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CADERNO I
Marx parte de excertos de Adam Smith (Riqueza das Nações, 1776) e David Ricardo
(1917) para fundamentar sua argumentação.
SALÁRIO
É evidente por si mesmo que a economia nacional considere apenas como trabalhador o
proletário, isto é, aquele que, sem capital e renda da terra, vive puramente do trabalho, e
de um trabalho unilateral, abstrato. Ela pode, por isso, estabelecer a proposição de que
ele, tal como todo cavalo, tem de receber o suficiente para poder trabalhar. Ela não o
considera como homem no seu tempo livre-de-trabalho (arbeitslose Zeit), mas deixa,
antes, essa consideração para a justiça criminal, os médicos, a religião, as tabelas
estatísticas, a política e o curador da miséria social (Bettelvogt) (2004, p. 30).
GANHO DO CAPITAL
Capital significa a propriedade privada dos produtos do trabalho alheio (p. 39).
Para Adam Smith (p. 312 da Riqueza das Nações), capital é trabalho armazenado. Além
disso, o único objetivo que leva ao proprietário do capital a utilizá-lo é a perspectiva do
lucro. De acordo com Smith, por esse motivo, o interesse do capitalista difere do interesse
geral da sociedade (interesse público) (p. 163-165)
Lucro = ganho do capital
Assim, a única salvação para essa ambição dos capitalistas seria a concorrência, a qual
seria capaz de baratear as mercadorias, elevar os salários, beneficiando o público
consumidor. Porém, a acumulação, justamente a base do funcionamento do capital,
baseia-se numa concentração unilateral e opõe-se radicalmente a um acúmulo multilateral.
Nesse jogo, o primeiro a perder é o pequeno capitalista.
Ao mencionar David Ricardo: “Para Ricardo, os homens são nada; o produto, tudo” (2004,
p. 56).
A acumulação dos capitais aumenta e sua concorrência diminui quando capital e posse
fundiária se encontram reunidos em uma [só] mão, da mesma forma quando o capital se
torna, em virtude da sua grandeza, capaz de combinar diversos ramos da produção (2004,
p. 60).
RENDA DA TERRA
A alta concorrência, de um modo geral, leva ao acúmulo, na mão de uma mesma pessoa,
da propriedade fundiária e dos meios de produção (capitalista). Proprietário fundiário e
capitalista tornam-se um só e a propriedade fundiária torna-se mercadoria.
FUNDAMENTAL!
Já na posse fundiária feudal situa-se o domínio da terra como um poder estranho [posto]
acima dos homens. O servo é o acidente da terra. De modo igual, o morgado, o
primogênito, pertence à terra. Ela o herda. Em geral, a dominação da propriedade privada
começa com a posse fundiária, ela é a sua base. Mas na posse fundiária feudal, o senhor
aparece pelo menos como rei da posse fundiária. Do mesmo modo, existe ainda a
aparência de uma relação mais íntima entre o possuidor e a terra do que a mera riqueza
coisal. A propriedade rural (Grundstück) individualiza-se com o senhor, ela tem o seu
lugar, é baronial ou condal com ele, tem os seus privilégios, sua jurisdição, sua relação
política etc. Ela aparece na condição de corpo inorgânico do seu senhor. Daí o provérbio:
nenhuma terra sem dono (nulle terre sans maître), no que está expresso o [modo de] ser
concrescente (Verwachsensein) da magnificência e da posse fundiária. Ao mesmo tempo,
a dominação da propriedade fundiária não aparece imediatamente como dominação do
mero capital. Os que lhe pertencem estão mais em relação com ela do que com sua pátria.
É uma espécie estreita (engbrüstige) de nacionalidade (2004, p. 74).
O provérbio anterior – não existe terra sem dono – torna-se “o dinheiro não tem dono”.
Assim, a divisão fundiária nega o monopólio anterior ao universalizar-se. Entretanto, essa
negação não é uma negação da sua essência – a propriedade privada. Trata-se, portanto,
apenas de um alargamento de sua existência.
