 107
UnB AMATO, A.A. 108
UFPE OLIVEIRA, T.B. de 109
UnB IANNINI, K.B.R. 110
UFPE SILVA, A.L. da 111
UFPE SILVA, T.G. da 112
UFPE LEITE, E.S. 113
Sim UFPE HERNANDES, M.Z. 114
UnB ROCHA-NEVES, F.de A. 115
UFPE NEVES, J.K.A.L. 116
UFPE BOTELHO, S.P.S. 117
UFPE MELO, C.M.L. de 118
UFPE ALBUQUERQUE, M.C.P. de A. 119
UFPE PITTA, M.G. da R. 120
UFPE ROCHA-PITTA, M.G. da 121
UFPE BENKO-ISEPPON, A.M. 122
UFPE CALSA-JÚNIOR, T. 123
UFPE KIDO, E.A. 124
UFPE TOSSI, A. 125
UFPE BELARMINO, L.C. 126
UFPE CROVELLA, S. 127
UFPE COUTO, J.A. 128
Aggeu Magalhãoes/FIOCRUZ SARAIVA, K.L.A. 129
UFPE UDRISAR, D.P. 130
UFPE PEIXOTO, C.A. 131
UFPE VIEIRA, J.S.B.C. 132
UFPE LIMAR, M.C. 133
UFPE WANDERLEY, M.I. 134
333

UFRJ TAKASHI-SUDO, R. 135


UFRJ CALAZANS-MAIA, J. de A. 136
UFRJ ZAPATA-SUDO, G. 137
UFPE UCHÔA, F. de T. 138
UFRS PALMA, E.C. 139
UFRS SOUZA, N.F. 140
UFRS DALLA COSTA, T.C.T. 141
UFPE RABELLO, M.M. 142
UFPE CARDOSO, M.V.O. 143
UFPE MOREIRA, D.R.M. 144
Aggeu Magalhãoes/FIOCRUZ REIS, L.C. 145
Aggeu Magalhãoes/FIOCRUZ SOUZA, M.A. 146
Aggeu Magalhãoes/FIOCRUZ PEREIRA, V.R.A. 147
Uni.of California-USA FERREIRA, R.S. 148
Uni.of California-USA MCKERROW, J.H. 149
Sim UFPE BRONDANI 150
Jamia Millia Islamia – Índia BAHL, D. 151
Jamia Millia Islamia – Índia ATHAR, F. 152
Oswaldo Cruz – BA SOARES, M.B.P 153
Oswaldo Cruz – BA DE SÁ, M.S. 154
UFPE SRIVASTAVA, R.M. 155
Jamia Millia Islamia – Índia AZAM, A. 156
UFPE PONTES, F.J.S. 157
UFPE COELHO, L.C.D. 158
UFC PESSOA, C. 159
UFC FERREIRA, P.M.P. 160
UFC LOTUFO, L.V.C 161
UFC De MORAES, M.O 162
UFPE CAVALCANTI, S.M.T. 163
UFPE COSTA, V.M.A. 164
UFPE SOUZA, V.M.O 165
Faculté des Sciences Dhar Mehraz -
Marrocos MESKINI, I. 166
Université de Rennes – França TOUPET, L. 167
Université de Rennes – França DAOUDI, M. 168
Université de Rennes – França KERBAL, A. 169
Faculté des Sciences Dhar Mehraz -
Marrocos BENNANI, B. 170
Université de Rennes – França DIXNEUF, P.H. 171
Bahauddin Zakariya University - Paquistão CHOHAN, Z.H. 172
Bahauddin Zakariya University - Paquistão HADDA, T.B. 173
PUC-RS DE AZEVEDO JUNIOR, W.F. 174
Sim UFPE PAIXÃO, J.A. 175
UFPE LIMA, M.S. 176
UFPE PAIXA, E.P. 177
UFPE ANDRADE, S.A.C. 178
Sim UFPE PAIM, A.P.S. 179
UFPE SILVA, F.S.V.C.B. 180
334