Essa transformação “coloca a ligação afetiva do homem com a terra de um modo racional
e não mais [mediado] pela servidão, pela dominação e por uma tola mística da
propriedade, quando a terra deixa de ser um objeto de regateio e se torna novamente,
mediante o trabalho livre e a livre fruição, uma propriedade verdadeira e pessoal do
homem” (2004, p. 76).
- além disso, a grande posse fundiária é tida como uma utilidade social por facilitar a
agricultura em grande escala assim como para a indústria.
A economia nacional parte do fato dado e acabado da propriedade privada. Não nos
explica o mesmo (MARX, 2004, p. 79).
Nós partimos de um fato nacional-econômico, presente.
O trabalhador de torna tanto mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto mais a sua
produção aumenta em poder e extensão. O trabalhador se torna uma mercadoria tão mais
barata quanto mais mercadorias cria. Com a valorização do mundo das coisas
(Sachenwelt) aumenta em proporção direta a desvalorização do mundo dos homens
(Menschenwelt). O trabalho não produz somente mercadorias; ele produz a si mesmo e
ao trabalhador como uma mercadoria, e isto na medida em que produz, de fato,
mercadorias em geral.
O trabalhador encerra a sua vida no objeto; mas agora ela não pertence mais a ele, mas
sim ao objeto. Por conseguinte, quão maior esta atividade, tanto mais sem-objeto é o
trabalhador (p. 81).
- o trabalhador nada pode criar sem a natureza. Além disso, esta é seu meio de subsistência
física.
O auge desta servidão é que somente como trabalhador ele [pode] se manter como sujeito
físico e apenas como sujeito físico ele é trabalhador (...) A economia nacional oculta o
estranhamento na essência do trabalho porque não considera a relação imediata entre
o trabalhador (o trabalho) e a produção (...). Mas o estranhamento não e mostra somente
no resultado, mas também, e principalmente, no ato da produção, dentro da própria
atividade produtiva. Como poderia o trabalhador defrontar-se alheio (fremd) ao produto
da sua atividade se no ato mesmo da produção ele não se estranhasse a si mesmo? (p. 82).
- o homem é um ser genérico ao se relacionar com as coisas e consigo mesmo e, por isso,
é livre.
O animal é imediatamente com a sua atividade vital. Não se distingue dela. É ela. O
homem faz da sua atividade vital mesma um objeto da sua vontade e da sua consciência.
Ele tem uma atividade vital consciente. Esta não é uma determinidade (Bestimmtheit) com
a qual ele coincide imediatamente. A atividade vital consciente distingue o homem
imediatamente da atividade vital animal. Justamente, [e] só por isso, ele é um ser genérico.
Ou ele somente é um ser consciente, isto é, a sua própria vida lhe é objeto, precisamente
porque é um ser genérico. Eis porque a sua atividade vital é livre (MARX, 2004:84).
É verdade que também o animal produz. Constrói para si um ninho, habitações, como a
abelha, castor, formiga etc. No entanto, produz apenas aquilo de que necessita
imediatamente para si ou sua cria; produz unilateral[mente], enquanto o homem produz
universal[mente]; o animal produz apenas sob o domínio da carência física imediata,
enquanto o homem produz mesmo livre da carência física, e só produz, primeira e
verdadeiramente, na [sua] liberdade [com relação] a ela; o animal só produz a si mesmo,
enquanto o homem reproduz a natureza inteira; [no animal,] o seu produto pertence
imediatamente ao seu corpo físico, enquanto o homem se defronta livre[mente] com o seu
produto (p. 85).
Se minha própria atividade não me pertence, é uma atividade estranha, forçada, a quem
ela pertence então? A outro ser que não eu. (...) então isto só é possível pelo fato de [o
produto do trabalho] pertencer a um outro homem fora o trabalhador (p. 86).
Se ele se relaciona com a sua própria atividade como uma [atividade] não-livre, então ele
se relaciona com ela como a atividade a serviço de, sob o domínio, a violência e o jugo
de um outro homem (p. 87).
- a existência humana tem a ver com seu trabalho e, acima de tudo, com sua produtividade.
PROPRIEDADE PRIVADA:
- ESSÊNCIA SUBJETIVA (ATIVIDADE PARA SI) – TRABALHO
- OBJETIVO (CONSCIÊNCIA/ REPRESENTAÇÃO?) – FAZ PARECER PARTE DA
ESSÊNCIA DO HOMEM – APARÊNCIA (FETICHISMO)
Fetichista: faz a propriedade privada parecer fruto da consciência. O que Adam Smith
(economia nacional) teria feito seria fazer com que algo externo ao homem parecesse ser
algo interno e próprio a ele. Tal como Lutero tria feito em relação à fé, ao destaca-la da
religião e fazê-la parte da essência humana.
A propriedade privada nos fez tão cretinos e unilaterais que um objeto só é nosso [objeto]
se o temos, portanto, quando existe para nós como capital ou é por nós imediatamente
possuído, comido, bebido, trazido em nosso corpo, habitado por nós etc., em suma, usado.
Embora a propriedade privada apreenda todas estas efetivações imediatas da própria
posse novamente apenas como meios de vida, e a vida, à qual servem de meio, é a vida
da propriedade privada: trabalho e capitalização. O lugar de todos os sentidos físicos e
espirituais passou a ser ocupado, portanto, pelo simples estranhamento de todos esses
sentidos, pelo sentido do ter (MARX, 2004, p. 108).
- apropriar-se: tomar aquilo que não é meu – pode ter uma conotação positiva ou negativa?
O homem carente, cheio de preocupações, não tem nenhum sentido para o mais belo
espetáculo (p. 110).
A sensibilidade (vide Feuerbach) tem de ser a base de toda a ciência. Apenas quando esta
parte daquela na dupla figura tanto da consciência sensível quanto da carência sensível –
portanto apenas quando a ciência parte da natureza – ela é ciência efetiva (p. 112).
Por isso, o comunismo não poderia se dar como uma superação da propriedade privada –
sua negação – pois isso já implicaria uma mediação para sua afirmação. Por isso:
Sistema hegeliano:
a- consciência de si: consciência, consciência-de-si, razão
b- Espírito
c- A religião
d- O Saber Absoluto
- sua existência efetiva é a abstração
Hegel se coloca no ponto de vista dos modernos economistas nacionais. Ele apreende o
trabalho como essência, como a essência do homem que se confirma; ele vê somente o
lado positivo do trabalho, não o seu [lado] negativo. O trabalho é o vir-a-ser para si
(Fürsichwerden) do homem no interior da exteriorização ou como homem exteriorizado.
O trabalho que Hegel unicamente conhece e reconhece é o abstratamente espiritual (p.
124).
- a representação, o abstrato já seria um estranhamento.
Vale, portanto, vencer o objeto da consciência. A objetividade enquanto tal vale por uma
relação estranhada do homem, [relação] não correspondente à essência humana, à
consciência-de-si. A reapropriação da essência objetiva do homem, produzida enquanto
[algo] estranho sob a determinação do estranhamento, tem assim não somente o
significado de supra-sumir (aufheben) o estranhamento, mas [também] a objetividade, ou
seja, dessa maneira o homem vale como uma essência não-objetiva, espiritualista (p. 124-
125).
O homem é imediatamente ser natural. Como ser natural, e como ser natural vivo, está,
por um lado, munido de forças naturais, de forças vitais, é um ser natural ativo; estas
forças existem nele como possibilidades e capacidades (Anlagen und Fähigkeiten), como
pulsões; por outro, enquanto ser natural, corpóreo, sensível, objetivo, ele é um ser que
sofre, dependente e limitado, assim como o animal e a planta, isto é, os objetos de suas
pulsões existem fora dele, como objetos independentes dele. (...) Um ser que não tenha
sua natureza fora de si não é nenhum ser natural, não toma parte na essência da natureza.