UFRPE LAVORANTE, A.F. 181


UFPE SILVA, M.J. 182
Uni. de Valencia-Espanha CERVERA, M.L. 183
Uni. de Valencia-Espanha GUARDIA, M.L. 184
UFPE SILVA, J.J. 185
UFPE ANDRADE, M.F. 186
UFPE SILVA, V.L. 187
Uni. de Porto - Portugal MONTENEGRO, M.C.B. 188
Uni. de Porto - Portugal ARAUJO, A.N. 189
UFPE LIRA, LF.B. 190
UFPE VASCONCELOS, F.V.C. 191
UFPB PEREIRA, C.F. 192
UFPE STRAGEVITCH, L. 193
Sim UFPE SANTOS, B.S. 194
UFPE SILVA, D.C.N 195
UFPE FERNANDES, H.P. 196
UFPE JOVINO, C.N 197
UFPE MARCELINO FILHO, M. 198
UFPE MARTINS FILHO, A.F. 199
UFPE OLIVEIRA, A.D.P.R. 200
UFPE FARIAS, P.M.A. de 201
UNICAMP CESAR, C.L 202
UFPE BARJAS-CASTRO, M.L. 203
UFPE FONTES, A. 204
UFPE CHAVES, C.R. 205
UNICAMP ALMEIDA, D.B. 206
UFPE ANDRADE, J.J 207
UFPE BRASIL JÚNIOR, A.G. 208
UFPE BARBOSA, B.J.A.P. 209
UFPE AZEVEDO FILHO, C.A. de 210
UFPE LIRA, R.B. 211
UFPE SALES NETO, A.T. 212
UFPE CARVALHO, K.H.G. 213
UFPE TENORIO, D.P.L.A. 214
UFPE CABRAL FILHO, P.E. 215
UFPE CAVALCANTI, M.B. 216
UFPE AMARAL, A. 217
Sim UFPE ALVES, A.J. 218
UFRPE LIESEN, A. P 219
UFPE AQUINO, T. M. 220
UENF-RJ CARVALHO, C.S. 221
UFPE LIMA, V.T. 222
UFPE ARAUJO, J.M. 223
UFPE LIMA, J.G. 224
UFPE FARIA, A.R. 225
UENF-RJ MELO, E.J.T. 226
335

UFPE GOÉS, A.J.S. 227


IMIP ALVES, A.Q. 228
USP POSTIGO, M.P. 229
USP GUIDO, R.V.C. 230
USP OLIVA, G. 231
USP CASTILHO, M.S. 232
UFPE DE ALBUQUERQUE, J.F.C. 233
UFPE ANDRICOPULO, A.D. 234
UFPE ORTEGA, LF. 235
UFPE DA SILVA, J.C.P. 236
UFPE DA SILVA, S.S. 237
UFPE FRAGA, M.C.C.A. 238
Sim UFPE RODRIGUES, M.C.A 239
USP ROSSETTI, F. 240
USP DE OLIVEIRA, J.A.C. 241
USP GARCIA-CAIRASCO,N. 242
UFPE LUNA. D.M.N 243
UFPE FALCÃO, E.P.S. 244
Sim UFPE MELO, S.L 245
UFPE ANRADE, C.A.S 246
Sim UFPE SANTOS-MAGALHÃES, N.S. 247
Uni. de Dundee – Escócia O'NEILL, M.A. 248
UFRPE/Uni. de Dundee - Escócia MEYER, M. 249
Uni. de Dundee – Escócia MURRAY, K.E. 250
UFPE ROLIM-SANTOS, H.M.L. 251
Uni. de Dundee – Escócia THOMPSON, A.M. 252
Uni. de Dundee – Escócia APPLEYARD, V.C.L. 253
UFPE NASCIMENTO FILHO, J.M. 254
UFPE MELO, C. P. de 255
UFPE ROSILIO, V. 256
UFRN MACIEL, M.A.M. 257
UFPE ANDRADE, C.A.S. 258
UFOP MOSQUEIRA, V. C. F. 259
1

Anexo nº 5: Rede científica da área de farmácia em Pernambuco em 2000


2

Anexo nº 6: Rede científica da área de farmácia em Pernambuco em 2010


3

Anexo nº 7: Fluxos de pesquisadores no ano de 2000 antes da atuação da PNCTIS


4

Anexo nº 8: Fluxos de pesquisadores no ano de 2010 após a atuação da PNCTIS


5

Anexo nº 9: Editais aprovados para a pesquisa em rede no Brasil no ano de 2005


6

Anexo nº 10: Editais aprovados para a pesquisa em rede no Brasil no ano de 2005
7

Anexo nº 11: Editais aprovados para a pesquisa em rede no Brasil no ano de 2006
8

Anexo nº 12: Editais aprovados para a pesquisa em rede no Brasil no ano de 2007
9

Anexo nº 13: Editais aprovados para a pesquisa em rede no Brasil no ano de 2008
10

Anexo nº 14: Editais aprovados para a pesquisa em rede no Brasil no ano de 2009
11

Anexo nº 15: Editais aprovados para a pesquisa em rede no Brasil no ano de 2010

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