Um ser que não tenha nenhum objeto fora de si não é nenhum ser objetivo. Um ser que
não seja ele mesmo objeto para um terceiro ser não tem nenhum ser para seu objeto, isto
é, não se comporta objetivamente, seu ser é nenhum [ser] objetivo. Um ser não-objetivo
é um não-ser (p. 127).
Mas um ser não objetivo é um ser não efetivo, não sensível, apenas pensado, isto é, apenas
imaginado, um ser da abstração. Ser (sein) sensível, isto é, ser efetivo, é ser objeto do
sentido, ser objeto sensível, e, portanto, ter objetos sensíveis fora de si, ter objetos de sua
sensibilidade. Ser sensível é ser padecente. O homem enquanto ser objetivo sensível é,
por conseguinte, um padecedor, e, porque é um ser que sente o seu tormento, um ser
apaixonado. A paixão (Leidenschaft, Passion) é a força humana essencial que caminha
energicamente em direção ao seu objeto (p. 128).
- a filosofia hegeliana, em suma, acabaria por excluir a existência do outro, visto que a
supra-sunção indicaria uma consciência única e, por fim, uma nulidade
Aqui está a raiz do falso positivismo de Hegel ou de seu criticismo apenas aparente (...)
A auto-asserção, autoconfirmação em contradição consigo mesma, tanto com o saber
como com a essência (Wesen) do objeto é, portanto, o verdadeiro saber e [a verdadeira]
vida (p. 130).
Para a economia nacional, o ideal de trabalhador é aquele ascético, que não desperdiça, que
economiza. A renúncia, auto-renúncia é a tese principal.
Tudo o que o economista nacional te arranca de vida e de humanidade, ele te supre em
dinheiro e riqueza. E tudo aquilo que tu não podes, pode o teu dinheiro: ele pode comer,
beber, ir ao baile, ao teatro, sabe de arte, de erudição, de raridades históricas, de poder
político, pode viajar, pode apropriar-se disso tudo para ti; pode comprar tudo isso; ele é a
verdadeira capacidade (Vermögen). Mas ele, que é tudo isso, não deseja senão criar-se a
si próprio, comprar a si próprio, pois tudo o mais é, sim, seu servo, e se eu tenho o senhor,
tenho o servo e não necessito do seu servo. Todas as paixões e toda a atividade têm,
portanto, de naufragar na cobiça. Ao trabalhador só é permitido ter tanto para que queira
viver, e só é permitido querer viver para ter (p. 142).
(...) ele esquece que o uso lhe determina o valor das coisas e que a moda determina o uso,
ele deseja ver produzido só o “útil”, mas esquece que a produção de demasiado útil produz
população demasiado inútil. Ambos os lados esquecem que desperdício e poupança, luxo
e privação, riqueza e pobreza são iguais. E tu tens de poupar não somente teus sentidos
imediatos, como comer etc., tu tens de poupar também na colaboração com interesses
universais, na compaixão, na confiança, se tu queres ser econômico, se não queres te
arruinar com ilusões. Tu tens de fazer venal, ou seja, útil, tudo o que é teu (p. 142).
Que a divisão do trabalho e a troca assentam-se sobre a propriedade privada não é outra
coisa senão a afirmação de que o trabalho é a essência da propriedade privada, uma
afirmação que o economista nacional não pode demonstrar, e que nós queremos
demonstrar para ele. Justamente nisso, no fato de divisão do trabalho e troca serem
figuras da propriedade privada, justamente nisso repousa a dupla demonstração, tanto que
a vida humana necessitou da propriedade privada para a sua efetivação, como, por outro
lado, de que ela agora necessita da supra-sunção da propriedade privada (p. 155-156).
DINHEIRO